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Desenvolvimento local e relações de proximidade: conceitos e questões

Local development and proximity relationships: concepts and questions


Desarrollo local y relaciones de proximidad: conceptos y cuestiones
André Torre
Instituto Nacional de Agronomia – Paris-Grignon (INA-PG)
contato: torre@inapg.inra.fr
Resumo: Atualmente, a noção de “proximidade” encontra-se tanto no programa eleitoral de políticos quanto na
linguagem publicitária utilizada por bancos ou hiper-mercados, numa forma de demonstração de cuidados para
com o interesse público em âmbito local. O termo terminou por chegar à comunidade de economistas: o desempenho
das empresas é explicado com base em seu entorno produtivo e institucional imediato, assim como em suas relações
de troca, de concorrência e de cooperação. No texto abaixo, reflete-se sobre a noção de proximidade tal como
empregada na análise econômica, com base na distinção entre “proximidade geográfica” e “proximidade organizada”.
Para tanto, considera-se a noção de “externalidade”, ou seja, o conjunto de resultados de atividades que causam
benefícios ou danos incidentais a terceiros, sem que o gerador da externalidade receba compensação direta ou arque
necessariamente com ônus eventuais.
Palavras-chave: Proximidade organizada; externalidade; Desenvolvimento Local.
Abstract: At the moment, the notion of “proximity” is found both in the political electoral programs as well as in the
language of publicity, used by banks and hyper markets, in such a way as to show care for the local public interest.
The word finally arrived in the economists’ community: the performance of companies is explained based on their
immediate productive and institutional profile, as in exchange relationships of competition and of cooperation. The
text below reflects on the notion of proximity as used in economic analysis based on the distinction between “geographical
proximity” and “organized proximity”. For this, the notion of “externality” is considered, or rather, the set of results
of activities that cause benefits or incidental harm to third parties, without the generator of externality receiving direct
compensation or necessarily taking on the eventual onus.
Key words: Organized proximity; externality; Local Development.
Resumen: Actualmente la noción de “proximidad” se encuentra tanto en programa electoral de políticos como en
lenguaje publicitaria utilizada por bancos o hiper mercados, como forma de demostración de cuidados en relación al
interés público en el ámbito local. El término por fin llega a la comunidad de economistas: el desempeño de las
empresas se explica con base en su entorno productivo e institucional inmediato,así como en sus relaciones de cambio,
concurrencia y de cooperación. En el texto que sigue, se reflite sobre la noción de proximidad, tal como la empleada
en el análisis económico, con base en la distinción entre “proximidad geográfica” y “proximidad organizada”. Por lo
tanto, se considera la “externalidad”, o sea, el conjunto de resultados de actividades que causan beneficios o daños
incidentales a terceros, sin que el gerador de la externalidad reciba compensación directa o arque necesariamente con
costes eventuales.
Palabras claves: Proximidad organizada; externalidad; Desarrollo Local.

1.Introdução das ciências econômicas que, com maior fre-


qüência, se debruçam sobre a análise do en-
Atualmente, as questões de proximi- torno de empresas ou de indivíduos. Passou-
dade provocam um grande interesse em vários se, progressivamente, de pesquisas centradas
setores da sociedade. Na França, esse termo prioritariamente sobre empresas indepen-
encontra-se tanto no programa eleitoral de dentes e seu funcionamento interno a pes-
políticos quanto na linguagem publicitária quisas sobre os conjuntos nos quais essas em-
utilizada por bancos ou hiper-mercados, presas se inserem, sejam eles sistemas produ-
numa forma de demonstração de cuidados tivos ou redes de produção e de inovação. Da
para com o interesse dos consumidores. Ainda mesma forma, a concepção de agente repre-
que, muitas vezes, a noção permaneça vaga sentativo disputa lugar, hoje, com análises
e o uso do termo “proximidade” abarque sobre o indivíduo inserido em suas relações
situações de distintas naturezas, o entusiasmo sociais de natureza pessoal ou comunitária.
terminou por chegar à comunidade de econo- O desempenho das empresas é amplamente
mistas, apesar de sua tendência a rejeitar explicado com base em seu entorno produtivo
novidades. O termo é forte o suficiente para e institucional, assim como em suas relações
motivar a realização de congressos como o de troca, de concorrência e de cooperação,
“Third Congress on Proximity” (Paris, relações entretidas com outros atores eco-
dezembro de 2001), para justificar a edição nômicos, muitas vezes situados a pequena
de um número especial do Cambridge Journal distância, no âmbito de estratégias de
of Economics (1999), ou para dar origem a interação. Paralelamente, compreeendem-se
diversos títulos bibliográficos. os indivíduos como pertencentes a comuni-
Esse interesse deve-se aos rumos atuais dades ou a redes de distinta natureza, com

