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o de
Rithé ECy(as
LPARÓA OGATIURDCITOO
um abuso imaginário e seu além
A Guia topológicaparo Tétourdit
Ur abuso imagimario sie tis alta
CopyrighriO 2019. Aller Editora
“q
| Lia CarneiroSilveira (Universidade Estadual do Ceará)
| Luis Izcovich (École de Paychannlyse des Forums du Champ Lacanien)
Maria Lívia Tourinho Moretto (Universidade de São Paulo) Introdução
Trndryão Paulo Sérgio de Souza Jr,
Revisão Gisela Armando e Fernanda Zacharewicz 1 Um pouco de topologia
Capa Niky Venâncio 2 Do toro à falsa banda de Moebius
Diagramação Sonia Peticov 3: Pode-se fazer algo mais como toro neurótico
Primeira edição: junho de 2019 4| A costura: banda de Moebius “verdadeira”
5! Retorno à banda bilátera
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 6/ A banda de Moebius é o corte
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
7| Uma suplência possivel
Ficha catalográfica elaborada por (ulifia Hitaria MoreiraJunior — CRB-8/0949
8| Outro suplemento possível: da banda de
[ Caósg
Moebius ao cross-cap
| Chapuis, Jorge a 91 A asfera
| Guia topológico para “O atirdito”, um âbuso imaginário e seu além /
Jorge Chapuis; traduzido por Paulo Sérgio de Souza Junior. — São Paulo; 10 Não é metáfora
Aller Editora, 2019. 11 O asférico do universo em “particular”
208 po il; 14x21em 12 A topologia de um discurso
“Tímulo original: Giniiopolígica para Létourdir, um abusa inraginando y su 13 O que se pode ensinar
mms ertlaE
14 Atopologia é a estrutura
ISBN 978-85-04347-21-3
15| O corte e a quantidade de giros: o impossível, o real
1. Psicologia. 2.Psicanálise 3. Topologia. 4, Lacan,Jacques, 1901-1981, 161 O final
1. Souza Júnior, Paulo Sérgio de, TL. Título,
DO TORO AQ CROSS-CAP
| | v banda bilátera |
| |
|
| | i Essa bricolagem topológica inicia-se como toroe termina
| (2 | no eross-cap, passando pelas superfícies intermediárias
| | f | que apresentamos no esquema simplificado. Para passar
| | de uma a outra, são requeridos passos intermediários
| que O aturdito descreve detalhadamente. Descreveremos
| banda de Moebius 4 cada passo que organizamos em quatro etapas para a sua
melhor compreensão.
bahda de Moebius recorte esférico Woszod | Seguiremos detalhadamente o texto de J. Lacan, indi-
Ei E Rad cando as operações das quatro etapas.
A
meridiano alma / espaço
E
f de Vévidement. (823.2: AR469; OE470)
K
face interna
Segundo passo: Pinçamento e deslizamento
Lacan se expressa assim: “Salta aos olhos que, ao
Essa primeira etapa é descrita no parágrafo $23.2
e pinçá-lo de comprido entre dois dedos a partir de
consiste somente num desinchamento do toro e uma
defor- umponto e voltando a ele — o dedo que estava em
mação. Não implica nenhum corte: apenas extra
ímos o ar cima, no início, ficando embaixo, no final, isto é,
pinçamento
no início
linha da borda
34 | Guia ToroLócico rara o aburdido PóDR-SE PAZER ALGO MaIS COM O TORO NEURÓTICO | 35
Podemos seguiros passos do corte mantendo
as nossas EscLARECIMENTOS SOBRE A BANDA BILÁTERA
duas cores (roxo para a face interna e verde para
a externa
da superficie tórica). A banda que se obtém most É) conveniente fazer alguns esclarecimentos para facilitar
ra a evidên-
cia da sua bilateralidade — quer dizer, das suas a compreensão de desenvolvimentos posteriores.
duasfaces.
Verifica-se que o toro se transformou verdadei Esta fita bilátera, ou banda de duas faces, J. Lacan a
ramente em
outra superfície. Obtém-se, assim, uma band denomina banda bipartida, visto que se pode obtê-la tam-
a bilátera.
bém por um corte da banda de Moebius, ainda que aqui
a consigamos a partir da falsa banda de Moebius. Se se
| CORTE DO TORO APLANADO COMO FALSA realiza essa operação na prática, convém fazer algumas
| manipulações sobre a fita para obter distintas versões da
| BANDA DE MOEBIUS => BANDA BILÁTERA
|
o- f
mesma banda bilátera que nos permitirão visualizar algu-
| mas das suas características.
banda
bilátera
a.
O
inverter essas virara fita
duas dobras
a
Y
eliminar dobras |
inversas
io e se aan
sejais Aplanada, e utilizando cores, a fita permite verificar se
tem uma ou duas faces. Para quantificar a torção, pode-
Com esse corte a estrutura topológica mudo
u readical- -se desenhar uma representação plana simplificada onde
mente: “A banda obtida tem duas bordas,
portanto, o cada dobra represente uma meia volta de torção — visua-
que basta paralhe assegurar um direito e um
avesso”. lizando, ao mesmo tempo, as faces da fita e as bordas.
N
borda A mite descrever a separação em duas bordas e identifi-
car com clareza as duas faces da fita.
banda bilárera
UM CORTE PELA MEDIANA DA BANDA
DE MOEBIUS CRIA À BANDA BILÁTERA
banda de Moebius
banda de Moebius banda bilátera
EA.
BANDA DE MOEBIUS VERDADEIRA
CORTE: DA FALSA BANDA DE MOEBIUSÀ BAN
DA BILÁTERA
ponto deinício do corte e
banda
bilátera
banda bilátera
falsa banda
| de Moebius
colocação dos pontos
para a costura
banda de Moebius
verdadeira
Para confrontar cada borda — que é um
duplo fecho
— consigo mesma,é preciso colocar em
continuidade cada DETALHES DA UNIÃO POR COSTURA |
face com a sua face oposta; para isso será
necessário fazer,
ao mesmo tempo, certos deslocamentos e
giros das faces da “um ponto” duas faces uma face
banda. Para realizá-los, utilizaremos “umponto” no"traverso”/ |
o ponto que havia-
mos marcado como guia, cuidando para na face externa face interna |
emparelhar as
duas lâminas, mas com as faces invertidas 7 -
. E isso levando e
em consideração que são o deslocamento
das bordas e os
giros das faces que permitem que a cost 5! Ré |
ura se realize de Ti A
modo que a superfície se estruture, por cerz
imento, agora
sim, numa banda de Moebius verdadeira.
Essa ilustração, nos moldes de uma demonstr
ação cons- 4 |
trutivista, permite visualizar a muda
nça estrutural da
superfície e verificar a continuidade, na nova “conjugado” “conjugado” |
superfície,
das duas faces do toro original, na face externa no"traverso”/
face interna
Para designar essa operação, Lacan utili
za o termo
“te tour de passe-passe”: truque com
as mãos; passe de
mágica; prestidigitação; manobra invisível
de ilusionista; Isso assegura que todos os pontos da nova superfície
movimento que 0 espectador não vê e que
faz desaparecer são topologicamente contíguos, o que quer dizer que só há
ou aparecer algo inesperado, causando asso
mbro, uma face,
Não se chega a essa banda de Moebius
verdadeira
fazendo a operação inversa ao corte do
toro esvaziado e 2. Costura (com banda simplificada)
pinçado, isto é, não adianta coseras bordas
do mesmolado Outro modo de mostrar a operação de “costura” é utili-
que esse corte havia separado — isso levar
ia novamente amv a representação plana simplificada da banda de duas
à falsa banda de Moebius, à ficção de band
a homóloga ao lnces, idêntica topologicamente à “banda bilatera” obtida
toro neurótico. Essa operação colocou
em continuidade pelo corte do toro aplanado (cf. p. 38). Essa versão não se
Pontos que antes estavam efetivamente
do outro tado. pode construir fisicamente partindo de a Ro de
Ao reler 0 texto à luz da sequência de figur
as da página papel, visto que a superficie de um papel é rígida, inde-
anterior, vê-se que a “costura” se realiza
unindo duas par- formável em qualquer de suas duas dimensões. À repre-
tes da mesma borda: “o duplo fecho de uma
das bordas nentação plana simplificada tem a virtude de mostrar
confrontado com ele mesmo, a sua cost
ura constitui explicitamente cada meia volta de torção como uma dobra.
a banda de Moebius “verdadeira”, Prev
iamente, foi Essa forma da banda bilátera mostra a banda com as
preciso fazer um deslizamento das duas lâmi
nas para unir nuas duas dobras (duas metas torções = 2 x 180º = 3607 no
cada ponto com 6 seu ponto “conjugado”
do “traverso” mesmo sentido, Além de evidenciar as suas duas bordas
(na outra face). A figura abaixo ilustra o
detalhe da união: que têm forma de oito interior, ela permite visualizar como
no faz a costura.
