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TABELA DE CONTEÚDOS

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EMMA
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EMMA
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JO
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JO
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EMMA
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JO
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EMMA
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JO
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EMMA
Epílogo
Para Brooke,
que mais faz sentir além de palavras
1
EMMA

J otela.JonesLogoestáabaixo,
na disputa para a produção de silver, dizia a manchete na
em itálico, lia-se: Mas ela deveria estar?
Emma bufou enquanto lia o artigo pela quinta vez. Ela normalmente
não passava as manhãs lendo colunas de fofocas sobre sua chefe, mas no
início da semana, Jo teve uma reunião com o estúdio para produzir o
próximo filme do Agent Silver. Como sua assistente, Emma sabia quais
compromissos estavam na agenda de Jo, mas não o que acontecia dentro
deles. Ela queria saber como foi a reunião.
O artigo não esclareceu isso para ela. Jo estava entre os finalistas, pelo
menos, mas aparentemente era uma escolha terrível. Nenhuma experiência
na escrita de um filme, certamente não um filme de ação. Era como se
tivessem esquecido que ela era a showrunner1 do drama mais importante
da TV por cinco anos consecutivos. Claro, Innocents não teve explosões ou
cenas de luta – exceto aquela vez na segunda temporada – mas é bom. É
uma série de qualidade. Jo tinha o Emmy para provar.
Não é bom o suficiente para este colunista, no entanto. Ele não disse que
era porque Jo era uma mulher sino-americana. Em vez disso, o artigo foi
preenchido por aflições com um toque muito suave e uma preocupação de
que ela, de alguma forma, perderia a verdadeira essência americana de
Silver. Emma revirou os olhos. Jo é nascida e criada aqui, inferno.
Emma não ia contar a Jo sobre a coluna. Embora possa ser bom que Jo
soubesse o que as pessoas estavam dizendo sobre ela, também seria uma
distração desnecessária que faria nada além de ferir seus sentimentos.
Emma não a incomodaria com isso. Jo tinha coisas mais importantes para
fazer com o seu tempo de qualquer maneira.
O barulho dos saltos de Jo veio do corredor, e Emma fechou
rapidamente a aba do navegador. Ela ficou de pé, colocando o cabelo
comprido atrás das orelhas. Quando Jo aproximou-se, Emma estava pronta
com seu café e um sorriso.
— Obrigada. — disse Jo, tomando o latte sem interromper o passo. Isso
não foi um bom sinal de como seria o dia. Nem o rabo de cavalo, alto e
apertado o suficiente para fazê-la parecer severa. — Libere a tarde para nós
duas.
Emma parou de analisar as opções de penteado de Jo e pegou o tablet da
mesa.
— Claro, chefe. — disse ela, se atualizando da agenda de Jo enquanto a
seguia para seu escritório. A maior parte da tarde estava ocupada com a
escrita. Tudo o que Emma teve de cancelar foi um check-in com um
assistente de produção. — O que faremos?
— Prova de vestido.
Emma parou na frente da mesa de Jo e olhou para ela. Ela inclinou a
cabeça, confusa.
— Você precisa de mim para uma prova do vestido?
— Considerando que é uma prova para o ajuste do seu vestido — Jo
tomou um gole de café — isso seria o ideal.
Ela colocou a bolsa sobre a mesa de tampa de vidro, seu rabo de cavalo
escuro e longo balançando enquanto se inclinava para tirar o laptop da
bolsa.
— Perdão?
— Você vai ao SAG Awards comigo no domingo. — disse Jo. Ela se
sentou atrás de sua mesa. — Você vai precisar de um vestido.
Trabalhando para Jo, Emma estava acostumada a esperar o inesperado.
Nos nove meses como assistente dela, ela lidou com paparazzis e emails de
ódio, gravações noturnas e fãs que amavam Jo desde que ela apareceu pela
primeira vez nas telas de TV há quase três décadas, aos treze anos. Emma
também foi a eventos com Jo, mas esses eventos eram geralmente festas de
estúdio ou estreias de filmes. Eram coisas em que Jo precisava dela para
objetivos relacionados ao trabalho. Elas não eram o SAG Awards.
— Eu vou para o SAG Awards com você? — A voz de Emma estava
mais aguda do que ela gostaria que fosse.
Jo ergueu uma sobrancelha para ela.
— Não foi isso que eu disse?
Emma assentiu uma vez.
— Hum. Por quê?
— Eu não quero falar sobre aquele maldito filme. — disse Jo,
balançando a mão como se não fosse tão importante.
Ela está fazendo isso tudo para manter o foco de Jo longe dos rumores
sobre o Agent Silver.
Talvez Emma não devesse a pressionar, mas Jo sempre disse a ela para
fazer perguntas se não entendesse alguma coisa
— E como que eu vou ajudar com isso?
— Você pode interromper se alguém tentar falar sobre isso. — disse Jo.
— Você será um escudo.
Ok. Isso parece razoável. Emma tinha sido um escudo para Jo em várias
ocasiões, embora nunca em uma premiação com um tapete vermelho e um
monte de gente famosa. Mas se isso era o que era preciso para ser boa em
seu trabalho, ela faria.
Emma havia gostado de seus três anos como assistente de produção no
departamento de suporte.
Ser assistente de Jo era bem melhor.
Claro, ela trazia seu café e pegava as roupas na lavanderia, mas também
agendava reuniões com as principais estrelas da TV e contornava vários
problemas, amenizando questões de ego. Emma ajudou Jo a montar as
equipes de produção, precisando conhecer a personalidade de todos para
descobrir quem iria trabalhar bem junto. Ela fazia de tudo. A única coisa
em que não estava envolvida era a escrita do roteiro, o que não fazia
diferença para ela.
Emma gostava de saber como tudo funcionava. Ela conhecia todas as
partes da engrenagem da série. Cinco anos atrás, ela basicamente tinha
reprovado na escola de cinema, e olha onde ela está agora.
Sendo pedida para acompanhar sua chefe ao SAG Awards.
Talvez este fosse o próximo passo em sua carreira. Uma oportunidade
de fazer contatos, fazer conexões que a ajudariam quando ela finalmente
saísse deste trabalho. Ela preferia assistir os SAGs de pijama no sofá da
irmã, mas poderia ir com Jo. Isso seria bom.
— OK. Eu irei ao SAG Awards com você.
Jo olhou para ela, atenta.
—Você não vai surtar ao ver algum ator famoso e me envergonhar, não
é?
— Não, Srta. Jones. — Emma disse imediatamente. — Claro que não.
— Mesmo se você ver Lucy Liu?
A sobrancelha erguida que acompanhava o comentário disse a Emma
que Jo estava brincando. Normalmente, Emma poderia até revidar, mas sua
mente não estava funcionando rápido o suficiente esta manhã.
— Mesmo assim.
— Muito bem. — disse Jo. — Estaremos saindo para a prova às 13h.
Ela abriu o laptop. Estava sendo dispensada, e Emma sabia disso, mas
levou um momento para deixar o escritório de Jo de qualquer maneira.
Então. Emma estava indo para o SAG Awards. Com Jo. Em dois dias.
Okay. Isso era normal.
Ela escreveu um e-mail ao produtor assistente sobre a reunião
cancelada, mas sua mente permaneceu principalmente na premiação, na
prova do vestido. Ela mandou uma mensagem para a irmã para convidá-la
para passar a noite. Ela tinha a sensação de que precisava conversar.
Então ela guardou o telefone e começou a trabalhar.


JO A CONDUZIU COM UM PROPÓSITO pelaloja. Era uma boutique que atendia
apenas com hora marcada. Quando Emma usou o nome de Jo no telefone
naquela manhã, a tarde completamente reservada da loja foi disponibilizada
de repente. Emma manteve seu olhar atento enquanto caminhavam, não
queria aparentar estar tão obviamente deslocada quanto ela se sentia.
Algumas roupas deviam custar mais de dois meses de aluguel.
Ela seguiu Jo até uma espécie de área de preparação nos fundos da loja.
Havia três espelhos com uma pequena plataforma na frente deles. Um sofá
estava ao lado, e vestidos eram exibidos em cabides, pendurados em várias
alturas na parede oposta. Na frente delas estava uma mulher negra alta,
com tranças em um coque no topo da cabeça. Ela sorriu quando as outras
duas se aproximaram.
— Jo Jones, em carne e osso. — disse a mulher, inclinando-se
consideravelmente para dar beijos nas bochechas de Jo.
— Victoria. — Jo disse com um sorriso. — Como você tem estado?
Como foi o casamento?
— Lindo. — disse Victoria. — Tudo foi perfeito, até mesmo o presente
que era muito caro para alguém que nunca conheceu meu filho.
Jo balançou a cabeça levemente em reconhecimento.
— Mas chega de conversa. — disse Victoria. — Eu sei que você está
pensando nas roupas.
Jo não discordou.
— Esta é Emma. — disse ela.
Victoria apertou a mão de Emma, olhando-a de cima a baixo.
— Jo disse que você era uma morena alta, mas, garota, você é muito
mais.
— Obrigada? — Emma disse. Saiu como uma pergunta.
— Posso arranjar uma bebida para você? — Victoria perguntou. —
Champanhe? Vinho? Água?
Emma nunca tinha ido a uma loja de roupas que lhe oferecia uma bebida.
Ela recusou. Jo ergueu o cantil que ela carregava por toda parte – Emma
sabia que, como era ela que o enchia regularmente, que era café ou água.
— Ok, então, vamos aos vestidos. — disse Victoria. — Eu já escolhi
alguns, mas não precisamos ficar com eles se você quiser algo diferente.
Todas se viraram para olhar os vestidos de gala pendurados na parede.
Emma engoliu em seco. Eles eram mais elegantes do que qualquer coisa
que ela já tinha usado. Havia um vestido preto que era revelador por cima,
mas volumoso por baixo, um vestido estilo sereia tão vermelho quanto o
batom de Jo, um vestido sem alças da cintura do império da cor de café com
leite e um vestido branco de tecido esvoaçante e enormes flores
multicoloridas pintadas ao longo de um lado.
Jo fez um barulho de descontentamento.
— Eu disse especificamente que não... — Ela parou. — V, o vestido
preto não é do estilo que eu pedi.
— Divirta-se um pouco, Jo. Deixe a garota decidir sozinha. — Victoria
virou-se para Emma. — Você gosta deste, querida?
Emma olhou para Jo, depois olhou para o vestido.
— Eles são todos lindos.
— Vamos lá, experimente primeiro. — Victoria conduziu Emma até o
provador e pendurou o cabide do vestido preto em um gancho de metal. —
Você vai ficar ótima. Me avise se precisar de ajuda para vestir.
Victoria fechou a porta atrás dela.
Emma respirou. Ela torceu o cabelo em um coque rápido e usou o
prendedor de cabelo no pulso para prendê-lo.
Ok. Então. Vestido número um. Ela o colocou primeiro sem tirar o sutiã,
mas isso não iria funcionar. Tirou o sutiã. O vestido era muito mais
decotado do que ela estava confortável. Ela estava bonita, com certeza, mas
estava basicamente se vestindo para um evento de trabalho, e isso não era
de forma alguma apropriado.
Ela alcançou o zíper para voltar a vestir as suas roupas sem mostrar a Jo
e Victoria, mas houve uma batida na porta antes que ela pudesse.
— Precisa de ajuda, querida? — Victoria perguntou.
— Não. — disse Emma. — Não, eu estou bem.
Ela não podia se safar de não mostrar a elas, ela pensou. Ela teve que
apertar a parte de baixo do vestido estilo princesa para passar pela porta
do camarim. Victoria exclamou com prazer óbvio e levou Emma para os
espelhos. Jo, sentada no sofá, ergueu os olhos do telefone e imediatamente
olhou para baixo. Emma queria colocar a mão sobre o peito. Ela se sentiu
exposta demais.
— O que você acha? — Victoria perguntou.
Emma olhou para si mesma nos três espelhos que Victoria a colocou na
frente.
— É, hum, um pouco decotado demais para mim? — Emma engoliu em
seco. — Não que tenha algo errado com vestidos decotados. Eles não são
ruins nem nada. Não é apenas o meu estilo, sabe? Eu só... eu não sou...
Victoria riu.
— Tudo bem, Jo, você estava certa. Apenas decotes altos.
Emma olhou para Jo no espelho. Ainda olhando para o telefone, ela
levantou uma mão em reconhecimento.
— Eu estou sempre certa, V.
Victoria revirou os olhos para Emma, ainda rindo.
— Ok, vamos experimentar o próximo. — disse ela, empurrando o
vestido vermelho para ela. — E eu acabei de pensar em outro que você
possa gostar. Eu já volto.
Ela desapareceu e Emma voltou ao provador. Quando Emma tentou
abrir o zíper, viu o preço do vestido. Ela abriu a porta do camarim sem
pensar.
— Jo — ela sussurrou, e normalmente ela não chamava sua chefe pelo
primeiro nome, mas este era um momento de desespero.
A aflição deve ter sido óbvia no tom de Emma; Jo estava ao lado dela em
um segundo.
— O que?
— Este vestido custa cinco mil dólares — Emma sussurrou. Ela não
queria que Victoria ou qualquer outro funcionário percebesse que Emma
não era rica o suficiente para experimentar essas roupas.
Jo revirou os olhos.
— Não é à toa que Victoria pegou ele para você. Tentando aumentar sua
comissão, aparentemente.
— Eu não tenho como pagar isso. — disse Emma.
— Bem, não é você que está comprando de qualquer maneira. E não
combina com você.
Não combina, mas as palavras de Jo fizeram Emma se incomodar por
algum motivo. Ela se endireitou, tinha alguns centímetros de vantagem em
relação a Jo, independentemente dos saltos sempre presentes de sua chefe.
— Ok. Não ficou bom em mim mesmo.
Os lábios de Jo se pressionaram em uma linha fina.
— Você não costuma implorar por elogios, Srta. Kaplan. — disse Jo,
embora Emma não quisesse implorar por nada. — E foi você quem disse
que era muito decotado.
Mas Jo também o fez, aparentemente. Disse a Victoria de antemão que
não era o certo. Emma estava agradecida por sua chefe a conhecer bem o
suficiente para saber que ela não se sentiria confortável num compromisso
de trabalho em um vestido assim. Ela não se sentiria confortável de
qualquer maneira em nenhum tipo de vestido que custasse cinco mil
dólares.
— Eu não tenho como pagar algo que custa nem um quarto desse preço.
— disse Emma. — Eu sei que este lugar é caro, mas certamente há algo
mais barato.
— Como eu disse, você não está pagando por isso. — Jo se virou e
voltou para o sofá, sentando-se novamente e puxando o telefone.
Emma corou em compreensão.
— Não, senhora Jones. — Disse ela. — Isso é demais.
Jo olhou para cima, erguendo as duas sobrancelhas para Emma.
— Você tem outra maneira de conseguir uma roupa apropriada para o
SAG Awards? Por favor, Emma, eu te pago bem, mas não tão bem. Bryce
Dallas Howard pode gostar de usar vestidos de lojas de departamento do
Neiman Marcus para eventos, mas isso não significa que deixarei minha
assistente ser vista em um.
Jo se destacava em relação ao sofá de cor creme. Cabelo preto, roupas
escuras. Emma se perguntou como seria o vestido do SAG dela. O estilo
cotidiano de Jo tendia a tons de cinza. Simples, sem sentido. Nos eventos,
porém, ela era uma revelação. As pessoas ainda conversavam sobre seu
vestido de baile sem alças azul claro com bolsos do Emmy anos atrás.
Emma teria que encontrar algo extraordinário para combinar com Jo no
tapete vermelho.
— Por que você ainda está vestida com isso? — Victoria perguntou,
voltando com um vestido azul royal pendurado no braço. A cor era tão
espetacular que as mãos de Emma coçavam para alcançá-lo.
— Não consigo alcançar o zíper. — disse Emma.
— Você não poderia ter ajudado a garota? — Victoria resmungou para
Jo. Ela pendurou o vestido azul junto com os outros e veio abaixar o zíper
de Emma.
— Eu quero esse. — disse Emma, apontando para o vestido azul. Agora
que estava pendurado, ela podia vê-lo completamente, de gola alta em
formato canoa até a leve cauda, onde era mais longo atrás.
— Você pode experimentar depois do vermelho. — disse Victoria.
Emma não desviou o olhar do azul.
— Mas eu amei este.
Victoria riu dela, mas trocou os vestidos.
Só tirar o vestido do cabide fez Emma amá-lo ainda mais. O material era
macio e suave, fresco contra os dedos. A parte de trás estava quase toda
exposta, com um X grosso de tecido cruzando-o. O zíper estava escondido
na lateral e ela mesma conseguia puxar. O ajuste parecia perfeito. Emma
passou as mãos pelos quadris e não pôde deixar de sorrir.
Quando ela saiu pela porta do camarim, Victoria gritou de alegria e Jo a
encarou. Ela apenas a fitou, piscando algumas vezes, e Emma se sentiu
poderosa. O sorriso dela cresceu.
— Oh querida, sim. — Disse Victoria. — E eu nem vi as costas, vire,
vire.
Emma riu.
— Deixe-me ficar na frente dos espelhos primeiro.
Ela estava bonita e sentia-se confortável. Emma sorriu para seu reflexo.
Ela virou as costas para o espelho, e isso foi ainda melhor. Era mais pele do
que costumava mostrar, mas não se importava, pois não era um decote. Ela
tirou o cabelo do coque para que caísse em ondas desarrumadas pelos
ombros.
Victoria assobiou.
— O que você acha?
— Eu amei. — disse Emma.
— Jo?
Emma olhou para Jo no espelho. Sua chefe a observava, os olhos sem
piscar de uma maneira que Emma não tinha certeza se era boa ou ruim. Jo
olhou para Victoria.
— Ela vai precisar de saltos.
Emma reprimiu um suspiro. Ela queria a opinião de Jo sobre o vestido.
Jo estava certa, entretanto – o tecido estava acumulado no chão. Emma
tropeçaria nele sem saltos.

É
— É muito bonito, não acha? — Victoria pressionou, mas Jo
permaneceu inexpressiva.
— Desde que Emma esteja confortável.
— Você não tem salvação. — disse Victoria. Para Emma, ela
acrescentou: — Quanto você calça? Eu vou procurar sapatos para você.
Não troque de vestido ainda.
— Eu não preciso experimentar outro. — disse Emma. — Eu quero
este.
Victoria assentiu.
— Tamanho?
— Trinta e oito. — disse Emma, e Victoria se afastou.
Na pressa de entrar no vestido, Emma esqueceu de verificar o preço. Ela
encontrou a etiqueta. Dois mil e quinhentos dólares. Barato, em
comparação ao outro. Ainda era uma quantia ridícula de dinheiro para sua
chefe estar gastando com ela. Jo tinha uma quantidade ridícula de dinheiro,
no entanto, e ela poderia fazer o que quisesse com ele. Emma não tinha
motivos para recusar um vestido extravagante. Ela já admitiu que queria
este.
— É um exagero. — ela disse, de qualquer maneira. — Você comprar
um vestido para mim quando eu só vou usá-lo por uma noite.
Jo olhou para ela.
— Não é nada. — Disse ela. — Estou convidando você, Emma. Não vou
fazer você pagar para ir.
— Jo, eu... — Emma suspirou.
Ela queria o vestido. Ela nem estava tão nervosa por ter que ir a
premiação mais. Esta prova de vestido foi melhor do que ela esperava;
talvez os prêmios também seriam. Mas a ideia de Jo gastar US$ 2.500 com
ela colocou uma sensação ruim no estômago que ela não gostava.
— Você não quer ir? — Jo perguntou calmamente, sem olhar para
Emma.
Emma respondeu sem hesitar, provavelmente por hábito de facilitar as
coisas para Jo.
— Não, eu quero, eu apenas-
— Está combinado então. — disse Jo. — E esse vestido? É lindo.
Emma assentiu, sorrindo.
— Sim, chefe.

ELAS COMPRARAM O VESTIDO – DEPOIS QUE Emmatirou algumas fotos de si mesma
nos espelhos – mais um par de saltos que Emma teria que praticar andar
neles durante todo o fim de semana. Mal estava na metade da tarde, mas Jo
instruiu Chloe, sua motorista, a deixar Emma na garagem, junto de seu
carro.
— Sra. Jones, eles ainda estão gravando. Você não me quer no set?
— Acho que posso sobreviver por algumas horas. — disse Jo. — Ainda
mais porque já estou te monopolizando no domingo. A suíte que você
reservou para eu me arrumar? Venha entre dez e onze horas. Cabelo,
maquiagem, joias – tudo será resolvido. Seu vestido já vai estar lá, para que
você não precise se preocupar com isso durante todo o fim de semana.
Emma nem tinha pensado em se arrumar. Ela mordeu o lábio inferior e
acenou com a cabeça para Jo.
— Eu tenho o Producers Guild Awards amanhã. — Disse Jo, embora
era claro que Emma já soubesse disso. — Eu não vou andar pelo tapete
vermelho lá, e pensei que os SAGs seriam mais … — Ela fez uma pausa. —
Divertidos para você. Sentaremos com o elenco, é claro, para que você não
se sinta muito deslocada.
Porque usar um vestido de US$ 2.500 com cabelo, maquiagem e joias,
todos pagos pela chefe, aparentemente seria compensado porque ela estaria
sentada com pessoas que conhecia. Realmente, os PGAs seriam melhores
para Emma, tanto em relação às redes quanto em relação a não ter que
andar no tapete vermelho. Mas Jo precisava dela nos SAGs, então ela iria
aos SAGs.
— Tranquilo — Emma disse calmamente. — Nos encontramos depois,
então.
Ela agradeceu a Chloe e, pela primeira vez em anos, voltou para casa
enquanto eles ainda estavam filmando.
Ela mandou uma mensagem para a irmã novamente, disse para Avery
vir quando fechasse a padaria e para trazer Cassius, o mais aconchegante
dos três rottweilers de Avery.


— VOCÊ SABE QUE VAI deixar
Billie e Roz com ciúmes se você só pedir por
Cassius — disse Avery quando ela chegou.
— Vou levá-los todos ao parque para cães no próximo fim de semana
para compensar isso. — disse Emma, acariciando Cassius antes de abraçar
sua irmã.
Avery dava os melhores abraços. Ela sempre dizia que era porque era
gorda e tinha alguma espécie de amortecedor nela, e Emma não
exatamente discordava, mas ela acha que isso também tem algo a ver com o
amor que Avery depositava em seus abraços.
— Como foi o seu dia? — Emma perguntou.
— Bom... — disse Avery. Ela deixou as chaves na mesa perto da porta.
— A padaria estava cheia. Os gêmeos estavam loucos. Estou feliz por não
estar tomando conta deles hoje à noite. Vamos pedir comida?
— A comida tailandesa está a caminho. — disse Emma.
— Daquele lugar?
— Daquele lugar.
— Eu te amo.
— Eu sei. — Disse Emma, sentando-se no sofá. Ela deu um tapinha no
assento ao lado dela. — Talvez isso significa que você vai me deixar
aconchegar com Cassius no meu sofá?
Avery balançou a cabeça.
— Cash literalmente nunca será permitido em cima dos móveis.
— Ele literalmente é permitido sempre que eu cuido dele. — Emma
murmurou.
— O que?
— Oh, nada — disse ela com falso desinteresse, rindo quando Avery
estreitou os olhos.
— Tanto faz. — Avery sentou-se desajeitadamente ao lado de Emma e
tirou a bandana que sempre usava na padaria. Ela passou os dedos pelos
cabelos castanhos na altura dos ombros. — E aí? Ainda vamos ver os SAGs
na minha casa domingo? Dylan está sob instruções estritas de que ele está
encarregado das crianças durante a noite.
Emma riu nervosamente. Claro que sua irmã lidou com isso.
— Sobre isso… — Emma disse. Avery inclinou a cabeça para ela e
Emma decidiu arrancar o curativo. — Jo precisa de um braço direito para
que as pessoas não falem com ela sobre o Agent Silver – não sei se você viu
aquela coluna de fofocas sobre como ela aparentemente não é boa o
suficiente para escrever ou algo assim. — Emma revirou os olhos. — Mas
ela precisa de um braço direito. Então ela vai me levar para a cerimônia.
— A cerimônia?
— A cerimônia do SAG Awards.
Avery piscou.
— Você vai ao SAG Awards?
Emma assentiu.
— Isso é incrível!
— Acho que sim?
— Por favor, Em. — disse Avery. — Isso vai ser muito legal. É um
pouco estranho a sua chefe estar te levando já que não é… ela que não leva
um encontro para uma premiação desde que era adolescente?
Emma ficou vermelha imediatamente.
— Oh meu Deus, Avery, eu não sou o encontro dela.
— Você sabe o que eu quero dizer. — disse Avery, erguendo Emma com
um olhar. — Mas também, é… é assim que vai parecer.
— Só porque ela vai levar uma mulher como acompanhante significa
que todo mundo vai decidir de repente que ela é gay? Todo mundo que
realmente sabe quem eu sou, saberá que sou sua assistente. E ninguém vai
se importar.
— Se você diz. — Avery encolheu os ombros. Os olhos dela se
arregalaram. — O que você vai vestir?
Emma tremeu em desgosto, porque ainda pensava que o fato de Jo ter
comprado o vestido para ela era demais, e tinha certeza de que sua irmã
também iria pensar a mesma coisa.
— Hum. Um vestido. Eu arranjei ele hoje.
— Você conseguiu um vestido para os SAGs hoje? Tipo, depois do
trabalho? Ainda são seis e pouco.
— Não. — disse Emma. — Esta tarde.
— Jo deixou você tirar a tarde de folga para conseguir um vestido?
— Não exatamente. — Emma suspirou. Ela poderia muito bem falar
logo. — Jo e eu fomos a uma prova de vestido, e ela me comprou um.
Avery olhou para a irmã. Emma tentou não dar desculpas, sabia que Jo
poderia fazer o que quisesse com seu dinheiro. E Jo estava certa, de
qualquer maneira; seria rude convidar Emma e depois fazê-la pagar.
— Eu tenho fotos dele — disse Emma, pegando o telefone na mesa de
café —, ela está cuidando de tudo para trazê-lo para a suíte onde vamos
nos arrumar e tal, para que eu não precise me preocupar com isso.
— Vocês vão se arrumar juntas também?
— Sim. — disse Emma, de maneira mais leve do que se sentia. — Ela
sempre se prepara em uma suíte. Faz sentido para mim também. Quero
dizer, não sei como arrumar meu cabelo ou algo assim.
— Cara. — disse Avery. —Ela quer casar com você.
— O que?
— Ela com certeza quer ser sua esposa — disse Avery. Ela assinalou os
itens em seus dedos enquanto os listava. — Te comprando coisas
sofisticadas, passando tempo com você fora do trabalho, te exibindo em
público.
Emma pegou uma almofada e jogou nela com toda força que tinha,
acertando a irmã no rosto.
— Isso é ridículo!
— Ah, é?
— Sim! — Emma exclamou. — Minha chefe não quer casar comigo. Ela
provavelmente nem é queer.
— Só porque ela não é assumida não significa–
— Tanto faz. — Emma revirou os olhos. — Estamos falando dos SAGs,
não especulando sobre a sexualidade de Jo. Ela me convidou para não
precisar lidar com pessoas perguntando sobre o filme.
— Talvez ela não deveria estar fazendo o filme se não quisesse lidar com
pessoas perguntando a ela sobre isso.
— Ei! — Emma retrucou, ainda sensível sobre o artigo alegando que Jo
não era boa o suficiente para o Agent Silver. — Nós nem sabemos se ela vai
fazer o filme, de qualquer maneira.
Cassius colocou a cabeça no colo de Emma, aparentando estar
angustiado pelas vozes altas. Emma guardou o telefone novamente para
coçar atrás das orelhas dele. Ela sabia que seu rosto estava vermelho.
— Você totalmente deveria deixar ela casar contigo. — Disse Avery. —
Ainda mais com a sua queda por ela e tudo mais.
Emma desistiu, deslizando no chão para abraçar completamente Cassius.
Ele imediatamente colocou metade do peso do corpo nela.
— Eu não tenho uma queda por ela — disse ela.
— Em, você basicamente tinha um santuário para ela em sua parede
quando criança.
— Eu tinha fotos de mulheres inspiradoras! — Emma disse. — Maya
Angelou também estava naquela parede. Você acha que eu tenho uma
queda por Maya Angelou?
Avery deu de ombros.
— Eu tenho um crush intelectual por Maya Angelou.
— Como seu marido se sente sobre isso?
— Ele também tem um crush intelectual por ela – por que você acha que
eu me casei com ele?
— Escuta, tudo bem. — Emma disse. — Eu acho que Jo é incrível e
brilhante, mas é, tipo, uma queda por mentores. Não é uma verdadeira
paixão. Como me senti em relação ao professor Allister na faculdade.
— Ou — Avery disse a palavra — Você gosta de mulheres mais velhas.
— Eu não.
Avery fez uma careta como se não acreditasse totalmente nela. Emma
esfregou o estômago de Cash.
— Sua mãe é uma verdadeira idiota, você sabia disso?
— Deixe eu ver o vestido. — disse Avery. — Eu prometo que vou parar
de provocá-la por sua queda pela sua chefe.
— Sua mãe não pode ver meu vestido, não é? — Emma disse para
Cassius. — Não, porque ela é uma grande… ei!
Avery estendeu a mão e pegou o telefone de Emma de onde ela o deixou
no sofá.
— Em. — Seus olhos estavam arregalados quando ela olhou para o
telefone. — Em.
Emma colocou o queixo no topo da cabeça de Cassius e tentou não
corar.
— É muito bonito, né?
— Emma, você está maravilhosa. — disse Avery. — Oh meu Deus, eu
vou te ver na TV? Você vai, tipo, andar no tapete vermelho e tudo?
— Oh não, eles não me mostrariam. — disse Emma. — Eles só vão
mostrar estrelas e outras coisas, obviamente.
— Sim, mas se eles mostrarem Jo, você estaria ao lado dela! Eu poderia
te ver.
A garganta de Emma ficou apertada com a possibilidade de todas
aquelas câmeras nela. Ela pensou em seus inaladores – um na bolsa, outro
ao lado da cama – e se perguntou se poderia trazer um com ela. Mas ela
não tinha uma bolsa de mão ou qualquer coisa para poder carregá-la. Como
ela ia levar suas coisas? O que alguém leva para os SAG Awards? Ela não
estava preparada para isso.
— Ei — disse Avery. — Vai ficar tudo bem. — Ela esfregou a mão no
braço de Emma. — A única vez que eles te mostrariam seria, tipo,
enquanto Jo está chegando, certo? Todas as celebridades descem por um
tapete vermelho chique para tirar fotos, e as pessoas que as acompanham
só estão lá se forem famosas. Ou, tipo, quando é a mãe de alguém e é fofo.
Você vai pelo outro caminho, aquele que eles mandam os plebeus.
Emma revirou os olhos para a irmã, apesar de gostar de Avery estar a
distraindo.
— Sou menos plebeia que você, pelo menos. — Disse ela. — Dado que
você provavelmente estará usando um macacão no seu sofá.
— Touché.
Mesmo se houvessem câmeras nela, estaria tudo bem. Hollywood era
sobre quem você conhecia. É verdade que conhecer Jo Jones seria muito
útil quando se tratasse de não trabalhar mais como assistente, mas a
exposição que Emma receberia de um evento de alto nível como os SAGs
não poderia machucar. Ela ficaria bem.
2
EMMA

E mma ficou no corredor em frente à porta da suíte por dez minutos. Ela
bateu nela exatamente às 10:30 da manhã.
A porta se abriu imediatamente. Um homem baixo, de cabelos escuros,
bem raspado nas laterais e comprido por cima, estava atrás dela. Ele sorriu
e gesticulou para ela entrar.
— Você é a infame Emma? — Ele perguntou.
— Emma, sim. Infame, nem tanto. — Disse Emma.
O homem a levou para a sala de estar. A suíte era enorme – tinha até um
andar de cima. De um lado, havia uma escada em espiral que Emma não
confiava em si própria, muito desajeitada para subir. Atrás desta, havia uma
porta fechada que Emma supunha que levaria a um quarto. O outro lado da
sala se abria para uma área de jantar. A sala de estar tinha janelas do chão
ao teto, dois sofás, uma cadeira estofada, um piano de tamanho grande –
Deus sabe o porquê – e uma espreguiçadeira perto de uma das janelas,
onde Jo estava sentada serenamente enquanto alguém fazia suas unhas. Ela
era uma imagem de luxo em um robe de seda rosa. Ela sorriu para Emma
do outro lado da sala. Emma acenou, depois deixou cair a mão para o lado,
imaginando o quão idiota isso parecia.
— Jo nunca trouxe outra pessoa para prepararmos; você é infame. — O
homem que a deixou entrar disse. — Eu sou Jaden, a propósito. Eu
trabalho com Kelli, que acho que você conhece.
Emma só conhecia Kelli através de telefonemas marcando
compromissos. Ela fazia a maquiagem de Jo para eventos onde haveria
mídia.
— Essa sou eu. — Disse uma mulher. Ela estava em uma mesa coberta
com produtos de maquiagem. — É bom ter um rosto para reconhecer.
Emma sorriu.
— Concordo.
Kelli era muito mais velha do que Emma esperava. Ela parecia tão jovem
ao telefone, mas haviam pés de galinha aparecendo de seu rosto impecável
com maquiagem.
— Assim que Mai terminar de retocar as unhas de Jo, é a sua vez —
disse Jaden. — Você sabe como quer arrumar o cabelo?
— Hum. — disse Emma. Ela tinha procurado penteados no Google o
dia todo ontem, mas meio que imaginou que o estilista teria algo escolhido
para ela. — Eu gosto dele solto?
— Posso trabalhar com isso.
A partir dali, Emma se sentiu um pouco como uma boneca. Jaden
brincava com o cabelo dela – por cima desse ombro, então por cima
daquele, e depois para cima e para baixo – a inspecionando a cada ajuste.
Kelli trouxe paletas de maquiagem, segurando cada uma ao lado do rosto
de Emma para descobrir o que funcionava melhor com seu tom de pele.
Alguém apareceu com um copo de água e desapareceu antes que ela
pudesse obter o nome. Emma confiava nessas pessoas – Jo sempre estava
ótima em eventos – mas nunca havia sido arrumada assim antes.
Tudo se acalmou eventualmente. Mai veio fazer as unhas enquanto Kelli
trabalhava na maquiagem de Jo. Emma deixou Mai escolher a cor de seu
esmalte. Ela ficou em silêncio o tempo todo, apenas falando quando alguém
perguntava algo Ela queria dizer a Jo que ela foi roubada no Producers
Guild Awards na noite passada, mas não sabia como trazê-lo à tona.
— Eu pensei que você tinha dito que ela era tagarela. — Disse Kelli, e
Emma olhou para ela.
— Ela geralmente é. — Foi a primeira vez que Jo falou desde que Emma
chegou.
— Ela disse que você provavelmente falaria pelos cotovelos. — Disse
Kelli a Emma.
— O que aconteceu com o sigilo de esteticista-cliente? — Jo perguntou.
Kelli revirou os olhos para Jo.
— Não é que você precise conversar. — Disse a Emma. — Mas você
também não precisa ter medo.
— Não tenho medo de conversar. — Disse Emma, emocionada com a
ideia de Jo discutindo-a com outras pessoas. — Eu nem sou tão tagarela
assim?
Mantendo os olhos fechados enquanto Kelli aplicava sombra, Jo acenou
com a mão para Emma.
— Você sempre tem um bando de assistentes de produção ao seu redor.
— Porque eu sou amigável. — Disse Emma. Ela fez sua voz ficar doce.
— E se eles querem reclamar sobre sua chefe autoritária–
— Cuidado. — disse Jo, mas não havia calor por trás de sua voz.
— Eu escuto. — Emma continuou. — E sendo amigável, eu faço as
coisas serem feitas. Você pega mais abelhas com mel, sabe.
Jo revirou os olhos e Kelli fez um som de desaprovação para ela.
— Você quer que eu te esfaqueie nos olhos com este pincel? Não? Então
fique quieta.
Foi mais divertido depois disso. Emma parecia ter conquistado os
esteticistas. Jo estava relaxada, descontraída. Ela não era péssima no
trabalho nem nada, mas estava sempre concentrada e séria, e Emma não
estava acostumada a vê-la tão leve. Emma tentou ficar relaxada também,
embora sempre que deixava sua mente se desviar para a cerimônia mais
tarde, e o tapete vermelho principalmente, seu pulso disparava um pouco.
Para manter a calma, ela fez perguntas aos esteticistas. Kelli fazia a
maquiagem de Jo para eventos havia mais de vinte anos. A mãe de Mai fez
as unhas de Jo no primeiro Emmy que ela foi, quando tinha quatorze anos.
Esse foi o ano em que Emma nasceu.
O almoço chegou quando as unhas de Emma estavam terminando de
secar. Mai a fez deixar todo mundo pegar um prato antes que ela pudesse,
apenas por precaução.
Emma salivou apenas pelo cheiro, que estava se espalhando, enquanto
esperava. Era uma variedade de aperitivos. Havia salada caprese com
palitos de dente e rolinhos primavera e três tipos diferentes de brusqueta.
— Isso são realmente enroladinhos de salsicha? — Kelli disse enquanto
carregava o prato. — Jo, você está perdendo seu gosto refinado?
— Eu amo enroladinhos de salsicha! — Emma disse.
— Eu acredito que eles são tecnicamente enroladinhos de vacas. —
Disse Jo. — Eles são kosher.
— Maravilha! — Emma disse, mesmo que ela não seguisse as leis do
kosher, os teria comido de qualquer maneira, mas foi bom Jo ter levado isso
em consideração.
Kelli sorriu e Emma deu de ombros para ela. Os enroladinhos de
salsicha eram deliciosos, kosher ou não, refinados ou não.
Quando Emma finalmente pôde pegar um prato pra comer, ela o encheu
de coisas, não conseguia dizer não a tudo que via. Não havia espaço
suficiente. Ela teria que voltar para a sobremesa.
— Você sabe, Srta. Jones... — ela disse —...não estou defendendo o
nepotismo ou algo assim, mas minha irmã é dona de uma padaria. Na
próxima vez que você precisar de mini cupcakes.
— É mesmo? — Jo perguntou. Ela tinha zero enroladinhos de salsicha
no prato.
— Sim — disse Emma. — Floured Up, em West Hollywood.
— Fale com o buffet amanhã — disse Jo. — Veja se podemos conseguir
algo com ela.
Emma sorriu ao redor da mordida de rolinho primavera em sua boca.


JADEN FEZ O CABELO DE EMMA depois
do almoço. Ele falou o tempo todo. Quando
ele parou por um momento para encontrar algum produto em sua bolsa,
Emma olhou para Jo, que estava fazendo as unhas dos pés.
— E você disse que eu ia encher o saco deles?
Todos riram, exceto Jaden, que ou não ouviu ou pelo menos não parecia
se importar. Depois de encontrar o produto, ele voltou a explicar a briga
que sua irmã teve com sua mãe no início da semana.
Depois do cabelo veio a maquiagem. Em um dia normal, Emma usava
rímel e protetor labial, talvez corretivo, se ela tivesse uma espinha
especialmente ruim. Ela estava com um pouco de medo de Kelli e sua
coleção de líquidos, pós e pincéis. Mas Kelli era gentil, e ela explicou tudo o
que faria antes de fazê-lo, como se soubesse que Emma precisava saber o
que estava acontecendo.
Kelli trabalhou nos olhos e Emma ficou surpresa com o quão confortável
ela se sentia, aqui em uma suíte com sua chefe e todos esses estilistas, se
preparando para uma premiação. Ela tinha o inalador na bolsa – e ainda
não tinha certeza de como ela iria carregar alguma coisa para a cerimônia –
mas não estava se sentindo ansiosa no momento, então talvez nem sequer
precisasse.
Kelli terminou de escovar algo nas pálpebras de Emma.
— Abra. — disse ela.
Emma abriu os olhos. Ela abriu os olhos e viu Jo do outro lado da sala,
usando nada além de uma cinta e um sutiã. Emma imediatamente fechou os
olhos novamente. Kelli pigarreou.
— Abra.
Emma os abriu novamente, concentrando-se em não olhar para Jo. Todo
o seu conforto desapareceu. Ela estava feliz pelas camadas de base e tudo o
que Kelli já havia colocado em suas bochechas – talvez o modo de como
Emma corou não fosse tão perceptível. Kelli parecia focada demais nos
olhos de Emma para se importar tanto.
Emma não viu nada do que não deveria. Ela teria visto mais se Jo
estivesse de maiô. Era só – era muita pele. E não era que Avery estivesse
certa, porque ela não estava. Emma não tinha uma queda por Jo. Mas Jo era
uma mulher objetivamente bonita, toda a pele cremosa e pernas
surpreendentemente longas para uma pessoa pequena. Então Emma estava
um pouco confusa, só isso. Ela ficou feliz quando Kelli lhe disse para fechar
os olhos novamente.
Quando Kelli terminou, Jo não estava em lugar algum. Emma deu um
suspiro de alívio.
— Seu vestido está naquele quarto — disse Kelli, apontando para a
porta à direita. — Eu trarei opções de joias quando Jo escolher as dela.
Emma não tinha pensado em joias. Ela também não as considerava
muito também. Ela simplesmente foi se vestir. Não foi até que ela estava
ajustando o zíper e Kelli e Jaden entraram com uma caixa que Emma
percebeu exatamente o que “joias” implicavam.
— São Martin Katz, pegamos emprestados. — disse Kelli.
Emma apenas olhou para a caixa aberta. Ela não podia fazer mais nada.
Deve ter dezenas, talvez centenas de milhares de dólares em diamantes.
Emma quase se sentou na beira da cama. Ela estava agradecida por ainda
não ter colocado seus saltos altos.
— Eu... — Ela disse, e não conseguiu pensar em mais nada.
Jaden enfiou a mão na caixa de diamantes e pegou uma pulseira.
— Garota, coloca isso — disse ele. — Você não precisa de um colar com
esse decote alto. Vamos encontrar alguns brincos também.
Emma olhou para a pulseira que ele estendeu para ela. Era fio após fio
de pequenos diamantes. Jaden a balançou em sua direção, mas ela apenas
encarou, de boca aberta.
Kelli teve pena dela e pegou a pulseira.
— Ansiedade com o primeiro tapete vermelho é tudo. — disse ela,
prendendo-a no pulso de Emma.
Não era ansiedade com o tapete vermelho – primeiro ou não. Isso tinha
mais a ver com o fato de que a pulseira provavelmente custava mais do que
todo o seu guarda-roupa, todas as roupas que ela possuía juntas. E se ela a
perdesse? E se um diamante cair? Ela poderia até ser um escudo. Ela
poderia ser boa em seu trabalho. Mas ela não poderia usar isso.
E então Jaden levantou brincos, pequenas lágrimas penduradas.
— Sim ou claro? — ele disse.
— Gente, eu não posso... — Emma começou.
— Você pode. — disse Kelli gentilmente. — Coloque-os.
— Nós não passamos horas te arrumando para que você fique com medo
de algumas pedras e não ficar perfeita, querida. — disse Jaden.
Dito assim, era mais fácil para Emma usar os brincos. Ela precisava –
seria rude não estar entregando o melhor dela depois que todo mundo
trabalhou duro para fazê-la ficar tão bonita. Ela se concentrou nisso, invés
de o quanto as joias deveriam custar.
E ela estava bonita. Depois de colocar os brincos, ela calçou os saltos e
se olhou no espelho de corpo inteiro. Ela estava com um pouco de medo,
antes disso, de se encaixar. Ela tinha medo de parecer obviamente
deslocada com todas as celebridades glamourosas no tapete vermelho. Mas
ela olhou seu look, seu cabelo em ondas castanhas perfeitas sobre um
ombro. A pulseira equilibrava seu estilo com o do pulso oposto e os brincos
brilhavam. Ela parecia pertencer àquele grupo.
— Vocês fizeram um ótimo trabalho. — disse ela.
— Nós fizemos — disse Kelli. — Além disso, você já era bonita.
Emma sorriu e revirou os olhos.
Eles voltaram para a sala de estar da suíte, e havia Jo, não mais em uma
cinta e um sutiã. Agora ela estava em seu vestido, e isso era pior.
Ela parecia uma princesa – não, como uma rainha. Absolutamente linda.
Emma não tinha visto o vestido de Jo antes, e ela ficou impressionada
com o quão adorável era. Era amarelo, lindamente brilhante, amarelo
narciso. Ainda havia muita pele, com o decote coração tomara que caia, e o
cabelo de Jo em um penteado lateral. Fios de diamantes caíam em cascata
ao redor do pescoço de Jo e sobre suas clavículas. A metade inferior do
vestido caía logo depois dos joelhos, e ela estava descalça por enquanto,
mas Emma tinha certeza de que havia um par de seus clássicos saltos altos
de dez centímetros em algum lugar próximo.
— Srta. Jones — disse Emma, não mais preocupada com a aparência
dela. — Você está linda.
Jo sorriu, aceitando o elogio com um aceno de cabeça.
— Sua bolsa de festa está sobre a mesa perto da porta — disse ela. — Já
está abastecida com desinfetante para as mãos, maquiagem para retoques, e
absorventes, só por precaução.
— Você me salvou. — disse Emma. — Eu não tinha ideia de como iria
levar alguma coisa.
Emma se dirigiu para colocar o inalador e o telefone da bolsa dela para a
de festa. Jo pigarreando a fez fazer uma pausa.
— Você está bonita. — disse Jo.
O rosto de Emma se aqueceu. Ela olhou para o chão, sorrindo
— Ok. Obrigada. Vamos sair em breve?
— Sim, mas não há pressa. — disse Jo. — Se chegarmos tarde o
suficiente, esperamos poder entrar rapidamente.
Emma assentiu como se tivesse alguma ideia de como entrar na
cerimônia de premiação de Hollywood.


A VIAGEM FOI interminavelmente longa até que de repente não foi, e elas
chegaram.
Emma saiu do carro – com cuidado, porque ela estava em um vestido
longo e salto alto que ainda parecia um pouco alto demais para ela, mesmo
após treinar com ele em sua cozinha. Ela saiu do carro e já haviam câmeras.
As pessoas estavam gritando. Ela não sabia para onde olhar, não sabia para
onde ir.
Jo estava ao seu lado então, um sorriso de lábios cerrados e apenas um
olhar na direção de Emma.
— O que você está esperando? — Jo disse. — Se mexa.
Ela era mais direta do que nunca, porque isso era normal para ela.
Emma, enquanto isso, não se moveu tanto, apenas se afastou o suficiente
para deixar Jo liderar o caminho. Era parte do comportamento respeitoso
de assistente e parte do comportamento “Não tenho ideia do que estou
fazendo”.
Emma ficou tão confortável na suíte. O ambiente descontraído fez com
que parecesse mais um dia de spa do que uma preparação para uma
premiação. Mas isso – isso era loucura. Assistir na TV não mostrava
quantas pessoas realmente estavam lá. As pessoas que dirigem no tráfego,
as pessoas se dirigindo a premiação a pé, pessoas tirando fotos com
câmeras muito caras, os fãs tirando fotos com seus telefones de longe.
Havia uma tenda cheia de pessoas, e o publicista de Jo apareceu para
cumprimentá-las. Amir deu a Emma um olá superficial antes de se
concentrar em Jo, que deixou claro que ela não iria fazer nenhuma
entrevista. Emma apenas tentou não tropeçar nos pés. As pessoas gritavam
e tudo estava lotado, e ela realmente preferia estar no sofá de Avery.
Ela não queria que ninguém soubesse disso, aliás. Ela precisava parecer
que pertencia ali, porque ela iria, um dia. Ela tentou manter um pequeno
sorriso no rosto enquanto seguia Jo.
Claro, então ela não conseguiu mais seguir Jo. Porque Avery estava certa
sobre o tapete vermelho – Emma foi enviada para um lado, para longe dos
fotógrafos, enquanto Jo desceu para o outro, posando a cada poucos metros.
O show estava marcado para começar em vinte minutos, então o tapete
estava se esvaziando e Jo se moveu rapidamente. Emma segurou a bolsa de
Jo e arrastou-se, nunca ficando à frente de sua chefe. Todos focaram nas
pessoas famosas, não em todas as pessoas chatas que vieram com elas.
Emma não estava mais no centro das atenções, e seus saltos eram mais
fáceis de andar sem tanta pressão para serem perfeitamente graciosos.
Ela não estava muito calma, no entanto, porque, embora tivesse
prometido a Jo, que não iria surtar por ninguém famoso – bem, ela não
estava surtando. Ela não estava. Mas Annabeth Pierce estava duas pessoas
à frente de Jo no tapete vermelho, e Emma poderia estar prestando um
pouco de atenção demais. Ela amava todos os filmes de Annabeth desde que
ela explodiu na mídia, há pouco mais de cinco anos atrás. O vestido dela era
este vestido branco elegante com um padrão brilhante na frente. Emma
mal prestou atenção em Jo até Annabeth terminar o tapete vermelho e se
dirigir à porta do teatro.
Quando ela finalmente olhou para o chefe, Emma estreitou os olhos. Jo
parecia tensa. Desconfortável. O sorriso dela era falso. Não o “Estou
tirando uma foto e sendo forçada a sorrir” tipo de falso, mas o “se eu sorrir
mais, talvez acabe mais rápido” tipo de falso. Suas bochechas estavam
tensas e os olhos mais arregalados que o normal, como se ela estivesse
tentando ativamente não franzir a testa.
Emma ouviu uma voz de algum lugar na multidão. Ela não tinha certeza
se era um fotógrafo ou um fã, não sabia dizer exatamente de onde vinha
quando a pessoa gritou sobre o Agent Silver. Outra voz, então, perguntou
se Jo estava preocupada com o fato dos ataques terem começado antes que
algo fosse oficial. Jo se moveu em direção à última área de poses no tapete
vermelho, e as pessoas continuaram gritando.
Era para isso que Emma estava lá, certo? Ela deveria ser um escudo,
deveria impedir as pessoas de perguntar sobre o Agent Silver. Jo colocou a
mão no quadril e parecia mais que ela estava fazendo uma careta do que
sorrindo.
Emma se moveu sem pensar. Ela moveu-se cuidadosamente para o
verdadeiro tapete vermelho, o tapete vermelho onde estavam as
celebridades. Jo não notou Emma até que ela estava a apenas um metro de
distância, de repente sem saber qual deveria ser o próximo passo.
O sorriso de Jo permaneceu tenso.
— O que você está fazendo aqui? — Ela perguntou entre os dentes.
Emma deu um passo mais perto.
— Eu deveria ser seu escudo.
Foi então que ela registrou quantas câmeras estavam apontadas em sua
direção. As pessoas ainda estavam gritando com elas, perguntando o nome
dela, dizendo para sorrirem. Emma precisava de exposição, mas isso era
demais. Sua garganta ficou tensa. Ela deu um passo para trás, pronta para
fugir para a segurança do outro caminho, mas Jo pôs a mão em volta do
pulso dela e a segurou no lugar.
— Apenas sorria por um segundo e deixe-os tirar uma foto — disse Jo.
— Não seja estranha.
Emma tentou muito sorrir como uma pessoa normal.
— Não me deixe passar vergonha. Não sei andar com esses saltos.
— Certo, é claro — disse Jo. —Você é uma amazona.
Emma ficou rígida e Jo apertou com mais força o pulso.
— Eu só quis dizer que você é alta — ela melhorou sua fala. —
Comparada comigo? Claro que você é uma amazona.
Alguém apareceu e consertou a cauda do vestido de Emma,
desaparecendo com a mesma rapidez.
— Enfim — disse Jo — as amazonas eram guerreiras mitológicas, então
é realmente um elogio.
Emma sorriu, um sorriso de verdade, sem sequer pensar.
— Elas não matavam todos os homens que tentavam entrar em suas
terras?
Jo lançou-lhe um olhar, sorrindo levemente.
— Viu? Definitivamente um elogio.
Emma riu, e Jo sorriu, e então, assim, elas foram conduzidas, Jo soltou o
pulso de Emma e colocou a mão gentilmente na parte inferior das costas,
direcionando-a para o teatro. Emma havia sobrevivido ao tapete vermelho.
Ela até esquecera que estava lá por um momento. Ela tentou não pensar no
número de fotos que agora existiam, nem no carinho suave do polegar de
Jo contra a pele de suas costas.
O telefone de Emma tocou dentro de sua bolsa. Ela se perguntou se
Avery já tinha visto fotos dela, se ela apareceu na cobertura do tapete
vermelho.
— Vamos? — Jo disse, apontando para as portas.
Emma pôs o telefone no modo não perturbe, e seguiu Jo para dentro do
prédio.
3
JO

U mumtelefonema de seu publicista antes de Jo chegar ao estúdio nunca era


bom sinal. Ela subiu a janela de privacidade entre ela e Chloe,
depois atendeu o telefone.
— Bom dia, Amir.
— Sim, certo, bom dia. — disse seu publicista. Ele não tentou fazer
conversa fiada, o que Jo apreciou. — Você viu a resposta a sua façanha no
tapete vermelho?
Jo se irritou.
— Eu não sabia que tinha feito algum tipo de façanha.
— As pessoas pensam que você e sua assistente estão namorando.
Jo não pôde evitar uma risada curta.
— Não estou brincando — disse Amir. — Temos que ficar à frente
disso.
— Amir. — Jo tentou esconder a incredulidade da voz dela. Ele estava
apenas tentando fazer o trabalho dele. — Não há nada para se antecipar.
— Esse boato vai se espalhar. — disse Amir. — E não precisamos dar
munição a ninguém quando se trata de razões pelas quais você não deve se
envolver com o Agent Silver.
Ele nunca a enganou, ela tinha que levar isso em consideração. Amir não
mudou sua opinião.
— Eu não comento minha vida amorosa — disse Jo. — E eu vou ser
oficialmente anunciada como escritora e produtora de Agent Silver na
quinta-feira – será o suficiente para fazê-los esquecer o que quer que isso
seja.
— Como você não está realmente namorando sua assistente — ele disse
com menos certeza do que Jo teria esperado — essa não é tecnicamente sua
vida amorosa. Uma simples negação, nada de especial.
— Eu sei que Judy enfatizou que não haveria tais negações antes que ela
te passasse as rédeas de tudo isso.
Judy era publicista de Jo desde os treze anos. Não comentar sua vida
amorosa começou porque nenhum adolescente precisa desse tipo de
escrutínio público. Jo cresceu, mas a política de não comentar permaneceu.
Nada mudou quando Judy se aposentou há dois anos.
— Srta. Jones, você não precisa de mais coisas ruins neste momento. —
Disse Amir. — Uma declaração curta seria uma solução fácil.
Amir obviamente não podia vê-la, mas Jo balançou a cabeça de qualquer
maneira.
— Uma breve declaração após quase trinta anos de nunca comentar não
seria uma solução fácil — disse ela. — Você sabe bem disso.
Amir suspirou. Jo só podia assumir que era porque ela estava certa.
— Talvez Emma pudesse–
— Não envolva Emma nisso. — Disse Jo.
— Ela já está envolvida. E a maior parte do que está sendo escrito não é
particularmente amável.
Os dedos de Jo se contraíram. O pensamento de Emma ser depreciada
na mídia a fez considerar deixar Amir fazer uma declaração.
— Deixa pra lá — disse ela ao invés daquilo. — Vai passar.
Amir suspirou de novo, mas ele não lutou contra ela. Eles se despediram
quando Chloe parou no estúdio.
Pelo olhar no rosto de Emma, quando ela estava de pé junto à mesa dela
com o café de Jo na mão, ela ouviu sobre os rumores. Jo tomou uma decisão
rápida para fingir que ela não tinha.
— Obrigada — disse ela, tomando seu café.
Emma a seguiu até seu escritório, o que não era incomum. Ela
costumava dar a Jo um resumo da programação do primeiro dia. Mas hoje,
quando Jo apoiou a bolsa e pendurou a jaqueta, Emma simplesmente ficou
ali, torcendo os dedos.
— Você precisa de algo? — Jo perguntou.
— Hum — disse Emma. — Srta. Jones. — Ela fez uma pausa. — Você
por acaso viu o TMZ esta manhã?
— Não vi. — Jo disse a ela honestamente.
— Tem… é. — Emma respirou fundo. — Tem um pouco de
especulação. Sobre por que você me levou para a cerimônia na noite
passada.
— Oh?
Jo estava sendo injusta. Ela deveria ter facilitado isso para Emma. Mas
ela gostava de vê-la concentrada em uma tarefa.
Emma pareceu decidir que ser direta era melhor. Ela deixou cair as mãos
para os lados e se endireitou.
— Eles acham que estamos em um relacionamento — disse ela.
Jo apertou os lábios.
— Que romântico — disse ela. — Esta é talvez a primeira vez que duas
mulheres vistas juntas não foram rotuladas como melhores amigas.
Emma ofereceu um sorriso tenso. Se isso fosse qualquer outra coisa, ela
brincaria com Jo sobre isso, seu sorriso pateta vindo facilmente.
— O que nós vamos fazer? — Ela perguntou.
— O que nós vamos fazer? — Jo repetiu.
Emma deu de ombros.
— Como vamos lidar com isso?
Jo contou a Emma o que ela disse a Amir.
— Nunca comentei minha vida amorosa — disse ela. — Não vou
começar agora.
Emma parecia um peixe dourado, a boca abrindo e fechando, mas nada
saindo.
Jo abriu o computador e fez login. Talvez ela realmente devesse ler o
que as pessoas estavam dizendo.
— Jo, eu... — Emma começou. — Srta. Jones. É inapropriado. Que as
pessoas pensem isso. Sobre qualquer uma de nós.
Jo agitou uma mão.
— Se eu ficasse chateada toda vez que as pessoas pensassem que eu
estava transando com alguém que não deveria, eu estaria muito menos
emocionalmente estável. Deixe passar. Eles vão seguir em frente
eventualmente.
— Eles encontraram meu Instagram — disse Emma. — Eu ganhei nove
mil seguidores desde a noite passada.
Jo não pôde deixar de rir com isso.
— Aproveite o seu novo estrelato.
— Eu não quero desfrutar de nenhum estrelato. — Emma retrucou. —
Eu não quero ser conhecida como a garota dormindo com sua chefe! Temos
que dizer algo sobre isso.
Jo desviou o olhar do computador antes de chegar ao TMZ. Ela olhou
calmamente para Emma.
— Eu não comentei uma vez, em quase três décadas nesta área, sobre
minha vida amorosa. — Disse ela. — Não vou começar agora só porque
você tem vergonha de ser associada comigo dessa maneira. É por isso que
você não queria ficar perto de mim no tapete vermelho?
Jo não quis perguntar, imaginou que eram os nervos de Emma que a
faziam congelar. Mas assim que a pergunta saiu da boca de Jo, Emma corou
e tropeçou em si mesma para refutar a acusação. Melhor distrair Emma de
seu desconforto do que deixá-la entrar em pânico.
— Não, claro que não, Srta. Jones — disse ela. — Eu–
— Você o que, Srta. Kaplan?
— Jo. — Emma engoliu em seco. — Você é uma mulher incrível. Eu
só… não estou acostumada a estar no centro das atenções.
Jo estava no nível de famosa que as pessoas tendiam a dizer a ela o que
ela quisesse ouvir. Provavelmente era pior com seus funcionários, mas por
algum motivo ela não pôde deixar de acreditar em Emma quando a elogiou.
Emma parecia genuína com todos, mas especialmente com Jo. Foi ridículo.
Ela provavelmente era apenas boa em seu trabalho, em fazer sua chefe feliz.
Jo não se deixou levar pelo pensamento.
— Você ficará bem — disse Jo. — Eles esquecerão isso dentro de uma
semana, se não comentarmos. — Ela finalmente olhou para o artigo em seu
computador e respirou fundo para a foto. — Bem. Eles certamente tiraram
uma boa foto, não?
Emma deu a volta na mesa de Jo para olhar com ela. Foi uma ação
completamente normal mas, que deixou Jo nervosa. Ela revirou os olhos
para si mesma.
—Sim. — Emma disse calmamente. — É uma foto bem bonita. Deve ter
sido quando você me chamou de amazona.
Não foi o momento em que Jo chamou Emma de Amazônia, e sim o
momento seguinte, quando eles estavam rindo juntas. Os dedos de Jo
estavam enrolados firmemente em torno do pulso de Emma, e Emma se
inclinou um pouco para ela, olhando diretamente para ela em vez de para
qualquer das câmeras. O nariz de Emma se torceu com o sorriso, e Jo
também estava sorrindo, olhando de volta para ela. Parecia que não havia
mais ninguém no mundo. Jo lembrava de tudo, mas não tinha percebido
que pareciam tão... é. Ela entendeu por que esse boato decolou tão
rapidamente.
— Usar joias combinadas não ajudou exatamente. — disse Jo.
Emma deu um passo para trás.
— Usamos joias combinadas?
— Sua pulseira e meu colar faziam parte de um conjunto, mas eu pensei
que era demais usar os dois.
Emma andou para o outro lado da mesa de Jo. Ela piscou algumas vezes,
depois olhou para Jo.
— Por que você me deixou usá-la?
Jo parou para pensar.
— Você estava bonita.
Emma olhou para o chão, as bochechas corando. Era a verdade – ela
estava linda. Mas Jo também sabia que Emma não estava exatamente
confortável com a coisa toda. Ela não queria exacerbar isso, fazendo-a
mudar as joias que havia escolhido.
—Talvez você devesse deixar suas redes sociais privadas — disse Jo.
Emma assentiu.
— Sim. Já fiz isso.
— Certo. Bem. — Jo fechou a guia e Emma se endireitou. — Escreverei
a manhã toda. Nada de ligações, a menos que seja uma emergência.
— Sim, chefe — disse Emma. Ela foi para sua própria mesa. — Porta
fechada? — ela perguntou por cima do ombro.
Jo hesitou.
— Sim, por favor.
Ela sempre escrevia com a porta fechada. Sem distrações. Ela não sabia
o que a fez hesitar hoje. Emma não precisava que Jo a vigiasse. Os rumores
não tinham sentido; eles não iriam afetar o dia de trabalho de Emma.
Mesmo se o fizessem, Emma poderia lidar com isso. Ela lidou com tudo
que vinha com o trabalho, até agora. Jo não precisava se preocupar com ela.
A porta se fechou atrás de Emma. Jo sabia que deveria começar a
escrever, mas abriu o navegador de qualquer maneira. Ela normalmente
não lia as colunas de fofocas, mas por algum motivo, estava interessada.
Ela e Emma aparentemente estavam namorando, o que foi tudo o que
Amir a deixou saber naquela manhã. Nenhum dos sites que informavam
sobre pareciam capaz de decidir quando haviam ido além do
relacionamento entre chefe e assistente. Alguns alegaram que estavam
namorando desde o início. Muitos haviam colecionado fotos das duas, no
set ou em estúdio, como se Emma de pé perto de Jo fosse evidência de um
relacionamento. A foto do tapete vermelho era a mais destacada, não
importando o site que Jo visitasse. Ela entendeu o porquê. Olhando para
ela, até ela estava quase convencida de que havia algo lá.
Ela se permitiu dez minutos lendo a internet antes de fechar tudo e
abrir o documento do roteiro. Ela estava quase terminando com o primeiro
rascunho do final. Ela entrelaçou os dedos e esticou os braços à sua frente,
com as palmas para fora. Hora de trabalhar.


JO ESTAVA COMEÇANDO A entrarno clima de escrever quando o celular tocou. O
identificador de chamadas a fez revirar os olhos carinhosamente. Ela
deveria ter esperado por isso.
— Olá?
— Você quer me dizer o que está acontecendo?
— É bom falar com você também, Ev.
Evelyn zombou.
— Oh, não finja que você se incomoda com simpatias quando me liga.
Verdade. Jo tinha a tendência de telefonar para sua melhor amiga,
iniciando com você não vai acreditar no que aquele fudido idiota fez –
Evelyn sempre foi sua pessoa favorita para reclamar.
— Nada está acontecendo — disse Jo, recostando-se na cadeira.
— Não está acontecendo nada? Mas você levou alguém para uma
premiação? E esse alguém calhou de ser sua assistente? E não uma
assistente desalinhada que eu esperava – ela se encaixou muito bem no
tapete vermelho.
— Sim, bem, eu comprei o vestido para ela, não foi?
— Você está falando sério?
Jo quase parou com a incredulidade na voz de Evelyn, mas é melhor não
dar mais motivos.
— É claro — disse ela. — Você acha que eu confiaria nela para
encontrar um sozinha? Ou fazê-la comprar um vestido que provavelmente
só usaria uma vez?
— De que outra forma você poderia ter resolvido esse problema? —
Disse Evelyn. Ela fez hmmmm. — Deixe-me pensar. Ah, já sei! Você
poderia não ter convidado ela. Então ela não precisaria de um vestido que
usaria apenas uma vez.
— Você está com ciúmes só porque eu nunca te levei a uma premiação
— disse Jo.
Evelyn riu.
— Eu não queria ir a uma premiação com você desde a adolescência.
Evelyn e Jo cresceram juntos na Chinatown de Los Angeles. Evelyn era
a única pessoa fora da família de Jo que não a tratou de maneira diferente
depois que ela ficou famosa. As pessoas mais jovens agiam como se o
estrelato fizesse Jo especial, de repente; e as pessoas mais velhas em sua
comunidade reclamavam por Jo usar um nome artístico, como se fosse
culpa dela Hollywood não querer Jo Cheung. Quando Jo disse a Evelyn que
ela conseguiu seu papel de protagonista, Ev disse:
— Legal. — E continuou distribuindo cartas para jogar pôquer chinês.
Jo olhou para a porta fechada. Ela tinha certeza de que Emma já ouvira
muitas de suas conversas telefônicas – gritando com pessoas do trabalho
ou, pior, com o seu pai. Jo falou em voz baixa.
— Eu não queria lidar com os rumores sobre o Agent Silver — disse
ela. — Sobre se eu poderia ou não iniciar uma carreira com filmes. Eu não
queria falar com ninguém. Eu precisava de um escudo. Emma cumpriu bem
esse papel.
Evelyn deixou escapar o raro momento de vulnerabilidade de Jo.
— Você admitir que tomou a menina como braço direito não está
ajudando o seu caso — disse ela. — Você a trouxe para não precisar lidar
com pessoas de quem não gosta. Portanto, ela não está na categoria de
pessoas que você não gosta.
— Sim, Evelyn, eu gosto da minha assistente. Essa não é uma situação
“ao acaso”.
— Oh Deus — disse Evelyn. — Eu sei que já faz um tempo que você
não me manda uma mensagem acidentalmente quando pretendia mandar
para ela. Mas se você começar a fazer sexting, certifique-se de encontrar o
contato certo no seu telefone primeiro.
— Pelo amor de Deus. — Jo esfregou a ponta do nariz.
Evelyn estava certa sobre as mensagens acidentais, no entanto. Acontece
com mais frequência do que Jo gostaria, geralmente quando ela retirava as
lentes de contatos e não estava olhando atentamente para o telefone. Emma
e Evelyn estavam uma ao lado da outra na lista de contatos de Jo.
— Ela estava linda, Jo — disse Evelyn.
— Eu não vou negar isso — disse Jo. Seria uma mentira. Emma já
estava bonita quando chegou à suíte no dia anterior. A equipe de
preparação de Jo não precisava ajudar muito. — Ela tem 27 anos e parece
que ela poderia ser a maldita Mulher Maravilha. E sim, eu gosto da
companhia dela em detrimento da de atores desagradáveis e presunçosos,
especialmente em uma noite feita para celebrar sua presunção. O resto são
supostos jornalistas especulando sobre as coisas para obter visualizações.
Evelyn ficou quieta por um momento, e Jo considerou que talvez ela a
tivesse convencido.
Em vez disso, Evelyn disse:
— Quando você ceder à maneira inevitável em que estavam olhando
uma para a outra, você me liga?
— Você quer que eu ligue para você antes disso — perguntou Jo. — ou
prefere nunca mais ouvir falar de mim?
Evelyn desligou sem responder. Jo voltou ao seu roteiro.