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as quais esses indivíduos mantêm relações à escala de uma cidade (centro de mercado)
distância ou relações de proximidade. situada em meio a uma zona rural agrícola
Ao se considerarem tais abordagens pouco desenvolvida. As localizações de
com a seriedade necessária, nota-se que o primeira ordem encontram-se no centro do
estudo das relações de proximidade nada sistema, enquanto as outras decrescem
mais é do que um alargamento do quadro segundo círculos concêntricos. Nesse caso,
inicial de análise das estratégias industriais busca-se a proximidade da cidade, pois a
com base no entorno local da empresa. Esse renda referente à localização depende das
gênero de estudo, segundo Lawson (1999), diferenças de custo de transporte. Encontra-
tornou-se fundamental e propenso a abor- se essa idéia em diferentes trabalhos teóricos
dagens inovadoras. Esse tipo de estudo deve que se inspiram do esquema de Von Thünen.
se estender ao entorno local de atores que Por exemplo, Alonso (1964) e Fujita (1989)
chamaremos de “agentes ubíquos”, ou seja, privilegiam o estudo da ocupação urbana do
atores presentes ao mesmo tempo aqui e solo, mas sempre em função da proximidade
alhures, que mantêm relações concomitantes do centro da cidade. Tal como demonstra a
de conflito e de cooperação com seus vizi- nova Economia Urbana, essa variável é
nhos, além de conservarem sua conexão com determinante na alocação de solos para uso
redes de pessoas em localização distante. No industrial, comercial ou residencial em áreas
texto abaixo, interrogam-se as origens da urbanas, particularmente na implantação do
noção de proximidade na análise econômica, chamado “comércio de proximidade”.
passando-se, em seguida, à apresentação dos Com freqüência, estudos fazem refe-
elementos necessários à compreensão das rência à contribuição de Marshall (1890),
dinâmicas de proximidade. Para tanto, cujas idéias constituem ao mesmo tempo o
serve-se da distinção, doravante clássica, ponto de partida tanto das pesquisas sobre
entre proximidade geográfica e proximidade a economia de aglomerados urbanos quanto
organizada, tal como estudada pelos das análises mais recentes centradas em
pesquisadores ligados ao “Dynamiques de distritos industriais. De fato, Marshall subli-
Proximité”, grupo de pesquisas interinsti- nha as vantagens da proximidade na locali-
tucional sediado na França. zação das empresas que, por se encontrarem
em um mesmo local, recebem benefícios.
2. A noção de “proximidade” nas Esses benefícios decorrem da divisão espacial
análises econômicas do trabalho ou, ainda, dos efeitos de trans-
bordamento local (“local spillover”) ilus-
O recente interesse pela questão da trados pela célebre frase de Alfred Marshall,
proximidade não deve permitir que se que afirma: “the secrets of industry are in
esqueça o fato de que tal noção aparece the air”. As mesmas vantagens da produção
desde há muito tempo nas análises econô- em larga escala podem também incindir nas
micas, mesmo que surja de forma incidental concentrações, sobre um dado território, de
ou velada. De qualquer forma, o recorrente um grande número de firmas especializadas,
esquecimento do espaço é mesmo uma das ligadas a um mercado de trabalho específico.
características próprias das ciências econô- Contudo, tanto aqui quanto em von Thünem,
micas! Sem entrar num recenseamento a caixa preta com informações sobre as
cansativo da literatura versando sobre o relações externas da proximidade perma-
tema da proximidade, lembremos que tal nece fechada, e a análise centra-se sobretudo
noção ocupa um importante lugar em certos no estudo dos fenômenos ligados às dinâ-
autores que tratam de integrar o espaço na micas de proximidade, sem o que segredo
análise econômica, estudiosos entre os quais de suas origens seja realmente desvelado.
se destacam von Thünen et Marshall.
Von Thünen (1826) analisa os efeitos 2.1 A entrada da noção de proximidade
da proximidade pelo viés das vantagens da nas análises tradicionais
localização. Sua explicação da localização
das atividades urbanas e agrícolas versa Ao mesmo tempo em que a questão da
sobre as forças econômicas que agem na proximidade posta-se no núcleo de inúmeras

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abordagens tradicionais, o próprio termo é aproximar uns dos outros. O equilíbrio espa-
raramente empregado e, com freqüência, é cial inicial pode então se deslocar abrupta-
ocultado sob o véu de referências a conceitos mente, e a busca de contatos contribui para
tecnicistas. Assim, na literatura tradicional, explicar a formação de cidades ou de áreas
a análise da função dos “spillovers” geográ- espacialmente concentradas. Nesse caso,
ficos nos processos de aglomeração ocupou, considera-se como indiscutível a idéia de que
durante muito tempo, um lugar de destaque, a necessidade de contato satisfaz-se pela
sobretudo a partir dos trabalhos conduzidos proximidade entre agentes econômicos,
por Marshall em torno desse tema. Citem-se, noção cuja prova ainda resta por se confir-
por exemplo, os trabalhos de Pred (1966) sobre mar. Os modelos de economia geográfica
o papel da informação nos processos de urba- tentam construir, com base nesses funda-
nização, ou, ainda, os estudos de Utterback mentos, uma teoria da formação das cidades;
(1974) sobre a importância dos contatos para tanto, estende-se às empresas a idéia
interpessoais no estabelecimento de processos da necessidade de contatos, dizem os estu-
localizados de interações. Também Lucas dos de Ogawa e Fujita (1989). Coloca-se em
(1988) interroga-se sobre as razões pelas quais relevo a troca de informações ao longo do
os agentes econômicos concentram-se no processo de produção, troca pela qual as
centro de Chicago ou de Manhattan, apesar firmas sempre procuram; nesse caso, as
do preço elevado e do eventual desconforto informações são consideradas como um bem
físico, quando o ônus é menor em inúmeros público impuro cuja conservação e aquisição
outros locais. Lucas sugere uma resposta são favorecidas pela concentração de agentes
simples: esses agentes desejam posicionar-se em um mesmo espaço. Os produtores
em mútua proximidade. Também nesse autor, tendem a se agrupar para se beneficiarem
a proximidade é, no melhor dos casos, consi- dessas externalidades positivas de proxi-
derada como uma variável causal, dotada de midade, isto é, da informação que circula
fortes virtudes, sem que os ingredientes de sua com maior facilidade em um perímetro
composição sejam realmente estudados. restrito, tendendo a se diluir com o aumento
É curioso observar que, de fato, é de das distâncias.
uma idéia vizinha que se derivou parte das Na nova economia geográfica, as
pesquisas conduzidas no âmbito da nova análises centradas no crescimento das rendas
geografia econômica. Os fenômenos de associam, de forma menos linear, os pro-
aglomeração, analisados por Krugman cessos de polarização das atividades à exis-
(1991) e seus diversos seguidores, sempre tan- tência de relações de proximidade, pois essas
genciam hipóteses relacionadas à proxi- análises sublinham, com mais freqüência e
midade, visto que os estudos sublinham, de intensidade, a importância dos custos de
forma recorrente, a necessidade de concen- transporte, conforme estudos de Krugman
tração dos agentes e das empresas. Tal já se (1991); a relevância das relações a montante
percebe, em termos de externalidades e a jusante entre empresas locais, como em
espaciais, nas abordagens de Papageorgiou Venables (1996); ou, ainda, o papel de fatores
e Smith (1983), baseadas na hipóteses de que como a indivisibilidade ou a preferência pela
os indivíduos têm uma propensão funda- variedade, cuja dimensão espacial perma-
mental a estabelecer interações e a buscar o nece sem verificação. Em compensação, as
contato social (considerado como uma ne- análises em termos de concorrência espacial
cessidade humana elementar que não se tentam, desde Hotelling (1929), trazer uma
exprime, necessariamente, nas relações de resposta à seguinte questão: a localização da
mercado). Cada agente beneficia-se, nesse firma deve acontecer em proximidade ou à
caso, das externalidades espaciais positivas distância das outras empresas? As soluções
produzidas pelos outros, numa relação cuja propostas dependem dos preços e do grau
intensidade decresce com o aumento das de diferenciação dos produtos. A opção pela
distâncias. É a própria existência e as proprie- distância na implantação dos concorrentes
dades dessas externalidades que favorizam constitui, na realidade, o fiel da balança na
os processos de aglomeração, visto que os estratégia da diferenciação dos produtos. Se
agentes em busca de contatos procuram se não há diferenciação de produtos, deduz-se

