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“Não é geralmente incivilidade a essência maior do amor?

- Jane Austen, Orgulho e Preconceito -

Para Jackson
Sinopse

Por trás de portas fechadas, eles estão estabelecendo a lei.

Quando se trata das leis da atração...

Payton Kendall e J.D. Jameson são advogados que conhecem o


significado da objeção. Uma feminista até o osso, Payton lutou arduamente para
ter sucesso em uma profissão dominada por homens. Nascido rico, privilegiado
e arrogante, J.D. lutou muito para ignorá-la. Face-a-face, eles são perfeitamente
civis. Eles têm que ser. Por oito anos, eles têm mantido uma distância segura e
tolerado um ao outro como colegas de trabalho por uma razão: tornarem-se
sócios da firma.

Não existem regras...

Mas tudo é possível quando eles são convidados a unir forças em um caso
importante. Embora apreensivos no começo, eles começam a apreciar a
dedicação um do outro à lei - e as faíscas entre eles rapidamente se transformam
em atração. Mas a conexão cada vez mais quente não dura muito tempo, quando
eles descobrem que apenas um deles será nomeado sócio. Agora é uma guerra
total. E a batalha entre os sexos obriga esses advogados a ficarem perturbados.
Capitulo Um

O despertador tocou

às 5h30.

Payton Kendall levou a mão sonolenta para sua mesa de cabeceira e se


atrapalhou ao silenciar o bipe horrível. Ela ficou lá, aconchegando-se em seus
travesseiros de plumas macias, piscando, despertando. Permitindo-se estes
primeiros e únicos segundos do dia que ela podia chamar de seus. Então - se
lembrando de repente - ela pulou da cama.

Hoje era o dia.

Payton tinha um plano para esta manhã - ela tinha posto o despertador
para acordá-la uma meia hora mais cedo do que o habitual. Havia um propósito
para isso: ela tinha observado a rotina diária dele e deduziu que ele chegava ao
escritório todas as manhãs as 07h:00. Gostava de ser o primeiro no escritório,
ela sabia. Nesta manhã, no entanto, ela estaria lá quando ele entrasse.
Esperando.

Em sua mente ela já tinha tudo planejado - ela agiria


casualmente. Estaria em seu escritório, e quando o ouvisse entrar, apenas
andaria casualmente para pegar alguma cópia da impressora. — Bom dia. —
diria ela com um sorriso. E ela não teria que dizer mais nada, ele saberia
exatamente o que aquele sorriso significava.

Ele estaria usando um dos seus ternos de grife, os quais Payton sabia que
ele tinha mandado fazer sob medida, pois só assim para servir-lhe tão bem. — O
homem sabe como usar um terno. — ela tinha ouvido uma das secretárias dizer
enquanto bisbilhotava pela cafeteira na sala de descanso do quinquagésimo
terceiro andar. Payton tinha resistido ao impulso de acompanhar o comentário
da secretária com um dos seus, para que ela não revelasse os seus sentimentos
em relação a ele, os quais ela tinha lutado para manter tão cuidadosamente
escondidos.

Movendo-se com um propósito, Payton se apressou através da sua rotina


matinal. Como deve ser mais fácil ser um homem, ela refletiu, e não pela
primeira vez. Sem maquiagem para aplicar, sem cabelo para endireitar, sem
pernas para depilar. Eles nem sequer têm que se sentar para fazer xixi, os
bastardos preguiçosos. Basta tomar banho, barbear, então rapidamente sair pela
porta em dez minutos. Embora, Payton suspeite que ele coloque um pouco mais
de esforço nisso. Aquele cabelo perfeitamente imperfeito, despenteado na
medida certa com o resultado certamente exigido para alguma coisa. E, pelo que
ela havia observado pessoalmente, ele nunca usava a mesma combinação de
camisa/gravata duas vezes no mesmo mês.

Não que Payton não colocasse algum esforço na sua aparência


também. Um consultor de júri, com quem tinha trabalhado durante um
julgamento particularmente complicado de discriminação de gênero, tinha dito
a ela, que os jurados - homens e mulheres - respondiam mais favoravelmente
para advogadas que estavam atraentes. Enquanto Payton achou isso tristemente
machista, ela aceitou como um fato, no entanto, e por isso fez uma regra geral
de sempre colocar sua melhor cara, literalmente, no trabalho. Além disso, ela
prefere se enforcar com seu dedo mindinho do que deixar que ele olhe para algo
que não seja o seu melhor.

A viagem pelo ‘L’1 para o escritório foi tranquila, com muito menos
passageiros no início da manhã. A cidade parecia estar acabando de acordar
enquanto Payton andava ao longo do rio Chicago, os três blocos para o seu
escritório de advocacia. O sol da manhã brilhava perto do rio, lançando um
suave brilho dourado. Payton sorriu para si mesma enquanto atravessava o
saguão do prédio; ela estava em um estado de espírito tão bom.

1
É um sistema de trânsito rápido em Chicago.
Seu entusiasmo cresceu quando o elevador subiu para o quinquagésimo
terceiro andar. Meu andar. Andar dele. A porta se abriu, revelando um corredor
de escritórios escuros. As secretárias não chegariam por pelo menos duas horas,
o que era bom. Se tudo ocorresse como planejado, ela tinha algumas coisas a
dizer para ele e agora seria capaz de falar livremente, sem medo dos dois serem
ouvidos.

Payton caminhou com confiança pelo corredor, balançando sua pasta ao


seu lado. O escritório dele era mais perto do elevador; ela iria passar por ele no
caminho para o dela. Oito anos se passaram desde que eles se mudaram para
seus respectivos escritórios à frente um do outro. Ela podia imaginar
perfeitamente as letras da placa de identificação fora do seu escritório.

J.D. JAMESON.

Nossa, como a simples menção desse nome faz seu pulso acelerar...

Payton dobrava a esquina, sorrindo em antecipação ao pensar sobre o


que ele diria quando...

Ela parou congelada.

A luz do escritório dele estava acesa.

Mas - como? Isso não podia acontecer. Ela tinha se levantado nessa hora
ridícula para chegar primeiro. E os seus planos, seus grandes planos? O passeio
descontraído pela impressora, a forma como ela deveria sorrir com confiança e
dizer: Bom dia, J.D.?

Ela ouviu uma rica voz grave familiar atrás dela.

— Bom dia, Payton.

O pulso de Payton disparou. Ela não conseguia evitar, apenas ouvir sua
voz tinha esse efeito sobre ela. Ela se virou e lá estava ele.

J.D. Jameson.
Payton fez uma pausa para olhá-lo de novo. Ele parecia tão
essencialmente J.D., com o paletó fora e sua clássica calça risca de giz azul
marinho sob medida e sim, seu cabelo castanho claro de um estilo
perfeitamente jovial. Ele estava bronzeado - provavelmente de ficar fora
jogando tênis ou golfe no fim de semana - e ele deu-lhe um dos seus sorrisos
com perfeitos-dentes-brancos enquanto se inclinava casualmente contra o
aparador atrás dele.

— Eu disse: 'Bom dia'. — repetiu ele. E assim Payton fez o que sempre
fazia quando ela via J.D. Jameson.

Ela fez uma careta.

O idiota tinha chegado antes dela no trabalho.

Mais uma vez.

— Bom dia, J.D.. — ela respondeu com aquele tom sarcástico que
reservava só para ele.

Registrando a sua chegada, ele olhou para o relógio, em seguida, olhou


para cima e para baixo no corredor com exagero deliberado. — Uau, eu perdi o
carrinho do almoço? É meio-dia já?

Ela realmente odiava esse cara.

Eu não chego ao meio-dia, Payton quase respondeu, então mordeu a


língua. Não, ela não se rebaixaria ao nível dele se defendendo.

— Talvez, se você gastasse um pouco menos de tempo mantendo o


controle das minhas idas e vindas, J.D., e gastasse um pouco mais de tempo
trabalhando, você não iria demorar 15 horas para ganhar dez.

Ela observou com satisfação como a resposta dela tirou o sorriso do seu
rosto. Touché. Com uma atitude fria, calma e bem praticada, ela se virou em
seus calcanhares e se dirigiu pelo corredor até seu escritório.

Uma coisa tão boba, Payton pensou. Esta competição interminável que
J.D. tem com ela. O homem claramente passa muito tempo focado no que ela
está fazendo. Tem sido assim desde... bem, sempre, desde quando ela consegue
se lembrar. Graças a Deus ela estava acima desse absurdo mesquinho.

Payton chegou a seu escritório e fechou a porta atrás dela. Ela colocou a
maleta em cima da mesa e sentou-se na cadeira revestida de couro. Quantas
horas ela tinha ficado nessa cadeira? Quantas noites ela tinha perdido? Quantos
fins de semana ela havia sacrificado? Tudo em busca de mostrar à empresa que
ela seria uma ótima associada - que ela era a associada superior em sua classe.

Através do vidro em sua porta, ela podia ver do outro lado do corredor o
escritório de J.D.. Ele já estava de volta à sua mesa, na frente de seu
computador, trabalhando. Ah, claro, como se ele tivesse tantos assuntos
importantes a tratar.

Payton tirou o laptop da sua mala e ligou-o, pronta para começar o seu
dia. Afinal, ela também tinha coisas muito mais importantes para se concentrar.

Para começar, precisava descobrir uma forma de como no inferno ela ia


se levantar às 04h30min amanhã de manhã.
Capítulo Dois

— V ejo que

você quebrou o seu próprio recorde.

Payton olhou por cima do seu computador, enquanto Irma entrava em


seu escritório, acenando com as folhas de ponto que Payton tinha lhe dado mais
cedo naquela manhã.

— Fico deprimida apenas em registrar essas horas. — a secretária


continuou em um tom exasperado. — Sério, eu preciso ser atribuída a um
associado diferente. Alguém cujas folhas de ponto não sejam tão longas
quanto Anna Karenina2.

Payton levantou uma sobrancelha quando ela pegou a pilha de folhas de


ponto com sua secretária. — Deixe-me adivinhar, outra recomendação de
Oprah?

Irma deu a Payton um olhar que dizia que ela estava pisando em terreno
muito perigoso. — Isso soa como zombaria.

— Não, nunca. — Payton assegurou-lhe, tentando não rir. — Eu tenho


certeza que é um livro maravilhoso.

Pelo menos quatro vezes por ano Irma fazia a peregrinação para o West
Loop para sentar-se na plateia do Harpo Studios e estar na presença de Sua
Santidade Winfrey. Irma pegava todas as recomendações da especialista da TV -
estilo de vida, literatura e outras coisas - como um evangelho. Quaisquer

2
Romance do escritor russo Liev Tolstói, considerado, em 2007, o maior romance já escrito pela revista
Time.
comentários negativos feitos por Payton ou qualquer outra pessoa eram
estritamente proibidos.

Irma sentou-se em frente à escrivaninha enquanto esperava Payton


assinar as folhas de ponto concluídas. — Você gostaria. É sobre uma mulher que
é avançada para a sua época.

— Parece promissor. — disse Payton distraidamente enquanto passava os


olhos na impressão das horas que sua secretária havia contabilizado.

— Então, ela se apaixona pelo homem errado. — continuou Irma.

— Isso é um pouco clichê, não é? Eles chamam esse cara Tolstoy de


escritor? — Payton rapidamente rabiscou sua assinatura na parte inferior da
última folha de ponto e entregou-as de volta para Irma.

— Este “cara Tolstoy” sabe sobre relacionamentos. Talvez você pudesse


aprender uma coisa ou duas com ele.

Payton fingiu não ouvir o comentário. Depois de anos trabalhando com


Irma, as duas desenvolveram uma relação familiar confortável, e ela aprendeu
que a melhor maneira de lidar com comentários não tão sutis da sua secretária a
respeito da sua vida pessoal, era simplesmente ignorá-los.

— Você tem visto a prova da minha falta de tempo livre. — disse Payton,
apontando para suas folhas de ponto. — Até que eu tenha acabado isso aqui,
temo que Tolstoy tenha que esperar. — ela apontou. — Mas, se acontecer de
Oprah saber de um livro sobre como responder a intimações para documentos
corporativos, nisso eu estaria interessada.

Vendo o olhar de advertência de Irma, Payton levantou as mãos


inocentemente. — Eu só estou dizendo.

— Eu te digo uma coisa. — disse Irma. — Eu vou segurar o livro para


você. Porque depois deste mês, eu suspeito que você vai ser capaz de dar-se uma
pausa. — ela piscou.
Payton se voltou para o computador dela. Apesar das tentativas repetidas
de Irma em envolvê-la nesse assunto, ela não gosta de falar abertamente sobre
isso. Afinal, ela não queria azarar as coisas. Então ela deixou a observação de
lado, fingindo indiferença.

— Algo vai acontecer este mês? Eu não estou ciente disso.

Irma bufou. — Por favor. Você tem este mês destacado na sua agenda
eletrônica por oito anos.

— Eu não sei o que você está falando. E pare de bisbilhotar na minha


agenda.

Irma se levantou para sair. — Tudo bem, tudo bem, eu sei como você é
discutindo sobre essas coisas. — ela se dirigiu para a porta, em seguida, fez uma
pausa e virou-se. — Eu quase me esqueci. A secretária do Sr. Gould
ligou. Perguntou se você está livre para encontrá-lo em seu escritório à uma e
meia.

Payton rapidamente verificou. — Por mim tudo bem. Diga a ela que eu
vou passar pelo escritório dele, então. — ela começou a escrever o compromisso
em sua agenda diária, quando ouviu sua secretária chamar por ela da porta.

— Hum, Payton, só mais uma última coisa?

Payton olhou distraída do seu computador. — Sim?

Irma sorriu tranquilizadora. — Você vai conseguir, você sabe. Você


merece. Então pare de ser tão paranoica.

Apesar de tudo, Payton sorriu. — Obrigada, Irma.

Uma vez que a secretária tinha ido embora, os pensamentos de Payton


hesitaram por um momento. Ela olhou para o calendário em sua mesa.

Quatro semanas apenas. As decisões de parceria da empresa seriam


anunciadas no final do mês. Verdade seja dita, ela estava se sentindo bastante
esperançosa sobre suas chances de conseguir. Ela trabalhou duro para isso,
longas horas, nunca recusou trabalho, e agora ela estava na reta final. A linha de
chegada estava finalmente à vista.

Payton sentiu seu batimento cardíaco começar a correr quando ela cedeu
a um pequenino momento de emoção. Então, não querendo se empolgar ainda,
ela se acalmou e, como sempre, ficou ocupada com o trabalho.

***

Alguns minutos antes das 01h30min, Payton recolheu suas notas e sua
pasta de arquivo de julgamento sumário3 para seu encontro com Ben. Ela não
tinha certeza exatamente do que ele queria com esse encontro, mas ela achou
que tinha algo a ver com o julgamento que estava prestes a começar na próxima
semana. Como chefe do departamento de litigioso da empresa, Ben ficava em
cima de todos os casos que vão a julgamento, mesmo aqueles com os quais ele
não estivesse diretamente envolvido.

Como era típico, Payton sentiu-se um pouco no limite, enquanto se


preparava para o encontro com o chefe dela. Ela nunca soube o que esperar com
Ben. Apesar do fato de que ele nunca tinha dado qualquer indicação de que
estivesse decepcionado com seu trabalho - ao contrário, ele sempre deu a ela as
notas mais altas em suas revisões anuais - ela sentia que, às vezes, havia algum
tipo de tendência estranha em suas interações. Ela não conseguia explicar, só
sentia uma vibração estranha de vez em quando. Ele era quente e frio com
ela; às vezes ele estava bem, outras vezes ele parecia um
pouco... duro. Rígido. No início, ela tinha presumido que era apenas parte da
sua personalidade, mas em outras ocasiões ela o tinha visto brincando
facilmente com outros associados. Curiosamente, todos associados do sexo
masculino. Ela tinha começado a suspeitar que Ben - embora nunca
descaradamente não profissional - tinha mais dificuldade em se dar bem com as
3
É uma técnica alternativa para solução de litígios, como um julgamento simulado para tentar um
acordo antes do julgamento.
mulheres. Certamente não era uma conclusão improvável de ser verdade. Os
escritórios de advocacia poderiam ser, por vezes, à moda antiga e, infelizmente,
os advogados do sexo feminino ainda tinham um pouco de uma “sociedade
machista” para enfrentar.

No entanto, porque Ben era o chefe do seu grupo e, portanto, um jogador


chave na decisão de torná-la uma sócia, Payton resolveu continuar tentando
estabelecer um relacionamento mais agradável entre eles. Afinal de contas, ela
gostava de pensar que ela era uma pessoa relativamente calma. Com uma
exceção (e quem realmente contava ele, afinal?) ela se orgulhava de dar-se bem
com praticamente todo mundo com quem trabalhava.

Payton pegou uma caneta e um bloco de notas, enfiou-os na pasta de


arquivos que ela carregava e dirigiu-se para a porta do seu escritório. A mesa de
Irma estava ao lado da saída da sua sala, e ela virou-se avisar para secretária que
estava saindo. Ao fazer isso, quase bateu em alguém vindo pelo corredor da
outra direção.

— Oh, desculpe! — Payton exclamou, saindo do caminho para evitar uma


colisão. Ela olhou para cima se desculpando e...

...viu J.D.

Sua expressão mudou para uma de aborrecimento. Ela suspirou. Ela


tinha tido um dia tão bonito até agora.

Então Payton percebeu: oops eles tinham audiência. Com um olhar na


direção de Irma, ela rapidamente adotou o mais encantador sorriso falso.

— Bem, Olá, J.D. como tem passado? — ela perguntou.

J.D. também lançou um olhar na direção das secretárias que trabalhavam


nas proximidades. Como tinha bastante prática nesse estratagema, assim como
Payton, ele combinou sua expressão amável com a dela.

— Meu Deus, que bom da sua parte perguntar, Payton. — ele até falou
calorosamente enquanto olhava para ela. — Estou bem, obrigado. E você?
Como sempre, Payton encontrou-se irritada pela forma com quão
malditamente alto J.D. era. Ela odiava estar em uma posição de, literalmente,
ter que olhar para cima para falar com ele. Ela não tinha nenhuma dúvida de
que J.D., por outro lado, gostava muito disso.

— Tudo bem, obrigada. — disse Payton. — Estou indo para o escritório de


Ben. — ela conseguiu manter seu sorriso agradável. Meryl Streep pode ter seus
Óscares, mas ela poderia aprender uma coisa ou duas com Payton. Melhor Atriz
Sobre Fingir Gostar do Idiota Colega de Trabalho.

Os olhos de J.D. estreitaram ligeiramente com a resposta de Payton, mas


ele também manteve a farsa. — Que surpresa agradável, estou indo para o
escritório de Ben também. — ele disse, como se esta fosse a melhor coisa que
tivesse ouvido durante toda a manhã. Em seguida, ele fez um gesto galante para
Payton - depois de você.

Com um aceno de cabeça, ela se virou e seguiu pelo corredor em direção


ao escritório de canto de Ben. J.D. caminhou facilmente ao seu lado; Payton
tinha que dar dois passos para cada um dos dele para acompanhar. Não que
ela fosse deixá-lo ver isso.

Depois de caminharem juntos em silêncio por alguns momentos, J.D.


olhou em volta para as testemunhas. Vendo que eles estavam em segurança,
fora do alcance da voz, ele cruzou os braços sobre o peito dele, com o que Payton
tinha chegado a pensar como uma marca J.D. de ar de superioridade.

— Então, eu vi o seu nome na Chicago Lawyer4. — ele disse.

Payton sorriu, sabendo que ele certamente tinha uma ou duas coisas a
dizer sobre isso. Estava feliz por ele ter visto o artigo da revista que tinha saído
na edição deste mês. Ela havia ficado tentada a enviar-lhe uma cópia em um
malote de correio de ontem, mas pensou que seria melhor se ele descobrisse isso
sozinho.

4
Revista do meio jurídico.
— Quarenta Para Observar Abaixo dos 40. — ela disse, fazendo referência
ao título do artigo e orgulhosa da sua inclusão na distinção dele.

— Quarenta Mulheres para Observar Abaixo dos 40. — J.D. enfatizou. —


Diga-me, Payton há alguma razão para o seu sexo achar necessário ser tão
separatista? Medo de um pouco de competição do sexo oposto, talvez?

Payton tentou não rir quando ela jogou o cabelo para trás sobre seus
ombros. Dificilmente.

— Se o meu gênero hesita em competir com o seu, J.D., é só porque


temos medo de nos rebaixar ao seu nível. — ela respondeu docemente.

Eles chegaram à porta de entrada do escritório de Ben. J.D. encostou-se à


porta casualmente e cruzou os braços sobre o peito. Depois de oito anos, Payton
reconhecia bem este gesto, isso significava que ele estava prestes a começar
mais uma das suas palestras condescendentes. Ela deu-lhe noventa por cento de
chances de que ele iria começar com uma das suas perguntas retóricas
pomposas, que ele não tinha absolutamente nenhuma intenção de deixar que
ela respondesse.

— Deixe-me perguntar-lhe isto... — ele começou.

Bingo.

— Como você acha que seria se a revista publicasse um artigo chamado


“Quarenta Homens para Observar Abaixo dos 40”? — ele tomou a liberdade de
responder por ela. — Você e suas amiguinhas feministas chamariam isso de
discriminação. Mas então não é, por si só, discriminação? Não deveríamos, nós
homens, termos o direito às nossas listas, também?

J.D. segurou a porta aberta para ela e fez um gesto para que ela
entrasse. Ao passar por ele, Payton notou que Ben não estava em seu escritório,
no entanto, ela sentou-se na frente da sua mesa. Como J.D. estava sentado na
cadeira ao lado dela, ela se virou para ele, com frieza imperturbável.
— Acho muito interessante quando um homem, um graduado da
Universidade de Princeton e Harvard Law School5, sentado ao meu lado em um
terno Armani, tem a coragem, de alguma forma, de afirmar que ele é vítima de
discriminação.

J.D. abriu a boca para rebater, mas Payton interrompeu-o com um


dedo. Indicador, não o do meio. Ela era uma senhora depois de tudo.

— Não obstante esse fato. — ela continuou. — Acredito que vocês,


homens, realmente têm as suas chamadas “listas”. Várias nesta empresa, de
fato. Elas são chamadas de Comissão Executiva, Comitê de Gestão, Comitê de
Remuneração, clube de golfe da empresa, a equipe de basquete.

— Você quer estar no time de basquete? — J.D. interrompe, seu olhos


azuis brilhando em diversão.

— É ilustrativo. — disse Payton, sentada em sua cadeira defensivamente.

— O que é ilustrativo?

Payton sentou-se ereta ao som da voz. Ela olhou quando Ben Gould, sócio
chefe do litígio, caminhou com confiança em seu escritório e se sentou em sua
mesa. Ele fixou em Payton com um olhar curioso nos seus olhos escuros e
sondou. Ela se ajeitou na cadeira, tentando não sentir como se estivesse sob
interrogatório.

J.D. respondeu a Ben antes que Payton tivesse uma chance. — Oh, não é
nada. — disse ele com um gesto de desprezo. — Payton e eu estávamos
discutindo a recente decisão da Suprema Corte no Ledder v. Arkansas6, e como
a opinião é ilustrativa de continuar a relutância do Tribunal de enredar-se em
direitos de estado.

5
Faculdade de Direito de Harvard.

6
Decisão da Suprema Corte Americana sobre o caso em referência. Nos EUA quando há um leading case
(caso paradigma), como o citado, o Tribunal adota a decisão para processos que envolvem as mesmas
questões.
Payton olhou para J.D. com o canto do olho.

Idiota espertinho.

Embora reconheça, que não foi muito ruim um pouco de raciocínio


rápido.

O idiota.

Ben riu para eles quando olhou rapidamente para as mensagens que sua
secretária havia deixado em sua mesa. — Vocês dois, vocês nunca param.

Payton lutou contra a vontade de revirar os olhos. Ele realmente não


tinha ideia.

J.D. aproveitou a distração momentânea de Ben para inclinar para frente


em sua cadeira. Ele estendeu a lapela do seu terno para Payton e sussurrou. —
E, à propósito, não é Armani. É Zegna. — ele piscou para ela.

Payton olhou, tentada a dizer-lhe exatamente onde ele poderia enfiar o


terno Zegna.

— Desculpe por ligar para vocês virem aqui tão repentinamente. — disse
Ben. — Mas, como vocês devem estar cientes, a cadeia de farmácias da Gibson’s
Drug Stores acaba de ser atingida com uma ação judicial na classe de
discriminação de gênero.

Payton tinha realmente ouvido falar sobre a ação judicial - a apresentação


de ontem da queixa em um tribunal federal na Flórida aparecera em todos os
jornais nacionais e tinha até mesmo sido discutida na MSNBC e CNN.

— A queixa foi apresentada ontem, atribuída ao juiz Meyers do Distrito


Sul da Flórida. — disse ela, ansiosa para que Ben soubesse que ela estava por
dentro das coisas.

— As reivindicações foram apresentadas ao abrigo do Título VII, 1,8


milhões de trabalhadores do sexo feminino da empresa alegam que foram
discriminadas na contratação, remuneração e promoção. — J.D. acrescentou
com um olhar de soslaio na direção de Payton. Ele também tinha feito sua lição
de casa.

Ben sorriu para a ânsia deles. Ele se inclinou para trás, girando a caneta
casualmente. — É a maior ação de discriminação já apresentada. Isso significa
muito dinheiro para o escritório de advocacia que defender Gibson.

Payton viu o brilho nos olhos de Ben. — E quem seria?

Ben entrelaçou os dedos, batendo-os contra a parte de trás das suas mãos
como um vilão em um filme de James Bond.

— Engraçado você perguntar, Payton... O CEO da Gibson, Jasper Conroy,


ainda não decidiu qual escritório de advocacia vai defender sua companhia. Ele,
no entanto, escolheu três das maiores empresas do país para se encontrar.

J.D. sorriu. — Deixe-me dar um tiro no escuro aqui: a nossa empresa é


uma dessas três.

Ben assentiu, orgulhoso como sempre, por que o seu grupo de advogados
era constantemente classificado entre os melhores do mundo. — Bom
palpite. Recebi o telefonema no início desta manhã do próprio Jasper Conroy.

Ele apontou para J.D. e Payton. — E é aqui onde vocês entram: Jasper foi
muito claro sobre o tipo de equipe de julgamento que ele está procurando. Ele
quer uma imagem mais fresca para representar o rosto da sua empresa, e não
um bando de homens inexpressivos velhos de terno, como eu. — Ben riu,
plenamente consciente de que nos seus 49 anos de idade, ele era realmente
muito jovem para ser o chefe de litígios em uma empresa tão prestigiada. —
Pessoalmente. — ele continuou. — Eu acho que Jasper está apenas tentando
evitar o pagamento de taxas dos sócios.

Como bons sócios que eram, Payton e J.D. riram da piada.

— De toda forma... — Ben continuou. — Eu disse a Jasper que esta


empresa tem os advogados perfeitos para ele. Dois associados sêniores muito
experientes e espertos. Vocês dois.
Através da sua surpresa, Payton levou um momento para processar o que
Ben estava dizendo. Um grande buraco foi crescendo em seu estômago, porque
esta conversa estava indo em uma direção muito ruim.

Se alguém fizesse um juramento sob interrogatório - melhor ainda, se o


próprio Jack Bauer a submetesse a toda a gama de táticas de interrogatório a
disposição da CTU7 - Payton não poderia ter dito exatamente como sua guerra
com J.D. tinha começado. Francamente, já durava tanto tempo que
simplesmente parecia ser a maneira como as coisas sempre foram.

Sem nunca dizer uma palavra, no entanto, ela e J.D. tinham


implicitamente concordado em manter a antipatia mútua para si. Ambos
querendo mais do que qualquer coisa serem bem sucedidos no trabalho, eles
entendiam que escritórios de advocacia eram como jardim de infância: que não
era bom ter um “precisa melhorar” em “seja legal com os outros”.

Felizmente, tinha sido relativamente fácil manter sua farsa. Mesmo que
eles estivessem no mesmo grupo, tinha sido anos desde que eles tinham
trabalhado juntos em um caso. Havia algumas razões para isso: primeiro, como
regra geral, os casos no grupo de litígio eram dotados de um parceiro, um
associado sênior, e um ou dois sócios juniores. Como membros de uma mesma
classe, havia pouca razão para Payton e J.D. trabalharem com o mesmo assunto.

Em segundo lugar, e talvez mais importante, os dois desenvolveram


especialidades em diferentes áreas do direito. J.D. era um advogado de ação
coletiva. Ele lidava com grandes multi-autores, casos multi-distrito. Payton, por
outro lado, é especializada em direito do trabalho, particularmente só acusações
de discriminação racial e de gênero. Seus casos eram geralmente menores em
termos de danos em jogo, porém com maior perfil em termos de publicidade
que recebiam.

7
Counter Terrorist Unit, ou simplesmente CTU, como é mais comumente conhecida em inglês, ou em
português Unidade Contraterrorismo (UCT), é uma agência federal fictícia, apresentada na série 24
Horas, designada para o combate ao terrorismo.
Até agora - se por acaso ou sorte, havia muito pouca sobreposição nas
áreas de atuação do nicho que ela e J.D. tinham esculpido por eles mesmos.

Aparentemente, até agora, isso é.

Payton permaneceu em silêncio enquanto Ben continuava seu discurso,


tentando abster-se de demonstrar a crescente apreensão que sentia. Ela
sorrateiramente olhou rápido para J.D. e o viu mexer nervosamente em sua
cadeira. Pelo que ela podia dizer, ele parecia tão descontente quanto ela com
esta situação.

— Combinadas, suas habilidades são perfeitas para este caso. — Ben


estava dizendo. — Jasper pareceu muito animado para conhecê-los.

— Esta é uma notícia maravilhosa, Ben. — disse Payton, tentando não


engasgar com as palavras dela.

— Sim... maravilhosa. — J.D. parecia que tinha acabado de engolir um


inseto. — O que é que nós precisamos fazer?

