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INTRODUÇÃO 7

Índice

Introdução 9

PRIMEIRA PARTE: TEMPO A SÓS

Regra 1: Deixe-se estar sozinho 23


Regra 2: Não ignore o carma 49

Carta de amor a si próprio 85


Meditação para o tempo a sós 87

SEGUNDA PARTE: COMPATIBILIDADE

Regra 3: Defina o amor antes de pensar nele, de o sentir


ou de o expressar 93
Regra 4: A pessoa com quem está é o seu guru 119
Regra 5: O propósito vem em primeiro lugar 147

Carta de amor à pessoa com quem está 185


Meditação para a compatibilidade 187

TERCEIRA PARTE: CURA

Regra 6: Sejam vencedores ou perdedores juntos 191


Regra 7: Ninguém morre com o fim de uma relação 225

Carta de amor para o ajudar a curar-se 271


Meditação para a cura através do amor 273
QUARTA PARTE: CONEXÃO

Regra 8: Ame uma e outra vez 277

Carta de amor ao mundo 299


Meditação para a conexão 301

Agradecimentos 303
Nota do autor 305
Notas 307
Passos seguintes 333
Índice remissivo 335
INTRODUÇÃO 9

Introdução

“Qual é a diferença entre gostar e amar?”, pergunta um aluno.


Resposta do professor: “Quando gostamos de uma flor, arrancamo-
-la da terra para a levarmos connosco. Quando amamos uma flor,
regamo-la todos os dias.” Este diálogo, tantas vezes citado, ilustra uma
das minhas conceções favoritas sobre o amor. Somos atraídos pela
beleza – ansiamos por ela – e queremo-la para nós. Essa é a flor que
colhemos com o intuito de desfrutarmos dela. Mas a atração, qual flor
colhida, acaba por murchar e, eventualmente, descartamo-la. Quando
a atração se transforma em amor, requer mais cuidado. Se queremos
manter uma flor viva, não a cortamos para pôr num vaso. Damos-lhe
luz, terra e água. E é precisamente quando cuidamos de uma flor
ao longo do tempo, fazendo o possível para a manter viva, que expe-
rienciamos plenamente a sua beleza – a frescura, a cor, o perfume,
o desabrochar. Reparamos nos delicados detalhes de cada pétala.
Vemo-la reagir às diferentes estações. Ficamos contentes e satisfeitos
quando surgem novos botões e emocionamo-nos quando florescem.
10 AS 8 REGRAS DO AMOR

Somos atraídos pelo amor como somos atraídos por uma flor
– primeiro pela beleza e pelo fascínio –, mas a única maneira de
a mantermos viva é através de cuidados e uma atenção constantes.
O amor é um esforço diário. E o que pretendo neste livro é desen-
volver o hábito do amor consigo. Vou mostrar-lhe práticas, formas
de pensar e ferramentas que o ajudarão a amar e a ser retribuído
por esse amor todos os dias, estação após estação.
Diz-se que o maior propósito do ser humano é amar e ser amado.
Acreditamos no amor – faz parte da nossa natureza sentirmo-nos
atraídos por histórias de amor, ansiarmos por viver a nossa e termos
esperança de que o verdadeiro amor exista. Muitos de nós, contudo,
também sabemos como é ser uma flor que foi colhida e posta na
água, apenas para murchar e perder o vigor. Talvez já se tenha sen-
tido assim, ou também já tenha colhido e descartado algumas flores.
Ou talvez ainda não tenha encontrado o amor e continue à procura.
Estas desilusões podem assumir diferentes formas: acreditar que está
apaixonado e depois sentir-se ludibriado. Acreditar que o que sente
é amor e acabar por descobrir que é apenas desejo. Ter a certeza
de que é amor, mas descobrir que, afinal, tudo não passou de uma
mentira. Achar que é um amor para durar e, em vez disso, vê-lo es-
morecer. Talvez tenha medo de assumir um compromisso, ou escolha
pessoas que tenham esse medo, ou estabeleça padrões muito altos
sem que o outro tenha hipótese de corresponder. Talvez ainda tenha
na cabeça um relacionamento passado ou talvez tenha tido apenas
azar. Em vez de acreditar em falsas promessas ou em pessoas que
não correspondem ao que deseja, em vez de se sentir derrotado ou
desanimado, em vez de ter desgosto atrás de desgosto, quero que
experiencie o amor pleno que sempre acreditou existir.