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que, para as empresas, é legítimo optar pela aglomeramento espacial, com o qual a
diferenciação espacial, fato que conduz à afir- proximidade pode contribuir sem estar
mação do princípio de substituição entre dife- necessariamente associada ao processo.
renciação geográfica e diferenciação espacial.
Referir-se a Hotelling é fundamental, 2.2 Para abrir a caixa-preta das relações de
pois esse pesquisador demonstrou que a con- proximidade
corrência pela clientela constitui uma força
centrípeta que leva os vendedores a se con- Os estudos até agora examinados dis-
centrarem geograficamente. Nesse tipo de tinguem-se por duas características princi-
análise, os consumidores dispõem-se ao longo pais: a primeira é o interesse pelas relações
de uma cidade linear para a qual discute-se de proximidade; a segunda consiste no fato
a questão da localização de duas empresas. de se considerar essas relações como uma
Em se desconsiderando o preço dos produtos, variável causal, sem que se analise seu
a ambos os vendedores é interessante loca- conteúdo. Outros trabalhos buscaram abrir
lizarem-se no centro do mercado (conforme a caixa-preta das externalidades da proxi-
o equilíbrio de Nash em estratégias puras), midade por intermédio da interpretação
eventualmente frente a frente, para se faci- simultânea de sua significação e de seu
litar ao máximo o acesso à clientela. Mas não conteúdo. Esses trabalhos centram-se, majo-
é obrigatoriamente o que ocorre quando se ritariamente, na questão das firmas e de sua
consideram os preços, segundo os trabalhos busca por laços de proximidade.
de d’Aspremont, Gabszewicz e Thisse Derivada dos trabalhos de Marshall e
(1979). A situação de diferenciação espacial de Hoover na esfera da economia de aglome-
dos produtos interfere nas empresas, incitan- rações, a corrente tradicional de análise dos
do-as, num segundo momento, a reduzirem fatores de localização enfrenta a concor-
os preços para tentarem se apropriar do rência de pesquisas que tentam avançar e
conjunto do mercado, mormente se essas explicar as próprias causas dos fenômenos
empresas estão localizadas em proximidade de externalidade, por intermédio de traba-
da clientela. Em conseqüência, os vendedores lhos que sublinham as virtudes da localização
optarão preferencialmente por se instalarem de várias empresas em um perímetro restrito.
nas extremidades do mercado e privilegiar As correntes de pesquisas centram-se em três
a separação no espaço ao detrimento da principais aspectos do processo de concen-
proximidade com a clientela. A concorrência tração e amarração espacial de empresas: a
em preços apresenta-se, por esse viés, como especificidade do capital humano; a flexibili-
uma força centrífuga, e a proximidade so- dade das relações extra-mercadorias; a
mente é buscada em casos de diferenciação criação e o implemento de inovações (aqui
de produtos. Dessa forma, há substituição tomadas como parcelas de conhecimento).
entre diferenciação geográfica e diferenciação No que toca ao capital humano, Pyke,
de produtos, pois, para enfrentar os efeitos Becattini e Sengenberger (1990) são os
centrífugos da concorrência em preços, os primeiros a apresentarem pesquisas sobre os
vendedores servem-se da diferenciação da sistemas localizados de produção, no período
produção, a fim de avizinharem-se dos em que surgem sinais da competitividade
consumidores e de suas idiossincrasias. coletiva de pequenas firmas agrupadas num
No conjunto, esses modelos todos se mesmo perímetro. Retomando a antiga
caracterizam por uma tensão entre a concor- noção de distrito proposta por Marshall para
rência (que leva as empresas a se afastarem qualificar certas zonas localizadas de cresci-
para obterem espaços de venda) e a busca mento, Becattini, ao detrimento do estudo
das vantagens inerentes à proximidade dos de firmas isoladas, analisa um grupo de
clientes (vantagens de mercado) ou dos pequenas empresas e suas relações mútuas.
próprios concorrentes (com suas externalida- A característica mais evidente do distrito
des positivas). Os benefícios da proximidade, industrial é a de que, numa área geográfica
que muito se enfatizam, raramente são bastante delimitada, estabelecem-se em rede
explicitados, além de serem intensamente várias empresas, por meio de relações de
confundidos com o próprio processo de concorrência e de cooperação; todavia, a