INNOCENTS SE CONCENTRA EM UM grupo de advogados trabalhando para exonerar
os condenados indevidamente. Foi o segundo programa de TV de Jo, ainda
mais bem-sucedido que o primeiro. Quando eles se aproximaram do final
da quinta temporada, Jo estava pronta para seguir em frente. Ela amava
seus personagens, mas os conhecia a essa altura. Não havia muito a
explorar, não havia tantas maneiras novas de Jo se desafiar.
Então, ela se voltou para uma franquia de ação com seis décadas de
história; Agent Silver não era como nada que ela tinha feito antes. O
anúncio de Jo como escritora estava marcado para quinta-feira, mas as
fofocas sobre como as pessoas esperavam que ela falhasse já estavam por
toda parte. Jo nunca admitiria estar nervosa, especialmente porque
aterrorizada pode ser o adjetivo mais apropriado. Mas ela não poderia
melhorar, a menos que expandisse seus limites.
Jo imaginou que deixar Innocents seria como o que os pais
experimentam quando os filhos vão para a faculdade. Seu bebê, de repente
crescido e não está mais sob seu teto. Ela já havia delegado muitas de suas
funções de showrunner para a produtora co-executiva, Chantal. Jo confiava
nela. Ela sabia que Chantal era mais do que capaz de administrar a correria
do dia-a-dia.
Além disso, Jo gostava do jeito que ela estava sempre preparada para
recuar quando Jo aparecia no set. Chantal cuidava de tudo enquanto Jo
estava fora e se oferecia para entregar as rédeas em sua presença. Hoje, ela
acenou para Jo, seus cachinhos saltando. Jo acenou para ela. Ela queria
assistir um pouco, limpar a cabeça de todas as palavras misturadas dentro
dela.
Emma ficou ao lado dela, trabalhando em algo em seu tablet.
Normalmente, a presença de Emma no set era cheia de saudações dos
assistentes de produção. Hoje, o reconhecimento dela foi visivelmente
moderado. Antes que Jo pudesse pensar muito, Chantal pediu um intervalo
de cinco minutos enquanto eles ajustavam a iluminação, e Tate, um dos
principais atores, veio na direção dela.
— Você já terminou o roteiro final para nós? — Ele perguntou.
Jo conseguiu não revirar os olhos para ele. Como ator, ele não pegaria o
roteiro por semanas, depois de passar por revisões e reescritas, mas sempre
gostava de se intrometer.
— Estou surpresa que eu tenha terminado a escrita — disse Jo,
bruscamente. — Já que Emma e eu aparentemente estamos brincando
tanto no meu escritório.
Tate riu, grande e estrondoso, e a equipe se juntou, embora com menos
entusiasmo. Jo sorriu. Emma era da cor de um tomate.
— Não se apresse com isso — disse Tate, seu sorriso de dentes brancos
se destacando contra sua pele escura. Ele olhou para Emma e riu. — Você
está bem, Emma?
— Eu te odeio — Emma disse a ele. Então: — Senhora Jones, deixe-me
encher isto para você.
Ela pegou o cantil da mão de Jo e partiu. Jo não se incomodou em
apontar que ainda estava cheio.
— Vá devagar com ela — disse Tate.
— Ela pode lidar com isso — disse Jo, agitando a mão como se não
estivesse preocupada com como isso tudo poderia afetar Emma. — Seu
intervalo está quase acabando.
Mal havia passado um minuto, mas Jo não queria mais lidar com ele.
— O seu também — disse ele, depois a deixou sozinha.
Jo tentou ser discreta no set. As pessoas estavam trabalhando, e ela
estava lá apenas para limpar a cabeça. Mas ela podia sentir os olhos nela, se
desviando quando olhou para trás. Pelo menos algumas dessas pessoas
acreditavam nos boatos, o que era lamentável. Não valia a pena fazer nada,
mas era lamentável.
Emma não retornou com o refil prometido e, por mais que Jo admitisse,
Tate estava certo; ela tinha que voltar a escrever. Ela foi ao seu escritório.
Emma descobriria aonde ela tinha ido.
Mas Emma não precisou descobrir nada, porque estava sentada em sua
própria mesa quando Jo voltou.
— Seu refil, Srta. Jones — disse ela, oferecendo o cantil sem fazer
contato visual.
Jo pegou o mesmo e decidiu que precisava encarar isso de frente.
— Peço desculpas se deixei você desconfortável — disse ela. — Os
rumores são algo que precisam ser tratados sem serem levados a sério.
Tate me proporcionou uma oportunidade fácil.
— Está tudo bem. — Disse Emma.
Jo poderia ter deixado por isso mesmo, mas foi ela quem colocou Emma
nessa bagunça.
— Se isso te chateou, não está tudo bem. Não vou brincar sobre isso de
novo.
Emma olhou para os papéis em sua mesa.
— Obrigada.
É
— Isso realmente vai desaparecer — disse Jo. — É sempre assim.
Emma não olhou para cima. Jo tinha certeza de que ela não acreditava
nela.
— Você pelo menos se divertiu? — Jo perguntou. — Como você teve de
lidar com tudo isso, espero que você tenha se divertido.
— Eu me diverti — disse Emma, finalmente fazendo contato visual. O
sorriso dela era suave.
— Que bom. Estou feliz por ter te levado.
Ela estava. Ela pensou – antes de convidar a Emma e depois – que talvez
não devesse.
A mãe de Jo a acompanhou a todos os prêmios de sua carreira até o
diagnóstico de câncer. Jo não foi aos tapetes vermelhos quando tinha vinte
anos, assistindo do hospital. Sua mãe se foi antes de Jo completar vinte e
um. Não levou ninguém para uma premiação desde então. Seu irmão era
mais novo e ocupado, e seu pai estava muito desinteressado para se
preocupar.
Jo sabia que a imprensa faria um estardalhaço por ela ter levado Emma,
mas ela tinha que fazê-lo – ela estava horrivelmente entediada com prêmios
a essa altura. Enquanto ela estava orgulhosa do trabalho que lançou,
orgulhosa do trabalho que todos fizeram em seu programa, os prêmios
eram muitas vezes políticos, raramente eram para as pessoas certas. As
cerimônias eram uma desculpa para que todos pudessem fazer conversa
fiada, beber e celebrar a si mesmos. Mesmo antes das especulações sobre o
Agent Silver, Jo havia pensado em perguntar a Emma. A companhia de sua
assistente era muito melhor do que a de qualquer um dos tagarelas
bêbados.
— Por que… — Emma começou. Ela olhou para baixo e depois voltou
para Jo. — Por que você me levou? Quero dizer, eu sei que eu deveria ser
um escudo para as coisas do Agent Silver, mas além do tapete vermelho,
ninguém te perguntou sobre isso. E sabemos o quão bem minha
intervenção no tapete vermelho deu certo.
Jo suspirou.
— Porque eu estava cansada de ser atacada por pessoas que pensavam
que, só porque eu estava sozinha, eu estava interessada. — Era verdade o
suficiente. Sem um acompanhante, ela não tinha como evitar conversas
com pessoas com quem não queria conversar. Ela esfregou as têmporas. —
Eu esperava que a história fosse “Jo Jones está tão obcecada com o trabalho
que ela trouxe sua assistente para uma premiação”, não “Jo Jones está
namorando sua assistente”.
— Você sabia que haveria uma história? — Emma perguntou.
— Sempre há uma história.
Jo lida com a imprensa, com jornalistas e pessoas que não deveriam se
chamar jornalistas desde a adolescência. Ela devia ter estado a frente disso.
— Se alguém te deixar desconfortável, me avise, sim? — Jo disse. — Eu
vou cuidar disso.
Emma meio que revirou os olhos.
— Claro, chefe — disse ela. — Mas eu estou bem.
— Qualquer questionamento vai para Amir — disse Jo. — Todos os
comentários, mesmo comentários “sem comentários'', precisam vir do meu
publicitário.
— É claro — disse Emma. — Mas por que fariam perguntas para mim
de qualquer maneira?
— Só por precaução.
Se Emma não tivesse percebido que os repórteres poderiam encontrar
seu número de telefone, descobrir onde ela morava, Jo não iria colocar a
ideia em sua cabeça. Ela realmente acreditava que esse boato passaria
rápido o suficiente para que Emma nunca fosse incomodada.


NA MANHÃ SEGUINTE, PORÉM, OS repórteres descobriram o número de telefone
da mesa de Emma. Jo disse a ela para deixá-lo no mudo. Quem realmente
precisasse dela tinha outras maneiras de entrar em contato.
Emma estava atormentada, tendo sido pega de surpresa por telefonemas
naquela manhã.
— Realmente não entendo por que não podemos simplesmente dizer que
isso não é verdade — disse ela.
Jo tomou um gole de café e lembrou-se de quando Emma tinha
começado como sua como assistente, como tinha medo de falar algo idiota.
— E se eu quiser namorar alguém, mas eles acharem que eu estou
namorando você?
Jo revirou os olhos.
— Se um homem não acredita em você quando você diz a ele que os
rumores não são verdadeiros, ele não vale o seu tempo.
— Eu não disse que seria um homem. — Emma retrucou, e Jo piscou
para ela. Emma corou um pouco. — Quero dizer, talvez um homem. Mas
não necessariamente.
Jo assentiu uma vez.
— Não interessa. Qualquer pessoa interessada em você deve confiar em
você. Além disso — disse ela, afastando-se do assunto da sexualidade de
Emma — um comentário vai tornar essa história maior, não fazê-la
desaparecer. Como eu disse, não discuto minha vida amorosa há quase
trinta anos em Hollywood. Dizer algo agora faria esta situação parecer de
alguma forma diferente, o que não fará os repórteres pararem de ligar.
Emma fez uma careta.
— Não comentar os fará parar de ligar — disse Jo. — Qualquer
comentário leva a perguntas esclarecedoras, leva a pedidos por mais.
Quando eles sabem que você nunca vai dizer nada, eles acabam deixando
você em paz.
Jo estava certa, quer Emma acreditasse nela ou não.
— Eu estou neste ramo pelo mesmo tempo que você está viva, Emma.
Isso fez Emma suspirar e contar a Jo sua agenda, aparentemente
terminando de discutir os rumores.


O IRMÃO DE JO LIGOU PARA ELA quando ela estava almoçando.
— Jo Jo, você está mantendo segredos?
— Você sabe que eu odeio esse apelido, Vinny — disse Jo. — E não, eu
não estou.
Vincent riu.
— Realmente? Porque parece que você está namorando!
— Não acredite em tudo que você lê.
— Sim, sim — ele riu. — Eu estava apenas esperançoso. Achei que você
finalmente tivesse encontrado alguém que te aguentasse.
— Ela realmente me aguenta — disse Jo.
— Talvez você devesse estar namorando com ela.
Jo não alimentou a brincadeira ao mudar de assunto.
— Esses rumores fizeram maravilhas pela minha vida social — disse ela.
— Evelyn ontem, hoje meu irmãozinho. Provavelmente, terei uma ligação
do papai para esperar.
— Não — disse Vincent. — Ele vai me ligar para saber detalhes mais
tarde.
— Claro.
Jo estava feliz. Ela falou pela última vez com o pai no Natal e preferiria
continuar a não falar até o próximo Natal. Ela não queria lidar com a
desaprovação de seu pai, mesmo sobre algo fictício.
— Como estão os meninos?
Seus sobrinhos tinham cinco e nove anos e eram algumas de suas
pessoas favoritas no mundo. Ela nunca quis ter filhos, mas adorava os do
irmão. Mesmo quando estava ocupada, arrumava tempo para os jogos de
beisebol, festas de aniversário e qualquer outro lugar que a quisessem.
Vincent contou tudo sobre eles, e Jo deixou o almoço se estender.


OS RUMORES ERAM REALMENTE ótimospara a vida social de Jo. Evelyn ligou
novamente naquela noite. Mais uma vez, ela não começou com oi.
— Você está na Us Weekly.
— Neste ponto da minha vida, eu não acho que estar em uma revista
merece um telefonema de parabéns — disse Jo. Ela deixou cair os talheres
do jantar na prateleira da máquina de lavar louça.
É
— Você e sua namorada estão na Us Weekly — esclareceu Evelyn. — É
incrível. — Ela começou a ler por telefone. — “Nenhuma lista de mais bem
vestidos estaria completa sem o casal da semana: Jo Jones e Emma Kaplan.”
Em parênteses, escreveram: “A assistente dela! Shh!” Eles dizem que ela é
sua assistente com um ponto de exclamação, mas depois dizem 'shh' como
se os leitores não devessem falar sobre isso.
— Você realmente precisa ler isso para mim?
— Com certeza — disse Evelyn. Ela continuou: — Blá, blá, blá, quais
estilistas vocês estão usando. Depois: “Mal podemos acreditar na maneira
como essas duas se olham! Mesmo no tapete vermelho, elas estão muito
ocupadas estando encantadas uma com a outra para se preocupar em olhar
para as câmeras.
Jo pensou em desligar na cara dela. Ela ligou a máquina de lavar louça.
— “Jo mantém os dedos em volta do pulso de Emma como se ela não
suportasse deixá-la longe” — continuou Evelyn. — “Embora não pareça
haver muita chance disso, pela maneira que Emma se aproxima cada vez
mais.”
— Podemos por favor parar com isso?
Evelyn riu.
— Eu te odeio — disse Jo.
— Você odeia a Us Weekly — disse Evelyn. — Eu sou apenas a
mensageira.
—Ter alegria em esfregar isso na minha cara não faz parte de ser a
mensageira — disse Jo. Ela se serviu de uma taça de vinho tinto, certa de
que precisaria se a conversa continuasse.
— Você sabe, provavelmente deveria se odiar, na verdade.
— Oh, obrigada por isso — disse Jo. — Um conselho muito bom,
melhor amiga.
— Ai, o que você estava pensando? — Evelyn perguntou. — Você passa
vinte anos sem levar alguém a uma premiação e depois traz sua assistente.
Isso teria sido um grande problema, mesmo que você tivesse mantido as
mãos longe dela.
Jo esfregou a ponta do nariz.
— Pensei em conseguir mais da história de “Jo Jones está obcecada com
o trabalho” — disse ela. Ela já havia dito isso a Emma, e era a verdade. —
Não achei que eles iriam tirar uma foto nossa assim.
— Como eles conseguiram essa proeza?
Jo suspirou.
— Emma decidiu que eu ter a convidado como braço direito significava
que ela tinha que invadir o tapete vermelho quando as pessoas gritaram
perguntas sobre o Agent Silver.
— Você a treinou como um cão de guarda, ou ela fez isso por conta
própria?
— Não chame minha assistente de cachorro.
Evelyn riu.
— Você sabe que isso só explica porque ela estava perto de você. Ainda
não explica a imagem. O jeito que você está segurando o pulso dela? O
jeito que vocês estão se olhando?
— Ela quase fugiu — disse Jo. — Com todas as câmeras nela. Eu a
segurei no lugar e a fiz rir para acalmá-la. Não era nada demais.
Ela estava lá. Ela sabia que não havia mais nada. Mas uma cópia da foto
estava na gaveta superior direita da mesa de Jo. Ela continuou olhando; ela
não sabia o porquê.
Eventualmente, Evelyn disse:
— Vai morrer em algum momento.
— Eu sei — disse Jo.
— Como Emma está lidando com isso?
Jo deu uma risada.
— Ela saiu do armário pra mim.
— O que?
Jo contou a história, para grande satisfação de Evelyn.
— Estou surpresa que eles não tenham encontrado evidências de
relacionamentos que ela teve com outras mulheres — disse Evelyn. —
Certamente isso seria um prato cheio para as fofocas.
— Nem sugira isso — disse Jo. — Esses rumores estão desaparecendo,
não estão inventando mais merda de nós.
— Certo, é claro. Não vou brincar com isso. — Evelyn fez uma pausa. —
Embora, dado que ela é bissexual, talvez você deva se aproveitar desses
rumores e tomar uma atitude com a Mulher Maravilha.
— É inapropriado até brincar sobre isso. — Jo não conseguiu disfarçar a
voz dela. — E você deveria saber disso, advogada Yu.
— Mas você gosta dela e não gosta de muitas pessoas.
— Sim, eu gosto dela — disse Jo. — Emma é inteligente, capaz e gentil,
e minha funcionária. Gostar dela não significa nada. Eu também gosto de
você. Na maioria das vezes, de qualquer maneira.
Evelyn riu dela e finalmente deixou o assunto morrer.
4
JO

J odepois
convocou uma reunião com todos os funcionários na quinta-feira,
do almoço. Emma caminhou ao lado dela para o palco de som,
estranhamente quieta. Jo poderia ter contado a ela sobre o Agent Silver
antes de todo mundo, mas ela não contou. Chantal sabia, já que ela
assumiria Innocents quando Jo seguisse em frente, mas fora isso, as
notícias estavam guardadas a sete chaves.
Jo fez seu anúncio ser rápido. Isso não afetaria o trabalho dela em
Innocents por meses ainda, então não havia motivo para prolongar a
reunião.
— Vou escrever e produzir o próximo filme do Agent Silver — disse ela.
Tate gritou, e todos os outros se uniram com uma pequena salva de
palmas intercalada com gritos de parabéns. Jo reparou em Emma – ela
estava radiante.
— Não fiquem muito animados — disse Jo. — Vocês ainda não se
livraram de mim. O cronograma não está definido, mas eu ainda devo estar
aqui até pelo menos a metade da próxima temporada. Nada mudará
imediatamente. Só estou lhe dizendo agora, porque vocês merecem ouvir
isso de mim e não da imprensa. E assim vocês podem dar seus parabéns a
Chantal, também, que assumirá totalmente o programa quando eu sair.
Jo foi quem liderou essa salva de palmas. Então ela mandou todos de
volta ao trabalho.
Agora havia uma animação nos passos de Emma enquanto ela
caminhava com Jo de volta ao seu escritório. Quando Jo voltou para trás de
sua mesa, Emma ainda estava parada na porta aberta, abraçando o tablet e
sorrindo.
— Chefe.
Um sorriso apareceu no rosto de Jo.
— Emma.
— Chefe. — Emma disse novamente. — Você realmente vai escrever!
— Eu realmente vou.
— Isso é… — Emma jogou os braços para os lados e ficou nas pontas
dos pés. Ela parecia uma criança na manhã de Natal. — Isso é fantástico.
p p ç
Jo não pôde deixar de rir.
— Não é terrível, né?
— Estou tão animada para ver o que você vai fazer com Silver — disse
Emma. — Sabe, quando eu era criança, passei por uma fase em que li todos
os romances complementares dos filmes Silver. Me vesti como Clara Hayes,
do Silver Sunset, para o Halloween, três anos seguidos. — Suas bochechas
ficaram um pouco rosadas. — Eu talvez estivesse um pouco obcecada. E
com você escrevendo, provavelmente ficarei obcecada novamente.
Foi a vez de Jo corar, apenas um pouco.
— Agradeço o entusiasmo — disse ela. — Mas você sabe que também
precisamos conversar sobre como isso afeta você.
Emma fez sua típica inclinação confusa de cabeça.
— Eu?
— Que trabalho você quer depois disso? — Jo perguntou.
— O que? — Emma deu um passo para trás.
— Eu sempre ajudo a colocar meus assistentes na carreira certa. —
disse Jo. — Não sei exatamente em quanto tempo vou sair de Innocents, ou
em quanto tempo você gostaria de seguir em frente, mas é algo que
devemos discutir.
— Chefe, eu... — Emma engoliu. — Eu gosto do meu trabalho.
— Eu não disse que não gostava.
— Eu apenas… ainda não tenho certeza do próximo passo.
Normalmente, nesse ponto do relacionamento de trabalho de Jo com sua
assistente, ela saberia exatamente o que a assistente queria fazer com a
carreira dela. Suas assistentes geralmente falavam sobre seus objetivos,
pois usavam sua posição como ponto de partida. Jo entendia e não se
importava, mas era agradável para Emma como ela parecia se importar
mais com esse trabalho do que com o próximo. O que Emma quisesse fazer,
se ela colocasse metade do esforço naquilo, como ela fazia ao ser assistente
de Jo, ela iria prosperar.
— Pense nisso — disse Jo.
Emma assentiu uma vez. A conversa claramente a pegou de surpresa.
Seu orgulho radiante se transformou em ansiedade de olhos arregalados.
Era realmente adorável como ela parecia sentir tudo. Jo havia aperfeiçoado
sua expressão impassível há muito tempo. Emma era positivamente
diferente da maioria das pessoas no negócio, com a maneira como seus
sentimentos sempre estavam evidentes em seu rosto.


NO FIM DE SEMANA, A MAIOR PARTE DA cobertura
do anúncio do trabalho de Jo em
Agent Silver foi positiva. Na segunda-feira, no entanto, Jo e Emma
deixaram o estúdio juntas a caminho de uma reunião fora do local, e
câmeras brilhavam em seus rostos. Emma deu um passo em direção a Jo e
colocou um braço na frente dela. Era a postura protetora usual de Emma
no meio da multidão, fossem fãs ou paparazzi, mas Jo sabia que os tabloides
cairiam em cima disso. Nada a ser feito sobre isso – eles obviamente
conseguiram a foto enquanto os flashes continuavam.
Era muito parecido com o tapete vermelho. Emma estava lá como uma
espécie de escudo quando os paparazzi gritaram perguntas sobre o Agent
Silver para Jo. Desta vez, porém, muitas perguntas foram sobre Emma
também.
— Algum comentário sobre a sugestão de que você se envolveu com
filmes de ação e sua assistente porque tem medo de envelhecer?
Jo revirou os olhos por trás dos óculos escuros.
— O anúncio do Agent Silver foi programado para distrair o escândalo
com sua assistente?
Quando Jo e Emma estavam a poucos metros do carro no meio-fio, perto
o suficiente para Emma afastar seu braço e deixá-lo cair de volta para o
lado dela, um paparazzi perguntou:
— O que você diz aos boatos de que você é, e eu estou citando uma fonte
aqui, “uma crise de meia-idade de uma pessoa apaixonada por sua
assistente”?
Os pés de Emma tropeçaram, mas Jo a pegou pelo cotovelo e a puxou
para frente.
— Nenhuma reação, Srta. Kaplan — ela murmurou.
Eles entraram no carro sem mais incidentes.
Emma esperou até que elas se afastassem do estúdio para questionar Jo.
— Ele… eles… ele estava citando uma fonte que disse isso sobre você?
Jo deu de ombros.
— Essa fonte pode ser um turista na Rodeo Drive, pelo que sabemos.
Não é nada para se preocupar.
— Mas como eles podem dizer essas coisas?
Jo olhou para ela. Emma respirou pela boca, as bochechas coradas.
— Você já lidou com paparazzi antes — disse Jo. — Por que eles estão
incomodando você agora?
— Normalmente lidamos com eles porque eles gostam de você, não
porque estão sendo idiotas com você! — Emma bufou, claramente ofendida.
Jo tentou não rir.
— Você não precisa defender minha honra sempre.
Emma não respondeu imediatamente. Ela se virou para olhar pela janela
e cruzou as mãos no colo. Silenciosamente, ela disse:
— Bem, merece ser defendida.


EVELYN LIGOU PARA PROVOCÁ-LA novamente
naquela noite. Jo suspeitava que ela
tivesse um alarme definido para os nomes de Jo e Emma juntos no Google.
Era um pouco chato, mas era a maior frequência a qual Jo falava com sua
melhor amiga em anos, então ela não se importava.
Ela estava pensando demais, no entanto. No dia seguinte no set, Jo foi
levar Emma de volta ao seu escritório, mas congelou no meio do caminho.
Isso era normal, certo? Guiar Emma gentilmente com a mão nas costas?
Jo nunca tinha pensado nisso antes, nunca se preocupou com isso, mas
agora elas estavam na frente dos outros empregados, e Jo jurou que alguns
dos amigos assistentes de produção de Emma as estavam observando.
Emma inclinou a cabeça para Jo. Jo revirou os olhos para si mesma e
pressionou a mão na parte inferior das costas de Emma, direcionando-a
para o corredor onde ficam os escritórios.
Era desagradável, a maneira como ela analisava excessivamente todas as
suas interações agora. Jo preocupou-se que ela estivesse passando dos
limites, fazendo algo inapropriado. Então ela se preocupou que estivesse se
afastando, permitindo que os rumores afetassem como ela se comportava.
Ela queria poder se concentrar no trabalho. Eles estavam chegando ao final
das filmagens da temporada, e Jo estava trabalhando no roteiro do Agent
Silver. Ela não precisava de distrações.
Mas os rumores eram perturbadores. Toda reportagem maliciosa,
menção indireta, tweet – todos eles faziam Jo querer quebrar alguma coisa.
Eles deixaram Emma ainda mais furiosa.
— Entendo por que você não quis dizer nada sobre nós namorando. —
Ela voltou atrás. — Ou... não namoro, quero dizer. Como o fato de não
estarmos namorando. Eu entendo, não querer falar sobre isso. Mas é
ridículo! A ideia de que você está passando por uma crise de meia idade e é
por isso que você quer fazer o Agent Silver! Quando você sabe que é apenas
sexismo e racismo – Deus me livre que uma mulher escreva um
personagem masculino. E se ela lhe der sentimentos que sejam além de dar
socos e fazer sexo?
Emma trouxe para Jo um café no meio da manhã e ficou em seu
escritório para reclamar.
— Quem iria imaginar o porquê Jo Jones poderia estar interessada em
um filme? — Emma continuou. — Oh, eu não sei, ela já conquistou a
televisão – talvez ela queira se desafiar a fazer algo novo. Algo em que você
será ótima, a propósito. Literalmente, todo mundo que já trabalhou com
você sabe que você será ótima nisso, e há apenas esses estranhos na
internet dizendo – dizendo – lançando mentiras sobre o seu talento!
Jo apertou os lábios para não rir. A indignação de Emma era
encantadora. Jo nem queria mais quebrar alguma coisa.
— Como você pode simplesmente não dizer nada quando eles estão
escrevendo coisas assim? — Emma perguntou. — Agindo como se você
não pudesse fazer isso?
— As pessoas que importam sabem que eu posso — disse Jo. Ela
esperava que fosse verdade.
Emma olhou para ela por um momento.
— Certo — disse ela. Depois: — Tenho trabalho a fazer.
Ela saiu do escritório. Jo não pensou sobre isso novamente, mas desejou
que tivesse. Poderia ter poupado alguns problemas.
Três dias depois, Chantal bateu no batente da porta aberta do escritório
de Jo depois do almoço.
— Entre — disse Jo, jogando sua embalagem de sanduíche no lixo.
Chantal fechou a porta atrás dela. Elas não tinham nada programado, o
que significava que isso deveria ser uma má notícia. Jo não perguntou. Ela
sabia que Chantal não omitiria nada.
— Há um artigo no Celeb Online — disse Chantal. — Com citações de
seus funcionários sobre o quão boa você é.
— Eu sei.
Amir ligou para Jo naquela manhã, parabenizando-a pelo relaxamento
de sua política de não comentar. O artigo apresentava cinco funcionários
atuais e dois ex-funcionários, sem nome, todos exaltando as virtudes de Jo.
Tudo certo de que ela faria um filme incrível do Agent Silver. O sorriso na
voz de Amir permaneceu mesmo depois que ela lhe disse que não tinha
nada a ver com o artigo.
— Você sabia que há uma continuação? — perguntou Chantal.
Jo estava esperando as consequências.
— Sobre como Emma foi quem organizou o primeiro artigo —
continuou Chantal. — Pensei que você poderia querer um alerta.
Amir certamente não pensaria que o artigo era uma boa ideia agora. Jo
passou a mão pelos cabelos.
— O que ela estava pensando? — Ela disse mais para si mesma do que
para Chantal, mas Chantal respondeu.
— Quando me perguntou, lembrei a ela que ninguém deveria falar com
a mídia.
Jo olhou para ela. Os braços de Chantal estavam cruzados.
— Ela perguntou para você?
Chantal assentiu.
— Você poderia ter me dito então.
— Eu pensei que tinha convencido ela a não fazer isso — disse ela. — E
não estou tentando fazer parte dos seus problemas. Eu só conheço o
segundo artigo porque ouvi alguns assistentes de produção falando sobre.
Jo suspirou. Emma tinha boas intenções, organizando o artigo, mas ela
realmente deveria ter sido menos ingênua. Eles não precisavam dar
munição aos tabloides. Emma não podia estar conversando com os
repórteres sobre o quão boa Jo era – mesmo que esse pensamento a
deixasse com o coração quente por dentro.
Chantal ainda estava em pé na frente da mesa de Jo, com os braços
cruzados, examinando-a.
— Diga o que você quer dizer — disse Jo.
Os braços de Chantal caíram para os lados dela.
— Quando eu não te disse o que queria dizer para você?
Era verdade. No primeiro show de Jo, Chantal regularmente contrariava
as ideias dela. A maioria das pessoas achavam que se odiavam, mas Jo
gostava de ter outra perspectiva, alguém que não tinha medo de dizer a ela
quando estava errada. Agora, mais de uma década depois, Innocents era o
único programa de TV em rede com duas mulheres não brancas no
comando. Jo e Chantal chegaram a esse ponto por não mentirem uma pra
outra.
Ainda assim, Jo pressionou.
— Você tem algo a dizer?
Chantal encolheu um ombro.
— Se eu acreditasse na merda que eles estão escrevendo, talvez eu
tivesse algo a dizer, mas te conheço bem.
Jo soltou um suspiro aliviado. Pelo menos ela ainda tinha Chantal ao seu
lado.
— Mande ela entrar, sim?
Chantal assentiu e saiu, deixando a porta aberta atrás dela para que Jo
pudesse ouvi-la dizer a Emma que Jo queria vê-la.
Emma pairava na porta como se ela não quisesse entrar.
— Chantal disse que você precisava de algo?
— Entre — disse Jo. — Porta aberta.
Ela não precisava de ninguém pensando que ela e Emma estavam
escondidas em seu escritório, fazendo quem sabe o quê.
Emma ficou com as mãos entrelaçadas na frente dela, olhando para o
chão. Ela já sabia o que era aquilo, então.
— O que você estava pensando? — Jo esperava estar com raiva, mas sua
voz estava cheia apenas de decepção.
Emma suspirou.
— Eu pensei… — ela começou. — Eles nem estão dando a você uma
chance – apenas dizendo que você não é boa o suficiente, sem nada para te
apoiar. Parecia tão fácil desmascarar. Eu sabia que todo mundo que já
trabalhou para você ou com você ou perto de você saberia que você poderia
fazer isso. Phil – você conhece Phil do departamento de objetos de cena?
Seu antigo colega de quarto é jornalista. Parecia uma solução simples.
— E como exatamente foi divulgado que você organizou?
— Eu não sei! — Havia o menor gemido em sua voz. Jo tentou não
achar agradável. — Eu fui discreta! Tudo o que fiz foi iniciar o processo
perguntando a algumas pessoas se elas estariam dispostas a fazê-lo. Eu não
sou nem uma dos citados no artigo! Eu nunca falei diretamente com o
repórter. Ele não deveria saber que fui eu quem organizou.
Isso fez Jo fazer uma pausa.
Se Emma não tinha falado com o repórter, de onde veio o segundo
artigo?
Jo queria interrogá-la, perguntar quem sabia que ela era a pessoa que
organizou o artigo, mas Emma parecia um cachorro com o rabo entre as
pernas.
— Então você não apenas conspirou com outros funcionários nas
minhas costas para violar o acordo de mídia, mas sabia que seu
envolvimento era uma má ideia.
A cabeça de Emma caiu.
— Chantal também disse que não era uma boa ideia — disse ela. — Eu
sinto muito. Eu deveria ter ouvido.
Isso deu à imprensa mais para jogar em Jo. Além de ter uma “crise de
meia-idade de uma pessoa apaixonada por sua assistente”, ela não podia
nem mesmo travar suas próprias batalhas. Como ela deveria fazer um filme
do Agent Silver se não conseguia impedir que seus funcionários
conversassem com os repórteres?
— Você deveria — Jo concordou. — Os rumores de nosso suposto
relacionamento se arrastarão agora. Assim como a crença de que não posso
fazer meu trabalho.
Emma bufou com isso.
—Você pode — disse ela. — Essa era a ideia!
— Como eu disse, as pessoas que importam sabem que eu posso — disse
Jo. — Já tenho um contrato assinado com as pessoas importantes. Tudo o
que você fez é fazê-los repensar a ideia.
As sobrancelhas de Emma se entrelaçaram, sua boca abaixando.
— Sinto muito, chefe — disse ela. — Prometo que nada disso acontecerá
novamente.
Jo já sabia disso pela maneira desanimada que Emma havia entrado em
seu escritório. Isso a fez querer confortar sua assistente quando ela deveria
brigar com ela. A crença sincera de Emma nela significava muito, na
verdade, mesmo que não a demonstrasse tão bem.
Ela pensou em dizer a Emma que sua indiscrição não teria sido um
problema se não fosse por um problema maior: aquele segundo artigo. Se
Emma não falou com o repórter, havia um vazamento. Um vazamento real,
não apenas sua assistente tentando limpar sua imagem. Isso era algo que Jo
teria que lidar em algum momento.
Emma não precisava saber disso, no entanto. Seria apenas para fazê-la se
sentir mais culpada, e ela obviamente se sentia culpada o suficiente.
— Eu aprecio isso, você sabe — Jo se viu dizendo. — Como você acha
que eu farei um bom trabalho com o filme.
Parecia mais pesado do que ela queria dizer.
— Eu sei que você vai, chefe — disse Emma.
Talvez Jo devesse ter fechado a porta, afinal.


COMO ESPERADO, A TENTATIVA EQUIVOCADA DE EMMA DE ajudar
tinha piorado a
situação. Os rumores ganharam força, os artigos assumindo uma borda
cruel. A emissora agendou uma ligação com Jo na próxima semana. Ela
sabia que não seria uma boa notícia e, de fato, eles abriram a conversa com
“Queríamos falar rapidamente acerca desses rumores.”
Enquanto um dos executivos tagarelava, Jo silenciou seu lado da ligação.
— Emma!
A porta estava fechada, mas Emma entrou.
— Sim, chefe?
Jo apontou para o telefone, onde o cara estava fazendo tudo o que podia
para evitar dizer a palavra lésbica.
— Isso tem a ver com você — disse Jo. — Se você estiver interessada em
ouvir.
— Tudo isso parece um pouco inadequado. — disse John ou Dave ou
qualquer que fosse o nome dele; Jo não conseguia se lembrar por nada. —
Uma assistente e uma produtora.
Os olhos de Emma se arregalaram. Ela se sentou no sofá.
Jo segurou o dedo nos lábios e depois desligou a função mudo do
telefone.
— Eu concordo que seria inadequado se houvesse algo entre nós. Mas
não há.
— Por que você não diz isso?
— Eu nunca comentei minha vida amorosa — disse Jo pelo que parecia
ser a quadragésima vez. — Fazer isso agora seria vulgar. E ofensivo, pois é
a primeira vez que um boato prolongado é sobre eu e uma mulher.
Jo considerou categoricamente chamá-los de homofóbicos, mas a dica
deve ter funcionado bem o suficiente. Emma apertou os lábios, as palmas
das mãos apoiadas nas coxas.
— O boato está afetando nossas classificações? — Jo perguntou como se
ela não soubesse a resposta. Pode estar afetando sua reputação pessoal, mas
o programa estava indo bem, com média de dois décimos a mais do que no
ano passado.
—Bem, não, mas...
Enquanto Josh ou Dan continuavam falando sobre os possíveis
problemas que surgiam, Jo revirou os olhos para Emma, que deu um
sorriso triste.
— Talvez você possa sair com outra pessoa. — disse Jake. — Escolha
um cara, um restaurante e...
—Eu sei que você não me disse que eu deveria ser vista com um homem
apenas para conter boatos sobre um relacionamento com uma mulher —
disse Jo. — Rumores que não têm efeito sobre nossas classificações e
anunciantes.
A linha ficou em silêncio por um momento.
Alguém mais falou.
— Não, Jo, o que eu acho que Don quis dizer...
— Ótimo. — Jo o interrompeu novamente. — Se você me der licença,
tenho muito o que fazer aqui. Mantenha contato se os boatos realmente
causarem algum problema?
— Certo. Obrigado.
Jo concordou, e encerrou a ligação.
Ela apoiou os cotovelos na mesa e segurou a cabeça nas mãos.
— Eu vou matar esse filho da puta — disse ela.
Emma fez um barulho que parecia estar escondendo uma risada.
— Chefe...
— A coragem.
— Você sempre disse que os diretores da rede televisiva eram idiotas —
disse Emma.
Jo levantou a cabeça para olhar para Emma.
— E, no entanto, eles nunca foram tão ruins quanto isso.
Emma deu de ombros.
— Eles estão preocupados com sua reputação. Não é grande coisa.
— A reputação deles? — Jo olhou para ela. — Ele estava sendo um
homofóbico de merda. Eu estou pouco me fudendo para o que ele estava
preocupado.
Emma deu um pequeno aceno de cabeça.
— Se alguém deve se preocupar com sua reputação, é você — disse Jo.
— Você é quem todo mundo pensa que está transando com a sua chefe.
Emma corou, mas Jo estava falando sério. Emma disse que não sabia
qual era o próximo passo em sua carreira, mas elas descobririam isso, e
então o que? O que aconteceria quando Emma estivesse pronta para sair de
Innocents? Quantos outros empregadores em potencial acreditariam
nesses rumores? Como eles afetariam a importância da carta de
recomendação de Jo?
— Suponho que posso ser vista com outra pessoa — disse ela.
— Não.
Jo piscou para Emma, cujas bochechas ainda estavam vermelhas.
— Eu só quero dizer… — Emma começou. Respirou fundo. — Aquele
cara da rede de TV estava errado ao sugerir isso. E você definitivamente
não precisa fazer isso para me ajudar.
— Seria simples — disse Jo. — Sair para jantar com alguém uma ou
duas vezes, para que os paparazzi sigam em frente.
— Se você já tem planos para o jantar, é claro que está tudo bem —
disse Emma. Ela esfregou as mãos ao longo das coxas. — Mas minha
chamada solução simples para as pessoas que alegam que você seria ruim
para o Agent Silver foi o que fez a rede de TV te ligar, pra começo de
conversa. Nem sempre funciona da maneira que você espera.
Jo concordou com o argumento.
— Independentemente disso, você não precisa mudar a sua trajetória
por causa de mim — disse Emma. — Os rumores não são um grande
problema neste momento.
O sorriso dela era rígido. Jo sorriu de volta gentilmente.
— Eu tive que ter um telefonema divertido com minha mãe no começo
de tudo — disse Emma. — Típica mãe judia emocionou-se com a ideia de
que sua filha ter alguém especial. Ela aprovou completamente e ficou, na
verdade, um pouco decepcionada quando eu disse a ela que era apenas um
boato.
Jo riu, como se soubesse que Emma queria que ela o fizesse, e tentou não
pensar em como não conhecia os pais de uma garota desde os vinte e
poucos anos. Ela não namorava o suficiente desde então, famosa demais e
apenas enrolada o suficiente para não incomodar muito.
— Se você tem certeza — disse Jo.
— Absoluta.
Elas se entreolharam por um momento. Emma respirou fundo.
— Quero me desculpar novamente, chefe — disse ela. — Pensei que
sabia o que estava fazendo – com o artigo. Eu obviamente não sabia. Eu
só… — Ela quebrou o contato visual. — Eu odeio o que eles estão dizendo
sobre você. Quando todo mundo que te conhece sabe que vai ser ótima.
— Como alguém pode saber disso? Eu nunca fiz isso antes. Eu nem sei
se posso.
Os olhos de Emma se voltaram para cima.
— Jo. — Ela disse calmamente.
Jo não queria admitir nada disso. Ela nem tinha dito a Evelyn sobre seu
nervosismo. Ela acenou com a mão com desdém.
— Não é nada — disse ela. — Um pouco de dúvida é normal.
— Isso é… — a voz de Emma vacilou, retomando seu tom confiante em
seguida. — Isso é compreensível – todos nós duvidamos de nós mesmos às
vezes, especialmente com algo tão novo quanto isso, e especialmente
quando você tem a imprensa e a rede de TV te pressionando. Mas você vai
ficar bem. Você é talentosa pra caralho – desculpe o palavrão – e não tem
como você não ser incrível nisso, assim como em tudo que você faz.
O peito de Jo vibrou. A crença inabalável de Emma parecia forte o
suficiente para as duas. Era tão diferente do que a maioria das pessoas
escreviam sobre ela.
— Quando eu precisar do lembrete... — Jo fez uma pausa, sem saber se
ela poderia realmente pedir algo assim. — Você não vai me deixar
esquecer? — ela disse eventualmente.
— Nunca. — Emma prometeu.
Jo acreditou nela.
— Você tem algum trabalho que pode fazer aqui? — Jo perguntou.
— Claro, chefe — disse Emma. — Deixe ir pegá-lo.
Emma desapareceu, voltou com seu tablet. Ela deu um sorriso para Jo e
depois sentou-se no sofá, concentrando-se inteiramente em seu trabalho.
Ela já estava acostumada com isso agora, Jo supôs. Jo não costumava
pedir a Emma para trabalhar em seu escritório – apenas quando as coisas
ficavam incrivelmente frustrantes, quando Jo perdia o fio da meada ou não
conseguia o tom certo de diálogo. Era lá que ela estava no momento, com o
cérebro ocupado demais para descobrir as edições de última hora do roteiro
final. Ela pensou que tinha terminado, mas havia uma cena que não
funcionava muito e ela não tinha sido capaz de consertar.
Jo não tinha certeza do que exatamente era sobre Emma em seu
escritório que a ajudou. Ela pensou que talvez fosse a robustez de Emma.
Emma era firme. Ter ela lá, silenciosamente fazendo coisas – isso fez os
problemas de Jo parecerem irrelevantes. Não havia desculpas. Apenas um
trabalho para fazer.
E Jo o fez.


O GLAAD MEDIA AWARDS no início de abril foi o primeiro evento público de Jo
desde os SAGs. Ela não estaria trazendo Emma, obviamente. Ela pensou
em fazer com que Evelyn viesse de Nova York, mas Jo seria rotulada de
lésbica e vagabunda, provavelmente, então não seria a melhor escolha.
Os GLAADs não foram tão ruins quanto os outros prêmios. Eles não
eram considerados de prestígio, o que ajudou, pensou Jo. Tornou-os mais
suportáveis. Mas era mais do que isso – estar em uma sala com tantas
pessoas jovens, abertas e orgulhosas, fez o coração de Jo doer um pouco, de
uma maneira boa. Ela ainda não era publicamente assumida – não importa
o que as revistas de fofocas dissessem sobre Emma e ela. Ela escreveu
personagens queer em suas produções e deixou as pessoas especularem,
mas, como seu publicitário continuava lembrando a todos, ela nunca havia
comentado sobre sua vida amorosa. Ela considerou isso uma vez, quando
tinha dezenove anos. Ela se assumiu para os pais primeiro.
Sua mãe disse-lhe para pensar em sua carreira. O pai dela disse que
nunca mais voltariam a falar disso.
E então ela não falou mais. Ela estava, em geral, bem com isso. Mas
então ela foi ao prêmio GLAAD e viu mulheres jovens de mãos dadas, e seu
coração doía.
Independentemente, ela estaria indo sozinha.
Exceto pelos rumores, os SAGs foram os melhores prêmios que Jo
esteve em anos. A preparação correu bem, eles chegaram tarde o suficiente
para que ela pulasse as entrevistas, e a comida estava deliciosa. Emma não
tinha sido apenas um escudo – ela tinha sido divertida em todos os
sentidos. E Jo não havia terminado a noite exausta e desejando dormir; ela
terminou sorrindo enquanto deixavam Emma em seu prédio.
Jo queria que os GLAADs fossem semelhantes, queria aproveitá-los.
Mas tudo a lembrava dos SAGs. Conforme Kelli e Mai a arrumaram,
enquanto ela caminhava pelo tapete vermelho, Jo pensou em Emma. Não
ajudou que a equipe de preparação na suíte e os fotógrafos do evento
continuassem perguntando pela “namorada” de Jo.
Ela tentou deixar pra lá, tentou manter um sorriso no rosto. Sem
escudo, ela teve que falar com qualquer um que aparecesse, mas estava tudo
bem – estava – ela jurou que os GLAADs eram melhores que outras
cerimônias. Esta noite eles simplesmente consumiram mais energia mental
do que ela tinha.
E então, quando Jo estava quase no seu ponto de ruptura, quando queria
ir para casa, Innocents venceu o prêmio de Melhor Série de Drama, e ela
tinha um discurso a fazer.
Todo o elenco entrou no palco com ela. Jo aceitou o prêmio e
aproximou-se do microfone, todos ainda se abraçando atrás dela.
Ela tinha um discurso planejado. Eles ganharam esses três anos
consecutivos agora; ela veio preparada. Ela tinha uma lista de pessoas para
agradecer.
Ela não o fez.
— Este é o meu programa de premiação favorito — ela disse, invés
daquilo. — Este é o prêmio que sempre terei orgulho em ganhar. Eu
escrevo ficção, mas essas são histórias reais. Essas são histórias
importantes.
Essas são as nossas histórias, ela pensou, mas não disse enquanto as
pessoas aplaudiam. Isso não era sobre ela, não mesmo.
— Há muitas pessoas que trabalham em nosso programa que eu poderia
agradecer, mas quero agradecer a vocês — disse Jo. — Obrigada a todos
vocês por serem tão fortes, diante de um mundo que às vezes parece que
preferiria que vocês não existissem. Obrigada por se orgulharem na frente
de pessoas que acham que vocês deveriam ter vergonha. Obrigada por
estarem aqui, neste mundo. Por sobreviver. Vocês são uma inspiração.
Todo mundo a parabenizou novamente quando eles deixaram o palco
juntos, abraços e cumprimentos e grandes sorrisos. Jo desejou que Emma
estivesse lá.
5
EMMA

P arabéns pela vitória — disse Emma enquanto entregava o café de Jo na


segunda-feira após os GLAADs.
— Obrigada — disse Jo. — Está tudo certo para sexta-feira?
Emma nunca tinha visto Jo reagir a um elogio, além de ignorá-lo. Ela
seguiu Jo para seu escritório.
— Está tudo pronto — disse Emma. — Exceto pelas confirmações de
convite de última hora que irei fazê-los implorar antes de dizer a eles que
ainda podem vir.
Isso fez Jo sorrir um pouco enquanto ela se sentava em sua mesa e abriu
o laptop.
— Você gostaria de ver a lista de músicas para karaokê? — Emma
perguntou. — Para você poder praticar com antecedência?
Jo riu.
— Boa tentativa.
O karaokê era a parte favorita de Emma em todas as festas de
encerramento das gravações, mas Jo nunca cantava.
— Eu tenho um novo parceiro de dueto este ano — disse Emma. —
Você não vai querer perder.
— Você vai levar alguém? — Jo disse olhando para Emma, a testa
franzida.
— Eu vou! — Emma disse. — Minha irmã vai chegar cedo para deixar
as sobremesas da padaria dela, e então ela vai trocar de roupa e voltar
como minha dupla/parceira de canto.
As rugas na testa de Jo suavizaram. Emma se perguntou se Jo pensava
que ela estava trazendo alguém especial – não que isso fosse reduzir os
rumores: o que acontece em festas de encerramento fica em festas de
encerramento. Parte do planejamento da festa era garantir que não
houvesse paparazzi perto dele. Isso era uma necessidade quando você tinha
um open bar e não havia horário para acordar pela manhã.
— Você vai levar alguém? — Emma perguntou.
— Eu já fiz isso alguma vez?
Emma sorriu.
— Há uma chance de que, nos últimos anos, eu estivesse ocupada demais
com o karaokê para perceber seu estado civil.
No passado, as festas de encerramento eram mais fáceis. Ela era
assistente do departamento de objetos de cena na época, não era
responsável pela festa. Ela só tinha de ir e ficar bêbada e cantar. Este ano,
mesmo com a responsabilidade a mais, ela estava ansiosa pela semana que
viria. Seria mais silenciosa, menos estressante após semanas de reescritas e
refilmagens e lutando para conseguir tudo perfeito para o final.
— Não trago ninguém para festas e não participo de karaokê. — disse
Jo.
— Alguém já lhe disse que você não é muito divertida? — Emma
brincou.
— Vou te contar, meu sobrinho de cinco anos me disse que eu era a mais
legal de todas.
— Ah, então tá — Emma riu. — Você nunca vai me ouvir discordar de
uma criança de cinco anos.
— Eles são seus colegas, não são? — Jo perguntou, uma sobrancelha
arqueada e os cantos da boca dela se curvaram.
— Você realmente quer fazer piadas com idade, chefe?
Jo riu e acenou para ela. Emma voltou para sua mesa com um sorriso no
rosto.


O RESTAURANTE QUE ELAS ALUGARAM paraa festa de encerramento era um bar na
cobertura, arrumado com luzes cintilantes. O karaokê estava lá dentro, e a
maior parte da socialização estava do lado de fora, sob um céu noturno
entorpecido pela poluição luminosa.
Emma tinha que ter certeza de que tudo estava no lugar: comida, bebida,
segurança, entretenimento. Foi a primeira festa de encerramento que ela já
havia planejado. Ela queria que fosse perfeito. Avery finalmente a impediu
de explicar a passagem de ingressos para os seguranças pela terceira vez.
— Eles sabem o que estão fazendo. — disse Avery. — Vamos pegar uma
bebida ou três.
Emma ficou estressada até sua irmã colocar um copo de bebida em sua
mão.
Emma adorava festas de encerramento. Todos se misturavam – atores
de grande nome e assistentes de locação, se unindo e se divertindo. Ela
procurou sua antiga equipe. Ela trabalhou no departamento de objetos de
cena por três anos antes de Jo a escolher como assistente. Ela sentia falta
das pessoas. Mesmo que ainda os visse, não era o mesmo que ser um deles.
Phil era seu melhor amigo naquela época, e ele ainda é, quando ela tinha a
chance de sair com ele. Ele a deixou pousar a bebida antes de abraçá-la, em
um movimento que tirou seus pés do chão.
— Como vai a vida? — Ele perguntou. Deu o braço para ela, a pele
bronzeada em comparação à dela. — Lembra quando costumávamos
competir para ver quem ficava mais bronzeado? Tiros ao ar livre e carros
de golfe em todo o terreno? E agora olhe para você, branquela.
Emma riu.
— É o que eu ganho por estar enfurnada no estúdio o tempo todo agora.
— Falando nisso... — Phil baixou a voz para um sussurro conspiratório.
— Como está sendo dormir com o inimigo?
Emma revirou os olhos.
— Eu não estou dormindo com Jo, e ela não é a inimiga. O que ela fez
pra você, afinal?
— Defendendo sua namorada, que fofo.
Ela olhou para ele.
— Por favor, Phil.
Avery se intrometeu.
— Você sabe que seria menos divertido provocá-la se você não ficasse
tão chateada com isso toda vez.
— É uma coisa normal pra ficar chateada — disse Emma, sua voz mais
alta do que ela gostaria que fosse. Ela abaixou. — Não quero que ninguém
pense que sou do tipo que transa com a chefe e não quero que ninguém
pense que Jo é do tipo que tira vantagem de seus funcionários.
— Não conta como tirar vantagem se você está gostando, não é? — Phil
disse.
— Bom ponto — disse Avery.
Emma suspirou.
— Me arrependo de ter apresentado vocês dois.
Ela não o fez, entretanto, porque mesmo que eles zombassem dela, Phil
e Avery também a encheram de bebidas e a fizeram rir mais do que em
meses. Ela arrastou os dois para o karaokê para se juntarem à gerente de
acessórios, Aly, depois passou metade da música incapaz de cantar porque
estava rindo da dança ultrajante de Phil.
Depois, os três se amontoaram em torno de uma mesa alta do lado de
fora e compartilharam breadsticks de queijo.
— Onde está sua namorada? — Phil perguntou. — Você não acha que
ela iria querer um pouco?
Avery bufou.
— Olha — Emma disse bruscamente. — Houve um vazamento, ou algo
assim, ok? Tipo, você se lembra quando eu organizei aquele artigo sobre
como Jo ia se sair bem no Silver e depois houve um outro sobre como eu o
organizei?
Phil fez parte de tudo isso, e Emma havia contado a história para Avery
em detalhes, então os dois concordaram.
— Jo não disse nada sobre, mas, obviamente, alguém vazou isso, né?
Porque não fui eu quem conversou com o repórter, então tipo. Alguém que
fez isso.
Phil e Avery a encararam sem resposta.
— Então eu estou dizendo pra não chamar ela de minha namorada! —
Emma disse. — E se o informante ouvir?
— Amor — disse Phil. — Todo mundo aqui está com certeza bêbado
demais para se incomodar em prestar atenção se você está ou não
dormindo com a sua chefe.
— Tanto faz — Emma zombou. — Me traz outra bebida.


MAIS TARDE NAQUELA NOITE, Avery
estava pondo seus nomes na lista para cantar,
e Emma não sabia onde estava Phil. Ela saiu para procurá-lo e viu Jo e
Chantal em pé em uma mesa alta no canto do telhado. Ela sorriu e se
aproximou.
— Srta. Jones, eu te coloquei para cantar “Love Is a Battlefield”. —
Emma disse enquanto se aproximava. — Eu acho que você vai depois da
Holly.
Emma não a tinha colocado, é claro. Ela gostava de provocar Jo, mas não
queria que sua chefe a matasse. Jo ofereceu um sorriso e revirou os olhos.
Emma não pôde deixar de dar uma risadinha. Ela sabia que estava alterada.
Talvez mais do que alterada.
Chantal pigarreou.
— Vou pegar outra bebida — disse ela.
Emma queria dizer a ela que não precisava ir embora. Emma gostava de
pensar que todos no set sabiam que ela e Jo não estavam juntas. Eles
deviam saber. Mas então algo aconteceu, como quando Phil a ridicularizou
por dormir com o inimigo ou Chantal deu licença a elas quando Emma se
aproximou.
Jo suspirou.
— Srta. Kaplan — ela disse. — Está se divertindo?
— Eu estou. Você está?
Emma não estava perguntando para ser educada; ela queria saber.
— Festas de encerramento são sempre agradáveis — Jo esquivou-se.
O sorriso de Emma se transformou em uma careta.
— Srta. Jones.
— Eu acho que você pode me chamar de Jo em uma festa — disse Jo,
como se ela não tivesse acabado de chamar Emma de Srta. Kaplan.
— Chefe — Emma disse, ao invés daquilo. — Eu estava realmente
orgulhosa de você… ou, bem, nós, o programa… ganhamos o prêmio
GLAAD. Eu não disse nada de fato, mas estava. E seu discurso foi apenas
maravilhoso. Mas também, assim… — Ela olhou para a bebida, sacudiu o
gelo no copo. Ela não sabia exatamente o que queria dizer, mas continuou
falando assim mesmo. — Minha irmã disse que você estava ótima e sim,
você estava, mas… você não parecia tão feliz. E provavelmente é estúpido,
mas pensei nos SAG Awards e meio que desejei estar lá no GLAADs. Eu
pensei que talvez eu pudesse fazer você sorrir, só isso. Às vezes acho que
você não sorri o suficiente.
Jo piscou. Emma se sentiu estúpida. Ela não achava que se expressava
bem.
— Eu só quero dizer… — Emma franziu a testa. — É basicamente o
meu trabalho fazer você feliz.
Jo fez um barulho, algo entre uma risada debochada e um suspiro, e
Emma não entendeu nada.
— Tanto faz — disse Emma. — Eu só quero que você seja feliz, e se às
vezes sou eu quem te faz ficar assim, ótimo.
Isso parecia muito pesado. Deus, especialmente com os rumores, o que
Emma estava pensando, chegando e dizendo isso para Jo? Ela tentou
continuar a falar como se não fosse estranho.
— Eu provavelmente posso fazer você rir, na verdade — disse ela. —
Minha irmã e eu vamos fazer “A Whole New World” de Aladdin em
seguida no karaokê. Você deveria vir assistir.
— Você fez os aquecimentos adequados? — A voz de Jo estava muito
séria.
— Se cantar como voz de fundo enquanto Aly arrasou em “Build Me Up
Buttercup” conta como aquecimento.
Isso, pelo menos, fez Jo sorrir. Emma tomou um gole de sua bebida para
esconder seu sorriso.
— Você sabe que eu aprecio tudo o que você faz, Emma — disse Jo. —
Esse prêmio também pertence a você: eu não faria nem metade disso sem
você.
Emma encolheu os ombros.
— Claro que você faria.
— Eu não faria. — Jo insistiu.
Ela manteve contato visual por um momento antes de olhar por cima do
ombro de Emma.
— Acredito que sua irmã está tentando chamar sua atenção — disse ela.
— Deve ser sua hora de cantar.
— Certo — disse Emma. Ela se virou para ir embora, depois voltou. —
Você realmente deveria vir assistir. Melhor que o original, eu juro.
Avery estava do outro lado do telhado. Ela poderia ter se aproximado,
mas aparentemente preferia tentar chamar a atenção de Emma como uma
idiota, agitando os braços. Emma planejava provocá-la por isso, mas Avery
a provocou primeiro.
— Como está sua namorada? — Avery perguntou, falando
arrastadamente a palavra.
Emma bateu no braço dela.
— Sério, você poderia não fazer isso? Especialmente aqui. Deus, o que
eu te disse sobre isso? Eu não preciso de pessoas pensando que você está
falando sério.
Avery esfregou o lugar em seu braço onde Emma a acertou.
— Alguém está sensível.
— Alguém é chata — Emma resmungou. — Você nem sabe se ela está
interessada em mulheres, de qualquer forma. Ela provavelmente é hétero e
definitivamente não é minha namorada.
Avery a nivelou com o olhar.
— Nenhuma pessoa hétero escreve personagens queer tão bem assim,
como Jo Jones.
—Talvez ela tenha muitos amigos gays!
Avery revirou os olhos para ela exageradamente.
— Nenhuma mulher heterossexual teria te olhado daquele jeito
enquanto você se afastava da conversa.
Emma podia sentir seu rosto ficar vermelho.
— Eu disse, cala a boca. Deus, alguns membros da equipe já acreditam
nos boatos.
Ela não se perguntou como Jo a olhava. Isso não importava. Jo era... Jo
era sua chefe, talvez hétero, e Emma não tinha uma queda por ela de
qualquer maneira.
— Eu vou te compensar... — disse Avery —...cantando a parte do
Aladim.
Emma ofegou.
— Você nunca me deixa cantar a parte de Jasmine!
— Uma oferta única.
Emma gritou e abraçou a irmã.
Quando Emma cantou sobre um mundo ideal, ela viu Jo, na parte de trás
da multidão, do lado de fora da porta. Ela estava sorrindo.
Emma realmente adorava festas de encerramento.


MAIS TARDE, EMMA DESENHOU PADRÕES em uma toalha de mesa enquanto o último
dos festeiros ia embora. Avery estava – apesar de meio bêbada –
direcionando um de seus funcionários à coleção de pratos da Floured Up.
Os cupcakes de chocolate Guinness de Avery haviam sido tão bem-
sucedidos que Emma não se sentiu mais mal por usar sua posição como
planejadora de festas de encerramento para dar oportunidades de trabalho
a sua irmã.
Emma observou Gina, uma das atrizes principais, dar um abraço em Jo
antes de entrar no elevador. Emma e Jo eram oficialmente os únicos
membros do elenco e da equipe que sobraram. Provavelmente estava na
hora de partir. Emma bateu na mesa quando se levantou, mas conseguiu
pegar sua xícara antes que ela derramasse seu conteúdo por todo lado. Pelo
menos ninguém estava ali para testemunhar sua falta de coordenação.
Ela foi até Jo, que ainda estava em pé junto aos elevadores.
— Você sempre fica até o final da festa?
— Honestamente, não. — Os olhos de Jo franziram com o sorriso. —
Mas foi uma festa excepcional. Deve ter tido uma excelente organizadora.
Emma riu. Foi uma noite de sucesso. Ela esperava que todos
concordassem.
— O que eu disse antes é verdade, Emma — disse Jo. — Eu não estaria
aqui sem você.
Emma esfregou o sapato pelo chão e mordeu o lábio.
— Você estaria. Você só provavelmente não se divertiria tanto. Quero
dizer, que outro assistente conseguiria cantar “A Whole New World” tão
bem?
— Isso é verdade. — O sorriso de Jo era terno. — Você tem uma voz
bonita.
Se Emma já não estivesse corada com o álcool, ela ficaria com o elogio.
— Você está pronta para ir? — Avery apareceu no ombro de Emma.
Emma assentiu. Avery apertou o botão do elevador, e Emma olhou de
volta para Jo, que ainda estava sorrindo para ela.
— Boa noite, Emma.
— Boa noite.
Emma a envolveu em um abraço. Ela hesitou um pouco, então Jo passou
os braços em volta da cintura de Emma. Emma inspirou seu cheiro. Ela
usava o mesmo perfume, todos os dias, apenas uma borrifada. Tinha um
cheiro fresco – como lençóis limpos ou neve ou algo assim.
Emma virou a cabeça para dar um rápido beijo de despedida na
bochecha dela. Jo estava se afastando do abraço ao mesmo tempo, e Emma
calculou mal a distância. Ela não percebeu o que estava acontecendo até
que de repente, de repente, sabia exatamente o que estava acontecendo. A
boca dela estava na de Jo. Apenas no canto, só um pouco, mas
inconfundivelmente lá. Emma se afastou rápido o suficiente para perder o
equilíbrio. Ela deu um passo tropeço antes de se recuperar, endireitando-se.
O rosto de Jo estava – abatido não era a palavra certa, mas estava perto.
— Eu… — Se ela disse que estava arrependida, estava admitindo que
aquilo tinha acontecido, e admiti-lo fazia aquilo real, e não poderia ser real.
Ela não poderia ter apenas beijado sua chefe. Então, em vez disso, ela disse:
— Até segunda-feira! — muito alto e fugiu – exceto que ela não podia
fugir, porque teve que esperar a chegada do elevador.
Emma ouviu Avery e Jo se despedirem enquanto olhava sem piscar para
as portas de prata do elevador. Jo não parecia chateada. Emma percebeu
pelo tom de voz que estava sorrindo. Então, talvez beijá-la não fosse a pior
coisa do mundo?
Porra.
Porra, porra, porra.
Foi definitivamente a pior coisa do mundo. Não poderia ter acontecido.
Emma não podia estar tão bêbada. Ela queria morrer.
O elevador apitou e as portas se abriram. Emma não olhou para Jo. Ela
não olhou para a irmã, subindo no elevador atrás dela. Apertou o botão do
primeiro andar, manteve o dedo nele mesmo depois de acender. Não
respirou até as portas fecharem.
Estava escuro no telhado – talvez Avery não tivesse visto. Ninguém
mais estava perto o suficiente para ter notado, provavelmente, e era apenas
a equipe do evento neste momento. Mas Emma não estava preocupada com
mais ninguém. Ela só estava preocupada com Avery ao seu lado,
desconfiada em silêncio até pegar fôlego, como se estivesse se preparando
para algo. Emma se encolheu com antecedência.
— Então, eu não entendo por que você passou o começo da festa dando
uma palestra para mim e Phil sobre não chamar Jo de sua namorada
quando, no final da festa, você literalmente dar um beijo de despedida nela.
— Nãããão — Emma caiu para trás, contra a parede do elevador. — Eu
não queria!
— Você a beijou! Bem na porra da boca dela! — Avery só xingava
quando estava bêbada.
— Eu não queria! — Emma disse novamente, alto o suficiente para que
Jo pudesse ouvir, agora a cinco andares de distância. — Eu só queria beijar
a bochecha dela!
— Isso ainda é uma coisa estranha de se fazer com sua chefe!
Emma percebeu isso agora. Percebeu muitas coisas agora. Como ela
deveria ter parado há três drinks de gim e tônica atrás.
— Estou bêbada e ela cheirava bem e disse coisas tão boas sobre mim
hoje à noite e eu amo festas e foi um acidente, ok? Podemos esquecer isso?
Isso não significa nada!
— Isso significa que você é super gay pela sua chefe, como todo mundo
está dizendo.
— Te odeio.
Não significava isso. Significava que Emma estava bêbada e estúpida e
tinha uma percepção de distância ruim. Isso significava que ela estava
envergonhada pra cacete e provavelmente teria que lidar com alguma
palestra estranha de Jo na segunda-feira sobre comportamento apropriado
no local de trabalho.
— Nós não terminamos de falar sobre isso. — disse Avery enquanto
colocava Emma em um Lyft.
Emma não se incomodou em dizer tchau. Seu motorista ficou em
silêncio, felizmente. Ela se sentou no banco de trás em uma mistura de
vergonha e descrença. O que ela deveria fazer agora? O que se faz depois
de beijar acidentalmente a chefe? Ela poderia se desculpar. Deveria,
provavelmente. Parecia uma solução muito menos humilhante do que
apenas ignorá-la.
Sim, um pedido de desculpas seria bom. Ela não queria fazer coisas que
eram inapropriadas ou que deixavam Jo desconfortável. Mas talvez pedir
desculpas deixasse Jo desconfortável – falando sobre aquilo de novo e tendo
que lidar com tudo. O melhor pedido de desculpas seria uma mudança de
comportamento, e que nunca mais aconteceria novamente. Emma não
queria beijar Jo. Jo sabia disso, mesmo que o resto do mundo – incluindo a
irmã de Emma – pensasse o contrário. Emma seria apenas profissional.
Isso seria seu pedido de desculpas.
Ela bebeu dois copos cheios de água antes de se deitar na cama. Ela não
pensou nos lábios de Jo nenhuma vez.


O SOL ESTAVA MUITO brilhante.Emma puxou o travesseiro sobre o rosto. Sua
cabeça latejava, não horrivelmente, mas o suficiente para que ela se
arrependesse de beber tanto. Então ela se lembrou de ter dito adeus a Jo e
seu estômago revirou. Sua ressaca não era ruim o suficiente para deixá-la
nauseada, mas seu constrangimento com certeza era.
Ela beijou Jo.
Ela. Beijou. Jo.
Jogou as cobertas e se levantou. Tudo bem. Tinha que ficar tudo bem.
Não havia outra opção. Ela iria encontrar Jo para almoçar na segunda-feira
para falar sobre sua carreira. O resto do elenco e da equipe estavam de
folga até o final do verão, quando começariam a filmar na próxima
temporada. Como Emma trabalhava para Jo, ela tinha um emprego estável,
mas tinha uma semana de folga após a festa de encerramento. Exceto pelo
almoço na segunda-feira. Ela deveria contar a Jo o que ela queria fazer com
sua vida.
A menos que a festa de encerramento tenha mudado as coisas.
Talvez, em vez de perguntar a Emma qual carreira ela quisesse, Jo
perguntasse por que ela achava que poderia beijá-la. Talvez Emma fosse
demitida. Mas Emma lembrou-se da voz de Jo se despedindo de Avery. Ela
parecia normal. Não um falso normal, como quando ela estava realmente
chateada – Emma tinha trabalhado com ela o tempo suficiente para saber
quando estava fingindo. E ela não estava. Estava bem. Então tudo isso
tinha que estar bem. Foi um acidente. Acidentes acontecem. As pessoas
cometeram erros. Jo sabia disso. Ela dava às pessoas uma segunda chance.
Ela não iria demiti-la. Emma estava quase certa.
Correr tendia a ajudar Emma a limpar a cabeça. Ela poderia resolver os
problemas quando seus pés atingiam o chão. Ela gostava de coordenar a
dificuldade de suas corridas com a dificuldade de seus problemas.
No sábado, ela correu em Griffith Park.
Ela correu para cima. Na trilha do West Observatory. Do início até o
observatório, havia apenas cerca de um quilômetro, mas a mudança de
altitude a fez respirar com dificuldade mais cedo. Seus pés lançavam
nuvens de poeira a cada passo.
Ela não estava preocupada com o beijo acidental. Não. Isso estava
tranquilo. Ela decidiu. E se ela acreditasse o suficiente, tinha que ser
verdade.
O problema que ela estava resolvendo era o que ela queria fazer.
O qual...
Ela sabia o que queria fazer.
Ou não? Como ela poderia ter certeza? E se ela seguisse o caminho que
pensava querer, apenas para estar errada? Ela gostava do trabalho dela
agora. Era bom. Interessante. Ela era boa nisso. Não via motivo para não
poder continuar como assistente de Jo quando a mesma se mudar para o
Agent Silver. Talvez não para sempre, ou algo do gênero, mas pelo menos
por mais um ano ou dois. Ela ainda estava encontrando seu ritmo. No
terceiro ano como assistente pessoal, ela tinha tudo planejado para a frente,
para trás e para os lados. Por que ela não podia fazer a mesma coisa como
assistente de Jo?
Porque ela sabia o que queria fazer.
Ela deveria ter chegado aqui antes, antes dos turistas e do sol. Era
apenas abril, mas estava quente o suficiente para o suor escorrer pela testa
e acumular-se na base das costas.
Mesmo se ela estivesse certa sobre onde queria chegar, não sabia como
chegar lá. O caminho que esperava seguir não funcionou; ela abandonou a
faculdade de cinema. Talvez tenha sido um momento ruim em sua vida ou
talvez ela simplesmente não fosse boa o suficiente. Independentemente
disso, não havia nenhum tipo de mapa traçado para ela agora. Não existe
nenhum próximo passo em particular. Emma se agarrou à metáfora
enquanto corria. Ela podia dar um passo em falso, perder o equilíbrio e
rolar o tornozelo. Ela poderia ter uma cãibra no meio e ter que parar. Ou
pior, ela poderia não ter habilidade. Ela se preocupou mais com isso ao
subir a ladeira. Já falhou uma vez. E se ela tivesse outra chance e ainda não
conseguisse? E se ela nunca chegasse ao topo? Ela poderia se perder em
algum lugar no meio. Desviar do caminho mal marcado.
Ela estava quase no observatório no topo da colina. A água em sua
garrafa térmica era fria e refrescante. Desejou poder derramar sobre o
rosto. Ela esperava não estar suando a ponto de remover o protetor solar.
Continuou indo.
Os turistas lotaram o estacionamento do observatório. Carros lotados
lado a lado enquanto outros circulavam como se fossem ter alguma sorte e
encontrar um lugar vazio. Emma andou com as mãos nos quadris, se
deixando recuperar o fôlego. Ela tentou evitar interromper as fotos de
alguém – da cidade, do letreiro de Hollywood, um do outro.
Ela encontrou um lugar vazio e parou para se alongar um pouco.
O letreiro de Hollywood estava na encosta em frente a ela.
— Eu quero ser diretora.
Ela não dizia isso em voz alta desde que deixou a faculdade de cinema.
Mal se permitia pensar nisso.
Foi aterrorizante.
Nenhum dos problemas que ela considerou estarem em seu caminho
foram resolvidos. Nada era cem por cento. Ela poderia estar errada,
poderia ficar presa, poderia não ter o suficiente para chegar lá.
Mas ela sabia o que queria fazer.


