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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

AULA 3 – A EDUCAÇÃO
EM ROMA

Olá,

Nessa aula, você verá a importância da educação em Roma, a qual dava


ênfase à formação moral e física (formação do guerreiro), para a constituição de
direitos e deveres que contribuíram para a formação do conceito de cidadania entre
os romanos.
Você verá como foi possível aos romanos organizarem uma educação moral
e virtuosa por meio da organização de códigos de leis que, além de organizarem a
vida em sociedade, contribuíram para a produção e propagação do conhecimento.
Assim, considerando esses aspectos, você poderá observar como se organizaram
tais processos de educação, suas particularidades e sua contribuição para as
civilizações que os sucederam.

Bons estudos!
Ao final dessa aula, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar as características da educação romana em seus diferentes


tempos históricos.
• Analisar os aspectos da influência grega na educação romana.
• Reconhecer a importância da educação na organização do conhecimento e
da cultura romana.
3 O IDEAL ROMANO DE EDUCAÇÃO

Por muito tempo, a Lei das Doze Tábuas serviu de base para a educação
romana. Os romanos conseguiram manter sua forma de conduta, seus princípios
morais e, sobretudo, seu ideal de serem governados pela autoridade patriarcal e
familiar, por meio do uso dessas leis. Melo (2006, p. 2) descreve como os romanos
eram tratados ou pensados:

Roma privilegiou o conhecimento prático e organizador em detrimento do


teórico ou especulativo. Valorizou mais o negotium do que o otium, a ética
mais do que a metafísica. Assim, movido pelas necessidades práticas, o
romano levou ao máximo o poder de agir. Falar, agir e mesmo pensar nada
mais eram do que ação em potência: coagitatio (MELO, 2006, p. 2).

O desenvolvimento da Roma civil esteve associado à valorização da família,


em que o pai e a mãe exerciam o papel principal, já que tinham uma participação
importantíssima na educação dos filhos (MELO, 2006). O poder patriarcal é colocado
no centro da vida familiar e é exercido pelo pai. A ele foi atribuído o papel de formador
do futuro cidadão, isto é, foi-lhe atribuída a responsabilidade pelo desenvolvimento
dos meninos em todas as áreas da vida - desde a moral aos estudos, letras e vida
social. Já para as mulheres, a educação visava prepará-las para serem esposas e
mães, dando-lhes um papel doméstico e educacional.
De acordo com Lima (2011) os principais direitos do cidadão romano são:

• Patria potestas: direito do pai sobre os filhos.


• Manus: direito do marido sobre a esposa.
• Potestas dominica: direito do senhor sobre os escravos.
• Manus capere: direito de um homem livre sobre o outro dado pela lei por
contrato ou por condenação judiciária.
• Dominium: direito sobre a propriedade.

Esses direitos correspondiam a uma série de deveres, que o cidadão romano,


para cumpri-los, precisava possuir algumas aptidões e virtudes. Melo (2006) explica
que:

No perfil ético do homem ideal romano destacam-se, dentre outras, três


virtudes cardeais: a pietas (piedade), referente aos deuses, à família e à
compaixão para com os vencidos – humanitas, magnanimitas; a fides
(lealdade), relativa aos pactos políticos, militares, individuais (no sentido da
amizade), da palavra dada, etc.; e a gravitas (dignidade), que expressava o
domínio de si mesmo, a capacidade para se enfrentar situações imprevistas,
a serenidade na solução de problemas e na emissão de juízos (MELO, 2006,
p. 3).

Lima (2011) ainda apresenta as virtudes do cidadão romano que deveriam ser
desenvolvidas por meio da educação:

• Piedade ou obediência, que incluía tanto a ideia religiosa de reverência


quanto a noção de respeito à autoridade paterna;
• Firmeza ou caráter (constantia), virtude muito valorizada entre os romanos;
• Bravura ou coragem, para o romano nunca abandonar uma luta antes de ter
vencido;
• Prudência, utilizada principalmente na direção dos negócios particulares;
• Honestidade, que valorizava a perfeita conduta em todas as relações
econômicas;
• Seriedade (gravitas) e sobriedade na conduta, na compostura do homem
romano (LIMA, 2011).

Para garantir esse ideal de educação centrado no conceito de cidadania


(direitos e deveres), os romanos utilizaram como principal método pedagógico a
imitação de seus ancestrais.

