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Desenvolvimento Local e Relações de Proximidade
Desenvolvimento Local e Relações de Proximidade
INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 4, N. 7, p. 27-39, Set. 2003.
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as quais esses indivíduos mantêm relações à escala de uma cidade (centro de mercado)
distância ou relações de proximidade. situada em meio a uma zona rural agrícola
Ao se considerarem tais abordagens pouco desenvolvida. As localizações de
com a seriedade necessária, nota-se que o primeira ordem encontram-se no centro do
estudo das relações de proximidade nada sistema, enquanto as outras decrescem
mais é do que um alargamento do quadro segundo círculos concêntricos. Nesse caso,
inicial de análise das estratégias industriais busca-se a proximidade da cidade, pois a
com base no entorno local da empresa. Esse renda referente à localização depende das
gênero de estudo, segundo Lawson (1999), diferenças de custo de transporte. Encontra-
tornou-se fundamental e propenso a abor- se essa idéia em diferentes trabalhos teóricos
dagens inovadoras. Esse tipo de estudo deve que se inspiram do esquema de Von Thünen.
se estender ao entorno local de atores que Por exemplo, Alonso (1964) e Fujita (1989)
chamaremos de “agentes ubíquos”, ou seja, privilegiam o estudo da ocupação urbana do
atores presentes ao mesmo tempo aqui e solo, mas sempre em função da proximidade
alhures, que mantêm relações concomitantes do centro da cidade. Tal como demonstra a
de conflito e de cooperação com seus vizi- nova Economia Urbana, essa variável é
nhos, além de conservarem sua conexão com determinante na alocação de solos para uso
redes de pessoas em localização distante. No industrial, comercial ou residencial em áreas
texto abaixo, interrogam-se as origens da urbanas, particularmente na implantação do
noção de proximidade na análise econômica, chamado “comércio de proximidade”.
passando-se, em seguida, à apresentação dos Com freqüência, estudos fazem refe-
elementos necessários à compreensão das rência à contribuição de Marshall (1890),
dinâmicas de proximidade. Para tanto, cujas idéias constituem ao mesmo tempo o
serve-se da distinção, doravante clássica, ponto de partida tanto das pesquisas sobre
entre proximidade geográfica e proximidade a economia de aglomerados urbanos quanto
organizada, tal como estudada pelos das análises mais recentes centradas em
pesquisadores ligados ao “Dynamiques de distritos industriais. De fato, Marshall subli-
Proximité”, grupo de pesquisas interinsti- nha as vantagens da proximidade na locali-
tucional sediado na França. zação das empresas que, por se encontrarem
em um mesmo local, recebem benefícios.
2. A noção de “proximidade” nas Esses benefícios decorrem da divisão espacial
análises econômicas do trabalho ou, ainda, dos efeitos de trans-
bordamento local (“local spillover”) ilus-
O recente interesse pela questão da trados pela célebre frase de Alfred Marshall,
proximidade não deve permitir que se que afirma: “the secrets of industry are in
esqueça o fato de que tal noção aparece the air”. As mesmas vantagens da produção
desde há muito tempo nas análises econô- em larga escala podem também incindir nas
micas, mesmo que surja de forma incidental concentrações, sobre um dado território, de
ou velada. De qualquer forma, o recorrente um grande número de firmas especializadas,
esquecimento do espaço é mesmo uma das ligadas a um mercado de trabalho específico.
características próprias das ciências econô- Contudo, tanto aqui quanto em von Thünem,
micas! Sem entrar num recenseamento a caixa preta com informações sobre as
cansativo da literatura versando sobre o relações externas da proximidade perma-
tema da proximidade, lembremos que tal nece fechada, e a análise centra-se sobretudo
noção ocupa um importante lugar em certos no estudo dos fenômenos ligados às dinâ-
autores que tratam de integrar o espaço na micas de proximidade, sem o que segredo
análise econômica, estudiosos entre os quais de suas origens seja realmente desvelado.
se destacam von Thünen et Marshall.
