TRIUMPHAL PROCESSION WITH GIRAFFES

exoric animals at the Service of power

 CORTEJO TRIUNFAL COM GIRAFAS
animais exöticos ao servico do poder
TRIUMPHAL PROCESSION WITH GIRAFFES
exotic animals at the Service of power

MECENAS OFICIAL DA FRESS

FUNDAgÄO
Ricardo DO Espirito Santo, Silva,
CHAM -^ BANCO ESPIRITO SANTO
u d Ji Altes Heror-iri vjs Portaguesu
 INTRODUCÄO INTRODUCTION
Jessica Hallecc

O CENÄRIO 1. THE SETTING

Ines Cristoväo

A GIRAFA, o ELEFANTE E A ZEBRA 2. THE GIRAFFE, THE ELEPHANT, AND THE ZEBRA
Jessica Hallett

A PROCURA PORTUGUESA POR ANIMAIS EXÖTICOS 3. THE PORTUGUESE DEMAND FOR EXOTIC ANIMALS
Annemarie Jordan Gschwend

A IDENTIDADE DA MULTIDÄO 4. THE IDENTITY OF THE CROWD

Jessica Hallett e Ines Cristoväo

O CORTEJO TRIUNFAL COM GIRAFAS E A MTJSICA 5. THE TRIUMPHAL PROCESSION WITH GIRAFFES AND Music
Bernadette Nelson

CONCLUSÄO 6. CONCLUSION
Jessica Hallett

TAPECARIAS 7. TAPESTRIES

BlBLIOGRAFIA BlBLIOGRAPHY

AGRADECIMENTOS ACKNOWLEDGEMENTS

CREDITOS FOTOGRAFICOS PHOTOGRAPHIC CREDITS

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 A PROCURA PORTUGUESA
POR ANIMAIS EXÖTICOS
Annemarie Jordan Gschwend
Os encontros com os novos mundos na Asia, Africa e nas
Americas ofereceram ä corte portuguesa uma oportunidade
ünica de adquirir animais exoticos e selvagens. O comercio e
äs trocas trouxeram estas novidades para a Europa, abrindo os
mercados globais aos coleccionadores reais portugueses, com
a assistenda de mercadores e agentes. Quanto mais exotico
era o animal, mais dinheiro este valia. Zoologicos e aviarios
tornaram-se uma parte fundamenral do imaginärio da corte
Renascentista. Animais de esrimacäo invulgares coloriam o
quotidiano, äs festas, o entretenimento, desempenhando um
papel essencial na criacäo das coleccöes reais durante o seculo
XVI. Os zoologicos tornaram-se uma extensäo, ao ar livre,
das Kunstkammer e o acto de coleccionar animais europeus,
asiaticos e africanos tornou-se um reflexo microcösmico
dessas coleccöes de raridades, em interiores, mas expostas nos
magnfficos jardins, tambem eles plantados com ärvores e flores
ornamentais importadas. Os coleccionadores reais dedicaram-
se ao desenvolvimento de zoologicos e jardins, onde animais e
plantas, sünbolos do poder e prestfgio dos seus donos, existiam
para deslumbrar e espantar.
Magnificos Avidrios: Falcoes Reais e Papagaios Exoticos
D. Manuel I dedicou-se ä arte da falcoaria. Em 1520,
ordenou ao seu feitor em Antuerpia que comprasse vinte dos
melhores e mais bonitos - os milhores e maisfremosos— falcoes
e acores que encontrasse, e mandou o seu cacador Simäo Roiz
a Flandres, näo so para supervisionar a compra, mas tambem
o seu regresso a Lisboa1. Cortesäos especializados, peritos em
falcoaria, eram vitais para assegurar o transporte, em vida, destes
dispendiosos animais. As cortes a norte da Europa, täo distantes
como a da Dinamarca, tinham a reputacäo de serem os melhores
criadores de aves de caca, e outras duas cartas documentam a
compra de falcoes exclusivos da Flandres, antes da morte de
D. Manuel, em 1521. Os prazeres que D. Manuel retirava
da cafa recreativa eram evidentes: o custo pouca importäncia
tinha e o rei esperava que o seu cacador encontrasse os melhores
pässaros para faustosas demonstracöes na corte. Poucos säo os
estudos que se focaram no papel que os animais domesticos,
e os exoticos na epoca dos Descobrimentos, tiveram na vida
FIG. 15
LEITURA NOVA, LIVRO VIII DE ODIANA, SECULO XVI l ÖTH CENTURY
DGARQ, LISBOA
THE PORTUGUESE QUEST
FOR EXOTIC ANIMALS
Encounters with new worlds in Asia, Africa and in
the Americas offered the Portuguese court a unique
opportun! ty to acquire stränge, wild animais. Commerce
and trade brought these novelties to Europe, opening up
global markets which Portuguese royal collectors tapped
into with the assistance of merchants and agents. The
more exotic the animal, the more highly it was prized.
Menageries and aviaries became a fundamental part öl
the imaging of Renaissance courts. Exotic pets coloured
daily life, fetes and entertainments, playing an essential
role in the creation of royal collections throughout the
loch Century. Menageries became the extension of the
Kunstkammer outdoors, and the collecting of European,
African and Asian animais mirrored in a microcosmic
fashion the collections of rarities indoors, displayed in
magnificent gardens, themselves planted with imported
trees and ornamental flowers. Royal collectors cultivated
a menagerie and garden culture, whereby animais and
plants, Symbols of an owner's power and prestige, were
assembled and planted to dazzle and amaze.
Magnificent Aviaries: Regal Hunting Falcons and
Exotic Parrots
Manuel I cultivated a passion for hawking. In 1520
he ordercd his feitor in Antvverp to buy fwenty of the best
and most beautiful - os milhores e mais fremosos - falcons
and gyrfalcons (tifores) he could find, and sent his cacador,
Simäo Roiz, to Flanders not only to oversee their purchase,
but also their transport back to Lisbon. 1 Specialized
courtiers, expert in falconry, were vital in ensuring safe
shipments of expensive live animais. Northern courts
in Europe, some äs far north äs Denmark, enjoyed the
reputation of breeding the best hunting birds, and two
other letters document subsequent purchases of exclusive
falcons in Flanders before Manuels death in 1521. The
pleasures Manuel took in the recreation of the hunt is
evident: cost mattered little, and the king expected his
caftidor to find top-quality birds for ostentatious display
at court. Few stuclies on Portuguese court culture in
-33-
da corte portuguesa do Renascimento e no imaginario dos