O amor romântico é simultaneamente familiar e complexo. Foi


visto e descrito de infinitas maneiras ao longo do tempo e por di-
ferentes culturas. O psicólogo Tim Lomas, do Human Flourishing
Program, da Universidade de Harvard, analisou 50 idiomas e iden-
tificou 14 formas de amor. Os gregos da Antiguidade diziam que
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havia sete tipos de amor: Eros, o amor sexual ou passional; Philia,


a amizade; Storge, o amor pela família; Ágape, o amor universal;
Ludus, o amor casual ou sem compromisso; Pragma, o amor que se
baseia no dever ou noutros interesses; e Philautia, o amor-próprio.
Uma análise da literatura chinesa de há 500 a 3 mil anos revela mui-
tas formas de amor, que vão do apaixonado e obsessivo, passando
pelo dedicado, até ao casual. Na língua tâmil, há mais de 50 pa-
lavras para definir vários tipos e nuances do amor, como o amor
enquanto graça, o amor no contexto de um relacionamento gratifi-
cante ou aquele amolecimento interior causado por um sentimento
de amor. Em japonês, a expressão koi no yokan descreve a sensa-
ção de conhecermos alguém e sentirmos que estamos destinados
a apaixonarmo-nos por essa pessoa, e kokuhaku descreve uma de-
claração de compromisso. Na língua boro, da Índia, onsra refere-se
à consciência de que um relacionamento tem os dias contados.
A nossa própria cultura descreve o amor de diversas maneiras. Se
olharmos para as 50 melhores canções de amor de todos os tempos
eleitas pela Billboard, percebemos que o amor é um sentimento em
segunda mão (Tina Turner – love is a second hand emotion), é uma
montanha-russa (Ohio Players – love is a rollercoaster), é uma ressaca
(Diana Ross – love hangover), é uma coisinha louca (Queen – crazy
little thing called love), que deixou agora mesmo Beyoncé comple-
tamente doida (your love got me looking so crazy right now) e que
a Leona Lewis não para de sangrar por amor (bleeding love). Os fil-
mes pintam-nos um quadro cor-de-rosa do amor, mas raramente des-
cobrimos o que acontece depois do “e viveram felizes para sempre”.
Sabendo que estamos diariamente rodeados de tantas parábolas,
perspetivas e representações do amor, quero que este livro o ajude
a criar a sua própria definição e a desenvolver as competências ne-
cessárias para usufruir desse amor todos os dias.

Quando tinha 21 anos, faltei à cerimónia de entrega dos diplo-


mas da faculdade para viajar até um ashram numa aldeia nos arre-
dores de Bombaim, onde acabei por ficar durante três anos, a viver
12 AS 8 REGRAS DO AMOR

como um monge hindu, a meditar, a estudar as antigas escrituras


e a trabalhar voluntariamente com os meus companheiros monges.
As escrituras hindus mais antigas que estudamos têm o nome
de Vedas. Foram escritas em sânscrito, em folhas de palmeira, há
mais de 5 mil anos. A maioria das folhas já não existe, mas os tex-
tos sobreviveram. Alguns até estão disponíveis online. A presença
e a relevância destes textos no mundo moderno surpreendem-
-me e inspiram-me. Já estudo os Vedas há 16 anos, e nos três em
que vivi como monge, estudei-os profundamente. Quando me dei
conta da sabedoria prática e acessível que continham, comecei
a partilhar essas mensagens e esses ideais com outras pessoas um
pouco por todo o mundo, através de podcasts, livros e vídeos. Hoje,
grande parte do que faço consiste no coaching de pessoas e casais,
assim como na formação de outros profissionais que possam fazer
o mesmo. Este trabalho permitiu-me certificar mais de 2 mil pro-
fissionais, sendo que todos utilizam um currículo que desenvolvi
com base nos princípios védicos.
Recorri à sabedoria dos Vedas para dar forma aos conceitos
deste livro porque esses antigos escribas falam do amor de formas
que nunca ouvi alguém falar. O que dizem é simples e acessível
– uma lente antiga que nos oferece uma nova perspetiva de ver as
coisas. Foram os Vedas que me ensinaram que o amor tem etapas,
que é um processo e que todos desejamos amar e ser amados. Ao
trabalhar com indivíduos e casais nos respetivos relacionamentos
e nas transições para dentro e fora do amor, percebi que a legitimi-
dade daqueles conceitos resiste ao teste das situações da vida real.
Depois, em comentários sobre os meus vídeos e reações ao meu
podcast, vi e ouvi pessoas a debaterem-se com os mesmos padrões
recorrentes nos relacionamentos, muitos deles problemas que eu
tinha conseguido resolver com os meus clientes socorrendo-me dos
conceitos védicos. Escrevi este livro para que qualquer pessoa tenha
acesso a eles e os possa discutir com amigos, familiares e compa-
nheiros de vida. O que aqui está é fruto da orientação dos Vedas,
daquilo que funcionou com os meus clientes, das minhas próprias
viagens e do que aprendi com os meus companheiros monges. Fas-
cina-me a interseção da ciência moderna com a sabedoria antiga.
INTRODUÇÃO 13