NA SEGUNDA-FEIRA, EMMA CHEGOU aorestaurante para almoçar antes de Jo. Não
importava quantas vezes no fim de semana ela dissesse a si mesma que
tudo ia ficar bem, seu corpo inteiro parecia uma mola enrolada, como um
parafuso aparafusado com muita força. Ela apertou a bolsa contra o lado e
deu um passo na calçada para longe do restaurante quando um carro preto
parou no meio-fio.
Emma apertou os lábios quando Jo saiu. Ela ainda estava pensando em
fugir.
Então Jo sorriu em cumprimento. Seu sorriso regular, “feliz em te ver”,
“nada estressada”, e Emma sentiu como se pudesse respirar novamente.
— É bom ver que você sobreviveu à ressaca — brincou Jo gentilmente.
Emma fez uma careta. Aparentemente, elas iam abordar o beijo – o beijo
acidental – logo de cara.
Mas, em vez disso, Jo disse:
— Vamos pegar uma mesa. Estou faminta.
Está bem então. Um problema resolvido. Ou ignorado, de qualquer
maneira. Emma não se importava com os detalhes. Agora ela só precisava
terminar a conversa sobre carreira.
Ela poderia ter dito seu sonho em voz alta para si mesma, mas ficou
quieta enquanto eram levadas a uma mesa ao ar livre. E enquanto elas
faziam seus pedidos, e enquanto o garçom trouxe uma limonada para ela e
para Jo uma água com gás. Jo falou com moderação, sobre a festa de
encerramento, sobre como o trabalho no verão seria mais fácil para eles.
Ela deixou Emma ficar quieta até a comida chegar e depois disse:
— Então, o que você quer fazer?
Emma pediu uma salada de bife. Ela enfiou um pedaço de carne na boca
em vez de responder.
— Hmm?
Jo sorriu.
— Eu preciso saber que tipo de carta de recomendação eu deveria
escrever para você. — Ela deu uma mordida na salada Caesar. — Qual
trabalho você quer fazer em breve?
Emma queria ser diretora.
Mas isso era assustador demais para dizer em voz alta. Foi um grande
sonho. Haviam muitas maneiras de falhar.
Emma deu de ombros, sem se comprometer.
— Você é boa demais para isso, Emma. Muito inteligente.
Emma não gostou disso, Jo fez parecer que seu trabalho não era
importante o suficiente.
— Gosto do meu trabalho, Srta. Jones — disse ela.
— Srta. Kaplan. — A voz de Jo estalou em torno do K . — Eu não vou
deixar você estagnar como minha assistente. É inegociável.
Emma sentiu como se estivesse falhando em um teste. Ela sabia o que
queria fazer a longo prazo, não sabia? Mas ela não sabia como chegar lá.
— Minha irmã sempre soube que queria ter sua própria padaria — disse
ela. — Ela ganhou um forno Easy-Bake quando criança, mas passou
rapidamente para o forno comum. Ela sempre foi muito boa nisso e sempre
soube que era o que ela queria fazer.
Jo provavelmente pensou que essa era uma sequência estranha, mas que
fazia sentido. Era a única maneira que Emma sabia descrever. Jo não estava
interrompendo, no entanto. Ela parecia interessada em entender mais.
— Eu queria algo assim — disse Emma. — Eu ainda quero. Ter certeza
de alguma coisa. Para saber o que quero fazer e saber que vou ter sucesso
nisso. Eu gostaria de poder dizer exatamente o que quero fazer a seguir.
Gostaria de conhecer o meu caminho como Avery sempre soube.
Emma fez uma pausa. Ela queria que Jo dissesse alguma coisa,
preenchesse o silêncio, mas Jo continuou olhando para ela, olhos abertos e
gentis, forçando Emma a resolver isso sozinha.
— Eu gosto do meu trabalho — disse Emma. — Este trabalho. E eu sou
boa nisso. E se eu não for boa em tudo o que eu tentar? E se eu não gostar?
— Se você não gostar, fará outra coisa — disse Jo. — Se você não é boa
nisso, vai aprender. Você é brilhante, Emma. Você caiu de cara neste
trabalho, mas ainda entendeu tudo facilmente.
Jo parecia tão certa. Emma desejou poder acreditar nela. Ela deu outra
mordida na salada. Ela desejou poder confiar em si mesma.
— Coisas que acho que tenho certeza, ainda posso estragar — disse ela.
— Eu tinha certeza de que montar esse artigo sobre o quão boa você seria
para o Agent Silver seria uma coisa boa. E foi horrível!
Jo não discordou porque ela não podia. Emma estava certa sobre isso.
— Então, quem pode dizer que não estou tão errada sobre isso?
— Você não pode chegar a lugar nenhum sem risco, Emma.
Certo. Emma sabia disso. Não o tornava menos aterrorizante. Ela olhou
para a limonada. O gelo derretido mexia no copo.
— Eu abandonei a escola de cinema, sabia? — ela disse.
— Eu sei. — A voz de Jo era baixa.
— Eu era... foi estúpido — Emma passou o dedo pela condensação do
lado de fora do copo. — Eu digo às pessoas que fui reprovada, como se não
fosse uma escolha, mas desisti. Foi difícil e eu não era muito boa, então
desisti.
— Você era jovem, não era?
Emma tentou olhar para Jo, mas não conseguiu chegar ao rosto,
concentrando-se no pescoço largo da blusa, na linha da clavícula.
Finalmente, ela respirou fundo e levou os olhos aos de Jo.
— Eu quero dirigir.
Um sorriso lento se espalhou pelo rosto de Jo. Emma sentiu um calor
em seu peito.
— Você quer dirigir. — disse Jo.
Emma lutou contra o desejo de quebrar o contato visual, de retirar sua
declaração.
— Eu quero.
— OK — Jo entrou no modo de negócios. — Eu não acho que você
ainda tenha os créditos para a guilda de diretores, não é?
Emma balançou a cabeça.
— Estou perto.
— Então você continuará trabalhando comigo, continuará trabalhando
com Innocents. — Os olhos de Jo visualizaram o redor enquanto ela
pensava. — Nós poderíamos fazer de você uma produtora associada – sim.
No hiatus entre as temporadas, provavelmente vou me mudar para o Agent
Silver. Você se muda como produtora associada, terminando seus dias para
poder se juntar à guilda. Antes da mudança, você fará entrevistas e
encontrará sua substituta como minha assistente. O que você acha?
Ela achou que parecia ótimo, e contou isso a Jo. Jo sorriu para ela.
Isso significava que Emma ficou com um show que amava, com um
elenco e equipe que adorava. E ela teria dias para ingressar na guilda de
diretores até o final da temporada, para que ela pudesse começar a
trabalhar. Houve uma ligeira pontada no pensamento de Jo seguir em
frente sem ela, mas por outro lado, ser produtora associada era o melhor
dos dois mundos: ela estava dando um passo à frente em sua carreira sem
sair muito da zona de conforto.
— Você realmente acha que eu posso fazer isso? — Emma teve que
perguntar.
Jo pegou a mão dela em cima da mesa e a apertou.
— Eu acho que você pode fazer qualquer coisa, Emma.


APÓS O ALMOÇO, EMMA FOI para a casa de Avery. Sua semana de folga coincidiu
perfeitamente com a Páscoa. Emma sempre tentava ir para casa, mas às
vezes sua agenda estava muito ocupada. Este ano, ela empilhou Cassius,
Rosalind e Billie em seu carro. Avery e seu marido, Dylan, carregaram o
carro com os gêmeos de dez anos. Emma evitou olhares significativos que
Avery enviou em sua direção enquanto eles enchiam os carros.
Fazia dias desde a festa de encerramento, mas ficar acordada até tarde e
beber tanto teve um lado negativo, o qual Emma ainda estava se
recuperando. Ela se recusou a admitir que pode ter sido relacionado a uma
conversa emocional no almoço. Sua garganta estava um pouco arranhada
pelo quão alto ela cantava no karaokê de Gina de Brandi Carlile. Ela
recorreu a um grande chai gelado enquanto seguia a família da irmã até a
costa.
Seus pais ainda moravam na casa onde Emma e Avery cresceram. Emma
ficou grata por isso, por apenas algumas horas de carro antes que ela
pudesse aproveitar o conforto e a nostalgia do lar. Seus pais estavam
esperando na varanda da frente quando chegaram e foram recebidos
primeiro pelos cães que se aproximavam para dizer olá.
Havia muitos abraços então, e Emma desfrutou da força quente dos
braços de seu pai ao redor dela por todos os dois segundos antes dele dizer:
— Você não trouxe sua namorada?
— Sério? — Emma gemeu. — Eu não posso nem passar pela porta
antes de você fazer isso?


ELES PASSARAM A NOITE navaranda, colocando a conversa em dia e devorando
alguns dos cupcakes de Avery antes do pôr do sol, quando a Páscoa
começou oficialmente. Ezra e Danielle, os gêmeos, perseguiram vaga-lumes
pelo quintal. Ninguém parou de provocar Emma sobre Jo.
— Você sabe que a internet disse que ela parecia triste porque você não
foi à premiação com ela — disse a mãe.
Emma lembrou-se de sua conversa bêbada com Jo e tentou não corar.
— A internet diz muitas coisas, mãe.
Realmente, ela e Jo esperavam que os GLAADs acalmassem os rumores.
Jo foi sozinha. As pessoas deveriam perceber que Emma se juntar a ela era
um acaso. Em vez disso, todos decidiram que Jo estava deprimida por
Emma não ter se juntado a ela ou porque elas haviam terminado.
Jo parecia triste, no entanto; ninguém estava errado sobre isso. Emma
não gostou. O sorriso de Jo estava tenso e fez Emma pensar sobre porque
Jo a levara aos SAGs, como uma espécie de guarda-costas. Valeria a pena os
rumores, pensou Emma, ir aos GLAADs com Jo pelo mesmo objetivo. Os
rumores pareciam parte da vida agora, nem ruins nem bons, apenas ali. Até
os fotógrafos que encontraram o apartamento dela não eram terríveis. Ela
não contou a Jo sobre eles, não achou que precisava ser incomodada. Eles
geralmente não estavam lá, mas estavam na manhã seguinte aos GLAADs.
Emma manteve a cabeça erguida e fingiu que não os viu.
— Gosto de ver minha filha no noticiário por namorar uma mulher —
continuou a mãe. — Existem razões muito piores para ser famosa.
— Eu não sou famosa — disse Emma.
— Foi a minha vez de sediar o clube do livro no mês passado. — disse o
pai dela. — Todos eles queriam falar sobre você em vez de Estação Onze.
O clube do livro de seu pai eram todos homens com mais de sessenta
anos. Emma não percebeu que tantas pessoas se importavam com os
rumores.
— Você disse a eles que realmente não estamos namorando?
— Bem — seu pai começou, e ela já revirou os olhos. — Eu disse a eles
que você afirma não estar interessada nela?
— Papai!
— Ela é linda e famosa, querida — disse ele. —Todos os caras
concordaram que você deveria correr atrás dela.
— Não há nada para correr atrás!
Emma olhou para Avery e Dylan em busca de apoio, mas eles sorriram
para ela.
— Ninguém nesta família me ama mesmo — Emma gemeu e os outros
riram.


O RESTO DO SEU tempo em casa foi o mesmo. Eles tiveram um jantar
cerimonial para a Páscoa com outros dois casais do templo de sua cidade
natal e, mesmo assim, houve muita conversa sobre Emma e Jo.
Após a refeição, sozinha em seu quarto de infância, Emma desbloqueou o
telefone. Ela abriu seu chat com Jo. Queria dizer a ela quão ridículo isso
tudo tinha sido, sobre um grupo de caras de 60 e poucos anos decidindo
que ela e Jo eram um casal fofo. Jo iria rir, Emma pensou.
Mas ela nunca mandou uma mensagem para sua chefe sobre algo não
relacionado ao trabalho. Não como o início de uma conversa. Às vezes, seus
textos acabavam sendo sobre algo diferente de trabalho, mas sempre
começavam falando disso. Embora os rumores parecessem relacionados ao
trabalho, um pouco, Emma não escreveu uma mensagem. Ela não estava
prestes a mudar a forma como o relacionamento delas funcionava depois
que elas se beijaram acidentalmente. Ela não podia fazer nada que fizesse
Jo pensar que pretendia fazê-lo. Além disso, Jo era sua chefe, não sua
amiga. E ela nem seria sua chefe por muito tempo. Jo a estava empurrando
para fora do ninho. Emma bloqueou o telefone e olhou para as estrelas que
brilhavam no escuro em seu teto.
6
EMMA

A stentavam
reuniões publicitárias ocorriam quando as empresas de televisão
atrair anunciantes. Eles eram basicamente um show de gato e
rato – as empresas faziam tudo o que podiam para promover seus
programas de TV por uma semana em New York. No ano passado, as
reuniões foram assustadoras. Emma tinha acabado de começar como
assistente de Jo e não tinha ideia do que estava fazendo. Mas agora, em vez
de perambular, tentando permanecer focada, ela poderia aprender sobre o
lado da produção de Jo, aprender o que era necessário para conquistar os
anunciantes. Fora do trabalho, Emma planejava fugir quando podia,
passear pela cidade, comer comida deliciosa, ir a um ou dois museus. Seria
uma viagem cansativa, mas ela não podia esperar.
Este ano, a rede deles colocava Jo e as estrelas nos holofotes – Tate,
Gina e Holly – todos eles. O evento principal para Innocents era um painel
com Jo e os outros três, onde eles discutiram o que podiam da próxima
temporada sem dar spoilers. Emma sabia que Jo ainda não havia escrito
muito da próxima temporada. Ela estava se concentrando em Agent Silver,
dando um tempo de Innocents após o final.
Emma e Jo trabalharam perfeitamente juntas, preparando-se para o
painel. Estava quieto, mais calmo com todo mundo de folga para um hiato
de verão. Emma questionou Jo sobre as respostas prontas para as
perguntas do painel que a emissora enviou. Jo apimentou suas respostas
com sarcasmo e palavrões que a emissora definitivamente não aprovaria.
Emma tentou ser séria, mas sempre acabava rindo.
Jo vestia-se de maneira mais casual, usando saia maxi e às vezes até uma
camiseta estampada. A atmosfera entre elas também parecia mais casual.
Mais de uma vez, quando outras pessoas ainda estavam por perto, Emma
notou Jo fazer alguma coisa – colocar a mão no ombro dela ou conduzi-la
com a mão sobre seu cotovelo ou algo assim – antes de congelar. Jo sempre
seguia o fluxo, mas era óbvio – pelo menos para Emma – que Jo estava
pensando em como as outras pessoas poderiam ver suas interações. Era
bom ficar longe disso, para ser apenas as duas, sorrindo no escritório de Jo.

A ASMA DE EMMA COMEÇOU A dar as caras no voo. Não era nada grave, mas ela
conseguia perceber. Ela não conseguia respirar tão profundamente como de
costume. Ela ficaria de olho nisso, até tomaria os remédios, se necessário.
Ela não estava preocupada – sua asma era leve, e ela lidava com isso por
tempo suficiente para descobrir como trabalhar com ela. Seus pulmões
estariam mais sensíveis que o normal, mas não deveria ser um problema.
Ela não mencionou isso para Jo.
— Não hesite em me perguntar qualquer coisa durante a semana —
disse Jo no avião. — Que perguntas você tem?
— Tenho certeza que elas vão surgir — disse Emma. — Vou fazê-las
quando aparecerem.
— Mas você não tem nenhuma agora? — Jo parecia desesperada para
que Emma perguntasse alguma coisa.
— Você quer revisar o cronograma de novo, Jo? — Emma perguntou
gentilmente. — Se você precisar se distrair?
— Eu não estou tentando me distrair — Jo murmurou.
Ela estava, no entanto. Foi por isso que Emma não disse nada sobre sua
asma. Os rumores estavam deixando Jo mais nervosa do que o normal –
Emma supôs que era assim mesmo. Ela ouvira a ligação com a emissora;
qualquer queda na publicidade, e eles culpariam Jo por não negar
publicamente que ela estava dormindo com sua assistente. Os anunciantes
provavelmente já estavam cautelosos sobre Jo partir para o Agent Silver e
que efeito isso teria sobre Innocents.
O trabalho de Emma era manter Jo em sua melhor forma pelos
próximos dias, e ela conseguiu. Ela fez isso enquanto tentava absorver tudo
o que podia sobre as reuniões publicitárias, cada lição que Jo transmitia.
Ela fez bem. No último dia da semana, tudo deu certo. Algumas pessoas
olharam conscientemente entre Jo e Emma, mas Jo era charmosa e os
anunciantes haviam sido completamente atraídos até agora.
As coisas estavam indo bem hoje também, exceto que estavam atrasadas.
Jo precisava estar no painel dela em dez minutos, e conseguiria, mas por
pouco. O peito de Emma estava apertado. Em qualquer outra situação, ela
teria parado e descansado, controlando a respiração. Mas ela tinha que
levar Jo para o painel. Então ela poderia se sentar, recuperar o fôlego. E ela
ficaria bem.
No caminho, percorrendo as multidões do corredor, passaram por uma
mulher usando muito perfume.
Isso foi o suficiente.
Emma fez uma pausa, tentando recuperar o fôlego. Ela – não tinha –
estava tentando respirar, mas o ar não estava se movendo. Seus pulmões se
recusaram a inalar. Ela tentou engolir. Mover o ar.
— Emma?
Jo continuou andando antes de perceber que Emma não estava ao seu
lado. Ela estava a dez passos de distância.
— Emma? — Disse novamente, voltando para o lado de Emma. — O
que houve?
O peito de Emma doía. Ela ofegou, e parecia que Jo havia entendido. Jo
sabia que ela tinha asma, sabia onde estava o inalador em sua mesa, embora
Emma nunca precisou usá-lo no trabalho.
— Onde está? — As mãos de Jo bateram freneticamente nos bolsos de
Emma, na frente e atrás, e a parte do cérebro de Emma que não estava
focada apenas em tentar respirar, pensou que talvez sua chefe não devesse
tatear sua bunda em público. Quando Jo não conseguiu encontrar o que
estava procurando, agarrou Emma pelos ombros. — Onde está a sua
bombinha?
Seus olhos estavam arregalados, e a segurava com força.
— Minha bolsa. — Emma saiu. — Na… sala de descanso.
Jo gritou com alguém por cima do ombro. Emma tossiu com força. A
sala ficava no fim do corredor. A bombinha não estava longe. Tudo ia ficar
bem.
— Estou chamando uma ambulância — disse Jo, ainda segurando Emma
com uma mão enquanto pegava o telefone com a outra. — Você vai ficar
bem.
—Não, Jo… — Mas Emma não tinha fôlego suficiente para dizer a ela
para se acalmar. Não teve fôlego para dizer a ela que não precisava chamar
uma ambulância, a menos que a bombinha de ar de Emma não funcionasse.
Jo cuspiu palavras rapidamente no telefone, parando apenas para gritar:
— Apresse-se com essa bolsa!
A bolsa de Emma chegou e Jo finalmente a soltou para abri-la. Os dedos
dela tremiam. Havia uma multidão de espectadores assustados ao redor
delas. Emma encostou-se na parede, fechou os olhos. Só os abriu quando Jo
enfiou o inalador nas mãos dela. Emma inalou um pouco. Ela queria
vomitar. Deu outra tragada.
Ela ainda sentia como se algo estivesse preso em sua garganta, como se
ela pudesse apenas encher os pulmões pela metade. Ela fechou os olhos
novamente e deslizou pela parede, então estava sentada no chão.
— Emma? — Jo disse. A voz dela se aproximou. — Emma, respire. Os
paramédicos estão a caminho. Você vai ficar bem.
Parecia mais uma ordem do que um conforto. Emma manteve os olhos
fechados. Ela engoliu em seco, tossiu novamente, continuou sugando o ar.
Ela não registrou alguém ao seu lado até que se inclinou para frente e uma
mão estava entre suas omoplatas. Emma abriu os olhos.
Jo estava sentada de joelhos ao lado de Emma no tapete, os pés dobrados
para o lado. Ela fazia círculos suaves nas costas de Emma. Emma olhou
para ela.
— Você está bem — disse Jo. — Precisa de alguma coisa?
Emma não respondeu imediatamente, seu chiado começando a diminuir.
Assim que tinha fôlego, ela disse:
— Você precisa ir ao painel.
— Foda-se o painel. — Jo rosnou. — Menos conversa, mais respiração.
Emma revirou os olhos.
— Nós não cruzamos o país de avião para que você perdesse o painel.
— Eu vou ficar aqui até os paramédicos chegarem.
— Você não deveria ter ligado para eles! — o peito de Emma já estava se
sentindo melhor. — Eu nem tinha usado minha bombinha de ar ainda.
Você entrou em pânico.
Os olhos de Jo brilharam.
— Você não conseguia respirar. — disse ela, como se isso fosse
explicação suficiente.
Emma supôs que talvez fosse. Jo não tinha lidado com a asma de Emma.
Emma não teve um ataque no trabalho antes. Fazia sentido que Jo não
soubesse o que fazer. Era realmente fofo que ela estivesse tão preocupada.
Mas ela também tinha um painel para ir.
— Chefe. — Emma disse baixinho. A multidão ao redor deles tinha
dissipado e havia apenas olhares preocupados dos transeuntes, mas Emma
fez questão de não ser ouvida. — Vá para o painel. Estou bem e não
precisamos dar mais munição a ninguém.
Jo olhou para ela inexpressivamente.
— Você não pode perder um painel com anunciantes em potencial
porque está preocupada com seu assistente, com quem todos pensam que
você está transando. — Emma conseguiu dizer tudo sem corar. Jo tirou a
mão das costas de Emma. — Estou bem. Pode ir.
— Me mande uma mensagem se precisar de alguma coisa. — disse Jo.
— Vou checar você assim que terminar.
— Pode ir — disse Emma.
As sobrancelhas de Jo estavam franzidas e sua boca era uma linha, mas
ela foi. De alguma forma, ela levantou graciosamente do chão, mesmo
estando de salto. Depois de um momento alisando o vestido e colocando o
cabelo atrás das orelhas, ela entrou no modo de negócios, caminhando com
propósito.


EMMA FICOU TÃO ENVERGONHADA quando os paramédicos chegaram. Sua
respiração estava quase voltando ao normal até então, e ela sabia que estava
os fazendo perder tempo. Eles lhe deram uma máscara de oxigênio para
respirar, mas ela a afastou para se desculpar novamente.
— Sinto muito — ela disse pela terceira vez. — Minha chefe não sabia o
que fazer e ela ligou para vocês e eu realmente sinto muito.
— Não tem problema, moça — disse um deles, também pela terceira
vez. — Você tem certeza que está se sentindo bem?
— Eu estou bem — disse Emma. Eles tinham algo para medir sua
capacidade pulmonar mais cedo, e não era alta, mas era boa o suficiente, ela
sabia.
— Seria melhor se você passasse o resto da noite evitando gatilhos que
poderiam gerar outro ataque asmático — a paramédica disse. Ela
direcionou a mão de Emma com a máscara de oxigênio de volta para o
rosto. — Poluição, fumaça, esse tipo de coisa.
— Multidões também — disse o outro paramédico. — Desde que parece
ser o que causou esse ataque.
— Certo — disse Emma. — Certo.
Ela queria ir ao painel, essa era a verdade. E depois sair para jantar, a
última noite delas aqui. Ela planejava se aventurar a procurar bagels pela
manhã antes do voo de volta. Ela queria estar por aí, sem precisar evitar
gatilhos.
Ela pensou em ignorar o conselho dos paramédicos, mas era inteligente.
Além disso, Jo provavelmente a mataria se ela acabasse tendo outro ataque
asmático. Então, quando os paramédicos arrumaram tudo e foram embora,
Emma voltou para o quarto em vez de para o painel.


O PAINEL TERMINOU ÀS cinco. O telefone de Emma tocou às 17:03.
Ela atendeu a ligação.
— Oi, chefe.
— Você está bem?
— Eu estou bem — disse Emma. Ela estava, majoritariamente. Haviam
quase duas horas e, com o oxigênio dos paramédicos, ela estava melhor do
que costumava estar nesta situação após um ataque. — Como foi o painel?
— Eles nos fizeram perguntas e demos respostas preparadas — disse Jo,
e Emma tinha quase certeza de que revirava os olhos. — A propósito, Tate,
Holly e G estavam preocupadas com você.
— Isso é fofo da parte deles, mas como eu disse, estou bem.
A chamada ficou em silêncio por alguns momentos.
— Precisa de alguma coisa? — Jo perguntou.
— O que?
— Precisa de alguma coisa? Tem algo que eu possa fazer pra ajudar?
Emma precisava de uma soneca e um pouco de comida, nessa ordem. Os
ataques asmáticos sempre a deixavam exausta.
— Não, chefe, eu estou bem — disse ela. — Eu meio que não posso sair
do meu quarto, por ordem dos paramédicos, mas posso pedir serviço de
quarto mais tarde. Você não tem planos para esta noite, afinal?
Emma não tinha planos, o que era raro, mas a noite estava bloqueada no
horário de Jo. Era uma coisa pessoal, não de trabalho, ou Emma saberia o
que era.
— Sim, é… — Jo não disse mais nada.
— Eu agradeço por ter me checado — disse Emma quando Jo ficou em
silêncio. — Já tenho a sua chamada às seis horas agendada para te acordar
amanhã. Me diga se eu precisar fazer mais alguma coisa, ok? Fora isso, vou
passar a noite assistindo alguma coisa ruim na televisão.
— Certo — disse Jo. — É melhor eu ir.
— Tenha uma boa noite.
— Você também, Emma.


EMMA TIROU UM COCHILO, e,quando acordou, sentiu-se quase normal. Quase
como se seus pulmões nunca tivessem nenhum problema. Ela estava
morrendo de fome, no entanto. Ela pensou sobre o restaurante de ramen
para onde foi no ano passado, durante as reuniões publicitárias, e
novamente no início desta semana. Ela pensou na melhor fatia de pizza que
já havia comido, naquele restaurante com uma janela para a retirada do
pedido, no Brooklyn. Talvez ela pudesse fugir furtivamente para o jantar.
Exceto que ainda havia uma pequena dor no peito, e realmente, ela era
inteligente.
Isso não significava que ela não poderia ter o jantar trazido para ela, no
entanto. Obrigada Deus pela tecnologia. Emma deslizou por um dos três
aplicativos de entrega de comida em seu telefone. O número de escolhas a
deixou doida. Ela pesquisou restaurantes, como fazia antes de qualquer
viagem, mas ela não os escolhera completamente. E para alguns, o
ambiente do lugar era importante – ambiente que ela não receberia com a
entrega.
Houve uma batida na porta dela. Pensou, loucamente, que a comida
estava chegando antes mesmo de pedir. Mas não era a entrega –
obviamente.
Era a Jo.
— Está com fome? — Ela perguntou quando Emma abriu a porta. Ela
acenou com a caixa de pizza que trouxera na direção de Emma.
Emma estava descalça e não usava sutiã por baixo da blusa. Ela cruzou
os braços sobre o peito.
— O quê?
— Você não comeu, comeu? — Jo perguntou. Emma balançou a cabeça.
— Que bom. Estou faminta.
Jo ficou no corredor até Emma abrir a porta. Então Jo entrou como se
fosse dona do lugar, colocou a caixa de pizza e um saco plástico sobre a
mesa e puxou pratos e guardanapos de papel.
— Srta. Jones — disse Emma. Ela finalmente conseguiu fechar a porta
do quarto. — Você tinha planos.
Jo agitou a mão dela.
— Evelyn estava sendo desagradável — disse ela. — E você não pode
perder a pizza de Nova York.
Emma não ia perguntar quem era Evelyn.
Emma desejou que ela tivesse fechado sua mala. O sutiã que ela usava
anteriormente estava espalhado por cima. Não havia como fechá-lo
discretamente. Jo não parecia se importar. Ela sentou-se na mesa e abriu a
caixa de pizza.
— Queijo extra grande — disse ela. — Teremos que pegar bebidas na
máquina de venda.
— Deixa eu pegar — disse Emma, ansiosa para contribuir com algo
para a refeição.
— Eu pensei que os paramédicos disseram que você tinha que ficar no
seu quarto — disse Jo. — Volto já.
Assim que a porta se fechou atrás de Jo, aberta automaticamente pela
trava para que ela não ficasse trancada por fora, Emma entrou em
movimento. Ela enfiou todas as roupas no chão na mala, agarrando o sutiã
antes de fechar a parte de cima. Ela se escondeu no banheiro para tirar a
blusa, vestir o sutiã e depois colocar a blusa de volta.
Quando Jo voltou, Emma estava se servindo uma fatia de pizza,
totalmente vestida.
— Sprite ou cerveja preta? — Jo perguntou.
— Qualquer uma serve — disse Emma. — Posso te pagar uma parte
disso?
Jo revirou os olhos e nem respondeu. Ela entregou a Emma a cerveja
preta.
— Estou falando sério — disse Emma.
— Emma — Jo olhou para ela. — Eu era milionária quando adolescente.
Eu posso pagar o jantar.
Certo.
Emma abaixou a cabeça. Se ela não pagava por nada, parecia muito que
Jo estava cuidando dela, o que era.. era estranho, era demais. Era como
quando Jo comprou um vestido para ela, embora desta vez fosse apenas
pizza e um refrigerante de máquina.
Emma subiu em sua cama, sentou-se de costas contra a cabeceira da
cama.
— Você não precisava fazer isso, chefe.
— É pizza, Emma. Não é nada de especial.
— Bem, eu agradeço mesmo assim — disse Emma. — E é pizza de Nova
York. É definitivamente especial.
Ela deu uma mordida.
O barulho que ela fez foi provavelmente inapropriado. Se alguém
soubesse que ela estava no quarto com Jo e fazendo aquele barulho, eles
definitivamente pensariam que estavam dormindo juntos. Mas o que
Emma deveria fazer? A pizza estava incrível.
Jo sorriu e não olhou para Emma. Emma não se incomodou em ficar
envergonhada.
— Você basicamente salvou esta noite para mim, chefe — disse Emma.
— Isto é.. eu não consigo agradecer o suficiente.
Jo acenou com a mão com desdém.
Elas comeram em silêncio por um momento.
— Emma? — Jo disse, sua voz calma.
— Sim?
Jo estava concentrada em sua pizza, como se o que ela estava prestes a
dizer não fosse importante. Isso fez Emma pensar que seria importante, e a
fez prestar atenção.
— Sua camisa está do avesso.
7
JO

N aporta
manhã seguinte, Jo estava pronta para sair quando Emma bateu na
do quarto com uma xícara de café.
— Imaginei que o café do hotel talvez não fosse bom — disse Emma. —
Isso é daquela cafeteria fofa do outro lado da rua.
Jo tomou um gole, e foi tão bom que sua boca disse palavras antes que
ela pudesse pensar nelas.
— Eu te amo.
Os olhos de Emma se arregalaram e Jo fechou os dela, tomou outro gole
de café. Era apenas uma expressão, a qual ela já tinha usado antes no
trabalho – com Chantal, certamente, e talvez até com Emma também. Jo
não conseguia se lembrar. Antes dos rumores, ela não havia prestado tanta
atenção a todas as interações entre as duas.
No momento em que Jo olhou para Emma novamente, sua assistente
parecia ter decidido levar o comentário com calma. Era justo – Jo ignorou
Emma acidentalmente beijando-a na festa de encerramento; Emma poderia
ignorar uma frase inofensiva.
— A cafeteria também tem boas opções de café da manhã. — disse
Emma.
— Eu tenho planos para o café — disse Jo. — Eu já arranjei o serviço de
carro para levá-la aonde você queira hoje de manhã, depois me buscar no
caminho para o aeroporto.
Emma engoliu em seco. Jo se perguntou se ela imaginava a decepção no
rosto de sua assistente.
— Tudo bem — Emma disse com um sorriso tenso. — Aproveite seu
café da manhã.
Evelyn mandou uma mensagem de texto então, avisando Jo que ela
estava esperando do lado de fora, e Jo andou em direção aos elevadores. Ela
parou e olhou para Emma.
— Certifique-se de ter sua bombinha na bagagem de mão — disse ela.
O sorriso de Emma foi genuíno.
— Certo, chefe.

JO DEVERIA jantarcom Evelyn na noite anterior, mas, quando elas estavam
bebendo, Ev não parava de lhe encher o saco sobre Emma. Aparentemente,
seu ataque de asma e a reação de Jo a isso haviam chegado na internet.
Evelyn teve um grande prazer em provocar Jo sobre isso. Era a primeira
vez que Jo via sua melhor amiga em seis meses, mas era irritante, agravado
pelo fato de Jo ainda estar preocupada com Emma, imaginando se ela
estava se recuperando bem.
Então, Jo havia furado o jantar com uma oferta para comprar o café da
manhã para Evelyn na manhã seguinte, desde que ela não fosse tão
desagradável. Evelyn sorriu e não prometeu nada.
Mas no café da manhã, Ev se comportou, como na maioria das vezes.
Elas conversaram sobre os GLAADs, como foi o painel e como estava indo
o trabalho de Evelyn.
Não foi até o café da manhã estar quase no fim que Evelyn disse:
— Então, quando vou conhecê-la?
Jo revirou os olhos.
— Ela estará no carro vindo me buscar em alguns minutos, se você
quiser sair e dizer oi.
Evelyn sorriu tanto que Jo voltou atrás.
— Não, não, eu estava brincando — ela sabia que Evelyn ainda estava
considerando a ideia, então ela mudou de tática. — Venha me visitar algum
dia. Você pode conhecê-la então.
— Eu realmente tenho que te visitar — disse Evelyn. — Já faz muito
tempo.
Evelyn estava em Nova York desde que se formou na faculdade de
direito. Quando seus pais atravessaram o país e se mudaram para mais
perto dela, ela parou de visitar a costa oeste com tanta frequência. Jo ficou
feliz por ter tantas notícias dela este ano, uma estranha vantagem em
relação aos rumores. Mesmo que Evelyn tenha principalmente a provocado,
Jo não se importava, feliz em ouvir a voz de sua melhor amiga.
O café da manhã terminou com Evelyn prometendo visitá-la até o Dia
de Ação de Graças, no mais tardar. Jo ficou surpresa que ela não a seguiu
até o carro para encontrar Emma.
— Teve um bom café da manhã, chefe? — Emma perguntou quando Jo
se sentou ao lado dela no banco de trás.
— Tive — disse Jo.
Ela passou o caminho para o aeroporto olhando pela janela, relaxada.
Com as reuniões para trás, era oficialmente a época menos estressante do
ano. Seu documento não-finalizado de Agent Silver apareceu, lembrando-a
de que ainda havia uma grande fonte de estresse, mas ela o deixou de lado
por enquanto.

O PRIMEIRO JOGO DE BEISEBOL DO SOBRINHO DE JO foi
na semana seguinte. Ela chegou
cedo e subiu ao canto superior da arquibancada. Seus óculos escuros
encostaram no boné de beisebol, escondendo o máximo de seu rosto
possível.
Ela não era reconhecida com tanta frequência, mas hoje era um dia que
ela absolutamente não queria ser. Não era algo que normalmente a
incomodava, mas os dias da família estavam fora dos limites, em sua mente.
Ela costumava não ser capaz de sair para jantar sem dar autógrafos e
posando para fotos. Quando Jo tinha 13 anos, ela foi escolhida como
Amanda Johnson, a filha chinesa adotada por uma família branca típica dos
subúrbios. The Johnson Dynasty durou sete temporadas. Jo apareceu em
salas de estar em todo o país. Ela era um nome familiar – mundialmente
famoso, até.
Todas as outras séries regulares eram brancas.
Jo nunca mencionou isso. Ninguém nunca mencionou isso. Jo nunca
soube se as pessoas estavam ignorando ou simplesmente não perceberam.
Ela não disse nada e escolheu os roteiros quando a série terminou. Sua
transição para os filmes correu bem; ela fez quatro filmes, todos sucessos
de bilheteria.
No aniversário de dez anos da estreia de The Johnson Dynasty, Jo
publicou uma coluna.
Ela escreveu sobre como era ser uma chinesa-americana em Hollywood.
Como foi ser alvo de piadas racistas em seu próprio programa de televisão.
Sobre anúncios de elenco pedindo apenas atrizes brancas.
Ela parou de receber roteiros.
Cinco anos depois, ela escreveu o seu próprio. A emissora publicou isso
como uma história da Cinderela, fez parecer que eles estavam fazendo uma
boa ação, dando a uma atriz em desgraça a chance de escrever. Jo ganhou
quatro Emmys seguidos.
Ela continuou escrevendo e produzindo desde então, então geralmente
não era reconhecida em público, ou pelo menos não se incomodava.
Mas é claro que hoje, no dia em que ela queria apenas sentar na
arquibancada e torcer pelo sobrinho, um grupo de pais subiu em sua
direção, e mesmo que ela estivesse olhando para o telefone e esperando que
não falassem, a esposa disse:
— Oh meu Deus, Amanda?
Jo se encolheu. Ser chamada pelo nome de um personagem era horrível.
Ela pensou que teria terminado agora que faz vinte anos. Ela tentou
esboçar um sorriso no rosto.
Quando ela se virou para olhar para a mulher, porém, ela a reconheceu.
Avery Kaplan, sorrindo.
— A irmã — disse Jo.
— A namorada falsa — disse Avery.
Jo revirou os olhos.
Avery largou a bolsa, não ao lado de Jo, mas mais perto do que Jo
gostaria.
— Quem você conhece aqui?— Ela perguntou, cotovelo gesticulando
em direção ao campo enquanto colocava a almofada da arquibancada.
— Ethan Cheung — disse Jo. — Sobrinho.
— Ah, o novo garoto da equipe — disse Avery. — Você consegue vir ao
jogo do seu sobrinho, mas Emma não tem permissão?
— Emma não pediu.
Jo teria deixado Emma sair mais cedo se ela tivesse, já que era verão.
Quando eles estavam filmando, entretanto, ela preferia que Emma estivesse
no trabalho, se ela não estivesse. Jo se cercou de pessoas em quem confiava,
porque era a única maneira de ela não dar tantas ordens. Ela poderia deixar
Chantal no comando ou deixar Emma relatar qualquer coisa que Jo
precisasse saber; era assim que Jo podia ficar longe do trabalho e não ficar
ansiosa. Sua empresa de produção, a Jones Dynasty – sim, ela jogou uma
indireta ao nomeá-la e isso a fazia rir toda vez – era seu bebê, tinha seu
nome em grandes letras em negrito. Ela precisava ter certeza de que sua
produção estava dentro dos padrões. Emma ajudou.
— Eu sou Dylan — disse o homem que Jo presumiu ser o marido de
Avery, oferecendo sua mão. — Temos Ezra e Dani ali.
Jo apertou sua mão.
— Jo.
Ele sorriu, mas não mencionou que já sabia quem ela era. Ela lhe deu
pontos por isso.
— Como está a padaria? — Jo perguntou, porque essa era uma das raras
situações em que conversa fiada pode ser preferível ao silêncio. Avery
provavelmente contaria todo esse encontro na partida para Emma, e Jo não
queria parecer uma escrota.
— Cheia — disse Avery.
— Você deveria contratar alguém — o marido cantarolou para ela.
— Se eu pudesse pagar um salário decente, eu pagaria — disse ela,
imitando o tom dele em rebate. Ela se virou para Jo. — Os negócios estão
indo bem, realmente. Como está sendo o hiato?
— Tranquilo — disse Jo — Agora que as reuniões publicitárias
acabaram.
— Ouvi dizer que você teve de lidar com um ataque asmático — disse
Avery.
Jo ficou rígida, congelada pela lembrança de Emma ofegante.
— Obrigada por mantê-la viva.
Jo soltou o próprio fôlego. Ela tentou sorrir.
— Sim, bem, uma funcionária morrendo em uma viagem de negócios
teria gerado várias críticas.
O estômago de Jo torceu ao brincar, mas Avery riu e deixou o assunto
pra lá.
— Quantos anos tem seu sobrinho? — ela disse.
— Apenas nove — disse Jo. Seu coração ainda estava acelerado ao
pensar no ataque asmático de Emma. Isso a abalou e, embora soubesse que
Emma estava bem, ficou aterrorizada com a ideia de que isso poderia
acontecer a qualquer momento. — Seu primeiro ano jogando de verdade. E
os seus meninos?
— Menino e uma menina, na verdade; Dani é Danielle — disse Avery.
— Eles têm dez anos.
— Oh, eu não percebi.
— O objetivo deles para a temporada é enganar as pessoas — disse
Avery.
— Dani é a única garota na liga — explicou Dylan. — Ela foi muito
criticada no ano passado, então este ano ela cortou o cabelo e Ezra deixou o
dele crescer em um rabo de cavalo.
— Crianças inteligentes — disse Jo. — Eles devem ter ganhado isso do
pai.
O irmão de Jo chegou então, exatamente quando Jo conversava com um
conjunto de pais e os fazia rir. Ele a olhou.
— O que temos aqui? — ele disse.
— Não é o que eu sempre faço: amigos? — Jo disse.
— Não normalmente?
Avery ofereceu sua mão.
— Avery Kaplan.
A ficha caiu nos olhos de Vincent.
— Ah. A irmã da namorada.
Avery imediatamente sorriu, encantada.
— Você tem alguma dica? — Vincent perguntou enquanto apertava a
mão dela. — Sobre como lidar com o fardo de ser o irmão mais legal?
Avery riu e Jo revirou os olhos.
Não era ruim, porém, ficar com Avery e Dylan, além de Vincent e sua
esposa, Sally. Thomas, sobrinho mais novo de Jo, disse oi e imediatamente
se juntou aos outros irmãos mais novos, brincando sob as arquibancadas.
Quando o jogo começou, os adultos não mantiveram a conversa fiada e,
quando falavam, Avery era esperta e espirituosa. Ela lembrava muito a
Evelyn, para Jo.
As crianças venceram, e Jo foi arrastada para tomar sorvete com a
equipe depois, porque Ethan perguntou com um sorriso grande demais
para ela dizer não. Avery riu enquanto caminhava ao lado de Jo em direção
ao estacionamento.
— Quem diria que Jo Jones era tão mole? — ela disse.
— Só pelos meus sobrinhos — disse Jo. — E se você contar a alguém,
terei que te matar.
Avery soltou uma risada, e Jo quase desejou que ela não fosse irmã de
Emma. Ela não se importaria de ter uma amiga, mas isso parecia
complicado aqui.


— BOM DIA, CHEFE — EMMA disse no dia seguinte, entregando café a Jo.
— Bom dia — disse Jo. — Obrigada.
Ela estava um pouco cautelosa, mas não parecia haver nada por trás do
sorriso de Emma. Talvez Avery ainda não tenha discutido a noite passada
com ela ainda. Nesse caso, Jo não mencionaria, não sabia exatamente o que
dizer. Eu assisti sua sobrinha e sobrinho jogando beisebol ontem à noite
parecia um pouco estranho. Invés disso, ela pegou o café e foi trabalhar.
Jo não teria admitido a ninguém, mas esperava que escrever o Agent
Silver fosse mais fácil. Ela estava acostumada a ser a Jo Jones da televisão –
uma potência que conseguiu o que queria porque já havia mostrado porque
veio. E embora todo o objetivo de diversificar e fazer Agent Silver fosse se
forçar a fazer algo com o qual não tinha experiência, parecia instável, não
ter reputação e histórico de trabalho em que confiar. O filme era algo novo.
Ação era algo novo. Não havia espaço para erros.
Então, ela trabalhou duro durante o início do hiato. Ela voltaria a
Innocents ao longo do verão, mas queria um bom primeiro rascunho de
Agent Silver antes disso. Isso significava que ela estava um pouco mais
ocupada que o normal. Ainda assim, ela fez um esforço para ir a todos os
jogos de Ethan.
Ela esperou Emma dizer algo sobre isso ou pedir folga de tarde, mas
Emma nunca o fez.
As coisas estavam boas com Emma, porém, e melhores sem ninguém por
perto. O ataque asmático na reunião publicitária havia aumentado os
rumores, mas eles diminuíram desde então. Jo não sentia mais que ela tinha
que analisar todas as interações que elas tinham. Ela deu a Emma “trabalho
de casa” de direção – livros para ler, filmes para assistir. Embora
provavelmente levasse algum tempo até que Emma tivesse a chance de
dirigir, nunca era cedo para aprender.
Um dia, Jo estava tendo problemas com uma cena em Agent Silver,
então ela chamou Emma para trabalhar em seu escritório. Emma, como
sempre, começou a trabalhar em silêncio, sem fazer perguntas. Foi quando
Jo suspirou pela quadragésima quinta vez que Emma limpou a garganta.
— Chefe? — ela disse.
Jo murmurou, mas não olhou para cima, a cabeça enterrada nas mãos.
— Tem algo que eu possa fazer para ajudar?
Jo se esticou e estalou o pescoço.
— Não consigo acertar essa cena.
— Deixe-me ler — disse Emma.
Jo olhou para ela. Poucas pessoas já leram um trabalho de Jo Jones em
andamento, e ninguém deveria ter visto esse em particular – o estúdio
mantinha tudo para o Agent Silver em segredo.
— Quer dizer... — Emma disse, encolhendo os ombros levemente — …
se você quiser. Eu poderia dar uma outra perspectiva.
Jo não deveria mostrar o roteiro a ninguém.
— Olha, não é como se eu fosse uma escritora ou algo assim — disse
Emma. — Se você não quer que eu leia, pelo menos vai dar um passeio ou
algo assim? Você precisa de uma pausa.
Jo pensou naquele dia em fevereiro, quando Emma jurou sempre lembrá-
la de que ela conseguia fazer isso.
— Não posso compartilhar o arquivo com ninguém... — disse Jo
—...mas você pode lê-lo no meu computador?
Emma sorriu.
— Pode ser.
Jo rolou para o início da cena em seu roteiro. Ela trouxe o laptop para
Emma no sofá e praticamente o deixou cair em seu colo. Ela sabia que
estava inclinando a mão em termos de nervosismo, mas não podia evitar.
— Eu preciso de um refil — disse ela, pegando o cantil e indo em
direção à porta.
— Eu posso pegar… — Emma começou.
— Não, você lê. Está tudo bem. Eu vou apenas...
Jo deu uma volta pelos corredores, fez outra por garantia, antes de ir
para a cozinha para mais bebida gelada. Foi por isso que ela não
compartilhava sua escrita antes de terminar – sua pele parecia ter insetos
rastejando por toda parte. Ela era uma boa escritora, sabia que era uma boa
escritora, obviamente, tinha Emmys para provar isso, mas ainda parecia
que ela tinha aberto seu peito e Emma estava cavando por dentro agora.
Quase quinze minutos depois, Jo finalmente voltou ao seu escritório.
Emma ainda estava no sofá, focada em seu próprio tablet, o computador de
Jo na mesa em frente a ela e não no colo. Ela olhou para cima quando Jo
entrou e deu um pequeno sorriso.
Ela odiou. Ela achou horrível. Isso era bom. Jo simplesmente se jogaria
do prédio mais próximo. Este, ela percebeu, era o mais próximo. Ela
deveria se virar e ir em direção aos elevadores.
— Chefe… — Emma disse gentilmente.
Jo fez tudo para não dizer que estava tudo bem, ela não precisava dizer
nada, elas podiam fingir que isso nunca tinha acontecido. Ela pegou o
laptop e levou para a mesa.
— Estou realmente empolgada por você estar escrevendo Agent Silver
— disse Emma.
Os olhos de Jo se voltaram para os de Emma. Não era o que ela
esperava.
— Você é uma escritora incrível — disse Emma. — Suas histórias são
ótimas.
— Mas? — Jo propôs.
— Mas essa não é a sua história.
Jo zombou. Emma estendeu as duas mãos em um gesto de “me deixe
explicar”.
— Escuta — disse ela. — Em muitos filmes do Silver – vários, na
verdade – as mulheres são personagens secundários mesmo quando são
personagens principais, entende o que eu quero dizer?
Jo inclinou a cabeça em concordância.
— Em muitos dos filmes, Silver é um idiota. Mas, tipo, um idiota que é
escrito por um cara que não acha que ele está escrevendo um personagem
idiota.
Normalmente isso geraria pelo menos uma risada, mas Jo ainda se sentia
como se estivesse sentada em uma cama de pregos. Qualquer movimento
errado e ela seria furada.
— Você não é uma idiota, e seu Silver também não precisa ser — disse
Emma. — Você não deve fazê-lo um idiota só porque outras pessoas têm
medo de que você o torne bom demais.
Foi um sentimento agradável, mas...
— Mudar o escritor não significa mudar o personagem — disse Jo. —
Especialmente quando o ator é o mesmo.
— Você é escritora, Jo — Emma riu, sem querer. — Use sua imaginação.
Você realmente não acha que Silver tem algo escondido no fundo?
Uma lâmpada acendeu na cabeça de Jo. Ela soltou o ar.
Hollywood decidia a reputação das pessoas por elas. Era o mesmo para
Jo e para o Agent Silver. Só porque as pessoas pensavam que sabiam tudo
sobre ela não significava que sabiam. Emma estava certa – é claro que
havia mais no personagem do que havia sido mostrado nos filmes
anteriores.
— Tudo bem — disse Jo. — Eu acho que posso fazer isso.
— Eu sei que você pode, chefe.
Emma sorriu para ela, e Jo não pôde deixar de sorrir. Ela selecionou três
páginas inteiras de texto. Pressionou excluir. Antes que ela pudesse ser
dominada pelo cursor piscando, os dedos de Jo voaram pelo teclado, uma
nova ideia se fundindo. Ela poderia ter beijado Emma por tornar isso tão
fácil para ela.
No dia seguinte, Emma bateu no batente da porta de Jo à tarde. Ela
segurava uma pilha de papéis.
— Eu preciso de mais espaço do que minha mesa oferece para espalhá-
los — disse Emma. — Posso trabalhar aqui?
— Claro.
No final da semana, almoçaram juntas no escritório dela. Jo nem sempre
estava comprometida em se alimentar; ela se envolvia demais em seu
trabalho e esquecia. Sem Emma, Jo poderia ter morrido de fome por agora.
Emma trouxe sushi, e Jo fez Emma se juntar a ela para comer. Quando elas
terminaram, Emma começou a trabalhar em seu tablet. Nenhuma delas
falou sobre o fato de que ela ficou trabalhando no sofá de Jo até as cinco.
Tornou-se um hábito. Jo convidava Emma para entrar ou Emma se
convidava para entrar ou nenhuma das duas dizia nada, Emma tinha
acabado de trazer seu trabalho para o escritório de Jo. Era fácil e distraía
menos do que deveria. Ambas terminavam seus trabalhos, e Emma se
certificava de que Jo nunca faltasse o almoço. Jo se pegou olhando
ocasionalmente para Emma. Ela sempre ficou impressionada com o foco da
outra mulher, sua ética de trabalho. Era raro que Emma notasse os olhos
de Jo nela, mas quando percebia, ela dava aquele sorriso suave. Então ela
levantava as sobrancelhas e fazia Jo voltar ao trabalho.
Mesmo enquanto elas trabalhavam tão de perto, Jo não fazia muita
supervisão. Emma sabia o que estava fazendo, e Jo confiava nela. Estava
vagamente consciente do que Emma estava trabalhando no dia a dia –
planejando as coisas para quando o elenco e a equipe retornassem,
iniciando a busca por sua substituta, aprendendo mais sobre direção – mas
Emma era independente. Então, quando Jo ouviu um bufo descontente do
sofá um dia, ela não sabia do que se tratava.
— Problemas, Srta. Kaplan? — ela perguntou, sem desviar o olhar de
onde estava editando o script de Agent Silver.
— Isso não tem metade das coisas que eu faço!
Jo apertou o botão de salvar, e depois olhou para Emma.
Normalmente, os pés de Emma estavam enfiados debaixo dela, ou às
vezes na outra extremidade do sofá, as pernas esticadas. Ela quase nunca se
sentava no sofá de maneira normal. Hoje, porém, seus dois pés estavam no
chão, os cotovelos nos joelhos, as sobrancelhas franzidas para a tábua
apoiada na mesa à sua frente. Jo assistiu até Emma parar de encarar o que
quer que estivesse em sua tela e fez contato visual.
— Eu recebi a descrição do emprego para o meu cargo no RH — disse
Emma. — Imaginei que iria ajustá-lo um pouco e depois publicá-lo para
encontrar a minha substituta. Mas aqui falta uma tonelada de coisas que eu
faço.
Jo riu.
— Por que você acha que está sendo promovida?
Emma voltou a olhar de soslaio para o tablet.
— Isso faz parecer que sou apenas uma secretária — Emma, sendo
Emma, rapidamente corrigiu-se: — Não que haja algo errado em ser
secretária, mas eu faço mais do que isso.
Jo estava bem ciente disso.
— Claro que faz — disse ela. — Você poderia ter o título de produtora
associada desde o primeiro dia com a quantidade de trabalho que assumiu.
A ética de trabalho de Emma foi o motivo pelo qual Jo a roubou de Aly
do departamento de adereços no final da temporada anterior.
— Você está contratando minha próxima assistente — disse Jo. — Não
minha próxima Emma.
— Ah.
A voz de Emma era baixa, sustentada com admiração. Talvez ela não
tivesse percebido o quanto ela era valiosa.
Honestamente, era algo com que Jo estava se preocupando. Como se a
mudança de Innocents para o Agent Silver em tempo integral não fosse
estressante o suficiente, Jo faria isso sem Emma. Ela teria uma assistente, é
claro, mas não uma que já sabia como ela funcionava, sabia quando a
interromper com comida, não tinha medo de ser insolente com ela quando
fosse arrogante. Não havia mais ninguém em quem confiasse para ler cenas
de seus roteiros, como Emma ocasionalmente fazia, desde o primeiro dia
que ela ofereceu.
Emma era a líder de torcida de Jo, mas ela nunca teve medo de dar um
chute nas partes de baixo dela se ela precisasse. Ela fazia Jo melhor.
— A descrição do trabalho provavelmente só precisa ser editada em
relação ao Agent Silver em vez de Innocents — disse Jo. — Fora isso,
tenho certeza de que está tudo bem.
A sobrancelha de Emma não havia parado de franzir-se.
— Tem algum outro problema?
— Não — disse Emma. Ela respirou fundo. — Acho que é só estranho...
contratar minha substituta.
Jo não tinha dúvida de que Emma contrataria uma nova assistente
capaz. Mas ela não seria capaz de se substituir.
— Quer fazer uma pausa para olhar para a nova introdução? — Jo
perguntou.
Emma tirou a preocupação do rosto. Ela deixou o tablet de lado e
alcançou o computador de Jo, abrindo e fechando as mãos.
— Me dá.
Jo entregou o laptop. Ela ainda tinha que sair da sala quando Emma lia
sua escrita. Ela ficou mais confortável com ela, mas ela não estava tão
confortável.
Ela deu uma volta, encheu novamente o refil com a bebida gelada da
geladeira na sala de descanso e depois voltou para o escritório.
Emma sorriu para ela.
— Eu acho que você conseguiu desta vez.
O queixo de Jo caiu.
— Você acha?
— Eu acho.
Se Jo não fosse mais de 15 cm mais baixa que Emma, ela a puxaria do
sofá, a levantaria e a giraria em um abraço. Esta foi a quarta vez tentando
escrever a cena de abertura. Emma descartou completamente a primeira –
e por bons motivos. A segunda não se saiu tão mal, mas Emma apontou
todas as suas fraquezas também. A terceira revisão ganhou um sorriso,
pelo menos. A quarta, aparentemente, foi um acerto em cheio.
— Temos que comemorar de alguma forma — disse Jo. — Champanhe
no trabalho é desaprovado, certo? Talvez devêssemos pedir um bolo.
Emma de repente sentou-se ereta, travessura por trás do sorriso.
— Ou… — ela arrastou a palavra —...poderíamos fazer um passeio?
— Um passeio? — Jo levantou as sobrancelhas. Elas voltaram à escola?
— Para a Floured Up?
Os lábios de Emma se esticaram, acenou com a cabeça e fez o que só
poderia ser descrito como olhos de cachorrinho. Jo sabia que estava sendo
manipulada. E disse sim do mesmo jeito.


— AÍ ESTÁ. — EMMA anunciou, sorrindo enquanto se aproximavam da padaria.
Havia uma bandeira de arco-íris pendurada em frente a uma loja de
tijolos de dois andares. Ela era adequada a West Hollywood. Chloe as
deixou no meio-fio e Emma saiu desajeitadamente do carro. Marchou para
a porta e a abriu agitadamente, um sino tocando de dentro da loja. Jo
agradeceu a Emma por segurar a porta para ela.
O interior era tão brilhante quanto a bandeira do lado de fora, paredes
amarelas com grossas divisas verde-limão em V, mesas e cadeiras de todas
as cores diferentes. Não havia ninguém no caixa. Emma marchou direto
para a seção exclusiva para funcionários, atrás de uma vitrine cheia de
doces e pães em cestas na parede do outro lado.
— Oi, bem-vinda a... ah, é você — Avery apareceu dos fundos da loja. —
Esta é a primeira vez, desde o início do dia, que tenho um minuto para
realmente fazer coisas do trabalho e não lidar com os clientes. Por que você
está me enchendo o saco no trabalho? Por que você não está no trabalho?
— Apesar da irritação em sua voz, ela abraçou Emma com força. Então ela
viu Jo — Ah. São vocês duas.
— Olá — disse Jo.
— Avery, Jo. Jo, Avery — disse Emma. — Eu sei que vocês se
conheceram na festa de encerramento, mas sempre é melhor reapresentar
as pessoas do que o contrário.
Certo.
Isso respondeu a aquela pergunta, então. Aparentemente, Avery nunca
disse nada a Emma sobre beisebol. Jo se mexeu, colocando o peso do corpo
sob um dos pés.
— Prazer em… é...bom te ver de novo — disse Avery.
— Igualmente.
Emma abriu a parte de trás da vitrine, estendeu a mão e pegou um
biscoito para si. Ela fechou os olhos e fez um som de satisfação em sua
primeira mordida.
— Você é a melhor padeira do mundo.
Avery corou com o comentário hiperbólico.
— Tanto faz — disse ela. — Eu vou voltar para a cozinha. Pare de ser
gulosa e dê para sua chefe o que ela quiser.
Ela desapareceu para onde Jo supôs ser a cozinha. Quando olhou de
volta para Emma, sua assistente sorriu para ela. Não pôde deixar de sorrir
de volta.
Emma levantou o biscoito que ela escolheu.
— Este é o melhor biscoito amanteigado que você vai comer na vida —
apontou para a vitrine. — Mas você pode ver a grande variedade de opções
para escolher.
Havia biscoitos de vários tipos, cupcakes, macarons de coco, massas
doces – alguns dos quais Jo reconheceu, outros não. Jo apontou para um
pedaço de pão fatiado, enrolado de maneira complicada e com algo escuro
dentro dele.
— Este parece ser bom. O que é isso?
— Babka de chocolate! — Emma cantou. — Uma especialidade da
Floured Up e uma excelente escolha.
Ela usou uma folha de papel encerado para pegar uma fatia para Jo e o
apresentou a ela em um prato vermelho brilhante com um garfo.
— Venha — disse Emma. Se inclinou para a vitrine mais uma vez para
pegar um segundo biscoito, o primeiro ainda comido pela metade na mão.
— Vamos incomodar a padeira.
Jo a seguiu para a parte de trás. A cozinha era menor do que Jo esperava,
mas era bonita. Organizada, limpa. Avery estava medindo farinha em uma
balança elétrica, uma batedeira KitchenAid de tamanho comercial batendo
no balcão ao lado dela.
— O que vocês duas estão fazendo aqui? — Avery perguntou. — Você
não tem seu próprio trabalho para fazer?
— Isso não é jeito de cumprimentar as convidadas — disse Emma. Ela
mordeu um pedaço do biscoito e falou enquanto mastigava. — Estamos
aqui porque estamos comemorando o fato de Jo conseguir escrever a
abertura de Agent Silver.
— Ah é? — Avery olhou por cima do ombro para Jo. — Parabéns.
— Obrigada — disse Jo.
Ela colocou o prato de babka na mesa de aço inoxidável no meio da
cozinha. Ela mal reprimiu um gemido de prazer em sua primeira mordida.
— Isso é delicioso — disse ela. — Meus cumprimentos à chef.
Avery derramou um pouco da farinha na batedeira.
— Obrigada — disse ela, sorrindo para Jo.
Emma pulou para se sentar na mesa, a alguns metros do prato de Jo.
— Sabe... — disse Avery — Para uma garota que sempre gostou de
seguir as regras da escola, você está sentada na minha mesa. Se a vigilância
sanitária chegasse aqui, eles fechariam a loja.
— Ah, cale a boca, eles não fariam isso — Emma revirou os olhos. —
Além disso, eu sairia daqui. Sou muito rápida.
Jo apertou os lábios para não rir.
Elas continuaram a se zoar enquanto Avery combinava ingredientes. Jo
quase se juntou à conversa para perguntar sobre os gêmeos, antes de se
preocupar que aquilo fosse intrusivo. As irmãs eram um estudo de
contrastes: Avery era baixinha, fofa e focada, enquanto Emma era toda
pernas longas e tranquilidade. Os cabelos de Emma caíam em todos os
lugares, enquanto o cabelo curto de Avery estava escondido sob uma
bandana. Emma parecia solta, seu sorriso era sem esforço. Estava sendo
legal, desde que Jo não pensasse em como ela e Avery estavam mentindo
para Emma. Por omissão, pelo menos.
A campainha acima da porta tocou do outro quarto. Emma desceu da
mesa.
— Está vendo? Se é a vigilância sanitária, vai dar tudo certo.
Avery a atingiu com a toalha de cozinha que tinha por cima do ombro.
— Por favor, não mencione a vigilância sanitária onde os clientes podem
ouvir.
— Não prometo nada.
A risada de Avery continuou quando ela saiu da cozinha. Jo e Emma
ficaram paradas. Jo terminou sua babka. Emma subiu de volta à mesa e
comeu seu segundo biscoito. Ela balançou os pés para frente e para trás
embaixo dela.
Quando Avery voltou, Emma a chutou. Avery desviou e lançou um olhar
falso à irmã.
— Por que você está aqui de novo? — ela disse.
— Estamos dando uma passadinha! — Emma sorriu. — Devíamos fazer
isso com mais frequência. Eu posso comer biscoitos e saio com duas das
minhas pessoas favoritas.
Jo percebeu as sobrancelhas levantadas de Avery, e os olhos de Emma
passaram de Avery para ela.
— Quero dizer, tanto faz — disse Emma. — Não é estranho. Você sabe
que eu amo trabalhar para você.
Jo não admitiu, mas ela também estava com duas de suas pessoas
favoritas.


NUMA TARDE DA SEMANA SEGUINTE,Emma estava trabalhando no escritório de Jo
quando estava na hora de Jo sair para o jogo de Ethan. Jo já havia
arrumado tudo antes que Emma percebesse que ela tinha parado de
trabalhar.
— Oh — disse Emma. — Eu posso...
— Tranque quando terminar — disse Jo. Ela parou para pensar. — Você
pode sair mais cedo, se quiser.
Emma sorriu gentilmente.
— Obrigada, chefe. Tenha uma boa noite.
— Você também, Emma.
Talvez fosse o dia em que Emma iria ao jogo.
Jo estava sentada ao lado de Avery durante toda a temporada. Avery
contou histórias para Jo sobre clientes desagradáveis na padaria, e Jo
contou histórias de homens de terno desagradáveis na emissora, e
nenhuma delas mencionou Emma novamente, depois daquele primeiro
jogo.
Hoje, Dylan chegou sem Avery. Ele deu um meio revirar de olhos para
Jo e disse:
— Crise na padaria.
Avery apareceu no terceiro tempo, a farinha espalhada em seus cabelos.
Ela e Dylan passaram boa parte do jogo discutindo. Jo tentou não prestar
atenção, mas eles estavam muito perto para não ouvir Dylan insistindo que
ela contratasse mais pessoal e Avery alegando que ainda não tinha dinheiro
para pagar o suficiente.
Uma ideia se formou na mente de Jo.
Emma não apareceu e Jo ficou feliz. Havia tensão suficiente entre Avery
e Dylan; não era necessário piorar a situação com o que fosse acontecer se
Emma chegasse. Após o jogo, Jo foi atrás de Avery enquanto Dylan estava
distraído com as crianças.
— Se eu passar pela padaria de manhã, você terá tempo para conversar?
Avery parecia cética.
— Por quê?
— Acho que posso ter uma proposta para você — disse Jo.
— Do que você está falando?
— Vou te contar de manhã se você tiver tempo para mim.
Avery revirou os olhos.
— Tudo bem — disse ela. — Mas você provavelmente vai ter de me
dizer enquanto eu faço babka.


JO ERA RIDICULAMENTE ENDINHEIRADA. Ela
era absurdamente rica. Não havia uma
maneira educada de dizer isso. Seu primeiro salário, quando tinha treze
anos, foi em parte para um contador. Seus pais queriam ensiná-la a ser
responsável, não a gastar demais. O dinheiro de Jo ganhava dinheiro
sozinho. Ela tinha mais do que jamais poderia usar.
Então ela doava.
Claro que ela comprava coisas para si mesma. Ela provavelmente tinha
muitas propriedades e definitivamente tinha muitos sapatos. Mas a maior
parte de seu dinheiro ia para outro lugar, sempre para causas pelas quais
ela se importava. Ela não gostava de ostentar isso, não fazia isso em grande
escala. Ou, bem, não grande para ela. Ela gostava de espalhá-lo. Em vez de
milhões de dólares para ter seu nome em uma ala hospitalar, ela pagou
empréstimos estudantis ou comprava dívidas médicas e imediatamente as
debitava. Ela encontrou arrecadadores de fundos que pretendiam ganhar
dez mil dólares e, em vez disso, lhes dava vinte e cinco mil. Ela comprou
todas as caixas de biscoito que via de escoteiras. A equipe a amava mais
nessa época, ela tinha certeza, que haviam biscoitos em todas as superfícies
planas do estúdio.
Os restaurantes não eram novidade para ela. Ela colocou jovens na
faculdade de gastronomia e comprou um food truck para um cara que até
hoje estava disposto a trazê-lo para onde ela quisesse e servir as pessoas de
graça. Floured Up parecia um investimento perfeito.
Jo percorreu a lista de contatos dela naquela noite, com vontade de
escolher Emma, não Evelyn.
Ela mordeu o lábio inferior. Ela não tinha que dizer a Emma porque ela
estaria atrasada amanhã. Ela fazia muitas coisas, negócios e, em outras
situações, Emma não sabia. Só porque isso envolvia sua irmã não
significava que fosse diferente. Avery nem tinha dito a ela.
Jo sabia que esse raciocínio era inconsistente, mas era tudo o que ela
tinha.

Vou me atrasar de manhã, não precisa correr para chegar

Emma respondeu quase imediatamente, como costumava fazer.

Tudo bem, chefe

Ela incluiu um emoji sorridente, porque Emma sempre sorria para Jo,
mesmo quando Jo estava mentindo para ela.
Jo se perguntou se Emma percebia que ela só a chamava de chefe quando
ninguém mais estava por perto para notar.


