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MORFOLOGIA E ANÁLISE DE

ESTRUTURAS DE EDIFÍCIOS

RONALD J. ELLWANGER
MORFOLOGIA E ANÁLISE DE

ESTRUTURAS DE EDIFÍCIOS

Ronald José Ellwanger

Professor aposentado do Departamento de Engenharia Civil – UFRGS

E-mail: ronaldellwanger@gmail.com

Porto Alegre – Maio/2022

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PREFÁCIO

Este trabalho trata de modelos estruturais de edifícios de múltiplos andares e sua análise.
Concentra-se, em sua maior parte, numa abordagem básica da morfologia e do
comportamento de diferentes tipos de sistemas de contraventamento de edifícios, incluindo
pórticos, paredes resistentes, núcleos, sistemas tubulares e sistemas reforçados por
estabilizadores; o trabalho também trata da morfologia e do comportamento dos sistemas de
estruturação de pavimentos.
Na literatura estrangeira, o conhecimento sistematizado deste tipo específico de estruturas
tem historicamente sido abordado por diversos autores, como (SCHUELER, 1977),
(STAFFORD SMITH e COULL, 1991) e (TARANATH, 2010). No Brasil, apesar de ser um
assunto intensamente investigado, as informações sobre o mesmo encontram-se dispersas em
inúmeros artigos publicados em periódicos e em anais de congressos, além de ser abordado de
forma fragmentada em livros de Mecânica Estrutural e em algumas normas, como (ABNT,
2003), (ABNT, 2008) e (ABNT, 2014). O presente trabalho trata de reunir e organizar esse
conhecimento numa seqüência lógica e didática, de forma a contribuir, não só para a
formação dos estudantes de Engenharia e Arquitetura, como também para a atividade dos
profissionais que se dedicam ao projeto de estruturas de edifícios.
Ao longo do trabalho, são abordados alguns métodos aproximados de análise da estrutura
global. Além de terem valor por si só para a análise de estruturas regulares simplificadas,
estes métodos servem também para destacar as ações e os modos de comportamento mais
importantes de componentes e subsistemas, bem como a interação entre eles. Desta forma,
eles proporcionam orientação ao projetista na concepção de modelos apropriados para fins de
análise, bem como no aperfeiçoamento de um modelo já adotado. Além disso, desenvolvem
nos estudantes a capacidade, não só de julgamento crítico dos resultados da análise da
estrutura global, como também de percepção do comportamento de subsistemas como grelhas
e pórticos planos hiperestáticos. Neste sentido, contribuem para preencher uma lacuna
freqüentemente encontrada na formação dos referidos estudantes (ELLWANGER, 2005).
A abordagem das diversas formas de estruturas também serve para a conscientização por
parte, tanto de estudantes como de profissionais, da multiplicidade de soluções para o sistema
estrutural de um edifício.

Ronald J. Ellwanger
Maio/2022

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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO 6
1.1 – O projeto de estruturas de edifícios 6
1.2 – Fatores de influência na escolha do sistema estrutural 6
1.3 – Os carregamentos atuantes 8
1.3.1 – Classificação das ações 8
1.3.2 – Combinações de ações e estados-limites 9
1.4 – Modelagem para análise 9
1.4.1 – Análise final e hipóteses simplificadoras 10
1.5 – Elementos básicos das estruturas de edifícios 11
1.6 – Sistemas de contraventamento 12
2 – OS SISTEMAS APORTICADOS 14
2.1 – Pórticos planos 14
2.1.1 – Comportamento dos pórticos planos 15
2.1.2 – Análise de pórticos planos por computador 17
2.1.3 – Envoltórias de solicitações 21
2.2 – Sistemas desprovidos de vigas 24
2.3 – Pórticos reforçados e treliças verticais 26
2.3.1 – Tipos de reforços 27
2.3.2 – Comportamento dos reforços 28
2.3.3 – Os pórticos reforçados sob carregamento horizontal 29
2.3.4 – Pórticos preenchidos por painéis 31
3 – SISTEMAS DE PAREDES RESISTENTES 32
3.1 – Sistemas de paredes resistentes isoladas 33
3.1.1 – Sistemas proporcionados e não proporcionados 33
3.1.2 – Análise dos sistemas não proporcionados 33
3.1.3 – Efeitos de mudanças de seção das paredes 35
3.1.4 – Efeitos de descontinuidades junto à base 38
3.1.5 – Obtenção de tensões em paredes resistentes 38
3.2 – Sistemas de paredes resistentes acopladas 41

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3.2.1 – Comportamento dos sistemas de paredes acopladas 41
3.2.2 – A técnica do meio contínuo 43
3.2.3 – Análise pela analogia de pórtico 43
3.2.4 – Análise por elementos finitos de membrana 46
4 – SISTEMAS FORMADOS POR NÚCLEOS 48
4.1 – Morfologia dos sistemas de núcleos 48
4.1.1 – Sistema de pavimentos em balanço 49
4.1.2 – Sistema de pavimentos suspensos 49
4.2 – Análise dos núcleos 52
4.2.1 – A torção com empenamento restringido 52
4.2.2 – Análise por elementos finitos de membrana 53
4.2.3 – Modelo do pórtico análogo 56
4.2.4 – Conversão dos esforços do pórtico análogo em tensões nas paredes 57
5 – ASSOCIAÇÃO DE PÓRTICOS COM PAREDES/NÚCLEOS 59
5.1 – Campo de aplicação e vantagens do sistema 59
5.2 – Comportamento dos sistemas paredes-pórticos simétricos 61
5.2.1 – Modelo plano equivalente 61
5.2.2 – Interação entre paredes/núcleos e pórticos 62
5.3 – Otimização do sistema 63
5.4 – Sistemas reforçados por estabilizadores 64
5.4.1 – Princípio de funcionamento do sistema 65
5.4.2 – Exemplos de sistemas com estabilizadores 67
6 – OS SISTEMAS TUBULARES 70
6.1 – Sistemas tubulares aporticados e o shear lag 70
6.1.1 – O shear lag 72
6.1.2 – Comportamento das subestruturas dos pavimentos 73
6.2 – Sistemas tubulares reforçados 74
6.2.1 – Comportamento sob carregamento gravitacional 75
6.2.2 – Comportamento sob carregamento lateral 76
6.2.3 – Combinação do carregamento gravitacional com o de vento 78
6.3 – Tubos treliçados 78
6.4 – Sistemas tube-in-tube (tubo externo com tubo interno) 79
6.5 – Tubos modulares 81
6.6 – Otimização de espaço no nível térreo 82

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7 – MORFOLOGIA DAS SUBESTRUTURAS HORIZONTAIS 85
7.1 – Distribuição do vigamento 85
7.2 – Pavimentos estruturados em concreto 87
7.2.1 – Lajes apoiadas diretamente em colunas ou em vigas-banda 87
7.2.2 – Lajes apoiadas somente em vigas principais ou em paredes 88
7.2.3 – Lajes sobre vigas principais e secundárias 89
7.2.4 – Lajes com nervuras 90
7.3 – Pavimentos estruturados em aço 91
7.3.1 – Laje simplesmente apoiada no vigamento 91
7.3.2 – Sistemas compósitos aço-concreto 92
8 – ANÁLISE DAS SUBESTRUTURAS HORIZONTAIS 95
8.1 – Análise de lajes e de vigas isoladas 95
8.2 – Análise de grelhas 97
8.2.1 – Caracterização da estrutura e resultados da análise 98
8.2.2 – Transmissão de forças verticais 99
8.2.3 – Transmissão de momentos 100
8.3 – Análise por elementos finitos 103
8.4 – Considerações adicionais para estruturas de concreto 104
9 – DISTRIBUIÇÃO DAS AÇÕES HORIZONTAIS NO SISTEMA DE
CONTRAVENTAMENTO 106
9.1 – Sistemas de referência 106
9.2 – Distribuição da carga de vento entre as subestruturas de contraventamento 107
9.2.1 - Diafragmas rígidos vinculados a molas 107
9.2.2 – Rigidez horizontal das subestruturas de contraventamento 109
9.2.3 – Centro elástico do sistema de contraventamento 111
9.2.4 – Rigidez do sistema à rotação em torno do centro elástico 112
9.2.5 – Atuação de forças com reta de ação fora do centro elástico 113
9.2.6 – Roteiro de cálculo 114
9.3 – Exemplos 114
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 125

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1 O PROJETO DE ESTRUTURAS DE EDIFÍCIOS

Os edifícios de múltiplos andares são projetados para atender às necessidades de uma


ocupação pretendida, seja residencial, comercial ou uma combinação de ambas. O requisito
dominante de projeto é a geração de um layout interno adequado à função do edifício; ao
mesmo tempo, é essencial satisfazer às expectativas do cliente sobre as qualidades estéticas
do exterior da edificação. Esse layout estará contido em uma malha estrutural que deve ser
minimamente obstrutiva aos requisitos funcionais. Simultaneamente, deve haver uma
integração da estrutura do edifício com os vários sistemas de serviços – climatização,
abastecimento d’água, sistema de esgotos, energia elétrica e transporte vertical – os quais são
extensos e complexos.
Além de se ajustar ao layout arquitetônico, a estrutura a ser projetada necessita satisfazer,
tão eficiente e economicamente quanto possível, critérios essenciais como uma adequada
reserva de resistência a colapso, uma adequada rigidez lateral e um eficiente desempenho
durante a vida útil do edifício. Os principais critérios de projeto são de fato arquitetônicos.
Assim, em princípio, o arranjo estrutural será subordinado aos requisitos arquitetônicos de
arranjo espacial e estética. Freqüentemente, isso levará a uma solução estrutural abaixo da
ideal, demandando pela engenhosidade do projetista estrutural. Somente em edifícios
excepcionalmente altos os requisitos estruturais tornar-se-ão uma consideração predominante.
Na verdade, o ideal seria que, já no estágio inicial do planejamento de um edifício, toda a
equipe de projetistas, incluindo o arquiteto, o projetista estrutural e o de instalações,
procurasse chegar a um acordo sobre uma forma de estrutura para satisfazer seus respectivos
requisitos funcionais, de segurança e de facilidade de manutenção; é muito comum existirem
demandas conflitantes a serem conciliadas.
Na literatura sobre o presente assunto, consta freqüentemente a expressão “estruturas de
edifícios altos”. Na verdade, a aparência externa de altura é uma questão relativa, sendo
dependente da percepção de cada pessoa ou comunidade; uma definição mensurável de
edifício alto, baseada simplesmente em fatores como altura ou número de andares, não pode
ser aplicada universalmente. Do ponto de vista do projetista estrutural, todavia, um edifício
alto pode ser definido como aquele que, por causa de sua altura, é afetado por forças laterais
devidas às ações de vento ou sismo em um grau tal que desempenham um papel fundamental
no projeto da estrutura.

1.2 FATORES DE INFLUÊNCIA NA ESCOLHA DO SISTEMA ESTRUTURAL

Além de atender a requisitos de ordem arquitetônica, a escolha da estrutura de um edifício


pode ser influenciada por fatores relacionados a necessidades culturais, sócio-econômicas e
tecnológicas; comentam-se a seguir alguns destes fatores.
a) Considerações econômicas
A escolha de um sistema construtivo deve resultar de um minucioso exame dos fatores
econômicos envolvidos. Assim, dois ou mais métodos construtivos podem adequar-se a uma
determinada edificação e podem até mesmo parecerem bastante similares, porém geralmente
um deles será o de construção mais econômica. Além disso, também deve ser levado em

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conta o custo de operação do edifício, incluindo despesas com serviços, manutenção, seguros,
impostos, financiamentos etc.
À medida que aumenta a altura do edifício, mais espaço é necessário para a estrutura e os
sistemas mecânicos (climatização e elevadores), restando menos espaço rentável. Além disso,
os custos com estes sistemas aumentam com a altura, acontecendo o mesmo aos custos com
empreiteiros, já que equipamentos mais sofisticados se tornam necessários à medida que a
construção vai ganhando altura. Todavia, todos estes aumentos de custos podem ser
compensados pelos altos custos do terreno e pela necessidade de se construir o edifício em
uma localidade específica.
b) Condições do solo
As fundações vinculam a estrutura do edifício (superestrutura) ao solo, recebendo suas
cargas e distribuindo-as de forma que o solo seja capaz de suportá-las. A escolha do tipo
estrutural é grandemente influenciada pela geologia do local. Por exemplo, se a capacidade de
carga do solo de determinado local é muito baixa, um edifício feito de materiais pesados,
como o concreto, pode tornar-se muito mais caro do que um feito de materiais leves, como o
aço. De qualquer forma, as relações entre as três variáveis – superestrutura, fundação e solo –
permitem alguma liberdade de combinações com respeito à escolha do sistema estrutural.
c) Relação altura/largura do edifício
A rigidez lateral da estrutura de um edifício varia inversamente com a relação
altura/largura. Ela depende diretamente da rigidez dos elementos individuais e suas conexões,
do número e da altura dos andares e do número e extensão dos vãos. Assim, cabe ao projetista
escolher um sistema estrutural que possa, com os comprimentos dos vãos e o número de
andares desejado, absorver os esforços e conter as deformações de maneira econômica e
segura.
d) Processos de fabricação e montagem
O planejamento dos procedimentos de fabricação e montagem pode definir importantes
fatores relacionados à escolha do sistema estrutural. Na verdade, eles podem ser os fatores
determinantes quando se adota um método construtivo envolvendo pré-fabricação. Estes
sistemas são usados por reduzir mão-de-obra e o tempo de construção. O número de peças
estruturais deve ser o menor possível, elementos de formato complicado devem ser evitados e
a moldagem em canteiro deve ser minimizada. Portanto, antes da escolha do sistema
estrutural, os processos de fabricação e montagem devem estar definidos.
e) Sistemas mecânicos
Uma vez que os sistemas mecânicos, elétrico, de água e de esgotos são responsáveis por
uma parte considerável do custo total de um edifício, é essencial escolher um sistema
estrutural adequado aos mesmos. Estes sistemas podem ser concentrados em núcleos
integrados em uma área central. Algumas vezes, são dispostos espaços para tubulação junto à
fachada. Também podem ser utilizados sistemas como os de pavimentos suspensos ou os com
estabilizadores, com determinados níveis destinados a abrigar equipamentos pesados. Cada
uma destas soluções influencia diretamente a escolha do sistema estrutural.
f) Questões locais
Cada comunidade possui suas características peculiares, de forma que o código de
zoneamento pode impor exigências que afetem a escolha do sistema construtivo e do tipo
estrutural. Por exemplo, se existe uma limitação de altura quando se necessita do maior
número possível de andares, as alturas entre os pavimentos devem ser as menores possíveis,
sugerindo o uso do sistema de lajes planas de concreto.
Existem situações especiais em que o edifício, ou parte dele, está sobre ruas, praças,
rodovias, ferrovias, ou até mesmo sobre outras edificações. Isto cria a necessidade da
existência de amplos espaços vazios em sua parte inferior, a fim de prover a claridade e a

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aeração apropriadas; isto pode se refletir em restrições às dimensões das colunas e às alturas
das vigas em alguns casos e em demandas por grandes vãos e grande altura livre em outros.
g) Disponibilidade e custo dos materiais de construção
Quando o local de construção de um edifício se situa próximo a fontes de determinados
materiais de construção, pode haver redução dos custos de transporte, fazendo baratear um
material que normalmente seja caro. Quando a proximidade de fontes de materiais não for
fator de influência, a disponibilidade deverá ser considerada. A dificuldade em adquirir
determinado material pode retardar o cronograma da obra, aumentando significativamente
seus custos. Portanto, a análise destes fatores é fundamental na escolha do material a ser
utilizado na construção do edifício, incluindo obviamente sua estrutura.

1.3 OS CARREGAMENTOS ATUANTES

Ao longo de sua existência, um edifício está sujeito à influência de inúmeros agentes da


natureza. Alguns deles destacam-se pelos efeitos mecânicos que exercem sobre a estrutura,
transmitindo-lhe cargas ou ações. A força de atração da gravidade é um dos agentes naturais
mais importantes a exercer influência sobre as estruturas, seja por sua intensidade, seja por
sua perenidade. Os ventos e os terremotos também são fenômenos naturais importantes para
as estruturas. Apesar de ocorrerem na forma de eventos isolados no tempo, a intensidade de
seus efeitos pode ser tal que se constituam em fatores determinantes, especialmente no projeto
de edifícios mais altos e esbeltos.

1.3.1 Classificação das ações


A (ABNT, 2003) define ações como sendo causas que provocam esforços ou deformações
nas estruturas. Do ponto de vista prático, as forças e as deformações impostas pelas ações são
consideradas como se fossem as próprias ações. Em função de sua variabilidade no tempo, as
ações são classificadas em:
a) permanentes: as que ocorrem com valores constantes ou de pequena variação em torno de
sua média, durante praticamente toda a existência da edificação; elas podem ser:
- diretas: o peso dos elementos da construção, incluindo o peso próprio da estrutura e de
todos os elementos construtivos permanentes, o peso dos equipamentos fixos e o empuxo
devido ao peso próprio de terras não removíveis e de outras ações permanentes sobre elas
aplicadas;
- indiretas: a retração e fluência do concreto, as imperfeições geométricas, os deslocamentos
de apoio e a protensão.
b) variáveis: as que ocorrem com valores que apresentam variações significativas em torno de
sua média, durante a existência da edificação. Cargas acidentais são ações variáveis que
atuam nas edificações em função de seu uso (pessoas, mobiliário, veículos, materiais diversos
etc.). Além destas, consideram-se como ações variáveis os efeitos do vento, da variação de
temperatura, de empuxos e efeitos como forças de frenação e de impacto.
c) excepcionais: as que têm duração extremamente curta e probabilidade muito baixa de
ocorrência durante a existência da edificação, mas que devem ser consideradas nos projetos
de determinadas estruturas. Consideram-se como excepcionais as ações decorrentes de causas
como explosões, choques de veículos, enchentes e sismos. Os incêndios podem, tanto ser
tratados como causas de ações excepcionais, como ser levados em conta por meio de uma
redução da resistência dos materiais constituintes da estrutura.

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1.3.2 Combinações de ações e estados-limites
Os edifícios são submetidos a uma multiplicidade de ações durante sua vida útil, muitas
das quais atuam simultaneamente. Desta forma, seus efeitos necessitam ser combinados e o
projeto das estruturas necessita levar em conta todas as possíveis combinações de ações.
A possibilidade da ocorrência de ações combinadas é determinada através de
considerações estatísticas. Enquanto o peso próprio é suposto como atuante durante todo o
tempo, o mesmo não acontece necessariamente com as demais ações. A probabilidade de o
carregamento gravitacional pleno atuar simultaneamente, seja com as ações plenas de vento,
seja com as sísmicas ou as devidas à temperatura, é baixa e a de todas elas atuarem ao mesmo
tempo é mais baixa ainda. Isto é considerado nas normas por meio da aplicação de fatores de
redução às ações envolvidas numa combinação. Além disso, os valores das ações são
multiplicados por fatores de ponderação, os quais levam em conta a variabilidade das mesmas
e os possíveis erros de avaliação de seus efeitos, seja por problemas construtivos, seja por
deficiência do método de cálculo empregado.
Os métodos de determinação das combinações de ações e dos seus efeitos no projeto dos
elementos estruturais variam de acordo com a norma adotada e a filosofia de projeto. A
abordagem probabilística, tanto na quantificação das propriedades da estrutura como na
previsão de atuação do carregamento, deu origem à filosofia do projeto baseado na
verificação de estados-limites, a qual tem atualmente uma aceitação praticamente universal. O
objetivo desta abordagem é assegurar que as estruturas sejam projetadas não só para
suportarem com razoável segurança as ações e deformações mais nocivas que possam ocorrer
durante sua construção e sua vida útil, como também para possuírem uma adequada
durabilidade. De acordo com a (ABNT, 2003), estados-limites de uma estrutura são situações
a partir das quais ela apresenta desempenho inadequado às finalidades da edificação;
classificam-se em estados-limites últimos e estados-limites de serviço ou de utilização.
A ocorrência de estados-limites últimos determina a paralisação, no todo ou em parte, do
uso da edificação. Eles podem ser causados por: perda de equilíbrio, global ou parcial,
admitida a estrutura como um corpo rígido; ruptura ou deformação plástica excessiva dos
materiais; transformação da estrutura, no todo ou em parte, em um sistema hipostático;
instabilidade por deformação; ou instabilidade dinâmica. Estados-limites de serviço são
situações que, por sua ocorrência, repetição ou duração, causam efeitos estruturais tais que
deixam de ser atendidas as condições especificadas para o uso normal da edificação, ou que
são indícios de comprometimento da durabilidade da estrutura.

1.4 MODELAGEM PARA ANÁLISE

A modelagem da estrutura é sem dúvida a tarefa mais complexa que o projetista enfrenta,
exigindo capacidade de julgamento crítico e um sólido conhecimento do comportamento de
componentes e de conjuntos de componentes (subsistemas) de edifícios. É imperativo que o
projetista seja capaz de conceber um modelo de análise da estrutura real que venha a represen-
tar e prever com suficiente precisão a resposta do edifício às ações previstas. Além disso, os
resultados da análise devem ser interpretados e avaliados com discernimento para aplicação
na estrutura real, a fim de servir como base razoável para a tomada de decisões de projeto.
A resposta da estrutura é governada pelos componentes do edifício que são tensionados à
medida que ele se deforma. Em princípio, devem ser incluídos no modelo de análise apenas
os principais elementos estruturais: lajes, vigas, colunas, paredes e núcleos. Na realidade,
porém, outros elementos, não estruturais, são tensionados e influenciam no comportamento da
edificação; isso inclui, por exemplo, as escadarias, as divisórias e o revestimento. Todavia,
para simplificar o problema, é usual incluir na modelagem apenas os principais membros
estruturais e assumir que a influência dos elementos não estruturais é pequena e conservativa.

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A referida modelagem depende, em certa medida, do tipo e tamanho da estrutura e do
estágio de projeto para o qual a análise será feita. Para estruturas de edifícios altos é usual
realizarem-se análises rápidas aproximadas nos estágios preliminares do projeto e análises
mais detalhadas e precisas nos estágios finais.
O objetivo das análises aproximadas pode ser o de comparar o desempenho de propostas
alternativas para a estrutura ou o de determinar as deformações e os esforços nos elementos
mais importantes de uma estrutura já escolhida, de forma a possibilitar que ela seja
adequadamente pré-dimensionada. A formação do modelo e o procedimento para uma análise
preliminar devem ser breves e produzir resultados que sejam aproximações confiáveis. O
modelo e sua análise devem, de fato, representar razoavelmente bem, se não com absoluta
precisão, os principais modos de atuação e interação dos principais componentes estruturais.
As simplificações adotadas em uma análise preliminar são freqüentemente na formação do
modelo estrutural. Às vezes, a aproximação é grande como, por exemplo, ao admitir que uma
subestrutura de contraventamento complexa seja considerada uniforme ao longo de sua altura,
ou que seja representada por uma simples barra em balanço. Simplificações alternativas e às
vezes adicionais dizem respeito ao carregamento. Por exemplo, em sistemas de
contraventamento com subestruturas de um mesmo tipo, não é raro fazer uma suposição para
a distribuição, entre as mesmas, do carregamento lateral total atuante no edifício e, em
seguida, analisar cada subestrutura por vez para seu carregamento assumido. O capítulo 9
aborda dois destes métodos aproximados de análise.

1.4.1 Análise final e hipóteses simplificadoras


O requisito para a análise final é que ela forneça o mais precisamente possível resultados
para deformações e esforços nos elementos. O modelo deve ser tão detalhado quanto o
programa de análise e a capacidade do computador o permitam. Todos os principais modos de
atuação e interação e tantos quanto possível dos modos menores devem ser incluídos. A
abordagem mais completa para satisfazer estes requisitos é uma análise tridimensional pelo
Método da Rigidez de um modelo no qual as colunas, as vigas e os reforços são representados
por elementos de barra, enquanto as paredes resistentes e os núcleos são representados por
elementos finitos de membrana e as lajes por elementos finitos de flexão de placa. Em
continuação ao presente trabalho, está prevista para um futuro segundo volume a inclusão de
um capítulo tratando da referida análise tridimensional.
Encontra-se atualmente disponível um grande número de potentes programas de análise
estrutural, baseados no Método da Rigidez. Em princípio, é teoricamente possível analisar
com precisão qualquer estrutura elástica complexa; as únicas limitações são a capacidade do
computador disponível, tempo e custo. Entretanto, deve-se ter mente que as estruturas dos
edifícios reais são tão complexas que mesmo um modelo computacional elaborado será uma
simplificação considerável e os resultados de uma análise serão sempre aproximados, sendo,
na melhor das hipóteses, tão bons quanto a qualidade do modelo escolhido e do método de
análise.
Na verdade, a realização da análise da estrutura de um edifício, considerando com
precisão todos os aspectos do comportamento de todos os componentes e materiais, é
virtualmente impossível. Hipóteses simplificadoras são necessárias para reduzir o problema a
um grau de complexidade viável. As hipóteses mais comuns são apresentadas a seguir.
a) Comportamento dos materiais
O material dos componentes estruturais é suposto elástico-linear, o que permite a
superposição de ações e deformações e, portanto, a adoção de métodos lineares de análise. O
desenvolvimento desses métodos e sua solução por computador tornou possível analisar
estruturas hiperestáticas grandes e complexas.

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Embora métodos de análise não linear tenham sido e estejam ainda em desenvolvimento,
sua aplicação em estruturas de edifícios tem sido mais para pesquisa do que na prática do
projeto; nesta última, a não linearidade tem sido usualmente levada em consideração por meio
de adaptações na análise linear. Por exemplo, os efeitos da fissuração em elementos de
concreto armado devidos a tensões de tração são considerados por meio de reduções do
momento de inércia das seções. A (ABNT, 2014) estabelece que as inércias brutas das vigas
sejam reduzidas para 40 % ou 50 % (dependendo da distribuição das armaduras) e as inércias
brutas das colunas sejam reduzidas para 80 %.
b) Diafragmas rígidos
Assume-se que as lajes dos pavimentos sejam infinitamente rígidas em seus próprios
planos. Isto implica que os deslocamentos no plano horizontal de todos os elementos verticais
no nível de um pavimento sejam definidos em função da rotação e das translações de corpo
rígido da laje no plano horizontal, conforme é mostrado analiticamente na seção 9.2. Assim, o
número de incógnitas a serem determinadas na análise fica bastante reduzido. Embora seja
válida para fins práticos na maioria das estruturas de edifícios, essa hipótese não pode ser
aplicada em certos casos nos quais a laje é muito longa e estreita em planta, ou possui uma
região com acentuado estreitamento, ou simplesmente não constitui um sistema monolítico.
c) Rigidezes desprezíveis
Assume-se que rigidezes de magnitude relativamente pequena sejam desprezíveis. Isso
inclui, por exemplo, a rigidez à flexão das lajes, a rigidez à flexão em torno do eixo de menor
inércia de paredes resistentes e a rigidez torcional de paredes, colunas e da maioria das vigas.
Na verdade, a adoção dessa hipótese está condicionada à função exercida pelo componente no
comportamento da estrutura. Por exemplo, a contribuição da resistência à flexão de uma laje
para a resistência ao carregamento lateral de um sistema aporticado é desprezível; todavia, em
um sistema de lajes lisas ou planas essa contribuição é vital e não pode ser desprezada.
d) Deformações desprezíveis
Deformações relativamente pequenas e de pouca influência são desprezadas. Isto inclui a
deformação axial das vigas, as deformações por corte e por flexão contidas nos planos das
lajes e, em estruturas de pequena a média altura, as deformações axiais das colunas. A
deformação por corte de um elemento de barra pode ser desprezada caso a razão entre seu
comprimento e a maior dimensão transversal for maior do que determinado valor; por
exemplo, para estruturas de concreto a (ABNT, 2014) fixa este valor em 3. Caso a referida
razão for menor do que o valor estabelecido, deve ser fornecida a área de corte da seção.

1.5 ELEMENTOS BÁSICOS DAS ESTRUTURAS DE EDIFÍCIOS

Além de atender a requisitos de ordem não estrutural, a definição do sistema estrutural de


um edifício consiste fundamentalmente na escolha e no arranjo de seus principais
componentes, dotando-os de adequada resistência e rigidez, de forma que possam resistir às
várias combinações de carregamentos com o máximo de eficiência. Os elementos básicos da
estrutura de uma edificação podem ser classificados em:
a) elementos lineares
- vigas e pilares ou colunas, capazes de resistir a esforços axiais e de flexão;
- reforços (barras inclinadas), destinados a transmitir esforços axiais;
b) elementos superficiais
- verticais: paredes maciças ou treliçadas, destinadas a resistir a esforços contidos em seus
planos;
- horizontais: lajes maciças ou nervuradas, vinculadas às estruturas dos pavimentos, capazes
de resistir a esforços contidos em seus planos e perpendiculares a eles;

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c) elementos espaciais
- os núcleos resistentes, por exemplo, capazes de resistir a esforços axiais, de flexão e de
torção.
Os dois principais tipos de elementos de transmissão de ações verticais são as colunas e as
paredes, estas atuando independentemente como paredes resistentes ou fazendo parte de
núcleos. A função do edifício determinará naturalmente a existência de paredes para dividir e
cercar espaço, bem como de núcleos para abrigar e dar passagem a instalações como
elevadores. Além disso, serão alocadas colunas em regiões doutro modo sem suporte, para
transmitir cargas gravitacionais e, em alguns tipos de estruturas, também cargas horizontais.
Necessariamente, a função primária dos elementos estruturais é resistir ao carregamento
gravitacional devido ao peso do edifício e de seu conteúdo. Uma vez que o carregamento em
diferentes andares tende a ser semelhante, o peso do sistema de sustentação dos pavimentos
por unidade de área é aproximadamente constante, independentemente da altura do edifício.
Como o carregamento gravitacional nas colunas aumenta de cima para baixo ao longo do
edifício, o peso das colunas tem um aumento aproximadamente linear do topo para a base.
Via de regra, a segunda função dos elementos estruturais verticais é resistir a ações externas
causadas por vento e possivelmente terremotos. Os momentos fletores causados por essas
ações laterais aumentam com pelo menos o quadrado da altura do edifício, portanto seus
efeitos tornam-se progressivamente mais importantes quanto mais alto ele for.
A estrutura do edifício é gerada por uma combinação dos referidos elementos básicos,
usualmente escolhida dentre uma multiplicidade de possíveis soluções. Apesar de constituir
um sistema espacial uno, ela pode ser concebida como uma associação de subestruturas
verticais, como paredes, núcleos e pórticos, e subestruturas horizontais que constituem a
sustentação dos pavimentos. As subestruturas verticais são tratadas nos capítulos 2 a 6,
enquanto as horizontais são vistas nos capítulos 7 e 8. Conforme é esquematicamente
mostrado na figura 1.1, as ações gravitacionais e laterais são absorvidas pelos pavimentos e
transmitidas às subestruturas verticais que, por sua vez, as transmitem para as fundações. Com
respeito às ações laterais, os pavimentos atuam como se fossem vigas baixas e largas em
flexão lateral.

1.6 SISTEMAS DE CONTRAVENTAMENTO

Conforme mencionado na seção 1.5, as estruturas dos edifícios, além de transmitirem as


cargas gravitacionais, devem ser capazes de resistir às cargas laterais, como as geradas pelo
vento e pelos sismos. Assim, elas devem ser dotadas de alguma forma de reforço lateral
constituindo os sistemas de contraventamento longitudinal e transversal.
Com respeito ao carregamento horizontal, a estrutura de um edifício alto comporta-se
essencialmente como uma barra vertical em balanço. Um sistema de contraventamento pode
ser composto por uma ou mais subestruturas verticais, como paredes ou núcleos resistentes,
submetidos à flexão e atuando de forma integrada por causa da indeformabilidade das lajes
nos planos dos pavimentos. O sistema também pode ser composto por um conjunto de
colunas ou paredes ligadas entre si por elementos que transmitem cortante vertical, como
reforços ou vigas; assim, estas colunas ou paredes atuam, com algum grau de coesão, como
fibras de uma barra de grandes dimensões em balanço.
Dependendo do sistema estrutural adotado, pode ser vantajoso distribuir as subestruturas
verticais em planta de forma que as tensões de compressão devidas ao peso próprio superem
as de tração devidas às ações laterais, evitando assim a ocorrência de tração nos elementos
verticais e a tendência de levantamento das fundações. Normalmente, este propósito é
atingido direcionando-se as ações gravitacionais para as subestruturas mais externas.