— Jasper e o conselheiro geral da Gibson, e alguns dos seus advogados


internos, virão todos para Chicago na quinta-feira. — disse Ben. — Eu quero que
vocês dois trabalhem juntos e eu quero que vocês os tragam para cá. —
enfatizou, batendo com o dedo na sua mesa. — Você acham que são capazes de
fazer isso?

Payton e J.D. se entreolharam com cuidado, pensando a mesma


coisa. Eles poderiam realmente fazer isso?

Sabendo o que estava em jogo, na compreensão mútua de como o jogo


era jogado, eles se voltaram para Ben.

— Absolutamente. — disseram em uníssono.

Ben sorriu para eles, o futuro da sua empresa. Ele recostou-se na cadeira,
ficando sentimental. Sem dúvida, com o pensamento dos grandes dólares que
eles trariam.
— Ah... oito anos. — ele disse carinhosamente. — Há oito anos eu tenho
visto vocês se transformarem nesta empresa, para os grandes advogados que
são. Estou animado por esta oportunidade de vê-los trabalhando juntos, pois
vocês fazem uma grande equipe. E é a hora perfeita, também, porque em breve
vocês ambos ser...

Ele abruptamente parou de falar.

J.D. e Payton se sentaram na beirada dos seus assentos, quase caindo das
suas cadeiras enquanto se penduravam na última palavra de Ben.

Aparentemente percebendo que ele tinha falado demais, Ben acenou isso
com um sorriso tímido. — Bem, uma coisa de cada vez. Agora, vocês têm uma
apresentação para preparar.

Vendo que Ben finalizou a discussão de negócios, Payton se levantou para


sair. Mas em vez de segui-la, J.D. permaneceu sentado. Payton fez uma pausa,
sem jeito.

— Há algo mais que precisamos conversar, Ben? — ela perguntou.

Ben balançou a cabeça. — Não, isso é tudo, Payton. Tenho mais uma
coisa que eu quero discutir com J.D., algo que não lhe diz respeito. — ele deu um
breve aceno de cabeça em adeus. Lá estava ele, foi amigável o suficiente apenas
momentos atrás, mas agora ele voltou a ser todo negócios.

Com um aceno, Payton saiu do escritório de Ben. Quando ela se virou


para o corredor, ouviu-o falando com J.D.

— Então, Jameson. — ouviu Bem dizer jovialmente. — O boato é que você


estava jogando em Butler neste fim de semana. O que você vai fazer por esses
dias, afinal?

Enquanto Payton caminhava de volta para seu escritório, ela tentou não
deixar que isso a incomodasse, o fato de que J.D. sempre teve mais facilidade
para conectar-se com seu chefe em um nível pessoal. Até o momento, as
tentativas dela de estabelecer uma relação semelhante com Ben tinham sido
muito mal sucedidas. Filmes? Ele não os assistia. Televisão? Certa vez ele
perguntou a ela se era em Seinfeld8 “que tinha um gordinho sempre por perto
das máquinas de venda automática.” Quando Payton tinha rido, achando que
ele estava brincando, ela recebeu um olhar vazio e tinha imediatamente se
calado. A partir desse ponto, ela prometeu que até que pudesse poetizar sobre
algum negócio em que ela era um rosto em uma jogada inteligente para a equipe
que precisava muito, provavelmente era melhor manter o bate-papo não
jurídico com Ben o mínimo possível.

Equipe Jameson marca outro ponto, Payton pensou quando entrou em


seu escritório. Ele tinha uma vantagem automática sobre ela: ela poderia até
imaginá-los agora, todo amiguinhos no escritório de Ben, rindo suas fartas
risadas de homem enquanto discutiam sobre a melhor garagem para ter um
Porsche / Mercedes / Rolls-Royce / Outro Carro Extravagante.

Não que houvesse uma competição entre eles. De modo nenhum.

Que J.D. tinha, como Payton, aparentemente dedicado os últimos oito


anos da sua vida à empresa (talvez a única coisa que tinham em comum), era
totalmente irrelevante em sua mente para a questão de saber se ela
pessoalmente merecia tornar-se sócia. Embora possa ter sido algo que ela tinha
se preocupado quando começou, a sua preocupação em ser comparada a J.D.
havia diminuído como o passar dos anos.

— Não há cotas ou valores máximos. — Ben tinha repetidamente


assegurado em suas revisões anuais. “Cada associado é julgado por seu próprio
mérito.” E pelo que Payton tinha observado nas turmas antes dela, essa
afirmação parecia ser verdadeira: a cada ano os associados que foram
classificados no topo da sua turma se tornaram sócios, independentemente do
número total de associados sendo considerados naquele ano.

Então, de onde Payton estava, suas chances de conseguir eram muito


boas, especialmente desde que ela e J.D. foram os dois únicos advogados que
sobraram em sua turma. Segundo sua amiga Laney, que também trabalhou na
empresa, mas era de uma classe abaixo deles, isso não era coincidência: a fofoca

8
Seriado americano.
entre os associados mais jovens era que Payton e J.D. tinham assustado os
outros membros da turma, que não estavam tão interessados em manter o ritmo
e trabalhar as mesmas horas ridículas que eles.

E era por isso que não havia uma competição entre eles.

Francamente, Payton não teria gostado de J.D., não importa de qual


turma ele tivesse sido. Ele apenas tinha esse jeito que realmente a irritava.

Payton chegou em seu escritório e se sentou em sua mesa. Ela olhou para
o computador e viu que tinha recebido trinta e duas novas mensagens de e-mail
durante o breve tempo que tinha ido ao escritório de Ben. Ela se absteve de
suspirar alto, exasperada. Mais quatro semanas, ela se lembrou.

Percorrendo os e-mails, ela se deparou com um do Comitê Executivo da


empresa. Intrigada, Payton abriu-o e ficou agradavelmente surpreendida com o
que leu:

A fim de honrar o seu compromisso com as políticas criadas pelo Comitê


do Retention of Women9, a empresa orgulha-se de anunciar que estabeleceu
uma meta de aumentar o número de sócios do sexo feminino em 10 por cento
no próximo ano.

Payton recostou-se na cadeira, relendo o anúncio e considerando as


razões por trás disso. Francamente, já era tempo da empresa tomar alguma
atitude notória sobre ter o menor percentual de sócios do sexo feminino na
cidade.

Ela pegou o telefone para ligar para Laney, que sabia que teria uma
reação semelhante à notícia. No meio da discagem, ela olhou através do
corredor e viu J.D. retornar da sua reunião masculina dos poderosos detentores
de pênis com Ben. Payton desligou o telefone enquanto observava J.D. entrar
em seu escritório, ela tinha que ver isso.

9
Comitê que busca a equiparação de mulheres e homens no exercício da advocacia.
J.D. se sentou em sua mesa. Assim como Payton, ele imediatamente
olhou para o seu e-mail. Houve um momento de demora enquanto Payton
esperava em deliciosa antecipação... então...

Os olhos de J.D. se arregalaram enquanto ele lia o que Payton só poderia


presumir que era o e-mail do Comitê Executivo. Ele apertou o coração como se
fosse ter um ataque, então pegou o telefone em sua mesa da sua base e discou
para alguém com rapidez.

Seu amigo Tyler, Payton supôs. Se ela fosse uma mulher apostando, ela
apostaria que J.D. estava apenas um pouco menos animado com o e-mail
garantindo a conservação das mulheres do que ela.

Um ponto para o Time Kendall, Payton pensou.

Não que fosse uma competição entre eles.

De modo nenhum.
Capítulo Três

— I sso é

besteira!

J.D. sentiu certa satisfação quando acertou a bola de squash com a sua
raquete. Ele esteve de mau humor durante todo o dia, desde quando tinha visto
o ridículo e-mail do Comitê Executivo.

— Um aumento de dez por cento em sócias do sexo feminino. — ele se


enfureceu e sua respiração ficou entrecortada pelo esforço. Ele estava
definitivamente fora do seu jogo naquela noite. Tyler mal tinha suado, enquanto
J.D., que era normalmente o melhor jogador dos dois (assim como ele mesmo
modestamente disse), tinha percorrido toda a quadra apenas para manter-se.

Tyler saudou J.D.. — Elas ainda só têm vinte e oito por cento. — ele disse,
bem-humorado.

— Quem é você, Gloria Steinem10? — J.D. olhou para seu amigo por até
mesmo sugerir que havia qualquer defesa possível para a mudança política que
a empresa tinha anunciado hoje. — É a decisão deles, Tyler. — ele continuou. —
Não há teto de vidro mais - essas mulheres optam por deixar a força de trabalho
delas à disposição.

— Ahh... a voz da igualdade toca mais uma vez. — Tyler riu.

— Ei, eu sou a favor da igualdade. — disse J.D. enquanto batia a bola com
a raquete. Francamente, a falta de preocupação do amigo com o e-mail do

10
Uma jornalista americana feminista.
Comitê Executivo o deixou perplexo. Afinal, Tyler também trabalhava na
empresa, e por enquanto ele ainda não era sócio, porém o seu dia logo chegaria.

— E qualquer outra pessoa que supostamente defende a igualdade


deveria estar contra esta política também. — continuou J.D.. — É discriminação
reversa.

Tyler deu de ombros. — É apenas um compromisso de aumentar dez por


cento. Que diferença isso faz?

J.D. não conseguia ouvir mais nada. Com uma mão, ele pegou a bola,
levando o jogo a uma parada abrupta. Ele apontou sua raquete para Tyler. — Eu
vou te dizer qual é o meu problema.

Tyler colocou a sua própria raquete para baixo e encostou-se à parede. —


Eu sinto que devo ficar confortável aqui.

J.D. ignorou o sarcasmo. — A campo de jogo não está nivelado - esse é o


problema. Agora, talvez você esteja mais confortável em aceitar isso, mas eu não
estou. Você sabe tão bem quanto eu que nos dias de hoje, se um homem e uma
mulher são igualmente qualificados para uma posição, a mulher recebe o
trabalho. É esta a sociedade liberal, politicamente correta em que vivemos.
Homens têm que ser duas vezes melhores no que fazem para se manterem
competitivos no mercado de trabalho. As mulheres só têm que permanecer na
corrida.

Tyler olhou para ele com ceticismo. — Você realmente acredita nisso?

— Absolutamente. — disse J.D.. — Pelo menos no meio jurídico. É um


jogo de números. Porque, em termos percentuais, poucas mulheres estariam
nesses grandes escritórios de advocacia - por seleção. — enfatizou rapidamente.
— Quando uma mulher que é decente vira sócia, ela é uma vencedora. Mas caras
como você e eu conseguimos isso tão fácil?

Tyler abriu a boca.

— Você está certo, nós não conseguimos. — J.D. terminou por ele. —
Ninguém do Departamento de Recursos Humanos está dizendo à Comissão
Executiva que necessitam aumentar a porcentagem de homens brancos
sócios. Então nós. — ele apontou. — Temos que cuidar de nós mesmos,
certificando-nos de que não tenham qualquer desculpa para não nos promover.

Tyler ergueu as mãos. — Tudo bem - só tenha calma. Eu sei que você está
estressado esses dias...

— ...estou apenas dizendo que todos devem ser julgados somente pelo
mérito. Nenhum fator 'plus' para o sexo, raça, origem nacional, ou...

— ...que com a decisão da sociedade chegando e tudo, eu sei que você está
nervoso...

— ...só que cada pessoa receba uma chance justa... — J.D. parou. Ele
acabou de ouvir as últimas palavras de Tyler. — Espera, você acha que eu
estou nervoso sobre virar sócio?

Tyler olhou para ele. — Você está dizendo que não está nervoso?

— Você está dizendo que eu tenho uma razão para ficar nervoso?

J.D. olhou ao redor e baixou a voz para sussurrar. — Por que, o que você
já ouviu falar? Sabe de alguma coisa? Espere, não se preocupe e me diga. Não,
realmente, o que?

Tyler riu. — Acalme-se, amigo. Eu não ouvi nada. O Comitê Executivo


não comunica exatamente aos humildes do sexto ano as suas decisões sobre a
sociedade.

J.D. expirou aliviado. — Certo, com certeza. — retomou sua fachada de


indiferença, e jogou a bola para Tyler. — Você saca.

Os dois jogaram em silêncio por alguns momentos, o único som era o da


bola quicando repetidamente, quando eles batiam com as raquetes.

Finalmente, J.D. quebrou o silêncio. — Para que conste, eu não acredito


que eu esteja 'estressado'. Mas se, por acaso, eu estivesse um pouco ansioso,
seria natural. Afinal, já são oito anos. É o meu trabalho, sabe. É...
— ...a única coisa que você já fez sem a ajuda do seu pai e você não quer
estragar tudo. — Tyler cortou. — Eu entendo isso.

J.D. parou em seu caminho. A bola passou perto do Squash, bateu na


parede de trás, e saltou ao redor da quadra até que finalmente rolou até
parar. Ele enfrentou Tyler em silêncio sepulcral.

Tyler sorriu inocentemente. — Oops, essa era uma das coisas que não
devemos dizer em voz alta?

J.D. ainda não disse nada. Pois o seu melhor amigo, Tyler entendia que o
tema do seu pai estava claramente fora dos limites.

— Mas eu pensei que nós estávamos nos unindo. — continuou Tyler. —


Você sabe, de um homem branco oprimido para o outro.

J.D. lhe deu uma olhada. — Muito bonitinho. Ria agora, mas vamos ver
quem vai rir em dois anos, quando você vier procurar um sócio e eles lançarem
o seu traseiro para a rua com nada mais do que um “obrigado pelo seu tempo.”
— J.D. apontou para a quadra. — Agora, se nós terminamos com suas pequenas
percepções pessoais sobre a minha psique, você se importaria de começarmos a
jogar algum Squash por aqui?

Tyler inclinou-se agradavelmente. — De modo nenhum.

Os dois mais uma vez retomaram o jogo. Silenciosamente. Focados. J.D.


estava ficando para trás do seu ritmo quando Tyler trouxe outro tema para a
conversa que J.D. tinha ainda menos interesse em ser discutido.

— Então, eu vi você andar pelo escritório esta tarde com Payton. — disse
Tyler. — Vocês dois pareciam íntimos, como sempre.

J.D. sacou a bola e por pouco não errou. Xingando baixinho, ele se
levantou do chão e caminhou para fora. Ele sabia que Tyler estava provocando-o
mais uma vez e não queria dar a ele a satisfação de ser bem sucedido uma
segunda vez.
— Payton e eu tínhamos uma reunião no escritório do Ben. — ele
respondeu ao assunto com naturalidade. E jogou a bola para Tyler.

O jogo deles continuou, assim como a provocação de Tyler. —


Então... Você a felicitou pelo o artigo da Chicago Lawyer?

J.D. sorriu, lembrando-se da sua conversa com Payton mais cedo naquele
dia. — Sim, na verdade, eu fiz isso. À minha maneira, é claro.

— Você sabe, talvez você devesse continuar com o papo de ‘todas as


mulheres só têm que permanecer na corrida’. — Tyler brincou. — Eu tenho
certeza que ela tem alguns pensamentos.

J.D. zombou dessa. — Por favor, como se eu estivesse preocupado com o


que Payton tenha a dizer. O que ela vai fazer? Mostrar-me um pouco do seu
cabelo rebelde? — ele jogou o cabelo longo imaginário dos seus ombros,
exagerando. — Eu vou te dizer, um dia desses, eu vou agarrá-la pelo cabelo e...
— ele fez um gesto como se tivesse estrangulando alguém.

Sem diminuir o passo, Tyler voltou a sacar. Os dois concentraram-se no


jogo, indo para trás e para frente.

— A violência é sempre parte das suas fantasias sexuais? — Tyler


interrompeu.

J.D. movimentou-se com rapidez.

— Sexuais...?

E foi atingido com um tapa na cara pela bola de Squash. Ele tombou para
trás e esparramou-se desajeitadamente através da quadra.

Tyler passou por cima e girou sua raquete. — Isso é bom. Devemos falar
disso com mais frequência.

J.D. estendeu a mão, pegou a bola do chão, e atirou diretamente em


Tyler.
***

J.D. foi para casa mais tarde naquela noite, ainda sofrendo com o golpe
da bola de Squash em sua bochecha. Ele não sabia o que doía mais, o rosto ou o
seu ego. Como um jogador muito competitivo, ele não podia acreditar que tinha
deixado Tyler distraí-lo tão facilmente. Insultando-o sobre Payton, isso
era... complexo. Mas o que ele poderia dizer? Como sempre, aparentemente ela
trazia à tona o pior dele. Mesmo jogando Squash.

No entanto, nesta ocasião em particular, verdade seja dita, ele tinha algo
mais em sua mente além de Payton Kendall. Quando J.D. estacionou seu carro
na garagem subterrânea do edifício Gold Coast, condomínio onde morava, ele se
sentiu cansado. Realmente muito cansado. Como se as dezenove horas diárias
que ele tivesse feito no último ano estivessem de repente o alcançando.

Indo em direção aos elevadores da garagem, J.D. apertou o controle da


sua chave uma segunda vez para checar se ele havia trancado as portas. Ele
sabia que era muito protetor com o seu carro, mas vamos lá, quem não seria?
Como uma vez quando ele tinha brincado com Tyler, dirigir um Bentley, na
verdade, fazia com que um homem desejasse uma viagem mais longa para o
trabalho. Enquanto Tyler tinha rido da piada, seu pai, com certeza não tinha,
quando J.D. tinha dito a mesma coisa para ele. Na verdade, foi esse mesmo
carro, o Bentley Continental GT prata, que havia precipitado A Briga, a
discussão infame entre ele e seu pai há dois anos.

O pai de J.D., o estimado e honroso Preston D. Jameson, mais uma vez,


estava tentando dizer a J.D. como viver sua vida.

— Você tem que vender o carro. — seu pai tinha dito em termos
inequívocos, um dia depois do funeral do avô de J.D..

J.D. tinha apontado que o seu avô, o ilustre empresário Earl Jameson,
tinha especificamente deixado o carro em seu testamento para J.D.. Este
lembrete tinha apenas irritado seu pai mais ainda, que definitivamente não era
um “apaixonado por carros”. E que também era ressentido com o vínculo entre
J.D. e seu avô.

— Mas você não pode dirigir o carro para ir trabalhar, os sócios não
querem ver um associado dirigindo um carro de cento e cinquenta e mil dólares!
— seu pai havia tentado apelar para o que normalmente era a fraqueza de J.D.,
seu desejo em ser bem sucedido na empresa. Mas foi a primeira (e até hoje,
única) vez, que J.D. tinha outras prioridades e o carro significava mais para ele
do que seu pai compreendia.

Ele esboçou um sorriso cansado para o pai. Os dias que cercaram o


funeral do seu avô tinham sido longos e difíceis. — Na verdade, pai, é mais como
um carro de ‘cento e noventa mil dólares’, com as ligas das rodas esportivas
cromadas e verniz interior melhorado. E sim, eu posso dirigi-lo para trabalhar,
com bastante facilidade, de fato, eu desço a Lake Shore Drive sul e a
Washington Street...

Seu pai não achou engraçado.

— Você sabe o que as pessoas vão dizer? — seu pai esbravejou. — Não é
digno de um juiz no banco de apelação federal ter um filho playboy, mimado
correndo por aí em algum carro esportivo!

J.D. tentou esconder a sua raiva e não respondeu ao comentário. Claro,


ele estava solteiro, e ele namorava, mas “playboy” era um pouco
demais. Francamente, ele dedicava muitas horas ao trabalho para ter qualquer
coisa acima de uma vida social moderadamente saudável. Além disso, ele sabia
que o problema verdadeiro era reputação do pai dele, e não a sua. Ele imaginou
que seu pai poderia apenas adicionar isto à lista das maneiras em que ele tinha
sido uma decepção como um filho: não ser o redator da Harvard
Law Review11, não ser casado, e então o pior de tudo, optar por trabalhar em

11
Uma revista criada em 1887 por um grupo de estudantes da Harvard Law School, nos EUA. A
publicação é independente da instituição. Também conhecida como "The Review", é publicada
mensalmente entre novembro e junho e tem cerca de duas mil páginas por volume, segundo
informações do site oficial.
Ripley & Davis, a outra das duas principais empresas da cidade e concorrente
direta do escritório de advocacia que seu pai havia trabalhado e sido parceiro
sênior antes de ser nomeado para o tribunal.

Mas o que incomodou J.D. muito mais do que decepção do seu pai ou
preocupação com a reputação profissional dele (em 32 anos, ele havia crescido
bastante e se acostumou a conviver com essas coisas), foi o fato de que seu pai
teve a audácia de chamá-lo de mimado. Claro, sua família tinha dinheiro, muito
dinheiro, mas isso não deveria diminuir que ele tinha trabalhado pra caramba
para chegar onde estava. Esse foi o motivo pelo qual ele havia optado por não
trabalhar para a antiga empresa do seu pai, ele não queria nenhum tratamento
especial por causa do seu sobrenome.

Normalmente, J.D. teria ignorado a recusa do seu pai em reconhecer suas


realizações, mas, naquele dia, na esteira emocional do funeral do seu avô, ele
simplesmente não conseguiu. Então, ele disse algumas coisas, sua voz cada vez
mais alta, em seguida, seu pai disse outras coisas, e no meio da discussão deles,
J.D. declarou que não queria um centavo da sua herança. Daquele dia em
diante, ele prometeu, sobreviveria por conta própria.

E a partir daquele dia, ele tinha feito isso.

Ok, na verdade, não era exatamente uma tarefa financeiramente


impossível. Nessa época como um associado do sexto ano na empresa, J.D.
estava ganhando pelo menos US $ 300.000 por ano, incluindo o seu bônus. Mas
isso ainda era muitíssimo menos do que qualquer Chicago Jameson da história
recente tinha vivido. E por isso, ele estava orgulhoso.

E ele também era orgulhoso do Bentley. Não por apenas ser uma ligação
sentimental entre ele e seu avô, mas porque se tornou o símbolo da sua
Declaração de Independência ao não seguir os passos do seu pai. E além disso...

Era muito legal dirigi-lo.

Na subida do elevador até o seu apartamento, que ficava no


quadragésimo quarto andar, (“— Não é a cobertura?” — sua mãe perguntou
assustada quando tinha feito a sua primeira visita.), J.D. refletia sobre os
comentários que Tyler tinha feito durante o jogo de squash. Não que ele alguma
vez admitiria, mas ele estava mais ansioso a cada dia, esperando a empresa fazer
os anúncios da sociedade.

Embora certamente, J.D. pensava, enquanto caminhava pelo corredor até


seu apartamento e abria a porta da frente, seu encontro com Ben naquela tarde
tinha sufocado praticamente quaisquer dúvidas que tinham aparecido em sua
cabeça nas últimas semanas. Ele capturou o que Ben quase deixou escapar
durante o encontro, sobre J.D. e Payton logo se tornarem sócios. J.D. tinha
notado que Payton não tinha perdido o lapso de Ben, ele viu o brilho nos
escuros olhos azuis dela.

Provavelmente o mesmo brilho quando ela leu o e-mail do Comitê


Executivo, J.D. deduziu. Ele jogou sua pasta e sua mochila de ginástica no sofá
da sala, que dava para o melhor ângulo do apartamento: as janelas do chão ao
teto com vista para a famosa Magnificent Mile12 da Avenida Michigan, e, além
disso, a vasta extensão azul do Lago Michigan. (— Pelo menos há uma vista! —
sua mãe fungou relutante.)

Sim, de fato, J.D. não tinha dúvida de que o e-mail do Comitê Executivo
havia sido o destaque absoluto do dia de Payton. Ela era inteligente, nunca
jogou diretamente a carta de gênero com os sócios da empresa, mas ela também
nunca perdeu uma chance de exibir seu status feminino. Como por exemplo, o
artigo “Quarenta Mulheres para Observar Abaixo dos 40”. A única razão pela
qual ele tinha perguntado a ela sobre isso foi para antecipar qualquer prazer que
ela tivesse em esfregar isso na cara dele.

Não que houvesse uma competição entre eles.

12
Chamada também de The Mag Mile, é uma parte prestigiada da Avenida Michigan, que vai do Rio
Chicago, que deságua no Lago Michigan até Rua Oak, no lado Norte.
Payton Kendall, Esquire13, poderia ser nomeada em dez artigos de
revistas, ela poderia ter toda a empresa envolvida em torno do seu pequeno
feminismo liberal, mas ele não se preocupava nem um pouco. J.D. sabia que ele
era um bom advogado, muito bom, e uma vez que ele fosse sócio (mesmo
que ela conseguisse isso, também), e estivesse no controle completo da sua
própria carga de trabalho, ele planejava ter certeza de que ele e Payton nunca
trabalhassem juntos novamente.

Agora, se ele pudesse passar por esse negócio com Gibson Drug Stores...

J.D. tomou um banho rapidamente. Já era tarde, e ele precisava começar


muito cedo amanhã pela manhã. Payton tinha quase o vencido no escritório
outro dia, e ele precisava colocar uma solução rápida sobre isso.

Não que houvesse uma competição entre eles.

De modo nenhum.

13
A revista Esquire é uma revista estadunidense direcionada ao público masculino, editada pela Hearst
Corporation. Foi fundada em 1933 e prosperou durante a Grande Depressão, sob a direção do fundador
e editor Arnold Gingrich.
Capítulo Quatro

P ayton reviu o

calendário de eventos para os executivos da Gibson uma segunda vez.

Dizer que ela estava descontente seria um eufemismo.

Ela esteve cheia esta semana, a preparação, tanto da apresentação da


Gibson quanto de um julgamento de assédio sexual que estava marcado para
iniciar na quarta-feira seguinte. E J.D. a pegou em um momento
particularmente ruim quando passou por seu escritório ontem para discutir a
pauta para ganhar e jantar com Jasper Conroy e sua própria equipe de
litígio. Ela esteve discutindo toda a manhã com o conselho oponente sobre
acréscimos de última hora na lista de evidências. Desligou o telefone, viu J.D.,
em pé na porta, e sentiu que sua manhã estava apenas prestes a piorar. Mas em
vez disso, em um raro momento de utilidade aparente, J.D. se ofereceu para
assumir a liderança para arrumar a pauta da Gibson.

E, em um momento apenas, tão raro quanto de receptividade a qualquer


coisa relacionada a J.D., seu telefone começou a tocar sem parar e ela viu o
número conhecido do conselho oponente no identificador de chamadas e
percebeu que ela estava prestes a começar o Round 137 com ele, ela aceitou a
oferta de J.D..

Grande erro.

Agarrando a sua agenda na mão, Payton olhou para sua secretária com
uma mistura de frustração e ansiedade.

— Esta é realmente a programação? — ela perguntou.


Irma acenou afirmativamente. — A secretária de J.D. acaba de deixar.

— Ok. Obrigado, Irma.

Payton fingiu continuar digitando em seu computador quando Irma


deixou seu escritório. Observou quando sua secretária voltou para sua mesa,
esperou um momento ou mais, então casualmente se levantou e caminhou pelo
corredor até o escritório de J.D..

J.D. olhou para cima de sua mesa quando ouviu a batida na porta.

— Tem um segundo? — perguntou Payton agradavelmente. Nunca se


sabia quem estava assistindo.

— Para você, Payton. Qualquer hora. Como posso ajudar? — perguntou.

Payton entrou em seu escritório e fechou a porta atrás dela. Ambos


instantaneamente deixaram cair a fachada.

Ela estendeu a agenda acusadoramente. — Você me disse que


jantaríamos com os executivos da Gibson amanhã à noite.

J.D. recuou em sua cadeira, apontando para a agenda. — E como você


pode ver, nós vamos.

— Mas você também vai jogar golfe com eles amanhã à tarde. Por que eu
não fui convidada?

— Você joga golfe?

— Não, mas você não sabia disso.

J.D. sorriu. — Na verdade, eu sabia. Eu ouvi você mencionar isso para


Bem no verão passado.

Atordoada pela afronta aberta, Payton abriu a boca para responder. Ela
apertou seu punho enquanto procurava alguma resposta, algum insulto,
qualquer coisa, e passou um momento, e depois outro... e...

Nada.
J.D. sorriu vitoriosamente. — Vamos fazer o seguinte, por que não pensa
sobre isso por um tempo? Volte quando estiver pronta, elabore uma boa
resposta para mim. — então ele conduziu Payton para fora do seu escritório e
fechou a porta atrás dela.

Ela ficou ali no corredor. Encarando aquela estúpida placa de


identificação, J.D. JAMESON, a qual, ela estava seriamente tentada a tirar da
parede e jogar diretamente no rosto dele.

Era verdade, ela não sabia nada sobre o golfe; ela nunca tinha sequer ido
a um clube. Sua fuga era proposital. Ela tinha opiniões distintas a respeito do
esporte e, mais importante, de quem jogava isso.

Payton considerou suas opções. Por um lado, ela odiava a ideia de J.D.
levar a melhor sobre ela. E ela realmente odiava a ideia de ser uma novata sem
noção no golfe jogando na frente de Jasper e equipe da Gibson.

Por outro lado, o pensamento de ser deixada de fora durante toda a tarde
não era atraente. Com a decisão da parceria iminente, precisava garantir que ela
fosse uma parte integrante do esforço para conseguir Gibson como um cliente. E
ela simplesmente não achava que tinha estômago para fazer o papel da pequena
mulher sentada no escritório, enquanto os homens conversavam no escritório
no vigésimo quinto andar ou o que quer que seja.

Assim, tanto quanto Payton podia ver, ela não tinha escolha.

Apesar do fato de que ela já estava se preocupando sobre como ela faria
uma rápida aula de golfe para-ao-menos-não-jogar-como-uma-total-burra,
naquela noite, ela caminhou confiante para o escritório de J.D..

Ele olhou para cima da sua mesa quando a porta se abriu, surpreso com
sua entrada repentina. — Isso foi rápido. — ele recostou-se na cadeira e acenou
com a mão. — Ok, vamos ouvi-la, Kendall. Dê-me seu melhor tiro.

Payton viu o grampeador perto da beirada da mesa e teve que lutar


contra o desejo de aceitar a sua oferta.
— Eu vou fazer isso. — declarou ela. — Conte comigo para o jogo de
amanhã.

J.D. apareceu surpreso.

