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Jesus, aproximando- se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terá.

Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando -os em nome do Pai, e do Filho, e
do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que
estou convosco todos os dias até a consumação do século. Evangelho de Mateus 28, 18-20,
extraído da Bíblia de Estudos de Genebra.

O sofrimento é, pois, a característica dos seguidores de Cristo. O discípulo não está acima de
seu mestre. O discipulado é passio passiva, é sofrimento obrigatório. Por isso, Lutero incluiu o
sofrimento no rol dos sinais da verdadeira igreja. Um anteprojeto da Confessio Augustana
definiu a Igreja como comunidade dos que são “perseguidos e martirizados por causa do
Evangelho”. Quem não quiser tomar sobre si a cruz, quem não quiser expor sua vida ao
sofrimento e à rejeição por parte dos seres humanos, perde a comunhão com Cristo e não é
seu discípulo. Quem, porém, perder a sua vida no discipulado, no carregar da cruz, tornará a
encontrá- la no próprio discipulado, na comunhão com da cruz com Cristo. O oposto do
discipulado é envergonhar-se de Cristo, envergonhar-se da cruz, escandalizar -se por causa da
cruz. (Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo: Sinodal, 2004, 8ª edição, p.48.)

Cf. Evangelho de Mateus, capitulo 7,24-27 extraído da Bíblia de Estudos de Genebra.

O chamado de Jesus ao discipulado faz do discípulo um indivíduo. Querendo ou não, ele tem
que se decidir, tem que tomar sua decisão sozinho. Não é indivíduo espontaneamente; Cristo é
que faz do ser humano chamado, um indivíduo. Cada qual é chamado individualmente e tem
que ser discípulo sozinho. Com receio dessa solidão, o ser humano procura proteção junto às
pess oas e coisas que o cercam. Apercebe -se, de súbito, de todas as suas responsabilidades e
apega-se a elas. Encoberto por elas, deseja tomar sua decisão, mas não quer encontrar –se
sozinho perante Jesus e ter que decidir-se com o olhar fixo somente nele.. mas , nesta hora, o
ser humano chamado não pode ocultar-se por detrás de pai e mãe, mulher e filhos, povo e
história. Cristo quer que o ser humano fique só, que nada mais enxergue senão aquele que o
chamou. (Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.51)

“Quem, pois, me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante do


meu Pai que está nos céus. Mas aquele que me negar diante dos homens, eu
ambém o negarei diante do meu Pai que está nos céus. Mateus 10,32-33
Os discípulos, ao reconhecerem a Cristo, recebiam seu mandamento claro; de sua boca
recebiam instruções a respeito do que fazer; não era esse o grande privilégio daqueles
primeiros discípulos? Não estamos nós abandonando justamente neste ponto decisivo da
obediência cristã? Não fala o mesmo Cristo a nós de modo diverso do que àqueles? Se isso
fosse verdadeiro, estaríamos hoje em situação desesperadora. Mas não é assim. Cristo não
fala hoje de modo diferente a nós do que falou naqueles tempos. Não é verdade que os
primeiros discípulos reconheceram primeiramente nele o Cristo, para depois receberem seu
mandamento. Antes, não o reconheceram senão por sua Palavra e por seu mandamento.
Creram em sua Palavra e no mandamento e reconheceram nele o Cristo. Não havia para os
discípulos outro reconhecimento de Cristo a não ser através de sua Palavra clara.
( Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.140.)

O chamado ao Discipulado e a Graça preciosa

Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na


coletoria, e disse -lhe: Segue -me! Ele se levantou e o seguiu.(Mc 2,14)

O ser humano que foi chamado larga tudo quanto tem, não para fazer algo que tenha valor
especial, ma s simplesmente por causa daquele chamado, porque, de outro modo, não pode
seguir a Jesus. A esse ato não se atribui o menor valor. Em si, continua sendo uma coisa
absolutamente destituída de importância, sem merecer atenção. Destruíram-se as pontes e
simplesmente caminha -se em frente. Uma vez chamada para fora, a pessoa tem que
abandonar a existência anterior, tem que simplesmente “existir” no sentido rigoroso da
palavra. O que é velho fica para trás, totalmente abandonado. (Bonhoeffer, Dietrich.
Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição, p.21.)

A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o ser humano sai e vende
com alegria tudo o quanto tem; a pérola preciosa, para cuja aquisição o comerciante se
desfaz de todos os seus bens; o senhorio régio de Cristo, por amor do qual o ser humano
arranca o olho que o faz tropeçar; o chamado de Jesus Cristo, pelo qual o discípulo larga suas
redes e o segue. (Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição,
p.10.)

Graça preciosa é a graça como santuário de Deus, que tem que ser preservado do mundo,
não lançado aos cães; e por isso é graça como palavra viva, a Palavra de Deus que Ele próprio
anuncia de acordo com seu beneplácito. Chega até nós como gracioso chamado ao
discipulado de Jesus; vem como palavra de perdão ao espírito angustiado e ao coração
esmagado. A graça é preciosa por obrigar o indivíduo a sujeitar- se ao jugo do discipulado de
Jesus Cristo. As palavras de Jesus: “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve” são expressões
da graça. (Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo: Sinodal, 2004, 8ª edição, p.11.)

A graça barata e a pregação do perdão sem o arrependimento, é o batismo sem a disciplina


comunitária, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é a absolvição sem confissão
pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem cruz, a graça sem Jesus Cristo
vivo, encarnado. (Bonhoeffer, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo:Sinodal, 2004, 8ª edição,
p.11.)

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