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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – S. Cruz do Sul – RS – 30/05 a 01/06/2013

Séries, Séries Cômicas e Sitcoms: debatendo gêneros e formatos na televisão


brasileira1

Gisele Noll2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS

Resumo

O artigo propõe uma discussão sobre gêneros e formatos televisivos em uma tentativa de
expor as definições acerca de séries e sitcoms (comédia de situação). Explorando a
diferenças e as semelhanças entre este tipo de produção, em busca de mapear as possíveis
classificações para os programas A Grande Família e Tapas e Beijos, produzidos pela
Rede Globo de Televisão. A metodologia utilizada para compor o artigo foi a pesquisa
bibliográfica e como resultados, destaca-se a relevância de seguir a lógica proposta pelo
Obitel Brasil 2012, que denomina A Grande Família como inspirado em sitcoms norte-
americanos e Tapas e Beijos como comédia romântica, denominando os dois programas
como séries cômicas nacionais.

Palavras-chave: série; sitcom; televisão; gênero; série cômica.

1 Considerações Iniciais

Em todas as épocas alguém sempre buscou escrever algo sobre o riso. O riso e a
literatura, o riso e o cinema, o humor no teatro, o humor no cotidiano, o riso na televisão,
no jornal, no rádio e, nos últimos tempos, na internet. “Fenômeno universal, ele (o riso)
pode variar muito de uma sociedade para outra, no tempo ou no espaço” (MINOIS, 2003).
Pode assumir formas irônicas, grotescas, subversivas, sutis, ser ambivalente, maldoso, ou
simpático.
O riso ocupa importante espaço em nosso cotidiano e a televisão tem explorado a
capacidade mutável do riso para entreter e informar, entre outros. Presente em 95,2% dos
domicílios brasileiros (MÍDIA DADOS, 2012), a televisão, através de seus gêneros e
formatos, consolida-se como uma grande fonte de entretenimento, informação, cultura,
etc. As redes de televisão transformam seus programas em produtos de exportação, sendo

1 Trabalho apresentado no DT 4 – Comunicação Audiovisual do XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região


Sul realizado de 30 de maio a 1° de junho de 2013
2Mestranda do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Informação – PPGCOM/UFRGS, Bolsista CNPq, e-
mail gisele.noll@gmail.com.

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que, no País, produtos de ficção seriada podem ser considerados como os mais exportados
entre a grade da programação (SOUZA, 2004).
Atualmente, o principal produto da ficção seriada nacional é a telenovela, contudo,
outros programas como séries, minisséries e sitcoms3 (comédia de situação ou comédia
de costumes) disputam espaço na grade de programação da televisão. Após muito
importar séries e sitcoms, as redes de televisão nacional resolveram testar as suas
habilidades em produzir programas que apresentem a comicidade do cotidiano, pondo à
prova a irreverência dos personagens e o humor dos diálogos. Assim, a TV brasileira
mostra que adaptou os gêneros de maior sucesso nos Estados Unidos, investindo em
combinações que atraiam o telespectador sem perder o caráter multinacional
característico destes gêneros (SOUZA, 2004).
Desta forma, o artigo visa fomentar a discussão sobre as diferenças e semelhanças
entre séries e sitcom, principalmente no que se refere a questões de gênero e formato. Para
tanto, primeiramente será realizado um levantamento de algumas definições na área para
em seguida tentar delimitar um gênero e/ou formato para as séries A Grande Família e
Tapas e Beijos, produzidas pela Rede Globo. A referência bibliográfica será tomada como
metodologia, a partir de Duarte (2008), Lopes e Mungioli (2012), Souza (2004) e Balogh
(2002).

2 Debatendo gêneros e formatos na televisão: série, série cômica ou sitcom?

Souza (2004) separa os programas de televisão em categorias para atender a


necessidade de classificar seus gêneros correspondentes. Para ele, é desta forma que o
produto é identificado, seguindo uma lógica da produção e ao gênero estaria associado o
formato (característica que ajuda a definir o gênero). Na televisão, diversos formatos
compõem um gênero de programa e, reunidos, estes gêneros formam uma categoria. É
assim que o autor analisa a televisão brasileira em 1996, classificando os programas
televisivos identificados por ele em cinco categorias principais: entretenimento,
informação, educação, publicidade e outros.
Em relação ao gênero, o autor identifica 23 pertencentes à categoria do
entretenimento – auditório, colunismo social, culinário, desenho animado, docudrama,

3Optou-se por utilizar a forma masculina da palavra sitcom, mesmo que sua tradução seja comedia de situação ou
costumes.