O resultado de coser uma dás bordas consigo mesm lisse parágrafo assinala que as operações de costura e
a
Pao representação, o ideal está em preto) é a verda corte podem ser operações inversas capazes de transfor-
deira
anda de Moebius, que tem uma única borda — azul mar a banda bilátera em banda de Moebius, e vice-versa.
na
nossa figura. Aeclaramos que Lacan utiliza duas denominações para a
ú Nos próximos parágrafos Lacan se concentrará mesma superfície topológica de duas faces, duas bordas e
nessa
ua de costura, de corte ou de borda, conforme se olhe umatorção (360º):
—
9 sa e da
“essencial” :
banda de Moebius. No próximo parágrafo - “Banda bilátera”: quando a obtém pelo corte do
ele começa a assinalá-lo. toro desinchado e pinçado;
- “Banda bipartida”: quando a obtém pelo corte de
uma só volta a partir de uma banda de Moebius.
TT
Essa banda será desigual em largura, mas não difere topo-
3. Corte de 2 voltas
logicamente da do corte pela mediana. De qualquer modo,
notaremos que sempre se terá atravessado uma vez (ou Neste caso produz-se uma transformação topológica bas-
qualquer número impar de vezes) a linha mediana antes tante espetacular: surgem duas superfícies distintas, mas
enlaçadas. Obtemos uma banda bilatera atada a uma
de fechar a única volta.
Escher, o grande desenhista que tornou a banda de banda de Moebius. Vamos deixar para depois (p. 61) os
Moebius popular, criou uma versão da banda com três detalhes dessa operação, visto que O aturdito se ocupa
meias torções, mostrando um corte de uma só volta não desse corte no parágrafo $23.10.
realizado pela mediana e que produz uma superficie bilá- Resumindo o raciocínio de Lacan no $23.6: a banda de
duas faces (banda bipartida” ou “banda bilátera”)
tera de largurairregular.
pode ser obtida a partir de uma banda de Moebius cortada
numavolta só. Houve uma inversão no ponto de vista do
linha não mediana / raciocínio que verifica “a relação” entre “banda bipar-
|
corte de 1 volta tida” e “banda de Moebius”; raciocinio que, em $234,
havia aventado “que o corte a produziu”.
No parágrafo seguinte, O aturdito se ocupa especifica-
mente do próprio corte.
*<
e DETALHE DO CORTE
vê corte de duas voltas sem cruzar a mediana Nesse truque de ilusionista, algo se evidencia, algo se
torsão de 360º — dois meiosgiros | manifesta: esse objeto que ele tinha em mãos (a banda de
Moebius) não é nada mais que essa tesourada, esse corte
pela mediana. À prova disso é que a “sua superfície”
(a banda de Moebius) “some”, visto que onde antes havia
uma banda de Moebius, depois do corte já não há nada
nlém de uma fita bilátera: esse corte faz com que a banda
de Moebius desapareça.
Lacan, nesse parágrafo, avança firmemente rumo a
uma conceituação que reduza o empuxo imaginário, que
olo já havia insinuado no final do parágrafo anterior:
| “para captá-la... imaginariamente” (823.6). A banda
| de Moebius se identifica com qualquer um dos cortes sobre
n própria superfície que se feche numa volta só: “não é
nada além desse próprio corte”.
54 | GuirtoroLósico para o aturdido
A sanDa pE Moemius É ocorre | 55
Assimilar uma superfície a um corte já nos
mostra que Começamos perfurando a superfície num determinado
o valor do recurso topológico está mais na
forma em que ponto e no seu “traverso” para depois percorrer todos
se relacionam as noções implicadas do
que na própria os pontos da mediana e seus traversos até fechar o corte
figura que é capaz de representá-las. Essa
concepção se alcançando o par de pontos iniciais. Ac completar o per-
desenvolve explicitamente mais adiante:
$24.4 e seguintes curso numa única volta, a banda se abre e o corte gera uma
(cf. p. 101 deste volume).
segunda borda com duas meias torções na banda (agora
Assinalamos o valor da prova pelo ponto (p.
44) para per- “banda hipartida'”).
ceber que esse corte que se fecha numa única
pu
borda
ERES 7)
gerasa pelo
corte
borda
anterior
|
Ao
trajeto do corte pela mediana
NE
trajeto da borda gerada
Explicitando o raciocínio, seria algo assim: a band Para tirar todo o proveito do que essa estrutura pode
a de
Moebius está na borda da bilátera porque fare nos oferecer, cumpre não imaginar a banda de Meebius a
mos com que
ela surja ao unir uma de suas bordas consigo partir de sua fabricação com um pedaço de fita, com seu
mesma. Só
devemos tomar a precaução de unila deslizando direito e seu avesso — pedaço do qual, depois de retor-
uma face
da bilátera sobre a outra (girando-a). Essa cer com uma meia volta (meia torção), cosemos ou cola-
costura coloca
em continuidade uma face com a outra, cons mos o direito com o avesso. Essa figuração mantém, em
eguindo uma
banda com uma face só (Moebius). Essa operação cada ponto, a ideia de um direito e de um avesso — como
já havia
sido descrita no parágrafo 823.5 (cf. p. 45 deste no pode ver na imagem de um ponto e seu “traverso” —,
volume).
E notável a insistência de Lacan em desprender no passo que na estrutura moebiana a ideia de direito e
-se da
imagem da banda de Moebius imaginada como avesso desapareceu.
a fita cons»
truída colando, invertidos, os dois lados opost «). Lacan ressaltará este aspecto: direito e avesso são
os de um
retângulo (cf. p. 30). uma ilusão; não há nunca um lado e outro, não há mais
do que um, Ao longo da banda só há uma face: “|...] é de
Topos os PonTOS EM CONTINUIDADE comprido que ela faz seu direito e seu avesso serem um
no", E ele voltará a dizê-lo de outro modo na frase que se
O seguinte parágrafo começa tentando novament
e assimi- vogue: “Não há um ponto sequer dela em que um e
lar a banda de Moebius ao corte por um
dos trajetos que se outro não se unaim”. Dado que qualquer ponto da banda
fecha numa volta:
do Moebius está em continuidade com qualquer outro, o
00%
DE DUAS VOLTAS NA BANDA DE MOEBIUS
banda de bandade banda bilátera bandade
| banda bilátera Moebius Moebius Moebius
banda de
Moebius
cemedpo
banda de Mosbits e ea pin pn
sentido) [...]”.
três rolos de mesmo
||
Assim, de imediato, essa frase tem
suas dificuldades, as
quais propomos decifrar realizan
do à operação na prática
e representando-n em imagens.
banda de Moebius“virtual”
Es
banda bilátera
“O
corte de uma volta banda bipartida
banda bilátera
banda de Moebius
banda de Moebius /
ES
Ro banda de Moebius
(As
| BANDA BIPARTIDA
AR
banda bilátera
|
|
| costura
| modificaa REM
| estrutura Sinatra
| modifica a
|
estrutura hs
I banda de Moebius
| BANDA DE MOEBIUS VERDADEIRA
1
red pas rm pe re
A
Ilustramos a citação com essas duas representações
homólogas nas quais se visualiza o “sujeito barrado” como
“Ibid., p. 205.
algo “que se envolve a si mesmo”
74 | Guia topoLóGico
Ng n, ara 0 aturdido
Ê Una suPLANCIA Possivea, | 75
O que Lacan propõe? Preenc
her 5 furo da banda de
Moebius, cuja “borda” é uma O aturdito investiga três caminhos para conseguir uma
“dupla borda”, cosendo-a à
borda (“é patente”, está na cara transformação da banda de Moebius acoplando a ela uma
...) — também um “duplo
fecho. de uma outra banda outra superfície mediante “costura”,
de Moebius. Lacan nos diz
me “é patente” (está claro; est As três superfícies a que sc chega são:
á na cara; evidentemente:
não precisa nem dizer...) que uma
banda de Moebius gado 1. Toro, $23.11;
ser acoplada a uma outra ban
da de Moecbius resultando 2. Garrafa de Klein, 825.12;
com essa operação, na garrafa
de Klein. Ê 3. Cross-cap, em 823.13 e seguintes.