[...] em Roma, os costumes eram entendidos de um modo mais pragmático


do que na Grécia e, antes mesmo da cultura e da formação espiritual,
estavam ligados ao exemplo de virtude dos que governavam. Para os
romanos, o pressuposto básico do direito e da sociedade era o cidadão justo,
o qual só existiria se continuassem vigentes as leis e os costumes tradicionais
(leges et instituta maiorum), cuja mais significativa manifestação foi o
exemplo maiorum: o modelo daqueles que haviam se destacado pelo
comportamento virtuoso nas esferas familiar, cultural e política (MELO, 2006,
p. 9).

O patriarca da família sempre ocupou o primeiro lugar na visão romana do


homem ideal e a comunidade, em segundo lugar. Esta forma de pensar e apreciar a
própria herança e cultura ajudou a moldar a identidade romana, que se refletiu nas
formas como o conhecimento era ensinado e organizado nessa sociedade.
A educação romana oferecia uma variedade de estruturas organizacionais,
cada uma adaptada às demandas da época. Os romanos sempre se interessaram
pela prática e tentaram de tudo, desde os modelos mais básicos de “homeschooling”
(educação familiar) até as maiores instituições de ensino. Como a educação romana
tornou-se condensada e complexa em termos de pesquisa e produção de
conhecimento, ela foi limitada às classes altas (MELO, 2006).

3.1 A herança grega na educação romana

Você já pôde identificar algumas características que contribuíram para a


organização da educação e da cultura na sociedade romana ao longo dos tempos.
Agora você irá analisar como se desenvolveram os ideais de educação em Roma.
Melo (2006) define um dos primeiros conceitos da educação romana.

A palavra latina educatio, com a qual os romanos denominavam a educação,


expressava um conteúdo semelhante ao termo grego trophé, evidente
quando se tem em conta a origem do verbo educo e um de seus significados:
“alimentar”. Educatio era, pois, a “criação” física e moral que tornava a criança
apta a adentrar o mundo dos adultos. A partir de um determinado momento,
a palavra educatio passou a ser acompanhada de outros termos, educatio et
disciplina ou educatio puerilis, num indicativo de que a formação humana
compunha-se de duas etapas: uma no lar e outra na escola. (MELO, 2006, p.
6).

Essa concepção de educação do povo romano, construída ao longo dos anos,


surge ao longo de um processo de dominação e ocupação territorial. Primeiramente,
pode-se considerar o legado dos gregos, que possuíam uma cultura humanista e
elevada no campo filosófico. Mais tarde, com a divisão do Império Romano e as
invasões bárbaras, outras ondas culturais influenciaram os romanos. (MELO, 2006).
Por volta de 146 a.C., os romanos conquistaram o território grego, resultando
na aproximação de seus aspectos culturais. A educação romana não ficaria alheia a
esse processo de transformação cultural. Melo (2006) explica como os valores
humanísticos, característicos dos gregos, são compreendidos pelos romanos:

Cícero, um dos responsáveis pela tradução de conceitos da cultura grega


para o latim, considerou que, para expressar o conjunto da formação humana,
o neologismo humanitas era equivalente ao termo Paidéia. Na “biografia”
semântica do conceito de humanitas podem-se identificar várias etapas. Num
primeiro momento significava clemência, sinônimo de misericórdia, mansidão
e filantropia. Este significado abrangia as relações pessoais da vida jurídica
e às relações militares com os vencidos. Numa segunda etapa, o termo
assumiu a acepção de condição humana, num duplo sentido: como estilo ou
forma de vida superior à dos bárbaros e como perfeição da natureza humana,
o que implicava uma radical oposição entre o homem e o animal, entre os
homens e as coisas. Com esta conotação, a humanitas do homem civilizado
ou humanizado pela cultura, o homo humanus, contrapunha-se à immanitas
dos bárbaros (MELO, 2006, p. 10-11)

Este novo conceito romano de educação, influenciado pela Paideia grega,


eliminou a importância da educação familiar e a substituiu por escolas privadas que
visavam ensinar gramática e retórica. No século II a.C, essas escolas seguiam o
modelo grego, pois as necessidades comerciais, políticas e jurídicas exigiam
gramática grega e treinamento retórico. Apenas no século I a.C, a retórica latina foi
criada na língua romana.
Segundo Vieira (1984), os romanos organizaram sistematicamente essas
escolas ao longo do tempo, dividindo-as em graus e disponibilizando manuais
específicos. Quanto aos graus, as escolas foram divididas em três níveis: elementar,
secundário e retórico. Veja Quadro 1 abaixo:

