Você está na página 1de 166

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

SET-403 – Sistemas Estruturais –


Elementos Estruturais

JOSÉ JAIRO DE SALES


MAXIMILIANO MALITE
ROBERTO MARTINS GONÇALVES

SÃO CARLOS
2020
~ ..

I
I

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

Departamento de Estruturas

SET 403 .. Sistemas Estruturais


.. Elementos Estruturais ..

ÁREA DE ESTRUTURAS METÁLICAS

TLA

São Carlos, 1994


Publicação: 014/94
APRESENTAÇÃO

Esta discipl1na, denomlnada "Sist:emas Estruturals",


v1sa apresentar e descrever as di versas tlpologias estruturals
exlstentes, introduzlndo assim os alunos nas regras que llgam as
ações aos materiais e às forças desenvolv1das para reslStlr à
estas ações.
Dentro do programa do curso de engenharla clvll,
procura-se nesta disciplina fazer a ligação entre as dlsclpllnas
básicas da área de estruturas (resistência e estátlca) com as de
formação (concreto, aço, madeira, fundações).
Estas notas de aula sintetizam a primeira parte da
dlsciplina, que discute os elementos estruturais mais utlllzados,
procurando dar um enfoque da- evolução, do comportamento e da
lnterligação destes elementos entre Sl, formando assim o slstema
estrutural a ser empregado.
Alguns elementos são estudados a partir de ensalos de
modelos, outros mais simples não tiveram este tratamento, uma vez
que este estudo deve ser mais qualitativo, não se restrlnglndo a
um mero resultado numérico.
Críticas e contribuições serão bem recebidas, pols os
autores entendem não ser esta urna publlcação concluslva.

JOSÉ JAIRO DE SÁLES


MAXIMILIANO MALITE
ROBERTO M. GONÇALVES
SUMARIO

1- INTRODUÇÃO 01
1.1- A Função das Estruturas 01
1. 2- Definições Básicas Ol
1. 3- Estruturas Lineares 02
1. 4- Estruturas Laminares 10
1.5- Estruturas de Blocos 13
1. 6- Exercicios Propostos 15

\2- FIOS E CABOS I 16

2.1- Comportamento Estrutural 17


2.2- Cabo em Suspensão Parabóllca 21
2.3- Cabo com Apoios Desnlvelados 26
2.4- Cabos em Catenária 27
2.5- Ação do Vento 31
2.6- Exercicios Propostos 33

3~ ARCOS I
I 36
"-.__/

3.1- Classificação aos Arcos 38


3.2- Relações e Terminologia 40
3.3- Seções Empregadas 42
3.4- Estabilidade 43
3.5- Resolução de Arcos Isostáticos 44
3.6- Exercicios Propostos 49

4- TRELIÇAS/ 52

4.1- Comportamento do Triângulo Indeforrnável 52


4.2- Estudo de Alguns Modelos de Treliças
4.3- Outros Tipos de Treliças 60
4.4- Resolução de urna Treliça de Banzos Paralelos 60
4.5- Exercicios Propostos 64
5- VIGAS 66

5.1- Comportamento Estrutural 66


5.2- Análise de um Ensaio 69
5.3- Seções Usuais 75
5.4- Estabilidade Lateral 77
5.5- Exercicios Propostos 85

í''•
~6- PILARES 87

6.1- Flambagem Elástica 88


6.2- Flambagem Inelástica 93
6.3- Flexo-Compressão 95
6.4- Amplificação de Solicitações 1·01
6.5- Equações de Interação 104
6.6- Exercicios Propostos 106

·7- GRELHAS 108

8- ELEMENTOS DE SUPERFíCIE 118

8.1- Placas e Chapas 118


8 .1.1- Flexão em Placas 118
8 .1. 2- Flambagem de Chapas 129
8.2- Cascas ou Membranas 132
8.2.1- Casca de Revolução Delgada 138
8.2.2- Casca de Revolução sob Pressão Interna 142
8.2.3- Exemplos 144

9- ALGUNS SISTEMAS ESTRUTURAIS 148

9.1- Em Cabos 148


9.2- Em Arco 151
9.3- Em Pórtico 153
9.4- Em Blocos 157

BIBLIOGRAFIA 160
1- INTRODUÇÃO

1.1- A Função das Estruturas

A execução de uma construção, seja uma ponte, um


edifício, uma residência ou mesmo um simples muro de contenção,
implica necessariamente na construção de urna estrutura suporte.
que necessita por sua vez, de proJeto, planejamento e execução
própria.
Portanto, a estrutura em uma construção, tem corno
função prioritária, garantir a forma espaclal idealizada para a
mesma, e de assegurar sua integridade pelo período de tempo que
for julgado necessário.

1.2- Definições Básicas

As estruturas, também denominadas de sistemas


estruturais, devem ser entendidas como disposições racionais e
adequadas de diversos elementos estruturais, classificando-se
como elementos estruturais os corpos sólidos elástico-deformáveis
que possuem capacidade de receber e de transmitir ações.
Estes elementos, em função das suas três dimensões
externas principais, podem ser divididos em três categorias:

1
-Quando duas dimensões são da mesma ordem de grandeza e
muito menores que a terceira dimensão, tem-se o elemento
estrutural linear denominado barra.
-Quando duas dimensões são da mesma ordem de grandeza e
muito maiores que a terceira dimensão, tem-se o elemento
estrutural de superficie, que pode ser denominado folha, placa,
chapa ou casca.
-0 elemento estrutural que tem as três dimensões da
mesma ordem de grandeza é denominado bloco, sendo um elemento de
volume, em que não há predominância de uma dimensão sobre as
outras.

1.3- Estruturas Lineares


As estruturas formadas por uma ou mais barras são
denominadas de estruturas lineares. De fundamental importância na
construção civil, destacam-se entre elas as vigas, os pilares, as
treliças, os arcos, os pórticos, etc. Assim, por exemplo, nas
estruturas de concreto armado dos edificios correntes, as vigas,
que suportam as ações oriundas das lajes e das paredes, apóiam-se
sobre pilares que transmitem as referidas ações às fundações. As
treliças, outro tipo de estrutura linear, usualmente de madeira,
aço ou aluminio, são largamente empregadas em coberturas e em
pontes. As estruturas de barras, que podem ser planas ou
tri-dimensionais, dependendo do arranjo de seus elementos, são
estudadas segundo hipóteses estabelecidas na Resistência dos
Materiais e na Estática das Construções, observando-se, como é
natural, os aspectos peculiares de cada uma. A seguir são
apresentadas as definições de alguns elementos estruturais e das
principais estruturas lineares.

1 - Eixo de urna barra


Trajetória do centro de gravidade da figura geradora de urna
barra.
2 - Seção transversal de urna barra
Seção da barra, resultante da sua intersecção por um plano
normal ao eixo.

2
3 - Barra reta
Barra com eixo retilineo.

4 - Barra curva
Barra de eixo curvilineo.

5 - Barra prismática
Barra reta de seção transversal constante.

6 - Viga
Estrutura linear disposta horizontalmente com um ou mais
apoios.

7 - Viga em balanço
Viga com um só apoio, necessariamente um engaste fixo.

8 - Viga simplesmente apoiada


Viga com um apoio livre fixo e um apoio livre móvel.

9 - Viga biengastada
Viga com dois apoios engastados.

10- Viga articulada ou gerber


Viga articulada sobre mais de dois apoios.

11- Viga continua


Viga hiperestática, sobre mais de dois apoios.

12- Viga-balcão
Viga cujo eixo, curvo ou poligonal, se situa em um plano fora
do qual agem as ações.

13- Viga-coluna
Viga com solicitações de flexão e de compressão.

14- Viga-armada
Viga constituida por uma barra em que os esforços solicitantes

3
predominantes são momentos fletores e por outras barras em que
só há esforços normais.

15- Viga Vierendeel


V1gas de banzas paralelos, contendo só montantes.

16- Mesa de urna viga


Parte de urna viga de alma cheia que resiste principalmente aos
momentos fletores

17- Alma de urna viga


Parte de uma viga que resiste principalmente às forças
cortantes.

18- V1ga de alma cheia


Viga, cuja alma não tem espaços vazios.

19- Viga de alma vazada


Viga, cuja alma tem espaços vazios

20- Treliça
Estrutura linear constituída de barras retas.

21- Viga trelicada


Treliça de banzas paralelos.

22- Banzo ou corda


Conjunto das barras que limitam superiormente (banzo superior)
e inferiormente (banzo inferior) a viga em treliça ou a viga
Vierendeel.

23- Tirante
Barra reta em que os esforços solicitantes predom1nantes são
forças normais de tração.

24- Montante
Barra vertical das treliças ou das vigas Vierendeel, ou ainda,
barra vertical em que o esforço solicitante predominante é uma
força normal de compressão.

4
~ i l ~
~
alEm &lanço g) Viga-Coluna

~ ~ l
~
n47 :::6._
/77'77

b) Simplesmente Apoiada

~f ~
•~
ESCORA'

c) Biengastoda
~r;<=.
~ l l ESC~AS
h l Armadas
'2:::
77777
~
.T7777
::A..
/7777 COROA OU

l :.E! l -:zs:: ~

l
/"777'7

~
?77'77

+ ~
:A.
77777
l )
7
COROA OU
ldÓNTANTES

~ ::Li_ BANZO INFERIOR


/7'7777 /77777 i. l Vierendeel
MESA SUPERIOR
d l Articuladas ou Gerber

A
l l:z:: l :z:: + ::A
77'777 77777 77'777
---

t.aESA INFERIOR
l
j l De Alma Cheia

~*
lK l :zs:+ l
77777? /77777
~ MESA

e l Contthuas ALMA

k l De Alma Vazada
,-COROA OU BANZO

MONTANTEs

f l Balcão
!1 Treliçada
Figura 1.1- Esquemas Estruturais das Vigas

5
25- Escora
Barra reta, com eixo disposto não necessariamente na vertical,
em que os esforços solicitantes predominantes são forças
normais de compressão.

26- Diagonal
Barra com o eixo coincidente com a diagonal de um painel.

27- Painel
Trecho de uma estrutura linear compreendido entre dois
alinhamentos consecutivos de montantes.

28- Nó
Junção das extremidades das barras de uma estrutura linear.

29- Tesoura
Treliça plana destinada ao suporte de uma cobertura.

30- Linha de uma tesoura


Conjunto das barras que limitam inferiormente uma tesoura.

31- Perna de uma tesoura


Conjunto das barras de cada um dos alinhamentos retos que
limitam superiormente a tesoura de duas águas.

32- Pendural de uma tesoura


Barra vertical central de uma tesoura de duas águas.

33- Mão Francesa


Barra inclinada em treliças ou pórticos, solicitada por força
normal de compressão.

34- Pilar ou Coluna


Barra, geralmente reta, com eixo quase sempre disposto
verticalmente, em que os esforços solicitantes predominantes
são forças normais de compressão.

6
Tesoura Triangular

Tesoura Trapezoidal

Figura 1.2 - Tesouras em duas Águas

35- Pórtico
Estrutura linear plana, com solicitações coplanares que, não
sendo consti tuida de barra única de eixo teoricamente
retilíneo, não recai na categoria de arco, cinta, viga ou
treliça.
36- Andar
Trecho de um pórtico compreendido entre dois níveis
consecutivos de vigas.
37- Fio
Barra que só pode resistir a solicitações de tração segundo seu
eixo.

7
38- Cabo
Conjunto de fios.

39- Estrutura pênsil


Estrutura linear cujos elementos principais são cabos.

40- Malha
Conjunto de barras contiguas limitando uma região fechada do
plano.
41- Rede
Estrutura linear não plana, cujas barras se dispõem de modo que
seus eixos se situam em uma superficie homeomorfa do plano.

42- Reticulado tridimensional


Estrutura linear cujas barras se dispõem em planos diversos.

43- Grelha
Estrutura linear plana formada por barras que se cruzam e
recebem solicitação não coplanar.

44- Cinta
Barra curva que envolve um corpo e na qual os esforços
predominantes são forças normais de tração.
45- Arco
Barra curva em que os esforços solicitantes predominantes são
forças normais de compressão, agindo simultaneamente ou não,
com momentos fletores.

8
a) Deslocáveis - Simples

b) Indeslocáveis -Simples

~.,. n. ,., n. ~ n
,
" ~

c) Múlti pios- Deslocáveis e In deslocáveis

d l Espaciais (Reticulado Tridimensional l

Figura 1.3- Esquemas Estruturais Aporticados

9
Figura 1.4 - Grelhas

Figura 1.5- Estruturas Pênseis

1.4- Estruturas Laminares

As estruturas laminares, também conhecidas como


estruturas de superficie, ficam definidas quando se conhecem a
sua superficie média e a lei de variação da sua espessura. Dentre
as estruturas laminares, destacam-se as placas, as chapas e as
cascas. As cascas são amplamente empregadas em coberturas de
grandes vãos e em reservatórios, enquanto que as placas litóides
(lajes) aparecem mui to frequentemente em pisos de edificios de
habitação. O estudo das estruturas laminares, bem mais complexo
que o estudo das estruturas lineares, é feito com teorias

10
próprias Teoria das Placas, Teoria das Chapas e Teoria das
Cascas - que resultam de simplificações adequadas da Teoria da
Elasticidade. Definições e esquemas das principais estruturas
laminares são dadas a seguir:

- Lâmina
Corpo em que uma das dimensões é muito menor do que as outras
duas.

- Folha
Estrutura constituída por uma ou mais lâminas.

- Folheto médio
Superfície média de uma folha.

- Plano Médio
Folheto médio de uma folha plana.

- Chapa
Folha plana sujeita a esfoços apenas em seu plano médio.

- Viga-parede
Chapa ~isposta verticalmente sobre apoios isolados.

- Placa
Folha plana sujeita principalmente a esforços fora do seu plano
médio.

- Laje
Placa de material litóide.

- Casca
Folha curva sujeita a esforços no seu plano médio.

- Membrana
Casca sujeita a esforços apenas nos planos tangentes ao seu
folheto médio.

11
a ) Chapa b) Viga Parede

l
c) Placa , Laje d) Casca Cilíndrica, Aboboda

e) Cúpula , Casca Esfehca f) Folha Prismática, Poliédrica

Figura 1.6 - Elementos Estruturais Laminares

12
- Casca cilindrica
Casca cujo folheto médio é cilindrico.

- Abóboda
Casca cilindrica sujeita principalmente a esforços normais de
compressão.

- Cúpula
Casca de dupla curvatura sujeita principalmente a esforços
normais de compressão.

- Folha poliédrica
Folha constituida por lâminas planas.

- Folha prismática
Folha poliédrica de arestas paralelas.

- Seção normal de uma folha


Seção da folha resultante da sua interseção por uma superficle
gerada por retas normais ao seu folheto médio.

- Seção transversal de uma folha prismática ou cilindrica


Seção normal de uma folha prismática ou cilindrica resultante
de sua intersecção com o plano normal e suas arestas ou
geratrizes.

1.5- Estruturas de Blocos


Os blocos são elementos estruturais comumente
empregados nas fundações das construções, com a finalidade de
transmitir ao solo as ações da superestrutura. O estudo dos
blocos é feito através da Teoria da Elasticidade ou da Teoria da
Plasticidade.
Alguns blocos podem ser apoiados diretamente sobre o
solo, dependendo da capacidade suporte do mesmo.

13
Quando necessário, costuma-se construir estacas ou
tubulões, até a profundidade onde se consegue transmitir as ações
ao solo, e sobre estas estacas ou tubulações constróem-se blocos
de concreto, para unir entre si estes elementos e para distribuir
melhor as ações aplicadas.

a ) Bloco Apoiado sobre b l Sapata Flexível


o Solo

c l Bloco sobre Estacas

Figura 1.7 -Estruturas de Blocos para Fundações

14
1.6- Exercícios Propostos

l-Sem consultar qualquer texto, defina:

a-Sistema Estrutural
b-Elemento Estrutural
c-Elemento de Barra
d-Elemento de Superfície
e-Elemento de Volume

2-Liste os elementos de barra utilizados para resistirem a


esforços normais de tração.

3-Idem, para compressão.

4-Liste e desenhe os diversos tipos de vigas.

5-Desenhe e identifique os elementos que compõem uma tesoura.

6-Idem, para uma treliça de banzos paralelos.

7-Liste os principais elementos de superfície.

8-Descreva o comportamento estrutural dos elementos:


a-Placa
b-Chapa
c-Membrana

15
2- FIOS E CABOS

A característica principal destes elementos é que os


mesmos absorvem as ações externas por meio de esforços norrnals de
tração.
A forma destes elementos, no caso ideal, coincide
precisamente com o fluxo dos esforços, e assumem portanto, como
forma externa, o caminho que as forças aplicadas percorrem até os
apoios.
Pelas características descritas, estes elementos são os
mais indicados para cobrir grandes vãos e formar grandes áreas
livres. Porém, desenvolvem empuxos nos apoios, cuja absorção
constitui o maior problema no projeto, devido à direção e
intensidade destes empuxos.
Os fios são normalmente utilizados isoladamente sendo
submetidos à ação do peso próprio, vento e variações de
temperatura. É o caso de linhas de transmissão, sinalização ou
comunicações.
Os cabos, além das ações já descritas, podem suportar
também as ações concentradas ou distribuídas provenientes de
outros elementos que porventura componham a estrutura.
Na antigüidade, foram utilizadas cordas de cânhano ou
de rami na construção de pontes corno a do rio Pampas no Peru, do
rio Ganges na índia e sobre inúmeros precipícios da região
Himalaia.

16
Acredita-se que o emprego destas cordas antecessoras f

dos cabos de aço atuais tenha sido ditado pela ausência de


f

outros materiais no local da construção ou pelas dimensões a


f

serem vencidas, que obrigou os construtores da época a


desenvolverem engenhosos sistemas estruturais baseados no uso
destas cordas.
Na arquitetura grega antiga, a cobertura dos espaços
destinados a teatros e templos, representou um desafio que fol
vencido com o emprego de tetos suspensos. Há registros que os
romanos tentaram cobrir desta forma, o Coliseu Romano, no ano
70AC, que possui forma eliptica, com eixos medindo 189m e 156m.
que resultaria em urna área coberta de quase 23.000m 2 .
Das tendas dos povos nômades originou-se a cobertura em
membrana que, por vários milênios, não sofreu alteração de forma
ou de material.
Com a revolução industrial surgiram os cabos de aço,
que possibilitaram a construção de pontes pênseis com mais de
1.000rn de vão, coberturas com áreas superiores a 10.000m 2 , como
por exemplo o pavilhão de São Cristóvão, construido no Rio de
2
Janeiro em 1959 com 32.000m , e corno última evolução das tendas,
a cobertura olimpica de Munique para as Olimpíadas de 1972 com
7 5. 000m 2 de área coberta total, sem esquecer da impressionante
cobertura do terminal do aeroporto de Jeddah, na Arábia Saudita,
que cobre urna área total de 500.000m 2 .
Estas obras monumentais atestam a facilidade com que os
cabos vencem grandes vãos ou cobrem grandes áreas, mas não
invalidam a sua aplicação em obras de menor porte.

2.1- Comportamento Estrutural

Os fios e os cabos possuem pequena resistência à flexão


e quase nenhuma resistência à compressão. Para fins práticos
costuma-se desprezar estas resistências e só se considera a
resistência à tração. Devido a estas caracteristicas, estes
elementos costumam assumir como forma estrutural ou configuração
de equilibrio, aquela determinada pelo tipo de ação a que estão
submetidos.

17
Como exemplo pode-se analisar o cabo da figura 2.1,
submetido a uma força P, vertical, sendo desprezado o peso
próprio ao cabo.

Figura 2.1- Cabo com força concentrada no meio do vão.

Pelas equações de equilíbrio da estática e da simetr1a


da figura obtém-se:

VA -- VB = V = P/2

HA -- HB -- H = P~/4f
Como observação adicional, cabe observar que a
expressão que determina o empuxo H, pode ser entendida corno o
valor do momento que a força P despertaria, em urna viga
s1rnplesrnente apoiada com o mesmo vão do cabo, dividido pela
flecha. Este é o principio da viga de substituição, que possui
largo emprego em problemas de engenharia.
O esforço
-- - de tração T pode ser calculado fazendo:
---·----~----

T = V/sen~ = VL/f
--._---------~~ --·
Quando duas ou mais forças são aplicadas (fig. 2.2) é
possível usar o mesmo princípio, pois em'cada ponto de aplicação
das forças é possível fazer M = O, ou seja:

18
i
~

Figura 2.2- Cabo com três forças concentradas.

