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Faculdade de Agronomia

ECO02065 - Planejamento e Gestão Agrícola

Trabalho Final - 2023/1

Avaliação agroeconômica de uma Unidade de Produção Agrícola


com proposição de mudança no sistema de produção.
Município São Valentim/RS
Ano Agrícola de 06/2017 a 05/2018

(Parte 1)

Autores:
Cristiane Stanhaus, Cristófoli Pereira, Heloísa Casagrande, Matheus Bragé dos Santos;

Professor:
Lovois de Andrade Miguel
(Parte 1)

1. Introdução

1.1. Localização e descrição da propriedade e região.

1.2. Descrição do sistema de produção.

2. Análise agroeconômica

2.1. Indicadores agroeconômicos da UPA.

2.2. Avaliações.

2.3. Taxa de lucro.

3. Aspectos positivos e negativos da UPA

4. Proposições

4.1. Aumento do número de vacas lactantes

4.2. Ampliação da estação de tratamento de dejetos

4.3. Utilização de um livro caixa

(Parte 2)

5. Simulações
1. INTRODUÇÃO

1.1. Localização e descrição da propriedade e região

A avaliação foi feita numa Unidade de Produção Agrícola localizada no


município de São Valentim, no Rio Grande do Sul, que fica a 181km da capital,
Porto Alegre. O acesso a propriedade fica a uma distância de 4km, em estrada de
terra com boas condições de trafegabilidade. Possui características de relevo
ondulado, pluviometria média de 1.648 mm, clima subtropical com chuva durante
todos os meses do ano e com estações bem definidas de verões quentes e invernos
frios.

A história da UPA começou no início do século XX, quando os bisavós já


eram proprietários da área. O avô do entrevistado teve 13 filhos, mas ao longo dos
anos, a maioria deles saiu da propriedade, incluindo o avô, que se mudou para a
cidade. Isso deixou apenas dois filhos na fazenda, que assumiram a gestão em
1980, quando a propriedade tinha 25 hectares. As principais fontes de renda para
essas duas famílias eram a produção de tabaco, suínos e pecuária leiteira.
Inicialmente, eles começaram com apenas cinco vacas, produzindo cerca de 10
litros de leite por dia. Nesse período, eles também adquiriram o primeiro trator da
fazenda, com 50 CV, embora tenham enfrentado desafios financeiros para pagá-lo.

Para lidar com as dívidas do trator, as famílias começaram a arrendar terras


vizinhas para aumentar sua renda, principalmente com a produção de soja e milho.
À medida que o tempo passava, os proprietários dessas terras começaram a vender
as propriedades. Entre 1985 e 2005, as terras na região eram relativamente baratas,
tornando o custo por hectare acessível. Aproveitando essa oportunidade, as duas
famílias gradualmente adquiriram terras próximas, aumentando quatro vezes o
tamanho total da propriedade. No entanto, aquisições de terras eram complexas e
requeriam acordos de pagamento a longo prazo, uma vez que eles não tinham
recursos para pagamento imediato e careciam de maquinário suficiente para auxiliar
nas operações.

Na década de 1990, a fazenda concentrou-se ainda mais na produção de


leite, expandindo as áreas de cultivo de grãos e investindo em infraestrutura,
incluindo instalações para bovinos leiteiros e uma sala de ordenha nos anos 2000.
Em 2016, um dos filhos retornou à propriedade, marcando a quarta fase da
sucessão familiar. No início de 2017, os agricultores herdaram 100 hectares de
terras, mas devido a desafios de planejamento e uso, a área permaneceu ociosa
durante o ano agrícola 2017/2018.

1.2. Descrição do sistema de produção


A UPA tem sua base produtiva alicerçada no cultivo de grãos e na criação de
bovinos leiteiros. Possui 325 hectares de área própria e 139,6 arrendada,
totalizando 464,6 hectares. As áreas agrícolas estão situadas próximo da sede da
propriedade e os talhões possuem tamanho variável. A sede da propriedade se
localiza a 456 metros de altitude, na depressão de um morro.

