Você está na página 1de 5

1 – Evolução Histórica:

Desde as mais remotas eras da pré-


história que o Homem procurou refúgios para se
proteger: contra os rigores do clima e das
intempéries, do medo da noite e dos ataques de
animais ferozes e, porventura, de outros grupos
humanos. Os primeiros abrigos que o Homem utilizou
eram grutas naturais que posteriormente foram
sendo “ampliadas” e adaptadas artificialmente no
sentido de aumentar o seu espaço útil ou limitar o
Figura 1 – Gruta Natural acesso, tornando-as mais habitáveis.

As primeiras construções leves surgiram


precisamente como intervenções no interior dessas
grutas, no sentido de incrementar as suas condições
de habitabilidade. Na Figura 2 pode ver-se a
reconstituição gráfica duma construção pré-histórica
com ramos de madeira e peles, encontrada no interior
de uma gruta em França. Encostados a uma parede
da gruta, apareceram conjuntos de pedras que se
supõe terem servido de suporte aos mastros que
Figura 2 - Construção no interior de uma caverna suportavam a cobertura realizada com peles de animais.
Uma reconstrução desta tenda é mostrada na Figura 2. Era subdividida em duas salas, na
maior das quais se encontrava uma fogueira. Os habitantes, aparentemente Neandertais,
usavam preferentemente pinho, em vez de outras madeiras, ainda que mais abundantes na
zona.
A tenda é o abrigo mais antigo, só com exceção da caverna, sendo a primeira construção
humana com função de habitação. Atualmente, existem poucos vestígios destas construções,
devido à fragilidade dos materiais com que foram realizadas e à reduzida dimensão. Só
recentemente, os arqueólogos, equipados com técnicas mais evoluídas de pesquisa e recolha
de dados, conseguiram descobrir e identificar vestígios das primeiras habitações.
O que mais impulsionou o Homem a criar abrigos totalmente artificiais foram
provavelmente as alterações climáticas que se sucederam ao período glaciar iniciado há cerca
de um milhão e quinhentos mil anos atrás. Devido a um novo contexto ambiental, que exigia
1
ao Homem mais capacidades de adaptabilidade, estes fenómenos impulsionaram o
desenvolvimento da inteligência humana. A adequação a condições mais difíceis conduziu ao
apurar do fabrico de ferramentas, vestuário e abrigos, levando o Homo habilis a organizar a
sua vida de forma a poder procurar os recursos alimentares que cada vez mais escasseavam
e a realizar migrações desde África, onde foram encontrados os primeiros vestígios humanos,
até à Europa e à Ásia.
Na Figura 3 pode ver-se a evolução das habitações desde os primeiros abrigos até às casas
atuais.

Figura 3 - Evolução das habitações.

O Homem pré-histórico era fundamentalmente caçador / coletor, vivendo de plantas e frutos


selvagens, muito dependente dos animais que a sua habilidade lhe permitia caçar e dos quais
não só se alimentava, como também extraía a pele e os ossos, como matéria-prima para
vestuário e habitações. Foi encontrado um pequeno círculo de pedras empilhadas,
aparentemente para suportar ramos de árvore. Isto era claramente um produto do Homo
habilis, um precursor do Homo erectus, que era um utilizador de ferramentas (mais do que um
construtor de ferramentas), vivia em povoados e utilizava o fogo já desde há aproximadamente
três milhões de anos.
Num local da Alemanha, foram realizadas escavações, nas quais se colheu muita
informação sobre os primeiros Europeus. Este local era ocupado por um grupo de caçadores
/coletores que ali viveram durante o período de
700.000 a 120.000 a.C. Viviam essencialmente de
caça grossa, mas também da recolha de frutos
silvestres, mel, resina, da pesca de peixes que
apanhavam no rio e da caça de pequenos animais
como castores, dos quais aproveitavam a pele
para as suas construções, realizadas utilizando
ossos dos grandes animais como elementos estruturais.
Figura 4 – Dólmen.