12
Figura 1.1 – Transmissão de ações dos pavimentos para as subestruturas verticais.

De uma forma geral, os sistemas de contraventamento podem ser classificados em:


a) sistemas aporticados (capítulo 2): formados por pórticos planos, ou seja, por subestruturas
que proporcionam rigidez somente a esforços contidos em seus próprios planos;
b) sistemas formados por paredes e/ou núcleos resistentes (capítulos 3 e 4): a exemplo dos
pórticos, as paredes proporcionam rigidez somente a esforços contidos em seus planos,
enquanto os núcleos, dependendo do formato de suas seções transversais, podem integrar o
contraventamento em ambas as direções transversal e longitudinal;
c) associações de pórticos com paredes e/ou núcleos (capítulo 5): pelo fato de possuírem
individualmente diferentes características de deformação, os pórticos e as paredes/núcleos
interagem horizontalmente através das subestruturas dos pavimentos que os conectam,
proporcionando um aumento na rigidez lateral e na resistência do sistema;
d) sistemas tubulares (capítulo 6): são tratados em separado devido a suas características
peculiares; são formados por treliças ou pórticos periféricos com características geométricas
especiais, associados ou não com paredes ou núcleos internos.
Nos próximos capítulos são descritos os tipos mais comuns de sistemas de
contraventamento, enfatizando-se sua morfologia, comportamento, campo de aplicação,
vantagens e desvantagens; na seção 6.6 são apresentados alguns recursos utilizados para a
ampliação de espaço no nível térreo.

13
CAPÍTULO 2

OS SISTEMAS APORTICADOS

2.1 PÓRTICOS PLANOS

Os sistemas aporticados são constituídos por pórticos planos, ou seja, subestruturas


formadas por elementos horizontais (vigas) e verticais (pilares ou colunas) ligados por meio
de conexões rígidas (figura 2.1-a). Os pórticos podem estar distribuídos de várias formas no
volume do edifício, ocupando tanto planos internos como das fachadas, constituindo um
sistema espacial. Alguns exemplos típicos de sistemas aporticados aparecem em vista superior
nas figuras 2.1-b, c e d: pórticos transversais e longitudinais, pórticos transversais a dois eixos
e pórticos em disposição radial, respectivamente.
A principal vantagem do sistema decorre de sua geometria ortogonal. Seu arranjo
desobstruído, livre de barras de reforço e de paredes estruturais, permite liberdade de projeto e
facilidade de alocação de portas e janelas. O contraventamento por meio de pórticos planos é

Figura 2.1 – Sistemas aporticados

14
idealmente apropriado para edifícios de concreto armado, por causa da rigidez inerente das
conexões. Ele também é utilizado em edifícios com estrutura de aço, porém as conexões
momento-resistentes tendem a ser dispendiosas. Os pórticos são considerados econômicos
para prédios de até cerca de 25 andares, acima dos quais o controle das deformações laterais
torna-se dispendioso.
Uma vez que a integridade do esqueleto espacial depende da resistência e da rigidez de
cada um dos elementos de viga e de coluna, as alturas entre andares e as distâncias entre
colunas tornam-se parâmetros de controle do projeto. A resistência às cargas laterais é
proporcionada pela resistência à flexão de colunas, vigas e nós. As dimensões das seções das
vigas e colunas de um pavimento qualquer de um pórtico plano são diretamente influenciadas
pelo esforço cortante global naquele nível e, portanto crescem em direção à base.
Conseqüentemente, o projeto da estrutura dos pavimentos não pode ser repetitivo e em alguns
casos pode não ser possível acomodar a altura necessária das vigas no espaço normal do teto
dos andares mais baixos.
Dotados de um alto grau de indeterminação estática, os pórticos são inicialmente
projetados com base em análises aproximadas, após as quais podem ser feitas análises e
verificações mais rigorosas. Um procedimento usual consiste numa estimativa inicial de
esforços em vigas e pilares, devidos às cargas gravitacionais, por algum método aproximado,
seguida de uma estimativa preliminar das dimensões das seções com base nestes esforços e
num aumento arbitrário das mesmas para resistir também ao carregamento horizontal.
O procedimento segue com uma determinação aproximada do carregamento horizontal
nos pórticos planos e análise preliminar dos mesmos, conforme é visto na subseção 2.1.2.
Segue-se uma verificação dos deslocamentos laterais e dos esforços nas barras para a pior
combinação de ações e um ajuste das dimensões das seções, se necessário. Na sequência, é
realizada a análise da estrutura global (sistema espacial) para uma verificação mais precisa da
resistência e das deformações das barras, com ajustes adicionais das dimensões, onde
necessário; este estágio pode incluir os efeitos de segunda ordem P- nos esforços e nas
deformações. O processo culmina com o projeto detalhado das barras e de suas conexões.

2.1.1 Comportamento dos pórticos planos


A resposta de um pórtico plano ao carregamento gravitacional difere da de uma estrutura
com conexões apenas rotuladas pelo comportamento contínuo das vigas. Momentos negativos
são induzidos junto às colunas, fazendo diminuir os momentos positivos no interior dos vãos.
A continuidade também faz com que os momentos máximos nas vigas sejam influenciados
pelo padrão de distribuição da sobrecarga.
Os pórticos planos, ao serem submetidos ao carregamento horizontal, deformam-se
lateralmente, originando flexão tanto nas vigas como nos pilares por causa da rigidez de suas
conexões. Portanto, a rigidez lateral global de um pórtico é dependente, em grande parte, da
rigidez à flexão de suas barras e, em menor grau, da rigidez axial dos pilares. Para entender as
características da deformação lateral de um pórtico, é conveniente fazer uma analogia com as
deformações de um pilar engastado-livre. Descrevem-se a seguir as duas componentes dessa
deformação lateral.
Distorção global:
Essa componente é similar à deformação por corte do pilar em balanço. Conforme é
mostrado na figura 2.2-a, a força cortante global atuante em um pavimento qualquer do
pórtico é equilibrada pelos cortantes das colunas desse pavimento. Esses cortantes fazem com
que os pavimentos se desloquem lateralmente e as colunas se flexionem em dupla curvatura,
com os pontos de contraflexão localizados aproximadamente à meia altura do pavimento. Os
momentos fletores atuantes nas colunas são transmitidos às vigas, as quais também se

15
flexionam em dupla curvatura, com os pontos de contraflexão localizados próximo ao centro
dos vãos.
As deformações por flexão das barras resultam numa configuração deformada global por
corte, cuja decilividade é proporcional à já mencionada força cortante global por andar.
Também conhecido como distorção global (racking) do pórtico, este modo de deformação
tem sua concavidade a barlavento, com uma inclinação máxima junto à base (onde o cortante
global é máximo) e uma inclinação mínima no topo. Ele é responsável por 70% a 80% da
deformação lateral total de um pórtico, sendo 15% a 20% devidos à flexão das colunas e 50%
a 65% devidos à flexão das vigas. Esta diferença ocorre porque a rigidez das colunas, medida
pela razão Ic/Lc, caracteriza-se por ser substancialmente maior do que a rigidez das vigas,
medida pela razão Iv/Lv, onde Ic e Lc representam a inércia e o comprimento das colunas,
enquanto Iv e Lv representam a inércia e o comprimento das vigas, respectivamente.
Flexão global:
O momento fletor global devido às cargas horizontais é equilibrado ao nível de cada andar
por pares de forças normais de tração e de compressão atuantes nos pilares situados em lados
opostos da estrutura (figura 2.2-b). O alongamento de alguns pilares e o encurtamento de
outros causam a flexão global do pórtico, com os correspondentes deslocamentos horizontais
devidos à curvatura da estrutura, de forma semelhante à deformação por flexão do pilar
engastado-livre. Devido à rotação cumulativa com a altura, o deslocamento horizontal relativo
entre os pisos, devido à flexão global, aumenta com a altura e pode, nos andares mais altos,
exceder o devido à distorção. No entanto, a contribuição da flexão global para o deslocamento
horizontal total raramente excede 20%, exceto em pórticos muito altos e esbeltos, nos quais
ela pode atingir proporções próximas a 30%.
Correção de deformações excessivas:
A distribuição usual de dimensões das barras dos pórticos é tal que a flexão das vigas é a
principal causa da deformação lateral; portanto, a maneira mais efetiva e econômica de

Figura 2.2 – Deformações em pórticos

16
correção de deformações excessivas é geralmente o aumento da rigidez das vigas à flexão.
Todavia, isto pode deixar de ocorrer em pórticos atípicos, com espaçamento entre colunas
próximo da altura entre andares. Por exemplo, considerando que dois pavimentos sucessivos
quaisquer de uma edificação com tais características estejam apresentando uma deformação
lateral relativa excessiva, pode-se realizar uma verificação relativamente simples, proposta
por (STAFFORD SMITH e COULL, 1991), para definir se o ajuste das dimensões deve ser
feito nas seções das vigas ou dos pilares. Inicialmente, calcula-se para cada nó dos dois
pavimentos em questão o valor do parâmetro  , dado pela expressão:

  I c Lc   I v Lv  (2.1)

onde  I v Lv  refere-se às vigas conectadas ao nó. No caso de resultar  >> 0,5, devem-se
ajustar as seções das vigas; caso  << 0,5, devem-se ajustar as seções dos pilares e se  
0,5, devem-se ajustar as seções tanto das vigas como as dos pilares.

2.1.2 Análise de pórticos planos por computador


Pórticos planos são estruturas reticuladas que só admitem cargas contidas em seus
próprios planos. Suas barras interconectam-se rigidamente em pontos denominados nós
(pontos de cruzamento dos eixos baricêntricos das barras); também pode haver barras ligadas
por rótulas, como no caso dos pórticos reforçados. Devido a estas condições de geometria e
de carregamento, para cada nó ficam definidos três graus de liberdade, os quais são mostrados
na figura 2.3-a para um pórtico contido no plano x-y:
- graus de liberdade translacionais x e y: direções segundo as quais podem atuar forças e
ocorrer deslocamentos de translação do nó;
- grau de liberdade rotacional z: direção em torno da qual podem atuar momentos e ocorrer
deslocamentos de rotação do nó.
Os dados a serem fornecidos para a análise de um pórtico plano por computador incluem
os comprimentos dos vãos, as alturas entre os andares, as propriedades geométricas das
seções transversais das barras, as propriedades do material, a caracterização dos vínculos
externos e a descrição do carregamento atuante (localização, direção e valores das ações).
Com relação às propriedades geométricas das seções, é necessário fornecer para cada
barra o momento principal central de inércia em relação ao eixo perpendicular ao plano do
pórtico, além das áreas das seções dos pilares. Para a área das seções das vigas é atribuído um
valor bastante grande, de forma que elas sejam efetivamente consideradas como axialmente
rígidas.

Figura 2.3 – Graus de liberdade e solicitações em pórticos planos.

Os resultados da análise consistem usualmente nos deslocamentos dos nós e nas reações
nos vínculos externos, segundo as direções dos graus de liberdade já mencionados, além das
solicitações nas barras. A figura 2.3-b mostra as solicitações que podem atuar numa barra de

17
pórtico plano, variando ao longo de seu comprimento: força normal N, força cortante V e
momento fletor M.
Os pórticos integrantes das estruturas de edifícios caracterizam-se por possuírem barras
perpendiculares entre si (vigas e pilares). As cargas atuantes são transmitidas desde seus
pontos de aplicação até as fundações sob a forma das recém mencionadas solicitações nas
barras. A força cortante de uma viga, ao ser transmitida para um pilar, transforma-se em força
normal e vice-versa, enquanto o momento fletor é transmitido como momento fletor.
Como exemplo, a figura 2.4-a apresenta a malha de um pórtico plano de dois vãos
simétricos, integrante do sistema de contraventamento de um edifício de 10 andares. O
pórtico foi analisado para os carregamentos vertical permanente, vertical variável e de vento.
As figuras 2.4-b, c e d mostram alguns casos de transmissão de solicitações entre as barras
incidentes em dois nós do quinto pavimento. O caso b trata da transmissão de esforços
verticais entre as barras concorrentes no nó B, devidos à carga vertical permanente. A figura
mostra que a força normal de compressão de 881 kN, atuante no pilar inferior ao nó, equilibra
a força normal do pilar superior, bem como as forças cortantes das vigas junto ao nó.
O caso c demonstra o equilíbrio das forças horizontais incidentes no nó A, devidas às
ações de vento. A força externa de 11 kN e a força cortante no pilar superior ao nó são
equilibradas pela soma da força normal na viga com a força cortante no pilar inferior.
Finalmente, o caso d mostra a transmissão de momentos fletores no mesmo nó A, devidos ao
carregamento vertical permanente; o momento de 49 kN.m, atuante na extremidade da viga, é
equilibrado pelos momentos atuantes nos pilares inferior e superior ao nó.

Figura 2.4 – Solicitações num pórtico de um edifício de 10 andares.

18
A figura 2.5 apresenta diagramas de solicitações do pórtico, devidas ao carregamento
vertical permanente. A força cortante varia linearmente ao longo das vigas e apresenta valores
constantes nas barras de pilar, mostrados na primeira coluna da tabela 2.1; no pilar central, ela
é nula por causa da simetria da estrutura. Os momentos fletores variam linearmente ao longo
dos pilares; nas vigas, seus diagramas assumem o formato de parábolas do segundo grau.
Observa-se, pela representação em escala da figura 2.5 e pelos valores da tabela 2.1, a
pequena variação dos cortantes e momentos entre os pavimentos, com exceção do primeiro,
no qual a taxa de carga aplicada é bem menor. As forças normais possuem valores constantes
em cada barra de pilar, mostrados na segunda e terceira colunas da tabela 2.1. Cabe salientar
que as forças normais fornecidas pelo software para as vigas encontram-se, na verdade,
diluídas entre estas e as lajes. Os diagramas de solicitações devidas ao carregamento vertical
variável não são apresentados, por possuírem o mesmo formato dos mostrados na figura 2.5,
diferenciando-se apenas pela escala de valores.
A figura 2.6 apresenta o diagrama de momentos fletores do pórtico, devidos ao vento
atuante na direção x. Como esse carregamento é aplicado exclusivamente na forma de forças
concentradas em nós, os momentos fletores variam linearmente ao longo de cada barra. Pode-
se perceber o drástico aumento de seus valores pavimento por pavimento, do topo em direção
à base do edifício, o que não ocorre com os momentos causados pelas cargas verticais.

Figura 2.5 – Diagramas de solicitações devidas ao carregamento vertical permanente.

19
Tabela 2.1 – Solicitações (kN) com valores constantes por barra do pórtico
Pavto. Cargas verticais permanentes Ações de vento
VP1 = VP2 −NP1 = −NP3 −NP2 VV1 = VV2 VP1 = VP3 VP2 NP1 = −NP3

1 2,1 777 1432 28,1 36,7 46,2 184,5


2 18,0 715 1343 29,6 26,5 57,0 156,4
3 12,3 624 1181 27,2 28,7 43,4 126,7
4 15,8 548 1030 24,4 24,4 42,2 99,6
5 15,9 470 881 21,3 21,7 36,7 75,1
6 16,5 392 733 18,0 18,6 31,6 53,9
7 16,9 314 587 14,5 15,4 26,2 35,9
8 17,3 235 441 11,0 12,1 20,6 21,4
9 16,7 156 296 7,3 8,7 14,7 10,4
10 22,6 75 153 3,1 5,1 8,9 3,2
VP1, VP2, VP3 – módulo da força cortante nos pilares esquerdo, central e direito,
respectivamente.
NP1, NP2, NP3 – força normal, idem; (+) tração e (−) compressão.
VV1, VV2 – módulo da força cortante nos vãos de viga esquerdo e direito, respectivamente.

Figura 2.6 – Diagramas de momentos fletores devidos às cargas de vento

20
Essa tendência de aumento de valores também se verifica com as forças normais e
cortantes; essas solicitações possuem valores constantes ao longo de cada barra, mostrados da
quarta à sétima coluna da tabela 2.1. Por sua vez, o diagrama de momentos devidos ao vento
contrário à direção x terá o mesmo aspecto do diagrama da figura 2.6, efetuando-se apenas
uma inversão de sinais; o mesmo se verifica com relação às forças normais e cortantes.

2.1.3 Envoltórias de solicitações


No projeto da estrutura de um edifício, devem ser verificados os estados limites últimos e
os de utilização ou de serviço. Para isso, os resultados da análise para os diversos
carregamentos básicos devem ser combinados de múltiplas formas, utilizando-se distintos
conjuntos de coeficientes de ponderação, conforme mencionado na seção 1.3. Esse processo
resulta na obtenção, para cada seção transversal de cada barra, de uma sucessão de valores
para cada tipo de solicitação; o valor máximo e o mínimo da sucessão definem, portanto, o
intervalo de variação dos valores que a solicitação pode assumir ao longo da vida útil da
estrutura. Por sua vez, a variação deste valor máximo e do mínimo ao longo do comprimento
de uma barra pode ser representada graficamente, na forma de curvas constituindo a
envoltória de valores da solicitação. Cabe salientar que também se podem obter envoltórias
para os deslocamentos de determinados conjuntos de nós da estrutura, bem como para as
reações externas, estas na forma de tabelas.
A figura 2.7 mostra configurações típicas de diagramas de forças cortantes (V) e de
momentos fletores (M) em um vão de viga integrante de um pórtico plano, devidos à carga
gravitacional em a e ao vento atuante em direções alternadas em b e c. As figuras 2.8-a e b
mostram os diagramas V do mesmo vão devidos, respectivamente, aos efeitos combinados de
a com b e de a com c da figura 2.7. As figuras 2.8-c e d apresentam os diagramas M devidos
às mesmas combinações de efeitos.
A envoltória de uma solicitação numa determinada barra é obtida justapondo-se os
traçados dos diagramas da solicitação devidos às várias combinações de ações, previstas na
verificação dos estados-limites; a envoltória fica definida pelas linhas delimitadoras superior e
inferior do conjunto de diagramas.
Assim, a envoltória de forças cortantes de um vão de viga será obtida agrupando-se
traçados de diagramas similares aos das figuras 2.8-a e b, resultando num gráfico semelhante
ao da figura 2.9-a, formado por várias retas descendentes; a inclinação de cada reta depende

Figura 2.7 – Diagramas de solicitações em uma barra de viga.

21
dos coeficientes de ponderação das ações verticais permanentes e das verticais variáveis,
adotados na respectiva combinação. Por sua vez, a envoltória de momentos fletores será
obtida justapondo-se traçados de diagramas similares aos das figuras 2.8-c e d, resultando
num gráfico semelhante ao da figura 2.9-b, formado por várias parábolas do segundo grau; o
ponto de máximo de cada parábola corresponde ao respectivo ponto de cortante nulo da figura
2.9-a.

Figura 2.8 – Diagramas de solicitações devidas a efeitos combinados.

Figura 2.9 – Conjuntos de diagramas em um vão de viga

O método recém descrito foi utilizado na obtenção das envoltórias de solicitações das
vigas integrantes do pórtico da figura 2.4-a. As figuras 2.10-a e b mostram, respectivamente,
as envoltórias de forças cortantes e de momentos fletores para o vão esquerdo das vigas de
alguns andares do pórtico. As envoltórias de cortantes formam faixas retilíneas com
inclinação descendente; pode-se observar um considerável aumento da largura destas faixas,
dos pavimentos superiores em direção aos inferiores.
As envoltórias de momentos fletores delimitam, nos andares superiores, faixas curvilíneas
com formato semelhante ao do diagrama de momentos devidos exclusivamente às cargas
verticais, evidenciando que o efeito do vento é bastante reduzido nesta região. Todavia, à

22
medida que se percorrem os pavimentos do topo em direção à base, cresce a influência do
vento, provocando um drástico aumento da largura dessas faixas junto às conexões das vigas
com os pilares. Cabe observar que estes picos de momentos ocorrem, na verdade, nos
cruzamentos de eixos baricêntricos viga-pilar. A (ABNT, 2014) permite que sejam
considerados no projeto valores menores, resultantes do arredondamento dos respectivos
diagramas junto às referidas conexões, conforme é visto na seção 8.4.

Figura 2.10 – Envoltórias de solicitações.

Em pórticos mais esbeltos e com número maior de andares, as envoltórias de cortantes e


de momentos das vigas dos andares inferiores podem ter os formatos mostrados,
respectivamente, nas figuras 2.11-a e b. Pode-se observar que os diagramas de cortantes
correspondentes à envoltória superior e à inferior não trocam de sinal ao longo do vão,
fazendo com que os respectivos diagramas de momentos não tenham pontos de máximo no
interior do vão. Por outro lado, diagramas internos à envoltória da figura 2.11-a podem ter
pontos de cortante nulo e, portanto, momentos máximos positivos na envoltória da figura
2.11-b. No entanto, pode acontecer de esses máximos positivos serem inferiores aos
momentos positivos da envoltória junto aos pilares; conseqüentemente, os momentos a serem
considerados no projeto da viga serão exclusivamente os que atuam junto aos pilares.

23
Figura 2.11 – Envoltórias em andares inferiores de pórticos esbeltos.

Por sua vez, a envoltória de forças normais de um pilar apresenta-se em forma de degraus.
A figura 2.12-a mostra esta envoltória para o pilar da extremidade esquerda do pórtico da
figura 2.4-a; como ela apresenta apenas máximos e mínimos de forças normais de
compressão, deduz-se que todo o pilar estará comprimido ao longo de sua vida útil. A figura
2.12-b mostra a envoltória de forças normais típica de um pilar de extremidade de um pórtico
bastante esbelto e com um número maior de andares. Neste caso, devido à forte influência do
vento na região inferior da estrutura, observa-se que a envoltória da esquerda apresenta forças
normais de tração nos primeiros cinco andares, portanto este trecho deve ser projetado para
resistir tanto à tração como à compressão. Do sexto andar até o topo, ocorre somente
compressão, conforme indicam os máximos e mínimos mostrados na figura.

2.2 SISTEMAS DESPROVIDOS DE VIGAS

Em sistemas desprovidos de vigas, nos quais as colunas são integralmente fundidas com
as lajes dos pavimentos, o comportamento de pórtico pode ser atingido empregando-se faixas
de lajes, como se fossem vigas baixas e largas, dispostas ao longo de linhas de colunas. Estes
sistemas também são abordados na subseção 7.2.1 e classificam-se em lajes lisas e planas. As
lajes lisas consistem em lajes de concreto com espessura constante, rigidamente conectadas às
colunas (figura 7.3). A alta concentração de tensões de cisalhamento (punção nas lajes) ao
redor das colunas freqüentemente exige o uso de espessamentos da laje na forma de drop
panels ou capitéis, passando a constituir o sistema de lajes planas ou lajes-cogumelo (figura
7.4).
O sistema é economicamente viável para edifícios de até 25 andares. Dependendo da
razão altura/largura do edifício, as estruturas de lajes lisas ou planas podem ter somente
colunas como elementos portantes, ou podem utilizar também núcleos ou paredes resistentes,
a fim de aumentar a rigidez lateral. O caráter monolítico da estrutura de concreto leva o
conjunto a responder às cargas laterais de forma similar a um sistema aporticado. As
deformações laterais são o resultado da flexão das colunas em duas direções (flexão oblíqua)
e da flexão bidirecional das lajes. Apesar de relativamente flexíveis, as lajes lisas e planas
adicionam rigidez ao sistema, devido à sua continuidade com as colunas e as paredes
resistentes.

24
Figura 2.12 – Envoltórias de forças normais em pilares

Caso as colunas estejam distribuídas em uma malha regular ortogonal, como na figura
2.13-a, a estrutura pode ser analisada considerando-se cada faixa de laje conectada a uma
linha de pilares como um pórtico plano equivalente. Assim, cada faixa de laje é substituída
por uma viga equivalente com a mesma rigidez à flexão, a qual depende principalmente do
espaçamento das colunas em ambas as direções horizontais. Na figura 2.13-a, esses
parâmetros são usados para mostrar a largura efetiva da viga equivalente (faixas fe), isto é, a
largura da viga de seção constante com a mesma rigidez à flexão da laje, ou seja, com a
mesma espessura, o mesmo vão e módulo de elasticidade da laje. (JIMENEZ MONTOYA et
ali, 1978) limita a aplicação deste critério para uma relação a/b < 4/3. Caso a/b > 4/3, a
referida largura é definida em função do vão na direção do próprio plano do pórtico, conforme
é visto na figura 2.13-b.
A adoção do modelo de pórticos planos equivalentes é prevista pela (ABNT, 2014), com a
condição de que os pilares estejam dispostos em filas ortogonais, de maneira regular e com os
vãos a e b pouco diferentes. A mesma norma também estabelece que os momentos fletores,
obtidos em cada direção segundo as faixas indicadas na figura 2.13-a, devem ser distribuídos
na laje da seguinte forma:
- 45% dos momentos positivos e 25% dos momentos negativos para a faixa interna;
- 27,5% dos momentos positivos e 37,5% dos momentos negativos para cada uma das
faixas externas.

25
Figura 2.13 – Faixas de lajes equivalentes a vigas

2.3 PÓRTICOS REFORÇADOS E TRELIÇAS VERTICAIS

A adição de reforços a uma estrutura aporticada constitui uma forma de contraventamento


altamente eficiente e econômica. Um pórtico reforçado consiste nas usuais vigas e colunas,
cuja função principal é resistir ao carregamento gravitacional, e em reforços diagonais,
conectados de forma que o conjunto total de barras venha a formar uma treliça vertical em
balanço para resistir ao carregamento horizontal. Os reforços e as vigas atuam como
elementos da “alma” da treliça, enquanto as colunas atuam como banzos. Conforme pode ser
visto na figura 2.14, a diagonalização pode estender-se por todos os vãos ou ficar restrita aos
vãos situados junto a paredes ou núcleos.
O sistema é eficiente porque as diagonais atuam apenas sob forças normais e, portanto,
demandam seções com dimensões mínimas. A eficiência dos reforços em dotar o sistema de
uma resistência ao cortante global e de uma rigidez lateral bastante altas, com um acréscimo
mínimo de material, fazem-no uma forma estrutural econômica para edifícios de qualquer
altura, inclusive os bastante altos. Uma desvantagem importante é que as diagonais obstruem
o espaço interno e dificultam a alocação de portas e janelas. Além disso, as conexões
diagonais são de produção e montagem dispendiosa.
Quando a estrutura do edifício incluir também pórticos planos comuns, seu projeto pode
levar em consideração o uso dos pórticos para a resistência às cargas gravitacionais e das
treliças verticais para as ações laterais. Em edifícios de baixa ou média altura que não sejam
particularmente esbeltos, é geralmente possível definir a distribuição do contraventamento
sem que o mesmo tenha sido previsto no projeto arquitetônico. No entanto, em edifícios de
altura moderada e esbeltos, ou em edifícios verdadeiramente altos, a localização das
subestruturas de contraventamento é bem mais importante e, na verdade, pode ser

26
fundamental para a viabilidade da estrutura. Em tais casos, é necessária uma coordenação no
desenvolvimento dos projetos arquitetônico e estrutural desde seus estágios iniciais.
Os sistemas reforçados são considerados quase uma exclusividade das estruturas de aço,
já que as diagonais estão inevitavelmente sujeitas à tração para uma ou outra direção do
carregamento lateral. No entanto, reforços de concreto na forma de diagonais duplas também
são utilizados, sendo cada diagonal projetada para atuar apenas sob compressão na
transmissão da força cortante global.

Figura 2.14 – Pórticos reforçados e treliças verticais

2.3.1 Tipos de reforços


Na figura 2.15 aparecem vários tipos de reforços, em ordem decrescente de rigidez
horizontal. Os tipos mais eficientes, mas também mais obstrutivos, são aqueles que fazem
parte de uma treliça vertical totalmente triangulada, como diagonais simples e duplas, além de
reforços do tipo K (figuras 2.15-a, b, c). As subestruturas com diagonalização plena são
geralmente alocadas onde não é prevista circulação de pessoas, sendo incorporadas a paredes
e divisórias, especialmente em torno de poços de elevadores, de escadas e de instalações, os
quais provavelmente nunca serão realocados durante a vida útil do edifício.
Outros tipos de reforços, os quais permitem aberturas para portas e janelas, porém cuja
disposição provoca flexão na viga, são mostrados nas figuras 2.15-d, e, f e h. Alguns outros
tipos, os quais induzem flexão tanto nas vigas como nas colunas, são mostrados nas figuras
2.15-g e i. Geralmente, as subestruturas com reforços que provocam flexão nas barras são
bem menos rígidas lateralmente e portanto menos eficientes do que as treliças totalmente
trianguladas, em cujas barras ocorrem somente forças normais.

27
Figura 2.15 – Tipos de reforços

Tradicionalmente, a utilização de reforços em estruturas de edifícios altos tem sido feita


em módulos com altura de um ou dois andares e extensão de um vão, os quais ainda
constituem uma disposição eficiente e amplamente utilizada, especialmente em estruturas de
aço. Desta forma, normalmente é possível ocultar os reforços dentro das paredes ou da
fachada do edifício, deixando pouca evidência da existência de uma estrutura reforçada.
Nas últimas cinco décadas, a alta eficiência dos reforços tem sido explorada em um
estágio mais avançado, por meio de sua utilização em uma escala modular maior, abrangendo
vários vãos e vários andares, tanto no interior da edificação como externamente, ao longo de
suas fachadas (figura 2.14-c). Nesta última forma, as volumosas diagonais têm algumas vezes
sido realçadas como uma característica arquitetônica das fachadas, dando origem a edifícios
esteticamente atrativos. Por outro lado, elas contribuem para gerar um comportamento mais
integrado do sistema vigas-colunas na resistência tanto ao carregamento gravitacional como
ao horizontal, dando origem a formas estruturais altamente eficientes para edifícios bastante
altos.

2.3.2 Comportamento dos reforços


Uma vez que o carregamento lateral atua com alternância de sentido, os reforços estão
sujeitos alternadamente à tração e à compressão; assim, eles são projetados para o caso
usualmente mais severo de compressão. Por essa razão, sistemas com reforços mais curtos,
como os do tipo K, podem ser preferidos em relação aos com diagonais simples ou duplas.
Como uma exceção à regra, admite-se algumas vezes que no sistema com diagonais duplas os
reforços sob compressão possam flambar; desta forma, cada diagonal é projetada para atuar
apenas sob tração na transmissão da força cortante global.
Uma vantagem significativa dos sistemas totalmente triangulados (figuras 2.15-a, b, c) é
que os momentos e cortantes nas vigas são independentes do carregamento lateral. Por esta
razão, a estrutura dos pavimentos, que neste caso é projetada para o carregamento
gravitacional somente, pode ser repetitiva do topo à base do edifício, com uma economia
evidente de projeto e de construção. Em sistemas nos quais as diagonais se conectam às vigas
a uma distância significativa de suas extremidades, como os mostrados nas figuras 2.15-b e d,
as vigas podem ser dimensionadas mais economicamente como contínuas sobre as conexões.
A função das vigas e dos reforços na resistência ao cortante global pode ser melhor
compreendida analisando-se a forma de transmissão do mesmo de pavimento a pavimento, do
topo até a base do edifício. A figura 2.16 apresenta quatro configurações típicas de vãos
reforçados submetidos ao cortante global, nos quais se desconsidera o pequeno efeito das
forças horizontais diretamente aplicadas ao nível dos pavimentos.
Na figura 2.16-a, a diagonal de cada andar está em compressão, fazendo com que a viga
esteja em tração; assim, o encurtamento das diagonais e o alongamento das vigas dão origem

28
à deformação por corte da subestrutura. Na figura 2.16-b, as forças normais dos reforços de
andares adjacentes estão em equilíbrio horizontal, fazendo com que as vigas absorvam uma
força normal insignificante. Na figura 2.16-c, cada viga tem uma metade em compressão e a
outra em tração; na figura 2.16-d, os trechos de viga junto às extremidades estão um deles em
compressão e o outro em tração, com a viga inteira submetida a uma flexão em dupla
curvatura. Invertendo a direção das cargas horizontais, inverter-se-ão os sentidos das
solicitações e das deformações em cada elemento do sistema.

Figura 2.16 – Transmissão do cortante global pelas vigas e reforços

A função, quando for o caso, dos reforços em absorver forças de compressão à medida
que a estrutura se encurta sob o carregamento gravitacional pode ser examinada de forma
semelhante. À medida que as colunas das figuras 2.17-a e b encurtam, as vigas atuam como
tirantes e as diagonais ficam sujeitas à compressão. Na figura 2.17-c, as extremidades das
vigas não ligadas às diagonais não são rigidamente restringidas pela rigidez à flexão das
colunas; assim, as vigas não oferecem a restrição horizontal necessária para induzir
solicitações nos reforços. Desta forma, diagonais com inclinações em sentidos alternados não
absorvem esforços significantes devidos às cargas gravitacionais. Similarmente, na figura
2.17-d a restrição vertical decorrente da rigidez da viga à flexão não é grande. Portanto, como
no caso anterior, as diagonais não experimentam esforços significativos devidos às cargas
gravitacionais; o mesmo ocorre com qualquer reforço que tenha uma ou ambas as
extremidades conectadas a vigas.