As ideias que aqui descrevo fundamentam-se em ambas, embora


utilize os conceitos védicos de forma inédita, aplicando conceitos
espirituais a relacionamentos terrenos.

A prática do amor

Ninguém se senta a conversar connosco para nos ensinar como se


ama. Estamos rodeados de amor, mas pode ser difícil aprender com
amigos e familiares que estão, eles próprios, a improvisar o melhor
que sabem. Alguns estão à procura do amor. Outros estão estupida-
mente apaixonados e cheios de esperança de que corra tudo bem.
Também há aqueles que optam pelo ghosting e pura e simplesmente
desaparecem sem deixar rasto, e os que se vão deixando ficar sabendo
de antemão que o relacionamento está condenado. Alguns perma-
necem juntos, embora não estejam apaixonados. Outros separam-se
porque não conseguem fazer com que a relação funcione. E alguns
parecem felizes nos relacionamentos. Todos têm conselhos para dar:
O amor é tudo na vida. Quando a conheceres, saberás que estás diante
da tua alma gémea. As pessoas mudam. Um relacionamento não pode
exigir tanto esforço. Os opostos atraem-se. Mas é difícil saber que con-
selhos seguir e por onde começar. Não podemos esperar compreen-
der o amor logo à partida quando nunca nos ensinaram a dá-lo ou
a recebê-lo. Nem nos explicaram como gerir emoções juntamente
com as de outra pessoa. Ou como entender os outros. Ou como cons-
truir e nutrir um relacionamento em que ambos possam prosperar.
A maioria dos conselhos a respeito do amor prende-se com
a busca pela pessoa certa. Achamos que existe alguém perfeito
para nós, uma alma gémea, o “tal”, e as aplicações de encontros
reforçam essa convicção. É maravilhoso quando acontece, mas não
acontece a todos, e nem sempre permanece tão perfeito. Este livro
não ensina a encontrar a pessoa perfeita ou o relacionamento per-
feito e a deixar o resto ao acaso. Quero ajudá-lo a construir o amor,
em vez de desejar, querer e esperar que chegue completamente for-
mado. Quero ajudá-lo a lidar com os desafios e as imperfeições que
encontramos no caminho até ao amor. Quero que crie um amor
14 AS 8 REGRAS DO AMOR

que cresça a cada dia, que expanda e evolua, e não que lhe chegue
às mãos já realizado e completo. Não podemos saber onde nem
quando encontraremos o amor, mas podemos preparar-nos e pôr
em prática o que aprendemos quando o encontrarmos.
Os Vedas descrevem quatro etapas da vida, e essas são as salas
de aula onde aprenderemos as regras do amor para o podermos re-
conhecer e aproveitar ao máximo quando vier ao nosso encontro.
Em vez de apresentar o amor como um conceito etéreo, os Vedas
descrevem-no como uma série de passos, etapas e experiências que
traçam um caminho claro a seguir. Depois de aprendidas as lições
de um nível, passamos para o seguinte. Se tivermos dificuldade
ou avançarmos uma etapa antes de a dominarmos, acabaremos
por regressar à lição que ficou por saber – a vida encarregar-se-
-á de nos empurrar de volta a esse trilho. As quatro salas de aula
são: Brahmacharya ashram, Grhastha ashram, Vanaprastha ashram
e Sannyasa ashram.
Se procurar a definição de ashram num dicionário, descobrirá
que significa “eremitério”. Geralmente, os significados das palavras
em sânscrito aparecem reduzidos ao essencial nas definições tradu-
zidas, mas na prática têm mais profundidade. Defino ashram como
uma escola de aprendizagem, crescimento e apoio. Um santuário
para o autodesenvolvimento, um pouco como o ashram onde vivi
como monge durante alguns anos. Estamos destinados a aprender
em todas as etapas da vida.
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Encare a vida como uma série de salas de aula ou ashrams onde


aprendemos várias lições.
Cada um destes ashrams encaminha-nos para outro nível de
amor.

