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Condições de Cristalização
Petrologia do magmatismo no MSJC (RN-PB), com ênfase no plúton alcalino Caxexa Nascimento, M.A.L. (2000) 79
CAPÍTULO 7
CONDIÇÕES DE CRISTALIZAÇÃO
7.1 - Introdução.
7.1.1 - Geobarometria.
considerando-se os erros de aproximadamente 1,0 kbar e 0,6 kbar para os valores obtidos das
equações de Hollister et al. (1987) e Schmidt (1992), pode-se admitir que as pressões médias da
tabela 7.1 para as suítes analisadas se superpõem, embora o Plúton Cabeçudo mostre uma
tendência a ter pressões ligeiramente maiores. Pelo exposto, interpreta-se uma pressão de
cerca de 5-7 kbar para o reequilíbrio do AlT em anfibólio nesta porção do Maciço São José de
Campestre.
Tabela 7.1 - Valores de pressões calculadas para anfibólio-biotita granito (Plúton Cabeçudo),
biotita microgranito, suíte básica a intermediária e ortognaisses, considerando o
geobarômetro de AlT em hornblenda, segundo Schmidt (1992) e Hollister et al. (1987).
Pressão (r1 kbar) Pressão (r0,6 kbar)
Litologia Análise AlT
Hollister et al. (1987) Schmidt (1992)
1 2,134 7,3 7,2
2 2,177 7,5 7,4
Plúton 3 2,088 7,0 6,9
Cabeçudo 4 2,178 7,5 7,4
(MA-161A) 5 2,183 7,6 7,4
média 2,152 7,4 7,2
V 0,037 0,2 0,2
1 1,828 5,6 5,7
Biotita 2 1,810 5,5 5,6
microgranito 3 1,751 5,1 5,3
(MA-59) 4 1,835 5,6 5,7
média 1,806 5,4 5,6
V 0,033 0,2 0,2
1 1,697 4,8 5,1
2 1,735 5,0 5,3
Monzonito 3 1,746 5,1 5,3
(Básica a 4 1,726 5,0 5,2
intermediária) 5 1,780 5,3 5,5
(MA-197A) média 1,737 5,0 5,3
V 0,027 0,2 0,1
1 1,825 5,5 5,7
2 1,877 5,8 5,9
3 1,776 5,3 5,4
Ortognaisse 4 1,860 5,7 5,8
(substrato) 5 1,897 5,9 6,0
(MA-20) 6 1,880 5,9 5,9
média 1,853 5,7 5,8
V 0,040 0,2 0,2
7.1.2 - Geotermometria.
sugerindo-se a equação
Na equação acima, Si representa número de átomos por fórmula (pfu), com P in kbar e
T em K. Para XAb >0,5, o valor de Y = 0; já para X Ab d 0,5, Y = - 8,06 + 25,5 (1-XAb)2. A temperatura
obtida corresponde à situação de equilíbrio geoquímico do par plagioclásio-anfibólio, com
precisão no intervalo de 35qC a 75qC. Este geotermômetro deve ser utilizado para
temperaturas entre 500q-1100qC, e assembléias com anfibólios contendo Si < 7,8 pfu e
plagioclásio com teor de anortita inferior a 92%. Como a maioria das rochas estudadas contêm
anfibólio em equilíbrio com plagioclásio e atendem às restrições propostas por Blundy &
Holland (1990), foram obtidas as temperaturas para o Plúton Cabeçudo, biotita microgranito,
suíte básica a intermediária e ortognaisses tonalíticos do substrato. Observa-se, então, que os
valores médios são muito semelhantes (743-759qC) para todas as suítes (tabela 7.2), tendo em
vista que os erros envolvidos nos cálculos são da ordem de 35qC a 75qC.
Um outro geotermômetro muito utilizado refere-se à saturação em Zr. O
comportamento do zircão no decorrer da geração e evolução de magmas crustais é
importante na compreensão de determinados aspectos geoquímicos dos magmas, já que ele
controla a distribuição de elementos traços (Y e os terras raras pesadas), e tem um papel
importante no estudo geocronológico (método U-Pb). O teor em Zr nas rochas pode ser usado
para estimar a temperatura de cristalização do zircão em líquidos saturados em Zr (Watson &
Harrison 1983). Partindo do princípio de que o coeficiente de partição do Zr entre cristal e
líquido é função da temperatura, esses autores estabeleceram diversas isotermas relacionando
a razão catiônica [M = (Na+K+2Ca)/(Al.Si)] vs. a concentração de Zr (em ppm) na rocha (fig.
7.1).
Tabela 7.3 - Temperatura de saturação em Zr, de acordo com cálculos sugeridos por Watson (1987).
Plúton Zr T (qC)
Caxexa (ppm) Watson (1987) Zr T (qC)
Microgranito
(ppm) Watson (1987)
MA-01 91,10 745
MA-08 123,20 770 MA-14A 135,60 778
MA-08A 120,00 768 MA-50 160,00 793
MA-12A 122,20 769 MA-59 191,00 809
MA-18 139,60 781 MA-61 186,00 806
MA-18A 139,90 781 MA-165 370,00 872
MA-21 83,10 738 MA-172 200,00 813
MA-23A 152,00 788 Média 207,10 812
MA-66 153,00 789 V (desvio) 75,96 29
MA-98 71,60 726
MA-99 93,50 747
MA-100 81,20 736 Básica a Zr T (qC)
MA-102 138,00 780 Intermediária (ppm) Watson (1987)
MA-112 42,20 687 MA-164A 598,00 923
Média 109,57 757 MA-164B 1039,00 988
V (desvio) 31,76 27 MA-186A 999,00 983
MA-197A 944,00 976
Plúton Zr T (qC) MA-198 569,00 917
Cabeçudo (ppm) Watson (1987) Média 829,80 957
MA-25 285,00 846 V (desvio) 203,56 31
MA-161A 317,00 856
MA-238A 335,00 862
Média 312,00 855
V (desvio) 20,68 7
Nas referidas unidades, têm-se pressões igualmente semelhantes, com valores entre 5,3
kbar e 7,2 kbar, este no Plúton Cabeçudo, apesar de os erros envolvidos nos cálculos
permitirem considerar que não há diferenças barométricas significativas. Portanto, infere-se
que ao final da orogênese brasiliana todas as unidades precambrianas da região foram
efetadas por um importante evento de cristalização magmática (suítes plutônicas) ou
reequilíbrio metamórfico (ortognaisse tonalítico do substrato). Este evento teria P e T da ordem
de 5,3-7,2 kbar e 728-759qC, respectivamente. Tais valores são corroborados por cálculos
termobarométricos obtidos em rochas granulíticas tardi-brasilianas (Z.S. Souza, em preparação)
CAPÍTULO 8
Caracterização Geoquímica
8.1 - Introdução.
