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Equações Diferenciais Lineares

Carlos Rodolfo

Universidade Estadual de Feira de Santana

Projeto Física no Campus

12 de Agosto de 2018
Introdução

Uma equação diferencial ordinária de primeira ordem é uma equação que


envolve uma função icógnita y de uma variável independente x e a derivada
de y :
F (x , y , y 0 ) = 0. (1)
A forma normal de escrever uma EDO1 de primeira ordem é
dy
= f (x , y ), (2)
dx

1
EDO será a abreviação de equação diferencial ordinária.
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Figura: campo de direções y 0 = −xy , (y > 0).2

2
Figura extraída de "Earl A. Coddington - An introduction to ordinary differential
equations".
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Problema de valor inicial (PVI)

Um PVI consiste na EDO (2) sob a condição inicial y (x0 ) = y0 :


(
y 0 = f (x , y )
y (x0 ) = y0 .

Teorema 1: existência e unicidade da solução de um PVI


∂f
Se f e ∂y forem contínuas num domínio D : |x − x0 | ≤ a, |y − y0 | ≤ b,
então há um intervalo |x − x0 | ≤ h ≤ a no qual existe uma solução única
do PVI.

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Por que estudar PVI de primeira ordem?
Porque equações diferenciais lineares de ordem superior podem ser reduzidas
a um sistema de equações de primeira ordem. Sob as condições iniciais, essas
equações de ordem superior podem ser resolvidas como um sistema de PVI
de primeira ordem.

Exemplo: considere a equação de um oscilador forçado e amortecido,

mẍ + c ẋ + kx = f (t) (3)


(
x (t0 ) = x0
ẋ (t0 ) = v0 .

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Na forma de um sistema de PVI, temos
(
y˙1 = y2
y1 (t0 ) = x0
(
y˙2 = m1 − ky1 − cy2 + f (t)
 

y2 (t0 ) = v0 ,
com y1 = x e y2 = ẋ . Podemos escrever na forma matricial,
" # " #" # " # " # " #
y˙1 0 1 y1 0 y1 (t0 ) x0
= k c + f (t) , = ,
y˙2 −m −m y2 m
y2 (t0 ) v0

ou
Ẏ = AY + B, Y(t0 ) = Y0 .

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De forma geral, uma EDO linear de ordem n,

d ny d n−1 y dy
pn (x ) + p n−1 (x ) + · · · + p1 (x ) + p0 (x )y = q(x ), (4)
dx n dx n−1 dx
pode ser reduzida a um sistema de n equações de primeira ordem introdu-
zindo as funções 
φ 1 = y


φ 2 = y 0


. .
..



φn = y (n−1)

Segue-se que o sistema é

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φ01 = φ2
φ02 = φ3
..
.
φ0n−1 = φn
φ0n = b − a0 φ1 − a1 φ2 − · · · − an−1 φn
onde ai (x ) e b(x ) são o quociente de pi (x )/pn (x ) e q(x )/pn (x ). Na forma
matricial,

φ01
      
0 1 0 ··· 0 φ1 0

 φ02  
  0 0 1 ··· 0 
 φ2  
  0 

 ..  
= .. .. .. .. ..  ..  
+ .. 
 (5)

 .   . . . . . 
 .   . 
 0
 φn−1 0 0 0 0 1   φn−1   0
     
  
φ0n −a0 −a1 −a2 · · · −an−1 φn b
ou
Φ0 = AΦ + B.

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Considere o sistema de PVI,
(
Y0 = AY + B
, (6)
Y(x0 ) = Y0

onde
     
y1 a11 a12 · · · a1n b1

 y2 


 a21 a22 · · · a2n 


 b2 

Y= .. , A= .. .. . . . , e B =  .. 

 .



 . . . .. 


 .


yn an1 an2 · · · ann bn

onde os aij e bi podem ser funções de x .