A CAMPAINHA SOBRE A PORTA tocouquando Jo entrou na Floured Up. Ao
contrário da última visita, a padaria estava cheia de pessoas, as mesas todas
tomadas e uma fila de quatro pessoas no balcão. Jo tomou um gole do café
em sua caneca de viagem e se perguntou se seria rude furar a fila até a
frente. Havia dois trabalhadores esperando por clientes, e nenhum deles era
Avery. Jo decidiu esperar.
— Bom dia, o que posso fazer por você? — O jovem atrás do balcão
estava alegre demais, dado que era antes das oito da manhã. Seus olhos se
arregalaram quando ele a olhou completamente, e ela lhe ofereceu um
sorriso no estilo “ainda-não-estou-com-cafeína-o-suficiente”.
— Acredito que sua chefe está me esperando — disse ela. — Você
poderia verificar com ela?
— Sim, claro, imediatamente.
Ele desapareceu nos fundos, e Jo saiu da fila para deixar a próxima
pessoa ir. Quando o trabalhador voltou, ele acenou para ela também,
sorrindo muito. Jo estava feliz que ele não estava pedindo por um
autógrafo.
— Obrigada, Scott — disse Avery.
Fiel à sua palavra da noite passada, ela estava ocupada estendendo a
massa. Ela não parou quando cumprimentou Jo.
— Então, qual é a sua proposta para mim? — Avery disse.
Ela pegou uma tigela de uma mistura de chocolate e começou a espalhá-
la na massa estendida na frente dela. Jo sabia exatamente o quão delicioso o
pão acabaria se tornando.
— Você precisa contratar outro ajudante — disse ela — Mas não pode
pagar o que você deseja.
— Estou ciente do problema que tenho no meu comércio, Jo — disse
Avery.
— Se eu pagasse o salário deles, você não teria um problema — disse Jo.
Avery parou o que estava fazendo.
— O quê?
— Eu poderia pagar o salário de outro trabalhador, ou até de alguns
trabalhadores.
Avery olhou fixamente para ela.
— É simples — disse Jo. — Pago um salário ou dois – o que? Cinquenta
mil cada? Até chegar ao ponto em que você poder cobri-los.
Avery cuspiu.
— Cinquenta mil? Você está apenas me oferecendo cem mil dólares por
ano? Em troca de quê?
— Para você contratar mais dois trabalhadores e ficar menos estressada.
— Em troca de quê para você?
Jo encolheu os ombros. Não era assim que ela esperava que a conversa
continuasse. As pessoas tendiam a ser incrédulas, mas empolgadas em
ganhar dinheiro, não hostis.
— Não estou interessada em caridade — disse Avery.
Jo revirou os olhos.
— É investimento, não caridade.
— Investimento geralmente significa que você recebe algo em troca.
— Eu recebo — disse Jo. — É mais fácil para eu contratá-la para fazer
seus serviços de bufê, o que significa que meu elenco e equipe me amam
mais.
Avery a olhou com determinação.
— Meu Deus, você realmente não tem ideia de como o dinheiro
funciona, não é?
Jo revirou os olhos novamente.
— Eu tenho muito...
— É por isso que você não...
Jo levantou a mão e Avery parou de falar.
— Eu tenho muito, mais do que preciso. E sei que posso usá-lo para
melhorar a vida da minha amiga. Portanto, tenho quase certeza de que sei
exatamente como o dinheiro funciona.
As sobrancelhas de Avery se ergueram. Talvez Jo não devesse ter
admitido pensar nela como uma amiga.
Avery voltou ao seu trabalho. Ela terminou de espalhar o recheio e
começou a enrolar a massa na frente dela.
— Um empregado — disse ela. — E você não precisa cobrir todo o
salário, apenas a diferença entre o que eu posso pagar e o que eu gostaria
de pagar.
— Você pode ver os detalhes com meu contador — disse Jo.
— Eu estava certa naquele primeiro jogo — disse Avery. — Você é
totalmente mole.
Jo soltou uma risada.
— Olha, eu não gosto de tantas pessoas, mas sua família parece ser a
exceção. Então cale a boca e pegue meu dinheiro.
Avery sorriu para ela.
— Você basicamente me ofereceu cem mil dólares por ano, só porque
você é legal.
— Eu não sou assim e não vou tolerar essa calúnia.
Avery riu na hora e Jo sorriu. Ela não pensou em como isso a ajudava, a
atitude fria. Que as pessoas tentam te machucar menos se não achassem
que você tinha sentimentos. Que a única maneira de fazer alguma coisa
como mulher em Hollywood era fazer todo mundo supor que você não se
importava. E mesmo com essa reputação, as pessoas ainda pensavam que
ela era fofa demais para escrever Agent Silver.
— Vou deixar você trabalhar — disse Jo. — Meu contador ligará mais
tarde para marcar um horário em que você possa sentar e entender as
coisas enquanto não estiver fazendo comida simultaneamente.
8
EMMA

E mma adorava quando Avery se convidava para jantar, porque Avery se


convidando para jantar significava que Avery ou fazia ou comprava o
jantar, e limpava tudo também. Ela fazia isso quando precisava de um
tempo da sua família, ou tinha que ter uma conversa entre mulheres, ou
simplesmente não tinha visto sua irmã recentemente. Seja qual for o
motivo, Emma sempre foi feliz em obedecer.
Quando Avery disse que estava vindo com lasanha caseira para colocar
no forno, Emma não pensou em nada. Era um pouco incomum que Avery
aparecesse na sexta à noite, mas nada parecia suspeito. Emma girou em um
dos bancos da cozinha e contou à irmã sobre o dia dela.
— Jo diz que eu deveria considerar ser uma editora de roteiros — disse
Emma, revirando os olhos. — Mas na verdade nem escrevo nada, sou
apenas boa em ajudá-la a descobrir o que ela precisa fazer.
— Legal — disse Avery. A voz dela estava sem emoção.
Emma parou de girar em seu banquinho.
— O que?
— Nada — disse Avery. — O quê?
— Por que você está estranha?
— Eu não estou estranha! — Avery parecia em pânico demais para
alguém que supostamente não estava estranha.
Emma estreitou os olhos.
— O que está acontecendo?
Avery suspirou profundamente. Ela se apoiou nos cotovelos na bancada
da cozinha em frente ao banco de Emma.
— Eu não sei como explicar isso para você — disse ela.
— Ok, você sabe que terá que explicar imediatamente agora, porque,
caso contrário, eu vou surtar sobre todas as coisas ruins que podem ser —
disse Emma. — Você tem câncer? Dani e Ezra leram Harry Potter e
decidiram que Lufa-Lufa era uma casa ruim? Os cachorros estão bem?
— Vou fingir que não estou ofendida por você ter me feito parecer que o
câncer é o menos pior dessas situações — disse Avery. — Mas não. Nada
disso. É… o que é, é que...
q , q
O peito de Emma se apertou de preocupação.
— Ave.
— O sobrinho de Jo está no time de beisebol de Ezra e Dani.
Emma piscou. Isso não parecia tão ruim.
— Ok…?
Ela agitou as mãos um pouco como se Emma não estivesse entendendo.
Emma fez o mesmo.
— O sobrinho de Jo está no time de beisebol de Ezra e Dani e eu estive
sentada ao lado dela em todos os jogos.
— Espera, o que?
Avery parou de apoiar-se nos cotovelos e passou para uma posição mais
vertical, apoiando-se nas mãos.
— Eu não te contei porque estava tentando fazer com que você viesse a
um jogo — disse ela. — Eu pensei que seria engraçado ver sua cara
quando você visse Jo. Eu sei que deixei isso continuar por muito tempo.
Emma apontou os dedos dos pés em direção ao chão, depois os trocou e
os flexionou em direção ao teto. Não ajudou a sensação de contorção em
seu corpo.
— Ok…? — ela disse. — Então vocês são… amigas?
— Não... — disse Avery, imediatamente corrigindo-a. — Bem, talvez.
Mais ou menos. Ela também… sabe quando a Molly disse que estava
doente na segunda-feira e foi um desastre? — Ela continuou sem esperar
que Emma respondesse. — Eu estava atrasada para o jogo e acho que Jo
perguntou a Dylan o porquê e ele disse emergência na padaria e... eu não
sei. Tenho certeza que ela nos ouviu discutindo sobre tudo isso. Então ela
veio ao Floured Up de manhã e me fez uma oferta.
Jo chegou atrasada na terça-feira. Ela não havia explicado o porquê.
— Uma oferta? — Emma perguntou.
— Ela queria cobrir o salário de um empregado ou dois — disse Avery.
— Para ajudar. Nós resolvemos isso, então ela está apenas cobrindo a
diferença entre o que eu posso pagar a um novo confeiteiro e o que eu
deveria estar pagando a eles.
Avery estava observando Emma, como se ela pensasse que Emma iria
fugir. Emma apontou os dedos novamente, dando de ombros para a irmã.
— Ok.
Avery franziu as sobrancelhas.
— Ok?
— É.
— Só ok?
— Eu não sei, Avery, o que mais você quer que eu diga?
— Eu não sei. Como você se sente sobre isso? Está tudo bem? Você me
perdoa por não lhe contar?
— Quero dizer, é claro que está tudo bem você ser amiga da Jo — disse
Emma. — Ou parceiras de negócios ou o que for. Não sei por que não seria
bom. Não é da minha conta.
— Emma.
Emma não disse nada.
— É claro que é da sua conta — disse Avery. — Eu sou sua irmã e você
é.. ela é sua… — Emma não gostou da maneira como Avery fez uma pausa.
— Ela é sua chefe. É estranho. Quero dizer, me sinto estranha com isso.
— Sobre qual parte? Ser amiga dela sem nunca me dizer, ou ela
apoiando o seu negócio? — Saiu mais duro do que Emma pretendia.
— Tudo isso — disse Avery. — Me desculpa por não ter te contado
antes.
— Está tudo bem — Emma disse com desdém.
Estava mesmo. Avery não precisava contar tudo a ela. E se ela tivesse
ido a um jogo, ela teria descoberto. Talvez Avery estivesse certa e teria
sido engraçado. Foi bom que Jo estivesse ajudando com a padaria. Avery
era bem sucedida o suficiente para precisar contratar outra pessoa, e a
ajuda de Jo permitiu que isso acontecesse. Era melhor do que ela
imaginava.
Exceto que Emma também sentia inexplicavelmente que iria chorar.
— Em.
— Sério, Avery — Emma riu. Saiu falso. — Estou realmente empolgada
por você estar contratando uma nova pessoa. Estou tão feliz que a padaria
esteja indo tão bem assim.
O sorriso de Avery apareceu devagar, mas foi sincero.
— Sim. É ótimo, na verdade.
Emma pulou do banquinho e deu a volta na bancada para abraçar a irmã
por trás. Avery deixou, por um momento, antes de se virar nos braços de
Emma para apertá-la de volta. Emma se afundou nela.
— Desculpe não ter contado antes — murmurou Avery. — Pensei em
convencê-la a participar de um jogo e seria uma surpresa engraçada, mas
ficou fora de controle. Eu não queria machucá-la e não farei isso de novo.
Emma nunca foi boa em guardar rancor contra a irmã.
— Obrigada — disse ela.
— Tenho certeza que saiu do controle para Jo também — disse Avery.
— Ela provavelmente não sabia como lhe contar.
Emma não acreditou tão facilmente naquilo. Ela fechou os olhos e fingiu
que lágrimas não estavam brotando neles. Respirou fundo, depois se
afastou do abraço de Avery.
— Sabe, eu estou realmente cansada — ela ignorou a decepção no rosto
de Avery. — Acho que vou comer, tomar banho e pular na cama. Não acho
que serei uma companhia muito boa.
— Emma — Avery disse calmamente. Quando Emma não respondeu,
Avery assentiu. — Ok. Tá. Vou deixar tudo pronto para você, ok? Eu posso
comer com Dylan e os gêmeos. Não se esqueça de colocar as sobras na
geladeira antes de dormir. Então você pode se alimentar por alguns dias.
— Ótimo — disse Emma. — Obrigada.
Avery não a pressionou. Ela a abraçou mais uma vez e depois ficou na
ponta dos pés para dar um beijo na testa de Emma.
— Te amo.
— Também te amo — disse Emma.
Ela caiu no sofá assim que a porta se fechou atrás de Avery. Olhou
fixamente para o teto.
Não era justo.
Emma estava feliz que a padaria de sua irmã estava indo bem. Claro que
estava. Ela amava Avery, queria que ela fosse bem-sucedida em tudo o que
fazia. E Avery era bem-sucedida em tudo o que fazia. Desde o colegial, ou
realmente a vida toda, ela sempre foi bem-sucedida. Não que Emma não
fosse – ela ganhou uma menção honrosa válida em todo o país, e era a
técnica de luz da peça do colégio todo ano. Ela fez bem. Mas Avery sempre
foi a melhor.
Emma a adorava naquela época. Ainda o fazia. Racionalmente, ela sabia
que era um caso de veneração à sua irmã, mas isso nunca a deteve. Avery
sempre foi ótima, e Emma sempre quis ser como ela. Quando eram mais
jovens, Avery sabia o que queria fazer e Emma também. Mas Avery
avançou treinando como chef de pastelaria, enquanto Emma abandonou a
faculdade de cinema. Seus caminhos divergiram.
Emma estava de volta aos trilhos, no entanto. Ela estava finalmente
descobrindo quem ela queria ser, dando passos em direção a uma carreira
que ela ansiava. Jo fazia parte disso. Jo estava a ajudando.
Não era que Emma não queria que Jo ajudasse Avery. Mas não parecia
justo. Emma finalmente encontrou algo para si mesma – não que Jo fosse
uma coisa, mas...
Emma não queria compartilhá-la.
Ela não achava que Avery deveria pegá-la para si. Avery não precisava
de ajuda para realizar seus sonhos, precisava? Ela já tinha a padaria. Ela já
estava vivendo o sonho. Emma estava apenas descobrindo o dela. Ela
queria ter seu próprio espaço pela primeira vez, não seguir os passos de
Avery ou sua sombra.
Jo não era de Emma para que ela pudesse compartilhar, no entanto.
Claramente. Ela mentiu para ela. Emma não era importante o suficiente
para Jo para que ela contasse qualquer coisa a Emma. Jo saiu do trabalho
cedo em tantas tardes, vinha na manhã seguinte e nunca mencionava nada.
Emma pensou… ela pensou que elas estavam mais íntimas do que isso a
essa altura. Pensou que ela teria garantido algum tipo de reconhecimento.
Mas Jo era sua chefe, não sua amiga. Ela era amiga de Avery,
aparentemente, mas não de Emma. Emma gostava de ser assistente de Jo,
mas… parecia um trabalho que era importante, e se ela tivesse sido
racional a respeito, talvez ainda sentia como se fosse. Ela costumava amar a
maneira a qual conhecia todas as partes do programa, como se fosse uma
máquina com a qual pudesse mexer. Agora ela se sentia como uma
engrenagem naquela máquina. Necessária, mas substituível. Jo havia dito
que estava contratando uma nova assistente, não uma nova Emma, mas
claramente Emma era apenas uma engrenagem um pouco mais complexa.
Isso não importava. Daqui a seis meses, Jo se mudaria para o Agent
Silver e Emma seria uma produtora associada. Não importava se elas não
eram amigas.
Quando a lasanha ficou pronta, Emma a pegou no forno e a deixou no
balcão. Ela tomou banho, a água fria o suficiente para deixar arrepios em
seu rastro. Então ela colocou o prato inteiro de lasanha na geladeira e foi
dormir às oito da noite.


EMMA NÃO IA AO templo regularmente. Ela ia – quando tinha tempo, quando
pensava sobre isso, quando precisava se cercar da comunidade. Ela foi no
sábado de manhã.
Emma gostava dos cultos, gostava da tradição. Ela gostava de se perder
na recitação e na música. Gostava de sentar ao lado de Ruth, a quem ela
sentava em todos os cultos que comparecia. Ruth tinha cinquenta e poucos
anos com cachos castanhos selvagens e uma vibe de alguém que não se
importava. Ela sorriu largamente quando viu Emma naquela manhã.
Todo mundo no templo era tão legal, e era maravilhoso, realmente, mas
deixava Emma mais triste. Essas pessoas não eram estranhas, mas ela as
via uma vez por mês, no máximo. O fato de eles parecerem se importar
tanto com ela destacava o tão pouco que Jo se importava.
Não deveria importar. Jo sempre fora sua chefe. Isso não era diferente,
realmente. Só que essa foi a primeira vez que Jo fez Emma se sentir não
importante. Essa parte era nova. Emma odiava isso.
Ruth lançou um olhar para Emma quando ela pulou o kiddush, a
refeição após o culto, e saiu imediatamente. Emma acenou para ela. Ela
queria ficar sozinha, talvez quisesse se afundar na lama um pouco.


EMMA CONVERSAVA COM A mãe todo sábado. Às vezes elas conversavam também
durante a semana, mas a mãe dela ficava brava se ela não ligasse aos
sábados, mesmo se conversassem na sexta-feira.
Mas não queria falar com ela hoje, preferia ter uma palestra se não
ligasse do que uma discussão sobre a sua semana. Mas sua mãe ligou para
ela, e não podia deixar de atender.
Houveram as perguntas normais, e então:
— Querida — disse a mãe, e Emma já suspirou, sabendo o que estava
por vir. — Eu falei com sua irmã. Você está bem?
— Eu estou bem, mãe — disse Emma. — Eu disse a Avery que estou
bem. Não estou brava com ela.
— Eu sei, querida — disse a mãe. — Estamos apenas preocupadas com
você.
Emma revirou os olhos e caiu no sofá. Ela olhou para o teto, do jeito que
ela tinha feito depois que Avery saiu ontem à noite.
Ela não estava mais brava com Avery, de verdade. Avery pediu
desculpas. Elas estavam bem. Mas seu estômago ainda estava se retorcia
quando ela pensava em Jo. Repetidas vezes, ela dizia a si mesma: Jo era sua
chefe, não sua amiga. A chefe dela, não a amiga dela.
— Você acha que... — Sua mãe começou. — Você acha que talvez só
porque você não esteja mais brava com Avery não significa que você não
está mais brava no geral?
— Está tudo bem — disse Emma. — Não importa que elas sejam
amigas. Ou parceiras de negócios. Eu sinceramente não me importo.
A mãe dela estava quieta.
— Eu só acho que… — Emma bufou. — Estou surpresa, só isso. Que Jo
não se importou o suficiente para falar isso para mim? Estive lendo cenas
para o Agent Silver, sabia? Não conte a ninguém, porque eu não deveria, eu
acho. Mas eu estou. Então, acho que pensei que ela… nós... apenas estou
bastante envolvida nos negócios dela, normalmente. Mas, aparentemente,
não sou importante o suficiente para saber algo sobre ela patrocinando um
confeiteiro para Avery.
— Tenho certeza que não é isso — disse a mãe. — Ela provavelmente
só não sabia como te contar.
— Não sabia como me dizer “Ei, eu vi sua irmã” após o primeiro jogo?
Seria fácil assim. Se ela se importasse o suficiente para me dizer, seria fácil
assim.
Emma rolou, pressionou o rosto nas almofadas do sofá. Ela se sentiu
estúpida por fazer beicinho. Não deveria nem importar. Jo não precisava
contar nada a ela. E só porque ela estava ajudando Emma a descobrir sua
carreira não significava que não poderia patrocinar um confeiteiro para
Avery. Não havia motivo para Emma se sentir assim.
— Eu não acho que ela não se importe com você, querida — disse a mãe
de Emma, gentilmente. — Você me disse o quão preocupada ela estava
quando teve aquele ataque asmático em New York.
Emma deu de ombros, mesmo que sua mãe não pudesse vê-la.
— Querida — disse a mãe. — Eu não estou dizendo isso para te
provocar, e eu não quero que você fique brava.
— Isso é sempre um bom começo para uma frase. — Emma resmungou.
— Querida — sua mãe disse novamente, e Emma se sentiu um pouco
mal por ser grossa. — Você acha que talvez os rumores sobre vocês duas
estejam certos? Um, em específico, que talvez você não tenha percebido
antes?
Sua mãe estava perguntando se ela sentia algo por Jo, se gostava dela. A
reação instintiva de Emma era revirar os olhos e ignorar como fazia desde
os SAGs, mas hoje seu peito doía. Hoje ela estava deitada de bruços no
sofá, reclamando com a mãe que seu chefe não se importava com ela o
suficiente. Hoje ela piscou e seus olhos estavam molhados.
Quando ela finalmente respondeu, sua voz mal estava acima de um
sussurro.
— Talvez.


JO AGRADECEU EMMA PELO seu café na segunda de manhã como se nada estivesse
diferente. Nada estava para Jo, Emma supôs. Ela ainda estava mentindo
para a assistente como esteve na semana passada. Ou... não mentindo,
exatamente. Mas não dizendo a verdade. O verão inteiro delas trabalhando
tão bem juntas. Emma no escritório de Jo e ela pedindo ajuda com o roteiro
do Agent Silver. Mas não era importante o suficiente para saber que Jo se
tornado amiguinha de sua irmã.
Embora Emma tivesse dito à mãe que ela podia sentir algo por Jo, ela
não tinha certeza. Ainda era um sólido talvez. Talvez isso doesse tanto,
porque ela gostava de Jo e era óbvio agora que Jo não se sentia da mesma
maneira. Mas Emma não precisava gostar dela para que isso doesse. Isso
era péssimo, o jeito que Jo mentia para ela, do jeito que Jo a tratava como
uma engrenagem em uma máquina. Mesmo se ela não gostasse de Jo – e
ela talvez não goste! – isso seria ruim.
Parecia um término, mesmo que sentimentos românticos estivessem
envolvidos ou não. Emma pensava que ela e Jo tinham um certo tipo de
relacionamento. Pensava que elas eram amigas. Mas Jo estava apenas
ajudando Emma a avançar em sua carreira por causa dos negócios. Ela
precisava que Emma se desse bem porque Emma era sua assistente, e Jo
não podia ter uma reputação de assistentes que não iam a lugar algum.
Especialmente Emma, porque isso provaria o que todos pensavam: ela
estava lá apenas porque Jo estava transando com ela. Emma era
basicamente uma despesa comercial para Jo. Enquanto isso, apenas duas
semanas atrás, Emma havia chamado Jo de uma de suas pessoas favoritas.
Que humilhante.
Jo não pediu a Emma para trabalhar em seu escritório o dia todo. Emma
não sabia como ela teria respondido se Jo tivesse o feito. Às cinco, Jo sorriu
e disse-lhe para ter uma boa noite. Emma assentiu e saiu.
No dia seguinte, Jo chamou Emma em seu escritório uma hora depois de
Emma entregar o café de Jo. Emma presumiu que Jo queria que ela
trouxesse seu trabalho. Ela não esperava que Jo a examinasse.
— Você está bem? — Jo perguntou.
— Ãhn… — Emma disse. — Sim. Claro. Estou bem. Por quê?
Jo deu de ombros.
— Você está quieta. Eu pensei que talvez algo estivesse te incomodando.
Você está me incomodando, Emma pensou.
— Estou bem, Srta. Jones — ela disse, invés daquilo.
O sorriso de Jo parecia frágil. Emma disse a si mesma que não se
importava.


EMMA IA pedir a tarde de quarta-feira de folga para ver os gêmeos jogando.
Ela não sabia como diria isso, não sabia se admitiria a Jo que sabia ou se a
surpreenderia ao estar na partida. Mas ela acordou com chuva na quarta-
feira. O único dia em que choveu no sul da Califórnia.
Quando a chuva não tinha parado ao meio-dia, estava claro que o jogo
seria cancelado. Pelo menos Emma não precisava descobrir como conversar
com Jo sobre isso.
Ela estava tentando ser menos estranha com Jo, para não mostrar seus
sentimentos – frustração e mágoa e talvez, talvez uma quedinha ou o que
quer que fosse – de maneira tão óbvia. Jo tinha notado, perguntado a ela
sobre isso, e Emma não queria que ela a pressionasse. Não que Jo faria isso,
é claro. Ela provavelmente nem se importava tanto. Emma só teve que
aguentar até segunda-feira para o elenco e a equipe voltarem. Então ela
poderia se distrair com o trabalho e outras pessoas.
Jo convidou Emma para almoçar em seu escritório. Emma foi, mas assim
que terminou, começou a arrumar as malas para voltar para sua própria
mesa.
— Eu tenho uma surpresa para você — disse Jo.
Emma parou de enrolar a embalagem no sanduíche.
— O que?
Jo estava concentrada em seu próprio almoço, um sorriso malicioso no
rosto.
— Barry Davis está vindo pro set.
O queixo de Emma caiu.
— E você será a aprendiz dele.
Ela quase caiu do sofá.
Barry Davis era seu diretor favorito. O seu favorito absoluto. E ela
estava indo ser aprendiz dele? Um diretor indicado ao Oscar?
Jo estava olhando para Emma agora, aquele sorriso se transformou em
um feixe raro.
— Eu pedi alguns favores — disse Jo. — Ele poderia dirigir um
episódio, talvez, mas principalmente ele estará aqui para você. Para que
você aprenda. Para impressioná-lo, com toda a probabilidade. Ele seria uma
ótima conexão para você.
Isso não poderia ser apenas negócios, poderia? Jo não pediu favores para
trazer o diretor favorito de Emma para uma pessoa que era uma despesa
comercial. Tinha que ser mais do que isso.
O sorriso de Jo desapareceu lentamente quando Emma demorou muito
para responder.
— Você gosta de Barry Davis, certo?
— Não, sim, é claro — disse Emma. — Sim. Eu… isso é ótimo. Estou
realmente animada. Estou sem palavras.
Era verdade, pelo menos, que ela não tinha palavras. Ela não conseguia
nem entender como estava se sentindo, muito menos explicar. Ela ainda
estava confusa, ainda machucada por Jo esconder tudo sobre Avery dela.
Mas ela não podia não estar animada sobre o Barry Davis.
— Quando ele vem?
— Terça. Não na próxima semana, mas na semana seguinte — disse Jo.
O que quer que estivesse acontecendo entre ela e Jo, o elenco e a equipe
estavam voltando do hiato na segunda-feira, e Barry Davis estava
chegando na semana seguinte. Pelo menos aquilo foi ótimo.
9
JO

J oconfraternização
sempre aproveitou o primeiro dia de volta do hiatus. Era mais uma
do que um dia de trabalho. O cronograma nunca foi
apertado, havia muito espaço para as pessoas se reconectarem e se
recordarem. Era como uma festa de encerramento com menos álcool e mais
responsabilidades. O almoço foi um grande evento com bufê, e este ano Jo
também comeu o café da manhã, croissants, bolos de mel e uma variedade
de doces, os quais ela não sabia o nome. Emma gritou quando eles
chegaram em sacos com o logotipo da Floured Up ao lado.
Emma passou a maior parte do dia gritando, na verdade. Ela parecia ter
voltado ao seu estado habitual, cheia de entusiasmo por seus colegas de
trabalho. Tate a abraçou com força suficiente para levantá-la do chão,
mesmo que ela tivesse 5 centímetros de vantagem sobre ele. Ela sorriu
amplamente para Chantal, que era, categoricamente, uma pessoa que não
gostava de abraços. Aly, Gina e Holly gritaram ao redor Emma, vozes se
sobrepondo a atualizações e vários é tão bom ver você. Emma esbarrou em
um dos assistentes de adereços – Phil, Jo achava que este era o nome dele –
fora da fila ao redor dos doces, risadas ecoando por sua indignação.
Jo ficou no lado da sala, bebendo seu café e pensando em pegar um
croissant. Chantal se juntou a ela e Jo se sentiu um pouco como os adultos
em uma festa infantil – todo mundo emocionado e energético. Ela não
tinha tomado café o suficiente para estar muito animada com qualquer
coisa.
Antes que Jo reunisse energia para dizer bom dia a Chantal, Emma
entrou, segurando um guardanapo com uma massa recheada em forma de
croassaint na mão. Seus dedos roçaram quando Jo o pegou dela. Era o mais
perto que elas estavam uma da outra em uma semana.
— Ok, eu sei que você não gosta de açúcar pela manhã, mas você precisa
experimentar isso — disse Emma. — Minha irmã faz o melhor rugelach.
Coma, você não vai se arrepender.
E ela saiu de novo, não dando a Jo a chance de protestar.
Jo a observou partir, depois olhou para Chantal na esperança de receber
um olhar de simpatia de – Acredita nessa garota? – mas Chantal apenas
p g p
ergueu uma sobrancelha para ela.
— E como foi seu hiatus? — Chantal disse, não tão afiada quanto
poderia ter sido, mas afiada o suficiente.
Jo acenou com o rugelach em desdém.
— Você sabe como foi — disse ela, porque Chantal sabia. Ela seria a
pessoa que assumiria a parte da produção da Innocents quando Jo saísse
oficialmente, então ela esteve bem envolvida durante o verão. — Boa sorte
discutindo com essa equipe quando eu partir.
Chantal riu. Jo deu uma mordida na massa e soltou um murmuro de
prazer. Era fantástico. Jo decidiu guardar outro para mais tarde, antes
mesmo de terminar o primeiro. Investir na Floured Up foi definitivamente
a escolha certa.


NAQUELA TARDE, JO RESPONDEU e-mails
enquanto Emma estava sentada no sofá,
trabalhando em alguma coisa; Jo não tinha certeza no quê. Emma estava lá
desde o almoço, um pé debaixo dela. Estava mais barulhento do que em
meses – a porta aberta e o prédio estava novamente cheio de outras pessoas
– mas Emma estava quieta. Ela estava quieta há uma semana agora.
Retraída. Jo perguntou e tinha sido ignorada. Ela não queria se intrometer.
Ela era a chefe de Emma, não sua amiga. Emma não precisava dizer a ela se
algo estava errado, mas isso não significava que não se preocupava.
Jo nunca tentava escrever no primeiro dia de volta – muitas interrupções
e distrações. Aly e Phil entraram primeiro com perguntas sobre o
departamento de figurinos. Emma torceu o nariz em saudação a eles, mas
continuou concentrada em seu trabalho. Jo resolveu alguns de seus
problemas e deu a Aly liberdade para resolver o resto. Tate interrompeu
em seguida – não diretamente, mas através de um novo estagiário,
tremendo de nervoso, pedindo os roteiros para toda a temporada. Jo não
revirou os olhos, porque Tate enviava um garoto novo para a cova do leão
todos os anos, e não era culpa do estagiário.
— Você aprenderá a não acreditar na metade das coisas que saem da
boca de Tate. — Jo disse gentilmente. — Sinta-se livre para dizer a ele que
estarei matando o personagem dele nesta temporada. Veja se isso o fará se
comportar.
Depois que o estagiário saiu, parecendo exatamente tão nervoso quanto
ele quando entrou, Emma sorriu para Jo. Fazia muito tempo desde que
Emma fizera isso.
— Talvez ele também aprenda que você não é tão intimidadora quanto
ele parece pensar. — disse ela.
Jo encolheu os ombros.
— Ajuda, mantê-los aterrorizados nas primeiras semanas. Mantém-os
na linha.
Ela tentou não pensar na outra irmã Kaplan – como ela também sabia
que Jo não era tão casca-grossa quanto sua reputação a fazia parecer. Jo
esperava que Avery tivesse contado a Emma sobre os jogos de beisebol a
essa altura, especialmente depois que Jo investiu na padaria. Toda vez que
Jo pensava nisso, ela sentia uma sensação estranha de ansiedade no
estômago. Ela não sabia o que dizer para Emma, então não disse nada.
Chantal veio logo depois. Emma disse olá e foi de volta ao seu trabalho.
Quando Jo olhou para cima para ver o que Chantal precisava, ela foi
recebida com mais sobrancelhas levantadas. Chantal não disse nada sobre
Emma estar lá, mas Jo poderia dizer que ela tinha pensamentos sobre isso.
Era desnecessário – ninguém mais parecia achar estranho. Emma sempre
trabalhou no escritório de Jo de vez em quando. Não havia nada de
diferente nisso apenas porque o mundo decidiu que elas estavam
namorando.
Jo quase se esqueceu dos rumores durante o verão. Havia algumas fotos
do almoço delas quando discutiram a promoção de Emma – incluindo uma
foto dela apertando a mão de Emma em cima da mesa. Ela deveria ter sido
mais esperta. Com exceção daquele passeio e as reuniões, elas não estavam
na capa dos tabloides. Isso não significava que os tabloides haviam
esquecido os rumores; nem Chantal, aparentemente. O pensamento irritou
Jo por dois dias. Ela trabalhou com Chantal por mais de meia década. A
mulher deveria ser esperta o suficiente para não dar atenção à fofocas.
Quarta à tarde, Jo estava presa em uma cena e irritada para cacete. Ela
estava irritada por Emma não estar ainda em seu escritório, como tinha
estado tantos outros dias. Ela estava irritada por não ter perguntado a ela
ainda – as sobrancelhas levantadas de Chantal influenciando as ações de Jo.
O verão tinha sido um descanso tão bom de se preocupar como suas
interações com Emma poderiam parecer para observadores externos. Jo
realmente gostaria de não se importar com as aparências, mas aquilo era
Hollywood, e ela não era ingênua.
Foi por isso que ela esperou tanto tempo, lutou por tanto tempo, antes
de finalmente chamar Emma para trabalhar em seu escritório.
Emma veio, como sempre fazia, mas em vez de se sentar e começar a
trabalhar, ela ficou ao lado do sofá, segurando o tablet no peito.
— Você tem certeza que eu deveria estar trabalhando aqui? — Ela
perguntou.
Jo ergueu os olhos distraidamente, a testa franzida.
— Por que você não deveria?
— Só não quero que ninguém pense… nada.
Foi por isso que Jo demorou tanto tempo para pedir, mas ela se irritou
de qualquer maneira.
— Pensar algo além de que você é minha assistente e, às vezes, tenho
um trabalho que exige que você esteja no meu escritório? — ela retrucou.
Ela estava irritada com o diálogo em que estava trabalhando e com a
preocupação sobre o que os outros pensavam. Essa frustração foi agravada
agora que sua dinâmica com Emma havia mudado o suficiente com pessoas
em volta, para que sua assistente estivesse fazendo uma tempestade no
copo d’água.
— Eu só quis dizer… — Emma começou.
— Se você veio conversar, saia. Não posso trabalhar com você falando
comigo.
Jo podia sentir o peso do olhar de Emma nela, mesmo que ela não
estivesse olhando para trás.
— Foi você quem me pediu para entrar aqui — disse Emma. Sua voz
estava baixa, magoada.
— E agora estou pedindo para você sair — disse Jo.
Houve uma batida, mas ainda assim Jo se recusou a olhar para cima.
Emma fechou a porta ao sair.
Jo não terminou a cena.


JO QUASE NÃO ATENDEU otelefone quando Evelyn ligou naquela noite. Ela
estava sozinha com uma taça de vinho tinto e pensou em ficar assim, não
deixando ninguém interromper sua insatisfação exagerada, mas acabou
respondendo antes de ir para a caixa de voz.
— Ouvi dizer que sua namorada está bastante confortável trabalhando
em seu escritório — disse Evelyn.
— O que?
Evelyn parou de falar com rispidez na voz de Jo. Jo suspirou e tomou um
gole de vinho.
— Sinto muito — disse ela, mais gentil. — Do que você está falando?
— No site da Star — disse Evelyn. — Eles fizeram um artigo sobre
como você e Emma devem ter se aconchegado durante o verão,
considerando o quão confortável ela estava trabalhando no seu escritório,
mesmo com outras pessoas ao redor.
Jo esfregou os olhos dela. Eles estavam secos, cansados. Ela devia retirar
suas lentes de contato.
— Quando este artigo foi publicado?— Ela perguntou.
— Ãhn… Jo, o que está acontecendo? — Disse Evelyn. — Por que você
parece estar… exausta?
— Você parece estar ótima também — Jo disse, sem pegadinha. Evelyn
não respondeu, e Jo sabia que ela poderia lhe contar o que estava
acontecendo, porque, caso contrário, Ev simplesmente a esperaria falar. —
Emma estava preocupada em trabalhar no meu escritório hoje, e eu não
sabia o porquê e surtei com ela. Eu não sabia que alguém… Deus, alguém
tem que ter vazado isso. As pessoas estão de volta por dois dias e estamos
nos malditos tabloides novamente. Se eu descobrir quem é, vou matá-lo.
— Eu aposto que Emma viu o artigo... — disse Evelyn. —...porque foi
publicado esta manhã e ela provavelmente tem um alerta do Google
definido para seus nomes juntos.
— Não a acuse de coisas que sei que você faz — disse Jo, sorrindo
levemente. — De qualquer forma, agora vou ter que me desculpar com ela
de manhã.
— Eles sempre dizem que sexo de desculpas é o melhor sexo.
— Vou desligar agora.
— Não, não, peraí, estou brincando — riu Evelyn. — Como que é, agora
que todo mundo está de volta, fora a sua briga com Emma?
— Mais barulhento que o normal — disse Jo. — Mais distrações.
Sempre leva um tempo para me acostumar.
— Tate já fez alguma coisa estúpida?
— Quando ele não faz?
— Eu vou me encontrar com ele quando eu for te visitar, ok? — disse
Evelyn. — Estou indo pro set desta vez, vou conhecer todo mundo.
— Você já decidiu quando vem? — Jo alfinetou, colocando o copo de
vinho no chão e se acomodando mais fundo nas almofadas do sofá.
— Seu aniversário, talvez? Ou eu posso apenas aparecer e te fazer uma
surpresa um dia.
Jo também ficaria feliz com isso.
— Vou ter que ver se Sammy também está livre — disse Evelyn.
Jo sabia que ela estava brincando – Sam havia interpretado o irmão mais
velho de Jo na Johnson Dynasty, e Evelyn o adorava desde então. Ela
estava bastante certa de que Evelyn começou sua obsessão como uma
maneira de incomodar Jo, décadas atrás, mas ela havia mantido tanto
tempo a essa altura que devia haver alguma verdade nisso.
— Você terá que lutar comigo para ter ele — brincou Jo. — Nós
estamos indo jantar no sábado.
— Diga a ele que estou solteira.
Jo revirou os olhos e não pôde ajudá-la a sorrir. Mais da sua tensão
desaparecia quanto mais ela conversava com Evelyn. Ela se sentiu mal por
surtar com Emma, mas, com o contexto, tudo fazia sentido, e seria uma
solução fácil se desculpar pela manhã.
10
JO

osso tirar a tarde de folga? — Emma perguntou na manhã


—P seguinte antes que Jo tivesse a chance de agradecê-la pelo café.
Jo piscou. Emma tirava folga apenas para consultas com o
dentista, férias e a única vez no ano em que ficou doente.
— É claro — disse Jo.
— Obrigada — Emma voltou para o computador antes que Jo pudesse
dizer mais alguma coisa.
Jo ficou ao lado da mesa de Emma por um momento, mas quando
continuou a não olhar para ela, Jo entrou em seu escritório e fechou a porta
atrás de si.
Ela se preocupou tanto para uma solução tão fácil.
Em um dia normal, Emma diria a Jo porque ela precisava da tarde de
folga. Hoje, Jo só podia supor que ela estaria no jogo de beisebol dos
gêmeos. Jo tinha que se desculpar com ela antes de terminar o expediente.
Ela surtou com Emma quando estava tentando fazer seu trabalho – ou,
bem, não o trabalho dela, não exatamente. Emma estava tentando conter os
boatos, e Jo não se importou em ouvir antes de dispensá-la. Emma estava
fazendo mais do que seu trabalho, estava fazendo o que podia para tornar a
vida de Jo mais fácil. Ela só não tinha entendido isso ontem, mas entendeu
hoje. Ela precisava contar para Emma.
Mas a manhã toda, Emma evitou deixar pausas em suas interações. Jo
abriria a boca e Emma interromperia com alguma coisa, e assim Jo nunca
se desculpou.
Quando Emma deixou o almoço de Jo, ela não ficou para comer com ela.
— Eu vou sair — ela disse, invés disso.
Jo olhou para ela e sorriu gentilmente.
— Tenha uma boa tarde, Emma.
— Você também, Srta. Jones.
Jo podia sentir o sorriso dela ficar tenso. Emma se virou e saiu sem dizer
outra palavra.

JO CONSIDEROU NÃO IR aojogo. Mas Ethan não merecia que ela não aparecesse
por causa de problemas pessoais. E isso proporcionou outra oportunidade
de pedir desculpas a Emma.
Como ela fazia em todos os jogos, Jo usava seu boné de beisebol comum
e grandes óculos de sol e sentava na primeira fileira das arquibancadas. Ela
olhou vários aplicativos em seu telefone, em vez de observar ansiosamente
o estacionamento para ver quando Emma chegaria.
Ela a viu imediatamente de qualquer maneira. Dani e Ezra correram
para o campo como sempre, Dylan e Avery se movendo mais devagar, três
rottweilers e a assistente de Jo com eles hoje. Emma estava de regata e
shorts, ondas de cabelo passando por cima dos ombros e óculos de sol em
cima da cabeça. Foi o mais casual que Jo tinha visto dela. E ficou sem
fôlego.
Ela se preparou para Emma notando sua presença, percebendo onde ela
se escondeu por todas aquelas tardes de verão. Ela esperava que Emma
congelasse, parecesse confusa, talvez até chateada. Ela não esperava que
Emma sorrisse para ela e acenasse enquanto subia as arquibancadas. Jo
tentou fazer seu típico aceno indiferente, mas seus dedos estavam rígidos.
Avery ficou quieta quando ela e Emma se juntaram a Jo na primeira fila.
Ela sentou-se ao lado de Jo, Emma do outro lado de Avery. Os olhos de Jo e
Avery se encontraram, depois Avery olhou para longe, de volta depois para
sua irmã.
— Bom dia para um jogo ao ar livre, não é? — Emma perguntou,
passando os óculos escuros sobre os olhos.
— É. — disse Jo.
Ela não tinha ideia do que estava acontecendo.
Emma sabia que ela estaria aqui. Avery contou a ela hoje ou Emma sabia
há algum tempo? Jo ficara confusa sobre como contar a ela sem motivo?
Emma sabia, mas não achou importante o suficiente para discutir? Jo
precisava perguntar a Avery, ou mesmo a Dylan, que ainda estava na
grama com os cachorros.
Jo estivera em muitas situações estranhas no trabalho. Ela poderia ser
encantadora e charmosa e vencer o dia. Aqui, porém, ela não conseguia
descobrir como manter a conversa. Ela ficou em silêncio até Vincent
chegar. Ela viu o sorriso dele quando ele notou Emma e rezou para que ele
não dissesse nada estúpido.
— Emma — disse Jo — Este é meu irmão, Vincent.
Emma sorriu e apertou a mão dele. Será que Jo estava imaginando como
seu movimento parecia rígido?
— É um prazer conhecê-lo — disse Emma.
— Igualmente — disse Vincent, seu sorriso convencido mudando para
um mais normal. — Estou surpreso que minha irmã deixou você tirar a
tarde de folga. Do jeito que ela fala sobre você, pensaria que a série iria
desmoronar sem você lá.
Jo poderia tê-lo abraçado.
— Tenho certeza de que isso não é verdade — disse Emma.
Jo se mexeu na arquibancada. Emma olhou para a primeira linha de
base.
— De qualquer forma — disse ela — Agora que Dylan foi quem
precisou pegar o cocô de cachorro, eu vou tirar esses filhotes das mãos dele.
Emma se foi antes mesmo de Vincent se sentar. Jo deveria tê-la parado.
Deveria ter ido atrás dela. Deveria ter dito a ela que era verdade, não
apenas que ela falava de Emma sobre seu irmão, mas que a série não seria
tão boa sem ela. Jo dissera uma vez, de volta à festa de encerramento que
parecia ter sido há tanto tempo. Elas tiveram aquele beijo bêbado ridículo e
as reuniões, asma e um verão se aproximando desde então, e ainda assim Jo
sentia como se nunca estivesse mais longe de sua assistente.
— Como você demorou tanto tempo para deixá-la vir num jogo, Jo? —
Vincent disse. — Sinceramente.
Jo deu de ombros, olhando para Avery. Seu irmão deixou o assunto pra
lá, felizmente.
— Eu disse a ela quando você investiu — disse Avery pelo canto da
boca. — Parecia errado não falar.
— Certo — disse Jo.
O timing da melancolia de Emma fazia sentido agora. Ou... não fazia
sentido, realmente, mas Jo tinha o contexto. Não fazia sentido, porque por
qual motivo Emma ficaria triste que Jo investiu na Floured Up? O
investimento de Jo foi porque a padaria de Avery estava indo bem, e o
dinheiro dela permitiu que ela ficasse ainda melhor. Emma deveria estar
feliz com isso.
— Ela não fala comigo sobre isso — disse Avery, um tom de dor em sua
voz.
Jo ainda precisava se desculpar com Emma por ter gritado com ela no
dia anterior. Talvez fosse uma boa abertura para uma conversa maior. Não
que Jo sentisse a necessidade de se desculpar por não ter contado a Emma
sobre investir na padaria, mas se elas pudessem discutir isso, Emma
poderia entender sua perspectiva. Elas poderiam seguir em frente.
Jo aguentou apenas metade de um tempo antes de sair. Emma levou os
cães para o campo externo ao longo da primeira linha de base. Jo desceu as
arquibancadas e foi em sua direção. Por um momento, parecia que Emma
poderia fugir, mas dois dos cães estavam deitados, e eles a prenderam no
local.
— Oi — disse Jo, ainda a alguns metros de distância.
— Oi — Emma mal abriu a boca para dizer. Ela não tirou os olhos do
campo.
— Sinto muito por ter gritado com você ontem — disse Jo. — Eu sei
agora que você estava apenas pensando nos rumores. Eu não entendi na
hora, mas entendo agora.
— Ótimo — disse Emma, e nada mais.
Tanto para abrir uma conversa.
Emma não podia estar tão brava com ela. Pelo que, não dizer nada sobre
os jogos de beisebol? Por que essa responsabilidade era de Jo? Ela era a
chefe de Emma, não sua amiga, e certamente não sua irmã, que também
não havia dito nada. E quando se tratava de investir na padaria, essa era
uma decisão comercial – Emma não precisava saber o que Jo fazia com seu
dinheiro. Sem mencionar que Emma deveria estar feliz com esse
investimento específico.
Quando Jo estava errada, ela se desculpou. A prática a ajudou ao longo
de sua carreira. Admita que estava errada, peça desculpas, faça melhor. Mas
Jo não deveria pedir desculpas por apoiar a irmã de Emma.
Jo foi quem se sentiu desconfortável, no entanto, mandando uma
mensagem para Emma dizendo que chegaria tarde na manhã em que ela foi
para a Floured Up. Mesmo assim, ela sentiu que deveria contar a Emma. E
agora estava claro que ela a machucou. Ela desejou que não tivesse.
Mas isso não significava que seu comportamento necessariamente
justificasse um pedido de desculpas.
A discussão soou fraca, mesmo em sua cabeça.
Em silêncio, elas assistiram dois batedores correrem.
— Eu… — Jo começou. Ela não sabia o que dizer. — Você está com a
sua bombinha? Está bastante seco.
— Sim — disse Emma.
Jo se sentia tão pequena, de tênis em vez de salto. Emma parecia
imponente, ombros para trás, cabeça erguida.
— Você deveria vir para o último jogo — disse Jo. — Se você quiser.
Emma bufou. Ali, talvez, sua frustração fosse justificada. Se Jo tivesse
dito antes, Emma poderia ter vindo para apoiar sua sobrinha e sobrinho a
temporada inteira.
Jo queria ficar, queria explicar. Mas ela não tinha uma explicação e
tentou se convencer de que não precisava de nenhuma. Emma nunca mais
olhou para ela. Finalmente, Jo voltou para as arquibancadas.
Ela ficou ao lado deles, em vez de subir ao topo novamente. Ela não
suportava ficar sentada ao lado de alguém, tendo que conversar um pouco.
No quarto turno, Avery desceu. Ela parou ao lado de Jo.
— Vou fazer minha irmã colocar protetor solar — disse ela.
Jo assentiu.
— Que bom. Cuide dela.


A EQUIPE DAS CRIANÇAS PERDEU, mas
sua tristeza evaporou quando Avery
anunciou que estavam indo tomar sorvete. Então tudo foi sorrisos e
aplausos enquanto os pais colocavam as coisas nos carros. Jo estava perto
do carro de Vincent, sem olhar para Emma, que estava do lado do
estacionamento com os cães.
— Vincent, você e Ethan vão tomar sorvete? — Dylan perguntou.
— Desde que Ethan não diga ao irmãozinho dele que ele tomou sorvete
antes do jantar — disse Vincent.
— Eu não vou, eu prometo! — Ethan disse, seus olhos arregalados.
— Jo? — Avery perguntou.
Jo estava olhando para Emma quando Avery perguntou, e os olhos de
Emma se voltaram para os dela. Jo virou-se para Avery.
— Acho que esta noite, não — disse ela.
— Vamos lá — disse Emma. — Você deveria vir.
Jo olhou para ela. Emma piscou algumas vezes, sorrindo como se
estivesse tudo bem. Por que ela estava colocando esta barreira?
— Não, é melhor eu ir para casa — disse Jo. Ela olhou para o sobrinho.
— Seu irmão não ficaria feliz se eu te levasse para tomar um sorvete, mas
não ele. Vou levar vocês dois da próxima vez, ok?
Ethan sorriu.
— Ok!
Os ombros de Emma estavam quase nos ouvidos, como se ela estivesse
tentando se afundar. Ela não olhou para Jo novamente, não sorriu até Dani
e Ezra dizerem que queriam ir com ela no carro. Jo entrou em seu próprio
carro e foi embora.


JO LIGOU PARA SUA CAFETERIA PREFERIDA na
manhã seguinte, aquela em que Emma
pegava seu latte todos os dias. Ela adicionou um chai gelado ao seu pedido.
Era algo que ela fazia às vezes, depois de filmar até tarde da noite ou antes
de um longo dia. Um pequeno estímulo para Emma.
Geralmente, quando Jo começava a trabalhar de manhã, Emma se
levantava e entregava seu café a Jo. Normalmente, Emma sorria para Jo.
Normalmente, Emma se certificava de que Jo tinha tudo o que precisava
antes de voltar ao seu próprio trabalho.
Naquela manhã, Emma se sentou em sua mesa e empurrou a xícara de
café na direção de Jo sem olhar para cima. Um segundo copo, com seu chai,
não estava em lugar algum.
— Obrigada — disse Jo enquanto ela tomava o café. — Bom dia.
— Bom dia — disse Emma.
Jo ficou lá por um momento.
— Emma.
Emma finalmente se virou para ela.
— Você precisa de alguma coisa, Srta. Jones?
Jo se irritou com a formalidade, a distância no tom de Emma.
— Não esqueça que você estará acompanhando Barry Davis na terça-
feira, Kaplan — disse ela, em vez de pedir desculpas.
Jo havia marcado a visita de Barry Davis porque sabia que ele era o
diretor favorito de Emma. Ela precisou pedir favores a vários contatos e
ajustou a programação de Innocents. Havia uma chance de ele acabar
dirigindo um episódio nesta temporada, uma chance dele gostar de Emma
o suficiente para ajudar a colocá-la no caminho certo dentro da guilda de
diretores, talvez até contratá-la ele mesmo. Emma precisava estar
preparada.
— Você tem alguma pergunta de antemão? — Jo perguntou.
— Não.
Emma voltou para o computador. Jo entrou em seu escritório e fechou a
porta.


DEPOIS DO ALMOÇO, JO TEVE umareunião com Chantal. Emma sentou-se para
tomar notas. Foram atualizações gerais sobre o início das filmagens,
incluindo um pouco sobre a visita de Barry Davis. No final da reunião, Jo
deu a Emma instruções específicas sobre como acompanhá-lo. Ela quase
parou no meio das instruções, quando notou Emma olhando por cima do
ombro em vez de fazer contato visual. A mulher não podia sequer olhar
para ela. Isso tinha aumentado de proporção muito mais rapidamente do
que Jo esperava.
Elas não interagiram novamente até as cinco horas.
— Você pode ir para casa, Emma — disse Jo. — Tenha um bom fim de
semana.
Emma normalmente se certificava de que Jo também estivesse indo para
casa antes que ela saísse. Ela normalmente não deixava Jo sozinha no
escritório sem falar nada. Hoje ela assentiu.
— Boa noite, Srta. Jones — disse ela, e saiu.


HAVIA MUITOS idiotasem Hollywood. Idiotas que passavam por cima de todos
os tipos de funcionários. Você trabalhava para eles porque precisava, não
porque eram bons chefes. Suas cartas de recomendação foram escritas por
assistentes porque não conheciam bem os funcionários para escrever nada.
Jo poderia ter sido um daqueles idiotas se ela quisesse. Ela tinha
dinheiro suficiente, poder suficiente. Ela foi chamada de vadia
simplesmente por causa de seus padrões, mas ser uma idiota não era uma
reputação que ela tinha. Seus funcionários gostavam dela – gostavam dela
o suficiente para dizer a um repórter que ela seria incrível ao escrever o
p p q
Agent Silver. Havia um informante agora, sim, mas também havia pessoas
como Chantal que estavam com Jo desde antes de Innocents. Elas eram
leais, porque Jo nunca tinha sido uma idiota.
Ela se sentia como uma agora, no entanto. Quanto mais Emma ficava
brava com ela, pior o trabalho que Jo fazia para se convencer de que não
precisava se desculpar. Sim, Avery deveria ter contado a Emma sobre Jo vir
aos jogos de beisebol, mas isso não exime Jo da responsabilidade. Sim, Jo
era a chefe de Emma, mas ela não precisava ser uma idiota. Emma estava a
ajudando com Agent Silver – com sua presença e apoio, claro, mas também
realmente lendo o roteiro. Isso não estava na descrição de seu trabalho,
mas ela fez. Por que, então, Jo estava agindo como se o relacionamento
delas não passasse de profissional? Não era íntimo como diziam os
tabloides, mas ser amiga de Emma não dava mérito aos rumores.
Jo a machucou. Ela estava tão focada em como contar parecia difícil e
confuso, que não considerou como Emma se sentiria com a situação.
Valeria a pena pedir desculpas por aquilo. Pensou em enviar uma
mensagem sexta-feira à noite, pouco mais de vinte e quatro horas após o
jogo de beisebol, mas decidiu que Emma merecia o pedido de desculpas
pessoalmente.
Jo continuou se preocupando até encontrar Sam para jantar no sábado à
noite. Ele a encontrou em frente ao restaurante, envolvendo-a em um
abraço que a fez se sentir querida. Ele cresceu bem mais do que ela – ela
lembrou-se de quando ele havia atingido seu estirão de crescimento
enquanto filmavam The Johnson Dynasty, como ele era desajeitado e
magricelo na época. Quase trinta anos depois, ele havia crescido mais do
que isso. Seu cabelo ainda era loiro, sem sinal de fios grisalhos. Apenas vê-
lo fez Jo se sentir melhor do que ela estava há dias.
Ele havia escolhido um restaurante especializado em gastronomia
molecular. Era para ser motivo de raiva. Jo não pôde deixar de tirar sarro
disso.
— Foie gras de algodão doce? — ela dá uma gargalhada. — Sam, você
sempre foi tão pretensioso?
— Vamos pedir isso agora — disse ele. — E você vai gostar.
Ela acabou gostando, embora se recusasse a admitir.
No bar de café e chocolate o qual eles foram depois do jantar, Sam se
amontoou no mesmo lado do estande em que ela estava. Ele a cutucou do
lado, como fazia quando queria algo dela quando eram crianças.
— Então, me conta sobre o Agent Silver — disse ele. — Como está o
roteiro até agora?
— Sabe, se eu lhe dissesse alguma coisa, o estúdio mandaria me matar
aqui e agora — disse ela.
— Vamos — ele lamentou. — Apenas uma coisinha.
Ela fez uma imitação, fechando os lábios e “jogando fora” a chave. Os
spoilers estavam limitados para algo tão grande quanto Agent Silver.
Mas isso não a deteve quando Emma pediu ajuda. Emma não sabia
apenas o que aconteceria, ela leu aquilo, ali mesmo no roteiro.
Sam não mencionou Emma a noite toda. Jo não sabia se ele estava sendo
um cavalheiro ou simplesmente não colocou nenhuma fé nos rumores e,
portanto, não sentiu necessidade de trazê-los à tona. Pensar em Emma fez
o peito de Jo apertar. O que ela faria se Jo pedisse para ela dar uma olhada
no roteiro agora? Ela estava tão chateada que recusaria? Jo começou a
mexer em suas unhas.
Sam a cutucou de lado novamente, tirando-a de seus pensamentos.
— Estou ansioso por todos os idiotas que pensaram que você não ia
conseguir engolindo suas palavras quando você destruir tudo.
Jo riu do elogio repentino. Ela tentou não pensar em quem mais
acreditava nela com tanta força.
11
EMMA

Q uando o alarme de Emma tocou no domingo, ela o pôs no modo soneca


e permaneceu deitada olhando o teto até o alarme tocar novamente. Ela
empurrou as cobertas e se arrastou para fora da cama.
Ela estremeceu com o frio em seu apartamento enquanto colocava um
waffle de proteína na torradeira. Ela usou e abusou do ar condicionado nos
últimos dias, mantendo o cômodo frio para poder dormir com cobertores
pesados e não suar nos lençóis. As temperaturas máximas estavam perto
dos trinta, mas Emma queria se enterrar no colchão. Ela limpou o
apartamento duas vezes e o limparia novamente se já não estivesse
impecável a essa altura. Ela usou um prato para o waffle e o deixou em seu
balcão só para ter algo para arrumar quando chegasse em casa. A calcinha
boxer e a regata que ela usava para dormir acabaram em uma pilha no chão
do quarto.
Ela acordou cedo o suficiente para que, quando fosse para Griffith Park
desta vez, não estivesse muito lotado nem muito quente. Os turistas ainda
não haviam saído e o sol não estava muito alto no céu.
Jo havia se desculpado por surtar com ela. Isso foi legal, Emma supôs.
Mas era como se ela nem percebesse que tinha feito qualquer outra coisa
errada. Quem se importava que ela estivesse mentindo para Emma por
meses? Emma admitiu que Jo era uma de suas pessoas favoritas, mas era
apenas sua assistente, não importava o suficiente para Jo para que
considerasse seus sentimentos.
Emma se sentiu estúpida por estar presa nisso. Mas ela amava seu
trabalho há tanto tempo, amava ir trabalhar, amava trabalhar para Jo. Tudo
isso deixou um gosto ruim em sua boca agora. Emma merecia melhor. Ela
merecia ser tratada melhor. Mesmo se Jo fosse apenas sua chefe, ela ainda
deveria ter sido honesta com Emma.
Emma dobrou a distância de sua corrida esta manhã. Ela terminou a
trilha do observatório, de cima a baixo, com as panturrilhas queimando e
depois continuou. Esta seção era mais plana, deixando-a recuperar o fôlego,
mesmo enquanto mantinha o ritmo. O impacto de seus pés no chão era
mais firme aqui. Consistente. Como um mantra.
q
Ela decidiu não ficar mais triste.
Como ela se sentia sobre Jo não importava. Nem como Jo se sentia sobre
ela. Emma era inteligente e capaz, e sabia o que queria fazer. Na terça-feira,
ela estaria acompanhando um diretor talentoso, dando passos em direção a
sua nova carreira. Jo tinha arranjado isso, sim, mas não importava o
porquê. Se Jo precisava que ela se desse bem, para que ela mesma parecesse
bem, quem se importava? Os meios para o sucesso não eram tão
importantes quanto os fins.
E Barry Davis era um ótimo meio para o sucesso de Emma de qualquer
maneira. Emma tentou não dar um chilique, e ela geralmente era bem-
sucedida nisso. Ela lidara com tantas pessoas famosas e poderosas como
assistente de Jo que era fácil lembrar que todo mundo era apenas uma
pessoa. Mas Barry Davis era um indicado ao Oscar que havia dirigido
alguns dos absolutos filmes favoritos de Emma. O pensamento de vê-lo em
ação era emocionante, mesmo que ele fosse apenas uma pessoa. Ele era
uma pessoa incrivelmente talentosa, e Emma mal podia esperar para vê-lo
trabalhar. Melhor ainda, ela iria acompanhá-lo.
Ela estava realmente ansiosa pela semana de trabalho quando voltou
para o apartamento. Seu banho era refrescante e ela sorriu quando o
telefone tocou com uma mensagem de Phil.

Sua namorada está traindo você?!

Havia um emoji chocado e um link para uma história da TMZ. Emma


tentou manter o bom humor, mas suas raízes deslizaram por entre os
dedos. Ela clicou no link.
JO JONES E SAM ALLEN:
REUNIÃO OU ROMANCE?
Havia fotos de Jo e um ex-colega de elenco. Emma, de todo mundo,
deveria saber que não deveria julgar um relacionamento com base em fotos,
mas eles pareciam de fato confortáveis, primeiro saindo de um restaurante
juntos e depois sentando-se do mesmo lado de um estande em uma
cafeteria. Os olhos de Jo brilharam. O sorriso dela era largo. Se ela estava
namorando o cara ou não, ela certamente não tinha passado o fim de
semana preocupada em como Emma poderia estar se sentindo.
Emma trancou o telefone e voltou para a cama. Não valia a pena chorar,
mas Emma chorou de qualquer maneira.


QUANDO EMMA SAIU do prédio na segunda-feira de manhã, ouviu as lentes
abrindo e fechando. Paparazzi. A primeira vez que eles estavam por aí
desde antes do hiatus. É claro que foi na semana que Jo foi vista com outra
pessoa. Emma provavelmente parecia exausta, e ela não esperava as
câmeras, então estava fazendo uma careta de desgosto. Seria uma foto
terrível, que estaria em todo lugar. Pareceria que tinham acabado de
terminar com ela.
Como havia acontecido na sexta-feira, havia um chai gelado esperando
por ela quando ela pegou o café de Jo. Ela não tinha pegado antes, mas ela o
fez hoje. Ela podia ficar brava e saborear uma bebida grátis ao mesmo
tempo.
Assim como ela fez na sexta-feira, ela empurrou o café de Jo sobre a
mesa quando Jo entrou sem se preocupar em olhar para cima.
Assim como ela fez na sexta-feira, Jo parou ao lado da mesa de Emma
depois de pegar seu café.
Desta vez, ela realmente tinha algo a dizer.
— Sinto muito, Emma — disse ela. O pulso de Emma disparou. — Eu
deveria ter lhe dito que estava passando meu tempo com Avery.
Emma olhou para ela. Aparentemente, esse foi o fim de seu pedido de
desculpas.
— Tudo bem — disse Emma.
— Ok?
Jo admitiu que fez algo que não deveria. Isso não teve efeito sobre
Emma.
— Só porque você se desculpou não significa que não estou ainda
chateada — disse Emma. Sua voz vacilou, mas ela manteve contato visual.
— Só porque você se desculpou não significa que de repente você tem
minha confiança novamente.
O desapontamento no rosto de Jo era tão perceptível que Emma quase
pegou suas palavras de volta. Sua chefe parecia arrasada, e Emma odiava
isso. Mas ela estava certa. A dor não foi embora com um pedido de
desculpas. E confiança é algo a ser conquistado. Emma merecia ser tratada
melhor.
— Eu entendo. — Jo disse calmamente. — Espero que você me deixe
ganhar sua confiança de volta.
— Isso é realmente com você — disse Emma.
Ela não tinha certeza de onde a força do seu sangue tinha vindo. Jo
provavelmente também não sabia. Ela provavelmente esperava ser
facilmente perdoada e elas seguiriam em frente. Ela não parecia preparada
para Emma realmente se defender. Jo abriu a boca, mas Emma não queria
lhe dar uma chance de tentar se desculpar ainda mais.
— Tudo está pronto para a visita de Barry Davis amanhã — disse
Emma. — Eu agradeço por você me deixar passar o dia para que eu possa
aprender com ele.
Ela estava falando sério. Ela sabia que eram tudo negócios, e tudo bem.
Ela poderia ser profissional.
Jo assentiu, a cabeça pendendo como se houvesse um albatroz em volta
do pescoço.
— Espero que tudo ocorra bem — disse ela, e desapareceu em seu
escritório.


DEPOIS DO ALMOÇO, JO SE ENCOSTOU no
batente da porta e olhou para Emma.
Emma tentou manter o foco em seu email. Ela pensou em perguntar o que
Jo estava fazendo, mas queria ver aonde isso iria dar.
Por fim, Jo disse:
— Você está com a sua bombinha, certo?
Emma abriu a gaveta da mesa, pegou a bombinha e o acenou para Jo.
— Que bom — disse Jo. — Que bom.
Ela voltou ao seu escritório.
Havia uma parte de Emma que queria facilitar as coisas para ela, queria
esquecer e perdoar e fazer Jo sorrir novamente. Mas, como Emma
continuava se lembrando, ela merecia mais. Ela ficou feliz com o pedido de
desculpas, mas não importava se Jo estivesse arrependida por não ter
considerado os seus sentimentos, a menos que não fosse fazê-lo novamente.
Desculpas não significavam nada se não mudar o comportamento. Isso foi
o que Emma disse a si mesma, meses atrás, sua boca acidentalmente
pousando na de Jo na festa de encerramento. Ela não teve que pedir
desculpas em voz alta então, porque seu pedido de desculpas foi uma
mudança de comportamento, nunca deixando algo assim acontecer
novamente. Jo precisava fazer o mesmo. Emma perdoou muitas pessoas em
sua vida com muita facilidade. Ela finalmente estava aprendendo a se
defender.