. Observe-se que essa não é a
única suplementação pos-
sivel; podem-se fazer outras ope Lacan utiliza o termo “supplémenter” (suplementar)
rações de “costura” — em
rn no a seg para a operação de acoplar outra superficie à banda de
uinte ele investigará outra
eas opçOões, acoplando u ma superficie Moebius mediante “costura”,
ie dist
distinta
inta:: uma E “Pon-
Pode-se comprovar que a opção 1 — suplementar a banda
Moebius com a banda bilátera — é equivalente à operação
descrita em 828.11, que se entende como caminho de retorno
Vo:
TRÊS SUPLEMENTOS PARA À BANDA no toro neurótico: é o mesmo que cosê-la pela própria borda,
DE MOEBIUS
o que volta a confirmar que a banda de Moebius é igual à
nua própria borda — comojá especificamos em $23.10,
A GARRAFA DE RKLEIN
ssa superfície não pode se construir verdadeiramente no
b. de Moebius b, bilátera nosso espaço tridimensional cotidiano devido à sua auto-
toro penetração. Podemos, no entanto, imaginá-la, desenhá-la
| o descrever a sua “construção” de um modo simples, par-
| tindo de uma superficie plana quadrangular cujas bordas
ne unem da maneira que indicamos no esquema:
|
| bide Moebius b. de Moebius
garrafa de Klein
Oo
CONSTRUÇÃO DA GARRAFA DE KLEIN
Í
rendelle
| é e 1
' b.deMoebius E á
bi po
cross-cap amo
mi
emma au a deformação 2] at
as ai E
atravessamento
&
o
SE
E
E
8
&
:
!
da banda de Moebius
ao Cross-cap
“e
da fronteira
linha da borda/fronteira
pontos extralinha
banda de Moebius
84 do | Gun
AropoLógico
OG: para
A o aturdid
Bo
OUTRO SUPLEMENTO POSSÍVEL: DA BANDA DE- MoEBI
Motmus Cpose-Gap
US AD CrOsS -cad | 85
Seguindo a trajetória das bordas, pode-se ver como
a inevitável. Veremos um pouco mais adiante que Lacan se
união das duas bordas produz um cruzamento da
superfi- ocupa, em O aturdito (cf, p. 100), de assinalar essa dificuldade.
cie resultante. Esse cruzamento foi introduzido pela
torção A“rondelle” aporta esse “ponto extralinha”. Pode-se
da borda da banda de Moebius.
imaginar a rodela como um disco da superfície que se qui-
De um certo ponto de vista, podemos imagi
nar que a ser, mas 0 minimo é um único ponto que nunca pertencerá
banda de Moebius retorce a rodela esférica trans
mitindo a à linha da borda. Reduzir a rodela ao ponto extralinha
ela a sua torção, De outro, podemos considerar que
o furo é adequado para figurar o objeto a reduzido ao mínimo
da banda se fecha como efeito da sua união com o recor
te quanto à sua substância.
que provém da esfera.
Para criar o cross-cap será suficiente esse único ponto
que faz com que o redondel esférico se retorça: “[...] ponto
extralinha, que, por suplementar a linha sem pon-
| CONSTRUÇÃO DO CROSS-CAP tos, revela compor o que, em topologia, é designado
| pelo cross-cap”.
| banda de Moebius Temos, assim, os dois elementos para conipor o cross-cap
| levados ao mínimo: a banda de Moebius como puro corte,
|
como uma “linha sem pontos” — expressão que pode pare-
cer paradoxal caso se imagine as linhas como sucessões de
pontos, segundo a figuração da geometria elementar — ea
“rondeile”, redondel esférico, reduzida a apenas um “ponto
extralinha”, que será sua contribuição ao cross-cap.
Uma última ressalva: seguindo alguns textos de topo-
logia”, é possível construir o cross-cap a partir da costura,
de forma invertida, dos lados opostos de um quadrilátero
topologicamente idêntico ao redondel esférico —, pres-
cross-cap
cindindo de suplementá-lo com uma banda de Moebius.
rodela esférica
— emma mea?
|
PONTO EXTRALINHA E LINHA SEM PONTOS CONSTRUÇÃO DE UMA ESFERA COM TOUCA CRUZADA” |
|
Se essas maneiras de imaginar o cross-cap
permitem at mo ||
compreender a sua forma, especialmente o seu entre
cru- |
zamento, ao mesmo tempo se perde algo do essenc
ial da tm |
topologia dessa estrutura, isto é, do modo como se |
relacio-
nam as duas dimensões dessa superficie. a |
Representar uma estrutura de duas dimensões
num
espaço de três dimensões é o que leva a um apego
imaginá-
rio que Lacan vê como sendo contraproducente, “Cf, REINHARD, F. SOEDER, H, Atlas de matemáticas, vol, L Madm;
ainda que Aliúnza, 1984, p, 246,
* asfera
* plano projetivo
* cross-cap
|
horizonte,
lado dos outros, não havendo vazios entre eles). Cada ponto
atravessa-se a
está especificado por um par de números reais. À condição
|
superfície
de projetivo é sobretudo restritiva; ela faz com que o plano
euelidiano standard de duas dimensões — esse que imagi-
namosinfinito em qualquer direção — se feche. O nome de
||
“plano de Desargues” faz referência a Gérard Desargues
(1591-1661), considerado, junto com B. Riemman, o criador
da Geometria Descritiva e do teorema que leva seu nome,
|]
referente ao plano projetivo. Lacan já havia se referido. f
a esse autor em O objeto da psicanálise (Seminário 13)!
a respeito dos esquemas ópticos, e voltará a fazê-lo em
LACAN, J. (1974-1975) Le séminaire, livre XXII RSI [1974-75], 10 de
dozembro de 1974, inédito. n
No plano projetivo todas as retas têm um ponto em Comum caspuralelas
eruzam-se num ponto chamado de “ponto impróprio”. Esse plano tem a
LACAN, J. (1965-1986) Le séminaire, livre XHE L'objet de lá poychá: poculiaridade de que toda afirmação válida (teorema) para certos pontos
nelyse, 15 de dezembro de 1965 c 18 de maio de 1966, inédito. vvotas é também válida intercambiando pontos com retas, € vice-versa.
| estende ao máximo; ,
| gsforiaçãa deformação: no segundocaso é o contrário: a parte moebianaesten-
de-se a toda a superficie, e a “rondelle” reduziu-se a
esse único ponto esférico, o mínimo necessário.
falsa banda de O notável dessa sequência é que a asfera (escrito com “a”),
Moebius
começando no toro (ela se apresenta nele em primeira
mão), só chega à evidência de sua asfericidade ao ser
suplementada por um corte esférico.
R
cost ura s
==
A relação sujeito/objeto revela a sua natureza asférica
nHuim que o sujeito dividido (8) se apresenta como aderido
no recorte esférico (q). Corte e costura (as interpretações e
banda bilátera
um nous efeitos no neurótico) produzem a divisão moebiana
banda de Moebius
o, O-
do sujeito; com isso, um “objeto” que é recorte da esfera cai
sobre a banda de Moebius, adere-se a ela.