Fe2O3t, MgO, CaO, TiO2 e P2O5, e mais pobre em Al2O3, ao se comparar rochas com o mesmo
valor de sílica. Apesar do pequeno número de amostras analisadas, o granitóide aluminoso
parece ter os menores SiO2, K2O, Na2O+K2O e #Fe, e maiores TiO2, Fe2O3t, MgO e CaO,
comparado com o anfibólio-biotita granito, álcali-feldspato granito e biotita microgranito.
Pelo exposto acima, é possível admitir que, dentre as suítes investigadas, a básica a
intermediária e o granitóide aluminoso não estão geneticamente relacionados às outras três. O
comportamento da primeira com respeito a Al2O3, MgO, CaO, Na2O e K2O reforça tal hipótese.
Já no que se refere ao granitóide aluminoso, os critérios de campo e petrográficos confirmam
sua gênese a partir de fusão parcial de metapelitos.
O comportamento geoquímico aparentemente semelhante de anfibólio-biotita granito
e biotita microgranito em vários gráficos poderia sugerir a existência de cogeneticidade entre
ambos, neste caso com o biotita microgranito representando os termos mais evoluídos.
Contudo, tal alternativa é enfraquecido pela presença de amostras de biotita microgranito
inclusive menos diferenciadas do que as menos evoluídas de anfibólio-biotita granito. Além do
Tabela 8.6 - Comparação de médias de composições químicas das suítes magmáticas em estudo, com
base nos dados das tabelas 8.1 a 8.5.
Plúton Plúton Biotita Básica a Granitóide
Caxexa Cabeçudo microgranito Intermediária aluminoso
Elementos média V média V média V média V média V
SiO2 (% peso) 72,70 1,28 67,59 1,18 70,75 3,30 55,80 1,78 63,88 1,01
TiO2 0,07 0,03 0,53 0,05 0,24 0,11 1,60 0,27 0,84 0,22
Al2O3 14,62 0,66 14,65 0,31 14,65 1,05 16,09 0,42 15,91 0,16
Fe2O3t 1,12 0,25 4,29 0,49 2,52 0,73 11,21 0,83 6,65 1,37
MnO 0,02 0,01 0,06 0,01 0,03 0,02 0,19 0,03 0,12 0,05
MgO 0,09 0,06 0,97 0,39 0,49 0,39 2,33 0,58 2,21 0,87
CaO 0,69 0,30 2,42 0,52 1,51 0,55 4,29 0,71 2,48 0,63
Na2O 5,01 0,81 3,25 0,18 3,30 0,28 4,27 0,12 3,44 0,45
K 2O 5,02 0,53 5,38 0,54 5,82 0,55 3,46 0,50 3,49 0,62
P 2O 5 0,04 0,02 0,20 0,04 0,11 0,04 0,50 0,11 0,22 0,09
PF 0,33 0,22 0,51 0,17 0,44 0,10 0,39 0,22 0,97 0,33
Total 99,73 0,50 99,85 0,77 99,86 0,40 100,12 0,26 100,20 0,38
Ba (ppm) 1997 591 1280 97 749 222 1389 314 - -
Ga 18 1 20 0 20 1 26 2 - -
Nb 11 4 16 3 10 5 42 6 12 7
Ni 3 1 9 5 4 1 18 4 - -
Rb 137 14 185 4 247 31 50 11 126 45
Sr 890 245 339 24 223 48 393 88 302 119
V 18 9 41 3 18 7 90 19 - -
Y 12 2 42 13 18 8 33 4 27 7
Zr 111 33 312 21 207 76 830 204 - -
Na2O+K2O 10,03 0,61 8,63 0,40 9,12 0,58 7,73 0,50 6,93 0,98
Na2O/K2O 1,02 0,23 0,62 0,10 0,57 0,08 1,26 0,17 1,00 0,11
Rb/Sr 0,18 0,09 0,55 0,03 1,22 0,29 0,14 0,05 0,41 0,09
A/CNK 0,99 0,03 0,94 0,04 1,01 0,04 0,87 0,05 1,18 0,22
A/NK 1,07 0,04 1,31 0,06 1,25 0,06 1,50 0,10 1,72 0,24
IAG 1,01 0,03 0,89 0,05 0,94 0,05 0,71 0,06 0,65 0,08
#Fe 0,94 0,02 0,81 0,04 0,84 0,05 0,82 0,03 0,74 0,04
DiopsídioN 0,95 0,82 1,87 1,32 0,95 0,25 2,86 2,02 - -
CoríndonN 0,64 0,21 0,24 0,17 0,84 0,40 - - 2,50 2,73
A figura 8.2 mostra as composições em alguns elementos traços das suítes em questão,
com base nos dados das tabelas 8.1 a 8.5. Esta figura fornece subsídios adicionais que
confirmam a discussão precedente no item 8.2.1. Assim, tem-se uma clara separação das
rochas básicas a intermediárias e do álcali-feldspato granito em praticamente todos os
diagramas (em especial, Rb, Ba, Sr, Zr e V). O granitóide aluminoso também mostra-se bem
individualizado com respeito a Rb, Sr, Nb e Y. Uma discussão mais precisa de anfibólio-biotita
17 Al2O3 14 Fe2O3t
12
16
10
15 8
14 6
Álcali feldspato granito
Anfibólio biotita granito 4
13 Biotita microgranito
Básica a Intermediária 2
Granitóide aluminoso SiO2 SiO2
12 0
50 60 70 80 50 60 70 80
0,5 1
0 SiO2 0 SiO2
50 60 70 80 50 60 70 80
6,0 7,0
Na2O KO
5,5 6,5 2
5,0 6,0
4,5 5,5
5,0
4,0
4,5
3,5 4,0
3,0 3,5
2,5 3,0
2,0 SiO2 SiO2
2,5
50 60 70 80 50 60 70 80
2,5 0,8
TiO2 P2O5
0,7
2,0
0,6
1,5 0,5
0,4
1,0 0,3
0,2
0,5
0,1
SiO2 SiO2
0 0
50 60 70 80 50 60 70 80
Figura 8.1 - Diagramas do tipo Harker para óxidos, utilizando SiO 2 como índice de diferenciação. Os
dados estão nas tabelas 8.1 a 8.5.