TERÇA DE MANHÃ, EMMA ENTREGOUo café de Jo.
— Sua asma é pior nessa onda de calor?
— Está tudo bem, Srta. Jones — disse Emma.
— Ok — disse Jo. — Que bom.
Emma conseguiu não revirar os olhos. Ela tinha certeza de que Jo não
estava realmente tão preocupada com a asma – não era sobre isso que ela
pretendia continuar falando. Mas se ela não conseguisse escolher as
palavras para um pedido de desculpas melhor, não conseguia descobrir
como prometer a Emma que seria melhor com ela, Emma não iria ajudá-la.
Especialmente no dia da visita de Barry Davis. Foi basicamente uma
simples visita ao set por enquanto. Ele pode acabar dirigindo um episódio,
mas talvez não. Ele poderia gostar de Emma o suficiente para ajudá-la a
conseguir um emprego, o que era algo que Emma tentava não pensar
muito, ou sua garganta fechava com a ansiedade.
Barry chegaria por volta das dez e Jo o cumprimentaria, em vez de
Emma, que costumava fazê-lo. Ele era importante o suficiente para que eles
estivessem fazendo tudo de maneira elaborada.
Emma estava sentada em sua mesa sem nada para fazer enquanto Jo
cumprimentava Barry. Ela tentou não se mexer muito. Quando ela ouviu Jo
retornando, conversando com alguém que devia ser o Barry Davis, Emma
fez questão de parecer que estava trabalhando muito.
Ela estava digitando um e-mail falso quando Jo e Barry dobraram o
corredor. Ela olhou para eles e sorriu. Barry Davis, carne e osso. Seus
olhos astutos por trás dos distintos óculos retangulares. Ele tinha uma
barba de um dia, mesmo que estivesse de manhã.
— Barry, esta é minha assistente, Emma Kaplan — disse Jo.
Emma se levantou e torceu para que seu rosto não estivesse muito
vermelho. Ela ofereceu a mão dela.
Barry sacudiu-a com um sorriso.
— Prazer em conhecê-la, Emma.
— Você também, Sr. Davis.
Ele riu.
— Por favor, me chame de Barry.
Emma assentiu e percebeu que estava corando. Jo lançou-lhe um olhar
indecifrável.
— Eu só preciso pegar minha água do meu escritório — disse Jo. — E
nós estaremos a caminho.
Assim que Jo desapareceu em seu escritório, Barry se aproximou de
Emma. Sua colônia cheirava a… madeira serrada? Era esse o cheiro de
colônia cara, algo assim? Emma sorriu para ele e tentou se lembrar de que
ele era apenas uma pessoa como qualquer outra pessoa.
— Estou animado para dar uma olhada no set. Ver o que Jo Jones pode
fazer — ele disse.
— Ela é incrivelmente talentosa — disse Emma. Era verdade, mesmo
que ela ainda estivesse brava com Jo.
— E você conhece esses talentos muito bem, não é? — Barry disse.
Jo voltou com o copo e Barry entrou facilmente no ritmo de seus passos,
de alguma forma fazendo parecer que ele não estava no espaço pessoal de
Emma, como se não tivesse feito um comentário inapropriado. Os pés de
Emma ficaram enraizados no chão.
Talvez ele não quis dizer isso dessa maneira, ela disse a si mesma. Ela
estava apenas sendo sensível.
Jo e Barry estavam quase virando o corredor antes de Jo parar e olhar
para ela.
— Emma, você vem?
O sorriso de Barry era inocente.
— É claro — disse Emma. — Desculpe, um momento.
Ela fingiu fazer algo no computador, pegou o tablet da mesa e depois o
seguiu.
Jo levou Barry para conhecer o estúdio. Este era normalmente o
trabalho de Emma. Emma era geralmente quem encantava as pessoas com
histórias enquanto se moviam pelo prédio. Hoje, porém, ela ficou quieta,
não conseguia parar de olhar para o rosto de Barry. Ele era perfeitamente
legal. Ele não ficou muito perto ou disse algo inapropriado. Ela
provavelmente estava exagerando. Talvez ela tenha interpretado mal.
No set, Chantal pediu uma pausa e Barry foi apresentado. Emma soltou
um suspiro. Toda sua parte superior do corpo estava tensa, como se ela
estivesse mantendo uma postura perfeita por horas. Jo franziu as
sobrancelhas para Emma, mas não perguntou nada.
Barry circulou de volta para o lado delas eventualmente. Emma se
aproximou um pouco mais de Jo.
— Se sentindo bem instalado? — Jo perguntou a Barry.
Ele sorriu.
— Me sinto bem.
— Então eu acho que vou deixar vocês dois a sós.
Se fosse em qualquer outra semana, Emma poderia ter dito algo para Jo
ficar, de alguma forma, teria indicado que não queria ficar sozinha com esse
homem. Mas Jo mal tinha a olhado desde que perguntara sobre a bombinha
naquela manhã. Ela também não olhou para ela, apenas se virou e foi em
direção a seu escritório, deixando Emma ao lado de Barry enquanto
Chantal anunciava o fim do intervalo.
— Eu entendo o que você vê nela — disse Barry para o corpo de Jo se
afastando. Os olhos dele estavam colados na bunda dela.
Emma engoliu em seco.
— Ela com certeza é diferente.
Barry riu. Emma preferia ouvir unhas arranhando um quadro-negro. A
placa com o pedido de silêncio no set subiu, e Emma ficou agradecida pelo
alívio.
Isso aconteceu. Claro que sim. Eles estavam em Hollywood. Só porque
mais pessoas falaram sobre isso agora não significava que parou de
acontecer. Emma tinha lidado com muitos homens repugnantes e
exagerados. Ela sabia como lidar com a situação. Mantenha o sorriso
educado, mas as unhas afiadas.
Mas este era Barry Davis.
Ele nem fez nada tão ruim, ela sabia. Alguns comentários rudes que ela
poderia fingir que não foram feitos dessa maneira. Realmente não era nada.
E nada que ela não pudesse suportar. Ela endireitou a postura, manteve a
cabeça erguida.
Eles assistiram as filmagens por um tempo. Os olhos de Emma ficaram
nos atores até Barry dar um passo mais perto dela. Ela rebateu, afastando-
se, e sua risada silenciosa parecia predatória, mas ele não a perseguiu.
Ele não tentou nada o resto da manhã – não ficou muito perto, não disse
nada inapropriado. Emma sabia que não tinha imaginado o que tinha
acontecido, mas ainda duvidava de si mesma.
Ele não quis dizer isso.
Não tinha sido grande coisa.
Estava tudo bem.
Ela tinha que conquistá-lo, de qualquer maneira. Ele poderia ajudá-la ou
destruí-la, se quisesse.
E, realmente, ele estava bem agora. Ele fez comentários perspicazes
sobre o programa, ensinou-a mais sobre direção ao longo de duas horas do
que qualquer um dos livros que Jo havia sugerido para ela. Almoçaram
juntos; hoje, havia serviços de artesanato montados sob uma barraca do
lado de fora do estacionamento. Emma sentou-se em frente a Barry em
uma mesa dobrável. Normalmente ela gostava de se sentar no meio de
qualquer pessoa que come ao mesmo tempo, mas todo mundo deu um
grande espaço aos dois. Ela sabia que era porque deveria estar aprendendo
com ele, mas tudo que ela queria fazer era sentar ao lado de Phil e roubar
comida de seu prato. Em vez disso, pegou a salada e tentou manter a
conversa.
— Qual foi o seu filme favorito para dirigir? — ela perguntou, porque
perguntar a homens famosos sobre si mesmos era uma boa maneira de não
ter que conversar por um tempo.
Barry não respondeu à pergunta, no entanto.
— Olha, parece que você consegue se aguentar — disse ele enquanto
mastigava um pedaço do sanduíche. — Se você puder me aguentar, eu
conheço um cara que está procurando um segundo diretor assistente. Eu
recomendaria você.
Emma rolou os ombros para baixo de onde eles dispararam em direção
às orelhas. Ela olhou para Jo, do outro lado do estacionamento e
conversando com Aly ao lado das bebidas.
— Se eu posso aguentar você? — ela disse. Talvez jogar a inocente a
tirasse disso.
— Quero dizer, você é mais que bem-vinda a usar a boca — disse Barry
tão casualmente que ele poderia estar falando sobre trânsito. — Mas sua
mão é tudo que eu preciso.
Emma se encolheu o suficiente para deixar o garfo cair no prato.
— O que? — Barry teve a ousadia de parecer incrédulo. — Você já está
tentando foder seu caminho para o topo no negócio. Eu posso lhe dar mais
oportunidades do que ela.
Emma queria que uma luminária caísse sobre sua cabeça. Não, ela queria
derrubá-la nela mesma. Havia um grito dentro de sua boca, atrás dos olhos,
construindo a partir de um punho cerrado no peito.
— Por favor, me dê licença — disse ela, e se odiava pela civilidade.
Ela deixou o prato e fugiu. A saliva estava espessa na boca, o sangue
fluindo rapidamente nos ouvidos. Jo deve ter terminado a conversa, porque
Emma praticamente a atropelou quase vinte metros da mesa onde Barry
ainda estava sentado.
— Com licença — disse Jo.
Emma temia que, se abrisse a boca, pudesse vomitar. Ela abriu de
qualquer maneira.
— Jo, eu… — Ela não sabia se poderia dizer isso em voz alta. —
Barry… — Ela mordeu uma careta. — Ele é...
Jo suspirou, revirando os olhos.
— Srta. Kaplan, eu sei que você… — Ela fez uma pausa. Emma olhou
fixamente para ela, sem ideia do que ela ia dizer. — Se você está tendo um
surto porque ele é uma estrela, precisa superar isso. Eu pedi muitos favores
para trazê-lo aqui para você. Não me faça parecer ruim. Ele pode abrir
muitas portas para você, se você causar uma boa impressão.
Emma se lembrou de dizer o quanto ela gostava de Barry. Antes de Jo
investir, antes do jogo de beisebol, antes de tudo, quando elas conversavam,
quando contavam coisas, Emma tinha comentado sobre seus filmes
favoritos, o que significava que comentou sobre Barry e seus filmes. É claro
que Jo pensou que ela estava fascinada. Não era como se ela tivesse ouvido
ou visto alguma coisa. Não era como se Barry tivesse sido tudo menos
agradável para ninguém além de Emma. Ninguém sabia disso. Emma
desejou poder fingir que isso não aconteceu, voltar ao quanto estava
animada em conhecê-lo, apenas nesta manhã. Ela olhou para Jo, que parecia
mais irritada do que preocupada. Claro que ela estava preocupada com
Emma fazendo-a parecer ruim. Claro que isso era tudo o que importava.
Emma ficou furiosa com ela de repente, por tudo.
— Eu não estou fascinada — ela rosnou, mantendo a voz baixa. — Eu
estou o contrário, na verdade.. Nada impressionada. E eu tenho outros
trabalhos a fazer na minha mesa, então se você me der licença...
— É realmente isso que você quer fazer? — Jo perguntou, as
sobrancelhas levantadas até a linha do cabelo. — Jogar esta oportunidade
fora?
Emma não se incomodou em responder. Ela saiu sem olhar para trás.
Ela não tinha certeza de como conseguiu voltar para sua mesa, apenas
que conseguiu, e derrubou seu tablet enquanto pegava sua bolsa. Ele
atingiu o chão com um estalo alto o suficiente para que ela poupasse um
momento para se preocupar com a possibilidade de ter quebrado, mas ela
não se importou o suficiente para checar. Em vez disso, ela pegou a bolsa e
se trancou no banheiro privado de Jo bem a tempo de as lágrimas
começarem a cair.
Ela estava com tanta raiva: de Jo, de Barry, de si mesma. Ela não podia
acreditar – ou melhor, ela podia. Talvez ela até deveria. Ela sabia que as
pessoas pensavam que ela estava transando com Jo. Mesmo que ela não
estivesse, mesmo que Jo estivesse talvez com seu ex-colega de elenco, os
rumores de que elas estavam juntas já existiam há tempo suficiente para
que Emma estivesse acostumada com as pessoas supondo que ela estava
transando em troca do sucesso. Mas do jeito que Barry disse isso, do jeito
que ele assumiu que ela faria – ela se sentiu doente e idiota, e como se
precisasse tomar um ar fresco.
Ela se deu cinco minutos no banheiro, imaginando que não havia como
Jo e Barry terminarem o almoço naquele período de tempo. Gastou apenas
metade dele chorando, usou o resto para fazer parecer que não tinha
chorado. Assoou o nariz até que nada mais saiu, depois a água fria na ponta
dos dedos, bateu levemente sob os olhos; uma toalha de papel molhada e
fria na parte de trás do pescoço para se refrescar. Ela estava agradecida por
ter tendido ao minimalismo quando se tratava de maquiagem, para que ela
não tivesse manchas de delineador escuro e sombra em todos os lugares.
Em vez disso, levou apenas um pouco de retoque, e seu rímel à prova
d'água resistiu como um campeão. Ela olhou no espelho e, desde que
pudesse ignorar o peso em seu estômago, quase podia acreditar que estava
bem.


EMMA PASSOU A TARDE procurando desculpas para não estar perto de Barry. O
vinco entre os olhos de Jo ficou mais pronunciado cada vez que Emma
disse que sentia muito, mas ela teve que se afastar, mas Emma não se
importou. Jo podia pensar o que ela quisesse.
Avery mandou uma mensagem algumas vezes. Ela sabia que hoje era o
dia em que Barry Davis estaria no set, e sabia que Emma amava os filmes
dele, e estava sendo uma boa irmã e checando como ela estava. Emma não
respondeu a nenhuma de suas mensagens.
Ela pensou que iria sobreviver ao longo do dia. Eram quase cinco horas
e eles não estariam gravando até tarde. Eles estavam ensaiando o que seria
filmado amanhã. Normalmente, Emma e Jo não estariam por perto, mas
Barry estava aqui para observar, e elas observaram com ele. Era a última
coisa que Emma tinha que passar antes que pudesse ir para casa.
A cena que eles estavam ensaiando era grande. A personagem de Holly
descobriu que ela não era heterossexual, e ela estava dizendo isso em voz
alta pela primeira vez, expressando para o personagem de Tate enquanto
passeava por sua sala de estar. Emma ficou feliz em assistir a cena se juntar
– ela gostava de ver os atores, o diretor e a equipe todos trabalhando nisso.
Ela quase esqueceu que Barry estava lá até que ele falou.
— Com licença, se eu puder interromper — disse ele. Todos pararam
completamente para prestar atenção nele. — E se ela estivesse infeliz com
esta situação? Eu sei que ela está nervosa aqui, mas talvez seja um pouco
perturbador para ela também dizer “eu sou bissexual”.
O corpo inteiro de Emma estava coçando como nunca, como uma agulha
se arrastando em seu cérebro.
— Você está brincando comigo? — Ela retrucou.
Todas as pessoas no set olhavam para ela. Pela primeira vez isso não a
deixou nervosa.
— Essa é talvez a pior direção que já ouvi — disse ela. — Não se
encaixa nem no personagem nem no programa. Você já viu um episódio?
Barry tinha esse sorriso surpreso como se fosse adorável que a pequena
assistente estivesse soltando o verbo. Emma queria bater nele. Ela também
queria uma resposta real dele, queria que ele explicasse por que diabos ele
pensava que era uma boa escolha de direção. Tudo estava errado, e ela não
podia acreditar que Barry Davis, seu diretor favorito, acabara sendo tão
terrível. De todo jeito.
— Talvez quando você fizer mais do que pegar o café, as pessoas se
interessem pela sua opinião — A voz de Jo era tensa. Os olhos de Emma se
voltaram para sua chefe, que nem estava olhando para ela. — Enquanto
isso, eu gostaria de um latte gelado.
Emma sentiu a boca aberta. Jo não podia concordar com este homem.
Ela não podia pensar que era uma boa direção. Emma piscou para ela.
Jo apontou os dedos em direção à porta.
Foi então que Emma finalmente processou todo mundo olhando para
ela, então ela processou que havia repreendido um diretor indicado ao
Oscar na frente de... na frente de todos. Tate e Holly. Yuri trabalhando nas
luzes. As sobrancelhas de Phil estavam perto de sua linha do cabelo.
Chantal fingiu olhar para o roteiro, pelo menos, mas todo mundo estava…
Emma não podia acreditar que ela tinha feito isso.
Ela se fez andar, não correr. Café gelado, chegando logo.
Ela tentou ser impassível quando voltou ao set. Ela tentou se misturar
nas paredes. Não deu certo. Ninguém olhou diretamente para ela, mas
todos estavam cientes dela, parecia. Ela pensara em não voltar, mas Jo
pediu um café com leite gelado, e ignorar sua chefe imediatamente depois
de retrucar um diretor famoso provavelmente não era uma boa ideia.
Emma parou ao lado de Jo, não olhou para Barry. Jo observou Tate e
Holly ensaiarem. Ela estendeu a mão para o latte gelado, sem sequer olhar
para Emma. Depois que Emma o entregou, Jo sacudiu a mão novamente.
— Você não é necessária aqui — disse ela calmamente.
O rosto de Emma queimou de vergonha. Ela voltou para sua mesa.
Talvez ela deveria ter chorado no banheiro novamente, mas não estava
com vontade de chorar. Ela sentia vontade de brigar. Ela sentia vontade de
desistir. Era uma reação exagerada, ela sabia. Ela não podia desistir por um
dia ruim.
Mas foi uma semana ruim.
Ela não podia tomar uma decisão como essa enquanto a raiva
borbulhava sob sua pele, mas ela queria de qualquer maneira. Ela tinha
algum dinheiro economizado. Talvez ela pudesse encontrar algo novo
durante o próximo hiatus.


QUANDO JO VOLTOU, o único consolo de Emma foi que Barry não estava com
ela. O rosto de Jo estava em branco, suas bochechas apertadas, apenas um
pouco, mas o suficiente para Emma perceber.
— Srta. Kaplan — disse ela ao passar pela mesa de Emma. — Meu
escritório.
Emma apertou os lábios, mas manteve a cabeça erguida.
— Porta — disse Jo.
Emma demorou a fechar a porta, tentou se recompor, tentou se sentir
mal pelo que disse a Barry. Ela não conseguiu.
— Eu não estava errada — disse ela antes que Jo tivesse a chance de
gritar com ela. — Você não pode acreditar que ela deveria parecer infeliz
com esta situação. “Esta situação”? Como descobrir que ela é bissexual
fosse uma situação horrível para ela estar.
— Olha, eu sei que isso é pessoal para você, mas...
— Não. — Emma disse, e uau, ela não precisaria largar o emprego,
porque seria demitida por todas as más decisões que tomou hoje, sendo
interromper sua chefe a mais recente. — Você não pode agir como se isso
fosse apenas uma coisa pessoal para mim. Isso não é sobre mim. É sobre a
série, os personagens e a história que você está contando. Essa direção
estava errada, acima de tudo. E se não fosse? Se é isso que você realmente
quer fazer? Você não ganha os prêmios GLAAD e profere esse discurso pra
depois deixar os personagens infelizes com sua “situação bissexual”.
Os GLAADs foram meses e meses atrás, mas foi um bom discurso. Foi
um ótimo discurso. Era o tipo de discurso que Emma esperava de Jo,
porque ela sempre foi fantástica quando se tratava de questões queer, e
Emma não podia acreditar que ela concordava com Barry.
Jo se jogou na cadeira e passou a mão pelos cabelos.
— Eu sei — ela suspirou.
Emma piscou.
— O quê?
— Você pensou que eu discordava de você? Você pensou o que? Que eu
sou o tipo de lésbica que acha que bissexuais são gananciosos e que sempre
vão te deixar por um homem? — Jo zombou. — Por favor, me dê mais
crédito que isso.
— Eu… hm. — Emma queria segurar sua raiva, mas seu cérebro entrou
em curto-circuito com a palavra lésbica.
— Jesus, Emma, é claro que você estava certa — disse Jo. — Eu disse
isso a Barry assim que você saiu.
Emma piscou para ela.
— Sinto muito por ter tratado você dessa maneira — disse Jo. — Mas
meu Deus, as pessoas já pensam que estamos transando – você acha que eu
te deixar falar com Barry Davis fora de hora ajudaria?
Isso fazia sentido, com certeza. Talvez se Emma não estivesse tendo um
dia tão terrível, ela teria descoberto isso sozinha. Exceto que, há meses, Jo
sempre ignorou os rumores que os levariam a desaparecer. Os rumores que
poderiam ser verdade, já que Jo era lésbica. Pelo visto.
Essa não era a parte importante dessa conversa, no entanto. Desculpe ou
não, Jo a estava tratando mal. Fazer isso na frente desse homem horrível
era pior. Jo deveria estar reconquistando a confiança de Emma e, em vez
disso, parecia que ela havia escolhido Barry, o que era ridículo. Essa era a
carreira de Emma, não escolhendo equipes no parquinho. Mas isso ainda
era de alguma forma o que mais doía.
— Eu só queria que você tivesse me protegido — Emma disse
calmamente.
— Eu não posso te apoiar em tudo, se quisermos que esses rumores
desapareçam — disse Jo. — Eu sou sua chefe, Emma. Eu tenho que agir
como uma.
— Há uma diferença entre agir como meu chefe e me jogar debaixo do
ônibus — disse Emma. — E você sabe que existe, porque você nunca fez
isso antes.
Jo colocou a mão no cabelo e o puxou. Ela parecia triste, pelo menos, o
que Emma gostou mesmo que ela não devesse.
— Eu não sei por que os rumores são importantes para você — disse
Emma.
— Com licença?
— Eu não sei por que você se importa com os rumores de qualquer
maneira — Emma não conseguia descobrir por que ela estava escolhendo
essa batalha, exceto que ela estava brava com Jo por tudo com Avery,
estava brava com ela novamente por a repreender na frente das pessoas,
não importa o motivo. Ela não queria estar. Ela queria superar tudo isso.
Ficar brava só piorava as coisas, mas ela não conseguia parar. E então ela
se manteve firme. — Você é vista como uma jovem gostosa. Sou eu quem
as pessoas pensam que é incapaz de conseguir um emprego sem dormir
com alguém.
Os dentes de Jo brilharam em um sorriso que ela rapidamente mordeu.
— Enquanto admiro sua confiança em me chamar de uma jovem gostosa
— ela disse, e Emma percebeu que poderia ter sido um pouco demais —
Isso não é tudo que eu vejo. E eu sei que tenho uma reputação de não dar a
mínima para o que as pessoas pensam de mim, mas eu cultivei isso. Cultivei
isso porque é mais fácil do que as pessoas saberem que podem me
machucar.
O coração de Emma torceu um pouco. Jo continuou.
—Eu sei que você está com raiva de mim, Emma — disse Jo. — E eu
mereço isso. Não lhe contar sobre conhecer Avery foi errado, e me
desculpe.
Emma ficou rígida. Isso não precisava fazer parte dessa conversa.
— E sinto muito por ter agido como se não importasse, como se não
precisasse me desculpar — disse Jo. —Você merece melhor do que isso.
Era exatamente o que Emma queria que Jo dissesse esta manhã, antes
que Barry aparecesse. Agora, ela não se sentia pronta para lidar com isso.
— Mas você não deve descontar isso em mim assim — disse Jo. — Eu
tive que repreendê-la porque você estava fora do seu lugar. Indo com
calma, você teria alimentado o fogo das pessoas que acreditam que estamos
dormindo juntas, e isso seria ruim para nós duas. Pare de ficar brava e
pense nisso por um segundo. — Ela suspirou. — Você acha que as pessoas
não olham fotos nossas e pensam que estou corrompendo uma jovem
adorável? Que eu sou uma lésbica predatória no meio de uma crise de meia
idade. Eu sou uma cadela frígida que simplesmente não encontrou o pau
certo. Sou uma mulher dragão que está roubando uma garota bonita
branca dos meninos brancos que ela deveria namorar.
Assim, toda a raiva de Emma entrou em colapso.
— Chefe, não — disse ela horrorizada. — Você não é nenhuma dessas
coisas.
Jo olhou para ela por um momento, depois balançou a cabeça como se
estivesse deixando isso ir.
— É tudo uma questão de percepção, Emma. Você não pode falar assim
com diretores, especialmente não com diretores como Barry Davis. Não
importa o quão errado eles estejam.
Emma assentiu.
— Certo. Não vou fazer isso de novo.
— Você sabe que pode confiar em mim com esses personagens. Entrarei
quando alguém estiver fora da linha — disse Jo. Ela ofereceu a Emma um
pequeno sorriso. — Você pode confiar em mim, mesmo quando estiver
brava comigo.
— Eu não estava brava com você — Emma estava, obviamente, mas ela
não queria admitir isso agora.
Jo inclinou a cabeça para Emma, com seu sorriso incrédulo.
— Claro que você estava — disse ela. — Você deveria estar. Presumi
que Avery lhe contaria coisas e, quando ela não contou, eu apenas... não
sabia como dizer nada. — Normalmente, ela comandava o quarto de sua
elegante cadeira branca, mas agora ela parecia aberta – vulnerável, até. Os
ombros estavam caídos, o pescoço comprido. — Quanto mais durava, mais
difícil ficava. Não que isso seja uma desculpa. Eu não deveria ter escondido
isso de você, e não deveria ter fingido que não era minha responsabilidade
lhe contar, e sinto muito.
—Está tudo bem.
— Não está — disse Jo. — Eu me preocupo com você, Emma, e quero
que você prospere. Eu criei um ambiente hostil para você, e isso foi errado
e não é justo. Você merece ficar com raiva de mim, mas espero que possa
me perdoar.
Emma esfregou o dedo contra o tapete.
— Claro, chefe — disse ela calmamente.
— E lamento que isso tenha coincidido com a visita de Barry Davis —
disse Jo. — Eu sei o quanto você estava ansiosa para conhecê-lo e aprender
com ele. Falarei com ele amanhã e espero que, se ele não mandar uma
recomendação para potenciais empregadores, pelo menos também não
mande um aviso sobre você.
Emma chutou o pé com mais força no chão, olhou para ele em vez de
para Jo.
— Não — ela disse. — Eu não quero uma recomendação.
— Emma — Emma não precisou olhar para Jo para imaginar a
incredulidade em seu rosto. — Isso poderia ajudá-la um pouco–
— Sim, mas...— Emma tentou engolir o sapo na garganta. — Eu não
quero isso dele...
Jo fez um som de hmm.
— Ele não atendeu às suas expectativas, não é? Com essa direção
terrível e tudo.
Emma brincou com a barra da blusa. Ela olhou para Jo, que parecia mais
à vontade do que em uma semana.
—Isso e… — Emma não queria dizer a ela, não queria dizer nada, não
queria pensar sobre isso. Mas sua visita ao set não era apenas sobre ela o
sombreando – ainda havia a possibilidade de ele dirigir um episódio. Emma
tinha que fazer algo para impedir. — Ele disse algo não muito bom para
mim.
Os olhos de Jo brilharam por um momento.
— O que ele disse?
— Apenas alguns comentários — disse Emma. — Eu pensei que talvez
estivesse exagerando, mas... — Ela se encolheu um pouco. — Ele indicou
se eu lhe desse…. se eu... ele disse que me recomendaria a um amigo para
um produtor assistente se eu lhe desse uma punheta.
Jo piscou lentamente. Ela colocou as duas mãos na mesa e se levantou.
— Ele disse isso?
A essa altura, Emma havia aprendido os sinais externos do humor de Jo.
Isso – olhos estreitados e dedos tremendo na mesa, quase como se ela
estivesse tremendo? Isso era raiva. Isso era fúria. Emma se encolheu,
querendo pegar suas palavras de volta. Ela não disse nada.
Jo respirou fundo. Emma estava pronta para ela gritar. Ela não fazia isso
com frequência, mas parecia que um momento iria acontecer.
Em vez disso, ela disse suavemente:
— Emma. Você está bem?
Não estava explodindo em lágrimas, mas os olhos de Emma
definitivamente se encheram de lágrimas. Ela balançou a cabeça – para si
mesma, com essa resposta emocional estúpida, não para Jo.
— Estou bem, chefe — disse ela. — Foi apenas... foi estúpido. E fiquei
chateada e... me desculpe, por ter reagido da maneira que reagi.
— Emma. — A voz de Jo era tão gentil. — Você não precisa se
desculpar por estar chateada com um assédio sexual.— Ela fez uma pausa.
— Você quer se sentar?
Emma assentiu. Jo deu a volta na mesa dela. Ela levou Emma em direção
ao sofá sem se aproximar o suficiente para tocá-la, então ela também se
sentou, a uns dois metros de distância.
— Você precisa de água? — Jo se levantou. — Você comeu
recentemente? Eu tenho barras de granola ou iogurte ou...
— Estou bem, chefe — disse Emma.
Jo sentou-se novamente. Suas mãos começaram a ir em direção a Emma
e depois pararam, terminando em punhos no colo.
— Sinto muito que isso tenha acontecido, Emma — disse ela. — Sinto
muito que isso tenha acontecido com você. E lamento não saber. Ele nunca
estará dirigindo um episódio nem poderá voltar ao prédio.
— Não, Jo, eu–
Jo levantou a mão dela.
— É inegociável. Quem a trata assim não é bem-vindo aqui.
Isso fez Emma querer chorar mais, por algum motivo. Um minuto atrás,
ela acusou Jo de não tê-la defendido, e aqui ela a defendia sem hesitar.
— Gostaria também da sua permissão para divulgar uma declaração
explicando que ele não foi convidado a dirigir, porque assediou
sexualmente um de meus funcionários.
Os olhos de Emma se arregalaram.
— Chefe, não. Eu não quero causar nenhum problema. Ele é Barry
Davis e...
— E ele te assediou sexualmente. Ele é quem está causando problemas.
— Emma jurou que a voz de Jo tremia. — Não vou mencionar seu nome,
obviamente. Mas eu gostaria de divulgar uma declaração.
— Ele saberá que fui eu — disse Emma. — Se eu quiser fazer alguma
coisa em Hollywood, ele garantirá que eu não consiga. Ele disse que
poderia me dar oportunidades, o que significa que ele pode ter certeza de
que eu também não as tenha.
— Foda-se as oportunidades que ele diz que pode te dar — rosnou Jo.
Ela respirou, mas ainda estava obviamente brava quando continuou. — Me
desculpe, eu estou apenas – ele pode não saber que era você, na verdade,
porque homens assim não escolhem apenas uma mulher para assediar. E
mesmo que ele o faça, a declaração será meu primeiro passo para garantir
que ele não possa mais trabalhar no setor, não com você. Ele acha que pode
vir aqui e te tratar assim? Tratar alguém assim? Se ele ainda não tivesse
saído, eu o expulsaria.
Emma sorriu um pouco com isso. Ela esfregou o nariz e fungou.
Todo o seu relacionamento parecia ter sido virado de cabeça nos últimos
cinco minutos. Emma passou tanto tempo pensando que Jo não se
importava com ela, pensando que ela não era importante o suficiente para
ela.
Ela não pensava mais nisso.
Ela não podia, não com o jeito que Jo olhava para ela, preocupada,
nervosa e desesperada para fazer alguma coisa. Jo estava a apoiando. Nem
sempre foi assim em situações como estas. Com muita frequência, os chefes
não acreditavam em você; as pessoas ignoravam coisas horríveis porque
outras eram talentosas. Ter Jo tão pronta para lutar – Emma
definitivamente não podia pensar que Jo não se importava com ela. Algo
mergulhou no estômago de Emma.
Jo respirou fundo e soltou o ar lentamente, como se ela estivesse
tentando se acalmar.
— Falaremos mais sobre isso amanhã, se você preferir — disse ela. —
Eu não quero te sobrecarregar.
— Estou bem — disse Emma, mesmo que não estivesse.
Jo sorriu gentilmente para ela, e mais lágrimas vazaram dos olhos de
Emma. Ela riu de si mesma.
— Eu vou ficar bem, chefe — disse ela. Ela sentou-se ereta. — Há mais
alguma coisa a fazer hoje? Eles terminaram no set?
— Emma. — A maneira que Jo estava dizendo seu nome fazia seu peito
ficar apertado, especialmente com o modo como a chamava de Kaplan
durante a maior parte do dia. — Eles terminaram no set. Não há nada que
você precise fazer hoje, exceto ir para casa e cuidar de si mesma.
— Certo — disse Emma.
Jo ficou de pé e Emma também. Ela queria pedir um abraço. Mas Jo era
a chefe dela, e elas estavam conversando sobre assédio sexual, e não parecia
a melhor ideia. Emma meio que deu de ombros para ela.
— Vejo você amanhã, chefe.
— Tenha uma boa noite, Emma — disse Jo. — Dirija com cuidado. Se
precisar de algo, se quiser tirar a folga amanhã, qualquer coisa, é só me
avisar.
Emma balançou a cabeça em um aceno de cabeça, deu um tchau e saiu.
12
EMMA

E mma foi para casa, abriu a porta do apartamento e trancou-a atrás dela.
Deixou cair as chaves e a bolsa na mesa perto da porta, e se jogou no
meio do sofá.
Que dia.
Ela olhou inexpressivamente para sua TV. Energia inquieta encheu seu
corpo, mas ela não conseguia se mover. Ela flexionou as panturrilhas,
mexeu os dedos dos pés. Ela pensou nessa manhã como tentou não se
mexer enquanto esperava Barry Davis chegar. Parecia uma semana atrás.
Emma esfregou as costas da mão com força contra os olhos molhados.
Ela estava tão frustrada. As mulheres não deveriam ter que lidar com essa
merda mais. Ninguém deveria. Tudo parecia sujo agora. Os filmes favoritos
de Emma. Seu sonho de dirigir. Seu próprio local de trabalho. Ela precisava
tomar banho.
Ela mexeu mais os dedos dos pés. Não saiu do sofá.
Ele era um dos heróis dela. Doze horas atrás, ele estava perto do topo da
lista de pessoas que ela gostaria de conhecer na vida. Agora ela nunca mais
queria vê-lo. Nunca queria pensar nele. E ainda assim, ele faria mais filmes;
as pessoas continuariam a amá-lo. Se ela permanecesse na indústria, nunca
escaparia dele.
Se ela permanecesse na indústria.
Um dia, e ele a fez duvidar de seus sonhos, seus objetivos. Ela apoiou os
cotovelos nos joelhos e segurou a cabeça nas mãos. Talvez ela pudesse
aprender a assar, trabalhar para Avery pelo resto de sua vida. Ela
abandonou a escola de cinema, as pessoas pensavam que ela só tinha seu
emprego porque estava dormindo com sua chefe, e ela desafiou
publicamente um cara que poderia construir ou quebrar sua carreira. Como
diabos ela deveria se tornar diretora? Ela exalou com força pelo nariz.
Jo nunca a deixaria sair.
Jo, com quem ela não estava mais brava. Jo, que a apoiou imediatamente.
Jo, que era lésbica. Emma se recostou e chutou os pés sobre a mesa de café.
Ela mordeu o mindinho.
Jo havia se desculpado. Atenciosamente. Ela se desculpou por não ter se
desculpado a princípio. Emma não a perdoou quando pediu desculpas
ontem, mas hoje? Hoje, Jo havia consertado todos os motivos pelos quais
Emma estava brava com ela. Emma se perguntou se Jo ainda estava no
trabalho. Ela deveria ter ficado, certificando-se de que Jo partisse em um
tempo razoável. Mas Jo era uma adulta. Ela poderia chegar em casa. Era só
isso – bem, talvez Emma quisesse cuidar de Jo.
Não. Talvez não. Não mais. Emma disse que talvez ela tivesse
sentimentos por Jo quando sua mãe apontou como ela estava chateada por
Jo estar nos jogos de beisebol sem contar a ela, mas Emma não estava mais
insegura.
Hoje, Jo a fazia se sentir segura, quente e cuidada, e era assim que Jo a
fazia se sentir há meses. Emma estava finalmente pronta para admitir,
finalmente foi capaz de ver isso. Ela se perguntou como seria sua vida sem
os rumores. Ela e Jo tinham definitivamente se aproximado ao longo do
ano, mas isso fazia sentido – ela tinha sido apenas uma assistente de
suporte no ano passado. Ela nunca havia trabalhado de perto com Jo, mal
podia acreditar quando Aly disse que Jo queria roubá-la. Mas elas estavam
juntas constantemente neste ano, então é claro que haviam se aproximado.
Não foi culpa dos rumores.
Nem esses sentimentos. Os rumores não fizeram Emma se sentir segura
em torno de Jo. Os boatos não tornaram Jo linda, carinhosa e gentil. Os
rumores não deram a Emma uma queda. Na verdade, Emma
provavelmente teria percebido sua paixão mais cedo sem os rumores. Ela
estava tão focada em quão errados eram os rumores, que nunca tinha
realmente considerado que eles não estavam errados. Ou – eles poderiam
estar fora da realidade quando começaram, mas em algum lugar ao longo
do caminho seus sentimentos mudaram.
Não que Emma ter percebido isso mudasse alguma coisa. Jo ainda era a
chefe dela. Ela pode se importar com Emma, pode estar cuidando dela, mas
isso não significava que havia sentimentos envolvidos. Essa coisa toda era
sobre comportamento inadequado no trabalho. Jo nunca estaria interessada
em uma funcionária.
Em vez disso, ela queria divulgar uma declaração sobre Barry. Ela
queria arruinar sua carreira. Parecia bom, talvez, obter algum tipo de
vingança. Exceto que ele era Barry Davis e Emma era uma assistente que
todo mundo pensava estar dormindo com seu chefe. Quem acreditaria em
quem nessa situação? Emma precisava ser realista.
Isso foi algo que aconteceu. Para todos os homens que se afundaram por
causa disso, Hollywood provavelmente tinha mais milhares que não. Quem
não tinha gostado disso e quem não tinha parado. Eles apenas se
aprofundaram nas sombras. Mesmo que as pessoas acreditassem em
Emma, valeria a pena? Ela não queria estar nas notícias ou nos tabloides ou
em qualquer outra coisa. Ela estava cansada disso. Ela estava cansada de
pessoas falando sobre ela e pensando que a conheciam e julgando-a. Ela
não queria trazer mais isso para si mesma, não queria trazer mais disso
para Jo. Uma declaração já seria ruim o suficiente para a carreira de Emma
– uma vagabunda fazendo acusações falsas sobre o garoto de ouro da
indústria. Jo não precisava estar conectada a isso também. Ela havia pedido
favores para Barry vir para o set. Emma não precisava prejudicar a carreira
de Jo, assim como a dela.
Emma recostou-se nas almofadas do sofá e pegou o telefone.
Normalmente, ela só lia coisas relacionadas aos rumores se Phil ou,
raramente, Avery enviava a ela. Buscar no Google o nome dela trouxe
muito mais do que ela esperava. Havia artigos de hoje. Ela clicou em um.
— Como eles já têm isso? — ela perguntou ao apartamento vazio.
Era um artigo sobre Jo a cortando no set. Havia citações de uma fonte;
aparentemente o informante estava de volta, porque eles sabiam
exatamente o que havia acontecido. Eles sabiam que Jo havia dito a ela que
ninguém se importava com suas opiniões, sabiam que ela foi dispensada
depois de voltar com o café gelado.
Emma se afastou do artigo para enviar uma mensagem para Jo.

Alguém no set está vazando coisas para a imprensa. Já existe um artigo sobre eu
retrucar Barry e tudo mais.

O artigo continuava falando sobre Jo ser vista com seu ex-colega de


elenco. Emma sabia agora que eles não estavam namorando, mas o autor
deste artigo não. Eles postularam que Jo e Emma haviam terminado. Isso
era bom, Emma supôs. Se ninguém pensava que estavam juntas, talvez ela
não precisasse se preocupar em ficar à vontade no escritório de Jo ou rir de
suas piadas ou o que mais as pessoas vissem e decidissem que aquilo
significava algo mais.

Eu sei. Não se pode fazer muito sem parecer que estou caçando uma bruxa pelo bem
da minha namorada.

Jo chamando-a de namorada fez as borboletas no estômago de Emma


vibrarem, mesmo que obviamente fosse uma piada.
Você não viu? Emma mandou uma mensagem de volta. Não somos mais
namoradas. Aparentemente, você partiu meu coração.
Ela estava citando a fonte do artigo, que disse que estava triste há uma
semana, mas parecia estranha de qualquer maneira. A fonte estava certa, e
a tristeza de Emma era por causa de Jo. Na verdade, não era difícil ver
como tudo tinha sido mal interpretado.
Isso não parece muito plausível, Jo mandou uma mensagem, assim como Emma
estava pensando em como isso era plausível. Outro texto veio rapidamente:
Espero que a ideia de que “terminamos” se mantenha. Vai ser bom se livrar desses rumores.
Saia com aquele ex-colega de novo e devemos ficar bem.
Emma digitou, mas não apertou enviar. Parecia estranho, com ciúmes.
Isso mostrava que ela estava ciente das ações de Jo fora do trabalho, mesmo
quando elas não haviam conversado sobre elas, e isso definitivamente
parecia estranho. Jo provavelmente já tinha lido um artigo até agora,
provavelmente, viu exatamente o que Emma viu, coisas dizendo que ela e
Sam Allen estavam namorando. Emma não precisava apontar isso.
Vou tentar parecer deprimida no trabalho, Emma mandou uma mensagem.
Os três pontos que mostram que Jo estava digitando apareceram por um
longo tempo antes de Emma receber sua próxima mensagem.

Eu falei sério quando disse que quero que o trabalho seja um lugar em que você possa
prosperar. Não deixe que nenhum boato ou qualquer coisa impeça isso.

Eu sei, chefe.

Emma manteve a conversa aberta. Os três pontinhos apareceram por


quase cinco minutos. Jo não enviou outro texto.
Emma abriu uma nova conversa e mandou uma mensagem para a irmã
dizendo que elas deveriam sair amanhã depois do trabalho. Ela contaria a
Avery sobre Barry, ela iria, mas ia cuidar de si mesma esta noite. Isso
significava pedir comida vietnamita e tomar um banho de banheira depois
do jantar. Ela manteve as luzes do banheiro apagadas, deitou-se na
banheira iluminada apenas pela luz de velas. Ela considerou comprar um
gato – algo fácil de cuidar, mas algo que ela poderia aconchegar depois de
dias difíceis. Ela não podia continuar pedindo à irmã para trazer os
rottweilers. Avery foi quem sugeriu desta vez, na verdade, o que significava
que ela deve ter percebido que as coisas não estavam indo bem hoje. Talvez
ela tenha lido sobre o “rompimento” de Emma e Jo e pensado que Emma
estava triste com isso. Emma realmente esperava que o término
prosperasse. Qualquer coisa para tirá-la dos tabloides.
Quando Emma se secou e vestiu o pijama, ela se perguntou o que
aconteceria quando Jo deixasse Inoncents. Ela não era tão ingenuamente
idealista em pensar que Jo poderia se interessar por ela se não fosse uma
funcionária, mas esperava que acabassem amigas.


JO PAROU AO LADO DA MESA DE EMMA na
manhã seguinte.
— Obrigada pelo chai — disse Emma, levantando a bebida em questão
para Jo.
Jo meio que sorriu, mas sua testa estava enrugada, linhas de
preocupação ao redor dos olhos. O estômago de Emma revirou com a
preocupação de Jo.
— Eu estou bem — Emma disse antes que Jo pudesse perguntar.
— Se você não quiser estar aqui hoje, tudo bem — disse Jo. — Você
pode...
— Estou bem, chefe — Emma disse novamente. — Eu estou realmente
bem.
— Se você precisar de alguma coisa, me avisa? — Era mais uma questão
do que um comando.
— Eu vou.
— OK.
O coração de Emma bateu duas vezes enquanto ela e Jo mantinham
contato visual. Eventualmente, Emma deu uma revirada de olhos – tanto
para ela mesma quanto para Jo – com um sorriso.
— Seu roteiro não vai se editar sozinho — disse ela.
— Certo — disse Jo. O sorriso dela era fraco. — OK.
Ela entrou em seu escritório, deixando a porta aberta atrás dela.
Jo deveria escrever o dia todo. Só faria pausas para solucionar problemas
se alguém precisasse de algo no set. Dias como esse, ela geralmente ficava
atrás de sua mesa por horas.
Hoje ela saiu e encostou-se ao batente da porta depois de menos de uma
hora.
— Você está bem? — ela perguntou.
Emma abaixou a cabeça em uma aproximação de um aceno de cabeça. A
atenção de Jo a aqueceu por todo o lado. Ela tinha que se controlar. Não
havia como sobreviver a essa paixão se ela corasse a cada interação.
Jo voltou ao seu escritório. Quando Emma apareceu mais tarde para
verificar se precisava de um refil, Jo segurou o copo longe das mãos de
Emma.
— Existe alguma coisa que você precise? — ela disse.
Emma soltou uma risada exasperada.
— Eu preciso encher seu café, Jo — disse ela. — Eu preciso fazer o meu
trabalho.
— Você sabe se precisa de tempo–
— Você está tornando tudo mais estranho perguntando a cada hora
como eu estou. — Emma não estava mentindo quando disse: — Eu
realmente estou bem, chefe.
Jo sorriu suavemente para ela. O estômago de Emma ficou trêmulo. Ela
lembrou a si mesma que essa paixão não importava. Nada jamais
aconteceria entre elas, mas tudo bem. Ser amiga de Jo – e elas eram amigas,
mesmo que Jo fosse sua chefe, isso não significava que não eram amigas –
não era um prêmio de consolação. Emma gostava da maneira como Jo
confiava nela. Ela gostava de tudo em Jo e gostava antes de descobrir que
tinha sentimentos. A queda dela não tinha que mudar nada entre elas.
Contanto que ela pudesse se recompor e parar a sensação desagradável em
seu estômago toda vez que Jo a olhava.
O rosto de Jo ficou mais sério.
— Eu quero fazer algo sobre isso.
— Eu não — disse Emma. Era mais fácil pensar nos sentimentos dela
por Jo do que em tudo o que havia acontecido com Barry. — Eu não quero
causar nenhum problema. Eu apenas – eu sei que deveria. Sei que devo me
levantar e fazer o possível para garantir que ele não faça isso com mais
ninguém, exceto...
— O comportamento dele não é de sua responsabilidade — disse Jo. —
Você não precisa desse peso em seus ombros. Entendo completamente por
que você não gostaria de dizer nada.
Emma soltou o ar, com os ombros caídos.
— Mas eu estou te perguntando – você não precisa fazer nada — disse
Jo. — Mas estou pedindo sua permissão para fazer as coisas sozinha. Eu sei
que você não quer que eu divulgue uma declaração sobre porque ele não foi
contratado, e eu não vou. Mas de que adianta ser uma queridinha ex-estrela
infantil de Hollywood, se não posso defender pessoas que não conseguem
fazer isso sozinhas? Você pode não ser a única pessoa para quem ele disse
algo assim. Eu quero derrubá-lo.
Emma deu de ombros, sentindo-se impotente.
— Eu não quero fazer parte disso.
— Você não precisa — disse Jo. — Eu ia fazer isso sem perguntar, mas...
parecia melhor lhe contar.
Emma ouviu tudo o que Jo não estava dizendo. Elas apenas – fizeram as
pazes pode não ser o termo certo, mas era tudo que ela conseguia pensar.
Acabaram de fazer as pazes depois de uma briga porque Jo não contou as
coisas para ela. Emma não se emocionou com o primeiro pedido de
desculpas de Jo, porque parecia um gesto vazio. Mas este era mais do que
palavras – Jo estava a apoiando com ações. Ainda assim, Emma não queria
se envolver.
— Eu não quero fazer parte disso — disse ela novamente. — Pelo
menos não agora. Eu não quero saber sobre isso. Eu realmente aprecio
você ter me dito, mas... Não quero saber mais nada. Você pode fazer o que
quiser, apenas me mantenha fora disso.
— Tudo bem — disse Jo. — Obrigada.
— Obrigada.


EMMA ALMOÇOU COM Phil, e ele deu-lhe um olhar tão penoso que ela sabia
que ele a considerava patética.
— Como estão as coisas com você e Jo? — Phil perguntou.
— Tudo bem — Emma disse imediatamente. Ela não queria falar sobre
isso. Não queria explicar como a reação de Jo ao que Barry havia dito a fez
se sentir segura. Ela não queria contar a mais ninguém o que Barry disse,
mas não tinha certeza de que poderia descrever adequadamente como as
coisas estavam entre ela e Jo sem ele.
— Garota, ela te despedaçou ontem — disse Phil.
— Sim, mas ela pediu desculpas. — Emma deu de ombros. — Ela disse
que eu estava certa.
— Então vocês se beijaram e fizeram as pazes?
Chantal passou por lá e, pelo olhar que ela lhes deu, ela provavelmente
ouviu.
Emma bateu no braço de Phil e revirou os olhos.
— Você sabe que nós nunca namoramos de verdade — ela disse. — Mas
graças a Deus os tabloides decidiram que terminamos. Agora as pessoas
podem parar de pensar que estou fudendo meu caminho para o topo no
negócio.
Phil bateu o ombro no dela.
— Eu sei que te provoco, mas os rumores eram tão ruins assim?
— Sim — disse Emma, sem hesitação. — Eles eram.
— Acho que vou ter que parar de vender minhas histórias para os
tabloides então.
Emma revirou os olhos novamente.
— Espero que quem que seja no set realmente seja parado. Ou espero
que estejam pelo menos no campo que pensem que “terminamos” ou o que
quer que seja. — Ela pensou em Chantal passando por ali, imaginando se
haveria um artigo sobre como Jo e Emma se beijaram e fizeram as pazes.
Mas Chantal trabalhava com Jo há anos, ela não parecia uma informante
provável. Emma olhou em volta. Ninguém mais estava perto o suficiente
para ouvir sua conversa com Phil. — Não entendo por que alguém aqui
contaria aos tabloides que Jo e eu estávamos juntas. Certamente as pessoas
que realmente nos veem interagindo sabem que não?
Assim que saiu da boca, ela esperou que Phil fizesse uma piada sobre a
maneira como olhava para Jo ou algo assim. Era o estilo dele, e geralmente
a fazia rir, mas ela estava cansada disso às suas custas. Especialmente
agora. Como exatamente ela olhava para Jo?
Mas Phil apenas deu de ombros.
— O dinheiro faz as pessoas fazerem coisas estúpidas.
Emma bateu nos ombros novamente e sorriu enquanto terminava o
almoço.


NO GERAL, O DIA CORREU bem.Claro, houve algumas vezes em que alguém
mencionou Barry Davis e o corpo inteiro de Emma ficou rígido, e ela lidou
com os olhares do elenco e da equipe que deixaram claro que mesmo as
pessoas que não estavam presentes quando Jo gritou com ela sabiam que
ela tinha gritado, mas ela não se importava. Porque Jo ficava olhando para
ela, as sobrancelhas franzidas de preocupação. Toda vez que Jo olhava para
ela, os músculos de Emma ficavam soltos e quentes. Quando ela realmente
pensou sobre isso, não era tão diferente de como ela sempre se sentia em
torno de Jo. Ela só estava ciente de quais eram os sentimentos agora. Deus,
ela nunca poderia literalmente contar à irmã. Ela nunca ouviria o fim disso.
Ela estava tão focada em Jo o dia todo, que Emma realmente esqueceu
que tinha que contar a Avery sobre o que aconteceu com Barry. Ela foi
lembrada quando a primeira coisa que Avery fez ao chegar ao apartamento
de Emma foi abrir os braços para um abraço. Emma afundou nela, deixou
sua irmã segurá-la por um momento. Avery apertou com força, a bolsa na
mão pesada contra as costas de Emma e Cassius esperando pacientemente
a seus pés.
— Eu trouxe o jantar — disse Avery.
O jantar foi um pão artesanal e seis tipos diferentes de queijo.
— Você não precisava trazer comida de consolo, Ave — Emma riu.
Seu peito estava quente, no entanto, com o quanto sua irmã queria
cuidar dela.
— Nunca há um bom tempo para queijo grelhado, ok?
Emma não pôde discordar.
Avery deu uma olhada preocupada para Emma quando ela começou a
trabalhar para fazer o jantar. Emma sentou no chão, de costas contra as
costas do sofá, deixando Cassius subir em seu colo. Ela e Avery
conversaram sobre a padaria, enquanto Avery cortava fatias de pão de
espessura média e cobria um lado de cada um com manteiga.
— Eu meio que suponho que você leu algo sobre mim e Jo, certo? —
Emma facilitou sua história.
— Eu posso ter lido um pouco — disse Avery. — Não parecia bom.
— Eu sei! É maravilhoso — disse Emma, e Avery deu-lhe um olhar
interrogativo. — Que as pessoas pensem que terminamos? Espero que a
história continue, porque assim finalmente seremos deixadas em paz.
— Sim, entendi, mas... — Avery pegou uma panela no fogão de Emma.
— Você queria ter Jo gritando com você na frente da metade do elenco?
Emma sorriu, encolhendo os ombros.
— Deu tudo certo no final.
Ela coçou Cassius atrás das orelhas e roubou um pouco da força dele
para explicar o que aconteceu. Ela contou a Avery sobre gritar com Barry
por má direção e ser derrubada por Jo, contou como Jo pediu desculpas
depois por tudo. Ela não disse nada sobre a ironia que os tabloides
decidiram que haviam terminado ao mesmo tempo que Emma percebeu
que ela realmente tinha uma queda por Jo.
Avery parecia duvidosa.
— Então vocês duas estão subitamente bem agora?
— Quero dizer, acho que é um pouco repentino, sim, mas... as coisas
voltaram ao normal com tanta facilidade — disse Emma. — Estou ansiosa
para voltar a trabalhar.
Ela não contou a Avery sobre Jo se assumindo para ela. Avery já achava
que Jo era queer, e Emma não estava aqui para tirar ninguém do armário,
nem mesmo para sua irmã, que nunca contaria a ninguém, incluindo
Dylan, se Emma não quisesse. Além disso, Emma pode ter tido outros
motivos para não querer discutir sobre as preferências de namoro de Jo.
Razões egoístas.
Avery empilhou o queijo em um pedaço de pão, com a manteiga virada
para baixo, na panela agora quente. Ela colocou outro pedaço de pão em
cima. Ela não disse mais nada enquanto cozinhava, deixando Emma falar
sobre as coisas com Jo e como ela provavelmente seria capaz de ir ao último
jogo de beisebol dos gêmeos amanhã.
Quando os sanduíches ficaram prontos, Avery pegou os pratos e se
sentou no sofá. Emma se serviu de um copo enorme de leite, e outro para a
irmã antes de se juntar a ela na sala de estar. Cassius veio deitar-se a seus
pés, mas ele sabia que era melhor nem sequer considerar implorar.
— Então Barry Davis não era o melhor cara do mundo como você
pensou que ele poderia ser? — Avery perguntou. Ela estava animada com
isso, enquanto o peito de Emma se apertou de uma maneira que ela se
acostumou ao longo do dia. — Você não se apaixonou loucamente por seu
talento ou algo assim?
— Por favor, nem brinque com isso — disse Emma, enojada. — Ele
definitivamente não era ótimo, ao que parece.
— Nada bom?
— Nada bom — Emma repetiu. Ela tentou parecer indiferente, sua voz
alegre. Ela mordeu o sanduíche antes de continuar. — Ok, primeiro de
tudo, isso está delicioso e eu amo você.
Avery inclinou o copo de leite para ela.
— De qualquer forma — Emma disse — ele meio que agiu como, já que
era claro que eu estava dormindo com Jo, eu não deveria ter um problema,
em sabe, dar a ele uma punheta, por oportunidades. Embora honestamente
eu acho que se eu estivesse dormindo com alguém para ter um emprego, eu
seria mais do que uma assistente a este ponto.
Avery não riu da piada. Ela olhou para Emma, com o queijo escorrendo
do sanduíche na mão e se esticando em direção ao prato abaixo.
— Ele propôs isso a você? — ela perguntou.
— Eh, eu acho? — Emma acenou com a mão, agindo como se ele não a
tivesse proposto explicitamente. Não havia sido um comentário tirado de
contexto. — Ele era um idiota. E ele definitivamente não é mais meu
diretor favorito.
— Em — disse Avery.
Emma sabia que ela queria mais informações, queria conversar. Mas
Emma não. Ela não queria falar sobre isso ou pensar sobre isso ou fazer
qualquer coisa sobre isso. Ela estava se concentrando em coisas boas.
— Não se preocupe com isso — disse ela. — Eu gritei com ele, e Jo
realmente me apoiou quando contei a ela. Ele não vai mais dirigir. Eu
nunca vou ter que vê-lo novamente.
Avery deixou de lado o prato.
— Emma, você está bem?
Emma suspirou. Ela sorriu para a irmã.
— Estou bem — disse ela. Ficava mais verdadeiro toda vez que ela dizia
isso. — Vou conversar com o rabino Blumofe sobre isso no fim de semana.
Você não precisa se preocupar comigo.
— Eu sou sua irmã mais velha, é claro que preciso me preocupar com
você.
Avery subiu direto para seu espaço no sofá, passando os braços em volta
dela. Emma segurou seu sanduíche o mais longe que pôde para que não
estragasse, mas ela não se afastou.
Depois que elas terminaram o jantar e estavam folheando programas de
streaming para encontrar algo para assistir, o telefone de Emma tocou,
Mãe piscando na tela quando ela o pegou na mesa.
— Olá, é sua filha favorita — Emma disse enquanto pegava o telefone,
sorrindo para Avery, que revirou os olhos.
— Oi, querida — disse a mãe. — Como vai você?
— Bem — disse Emma. — Avery estava quase saindo. Ela me fez o
jantar.
— Oh, bom — disse a mãe. — Ela está cuidando bem de você?
Avery estava atualmente rasgando seu guardanapo, enrolando os
pedaços em bolas e jogando-os em Emma, então ela não tinha certeza se
isso contava como cuidar bem dela.
— Por que ela precisaria cuidar de mim, mãe? — Emma estava bastante
certa de que sabia a resposta.
— Bem... você sabe... Ouvi dizer que você pode precisar.
Emma riu.
— Você está lendo os tabloides e agora precisa ligar para me verificar?
— Às vezes parece que os tabloides são a única maneira de descobrir o
que está acontecendo em sua vida — a mãe dela bufou. — Você não liga o
suficiente.
Era sua fala padrão, embora Emma ligasse todos os sábados, e
geralmente pelo menos uma vez durante a semana.
— Estou bem, mãe — disse Emma. — Jo e eu realmente estamos em
melhores condições, independentemente do que dizem os tabloides.
— Certo.
Avery enviou uma bola de guardanapo diretamente nos olhos de Emma.
Emma xingou baixinho.
— Eu tenho que ir bater na sua filha mais velha inútil — disse ela. —
Eu prometo que estou bem. Vou te ligar neste fim de semana, ok?
— Ok, ok — disse a mãe. — Eu te amo.
— Te amo mãe.
Emma desligou o telefone e se jogou na irmã.
Emma tinha 8 centímetros a mais que Avery, pernas longas e um corpo
de corredor, mas Avery foi construída como uma levantadora de peso. Ela
lutou com Emma do sofá para o chão e quase a prendeu – para a angústia
de Cassius – quando Emma recorreu às cócegas. Ela não cedeu até Avery
falar trégua.
— Eu te odeio — disse Avery depois, ainda segurando seu lado longe de
Emma.
— Claro que odeia — disse Emma. — Foi por isso que você apareceu
com comida caseira e aquele olhar super preocupado no seu rosto? Super
odioso.
Avery empurrou o ombro de Emma, mas depois levantou as mãos em
derrota quando Emma fingiu iniciar a batalha novamente.
— Tudo bem — disse Avery enquanto se restabelecia no sofá. — Eu
gosto de você e outras coisas.
— Eu também gosto de você e outras coisas. — Emma sentou na
almofada ao lado dela. — E não conte à mamãe nada, ok? Eu não quero que
ela se preocupe comigo também. Estou bem, juro.
— Tudo bem — Avery disse calmamente. — Mas você sabe que não
precisa se sentir envergonhada nem nada. Você pode contar a ela, se quiser.
— Eu sei, Ave — disse Emma.
Ela não tinha vergonha, mas não queria lidar com isso.
— Então, eu não vou contar para mamãe ou te dizer como reagir a toda
essa situação ou qualquer coisa — disse Avery —, mas se eu conhecer
Barry Davis, vou chutá-lo nas bolas.
Emma riu.
— Além disso — disse Avery, afastando-se mais no sofá. Ela bateu na
almofada entre elas. — Cah, quer subir?
Cassius hesitou por apenas um segundo antes de se juntar a elas no sofá.
Emma olhou para a irmã, com a boca aberta.
— Você realmente me ama! — ela disse, aconchegando-se no cachorro.
— Sim, mas eu escolho o que vamos assistir — disse Avery.
— Combinado.
13
JO

J oquinta
não sabia o que ela ia dizer para Emma quando ela entregou o café na
de manhã. Ela parou ao lado de sua mesa. Abriu a boca e–
— Você está vindo para o jogo hoje à noite, certo? — Isso saiu aos
tropeços. Ela não deixou Emma responder. — É o último jogo e a equipe
vai tomar sorvete depois. Eu posso te levar, se você quiser. Você não pode
perder o último jogo.
Emma piscou.
— Eu estava indo para casa primeiro — disse ela. — Não trouxe roupas
para o jogo. Eu só tenho isso.
“Isso” era o vestido azul marinho com mangas brancas que ela usava, e
era muito chique para um jogo de beisebol. Emma parecia bem nele. Jo
percebeu e depois deixou o pensamento de lado.
— Você pode ir para casa no almoço e trocar de roupa, ou pegar as
roupas para se trocar, pelo menos — disse Jo. Ela desviou o olhar. — Se
você preferir, posso evitar as arquibancadas. Você pode se sentar lá com sua
irmã e–
— Não seja ridícula — disse Emma. — Eu sentarei ao seu lado. Estamos
bem.
— É claro — disse Jo.
Ela ainda sentia que outra bomba estava prestes a cair.
— Eu vou mudar de roupa antes de irmos — disse Emma. — Eu
apreciaria a carona, obrigada.
Ela sorriu como se Jo fosse feita de vidro. Jo acenou para Emma e foi
para o escritório.
Talvez a outra bomba tinha caído na forma de Barry Davis. Depois que
Emma saiu na terça-feira, depois de contar a Jo que Barry a assediou, Jo
ficou em silêncio em seu escritório. Ela queria gritar. Ela ainda gritou, um
pouco. O assistente de Barry ligou ontem, mas Jo não conseguia atender o
telefone. Ela o atacaria se falasse com ele agora, e isso não ajudaria
ninguém. Ela tinha que se recompor. Tinha que descobrir como recusá-lo e
arruinar sua carreira sem nenhuma influência de Emma.
Emma não quis divulgar uma declaração, e por mais que Jo odiasse isso,
ela entendia. Essa foi a indústria que excluiu Jo por denunciar o racismo, e
foi quando ela era um nome familiar. Emma era assistente. Mas Jo era rica
o suficiente agora, estabelecida o suficiente. Isso era algo que ela tinha que
fazer.


AVERY LIGOU PARA JO NO MEIO DA MANHÃ. Jo podia ouvir a raiva em sua voz quando
ela disse olá.
— Você está fazendo algo sobre isso, certo? — Avery disse, sem
conversa fiada primeiro.
— É claro — disse Jo. — Pode demorar um pouco, mas... sim. Claro que
estou fazendo alguma coisa.
— Quando ela me disse – Deus, eu quero matá-lo.
— Eu o trouxe aqui, Avery. — Jo disse o que a incomodava desde que
descobriu. — Eu o convidei para o nosso local de trabalho. Fui eu quem os
apresentou.
— E ele é o idiota que fez isso, Jo — disse Avery. — Isso não está em
você mais do que está em Emma, e você sabe que não é culpa dela.
Claro que a culpa não era de Emma. Mas ela deveria saber. Ela
compartilhava uma indústria com Barry Davis. Ela deveria ter ouvido
alguma coisa.
— Você é realmente rica — disse Avery. — Certamente você tem
dinheiro o suficiente para matá-lo.
Jo riu disso.
— Não posso dizer que não considerei isso.
A tensão quebrou um pouco. Jo podia ouvir o sorriso na voz de Avery
enquanto brincava:
— Esta é uma linha segura?
Elas passaram quinze minutos compartilhando ideias cada vez mais
horríveis sobre o que fazer com Barry Davis. Se alguém estivesse ouvindo
na linha, Jo e Avery provavelmente seriam presas.
Jo desligou se sentindo melhor do que em uma semana.


EMMA CORREU PARA CASA PARA SE trocar antes que elas saíssem. Ela voltou em
shorts jeans e uma camisa xadrez fina sobre uma blusa branca.
Jo dirigiu até o jogo, dizendo a si mesma durante todo o percurso que
isso não tinha que ser estranho. Ela e Emma tinham estado em um carro
juntos muitas vezes. Mas era estranho ter Emma em um carro que na
verdade era dela, que não pertencia a um serviço de carro e era trocado
todos os dias, por isso estava sempre perfeitamente limpo. Em vez disso,
havia um recibo no chão sob os pés de Emma. A caneca de viagem de Jo
estava no porta-copos entre elas. O café que Emma lhe entregava todas as
manhãs era sempre pelo menos a segunda xícara do dia, às vezes a terceira.
Depois de sobreviverem à conversa educada no carro, chegaram tarde o
bastante para que Avery, Dylan, Vincent e Sally já estivessem sentados.
Avery e Vincent sorriram para elas enquanto subiam as arquibancadas.
— Sua chefe idiota deixou você tirar a tarde de folga? — Vincent
perguntou a Emma.
Emma deu um pequeno sorriso para ele. Jo revirou os olhos. Ela abraçou
Sally e deu a Thomas, seu sobrinho mais novo, um tapinha na mão.
— Você está pronto para tomar sorvete depois do jogo? — Ela
perguntou a ele.
— Sim! — ele gritou. Ele puxou o braço do pai. — Sorvete! Sorvete!
— Obrigado por isso — Vincent murmurou quando a abraçou.
Jo cumprimentou Dylan e Avery, que deslizaram um pouco pela
arquibancada para dar espaço.
Não havia muito espaço, no entanto. Havia exatamente dois assentos
entre Avery e Vincent. Estava tudo bem, sentar ao lado de Emma. Elas
passaram tanto tempo sem realmente conversar e agora se sentaram perto
o suficiente para que suas coxas quase se tocassem. Jo se aproximou do
irmão, fazendo-o se mover para o lado. Isso lhe deu algum espaço para
respirar. Ela esperava que nenhum dos pais fosse do tipo que vendesse uma
foto para os tabloides. Os rumores teriam surgido de volta se as pessoas as
vissem assim, parecendo tias lésbicas aplaudindo os filhos dos irmãos.
Emma estava usando uma blusa xadrez.
Avery bateu no ombro de Emma.
— Como você está? — Ela disse isso calmamente. Jo tinha certeza de
que ela não deveria ouvir.
— Eu estou bem — disse Emma, batendo no ombro de Avery.
Jo respirou fundo e relaxou.
O jogo era muito parecido com qualquer outro jogo. Emma sentou-se
com eles, o que era novo, mas ela não mudou muita coisa. Os pais ainda
conversavam moderadamente, Vincent e Avery estavam dando a Jo mais
problemas do que ela merecia, como sempre. A certa altura, enquanto
Vincent brincava sobre como era irritante que, sempre que alguém
descobrisse que Jo era sua irmã, ela era tudo com o que se importavam,
Emma zombou.
— Oh sim — disse ela. — Tenho certeza de que é muito difícil ter uma
irmã famosa com quem você não compartilha o mesmo sobrenome. A fama
dela é provavelmente pior para você do que para ela, que tem paparazzi
ruminando sobre sua vida sexual. Parece muito difícil para você.
Avery caiu na gargalhada e Vincent prontamente fechou a boca. Jo
mordeu o sorriso dela.
— Graças a Deus — disse ela. — Normalmente não tenho ninguém do
meu lado aqui.
— Irmãos são os piores — disse Emma, como se sua irmã não fosse sua
melhor amiga.
Vincent provavelmente teria argumentado contra isso, mas foi a vez de
Ethan no bastão.
Ethan já tinha dois strikes, o que fez Jo bater os pés contra as
arquibancadas abaixo deles. Ele não olhou para ele antes de entrar em
posição. Ele costumava fazer isso – quando era mais novo, sempre
procurava sua família no meio da multidão para se tranquilizar antes de
subir no gramado. Jo mal podia acreditar no quão rápido ele estava
crescendo. Ela ainda tinha uma agitação nervosa toda vez que ele jogava.
O primeiro arremesso foi um leve.
Vincent bateu palmas.
— Bom olho!
O próximo arremesso foi selvagem assim que saiu da mão do
arremessador. Ele atingiu Ethan no pulso. O coração de Jo pulou na
garganta. Ela queria ficar de pé e gritar com o menino. Eles eram apenas
crianças, não era intencional, mas a bola atingiu o sobrinho dela no pulso e
ele estava agachado, a cabeça entre os joelhos, segurando o braço
machucado no peito. Vincent e Sally estavam ambos tensos ao lado dela.
Jo agarrou a beira da arquibancada enquanto o treinador olhava o braço
de Ethan. Ele estava se mexendo, mas também chorava, Jo percebeu das
arquibancadas. Jo quebrou o braço dela quando criança; ela ainda se
lembrava daquela dor aguda e angustiante quando aterrissou errado no
meio de uma rotina de ginástica para a qual ela obviamente não era
talentosa o suficiente. Ela estava pronta para jogar Ethan no banco de trás
do carro e acelerar direto para um hospital.
A mão de Emma desceu, não exatamente em cima da de Jo, mas ao lado
dela. O dedo mindinho dela tocou no de Jo. Jo olhou para as mãos delas,
olhou para Emma.
— Ele está bem — Emma disse a ela. — Olhe para ele, tão forte – ele
nem está saindo do jogo.
Emma retirou a mão para bater palmas enquanto Ethan corria em
direção à primeira base. Jo e o resto dos pais se juntaram aos aplausos. Ela
compartilhou um olhar aliviado com Sally.