Figura 2.17 – Transmissão das cargas gravitavionais através dos reforços

2.3.3 Os pórticos reforçados sob carregamento horizontal


Conforme já foi mencionado, uma subestrutura reforçada submetida ao carregamento
horizontal comporta-se como uma treliça vertical em balanço. As colunas funcionam como
banzos ao transmitir o momento global, ocorrendo tração na coluna a barlavento e
compressão na coluna a sotavento. As diagonais e as vigas atuam na transmissão da força
cortante global, com as diagonais em tração ou em compressão, dependendo do sentido de
suas inclinações. As vigas atuam sob tração ou compressão e, em alguns casos, também sob
flexão.

29
As deformações axiais das colunas originam uma tendência da estrutura em deformar-se
lateralmente numa configuração de flexão global, com concavidade a sotavento e inclinação
máxima no topo (figura 2.18-a). Por sua vez, as deformações das vigas e das diagonais
tendem a causar uma deformada global por cisalhamento, com concavidade a barlavento,
inclinação máxima na base e nula no topo (figura 2.18-b). A configuração deformada da
estrutura (figura 2.18-c) é uma combinação das deformações globais por flexão e por corte,
cujas magnitudes relativas são determinadas principalmente pelo tipo dos reforços.

Figura 2.18 – Deformações devidas ao carregamento horizontal

Em subestruturas com reforços em um único vão, o carregamento horizontal causa uma


força normal máxima de tração na base da coluna a barlavento do referido vão. Quanto mais
esbelto o vão, maior será a força de tração. Dependendo da área de contribuição das lajes
sustentadas pela coluna, esta tração poderá ser parcial ou totalmente neutralizada pelo peso
próprio da estrutura. Todavia, para razões altura da subestrutura/largura do vão reforçado
próximas a 10 ou mais, podem resultar valores excessivamente altos de forças com tendência
ao levantamento das fundações. Em subestruturas com múltiplos vãos, este problema pode ser
evitado, distribuindo-se os reforços dos sucessivos andares em vãos diferentes, como na
figura 2.19. Nesta disposição, o alto valor de tração em uma única coluna a barlavento acaba
dando lugar a valores significativamente menores atuantes em um número maior de colunas.
Para atender a requisitos de ordem arquitetônica, às vezes é necessário utilizar diferentes
tipos de reforços em diferentes vãos da mesma subestrutura, ou em vãos de diferentes
subestruturas paralelas. Neste caso, convém evitar combinações de vãos com grande rigidez
ao corte com vãos muito menos rígidos, por causa da proporção demasiado alta de carga
lateral que pode vir a ser direcionada aos vãos mais rígidos.
Em algumas situações, como subestruturas com pilares verticalmente descontínuos ou
com pavimentos de transição, não é possível alocar reforços em um único plano vertical ao
longo de toda a altura da estrutura. Nestes casos, o cortante global pode ser transferido das
subestruturas situadas acima para as situadas abaixo da descontinuidade ou transição por meio
da ação de diafragma rígido da laje do pavimento ou através de um contraventamento
horizontal no plano do pavimento.

30
Figura 2.19 – Reforços em diferentes vãos de uma subestrutura

2.3.4 Pórticos preenchidos por painéis


Na presente exposição sobre pórticos com reforços, merece menção uma categoria
peculiar de subestruturas de contraventamento, constituída pelos pórticos preenchidos por
painéis. Neste sistema, a malha de vigas e colunas é preenchida por painéis de alvenaria ou de
concreto moldado no local. Quando um pórtico preenchido é submetido ao carregamento
lateral, os painéis comportam-se de fato como bielas em suas diagonais comprimidas,
reforçando o pórtico (figura 2.20). Uma vez que os painéis também desempenham a função de
paredes externas ou internas, a utilização dos mesmos é uma maneira econômica de enrijecer
a estrutura. Esses pórticos têm sido utilizados em edifícios de até 30 andares, sendo
geralmente feitos de concreto armado.
No entanto, a complexidade da interação entre os painéis e o pórtico e a qualidade
altamente aleatória da alvenaria tem tornado difícil avaliar com precisão a rigidez e a
resistência de um pórtico preenchido. Por esta razão, a atuação dos painéis como bielas
comprimidas tem sido considerada principalmente no sentido de incluir apenas sua
contribuição para a rigidez do sistema. Estimativas conservadoras da área da seção
transversal, bem como do módulo de elasticidade do material constituinte destas bielas podem
ser encontradas na literatura.

Figura 2.20 – Pórtico preenchido por painéis

31
CAPÍTULO 3

SISTEMAS DE PAREDES RESISTENTES

Este capítulo aborda os sistemas de contraventamento formados por paredes resistentes ou


paredes estruturais. O termo “parede resistente” provém de shear wall, um termo utilizado na
literatura que significa “parede resistente ao corte”, ou seja, parede que resiste a forças laterais
que tendem a cortar ou “rasgar” a estrutura.
Tratam-se de paredes verticalmente contínuas que, além de sua função arquitetônica como
divisórias, também desempenham função estrutural transmitindo carregamento gravitacional e
lateral. Apresentam-se na forma de paredes planas isoladas, construídas junto a poços de
elevadores, de escadas e de instalações (vistas na seção 3.1), ou de associações de paredes
conectadas no plano por elementos com rigidez à flexão (paredes acopladas, vistas na seção
3.2). Sob a ação de carregamento lateral, as paredes resistentes atuam como balanços
verticais, transmitindo força cortante e momento fletor e sendo responsáveis pela resistência
ao tombamento (figura 3.1). Por possuírem uma rigidez e uma resistência bastante alta em
seus próprios planos, elas constituem um ótimo sistema para contraventar edifícios altos. Uma
vez que elas são horizontalmente muito mais rígidas do que os pórticos, estes sistemas podem
ser economicamente viáveis para edifícios de até 35 andares.

Figura 3.1 – Parede resistente submetida a carregamento lateral.

Ao contrário dos sistemas aporticados, o caráter maciço das paredes tende a restringir a
continuidade dos espaços internos. Por outro lado, elas são bem adequadas para hotéis e
edifícios residenciais, nos quais o projeto repetitivo pavimento por pavimento permite que
elas sejam verticalmente contínuas e nos quais elas servem como excelentes isolantes
acústicos e de incêndio entre aposentos e apartamentos.

32
Em sistemas de paredes resistentes é especialmente importante tentar projetar o arranjo
das mesmas de forma que as tensões de tração devidas às cargas laterais sejam neutralizadas
pelas tensões de compressão devidas às cargas gravitacionais, possibilitando que as paredes
necessitem apenas de armadura mínima. Em edifícios de baixa a média altura, no caso em que
as paredes são combinadas com pórticos, é razoável supor que elas absorvam a totalidade do
carregamento lateral, conseqüentemente os pórticos podem ser projetados para resistir
exclusivamente ao carregamento gravitacional.

3.1 SISTEMAS DE PAREDES RESISTENTES ISOLADAS

Esta seção aborda sistemas constituídos por conjuntos de paredes resistentes isoladas ou
conectadas por elementos como vigas ou lajes com resistência desprezível à flexão.

3.1.1 Sistemas proporcionados e não proporcionados


As paredes de um sistema de contraventamento podem, ao longo da altura do edifício,
sofrer variações bruscas de largura e de espessura, bem como podem ser descontinuadas.
Essas variações podem causar redistribuições de momentos fletores e de forças cortantes entre
as paredes, associadas com forças horizontais de interação, as quais são transmitidas como
forças normais pelas vigas ou lajes de conexão. Para uma melhor compreensão do
comportamento dos sistemas de paredes resistentes convém classificá-los em proporcionados
e não proporcionados.
Um sistema proporcionado é aquele no qual a razão entre as rigidezes das paredes à flexão
permanece constante ao longo da altura do edifício; conseqüentemente, a razão entre as
parcelas de distribuição do carregamento horizontal entre as paredes também permanece
constante. É o caso, por exemplo, de um conjunto de paredes com largura constante e
espessura variando na mesma proporção nos mesmos níveis. Desta forma, neste tipo de
sistema, não ocorre redistribuição de cortantes nem de momentos nos níveis de mudança de
seção das paredes.
Sistemas com simetria de geometria e de carregamento não sofrem torção;
conseqüentemente, o caráter de determinação estática permite que sua análise seja feita
simplesmente por meio de considerações de equilíbrio, com o carregamento horizontal
distribuído entre as paredes na mesma proporção de suas rigidezes à flexão. Em sistemas não
simétricos (seja em geometria, seja em carregamento) ocorre torção, fazendo com que a
distribuição do carregamento horizontal dependa também da posição relativa das paredes em
planta. A seção 9.2 apresenta um método de determinação da distribuição do carregamento
horizontal que pode ser aplicado a um sistema proporcionado.

3.1.2 Análise dos sistemas não proporcionados


Nestes sistemas, como a proporção entre as rigidezes das paredes à flexão não é constante
ao longo da altura, elas teriam diferentes configurações deformadas caso fossem submetidas
isoladamente ao carregamento horizontal. Quando um sistema não proporcionado é
submetido ao carregamento horizontal, de forma a sofrer flexão e possivelmente torção, a
rigidez das lajes nos planos dos pavimentos compele as paredes dissimilares a assumirem
configurações deformadas similares, induzindo com isso forças horizontais de interação entre
elas. Essas interações desempenham um importante papel na redistribuição das forças
cortantes e dos momentos fletores entre as paredes.
Um sistema não proporcionado simétrico em planta como o da figura 3.2-a, submetido a
carregamento simétrico, deforma-se de modo que os pavimentos sofrem apenas translações de
corpo rígido na direção das ações laterais. Devido à alta rigidez em seu próprio plano, todos

33
os pontos de um pavimento terão o mesmo deslocamento horizontal. Conseqüentemente,
pode-se utilizar para a análise um modelo formado pela metade das paredes reunidas num
único plano, representadas por elementos de coluna e conectadas nos níveis dos pavimentos
por barras bi-rotuladas com grande rigidez axial (figura 3.2-b). O conjunto é então submetido
à metade do carregamento utilizando-se um programa de análise de pórticos planos.

Figura 3.2

Por sua vez, sistemas assimétricos como o da figura 3.3-a podem sofrer torção quando
submetidos ao carregamento horizontal. Isto torna necessária a introdução da rotação em
torno do eixo vertical como parâmetro adicional e, conseqüentemente, a adoção de um
modelo tridimensional de análise. Um possível modelo utiliza elementos de coluna ao longo
dos eixos baricêntricos das paredes resistentes para representá-las (figura 3.3-b), juntamente

Figura 3.3

34
com a ativação de uma opção de diafragma rígido para simular a rigidez das lajes dos
pavimentos em seus próprios planos.
Para as barras de coluna devem ser informadas as rigidezes à flexão e ao corte das paredes
correspondentes. Para as paredes que variam somente em espessura, ou simetricamente na
largura, de forma que seus eixos sejam verticalmente contínuos, as barras de coluna são
dispostas em uma única linha. Para uma parede cuja largura varia assimetricamente, o
elemento de coluna acima da alteração deve ser conectado ao elemento abaixo por meio de
uma barra horizontal com grande rigidez.
Caso o programa disponível de análise não possua opção de diafragma rígido, a restrição
exercida pela rigidez nos planos das lajes pode ser simulada pela introdução, em cada
pavimento, de um vigamento interconectando os eixos baricêntricos das paredes. As vigas
devem ser definidas com uma grande rigidez axial e à flexão no plano horizontal, tendo,
porém, rigidez desprezível à flexão no plano vertical. Caso a reta de ação da resultante das
cargas horizontais não coincida com nenhuma coluna, as mesmas podem ser aplicadas, em
cada pavimento, na forma de pares de forças estaticamente equivalentes em duas dentre as
colunas.

3.1.3 Efeitos de mudanças de seção das paredes


Num sistema não proporcionado de paredes resistentes, não sujeito à torção (sistema
simétrico em planta), como o que é representado pela estrutura plana da figura 3.4-a, as barras
de ligação compelem as paredes a terem a mesma curvatura nas regiões uniformes afastadas
dos níveis de mudança de seção. Em conseqüência, nessas regiões o momento fletor global é
distribuído entre as paredes na mesma proporção de suas rigidezes à flexão, como se o
sistema fosse proporcionado.
Na transição entre dois trechos com diferentes razões entre as rigidezes das paredes,
ocorre necessariamente uma redistribuição de momentos entre as mesmas, em resposta à
mudança na referida razão. Uma vez que a única forma de transferência de esforços entre as
paredes é por meio de forças normais nas barras de conexão, a redistribuição de momentos
ocorre necessariamente através de pares de forças normais de sentidos contrários nas barras de
ligação de pavimentos sucessivos adjacentes ao nível de mudança, como na figura 3.4-b.

Figura 3.4 – Efeitos de mudança de seção de paredes

35
A magnitude dos momentos transferidos é usualmente tal que as forças de interação
correspondentes atingem valores altos o suficiente para que, localmente, o cortante de uma
parede e o cortante reverso na outra superem facilmente a força cortante global naquele nível.
Estes efeitos locais severos na interação entre as paredes expandem-se por um ou dois andares
acima e abaixo do nível de mudança, diminuindo até se tornarem desprezíveis. Os diagramas
de forças cortantes nas paredes são, portanto, significativamente perturbados junto aos níveis
de mudança, mas os de momentos são bem menos perturbados. Esses efeitos aparecem com
nitidez no exemplo 3.1, apresentado adiante.
Um sistema não proporcionado que, além de flexão, também sofre torção sob
carregamento horizontal, comporta-se similarmente aos sistemas proporcionados nas regiões
afastadas dos níveis de mudança, com os momentos resultantes nas paredes sendo uma
combinação dos momentos provenientes da flexão e da torção do sistema. Nos níveis de
mudança, ocorrem transferências de momentos, com perturbações severas nas forças de
interação e nos cortantes das paredes. Estas transferências de momentos resultam da atuação
da rigidez à flexão das paredes na resistência, tanto à flexão como à torção do sistema, esta
última dependendo também da distribuição das paredes em planta.

Exemplo 3.1 – Contraventamento com mudanças nas seções das paredes


Apresenta-se a seguir um exemplo constante em (STAFFORD SMITH e COULL, 1991).
Trata-se da análise do contraventamento transversal de um edifício de 20 andares com pé
direito de 3,5 m, o qual é constituído por quatro paredes resistentes e um núcleo
simetricamente dispostos, conforme mostra a figura 3.5. Mudanças nas seções transversais
das paredes e do núcleo ocorrem no 6º e no 13º andar (níveis A e B), dividindo a estrutura em
três regiões; a tabela 3.1 apresenta os dados de geometria do sistema. A análise incluiu apenas

Figura 3.5 – Sistema de contraventamento de um edifício de 20 andares.

Tabela 3.1 – Seções das paredes e do núcleo de um edifício de 20 andares.

Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 (núcleo)


Região Dimensões (m) Dim. externas (m) Espess. das paredes (m)

Superior 8 x 0,2 5 x 0,2 6x6 0,2


Média 8 x 0,3 5 x 0,3 6x6 0,2
Inferior 8 x 0,45 7 x 0,5 6x6 0,4

36
a metade simétrica do sistema, composta por uma parede do tipo 1, uma do tipo 2 e metade do
núcleo. Foi considerada uma pressão uniforme do vento de 1,5 kN/m2, resultando numa carga
distribuída horizontal com taxa constante de 30 kN/m.
As figuras 3.6 a 3.8 mostram os diagramas de forças cortantes e de momentos fletores das
paredes e do núcleo; podem-se observar as drásticas variações, entre o quarto e sétimo
pavimentos, das forças cortantes nas paredes dos tipos 1 e 2. Entre o quinto e o sexto
pavimentos, o cortante na parede do tipo 1 sofre uma reversão de sinal (figura 3.6), enquanto
o do tipo 2 supera o valor da força cortante global (figura 3.7).

Figura 3.6 – Forças cortantes globais na parede tipo 1 e no núcleo.

Figura 3.7 – Forças cortantes globais na parede tipo 2.

37
Por sua vez, os diagramas de momentos fletores evidenciam uma transferência de
momentos entre as referidas paredes, no mesmo local; todavia, as variações são bem menos
acentuadas do que as das forças cortantes, conforme se pode observar na figura 3.8.

Figura 3.8 – Distribuição de momentos fletores globais em um edifício de 20 andares.

3.1.4 Efeitos de descontinuidades junto à base


Em edifícios residenciais de média altura, contraventados por paredes transversais, não é
raro algumas das paredes serem parcialmente descontinuadas junto à base, a fim de
proporcionar espaço de lobby. A discussão sobre os diferentes tipos de interação de forças que
podem ocorrer nestes casos será feita com base em duas configurações extremas de
descontinuidades, mostradas nas figuras 3.9-a e 3.10-a.
No primeiro caso, as duas paredes internas possuem, no pavimento térreo, aberturas de
forma que cada parede fica sustentada, na verdade, por um par de pilares em suas
extremidades. Este tipo de descontinuidade resulta numa drástica redução da rigidez ao corte,
enquanto a rigidez à flexão fica reduzida numa proporção muito menor, devido à localização
dos pilares junto às extremidades. Em conseqüência, haverá uma alta transferência de forças
cortantes das paredes descontínuas para as contínuas e uma transferência relativamente menor
de momentos fletores. A figura 3.9-c mostra as forças atuantes nas paredes.
No segundo caso, cada parede interna sofre cortes a partir de suas bordas, de forma a ficar
sustentada por uma parede central bem mais estreita. Esta alteração de seção resulta numa
drástica redução da rigidez à flexão, enquanto a rigidez ao corte tem uma redução
proporcionalmente bem menor. Em conseqüência, haverá, nos andares imediatamente acima
do pavimento térreo, uma grande transferência de momentos fletores das paredes reduzidas
para as contínuas; isto se manifestará na forma de intensa interação horizontal entre as
paredes, podendo incluir uma importante reversão no sentido dos cortantes. A figura 3.10-c
mostra as forças atuantes nas paredes.

3.1.5 Obtenção de tensões em paredes resistentes


Uma vez determinadas as solicitações atuantes numa parede resistente, a etapa seguinte do
procedimento de projeto é o cômputo das tensões na mesma. Se a parede tiver seção
transversal constante e razão altura/largura superior a 3, a teoria da Flexão Simples fornece

38
Figura 3.9 – Interação de forças em sistemas contendo paredes com aberturas na base

Figura 3.10 – Interação de forças em sistemas contendo paredes com redução de seção.

uma boa aproximação para as tensões normais. Todavia, caso a referida razão for inferior a 3,
ou se a geometria for irregular com alterações na largura ou com aberturas, ou com vigas e
outras paredes conectadas a ela, é necessária uma análise mais detalhada. Para isso, encontra-
se disponível o Método dos Elementos Finitos (M.E.F), de uso consagrado por sua
versatilidade e precisão. Nessa técnica, a superfície da parede é dividida em uma série de
elementos, geralmente retangulares, triangulares ou quadriláteros, conectados por um
conjunto discreto de nós. Os grandes programas de análise estrutural geralmente incluem uma
seleção de elementos apropriados para problemas de flexão de paredes em seus próprios
planos.
Caso somente um programa de análise de pórticos estiver disponível e o formato da
parede puder ser dividido em uma malha de segmentos retangulares, existe a alternativa de
analisá-la como uma estrutura análoga constituída por elementos de barra. O capítulo 4, em
sua subseção 4.2.3, apresenta um modelo desenvolvido para esta finalidade.

39
Com relação à análise por elementos finitos, a atuação das paredes resistentes
predominantemente em seus próprios planos permite que, na maioria dos casos, elas sejam
satisfatoriamente representadas por elementos de membrana (estado plano de tensões). Os
tipos mais simples de elementos retangulares e quadriláteros são geralmente adequados. Os
resultados fornecidos por eles tipicamente incluem o deslocamento horizontal e o vertical,
bem como a tensão normal vertical e a horizontal, além da tensão tangencial, em cada um de
seus nós, situados em seus vértices e no centro de cada lado.
Uma vez que os segmentos de uma parede resistente e os elementos de membrana
utilizados para modelá-la são sujeitos à flexão em seu próprio plano, elementos finitos de
modelo não compatível, criados para incluir esta deformação, invariavelmente fornecem
resultados mais precisos; além disso, permitem o emprego de elementos retangulares com
proporções comprimento-largura bem maiores com resultados suficientemente precisos.
Paredes com seção variável podem ser modeladas empregando-se elementos
quadriláteros. Caso seja necessária uma análise mais detalhada em certas regiões de uma
parede, seja devido a irregularidades como aberturas, seja por causa de altos gradientes de
tensões previstos em certos locais como junto à base, uma malha refinada necessita ser
empregada nestas regiões, também com elementos quadriláteros sendo usados para fazer a
transição (figura 3.11). Para uma melhor precisão, esses elementos devem ter suas proporções
o mais próximo possível de paralelogramos eqüiláteros.

Figura 3.11 – Refinamento de malha de elementos finitos.

Caso o grau de detalhamento requerido para as tensões exigir que a malha de uma região
seja muito mais refinada do que a de qualquer outra, pode ser desaconselhável analisar
simultaneamente o modelo completo, mesmo que a capacidade do computador o permita.
Grandes diferenças no tamanho dos elementos podem levar a erros computacionais. Tais
casos podem ser mais bem tratados por meio de uma análise preliminar, com a região em
questão representada de forma relativamente grosseira.
Uma análise separada mais minuciosa da região pode então ser feita, utilizando-se uma
malha bastante refinada, com a imposição de ações ou de deslocamentos nodais no contorno
da região, obtidos na primeira análise. Cabe destacar que todo este processo também pode ser
feito de forma simultânea, caso esteja disponível um programa de análise como o mostrado
por (ELLWANGER, 1992), o qual realiza condensação estática, com a divisão da estrutura
em regiões menores ou “superelementos”.
Deve se ter cautela ao interpretar resultados detalhados de tensões imediatamente
próximas a ângulos internos agudos onde, teoricamente, as tensões são infinitas. Quanto mais

40
refinada a malha em tais regiões, tanto maiores e mais alarmantes se tornam os valores das
tensões fornecidas pelo M.E.F.

3.2 SISTEMAS DE PAREDES RESISTENTES ACOPLADAS

Em edifícios residenciais com paredes resistentes, é comum a existência de portas e


janelas distribuídas num padrão regular de aberturas. Isto dá origem a sistemas como os
mostrados na figura 3.12, nos quais as paredes, situadas no mesmo ou quase no mesmo plano,
são interconectadas ao nível dos pavimentos por vigas ou lajes resistentes à flexão. Tais
estruturas são denominadas paredes resistentes acopladas.

Figura 3.12 – Sistemas de paredes resistentes acopladas.

3.2.1 Comportamento dos sistemas de paredes acopladas


Conforme pode ser visto na figura 3.13, a atuação do carregamento lateral causa uma
interação de cisalhamento na associação de paredes, fazendo com que ela tenha, em parte, o
comportamento de uma barra composta em balanço, fletindo em torno do eixo baricêntrico do
conjunto. Isto resulta numa rigidez horizontal bem maior do que se as paredes atuassem como
um conjunto de elementos em balanço isolados.
Quando as paredes se deformam devido às ações laterais, as extremidades das vigas de
conexão são forçadas a girar e a se deslocarem verticalmente, de modo a se flexionarem em
dupla curvatura, limitando desta forma a flexão independente das paredes. Conforme pode ser
visto na figura 3.13-a, as vigas ficam sujeitas à atuação de forças cortantes e de momentos
fletores, sendo estes últimos diretamente transmitidos a cada parede, com sentido contrário ao
do momento global aplicado (figura 3.13-b). Por sua vez, as forças cortantes são transmitidas
como forças normais de tração e de compressão, respectivamente, para as paredes a
barlavento e a sotavento. Assim, o momento global M, devido ao vento em determinado
pavimento, corresponde à soma de três parcelas:

M  M 1  M 2  N (3.1)

41
Figura 3.13 – Paredes acopladas sob carregamento lateral.

M1 e M2 são os momentos fletores das duas paredes naquele nível e Nl é o momento


causado pelas forças normais N atuando a uma distância l entre os eixos baricêntricos das
paredes. O valor de N é dado pela soma das forças cortantes atuantes nas vigas de conexão
situadas acima do pavimento em consideração. O termo Nl representa o momento causado,
em última análise, pela curvatura das vigas de ligação opondo-se à livre flexão de cada
parede. Este termo tem pouca importância na resistência ao momento global M de um sistema
de paredes ligadas por vigas baixas ou simplesmente por lajes, como nos casos das figuras
3.12-b e c. Este termo, por outro lado, constitui a principal parcela da resistência ao referido
momento global no caso das paredes serem conectadas por vigas mais altas, como as das
figuras 3.12-a e d.
Caso um par de paredes resistentes coplanares como o da figura 3.14-a estiver conectado
por elementos rotulados, os quais transmitem apenas forças axiais, qualquer momento
aplicado no sistema será resistido por momentos individuais nas duas paredes, cujas
magnitudes serão proporcionais à rigidez à flexão das mesmas. As tensões normais devidas à
flexão serão linearmente distribuídas em cada parede, com os valores máximos de tração e de
compressão ocorrendo em suas bordas opostas (figura 3.14-b).
Por outro lado, se as paredes estiverem ligadas por vigas rígidas formando um balanço
vertical coeso, o momento aplicado será resistido pelas duas paredes atuando como uma
unidade composta, flexionando-se em torno do seu eixo baricêntrico. As tensões de flexão
serão então distribuídas ao longo da unidade composta, com os valores máximos de tração e

Figura 3.14 – Distribuição de tensões normais em paredes isoladas e acopladas.

42
de compressão ocorrendo nas bordas extremas opostas (figura 3.14-c). O comportamento de
qualquer par de paredes conectadas por vigas flexíveis (figura 3.14-d) estará entre esses dois
casos extremos, que podem ser considerados como limites para o comportamento estrutural
de um sistema de paredes acopladas. Quanto mais rígidas forem as vigas de ligação, tanto
mais o comportamento estrutural aproximar-se-á de um balanço composto plenamente coeso.
A eficiência do sistema pode ser avaliada pelo grau de proximidade com o comportamento
ótimo de tal balanço.
Portanto, o efeito das vigas de ligação é reduzir as magnitudes dos momentos atuantes nas
paredes, fazendo com que uma parte do momento global seja absorvida na forma de um par
de forças normais. Devido ao fato do braço de alavanca l ser relativamente grande, a tensão
normal devida a N é relativamente pequena, não causando acréscimos importantes às tensões
devidas a M1 e M2. Assim, as tensões máximas de tração no concreto, causadas pelas ações de
vento, podem tornar-se bastante reduzidas (comparem-se, por exemplo, os diagramas de
tensões das figuras 3.14-b e d), de forma a serem mais facilmente neutralizadas pelas tensões
de compressão devidas às cargas gravitacionais.

3.2.2 A técnica do meio contínuo


A exemplo do que acontece com outras formas estruturais, é possível analisar sistemas de
paredes resistentes acopladas por meio de métodos aproximados ou mais exatos, dependendo
do layout da estrutura e do grau de precisão exigido. Entre os métodos aproximados, merece
menção a técnica do meio contínuo, tendo em vista sua virtude de permitir uma visão global
do comportamento de um sistema de paredes acopladas e, ao mesmo tempo, fornecer uma boa
compreensão qualitativa e quantitativa das influências relativas das paredes e das vigas ou
lajes de ligação na resistência às forças laterais.
Na técnica do meio contínuo, como o nome indica, a estrutura é simplificada supondo-se
que todos os elementos horizontais de conexão estejam continuamente dispersos ao longo da
altura do edifício, gerando um meio contínuo equivalente entre os elementos verticais. Assim,
a estrutura plana bidimensional é transformada em uma essencialmente unidimensional, em
cuja análise todas as principais grandezas ficam em função da coordenada segundo a altura.
Isso possibilita que o comportamento do sistema seja expresso por uma equação diferencial
linear ordinária com solução analítica conhecida.
No entanto, o método proporciona uma precisão aceitável somente para sistemas
uniformes de vigas de conexão e lajes de pavimento, restringindo sua aplicação a sistemas
estruturais e de carregamento regulares ou quase regulares. Devido a essa limitação prática, a
técnica do meio contínuo não será tratada aqui; conceitos e aplicações da mesma podem ser
encontrados na literatura. Veja-se, por exemplo, (STAFFORD SMITH e COULL, 1991).

3.2.3 Análise pela analogia de pórtico


É freqüente a existência de paredes não uniformes ao longo da altura de um edifício, com
mudanças na largura, na espessura ou na disposição das aberturas. Além disso, as condições
de sustentação da base podem ser complexas, devido a descontinuidades das paredes ao nível
do primeiro andar ou à forma de fundação empregada. Na maioria dos casos, tais sistemas
irregulares podem ser convertidos em pórticos equivalentes e analisados por programas
comuns de análise de pórticos planos; trata-se de uma abordagem que proporciona agilidade,
versatilidade e um bom grau de precisão. Cabe ao projetista usar sua habilidade e experiência
para substituir o sistema de paredes acopladas por um pórtico plano equivalente formado por
vigas e colunas.
A análise requer a simulação da interação entre as paredes resistentes e as vigas de
conexão. Ao longo da altura de um único andar, um segmento de parede pode parecer

43
bastante largo, porém quando visto no contexto da altura total, a parede parecerá com uma
barra esbelta em balanço. Ao ser submetida às forças laterais, ela terá uma predominância de
comportamento de flexão. No modelo mais simples de pórtico análogo, cada parede é
representada por uma coluna equivalente localizada em seu eixo baricêntrico, à qual deve ser
atribuída a rigidez axial EA e a rigidez à flexão EI da parede.
A condição de que as seções planas permaneçam planas pode ser imposta por meio da
inclusão de barras rígidas nos níveis das vigas de ligação, estendendo-se do eixo baricêntrico
da parede até sua borda, conforme mostrado na figura 3.15-b. As barras rígidas têm por
função assegurar que as rotações e os deslocamentos verticais corretos sejam gerados nas
bordas das paredes. As vigas de ligação podem ser representadas por elementos lineares na
maneira convencional, sendo-lhes atribuídas suas reais rigidezes axial e à flexão; caso a
relação comprimento/altura de uma viga for menor do que 3, também é necessário fornecer a
área de corte. Assim, o sistema de paredes resistentes acopladas da figura 3.15-a pode ser
modelado pelo pórtico plano análogo da figura 3.15-b.

Figura 3.15 – Modelo para análise de paredes acopladas.

Para representar as vigas de conexão conjuntamente com as barras rígidas no modelo de


análise, diversas abordagens são possíveis, dependendo dos recursos e opções disponíveis no
programa utilizado. Duas destas técnicas são abordadas a seguir.

3.2.3.1 Solução direta do modelo de análise


A aplicação direta do Método da Rigidez ao modelo da figura 3.15-b requer a definição de
uma série de nós unindo as barras rígidas às vigas de conexão, em adição aos nós das colunas
nos níveis dos pavimentos. A rigidez destas barras pode ser simulada por meio da atribuição
de valores bastante altos para as áreas e as inércias de suas seções. Valores entre 10 3 e 104
vezes os valores correspondentes aos das vigas flexíveis de conexão fornecem resultados com
precisão suficiente sem causar problemas numéricos na solução. Este procedimento tem o
inconveniente de dobrar o número de nós e, portanto, o número de graus de liberdade da
estrutura, aumentando a quantidade de computação e de memória envolvida, bem como o
trabalho de preparação de dados.
Geralmente, é assumido que as deformações axiais das barras horizontais são
insignificantes em comparação com as deformações por flexão, particularmente como

44
resultado da elevada rigidez nos planos das lajes dos pavimentos. No modelo da figura 3.15-b,
esta condição pode ser imposta pela atribuição de valores bastante altos também para a rigidez
axial das vigas de conexão.
Alternativamente, caso estiver disponível, no programa utilizado, o recurso de restrições
internodais (restrições nodais generalizadas) ou a opção de pavimento rígido, qualquer deles
pode ser empregado para impor a igualdade entre os deslocamentos horizontais dos nós de um
mesmo andar. Conseqüentemente, no modelo da figura 3.15-b, em três dos quatro nós de cada
andar, apenas dois graus de liberdade (deslocamento vertical e rotação) estarão presentes,
enquanto o quarto nó (nó de referência) possuirá todos os três graus de liberdade
característicos de pórtico plano.

