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Metamorfoses figurativas:
imagens femininas na publicidade de cerveja
CURITIBA – 2003
I
MARIA PAULA MANSUR MÄDER
Metamorfoses figurativas:
imagens femininas na publicidade de cerveja
CURITIBA – 2003
I
Catalogação na fonte:
Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos”
Universidade Tuiuti do Paraná
CDD – 659.1
II
DEDICATÓRIA
À minha mãe, pois se cheguei até aqui foi porque ela muito contribuiu em
cada degrau que alcancei, acreditando no meu potencial e principalmente
lembrando-me sempre de dar um passo de cada vez.
III
AGRADECIMENTOS
IV
EPÍGRAFE
(Camões)
V
RESUMO
VI
ABSTRACT
VII
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA.................................................................................................................................. III
AGRADECIMENTOS........................................................................................................................ IV
EPÍGRAFE ......................................................................................................................................... V
RESUMO........................................................................................................................................... VI
ABSTRACT...................................................................................................................................... VII
LISTA DE FIGURAS.......................................................................................................................... 9
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 10
2 DISCURSO PUBLICITÁRIO......................................................................................................... 21
3 MITOS E ARQUÉTIPOS............................................................................................................... 34
5 ANÁLISES .................................................................................................................................... 51
-8-
LISTA DE FIGURAS
9
INTRODUÇÃO
10
pesquisa Top of MInd 20011, veiculadas tanto em cartazes quanto em anúncios
de página inteira em revistas nacionais, direcionadas a públicos mistos
(Playboy, Veja, Caras, Trip entre outras) As marcas mais lembradas pelo
público são Brahma, Antarctica, Skol e Kaiser, e devido a este fato podemos
nos assegurar de que são publicidades que foram observadas por um número
representativo de consumidores.
1
Top of Mind é uma pesquisa realizada pelo Instituo de Pesquisa Datafolha e abrange diversas
categorias de produtos. A questão colocada é a primeira marca lembrada pelo entrevistado dentro de
cada uma das categorias.
11
Para a análise, utilizou-se a proposta metodológica de Barthes, em seu
artigo A retórica da imagem (BARTHES, 1990), que propõe uma leitura em
diversos níveis, contemplando a mensagem lingüística e a visual, esta nos
aspectos denotativos e conotativos. Serviu-nos de referência, ainda, o exemplo
de análise de publicidade exposto por Martine Joly em sua obra Introdução à
análise da imagem, que após fazer uma descrição detalhada da peça e de
seus signos plásticos, ou seja, cores, formas, composição e textura, passa a
analisar a mensagem icônica e por fim a lingüística.
12
1 A CULTURA DA CERVEJA NO BRASIL
13
Quando a cerveja apareceu no Brasil, o país tinha em torno de 14
milhões de habitantes e a base de sua economia era o café. Passaram-se mais
de 100 anos e a cerveja, especialmente a Antarctica e a Brahma, acompanhou
toda a evolução do país. Suas campanhas publicitárias são o espelho de todo o
desenvolvimento desse século, justificando a importância deste tema para o
presente trabalho.
14
publicidade recebeu influências tipicamente americanas, retratando pessoas de
pele clara e rostos sorridentes. Depois veio a fase nacionalista, por volta da
década de 70, e os rótulos passaram a estampar imagens do Jeca Tatu,
personagem de Monteiro Lobato.
2
Conta – forma com que se costuma chamar o contrato de atendimento entre uma agência e seu
cliente. (RABAÇA, 2001:181).
3
Termo usado aqui no sentido de direcionar.
15
identidade de um indivíduo, auxiliando o homem e a mulher a entenderem
quem são e qual é o seu lugar na sociedade.
17
Para Edgar Morin, (apud LANDOWSKY, 1992:143) o erotismo na
publicidade “manifesta-se muito mais na instigação ao consumo do que no
consumo propriamente dito”. Assim, a publicidade passa a vender estilos de
vida, sensações, emoções, visões de mundo, relações humanas, sistemas de
classificação (...). Um produto vende-se para quem pode comprar, um anúncio
distribui-se indistintamente. (ROCHA, 1995:26) Quando o apelo visual está em
conformidade com os anseios do público que se pretende atingir,
conseqüentemente a mensagem alcançará seu objetivo.
