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DIVULGAÇÃO DE PARECER DO CONSELHO CONSULTIVO N.

º 24/ CC /2022

N/Referência: P. C.P. 7/2021 SJ-CC Data de homologação: 06-05-2022

Consulente: Setor Técnico-Jurídico dos Serviços de Registo (STJSR)

Assunto: Pedido de registo online apresentado por notário e instruido com a indicação de que seja consultado o
procedimento simplificado de habilitação de herdeiros sem registo, para comprovar a verificação do
trato sucessivo, com dispensa de feitura da inscrição intermédia – consulta eletrónica ao SIRIC -
suficiência da indicação do número, data e local da realização do procedimento - documentos
arquivados eletronicamente oferecidos para instruir o processo de registo – consulta.

Palavras-chave: Pedido de registo online - Documentos eletrónicos – valor probatório - consultas às bases de dados.

O problema

1. Vem submetida a apreciação deste Conselho Consultivo a questão de saber se deve um serviço de registo
predial, para a qualificação de registo aquisitivo, titulado por notária e por esta requerido eletronicamente,
exigir à apresentante, em sede de suprimento de deficiências e em cumprimento do artigo 73.º/1 do Código
do Registo Predial (CRP), o “upload” ou a certidão do documento que prova a qualidade de herdeiro,
formalizado em procedimento simplificado de habilitação de herdeiros sem registo, identificado no pedido e
realizado no competente “Balcão Único”, para comprovar o direito do transmitente e assim cumprir o
estabelecido no artigo 34.º/2 ou 34.º/4 do CRP, com dispensa de inscrição prévia ou de inscrição intermédia,
por força do artigo 35.º CRP, ou se é suficiente para o efeito a consulta à base de dados onde o documento
está arquivado.

2. A consulta decorre de problema concreto colocado ao Setor de Avaliação, Inspeção e Gestão de Serviços
(SAIGS) e, já resolvido1, tendo sido reencaminhado ao Setor Jurídico (STJSR) para apreciação técnico-jurídica
a efetuar em termos abstratos. A questão subjacente à consulta assentou no facto de um serviço de registo
predial, em sede de suprimento de deficiências de processo registal, ter considerado que a certidão do
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1 A situação concreta foi solucionada, a contragosto da apresentante, que acabou por juntar ao processo certidão do
procedimento em causa. O serviço qualificador exigira, em sede de processo de suprimento de deficiências, à apresentante, requerente de
pedidos de registos online relativos a prédio descrito, na qualidade de sujeito da obrigação de registar, uma “digitalização do referido
procedimento, tendo aquela invocado a impossibilidade técnica de fazer “upload” do documento na respetiva aplicação informática,
esclarecendo que a partir do momento em que indica o número do procedimento o sistema assume automaticamente que a conservatória
o vai consultar.
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procedimento de habilitação de herdeiros ”é um documento que deve ser apresentado para cumprimento do
trato sucessivo previsto no nº 2 do artigo 34º do Código do Registo Predial” e que não tem “aqui aplicação o
nº 1 do artigo 73º do Código do Registo Predial, por não poder ser verificado o trato sucessivo por mera
consulta da conservatória às bases de dados, sendo necessário apresentar, por parte do interessado, o
documento comprovativo do direito do transmitente”.

