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Data: 15/01/2023

Análise de João 5: 1-18

Panorama:
Existe um ciclo de festas no evangelho de João que começa no capítulo 5 e se
encerra no capítulo 10. É nessa porção do evangelho em que se acirrará a tensão
entre Jesus e os mestres do seu tempo (Fariseus).

No capítulo 5, não está definido que tipo de festa exatamente estava


acontecendo, mas não é de grande relevância para a narrativa, pois ela se
passará no dia de festividade semanal, o sábado.

Os judeus da época de Cristo tinham a crença de que Deus trabalhava em três


áreas de prerrogativas divinas especiais, que são: nascimento, morte e chuvas.
Tais ações aconteciam indiscutivelmente nos dias de sábado também. Então,
com essa perspectiva em mente, Jesus demonstra ao seu público de que, por ser
como o seu pai, também possui a autoridade para trabalhar no dia de descanso
(que, por sinal, havia sido deturpado pelos mestres da lei).

E Jesus usa poderosamente a cura de enfermos no sábado como fundamento


para o seu discurso (v.16-47).

Havia santuários de cura espalhados por todo o mundo antigo, especialmente em


torno do culto a Asclépio¹ (de onde vem o símbolo da medicina que usamos ainda
hoje) e a outras divindades populares por seus poderes de cura.
Na maior parte desses santuário, era necessário que os debilitados fossem
purificados na fonte anexa ou em alguma outra fonte de água.
De maneira ainda mais enfática, este capítulo demonstra Jesus como o agente do
Pai.

Por fim, não há como deixar de notar o contraste entre o poder de Cristo com a
eficácia do tal santuário. Jesus sem sombra de dúvidas é a verdadeira fonte de
vida a jorrar para todos aqueles que têm sede.

Comentário
V:1 As informações do panorama são o suficiente para compreender este
versículo, com um adendo de que alguns estudiosos especulam que possa ser
a Festa dos Tabernáculos.

V:2 Os banhos públicos eram comunas nas cidades greco-romanas e também


funcionavam como locais de reunião das pessoas.

No manuscrito de Qumran está a confirmação do nome desse tanque, e


arqueólogos descobriram um tanque nesse lugar que corresponde exatamente
com as descrições que temos.

“Betesda” significa “casa de misericórdia” e que apesar de João escrever


depois da destruição de Jerusalém, em 70 d.C., ele se lembra com exatidão
dos detalhes do lugar.

V:3 Esse sítio foi mais tarde utilizado como santuário de cura pagão. Pois,
havia o costume de se reutilizar velhos santuários.

É bem provável que a comunidade do tempo de Cristo considerava esse local


como um lugar de curas miraculosas. Todavia, as autoridades do templo não
viam com bons olhos esse espaço já que esses santuários eram característicos
de ritos pagãos. Mas, a religiosidade popular na maior parte do tempo ignora
as contradições da sua própria crença, que por sua vez são mais claras (ou
deveriam ser) para os líderes espirituais.

V:4 Este versículo é mais provável ser um acréscimo de algum escriba


familiarizado com a tradição de cura em Betesda. Ele tem o papel de explicar o
versículo 7, que de outra forma, seria incompreensível.

V:5 Curiosamente, esse homem já estava mais tempo naquele tanque enfermo
do que a média da duração de vida dos seus conterrâneos. Uma comparação
interessante é com o tempo que o povo passou exilado no deserto após a
saída do Egito (40 anos), esse homem fica quase tanto tempo doente quanto o
tempo que o povo esteve em exílio no deserto.

V: 6- 9a No capítulo 2:6 e 3:5, Jesus substitui a água da cerimônia de


purificação. Já no capítulo 4:13-14, ele substitui a “água sagrada” de um lugar
sagrado para os samaritanos. Agora é o próprio Cristo, e não as águas desse
tanque pagão, quem restaura a saúde do homem.

Veja como João vez após vez contrapõe a ação extramundana de Jesus sobre
elementos físicos. Cristo é aquele que está acima da sabedoria humana, é o
que submete a criação aos seus propósitos e não pode ser contido por nada
que exista. Mas o que existiria ou permaneceria, sem a presença constante e
completa do criador na sua criação? Sugiro a leitura dos primeiros capítulos do
livro 1 de confissões de Santo Agostinho.
V 9b- 10: As regras bíblicas de fato proibiam os judeus de trabalhar ao sábado
ou até mesmo de pegar lenha para fazer fogo (Nm 15: 32-36). Já no tempo de
Jesus a lei judaica (diferente da Torá) proibia explicitamente o transporte de
objetos no sábado, pois era interpretado como uma forma de trabalho.

V 11- 13: Muitos mestres interpretavam que curas mais simples — curas
realizadas por médicos não necessárias para salvar uma vida— no sábado
eram proibidos. Os fariseus não levam em consideração a cura miraculosa de
Cristo e para eles o fato ocorrido se equipara a realizada por um médico
comum.

V 14: O ex-paralítico possivelmente foi ao templo para prestar agradecimentos


pela cura (Lv 14:10; Sl 56:12). O sofrimento por vezes era um sinal de Juízo do
próprio Deus e Jesus alerta esse homem para um juízo maior ainda, que
provavelmente é uma referência ao Juízo final na ressureição dos mortos.

V 15- 16: Os fariseus estavam colocando sua tradição religiosa puramente


humana acima do amor genuíno e da compaixão ao próximo exigida pelo AT.
Portanto, quem cumpre verdadeiramente a lei de Deus é Jesus e não os seus
opositores.

V 17: Todos reconheciam que Deus, desde a criação, não parou um único dia
de sustentar a sua criação. Por analogia, aquilo que é certo Deus fazer em seu
trabalho, é correto também o que Jesus faz, pois ele é igualmente um com o
Pai.

V 18: Rabinos do século 2 d.C. acusavam muitos cristãos judeus de crer em


dois deuses. Até mesmo para os gregos, que acreditavam que a linha que
separava o divino e o mortal era bastante tênue, viam como presunçosas as
tentativas humanas de autodivinização. Portanto, cumpre-se o que Paulo diz
em 1Co 1 :22- 25.

Quando alguém desprezava uma lei da Torá acabava anulando-a; assim, a


sensação deles aqui é que Jesus está “destruindo” o sábado.

Anexos:

A fim de ressaltar certos aspectos, João contrapõe o homem curado em 5:1-9 a


outro curado em 9:1-7.
João 5:1-17 João 9:1-34
Incapaz de andar durante 38 anos Cego de nascença (9:1)
(5:5)
Jesus realiza a cura, e não um tanque Jesus usa um tanque de Jerusalém
em Jerusalém (5:3-7) para realizar a cura (9:7)
Não continuem a pecar para que não Nem esse homem nem seus pais
sofram algo pior (5:14) pecaram para causar essa condição
(9:2)
O homem fala de Jesus às O homem se recusa a negar Jesus
autoridades ( 5:15) diante das autoridades (9: 24-34)
Jesus realiza as obras do Pai (5:17) Jesus veio para completar as obras
do Pai (9:3-4)
Paralelos entre João 5:1-17 e 9:1-34

Asclépio¹

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