Este caráter simbólico da publicidade nos leva a crer que o seu objetivo
não é informar, mas sim fazer sonhar, dando aos produtos/serviços diversas
características que muitas vezes não têm, por meio de estratégicas técnicas de
comunicação cuidadosamente elaboradas.
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2 DISCURSO PUBLICITÁRIO
4
“Tudo aquilo que, sob certos aspectos e em alguma medida, substitui alguma outra coisa,
representando-a para alguém” (PEIRCE apud RABAÇA, 2001: 672).
5
“A mensagem é representada em diferentes formas de manifestação, como por exemplo quando
sorrimos, a alteração da face é a mensagem, remetendo, assim, o significado da mensagem ao
receptor. Sendo assim, uma mensagem pode implicar diversos níveis de significação de acordo com o
repertório e o estado de espírito do receptor e ainda as circunstâncias da comunicação. De uma forma
mais direta e simplificada, a mensagem resume-se ao que é transmitido significativamente entre
emissor e receptor”.(AZEVEDO apud RABAÇA, 2001: 481).
21
2.1 UNIVERSO DE RECURSOS VERBAIS
6
Representação de significado em primeiro grau (BARTHES apud JOLY, 1996:83).
7
Significação segunda a partir de uma significação primeira, de um signo pleno (BARTHES apud
JOLY, 1996: 82).
22
Nos exemplos temos o caso da nomeação explicitado pela peça
publicitária da cerveja Schincariol, (fig.5) em que numa estratégia de marketing,
visando facilitar ao consumidor a pronúncia de um nome incomum ao
vocabulário popular, propõe ao mesmo o uso do apelido Schin para denominar
a cerveja: “Para bom bebedor, meia palavra basta. Peça Schin”.Já a
qualificação fica evidente no exemplo da cerveja Skol (fig.6), que repete ao
consumidor uma característica da bebida, neste caso exaltando-a como sendo
exclusiva da marca: “A cerveja que desce redondo”, criando uma identificação
pelo atributo. No último caso, a cerveja Kaiser (fig.7) procura exaltar-se como a
marca que “sempre vai bem”, posicionando-se como uma cerveja que possui
qualidades para ser ingerida por todos em qualquer situação; no exemplo
associa-se ao futebol, esporte de grande adoração pelo povo brasileiro: “Kaiser.
Sempre vai bem com futebol”, e ainda fazendo alusão ao termo “Fominha”, que
serve tanto para denominar uma pessoa gulosa como, na linguagem coloquial,
trata-se de uma metáfora ao jogador que costuma manter a bola em seu poder.
fig 9
fig 10 fig 11
8
Guiness: cerveja nacional da Irlanda, com fábrica fundada em 1759 na cidade de Dublin.
24
aumentam o apetite e a quantidade de leite materno, sendo “indicado” para
mulheres que estão amamentando, o que explica também a ilustração da peça.
Na peça da cerveja Primus (fig.11), um segmento da marca Schincariol que
pretende atingir um público mais selecionado, o discurso apela para o prestígio
por meio do estabelecimento de uma nova tradição: “Primus. Desde 2002. Uma
nova tradição em cerveja”.
26
2.2 RECURSOS VERBAIS E NÃO-VERBAIS
27
fig 13 fig 15
fig 14
28
aparece de biquíni ou vestido. Para atender ao fetiche do público masculino,
normalmente seduzido pelo corpo da bela modelo, a peça mostra, quadro a
quadro, a troca de roupa, passando inclusive pelo quadro em que ela aparece
nua. A mensagem verbal complementa a idéia da expectativa: “Kaiser. A
cerveja que sempre vai bem. Agora ainda melhor.”
31
“sistema recuperador de formas e sentidos já implantados nas culturas-alvo”
(PINTO, 1997:26).
32
Já Barthes defende a idéia de que o texto hoje atua na imagem com a
função de conotá-la, de “insuflar-lhe” outros significados. “(...) imagem já não
ilustra a palavra; é a palavra que, estruturalmente, é parasita da imagem; (...) a
imagem já não vem esclarecer ou ’realizar’ a palavra; é a palavra que vem
sublimar, patetizar ou racionalizar a imagem” (BARTHES, 1990:20) Entende-se,
então, que o texto passa a ser uma imposição de cultura, determinando o
sentido da leitura da imagem. Ainda o mesmo autor, considerando o plano da
expressão, observa que a conotação imposta pelo texto pode variar de acordo
com a apresentação, “quanto mais próxima está a palavra da imagem, menos
parece conotá-la; (...)” (id.). Em alguns casos, porém, o texto pode trazer um
significado totalmente novo, projetado de certa forma retroativa na imagem a
ponto de nela parecer denotado.