Ali estão localizadas a casa dos proprietários e todas as benfeitorias da


produção leiteira e agrícola, ocupando cerca de 1,0 ha. A mudança no relevo é
característica da região, onde a declividade máxima nos terrenos próximos da sede
ultrapassa 24%, sendo as áreas destinadas à mata nativa. Essa também predomina
nas margens de rios e de nascentes. Em áreas menos declivosas, próximo da sede
e que possui limitações para a produção de grãos (banhado e pedras na superfície),
predomina o cultivo pastagem nativa e cultivada perene (jiggs e tifton). Essas áreas
de pastagem são destinadas para animais que ainda não estão no plantel leiteiro,
como terneiros, vacas secas, novilhos.

O cultivo de milho para silagem é realizado sempre em áreas próximo da


sede, buscando maior rapidez e eficiência no processo de ensilagem. A integração
lavoura-pecuária é realizada principalmente entre a cultura da soja
(primavera/verão) e aveia + azevém (outono/inverno) devido ao maior tempo de
pastejo dos animais. As áreas de milho, no período hibernal recebem cobertura
vegetal com predomínio de espécies leguminosas, incrementando a fertilidade do
solo.

A rotação de culturas é realizada entre as culturas de soja e milho-silagem


em áreas próximas da propriedade. Essa frequência de alternância de cultivos é
comum devido a dinâmica do processo de ensilagem da gramínea. Já as áreas de
soja mais afastadas da sede recebem a cultura do milho destinado à grão, porém
em menor frequência (leva mais tempo para o milho ser cultivo na área), devido a
menor área cultivada com milho-grão comparado com a de soja.
Figura 1: Croqui da UPA; 1- Mata nativa; 2- Milho e silagem; 3- Pastagem nativa; 4- Sede e
benfeitorias; 5- Pastagem cultivada; 6- ILP.

2. Análise agroeconômica

2.1. Indicadores agroeconômicos da UPA.

De acordo com a planilha de avaliação, a área utilizada da UPA corresponde


a 68%, sendo o restante (100 ha) caracterizado por terras produtivas em estado
ocioso. A importância econômica das atividades desempenhadas na UPA é
demonstrada no gráfico abaixo:
O Produto Bruno Animal apresentou 39,5% de importância, com
(R$1.057.004,07), em comparação aos 60% de Produto Bruto Vegetal, com
(R$1.617.845,00). Já o autoconsumo da família é considerado baixo, com 0 ,8%
(R$22.409,00).

Na tabela abaixo é mostrado os indicadores de capital, com os gastos com o


consumo intermediário, a depreciação, e o DVA que é o conjunto dos impostos e
taxas, despesas financeiras, arrendamentos, salários e encargos sociais. O valor
resultante da subtração entre todos os custos anteriormente citados gera uma renda
agrícola anual de R$ 953.309,81. Em relação às rendas não-agrícolas, este
indicador apresentou apenas 10,2% de importância na UPA, sendo o valor em reais
de R$ 108.792,00.

Valor Agregado Bruto - VAB (em R$) 1,433,795.15

Receita Agrícola - RecA (em R$) 1,411,386.15

Depreciação - Dep (em R$) 101,076.15

Valor Agregado Líquido - VAL (em R$) 1,332,719.00

379,409.19
Divisão do Valor Agregado DVA - Imp + Sal/ Enc + DF + Arr (em R$)

