Você está na página 1de 31

Reabilitação bucal

em odontopediatria
Marlus Roberto Rodrigues Cajazeira
Universidade Federal Fluminense
Instituto de Saúde de Nova Friburgo

1
Quando a atividade de cárie não é controlada (modificação de hábitos),
as lesões progridem, afetando negativamente a qualidade de vida dos
pacientes e sua família.
 Ocorrência de dor
 Comprometimento estético
(Nora et al. 2018)

2
A presença de lesões interproximais e a perda precoce de dentes decíduos
causam redução de espaço no arco e aumentam o risco de desenvolvimento
de más-oclusões.
(Lucas-Rincón et al. 2017)

3
Importância do tratamento restaurador

Redefine contornos
Reduz o acesso bacteriano anatômicos e com isso
Facilita a desorganização
aos nutrientes, paralisando a recompõe as funções
mecânica do biofilme
progressão da lesão (mastigatória, fonética, guia
oclusal) e a estética

(Kidd et al. 2015)

Fonte: https://pocketdentistry.com/primary-incisor-restoration/

4
Os CIV e as resinas compostas apresentam limitações para a restauração de
dentes extensamente destruídos:
 Baixas resistências à flexão e ao desgaste dos CIV afeta a longevidade de
restaurações extensas.
(Pires et al. 2018)
 A inserção incremental da resina aumenta o tempo de atendimento e o risco
de comportamentos aversivos do paciente.

5
Técnicas restauradoras para dentes decíduos com extensa destruição
Coroas de aço inoxidável
Coroas de aço inoxidável modificadas
Restaurações e matrizes pré-fabricadas
Coroas de cerâmica
Coroas de policarbonato
Resina composta
Restaurações indiretas
Cerâmica

6
Momento da reabilitação

Adequação do meio Fase de reabilitação


Resolução da urgência Fase restauradora
bucal bucal

 Constitui a última etapa do tratamento


o Controle da atividade e redução do risco de cárie
o Melhor adequação do comportamento do paciente

7
A importância do planejamento
O planejamento é uma etapa determinante do sucesso a longo prazo da reabilitação.

 Capacidade de cooperação do paciente

 Condições da estrutura dentária remanescente

 Estágio do desenvolvimento

8
Capacidade de cooperação
 A complexidade dos procedimentos exige que o paciente seja capaz de cooperar.

o Quanto menor a capacidade de cooperação, mais simples os procedimentos.

 Os procedimentos de reabilitação devem ser realizados somente após o controle da cárie e redução

do risco

9
Condições do remanescente dental
 Avaliar as dimensões da lesão (localização do término cervical) e a extensão da

estrutura dentária que será removida

o Indicação da retenção intracanal é restrita aos incisivos decíduos superiores.

o Impossibilidade da cirurgia periodontal pré-protética para recuperação do

espaço biológico em lesões com margens subgengivais.

10
Estágio do desenvolvimento
 Avaliar radiograficamente a reabsorção das raízes

o Estimar a possibilidade do uso de pinos intracanais

 Identificar o estágio do desenvolvimento do permanente sucessor (importante para o

planejamento da manutenção de espaço)

o Estágio 6 de Nolla: início do movimento eruptivo

o Estágio 8 de Nolla: irrupção na cavidade bucal

11
Restaurações e matrizes pré-fabricadas
 Restaurações e matrizes com formas e dimensões pré-determinadas que são

selecionadas (segundo o dente que será restaurado), ajustadas e cimentadas.

 Utilizadas há décadas para viabilizar a reconstrução rápida e simples de

dentes decíduos com extensa perda de estrutura.

12
Coroas de aço inoxidável
 Amplamente utilizadas desde os anos 1950 para a reconstrução de dentes

decíduos submetidos ao tratamento endodôntico

o molares decíduos anquilosados ou com defeitos do desenvolvimento

o restauração temporária de 1os molares permanentes (cariados ou com

defeitos do desenvolvimento)

 Indisponíveis no mercado nacional (não são estéticas)

 Excelente relação custo/benefício

 Técnica restauradora relativamente simples

13
As coroas de aço inoxidável apresentaram a maior taxa de sucesso (96%)

dentre os diferentes tipos de restauração avaliadas

(Chisini et al. 2018)

14
Sequência clínica da coroa de aço inoxidável
1) Seleção da coroa com base no diâmetro MD do dente aferido com compasso de ponta seca
2) Redução oclusal de 1,5mm com pontas diamantadas cilíndricas de ponta plana
3) Redução proximal de 1mm com pontas diamantadas cônicas (1100)
4) Adaptação e posicionamento inicial da coroa (atenção à esquemia gengival)
5) Recorte ou desgaste cervical da coroa (isquemia limitada à gengiva livre)
6) Conformação cervical com alicates nos 400 e 114 para conferir adaptação cervical e retenção à
coroa)
7) Polimento da região cervical com pontas abrasivas
8) Cimentação com cimento fosfato de zinco ou CIV para cimentação
9) Checagem e ajuste oclusal (cautela devido à pouca espessura da camada de metal)