3. Os serviços jurídicos, apesar de apontarem para a suficiência da consulta, na proposta para pronúncia deste
conselho que formulam, sancionada superiormente, identificam também outras dúvidas e dificuldades que lhes
têm vindo a ser reportadas ligadas à apresentação/oferecimento/consulta de documentos eletrónicos para a
instrução de processos de registo predial, pelo que sugerem a densificação da doutrina existente,
considerando os aspetos jurídicos, informáticos, técnicos e práticos do problema. Esclarecem que as
conservatórias hoje ainda perguntam “por exemplo, que tipo de documentos podem ser objeto de suprimento
de deficiências (principais ou complementares, em papel e/ou eletrónicos) e se forem os principais em suporte
eletrónico, como se comprova a realização da consulta, o que passa por apurar se, por força da regra do
arquivo dos documentos que serviram de base à realização dos registos (artigo 26.º e 43.º-B do CRP) devem
ou não ser deles extraídas certidões ou fotocópias certificadas, em papel, com aposição de assinatura
autógrafa e posterior digitalização, procedimento a seguir também quando consultados documentos
digitalizados arquivados noutros serviços ou apresentados por via eletrónica (artigo 43.º-B do CRP ou artigo
210-E do CRC e artigos 8.º e 11.º da Portaria n.º 1594/2007 de 17/12), para efeitos de eventual e futura
prova/certificação dos documentos que basearam/instruíram o concreto registo/procedimento. Outra dúvida
dos serviços – continuam - consiste em saber se a consulta tem um custo emolumentar, por exemplo o
correspondente à emissão de certidão (artigo 18.º, 6.14 do RERN)”.

Cumpre emitir a devida

Pronúncia

1. Comecemos pela questão fundamental a apreciar2 - possibilidade de instrução de um pedido de registo


requerido online por notário com oferecimento de documento eletrónico depositado em plataforma eletrónica
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2 Não cremos que subsistam dúvidas sobre o âmbito de aplicação da regra geral do trato sucessivo, em nenhuma das
modalidades que pode apresentar, inscrição prévia ou continuidade do trato sucessivo, nem sobre a dispensa prevista no artigo 35.º do
CRP do registo, prévio ou intermédio, em nome do “de cuius” ou dos respetivos sucessores. Nem se põe em causa, bem pelo contrário,
que, por força do indicado princípio e de outros que enformam o registo predial (principalmente o da legitimação de direitos e o da legalidade)
tenha de ser demonstrado “que os transmitentes são todos os que nessa qualidade têm que intervir (CCivil, art. 2091.º)”. Seja no próprio
processo de registo, seja por ocasião da titulação do facto registando, prova que terá de ser feita da respetiva habilitação (notarial ou
judicial) como únicos herdeiros” ou extraída do procedimento de habilitação de herdeiros – a citação aqui efetuada é extraída do texto “A
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gerida pelo IRN.I.P. e indicado para ser consultado eletronicamente -, o que significa termos de nos pronunciar
sobre a idoneidade da consulta de documento eletrónico depositado em base de dados do serviço de registo
civil (Sistema Integrado do Registo de Identificação Civil - SIRIC) para comprovar “os pressupostos (em sentido
amplo) do deferimento, pelos serviços de registo, duma determinada pretensão ou, mais genericamente ainda,
da prática dum ato, que se lhes submeta ou requeira.” 3
2. Como sabemos, apenas é possível juntar documentos eletrónicos a um processo/procedimento registal
promovido eletronicamente.4 O CRP prevê o pedido por via eletrónica de processos e procedimentos (artigo
41.º-B do CRP e Portaria n.º 1535/2008, de 30/12) e institui para ele um regime especial, estabelecendo
procedimentos tendo em conta essa especialidade, bem como a ferramenta tecnológica que o sustenta.
2.1. A modalidade do pedido assenta5 “no conceito de “plataforma eletrónica” (…) com determinadas
funcionalidades, através dos quais os interessados formulam o pedido6 (…) e fazem upload dos
documentos instrutórios pertinentes”.7

Reforma do Registo Predial no Âmbito dos Princípios da Legitimação e do Trato Sucessivo”, de João Bastos, apresentado e publicado na
página do Cenor.
3 Citação extraída do Proc. C.C. 12/2020 STJSR-CC, de cuja doutrina, bem como da constante dos processos C.P. 3/2019
STJSR-CC e o C.P. 9/2019 STJSR-CC e DIV. 3/2020 STJSR-CC, nos socorremos e que se mantém atual, apesar da recente publicação
do DL n.º 12/2021, de 9/2, com entrada em vigor, na parte que nos interessa em 11/03/2021, diploma que, revogou especialmente o DL n.º
290-D/99 de 2/8, que estabelecia o Regime Jurídico Interno dos Documentos Eletrónicos e o DL n.º 116-A/2006 de 16/1, passando o novo
diploma, sobre a Identificação Eletrónica e Serviços de Confiança para as transações eletrónicas, a assegurar a execução na ordem jurídica
interna do Regulamento (UE) 910/2014, consolidando a legislação existente sobre a validade, eficácia e valor probatório dos documentos
eletrónicos. Desta alteração legislativa se dá conta e sobre a mesma se reflete, no mencionado processo DIV. 3/2020.

