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O nome de Dioniso
e seu culto remontam a alta antiguidade. O nome aparece na escrita Linear B de
Pilos; e inscrição e oferenda votivas atestam que o santuário de Hagia Eirene em
Ceos consagrava-se a Dioniso desde o século XV a.C.. O dionisismo pertence à
herança indoeuropéia; e quando na época arcaica restabeleceu-se a comunicação
com o oriente, a influência trácia e frígia reforçou entre os gregos os
elementos tradicionais do legado comum a esses povos. O mais antigo dos
festivais dionisíacos, as Antestérias, é celebrado tanto na Ática quanto na
Jônia e deve, portanto, ser anterior à colonização da Ásia Menor (cf. Tucídides,
II, 15, 4).
Um outro nome do Deus, Bákkhos, aparece pela primeira vez, na literatura
supérstite, no Éàipo Tirano de Sófocles (v. 211). Esse nome designava antes o
ramo carregado pelos iniciados (como em Xenófanes, frag. 17); depois designaram-
sè Bákkhoi (Bacos) e, no feminino, Bákkhai (Bacas) os portadores do ramo. Assim
passou a chamar-se Baco o Deus mesmo, enquanto conduz os Bacos; e ainda: Báquio
(Bakkheîos) e Baqueu (Bakkheús), como Deus dos Bacos e da Baquéia (Bakkheía: a
festa e o furor báquico).
Prólogo
Nas Bacas, quem diz o prólogo é o Deus Dioniso mesmo que, nesta sua primeira
epifania, apresenta-se como filho de Zeus, situa a ação em sua terra natal,
Tebas, e contempla e dá a contemplar os lugares aí consagrados pelo seu
nascimento (,v,v. l-12). A filiação divina de Dioni. so, afirmada por ele desde
o primeiro verso, reconhecida por seus fiéis e negada por seus opositores,
reitera-se mais de uma dezena de vezes (vv. 84, 366, 417, 466, 522, 550, 581,
603, 725, 859, 1037, 1042, 1341) e constitui o motivo e o eixo do drama.
Dioniso descre,ve o itinerário de sua marcha triunfante por terras bárbaras, ao
fim da qual chega a Tebas (vv. 1_3-20). É notável que o Deus se apresente, ao
mesmo tempo, coino nativo de Tebas e como recém-chegado de países bárbaros. O
catálogo deste itinerário, sem dúvida, reflete o conhecimento de práticas
cultuais afins ao dionisismo nessas terras estrangeiras. Dioniso, porém, não é o
único recém-chegado; também o é seu séquito de mulheres lídias que como Bacas
compõem o coro. Esta ambigüidade entre nativo e estrangeiro, - enfatizada pela
presença do Deus em sua terra natal acompanhado todavia de estrangeiras lídias,
- aponta iim lraço característico do culto extático: o estranhamento, a
extraordinária surpresa que diversamente empolga tanto ao cultor em seu êxtase
quanto a quem obser,va o seu comportamento durante o êxtase.
Dioniso apresenta as demais personagens do drama e suas atitudes perante o Deus
(vv. 21-54). As irmãs de Sêmele, mãe de Dioniso, negam a filiação divina e
consideram as n£ipcias com Zeus sofismas de Cadmo para encobrir o erro da filha
que, por essa mentira, teve com a morte o casti.go de Zeus. Por tal difamação de
sua mãe, Dioniso as puniu com a loucura, e elas, junto com as outras mulheres de
Tebas, todas aturdidas e com paramentos rituais, correm pelas montanhas.
Penteu, priino de Dioniso, recebe L1cl ci,vô de ambos, Cadmo, o poder real em
Tebas; ele, porém, coiubate o Deus e repele-o. Por isso, Dioniso quer
iiiostr,ir-se-llie Deus iiato, a Penteu e a tod.os os tebanos, para que assiin o
reconheçani, - eis o motivo do Deus e do drama. - Insiste-se na tr¿insmutaçàø
cla forma di~..ina na ioriiia hiimana (vv. 4, 53, 54); este é o priineiro
prødígio realizado pelo Deus em Tebas: a si.ia manifes~ tação mesma sob o
aspecto de uin mortal. Há serenidade na figura humana do Deus, mas tainbéin a
clara advertência de que não tolerará a expulsão das Bacas (vv. 50-2).