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questão preponderante deve ser encontrada recorrência de ligações entre os atores locais.
na análise das causas da localização das Segundo autores como Glasmeier
empresas e da fidelidade a uma área (1988) ou Maskell (1998), a chave da perfor-
geográfica precisa. matividade desses sistemas deve ser buscada
O distrito industrial não resulta de uma sobretudo na geração interna de externa-
concentração (acidental) de empresas atraí- lidades de proximidade. Tal geração apóia-
das por fatores iniciais favoráveis, tais como, se em dois fatores essenciais: uma organi-
por exemplo, os recursos primários; resulta zação interna flexível e importantes relações
antes de um enraigamento de natureza orga- extra-comerciais. A comunicação entre
nizacional no território, fato que dificulta aos concorrentes potenciais apresenta-se, assim,
produtores desligarem-se dos laços ao lugar. como um empenho à favor da flexibilidade,
Essa ligação privilegiada deve-se à existência em um sistema que se determina pela
de externalidades da proximidade, que são rapidez das mudanças decorrentes da gran-
tanto geradoras de efeitos positivos quanto de volatilidade dos mercados e da evolução
patrimônio comum aos estabelecidos no das tecnologias de ponta. A facilidade e a
distrito, que se tornam responsáveis pela freqüência com que se estabelecem interações
amarração das empresas nesse território. Um encontram-se à origem da criação de uma
dos mais importantes fatores dessas exter- rede local, às malhas da qual a empresa se
nalidades é a presença local de recursos prende, tornando-se passível de se beneficiar
humanos, depositários de um saber especia- de avanços tecnológicos, ou de compartilhar
lizado resultante da acumulação de apren- suas descobertas com a vizinhança imediata.
dizados sucessivos. Essa presença traz carac- Essa partilha de informações ocorre, com
terísticas que geram certos efeitos de exter- freqüência, de maneira informal, não
nalidades de proximidade. Inicialmente, as abrindo espaço a transações, realizando-se
empresas estão seguras de que podem a difusão de conhecimentos por intermédio
encontrar, em seu entorno imediato, compe- de interações recorrentes e de circulação de
tências que seria difícil encontrar alhures, trabalhadores entre as diferentes empresas
fato que contribui para aumentar a fidelidade do local. Lundvall (1992) e Nelson (1993)
e a preferência pelo distrito. Posteriormente, propõem uma análise semelhante quanto
os trabalhadores, estando qualificados, aos sistemas nacional e local de inovação,
podem se tornar empreendedores indepen- idéias que se baseiam na disponibilização
dentes, criando-se, dessa forma, uma ativi- coletiva e compartilhada de competências no
dade ao modo de enxame. âmbito de agrupamentos localizados de
Quanto às relações que se estabelecem firmas, o que vale também para os meios
em âmbito externo à troca de mercadorias, inovadores, no entender de Bramanti e Ratti
pesquisas sobre as externalidades da proxi- (1998). Nesse sentido, Maskell e Malmberg
midade sublinham os vínculos horizontais (1999) mostram as formas de atuação da
que atuam em áreas localizadas de produção. proximidade, notadamente no que tange à
O questionamento da análise tradicional das natureza interativa dos processos de aprendi-
economias externas inicia-se, aqui, pela zagem e formação, fato que introduz uma di-
supressão das fronteiras da empresa, a favor mensão geográfica na análise. Nesse caso, os
de uma organização em rede, tal como a que benefícios da proximidade tornam-se forças
se pode encontrar no caso emblemático do de aglomeração, ao incidirem sobre as firmas
Vale do Silicone, sustenta Saxenian (1994). engajadas nos processos de interação.
Para além das características puramente No tocante ao implemento de inova-
ligadas às especificidades das tecnologias ções (tomadas como parcelas de conhe-
concernentes, arrolam-se então três dimen- cimento), os fundamentos micro-econômicos
sões fundamentais à origem da competitivi- das externalidades de proximidade são
dade desses sistemas industriais: existência tratados por Feldman (1994) em seus traba-
de instituições locais fiadoras da circulação lhos de geografia de inovações, nos quais
de uma cultura local; especificidade da orga- analisam-se os processos de concentração
nização interna das firmas; presença de uma espacial de inovações, seja no âmbito de
estrutura industrial diferenciada, baseada na regiões, seja no de áreas geográficas menos