4 À impossibilidade de instrução de pedidos de registo efetuados ao balcão ou presencialmente, com junção de documentos
eletrónicos em sentido estrito, se referem os processos C.P. 3/2019 STJSR-CC e C.P. 9/2019 STJSR-CC, neles se admitindo, no entanto,
a possibilidade de junção, nessas modalidades de pedidos de registo, de documentos eletrónicos que nos termos de legislação específica
se encontrem arquivados centralmente em plataformas geridas por entidades públicas e que sejam individualizados, para fácil consulta por
acesso direto à plataforma informática, através de um código numérico próprio (art.º 8.º/4 e 5 da Portaria 621/2008, de 18.07) – cfr. pag.9
e conclusão 3. A justificação para aquela impossibilidade assenta essencialmente na falta de regulamentação especifica do momento e do
modo como seria possível articular e operacionalizar os dois diferenciados tipos de documentos (documento em papel e documento
eletrónico). Conclui-se assim que “o pedido de registo em papel só pode ter por base, para comprovação dos factos a registar, documentos
também em papel”.
5 Citamos neste ponto e nos dois seguintes o processo C.C. 12/2020 STJSR-CC, com inclusão de notas de rodapé nossas (à
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exceção da nota 8.).


6 A autenticação é feita por via de certificado digital qualificado ou certificado digital associado ao cartão de cidadão; se o
requerente é advogado, notário ou solicitador do certificado digital terá de resultar comprovada a respetiva qualidade profissional e a inclusão
em “listas” eletrónicas de certificados cedidas pelas correspondentes Ordens Profissionais.
7 De acordo com o disposto nos artigos 41.º, 42.º e 43º do CRP e nos artigos 3.º e 5.º da Portaria n.º 621/2008, de 18/7, recai
sobre o interessado a obrigação de juntar ao processo a prova documental pertinente.