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esportivo, filme, game show (competição), humorístico, infantil, interativo, musical,


novela, quis show (perguntas e respostas), reality show, revista, série, série brasileira,
sitcom (comédia de situações), talk show, teledramaturgia (ficção), variedades, western
(faroeste) –, quatro da categoria informação – debate, documentário, entrevista e
telejornal –, dois da categoria educação – educativo e instrutivo – e cinco da categoria
publicidade – chamada, filme comercial, político, sorteio e telecompra. Na categoria
outros foram identificados os gêneros especial, eventos e religioso.
Devido ao caráter internacional, a série está presente no mundo inteiro. No Brasil
não é diferente e o programa classificado como série pode servir para todos os tipos de
público, variando o seu conteúdo. A técnica da produção da série não exige que o público
a acompanhe de forma permanente, nem que o telespectador conheça a história antes de
assisti-la, mas pode prender sua atenção durante todo capítulo. Quanto ao seu formato,
podem existir documentários com status de série devido ao fato de abordarem um
determinado tema de maneira segmentada. Há séries formatadas em capítulos e aquelas
que são desenvolvidas em episódios independentes. Gênero e formato ainda podem se
fundir, com programas que fazem da série um formato (SOUZA, 2004).
Contudo, esta série, a qual o autor aborda, é preferencialmente aquela com caráter
multinacional, que pode sobreviver durante anos, sendo transmitida de um país para
outro, sem muitas vezes precisar ter seu nome alterado. Os maiores produtores seriam os
Estados Unidos e a Europa, que teriam este tipo de programa como “carro chefe” da
programação. Assim como Souza (2004), Messa (2006) conceitua a série e o sitcom
dentro da categoria entretenimento, com a diferença de que os sitcoms não possuem
situações tão dramáticas e complexas, além de ter duração menor que as séries, já que
essas possuem episódios semanais de 40 a 45 minutos, em média, sem intervalo. Nas
séries:

cada episódio tem uma relação com o anterior, embora o compromisso


com a continuidade não seja uma premissa. Como o sitcom, a cada nova
temporada, novos elementos são adicionados à trama. Sua produção é
mais esmerada, com um maior número de locações, onde a ação se
desenvolve com mais personagens, tendo vários núcleos de tensão. (...)
Enquanto na sitcom a marca é a leveza na abordagem dos temas, aqui
os assuntos são problematizados. As séries podem ser dramáticas,
cômicas ou criminais (MESSA, 2006, p. 3).

O sitcom tem origem com o rádio britânico, quando era chamado britcom. Passado
à cultura americana, o formato adquiriu características cômicas, apresentando situações

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engraçadas do cotidiano de gente comum, geralmente utilizando as cenas em, no máximo,


três ambientes. O primeiro sitcom produzido na América foi I Love Lucy, em 1951 e com
a aceitação do público o formato foi ganhando mais espaço nas redes de televisão de todo
mundo.
Um exemplo foi a sitcom nacional Alô Doçura (1953), com Eva Wilma
e John Herbert, baseado em I Love Lucy (1951). Segundo a autora,
somente no final dos anos 70 a ficção seriada passou a dar atenção à
realidade nacional, com produções como A Grande Família (1972),
Carga Pesada (1979), etc.
Dos anos 70 para cá, as tecnologias avançaram, mas no cenário cultural
brasileiro, produzir este tipo de programa ainda não é uma prática.
Dentro da ficção seriada, a telenovela é a preferência nacional e a
detentora de todas as atenções nas grandes redes de televisão, nos lares
da maioria dos brasileiros e nas produções científicas (SANTOS, apud
MESSA, 2006, p. 4).

