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EL FAR, Alessandra.

Páginas de sensação: literatura popular e pornográfica no Rio de Janeiro


(1870-1924). São Paulo: Cia das Letras, 2004.

Ideia central: a autora se propõe a investigar a sociedade brasileira da virada do século XIX para o
XX por meio da literatura popular, isto é, dos romances de sensação e das narrativas pornográficas.
Para tanto, El Far faz uma análise do comércio livreiro do período, das suas raízes portuguesas até
as suas características principais, bem como da produção bibliográfica que fazia mais sucesso na
época: a literatura popular. Deste conjunto de obras, a antropóloga destacada os romances de
sensação e as narrativas pornográficas – então classificadas como “romances para homens” - que,
ao seu ver, são capazes de trazer muitos indícios de aspectos pouco considerados da realidade
social. Assim, El Far os descreve e reconstroi a leitura que o público deles fazia, numa tentativa de
compreender a sociedade daquele momento. É importante destacar que a autora é bastante atenta as
mudanças do comportamento do público, ou seja, da sociedade do espaço temporal analisado.

Espaço analisado: Capital Federal – Rio de Janeiro

Público-leitor: população carioca, que apresentava o menor índice de analfabetismo do país, sendo,
portanto, um caso específico. Oferece uma condição privilegiada para a análise da recepção das
obras do período. Era o verdadeiro “termômetro” da aceitação de uma narrativa.

Método: [Clifford Geertz] “'Fazer etnografia', diz ele, 'é como tentar ler um manuscrito estranho,
desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito
não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de comportamento
modelado'. Assim sendo, a tarefa de desvendar o caráter sensacional ou pornográfico dessas
narrativas, já perdidas no tempo, esteve pautada no intuito de efetuar uma leitura preocupada em
decifrar os códigos públicos do passado, existentes em suas linhas e entrelinhas”. (p.17)

“Como parte integrante de um quadro cultural bem mais amplo, esse conjunto de textos pode ser
melhor compreendido diante do cenário de sua produção. Ao intercalar 'texto' e 'contexto', para usar
as palavras de Darnton – ou então, as 'observações específicas' com os 'aspectos gerais', para
lembrar os termos utilizados por Geertz a respeito dos tradicionais trabalhos de campo –, o que até
então parecia estranho, exótico ou despropositado passa a exibir um conjunto viável de significados
e explicações”. (p. 18)

Referências: Roland Barthes, Walter Benjamin, Peter Burke, Antonio Cândido, Sidney Chalhoub,
José Murilo de Carvalho, Roger Chartier, Robert Darnton, Natalie Zemon Davis, Mary Douglas,
Norbert Elias, Lucien Febvre, Marc Ferro, Gilberto Freyre, Peter Gay, Clifford Geertz, Carlo
Ginzburg, Antonio Gramsci, Lynn Hunt, Sérgio Buarque, Marisa Lajolo e Regina Zilberman,
Claude Levi-Strauss, Michelle Perrot, Nicolau Sevcenko, Tzvetan Todorov, Max Weber, Nelson
Werneck Sodré, Lilia Moritz Schwarcz

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