Receita Agrícola Líquida- RAL (em R$) 2,273,030.88

Renda Agrícola - RA (em R$) 953,309.81

Importância Rendas Agrícolas - RA (em %) 89.76%

Rendas Não Agrícolas - RÑA (em R$) 108,792.00


Importância Rendas Não Agrícolas - RÑA (em %) 10.2%

Renda Total - RT (em R$) 1,062,101.81

2.2. Avaliações

A análise da eficiência do uso de mão de obra (SAU/UTH), onde UTH representa a


Unidade de Trabalho Homem, revela que uma UTH total é capaz de gerenciar uma
área de 37,22 hectares. Isso demonstra a capacidade de cobertura de uma
determinada extensão de terra por uma única unidade de trabalho homem. No que
se refere à avaliação da produtividade do trabalho (VAL/UTHt), que mensura a
capacidade de geração de riqueza proporcionada pela mão-de-obra empregada, os
resultados apontam para um valor de R$ 158.342,85 por UTH por unidade de
tempo. Essa métrica reflete a eficiência econômica da força de trabalho envolvida
nas operações agrícolas. As métricas aqui avaliadas podem ser melhor visualizadas
na Tabela 1.
A avaliação da produtividade da terra (VAL/SAU) relaciona-se com a
capacidade da área agrícola útil em gerar riqueza. Nesse contexto, a análise revela
que cada hectare de terra é capaz de produzir R$ 4.209,47 de valor agregado por
hectare. Isso representa a eficiência intrínseca da terra na geração de riqueza no
contexto agrícola.
No que diz respeito ao rendimento do trabalho (RA/UTHt), que avalia a
capacidade de geração de renda agrícola proporcionada pela mão de obra
empregada, os resultados indicam que a geração de renda agrícola atingiu R$
126.190,31 por UTH por unidade de tempo, enquanto o rendimento do trabalho
familiar foi de R$ 152.529,77. Estes valores traduzem a contribuição econômica da
mão de obra, tanto individual quanto familiar, para a renda agrícola.
O rendimento da terra (RA/SAU), que mede a capacidade de geração de
renda agrícola da área agrícola útil, apresentou um valor de R$ 3.011,09 por
unidade de área. Isso quantifica a capacidade da terra em gerar renda na
exploração agrícola.
Por fim, a avaliação do trabalho de uma UTH e seu rendimento total do trabalho
(RT/UTH) revela que uma UTH produz uma renda total de R$113,264.53, enquanto
uma UTH familiar gera R$ 152,529.57por UHT familiar. Esses números evidenciam
a importância das unidades familiares na agricultura, destacando sua eficácia na
geração de renda no setor agrícola.

Tabela 1. Resultados dos indicadores de produtividade, rendimento e renda mensal.

Receita Agrícola Líquida- RAL (em R$) 2,273,030.88


Renda Agrícola - RA (em R$) 953,309.81
Importância Rendas Agrícolas - RA (em %) 89.76%
Rendas Não Agrícolas - RÑA (em R$) 108,792.00
Importância Rendas Não Agrícolas - RÑA (em %) 10.2%
Renda Total - RT (em R$) 1,062,101.81

Eficiência da Mão de Obra - SAU/UTHt (em ha por UTH) 37.62

Produtividade da Terra -VAL/SAU (em R$ por ha) 4,209.47


Rendimento da Terra - RA/SAU (em R$ por ha) 3,011.09
Rendimento Total da Terra - RT/SAU (em R$ por ha) 3,354.71

Produtividade do Trabalho - VAL/UTHt (em R$ por UTH) 158,342.85


Rendimento do Trabalho - RA/UTHt (em R$ por UTH) 113,264.53
Rendimento Total do Trabalho - RT/UTHt (em R$ por UTH) 126,190.31

Produtividade do Trabalho Familiar- VAL/UTHf (em R$ por UTH) 213,235.04


Rendimento do Trabalho Familiar - RA/UTHf (em R$ por UTH) 152,529.57
Rendimento Total do Trabalho Familiar - RT/UTHf (em R$ por
UTH) 169,936.29
Renda Agrícola Mensal Familiar (em R$ por mês) 79,442.48
Renda Total Mensal Familiar (em R$ por mês) 88,508.48

2.3. Taxa de lucro.


Taxa de Lucro AGRÍCOLA - TLa (em %) 5,17%
Taxa de Lucro TOTAL - TLt (em %) 5,76%
Em última análise, a tabela abaixo nos apresenta a avaliação da capacidade
de geração de renda do sistema de produção. Isso acontece devido à inclusão de
rendas não agrícolas, que não têm vínculo com o capital imobilizado. Por outro lado,
a taxa de lucro agrícola analisa exclusivamente a renda agrícola em relação ao
capital imobilizado. Contudo, é importante ressaltar que, como mencionado
anteriormente, mesmo que existam rendas não agrícolas na Unidade de Produção
Agrícola (UPA), como aposentadorias e aluguéis, essas representam apenas 10,2%
do total de importância na UPA. Portanto, a renda agrícola é responsável por quase
toda a taxa de lucro.