300 3000
Rb Ba
250 2500
200 2000
150 1500
100 1000
50 500
0 SiO2 0 SiO2
50 60 70 80 50 60 70 80
1400 1200
Sr Zr
1200 1000 Álcali feldspato granito
Anfibólio biotita granito
1000 Biotita microgranito
800
Básica a Intermediária
800 Granitóide aluminoso
600
600
400
400
200 200
0 SiO2 0 SiO2
50 60 70 80 50 60 70 80
30 120
Ni V
25 100
20 80
15 60
10 40
5 20
SiO2 SiO2
0 0
50 60 70 80 50 60 70 80
50 60
45 Nb Y
40 50
35
40
30
25 30
20
15 20
10
10
5
SiO2 SiO2
0 0
50 60 70 80 50 60 70 80
Figura 8.2 - Diagramas do tipo Harker para elementos traços, utilizando SiO 2 como índice de
diferenciação. Os dados estão nas tabelas 8.1 a 8.5.
Análises de elementos terras raras (ETR) das cinco suítes estudadas encontram-se nas
tabelas 8.7 a 8.10, e os respectivos espectros, plotados na figura 8.3. Uma característica
comum a todos os espectros é o enriquecimento nos terras raras leves (TRL), com LaN entre 200
e 500, exceto no álcali-feldspato granito (LaN=35-150), com razões (La/Sm)N entre 4,2 (suíte
básica a intermediária) e 6,6 (microgranito). Melhores distinções entre as unidades em lide são
reveladas pelo fracionamento dos elementos terras pesados (TRP), dada pela razão (Gd/Yb)N,
e pela anomalia de európio (Eu/Eu*), conforme se discute a seguir.
Os espectros de TRP são subhorizontais ou ligeiramente côncavos para cima no álcali-
feldspato granito [(Gd/Yb)N=1,1] e progressivamente mais fracionados em anfibólio-biotita
granito, granitóide aluminoso e rochas básicas a intermediárias, com razões (Gd/Yb)N de 1,73,
1,88 e 2,62, respectivamente. O biotita microgranito apresenta um comportamento mais
complexo (fig. 8.3c), com uma subdivisão em dois grupos: i) um com TRP pouco fracionados,
com YbN=10 e (Gd/Yb)N=2,73 (amostras MA-61, 165, e 172); ii) e outro com mais forte
fracionamento dos TRP, tendo YbN=2,5-5,0 e (Gd/Yb)N=6,76 (amostras MA-50 e 59).
Por fim, todas as suítes mencionadas, à exceção do álcali-feldspato granito, mostram
anomalias negativas de európio, com valores médios crescentes na seqüência biotita
microgranito (Eu/Eu*=0,54), anfibólio-biotita granito (Eu/Eu*=0,56), rochas básicas a
intermediárias (Eu/Eu*=0,73) e granitóide aluminoso (Eu/Eu*=0,78), sendo marcante a forte
anomalia negativa das duas primeiras. Um fracionamento importante de feldspatos,
combinado a variadas proporções de anfibólio, pode explicar os espectros discutidos (Hanson
1980).
O álcali-feldspato granito diferencia-se das demais unidades pela sua forte anomalia
positiva de európio, que varia de 1,46 a 2,04, com média de 1,74 (tabela 8.7). Isto fortalece a
suposição de prevalência de condições oxidantes, onde o Eu+3 seria a forma estável,
incompatível com a estrutura cristaloquímica de feldspato (Ragland 1989). A grande
quantidade de feldspatos, bem como a presença de titanita e apatita como fases acessórias,
justificam a anomalia positiva de európio, como também o ligeiro enriquecimento no TRL (vide
discussão anterior). Um maior volume de zircão no cumulado pode ser a causa do maior
fracionamento dos TRP no biotita microgranito, especialmente o grupo (ii).
Tabela 8.7 - Análises de elementos terras raras para o álcali-feldspato granito (Plúton Caxexa).
Tabela 8.9 - Análises de elementos terras raras para o biotita microgranito e granitóide aluminoso.