Combinado humor com a teledramaturgia, o formato do sitcom conta com a


participação de um elenco fixo e construção de cenários. “Mas o Brasil não seguiu apenas
essa receita e lançou outros programas que multiplicaram os formatos do gênero” como
“esquetes de humor de curta duração” (SOUZA, 2004, p. 136-137). Para Messa (2006),
longe de ser apenas mais uma forma de entretenimento, sitcoms e séries são um fenômeno
social, que tratam de temas relevantes para a sociedade. Os sitcoms ainda apresentam
histórias curtas voltadas ao convívio de uma família ou determinado grupo, com locações
pré-estabelecidas como, por exemplo, casa e trabalho. Sua estrutura é semelhante à
crônica literária, pois aborda assuntos cotidianos e corriqueiros da sociedade “de uma
forma aparentemente superficial e cômica. As personagens são estereotipadas, pois,
devido a sua duração (em média 25 minutos, sem os comerciais), a identificação do
espectador precisa ser imediata” (MESSA, 2006, p. 2).
Tem-se ainda a proposta do sitcom como um subgênero da ficção. Conforme
Bastos (2008), a comédia de costumes ainda é pouco estudada de maneira sistemática
pela academia e devido ao aumento de sua aceitação por produtores e a queda da
audiência de outros formatos, a Rede Globo tem investido em inúmeras comédias
seriadas. Para a autora, os sitcoms são um subgênero ficcional que opera com um plano
de realidade discursiva de caráter ficcional chamada supra-realidade, “propondo como
regime de crença a verossimilhança [grifo do autor]. Não têm, portanto, compromisso
direto com o real, mundo exterior, embora se proponham a retratá-lo de forma lúdica”
(DUARTE, 2008). Os sitcoms seriam crônicas do cotidiano que a televisão normalmente
exibe em forma de seriados, através de episódios.
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Por seus aspectos ligados ao engraçado, ao cômico, por sua pretensão


de fazer rir, divertir [grifo do autor], privilegiam enquanto tons [grifo
do autor] principais alguns eixos da categoria tonal disposição [grifo
do autor], combinados com outras categorias tonais (DUARTE, 2008).

Estes programas não têm data definida para encerrar e podem permanecer na grade
da emissora enquanto tiver audiência e patrocínio. Em relação ao tema, os sitcoms,
aproveitam os aspectos hilários do dia a dia, utilizando até mesmo situações que poderiam
até parecer trágicas para fazer graça, expondo falhas, deslizes, acasos, etc. Eles levam o
receptor a interagir, já que o humor precisa do riso para fazer sentido e também varia de
acordo com a dimensão social que está inserido.

O processo comunicativo televisivo traz consigo uma dupla mensagem:


a par dos conteúdos que veicula através de seus produtos, anuncia sua
própria venda. Mas qualquer venda só se materializa com a compra,
que, no caso, é representada pela assistência, de parte do telespectador.
Daí a necessidade de interatividade, consubstanciada pelo modo de
endereçamento, pela partilha do tom [grifo do autor], feito de humor,
disposição e graça que têm de ser compartilhados. Mas vale novamente
pontuar: as estratégias discursivas e textuais empregadas pelos sitcoms
na expressão de sua combinatórias tonais, dirigem-se e interpelam um
telespectador cativo da mídia televisão. Só ele poderá interagir,
apreender e compartilhar desse tom que muitas vezes se constrói e se
expressa de forma tão auto-reflexiva (DUARTE, 2008).

O Anuário do Obitel 2012 (LOPES; MUNGIOLI, 2012), no entanto, apresenta a


série como um dos formatos do gênero ficção, assim como a telenovela, minissérie, filme,
desenho, adulto e infantil. Apresenta ainda os gêneros informação (com programas nos
formatos documentário, entrevista, jornalismo e reportagem), entretenimento (com
programas nos formatos auditório, game show, humorístico, musical, reality show, show,
premiação, feminino, moda e making of), religioso, esporte (com programas nos formatos
esporte e futebol), educativo, político e outros (com programas nos formatos televendas,
rural, turismo, saúde, sorteio, espaço empresarial).
Balogh (2002) também considera a ficção como um gênero televisivo, sendo a
série um de seus formatos mais consagrados da televisão brasileira, junto com os seriados,
as minisséries, os unitários e as telenovelas. Provenientes da cultura norte-americana, nos
primórdios, eram estas as séries e seriados transmitidos no Brasil. Os seriados tradicionais
geralmente eram transmitidos semanalmente, com dias e horários específicos, contudo,
hoje, a TV por assinatura vem fazendo uma avalanche com séries e seriados, as exibindo
em qualquer dia e horário.

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Perde-se, assim, a periodicidade original, o horário de exibição original


e o público-alvo, pondo em xeque o termo “seriado” em benefício do
termo genérico “série”. No caso dos formatos nacionais, em que essas
regularidades se conservam, também se preserva a denominação
“seriado” [...] A série não é o formato que as realizações brasileiras mais
se distinguiram, ainda assim permanecem muitos clássicos das “séries
brasileiras”, como retratos ficcionais de nosso modo de ver em
determinado momento histórico (BALOGH, 2002, p. 96-96).