Dioniso conclama as niulheres que o seguem desde a Lídia a percutireiu os
ta~l~'borins lrígios diante do palácio real de Penteu, anunciando assim ao povo
a prcsença do Deus. Ele mesmo irá ao Citéron e parti<zip¿irà dos coros iormados
pelas tebanas por ele enlouquecidas (,v,v. 53-63).
Prelúdio
Atendendó a essa conclamaçào do Deus, o coro entra na orquestra, cantando um
prelùdio (vv. 64-72) eni que as Bacas se declaram oriunLias de l'molo, sagrada
montanha da Lídia, a dançarem por Brômio ("Freittente") e a ceiebrarem Báquio; e
pedem a atenção dos que estão na rua e eni casa, e reverente silêncio para que
se ouçam os hinos a Dioniso.
Párodo
Esses hinos coiistituem o párodo (vv. 64-169), composto por dois pares de
estrclfe e antístroie e por um epodo.
Estásimo I
Todos estes sinais miríficos, porém, são reduzidos pelo rei Penteu ao nível do
mero fazer humano e, pior, compreendidos como mesquinhez e torpeza. O rei está
cego à Divindade destes sinais divinos. O Deus, visando mostrar-se e fazer-se
reconhecer, cerca-o de solicitude e apresenta-se diante dele sob o aspecto de um
rrmortal a serviço do Deus mesmo e, por isso, feito prisiòneiro e algemado. As
primeiras palavras do rei, neste diálogo, revelam orgulhosa confiança ein sua
destreza atlética e o quanto está longe do sentido da realidade com que depara:
"Soltai suas mãos, pois está na rede: "'Não é tão rápido de modo a me escapar."
(vv. 451s.)
Neste'diálogo entre o rei e o Deus, evidenciam-se dois pontos de vista: o da
heróica negação da Divindade dos ïndícios divinos e o da numinosa solicitude em
manifestar-se como Nume. A persistência de Penteu em negar a Divindade dos
indícios divinos reduz a solicitude numinosa a "truques" (ekibdéieusas, v. 475),
"escapatória" ( parakhéteusas, v. 479), "ardil" (dóiion, v. 487), "malignos
sofismas" (sophismáton kakôn, v. 489) e "treino retórico" (ùuk agúmnastos iógon,
v. 491).
A revelação misteriosa de Dioniso e a compreensão destes mistérios dionisíacos
exigem que se dê à própria existência a forma que se revela nestes mistérios: só
assim, com a condição de que se realize na própria existência a verdade
revelada, pode-se compreender esta re~ velação, pois realmente só se pode
compreendê-la na forma da vida divina presente no ser que somos nós, homens
mortais.
O rei Penteu interroga o seu suposto prisioneiro na expectativa de informações
que não ultrapassem o âmbito finito do fazer humano; e assim lhe formula
questões concernentes à vida divina cuja verdade não se dá à compreensão que a
procura no nível da figura e do fazer humanos. A Penteu, persistente em sua
ignorância do Nume dos sinais numinosos, parece ser apenas treino retórico de
escamotear informações a impossibilidade verídica de se falar do sentido da vida
divina sem ultrapassar o âmbito e o nível nos quais Penteu espera as respostas.
Por exemplo, Penteu interroga e Dioniso res)onde:
Em sua ignorância do Nume dos sinais numinosos, Penteu ignora também não só os
limites de seu próprio poder (vv. 504s.), mas ainda o sentido de suas palavras,
de suas ações e de seu próprio ser (vv. 506s.). Até o nome lhe pesa, velada e
ominosamente, como um nome próprio para o infortùinio (v. 508). Nessas
condições, combate ao Deus e dá ordem de prisão contra Baco.