Von Thünen (1826) analisa os efeitos 2.1 A entrada da noção de proximidade
da proximidade pelo viés das vantagens da nas análises tradicionais
localização. Sua explicação da localização
das atividades urbanas e agrícolas versa Ao mesmo tempo em que a questão da
sobre as forças econômicas que agem na proximidade posta-se no núcleo de inúmeras
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abordagens tradicionais, o próprio termo é aproximar uns dos outros. O equilíbrio espa-
raramente empregado e, com freqüência, é cial inicial pode então se deslocar abrupta-
ocultado sob o véu de referências a conceitos mente, e a busca de contatos contribui para
tecnicistas. Assim, na literatura tradicional, explicar a formação de cidades ou de áreas
a análise da função dos “spillovers” geográ- espacialmente concentradas. Nesse caso,
ficos nos processos de aglomeração ocupou, considera-se como indiscutível a idéia de que
durante muito tempo, um lugar de destaque, a necessidade de contato satisfaz-se pela
sobretudo a partir dos trabalhos conduzidos proximidade entre agentes econômicos,
por Marshall em torno desse tema. Citem-se, noção cuja prova ainda resta por se confir-
por exemplo, os trabalhos de Pred (1966) sobre mar. Os modelos de economia geográfica
o papel da informação nos processos de urba- tentam construir, com base nesses funda-
nização, ou, ainda, os estudos de Utterback mentos, uma teoria da formação das cidades;
(1974) sobre a importância dos contatos para tanto, estende-se às empresas a idéia
interpessoais no estabelecimento de processos da necessidade de contatos, dizem os estu-
localizados de interações. Também Lucas dos de Ogawa e Fujita (1989). Coloca-se em
(1988) interroga-se sobre as razões pelas quais relevo a troca de informações ao longo do
os agentes econômicos concentram-se no processo de produção, troca pela qual as
centro de Chicago ou de Manhattan, apesar firmas sempre procuram; nesse caso, as
do preço elevado e do eventual desconforto informações são consideradas como um bem
físico, quando o ônus é menor em inúmeros público impuro cuja conservação e aquisição
outros locais. Lucas sugere uma resposta são favorecidas pela concentração de agentes
simples: esses agentes desejam posicionar-se em um mesmo espaço. Os produtores
em mútua proximidade. Também nesse autor, tendem a se agrupar para se beneficiarem
a proximidade é, no melhor dos casos, consi- dessas externalidades positivas de proxi-
derada como uma variável causal, dotada de midade, isto é, da informação que circula
fortes virtudes, sem que os ingredientes de sua com maior facilidade em um perímetro
composição sejam realmente estudados. restrito, tendendo a se diluir com o aumento
É curioso observar que, de fato, é de das distâncias.
uma idéia vizinha que se derivou parte das Na nova economia geográfica, as
pesquisas conduzidas no âmbito da nova análises centradas no crescimento das rendas
geografia econômica. Os fenômenos de associam, de forma menos linear, os pro-
aglomeração, analisados por Krugman cessos de polarização das atividades à exis-
(1991) e seus diversos seguidores, sempre tan- tência de relações de proximidade, pois essas
genciam hipóteses relacionadas à proxi- análises sublinham, com mais freqüência e
midade, visto que os estudos sublinham, de intensidade, a importância dos custos de
forma recorrente, a necessidade de concen- transporte, conforme estudos de Krugman
tração dos agentes e das empresas. Tal já se (1991); a relevância das relações a montante
percebe, em termos de externalidades e a jusante entre empresas locais, como em
espaciais, nas abordagens de Papageorgiou Venables (1996); ou, ainda, o papel de fatores
e Smith (1983), baseadas na hipóteses de que como a indivisibilidade ou a preferência pela
os indivíduos têm uma propensão funda- variedade, cuja dimensão espacial perma-
mental a estabelecer interações e a buscar o nece sem verificação. Em compensação, as
contato social (considerado como uma ne- análises em termos de concorrência espacial
cessidade humana elementar que não se tentam, desde Hotelling (1929), trazer uma
exprime, necessariamente, nas relações de resposta à seguinte questão: a localização da
mercado). Cada agente beneficia-se, nesse firma deve acontecer em proximidade ou à
caso, das externalidades espaciais positivas distância das outras empresas? As soluções
produzidas pelos outros, numa relação cuja propostas dependem dos preços e do grau
intensidade decresce com o aumento das de diferenciação dos produtos. A opção pela
distâncias. É a própria existência e as proprie- distância na implantação dos concorrentes
dades dessas externalidades que favorizam constitui, na realidade, o fiel da balança na
os processos de aglomeração, visto que os estratégia da diferenciação dos produtos. Se
agentes em busca de contatos procuram se não há diferenciação de produtos, deduz-se
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que, para as empresas, é legítimo optar pela aglomeramento espacial, com o qual a
diferenciação espacial, fato que conduz à afir- proximidade pode contribuir sem estar
mação do princípio de substituição entre dife- necessariamente associada ao processo.
renciação geográfica e diferenciação espacial.