33
3 MITOS E ARQUÉTIPOS
9 Identificação - É a associação de uma representação mental com a realidade física; daquilo que
está na mente, com aquilo que se encontra no mundo externo. É um método pelo qual a pessoa
recupera o objeto perdido através da fantasia. Projeção - Deu origem aos chamados testes projetivos,
pois os seres humanos têm a tendência de projetar suas necessidades, conflitos, ódios, em outras
pessoas, situações e naquilo que vêem, fazem, escrevem, pintam ou desenham. Uma criança, ao
desenhar sua família de mãos dadas, pode estar projetando seu desejo de mantê-la unida.(CREPALDI,
L, 1999).
34
ou perca ou se elas são reais ou fictícias, pois neste caso os lutadores são
como deuses, “porque são durante alguns instantes a chave que abre a
Natureza, o gesto puro que separa o Bem e o Mal e desvenda a figura de uma
Justiça enfim inteligível”.(id.).
Já que o mito é uma fala, tudo pode constituir um mito, desde que
seja suscetível de ser julgado por um discurso.o mito não se
define pelo objeto da sua mensagem, mas pela maneira como a
profere: o mito tem limites formais, mas não substanciais. (ibid.:
131).
35
mitologização 10 que vai além da maquiagem da realidade, que retrata os
desejos até mesmo inconscientes do ser humano, é a do artista e, às vezes, do
publicitário.
10
Mitologizar se resume naquilo que inclui todas as formas de ficção narrativa simbólica mostrando
padrões recorrentes universais e coletivos de resposta psíquica às experiências da vida. (HEISIG, J.
apud Randazzo, 1996: 58)
11
Historicamente, a personificação do princípio de vida entre os gregos. Logo, reveste-se de
significado mais amplo que o de mente humana. O termo goza de grande predileção entre os
psicanalistas e sugere, embora não implique, um dualismo que teria seu símbolo mitológico no amor
de Eros e Psiquê. (CABRAL, 1995: 321).
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Em acréscimo à nossa consciência imediata, a qual é de uma
natureza inteiramente pessoal e que acreditamos ser a única
psique empírica (mesmo se incluíssemos o inconsciente pessoal
como um apêndice), lá existe um segundo sistema psíquico, de
uma coletiva, universal, e impessoal natureza que é idêntica em
todos os indivíduos. Este inconsciente coletivo não se desenvolve
individualmente, mas é herdado. Consiste de formas pré-
existentes, os arquétipos 12 , os quais podem somente se tornar
cônscios secundariamente e que dão forma definida a certos
conteúdos psíquicos. (JUNG)
12
Conteúdo arcaico do inconsciente coletivo. Por esse motivo, a imagem primordial ou arquétipo
também é, psicologicamente, uma imagem coletiva que se contrapõe ao instinto biológico, pessoal.
Sendo estritamente inconsciente, um arquétipo é postulado – não observado - pela ciência.
(CABRAL, 1995:180).
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ajudando o homem a entender o universo e o lugar que ocupa nele; função
sociológica, apoiando e defendendo uma certa ordem social e por fim a função
pedagógica, indicando como o ser-humano deve viver sua vida sob qualquer
circunstância.
38
4 PERCURSO DA ANÁLISE
13
Gráfico, registro fotográfico ou visual de uma distribuição de quantidades observáveis ou
propriedades dispostas segundo sua magnitude, daí espectral ser relativo a ou próprio de variáveis,
grandezas ou propriedades utilizadas na descrição dos níveis do espectro de um observável físico.
39
enunciador, tornando-a um instrumento eficiente para atender aos objetivos de
persuasão e venda de produtos e/ou serviços na mídia impressa.