A EQUIPE VENCEU, O QUE foi
uma ótima maneira de terminar a temporada,
mesmo que eles estivessem muito longe no campeonato para jogar os
playoffs. Todo mundo foi tomar sorvete depois, Emma se espremeu no
banco de trás de Avery com os gêmeos para o passeio.
O pulso de Ethan estava um pouco inchado, mas ele não estava muito
machucado para precisar de alguma coisa. Ainda assim, Jo bagunçou seu
cabelo.
— Uma banana split para o herói ferido — sugeriu ela.
Ethan sorriu para ela. Os pais dele não. Ela não se importava. Ele
merecia todo o sorvete que queria.
Ela não pediu nada para si mesma, sabendo que seria capaz de comer o
que restasse do de Ethan.
Ela se sentou na beira de um banco de mesa de piquenique, e os outros
se juntaram a ela quando pegaram o sorvete. Emma subiu no meio do
banco no início, mas quando Dani e Ezra seguiram o exemplo, ela deslizou
em direção à borda, bem contra Jo. Ela lhe deu um sorriso de desculpas,
mas não se afastou. Jo se moveu um pouco, apenas o suficiente para dar as
duas mais espaço para a parte superior do corpo. Seus quadris e coxas
ainda estavam pressionados juntos.
Ninguém lhes deu uma segunda olhada. Nem mesmo Avery que sorriu
para ela. Ethan estava do outro lado do banco, meio pendurado na borda,
mas sem reclamar. Depois havia Dani, Ezra e Emma, com Jo no final.
Avery, Vincent e Sally – com Thomas no colo – estavam sentados do outro
lado da mesa. Dylan estava atrás de Avery. O resto da equipe e seus pais
também estavam por perto – eles ocuparam todas as últimas mesas de
piquenique deste lugar. Todo mundo estava falando alto e rindo e não
prestando atenção em Emma, sendo esmagada ao lado de Jo. Emma
também não parecia se importar. Talvez Jo não precisasse se preocupar
com os rumores que já haviam passado, e pudesse aproveitar a noite. Ela
relaxou, seu ombro descansando contra o de Emma. Emma nunca parou na
discussão sobre as melhores coberturas com as crianças.
Ethan não tinha tomado metade do sorvete quando deslizou pela mesa
de piquenique em direção a Jo. Quando passou por Emma, ela pegou a
única cereja sobrando no chantilly e a colocou na boca. Ela não parecia
nem um pouco arrependida, dando um sorriso para Jo antes de dar uma
longa lambida na borda do sorvete. Jo olhou para as sobras da banana split
de Ethan.
Realmente, Jo não sabia como explicar o quão feliz ela estava por ela e
Emma estarem bem. Ela sentia falta dela. Houve alguns momentos em que
ela pensou que Emma poderia simplesmente desistir, e Jo ficou tão
agradecida que não o fez. Ela ficou tão agradecida que, em vez disso,
estavam sorrindo uma para a outra com sorvete.
Depois que todos terminaram, as crianças se cansaram de correr e
brincar na brinquedoteca da sorveteria. Jogadores e suas famílias foram
indo embora lentamente. Jo entrou e saiu da conversa de seu irmão com
Dylan, quando ela ouviu Emma e Avery discutindo.
— Peguei o ônibus de volta pro trabalho — Emma estava dizendo. —
Você não precisa me levar para o estúdio, apenas pra casa. Qual é, Avery.
Jo limpou a garganta. As irmãs se viraram para ela.
— Eu te trouxe aqui — disse Jo. — Eu posso te levar para casa. Você
está praticamente no caminho.
Emma sorriu.
— Seria ótimo.
Jo pegou o sorriso no rosto de Avery quando ela se virou, mas ela tentou
não pensar muito nisso.
Juntas no carro de Jo mais uma vez, não havia nenhuma tensão estranha
aparente. Em vez disso, Emma ficou falando sobre o jogo de pega-pega que
jogou com metade do time depois do sorvete. Ela falou sobre Ethan ser
atingido pela bola, sobre como Dani queria jogar como apanhador, mas
seus pais estavam preocupados com arremessos mal interpretados, bolas
sujas e contra-ataques. Ela estava tão entusiasmada. Jo não podia fazer
nada além de deixá-la falar o tempo todo.
Jo não considerou que seria uma má ideia ser vista pessoalmente
deixando Emma em seu apartamento até que Emma a direcionasse para
sua rua.
— O meu é o terceiro edifício à direita — disse Emma.
Jo ficou tensa então, tentando procurar paparazzi, mas sem parecer que
ela estava fazendo isso.
Emma percebeu assim mesmo.
— Oh, certo — disse ela, como se também tivesse acabado de se lembrar
de que não era a melhor ideia. — Mas acho que eles perderam o interesse.
Eles estavam por perto depois do nosso “rompimento” e tudo mais. Mas
uma vez que eu não estava chorando ou me vestindo como uma pateta que
acabara de quebrar o coração, acho que eles desistiram.
Jo não tinha certeza de como eles tinham encontrado onde Emma
morava. Ela não tinha certeza do que pensar da maneira indiferente que
Emma descartou o problema. Quantas vezes eles estiveram aqui?
— Tudo bem — Jo disse enquanto ligava o pisca-alerta e estacionava
nos degraus do prédio de Emma.
— Obrigada por me levar, chefe — disse Emma. — E por me dizer que
eu tinha que vir.
Jo riu.
— Foi ótimo. — Emma sorriu tanto que Jo não conseguiu ver mais
nada. — Desculpa, sem desculpas, por ter roubado sua cereja.
Jo ergueu as sobrancelhas e o rosto de Emma ficou vermelho.
— Quero dizer, você sabe o que eu quis dizer!
Jo riu.
— Eu sei — disse ela. — Isso foi divertido.
Emma abaixou a cabeça.
— Sim, foi. Vejo você amanhã.
Ela olhou para Jo, quase por entre os cílios, antes de abrir a porta e
seguir para o apartamento. Jo esperou até que ela estivesse dentro antes de
se afastar.
14
JO

J oAainda tinha a foto dela e Emma na gaveta superior direita de sua mesa.
foto original. As duas no tapete vermelho do SAG Awards, usando
vestidos extravagantes e joias brilhantes e aqueles sorrisos, brilhantes e
focadas apenas uma na outra. Emma sorriu para ela assim depois do jogo
de beisebol também. Jo estava com a foto na gaveta havia quase oito meses.
Ela não olhava com frequência, mas às vezes...
Jo olhou para a foto e entendeu, um pouco, por que as pessoas viam algo
ali.
Parecia não haver paparazzi do lado de fora do apartamento de Emma,
nem pais vendendo fotos do jogo de beisebol para os tabloides. Não havia
artigos sobre as duas, nem boatos, pois todos decidiram que haviam
terminado. Foi bom. Jo nunca esperava que demorasse tanto, mas ela estava
feliz que eles finalmente tivessem morrido. Ela se perguntou se negar que
poderia ter sido o melhor caminho, no final, se o dano já havia sido causado
à reputação de Emma, mesmo quando ela nunca o tivesse merecido. Não
havia muito a ser feito sobre isso agora.
Jo foi retirada de seus pensamentos quando Emma bateu na porta do
escritório na segunda de manhã. Sua mandíbula estava firme.
— Você tem um minuto?
— Claro, entre.
Emma fechou a porta atrás dela. Jo se endireitou.
Emma veio para ficar na frente de sua mesa. Ela ficou parecendo mais
alta, pés firmemente plantados, como se precisasse estar em uma pose
poderosa para dizer o que ela ia dizer.
— Quero que você divulgue uma declaração — disse ela. — Não com o
meu nome, mas explicando porque você não ofereceu a Barry um episódio
para dirigir.
— Você tem certeza? — Jo disse. — Eu não quero que você faça o que
não quiser.
— Eu quero — disse Emma. — Eu conversei com meu rabino. Eu tenho
de fazer alguma coisa. Sei que pode não funcionar – as pessoas podem não
acreditar ou podem acreditar e isso não importa. Mas tenho que tentar.
p p q
Jo assentiu. Ela estava orgulhosa de Emma por lidar com a situação, mas
principalmente por querer se levantar.
— Vamos elaborar algo — disse Jo. — Vou garantir que você veja antes
de lançá-lo.
— Isso seria ótimo, obrigada — disse Emma, seu corpo relaxando um
pouco.
— Você é … — Incrível foi a primeira palavra que veio à mente, mas Jo
reprimiu. — Forte, Srta. Kaplan. Não há maneira certa de lidar com isso.
Você está indo bem.
Emma sorriu.
— Obrigada, chefe.
Emma voltou para sua mesa enquanto Jo vasculhava seu catálogo de
endereços para encontrar o número do publicitário em que mais confiava
na dinastia Jones.
Fazia quase uma semana desde a visita dele, mas ela ainda não tinha
dado a notícia a Barry. Ela ainda estava com raiva demais para falar com
ele no telefone. Dispensar ele através de um comunicado de imprensa
parecia muito mais divertido.
Jo se apressou na declaração. Ela queria divulgar isso o mais rápido
possível. Enquanto isso, ela não tinha certeza de que era a melhor ideia,
mas ligou para Annabeth Pierce. O primeiro filme de Annabeth tinha sido
um de Barry Davis. Ela era uma atriz de grande nome agora, mas não era
ninguém antigamente, e se Jo conhecia homens como Barry Davis, ela
sabia o que aquilo significava.
O agente de Annabeth deu o número dela a Jo sem hesitar. Ele
provavelmente pensou que isso significava que Jo a queria para uma
participação especial ou talvez um papel no Agent Silver, e ela o deixou
pensar isso. Ela tinha que ser delicada com isso.
Ela e Annabeth conversaram por alguns minutos antes de Jo mencionar
Barry.
— Barry Davis visitou o set outro dia, na verdade — disse ela
alegremente. — Ele dirigiu seu primeiro grande filme, certo?
— Sim, senhora — disse Annabeth. — Foi o Barry.
Sua voz não havia mudado, ainda nada além de um sotaque georgiano.
— Era possível que ele dirigisse um episódio — disse Jo. — Embora não
seja mais possível que isso aconteça. — Ela fez uma pausa. Annabeth não
disse nada. — Eu imagino que você possa saber por que isso não vai
acontecer.
Se Jo estivesse errada sobre isso...
O jeito quieto que Annabeth disse:
— Por que eu saberia? — confirmou que não estava.
— Minha empresa de produção divulgará uma declaração,
provavelmente amanhã de manhã, sobre exatamente por que ele não
recebeu um convite para dirigir — disse Jo. — Baseado no comportamento
dele em relação a uma jovem em meu trabalho – um comportamento dele
que eu não vou tolerar. Ele não vai receber um aviso sobre isso, mas eu
queria que você tivesse. Apenas no caso.
— Certo — disse Annabeth.
Jo deixou o silêncio pairar.
Eventualmente, Annabeth respirou fundo do outro lado da linha.
— Eu realmente aprecio isso, Srta. Jones — disse ela. — Não pretendia
sair tão rápido do telefone, mas acho que talvez deva falar com meu
publicitário.
— Por favor, me ligue se precisar de alguma coisa, Senhora Pierce —
disse Jo.
— Sim, senhora. Obrigada pela ligação.


JO TINHA FEITA A DECLARAÇÃO até
a tarde. Ela provavelmente deveria ter confiado
nas pessoas cujo trabalho era escrever essas coisas, mas ela fez algumas
edições menores de qualquer maneira. Então ela chamou Emma em seu
escritório.
— Eu terminei — disse ela, empurrando a declaração impressa sobre a
mesa. — Eu pensei que você poderia querer ler aqui.
Jo queria dar a Emma o espaço para ter qualquer reação que ela
precisasse.
— Vou encher meu refil — disse Jo. — Vou fechar a porta atrás de mim
e quando você estiver pronta você pode abri-la?
Emma assentiu. Ela parecia enjoada. Jo pegou o copo e saiu. Ela queria
oferecer a Emma algum tipo de conforto, apertar sua mão ou dar um
tapinha nas costas dela, mas ela não achou apropriado, nunca quis tocar
Emma de uma maneira que ela não queria. Em vez disso, deu a Emma o
quarto, fechando a porta gentilmente atrás dela.
A porta estava aberta quando Jo voltou. Emma estava sentada no sofá,
trabalhando em seu tablet, que ela deixou de lado quando Jo voltou para o
escritório dela. Emma sorriu e a tensão nos ombros de Jo diminuiu.
— É uma boa declaração — disse Emma.
— Bom — disse Jo. — Eu concordo. — Ela sentou na cadeira da mesa.
— Ela será divulgado amanhã, logo pela manhã. Provavelmente antes
mesmo de você entrar.
Emma levantou-se para ficar em frente à mesa de Jo.
— Hoje à noite, configure seu telefone para que ele vá direto para a
caixa de mensagens — disse Jo. — Grave um novo correio de voz
lembrando as pessoas com quem eles devem entrar em contato se
solicitarem um comentário. Você não precisa lidar com nenhuma ligação
amanhã. Talvez no dia seguinte também não.
— OK. — Emma assentiu. As sobrancelhas dela se apertaram.
— Não precisamos fazer isso, se você não quiser — Jo lembrou.
— Eu quero — Emma disse imediatamente. Ela respirou fundo. — Eu
estou nervosa. Mas eu quero.
— Eu não ficaria surpresa se fosse a conversa dos funcionários amanhã
— disse Jo. — Do elenco também, talvez. Verifique se você está pronta
para isso. Não quero que você seja pega de surpresa.
— Obrigada, chefe.
Jo não sabia para quem mais Emma havia contado. Avery, é claro, mas
talvez fosse isso. Jo esperava que ninguém descobrisse sobre quem era a
declaração. Ela não queria que Emma tivesse que revelar a ninguém, se não
quisesse. Era uma declaração vaga, sem nomes, exceto os de Barry e Jo,
mas ainda assim. Jo se preocupou.


O COMUNICADO DE IMPRENSA ESTAVA aovivo quando Jo acordou de manhã. Ela fez
um café expresso da máquina ao lado de sua cama e leu as principais
reportagens enquanto o bebia. Havia muita dissecação sobre seu passado,
discutindo como ela nunca se esquivava da controvérsia, da maneira como
ela denunciou a Dinastia Johnson naqueles anos atrás, como ela batalhou
por sua equipe em suas próprias negociações de contrato. Sua história
significava que a maioria das pessoas acreditava na afirmação, felizmente.
Quando chegou ao trabalho, havia um novo artigo. Um artigo com
citações de Annabeth Pierce e três outras atrizes detalhando mais assédio
de Barry Davis. Jo sentiu que deveria ter um balde de pipoca enquanto
folheava as notícias. Ela compartilhou um sorriso secreto com Emma
quando entrou no escritório de Jo para fazer uma pergunta sobre a
programação das filmagens. Quando Annabeth Pierce também o
denunciou, ninguém se incomodou em tentar descobrir quem Barry
assediava no set dos Inocentes – eles tinham peixes maiores para fritar
agora.
Jo tinha que dizer algo ao elenco e à equipe. Ela estava certa de que era
tudo o que estavam falando, e isso era perturbador e não algo que ela
queria fazer Emma reviver uma conversa após outra.
Ela foi ao estúdio de som quando todos voltaram do almoço. Tudo o que
ela precisava fazer para todos ficarem quietos era levantar as mãos.
— Tenho certeza de que todos vocês já ouviram as notícias sobre Barry
Davis. — Ela respirou pelo nariz, decidindo colocar todas as cartas na
mesa. — Estou furiosa com esta situação. Que ele pensou que poderia fazer
isso com um membro da família Inocentes. Não tenho palavras para dizer
como estou com raiva. — Eles provavelmente poderiam perceber de
qualquer maneira, pelo jeito que sua voz tremia. — Eu sei que isso foi
estabelecido desde o primeiro dia, mas comportamentos como o dele não
serão tolerados. Nem de diretores indicados ao Oscar, nem de escritores
vencedores do Emmy, nem de um técnico de iluminação, entregador ou
qualquer outra pessoa. Se você já foi assediada sexualmente ou agredida
por alguém neste set… — Ela respirou fundo. — Eu não estou dizendo
que você tem que vir até mim, porque você pode lidar com isso de qualquer
maneira que seja certo para você. Mas estou lhe dizendo que, se você vier a
mim, anonimamente ou não, eu a apoiarei. Terei zero tolerância.
Todo mundo ficou em silêncio.
— Tudo bem — disse Jo. — De volta ao trabalho.


EVELYN LIGOU NAQUELA NOITE enquantoJo comia o jantar.
— Foi a Emma, não foi? — ela disse assim que Jo atendeu. — Não é à
toa que ela gritou com ele.
— Olá para você também — disse Jo. — E eu não disse que era Emma.
— Você não disse — concordou Evelyn. — Mas era. Uau, ok, então isso
dá muito contexto para você e ela de repente ficarem bem uma com a
outra.
Deu mesmo, Jo supôs. Emma a teria perdoado se essa outra coisa
terrível não tivesse surgido? Ela preferia ainda estar brigando, por mais
que odiasse, do que Emma ser forçada a lidar com isso.
— Estou surpresa que os rumores não tenham surgido sobre vocês duas
— disse Evelyn. — Dado como você provavelmente está dando uma de
cavaleiro branco por ela.
Jo zombou.
— Eu não sou o cavaleiro branco dela.
— Lançando uma declaração e – e eu estou supondo aqui, mas eu
conheço você, e você é durona, então provavelmente estou certa – em
entrar em contato e avisar outras atrizes que você acha que ele assediou?
Um esforço coordenado para estragar sua carreira? Parece um cavaleiro
branco para mim.
— Tudo bem — Jo disse — mas não é para Emma. Eu faria o mesmo,
independentemente de quem ele perseguisse, porque ele é uma desculpa
nojenta para uma...
— Sim, sim — disse Evelyn, e Jo podia imaginá-la em seu apartamento,
acenando para Jo. — Calma, garota.
Jo pegou um pedaço de frango com os pauzinhos e colocou na boca.
Quando ela terminou de mastigar, ela disse:
— Eu preciso contratar alguns advogados.
— Você quer dizer depois de matar Barry Davis?
— Nós duas sabemos que eu poderia fazer parecer um acidente — disse
Jo. — Mas seriamente. Advogados de assédio sexual. Advogados de
difamação. Qualquer tipo de advogado que possa ajudar uma vítima a se
apresentar se uma celebridade a perseguir ou a agredir.
— O que você está planejando? — Evelyn perguntou.
— Ainda não tenho certeza — disse Jo. — Eu tenho que falar com as
pessoas. Entender mais sobre isso. Sei que não é sua especialidade, mas
você tem contatos. Coloque-me em contato com as pessoas certas.
— Deus, você é um bulldog — disse Evelyn.
Não era uma solução real – não estava mudando a cultura de
Hollywood, a cultura social da maneira como os homens tratam as
mulheres. O apoio após o fato não era tão bom quanto a prevenção. Mas era
alguma coisa.
— Você vai me dar os nomes? — Jo perguntou.
— Vou falar com algumas pessoas amanhã — disse Evelyn.
— Pessoas boas.
— Como se eu me associasse com mais alguém.


EMMA LIGOU O TELEFONE DE NOVO naquinta-feira de manhã, mas mesmo assim
ela ficou tão inundada de ligações que Jo a fez desligar novamente.
Nenhum telefone foi feito para uma semana tranquila. Muitas pessoas não
tinham a linha direta de Jo, por um bom motivo, mas tocou na sexta-feira à
tarde. Jo não reconheceu o número, o que pelo menos significava que não
era a rede dos Inocentes nem o estúdio do Agent Silver.
Em vez disso, era Annabeth.
— Espero que sua semana não tenha sido muito difícil — disse Jo.
— Senhor, tem sido um desastre — disse Annabeth, mas ela estava
rindo. — De uma maneira, se isso for possível.
— Eu tive algumas boas semanas de desastre — disse Jo. — Embora eu
duvide que algum delas tenha sido particularmente parecida com a sua
semana.
— Provavelmente não.
— Você fez bem — disse Jo. — Manejou bem.
— Obrigada — disse Annabeth. — Na verdade, estou ligando para
agradecer. Pelo alerta. Pelo chute nas costas para me fazer avançar.
Jo não gostou dessa frase.
— Sra. Pierce, eu não pretendia empurrar você para qualquer coisa que
não quisesse fazer.
— Primeiro de tudo, me chame de Annabeth — disse ela. — E eu sei
que você não fez. Você não me pressionando é o que eu precisava para
finalmente decidir fazê-lo. Que foi a escolha certa para mim. Obrigada.
— De nada.
— E abençoe seu coração, mas Barry não sabia o que o atingiu —
Annabeth riu.
Jo riu. O pessoal de Barry havia tentado controlar os danos a semana
toda, sem grande proveito. Mais mulheres deram um passo à frente. Se
tivesse sido apenas desacreditar Jo e a funcionária anônima da Innocents,
ele poderia ter conseguido, mas isso? Ele estava se afogando, e era lindo.
Reafirmou o desejo de Jo de fazê-lo em todos os desprezíveis de
Hollywood.
— Estou pensando em financiar um grupo de publicitários e advogados
— disse ela a Annabeth. — Ajudar as mulheres que querem se manifestar.
Organizar suas declarações, protegê-las de quaisquer ações judiciais ou
ameaças.
— Isso é ótimo em teoria — disse Annabeth — mas há mais do que isso.
Eu não teria dito nada durante o meu primeiro filme, mesmo se tivesse
advogados e publicitários. Isso realmente não vai ajudar uma atriz
adolescente à beira do estrelato – ela vai aguentar tudo isso porque acha
que é o preço da fama. Eu digo isso por experiência própria.
— Não deveria ser — Jo rosnou. Ela foi rápida em se enfurecer sobre
esse assunto, mas tentou se controlar. — Quero fazer algo para parar a
percepção de que as mulheres têm que aturar isso como o preço da fama.
— Você precisaria conectar as vítimas a outras oportunidades de
emprego. De alguma forma, garantir que elas não terminem suas carreiras
dizendo algo. — Annabeth fez uma pausa, mudando de rumo. — E as
vítimas não deveriam ter que se manifestar. Isso nem sempre é a melhor
escolha para eles pessoalmente. Você não quer forçar isso em pessoas que
não estão prontas para isso.
Jo esfregou a testa.
— Quero criar um espaço seguro — disse ela. — Onde as vítimas têm
acesso a tudo o que poderia ajudá-las, não importa o caminho certo para
elas.
Annabeth ficou quieta por um momento. Quando ela falou de novo,
houve uma faísca em sua voz.
— Você precisa de conselheiros, além de publicitários e advogados —
disse ela. — Conselheiros e outras atrizes que já passaram por isso – como
mentores. Quem pode ajudá-las profissionalmente.
— Não apenas atrizes — Jo pulou. — Qualquer trabalho em Hollywood.
— E haveria registros — disse Annabeth. — Mesmo que alguém não
quisesse se apresentar, haveria registros de cada agressor. Se uma vítima
posterior aparecer, a organização – ou seja o que for que estamos sonhando
– pode dizer: “Três outras mulheres fizeram essas queixas sobre esse
homem”
— Isso é bom — disse Jo. — Inteligente.
— Deus, essa coisa teria que ser enorme — disse Annabeth. — Seria
preciso muito dinheiro.
— Ainda bem que não há exatamente uma escassez disso entre nós duas.
— Você está falando sério?
— Absolutamente — Jo disse sem hesitar. — Eu adoraria ter você
comigo sobre isso, mas vou fazer isso independentemente.
— Estou contigo.
— Uma amiga já me colocou em contato com advogados que possam
estar interessados — disse Jo. — Vai levar muita logística, mas vamos
chegar lá.
A adrenalina dela bombeava. Ela nunca foi de se sentar à margem. Ser
produtiva era como ela trabalhava em tudo. Era muito mais fácil se
concentrar em iniciar essa organização do que em como ela estava com
raiva.


ELA CONTOU A EMMA SOBRE o projeto na semana seguinte.
— Estou fazendo mais sobre essa situação do que apenas divulgar a
declaração — disse Jo. — Fico feliz em incluí-la nisso ou trabalhar nele
separadamente de você. O seu nível de envolvimento depende totalmente
de você.
Emma parecia apreensiva.
— O que mais você está fazendo?
— Ainda não está claro — disse Jo. — Algum tipo de fundação, sem fins
lucrativos – algum tipo de organização para apoiar as pessoas que
enfrentam assédio sexual e agressão em Hollywood. Ele está no estágio de
ideia agora, mas o plano é incluir conselheiros treinados, publicitários que
possam trabalhar no processo de divulgação de declarações e tudo o que
for necessário para tornar público e advogados para proteger as vítimas de
ameaças e retaliações.
Jo tentou não se mexer enquanto Emma a encarava.
— Chefe... — Emma parou. — Você está falando sério?
— É claro — disse Jo. — É algo que precisa existir, e eu tenho dinheiro
e influência para construí-lo. Eu tenho que fazer isso.
— Jo, isso é incrível — disse Emma. Jo desviou o olhar. — Isso é apenas
– é uma boa maneira de usar seu dinheiro e seu status de celebridade. É
realmente uma ótima ideia.
— Eu gostaria que fosse algo que eu tivesse criado antes que isso
acontecesse com você — Jo disse calmamente.
— Bem, estou feliz que você tenha sugerido isso agora — disse Emma.
— Isso me faz sentir que algo de bom está saindo dessa coisa toda.
Jo não sabia como receber o elogio, então ela seguiu em frente.
— Haverá muitos telefonemas e reuniões quando isso começar — disse
ela. — Eu posso lidar com tudo diretamente, se você não quiser fazer parte
disso, ou–
— Eu quero fazer parte disso — disse Emma. — E vamos lá, eu não vou
fazer você definir sua própria agenda enquanto você tenta criar algo da
base do nada. Mesmo se eu não quisesse fazer parte disso, não pararia de
fazer o meu trabalho.
— Você poderia — disse Jo, e Emma olhou para ela. — O assédio sexual
é um problema sério. Se uma parte do seu trabalho piorasse no processo, eu
a apoiaria completamente para não fazer essa parte do seu trabalho.
— Jo, isso é ridículo — Emma riu. — Sou sua assistente. Vou atender
suas ligações e agendar suas reuniões. Agradeço o quanto você está
disposta a trabalhar comigo nisso, mas não sou tão frágil.
— Eu não acho que você seja frágil, Srta. Kaplan.
Emma deu de ombros para ela.
— Apenas deixe-me fazer o meu trabalho, chefe. Especialmente porque
parece que você estará bem ocupada. Deixe-me saber o que você precisa
que eu cuide da organização ou o que quer que seja.
Jo assentiu. Ela deveria saber que Emma gostaria de fazer parte disso,
não iria querer recuar.


EMMA ESTAVA CERTA; O TRABALHO estavaocupado. Chantal dirigia principalmente
Innocents enquanto as coisas aconteciam com Agent Silver. O roteiro de Jo
– o segundo rascunho, é claro, como o primeiro foi uma bola fora – foi
lançado com outros escritores, para crítica e revisão. Jo pulava entre os
roteiros, lidando com o lado da produção também. Além disso, ela tinha o
Projeto Cassandra, como eles chamavam por enquanto. Eles deram o nome
da figura da mitologia grega para reconhecer que, por muito tempo, não se
acreditava em mulheres quando se tratava de assédio e agressão sexual.
Com o quanto Jo estava ocupada, arranjar tempo para roupas para o Emmy
era ainda mais irritante do que o habitual.
Emma estava lá durante tudo, suavizando os problemas com a agenda de
Jo, certificando-se de que ela comia, facilitando tudo, como de costume.
Sexta-feira, depois da prova final do vestido de Jo, Emma estava em seu
escritório. Ela deu a Jo um breve resumo da agenda de filmagens da
semana seguinte e perguntou se havia mais alguma coisa.
Jo mordeu o lábio inferior.
— Você quer vir ao Emmy?
A cerimônia seria no domingo. Ela estava basicamente fazendo o que
tinha feito com o SAG Awards, convidando Emma dias antes. Só que ela
estava realmente convidando-a desta vez, não apenas exigindo que ela
viesse.
Emma riu a princípio, mas engoliu em seco quando viu Jo falando sério.
— Acabamos de acabar com esses rumores — disse Emma. — Você
realmente quer entrar neles de novo?
Jo suspirou.
— Não — ela disse. — Mas eu também não quero ir ao maldito Emmy.
— Por que não?
Ela gesticulou vagamente.
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— Coisas como os GLAADs e os Globos de Ouro podem ser divertidas
— disse ela. — Os GLAADs são importantes e todo mundo fica bêbado
nos Globos. Mas, na maioria das vezes, as premiações são pessoas com
roupas desconfortáveis, pensando muito em si mesmas, dando prêmios a si
mesmos.
— Você não parecia ter tido um tempo horrível nos SAGs — disse
Emma.
— Sim, bem, você estava lá — disse Jo. Ela percebeu que não deveria ter
sido suficiente para ser uma explicação e continuou. — Você era um bom
escudo e uma boa distração. — Ela não tinha certeza de que estava
ajudando seu caso. — Quando vou sozinha, as pessoas pensam que podem
simplesmente vir falar comigo sempre que quiserem. Você pode não saber,
mas nos SAGs você me salvou de pelo menos cinco conversas com pessoas
que odeio.
Emma riu. Ela colocou o cabelo atrás da orelha.
— Quero dizer, eu poderia ir com você ao Emmy, eu acho — disse ela,
sem parecer certa. — Se você quisesse.
Jo olhou para ela. Ela queria. Ela queria muito. Emma olhou para trás,
piscou aqueles grandes olhos castanhos. Jo forçou uma risada.
— Não — disse ela. — Você odiou o tapete vermelho. E você está certa
– acabamos de sair de baixo dos rumores. Quão estúpidas seríamos para
alimentá-los novamente?
— Certo.
— Obrigada, no entanto — disse Jo. — Por ter pensado sobre isso.
— Claro, chefe — disse Emma.
Ela deu um sorriso torto. Jo fechou os olhos e respirou fundo.
— Às vezes acho que deveria me desculpar por não contestar os
rumores — ela admitiu.
— O que? — Emma piscou para ela, incrédula. — Não, chefe, você
nunca comentou sua vida amorosa. De maneira alguma você deveria ter
comentado sobre isso apenas porque eu estava envolvida.
— Só que não se tratava apenas de pessoas pensando que conheciam
minha vida sexual — disse Jo. — As pessoas acham que você conseguiu
entrar nesse emprego só porque estava transando com a chefe, o que é
errado, irracional e não é justo com você. E não sei se dizer algo teria
impedido isso, mas acho que deveria ter tentado.
— Nós duas sobrevivemos — disse Emma. Ela encolheu os ombros. —
E eu amo meu trabalho. Adoro mesmo que as pessoas pensem que eu
dormi com alguém para chegar até aqui. Eu amo esse show e amo ser sua
assistente. — Emma arrastou a parte inferior da sapatilha contra o tapete.
— Estou animada para mudar para produtora associada. Eu sei que é um
passo em direção a direção. Mas... Vou sentir falta disso.
Jo respirou fundo, o calor irradiando por trás do esterno.
— Sim — ela disse. — Eu também.
Emma sorriu e voltou para sua mesa. Jo voltou ao trabalho. Antes de
partir para o fim de semana, olhou para a foto em sua primeira gaveta. Ela
suspirou, desejando que os Emmys fossem tão bons quanto aquela noite.


DOMINGO À TARDE, QUANDO JO estava
arrumando o cabelo, o telefone tocou. Ela
não o tinha verificado desde antes do almoço; ninguém precisava dela nos
dias de shows de premiação. Mas ela fez Jaden parar de enrolar o cabelo
por um momento para poder alcançá-lo.
Houve uma mensagem perdida da manhã, de Emma: Espero que Kelli e Al
estejam tratando você bem.
Em seguida, uma mensagem mais recente: Jaden está falando pelos cotovelos?
Jo mordeu o sorriso dela. Ela respondeu: Ele está no meio de uma história muito
profunda envolvendo o gato de um parente distante.
— Por que você está sorrindo? — Kelli perguntou.
Jo bloqueou o telefone.
— Por nada.
Seus atendentes trocaram um olhar.
— Sua namorada mandou uma mensagem?
Jo revirou os olhos.
— Eu pensei que tínhamos terminado.
Kelli sorriu como se tivesse descobrindo algo incrível.
— Então você não está negando que ela mandou uma mensagem.
— Estou a mantendo atualizada sobre o gato da filha da mãe de Jaden —
disse Jo. — Ela está muito investida na história.
A conversa mudou para provocar Jaden, e Jo relaxou.
Ela manteve o telefone na mão e Emma continuou mandando
mensagens. Nada importante. Ela estava assistindo um show com as
chegadas do tapete vermelho com a irmã. Jo não conseguia imaginar quem
chegaria tão cedo antes da cerimônia. Ela estava indo mais cedo do que o
normal, tendo tempo para fazer uma ou duas entrevistas sobre o Projeto
Cassandra.
Estou com muita vontade de enroladinhos de vaca agora, Emma mandou uma
mensagem e Jo teve que engolir a risada. Emma imediatamente seguiu
com: Na verdade, eu fiz Avery nos fazer alguns, então eu estou literalmente comendo eles agora.
Você tem uma irmã muito boa, Jo mandou uma mensagem de volta.

Ela não é terrível.

Eventualmente, Jo teve que realmente ir ao teatro. Ela se deixou levar


pelo tapete vermelho um pouco mais do que o normal, foi para onde
deveria ir e acabou fazendo quatro entrevistas separadas. Assim que ela
saiu do tapete vermelho e entrou na premiação, ela verificou o telefone. Ela
perdeu três mensagens de Emma.

Uau. Você parece muito bem, chefe.

A entrevista com o E! foi ótima!

Sério, se você não estiver na lista dos mais bem vestidos, eles estão errados.

Jo sorriu para si mesma e encontrou sua mesa ao lado de Chantal e do


elenco.
Ela não desligou o telefone durante a cerimônia. O manteve na bolsa e o
verificou nos intervalos comerciais. Emma trabalhou tão bem quanto um
escudo através do telefone, como fez na vida real, embora tenha sido menos
divertido enviar mensagens de texto. Jo preferia os SAGs, murmurando
coisas baixinho com Emma ao seu lado, tentando não rir. Emoticons rindo
e kkkkkk não eram a mesma coisa que ver Emma morder o canto da boca
para manter uma risada.
15
JO

A lgumas poucas semanas depois do Emmy, houve uma batida silenciosa


na porta de Jo. Ela olhou para cima para ver Emma, e Jo sorriu até
registrar o olhar no rosto de sua assistente.
— O que está errado?
— Seu pai ligou — disse Emma. — Ele está planejando passar por aqui
na hora do almoço.
A coluna de Jo endireitou-se por vontade própria. Ela respirou fundo.
— Excelente — disse ela, embora seu queixo permanecesse cerrado. —
Obrigada por me avisar.
— Eu disse a ele que você teve um dia ocupado — disse Emma. — Mas
quando sugeri que ele agendasse um horário melhor, ele disse que tinha
certeza de que você poderia encaixá-lo e desligou o telefone.
Isso parecia com o pai dela.
— Obrigada, Emma — Jo disse novamente. — Tenho certeza que vai
ficar tudo bem.
Não ia, é claro. Mas não havia nada a ser feito sobre isso agora. Quando
o pai dela decidia algo, foi decidido.
Jo mandou Emma fazer quinze tarefas diferentes às onze e disse que ela
poderia parar para almoçar enquanto estava fora.
— Eu devo trazer seu almoço também, chefe?
— Não, eu vou ficar bem.
— Você tem certeza?
— Tenho certeza.
Honestamente, Jo ficou nauseada com o pensamento de seu pai a
visitando, e estava irritada consigo mesma por isso. Ela tinha 41 anos e era
multimilionária e ficava nervosa ao pensar que seu pai desaprovava. Pior
ainda, ela já sabia que ele desaprovava, sabia disso desde que ela era
criança. Ela já deveria ter superado isso agora. Em vez disso, seu estômago
revirou demais para ela comer qualquer coisa. Ela esperou em seu
escritório, batendo um pé, incapaz de realizar qualquer trabalho.
Eventualmente, seu pai apareceu em sua porta aberta, postura ereta e
expressão severa. Ele bateu no batente da porta como se ela não o tivesse
p p
notado. Jo respirou fundo e mostrou algo que se aproximava de um sorriso,
levantando-se para cumprimentar seu pai.
— Pai — ela disse.
— Josephine.
Ela não se encolheu com o nome completo. Ela ofereceu sua bochecha
para ele beijar. Era isso ou um aperto de mão – seu pai não abraçava. Ela
deixou a porta do escritório aberta. Não havia muitas pessoas por perto,
mas seu pai não sabia disso. Talvez isso o impedisse de fazer uma cena.
Sim, a princípio. Ele perguntou por ela – ele não parecia particularmente
interessado, mas o fato de ele ter perguntado era algo, ela supôs. Ele falou
sobre Vincent, orgulhoso, como sempre. Jo estava bem com isso. Quando
ela podia pensar racionalmente sobre isso, ela realmente não se importava
de decepcionar o pai.
Seu bom comportamento durou apenas dez minutos. Então, ele disse:
— O desastre com Barry Davis — disse ele. Ele balançou sua cabeça. —
Você poderia ter lidado melhor com isso.
— Estou lidando com isso muito bem — disse Jo. — E eu não estou
discutindo isso com você.
Os lábios do pai se franziram. Ele olhou para a porta e depois olhou para
Jo.
— Estou feliz que você tenha se livrado daquela garota assistente.
Jo revirou os olhos.
— O nome dela é Emma. Ela é muito mais do que aquela assistente, e eu
não me livrei dela. Ela está fazendo algumas tarefas para mim.
— Ela ainda trabalha para você — disse o pai. — Mas eu estava me
referindo àquela bobagem de namoro que felizmente parece ter terminado.
Honestamente, Josephine, que vergonha.
A garganta de Jo ficou apertada. A respiração dela estremeceu pelo
nariz. Ela não ia morder a isca.
Não era uma isca, no entanto. O pai dela não estava dizendo isso com a
intenção de irritá-la, era simplesmente o que ele acreditava. Ela não podia
suportá-lo.
— Você poderia demiti-la — continuou ele. — No final da temporada.
As pessoas seguem em frente nos shows.
Ele disse isso como se soubesse algo sobre televisão, como se tivesse se
importado com a carreira dela. Foi sua mãe quem a colocou para as
audições, e foi ela quem conheceu as complicações do negócio quando Jo
estava crescendo. Ela duvidava que seu pai tivesse visto um único episódio
de Innocents.
— Eu nunca iria demitir Emma por causa dos rumores — disse Jo.
Ela nunca usaria isso como causa. Ela nunca demitiria Emma. Ponto
final. Com boatos ou não.
— Talvez no final desta temporada você devia deixá-la ir — disse o pai
como se ela não tivesse falado. Jo se irritou ainda mais. Ela estava a
promovendo, não a demitindo. — Se vocês nem dormem juntas, certamente
não vale a pena deixar ela por aqui sendo que isso prejudicou sua
reputação.
Claro, que nesse momento foi quando Emma chegou.
Emma estava na porta com uma sacola do hambúrguer favorito de Jo em
uma mão e uma bebida na outra. Ela estava olhando para o pai de Jo com
olhos afiados que suavizaram quando ela olhou para Jo.
— Eu sei que você disse que não precisava que eu trouxesse seu almoço
— disse Emma, como se o pai de Jo não estivesse lá. — Mas eu pensei que
você poderia comer alguma coisa.
Jo engoliu em seco.
— Ótimo. Obrigada.
Emma entrou no escritório e colocou a sacola na mesa de Jo. Ela
estendeu a bebida.
— Milkshake de morango.
Jo não deve ter mantido seus nervos sob controle naquela manhã. Um
milk-shake de morango era o prato principal em dias estressantes. Emma
sabia disso.
Jo pegou o copo dela.
— Obrigada.
— Você precisa de mais alguma coisa, Srta. Jones? — Emma perguntou,
mantendo contato visual.
Jo ouviu o pai tossir, mas ela não desviou o olhar de Emma.
— Não, Emma — disse ela. — Estou bem.
Emma se virou para ir embora. Quando ela estava saindo, porém, o pai
de Jo abriu a boca.
— Honestamente, você vai jogar sua reputação por causa dessa
vagabunda?
Ele disse isso em cantonês. Emma não conseguia entendê-lo, portanto
não quebrou o passo. Ela não tinha dado a ele nenhuma atenção. Talvez se
Jo pudesse pensar direito, ela ficaria orgulhosa de Emma por ignorá-lo. Do
jeito que ela estava agora, sua cabeça estava cheia de estática na televisão.
Ela não conseguia pensar em nada. Ela ficou furiosa.
— Cale a boca — disse ela.
Isso congelou o pai de Jo e Emma, e eles se viraram para encará-la, de
olhos arregalados.
— Com licença? — disse o pai dela.
— Cale a boca — ela repetiu, com ênfase em cada palavra da frase. Ela
estava de pé agora, inclinando-se sobre a mesa em direção ao pai. — Você
não pode falar sobre ela assim.
— Você não pode falar comigo assim — disse ele. — Eu sou seu pai e–
— E você sempre foi um idiota completo — disse Jo. — Peça desculpas a
Emma ou saia.
— Você está disposta a tratar seu pai dessa maneira por uma garota? —
Ele disse a palavra com tanto desprezo que ele poderia muito bem estar
xingando.
Jo deixou a porta aberta para que o pai não fizesse uma cena. Ela
conseguiu, batendo as mãos contra a mesa.
— Essa mulher é fantástica em seu trabalho e é a única razão pela qual
vivo na maioria dos dias — Jo estalou. — E isso é a verdade se estivermos
ou não fodendo e se você aprovasse ou não.
— Josephine!
— Você descobrirá que não só posso falar o que eu quiser para você
como também posso removê-lo das instalações. — Ela pegou o telefone em
sua mesa e discou para Mason da segurança. — Mason? Sim, você poderia
enviar alguém ao meu escritório para escoltar meu pai do prédio? E
certifique se que ele não possa entrar novamente sem minha aprovação
prévia e explícita. Ótimo, obrigada. — Ela fingiu um sorriso na direção do
pai. — A segurança estará aqui em um segundo para garantir que você
ache a saída, já que sua cabeça parece estar enfiada na bunda.
O pai dela a encarou. Ela não piscou.
— Eu mesmo vou encontrar a saída, obrigado — disse ele, e saiu sem
poupar nem um olhar a Emma.
Assim que seu pai estava fora de vista, Jo se desfez, descansando as duas
mãos em sua mesa, toda a respiração dela se soltando em um suspiro duro.
Ela abaixou a cabeça. Ela ouviu Emma fechar a porta do escritório e ficou
agradecida, ela precisava de um momento para se recompor.
Então Jo ouviu o movimento. Ela olhou para cima e descobriu que
Emma não a tinha deixado sozinha, afinal. Emma tinha ficado deste lado da
porta quando a fechou, e agora estava hesitante em torno da mesa de Jo.
— Chefe — disse ela. — Você está bem?
Jo assentiu.
— Estou bem.
— Jo — disse Emma.
Ela pegou a mão de Jo, onde estava apertada na borda da mesa. Jo
deixou Emma desenrolar os dedos.
— O que eu posso fazer? — Emma disse.
Jo não estava mentindo quando ela disse que Emma a fazia passar pela
maioria dos dias. Ela fazia isso por causa de coisas assim, por causa do jeito
que ela sempre defendeu a Jo, do jeito que ela cuidava dela. Era o trabalho
dela, com certeza, mas Emma fazia acima e além do trabalho regularmente.
Jo apertou a mão de Emma.
— Nada — ela disse. — Está tudo bem. O milk-shake vai ajudar.
Emma olhou para o milk-shake e a sacola de comida ainda na mesa de Jo,
depois olhou de volta para Jo. Sua mão chegou ao topo da bochecha de Jo, e
Jo não pensou antes de deixar seus olhos fecharem, inclinando-se para o
toque.
— Você tem certeza de que está bem, chefe? — Emma sussurrou.
Jo abriu os olhos. Ela assentiu, com a mão de Emma ainda em seu rosto.
Deus, Emma estava tão bonita, suas sobrancelhas franzidas, os olhos
cheios de preocupação e brilhando como mel escuro. Ela passou o polegar
sobre a maçã da bochecha de Jo antes de deslizar a mão para trás para
prender o cabelo de Jo atrás da orelha. Jo engoliu em seco. Emma soltou
um suspiro e Jo pôde senti-lo, suave em seu rosto. Ela piscou lentamente e,
quando abriu os olhos novamente, Emma estava ainda mais perto, muito
perto. Jo deveria saber melhor, Jo deveria tê-la empurrado, deveria ter se
inclinado para trás, mas ela se inclinou para frente, seu nariz roçando o de
Emma e...
O telefone da mesa de Jo tocou estridente, muito alto.
O telefone tocou novamente antes de Jo abrir os olhos. Emma estava do
outro lado da mesa naquele momento, os dedos tremendo ao lado do corpo.
O rosto dela estava vermelho brilhante.
— Sim? — Jo atendeu o telefone.
— Eu queria que você soubesse que seu pai está fora do prédio e não
poderá voltar sem a sua permissão. — Era Mason, o segurança.
Jo respirou.
— Obrigada.
— De nada, madame.
Jo desligou o telefone.
Emma ainda estava lá. Jo podia ver sua garganta trabalhar enquanto ela
engolia.
Jo queria – ela queria falar sobre isso e queria ignorá-lo na mesma
medida. O que ela mais queria era que seu telefone não tivesse tocado.
— Você deve almoçar antes que esfrie — disse Emma. — Estarei na
minha mesa, se você precisar de mim.
Ela virou-se para sair e Jo não pôde – ela não podia deixá-la ir.
— Emma — ela disse.
Emma olhou para ela, com os olhos apreensivos. Jo desviou o olhar.
— Obrigada — disse ela. — Por me trazer o almoço.
— Claro, chefe — Emma disse suavemente.
Ela fechou a porta atrás dela quando saiu.
Quando Jo piscou, seus olhos estavam molhados.


NO FINAL DO dia,
Emma estava pairando na porta do escritório de Jo. Eram
apenas cinco horas, mas Jo estava exausta. Emma olhou para ela, e depois
desviou o olhar.
— Precisa de mais alguma coisa, Srta. Jones? — ela perguntou.
Jo pensou em quando Emma ficou brava com ela, como ela parou de
chamá-la de chefe por uma semana.
— Emma — disse Jo. Ela queria se desculpar. Queria agradecer a ela.
Queria beijá-la. Ela suspirou. — Não, obrigada. Vejo você de manhã, Srta.
Kaplan.
16
EMMA

E mmaEladestrancou a porta do apartamento.


não se lembrava do caminho de casa. Ela nem se lembrava de
onde havia estacionado o carro. Tudo estava no piloto automático: chaves
no gancho na parede, sapatos na ponta dos pés e deixados na porta. Na
cozinha, pegou um copo de água, tomou um gole e o colocou no balcão.
Ela quase beijou sua chefe.
Ela se inclinou sobre a pia e pensou que poderia vomitar.
Ela quase beijou sua chefe.
Mas – bem – isso não era grande coisa. Não precisava ser, de qualquer
forma. Ela havia beijado sua chefe, meses atrás, a essa altura. Se isto não foi
grande coisa, o dessa vez era ainda menos.
Só que desta vez não tinha sido um acidente.
Ela não estava bêbada, não tinha uma percepção de profundidade ruim.
Ela estava completamente sóbria e consciente do que estava fazendo. E foi
tudo ela – ela ficou no escritório de Jo, rodeou a mesa de Jo, segurou a
bochecha de Jo e se inclinou. Mas Jo também se inclinou para a frente –
Emma tinha certeza.
Talvez ela tivesse imaginado.
Da última vez, Emma teria feito qualquer coisa para evitar falar sobre
isso. Seu principal sentimento após a festa de encerramento foi
mortificação. Agora ela apenas sentia... desejo...
Ela queria falar sobre isso. Ela queria fazer isso, realmente beijar Jo. Não
um beijo bêbado, no calor do momento. Ela queria dar um beijo de bom dia
e um de adeus a Jo, beijá-la com hálito de alho e pela manhã antes que
qualquer uma delas tivesse escovado os dentes.
Mas nada disso era possível. Jo era a chefe dela. Jo havia criado uma
organização inteira contra o assédio no local de trabalho. Emma não podia
entrar no próprio local de trabalho e dizer a Jo que queria beijá-la.
Embora Jo já tivesse percebido isso a essa altura, dado o que aconteceu
hoje. Jo se encolhia ao redor do pai, sempre fez isso. Jo - uma gigante
imponente, por menor que fosse, a heroína de Emma – se tornava pequena
por esse homem. Emma o odiava. Jo era o sol. Jo era a gravidade. Emma
queria tirar o peso dos ombros dela por um minuto.
A voz de Avery apareceu na cabeça de Emma, perguntando como beijar
Jo iria tirar o peso mundo de seus ombros. Emma não sabia. Mas ela estava
desesperada para fazer alguma coisa, e havia um desejo em seu peito que
não tinha ido embora, como se uma corda estivesse enrolada em seu
coração e conectada a Jo. Ela estava apertada o suficiente que ela quisesse
ir até Jo ainda hoje, dirigir até sua casa para lhe contar todas as maneiras
pelas quais ela era maravilhosa.
Emma pegou seu copo e o esvaziou. Deixou ele na pia.
Não importava antes, sua pequena paixão. Jo era bonita e brilhante, e ela
foi ferozmente protetora com Emma após todo o desastre de Barry Davis.
Quem não teria uma queda por ela? Foi estranhamente normal quando
Emma descobriu seus sentimentos. Nada realmente mudou. Claro, ela
notou o jeito que seu coração acelerava e seu rosto esquentava na presença
de Jo mais do que costumava, mas não era grande coisa. Era como ter uma
queda por uma celebridade. Não importava quão linda, inteligente ou
gentil Jo fosse, não havia chance. Sem mencionar o fato de Emma ter
pensado que Jo era heterossexual por tanto tempo, que parecia realmente
impossível.
Hoje, porém, Jo se inclinou. Ela o fez. Emma não tinha imaginado isso.
Ela ainda podia sentir a pele macia e acetinada da bochecha de Jo embaixo
do polegar. Os dedos dela estavam zumbindo. Elas estavam perto o
suficiente para respirar o ar uma da outra. Emma podia contar os cílios de
Jo enquanto elas tremulavam.
Deveria estar assustada com esses sentimentos, talvez, mas a memória
era intoxicante demais para ser aterrorizante. Emma pegou o telefone e
sentou no sofá. O dedo dela pairava sobre o nome da irmã em sua lista de
contatos favoritos. Avery seria capaz de ajudá-la a descobrir isso. Avery a
ajudava a descobrir tudo. Mas Avery também a provocava. Ela não podia
contar a Avery sobre isso sem ver ela rir e falar eu te disse. Seria bem
intencionado, com certeza, mas Emma não podia. Não quando as paredes
de seu coração pareciam tão finas, como se pudessem desabar sobre si
mesmas a qualquer momento.
Porque nada disso poderia funcionar.
Mesmo que Jo quisesse beijá-la também, era muito complicado. Jo era a
chefe dela. Sua chefe, que já estava sendo prejudicada por pessoas que não
achavam que uma mulher pudesse escrever um filme de ação. Isso apenas
daria a eles outra coisa para reclamar, apontar e dizer que as mulheres
tinham muitos sentimentos, não estavam focadas no que importava. É claro
que foram os homens sentados à margem que decidiram o que importava.
Enquanto a ansiedade de Emma explicava como isso nunca funcionaria,
seu pragmatismo entrou em ação. Ela era uma solucionadora de problemas,
uma planejadora. Se alguém poderia descobrir como fazer isso funcionar,
era ela.
Daqui a alguns meses, Jo estaria trabalhando em tempo integral em
Agent Silver. Emma seria uma produtora associada de Innocents. Projetos
diferentes, hierarquias diferentes de supervisão. Ela poderia avançar no
processo de contratação da nova assistente de Jo, se Jo concordasse, e
passar a ser produtora associada mais cedo. A ótica de um relacionamento
podia não ser excelente. Talvez elas seriam arrastadas pela lama nos
tabloides, mas Emma havia passado por merda suficiente nos tabloides este
ano. Ela aguentaria. Isso pode funcionar.
Claro, tudo dependia de Jo realmente a querer de volta. Só porque ela se
inclinou hoje não significava que ela queria mais. O que Emma tinha para
oferecer a Jo, maldita Jones?
Exceto que – Jo não estava sempre dizendo o quão importante Emma
era para ela? Não era sobre isso que foi toda a briga com o pai? O quanto
Emma a ajudava a superar a cada dia.
Se Jo estava interessada nela – isso faria Emma reexaminar todo o
relacionamento. Ela sabia que não devia se perguntar se essa era a razão
pela qual Jo a contratara. Jo era muito profissional para isso. Emma
também não tinha uma queda por Jo na época. Então, quando as coisas
mudaram para Jo? Era possível que Jo a tivesse levado aos SAGs porque
ela gostava dela? Emma não podia acreditar nisso.
Mas ela se lembrou do pânico de Jo durante o ataque de asma de Emma,
do jeito que Jo a tocava nas costas. Emma estava preocupada com os
rumores na época. Ela teve que lembrar Jo sobre eles. Jo estava disposta a
perder um painel por ela. Jo cancelou planos por ela.
Durante o verão, Jo disse que a Emma que estava contratando sua
próxima assistente, não sua próxima Emma. Emma não tinha pensado
muito sobre isso na época, mas agora seu coração pulou com a ideia de ser
a Emma de Jo.
Talvez isso não funcione. Talvez dizer alguma coisa teria sido uma
péssima ideia. Mas esses sentimentos importavam agora. A chance de eles
serem mútuos importava. Emma não sabia o que ia dizer no dia seguinte,
mas tinha que dizer alguma coisa.


ELA ESTAVA AO LADO DE sua
mesa quando Jo chegou. Mesmo, na área coberta, Jo
usava óculos escuros enormes. Emma segurou a xícara de café quando os
dedos de Jo se fecharam em torno dela.
— Podemos conversar?
Emma sentiu Jo apertar a xícara com mais força.
— É claro — disse Jo.
Emma engoliu em seco e a soltou. Ela conhecia aquele tom de voz. Essa
era a voz de trabalho de Jo. Se você não a conhecia, a voz dela parecia
agradável e quente. Mas Emma a conhecia. Ela sabia que era distante e
falso.
Ela seguiu Jo em seu escritório de qualquer maneira e fechou a porta
atrás delas.
— O que posso fazer para você?
Emma fechou os olhos. A respiração dela sibilou pelo nariz. Ela apertou
os lábios, plantou os pés no chão e abriu os olhos. Jo não tinha tirado os
óculos escuros.
— Precisamos conversar sobre ontem.
Jo assentiu, apertando a mandíbula.
— Sim, precisamos.
Era isso. Emma ia contar a ela – bem, talvez não tudo. Ela testaria as
águas antes de contar tudo. Emma respirou fundo e–
— Meu pai sempre me faz me comportar de maneiras que eu não
deveria — disse Jo. — Eu estava sem foco e sem pensar, e a situação que
levou a isso foi inadequada.
A situação. Emma piscou.
— Isso não é–
— Peço desculpas. — Jo alisou seu rabo de cavalo. — Eu não vou deixar
isso acontecer novamente.
— Não, estava tudo bem. — Emma mudou de um pé para o outro. —
Era o que eu queria dizer – eu não me importei.
Emma não tinha terminado, mas Jo agiu como se ela tivesse.
— Eu aprecio isso — disse Jo. — Muitas pessoas não entenderiam meu
relacionamento com meu pai. Se o que aconteceu ontem tinha que
acontecer com alguém, sou grata por ter sido com você.
Ela fez parecer que tinha sido ruim. Como se ela estivesse
envergonhada. A própria Emma corou com o pensamento. Se Jo estava
envergonhada com o quase beijo, Emma não podia dizer como se sentia.
Ela tentou mais uma vez de qualquer maneira.
— Estou aqui por você — disse Emma. — Eu quero estar aqui para
você. Com seu pai ou o programa ou qualquer coisa. O que você precisar.
O que você precisar. Ela queria que Jo entendesse. Jo tirou os óculos
escuros e sorriu sem mostrar os dentes.
— Garanto-lhe que nada como isso acontecerá no futuro. — Ela não
estava mais usando sua voz de trabalho. Emma nunca tinha ouvido essa voz
– como uma parede em branco. — Há mais alguma coisa que você queira
discutir?
Se foi isso que aconteceu quando Emma testou as águas, ela com certeza
não iria dizer mais nada.
— Não, Srta. Jones — disse ela calmamente.
A mandíbula de Jo tremeu como se ela estivesse a apertando.
17
JO

J oculinária
passou a noite anterior olhando sem pensar para programas de
em sua TV. Ela comeu três pãezinhos mergulhados em óleo e
vinagre e bebeu um copo de água em temperatura ambiente. Ela não se
permitiu álcool – mal conseguia pensar direito sóbria.
Ela não ia se sair melhor esta noite, mas pelo menos preparou o jantar –
enchiladas caseiras congeladas esquentadas no forno. Ela ficou bebendo
água enquanto comia, mas estava evitando o inevitável.
Ficar bêbada não era algo que ela fazia com frequência, mas era algo que
ela faria hoje à noite. Ela não conseguia parar de sentir o fantasma da mão
de Emma em sua bochecha. Ela piscou e viu os grandes olhos castanhos de
Emma, profundos, abertos e ansiosos. Ela colocou as sobras na geladeira,
colocou a louça na pia, depois pulou o vinho e foi direto para o uísque.
Ele fez o trabalho.
Fez o trabalho de deixá-la bêbada, pelo menos. Não ajudou em esquecer
a maneira como Emma a olhava antes de quase se beijarem. Elas quase se
beijaram. Ela quase beijou Emma e, apesar de saber que era uma péssima
ideia, caída bêbada naquele sofá, o que ela queria mais do que tudo era
realmente beijar Emma. Oh, ela estava com problemas.
Jo se odiava por colocar Emma nessa posição. Emma, que já havia sido
assediada sexualmente no trabalho. Emma, que sofreu metade de um dia
em constante constrangimento antes de ser a única que disse que elas
precisavam falar sobre isso. Elas conversaram sobre isso, o que foi bom,
mesmo que a memória disso fosse como unhas arranhando um quadro-
negro no cérebro de Jo. Elas abordaram o assunto, e Jo prometeu que não
aconteceria novamente, não importa o quanto ela quisesse. Ela foi
humilhada. Emma se movendo desajeitadamente na frente dela, dizendo
que ela estava bem com isso, como se fosse parte do trabalho. Se o local de
trabalho não tinha sido hostil a Emma durante os rumores, certamente era
agora, sabendo que seu chefe havia tentado beijá-la.
Os rumores. Eles tinham que ser culpados por Jo pensar em Emma
assim. Jo nunca se interessou por alguém com quem trabalhou, desde que
era adolescente e a convidada de Jane Fonda estrelou na Dinastia Johnson.
Jo adorava trabalhar, mas era trabalho. Ela nunca olhava para um colega de
trabalho com intenções românticas.
Ela pensou na foto que ainda estava em sua mesa de trabalho, no modo
como estava olhando para Emma em janeiro. Claro que parecia que havia
intenções românticas lá. Ou ela apenas pensou isso porque todo mundo
pensava? Ela só viu Emma assim porque era assim que as pessoas
pensavam que ela a via?
Exceto que os rumores se foram. Os rumores desapareceram há dois
meses. Ninguém levou Jo a pensar em Emma assim. Emma era forte e
inteligente e tão leal. Ela era linda e gentil, e Jo queria beijá-la. Emma
merecia muito melhor do que qualquer um que pensasse que ela dormiria
com alguém por um emprego. Ela merecia mais do que ser assistente de Jo.
Ela merecia mais do que o pai de Jo chamando-a de vagabunda.
Jo queria contar a ela. Era tarde, mas não muito tarde, e sua cabeça
estava nublada demais para ela considerar que isso poderia ser uma má
decisão.
Ela abriu uma nova mensagem para Emma, não parou para pensar antes
de digitar, eu quis dizer o que disse ontem. Você é magnífica.
Ela enviou e serviu outro copo de uísque. Ela mal tinha aberto a garrafa
quando o telefone tocou. O telefone dela tocou e ela não entendia.
Era Evelyn, mas eram quase três horas da manhã em Nova York. Por
que Evelyn estava ligando para ela?
Jo atendeu.
— O que você está fazendo acordada?
— Minha melhor amiga me mandou uma mensagem me dizendo que
sou magnífica.
Oh.
Provavelmente era melhor que ela tivesse mandado uma mensagem para
Evelyn. Emma não precisava de mensagens estranhas e enigmáticas no
meio da noite de sua chefe.
— O que está acontecendo? — Evelyn perguntou.
Jo suspirou. Esfregou a testa. Tomou outro gole de uísque.
— Meu pai veio visitar o set ontem.
Evelyn deixou escapar um suspiro cheio do tipo de compreensão que
apenas uma melhor amiga poderia dar.
— Você merece ficar mais bêbada — disse ela, e Jo riu. Uma batida, e
então: — O que aconteceu, Jo?
— Ele chamou Emma de vagabunda, agiu como se ela não tivesse valor.
— Jo queria dar um soco em algo só de pensar nisso. — Deus, Evelyn, é
isso que todos pensam dela? Como eu não contradigo esses rumores se é
isso que as pessoas pensam dela? Eu deveria divulgar uma declaração
amanhã.
— Tudo bem, querida — disse Evelyn. — Você absolutamente não deve
fazer isso.
— Eu deveria! Eu–
— Vai ficar sóbria e perceber que divulgar uma declaração esse tempo
todo após os rumores começaram – esse tempo todo depois que os rumores
terminaram, na verdade – vai fazer mais mal do que bem — disse Evelyn.
— Lembre-se que de acordo com os tabloides, vocês não estão mais juntas.
A maior parte do mundo pensa que você largou Emma por Sam.
— Eu nunca faria isso.
— Sim, porque você é uma grande lésbica, eu sei.
Isso fazia parte do motivo, obviamente, mas havia algo mais. A ideia de
dar um fora em Emma era – elas não estavam namorando, é claro, mas Jo
nunca faria isso. A ideia de deixar Emma para trás, de encontrar alguém
para substituí-la. Era impossível. Ela era Emma.
— Olha, Jo, são quase três da manhã. Você pode beber um pouco de água
e ir para a cama? Vou ligar para você no meio da sua ressaca e incomodá-la
com isso, mas estou muito fodidamente cansada agora.
— Sim, sim — disse Jo, acenando com a mão que estava segurando a
bebida e quase a derramando. Ela a colocou na mesa. — Vá dormir.
— Você promete não fazer nada estúpido hoje à noite?
Jo revirou os olhos, mas prometeu assim mesmo.
Quando Evelyn desligou, Jo fez o que lhe dito: bebeu água, foi para a
cama. Ela olhou para o telefone enquanto se acomodava embaixo dos
lençóis. Seria fácil enviar o texto para a pessoa certa. Mas já passava da
meia-noite, e ela prometeu a Evelyn, e estava sóbria o suficiente para saber
que ainda estava um pouco bêbada. Ela deixou o telefone de lado e apagou
a luz.
18
JO

E mma fez um valente esforço para agir como se tudo estivesse normal
entre elas no dia seguinte. Mas o sorriso dela quando ela ofereceu café a
Jo era rígido, e Jo a conhecia muito bem para pensar que era real. Jo
praticamente caiu na cadeira atrás de sua mesa. Lembrou-se da maneira
como Emma puxou a mão fechada ao redor da mesa e quase queimou a
garganta com um gole de café.
Emma foi quem se inclinou, Jo lembrou a si mesma. Emma foi quem
começou a coisa toda, quase a beijou. A desculpa soou fraca. Jo estava em
uma posição de autoridade sobre Emma. Ela era responsável por qualquer
coisa que acontecesse entre elas, e algo quase aconteceu. Jo queria se
desculpar novamente. Queria beijá-la novamente.
Ela queria Deus, ela pensou muito sobre isso ontem à noite, bêbada e
mandando uma mensagem para a pessoa errada, mas agora estava sóbria e
ainda pensava nisso, ainda pensando em como tudo o que dizia ao pai era
verdade. Emma era sua pedra. Todo dia ruim que ela teve este ano foi
porque ela e Emma não estavam em boas condições. Quando as coisas
estavam indo bem entre elas, Jo tinha superado tudo – os boatos estúpidos
e os idiotas do programa e o bloqueio de escritor. Emma era magnífica e Jo
era uma idiota, apenas vendo tudo isso agora.
Emma estava no escritório de Jo, discutindo a localização do arco de
primavera de Innocents, quando Evelyn mandou uma mensagem.

Como está a ressaca, querida?

Jo a ignorou. Um minuto depois, seu telefone tocou novamente.

Como está a Emma hoje? Ainda magnífica?

Emma fez uma pausa e olhou para Jo com expectativa, dando tempo
para responder ao telefone, se necessário. Jo estava agradecida por Emma
ter parado de evitar todo contato visual. Ela respondeu a Evelyn.

Absolutamente.

Ev digitou de volta imediatamente.

Você é tão lésbica.

Emma desviou o olhar. Quanto tempo se passou desde que Jo tomou seu
último ibuprofeno? A cabeça dela ainda doía.

Eu sou uma crise de meia-idade com ressaca apaixonada pela minha assistente. Me dá
um tempo.

O telefone de Jo tocou. Ela deveria ter esperado por isso. Ela recusou a
ligação e fez um gesto para Emma continuar.
— Calgary está parecendo uma boa opção — disse Emma. — Mais
barato que Vancouver, e–
O telefone de Jo tocou novamente. Ela recusou novamente. Emma parou
por um momento, depois continuou.
— Existem boas oportunidades ao ar livre, é claro. Há algum interesse
em–
Na terceira vez que o telefone de Jo tocou, ela deu a Emma um sorriso
cerrado.
— Podemos revisar isso mais tarde?
Emma assentiu e começou a juntar suas coisas quando Jo pegou o
telefone.
— Olá?
— Você está falando sério? — A voz de Evelyn era tão alta que Jo se
preocupou que Emma pudesse ouvir.
— Este realmente não é um bom momento. — Jo manteve sua própria
voz firme.
— Ela está no seu escritório, não está?
— Sim.
Emma já tinha pego todos os papéis e o tablet, deu um meio sorriso
estranho para Jo e se dirigiu para a porta.
— Precisamos revisar o que aconteceu quando seu pai a visitou — disse
Evelyn.
— Nós não — disse Jo, mesmo que ela precisasse passar por isso com
alguém . Ela desejou poder ter sido honesta com Emma sobre isso, poderia
ter lhe dito o quanto ela queria beijá-la – e não como um acidente bêbado
ou no calor do momento. — E não podemos agora. Eu te ligo mais tarde.
— Se você não ligar, Jo Jones — disse Evelyn, a ameaça clara em sua
voz. — Se você não me ligar de volta e me contar tudo, vou voar para Los
Angeles.
Jo acreditou nela.
— Hum-hum — disse Jo. — Ok, falo com você depois.
Ela desligou. Emma já se fora agora. Ela havia fechado a porta atrás de
si, para o caso de Jo precisar de privacidade. Jo deixou cair a testa em cima
da mesa. O impacto apenas fez sua cabeça doer mais.


EMMA FICOU DISTANTE O DIA TODO.
Depois que Jo a mandou para casa, ela ligou
para Evelyn. Ev tinha dito que ela voaria até aqui se Jo não ligasse de volta,
e Jo sabia que não era uma ameaça vazia.
— Eu tenho uma tigela de pipoca pronta — disse Evelyn quando
atendeu. — Estou pronta para todos os detalhes sujos.
Jo suspirou. Ela estava acostumada com as provocações de Evelyn, mas
teve um dia terrível. Evelyn pareceu entender isso.
— Tudo bem — disse Ev, todos os traços de zombaria desapareceram de
sua voz. — Diga-me o que aconteceu.
Jo respirou fundo. Ela poderia contar o que aconteceu sem entrar em
sentimentos. Suas mãos tremiam, mas ela manteve a voz firme ao contar a
Evelyn sobre a visita de seu pai, sobre o que ele havia dito a Emma, sobre o
que Jo havia dito a ele.
— Então eu o expulsei do prédio.
Evelyn soltou um assobio.
— Droga, garota, já era hora. Nós vamos chegar a essas coisas sobre
Emma, mas honestamente, estou orgulhosa de você. Já passava da hora de
você expulsar seu pai.
Jo sabia.
— As coisas sobre Emma — disse ela, sua voz ainda tão baixa. — Há
mais do que isso.
— Sim?
— Nós quase nos beijamos. — Era pouco mais alto que um suspiro. —
Nós teríamos nos beijado, Ev, se meu telefone não tivesse tocado.
A respiração de Jo estremeceu. Ela se recostou na cadeira, exausta,
embora tudo o que ela fez foi contar uma história.
— Então o que aconteceu? — A voz de Evelyn estava baixa.
— Então Emma fugiu e mal olhou para mim o resto do dia — disse Jo.
— Conversamos sobre isso ontem de manhã. Eu deixei claro que nada
disso aconteceria novamente. Eu estou apenas–
— Oprimida com emoções que você não sabia que tinha? — Disse
Evelyn. — O que – seu pai insulta Emma e de repente você percebe que
está apaixonada por ela?
Era mais do que isso. Isso estava se construindo há mais tempo do que
Jo queria admitir. Emma havia tornado os Emmys suportáveis, apesar de
não ter comparecido. Jo corou quando Emma ficou pressionada contra ela
em um banco de piquenique após o jogo de beisebol, a língua enrolada em
torno de sua casquinha de sorvete. Emma acalmou Jo, seu dedinho
enganchando em torno do de Jo quando ela estava preocupada com Ethan.
Antes disso, Jo se sentia péssima todos os dias que Emma não falava com
ela mais do que o necessário. Mesmo comprando roupas para as SAGs, Jo
não tinha conseguido olhar para Emma porque ela era tão bonita.
Levou a repulsa de seu pai para juntar tudo, mas Jo era uma bagunça por
Emma.
Ela não disse nada a Evelyn. Isso a fazia se sentir muito suave agora,
muito frágil.
— Então, o que Emma disse quando você falou sobre isso?
— Ela agiu como se estivesse tudo bem. Como se ela estivesse bem com
isso como uma exigência de seu trabalho como minha assistente. Foi
terrível.
— Emma não é uma idiota — disse Evelyn. — Tenho certeza que ela
não acha que isso é uma exigência de emprego. Ela conhece você muito
melhor que isso.
Jo passou a mão pelos cabelos. Emma disse que queria estar lá para Jo.
Ela tinha que dizer isso de uma maneira como assistente. Porque se ela
quis dizer – o pensamento fez a respiração de Jo parar. Mas Emma não
poderia querer estar lá para ela como mais do que uma assistente, e mesmo
que ela o fizesse, não importava. Foi inapropriado. Jo sabia disso. Ela sabia
que, mesmo que, pensando nisso, ela não pudesse inventar algo que faria de
diferente.
— Conte-me sobre o seu dia, sim? — Jo disse. Ela tinha terminado de
pensar em sua própria vida, muito obrigada. — Distraia-me.
Evelyn era a melhor amiga de Jo por várias razões, sem nenhuma pausa,
ela se lançou diretamente em uma história sobre um de seus clientes. Ela
não mencionou Emma novamente pelo resto da conversa.