Referir-se a Hotelling é fundamental, 2.2 Para abrir a caixa-preta das relações de
pois esse pesquisador demonstrou que a con- proximidade
corrência pela clientela constitui uma força
centrípeta que leva os vendedores a se con- Os estudos até agora examinados dis-
centrarem geograficamente. Nesse tipo de tinguem-se por duas características princi-
análise, os consumidores dispõem-se ao longo pais: a primeira é o interesse pelas relações
de uma cidade linear para a qual discute-se de proximidade; a segunda consiste no fato
a questão da localização de duas empresas. de se considerar essas relações como uma
Em se desconsiderando o preço dos produtos, variável causal, sem que se analise seu
a ambos os vendedores é interessante loca- conteúdo. Outros trabalhos buscaram abrir
lizarem-se no centro do mercado (conforme a caixa-preta das externalidades da proxi-
o equilíbrio de Nash em estratégias puras), midade por intermédio da interpretação
eventualmente frente a frente, para se faci- simultânea de sua significação e de seu
litar ao máximo o acesso à clientela. Mas não conteúdo. Esses trabalhos centram-se, majo-
é obrigatoriamente o que ocorre quando se ritariamente, na questão das firmas e de sua
consideram os preços, segundo os trabalhos busca por laços de proximidade.
de d’Aspremont, Gabszewicz e Thisse Derivada dos trabalhos de Marshall e
(1979). A situação de diferenciação espacial de Hoover na esfera da economia de aglome-
dos produtos interfere nas empresas, incitan- rações, a corrente tradicional de análise dos
do-as, num segundo momento, a reduzirem fatores de localização enfrenta a concor-
os preços para tentarem se apropriar do rência de pesquisas que tentam avançar e
conjunto do mercado, mormente se essas explicar as próprias causas dos fenômenos
empresas estão localizadas em proximidade de externalidade, por intermédio de traba-
da clientela. Em conseqüência, os vendedores lhos que sublinham as virtudes da localização
optarão preferencialmente por se instalarem de várias empresas em um perímetro restrito.
nas extremidades do mercado e privilegiar As correntes de pesquisas centram-se em três
a separação no espaço ao detrimento da principais aspectos do processo de concen-
proximidade com a clientela. A concorrência tração e amarração espacial de empresas: a
em preços apresenta-se, por esse viés, como especificidade do capital humano; a flexibili-
uma força centrífuga, e a proximidade so- dade das relações extra-mercadorias; a
mente é buscada em casos de diferenciação criação e o implemento de inovações (aqui
de produtos. Dessa forma, há substituição tomadas como parcelas de conhecimento).
entre diferenciação geográfica e diferenciação No que toca ao capital humano, Pyke,
de produtos, pois, para enfrentar os efeitos Becattini e Sengenberger (1990) são os
centrífugos da concorrência em preços, os primeiros a apresentarem pesquisas sobre os
vendedores servem-se da diferenciação da sistemas localizados de produção, no período
produção, a fim de avizinharem-se dos em que surgem sinais da competitividade
consumidores e de suas idiossincrasias. coletiva de pequenas firmas agrupadas num
No conjunto, esses modelos todos se mesmo perímetro. Retomando a antiga
caracterizam por uma tensão entre a concor- noção de distrito proposta por Marshall para
rência (que leva as empresas a se afastarem qualificar certas zonas localizadas de cresci-
para obterem espaços de venda) e a busca mento, Becattini, ao detrimento do estudo
das vantagens inerentes à proximidade dos de firmas isoladas, analisa um grupo de
clientes (vantagens de mercado) ou dos pequenas empresas e suas relações mútuas.
próprios concorrentes (com suas externalida- A característica mais evidente do distrito
des positivas). Os benefícios da proximidade, industrial é a de que, numa área geográfica
que muito se enfatizam, raramente são bastante delimitada, estabelecem-se em rede
explicitados, além de serem intensamente várias empresas, por meio de relações de
confundidos com o próprio processo de concorrência e de cooperação; todavia, a
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questão preponderante deve ser encontrada recorrência de ligações entre os atores locais.