Nesse parágrafo pode-se ler que não há nenhuma natu-
costura
res do nosso sujeito, mas diferentes apresentações com os
nous avatares. Assim, “em primeira mão” (na entrada
dn nnálise) apresenta-se como um toro neurótico que, sub-
banda de rondelie metido aos cortes interpretativos e aos seus efeitos, se
Mocbius
asfera / cross-cap mocbiza. Com isso se produz umaretificação da superfície,
na qual algo exterior — apenas um ponto e uma borda,
O coRTE É O DITO
e uai
Em 424.12 temos um esclarecimento de ordem topológica.
sobre o “dito”:
|
| a a! b
“Cf FIERENS, O. (2002) Lectura de L'étourdit. Trad. R. Cevasco;
d Chapuis. Barcelona: Ediciones S&P, 2012, p. 273
“BU OJop
gg
deformar deformar e
CorTE DE DUPLA VOLTA atravessar
A primeira vista parece estranho que possamos considerar o"horizonte”
P L'imporiant est que ce soit ces autres coupures qui ont effet
ARTICULARIZANDO de subversion. topologique. Mats que dire du changement
sã j v elh ? (825.2; AR4TS; OE4TA
L'être se produitdone “notammeni”. Mais notre PAi eloa E ,
asphêre sous tous ses avatars lêmoigne que si le O importante é esses outros cortes serem os que têm efeito
dit se conelut d'une coupure quise ferme, il est de subversão topológica. Mas o que dizer da mudança
certaines coupures fermées qui de cette asphére ne ocorrida através deles?
font pas deux parts: deux parts à se dénoter du oui
ei du non pour ce qu'il enesi (“de Vêtre”) de Vune Por que esses outros cortes são importantes? Os cortes
delies. (825.1; AB478; OE474) de dupla volta, os cortes “tipo (a)” que separam o cross-cap
vm duas superfícies. O que podemos dizer desses cortes
O ser se produz, então, “em particular”, Mas que, ao separar o cross-cap em duas partes, produzem uma
a nossa asfera, em todas as suas encarnações, “subversão topológica”?
atesta que, se o dito se conclui com um corte — + Qual é essa subversão e qual é a sua importância?
que se fecha, tem certos cortes fechados que,
dessa asfera, não fazem duas partes: duas Nous pouvons le dénommer topologiquement cylindre,
partes a serem denotadas pelo “sim” e pelo bande, bande de Moebius. Mais y trouver ce quil en est
“não” quanto ao que ocorre (o que é “do ser”) dans le discours analytique, ne peut se faire qua y interro-
com uma delas. ger le rapport du dire au dit. (825.3; AE473; OE474)
A partir da topologia podemos eleger denominações e Encontramos registrado nessas frases o momento em
imaginar as superfícies, mas ela não deve fazer com que que Lacan introduziu “essa topologia” em seu “dis-
percamos o rumo do discurso analítico!!! Estamos lidando curso” e situou o “objeto (a)”: o Seminário 9: À identifi-
com algo que pode ser chamado de diversos modos e imagi- — cação (1961-62, inédito).
nado de variadas formas, com grande variedade de nomes: Aqueles que acompanharam o seu ensino já sabem que
cilindro, banda, banda de Moebius. Para o nosso uso, o ciclo da demanda — que se expressa no conjunto dos
entretanto, devemos encontrar essas estruturas no dis- ditos e cuja envoltura lógica é modal e da ordem da gramá-
curso analítico; e, para isso, cumpre interrogar a respeito tica (825.4) — se fechará com a interpretação, sendo esta
da relação do dizer com o dito, do ato de dizer com o dito. um dizer “apofântico” que produz o corte, ficando a causa
Os três parágrafos seguintes (525.4, 825.5 e $25.6) não nomeada como objeto a.
têm referências explícitas à topologia, razão pela qual não Também nos assinala aqui que, já em 1962, no semi-
os analisamos detidamente. No entanto, devemos levar em nário “sobre a identificação”, cle havia apresentado
conta que eles se referem às duas dimensões relacionadas uma topologia dó próprio pestana RR E
pela superfície tórica: a demanda e o desejo. ] oross-cap na aula de 6 de junho de 1962. Na aula seguinte
Depois de assinalar as diferentes lógicas nas quais o (19 de junho), analisa E particularidades do cross-cap é;
dizer se apoia — a associação livre (lógica modal) é a inter» Ro Es TR a E nd Ro
ani aj a , dupla vo o cross-cap e concede-lhe o s | fór-
prestação [npafinitos) —ele vulta À sorologia, mula da fantasia (8%a)2. No ano seguinte irá retomá-lo nas
nulas 7 (CEle não é sem tê-lo”) e 8 (CA causa do desejo”) do
OBJETO q: A CAUSA
Seminário 10: A angústia (1962-683).
Quicongue me suit dans mon discours sait bien que cette.
Em nosso texto veremos o caminho inverso. Aqui se
couse jo Vincarne de Vobjet (a), et cet objet, le reconnail
enfatiza a topologia do próprio objeto a como redonde] esfé-
(pour ce que Vai énoncé dês longtemps, dix ans, le sémin
naire 61-62 sur Videntification, oi cette topologie, je Vai rico, e constrói-se o cross-cap fechando a banda de Mochius
introduite), ba, je Vavance, déjà reconnu dans ce que Jjel com a rondelle.
désigne ici de la rondelle supplémentaire dont se ferme
ta bande de Moebius, à ce que sen compose le cross-cap, Cest la topologie sphérique de cet objet dit (a) qui se pro-
jete sur Vautre du composé, hétérogêne, que constitue le
(825.7; AE473; OE474-475)
cross-cap. (825.8; AE4T74; OE47h)
Qualquer um que me acompanha em meu discurso bem | 1 a topologia esférica desse objeto chamado de (a) que se
sabe que, essa causa, eu a encarno no objeto (a): e essa projeta no outro do composto, heterogêneo, que constitui
objeto, reconhece-o (porque o enunciei faz tempo, dez anal O cross-cap.
atrás, no seminário de 1961-62 sobre a identificação, onde
introduzi essa topologia), já o reconheceu, avento eu, n1
que designo aqui como a rodela suplementar com a qual ! “LACAN, J. Le séminaire, livre IX; Identification (1961-1862), inédito.
lado masculino
dx dx Ix dx lado femenino
Qualquer psicanalista, mesmo que “não lacaniano” "LACAN, J. (1972) O aturdito. Im: LACAN, Jd. Outros escritos. Rio de
— quer dizer, mesmo aquele que não entende que “a. dnnciro; Jorge Zahar Ed., 2003, p. 477 e 481. (N. do 7)
A minha topologia não é de uma substância que “CUL, FIERENS, C. (2002) Lectura de L'étowrdit. Trad. R. Cevasco;
se deva
situar para além do real, o com que uma práti d. Chapmes, Barcelona: Ediciones S&P, 2012, p. 245.
ca se motiva, . “Ibid., p. 247.
Ela não é teoria.
“Ibid,, p. 307.
Agora, fora da referência. topológica, enoda-se retalho esfericamente banda de Moebius rodela esférica
aqui . estável
“o dizer” (o fato do dizer) à “opinião verdadeira”,
a orto
doxa (ópom 504), de inspiração platônica: corte
de uma
só volta que modifica a estrutura fazendo desaparecer
o
objeto a, antes fixado e ficcionado na asfera.
É preciso notar que, ao fazer referência à “estrutura A topologia permite ilustrar comoo asférico (lugar da fan-
”,
podemos nos referir à estrutura da linguagem e tasia) se encontra subjacente, “recelé”, à linguagem — recep-
à palavra,
tal como apresentada no grafo do desejo — onde se tado, “escamoteado”. Esse efeito se produz quando “um
situa a.
“retroação” à qual ele se refere nesse parágrafo! significante [...] representa o sujeito para outro significante”?
Ch. Fierens comenta que o “efeito de sujeito” não
pode ser captado diretamente, mas apenas por mediação
da rondelte esférica, da rodela suplementar (o objeto q)”.
GRAFO DO DESEJO Assim a topologia ensina os efeitos de linguagem, a
Sigailiane
estrutura asférica subjacente à linguagem — quer dizer, 0
fato de que o dizer fica esquecido por trás dos ditos!...
Â
KA) ê
'Ibid., p. 883.
'PIERENS, €.(2002) Lectura de L'etourdit, Trad, R. Cevaseco; J. Chapuis.
'LACAN, 3), (1960) Subversão do sujeito é dialética do
desejo no incons- Barcelona: Ediciones S&P, 2012, p. 343.
ciente freudiano. In: LACAN, ]. (1966) Escritos. Trad. V. Ribeiro.
Janeiro: Editora Zahar, 1998, p. 822. Assinalamos
Rio de “Curon dise reste oublié derriêre ce qui sedit dans ce qui sentend” / “Que
em vermelho o vetor. “o diga fica esquecido por trás do que se diz naquilo que se ouve” (82.1;
correspondente à retroversão; retroação.
! AE449; QE448).
