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SÉRIE “Os Quatro Amores”, C.S.Lewis

AULA 02: AFEIÇÃO


“Às vezes, é possível indicar o dia e a hora exatos em que nos apaixonamos ou em que começamos uma nova amizade. Duvido que consigamos capturar o
momento exato em que a Afeição se inicia. Estar consciente da Afeição é tomar consciência de que ela já se instalou há algum tempo.”

Introdução
O livro “Os 4 amores” é muito didático e nos traz conceitos muito importantes para entendermos os sentimentos
que temos no dia a dia.
O autor mostra que existem quatro tipos de amores diferentes, apesar de todos eles receberem a
denominação “amor”. Sendo assim, dependendo da pessoa ou da coisa, teremos níveis diferentes de amor com ela.
O amor pode ser afeição, amizade, eros ou caridade. Para entendermos o que sentimos, precisamos fazer a
diferenciação deles.
Hoje estudaremos a afeição, que nada mais é do que um sentimento positivo relacionado a algo ou alguém que
gostamos.
A Afeição, segundo o autor, é o mais humilde, universal, o mais simples e menos melindroso dos amores
naturais. É aquele sentimento que faz nos apegarmos àquelas pessoas com quem convivemos no cotidiano, é o amor
da mãe pelo filho, o carinho por aquele vizinho que você só se dá conta de que sente falta quanto o perde, que une
pessoas pela rotina.

“Às vezes, é possível indicar o dia e a hora exatos em que nos apaixonamos ou em que começamos uma nova amizade. Duvido que consigamos capturar o
momento exato em que a Afeição se inicia. Estar consciente da Afeição é tomar consciência de que ela já se instalou há algum tempo.”

1. Storge (Grego) = Afeição


É o mais simples e mais amplamente difuso (espalhado, propagado) dos amores. O amor AFEIÇÃO é aquele pelo
qual nossa experiência tem pouca diferença dos animais. E com essa afirmação Lewis ressalta que não está desprezando
ou menosprezando esse amor, apenas mostrando que ele é quase que inerente à própria existência. Acontece de forma
natural.

A neurociência diz-nos hoje que muitos dos animais que conhecemos possuem, tal como nós, os atributos fisiológicos necessários para realizar a
experiência do amor. Em termos comportamentais, é comum encontrarmos nos animais, evidências maravilhosas de situações que implicam cuidado,
empatia e até mesmo luto pelos seres que mais amam. [...] Tatiana Abreu

Storge, para os gregos é “afeição especialmente da relação de pais e filhos”, Como ilustração, a mãe cuidando do bebê ou
uma gatinha cuidando da sua ninhada. No capítulo anterior estudamos a respeito do Amor-Necessidade e o Amor-Dádiva, mas
faremos agora uma breve retomada:

AMOR DÁDIVA X AMOR NECESSIDADE

No livro "Os Quatro Amores" de C.S. Lewis, o autor discute diferentes formas de amor, incluindo o amor como necessidade. Lewis chama esse tipo de
amor de "amor necessidade" ou "amor de necessidade".
O amor de necessidade refere-se ao amor que surge da dependência e da necessidade de outra pessoa. Lewis argumenta que esse tipo de amor é
comumente encontrado nos relacionamentos parentais, especialmente entre pais e filhos. É um amor que é baseado na obrigação e na necessidade de cuidado,
proteção e sustento.
Lewis destaca que o amor de necessidade é uma parte importante do amor, especialmente no início da vida, quando somos dependentes de nossos pais
para sobreviver e nos desenvolver. Ele argumenta que esse tipo de amor é natural e necessário para o crescimento e o bem-estar emocional das crianças.
No entanto, Lewis também ressalta que o amor de necessidade não deve ser confundido com egoísmo ou possessividade. Ele enfatiza que, à medida
que crescemos e nos tornamos mais independentes, é importante que o amor evolua para além da necessidade e se transforme em amor de dádiva.
O amor de dádiva, por outro lado, é um amor que é dado livremente, sem expectativas ou obrigações. É um amor baseado na escolha e no desejo de
cuidar, apoiar e valorizar a outra pessoa. Lewis argumenta que o amor de dádiva é o mais elevado e puro tipo de amor, pois não é baseado em necessidades
pessoais, mas sim no bem-estar e na felicidade do outro.

Em resumo, o amor de necessidade é uma forma de amor que surge da dependência e da necessidade de cuidado e proteção. É um amor que é natural e
necessário, especialmente nos relacionamentos parentais. No entanto, Lewis também enfatiza a importância de evoluir para o amor de dádiva, que é baseado na
escolha e no desejo de cuidar e valorizar o outro sem expectativas ou obrigações.

O filho desenvolve primeiro o Amor-Necessidade, já a mãe o Amor-Dádiva que se mistura ao seu próprio Amor-Necessidade, pois a necessidade da mãe
é se doar, ela necessita ser necessária.