Uma imagem pode criar uma ilusão mesmo sem ser a réplica exata da
realidade, como no caso das imagens publicitárias. Seu objetivo é justamente
criar uma analogia com o real, explorando as aparências que remetem às
sensações provocadas pelo objeto representado, tornando-se, assim, um
simulacro que “ninguém confundirá com a realidade; mas é perfeitamente
funcional porque imita traços selecionados (...)” (AUMONT, 2002:103) já que
não tem como intenção provocar uma ilusão total, mas sim parcial, pois se trata
de um objeto artificial que visa ser tomado por outro objeto para determinado
uso, como é o caso, atualmente, dos simuladores de vôo utilizados para
treinamento de pilotos.
43
4.1 OS ELEMENTOS DA ANÁLISE
45
layout da peça deve ser cuidadoso e atender a seis princípios fundamentais,
segundo Sant’Anna (ibid.:174): o equilíbrio, que trata da disposição dos
elementos de forma que se obtenha uma distribuição agradável em todo o
layout; a direção visual, estreitamente relacionada com a questão da condução
do olhar do leitor de um elemento para outro, considerando que a tendência
ocidental remete o início de uma leitura ao ângulo superior esquerdo e vai
descendo diagonalmente para a direita; a proporção, que procura definir a
melhor divisão do espaço entre texto, imagem e assinatura da marca; a
unidade, para evitar que os elementos pareçam independentes entre si; o
contraste, fator relevante para chamar a atenção do leitor e por fim a harmonia,
que sintetiza os demais princípios e implica na escolha dos elementos
adequados para a composição de uma imagem que atenda à proposta da
campanha.
47
e que procura distinguir o enquadramento da equivalência automática a um
olhar”.(AUMONT, 2002:158). Estas duas concepções buscam induzir o leitor à
busca de algo além da imagem exposta, principalmente no caso do
desenquadramento, em que há uma nítida sensação de interrupção da cena
representada que, por um movimento imaginário, permite “enquadrar de outra
maneira” (ibid.: 159). Neste caso, a fotografia incita a “adivinhar, no que se
refere ao seu instante de apreensão, um antes e, correlativamente, nos convida
a projetar um depois (...)” (LANDOWSKI, 1998: 23). Essa sensação de um
pseudo desenvolvimento da cena é reforçada na publicidade pelo diálogo
estabelecido entre as diversas peças que compõem uma mesma campanha.
Sendo assim,
49
operacionalizada, atuando sobre duas dimensões correlatas: a da
qualidade, concernente à categoria semântica da "intensidade"
perceptiva, ou a de sua quantidade, relativa à "extensão” /
“duração" do ato perceptivo. (CAETANO, 2003)
Por outro lado, o tempo extrínseco, ou seja, aquele que se encontra fora
da imagem possui maior relevância no que diz respeito às peças publicitárias.
Estas podem ser demarcadas no tempo do referente, isto é, “em todos os
traços de época das figuras representadas” (SANTAELLA, 1999: 81), e
justamente nessas imagens figurativas torna-se possível representar, no plano
bidimensional, “imagens que sugerem, indicam, designam objetos ou situações
existentes” (ibid.: 82). Pode-se, portanto, configurar o referencial de tempo nas
peças publicitárias com sendo de caráter documental, refletindo as tendências
sócio-culturais da sociedade da época.
51
5.1 ANÚNCIO CERVEJA BRAHMA
fig 17
fig 18
52
O anúncio da cerveja Brahma (fig.17) é composto pela fotografia, ou seja,
um significante, que ocupa a página inteira e permite-nos reconhecer o cenário
de um bar, estilo pub europeu, devido às características dos móveis em tons de
madeira escura, talvez imbuia. No fundo percebe-se uma grande prateleira com
várias garrafas de bebidas, porém o foco da imagem não nos permite identificá-
las. Mais a frente, já em primeiro plano, podemos observar a existência de
mesas e cadeiras, sendo que no lado esquerdo do anúncio aparece sobre uma
delas uma garrafa de cerveja identificada pelo rótulo da marca Brahma e dois
copos modelo tulipa14 já servidos com a bebida. No lado direito, quase fora de
cena, temos outra garrafa, também identificada pelo mesmo rótulo sobre outra
mesa. No centro do anúncio, principal foco de visão do enunciatário de uma
peça publicitária, temos em primeiro plano a imagem de uma mulher,
segurando com a mão direita uma bandeja, onde se encontram quatro garrafas
de cerveja Brahma, e na mão direita um pano de tecido xadrez nas cores
vermelho e branco, que não somente trazem referência às cores da marca
anunciada como também remetem aos tradicionais panos de copa.