Payton assentiu em resposta ao seu silêncio. — Bom. Está resolvido,


então. — ela se virou para sair, sua mente já executando uma centena de
direções diferentes. Ela precisava encontrar um conjunto de tacos; talvez Laney
tivesse algum que pudesse emprestar. E, claro, havia a questão do traje, devia
usar shorts? Uma camisa polo? Um chapeuzinho desenvolto, talvez? Era
necessário sapatos especiais? Os detalhes em torno deste evento estavam...

— Você não pode ir.

As palavras de J.D. pararam Payton quando ela chegou à porta. Ela virou-
se para encará-lo. — Você não pode estar falando sério. Você
está tão desesperado para conseguir algum tempo a sós com os representantes
da Gibson?

— Não, não é isso. — disse J.D. rapidamente. Ele hesitou, e por um breve
segundo, Payton podia jurar que ele parecia desconfortável.

Ela colocou a mão na cintura, esperando que ele terminasse. — Então o


que é exatamente, J.D.?

— Vamos jogar golfe em Butler. — disse ele.

Butler? Oh... é claro, Butler, Payton pensou sarcasticamente. Isso não


significava nada para ela.

— E? — ela perguntou.

— Butler National Golf Club? — disse J.D., aparentemente acreditando


que isso deveria sinalizar algo para ela.

Payton balançou a cabeça. Nenhuma ideia.


J.D. se moveu sem jeito. — Minha família é membro de lá. Bem sugeriu
porque é um campo do ranking nacional. Mas, por causa disso, é um
clube privado. — ele enfatizou essa última parte.

Payton não conseguia ver qual era o problema. — Mas se você pode levar
as pessoas da Gibson como convidados, eu não vejo por que não posso ir,
também.

J.D. pigarreou inquieto. Ele mudou de posição na cadeira, em seguida,


encontrou o olhar dela.

— Eles não permitem mulheres.

As palavras ficaram estranhas no ar, desenhando uma linha entre eles.

— Oh. Entendo. — o tom de Payton foi rápido, conciso. — Bem, então


vocês meninos se divirtam amanhã.

Não querendo ver o que ela supôs que seria um olhar presunçoso no rosto
de J.D., ela se virou e saiu do escritório dele.

***

— Eu vou soar como um bebê chorão total, se eu disser que não é justo?

Laney acariciou a mão de Payton. — Sim. Mas vá em frente e diga de


qualquer maneira.

Com um gemido frustrado, Payton enterrou a cabeça em seus braços em


cima da mesa de café que tinha acabado de se sentar.

— Eu o odeio. — ela disse, com a voz abafada. Ela olhou para Laney. —
Isso significa que ele vai ficar o dobro do tempo com os representantes da
Gibson.
— Então você vai ter que ser duas vezes melhor quando você encontrá-los
para o jantar. — Laney respondeu. — Esqueça J.D..

— Dane-se ele. — Payton concordou. Ela viu os olhos de Laney


nervosamente percorrendo ao redor do café.

— Quer dizer, é ruim o suficiente que ele jogue cartas com os sócios. —
continuou Payton. Ela abaixou a voz, fazendo uma má representação do sexo
masculino. — Ei, J.D., você deveria vir ao meu clube algum dia. Ouvi dizer que
você fez um two-fifty14.

— Eu acho que isso é boliche.

— Tanto faz. — Payton assinalou para dar ênfase. — O problema é que,


conseguir o negócio faz parte do negócio. É como um ritual com esses caras: —
Ei, que tal essas gatinhas — a má representação da voz masculina voltou —
Vamos jogar golfe, fumar alguns charutos. Aqui está o meu pênis, cadê o seu,
sim, eles parecem ser aproximadamente do mesmo tamanho, ok, vamos fazer
alguns negócios.

Quando a mulher sentada na mesa ao lado lançou um olhar de


desaprovação sobre a espuma do seu cappuccino gigante, Laney se inclinou para
Payton. — Vamos usar nossas vozes internas, por favor, ao usar a palavra com P.
— ela sussurrou em repreensão.

Ignorando isso, Payton tomou outro gole de café com leite e baunilha. —
No mundo dos negócios, o que é o equivalente ao feminino de ir jogar golfe com
um cliente?

Laney parou para pensar. Payton calou-se, também,


contemplando. Depois de alguns momentos, nenhuma delas poderia chegar a
qualquer coisa.

Quão deprimente.

14
Strike, no boliche.
Payton suspirou, fingindo resignação. — Bem, é isso. Eu acho que eu vou
ter que dormir com eles.

Laney cruzou as mãos afetadamente sobre a mesa. — Eu acho que estou


desconfortável com esta conversa.

Payton riu. Era bom rir, ela tinha estado muito mal-humorada desde o
seu encontro com J.D.; ela não conseguia acreditar que ele tinha conseguido
excluí-la do jogo de golfe com os representantes da Gibson, levando-os a um
clube que não permitia a entrada de mulheres. Espera, correção: o que ela
realmente não podia acreditar era que ainda havia, na verdade, um clube que
não deixava as mulheres entrarem. Uma vez que a existência deste clube tinha
sido estabelecida, no entanto, ela não tinha nenhum problema em acreditar que
J.D. era um Grand Poobah15.

Chega de J.D.. Payton resolveu não deixá-lo arruinar um minuto a mais


do seu dia. Além disso, ela viu uma excelente oportunidade para engajar Laney
em um de seus “debates”. As duas não poderiam ser mais opostas no espectro
político/social. Tendo sido criada por uma mãe solteira, ex-hippie, que era tão
socialmente radical como se poderia chegar a ser ao permanecer dentro dos
limites da lei (na maioria das vezes, pelo menos), Payton achava o jeito afinado-
e-afetado de Laney fascinante. E estranhamente refrescante.

— Eu não quis te deixar desconfortável, Laney. Eu acho que ser um


conservador significa que você não acredita em liberdade de expressão. —
Payton brincou.

— Não venha com sua arrogância liberal, é claro que eu acredito na


liberdade de expressão. — disse Laney, brincando com o medalhão de coração
que usava.

— Então eu deveria ser capaz de dizer o que eu quiser, certo? Mesmo a


palavra “pênis”?

15
O termo era usado nos Flinstones para designar as posições de destaque dos clubes masculinos. Fred
e Barney eram membros da Ordem Real dos Búfalos, uma referência à maçonaria.
Laney suspirou. — Nós temos que fazer isso agora?

— Você devia tentar dizer a palavra em algum momento.

— Eu passo, obrigada.

Payton deu de ombros. — Sua escolha, mas eu acredito que você vai achar
que é libertador. Todo mundo poderia usar um bom “pênis” de vez em quando.

Laney olhou nervosamente em torno do café. — As pessoas estão


ouvindo.

— Desculpe, você está certa. Boa regra de ouro: se você vai falar “pênis”
em um lugar público, dever ser em voz baixa. Caso contrário, atrai muita
atenção.

A mulher na mesa ao lado olhou boquiaberta para elas.

Laney se inclinou. — Peço desculpas por minha amiga. Ela fica desta
forma às vezes. — ela abaixou a voz para um sussurro. — Síndrome de
Tourette16. Tão triste.

A mulher acenou com simpatia, então fingiu fazer uma chamada em seu
telefone celular.

Laney se voltou para Payton. — Se você terminou com a lição da Primeira


Emenda17, pensei que talvez pudéssemos voltar ao assunto do J.D., porque eu
tenho uma sugestão de como você pode resolver seu problema.

Payton se inclinou para frente, ansiosa. — Ótimo, vamos ouvir. Estou


aberta a qualquer coisa.

16
A síndrome de Tourette ou doença de Gilles de la Tourette é um transtorno
neuropsiquiátrico hereditário que se manifesta durante a infância, caracterizado por diversos
tiques físicos e pelo menos um tique vocal.

17
A Primeira Emenda (Amendment I) da Constituição dos Estados Unidos é uma parte da Declaração de
direitos do país. Impede, textualmente, ao Congresso americano de infringir seis direitos fundamentais,
no caso do texto, “limitar a liberdade de expressão”.
— Ok. Minha sugestão é... — Laney fez uma pausa dramática... —
Aprender a jogar golfe. — ela deixou isso afundar por um momento. — Então,
você nunca vai ter esse problema de novo.

Payton recostou-se na cadeira de novo, brincando com sua caneca de


café. — Hum, não. — ela rebateu a sugestão com uma onda de desprezo. — Jogar
golfe é apenas, eu não sei... esnobe.

Laney deu-lhe um olhar penetrante. — Você sabe, quando você virar uma
sócia, vai ter que se acostumar a estar perto de pessoas que cresceram com
dinheiro.

— Eu não tenho qualquer problema com isso. — disse Payton


ofensivamente.

— Oh, certo, certo. Você não acha que tem alguma coisa a ver com a razão
de você ser tão dura com J.D.?

— Eu sou dura com J.D. porque ele é um idiota.

— É verdade, é verdade... — Laney ponderou. — Vocês dois parecem


trazer à tona o pior um do outro.

Um do outro? — Eu espero que você não esteja sugerindo que eu de


alguma forma contribuo para o comportamento de J.D.. — disse Payton. —
Porque se for assim, nós realmente precisamos fazer com que essa conversa
caminhe em uma direção saudável.

— É meio estranho, porque J.D. tem muitas qualidades que você


normalmente gosta em um homem. Um cara que talvez não seja tão assim, você
sabe... — Laney gesticulou, sumindo.

— Assim como? — Payton perguntou.

— Rico.

Payton revirou os olhos. — Primeiro de tudo: por favor, como eu disse, eu


não me importo com isso. Em segundo lugar: Quais são as outras supostas
qualidades que J.D. tem?
Laney considerou sua resposta. — Ele é muito inteligente.

Payton franziu a testa e resmungou baixinho. — Eu mudei de ideia, eu


não quero falar sobre isso. — ela pegou o cardápio de sobremesas ao lado dela e
olhou para ele atentamente.

Parecendo não ouvi-la, Laney continuou com sua lista de supostos


atributos de J.D.. — Ele também é um apaixonado pelo Direito, interessado em
política, ainda que no lado oposto do espectro. Que, curiosamente, não parece
incomodá-la em mim.

Payton olhou por cima de seu menu. — Você tem charme.

— Isso é verdade, eu tenho.

— Está desaparecendo rapidamente.

Laney continuou. — E J.D. trabalha duro, assim como você, e ele pode ser
engraçado em um tipo de forma sarcástica isso...

— Objeção! — Payton interrompeu. — Falta de fundamento, quando J.D.


disse algo engraçado?

— Isso não é um tribunal.

Payton cruzou os braços sobre o peito. — Idiotice total! Que tal se eu


apenas concordasse em vez disso?

— Puxa, desculpe, Payton eu não queria te deixar tão desconfortável. —


Laney disse com um sorriso. — Eu não vou dizer mais nada. — ela pegou o
menu. — Vamos ver... agora o que parece ser bom? Aquele bolo de chocolate
sem farinha que dividimos na última vez era divino. — ela olhou para Payton. —
Exceto apenas uma última coisa sobre o assunto de J.D.: ele é totalmente
quente.

Bem na hora, lutando com o sorriso, Laney colocou o seu menu para
bloquear o guardanapo que veio voando em seu rosto.
— Quente? — Payton quase gritou. — Aquele bajulador, idiota,
frequentador-de-escola-preparatória, vestido-com-camisa-pink-Izod18, que teve
seu diploma entregue em uma bandeja de prata? — ela cobriu a boca. — Bem,
olhe para isso, talvez eu realmente tenha um ou dois problemas com dinheiro.

Laney assentiu encorajadora, como se dissesse que elas estavam fazendo


progresso. — Mas você está prestes a ser nomeada sócia. Eu entendo por que
você foi cautelosa no passado, mas você conseguiu. Você não tem que continuar
se esforçando para provar que você se encaixa com esses caras.

Payton foi surpreendida por isso. — Você acha que estou sendo
cautelosa?

— No trabalho, você pode, por vezes... ser um pouco áspera. — disse


Laney com cuidado. — Como essa coisa com J.D., por exemplo.

Payton tentou decidir se ela deveria se sentir ofendida. Mas, por mais que
não queira admitir isso, uma parte dela sabia que o que Laney estava dizendo
não estava completamente longe da verdade.

— Eu suponho que esta “coisa” com J.D. ficou um pouco fora de controle.
— ela admitiu com relutância. — Você está certa, eu deveria ser uma pessoa
melhor nisso. — ela sorriu. — Isso não deve ser muito difícil, em comparação
com J.D.. — ela pegou o olhar de Laney — É exatamente o que a Payton Nervosa
teria dito. Mas a Nova Payton não faz isso.

Laney inclinou a caneca de café com aprovação. — Bom para você. À nova
Payton.

— À Nova Payton.

Payton brindou com Laney, imaginando onde estava se metendo.

18
Marca de roupa feminina e masculina, inicialmente associada à Lacoste.
Capítulo Cinco

Seja a bola.

J.D. focou intensamente. Seus olhos nunca deixavam o tee19.

Seja a bola.

Ele recuou, então swoosh! Seu balanço foi fácil. Com uma mão levantada
para bloquear o brilho do sol, ele viu quando a bola pousou sobre o verde20 a
240 metros de distância, a poucos centímetros do buraco.

J.D. sorriu. Deus, ele amava este esporte.

Ouvindo o assobio e as palmas atrás dele, se virou para seus


companheiros.

— Bela jogada. — Jasper gritou em seu sotaque sulista preguiçoso. — Um


homem que trabalha três mil horas por ano não deveria ter tempo para um
balanço desse jeito. — os três companheiros dele, representantes do
departamento jurídico da Gibson, concordaram com a cabeça.

J.D. se aproximou e tomou a cerveja que Jasper estendeu a ele. — Isso


significa que estamos falando de negócios?

Jasper sorriu. Ele tinha o sorriso corajoso de um homem completamente


à vontade com o cargo de poder que ele ocupava. Ele olhou para sua cerveja, em

19
Se referindo ao golfe, a área inicial perto do buraco.

20
A área final, onde está o buraco.
seguida, observou a bela paisagem arborizada do oitavo buraco. — Vou te
dizer. Espere até o décimo quinto buraco. Então vamos conversar.

Seguindo o exemplo de Jasper, J.D. absorveu o calor do céu azul em um


dia de verão, enquanto admirava a vista para o rio que corria um pouco além do
verde. Ele inclinou a garrafa para Jasper. — Que seja dezessete.

Jasper riu. — Um homem segundo o meu coração. Mas você tem certeza
que quer esperar? Eu ouvi por aí que o buraco nove deixa um homem de
joelhos.

— Talvez um homem menor, Jasper.

Jasper riu muito com isso. — Eu gosto do seu estilo, Jameson.

Sorrindo, J.D. tomou um gole de sua cerveja. Até agora, a sua tarde com a
equipe da Gibson estava indo muito bem. Ele estava confortável aqui, no seu
elemento - o que, sem dúvida, foi uma das razões para Ben tê-lo escolhido para
esta missão. J.D. tinha crescido em torno de homens como Jasper toda a sua
vida e estava familiarizado com a rotina de menino ‘bem-educado’. Ele entendia
a linguagem, o jogo, o papel que deveria desempenhar. Ben queria fazer uma
pequena exibição, é por isso que ele tinha pedido especificamente a J.D. para
trazer a equipe da Gibson para este campo. Ele estava tentando impressioná-los,
mas não queria que parecesse assim. O fato de J.D. simplesmente ter uma
participação em um dos clubes mais exclusivos do país foi a maneira perfeita
para realizar essa tarefa.

A única mancha na tarde era a sensação incômoda de que ele tinha


sempre que a visão de Payton sentada no seu escritório surgia na sua cabeça. Ele
continuava tentando arrastar esses sentimentos para o lado. Por que ele deveria
se sentir culpado por ela ter sido deixada de fora? Afinal de contas, ele estava
apenas fazendo seu trabalho, o que Ben lhe pediu para fazer. E, se o sapato
estivesse no outro pé, ele tinha certeza que Payton não teria tido nenhum
problema em deixá-lo para trás.

Havia outra imagem que J.D. tinha dificuldade de esquecer: o olhar que
Payton tinha lhe dado quando ele disse que o clube não permitia mulheres. Por
um breve momento, ele viu algo em seus olhos que não tinha visto antes. Uma
ligeira rachadura, um vacilar em sua armadura habitual de confiança. Por
alguma razão, incomodou ver isso.

Percebendo que um dos advogados da Gibson estava fazendo uma


pergunta sobre o campo, J.D. empurrou todos os pensamentos de Payton da sua
mente. Ele não podia se distrair no momento. Precisava estar ligado, para ser
charmoso e profissional. E, não menos importante, ele precisava se preparar
mentalmente para o nono buraco próximo - um implacável de quatro tacadas
que era um dos buracos mais estreitos que ele já tinha jogado.

Além disso, como ele sabia muito bem, Payton Kendall podia cuidar de si
mesma.

***

Payton sentou-se no bar, esperando. Ela concordou em encontrar-se com


J.D. e a equipe da Gibson no restaurante Japonês às sete e meia. Ela estava
familiarizada com o restaurante, como estavam praticamente todas as outras
mulheres solteiras em Chicago com vinte e cinco anos. Elegante e caro, com
uma decoração moderna, ambiente iluminado, era um dos locais mais populares
da cidade para um primeiro encontro.

Não que ela tivesse muitos primeiros encontros ultimamente. Levava


tempo para conhecer pessoas. Levava tempo para encontrá-los, para conhecê-
los, para descobrir se você gostava deles e se eles gostavam de você. E tempo era
algo que ela não tinha muito esses dias. Então, a menos que o mítico cara
perfeito caísse do céu e pousasse em sua porta, namoro foi algo que ela precisou
colocar em espera até se tornar sócia.

Payton rodou sua taça de vinho enquanto se sentava no bar, pensando de


volta no último primeiro encontro que ela teve com um banqueiro de
investimento que conheceu em uma degustação de vinho local. Tinha sido neste
mesmo restaurante, na verdade. O encontro dela tinha consumido oito dos dez
saquês Mukune21 do restaurante. Lá pelas 10h:15 ele tinha caído da sua cadeira
ao levantar-se para ir ao banheiro e por volta de 10h:15 e 15 segundos, quando
Payton correu para ajudá-lo, ele confessou sussurrando que estava tendo “um
grande problema22” para largar a sua medicação maníaco-depressiva.

Legal.

— E estes são os caras que estão lá fora. — ela grunhiu mais tarde para
Laney. Sua amiga não tinha tais problemas, tendo, naturalmente, se casado com
seu querido namorado mauricinho da faculdade.

Como resultado desse último primeiro encontro desastroso, Payton


prometeu interromper, temporariamente, todos os mergulhos na piscina do
namoro. Pelo menos até que sua vida profissional estivesse em ordem, e é
isso. Foi meio engraçado, e talvez um pouco patético: ela tinha percebido mais
cedo naquela noite, enquanto estava se vestindo, de que era a primeira vez em
semanas que ela tinha usado algo que não fosse um terno fora do seu
apartamento. Não querendo parecer demasiado formal ou como se ela estivesse
tentando impressionar os representantes da Gibson, ela abandonou seu
terninho padrão e em vez disso, estava com uma camisa de botão, saia lápis, e
saltos finos.

Tendo agora acabado sua bebida, Payton olhou para o relógio e viu que
seus companheiros de jantar estavam 20 minutos atrasados. Verdade seja dita,
ela estava um pouco preocupada com este jantar com os representantes da
Gibson. Ela tinha feito muitas reuniões antes, e ela tinha certeza de que J.D.
também, mas porque suas práticas raramente se sobrepunham, ela e J.D. nunca
tinham feito uma em conjunto. Sozinhos. Estas reuniões exigiam certa fineza e
coesão entre os advogados que fazem a apresentação - eles precisavam
apresentar uma fachada unida.

Unida.
21
Marca de saquê.

22
No original: a bidge of trupple, enfatizando o quanto estava bêbado, quando queria dizer um grande
problema (a big trouble).
Coesa.

Estas não eram exatamente as qualidades que ela e J.D. possuíam


juntos. Assim, o pequeno nervosismo de apreensão que sentia ficava pior a cada
momento em que ela estava sentada sozinha no bar.

Quando passaram-se mais cinco minutos, Payton enfiou a mão na bolsa,


procurando seu telefone celular. Ela achou que deveria verificar seu correio de
voz, só para ter certeza que J.D. não tinha deixado uma mensagem. Ela estava
no meio da discagem, quando olhou para cima...

...e viu J.D. em pé na frente dela.

Por um segundo, Payton ficou impressionada com o fato de que algo


sobre ele parecia diferente. Ela percebeu que, assim como ela, ele tinha se
vestido mais informal para a noite. Em vez do seu costumeiro terno e gravata,
ele usava uma camisa de risca de giz preta de gola aberta e calça cinza escura
perfeitamente ajustada.

Foi estranho, por qualquer que seja motivo, o que lhe veio à cabeça
naquele momento foram as palavras de Laney do outro dia sobre como J.D. era
bonito. Payton tinha visto J.D. praticamente cinco dias por semana, durante os
últimos oito anos, mas naquele hora, ela se viu olhando-o mais de perto. Ela
tentou vê-lo como se fosse uma estranha. Alguém que nunca tinha realmente
falado com ele ou qualquer coisa.

Ele era alto (como mencionado anteriormente, o melhor para olhar as


pessoas por baixo), tinha o cabelo castanho claro com mechas douradas
(provavelmente de luzes), seu corpo era magro (sem dúvida, de todo o tênis ou
qualquer outra coisa que ele jogasse no seu eu-sou-tão-legal machista country
club), e ele tinha olhos azuis que, hum...

... Bem, tudo bem. Não havia realmente qualquer coisa negativa que
Payton poderia dizer sobre os olhos do J.D.. Falando em um sentido puramente
objetivo, ela meio que gostava deles. Eles eram um azul brilhante. Uma
vergonha serem desperdiçados nele.
Tendo terminado a sua avaliação, Payton supôs que, se pressionado,
dentro daquela crosta externa, de Ralph Lauren-masculino, suéter-jogado-
sobre-os-ombros, de um jeito, você-sentiu-meu-polo-pony23, J.D. era muito
lindo.

Interpretando mal o olhar dela, J.D. inclinou a cabeça e apontou para seu
telefone. — Oh, me desculpe, Payton, eu não quis interrompê-la no meio do seu
negócio importante. — ele disse com aquele tom de zombaria.

Decidindo que era melhor voltar para os negócios como de costume,


ignorando J.D., Payton voltou sua atenção para o grupo de homens que tinha
chegado. Ela reconheceu imediatamente Jasper das fotos dele que tinha
encontrado na internet enquanto pesquisava sua empresa e o processo.

Ela estendeu a mão se apresentando. — Payton Kendall. É muito bom


conhecer você, Jasper. — ela disse calorosamente. Com um aperto de mão firme,
ela cumprimentou os outros membros da equipe da Gibson - Robert, Trevor, e
Charles - certificando-se de olhar cada homem diretamente nos olhos.

— Eu espero que você não tenha esperado muito tempo, Srta. Kendall. —
disse Jasper. — Foi culpa de Charlie aqui, quantos golpes você tomou naquele
último buraco? — ele virou-se para Charles, que era claramente o membro mais
jovem da equipe de julgamento. — Quatorze? Quinze?

— Eu não sou muito um jogador de golfe. — Charles admitiu à


Payton. Ela gostou dele instantaneamente.

— Eu também sou meio que uma principiante. — ela sorriu. Então ela se
virou para Jasper. — E, por favor, me chame de Payton.

— Como um dos meus favoritos quarterbacks. — Jasper sorriu.

— Apenas com um a, em vez de um e. E um pouco menos jardas de


passagem. — disse Payton. Porra, agora ela já tinha explodido uma das três
míseras referências esportivas que ela conhecia nos primeiros dois minutos.

23
Polo pony, perfume masculino, Ralph Lauren.
Jasper riu. — Ligeiramente menos jardas de passagem - eu gosto disso. —
ele se virou para J.D., apontando para Payton. — Onde você estava escondendo
essa garota, J.D.?

Felizmente, J.D. foi salvo de engasgar em quaisquer palavras educadas


que esperavam que ele retribuísse, pela anfitriã, que apareceu e pediu para
acompanhar o grupo para a mesa deles.

Uma vez sentado, o grupo tagarelava através das preliminares do jantar


de negócios padrão: Jasper e os outros já tinham vindo à Chicago antes? Onde
eles estavam hospedados? Payton e J.D. eram de Chicago? Eles atingiram
apenas o menor solavanco na estrada quando Trevor, conselheiro geral da
Gibson, perguntou à Payton se ela morava no mesmo bairro que J.D. e ela
percebeu que apesar de ter trabalhado com ele durante os últimos oito anos, ela
não tinha absolutamente nenhuma ideia de onde ele morava. Na verdade, ela
praticamente não sabia nada sobre a vida fora do trabalho do J.D.. Supondo que
ele tinha uma, de qualquer jeito.

Payton disfarçou a pergunta, contando para Trevor, em vez disso, de


como Chicago era uma cidade relativamente pequena, o quão perto tudo era,
etc, etc. Ela viu J.D. olhando para ela com o canto dos olhos, enquanto falava
com Robert, chefe do departamento de litígio da Gibson. Presumivelmente, ele
ouviu-a dizer o seu nome para Trevor e estava se certificando se não tinha sido
dito em vão.

Felizmente, nenhuma outra pergunta surgiu durante o jantar, que


requereria algo pessoal relacionado com J.D.. Quando as entradas chegaram,
Payton começou a falar sobre a empresa e os pontos fortes do seu grupo de
litígios. J.D. juntou-se, destacando algumas das vitórias judiciais recentes do
grupo, quando Jasper o interrompeu com um gesto impaciente com o seu copo
de uísque.

— Eu sei tudo sobre as realizações da sua empresa, Jameson. É por isso


que Ripley & Davis é uma das três empresas que estamos considerando. Os
sucessos da sua firma são o que me trouxeram aqui a esta mesa esta noite. Mas
meu entendimento é que vocês dois. — ele apontou para J.D. e Payton. — Serão
os líderes desta equipe de julgamento, se a sua empresa for escolhida para
cuidar do caso. Então, eu quero saber mais sobre vocês.

— Claro, Jasper. Eu ficaria feliz em falar sobre meu...

Jasper o cortou. — Não de você, Jameson. Tenho certeza que você e


Payton, ambos prepararam pequenos discursos bonitos que podem balbuciar
sobre si mesmos. Mas não é assim que eu gosto de fazer as coisas. — ele se virou
para Payton, comandando. — Senhorita Kendall, por que você não me diz o que
há de tão especial sobre o J.D.?

Payton quase engasgou com o vinho que estava tomando. Claramente, ela
precisava de um momento antes de responder.

— Bem, Jasper... — ela limpou a garganta. Aham. Aham. — Uau - há


tantas coisas que eu poderia dizer sobre J.D. Bem... por onde devo começar?

Ela estava protelando. E, enquanto fazia isso, Payton podia ver através da
mesa, onde J.D. estava sentado. Quando ela hesitou, ele olhou para baixo e
mexeu desconfortavelmente com os talheres de prata.

Sentindo quatro pares de olhos sobre ela enquanto o pessoal da Gibson


esperava, Payton rapidamente forçou-se a pensar: O que uma
pessoa objetiva diria sobre J.D.?

— Veja, Jasper, a coisa sobre J.D. é... — Payton tentou comprar um outro
momento. Qual era “a coisa” sobre J.D.? Ela trabalhava com ele há oito anos, e
de muitas maneiras, ela o conhecia melhor do que ninguém. E, em muitos
aspectos, ela não o conhecia.

Seja objetiva, disse a si mesma. J.D. era...

Ele era bom. Realmente bom.

Não leve a mal, ele ainda era um idiota. Mas ele era um idiota
que foi conduzido. Como Payton sabia muito bem, J.D. estava em seu escritório
todas as manhãs às 7h:00 da manhã, e tanto quanto ela pode não querer
admitir, seu trabalho valia a pena. Nos últimos oito anos, ele havia realizado
uma quantidade enorme para um advogado da sua idade. Laney estava certa, ele
era inteligente e talentoso. Ele era uma ameaça. E se ela fosse honesta consigo
mesma, esse era um dos principais motivos pelo qual ela não gostava dele.

Payton se virou para Jasper. — A coisa sobre o J.D. é que ele é um dos
mais bem sucedidos advogados de ação coletiva nessa cidade, provavelmente
até do país. Ele ganhou toda oposição à certificação de classe que ele processou -
nem uma vez uma classe foi atendida em um caso que ele tratou. Ele tem sido o
principal advogado nos casos multimilionários das empresas da Fortune 50024
desde o seu sexto ano. Ele sabe as estratégias envolvidas na prática de ação
coletiva melhor do que os advogados com o dobro da sua idade. Ele é brilhante
no que faz.

Payton se inclinou para frente em sua cadeira. — E aqui está a coisa,


Jasper: sua empresa está sendo processada na maior ação de discriminação de
classe já feita. Nenhum advogado lidou com um caso deste tipo e magnitude -
tanto quanto experiência, definitivamente, deve desempenhar um papel na sua
decisão, não é a única coisa que importa. Você precisa de alguém com talento
natural bruto. Alguém com os instintos jurídicos adequados, alguém que vai ser
a sua melhor chance de atacar neste caso pelas razões de classe. Posso dizer-lhe
isso em termos inequívocos - essa pessoa é J.D..

Payton recostou-se na cadeira quando ela terminou. Ela viu Jasper


sorrir. Ele rodou o copo e inclinou a cabeça como se estivesse cuidadosamente
absorvendo tudo o que ela tinha acabado de dizer. Então, um pouco
constrangido por ter sido tão sincera em seu louvor, ela lançou um olhar sobre
J.D. para ver a reação dele.

Ele parecia sem palavras.

Mesmo do outro lado da mesa, ela podia ver a expressão de choque no


rosto de J.D.. Ela viu algo passar através dos seus olhos e sua expressão mudou
quando ele segurou seu olhar.

24
Global Fortune 500 é uma classificação das 500 maiores corporações em todo o mundo, conforme
medido por sua receita. A lista é compilada e publicada anualmente pela revista Fortune.
Seu olhar fez Payton pausar. Porque ela se lembrou daquele olhar - ela
tinha visto isso uma vez antes, há muito tempo.