Quadro 1 – Níveis da escola romana:

Fonte: Vieira (1984)

Segundo Vieira (1984), a formação escolar romana mantinha no centro o


princípio da retórica e a tradição das artes liberais, atribuindo valor à palavra. Roma
não poderia permanecer imune ao contágio da cultura helenística. A constituição do
Império Romano uniu várias cidades gregas do Mediterrâneo ocidental ao mar
Oriental. Mas muito antes do império, os etruscos foram influenciados pelos gregos,
de quem tiraram o alfabeto e as técnicas para aprender a ler e escrever.
A influência helênica não parou de crescer, em particular com a invasão e
posterior anexação da Grécia e da Macedônia, no século II a.C., no seu território.
Desde então alguns professores gregos (se não por nascimento, pelo menos por
formação) começaram a apoiar a educação familiar dos jovens romanos. Na verdade,
afugentados pelas agitações do Oriente, ou atraídos pela rica clientela romana, muitos
gramáticos, retóricos e filósofos atenienses dirigiram-se a Roma. Esses serão os
mestres responsáveis pelo ensino de jovens e adultos. São mestres responsáveis
pelo ensino de jovens e adultos (VIEIRA, 1984)
Os políticos romanos perceberam muito cedo que o conhecimento da retórica
ateniense seria crucial para melhorar a eloquência de seus discursos para as massas.
Roma, com a retórica e a formação literária que lhe serviam de base, descortinou
pouco a pouco todos os aspectos encobertos da cultura grega. Desse modo, é
possível dizer que o Helenismo impregnou toda a Roma, inclusive a vida religiosa, as
artes e os teatros, que passaram a adotar modelos com temas e padrões helenísticos.
(FULGÊNCIO; SILVÉRIO, 2004).

3.2 A importância da educação na história romana

Para perceber a importância da educação romana, é necessário observar os


aspectos de sua história, levando em consideração as particularidades de cada
contexto histórico. Quadros (2011, p. 5) explica a importância da investigação
histórico-educacional:

A investigação histórico-educacional apresenta-se, então, como uma


produção constante de significados. De significados de e para uma História
que não é a representação exata do que existiu e que só pode ser descrito
parcialmente, mas que se esforça em propor uma inteligibilidade, em
compreender a forma como o passado chega até o presente e informa sobre
a nossa maneira de pensar e de falar.

Com base nessas informações, a educação em Roma passou por diferentes


fases, as quais são descritas a seguir.

3.2.1 A educação primitiva (753−250 a.C.)

Naquela época, prevaleciam as considerações e valores familiares. A casa era


quase a única escola. Segundo Vieira (1984), os meninos eram criados imitando os
pais. Eram ensinados a lidar tanto com negócios públicos quanto com questões da
vida privada, e era comum que participassem das atividades de fóruns e até mesmo
de acampamentos militares. A disciplina era rígida e as questões morais eram muito
valorizadas.
Larroyo (1970, p. 207–208 apud TAVARES; 2014) explica alguns dos fatores
dessa mudança.

Os militares, comerciantes e diplomatas necessitavam do conhecimento da


língua grega para melhor desempenho de seus empreendimentos; a guerra
e a política se tornaram cada vez mais complexas e difíceis; a jurisprudência
foi se convertendo numa disciplina que exigia certos conhecimentos não mais
suscetíveis de serem aprendidos pela audição das dissertações públicas; por
fim, a arte oratória chegou a ser o meio mais eficaz para ocupar as
magistraturas ou influir poderosamente na vida social. Como se pode
compreender, a velha escola do ludi-masisteja não podia satisfazer por si
mesma as novas exigências; junto dela se foi gerando um novo tipo de
instituições. (LARROYO, 1970, p. 207–208 apud TAVARES; 2014).

3.2.2 A educação no Período Imperial (27 a.C.−200 d.C.)

A educação em Roma, no Período Imperial, sofreu grandes intervenções do


Estado. Isso se justifica porque a máquina burocrática de administração ampliou seu
quadro de funcionários e foi necessária, no mínimo, uma educação elementar formada
por leitura e escrita. Neste sentido, Aranha (1996, p. 66), afirma que:

Embora o Estado se interesse pelo desenvolvimento da educação, de início


interfere de maneira muito lenta, como mero inspetor, mais ou menos
distantes das atividades ainda restritas à iniciativa particular. Com o tempo
oferece subvenção, depois controla por meio da legislação e por fim toma por
si a inteira responsabilidade. (ARANHA, 1996, p. 66).

