Lista 8 – Alguns problemas resolvidos

Prof. Antonio Caminha M. Neto

1. (Lista 3 - P5) Sejam V e W espaços vetoriais euclidianos reais (resp.

complexos) de dimensões finitas e T : V → W uma transformação
linear. Mostre que:

(a) T é injetiva se, e só se, T ∗ é sobrejetiva.

(b) T é um isomorfismo se, e só se, T ∗ é um isomorfismo.

Prova. (a) Suponha que T ∗ não é sobrejetiva. Então, T ∗ (W ) é um su-

bespaço próprio de V , de modo que existe u ∈ V \{0} tal que T ∗ (v)⊥u,
para todo v ∈ W . Daı́, hT (u), vi = hu, T ∗ (v)i = 0 para todo v ∈ W ,
o que garante que T (u) = 0. Mas, como u 6= 0, segue que T não é
injetiva.
Suponha, agora, que T ∗ é sobrejetiva. Se u ∈ N(T ), então 0 =
hT (u), vi = hu, T ∗ (v)i para todo v ∈ W . Mas, como T ∗ é sobreje-
tiva, podemos escolher v ∈ W tal que T ∗ (v) = u. Com tal escolha,
segue que hu, ui = 0 e, daı́, u = 0. Então, N(T ) = {0}, de forma que T
é injetiva.

(b) Basta utilizar o resultado de (a), juntamente com o fato de que

T ∗∗ = T . Por exemplo, se T é isomorfismo, então segue diretamente
de (a) que T ∗ é sobrejetiva. Por outro lado, como T é sobrejetiva e
T = T ∗∗ , temos T ∗∗ sobrejetiva; então, novamente por (a), concluı́mos
que T ∗ é injetiva. Mas, sendo T ∗ sobrejetiva e injetiva, segue que T ∗ é
um isomorfismo.

2. (Lista 4 - P8) Sejam V um espaço euclidiano n−dimensional, W um

subespaço k-dimensional de V , com 0 < k < n, e πW : V → V a
projeção ortogonal sobre W , isto é, o operador linear tal que π(v) = v >
2 Lista 8 – Alguns problemas resolvidos

se v = v > +v ⊥ , com v > ∈ W e v ⊥ ∈ W ⊥ . Prove que Spec(πW ) = {0, 1},

com ma (1) = k e ma (0) = n − k.

Prova. Tome uma base ortonormal B = {e1 , . . . , en } para V , adaptada

a W , isto é, tal que {e1 , . . . , ek } seja base para W . Então, {ek+1 , . . . , en }
é base para W ⊥ , de modo que

ei , se 1 ≤ i ≤ k
π(ei ) = .
0, se k < i ≤ n

Mas aı́, e1 , . . . , ek ∈ V1 e ek+1 , . . . , en ∈ V0 , de sorte que 0 e 1 são

autovalores de π, com ma (0) ≥ k e ma (1) ≥ n − k. Segue que (x −
0)n−k (x − 1)k divide pπ ; entretanto, como ambos esses polinômios têm
grau n e são mônicos, temos que pπ (x) = (x − 0)n−k (x − 1)k . Então,
ma (1) = k e ma (0) = n − k.

3. (Lista 4 - P9) Dado f ∈ K[x] por f (x) = xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0 ,

sejam V um espaço vetorial n-dimensional, B = {e0 , e1 , . . . , en−1 } uma
base de V e T : V → V o operador linear tal que T (ei ) = ei+1 para
0 ≤ i < n − 1 e T (en−1 ) = −a0 e0 − a1 e1 − . . . − an−1 en−1 . Mostre que
pT = f .

Prova. Em relação à base B, temos

 
0 0 ... 0 −a0
 1
 0 ... 0 −a1 

[T ]B =  0
 1 ... 0 −a2 .

 .. ... .. 
 . . 
0 0 . . . 1 −an−1

Portanto,

pT (x) = det(x Id −[T ]B )

 
x 0 ... 0 a0
 −1 x . . . 0 a 1

 
= det  ... .. ..
.
 
. .
 
 0 0 ... x an−2 
0 0 . . . −1 x + an−1
Antonio Caminha M. Neto 3

Aplicando a fórmula de desenvolvimento de Laplace à primeira linha

da última matriz acima, temos
 
x 0 ... 0 a1
 −1 x . . . 0 a2 
 
pT (x) = x det  ... ... ..
 
 . 

 0 0 ... x an−2 
0 0 . . . −1 x + an−1
 
−1 x . . . 0 0
 0 −1 x . . . 0 
 
+ (−1)n+1 a0 det  ... ... ..  .

 . 