A voz de Jasper interrompeu.

— Tudo bem, Payton. — disse ele. — Eu gosto do que eu ouvi até


agora. Embora, eu suspeite que eu vá ouvir discursos similares de outras
empresas que estamos entrevistando. — ele sorriu. — Mas na verdade, o seu foi
muito bom.

Payton arrastou seu olhar para longe de J.D. e sorriu para Jasper. — Por
que você apenas não me conta quais as outras empresas que está considerando,
e eu vou poupar o seu tempo. Posso dizer-lhe exatamente o que eles vão
dizer. Melhor ainda, deixe-me adivinhar. — ela fez uma pausa, pensando nas
outras duas empresas que eles provavelmente estavam pensando em
entrevistar.

— Baker e Lewis. — ela adivinhou.

Jasper olhou para o conselho geral, necessitando de confirmação. Trevor


assentiu.

— E Sayer, Gray, e Jones.

Trevor balançou a cabeça novamente. — Você conhece bem a sua


concorrência.

— Essas empresas são boas. — J.D. interrompeu. — Mas elas não são
adequadas para o seu caso.

— Por que? O que a sua empresa tem que eles não têm? — Jasper
perguntou.

— Além de taxas mais elevadas. — Robert brincou. Todos na mesa


riram. Com exceção de J.D., que permaneceu sério.

— Eles não têm Payton.


Jasper ficou confortável em sua cadeira. — Tudo bem, Jameson é a sua
vez. Conte-me sobre a Srta. Kendall aqui.

Payton prendeu a respiração, esperando que J.D. fosse tão justo quanto
ela. Ele certamente pareceu muito confiante quando começou.

— Payton estava sendo muito modesta há pouco, ao descrever sua


necessidade de um advogado de ação coletiva experiente. Enquanto isso
certamente é verdade, o que é tão importante, se não mais, é você contratar um
especialista em matéria de discriminação no emprego. É de onde ela vem.

— Eu tenho certeza que você viu o artigo sobre Payton no Chicago


Lawyer. — J.D. continuou. — Então eu não preciso repetir tudo o que você já
sabe sobre suas realizações significativas. Mas eu seria negligente se não
assinalasse que, apesar do fato de que ela só tem 32 anos, Payton passou ao
longo de quarenta casos de discriminação de emprego. Isso é mais do que
muitos advogados passam durante toda a sua carreira. E sabe quantos desses
casos ela ganhou? Cada um deles.

J.D. pegou o seu copo. — Agora eu tenho certeza que Payton seria
modesta sobre esses fatos; ela provavelmente diria que ela teve sorte de obter os
casos que são vencedores. Mas a verdade é que ela tem um talento natural na
sala de audiências. Ela tem instintos incríveis como advogada, e isso é
exatamente o que sua empresa precisa, alguém que pode orientar a sua empresa
através do processo de contencioso do início ao fim. — ele fez uma pausa. —
Além disso, ela é uma mulher.

Jasper levantou uma sobrancelha, como se não soubesse como reagir a


isso. — Isso faz diferença?

J.D. olhou através da mesa para Payton, que tinha estado ocupada
tentando parecer como se ela o ouvisse dizer isso sobre ela todos os dias. —
Payton? — ele disse, indicando que ela deveria conduzir até lá.

Ela sabia exatamente para onde isso estava indo. — J.D. está certo,
Jasper. Sua empresa está sendo processada por discriminação de gênero. 1.8
milhões de mulheres afirmam que sua empresa não dá a mínima em tratá-las de
forma justa. A imprensa vai ter um dia de campo. E se você ficar na frente de um
júri com uma equipe de tribunal de homens, você vai perder este caso.

Enquanto ela falava, Payton batia o dedo na mesa, destacando sua


seriedade. — Você precisa de uma mulher para ser a cara da sua empresa. Você
ganha credibilidade instantânea, se você tiver uma mulher argumentando que
você não discrimina.

— E confie em mim, Jasper. — J.D. intrometeu. — Eu vi Payton quando


ela argumenta. Ela é uma força a ser reconhecida.

Enquanto Jasper ria bem-humorado, Trevor saltou. — Eu tenho uma


pergunta. — ele apontou entre J.D. e Payton, como se quisesse dizer que ele não
era enganado. — Quantas vezes vocês dois já fizeram essa rotina de vocês? Isso é
muito bom.

J.D. balançou a cabeça. — Não há rotina aqui. Com Payton e eu, o que
você vê é o que você recebe.

— Sem fantasia juridiquês e sem rodeios. — Jasper concordou. — Agora


eu gosto. — com um sorriso, ele ergueu o copo num brinde. — Para a melhor
jogada que eu ouvi até agora. Sem brincadeira.

Enquanto o grupo ria junto com Jasper, tilintando os copos num brinde,
os olhos de Payton pegaram J.D. do outro lado da mesa. Com um sorriso sutil,
ele ergueu o copo para ela. Ela assentiu com a cabeça de volta em
reconhecimento. Naquele momento, pelo menos, eles compartilhavam o mesmo
pensamento.

Vitória.

Se apenas a noite tivesse terminado ali.


Capítulo Seis

D epois do jantar,

Jasper sugeriu que o grupo continuasse no térreo, na sala de estar do


restaurante ao ar livre com vista para o Rio Chicago.

— Eu não vou assinar qualquer papel ainda, mas eu acho que um charuto
de comemoração poderia vir a calhar. — ele declarou.

Payton disse ao grupo que iria encontrá-los lá fora e foi para o banheiro
das mulheres. Ela não fumava charutos e agora não seria um bom momento
para experimentar. Permaneceu por alguns minutos no banheiro, em seguida,
parou no bar, pensando que poderia matar um pouco mais de tempo pedindo
uma bebida.

— Eu vou querer um copo de cabernet Silver Oak. — ela disse ao


bartender. Ela já tinha bebido uma no jantar e algo mais forte poderia deixá-la
embriagada. Enquanto esperava, se sentindo mais do que visível ali de pé,
sozinha, uma mulher solitária no bar, ela acidentalmente chamou a atenção de
um homem vestindo uma camisa de seda desabotoada quase até o umbigo.

Oh, merda, ela imediatamente desviou o olhar, mas a fração de segundos


do seu olhar, aparentemente, foi o incentivo que o Senhor Cabelo no Peito
precisava. Ele fez o caminho mais curto em direção a ela.

Payton não tinha escolha. Com um olhar relutante fingindo, ela balançou
a cabeça. — Desculpe. — ela disse. — Lésbica.

Cabelo no Peito levantou uma sobrancelha interessado, gostando do


som disso.
Mais uma vez, Payton balançou a cabeça. — Não esse tipo.

Desapontado, Cabelo no Peito foi para conquistas mais


promissoras. Payton tomou um gole do vinho que o bartender colocou diante
dela. Ouviu uma voz familiar atrás dela, achando graça.

— Lésbica?

Payton se virou e viu J.D. parado lá.

Talvez fosse o vinho. Talvez ela estivesse se aquecendo com o brilho do


discurso deles de sucesso para Gibson. Talvez tenha sido a sua promessa a
Laney para ser a “Nova Payton”, ou talvez fosse uma combinação de todas essas
coisas. Mas Payton realmente se viu sorrindo para J.D.

— É apenas uma desculpa, a coisa lésbica. — ela disse.

J.D. se juntou a ela no bar. Ele gesticulou para pedir uma bebida
enquanto Payton deu de ombros simulando inocência. — A menos que você
conte aquela vez na faculdade.

J.D. derrubou uma pilha de copos de shot que estavam próximos.

Payton riu com sua reação. — Desculpe, Laney me mataria se soubesse


que eu disse isso.

J.D. fez se virou. — Foi com Laney?

Payton deu uma gargalhada só de pensar. — Não, não. — ela explicou: —


Eu estava brincando. Eu só quis dizer que Laney está sempre me dando sermões
por dizer coisas como essa.

— Oh. Certo. — J.D. assentiu enquanto ele jogou algumas notas no balcão
pela sua bebida. Observando-o, Payton levantou a cabeça, curiosa. — O que você
está fazendo aqui?

J.D. se encostou contra o bar, depois de ter se recuperado do seu susto


momentâneo.
— Bem, veja Payton, você e eu estamos aqui para argumentar sobre a
Gibson’s, lembra? — ele falou isso como se se dirigisse a uma criança ou pessoa
demente. — Acabamos de terminar o jantar e...

— Não foi isso que eu quis dizer, espertinho. — Payton deu-lhe um


olhar. — Eu quis dizer por que você está aqui dentro como eu, em vez de fumar
charutos lá fora com Jasper e os outros meninos? — ela colocou ênfase na
última palavra zombando.

— Bem, eu percebi que Jasper e os outros meninos. — ele enfatizou a


palavra, também... — Poderiam ficar bem sem mim por alguns minutos. Eu não
quero que você fique aqui sozinha.

Vendo seu olhar de surpresa, ele encolheu os ombros com indiferença. —


Mas eu posso ir. — ele apontou para o Senhor Cabelo no Peito no bar. — Talvez
você gostaria de um minuto para ver se ele vai voltar e pedir o seu número? —
ele e Payton viram enquanto o Cabeludo levava seu umbigo quase nu para uma
outra pobre mulher desavisada.

J.D. balançou a cabeça tristemente. — Uh-oh, olha isso... que pena. Vocês
dois pareciam tão fofos juntos.

Payton revirou os olhos. — Você sabe, J.D.... — ela estava prestes a dizer
algo sarcástico, provavelmente algo que incluiria um palavrão ou dois, quando a
mulher do outro lado de Payton se inclinou.

— Desculpe-me, você poderia deslizar para o lado? — a mulher apontou


para o espaço aberto entre Payton e J.D.. Payton olhou em volta e notou que o
fluxo em volta do bar havia aumentado. Sem opção, ela se aproximou de J.D..

— Você estava prestes a dizer alguma coisa? — J.D. a lembrou. Cruzando


os braços sobre o peito, preparando-se para o insulto esperado.

Mas em vez de morder a isca, Payton se lembrou da sua promessa, e a


coisa toda da “Nova Payton”. Maldita Laney e a sua coisa de “vamos ser legais
com as pessoas”. Será que J.D. realmente deve contar como pessoa, de qualquer
maneira?
Payton decidiu – que inferno – dê uma chance a isso. Dessa forma,
quando J.D. fosse um idiota, ela poderia dar de ombros, pode-se dizer que ela
tentou, e continuar com os negócios como de costume. Odiando-o.

O problema foi realmente conseguir algo que não fosse um insulto para
dizer ao J.D., Payton se sentia uma idiota, parada ali, então ela deixou escapar a
primeira coisa que veio à mente.

— Então, hum, o que eu ia dizer era... como foi o seu jogo de golfe? Você
teve um bom jogo?

***

Bem.

J.D. certamente não esperava que ela dissesse isso. Algo assim...
inofensivo. Até mesmo, agradável.

Ele olhou para baixo, para Payton, pego de surpresa pelo tom da sua
voz. Ou melhor, o fato de que não havia um.

— Foi... agradável. — J.D. fez uma pausa. — Obrigado. — então, ele a


olhou, curioso sobre algo. — Você sabe, eu estou realmente surpreso por você
nunca ter aprendido a jogar.

— Por que? Porque todo mundo que é alguém joga golfe? — ela
perguntou sarcasticamente.

J.D. balançou a cabeça. — Não, porque eu acho que você, em especial,


gostaria do jogo. Você parece que gosta de um desafio.

Payton inclinou a cabeça, estudando-o. Ela parecia estar tentando decidir


se ele quis dizer aquilo como uma crítica ou elogio. Ele não estava tão certo
disso.
Um olhar de incerteza nublou seus olhos azuis escuros. — Você realmente
falou sério aquelas coisas que você disse? — de repente, ela perguntou a ele. —
As coisas que você disse aos representantes da Gibson no jantar?

— E você? — J.D. disparou de volta.

Payton balançou a cabeça quando a pergunta voltou, como se ela


esperasse que ele dissesse exatamente aquilo. Foi nesse momento que alguém
entrou entre ela e a mulher que estava do outro lado de Payton, encurralando-a
ainda mais. Abrindo espaço, ela se aproximou mais de J.D., de modo que agora
estavam a apenas alguns centímetros de distância. Por alguma razão, ocorreu-
lhe então que, em quase oito anos, esta era provavelmente a conversa mais
longa que ele e Payton tiveram sem envolver algum tipo de debate
político/social/relacionado com o trabalho. E isso certamente foi o mais
próximo, em termos de proximidade física, que já tinham estado.

Ela era linda. J.D. sabia disso, ele sempre soube, só porque ela era uma
cápsula de defesa argumentativa não significava que ele não poderia ver que ela
era linda. Ele normalmente não gostava de loiras, mas ela tinha o cabelo liso
loiro escuro, do tipo de Jennifer Aniston. Tinha profundos olhos azuis
expressivos que mostravam todas as emoções (aparentemente raiva e/ou
aborrecimento governava o dia, pelo que ele poderia dizer) e, o que J.D. tinha
acabado de notar - a primeira dispersão de sardas no nariz - se ela fosse
qualquer outra pessoa - ele teria descrito como “bonita”.

Payton olhou para ele e abriu a boca como se quisesse dizer alguma
coisa. Então ela pareceu mudar de ideia.

— Sim, eu falei sério. — ela disse, quase desafiadoramente. — Você é um


advogado muito bom J.D., eu estaria mentindo se eu tivesse dito a Jasper e aos
outros qualquer outra coisa.

Ela olhou para ele incisivamente. — Agora é a sua vez de dizer algo
agradável.

J.D. tentou esconder seu sorriso. — Bem, eu suponho que eu poderia


dizer que este restaurante serve o melhor tônico com vodca na cidade...
— Não foi isso que eu quis dizer.

J.D. olhou para ela com toda a seriedade. — Você sabe que é uma grande
advogada, Payton. Você não precisa me fazer dizer isso. — aí está. Bem. Ele
havia dito isso. E agora? Este era um território novo para eles.

Ele se mexeu nervosamente. Então ele viu os cantos dos olhos de Payton
enrugarem em diversão.

— O que? — ele perguntou, ficando imediatamente na defensiva. — Há


algo engraçado sobre o que eu disse?

Payton balançou a cabeça, estudando-o. — Não, é que... eu notei que seu


nariz está queimado de sol do golfe. — e ela fixou aqueles olhos azuis profundos
nos dele.

Era o jeito que ela estava olhando para ele.

Realmente olhando para ele.

J.D. nunca iria admitir isso para outra alma, mas ele sabia o que estava
pensando naquele momento.

Eram os olhos dela. Não, o sorriso dela, ela nunca sorriu para ele. Pelo
menos não genuinamente, de qualquer maneira.

Normalmente, J.D. era muito hábil em ler a linguagem corporal


feminina. Conhecer mulher não era exatamente um problema para ele. Ele era
um cara bonito, realmente sabia como se vestir, tinha um grande trabalho, e
vinha de uma família muito rica. Não estava se vangloriando, apenas indicando
os fatos. Se qualquer uma dessas coisas importava, era um debate para outra
pessoa.

Exceto pela parte em saber como se vestir, isso é. Ele tinha muito orgulho
do seu traje. Era chamado de antiquado (algo que ela sempre parecia ter contra
ele), mas ele achava que havia uma certa falta de civilidade em sua geração. O
que tinha acontecido nos dias de hoje que os homens usavam paletós para o
jantar? Quando mulheres carregavam carteiras e enchiam de pó os seus
narizes? (E não, cheirar cocaína em um vaso sanitário no banheiro das mulheres
não bastava aqui.)

Pelo menos Payton parecia concordar implicitamente com ele neste


ponto. Mais uma vez, não cavando na coisa argumentativa, defensiva, mas a
mulher sempre estava bem vestida. J.D. suspeitava que ela fazia questão disso -
quase como se ela estivesse tentando provar alguma coisa. Apesar de que ele
não soubesse para quem ela estava tentando provar alguma coisa. Porque
Payton Kendall certamente tinha um jeito nela que impressionava quase todos.

Não que ele tivesse notado especialmente os cortes retos das suas saias,
ou a forma das suas pernas naqueles saltos de sete centímetros que ela usava
aqui e no tribunal. Ele nem havia notado o fato de que, hoje à noite, sua camisa
estava desabotoada até o ponto de posso-dar-uma-espiada?

De repente, sentindo o quão quente estava no restaurante, J.D. chegou


até a afrouxar a gravata. Então lembrou-se que ele não estava usando uma.

Talvez seria melhor parar com os tônicos com vodca.

Recompondo-se, J.D. tentou fazer uma cara impassível e indiferente


quando olhou para Payton. Ele não sabia que tipo de jogo ela estava jogando -
ao ser amigável com ele e tudo, mas ele não estava disposto a ser usado como
um tolo.

Payton inclinou a cabeça com o seu silêncio. — Tem alguma coisa errada?

J.D. tentou pensar em algo que ele normalmente diria, algo que
recuperasse o controle dele.

— Está tudo bem. — ele garantiu, para que não houvesse qualquer dúvida
sobre isso. — Eu só estava me perguntando se as suas colegas feministas
aprovariam você usar a sua sexualidade como isca.

Payton se afastou. — Perdão?

Ela parecia chateada. Bom - isso ele sabia.


J.D. apontou para o decote em V posso-dar-uma-espiada da sua
camisa. — Pensando em mostrar as meninas essa noite para nós? É assim que
você pretende impressionar os executivos da Gibson’s?

Ele lamentou as palavras no momento em que saíram de sua boca.

Ele viu o flash de dor nos olhos de Payton, mas ela rapidamente desviou o
olhar para encobri-lo. Quando ela se virou para ele, seu olhar estava gelado.

— Estamos pedindo para a Gibson nos dar vinte milhões de dólares em


taxas legais. — disse ela friamente. — Se você acha que meus peitos estão
entrando nesse negócio, então eles devem ser ainda mais espetaculares do que
eu pensava. Agora, se me der licença... — ela passou por ele com pressa.

J.D. tentou impedi-la. — Payton, espera. Eu não quis dizer...

— Bem, aí estão vocês! Estávamos começando a nos perguntar o que


aconteceu com vocês dois!

Payton e J.D. se viraram ao som da voz de Jasper.

Payton rapidamente recuperou a compostura. — Jasper, nós estávamos


indo nos juntar a vocês. — ela disse calmamente. — Você salvou um desses
charutos para mim? — com a cabeça erguida, ela seguiu Jasper para se juntar
aos outros homens no terraço.

Ela não olhou nem uma vez para J.D. o resto da noite.

***

Durante a volta para casa, o humor de Payton estava suave. Cansada e


perdida em pensamentos, ela mal percebeu que o táxi tinha parado, chegando
ao seu destino, até que o motorista olhou por cima da partição e perguntou se
havia algum outro lugar que ela queria ir. Depois de pagar a tarifa rapidamente,
apressou-se em subir os degraus da frente da pitoresca casa germinada de dois
andares que ela tinha comprado e reformou há três anos. Era um lugar
aconchegante, nada extravagante, mas a hipoteca estava em seu orçamento e o
lugar estava a uma curta distância do “L”. O mais importante, era tudo dela.
Para ela, casa própria era a estabilidade e o investimento, e não sobre a moda de
bairros quentes pela qual paga alguém paga um prêmio.

Payton entrou, jogou as chaves sobre a mesa ao lado da porta da frente, e


foi para seu quarto. Seus saltos clicaram no piso restaurado de carvalho.

Ela não sabia por que deixou aquilo incomodá-la tanto, o que J.D. tinha
dito. Sim, foi ofensivo ele insinuar que ela estava jogando sua sexualidade para
seduzir os representantes da Gibson. O comentário foi inesperado, ela nunca
tinha feito nada pouco profissional para merecer tal ataque a seu caráter. Mas o
que a incomodava ainda mais era o fato de que ela tinha sido pega
completamente despreparada para o insulto. Normalmente ela tinha a guarda
erguida em torno de J.D., mas esta noite ela pensou que eles estavam se dando
bem, ou pelo menos, que eles estavam tolerando um ao outro, que tinham
pendurado as luvas de boxe por esta noite, com o espírito de trabalho em
conjunto.

Rapaz, ela estava errada sobre isso.

Havia um espelho oval de corpo inteiro que estava no canto do seu


quarto, uma antiguidade que tinha herdado de sua avó. Antes de tirar suas
roupas, Payton fez uma pausa diante do espelho. Ela passou conscientemente os
dedos pelo decote da sua camisa nos botões para baixo. Não era tão decotado,
não é?

Ela parou ali e olhou desafiadoramente no espelho.

Para o inferno com ele.

***
De sua parte, J.D. não estava exatamente em um clima de comemoração
quando chegou em casa, também. Mais e mais, sua mente percorria o mesmo
debate.

Ele poderia ligar para ela, pedir desculpas.

Ela iria desligar na cara dele, sem dúvida.

E por que deveria se preocupar, afinal? Então ela estava chateada com
ele... grande surpresa. Ela vive chateada com ele. Na verdade, ele provavelmente
tinha ganho a noite, com o que ele disse. Com seu comentário, sozinho, tinha lhe
dado troncos legítimos para abastecer seu fogo.

Mas mesmo assim.

Ele tinha cruzado a linha. Ao longo dos anos os dois tinham trocado
inúmeras farpas e insultos, mas sabia que tinha ido longe demais naquela noite.

Então J.D. resolveu em sua mente. Ele iria ligar para ela.

Ele procurou o telefone de Payton no diretório da empresa. Essa


certamente foi uma noite de estreias para eles, tudo começando com as coisas
de cortesia que eles tinham dito um sobre o outro para Jasper. E agora ele ia
ligar para ela? Eles nunca tinham falado ao telefone antes, fora do trabalho.

Suspirando para si mesmo, não gostando desta tarefa que estava prestes
a realizar, J.D. pegou o telefone. Foi então que lhe ocorreu que ele estava prestes
a ligar para Payton em casa. Tentou imaginá-la em seu... apartamento?
Condomínio? Casa? Ele se perguntou como deveria ser o lugar onde ela morava.

Então, ele se questionou por que estava imaginando isso.

Mera curiosidade, J.D. se assegurou.


Imaginou seu lugar sendo um pouco... plebeu. Essa provavelmente não
era a maneira mais politicamente correta dizer. Qual tipo de expressão liberal
preferem hoje em dia? Granola25? Orgânico?

Na realidade, porém, Payton não era nenhuma dessas coisas. Na verdade,


se ela nunca falasse, poderia achar que ela era bastante normal.

Em seguida, um segundo pensamento de repente ocorreu a J.D..

Talvez ela não morasse sozinha.

Ele deveria saber coisas como esta, não deveria? Ele deveria pelo menos
saber o básico, ter alguma curiosidade de como era a vida dela quando não
estava ocupada sendo ela.

Percebendo que ele estava enrolando, tentando evitar pedir desculpas à


Payton, J.D. pegou o telefone. Ele estava prestes a discar o número dela quando
percebeu que tinha uma nova mensagem. Ele digitou o código para acessar seu
correio de voz, em seguida, ouviu uma voz familiar quando a mensagem
começou a tocar.

— J.D., é seu pai. Eu pensei em verificar e ver se não existe alguma


novidade sobre a parceria. Eu estou supondo que não, caso contrário,
teríamos ficado sabendo por você já. — houve um forte suspiro
desapontado. — Acho que se você não conseguir isso, eu posso sempre ligar
para minha antiga empresa. Mas talvez você me surpreenda uma vez,
filho. Embora - sem ofensa - aposto à sua mãe uma nova pele que você vai me
ligar para salvá-lo até o final do mês, haha. E aquela mulher realmente não
precisa de outro casaco de pele.

Quando J.D. ouviu o sinal sonoro, indicando o fim da mensagem do seu


pai, ele desligou o telefone. Sentou na poltrona de couro na sala de estar,
olhando para fora das janelas e sua vista deslumbrante sobre a cidade durante a
noite, mas sem ver.

25
Tipo Hippie.
Depois de um longo momento, ele colocou o receptor do telefone no
gancho.

Essa coisa com Payton era uma distração. E ele certamente não precisava
de nenhuma distração no momento. Seria melhor se ele a tirasse da sua mente
completamente. Ele simplesmente precisava permanecer na linha pelo resto do
mês, fazendo tudo exatamente como tinha feito nos últimos oito anos.

Talvez, fosse bom que Payton lhe desse o tratamento de silêncio. Ah, e se
bastasse só isso, ele deveria ter sido um bastardo rude anos atrás. Talvez agora,
ele finalmente tenha um pouco de paz no trabalho. Não haveria mais irritação
com a jogada de cabelo, sem mais olhares encobertos de você-é-um-idiota-J.D.,
sem mais discussões secretas nos corredores por trás das agendas feministas e
de direita.

Eram coisas que J.D. certamente não iria sentir falta.

De modo nenhum.
Capítulo Sete

— E u

encontrei o cara perfeito para você.

Payton mal olhou para cima enquanto Laney entrava em seu escritório e
se jogava em um dos assentos na frente da sua mesa.

— Hmm, isso é bom. — disse Payton distraidamente. — Podemos falar


sobre isso em... — ela olhou para o relógio. — Três semanas? — deixando de lado
as questões da sociedade, ela tem um julgamento marcado para começar em
dois dias.

— Estou animada com isso, Payton. Não estrague o momento com


sarcasmo.

— Oh, bem, então. — Payton empurrou para o lado o monte de arquivos


em sua mesa com um grande floreio. — Certamente, continue.

Laney olhou para ela incisivamente. — Carreira ou não, uma mulher


solteira de trinta anos não pode negligenciar sua vida pessoal para sempre.

— Desculpe Laney, você está certa. Eu tinha esquecido que tinha viajado
de volta no tempo para 1950.

Outro olhar de Laney. — Posso continuar?

— Será que o Sr. Perfeito tem um nome?

— Chase.
— E o que torna o perfeito Chase tão perfeito? — Payton perguntou.

Laney se inclinou para frente, ansiosa para compartilhar os detalhes. —


Ele esteve na fraternidade de Nate na graduação. — ela começou, referindo-se
ao marido. — Ele só se mudou para cá há algumas semanas. Ele é um advogado,
também, e você vai adorar isso, ele faz trabalho voluntário no Chicago Legal
Clinic26. Ele foi para Harvard Law School, foi presidente tanto da Harvard Law,
da ACLU27 e na Harvard Law Advocates for Human Rights28.

Payton levantou uma sobrancelha cética. — Harvard Law School? — ela já


conheceu um graduado na Harward Law, e já foi demais.

Laney levantou a mão. — Eu verifiquei. Ele foi para lá com bolsa de


estudos e pagou com empréstimos estudantis. E ele é bonito, também. Nate e eu
o convidamos para o jantar na última noite, e eu sutilmente soube que ele está
querendo encontrar alguém.

— Como foi que você soube disso?

— Perguntei se ele estava querendo encontrar alguém.

— Isso é sutil. — Payton balançou a cabeça. — Vocês, pessoas casadas


estão sempre tentando arranjar os solteiros.

Laney quase pulou da cadeira. — Isso foi exatamente o que ele disse!
Percebe, vocês dois são perfeitos um para o outro. — ela parou deliberadamente.
— Então? Devo dizer a ele para ligar a você?

26
Chicago Legal Clinic: é uma provedora de qualidade baseada na comunidade serviços jurídicos para os
carentes e desfavorecidos na área de Chicago.

27
ACLU (American Civil Liberties Union): é uma ONG norte-americana sediada na cidade de Nova Iorque
cuja missão é "defender e preservar os direitos e liberdades individuais garantidas a cada pessoa neste
país pela Constituição e leis dos Estados Unidos".

28
Núcleo de prática estudantil de Harvard, dedicada a Direitos Humanos.
O momento não era exatamente o melhor, mas Payton achou o
entusiasmo de sua amiga difícil de resistir. E o Perfeito Chase soava um tanto
promissor. Impulsionado pela carreira. Interessado em política. Apaixonado por
suas crenças. É verdade, estas eram todas as coisas que ela acha atraentes em
um homem. E certamente não seria válido usar sua boa aparência contra ele.

— Ok. — Payton concordou. — Diga a ele para me ligar.

— Bom. Porque eu já lhe dei seu número.

Payton ponderou sobre as coisas. — Harward Law, hein. — ela não podia
evitar; olhou no outro lado do corredor para o escritório de J.D. Eles não tinham
se falado desde a noite da apresentação para Gibson.

Ao longo dos últimos dias, na medida do possível, ela tinha evitado andar
pelo escritório de J.D. e vinha utilizando as escadas internas para todos os
percursos com menos de cinco andares (normalmente dois para cima, três para
baixo eram os limites em saltos), a fim de minimizar o risco de ficar presa no
elevador com ele. Porque no que lhe dizia respeito, ela estava acabada com J.D..

Não significa que ela já tivesse começado algo com J.D, é claro.

Na forma que ela via isso, ela se abriu na outra noite no restaurante. Ela
tinha feito uma tentativa de ser simpática e para dizer o mínimo, ele não tinha
correspondido. Ela se permitiu ser pega de surpresa, ficar momentaneamente
vulnerável na frente dele, e não iria cometer esse erro novamente. E agora ela só
queria esquecer a coisa toda.

Tinha sido um pensamento tolo, de qualquer maneira, ela pensar que


poderiam se dar bem. Pelo menos a apresentação da Gibson estava acabada,
colocando um fim, apesar de talvez, temporariamente, no trabalho deles juntos.
E se a empresa de fato aceitasse Gibson como um cliente, ela e J.D.
provavelmente seriam sócios no momento em que começassem a trabalhar no
caso e iriam encontrar alguma forma com a equipe para que se encontrassem
tão pouco quanto possível.
Claro, havia essa pequena parte dela, pequenininha, mais ínfima parte
dela, que estava desapontada com J.D. por não pedir desculpas. De qualquer
modo, ele parecia estar evitando-a também, e Payton não conseguia entender.
Ela pode ter seus defeitos, mas pelo menos ela confessava seus erros. Ele,
aparentemente, não se sentia da mesma maneira. A menos que ele não achasse
que tinha cometido um erro, e nesse caso ela tinha problemas ainda maiores
com ele.