3.2.3.2 Utilização de matriz de rigidez do elemento de viga com extremidades rígidas


É possível deduzir uma matriz de rigidez para o segmento composto de viga que se
estende entre os nós das colunas incorporando a influência dos trechos rígidos (figura 3.16-a).
Devido à rigidez destes trechos (tramos rígidos), existem relações simples entre os
deslocamentos e os esforços em um nó de coluna e os no nó adjacente da junção parede-viga.
A referida matriz de rigidez pode ser deduzida, transformando os efeitos nas junções parede-
viga C e D em efeitos nos nós A e B junto aos eixos baricêntricos das paredes; isto é feito por
meio da aplicação das relações existentes entre os deslocamentos dos nós A e B e os dos nós
C e D, como conseqüência da rigidez dos trechos. Formas explícitas desta matriz encontram-
se na literatura. Caso o programa de análise a inclua, ela pode ser utilizada diretamente para
representar as vigas de ligação no modelo de pórtico plano equivalente da figura 3.15-b,
resultando numa simplificação do mesmo.

Figura 3.16 – Utilização de elemento de viga com extremidades rígidas.

Cabe destacar que a análise com a matriz composta gera momentos da viga junto aos
eixos baricêntricos A e B das paredes, nas extremidades dos tramos rígidos (figura 3.16-b).
Na estrutura real, os momentos máximos nas vigas de ligação ocorrem em suas junções com
as paredes, nas seções C e D. Na ausência de cargas transversais à viga, o momento fletor
varia linearmente entre os nós A e B. Se os momentos calculados para estes pontos forem
respectivamente MA e MB, então os verdadeiros momentos finais nas vigas serão dados por:

45
M C  M A  d1  M A  M B  (3.2)

M D  M B  d 2  M A  M B  (3.3)

Em alguns casos, as vigas de conexão são relativamente altas, aumentando


consideravelmente a rigidez do nó parede-viga. Este efeito pode ser facilmente modelado no
pórtico equivalente, incorporando-se também tramos rígidos ao elemento de coluna ao longo
da altura finita da viga de ligação, conforme mostrado na figura 3.17. A matriz de rigidez
resultante para esse elemento terá a mesma forma que a de uma viga com tramos rígidos.
Todavia, a analogia é menos exata do que a da viga de conexão, devendo se tomar cuidado ao
adicionar esses segmentos rígidos, bem como interpretar os resultados subseqüentes.

Figura 3.17 – Paredes acopladas com vigas de conexão de grande altura.

3.2.4 Análise por elementos finitos de membrana


Existem sistemas de paredes resistentes acopladas, especialmente os com aberturas muito
irregulares como as mostradas na figura 3.18, ou com condições de suporte complexas, que
são difíceis de serem modelados com algum grau de confiabilidade usando um pórtico
equivalente. Nesses casos, o uso de elementos finitos de membrana (estado plano de tensões)
é a única alternativa viável.

Figura 3.18 – Parede resistente com aberturas irregulares.

Da mesma forma que para os sistemas de paredes isoladas (seção 3.1), diversas
formulações de matrizes de rigidez para elementos com diferentes formatos são apresentadas
na literatura, permitindo que a matriz de rigidez da estrutura seja montada e solucionada,
fornecendo os deslocamentos nodais e as tensões correspondentes. A técnica tem a vantagem

46
de poder empregar uma malha refinada em regiões com alto gradiente de tensões ou com
geometria particularmente complexa e, ao mesmo tempo, uma malha bem mais grosseira em
regiões com tensões baixas ou uniformes. Também é possível modelar o sistema como uma
combinação de elementos finitos de membrana em regiões complexas e um pórtico
equivalente na região remanescente mais uniforme, desde que sejam tomados cuidados para
estabelecer as devidas condições de interface.
Dificuldades especiais surgem ao utilizar-se o método para sistemas nos quais
componentes relativamente delgados, como vigas de conexão, estão ligados a componentes
relativamente maciços, como paredes resistentes. Embora seja perfeitamente aceitável
modelar as paredes por elementos finitos retangulares de membrana, com dois graus de
liberdade por nó, é inapropriado utilizá-los para as vigas de conexão. Estas últimas exigiriam
a utilização de elementos com uma alta proporção comprimento/altura, o que poderia levar a
erros computacionais; além disso, seria necessário um mínimo de três elementos para simular
a flexão em dupla curvatura das vigas, aumentando consideravelmente o tamanho da matriz
de rigidez da estrutura e o custo da solução.
É bem mais conveniente e suficientemente preciso modelar as vigas por meio de
elementos lineares convencionais, porém, nesse caso, é necessária uma consideração especial.
Um nó de elemento de membrana não possui o grau de liberdade correspondente à rotação no
plano; em conseqüência, a ligação de um elemento de viga a um nó de membrana comportar-
se-á como uma rótula.
Um recurso para eliminar essa deficiência é adicionar uma barra auxiliar fictícia com
grande rigidez à flexão, conectando-a ao elemento finito da borda da parede, na junção viga-
parede. A barra auxiliar deve ser conectada a dois nós adjacentes da parede, na própria
direção da viga ou normal a ela, conforme mostrado na figura 3.19. As extremidades da barra
auxiliar e da viga de conexão, concorrentes no nó da junção viga-parede, são ambas
compelidas a girar com o mesmo. Conseqüentemente, a rotação da parede, conforme definida
pelos deslocamentos transversais relativos das extremidades da barra auxiliar, bem como um
momento fletor, são transferidos para a viga de conexão. Um dispositivo semelhante pode ser
usado para conectar uma coluna a uma parede, caso o sistema for modelado por uma
combinação de um pórtico com elementos finitos de estado plano de tensões.

Figura 3.19 – Barra auxiliar fictícia na ligação de uma viga com elementos de membrana.

No caso de se modelar tanto as vigas como as paredes por um grande número de


elementos de membrana, como na estrutura irregular da figura 3.18, as aberturas podem ser
modeladas com razoável precisão, especificando-se valores bem baixos para a espessura dos
elementos nelas contidos, a fim de resultar uma rigidez insignificante em relação à dos
elementos adjacentes da parede sólida.

47
CAPÍTULO 4

SISTEMAS FORMADOS POR NÚCLEOS

4.1 MORFOLOGIA DOS SISTEMAS DE NÚCLEOS

Edifícios corporativos requerem flexibilidade de layout, necessitando de amplos espaços


abertos que possam ser subdivididos por divisórias removíveis. Uma solução usual é reunir os
sistemas de transporte vertical e de distribuição de energia em um ou vários núcleos, os quais
passam a constituir o sistema de contraventamento.
Um núcleo consiste numa associação não plana de paredes interligadas, com múltiplas
possibilidades para o formato de sua seção transversal. As formas básicas mais conhecidas na
linguagem arquitetônica são mostradas na figura 4.1, sendo classificadas em abertas e
fechadas. Os núcleos abertos são constituídos por uma combinação de elementos planos que
não envolva completamente um espaço geométrico. Tais combinações podem ser na forma de
I, U, Y, T, H etc. Por outro lado, os núcleos fechados envolvem um espaço geométrico; é o
caso dos núcleos quadrados, retangulares, triangulares e circulares.
Os núcleos podem ser feitos de aço, concreto ou uma combinação de ambos. Os de aço
são geralmente formados por treliças verticais. Sua vantagem está na rapidez de montagem a
partir de elementos pré-fabricados. Por outro lado, o núcleo de concreto, além de transmitir
cargas, tem a função de isolar espaço fechado, dispensando maiores providências com relação
à prevenção de incêndio.

Figura 4.1 – Formatos de núcleos.

48
Vários exemplos de sistemas com núcleos são mostrados esquematicamente em planta na
figura 4.2. Parece não haver restrições com respeito à disposição dos núcleos no volume do
edifício. Eles podem estar isolados ou combinados com paredes lineares e sua localização
pode ser interna, perimetral ou externa. Eles podem estar simétrica ou assimetricamente
distribuídos. As figuras 4.2-a a f apresentam arranjos simétricos usando um ou mais núcleos.
As figuras 4.2-g e h apresentam dois casos entre o número infinito de possíveis arranjos
assimétricos de núcleos. O número de núcleos pode ser único ou múltiplo. As subseções 4.1.1
e 4.1.2 tratam de dois tipos peculiares de sistemas de contraventamento formados por núcleo
único, a saber, o sistema de pavimentos em balanço e o de pavimentos suspensos.

Figura 4.2 – Formas de distribuição núcleos.

4.1.1 Sistema de pavimentos em balanço


Nesta forma estrutural, um núcleo único tem a função de transmitir a totalidade dos
carregamentos vertical e horizontal. Em alguns destes sistemas, as lajes são sustentadas em
cada pavimento por vigas em balanço engastadas no núcleo (figura 4.3-a). Em outros, os
pavimentos são sustentados pelo núcleo e por pilares das fachadas, cujas extremidades
inferiores se apóiam em grandes vigas em balanço, distribuídas em intervalos ao longo da
altura do edifício ou localizadas em um único nível poucos andares acima da base (figura 4.3-
b).
As virtudes do sistema são principalmente de ordem arquitetônica, ao proporcionar
pavimentos inteiramente livres de pilares (figura 4.3-a), ou um perímetro isento de colunas no
nível térreo e nos pavimentos imediatamente abaixo das vigas em balanço (figura 4.3-b).
Todavia, as desvantagens de ordem estrutural são consideráveis. A pequena largura estrutural
efetiva do núcleo torna-o ineficiente na resistência ao carregamento lateral e a sustentação dos
pavimentos é feita por vigas em balanço, um componente estrutural altamente ineficiente.
Além disso, a transmissão de todas as cargas do edifício através da área relativamente
pequena da seção do núcleo exige uma excepcional capacidade portante do solo de fundação.

4.1.2 Sistema de pavimentos suspensos


Os sistemas suspensos são formados por um núcleo central com grandes elementos
horizontais (geralmente treliças) em balanço no nível da cobertura, aos quais são conectados
tirantes constituídos por cabos ou hastes de aço. As lajes dos pavimentos ficam engastadas no
núcleo e suspensas pelos tirantes (figura 4.4-a).
Similarmente aos pavimentos em balanço, as vantagens deste sistema são principalmente
de ordem arquitetônica, entre as quais o fato de o andar térreo, com exceção do núcleo central,

49
poder ser inteiramente livre de elementos verticais importantes, permitindo aos ocupantes um
acesso isento de obstáculos. Além disso, os tirantes, por estarem tracionados e podendo ser de
aço de alta resistência, possuem seções com dimensões mínimas, sendo assim menos
obstrutivos; todavia, esta vantagem tende a sofrer uma certa redução por causa do aumento de
volume necessário para tornar os tirantes à prova de fogo e de ferrugem. Uma vantagem
construtiva é a possibilidade de que o núcleo, os balanços e os tirantes sejam construídos ao
mesmo tempo em que as lajes vão sendo concretadas umas sobre as outras no nível da base,
sendo posteriormente erguidas em grupos e fixadas em suas posições.

Figura 4.3 – Sistema de pavimentos em balanço.

Figura 4.4 – Estruturas suspensas.

Uma desvantagem dos sistemas suspensos é a ineficiência decorrente da necessidade de


transmitir as ações gravitacionais para os elementos em balanço situados no nível da
cobertura e somente então retorná-las através do núcleo; além disso, a largura estrutural fica

50
limitada pela largura relativamente reduzida do núcleo, o que inviabiliza o uso do sistema em
edifícios de grande altura. Um problema adicional é causado pelo comprimento e esbeltez dos
tirantes, o que pode resultar em deslocamentos verticais significativos dos pavimentos junto
às bordas das lajes, devido à variação de intensidade da sobrecarga. Este efeito aumenta de
cima para baixo ao longo de cada tirante, atingindo sua máxima intensidade no pavimento
suspenso por sua extremidade inferior. O problema pode ser reduzido, limitando-se o número
de andares suspensos por um único tirante a um máximo em torno de 10 e tendo-se sistemas
com balanços em múltiplos níveis (figura 4.4-b). Para minimizar sua interferência na função
do edifício, os balanços são normalmente acomodados em espaços delimitados pelos níveis
dos pavimentos.
O sistema também pode ser constituído por dois ou quatro núcleos, entre os quais se
estendem grandes vigas às quais os tirantes são suspensos. Neste caso, as vantagens
consistem na existência de amplos espaços abertos em todos os andares e na possibilidade de
um pavimento térreo isento de colunas.
Um interessante exemplo de sistema suspenso, mostrado na figura 4.5-a, é o conjunto
Puerta de Europa, localizado em Madrid, constituído por duas torres gêmeas destinadas a
escritórios. A característica mais notável destas torres é seu ângulo de inclinação de 15o. A
altura de cada torre é de 115 m e a planta é quadrada com 36 m de lado. O sistema de
contraventamento consiste essencialmente em uma estrutura de aço construída ao redor de um
núcleo de concreto armado com seção transversal em forma de H, com as abas voltadas para
as fachadas inclinadas, a fim de proporcionar maior rigidez nesta direção. A figura 4.5-b
mostra uma vista lateral do sistema, onde o núcleo está hachurado. Observa-se que à direita
do núcleo os pavimentos são sustentados por pilares e à sua esquerda por tirantes de aço
suspensos a uma “mega-treliça” situada no topo da edificação. Além disso, um sistema de
cabos liga a fachada inclinada à esquerda do núcleo a um contrapeso subterrâneo, situado à
direita da base do edifício, com a finalidade de conter a deformação lateral devida ao
carregamento gravitacional.

Figura 4.5 – Conjunto Puerta de Europa.

51
4.2 ANÁLISE DOS NÚCLEOS

4.2.1 A torção com empenamento restringido


Um núcleo compreende um conjunto de paredes resistentes interconectadas, formando
uma seção caixão. Os momentos de inércia de um núcleo de concreto armado são
invariavelmente grandes, possibilitando geralmente que ele absorva a totalidade do
carregamento horizontal. As tensões e os deslocamentos por flexão, causados pelas ações
horizontais em um núcleo com paredes monoliticamente unidas, são calculados da mesma
forma que para uma barra vertical em balanço, com base nos momentos de inércia da seção
em relação a seus eixos principais.
O formato e a localização dos núcleos em planta possuem importante influência no
comportamento do sistema. Um núcleo localizado excentricamente em relação ao edifício,
além dos esforços de flexão, também estará sujeito à torção. Os núcleos fechados são os que
possuem maior resistência à torção. Ao se avaliar esta resistência, todavia, deve-se considerar
a diminuição da rigidez torcional devida às aberturas para portas, janelas, sistemas mecânicos
e elétricos etc. Por sua vez, as seções dos núcleos abertos podem estar ou não parcialmente
fechadas por vigas e lajes de pavimento (figura 4.6).

Figura 4.6 – Núcleos com seções abertas e parcialmente fechadas.

Em edifícios sujeitos à torção, a rigidez torcional do núcleo pode constituir uma parte
significativa da resistência torcional global da estrutura. As proporções entre altura,
comprimento e espessura das paredes de um núcleo típico de edifício classificam-no, em
termos de comportamento torcional, como um perfil de paredes finas. Em conseqüência,
quando o núcleo se torce, suas seções originalmente planas sofrem empenamento (figura 4.7).
Uma vez que a seção junto à base tem o empenamento restringido pelas fundações, a torção
causa tensões e deformações verticais de empenamento ao longo da altura das paredes. Em
estruturas altamente dependentes da rigidez torcional de um núcleo para a resistência à torção
global, as tensões verticais devidas ao empenamento junto à base do mesmo podem ser da
mesma ordem de grandeza das tensões devidas à flexão, não podendo, portanto, ser
desprezadas.
O fechamento parcial das aberturas de um núcleo por meio de vigas ou lajes restringe o
empenamento de sua seção transversal e com isso aumenta sua rigidez torcional, diminuindo
as rotações e as tensões de empenamento. Todavia, ao exercer esta restrição, as vigas e as
lajes de conexão ficam sujeitas a cisalhamento e flexão que podem ser de magnitude
suficiente para exigirem consideração em seu projeto.

52
Figura 4.7 – Núcleo de seção aberta em torção.

A torção com empenamento restringido é um fenômeno de descrição complexa, cuja


análise requer o estabelecimento de uma equação diferencial e envolve conceitos como centro
de corte, constante de empenamento, constante de rigidez torcional, bi-momento, área setorial
etc. Devido à sua complexidade, muitos projetistas não são inteiramente familiarizados com o
tema.
Na verdade, a teoria clássica da torção com empenamento restringido é útil para a análise
de sistemas de núcleo único com propriedades uniformes, além de favorecer a compreensão
do fenômeno do empenamento e da resposta de um núcleo a variações nos parâmetros
estruturais. Todavia, na maioria das estruturas de edifícios, os núcleos atuam em combinação
com outros tipos de arranjos, como pórticos e paredes resistentes, e suas propriedades variam
com a altura. A aplicação direta da teoria clássica é inviável para analisar estes arranjos
complexos, sendo necessário valer-se de uma análise por computador, baseada no emprego de
matrizes de rigidez, para poder considerar a estrutura completa, incluindo o núcleo e suas
variações discretas. Por esta razão, a teoria clássica da torção não é abordada neste trabalho,
mas sim são apresentados a seguir dois modelos para a análise de núcleos por computador, a
saber, o de elementos finitos e o do pórtico análogo. A vantagem destes modelos é que sua
utilização não requer nenhum conhecimento da teoria da torção com empenamento, nem o
cálculo dos parâmetros relativos a ela.

4.2.2 Análise por elementos finitos de membrana


A rigor, arranjos tridimensionais de paredes resistentes como os da figura 4.6 são
classificados como cascas poliédricas e deveriam ser analisados utilizando-se elementos
finitos que consideram o efeito combinado do comportamento de membrana e o de flexão de
placa de cada uma das faces (paredes) do sistema. No entanto, devido às conexões entre as
paredes e destas com as lajes dos pavimentos, os efeitos da flexão em planos perpendiculares
às paredes tendem a ser insignificantes, tornando desnecessária sua consideração.
Assim, as principais solicitações atuantes nas paredes individuais de um núcleo, seja de
seção aberta ou fechada, são cisalhamento e flexão em seus próprios planos; a principal
interação entre as paredes é o cortante vertical ao longo de suas superfícies de contato. Desta
forma, elementos finitos de membrana (estado plano de tensões) são plenamente adequados

53
para modelar arranjos tridimensionais de paredes resistentes. Na maioria das situações,
elementos retangulares e quadriláteros com a altura de um andar e a largura de cada parede
proporcionam uma representação adequada do comportamento do núcleo e de sua interação
com o restante da estrutura. Assim, por exemplo, os núcleos mostrados nas figuras 4.8-a
(seção aberta com ramificações) e 4.8-b (paredes conectadas por vigas) podem ser modelados,
em cada andar, pelos componentes mostrados respectivamente nas figuras 4.8-c e d.

Figura 4.8 – Modelos para a análise de núcleos.

Os elementos mais simples de membrana fornecem distribuições lineares de tensões


normais nas seções das paredes. Em certos locais, perdas de transmissão de força cortante
(shear lag) podem fazer com que tensões normais significativamente maiores se
desenvolvam, especialmente nas bordas verticais livres das paredes em núcleos de seção
aberta. Por esta razão, pode ser aconselhável, em níveis críticos como o junto à base ou em
regiões de mudança de espessura das paredes, refinar a malha utilizando elementos
quadriláteros, conforme descrito na subseção 3.1.5.
Ao analisar núcleos pelo método dos elementos finitos, constata-se que elementos de
estado plano de tensões de modo incompatível, os quais admitem deformações por flexão em
seus planos, fornecem resultados efetivamente mais precisos do que elementos de modo
compatível. Elementos de modo incompatível também podem ser utilizados em proporções
altura-largura muito maiores, de até 6:1 ou mais, mantendo uma precisão aceitável.
Consideração da rigidez dos planos dos pavimentos e da rigidez à torção das paredes
Elementos de estado plano de tensões por si só não são suficientes para modelar sistemas
tridimensionais de paredes; isto porque lhes falta a rigidez transversal necessária, não só nas
conexões entre paredes ortogonais de forma a permitir a formação de uma matriz de rigidez
sem singularidades para a análise do problema, como também para manter o formato da seção

54
do núcleo conforme ele é, na realidade, mantido pela rigidez dos planos dos pavimentos. A
solução para essa limitação é acrescentar ao longo do perfil do núcleo, em cada nível da
malha, um conjunto de barras auxiliares, especificadas com grande rigidez à flexão no plano
horizontal e rigidamente ligadas entre si (figura 4.8-c). Caso alguma das paredes seja
conectada a alguma outra coplanar a ela, ou a outras partes da estrutura, por vigas, as barras
auxiliares adjacentes às bordas da parede devem ser definidas como verticalmente rígidas
também (figura 4.8-d), a fim de possibilitar a transferência de momentos fletores, conforme
descrito na subseção 3.2.4.
Um fator que seria considerado automaticamente, caso fossem utilizados elementos finitos
de casca, é a rigidez à torção das paredes individuais, o que não acontece com os elementos de
estado plano de tensões. Embora usualmente esta rigidez seja relativamente insignificante, em
arranjos de paredes de seção aberta ela pode ser importante e deve ser considerada. Isto pode
ser feito por meio da inclusão de uma coluna fictícia localizada em qualquer uma das linhas
verticais de nós do modelo (figura 4.8-c) e atribuindo-lhe uma constante de torção JT com
valor igual à soma das constantes de torção das paredes individuais, ou seja:

J T   bt 3 3 (4.1)

onde b e t representam, respectivamente, a espessura e a largura de cada parede. Para a área e


a inércia da seção da coluna são atribuídos valores nulos.
Substituição das vigas de conexão por elementos equivalentes de membrana
Uma maneira alternativa de modelar vigas que cruzam as aberturas de um núcleo
discretizado por elementos de membrana é utilizar elementos equivalentes de estado plano de
tensões, com a altura de um andar e uma rigidez ao cortante vertical igual à rigidez das vigas à
flexão no plano vertical (figura 4.9-a). A espessura t1 do elemento de membrana equivalente a
uma viga pode ser determinada considerando a deformação vertical por corte m do elemento
(figura 4.9-c):
 m  VL Ght1 (4.2)

As variáveis envolvidas em (4.2) estão definidas na figura 4.9-c. O deslocamento m deve ser
igual ao deslocamento por corte e flexão em dupla curvatura v da viga substituída (figura 4.9-
b):
 v  VL3 12EI v  VL GAS (4.3)

onde E é o módulo de elasticidade longitudinal do material. Igualando (4.2) a (4.3),


assumindo que a área de corte da viga seja AS  Av / 1,2 e isolando a espessura do elemento
equivalente de membrana, resulta:
1
t1 
hGL 12 EI v  1,2 Av 
2
(4.4)

onde Av e Iv são, respectivamente, a área e a inércia da seção da viga.


O segundo termo da equação (4.3) e o segundo termo do denominador da equação (4.4)
levam em conta a deformação por corte da viga. Caso a razão comprimento/altura da mesma
for 5 ou mais, sua deformação por corte será relativamente insignificante, se comparada à
deformação por flexão; neste caso, a espessura do elemento equivalente de membrana será:

t1  12 EI v GL2 h (4.5)

55
Neste modelo, as barras auxiliares ainda são necessárias para compor um conjunto
horizontalmente rígido ao longo de cada nível do arranjo de paredes, porém as barras
adjacentes às aberturas não necessitam ser verticalmente rígidas.

Figura 4.9 – Representação de vigas de conexão por meio de elementos de membrana.

4.2.3 Modelo do pórtico análogo


Caso o programa de análise não disponha de uma opção de elementos finitos de
membrana e o formato de cada uma das paredes do núcleo possa ser decomposto numa malha
de segmentos retangulares, pode-se usar um modelo de pórtico análogo, como o desenvolvido
por (STAFFORD SMITH e COULL, 1991). Denominado de pórtico análogo reforçado
assimétrico, o modelo consiste em módulos como o mostrado na figura 4.10-a. Cada módulo
é constituído por uma coluna situada em seu lado esquerdo, conectada a vigas rígidas em suas
extremidades superior e inferior, além de uma barra de ligação bi-rotulada no lado direito e de
dois reforços diagonais. As seções transversais da coluna e da barra de ligação possuem a
mesma área. As extremidades esquerdas das vigas giram solidariamente com as extremidades
da coluna, o que não ocorre com as extremidades direitas e a barra de ligação. Embora seja
fisicamente assimétrico em relação à sua linha vertical central, o módulo comporta-se como
se fosse simétrico.
Cada parede é dividida, em princípio, em uma malha de módulos com a altura de um
andar e a largura da parede (figura 4.10-b). Para uma solução mais detalhada e precisa, pode-
se usar uma malha refinada de módulos com altura e largura correspondentes a frações do pé
direito e da largura da parede, respectivamente. As duas vigas rígidas situadas entre cada par
de módulos verticalmente adjacentes são aglutinadas numa só. Vigas situadas em aberturas ou
de conexão do núcleo com outras partes do edifício são rigidamente ligadas às extremidades
das vigas dos módulos.
O pórtico análogo resultante pode ser analisado por um programa comum de pórticos
espaciais. Aos componentes de cada módulo devem ser atribuídas propriedades em função
das dimensões do segmento de parede correspondente. A condição a ser satisfeita é a de que o
módulo simule as rigidezes do segmento de parede à flexão, ao corte e axial vertical.
Aplicando-se esta condição e representando por t, b e h, respectivamente, a espessura, a

56
Figura 4.10 – Modelo de pórtico análogo para análise de núcleos.

largura e a altura do segmento de parede, pode-se demonstrar que as propriedades


geométricas dos elementos de um módulo são dadas por:

Coluna: momento de inércia: I C  (6 B  0,5)tb 3 / 12 (4.6)

área da seção: AC  (0,25  B )tb (4.7)

Barra de ligação: área da seção: AC  (0,25  B )tb (4.8)

Reforços diagonais: área da seção: AD  (0,25  B)tb sen3 (4.9)

onde B  h 2 16b 2 (1  ) (4.10)

sendo  o coeficiente de Poisson e  o ângulo entre cada diagonal e a horizontal.


As vigas são consideradas como infinitamente rígidas. A partir da equação (4.6) pode-se
mostrar que IC é negativo para razões altura-largura do segmento menores do que
2(1  ) / 3 ; a partir da equação (4.7) pode-se mostrar que AC é negativo para razões altura-
1/ 2

largura maiores do que 2(1  )1/ 2 . Embora elementos com propriedades negativas sejam um
conceito fictício, os programas de análise de pórticos usualmente os aceitam e processam,
desde que os coeficientes de rigidez global resultem positivos.
Em um núcleo de seção aberta, para o qual seja desejável incluir a constante JT da equação
4.1, o valor da constante de torção de cada segmento de parede pode ser atribuído para a
coluna do respectivo módulo do pórtico.

4.2.4 Conversão dos esforços do pórtico análogo em tensões nas paredes


A partir dos resultados da análise do pórtico análogo, podem-se obter, para cada um de
seus módulos, as resultantes de momento fletor, força normal e força cortante; a partir destas
resultantes, determinam-se as tensões na seção horizontal do segmento de parede
correspondente. As resultantes em um módulo são assim obtidas:
- momento fletor: média dos momentos no topo e no pé da coluna, somada algebricamente
com os momentos obtidos pela multiplicação das forças normais da coluna e da barra de
ligação pela semi-largura do módulo;

57
- força normal: soma algébrica das forças normais da coluna e da barra de ligação com as
componentes verticais das forças normais das diagonais;
- força cortante: soma algébrica da força cortante da coluna com as componentes horizontais
das forças normais das diagonais.
O momento fletor e a força normal assim obtidos são aplicados na seção do segmento para
determinar as tensões normais na parede, enquanto a força cortante é aplicada para obter as
tensões tangenciais. As tensões na parede são referidas à meia altura do segmento. As tensões
normais variam linearmente ao longo da largura do segmento e são constantes ao longo de sua
altura. A tensão tangencial é constante por todo o segmento. Tensões normais em seções
verticais do segmento não são calculadas, porque a rigidez axial das vigas faz com que os
valores das forças horizontais internas sejam insignificantes.
Segundo (STAFFORD SMITH e COULL, 1991), a analogia do pórtico reforçado
assimétrico tem fornecido resultados, em termos de deslocamentos e tensões, com precisão
comparável aos da análise por elementos de estado plano de tensões com utilização de uma
malha com grau de refinamento similar. Em termos computacionais, o método tem
praticamente a mesma eficiência da análise por elementos de membrana, porém, na ausência
de sub-rotinas específicas, ele toma tempo adicional em inicialmente calcular as propriedades
geométricas dos elementos e posteriormente transformar as solicitações do pórtico em
resultados de tensões.

58
CAPÍTULO 5

ASSOCIAÇÃO DE PÓRTICOS COM PAREDES/NÚCLEOS

5.1 CAMPO DE APLICAÇÃO E VANTAGENS DO SISTEMA

O modo de resposta dos pórticos às cargas laterais resulta em grandes deformações


horizontais para edifícios com mais de 30 andares. Por outro lado, a utilização somente de
paredes resistentes torna-se impraticável em edifícios com mais de 150 m de altura; uma vez
que as paredes têm suas dimensões em planta limitadas por restrições de ordem arquitetônica,
sua robustez também fica limitada. Mesmo que o material tivesse resistência suficiente para
transmitir as cargas, a estrutura se tornaria tão flexível que poderiam ocorrer deformações
excessivas, comprometendo a utilização do edifício.
Uma alternativa é o emprego de paredes resistentes ou núcleos combinados com pórticos.
Neste caso, as paredes ou núcleos, os quais tendem a se deformar em uma configuração de
flexão sob as ações laterais, e os pórticos, os quais tendem a se deformar em uma
configuração de cisalhamento, são compelidos a assumir a mesma configuração deformada
por causa da atuação dos pavimentos como diafragmas rígidos. Em conseqüência, as paredes
ou núcleos e os pórticos interagem horizontalmente, especialmente no topo, originando uma
estrutura mais rígida e resistente.
Desta forma, a resistência ao carregamento horizontal é proporcionada por uma
combinação de paredes resistentes e pórticos planos de concreto ou por pórticos reforçados e
pórticos planos de aço. Embora o sistema seja usualmente considerado como uma forma
estrutural em concreto, sua construção em aço oferece vantagens similares de interação
horizontal, uma vez que os pórticos reforçados se comportam com uma tendência global à
flexão. Geralmente, as paredes resistentes ou os pórticos reforçados formam núcleos de
elevadores e de instalações, enquanto os pórticos planos são distribuídos em planta, servindo,
juntamente com as paredes, também como sustentação dos sistemas de pavimentos (figura
5.1). A combinação interativa paredes-pórticos é adequada para edifícios na faixa de 40 a 60

Figura 5.1 – Contraventamento por associação de pórticos com núcleo e paredes resistentes

59
andares, bem além daquela relativa aos pórticos planos ou paredes resistentes atuando
isoladamente.
A principal vantagem de se levar em conta a interação horizontal no projeto de um
sistema paredes-pórticos é a significativa redução de deslocamentos horizontais e de
momentos fletores nas paredes ou núcleos, em relação ao caso de se considerar unicamente as
paredes ou núcleos como resistentes ao carregamento horizontal. Essa vantagem potencial
depende do grau de interação horizontal, o qual é função da rigidez relativa das paredes e dos
pórticos, bem como da altura do sistema. Quanto mais alto o edifício e, em sistemas com
proporções usuais, quanto mais rígidos os pórticos, maior a interação.
No projeto de estruturas de edifícios altos, já foi prática comum supor que as paredes ou
núcleos resistissem a todo o carregamento lateral e projetar os pórticos somente para o
carregamento gravitacional. Embora esta suposição tenha incorrido em erros insignificantes
para edifícios com menos de 20 andares e com pórticos flexíveis, é possível que, em casos de
estruturas de edifícios mais altos com pórticos mais rígidos, se tenha deixado de projetar
estruturas mais racionais e econômicas.
Uma característica adicional, porém menos conhecida, dos sistemas pórticos-paredes é a
possibilidade de que, numa estrutura cuidadosamente “ajustada”, a força cortante global nos
pórticos seja tornada aproximadamente uniforme ao longo da altura do edifício, permitindo
que a estruturação dos pavimentos seja repetitiva, com uma economia evidente de projeto e
construção.
Alguns casos típicos de edifícios altos utilizando núcleos, paredes e pórticos aparecem em
planta na figura 5.2. A disposição dos pórticos pode ser transversal ou perimetral e a
localização dos núcleos pode ser interna ou junto às fachadas.