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extensas, tendo-se como ponto de partida a vam que a assimilação entre conhecimento
noção de proximidade. A inovação, como já tácito e relações de proximidade ainda soli-
havia demonstrado Hagerstrand (1967) em citam estudos que confirmem tais hipóteses
trabalhos pioneiros, concentra-se intensa- de trabalho.
mente em certas zonas, nas quais encon- Como sustentam Largeron e Auray
tram-se não apenas unidades de produção, (1998), para a noção de proximidade há
mas também laboratórios de pesquisas priva- várias definições matemáticas distintas,
dos e instituições ligadas à pesquisa acadê- todas de inspiração euclidiana, mas podem-
mica, como laboratórios públicos e univer- se imaginar medições do tipo topológico ou
sidades. Essas evidências empíricas reafir- pré-topológico, como, por exemplo, em
mam a importância das relações de proximi- termos de aderência ou de vizinhança de um
dade na geração de novas tecnologias. Jaffe, conjunto, tal como apontam Matula e Sokal
Trajtenberg e Henderson (1993) sutentam, (1980). Por exemplo, no caso em que, entre i
ademais, a forte relação entre tais aspectos e e um elemento y qualquer, pertencente a um
a concentração espacial das atividades conjunto A, a distância é inferior ao patamar
industriais, tanto que Anselin, Varga e Acs s, e que, entre i e um elemento z qualquer de
(1997) concluem que a localização de empre- A, a distância é inferior ao patamar s, então
sas, assim como a competitividade de certas i se encontra na proximidade de A, assim
áreas de produção, muito além das relações como todos os i que tenham as mesmas pro-
puramente industriais, dependem também priedades (AURAY et al., 1998). Ademais,
dos laços entre ciência e indústria. as proximidades podem ser múltiplas, e
Essa análise reporta-se à própria podem, em função dos critérios escolhidos,
natureza do conhecimento, que seria apenas induzir vizinhanças diferentes, de forma que
parcialmente apropriável, fato que gera um elemento qualquer estará tanto mais
efeitos de transbordamentos involuntários próximo de x quanto maior for o número de
de uma empresa ou de uma instituição para vizinhanças de i a que pertence. Aplicações
outras. O caráter localizado da transmissão desses conceitos começam a aparecer na
se deve ao fato de que o conhecimento atra- literatura especializada, indicam Steyer e
vessa mais facilmente corredores e ruas do Zimmermann (1998).
que continentes e oceanos, nas palavras de Pesquisas alternativas realizam-se na
Feldman (1994). Assim, as indústrias marca- França, atualmente, sobre as características,
das por importantes efeitos de transborda- os efeitos, as vantagens e os inconvenientes
mento vêem o fortalecimento de sua compe- das relações de proximidade. Esse trabalho
titividade em casos de concentração geográ- é feito principalmente pelo grupo “Dinâmi-
fica, como afirmam Audretsch e Feldman cas de Proximidade”, que centra sua atenção
(1996). As externalidades de proximidade na dimensão espacial dos fenômenos de or-
são decorrentes da própria natureza do ganização econômica. Os resultados encon-
conhecimento, e a inovação passa a ser consi- tram-se distribuídos em uma importante
derada como um processo cognitivo, distin- quantidade de estudos (ver, por exemplo,
tamente da informação, que pode ser trans- BELLET, COLLETIS e LUNG, 1993; RALLET
mitida à distância sem prejuízos, devendo a e TORRE, 1995; BELLET, KIRAT e
transmissão do saber ser realizada de forma LARGERON, 1998; GILLY e TORRE, 1998;
totalmente estandartizada. As primeiras GILLY e TORRE, 2000b). Essas pesquisas
etapas do desenvolvimento da tecnologia constatam a existência e a persistência de
solicitam, de fato, uma forte comunicação laços de proximidade entre indivíduos ou
entre os atores, interações reiteradas que empresas, fato que se contrapõe à idéia de
estabelecem códigos e linguagens comparti- que a globalização destrói as relações locais,
lhados, assim como um processo de interpre- assim como à idéia, radicalmente oposta, de
tação e de tradução dos saberes tácitos que se caminha, inelutavelmente, rumo à
parciais, com a respectiva transformação do polarização. As evidências empíricas dão
conjunto desses fatores em questões opera- como falsa a tese de que o implemento das
cionais, tal como ensinam Amin e Wilkinson comunicações à distância e das trocas inter-
(1999). Todavia, Rallet e Torre (2001) ressal- nacionais levaria ao desaparecimento do

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local, em proveito da generalização do por sua vez, compreende igualmente as-


teletrabalho ou do estabecimento dos domi- pectos de construção social tais como as
cílios familiares fora das metrópoles. É igual- infraestruturas de transporte (do qual de-
mente questionável a tese da monopolari- pende o tempo de acesso) ou, ainda, os recur-
zação exclusiva no âmbito de conjuntos sos financeiros (dos quais depende o uso de
dominantes, caso em que a concentração das certas tecnologias de comunicação).
atividades no núcleo das metrópoles se reali- É a articulação entre essas duas
zaria na forma de hierarquia entre centro e variáveis que provoca e justifica as pesquisas
periferia. Constata-se, ao contrário, a perma- conduzidas pelo grupo “Dynamiques de
nência de agrupamentos humanos e de proximité”. Observações in loco demonstram,
redes de pólos. Todavia, os trabalhos aqui por exemplo, que um distrito industrial com-
apresentados não representam, de forma bina, em sua definição, ambas as variáveis,
alguma, unicamente a defesa e a ilustração visto sua constituição por empresas interli-
das virtudes da proximidade, pois, se o gadas simultaneamente por relações de
espaço local pode ser veículo de desenvol- similitude e de pertencimento, empresas que
vimento e dinamismo, ele pode também ser se encontram à pequena distância funcional
um fator de bloqueamento ou desconfiança. uma das outras. Uma empresa que deseje se
apropriar de um savoir-faire externo irá
3. Diferenciação entre proximidade inquirir sobre seu entorno produtivo imediato
geográfica e proximidade organizada e sobre as empresas portadoras das com-
petências necessárias: o ideal será que ambos
A proximidade organizada esteia-se os fatores se complementem.
em dois aspectos lógicos distintos: pela lógica
do pertencimento, são organizacionalmente 3.1 O papel central das interações
próximos os atores que pertencem ao mesmo
espaço de relações (firma, rede...), ou seja, As definições da noção de proximi-
atores que se entrelaçam mutuamente por dade fundam-se na existência de interações –
meio de interações de diferentes naturezas; de natureza espacial e organizacional –
pela lógica da similitude, são próximos os entre atores, entre objetos técnicos ou, ainda,
atores que se agrupam, ou seja, que possuem entre atores e objetos. Essas definições recu-
o mesmo espaço de referência e compar- sam a referência exclusiva aos custos de
tilham os mesmos saberes, de tal forma que transporte sobre os quais se esteia a análise
se torna importante a dimensão institucional. espacial convencional (dependente de uma
No primeiro caso, é da efetividade de coor- lógica baseada em distâncias), assim como a
denações que depende o pertencimento a um referência exclusiva à concepção física da
mesmo conjunto; no segundo caso, é da relação entre atores e lugares.
relação de similitude das representações e Essas interações podem assumir dife-
dos modos de funcionamento que depende rentes tipologias (formais ou informais,
a proximidade. comerciais ou extra-comerciais) e concernem
Enquanto a proximidade organizada as relações agente-agente (adoção e difusão
trata da separação econômica e das ligações das inovações, por exemplo), agentes-
no plano de organização da produção, a inovações (atividades coletivas de inovação)
proximidade geográfica trata da separação e inovações-inovações (complementaridades
no espaço e dos laços no plano das distân- tecnológicas)... A distinção entre interações
cias, com base tanto na idéia de espaço geo- de natureza intencional e não intencional é
nômico (cf. PERROUX), quanto em aspectos portadora de sentido. Na realidade, ela
relacionados à própria localização das em- permite que se estabeleça uma fronteira entre
presas, integrando-se à reflexão a dimensão as dimensões que dependem do papel dos
social dos mecanismos econômicos, noção a atores e aquelas relativas às condições téc-
que se denomina “distância funcional”. Em nicas ou de distância; portanto, ela permite
outras palavras, a referência às contingências também que se justifique analiticamente a
naturais e físicas, claramente inscrita em sua introdução da ação dos agentes econômicos
definição, não esgota o seu significado que, na análise da proximidade, sem entretanto