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2.2. Quanto ao envio por via eletrónica dos documentos instrutórios do pedido o regime pressupõe que “os
documentos eletrónicos em sentido estrito assim enviados constituam “fotocópias eletrónicas” de
documentos em papel, produzidas (nos formatos eletrónicos aceites para upload) através de
digitalização”.
2.3. Relativamente à certificação das cópias eletrónicas enviadas com os originais em papel mantidas na
posse dos promotores do pedido, resulta do mesmo regime que “é o próprio processo de envio, se
executado com respeito pelo condicionalismo estatuído (de qualidade das “imagens” carregadas e de
competência certificativa de quem as carrega), que em si coenvolve a atestação da conformidade dos
documentos eletrónicos resultantes da digitalização com os documentos originais em papel digitalizados
– e daí a assimilação, pelos primeiros, do valor probatório dos últimos.8
2.4. Mas, no âmbito do pedido de registo online, é também possível aceitarem-se documentos eletrónicos
originários, desde que contenham assinatura eletrónica qualificada, cuja validade pode ser verificada.9
2.5. Com o pedido podem ser enviados os documentos que servem de base ao registo ou documentos
complementares ou podem ser oferecidos documentos que já se encontram arquivados na própria base
de dados do serviço, em base de dados de outros serviços de registos, depositados eletronicamente em
base de dados centralizada ou ainda em outras bases de dados da Administração Pública (artigo 18.º da
Portaria n.º 1535/2208 de 30/12). Caso não estejam acessíveis os documentos para consulta, ou o
apresentante não declarar, ou declarar deficientemente, a opção pela consulta na aplicação, terão os
documentos em suporte de papel que ser digitalizados, para deles se criar uma versão eletrónica (artigo
10.º da referida Portaria) e enviá-la eletronicamente.
2.6. De acordo com o artigo 73º/1 do CRP, as deficiências do processo de registo devem ser supridas
oficiosamente: a) com base nos documentos apresentados; b) com base nos documentos já existentes
no serviço de registo competente; e c) por acesso direto à informação constante de bases de dados das
entidades ou serviços da Administração Pública, designadamente das conservatórias. Assim, aquando
da qualificação, é possível conhecerem-se os elementos que resultam dos documentos juntos ao
processo de registo e os que se encontram na esfera de disponibilidade do serviço de registo, como é o
caso das informações existentes em documentos arquivados ou em bases de dados às quais os serviços
tenham acesso.
2.7. As consultas a documentos arquivados nas bases de dados do próprio serviço de registo e/ou de outros
serviços de registo, a documentos depositados eletronicamente em bases de dados centralizadas,
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8 “Haverá que reconhecer, porém, que, pese embora a equivalência de valor probatório dos documentos eletrónicos com os
originais em papel, que as portarias estabelecem, nem sempre será possível, visualizando os documentos eletrónicos no ecrã do
computador, determinar o valor probatório dos originais em papel – que é o valor que, em primeiro e último termo, releva (ou deveria relevar).
Mas parece que o regime instituído assentará na presunção (ou, pelo menos, num princípio de favorecimento) da suficiência de valor
probatório dos originais em papel digitalizados”.
9 Cfr. R.P. 13/2021 STJSR-CC.
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mantidas pelo IRN.I.P. e às quais todos os serviços do IRN têm acesso poderão a nosso ver equiparar-
se à utilização de documento em arquivo próprio, uma vez que a este arquivo podem, por regra, os
serviços aceder com facilidade e diretamente sempre que necessitem, bastando que o documento esteja
indicado no pedido de registo e suficientemente identificado, seja titulo principal ou documento
complementar necessário à viabilização do concreto ato de registo10. Permitindo-se assim a consulta,
não haverá, em princípio, necessidade de que do documento consultado, residente na base de dados
competente, se faça “upload”, digitalização ou certidão, mesmo tendo em vista a possibilidade de dele
se poder vir mais tarde a ter de extrair certidão, porquanto a própria conservatória que dele se serviu a
pode, por regra, emitir diretamente, extraindo da correspondente aplicação impressão para esse efeito,
com menção na certificação de que se trata do documento que instruiu o concreto ato de registo.
Não deixamos, no entanto, de fazer notar que o SIRP deveria permitir ao qualificador sinalizar na
aplicação os documentos que foram por si efetivamente consultados na qualificação do registo em causa,
por forma a dar a conhecer os elementos que estiveram na base da decisão registal.

3. No caso concreto o documento que se pretendia oferecer para instruir o processo de registo era o título de
formalização da habilitação de herdeiros em procedimento simplificado de habilitação de herdeiros sem
registo.11
3.1. O Sistema Integrado de Registo e Identificação Civil (SIRIC) é a ferramenta tecnológica que permite
tramitar, gerir e arquivar os processos e procedimentos que correm termos nos serviços do registo civil12
3.2. A Portaria n.º 1594/2007, de 17/12, regulamenta o modo de tramitação destes procedimentos,
estabelecendo, no que ora releva, no seu artigo 8º, que “os documentos resultantes dos procedimentos
simplificados de sucessão hereditária são assinados por todos os intervenientes, sempre que possível
digitalizados, não guardando a conservatória qualquer outro arquivo além do previsto no artigo 11º”,
ordenando este preceito igualmente o arquivo eletrónico, sempre que possível, dos documentos que
serviram de base à realização destes procedimentos.
3.3. Consequentemente, quando foi possível este arquivo eletrónico entendeu o IRN.I.P. que deviam ser as
conservatórias do registo civil, as materialmente competentes para a elaboração dos procedimentos, a
arquivar todos os elementos relativos ao procedimento, devendo-se excluir os mesmos do âmbito de
aplicação do artigo 26.º/2 do CRP13, considerando-se bastante indicar no pedido de registo feito no SIRP