monarcas portugueses no seculo XVI.
Obrer, possuir e mostrar os animais na corte ou em palacios
e, rnais tarde, nos zoologicos e jardins destas residencias,
tornou-se uma prioridade. A perseguicäo e a captura tomaram,
metaforicamente, a primazia, e coleccionar animais e pässaros
domesticos ou importados, tornou-se uma componente
essencial do esplendor do espectäculo e imaginario cultivado
na corte portuguesa do Renascimento. A assimilacäo destes
animais selvagens e estranhos reflectia-se nas artes decorativas,
particularmente em obras de arte encomendadas por D. Manuel,
como o ciclo da tapecaria Conquista da India. Esta foi a mais
importante encomenda do seu reinado, composta por vinte e
seis tapecarias flamengas, executadas possivelmente em Tournai,
em 1510, que ä maneira da antiga trionfi romana, celebrava a
descoberta portuguesa da India e glorificava D. Manuel como
o novo Cesar de um novo imperio. Este ciclo, especificamente
concebido para a sala grande do paläcio real de Lisboa, era
como que um panorama tecido das descobertas e conquistas
portuguesas. Durante o seculo XVI, foram simbolicamente
expostos pela familia real em festas e eventos de Estado na corte,
como bandeira da ilustre dinastia de Avis-Beja.
Em 1505, uma grande tapecaria representando uma cidade
exötica com elefantes e outros animais, foi registada na coleccäo de
D. Manuel, que estara talvez ligada aos paineis conhecidos como
ei la maniere du Portugal et de l 'Indie, avidamente coleccionados
por toda a Europa por reis e prmcipes seus contemporäneos, e
aqui em discussäo. D. Manuel adquiriu este painel, tambem
manufacturado em Tournai, como uma metafora visual das
conquistas alem-mar dos portugueses. As tapecarias a maniere
du Portugal säo povoadas de Fauna africana e animais fantästicos:
girafas, camelos, elefantes, macacos, leöes, leopardos, papagaios, o
famoso unicdrnio e povos estranhos. Os desenhos säo livremente
interpretados pelos tecelöes flamengos, que se esforcaram por
recrear roupas e acessörios exöticos. Mercadores italianos e
alemäes cedo espalharam a noticia dos animais trofeu, trazidos
para Lisboa, e esta revelacäo de bizarras e maravilhosas criaturas
esta representada nestas tapecarias onde caravanas nömadas
transportam gatos selvagens, macacos, pässaros e papagaios,
enj aulados para serem vendidos num distante mercado. O
estabelecimento de feitorias portuguesas ao longo da costa oeste
africana permitiu ä corte portuguesa uma efectiva exploracäo,
nesses mercados, de mercadorias e animais vivos.
-34-
the Renaissance have focused on the fundamental role
domestic, and subsequently during the Age of Discovery,
exotic animais played in the imaging of Portuguese
monarchs in the 16th Century.
Acquiring, owiiing and displaying animais at court or
in palaces, and, later, in the menageries and gardens of
these royal residences became a priority. The chase and
the capture metaphorically took precedence, and the
collecting of domestic or imported animais and birds
formed an essential component of the pageantry, spectacle
and imagery cultivated at the Renaissance Portuguese
court. This assimilation of stränge or wild animais was
reflected in the decorative arts, particularly in art works
commissioned by Manuel, such äs the Conquest of
India tapestry cycle. This was the single most important
commission of his reign, twenty-six Flemish tapestries
executed in Tournai in 1510, which in the manner of
ancient Roman trionfi, celebrate the Portuguese discovery
of India and glorify Manuel äs the new Caesar of a new
empire. This cycle specifically conceived for the sala
grande of the Lisbon royal palace, was a woven panorama
of the Portuguese discoveries and conquests. Throughout
the sixteenth Century, they were symbolically displayed by
the royal family at major fetes and state events at court, äs
a flagship of the illustrious Aviz-Beja dynasty.
In 1505, a large tapestry depicting an exotic city with
elephants and other animais was recorded in Manuels
collection, which perhaps is linked to those panels known
äs, ä la maniere du Portugal et de l'Indie, keenly collected
by contemporary rulers across Europe, and discussed
here. Manuel surely acquired this panel, possibly also
manufactured in Tournai, äs a visual metaphor of the
Portuguese overseas conquests. The Maniere tapestries
are populated with African fauna and fantastic animais:
giraffes, camels, elephants, monkeys, lions, leopards,
parrots, the legendary unicorn and stränge peoples. The
designs are freely interpreted by Flemish tapestry weavers,
who strove to recreate exotic clothes and accessories.
Italian and Getman merchants soon spread news of animal
trophies brought to Lisbon, and this reveling in bizarre,
marvelous beasts is imprinted upon these weavings,
which include depictions of nomadic Caravans canying
caged wild cats, monkeys, birds and parrots intended
 D. Manuel I, no seu novo paläcio real, o Paco da Ribeira,
que tinha acabado de ser edificado ä beira do rio Tejo, construiu
um aviärio para exposicäo dos seus pässaros de caca, que por esta
altura inclufam uma variedade de papagaios. Os navegadores
portugueses traziam macacos e papagaios africanos como
animais de estimacäo ou como Fontes de rendimento extra que
podiam fazer com a sua venda. Alviso Cäda Mosto regressou a
Europa, em 1456, com 155 papagaios vindos do oeste africano,
que vendeu por um ducado cada. Lucas Rem, um agente da
famflia Welser de Augsburg que residiu em Portugal entre 1503
a 1508, relatou "os estranhos novos papagaios e os macacos
de caudas peludas e longas" de Africa que tinha comprado em