Biotita Granitóide
microgranito aluminoso
Elementos MA-165 MA-59 MA-61 MA-172 MA-50 média V MA-214
SiO2 (%peso) 68,03 71,46 71,65 72,22 72,70 71,21 1,65 65,24
La (ppm) 54,80 87,00 78,40 74,30 98,30 78,56 14,45 49,60
Ce 108,00 152,00 142,00 135,00 153,00 138,00 16,41 99,50
Pr 11,60 14,90 14,80 12,90 16,30 14,10 1,65 11,70
Nd 40,50 48,50 51,30 40,90 49,80 46,20 4,58 42,80
Sm 7,09 6,82 9,90 7,15 7,43 7,68 1,13 6,75
Eu 1,19 1,18 1,20 1,07 1,26 1,18 0,06 1,53
Gd 5,29 5,03 7,94 5,11 4,91 5,66 1,15 4,78
Tb 0,77 0,55 1,00 0,78 0,50 0,72 0,18 0,79
Dy 4,57 2,40 5,24 4,02 1,95 3,64 1,26 4,21
Ho 0,85 0,34 0,86 0,67 0,23 0,59 0,26 0,83
Er 2,26 0,98 2,02 1,77 0,66 1,54 0,61 2,14
Tm 0,36 0,11 0,26 0,25 0,07 0,21 0,11 0,32
Yb 2,19 0,77 1,83 1,52 0,48 1,36 0,64 2,06
Lu 0,26 0,12 0,25 0,26 0,06 0,19 0,08 0,32
6ETR 239,74 320,69 317,01 285,70 334,96 299,62 33,98 227,34
(La/Yb)N 16,89 76,46 28,92 32,99 137,66 58,58 44,38 16,25
(La/Sm)N 4,87 8,03 4,99 6,54 8,33 6,55 1,46 4,63
(Gd/Yb)N 1,95 5,29 3,51 2,72 8,23 4,34 2,24 1,88
Eu/Eu* 0,57 0,59 0,40 0,52 0,60 0,54 0,07 0,78
Eu/Eu* = EuN/[(SmN+GdN)/2].
Tabela 8.10 - Análises de elementos terras raras para a suíte básica a intermediária.
Gabronorito a monzonito (Suíte Básica a Intermediária)
Elementos MA-198A MA-164C MA-186A MA-164B MA-197B média V
SiO2 (%peso) 53,00 55,08 56,38 56,43 58,04 55,79 1,68
La (ppm) 64,20 97,00 105,00 87,90 81,10 87,04 14,00
Ce 128,00 198,00 208,00 181,00 161,00 175,20 28,49
Pr 14,70 23,20 22,90 21,80 18,80 20,28 3,19
Nd 55,80 91,00 86,40 82,10 72,90 77,64 12,45
Sm 9,50 15,00 13,90 13,40 12,80 12,92 1,86
Eu 2,33 3,13 1,99 2,94 3,18 2,71 0,47
Gd 6,65 10,50 9,50 10,90 9,84 9,48 1,50
Tb 0,93 1,42 1,24 1,38 1,34 1,26 0,18
Dy 5,23 7,53 6,57 6,81 7,39 6,71 0,82
Ho 0,90 1,33 1,11 1,28 1,35 1,19 0,17
Er 2,31 3,46 3,08 3,50 3,61 3,19 0,48
Tm 0,33 0,44 0,47 0,49 0,52 0,45 0,07
Yb 1,93 3,09 3,00 3,36 3,36 2,95 0,53
Lu 0,30 0,50 0,51 0,54 0,59 0,49 0,10
6ETR 293,11 455,60 463,68 417,39 377,78 401,51 62,22
(La/Yb)N 22,45 21,19 23,62 17,66 16,29 20,21 2,81
(La/Sm)N 4,25 4,07 4,76 4,13 3,99 4,24 0,27
(Gd/Yb)N 2,78 2,75 2,56 2,62 2,37 2,62 0,15
Eu/Eu* 0,85 0,73 0,50 0,72 0,83 0,73 0,12
Eu/Eu* = EuN/[(SmN+GdN)/2].
1000 1000
[4,4<(La/Yb)N<17,1] MA-08A (SiO2=70,84) [13,1<(La/Yb)N<19,0]
a MA-66 (SiO=70,9 3) b
[4,1<(La/Sm)N<7,9] 2 [4,7<(La/Sm)N<5,5]
MA-112 (SiO2=71,81)
[0,7<(Gd/Yb)N<1,8] MA-102 (SiO2=72,27) [1,5<(Gd/Yb)N<1,9]
Rocha/Condrito
Rocha/Condrito
Eu/Eu* = 1,46 - 2,04 MA-98 (SiO=72,6
2 0) Eu/Eu* = 0,51 - 0,60
100 MA-100 (SiO2=73,02) 100
MA-99 (SiO=73,2
2 0)
10 10
1000 1000
[16,9<(La/Yb)N<137,7] [16,3<(La/Yb)N<23,6]
c [4,9<(La/Sm)N<8,3] d [4,0<(La/Sm)N<4,8]
[2,0<(Gd/Yb)N<8,2] [2,4<(Gd/Yb)N<2,8]
Rocha/Condrito
Rocha/Condrito
10 10
MA-165 (SiO2=68,03) MA-198A - 53,00
MA-59 (SiO=71,4
2 6) MA-164C - 55,08
MA-61 (SiO=71,6
2 5) MA-186A - 56,38 gabronorito a monzonito
MA-172 (SiO2=72,22) MA-164B - 56,43 (Suíte Básica a Intermediária)
MA-50 (SiO=72,7
2 0) MA-197B - 58,04
1 1
La Ce Pr Nd PmSm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu La Ce Pr Nd PmSm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu
1000
(La/Yb)N=16,3
e (La/Sm)N=4,6
(Gd/Yb)N=1,9 Figura 8.3 - Espectros de elementos terras raras (ETR) para
Rocha/Condrito
Eu/Eu* = 0,78 as suítes pesquisadas (dados nas tabelas 8.7 a 8.10). (a)
100 álcali-feldspato granito (Plúton Caxexa), (b) anfibólio-
biotita granito (Plúton Cabeçudo), (c) biotita
microgranito, (d) rochas básicas a intermediárias, (e)
10 granitóide aluminoso. Em todos os casos, usaram-se os
valores de normalização segundo Evensen et al. (1978).
granitóide aluminoso
MA-214 (SiO2=65,24)
1
La Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu
Afora essas feições gerais, algumas particularidades também devem ser ressaltadas.