Por equilibrio de momentos em relação ao ponto A


tira-se:

VB = + (
'l-
p
11
.t + p
22
.t + p .t )
33

e, por somatório das forças verticais:

vA = p 1 + p
2
+ p
3
- vB

O empuxo HA pode ser obtido fazendo-se EMc= O:

e conseqüentemente:

TA = VA LAC /f C

De maneira análoga:

19
Os esforços no cabo, entre os pontos C-D e D-E podem
ser obtidos pelo equilibrio dos nós C e E, que fornecem ( flg.
2. 2. a):

Hc = HA = HD = HE = HB = CTE.
vc = VA p = LlH
1 1

VE = p 2 - LlH 1

= HL DE /(fD

Como pode ser observado, o empuxo H é constante ao


longo do cabo, sendo a variação de T causada pela variação de V,
que pode ser representada pela variação do esforço cortante na
Vlga de substituição (fig. 2.3)

Figura 2.3- Cortante e Momento Fletor na Viga de Substitulção

Quando o número de forças aplicadas em um cabo torna-se


lgual ou superior a dez, pode-se considerar o cabo submetido a
uma ação distribuida segundo o vão ou segundo o seu comprimento.
Os dois casos conduzem à soluções diferentes, mas com respostas
muito próximas, senão vejamos (fig. 2.4):

20
T T

~----------------------------------~+ ~------~t~~~~
/ l(

It

t
I
~y
Figura 2.4- Cabo sob Ação Distribuida segundo o vão

Aplicando-se o principio da viga de substituição


encontra-se:

v = p-t/2
H = p-t 2 /8f = c te
T = /vz+Hz' = valor máximo, uma vez que v é o maior
valor do cortante na viga de substituição.

2.2- Cabo em Suspenção Parabólica

Buscando uma solução mais elegante, que a utilizada no


item anterior, pode-se fazer, tomando um elemento infinitesimal
do cabo:
v

"~ I r I I r_p_--------.--
N dx ~
H+dH Jy
T+dT
V+dV

Figura 2.5- Equilibrio em um elemento infinitesimal do cabo.

21
Pelas equações de equilíbrio;
dH = O
Portanto H é constante, como já se sabia.

dV + pdx =O
ou de outra forma:

p = -dV/dx
e finalmente:

Vdx - Hdy - pdx 2 /2 =O

Desprezando o infinitésimo de 2a. ordem:

V/H = dy/dx = y' (derivada primeira)

que, derivando uma vez, lembrando que H é constante, fornece:

y"= (dV/dx)/H

Introduzindo a expressão determinada anteriormente para


dV/dx, chega-se à equação diferencial de equilíbrio para o cabo
em estudo, que é:

y" = -p/H (a )

Integrando duas vezes:

y = -px 2 /2H + C
1
X + C
2

Com as condições de contorno: (vértice no apoio)


X = o implica em y = o ' portanto c = o
2
X = -t implica em y = o' portanto c = p-t/2H.
1

Deste modo:

y = px(-t-x)/2H (b)

que é a equação de uma parábola do 2° grau, justificando


a configuração parabólica atribuída a um cabo nesta condição

22
especifica de carregamento.
Fazendo na equação (b), x = ~/2, encontra-se y =f e:

H = p~ 2 I 8 f (c )

o que confirma a equação obtida com a adoção da Vlga de


substltuição.
Para determinar o comprimento do cabo basta reallzar a
lntegral da função, que é:

B
f:f J[
A
2
1 + ( y ' ) I 2 ] dx

( d)

ou lntroduzindo de (c):

8f = p~ 2
/H

Portanto:

Logo:

Deste modo; s pode ser escrito como:

Nos casos usuais, os cabos podem ser considerados como


lndeformáveis. Caso seja necessário levar em conta a deformação
longltudinal, causada pela aplicação de ações ou por varlação de
temperatura pode-se fazer:

e corrigir a expressão (e):

23
Obtendo a flecha final na pos1ção de equilibrio:

(f)

Entretanto, caso ocorra uma variação na flecha, pode-se


perceber pela equação (c) que ocorrerá uma variação no empuxo H.
Portanto, a pos1ção de equilíbrio deverá ser buscada, ou por
tentat1vas, ou por procedimentos mais sofisticados, como por
exemplo, na referência [11].

Exemplo de aplicação:

Determinar as reações de apolo e a posição de


equilíbrlo para o cabo indicado na figura 2.4, que possui área de
16crn 2 , módulo de elast1cidade de 2. 500kN/cm 2 e está submet1do a
uma ação p uniformemente distribuída ao longo do vão de 10kN/m.
Considere vão de 40m e a flecha inicial de 4m.

Resolução:
Pela equação ç_:

2
Ho = p~ 2
/8f = 10x40 /8x4 = 500kN

V = p~/2 = 200kN

T
0
= 538,5165 kN (valor máximo)

s
1
= 41,6196m
f
1
= 4,9289m

24
la. ITERAÇÃO:

H
1
= 405,7734kN < 500kN = Ho
-,~-

---J
e,!{- ,,
\

= 452,3849kN '"
~

T T --'
1 o

b.S
2 = T 1 s 0 /EA = 0,4644m < b.S
1

s
2 = 41,·5311m < s1

f
2 = 4,7929m < f1

2a. ITERAÇÃO:

H
2 = 417,3261kN > H1

T
2 = 462,7755kN > T
1

As
3 = 0,4751crn I~ s~/l~~

s
3 = 41,5418m ~ s
2

f
3 = 4,8091m ~ f
2

Portanto: 3a. e última iteração:

H
3 = 415,88kN ~ H
2

T
3 = 461,47kN ~ T
2

As
3
= 0,474m ~ As -
2 -
l::, Se/é

s
4
= 41,540rn ~ s
3

f
4
= 4,807m ~ f
3

Chegando-se à posição de equilibrio com flecha final de


4,80m.

25
2.3- Cabo com apoios desnivelados
Nestas suspensões, a melhor maneira de chegar à solução
é imaginar o cabo prolongado até um apoio ficticio, nivelando o
cabo, e permitindo resolvê-lo como no exemplo anterior. Como
aplicação, pode-se imaginar a estrutura do exemplo anterior,
porém com um apoio deslocado:

/p( FICTÍCIO}

* * Tlfrr-,
LJ_oq_t_j

f=4,8 m

Figura 2.6- Cabo com apoios desnivelados.

Para o cabo ficticio valem os valores calculados no


exemplo anterior. Para o exemplo em questão:

VA = 200kN
HA = HB = H = 415,88kN (constante)

TA = 461,47kN
VB = p~ - VA = 10x30 - 200 = lOOkN

e, portanto:

= 427,74kN

s ~ 30,91m

Quando ocorrem variações de temperatura, acontecem


variações no comprimento do cabo, positivas para aumentos de
temperaturas e negativas para redução. Calculados os 11 ÁS 11

26
respectivos, basta recalcular a nova configuração de equilibrio,
e os novos valores das reações dos apoios.

2.4- Cabos em catenária

Em alguns casos, as ações devem ser assumidas como


distribuidas segundo o comprimento do cabo. Por exemplo, na ação
do peso do cabo ou de telhas e demais elementos da cobertura
fixados diretamente ao cabo.
Nestes casos, voltando ao elemento infinitesimal do
cabo encontra-se:

I dx ~~::::
~V+dV

Figura 2.7- Equilibrio de elemento infinitesimal de cabo

dH = O (portanto H permanece constante)

dV = -pds
V/H = dy/dx = y•

Derivadando-se uma vez, obtém-se:

y" = dV/Hdx = -pds/Hdx

Fazendo: -H/p =a (constante), obtém-se:

y" = (ds/dx)/a

27
Pode-se escrever: y" = (/l+(y' )2' /a

Fazendo: z = y' obtém-se: y" = (/1 + z 2 )/d = dz/dx

Rearranjado-se as variáveis:

Integrando-se uma vez:

Are Sh(z) = (x/a) + c


1

Logo: z = Sh[(x/a) +c] = dy/dx


1

Na posição da origem dos eixos coordenados, (Fig. 2.81


obtém-se: x = O e y'= O, portanto:

c1 =o e dy/dx = y' = Sh(x/a)

Integrando-se mais uma vez:

y = a.Ch(x/a) + c
2

Mais uma vez, da posição da origem dos eixos, tem-se


x=O e y=a, portanto, c = O, chegando-se finalmente em:
2

y = a.Ch(x/a)

que é a equação da catenária, para a suspensão indicada na figura


seguinte:

28
y

-t- ~-------
f

o X

Figura 2.8- Cabo em suspensão catenária

O comprimento do cabo pode ser obtido pela integração


da expressão de "ds" ao longo do seu desenvolvimento, ou seja:

ds = y".dx.a

s = y' .a = a.Sh(x/a)

Integrando para os valores extremos de x (±t/2),


encontra- se:
s = 2s = 2a.Sh({/2a)

É mui to prático, na resolução dos esforços no cabo,


usar a expressão auxiliar obtida por:

y = a.Ch(x/a)

s = a.Sh(x/a)

Elevando ao quadrado as duas equações e subtra1ndo a


segunda da primeira:

2 2 2 2 2 2
y - s = a [ch (x/a) - Sh (x/a)J= a

Portanto: y 2 = s 2 + a 2

29
O esforço no cabo, possui seu valor máximo nos
apoios dado por:

Corno: V = p.s e H = p.a (da própria definição da cons-


tante a), pode-se escrever:

T = f / ( p. a) 2 + ( P. s ) z' - fi/P 2 ( a 2 + s 2 )'

Entrando com a expressão auxiliar:

T = PY
que permite calcular a tração no cabo em um ponto qualquer. Para
determinar a tração máxima basta fazer: y = y má x = a + f, por-
tanto:

T ,
max
= p(a+f)
Como aplicação, pode-se resolver o exemplo anterior,
quando do estudo da suspensão parabólica porém, com a
d1stribuição da ação p segundo o comprimento do cabo,
encontrando-se com:

y = a.Ch(x/a)
x = -t/2 = 20m
y =f + a = aCh 20/a ou então:

f/a + 1 = Ch 20/a

que resolvida por tentativas, uma vez que é transcendente,


fornece:
a = 50,653m
e finalmente:

s = a.Sh(-t/2a) = 20,5237m

30
S = 2s = 41,0475m (diferença de 0,05%)

H = p.a = 506,53 kN (diferença de 1,31%)

V= p.s = 205,53 kN (diferença de 2,62%)

T = p(a+f) = 546,53 kN (diferença de 1,49%)

Como pode ser observado, os resultados diferem muJ. to


pouco dos encontrados com a utilização da equação da parábola de
2o. grau, que possui resolução muito mais simples.
Outra vantagem que a equação da parábola oferece é a
possibilidade de determinar a posição de equilíbrio por meio de
um processo iterativo mui to simples e de fácil convergênc J.a, o
que seria muito trabalhoso usando a expressão da catenária.

2.5- Ação do vento

Para os fios e cabos submetidos à ação do vento, podem


surgir duas situações críticas. A primeira é quando o vento está
atuanndo e a sua ação deve ser somada vetorialmente às ações que
estiverem ocorrendo. A segunda situação crítica pode ocorrer
quando a intensidade da força do vento anula a ação do peso do
cabo. Nesta situação diz-se que o cabo "perde a estabilidade"
podendo apresentar ondulações ao longo do seu comprimento, que
fatalmente vão introduzir solicitações que o mesmo não tem
resistência para suportar (compressão).
A primeira situação crítica pode ser resolvida pelo
dimensionamento correto do cabo, levando em conta a ação do
vento. A segunda pode ser evitada, ou pelo menos minorados os
seus efeitos, com a diminuição da flecha inicial da suspensão.
Este é um dos motivos que leva os projetistas de linhas de
transmissão de energia elétrica, telefonias, etc, a utilizar
relações de flecha/vão da ordem de 1/40 a 1/50.
Para estudar a ação do vento, vejamos a suspensão da
figura seguinte, onde o vento deve aplicar uma força horizontal
de 22,5N/m, sendo de 6,75N/m o peso do fio, e de 7,75m a flecha,
para uma distância entre apoios de 380m.

31
p= 6,75 N/m

++Iiiii!Jlllll~ ·
~<~~---~=t,7,75m
I
f,. 380m !

Flgura 2.9- Cabo sob ações vertical e horizontal.

Resolvendo corno se a configuração fosse parabólica:

Corno valor de p adotou-se apenas o peso próprio do flo


0
(6,75N/rn).
Somando vetorialrnente a força do vento:

I 2'
Pp = /P o2 + pv = 23,5N/m
Considerando o fio indeformável:

HF = 54,71kN (3,5 vezes superior a H0 ).

Admitindo a deforrnabilidade do fio:

HF = 32v5 kN (2,07 vezes Superior a H0 )

fF = 13,05m (1,68 vezes superior a f 0 )

Entretanto, cabe um alerta: a flecha ocorre no plano da


força resultante aplicada. Para conhecer suas componentes
vertical e horizontal, deve-se fazer:

tga = 22,5/6,75 = 3,3333


v = cosa.fF = 3,75m
u = sena.fF = 12,50m
32
INICIAL

T Dv

v Do

POSIÇÃO FINAL

F1gura 2.10- Posição final de equilíbrio.

Portanto, o ponto médio do fio desloca-se 3,75m na


vertical, e 12,5m na horizontal, devido à ação do vento.
Uma outra maneira de estabilizar um cabo livremente
suspenso, consiste em dispor um segundo cabo, ou um conjunto de
cabos, com curvatura inversa ao primeiro. Surgem assim os cabos
treliças e as redes de cabos, que são denominadas estruturas
protendidas.
Na referência [11], são fornecidos os procedimentos
indispensáveis ao dimensionamento destas estruturas, que não
serão apresentados por que ultrapassam o objetivo deste curso.

2.6- Exercícios propostos

1) Um fio, que pesa 0,1 kg/m é suspenso entre dois pontos,


n1velados e distantes entre si de 500m. Sendo a flecha máx1ma
1gual a 20m, determine o comprimento do fio, a força máxima de
tração no mesmo, as reações de apoio e a inclinação do fio junto
aos apoios. Utilize a suspensão em catenária e a seguir a

33
parabólica e compare os resultados. Considere fio inextensivel.
Resposta: Trnáx = 158kg
s = 502,3m

2~ Um
..\_/ fio de cobre (densidade 8, 5) tem 180m de comprimento e
2
resiste a urna tensão máxima de 6 kN/crn . Pede-se o maior vão que
o fio suporta e a flecha minirna.
Resposta: ~máx = 179m
f = 6rn
F~
\ 3) Determinar a altura dos postes de urna linha de transmissão,
'~
com 380m de vão, a ser executada com fio de aço com 10rnrn de
diâmetro, que resiste a urna tensão de 20kN/cm 2 e deve ficar no
minimo a 15m do chão.
a- Considerando apenas o peso próprio do fio.
b- Considerando também uma ação do vento de 2,5 kN/m 2 .
Resposta: ha = 22,75m
hb = 40,9m

~
\~) Um fio de aço é suspenso em um vão de 30m, sendo a flecha de
30cm, a densidade do aço y = 7 85,
I o coeficiente de dilatação
linear a = 11,2x10- 6
e o módulo de elasticidade E = 2x10 4 kN/cm 2 .

Determine a nova flecha e a tração no fio, após uma abaixamento


de temperatura de 30°C. A seguir determine os novos valores,
porém com a flecha inicial de 90cm, comparando e comentando os
resultados.
Resposta: f
1
= 14,5cm
f
2
= 8315m

5) Um cabo de aço, pensando O 1 4kg/m está suspenso entre dois


pontos que distam de 1880rn na horizontal e 275m na vertical.
Determine o esforço máximo no cabo para uma flecha de 25m em

34
relação ao apoio mais baixo.

Resposta: T = 15,6 kN

6) Que flecha deve ter um cabo, que pesa q kg/m, para vencer um
vão ~, com apoios no mesmo nível, para que o mesmo flque
submetido ao menor esforço normal possível? Qual será o valor do
esforço normal máximo que ocorre nesta situação? Obs.: Utillze as
equações da catenária.
Resposta: fmin = 33,8%~
T ' = o 7 55q~
I
max

7) O cabo de aço de uma ponte pênsil, com 24m de vão, e 2,4m de


flecha, suporta uma força uniformemente distribuída segundo o vão
de 16 kN/m. Como o cabo resiste a uma tensão de 8 kN/cm 2 ,

determine qual deve ser a sua área transversal. Considerando que


o cabo possua um módulo de elasticidade E = 2x10 3 kN/cm 2 determlne
a sua deformação elástica e a flecha final na posição de
equilíbrio.
Resposta: A = 61,5cm 2
t.s = 9,75cm
fF = 2,58cm

8) A ponte "Golden Gate" em São Francisco, na Califórnia, tem um


vão central de 4.200ft = 1.280m, flecha máxima de 470ft = 143m e
está submetida a uma força estática total, uniformemente
dlstribuída de 21. 300~b/ft = 31.737 kg/m, sendo que cada torre
pesa 44. OOO.tb = 20 .158t. Determine a força total de compressão
exercida por um dos ramos dos cabos na torre e a força total que
as torres aplicam nas fundações.
Resposta: P ~ 203.117 kN
PT~ 607.814 kN

35
3- ARCOS

Os arcos foram utilizados como elementos estrutura1s


pelos etruscos, babilônios, egipcios e gregos, mas, foi com os
romanos que atingiu sua máxima utilização.
Com o arco os romanos construiram pontes e aqueodutos,
inicialmente com pequenos vãos, mas com a experiência acumulada
conseguiram construir arcos com grandes vãos ou com uma grande
continuidade.
Acredita-se que a obtenção da forma em arco tenha
surgido da necessidade de deixar espaços livres ao longo de uma
parede. O processo utilizado inicialmente era o de colocar os
elementos em balanço em relação aos anteriores, sendo a evolução
imediata a de cortar as pedras inclinadas, formando assim uma
linha continua.

Figura 3.1- Inicio dos arcos em pedra.

36
O mesmo princípio evolutivo conduziu a adoção da parte
superior em urna configuração curva, que permite que todos os
elementos que formam o arco fiquem solicitados por esforços de
compressão.

Figura 3.2- Evolução dos arcos em pedra.

A transmissão das solicitações em um arco permite a


colocação de vários arcos adjacentes, ou mesmo a absorção das
reações por elementos denominados contrafortes, mantendo assim o
sistema em equilíbrio.

~ H~~
I
R
v

a l Contraforte b) Arcos Contínuos

Figura 3.3- Equilíbrio de forças nos arcos.

Foi a aplicação dos contrafortes aos arcos que permitiu


a construção das catedrais medievais, totalmente executadas em
pedra.

37
Durante a idade média, o arco permitiu a construção de
catedrais, mesquitas e demais templos, além de continuar a ser
empregado em pontes e aqueodutos.
Com o advento do aço e do concreto armado, os vãos dos
arcos aumentaram, mas sua aplicação continuou, em pontes,
viadutos, construções industriais, desportivas e em templos
religiosos.
Quanto ao comportamento estrutural, os arcos podem ser
assimilados a um cabo invertido, onde ao invés de tração, vão
ocorrer esforços de compressão e em alguns casos também de
flexão.
Quanto à forma, os arcos podem ser classificados em
parabólicos e circulares, que são as mais utilizadas, sendo
possível estabelecer também formas em elipse ou catenária.
Utilizados para vencer grandes vãos, os arcos são
caracterizados por apresentarem peso próprio relativamente
pequeno quando comparados com outros elementos estruturais. Esse
fato é motivado pela diminuição dos momentos fletores atuantes
nas seções transversais, resultante de sua forma e de seus
sistemas estruturais. Por outro lado, como conseqüência dessas
características, a estrutura apresenta uma grande flexibilidade,
não sendo adequada para suportar grandes ações horizontais.

3.1- Classificação dos Arcos


Quanto ao esquema estático, os arcos podem ser
classificados em:

1) arcos isostáticos - triarticulados

2) arcos hiperestáticos:
a) com uma articulação
b) biarticulados
c) atirantados
d) engastados
Os arcos hiperestáticos são, em geral, mais econômicos
quando comparados aos triarticulados, porém os esforços

38
solicitantes nos arcos hiperestáticos são modificados por
recalques de apoio e variação de temperatura. Entre os arcos
hiperestáticos, o mais econômico é o engastado: sua construção é
aconselhável quando não há possibilidade de recalques nos apolos.
Quando são previstos grandes recalques nos apoios recomendam-se
os arcos triarticulados e os atirantados.
Em casos intermediários, com previsão de pequenos
recalques recomendam-se os biarticulados e os atirantados. Os
arcos biarticulados apresentam algumas das vantagens dos
isostáticos e outras dos hiperestáticos: assim, recalques não
mui to grandes 1 na direção normal à linha das articulações não 1

afetam praticamente os esforços solicitantesi este tipo de arco é


sensível aos recalques na direção da linha das articulações.
Os arcos atirantados reúnem, de fato, as vantagens das
estruturas isostáticas e das hiperestáticas: são internamente
hiperestáticos e externamente isostáticos.
A escolha entre a construção de um arco triarticulado e
um atirantado é quase sempre condicionada pelo fato de se desejar
um vão inteiramente livre, o que, de início, elimina o tirante e
conseqüentemente o arco atirantado.
Os arcos com uma articulação não são utilizados na
prática por reunirem apenas as desvantagens dos isostáticos e dos
hiperestáticos. Na figura seguinte são apresentados os arcos
utilizados na prática, e os respectivos graus de
hiperestaticidade.