Lisboa. Em 1500, Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil e
baptizou-a "terra dos papagaios", de onde penas de araras
vermellias e outras especies de papagaios eram importadas para
Portugal. Papagaios cinzentos, pässaros tecelöes e periquitos
vinham da Africa ocidental, äs grandes araras do Brasil,
enquanto que os exemplares mais pequenos e coloridos (Löris),
provinham da Äsia, e a plumagem do passaro do paraiso, da
Indonesia. Estabeleceu-se uma lucrativa troca de papagaios e
pässaros exöticos nos principios do seculo XVI, como comentou
Diego Velho da Chancellaria, em 1519: Lisboa era um lugar
onde "monströs, pässaros falantes, diamantes e porcelana"
se tinham tornado bastante comuns. Em 1514, D. Manuel
ofereceu ao papa Medici Leäo X, numerosos papagaios da sua
coleccäo privada. Como governante de um imperio global,
o aviärio de D. Manuel personificava a imensidäo da terra:
papagaios cinzentos vindos de Africa que simbolizavam o
Mundo Antigo, e grandes e coloridas araras o Novo Mundo.
Os papagaios tornaram-se parte integral da vida da corte
e cultura portuguesa no estrangeiro. Em 1535, o embaixador
portugues em Bruxelas, Pedro de Mascarenhas, ofereceu um
banquete de tres dias em honra do rei D. Joäo III, para a quäl
o Imperador Carlos V e a regente D. Maria da Hungria foram
convidados. Como surpresa, papagaios vivos foram servidos
dentro de tartes para depois se soltarem da sua jaula de massa.
Dois deles falaram com os convidados reais, e um chegou a beijar
e brincar com D. Maria, que mais tarde terä dito que "nenhum
outro passaro täo malandro tinha vindo das Indias Orientais".
O apreco de D. Manuel I pelos papagaios foi rapidamente
assimilado pelas mulheres (rainhas e princesas) da sua corte,
onde os papagaios tinham grande valor e eram trazidos para
os seus aposentos privados como animais de estimacäo e
-35-
for sale at a distant market place. The establishment of
Portuguese factories along Africa's western coastline,
allowed the Lisbon court to better exploit markets there
for commodities and live animais.
Manuel I created an aviary within the compound of
bis new royal palace, the Paco da Ribeira, he had recently
constructed on the Tagus waterfront, for the exhibition
of his hunting birds, which at this juncture included a
variety of parrots. Portuguese sailors brought back African
monkeys and parrots äs pets, or äs sources of supplemental
income to seil. Alviso Ca' da Mosto returned to Europe
with 150 parrots from West Africa in 1456, which he sold
for l ducat each. Lucas Rem, an agent for the Augsburg
Welser family, residing in Portugal from 1503 to 1508,
told of the "stränge new parrots and long-tailed monkeys"
from Africa he purchased in Lisbon. In 1500 Pedro Alvares
Cabral ofHcially discovered Brazil, christened "the land of
the parrots," from where feathers of red macaws and other
parrots species were imported to Portugal. Gray parrots,
weaver birds and parakeets came from West Africa, large
macaws from Brazil, while small multicolored examples
(Lories), hailed from Asia, äs did the plumage of the bird
of paradise from Indonesia. A profitable trade in parrots
and exotic birds was established by the early sixteenth
Century, äs Diego Velho da Chancellaria commented in
1519: Lisbon was a place where "monsters, talldng birds,
diamonds and porcelain" had become quite common. In
1514 Manuel offered the Medici Pope Leo X numerous
parrots from his personal collection. As ruler of a global
empire, Manuel's aviary symbolically embodied the distant
reaches of the earth: gray parrots from Africa representing
the Old World and large colorful macaws the New World.
Parrots become an integral part of Portuguese
court life and culture abroad. In 1535 the Portuguese
ambassador in Brüssels, Pedro de Mascarenhas, gave a
three day banquet in honor of King Joäo III, to which the
emperor Charles V and the regent Mary of Hungary were
invited. As a surprise, live parrots were served up in meat
pies, only to break out of their pastry shells. Two of them
spoke with the royal guests, and one kissed and teased
Mary, who was later quoted saying: "no cheekier bird had
come from the East Indies."
Manuel I's parrot culture was soon taken up by royal
companhia para o alivio do tedio diario. Forarn fabricadas
gaiolas e gastaram-se pequenas fortunas na sua concepcäo e
construcäo (fig. 16). Os papagaios eram valorizados pela sua
longevidade, habilidade de falar e de divertir. A mäe de D.
Manuel, D Beatriz, tinha uma afeicäo particular por uma
arara vermelha que pelo seu valor monetario (estimado
em 600 reais), foi registado como um objecto exötico no
seu inventario pessoal, em 1507. D. Cararina de Äustria,
mulher de D. Joäo III, adorava papagaios e coleccionava-os
avidamente. Em 1554, foram encomendadas quatro gaiolas
para os seus aposentos privados e, em 1556, foi comprado
mais um papagaio, com a sua gaiola2. A rainha ofereceu ä
sua famüia na corte espanhola värios exemplares especiais,
näo so papagaios falantes e araras brasileiras, como tambem
raras aves canoras de Santo Domingo. O seu irmäo, Carlos
V, recebeu um Yuste, um papagaio falante descrito como: un
muy buen papagayo, e a sua sobrinha, D. Joana de Äustria,
recebeu um pa.pa.gayo bicho, em 15623. A rainha estabeleceu
uma vasta rede de agentes ao longo da costa ocidental de
Äfrica, e na Äsia portuguesa (Goa, Cochin e Malaca), que
tinham com objectivo recolher animais invulgares, de forma a
satisfazer os frequentes pedidos dos seus familiäres Habsburgo
de flora e fauna importadas de alem-mar. Na aquisicio destas
curiosas e extraordinarias criaturas foi empregue muito tempo