Anomalias negativas em Sr e P aparecem nas rochas básicas a intermediárias, no anfibólio-
biotita granito, no biotita microgranito e no granitóide aluminoso. Anomalias negativas em Ti e
Nb também ocorrem nas três últimas unidades. Anomalias positivas significativas de Zr e Sr
caracterizam as básicas a intermediárias e o álcali-feldspato granito, respectivamente. Estes
padrões podem ser explicados seja pelo fracionamento de fases acessórias do tipo apatita (Sr),
titanita (Ti, V) e magnetita (Ti, Nb), seja o reflexo da composição química da própria fonte que
originou os magmas em discussão.
A análise dos valores normalizados dos elementos mais compatíveis (na faixa Y o Yb),
permite visualizar alguns outros aspectos importantes para a compreensão de tais magmas. A
este respeito, destaca-se a inclinação nula a ligeiramente positiva para o álcali-feldspato
granito, bem distinto das rochas básicas a intermediárias, e do anfibólio-biotita granito. O
fracionamento de zircão pode explicar o comportamento das duas últimas suítes. O biotita
microgranito também mostra inclinação negativa entre Y e Yb, porém registra um
comportamento similar ao verificado anteriormente com respeito aos espectros de terras raras.
Ou seja, definem-se dois grupos: i) aqueles com YN e YbN em torno de 10 (amostras MA-61, 165,
172); ii) outro com YN e YbN em torno de 3 (amostras MA-50, 59). Apenas o subgrupo (i)
apresenta similaridades com o anfibólio-biotita granito, embora aquele tenha valores de YN a
YbN um pouco menores.
CAPÍTULO 9
equação (3) (FP2) concerne à fusão parcial em equilíbrio, que, embora fisicamente menos
comum, é mais fácil de modelar matematicamente (Wilson 1989).
A obtenção de dados geoquímicos, isotópicos e geocronológicos com maior facilidade
e de melhor precisão nos últimos anos tem levado diversos autores a proporem uma variedade
de modelos petrogenéticos para as suítes magmáticas em todo o mundo. O emprego de
parâmetro isotópicos e de determinados elementos traços, em conjunto com análises
litogeoquímicas e de química mineral, proporcionam a construção de vínculos precisos para a
tipologia de magmas, mecanismos evolutivos e a interligação com o ambiente tectônico.
O objetivo deste capítulo é a determinação dos mecanismos que atuaram na gênese e
evolução do magmatismo tardi-brasiliano na porção mais oriental do Domínio Seridó (o
Maciço São José de Campestre). Uma maior ênfase será dada ao Plúton Caxexa, com
tentativas de modelamento geoquímico da cristalização fracionada. Ao final, faz-se a
integração das informações obtidas no capítulo em lide, visando definir o ambiente tectônico
relativo a esses magmas.
teores em Y e Yb (figs. 8.3b, 8.3c, 8.4b e 8.4c); iii) anfibólio e biotita mais ricas em MgO e TiO2 no
biotita microgranito, quando deveria se esperar o inverso.
Tabela 9.1 - Dados analíticos Sm/Nd para anfibólio-biotita granito, biotita microgranito, suíte básica a
intermediária, granitóide aluminoso e álcali-feldspato granito.
Rochas Amostras Sm Nd 147Sm/144Nd 143Nd/144Nd TDM TCHUR HNd
(ppm) (ppm) (Ga) (Ga) (600 Ma)
Álcali-feldsp. granito MA-01 1,19 6,05 0,119600 0,511271 2,88 2,68 -20,78
Anfibólio-biot. MA-238A 13,53 77,06 0,106349 0,511260 2,53 2,31 -19,98
granito
Biotita microgranito MA-156B 6,40 42,95 0,090500 0,511002 2,52 2,34 -23,80
Biotita microgranito MA-172A 5,03 31,03 0,103800 0,510896 2,98 2,84 -26,90
MA-164A 11,61 71,03 0,099400 0,511706 1,77 1,46 -10,73
Suíte básica a MA-186A 11,57 75,09 0,095600 0,511749 1,66 1,34 -9,60
Intermediária MA-197A 9,30 54,28 0,104100 0,511811 1,70 1,36 -9,04
MA-198 9,39 48,55 0,117500 0,511793 1,97 1,62 -10,42
Granitóide aluminoso MA-212 5,73 27,24 0,116952 0,512308 1,23 0,63 -0,50
Tabela 9.2 - Dados analíticos Rb/Sr, (rocha total), para anfibólio-biotita granito, biotita microgranito
e álcali-feldspato granito.
Litologias Amostra Rb Sr Rb/Sr 87Sr/86Sr 87Rb/86Sr 87Sr/86Sr (600 Ma)
Figura 9.2 - Comparação entre as razões iniciais de Sr de anfibólio-biotita granito (a) e biotita microgranito
(b), e as obtidas para rochas similares no Domínio Seridó Central (área cinza) segundo Jardim de Sá
(1994).