Figura 5.2 – Associações de pórticos com paredes/núcleos – vistas em planta.

Na figura 5.2 podem ser vistos exemplos de arranjos com dupla simetria (casos a, c, e) e
com simetria simples (casos b e d). Nos exemplos dos casos a, b e c, a resistência horizontal é
proporcionada por núcleos e pórticos em subestruturas paralelas, as quais são compelidas a se
deformar identicamente devido à rigidez nos planos das lajes e, portanto, interagem

60
horizontalmente na forma de forças cortantes contidas nestes planos. As figuras 5.2-d e e
mostram, na direção transversal, subestruturas paralelas formadas por paredes e pórticos
contidos no mesmo plano. Neste caso, a parede e os pórticos de cada subestrutura plana
interagem horizontalmente por meio de forças normais nas vigas de conexão.

5.2 COMPORTAMENTO DOS SISTEMAS PAREDES-PÓRTICOS SIMÉTRICOS

5.2.1 Modelo plano equivalente


Um sistema paredes-pórticos consiste tipicamente nos núcleos, paredes e pórticos gerados
pelo projeto arquitetônico; ele pode ser analisado por meio de programas de análise estrutural
amplamente disponíveis. Esta seção trata especificamente de sistemas paredes-pórticos que,
por serem simétricos em planta e submetidos a carregamento simétrico, não estão sujeitos à
torção. Desta forma, a atuação de um carregamento numa dada direção horizontal causará
apenas translações de corpo rígido no sistema; em conseqüência, num dado pavimento o
deslocamento de todos os pontos na direção do carregamento será o mesmo.
Por conseguinte, o sistema pode ser modelado dispondo-se a metade das subestruturas de
contraventamento em um mesmo plano e submetendo-o à metade do carregamento. Paredes
resistentes e núcleos são representados por simples colunas em balanço com os momentos de
inércia correspondentes, enquanto os pórticos são representados por conjuntos de elementos
de barra. Por exemplo, o sistema paredes-pórticos mostrado em planta na figura 5.3-a pode
ser modelado para uma análise bidimensional conforme mostrado na figura 5.3-b.
As dimensões iniciais das seções são geralmente determinadas em função do
carregamento gravitacional, com algum aumento arbitrário para levar em conta os efeitos do
carregamento horizontal. Para simular o efeito da rigidez nos planos das lajes, as colunas em
balanço e os pórticos são restringidos ao nível de cada andar por meio da opção de restrições
internodais, caso disponível no programa de análise; caso contrário, são conectados por bielas
com grande rigidez axial, de forma a resultar o mesmo deslocamento horizontal por
pavimento em todas as subestruturas de contraventamento. Num programa de análise de
pórticos que não disponha de barras com rótulas, as bielas podem ser simuladas por barras
com momento de inércia nulo. As cargas horizontais podem ser aplicadas nos nós de qualquer
coluna ou pórtico conveniente.
Por outro lado, estruturas assimétricas como a da figura 5.2-f inevitavelmente sofrem
torção. Embora as vantagens da interação horizontal entre paredes e pórticos se apliquem
também aos sistemas sujeitos à torção, sua abordagem em uma forma genérica é bem mais
complexa; uma vez que o grau de interação é altamente dependente da localização relativa em

Figura 5.3 – Modelo para análise de um sistema núcleo-pórticos.

61
planta das subestruturas de contraventamento, a análise desses sistemas deve necessariamente
ser realizada com um modelo espacial.

5.2.2 Interação entre paredes/núcleos e pórticos


Considerando separadamente as rigidezes horizontais (tais como definidas na subseção
9.2.2), nos topos de um núcleo usual de elevador de 10 andares e de um pórtico plano usual
com a mesma altura, o núcleo pode ser 10 ou mais vezes mais rígido do que o pórtico. Se o
mesmo núcleo e pórtico tivessem sua altura aumentada para 20 andares, o núcleo seria apenas
cerca de três vezes mais rígido do que o pórtico. Com 50 andares, o núcleo teria apenas
metade da rigidez do pórtico. Esta mudança de proporção entre rigidezes ocorre porque a
flexibilidade no topo do núcleo, o qual se comporta como um balanço em flexão, é
proporcional ao cubo da altura, enquanto a flexibilidade do pórtico, o qual se comporta como
um balanço sob cisalhamento, é diretamente proporcional à sua altura. Conseqüentemente, a
altura é um fator essencial na determinação da influência dos pórticos na rigidez lateral de um
sistema paredes-pórticos.
A interação paredes-pórticos pode ser melhor compreendida observando-se as
configurações deformadas de uma parede resistente e de um pórtico plano submetidos
isoladamente ao carregamento horizontal, conforme é mostrado nas figuras 5.4-a e b. A
parede deforma-se em uma configuração de flexão, com concavidade a sotavento e uma
inclinação máxima no topo, enquanto o pórtico se deforma em uma configuração de
cisalhamento, com concavidade a barlavento e uma inclinação máxima na base. Quando a
parede e o pórtico são conectados por elementos horizontais (vigas e lajes) e submetidos ao
carregamento horizontal, a configuração deformada da estrutura composta tem o aspecto de
flexão na parte inferior e de cisalhamento na parte superior (figura 5.4-c). Forças normais
atuantes nos elementos horizontais fazem com que a parede contenha o pórtico próximo à
base e o pórtico retenha a parede próximo ao topo.

Figura 5.4 – Interação entre pórticos e paredes/núcleos.

Os efeitos da interação são ilustrados pelas curvas de deformações, de momentos fletores


e de forças cortantes de um sistema paredes-pórticos típico, mostradas na figura 5.5. Com
relação à parede, a curva de suas deformações horizontais (figura 5.5-a) apresenta um ponto
de inflexão, o qual corresponde a uma reversão de sinal dos momentos fletores (figura 5. 5-b);
conseqüentemente, acima deste ponto, o momento na parede tem sentido oposto ao de um
balanço isolado. A figura 5.5-c mostra a força cortante como aproximadamente constante ao
longo da altura do pórtico, exceto próximo à base, onde se reduz a um valor insignificante. No

62
topo, onde o cortante global é zero, o pórtico é submetido a uma força cortante positiva
(mesma direção do carregamento externo) de valor significativo, a qual é equilibrada por uma
força cortante negativa de mesmo valor no topo da parede. Isto dá origem à atuação de uma
força de interação entre o pórtico e a parede, através da laje ou viga de conexão no topo. Por
sua magnitude, a atuação desta força exige uma consideração especial no projeto.

Figura 5.5 – Deformações e solicitações globais em um sistema paredes-pórticos.

5.3 OTIMIZAÇÃO DO SISTEMA

Força cortante uniforme nos pórticos


Em sistemas paredes-pórticos muito altos, pode ser desejável estabelecer proporções entre
as dimensões de seus componentes de forma a originar uma distribuição aproximadamente
uniforme da força cortante ao longo da altura dos pórticos, permitindo assim o projeto e a
construção repetitivos das estruturas dos pavimentos. Para atingir tal grau de otimização num
dado sistema, apresenta-se a seguir um método proposto por (STAFFORD SMITH e COULL,
1991).
Inicialmente, o conjunto de paredes e núcleos deve ser dimensionado de modo que, ao
absorver o carregamento gravitacional atribuível a eles, juntamente com dois terços do
carregamento horizontal total, as tensões de tração devidas ao carregamento horizontal sejam
neutralizadas pelas tensões de compressão devidas ao carregamento gravitacional. Em
seguida, o conjunto de paredes e núcleos deve ser verificado quanto às deformações laterais.
Caso, ao ser submetido ao carregamento horizontal total, o deslocamento horizontal no topo
ou o deslocamento horizontal entre andares adjacentes exceder o dobro do valor permitido, o
sistema dever ser enrijecido de forma a reduzir os deslocamentos a esse valor. Ajustes de
dimensões na região inferior das paredes e núcleos são os mais eficazes.
As paredes e núcleos resultantes devem então ser combinados com o restante do sistema,
submetendo-o ao carregamento horizontal total, a fim de avaliar os deslocamentos horizontais
e os esforços nas paredes/núcleos e nos pórticos. Qualquer enrijecimento adicional necessário
deve ser feito aumentando novamente as dimensões das paredes e dos núcleos na região
inferior. Um sistema uniforme, no qual o conjunto de paredes e núcleos atuando por si só
deforma-se aproximadamente o dobro do que o sistema global, tende a gerar uma força
cortante aproximadamente constante para os pórticos.

63
Interrupção ou redução de seção dos núcleos e paredes resistentes
Na prática do projeto de sistemas paredes-pórticos, é comum reduzir as dimensões das
seções ou mesmo suprimir núcleos e paredes resistentes na região superior do edifício, na
qual menos poços de elevadores são necessários. A questão de como esta redução ou
supressão afetará a rigidez da estrutura pode ser respondida considerando-se inicialmente o
comportamento do sistema com as paredes ou núcleos tendo a altura total do edifício.
Conforme é ilustrado na figura 5.5, a análise de um sistema parede-pórtico com altura plena
mostra que, na região inferior da estrutura, tanto a parede como o pórtico contribuem para
resistir ao momento e ao cortante externo. Na região superior, acima do ponto de inflexão da
deformada, o momento na parede sofre uma inversão de sinal, passando a ter o mesmo
sentido do momento externo; conseqüentemente, o momento no pórtico torna-se maior do que
o momento global. Além disso, numa região ainda mais alta, existe um nível no qual a força
cortante na parede também sofre uma inversão de sinal e, assim, a força cortante no pórtico
torna-se maior do que o cortante global.
Conseqüentemente, se a parede tiver sua seção reduzida ou for eliminada acima do ponto
de contraflexão, o momento na parte superior do pórtico será reduzido; se a parede tiver sua
seção reduzida ou for eliminada acima do nível de inversão do cortante, tanto o momento
quanto o cortante no pórtico serão reduzidos. Em ambos os casos, a redução da seção ou
eliminação da parede terá pouca influência no deslocamento horizontal do topo, podendo
inclusive levar a uma pequena redução do mesmo.
Portanto, um procedimento prático no projeto de uma estrutura com paredes encurtadas
seria realizar uma análise inicial, com as paredes e núcleos sem a pretendida redução de seção
ou encurtamento. Em seguida, os resultados seriam usados para traçar o diagrama de
deslocamentos horizontais e estimar a localização do ponto de inflexão. Assim, seria viável
reduzir a seção ou encurtar as paredes e núcleos em qualquer nível acima do ponto de inflexão
sem causar redução na rigidez lateral do sistema.
Aumento da interação no topo da parede
Um estudo da interação paredes-pórticos leva à noção de que um enrijecimento adicional
do sistema pode ser obtido aumentando-se a magnitude da força concentrada de interação no
topo. Por sua vez, esta força é proporcional à rigidez ao corte do conjunto de pórticos junto ao
topo. Assim, a força de interação pode ser aumentada simplesmente aumentando-se a rigidez
ao corte dos pórticos no pavimento adjacente ao topo das paredes, seja em sistemas paredes-
pórticos de altura plena ou de paredes interrompidas. Na prática, o aumento desta rigidez pode
ser obtido aumentando-se as inércias das vigas e colunas dos pórticos no pavimento adjacente
ao topo da parede. Estudos têm mostrado que, em sistemas com predominância de paredes
resistentes, reduções do deslocamento horizontal no topo de até 30% podem ser obtidas. Em
tais casos, uma atenção especial deve ser dada ao projeto dos pórticos e dos elementos que os
conectam às paredes, tendo em vista as forças localmente altas associadas à interação.

5.4 SISTEMAS REFORÇADOS POR ESTABILIZADORES

Sistemas de contraventamento de edifícios altos podem ser formados por um núcleo de


concreto armado ou de paredes treliçadas de aço, conectado às colunas externas por meio de
estabilizadores (outriggers) na forma de balanços horizontais com grande rigidez à flexão. O
núcleo pode estar localizado entre as linhas das referidas colunas, com os estabilizadores
estendendo-se para ambos os lados (figura 5.6-a), ou pode estar localizado em um dos lados
do edifício, com os balanços conectados a colunas do outro lado (figura 5.6-b). Além das
colunas diretamente ligadas aos estabilizadores, é comum mobilizar também outras colunas
periféricas para auxiliar a restringi-los. Isto é conseguido através da inclusão de treliças ou

64
vigas-parede, formando um “cintamento” ao redor do sistema nos níveis dos estabilizadores,
como na figura 5.7.
Para torná-los suficientemente rígidos à flexão e ao cisalhamento, os estabilizadores e as
vigas ou treliças de cintamento são feitos com pelo menos um e até mesmo com dois andares
de altura. Para minimizar a obstrução que causam, eles são alocados em espaços delimitados
pelos níveis dos pavimentos, geralmente em pavimentos destinados a instalações ou em locais
onde suas barras diagonais não interfiram na função do edifício.

Figura 5.6 – Sistemas com estabilizadores.

Figura 5.7 – Sistema com estabilizadores e treliças de cintamento

5.4.1 Princípio de funcionamento do sistema


Quando a estrutura é carregada horizontalmente, as rotações decorrentes da flexão do
núcleo são parcialmente restringidas pelos estabilizadores, provocando saltos para menos no

65
diagrama de momentos fletores e induzindo tração nas colunas a barlavento e compressão nas
a sotavento (figura 5.8-a). Desta forma, a largura efetiva da estrutura fica bastante ampliada,
aumentando sua rigidez lateral e assim reduzindo as deformações horizontais e os momentos
fletores do núcleo, conforme pode ser observado nos gráficos comparativos das figuras 5.8-b
e c. Embora os estabilizadores sejam muito eficazes para aumentar a rigidez do sistema à
flexão, eles não aumentam a resistência ao cisalhamento, o qual deve ser absorvido
predominantemente pelo núcleo.

Figura 5.8 – Deformações e momentos fletores em um sistema com estabilizadores.


.
O grau de coesão entre o núcleo e as colunas do perímetro no funcionamento do sistema
depende do número de níveis em que os estabilizadores são dispostos e de suas rigidezes.
Sistemas com outriggers em múltiplos níveis apresentam um considerável incremento em sua
resistência efetiva a momentos, em relação a sistemas com estabilizadores em nível único.
Todavia, este incremento diminui com cada nível adicional de estabilizadores, de forma que o
limite econômico parece ser de quatro ou cinco níveis. O sistema com outriggers no topo e à
meia altura é economicamente viável em edifícios de até mais ou menos 60 andares. Sistemas
reforçados por estabilizadores têm sido utilizados em edifícios de 40 a 80 andares; na
verdade, eles são viáveis e eficientes para alturas bem maiores.
Estudos feitos por (STAFFORD SMITH e COULL, 1991) e (TARANATH, 2010)
mostram que, ao contrário do que se poderia supor, a localização ideal de um único
estabilizador não é no topo. A redução nos deslocamentos horizontais com o estabilizador
localizado no topo é de cerca de 50%, em comparação com o máximo possível de 75%,
obtido ao colocá-lo aproximadamente à meia altura do edifício. De qualquer forma, mesmo
no caso em que outros requisitos arquitetônicos prevalecerem (por exemplo, um pavimento de
instalações no topo), ainda assim vale a pena tirar proveito dos benefícios de se colocar um
estabilizador no topo.
Por sua vez, um sistema com dois estabilizadores parece oferecer mais opções para a
colocação dos mesmos. Reduções nos deslocamentos horizontais próximas dos valores ótimos
podem ser obtidas com os estabilizadores colocados em níveis completamente diferentes dos
locais ideais; assim, o projetista tem alguma margem de manobra na escolha dos locais dos
mesmos. No entanto, como regra geral, a localização ideal num sistema com dois
estabilizadores é a um terço e a dois terços da altura. Para um sistema com três

66
estabilizadores, eles devem estar a um quarto, a um meio e a três quartos da altura, e assim
por diante.

5.4.2 Exemplos de sistemas com estabilizadores


A Jin Mao Tower, construída em Xangai (China), com 88 andares e 421 m de altura,
possui uma relação altura/largura de 8:1. Estabilizadores com altura equivalente a dois ou três
pavimentos são empregados, respectivamente, entre os andares 24 e 26, 51 e 53, e 85 e 88,
conforme mostrado esquematicamente na figura 5.9-a. Eles ligam o núcleo octogonal às oito
mega-colunas, dispostas aos pares próximo ao centro de cada fachada. O núcleo é
internamente reforçado entre a fundação e o 53o andar, sendo vazio acima deste nível. Suas
paredes são de concreto, com espessura variando entre 85 cm na base e 45 cm no topo. As
mega-colunas são compostas por concreto armado e aço estrutural. Sua seção transversal varia
de 150 x 500 cm na base a 100 x 350 cm no topo. A figura 5.9-b apresenta a disposição do
núcleo e das mega-colunas em planta e a figura 5.9-c mostra o estabilizador situado entre os
andares 24 e 26.

Figura 5.9 – Jin Mao Tower, em Xangai (China).

67
A torre de escritórios Plaza Rakiat, em Kuala Lumpur (Malásia), com 77 andares e 382 m
de altura, também possui uma relação altura/largura de 8:1; foi projetada na década de 1990
para ser o mais alto edifício do mundo em concreto armado. O sistema de contraventamento é
formado por um núcleo, um perímetro aporticado e por estabilizadores com altura equivalente
a dois andares, conforme esquematizado na figura 5.10-a. Apenas os estabilizadores situados
entre os andares 73 e 75 promovem a ligação direta entre núcleo e pilares perimetrais, agindo

Figura 5.10 – Edifício Plaza Rakiat, em Kuala Lumpur (Malásia).

68
efetivamente como braços de alavanca. Os estabilizadores situados nos outros dois níveis (28
a 30 e 51 a 53) ocupam, na verdade, os planos das fachadas, atuando como vigas-parede de
cintamento; existe aqui uma ação indireta como braços de alavanca para o núcleo, feita em
conjunto com a estrutura dos pavimentos, conforme se mostra na figura 5.10-b.

69
CAPÍTULO 6

OS SISTEMAS TUBULARES

Pelo princípio de funcionamento dos sistemas tubulares, a estrutura das fachadas resiste às
cargas laterais como um enorme tubo ou pilar de seção caixão, em balanço, engastado no
solo. As paredes deste tubo consistem em colunas estreitamente espaçadas ao longo do
perímetro do edifício, ligadas entre si por vigas de grande altura, de forma que a estrutura das
fachadas fica com o aspecto de paredes perfuradas.
O conceito de comportamento tubular passou a ser aplicado no projeto estrutural a partir
da década de 1960. Desde então, a maioria dos mais altos edifícios do mundo têm sido
estruturados por sistemas tubulares. Estes sistemas têm uma eficiência tal que, na maioria dos
casos, a quantidade de material empregado por área de pavimento é comparável com a
quantidade usada em edifícios aporticados convencionais com a metade da altura.
O requisito básico a ser observado no projeto de todas as formas de sistemas tubulares é o
de alocar o máximo de material para a absorção de cargas na periferia do edifício, a fim de
maximizar a inércia de sua seção transversal. O tubo aporticado, tratado na seção 6.1, é a mais
antiga aplicação do conceito de comportamento tubular. Com exceção do tubo treliçado, visto
na seção 6.3, os demais sistemas tubulares podem ser considerados como resultantes das
seguintes adições ao sistema aporticado:
- reforços diagonais nas fachadas, na formação dos sistemas tubulares reforçados;
- tubos internos, na formação dos sistemas tube-in-tube;
- pórticos ou paredes transversais em ambas as direções, na formação dos tubos modulares.
Estes sistemas são tratados respectivamente nas seções 6.2, 6.4 e 6.5.

6.1 SISTEMAS TUBULARES APORTICADOS E O SHEAR LAG

A resistência de um tubo aporticado às ações laterais é proporcionada por pórticos planos


bastante rígidos, dispostos ao longo do perímetro do edifício. O sistema tubular aporticado
mais elementar consiste em quatro pórticos planos ortogonais rigidamente ligados formando
um tubo, conforme mostrado na figura 6.1-a. Os pórticos são formados por colunas
perimetrais estreitamente espaçadas, conectadas em cada piso por vigas de grande altura. A
malha das fachadas é tão estreitamente espaçada que suas barras podem servir como caixilhos
para o envidraçamento. As seções das colunas têm sua maior dimensão orientada
paralelamente aos planos das fachadas, a fim de prover uma maior resistência à flexão nestes
planos (figura 6.1-b). Os pórticos paralelos à direção do vento atuam como se fossem a alma
de um enorme perfil tubular em balanço, enquanto os pórticos normais à referida direção
atuam como se fossem as bordas ou abas. No texto que segue, estes pórticos são identificados
respectivamente pelas expressões “pórticos-alma” e “pórticos-aba”.
Em muitos casos, embora o sistema tenha colunas, paredes ou até mesmo núcleos
internos, o tubo externo é projetado para resistir à totalidade do carregamento lateral,
enquanto as cargas gravitacionais são compartilhadas entre o tubo e os elementos internos.
Por exemplo, os edifícios tubulares Standard Oil Building (Chicago) com 83 andares e World
Trade Center (Nova Iorque, destruído em 2001) com 110 andares, mostrados na figura 6.2,
foram projetados com núcleos internos destinados a resistir exclusivamente às cargas
gravitacionais.

70
Figura 6.1 – Sistema tubular aporticado.

Figura 6.2 – Edifícios tubulares.

A forma tubular foi originalmente desenvolvida para edifícios de planta retangular e


provavelmente sua utilização mais eficiente seja neste formato. Todavia, ela é apropriada
também para outros formatos de planta e tem sido ocasionalmente utilizada em configurações
circulares e triangulares. O tubo aporticado é apropriado para construção tanto em aço como

71
em concreto armado; tem sido utilizado em edifícios de 40 a mais de 100 andares. A
geometria altamente repetitiva dos pórticos favorece a utilização de técnicas industrializadas
em sua construção. No caso de estruturas de aço, grandes elementos da estrutura das fachadas
podem ser pré-fabricados e transportados para o local onde serão içados e fixados em suas
posições. No caso de estruturas de concreto, o emprego de formas deslizantes erguidas andar
por andar permite atingir taxas de construção bastante rápidas.
Ao resistir à totalidade das cargas de vento por meio da estrutura periférica, o sistema tem
a vantagem arquitetônica de permitir liberdade no planejamento do interior. Por exemplo, um
sistema com pavimentos de grande vão estendendo-se entre um núcleo central e o tubo
proporciona os espaços abertos desejados para edifícios de escritórios, enquanto um sistema
com colunas e paredes internas sustentando pavimentos de vãos curtos e de pequena altura é
bem adequado para edifícios residenciais.
O tubo aporticado foi um dos desenvolvimentos modernos mais significantes em
estruturas de edifícios altos. Caracteriza-se por ser uma estrutura relativamente eficiente, de
fácil construção e apropriada para utilização nos mais altos edifícios. Esteticamente, sua
forma explícita no exterior do edifício divide opiniões: enquanto alguns louvam a beleza da
estrutura claramente expressa na fachada, outros a criticam, por seu formato em grade, com
janelas pequenas e monotonamente repetidas.

6.1.1 O shear lag


No projeto de estruturas tubulares aporticadas, o ideal seria que o conjunto de pórticos das
fachadas funcionasse como uma unidade, respondendo às cargas laterais estritamente como
um tubo em flexão. No entanto, o comportamento do sistema é bem mais complexo do que o
de um simples tubo de paredes maciças e a rigidez pode ser consideravelmente menor.
Quando submetido às ações laterais, o modo primário de atuação é o de um tubo convencional
vertical em balanço, no qual as colunas em lados opostos da linha neutra são submetidas a
forças de tração e de compressão, conforme indicado pelas linhas quebradas nas figuras 6.3-a
e b. Porém, essa ação primária, prevista pela teoria comum da flexão, é alterada devido à
flexibilidade das vigas das fachadas, a qual provoca perdas de transmissão de força cortante
(shear lag), fazendo aumentar as tensões nas colunas de canto e diminuir as das colunas
internas, tanto dos pórticos-aba como dos pórticos-alma, conforme mostrado pelas linhas
cheias na mesma figura.
Esse comportamento pode ser melhor compreendido considerando o modo básico de ação
envolvido na resistência às ações laterais. A resistência primária vem dos pórticos laterais da
alma (AD e BC da figura 6.3), os quais são submetidos à habitual flexão em seus planos e à
ação de cisalhamento ou distorção característica de um pórtico independente. A principal
interação entre eles e os pórticos-aba (AB e DC) ocorre por meio dos deslocamentos verticais
das colunas de canto. Esses deslocamentos estão relacionados ao cisalhamento nas vigas dos
pórticos-aba, o qual induz forças axiais nas colunas dos mesmos.
Quando a coluna C, por exemplo, sofre um encurtamento, ela tende a comprimir a coluna
adjacente C1 (figura 6.3-c), já que as duas estão conectadas pelas vigas da fachada. Os
encurtamentos não serão idênticos, uma vez que cada viga do pórtico, por ser flexível,
flexionar-se-á e a deformação axial da coluna adjacente será menor, em uma quantidade que
depende da flexibilidade da viga. Cumpre observar que o comportamento tubular puro
exigiria teoricamente vigas com rigidez infinita. A deformação da coluna C1, por sua vez,
induz encurtamento na próxima coluna interna C 2, mas a deformação será novamente menor.
Assim, cada coluna interna sucessiva sofrerá uma deformação menor e, portanto, uma tensão
menor do que as externas. Em conseqüência, as tensões nas colunas de canto serão maiores do
que as na ação tubular ideal e as das colunas internas serão menores.

72
Como as tensões nas colunas são distribuídas com menos eficácia do que em um tubo
propriamente dito, o momento resistente e a rigidez do sistema à flexão resultam reduzidos.
Assim, embora um tubo aporticado seja uma forma altamente eficaz de construção de
edifícios altos, ele não explora plenamente o potencial de rigidez e de resistência do sistema,
devido aos efeitos do shear lag. Um desses efeitos é a ocorrência de flexão das lajes dos
pavimentos, já que as seções transversais originalmente planas do edifício não permanecem
planas; em conseqüência, ocorrem deformações em divisórias internas e em componentes
estruturais secundários, as quais aumentam cumulativamente ao longo da altura do edifício.
Portanto, os efeitos do shear lag afetam severamente a eficiência dos sistemas tubulares e
todos os desenvolvimentos posteriores em projeto tubular procuraram superar este problema.

Figura 6.3 – O shear lag nos sistemas tubulares aporticados.

6.1.2 Comportamento das subestruturas dos pavimentos


Em conseqüência da atuação dos pavimentos como diafragmas rígidos, a forma da seção
transversal do edifício permanece inalterada ao nível de cada pavimento e as seções
transversais nessas posições passam apenas por movimentos de corpo rígido no plano
horizontal. Além disso, é geralmente assumido que a rigidez das lajes fora de seu plano é

73
muito baixa para ser considerada como contribuição ao sistema de contraventamento.
Alternativamente, sua rigidez efetiva pode ser avaliada da mesma forma que em sistemas de
lajes lisas ou planas (vide seção 2.2) e combinada com a das vigas das fachadas na avaliação
da rigidez dos pórticos planos.
Presume-se que as subestruturas dos pavimentos sejam incapazes de exercer qualquer
ação de acoplamento entre os pórticos normais à direção do vento e os pórticos laterais.
Portanto, ambos os pórticos, normais e laterais, são predominantemente sujeitos a ações em
seus próprios planos e as ações fora deles são geralmente desprezíveis. Desta forma, como as
referidas subestruturas não participam do sistema de contraventamento e caso o carregamento
gravitacional não tenha alterações significativas entre os pavimentos, pode-se adotar uma
subestrutura repetitiva de pavimento, com economia no projeto e na construção.

6.2 SISTEMAS TUBULARES REFORÇADOS

A deformabilidade inerente ao tubo aporticado pode ser drasticamente reduzida por meio
da adição de grandes barras diagonais à malha retangular de vigas e colunas (figura 6.4),
gerando o sistema tubular reforçado. As diagonais são geralmente inclinadas em cerca de 45º
e, juntamente com as demais barras, criam uma rigidez lateral semelhante à de uma parede.
As fachadas são usualmente providas de diagonais duplas simetricamente dispostas, formando
grandes módulos de reforços dispostos em forma de losango. Caso o sistema tenha planta
retangular, as fachadas menores podem ter reforços diagonais simples dispostos em
ziguezague, de forma a permitir que os dois conjuntos de diagonais em planos ortogonais se
encontrem nos cantos do edifício (figura 6.4-b).
A força cortante global, neste sistema, é predominantemente absorvida e transmitida pelas
diagonais na forma de forças normais, virtualmente eliminando os efeitos do shear lag tanto
nos pórticos-aba como nos pórticos-alma. Desta forma, ao ser submetida ao carregamento
lateral, a estrutura tem um comportamento mais próximo ao de um tubo em balanço. Em
conseqüência, as seções das colunas podem ser orientadas com suas menores dimensões no
plano da fachada, os vãos das vigas podem ser mais longos e o número de colunas menor;
além disso, como as inércias das vigas não são mais tão importantes, pois elas atuam
principalmente sob forças normais, as vigas podem ser mais baixas. Isto permite que as
janelas sejam mais altas e largas. Além de transmitirem as cargas gravitacionais para as
colunas, as vigas também funcionam como elementos de amarração, impedindo a distensão
dos pavimentos.
O sistema tubular reforçado possui um potencial de utilização em edifícios bem mais altos
do que os com sistemas tubulares aporticados. Ele foi empregado pela primeira vez numa
estrutura de aço em 1969, no John Hancock Building, em Chicago (figura 6.4-a) e numa
estrutura de concreto armado em 1985, no 780 Third Avenue Buiding, em Nova Iorque (figura
6.4-b). No tubo de aço, os reforços são adicionados às fachadas, ao passo que na estrutura de
concreto eles são gerados pelo preenchimento de aberturas de janelas numa disposição
diagonal.
O modo de comportamento de um sistema tubular reforçado sujeito a ações, sejam
gravitacionais ou de vento, pode ser melhor compreendido analisando-se os efeitos que a
adição das diagonais provoca no comportamento da estrutura tendo apenas colunas como
elementos verticais, conforme é visto nas próximas subseções.

74
Figura 6.4 – Sistemas tubulares reforçados.

6.2.1 Comportamento sob carregamento gravitacional


Considere-se inicialmente uma região representativa do pórtico de fachada (figura 6.5-a),
na qual as diagonais estão desconectadas das colunas intermediárias. Se as seções de todas as
colunas tiverem a mesma área, o carregamento gravitacional proveniente de suas áreas
tributárias de pavimento levará as colunas dos cantos a serem menos tensionadas e sofrerem
encurtamentos menores do que as colunas intermediárias. Os pontos das colunas
intermediárias a serem conectados com as diagonais deslocar-se-ão para baixo mais do que os
pontos correspondentes nas próprias diagonais, cujos deslocamentos encontram-se
controlados pelos deslocamentos verticais das colunas menos tensionadas dos cantos. Neste
estágio, as diagonais encontram-se comprimidas e as vigas tracionadas.
Para proporcionar compatibilidade vertical nas interseções entre diagonais e colunas
intermediárias, devem atuar forças direcionadas para cima nas colunas e para baixo nas
diagonais, conforme mostrado na figura 6.5-b. Com isso, a força inicial de compressão em
cada coluna intermediária é parcialmente aliviada, enquanto as forças aplicadas em cada
diagonal são transmitidas através de suas extremidades para as colunas de canto, causando um
acréscimo nas forças de compressão nas mesmas. Essa interação resulta numa tendência de
equalização de tensões entre as colunas intermediárias e as de canto.
Em cada ponto de interseção intermediário de uma diagonal, a componente horizontal da
força de interação é equilibrada por uma força normal na viga do pórtico, já que esta se
encontra vinculada à outra diagonal do módulo. Desta forma, as vigas atuarão como escoras
na metade superior e como tirantes na metade inferior de cada um dos módulos de reforços.

75
Em conseqüência, essas ações reduzem a tração inicial nas vigas das metades superiores dos
módulos e aumentam a tração nas das metades inferiores. As forças normais nas colunas
intermediárias e de canto terão variações significativas em cada ponto de interseção com as
diagonais. Nos trechos entre as interseções, as variações ocorrerão apenas pelo incremento de
carga gravitacional proveniente de cada pavimento. A distribuição das forças normais
atuantes nos membros da fachada é resumida qualitativamente na figura 6.5-c.
Nos pórticos das fachadas menores com diagonais em ziguezague, como cada viga é
conectada com apenas uma diagonal, ela é incapaz de exercer a ação de amarração ou
escoramento transversal que ocorre nas fachadas com diagonais duplas. Como conseqüência,
as diagonais ficam incapacitadas de transferir carga das colunas intermediárias para as de
canto [12.1].