14
Nome dado ao modelo de copo apropriado para beber cerveja.
53
figurativa da realidade, levando a crer que poderia se tratar da reprodução de
um momento real.
56
Não há limites físicos determinados por uma moldura, porém o limite da
imagem é dado pelo tamanho do cartaz, que mesmo rompendo a leitura do
campo visual, instiga o imaginário do enunciatário pelas grandes dimensões e
pela representação do real, tornando a leitura daquilo que está fora de campo
quase instantânea.
57
provocação. Podemos notar que a mulher não está completamente à vontade
pela posição dos braços, que tentam representar o leve esforço necessário
para abrir uma garrafa. A postura quase ereta busca, com sucesso, evidenciar
os seios muito bem modelados, e uma das pernas levemente fechadas parece
demonstrar um certo desconforto com relação ao comprimento da saia,
bastante curta, num misto de provocação maliciosa e pseudo-timidez.
58
5.2 ANÚNCIO CERVEJA ANTARCTICA
fig 19
fig 20
59
Os dois anúncios da cerveja Antarctica possuem elementos em comum,
já que são peças que compõem a mesma campanha, e por isso tais elementos
serão descritos aqui apenas uma vez.
60
A construção da imagem é seqüencial em Z, fazendo com que o leitor
inicie a leitura pelo signo verbal no canto superior esquerdo, passe pela
imagem da mulher deitada, começando pela cabeça e descendo até seus pés,
e termine sua leitura no slogan, acompanhado do produto que aparece no
canto inferior direito, pois “serão atribuídas ao produto qualidades que lhe são
exteriores, com uma construção seqüencial que desloca, ao longo da leitura, as
qualidades do anúncio sobre o produto”.(JOLY, 1996: 98).
Temos desta vez uma modelo de cabelos castanhos longos, pele clara
levemente dourada, vestindo um top branco amarrado na frente, que mal cobre
seus seios avantajados, e como a cena só nos permite enxergar até bem
pouco abaixo da cintura, imagina-se pelo que se consegue ver que ela esteja
usando uma calça ou um short azul de lycra. Ela aparece molhada, ou melhor,
molhando-se no que se acredita ser uma cachoeira ao fundo da cena, cercada
por alguns pequenos galhos de vegetação. Neste caso a modelo não está
olhando para fora da cena, mas sim tem os olhos fechados e os lábios
61
vermelhos entreabertos, transparecendo o prazer de estar se banhando nas
águas da cachoeira. Os tons de azul predominam nesta cena, remetendo ao
frescor da água e também à cor da marca Antarctica.
62
5.3 ANÚNCIO CERVEJA SKOL
fig 21
fig 22
63
A peça da cerveja Skol (figs. 21 e 22) é composta por uma montagem
fotográfica, veiculada em página dupla de revista, representando um cenário de
líquido amarelo borbulhante, onde há cinco sereias em diferentes posições e
tamanhos. As latas, que aparecem compartilhando o cenário com as sereias,
não obedecem à proporção de tamanho com as mesmas, criando desta forma
um destaque para o produto. No canto superior direito aparece a marca da
cerveja, representada por uma espécie de disco amarelo com uma seta circular
contornando o nome Skol, ambos na cor vermelha, e logo abaixo o slogan: “A
cerveja que desce redondo”. Na base inferior direita, em letras suficientemente
pequenas e na cor branca, com a intenção de não interferir na composição do
anúncio, aparece o endereço do site (www.skol.com.br) e também a indicação
“Aprecie com moderação”.
64
chegando até mesmo no auditivo, pois a ilusão de movimento proporcionada
pelas nuances de cor do líquido, associado às borbulhas nos faz “ouvir” a cena.
65
morena lá do fundo tem joanete. A única coisa gostosa aqui é a cerveja”. Desta
forma verificamos, e confirmamos, que no primeiro anúncio a persuasão é
potencializada pelas sereias, já que para os homens elas são elementos
sedutores, enquanto que por outro lado, para as mulheres, elas se tornam
ilustrativas e geradoras de identificação comparativa. Assim, a estratégia da
peça foi buscar, de uma maneira irônica, direcionar o olhar da mulher para o
produto, não desejando incitar o comparativo. Podemos entender, ainda, que
esta segregação gera um certo protecionismo ao mito da sereia, de beleza
incomparável a qualquer humana.