NO DIA SEGUINTE, EMMA continuouseus esforços para agir como se tudo
estivesse normal, e Jo se juntou a ela. Eram sorrisos forçados e há mais
alguma coisa, Srta. Jones? e não, srta. Kaplan, isso é tudo. Jo foi almoçar
para escapar da nuvem sufocante entre ela e a mesa de Emma.
Ela voltou do almoço e encontrou Emma em pé na porta do escritório,
impedindo uma mulher de entrar. A mulher era Evelyn, porque é claro que
era.
— Aterrorizando meus funcionários, já? — Jo disse.
As outras duas mulheres pararam de se olhar e notaram Jo.
— Não querida. — Evelyn sorriu. — Você ainda tem o monopólio disso.
Jo riu e abraçou sua melhor amiga. Os olhos de Jo se fecharam quando
Evelyn a apertou com força. Quando ela os abriu, Emma, que estava
olhando para ela com algum tipo de frustração no rosto, e rapidamente
desviou o olhar.
— Eu não posso acreditar que você está realmente aqui — disse Jo.
— Claro que você pode — disse Evelyn.
— Claro que posso — Jo riu. Ela já se sentia mais leve do que se sentia
desde que Emma lhe disse que seu pai estava vindo visitá-la. — Eu vejo
que você já conheceu minha assistente? Emma, essa é Evelyn. Evelyn,
Emma.
Jo viu Emma tentando descobrir exatamente quem Evelyn era por um
momento, antes de sorrir e oferecer a mão.
— Prazer em conhecê-la, Evelyn.
Evelyn apertou a mão dela, sorrindo.
— O mesmo para você. Desculpe se eu causei muitos problemas.
— Ela não está arrependida — Jo riu.
Emma parecia confusa com toda a interação, e Jo a deixou. Ela
gesticulou para Evelyn entrar em seu escritório.
— Segure todas as ligações que não sejam urgentes — Jo disse a Emma,
e ela fechou a porta atrás dela.
Uma pequena parte de Jo se sentiu mal ao fechar a porta de uma Emma
obviamente perplexa, mas a maior parte dela não se importou. Ela não se
importava, porque sua melhor amiga voara pelo país com menos de vinte e
quatro horas de antecedência. Jo nem tinha pedido, mas ela estava aqui.
Evelyn apertou Jo em um abraço apertado, depois a puxou para o sofá.
— Eu não posso acreditar que você está aqui — disse Jo novamente.
— Comece a acreditar — disse Evelyn. — Porque você tem que me
divertir por mais seis dias.
— Evelyn!
Ev sorriu para ela.
— Eu tinha alguns dias de férias para usar. — Ela encolheu os ombros.
— E seu aniversário está chegando.
Jo a abraçou novamente.
Esse era o maior problema de Jo com a fama, a falta de sinceridade na
maneira como as outras pessoas tratavam você. Durante quase toda a sua
vida, ela nunca teve certeza de quais eram os motivos das pessoas em suas
interações com ela. Evelyn voando por todo o país para passar uma semana
com ela, porém, não tinha nada por trás disso. Jo diria que isso significava
mais do que Evelyn percebeu, mas Ev a conhecia bem o suficiente para que
isso provavelmente não fosse verdade.
— Você realmente tem basicamente um cão de guarda por ali — disse
Evelyn. — Ela estava me bloqueando com o corpo me impedindo de entrar
em seu escritório. Eu pensei que ela ia me atacar.
— Seja legal com ela — disse Jo.
— Sim, claro que vou ser legal com sua namorada.
O rosto de Jo ficou vermelho imediatamente. Ela sentiu como se fosse
uma adolescente.
— Se você se lembra, de acordo com os tabloides, terminamos meses
atrás.
— Se bem me lembro, de acordo com a nossa conversa na noite passada,
vocês quase se beijaram três dias atrás — disse Evelyn.
Jo lançou-lhe um olhar suplicante, e Evelyn riu, mas não a pressionou.
— Então, você vai me dar um tour por esse lugar, ou o quê?
— Eu não acredito que esta é sua primeira visita — disse Jo, sem se
mexer para sair do sofá e começar o tour.
— Eu sou uma péssima amiga, eu sei — disse Evelyn. Isso
categoricamente não era verdade. Antes que Jo pudesse refutá-la, Evelyn
continuou: — Mas vamos nos concentrar nessa coisa de tour. Tenho que
conhecer Tate e decidir se quero lhe dar uma surra por lhe dar tantos
problemas ou se quero ajudá-lo.
— Oh Deus, se você se juntar a ele, eu não vou apresentar vocês dois.
Ela os apresentou, é claro. Ela mostrou a Evelyn o set, a manteve quieta
enquanto assistiam as filmagens por um tempo, e então a apresentou para
todos no intervalo.
Assim que Tate apertou a mão dela, ele se virou para Jo.
— Ela é solteira? — ele disse em um falso sussurro.
— Ela está se guardando para Sam Allen — Jo disse sem perder o ritmo.
Tate parecia confuso, e as sobrancelhas de Emma franziram, mas Evelyn
gargalhou. Jo não se importava se mais ninguém entendesse a piada.
Ter Evelyn lá provavelmente não estava ajudando o relacionamento de
Jo com Emma, que continuava mantendo distância, mas no geral estava
ajudando Jo. Isso a fez se sentir jovem, honestamente, trancada em seu
escritório e rindo com sua melhor amiga. O fato de Evelyn a amar o
suficiente para embarcar em um avião só porque Jo estava chateada com
uma garota também ajudou.
— Por que ela ainda está aqui? — Evelyn sussurrou. — Já passou das
cinco, quando ela vai para casa?
— Oh — disse Jo. Ela não tinha pensado nisso. — Emma!
Os olhos de Evelyn se arregalaram, mas Jo a ignorou. Emma veio parar
na porta.
— Sim, Srta. Jones? — ela disse.
— Já terminei as coisas por aqui — disse Jo. — Você pode ir para casa à
noite. Vejo você de manhã.
Emma assentiu e ofereceu um sorriso na direção de Evelyn.
— Tenha uma boa noite.
Evelyn esperou um tempo razoável para Emma ficar fora do alcance da
voz antes de dizer:
— Ela não tem horário regular? Ela não vai embora até você dispensá-
la?
— Bem, geralmente ela me pergunta antes de sair — disse Jo. — Ela
provavelmente não queria nos interromper, ou algo assim.
— Você acha que ela vai ser tão submissa assim na cama também?
— Evelyn! — Jo estalou porque, não, elas não iam falar sobre Emma
assim. Como se tudo isso não fosse inadequado o suficiente.
— Estou brincando — disse Evelyn. — Vamos lá. Vamos conversar
sobre isso.
— Você não quer falar sobre isso, você quer tirar sarro de mim — Jo se
sentiu petulante.
— Ā -Jo — disse Evelyn calmamente. — Estou falando sério.
Jo suspirou.
— O que há para dizer?
— Como você está se sentindo? Como você acha que ela está se
sentindo? O que você quer fazer? Quais são os próximos passos para obter
o que você deseja?
As perguntas pareciam grandes demais para serem entendidas. Quais
são os próximos passos? Não existentes. Ela não podia ter o que queria.
Mesmo que pudesse, ela não merecia. O que ela traria para um
relacionamento? Dinheiro, fama, fofoca. Nada substancial.
— Estou me sentindo idiota — disse Jo. — Estou me sentindo um
clichê. Chefe de meia-idade e sua assistente, que único. Tudo ficou pior pelo
fato de os paparazzi parecerem descobrir isso antes de nós.
Jo abriu a gaveta da mesa, enroscou-se em algumas pastas para
encontrar a revista com a primeira foto e jogou-a sobre a mesa na direção
de Evelyn.
— Eu costumava olhar isso e pensar sobre isso — ela admitiu.
Evelyn olhou para a foto por um momento.
— Você tem permissão de querer ela — disse ela.
— Eu não tenho — disse Jo. — Eu não tenho, Ev. Ela é mais de uma
década mais nova que eu e é minha assistente. Fale sobre uma lésbica
predatória.
— Você não é uma lésbica predatória — insistiu Evelyn. — Você não
está tratando Emma como presa . Você tem sentimentos por ela. Você
pode. Você pode contar isso a ela. Talvez não agora. Mas ela vai ficar com
Innocents quando você seguir em frente, certo? Talvez diga a ela então.
Você tem permissão de fazer isso.
Jo tinha 41 anos e havia lágrimas nos olhos dela por uma garota. Foi
constrangedor.
Ela desviou o assunto.
— Apaixonada é uma linguagem forte — disse Jo, referenciando ao seu
texto do dia anterior. — Uma reação exagerada.
Evelyn levantou uma sobrancelha para ela.
— Eu não posso amá-la — argumentou Jo. — Eu nem a conheço fora do
trabalho.
— Ah, claro, tenho certeza que ela é uma pessoa muito diferente daquela
que você conheceu no ano passado — disse Evelyn. — Aquela que
trabalhou no seu escritório o verão inteiro, que faz viagens de negócios
com você, quem – o que? Você sobrevive por causa dela todos os dias?
É a única razão pela qual eu vivo na maioria dos dias foi o que Jo
realmente disse ao pai, mas ela não achava que Evelyn realmente precisava
de correção.
Jo estava lutando contra isso. Amar Emma parecia demais, parecia
ridículo demais. Como ela poderia amá-la e não perceber isso até que quase
se beijaram?
— Talvez os rumores tenham distorcido meus pensamentos — sugeriu
Jo.
Evelyn zombou dela.
— Jo, esses rumores terminaram há muito tempo – você é quem mantém
essa foto na sua mesa. Não é sobre como as pessoas pensam que você se
sente sobre ela. É sobre como você se sente sobre ela. Não estou dizendo
que você a ama ou não. Mas não se engane, se é assim que você se sente.
Jo fez uma careta, mas conteve-se de resmungar baixinho como ela
queria.
— Estou no processo de criar um espaço seguro para as mulheres deste
setor que são assediadas e quase beijei minha assistente — disse ela. —
Que tipo de hipócrita–
— Tudo bem, mas você não beijou sua assistente — interrompeu
Evelyn. — E você não vai, mesmo que ela obviamente queira que você,
porque se você não estivesse sob o estresse de seu pai imbecil visitando,
você não teria. Você não beijaria sua assistente. Você não basearia nenhuma
decisão profissional ou de emprego no fato de ela ter ou não lhe beijado.
Você não a está assediando. Você não está abusando dela.
Jo sabia disso racionalmente. Sabia tudo isso. Mas seus sentimentos por
Emma pareciam errados, e ela não sabia como consertar isso.
— Qual é, Jo — disse Evelyn. — Vamos pedir comida para viagem e
talvez deixar você bêbada.
— Não preciso ficar bêbada duas noites esta semana e já estive bêbada
na terça-feira.
— Sim, eu lembro — disse Evelyn, e Jo revirou os olhos.
Elas não ficaram bêbadas, no final. Elas pediram comida no restaurante
onde iam desde que eram crianças crescendo juntas em Chinatown e a
comeram no chão da sala de estar de Jo.
Evelyn falou principalmente. Contou a Jo sobre Nova York e sua
empresa e como seus pais estavam. Jo sentou-se de pernas cruzadas e
comeu macarrão de arroz e sorriu muito.
Elas estavam comendo os biscoitos da sorte quando Evelyn trouxe
Emma de volta.
— Você tem que descobrir o que vai fazer sobre isso — disse Ev. —
Porque eu não voei aqui para passar seis dias com você pensando sobre
isso. Eu vou definitivamente te provocar sobre isso, e só é divertido se isso
a incomoda, não se isso a deprime.
— Isso não me deprime — disse Jo. — Mas não há nada para descobrir.
Vou me mudar para Agent Silver em breve. Emma será produtora
associada e eu estarei trabalhando em outro lugar e seguirei em frente. Não
será um problema.
— Boa ideia — disse Evelyn. — Promova-a e depois começe a trabalhar
em outro lugar e depois convide-a para sair, sua idiota.
Jo revirou os olhos.
— Eu não vou convidá-la para sair.
— Tudo bem, tanto faz — disse Evelyn. — Mas você pelo menos não
ficará triste quando eu provocar você?
Jo gostaria de prometer isso. Ela adoraria não se sentir mal pela maneira
como Emma fazia seu coração disparar. Ela não achava que poderia
garantir isso, no entanto.
— Vou tentar — disse ela.


NA MANHÃ SEGUINTE, EMMA sorriu quando ela ofereceu café a Jo.
— Evelyn não vai se juntar a nós hoje?
— Ela vai, em algum momento desta tarde — disse Jo. Ela disse a si
mesma que imaginava o modo como o sorriso de Emma tremia.
Evelyn podia ter voado por todo o país para Jo, mas ela tinha outras
pessoas para visitar enquanto estava aqui. Sem mencionar que Jo tinha
trabalho a fazer; ela não precisava de Evelyn em seu escritório a
incomodando o dia todo.
Jo pensou em convidar Emma para entrar. Estendendo algum tipo de
bandeira branca para garantir que elas estavam bem. Mas ela não queria
que isso fosse mal interpretado. Ela deixou a porta aberta, no entanto,
apenas por precaução.


— NÓS VAMOS SAIR HOJE À NOITE. — Evelyn entrou no escritório de Jo naquela
tarde.
Jo não levantou os olhos do trabalho dela.
— Nós vamos?
— É claro — disse Evelyn. — Festa de aniversário antecipada.
Jo terminou o parágrafo que estava lendo antes de se voltar para Evelyn.
— Eu odeio comemorar meu aniversário.
— Você odeia celebrar com sua família — corrigiu Evelyn. — Ou
celebrar publicamente, com pessoas que só se importam com o seu
aniversário porque você é uma celebridade. Ainda bem que você tem sua
melhor amiga aqui para comemorar.
Evelyn não estava errada, não importa o quanto Jo gostaria de dizer que
ela estava.
— Vamos. — Evelyn arrastou as palavras para fora. — Me deixe te
levar para sair e te embebedar e fazer esquecer como você se odeia por–
Ela se interrompeu, mas olhou para a porta aberta, para o lado de fora
de onde Emma trabalhava em sua mesa. Jo fez um olhar de raiva para
Evelyn, mas não havia calor de verdade por trás disso.
— Além disso — disse Evelyn — tive uma ótima ideia. Nós vamos sair
com Sammy.
Jo teve que admitir que era realmente uma boa ideia.
— Tudo bem — disse Jo. — Mas você não está dizendo a ninguém no
restaurante que é meu aniversário.
Evelyn revirou os olhos.
— Essa é uma condição terrível, mas eu aceito.
Sam ficou emocionado ao jantar com elas. Foi mais diverçsão do que Jo
havia tido em semanas. Evelyn flertou com o coração o tempo todo, e ainda
assim todos os tabloides falaram no dia seguinte como Jo e Sam estavam
namorando.


JO E EVELYN PASSARAM o
fim de semana discutindo os fantasmas do passado,
percebendo que ambas estavam provavelmente muito velhas para a maioria
delas. Foi um ótimo momento de qualquer maneira.
Evelyn voltou a trabalhar com Jo segunda de manhã. Emma sorriu
docemente para ela.
— Eu teria comprado um café com leite se soubesse que você estaria
aqui — disse ela.
Evelyn riu.
— Ela vai viver — disse Jo antes que Evelyn pudesse dizer algo rude.
Ela fechou a porta atrás delas. Ela se perguntou o que Emma pensava de
Evelyn a visitando. Jo estava sendo óbvia – precisando de sua melhor
amiga depois que ela e Emma quase se beijaram? Talvez estivesse
colocando todas as cartas na mesa, mas a mantinha sã.
— Você escolheu uma boa, sabia? — Evelyn disse, descansando do outro
lado que Jo tinha pensado como o sofá de Emma. — Leal, obviamente. E
certamente não é feia.
— Cala a boca.
Não era como se Jo não soubesse que Emma era atraente. Ela sempre
soube, realmente. Desde quando Emma foi contratada em adereços. Ela era
uma mulher bonita, objetivamente. Jo sabia disso, e isso nunca importava.
Ela odiava que isso importasse agora. Odiava que ela notasse isso, em
momentos aleatórios, mesmo antes da visita de seu pai. Emma contaria a
ela sobre uma reunião mais tarde, e Jo se distrairia com a forma como seus
cabelos caíam na frente do rosto. Isso fez Jo se sentir burra e inapropriada.
Emma ainda era sua funcionária. Emma era sua funcionária que já havia
sido assediada sexualmente. Ela não precisava de sua chefe rastejando
sobre ela.
Evelyn passou o último dia inteiro de sua visita provocando Jo sobre
como Emma era ótima. Jo não podia discordar exatamente.


— VOCÊ NÃO VAI me levar para o aeroporto? — Evelyn agiu ultrajada.
— Minha motorista vai — Jo disse, classificando os papéis em sua mesa.
— Eu, no entanto, tenho um emprego em que estive trabalhando durante
toda a sua visita.
— Como se você nunca tivesse faltado alguma coisa em toda a sua vida
— murmurou Evelyn.
Jo deu a volta na mesa para ficar na frente da melhor amiga.
— Obrigada por vir — disse ela.
Evelyn sorriu.
— Estou realmente feliz por ter vindo.
— Estou muito feliz que você tenha vindo também.
Evelyn a abraçou com força.
— Não há nada de errado com seus sentimentos — disse ela bem no
ouvido de Jo. — Você é ótima, e ela é ótima, e se as coisas derem certo, será
ótimo.
Jo tentou não revirar os olhos, porque nada ia dar certo, mas ela
apreciou o sentimento.
— Saia daqui, ok? — Jo disse. — Não perca o seu voo.
— Eu vou voltar se precisar de mim, sabia?
O coração de Jo estava cheio.
— Eu sei.


COM A SAÍDA DE EVELYN, JO não
tinha nada para distraí-la de Emma, cujos
sorrisos ainda nunca alcançavam seus olhos. Jo queria dar uma saída para
Emma, se ela estivesse desconfortável. Ela a chamou de trás da mesa.
— O que foi? — Emma perguntou. Ela pairou na porta do escritório de
Jo.
— Entre.
Emma fez, seus olhos se deslocando pela sala, nervosos. Jo odiava que
ela a fizesse se sentir assim.
— Como está a procura do meu próximo assistente? — Jo perguntou.
Emma coçou a nuca.
— Bem. Boa. Ainda estou diminuindo os currículos.
— Eu estava pensando, se você quisesse, pode mudar para produtora
associada antes da metade da temporada. Assim que você contratar seu
substituto, poderemos oficializar sua promoção.
— Eu sei — Emma disse lentamente, como se ela não entendesse. — E
estou no caminho certo para que isso aconteça antes da metade da
temporada.
— Certo — disse Jo. — Se você quiser seguir em frente mais cedo, eu
quis dizer. Você pode acelerar o processo.
Emma olhou para ela. Jo ajustou alguns papéis em sua mesa. Ela
suspirou, não disse o que realmente queria dizer. Eu entenderia se você
estivesse desesperada para fugir de mim.
— Vou me mudar na metade da temporada — disse Emma. — Como eu
disse, ainda estou passando pelos currículos. Quero tomar meu tempo e
garantir que contrate a pessoa certa. Não há necessidade de se apressar,
certo?
— Claro que não — disse Jo. — Se você não quiser, é claro que não há
pressa.
Se Emma quisesse fugir dela, Jo não a impediria. Mas ela não queria,
aparentemente. Jo se sentiu um pouco menos terrível com a coisa toda.


JO NÃO GOSTAVA MUITO DE fazer aniversários. Evelyn estava certa sobre o
porquê; nunca parecia que as pessoas estavam fazendo um grande negócio
por ela, talvez porque ela era uma celebridade, elas pensavam que era uma
obrigação. Ela não precisava ser o centro das atenções mais do que já havia
sido a maior parte de sua vida.
No ano passado, um bolinho apareceu em sua mesa quando ela não
estava em seu escritório. Ela sabia que era Emma, é claro, mesmo que não a
tivesse visto realmente fazer isso. Um bolinho apareceu e, no final do dia,
Emma silenciosamente lhe desejou um feliz aniversário. Foi tudo o que
Emma fez e Jo gostou. Parecia que ela fez isso por ela, especificamente, não
apenas porque isso foi algo que você faz no aniversário de alguém, mas
porque ela queria que Jo se sentisse especial no aniversário dela. Jo gostou.
Este ano, mesmo após o quase beijo, mesmo depois de todo o
constrangimento entre elas, ainda havia um bolinho em sua mesa quando
ela voltou de uma reunião. Era enorme, como foi no ano passado. Bolo
escuro e uma torre de glacê branca com hortelã vermelha e branca
esmagada por cima. Pelo cheiro, Jo imaginou que fosse uma versão de
cupcake de um mocha de hortelã-pimenta. Ela o desembrulhou
imediatamente. Era tão grande que ela teve que encontrar um garfo de
plástico em sua mesa para comê-lo; caso contrário, ela acabaria com glacê
por todo o rosto.
Jo saboreou a primeira mordida. A hortelã estava forte e o bolo,
profundo, rico e delicioso. Emma era boa demais para ela. Boa demais para
ela. Emma era inteligente e gentil, e às vezes parecia que ela trabalhava
ainda mais que Jo. Jo comeu o bolinho que Emma comprou para ela e,
inexplicavelmente, sentiu vontade de chorar.
Naquela noite, depois que Jo disse a Emma que ela poderia ir para casa,
Emma pairou na porta por um momento.
— Feliz aniversário, chefe — disse ela calmamente.
Jo queria dizer que a amava. Queria dizer a ela que sentia muito por
tudo.
No final, tudo o que Jo disse foi:
— Obrigada, Emma.
19
EMMA

E mma havia reduzido o número de candidatos para o próximo assistente


de Jo para quatro. Foi estranho escolher seu próprio substituto. Mais
estranho ainda fazendo isso na sequência de... tudo.
Percebendo que ela tinha uma queda por Jo, quase a beijando e
imaginando como as coisas podiam funcionar, apenas para Jo convidar sua
namorada por uma semana. Jo e Evelyn tinham saído para jantar com Sam,
ex-colega de trabalho de Jo, e os tabloides poderiam ter tomado isso como
confirmação do relacionamento de Jo e Sam, mas Emma sabia mais. Ela
sabia que aqueles não eram os dois namorando naquele jantar.
Claro que Jo tinha uma namorada. Por que ela não teria? Ela era linda e
bem-sucedida, engraçada e gentil. Todas as razões pelas quais Emma
estava interessada nela eram todas as razões pelas quais ela obviamente já
tinha uma namorada. Fazia sentido, mesmo que doesse.
Emma desejou que Jo tivesse dito que não estava interessada nela. Em
vez disso, Jo mandou sua namorada visitar como se estivesse apontando
que estava fora dos limites sem ter que conversar com Emma. O pior foi
que Jo se ofereceu para promovê-la mais cedo – como se Jo quisesse colocar
distância entre elas, como se não confiasse mais em Emma para ser
profissional.
Mas de qualquer forma. Emma estava sendo profissional. As coisas
entre ela e Jo estavam bem – quase normal. Emma estava contratando seu
substituto.
Todos os candidatos que ela encontrou foram bem qualificados.
Qualquer um deles provavelmente se sairia bem. Mas ela queria melhor do
que bem. Jo merecia mais do que bem. Se Emma contratasse a assistente
perfeita para Jo, provaria que essa paixão estúpida não afetou nenhum de
seus trabalhos. Suas mãos suavam toda vez que ela examinava os currículos
dos candidatos.
A única entrevista que faltava para Emma fazer era a de Phil. Ela ficou
surpresa ao saber que ele se candidatou. Ele estava no programa há um ano
mais do que ela e nunca havia mudado de departamento ou, realmente,
demonstrado qualquer desejo de avançar. Quando ela estava em adereços
q q j ç Q ç
com ele, ele era o piadista. Eles se davam bem porque ele a fazia rir, mas ele
era sempre mais propenso a fazer uma piada do que a se voluntariar para
um trabalho extra. Jo poderia usar alguém descontraído, então Emma
marcou uma entrevista.
Phil sorriu quando ele apertou a mão dela.
— Vamos acabar com isso para que eu possa receber minha promoção
— disse ele.
Emma se irritou.
— Phil, eu entrevistei outros três candidatos realmente fortes. Isso não
é uma formalidade. Você não tem o emprego automaticamente só porque
somos amigos.
— É claro que eu não deveria ter o emprego porque somos amigos —
disse Phil. — Mas você sabe que eu seria ótimo nele.
— E por que isto? — Emma tentou dar um tom sério de entrevistador.
Ela se sentou à mesa da conferência e fez um gesto para Phil se sentar à
sua frente. — O que você acha que traria para o trabalho?
— Emma, é apenas uma posição de assistente. Eu acho que posso lidar
com isso.
Emma levantou as sobrancelhas.
— Você acha que meu trabalho foi fácil no último ano e meio?
— Não, claro que não — Phil retrocedeu. — Mas não é como se você
estivesse guardando códigos de lançamento nuclear.
Emma riu junto com ele, mas fervia por dentro. As pessoas sempre
agiam como se ser assistente de alguém não fosse difícil, como se tudo que
ela fizesse era pedir um almoço e pegar uma roupa na lavagem a seco. Phil
deveria saber melhor. Emma cruzou as mãos sobre a mesa na frente dela.
— Como você lidaria com os aspectos mais difíceis do trabalho?
Phil deve ter reconhecido a frustração na voz dela – ele pareceu apertar
um botão, levando tudo mais a sério. Acabou sendo uma ótima entrevista.
Emma ia ter uma decisão difícil pela frente. Depois, eles voltaram aos seus
papéis de amigos, conversaram sobre nada importante – a próxima viagem
de Emma e Jo a Calgary e o que Phil estaria fazendo nas férias de inverno.
— Você tem alguma pergunta para mim? — Emma perguntou antes de
terminar oficialmente a entrevista.
— Você pode me dar dicas para mantê-la feliz, você sabe, nos
bastidores? — Phil balançou as sobrancelhas para ela. — Quero ter certeza
que vou receber uma recomendação tão boa quanto a sua.
Foi uma piada. Emma sabia disso. Mas as palavras se irritaram contra
sua pele.
— Eu aprecio que você tenha separado um tempo para a entrevista —
disse ela, endireitando as anotações na frente dela. — Infelizmente,
estamos indo em uma direção diferente.
Phil riu para ela.
— Você está brincando.
— Não acho apropriado insinuar que sua entrevistadora está dormindo
com a chefe dela — disse Emma. — Não consigo imaginar nenhuma
situação em que você esperaria conseguir o emprego depois disso. Tenho
certeza de que Aly gostará de não ter que encontrar outro assistente para a
segunda metade da temporada.
— Você é inacreditável — disse Phil. — Foi uma piada.
— Uma piada que demonstrou que você não está pronto para uma
posição como essa — disse Emma. — Você é um bom assistente pessoal,
Phil, mas este não é o trabalho certo para você.
Phil foi embora. Ele acabou de sair da sala com um escárnio e nada mais.
A pele de Emma formigava, seu coração estava disparado. Phil era seu
melhor amigo no set, mas amigo ou não, isso foi completamente
inapropriado. Não, seu trabalho não era guardar códigos de lançamento
nuclear, mas isso não significava que não era importante. Isso não
significava que alguém poderia ler uma sala e entender quando uma piada
poderia não ser uma boa ideia.
Ela deu a ele alguns minutos para se afastar da sala de conferências e
talvez desabafar um pouco antes de voltar para sua mesa. Felizmente, não
havia sinal dele.
— Como foi a entrevista? — Jo perguntou assim que Emma voltou.
Emma tentou sorrir para ela.
— Tudo bem — disse ela. Ela não queria pensar nisso. — Tomarei uma
decisão quando chegarmos de Calgary.
— Ótimo — disse Jo. — Nossa última viagem de negócios juntas.
Emma também não queria pensar nisso. Ela estava nervosa com a
promoção. Racionalmente, ela sabia que já tinha muitas tarefas de
produção. Ela sabia que havia intensificado, feito mais do que precisava
como assistente. Mas permanecer em Innocents em uma nova posição
enquanto Jo saía? Algo sobre isso fez sua pele arrepiar. Não era sua paixão
– ela não tinha chance com Jo, se elas trabalhassem juntas ou não,
claramente. Mas não trabalhar diretamente com ela... exceto na semana em
que estavam brigando, Jo sempre a protegera. Ela tinha essa crença
inabalável de que Emma teria sucesso. Não importa o que acontecia entre
elas na vida pessoal, Jo sempre esteve lá por ela profissionalmente. Emma
estava nervosa por perder isso, especialmente ao mesmo tempo em que
estava entrando em uma nova posição.
— Não se esqueça de trazer o seu inalador — Jo disse com uma
piscadela.
Emma meio que riu dela.
— Claro que não, chefe.
Momentos assim, tudo parecia normal entre elas.
— Ei. — Emma reconheceu a voz atrás dela. Ela se virou para encontrar
Chantal, cuja abordagem ela não havia notado. Chantal era tão pequena
quanto Jo, mas sem salto para adicionar altura ou anunciar sua chegada.
Chantal olhou entre Jo e Emma, as sobrancelhas não muito levantadas.
— Tenho uma pergunta para você — disse ela a Jo.
— Entre — disse Jo, dando um último sorriso para Emma antes de se
retirar para o escritório.
Chantal a seguiu.
Emma desejou poder perguntar a Jo se elas estavam realmente bem.
Desejou poder dizer a ela que sentia muito por quase beijá-la, que entendia
que Jo estava com Evelyn e isso não importava, mesmo que não estivesse.
Mas é claro que ela não podia. Melhor apenas garantir que ela não olhasse
para Jo por muito tempo, não ficasse muito perto, não deixasse seus dedos
tocarem quando ela entregava papéis ou o café de Jo. Melhor ter certeza de
que ela não chamasse Jo de chefe, onde mais alguém podia ouvir.


a etapa final da localização de um arco de Innocents.
A VIAGEM A CALGARY foi
Tinha sido bem examinado, aprovado todo o caminho até Jo. Tudo o que
restava era que ela voasse e desse uma olhada em vários locais para dar sua
própria aprovação. Ela e Emma estavam programando para uma rápida
turnê de dois dias, saindo na sexta-feira de manhã e voltando na noite de
sábado, um dia antes do aniversário de Emma. Normalmente, Emma
poderia ter se importado de ir em um fim de semana mais ou menos perto
do aniversário dela, mas os Inoncents só tinham mais uma semana antes do
intervalo para o feriado. A viagem parecia a última aventura de Emma em
um emprego que ela não estava pronta para sair. Ela não iria reclamar de
nada disso.
Na quinta-feira, Emma foi ao jantar de Avery para vê-la antes de sair em
sua viagem. Dylan estava pegando os gêmeos na casa de um amigo, então
eram apenas Avery e Emma enquanto Avery preparava o jantar. Ela estava
usando caldo de peru do Dia de Ação de Graças para fazer sopa. Emma
sentou em um banquinho e a observou, sem permissão para ajudar.
— Então, quem você contratou para substituí-la? — Avery perguntou
ao refogar cenouras, aipo e cebola.
— Uma mulher chamada Marlita — disse Emma. — Ela vai se sair bem.
— Phil vai ficar chateado, se não for ele?
Emma revirou os olhos.
— Eu sou a pessoa que está chateada com ele. Eu disse a ele que ele não
conseguiu o emprego no final da entrevista.
Avery acrescentou caldo na panela e mexeu rapidamente antes de se
juntar a Emma na ilha da cozinha.
— Conte-me tudo.
Emma fez. Ela se sentiu justificada quando Avery anunciou:
— Foda-se o Phil, então.
— Certo? — Emma disse. — Meu trabalho é importante. Se não fosse
importante, por que Jo diria que–
p ,p q q
Ela se interrompeu. Avery não conhecia essa história.
— Por que Jo disse o que?
Emma balançou a cabeça.
— Não é nada.
Avery estreitou os olhos.
— Parece algo. O jeito que você está corando me diz que é alguma coisa.
— Eu não estou corando — disse Emma, e corou mais.
— O que Jo disse?
Emma queria enterrar a cabeça nas mãos, mas isso era pior do que corar.
— Ela disse que eu era a única coisa que a fazia passar pelo dia — ela
murmurou.
Ela esperava que Avery a fizesse repetir, apenas para ser uma idiota, mas
sua irmã apenas piscou para ela.
— Quando ela disse isso? — Avery perguntou.
— Um tempo atrás.
— E para quem?
Emma podia sentir exatamente como seu rosto estava vermelho.
— Para o pai dela.
As sobrancelhas de Avery subiram.
— Explique.
Emma não contou a Avery sobre a visita do pai de Jo. Era muito frágil.
Real demais. Além disso, Evelyn veio visitar e Jo ficou quase meio
adolescente, toda risonha e feliz. Emma passou a semana reclamando com
Avery sobre a namorada de Jo. Avery a chamou de ciumenta e não sabia o
quão verdade era.
Mas Avery havia dito explique. Então Emma o fez. Ela contou a ela
sobre o pai de Jo, sobre o milk-shake, sobre Jo repreendê-lo e parecer tão
arrasada que Emma teve que fazer alguma coisa.
— E o que você teve que fazer foi beijar sua chefe?
— Nós não nos beijamos!
— E por que isso não aconteceu mesmo? Foi porque você não quis, ou
foi porque um segurança chamou?
Emma abaixou a cabeça.
— Foi o que eu pensei — disse Avery. — Você queria beijá-la?
Emma fechou os olhos. Assentido.
— Você ainda quer?
Emma abriu um olho.
— Sua sopa vai queimar.
Avery voltou ao fogão para mexer a sopa e deixou Emma escapar sem
responder.
— Então deixe-me ver se entendi. Você está me dizendo que Jo Jones
gritou com o pai dela sobre como você é ótima, sobre como você é a única
razão pela qual ela passa a maior parte dos dias, e então você quase a beijou
e afirma que isso não é um nada demais?
— Mas, veja–
— Não — disse Avery. — Não há “mas, veja” aqui. Você quase a beijou!
Você teria se não fosse interrompida! Certo?
Emma olhou para as unhas.
— Certo.
— Sim. Isso é grande coisa.
Não era Isso não importava. Jo estava namorando Evelyn e isso era
bom; Emma estava bem com isso. Não importava que ela quisesse beijar Jo,
e ainda queria beijá-la. O que ela realmente queria era voltar ao seu
relacionamento normal com Jo, como no verão, onde elas se davam bem,
faziam uma a outra rir e trabalhavam bem juntas. Onde Jo não achava que
ela tinha uma queda por ela. Onde não havia nada desse constrangimento.
Onde Emma não estava tão insegura sobre tudo.
— Não é grande coisa — disse ela. — Só estou preocupada porque,
depois que Evelyn foi embora, Jo me disse que poderíamos oficializar
minha promoção assim que eu contratasse um substituto, mesmo que fosse
antes da metade da temporada. Como se a promoção fosse porque ela
estava tentando se livrar de mim, e não porque eu a merecia.
Avery ficou boquiaberta.
— Emma, ela decidiu esta promoção no final da temporada passada. Não
tem nada a ver com vocês quase se beijando.
Emma deu de ombros.
— Além disso, vamos nessa viagem e – eu não quero que as coisas sejam
estranhas, é tudo. Quero que as coisas voltem ao normal.
Avery ficou olhando para ela por um momento. Então ela balançou a
cabeça e colocou os rolos no forno.
— E o que é normal? — ela perguntou.
— Como neste verão — disse Emma. — Quando foi fácil.
— Tão normal que vocês estavam se dando tão bem que as pessoas
pensaram que vocês estavam namorando? — Avery disse. Ela temperou a
sopa.
— Não — Emma disse imediatamente. — Não, não é isso que eu quero
dizer.
— Parece que é isso que você quer dizer.
Emma apoiou os cotovelos na ilha da cozinha de Avery e deixou a cabeça
cair nas mãos.
— Eu só quero que as coisas sejam fáceis — disse ela. — Eu não quero
ter que me preocupar com tudo isso.
— As coisas nem sempre são fáceis, Em — disse Avery. —
Especialmente quando você está dando passos adiante.
— Eu não estou dando passos adiante com Jo. — Emma fez uma pausa e
depois resmungou: — Especialmente porque ela tem uma namorada.
— Eu quis dizer que você está mudando para um novo emprego, mas é
uma maneira de não ser totalmente convincente sobre não querer namorar
Jo — disse Avery, e Emma se encolheu. — Você está se mudando para um
novo emprego e Jo está se mudando para um novo programa, e isso
tornará as coisas diferentes e estranhas entre você e Jo, mesmo se vocês
quase não tivessem se beijado.
Emma descansou o queixo em uma mão e olhou para a irmã.
— Você tem uma viagem de trabalho — disse Avery. — Concentre-se no
trabalho.
— E apenas ignorar o quase beijo? — Emma perguntou calmamente.
— Sim.
— Porque não é grande coisa?
— É grande coisa — disse Avery. — Só estou deixando para lá porque
sou uma boa irmã. Eu vou incomodá-la depois da sua viagem.
— Você é uma boa irmã — disse Emma.
Avery apontou a colher de pau na mão para Emma.
— Se você vai ser assim, eu vou incomodá-la sobre isso agora.
Emma riu.
— Não, não, você é uma ótima irmã, a melhor irmã.
— Melhor.
Dylan e os gêmeos chegaram então, e Emma ficou feliz em deixar a
discussão de lado para cumprimentá-los e ajudar Dani e Ezra a arrumar a
mesa para o jantar.


DEPOIS QUE ELES COMERAM E Emma teve o prazer de abraçar os gêmeos e os
cachorros, Avery a acompanhou até a porta e trouxe Jo novamente.
— Eu sei que brinquei com você sobre isso para sempre, mas você pode
ter uma queda por ela, sabia? — ela disse.
Emma não admitiu nada.
— Ela tem namorada. E ela nunca namoraria um funcionário de
qualquer maneira.
— Você não vai ser funcionária dela em breve — lembrou Avery.
— Exatamente — disse Emma. — Qualquer paixão que eu possa ter por
ela não importa. Ela vai se mudar para Agent Silver e eu ficarei com
Innocents e nem nos veremos. Vai ficar tudo bem.
— Como você se sente sobre isso? Sobre não se verem?
Horrível.
Quando Emma não respondeu, Avery suspirou.
— Divirta-se em sua viagem — disse ela. — Tente fazer algum
trabalho, em vez de apenas curtir o tempo todo.
— É por isso que eu não te contei — disse Emma.
— Eu sei — disse Avery. — Mas você ainda me ama.
— Eu? — Emma perguntou. Ela imediatamente se sentiu mal, jogou-se
para trás do limiar para outro abraço. — Eu amo. — Ela apertou a irmã
com força. — Ok, eu estou indo agora.
20
EMMA

E mma passou metade do voo para Calgary examinando suas anotações da


viagem: o itinerário, os locais que estavam explorando, os restaurantes
que ela pesquisara. Ela só parou quando Jo se inclinou e tocou seu ombro
suavemente.
— Como está a viagem? — Jo perguntou.
— Oh, está tudo pronto, chefe — disse Emma. — O serviço de carro
estará esperando no momento em que pegarmos nossas malas, e iremos
imediatamente ao hotel para fazer o check-in. Teremos que almoçar bem
rápido antes...
Ela parou, notando Jo olhando para ela com algo como um sorriso no
rosto.
— Você não queria saber sobre a viagem? — Emma perguntou.
— Você está revisando tudo há uma hora, Emma — disse Jo. — Dê um
tempo. É uma viagem de dois dias. Eu conheço o itinerário. Sei que tudo
vai ficar bem e você não precisa passar por tudo pela décima quinta vez.
Emma corou um pouco. Ela gostava de estar preparada para tudo.
— Eu aprecio que você seja meticulosa — disse Jo. — Mas equilibre isso
contra o estresse, porque prometo que não há nada para se estressar. Vai
ser uma viagem fácil.
Era a última viagem delas juntas. O peito de Emma se apertou, e ela se
lembrou da viagem mais recente, para o painel. Lembrou-se de seu ataque
de asma e da maneira como provocou rumores sobre elas. Fazia meses
desde que ela tinha visto um artigo sobre si mesma. Emma não sabia por
que quem estava vazando parou subitamente após a visita de Barry Davis,
ou se talvez eles realmente pensassem que Jo e Emma haviam terminado.
O vazamento percebeu como Emma e Jo às vezes pareciam pisando em
ovos agora? Ela não sabia se mais alguém poderia dizer, mas ela podia. Elas
estavam bem, na maioria das vezes, mas quando elas conversavam sobre Jo
seguir em frente, Emma sendo promovida, sempre havia essa corrente
oculta de algo que Emma realmente não entendia.
Mas de qualquer forma. Emma poderia relaxar. Durante o resto do vôo,
ela e Jo assistiram seriados nas TVs na parte de trás dos assentos na frente
p
delas. O nariz de Jo enrugou quando ela riu. Emma não estava estressada.


COMO EMMA DISSERA que haveria, havia um carro esperando para levá-las
direto para o hotel, onde seus quartos ficavam do outro lado do corredor.
Emma desempacotou a mala e vestiu roupas mais quentes. Dezembro em
Calgary a teve alegremente embrulhada em camadas.
Não muito depois, houve uma batida na porta dela. Emma verificou o
olho mágico para ver Jo, o cabelo em uma trança grossa por cima do
ombro. Quando Emma abriu a porta, Jo sorriu para ela.
— Almoço? — ela disse.
Também estava vestida para o clima, um cachecol no pescoço e botas até
o joelho. Ela segurava um sobretudo dobrado sobre um braço.
— Claro — disse Emma. — Deixe-me pegar meu casaco.
— Eu sei que você é toda sobre comida quando viajamos — Jo disse
enquanto Emma pegava o casaco. — Você encontrou aquele lugar
vietnamita a alguns quarteirões de distância?
— Absolutamente — disse Emma, empolgada demais com a perspectiva
de comida vietnamita para ficar envergonhada com o hábito de pesquisar
em restaurantes que ela considerava privado. — Esse é o que eu queria
mais tentar.
Jo liderou o caminho para fora do hotel, Emma ao seu lado. Quando elas
encontraram o restaurante, o cheiro da calçada deixou Emma com água na
boca. Só ficou melhor quando entraram.
Emma nunca tinha jantado com Jo assim sem ficar com os olhos de
águia, pronta para evitar câmeras ou empurrar uma multidão para levar Jo
de volta ao carro. Hoje, ela não precisava se preocupar com paparazzi.
Ninguém no restaurante olhou para elas.
Em vez disso, Emma se concentrou em quão deliciosos eram os rolinhos
primavera, em quão absolutamente maravilhoso era o caldo de carne. Foi
uma refeição perfeita para um dia que provavelmente não contava como
embaraçoso para os padrões de Calgary, mas estava mais frio do que nunca
em Los Angeles. Jo adicionou uma pesada colher de óleo quente ao seu pho,
mas Emma recusou.
Desde o momento em que bateu na porta de Emma, Jo ficou calma e
solta. Emma levou o dia inteiro para baixar a guarda completamente. Jo
nunca foi reconhecida. Nunca havia câmeras em seus rostos ou espreitando
do outro lado da rua. Enquanto trabalhavam, Jo fez perguntas a Emma,
levou sua opinião em consideração em todos os sites que elas visitaram.
Foi fácil, como Emma esperava.
Elas vasculharam lugares e conheceram pessoas que estariam envolvidas
se Calgary fosse escolhido como o local de filmagem. Jo explicou as
dificuldades de produção das filmagens em dois lugares – em locações em
Calgary e em estúdio em Los Angeles. Emma tomou notas, discutindo
possíveis soluções para problemas que ainda não haviam surgido.


O VOO DE SAÍDA ESTAVA marcadopara o início da noite de sábado. No último dia
livre em Calgary, Jo levou Emma para um almoço tardio em uma
lanchonete. Estavam sentadas em uma cabine no canto de trás.
— Este lugar deve ter a melhor carne defumada de Montreal — disse
Jo. — É como o pastrami do Canadá.
Emma sorriu. Ela não havia encontrado este restaurante em sua
pesquisa, mas…
— É perfeito.
Jo pegou um Reuben. Emma não conseguiu resistir aos latkes.
— Quando era criança, eu comia até vomitar — disse ela, enfiando uma
garfada no molho de maçã antes de colocá-la na boca.
— Espero que você tenha superado isso — Jo riu. — Minha comida
exagerada de escolha quando criança era a sopa de abelha da mãe de
Evelyn – macarrão de arroz com legumes e frango, camarão e carne de
porco.
No momento, Emma não estava com ciúmes de Evelyn, apenas feliz que
Jo tinha alguém que a fazia sorrir assim.
— Há quanto tempo vocês duas estão juntas? — Emma perguntou.
O sorriso caiu do rosto de Jo e ela apenas a encarou, a boca aberta.
Emma voltou atrás.
— Eu sinto muito. Eu não deveria ter perguntado. Você não precisa–
— Não, Emma, não, Deus, não é… — Jo apertou os lábios como se
estivesse engolindo uma risada. — Evelyn e eu não estamos juntas e nunca
namoramos.
Oh. Emma pensou antes de falar em voz alta.
— Oh.
— Ev é minha melhor amiga desde que eu era criança — disse Jo. As
bochechas dela estavam vermelhas. — Ela morreria de rir se soubesse que
você pensou que estávamos namorando.
— Certo.
Emma deu outra mordida no latke. Evelyn era a melhor amiga de Jo.
Evelyn, que ficou uma semana depois que Jo e Emma quase se beijaram.
Avery era a melhor amiga de Emma, e ela nem sabia sobre isso até esta
semana. Evelyn sabia? A ideia de Jo falando sobre Emma parecia irreal.
Jo empurrou o prato na direção de Emma, afastando-a de seus
pensamentos. Metade do sanduíche de Jo estava intocado.
— Experimente a carne defumada — disse Jo.
O estômago de Emma palpitou. Ela usou o garfo para tirar um pedaço
de carne do sanduíche de Jo. Era como pastrami, mas não exatamente o
mesmo. Tinha um gosto bom, mas quando ela engoliu, parecia que ela não
tinha mastigado o suficiente.
Ela sorriu para Jo, suas bochechas apertadas.
— Incrível — disse ela. — Mas eu não posso comer outra mordida.
Ela deixou de lado o garfo. Jo pegou o seu e cutucou a segunda metade
do sanduíche.
— Você está animada para mudar para produtora associada? — ela
perguntou.
Emma engoliu em seco.
— Sim.
Jo olhou para ela, os olhos procurando algo. O rosto dela se suavizou.
— Você me escolheu uma boa assistente?
— Claro, chefe — disse Emma, mesmo enquanto ela duvidava de si
mesma.
Marlita era ótima. Qualificada. Gentil. Parecia trabalhadora. Mas Emma
não confiava nela para assumir o cargo. Quando Jo estava no prazo, Marlita
saberia que ela tinha que não apenas trazer o almoço para Jo, mas também
garantir que ela parasse de escrever o tempo suficiente para comê-lo? Que
depois das duas da tarde, o café com leite gelado dela precisava ser
descafeinado, a menos que estivessem trabalhando até tarde?
E então clicou.
Emma de repente entendeu o motivo pelo qual ela estava nervosa com a
promoção. Não teve nada a ver com a promoção em si.
O motivo estava sentado do outro lado da mesa.
A razão era a maneira como Jo estava sorrindo para ela, gentil e quase
tímida, como se Emma fosse um animal selvagem que podia assustar. A
razão era a maneira como Jo se preocupava com ela, cuidava dela. O motivo
era a voz de Jo todas as manhãs, agradecendo Emma por seu café. Emma
sempre soube como seria o dia, com base em como Jo disse obrigado. Ela
sabia quando Jo não dormira o suficiente, ou quando estava ocupada demais
e já pensava nas tarefas que tinha que realizar naquele dia. Emma gostava
de começar o dia com Jo. Emma gostava de passar o dia com Jo. A ideia de
seguir em frente era aterrorizante.
O medo amorfo que Emma tinha sempre que pensava em seu novo
emprego estava entrando em forma. Não era sobre o trabalho dela. Ela
gostava do seu trabalho – até o amava. Mas, produtora associada seria
melhor, a longo prazo, ela sabia disso. O pensamento de não conseguir ver
Jo todos os dias, porém – seu estômago se contraiu.
Seu peito estava apertado. Jo pegou a mão dela sobre a mesa, apertando
rapidamente antes de soltar.
— Você está bem?
Emma assentiu.
— Claro, sim — disse ela. — Eu só vou – eu vou correr para o banheiro
bem rápido.
Ela conscientemente se moveu lentamente em direção ao banheiro, mas
ainda parecia que ela estava fugindo. Seu coração batia forte no peito.
Não era um banheiro para uma pessoa, por isso não era necessariamente
privado. Não havia ninguém nas bancas, mas Emma não podia trancar a
porta como ela queria. Ela jogou um pouco de água nas bochechas.
Ela se olhou no espelho do banheiro.
Quando as pessoas pensaram pela primeira vez que Jo e Emma estavam
juntas, Emma disse a si mesma que Jo provavelmente era hetero. Quando
ela descobriu que Jo conhecia Avery e mentiu para ela sobre isso, Emma
disse a si mesma que estava chateada porque o relacionamento delas era
diferente do que ela pensava. Quando ela quase beijou Jo, Emma disse a si
mesma que foi pega no momento. Quando Jo a recusou depois – não
diretamente, não explicitamente, mas o suficiente – Emma disse a si mesma
que isso não importava. Agora, aqui estava Emma, com o coração
acelerado, aterrorizada com o pensamento de não ver Jo todos os dias.
Tudo o que ela disse a si mesma, e agora ela estava escondida no banheiro
enquanto sua chefe lésbica e solteira esperava por ela na mesa delas. Sua
chefe lésbica e solteira que não seria sua chefe em breve.
Esta foi sua última viagem de negócios juntas. Só havia uma semana de
trabalho antes que Emma não fosse mais a assistente de Jo. O que
aconteceria então?
Emma respirou fundo, colocou um pouco mais de água no rosto. Ela não
sabia há quanto tempo estava no banheiro.
Quando ela voltou para a mesa, Jo olhou para ela com essa preocupação
que ela tinha que ser interessada nela. Ela precisava, certo?
— Você está bem? — Jo perguntou. — Eu não quis aborrecer você.
— Não estou chateada — disse Emma.
— Tenho certeza que Marlita vai se sair bem — disse Jo. — Ela não
será tão boa quanto você, mas isso já era certeza.
Emma olhou para Jo.
— Você é a melhor assistente que eu já tive, Emma — Jo disse
calmamente. — Antes disso, você era a melhor assistente pessoal de
acessórios que Aly já teve. Espero que, em algum momento no futuro, você
seja a melhor diretora com quem já trabalhei.
— Chefe — disse Emma, impressionada. A resposta foi reflexiva, mas de
repente a palavra pareceu um termo carinhoso.
Jo nunca quebrou o contato visual. Emma sentiu como se deveria. Ela
não sabia o que dizer. Não era apenas a crença de Jo nela – Jo queria
trabalhar com ela quando ela se tornasse diretora. Isso levaria anos,
poderia levar décadas. Jo ainda imaginava que elas estariam na vida um do
outro. Emma não desviou o olhar.
— Posso retirar a mesa? — O garçom apareceu então, chocando as duas
em seus devaneios.
Emma piscou algumas vezes. Ela olhou para o garçom, que parecia não
ter notado que ele havia interrompido nada.
— Eu já terminei — disse Jo. — Emma?
— Sim — disse Emma. — Sim. Tudo terminado. Obrigada.
Elas não falaram enquanto Jo pagava o cheque. Na calçada, no frio, elas
esperaram o carro chegar. O sangue de Emma palpitava. Jo ficou perto o
suficiente para se tocarem. Emma observou sua própria respiração
enevoar-se no ar. Ela podia ver Jo olhando para ela pelo canto do olho. Ela
disse a si mesma que não deveria olhar para trás – porque, poderia revelar
seus sentimentos ou levar a algo a acontecer, ela não tinha certeza. Ela
olhou para trás de qualquer maneira.
Ela olhou para trás e, assim que fez contato visual, Jo se aproximou,
entrou em seu espaço. Ela estava bem na frente dela, estendendo as mãos
para Emma, e Emma não conseguia respirar enquanto elas se enrolavam
em volta do cachecol. Elas não a puxaram para dentro, apenas puxaram o
lenço, o ajustaram mais apertado ao redor do pescoço de Emma.
— Emma — Jo disse, sua voz como se estivesse lutando para divulgar a
notícia, e Emma queria dizer que sim. Qualquer coisa, sim. Mas Jo engoliu
em seco, piscou, e ela parecia menos estrangulada quando disse: — Você
tem seu inalador?
Emma assentiu. As mãos de Jo ainda estavam em seu cachecol.
— Sim, chefe — disse Emma. — Não se preocupe.
Mesmo se Emma pudesse respirar, ela estaria prendendo a respiração.
Ela não queria fazer nada para destruir o momento.
Jo olhou para a boca dela. Emma queria se inclinar, se inclinar nela. Ela
e Jo quase se beijaram mais de um mês atrás, e ela praticamente bloqueou
isso desde então, mas talvez não devesse. Talvez ela fosse uma idiota por
isso. Talvez ela quisesse beijar Jo agora tanto quanto naquele dia, e talvez
devesse ouvir essas emoções pela primeira vez.
Jo finalmente deixou cair as mãos quando o motorista parou no carro.
Suas bochechas estavam rosadas, do frio, provavelmente.


QUANDO ELAS CHEGARAM AO aeroporto,seu vôo deveria chegar a tempo. A
segurança se moveu rapidamente, mas no momento em que passaram por
ela, o vôo atrasou uma hora. Emma gemeu quando viu o atraso nas telas de
partida.
— Vai ficar tudo bem — disse Jo. — Podemos tomar uma bebida.
Emma poderia tomar uma bebida. Elas não deveriam chegar a Los
Angeles antes das dez. Ela não estava ansiosa para entrar mais tarde.
Jo a levou para um bar chamado Vin Room. Era chique o suficiente que
Emma estivesse surpresa de estar em um aeroporto. Ela e Jo se sentaram
uma em frente à outra em uma das extremidades de uma longa mesa curva
com outros clientes.
— Que tipo de vinho você gosta? — Jo perguntou, olhando o menu que
Emma jurou ter centenas de tipos.
— Uh, tinto? — Emma meio que fez uma careta. Ela não conhecia vinho
o suficiente para tomar essa decisão.
Jo sorriu para ela e pediu uma garrafa de algo que Emma não conseguia
pronunciar.
Houve um silêncio entre elas quando o garçom saiu, e foi mais estranho
do que tinha sido toda a viagem. Emma balançou a perna. Ela se perguntou
se havia um momento menos conveniente que ela poderia ter escolhido
para descobrir que Jo era solteira, estaria – ousaria Emma pensar isso? –
disponível . Elas tiveram que ficar juntos por horas mais, e Emma não
tinha certeza de como ela deveria lidar com isso. Jo também estava mais
quieta que o normal, o que significava que ela poderia dizer que Emma
estava desconfortável. Foi tudo uma bagunça.
Jo deixou Emma derramar seu próprio vinho quando a garrafa chegou.
Emma provavelmente tomou mais do que deveria, apenas se lembrou de
beber em vez de engolir.
— Eu sei que acabamos de comer — disse Jo. — Mas você quer ver o
cardápio de sobremesas?
— Eu adoraria ver o cardápio de sobremesas — disse Emma.
Álcool e sobremesa – era como ela lidaria com essa situação em casa, por
isso parecia uma boa maneira de lidar com isso agora.
Elas conseguiram um cardápio e, finalmente, fizeram pedidos de
tiramisu e cheesecake de morango. Jo serviu mais vinho para as duas.
— Você está... — Jo começou calmamente. Ela estava olhando para a
madeira da mesa. — Você estava chateada, ou algo assim, no restaurante.
Você está nervosa com a sua promoção?
O que aconteceu no restaurante teve pouco a ver com sua promoção,
mas talvez se Emma pudesse agir normalmente sobre isso, ela poderia
distrair Jo um pouco. Além disso, ela estava nervosa com o novo emprego.
— Um pouco — ela admitiu. — Acho que talvez eu goste tanto do meu
trabalho que tenho medo de mudar para outra coisa por medo de que não
seja tão bom.
Emma sentiu-se vulnerável, dizendo isso, mas era melhor estar
vulnerável sobre sua carreira do que sobre seu coração.
— Você vai ficar bem — disse Jo. — Nós duas ficaremos bem. Estamos
saindo, seguindo em frente, e vamos nos sair bem.
Emma respirou. Parecia uma promessa e, com ela, a tensão aumentou.
Emma e Jo beberam, conversaram e comeram a sobremesa, e Emma se
sentiu bem, se sentiu normal. Ela teve um breve momento de pânico
quando Jo fez um barulho de prazer por seu tiramisu, mas além disso, ela
estava bem.
Ambas estavam terminando a sobremesa e o final do vinho foi
derramado quando Jo voltou a conversar.
— Você vai ser uma ótima diretora — disse ela. — Deus sabe que o
progresso leva uma eternidade. Mas quando você chegar lá, você será
ótima.
— Eu não sei sobre isso — disse Emma.
— Eu sei — disse Jo. — Você é inteligente e tem talento para destacar o
melhor das pessoas. — Sua mão caiu na de Emma em cima da mesa, e ela a
apertou. — Você poderia fazer qualquer coisa, e eu não quero que você
deixe a dúvida ou qualquer outra coisa te impedir.
Beber pode não ter sido uma boa ideia. Emma não estava perto de
bêbada, mas seu estômago revirou com o sorriso de Jo. A mão de Jo
queimou sua pele, mesmo depois que ela a afastou. Talvez beber com o
chefe uma hora depois de perceber que seus sentimentos por ela realmente
importavam não fosse a melhor ideia.
— Eu abandonei a escola de cinema — disse Emma. Jo já sabia, mas
havia uma parte da história que ela não sabia. — Meu namorado na época
me disse que eu não era boa. E eu não acho que era. E temo que isso
simplesmente aconteça novamente, quando eu tentar fazer algo diferente
de ser sua assistente.
Jo soltou um suspiro.
— Seu namorado dizendo que você não era boa não significa que você
não era boa. Isso significa que ele era um idiota.
Emma não pôde deixar de rir.
— Às vezes as coisas são difíceis — disse Jo. — Muito difícil. Às vezes
você tem que trabalhar seu caminho por eles. Às vezes você tem que falhar
primeiro. Mas isso não significa que não valham a pena. — Ela gesticulou
o suficiente para que Emma puxasse seu copo de vinho mais perto da mesa,
só por precaução. — Faça o que você quiser. Não importa o que alguém
diga, não importa o que alguém pense. Eu te conheço, Emma, e se você se
dedicar a isso, poderá fazer qualquer coisa .
Emma sorriu.
— Boa conversa, chefe.
Jo sorriu para ela. O coração de Emma deu um salto mortal.
Jo estava em Hollywood há tanto tempo que provavelmente estava
bastante acostumada a modular seu comportamento e expressões. Emma
não conseguia ver Jo sorrir assim muitas vezes, cheio e largo e sem um
osso autoconsciente em seu corpo. Com isso direcionado diretamente para
ela, Emma não conseguiu desviar o olhar.
21
EMMA

E las encontraram seus assentos no portão, embora o vôo estivesse


atrasado ainda mais, e elas ainda tinham tempo antes de embarcar.
Emma zumbiu um pouco, agradavelmente quente. Ela se jogou na cadeira
ao lado de Jo. Nem disse nada. Parecia que elas finalmente se convenceram.
Emma ficou a assistindo enquanto Jo rolava seu telefone.

EMMA REGISTROU VAGAMENTE nome, mas estava quieto demais para prestar
atenção.
— Emma, acorde.
Emma virou a cabeça. Havia algo macio contra sua bochecha.
— Estamos embarcando em breve. — Era Jo quem estava conversando
com ela, ela tinha certeza.
Emma piscou acordada, percebeu que estava encostada no ombro de Jo.
Ela se levantou na posição vertical e esfregou a boca. Ela babava quando
dormia algumas vezes e, se babasse em Jo, poderia ter que se matar. Não
parecia ter qualquer baba no rosto, no entanto, e Jo estava sorrindo para
ela, em vez de parecer enojada.
— Sinto muito — disse Emma imediatamente. — Eu não pretendia, eu
não deveria, me desculpe por ter adormecido em você.
— Está tudo bem — disse Jo. Ela olhou em direção à fila no portão. —
Estamos embarcando em breve.
— Certo — disse Emma.
Ela não se sentia completamente acordada ainda, ainda dormindo quente
e sonolenta. O sorriso no rosto de Jo era tão suave que Emma não
conseguia parar de encará-la. Jo a pegou.
— Você está bem? — ela disse.
— O que? Sim. — Emma sentou-se ereta. — Sim, eu estou bem.
Sua zona foi anunciada para embarque. Enquanto pegavam as malas,
Emma notou Jo flexionando a mão esquerda, esticando os dedos bem
abertos, depois os fechando em punho, como se ela estivesse tentando fazer
, p p ,
o sangue fluir novamente. Emma não sabia que horas eram quando
adormeceu. Quanto tempo ela dormiu no ombro de Jo? Quanto tempo Jo a
deixou? Ela se perguntou se aquilo significava alguma coisa, ou se ela
estava apenas imaginando porque queria ver seus sentimentos serem
recíprocos.
Ela ficou quieta durante toda a decolagem e torceu para que Jo
assumisse que era porque estava cansada.
— Você não vai se importar se eu cair no sono, vai? — Jo perguntou. —
Nem todos nós tiramos uma soneca ainda.
Emma sorriu.
— Claro que não, chefe.
— Me acorde se você ficar muito entediada — Jo disse, como se isso
fosse algo que Emma faria.
Jo colocou uma máscara para os olhos e reclinou o assento. Emma olhou
para ela, feliz por não poder ser pega.
Jo era linda. Emma sempre soube disso. Todo mundo achava isso. Não
era estranho olhar para a chefe no tapete vermelho e achar que ela era
linda, porque ela era objetivamente. Mas parecia diferente agora. Emma
olhou para ela, viu os cabelos compridos presos sobre um ombro e pensou
em como Jo só colocava um rabo de cavalo quando estava estressada. Como
quando ela estava no prazo, no escritório em um fim de semana vestindo
um moletom de gola alta, mas ainda de jeans skinny, saltos descartados ao
lado do sofá. Emma olhou para o rosto de Jo e pensou nas diferentes
maneiras pelas quais sorria, quase sempre de boca fechada, mas de vez em
quando esse rosto aparecia em um sorriso verdadeiro, cheio de dentes e
feliz. Emma olhou para Jo e pensou que ela era linda de uma maneira que
não tinha nada a ver com padrões objetivos de beleza. Observá-la dormir
pareceu íntimo demais, de repente.
Toda essa viagem teve um tipo estranho de intimidade. Talvez tenha
sido em todas as viagens de negócios. Emma lembrou do painel este ano, a
mão de Jo nas costas enquanto ela lutava para respirar. Lembrou-se de Jo
marchando para o quarto de hotel com pizza. A viagem do ano anterior ao
painel não foi assim. Ela havia explorado metade do Brooklyn sozinha
naquele primeiro ano, Jo foi longe de alimentá-la ou confortá-la ou se
preocupar com ela.
E mesmo os painéis não foram como esta viagem. Esta viagem, onde ela
e Jo exploraram Calgary juntos. Onde Jo apertou o cachecol e olhou para a
boca dela. Onde Jo a deixava dormir em seu ombro, mesmo que estivesse
cortando o suprimento de sangue. Jo era casual com ela o tempo todo. Jo
sorriu e riu e perguntou as opiniões de Emma sobre tudo, desde o local das
filmagens até o que ela deveria pedir para o jantar.
Jo era solteira, que não queria mais ser chefe de Emma. Emma se
perguntou se ela queria ser mais.
Se Jo estivesse interessada nela, como Emma teria certeza? Jo nunca
faria um movimento. Não em um funcionário, e especialmente em um
funcionário que havia sido assediado sexualmente no local de trabalho. Jo
nunca faria nada para deixar Emma desconfortável. Ela nem foi quem
iniciou o quase beijo. Isso foi tudo Emma. Se algo iria acontecer entre elas,
Emma tinha certeza de que teria que ser ela. E com o discurso de Jo sobre
ir para o que ela queria – sim, isso era sobre seu trabalho, sua carreira, mas
Emma sabia o que queria.
Ela queria voltar para aquele dia no escritório de Jo depois que o pai
saísse, para que Mason não ligasse e interrompesse.
Ela queria voltar para aquele momento na calçada com as mãos de Jo no
cachecol.
Ela queria beijar Jo, mais do que tudo, e Jo havia dito para ela conseguir
o que queria.


DE VOLTA À LOS ANGELES, CHLOE AS pegou
no aeroporto. Já passava da meia-noite
quando se dirigiram ao apartamento de Emma primeiro.
Era tarde e talvez Emma estivesse sem sono e imaginando coisas, mas a
volta para casa parecia tensa. Como se o momento fosse uma corda
esticada. A mão de Emma descansou ao lado da de Jo no banco do meio. Se
movesse apenas alguns centímetros, elas estariam de mãos dadas. Chloe
tinha o divisor de privacidade fechado; Emma não sabia o porquê. Estava
fechado quando entraram no carro. Provavelmente foi porque já era tarde,
e Chloe pensou que Jo poderia querer descansar, poderia querer
privacidade para dormir, mas parecia que isso significava algo mais. Jo
olhou pela janela e Emma olhou para a mão de Jo no assento ao lado dela e
esta foi a última viagem de negócios delas. Esse passeio parecia o fim de
algo. Emma se perguntou se poderia ser o começo de outra coisa. Seu
coração batia forte nos ouvidos.
Jo quebrou o silêncio na parte de trás do carro.
— Fiz uma boa viagem. Eu espero que você também.
— Eu fiz, chefe — Emma disse calmamente.
Jo olhou para ela, e desviou o olhar. Emma puxou a mão de volta para o
seu lado do carro. Ela jurou que Jo a observava fazer isso.
Quando elas pararam no apartamento de Emma, Chloe pulou para tirar
as malas de Emma do porta-malas. Emma estava na calçada, um pouco
desconfortável, do jeito que sempre era quando alguém fazia algo por ela,
ela poderia ter feito ela mesma. A janela traseira estava aberta e Jo sorriu
para Emma quando Chloe voltou ao banco do motorista.
— Estou feliz que não tivemos nenhum incidente de asma — disse Jo. —
Como a última viagem.
Talvez Jo estivesse apenas falando sobre sua asma. Talvez Emma não
devesse ter imaginado além disso.
Só que a asma tinha sido uma espécie de substituto. Para quando Jo
quiser falar sobre algo mais, algo maior.
Era justo que a asma fosse a metáfora do que quer que estivesse entre
elas. Porque às vezes Jo olhou para Emma e Emma sentiu que não podia
respirar. Jo sorriu e o peito de Emma se apertou. Agora, Emma sentiu que
precisava beijar Jo mais do que oxigênio.
— Feliz aniversário, Srta. Kaplan — disse Jo. — Espero que seja um dos
bons.
Emma tinha esquecido que era seu aniversário.
Era o aniversário dela. Era seu aniversário e Jo disse-lhe para conseguir
para o que ela queria. Ainda assim, ela não podia acreditar no que estava
fazendo, enquanto fazia isso. Ela deu um passo mais perto e colocou uma
mão na porta do carro, segurando onde a janela de Jo estava abaixada. Jo
olhou para ela e Emma se inclinou, se inclinou para mais perto.
Foi a preparação da viagem, Jo ajeitando o cachecol na frente do
restaurante e deixando Emma adormecer em seu ombro. Foi o acúmulo do
ano passado, até. Emma se inclinou para mais perto e Jo se endireitou,
talvez sem querer, talvez sem surpresa, mas ela se endireitou o suficiente
para que a boca de Emma pudesse pousar facilmente na dela. Era apenas a
pressão suave de seus lábios, sem desespero, sem língua. Jo se aproximou.
Um arrepio percorreu todo o corpo de Emma. Ela queria capturar esse
momento, tirar uma foto em sua mente para que ela nunca pudesse
esquecer.
Tão rapidamente como se inclinou, ela se levantou, a mão ainda
segurando a porta. Os olhos dela ficaram fechados por um momento.
— Está sendo muito bom até agora — disse virando-se para subir as
escadas do prédio.
Sua pele formigava por toda parte. Sua boca estava dormente sem Jo
pressionada contra. Foram necessárias duas tentativas para colocar a chave
na porta e ela não olhou para trás quando entrou.
Quando chegou ao apartamento, olhou pela janela. Jo deve ter Chloe
esperando para ver as luzes acesas em seu apartamento – seu carro estava
apenas se afastando. Emma esfregou os dedos sobre os lábios e não podia
acreditar em si mesma.