138 | Guia rorocócico rara o aturdido
A TopoLOGIA É à estrutura | 189
ErEITO DE SUJEITO Devemos reter a ideia de que, se a topologia imaginada é
Hiestelair que, quant à la significution, ce “sen enganosa,ela tem aqui a virtude de ilustrar o “falso efeito
soisit" dela |
sous-phrase, pseudo-modale, se répereuie de de sentido”. Dito de outro modo: o “efeito de sujeito”,
Vobjet même
que comme verbe il enveloppe dans son sujet gremmatica como significado, é uma ressonância imaginária do espaço
l,
a quil ya fuux effet de sens, résonance de Cimag
inaire topológico, e assim o efeito subjetivo pode ser ilustrado com
induit de la topologie, selon que Peffet de sujet
fait tourbil- n ressonância imaginária do “turbilhão” do cross-cap.
lon on d'asph
daspnere ou que Ê le subject
bjectif Dar ênfase ao sujeito como “turbilhão”? da asfera (a
tf d de ce: ê ejjet t se; sen “réfléo
é hit
($31.8; AEds3; 0E485) parte entrecruzada do cross-cap, moebiana, 8) — ou então
no que, a partir dela, “se capta” (a rondelle, o objeto q) —
E claro que, quanto à significação, este “aí
se capta” da pode produzir um “falso efeito de sentido”.
aração subordinada, pseudomodal, repercute
do próprio O objeto se “reflete” imaginariamente no sujeito. Por
objeto que, como verbo, ele envolve em seu sujeit
o grama- isso, tomar isoladamente o fragmento esférico, ou a parte
tical; e que há um falso efeito de sentido, resso
nância do moebiana do cross-cap, faz com que nos precipitemos na
imaginário induzido pela topologia, conforme
o efeito de
sujeito produza turbilhão de asfera ou o subje ressonância imaginária induzida pela topologia.
tivo desse
efeito “reflita” sobre isso,
Ny ici à distinguer Vambiguité qui s'inserit de la signt-
Trata-se então de localizar o efeito de sujeit fication, soit de la boucle de la coupure, et lu suggestion de
o, deter- trou, cest-à-dire de structure, qui de cette ambiguité fait
minado como efeito de linguagem, não mais a
partir da sens*. ($91.4; AEA83; OF485)
estrutura da própria linguagem (representação
pela via
dos significantes), mas a partir da topologia.
Cabe aqui distinguir a ambiguidade que se inscreve pela
significação — ou seja, pelo fecho do corte — e a sugestão
de furo — isto é, de estrutura — que, com essa ambigui-
PERSPECTIVAS DO CROSS-CAP QUANDO ; dade, faz sentido*.
OBSERVADO O SEU “TURBILHÃO! OU A SUA *PONDELLE”
|
|
O asterisco sobrescrito ao final do parágrafo remete a
| “turbilhão! uma nota de rodapé na qual J. Lacan aproveita essa men-
| cão à “estrutura” para demarcar o seu distanciamento
em relação ao movimento estruturalista, ao qual ele fora
insistentemente associado.
Bien súr y a-t-il les dits qui font Vobjet de la logique prê-
l
dicative et dont la supposition, universalisante ressorti
Esses cortes tipo (a, a”) separam o cross-cap em duas la, je dis: sphêre, soit: que
seulement à la sphêre, je dis:
partes enquanto que os de tipo (b) não o fazem (cf. p. 109), justement la structure nºy trouve quun supplêment qui est
Ch. Fierens comenta a “ambiguidade” em termos dai celui de la fiction du vrai. (891.6; AR484; 0B485)
dois tempos: uma primeira ambiguidade, na qual o sujeito
biana do sujeito” (sujeito barrad Lacan já insistia em distinguir esses dois tipos de corte |
o [8], banda de Moebius),
Demonstra-se, assim, queo$ “não em 1962-63, no Seminário 10: A angústia (p. 148), distin-
passa de ex-sistência”
em relação a esse corte, visto que guindo entre furo imagmário e furo real. |
esse “corte de dupla.
volta” o produz como tal.
O sujeito barrado é unilátero, mas Point-noeud (cas de le dire), c'est le tour dont se fatí Le tro,
só adquire uma.
ex-sistência com a queda da rondelle mais seulement en ce “sens” que du tour, ce trou s imagine,
.
ou sy machine, comme on voudra. (832.4; AE485; ORAST)
O REAL DE UM DIZER
Ponto-nó (é o caso de dizer) é a volta com que se faz o furo,
À ex-sistência do sujeito inscreve
o teal de um “dizer”, que mas somente neste “sentido” de que, pela volta, esse furo
devemos distinguir dos efeitos simb
ólicos/imaginários dos se imagina, ou se maquina, como quisermos.
ditos.
Cette ex-sistence esi dire et elte le Esse corte de uma volta é crucial (ponto nodal), visto que
prouve de ce que le sujet
reste à la merci de son dit sil se mantém o “ponto-nó” na superfície produzida (cf, p. Th.
répête, soit: comme la
bande moebienne d'y irouver son fadi
ng (évanouissement).
izer” com o qual se 4“imagina
Esse “caso de dizer”, i ess e furo
(832.3, AE485; OEA48T) ou se o “maquina” (se o fabrica ou se o produz). Notemos
s s . .
a homofonia, em francês, de “s'imagine” (se imagina) e
- a s
2CÊ explicação detalhada dos corte “Em francês a frase cos de le dire pode ser lida como “vem ao caso dize
s na p. 107.
e“é o caso do dizer”.
152 | Guia rororóeica marra aturdido O CORTE EA QUANTIDADE DE PONTAS: O IMPOSSÍVEL, a niaL | 168
O FURO NO TORO
O CONSTITUEM
Agora ele vai nos lembrar de como o furo organiza — de. FUROS DO TORO E AS DUAS DIMENSÕES QUE
maneira diferente da asfera — a topologia do toro; l furo central
4
===
perdem de tours de dire pour que ce tore se fasse (se fasso
sil le demande, car aprês tout un tore vaul mieux qu'un.
travers), se fasse, comme nous nous sommes prudemmend a do turo circular
x fesejo (alma)
contenté de Vimager, bande de Moebius, ou contrebande si)
le mot vous plait micux. (892.8; AB485-6; ORA8T) ! trajetos da
demanda
|
“traverso” de um
e o desejo (paralelos ao redor do furo central). Para esse anteriormente, para nomear o ponto
“Ad - Direito, avesso
alguém, E nenhum furo é perceptível:
Eni í nem o c entral, nem a ponto da banda de Moebius (823.3, cf.
indicar o movimento
e través”, p. 195), e também para
construir uma banda de
de meia torção que se faz para
faces (iravers idéal
Moebius a partir de umafita de duas
usive para indicar o
$23.9, cf. p. 59 deste volume), incl
traversée” 825.15,
autoatravessamento do cross-cap Cla
cf, p. 98 deste volume).
| |
Para produzir um sujeito a partir do toro, será necessá- Uia toro — como demonstrei, dez anos atrás, a pessoas
rio produzir “um corte que não implica furo nenhum”; que queriam muito me atascar com o contrabando delas
só que o corte deve ser feito com “um número preciso dal — é a estrutura da neurose, na medida em que o desejo
voltas” (impar, ele dirá em seguida), para que “se façall pode, com a re-petição indefinidamente enumerável da
demandá, enganchar-se em duas voltas. É sob essa condi-
[...] banda de Moebius”, Essa é a primeira transforma-
ção, pelo menos, que se decide pela contrabanda do sujeito
ção necessária para, depois, obter a asfera, Isto é, haverá.
— nesse dizer que se chama de “interpretação”.
“sujeito” de um toro — que é uma superficie esférica — a
partir da modificação topológica por esvaziamento / pin-
A expressão aqui é taxativa: “um toro [...] é a estru-
camento, corte e costura da banda de duas faces consigo.
tura da neurose”. Ele já o havia “demostrado” em 1962,
mesma, como desenvolvemos anteriormente!. ]
em A identificação — seminário ministrado aos que que-
riam contrabandear com a psicanálise (referência à IPA).
ESQUEMA DAS TRANSFORMAÇÕES DO Também nesse mesmo seminário ele já havia assinalado,
TORO EM BANDA DE MOEBIUS como um traço de contrabando, o fato de se haver intro-
duzido o je [Bu] na conclusão cartesiana “Je pense, done je
suis” [Eu penso, logo Eu souf”.