Com base nesse processo de domínio da educação, no século I a.C., o Estado


passou a estimular a criação de escolas municipais em todo o Império. Aranha (1996)
aponta que o próprio Imperador César concedera o direito de cidadania aos mestres
de artes liberais. Já no século I d.C., o imperador Vespasiano isentou os professores
de impostos e Trajano ordenou a distribuição de alimentos aos alunos pobres.
Posteriormente, outros governantes decidiram que os professores deveriam ser pagos
em dia, além de ordenar o que deveriam receber (ARANHA, 1996).
Outro ponto relevante e que merece destaque na política educacional desse
período diz respeito às cátedras oficiais. O primeiro imperador a aplicá-la foi
Vespasiano; criou cátedras específicas para oficiais de retórica latina e grega,
sustentadas por fundos imperiais, apenas para a cidade de Roma, não para todo o
império (MELO, 2006).
A partir da necessidade aqui descrita para formar funcionários para o Estado,
as disposições imperiais previam, além de instituições voltadas para a preparação dos
altos escalões, escolas especiais destinadas à formação de escrivães (taquígrafos),
cujas funções foram adquirindo maiores responsabilidades ao longo da história do
Império Romano (MELO, 2006; ARANHA, 1996). Por fim, vale a pena mencionar que
a estrutura educacional do resto do estado e municípios romanos levou à criação dos
reinos bárbaros (germânicos). Isso porque os bárbaros valorizavam a cultura clássica,
que se concretizava no processo educacional de seus filhos. Assim, chegou ao fim a
tradição da educação laica.

3.3 A elitização e a crise da educação romana

É interessante considerar o que Melo (2006) diz sobre as consequências das


mudanças no sistema educacional romano. A sistematização da educação levou ao
elitismo da escola romana e, no final, apenas os membros da classe alta tinham
acesso à educação. É por isso que a educação romana perdeu sua principal
característica: o ensino prático voltado para todo o povo. O elitismo da educação
romana, por um lado, oferece novas formas de aprender e saber, por outro, exclui
muitos da escola, levando a uma crise no sistema educacional, que agora é desigual.
Vieira (1984) considera essa crise da educação romana como também uma
crise de preservação e divulgação de sua cultura, que permite à igreja cristã ocupar
as instituições de ensino e difundir e fortalecer dogmas. Assim somados os fatores de
elitismo da educação romana, o declínio do Império Romano e os processos de
invasões bárbaras, os modelos educativos romanos foram gradualmente substituídos
por modelos medievais.
Em suma, é possível afirmar que o papel histórico de Roma não foi o de criar
uma nova civilização, mas o de implantar solidamente a cultura helenística na região
do Mediterrâneo. Do ponto de vista histórico, a educação na sociedade romana
continuou desprezando o trabalho manual e priorizando a educação e formação de
uma elite intelectual. Assim, a educação tem por finalidade realizar o que o homem
deve ser (ARANHA, 1996).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARANHA, M. L. A. História da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996.

FULGÊNCIO, C.; SILVÉRIO, D. O ensino em Roma. 2004. Trabalho realizado para


a disciplina História e Filosofia da Educação, Instituto de Educação, Universidade de
Lisboa, Lisboa, 2003.

FULGÊNCIO, C.; SILVÉRIO, D. LEI DAS XII TÁBUAS (DIREITO ROMANO).


Divinunes 01, 09 out. 2016.

MELO, J. J. P. A educação e o estado romano. Revista Linhas, Florianópolis, v. 7, n.


2, p. 1-19, 2006.

QUADROS, C. Ensino e aprendizagem em história da educação: relato de experiência


com estudantes da Pedagogia. In: VI Congresso Brasileiro de História da Educação,
2011, Vitória. Anais [...] Vitória: SBHE-UFES, 2011. p. 3300-3309.

TAVARES, F. M. Os processos educacionais gregos e romanos e suas


influências para formação da sociedade. 2014.

VIEIRA, M. R. Educação na Roma antiga. Calíope: presença clássica, Rio de Janeiro,


v. 1, p. 103-109, jul./dez., 1984.

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