Figura 6.5 – Forças de interação em tubos reforçados devidas ao carregamento gravitacional.

6.2.2 Comportamento sob carregamento lateral


Uma linha de raciocínio semelhante à adotada para as ações gravitacionais pode ser usada
para descrever a atuação do tubo reforçado na resistência ao carregamento de vento.
Considere-se, por exemplo, as ações no pórtico que atua como aba tracionada (fachada a
barlavento). Se as diagonais estivessem inicialmente desconectadas das colunas
intermediárias, então ambas, diagonais e colunas, estariam tracionadas, enquanto as vigas
estariam comprimidas (figura 6.6-a). Devido ao shear lag, as colunas intermediárias
encontrar-se-iam menos tensionadas do que as dos cantos e seus pontos de conexão com as
diagonais deslocar-se-iam para cima menos do que os pontos correspondentes das próprias
diagonais.
Como as diagonais e as colunas intermediárias são ligadas entre si, forças verticais
interativas atuam para cima nas colunas intermediárias e para baixo nas diagonais (figura 6.6-
b). As forças ascendentes causam um aumento de tensões nas colunas intermediárias,
enquanto as forças descendentes atuantes nas diagonais são transferidas através de suas
extremidades para as colunas de canto, reduzindo assim as forças de tração inicialmente mais
altas. Dessa forma, as tensões nas colunas intermediárias e nas de canto tendem também neste
caso a ser equalizadas.
Ao serem superpostas à grande força original de tração atuante numa diagonal, as forças
descendentes de interação que nela atuam provocam uma redução gradual desta tração ao
longo de seu comprimento, podendo até mesmo levar a uma pequena compressão resultante
nos um ou dois módulos mais baixos do edifício. Da mesma forma que no caso do
carregamento gravitacional, em cada ponto de interseção, a força de interação na diagonal
necessita ser equilibrada por uma força normal atuante na viga do pórtico. As vigas das

76
metades superiores dos módulos de reforços desta fachada atuam como escoras, enquanto as
das metades inferiores atuam como tirantes.
Uma representação qualitativa dos esforços devidos à ação do vento na face a barlavento é
mostrada na figura 6.6-c. As forças de tração nas colunas intermediárias aumentam do topo
em direção à base, devido aos incrementos aplicados nas interseções com as diagonais. Por
outro lado, as forças nas colunas, diagonais e vigas na face a sotavento terão sentido oposto
àquelas na face a barlavento.

Figura 6.6 – Forças de interação em tubos reforçados devidas ao carregamento de vento.

Por sua vez, os pórticos das fachadas laterais são submetidos a ações de flexão e
cisalhamento. A distribuição típica de forças normais nas colunas de um pórtico-alma de um
tubo aporticado não reforçado é mostrada na figura 6.3. Devido ao shear lag, as forças
normais nas colunas mais próximas aos cantos têm valores mais altos do que estariam em
ação tubular genuína. Uma extensão do argumento já utilizado para os pórticos-aba mostra
que a ação das diagonais em um pórtico-alma também é reduzir as altas forças axiais
próximas aos cantos, trazendo-as a valores mais próximos da distribuição linear tubular ideal
de tensões.
Da mesma forma que nos pórticos reforçados, tratados na seção 2.3, as diagonais e as
vigas de um pórtico-alma reforçado atuam como membros da alma de uma treliça vertical na
transmissão do cisalhamento horizontal, com as diagonais em tração ou compressão,
dependendo da direção de suas inclinações. Conseqüentemente, as forças cortantes e os
momentos fletores atuantes nas colunas resultam bastante reduzidos (GROSSMAN et ali,
1986).

77
6.2.3 Combinação do carregamento gravitacional com o de vento
Ao superpor as distribuições de esforços nos pórticos-aba devidos às cargas gravitacionais
e de vento, constata-se que, na face a sotavento, todas as diagonais tendem a estar em
compressão enquanto as vigas resultam tracionadas. Na face a barlavento, os esforços
resultantes dependerão das magnitudes relativas dos efeitos de compressão devidos às ações
gravitacionais e de tração devidos às ações de vento. Por sua vez, as barras das faces laterais
transmitem esforços que são uma combinação dos efeitos de compressão, devidos às ações
gravitacionais, e de tração-compressão (barlavento-sotavento) das ações de vento.

6.3 TUBOS TRELIÇADOS

O comportamento ideal de um tubo em balanço pode ser atingido com um bom grau de
precisão substituindo-se todas as colunas externas por diagonais em ambas as direções, com
um espaçamento suficientemente próximo de forma a representar as paredes do tubo (figura
6.7). Ao conectar as diagonais em seus pontos de cruzamento e nos quatro cantos da
edificação, a estrutura atuará efetivamente como um tubo rígido na resistência às ações
horizontais. O sistema também pode ter barras horizontais em adição às diagonais.
As diagonais são muito eficientes na resposta às cargas laterais, porém são menos
eficientes do que as colunas em transmitir as cargas gravitacionais ao solo. Isto porque a
transmissão destas ações verticais através de barras inclinadas causa nas mesmas forças
normais maiores do que seriam se as barras fossem verticais. Em conseqüência, os membros
diagonais demandam seções transversais com áreas maiores do que as que seriam necessárias
em um sistema formado por colunas. Além disso, o grande número de ligações necessário
entre as diagonais e os problemas relacionados a detalhes das janelas fazem com que o
sistema tubular treliçado não seja muito utilizado.
Um exemplo de tubo treliçado é a torre de escritórios da Swiss Reinsurance Company,
com 40 andares e 180 m de altura, construída em Londres, em 2003 (figura 6.8). Dotado de
um formato aerodinâmico, o edifício é provido de um núcleo circular, projetado para sustentar
as cargas verticais, enquanto uma estrutura metálica periférica em espiral, formando uma
malha triangular, resiste às cargas laterais.

Figura 6.7 – Sistema tubular treliçado.

78
6.4 SISTEMAS TUBE-IN-TUBE (TUBO EXTERNO COM TUBO INTERNO)

A rigidez de um sistema tubular aporticado tem um importante acréscimo pela adição de


um núcleo (tubo) interno, o qual pode ser formado por pórticos reforçados de aço ou por
paredes resistentes de concreto. Ambos os tubos atuam conjuntamente na resistência tanto às
cargas laterais como às gravitacionais. Devido ao funcionamento dos pavimentos como
diafragmas rígidos, o tubo aporticado externo e o núcleo interno interagem horizontalmente,
com algum grau de semelhança com os componentes de cisalhamento e de flexão do sistema
pórticos-paredes, visto no capítulo 5, com a vantagem de uma rigidez lateral aumentada.
Neste caso, o tubo externo usualmente assume um papel altamente dominante, por ter uma
largura muito maior.

Figura 6.8 – Torre de escritórios da Swiss Re, em Londres.

O sistema tube in tube é geralmente utilizado em edifícios com geometria ortogonal,


conforme mostrado genericamente na figura 6.9. A aplicação do sistema em geometrias não
ortogonais é exemplificada pela Millenium Tower, mostrada na figura 6.10. O edifício
estruturado em aço, projetado para ser construído na baía de Tóquio, possui uma altura total
de 800 m, dos quais os primeiros 600 m compreendem o espaço efetivamente ocupável,
composto por 150 andares. O tubo externo tem uma forma cônica, sendo formado por 12
mega-barras helicoidais, combinadas com mega-barras retilíneas dispostas entre a altura
média e a base do prédio (figura 6.10-b). O tubo interno tem geometria cilíndrica, com
redução de diâmetro na região superior, conforme pode ser visto na figura 6.10-c.

79
Figura 6.9 – Sistema tube in tube.

Figura 6.10 – Millenium Tower, em Tóquio.

80
6.5 TUBOS MODULARES

O último desenvolvimento em projeto tubular foi o princípio do tubo modular. O sistema


consiste numa justaposição de tubos modulares compartilhando pórticos internos, resultando
num tubo multicelular com paredes perfuradas; o aumento de rigidez é evidente. Esta forma
estrutural notabilizou-se por ter sido adotada na Sears Tower, em Chicago, com 109 andares
(figura 6.11), o mais alto edifício do mundo na época (1974). A Sears Tower é formada por
quatro pórticos de aço paralelos em cada direção ortogonal, interconectados de maneira a
formar nove tubos justapostos (figura 6.12-a). A natureza do sistema propicia que os módulos
possam ser justapostos segundo qualquer configuração e interrompidos em diferentes alturas,
conforme se observa no exemplo da figura 6.12, reduzindo a seção transversal do edifício sem
afetar sua integridade estrutural.

Figura 6.11 – Sears Tower, Chicago.

No sistema tubular modular, os pórticos-alma resistem aos cortantes devidos ao vento,


enquanto os pórticos-aba absorvem a maior parte dos momentos. Qualquer torção resultante
da assimetria do sistema é prontamente absorvida pelo formato de seção fechada dos
módulos. O maior espaçamento entre colunas e a menor altura das vigas das fachadas
proporciona a considerável vantagem de maiores aberturas para as janelas em relação às que

81
são permitidas pelo sistema de tubo único. Além disso, este sistema é o que possui a maior
capacidade de abrangência de área por pavimento.

Figura 6.12 – Seções transversais da Sears Tower.

Quando o edifício se flexiona devido às ações laterais, a alta rigidez nos planos dos
pavimentos compele os pórticos-alma internos a se deslocarem igualmente com os externos e
os cortantes transmitidos por cada um serão proporcionais às suas rigidezes laterais. Como as
colunas das extremidades destes pórticos internos são mobilizadas diretamente pelos mesmos,
elas serão mais tensionadas do que no tubo único, no qual elas são mobilizadas apenas
indiretamente pelos pórticos-alma externos através das vigas dos pórticos-aba.
Conseqüentemente, a presença dos pórticos internos reduz substancialmente a não
uniformidade das forças normais nas colunas, causada pelo shear lag, conforme mostrado na
figura 6.13. Assim, as tensões verticais nos pórticos-aba têm uma distribuição mais próxima
da uniforme e o comportamento estrutural é bem mais próximo do de um tubo propriamente
dito. No caso de existirem pórticos internos normais à direção do vento, os mesmos atuarão
como abas da seção tubular de maneira semelhante aos pórticos normais externos.
Uma forma alternativa de construção multicelular, dotada da mesma forma geral de
comportamento estrutural, utiliza paredes resistentes acopladas no lugar dos pórticos internos.
Neste caso, a distribuição de tensões nos pórticos-aba será governada pelas rigidezes laterais
relativas dos pórticos e paredes paralelos à direção do vento.

6.6 OTIMIZAÇÃO DE ESPAÇO NO NÍVEL TÉRREO

Até aqui, as subestruturas verticais foram tratadas como sendo de geometria constante do
topo até a base do edifício. Entretanto, a configuração de colunas estreitamente espaçadas
tende a dificultar o acesso à área pública no térreo. Em muitos casos, é necessário dispor de

82
espaço livre no nível térreo, destinado a constituir um saguão, um estacionamento, um passeio
ou até mesmo tornar-se parte de uma praça.

Figura 6.13 – Distribuição das forças normais nas colunas de um sistema de tubos modulares.

Algumas soluções comuns para a ampliação do espaço térreo aparecem nas figuras 6.14 e
6.15. Elas são adotadas não só em estruturas tubulares, como também em outros sistemas de
contraventamento. Elas podem ser classificadas em:
a) apoiar o corpo do edifício em elementos estruturais individuais, como colunas bi ou
trifurcadas para onde convergem elementos comprimidos (figuras 6.14-a e b), e conjuntos de
colunas e vigas formando portais (figuras 6.14-c e d). Um exemplo de sistema formado por
portais é a sustentação do edifício da FIESP, em São Paulo, mostrado na figura 6.14-e.

Figura 6.14 – Elementos estruturais de apoio do edifício.

b) descontinuar parte dos pilares da fachada no nível térreo, pela utilização de sistemas de
transferência de esforços: viga, treliça, arcos, viga-parede e convergência de colunas (figura

83
6.15). Esses elementos de transferência absorvem as cargas verticais das colunas
estreitamente espaçadas e distribuem-nas para um número menor de colunas maiores e mais
espaçadas na base.

Figura 6.15 – Elementos de transferência de esforços.

84
CAPÍTULO 7

MORFOLOGIA DAS SUBESTRUTURAS HORIZONTAIS

As subestruturas horizontais têm por principal função transmitir os esforços devidos às


ações gravitacionais e laterais para as colunas e/ou paredes. Elas se desenvolvem através de
planos rígidos que, além de constituir a sustentação dos pavimentos, fortalecem e unem as
subestruturas verticais, permitindo ao edifício responder ao carregamento como uma unidade
coesa.
Um adequado sistema de estruturação dos pavimentos é fundamental para a economia
global de um edifício. Alguns dos fatores que influenciam a escolha de tais sistemas são de
ordem arquitetônica. Por exemplo, em edifícios residenciais, nos quais as subdivisões
permanentes do espaço do pavimento tendem a ser menores, podem-se adotar vãos mais
curtos para sua estrutura. Por outro lado, em edifícios corporativos, os quais requerem espaços
mais abertos e com subdivisões transitórias, tornam-se necessários sistemas com vãos
maiores. Outros fatores que influenciam esta escolha são relacionados com o desempenho
pretendido para a estrutura (se ela vai ou não fazer parte do sistema de contraventamento) e à
sua construção (se existe ou não necessidade de rapidez em sua conclusão).
Em edifícios altos, uma estrutura de pavimento que é executada por múltiplas vezes deve
ter seu projeto otimizado, uma vez que economias que podem ser insignificantes para um
único pavimento podem resultar numa soma considerável por causa das repetições. Por sua
vez, o peso próprio dos pavimentos tem um grande impacto no projeto das fundações e dos
elementos de transmissão de cargas verticais, como paredes e colunas; sua minimização é
especialmente importante nas estruturas de concreto.
Outra consideração é o impacto da espessura do pavimento no pé direito e, portanto, na
altura total do edifício. Esta espessura deve ser otimizada, já que qualquer acréscimo na altura
do edifício causará um acréscimo nos custos totais de ordem arquitetônica, mecânica e
estrutural. Além de uma série de fatores tratados nas seções 7.2 e 7.3 (sistema de estruturação,
material empregado, extensão dos vãos etc.), a espessura também está relacionada com a
tubulação, a qual pode ser acomodada dentro ou abaixo da estrutura do pavimento. Portanto, é
importante projetar uma estrutura de pavimento relativamente leve e que não seja muito
espessa.

7.1 DISTRIBUIÇÃO DO VIGAMENTO

Os sistemas de estruturação de pavimentos são divididos em duas categorias:


unidirecionais, constituídos geralmente por lajes com formato alongado em planta, as quais
transmitem as cargas gravitacionais predominantemente na direção de seu vão menor para as
vigas ou paredes de sustentação; ou bidirecionais, nos quais esta transmissão ocorre nas duas
direções horizontais. Nos sistemas unidirecionais, os constituintes do percurso das cargas
podem ser visualizados como sucessões paralelas de barras com a capacidade de transmitir
cargas apenas ao longo de seu comprimento, como pranchas entre paredes ou vigas (figura
7.1-d). Por outro lado, em um sistema bidirecional, considera-se o pavimento como sendo
constituído por sucessões de barras que se cruzam, o que permite que as cargas aplicadas
sejam transmitidas por uma barra ou compartilhadas pelas barras que se cruzam (figura 7.1-h).

85
Em ambos os sistemas, tira-se proveito da continuidade das lajes sobre os apoios internos,
dotando-as de armaduras negativas.
Nos sistemas aporticados, o arranjo das colunas define o módulo horizontal da estrutura
do edifício. As vigas principais compõem este módulo, estendendo-se de uma coluna a outra
e, portanto, fazendo também parte das subestruturas verticais (pórticos). As lajes podem se
estender diretamente entre estas vigas (figura 7.1-a), se elas estiverem estreitamente espaçadas
e as cargas forem pequenas. À medida que aumenta o espaçamento entre os pórticos, torna-se
necessário um vigamento secundário para transferir as cargas gravitacionais das lajes para as
vigas principais. Esta é uma solução típica dos sistemas aporticados. As figuras 7.1-b, c e d
mostram o vigamento secundário dividindo o vão das vigas principais, respectivamente, em
três, quatro ou mais partes.
Quando o módulo estrutural do edifício é aproximadamente quadrado, empregam-se
geralmente sistemas de pórticos em duas direções (figuras 7.1-e a h). Lajes de concreto com
armaduras em ambas as direções dispersam as cargas segundo as mesmas. Um efeito
semelhante pode ser obtido, dispondo-se as vigas secundárias de um andar numa determinada
direção e as do andar seguinte na direção perpendicular. Em síntese, a figura 7.1 mostra como
a forma de dispor as vigas secundárias define para quais pórticos as cargas gravitacionais
serão transmitidas. As seções 7.2 e 7.3 apresentam diversos exemplos de formas de
distribuição do vigamento em sistemas aporticados.

Figura 7.1 – Distribuição do vigamento em sistemas aporticados.

Em sistemas dotados de núcleo central e estrutura externa, as vigas geralmente se


estendem pela distância mais curta entre o núcleo e a estrutura externa. Assim, em edifícios
circulares, existe uma tendência natural da estrutura dos pavimentos ser composta por vigas
radiais, dispostas a partir do núcleo, e por vigas distribuídas em um arranjo circular (figura
7.2-a).
Em edifícios retangulares com estruturas providas de núcleos, também existem vigas
ligando o núcleo às fachadas. Neste caso, todavia, é necessária uma consideração especial
para as regiões dos cantos. Uma viga diagonal pode conectar o canto do núcleo com o canto
do edifício, aumentando assim a carga nas colunas de canto (figura 7.2-b). Alternativamente,
vigas maiores, localizadas nos prolongamentos das paredes do núcleo, podem absorver as
cargas dessas regiões, por meio do funcionamento bidirecional das lajes, e transferi-las para as
colunas às quais estas vigas estão ligadas (figura 7.2-c). A distribuição bidirecional destas
cargas também pode ser obtida, usando-se um sistema de distribuição unidirecional e
revertendo sua direção em andares alternados.

86
Figura 7.2 – Distribuição do vigamento em estruturas com núcleos.

7.2 PAVIMENTOS ESTRUTURADOS EM CONCRETO

Nos pavimentos estruturados em concreto, o mesmo é lançado em fôrmas que são


removidas quando ele tiver adquirido resistência suficiente para sustentar seu próprio peso e
as cargas construtivas. A construção de estruturas concretadas no local caracteriza-se pelo
grande consumo de mão de obra. A confecção das fôrmas, das armaduras e o lançamento do
concreto são tarefas que demandam muito trabalho. Portanto, é recomendável que as fôrmas
sejam repetitivas e simples de confeccionar e remover. Assim, caso seja conveniente sob o
ponto de vista do desempenho da estrutura, é preferível que seus elementos sejam projetados
com dimensões adaptadas às dimensões de fôrmas padronizadas, disponíveis no mercado; no
caso de fôrmas de madeira confeccionadas no local, é recomendável que as dimensões dos
elementos da estrutura sejam adaptadas às dimensões das tábuas fornecidas, minimizando o
trabalho de carpintaria.
As fôrmas a serem utilizadas de maneira repetitiva podem ser ligadas entre si, geralmente
combinando elementos de vigas e lajes em unidades que são sucessivamente transferidas para
outras áreas do pavimento a serem concretadas, ou para o pavimento seguinte. Isto resulta em
redução dos custos de confecção e montagem, além de diminuir o tempo de construção. Outro
recurso utilizado com este objetivo é o sistema de fôrmas móveis ou deslizantes, no qual as
fôrmas do pavimento são fixadas a uma grande unidade constituída por uma plataforma ou
mesa e uma estrutura de sustentação. No processo de remoção, a unidade é baixada, deslizada
para fora da laje e então deslocada para o pavimento seguinte como uma estrutura rígida.
Os sistemas de estruturação de pavimentos de concreto, apresentados a seguir,
diferenciam-se pela transmissão uni ou bidirecional das cargas, bem como pelo tipo de apoio
das lajes: somente em vigas principais, em vigas principais e secundárias, em nervuras ou
diretamente nas colunas.

7.2.1 Lajes apoiadas diretamente em colunas ou em vigas-banda


Incluem-se nesta categoria as lajes lisas e as lajes planas. As primeiras possuem espessura
constante, são armadas em ambas as direções e apoiadas diretamente nas colunas ou em
paredes isoladas de pequeno comprimento (figura 7.3). São utilizadas em edifícios nos quais
os vãos não são grandes e as cargas não são altas. Por causa de sua simplicidade, este sistema
é o mais econômico em termos de fôrmas e armaduras. Sua espessura constante proporciona
uma considerável liberdade na alocação dos pilares e paredes e, com a possibilidade de
utilizar sua face inferior aparente como teto, resulta na minimização do pé direito.
Entretanto, o sistema apresenta algumas desvantagens. Devido à espessura necessária para
a laje, a carga de peso próprio tende a ser alta, exigindo condições muito favoráveis de
fundação. Por outro lado, uma razão altura/vão baixa pode resultar na ocorrência de

87
deformações excessivas das lajes. Assim, elas só conseguem vencer vãos de até 7,5 m, o que
limita a sua aplicabilidade aos tipos de edificações com alto grau de particionamento em
planta, como prédios de apartamentos e hotéis.

Figura 7.3 – Laje lisa.

As lajes planas diferenciam-se das lajes lisas por apresentarem espessamentos na forma de
capitéis ou drop panels nas regiões junto às colunas ou às paredes (figura 7.4). Os capitéis
aumentam a resistência ao corte, enquanto os drop panels aumentam a resistência tanto ao
corte quanto aos momentos negativos, justamente nas regiões de ocorrência dos maiores
valores destes esforços. Por esta razão, as lajes planas são mais adequadas do que as lajes lisas
para vãos maiores e mais carregados e, em situações similares, demandam menos concreto e
armaduras. Sua utilização é mais apropriada em arranjos quadrados ou quase quadrados de
colunas. Por ser desprovido de vigas, este sistema resulta numa estrutura de pouca espessura e
proporciona grande flexibilidade para a disposição dos dutos de ar condicionado e das
luminárias. Em apartamentos e hotéis, da mesma forma que a laje lisa, a laje plana pode servir
como um teto acabado para o pavimento inferior a ela.

Figura 7.4 – Laje plana.

Quando a disposição dos apoios de uma laje lisa ou plana é tal que os vãos em uma
direção são consideravelmente maiores do que os na outra, o comprimento do vão maior
naturalmente controla a espessura da laje. Os efeitos desfavoráveis dos vãos longos podem ser
reduzidos se forem utilizadas vigas-banda segundo o vão maior, caso em que a espessura da
laje será determinada em função do comprimento do vão menor. Vigas-banda consistem em
espessamentos sob a laje (figura 7.5) e constituem uma alternativa nos casos de limitação do
pé-direito. Suas dimensões são definidas de forma a evitar um aumento significativo da
rigidez da laje e manter o comportamento bidirecional da estrutura do pavimento.

7.2.2 Lajes apoiadas somente em vigas principais ou em paredes


O sistema pode ser formado por lajes maciças, armadas numa só direção, com até 20 cm
de espessura, estendendo-se continuamente sobre paredes ou vigas principais com
espaçamento de até 7,5 m (figura 7.6-a). Sua construção requer um sistema simples de
fôrmas, possivelmente fôrmas móveis. A estrutura tende a ser pesada e ineficiente, devido ao

88
alto consumo tanto de concreto quanto de aço. Ela é adequada para edifícios altos de
apartamentos, contraventados por paredes e por pórticos transversais.

Figura 7.5 – Sistema de vigas-banda.

O sistema também pode ser formado por lajes com razão comprimento/largura não
superior a 2, armadas em ambas as direções e apoiadas em conjuntos de vigas ortogonais
(figura 7.6-b). O sistema bidirecional propicia uma laje mais delgada, sendo econômico em
termos de concreto e armaduras. Ele é compatível com um sistema de contraventamento
aporticado em ambas as direções.

Figura 7.6 – Lajes apoiadas diretamente em vigas principais.

7.2.3 Lajes sobre vigas principais e secundárias


Lajes unidirecionais são sustentadas por vigas secundárias com espaçamento
relativamente pequeno (1,5 a 2 m) conforme mostrado na figura 7.7; devido ao pequeno vão
das lajes, suas espessuras podem ter valores entre 7,5 e 15 cm. Por sua vez, as vigas principais
são capazes de vencer vãos de até 14 m. Uma estrutura de pavimento com vigas principais de
altura constante freqüentemente apresenta o inconveniente de limitar o espaço disponível para
a passagem dos dutos de ar condicionado. Uma alternativa é projetar vigas de altura variável,
(figura 7.8), criando-se espaços para a passagem dos dutos na região central dos vãos. As
principais virtudes do sistema são a capacidade de vencer grandes vãos e a compatibilidade
com um sistema de contraventamento aporticado.

89
Figura 7.7 – Lajes unidirecionais sobre vigas secundárias.

Figura 7.8 – Pavimento sustentado por vigas de altura variável.

7.2.4 Lajes com nervuras


No sistema com nervuras unidirecionais, uma laje com espessura a partir de 6 cm, com
armadura em malha, está assentada em vigas com pequeno espaçamento (nervuras) moldadas
entre fôrmas trapezoidais reutilizáveis; essas nervuras apóiam-se nas vigas principais (figura
7.9-a). A altura das nervuras pode variar entre 30 e 50 cm e o seu espaçamento entre 50 e 75
cm (centro a centro), conforme se observa na figura 7.9-b. A atuação combinada da laje com
as nervuras é, na verdade, equivalente à de um conjunto de vigas T estreitamente espaçadas,
capaz de vencer vãos de até 12 m; em vãos superiores a 6 m utilizam-se geralmente nervuras
de distribuição. O sistema é adotado principalmente em edifícios altos para escritórios. Ele é
baseado na premissa de que o concreto abaixo da linha neutra de uma laje maciça excede em
muito a quantidade necessária para resistir ao esforço cortante; assim, boa parte deste
concreto pode ser eliminada formando os vazios de seção trapezoidal.
No sistema de lajes nervuradas propriamente ditas, a laje é apoiada em uma malha
quadrada de vigas estreitamente espaçadas (figura 7.10). A laje e as vigas são concretadas
conjuntamente em fôrmas constituídas por domos quadrados, os quais são omitidos junto aos
pilares, gerando trechos de lajes maciças, a fim de resistir às altas tensões de flexão e de corte
que ocorrem nestas regiões. Estes domos, com base de até 75 cm e profundidade de até 50 cm
resultam num desenho interessante para a face inferior, a qual é freqüentemente deixada sem
acabamento adicional, constituindo o teto. A laje nervurada transmite as cargas
simultaneamente nas duas direções, sendo assim mais apropriada no formato quadrado ou
quase quadrado. O comportamento global do sistema é similar ao da laje plana, porém é mais

90
eficiente do que esta para vãos na faixa de 9 a 12 m, por possuir uma maior espessura global
sem que isto acarrete aumento do peso próprio.

Figura 7.9 – Laje sobre nervuras unidirecionais.

Figura 7.10 – Laje nervurada.

7.3 PAVIMENTOS ESTRUTURADOS EM AÇO

7.3.1 Laje simplesmente apoiada no vigamento


Um sistema de pavimento estruturado em aço caracteriza-se por uma laje de concreto
armado apoiada em um vigamento metálico de constituição variável, podendo ter vigas
principais, secundárias e terciárias. A laje, usualmente unidirecional, pode ser moldada no
local e maciça, com espessura entre 10 e 18 cm; ela também pode consistir em concreto sobre
um deque metálico com uma variedade de possíveis formatos de seção, com a espessura da
laje de no mínimo 6 cm (figura 7.11-a) ou, ainda, ser formada por unidades pré-moldadas
dispostas sobre vigas metálicas e cobertas por uma fina capa de concreto (figura 7.11-b).

Figura 7.11 – Lajes de concreto sobre vigamento metálico.

O peso da laje tem grande influência no peso e no custo de um edifício estruturado em


aço. A minimização deste peso é obtida dotando os pavimentos de lajes mais delgadas, as
quais requerem vãos menores. Assim, vigas com vãos maiores e espaçamento menor,
apoiando lajes de pequenos vãos, constituem um arranjo típico para se atingir este objetivo.

91
Os tipos de estruturação de pavimentos em aço, apresentados a seguir, são classificados de
acordo com a constituição do vigamento de sustentação:
a) Somente vigas principais
Uma malha retangular de colunas sustenta conjuntos de vigas paralelas de grande vão com
espaçamento relativamente pequeno, com a laje estendendo-se ao longo dos vãos menores
(figura 7.12). Em sistemas de pórticos transversais, as vigas situadas nos limites dos módulos
podem ter sua altura aumentada para integrar os pórticos de contraventamento.

Figura 7.12 – Laje sobre vigas principais metálicas.

b) Vigas principais e secundárias


Em edifícios nos quais as colunas necessitam estar mais distantes entre si em ambas as
direções, um sistema de vigas principais e secundárias é freqüentemente utilizado, com a laje
apoiando-se nas vigas secundárias (figura 7.13). Para minimizar a altura da estrutura do
pavimento, as vigas principais – mais carregadas – são dispostas segundo o vão menor,
enquanto as vigas secundárias – menos carregadas – o são segundo o vão maior.

Figura 7.13 – Laje sobre vigas principais e secundárias.

c) Vigas principais, secundárias e terciárias


Em edifícios nos quais as colunas necessitam estar muito largamente espaçadas, a fim de
proporcionar grandes áreas internas livres das mesmas, pode se tornar necessário um sistema
de vigas em três níveis (figura 7.14). Vigas treliçadas podem constituir o componente
primário, com os sistemas secundário e terciário sendo formados por vigas. De qualquer
modo, o vigamento é distribuído de forma a gerar vãos relativamente curtos para as lajes de
concreto.

7.3.2 Sistemas compósitos aço-concreto


A utilização de elementos de aço para sustentar uma laje de concreto oferece a
possibilidade de construção compósita, na qual esses elementos são ligados à laje por meio de
conectores de cisalhamento, de forma que ela atua como uma mesa comprimida. Tratam-se

92
das lajes mistas de aço e concreto, também chamadas de lajes com fôrma de aço incorporada.
O sistema é construído de forma que o deque de aço (steel deck), em vez de servir meramente
como fôrma permanente de uma laje armada com barras, funciona como a própria armadura
positiva da laje numa função compósita. Dentre as vantagens das lajes mistas, pode-se
mencionar a diminuição e até mesmo a eliminação do escoramento e a boa qualidade de
acabamento da face inferior da laje; além disso, a fôrma de aço pode ser utilizada como
plataforma de serviço e proteção aos operários.

Figura 7.14 – Laje sobre vigas principais, secundárias e terciárias.

O comportamento misto aço-concreto é proporcionado, por exemplo, pela ligação


mecânica por meio de mossas nas fôrmas de aço trapezoidais ou por meio do atrito devido ao
confinamento do concreto nas fôrmas de aço reentrantes, conforme pode ser visto na figura
7.15. A (ABNT, 2008) contém prescrições sobre as dimensões das nervuras das fôrmas de
aço.

Figura 7.15 – Lajes com fôrma de aço incorporada.

As lajes também podem ser projetadas para atuar de forma compósita com as próprias
vigas de sustentação, por meio de conectores de cisalhamento, constituindo as chamadas vigas
mistas. Ao mesmo tempo em que desempenha sua função como laje propriamente dita,
estendendo-se através da pequena distância entre as vigas, a laje, atuando de forma compósita
com as mesmas, integra o próprio sistema de sustentação (figura 7.16-a). A combinação
adicional de uma laje de concreto em deque metálico com conectores de cisalhamento
soldados ao longo das treliças ou das vigas de sustentação constitui um eficiente sistema de
estruturação de pavimentos (figura 7.16-b), já que o acréscimo de resistência e de rigidez
proporcionado pela associação dos elementos de aço e de concreto possibilita a redução da
altura dos mesmos.
O tipo de conector de cisalhamento mais utilizado é o pino com cabeça, mostrado na
figura 7.17-a; também são utilizados conectores constituídos por barra com gancho, perfil em

93
U e plaqueta com laço, mostrados respectivamente nas figuras 7.17-b, c e d. A (ABNT, 2008)
contém prescrições sobre as dimensões, localização e espaçamento dos conectores dos tipos
pino com cabeça e perfil U.