A PRIMEIRA COISA QUE EMMA fez
quando acordou foi verificar o celular. Ela
percorreu uma enorme variedade de mensagens de aniversário e não
encontrou nada de Jo. Aquilo era... bom, provavelmente. Ela a veria amanhã
no trabalho. Elas poderiam descobrir as coisas então.
Jo a beijou de volta. Disso Emma tinha certeza. Não havia língua nem
nada; Não foi um grande beijo, mas ela a beijou de volta. Se inclinou para
mais perto. Emma estremeceu só de pensar nisso. Talvez Jo mudasse de
ideia, talvez ela não quisesse o que Emma quisesse – embora a própria
Emma ainda não tivesse certeza do que era aquilo, na verdade. Mas ela a
beijou de volta. Emma sempre ia ter isso.
Ela ainda estava pensando nisso quando Avery apareceu à sua porta com
pãezinhos de canela e um bolinho com uma vela.
Avery sorriu e cantou todos o parabéns para ela.
Emma fechou os olhos. Ao soprar a vela, ela desejou que Jo a beijasse
novamente.
— O que você desejou? — Avery perguntou.
Emma se ocupou em levar os rolos de canela para a cozinha, para que
sua irmã não pudesse vê-la corar.
— Você sabe que eu não posso te contar, então isso não se tornará
realidade.
— Não acredito que você segue as mesmas regras que meus filhos de
dez anos — disse Avery.
— Bem, eles sempre foram precoces — disse Emma. — Devo colocar o
dois no forno? Você quer o seu aquecido, sim?
— O que eu sou – um pagão? É claro que o quero aquecido.
Emma colocou dois dos rolos de canela no forno. Sua irmã havia trazido
uma dúzia para ela – ela estava preparada para o café da manhã a semana
toda.
— Então, como é que foi a viagem? — Avery disse.
— Boa — disse Emma, procurando parecer indiferente. — Ela aprovou
tudo. Então é oficialmente onde vamos filmar.
— E como foi o beijo? — Avery perguntou.
Emma assustou-se.
— O que? Não houve um, por que você acha que teve? — Ela se
encolheu, sabendo que se entregara.
De fato, o queixo de Avery caiu.
— Oh meu Deus. Eu estava apenas brincando, mas você realmente a
beijou, não foi?
— Hum, talvez?
— Emma Judith Kaplan! — Avery bateu no braço dela. — Isso é
incrível. Eu preciso de detalhes. Como foi? Como isso aconteceu?
Emma corou e não conseguiu parar de sorrir. Avery parecia tão
empolgada quanto ela estava com a coisa toda. O timer do forno tocou
então, e Avery acenou para Emma se afastar.
— Eu vou pegá-los — disse ela. — Você fala.
Emma tentou explicar como era o restaurante. Como o pensamento de
deixar Jo repentinamente a atingiu no peito. Ela tentou explicar a tensão
na calçada ou no carro no caminho de casa para o aeroporto. Como se
houvesse eletricidade no ar. Como a parte de um filme em que a trilha
sonora permite que você saiba que algo importante está para acontecer.
— E então ela disse que esperava que eu tivesse um bom aniversário, e
eu apenas – eu–- me inclinei e ela se inclinou, só um pouco, e eu a beijei.
Avery colocou um prato com um rolo de canela na frente de Emma, mas
Emma não podia ser incomodada agora.
— Eu a beijei — disse ela novamente. E ela a beijou de volta. E nem foi
um beijo tão grande, mas foi incrível — Avery, meu Deus, foi tão bom. Ela
me beijou de volta. E então eu simplesmente me afastei e disse que meu
aniversário tinha sido muito bom até agora, e então eu entrei.
Avery clicou em sua língua.
— Droga, minha irmã é suave.
Emma riu e passou a mão no rosto. Ela finalmente pegou um garfo e
atacou o rolo de canela. Avery havia feito, então é claro que estava
delicioso.
— Então, sim — disse Emma. — Ela me beijou de volta. E agora eu
posso passar o dia todo enlouquecendo e veremos o que acontece quando
eu entrar no trabalho amanhã.
— Você não vai mandar uma mensagem para ela ou algo assim? —
Avery perguntou.
— Não — Emma disse imediatamente. — O que eu diria? Não. Não.
Definitivamente não.
— Então, isso é um não.
— Isso. Não.
Elas comeram seus pãezinhos de canela em silêncio por um tempo, o
coração de Emma ainda batendo forte com a lembrança do beijo.
— Dylan me deve cem dólares — disse Avery.
— Hmm? — Emma perguntou em torno de uma mordida. Ela engoliu
em seco. — Por quê?
— Apostei que você e Jo se beijariam antes do final do ano — disse
Avery.
Emma fez uma careta.
— Você apostou quando nos beijaríamos?
— Sim. Ele tinha muito mais fé em você – pensou que seria no hiatos de
verão.
— O que? — Emma olhou para ela. — Quando você fez essa aposta?
— Uh, um dia após os SAGs.
— Avery!
A irmã dela apenas sorriu.
— Isso é maldade — disse Emma.
Avery riu.
— Não é mau. Foi divertido e não teve nenhum efeito em você.
— É cruel em espírito — Emma insistiu. — Apostar quando vamos nos
beijar apenas por causa de alguns rumores.
— Oh não, Em, não foi isso que aconteceu — disse Avery. — Sabíamos
que você tinha uma queda por Jo antes mesmo dos SAGs acontecerem. Isso
apenas acelerou um pouco.
Emma piscou. As duas últimas mordidas de seu rolo de canela estavam
no prato, há muito tempo esquecidas.
— Avery, eu nem sabia que tinha uma queda por ela —disse ela. — Eu
não tenho certeza se eu tinha uma queda por ela até este verão, talvez.
— Ok, talvez não fosse que você tivesse uma queda por ela — Avery
disse. — Mas você sabe quando você está assistindo a um show e dois
personagens interagem, e você fica tipo, 'Eles vão se apaixonar', e leva três
temporadas, mas eventualmente acontece? Foi mais ou menos assim.
Emma ficou vermelha.
— Nós não estamos apaixonadas.
Avery sorriu e não disse nada. Emma pensou que sua irmã
provavelmente não tinha terminado de apostar em sua vida amorosa.


EMMA ACORDOU E correu antes do trabalho na segunda-feira de manhã. Ela
cortou um minuto inteiro de seu ritmo normal, cheia de nervos. Ela tomou
banho e passou meia hora tentando fazer o cabelo parecer bonito, mas não
tão agradável que parecesse incomum. Do armário, escolheu calças justas
da marinha e um suéter cinza. Era sua roupa profissional mais confortável,
parecia que estava aconchegada no sofá, mas parecia que ela poderia
organizar uma reunião. Se o dia não corresse bem, pelo menos ela seria
acolhedora.
No café, havia um chai latte esperando por ela, junto com o pedido
regular de Jo. Emma não sabia se isso era uma coisa boa ou não. Talvez
fosse um chai latte “me desculpe, vou partir seu coração hoje mais tarde”.
Ela disse a si mesma que não iria se preocupar com isso, mas então
imediatamente começou a se preocupar com a forma de cumprimentar Jo
quando ela entrasse. Era bom dia, chefe muito casual? Ela deveria agir
como se nada fosse diferente? Ela nem conseguia se lembrar de como
costumava cumprimentar Jo de manhã.
Quando ela ouviu os passos de Jo no corredor, Emma se levantou e ficou
ao lado de sua mesa. Ela segurou o café com leite de Jo e colocou um
sorriso real, embora nervoso, em seu rosto.
22
JO

J overnãoo sorriso
olhou para Emma quando ela entregou o café. Ela não suportava
cair do rosto de Emma, a esperança escorrer de seus olhos.
Jo fechou a porta do escritório atrás dela.
Ela não tinha ideia do que ia fazer com Emma. Ela passou o dia anterior
escrevendo quarenta e sete mensagens de texto diferentes e não enviando
nenhuma. Digitou declarações de amor e demissões breves e tudo mais.
Quando finalmente ficou tão ruim a ponto de ceder e ligar para Evelyn, ela
recebeu um e-mail de um fotógrafo.
Gostaria de comentar? dizia, com fotos em anexo.
Imagens de Emma, curvadas na calçada em frente ao prédio, do rosto de
Jo pela janela aberta do carro, de suas bocas pressionando suavemente
juntas.
Jo queria vomitar.
Ela ainda quer. Tomou um gole de café e engasgou com o sabor amargo.
Jogaria fora se não precisasse de cafeína para sobreviver ao dia. Ela abriu o
laptop e olhou as fotos novamente.
Era isso que ela tinha a oferecer a Emma: escrutínio, invasão de
privacidade, escândalo. Isso foi tudo o que ela deu a Emma nos últimos
onze meses.
Jo soltou um suspiro trêmulo. Ela ligou para Evelyn.
Ev atendeu no segundo toque. Jo mal a deixou dizer olá.
— Eu preciso que você reaja como advogada agora, não como minha
melhor amiga — disse ela.
Evelyn não hesitou.
— Tudo bem — disse ela. — Pode mandar.
— Emma e eu nos beijamos no sábado à noite — disse Jo, e ignorou a
respiração de Evelyn. — Um fotógrafo me enviou fotos pedindo um
comentário. Eu preciso de um acordo de não declaração.
Houve uma pausa.
— Posso conseguir ele em uma hora — disse Evelyn.
Jo deu um suspiro.
— Obrigada.
g
O único som era o estalo do teclado de Evelyn.
— Posso reagir como uma amiga agora? — ela perguntou.
— Evelyn...
— Eu quero saber como você está.
Jo passou a mão pelos cabelos e não sabia como responder.
— Eu preciso lidar com o fotógrafo.
— Tudo bem — disse Evelyn. — A gente conversa sobre isso depois.
Jo continuou a ouvir o tipo de Evelyn por alguns minutos antes de
terminar a ligação.


JO MANTEVE A PORTA fechada.Ela não pediu nada a Emma. Evelyn, fiel à sua
palavra, ligou de volta em uma hora.
— Enviei por e-mail para você — disse ela. — Quanto dinheiro ele está
pedindo?
— Não importa — disse Jo. Não era como se ela não fosse pagar. — Seu
contrato garante que não haja outras cópias? Sem chance de vazar?
— Eu sei que você está estressada, mas você sabe que não deve me
subestimar.
— Você está certa. — Jo pressionou a palma da mão na testa. — Deus,
Evelyn, isso é...
— Fodido? — Evelyn ofereceu. — Como Emma se sente sobre isso?
Jo se preparou para a frustração de Evelyn.
— Eu não contei a ela sobre isso.
— O que?
— Eu não falei com ela hoje, exceto para agradecê-la pelo meu café.
— Aiyah. — Evelyn arrastou a última vogal. — O que você está
fazendo?
— Ela não precisa disso, Evelyn — disse Jo. — Ela não precisa de nada
disso.
— Como a ignorar está ajudando?
— Eu não vou ignorá-la — disse Jo. Evitar ela, sim. Ignorar ela, não. —
Eu vou falar com ela depois que eu descobrir como resolver isso.
Jo percebeu que Evelyn estava irritada pela maneira como respirava pela
linha. Sua exasperação não sangrava em seu tom quando ela falava.
— O que aconteceu?
— Ela me beijou. — A voz de Jo era tão pequena que ela desejou que
não fosse dela. — E isso seria confuso o suficiente sem que alguém tivesse
fotos. — Ela suspirou e continuou antes que Evelyn pudesse interromper.
— Ela só precisa passar a semana. Então ela será produtora associada
quando Innocents voltar e eu estarei em Agent Silver. Nós duas vamos
seguir em frente. Vai tudo ficar bem. Ela não terá que lidar com mais essa
merda de paparazzi.
— Por favor, meu Deus, fale com ela antes de decidir isso — disse
Evelyn. — Eu sei que você não está acostumada a sentimentos e não tem
ideia do que está fazendo, mas não tome a decisão por ela.
Jo não prometeu nada.


O FOTÓGRAFO CHEGOU AO escritório de Jo. Melhor tratá-lo como um negócio. Jo
terminou uma reunião com Chantal para encontrar o homem ao lado da
mesa de Emma, sorrindo face a face.
— Por favor, entre — disse ela com mais careta do que sorriso.
Ele cumprimentou Chantal e disse a Emma para ter um bom dia e Jo
queria dar um soco nele.
Ela pegou a assinatura dele e mostrou o envelope cheio de dinheiro,
depois o observou apagar as fotos antes de entregá-lo.
Ele sorriu.
— Prazer em fazer negócios com você.
Jo absolutamente queria dar um soco nele.
Ele não deveria estar no apartamento de Emma. Os rumores haviam
terminado meses atrás. Ninguém deveria ter suspeitado de nada o
suficiente para rondar o local. Ele tinha que ser avisado. Chantal e Emma
eram as únicas duas que Jo conhecia quem sabia o suficiente sobre a viagem
para vazar. Emma deve ter contado a alguém. Jo não suportava o
pensamento de mais nada. Ela e Chantal haviam trabalhado juntas por
mais de uma década.
Havia bolo no almoço para comemorar o aniversário de Emma e o fim
do ano. Jo ficou no canto e assistiu. Ela assistiu todo mundo que desejava
feliz aniversário para Emma, analisou suas expressões faciais, sua
linguagem corporal. Chantal estava deprimida, Tate era sociável. Nada
incomum. O coração de Jo trovejou com o sorriso no rosto de Emma. Nada
incomum.
No final do intervalo, Chantal inclinou a cabeça para Jo e ela a seguiu
para fora da área de almoço. Ela esperava uma conversa sobre o show, não
esperava o quão baixo Chantal manteve sua voz.
— Não é da minha conta — disse ela — mas vi uma troca entre o
homem em seu escritório hoje cedo e um assistente pessoal.
Jo soltou um suspiro duro.
— Venha comigo — disse ela, e rapidamente levou Chantal ao seu
escritório, fechando a porta atrás delas. — Que tipo de troca?
— Um envelope marrom.
Jo quase desabou no sofá, esfregando a mão no rosto.
— Esse vazamento é tão ruim que pensei que poderia ser você — ela
admitiu.
— Seria um dia frio no inferno — disse Chantal.
Jo sabia.
— Qual assistente?


TODOS OS ANOS, JO DAVA paratodo mundo cartões de Natal. Eles não eram
denominacionais e incluíam um cartão-presente Visa e um agradecimento
genérico. Quando Emma estava em adereços, ela tinha recebido o habitual
Obrigada por seu trabalho duro com o grande swoosh do autógrafo de Jo.
No seu primeiro ano como assistente, Jo escreveu algo sobre a rapidez e
facilidade com que Emma assumiu seu novo emprego. Ela assinou com o
chefe, e o cartão de presente de Emma era o dobro do valor de todo mundo.
Jo ainda não havia escrito o dela este ano.
Ela havia escrito o resto do elenco e as cartas da equipe semanas atrás,
mas manteve Emma de lado. Era branco com flocos de neve azuis
brilhantes na frente. O correio dentro do escritório estava entregando as
cartas hoje. Emma ainda estava na mesa de Jo. Jo o abriu, tentou não
pensar muito.

Emma, você não apenas facilita meu trabalho, mas também


melhora minha vida. Sou muito grata por ter você nela.

Ela deveria ter pensado mais. Deveria ter o tornado genérico. Ela
imaginou o rosto de Emma se tivesse acabado de escrever agradecimentos
e sabia que todas as opções que tinha eram ruins.
Ela segurou a caneta logo acima do cartão por um momento, hesitando
em sua assinatura. Jo. Não Jo Jones, o autógrafo que a maioria das pessoas
recebe. Apenas Jo, pequeno e sujo, com uma gota de tinta no início do J .
Emma teve reuniões a tarde toda, coordenando para garantir que o set
fosse desligado corretamente. Jo esperou até quase o fim do dia antes de
deixar o cartão na mesa de Emma enquanto ela estava fora. Ela se retirou
para o escritório e fechou a porta.
Cinco minutos depois, a porta dela se abriu. Emma entrou, fechou a
porta atrás dela, pegando-a logo antes de bater e fechá-la com mais
cuidado.
Ela se virou para Jo, seus olhos brilhando.
— Você não pode fazer isso — disse ela. — Você nem sequer olha para
mim o dia todo e depois joga isso na minha mesa quando estou longe dela.
— Ela acenou com o envelope aberto contendo o cartão de férias. — Eu
nunca pensei que você era uma covarde, Jo.
Jo amava Emma por isso, por seu incêndio, por sua recusa em recuar. Ela
a amava e queria estar com ela e sabia que merecia muito mais do que Jo
poderia oferecer. Então Jo não mostrou suas cartas.
— Eu estive ocupada — disse ela calmamente.
— Você não fez nada além de se trancar neste escritório o dia todo —
Emma retrucou.
— Sim, bem, eu tinha alguns telefonemas para fazer — disse Jo. —
Alguém tinha que cuidar do fotógrafo que estava fora do seu apartamento
no sábado à noite.
A cor sumiu do rosto de Emma.
— O que?
— Ele estava pronto para ganhar bastante dinheiro com fotos de Jo
Jones beijando a assistente na frente do prédio dela à uma da manhã —
disse Jo. — Foi resolvido.
Ela agitou a mão como se não fosse nada.
— O que você fez? — A voz de Emma era cautelosa.
— Oh, pelo amor de Deus, Emma, não é como se eu o tivesse matado. —
Jo revirou os olhos. — Eu comprei as fotos. E o contrato que ele assinou
significa que se ele ainda tiver cópias e elas aparecerem em qualquer lugar,
eu pego basicamente tudo o que ele possui. Incluindo o cachorro dele.
Jo não queria seu cachorro, mas Evelyn havia acrescentado um pouco de
leviandade ao contrato.
— Quanto você pagou por elas? — Emma perguntou.
Isso não era algo que Jo diria a ela.
— Você está fazendo as perguntas erradas — disse ela.
A testa de Emma franziu. Levou um momento, mas ela chegou lá.
— Por que um fotógrafo estava na frente do meu apartamento à uma da
manhã?
— Aí está — disse Jo.
— Por que um fotógrafo estava lá?
— Deixei seu amigo Phil ir embora mais cedo esta tarde.
Jo manteve a voz desconectada. Ela viu uma onda de emoções atravessar
o rosto de Emma: confusão, compreensão, raiva. Emma olhou com raiva.
— Por que isso importa? — ela perguntou. — Nunca importava quando
as pessoas pensavam que eu estava te fodendo há meses, mas uma foto de
nós nos beijando e você me ignora o dia inteiro tentando lidar com isso?
Jo ficou boquiaberta para ela. Seria possível que Emma realmente não
entendesse o quão longe Jo iria quando se tratava dela? Emma não se
encolheu. Jo beliscou a ponta do nariz.
— Você está falando sério?
Emma cruzou os braços, o queixo erguido. Jo deveria ter saído da
discussão, deveria ter fingido que não era nada para ela – ela estava apenas
protegendo a reputação de Emma. Em vez disso, ela estalou.
— É claro que importa agora — disse ela com mais emoção do que
havia mostrado a Emma o dia todo. — Não importava quando era um
boato estúpido que não significava nada. Isso significa alguma coisa, ok?
Significou algo para mim e não acho que o mundo inteiro deva vê-lo.
O peito dela arfava. Os braços de Emma caíram para os lados.
— Isso significou algo para você? — ela perguntou, a voz baixa.
A voz de Jo era tão pequena quando ela respondeu:
— É claro que isso significou algo para mim.
Ela não deveria admitir isso. Ela deveria enviar Emma para uma nova
posição sem nada a segurando. Uma pausa limpa.
Ela respirou fundo e seguiu em frente.
— Foi por isso que dei a Phil um excelente pacote de indenização, desde
que ele também assinasse um acordo de não declaração.
— Certo — disse Emma.
Ela olhou para os pés, arrastando-os contra o chão. Jo não tinha ideia do
que estava acontecendo em sua cabeça. Quando Emma olhou para cima,
seus olhos brilhavam. Jo apertou os lábios.
— Eu… — Jo parou. Engolido. Queria que isso fosse mais fácil. — Por
quê...
Se fosse no ano passado, Emma teria terminado a frase para ela. Teria
respondido à pergunta sem que ela fosse feita. Mesmo agora, se isso fosse
sobre trabalho, Emma já teria resolvido. Jo sabia que ela não poderia fazer
Emma ser a única a lidar com isso, no entanto.
— Já passou das cinco — disse Jo, com a voz plana. — Eu estou bem
aqui. Você pode ir para casa.
Emma virou-se e foi embora. Sem tchau chefe. Nem um boa noite, Srta.
Jones. A porta se fechou atrás dela e Jo deixou cair a testa na beira da mesa.
Era a decisão certa, disse a si mesma, deixar Emma ir. Para não explicar
o quanto o beijo significava para ela. Mas seu coração parecia que estava
tentando sair do peito, como se estivesse conectado à mulher que saiu pela
porta e estava se esticando para alcançá-la.
Jo ficou de bruços em sua mesa e ligou para Evelyn.
— Ei. — A voz de Evelyn era tão gentil quanto possível.
— Diga-me o que fazer, Evelyn — Jo implorou.
— O que você fez até agora?
Jo suspirou e sentou-se. Ela se recostou na cadeira da mesa.
— Comprei as fotos e paguei o fotógrafo — disse ela. — Despedi o
informante no set – paguei a ele também. E eu disse a Emma tudo isso. E
então eu disse a ela para ir para casa.
— Parece que você tomou sua decisão então — disse Evelyn, como se
não soubesse que Jo estava sofrendo com isso. — Em que parte você
precisa de ajuda?
— A parte em que eu quero ir atrás dela.
Ela queria. Desesperadamente. Mas Emma merecia melhor.
— Vá, então — disse Evelyn.
Jo gemeu e colocou a testa de volta na mesa.
— Perseguir ela não resolve nada — disse ela. — Não importa se eu a
quero, se ela me quer. Apenas rumores de um relacionamento a levaram a
ser assediada sexualmente. Na verdade, namorar comigo mancharia todas
as suas realizações a partir de agora. Todo mundo pensaria que ela só os
pegou por minha causa. Não vale a pena.
— Fale com ela sobre isso, Jo, não eu.
— Eu não posso — Jo insistiu.
Emma poderia tê-la convencido de qualquer coisa agora. Jo teve que
olhar isso com a cabeça, não com o coração.
— Pelo amor de Deus, Evelyn, eu nem estou fora do armário.
Ev zombou.
— Você não está fora, mas vamos lá. A mídia já pensou que vocês
estavam namorando.
— Sim, eles fizeram, e veja como isso funcionou. Barry Davis assediou
sexualmente Emma porque ele assumiu que ela já estava trocando favores
sexuais por um emprego.
— Barry Davis assediou sexualmente Emma porque ele é um idiota
nojento. Você não pode se culpar por isso.
Jo nunca pararia de se sentir culpada por isso.
Ela mudou de tática.
— O que eu trago para um relacionamento? Eu nem sei como estar em
um. Por que Emma iria querer namorar alguém com quarenta e poucos
anos que não tem experiência? Eu nunca tive um relacionamento de longo
prazo.
— Por que você não pergunta a Emma o que você oferece? Veja as coisas
pelos olhos dela. — Evelyn suspirou. — Jesus, Jo, você basicamente acabou
de admitir que quer ter um relacionamento de longo prazo com ela. Você
não pode ao menos se dar uma chance?
Mas se ela terminasse antes de começar, poderia anestesiar a dor.
— Se você não quisesse falar sobre isso, não teria me ligado — disse
Evelyn. — Você sabia minha opinião quando discou. Você sabia que não
conseguiria nada além de incentivo. Tem certeza de que deseja ser
convencida? Ou você acha que está mentindo para si mesma?
Jo fechou os olhos. Respirado.
— Jo, você teve trinta anos em Hollywood e quarenta e dois nesta cadela
da terra — disse Evelyn. — As pessoas vão encontrar qualquer maneira de
dispensar Emma da mesma maneira que dispensam todas as mulheres.
Você sabe disso.
Ela sabia.
— Essa é uma péssima ideia — disse Jo.
— Também era denunciar o programa que a tornou famosa, mas você
fez isso quando era criança — disse Evelyn.
— Isso é um golpe baixo.
Evelyn lera todos os rascunhos do ensaio de Jo para o aniversário de dez
anos da Dinastia Johnson. Ela nunca deixaria Jo desistir disso.
— Do que você tem tanto medo agora?
Desgosto.
Jo tinha medo de machucar Emma. Com medo de ferir a carreira de
Emma. Mas principalmente ela tinha medo de Emma perceber que Jo não
valia a pena e partir seu coração.
Ela não disse nada disso, mas Evelyn parecia saber.
— Pare de dar desculpas — disse Evelyn.
— Eu tenho que ir — disse Jo.
23
EMMA

E mma— ligou para Avery assim que chegou em casa.


Então Phil era o informante — disse ela em vez de olá. — Phil
estava fodidamente vazando coisas para os tabloides, e ele aparentemente
deu as informações do nosso voo a um fotógrafo, e esse cara estava fora do
meu apartamento tarde da noite quando voltamos, o que significa...
Avery respirou fundo.
— Sim — Emma retrucou. — Tinha fotos de nós nos beijando.
— O que você vai fazer? — Avery perguntou.
Emma acenou com a mão vagamente. Ela estava andando pelo
apartamento dela.
— Jo já comprou elas ou qualquer coisa, então está tudo bem.
— A é? — Avery disse. — E como Jo se sentiu sobre o beijo?
Um dia inteiro no trabalho, e Emma ainda não tinha certeza. Jo disse
que isso significava alguma coisa. Ou talvez apenas as imagens do beijo
tenham significado alguma coisa.
— Tanto faz — Emma resmungou. — Eu não quero falar sobre isso.
— Em.
Houve uma batida na porta. Provavelmente era Raegan, sua vizinha, que
se trancava regularmente. Ela era a única pessoa que batia na porta de
Emma.
— Um segundo, minha vizinha está aqui — disse Emma enquanto
pegava a chave reserva de Raegan do gancho, ela a mantinha guardada e
abriu a porta.
Não era Raegan.
Era Jo.
— Oi — disse Jo, uma xícara de café em cada mão, ombros curvados
sobre si mesma.
— Avery, eu tenho que ir — disse Emma. Ela terminou a ligação.
Engolido. — Oi.
— Chai latte — disse Jo, empurrando uma das bebidas em sua direção.
— Se você quiser.
Emma queria ficar brava. Ela queria ignorar Jo da mesma maneira que
Jo a ignorou o dia todo.
Ela pegou o chai.
— Você quer–
— Eu posso–
As duas começaram, e pararam. Jo riu nervosamente.
Emma olhou para o corredor como se houvesse paparazzi dentro de seu
prédio.
— Entre — disse ela, dando um passo para trás e abrindo mais a porta.
— Obrigada — disse Jo.
Ela só entrou longe o suficiente para Emma fechar a porta atrás dela.
Emma não tinha ideia do que ela estava fazendo aqui. Ela estava tão
acostumada a facilitar as coisas para Jo que quase queria começar a
conversa sozinha. Mas ela merecia mais que isso. Melhor do que Jo ignorá-
la o dia todo, depois aparecer aleatoriamente em seu apartamento sem nada
a dizer.
— Eu não parei – desde sábado à noite – tudo em que consigo pensar…
— Jo começou três frases diferentes e não terminou uma única.
— Venha — disse Emma. — Sente-se.
Ela levou Jo para a ilha da cozinha, e elas se sentaram em banquinhos
um ao lado do outro. Emma tomou um gole de sua bebida e depois largou.
Ela girou o líquido ao redor, em vez de olhar para Jo.
— Essa é uma ideia terrível — disse Jo.
O coração de Emma mergulhou de cisne. Ela pensou que se Jo estivesse
aqui, isso significava – ela estava deprimida desde que entregou seu café a
Jo esta manhã, e ela pensou que Jo estar aqui iria mudar isso, mas–
— Eu ficava me dizendo todas as razões pelas quais isso é uma má ideia
— disse Jo. — Desde sábado. Desde que meu pai visitou. Você é muito
jovem e eu sou muito velha e nem tenho ideia de como estar em um
relacionamento e você trabalha para mim e, e, e...
— Certo — disse Emma. Ela pulou do banquinho. Ela tinha que tirar Jo
de seu apartamento antes de chorar. Ela deu três passos em direção à
porta. — Bem, obrigada pelo chai. Eu vou te ver–
— Emma.
Jo a segurou pelo pulso, escorregou do banquinho e ficou na frente dela.
— Posso te beijar de novo?
— O quê?
Os olhos de Emma saltaram do olhar de Jo para os lábios dela e
novamente para os olhos. Sua respiração soluçou e ela não tinha nenhuma
palavra, mas ela assentiu, tão de repente que ela poderia ter puxado um
músculo, e então Jo a estava beijando. Jo estava beijando-a e era
exatamente como da última vez que era suave e perfeita, mas também era
diferente, porque Jo colocou as mãos nos quadris de Emma, segurando
quando seus joelhos ficaram fracos.
Quando Jo se afastou, ela não foi longe. Eles ainda estavam perto o
suficiente para respirar o ar uma da outra.
— Então você não me odeia por te beijar? — Emma disse.
Jo riu, batendo o nariz contra o de Emma.
— Não há muita chance disso, não.
Ela a beijou novamente.
Esse beijo foi mais longo, mais profundo. A língua de Jo roçou a de
Emma, e a asma era realmente a melhor metáfora para o relacionamento
delas – Emma não tinha certeza de que algum dia conseguiria respirar
normalmente. Os braços dela estavam sobre os ombros de Jo. Mesmo ainda
de salto, Jo era mais baixa que Emma.
— Você... poderíamos pedir comida ou algo assim? — Emma disse.
Jo parecia que ela ia dizer sim, como se ela estivesse dizendo sim para
algo assim, do jeito que ela tinha que arrastar os olhos dos lábios de
Emma.
— Eu não deveria ficar — disse ela. — Essa é uma péssima ideia, sabia?
Temos que fazer tudo certo com a forma como a estruturamos, ou será um
desastre. Provavelmente será um desastre de qualquer maneira, depois dos
rumores.
— Ei — disse Emma. Ela abaixou a mão para pegar uma das de Jo. —
Nós não vamos ser um desastre.
Jo sorriu para ela, toda suave e bonita.
— Não — ela disse. — Não vamos.
Deus, foi surreal. Estar segurando Jo e falando assim, como se fossem
um nós.
Jo ficou por um tempo. Elas se sentaram perto uma da outra no sofá e
conversaram sobre as coisas, suas bebidas sentadas esquecidas. Jo admitiu
que tinha tido sentimentos desde a visita do pai; Emma admitiu que não
tinha certeza de que o dela importava até Calgary. Jo perguntou quatro
vezes separadas se Emma tinha certeza, se sabia que sua promoção não
tinha nada a ver com os sentimentos de Jo, se ela realmente queria fazer
isso.
Emma disse:
— Mais do que tudo — e toda a tensão desapareceu da postura de Jo.
Elas concordaram que Jo não deveria ficar. Elas não queriam estar nos
tabloides novamente, e ela já teve que pagar um fotógrafo. Emma beijou Jo
uma última vez na segurança de seu apartamento antes de mandá-la
embora.
Depois que Jo se foi, Emma correu pelo corredor e se jogou na cama. Ela
estava deitada, olhando para o teto, com um sorriso no rosto que ela não
conseguia se livrar se tentasse.
Mas não precisava se livrar disso. Ela podia sorrir o quanto queria
porque Jo gostava dela. O corpo inteiro de Emma brilhava. Pensou em ligar
para Avery de volta, mas não o fez. Esse momento era só dela, por hora.
Emma se perguntou se o coração de Jo estava tão vibrante quanto o dela
agora.


O PROBLEMA DE BEIJAR Jo
na última semana de trabalho antes do hiato era que
agora era um hiato. Agora elas tinham quatro semanas fora do trabalho. E
Emma não tinha desculpa para ver Jo todos os dias.
Ela acordou cedo no sábado e foi ao culto. Ligou para a mãe depois,
suportou algumas perguntas sobre Jo e discutiu seus planos para a
primeira noite de Hanukkah. Avery estava hospedando todo mundo, como
sempre, e Emma não podia esperar por toda a comida. Ela se sentiria mal
por sua parte favorita da maioria dos feriados ser a comida, mas sua irmã
adorava fazer tanto quanto Emma adorava comê-la.
Emma durou até cerca de quatro horas da tarde antes de suas mãos
coçarem tanto que ela pegou o telefone. Fazia menos de vinte e quatro
horas desde a última vez que vira Jo, e ainda assim ela precisava conversar
com ela, mandar uma mensagem para ela, alguma coisa.

É meio não legal sentir sua falta?

Assim que Emma o enviou, ela decidiu que sim, era incrivelmente nada
legal, e Jo provavelmente pensaria que ela era uma idiota. Em vez disso, o
telefone tocou.
Ela parou para atender imediatamente. Respirou fundo e passou a mão
sobre a blusa como se houvesse rugas que ela precisava suavizar. Atendeu o
telefone.
— Ei — ela disse calmamente.
— Não acho que não seja legal — disse Jo.
Emma soltou a respiração, sorriu.
— Não?
— Ou, se for, também não sou legal, eu acho.
Sorrir ao telefone em silêncio por uns bons dez segundos não era legal?
Porque foi isso que Emma fez a seguir.
— Como foi o seu dia? — Jo perguntou eventualmente.
— Bom — disse Emma. — Nada de especial. E o seu?
— Nada de especial — Jo repetiu. — Eu me sinto ridícula, o quanto eu
quero ver você.
Emma sentiu como se seu peito se abrisse.
— Não é ridículo — disse ela.
— É — disse Jo. — É sábado. Não é como se nos veríamos normalmente
no sábado.
— Nós nos vimos no sábado passado, no entanto.
Calgary foi apenas uma semana atrás. O vôo e o caminho para casa e o
beijo na frente do apartamento de Emma. Emma sentiu calor por todo o
lado.
— Temos que poder passar mais de vinte e quatro horas sem nos
vermos — disse Jo. — Temos que passar por todo esse hiato.
Emma sabia. Elas não deveriam se ver durante o hiato dos Inoncents,
não deveriam estar namorando. Emma tinha certeza de que elas poderiam
se ver totalmente, mas Jo queria ter cuidado. Por mais que ela não se
importasse com o que as pessoas pensavam durante os rumores, ela se
importava agora. Ela não queria ter problemas, não queria fazer nada que
pudesse comprometer o novo emprego de Emma. O que foi legal e bom e
Emma gostou disso – Emma também queria ver Jo.
— E o Ano Novo? — Emma disse.
— Não podemos sair no Ano Novo, Emma — disse Jo. — Você sabe
quantos fotógrafos estão à espreita na véspera de Ano Novo, esperando
pegar alguém em uma posição comprometedora?
— Eu não disse sair. Eu ia sugerir que você visse aqui, mas acho que é
mais fácil nos pegarem no meu prédio, do que eu indo para sua casa.
Jo ficou quieta por um momento.
— Você acabou de se convidar para a passar o ano novo aqui?
Emma estava feliz por Jo não poder vê-la corar pelo telefone.
— Quero dizer, sim, mas apenas porque faz sentido. Nós estaríamos–
— Sim — disse Jo. — Você deveria vir. Eu gosto daquela ideia.
— OK.
— OK.
Emma sorriu como uma tola.
O Ano-Novo estava a duas semanas, mas elas poderiam fazer isso.


O HANUKKAH CHEGOU PRIMEIRO.
Emma já estava na casa de Avery quando seus pais chegaram lá.
Abraços eram abundantes e, assim como na Páscoa, quando o pai dela a
abraçou, ele perguntou sobre Jo.
— Você não a trouxe desta vez também? Quando vamos conhecê-la?
— Quando eu puder confiar em você para não ser desagradável — disse
Emma. — Então provavelmente nunca.
Emma amava Hanukkah porque adorava qualquer feriado que passasse
com a família. Sua mãe acendeu as velas, como fazia todos os anos. Todos
eles cantaram juntos, e Ezra teve um cuidado especial ao levar a menorá
para a janela. Em seguida, passou a latkes de latkes e gelatina. Emma
realmente amou a comida.
A família inteira estava amontoada na sala de Avery, Emma no chão com
os cachorros e os gêmeos. A pilha de comida na mesa de café era tão
grande que você não saberia que eles já haviam comido mais do que
suficiente.
O telefone de Emma tocou.

Posso te ligar na primeira noite de Hanukkah ou é hora da família?

Emma não pôde evitar sorrir com o texto de Jo. Ela alegou ter comido
muitos latkes, disse que precisava de um tempo.
— Nunca há muitos latkes — disse Dani, mergulhando outro em molho
de maçã e colocando-o na boca.
Emma riu dela e entrou na privacidade da lavanderia. Ela ligou para Jo.
Ela podia ouvir o sorriso na voz de Jo quando atendeu.
— Oi.
— Oi — Emma disse de volta. Ela sorriu ao telefone para ela mesma. —
Você tem permissão para ligar no Hanukkah.
— Ok, bom — disse Jo. — Eu não queria interromper nada.
— Tudo o que você está interrompendo é todo mundo enchendo o rosto
com latkes — disse Emma. — Ainda não chegamos ao dreidel.
— Você está se divertindo?
— Eu estou.
Ainda mais agora. Emma sentiu como se fosse uma adolescente, fugindo
de um evento familiar para conversar com uma garota ao telefone em voz
baixa. Seu estômago estava dando voltas.
As duas ficaram em silêncio, Emma apertou o telefone com força no
ouvido e tentou reprimir o sorriso.
— Eu não tinha muitos motivos para ligar — admitiu Jo. — Eu só
estava pensando em você. Queria desejar-lhe um feliz Hanukkah.
— Eu agradeço.
Foi tudo tão novo. Não parecia frágil, mas Emma sabia que ambas
estavam tomando cuidado de qualquer maneira, ambas inseguras com o
que viria a seguir. Era muito importante não correr e estragar tudo; ela
esperava que Jo pensasse assim também. Foram nervos, mas não de
nervosismo, de antecipação, mas não de apreensão. Tudo entre elas era
uma grande bola de potencial, e Emma mal podia esperar para ver como
tudo acabaria.
— Eu provavelmente deveria voltar para minha família — disse Emma.
— Sim, claro — disse Jo. — Diga a eles olá de mim, se isso não for
estranho.
— Oh, meus pais adorariam. Eles provavelmente serão totalmente
desagradáveis quando você os conhecer.
— Já na fase de conhecer os pais, hein?
Emma sabia que Jo estava brincando, mas isso a preocupava um pouco.
— Estou brincando — disse Jo rapidamente. — Mal posso esperar para
conhecê-los. Sou incrivelmente encantadora e posso fazer um bom trabalho
provocando as duas filhas, eles certamente me amarão.
Eles realmente iriam, essa era a coisa. Tipo como Emma pensou que ela
poderia se sentir sobre ela. Não que ela tivesse dito isso.
Jo continuou falando quando Emma não disse nada.
— Você já conheceu meu pai, pelo menos. Parece que conhecer seus pais
provavelmente será mais divertido.
— Vai — disse Emma. — Você está certa – eles vão te amar. Eu
prometo.
Emma definitivamente se sentia como uma adolescente, com borboletas
no estômago e um sorriso perpétuo no rosto.
— Ok, agora vá — disse Jo. — Você pode me ligar mais tarde, se quiser.
— OK.
— Vá — Jo disse novamente, rindo desta vez, e Emma desligou com a
pele formigando em todos os lugares ao som.
— Onde você esteve? — A mãe de Emma perguntou quando ela voltou
para a sala de estar.
Emma não tinha guardado o telefone ainda, e isso foi um erro, ela
percebeu, enquanto Avery ria.
— Você estava conversando com sua namorada? — Avery disse.
A família inteira provocou ela.
Emma queria ficar irritada com as provocações, mas era difícil. As piadas
foram ofuscadas por todos, alegremente, chamando Jo de sua namorada.


NA VÉSPERA DE ANO NOVO, Emma experimentou sete roupas diferentes. Ela fez
vídeo chamada com Avery, fez um tipo de desfile de moda. Avery escolheu
suas duas melhores escolhas. Emma mudou de um lado para o outro mais
três vezes antes de escolher uma.
Ela comprou narcisos a caminho, esperando que não parecesse muito
clichê. Elas a lembraram do vestido de Jo nos SAGs, e ela pensou que eles
fariam Jo sorrir.
Emma já tinha visto a casa de Jo antes – a entrada principalmente.
Embora ela já tivesse visto o quarto também, uma vez teve que pegar uma
muda de roupa quando Jo derramou café antes de uma reunião com o
programa e sua roupa de escritório de reposição estava na lavanderia.
Emma lembrou-se principalmente do armário de Jo, lembrou-se de ser tão
grande quanto seu apartamento inteiro, embora isso fosse provavelmente
um exagero.
Era novo, vindo para esta casa pela primeira vez, em vez de
simplesmente estar lá para trabalhar. Jo atendeu a porta em seu habitual
jeans skinny preto. Os pés dela estavam descalços. Ela era tão pequena que
Emma imediatamente quis abraçá-la. Sua blusa era fina e solta, uma gola
larga. A mostra das clavículas de Jo fez Emma corar.
— Entre — Jo disse com um sorriso. — Eu posso pegar o seu casaco?
— Sim, obrigada.
Emma tirou o casaco, que Jo pendurou em um armário perto da porta e
tirou os sapatos.
— São para mim? — Jo apontou para as flores nas mãos de Emma.
— Hum — disse Emma. — Sim.
Ela os empurrou em direção a Jo. Seus nervos estavam tirando o melhor
dela, mas ela não tinha controle sobre isso. Ela estava na casa de Jo para
um encontro, e Jo não parava de sorrir para ela. Jo também não parou de
sorrir quando ela pegou as flores. Em vez disso, ela colocou a mão no pulso
de Emma, e Emma lembrou, com uma clareza ofuscante, o momento delas
no tapete vermelho há quase um ano inteiro, Jo fazendo Emma rir e
esquecendo sua ansiedade.
— Emma — disse Jo, ainda com um sorriso. — Eu acho que isso
funcionará melhor se nós duas estivermos um pouco nervosas, em vez de
você ficar loucamente nervosa.
— Eu não estou loucamente nervosa — Emma disse imediatamente. Jo
inclinou a cabeça e ergueu as sobrancelhas, e Emma suspirou. — Eu posso
estar loucamente nervosa.
— Eu sei — disse Jo. — E é adorável, mas desnecessário.
O calor se expandiu do peito de Emma. Ela não pôde evitar a maneira
como sua boca abriu um sorriso. Jo apertou o pulso dela.
— Venha me ajudar a colocá-los na água — disse Jo.
Ela deslizou a mão para baixo, enrolou os dedos nos de Emma e a puxou
para dentro da casa. Emma sentiu calor por todo esse ponto. Seus nervos
se acalmaram um pouco.
A cozinha de Jo era enorme, abrindo para uma sala igualmente enorme.
Emma não tinha visto essa parte da casa quando ela estava lá antes, tinha
virado um corredor para chegar ao quarto de Jo antes de chegar tão longe
lá dentro. Havia uma geladeira enorme, dois fornos e uma grande pia
agrícola no balcão.
— Deus, Avery mataria por esta cozinha — disse Emma, com os olhos
arregalados. — Como você ainda tem tempo para usá-la?
— Eu não tenho o suficiente, certamente — disse Jo.
Ela soltou a mão de Emma e puxou uma tábua de trás de alguns potes
de cerâmica com farinha e açúcar. Ela colocou as flores na tábua e puxou
uma faca de um bloco de facas.
— Corta isso enquanto encontro um vaso?
Emma estava feliz por ter uma tarefa.
— Eu cozinho na maioria dos fins de semana — Jo continuou,
respondendo à pergunta anterior de Emma. — Eu continuo tentando fazer
com que Avery me dê sua receita de babka com chocolate, para que eu
possa experimentar fazer ele eu mesma.
Ela colocou um vaso ao lado da tábua que Emma estava usando.
— Boa sorte — disse Emma. — Ela mudou algo da receita que nossa
mãe deu a ela, e ela nem disse a nossa mãe qual foi a mudança durante três
anos. Ela guarda a receita com a vida.
— Talvez uma vez que eu conheça sua mãe, eu a encante com ela.
Emma parou de cortar as hastes, só por um momento, respirou fundo e
sorriu para si mesma. Claro, elas haviam conversado sobre Jo conhecer
seus pais durante o Hanukkah, era apenas – era difícil acreditar que ela
estava na cozinha de Jo enquanto Jo falava sobre receitas familiares
encantadoras de mãe.
— Ou — disse Jo, de lado ao lado de Emma e apoiando o quadril no
balcão. — Posso tentar te encantar pela receita?
Emma sorriu para ela.
— Eu odeio dizer isso a você, mas eu não tenho.
Jo riu.
— Como você não tem uma receita de família?
— Porque eu não faço as coisas certas, aparentemente — disse Emma.
— Mesmo que eu sempre siga exatamente as receitas, nada acaba bem.
Avery diz que não tenho o toque.
— Seguir as receitas exatamente é o seu primeiro erro — disse Jo. —
Todo mundo sabe que a receita é apenas uma sugestão.
— Não! — Emma bufou para ela. — As pessoas se esforçam para fazer
um livro de receitas! Existem testadores de receita e tudo. A receita é
literalmente testada para que você possa recriar o que eles criaram. Como é
uma sugestão?
Jo pegou uma colher de pau cheia de molho que estava fervendo em um
dos queimadores a gás. Ela segurou nos lábios de Emma.
— A receita original para isso pedia um dente de alho, o que é ridículo
— disse Jo. — Eu usei três hoje à noite.
Emma fez um barulho de hmm em torno da explosão de sabor em sua
língua.
— Você acha que eu deveria ter seguido a receita? — Jo perguntou.
— Não, chefe — Emma disse, então congelou.
Jo ergueu as sobrancelhas para ela, sorrindo.
— Eu vou morrer em um buraco agora — Emma disse, enterrando as
mãos na cara, e Jo caiu na gargalhada.
— Qual é — disse Jo. — Isso foi fofo!
Ela tentou tirar as mãos de Emma do rosto. Emma apenas lutou um
pouco antes de ceder.
— Não foi fofo — disse ela. — Você não é mais minha chefe. Você é
minha... minha...
Ela entrou em pânico então, sem saber como deveria chamar isso. Sua
família chamava Jo como namorada dela, com certeza, mas elas não
disseram isso uma para a outra.
Jo sorriu para ela novamente, e Emma ficou ainda mais vermelha. Ela
colocou os narcisos no vaso no balcão.
— Você pode me chamar de sua namorada — Jo disse calmamente. —
Se isso é algo que você quer fazer.
— Sim — disse Emma, talvez muito rapidamente. Ela tentou suavizar
sua ansiedade. — Sim, acho que seria legal.
Jo sorriu para ela, e Emma definitivamente queria chamá-la de
namorada.
Para o jantar, Jo preparou salmão com molho de manteiga de limão e
abóbora assada ao lado. Estava delicioso, e Emma disse isso pelo menos
três vezes enquanto elas comiam. Seus nervos se acalmaram agora e a
conversa fluiu com facilidade.
Emma insistiu em ajudar a limpar depois. Ela carregou a máquina de
lavar louça enquanto Jo lavava as panelas. Parecia um pouco embaraçoso,
como o trabalho durante o verão, apenas as duas, fazendo as coisas,
ocasionalmente se fazendo rir. Emma entendeu um pouco mais sobre por
que Avery apostou em sua vida amorosa. Parecia uma conclusão inevitável
para o ano, mesmo sendo também o começo de algo completamente novo.
Elas se mudaram para o sofá quando os pratos foram lavados. Ainda
faltavam quase duas horas para a meia-noite, mas Jo se apresentava na
véspera de Ano Novo. Ela sentou-se contra Emma no sofá, com os dois
lados juntos, e mesmo assim até a noite, era surreal tocar Jo assim. Emma
não deu atenção à TV. Ela não conseguia desviar os olhos do rosto de Jo.
Jo sorriu quando notou Emma olhando, deu a ela meio revirar os olhos.
Mas então ela também não desviou o olhar. Emma se inclinou.
Elas se beijaram lentamente. Suavemente. Como se não pudessem
acreditar que tinham permissão. Era assim que Emma se sentia. Isso
parecia fora dos limites. Era como Avery ensinando-a a dirigir em um
estacionamento vazio de supermercado quando tinha quatorze anos. Ela
não tinha percorrido 24 quilômetros por hora naquela primeira vez, mas
ainda parecia voar. Era assim, emocionante, aterrorizante e fácil de bater.
Jo nunca fez um movimento. Ela beijou Emma, tão, tão suavemente, mas
ela nunca pressionou por mais. Emma foi a primeira a abrir a boca. A alisar
os dedos pelos cabelos de Jo, agarrar os quadris e puxá-la para mais perto.
Jo sempre retribuiu, mas ela nunca fez o primeiro movimento.
— Está tudo bem? — As duas perguntaram ao mesmo tempo em que
Emma se afastou para beliscar a mandíbula de Jo.
Elas congelaram em sua sincronicidade por um momento antes de se
dissolverem em risadinhas. Jo estava encostada em Emma, não exatamente
no colo, mas quase, e Emma enterrou o rosto no pescoço de Jo e riu.
— Está tudo bem comigo — disse Jo, passando os dedos pelos cabelos
de Emma.
Emma agarrou Jo pela cintura e a puxou para mais perto, então Jo
estava realmente em seu colo, montando nela.
— Ainda está bem?
Jo sorriu.
— Mais do que tudo bem.
Elas se divertiram como adolescentes. Emma não mudou as coisas agora
que tinha Jo no colo, e ela ainda parecia contente com o que Emma
quisesse. O que Emma queria era exatamente o que ela tinha: Jo em cima
dela, beijando-a e beijando-a e beijando-a. A mão de Emma mal deslizou
sob a camisa de Jo, seus dedos descansando contra a pele das costas de Jo.
Realmente parecia aprender a dirigir. Parecia algo que, objetivamente,
Emma sabia que as pessoas sabiam – todos os dias as pessoas faziam isso.
Mas seu coração estava na garganta de qualquer maneira. Ela sabia que
estavam apenas se beijando, mas parecia tudo.
— Na verdade — disse Emma, afastando-se um pouco. — Podemos –
podemos fazer uma pausa?
— É claro — disse Jo.
Ela se afastou mais, tentando sair do colo de Emma. As mãos de Emma
se apertaram nos quadris dela.
— Não, não vá — disse Emma. — Eu apenas – o beijo é muito. Meu
coração está… rápido.
A preocupação de Jo se derreteu em um sorriso brilhante.
— Um rápido bom?
Emma assentiu.
— Um rápido muito bom.
— Você sabe, você está respirando pesadamente — Jo disse, com um
tom provocador em sua voz. — Você não vai ter um ataque de asma por
minha causa, vai?
Emma cutucou Jo na lateral.
— Seja legal comigo.
— Sempre — Jo disse imediatamente, e Emma não pôde deixar de beijá-
la novamente. Jo riu em sua boca. — Eu pensei que estávamos dando um
tempo.
— Acabou — disse Emma.
Ela mudou as coisas ao longo deste tempo. Ela ajeitou a barra da camisa
de Jo nos punhos antes de se recostar para verificar. Jo assentiu. Emma
puxou a camisa por cima da cabeça.
E agora Jo estava no colo de calça jeans e sutiã. Um sutiã preto de renda.
Emma teve que fazer outra pausa, apenas por um momento. Jo aproveitou o
tempo para tirar a camisa de Emma.
— Você é linda — disse Jo, e Emma a beijou.
Havia muita pele para explorar. Emma passou as mãos pelas costas nuas
de Jo e as duas tremeram. Ela segurou a cintura de Jo, passou as mãos
sobre o peito de Jo até que estivessem em ambos os lados do pescoço de Jo,
segurando-a gentilmente. Jo alisou os dedos sobre o abdômen de Emma.
Emma moveu a boca para as clavículas que ela corou quando chegou,
beijou a princípio e depois mordeu.
— Talvez devêssemos ir para o quarto? — A voz de Jo era
principalmente respiração.
— Vamos sentir falta de ver a bola cair — disse Emma. Ela não estava
fazendo um ótimo trabalho de reunir pensamentos.
— Acho que vamos sobreviver.
Jo puxou Emma do sofá e a puxou pelo corredor. Emma não se
importava em ver a bola cair.
— Fique aqui — disse Jo na porta do quarto dela.
Lá fora, o céu poderia estar caindo – meteoros ou bombas atômicas. O
mundo poderia estar acabando. Mesmo assim, Emma não tiraria os olhos
de Jo, movendo-se sombriamente pelo quarto até clicar em uma lâmpada ao
lado da cama. Brilhava, macio quente e Jo voltou para o lado de Emma. O
quarto dela era um casulo. Parado e silencioso por fora, mas as duas por
dentro, crescendo e mudando e...
Se beijando. Tanto beijo. Como se elas estivessem compensando o tempo
perdido. Como se o mundo realmente estivesse acabando, e se esse fosse
seu último momento, elas queriam gastá-lo como um emaranhado de pele,
bocas e ternura.
Jo, que havia seguido a liderança de Emma até agora, caminhou de volta
para sua própria cama, puxando Emma junto com ela. Ela pulou para
sentar na beira do colchão e colocou as pernas em volta da cintura de
Emma.
Emma se inclinou para sugar a pele macia do pescoço de Jo. Ela tentou
manter a voz nivelada.
— Por favor, me diga que posso tirar sua calça.
— Essa é a ideia — Jo murmurou, soando muito mais composta do que
Emma se sentia.
As mãos de Emma praticamente arrancaram o botão da calça de Jo. Os
jeans skinny eram justos o suficiente para que a calcinha de Jo também
caísse. Emma congelou. Engoliu. Olhou fixamente.
Jo sorriu e estendeu a mão para trás para abrir o sutiã.
Emma olhou um pouco mais.
Jo usava óculos escuros em público. Ela afastava a cabeça dos flashes das
câmeras dos paparazzi. Nas entrevistas, quando questionada sobre seus
sucessos, Jo sempre se interessava em falar das pessoas que a ajudaram a
alcançá-lo.
No entanto, aqui estava ela na frente de Emma, ombros para trás e
cabeça erguida, vangloriando-se. Emma não tinha certeza de ter visto Jo
tão feliz por ser o centro das atenções.
Ela merecia estar orgulhosa, no entanto. Toda a pele suave e perfeita.
Aquelas clavículas infernais. Emma estava em direção a uma combustão.
Ela se aproximou da cama, mas antes que ela pudesse pegá-la com as
mãos em Jo, ela estava deitada de costas, olhando para o teto. Jo pressionou
um joelho contra ela através do jeans, e os quadris de Emma subiram da
cama.
— Eu quero–
— Eu sei — disse Jo, desfazendo as calças de Emma e puxando-as pelas
pernas. — Você vai conseguir.
O sutiã e a calcinha de Emma eram um conjunto combinando, o mais
sexy que ela possuía. Os dedos de Jo brincavam com a renda na cintura de
Emma. Aqueles meteoros em potencial lá fora? Estava claro que eles
também nunca distrairiam Jo.
— É a minha vez primeiro — disse Jo.
Desta vez, foi intencional quando Emma disse:
— Sim, chefe.
Um raio passou pelos olhos de Jo. Emma guardou esse conhecimento
para uso posterior.
Uso posterior. Porque ela conseguiria fazer isso de novo e de novo. Mal
parecia real que ela conseguisse fazer isso agora; era inacreditável que
algum tempo depois ela tivesse a chance de usar o fato de que Jo gostava de
ser chamada de chefe na cama.
Jo livrou Emma das últimas roupas com eficiência alarmante. Um
momento ela estava em pé ao lado da cama, traçando os padrões de renda
das roupas íntimas de Emma, e no outro havia um travesseiro embaixo da
cabeça de Emma. Jo a deixou nua e a ajeitou mais profundamente na cama.
Ela deslizou uma perna lisa entre as dela.
Emma tentou se concentrar, tentou se lembrar de tudo. Ela mal
conseguia pensar, mas não queria perder nada. Jo a beijou profundamente e
com força, e Emma tentou memorizar o músculo molhado da língua de Jo.
Ela teve tempo de sobra para memorizar, porque Jo apenas a beijava. O
que foi bom. Foi realmente muito bom. Foi apenas – bem, quando Jo disse
que era a vez dela, beijar não era exatamente o que Emma pensava que ela
queria dizer.
As mãos de Emma estavam nos quadris de Jo, então realmente não
demorou muito trabalho para deslizar uma ao redor e agarrar sua bunda.
Jo interrompeu o beijo com um suspiro e se afastou um pouco para olhá-la.
— Pensei ter dito que era a minha vez. — Mesmo se Emma não
estivesse olhando para o rosto dela, ela saberia que Jo ergueu uma
sobrancelha apenas pelo tom.
Emma mordeu o lábio inferior.
— Mas você não está me tocando.
— Estou cobrindo todo o seu corpo nu com o meu.
— Primeiro de tudo, não meu corpo inteiro. Você é muito pequena. — Jo
revirou os olhos com as provocações de Emma. — Mas também, você não
está me tocando, tipo, onde conta?
Jo apertou a coxa contra o centro de Emma e ela ofegou.
— Eu vou te mostrar onde é que conta.
Jo se ajustou para sentar de joelhos entre as pernas de Emma. Emma os
espalhou, largos, prontos demais para ficar envergonhados. Mas Jo a
ignorou. Em vez disso, ela passou a ponta do dedo pelo nariz de Emma.
Emma riu. Jo traçou os braços de Emma, apenas pressão suficiente para
não fazer cócegas. Ela entrelaçou os dedos por um momento, depois roçou
os braços de Emma. Quando as mãos de Jo cobriram os seios de Emma,
Emma respirou fundo, arqueando as costas sem sua permissão. Jo não ficou
em lugar nenhum por muito tempo.
Não era o que Emma esperava, não era o que ela pensava que queria,
mas era tudo.
As mãos de Jo nela pareciam o culminar de cada vez que Jo a tocava,
uma mão no cotovelo ou no polegar de Jo contra as costas de Emma nos
SAGs, a boca de Jo na festa de encerramento, chocada e congelada, mas
quente contra os lábios de Emma. No primeiro dia em que se conheceram,
Emma, uma assistente de estado de saúde, aterrorizada e apavorada,
apertou as mãos do chefe. Dizem que a retrospectiva só é lembrada pela
metade e, olhando para trás, parecia que sempre levaria a isso: os dedos de
Jo na pele de Emma era uma inevitabilidade. Não como destino – não como
se elas não tivessem escolha, mas como em mil universos diferentes, elas
sempre faziam as escolhas que as levavam até aqui.
Quando Jo se sentou na cama, Emma sentiu como se estivesse vibrando.
— Faz algum tempo. — A voz de Jo era baixa. — Me perdoe se estiver
enferrujada.
Emma estava acostumada a apoiar Jo quando se sentia vulnerável. Ela
poderia ter levado um momento para fazer isso aqui. Poderia ter
assegurado a Jo que estava tudo bem, tudo continuaria bem. Poderia ter
admitido que também havia passado um tempo para ela, e a primeira vez
não precisava ser perfeita. Elas teriam muitas chances de aprender uma
com a outra.
Em vez disso, ela torceu os quadris em direção à respiração de Jo e
agarrou os lençóis.
— Oh meu Deus, eu não me importo, apenas me toque.
Jo o fez.
Porra, ela fez.
Depois de tanto acúmulo, não havia preâmbulo agora, apenas a língua de
Jo lambendo uma faixa no centro de Emma e flutuando contra seu clitóris.
Parecia que o corpo inteiro de Emma saiu da cama para encontrar a boca
de Jo.
Tudo ficou nebuloso depois disso. Emma simultaneamente queria fechar
os olhos para se deleitar com o sentimento e queria mantê-los abertos para
sempre, queria assistir, ter uma prova visual de que Jo a estava tocando
dessa maneira. Mas olhar fez tudo parecer tão grande, fez parecer que ela
ia quebrar de dentro para fora, e ela faria isso de qualquer maneira, ela
tinha certeza absoluta, mas ela não queria que isso acontecesse tão
rapidamente, não. Não quero que esse sentimento pare tão cedo. Não
queria que parasse nunca.
Mas Jo parecia determinado a desmontá-la agora . Ela era implacável e
tão, tão boa, e os quadris de Emma estavam pulando aos trancos e
barrancos. Emma puxou um travesseiro sobre o rosto para abafar seus
gemidos, mas assim que ela o fez, Jo se afastou e mordeu a coxa dela.
— Deixe-me ver — ela murmurou. — Por favor.
Emma jogou o travesseiro da cama. Ela olhou para Jo, que deslizou um
dedo nela como se fosse uma recompensa, e recostou-se.
Porra.
Elas nunca poderiam fazer sexo no apartamento de Emma se Jo não a
deixasse esconder seu orgasmo em um travesseiro. As paredes de Emma
eram muito finas, mas na casa de Jo a casa mais próxima ficava a 800
metros em qualquer direção, e não importava quando Jo fazia Emma gritar.


EMMA NÃO ABRIU OS olhos a princípio quando acordou. Ela estava na cama de
Jo. Os lençóis estavam frescos e cheiravam a amaciante; o travesseiro era
como uma nuvem sob sua cabeça.
E Jo.
Jo estava enrolada metade em cima dela. O braço de Emma estava
adormecido onde estava embaixo do pescoço de Jo, mas ela não se
importava, com a palma da mão apoiada no esterno e uma perna jogada
sobre a dela. A sua respiração se espalhou pelo peito de Emma, que
finalmente abriu os olhos e olhou para Jo.
Ela sabia que era muito cedo, e sabia que Avery a provocaria
incansavelmente, mas tinha certeza de que a amava.
Ela também sabia como Jo gostava do café dela todas as manhãs e achou
que seria bom acordá-la com uma xícara. Quando Emma tentou sair da
cama, porém, a perna de Jo empurrou para baixo, a mão deslizou do
pescoço de Emma através do corpo para as costelas, e a segurou com força.
— Não — disse ela, a voz grossa com o sono.
— Eu estava indo fazer um café para você — Emma murmurou.
— Gosto mais disso do que café.
— Você deve gostar muito disso. — Emma sorriu, embora os olhos de
Jo ainda estivessem fechados.
— Eu amo isso — disse Jo, e Emma derreteu.


QUANDO ELAS FINALMENTE se
levantaram, Jo fez sua própria bebida e a de Emma
também. Emma sorriu, mas não comentou quando Jo puxou uma caixa
fechada de concentrado de chai da geladeira.
— O que Evelyn pensa sobre tudo isso? — Emma perguntou sobre sua
caneca. — Sobre nós?
Jo riu.
— Eu acredito que as palavras exatas dela foram “Graças a Deus você
finalmente resolveu sua merda.”
Emma riu.
— Pelo menos ela não apostou em nós — disse ela. — O marido de
Avery lhe deve cem dólares porque não nos beijamos durante o hiato de
verão.
— A festa de encerramento não contou? — Jo sorriu.
— Não. — Emma corou. — Se não contava para nós, não contava para a
aposta.
— Sim, eu diria que nosso primeiro beijo foi melhor do que aquele.
O rosto de Emma ficou mais vermelho.
— Não acredito que eles apostaram em nós. É embaraçoso. — Ela não
se sentia mais particularmente envergonhada, no entanto. Quem se
importava se o mundo descobrisse seus sentimentos antes deles? Elas os
descobriram agora. — Eles fizeram a aposta no dia seguinte ao SAG
Awards.
Os olhos de Jo brilharam.
— Falando nisso — disse ela. — Você deveria vir comigo novamente
este ano. Se você quiser. Como minha namorada atual desta vez.
Emma sorriu e concordou sem se preocupar com o tapete vermelho.
Epílogo
E las se prepararam para a cerimônia juntas. Kelli sorriu para elas e Jaden
falou demais e havia enroladinhos de salsicha kosher para o almoço.
Emma não conseguia parar de sorrir o dia inteiro.
Jo comprou um vestido para ela novamente, desta vez um vestido
vermelho de um ombro que Emma adorava. Jo se recusou a dizer a Emma
o que ela mesma usaria, e Emma quase desmaiou quando viu Jo de terno
preto, o botão de cima aberto em sua camisa branca, gravata borboleta
pendurada no pescoço.
— Você está tentando me matar? — Emma perguntou no carro no
caminho, gesticulando para a roupa de Jo.
Jo sorriu.
— Olha quem está falando.
Emma estava o mais longe que podia estar de Jo, sentada no mesmo
banco de trás. Ela não podia confiar em si mesma para estar mais perto. De
volta à suíte, Kelli já teve que arrumar o batom das duas. Duas vezes.
Elas saíram do carro e, assim como no ano passado, Emma ficou
impressionada com todas as pessoas, todas as câmeras e toda a atenção. Sua
adrenalina disparou, luta ou fuga induzida por ansiedade.
Então Jo pegou a mão dela, entrelaçou os dedos e sorriu para ela.
— Está pronta? — Jo perguntou.
Emma estava.
AGRADECIMENTOS

Dizem que escrever é uma atividade solitária, e é, de certa forma. Mas este
livro nunca teria existido se não fosse pela ajuda de muitas pessoas.
Primeiramente à razão da minha existência: Bonnie Raitt. Minha mãe
adorava contar a história que fui concebida depois de um show de Bonnie
Raitt. Eu finalmente a fiz parar quando comecei a contar às pessoas que fui
concebida em um show de Bonnie Raitt. No dia em que nasci, Bonnie levou
para casa quatro Grammys. E aqui estamos, trinta anos depois, onde chamo
meu romance de estreia com base em uma música de Bonnie Raitt. Parece
que tenho que gritar para ela.
Minha editora, Kristine Swartz: Obrigado por tornar este processo tão
fácil e também por postar fotos do seu gato ocasionalmente no Twitter.
Obrigado a todos na Berkley, especialmente minhas Jessicas (Brock &
Plummer), Megha Jain e a editora Angelina Krahn. Obrigado a Vi-An
Nguyen e Christopher Lin pela melhor capa que eu já vi (e eu não sou nada
tendencioso).
Não posso dizer o suficiente sobre meu agente, Devin Ross. Ela é
sensata e inteligente como o inferno e de alguma forma sempre sabe se eu
preciso de mãos dadas ou um chute nas calças. Eu sou incrivelmente
sortudo e imensamente grato por ter encontrado ela e toda a equipe New
Leaf.
Jasmyne Hammonds me convenceu a me inscrever no Pitch Wars
porque o pior que podiam fazer era dizer não. Eles disseram sim para nós
dois. Mal posso esperar para ter uma estante dedicada para seus livros, J.
Para todos os envolvidos na gestão de Pitch Wars: Você criou algo que
realmente muda vidas e ajuda a realizar sonhos. Mesmo agora, depois de
tudo o que aconteceu, ainda não consigo acreditar que Farah Heron me
escolheu como pupilo. Sem sua perspectiva e orientação, este livro não
seria a metade do que é hoje.
Rosie e Ruby. Eu estava preocupado com o nome de quem deveria
colocar primeiro, e então percebi no próximo livro que posso simplesmente
colocar Ruby em primeiro lugar. Estou ansioso para mudar a ordem de
seus nomes nos agradecimentos para cada livro que escrevo pelo resto da
minha vida. #TeamAllIn
Outras pessoas que devo mencionar: os Slackers sempre podem me fazer
rir alto quando eu não deveria. Jen Deluca me ajudou a passar por um
ataque de pânico por causa das edições, sem nem mesmo tentar. Zabe Doyle
é minha pessoa favorita para fazer um brainstorm. Ela pode se debater
melhor do que qualquer pessoa que eu conheço. Minha professora da
terceira série, a Sra. McBeath, disse a meus pais para me ensinarem a
digitar para que eu pudesse editar facilmente, em vez de apagar uma página
inteira de trabalho para adicionar uma frase, como fazia anteriormente.
Uma de minhas professoras da sétima série, a Sra. Dolinski, me deu espaço
para escrever sobre coisas que são importantes para mim. Inúmeras
pessoas, incluindo estranhos na internet, ajudaram a tornar autêntica o
judaísmo de Emma e a experiência sino-americana de Jo. Obrigado a
Lauren, que me deixou levá-la para tomar um café e perguntar sobre as
tradições de Hanukkah de sua família. Agradeço também a Addie, Julia e
Andi por sua ajuda com os aspectos de Hollywood do livro.
Obrigado aos meus pais, que me deram um velho tijolo de laptop quando
eu era apenas uma criança. Ele tinha apenas o Microsoft Word nele.
Escrevi dezenas de milhares de palavras, principalmente de fanfiction ruim,
mas sei que também havia poesia ruim ali. Obrigado por me dar a
oportunidade de melhorar. E agradeço antecipadamente, mãe, pelo
cachorro e pela tatuagem que você prometeu pagar quando eu publicasse
meu primeiro livro.
Não sei se Tash McAdam percebeu no que eles estavam se metendo
quando gritaram comigo sobre fanfiction pela primeira vez, mas sou muito
grato por isso. Eles me ajudaram a superar o primeiro rascunho dessa
coisa, mas o mais importante, eles me ajudaram a superar o Episódio
Depressivo de 2017.
Christina Cheung me deixou roubar seu sobrenome. Ela também leu
este livro mais vezes do que qualquer outra pessoa além de mim. Ela lê
cada palavra que escrevo e as lê novamente, não importa quantas mudanças
eu faça entre os rascunhos. Ela me faz perguntas sobre personagens e
enredos muito antes de eu ter respostas para ela. Minha escrita é mais forte
por causa dela.
E, claro, deixando o melhor para o fim - minha esposa, Brooke. Toda vez
que eu dizia: “Você acredita que isso está acontecendo?”, ela dizia que sim.
Obrigado por ouvir em cada caminhada, em cada passeio de carro, cada vez
que esperávamos por uma refeição em um restaurante, enquanto eu
conversava sobre pontos problemáticos. Obrigado por cozinhar e limpar e
me lembrar de fazer pausas. Acima de tudo, obrigado por me amar -
especialmente por meio das edições de texto.
QUESTÕES PARA DEBATE

1. Que efeito os rumores tiveram no relacionamento de Jo e Emma?


Você acha que eles teriam desenvolvido sentimentos, ou
reconhecido esses sentimentos, se os rumores nunca tivessem
existido?

2. Jo estava preocupada em tirar vantagem de Emma. Por que é isso?


Como ela garantiu que o desequilíbrio de poder de seu
relacionamento de trabalho não tornasse seu relacionamento
pessoal insalubre?

3. Como o livro retrata os relacionamentos entre irmãos? Compare e


contraste o relacionamento de Jo com o relacionamento de
Vincent e Emma com Avery.

4. Que trade-offs Jo e Emma devem considerar ao decidir estar em


um relacionamento? Como suas reputações e carreiras podem
sofrer? Você acha que vale a pena?

5. Por que Jo não saiu publicamente? Quais fatores afetaram essa


decisão?

6. Discuta o relacionamento de Jo com seu pai e como isso afeta ela e


suas decisões.

7. Tikkun olam é um conceito judaico sobre o dever de um indivíduo


de melhorar ou reparar o mundo ao seu redor. Como tikkun olam
influencia o comportamento de Emma ao longo do livro, mas
especialmente em resposta a Barry Davis?

8. Por que Annabeth Pierce não se manifestou sobre o


comportamento de Barry Davis antes? Que fatores afetaram suas
decisões, tanto para ficar quieta quanto para eventualmente se
apresentar?
9. Por que os ternos da rede sugeriram que Jo fosse vista com um
homem? Como eles poderiam ter reagido de forma diferente se os
rumores envolvessem Jo e um homem em vez de outra mulher?
Notas
[←1]
Aquele que é responsável pelo projeto como um todo, desde o
roteiro até a finalização.

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