O primeiro ashram: PREPARAR-SE PARA O AMOR

É no primeiro ashram, Brahmacharya, que nos preparamos para


amar. Ninguém entra num carro e começa a conduzir sem estu-
dar para tirar a carta de condução e sem praticar as competências
básicas num lugar seguro. Quando temos um novo emprego, ge-
ralmente preparamo-nos aprendendo um novo programa informá-
tico, conversando com as pessoas com quem vamos trabalhar sobre
o que podem esperar de nós ou revendo determinadas competên-
cias de que eventualmente iremos precisar. Para nos prepararmos
para o amor, temos de aprender a amar-nos quando estamos sozi-
nhos. É no tempo que passamos a sós que aprendemos a entender-
-nos, a curar feridas e a cuidar de nós. Adquirimos competências
como compaixão, empatia e paciência (Regra 1). Isso prepara-nos
para partilhar o amor, porque precisamos dessas qualidades quando
amamos outra pessoa. É também nesta sala de aula que examina-
remos relacionamentos passados para não repetirmos os mesmos
erros em relacionamentos futuros (Regra 2).

O segundo ashram: PÔR O AMOR EM PRÁTICA

É no segundo ashram, Grhastha, que estendemos o nosso amor


aos outros, ao mesmo tempo que nos amamos. Os três capítulos
desta etapa explicam como entender, dar valor e cooperar com outra
mente, outro conjunto de valores e escolhas.
Temos a tendência de simplificar demasiado o amor, encarando-o
simplesmente em termos de química e compatibilidade. É inegável
que o romance e a atração são os pontos de conexão iniciais, mas,
na minha opinião, o amor mais profundo surge quando gostamos da
16 AS 8 REGRAS DO AMOR

personalidade de alguém, respeitamos os seus valores e ajudamo-lo


a alcançar os objetivos num relacionamento assumido e duradouro.
Sim, também podemos sentir este tipo de amor pelos amigos, e es-
pero que isso aconteça, mas refiro-me à preservação dessas qualida-
des quando vivemos com alguém, vemos essa pessoa todos os dias
e estamos juntos nas alegrias, nas desilusões e em toda a mundani-
dade e intensidade do dia a dia.
Em Grhastha, veremos como saber se estamos apaixonados
(Regra 3), como aprender e crescer com o outro (Regra 4) e como
estabelecer prioridades e gerir o tempo e o espaço de cada um no
relacionamento (Regra 5).

O terceiro ashram: PROTEGER O AMOR

Vanaprastha, o terceiro ashram, é um lugar de cura para onde


nos retiramos em busca de paz. É para lá que vamos depois de uma
separação ou de uma perda, ou quando a vida familiar se alterou
e exige menos atenção da nossa parte. Depois de aprendermos a dar
amor aos outros em Grhastha, e a dar tanto, este é um interlúdio em
que refletimos sobre a experiência de amar os outros, descobrimos
o que pode bloquear a nossa capacidade de amar e trabalhamos no
perdão e na cura. Em Vanaprastha, aprendemos a resolver conflitos
para proteger o amor (Regra 6). Também nos protegemos, assim
como à nossa capacidade de amar, quando aprendemos a terminar
um relacionamento, se for caso disso, e a lidar com essa situação
(Regra 7).

O quarto ashram: APERFEIÇOAR O AMOR

O quarto ashram, Sannyasa, é o epítome do amor – quando es-


tendemos o amor a cada pessoa e a cada momento da nossa vida.
Nesta fase, o amor que sentimos é ilimitado. Damo-nos conta de
que podemos experienciar o amor a qualquer momento e com
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qualquer pessoa. Aprendemos a amar uma e outra vez (Regra 8).


É verdade que buscamos esta perfeição, mas nunca a alcançamos.