na análise das causas da localização das Segundo autores como Glasmeier
empresas e da fidelidade a uma área (1988) ou Maskell (1998), a chave da perfor-
geográfica precisa. matividade desses sistemas deve ser buscada
O distrito industrial não resulta de uma sobretudo na geração interna de externa-
concentração (acidental) de empresas atraí- lidades de proximidade. Tal geração apóia-
das por fatores iniciais favoráveis, tais como, se em dois fatores essenciais: uma organi-
por exemplo, os recursos primários; resulta zação interna flexível e importantes relações
antes de um enraigamento de natureza orga- extra-comerciais. A comunicação entre
nizacional no território, fato que dificulta aos concorrentes potenciais apresenta-se, assim,
produtores desligarem-se dos laços ao lugar. como um empenho à favor da flexibilidade,
Essa ligação privilegiada deve-se à existência em um sistema que se determina pela
de externalidades da proximidade, que são rapidez das mudanças decorrentes da gran-
tanto geradoras de efeitos positivos quanto de volatilidade dos mercados e da evolução
patrimônio comum aos estabelecidos no das tecnologias de ponta. A facilidade e a
distrito, que se tornam responsáveis pela freqüência com que se estabelecem interações
amarração das empresas nesse território. Um encontram-se à origem da criação de uma
dos mais importantes fatores dessas exter- rede local, às malhas da qual a empresa se
nalidades é a presença local de recursos prende, tornando-se passível de se beneficiar
humanos, depositários de um saber especia- de avanços tecnológicos, ou de compartilhar
lizado resultante da acumulação de apren- suas descobertas com a vizinhança imediata.
dizados sucessivos. Essa presença traz carac- Essa partilha de informações ocorre, com
terísticas que geram certos efeitos de exter- freqüência, de maneira informal, não
nalidades de proximidade. Inicialmente, as abrindo espaço a transações, realizando-se
empresas estão seguras de que podem a difusão de conhecimentos por intermédio
encontrar, em seu entorno imediato, compe- de interações recorrentes e de circulação de
tências que seria difícil encontrar alhures, trabalhadores entre as diferentes empresas
fato que contribui para aumentar a fidelidade do local. Lundvall (1992) e Nelson (1993)
e a preferência pelo distrito. Posteriormente, propõem uma análise semelhante quanto
os trabalhadores, estando qualificados, aos sistemas nacional e local de inovação,
podem se tornar empreendedores indepen- idéias que se baseiam na disponibilização
dentes, criando-se, dessa forma, uma ativi- coletiva e compartilhada de competências no
dade ao modo de enxame. âmbito de agrupamentos localizados de
Quanto às relações que se estabelecem firmas, o que vale também para os meios
em âmbito externo à troca de mercadorias, inovadores, no entender de Bramanti e Ratti
pesquisas sobre as externalidades da proxi- (1998). Nesse sentido, Maskell e Malmberg
midade sublinham os vínculos horizontais (1999) mostram as formas de atuação da
que atuam em áreas localizadas de produção. proximidade, notadamente no que tange à
O questionamento da análise tradicional das natureza interativa dos processos de aprendi-
economias externas inicia-se, aqui, pela zagem e formação, fato que introduz uma di-
supressão das fronteiras da empresa, a favor mensão geográfica na análise. Nesse caso, os
de uma organização em rede, tal como a que benefícios da proximidade tornam-se forças
se pode encontrar no caso emblemático do de aglomeração, ao incidirem sobre as firmas
Vale do Silicone, sustenta Saxenian (1994). engajadas nos processos de interação.
Para além das características puramente No tocante ao implemento de inova-
ligadas às especificidades das tecnologias ções (tomadas como parcelas de conhe-
concernentes, arrolam-se então três dimen- cimento), os fundamentos micro-econômicos
sões fundamentais à origem da competitivi- das externalidades de proximidade são
dade desses sistemas industriais: existência tratados por Feldman (1994) em seus traba-
de instituições locais fiadoras da circulação lhos de geografia de inovações, nos quais
de uma cultura local; especificidade da orga- analisam-se os processos de concentração
nização interna das firmas; presença de uma espacial de inovações, seja no âmbito de
estrutura industrial diferenciada, baseada na regiões, seja no de áreas geográficas menos
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extensas, tendo-se como ponto de partida a vam que a assimilação entre conhecimento
noção de proximidade. A inovação, como já tácito e relações de proximidade ainda soli-
havia demonstrado Hagerstrand (1967) em citam estudos que confirmem tais hipóteses
trabalhos pioneiros, concentra-se intensa- de trabalho.