A autora chama o sitcom como um tipo e série, que tem sua temática relacionada
comicidades de situações cotidianas e comuns. Ao diferenciar séries de sitcoms, D’Abreu
(2010) ressalta que a primeira pode abranger o documentário e a ficção, desdobrando
temas como relações familiares, tópicos sobrenaturais, fantasia, adolescência, sexo,
paranormalidade, guerra, casos médicos, etc. Já a segunda, trata de situações cômicas
ficcionais vividas pelos personagens. Os sitcoms sugerem em sua abertura o nome do
episódio e o próximo não precisa seguir essa linha, podendo tratar de um tema diferente.
Com as séries isso não ocorre, uma vez que é necessário dar continuidade ao tema tratado,
sendo que um capítulo é a continuidade de outro e cada temporada tem um tema central
que norteia todos os capítulos.

Não é à toa que, na série, os capítulos não são, necessariamente,


identificados por títulos, ao passo que isto acontece com a sitcom, na
qual é dado um título sugestivo para cada epísódio – endosso da
situação. Tanto em relação à telenovela quanto à série, à minissérie e à
sitcom, deve-se fazer uma referência à serialidade, que envolve
mecanismos narrativos de suspensão e reatamento de sentido e a
simplificação do processo de produção que visa o lucro (D’ABREU,
2010, p. 10).

Nos sitcoms:

o que move a ação são as performances de personagens que se


relacionam em família, no grupo de amigos, entre os colegas de
trabalho, como podemos verificar em produtos estrangeiros atuais. Em
sua origem americana, a sitcom também pode se caracterizar (embora
isto não seja regra) pela incidência de risadas ao longo de cada episódio,
que pontuam o desenvolvimento cômico das situações, podendo
aparecer sob a forma de “saco de risadas” (efeito sonoro pré-gravado e
inserido durante a edição) ou de claque (reações orientadas de uma
platéia presente no estúdio durante a gravação ou exibição de um
programa) (D’ABREU, 2010, p. 10).

Em comparação com a telenovela, são características estruturais que diferenciam


os dois formatos, uma vez que para que as histórias sejam contadas é necessário:

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a finitude através da qual se configure um efeito de sentido gradual; um


esquema de personagens que explicite perfis contrários; uma
qualificação específica destes personagens que justifiquem suas ações
ao longo da história; e um encadeamento de ações que permita o
encaminhamento da trama e das relações entre os personagens
(BALOGH, apud D’ABREU, 2010, p. 11).

No sitcom a finitude explicada por Balogh encerra em cada episódio e o efeito que
faz sentido de uma maneira gradual na telenovela, acontece em cada episódio do sitcom.
O esquema de personagens, que caracteriza a maldade e a bondade dos personagens não
é tão singular nos programas do gênero, pois a “estrutura maniqueísta se desloca do
contrário para o contraditório, para o que, podendo ser incompatível, não é
necessariamente o oposto” (D’ABREU, 2010, p. 11).
As questões de finitude e esquema de personagens acabam no encadeamento
específico, que a telenovela utiliza para dar personalidade aos personagens, enquanto que
o sitcom costuma dar temperamentos a eles, pois cada dia eles podem agir de determinada
maneira. Tudo isso encerra na ação, que permite a telenovela dar continuidade nas
relações existentes entre os personagens, quando cada um assume um papel e o segue até
o fim. No sitcom o que importa é o papel assumido pelo personagem naquele episódio,
podendo variar no seguinte.

A serialidade e o resgate do sentido deixam marcas distintas nestes dois


formatos industriais da televisão, marcas estas que podem abrir
caminho para a investigação teórica acerca das questões de memória,
principalmente no que se refere à comédia de situação. Nela, um
episódio trabalha a memória enfatizando a performance situacional no
presente, apagando situações do passado e sem estabelecer
determinismos situacionais para o futuro – operação distinta em relação
à da telenovela, na qual o presente é um elo que resgata e estabelece,
respectivamente, situações passadas e futuras da trama (D’ABREU,
2010, p. 11-12).