Muitos de nós passamos por estes quatro ashrams sem aprender


as lições que nos apresentam. No primeiro, resistimos a estar sozi-
nhos e perdemos o crescimento que o tempo a sós proporciona. No
segundo, evitamos as lições que resultam dos desafios que acompa-
nham qualquer relacionamento. No terceiro, não assumimos a res-
ponsabilidade pela nossa cura. E o quarto – amar toda a gente – é algo
que nem nos passa pela cabeça, porque não o achamos possível.
Este livro segue a ordem destes ashrams, que, essencialmente,
seguem o ciclo dos relacionamentos – preparar-se para o amor,
pô-lo em prática, protegê-lo e aperfeiçoá-lo. Com base nestes qua-
tro ashrams, defini oito regras a aprender e competências a desen-
volver para passar de um ashram para o seguinte: duas regras para
se preparar para o amor, três para o pôr em prática, duas para o pro-
teger e uma para lutar pelo amor perfeito. Oito regras universais
e intemporais. Estas regras são cumulativas, fortalecem-se umas
às outras. A intenção é que se familiarize com elas por esta ordem,
embora lhe sirvam em qualquer momento e etapa de um relaciona-
mento. Algumas são contraintuitivas. Por exemplo, falo do tempo
a sós como o início do amor. Digo-lhe que deve colocar o seu pro-
pósito antes do propósito do outro. Explico-lhe que a pessoa com
quem está é o seu guru. São novas formas de encarar o amor que
vão multiplicar as suas possibilidades de o encontrar, que o vão aju-
dar a saber o que esperar num primeiro encontro, o que fazer se
tiver em mente um “tipo” específico de pessoa, como se apresentar
ao outro, como reconhecer o momento ideal para dizer “amo-te” ou
assumir um compromisso, como lidar com conflitos, gerir uma casa
e admitir quando é hora de desistir.
Cada uma destas regras vai ajudá-lo a desenvolver a atitude
certa para o amor, quer esteja atualmente sozinho, quer esteja num
relacionamento ou prestes a terminar uma relação. É possível tirar
partido do tempo a sós num relacionamento. É possível modificar
8RAM-2
18 AS 8 REGRAS DO AMOR

a forma como lida com o conflito, seja qual for a situação. Estas
regras entram em jogo em todos os cenários da vida.
Este livro não é um conjunto de técnicas manipuladoras. Não
lhe vou ensinar frases de engate infalíveis. Não lhe vou dizer como
se transformar na pessoa que a sua cara-metade gostaria que fosse
nem como a converter na pessoa dos seus sonhos. O que aqui se
pretende é que assuma as suas preferências e inclinações para que
não perca tempo com alguém que não é a melhor opção para si.
Que aprenda a comunicar os seus valores, e não a anunciar-se ao
mundo. Trata-se de deixar de lado toda a raiva, ganância, ego, inse-
gurança e confusão que lhe toldam o coração e interferem na sua
capacidade de amar. Pelo caminho, ensinar-lhe-ei técnicas para
aprender a lidar com a solidão, a libertar-se de falsas expectativas,
a cultivar a intimidade e a curar um coração partido.

Quando decidi pedir a Radhi em casamento, também decidi


que o meu seria o melhor e mais romântico pedido de casamento
de sempre. Pedi a uma amiga que me ajudasse a escolher o anel de
noivado e comprei o clássico anel de diamante. E então, numa bo-
nita noite de primavera de 2014, sugeri-lhe que nos encontrássemos
perto da Ponte de Londres para darmos um passeio pelas margens
do Tamisa (vivíamos em Londres, na altura). Disse-lhe que íamos
jantar num bom restaurante, sabendo que ela se vestiria apropria-
damente para a noite que eu planeara. Assim que passámos por
um local idílico com uma das melhores vistas para a cidade, um
homem apareceu de repente e ofereceu-lhe um enorme buquê. En-
quanto admirava as flores, maravilhada, um grupo de pessoas sur-
giu do nada e juntou-se ao homem do buquê para cantar a capella
a música do Bruno Mars, Marry You. Ajoelhei-me e pedi-a em casa-
mento. Ela chorou; eu também. Depois de ouvir o sim, um estafeta
entregou-nos uma refeição vegana e sentámo-nos a uma mesa que
eu tinha montado na margem do rio. Ela pensou que era o fim do
alarido, porém, depois da refeição, quando nos levantámos para ir
para casa, dobrámos uma esquina e lá estava a carruagem puxada
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por cavalos brancos que nos levou a passear, passando pelos prin-
cipais pontos turísticos da cidade. Enquanto desfilávamos, a Radhi
ia gritando “estou noiva!” e as pessoas aplaudiam-nos pelas ruas.
Finalmente, decidimos partilhar as boas novas com os pais dela.
Mas, pelo caminho, umas manchas vermelhas estranhas come-
çaram a aparecer por todo o rosto da Radhi. Quando chegámos
a casa dos pais dela, a Radhi estava cheia de urticária, e as pri-
meiras palavras dos progenitores não foram “parabéns!”, mas antes:
“O que se passa com a tua cara?” Esse foi o dia em que descobri-
mos que a Radhi é alérgica a cavalos.
Achei que tinha engendrado o pedido de casamento perfeito,
mas com o passar do tempo percebi que todas as minhas ideias
eram o resultado direto da influência dos filmes da Disney e de
vídeos virais de pedidos de casamento que tinha visto na Internet.
A Radhi gosta de música a capella? Sim, mas não gosta de ges-
tos grandiosos nem de grandes alaridos. Tem algum apego especial
pelo rio Tamisa ou o sonho de passear a cavalo por Londres? Na
verdade, não. Claramente, estar perto de cavalos e coberta de urti-
cária não foi a noite ideal. E ainda por cima, os diamantes não são
a sua pedra preciosa de eleição. De que gosta realmente a Radhi?
Bom, é verdade que adora comida, mas, embora eu tivesse provi-
denciado que um restaurante vegano nos entregasse o jantar junto
ao rio, a comida chegou fria e desenxabida. O único detalhe que
lhe poderia ter agradado mais foi precisamente aquele a que dedi-
quei menos cuidado, e que resultou na pior execução. Além disso,
a Radhi é muito chegada à família, e se eu tivesse tido isso em con-
sideração, ter-lhes-ia pedido que saltassem dos arbustos para nos
surpreenderem, em vez dos cantores. Ela teria adorado!
Feitas as contas, foi uma noite com peripécias engraçadas e eu
tive sorte. A Radhi disse sim e nunca se queixou de nada, mas o meu
pedido não foi particularmente pessoal. Ao longo da vida, vi sempre
o amor representado através de gestos românticos exagerados, e pen-
sei que era a única maneira de lhe mostrar o que sentia. A urticária
foi um pequeno indício de que eu não sabia o que estava a fazer; de
que deveria ter pensado na pessoa que estava à minha frente e não
20 AS 8 REGRAS DO AMOR