e dinheiro; um monopolio que D. Catarina controlava atraves
dos seus conhecimentos ä escala global.
Asia. em Lisboa: Elefantes de Estado, directamente de Ceiläo
D. Manuel I foi o primeiro monarca da Europa
Renascentista a coleccionar elefantes de Estado, a semelhanca
do que faziam os seus congeneres indianos. Como que
trofeus vivos, estes elefantes salientavam a sua magnificencia
e grandeza. Um rinoceronte da India (o primeiro a ser visto
na Europa desde a Antiguidade), enviado a Lisboa pelo Sultäo
de Guzerate, reafirmou D. Manuel como o dominus mundi,
o senhor de um Imperio Mundial. Relembrando cortejos e
cerimonias da Antiguidade, D. Manuel seguiu triunfalmente,
como os reis asiäticos, desde o Paco da Ribeira ate ä Se Catedral,
com nada mais do que cinco paquidermes, liderados por
mahouts indianos, vindos de Goa. Lisboa maravilhou-se com
esta ostentacäo de poder. Para comemorar estes espectäculos,
D. Manuel encomendou um retrato seu numa miniatura
para a sua Leitura Nova, onde se fez representar como um rei
-36-
women at bis court, where parrots were highly valued,
brought into ehe private sphere of female quarters äs pets
and companions to alleviate boredom. Elaborate cages
were built to house them and small fortunes were spent
in their design and construction (fig. 16). Patrots were
prized because of their longevity, ability to talk and amuse.
Manuel's mother, Beatriz, had a particular affection for a
Brazilian red macaw and because of its monetär)' value
(estimated at 600 reais), the bird was recorded äs an exotic
object in the inventory of her estatc in 1507. Catarina
of Äustria, Joäo III's spouse, adored parrots and avidly
collected them. In 1554 four cages were ordered for
her private tooms, and another parrot with a cage was
purchased in 1556." The queen gave special specimens
away to her family at the Spanish court, not only talkativc
parrots and Brazilian macaws, but also rare song birds
from Santo Domingo. Her brother, Charles V, received
at Yuste, a very talkative parrot described äs: un muy buen
papagayo, and her niece, Juana of Äustria, was given a
papagayo bicho in 1562.' The queen established a wide
network of agents along the West coast of Äfrica and in
Portuguese Asia (Goa, Cochin and Malacca) to help her
track down unusual aiiimals, in order to fulfill requests
she received, almost daily, from her Habsburg relatives
for flora and fauna imported from overseas. A great deal
of time and expense was invested in the acquisition of
curious, extraordinary creatures; a monopoly Catarina
controlled with her global connections.
Asia in Lisbon: State Elephants fi-om Ceylon
Manuel I was the first monarch in Renaissance Europe
to imitate Indian potentates, by collecting elephants of
state. As live trophies, these elephants underscored his
magnificence and grandeur. A rhinoceros from India (the
first seen in Europe since antiquity), sent to Lisbon by the
sultan of Gujarat, reconfirmed Manuel äs dominus mundi,
sovereign of a world empire. Recalling the parades and
ceremonies of antiquity, Manuel rode triumphantly in
the manner of Asian kings, from the Pafo da Ribeira to
the Se cathedral, with no fewer than five pachyderms, led
by Indian mahouts from Goa. Lisbon marveled at these
displays of power. To commemorate these spectacles,
Manuel had himself amusingly portrayed äs an exotic
exötico montado no seu jovem e brincalhäo elefante (fig. 17).
Treze jovens elefantes asiaticos, a maioria de Ceiläo, foram
importados para Portugal no periodo do Renascimento.
D. Manuel ofereceu presentes diplomaticos raros a Papas e
soberanos: um leopardo-das-neves (recebido do Rei de Ormuz)
e o celebre elefante branco, Hanno, loram cnviados a Leao
X para o seu zoolögico nos jardins Belvedere, em Roma, e
imortalizados num desenho de 1514/1516, atribuido a Rafael
e Giulio Romano, (Kupferstichkabinett, Berlim). E a primeira
representacäo verdadeira de um elefante asiatico (ver o ängulo
do seu tronco) e dos seus mahouts segurando a cronaca (ankusa)
dos elefantes, feita por um grande artista renascentista, com
anotacöes sobre äs medidas de Hanno. Este desenho originou
numerosas cöpias, muitas dos pröprios alunos de Rafael, que
culminou na copia de Francisco de Holanda, feita em Roma, em
1538. A Portugal deveriam chegar, anualmente, dez elefantes
provenientes do reino de Jaffna (Ceiläo), enquanto pagamento
dos tributos que eram exigidos pelos portugueses aos seus
vassalos asiaticos, e sfmbolos do poder de um reino absoluto.4
A natural antipatia dos animais selvagens era tema
läng riding his young, playful clephant in a miniamre for
his Leitura Nova (fig. 17).
Thirtccn young Asian elephants, mostly from Ceylon,
were imported to Portugal in the Renaissance. Manuel
offered rare, diplomatic gifts to Popes and rulers: a snow
leopard (received from the lang of Ormuz) and the
renowned white elephant, Hanno, were dispatched to Leo
X for his menagerie in the Belvedere gardens in Rome and
immortalized in a 1514-1516 drawing attributed to both
Raphael and Giulio Romano (Kupferstichkabinett, Berlin).
It is the first true representation by a High Renaissance
painter of an Asian elephant (see the tip of his trunk) and
his mahouts Holding Indian elephant goads, with notations
made of Hanno's measurements. This representation
spawned a number of replicas, many by Raphael's pupils,
culminating in the copy by Francisco de Holanda executed
in Rome in 1538. The Portuguese demanded tribute from
Asian vassals, and the kingdom of Jaffna (Ceylon) was
expected to send each year ten elephants, äs Symbols of
absolute power and kingship, to Portugal.'1

