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Antes de mais queria começar por comentar a ironia do título do filme ser
Unthinkable traduzido para português Impensável e este trabalho ser no âmbito da
Filosofia que nos leva a refletir sobre tudo. Transporta-nos logo, portanto, para a
atmosfera de complexidade e debate de ideias que vai ser o filme.
Neste filme debatemo-nos entre duas perspetivas, a de H que acreditava que não
era condenável torturar um homem para salvar um grande número de pessoas da
explosão das bombas nucleares e a perspetiva de Brody que considera desumana a
tortura tão violenta de um homem mesmo nas circunstâncias em que se encontram.
Quando deixa de ser uma questão entre o bem e o mal, mas sim entre a vitória e
a derrota procurando a glória, todas as atitudes heroicas são egoístas.
Estas veem os seus ideais questionados e por isso sofrem uma modelação
psicológica que faz com que exerçam um pensamento crítico sobre o valor das suas
ações e as noções de certo e errado.
A este ponto é possível afirmar que este filme é uma “montanha russa” de
sentimentos que vai moldando as personagens à mercê dos acontecimentos. Durante o
filme existe uma contante procura pelo “ponto fraco” das personagens para as derrubar,
pois, no fundo há sempre fatores que fogem do nosso controlo mesmo que pensemos
que estamos preparados.
“Eu aceito o meu destino…” disse Steven ou como ele pedia que lhe chamassem
Yusuf. Conseguimos facilmente entender que Steven já estava preparado para ser
capturado pela polícia aliás ele próprio escolheu que isso acontecesse. No filme
podemos testemunhar vários momentos de aceitação do destino e do inevitável, está
constantemente presente a ideia de destino e das inseguranças que vêm com cada ação
que praticamos.
No final do filme H insinua que existe uma quarta bomba isto após o terem
parado quando ele anunciou que ia torturar mesmo as crianças até Steven dizer a
verdade. Compreensível da parte de toda a gente não se querer fiar numa mera incerteza
para cometer um ato tal desumano como torturar as crianças. Contudo no final a escolha
do destino foi ironicamente passada completamente a Brody sem esta reparar, quase
como uma pergunta que fazemos em pequenos jogos psicológicos o peso de uma só
decisão colocou todo o destino do filme em risco.
H pede especificamente a Brody para ser ela a trazer as crianças de volta, mas
porquê? Porquê colocar em risco a vida de tantas pessoas por uma simples questão de
orgulho? Será que foi orgulho?
No final do filme Brody diz: “Não podemos fazer isto! (…) Somos seres
humanos! Deixa a bomba explodir! Não podemos fazer isto!”
Com isto ela acaba por tomar a decisão final do enredo do filme. Nesta fase
conseguimos identificar o pânico de todas as personagens sendo que nenhuma queria
assumir a responsabilidade final. Assistimos mesmo a um jogo de batata quente entre
estes para ver quem assumia essa mesma decisão.
Terminamos com Brody a ser colocada na posição sensível na qual acaba por
escolher abdicar da possibilidade de descobrir a localização de uma quarta bomba para
poupar as duas crianças.
Se avaliarmos o título do filme outra vez agora podemos concluir que existem
várias situações impensáveis. É impensável torturar as crianças, é impensável existir
uma quarta bomba, chega mesmo a ser impensável torturar o terrorista de tal maneira.
Contudo, se existem tantas coisas impensáveis chegam mesmo a tornar-se todas
uma possibilidade, sendo mesmo possível afirmar-mos que o H estava na realidade
numa parceria com Steven e no fundo não passava tudo de uma experiência
psicológica/sociológica, em que escolheram a pessoa mais “decente” como H se refere a
Brody, mais politicamente correta, com mais escrúpulos, mais ética da sala e viram até
que ponto é que ela era capaz de “dobrar” (termo usado por H em relação a Steven) os
seus valores morais perante a situação em que se encontravam.
Em suma, gostei bastante deste filme, acho que o facto de o filme nos fazer
questionar tanto já o enquadra no âmbito da filosofia porque a filosofia é isso mesmo,
questionar tudo, procurar respostas. Tal como não podemos definir Filosofia não
podemos também definir este filme, não há opiniões erradas, não existe um final
incorreto, apenas talvez para alguns um indesejado. Filosofia, amor à sabedoria, ao
saber, é isso que procuramos ao ver este filme, procuramos diferentes perspetivas para o
que temos como predefinido, procuramos o desconhecido. No fundo, também a filosofia
é uma corrida contra o tempo, o tempo que nos resta, numa procura incessante das
respostas às perguntas que nos perseguem todos os dias. Mas, neste caso, não são vidas
que de nós dependem, mas almas atormentadas pela ignorância. Assim, não deixemos
de perguntar.
Rita Vieira