Figura 7.16 – Vigas mistas aço-concreto.

Segundo prescrições da (ABNT, 2008), as propriedades geométricas da seção de uma viga


mista devem ser determinadas por meio de homogeneização teórica da seção formada pelo
componente de aço e pela laje de concreto com sua largura efetiva. A participação do
concreto na zona tracionada deve ser desconsiderada e a largura efetiva deve ser dividida pela
razão E/EC, sendo E e EC os módulos de elasticidade do aço e do concreto, respectivamente.
A norma também estabelece formas de determinação do momento de inércia efetivo, a ser
considerado tanto para vigas mistas de alma cheia como para treliças mistas.

Figura 7.17 – Tipos de conectores de cisalhamento.

94
CAPÍTULO 8

ANÁLISE DAS SUBESTRUTURAS HORIZONTAIS

Conforme foi mencionado no capítulo 7, as subestruturas horizontais compreendem


elementos de placa formando as lajes dos pavimentos, usualmente sustentadas por vigas
compostas por elementos de barra. As vigas, por sua vez, transmitem o carregamento atuante
no pavimento para os pilares e/ou paredes. As lajes também podem ser diretamente
sustentadas por pilares ou paredes; neste caso, pode se considerar, para fins de análise, que
determinadas faixas das lajes atuem como vigas baixas e largas.
A análise do sistema de sustentação de um pavimento necessita levar em consideração,
entre outros, os seguintes fatores:
- integração do sistema com os elementos verticais (pilares e paredes);
- atuação conjunta de lajes e vigas;
- compatibilidade de deslocamentos verticais nos pontos de cruzamento das vigas.
Na atualidade, a referida análise pode ser realizada com o emprego do método dos
elementos finitos, modelando o sistema integral do pavimento como uma unidade, formada
por elementos de viga e de flexão de placa. Todavia, em um passado não muito distante,
anterior ao advento dos microcomputadores, essa análise era efetuada por meio de exaustivos
cálculos manuais, sendo necessário subdividir o sistema em elementos isolados. Esses
elementos eram então analisados separadamente e a interação entre eles era determinada de
forma aproximada.
A fim de dar uma idéia da evolução dos métodos de análise de estruturas de pavimentos,
as próximas seções apresentam três destes métodos, a saber, a análise de vigas isoladas, a
análise de vigas interligadas formando uma grelha e a análise integrada de vigas e lajes por
meio de elementos finitos.

8.1 ANÁLISE DE LAJES E DE VIGAS ISOLADAS

Neste método, cada laje é analisada isoladamente, sendo usual obterem-se suas
solicitações máximas com o auxílio de tabelas, determinarem-se suas reações pelo método das
charneiras plásticas e transferi-las como cargas verticais para as vigas que a circundam.
Cada viga também é analisada isoladamente, submetida a seu peso próprio, ao peso das
paredes nela apoiadas e às recém mencionadas reações das lajes. A viga é modelada como
simplesmente apoiada nos pilares e em outras vigas transversais a ela. Além disso, ela pode
estar servindo de apoio para vigas transversais que para ela transferem suas reações verticais.
Os apoios são considerados perfeitos, o que implica em falta de compatibilidade de
deslocamentos verticais nos pontos de cruzamento de vigas. Por exemplo, a figura 8.1-a
mostra uma viga AE, vinculada aos pilares A, C, E e às vigas transversais B e D. A figura 8.1-
b apresenta um modelo matemático caracterizando-a como uma viga contínua de três vãos,
apoiada na viga B e nos pilares já mencionados. A e E são considerados apoios externos e os
demais são apoios intermediários. A viga D é considerada como apoiada no interior do vão
CE, transmitindo-lhe a carga concentrada PD.
Para suprir parcialmente a falta de compatibilidade de deslocamentos verticais nos pontos
de cruzamento das vigas, considera-se apoiada a viga que apresentar o maior deslocamento
vertical no ponto de conexão ao ser analisada isoladamente sob suas respectivas cargas; a viga

95
que apresentar o menor deslocamento vertical é a que serve de apoio. Cabe ao projetista
definir previamente qual a viga apoiada e qual a de apoio, baseado em fatores como inércia
das seções das vigas, intensidade de suas cargas e posição do ponto de conexão dentro de seus
vãos. Uma vez que a reação vertical da viga apoiada se constitui em carga para a viga de
apoio, aquela deve ser analisada previamente a esta. Assim, também cabe ao projetista
estabelecer a seqüência de análise das vigas e, portanto, o percurso das cargas verticais, de
forma que, ao analisar determinada viga, já tenham sido determinadas as reações das vigas
que nela se apóiam. Com isto, também fica definido se o pavimento será projetado como um
sistema uni ou bidirecional de transmissão de cargas, conforme definição na seção 7.1.

Figura 8.1 – Modelos para análise de vigas isoladas.

A utilização deste modelo clássico de análise de um pavimento é prevista pela (ABNT,


2014), para fins de estudo do efeito das cargas verticais. Para considerar de forma aproximada
a integração de cada viga com os elementos verticais, especialmente no que se refere à
transmissão de momentos fletores, a norma estabelece as seguintes correções:
a) não devem ser considerados momentos positivos menores do que os que se obteriam se
houvesse engastamento perfeito da viga nos apoios internos;
b) quando a viga for solidária com um pilar intermediário e a largura do apoio, medida na
direção do eixo da viga, for maior do que a quarta parte da altura do pilar, não pode ser
considerado momento negativo de valor absoluto menor do que o de engastamento
perfeito nesse apoio;
c) quando a influência da solidariedade da viga com os pilares não for determinada de
forma exata, deve ser considerado, em cada apoio externo, um momento fletor igual ao
momento de engastamento perfeito multiplicado por um coeficiente dado por:

(rinf + rsup) / (rvig + rinf + rsup) (8.1)

96
ri é a rigidez à flexão do elemento i no nó considerado, avaliada conforme indicado na figura
8.2, sendo dada por:
ri = Ii / ℓi (8.2)

Ii e ℓi são, respectivamente, o momento de inércia da seção e o comprimento do elemento i.


Na viga da figura 8.1-b, os referidos momentos fletores estão representados por MA e ME. A
distribuição dos mesmos para os lances de pilar superior e inferior à viga se dá na proporção
entre rsup e rinf, respectivamente.
O modelo de vigas isoladas pode ser melhorado, considerando-se a solidariedade das
vigas tanto com os pilares de extremidade como os intermediários, mediante a introdução da
rigidez à flexão dos mesmos. Isto é feito por meio da inclusão de molas rotacionais
constituindo engastes elásticos da viga junto aos pilares, conforme o modelo mostrado na
figura 8.1-c. A constante de rigidez rotacional k destas molas também pode ser determinada
conforme o modelo da figura 8.2, com base no qual se pode mostrar que a constante k é dada
por:
k  6( EI / ) sup  6( EI / ) inf (8.3)

E é o módulo de elasticidade longitudinal do material; I e ℓ são, respectivamente, o momento


de inércia da seção e o comprimento do lance de pilar superior (índice sup) ou inferior (índice
inf) à viga.

Figura 8.2 – Consideração da rigidez dos pilares

Em ambos os modelos abordados nesta seção, o funcionamento conjunto das lajes e vigas
pode ser levado em consideração por meio da adoção de uma largura colaborante da laje
associada à viga, compondo uma seção transversal T. A (ABNT, 2014) estabelece critérios de
definição desta largura, em função principalmente da largura da própria viga, da distância
entre seus pontos de momento fletor nulo e da distância até as vigas paralelas a ela.

8.2 ANÁLISE DE GRELHAS

Os pavimentos dos edifícios podem, para fins de estudo do efeito das cargas verticais, ser
modelados como grelhas, definidas como estruturas reticuladas planas que só admitem cargas
normais a seus planos. As barras de uma grelha formam malhas cujas configurações mais
comuns aparecem na figura 8.3: ortogonal, esconsa e circular. Barras curvas, como no caso de

97
vigas-balcão, podem ser modeladas por meio de conjuntos de barras retas. As barras
interconectam-se rigidamente em pontos denominados nós (pontos de cruzamento dos eixos
baricêntricos das barras), satisfazendo assim à condição de compatibilidade de deslocamentos
verticais. Devido a essas condições de geometria e carregamento, ficam definidos três graus
de liberdade por nó, mostrados na figura 8.4-a para uma grelha contida no plano x-y:
- grau de liberdade translacional z: direção segundo a qual podem atuar forças e ocorrer
deslocamentos de translação do nó;
- graus de liberdade rotacionais x e y: direções em torno das quais podem atuar momentos
e ocorrer deslocamentos de rotação do nó.

Figura 8.3 – Tipos de malhas de grelhas.

Figura 8.4 – Graus de liberdade e solicitações em grelhas.

8.2.1 Caracterização da estrutura e resultados da análise


Para a análise de uma grelha, devem ser informados a constante de rigidez torcional e o
momento de inércia à flexão em relação ao eixo baricêntrico horizontal das seções das barras.
De acordo com a (ABNT, 2014), pode-se reduzir a rigidez torcional das barras, utilizando-se
15 % da rigidez elástica; para a verificação de estados-limites últimos, essa rigidez pode ser
considerada nula. Isto se aplica somente para aquelas barras que tenham uma adequada
capacidade de adaptação plástica e cuja resistência à torção não seja necessária para a
estabilidade da estrutura.

98
Ao contrário do que ocorre com o modelo de vigas isoladas, tratado na seção 8.1, não é
necessário obter as reações de apoio de vigas em outras vigas (definindo previamente o
percurso das cargas), pois esta interação é determinada automaticamente como parte da
análise da grelha. As cargas a serem fornecidas para cada barra são o seu peso próprio, o peso
de paredes nela apoiadas e as reações das lajes, obtidas da mesma forma que para as vigas
isoladas. A consideração do funcionamento conjunto das lajes e vigas (em termos de rigidez)
também pode ser feito da mesma forma que no modelo de vigas isoladas.
A vinculação de uma grelha com os pilares ocorre na forma de engastes elásticos,
caracterizados pela restrição ao deslocamento vertical e pela atuação de molas rotacionais
simulando as rigidezes das barras de pilar à flexão em torno de seus eixos principais centrais
de inércia; essas rigidezes podem ser determinadas conforme o modelo da figura 8.2, sendo
dadas pela equação (8.3).
No caso de simetria simples ou dupla do sistema em planta (simetria de geometria e de
carregamento), somente a metade ou a quarta parte da grelha necessita ser modelada. Neste
caso, a vinculação desta metade ou quarta parte com o restante do sistema fica caracterizada
por restrições à rotação em torno dos respectivos eixos de simetria, impostas aos nós situados
sobre os mesmos.
A figura 8.4-b mostra as solicitações que podem atuar numa barra de grelha, variando ao
longo do seu comprimento: força cortante V, momento torçor T e momento fletor M. Em
geral, os programas de análise de grelhas fornecem as solicitações atuantes nas extremidades
de cada barra, além das reações nos vínculos externos e dos deslocamentos dos nós. O
funcionamento de uma grelha pode ser entendido como o de um conjunto de vigas
entrecruzadas transmitindo solicitações de umas para as outras. No caso de vigas ortogonais
entre si, o momento fletor de uma viga é transmitido como momento torçor para a outra e
vice-versa, enquanto a força cortante é transmitida como força cortante.
Como exemplo, a figura 8.5 mostra a malha da grelha de sustentação da quarta parte de
um pavimento-tipo de um edifício residencial, com dupla simetria em planta. A grelha foi
analisada para o carregamento vertical permanente combinado com o vertical variável; ambos
os carregamentos são constituídos exclusivamente por cargas com distribuição uniforme ao
longo de cada barra. No texto que segue, define-se como viga uma sucessão de barras situadas
sobre uma mesma linha. Para descrever alguns princípios do funcionamento das grelhas,
foram selecionadas algumas vigas da estrutura da figura 8.5. Estas vigas estão definidas pelos
nós que elas unem, identificados na figura pelas letras A a M.

8.2.2 Transmissão de forças verticais


Um importante fator do comportamento de uma grelha é a transmissão de forças verticais
entre as vigas em seus pontos de cruzamento; essa transmissão é determinada de forma
automática como parte da análise e se manifesta na forma de saltos nos respectivos diagramas
de forças cortantes.
As figuras 8.6-a a d apresentam os diagramas de força cortante para quatro conjuntos de
barras da grelha mostrada na figura 8.5. Eles foram obtidos a partir dos valores da força
cortante atuante no início e no fim de cada barra, fornecidos pelo programa de análise, bem
como dos valores das cargas aplicadas nas barras. Para fins de visualização da transmissão de
forças verticais, o conjunto de barras correspondente a cada diagrama pode ser representado
como uma viga, isolada das demais, com seu próprio sistema de cargas e de reações verticais.
Essas vigas estão mostradas nas figuras 8.6-e a h e ainda não consideram a transmissão de
momentos entre elas, o que é visto mais adiante. Os comprimentos dos vãos podem ser
inferidos a partir da escala mostrada na figura 8.5. Observando-se as vigas e os diagramas da
figura 8.6, constata-se o seguinte:

99
Figura 8.5 – Malha de uma grelha de sustentação de pavimento.

- a viga KE, mostrada em e, funciona como se estivesse apoiada nas vigas JL e DF. Por
exemplo, a reação vertical de 22,3 kN no apoio E aparece como uma carga vertical na viga
DF, mostrada em f, provocando um salto para baixo no respectivo diagrama de cortantes,
mostrado em b.
- por sua vez, a viga DF comporta-se como estando apoiada no vão JC da viga MA e no pilar
F; as respectivas reações verticais constam em f.
- a viga IB, mostrada em g, apóia-se nos pilares B, F e na extremidade do balanço da viga
GI, mostrada em h. Assim, a reação de 6,9 kN no apoio I aparece como uma carga vertical na
viga GI, provocando um salto para baixo no respectivo diagrama de cortantes, mostrado em d.
- a viga GI funciona como estando apoiada na viga KE e no pilar H. A reação de 9 kN no
apoio G aparece como carga vertical na viga KE, mostrada em e, provocando um salto para
baixo no respectivo diagrama de cortantes, mostrado em a.
- finalmente, cabe destacar que, como era de se esperar, para todas as reações verticais das
vigas existe um salto para cima nos respectivos diagramas de cortantes.

8.2.3 Transmissão de momentos


Outro importante fator do comportamento de uma grelha é a transmissão de momentos
das vigas para os pilares e entre as próprias vigas em seus pontos de cruzamento. Nos
cruzamentos de vigas perpendiculares entre si, o momento fletor de uma transmite-se como
torçor para a outra e vice-versa. As figuras 8.7-c e e apresentam os diagramas de momentos
fletores das vigas IB e DF, pertencentes à grelha da figura 8.5; essas vigas, por sua vez, são

100
mostradas nas figuras 8.7-d e f, com seus sistemas de cargas e com os momentos transmitidos
a elas por outras partes da estrutura. As figuras 8.7-g e h apresentam os diagramas de
momentos torçores das vigas GI e MA.

Figura 8.6 – Transmissão de forças verticais entre as vigas.

Momentos incidentes nos nós I e D


A figura 8.7-a mostra os momentos incidentes no nó I da grelha da figura 8.5: 1,43 kN.m
atua como torçor na barra HI e como fletor no início da barra IF; 0,55 kN.m atua como torçor
na barra IF e como fletor no final da barra HI. Assim, o momento de 1,43 kN.m aparece com
sinal negativo no início do diagrama de momentos fletores da viga IB e no diagrama de
momentos torçores da viga GI (figuras 8.7-c e g).
A figura 8.7-b mostra os momentos incidentes no nó D da grelha da figura 8.5. O
momento fletor de 36,86 kN.m, atuante no início da barra DC, transmite-se em parte como
fletor para a barra JD (36,34 kN.m) e em parte como torçor para a barra DE (0,52 kN.m); o
momento fletor de 1,21 kN.m, atuante no início da barra DE, é equilibrado pela soma dos
torçores (1,11 kN.m + 0,10 kN.m) das barras DC e JD. Assim, este momento de 1,21 kN.m
aparece com sinal negativo no início do diagrama de momentos fletores da viga DF e como
um salto de 0,10 kN.m para – 1,11 kN.m no diagrama de momentos torçores da viga MA
(figuras 8.7-e e h).

101
Momentos fletores nas vigas IB e DF
O diagrama de fletores mostrado na figura 8.7-c apresenta um salto junto à seção F, bem
como momentos não nulos nas extremidades I (1,43 kN.m em módulo, já mencionado) e B.
A viga correspondente a esse diagrama é apresentada com seu sistema de cargas na figura 8.7-
d. O salto de 7,8 kN.m no diagrama corresponde a uma carga-momento de mesmo valor que
aparece decomposta em duas parcelas junto ao apoio F da viga: 7,6 kN.m são transmitidos ao
pilar F e 0,2 kN.m são transmitidos como momento torçor à barra EF. Algo semelhante se
passa na extremidade B; o momento de 12,5 kN.m em módulo, constante no diagrama,
também aparece na viga decomposto por duas parcelas: 12,3 kN.m, que são transmitidos ao
pilar B, e 0,2 kN.m transmitidos como momento torçor para a barra AB.

Figura 8.7 – Transmissão de momentos entre as barras da grelha.

O diagrama de momentos fletores mostrado na figura 8.7-e apresenta um pequeno salto


junto à seção E, bem como momentos não nulos nas extremidades D (−1,21 kN.m já
mencionado) e F. A viga correspondente a esse diagrama é apresentada com seu sistema de
cargas em f. O salto de 0,52 kN.m no diagrama corresponde a uma carga-momento de mesmo
valor, atuante na seção E da viga, sendo proveniente do momento torçor atuante no final da
viga KE. Na extremidade F, o momento de −30,07 kN.m, constante no diagrama, aparece
aplicado na viga como carga-momento decomposta em duas parcelas: 29,15 kN.m são
transmitidos para o pilar F e 0,92 kN.m são equilibrados pela soma dos momentos torçores
atuantes nas barras IF e FB.

102
Picos de momentos torçores
Os momentos torçores de −1,43 kN.m e −1,11 kN.m, constantes nos diagramas das figuras
8.7-g e h, são os que apresentam os maiores valores em módulo para este tipo de solicitação
em toda a grelha. Isto é causado por um fator que é característico do comportamento das
grelhas, ou seja, os picos de momento torçor tendem a ocorrer em barras curtas de cujas
extremidades estendem-se vigas transversais em direções opostas, conforme pode ser
observado na figura 8.5 para as barras HI e DC. A flexão das vigas transversais tende a fazer
girar as extremidades das barras curtas em direções opostas, intensificando a torção nas
mesmas.
Finalmente, cabe destacar que os valores bastante baixos dos momentos torçores em
comparação com os dos fletores neste exemplo se devem ao fato de se ter considerado apenas
15 % da rigidez das barras à torção, conforme é permitido pela (ABNT, 2014). Uma análise
da mesma estrutura, realizada com a rigidez integral à torção, resultou, de uma forma geral,
em momentos torçores entre cinco e seis vezes maiores do que os encontrados com a rigidez à
torção reduzida.

8.3 ANÁLISE POR ELEMENTOS FINITOS

O método dos elementos finitos é capaz de modelar e analisar o sistema integral de um


pavimento como uma unidade, utilizando elementos de placa e de viga que, em conjunto,
possuem uma capacidade inerente de transmissão biaxial de cargas. Assim, ao contrário do
que ocorre na utilização do modelo de vigas isoladas, não é necessário definir previamente o
pavimento como um sistema uni ou bidirecional, tampouco atribuir previamente um percurso
das cargas. A contribuição de uma região do pavimento ou de um componente, como uma
viga, na transmissão das cargas, seja numa ou em ambas as direções, é determinada
automaticamente como parte da solução, a partir da geometria, das propriedades do material e
do carregamento atuante em todo o pavimento.
Encontra-se atualmente disponível uma multiplicidade de tipos de elementos finitos de
flexão de placa, a cujos nós está associado o mesmo conjunto de graus de liberdade dos nós
de grelha, mostrado na figura 8.4-a. Podem se citar o elemento triangular de três nós e o
quadrilátero de quatro nós dos tipos DKT e DKQ (triângulo e quadrilátero discreto de
Kirchoff, com 9 e 12 graus de liberdade, respectivamente), bem como os elementos
quadriláteros isoparamétricos linear, quadrático e cúbico de 4, 8 e 12 nós, respectivamente.
Os resultados de uma análise por elementos finitos consistem nos valores das reações nos
vínculos externos e de deslocamentos segundo as direções dos graus de liberdade da figura
8.4-a, bem como de solicitações (força cortante e momentos fletores distribuídos por unidade
de comprimento) em cada nó da laje. Para que estes resultados tenham uma precisão
aceitável, a malha da região a ser analisada necessita conter uma quantidade de nós
suficientemente próximos entre si, interconectados por elementos cujos formatos não podem
ser muito alongados ou distorcidos. Critérios de definição do grau de distorção admissível de
um elemento encontram-se na literatura.
(OLIVEIRA e ELLWANGER, 2000) apresentam um estudo sobre a definição automática
de malhas de elementos finitos de flexão de placa para a obtenção de resultados
suficientemente precisos na análise das lajes que formam o pavimento de um edifício;
entende-se por laje a região do pavimento delimitada por vigas ou bordas livres. O estudo
enfocou a utilização do elemento triangular do tipo DKT. No que diz respeito às lajes
retangulares, define-se um coeficiente r como sendo a razão entre o comprimento do lado
maior e o do menor. O estudo resultou na determinação de duas configurações ideais de
malhas, a primeira para lajes com r entre 1 e 2 e a segunda para lajes com r superior a 2.

103
A figura 8.8-a mostra, em traço cheio, a malha a ser adotada para lajes com r entre 1 e 1,5.
No caso de r entre 1,5 e 2, para evitar a excessiva distorção dos elementos, devem ser
adicionados os trechos representados em tracejado. Para as lajes com r > 2, utiliza-se uma
malha com a configuração mostrada na figura 8.8-b, reduzindo o grande número de elementos
gerados caso fosse adotada a malha da figura 8.8-a. Mesmo sendo mais grosseira, esta malha
é considerada adequada para simular o comportamento predominantemente unidirecional
destas lajes alongadas. Cabe observar que ela possui um número fixo de duas divisões ao
longo do lado menor e um número variável ao longo do lado maior, dado por 2r (no exemplo
da figura, r = 2,5).
A inclusão no modelo das malhas de elementos finitos das lajes de um pavimento resulta
num grande aumento da quantidade de nós e conseqüentemente do número de equações do
sistema a ser resolvido, podendo, em muitos casos, até mesmo inviabilizar a análise de tais
estruturas. Um recurso utilizado para superar este problema tem sido o método da
subestruturação (divisão da estrutura em regiões menores ou subestruturas, no caso, as lajes).
Conforme é mostrado por (OLIVEIRA e ELLWANGER, 2000) o método realiza uma
condensação estática destas subestruturas, obtendo uma matriz de rigidez e um vetor de
cargas de cada laje (como se ela fosse um “superelemento”), expressos exclusivamente em
função dos nós de seu contorno ou contato com as vigas. Com isto, fica drasticamente
reduzido o número de nós do sistema estrutural e, conseqüentemente, o número de equações a
serem resolvidas.

Figura 8.8 – Malhas de elementos finitos para lajes.

8.4 CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS PARA ESTRUTURAS DE CONCRETO

Em estruturas de concreto, de acordo com a (ABNT, 2014), os trechos de elementos de


barra pertencentes à região comum ao cruzamento de dois ou mais elementos podem ser
considerados como rígidos (nós de dimensões finitas), conforme se ilustra na figura 8.9.

104
Figura 8.9 - Trechos rígidos

Por sua vez, o diagrama de momentos fletores pode ser arredondado junto aos apoios e
pontos de aplicação de forças consideradas como concentradas, bem como em nós de
pórticos. De acordo com a mesma norma, esse arredondamento pode ser feito de maneira
aproximada conforme indicado na figura 8.10-a ou 8.10-b, dependendo, respectivamente, de
existir ou não descontinuidade de momentos no apoio ou ponto considerado.

M  ( R2  R1 ) t 4 M '  R t / 8

M 1  R1 t / 4 M 2  R2 t / 4

Figura 8.10 - Arredondamento do diagrama de momentos fletores

105
CAPÍTULO 9

DISTRIBUIÇÃO DAS AÇÕES HORIZONTAIS NO SISTEMA


DE CONTRAVENTAMENTO

Este capítulo trata de um método aproximado de determinação da distribuição das ações


horizontais entre as subestruturas de contraventamento (seção 9.2), seguido por exemplos de
aplicação (seção 9.3). O assunto é precedido por uma descrição, na seção 9.1, dos sistemas de
referência adotados para a estrutura global do edifício e os seus componentes.

9.1 SISTEMAS DE REFERÊNCIA

A figura 9.1 mostra o sistema de eixos globais de referência (X-Y-Z) para o caso bastante
comum de um edifício com geometria ortogonal. Assim, sempre que se usarem notações
como pórtico na direção X, vento soprando na direção Y etc., estar-se-á fazendo referência a
este sistema global. Sua origem situa-se em um ponto arbitrário do plano que contém a base
do edifício e o eixo Z é orientado para cima. Os eixos X e Y são paralelos aos planos médios
dos pórticos e das paredes, bem como aos eixos principais centrais de inércia das seções dos
núcleos que formam o sistema de contraventamento do edifício.
Define-se também um conjunto de eixos auxiliares xi e yi, paralelos respectivamente aos
eixos globais X e Y, com a função de referenciar cada subestrutura individual. No exemplo da
figura 9.1, os eixos x3 e y4 contêm os eixos principais centrais de inércia da seção do núcleo e
os demais eixos auxiliares estão contidos nos planos médios dos pórticos que integram o
sistema de contraventamento.

Figura 9.1 – Sistema de referência global de um edifício.

106
Em geral, os programas de análise de pórticos pressupõem que os mesmos estejam
situados em planos verticais, como o plano (xP-yP) da figura 9.2-a. Assim, ao se analisar um
pórtico plano integrante de um sistema de contraventamento como o da figura 9.1, o eixo
vertical yP será necessariamente paralelo e com a mesma orientação do eixo global Z. Por sua
vez, o eixo horizontal xP será coincidente com um dos eixos auxiliares xi e yi e, portanto,
paralelo a um dos eixos globais X ou Y; ele poderá ter a mesma orientação de X ou Y ou
contrária a eles, dependendo da posição do observador em relação ao sistema da figura 9.1.
Definem-se também sistemas de eixos locais (xL-yL-zL) para cada barra da estrutura, com a
função de referenciar grandezas inerentes a ela (momentos de inércia de sua seção,
solicitações etc.). A orientação destes eixos em relação à estrutura é tal que xL, yL e zL, nesta
seqüência, formam um triedro direto; xL coincide com o eixo baricêntrico da barra, com
orientação definida pela ordem de suas conectividades, determinadas automaticamente pelo
programa ou fornecidas pelo usuário. Com relação às colunas e vigas de um pórtico (figuras
9.2-c e d), zL deve ser paralelo e ter a mesma orientação de zP. Assim, considerando o ângulo
de visão de quem observa a figura 9.1 de frente, zL será paralelo e com direção contrária ao
eixo global Y para as vigas e colunas dos pórticos na direção global X; por outro lado, zL será
paralelo e com a mesma direção de X para as barras dos pórticos na direção Y. No caso de se
estar analisando o sistema de sustentação de um pavimento na forma de grelha, o eixo zL de
cada uma das barras (figura 9.2-b) deve ser paralelo e com a mesma orientação do eixo global
Z.

Figura 9.2 – Sistemas de referência locais.

9.2 DISTRIBUIÇÃO DA CARGA DE VENTO ENTRE AS SUBESTRUTURAS DE


CONTRAVENTAMENTO

9.2.1 Diafragmas rígidos vinculados a molas


Uma questão fundamental, seja para a compreensão do comportamento da estrutura de um
edifício, seja para a análise simplificada da mesma, é a determinação das parcelas de

107
distribuição do carregamento horizontal entre as subestruturas de contraventamento. Para isto,
é assumido o comportamento dos pavimentos como diafragmas rígidos, isto é, indeformáveis
em seus planos. Estes diafragmas são sustentados horizontalmente pelas subestruturas de
contraventamento que, em um modelo elástico-linear, podem ser representadas por molas,
conforme mostra a figura 9.3. A atuação destas molas se dá em direções contidas no plano
médio das paredes e dos pórticos, bem como em direções coincidentes com os eixos
principais centrais de inércia da seção dos núcleos. Assim, qualquer ação horizontal aplicada
no sistema causará o surgimento de reações nas molas; invertendo-se o sinal das mesmas,
obtêm-se as parcelas de distribuição da ação entre as subestruturas correspondentes. O
método de determinação destas reações é exposto a seguir.

Figura 9.3 – Diafragma rígido vinculado horizontalmente por molas.

A condição assumida de os pavimentos serem indeformáveis em seus respectivos planos


implica em que os mesmos tenham apenas movimentos de corpo rígido. Assim, conforme
mostra a figura 9.4, todos os pontos do pavimento sofrerão a mesma rotação θ; além disso,
conhecidos os deslocamentos δxA e δyA de um ponto A de referência, podem-se determinar os
deslocamentos de um ponto qualquer P do pavimento (δxP e δyP) em função de δxA, δyA e das
coordenadas de A (xA, yA) e de P (xP, yP), através das seguintes expressões:

δxP = δxA - (yP-yA) tg θ ≈ δxA - θ (yP-yA) (9.1)

Figura 9.4 – Deslocamentos em um diafragma rígido.

108
δyP = δyA + (xP-xA) tg θ ≈ δyA + θ (xP-xA) (9.2)

9.2.2 Rigidez horizontal das subestruturas de contraventamento


Num procedimento simplificado, define-se rigidez horizontal de uma subestrutura de
contraventamento como sendo a razão entre uma força horizontal aplicada em seu topo e o
deslocamento horizontal por ela provocado neste mesmo nível. Este procedimento é dito
simplificado já que, não tendo as deformadas horizontais das subestruturas, de modo geral, o
mesmo formato, haveria diferentes proporções entre os coeficientes de rigidez horizontal,
calculados nos diversos níveis da estrutura. O procedimento só levaria a resultados
teoricamente corretos caso todas as subestruturas de contraventamento fossem do mesmo tipo,
ou seja, se todas fossem núcleos ou paredes maciças de seção constante ou com a inércia
variando na mesma proporção, nos mesmos níveis, ou se todas fossem pórticos com os
mesmos vãos e mesma proporção de inércias entre vigas e pilares.
Portanto, o cálculo teoricamente correto da rigidez horizontal de uma subestrutura de
contraventamento deveria ser feito nível a nível, considerando, inclusive, a interação entre
níveis adjacentes, com a formação de uma matriz de rigidez. Entretanto, a determinação da
distribuição das ações de vento entre as subestruturas de contraventamento não necessita dos
valores exatos das rigidezes horizontais das diversas subestruturas, mas sim da proporção
entre eles. Assim, tende a ser pequena a diferença entre as parcelas da referida distribuição de
ações obtidas pelo procedimento simplificado e aquelas oriundas da análise tridimensional,
com a consideração da estrutura espacial, formada por subestruturas de contraventamento em
planos paralelos, ligadas horizontalmente pelas lajes dos pavimentos.
Em sistemas com variação brusca de seção em diferentes proporções nos componentes das
diversas subestruturas de contraventamento, pode haver mudanças significativas na
distribuição do carregamento lateral entre as mesmas ao longo da altura do edifício. Neste
caso, deve-se dividir a altura do edifício em vários trechos e determinar a referida distribuição
de ações para cada um deles. Para isso, é necessário determinar, em cada trecho, novos
valores das rigidezes horizontais das subestruturas, com base nas relações entre forças
horizontais aplicadas e deslocamentos horizontais ocorridos nos níveis de mudança de seção
dos componentes do contraventamento.
Em sistemas formados por diferentes tipos de subestruturas de contraventamento, como
associações de paredes ou núcleos com pórticos, também pode haver mudanças significativas
na distribuição do carregamento horizontal, mesmo que o sistema seja uniforme ao longo da
altura. Neste caso, também se deve dividir a altura do edifício em dois ou mais trechos e
aplicar o procedimento descrito no parágrafo anterior.
Desta forma, assumindo um comportamento elástico-linear para a estrutura do edifício, as
subestruturas de contraventamento, no que diz respeito à absorção e transmissão de ações
horizontais, podem ser modeladas por molas como as mostradas na figura 9.3. Assim, são
válidas as seguintes relações entre deslocamentos (δxi, δyi, θ) e reações (Fxi, Fyi, Mi) na base de
uma mola qualquer i:
Fxi = -kxi δxi (9.3)

Fyi = -kyi δyi (9.4)

Mi = -kri θ (9.5)

 representa uma rotação contida no plano X-Y, sendo considerada positiva se anti-horária.
Os pórticos e paredes proporcionam rigidez horizontal somente em direções contidas em seus
respectivos planos. Os núcleos proporcionam rigidez horizontal segundo os eixos principais
de inércia de sua seção transversal, além de rigidez torcional. Os coeficientes de rigidez

109
horizontal kxi e kyi são determinados pelo método simplificado recém mencionado. Por este
mesmo método, a rigidez torcional kri de um núcleo é determinada pela razão entre um
momento de torção aplicado em seu topo e o ângulo de torção por ele provocado neste mesmo
nível.