66
5.4 ANÚNCIO CERVEJA KAISER
fig 23
fig 24
67
O anúncio da cerveja Kaiser (fig.23) é composto pela fotografia de um
bar que ocupa a página inteira, representando um cenário de parede vermelha,
que possui um detalhe em madeira da metade para baixo. No lado esquerdo
aparece a metade de uma mesa pequena e duas cadeiras, sendo as três peças
em madeira. Sobre a mesa há uma garrafa de cerveja Kaiser, identificada pelo
signo lingüístico do rótulo, e um copo tulipa em que está servida a cerveja. No
centro da imagem há o mesmo modelo de copo em tamanho exagerado e
dentro dele há uma mulher. O estilo e os elementos deste cenário remetem a
idéia do ambiente de um bar, de decoração simples e até mesmo antiga, porém
descontraída.
Apesar da cor da parede não ser comum a este tipo de ambiente, que
normalmente opta por cores mais claras, no anúncio em questão ela pode ser
associada com a cor da logomarca da Kaiser. Analisando o aspecto cromático
da mensagem, o vermelho, uma cor quente, remete à sensualidade e ao calor,
sensação facilmente associada à ingestão de cerveja, uma bebida que no
Brasil é ingerida gelada e traz refrescância.
Por outro lado, a mulher estar dentro do copo, local onde fica o líquido a
ser ingerido, remete-nos também à idéia de que a mulher é que será ingerida e
degustada, idéia reforçada pela roupa que faz analogia com a cerveja. Neste
caso fica evidente que, do ponto de vista temático-figurativo, estabeleceu-se aí
um processo retórico de transfiguração da mulher, que vinha sendo comparada
à cerveja e aos prazeres de bebê-la para, num processo metafórico de
transmutação, passar a ser a própria cerveja a ser ingerida.
70
possui margens que limitem a imagem, permitindo que o leitor use sua
imaginação para complementar a cena.
15
Modelo de maiô que não possui alças.
71
estabelecida pelo corte da imagem em seu suporte. O enquadramento frontal
permite que o enunciatário sinta-se próximo à imagem, podendo, neste caso,
ser a pessoa a quem a modelo está oferecendo o copo de cerveja.
72
6 SINTETIZANDO A LEITURA DAS IMAGENS
73
equivalentes. Na continuidade deste processo chega-se à metáfora, em que
“se dá a substituição da significação natural de uma palavra por outra em
virtude de uma relação subentendida” (ibid.: 44). Estendendo esses conceitos
às imagens visuais, em que se articulam discursos verbais e não-verbais,
podemos dizer que as campanhas publicitárias chegam, neste momento, a
colocar a mulher em equivalência com a cerveja, comparando os atributos de
ambas em grau de igualdade. A metáfora ultrapassou sua definição como
figura de estilo e passou a uma ligação direta com a fala humana, por motivos
que Cherubim enumera como sendo “um fator primordial de motivação; uma
fuga para as emoções intensas; um artifício expressivo e uma fonte de
polissemia e sinonímia”.Com isso evidencia-se ainda melhor o recurso utilizado
nas campanhas que pretendem, com a metáfora, relacionar atributos entre
mulher e cerveja.
16
“Há quatro grupos principais de metáforas: antropomórficas; zoomórficas ou animais; do concreto
ao abstrato e sinestésicas”.(CHERUBIN, 1989: 45).
17
Forma popular com que a cerveja é chamada no Brasil.
76
fig 25 fig 27
fig 26
77
À GUISA DE CONCLUSÃO
78
confirmando que o que se tem nestas campanhas é uma atualização de
valores já há muito consagrados pela sociedade.
79
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
81
JUNG, C. G. O conceito do inconsciente coletivo. Tradução de Wilson
Mello Franco. Disponível em
<http://brnovaera.hpg.ig.com.br/jung/jung.htm> Acesso em 28/06/2003
82
RANDAZZO, Sal. A Criação de Mitos na Publicidade: como os
publicitários usam o poder do mito e do simbolismo para criar marcas de
sucesso. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
83