É preciso, ademais, examinar as características que
deve ter o corte que “decide” se a “contrabanda” vai, ou
não, ser produzida a partir do toro neurótico. A demanda
= Eai a requer a sua “re-petição” (re-pedir, voltara formular), mas
quantas vezes? Uma quantidade de vezes “indefinida-
esvaziamento corte costura
trabando, tramoia, tráfico...) outro nome possível — “se a tas voltas da demanda são necessárias. Encontraremos a
resposta um pouco mais adiante (832.13). Esse fecho (ou
palavra for mais do agrado dos senhores” — para 0.
sujeito barrado. corte) está produzido pelo que “se chama de 'interpreta-
ção”, que gera a banda bilátera e, daí, “a/o contraban-
Un tore, comme je Vai dêmontrê tl y a dia ans à des gens en da(o)”: o sujeito.
mal de m'envaser de leur contrebande à eux, c'est la struc Para compreender os próximos parágrafos convém pre-
ture de la névrose en tant que le désir peut, de la ré-péil. cisar como é esse percurso que fecha em duas voltas ao
tion indéfiniment énumérable de la demande, se boueler redor dos furos da demanda e do desejo.
en deux tours. Cest à cette condition du moins que s'en
décide ta contrebande du sujet — dans ce dire qui s'appelle
Vinterprétation. (592.9; AE486; OK487)
156 | Guia vororánico rara a eturdido O CORTE E A QUANTIDADE DE VOLTAS! O IMPOSSÍVEL, O REAL [157
ure dont seule la
du nombre dont il s'inscrit dans la coup
6; QE488)
fermeture compte. (432.11; AE48
=
6 6
tion que peut imposer notre topologie structurale. (832.10;
AL486; OE488)
Tai dit la demande numérable dans ses tours. Il est clair umavolta da demanda
que si le trou n'est pos à imaginer, le tour n'ex-siste que
| 159
VOLTAS: O IMPOSSIVEL, O REAL:
O CORTE E A QUANTIDADE DE
158 | Guinmororócica pars o aturdido
a uma lógica
A forma como se costuma desenhar o trajeto de dupla com alguma “lógica modal. Ainda não foi feit
sidade das envol-
volta sobre o toro não permite visualizar quantas voltas desse tipo. Poderia ser uma lógica da diver
deix ando de lado
ele dá ao redor do furo do desejo e quantas sobre o fura turas formais da demanda? Quem sabe
como se a
da demanda. Podemos então deformar esse trajeto, sem aquilo que se demanda para ocupar-se do modo
ão.
variar em nada a estrutura topológica, para melhor visual formula? Esso é um campo aberto à investigaç
ion” tamb ém pode ser
lizar a quantidade de voltas em torno de cada furo. A expressão “nulle proposit
ento fundamen-
Comprovamos que o corte necessário para produzir à entendida como “proposição nula”, elem
ento neutro de
banda bilátera dá dois giros em torno do furo central do tal de qualquer lógica formalizada. Elem
” apoiando-se
desejo e um giro em torno do furo circular da demanda. alguma lógica, “a qual está por ser feita
na lógica modal.
REPETIÇÃO
premiêre de la
Lacan voltará a repetir o que disse anteriormente sobre as Mais si comme Vassure notre figuration
us, une
voltas. Com esse corte obtém-se a banda bilátera com duas coupure dont du tore se fait la bande de Moebi
d'être énumé-
demande » suffit, mais qui peut se ré-péter
bordas e com duas meias torções. Tal torção é condição neces» e tour dont
rable, qutant dire qu'elle ne s'upparie au doubl
sária para que, em seguida, se forme uma banda de Moebius (cantorten).
se fonde la bande qu'à se poser du transfini
mediante a costura de uma de suas duas bordas consigo (832.13: AE486; QE488)
mesma (cf. o processo na p. 46 e/ou o esquema na p. 156):
ação inicial do
Mas se, como assegurado pela nossa figur
Moebius, basta
Jinsisie a le tour en soi nest pas comptable; répétisif, il ne 7 corte pelo qual do toro se faz a banda de
que pode se re-pet ir, por ser enume-
ferme rien, il nest mi dit ni à dire, cest-à-dire nulle pro- uma demanda — mas
o Dil ce serait trop eire qu'il ne relêve pas d'une a dizer que ela só se empar elha com
rável —, isso equivale
qual se funda a banda , ao se colocar a
] modale. ; (832 18
ogique, qui reste à fuire à portir de la a dupla volta, com a
AE486; OE488) s partir do transfinito (cant orian o).
O REAL [161
1680 | Guia roroLógico para o aturdido O CORTE E A QUANTIDADE DE VOLTAS: O IMPOSSÍVEL,
À DEMANDA ÍMPAR Não é possível fechar as duas voltas do desejo com
Assim, podemos afirmar que uma demanda é suficiente: nenhum número par de demandas.
estando sempre presa à compulsão da sua repetição info Deixamos para o leitor o exercício de desenhar duas ou
nita, é suficiente quando fecha as duas voltas do desejo quatro voltas-demanda e comprovar que, ao tentar o fecho
A repetição ao infinito pode ser contada, ela se unifica e 8 com duas, quatro ou outro número par de voltas-desejo,
conta como o primeiro tranefinito cantoriano (N,)º. os trajetos necessariamente se cruzam, quer dizer, não
se pode fazer um corte do tipo proposto. Para uma qjusti-
Heste que la bande ne saurait se constituer quice que les. ficação um pouco mais formal, cf. Anexo 7 CA demanda
tours de
ida la demande soient de nombree impair,
iam à E ($32.14;; impar”, p. 201).
O desejo se fecha com duas voltas mediante a volta
De todo modo, a banda só tem como se constituir se as “fmpax” da demanda — heterogênea e, ao mesmo tempo,
voltas da demanda forem de número ímpar. simultânea às voltas do desejo.
As voltas da demanda são as que, em seu re-petir-se,
O número de voltas da demanda poderá ser qualquer. vão formando o toro (vão perfilando o sujeito neurótico);
um; porém, “de todo modo” — como se sustenta —, sem- são as voltas dos ditos na prática analítica. A interpre-
pre será um “número impar”: essa é a doidão para tação permite acabar essa re-petição num número impar
que o corte possa se fechar com as duas voltas do desejo, (1,3, 5, ... Ny O primeiro transfinito cantoriano) de deman-
A demanda ao infinito cumpre essa condição ao se lhe atri das que fecha a dupla volta do desejo, cingindo assim 0 a
buir o primeiro transfinito. “” como objeto da sua causa.
E o que ilustramos desenhando sobre o toro as duas vol:
tas do desejo fechando em umae em três voltas da demanda: Le transfini en restant exigible, de ce que rien, nous Pavons
dit, ne s'y comple qu'a ce que la coupure s en ferme, le dir
transfini, tel Dieu lui-même dont on sait qu'il s'en félicite,
REPRESENTAÇÃO DO CORTE COM UMA yesi sommé d'etre impair. (892.15; ARAB6; OE488)
VOLTA E COM TRÊS VOLTAS DA DEMANDA
Como o transfinito continua exigível — pelo fato de nada,
como dissemos, contar-se aí, se o corte não se fecha —, o
ED duas voltas do desejo fan
dito transfinito, tal como o próprio Deus — que sabemos
q
que se congratula por isso —, vê-se intimado a ser impar.
a
14 versão Autres ócrits escreve “Ledit transfini” [odito transfinito] onde
Rea Eade referido Ê à repetiçã
petição como transfinito áve versão Seilicet coloca “le dit teansfini ” [o dito transfinit o]: pode-se supor
(518.7; AE467; OE468) e em (827.16; AE 477; OE4TB). ee um erro de transerição.
162 | Guria Torocónico raro eturdido O CORTE É A QUANTIDADE BE VOLTAS! O ENPOSSÍVEL O REAL | 163
da infinitude da demanda numerável para uma nomeação induzida pela nossa “prática”, prática do dizer, tal como
dessa infinitude, que é o que faz Cantor com o seu primeiro se reflete também em nossa concepção do “inconsciente.
transnito. O discurso do analista produz a repetição como fun-
À referência a Deus utiliza a dicotomia par/ímpar para ção fálica que impõe a transformação das significações
se referir ao por/dispar, no sentido de semelhante/não. da demanda.
semelhante.
“O próprio Deus” reivindica estar no lugar do trans- |
finito, o qual não nos poupa de ter que concebê-lo como
“ímpar” — quer dizer, como não semelhante à humani-.
dade, um im-par do homem.
A imparidade do ser de Deus também está expressa no
Mistério da Trindade: Deus é Um e Trino.
ConcLusÃo
Voilã qui ajoute une dit-mension à la topotogie de notre
pratique du dire. ($32.16; AR486; OE488)
164 | Guia ropoLósico para O aturdido CORTE EA QUANTIDADE DE vovrascoIossives, o rias | 165
troucentral du tore, soit autour de quoi le transfini impair
de la demande se résout du double tour de Pinterprétation.