• , •
m
•f*'. ~ .-

FIG. 16
PAPAGAIOS E PÄSSAROS Exöncos EM GATOLAS
PARROTS AND EXOTIC BIRDS IN CAGES
CRÖNICA DsD.JoAoI, 1530-1534, FOL. LXX.
BIBLIOTECA NACIONAL, MADRID
FIG. 17
D. MANUEL I MONTADO NO SEU ELEFANTE, PORMENOR DA FIG. 15
KING MANUEL I RIDING HIS ELEPHANT, DETAIL OF FIG. 15

-37-
amplamente debatido na corte de D. Manuel. A curiosidade
e interesse nos escritos de autores antigos como Plinio,
juntamente com o desejo de imitar lutas de animais como
na Roma antiga, inspirou a encenacäo da batalha entre um
elefante e o rinoceronte do Guzerate, em Junho de 1515, num
pätio entre o Palacio Real e a Casa da India (fig. 18). Este
confronto terminou inesperadamente, com o elefante a fugir
amedrontado para o seu estabulo no Rossio, e o rinoceronte
foi declarado vencedor pela desistencia do seu oponente. Esta
exötica e feroz besta tornou-se a possessäo mais valiosa de D.
Manuel, intencionalmente representado por toda a parte, com
os seus elefantes: num Livro das Horas de 1517, num canto da
Torre de Belem, e no Brevidrio da Condessa de Bertieindos, na
Academia das Ciencias (fig. 20). Nesta representacäo, o facto
do mitico unicörnio e o elefante aparecerem em conjunto,
enfatiza a crenca de que o unicörnio, a mais formidavel de
todas äs feras, lutou contra os elefantes e os feriu com o seu
longo corno. Junto com o rinoceronte, no fundo deste fölio, o
unicörnio permite o contraste entre a supersticäo e um interesse
renascentista no que e cientifico. Nos tratados ou bestiärios
medievais, pensava-se que o unicörnio tinha poderes medicinais
e que o seu corno poderia purificar a ägua. Pedafos de corno do
unicörnio (na realidade, cornos de narval) eram usados numa
panöplia de medicamentos. D. Manuel I possuia cinquenta e
um cornos dalicorne, herdados da sua mäe, D. Beatriz. Estas
virtudes terapeuticas foram transpostas para os rinocerontes, no
seculo XVI. Os cornos vindos de Africa, e äs tacas e recipientes
esculpidos vindos da China, e que teriam poderes curativos e
-38-
The natural antipathy of wild animais provoked debate
at Manuels court. Curiosity and interest in the writings
of ancient authors, like Pliny, coupled with the desire to
imitate animal combats of ancient Rome, inspired the
staging of a battle berween an elephant and ehe Gujarati
rhinoceros in June 1515, in a courtyard between the royal
palace and the Casa da India (fig. 18). Tbis confrontation
ended unexpectedly, the elephant fled in fright to his
stable at Rossio square and the rhinoceros was declared
victorious by default. This exotic, ferocious beast became
Manuels most prized possession, intentionally imaged
everywhere with his elephants: in a Book of Hours of
1517, in one corner of the Torre de Belem, and in the
Breviary of the Countess Bertiaados, dated 1535, in the
Academia das Ciencias (fig. 20). The pairing here of the
mythical unicorn with the elephant underscores the belief
the unicorn, the most fearsome of all wild beasts, fought
with elephants and wounded them with theit long hörn.
Juxtaposed with the rhinoceros, in the background, the
unicorn contrasts superstition with a Renaissance interest
in the scientific. In medieval bestiaries, the unicotn was
thought to have medicinal powers and its hörn could
purify water. Pieces of unicorn hörn (in fact narwhal
horns) were ground for a panoply of medicines: Manuel I
owned cinquenta e um cornos dalicorne, inherited from his
mother Beatriz. These therapeutic virtues were transposed
to the thinocetos in the 16th Century. Horns from Africa
and carved drinking cups and vessels from China were
FIG. 18
ANÖNIMO, COMBATE ENTRE UM ELEFANTE E UM RINOCERONTE,
SECULO XVI, GRAVURA
ANONYMOUS, COMBAT BETWEEN AN ELEPHANT AND A RHINOCEROS,
1ÖTH CENTURY, ENGRAVING
MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA, LISBOA
seriam capazes de detectar venenos, eram coleccionados por
principes, näo so para engrandecimento das suas kunstkammer,
mas tambem como forma de proteccao pessoal. D. Catarina deu
a sua irmä, D. Maria de Hungria, a primeira taca de rinoceronte
Ming registada numa coleccäo no periodo renascentista. A par
de Albrecht Dürer e da sua xilogravura do rinoceronte guzerate
(corn imprecisöes anatömicas), copiada de um esquico anonimo
que Ihe tinha sido enviado de Lisboa, e do desenho do Hanno