Teorema 2: existência e unicidade da solução de um sistema de PVI de
primeira ordem
Se aij , bi forem contínuas num intervalo I = [a, b] contendo x0 , então o
sistema de PVI (6) tem uma única solução em I.
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Um sistema de EDO de primeira ordem é dito homogêneo quando B ≡ 0
na Eq. (6), ou seja
Y0 = AY. (7)

Teorema 3
O conjunto de soluções S do sistema homogêneo (7) no intervalo I forma
um espaço vetorial n-dimensional sobre R.

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Exemplo: considere o sistema
y10 = y2
y20 = −y1
Que pode ser colocado na forma matricial como
" # " #" #
y10 0 1 y1
= .
y20 −1 0 y2

Duas soluções desse sistema são


" # " #
cos(x ) sin(x )
Φ1 (x ) = , Φ2 (x ) = .
− sin(x ) cos(x )

Essas soluções são L.I. Para facilitar a visualização, tome x = 0 fixo, então
" # " #
1 0
Φ1 (0) = = ê1 , Φ2 (0) = = ê2 .
0 1

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A solução geral do exemplo anterior é
" #
c1 cos(x ) + c2 sin(x )
Φ(x ) = c1 Φ1 (x ) + c2 Φ2 (x ) = .
−c1 sin(x ) + c2 cos(x )

A matriz Yn×n = [Φ1 , Φ2 , ..., Φn ] formada pelas soluções do sistema homo-


gêneo é chamada matriz fundamental de soluções do sistema. No exemplo
anterior, a matriz fundamental é
" #
cos(x ) sin(x )
Y= .
− sin(x ) cos(x )

Definindo C = [c1 , c2 , ..., cn ] como a matriz dos coeficientes, a solução geral


pode ser escrita como Φ = CY.

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Teorema 4:
Uma matriz fundamental de soluções Y constitui uma base para o espaço
de soluções de um sistema de EDOs de primeira ordem homogêneo (7) se
ela for invertível para todo x ∈ I.

Sabe-se que uma matriz M é invertível se seu determinante não for nulo.
Portanto, introduzimos o wronskiano WY da matriz fundamental:

WY = det(Y). (8)

Corolário 1:
Se o wronskiano WY de uma matriz fundamental Y não se anular, para
todo x ∈ I, então as soluções do sistema homogêneo são L.I. e constituem
uma base para o espaço de soluções.

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Equações Diferenciais Ordinárias Lineares

Uma EDO linear de ordem n é uma equação da forma (4):

d ny d n−1 y dy
pn (x ) + pn−1 (x ) + · · · + p1 (x ) + p0 (x )y = q(x ).
dx n dx n−1 dx
Introduzindo L[y ] como

d ny d n−1 y dy
L[y ] = pn (x ) n
+ pn−1 (x ) n−1
+ · · · + p1 (x ) + p0 (x )y = (9)
dx dx dx
n
X dky
= pk (x ) ,
k=0
dx k
podemos escrever
L[y ] = q(x ).

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Teorema 5: existência e unicidade da solução de um PVI para uma EDO
linear de ordem n.
Sejam pi (x )/pn (x ) (i = 0, 1, ..., n − 1) e q(x )/pn (x ) funções contínuas em
um intervalo I. Então existe uma solução única do PVI:

L[y ] = q(x )
y (x0 ) = y0
y 0 (x0 ) = y00 .
..
.
(n−1)
y (n−1) = y0

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A EDO linear homogênea associada a (4) é:

L[y ] = 0. (10)

Vimos que podemos escrever a Eq. (10) na forma de um sistema linear


homogêneo,

φ01
    
0 1 0 ··· 0 φ1

 φ02  
  0 0 1 ··· 0 
 φ2 

 ..  
= .. .. .. .. ..  .. 

 .   . . . . . 
 . 

 0
 φn−1 0 0 0 0 1   φn−1
   
  
φ0n −a0 −a1 −a2 · · · −an−1 φn
ou
Y0 = AY,

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onde 


 φ1 = y
φ 2 = y 0


.. .