15
Coroas de aço inoxidável modificadas com face estética
 Restaurações pré-fabricadas com acréscimo de resina composta em

superfícies estéticas

o Adaptação das coroas convencionais aumento de retenção e substituição

com resina composta

 Suscetibilidade ao desgaste/fratura da resina durante a adaptação ou

cimentação da coroa

 Indisponíveis no mercado nacional

16
Coroas de zircônia
 Introduzidas no mercado em 2010 (NuSmileTM) para restauração de dentes decíduos
anteriores e posteriores
 As restaurações apresentam resistência ao desgaste elevada, textura e cor similares
ao esmalte decíduo.
 O preparo é mais complexo e requer maior desgaste, as coroas são de difícil ajuste e
podem se fraturar durante a adaptação e cimentação (baixa resistência à flexão)
(Plannels e Fuks, 2014; Ashima et al. 2014; Towsend et al. 2014)

17
Sequência clínica coroa pré-fabricada em cerâmica
1) Seleção da coroa (diâmetro MD)
2) Redução I/O (1,5 a 2mm)
3) Redução das paredes circundantes (0,5 a1mm) conferindo leve convergência
4) Definição do término em linha zero 1 a 2mm abaixo da gengiva livre
5) Posicionamento das coroas e ajustes (NuSmile ZR Adjustment Burs )
6) Cimentação com CIV para cimentação ou cimento resinoso dual
7) Ajuste oclusal, acabamento e polimento (2,2 comp X 1larg)

18
Matrizes pré-fabricadas de celuloide
 Matrizes transparentes com formas e dimensões padronizadas utilizadas para facilitar

a reconstrução de dentes decíduos com resina composta.

o Técnica restauradora direta; viabiliza recuperação funcional e estética

o Passível de reparo

o Descoloração e desgaste a longo prazo; suscetibilidade à falha adesiva

(remanescente com dimensões reduzidas, dificuldade de controle da umidade)

(Gugnani et al. 2017)

19
Sequência clínica da matriz de celuloide
1) Seleção da matriz (diâmetro MD)
2) Ajuste da altura CI/CO e adaptação cervical da coroa (isquemia do tecido gengival)
3) Confecção de orifícios de alívio (extrusão do excesso de resina composta)
4) Preenchimento do interior da matriz com resina composta
5) Adaptação da coroa (remoção do excesso de material)
6) Fotoativação (todas as direções)
7) Remoção da matriz (recorte com lâmina de bisturi)
8) Acabamento e polimento cervical
9) Checagem, ajuste oclusal, acabamento e polimento

20
Retenção intracanal em dentes decíduos
 Indicação restrita para dentes decíduos anteriores (canais amplos e retilíneos) com

coroas amplamente destruídas

 Absolutamente contraindicada para molares decíduos (canais finos, tortuosos e com

achatamento MD)

 Podem ser fabricados pelo próprio dentista (fios ortodônticos, resina composta e raízes

de banco de dentes) ou pré-fabricados (fibra de vidro, pinos intradentinários)

21
Sequência clínica para a retenção intracanal em dentes decíduos
1) Remoção da pasta obturadora (1/3 do comprimento da raiz) com instrumentos manuais ou
rotatórios
2) Ajustes do pino
3) Injeção do cimento resinoso dual ou ionomérico e adaptação do pino (porção externa do pino deverá
ter metade da altura da coroa)

22
Restaurações indiretas de resina composta
 Restaurações realizadas sobre modelos de gesso e cimentadas sobre o dente preparado.

o Reconstrução independe da cooperação

o Reduz os efeitos da contração de polimerização

 Complexidade da técnica (preparo e moldagem), aumento do custo e do número de consultas

23
Sequência clínica da restauração indireta de resina composta
1) Regularização das paredes (convergência), arredondamento de ângulos internos e
definição do término (chanfro)
2) Moldagem com silicone de condensação (bases leve e pesada)
3) Restauração provisória com CIV convencional
4) Vazamento (gesso tipo IV) e isolamento dos modelos (Cel-lac® ou cianocrilato)
5) Confecção, remoção e limpeza das restaurações
6) Remoção da restauração provisória e hibridização
7) Cimentação com cimento resinoso dual

24
Restaurações semidiretas de resina composta
 Restaurações realizadas sobre modelos confeccionados com material flexível (silicone).