de Rafael, estas miniaturas iluminadas representam äs prirneiras
representacoes naturalistas de animais asiäticos, feitas a partir
de especimes vivos, em Portugal.
A tradicäo de coleccionar animais e expandir os zoologicos
reais continuou na corte do filho de D. Manuel, D. Joäo III e
de D. Catarina, que se assumiu como a principal responsävel
pela busca de animais raros, tanto para si, como para a sua
familia Habsburgo em Espanha, na Europa Central e nos
Pafses Baixos. Os elefantes asiäticos continuaram a ter um papel
especialmente importante enquanto presentes diplomaticos. D.
Catarina presenteou o seu sobrinho, Maximiliano II, em 1552
e 1563, com dois elefantes singaleses, para o seu zoologico em
Viena. O primeiro, chamado Suleyman, viajou de Lisboa para
Valladolid e Barcelona, de onde seguiu, por barco, para Genova
e passou os Alpes pelo Tirol, antes de entrar triunfalmente em
Viena, em Maio de 1552. Foi o primeiro elefante a ser visto na
Austria. Atraves dos lacos de parentesco com Portugal, a corte
imperial beneficiou de um reino aliado, cujo poder e hegemonia
se estendiam por metade do globo, e D. Catarina, enquanto
intermediaria entre o Oriente e Ocidente, engrandeceu a sua
FIG. 19
ANTONIO FERNANDES, FRONTISPI'CIO: ÄfSICA CAPTA
ANTONIO FERNANDES, FRONTISPIECE: AFRICA CAPTA
LN 43, FORAES Novos D'ENTRE DOURO E MINHO, SERIE IV, 1552. DGARQ, LISBOA
-39-
credited with the power of healing and detecting poison,
and collccted by royal princes not only to enhance their
kunstkammers, but also to protect them. Catarina gave her
sister, Mary of Hungary, the first Ming rhinoceros cup
recorded in a Renaissance collection. Along with Albrecht
Dürer's woodcut of the Gujarati rhinoceros (with
anatomical inaccuracies), copied after an anonymous
sketch sent to him from Lisbon, and Raphael's drawing
of Hanno, these illuminated miniatures are the earliest
naturalistic portrayals of Asian animais made from live
specimens in Portugal.
The tradition of collecting animais and expanding
the royal menageries continued at the court of Manuels
son, Joäo III and Catarina, who assumed a leading
role in the procurement of rare animais for herseif and
her Habsburg family in Spain, Central Europe and the
Netherlands. Asian elephants especially continued to play
a political role äs diplomatic gifts. Catarina presented her
nephew, Maximilian II, in 1552 and in 1563, with two
Ceylonese elephants for his royal menagerie in Vienna.
The first nicknamed Suleyman, traveled from Lisbon
to Valladolid and Barcelona, then sailing to Genoa and
traversing the Alps by way of Tyrol, before triumphantly
entering Vienna in May of 1552. It was the first elephant
ever seen in Austria. Through family lies with Portugal,
the Imperial court benefited from an allied kingdom,
whose power and hegemony extended over half the
globe, and Catarina äs an intermediary between East
posicäo e prestfgio dentro da hierarquia dos Habsburgos.
Animais exoticos e escravos vindos de pontos estrategicos do
imperio portugues tornaram-se parte integrante das festividades
na sua corte. Os membros da sua famflia competiam entre si
para obrer äs melhores exotica (animais, mercadorias e produtos
de luxo) que havia em Lisboa, e D. Catarina provou ser um elo
essencial nestas aquisicöes.
O menagerie da Rainha
Um dos cinco frontispicios iluminados pelo artista
e miniaturista da corte, Antonio Fernandes, executados
em 1552 para a Leitura Nova de D. Joäo III, reflecte uma
decoracäo emblemätica especffica. Esta pägina, na forma de
um arco triunfal renascentista, estä plena de um repertörio
classico, enfatizando o gosto pela alegoria e mitologia
promovida pela corte de Lisboa. Na seccäo inferior, esta
uma representacäo de Africa a dormir (Africa Capta), cujas
costas ocidentais e orientais se encontravam sob poder dos
portugueses, reflectindo-se no fundo do lado direito, com
soldados, navios e fortificacöes. Do lado esquerdo, estio
camelos, um gato almiscarado e um babumo, estes dois
Ultimos animais observados directamente por Fernandes,
no zoologico da rainha, mas que resultaram menos naturais
(fig. 19). No entanto, esta vinheta reforcou a imagem de
D. Catarina como uma rainha comerciante de um imperio