3. Avaliação da UPA em função de seus aspectos positivos e


negativos

Conforme nos interamos nas informações da propriedade, pudemos destacar


alguns aspectos positivos dentro dela, desta forma, pode-se notar uma evidente
parceria de sucesso entre a UPA e a Cosuel ao entregar toda a sua produção de
leite à, obtendo assim um valor pago pelo leite acima da média de mercado,
demonstrando uma estratégia sólida de comercialização do produto final.
Em relação a infraestrutura da UPA, percebeu-se de que ela foi muito bem
projetada, incluindo geradores, câmaras frias e um galpão adequado para suas
atividades de produção, contribuindo assim para maior eficiência e qualidade do
processo produtivo, garantindo condições ideais para o armazenamento e
processamento dos produtos.
No tocante a parte de mecanização agrícola, notou-se o maquinário em boas
condições de funcionamento, que é essencial para garantir a eficiência das
operações agropecuárias da UPA. Facilitando os manejos de cultivo e a colheita de
produtos na propriedade, aumentando a eficiência e produtividade dos processos
produtivos, já que a janela de semeadura é cura em decorrência do clima.
Notou-se ao ler os dados da UPA que a mesma possui caminhões próprios
para o transporte de seus produtos, o que otimiza a logística e reduz custos em não
havendo serviço de terceiros.
Outro ponto importante é a localização estratégica da UPA, que facilita o
acesso e a distribuição de produtos, o que é fundamental para o sucesso do
empreendimento. Essa localização geográfica aumenta a eficiência logística e a
conveniência para os clientes e mercado consumir. Quanto mais perto o mercado
de distribuição dos produtos, menor é o custo de logística.

Na parte de aspectos negativos dentro da propriedade é a inadaquação no


sistema de estabilização dos dejetos, onde não cumprem as exigências técnicas
para o uso do esterco/composto, tendo como a necessidade de duplicação do
mesmo como relatado pelo produtor.

Outra questão importante é a ausência do livro caixa. Importante ferramenta


que apresenta informações importantes de tudo que entra e sai do capital da
propriedade, e irá entrar como proposta de intervenção.

4. Proposições

4.1. Aumento do número de vacas lactantes

Para aumento na lucratividade, recomendaremos ao produtor o aumento no


numero de animais lactantes de 65 para 75 animais, já que a capacidade do sistema
os permite 80 animais.

4.2. Ampliação da Estação de Tratamento de dejetos

Com a ampliação da estação de tratamento de dejetos animais, o período de


estabilização dos dejetos aumentará de 75 para 150 dias, conforme relatado pelo
produtor, o que está de acordo com as recomendações técnicas para uma
estabilização completa. Isso é de fundamental importância, uma vez que esses
resíduos são utilizados como fertilizantes no sistema de cultivo da propriedade,
obtendo assim melhor aproveitamento.

4.3. Utilização de um Livro caixa.


O registro financeiro de uma propriedade rural, quando bem elaborado,
desempenha um papel muito importante na tomada de decisões. Nele são
registrados de forma confiável as receitas e despesas já efetuadas na propriedade.
Além disso, esse documento possibilita fazer projeções futuras, incluindo
investimentos e decisões estratégicas a serem tomadas, visando minimizar
possíveis erros. Além disso, auxilia na contabilidade, registrando todos os atos e
eventos administrativos do negócio como compra de insumos por exemplo. Cabe
destacar que tanto profissionais autônomos quanto empresas/UPAs regularizadas
podem elaborar esse registro.

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