De fato, percebe-se que não há unanimidade em se tratando de gêneros e formatos


na televisão brasileira, mas há semelhanças entre as propostas dos autores já
mencionados. Ainda em busca dessa definição (ou de um ponto de vista) no próximo item
será realizada uma breve análise da ficção nacional, com ênfase nos programas seriados
dentro do gênero cômico mais assistidos no Brasil em 2011, segundo o Anuário do Obitel
de 2012: A Grande Família e Tapas e Beijos.

3 A Grande Família e Tapas e Beijos: séries cômicas ou sitcoms?

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O Brasil possui seis redes de televisão aberta (nacionais), sendo uma delas pública
(TV Brasil) e as outras cinco privadas (Rede Globo, Record, SBT, Band e Rede TV!). No
ano de 2011 apenas a Rede TV não produziu ou emitiu ficção televisiva e ao todo, 67
títulos do gênero foram transmitidos, sendo 47 inéditos (só a Rede Globo foi responsável
pela produção de 41 títulos inéditos). Quanto às séries, desde 2008, o que se tem visto é
o aumento da produção nacional, passando de sete títulos em 2008 para 11 em 2009, 12
em 2010 e 13 em 2011. O horário predominantemente reservado para a transmissão de
séries em todas as emissoras de TV aberta é o noturno, espaço que se destaca para a
exibição de ficções nacionais (dos 24 títulos exibidos, 11 eram séries). Entre as séries
exibidas em 2011, nove foram produções inéditas da Rede Globo (Tapas e beijos, A
mulher invisível, Aline, Amor em quatro atos, Batendo o ponto, Divã, Força-tarefa, Lara
com Z, Macho Men), e uma foi produzida pela Band (Anjos do Sexo) (LOPES;
MUNGIOLI, 2012).
De acordo com o Anuário do Obitel 2012 (LOPES; MUNGIOLI, 2012), nota-se
que as emissoras de sinal aberto vêm produzindo programas no formato série, dentro do
gênero ficção, com o predomínio do gênero cômico. A Rede Globo, por exemplo, só em
2012, produziu pelo menos cinco programas seguindo essa formato e gênero, sendo dois
deles (A Grande Família e Tapas e Beijos) fixos na grade de programação anual e outros
três (As Brasileiras, Como aproveitar o fim do mundo e Louco por Elas) intercalados na
grade durante alguns meses do ano.
A Grande Família e Tapas e Beijos estão entre as 10 maiores audiências de ficção
da TV brasileira e o fato de trazerem o cômico ao cotidiano – independentemente de ser
tratada como sitcom ou série cômica, um subgênero, ou formato do gênero ficcional –,
faz com que temas considerados como “tabus”, possam ser debatidos através do humor e
do gênero cômico, podendo virar até mesmo motivo de piada. A Grande Família completa
em 2013, 12 anos de exibição, em 13 temporadas e Tapas e Beijos inicia sua terceira
temporada, com exibição desde abril de 2011.
A Grande Família é transmitida toda quinta-feira, das 22h15 às 23h, apresentando
o cotidiano de uma família de classe média, formada pelo casal Nenê e Lineu (Marieta
Severo e Marcos Nanini), filhos Bebel e Tuco (Guta Stresser e Lúcio Mauro Filho) e o
genro Agostinho (Pedro Cardoso). Além desses personagens a série conta com os papeis
de Mendonça (Tonico Pereira), Paulão da Regulagem (Evandro Mesquita), Beiçola

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(Marcos Oliveira) e Florianinho (Vinícius Moreno). As temáticas dominantes na série são