Figura 9.5 - Diagramas bi-log relacionando alguns elementos compatíveis (Sr, Ba e Ni) com um elemento
incompatível (Rb) para o álcali-feldspato granito (Plúton Caxexa). CF = Cristalização Fracionada, FP =
Fusão Parcial.
o programa XLFRAC (Stormer Jr. & Nicholls 1978). Para a execução do XLFRAC, foram usadas as
composições químicas dos minerais analisados na presente dissertação (clinopiroxênio,
andradita, titanita e magnetita) e outros encontrados na literatura (Deer et al. 1996), o
conjunto de dados representados na tabela 9.3. Dentre as amostras do Plúton Caxexa,
selecionaram-se aquelas mais representativas do líquido menos diferenciado, chamada de L0
(MA-08A), e a mais evoluída, ou L1 (MA-99), as duas recalculadas a 100% em base anidra
(tabela 9.4). Com base nas informações petrográficas, foram feitas várias combinações de
minerais fracionados, aplicando sucessivamente o programa XLFRAC. A cada ensaio, este
programa faz o balanço de massa, calculando as proporções relativas dos minerais no
cumulado, a taxa de cristalização fracionada e o erro estatístico total (¦r2). No caso ideal, a
hipótese mais adequada é aquela em que ¦r2 é próximo de zero.
Satisfeitas as regras acima, determinou-se um cumulado formado por plagioclásio (An20-
30; 88,1%), clinopiroxênio (9,3%) e magnetita (2,6%), para uma taxa de cristalização de 10% e um
erro ¦r2 de 0,89. Testes feitos com granada, biotita, hornblenda e ortoclásio, juntos, separados
ou em combinações diversas, resultaram em erros muito elevados (> 30) ou taxas de
cristalização negativa, sem significado. Portanto, o resultado aqui obtido é o mais coerente
com a composição petrográfica particular e a pequena variação faciológica do Plúton
Caxexa, implicando baixo grau de fracionamento.
Partindo do pressuposto de que qualquer modelo petrogenético de balanço de massa
relativo aos óxidos também deve valer para os elementos traços, o cumulado obtido foi
testado com relação aos elementos terras raras. Neste caso, aplicou-se a equação (1) para a
cristalização fracionada (vide item 9.1), sendo empregados os coeficientes de partição
mineral/líquido sugeridos por Martin (1987, 1990) (tabela 9.5). Considerando o cumulado tal
como obtido na tabela 9.4, obteve-se um excelente ajuste entre o espectro do líquido mais
evoluído (L1 = MA-99) e o espectro teórico (L1’), calculado com base na equação (1). Todavia,
o YbN calculado sempre se manteve bem abaixo do YbN de L1. O acréscimo de uma certa
quantidade de zircão (0,6%) ao cumulado teórico permitiu, porém, um ajuste quase perfeito
dos espectros L1 (amostra MA-99) e L1’ para taxas de cristalização entre 5% e 15% (fig. 9.6).
Resumindo, o álcali-feldspato granito teve sua evolução petrológica controlada,
provavelmente, por cristalização a partir de um líquido granítico originalmente saturado em
sílica e rico em álcalis. A sua mineralogia ímpar (K-feldspato, albita, andradita, magnetita,
hedenbergita ou aegirina-augita) e o cumulado previsto (oligoclásio, clinopiroxênio, magnetita,
zircão) caracterizam aquela evolução por meio de fracionamento de minerais anidros. Isto
poderia, a primeira vista implicar, a inexistência ou extrema escassez em água do magma
inicial. Porém, a quantidade de perda ao fogo da amostra menos evoluída (MA-08A)
Tabela 9.3 - Composições químicas dos minerais utilizados no modelamento de cristalização fracionada
do álcali-feldspato granito (Plúton Caxexa).
Pl (An30) Pl (An20) Kf Cpx* Biot Hb Gran* Tit* Mgt*
SiO2 60,43 63,36 64,90 48,70 38,37 42,23 35,73 31,13 0,04
Al2O3 24,90 22,89 19,59 0,92 14,02 13,60 2,95 1,39 0,02
Fe2O3t 0,07 0,09 0,34 25,19 26,29 17,42 28,85 2,31 99,72
MgO 0,03 0,00 0,00 3,71 7,98 9,95 0,03 0,00 0,01
CaO 6,32 4,09 0,48 19,65 0,90 12,29 31,93 27,82 0,11
Na2O 8,13 8,90 2,77 1,80 0,50 2,02 0,04 0,08 0,05
K2O 0,12 0,65 11,91 0,00 8,33 0,55 0,00 0,01 0,01
TiO2 0,01 0,01 0,00 0,03 3,61 1,64 0,47 37,26 0,04
P 2O 3 0,00 0,00 0,00 0,00 0,10 0,30 0,00 0,00 0,00
Total 100,01 99,99 99,99 100,00 100,10 100,001 100,00 100,00 100,00
(*) = média das composições químicas dos minerais analisado neste trabalho. A composição dos
demais minerais baseia-se em Deer et al. (1996). Pl = plagioclásio; Kf = K-feldspato; Cpx = clinopiroxênio;
Biot = biotita; Hb = hornblenda; Gran = granada; Tit = titanita; Mgt = magnetita.
Tabela 9.5 - Coeficientes de partição mineral/líquido para elementos terras raras em rochas
graníticas, utilizados no modelamento do Plúton Caxexa de acordo com valores compilados por
Martin (1987, 1990). Seguem-se os mesmos símbolos da tabela 9.3; Zir = zircão.
Pl Kf Cpx Biot Hb Gran Tit Mgt Zir
A gênese de magmas granitóides alcalinos tem sido encarada, de modo geral, de duas
maneiras, a saber: i) origem primordial mantélica a partir do fracionamento de um magma
basáltico alcalino (Loiselle & Wones 1979; Turner et al. 1992); ii) fusão parcial de fontes crustais
(Collins et al. 1982; Anderson 1983; Creaser et al. 1991; Frost & Frost 1997). Alguns autores, ao
distinguirem dentre os “magmas alcalinos”, os tipos peralcalinos e os metaluminosos, propõem
uma gênese mantélica para os primeiros, mas essencialmente crustal (fusão parcial a baixas
pressões de rochas cálcio-alcalinas) para os últimos (Nardi 1991; King et al. 1997; Patiño Douce
1997).