 A principal vantagem é permitir que a restauração seja concluída em consulta única

25
Sequência clínica para restaurações semidiretas de resina composta
1) Regularização de paredes, arredondamento de ângulos e definição de término
2) Moldagem com silicone de condensação ou alginato
3) Preenchimento com silicone para troquel
4) Tempo polimerização (3min)
5) Confecção da restauração
6) Condicionamento ácido (preparo e peça) e aplicação do adesivo
7) Aplicação do cimento
8) Posicionamento da peça, fotoativação
9) Checagem, ajuste, acabamento e polimento

26
Restaurações em cerâmicas assistidas (CAD/CAM)
 Técnica restauradora recente indicada para dentes decíduos anteriores e
posteriores com extensa perda de estrutura.
 Permite a reconstrução do dente em consulta única, dispensando moldagem e
reproduzindo a cor do dente e seus contatos proximais e oclusais com precisão.
 O custo elevado e a ausência de evidências (técnica recente) são as principais
desvantagens da técnica.
(Morouzis et al. 2019)

27
Sequência clínica de restaurações indiretas em cerâmica assistidas por CAD/CAM
1) Remoção do tecido cariado, confecção de núcleo (resina composta)
2) Desgaste axial (1mm, convergência) e oclusal (1,5mm) e delimitação do término (chanfro)
3) Escaneamento do preparo
4) Fresagem da restauração (inlay, onlay ou overlay) e polimento manual
5) Jateamento interno com Al2O3 e condicionamento com HF a 5%
6) Hibridização e cimentação com cimento resinoso dual

28
Bibliografia
Santos NP, Fonseca YPC, Guedes-Pinto AC. Reabilitação bucal em odontopediatria. In. Guedes-Pinto
AC. Odontopediatria, 7ª edição, São Paulo, 2003. Capítulo 37. Páginas: 723-755.

Ferreira SLM, Biancalana H, Bengston AL, Bozola JR, Guedes-Pinto AC. Prótese em odontopediatria.
In. Guedes-Pinto AC. Odontopediatria, 7ª edição, São Paulo, 2003. Capítulo 36. Páginas: 691-719.

Wanderley MT, Trindade CP, Corrêa MSNP. Reabilitação protética em odontopediatria. In: Corrêa
MSNP. Odontopediatria na 1ª Infância, 2ª edição, São Paulo, 2005. Capítulo XXXVIII. Páginas: 607-
628.

Fonoff RN, Corrêa MSNP. Resinas compostas. In: Corrêa MSNP. Odontopediatria na 1ª Infância, 2ª
edição, São Paulo, 2005. Capítulo XXXIII. Páginas: 531-535; 537-543.

29
Referências bibliográficas
Ashima G. et al. Zirconia crowns for rehabilitation of decayed primary incisors: an esthetic alternative. J Clin Pediatr Dent. 2014
Fall;39(1):18-22.

Al-Shahrani N et al. The prevalence of premature loss of primary teeth and its impact on malocclusion in the Eastern Province of Saudi
Arabia. Acta Odontol Scand. 2015;73(7):544-9.

Borges TS et al. Impact of traumatic dental injuries on oral health-related quality of life of preschool children: A systematic review and
meta-analysis. PLoS One. 2017 Feb 28;12(2):e0172235.

Dursun E et al. Chairside CAD/CAM Composite Onlays for the Restoration Of Primary Molars. J Clin Pediatr Dent. 2018;42(5):349-354.

Gugnani N et al. Esthetic Rehabilitation of Primary Anterior Teeth using Temporization Material: A Novel Approach. Int J Clin Pediatr
Dent. 2017 Jan-Mar;10(1):111-114.

Kidd E et al. Infected Dentine Revisited. Dent Update. 2015 Nov;42(9):802-6, 808-9.

Lucas-Rincón SE et al. Interproximal caries and premature tooth loss in primary dentition as risk factors for loss of space in the
posterior sector: A cross-sectional study. Medicine (Baltimore). 2019 Mar;98(11):e14875.

Mittal HC et al. Clinical Performance of Indirect Composite Onlays as Esthetic Alternative to Stainless Steel Crowns for Rehabilitation
of a Large Carious Primary Molar. J Clin Pediatr Dent. 2016;40(5):345-52.

30
Referências bibliográficas
Mourouzis P et al. Computer-aided Design and Manufacturing Crown on Primary Molars: An Innovative Case Report.
Int J Clin Pediatr Dent. 2019 Jan-Feb;12(1):76-79.

Nora ÂD et al. Is Caries Associated with Negative Impact on Oral Health-Related Quality of Life of Pre-school
Children? A Systematic Review and Meta-Analysis. Pediatr Dent. 2018 Nov 15;40(7):403-411.

de Paula JS et al. Longitudinal evaluation of the impact of dental caries treatment on oral health-related quality of life
among schoolchildren. Eur J Oral Sci. 2015 Jun;123(3):173-8.

Pires CW et al. Is there a best conventional material for restoring posterior primary teeth? A network meta-analysis.
Braz Oral Res. 2018 Mar 1;32:e10.

Planells del Pozo P, Fuks AB. Zirconia crowns: an esthetic and resistant restorative alternative for ECC affected
primary teeth. J Clin Pediatr Dent. 2014 Spring;38(3):193-5.

Townsend JA et al. In vitro fracture resistance of three commercially available zirconia crowns for primary molars.
Pediatr Dent. 2014 Sep-Oct;36(5):125-9.

31

Você também pode gostar