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Este trabalho trata de aspectos das práticas pedagógicas das professoras que
atuaram nas 4ªs séries na década de 1990 a 2000, na Escola Estadual Gustavo
Kulman (EEGK), em Cuiabá – MT, manifestados em seus registros nos diários de
classe quando efetuaram o ensino da produção textual escrita. É parte integrante da
pesquisa: “O ensino da produção textual escrita em uma escola de Cuiabá-MT: do
prescrito ao realizado no período de 1990 a 2000” em que, fundamentalmente,
procuramos compreender as intrincadas relações entre as propostas oficiais do
ensino da produção textual escrita em Cuiabá – MT, chamadas nesta pesquisa de
prescrições3, com o que foi possível de realizar na práxis pedagógica das
professoras. As novas prescrições, a partir dos documentos oficiais, trouxeram
novas concepções e novas exigências para o ensino da Língua Portuguesa em que
se esperava um trabalho voltado para a formação de um leitor e de um escritor-
produtor de textos variados e adequados a múltiplas situações sociais. Procuramos,
pois, compreender a ressignificação do ensino da produção textual nesse período.
Os sujeitos da pesquisa foram quatro professoras de Língua Portuguesa que
atuaram nas 4ªs séries na EEGK, na década de 1990. Os dados foram coletados por
meio de seleção e reunião de fontes documentais emblemáticas: materiais
escolares, como: fotografias, livros didáticos, diários de classe, planejamento anual,
avaliações e redações de alunos; prescrições de âmbito federal e estadual;
entrevistas com professoras.
Para a análise documental, lançamos mão da “análise da configuração
textual”, proposta por Mortatti (2000), por meio da descrição, interpretação,
comparação e cruzamentos das fontes. A análise, ainda, pautou-se pelo enfoque
que Chartier (1990) deu para a história cultural e pela noção de cultura escolar
desenvolvida por Julia (2001) e nos revelou a existência de uma distância entre o
prescrito e o realizado para o ensino de produção textual escrita nos anos 90. Esses
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Mestre em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso. Professora da Faculdade de
Educação de Colorado do Oeste – FAEC – e Associação Vilhenense de Educação e Cultura – AVEC-
Rondônia. Membro do Grupo de Pesquisa ALFALE (Alfabetização e Letramento Escolar).
elizabethmenegolo@yahoo.com.br.
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Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora da Universidade
Federal de Mato Grosso, no Departamento de Educação (Campus de Rondonópolis) e no Programa
de Pós-Graduação em Educação (Campus de Cuiabá). Coordenadora do grupo de Pesquisa ALFALE
(Alfabetização e Letramento Escolar). kjc@terra.com.br.
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Materiais normativos que advieram de órgãos federais: a Lei 5.692/71, a Lei 9.394/96 e os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN); de órgãos estaduais: a Proposta Político-Pedagógica de
Mato Grosso (1992), as Propostas Curriculares de Mato Grosso (1991) e (1993), a Proposta para o
Ciclo Básico de Aprendizagem (1998) e a Proposta para a Escola Ciclada (2000); e de órgão escolar:
os Diários de classe, as avaliações de alunos, os planos globais escolares, um projeto para
recuperação paralela, os planejamentos anuais, os livros didáticos e as entrevistas com as
professoras.
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Figura 02: Diário da Profª Maria José -1990 – 6ª Figura 03: Diário da Profª Maria José -1991 –
Folha 5ª Folha
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O termo “tipos textuais” está sendo usado para a designação de uma ou outra tipologia textual, mas
não com a abrangência em que a ele se recorre na atualidade, porque não era comum, na década
pesquisada, o uso do termo “gêneros textuais”, pois se trata de uma terminologia recente.
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Figura 08: Diário da Profª Aline -1998 – 1ª Folha 1º Figura 09: Diário da Profª Benedita -1998 – 1ª Folha
Bimestre 1º Bimestre
Figura 10: Diário da Profª Benedita -1999 – 4ª Folha Figura 11: Diário da Profª Benedita -2000 – 3ª
Folha
Considerações Finais
Percebemos que o processo de ressignificação do ensino da produção
textual escrita aconteceu, nesta década, gradativamente. As professoras, conforme
seus registros pareciam passar de uma perspectiva de texto visto como pretexto
para se ensinar-aprender a ler e escrever (daí a ênfase na gramática) para uma
perspectiva de texto como objeto próprio de ensino-aprendizagem (daí os diferentes
gêneros textuais, os usos e funções da língua). Assim, o ensino de Língua
Portuguesa já nos meados desse período, ganhou um formato diferenciado do que
tinha no início dos anos 90, em que a língua era tratada como algo estático e
imutável. O que sugere que o aluno também passou a ser o foco da aprendizagem,
ganhando voz, podendo expressar suas palavras e deixando, em algumas
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O termo “métier” está sendo usado como sinônimo de atividade profissional.
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REFERÊNCIAS
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Para uma análise das diferentes formas de transposição didática por parte das professoras, ver
Dariluce Gomes da Silva de SOUZA (2005) A transposição didática no ensino da produção textual
escrita. Para uma análise das diferentes apropriações sobre o trabalho com leitura, ver Sílvia
Matsuoka de OLIVEIRA (2005) A política do silêncio e do silenciamento no jogo discursivo da prática
de leitura, ambas teses de Mestrado defendidas junto ao Programa de Pós-graduação em Educação
da UFMT, por participantes do Grupo de Pesquisa ALFALE.
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