 0 0 . . . −1 x 
0 0 . . . 0 −1

O segundo determinante vale (−1)n+1 (−1)n−1 a0 = a0 ; o primeiro é o

análogo ao que queremos calcular, mas sem a primeira linha (a que
termina em a0 ). Argumentando por indução sobre n, suponha que
 
x 0 ... 0 a1
 −1 x . . . 0 a2 
 
 .. . .
det  . . .  = xn−1 + an−1 xn−2 + . . . + a2 x + a1 .

. .
 
 0 0 ... x an−2 
0 0 . . . −1 x + an−1

Então,

pT (x) = x(xn−1 + an−1 xn−2 + . . . + a2 x + a1 ) + a0 = f (x).

4. (Lista 5 - P6) Sejam A1 , . . . , Ak matrizes reais n × n. Prove que

k
X 
det A>
i Ai ≥ 0.
i=1

(Sug: a matriz A> > >

1 A1 + A2 A2 + . . . + Am Am é simétrica.)
4 Lista 8 – Alguns problemas resolvidos

Prova. Se A = A> > >

1 A1 + A2 A2 + . . . + Am Am , é imediato que A é
simétrica, logo, diagonalizável. Sendo λ1 , . . . , λn os autovalores de A,
repetidos de acordo com suas multiplicidades, temos

det(A) = λ1 . . . λn .

Assim, basta mostrarmos que λ1 , . . . , λn ≥ 0.

Por simplicidade de notação, sejam λ um dos λi , e v um autovetor
correspondente a λ. Então, por um lado,

hAv, vi = λhv, vi = λ|v|2 ;

por outro,
m
X m
X m
X
hAv, vi = hA>
i Ai v, vi = hAi v, Ai vi = |Ai v|2 .
i=1 i=1 i=1

Assim,
m
1 X
λ= 2 |Ai v|2 ≥ 0,
|v| i=1
conforme desejado.

5. (Lista 6 - P4) Seja A ∈ M (n; C) uma matriz hermitiana, anti-hermitiana

ou unitária, e C ∈ M (n; C) uma matriz unitária tal que C −1 AC =
diag(λ1 , . . . , λn ).

(a) Prove que C −1 Ak C = diag(λk1 , . . . , λkn ), para todo k ∈ N.

(b) Se f ∈ C[X], prove que f (C −1 AC) = diag(f (λ1 ), . . . , f (λn )).
(c) Prove diretamente o teorema de Cayley-Hamilton para A: se pA
denota o polinômio caracterı́stico de A, então pA (A) = 0, a matriz
nula de ordem n.

Prova. O item (a) é o cálculo a seguir:

k
C −1 Ak C = (C −1 AC)k = diag(λ1 , . . . , λn )
= diag(λk1 , . . . , λkn ).
Antonio Caminha M. Neto 5

Para o item (b), se f (x) = am xm + . . . + a1 x + a0 , então

m
X
−1
f (C AC) = ak (C −1 AC)k
k=0
m
X
= ak diag(λk1 , . . . , λkn )
k=0
m m
!
X X
= diag ak λk1 , . . . , ak λkn
k=0 k=0
= diag(f (λ1 ), . . . , f (λn )).

Por fim, quanto a (c), note primeiramente que

m
X m
X
−1 −1
f (C AC) = ak (C AC) = k
ak C −1 Ak C
k=0 k=0
m
!
X
= C −1 ak Ak C = C −1 f (A)C.
k=0

Então, segue de (b) que

C −1 PA (A)C = PA (C −1 AC)
= diag(pA (λ1 ), . . . , pA (λn ))
= diag(0, . . . , 0) = 0.

Logo, PA (A) = 0.

6. (Lista 7 - P4) Em relação ao operador T : V → V definido no problema

9 da lista 4, mostre que fT = pT . (Sug: tome g(x) = xm + bm−1 xm−1 +
. . . + b1 x + b0 , com m < n, e suponha que g(T ) = 0 para concluir que
b0 e0 + b1 e1 + . . . + bm−1 em−1 + em = 0.)

Prova. Tome g(x) = xm + bm−1 xm−1 + . . . + b1 x + b0 , com m < n, e

suponha que g(T ) = 0, isto é, que

T m + bm−1 T m−1 + . . . + b1 T + b0 Id = 0.
6 Lista 8 – Alguns problemas resolvidos

Aplicando a igualdade acima a e0 , obtemos

T m (e0 ) + bm−1 T m−1 (e0 ) + . . . + b1 T (e0 ) + b0 Id(e0 ) = 0.

Como Id(e0 ) = e0 e T k (e0 ) = ek para 1 ≤ k ≤ n − 1 (logo, para

1 ≤ k ≤ m), obtemos

em + bm−1 em−1 + . . . + b1 e1 + b0 e0 = 0.

Mas isso contradiz o fato de que {e0 , e1 , . . . , em } é LI.