3 vezes hiperestático 1 vez hiperestótico

isostático 1 vez hiperestótico

Figura 3.4- Grau de estaticidade dos arcos.

39
Nas grandes construções, o peso próprio da estrutura
representa a maior parcela das ações que atuam sobre os mesmos, e
as caracteristicas do solo da fundação geralmente determinam o
tipo de arco a ser escolhido. Procurando coordenar esses dois
fatores, aliados a um esquema mais econômico de funcionamento
para a estrutura, utilizam-se atualmente arcos de funcionamento
m1sto, cujo processo construtivo é o s&guinte:
Constrói-se inicialmente um arco triarticulado
escorado, em seguida retira-se o escoramento. Dessa forma,
resulta que para o peso próprio o arco é triarticulado, e a
fundação é solicitada por grande parte do carregamento total
previsto para a estrutura, provocando-se assim grande parte dos
recalques sem afetar o arco.
Após esse estágio, bloqueiam-se as articulações,
resultando para os acréscimos de carga um funcionamento
hiperestático que poderá provocar agora recalques de apoio
sensivelmente menores.
Em resumo, o arco é isostático . para o peso próprio e
hiperestático para as demais ações.
Os arcos são caracterizados pelo seu vão "L", pela
flecha máxima "f" e pelas alturas llhll de suas seções
transversais.

3.2- Relações e Terminologia


Normalmente, a relação entre a flecha f e o vão L varia
em torno de 1/6 a 1/5. Entretanto, em alguns casos particulares
essa relação pode aumentar até 1/2, ou diminuir até 1/20.
Quanto à altura h da seção transversal, ela poderá
variar de acordo com o esquema estático do arco e com o material
empregado. Para o arco triarticulado, é mais racional, sob o
ponto de vista estrutural, que essa altura seja variável,
aumentando das articulações para os pontos intermediários onde
ocorrem os momentos fletores máximos. Para os arcos biarticulados
é mais adequado que o trecho central tenha altura constante,
variando nas extremidades até o minimo permissivel
construtivamente junto dos apoios. Ao contrário, devido ao maior

40
momento fletor nas extremidades, o arco biengastado geralmente
deve apresentar maior altura nesses apoios, diminuindo para os
trechos centrais onde poderá permanecer constante.
Em geral, para os arcos de pequenos vãos, em vista da
simplicidade da execução, é mantida constante a altura em toda
sua extensão.
Nos arcos metálicos, a relação entre a altura h e o vão
L varia de 1 I 60 a 1 I 40 e 1 I 40 a 1 I 30 sendo estes intervalos
utilizados para grandes e pequenos vãos, respectivamente.
A terminologia e as formas mais empregadas para os
arcos estão apresentadas na figura 3.5.

<I

~I
APOIO OU ENCONTRO
_l_

l- vio
-I 1-
vio
-\
a) Maciços ou Cheios b l Treliçados

VÃO

1-

Figura 3.5- Terminologia e formas mais empregadas.

41
3.3- Seções Empregadas

Nos arcos construidos em concreto armado, são


empregadas seções maciças de forma retangular, visando atender às
necessidades construtivas.
Quando se emprega a madeira como material estrutural,
algumas seções também são maciças, retangulares, porém em alguns
casos, as seções são formadas por diversas lâminas coladas entre
si, já na curvatura final que o arcO deverá ter.
Os arcos em aço usualmente são treliçados, bem como a
maioria dos construidos com madeira. Esta forma, a treliçada,
facilita grandemente a fabricação e · minimiza o peso próprio, o
que resulta em grande economia, não só de material como em
fundações e outros elementos de apoio.
Na formação do treliçamento de um arco pode-se utilizar
apenas barras em diagonal. Quando forem utilizados montantes deve
ser estudada qual a disposição que resulta em uma melhor
estética, pois nos arcos pouco abatidos, (com flechas muito
grande em relação ao vão) a colocação de montantes verticais pode
causar uma péssima impressão visual nas regiões próximas aos
apoios. Para estes arcos recomenda-se a colocação de montantes
radiais.
Nos arcos abatidos a posição dos montantes não
influencia muito a estética, mas, em caso de dúvida, aconselha-se
que as duas hipóteses sejam desenhadas e comparadas.
Independentemente do material a ser empregado na
construção de um arco, a escolha do tipo a ser utilizado deve
levar em conta a forma do mesmo, seção transversal, as estruturas
de apoio, e principalmente, a definição do eixo do arco que por
ocasião do dimensionamento final deverá conduzir aos menores
momentos fletores.

42
3.4- ESTABILIDADE

Por serem elementos que trabalham sob compressão, os


arcos podem apresentar problemas de instabilidade, tanto locais
como global.
Entende-se por instabilidade global aquela do arco como
um todo, e instabilidade local aquela relacionada a barras
isoladas (banzo, diagonal ou montante} de um arco treliçado.
A instabilidade local pode surgir quando um dos
elementos que compõe o arco atinge a força critica de flambagem.
Para eliminar esta flambagem pode-se adotar perfis mais
"robustos 11 , ou então diminuir a distância entre os travamentos,
o que consiste em·aumentar o número de diagonais e montantes.
As duas soluções indicadas implicam em aumento do
consumo de material e a escolha de urna delas deve ser guiada por
este parâmetro, ou seja, deve-se sempre buscar a estrutura ideal,
que é aquela que resiste a todas as solicitações com o menor
consumo de material.
A perda da estabilidade global do arco pode acontecer
ou por flambagem fora do plano, ou no próprio plano, com a
mudança de curvatura. Para manter a estabilidade fora do plnao
são usualmente empregados os sistemas de contraventamento, que
consistem basicamente em treliças formadas na superficie gerada
pelos banzos. Para a flambagern no plano, só a resistência do arco
pode combatê-la. Neste caso recomenda-se urna verificação onde:

onde:
N = Esforço de compressãoque atua no arco.
I = Momento de inércia da seção, que nos casos de
variação pode ser calculada para a seção a 1/4 do
vão.
S =Comprimento total do arco
11 = Fator que depende da forma e do esquema estático do
arco, sendo que os valores usuais são apresentados
na tabela seguinte.

43
TIPO DO RELAÇÃO f/-t

ARCO 1/20 1/5 1/3 1/2,5


Triarticulado 1,2 1,2 1,2 1,3 I
I
Biarticulado 1 1,1 1,2 1,3
Engastado 0,7 0,25 0,8 0,85

FORMA DE

I~' MODO
FLANBAGEM

t t -1
1- -1
a ) GLOBAL - No plano do arco b) GLOBAL- Fora do plano

Figura 3.6- Flambagem global dos arcos.

3.5- RESOLUÇÃO DE ARCOS ISOSTÃTICOS


Dos arcos isostáticos, o único a ser empregado na
prática é o triarticulado. Entretanto, no estudo dos arcos
hlperestáticas costuma-se cair na resolução de um sistema formado
por vários arcos biapoiados. Daí a importância do estudo destes
elementos estruturais.

EXEMPLO 1:
Determinar as reações de apoio e as solicitações
máximas para o arco, de forma circular, representado na figura
seguinte, que possui { = 13,0m; f = 4,39m e está submetido a uma
ação horizontal p = 1kN/m.

44
' f

RESOLUÇÃO:
Inicialmente devemos determinar algumas grandezas
geométricas

-Raio do circulo (R):


Como se sabe, no circulo:
R2 = x2 + Yz

desde que a origem dos eixos coincida com o centro do circulo.


Deste modo, quando x = ~/2 implica em y = R-f, portanto:

Donde:
-~~~-----~

lR = (~ 2 + 4f 2 -fíãf)
~-~-------------/

Substituindo valores:

R= 7,0m
O ângulo ~ tem sua tangente expressa por:

tg~ = 2a/~ = 2(R-f)/~ = 0,4015

45
Portanto:

sen <P = 0,373

cos <P = 0,928

Para determinar as reações de apoio, basta apl1car as


equações de equilibrio da estática:

HA = p.f = 4,39kN

RA = RB = pf /2~ = 0,743kN
2

O esforço normal em um ponto qualquer do arco pode ser


determinado pela soma das componentes de VA' HA e da ação
externa, tangentes ao arco neste ponto. Porém, para facilitar
desloca-se a origem dos eixos coordenados para o apoio A,
obtendo:

N = RAcosa + HAsena - pysena (+ tração)


;J 1~ = C, -~; ~C h ••< ? -

Ocorrendo pontos .de máximos nos apoios, onde a = <P e


y=O, fornecendo:

NA = 2,33kN

NB = -0,69kN

O esforço cortante é obtido com raciocinio análogo,


fornecendo:

V = -RAsena + HAcosa - pycosa

E, para os apoios, onde a = <P e y=O:

VA = 3,8kN
VB = -0,28kN

A expressão para o momento fletor, em um ponto


qualquer, será:

46
Neste caso ocorre um máximo quando

x = t/2 e y=f obtendo-se:

M = 4,8kN.m
Na figura seguinte apresenta-se de forma esquemática os
esforços solicitantes:

a l Esforços Normais b l Esforços Cortantes c l Momentos F letores

Os arcos triarticulados podem ser resolvidos da mesma


forma.

EXEMPLO 2:
Determinar as reações de apoio e o momento fletor
máximo para o arco triarticulado representado na figura, com
t=25m; f=10m; submetido à uma ação p=5kN/m.

~
p

t I i I I I i i i I .~ i i t
* *

47
RESOLUÇÃO:
Para as reações de apoio:

RA = RB = p~/2 = 62,5kN

Substituindo RA na expressão de HA:

HA = HB = p~ 2 /8f = Mv /f

ou seja, o empuxo, tal como nos cabos, pode ser deierminado pelo
momento da viga de substituição (Mv), dividido pela flecha,
portanto:
(.
HA = HB = 39,06kN ' i

Para o momento fletor:

Por exemplo, para x = ~/4 = 6,25m e y = 8,37m:

M ~ -34kN.m

Caso a forma do arco fosse parabólica, com mesmo vão e


mesma flecha, seria possível, tal como nos cabos, obter M=O.
Para tanto deveríamos fazer:

y = ax 2 + bx + c

Com a origem no apoio A, teríamos:

y = O quando x = O portanto: c=O

y =O quando x = ~ e:

a~ 2 + b~ = O; Logo: b = -a~

y = f quando x = ~/2 e:

f = a~ 2 /4 + b~/2 = a~ 2 /4 - a~ 2 /2 = -a~ /4
2

48
Donde:

a = -4f/,( 2
b = 4f/,(
c =o
Portanto:
y = -4fx 2 /,( 2 + 4fx/~ = 4f(x/~ - x 2 /~ 2 )

Quando x = ,f/4 = 6,25m tem-se: y = 3f/4 = 7,5m e:

M = RAx 2
- px /2 - HAy =O
Neste caso, M = O para todo o arco, uma vez que a sua
geometria é homotética com o diagrama de momentos fletores da
viga isostática equivalente.
É notável como a engenharia antiga resolveu o problema
dos grandes vãos com os arcos e as abóbadas. Pura intuição
estática, pois as grandes construções greco-romanas precederam de
muitos anos os principies básicos da Estática -- não dispunham de
materiais com razoável capacidade de resistência à tração: as
alvenarias somente suportam satisfatoriamente
de esforços
compressão. Era portanto imperativo evitar os momentos fletores,
o que conseguiram por intermédio dos arcos e das abóbadas,
conforme a teoria veio comprovar muitos séculos mais tarde.

3.6. EXERCíCIOS PROPOSTOS


l-Deseja-se construir um arco triarticulado cujo elxo
coincida com a linha de pressões do carregamento indicado na
figura, e que contenha os pontos A, B e C. Pede-se:

a) esboçar esta linha de pressões;


b) calcular os esforços normais máximo e minimo atuantes;
c) calcular a inclinação da tangente ao eixo da estrutura nas
seções de abscissa x = 2,5m, e x = 18,5m.

49
12m 12m

2- Determinar a equação, a forma, as reações de apoio e


os diagramas de esforços solicitantes de um arco triarticulado,
com 10m de altura, destinado a suportar o carregamento
representado na figura, sem que ocorra momento ao longo do arco.

Resposta: V = 22,5kN
H = 15kN
y = x 3 /1350 + x 2 /15 + 3x/2

2kN/m

ftrrifurrv·~ lt

I~ 15m 15m
~I

50
3-Determinar as reações de apoio e os diagramas
de esforços solicitantes, para o arco circular da figura.

5,38m

5m 5m

20m

4- Determinar as reações de apoio e os diagramas de


esforços solicitantes, para o arco do exemplo anterior, porém em
forma parabólica. Compare os resultados.

51
4- TRELIÇAS

As treliças são utilizadas há bastante tempo nas


construções. Uma primeira publicação deve-se ao arquiteto
Paládio, que procurou, por volta de 1540, organizar todo o
conhecimento então existente sobre esta alternativa construtiva.
Foram e continuam a ser empregadas em coberturas,
telhados, pontes e equipamentos de elevação e transporte. Possuem
pequeno peso próprio em comparação com outros elementos
estruturais de mesma função.
Basicamente, todas as treliças são formadas a partir da
figura mais simples entre as "indeformáveis", que é o triângulo,
pois dispondo vários triângulos em um mesmo plano tem-se uma
treliça plana; se dispostos em planos distintos, tem-se as
treliças tridimensionais, também denominadas espaciais.
Vale portanto estudar este elemento formador com um
pouco mais de detalhes, como será feito no item seguinte.

4.1- COMPORTAMENTO DO TRIÂNGULO INDEFORMÁVEL

Para estudar o comportamento de um triângulo,


considerado como indeformável, ensaiou-se dez exemplares dos
modelos apresentados na figura seguinte:

52
p p

MODELO A MODELO B

Figura 4.1- Modelos ensaiados.

Para valores relativamente baixos da força E, a


estrutura manteve a sua forma. inicial, mas quando a força atinglu
um valor mais alto ocorreu o colapso por flambagem por flexão das
pernas. Este é o comportamento tipico de barras esbeltas
comprimidas.
Sem as c~apas de ligação, as pernas apresentavam
curvatura simples e rompiam no centro. Com chapas de ligação,
ocorria inflexão da curvatura devido ao impedimento da rotação
dos nós pelas chapas, e as pernas rompiam em 2 ou 3 lugares, não
mais no centro. Em resumo, o comprimento de flambagem das pernas
foi alterado.
Um conjunto de resultados experimentais estão mostrados
na figura seguinte.

53
P ( NEWTONSl

30 r------.----~~----.------.------.----

+ MODELO A

o MODELO B

15

15 30 45 60 75 90 ~(GRAUS)

Figura 4.2- Resultados do ensaio em modelo triangular.

Como pôde ser visto nos modelos ensaiados, a


capacidade de suportar ações primeiramente cresce com crescentes
valores do ângulo e, mas com altos valores de e essa tendência é
revertida.
Ignorando-se primeiramente a flambagem das pernas e
admitindo-se que cada uma tem determinada resistência à ruptura,
quando o valor de e é aumentado, as pernas estarão cada vez mals
alinhadas com a direção da força aplicada e conseqüentemente
serão capazes de suportar uma ação de maior valor. Este fato pode
ser expresso matematicamente pela simples resolução de forças no
vértice do triângulo, ou seja:

54
Pu
---
2
=N sen e ou

Pu = 2N sen e

onde N = resistência à ruptura da perna, desprezando a flambagern.

Admitindo o vão { da treliça constante e chamando de L


o comprimento da perna, observa-se que, quando e cresce. o
cornpr~rnento L também cresce, e a ruptura dar-se-á por flarnbagern
antes que a resistência à compressão seja atingida.
Se chamarmos Nf{ a força crítica de flarnbagern,
teremos:

onde C é urna constante.


1

Sendo cose = {/21, resulta:


L = {/2cose =OC /cose
2
onde C também é urna constante.
2

Assim:

Nf{ = c1 cos
2
e;c 22 = c3 cos
2
e
onde c é outra constante.
3

Sendo Pu =2 N sene e substituindo N por Nf{


Pu = 2c 3 cos 2 e sene ou Pu = c cos 2 e sene
sendo C uma constante a ser determinada.

Esta equação está representada graficamente na figura


seguinte e apresenta grande concordância com os resultados
ap~esentados na figura anterior.

55
0,8 .,_---,----,---~----,----,-----,

/~
0,7 1-----t------(++----ri~\---+-----'-t--------1

0,6 ~1/---+----t---.,-1+-----'1!\---+-------+--------i
0,5 .,..__-11---+-----l--t------t---+-----1

I i \ I
0,4 1-----,/f+-----+---+-ft------t--+\-t-------1
0,3 1----1---/-+--+----+-i t--+---\---t------1
\

0~...._-~----+-~~----~--~~--~

1 I \
J
0,1...._-~---+--+-+---+---+--~

: I
I I I
15 30 36 45 60 75 90 9 (GRAUS)

Figura 4.3- Resultados teóricos da análise do modelo triangular.

As chapas de ligação têm o efeito de reduzir, ou mesmo


de impedir a rotação relativa nos nós e também de reduzir o
comprimento livre das pernas. Estes dois efeitos aumentam a
resistência da pernas à flambagem, conseqüentemente, a capacidade
do triângulo também é aumentada.
O efeito das chapas de ligação pode ser levado em conta
no projeto, multiplicando-se o comprimento real por um
determinado coeficiente, obtendo-se desse modo, o comprimento
equivalente ao de nós articulados. Chamando esse coeficiente de
K, pode-se fazer:
Sem chapas de ligação:

Nf~ = c 1 /L 2 onde c 1 é uma constante.

56
Com chapas de ligação:

então:

Da figura obtém-se Puc/Pu = 2,0 a 2,7 com a variação do

valor de e. Então K = 1/~ a 1/~ ou K = 0,7 a 0,6 para os


modelos ensaiados.
Assim, quando o valor de L for, por exemplo, 200cm, sem
chapas, teriamos para efeito de cálculo de resistência à
flambagem, Lf~ = 120 a 140cm no caso de nós ~ngastados, isto é,
com chapas.

4.2- ESTUDO DE ALGUNS MODELOS DE TRELIÇAS

Pelos ensaios anteriores, verificou-se que a falha


predominante numa estrutura triangular simples, é a flambagem das
pernas. Se esta tendência à flambagem pudesse ser impedida, então
a capacidade suporte seria aumentada. Este aumento de resistência
pode ser obtido com a colocação de outras barras dentro do
triângulo.
O principio fundamental a ser seguido no planejamento
do arranjo das barras internas, é usar essas barras para encurtar
o comprimento livre das pernas principais de modo que sua
resistência à flambagem seja aumentada, e conseqüentemente,
aumente a resistência da treliça.
Ensaiou-se seis modelos diferentes de treliças, com a
força de ensaio sempre atuando no vértice do triângulo externo,
com todas as barras do mesmo material, com seção transversal
constante e igual para todas.
O vão de todos os modelos foi sempre o mesmo, assim
como o ângulo e, que foi de 30°.

57
o l TIPO 1 b) TIPO 2 c) TIPO 3

d l TIPO 4 e) TIPO 5 f)TIPO 6

Figura 4.4- Conjunto tipico de modelos de treliças ensaiadas

Adotou-se como medida de eficiência relativa de cada


modelo o quociente da força de ruptura observada, pelo
comprimento total das barras internas e externas, usadas na
respectiva estrutura. Os valores da eficiência relativa são
válidos apenas para este ensaio, porém, eles dão uma idéia
qualitativa de cada modelo. Variando o vão da estrutura
poder-se-ia obter outros valores. No quadro seguinte, são
fornecidos, para os diversos modelos ensaiados, as resistências
correspondentes e as respectivas eficiências relativas.

Tipo
de Força de Ruptura Eficiência relativa
modelo ( N) (N/mm)x100

1 9,3 2,88
2 10,7 2,92
3 22,2 4,90
4 23,6 4,87
5 24,0 5,07
6 27,1 5,04

58
o modelo 1 é semelhante à forma investigada
anteriormente e, novamente a falha se deu por flambagem das
pernas, em curvatura simples.
O modelo 2 é um pouco mais resistente que o modelo 1,
mas a barra adicional não resultou em uma solução eficiente. Para
que esta barra pudesse absorver algum esforço de compressão,
implicaria em evitar, o deslocamento para baixo, da barra
horizontal, que funcionou como viga, com isso, obteve-se um
aumento de 15% na resistência do modelo, porém a eficiência
relativa aumentou apenas 1,4%.
O modelo 3 prevê suporte para as pernas no meio do vão,
reduzindo conseqüentamente seu comprimento efetivo de flambagem e
aumentando consideravelmente sua capacidade de resistência à
flambagem. Isso se dá a despeito de cada barra interna inclinada
não receber nenhuma solicitação, pois .:1 força que atua em cada
perna, proveniente do vértice -- componente nula na direção da
barra inclinada.
Os modelos 4 e 5 comportam-se de maneira similar ao
modelo 3, sendo mais eficiente o modelo 5, comumente chamado
tesoura Fink.
O modelo 6 possui suporte intermediário para as pernas
em dois pontos e por consegüinte produz outra redução nos seus
comprimentos efetivos aumentando as suas resistências à
flambagem, que se apresentou numa forma de ondulação tripla para
o vão ensaiado. Entretanto, esta tesoura não mostra . qualquer
acréscimo em eficiência quando comparada com a tesoura Fink.
Nos ensaios a força foi aplicada somente no vértice do
triângulo. Neste caso a função primária das barras internas era
apenas de estabilizar as pernas. Na prática, as ações são
aplicadas em diversos pontos, inclusive no banzo inferlor.
Conseqüentemente, para evitar a flexão das barras, necessitam ser
criados nós nestes pontos, pela inclusão de mais barras
secundárias, como nos modelos 3,4,5 e 6.