 .
φn = y (n−1)

Teorema 6:
O conjunto de soluções da EDO linear homogêna (10) no intervalo I forma
um espaço vetorial de dimensão n.

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Encontradas n-soluções y1 (x ), y2 (x ), ..., yn (x ) da EDO homogênea, sua
matriz fundamental é
 
y1 y2 ··· yn

 y10 y20 ··· yn0 

Y= .. .. .. ..  (11)

 . . . . 

(n−1) (n−1) (n−1)
y1 y2 · · · yn

de modo que esse conjunto fundamental {y1 , y2 , ..., yn } constitui uma base
para o espaço de soluções S se

WY = det(Y) 6= 0, ∀x ∈ I.

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Resumindo

PVI de primeira ordem tem solução e é única. Essa solução pode ser
determinada pelo método de Picard;
Sistemas de PVI de primeira ordem tem solução e é única. A solução
pode ser determinada pelo método de Picard generalizado;
EDO lineares de ordem superior podem ser colocadas na forma de um
sistema de EDO de primeira ordem;
Foi estabelecido algumas conexões entre álgebra linear e EDO lineares.

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Equação não homogêna. Variação de parâmetros

Voltemos a EDO não homogênea (4):

L[y ] = q(x ).

Se yp (x ) é uma solução e yh (x ) é uma solução da EDO homogênea associada


(10), então
y (x ) = yp (x ) + yh (x )
é solução da EDO (4). De modo geral,
n
X
y (x ) = yp (x ) + ci yi (x ) (12)
i=1

onde yi (x ), (i = 1, 2, ..., n) formam o conjunto fundamental da EDO homo-


gênea. É possível verificar isso atuando L[y ] em (12).
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É possível construir uma solução particular a partir do conjunto fundamental
da EDO homogênea (4). Tomamos a matriz fundamental e multiplicamos
por uma matriz de funções λi (x ) deriváveis em I:
  
y1 y2 ··· yn λ1 (x )

 y10 y20 ··· yn0 
 λ2 (x ) 

Yp = YΛ =  .. .. .. ..  .. = (13)

 . . . . 
 .


(n−1) (n−1) (n−1)
y1 y2 · · · yn λn (x )
 Pn 
y (x )λi (x )
Pni i0

 i yi (x )λi (x ) 

= .. 

 . 

Pn (n−1)
i yi (x )λi (x )

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Essa solução deve satisfazer ao sistema

Yp0 (x ) = A(x )Yp (x ) + B(x ),

onde    
0 1 0 ··· 0 0

 0 0 1 ··· 0 


 0 


A= .. .. .. .. ..  
 e B= .. 
 . . . . .   . 

0 0 0 0 1  0
   
  
−a0 −a1 −a2 · · · −an−1 b
que é a EDO não homogêna (4) na forma de um sistema linear.

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Então
Yp 0 = [YΛ]0 = Y0 Λ + YΛ0 = AYΛ + YΛ0 =
AYp + YΛ0 = AYp + B ⇔
⇔ YΛ0 = B (14)
ou

λ01 (x )
    
y1 (x ) y2 (x ) ··· yn (x ) 0

 y10 (x ) y20 (x ) ··· yn0 (x ) 
 λ02 (x )  
  0 

 .. .. .. ..  .. = .. 

 . . . . 
 .
 
  .


(n−1) (n−1) (n−1)
y1 (x ) y2 (x ) · · · yn (x ) λ0n (x ) b(x )

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Referências

Métodos Matemáticos, vol. 1 - Jayme Vaz Jr., Edmundo Capelas de


Oliveira;
An introduction to ordinary differential equations - Earl A.
Coddington;
Existência e Unicidade de Soluções de Equações Diferenciais
Ordinárias - Reginaldo J. Santos;
Linear Ordinary Differential Equations - Earl A. Coddington, Robert
Carlson;

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