Você está na página 1de 3

Nathalia Melo – 46964 – Estudos da Arte e dos Media IV

La Jetée, o encontro inevitável com o passado


A curta-metragem La Jetée foi realizada em 1962 por Chris Marker. O filme é quase
inteiramente construído com fotogramas
impressos opticamente. O resultado funciona
como uma fotomontagem em vários ritmos. Os
28 minutos do filme contêm apenas uma
pequena sequência de poucos segundos, de
imagem em movimento (24 fotogramas por
segundo), na qual uma mulher adormecida
acorda repentinamente. Esta sequência foi
captada com uma câmara de filmar de 35 mm, as
restantes imagens foram captadas com uma
vulgar câmara fotográfica. O filme não contem
diálogos, apenas curtos trechos de murmúrios em alemão e vozes de pessoas num terminal
de aeroporto. A história é totalmente contada por um narrador em voice-over.
Esta curta-metragem é baseada num conto de ficção científica da autoria do próprio
Chris Marker. Um homem é feito prisioneiro no rescaldo da terceira guerra mundial numa
Paris pós apocalítica onde os sobreviventes vivem debaixo da terra, nas caves do Palais de
Chaillot. Nas galerias do palácio, cientistas investigam a viagem no tempo, na esperança de
enviar indivíduos para diversos momentos da história “para chamarem o passado e o futuro
a salvar o presente”. Até então, a investigação é frustrada pois as cobaias humanas não
sobrevivem ao choque psicológico da viajem no tempo. Ao fim de algumas tentativas o
prisioneiro sobrevive a uma viagem ao passado. A sua chave para o passado é uma
recordação, vaga mas obsessiva da sua infância antes da guerra, de um incidente que envolve
uma mulher numa plataforma de
observação do aeroporto de Orly.
Nas viagens ao passado o homem
encontra a mulher com quem acaba
por ter um relacionamento
romântico. Posteriormente será
enviado para um tempo futuro onde
acaba por estabelecer contacto com
outros viajantes do tempo que lhe
irão fornecer um dispositivo capaz de
salvar a humanidade da eminente
destruição. Apercebendo-se que os seus carcereiros irão por fim à sua vida é contactado pelos
viajantes do tempo que lhe oferecem auxílio, que rejeita. Decide voltar para o passado para
encontrar a sua amada. Irá encontra-la na plataforma do aeroporto de Orly e acaba por
(re)viver o episódio que presenciou em criança e que obsessivamente o perseguiu toda a vida.
La Jetée é um conto sobre a temporalidade, a memória, o amor romântico e a
impossibilidade de possuir o objeto do desejo. Mas, mais do que um conto fatalista, La Jetée
é uma profunda reflexão sobre o poder que as imagens têm em nos afetar. Se a potência da
narrativa permite ultrapassar a estranheza do encontro preceptivo com um dispositivo pouco
usual, uma fotomontagem, também as próprias imagens, pela força da sua materialidade,
conseguem oferecer ao espetador uma experiência profundamente nostálgica.

1 - Como o uso de imagens fixas e a narração em voz-over afetam a maneira


como o filme é percebido e interpretado?
R: A constituição audiovisual do filme “La Jetée”, permite-nos identificar uma sensível
representação da noção de espaço e memória construida em sua narrativa, ao estabelecer
um elo entre o passado-presente-futuro a partir de imagens fixas e narração em voz-over,
traz à luz novas formas de interpretação cinematográfica, ampliando possiveis reflexões
contemporâneas ao que se refere à memória e as suas possibilidades de representação a
partir de novas formas de construção de imagens.

2 - Como a ideia de memória é representada no filme, tanto em termos de


conteúdo quanto de estilo cinematográfico?

3 - Como o final do filme afeta a interpretação geral da narrativa?

Lê atentivamente o texto:

“the woman (…) suddenly blinks. Yet this is a peculiar sense of “suddenly” (…) an unexpected
and radical shift in the ontological status of the image and our relation to it (…) everything
radically changes (…) The space between the camera’s (and the spectator’s) gaze and the
woman becomes suddenly habitable, informed with the real possibility of bodily movement
and engagement, informed with lived temporality rather than eternal timelessness. (…) is not
merely an immortalized lost object of desire but also—and more so—a mortal and desiring
subject. (…)we might think of photography as primarily a form of mummification (….)
Although it testifies to and preserves a sense of the world’s and experience’s once-real
presence, it does not preserve their present.
The photographic neither functions—like the cinematic—as a “coming-into- being” (a
presence always presently constituting itself), nor—like the electronic—as “being-in-itself ”
(an absolute presence in the present). Rather, it functions to fix a “being-that-has been” (a
presence in a present that is always past). Thus, and paradoxically, as it materializes,
objectifies, and preserves in its acts of possession, the photographic has something to do with
loss, with pastness, and with death (…) What La Jetée allegorizes in its explicit narrative,
however, is the transformation of the moment to momentum that constitutes the ontology
of the cinematic and the latent background of every film. (…)the cinematic thickens the thin
abstracted space of the photograph into a concrete and habitable world. We might remember
here the sudden animated blinking of a woman’s eyes in La Jetée and how this visible motion
transformed the photographic into the cinematic, the flat surface of a possessed picture into
the lived space and active possibility of a lover’s bedroom (…)
the cinematic exists as an objective and visible performance of the perceptive and expressive
structure of subjective lived-body experience.
” Vivian Sobschak, The Scene of the ScreenI, 2016

4. Explica, por palavas tuas, de que modo é que o filme La Jeteé, espelha, segundo Sobschak,
o cinemático e em que consiste.

História do protagonista com o tempoç

Você também pode gostar