“Que nossos afetos não nos matem nem morram.” DONNE


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Principais características da AFEIÇÃO:


A Afeição se expande para muito além do relacionamento entre pais e filhos, não considera barreiras sociais,
de idade, ignora a diferença entre espécies.

Seus alvos precisam ter familiaridade: velho amigo ou amigão, são termos muito conhecidos ao se referir a
objetos de afeição.

A Afeição é aquele tipo de amor que não se sabe como começou exatamente, pois a impressão é a de que
sempre esteve lá.

É o amor mais humilde, pois não procura impressionar, é modesto.

Dentro da Afeição, o Amor-apreciação não constitui elemento básico; normalmente é necessária ausência ou
sofrimento para que comecemos a valorizar aqueles a quem somente a afeição nos une.

Sua natureza é sossegada e confortável.

A afeição pode ser capaz de possibilitar apreciações que não teriam ocorrido se ela não estivesse presente.

Nós escolhemos nossos amigos e a pessoa a quem amamos por várias qualidades como beleza, franqueza, bondade,
humor, inteligência ou qualquer outra coisa, mas é necessário que seja um tipo específico dessas características, pois
temos nossas preferências nessas coisas.

É por isso que frequentemente amigos e amantes sentem que foram “feitos um para o outro”

A Afeição pode se associar a outros amores e fazê-los funcionar melhor, um dos seus subprodutos mais
impressionantes é possibilitar apreciações que sem ele, jamais teriam existido.

A Afeição amplia a nossa mente para sermos capazes de perceber o outro, ainda que ele não se encaixe nas nossas
preconcepções e, assim, conseguir suportá-lo e até sorrir, curtir e por fim apreciar, cruzando 2uma fronteira.

Esse Amor é capaz de amar os repulsivos, não é arrogante, não tem muitas expectativas, ignora falhas e abre os
nossos olhos para a bondade que não víamos antes, mas mesmo assim que a Afeição pode estar presente e causar a
infelicidade. Por si mesma, a Afeição pode manchar e difamar a vida humana, trataremos sobre isso a seguir.

2. Quando a afeição torna-se um problema


No livro, Lewis conta a história de uma família que mudou completamente depois da morte da mãe, já que ela
fazia até mesmo as roupas dos filhos e do marido:
• A intenção da mãe durante a vida era boa. Ela acreditava que estava fazendo o melhor pelos filhos, mas a sua
necessidade em ser necessária sufocou a sua família e tirou deles a possibilidade de sentirem a felicidade vinda
da Afeição.
• Ela lavava as roupas, mesmo que sua família a implorasse para não a lavar, ela vivia para a sua família e
qualquer palavra que a impedisse de fazer algo por eles a deixava profundamente magoada e ressentida.

Será que ela não sabia o mal que fazia sendo assim? Claro que sabia, mas a dor nos seus pés e costas gritava para
ela que seu amor era grande e a impediam de enxergar o que ela se negava: de que não era mais necessária.

“Que nossos afetos não nos matem nem morram.” DONNE


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Com isto, entendemos que embora a Afeição seja um amor natural e universal, o autor aponta alguns desafios
e problemas que podem surgir quando se trata desse tipo de amor, vejamos a seguir:

1. Dependência emocional: A Afeição pode levar à dependência emocional, onde uma pessoa se torna excessivamente
dependente da presença e do carinho de outra. Isso pode resultar em dificuldades emocionais quando a pessoa amada
não está disponível ou quando o relacionamento é interrompido.

2. Apego excessivo: A Afeição pode levar a um apego excessivo, onde a pessoa se torna possessiva e ciumenta em
relação à pessoa amada. Isso pode criar tensões e conflitos nos relacionamentos, prejudicando a liberdade e a
autonomia de ambas as partes.

3. Expectativas não correspondidas: A Afeição pode levar a expectativas não correspondidas, onde uma pessoa espera
receber o mesmo nível de amor e cuidado que ela dá. Quando essas expectativas não são atendidas, pode levar a
decepções e ressentimentos.

4. Afeição unilateral: Nem sempre a Afeição é recíproca, o que pode resultar em desequilíbrios emocionais e sentimento
de rejeição ou abandono. Isso pode ser especialmente difícil quando uma pessoa ama profundamente outra que não
sente o mesmo nível de Afeição.

5. Dificuldade em expressar emoções: Algumas pessoas têm dificuldade em expressar suas emoções de Afeição, o que
pode levar a mal-entendidos e falta de comunicação. Isso pode criar barreiras emocionais nos relacionamentos e
dificultar a conexão íntima.

É importante reconhecer esses problemas e desafios relacionados à Afeição para que possamos cultivar
relacionamentos saudáveis e equilibrados. O livro de C.S. Lewis nos convida a refletir sobre essas questões e buscar
uma compreensão mais profunda sobre o amor em suas diversas formas.

“Que nossos afetos não nos matem nem morram.” DONNE

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