Não que ela perdesse algum tempo pensando sobre essas coisas.

Payton voltou sua atenção para Laney, que já estava pensando no futuro
em onde deveria ser seu primeiro encontro com o Perfeito Chase.

— Deve ter bebidas, e não café. — Laney estava dizendo. — Excesso de


cafeína te deixa agitada.

Payton olhou, ofendida por isso. — Agitada?

Elas foram interrompidas por uma batida na porta, e Irma enfiou a


cabeça para dentro do escritório. — Sua mãe está na minha linha. Devo
transferi-la para você?

— Porque é que a minha mãe está na sua linha?

Irma pigarreou sem jeito. — Ela disse que estava pensando em mim e,
hum, queria discutir algo antes que eu transferisse para você.

— Sobre o que ela queria falar com você? — Payton perguntou.

— Ela queria perguntar se eu já havia considerado a tentativa de


sindicalizar o secretariado pessoal.
Payton revirou os olhos. Sua mãe tinha discorrido sobre a rotina de
Norma Rae29 para ela um milhão de vezes. Aparentemente Irma era a sua mais
recente vítima.

Payton acenou para Laney, que já estava saindo, e disse à Irma para
transferir sua mãe. Ela pegou o telefone, preparando-se. — Oi, mamãe.

— Ei, Sis30. — veio o cumprimento familiar da sua mãe. Na mente de Lex


Kendall (anteriormente Alexandra, mas o nome era muito burguês), todas as
mulheres eram irmãs sob a mesma lua.

— Como está a minha garota? — perguntou Lex.

— Tudo bem, mamãe. Eu ouvi de Irma que você está tentando reunir as
tropas contra os homens.

— Veja, eu sabia que você iria ficar toda tensa se eu ligasse para ela.

— Ainda assim, você fez isso.

— Eu apenas pensei que ela e os outros trabalhadores na sua empresa


pudessem querer saber que eles têm direitos. Nem todo mundo aí tem um
salário de seis dígitos, Payton.

Payton suspirou. Sua mãe era a única pessoa que ela conhecia que ficava
desapontada por seu filho ser bem sucedido financeiramente. — Irma poderia
entrar em um monte de problemas, se a pessoa errada ouvisse sua conversa e a

29
Norma Rae: (mesmo título no Brasil e em Portugal) é um filme estadunidense de 1979, do gênero
drama biográfico, dirigido por Martin Ritt. Conta a história de Norma Rae, uma mãe solteira de dois
filhos e que vive com os pais que também são operários da fábrica e Reuben, sindicalista, que acabam
amigos e ele passa a influenciá-la para que se engaje na luta sindical. Mesmo admirando Reuben, Norma
Rae se casa com o operário Sonny Webster que a ama mas fica inseguro quando ela se filia à entidade
de classe e começa a passar muito tempo com o sindicalista.

30
Abreviação de Sister, irmã.
compreendesse errado. Você esqueceu que eu trabalho como advogada
trabalhista.

— Não, eu não me esqueci. — disse sua mãe, como se tivesse recordando


algum crime hediondo que sua única filha havia cometido anos atrás. E na
mente de Lex Kendall, o pecado de Payton era notório, de fato.

Ela havia se tornado uma yuppie31.

Payton tinha sido criada para "viver e pensar livremente", um sentimento


que parecia grande em teoria, mas, como ela descobriu muito nova, na verdade,
significava que ela deveria "viver e pensar livremente", exatamente do jeito que
sua mãe dissesse a ela.

Bonecas Barbie eram sexistas. ("Olhe para a expressão vaga, Payton -


Barbies não se preocupam com outra coisa senão fazer compras”). Contos de
fadas - na verdade, a maioria da literatura infantil - eram também machistas.
("Olha a mensagem nestes livros ilustrados, Payton - que beleza é a única
qualidade importante de uma mulher"). Mesmo os filmes da Disney eram os
inimigos. ("Eu sei que a mãe de Lisa a deixa assistir Cinderela, Payton. Lisa não
tem, obviamente, nenhum problema em ensinar a sua filha que as mulheres
devem esperar passivamente por um homem para trazer sentido às suas vidas
pateticamente solitárias").

Sim, Lex Kendall tinha um motivo para protestar contra quase tudo.

Não que Payton não concordasse com os princípios de sua mãe. Ela
estava de acordo com alguns deles, mas não com a mesma intensidade. Por
exemplo, ela era absolutamente contra as pessoas usando casacos de pele. O que

31
Yuppie: é uma derivação da sigla "YUP", expressão inglesa que significa "Young Urban Professional",
ou seja, Jovem Profissional Urbano. É usado para referir-se a jovens profissionais, geralmente com
formação universitária, entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira
intermediária entre a classe média e a classe alta. Ocasionalmente o termo é utilizado com certa carga
pejorativa, como um rótulo, um estereótipo, tanto em países de língua inglesa (nos EUA, por exemplo,
onde a expressão surgiu) quanto também no Brasil ou em Portugal.
significava que ela, pessoalmente, não usaria um. Isso não significava que ela
ficaria fora da Gucci, na Avenida Michigan, jogando baldes de tinta vermelha
em clientes que saíam de lá. (Ah, sim, sua mãe fez isso, várias vezes, de fato, e
tinha até duas vezes ido para a cadeia por seus esforços artísticos renegados,
necessitando que a jovem Payton passasse várias noites com seus avós.)

Aos olhos da sua mãe, Payton sabia, ela tinha se vendido. Na verdade,
quando Lex descobriu que Payton havia planejado defender a Corporate
America32 como parte no seu escritório de advocacia, ela se recusou a falar com
a filha por duas semanas consecutivas.

Ah... Payton ainda lembrava dessas duas semanas com carinho. Tinham
sido as mais pacíficas 336 horas de sua vida.

— Posso te ligar de volta mais tarde, esta noite, quando eu chegar em


casa? — ela perguntou à sua mãe. — Estou muito ocupada esses dias.

— Com a coisa da sociedade. — sua mãe disse em um tom que era, na


melhor das hipóteses, desinteressado.

— Sim, a coisa da sociedade. — Payton reprimiu a vontade de dizer mais


alguma coisa. Era realmente difícil para as pessoas entenderem o que ela estava
passando? Será que ninguém entendia a quantidade de estresse que estava
sobre ela?

— Você não precisa me ligar de volta. — sua mãe lhe disse. — Eu posso
ouvir a tensão em sua voz. Você continua fazendo yoga? Você provavelmente
precisa liberar seus chacras33.

32
Corporações que fazem grandes negócios.

33
Chacras: Chacras ou xacras, também conhecidos pela grafia chakras' ' segundo a filosofia iogue,
centros energéticos dentro do corpo humano, que distribuem a energia (prana) através de canais (nadis)
que nutre órgãos e sistemas.
Payton colocou a cabeça sobre a mesa. Sim, é claro, a tensão em sua voz
não tinha nada a ver com o fato de que ela não tirava férias há quase quatro
anos. O problema era que seus chacras não estavam liberados.

Ela podia ouvir sua mãe divagar no telefone que segurava na mão.

— ...falamos mais quando eu vier para a cidade no final deste mês.

Neste momento, Payton saltou de volta à vida. — Você vem para Chicago?

— Steven planeja visitar Sarah e Jess em LA no Dia dos Pais. — disse sua
mãe, referindo-se às duas meias-irmãs de Payton. — Eu pensei em ir à Chicago
para que pudéssemos passar o fim de semana juntas.

Payton olhou para o calendário. Ela tinha estado tão ocupada que ela
esqueceu completamente sobre o feriado próximo. E, apesar do começo difícil
da conversa, de repente, ela sentiu uma onda de afeição pela mãe. Lex Kendall
poderia ser uma mulher difícil, sem dúvida, mas ela jamais permitiu que Payton
passasse um Dia dos Pais sozinha, nem mesmo depois que ela e seu marido
Steven haviam se casado e se mudado para San Francisco vários anos atrás.
Embora elas nunca tivessem discutido abertamente, Payton sabia que era a
tentativa da sua mãe de compensar o fato de que Payton não tinha notícias do
seu pai em anos.

— Eu gostaria, mamãe. — disse Payton. Elas discutiram brevemente o


que elas poderiam fazer nesse fim de semana. Mantendo os dedos cruzados,
Payton esperava que pudesse ter algumas boas notícias para compartilhar até lá.

Depois de alguns momentos de conversa, Payton viu outra linha


chamando. Através da porta de vidro do seu escritório, ela observou enquanto
Irma interceptou a chamada, balançou a cabeça, em seguida, levantou-se e
sinalizou por sua atenção. Payton finalizou a chamada com sua mãe, sentindo
que era algo importante.

— O que é? — ela perguntou quando Irma entrou pela sua porta.


— Era a secretária de Ben, Marie. Ele quer vê-la em seu escritório. —
Irma abaixou sua voz. — Marie diz que ela o ouviu no telefone no início desta
manhã, com Tom Hillman da Comissão de Parceria. Ouviu-o dizer a Tom que
ele queria dar a você e J.D. as notícias mais cedo.

Payton sentiu um arrepio de excitação percorrê-la.

Era isso.

Com um leve sorriso no rosto, Payton levantou-se da mesa e agradeceu à


Irma pela mensagem.

Então ela saiu para ir ao escritório de Ben.


Capítulo Oito

Q uando Payton

chegou ao escritório de Ben, ela encontrou J.D. sozinho, sentado na frente da


mesa do sócio. Ele estava de costas para a porta, sem saber que ela estava
ali. Ela percebeu que sua perna chacoalhava enquanto esperava.

Ela limpou a garganta e J.D. imediatamente parou de chacoalhar as


pernas e observou-a sentar na cadeira ao lado dele.

— Ben não está aqui ainda? — Payton perguntou friamente.

J.D. balançou a cabeça. — Marie disse que ele chegaria em breve.

Um silêncio constrangedor caiu entre eles.

Payton olhou ao redor da sala. De repente, ela ficou muito consciente das
suas mãos. Resolveu encostar seus braços nos braços da cadeira, depois parou,
em seguida, dobrou as mãos no colo.

Mais silêncio.

E, em seguida...

Ainda mais silêncio.

— É esse trabalho, você sabe.

Payton estava olhando para a janela. Ela virou a cabeça para J.D..

— Nós discutimos com as pessoas, é isso o que fazemos. Nós


encontramos estratégias contra eles, tentando obter a vantagem sempre. Às
vezes acho que é difícil lidar com isso. — ele virou-se para Payton e olhou-a
diretamente nos olhos.

— Eu fui muito rude com você no restaurante. Devo-lhe um pedido de


desculpas.

Pega de surpresa, Payton não disse nada a princípio. Direto e sem vacilar,
J.D. sustentou seu olhar.

Ele realmente tinha os olhos azuis mais surpreendentes que ela já tinha
visto.

Payton não tinha ideia por que acabou de pensar nisso.

Ela assentiu com a cabeça. — Ok.

J.D. parecia ter se preparado para algo muito pior. — Ok. — ele disse.
Payton pensou que teria ouvido J.D. exalar com certo alívio. Então ele sorriu
genuinamente.

— Então... você sabe por que estamos aqui?

— Eu tenho um palpite. — disse Payton.

J.D. se inclinou para frente em sua cadeira e seus olhos brilharam com
entusiasmo. — Qual é a primeira coisa que você vai fazer quando se tornar
sócia?

Payton hesitou, ainda sentindo-se supersticiosa. Então ela pensou -


inferno - por que não aproveitar o momento? Ambos sabiam por que tinham
sido chamados à sala de Ben.

— Dormir. — ela disse. — Durante uma semana.

J.D. riu. — E não ouvir correio de voz.

— Ou ler qualquer e-mail.

— Nem no BlackBerry.
— Nem por qualquer aparelho de telefone celular.

— Nem pelo laptop. — J.D. disse com uma piscadela, sabendo que não
havia nenhuma maneira dela superar isso.

Payton pensou por um momento. — Na verdade, eu acho que vou pegar


algumas semanas de folga. Eu gostaria de viajar.

— Para onde? — J.D. perguntou.

— Bora Bora. — disse firme.

— Para Bora Bora?

Payton deu de ombros. — Eu não sei. Apenas soa como um lugar que eu
gostaria de ir.

J.D. sorriu, e ocorreu à Payton que ela estava apenas falando sobre Bora
Bora, quando alguém como J.D. provavelmente tinha ido passar as férias em
lugares que nem em toda sua vida ela poderia conhecer. Inferno, provavelmente
seus empregados deviam ir a lugares como esses passar férias. Ela deve ter
soado ridícula para ele.

Mas se ele achou isso, não disse nada.

— Bora Bora... parece muito bom. — ele concordou, indo para trás em sua
cadeira. Em seguida, ele novamente lançou outro olhar para ela. — Sabe Payton,
agora que tudo isso vai acabar, eu estava esperando que pudéssemos deixar de
lado nossas d...

Naquele momento, Ben entrou em seu escritório.

Ele se sentou em sua mesa. — Desculpe fazer vocês esperarem. — disse. —


Meu almoço foi até mais tarde do que eu esperava.

Ben sentou-se na cadeira com mãos apoiadas firmemente sobre sua


mesa. — Então... tenho uma ótima notícia. Jasper Conroy me ligou esta
manhã. Ele escolheu a nossa empresa para representar a Gibson. Ele me disse
que ficou muito impressionado com os dois. Eu sabia que ele ia querer os dois.
— ele fez uma pausa. — O que me leva a uma outra notícia.

Payton prendeu a respiração. Com o canto dos olhos, ela viu J.D. ir
alguns centímetros à frente em seu assento.

— É importante dizer que ambos estão conscientes que a empresa tomará


sua decisão da sociedade no final deste mês. — disse Ben.

— A política da Comissão de Parceria tem sido sempre sigilosa e é


suposto que ninguém vaze informações antecipadas sobre as decisões. Mas, à
luz do desempenho exemplar de vocês e desenvoltura no projeto da Gibson, o
caso é que de fato, vocês desempenharam um trabalho brilhante. Construíram a
carreira aqui e eu acho que vocês ganharam o direito de saber com um pouco de
antecedência. Eu sei como vocês esperaram ansiosamente por isso.

O coração de Payton começou a correr. Merda. Estava realmente


acontecendo

Ben pigarreou. — E é por isso que o que eu estou a ponto de dizer vai ser
uma surpresa.

Payton piscou. Surpresa? Essa não era a palavra que ela queria ouvir
naquele momento.

— Vocês dois estão cientes do processo de denúncia de discriminação de


idade da EEOC contra Gray e Dallas. — disse Ben, referindo-se a outro dos
principais escritórios de advocacia da cidade. — E como vocês sabem, uma das
reivindicações da ação judicial é que a empresa valorize os parceiros mais velhos
em favor dos mais jovens.

Ben olhou para Payton para obter ajuda. — Você é uma advogada
trabalhista. Você sabe o quanto todas as outras empresas nesta cidade
acompanharam esse caso. Inclusive nós.

Payton lhe respondeu com cautela. — Eu estou familiarizada com o caso,


Ben. O que eu estou tentando descobrir é como ele tem alguma coisa a ver
comigo e J.D..
Ben escolheu suas palavras com cuidado. — O Comitê de Parceria decidiu
que precisamos nos organizar estrategicamente a fim de evitar denúncias
semelhantes às da EEOC. Nós simplesmente não podemos nos dar ao luxo de
ter muitos parceiros mais novos de quarenta anos. Agora, é óbvio que não
vamos tirar as ações de qualquer um que já é parceiro... assim, não ocorrerão
cortes no número de associados que se tornaram sócios este ano.

O maxilar de J.D. cerrou. — Você ainda não respondeu à pergunta de


Payton. O que isso tem a ver com a gente?

Ben fez uma pausa para olhar para cada um deles. — Nós decidimos
permanecer apenas com um sócio de litígio este ano. Só um de vocês irá
permanecer nisso.

Foi como se todo o ar tivesse sido sugado para fora da sala.

Apenas um deles.

Ela ou ele.

Payton finalmente falou. — Isso é uma piada?

Ben balançou a cabeça. — Receio que não. Vocês têm sorte de estarem
ouvindo isso de mim agora. — ele apontou para si mesmo, como se esperasse
gratidão. — Eu insisti nisso. Eu queria dar pelo menos um aviso ao que não vai
conseguir.

— Então a decisão não foi tomada ainda? — J.D. perguntou com seu tom
um pouco incrédulo.

Ben, o bastardo arrogante, na verdade teve a audácia de rir. Ele estendeu


as mãos diante dele. — O que posso dizer? Vocês dois são bons. Vocês não têm
ideia do quanto isso é difícil para nós.

Difícil para vocês? Payton quase pulou da cadeira e estrangulou Ben.

J.D. parecia nada menos que furioso. Ele olhou para Ben friamente. —
Isso é besteira. Na semana passada você praticamente prometeu que Payton e
eu estávamos ambos na sociedade.
Ben deu de ombros, com muito desdém na mente de Payton. Afinal, esta
conversa era sobre a vida dela, carreira, assim como a de J.D..

— Então, só enfeitei um pouco. — Ben admitiu com um sorriso de


satisfação. — Somos advogados, é o que fazemos.

— Muito conveniente você nos dizer isso depois de acabar o caso da


Gibson. — disse Payton. — Você nos usou, Ben.

Ben levantou um dedo. — Tecnicamente eu só usei um de vocês. Porque


um de vocês ainda vai ser sócio, e essa pessoa vai liderar a equipe de julgamento
da Gibson, como prometido. Quanto ao outro... — ele parou incisivamente.

Payton não precisava que Ben terminasse. Ela, como qualquer outro
advogado lá, sabia sobre “Tudo ou nada” na política da empresa. Associados que
não viravam sócios, eram rapidamente retirados dos seus casos e tinham um
prazo de carência curto para “voluntariamente” demitir-se e encontrar outro
emprego.

— Eu sei que esta notícia provavelmente vem como um choque para vocês
dois. — disse Ben. — E isso é extremamente lamentável. As circunstâncias
levaram as coisas acabarem desta maneira, mas é a decisão do Comitê de
Parceria. Quero enfatizar, entretanto, que a escolha entre os dois ainda não foi
feita. Vai acontecer no último momento. Então, para valer a pena, eu incito cada
um de vocês a darem tudo o que podem nestas próximas semanas.

Payton resistiu ao impulso de rir amargamente com isso. Dar tudo o que
ela tem? O que mais ela poderia dar? Um rim? Seu primogênito?

Ela olhou para J.D. sentado ao lado dela. Ele a olhou e encontrou seu
olhar e Payton podia dizer pelo olhar em seus olhos, que compartilhavam o
mesmo pensamento.

Apenas um deles continuaria.

Depois de oito anos de prática, eles eram agora verdadeiramente


adversários.
***

J.D. conseguiu manter uma expressão de indiferença durante toda a


caminhada de volta.

Quando ele chegou ao seu escritório, entrou, fechou a porta atrás dele, e
imediatamente começou a andar. Ele estava tendo problemas para pensar
claramente. Ele se sentou em sua mesa, ignorando a luz do seu telefone
piscando, indicando o recebimento de uma nova chamada.

Meros 10 minutos atrás, enquanto estava sentado no escritório de Ben e


brincando com Payton, ele teria colocado suas chances de virar sócio em
99,99%.

De repente, essa chance despencou para 50%. No melhor dos casos.

Ele tinha sido despedaçado. Por um lado, querendo gritar com Ben,
querendo dizer para ele que era um cagão e por outro lado consciente do fato de
que a decisão ainda não havia sido tomada. Definitivamente ele tinha o que
perder e precisaria agir para tornar-se sócio. Ele sentiu-se pressionado para
continuar a jogar, para continuar sendo o bom advogado que era.

Mas a verdade da questão é que ele não podia acreditar que isso estava
acontecendo.

Através do vidro em sua porta J.D. podia ver Payton correndo em seu
escritório. Ele percebeu que assim como ele, ela também imediatamente fechou
a porta transtornada. Isso não deu nenhum consolo, o fato dela ter obviamente
ficado tão atordoada com a notícia de Ben quanto ele.

Depois de oito anos, tinham finalmente chegado a isso.

Ele contra ela.

O zumbido do telefone, sua secretária estava ligando e


momentaneamente J.D. se assustou.
— Sim, Kathy. — ele respondeu em um tom cortante, vivo. Precisava de
alguns momentos a sós para pensar.

— Desculpe incomodá-lo, J.D.. — a voz de Kathy veio pelo viva voz. —


Chuck Werner pediu para você ligar para ele o mais breve possível para discutir
a agenda dos depoimentos da próxima semana.

J.D. fechou os olhos, esfregando ambos com força. Sentiu uma dor de
cabeça chegando e não estava com bom humor para lidar com o seu conselheiro
oponente. — Obrigado, Kathy. Eu vou retornar para ele.

— E outra coisa... — Kathy acrescentou rapidamente, parecendo sentir a


sua vontade de desligar o telefone. — Seu pai ligou e me pediu para dar-lhe um
recado. Ele disse que você entenderia. — ela falou devagar, confusa com a
mensagem. — Ele disse para falar que ele ouviu que a empresa estava fazendo
um anúncio hoje e queria saber se sua mãe ganhou um novo casaco de pele.

J.D. fechou os olhos. A dor de cabeça de repente ficou muito pior.

***

Payton encostou-se na porta do seu escritório com os olhos fechados. Ela


lentamente respirou para dentro e para fora, tentando se firmar.

Ela estava em seu escritório há cinco segundos quando o seu telefone


começou a tocar. Ela tentou ignorá-lo.

Então sua segunda linha tocou.

Payton abriu os olhos e foi até sua mesa. Olhando por cima do seu
computador, viu que ela tinha vinte e cinco novas mensagens de e-mail.

Houve uma batida na porta. Sem hesitar, Irma enfiou a cabeça para
dentro do escritório.
— Oh, bem, eu pensei que você estivesse aqui. O Sr. McKane está
aguardando na linha um e Eric Riley esperando por você na linha dois. Ele quer
falar sobre o julgamento de Middleton.

Payton não conseguia respirar. Ela sentia como se as paredes estivessem


se fechando em torno dela. A terceira chamada entrou e o toque do seu telefone
parecia ensurdecedor.

Ela precisava sair.

Agora.

Ela passou por Irma dizendo: — Diga a todos que eu vou ligar de
volta. Eu... Tenho que cuidar de algo. Um assunto urgente.

Com isso, ela andou com pressa em direção aos elevadores.

***

O 55° andar alojava a biblioteca jurídica da empresa. Com tetos iguais ao


de uma grande catedral, sendo iluminada por vitrais, a grandeza da biblioteca
convinha com uma era diferente. Não era mais uma época em que advogados
consultavam livros para suas informações. Nos dias de hoje a internet era onde
ocorriam pesquisas online. Era raro encontrar uma alma viva entre os elegantes
móveis de mogno da biblioteca, nas estantes de economia. Para Ripley & Davis,
a bibliotecária solitária chamada Agnes, tinha sido contratada pela empresa
desde a sua criação.

Quase seis anos atrás, era possível se perder ao olhar para o lado das
prateleiras de contabilidade. Payton tinha topado com a biblioteca de direito
(que nem era incluída na nova turnê dos associados) e tinha encontrado ali a
sua paz. Era um oásis de serenidade em meio ao caos e agitação de outros
andares da empresa.
Na verdade, era praticamente o único lugar em todo o edifício que um
associado poderia escapar sem ser chamado, incomodado, ou qualquer outra
forma de perseguição dos sócios tentando falar sobre emergências às 16:00
horas em uma tarde de sexta-feira. Ela estava sempre utilizando a biblioteca
para tais fins. Ela só poderia supor que a biblioteca seria um ótimo lugar para se
esconder, passando despercebida.

Payton invadiu a biblioteca aliviada ao ver que ela estava vazia como
sempre. Ela se apressou passando pela mesa da bibliotecária em rota para o seu
local favorito para pensar: As prateleiras com os arquivos no canto extremo da
biblioteca.

— Olá, Agnes. — ela disse educadamente.

Agnes se virou ao som da voz de Payton. Oitenta anos se passaram e a


visão da bibliotecária não era mais a mesma. Ela sorriu e acenou na direção
errada, dirigindo-se ao ar.

— Olá Srta. Kendall! — Agnes gritou. — Veio para praticar outra


declaração de julgamento? — era a desculpa que Payton lhe dera anos atrás,
para explicar o que ela fazia enquanto passeava sozinha entre as prateleiras da
biblioteca.

— Não vou demorar muito hoje. — Payton disse por cima do ombro. Ela
só precisava de um ou dois minutos para se recompor. A notícia de Ben tinha
vindo como um choque. Toda a sua raiva estava borbulhando até a superfície e
se ela não tivesse um momento para se acalmar, ela ia explodir.

Payton foi para a seção dos Arquivos, e quando virou a esquina com
segurança, fora da vista de outras pessoas, ela parou. Ela encostou-se nas
estantes e respirou fundo. E novamente.

Acalme-se, ela disse a si mesma. Não era o fim do mundo. Ainda. Ela
ainda teria uma chance de se tornar sócia.
Oh, inferno. Antes que ela pudesse deter, lágrimas de frustração
brotaram de seus olhos. Ela olhou para o teto. Não, não, não, ela não faria
isso. Não aqui, não agora.

Foi nesse momento que Payton ouviu Agnes saudar alguém. Ela olhou
através das estantes e viu - Merda - J.D., de pé na entrada da biblioteca. Payton
viu quando ele se dirigiu até a mesa de Agnes, dizendo algo que ela não
conseguiu ouvir.

Payton olhou ao redor esperando encontrar outra saída das pilhas de


prateleiras. Ela realmente não podia lidar com J.D. logo em
seguida. Infelizmente, não havia outra saída. Espiando através dos livros, ela viu
Agnes apontando para a seção onde ela estava. J.D. balançou a cabeça em
agradecimento e começou a andar em linha reta em direção a ela.

Payton rapidamente afastou as lágrimas dos seus olhos, rezando para que
o rímel não estivesse borrado. Ela precisava se recompor rápido. Ela viu uma
escadinha próxima e subiu. Ela pegou o primeiro livro que viu na prateleira e
abriu logo que J.D. dobrou a esquina.

— Payton. — ele disse.

Ela fingiu desinteresse, levantando os olhos do livro. — Fazendo uma


pequena pesquisa, J.D.?

— Claro que não. — ele falou. — E nem você. Segui você até aqui. — ele
olhou em volta. — Estranho... Eu pensei que este era um andar de contabilidade.

Payton desceu a escadinha, ainda esforçando-se para continuar


indiferente. — Você me seguiu até aqui? Alguma razão em especial?

J.D. parecia embaraçado com a pergunta. — Eu vi você correr para fora


do seu escritório. Depois do nosso encontro com Ben, eu pensei que talvez você,
também... — ele parou sem jeito.

Grande Payton. Exatamente o que ela precisava. Da pena de J.D.. De


repente, ela sentiu as lágrimas ameaçando mais uma vez.
— Eu estou bem. — disse Payton, virando de costas para ele. —
Realmente estou bem.

Ela sentiu a mão de J.D. em seu ombro. — Não faça isso, Payton. — ele
disse em uma voz suave.

Era demais ouvir J.D. falar assim. Ela precisava fazê-lo parar. Obrigou-se
a parecer indiferente quando se virou. — O que você quer J.D.? Porque eu
pensei que talvez você pudesse, por uma vez, simplesmente recuar.

O rosto de J.D. endureceu com as palavras dela, que infelizmente saíram


mais duras do que ela queria.

Ele se afastou e cruzou os braços sobre o peito. — Bem, alguém parece


um pouco tensa. Você não estaria preocupada com esta decisão, não é?

Payton fingiu confiança. — Não.

— Não?

Ela ergueu o queixo teimosamente. — Não.

Um olhar de preocupação cruzou o rosto de J.D.. — Você já sabe. —


afirmou. — Você sabe que eles vão escolher você.

— Eu sei que se a empresa decidir por mérito, eles vão me escolher. —


disse Payton.

J.D. reduziu a diferença entre eles em um só passo. — Você realmente


acha que você é muito melhor do que eu?

Payton manteve sua posição. — Sim.

Os olhos dele se estreitaram. — Por favor, se a empresa escolher você, nós


dois sabemos o motivo.

Payton sorriu para isso. — Que motivo é esse? Meus seios?

J.D. encolheu os ombros. — Você disse isso.


— Mentira. — disse Payton. — Você, Ben, e praticamente todos os outros
homens nesta empresa são todos uma grande equipe. Todos foram para a
mesma escola da Ivy League34. Vocês são todos membros do mesmo clube do
país. E diga-me J.D., quantos amigos do seu papai CEO você prometeu que
traria como clientes? Aposto que os membros da Comissão de Parceria devem
estar muito animados. Só pensando no dinheiro que você vai trazer com suas
conexões. Ou conexões do seu pai, eu diria.

Ela estava sendo cruel e sabia disso. Mas Payton não conseguia impedir
que as comportas se abrissem e todas as emoções dos últimos 20 minutos
fossem derramadas.

Ela viu nos olhos de J.D. um flash de raiva. — Oh, mas e sobre o que
mais você pode dar a eles, Payton?

— Isso deve ser bom. Esclareça-me.

— Diversidade. Se eles escolherem você, o Comitê de Parceria pode


garantir diversidade na contratação.

Com uma batida forte, Payton jogou o livro que ela estava segurando na
prateleira ao lado dela. Poeira voou por toda parte, inclusive na manga do terno
de J.D.. — Diversidade? — ela repetiu incrédula. — Por que você não olha em
volta desta empresa e veja que todo mundo aqui é assim como você J.D.. Branco
com um pênis.

Ignorando isso, J.D. apontou para a poeira em sua manga. — Acalme-se


cupcake. Este terno foi feito à mão, costurado em Londres.

— Oh desculpe. Eu acho que você vai ter que comprar outro na próxima
vez que você visitar Sua Majestade para o chá. Ou ela não é mais uma amiga da
família? — irada, Payton empurrou J.D. do seu caminho e saiu pelas estantes.