maritimo, e o seu zoologico representava de forma simbölica
a sua majestade sobre flora e fauna em Africa, na Asia e no
Brasil; a nocio de que como governante poderosa conseguia
domesticar äs indomaveis forcas da natureza.
D. Catarina explorava os recursos dispom'veis no oeste
africano para comprar macacos, periquitos e gatos almiscarados,
sendo estes Ultimos criados naquela regiäo especificamente para
si, por Simäo Roiz, o feitor de Säo Jörge da Mina. Em Abril
de 1557, ele mandou-lhe uma gaiola com periquitos (passaros
de rabo) e dois gatos almiscarados. Outro oficial, Afonso
Goncalves Botafogo, enviou tambem seis gatos almiscarados,
dois macacos, chamados bugio, e um papagaio5. Numa outra
armada, Botafogo enviou ainda dois simios barbudos que, na
carta que com eles seguiu, eram referidos como bugios com
barba, babuinos ou macacos vendidos aos portugueses na foz
do rio Gambia.
D. Catarina desenvolveu uma paixäo por gatos africanos
que segregam um odor almiscarado (conhecido na altura
-40-
and West, enhanced her position and prcstige withln the
Habsburg famify hierarchy. Exoric animais and slaves
from Strategie points of the Portuguese empire became
an integral part of the festivities at her court. Members
of her family vied with one another to obtain the best
exotica (animais, commodities and luxury wares) available
in Lisbon, and Catarina proved to be an essential link in
these acquisitions.
The Qiieens Menagerie
A manuscript Illumination, one of five frontispieces,
by the court anist and miniaturist, Antonio Fernandes,
executed in 1552 for Joäo III's Leitura Nova, reflects a
spedfic emblemadc decoration. This page in the form
of a Renaissance triumphal arch is replete with a classical
repertoire, underscoring the taste for allegory and
mythology promoted at the Lisbon court. Depicted in
the lower section, is the personification of Africa sleeping
(Africa Capta), whose Western and Eastern coasts under
Portuguese control is reflected in the right background with
soldiers, ships and fortifications. On the left, are camels,
a civet cat and baboon, the latter two animais Fernandes
personally observed in the queen's menagerie, but rendered
less naturalistically (fig. 19). Nevertheless, this Vignette
reinforced Catarina's self-imaging äs a merchant queen
of a maritime empire, and her menagerie symbolically
represented her majesty over flora and fauna in Africa, Asia
and Brazil; the notion that äs a powerful ruler she could
domesticate the untamable forces of nature.
Catarina exploited resources in West Africa, to buy
monkeys, parakeets and civet cats, the lattet bred thete
for her by Simäo Roiz, the feitor in Säo Jörge da Mina.
In April 1557 he sent her a cage with patakeets (passaros
de rabo) and rwo civet cats. Another ofEcial, Afonso
Goncalves Botafogo, forwarded with anothet fleet, six
civet cats, two monkeys called, bugios, and one parrot? In
a second shipment, Botafogo sent two bearded simians,
which in his accompanying letter were referred to äs,
bugios com barba, apes or baboons sold to the Portuguese
at the mouth of the Rivet Gambra.
Catarina developecl a passion for African civet cats,
who secrete an odorous musk (known dien äs algalea),
used for perfumes and medicines in the queen's kitchen
como algalea), usado em perfumes e medicamentos na sua
cozinha e botica. Os gatos almiscarados eram extremamente
raros e caros na Europa renascentista, e um macho adulto pode
produzir ate vinte gramas por semana. Entre 1550 e 1554,
D. Catarina possuta dez desses animais, alojados em estäbulos
separados, sob a supervisäo do espanhol Cristöväo Carmones,
um especialista acerca dos cuidados a ter com estes gatos. Estes
estavam instalados na sua residencia e ele recebia 800 reais por
cada felino. Estes animais eram igualmente um investimento,
e a mäe de D. Manuel, D. Beatriz, em 1507, tinha dois,
avaliados em doze cruzados cada um, e D. Catarina vendeu
nove por 100,000 reais, em 1552. O costume de oferecer
animais caros como presentes diplomaticos enquanto forma
de consolidar relacöes entre äs värias cortes, foi encorajado por
D. Catarina durante o seu reinado. E para garantir a relacäo
com um soberano do Magreb, D. Catarina presenteou o rei de
Belez com um par de gatos almiscarados, depois da sua visita