as relações familiares, as relações entre os vizinhos e o cotidiano das famílias das classes
populares, tendo a socialidade suburbana e o protagonismo feminino como temática
social (LOPES; MUNGIOLI, 2012), apresentando formas da família se manter unida a
partir de todas as situações que ocorrem no dia-a-dia.
A Grande Família que iniciou em 2001 é remake homônimo da série transmitida
entre 26 de outubro 1972 a 27 de março de 1975 (baseada no sitcom norte-americano All
in the Family), que teve um total de 112 episódios e originalmente foi escrita por
Oduvaldo Viana Filho, Armando Costa e Paulo Pontes. Atualmente a série possui redação
geral de Bernardo Guilherme e Marcelo Gonçalves e pertence ao Núcleo Guel Arraes.
Em Tapas e Beijos, exibida terças-feiras, das 22h15 às 23h, acompanha-se a
história das amigas Fátima e Suely (Andréa Beltrão e Fernanda Torres) em sua luta para
conquistar o amor e conciliá-lo com o trabalho e outras situações do cotidiano das amigas
que ganham a vida trabalhando em uma loja de vestidos de noiva e artigos para cerimônias
de casamento. Também fazem parte do elenco fixo da trama os personagens Armane
(Vladimir Brichta), Jorge (Fábio Assunção), Djalma (Otávio Müller), Flavinha (Fernanda
de Freitas), Jurandir (Érico Bras), Bia (Malu Rodrigues) e Chalita (Flávio Mogliaccio).
Entre as temáticas dominantes tem-se a amizade, o relacionamento amoroso e
extraconjugal e a amizade de mulheres acima dos 30 anos. Assim como A Grande
Família, Tapas e Beijos apresenta a socialidade suburbana como temática social.
Considera-se que, mesclado com o melodrama, o cômico pode trazer novas nuances a
trama, trazendo certa leveza a uma situação dramática, tratando de temas cotidianos
através do humor e da irreverência.
Série mais longa da televisão brasileira, A Grande Família mantém uma
aproximação com sitcoms norte-americanos, com os cenários fixos, o humor irônico, o
sarcasmo, e diálogos que tem a pretensão de fazer rir. Tanto Lopes e Mungioli (2012)
quanto Bastos (2008) a consideram um sitcom, pois ainda preserva essa herança norte-
americana. Já Tapas e Beijos é tida por Lopes e Mungioli (2012) como comédia
romântica, em função de que sua trama gira em torno dos relacionamentos amorosos das
personagens, sem nunca deixar de ter diálogos rápidos, escrachados e cômicos.
As situações tragicômicas da vida são exploradas pelos dois programas que, com
base no que foi levantado até este momento, pretende-se chamar de séries cômicas
nacionais. “Série” por seguir uma terminologia adotada por uma rede de pesquisadores

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nacionais, pois considera-se neste momento a série como um formato do gênero ficção
seriada, assim como apresentado pelo Anuário do Obitel 2012 (LOPES; MUNGIOLI,
2012). “Cômica” por terem o gênero cômico como base de toda sua produção e
adicionado ao termo está o “nacional”, justamente para diferenciar este tipo de produção
das estrangeiras que são transmitidas no País (a exemplo de The Bing Bang Theory, Two
and a Half a Man, entre outras).
O que também pode ser dito é que as emissoras estão investindo no formato série
aliado ao gênero cômico, esta é uma grande aposta para os próximos anos e que já pode
ser observada com o surgimento de novos títulos, como o recente O Dentista Mascarado,
da Rede Globo. Para ampliar o tema, ainda tem que ser analisada a complexidade
narrativa dessas séries de televisão, o que deverá ser realizado em outro momento.

4 Considerações finais

É certo que está é apenas uma discussão inicial por parte da proponente do
presente artigo sobre gêneros e formatos na televisão brasileira. A tentativa de fazer um
levantamento sobre o que tem sido trabalhado na área já mostra indícios que esta não é
uma temática simples e certamente será aprofundada em outros trabalhos. Ao resgatar as
diferentes formas de encarar a ficção televisiva ou o próprio gênero e seus formatos, nota-
se que os pontos comuns entre cada abordagem é o gênero cômico e o humor.
É importante pensar porquê o humor é utilizado na linguagem televisiva em
produções seriadas. Apesar das séries cômicas nacionais não se distanciarem tanto assim
do modelo proposto por sitcoms norte-americanos, neste caso, em especial nos programas
A Grande Família e Tapas e Beijos, eles não serão denominados deste modo, neste
momento, por se considerar que as produções nacionais são inspiradas em sitcoms, mas
que de alguma forma, como já destacava Souza (2004), é sempre adaptada para o público
brasileiro.
A falta de unanimidade entre os autores, apresentada no levantamento sobre
gêneros e formatos na televisão brasileira, pode mostrar também o quanto a própria
televisão pode reinventar-se em relação às suas narrativas. Trabalhar com gêneros e
formatos não é uma tarefa simples e nem pretende-se resolvê-la de uma única vez. A
busca pela definição ou de uma proposta que resolva estas questões, deve ser contínua,

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levanto em conta estratégias discursivas, formas de inserção na grade de programação da


emissora, caracterização dos personagens, entre outros aspectos.

Referências bibliográficas

BALOGH, Anna Maria. O Discurso Ficcional na TV: Sedução e Sonho em Doses


Homeopáticas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.

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