mente em certas zonas, nas quais encon- Como sustentam Largeron e Auray
tram-se não apenas unidades de produção, (1998), para a noção de proximidade há
mas também laboratórios de pesquisas priva- várias definições matemáticas distintas,
dos e instituições ligadas à pesquisa acadê- todas de inspiração euclidiana, mas podem-
mica, como laboratórios públicos e univer- se imaginar medições do tipo topológico ou
sidades. Essas evidências empíricas reafir- pré-topológico, como, por exemplo, em
mam a importância das relações de proximi- termos de aderência ou de vizinhança de um
dade na geração de novas tecnologias. Jaffe, conjunto, tal como apontam Matula e Sokal
Trajtenberg e Henderson (1993) sutentam, (1980). Por exemplo, no caso em que, entre i
ademais, a forte relação entre tais aspectos e e um elemento y qualquer, pertencente a um
a concentração espacial das atividades conjunto A, a distância é inferior ao patamar
industriais, tanto que Anselin, Varga e Acs s, e que, entre i e um elemento z qualquer de
(1997) concluem que a localização de empre- A, a distância é inferior ao patamar s, então
sas, assim como a competitividade de certas i se encontra na proximidade de A, assim
áreas de produção, muito além das relações como todos os i que tenham as mesmas pro-
puramente industriais, dependem também priedades (AURAY et al., 1998). Ademais,
dos laços entre ciência e indústria. as proximidades podem ser múltiplas, e
Essa análise reporta-se à própria podem, em função dos critérios escolhidos,
natureza do conhecimento, que seria apenas induzir vizinhanças diferentes, de forma que
parcialmente apropriável, fato que gera um elemento qualquer estará tanto mais
efeitos de transbordamentos involuntários próximo de x quanto maior for o número de
de uma empresa ou de uma instituição para vizinhanças de i a que pertence. Aplicações
outras. O caráter localizado da transmissão desses conceitos começam a aparecer na
se deve ao fato de que o conhecimento atra- literatura especializada, indicam Steyer e
vessa mais facilmente corredores e ruas do Zimmermann (1998).
que continentes e oceanos, nas palavras de Pesquisas alternativas realizam-se na
Feldman (1994). Assim, as indústrias marca- França, atualmente, sobre as características,
das por importantes efeitos de transborda- os efeitos, as vantagens e os inconvenientes
mento vêem o fortalecimento de sua compe- das relações de proximidade. Esse trabalho
titividade em casos de concentração geográ- é feito principalmente pelo grupo “Dinâmi-
fica, como afirmam Audretsch e Feldman cas de Proximidade”, que centra sua atenção
(1996). As externalidades de proximidade na dimensão espacial dos fenômenos de or-
são decorrentes da própria natureza do ganização econômica. Os resultados encon-
conhecimento, e a inovação passa a ser consi- tram-se distribuídos em uma importante
derada como um processo cognitivo, distin- quantidade de estudos (ver, por exemplo,
tamente da informação, que pode ser trans- BELLET, COLLETIS e LUNG, 1993; RALLET
mitida à distância sem prejuízos, devendo a e TORRE, 1995; BELLET, KIRAT e
transmissão do saber ser realizada de forma LARGERON, 1998; GILLY e TORRE, 1998;
totalmente estandartizada. As primeiras GILLY e TORRE, 2000b). Essas pesquisas
etapas do desenvolvimento da tecnologia constatam a existência e a persistência de
solicitam, de fato, uma forte comunicação laços de proximidade entre indivíduos ou
entre os atores, interações reiteradas que empresas, fato que se contrapõe à idéia de
estabelecem códigos e linguagens comparti- que a globalização destrói as relações locais,
lhados, assim como um processo de interpre- assim como à idéia, radicalmente oposta, de
tação e de tradução dos saberes tácitos que se caminha, inelutavelmente, rumo à
parciais, com a respectiva transformação do polarização. As evidências empíricas dão
conjunto desses fatores em questões opera- como falsa a tese de que o implemento das
cionais, tal como ensinam Amin e Wilkinson comunicações à distância e das trocas inter-
(1999). Todavia, Rallet e Torre (2001) ressal- nacionais levaria ao desaparecimento do
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mais importam são as que têm uma dimen- informações e conhecimentos (tácitos e
são produtiva ou organizacional. codificados), o que permite em particular a
A importância e a freqüência dessas abordagem de questões de inovação e de sua
interações constituem um fator de dinâmica relação com o território.