O fim da última era glaciar, trouxe gradualmente a possibilidade de sedentarismo, pela


possibilidade de desenvolvimento de meios próprios de produção de alimentos, levando à
transformação para uma economia agrária. A agricultura exigia mão-de-obra intensiva e uma
organização mais social, só se tornando possível tratar das colheitas e criar animais em
fixações sedentárias. Nesta altura começaram a surgir os dólmenes, que consistiam em
pedras horizontais de grandes dimensões suportadas por pedras posicionadas
verticalmente. Este tipo de estruturas surgiu um pouco por toda a Europa e também em
Portugal. Foi, no entanto, o Médio Oriente a primeira região a revelar sinais duma economia
agrária mais desenvolvida, marcando o início do Neolítico. Na Mesopotâmia, descobriram-
se vestígios das primeiras fixações
permanentes, nas montanhas dos atuais Irão,
Iraque, Israel, Jordânia e Síria, datando de
6.000 a 5.000a.C. Terão sido
essencialmente estes povos nómadas
que trouxeram, por herança cultural, algumas
das construções leves tradicionais que ainda
hoje subsistem.

Figura 5 – O Crescente Fértil.

2 - Habitações primitivas em Portugal

Em Portugal, as construções primitivas para habitação permanente, também chamadas de


arquitetura arcaica, correspondem a uma evolução que ultrapassa o nível de meros abrigos
precários e temporários referidos anteriormente. Compreendem quatro tipos diferentes:

1 - Construções com cobertura-parede, de planta circular (cónica) ou retangular, em


materiais vegetais: Foram habitadas pelos primeiros povos (que, entretanto, já fazia da
agricultura) que habitaram a Península Ibérica e eram construídas inteiramente em
materiais vegetais. Entretanto, surge uma variante retangular, encontrada no litoral (Porto
Covo, Setúbal e Sines) (ligada à atividade piscatória) mas também no interior (Beira Alta)
destinada a atividades rurais.

Figura 6 e 7 – Construções em Cobertura- parede de planta circular e retangular.

2 - Construções inteiramente em materiais vegetais, de cobertura e


parede diferenciadas, com planta circular (forma cilindrocónica) ou
retangular: Estas são feitas de paus, ramagens e colmo, e não se
destinam á habitação., sendo usadas como anexos rurais e
agrícolas. Mais tarde foram tomando a forma retangular e
tornaram-se os espigueiros. Os seus restos ainda podem ser
encontrados por todo o nosso país

3 Construções com cobertura em materiais vegetais e parede em


pedra e planta circular, quadrada ou retangular: Nestas
construções, já eram usadas pedras e rochas colhidas no local. Figura 8– Construção
Também sendo encontradas um pouco por todo o território, as inteiramente em

circulares existiam em maior número no Alentejo e Algarve, sendo materiais vegetais de


planta circular.
que as retangulares eram mais usadas no Norte do pais.

Figura 9 e 10 – Construções com parede em pedra, de planta circular e retangular.


4 Construções inteiramente em pedra, com cobertura em falsa cúpula e planta circular
ou quadrada. Este tipo de construção usava muito mais rochas e pedras que as
anteriores, sendo que a cobertura era também de pedra. Foram usadas por todo o país.

O primitivismo das construções


apresentadas anteriormente, não
significava que elas correspondessem
necessariamente aos níveis sociais mais
baixos, mas sim que estavam ligadas a
certas atividades particulares. Por
exemplo, os abrigos móveis dos

pastores, um último reflexo de um
Figura 11 Construção inteiramente em pedra.
passado de pastoreio seminómade, ou as casas de materiais vegetais dos pescadores, têm
as suas raízes no Paleolítico. São formas de habitação muito precárias, onde as pessoas
vivem em condições de grande – por vezes total – desconforto, que hoje em dia mal se aceita,
e que estão por isso condenadas a desaparecer, votadas ao desprezo que em geral merecem
as formas ultrapassadas, ou integradas em contextos que evoluíram para além delas.

ACTIVIDADE:
Construa um quadro síntese que relacione as diferentes espécies humanas, suas
habitações, e a época em que surgiram. Discuta também as vantagens e desvantagens de
algumas destas habitações.

Você também pode gostar