59
4.3- OUTROS TIPOS DE TRELIÇAS

Quando a inclinação do telhado é muito pequena, ou no


caso de pontes ou demais estruturas onde é possivel considerar os
dois banzes paralelos, a disposição dos montantes e das diagona1s
pode dar origem à treliças de eficiências semelhantes, mas de
comportamentos um pouco diferentes entre si.
A seguir são apresentados alguns tipos, entre os ma1s
usuais.

a ) Howe ou Inglesa bl Pratt

c) Belga d J Fink ou Polonceau

Figura 4.5- Alguns tipos de treliças

4.4- RESOLUÇÃO DE UMA TRELIÇA DE BANZOS PARALELOS

Determinar as reações de apoio e as solicitações na


treliça da figura, considerando os nós perfeitamente rotulados e
as barras com seção constante.

RESOLUÇÃO:
Como a estrutura é externamente isostática, pode-se
usar as equações de equilibrio. Deste modo:

60
p P/2
~.:c 16 o

t: 4 X 2m : 8m Ir'\
I
1------"'-~_______::_;____----l•

VA = VB = 2P
HA = HB = O
As solicitações nos montantes podem ser obtidas em
função da análise do esforço cortante em cada painel:
Barras 1 e 5: N = V = 2,0P
Barras 2 e 4: N = 1,5P
Barras 3: N =P
Todos os montantes são comprimidos.

Pelo equilíbrio dos nós superiores observa-se que a


solicitação na diagonal será obtida di vidindó-se a cortante do
painel da diagonal pelo seno do ângulo que a mesma forma com o
banzo, ou seja:
Barras 6 e 9: N = 2,12P
Barras 7 e 8: N = 0,71P

Para determinar as solicitações nos banzes pode ser


utilizado o processo de Ritter, ou então, utilizando o concelto
de momento equilibrante:

Sendo MF o momento fletor no extremo de cada painél, ou


seja:
Barras 10 e 13: N =O (basta observar o equilíbrio dos
nós A e B).

61
Barras 11; 12; 14 e 17: N = 1,5P
Barras 15 e 16: N = 3P
Quanto ao sinal, como o momento utilizado é positivo,
teremos tração nas barras inferiores (11 e 12) e compressão nas
superiores (14, 15, 16 e 17}.
As solicitações, com seus respectivos sinais ( + para
tração; -para compressão), estão mostrados na figura seguinte.

Invertendo a posição das diagonais, obtém-se:

Reações de apoio:

VA = VB = 2,0P
HA = HB = O
Nos montantes:

Barras 1 e 5: N = -0,5P
Barras 2 e 4: N = +0,5P
Barra 3: N =O

Nas diagonais:

Barras 6 e 9 : N = -2,12P
Barras 7 e 8: N = -0,71P
Nos Banzos:

Barras 14 e 17: N =o
Barras 10 e 13: N = +1,5P
Barras 11 e 12: N = +3,0P
Barras 15 e 16: N = -1,5P
As seguintes observações podem ser feitas:

a- As diagonais, no primeiro caso ficaram tracionadas, no segundo


comprimidas, com valores iguais em módulo.

b- Os montantes extremos são comprimidos nos dois esquemas, porém


com valores menores no segundo caso.

62
c- Os montantes intermediários são comprimidos no primeiro caso e
tracionados no segundo, com um valor em módulo menor que no
primeiro caso.
d- O montante central é comprimido no primeiro caso e não possul
solicitação no segundo.

e- Nos banzes, ocorreu uma diminuição dos valores de compressão,


porém com o aumento dos valores de tração.

o o

Portanto, para materiais estruturais que trabalham


melhor à compressão, ou que permitam a execução de melhores
detalhes nas ligações para elementos comprimidos, corno é o caso,
por exemplo, da madeira, o segundo esquema pode ser mais
econômico. Para os materiais que permitem melhores soluções
quando tracionados, como o aço ou o aluminio, o comportamento das
diagonais sugerem o primeiro esquema, enquanto os banzos sugerem
o segundo.
Todos estes fatores devem ser levados em consideração
por ocasião do projeto.

63
4.5- EXERCíCIOS PROPOSTOS

1- Determine as reações de apoio e os esforços nas barras da


tesoura da figura, sendo P = lOkN.

Resposta:
Rv = 20kN
.1 N = +18,75kN
~I
1
~~
N
2 = +10,0 kN
t N
3 = -24,0 kN
N = -16,0 kN
~
4x2,5m= 10m 4
1- N
5 = -8,0 kN
( +) tração
(- ) compressão

2- Na tesoura do exercício anterior, altere a altura total para


2m e recalcule os esforços nas barras.

3- Adote na tesoura do exercício 1, a altura igual a 8m e


recalcule os esforços nas barras.

4- Comparando os resultados dos três exercícios anteriores, a


quais conclusões é possível chegar?

5- Para as tesoura cujos contornos e as forças a serem aplicadas


estão esquematizadas na figura., desenhe todos os tipos de
tesouras possíveis de serem aplicadas nesta situação.

64
~ ! !
?77'7""?

! i
I

I· 10x2m=20m
*
8x2m=l6m .. ,
a) b)

E
! i ! !
I'">

__L_
'
~; \.=
~
I
I
6 x 1,5 m = 9 m
-I t- 5 x 1.5 m = 7,5 m

c) d)

65
5- VIGAS

As vigas são barras que suportam ações entre seus


apo1os, em virtude da sua resistência aos esforços de flexão e de
c1salhamento. Foram usadas desde a antiguidade, em pedra ou em
madeira, e posteriormente em ferro fundido, na construção de
habitações, pontes, fortificações, veículos e demais construções.
Embora sem entender exatamente o seu comportamento estrutural, os
construtores antigos desenvolveram uma acusada intuição que lhes
permitiu construir todas as edificações que foram idealizadas,
até o desenvolvimento do cálculo estrutural.

5.1- COMPORTAMENTO ESTRUTURAL

Se duas retas verticais espaçadas de uma determinada


distância (e) são traçadas no lado de, por exemplo, uma borracha
para lápis e a borracha é fletida como mostra a figura, será
observado que o espaço -ª. entre as retas permanece constante no
meio da espessura da borracha e, progressivamente aumenta para
baixo e diminui para cima do meio da espessura, ou seja, a metade
inferior da borracha ficará tracionada e a metade superior ficará
comprimida.

66
f-FI
e

Figura 5.1- Deformações na flexão

Este é o comportamento de qualquer barra sob flexão.


Como os efeitos máximos de compressão e de tração ocorre nas
partes extremas superior e inferior da seção. Parece lógico
concentrar mais material nessas áreas extremas, pois qualquer
material em posição intermediária será menos tensionado e
conseqüentemente usado menos eficientemente.
Levando essa idéia ao limite, se todo o material
'\

pudesse ser concentrado nessas duas áreas extremas, de modo que


uma área satisfizesse a resistência de compressão e a outra a
resistência de tração, então todo o material poderia ?er
solicitado na sua capacidade máxima. Por equilibrio, as forças de
tração e de compressão seriam iguais em módulo e formariam um
binário que equilibraria o momento externo aplicado. O braço do
binário seria a distância entre as duas forças, e quanto ma1s
longe as duas áreas forem colocadas, maior seria o momento que
poderia ser resist~do.
Este é um procedimento que pode melhorar a resistência
da viga ao momento, mas não ao esforço cortante, que também está
presente.
A presença do cisalhamento vertical torna-se evidente,
ao se imaginar a viga cortada verticalmente de modo que ela se
assemelhe a uma série de livros. Semelhante viga seria incapaz de
suportar cargas verticais até que alguma resistência ao
cisalhamento vertical fosse providenciada.

67
Figura 5.2- A presença do esforço cortante

De modo semelhante a presença do cisalhamento


horlzontal pode ser evidenciada, ao se imaginar a viga cortada
horlzontalmente. Se o conjunto resultante fosse suportado em cada
extremidade e carregado no centro, os segmentos escorregariam um
em relação ao outro corno mostrado na pagina 3. Numa viga real,
essas solicitações de cisalharnento, vertical e horizontal,
estarão presentes e devem ser convenientemente resistidas.

Figura 5.3- A presença do esforço cortante horizontal

Os elementos de ligação devem impedir, no plano do eixo


da Vlga, a flambagem dos elementos que a compõe e, a fim de que
os elementos de ligação resistam às solicitações de cisalhamento,
devem formar um painel resistente.
Três possibilidades de enrijecimento são as mais
empregadas:

68
a) VIGA I (Viga de Alma Cheia): Resistência ao cisalharnento
providenciada pela chapa contínua da alma, que impede a
flarnbagern das mesas no plano da viga.

b) Treliça: Resistência ao cisalharnento providenciada por urna


série de painéis contraventados, que também impedem a flarnba-
gern dos banzos no plano da treliça.

c) Viga Vierendeel: Resistência ao cisalhamento e à flarnbagern no


plano da viga, providenciada por uma série de montantes
rigidamente unidos ao banzos.

5.2- ANÁLISE DE UM ENSAIO

Se ensaiarmos urna viga I (fig.5.4) aplicando urna força


concentrada no meio do vão, verificaremos os seguintes casos
típicos de ruptura ou de colapso.

a) Colapso da alma

A alma não é suficientemente resistente para suportar


as forças concentradas, tanto a de ensaio, como das reações dos
apoios, flarnbando localmente, e atingindo o colapso. ( flgura
5. 4a).
Urna maneira simples de eliminar este modo de falha
consiste em introduzir nervuras verticais enrijecedoras, (figura
5. 45b) em cada lado da alma, no ponto de aplicação da força de
ensalo e em cada apoio. Essas nervuras devem ser solidarizadas
com as mesas e com a alma da viga, deste modo as ações serão
transrnltidas diretamente para estas nervuras, por contato direto,
e à alma de viga pelos meios solidarizantes empregados. Assim as
ações são distribuídas, quase que uniformemente ao longo da
altura da alma, ao invés de atuarem concentradas, corno foi no
caso anterior.

69
ENRIJECEOORES

a l Flombogem do bl Colocação de chapas de enrijecimento


olmo da alma

Flgura 5.4- Flambagem e enr1jec1mento da alma

b) Instabilidade global

Com o prosseguimento do ensaio a ocorrência seguinte


foi o colapso da mesa superior que, por estar solicitada à
compressão em toda a sua extensão, e não possuir nenhum
travamento lateral desloca-se lateralmente, girando em relação à
mesa inferior, que por estar tracionada tende a não se deslocar,
fazendo com que a força aplicada passe a atuar excentricamente em
relação aos apoios (figura 5. 5). Ocorre o colapso da viga por
perda de estabilidade global, denominada de flambagem lateral com
torção.

POSIÇÃO
INICIAL

Figura 5.5- Flambagem lateral com torção

70
Para uma mesa de seção retangular, como a ensaiada, o
eixo menos resistente a flarnbagem é o paralelo ao lado maior do
retângulo, e a flarnbagern dar-se-ía na direção vertical se não
houvesse a alma da viga para impedir a flarnbagern nessa direção.
Caso a espessura da mesa seja pequena em relação à sua largura,
pode ocorrer a flambagem local deste elemento na região onde a
tensão de compressão é máxima. Porém esta flarnbagem será estudada
mais a frente, no capítulo das placas e chapas.
Na outra direção, o que impede a flarnbagem lateral e
apenas a resistência própria da mesa, associada à pequena
resistência da alma na direção de sua espessura.
Atingidas e superadas essas resistências, inicia-se a
flambagem e, com ela aparece a excentricidade da força e o
momento de torção, que promovem o colapso da viga.
O recurso mais simples para evitar a flambagem lateral
da viga é providenciar suporte em cada extremidade da viga e no
me1o do vão, como os indicados na figura 5. 6 que diminuem o
comprimento de flambagem da mesa, contribuindo para impedir o
colapso por tombamento lateral da viga.

Figura 5.6- Contenções laterais

Providenciando os suportes laterais que deverão impedir


novo colapso por flambagern, urna vez que o vão sem suporte ficou
reduzido à metade, será substancialmente aumentada a resistência
da mesa superior à flambagem. Estendendo a idéia, conclui-se que,
o apoio lateral ideal deveria ser contínuo, como por exemplo uma
laje que proveria suporte ao longo de toda a mesa sujei ta à
compressão.

71
c) Colapso da alma por cisalhamento

O sinal seguinte de colapso na viga foram as "dobras"