16 O final (833.2; AE487; OE488)
ALGO MAIS
Lacan termina introduzindo o termo “parêtre” para a inter-
pretação da segunda volta do desejo. É um dizer da inter-
pretação que, se produz os benefícios do sujeito barrado,
não elimina o fato dé que o dizer fica esquecido portrás dos
ditos — o que nos remete à frase inaugural de O aturdito
(82.1; AE449; 0E448).
E voltamos a encontrar o recurso à topologia quando
ele responde à sua pergunta retórica sobre a consistência
gy f projeção deste “parêtre” que produz um corte “verdadeiro” (inter-
pretação) na estrutura asférica:
Ce dire que je rappelle à Vex-sistence, ce dire à ne pas Nesse momento, Lacan está produzindo a sua “recria-
oublier, du dit primaire, c'est celui que la psychanalyse ção topológica”, que serve também para revelar o “não-
peut préiendre à se fermer. (834.6; AE488; 0K490) todo” das linguagens — que é o “sentido” da estrutura.
Aqui todo o desenvolvimento de Lacan vai no sentido
Esse dizer, que convoco à ex-sistência — esse dizer que de reconsiderar sua definição do inconsciente estruturado
não deve ser esquecido — do dito primário, é o que a psica- “como uma linguagem”, e não comoa linguagem. “A lin-
nálise pode almejar para se encerrar. guagem” é objeto unicamente da linguística, que nada
quer saberda topologia adequada ao discurso do analista.
. Para que uma psicanálise possa “se encerrar” é neces- Essa topologia rompe com a ilusão de considerar a lingia-
sário que a dupla volta da interpretação o encerre para gemde uma maneira universalizante, como muitas vezes
além, inclusive, de ter produzido o corte no toro penrótad a linguística faz. Nesses mesmos anos de 1971-782, a par-
— visto que um fim de análise supõe, ademais, que não se tir de tais reflexões, J. Lacan cria o neologismo lalangue
esqueça “esse dizer” cuja “ex-sistência” está excluída do (álíngua, numa palavra só) — termo que utilizará até o
O ras | 175
174 | Guia toroLóaico para o aturdido
Lacan
Si ume gonfle imaginaire peut ici aider à la transfinisation conhecida girafa que Hans desenha e amassa. J.
phallique, rappelons pourtant que la coupure ne fonctionne
contribuiu para com a “fama” desse desenho, dedic ando
pas moins & porter sur ce chiffonné, dont au dessin giras a esse
muitas sessões de seu seminário A relação de objeto”
foide du petit Hans jai fait gloire en son temps. (834.30;
caso de fobia escrito por S. Freud em 1909.
AE491; 0E493) um
A terceira: uma única demanda vale tanto quanto
transf inito.
Se um inchaço imaginário pode auxiliar aqui na transfi- número infinito — sempre valem R,, o primeiro
muvização fálica, lembremos, no entanto, que o corte não
funciona menos ao incidir sobre aquele amarrotado para Et pour le transfini de la demande, soil la ré-pétition,
de don-
cuja fama, no desenho girafoide do pequeno Hans, contri- reviendrai-je sur ce quelle rad'auire horizon que
macces-
bui na devida época. ner corps à ce que le deux ne soit pas moins quelle
de
sible à seulement portir de Vun qui ne serait pas celui
Aqui ele nos lembra do fato de que, se as numerosasvol: Vensemble vide? (534.43; AE493; OE 495)
tas da demanda (“inchaço imaginário” do toro) podem re-pe-
ajudar, com a sua repetição, a estabelecer a função fálica E quanto ao transfinito da demanda — ou seja, a
hori-
tição —, será que retomo o fato de ela não ter outro
o corte” interpretativo “não funciona menos” ao de que o dois não seja
zonte, a não sex dar corpo ao fato
o toro aplanado Cehiffonnélamarrotado”): duas voltas esmen te por partir do
menos inacessível do que ela, simpl
do desejo e demanda impar. Cf. a manipulação topológica
um, que não seria o do conjunto vazio?
de pinçamento e aplanamento do toro, no princípio do seu
desenvolvimento topológico (p. 27 deste guia). ção.
Não se acessa o desejo unicamente pela repeti
mos cap-
O desejo é tão inacessível como “o dois”, se tenta
super»
turá-lo a partir do “um”. Num contínuo — as nossas
O CORTE INTERPRETATIVO SOBRE O TORO espaço
ficies topológicas são contínuos de pontos —, O
INFLADO E SOBRE O TORO APLANADO o númer o
entre dois pontos fixos quaisquer (por exemplo,
de uma
1 eo número 2) contém uma quantidade de pontos
NR) ao infi-
infinitude superior (transfinito do contínuo,
Assim
nito numerável (primeiro transfinito, alef-zero: N).
propôs e demostrou Georg Cantor (cf. Anexo “Os númer os
transfinitos”, p. 199).
A demanda alcançará seu “horizonte” transfinito caso
ndo-o
inclua o conceito paradoxal do conjunto vazio, cingi
assim com as “duas” voltas do desejo.
da fobia do pequeno
. Encontramos a prova para o caso no “desenho gira- “LACAN, J. A estrutura dos mitos na observação
AN, d. (1956-1 957) O seminár io, livro 4; A relação de objeto.
Hans. InLAC
oide” (fálico) sobre o papel “amarrotado”: a bem Trad. D. D. Estrada. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1995, p. 201-ss.
Anexos | 181
esquema I, apresentados em De uma questão
prelimi- topologia que corresponda à experiência analítica:
nar à todo tratamento possível da psicose (publ
icado “tento fundar com vocês a topologia de base desse
posteriormente nos Eseritos?).
desejo, de sua interpretação, em suma, de uma ética
Seminário 4 A relação de objeto (1956-57). Expli
ca a rede racional”, Sugere que a saída, em particular para a
de sinais [+, - ] (um grafo da teoria matemáti
ca de gra- noção de interior, estaria em algo “como uma superfície
fos) que ele coloca em jogo em A carta roubada.
Propõe, ou como um volume”. .
na aula 22 — intitulada “Ensaio de uma lógic Podem-se marcar estes momentos; em A transferên-
a de bor-
racha” —, uma forma algébrica e, na aula segui cia ele se interroga a respeito da forma de conceber a
nte, |
mostra 9 seu uso prático. noção de “interior”; em A identificação, responde com as
Seminário 5 As formações do inconsciente
(1957-58). superfícies.
Produz o grafo do desejo, com seus nós e cami Seminário 9: A identificação (1961-62). Irrupção da topo-
nhos bem
estabelecidos, aos quais confere estatuto topol logia das superfícies: toro e cross-cap, percursos, cortes,
ógico.
Surge a fórmula da fantasia. suturas, transformações, enodamento de superfícies,
Seminário 6: O desejo e sua interpretação perfurações etc. Alguma referência a uma possível teo-
(1958-59).
Praticamente só utiliza o grafo, destacan ria (topológita) dos nós, que ele só começará a utilizar
do o seu carác-
ter de topologia: “Se, para isso, eu puder me muito posteriormente.
servir da
topologia de meu esquema [...]'4. Esta etapa das superfícies topológicas estende-se por
Seminário 7: 4 ética da psicanálise (1959-60). uns dez anos, até Lacan incorporar a teoria dos nós —
Diante da
dificuldade de apresentar daé Ding[a coisa] que ele manterá até o fim do seu ensino. Não se pode
como um
conceito situado no centro de um campo e, dizer que ele passe para outra etapa, visto que nunca
ao mesmo
tempo, excluído dele, sugere que poderia have chega a abandonar as superfícies. Na realidade, Lacan
r uma
solução recorrendo à via topológica, ainda nunca abandona as formulações que criou; muito pelo
que não a
apresente. contrário, ele sempre retorna a desenvolvimentos ante-
Seminário & A transferência (1960-861). Inves riores para enodá-los aos novos paradigmas, de modo
tiga a topo-
logia esférica (concepção clássica) para explo que uns colaborem com os outros. Podem-se detectar
rar outra
momentos, pontos de inflexão, alguma mudança de
paradigma: sempre o encontro com um novo sistema
'Cf LACAN, J. (1958) De uma questão prelim
inar a todo tratamento que lhe permite propor formalizações originais orienta-
possivel da psicose. In: LACAN, d. (1966) Escrit
os. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed,, 1998, p. 5937-590, (N.doT) das para a transmissão. ”
“CÊ LACAN, dJ. (1955/1956) O seminário sobre
'A carta roubada. In; Seminário 10: A angústia (1962-693). Situa definitivamente
LACAN, J. (1966) Escritos. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed, 1998, o objeto a como causa do desejo; ocupa-se de palato as
p, 13-66. (N. do T)
"CE LACAN, d. (1957) Ensaio de uma lógica de borrac superfícies com outras conceitualizações e também com
ha. In: LACAN,J,
(1956-1957) O seminário, tinro 4: A relação de
objeto, Trad, D. D. Estrada,
Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1895, p. 381-399. (N,
do T.)