34
É um grupo de oito universidades privadas do Nordeste dos Estados Unidos da América, entre elas,
Harvard e Columbia.
J.D. seguiu atrás dela. — Você está dizendo que eu não mereço isso? — ele
perguntou. — Eu trabalhei mais de 2900 horas nos últimos oito anos.

Payton se virou. — Eu também! E a única diferença entre você e eu é que


as estatísticas dizem que é mais provável você ficar. A empresa não se preocupa
que um dia você vai decidir querer sair às cinco para dar um beij0 de boa noite
nas suas crianças.

J.D. se aproximou dela. Em seguida, mais perto de novo, literalmente


prendendo-a contra as estantes.

— Poupe-me do seu discurso feminista Payton. Está ficando um pouco


cansativo. Eu tive que trabalhar pra caramba para chegar onde estou, enquanto
você, teve o seu bilhete premiado garantido a partir do momento em que você
entrou nesta empresa.

Payton sentiu seu rosto corar de raiva. — Sério? Bem, você sabe o
que eu penso, J.D.? — ela cutucou o peito dele com um de seus dedos. — Eu
acho que você é um grande imbecil, dono-de-pony35, miserável-em-dar-amor,
só-bebedor-de-Scotch-no-gelo, minha-esposa-fica-melhor-com-meu-
sobrenome idiota machista!

J.D. agarrou a mão dela e puxou-a. — Bem, pelo menos eu não sou um
teimoso, irritante, motorista-de-Prius, com-ombreiras-no-terno, que -‘ficar-em-
casa’-com-a-mãe-é-uma-ofensa à sua feminazi36.

Ele a tinha pressionada contra as estantes, o corpo dele contra o dela,


com a mão presa ao seu lado quando ele olhou para ela. Ela olhou de volta.

Ele estava furioso. Ela também.

Nenhum dos dois se moveu. E nesse momento, o mais estranho


pensamento veio à cabeça de Payton.

35
Perfume Rauph Laures, Polo.

36
Militante feminista, fanática, com ideais extremistas. Costuma ser misândrica, de forma velada ou
explícita. Também conhecida como Feminazista.
Ela tinha a sensação de que J.D. ia beijá-la.

E, ainda mais estranho, ela tinha a sensação de que queria.

J.D. deve ter lido a expressão em seu rosto. Payton viu os olhos dele
piscarem, mas não de raiva neste momento, e ela sentiu a mão dele de repente
chegar na sua nuca, seus braços e puxando-a pela cintura com força, a cabeça
dele inclinando-se para ela e mesmo que ela tivesse xingando-o por pensar que
ela alguma vez permitiria isso, ela fechou os olhos, abriu os lábios e...

— Com licença.

O choque da voz bateu em Payton como um balde de água fria.

Ela piscou como se estivesse saindo de um nevoeiro, e tanto ela como


J.D. viraram a cabeça para ver Agnes de pé no final do corredor, acenando para
eles. Payton só podia imaginar como isso parecia, os dois com olhares selvagens
e pressionados um contra o outro.

Ou a bibliotecária era amável, ou extremamente discreta ou, mais


provavelmente, dado aos óculos fundo de garrafa situados no alto de seu nariz,
extremamente cega. Ela sorriu para eles, enquanto ficava ali, congelada.

— Eu só queria lembrá-los que vamos fechar em 10 minutos. — ela disse


agradavelmente.

— Obrigada, Agnes. — Payton falou. Sua respiração estava


irregular. Talvez, se eles não se mexessem, a octogenária não poderia vê-
los. Como se fosse um tiranossauro rex.

— Vamos ficar apenas mais um minuto. — disse J.D.. Sua voz soava
rouca. Sexy.

Payton não tinha ideia por que acabou de pensar nisso.

Agnes balançou a cabeça. Assim que ela estava fora de vista, Payton
empurrou J.D. dela, com raiva.
— Fique longe de mim, Jameson. — ela disse com a voz ainda um pouco
insegura. Ela limpou a garganta e esperava que não estivesse corando.

J.D. se levantou e ajeitou o terno com indiferença. — Não é um


problema. Na verdade, será um prazer. — com um aceno de cabeça, ele saiu do
seu caminho.

Payton passou por ele, com os olhos para frente. Mas quando ela chegou
ao final do corredor, se virou e olhou para trás.

— Ah, e à propósito. — ela jogou os cabelos para trás fatalmente... — Essa


vaga na sociedade é minha.

J.D. a olhou. — Não aposte seu carro nisso. — com uma piscadela
arrogante, ele passou por ela e friamente saiu da biblioteca.

***

Insanidade temporária.

Essa era a sua defesa.

O estresse de descobrir que ela poderia não se tornar sócia, tinha


momentaneamente a feito se perder, todos os muros, caíram.

Sem mencionar a o mal-estar da alta altitude. Seu corpo simplesmente


não estava acostumado com os níveis mais baixos de oxigênio do 55° andar.

Mas tudo tinha passado agora.

Payton felizmente estava mais uma vez lúcida e focada. Ela havia chegado
tão longe, não perderia agora. Ela não deixaria que estes últimos oito anos,
todos fossem para nada. Em outras palavras:

Isso era guerra.


Ela ligou para Laney, durante a volta para casa, de táxi. Ela contou tudo a
sua melhor amiga. Tudo sobre seu encontro com Ben, isto é, sobre a decisão do
Comitê de Parceria de ficar apenas um sócio de litígio. Ela não viu, entretanto,
nenhum ponto em comentar sobre a discussão com J.D.. O que quer que tenha
sido aquela explosão, estava acabada. Ela tinha uma carreira, uma
potencialmente em risco, precisava se concentrar.

No final da conversa, Payton olhou o correio de voz e descobriu, em grata


surpresa, que ela tinha uma mensagem do Perfeito Chase, pedindo para
encontrá-la para uma bebida mais tarde essa semana.

Payton decidiu conhecê-lo. Ela precisava da distração.

No momento em que ela chegou em casa, conseguiu convencer-se de que


a única coisa que ela precisava era se distrair do trabalho.

***

J.D. Foi a última pessoa a sair do escritório naquela noite.

Cerca de vinte minutos atrás, ele olhou por cima do seu computador e viu
Payton arrumando sua bolsa para ir. Ela não tinha olhado nenhuma vez na
direção do seu escritório, enquanto ia embora.

Bom, J.D. pensou. Ele preferia quando eles não estavam se falando. As
coisas eram muito mais simples quando eles não estavam se falando.

Ele ainda não tinha entendido por qual motivo seguiu Payton para a
biblioteca em primeiro lugar. Claramente, isso tinha sido um erro.

Fique longe de mim, Jameson.

Como se ele já tivesse tido qualquer intenção contrária. Claro, a discussão


deles na biblioteca tinha ficado um pouco fora de controle. E houve aquele
momento em que... bem, aquilo não foi nada. E ainda mais importante, à luz da
reação dela, ele, definitivamente, não estaria interessado em tentar nada de
novo. Ele, J.D. Jameson, poderia facilmente ter encontros mais amigáveis para
desviar sua atenção do que aquela megera com raiva.

Ah, e à propósito... essa vaga na sociedade é minha.

Hmm... vamos pensar sobre isso. Ele era um dos melhores advogados da
cidade, ela mesma havia dito. Ele deveria ficar com medo? Ele jogaria a toalha,
lançaria oito anos de trabalho duro para o ralo e cederia a parceria, tudo por
causa de uma mulher equipada de saia e saltos altos?

Muito improvável.
Capítulo Nove

P ayton chegou ao

restaurante com 10 minutos de atraso.

Ela culpou principalmente Laney, que tinha micro gerenciado o encontro


desde que Payton tinha falado com Perfeito Chase e marcado há dois
dias. Felizmente, Laney tinha aprovado sua escolha do local, Sushisamba Rio,
que era chique (“nada de feminismo, Payton, deixe-o pagar”), embora não
abertamente chamativo (“mas não peça nada mais caro do que vinte e cinco
dólares, você não quer parecer como uma vadia materialista”) e tinha uma sala
de estar e de jantar separadas. Desta forma, Payton percebeu, ela e Chase iriam
começar com bebidas e, se as coisas corressem bem, poderiam ficar para o
jantar.

Agora, qualquer um que já esteve em um encontro às cegas está bem


familiarizado com “O Momento”. Aquele momento em que você entra no bar ou
restaurante ou lanchonete e verifica a multidão e de repente o seu coração para
e você diz para si mesma: oh, por favor que seja ele.

E então você pensa imediatamente, espere - não pode ser ele, por que
qualquer um que se parece com ele estaria em um encontro às cegas? Mas você
se permite esperar de qualquer maneira, até-que-inevitavelmente-uma-mulher-
igualmente-linda volta da sala de descanso e senta-se à sua mesa, e você percebe
- sorte sua - seu encontro está no bar com uma camisa azul brega de botão e
calça cáqui de cintura alta que, obviamente, acabou de terminar seu turno no
Blockbuster37.

37
Foi a maior rede de locadoras de filmes e vídeo games no mundo.
O que explica por que, quando Payton entrou primeiramente no
restaurante naquela noite, ela imediatamente percebeu o cara no bar com a
camisa escura e calça jeans, mas com a mesma rapidez voltou sua atenção para
outros lugares, aquele parecia delicioso até demais.

Não vendo outras perspectivas prováveis, Payton imaginou que o Perfeito


Chase, no mínimo, que não era tão perfeito, chegaria ainda mais tarde do que
ela, então ela sentou-se no bar para esperar. Ela ainda não tinha tido a chance
de pedir quando sentiu alguém tocar-lhe no ombro por trás. Payton se virou e
teve que reprimir seu suspiro.

Doce Jesus.

Era o delicioso na camisa escura e calça jeans.

— Payton, certo? — o delicioso perguntou com um sorriso amigável. —


Laney e Nate me ligaram e disseram o que você estava usando. Aquela menina
pensa em tudo, não é?

Uau.

Laney - aquela sorrateira republicana - tinha superado as expectativas


com esse aqui.

Payton sorriu. — Você deve ser Chase. — quando ela estendeu a mão para
cumprimentá-lo, aproveitou a oportunidade para dar-lhe uma olhada mais
aprofundada.

Ele tinha o cabelo ondulado escuro e olhos castanhos quentes. Muito


Patrick Dempsey38/ estilo McDreamy39. Boa construção, não muito alto,

38

39
Um homem galã, o fofo, bom moço, inteligente, sensível, com um olhar meio perdido... o cara dos
seus sonhos, como o próprio nome já diz.
aproximadamente 1,80, mas desde que Payton media exatamente 1,60, ela
poderia lidar com isso.

Chase pegou a mão dela. Seu aperto era firme. — É um prazer, Payton. —
ele disse, ainda com um sorriso fácil, absolutamente genuíno.

Uh-oh. O radar besteira de Payton entrou em alerta máximo. Ele


era muito bom. Ela olhou-o com cuidado, quando ele se sentou ao lado dela no
bar.

Mas enquanto eles conversavam e pediam bebidas, Payton começou a ter


uma leve suspeita de que essa rotina de cara-simpático de Chase não era uma
rotina de jeito nenhum. Ele parecia genuinamente simpático - ainda mais
chocante para um encontro às cegas - completamente normal.

— Então, Laney me disse que você é uma advogada também. — disse


Chase enquanto o bartender colocava suas bebidas na frente deles, um Martini
francês para ela, um Tom Collins para ele. Payton fez uma nota mental para
perguntar o que tinha em sua bebida na próxima vez que eles pedissem. (Ah,
sim, ela já havia decidido que haveria um segundo turno.)

Payton assentiu. — Eu faço litígios trabalhistas e de emprego. — ela falou


um pouco sobre a sua prática, em seguida, perguntou sobre a dele.

— Eu acabei de me mudar para cá para ser o novo conselheiro geral do


Chicago Legal Clinic. — disse Chase. — Talvez você já tenha ouvido falar de
nós? Nós somos uma empresa privada, sem fins lucrativos, que presta serviços
jurídicos a pessoas que atendem às diretrizes de pobreza federal.

Payton ficou impressionada. Como ele era altruísta. Sua mãe iria adorar
esse cara. — O conselho geral? Laney não tinha mencionado isso.

Chase sorriu. — Parece uma posição muito mais importante do que


realmente é.

Em sua profissão, era raro que Payton encontrasse alguém


realmente pouco disposto a se gabar. Conforme a conversa continuou, ela ficou
agradavelmente surpresa ao descobrir que Chase parecia tão modesto quanto
sobre as suas outras realizações. Quando chegaram ao tema da faculdade de
direito (um assunto que dois advogados sempre vão tocar), gostou que ele se
referiu à sua formação como “ir para a escola em Boston” ao invés de identificar
Harvard pelo nome. E quando ela perguntou o que tinha feito antes de vir para
Chicago para trabalhar para a Legal Clinic, ela quase teve que arrancar dele que
ele tinha sido o principal assistente da equipe de um certo senador que tinha
concorrido à presidência na última eleição. Ele não gostava de citar nomes, ele
disse a ela, levemente envergonhado.

Depois de um tempo, eles foram para uma mesa privada na parte de trás
do bar para a sua segunda rodada de bebidas. (Um Tom Collins, Payton tinha
aprendido desde então, consistia de gin, suco de limão, soda, açúcar, e hmm
uma cereja marrasquino40).

Quando Chase terminou de contar uma história sobre a liga de softball,


que ele e o marido de Laney disputaram, Payton levantou a cabeça, curiosa. —
Eu espero que você não leve a mal, mas você realmente não parece ser o típico
estudante de Direito de Harvard.

Chase riu bem humorado. — Isso é o que eu dizia a mim mesmo, todos os
dias, mesmo quando eu enviei meu pedido de aceitação. — ele se inclinou em
direção a ela, seus olhos castanhos dançando com diversão. — Laney me alertou
sobre isso, Payton, e só para constar eu tenho que dizer que nem todos somos
Ivy Leaguers totalmente idiotas. Alguns de nós realmente vai lá para aprender,
não apenas para conseguir se gabar por ter ido para Harvard.

Payton não podia deixar de sorrir. Ponto para você. — Agora, o que eu
deveria dizer sobre isso? Eu odeio quando vocês meninos de Harvard estão
certos.

— Então eu prometo estragar tudo no nosso segundo encontro -


se houver um segundo encontro. — Chase acrescentou com uma piscadela.

Foi a piscadela que fez Payton pensar em J.D..

40
É uma cereja preservada e adoçada, tipicamente feita com cerejas doces e de coloração clara.
Mais especificamente, nela e J.D. na biblioteca. A maneira arrogante que
ele disse a ela para não ter esperanças de se tornar sócia. Quão zangado ele
tinha ficado quando eles discutiram. O jeito que ele furiosamente a apoiou
contra as estantes. E a maneira como ele olhou para ela logo antes dela ter
ficado mal com a doença da alta altitude.

Payton empurrou a memória da sua mente. Ela estava em


um encontro. Já era ruim o suficiente ela ter que lidar com J.D. no trabalho -
não havia nenhuma maneira de ela deixá-lo invadir seu tempo pessoal, também.

Então Payton apoiou o queixo na mão e olhou para o belo homem


sentado do outro lado da mesa dela, com um sorriso muito atraente.

— Se houver um segundo encontro? — ela perguntou timidamente.

Sobre a luz da vela que cintilava no centro da sua mesa, Chase voltou a
sorrir.

— Quando houver um segundo encontro.

***

— Então, basicamente, você agiu como uma prostituta total.

— Laney!

— Um homem não vai comprar a vaca, Payton, se ele puder beber o leite
de graça.

— Nós nem nos beijamos! — Payton protestou, sem se preocupar em


esconder o riso. As coisas que saíam da boca da sua amiga, às vezes.

Elas estavam conversando no trabalho, no escritório de Payton. Ela havia


chegado em casa muito tarde para ligar para Laney na noite anterior, depois de
três rodadas de bebidas com Perfeito Chase. Os dois haviam conversado tanto
que não tinham notado quando a cozinha do restaurante fechou. Por isso,
Payton não comeu com suas três rodadas. Por isso, a leve dor de cabeça e
sensação de náusea que ela tinha lutado desde que acordou. Ela foi rapidamente
lembrada do por que ela não gosta de sair durante a semana, especialmente
quando ela tinha que estar no escritório às 7h30 da manhã.

— Espere, você não o beijou? — o tom de Laney mudou de repente e ela


olhou desconfiada para Payton. — O que há de errado? Você não gosta dele?

Payton vasculhou a pilha de instruções do júri em sua mesa. — Oh, olha


quem quer fofocar agora.

— Diga-me, Payton. — Laney exigiu. — Nate diz que Chase é um cara


muito legal. Eu já tive visões de nós sete em churrascos aos domingos.

— Nós sete?

— Têm as crianças, é claro.

Payton assentiu. — Eu entendo. E... sete?

— Nate e eu teremos gêmeos, um menino e uma menina.

— Claro que sim.

Laney se mexia na cadeira, impaciente. — Então, vamos lá, você gostou


dele?

— Claro que eu gostei dele. — disse Payton. — Quer dizer, o que há para
não gostar? Ele é bonito e agradável e bem sucedido...

— Mas?

— Bem, ele pediu uma bebida com uma cereja.

Laney suspirou. — Eu entendo. Ok, que seja. Tentei.

— O que significa isso? — perguntou Payton, na defensiva.

— Claramente, você está tentando encontrar algo de errado nele. — disse


Laney. — Sua escolha de bebida? Vamos lá, isso é ridículo.
Payton tinha problemas com isso. — Espere um segundo, por que eu iria
tentar encontrar algo de errado com Chase?

— Boa pergunta. Você me diz.

— Não há nada para contar. Como já estabelecido no comentário


‘prostituta’, eu e ele vamos a um segundo encontro.

— Eu estava apenas esperando que você realmente quisesse dar uma


chance a esse cara. — Laney falou.

— Eu te disse, eu gosto dele!

— Bom.

— Nós temos muito em comum, nós conversamos por horas.

— Fico feliz em ouvir isso — Laney não disse mais nada; ela apenas olhou
para Payton com o leve rastro de um sorriso.

— Você está toda em cima de mim com isso. — disse Payton, um pouco
irritada.

— Eu sei. Estou realmente entediada com o trabalho nos últimos tempos.

— Eu ficaria feliz em atribuir-lhe alguns dos meus casos, se você precisar


de coisas para mantê-la ocupada. — Payton resmungou.

— Como se qualquer advogado pudesse lidar com seus casos tão


habilmente quanto você. — Laney recusou suavemente.

Payton fungou com isso, parcialmente amolecida. Quanta verdade.

— Vamos torcer para que o Comitê de Parceria concorde com você sobre
isso. — disse ela.

— Qualquer novidade sobre isso? — perguntou Laney.

Payton balançou a cabeça. — Não. Só que Ben disse que J.D. e eu


deveríamos dar tudo o que temos nessas próximas semanas. — ela apontou para
a pilha de arquivos em sua mesa. — Para começar, é melhor eu ganhar este
julgamento. — ela suspirou, descansando o queixo nas mãos. — Eu não posso
perder isso, Laney.

— Você não vai. — disse Laney com naturalidade. — Você nunca perdeu
nada.

Payton olhou pela janela, para o escritório de J.D. do outro lado do


corredor. Ela podia vê-lo trabalhando com afinco, como sempre.

— Eu sei. E nem ele.

***

Pelos próximos dois dias, Payton teve pouco tempo para se preocupar
com J.D., tão absorta nos últimos preparativos para o seu julgamento. Ela e
Brandon, o colaborador júnior que trabalhava com ela no caso, ficavam em seu
escritório desde o amanhecer até o anoitecer passando através do julgamento,
para a seleção do júri, para alegações finais. O julgamento estava programado
para durar apenas duas semanas, o que significava que seria, essencialmente, a
última missão sobre a qual ela poderia ser julgada pelo Comitê de Parceria antes
que eles tomassem a decisão. Uma vitória seria uma tremenda pena em seu
boné; uma perda seria desastrosa.

Payton sabia que J.D. também, tinha muito em seu prato. No seu almoço
mensal com o grupo de litígio, ela ouviu-o falar para Max, um sócio sênior que
“simplesmente aconteceu” de estar na Comissão de Parceria, que estava fazendo
malabarismos com duas oposições de ações coletivas de certificação, das quais
estava confiante que finalizaria com sucesso até o final do mês.

Estando perto, Payton estava certa que o comentário de J.D. era para
ela. Então ela virou-se para Helen, outra sócia sênior, que também “apenas
acontecia” de estar na Comissão de Parceria, e disse que tinha ouvido falar que a
filha de Helen estava se candidatando para a faculdade de direito da
Universidade de Illinois, a Universidade de Payton.

— É uma escola maravilhosa, e um bom negócio para que o estado


assuma as mensalidades. — disse Payton.

Helen balançou a cabeça, concordando com isso. — Eu só estou


mantendo meus dedos cruzados para ela entrar. Ela não foi tão bem no teste de
admissão como esperava.

— Eu ficaria feliz em escrever uma recomendação para a sua filha. —


Payton ofereceu.

Do nada, Laney estava de repente ao lado de Payton.

— Você definitivamente deveria aceitar isso, Helen - eles adoram Payton


naquela escola. Ela é muito modesta para lhe dizer isso, mas você sabia que
Payton graduou-se como a primeira da classe e estabeleceu um novo recorde
para os resultados mais perfeitos obtidos em exames finais por qualquer outro
estudante?

Payton poderia ter beijado Laney ali.

— Uau. — disse Helen. Ela se virou para Payton. —


Estou impressionada. Talvez pudéssemos almoçar em algum momento desta
semana, Payton? Poderíamos falar sobre essa recomendação para a minha
filha. E, quem sabe? Talvez algum dia eu serei capaz de retribuir o favor... — ela
piscou.

Alguns momentos mais tarde, depois de Helen ir embora, J.D. passou por
Payton e Laney. Ele bateu palmas sarcasticamente.

— Boa jogada, senhoras. — J.D. olhou para Payton. — Mas eu não


reservaria esse voo para Bora Bora, no entanto, Kendall. Vai custar muito mais
do que o voto de uma fêmea no Comitê de Parceria para ganhar isso. — ele
sorriu. — Eu já tinha admitido aquele voto para você, de qualquer maneira.
Com isso, ele virou-se e caminhou confiante para fora da sala de
conferência. Payton e Laney assistindo-o sair.

Laney balançou a cabeça. — Inacreditável.

Payton assinalou. — Viu - eu te falei.

— Esse homem tem uma bunda tão grande.

— Laney!

— O que? Sou conservadora, Payton, não cega.

***

Lá pelas cinco, início da noite antes do seu julgamento começar, Payton


atingiu seu ponto de saturação. Ela havia preparado todos os seus
direcionamentos e interrogatórios, tinha praticado seu discurso de abertura,
revisto e anotado na deposição de transcrição de cada testemunha, e tinha
cuidadosamente preparado as testemunhas do seu cliente para os seus
testemunhos. Agora não havia mais nada para ela fazer a não ser aceitar o fato
de que não havia mais nada para ela fazer. Não é uma tarefa fácil, considerando
o que ela sentia que estava apostando no resultado deste julgamento.

Ela precisava de uma distração. Deixada à sua própria sorte, ou ela a


deixaria louca, se preocupando com minúcias insignificantes, ou começaria a
ligar para Brandon com perguntas, deixando-o louco.

Laney estava ocupada, Payton sabia. Hoje à noite, sem o conhecimento


de Nate, sua amiga tinha preparado uma apresentação do PowerPoint para o
seu marido, completo com gráficos de rendimento, análises de custo de vida, e
uma projeção de fertilidade, logicamente detalhando todas as razões por que
eles precisavam começar a tentar ter um bebê agora. E quanto aos seus outros
amigos, Payton sabia melhor do que chamá-los, nada era mais irritante para um
não advogado do que ficar preso com um na noite antes de um
julgamento. Cada frase tende a começar com: — Então, se você fosse um jurado
neste caso, o que você pensaria se...?

Havia, no entanto, alguém que seria a companhia perfeita para a


noite. Ela pegou o telefone em sua mesa.

— Oi. — ela disse quando ele atendeu. — Eu sei que está em cima da hora,
mas eu pensei em ver se você está livre para jantar hoje à noite.

***

Uma hora mais tarde, Payton esperava no saguão do restaurante


DeLaCosta. Ela conseguiu reservar uma mesa ao longo da janela, com vista para
o canal.

Ela sorriu quando Perfeito Chase entrou, parecendo muito arrojado em


seu agasalho leve de verão e calças marrom escuro.

Ele devolveu o sorriso quando ele tomou o assento à sua frente. —


Desculpe, meu táxi ficou preso no trânsito.

A garçonete se aproximou para anotar seu pedido.

— Um Tom Collins. — Chase disse a ela. — Mas, por favor, certifique-se


que não haja absolutamente nenhuma cereja nele.

Payton quase morreu de vergonha ali. Oh meu Deus, ela ia matar Laney.

Chase riu do olhar tímido no rosto de Payton. — Está tudo bem,


Payton. Eu não fico ofendido facilmente. — ele estendeu a mão sobre a mesa e
tomou a dela, acariciando levemente seu polegar nos seus dedos. — Estou feliz
por você ter ligado.

Payton relaxou. Era praticamente impossível não gostar de Chase. Ele era
tão fácil de lidar, estar com ele era tão... confortável.
— Estou feliz que você pôde vir. — ela disse a ele. Depois de tudo,
confortável era bom.

Não era?

A garçonete trouxe para Chase sua bebida - sem a cereja - e perguntou


aos dois se eles gostariam de pedir aperitivos.

Payton pediu um momento. Ela leu rapidamente o menu, de forma


rápida à procura de coisas sem carne. Ela nunca se ansiava por isso em seu
primeiro jantar com um cara; ela odiava parecer exigente.

Ela viu Chase à espreita dela, aparentemente um pouco constrangido


consigo mesmo. — Tendo em conta o fiasco da cereja, eu quase odeio dizer isso,
mas eu devo avisá-la que eu sou vegetariano.

Payton pousou seu cardápio sobre a mesa em descrença. — Eu também!


— ela riu. Coincidência engraçada.

— Há quanto tempo? — perguntou Chase.

— Desde o nascimento. Obra de minha mãe.

— Peixe?

— Não. Nada com uma cara. — como minha mãe costumava dizer.

— Nada com uma cara. — Chase repetiu. — Eu gosto disso.

Depois que eles decidiram tentar aperitivos sem carne, Chase sinalizou
para a garçonete e fizeram seu pedido. Enquanto Payton o olhava, não podia
deixar de pensar: se ela tivesse o criado à La Weird Science41 no build-a-
date.com42, o tivesse embalado, embrulhado com um laço vermelho e enviado à

41
Filme de 1985, título traduzido no Brasil como Mulher Nota 1000, em que o protagonista constrói a
mulher dos seus sonhos.

42
Site norte-americano que organiza encontros conforme as suas preferências.
sua porta da frente, ela não poderia ter encontrado um cara aparentemente mais
perfeito para ela do que Chase Bellamy.

Então, por que havia algo a incomodando?

Ela só estava de mau humor, se assegurou. Estava se sentindo ansiosa e


sob pressão com a iminente decisão da sociedade. Nada mais.

Ela ouviu Chase lhe fazer uma pergunta; ele queria saber sobre o seu
julgamento. Ele disse que adoraria passar pelo tribunal um dia para vê-la.

Payton deixou de lado suas dúvidas.

Afinal, seria de fato uma mulher boba não gostar de um homem


simplesmente porque ele gostava dela.
Capítulo Dez

Tudo começou

inocentemente o bastante.

Payton estava no segundo dia do seu julgamento, e as coisas estavam


progredindo bem. Sua cliente, uma operadora de telefonia móvel do Fortune
500, foi processada por assédio sexual decorrente de um incidente que ocorreu
em um dos seus escritórios de vendas. De acordo com a autora, uma
representante de vendas do sexo feminino, havia aceitado uma carona do seu
gerente do sexo masculino, após o cruzeiro anual da empresa e depois de
estacionar em sua garagem, o gerente tinha - por assim dizer - feito uma
proposta sexual a ela.

Ou - pode-se talvez também dizer - ele abriu a braguilha e perguntou se


ela queria “fazer um teste-drive na sua vara do amor”.

Que o incidente tivesse ocorrido ou não, não estava em discussão, pois a


autora tinha sido inteligente o bastante para tirar uma foto da referida vara do
amor com seu celular, que agora era conhecida como “Anexo A” do julgamento.

— Demita o cara. — Payton havia aconselhado sua cliente, em termos


inequívocos, quando o incidente veio à tona há pouco mais de um ano atrás. — E
diga a ele para entrar na linha. Isso é tão embaraçoso.

Demitir o gerente, no entanto, não tinha sido suficiente para satisfazer a


autora, que tinha esbofeteado a empresa com um processo de dois milhões de
dólares. Porque ninguém contestou que o incidente tivesse ocorrido, o trabalho
de Payton no julgamento era de estabelecer que a empresa tinha com eficiência
e de forma adequada, respondido ao incidente, absolvendo-a, assim, de
qualquer responsabilidade nos termos da lei.

O primeiro passo da sua estratégia de defesa começou no primeiro dia de


julgamento, com a escolha do júri. À luz da exposição do "Anexo A” (que os
advogados do requerente tinham ampliado a proporções absurdamente
gigantescas e, sem dúvida, planejado exibir durante todo o curso do
julgamento), Payton tinha evitado a seleção de qualquer jurado que ela achava
que tinha o que se poderia chamar de “sensibilidade delicada”. Alguém que
talvez tendia para o que se poderia descrever como um “ponto de vista
conservador moralista”; aquele que poderia ficar indignado com a conduta do
ex-empregado da ré e querer aliviar essa indignação na forma de dólares
jogados na direção da autora.

Em outras palavras, nenhuma Laney.

Ninguém que desse uma olhada em uma foto colorida de


aproximadamente dois metros de um pênis meio duro pulando para fora de
uma calça Dockers43 (Olá!) e prontamente perguntasse quantos zeros tem em
um zilhão.

