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A reabilitação oral de pacientes com muito comprometimento de estrutura dentária e alta

demanda estética e funcional tem sido um desafio constante na prática odontológica onde
o cirurgião dentista deve avaliar os requisitos estéticos reais, além de garantir o
cumprimento dos princípios biomecânicos dos preparos dentais que são importantes para
preservar as estruturas biológicas e a longevidade do tratamento restaurador. Conceição
2018

O tratamento reabilitador requer métodos de diagnóstico importantes e elaboração de um


plano de tratamento que contemple tanto as expectativas do paciente quanto os riscos
inerentes aos procedimentos, desse modo, associar técnicas que corroborem com a
preservação das estruturas biológicas utilizando materiais favoráveis do ponto de vista
estético sem prejuízo da resistência deve ser o principal objetivo terapêutico. Conceição
2018

Atualmente existem diversas opções de materiais restauradores para restabelecer a


forma e função de dentes anteriores com indicações para coroas totais como cerâmicas e
resinas compostas laboratoriais, restabelecendo o equilíbrio biomecânico com materiais
que apresentam propriedades mecânicas e estéticas similares a da estrutura dentária a
ser substituída. Anusavice 2022

No passado, os tratamentos protéticos e restauradores eram limitados a próteses


metálicas totais, metalocerâmicas e metaloplasticas. Para dentes anteriores, a coroa de
jaqueta de porcelana pura (jacketcrown) foi inicialmente concebida e patenteada por
Charles H. Land (Detroit, EUA) em 1881, na forma de coroa mista (face palatina de platina
e vestibular de porcelana). Em 1902, modificou-se o desenho original da matriz de platina
parcial para matriz de platina total que era brunida sobre o modelo de trabalho, enquanto
a porcelana era fundida sobre ela, em um forno a gás. Depois da fusão da porcelana sobre
arcabouço fino de platina, este era destacado e a coroa de jaqueta era cimentada sobre
o dente preparado. (Mondelli 2018)

Tais porcelanas associadas a uma estrutura metálica fundida (metaloceramicas)


constituíram os materiais de maior utilização em reabilitação oral no século passado pois
quando se optava por uma coroa de porcelana para otimizar a estética, os materiais
cerâmicos disponíveis à época apresentavam baixa resistência à fratura além da
dificuldade técnica e limitações dos procedimentos de cimentação. Conceição 2018.

A busca por melhores padrões estéticos levou os cirurgiões-dentistas aos sistemas


metalfree e atualmente existem inúmeros métodos que possibilitam a obtenção de coroas
estéticas livres de metal, utilizando-se sistemas cerâmicos reforçados ou de resina
composta laboratorial tipo II (Hirata 2011), estes materiais possibilitaram ganho real no
aspecto estético sem perda das qualidades biomecânicas e o uso das coroas totais
metalocerâmicas para dentes anteriores entrou em declínio. Essa mudança no cenário de
escolha dos materiais restauradores foi impulsionada não só pelos novos materiais
restauradores indiretos como também pelo advento de procedimentos e sistemas
adesivos para dentina e a evolução dos tratamentos de superfície dos materiais que
corroboraram com a possibilidade de realizar preparos cada vez menos invasivos e
consequentemente com espessuras menores de material restaurador sem comprometer
a longevidade e efetividade do tratamento reabilitador. Conceição 2018
Indicações

As coroas totais em dentes anteriores são indicadas para situações clínicas com dentes
com ampla perda de estrutura dentária coronária, alteração de forma significativa,
alteração de cor severa que não respondem ao clareamento dental e não podem receber
restaurações adesivas parciais, dentes com alteração de posição importante na arcada e
que não podem receber restaurações adesivas parciais ou ortodontia, dentes com
restaurações parciais deficientes e extensas, dentes com coroas metalocerâmicas ou
cerâmicas deficientes ou pilares de próteses parciais fixas nos casos em que o implante
não é indicado. Conceição 2018

vantagens
As vantagens da reabilitação de dentes anteriores com as coroas totais são seu excelente
resultado estético (metalfree), biocompatibilidade com periodonto, resistência ao
desgaste, estabilidade de cor ao longo do tempo no caso das cerâmicas, reforço da
estrutura dentária remanescente e a provisionalização mais segura (risco mais baixo da
coroa temporária descimentar) quando é feito um preparo de coroa total que confere
maior retenção a essas restaurações Pegoraro Conceição 2018

limitações

Como limitações da técnica temos o maior desgaste da estrutura dentária comparado aos
preparos parciais, o maior risco de sensibilidade pós-operatória em dentes vitais e a
necessidade de confecção de coroas provisórias. Conceição 2018

