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Séries, Séries Cômicas e Sitcoms Debatendo Gêneros e Formatos Na Televisão Brasileira
Séries, Séries Cômicas e Sitcoms Debatendo Gêneros e Formatos Na Televisão Brasileira
XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – S. Cruz do Sul – RS – 30/05 a 01/06/2013
Gisele Noll2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS
Resumo
O artigo propõe uma discussão sobre gêneros e formatos televisivos em uma tentativa de
expor as definições acerca de séries e sitcoms (comédia de situação). Explorando a
diferenças e as semelhanças entre este tipo de produção, em busca de mapear as possíveis
classificações para os programas A Grande Família e Tapas e Beijos, produzidos pela
Rede Globo de Televisão. A metodologia utilizada para compor o artigo foi a pesquisa
bibliográfica e como resultados, destaca-se a relevância de seguir a lógica proposta pelo
Obitel Brasil 2012, que denomina A Grande Família como inspirado em sitcoms norte-
americanos e Tapas e Beijos como comédia romântica, denominando os dois programas
como séries cômicas nacionais.
1 Considerações Iniciais
Em todas as épocas alguém sempre buscou escrever algo sobre o riso. O riso e a
literatura, o riso e o cinema, o humor no teatro, o humor no cotidiano, o riso na televisão,
no jornal, no rádio e, nos últimos tempos, na internet. “Fenômeno universal, ele (o riso)
pode variar muito de uma sociedade para outra, no tempo ou no espaço” (MINOIS, 2003).
Pode assumir formas irônicas, grotescas, subversivas, sutis, ser ambivalente, maldoso, ou
simpático.
O riso ocupa importante espaço em nosso cotidiano e a televisão tem explorado a
capacidade mutável do riso para entreter e informar, entre outros. Presente em 95,2% dos
domicílios brasileiros (MÍDIA DADOS, 2012), a televisão, através de seus gêneros e
formatos, consolida-se como uma grande fonte de entretenimento, informação, cultura,
etc. As redes de televisão transformam seus programas em produtos de exportação, sendo
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que, no País, produtos de ficção seriada podem ser considerados como os mais exportados
entre a grade da programação (SOUZA, 2004).
Atualmente, o principal produto da ficção seriada nacional é a telenovela, contudo,
outros programas como séries, minisséries e sitcoms3 (comédia de situação ou comédia
de costumes) disputam espaço na grade de programação da televisão. Após muito
importar séries e sitcoms, as redes de televisão nacional resolveram testar as suas
habilidades em produzir programas que apresentem a comicidade do cotidiano, pondo à
prova a irreverência dos personagens e o humor dos diálogos. Assim, a TV brasileira
mostra que adaptou os gêneros de maior sucesso nos Estados Unidos, investindo em
combinações que atraiam o telespectador sem perder o caráter multinacional
característico destes gêneros (SOUZA, 2004).
Desta forma, o artigo visa fomentar a discussão sobre as diferenças e semelhanças
entre séries e sitcom, principalmente no que se refere a questões de gênero e formato. Para
tanto, primeiramente será realizado um levantamento de algumas definições na área para
em seguida tentar delimitar um gênero e/ou formato para as séries A Grande Família e
Tapas e Beijos, produzidas pela Rede Globo. A referência bibliográfica será tomada como
metodologia, a partir de Duarte (2008), Lopes e Mungioli (2012), Souza (2004) e Balogh
(2002).
3Optou-se por utilizar a forma masculina da palavra sitcom, mesmo que sua tradução seja comedia de situação ou
costumes.
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O sitcom tem origem com o rádio britânico, quando era chamado britcom. Passado
à cultura americana, o formato adquiriu características cômicas, apresentando situações
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Estes programas não têm data definida para encerrar e podem permanecer na grade
da emissora enquanto tiver audiência e patrocínio. Em relação ao tema, os sitcoms,
aproveitam os aspectos hilários do dia a dia, utilizando até mesmo situações que poderiam
até parecer trágicas para fazer graça, expondo falhas, deslizes, acasos, etc. Eles levam o
receptor a interagir, já que o humor precisa do riso para fazer sentido e também varia de
acordo com a dimensão social que está inserido.