10 A tais documentos podem naturalmente os serviços também aceder em resultado de atividade oficiosa.
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11 O DL. nº 324/2007, de 28/12 e o DL n.º 247-B/2008, de 30/12, criaram, entre outros, os procedimentos simplificados de
sucessão hereditária, com e sem registos, permitindo que os atos e formalidades relacionados com a sucessão hereditária, bem como o
registo predial dos factos assim titulados, se for o caso, se efetuem de forma imediata e num único balcão de atendimento, nas
conservatórias do registo civil (cfr. artigos 210º-A a 210º-R do Código do registo Civil (CRC).
12 Os atos e processos de registo civil, bem como os restantes procedimentos tramitados nas conservatórias do registo civil, são
lavrados em suporte informático e obedecem a modelos nele existentes, como regulado pela Portaria nº 1109/2009, de 25/09.
13 O artigo 26.º do CRP obriga ao arquivo eletrónico dos documentos que servem de base à realização de registos ou
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a identificação do processo, por referência ao seu número e ano por estarem arquivados e digitalizados
na aplicação SIRIC, preferindo-se a reutilização dos documentos à duplicação de arquivos.
3.4. A consulta do procedimento no SIRIC permite visualizar todos os atos praticados no procedimento e
vicissitudes que no mesmo possam ter ocorrido.
3.5. Assim, poderia no caso sujeito à nossa apreciação ter sido feita a consulta direta às bases de dados do
SIRIC, em face da legislação e regulamentação invocadas, cumprindo-se os pressupostos a que temos
vindo a fazer referência. O documento estava arquivado em ferramenta informática que, por certo, estaria
disponível, pelo que deveria ter sido considerado pelo serviço de registo predial o seu oferecimento
efetuado nos termos devidos, procedendo-se assim à reutilização dessa informação já arquivada, não se
justificando replicá-la. Estando o documento bem identificado, saber-se-á sempre onde se encontra
arquivado em suporte eletrónico e tendo o documento assim arquivado o valor probatório do original
dificilmente se justifica exigir a sua digitalização14 ou obrigar a dele extrair certidão para instruir o processo
de registo e proceder ao seu arquivamento no SIRP.
4. Oferecendo-se documentos eletrónicos obtidos por acesso à base de dados de outros serviços da
Administração Pública, o acesso pode ser possível nos termos do disposto no artigo 73.º/1 do CRP em face
de normativo que atribua à consulta do documento a força probatória do original e este satisfaça os requisitos
de substância e de forma exigidos aos documentos que servem de base aos registos. Neste caso, não se
tratando de bases de dados mantidas pelo IRN, I.P. poderão existir razões que justifiquem a sua “importação”
para o SIRP, sendo aqui arquivado eletronicamente.
5. Do que já ficou dito se podem extrair as respostas a grande parte das questões trazidas pelo STJSR ao nosso
conhecimento, pelo que nos limitaremos neste momento a frisar o seguinte:
5.1. Não devem, por regra, ser extraídas certidões ou fotocópias certificadas, em papel, quando consultados
documentos digitalizados, arquivados noutros serviços de registo ou noutras plataformas, com vista ao
seu arquivamento e/ou prova de que tais documentos foram consultados para efeitos de qualificação, o
que facilmente se compreende em face da natureza dos serviços de registo e da atividade pelos mesmos
desenvolvida, bem como da atribuição legal aos documentos arquivados em suporte eletrónico da força

complementares dos mesmos, bem como das certidões que contém elementos que se não podem obter por acesso as bases da dados
(artigo 26.º/1 e 2), prevendo o seu n.º 3 a possibilidade de, por despacho do presidente do Conselho Diretivo do IRN.IP., ser determinado
o arquivo dos documentos em suporte eletrónico, que foi o que veio a acontecer, de forma faseada. O n.º 4 do mesmo artigo estabelece
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que os documentos referidos no n.º 3, têm a força probatória dos originais.