Diagnostico e seleção do caso

O primeiro passo para uma boa indicação de coroa total será conversar com o paciente
para entender qual sua expectativa estética e funcional Magne e Belser 2012, por exemplo
as coroas metalocerâmicas tem um desempenho clínico satisfatório e altos índices de
sucesso clínico entretanto muitas vezes ocorre o escurecimento marginal da gengiva por
causa da oxidação do metal e da translucidez gengival e essas limitações estéticas das
metalocerâmicas devem ser explicadas para o paciente dando a ele a opção também por
restaurações com infraestrutura totalmente cerâmica que podem ser utilizadas tanto para
restaurações unitárias quando para próteses fixas de pequena extensão proporcionando
excelente estética, estabilidade de cor, biocompatibilidade, resistência ao manchamento
e desgaste. Magne e Belser 2012 Contudo as coroas de cerâmica têm um custo maior que
deve ser abordado quando oferecido ao paciente dando a ele a opção de tratamento com
uma coroa estética total anterior de resina indireta que pode ser uma opção desde que o
paciente seja alertado que esse material apesar de ser estético vai ter mais manchamento,
desgaste, instabilidade de cor e menor resistência mecânica. Conceição 2018

Exame clínico
Após esse primeiro contato com o paciente recolhendo informações a respeito da
expectativa estética e funcional, expectativa de custos, disposição de tempo para o
tratamento etc será iniciada a etapa de exame clínico (condições periodontais e
endodônticas, restaurações existentes) e diagnóstico oclusal (parafunção e maloclusões
severas que aumentam o risco de insucesso de tratamentos restauradores) exame de
imagens (radiográficos e/ou tomográficos), fotografias e obtenção modelos de estudo
montados em um articulador semi ajustável estes recursos vão completar a documentação
inicial com a qual o profissional poderá avaliar a condição prévia do dente que é candidato
a receber a coroa anterior determinando a possível quantidade e qualidade do tecido
dental remanescente que estará disponível após a realização do preparo, o que vai implicar
diretamente na escolha do material. Conceição 2018

Plano de tratamento
O plano de tratamento consiste na determinação da sequência de tratamento,
coordenação clínica e intervenções técnicas. A fase inicial do tratamento de coroa total
anterior compreende tipicamente diagnosticar necessidades de tratar aspectos
preventivos periodontais e operatórios (cirurgia muco gengival, clareamento, ortodontia,
restaurações diretas de resina composta e tratamento e controle de parafunção e
disfunções) que terão efeito expressivo sobre o resultado final. Hirata 2011

A partir dessa análise o profissional também poderá presumir a condição de reabilitação


protética do remanescente dentário candidato à coroa total anterior como por exemplo se
a coroa for curta é interessante a escolha de uma cerâmica que favoreça a união adesiva
devido à pouca retenção friccional; Já em dentes com substrato escurecido pode ser
preferível uma cerâmica mais opaca para mascarar o fundo sem necessitar de maior
espessura de material; em dentes vitalizados deverá ser presumido a distância do preparo
a polpa e possibilidade de tratamento endodôntico pre-protetico mas em dentes
despolpados a qualidade do tratamento endodôntico deve ser avaliada assim como a
necessidade ou não de buscar retenção extra por retentores intrarradiculares (quando
tiver ausência de batente e férula (menor que 2mm). Baratieri 2015

O clínico deve informar ao paciente a respeito dos problemas existentes utilizando


radiografias, fotografias e modelos de estudo como auxiliares para passar as informação
e em seguida irá apresentar um plano de tratamento sequencial, incluindo possíveis
alternativas, duração e custos do tratamento (honorários do laboratório também), ou seja,
a fase final do tratamento inicial do paciente não é clínico, e envolve discussão dos seus
parâmetros e uma vez autorizado, através do termo de consentimento livre informado
(TCLE) as modalidades práticas do tratamento podem ser planejadas. Conceição 2018

