Você está na página 1de 1

Pag 35

Creio na Igreja que antecipa a chegada do Reino de Deus. Creio em sua missão de continuar o que Jesus iniciou:
amar os desvalidos, abrigar os abandonados, estender misericórdia para os mal sucedidos e brindar a todos com a
graça que reconduz toda a criação de volta para Deus. Não creio que o ícone da igreja deva ser um Cristo
conquistador, mas o Cordeiro crucificado, que não veio para ser servido e sim dar sua vida em resgate de todos.
Creio que a Igreja não foi chamada para almejar os primeiros lugares entre os poderosos, mas a simplicidade das
pombas. Creio que na Igreja encontramos o melhor lugar para nos esvaziar de nossa falsa divindade e nos
conscientizar de que toda ambição do poder pelo poder é diabólica.

Pag 49
Graça, muito mais que um jargão teológico é uma descrição do jeito como Deus lida com a humanidade. O amor de
Deus é gratuito, universal e unilateralmente derramado sobre todos. Ele abençoa sem exigir méritos; seus afetos
independem da qualidade moral ou de práticas religiosas das pessoas. Deus não ama como reação: também não faz
acepção e não discrimina; não premia uns para abandonar outros ao léu; não “elege” uns poucos para voltar as
costas para a maioria que nasce como “filhos da ira”. Portanto, se e quando acontece algum milagre, não vem como
resposta de oração – qualquer mérito anula a graça e as suas intervenções não visam abençoar os “eleitos” já que
não faz acepção de pessoas. As intervenções divinas, se e quando acontecem, estão ligadas a a um propósito eterno
do coração de Deus e as pessoas não têm qualquer ingerência sobre elas. Milagres são mistérios.

Pag 73
O mundo não está desgraçadamente caído. Este planeta não é um espetáculo de horrores. Não vivemos na ante-
sala do inferno. Vicissitudes, doenças, acidentes e mortes não são o resultado de vivermos em um mundo torto e
maldito. Não, mil vezes não! Nosso mundo é
contingencial, espaço onde coexiste a possibilidade da saúde e da doença, dos acidentes e dos livramentos, dos
absurdos e da felicidade. Alegrias, risos, festas e beleza se concretizam com as mesmas chances que as balas
perdidas, o câncer e os desastres automobilísticos. Não esqueça que, como nos organizamos, pode acontecer mais
felicidade ou mais infortúnio. A probabilidade de ser assassinado no Brasil é muito maior que na Inglaterra. Mais
crianças morrem antes do primeiro ano de vida na Índia do que na Bélgica.

Pg 81
Nossa missão é ajudar às pessoas a tratarem a vida eterna como uma possibilidade para aqui, para a terra. Aliás, a
dimensão transcendental da salvação não compete a nós; não depende de nossos esforços e não acontecerá como
resultado de nossa confiabilidade ou unção. Salvação, vida eterna, foi conquista da cruz. Ela é obra vicária de Cristo,
o mérito será sempre dele. Vida eterna é distribuída indistintamente a todos pela graça; e só o Espírito Santo
convence do pecado, da justiça e do juízo.

Pg 94
Procuro fazer da graça o chão da minha devocional. Muito de minha adoração consiste em procurar escapar da
armadilha de repetir esta palavra (graça) como um simples conceito teológico. A graça precisa manter-se como
minha premissa relacional: Deus é sempre simpático a mim. Em todo culto, procuro trazer à lembrança que antes de
qualquer manifestação piedosa, de arrependimentos com oblações, de flagelações e de rasgar de vestes, Deus me
quer bem.
Sua graça me poupa de implorar-lhe que troque de semblante; Deus não é antipático. Minha incapacidade de cumprir
a lei não provoca sua ira. Não existe nada em minha conduta anterior que predisponha Deus contra mim.
A graça me ajuda a dialogar com o Eterno sem depender da minha pureza. Procuro manter em mente que Jesus de
Nazaré revelou Deus como um Pai bom e misericordioso. Não oro como se
Ele fosse uma energia ou um princípio metafísico. Porque procuro perceber que Deus me trata como um pai, não
preciso bater o pé para ganhar o seu favor.

Você também pode gostar