a Lisboa, em 1552, e que fbram acompanhados ate Marrocos
por um seu cortesäo, Ali Acelahui, em gaiolas especialmente
construfdas e pagas pela rainha6.
No entanto, os elefantes asiäticos foram os animais que mais
influenciaram D. Catarina na construfäo da sua imagem. Como
ültima comissäo do seu reinado e sob a sua propria supervisäo,
dedicou-se ä reconstrucäo da capela-mor do Mosteiro dos
Jerönimos, panteäo dedicado ä memöria de D. Manuel I e
ä dinastia de Avis, no quäl quatro tümulos monumentais,
sob forma de sarcöfagos, descansam sobre duas cariätides de
märmore verde do Alentejo, em forma de elefantes, com presas
FIG. 20
BREVURIODA CONDESSA DE BERTIANDOS, c. 1535
BREVIARYOF THE COUNTESS OF BERTIANDOS, c. 1535
ACADEMIA DAS ClENCIAS, LlSBOA
-41-
and apothecary. Civet cats vvere extremely rare and
cxpensive in Renaissance Europe, and an adult male
produces up to twenty grams a week. Between 1550 and
1554, Catarina owned ten stablecl in separate quarters,
under the charge of the Spaniard, Cristöväo Carmones,
evidently a specialist in the care of such wild cats. They
were housed in his residence, and he was paid 800 reais for
the upkeep of each feline. These animais were equally an
Investment; Manuels mother Beatriz owned two in 1507
valued at twelve cruzados each, and Catarina sold nine,
with an immense profit, in 1552, for 100,000 reais. The
custom of giving rare, expensive animais äs diplomatic
gifts to cement international relations between princely
courts was fostered by Catarina throughout her reign, and
to guarantee relations with a Maghreb potentate, a pair of
civet cats was presented by Catarina to the King of Belez,
after his visit to Lisbon in 1552, and whose courtier, Ali
Acelahui, accompanied to Morocco in spedally built
cages paid for by the queen.6
Asian elephants, however, were the animais which
most influenced Catarina and her self-imasing.
D ö
In the last
commission of her reign, under her personal supervision,
she rebuilt the capela mor of the Jerönimos monastery, äs
a pantheon dedicated to the memory of Manuel I and
the Avis dynasty, in which four monumental tombs in the
form of sarcophagi rest upon two green Alenrejo marbie
elephant caryatids, with real ivory tusks (fig. 21). State
elephants were the Asian animal most closely identified
de marfim verdadeiras (fig. 21). Os elefantes de Estado eram
os animais asiäticos que mais se identificavam com a corte de
D. Manuel I, enquanto simbolos do imperio e tornaram-se na
imagem iconica que melhor caracterizava äs descobertas e a
expansäo portuguesas.
NOTAS
1 Direccäo-Geral de Arquivos (DGARQ), Torre do Tombo, Lisboa, Corpo
Chronlogico (CC) l, maco 26, doc. 27. Senos 2002; Paravicini, 2003.
2 DGARQ, CC l, maco 92, doc. 95 e maco 100, doc. 9. Boehrer, 2004.
3 Bibtioteca Püblica Municipal do Porto, Porto, Ms. 85. Tambem Gschwend
e Tudela, 2003; Gschwend, 2004; Tudela e Gschwend, 2007.
4 As Gavetas da Torre do Tombo, vol. 2, Lisboa, 1962, doc. 2067, pp. 706—711.
Ver tambem Barbosa, 1885; Mendes, 1990; Gorgas, 1997; Bedini, 1998.
5 DGARQ, CC I, maco 101, docs. 18, 24, 25. Lach, 1969; Lloyd, 1971;
Tudela e Gschwend, 2001.
6 DGARQ, CC l, maco 93, doc. 14. Ver tambem Viterbo, 1892-1893;
Saurer e Hinshaw-Fischli, 2003; Ringmar, 2006.
-42-
wich Manuel Fs court äs Symbols of empire, and became
the iconic image which best characterized the Portuguese
discoveries and expansion.
FIG. 21
ESTÄTUA DE UM ELEFANTE, TÜMULO DE D. CATARINA DA AÜSTRIA
STATUE OF AN ELEPHANT, TOMB OF CATHERINE OF AÜSTRIA
CAPELA MOR, MOSTEIRO DOS JERÖNIMOS, BELEM
NOTES
1 Direccäo-Geral de Arquivos (DGARQ), Torre do Tombo,
Lisbon, Corpo Chronlogico (CC) l, maco 26, doc. 27. Cf.
Senos, 2002; Paravicini, 2003.
2 DGARQ, CC l, maco 92, doc. 95 and maco 100, doc. 9. See
also Boehrer, 2004.
3 Biblioteca Püblica Municipal do Porto, Porto, Ms. 85. See
also, Gschwend and Tudela, 2003; Gschwend, 2004; Tudela and
Gschwend, 2007.
4 As Gavetas da Torre do Tombo, vol. 2, Lisbon, 1962, doc.
2067, pp. 706-711. Consult also Barbosa, 1885; Mendes, 1990;
Gorgas, 1997; Bedini, 1998.
5 DGARQ, CC I, maco 101, docs. 18, 24, 25. Lach, 1969;
Lloyd, 1971; Tudela and Gschwend, 2001.
6 DGARQ, CC I, maco 93, doc. 14. Equally, Viterbo, 1892-
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