14 Cfr. os processos C.P.13/2009 DSJ-CT e C.P. 31/2009 DSJ-CT de cujos pareceres destacamos a seguinte passagem: “Ora
se a atestação da conformidade com o original é, como vimos, inerente ao próprio procedimento e ao funcionamento da aplicação, a
“validade” e suficiência do documento eletrónico para servir de suporte ao ato de registo não pode depender de qualquer requisito de
certificação suplementar, como seja a aposição, no original em papel, previamente à operação de digitalização, da declaração textual de
conformidade. Ponto é que o ficheiro/documento eletrónico, além de reproduzir de forma fiel e íntegra o original, permita também sem
margem para quaisquer dúvidas estabelecer o lugar em que se encontra guardado o original”.
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probatória dos originais que decorre do artigo 26.º/4 do CRP. No entanto, da documentação utilizada no
processo de registo deveria a aplicação SIRP permitir fazer expressa menção ao documento arquivado
efetivamente nele utilizado, por forma a permitir conhecer exatamente a prova documental subjacente à
concreta qualificação do registo em causa.
5.2. Não encontramos normativo que atribua às consultas efetuadas nos termos do artigo 73.º/1 do CRP
custos emolumentares. As dúvidas consistem especialmente em saber se ao caso tem aplicação o
emolumento correspondente à emissão de certidão previsto no artigo 18.º, 6.14 do RERN que consagra
que por cada consulta efetuada a bases de dados dos registos no âmbito do procedimento simplificado
de sucessão hereditária (ponto 6.10 deste mesmo artigo) “é devido valor igual ao valor mais baixo previsto
para a emissão de certidão online, ou em papel caso aquela não exista, relativa a cada espécie de
registo”. Nesta matéria parece-nos dever entender-se apenas abrangidos no preceito os pedidos de
consulta efetuados fora do âmbito da instrução de um concreto pedido de registo, em que é oferecido tal
documento e ao mesmo pode ser diretamente feita a consulta. Esta interpretação sai reforçada pela
redação do artigo 73.º/9 do CRP, que determina que apenas o suprimento de deficiências nos termos
dos n.ºs 2, 3 e 7 depende da entrega das quantias devidas, por via do qual se extrai a intenção do
legislador de que o acesso às bases de dados efetuado nos termos do n.º1, sendo direto, é também
gratuito.

Este é, sobre as questões formuladas, o nosso parecer, do qual, e em essência, nos parece lícito extrair as
seguintes

Conclusões

1. A instrução de processos e procedimentos de registo, destinados à prática de atos de registo


típicos, com documentos eletrónicos em sentido estrito é admitida no âmbito da promoção
eletrónica, mediante plataforma online criada para o efeito;
2. Tais documentos podem ser originários a que seja aposta assinatura eletrónica qualificada
ou “fotocópias eletrónicas”, resultantes da digitalização de documentos originais em papel
com atestação da conformidade destes com os documentos originais em papel que foram
digitalizados, certificação que se tem por contida no envio de tais documentos por entidades
com funções autenticadoras, verificados certos requisitos relativos à qualidade da impressão.
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3. Os documentos que servem de base ao registo ou os complementares que se mostrem


necessários são enviados/entregues ou devidamente oferecidos, caso se encontrem
arquivados na própria base de dados do serviço, em base de dados de outros serviços de
registos, depositados eletronicamente em base de dados centralizada ou ainda em outras
bases de dados da Administração Pública, havendo norma que atribua à consulta o mesmo
valor do original.

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4. O oferecimento de documento arquivado na base de dados do próprio ou diferente serviço de
registo, nomeadamente o que formalize a titulação em regime de Balcão Único, desde que seja
identificado no pedido pelo número, data e local de arquivo, pode ser consultado e reutilizado
sem necessidade de fazer do documento “upload”, digitalização ou certidão.

Parecer aprovado, por unanimidade, em sessão do Conselho Consultivo de 27 de abril de 2022.


Celeste Maria Pavia Fazeres, relatora, Blandina Maria da Silva Soares, Luís Manuel Nunes Martins, António
Manuel Fernandes Lopes, Maria Madalena Rodrigues Teixeira.
Este parecer foi homologado pela Senhora Presidente do Conselho Diretivo em 6 de maio de 2022.
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