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esmaecer o importante papel de elementos área de produção com o objetivo de apro-


tais como os bens não rivais ou os fatores veitarem os efeitos externos locais e, poste-
relativos ao entorno. A fronteira entre as riormente, encontram-se bloqueadas pelos
duas dimensões é, com certeza, válida elementos constritivos existentes no eixo
apenas quando se trata de recortes instan- formado pelas empresas.
tâneos, pois as externalidades constatadas Por sua vez, as externalidades finan-
ao longo do tempo podem resultar de uma ceiras retomaram recentemente seu lugar de
criação deliberada realizada ao longo de um destaque em diversos estudos, inclusive na
período precedente. economia geográfica, que vê nessa noção
A análise das interações não inten- uma forma cômoda de integrar a noção de
cionais teve grande sucesso em estudos de custos de transporte. Essas externalidades
economia regional no âmbito das economias referem-se à circulação de tipo comercial,
de aglomerações. A noção de efeitos exter- particularmente no caso dos efeitos de preço,
nos, que emerge de forma implícita nessa e nos interessam na medida em que revelam
forma de análise, merece ser relembrada e as capacidades de polarização de grandes
interrogada à luz dos recentes avanços que, empresas ou de grupos de atores no âmbito
em particular, são marcados pela encam- local, sejam elas realizadas, por um lado,
pamento dessa idéia por parte de autores pelo viés das relações de compra e venda ou
voltados às questões de desenvolvimento, de da implementação de relações de tercei-
funcionamento de redes ou de adoção de tec- rização, sejam elas derivadas, por outro, dos
nologias. Essa noção fornece, na realidade, vínculos entre a produção das empresas e o
a chave para a leitura de uma série de inte- consumo de seus produtos por assalariados.
rações que incorporam simultaneamente as Em seqüência aos trabalhos de Perroux e de
dimensões espaciais e industriais. Além do Mirdal, interessa-nos aqui a retomada
mais, quando essa noção é confrontada à analítica das dimensões produtivas, em seu
distinção entre proximidade geográfica e sentido mais abrangente, ou seja, aquele
organizacional, ela fornece elementos para relativo às etapas da fabricação dos bens.
a compreensão dos processos de desenvol- Pela reintrodução dessa dimensão estrutural,
vimento e de aglomeração em âmbito local. um pouco negligenciada nos dias de hoje, é
Torna-se evidente a existência de duas o próprio tecido produtivo dos sistemas
dimensões das externalidades que, com locais que se encontra reassentado no
freqüência, estão intimamente associadas, e primeiro plano da análise.
que remetem respectivamente às relações de O estudo das interações de natureza
mercado ou às extra-mercadológicas. intencional (trocas comerciais, contratos,
Primeiramente, as externalidades relações de interação e de parceria) incide
tecnológicas decorrem de interdependências sobre um conjunto ainda mais efervescente,
extra-mercadológicas e são o tema de inú- ou seja, o das modalidades de ação dos
meros estudos dedicados às questões de agentes, ação individual (mesmo socializada)
economia espacial e regional. Neste caso, o ou coletiva. Limitemo-nos às interações cujo
que nos interessa sobremaneira é a depen- objetivo consiste na criação de laços entre
dência em relação ao eixo de empresas em parceiros, ao detrimento das relações de
proximidade, pois ela revela que os fatores concorrência ou de ameaça: trata-se aqui de
de aglomeração e de localização dos atores relações de cooperação, de confiança, de
em proximidade, engendrados pelos efeitos conflitos, de trocas de informações técnicas,
externos que se operam entre empresas, de consolidação de parcerias, etc. Essas rela-
podem rapidamente assumir uma dimensão ções podem ter um fundamento puramente
irreversível em um dado território, pois a relacional, quando o assunto é, por exemplo,
especialização em uma certa trajetória conquistar a confiança de um vizinho, ou
(eficaz ou nociva) gera êxito ou malogro a garantir a neutralidade de terceiros em uma
partir da repetição dos esforços ou dos erros, operação de natureza econômica. Mas, a
e não da superioridade intrínseca da combi- partir do momento em que nos interessamos
nação de fatores escolhida. É também o que prioritariamente pelas firmas, por suas
ocorre com as firmas que se instalam em uma estratégias e por seu entorno, as relações que

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Desenvolvimento local e relações de proximidade: conceitos e questões 35