'Cf. LACAN, J. (2058-1959) O seminário, livro
6 O desejo e sua inter 1 J. (1960-1961) O seminário,
“Cf, LACAN, inário, livro
t 8:“Air rência. Trad.
A ir ansferência, - D.
preiação, Trad. O. Berliner. Rio de Janeiro: Editor
a Zahar, 2016, p. 429, D. Estrada. Rio de Janoiro: Editora Zahar, 1992 p. 102; trad, modificada,
(N. do 7.) | “Thia., p. 336.
182 | Gura torocósreo paRv o aturdido
Anexos | 188
os seus esquemas topológicos anteriores — o esquema Euler (alienação/separação) e à aproximação do objeto a
óptico e o grafo do desejo. Aparecem a banda de Moebius,
(como causa do desejo) mediante a secção áurea.
9 cross-cap, o oito interior, a garrafa de Klein etc.
Seminário 15: O ato psicanalítico (1967-68). Se, por um
Seminário 11: Os quatro conceitos fundamentais da psica-
lado, ele situa no contexto dos três registros noções como
nálise (1964). Continua com o cross-cap, mas começa
a gozo, saber, verdade, objeto a, sujeito barrado ete. — e
vislumbrar uma inclinação para a lógica e para o uso de
utiliza algumas superfícies —: por outro, favorece, em
formas gráficas que se sustentam muito mais em signos
geral, a explicação em termos algébricos e lógicos: volta
alfanuméricos, letras e fórmulas, Diagramas de Venn
a apresentar o quadrante de Peirce e utiliza a notação
! Buler para a alienação / separação e 0 losango (ou
de Frege da Begriffsschrift (Conceitografia). que rela-
punção) para relacionar tanto o sujeito com a demanda
ciona função e conceito.
como o sujeito com o objeto a na fantasia.
Seminário 16: De um Outro ao outro (1968-69). Reforça
Seminário 13: Problemascruciais para apsicanálise (1964-
o viés “algébrico” para o objeto a — matrizes; número
65). Insiste com as superfícies, desenvolvendo noçõe
s de ouro, com a série de Fibonacci; teoria axiomática
específicas com a banda de Moebius, a garrafa de Klein,
de conjuntos —, sem deixar de mencionar o grafo do
9 cross-cap e o toro. Esboça também uma topologia para
desejo, o esquema do espelho e as figuras topológicas
os três registros.
mais “imaginárias” (cross-cap, garrafa de Klein, banda
Seminário 13: O objeto da psicanálise (1965-66). Declara
a inevitável pertença da psicanálise ao campo da ciên- de Moebius ete.).
Seminário 17: O avesso da psicanálise (1969-70). Responde
cia (assimilando o sujeito da psicanálise ao sujeito da
ciência), bem como o quão pertinente é “essa topologia, ao momento histórico inventando a sua teoria dos dis-
que se inscreve na geometria projetiva e as superfícies cursos como um sistema topológico muito organizado,
do analysis situs”, que é capaz de representar “a pró- integrando num pseudogrupo de Klein lugares, elemen-
pria estrutura”, Há muito mais: lógica, escrita chinesa tos e relações. Praticamente não há menções à topologia
e japonesa, banda de Moebius, cross-cap, toro, torções, de superfícies.
cortes e suturas. Revisão do esquema óptico em termos Seminário 18: De umdiscurso que não fosse do semblante
de plano projetivo, análise da perspectiva clássica (axo- (1971). Segue utilizando o sistema quaternário dos dis-
nométrica, cavaleira ou ortogonal). Na aula 3 está pra- cursos, apresenta o seu não-todo e a escrita da sexuação
ticamente tudo o que ele depois desdobra em O aturdito. como uma formalizaçãológica algébrica numa topologia
Seminário 14: A lógica da fantasia (1966-567). Algum também quaternária. Recorda pontualmente as super-
as
referências ao cross-cap, à banda de Moebius e ao toro, fícies que utilizou.
mas ele fica mais inclinado a uma formulação lógico- Seminário 19: ...ou pior ! Estou jalando com as paredes
-algébrica (o grupo de Klein), aos diagramas de Venn/ (1971-72), Recapitulação da “teoria das quatro fór-
mulas” (os discursos), das fórmulas da sexuação e do
objeto a (como raiz quadrada de -1) em termos de teo-
"LACAN, d. (1966) O objeto da psicanálise: resumo do ria numérica e teoria de conjuntos. Propõe a topologia
seminário de
1965-66. In: LACAN, J. Outros escritos, Trad. V. Ribeiro.
Rio de Janeiro: como necessária para que se compreenda o seu ensino e
Editora Zahar, 2003, p. 224,
para que se entre verdadeiramente no campo do saber.
alma /furo
paralelo rey
demanda v
uma asa
» três ásas
A superfície de um toro pode se definir de um modo
algébrico, sem recorrer a representação alguma, utili-
zando somente uma combinação de símbolos que definem
a relação entre as suas duas variáveis ou parâmetros, por
exemplo: (u, v).
]
0 jiea que se manipula em O aturdito é o toro De fato, para os nossos propósitos, o toro tem de ser
de uma —
asa só, Um dos modos de gerar essa superfície consiste entendido como um certo modo de relacionar duas variá-
em veis (demandaé desejo). Uma forma de escrever essa rela-
fazer com que uma circunferência ou uma elips
e girem ao ção pode ser a seguinte:
redor de um eixo que não a corte.
paralelo
a(u, v) = (R + cos uv) cos u
v(u, v) =(R +cos v) sen u
e(u, U)=r sen v
Yu, velo, 2n]
IcMo>s!
Travers
ponto traverso
Ed um ponto
Endroit
Péter Koros: Moebius band 1 direito da superfície
Representação espacial
as fitas no
= Oferece uma imagem realista, representando
a superfície imersa
* espaço, de modo que se podevisualizar
no espaço tridimensional habitual.
um ponto
ponto pseudotraverso
Representação plana
a com uma ou
Muito embora possamos atravessar a banda em um É ideal para verificar se uma panda cont
ponto qualquer e chegar ao seu “traverso” (travers) — duas faces.
ou, melhor dizendo, ao seu pseudotraverso —, topologica-
uma só face
mente esse ponto se confunde com o primeito, visto que
eles estão em continuidade.
Esse é um caso em que as propriedades de uma estru- duas faces
tura topológica se revelam paradoxais ao serem construí-
das num espaço tridimensional.
duasfaces
sobre um
É equivalente a uma fita de papel colocada
a nas dobras e é
plano. Deste modo, a torção se concentr
Anexos | 197
196 | Guia tororóarco para o qiurdido
muito simples verificar se a fita tem uma ou duas
faces
utilizando duas cores. Permite acompanhar o percurso
dos
pontos marcados quando se realizam cortes. A6 Os números transfinitos
Representação plana simplificada
À torção é um parâmetro fundamental, visto que
deter-
mina não só se a banda é moebiana, ou não,
mas o grau Esse tipo de número foi inventado por Georg Cantor (1845-
de retorcimento que ela tem. A torção também -1918), como uma extensão do sistema numérico, basica-
pode se
expressar pela quantidade de meias voltas de torcã
Orção
mente para responder ao problema da categoria do infinito
uma de 180º).
nda matemático — bastante difundido em sua época. A solução
A partir da representação plana pode-se desenhar
uma cantoriana responde a diversas indagações, dentre as quais:
representação piana simplificada onde cada dobra
repre- - Podem-se contar os elementos de um conjunto
sente uma meia volta de torção — visualizando, ao
mesmo infinito?
tempo, as faces da fita, colorindo-as.
- Há diferentes infinitos? E, em caso afirmativo: Qual
deles é maior que o outro?
* Se somamos dois conjuntos infinitos, o que obtemos
é maior que os anteriores?