nas imagens de amor de contos de fadas com que somos constante-


mente bombardeados.
Sempre vivi rodeado de histórias que me diziam como o amor
deveria acontecer. Todos vivemos. E a maioria de nós gravita incons-
cientemente – no amor e em todas as coisas – para um caminho
convencional. Nos relacionamentos heterossexuais, ainda são maio-
ritariamente os homens que pedem as mulheres em casamento. De
acordo com o site de casamentos The Knot, isto verifica-se em 97% dos
casos. Oitenta por cento das noivas recebem um anel de noivado com
um diamante. Num inquérito feito pela revista Brides, verificou-se
que mais de 80% das noivas optam por um vestido branco e 76% das
mulheres adotam o sobrenome do marido. A família nuclear continua
a ser a estrutura mais comum nos EUA, com apenas um em cada
cinco indivíduos a viverem numa casa com duas ou mais gerações
adultas sob o mesmo teto – aproximadamente a mesma percentagem
registada em 1950. Setenta e dois por cento dos americanos moram
na cidade onde cresceram ou nas imediações. E embora o número
de pessoas que afirmam querer ter um relacionamento não exclusivo
tenha aumentado, só cerca de 4% a 5% dos americanos têm, efetiva-
mente, um relacionamento não monogâmico consensual.
A versão do amor de conto de fadas que demonstrei à Radhi
não era o amor capaz de sustentar o nosso relacionamento. Contos
de fadas, filmes, músicas e mitos não nos dizem como amar todos
os dias. Temos de aprender o que o amor significa para nós e de-
saprender o que achávamos que deveria significar. É por isso que
estou a partilhar aqui a minha história imperfeita. Não sei tudo
nem tenho tudo planeado. A Radhi ensinou-me muita coisa sobre
o amor e continuo a aprender com ela. Estou a partilhar todos os
conselhos deste livro ciente do quanto eu próprio os deveria ter
usado e certo de que o farei no futuro. O amor não é imaginar o pe-
dido de casamento perfeito nem criar um relacionamento perfeito.
É aprender a lidar com as imperfeições que são intrínsecas a nós,
à pessoa com quem estamos e à própria vida. Espero que este livro
o ajude a fazer precisamente isso.
INTRODUÇÃO 21

PRIMEIRA PARTE

Tempo a sós:
aprender a amar-se

No primeiro ashram, Brahmacharya, preparamo-nos para


o amor aprendendo a estar sozinhos e aprendendo com os
nossos relacionamentos passados a melhorar o próximo.
Sozinhos, aprendemos a amar-nos, a compreender-nos,
a curar o sofrimento que nos consome e a cuidar de nós.
Experienciamos o atma prema, o amor-próprio.

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