mais importam são as que têm uma dimen- informações e conhecimentos (tácitos e
são produtiva ou organizacional. codificados), o que permite em particular a
A importância e a freqüência dessas abordagem de questões de inovação e de sua
interações constituem um fator de dinâmica relação com o território.
que contrasta com o aspecto estático dos Essa distinção tem dois resultados
critérios determinantes para a localização imediatos: o primeiro é o de estabelecer, com
das empresas. De fato, é a partir da den- base na distinção entre conhecimentos
sidade mais ou menos forte e prolongada das codificados e tácitos, uma separação entre
interações que podem se conceber as evolu- os conhecimentos transmissíveis sob forma
ções e as modificações dos sistemas, isto é, sistemática e aqueles que são mais difíceis
os processos de separação/entrelaçamento de se formalizarem ou de se comunicarem,
e de aproximação/afastamento dos agentes, pois os conhecimentos tácitos possuem uma
das organizações e das atividades. Por componente amplamente extra-mercado-
densidade das interações entenda-se aqui o lógica, já que podem acompanhar as trocas
número de interações, mas também sua de informações, mas, em caso algum, podem
possibilidade de reprodutibilidade ou de pe- ser o objeto de uma troca em mercado. O
renização, assim como seu grau de transiti- segundo resultado é a revelação da impor-
vidade. O nível da densidade evolui no tempo tância dos processos de aprendizagem, que
e constitui, em graus diversos, um indicador assumem diferentes formas recenseadas na
de proximidade – organizacional, espacial, literatura (por meio da prática, por meio do
ou ambas. Aqui é patente a analogia com uso…). Em função de seu caráter interativo,
certas análises do processo de inovação esses processos concernem ao mesmo tempo
tecnológica, que consideram a presença de o indivíduo e os grupos, no interior da firma
interações fortes como fator de identificação (departamentos) ou no exterior (redes
de vigorosos laços de proximidade entre os sociais). A aprendizagem também se encon-
atores. Assim, a proximidade geográfica é tra no ponto fulcral dos processos de inova-
amplamente associada às interações fortes, ção, definidos como processos de criação de
enquanto o afastamento é aceitável quando novos conhecimentos ou combinações origi-
as interações são menos fortes ou já estão nais de conhecimentos existentes.
consolidadas no local. É preciso, todavia, A proximidade geográfica possibilita
não negligenciar o volume de informações as interações cognitivas, na medida em que
não estandartizadas que podem ser veicu- se inscreve em um contexto organizacional
ladas pelos laços fracos: a densidade cons- e institucional adaptado. Assim, a análise
titui um indicador de proximidade, mas dos processos de inovação resulta do jogo
revela igualmente os limites de um entre- das relações evolutivas entre proximidade
laçamento exclusivo em relação às virtudes organizada (em sua dupla concepção de
dessa mesma proximidade. pertencimento e de adesão a normas de com-
As características das interações per- portamento, a regras sociais…) e proxi-
mitem uma análise comparada das relações midades geográfica: um Sistema Local de
em proximidade ou à distância. Retenhamos Inovação corresponde a um momento dessa
a idéia segundo a qual os fenômenos de dinâmica, quando coexistem e se articulam
cooperação e de parceria, ou de trocas e as duas proximidades.
aquisições de saber tecnológico, baseiam-se As conseqüências dessas escolhas ana-
em um processo de natureza iterativa e líticas são de duas ordens para os estudos
procedimental, o que implica não apenas a de proximidade: por um lado, essas escolhas
racionalidade limitada dos atores, mas possibilitam infirmar a visão simultanea-
também uma tomada de consciência tanto mente cômoda e simplista segundo a qual
em relação à dimensão cognitiva, quanto em as relações que implicam o funcionamento
relação ao caráter particular do conheci- dos conhecimentos tácitos solicitam a
mento. Acompanhando-se, dessa forma, a proximidade geográfica, enquanto aquelas
demarcação iniciada por Polanyi e Machlup, que se baseiam em conhecimentos codifi-
posteriormente sistematizada por Nonaka cados adaptam-se às distâncias. De fato, essa
(1994), nós introduzimos uma distinção entre visão esteia-se em uma concepção limitada

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da relação proximidade-distância, além de informações essenciais para a compreensão


ignorar a coabitação freqüente dos conhe- das dinâmicas espaciais.
cimentos tácitos e codificados no âmbito das Simultaneamente, as dimensões cogni-
empresas ou das redes, assim como a impor- tivas têm um impacto imediato sobre a
tância das escalas temporais no pleno equa- análise dos laços de proximidades, conforme
cionamento dos efeitos da proximidade (em observou-se em relação aos pontos de inter-
função da existência de fases de apropriação secção entre proximidade geográfica e proxi-
e de aprendizagem, ou de decodificação e de midade organizada.
recodificação da informação). Essa visão Essa abordagem permite que se trate
também negligencia a sucessão das etapas do de questões relativas ao defrontamento entre
processo de aquisição e de transferência dos atores, à transferência de tecnologia ou de
savoir-faire que privilegiam mais intensamente cooperação bilateral, pereservando-se
a mobilização de conhecimentos tácitos ou de espaço para os determinantes espaciais. Por
conhecimentos codificados. exemplo, ela se revela fecunda na análise do
Por outro lado, essas escolhas condu- dilema entre concorrência espacial e locali-
zem à evidenciação de um agenciamento zação em proximidade das empresas, ques-
temporal complexo, que inclui diferentes tão que percorre de maneira subjacente uma
escalas de tempo em função das apren- boa parte da literatura consagrada às ques-
dizagens e apropriações de conhecimento. tões de espaço e de indústria. Ela também
A proximidade geográfica é sobretudo neces- levanta a questão do nomadismo das empre-
sária nas fases iniciais do mecanismo de sas e de sua ancoragem territorial.
transferência e de apropriação de saberes e A análise das formas de ação coletiva
de tecnologia, enquanto a interação à é a mais adequada a fazer surgirem inter-
distância pode realizar-se mais facilmente rogações quanto ao modelo “walrasiano”;
fora de tais momentos críticos. por outro lado, essa análise sublinha a possi-
bilidade de discordância entre nível indivi-
3.2 Proximidade e coordenação econômica dual e ordem social, com relação à questão
da desigualdade espacial. Nem todos os
Nesta análise, é fundamental a noção indivíduos ou empresas encontram-se em
de agente ubíquo, ou seja, aquele que, ao posição similar em relação à proximidade
mesmo tempo, está presente aqui e alhures: geográfica, e amplificam essa situação, ou
presente aqui em função de sua localização dela se servem, por intermédio de fatores
no interior de um espaço geográfico e econô- espaciais na formação de agrupamentos que
mico; presente alhures em razão tanto das podem levar a ações coletivas. Tais compor-
interações entretidas à distância quanto das tamentos implicam a questão das relações
interações com outras entidades econômicas micro-macro, ou pelo menos a questão da
(firmas ou, de forma geral, atores produtivos). inclusão de agentes que, por não estarem
Essa noção implica a necessidade de se unicamente inseridos em lógicas individuais,
considerarem fatores decorrentes dos proces- privilegiam as estratégias de grupo.
sos de coordenação que conferem um papel Tal abordagem permite compreender
importante às dimensões institucionais. fatores de emergência das dinâmicas locais
É importante, por duas razões, consi- no âmbito dos Sistemas Localizados de
derar-se uma coordenação entre atores que Produção, assim como as modalidades de
extrapole a mero equacionamento da infor- emergência das formas espacializadas de
mação veiculada pelos preços. ação coletiva, segundo três pistas principais:
Primeiramente, a interação por inter- A primeira pista refere-se à noção de
médio dos preços não ocorre de forma soli- rede de atores ubíquos, quando utilizada
tária e pode acompanhar-se de outras moda- para a compreensão das estratégias locais
lidades de coordenação: relações de coope- dos produtores. O funcionamento em rede
ração, de confiança, de interação tecnológica, permite a saída do eventual isolamento,
etc. Nesse sentido, é preciso considerar as facilita a transmissão das informações e das
interações diretas, ou seja, em particular aprendizagens, assim como permite definir
aquelas não intermediadas pelos preços, de forma coletiva as normas e as regras