A hipótese de origem do magma alcalino a partir do manto superior admite que o
manto já estava previamente enriquecido em álcalis e elementos incompatíveis antes da
fusão parcial (Loiselle & Wones 1979; Eby 1990, 1992; Turner et al. 1992). Em tese, a fusão
experimental de lherzolito pode produzir líquidos que variam em composição de basalto a
dacito. Alguns autores consideram que os líquidos silicosos resultantes dos experimentos
representam magmas primários (Kushiro et al. 1972; Mysen & Boettcher 1975), enquanto outros
(Green 1973; Nicholls & Ringwood 1973) sugerem que magmas andesíticos a dacíticos não
podem ser gerados diretamente da fusão de peridotito. Eles consideram como hipótese mais
provável que aqueles magmas derivam de um líquido parental basáltico por fracionamento
PPGG/CCET/UFRN Capítulo 9 - Petrogenêse e Ambiente Tectônico
Petrologia do magmatismo no MSJC (RN-PB), com ênfase no plúton alcalino Caxexa Nascimento, M.A.L. (2000) 119
Figura 9.7 - Razão isotópica inicial de Sr (ISr) vs. quantidade de Sr (a) e Rb (b) para o Plúton Caxexa (dados
na tabela 9.2). Os campos das rochas alcalinas da Zona de Cisalhamento Remígio-Pocinhos (ZCRP) e do
Plúton Japi são definidos por R.S.C. Nascimento (1998) e Hollanda (1998), respectivamente, os metapelitos
do Grupo Seridó, por Jardim de Sá (1994) e os ortognaisses do Complexo Caicó no Maciço São José de
Campestre e do núcleo arqueano Presidente Juscelino, por Z.S. Souza (artigo em preparação). As faixas
de valores ISr do manto enriquecido são de Faure (1986). *Dados geocronológicos U/Pb (zircão) de Dantas
et al. (1998); **ídem Dantas (1997).
Por fim, destaca-se a análise isotópica Sm/Nd de uma amostra do álcali-feldspato
granito (MA-01), que forneceu HNd (600 Ma) de -20,78, TDM de 2,88 e TCHUR de 2,68 (tabela 9.1).
Este resultado é semelhante aos obtidos para a fácies alcalina do Plúton Japi por Hollanda et
al. (1999b), com HNd (600 Ma) de -22,3 a -19,5 e TDM de 3,2 a 2,6 Ga. Com base apenas na
idades TDM e TCHUR do Plúton Caxexa, os ortognaisses do tipo Complexo Caicó não devem ter
servido como fonte principal, haja vista suas idades de cristalização U/Pb de 2,15 Ga (Dantas
1997). Os ortognaisses arqueanos tipo Presidente Juscelino possuem idade U/Pb e HNd (600 Ma)
bem superiores, respectivamente, 3,3 Ga e -30 a -40 (Dantas et al. 1998), sendo também
descartados. Por último, os sienogranitos São José Campestre, datados a 2,7 Ga e com HNd (600
Ma) de -26,7 a -28 (Dantas et al. 1998), possuem razões ISr extremamente elevadas (fig. 9.7a, b).
A figura 9.8 permite tecer considerações genéticas com base na correlação Rb/Sr vs. Sr.
Nesta figura, foram plotadas as amostras dos plútons Caxexa e Cabeçudo, do biotita
microgranito, da suíte básica a intermediária e do granitóide aluminoso. As composições
médias do manto empobrecido, da crosta continental inferior e da crosta continental superior
basearam-se em Taylor & McLennan (1985). Os pontos representativos do manto
metassomatisado correspondem a amostras analisadas por Menzies et al. (1987). As curvas de
fusão parcial foram calculadas usando a equação (3), discutida no item 9.1. Conforme
apresentados, os dados da figura 9.8 sugerem que as amostras menos evoluídas do álcali-
feldspato granito não podem ser geradas pela fusão unicamente da crosta continental, o
mesmo raciocínio sendo aplicado ao anfibólio-biotita granito e o biotita microgranito. O álcali-
feldspato granito e a suíte básica a intermediária podem ser explicados por fusão parcial do
manto ligeiramente metassomatisado ou, alternativamente, deste misturado com pequeno
volume de crosta continental inferior. Já o anfibólio-biotita granito e o biotita microgranito
necessitam de uma fonte ainda mais enriquecida ou contaminada com uma fração da crosta
continental superior. A proximidade das curvas de fusão parcial de peridotito com 5% e 10% de
plagioclásio, ou seja, um plagioclásio lherzolito (manto raso), metassomatisado, poderiam, em
tese, corresponder à fonte primordial destes dois magmas. O granitóide aluminoso confirma sua
fonte, sendo gerado por fusão parcial da crosta superior.
Figura 9.8 - Diagrama Rb/Sr vs. Sr com considerações genéticas para as suítes estudadas. DM = manto
empobrecido, CCS = crosta continental superior, CCI = crosta continental inferior; valores segundo Taylor
& McLennan (1985). EM1,2 = manto enriquecido, de acordo com Menzies et al. (1987). Curvas de fusão
baseadas na equação (3) do ítem 9.1.
exceção da suíte básica a intermediária e uma amostra do álcali-feldspato granito (fig. 9.9b).
O diagrama triangular Y/44-Rb/100-Nb/16 (Thiéblemont & Cabanis 1990) posiciona a suíte
básica a intermediária (fig. 9.9c) como anorogênica hiperalcalina, enquanto as demais são
pós-colisionais ou transicionais a sin-colisionais (Plúton Caxexa) ou anorogênicas alcalinas
(Plúton Cabeçudo, biotita microgranito). Finalmente, a comparação de multielementos,
normalizados com respeito a granitos de cadeia oceânica (ORG), mostra que o anfibólio-
biotita granito e o microgranito possuem espectros semelhantes na forma e anomalias com a
média de granitos de ambiente intraplaca (fig. 9.10a). Já o álcali-feldspato granito
praticamente coincide com a média de granitos de arco magmático, sendo mais enriquecido
em K2O, Rb e Ba (fig. 9.10b). A suíte básica a intermediária tem o espectro semelhante ao de
granitóides de arco magmático, porém mais enriquecido em todos os elementos, à exceção
de K2O e Rb (fig. 9.10b).