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A autora chama o sitcom como um tipo e série, que tem sua temática relacionada
comicidades de situações cotidianas e comuns. Ao diferenciar séries de sitcoms, D’Abreu
(2010) ressalta que a primeira pode abranger o documentário e a ficção, desdobrando
temas como relações familiares, tópicos sobrenaturais, fantasia, adolescência, sexo,
paranormalidade, guerra, casos médicos, etc. Já a segunda, trata de situações cômicas
ficcionais vividas pelos personagens. Os sitcoms sugerem em sua abertura o nome do
episódio e o próximo não precisa seguir essa linha, podendo tratar de um tema diferente.
Com as séries isso não ocorre, uma vez que é necessário dar continuidade ao tema tratado,
sendo que um capítulo é a continuidade de outro e cada temporada tem um tema central
que norteia todos os capítulos.
Nos sitcoms:
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No sitcom a finitude explicada por Balogh encerra em cada episódio e o efeito que
faz sentido de uma maneira gradual na telenovela, acontece em cada episódio do sitcom.
O esquema de personagens, que caracteriza a maldade e a bondade dos personagens não
é tão singular nos programas do gênero, pois a “estrutura maniqueísta se desloca do
contrário para o contraditório, para o que, podendo ser incompatível, não é
necessariamente o oposto” (D’ABREU, 2010, p. 11).
As questões de finitude e esquema de personagens acabam no encadeamento
específico, que a telenovela utiliza para dar personalidade aos personagens, enquanto que
o sitcom costuma dar temperamentos a eles, pois cada dia eles podem agir de determinada
maneira. Tudo isso encerra na ação, que permite a telenovela dar continuidade nas
relações existentes entre os personagens, quando cada um assume um papel e o segue até
o fim. No sitcom o que importa é o papel assumido pelo personagem naquele episódio,
podendo variar no seguinte.
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O Brasil possui seis redes de televisão aberta (nacionais), sendo uma delas pública
(TV Brasil) e as outras cinco privadas (Rede Globo, Record, SBT, Band e Rede TV!). No
ano de 2011 apenas a Rede TV não produziu ou emitiu ficção televisiva e ao todo, 67
títulos do gênero foram transmitidos, sendo 47 inéditos (só a Rede Globo foi responsável
pela produção de 41 títulos inéditos). Quanto às séries, desde 2008, o que se tem visto é
o aumento da produção nacional, passando de sete títulos em 2008 para 11 em 2009, 12
em 2010 e 13 em 2011. O horário predominantemente reservado para a transmissão de
séries em todas as emissoras de TV aberta é o noturno, espaço que se destaca para a
exibição de ficções nacionais (dos 24 títulos exibidos, 11 eram séries). Entre as séries
exibidas em 2011, nove foram produções inéditas da Rede Globo (Tapas e beijos, A
mulher invisível, Aline, Amor em quatro atos, Batendo o ponto, Divã, Força-tarefa, Lara
com Z, Macho Men), e uma foi produzida pela Band (Anjos do Sexo) (LOPES;
MUNGIOLI, 2012).
De acordo com o Anuário do Obitel 2012 (LOPES; MUNGIOLI, 2012), nota-se
que as emissoras de sinal aberto vêm produzindo programas no formato série, dentro do
gênero ficção, com o predomínio do gênero cômico. A Rede Globo, por exemplo, só em
2012, produziu pelo menos cinco programas seguindo essa formato e gênero, sendo dois
deles (A Grande Família e Tapas e Beijos) fixos na grade de programação anual e outros
três (As Brasileiras, Como aproveitar o fim do mundo e Louco por Elas) intercalados na
grade durante alguns meses do ano.