Exemplo 9.1 – Coeficientes de rigidez horizontal de uma caixa de escada

Determinar os coeficientes de rigidez kxi e kyi de uma caixa de escada com altura de 75 m,
com as dimensões em planta mostradas na figura 9.5-a. Concreto com E = 3x106 tf/m2.

Figura 9.5 – Rigidez horizontal de uma caixa de escada.

De acordo com a definição do início da subseção 9.2.2 e com referência à figura 9.5-b, um
coeficiente de rigidez horizontal de uma subestrutura de contraventamento é dado pela razão
entre uma força horizontal P aplicada em seu topo e o deslocamento horizontal  por ela
provocado neste mesmo nível. Para a obtenção de , é necessário o cálculo dos momentos
principais de inércia da seção da figura 9.5-a. Por ser de simetria, y é um dos eixos principais
centrais de inércia da seção. O outro eixo, representado por x, intercepta y no baricentro da
seção, cuja coordenada yG pode ser calculada com referência ao eixo de trabalho x’, mostrado
na mesma figura. A coordenada yG é calculada da seguinte forma:

4 x 3x1,5  3,6 x 2,8 x1, 4


y   2,025 m
G
4 x 3  3,6 x 2,8

O momento principal central de inércia Iy é obtido por:

3x 43 2,8x 3,63
Iy    5,11 m 4
12 12

Com o valor recém obtido de Iy, com os valores dados de E e de l, assumindo um valor
unitário para a força P, pode-se determinar o deslocamento do topo provocado pela força P
atuando na direção x:
P3 1x 753
x    0,00917 m
3EI y 3x3x106 x5,11

O coeficiente de rigidez kxi é então determinado dividindo-se a força unitária pelo


deslocamento:

110
k xi  1 tf  x  109,0 tf / m

O momento de inércia Ix pode ser obtido através das somas das inércias, em relação a x,
dos retângulos que compõem a seção, situados acima e abaixo do próprio eixo x
(denominador 3). Em seguida, obtém-se y e o coeficiente kyi:

0,20 x 2,0253 4 x 0,9753 3,60 x 0,7753


Ix  2x    1,7844 m 4
3 3 3

P 3 1x 753
y    0,0263 m
3EI x 3x 3x106 x1,7844

k yi  1 tf  y  38,07 tf / m

9.2.3 Centro elástico do sistema de contraventamento


O centro elástico ou centro de rigidez é definido como um ponto do sistema caracterizado
pela condição: qualquer força, cuja reta de ação passe por este ponto, não provoca rotação do
sistema no plano horizontal, havendo, portanto, somente uma translação na direção da força.
Aplicando este conceito para o sistema da figura 9.3, seja uma força Fy (direção Y) cuja reta
de ação contem o centro elástico (CE), conforme mostrado na figura 9.6. De acordo com o
conceito recém exposto, a atuação de Fy provocará no sistema somente uma translação de
corpo rígido δy na direção da própria força. Estão representadas na figura 9.6 apenas as molas
que possuem rigidez nesta direção as quais, em conseqüência do comportamento do
pavimento como diafragma rígido, terão todas a mesma deformação δy. Estabelecendo-se a
condição de equilíbrio de forças na direção Y e aplicando-se a equação (9.4) com δy no lugar
de δyi, obtém-se:
Fy = Σ (-Fyi) = Σ kyi δy = δy Σ kyi (9.6)

Assim, o deslocamento δy, provocado por uma força Fy passando pelo centro elástico, é
expresso por:
δy = Fy / Σ kyi (9.7)

Figura 9.6 – Efeito de uma força com reta de ação contendo o centro elástico do sistema.

111
Para simplificar a notação, os símbolos de somatório aparecem sem o indicador i da
seqüência de parcelas e os respectivos limites; fica subentendido que cada somatório se refere
às molas numa determinada direção: X, Y ou rotacionais, conforme o caso. Aplicando-se (9.4)
com yi dado por y da equação (9.7), obtém-se a expressão da reação em uma mola i:

Fyi = -Fy kyi / Σ kyi (9.8)

A coordenada xo do centro elástico pode ser determinada, estabelecendo-se o equilíbrio de


momentos das forças mostradas na figura 9.6, em relação à origem do sistema de eixos X-Y, e
aplicando-se a equação (9.8):

Fy xo = Σ (-Fyi xi) = Σ [(Fy kyi / Σ kyi) xi] = Fy (Σ kyi xi) / Σ kyi (9.9)

Isolando-se xo: xo = Σ kyi xi / Σ kyi (9.10)

Através da mesma linha de raciocínio, pode-se estudar o efeito da atuação de uma força Fx
(direção X) com reta de ação passando por CE, chegando-se às seguintes expressões:

a) reações em cada mola com rigidez na direção Y: Fxi = -Fx kxi / Σ kxi (9.11)

b) coordenada yo do centro elástico: yo = Σ kxi yi / Σ kxi (9.12)

9.2.4 Rigidez do sistema à rotação em torno do centro elástico


Se uma carga momento M (contida no plano X-Y) atuar no sistema da figura 9.3, o mesmo
sofrerá uma rotação na mesma direção de M. Considerando o conceito de centro elástico e a
não atuação de forças externas, neste caso, pode-se concluir que o centro elástico não terá
nenhuma translação. Assim, todo o sistema gira segundo um ângulo θ em torno de CE,
conforme se pode observar na figura 9.7. Estabelecendo-se um novo sistema de eixos de
referência - , com origem em CE, podem-se expressar as translações de um ponto qualquer
Pi de coordenadas ( i, i), aplicando-se as equações (9.1) e (9.2), com CE desempenhando o
papel do ponto A. Neste caso, como δ CE = δyCE = CE = CE = 0, as expressões de δxi e δyi

Figura 9.7 – Carga momento M causando uma rotação do sistema em torno do centro elástico.

112
ficam reduzidas respectivamente a –θ i e θ i. Introduzindo-as nas equações (9.3) e (9.4),
podem-se expressar as reações da figura 9.7 para cada mola i:

Fxi = kxi θ i (9.13)

Fyi = -kyi θ i (9.14)

As reações momento Mzi permanecem sendo expressas por (9.5). Para obter a relação
entre a carga momento M e a rotação θ que ela provoca, deve-se expressar o equilíbrio de
momentos em torno de CE. De acordo com a situação da figura 9.7, contribuem para esta
expressão o momento M, a reação momento Mz1 e os produtos das reações Fxi e Fyi,
respectivamente, pelas coordenadas i e i de seus pontos de atuação. Genericamente, este
equilíbrio fica assim expresso:

M = Σ(-Mzi) + Σ(-Fyi i) + Σ[–Fxi(- i)] (9.15)

Introduzindo-se as equações (9.13), (9.14) e (9.5), obtem-se:


2 2
M = Σ kri θ + Σ kyi θ i i + Σ kxi θ i i = θ (Σ kri + Σ kyi i + Σ kxi i ) (9.16)

Portanto: θ = M / kR (9.17)
2 2
onde kR = Σ kri + Σ kyi i + Σ kxi i (9.18)

kR é definida como a rigidez do sistema à rotação em torno do CE. Introduzindo θ da


equação (9.17) nas equações (9.13), (9.14) e (9.5), obtêm-se as reações nas molas devido à
atuação de uma carga momento M:

Fxi = M kxi i / kR (9.19)

Fyi = -M kyi i / kR (9.20)

Mzi = -M kri / kR (9.21)

9.2.5 Atuação de forças com reta de ação fora do centro elástico


Quando uma ação horizontal estiver aplicada fora do centro elástico, o problema pode ser
tratado como uma superposição de dois efeitos: a) ação aplicada no centro elástico; b) atuação
de um momento, igual ao produto da ação pela respectiva excentricidade em relação a CE.
A figura 9.8 mostra as superposições a serem consideradas para os casos de ações Hx e Hy
aplicadas, respectivamente, com excentricidades ex e ey em relação ao centro elástico. Assim,
considerando a atuação de Hx com excentricidade ex, as reações nas molas na própria direção
X ( xi) são obtidas pela superposição das Fxi dadas por (9.11) e (9.19), substituindo-se Fx por
Hx:
xi = -Hx kxi / Σ kxi + M kxi i / kR (9.22)

As reações nas demais molas (direção Y e rotacionais) são obtidas pela aplicação das
equações (9.20) e (9.21). Nos três casos, M é dado por mais ou menos Hx ex, dependendo se
M é, respectivamente, anti-horário ou horário.

113
Por outro lado, considerando a atuação de Hy com excentricidade ey, as reações nas molas
na própria direção Y ( yi) são obtidas pela superposição das Fyi dadas por (9.8) e (9.20),
substituindo-se Fy por Hy:
yi = -Hy kyi / Σ kyi - M kyi i / kR (9.23)

As reações nas demais molas (direção X e rotacionais) são obtidas pela aplicação das
equações (9.19) e (9.21). Nos três casos, M é dado por mais ou menos Hy ey, dependendo se M
é, respectivamente, anti-horário ou horário.

Figura 9.8. Atuação de forças com excentricidades em relação ao centro elástico.

9.2.6 Roteiro de cálculo


A seqüência de operações para a obtenção da distribuição do carregamento horizontal
entre as subestruturas de contraventamento é a seguinte:
a) Análise dos pórticos e paredes/núcleos submetidos a uma carga horizontal unitária no topo,
obtendo-se os respectivos deslocamentos horizontais, cuja inversão fornece as rigidezes kxi e
kyi; se for o caso, análise dos núcleos submetidos a um momento unitário em torno de seus
respectivos eixos, no topo, obtendo-se as respectivas rotações, cuja inversão fornece as
rigidezes rotacionais kri.
b) Definição de um sistema de eixos X-Y no plano do pavimento genérico (diafragma da
figura 9.6) e determinação das coordenadas xo e yo do centro elástico (CE), aplicando-se as
equações (9.10) e (9.12).
c) Estabelecimento de um novo sistema de coordenadas - , com origem em CE, e
determinação da rigidez rotacional kR do sistema, aplicando-se a equação (9.18).
d) Dada uma ação Hx e sua excentricidade ex em relação a CE, determinação das respectivas
reações nas molas, aplicando-se as equações (9.22), (9.20) e (9.21); inversão dos sinais das
mesmas, obtendo-se as parcelas de distribuição de Hx entre as subestruturas de
contraventamento.
e) Dada uma ação Hy e sua excentricidade ey em relação a CE, determinação das respectivas
reações nas molas, aplicando-se as equações (9.23), (9.19) e (9.21); inversão dos sinais das
mesmas, obtendo-se as parcelas de distribuição de Hy entre as subestruturas de
contraventamento.

9.3 EXEMPLOS

Apresentam-se a seguir três exemplos de aplicação do roteiro de cálculo, visto na seção


precedente, na determinação da distribuição do carregamento de vento entre as subestruturas

114
de três sistemas de contraventamento. No primeiro exemplo, a análise restringe-se a um andar
isolado do edifício e considera as cargas aplicadas no centro das fachadas. Nos outros dois, a
análise estende-se a todos os andares do edifício e considera as excentricidades da carga de
vento prescritas pela (ABNT, 1988).

Exemplo 9.2 – Contraventamento com paredes em uma direção e pórticos na outra

A figura 9.9-a mostra o sistema de contraventamento de um prédio comercial de 20


andares e 60 m de altura. As rigidezes horizontais relativas, obtidas para as subestruturas de
contraventamento, estão listadas a seguir:
Pórticos: k5 = k6 = k Paredes: k1 = 15 k; k2 = k3 = k4 = 5 k
Ao nível do 15º andar, foram calculadas as forças horizontais resultantes da ação do vento
nas direções X e Y como sendo iguais, respectivamente, a 36 kN e 120 kN. Determinar que
parcelas destas forças vão atuar, neste nível, em cada uma das subestruturas de
contraventamento.

Figura 9.9 – Sistema de contraventamento – exemplo 9.2.

O diafragma com as molas correspondentes às subestruturas de contraventamento é


mostrado na figura 9.9-b. Os eixos globais X e Y estão contidos, respectivamente, nos planos
médios do pórtico 6 e da parede1. Aplicando-se as equações (9.10) e (9.12), determinam-se as
coordenadas do centro elástico (CE):

115
 k yi xi  15k x 0  5k x 9  5k x 18  5k x 27  270k

 k yi  30k x0  270k 30k  9m

 k xi yi  k x 0  k x 14,8  14,8k

 k xi  2k y0  14,8k 2k  7,4m

Desta forma, o centro elástico fica coincidente com o baricentro da parede 2, o eixo fica
contido em seu plano médio e o eixo resulta paralelo e eqüidistante aos planos médios dos
pórticos 5 e 6. As coordenadas das molas em relação ao sistema - são:

1 = –9 2 =0 3 =9 4= 18 y5 = 7,4 y6 = –7,4

Aplicando-se a equação (9.18), obtém-se a rigidez rotacional do sistema:

2 2 2 2 2
k R  15k x ( 9)  5k x 0  5k x 9  5k x 18  k x 7, 4  k x(  7, 4)

k R  (1215  0  405  1620  55  55) k  3350k

a) Efeito do vento na direção X: Hx = 36 kN


A reta de ação de Hx contém o centro elástico. Assim, M = 0 e as reações nas molas na
direção X (equação 9.22) serão:

x5 = x6 = –36k / 2k = –18 kN

Invertendo-se o sinal, obtêm-se as parcelas de distribuição de Hx:

Hx5 = Hx6 = 18 kN ∑ = 36 kN

Já que M = 0, as reações nas molas na direção Y (equação 9.20) serão nulas.


Conseqüentemente:
Hy1 = Hy2 = Hy3 = Hy4 = 0

b) Efeito do vento na direção Y: Hy = 120 kN

Observando-se a figura 9.9-b, constata-se que Hy provoca um momento anti-horário em


relação a CE, dado por: M = 4,5 x 120 = 540 kN.m. As reações nas molas na direção Y serão
obtidas aplicando-se a equação (9.23):

y1 = –120 x 15k / 30k – 540 x 15k x (–9) / 3350k = –60 + 21,76 = –38,24 kN

y2 = –120 x 5k / 30k – 540 x 5k x 0 / 3350k = –20 kN

y3 = –120 x 5k / 30k – 540 x 5k x 9 / 3350k = –20 – 7,25 = –27,25 kN

y4 = –120 x 5k / 30k – 540 x 5k x 18 / 3350k = –20 – 14,51 = –34,51 kN

116
Invertendo-se os sinais, obtém-se as parcelas de distribuição de Hy:

Hy1 = 38,24 kN Hy2 = 20 kN Hy3 = 27,25 kN Hy4 = 34,51 kN ∑ = 120 kN

As reações nas molas na direção X são obtidas aplicando-se a equação (9.19):

x5 = – x6 = 540k x 7,4 / 3350k = 1,19 kN

Invertendo-se os sinais, obtém-se: –Hx5 = Hx6 = 1,19 kN

Exemplo 9.3 – Contraventamento formado somente por pórticos

A figura 9.10 mostra esquematicamente o sistema de contraventamento de um edifício


residencial de 16 andares com pé-direito de 2,8 m. Na direção transversal (Y), têm-se os
pórticos P1 a P4, onde P1 = P4 e P2 = P3. A figura 9.11 mostra a geometria destes pórticos,
incluindo os comprimentos dos vãos e as dimensões das seções de vigas e pilares. O
contraventamento longitudinal (direção X) é feito exclusivamente pelo pórtico P5. A estrutura
será de concreto com E = 2,9 x 106 tf/m2.

Figura 9.10 – Sistema de contraventamento – Exemplo 9.3.

Inicialmente, para analisar o contraventamento transversal, aplica-se uma carga unitária


horizontal no topo dos pórticos P1 a P4, obtendo-se os deslocamentos e as respectivas
rigidezes, listadas na tabela 9.1.
No lugar das molas, a figura 9.10 mostra as cotas dos planos médios dos pórticos.
Aplicando-se as equações (9.10) e (9.12), determinam-se as coordenadas do centro elástico:

 k yi xi  176,44 x 0  236,21 x 9,7  236,21 x 13,32  176,44 x 26,87  10178,5

 k yi  825,3 x0  10178,5 825,3  12,33m

Como o pórtico P5 é a única subestrutura de contraventamento na direção X, tem-se y0 =


0. De acordo com as figuras 9.10 e 9.12, as coordenadas das molas em relação ao sistema - ,
com origem em CE, serão:

117
Figura 9.11 – Dados de geometria – Pórticos do exemplo 9.3.

Tabela 9.1 – Obtenção da rigidez horizontal – Pórticos do exemplo 9.3.

Pórtico Coordenada x Desloc. () Rigidez (k = 1/)


=============================================
P1 0, 0,0056676 176,44
P2 9,70 0,0042335 236,21
P3 13,32 0,0042335 236,21
P4 26,87 0,0056676 176,44
∑ = 825,30
=============================================

1 = –12,33 2 = –2,63 3 = 0,99 4 = 14,54 y5 = 0

Aplicando-se a equação (9.18), obtém-se a rigidez rotacional do sistema que, neste caso,
fica reduzida a Σ kyi i2:

k R  176,44 x (12,33) 2  236,21 x (2,63) 2  236,21 x 0,992  176,44 x 14,542  65991

a) Efeito do vento transversal


De acordo com a (ABNT, 1988), será considerada a excentricidade de atuação do vento
transversal igual a 0,15 x 27,07 = 4,06m (edificação com efeito de vizinhança até o seu topo).
Considerando, inicialmente, a excentricidade para a direita, a distância entre CE e o ponto de
aplicação do carregamento de vento, conforme mostra a figura 9.12, será:

(26,87 / 2 + 4,06) – 12,33 = 5,165 m

118
Figura 9.12 – Excentricidades das cargas de vento – exemplo 9.3.

Haverá, em relação a CE, a atuação de uma força Hy (resultante do carregamento de vento


na direção transversal) e de um momento anti-horário dado por M = 5,165 Hy. As reações nas
molas são obtidas aplicando-se a equação (9.23):

y1 = –176,44 Hy / 825,3 – 5,165 Hy x 176,44 x (–12,33) / 65991 = –0,044 Hy

y2 = –236,21 Hy / 825,3 – 5,165 Hy x 236,21 x (–2,63) / 65991 = –0,238 Hy

y3 = –236,21 Hy / 825,3 – 5,165 Hy x 236,21 x 0,99 / 65991 = –0,304 Hy

y4 = –176,44 Hy / 825,3 – 5,165 Hy x 176,44 x 14,54 / 65991 = –0,415 Hy

Invertendo-se os sinais destas reações, obtêm-se as parcelas de distribuição de Hy entre os


pórticos transversais:

Hy1 = 0,044 Hy Hy2 = 0,238 Hy Hy3 = 0,304 Hy Hy4 = 0,415 Hy ∑ = Hy

Como y5 nula e,
conseqüentemente, ações nulas para o pórtico longitudinal P5. Considerando, agora, a
excentricidade para a esquerda, a distância entre CE e o ponto de aplicação do carregamento
(ver figura 9.12) será de: 12,33 – (26,87/ 2 – 4,06) = 2,955 m. Isto dá origem à atuação de um
momento horário dado por: M = –2,955 Hy. Aplicando-se novamente a equação (9.23),
determinam-se as reações nas molas. Invertendo-se o sinal das mesmas, obtém-se:

Hy1 = 0,311 Hy Hy2 = 0,314 Hy Hy3 = 0,276 Hy Hy4 = 0,099 Hy ∑ = Hy

Assim, as ações mais severas a serem aplicadas em cada pórtico, devidas ao vento na
direção Y, serão:

Pórtico P1: 0,311 Hy Pórtico P2: 0,314 Hy Pórtico P3: 0,304 Hy Pórtico P4: 0,415 Hy

A distribuição destas ações entre os diversos andares dos pórticos é obtida aplicando-se as
proporções recém determinadas e está mostrada na tabela 9.2. As forças totais por andar (Hy)
foram determinadas considerando-se V0 = 45 m/s, fatores S1 e S3 iguais a 1 e fatores S2 para
rugosidade de categoria IV e edificação de classe B.

119
Tabela 9.2 – Ações horizontais (kN) nos pórticos devidas ao vento na direção Y.

Pavto. Força total Pórtico P1 Pórtico P2 Pórtico P3 Pórtico P4


========================================================
1 74,11 23,08 23,28 22,56 30,72
2 76,24 23,74 23,95 23,21 31,60
3 84,38 26,27 26,50 25,69 34,97
4 90,67 28,23 28,48 27,60 37,58
5 95,87 29,85 30,11 29,19 39,73
6 100,34 31,24 31,52 30,55 41,59
7 104,28 32,47 32,76 31,75 43,22
8 107,82 33,57 33,87 32,83 44,69
9 111,05 34,57 34,88 33,81 46,02
10 114,01 35,50 35,81 34,71 47,25
11 116,76 36,35 36,67 35,55 48,39
12 119,33 37,15 37,48 36,33 49,45
13 121,74 37,90 38,24 37,06 50,45
14 124,02 38,61 38,95 37,76 51,40
15 126,17 39,28 39,63 38,41 52,29
16 64,11 19,96 20,14 19,52 26,57
_______________________________________________________________

Tabela 9.3 – Ações horizontais (kN) nos pórticos devidas ao vento na direção X.

Pavto. Pórtico P1 Pórtico P2 Pórtico P3 Pórtico P4 Pórtico P5


========================================================
1 4,95 1,41 –0,53 –5,83 20,90
2 5,09 1,45 –0,55 –6,00 21,50
3 5,63 1,61 –0,60 –6,64 23,79
4 6,05 1,73 –0,65 –7,13 25,56
5 6,40 1,83 –0,69 –7,54 27,03
6 6,70 1,91 –0,72 –7,90 28,29
7 6,96 1,99 –0,75 –8,21 29,40
8 7,20 2,06 – 0,77 –8,48 30,40
9 7,41 2,12 –0,79 –8,74 31,31
10 7,61 2,18 –0,82 –8,97 32,15
11 7,79 2,23 –0,84 –9,19 32,92
12 7,97 2,28 –0,85 –9,39 33,65
13 8,13 2,32 –0,87 –9,58 34,33
14 8,28 2,37 –0,89 –9,76 34,97
15 8,42 2,41 –0,90 –9,93 35,58
16 4,28 1,22 –0,46 –5,04 18,08
-----------------------------------------------------------------------------------------------

b) Efeito do vento longitudinal


O carregamento de vento na direção X é integralmente absorvido pelo pórtico P5.
Entretanto, como ele está localizado excentricamente, haverá a atuação também de um
momento que provocará a rotação dos pavimentos e, conseqüentemente, a aplicação de forças
nos pórticos transversais P1 a P4. De acordo com as figuras 9.10 e 9.12, a excentricidade de

120
atuação do vento longitudinal é igual a 0,15 x 11,20 = 1,68 m. Uma vez que o pórtico P5
encontra a fachada lateral em sua extremidade direita, o efeito mais severo do vento segundo
X é o devido à atuação de Hx com excentricidade para a esquerda. Assim, o momento de Hx
em relação a CE terá sentido horário, sendo dado por M = – (11,10 / 2 + 1,68) Hx = –7,23 Hx.
Para determinar a distribuição de Hx, aplicam-se as equações (9.22) e (9.20) e invertem-se os
seus sinais, obtendo-se:

Hy1 = 0,237 Hx Hy2 = 0,068 Hx Hy3 = –0,025 Hx Hy4 = –0,279 Hx Hx5 = Hx

A distribuição destas ações entre os andares dos pórticos é obtida aplicando-se as


proporções recém determinadas e está mostrada na tabela 9.3.

Exemplo 9.4 – Contraventamento formado por pórticos e núcleos

Trata-se do mesmo edifício do exemplo 9.3, porém tendo 24 andares. O sistema de


contraventamento, no lugar dos pórticos P2 e P3, apresenta os núcleos N1 e N2, conforme
mostra a figura 9.13. Os pórticos P1 e P4 possuem os mesmos vãos e as mesmas seções
transversais dos pilares do exemplo 9.3; as seções das vigas foram alteradas para 20x65 cm. O
pórtico P5 tem sua geometria mostrada na figura 9.14, na qual se observa que o núcleo N2
participa do mesmo como um pilar.

Figura 9.13 – Sistema de contraventamento – exemplo 9.4.

Figura 9.14 – Vãos e seções transversais do conjunto P5/N2.

As rigidezes horizontais dos núcleos segundo X e Y são obtidas pelo mesmo método
utilizado no exemplo 9.1. As rigidezes dos pórticos P1, P4 e P5/N2 são determinadas após

121
submetê-los à análise sob a ação de uma carga horizontal unitária no topo. O diafragma rígido
representando o contraventamento transversal e o longitudinal está mostrado na figura 9.15.
Os núcleos N1 e N2, por terem seus baricentros no mesmo alinhamento segundo Y, terão suas
rigidezes nesta direção representadas por uma única mola, integrando o coeficiente ky2. As
rigidezes das molas, em tf/m, são as seguintes:

kx1 = 605,69 (conjunto P5/N2) kx2 = 269,03 (núcleo N1)

ky1 = ky3 = 101,50 (pórticos P1 e P4) ky2 = 377,33 (núcleo N1) + 15,43 (Núcleo N2)

Figura 9.15 – Diafragma rígido com molas – exemplo 9.4.

Os pórticos absorvem somente forças contidas em seus próprios planos, neste caso forças
na direção Y para os pórticos P1 e P4 e forças na direção X para o conjunto P5/N2. Além
disso, o núcleo N2 também absorve forças na direção Y. Por sua vez, o núcleo N1 absorve
forças em ambas as direções. Por constituírem perfis de seção aberta, a resistência dos núcleos
à torção foi desconsiderada.
A tabela 9.4 apresenta a distribuição das ações devidas ao vento transversal (direção Y)
nos diversos andares de cada subestrutura, segundo as direções recém mencionadas. Da
mesma forma que no exemplo 9.3, foi determinada a distribuição de ações do vento atuando
com excentricidade para a esquerda e para a direita do centro geométrico; foram incluídas na
tabela, para cada subestrutura, apenas as ações mais severas dentre as correspondentes às duas
excentricidades pesquisadas. As proporções do carregamento de vento absorvidas pelas
subestruturas constam no cabeçalho da tabela. Por sua vez, a tabela 9.5 contém as mesmas
informações da tabela 9.4 com respeito ao vento longitudinal (direção X).
A consideração das excentricidades das ações de vento prescritas pela (ABNT, 1988),
bem como a existência da excentricidade do centro elástico do contraventamento, causa
torção do edifício. Isto faz com que o vento atuante numa determinada direção provoque
forças nas subestruturas segundo ambas as direções X e Y.
A tendência natural é a de que as maiores forças, em módulo, absorvidas por uma
subestrutura segundo uma determinada direção sejam as devidas ao vento atuante naquela
mesma direção. Todavia, exceções ocorrem. Neste exemplo, as maiores forças na direção X,
em módulo, absorvidas pelo núcleo N1, são causadas pelo vento atuante na direção Y. Elas
aparecem na 6ª coluna da tabela 9.4 e superam em 35,8 % as forças na direção X causadas
pelo vento atuante na própria direção X, constantes na 6ª coluna da tabela 9.5.

122
Tabela 9.4 – Distribuição das ações (kN) devidas ao vento na direção Y – exemplo 9.4.

Força Pórtico Pórtico Conjunto Núcleo Núcleo Núcleo


Pav. total P1 P4 P5/N2 N1 (X) N1(Y) N2 (Y)
Hy .236 Hy .329 Hy .171 Hy −.171 Hy .647 Hy .026 Hy
=======================================================
1 71,06 16,74 23,40 12,15 −12,15 45,96 1,85
2 73,26 17,26 24,13 12,53 –12,53 47,40 1,90
3 81,74 19,25 26,92 13,98 –13,98 52,88 2,12
4 88,34 20,81 29,09 15,11 –15,11 57,14 2,30
5 93,83 22,10 30,90 16,05 –16,05 60,69 2,44
6 98,56 23,22 32,46 16,86 –16,86 63,76 2,56
7 102,75 24,20 33,84 17,57 –17,57 66,47 2,67
8 106,52 25,09 35,08 18,22 –18,22 68,90 2,77
9 109,96 25,90 36,21 18,81 –18,81 71,13 2,86
10 113,14 26,65 37,26 19,35 –19,35 73,19 2,94
11 116,09 27,35 38,23 19,85 –19,85 75,09 3,02
12 118,85 28,00 39,14 20,33 –20,33 76,88 3,09
13 121,44 28,61 39,99 20,77 –20,77 78,55 3,16
14 123,90 29,19 40,80 21,19 –21,19 80,15 3,22
15 126,23 29,73 41,57 21,59 –21,59 81,65 3,28
16 128,45 30,26 42,30 21,97 –21,97 83,09 3,34
17 130,57 30,76 43,00 22,33 –22,33 84,26 3,39
18 132,60 31,23 43,67 22,68 –22,68 85,77 3,45
19 134,55 31,69 44,31 23,01 –23,01 87,03 3,50
20 136,42 32,14 44,93 23,33 –23,33 88,24 3,55
21 138,23 32,56 45,52 23,64 –23,64 89,42 3,59
22 139,98 32,97 46,10 23,94 –23,94 90,55 3,64
23 141,67 33,37 46,66 24,23 –24,23 91,64 3,68
24 71,65 16,88 23,60 12,25 –12,25 46,35 1,86
________________________________________________________________

123
Tabela 9.5 – Distribuição das ações (kN) devidas ao vento na direção X – exemplo 9.4.

Força Pórtico Pórtico Conjunto Núcleo Núcleo Núcleo


Pav. total P1 P4 P5/N2 N1 (X) N1(Y) N2 (Y)
Hx .112Hx –.136Hx .652Hx .453Hx .0221Hx .0009Hx
========================================================
1 19,74 2,21 –2,67 12,88 8,95 ,442 ,018
2 20,35 2,28 –2,76 13,28 9,23 ,461 ,019
3 22,70 2,55 –3,08 14,81 10,29 ,510 ,020
4 24,54 2,75 –3,33 16,01 11,12 ,548 ,022
5 26,06 2,92 –3,53 17,00 11,82 ,586 ,024
6 27,38 3,07 –3,71 17,86 12,41 ,615 ,025
7 28,54 3,20 –3,87 18,62 12,94 ,644 ,026
8 29,59 3,32 –4,01 19,30 13,41 ,663 ,027
9 30,54 3,42 –4,14 19,93 13,85 ,683 ,027
10 31,42 3,52 –4,26 20,50 14,25 ,711 ,029
11 32,24 3,62 –4,37 21,04 14,62 ,721 ,029
12 33,01 3,70 –4,47 21,54 14,97 ,740 ,030
13 33,73 3,78 –4,57 22,01 15,29 ,759 ,031
14 34,41 3,86 –4,66 22,45 15,60 ,769 ,031
15 35,06 3,93 –4,75 22,88 15,90 ,788 ,032
16 35,68 4,00 –4,83 23,28 16,17 ,798 ,032
17 36,27 4,07 –4,91 23,66 16,44 ,817 ,033
18 36,83 4,13 –4,99 24,03 16,70 ,827 ,033
19 37,37 4,19 –5,06 24,38 16,94 ,836 ,034
20 37,89 4,25 –5,13 24,72 17,18 ,856 ,034
21 38,39 4,30 –5,20 25,05 17,41 ,865 ,035
22 38,88 4,36 –5,27 25,37 17,63 ,875 ,035
23 39,35 4,41 –5,33 25,67 17,84 ,884 ,036
24 19,90 2,23 –2,70 12,99 9,02 ,452 ,018
========================================================

124
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Forças devidas ao vento


em edificações (NBR 6123:1988). Rio de Janeiro: ABNT, 1988.

______. Ações e segurança nas estruturas - Procedimento (NBR 8681:2003). Rio de Janeiro:
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