na chapa da alma causadas por f larnbagern na direção diagonal,
( f i gur a 5 . 7 ) .

~~~~
~'--~
~;:/'
///. /
~ ~

Figura 5.7- Flarnbagern da alma por clsalharnento

Esta flambagern pode ser visualizada considerando-se a


dlstribuição das tensões de cisalharnento no perímetro de um dos
painéis da viga, corno na figura 5.8, onde é possível obter urna
resultante de tração, na direção de urna das diagonais, e de
compressão na direção da outra. Quando a resultante de compressão
atinge o valor da resistência à flarnbagern da chapa, esta flarnba,
surglndo ondulações na direção da resultante. No entanto a
flambagern da chapa não significa o colapso da viga, apenas a
mudança do seu comportamento, urna vez que a diagonal tracionada
continua a suportar solicitações. Porém, o comportamento agora se
aproxima mais de urna treliça do que de urna viga.

t
t -' "-.
-- /
/

/ ~ +
/
---;...
---;... -
~ ~

t
Figura 5.8- Tensões num painel da viga.

72
d) Ruptura da seção da viga

Aumentando-se o número de nervuras, até encontrarmos a


~nclinação da diagonal com a mesa, próxima de 45'? com a mesa,
deve ser aumentada a res~stência da viga. Realmente, colocadas as
nervuras intermediárias, e feito o novo ensaio, resultou uma
força ma~or de ruptura por flexão no meio do vão, corno pode ser
v~sto no quadro de resultados.
Deste modo, desde que sejam previstas nervuras
verticais enrijecedoras em número suficiente, a viga f~ca

habil~tada a suportar elevadas cargas. Este fato levou os


construtores a produz~r v~gas de grande altura, compostas de
banzos de chapa grossa e com alma de chapa fina, porém,
enrijecidas com muitas nervuras, em ambos os lados, como mostra a
f~gura 5.9.

~ ~

Figura 5,9- Viga com diversos enrijecedores de alma

Da discussão ora feita, conclui-se que a v~ga I é


teor~camente boa para resistir à flexão, devido às grandes áreas
de material concentradas nas mesas. Entretanto, os efel tos do
c~salhamento e as propriedades do material podem levar ao emprego
de outras formas de vigas.
Depois que apareceu a flambagem da alma, a viga ainda
cont~nuou a resistir ao carregamento, pois desenvolveu um slsterna
res~stente após a flambagern da alma. A partir deste instante a
viga pode ser comparada a urna treliça com forças de tração ag~ndo

73
ao longo das diagonais e forças de compressão agindo nas nervuras
vertJ.cais. Esta habilidade para desenvolver resistência após a
flambagem mostra a diferença fundamental entre a flambagem da
alma de vigas e a flambagem de colunas.

QUADRO RESUMO COMPARATIVO DOS ENSAIOS.

FORÇA LIMITE
!N~I TIPO DE VIGA NO MEIO DO OBS. DO ENSAIO
I I VÃO ( N)
I
/1 Viga I com nervuras 16 Colapso da alma
de alma, nos apoJ.os nos apoios por
flambagem.

12
Vlga I com nervuras 17 Colapso da alma
na alma, nos apoios no meio do vão,
por flambagem.
3 Viga I com nervuras 25 Colapso da viga
na alma, nos apoios devido à excen-
e no meio do vão tricidade da c ar
I ga, em relação -
I aos apoios. I
4 Viga I com nervuras 50 Colapso por
I
na alma, nos apoios instabllidade
e no meio do vão, e global.
suporte lateral em
cada apoio.
5 Viga I com nervuras 76 Colapso da alma
na alma, nos apoios por flabagem
e no melo do vão, e diagonal
suportes laterals
nos apoJ.os e no I I
-
melo do vao. I I I

6 Viga I com nervuras 100 Ruptura no meio


na alma, nos apoios da viga por
e em toda a exten- flexão.
são do vão e supor-
tes laterais nos
apoios e no meio do
vão.

74
5.3- SEÇÕES USUAIS

Dependendo do material utilizado, as vigas costumam ter


seções típicas, já consagradas pelo uso.
As vigas fabricadas em aço em alumínio, permitem
explorar ao máximo a característica mostrada nos i tens
anteriores, de afastar áreas do centro de gravidade para que com
a mesma área obtenha-se maior inércia. Mesmo nas vigas produz1das
a partir de perfis laminados pode ser observada esta tendênc1a.
As propriedades principais dos metais, que permitem a construção
de elementos delgados (finos) são a resistência do material, sua
maleabilidade e a sua homogeneidade interna, mas principalmente a
pequena dimensão dos seus elementos formadores.
A madeira, por possuir uma resistência relativamente
menor, não deve ser trabalhada com a mesma ordem de dimensão dos
meta1s, pois os elementos assim formados teriam urna res1stênc1a
muito baixa, não sendo indicados corno elementos estruturals.
Outro fator lirni tante na composição de seções, com a madeira,
reside na dificuldade de prover urna ligação rígida entre estes
elementos. No caso dos metais esta ligação pode ser formada
quando da fabricação, ou por laminação, extrusão ou solda. Para a
madeira utilizam-se, quando necessário, pregos, colas espec1a1s
ou parafusos, mas nestes pontos nem sempre é conseguida a mesma
res1stência do material original.
Quanto ao concreto, a dificuldade principal res1de nas
dimensões dos seus componentes, que em alguns casos exige uma
seleção prévia da granulornetria para assegurar o preenchimento
correto de todos os espaços previstos.
Por estes motivos é usual encontrar-se vigas formadas
por elementos finos, quando em aço ou alumínio, rnedianarnente
espessos quando em madeira e bem mais robustas quando em concreto
armado.
As seções transversais empregadas podem ser as mesmas,
o que varia é a espessura dos seus elementos e a forma de união
entre os mesmos. Dentre as seções mais empregadas destacam-se:

a- Seção retangular maciça


b- Seção em "I"
c- Seção caixão ou vazada

75
A
seção retangular maciça é muito empregada nos
elementos fabricados com madeira e com concreto armado,
justificada pelo bom desempenho da seção, inclusive do ponto de
vista da economia, pois são estas as seções comercialmente
utilizadas para a madeira e, para o concreto, a de mais fácll
execução quando o mesmo é fundido na obra.
A seção em "I" é a mais utilizada em Vlgas de aço,
sendo executada em alguns casos com madeira e, atualmente, com o
desenvolvimento das técnicas de pré-fabricação, também em
concreto armado ou protendido.

l I e e

l I e e

a) La minado em aço b) Em chapas de c) Em pranchas de d )Em concreto


ou aluminio aço soldadas madeira armado ou
pretendido

Figura 5.10- Seções em "I"

As seções vazadas, também conhecidas como calxão,


celulares ou tubulares, são também fabricadas com qualquer
material estrutural, valendo a observação anterior de que a
diferença reside na espessura dos seus elementos e nos meios de
ligação dos mesmos entre si.
As seções vazadas podem ter forma circular, retangular,
triangular, trapezoidal, etc, sendo, quase sempre, empregadas
quando existem solicitações de torção na viga.

76
I I

I I
a ) Em chapas de b) Em pranchas de c) Em concreto armado ou
aço soldadas madeíra pretendido

Figura 5.11- Seções vazadas

Existem ainda as seções em "T", "L", "C", e diversas


outras, que costumam ser aplicadas em situações específlcas,
definidas por ocasião do projeto. Por ora é suficiente estudar as
três já descritas, por sua maior utilização.

5.4- ESTABILIDADE LATERAL

Em item anterior, foi analisado o comportamento de urna


v1ga metálica em seção "I" onde pôde ser observado que, de todos
os modos de falha apresentados, apenas um estava ligado à
resistência mecânica do material, outro à estabilidade global e,
os demais estavam ligados à estabilidade local dos seus
elementos. Corno é fácil perceber, as seções retangulares rnac1ças
não apresentam instabilidades locais, podendo falhar apenas por
flarnbagem lateral com torção, que é urna perda da estabilidade
global da seção, e por ruptura à tração ou compressão, dev1do às
tensões normais que surgem com a flexão.

77
Portanto, em urna seção retangular, são dois os casos
possíveis de falha: por ruptura da seção e por perda da
estabilidade lateral. A ruptura da seção pode ser analisada pela
teor1a clássica da resistência dos materiais, onde a distribuição
das tensões norrnals pode ser representada pela expressão:

·-----------
a = My/I

onde:
M = momento de flexão atuante na seção.
y = ordenada do ponto da seção, contada a partir do
centro de gravidade, onde se quer conhecer a tensão
I = momento de inércia da seção em relação ao eixo de
flexão.

·NO ~9-ê.o-...P.articular da seção transversal, ora em estudo:

I = bh 3 /12

sendo h a altura da seção e b a largura.


A expressão da tensão normal máxima, que ocorre quando
y = h I 2 pode .§e r ~scri-ta como:

a max
, = 6M/bh 2
------ -~--- --
~~
A relação ;'bh 2 /6 = 21/h = W

é denominada módulo elástico de resistência à flexão, permitlndo


escrever:

arnax = M/W

Quando a tensão máxima atinge o valor da tensão de


escoamento do material, apenas as fibras extremas escoam. Caso o
materlal possua um comportamento elásto-plástico perfeito, com o
aumento do momento fletor, o escoamento se estende, de maneira
progressiva, às fibras internas, até atingir a linha neutra. Caso

78
o comportamento do material seja elasto-frágil, o escoamento se
estende a umas poucas f i bras, quando então as extremas rompem f

causando o colapso da seção.


Para um material elásto-plástico perfeito, o momento
fletor f assim denominado o momento reativo da viga, que é o
momento de reação interna, pode ser determinado, quando a
plastificação se estendeu até a linha neutra, pelo binárlo
formado pelas resultantes das tensões normais, fornecendo:

M = Fh
1

Como F = a bh/2
e
h = h/2
1

A expressão de M torna-se:

A propriedade geométrica

2Ms (Duas vezes o momento estático da


área da seção acima da L.N. em
relação a esta linha).

é denominada de módulo plástico de resistência à flexão.


A razão entre o módulo plástico e o elástico é
denominada de coeficiente de forma da seção, e de certo modo
representa a resistência adicional que a seção possul após o
início do escoamento. É como se fosse uma reserva de resistência.
No caso da seção retangular

Wp ...~>/W
~
= 1,5

No caso de falha pór perda da estabilidade lateral,


como já mostrado no ensaio da viga do item anterior, ocorre a
flambagem da região comprimida da seção transversal, enquanto a
parte tracionada tende a permanecer reta. Nesta situaÇão, ocorre

79
urna torção nas seções da viga próximas do meio do vão.
Para exemplificar, tome-se a viga de seção retangular
esbelta, de altura h e largura b, sendo b < h, sobre dois apo1os
simples, mas que impedem deslocamentos laterais, submetida a dois
momentos M, iguais e aplicados nas suas extremidades. Nestas
condições, representadas na figura seguinte, e utilizando-se dois
s1stemas de coordenadas:

-X, Y, Z, fixo, com origem no apoio da esquerda e que


contém a linha neutra da viga na posição inic1al.

-x y, z
I I que contém a 1 inha neutra da viga, mas que a
acompanha em seus deslocamentos, com origem também no apolo da
esquerda.

M r POSIÇÃO INICIAL
M

~y

z íZi ly
·--·
/77777

I
I

;~ t I
I
-1 Mcosa

I
tx X

LL.L,U

u
z
M

Figura 5.12- Perda de estabilidade lateral em viga

80
A sequência de aplicação dos momentos permite definir
três situações distintas:

1 - No inicio, deste zero até um determinado valor de M, a


viga só apresenta deslocamentos no plano de flexão.

2 - Quando os momentos ultrapassam o valor crítica do i tem


anterior, a viga apresenta deslocamentos também no plano
horizontal, que se iniciam na porção comprimida da seção.

3 - Com o aumento dos deslocamentos torna-se impraticável a


ut1lização da viga e considera-se atingida a sua capacidade.

Entretanto, supondo a viga em equilíbrio em uma posição


deformada, as suas seções transversais estarão submetidas ao
momento M aplicado, porém decomposto nas direções principais das
seções. Portanto, em uma seção genérica tem-se:

Mz = M seno:
MX = M COSo: COS</>

My = M coso: sen<P

Admitindo-se como pequenos os deslocamentos, pode-se


fazer:

COS</> ~COSo:~ 1,0


sen<P ~ tg<P "' <1>

seno: ~ tgo: = du/dZ ~ du/dz

Deste modo as equações de M, tornam-se:

Mz ~ Mdu/dz (momento de torção)


M ~ M (momento de flexão em x)
X
My ~ M<t> (momento de flexão em y)

As equações diferenciais das projeções da elást1ca


segundo os eixos principais podem ser escritas como:

81
2 2
d u/dz = -My/EIY = -M~/EIY
2 2
d v/dz = -Mx/EIX = -M/EIX

e a rotação especifica da seção será:

~· = d~/dz = Mz/Git = (M/Git)du/dz

que derivada uma vez torna-se:

que é a equação diferencial que relaciona o momento aplicado à


rotação da seção.

Fazendo

cuja solução pode ser assumida como:

~ = C senkx + C coskx
1 2

Pela condição de contorno: x=O implica que ~=O, uma vez


que o apoio não pode girar no plano horizontal, portanto C = O e
2
a solução torna-se:

~ = C senkx
1

Introduzindo uma segunda condição de contorno: para x=~

lmpllca em ~=0, assim:

c 1 senk~ = O

Para C ;z:O, tem-se que k.t=nn, com n inteiro e positivo.


1

82
Portanto:

Das diversas posições de equilíbrio que a v1ga pode


assum1r, representadas por n, interessa apenas o menor valor, que
é n = 1, quando então M assumirá o valor do momento crít1co de
flambagem lateral, elástica.

Mcr = ~ / EIYGit '

Para outros
carregamentos, o momento crítico assume
valores diferentes, mas que podem ser representados e
determinados pela equação anterior, afetada por um coeficiente
que leve em conta as diferenças existentes entre os
carregamentos. Por meio deste coe~iciente, denominado cb, todos
os demais momentos críticos podem ser expressos em função de uma
ún1ca equação:

Para os carregamentos mais empregados, os valores de cb

1,13
a.2-Força concentrada no meio do vão: cb = 1,35

b) Vigas em balanço
b.1-Carregamento uniformemente distribuído, cb = 2,04
b.2-Força aplicada na extremidade do balanço: Cb = 1,28
c) Viga ou trecho de viga com momentos nas extremidades:

2
c l
= 1,75 + 1,05(M /M) + 0,3(M
1 2 1
IM 2 ) ~ 2,3

onde:
M1 = menor momento de extremidade, em módulo.
M2 = maior momento de extremidade em módulo.
A relação M /M será positiva quando M eM. tiverem o
1 2 1 2
mesmo sentido de giro (curvatura reversa) e será
negativa para sentidos diferentes (curvatura simples).

Nas construções em concreto, ou nas de aço, quando


ex1ste um elemento estrutural na região comprimida da viga, como
lajes, planos de contraventamento, telhas metálicas, etc, é
possível admitir o valor de ~ (que representa a distância entre
pontos da viga contidos lateralmente) como zero, ou muito próximo
deste valor. Nestes casos 1 diz-se que a viga· possui contenção
lateral contínua.
Para as seções formadas por elementos esbeltos, como as
vigas de aço, o valor do momento crítico deve levar em conta a
possibilidade de que algum destes elementos possa flambar antes
que a seção atinja o valor de Mc r Nestas vigas deve-se
determinar o valor do M para cada uma das chapas que a formam,
cr
bem como o valor do M
c r da seção, e evidentemente adotar o menor
deles.
Ainda sobre flambagem lateral, cabe lembrar que, para
determinados valores de t, a viga pode flambar elasticamente,
quando vale a expressão de Mc r já apresentada. Para valores de ~
menores que um dado valor a flambagem pode ser inelástica ou
1

mesmo não ocorrer.


Neste disciplina vamos nos ater apenas à flambagem
elástica.
A expressão de Mcr já deduzida, pode ser utilizada em
v1gas com seção retangular ou caixão. Para as seções abertas,
como por exemplo, as seções em "I", a expressão de Mcr será:

M
cr 1f
2
EI w/GI t t 2
' J

84
onde I é
o momento de inércia setorial, comumente chamado na
w
bibliografia voltada para o aço de constante de empenamento e
notificado como Cw, cujo valor para as seções em "I" pode ser
determinado, com bastante precisão, pela expressão:

A perda da estabilidade lateral só ocorre quando a


flexão ocorre em torno do eixo de maior inércia. Caso contrário,
a viga falha apenas por escoamento ou por instabilidades locais.

5.5- EXERCíCIOS PROPOSTOS

Q- Para vencer um vão de 8m, dispõe-se de vigas com seção


retangular de um material elasto-frágil com módulo de
elasticidade de 10.500MPa, coeficiente de Poisson de 0,25 e
2
ae=2,0kN/crn • Utilizando urna largura de 20crn, determine a altura
que a v1ga deve ter para três situações distintas:

a-Travada lateralmente só nos apoios.


b-Travada lateralmente nos apoios e no meio no vão.
c-Travada continuamente.

A viga deve suportar urna força concentrada de 150kN no me1o do


vão e os apoios são rotulados.

2 No exercicio anterior, admitindo que o material seja


elas to-plástico perfeito, quais seriam os valores da altura da
viga para as mesmas condições?

3 - No exercicio 1, redirnensione a altura da viga, para as mesmas


condições de carregamento e travamentos laterais, porém
considerando-a corno biengastada.

85
4 - Determinar as máximas tensões normais e de cisalhamento que
ocorrem na viga da figura.

r 20cm "'!
p= 20kNim
~~
( I
I I I I I I t I I +J I
* • 50cm

~ 2L
/77'77
2cm 2cm
I
I
J•
!=6m
1 4t
ESQUEMA ESTÁTICO SEÇÃO DA VIGA

5 Para a viga do exercício anterior utilizando as mesmas


dimensões, porém em seção "I 11 , determine o valor de "p" que leva
a v1ga a perder a estabilidade lateral, considerando-a travada só
nos apoios, e com E = 5.000MPa.

6 - Para os esquemas estático e de carregamento do exercic1o 4,


qual seria a altura mínima de .uma seção retangular, de um
material com E = 5.000MPa e oe = 20MPa para resistir ao
carregamento aplicado. E se houvesse contenção lateral continua?

86
6- PILARES

Este é mais um elemento estrutural conhecido e


utllizado desde os tempos mais remotos. Foi empregado com arte e
mui to bom gosto nos templos egípcios, gregos e romanos, e em
construções habitacionais. Executado inicialmente com pedra e
madeira, com o advento do ferro, do aço e do concreto, adquiriu
novas formas e novas seções, limitadas quase que tão somente pela
criatividade do projetista.
Assim como as vigas, as seções mais empregadas são a
retangular, a quadrada (que pode ser considerada corno urna
variante da retangular), a circular, e a em "I". A escolha da
seção, quando não é condicionada pelo projeto de arquitetura,
costuma ser definida objetivando minimizar o consumo de mater1al
ou de mão-de-obra envolvida na fabricação.
Nas estruturas em concreto armado, o emprego de seções
maciças, quadradas, retangulares ou circulares, justifica-se pela
facilidade de execução das formas, da armadura e do lançamento do
material. Quando executadas em madeira, pode ser possível
ut1lizar seções maciças, mas só quando for possível obter as
seções previstas diretamente das serrarias, o que costuma
encarecer bastante o produto. Para diminuir este custo de
produção, costumam-se utilizar seções obtidas a partir das seções
comerciais, que são retangulares, formando-se as seções em "I",
"T" ou caixão.

87
Q~ando o material utilizado é o aço, costumam ser
adotadas seções formadas por um ou mais perfis comerciais,
ligados convenientemente entre si, ou então seções formadas por
várlas chapas, soldadas entre si, dando origem a seções em 11
I",
"C", "T'', caixão, etc.

6.1- FLAMBAGEM ELÁSTICA

Como já foi visto em resistência dos materiais, os


elementos estruturais quando comprimidos podem apresentar o
fenômeno conhecido corno flarnbagern, que consiste na perda da
estabilidade.
Relembrando, seja a coluna da figura seguinte, em
equllíbrio numa posição ligeiramente deslocada, onde:

M = Py

- MIEI = -Py/EI

Fazendo: k 2 = PIEI
obtém-se:

y" + ky =o

Figura 6.1- Flarnbagern elástica de coluna

88
Trata-se de equação diferencial, cuja solução geral é:

y = C1 senkx + C coskx
2

Com as condições de contorno:

y = O para x =O e x =~ obtém-se:

c2 = o e senk~ = O, cuja solução é:

K~ = nn, onde n é um número positivo e intelro,


resultando a constante C indeterminada.
1

Para obter o menor valor de P, faz-se n =1 e assim:

TC = k~ = ~~ P/EI
donde:

Com a mudança das condições de contorno surgem


diferentes valores para P cr, que podem ser referenciados ao Já
deduzido, através da correção do comprimento real para o
comprimento efetivo de flambagem.
De fato, chamando de:

~f~ = k.~
Obtém-se:

onde os valores de k para cada situação estão apresentados na


figura seguinte:

89
~
TI o;25/
Cl
I 0,7t
t lqst

o,st
0,25! 0,3/

k = LO 0,5 1,0 0,7 2,0 2,0

Figura 6.2- Coeficlentes de flambagem

Pelas figuras pode-se concluir que o comprimento de


flabagem representa a distância entre pontos de inflexão da