A partir daí, a segunda etapa da estratégia de defesa de Payton era definir


o tom certo para o julgamento em seu discurso de abertura: simpático, mas
firme. Compreensivo e de pleno acordo que varas do amor devem ser mantidas
firmemente escondidas atrás de zíperes fechados, mas racional e lógico para
orientar o júri a entender que sua cliente, a empregadora, não era
financeiramente responsável pela quantia de dois milhões de dólares pelas
ações de um ex-empregado patife. Payton esperava que tivesse realizado essa
tarefa esta manhã. J.D. estava certo quando ele disse a Jasper que ela tinha
bastante experiência em processos, e com isso ela gostava de pensar que era
bastante hábil em ler a linguagem corporal dos jurados. Ela começou seu
discurso de abertura, gesticulando para o “Anexo A”, uma foto de dois metros de
um pênis meio duro, que o advogado do autor havia exibido na frente e no
centro, durante seu discurso de abertura.
43
Marca de roupa masculina.
— Uau. — Payton disse, olhando para a foto quando ela se virou para o
júri para começar. — Se o café do tribunal não foi suficiente para acordá-los,
visto que são nove horas, tenho certeza que isto irá.

O júri riu.

Agora, qualquer dia em que uma pessoa fornece uma declaração de


abertura, em pé, na frente de um outdoor de dois metros de uma genitália
masculina semiereta, é claramente um dia incomum. Mas isso era apenas a
ponta do iceberg de eventos que saíram do controle ao longo das próximas 48
horas.

Payton voltou para o escritório durante a sua pausa para o almoço; ela e
Brandon planejavam usar o tempo para rever os interrogatórios das
testemunhas da acusação que começariam naquela tarde. Quando ela chegou ao
escritório, no entanto, encontrou Irma em um estado frenético, vasculhando os
arquivos sobre a mesa de Payton.

— Graças a Deus você está aqui. — disse Irma assim que viu Payton
caminhar através da porta. — Marie ligou. Ela está procurando em todos os
lugares pelos recibos do seu jantar no Japonês com os representantes da
Gibson. Ela precisa apresentá-los antes do fim do ciclo de faturamento. A
Contabilidade não irá processar qualquer um dos gastos com a apresentação de
vocês até que eles tenham todos os recibos em mãos.

Payton fez uma careta. — J.D. pagou pelo jantar, não eu. Ele deve ter o
recibo.

Irma olhou para ela sem poder fazer nada. — Eu sei, e eu disse isso à sua
secretária, mas ela não conseguiu encontrá-lo em seu escritório.

— Então diga a ela para simplesmente perguntar a J.D. onde está.

— Ele está na sala de conferências no andar de cima, preparando-se para


uma audiência que ele tem esta tarde. Ele disse a Kathy que procuraria pelos
recibos depois. — Irma suspirou desculpando-se. — Eu sinto muito, Payton, eu
sei que você também está ocupada. Eu não quero incomodá-la com isso. É que
Ben está nas costas de Marie sobre isso, o que significa que ela está nas minhas.

Payton olhou para o relógio. Ela queria que Irma digitasse as notas do
julgamento que Brandon tinha tomado naquela manhã antes que ela voltasse ao
tribunal em uma hora e meia. Quanto mais rápido ela pudesse resolver esse
negócio sobre o recibo, melhor.

Ela entregou as notas para Irma. — Aqui, tome isso e comece a digitá-
las. Vou olhar no escritório de J.D. e ver se consigo encontrar o recibo.

Irma balançou a cabeça e saiu correndo. Payton atravessou o corredor e


entrou no escritório de J.D..

A cara de J.D., ela pensou, ignorar algo tão básico como a apresentação
de um recibo. Em todo caso, era uma indicação da pressão que ele tinha estado,
uma vez que Ben tinha deixado cair sua bomba que apenas um deles seria sócio.

Bom. Ela estava contente de ver que ela não era a única que estava no
limite estes dias.

Payton olhou primeiro em cima do aparador que corria ao longo da


parede do escritório de J.D., procurando o recibo ou qualquer tipo de arquivo
relacionado ao assunto da Gibson. Não encontrando nada lá, ela foi para a mesa
dele.

No início, ela não viu nada. Então, quase tendo esquecido dele, ela viu um
pequeno pedaço de papel que espreitava para fora do calendário ficava na mesa
de J.D.. Querendo saber se isso poderia ser o recibo, Payton chegou
apressadamente ao longo para levantar o calendário e...

Merda! - De alguma maneira conseguiu derrubar um copo de Starbucks


empoleirado perto da borda da mesa de J.D.. Café derramou pela tampa. Payton
imediatamente reagiu, pegou o copo, mas não rápido o suficiente, café
derramou sobre a borda da mesa de J.D. e na cadeira dele...

E à direita, no paletó, que ele provavelmente tinha colocado muito


arrumado sobre o braço da cadeira para evitar rugas.
Payton xingou baixinho enquanto se mexia; ela procurou ao redor por um
guardanapo, Kleenex, qualquer coisa para limpar o café, que foi rapidamente se
fixando no terno de J.D.. Não vendo nada, pegou o casaco, talvez ela pudesse
limpá-lo com água fria ou algo assim, ela passou a observar a etiqueta, que tinha
sido feito sob medida em Londres. Ela sorriu, é claro que tinha sido. Lembrou-
se de novo da discussão deles na biblioteca e a maneira presunçosa que J.D.
tinha dito...

— Que diabos você está fazendo?

Payton congelou ao ouvir o som da voz dele.

Ela soube imediatamente como deveria parecer, ela segurando um copo


de café na mão, seu terno manchado na outra. E um sorriso no rosto.

Payton olhou e viu J.D. parado na porta com uma expressão muito
brava. Ele segurava sua pasta, como se estivesse preparado para sair para o
tribunal, e é claro que ele estava impecavelmente vestido com uma camisa sob
medida e calças que se encaixavam perfeitamente.

Ela não tinha ideia de por que acabou de perceber isso.

Seguindo em frente.

Ela se virou para J.D. para explicar. — Eu estava procurando pelo recibo
do jantar da Gibson's.

J.D. a ignorou. Ele apontou. — Será que é café no meu casaco?

— Siiii...m.

Ele cruzou os braços sobre o peito. — Oh, eu vejo. Talvez você pensou que
eu escondi o recibo da Gibson em um copo de Starbucks?

Payton foi para uma piada. — Não é a minha maneira de arquivar as


coisas, mas... — ela parou.

Ele não estava se divertindo.


J.D. levou-a com uma inclinação de zombaria na cabeça dele. — Isso é
terrivelmente passivo-agressivo para você, não é?

Payton olhou para ele. É claro que ele pensou que ela tinha feito isso de
propósito.

Agora, ela cruzou os braços sobre o peito. — Você tem que estar
brincando. — ela estava prestes a pedir desculpas, mas agora, também... dane-se
ele. Ela não estava mais com vontade.

— Então, o que é isso, sua fraca tentativa de sabotagem? — perguntou


J.D. com desdém. — Deixe-me adivinhar, você ouviu que eu estaria no tribunal
para uma audiência esta tarde então você pensou que iria me fazer parecer um
idiota.

— Você não precisa de nenhuma ajuda minha com isso.

Os olhos de J.D. se estreitaram com raiva.

— E eu dificilmente preciso recorrer à sabotagem para ser a aquela com


quem a empresa fará sociedade. — acrescentou Payton.

— Na verdade, eu acho que você deve estar muito preocupada, se você


está disposta a se rebaixar a este nível. — J.D. ergueu um dedo, vitorioso. —
Mas, felizmente, eu mantenho um terno de reposição em meu escritório.

J.D. fechou a porta, apontando para um saco de roupa que estava


pendurado na parte de trás dela. Ele abriu o zíper e tirou orgulhosamente um
segundo terno, que era tão caro quanto parecia. Colocou o terno sobre uma das
cadeiras em frente à sua mesa e olhou para Payton presunçosamente. Tã-dã.

Ela revirou os olhos para ele. — Você sabe, eu ia explicar, mas agora nem
vale a pena. — ela passou por J.D. para deixar seu escritório, esquecendo
momentaneamente que ela ainda segurava, tanto o paletó, quanto o copo de
café.

— Fugindo das responsabilidades.

Payton parou em suas palavras.


Fugindo das responsabilidades?

Fugindo das responsabilidades?

Payton Kendall não fugia das responsabilidades.

Ela virou-se para encará-lo.

Com um sorriso arrogante, J.D. se sentou em sua mesa. Ele se inclinou


para trás, cruzando as mãos atrás da cabeça. — Algo que você gostaria de dizer
antes de sair, Payton?

Ele estava provocando-a, ela sabia disso. Ela considerou deixar isso para
lá. Poderia virar e sair do seu escritório sem dizer uma palavra. Em duas
semanas, de um jeito ou de outro, ela nunca teria que lidar com ele novamente.

J.D. confundiu a pausa de Payton com hesitação.

— Nesse caso. — disse ele, apontando para o paletó que ela ainda
segurava. — Eu vou esperar que você consiga uma lavagem a seco em um lugar
decente. Apenas certifique-se de me devolver antes de colocarem a sua bunda
para fora daqui. — dispensando-a, ele se voltou para o seu trabalho.

Payton suspirou. Oh, bem. Ela já havia tentado.

— Não tem problema, J.D.. — disse ela, bem-humorada. — E enquanto eu


estou nisso, que tal o seu segundo terno de reposição? Ele precisa ser lavado a
seco, também?

J.D. olhou por cima de seu computador, confuso. — Eu não tenho um


segundo terno de reposição.

— Oh. Isso é uma pena. — e com isso, Payton arrancou a tampa do copo
de Starbucks e rapidamente jogou o café restante em todo o terno que ele tinha
colocado tão ajeitadamente sobre a cadeira.

A boca de J.D. caiu. Ele lentamente olhou para ela. — Oh. Não.
Você. Não.
Payton olhou para o terno. Puta merda, ela tinha, ela realmente tinha.

Ela cobriu a boca para mascarar o seu próprio olhar de


choque. Ooops. Mas era tarde demais para voltar atrás agora.

— Você pode me cobrar pela limpeza a seco, J.D. e, hum, pela xícara de
café também. — com isso, ela delicadamente colocou o copo de café agora vazio
na mesa dele.

Em seguida, fez uma rápida reviravolta à la papa-léguas e conseguiu sair


de lá rapidamente.

Payton correu pelo corredor, voando pela mesa da secretária de J.D.,


depois a de Irma. Ela tinha acabado de chegar à porta do seu escritório quando
ouviu J.D. gritar o nome dela.

— Payton!

Parando em sua porta, ela se virou.

J.D. estava em sua porta com o que tinha de ser apenas o olhar mais
furioso que ela já tinha visto no rosto de qualquer ser humano.

Eles se enfrentaram do outro lado do corredor, como dois pistoleiros do


velho Oeste se preparando para sacar. Payton podia praticamente ver os
tumbleweeds44 rolando com o vento soprando.

Com um olhar astuto, ela olhou para Irma e Kathy, que estavam sentadas
em suas mesas curiosamente olhando para ela e J.D.. Então ela se virou para ele
com uma sobrancelha levantada.

— Sim, J.D.? — ela respondeu timidamente. Todos esses anos eles


brigaram em segredo... ela sabia que ele não ia explodir a cobertura agora.

44
J.D. olhou ao redor, consciente de que seu grito havia atraído muito o
interesse dos outros ao redor do escritório. Ele fez uma pausa, em seguida, deu a
Payton um breve aceno de cabeça.

— Eu só queria te desejar boa sorte no tribunal esta tarde.

Payton sorriu da segurança do seu escritório. — Obrigada, J.D., isso é tão


doce. E boa sorte para você também. — com um gesto exagerado dela mesma,
uma ligeira reverência, ela se virou e se dirigiu para seu escritório.

Payton fechou a porta atrás dela. Ela encostou-se nela, o sorriso


permanecendo no rosto. Em alguns sentidos, pensou ela, era realmente uma
pena J.D. ter que ir.

Ela quase sentiria falta disso.

***

Com cada avanço, a cada passo que ele dava enquanto andava três
quadras até o tribunal, J.D. ficava mais e mais furioso.

Ele tinha que deixar como estava; ele estava correndo porque pretendia
passar por suas alegações uma última vez na sala de conferências, querendo que
elas fossem perfeitas.

E agora, perfeito estava definitivamente fora de questão.

Ele poderia estrangulá-la.

Talvez, ele disse a si mesmo, a mancha não estivesse tão ruim quanto
tinha estado da última vez que ele olhou. Talvez algum café tenha evaporado na
caminhada para o tribunal. Ele olhou para baixo, esperançoso.

Foda-se, parecia ainda pior do que se lembrava.


Vestir seu traje de reposição estava fora de questão, Payton tinha
efetivamente derramado mais da metade de um café sobre ele. Vendo que ele
não tinha tempo para ir para casa e se trocar, ou até mesmo comprar uma outra
peça, ele estava preso, portanto, a usar o que ela tinha “acidentalmente”
derramado café primeiro, um terno cinza escuro conservador que, infelizmente,
não era escuro suficiente.

Ele parecia um idiota.

Só podia esperar que a iluminação na sala de audiências fosse fraca, e que


o juiz, que estava sentado a quatro metros de distância do pódio que ele estaria
argumentando, de alguma forma, não notasse a mancha de mocha do tamanho
de uma laranja estampada no lado esquerdo do seu peito.

J.D. chegou ao Dirksen Federal Building e correu para dentro. Ele teve
que tirar o casaco para passar pela segurança, e ficou momentaneamente
tentado a deixá-lo fora da sua argumentação oral, mas decidiu no final que
aparecer sem paletó na corte não era apenas desrespeitoso, mas também muito
mais propenso a atrair atenção negativa do juiz.

O elevador estava lotado durante o passeio de J.D. até o vigésimo terceiro


andar. Ele esperou até o último minuto para colocar seu paletó de volta, fazendo
isso direito antes que ele entrasse na sala de audiências. Ele imediatamente foi
para a frente e sentou-se na galeria enquanto esperava que seu caso fosse
chamado.

J.D. nunca antes tinha se sentido autoconsciente sobre sua aparição no


tribunal (ou nunca, realmente, tinha pensado sobre isso) e ele odiava se sentir
assim agora. Ele tinha uma imagem a defender, afinal: ele era um advogado de
defesa corporativa - tinha sido pago centenas de milhares de dólares para
defender corporações multimilionárias. Seus clientes esperavam, e pagavam,
pela perfeição. Eles não pagavam para ter sua exemplificação importante de
oposição às propostas de certificação de classe discutidas por algum idiota que
parecia que tinha derramado seu Café Coolatta Dunkin’ Donuts inteiro sobre si
mesmo, enquanto conduzia nos subúrbios, em seu Ford Taurus.

J.D. estremeceu com a mera imagem.


Seu caso era o terceiro em pauta. Quando o funcionário chamou o seu
caso, ele se levantou, ajeitou a gravata e esqueceu todo o resto. Ele tinha um
trabalho a fazer.

Levantou-se para o pódio e acenou para seu conselho de oposição, que se


aproximou do outro lado da sala do tribunal. Se o advogado dos queixosos
notou a mancha em seu paletó, ele não percebeu, e J.D. estava imediatamente
grato pela iluminação mais suave do tribunal.

Advogados dos autores argumentaram primeiro. J.D. ouviu atentamente,


observando cuidadosamente os pontos onde o juiz interrompeu e fazendo
anotações mentais para lidar com essas questões. Quando os reclamantes foram
por mais 10 minutos, J.D. pisou na frente e no centro no pódio. A oposição a
movimentos de certificação de classe eram de importância crucial nos casos que
J.D. manipulava e, felizmente, eles eram o seu forte.

J.D. começou.

— Meritíssimo, hoje é o dia em que o Tribunal de Justiça deve pôr fim a


seis anos da charada da ação de classe do Senhor DeVore. Ao afirmar uma
violação do contrato e reconvenção buscando a certificação de classe de âmbito
nacional, o Sr. DeVore tem literalmente tornado um caso federal, o que deveria
ter sido um processo de execução simples. Qualquer que seja o Tribunal de
Justiça, faz do contrato de hipoteca e as disposições do Sr. DeVore desafios, uma
coisa é certa, nenhuma classe pode ser certificada neste caso, porque o Sr.
DeVore não é um representante da classe adequado. Ele cometeu perjúrio em
seu depoimento...

Foi mais ou menos nesse ponto que J.D. notou o juiz inclinado para a
frente em sua cadeira. Ele olhou para baixo, curiosamente do banco, tentando
dar uma olhada melhor em alguma coisa.

O juiz de repente levantou a mão para detê-lo. — Conselheiro. — ele


perguntou a J.D. com uma sobrancelha interrogativa. — Você conseguiu ser
baleado no caminho para cá?
O juiz inclinou-se mais longe da bancada. Ele olhou para o peito de J.D.,
tentando obter uma vista melhor da mancha.

— O que é isso?

J.D. só podia ficar lá no pódio, enquanto o deputado do tribunal, o


funcionário, o advogado dos queixosos e agora praticamente todos os outros em
todo o maldito tribunal fixavam-se na marca do tamanho de uma bola de
softball no seu terno.

Tanto para passar despercebido.

***

E então ficou pior.

Naturalmente, John Grevy, um parceiro no grupo litigante na firma do


J.D., aconteceu de ter uma moção perante o mesmo juiz esta tarde.

— É por isso que dizemos aos associados para manter um terno de


reposição em seus escritórios. — ele sussurrou em desaprovação, enquanto J.D.
passava por ele em seu caminho para fora da sala do tribunal.

Realmente, John? Ele desejava que pudesse dizer. Sem brincadeira.

E depois, ficou pior ainda.

Uma vez fora da porta do tribunal, J.D. abaixou a pasta, correndo para
tirar o paletó manchado o mais rápido possível. Ele ouviu uma voz familiar atrás
dele.

— Você está tentando me envergonhar, ou apenas a si mesmo?

J.D. fechou os olhos. Brilhante. Exatamente o que ele precisava naquele


momento.

Ele se virou, ficando cara-a-cara com o homem de pé diante dele.


— Olá, papai. Você por aqui. — disse ele, embora, na verdade, não era
muito surpreendente. Como um juiz no Tribunal de Sétima Corte de Apelações,
os gabinetes das câmaras do seu pai eram neste mesmo edifício.

O estimado Excelentíssimo Preston D. Jameson encarou J.D. com muita


decepção. Era um olhar que J.D. conhecia bem.

— Margie viu seu nome na pauta desta manhã. — disse o pai, referindo-se
à sua secretária. — Ela cuida dos seus casos. Desde que sua mãe e eu não vimos
você em um tempo, eu pensei que eu podia parar e prestar atenção na sua
argumentação oral.

Preston deu um passo mais perto, seu olhar fixado no paletó do seu
filho. J.D. preparou-se para o inevitável.

— Você parece ridículo. — seu pai disse a ele. — Você realmente devia ter
um terno de reposição em seu escritório.

— Obrigado pela dica, Meritíssimo. — disse J.D. sarcasticamente. Ele


pegou sua mala e entrou no elevador, que tinha acabado de abrir.

— Diga à mamãe que eu disse olá. — disse laconicamente quando as


portas do elevador se fecharam.

No interior, J.D. olhou para frente enquanto o elevador descia. Ele só


tinha um pensamento em sua mente.

Vingança.

Logo seria ele.


Capítulo Onze

A chance dele veio

algumas horas depois.

J.D. estava em seu escritório, naquela noite, esperando apenas o


momento certo. Surgiu quando Laney veio buscar Payton para a sua aula de
yoga.

Ele se sentou em sua mesa, fingindo trabalhar, roubando olhares para o


outro lado do corredor. Por um momento, ele pensou que poderia ter que
abortar a missão, enquanto Laney aparentemente tinha dificuldade em
conseguir que Payton saísse.

— Você sabe que está preparada. — ele ouviu Laney dizer a ela. — Vamos
lá, a aula irá ajudá-la a relaxar.

J.D. estava familiarizado com a rotina; ela e Laney iam para essa aula a
cada semana, não que ele prestasse atenção no paradeiro de Payton ou nada
assim, e hoje não foi exceção. Ela se trocou para-alguma-outra-merda-hippie de
yoga, deixando suas roupas de trabalho para trás em seu escritório.

J.D. viu quando ela e Laney saíram. Por um breve segundo, ele pensou ter
visto Payton olhar em direção ao seu escritório, mas ele provavelmente estava
apenas sendo paranoico. Quando elas foram embora, ele esperou e esperou mais
alguns instantes, apenas para ficar seguro. Ele tinha cerca de uma hora para
realizar a sua tarefa, o que estava bom. Ele precisaria de apenas alguns minutos.

J.D. furtivamente se arrastou pelo corredor. Ele estava preparado,


carregando uma pasta dobrada em sua mão - se a missão fosse comprometida e
ele precisasse de uma cobertura rápida, sempre podia dizer que ele estava em
seu escritório para deixar um arquivo. Realmente, porém, ele estava sendo
cauteloso: já estava no meio da noite e a grande maioria do escritório tinha ido
para casa. Ele poderia fazer seu negócio deliciosamente escondido.

Restringindo o desejo de soltar uma risada má, J.D. verificou, viu que
estava tudo limpo, abriu a porta do escritório de Payton, e entrou. Uma rápida
olhada ao redor e viu o que ele estava procurando no chão, no canto do
escritório.

Os sapatos dela.

O motivo dele era simples: se ela quisesse ser baixa e suja nesta corrida
pela vaga na sociedade, que assim seja. Ela o fez parecer um idiota no tribunal,
por isso agora... bem, vingança era uma cadela.

J.D. agarrou um dos seus sapatos, um de sete centímetros, salto fino


preto um à La Sr. James Choo. E ela teve a coragem de chamá-lo de um esnobe
com roupas. O salto fino seria certamente seu prejuízo desta noite, mesmo que
fizesse suas pernas parecerem incrivelmente fantásticas.

Ele não tinha ideia de por que acabou de pensar nisso.

Percebendo que ele estava em perigo de perder o foco, ele enfiou o sapato
na pasta dobrada e saiu correndo do escritório de Payton para a sala de
suprimentos.

***

O cortador de papel fez um trabalho incrível.

Realmente, aquela lâmina cortou diretamente, na metade do salto, sem


deixar uma marca.

Um pouco de cola invisível - apenas um pouquinho - para colar o salto


temporariamente de volta e pronto.
A vingança era doce, de fato.

***

Payton se sentia horrível.

O êxtase da sua vitória naquela tarde durou cerca de 20 minutos antes da


culpa se instalar.

Sim, J.D. era incrivelmente, frustrantemente arrogante e presunçoso. Ele


havia deliberadamente tentado empurrar seus botões e ela duvidava que ela
tivesse muitos problemas em convencer um júri de que ele mereceu. Mas ainda
assim.

Ela se sentia horrível.

Passando através dos acontecimentos do dia, ela agora questionava, se


deveria ter mexido no seu escritório em primeiro lugar. Ela não sabia por que se
sentiu confortável em tomar tais liberdades, uma vez que ele era seu inimigo
jurado e tudo.

E depois havia a pequena questão do - ahem45 - café.

Como litigante, ela sabia o quanto importavam as aparências no


tribunal. Para piorar a situação, ela tinha ouvido através de fofocas na empresa,
(ou seja, Irma) que um dos sócios tinha visto J.D. no tribunal e repreendeu-o
pela mancha no terno. Pelo que ela se sentiu particularmente mal.

Então, agora chegou a parte mais difícil.

Ela precisava se desculpar.

45
Representa o som feito quando se limpa a garganta.
Antes de sair com Laney para sua aula de ioga, ela olhou na direção do
escritório de J.D. e momentaneamente tinha estado tentada a fazer isso
pessoalmente, mas, bem, isso não era exatamente fácil para ela.

Então, em vez disso, ela se deitou na cama naquela noite, tendo decidido
primeiramente pedir desculpas na parte da manhã antes que ela se dirigisse ao
tribunal. Mas o sono lhe fugia. Frustrada, Payton virou e pegou o telefone na
mesa de cabeceira ao lado da cama.

Ela olhou para ele por um longo momento, debatendo. Então ela ligou.

***

A mensagem foi a última coisa que J.D. ouviu naquela noite.

Por costume, ele olhou o correio de voz do trabalho uma última vez antes
de ir dormir e ficou surpreso ao descobrir que alguém tinha ligado pouco antes
da meia-noite.

O correio de voz automático indicou que a chamada tinha vindo de fora


do escritório. A pessoa que ligou não se identificou; ela só começou, como se
estivesse no meio de uma conversa. Mas J.D. reconheceu a voz imediatamente.

— Então, eu sei que você provavelmente vai pensar que isso é uma fuga
de responsabilidade, também. — começou a mensagem de Payton. — Mas está
tarde e talvez você esteja dormindo e eu suponho que eu poderia apenas dizer
isto na parte da manhã, mas agora eu não consigo dormir e estou deitada aqui,
então eu poderia muito bem acabar com isso, e bem...

Houve uma longa pausa, e por um momento J.D. pensou que a


mensagem tinha terminando. Mas, então, ela continuou.

— Eu sinto muito por esta tarde, J.D. O primeiro derramamento


sinceramente foi um acidente, mas o segundo... ok, foi completamente
desnecessário. Eu ficaria feliz em pagar a limpeza a seco. E, bem... eu acho que é
isso. Embora você realmente possa querer repensar sobre deixar o seu casaco
em sua cadeira. Só estou dizendo. Ok, então. É para isso que eles fazem
cabides. Bom. Então. Tchau.

J.D. ouviu o sinal sonoro, indicando o fim da mensagem, e ele desligou o


telefone. Ele pensou sobre o que Payton tinha dito, não tanto seu pedido de
desculpas, que era habilmente medíocre na melhor das hipóteses, mas outra
coisa.

Ela pensava nele enquanto estava deitada na cama.

Interessante.

***

Mais tarde naquela noite, depois de dormir por algumas horas, J.D.
atirou-se na cama.

De repente, ele lembrou - o sapato dela.

Oops.
Capítulo Doze

J .D. correu para o

escritório na manhã seguinte, ansioso para chegar lá antes de alguém. Uma


rápida olhada ao redor lhe disse que ele era o primeiro no andar. Ele foi direto
para o escritório de Payton e uma busca apressada revelou o que ele temia que
seria o caso.

Os sapatos tinham desaparecido.

Ele não havia recebido ameaças de morte naquela manhã, por isso, ou o
salto tinha aguentado o caminho do trabalho para casa ontem à noite, ou ela
simplesmente tinha ficado com seus sapatos de yoga depois da aula.

Bem. Sem problemas. Ele iria esperar ela chegar. Não que ele tivesse
qualquer fodida ideia do que ele ia dizer quando a visse. “Oi, Payton, obrigado
pelo pedido de desculpas, foi legal. Viu que tenho muffins na sala de
descanso? Ah, à propósito, eu cortei um de seus saltos e os colei
desastrosamente de volta na esperança que quebrasse no tribunal e a deixasse
mancando como uma prostituta bêbada de uma perna só. Tenha um bom dia.”

De alguma forma, ele tinha a sensação de que não poderia sair disso tão
bem.

Quando nada mais lhe veio à mente, J.D. decidiu que iria improvisar. Ele
era bom em pensar estratégias em cima da hora.

Então ele esperou em seu escritório. Ele olhava para cima de sua mesa
cada vez que alguém entrava, esperando ver Payton a qualquer momento.
Quando 8h00 chegou, então 8h:30, ele ficou um pouco preocupado. Às
9h:00 ele estava em um pânico total, pensando no pior cenário. E se ela
estivesse usando os sapatos em seu caminho para o trabalho e o salto de repente
quebrou e ela caiu e quebrou o tornozelo? Ele deveria refazer sua rota para o
escritório? Espere, ela normalmente usava o “L” para vir ao trabalho. E se ela
tivesse tropeçado enquanto entrava, torcido, aleijado, ou se separado de algo, e
agora estava presa dentro de um dos vagões do trem, pedindo ajuda, fazendo
círculos intermináveis ao redor do lugar?

J.D. decidiu verificar com a secretária de Payton. Talvez ela tivesse


ouvido alguma coisa.

Ele caminhou até a mesa de Irma, onde ela digitava cada vez menos em
seu computador. Ele então casualmente se inclinou contra sua cadeira, tomando
cuidado para parecer o mais indiferente possível.

— Bom dia Irma, nossa, esse é um lindo broche, é uma gaivota? Bom
tempo lá fora, não é? Ei, por acaso você já ouviu falar de Payton esta manhã?

Irma parou sua digitação por um breve momento, olhou J.D., em seguida
retomou seu trabalho.

— É um canguru, não uma gaivota. Na verdade, estava bastante nublado


quando eu cheguei, e sim, ela me deixou uma mensagem, ela foi direto para o
tribunal esta manhã.

Direto para o tribunal? Filha da....

Lutando para manter a fachada de desinteresse, J.D. ociosamente tocou


as folhas da planta em cima da mesa de Irma.

— Então, por acaso Payton disse o que ela estava usando esta manhã? —
ele pegou um fiapo imaginário de seu terno. — Mais especificamente, ela
mencionou algo sobre seus sapatos?

Irma parou de digitar e lentamente olhou para ele. J.D. sabia que
precisava dizer algo rápido para se explicar.
— Eu só quero ter certeza que ela está, você sabe, vestida de forma
adequada.

Irma cruzou as mãos delicadamente.

— Sr. Jameson. Seja o que for, eu não tenho tempo para isso. Se você
tiver dúvidas sobre o traje de Payton esta manhã, eu sugiro que você dê um
passeio ao redor do tribunal e verifique por você mesmo. Ela está na sala de
audiências do juiz Gendelman.

J.D. assentiu. Sim, sim, muito bem, obrigado. Boa atitude, por sinal. Tal
chefe, tal secretária.

Mas sempre um cavalheiro, ele sorriu e agradeceu à Irma pela


informação. Ele parou junto à mesa da sua própria secretária e disse-lhe que ele
tinha uma missão a ser executada.

Em seguida, ele correu para fora do escritório e foi direto para o Palácio
da Justiça.

***

No momento em que J.D. entrou na sala de audiências do juiz


Gendelman, o tribunal já estava em sessão.

Ele silenciosamente fechou a porta atrás dele e entrou na fileira de trás da


galeria, esperando que sua presença passasse despercebida, até que ele
descobrisse o que diria para Payton.