Após observar os detalhes de diagnóstico o profissional deve eleger as estratégias


técnicas e escolhas de material determinando assim a seleção da técnica de preparo
dental, a seleção do material e técnica de moldagem, seleção do tipo de material protético
da coroa e a seleção do agente de cimentação. Conceição 2018

Planejamento da técnica de preparo


Independente da técnica de preparo utilizada, o desenho do preparo de uma coroa
anterior deve estar em equilíbrio com os princípios mecânicos, biológicos e estéticos como
retenção (previne deslocamento por forças verticais) estabilidade e resistência (previne
deslocamento por forças oblíquas), rigidez estrutural (espessura mínima de material),
integridade ou selamento marginal (adaptação marginal), linha de término aceitável
(chanfro permite boa espessura de material pouco desgaste e escoamento do cimento),
conservação da estrutura dentária ou preservação do órgão pulpar (desagaste mínimo e
selamento dentinário imediato); preservação da saúde periodontal ou extensão cervical
(intrasulcular em áreas estéticas), forma, anatomia, cor dentre outros. Conceição 2018 e
Pegoraro e Shillimburg

Para seguir tais princípios os aspectos que devem ser analisados previamente ao preparo
são as condições estruturais do dente, os aspectos funcionais, aspectos de estética,
inclinação do dente, retenção, reconstrução da oclusão, e expectativa do paciente como foi
dito anteriormente. Conceição 2018

Enceramento diagnóstico
Sempre que houver alteração de forma, o preparo dentário de coroa total anterior só deve
ser conduzido depois que o novo formato da coroa for planejado. Para tal, o enceramento
diagnóstico (analógico e/ou digital) poderá ser realizado com base nas necessidades
estéticas (saúde periodontal, forma, contorno e cor) e funcionais do paciente. Magne e
Belser 2012

O enceramento diagnóstico permite que o dentista também planeje a coroa anterior


seguindo os princípios de macroestetica que compreendem essencialmente fatores
estéticos relacionados à face (forma, linhas de referência, linha do sorriso, plano incisal,
tipo de sorriso, tipo de lábio), ao periodonto (contorno gengival, Zenite, papila interdental)
e a visão dos dentes em grupo (linha média dentária alinhamento, inclinação axial
,proporção aparente dos dentes como a proporção áurea de 1:1,618) assim como os
princípios de microestética que analisam os detalhes que compõem a estética do dente
individualmente a partir de informações de dentes homólogos (proporção alturaXlargura,
textura superficial e cor). Conceição 2018

Index de silicone
Preparo dentário é um estágio clínico fundamental e irreversível da reabilitação protética e
assim requer cuidado máximo para garantir inserção facilitada bem como uma retenção e
resistência adequada da restauração indireta. O desgaste deve ser de acordo com o
volume tridimensional planejado com o enceramento diagnostico que serve assim como
guia do preparo dentário permitindo ao clínico realizar uma remoção precisa do tecido
dentário existente apenas após planejar a anatomia da restauração definitiva. Conceição
2018

O índice de silicone (uma duplicata em negativo do próprio enceramento) é feito com


silicone denso moldado a partir do enceramento diagnóstico ou do próprio dente a ser
preparado quando os contornos do dente forem corretos. O index deve cobrir toda a face
vestibular e lingual do dente mais as faces correspondentes de pelo menos um dente
adjacente de cada lado. Shillimburg 2018 usa-se um bisturi de laboratório para recortar as
margens incisais do molde a fim de separar uma metade vestibular e outra lingual, a
metade lingual é deixada de lado enquanto a vestibular é cortada do lado mesial para distal
através das marcas deixadas pelas faces vestibulares dos dentes produzindo uma metade
incisal e outra gengival, para se verificar se está bem adaptado, o índex será posto sobre
as faces correspondentes dos dentes, em caso afirmativo poderá ser utilizado para atingir
os objetivos funcionais e estéticos e garantir preparos adequados pois possibilita verificar
imediatamente a adequação da inclinação axial dos pilares e a espessura dos preparos
ajudando o dentista a identificar quaisquer modificações necessárias. Conceição 2018

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