elástica.
Uma discussão interessante na flambagem é a
determinação dos deslocamentos após a força aplicada atingir o
valor crítico. Na forma utilizada, a constante C resultou
1
indeterminada. Isto ocorreu por que foi utilizada uma expressão
aproximada para a curvatura, caso tivesse sido utilizada a
expressão exata, tal indeterminação não ocorreria.
Dentre os di versos procedimentos utilizados com esta
finalidade, destaca-se um de fácil visualização e de fácil
entendimento, que não envolve procedimentos algébricos
complicados. Vale a pena o seu estudo com mais detalhes. Seja a
coluna da figura seguinte, infinitamente rígida, com cornpr1rnento
~, engastada elasticamente na base através de uma mola de
coeficiente constante k, e submetida a urna força P vertical, CUJO
valor parte de zero e cresce lentamente.

90
h

Figura 6.3- Coluna engastada elasticamente na base

Em um determinado instante do carregamento é provocado


um deslocamento transversal f, no topo da barra. Nesta situação
as condições de equilíbrio permitem escrever:

Me = P.f (momento externo)


M.
l
= k.e (momento na mola)
Caso a barra permaneça na posição deslocada, tem-se:

M
e
= M.1
P.f = ke

Como f = ~sene, elimina-se f da igualdade anterior, e


assim:
P~sene = ke

91
Considerando-se os deslocamentos como pequenos, pode-se
fazer: sene ~ e, e assim:
p = k/.t
Caso a barra permaneça em equilíbrio, na poslção
deslocada, P = Per' porém o valor do deslocamento continua
lndeterminado.
Caso retorne à posição vertical conclui-se que P < Per·
Porém, considerando-se os deslocamentos como grandes, o
valor de P, da mesma situação de equilíbrio será:

k e
P = -z sene

Como: sene = f/.t


e = are sen f/.t
k/.t "' p c r

Pode-se escrever:

p are sen f/{


=
Per f/t

Fixando valores para a relação f/.t encontra-se a razão


entre P e Per' correspondente.

f/.( e P/Pcr Limite


(Graus) f/.(
0,01 0,573 1,0000167 1/100
0,05 2,866 1,00004 1/20
0,10 5,739 1,0017 1/10
0,25 14,4775 1,0107 1/4
0,50 30 1,0472 1/2
0,75 48,5904 1,1307 1/1,33
l , 00 90 1,5708 1/1
0,75 131,4096 3,0580 1/1,33
0,50 150 5,2360 1/2
0,25 165,5225 11,5556 1/4
0,10 174,2608 30,4143 1/10

92
Com estes valores é possivel traçar o gráfico de
Karman, onde P /P
cr = 1, O quando f = O, existindo um valor bem
definido de f para cada valor de P.

1,0 1,57 P/ Per

Figura 6.4- Gráfico de Karman

Evidentemente os altos valores de f I .t (acima de O, 2 5


por exemplo) não tem significado prático, sendo que neste ponto a
relação P/P é de apenas 1 01.
P cr pode ser Portanto,
cr f

considerado como o valor que leva a barra ao colapso, pois os


deslocamentos correspondentes a valores maiores são incompatíveis
com a utilização prevista para as estruturas em geral.

6.2- FLAMBAGEM INELÁSTICA

A expressão encontrada para Per no item anterior, só é


válida no intervalo em que as tensões atuantes são menores que a
tensão de proporcionalidade (ap) do material, que é a tensão que
limita o campo de validade da lei de Hooke. Para valores maiores
que ap a expressão conduz a valores que podem lnClUSlVe
ultrapassar a tensão de escoamento.
Na região onde o valor de ap é ultrapassado pela tensão
de Euler, a determinação do valor critico pode ser feita pela

93
teoria do módulo tangente, de Engesser, ou pela teoria do duplo
módulo, de Engesser e von Karman. Entretanto, . as normas mals
recentes, preferem interpolar uma parábola do 2° grau, que conduz
a resultados muito próximos dos observados experimentalmente e de
resolução muito mais simples.
Para esta interpolação faz-se na figura seguinte:

\
\

Figura 6.5- Curva de Flarnbagern

acrt = aÀ 2 + b (equação de urna parábola)

Quando À = O tem-se: acrt = ae = b


Qundo À = Àp' derivando-se as duas equações e igualan
do-as:

Donde:

94
e finalmente:

Portanto

Portanto, determina-see compara-se com op, se


0
crz
menor, o é a tensão crítica, se maior determina-se ocr ' que
crz 1
será então a tensão crítica, lembrando que:

À= k~/r (índice de esbeltez)

r =~ (raio de giração)

o = P/A

6.3- FLEXO-COMPRESSÃO

O estudo do comportamento de uma barra submetida a uma


força de compressão e a forças que produzam flexão, também
chamada de flexão composta, é essencial para os dimensionamentos
da prática, tanto para barras metálicas, como em madeira.
concreto armado ou outros materiais estruturais.
No~ itens anteriores, a força de compressão fo1
considerada coincidente com o eixo da barra. Entretanto, na
prática ocorrem excentricidades acidentais ou mesmo construt1vas.
que alteram substancialmente o comportamento da barra à
compressão.

95
Vejamos inicialmente um caso bem simples, como o
mostrado na figura seguinte, onde, o exemplo da anterior a barra
é rígida e engastada elasticamente na base em uma mola com
coeficiente "k", e a força é aplicada com urna excentrlcidade
inlclal "e".

Hp
,,--'. I
I
t

ip
Figura 6.6- Coluna engastada elasticamente na base com
excentricidade inicial.

Na posição de equilíbrio:

M
e = Ml
M
e = p (.t. sene + e.cose)
M.
l = ke
Admitindo-se os deslocamentos pequenos, sen e ~ e e
cose~ 1,0, da igualdade de momentos obtém-se:

P = k8/(-t+e)

96
Fazendo-se como anteriormente,

Per = k/~ (solução aproximada)

P/Pcr = e/[e + (e/~)J

Adotando-se por exemplo, e/~= 0,1, obtém-se:

f/~ e P/P
cr
Limite
(Graus) f/~

0,01 0,573 0,0909 1/100


0,05 2,866 0,3334 1/20
0,10 5,739 0,5004 1/10
0,25 14,4775 0,7165 1/4
0,50 30 0,8396 1/2
0,75 48,5904 0,8945 1/1,33
1,00 90 0,9401 1/1
0,75 131,4096 0,9582 1/1,33
0,50 150 0,9632 1/2
0,25 165,5225 0,9665 1/4
0,10 174,2608 0,9682 1/10

Que tem o seguinte traçado no gráfico de Kaman;

1,0 P/Pcr

Figura 6.7- Gráfico de Karman

97
onde observa-se que o valor de f cresce quando P tende ao valor
de Per' o que representa uma situação muito diferente da
flambagem pura, quando f=O, desde que P < Per Entretanto, esta e
a solução aproximada.
Procurando-se uma solução mais precisa, tem-se:

P = P 8/(8 + e/{) = P f/(f+e) (expressão aprox. l


cr cr

Fazendo:

f + e =õ

P = Per (õ-e)/o

Donde:

ou, dividindo e multiplicando o segundo membro por Per

1
o= e = J.l·e
1- p
Per

sendo J.1 denominado de fator de amplificação dos deslocamentos.


Este mesmo fator pode ser encontrado na equação do
momento f1nal.
Realmente, fazendo:

M = P.e (momento inicial)


0

Me = P(f+e) = P.o (momento final)

Portanto:

J.l.M
o

98
Voltando à expressão exata de P:

P(t.sene + e.cose) = ke

Lembrando que k/t P


~
cr :

P/Pcr = e;[sene + ~ cose J


e, mais uma vez, calculando as relações para e/{= 0,1:

f/{ e P/Pcr Limite


(Graus) f/t
0,01 0,573 0,0909 1/100
0,05 2,866 0,3338 1/20
0,10 5,739 0,5021 1/10
0,25 14,4775 0,7286 1/4
0,50 30 0,8926 1/2
0,75 48,5904 1,0391 1/1,33
1,00 90 1,5708 1/1
0,75 131,4096 3,3538 1/1,33
0,50 150 6,3329 1/2
0,25 165,5225 18,8602 1/4
0,10 174,2608 6061,3421 1/10

e o gráfico de Karman será:

1,0 1,57 P/Pcr

Figura 6.8- Gráfico de Karrnan

99
O gráfico permite concluir que o comportamento de urna
barra flexo-comprirnida é bem diferente do comportamento sob
compressão simples. Agora as flechas crescem continuamente, desde
o 1níc1o do carregamento. Mais urna vez cabe lembrar que os
valores que interessam na prática estão limitados pelos
deslocamentos. Em urna situação real não se pode ace1tar
1nclinações da peça com a vertical maiores que 2 a 3 graus,
embora na elaboração dos gráficos tenha sido utilizada uma
relação e/{ muito mais alta.
Recalculando para e/{ = 1/1.000, que é um valor ace1to
como provável de ocorrer, por quase todas as normas, obtém-se:

f/{ e P/P
cr
Limite
(Graus) f/{
0,001 0,0573 0,5000 1/1000
0,002 0,1146 0,6667 1/500
0,003 0,1719 0,7500 1/333
0,004 0,2292 0,8000 1/250
0,005 0,2865 0,8333 1/200
0,010 0,573 0,9091 1/100
0,020 1,146 0,9525 1/50
0,050 2,866 0,9808 1/20
0,100 5,739 0,9918 1/10
0,250 14,4775 1,0068 1/4
0,500 30 1,0454 1/2
0,75 48,5904 1,1298 1/1,33
1,00 90 1,5708 1/1
0,75 131,4096 3,0607 1/1,33
0,50 150 5,2451 1/2
0,25 165,5225 11,6006 1/4
0,10 174,2608 30,7199 1/10

Lançando estes valores no gráfico de Karman, observa-se


apenas a variação da curva, mas as conclusões sobre o
comportamento permanecem.

100
1,0

e =-0,1(

e =-0,001!

e=-0
-----~

1,0 1,57 p;p


cr

Figura 6.9- Gráfico de Karman

6.4- AMPLIFICAÇÃO DE SOLICITAÇõES

Como pôde ser visto no item anterior, os deslocamentos


da flexão podem ser majorados quando combinados com solicitações
de compressão. No caso anterior estudou-se uma barra submetlda a
uma força de compressão excêntrica. Vamos ver agora o que
acontece quando a barra está sob flexão e a força de compressão é
apllcada.
Nestas condições, o momento máximo que pode ocorrer
será:
M = Mo + Pó = Mo + P ~ óo

onde:
M0 = Momento lnicial devido à flexão simples.
~ = coeficiente de amplificação de deslocamentos, Já
definido.
oo = excentricidade na aplicação da força de
compressão, no caso, o valor da flecha inicial.

101
Lembrando que na expressão anterior M e 8 referem-se a
0
duas seções relativamente próximas, ou de preferência a urna mesma
seção, a seguinte transformação pode ser feita:

M = M
o
(1 + !JÓ
o
~
M
= o: Mo
0

onde o: será o fator de amplificação de momentos, que pode ser


posto corno:

conforme já visto:

1
1 - p
= J.l
Per

Portanto, 1/J.L =1 - P/P


cr
que substiuido na expressão de o::

0: = J.L(1 - pp + 8 ~)
0
cr Mo

multiplicando e dividindo o último termo do parênteses por Per e


rearranjando os termos chega-se a:

p p p 8
cr o
0: = Per
+ p-
Mo
er

chamando:

Pcr 8 o
Mo
- 1 =w
o: = 1-l (1+w P/Pcr)

102
charnango:

chega-se finalmente a:
/----------- ·~

o:=/)~
~

Buscando urna visualização destas deduções, vejamos o


caso de urna viga simplesmente apoiada com vão .{, submetida a urna
força F no meio do vão e a urna força de compressão P, centrada:

Neste Caso:

M
0
= F{/4
ó
0
= F.{ 3 /48EI
2
p cr = n EI I '\92
..,

Encontra-se:

=1 + ~ P/P
. cr = 1-0,1775 P/Pcr < 1,0

1
1-1 = 1-P/Pcr > 1,0

1-0,1775 P/Pcr
1-P/Pcr > 1,0

Fazendo P/Pcr variar desde 0,1 a 1,0 encontra-se para


1-1 e o::

103
P/Pcr 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
fJ 1,1111 1,2:> 1,4286 1,666 2,0 2,5

ex 1,0914 1,2056 1,3525 1,5483 1,8225 2,2338

0,7 0,8 0,9 1,0


3,33 5,0 10 co

2,9192 4,29 8,4025 co

Portanto, para cada situação pode-se determinar ~, fJ e a.

6.5- EQUAÇõES DE INTERAÇÃO

Estas equações já foram vistas e utilizadas no estudo


da flexão oblíqua e flexão composta, na resistênc1a dos
materiais. Agora vamos revê-las sob o novo enfoque da
ampl1ficação das solicitações.
Na verificação do escoamento, sem instab1lidade,
tem-se:
p M
aat = -x- + -w- ~ aR (resistente)

Dividindo por aR = ae
p
Aae
= WaM ~ 1,0
e
onde:
AO"e =Pu Esforço normal de tração ou de compressão
que atuando isoladamente leva a seção ao
escoamento, ou a atingir um limite pré-
estabelecido.
É o momento fletor que, isoladamente, pode
levar ao escoamento, ou a um limite pré-es-
tabelecido, as fibras extremas da seção.

Podendo a equação ser escrita como:

104
P: + ~u ~ 1,0

A verificação da estabilidade em um elemento flexo-


comprimido pode ser feita por meio de uma outra equação de
interação I totalmente análoga a esta. Para obter esta equação,
basta fazer:

Como ~cr pode possuir valores diferentes para as duas


solicitações, divide-se cada termo por este valor critlco
obtendo-se:

M
~ 1,0
w~
cr

onde:
Per= A~cr = força crítica que, atuando isoladamente,
pode levar a barra à f lambagem I ou a um
limite pré-determinado.

Mcr = W~cr = Momento fletor que provoca flambagem late-


ral da barra, ou a leva a um limite pré-
determinado.

M = ex M
o
= Momento final considerando a ampllficação
devida a compressão normal causada por P,
no plano onde ocorre M .
0

Portanto:
p a::M 0
;=;-- + ----n- ~ 1,0
11
r cr • cr

Nos casos onde ocorre flexão nos dois planos


principais, acompanhadas de compressão, as equações podem ser
escritas:

105
p
ç (resistência)

p o: M o:M
X OX Y oy 1,0
+ + :::; (estabilidade)
Per Mux Mcry

6.6- EXERCíCIOS PROPOSTOS

1 - Determine a tensão crítica de flambagem de um pilar, com


seção retangular de 10x20cm, construído com um material que
2 2 2
possui ae=2,0kN/cm , ap=1 0kN/cm
1 1 e E=1.000kN/cm , sendo
biapoiado nos dois planos principais, e que possu1 3m de
comprimento.
Resposta: 0 914kN/crn 2
1

2 - Para o pilar do exercício anterior I determine o número de


travamentos necessários, no plano de menor inércia I para que a
tensão critica de flarnbagem possa ser a maior possível.
Resposta: 1 travamento no meio do vão, quando então:

3 Para o pilar do exercício anterior, verifique se o mesmo


resiste à aplicação de urna força de compressão de 150kN, aplicada
com uma excentricidade de 4cm em relação ao eixo de ma1or
inércia.
Resposta: Sim.

106
4 - Determine os valores de ~' em e a para a seguinte estrutura:

_P_.,..~li I I I I I t i l I I I L;;k.,..___P
1< .. ,.. .--··· T
Resposta: ~ = 0,028
= 1+0,028 P/Pcr

1 + 0,028 P/P
cr
a = 1-P/P
cr

5 - Determine os valores numéricos de ~, em e a do exercíc1o


anterior caso a barra fosse executada com urna seção retangular de
5x30crn, 8rn de vão, tensão de escoamento de 1,5kN/crn 2 e 0,78kN/crn 2
corno tensão de proporcionalidade e 7. 500kN/cm 2 corno módulo de
elasticidade. Considere q = 2kN/rn e P = 75kN.

6 - Conside as mesmas condições do exercício anterior I porém a


viga travada lateralmente em dois outros pontos 1nterrnediár1os
aos apoios e recalcule os valores solicitados.

7 - Para a viga do exercício 5, utilizando as mesmas condições de


material e esquema estático 1 determine ~I em, a, com a v1ga
suportando o carregamento de flexão no plano de menor inérc1a e
comente os resultados. (No exercício 5 o carregamento fo1
aplicado no plano de maior inércia).

8 Corno fica a solução caso, no exercício anterior I fossem


introduzidos dois apoios, igualmente espaçados, no plano de menor
inércia? Comente

107
7 - GRELHAS

Em uma plataforma formada por uma série de vigas para-


lelas, todas com vão na mesma direção, como mostrado na figura
7.1, cada viga age mais ou menos independentemente das outras, de
modo que, quando uma força concentrada é aplicada em uma viga,
esta necessita ser resistente o suficiente para transmitir,
sozinha, a totalidade da força aos apoios.

Figura 7.1- Sistema de vigas com vão numa direção.

Urna forma de construção mais leve e conseqüentemente


mals econômica resultaria se as forças concentradas pudessem ser
repartidas entre diversos elementos, de modo que nenhum elemento
tivesse que realizar todo o trabalho sozinho, ou seja, que todos

108
os elementos resistentes ficassem solicitados. Uma estrutura de
grelha tal como a mostrada na figura 7.2, é um meio de se atingir
estes objetivos. Afim de que todas as vigas possam partlcipar da
transmissão de quaisquer forças aplicadas aos apoios, é essenclal
que se]arn interligadas em cada ponto de interseção.

Flgura 7.2- Sistema de vigas com vãos em duas direções (grelha).

Urna grelha, por consegüinte, consiste de dois ou mals


Slstemas de vigas paralelas que se interceptam, sendo cada
sistema interligado ao outro. As direções dos sistemas de viga
não necessitam, contudo, ser paralelos aos elementos de apoio.
Aplicando em urna viga simplesmente apoiada, urna força
concentrada no meio do vão, verificaremos que a viga deforma-se,
apresentando flecha máxima no meio do vão. O quociente da força
pela flecha correspondente chama-se rigidez da viga à flexão.
Numa análise em modelos reduzidos foram obtldos os
resultados indicados na figura 7.3, em que se verificou relação
linear entre a rigidez e 1/1 3 , onde L é o vão teórico de uma viga
slmplesrnente apoiada sujeita a uma força concentrada no melo do
vão. Conseqüentemente, por exemplo, reduzindo o vão à metade a
rlgidez cresce oito vezes.

109
RIGIDEZ·= N/mm

26 Á
24
I
r
I !

' /
v
22 I
!
I

i I
I
/
2o /T
l8
v
l6 /
4
/
l 2 /
l o )/
8
v
/
6
/
4 ./
/ i
2

v l 2 3 4 5 6
i
7 8 (ld)
l/

Figura 7.3- Resultados de análise sobre rigidez de Vlgas.

Foram ensaiado três sistemas de grelhas retangulares


corno mostrado na figura 7.4. Nos locais de intersecção fol
colocada urna viga sobre a outra, e esta junção foi enrijecida o
suficiente para evitar deslizamentos relativos.
Cada sistema foi mantido com vão livre de 100mm, sendo
que os apoios das vigas superiores ficaram obviamente mais altos
que os das vigas inferiores.
As forças foram aplicadas no centro de cada sistema e
as flechas correspondentes foram medidas.
As forças aplicadas foram crescentes até à ruptura,
anotando-se o comportamento do começo ao fim.

110
MODELO .Q. MODELO .!?_ MODELO _ç_

Figura 7.4- Modelos de grelha

QUADRO DE VALORES DA RIGIDEZ E FORÇAS DE RUPTURA

RIGIDEZ
FORÇA DE
GRELHA
(N/mrn) RUPTURA(N)

a 1,45 9,3

b 2,68 14,2

c 5,48 25,3

Analizando os modelos e seus resultados, observa-se:

A - No Modelo (b) o centro de cada viga deve ter a mesma


flecha f.
Se a rigidez de urna viga é R e a rigidez da outra Vlga
1
é R , então a força necessária para fletir a primeira viga é fR ,
2 1
e para fletir a segunda viga é fR .
2
Por consegüinte a força total P necessária para fletlr
o par de vigas é:

A rigidez do par de vigas com carregamento central é


por definição R= P/f.

111
ou seja:

Assim a rigidez do sistema combinado é igual à sorna da


r1g1dez das duas vigas.
No Modelo (b) cada viga tem a mesma rigidez do Modelo
1a1. Por consegüinte o Modelo (b) deve ter duas vezes a r1gidez
do Modolo (a). A relação obtida no ensaio foi 2,68/1,45 = 1,85.

B - No Modelo (c) as vigas adicionais oferecem apoio


parc1al ao par central de vigas, e os vãos destas vigas são,
portanto, efetivamente reduzidos e por 1sso a rigidez do s1stema
é aumentada, a força que causa ruptura é também aumentada
relat1varnente ao Modelo (b), desde que o efeito dela se]a
repart1do entre todas as vigas. Ambos os aumentos, da rigidez e
da força de ruptura, estão indicados na figura 7.5.
O Modelo (c), tipicamente, toma a forma de um "prato''
quando a força é aumentada, fletindo ao máximo as duas v1gas
centrais e eventualmente rompendo-as.
Um sistema alternativo de vigas, com vão numa só
direção, equivalente ao Modelo (c), consistiria de três vigas
paralelas e, desde que cada viga ag1sse independentemente, a
resistência e a rigidez deste sistema, numa só direção e sob
forças concentradas centrais, seriam as mesmas que as obtidas com
o Modelo (a). O sistema com vigas numa só direção contudo, usa
somente a metade do material utilizado na construção da grelha
do modelo (c). Por isso, para a grelha apresentar vantagem
deveria ser no mínimo duas vezes mais resistente e duas vezes
mais rígida. Entretanto, dos resultados dos ensaios tem-se:

1) Coeficiente de resistência: (c)/(a) = 25,3/9,3 = 2,7

2) Coeficiente de rigidez (c)/(a) = 5,48/1,45= 3,8

Se admitirmos agora o modelo ( b) com vigas iguais em


material e seção transversal, porém 1 de vãos desiguais 1 serão
elas desigualmente solicitadas. É evidente que a viga ma1s
rígida. a mais curta, será mais solicitada.

112
Força Newtons
30
I
I
28
I
i
I
I
I I
26
II
I /
Kc) I
I
I
I
I
I
I

I
I
1/
I
24 I
I !

I i
22 I

20 I i

18
I
I
J
I I

i I
16

I
I
I
14 I
)./~
12 I b)
I
I

10
lf
J LV !
I

I / ....,..,.,. .........
a)
8

6 1/ / /
v
4 I / /
2
/j v/v ~

o /J/
Ó( mml

o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Figura 7.5- Resultados de ensaio dos três modelos.

Sabe-se que a rigidez R é inversamente proporclonal ao


c:ubo do vão.
Sendo K urna constante dependente do material e da seção
transversal da viga, tem-se:

R1 = K/L~
R2 = K/L~
Fazendo: R /R
1 2
= L23 /L 13
e: R1 /(R 1 +R 2 ) = L~/(L~+L~) = R1 /R
ou

113
Sendo "f" a flecha, que pode ser escrita:

pl = fRl

p2 = fR2

E, fazendo P /P = R /R
1 2 1 2

e: P /(P +P ) = R /(R +R ) = P /P = R /R
1 1 2 1 1 2 1 1

ou então, introduzindo m:

P = Pm 3 /(l+m 3 )
1

como: P = P-P = P/(1+m 3 )


2 1

Admitindo-se, por exemplo, m=2, resulta:

P
1
= 8P/9 e

P2 = P/9

Os deslocamentos e as reações desta grelha estão


mostrados na Figura 7.6.

Figura 7.6- Reações e deslocamentos em grelha retangular.

114
Fol construído, para ensaio, um s1stema de grelha
diagonal como mostrado na figura 7.7, com os mesmos cuidados dos
modelos anteriores.