A Grande Família e Tapas e Beijos estão entre as 10 maiores audiências de ficção
da TV brasileira e o fato de trazerem o cômico ao cotidiano – independentemente de ser
tratada como sitcom ou série cômica, um subgênero, ou formato do gênero ficcional –,
faz com que temas considerados como “tabus”, possam ser debatidos através do humor e
do gênero cômico, podendo virar até mesmo motivo de piada. A Grande Família completa
em 2013, 12 anos de exibição, em 13 temporadas e Tapas e Beijos inicia sua terceira
temporada, com exibição desde abril de 2011.
A Grande Família é transmitida toda quinta-feira, das 22h15 às 23h, apresentando
o cotidiano de uma família de classe média, formada pelo casal Nenê e Lineu (Marieta
Severo e Marcos Nanini), filhos Bebel e Tuco (Guta Stresser e Lúcio Mauro Filho) e o
genro Agostinho (Pedro Cardoso). Além desses personagens a série conta com os papeis
de Mendonça (Tonico Pereira), Paulão da Regulagem (Evandro Mesquita), Beiçola
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nacionais, pois considera-se neste momento a série como um formato do gênero ficção
seriada, assim como apresentado pelo Anuário do Obitel 2012 (LOPES; MUNGIOLI,
2012). “Cômica” por terem o gênero cômico como base de toda sua produção e
adicionado ao termo está o “nacional”, justamente para diferenciar este tipo de produção
das estrangeiras que são transmitidas no País (a exemplo de The Bing Bang Theory, Two
and a Half a Man, entre outras).
O que também pode ser dito é que as emissoras estão investindo no formato série
aliado ao gênero cômico, esta é uma grande aposta para os próximos anos e que já pode
ser observada com o surgimento de novos títulos, como o recente O Dentista Mascarado,
da Rede Globo. Para ampliar o tema, ainda tem que ser analisada a complexidade
narrativa dessas séries de televisão, o que deverá ser realizado em outro momento.
4 Considerações finais
É certo que está é apenas uma discussão inicial por parte da proponente do
presente artigo sobre gêneros e formatos na televisão brasileira. A tentativa de fazer um
levantamento sobre o que tem sido trabalhado na área já mostra indícios que esta não é
uma temática simples e certamente será aprofundada em outros trabalhos. Ao resgatar as
diferentes formas de encarar a ficção televisiva ou o próprio gênero e seus formatos, nota-
se que os pontos comuns entre cada abordagem é o gênero cômico e o humor.
É importante pensar porquê o humor é utilizado na linguagem televisiva em
produções seriadas. Apesar das séries cômicas nacionais não se distanciarem tanto assim
do modelo proposto por sitcoms norte-americanos, neste caso, em especial nos programas
A Grande Família e Tapas e Beijos, eles não serão denominados deste modo, neste
momento, por se considerar que as produções nacionais são inspiradas em sitcoms, mas
que de alguma forma, como já destacava Souza (2004), é sempre adaptada para o público
brasileiro.
A falta de unanimidade entre os autores, apresentada no levantamento sobre
gêneros e formatos na televisão brasileira, pode mostrar também o quanto a própria
televisão pode reinventar-se em relação às suas narrativas. Trabalhar com gêneros e
formatos não é uma tarefa simples e nem pretende-se resolvê-la de uma única vez. A
busca pela definição ou de uma proposta que resolva estas questões, deve ser contínua,
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Referências bibliográficas
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; MUNGIOLI, Maria Cristina Palma. Brasil: a “nova
classe média” e as redes sociais potencializam a ficção televisiva. In: LOPES, Maria Immacolata
Vassallo de; OROZCO GÓMEZ, Guillermo (org.). Transnacionalização da ficção televisiva
nos países ibero-americanos: anuário Obitel 2012. Porto Alegre: Sulina, 2012.
MINOIS, Georges. História do Riso e do Escárnio. São Paulo: Unesp, 2003, 654 p. Disponível
em: < http://books.google.com.br/books>. Acesso em: 01 de fev. 2013
SOUZA, José Carlos Aronchi de. Gêneros e formatos na televisão brasileira. São Paulo:
Summus Editorial, 2004.
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