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Desenvolvimento local e relações de proximidade: conceitos e questões 37

compartilhadas que visam as propriedades institucionais nas dimensões locais e local-


dos produtos ou a troca de saberes. global. Da reaproximação e da hibridação
A segunda pista remete à análise das das proximidades institucionais resulta um
modalidades de estabelecimento das relações “processo de liga” (no sentido proposto por
de confiança e/ou de cooperação nos sistemas Dumond) de sistemas de representações
para os quais as dinâmicas endógenas de diferentes, que revela e desencadeia o poten-
emergência não são formalizadas pela elabo- cial produtivo derivado do par proximidade
ração explícita de regras compartilhadas. geográfica-proximidade organizada: o
A terceira concerne os sistemas locais território se constrói quando se instala esse
que se baseiam em regras explícitas com- esteio entre proximidades, cujo resultado
partilhadas (por exemplo, as Denominações mais aparente é a ressurgência de regula-
de Origem Controlada de vinhos e queijos), ridades produtivas localizadas.
passíveis de rediscussão. Observa-se que os A noção de governança territorial, que
atores locais aderem a um conjunto de regras concerne as relações entre instituições locais
elaboradas em comum, das quais obtém um (formais e informais) e globais, não depende
beneficio que se esteia, de forma intensa, na portanto unicamente de um processo endó-
exclusão do sistema de outros agentes. geno. É pelo canal das mediações local-
De forma geral, a consideração fatorial global que, em períodos de estabilização da
de agentes ubíquos (por intermédio do biná- economia, podem se difundir os princípios
rio proximidade organizada – proximidade dominantes (do global rumo ao local), ou os
geográfica) permite conceber as relações princípios emergentes (do local rumo ao
micro-macro de forma não determinista. A global), em períodos de crise. Convém insistir
ação coletiva encontra-se encastrada nas no papel por vezes decisivo que exercem as
estruturas econômicas e nas instituições instituições formais, notadamente as coleti-
sociais, mas os atores (individuais ou cole- vidades territoriais, que contribuem para
tivos) gozam de uma margem de manobra orientar os comportamentos dos agentes
que podem conduzi-los, em situação de crise, econômicos e para fazer emergir ou perdurar
a transformar coletivamente as estruturas a governança territorial.
existentes. Essa abordagem leva a conceber
os espaços sócio-econômicos intermediários 4. Conclusão: rumo às considerações
nos quais se articulam e se regulam formas sobre as dimensões negativas da
estruturais (herdadas do passado) e ação proximidade
coletiva (antecipando o futuro) na resolução
de um problema produtivo. As questões apresentadas neste estudo
O lugar e o papel assumidos pelas insti- demonstram que é possível agregar compo-
tuições, em particular no âmbito da gover- nentes teóricas à noção de proximidade,
nança dos territórios, constituem, na análise lembrando-se que essa noção é de grande
das coordenações, o terceiro fator para a utilidade para o trato de um certo número
consideração explícita do espaço, assim como de situações às quais se confrontam, hoje,
para a integração das noções de proximidade. atores econômicos e sociais. Observa-se, em
Sublinhou-se, nos parágrafos acima, o particular, o caso das situações de ubiqüi-
papel central exercido pelas instituições dade, ou seja, casos em que atuam agentes
formais e informais, assim como sua impor- ubíquos, aqueles presentes simultaneamente
tância na reflexão sobre o território. Esse aqui e alhures (por exemplo no caso de uma
papel solicita o aprofundamento da visão enleamento por meio da internet, ou da-
comumente adotada sobre os atores locais, quele, muito mais clássico, de malhas telefô-
representativa de uma dinâmica institu- nicas), portanto mergulhados, simultanea-
cional que corresponde à governança terri- mente, nas relações de proximidade geo-
torial, aqui definida como uma forma de gráfica e organizada, o que os conduz à
coordenação contratual (WILLIANSON, realização de arbitragem de atividades, em
1985), político-jurídica (COOIMAN, 1993), função dos espaços implicados.
social (GRANOVETER, 1973). Essa dinâmica Nesse sentido, uma importante área de
visa a integrar os mecanismos produtivos e estudos permanece pouco explorada nos

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Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 4, N. 7, Set. 2003.
38 André Torre

dias de hoje, justamente a que trata das BRAMANTI, A.; RATTI, R. (1998). The multi-faced
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pois eles podem ser submetidos passivamente
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a elas, como é o caso de pessoas afetadas frontières des organisations: l’économie des relations
pela poluição que provém de fábricas próxi- de proximité. In: GARROUSTE, P. (ed.). Les frontières de
mas e que não podem se mudar de residência. la firme. Paris: Economica, 1997.
Todo o papel exercido pela proximidade FELDMAN, M. P. The Geography of Innovation.
organizada encontra-se então modificado. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 1994.
Nesse sentido, a proximidade pode constituir FUJITA, M. Urban Economic Theory. Cambridge:
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N.d.E.: O presente trabalho foi traduzido do francês
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