A tendência das vigas levantarem-se nos apo1os fo1
evitada aplicando-se urna pressão para ba1xo.

Figura 7.7- Modelo de grelha diagonal.

O conjunto de resultados está mostrado na figura 7.8,


do qual pode ser deduzido que a rigidez da grelha diagonal é
aproximadamente 22% mais alta que a da grelha retangular para
força no centro, e a força de ruptura da grelha diagonal é
aprox1rnadamente 13% mais alta do que a da grelha retangular.
Durante os ensaios foi observado que as vigas longas da
grelha diagonal tendem a levantar-se dos seus apoios e a
aplicação de forças para baixo foi necessária para evitar essa
ocorrênc1a.

115
FORÇA ( NEWTONSl

30
I ; I
28 I ~I
26
I I- I
/ ....
!
i
24 J / \

22

20
1// 1

18 j /
16

14
j/
/
12 JI
10
/,
8
f/
I;
I

Ó (mml

o 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 7.8- Resultados do ensaio em grelha retangular e diagonal.

Este efeito é devido à rigidez relativamente alta das


vigas diagonais mais curtas, capacitando-as a oferecer apolo
considerável às vigas mais longas. Assim, o sistema de forças que
age sobre uma diagonal longa é semelhante ao mostrado na figura
7. 9, e será notado que em cada extremidade, as duas reações
formam um sistema que tende a inverter a direção da curvatura na
diagonal longa, reduzindo assim, o momento fletor no meio do vão
e a flecha. Isso então responde pelo acréscimo em rigidez e

116
resistência à ruptura alcançado com a grelha diagonal. Na grelha
retangular o efeito entre apoios é menos marcante e
conseqüentemente a inversão de curvatura não ocorre em nenhuma
das v1gas.
Em ambas as grelhas alguma deformação devida à torção é
aparente e a flexão de cada viga é levemente modificada pela
r1g1dez à torção das outras v1gas.
O funcionamento da grelha depende do funcionamento
s1multâneo das vigas que a constituem. Uma viga ao flet1r
"arrasta" consigo as vigas transversais tirando-as da pos1ção
vert1cal primitiva fou melhor torcendo-as
I e elas ao oporem
f f

res1stênc1a à torção produzem momentos resistentes de torção.


1

al1v1adores da flexão da viga. A figura 7.9 procura ilustrar este


mecan1smo.

F1gura 7.9- Inversão de curvatura nas diagonais longas da grelha


diagonal.

Este mesmo mecanismo também está presente nas dema1s


v1gas que formam a grelha.
Nas grelhas retangulares, em que um lado é
acentuadamente maior que o outro, as v1gas longi tudina1s
(ma1ores)f apresentam menos eficiência. Para se ter ação
1gualmente dispersa em do1s eixos as vigas longas devem ser
f

enr1 jecidas adeqüadamente 1sto é


f se a grelha tem relação de
f

1:2f as vigas longas deveriam ser oito vezes mais rigidas.


A malha obliqua evita o inconveniente dos comprimentos
de v1ga desiguais nas plantas alongadas. Além disso, em virtude
dos vãos menores nos cantos consegue-se uma rigidez adicional
f

semelhante à que se obtém em uma condição de apoio indeslocável.

117
8- ELEMENTOS DE SUPERFíCIE

8.1- PLACAS E CHAPAS

Como já definido, são elementos planos, com urna


dimensão, no caso a espessura, muito menor que as outras duas. As
placas diferem das chapas não só pela espessura, que costuma ser
menor nas chapas mas, principalmente, pelo comportamento
estrutural, pois denomlnarnos de placas os elementos planos
solicitados por ações normais ao seu plano, e de chapas os
solicitados segundo o seu plano médio.

8.1.1- Flexão em Placas

Admitindo uma placa retangular com comprimento grande


em presença da largura, e uniformemente carregada, as rnáxlmas
tensões, assim corno o deslocamento máximo surgirão no meio do
vão.
Várias situações podem ocorrer em função das
Vlnculações das bordas, vejamos três casos freqüentes:

118
a) Bordas apoiadas, com um apoio móvel:

Analisando urna faixa central de largura unitária, na


sua posição deformada, corno se fDsse urna viga, tem-se:

a ) Placa sob ação uniformemente distribuÍda

t
~-t::
:. b -1
b ) Faixa unitária tratada como viga
c) . Distorção da seção

Figura 8.1- Analogia na flexão de placa com flexão de viga.

M = p-t 2 /8
W = b.t 2 /6 = t 2 /6
Portanto, a = 6M/t 2

Observa-se que, devido à continuidade, a seção da fa1xa


unitária não pode sofrer a distorção que foi observada na seção
da viga em flexão (figura 8.1c). Surgem assim tensões normais, no
plano ortogonal ao plano da flexão, e que fazem com que as
deformações específicas, nesta direção, sejam iguais a zero, e
segundo a direção de flexão sejam iguais a y/r, onde "r" é o raio
de curvatura.

119
Deste modo, tem-se:

onde ~ = coeficiente de Poisson.

Integrando esta expressão entre os limites y = -t/2 e


y = t/2, encontra-se a expressão do momento fletor:

M = IA (J
X
yd.A =

Assim como nas vigas, onde 1/r = -M/EI, nas placas


define-se:
1/r = -M/D
onde
D = Et 3
/12(1-~ 2 )

A constante "D" é denominada módulo de rigidez à flexão


de placa e substitui o valor EI, utilizado no estudo das vigas.
Nota-se que D = (EI) I ( 1-~ 2 ), ou seja, a rigidez à flexão das
placas é ligeiramente superior à das vigas. No caso do aço, onde
~ = 0,3, D ~ 1,1(EI).

b) Bordas apoiadas, com dois apoios fixos:

Neste caso, como o deslocamento longitudinal é impedi-


do, aparece o empuxo horizontal "H", que apesar de introduzir
tensões normais de tração em toda a espessura da placa, alivia o
momento fletor e reduz o deslocamento transversal. Tem-se, então,
o comportamento de membrana.

H
í l l I l I I ri I I l l
. H

/ ~

~I
apoio fixo 6 apoio fixo
t
1-
Figura 8.2- Placa com dois apoios fixos.

120
A análise deste caso é análoga ao da flexo-compressão,
já apresentada no capitulo 6, porém agora com a força axial de
tração. Como aproximação pode-se considerar a linha elástica como
uma curva senoidal, sendo:

y = ó.sen(nx/.t)
O deslocamento final será dado por:

onde 8 é o deslocamento máximo oriundo da flexão e a é


0
denominado coeficiente de ação do empuxo H.

Na fibra média, todo alongamento será produzido pela


força normal H, uma vez que trata-se da linha neutra e portanto o
momento fletor será nulo.
Dessa maneira, igualando-se o alongamento produzido por
H, (~.t ), à variação de comprimento da faixa,~' obtém-se:
H

2
= H.t ( 1- 11 ) I Et

obtém-se

Mo - H8

O coeficiente a pode ser obtido resolvendo-se a


seguinte equação cúbica:

Uma vez determinados Mmax e H, a tensão normal máxima é


obtida por:

<Jmax = <JM + (J
H
= Mmax /W + H/t

121
c) Bordas engastadas

Neste caso, a diferença fundamental em relação ao caso


anterior consiste na equação aproximada adotada para a linha
elástlca, que passa a ser:

y
ó
= ~(1-cos -z-)
2:rrx

urna vez que y e y' serão iguais a zero nos apoios.


Com procedimento análogo ao do caso anterior,
encontra-se:

Porém com ó = ó 0 /(l+a/4), chega-se a:

3ó~/t
2
= a(l+a/4) 2
H = Da:rrz /-tz

Neste caso, o momento fletor máximo ocorre nos


engastes, cujo valor é dado por:

(momento negativo)

E a tensão máxima neste ponto resulta:

amax = (J
M
+ (J
H
= Mmax /W + H/t

No meio do vão tem-se:

Os coeficientes ~ 1 , ~ 2 e ~ 3 são obtidos em função de


"u", cujos valores estão tabelados a seguir. Para maiores
informações, o leitor deve recorrer ao livro de Resistência dos
Materiais, Vol. 2, do Prof. Tirnoshenko.

u =+;a
122
Valores de ~ , ~ e ~
1 2 3

u <Pl <P2 <P3 u <P1 <P2 <P3


o 1,000 1,000 1,000 6,5 0,047 0,391 0,139
0,5 0,905 0,984 0,972 7,0 0,041 0,367 0,121
1,0 0,704 0,939 0,894 715 0,036 0,347 0,106
115 0,511 0,876 0,788 8,0 0,031 0,328 01093
2,0 0,367 0,806 0,673 815 0,028 0,311 0,083
2,5 0,268 0,736 01563 9,0 0,025 01296 0,074
310 0,200 0,672 01467 9,5 0,022 0,283 01066
3 15 0,153 0,614 0,386 10,0 0,020 0,270 ·0,060
410 0,120 0,563 0,320 1015 0,018 0,259 0,054
4,5 0,097 0,519 0,267 11,0 0,017 0,248 0,050
5,0 0,079 0,480 0,224 11,5 0,015 0,238 0,045
5,5 0,066 0,446 0,189 12,0 0,014 0,229 0,042
6,0 0,055 0,417 0,162

É interessante lembrar também que, na llnguagem


siderúrgica e das empressas que comercializam ou manufaturam
estes produtos, a denominação de placa é empregada para os
elementos planos com 4" ou mais de espessura e a de chapas para
os mais finos.

Exemplo de verificação de placa:

t = 1,2cm E = 21.000kN/cm 2 a = 14kN/cm 2


q = 24kN/m 2 .t = 120cm

1° caso: bordas simplesmente apoiadas:

Mo = ~ = 24x10-4 x 1202 = 4,32kN.cm

21.000x1,2 3 2
D = 2
= 2 = 3.323kN/cm
12(1-~ ) 12(1-0,3 )

123
M -(2
5q.t4 o
384D ~. lOD = 1,87cm

3x1,87 2 _
~ 7,28
1,2 2

0: = 1,335 --> u = (n/2) .;-;:- = 1,815

õo 1,87
õ = 0,8cm = .t/150
l+o: = 2,335
~

~
H = lODo: = 10x3.323x1,335 3,08kN
120 2
2
.t

- q.t2
Mmax - --g- ~
1 = 4,32x0,421 = 1,82kN.cm

ou aproximadamente:

Mmax = M0 - Hó = 4,32 - 3,08x0,8 = 1,86kN.cm

6M
H
+ max 3,08 6x1,82
= ---r;-2 + 2,57 + 7 '6
máx = -t-
0 ~
t2 1,2 2

10,17kN/cm 2 < = 14kN/cm


2
Ok
0
máx =
(J

2° caso: bordas engastadas:

M = q.t 2 /24 = 1,45kN.cm (no meio do vão)


0

M1 =-q.t2 /12 =-2,89kN.cm (nos engastes)


o

ó = q.t 4 /384D ~ 0,4cm


0

o:(l+o:/4) 2 = 3õ 2 /t 2 = 0,33
o

0: = 0,2899 ~ 0,29 -> u = 0,846

124
Portanto:

o = oo/(l+a/4) = 0,37cm = ~/325


H~ lODa/~
2
= 0,67kN
Nos apoios: M = Mo1 ·fP 2 = 2,89x0,953 = 2,75kN.cm
No meio do vão: M = Mo .~ 3 = 1,45x0,918 = 1,33kN.cm
Tensão máxima: amax = 6x2,75/1,2 2 + 0,67/1,2 = 12kN/cm 2
A comparação desta tensão, com a obtida para a mesma
placa, com bordas simplesmente apoiadas, mostra que, engastando
as bordas ocorre um aumento na tensão máxima. Este aumento
acontece devido ao engastamento das bordas que provoca a
diminuição do deslocamento da placa e, como resultado, a força
longitudinal H e seu efeito sobre o momento fletor são também
diminuidos. No caso de bordas simplesmente apoiadas o momento
fletor máximo era somente O, 42 do produzido pela força
transversal sozinha. Mas, no caso de bordas engastadas, o momento
fletor é 0,95 do produzido pela força transversal sozinha, isto
é, o efeito da força longitudinal é mais pronunciado no caso das
bordas apoiadas.
A tensão máxima depende evidentemente da intensidade da
força e da relação ~/t. As grandezas desta tensão para o caso de
bordas apoiadas e para diversos valores da relação ~/t são
representadas por curvas na figura seguinte. Vê-se que, por causa
da presença das forças de tração H, as quais crescem com a força,
a tensão máxima não é proporcional à força q.
Apresentam-se também as curvas para a tensão máxima no
caso de placas com bordas engastadas. Vê-se que, para pequenos
valores da intensidade da força q, quando o efeito da força axial
nos deslocamentos da faixa é pequeno, a tensão máxima cresce
aproximadamente na mesma relação em que cresce q. Mas, para
valores maiores de q, a relação entre a força e a tensão máxima
torna-se não-linear.

125
N
E
<.,)
...... 2S.OO
z
~

!J') 21,00
I~
!J')
z
liJ 14,00
I-

7,00

o
o 70 l 40 210 260

FORÇA APLICADA ( kN/m2 )

Figura 8.3 - Tensões em placa com bordas apoiadas.

42,00
1
~
I
,íf ,,rv&....,tt>o ,~rS> ,;-;""o ,--....:,o
jf_'\.(:/~..: / "'1-~ ')}-..:
I&
,,~
'l:!,f:-
35,00
v vv !
I/;V; ~v v v v v
Vi ~o
N
E ~
vv
<.,) /
...... 2S,OO

[1;
I~ !j v
z
.>!:
v v
!J') /
vv
IA~v~ / vv
21,00
~~ /
!J')
z
liJ
14,00
/
v
A~~ v
I-

/
1/ v
7,00

o '~ ~
o .... <t
-
-
"'
~:g ~g::::;;;:~~::!
- .....

FORÇA APLICADA. ( kN/m2)

Figura 8.4 - Tensões em placa com bordas engastadas.

126
No caso de placas 11
grossas", ou seja com relações t/,f__
relativamente altas, a flecha máxima 8 é muito pequena,
conduzindo portanto a valores também pequenos para a, de modo que
pode-se admitir:

o = 8o Mp = Mo H =O
Entretanto, as tensões e os delocamentos obtidos pelas
expressões anteriores, possuem validade apenas no trecho central,
pois próximo aos cantos estas tensões e os delocamentos mudam de
sentido, dando origem ao fenômeno conhecido como efeito de borda,
que consiste basicamente em uma tendência de levantamento da
placa nos cantos.
Corno os cantos estão ligados aos apoios, estes
apresentam reações negativas, que atingem um valor máximo no
encontro das duas bordas. Estas reações introduzem um momento de
sentido contrário ao momento que ocorre no centro da placa. Estes
momentos que surgem nos cantos são denominados de momentos
"vol ventes", e a não consideração dos mesmos costuma ser urna
hipótese conservadora.
Devido às perturbações que surgem nos cantos, as
reações e, conseqüentemente as tensões ao longo das bordas, não
possuem valores constantes.
Apenas como ilustração, a figura seguinte procura
mostrar a variação que ocorre na distribuição real das reações
nas bordas de uma placa uniformemente carregada, e a distribuição
que normalmente é adotada.
-r
[t
!
t I IJ
H
t t í l
ADOTADA

t ! ! !
ADOTADA
L >zt_

t([IDb, ~
v '\j [Y "ZlJ
REAL R FAI

Figura 8.5- Reações nas bordas de placa uniformemente carregadas.

127
Analisando agora uma placa retangular de lados L e -t,
deseja-se conhecer a parcela do carregamento distribuído "q 11 que
será distribuído para cada direção. Como aproximação, pode-se
isolar duas faixas unitárias centrais da placa, uma em cada
direção, e compatibilizar as flechas, obtendo-se:

oa = 5qa~ /384EI
4
direção a:
direção b: ob = 5qbL 4 /384EI
Como oa = ob obtém-se:
q
a
/L4 = q b /{4
q = qa + qb
Portanto: qa = qL 4 /(L 4 +-t 4 ) e
Com L= -t (quadrada):

qa = qb = 0,5q
Com L = 2~:

Pa = 16/17q = 0,941q

pb = 1/17q = 0,059q

Entende-se com isto, a razão pela qual as lajes com


relação entre lados ( L/..t) maior que dois, serem admitidas como
apoiadas numa única direção.
Nas lajes de concreto armado, utilizadas em pavimentos
de construções, como edifícios, residências, pontes, etc.
costuma-se admitir um comportamento de placa, uma vez que as
flechas resultam relativamente pequenas. Nestas lajes, tal como
nas vigas, é colocada uma armadura de aço para absorver as
solicitações de tração. As lajes com relação entre lados (À)
menor ou igual a 2 são, usualmente, calculadas como fletidas nas
duas direções. Quando esta relação entre os lados ultrapassa este
limite, costuma-se dimensioná-las como fletidas apenas na direção
do menor vão (direção mais rígida), conforme já comentado.
Conseqüentemente, as lajes quadradas (À = 1) necessitam
de duas armaduras, uma em cada direção, porém nas longas (À > 2)
costuma-se colocar uma armadura atuante na direção do menor vão,
e na direção do maior vão, uma outra armadura, dita de

128
distribuição ou secundária, que tem como funções resistir às
tensões de tração do momento, mesmo pequeno, que surge nesta
direção, e evitar a fissuração que fatalmente ocorreria devido à
distorção da seção durante a flexão.
Do mesmo modo, para absorver o momento volvente, deve
ser colocada uma armadura nos cantos da laje, que é onde surgem
tais momentos.
A posição destas armaduras é definida pelo sentido das
solicitações, ou seja, sempre na parte tracionada. Caso possa
ocorrer uma inversão de sentido na solicitação, devem ser
providenciadas duas armaduras, uma em cada face da laje.

8.1.2- Flambagem de chapas

As chapas, quando solicitadas por tensões normais de


compressão ou de cisalhamento podem perder a estabilidade, assim
como qualquer outro elemento comprimido. Entretanto, por serem
elementos planos conduzem a formulações um pouco diferentes das
determinadas para as barras.
Analisando inicialmente urna chapa comprimida em uma só
direção, sem apoio ao longo das bordas não comprimidas, pode-se
fazer a analogia desta com um barra comprimida. Então:

onde:

I = b.t 3 /12
A = b.t
t
Portanto:

f t f t

I b .1
Figura 8.6- Flambagem de chapa tornada corno coluna.

129
No caso da chapa possuir as ·quatro bordas apo1adas
continuamente, tem-se uma situação mais favorável que a anterior,
uma vez que, ao perder a estabilidade, há um comportamento de
"grelha", onde os "elementos horizontais" impedem deslocamentos
transversais dos 11
elementos verticais" e vice-versa.
Nas chapas longas, a deformada assume uma configuração
de ondas senoidais longitudinais, cujos paineis são aproximada-
mente quadrados.

o}CHAPA QUADRADA

b l CHAPA LONGA

Figura 8.7- Flarnbagem de chapas apoiadas nas quatro bordas.

A tensão crítica pode ser obtida partindo-se da


expressão anterior:

porém substituindo EI por D = Et 3


/12(1-~ 2 ) e trocando-se ~ por Q
(largura), o que conduz a:

(J cr =k

130
que é a equação geral de flambagem de chapas, onde k é um
coeficiente adimensional que leva em conta as condições de apolo
e a relação t/b.
Os valores mínimos de k para chapas comprimidas são:

Vinculação das Bordas k


2 bordas engastadas 6,97
1 borda engastada, outra apelada 5,42
2 bordas apoiadas 4,00
1 borda engastada, outra livre 1,277
1 borda apoiada, outra livre 0,425

Para as chapas submetidas a tensões de flexão, os


valores recomendados são de 39,6 quando as duas bordas forem
engastadas e 23,9 quando forem rotuladas.
Para a flambagem por cisalhamento, considerando a
relação entre lados sempre maior ou igual a unldade, tem-se:

k = 5,34 + 4/(t/b)
2
onde t = lado maior

Embora como já descrito no item referente às Vlgas, a


flambagem de urna chapa não caracteriza o colapaso da mesma, porém
o estudo da resistência pós-flambagem é assunto para a disclpllna
de Estruturas Metálicas.

131
8.2- CASCAS OU MEMBRANAS

A maioria das supefícies geometricamente definidas,


usadas nas estruturas em casca, são geradas por um dos processos
básicos: a rotação ou translação de uma curva.
No primeiro processo, uma curva girando ao redor de uma
linha chamada "eixo de rotação", gera as 11
Superfícies de
revolução" (figura 8.8).

z::f(x)

Figura 8.8- Superfície de revolução.

132
No segundo processo, a curva translada-se paralelamente
a s1 mesma, apoiando~se constantemente numa curva d1retr1z.
gerando as "superfícies de translação" (figura 8.9).

' ' '\


-
L------------~~~
.....................
.......

---

Figura 8.9- Superfíc1e de translação.

No caso de uma superfície de revolução, quando o e1xo


de rotação é vertical, e a curva intercepta este e1xo, a
superfície é chamada de "cúpula", e a curva de revolução é
chamada de "meridiano". O plano que a contém é chamado "plano
meridiano da superfície", e as seções horizontais são chamadas de
"paralelos", (figura 8.10).

Figura 8.10- Nomenclatura em superfície de revolução.

133
Como f(x) pode assumir qualquer função, então qualquer
curva pode ser usada como meridiano, corno nas superfícies
mostradas na figura 8.11, onde:

b l ELIPSÓIDE c l PARABOLÓIDE

t
1

d l HIPERBOLÓIDE e l CILlNDRICA f l CÕNICA

Figura 8.11- Exemplos de superfícies de revolução

a) Um círculo usado como meridiano gera urna "superfície esfé-


rica" (figura 8.11a).
b) Uma elipse usada como meridiano gera um "elipsóide de
revolução!! (figura 8.11b).
c} Uma parábola usada como meridiano gera um "parabolóide de
revolução 11
(figura 8.11c).
d) Urna hipérbole usada como meridiano, gera um "hiperbolóide de
revolução" (figura 8 .lld).
e) Urna reta paralela ao eixo de rotação usada corno meridiano,
gera urna 11
superfície cilíndrica" (figura 8.11e).
f) Urna reta 1nclinada em relação ao eixo de rotação, que
1ntercepta o mesmo usada como meridiano, gera uma ''superfície
cônica 11 (figura 8.11f).

134
Nas superfície de translação, diversas combinações
podem ser feitas, gerando uma grande variedade de superfícies.
Transladando-se uma curva plana, sobre urna reta,
obtém-se superfícies cilíndricas (circular, elíptica, catenár1a,
etc.), que dependem apenas do tipo da curva transladada.
Transladando-se uma parábola, com curvatura interna, sobre a
outra parábola, também com curvatura interna, obtém-se um
"parabolóide elíptico", cujas seções horizontais são elipses.
Urna parábola, com curvatura interna, transladando-se
sobre outra parábola, com curvatura externa, gerará o
"parabolóide hiperbólico".
!
I

a) CIÜNDRICA -CIRCULAR
EU,PTICA , PARABÓLICA

parábolas

parábola
diretriz

b l PARABOLÓIDE ELÍPTICO

\_ parábola

c) PARABOLÓIDE Hi PERBOUCO

Figura 8.12- Exemplos de superfícies de translação.

135
As superfícies podem ser classificadas em três
categoriàs distintas, de acordo com a var1aç~o de sua curvatura
em torno de um ponto:

1°) quando a curvatura em um ponto for de mesmo sinal em todas as


d1reções, a superfície é chamada de "SINCLÃSTICA" naquele ponto.
Neste tipo de superfície, as curvaturas principais c1 e c2 , tem