que contrasta com o aspecto estático dos Essa distinção tem dois resultados
critérios determinantes para a localização imediatos: o primeiro é o de estabelecer, com
das empresas. De fato, é a partir da den- base na distinção entre conhecimentos
sidade mais ou menos forte e prolongada das codificados e tácitos, uma separação entre
interações que podem se conceber as evolu- os conhecimentos transmissíveis sob forma
ções e as modificações dos sistemas, isto é, sistemática e aqueles que são mais difíceis
os processos de separação/entrelaçamento de se formalizarem ou de se comunicarem,
e de aproximação/afastamento dos agentes, pois os conhecimentos tácitos possuem uma
das organizações e das atividades. Por componente amplamente extra-mercado-
densidade das interações entenda-se aqui o lógica, já que podem acompanhar as trocas
número de interações, mas também sua de informações, mas, em caso algum, podem
possibilidade de reprodutibilidade ou de pe- ser o objeto de uma troca em mercado. O
renização, assim como seu grau de transiti- segundo resultado é a revelação da impor-
vidade. O nível da densidade evolui no tempo tância dos processos de aprendizagem, que
e constitui, em graus diversos, um indicador assumem diferentes formas recenseadas na
de proximidade – organizacional, espacial, literatura (por meio da prática, por meio do
ou ambas. Aqui é patente a analogia com uso…). Em função de seu caráter interativo,
certas análises do processo de inovação esses processos concernem ao mesmo tempo
tecnológica, que consideram a presença de o indivíduo e os grupos, no interior da firma
interações fortes como fator de identificação (departamentos) ou no exterior (redes
de vigorosos laços de proximidade entre os sociais). A aprendizagem também se encon-
atores. Assim, a proximidade geográfica é tra no ponto fulcral dos processos de inova-
amplamente associada às interações fortes, ção, definidos como processos de criação de
enquanto o afastamento é aceitável quando novos conhecimentos ou combinações origi-
as interações são menos fortes ou já estão nais de conhecimentos existentes.
consolidadas no local. É preciso, todavia, A proximidade geográfica possibilita
não negligenciar o volume de informações as interações cognitivas, na medida em que
não estandartizadas que podem ser veicu- se inscreve em um contexto organizacional
ladas pelos laços fracos: a densidade cons- e institucional adaptado. Assim, a análise
titui um indicador de proximidade, mas dos processos de inovação resulta do jogo
revela igualmente os limites de um entre- das relações evolutivas entre proximidade
laçamento exclusivo em relação às virtudes organizada (em sua dupla concepção de
dessa mesma proximidade. pertencimento e de adesão a normas de com-
As características das interações per- portamento, a regras sociais…) e proxi-
mitem uma análise comparada das relações midades geográfica: um Sistema Local de
em proximidade ou à distância. Retenhamos Inovação corresponde a um momento dessa
a idéia segundo a qual os fenômenos de dinâmica, quando coexistem e se articulam
cooperação e de parceria, ou de trocas e as duas proximidades.
aquisições de saber tecnológico, baseiam-se As conseqüências dessas escolhas ana-
em um processo de natureza iterativa e líticas são de duas ordens para os estudos
procedimental, o que implica não apenas a de proximidade: por um lado, essas escolhas
racionalidade limitada dos atores, mas possibilitam infirmar a visão simultanea-
também uma tomada de consciência tanto mente cômoda e simplista segundo a qual
em relação à dimensão cognitiva, quanto em as relações que implicam o funcionamento
relação ao caráter particular do conheci- dos conhecimentos tácitos solicitam a
mento. Acompanhando-se, dessa forma, a proximidade geográfica, enquanto aquelas
demarcação iniciada por Polanyi e Machlup, que se baseiam em conhecimentos codifi-
posteriormente sistematizada por Nonaka cados adaptam-se às distâncias. De fato, essa
(1994), nós introduzimos uma distinção entre visão esteia-se em uma concepção limitada
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