Figura 9.9 - Diagramas discriminantes de ambientes tectônicos aplicados as suítes plutônicas estudadas,
de acordo com (a) Pearce et al. (1984); (b) Thiéblemont & Tégyey (1994); e (c) Thiéblemont & Cabanis
(1990).
Figura 9.10 - Diagrama multielementar discriminante, comparando as médias das suítes estudadas com
ambientes tectônicos compilados por Pearce et al. (1984). ORG = granito de cadeia oceânica definido
por Pearce et al. (1984).
Capítulo 10
Integração de Dados e
Conclusões Finais
Petrologia do magmatismo no MSJC (RN-PB), com ênfase no plúton alcalino Caxexa Nascimento, M.A.L. (2000) 125
CAPÍTULO 10
INTEGRAÇÃO DE DADOS E
CONCLUSÕES FINAIS
peraluminoso na classificação de Maniar & Piccolli (1989). O controle de campo bem definido
comprova a origem desse granitóide a partir da fusão parcial de micaxistos.
O Plúton Cabeçudo e o biotita microgranito mostram algumas similaridades em vários
diagramas. São rochas de afinidade subalcalina a alcalina, seguindo a porção moderada a
altamente evoluída da tendência monzonítica. Apresentam espectros de ETR com
enriquecimento em TRL e fraca anomalia de európio. Eles se distinguem, todavia, através dos
elementos de alto potencial iônico, particularmente Y e Yb, que são menores no biotita
microgranito. Estas diferenças sutis podem ser provocadas por fontes distintas com pequenas
diferenças em termos de determinados elementos químicos ou, então, uma mesma fonte que
sofreu taxas de fusão diferentes.
Um modelo integrado com base nos vínculos de campo, petrográficos e geoquímicos
discutidos acima pode ser imaginado em um contexto tectônico tardi- ou pós-colisional. Na
área em foco, onde relações de campo demonstram o caráter intrusivo dos granitóides em
uma crosta continental (substrato gnáissico, micaxistos) já relativamente estabilizada (os
contatos com os granitóides são bruscos) e pico do metamorfismo (e deformação ?) a cerca
de 574 Ma (cap. 4), interpreta-se a geração e posicionamento das suítes granitóides durante os
eventos tardios da orogênese brasiliana. Em tal sentido, pode-se esperar intrusões localmente
sintectônica (caso dos plútons Caxexa e Cabeçudo) relacionados a processos globais
regionais tardi-tectônicos. Esta interpretação se adequa à situação típica de regiões
orogênicas recém estabilizadas ou em processo de afinamento crustal, com magmatismo
alcalino supersaturado em sílica (Black et al. 1985). O intervalo de tempo relativamente longo
(40 Ma) entre o evento metamórfico de alta temperatura (574-578 Ma) e o reequilíbrio do
sistema isotópico Rb/Sr no Plúton Caxexa (536 Ma) revela a prevalência de resfriamento lento
ao final da orogênese brasiliana. Finalmente, a variabilidade do magmatismo e o seu controle
por estruturas extensionais associadas com eventos de alta temperatura não fogem do
contexto regional de colocação de plútons alcalinos no Maciço São José de Campestre -
MSJC (Souza & Jardim de Sá 1993; Jardim de Sá 1994; Trindade et al. 1995; Jardim de Sá et al.
1999).
O último ponto de discussão refere-se às fontes envolvidas na gênese do magmatismo
tardi-brasiliano. O confronte de HNd (600 Ma), TDM e razões isotópicas iniciais de estrôncio (ISr) não
permitem definir a(s) fonte(s) adequada(s) dentre as unidades crustais do substrato gnáissico
atualmente aflorante no MSJC. Ensaios preliminares levando em conta a relação Rb/Sr vs. Sr
deixam em aberto a possibilidade do manto metassomatisado (enriquecido em TRL, Ba, Sr, Zr)
ter sido uma das fontes principais, contaminada em diferentes proporções (menor na suíte
básica a intermediária) por material da crosta continental, do magmatismo em estudo. Assim,
um manto enriquecido não seria uma particularidade da litosfera neoproterozóica (Jardim de
Sá 1994, Hollanda et al. 1999a,b), mas uma característica marcante da porção nordeste da
Província Borborema desde o Arqueano (Souza et al. 1999) e o Paleoproterozóico (Souza et al.
1996).
c Numa área restrita, ocorre uma gama variada de suítes magmáticas geoquimicamente
distintas, denominadas: álcali-feldspato granito (Plúton Caxexa), anfibólio-biotita granito (Plúton
Cabeçudo), biotita microgranito, básica a intermediária e granitóide aluminoso.
g Estas séries evoluíram por mecanismos de cristalização fracionada, sendo calculada uma
taxa de cristalização de 10% e um cumulado anidro para o Plúton Caxexa. Cálculos de fO2 e
presença de magnetita precoce, anomalia positiva de európio e associação hedenbergita +
andradita sugerem condições oxidantes na evolução deste plúton.
h Dados termobarométricos apontam para condições P-T da ordem de 5,3-7,2 kbar e 730-
760qC para estas rochas. Temperaturas mais elevadas foram determinadas pelo
geotermômetro de Zr no Plúton Cabeçudo (855qC), no biotita microgranito (812qC) e na suíte
básica a intermediária (957qC).