o mesmo sinal e seu produto é pos1tivo. Logo, tem-se a condição:

K = 1 1
=
R1 R2

O fator "K = c 1 .c 2 ", é chamado de 11


!NDICE DE CURVATURA
DE GAUSS" da superfície no ponto considerado.
A superfície nsiNCLÁSTICA", é chamada também de "SUPER-
FíCIE DE CURVATURA GAUSSIANA POSITIVAu. Como exemplo podem se
tomar as cúpulas, figura 8.11.

2°) quando a curvatura num ponto da superÍície é pos1 t1va numa


certa direção e negativa na outra, a superfície é chamada de
"ANTICLÃSTICA 11 no ponto considerado. Neste caso tem-se c1 > O e
c2 < o. Logo,

K = c 1 .c 2 < o ou

K = 1 _1_ < o
R1 R2

Portanto, "CURVATURA GAUSSIANA NEGATIVA". Como exemplo


tome-se o parabolóide hiperbólico da figura 8.12.

3°) quando a curvatura num ponto da superfície for pos1tiva numa


direção e nula na outra, a superfície é chamada de "SUPERFíCIE
DESENVOLV!VEL". Logo, para este tipo de superfície tem-se K =O.

K =

136
As superfícies desenvolvíveis possuem ''Curvatura
Gaussiana 11
nula. Como exemplo temos a superfície cilíndrica,
figura 8.11e.
Nota-se que neste caso um raio de curvatura tem valor inflnito,
isto é R ~ ro.
2
Para se ter uma idéia da importância da curvatura na
capacidade resistente da casca, basta considerar por ora, a
seguinte expressão da "Teoria de Membrana" para superfície de
revolução:

onde N1 e N são os esforços de superfície e P , a força externa


2
aplicada radialmente (figura 8.13).

Figura 8.13- Esquema de forças em membranas.

Assim, se o índice de curvatura é nulo, a absorção das


forças será menos eficiente que nas cascas de dupla curvatura.
Isto pode ser visualizado facilmente, pois se uma das curvaturas
~ ou ~ for nula, a distribuição da força radial externa será
1 2
mais restrita. Pode-se dizer que a capacidade resistente de uma
casca com índice de curvatura nulo, é em geral, menor que a de
uma casca de dupla curvatura. Portanto, as cascas de dupla
curvatura são mais eficientes que as de curvatura simples; isto
também acha-se comprovado pelo fato de que somente com casca de
dupla curvatura é que se torna viável cobrir grandes espaços.
Resumindo, os principais tipos de cascas segundo sua
curvatura são:

137
a) cascas com " Curvatura Gaussiana Positiva~~ (superfícies sin-
clásticas)
esféricas
a.l) cúpulas de revolução elípticas
{ parabólicas

a.2) parabolóide elíptico

b) cascas com "Curvatura Gaussiana Negativa" (superfícies anti-


elásticas)

b.l) parabolóides hiperbólicos


b.2) conóides

c) cascas com "Curvatura Gaussiana Nula" (superfícies desenvol-


víveis)

c.l) cascas cilíndricas


c.2) cascas cônicas

8.2.1- CASCAS DE REVOLUÇÃO DELGADAS

Uma casca delgada submetida a ações externas,


desenvolve 11
tensões de membrana", isto é, tensões de tração, de
compressão e cisalhamento. A casca delgada deve ser feita de
material que possa resistir à estas tensões, corno metal, madeira,
concreto armado, plástico especiais, etc. Geralmente as cascas de
revolução delgadas são constituídas pela casca propriamente dita,
e por um anel de borda que apoia a casca. Este anel não será
necessário, se a casca delgada for, por exemplo, uma meia esfera
(180°), pois neste caso elimina-se a flexão junto ao apoio.
Os esforços na casca consistem em compressão nos
meridianos (efeito arco) e nos paralelos situados acima do
paralelo definido por um ângulo 8=51°50' (ângulo formado entre o
elxo de rotação e o raio de curvatura dos merldianos). Quanto aos
paralelos situados abaixo de e, tem-se tração.

138
_r1_
H H

(ol (b)

a l ANEL DE TRAÇÃO b)INFLUENCIA DA BORDA

Figura 8.14- Esforços em cascas de revolução.

Afim de poder desenvolver "tensões de membrana" sobre


toda sua superficie, a casca delgada deverá ser ou estar
corretamente apoiada; assim sendo, um apoio adequado é aquele que
desenvolve também "reações de membrana", isto é, reações que
atuam no plano tangente à casca, nas bordas, e permite que as
mesmas se desloquem devido aos esforços resultantes das tensões
de membrana.
Se as reações de apoio não forem tangentes à casca ou
se os deslocamentos de membrana forem impedidos pelos apoios, as
cascas desenvolverão também tensões provenientes da flexão, as
quais se localizam nas vizinhanças das bordas, ocasionando uma
"perturbação de borda".
Se a forma da casca e os apo1os forem escolh1dos
incorretamente, a casca desenvolverá tensões de flexão em toda
sua superficie, e conseqüentemente a mesma não poderá suportar as
ações externas, somente com a consideração de tensões de
membrana.
Uma casca delgada com apoios continues em toda sua
periferia, apresenta comportamento análogo ao da membrana, 1sto
é, desenvolverá somente tensões ''normais" de tração ou compressão
e tensões tangenciais nulas, devido à simetria.
No caso das cascas serem apoiadas em pontos isolados ou
separados, as curvas dos esforços (isostáticas), teriam o aspecto
aproximado das curvas da figura 8.15a, surgindo assim uma
"perturbação" na distribuição das tensões internas nos locais de
apoio. Para resolver este problema, Nervi, em sua obra "Palác1o

139
dos Esportes 11 , colocou ura conjunto de aduelas de forma
triangular, as quais forneciam, por um lado, o apoio continuo à
cúpula, e por outro, transmitiam forças concentradas às colunas
(figura 8.15b).

TRAÇAO
COMPRESSÃO

a ) APOIOS DISCRETOS b) PALÁCIO DE ESPORTES


TURLN -ITÁLIA

Figura 8.15- Reações de apolo em cascas.

Se uma casca delgada, por exemplo, uma cúpula esférlca,


não for de 11
meia esfera 11 , torna-se necessário colocar na parte
inferior da mesma, urn anel, o qual deverá trabalhar à tração,
visto que terá de absorver o empuxo da cúpula. Atualmente
costuma-se pretender o referido anel, com o que se consegue uma
compressão anular nas bordas/ de tal grandeza que anula as
tensões de tração provocadas pelas ações externas/ incluindo'-se o
peso próprio. As tensões de flexão (tensões secundárlaSI
desenvolvidas devido ao impedimento do deslocamento da borda,
podem ser ilustradas pelo comportamento estrutural de uma cúpula,
a qual sob a ação de seu peso próprio, apresenta a tendênc1a de
se expandir segundo os planos meridianos (figura 8.16).
compressão

- - - - TRAÇÃO
COMPRESSÃO

Figura 8.16- Cúpula em setor esférico.

140
O impedimento ao deslocamento radial, gera uma reação
horizontal radial H, a qual não sendo tangente à casca, gera
momento fletor em torno da borda, o qual por sua vez cria tensões
de flexão (figura 8.16b).
A casca delgada não pode absorver ações concentradas,
somente por "efeito de membrana 11 , pelo fato de que a deformação
sob a força concentrada, envolve também novas curvaturas locais e
portanto tensões de flexão (figura 8.17).

Figura 8.17- Casca delgada sob força concentrada.

Está visto portanto que, para a casca se comportar corno


uma membrana, são necessários os seguintes requisitos de projeto
e condições de carregamento:

1) a casca deverá ser delgada, de espessura constante, ou então,


a mesma deverá variar gradativamente, evitando-se variações
bruscas.
2) a casca deverá ter uma forma adequada, isto é, a superfícle da
mesma deve ser contínua e a curvatura deverá var1ar
gradativamente.
3) a casca deverá estar submetida à forças distribuídas que
var1am contínua e suavemente, isto é, sem variações bruscas nas
suas intensidades.
4) a casca deverá estar corretamente apoiada, de tal maneira que
os esforços que atuam na borda da mesma, devam ser tangentes à
superfície média; as deformações na borda devem acomodar-se :>u
acompanhar as deformações dos elementos contíguos.

141
8.2.2- CASCA DE REVOLUÇÃO SOB PRESSÃO INTERNA

Serão analisados neste item as cascas de revolução


submetidas à pressão interna contínua de intensidade "p 11 , não
sendo porém, necessariamente uniforme, mas distribuída
simetricamente em relação ao eixo de revolução 0-0 (figura 8.18).
Se a espessura da parede for pequena em relação aos raios de
curvatura e não houver descontinuidades ao longo dos meridianos e
paralelos, as tensões poderão ser calculadas desprezando a flexão
da parede, ou seja, considerando apenas tensões de membrana.

[o l

Figura 8.18- Casca de revolução sob pressão interna.

Neste caso, as tensões podem ser obtidas pelas condi-


ções de equilíbrio, analisando um elemento infinitesimal abcd da
parede, onde:

crp = tensão na direção do paralelo.


crm = tensão na direção do meridiano.
ds p = dimensão do elemento na direção do paralelo.
ds = dimensão do elemento na direção do meridiano.
m
r p = raio de curvatura do paralelo.
r raio de curvatura do meridiano.
m =

142
de
p
= variação angular ao longo do paralelo.
de
m
= variação angular ao longo do meridiano.
t = espessura da parede.

Forças de tração no elemento:

na direção do meridiano: Tm = am.t.dsp


na direção do paralelo: TP = ap.t.dsm

Tais forças possuem componente normal ao elemento. que


são dadas por:
e

Em geometria de pequenos deslocamentos, tem-se:

sen(de) ~ de = ds/r

Então as componentes normais ao elemento podem ser


escr1tas como:

A soma destas componentes está em equilíbrio com a


pressão normal sobre o elemento, assim:

Di vidin,do ambos os termos da igualdade por dsm. dsp,


obtém-se a clássica equação geral das cascas de revolução:

+ = -r-
p

143
8.2.3- Exemplos

1- Determinar as tensões máximas num reservatório esférlco, com


pressão p, sendo "R" o raio da sua superfície médla e "t" a
espessura, suposta constante:
Resolução:
Neste caso: =R
= a

Pela equação geral:

a a = -pt - pR
-R- + - R --> (J =~

2- Determinar a máxlma tensão num reservatório d'água cilíndrlco,


continuamente apoiado na base, diâmetro D = 6m, altura H = 12m e
espessura de parede t=5mm. Desprezar efeitos de borda e comparar
- ?
com a tensão admissível do aço a = 14kN/cm~.

E
N
......
:r:!

/~/-/~~0~~--------~~_____j_
I• Do 6 m J
Resolução:
A pressão máxima ocorre junto à base, com valor:

Pmax = 1·H = 10x12 = 120kN/m 2 = 0,012kN/cm 2

144
Raios de curvatura:
paralelo: rp = D/2 = 600!2 = 300cm

meridiano: rm --> 1nfin1to (geratriz é uma retal

Da equação geral:
op p p.rp 0,012x300 2
= --t- ---> op = = = 7,2kN/cm
rp t o f 5

omax = 7,2kN/cm 2 <o= 14kN/cm~


?
Ok

Pôde-se observar nos exemplos anteriores, que as


tensões foram determinadas porque já se conhecia, a pr1or1.
= r m= R
alguma relação. Assim, no reservatório esférico tem-se r
P
(conhecido) e om = op = o (incógnita). No c1líndrico, rrn é
1nfinito e rp é conhecido, restando op como incógn1ta. Caso
contrário, torna-se necessário impor outra relação, como por
exemplo, o equilíbrio de urna parte da estrutura. O exemplo
seguinte ilustra tal fato.

3- Para uma cúpula esférica (meia esfera) de raio "R" submet1da


ao seu peso próprio 11
g", determinar os esforços solicitantes:

145
Resolução:
Considerando-se o equilíbrio de uma parte da estrutura.
s1tuada entre o plano AA e o vértice da cúpula, tem-se:

A área na seção AA (calota esférica), será:


A = 2rrR. f

Seu volume será:

v = A. t = 2rrRf.t e o seu peso será:


p = V."' = 2rcRft."'

Como f = R - Rcose = R(1-cose)


p 2
= 2rrR tr(1-cose)

Equilíbrio: a t(2rcr)sene
m
=P
Mas r = R.sene

Como = 1-cos 2 e = (1+cose)(1-cose)

tJm = (negativo, pois só há compressão)


1+cose

Da equação geral:

P ap
- t - =--R-

p = -g.cose = -1t.cose (p é a componente radial de g)

1
rr
p = 1+cose
- R1. cose = Rvs ( 1+cose -·cosA1
-j

Quando eo = 51°50' --> op = o

Portanto ap < o para e < 51°50' (compressão)

()p > o para e > 51°50' (tração)

146
Conclui-se que, numa cúpula com emax ~ 51°50', só
haverá tensões de compressão tanto ao longo dos meridianos como
nos paralelos.
A distribuição das tensões am e ap está esquematizada
na figura seguinte.

147
9- ALGUNS SISTEMAS ESTRUTURAIS

9.1- EM CABOS

~ possivel realizar coberturas com uma série de cabos


livremente suspensos, ou com cabos treliça, ou ainda, com rede de
cabos, pretendidas ou não. Estas coberturas podem ter curvatura
simples, também conhecidas como cilindricas, quando
confeccionadas com cabos simples ou com os cabos treliça. Com as
redes, constróem-se coberturas com dupla curvatura, de mesmo
sentido, quando os cabos não são pretendidos e reversas quando
pretendidos.
Estas coberturas podem ser construidas sobre pilares ou
fixadas diretamente ao solo. Entretanto, como os empuxos nestas
estruturas costumam ser relativamente altos, a ancoragem destes
empuxos exige bastante atenção do projetista.
Na figura 9.1 estão mostrados alguns destes sistemas
estruturais.
Nas pontes são possiveis dois sistemas estruturais, os
estaiados e os pênseis, figura 9.2.

148
a l Ci'rcular

bl Cilíndrica

c l Rêde

Figura 9.1- Coberturas pênseis.

149
a) Ponte estaiada com os cabos dispostos em forma de harpa

b) Estaiada com duas torres e tabuleiro treliçado

:--, ..... ..,J :.. ·--c.·.--:·:.••.. -·.~~···/ .. ·;"/,':..:·.-

c l Pensil com tirantes verticais

d) Pensil com cabos auxiliares

Figura 9.2- Pontes estaiadas e pênseis.

150
9.2- EM ARCO

Atualmente os arcos são utllizados em coberturas de


g1nás1os esportivos, oficinas, fábr1cas, pontes e viadutos,
conforme ilustra a figura 9.3.
Estas estruturas, tanto utilizam o arco mac1ço, como o
treliçado ou em alma cheia. As condições de fabricação e
disponibilidades técn1ca e de material, comumente direc1onam a
escolha.
Como todos os sistemas estruturais, os em arcos possuem
um comportamento trldimensional. No sentido do arco a
estabilidade do sistema já está assegurada, porém, no sentido
perpendicular, é necessário criar um sistema de contraventamento,
ou outro sistema, ou outra forma de assegurar esta estabilidade.
Os arcos podem perder a estabilidade, ou seja podem
flambar no seu plano, alterando a sua forma. No plano
perpendicular ao arco, a flambagem é semelhante à de uma coluna.
Assim como nos sistemas estruturais em cabos, atenção
especial deve ser dada aos empuxos (reações horizontais) que são
relativamente altos nestes casos. Dessa forma, para que o arco
seja um elemento estrutural eficiente, é necessário que seus
apoios, também denominados encontros, tenham rigidez suficlente
para absorver tais empuxos.

151
o l Ponte em arco elevado com tabuleiro superior

b) Ponte em arco com tabuleiro Intermediário

c) Ponte em arco com tabuleiro inferior funcionando como tirante

Figura 9.3- Pontes em arco.

152
9.3- EM PóRTICOS

Este é o sistema estrutural mais empregado atualmente,


em pontes, edifícios e residências. Os pórticos podem ser
mac1ços, treliçados, de alma cheia e mistos, (formados pela união
de um ou mais destes).
Por possuirem um comportamento tridimensional, em
alguns casos utilizam-se pórticos engastados em uma direção e
tontraventados na outra. Esta é uma solução típica para as
construções industriais, em aço ou madeira, figura 9.4.

Tapamenta
laterol

Coluna
rotulado Escoro do beiral
na base

de contenção da Viga de rolamento

Figura 9.4- Sistema estrutural de galpão industrial e


respectiva nomenclatura.

Ao se calcular uma estrutura simples, plana, é


importante assegurar que esta também será estável fora do seu
plano, caso contrário ela pode perder a estabilidade nesta
direção , devido à forças horizontais, como o vento por exemplo.

153
A estabilidade na s~~terceira
o.Hnensao ~~
é freqüentemente obtida
"1 ' -

pelo uso de elementos de contraventamento, que servem também para


transmitir as forças do vento às fundaçôes.
Por exemplo, numa estrutura de telhado (figura 9.5), as
terças conservarão as tesouras do telhado no plano, ainda que as
tesouras estejam sujeitas ao tombamento devido às forças do vento
Fd ou, alternativamente Fe, desde que tais terças esteJam
1mpedidas de movimentar-se por uma treliça de contraventamento
s1tuada no plano do telhado ou pelo revestimento do telhado
(telhas) executado por uma chapa solidarizada às terças. Os dois
recursos serão suportados, por sua vez, por um painel vertical de
contraventamento, destinado a transmitir as forças da treliça de
contraventamento às fundaçôes.
A treliça de contraventamento tem dois apoios Ad e Bd
ou Ae e Ba, conforme o vento atua do lado direito Fd ou do lado
esquerdo F . Também são dois os tirantes do painel vertical de
e
contraventamento. Os tirantes T que dão apoio à treliça de
d
contraventamento quando atua Fd' e transmitem as forças à funda-
ção Hd' e os tirantes Te' que dão apoio à treliça de contraventa-
mento quando atua Fe e transmitem as forças à fundação He.
A construção está assim estabilizada longitudinalmente,
isto é, na terceira dimensão.

/
/
/
/
PAINEL VERTICAL DE /
CONTRAVENTAMENTO /
/
/
/
/
/
/
/
/
/
/
/
/

Figura 9.5- Funcionamento de um sistema contraventado.

154
Nas construções em concreto é usual engastar-se os
pórticos nas duas direções, como na figura 9.6, sendo este também
um sistema muito empregado nos edificios de andares múltiplos com
estrutura em aço.

NÚCLEO

-'-- -'---

,----· ~
il
t t.
tl_____iLJ
a J PÓRTICOS ENGASTADOS b l PÓRTiCOS TRELIÇA DOS c l NÚCLEO RIGIDO

Litaçao Viga- Coh.1na Engastada

Casos I b l t I c) : Li9Qç4o Viga- Coh&na Articulada

Figura 9.6- Edificios de andares múltiplos.

155
As pontes em i co podem ser construidas tanto em
~ço corno em concreto, figura 9.7.

a l Pórtico de pequena altura

I Í

b l Pórtico com trames adjacentes

c l Pórtico escorado sobre vale com encostas (ngrimes

Figura 9.7- Pontes em pórtico.

156
9.4- EM BLOCOS

São assim considerados os sistemas empregados em


barragens, muros de contenção e em fundações em geral.
Nas barragens, em alguns casos, o bloco pode ser
ancorado na rocha, diminuindo assim o volume de concreto a ser
ut1lizado, caso o equilibrio do bloco fosse assegurado apenas
pelo seu peso próprio.

a) Bloco prismolico b) Bloco h i perbolico

c l Bloco ancorado no rocha

F1gura 9.8- Estruturas de barragens por gravidade

157
Outra forma de
ir o consumo de concreto cons1ste
na utilização de arcos, ou contrafortes, ligados entre s1 por
meio de uma laje inclinada.

a ) Em arco

b ) Ern contrato r te

Figura 9.9- Estruturas de barragens em arcos e contrafortes.

Nos muros de arrimo, ou de contenção, as mesmas opções


podem ser empregadas.

I P
I I I I
1+-fl + base ~· l
1
base l
1

a) Bloco
~~
b) Em placas ( LAJES)

Figura 9.10- Estruturas de muros de arrimo.

158
Nas fundações de edificações, em alguns casos podem ser
usadas fundações ditas "rasas", como blocos rigidos, sapatas
f lexi veis ou sapatas corridas. Em outros casos podem se tornar
necessárias fundações "profundas", como estacas ou tubulões, que
possuem um bloco de coroamento em concreto armado. Quem determ1na
o tipo de fundação, em geral, são os aspectos geotécnicos
associados à aspectos estruturais e construtivos.

a l Escolho do tipo de fundação

b l Bloco rígido e l Bloco sobre estocas

c l Sapato flexível d l Sapato conti'nua

Figura 9.11- Estruturas de fundação.

159
BIBLIOGRAFIA

1- AFANASIEV, A.M. - MARION, V.A. "Praticas de Laboratorio sobre


Resistencia de Materiales", Ed. Mir, Moscou, 1978.

2- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND Vocabulário


Técnico de Estruturas, São Paulo, 1967.

3- BARBATO, R.L.A. - 11
Teoria das Estruturas 1", UFSCar, 1986.

4- COURBON, J. "Estructuras Laminares", editores técnicos


associados S.A., Barcelona, 1981.

5- ENGEL, H. 11
Sistemas de Estruturas 11 , Ed. Hemus, São Paulo,
1981.

6- FONSECA, A. 11
Curso de Mecânica", Vol II, Estática, LTC edi-
tora, Rio de Janeiro, 1976.

7- HART, F.; HENN, W.; SONTAG 1 H. 1


11
Mul ti-storey Buildings in
Steel", Ed. Nichols Publishing Company, Nova Iorque, 1982.

8- HOLGATE, A. "The Art in Structural Designu, Ed. Claredon Press


Oxford, 1986.

9- MORGAN I w. 11
The Elements of Strucutures 11 , Ed. Pitman & Sons
Ltda, Londres, 1967.

160
10-ROSENTHAL, H. "La Estructurau, Ed. Blume, Madrid, 1975.

11-SÁLES, J. J. "Projeto e Viabilidade Economica de Coberturas


Pênseis · com Cabos-Treliças", Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Estruturas), EESC/USP, 1988.

12-TIMOSHENKO, S.; GERE, J .M. "Theory of Elastic Stabili ty",


2a. Edição, Ed. MacGraw-Hill Kogakusha Ltd, Tóquio, 1961.

13-TIMOSHENKO, S. P. "Resistência dos Materiais", Vol. 2, LTC


editora S.A., Rio de Janeiro, 1976.

14-WILSON I B. "Structural Behaviour via Models", Ed. Crosby


Locwood, Londres, 1972.

161

Você também pode gostar