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Unicentro: Universidade Estadual Do Centro-Oeste

Licenciatura Em História
Disciplina: Cultura e diversidade

Gabriel Karpinski Vidal

Resenha crítica

Iraty-PR
2023
Referência: SOCHODOLAK, Hélio; KOSINSKI, Lucas; SOCZEK, Leonardo;
CEZARINO, Filipe. Santa Albertina: páginas de dor, (in) justiça e devoções populares.
Curitiba: CRV, 2019.

O livro “Santa Albertina: páginas de dor, (in) justiça e devoções populares” foi
publicado em 2019 pela editora CRV e escrito por diversos autores. No livro, os autores
procuram abordar o tema da violência contra a mulher e o machismo, tomando como
exemplo a história de Albertina Nascimento, que fora vítima de uma morte violenta. O
material abrange também os âmbitos históricos e culturais, visto que procura realizar uma
análise da história de Albertina, aprofundada por meio do inquérito policial e entrevistas
(história oral), bem como trabalhar a questão religiosa que envolve todo o tema abordado.
Para fins de contextualização, nos é apresentado no início uma breve recapitulação
da história de Irati até o momento em que se passa a história de Albertina. No que concerne
ao principal, Albertina era uma mulher recatada e que atendia aos padrões sociais da
época. Ela costumava ensinar crianças a recitar versos em casa, onde vivia com seu marido
Arcílio, que exercia a função de professor e era considerado um bom homem e cidadão
exemplar. Seguindo a história tida como “verdadeira”, um incêndio havia começado na casa
em que Arcílio e Albertina moravam, o qual chamou a atenção das pessoas que se
encontravam na região e que vieram ajudar e avisar Arcílio sobre o ocorrido, que estava na
casa de Florência, considerada uma “mulher decaída” (prostituta). Ao chegar no local, as
pessoas começaram a tentar salvar alguns pertences e alimentos até que acharam o corpo
de Albertina no quarto junto com um cachorrinho decapitado e pedaços de uma panela com
o cabo ensanguentado. Arcílio apresentava um comportamento agressivo e não sentia
nada com relação a perda da esposa. Apesar de todos os indícios, ele fora juridicamente
inocentado.
A obra analisa o papel social das pessoas na sociedade da época em que vivia
Albertina. O homem apresenta-se como peça central de um papel contraditório, visto que o
mesmo “defende a honra da mulher”, porém é frequentemente violento e frequenta
prostíbulos. Já a mulher é extremamente recatada e submissa ao homem, sendo
considerada sub-humana e incapaz de realizar quaisquer tarefas, que não as domésticas,
sem a presença ou a permissão de seu cônjuge. Também é abordado a forma como a
sociedade da época normalizava certos comportamentos, tais como a dominação
masculina e a violência.
Os autores também abordam a questão da formulação de múltiplas verdades
(jurídica, popular, etc), conceito de nietzsche que apresenta as verdades como fruto da
reação as agressões do meio, ou seja, uma verdade inventada socialmente. É fato que o
marido de Albertina fora absolvido de seus crimes, essa é a verdade jurídica, porém a
população o condena e o considera um monstro, bem como martirizam e santificam
Albertina, essa é a verdade popular. As verdades portanto, podem ser entendidas como
pontos de vista ou opiniões, porém elevadas ao status de verdades.
No âmbito popular, pode-se perceber a carga mitológica adicionada a história de
Albertina, bem como as variações presentes nas diversas histórias recolhidas através de
fontes orais. Isso se deve a perpetuação oral da história, onde certamente, o meio social
bem como os fatores temporais contribuíram para com as diversas alterações presentes
nas histórias, as quais apresentam “diversas Albertinas” (Albertina mãe, Albertina
professora, Albertina mulher, Albertina esposa, Albertina queimada, Albertina que morreu
com o cachorro, etc). As Albertinas apresentadas foram importantes para a formação de
diversas crenças em torno da santa que inicialmente auxiliava em provas e na escola,
porém passara a proteger as mulheres grávidas, animais domésticos, viajantes, que auxilia
a conseguir emprego, entre outros.
Outro fator importante é que a crença em Albertina parece ter se espalhado com
força maior dentre as mulheres, visto que maioria das pessoas entrevistadas eram
mulheres e conheceram a história de Albertina por intermédio da mãe ou alguma outra
parente ou conhecida mulher. No que concerne a santificação de Albertina, o texto nos
informa de que o processo de martirização é um dos primeiros e mais importantes
“formadores de santos”. Isso se comprova ao estudar a historicidade dos santos, onde
percebe-se que os primeiros santos a serem cultuados foram os mártires e a devoção a
eles foi dada de forma espontânea, devido ao sofrimento deles por Cristo. Esse conceito
posteriormente abarcou também aqueles que morreram de forma violenta e sofrida, visto
que o sofrimento na terra simbolizaria o pagamento pelos seus pecados e a morte a
purificação.
As análises propostas no texto abrangem diversos campos teóricos, tais como o
histórico, o social, o cultural, etc, explicitando a história de Albertina bem como
desenvolvendo diversas questões em torno dela, especialmente a questão da violência
contra a mulher, o patriarcado e a sociedade machista e a cultura popular. Devido as fontes
orais, documentais e as bases teóricas apresentadas, o material se mostra extremamente
rico e importante, podendo ser lido tanto por graduandos em história, quanto os das mais
diversas áreas acadêmicas, assim como curiosos e o público em geral.

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