J.D. sentou-se. Enquanto tentava ficar confortável no banco de madeira


duro, seu olhar foi imediatamente atraído para a ação na frente. Payton estava
diante das testemunhas, o que significava que ela estava no meio de um
interrogatório direto. Ele sentou-se para apreciar o show, pensando que essa era
uma grande oportunidade para observar o inimigo em sua nor...
Foda-se! Alguém, por favor, poderia dizer por que uma foto enorme de
um pênis estava em exibição na frente e no centro da sala do tribunal?

J.D. olhou ao redor cautelosamente. Que raio de lei que Payton praticava
por aqui? Todo mundo na sala do tribunal, no entanto, parecia totalmente
imperturbável pela exposição.

Seu interesse agora realmente se despertou por este espetáculo, de um


assim chamado, julgamento, ele voltou sua atenção para Payton. Lembrando
por que ele estava lá, ele sentou-se para dar uma olhada melhor. Ele observou
enquanto Payton dava a volta para o outro lado do pódio, e esperou...

Merda. Ela estava usando os sapatos.

Os olhos de J.D. estreitaram no salto do sapato esquerdo que ele tinha


feito algumas, digamos, modificações especiais. O salto parecia estar
aguentando firme, embora fosse algo que ninguém soubesse quanto tempo iria
durar. A cada passo de Payton, ele prendia a respiração, esperando vê-la
tropeçar. Ele teria que puxá-la de lado na próxima pausa e avisá-la. Ele só
esperava que a cola que ele tinha aplicado segurasse firme até então.

Não tendo nenhuma escolha a não ser ficar de braços cruzados na plateia
e esperar, J.D. se distraiu focando no interrogatório das testemunhas de
Payton. Ele pôde dizer, em segundos, a partir do modo como ela incisivamente
questionou a mulher sobre o suporte, de que esta não era uma festa amigável.

— Eu não tenho certeza se entendi sua posição, Srta. Kemple. — Payton


estava dizendo. — Talvez você possa me ajudar a entender o que você acredita
que a empresa fez de errado.

J.D. observou enquanto Payton se posicionava entre o júri e a


testemunha, um truque de advogado de defesa para chamar a atenção dos
jurados durante o interrogatório.

— Anteriormente nós estabelecemos que você relatou o incidente


envolvendo seu ex-gerente em 14 de junho do ano passado, correto? —
perguntou Payton.
— Está correto. — respondeu Srta. Kemple.

— E o diretor de Recursos Humanos respondeu a sua reclamação nesse


mesmo dia, não é?

— Sim.

— Como parte dessa resposta, a empresa imediatamente demitiu seu ex-


gerente, também no mesmo dia, não é?

A testemunha concordou. — Está correto.

— E, de fato, ontem no julgamento foi a primeira vez que o tinha visto


desde o incidente em seu carro, correto?

Mais uma vez a testemunha assentiu. — Sim.

— Então, é justo dizer, Srta. Kemple, que você nunca mais teve qualquer
problema com o seu ex-gerente, depois daquele incidente? — perguntou Payton.

A testemunha pareceu mais relutante em responder a esta pergunta.

— Eu acho que é justo dizer. — ela finalmente concordou.

Parecendo satisfeita com essa resposta, Payton caminhou até a mesa do


advogado de defesa. Tendo sido arrastado para o depoimento, J.D. notou pela
primeira vez que um colaborador júnior de sua empresa, qual diabos era o nome
dele, Brandon, Brendan, algo assim, se sentava à mesa. Talvez, J.D. pensou, ele
poderia deslizar para Brandon/Brendan uma nota para ele dar à Payton.

Os olhos de J.D. foram atraídos de volta para Payton enquanto ela


casualmente se encostou na mesa de frente para a testemunha.

— Srta. Kemple, estou também certa que, após seu gerente ser demitido,
o diretor de Recursos Humanos saiu para o seu escritório e realizou um
seminário o dia inteiro sobre assédio sexual, que foi obrigatório para todos os
funcionários?
A testemunha tentou se proteger aqui. — Eu não tenho certeza que foi um
dia inteiro...

— Bem, quanto tempo durou o seminário? — perguntou Payton.

Srta. Kemple pensou por um momento.

— Eu acho que foi cerca de sete ou oito horas.

— Será que você não descreveria sete ou oito horas como um dia inteiro?

— Eu acho que sim.

Com esta admissão, Payton levantou as mãos.

— Então? Por que estamos aqui, Srta. Kemple?

A testemunha olhou para ela, confusa.

— Desculpe?

— Para ser franca, você processou a empresa por dois milhões de


dólares. O que exatamente você acha que eles fizeram de errado na manipulação
da sua reclamação?

J.D. assistiu Payton, conforme ela continuava seu interrogatório. Porque


eles tinham trabalhado no mesmo grupo durante os últimos oito anos, ele tinha
ouvido falar muito sobre suas inúmeras vitórias em julgamentos. Mas esta foi a
primeira chance que ele teve de observá-la em primeira mão.

Ela era boa. Imediatamente, J.D. viu o quão relaxante e confortável ela
ficava na sala do tribunal. No entanto, sempre profissional. Era óbvio que o júri
gostava dela, e mais importante, que confiava nela, ele poderia dizer pela forma
como eles a ouviam atentamente, como alguns deles até acenavam com a
cabeça, juntamente com suas perguntas.

— Bem, eu acho que há algumas coisas que a empresa poderia ter feito de
forma diferente... — a testemunha disse em um tom defensivo.
— Como o que? — perguntou Payton. — Você não discorda que a empresa
lidou com a questão imediatamente, não é?

Enquanto Payton fazia esta pergunta, ela cruzou os braços sobre o peito e
casualmente se encostou na mesa, num único pé esquerdo para apoio.

J.D. prendeu a respiração. Oh, merda.

— Eu suponho que eles lidaram com o assunto prontamente o suficiente.


— a testemunha admitiu.

— E você teria que concordar que eles lidaram com o assunto de forma
eficaz, vendo como você nunca mais viu seu ex-gerente, e muito menos teve um
problema com ele?

Ainda encostada na mesa, Payton atravessou seu tornozelo direito sobre


o esquerdo, de modo que todo o seu peso agora se abateu sobre seu calcanhar
esquerdo.

J.D. se encolheu. Merda, merda, isso ia ser ruim. Ele não podia ver. Mas
ainda assim ele tinha que fazer. Ele deveria fazer alguma coisa? Talvez ele
pudesse...

Mas logo em seguida, Payton aliviou o peso dela do sapato quando a


testemunha respondeu.

— Sim, eu suponho que você poderia dizer que a forma como a empresa
optou por responder ao assédio do meu gerente foi eficaz o suficiente.

J.D. exalou em alívio. Caso encerrado. Mas ele achava melhor começar
essa nota para Brandon/Brendan agora, enquanto ele ainda tinha a chance. Ele
olhou pra cima. Alguns outros retardatários se sentaram no final da sua
fileira. Ele teria que passar despercebido por eles para sair.

Enquanto isso, Payton se sentou sobre a mesa, graciosamente cruzou


uma perna sobre a outra, continuando seu interrogatório.
— E quando o diretor de Recursos Humanos entrevistou você uma
semana depois do incidente, não é verdade que você disse que estava satisfeita
com a resposta da empresa à sua reclamação? — ela perguntou.

— Não, eu não acho que foi isso o que eu disse. — Srta. Kemple
respondeu rapidamente.

Payton pareceu surpresa com a resposta, mas permaneceu sem


expressão.

— Sério? Você se lembra quando falamos anteriormente em seu


depoimento, Srta. Kemple, onde você disse...

J.D. observou enquanto Payton vasculhou os arquivos em sua mesa e


rapidamente encontrou a transcrição do depoimento que ela estava
procurando. Payton agarrou o depoimento.

— Aqui, Srta. Kemple, deixe-me ler para vocês uma parte do seu...

... e antes que J.D. percebesse o que estava acontecendo, Payton fez uma
espécie de meio salto fora da mesa para se aproximar das testemunhas e quando
ela caiu sobre seus pés houve um forte estalo que soou por todo o tribunal e
puta merda, de repente Payton tropeçou descontroladamente fora de equilíbrio,
com os braços balançando, e ela...

... caiu de cabeça direto na bancada do júri.

Todo o tribunal ofegou enquanto J.D. voou para fora do seu assento em
horror.

Oh, meu Deus!

Todo mundo estava de pé, atordoado, olhando, enquanto Payton


rapidamente se apressava para se levantar, lutando, subindo passando pelos
jurados que estavam sentados em sua bancada, boquiabertos, e ela conseguiu
ficar de pé, um pouco perturbada, mas cobrindo isso enquanto ela alisou a saia
e...
— Desculpem-me por isso. — Payton sorriu calmamente para os jurados,
recuperando a calma. — Agora, onde eu estava...

Ela olhou para o depoimento da posição que ela caiu, ela se virou e todo o
público no tribunal gritou em choque.

Sem o conhecimento de Payton, quando ela tinha caído, aquela saia


malditamente apertada que ela tanto gostava, tinha rasgado na costura e agora
estava aberta, e doce Jesus, ela estava usando uma calcinha fio dental e duas
pequenas nádegas brancas espiaram entre as dobras da sua saia...

O maxilar de J.D. quase caiu no chão.

Oh Deus, foi horrível, horrível, bem, na verdade, não foi tudo horrível
para ele, ela tinha realmente uma bunda fantástica, mas para Payton, este foi
um acidente de trem, um desastre...

Na frente, Payton ouviu o tumulto vindo da plateia atrás dela, então ela
se virou ao redor...

... e as suas bochechas pálidas enfrentaram agora o juiz e o júri. As bocas


dos jurados caíram abertas, e alguns murmuraram algo incoerente, e todos eles
ficaram boquiabertos enquanto Payton mancava através do tribunal em
calçados irregulares, confusa quanto à origem do tumulto.

Na mesa da defesa, Brandon/Brendan timidamente sussurrou algo para


Payton. J.D. não pôde ouvi-lo e, aparentemente, nem poderia Payton porque ela
inclinou-se em direção Brandon/Brendan para ouvir melhor, expondo os pães
brancos no ar para que todos pudessem ver e a sala do tribunal entrou em
erupção, um pandemônio completo e J.D. começou a subir passando pelas
pessoas em sua fileira - de alguma forma ele tinha que acabar com isto...

Mas Payton finalmente ouviu Brandon/Brendan.

Ela se levantou, sua mão voou para a saia dela, e ela sentiu o rasgo na
costura. Ela imediatamente reagiu; ela desabotoou o paletó e rapidamente
amarrou em volta da cintura, nada mais bochechas pálidas - e J.D. ouviu alguns
gemidos de decepção quando o juiz finalmente colocou as coisas sob controle,
batendo o martelo e pedindo ordem no tribunal.

E tão rapidamente quanto o caos tinha entrado em erupção, as coisas


acalmaram. Enquanto as pessoas tomavam seus assentos, o tumulto se
dispersou, J.D. sentou-se também, se escondendo, pensando que agora
definitivamente não era a hora de ser visto por Payton.

Quando um silêncio tomou conta da sala do tribunal, todos os olhos


estavam sobre Payton. Todos esperavam para ver o que ela faria, como ela
reagiria.

Ela parou por um momento. Então ela se virou e olhou para o júri.

— Levante a mão se você não tinha ideia de que veria tanta nudez em
uma semana de trabalho do júri.

Doze mãos voaram direto para o ar.

E incrivelmente, Payton riu.

Os jurados juntaram-se a ela. Em seguida, o juiz levantou a mão,


também. Com isso, todo o tribunal riu e as pessoas começaram a bater palmas.

Payton levantou a mão, reconhecendo.

— Obrigada, muito obrigada. Estou aqui a semana toda.

E foi naquele momento, enquanto J.D. se sentava na plateia com todas as


pessoas ao seu redor rindo e aplaudindo, conforme observava Payton sorrindo,
envergonhada, mas imbatível, que algo aconteceu.

Algo mudou.

Ele não sabia quem teria manipulado uma situação tão ridícula tão
bem. Talvez ele não tivesse notado isso antes, mas ela era realmente do
tipo... engraçada. Ou talvez ele já soubesse, de repente ele não tinha
certeza. Mas o que ele sabia era que ele tinha surtado por causa de uma maldita
mancha de café em seu terno, e aqui Payton tinha feito uma cara de paisagem
completa diretamente de volta para doze jurados e, em seguida, os deu um peep
show46 gratuito, mas, no entanto, conseguiu manter-se calma e serena.

E de repente J.D. encontrou-se olhando para Payton com um pouco de


admiração.

Ele sorriu e juntou-se aos outros que se animaram e ele esqueceu


momentaneamente o papel que ele tinha desempenhado em todo o fracasso, até
que, naquele momento, ela olhou para o seu sapato.

Uh-oh.

J.D. observou enquanto Payton pegou o sapato e, presumivelmente,


notou o caminho limpo, preciso, que o salto tinha quebrado, os restos de cola
que ele tinha aplicado. Ela passou o dedo sobre o salto quebrado, examinando-
o, e nesse momento J.D. soube que ela sabia.

Um pensamento aleatório ocorreu-lhe logo em seguida, sobre como eles


dizem que os criminosos sempre voltam à cena do crime, não era assim que
Bundy47 ou Berkowitz48 ou um desses caras foi pego e, na verdade, foi meio
engraçado que ele estivesse pensando em assassinato nessa hora, então, porque
quando Payton olhou para cima do sapato quebrado e olhou através da sala de

46
Peep shows, também conhecido como peep box ("caixa de surpresas") ou raree show ("espetáculo
raro") remontam a tempos antigos (Século XV na Europa, por Leon Battista Alberti) e são conhecidos em
várias culturas. Um peep show poderia ser uma caixa de madeira com um buraco ou vários buracos. O
interior das caixas eram decoradas frequentemente para se parecer com cenas teatrais. O espetáculo
era acompanhado por uma recitação dramatizada, explicando o que estava acontecendo em seu
interior.

47
Um dos mais temíveis assassinos em série da história dos Estados Unidos da América durante
a década de 1970. Com uma infância perturbada, ele iniciou a sua carreira criminosa assassinando
e estuprando as suas vítimas.

48
Também conhecido como o Filho de Sam e o Assassino da Calibre .44 é um assassino em série (serial
killer) estadunidense, que aterrorizou a cidade de Nova Iorque com seus crimes, praticados
durante julho de 1976 e agosto de 1977, até ser preso.
audiências e viu J.D. sentado ali, o assassinato era exatamente o que estava em
seus olhos.

Quando Payton encontrou o olhar dele, J.D. pensou que nunca tinha
visto seus olhos azuis escuros parecerem tão frios. E ele sabia que uma coisa era
certa.

Ele estava frito.

***

Payton saiu do tribunal com o seu terninho ainda amarrado na cintura,


com J.D. acompanhando de perto em seus calcanhares.

— Vamos lá, Payton não é como se eu quisesse que isso acontecesse. —


ele a chamou. — Honestamente, quem poderia ter planejado isso?

Uma parte dela queria que ela nunca tivesse que voltar ao
tribunal. Melhor ainda, uma parte dela queria que a terra apenas abrisse e a
engolisse, ela ficou mortificada.

O juiz tinha chamado um recesso de uma hora para que, como ele havia
delicadamente colocado... quem quisesse ajustar o seu traje pudesse fazer isso.
— Payton agora estava em uma corrida para voltar para o escritório, trocar-se
com terno de reposição, em seguida, ir até a loja de departamentos mais
próxima para comprar um novo par de sapatos. Por cima de tudo, o bastardo,
nenhum outro nome era necessário, a partir de agora o homem antes conhecido
como J.D. seria simplesmente chamado O Bastardo, O Chato, ou O Idiota, havia
arruinado seu melhor par de sapatos. Mas essa não era sua maior preocupação.

Sua bunda tinha sido colocada à mostra em audiência pública.

Sua bunda tinha sido colocada à mostra em audiência pública.

Andando ao longo da calçada de forma irregular com seu salto quebrado,


passando por pedestres inocentes, que estavam tendo um lindo dia normal,
pessoas que provavelmente não tinham tido suas bundas à mostra em audiência
pública, Payton resmungava em voz alta para si mesma sobre a pior parte de
tudo isso.

— Eu tinha que usar uma calcinha fio dental hoje, não era? — ela
sussurrou com raiva. Ela poderia dar um tapa em sua própria cabeça por essa
decisão.

O idiota de repente estava ao seu lado. Ele sorriu.

— Bem, na verdade, eu acho que as mulheres devem usar calcinha fio


dental todo d... — ele parou, vendo seu olhar. — Mas eu posso ver que você não
está disposta a discutir isso agora.

Payton não podia aguentar isso por mais um momento. Ela avançou
sobre J.D. — Oh, você acha que isso é engraçado? Por favor, permita-me
desiludi-lo dessa noção.

— Payton...

— Não. Nada de 'Payton', não perca seu tempo com desculpas ou


explicações, eu não me importo.

Ela olhou J.D. direto nos olhos.

— Se é assim que você quer jogar o jogo Jameson, está bom para mim. As
luvas estão de fora agora. Estou prestes a me tornar a cadela que você sempre
pensou que eu fosse.

Payton viu que seu comentário pegou J.D. de surpresa, isso tirou o seu
sorriso - o que ela interpretou como um sorriso - do seu rosto. E ela viu algo
momentaneamente intermitente em seus olhos, talvez fosse raiva, talvez fosse
outra coisa, agora ela não se importava de qualquer maneira. Agora mesmo,
enquanto ela estava naquela calçada, em frente ao J.D., com a saia rasgada e
salto quebrado e seu bumbum nu mal coberto pelo paletó amarrado na cintura,
tudo o que importava era pelo menos ter a dignidade de dar a última palavra.
Então, vendo que ela tinha momentaneamente o silenciado, Payton
aproveitou a oportunidade, se virou e foi embora.
Capítulo Treze

— N ão

pode ter sido tão ruim assim.

Enrolada em seu sofá, Payton deu a Chase um olhar sobre a caixa de pad
thai49 que ela segurava. Ela engoliu em seco, depois fez um gesto com seus
pauzinhos para dar ênfase.

— Oh, não, confie em mim, foi tão ruim assim.

Chase tinha ligado para ela mais cedo, quando ela ainda estava no
escritório. Embora o resto do seu dia no tribunal tivesse, felizmente, passado
sem intercorrências - após o intervalo, ela ainda conseguiu voltar aos trilhos
com seu interrogatório do autor - Payton ainda estava tão envergonhada que ela
só disse a Chase, o que deve ter sido o eufemismo do ano, que ela tinha tido
“uma espécie de um mau dia no tribunal”.

Uma hora mais tarde, Chase a tinha surpreendido em casa com um saco
de comida asiática para viagem. Para animá-la, disse ele. Não tendo certeza qual
deles ela preferia, ele trouxe pad thai, tofu e legumes com arroz frito. Tocada
com o gesto, Payton imaginou que ela poderia, pelo menos, dar-lhe a versão
condensada do que tinha acontecido naquela manhã. Ela apreciou quando ele
educadamente cobriu o riso como uma tosse e culpou o tempero da comida.

— Mas você se recuperou bem, isso é o que o júri vai se lembrar. — Chase
disse a ela. Estendido confortavelmente no sofá à frente dela, pôs a sua caixa na
mesa de café e se inclinou.

49
Macarrão tailandês.
— Na verdade, estou um pouco triste por não estar lá, eu acho que teria
gostado de ver. — ele disse com um sorriso de menino. Em seguida, ele se
inclinou e beijou-a.

Como Payton tinha descrito a Laney no outro dia, ela descobriu que estar
com Chase era... calmante. Foi uma boa mudança de ritmo para ela -
determinadas situações no trabalho, e certo alguém sem nome em particular,
tinham uma tendência a perturbá-la. Mas com Chase, não havia barulho. No
momento em que as coisas na vida de Payton pareciam incertas e mais do que
um pouco fora de controle, estar com Chase era fácil. Ele era fácil.

Não daquele jeito.

Ela não sabia de qual.

Ainda.

Depois que eles se beijaram por um momento ou dois, Chase se afastou e


deu à Payton um olhar sério. — Há algo que eu venho querendo falar com
você. Acho que é hora de levar a nossa relação para o próximo nível.

Payton levantou uma sobrancelha. Ah, é mesmo? — O próximo nível


seria...?

— Um encontro no fim de semana.

— Ah, um encontro no fim de semana. — Payton balançou a cabeça


provocando. — Eu não sei, isso é um grande passo. Você tem algum fim de
semana especial em mente?

— Na verdade, eu estava pensando neste fim de semana. — disse Chase.

— Uau. Eu não sei. Este fim de semana, deixe-me ver... — Payton fingiu
meditar sobre isso. — Tinha alguma roupa que eu estava querendo lavar, mas
acho que se eu reorganizar minha agenda...

Com uma piscadela, ela sorriu. — Ok.


Chase fingiu suspirar de alívio. — E pensar que eu quase perdi para a
lavanderia. Meu ego nunca teria se recuperado.

— Ei, essa não é a lavanderia de todos os dias que estamos falando. —


disse Payton. — Eu ia lavar os lençóis. Talvez até mesmo uma toalha ou duas. Se
isso não é a sua ideia de uma festa na noite sexta-feira, eu não sei o que é.

Chase riu. — Bem, agora que eu sei que eu fui classificado acima dos
lençóis, sinto-me muito melhor.

Payton sorriu, em seguida, ficou mais séria enquanto o estudava. Havia


algo que ela sentia que precisava dizer.

— Você sabe que há toda essa coisa acontecendo no trabalho,


certo? Estou muito ocupada com esse julgamento, e eles vão nomear o novo
sócio no final do mês. — ela tinha dito anteriormente ao Chase que havia uma
forte concorrência em sua tentativa de se tornar sócia, embora ela não tivesse
entrado em detalhes.

Chase assentiu e pegou a mão de Payton, entrelaçando os seus dedos com


os dela.

— Eu só estou provocando você. Eu sei como você está ocupada no


momento.

Payton olhou em seus olhos castanhos. Sim, isso é tudo o que era, ela
disse a si mesma, ela estava ocupada com o trabalho. Nada mais.

Antes que qualquer pensamento contrário pudesse rastejar em sua


mente, ela estendeu a mão e gentilmente puxou Chase para beijá-lo.

***

Mais ou menos uma hora depois, eles disseram boa noite. Depois de uma
breve discussão sobre os seus planos para a sexta-feira, Payton fechou a porta
atrás de si. Ela encostou-se à porta, refletindo.
Este era Chase. Um cara tão bom. Como ela também ansiava pelo
próximo encontro deles.

Payton suspirou pacificamente.

Então ela ansiosamente saltou para longe da porta.

Voltando para o assunto em mãos. Ela tinha algumas conspirações graves


e intrigas para fazer. Pelo menos oito horas se passaram e ela ainda não tinha
chegado a nenhuma forma adequada para contra-atacar o mal que era J.D.. Ela
precisava de um plano. Rápido.

Ele queria fazê-la parecer estúpida. Francamente, ele tinha conseguido


isso. Mas o próximo passo era dela.

Agora, o que ela poderia fazer que superaria a humilhação da sua bunda-
nua no tribunal...?

Payton se movimentou em torno do seu apartamento, limpando após o


jantar com Chase, refletindo sobre isso. Ela precisava chegar a algo logo. O tiro
de misericórdia. O xeque-mate. O movimento que iria dar-lhe o lugar na
sociedade de uma vez por todas. Então ela estaria acabada com J.D. Jameson
para sempre. Não teria mais que provar a si mesma; sem mais desses tremores
desagradáveis que ela sentia quando o via em ação, algo como borboletas no
estômago, era realmente muito irritante; sem mais estresse; sem mais brigas na
biblioteca; e, definitivamente, sem mais olhares azuis sexys de eu-vou-beijar-
você-agora-mulher.

Ela não tinha ideia de por que acabou de pensar nisso.

A privação de sono, sem dúvida. Como a doença de alta altitude, que


batia de repente e nos momentos mais estranhos.

Payton correu através de sua rotina noturna e se arrastou para a


cama. Quando as luzes estavam apagadas, ela não pensava em J.D..

Exceto para traçar seus planos de vingança, é claro.


Capítulo Catorze

S e, como Lex Kendall

gostava de dizer, todas as mulheres eram irmãs sob a mesma lua, então a Sra.
Justiça não era exceção. Ela foi gentil com Payton, de fato.

Levou apenas dois dias antes dela tropeçar em sua grande chance.

A melhor parte foi que Payton nem sequer teve que fazer nada. A
oportunidade apenas caiu em cima dela. Ela tomou isso como um sinal de que o
destino - também as mulheres, ela observou - estavam ao seu lado.

Ela voltou para o escritório mais cedo. Uma das testemunhas do


reclamante teve uma emergência familiar e precisou ser remarcada para depor
no dia seguinte. Sem outras testemunhas presentes no tribunal ou disponíveis
em tão curto prazo, o juiz havia adiado o julgamento até a manhã seguinte.

Payton tinha se estabelecido em sua mesa e começado a rever seus e-


mails, (algumas pessoas eram muito liberais no uso daquele pequeno ponto de
exclamação vermelho), quando notou Irma em cima da mesa da secretária de
J.D.. As duas mulheres tinham suas cabeças inclinadas e cochichavam
atentamente.

Ignorando-as em primeiro lugar, Payton continuou com seus e-mails. É


claro que ela não encontrou emergências reais, assim como todos os dias, os
clientes tinham ataques de pânico fabricados. Mas poucos minutos mais tarde,
depois de ver as secretárias ainda profundamente próximas, ela ficou
intrigada. Especialmente depois que Kathy, a secretária de J.D., apressou-se na
sua mesa em uma procura frenética.

Payton chamou Irma quando ela passou por seu escritório.


— Psst! Psst! Irma!

Quando Irma olhou para cima, Payton fez um gesto para ela entrar em
seu escritório.

— O que está acontecendo? — ela perguntou assim que Irma fechou a


porta. — Eu vi você em cima da mesa de Kathy. Ela parece estar enlouquecendo
com alguma coisa.

Irma espiou pela janela de vidro do escritório, em seguida, virou-se para


Payton. — Eu não podia dizer nada, mas J.D. está em apuros.

Ooh... isso era bom. Payton resistiu ao impulso de esfregar as mãos


alegremente.

— Que tipo de problema? Diga-me. — ela disse, ansiosa pelos detalhes.

— Bem, aparentemente. — Irma começou. — Ele foi chamado ao tribunal


para algum tipo de moção emergencial, o que Kathy disse foi: uma moção
desprezada? Moção contestada? Não me lembro o que...

Payton acenou com impaciência, movendo ao longo de Irma. — De


qualquer jeito. Uma moção de emergência. E?

— E... — Irma lançou à Payton um olhar, que ela estava chegando lá. — O
juiz não vai deixá-lo sair. Ele quer ouvir as alegações e ter uma audiência sobre a
moção. Mas o problema é, J.D. tem um depoimento marcado para esta tarde,
que era para começar, a tipo, 15 minutos atrás. O outro advogado e seu cliente
estão lá em cima e ameaçando sair se o depoimento não começar
imediatamente. Kathy foi lá para tentar atrasá-los.

Payton e Irma de repente avistaram Kathy correndo de volta para sua


mesa. Ela não parecia feliz.

— É melhor eu ir lá e ver se há algo que eu possa fazer para ajudar. —


disse Irma.
Ela voltou para a mesa de Kathy. Payton observou através do vidro
quando a secretária de J.D. ergueu as mãos, gesticulando com ansiedade, em
seguida, fugiu novamente.

Payton chamou Irma mais uma vez.

— Psst! Irma Psst!

Irma caminhou de volta para o escritório de Payton. — O que há com


você hoje? Você está muito irritante.

Payton ignorou isso. — O que Kathy disse? Ela não parecia bem. Isso é
ruim? Quão ruim? Diga-me.

— Sabe, você mesma pode falar com Kathy. — disse Irma.

— Eu estou tentando ficar encoberta. Não pergunte. Apenas me diga o


que está acontecendo com J.D..

— Kathy disse que ele está pirando. Eu acho que ele ligou para o outro
advogado do tribunal e tentou explicar a situação, mas, aparentemente, o cara
foi um idiota sobre isso. E quando Kathy subiu para falar com ele e seu cliente, o
advogado disse que tinha voado da cidade de Nova York especialmente para este
depoimento e se não começasse imediatamente, ele iria apresentar uma moção
de sanções, exigindo ser reembolsado por sua passagem de avião, hotel, e
honorários de advogado.

Payton revirou os olhos. Alguns advogados podiam ser tão


idiotas. Felizmente para ela, esse imbecil particular era problema de outra
pessoa.

— Hmm... isso realmente é um grande dilema. — disse ela mais


simpática. — Mas eu tenho certeza que J.D. vai arrumar isso de alguma
forma. Quem é o parceiro neste caso? Eu acho que ele vai ter que intervir e
assumir o depoimento.

— Na verdade, é o caso de Ben Gould. Mas ele está fora da cidade. — disse
Irma.
— Que pena. Quem é o cliente?

— KPLM Consulting.

— Ouch.

Tendo ido a todas as reuniões - como associada diligente que era - Payton
sabia que KPLM era o terceiro maior cliente da empresa. Ben não ia ficar feliz
em ouvir qualquer coisa dando errado envolvendo os assuntos deles.

— Eu acho que o J.D. está muito desesperado. — disse Irma. — Ele


perguntou à Kathy para ver se algum dos outros sócios de nível superior poderia
substituí-lo e tomar o depoimento.

Payton assentiu. Então ela virou-se em sua cadeira e voltou para a tarefa
muito importante de triagem do seu e-mail. — Bem, eu espero que dê certo para
ele.

Ela sentiu os olhos de Irma sobre ela.

— Eu acho que isso significa que você não está disponível para ajudar? —
perguntou Irma.

— Rapaz, uau... Eu realmente gostaria de poder. Mas com esse


julgamento e tudo... — Payton gesticulou dramaticamente para a pilha de
arquivos em sua mesa, nenhum dos quais realmente tinha algo a ver com o
julgamento. — Eu só não vejo como encaixar isso aqui. — ela estalou os
dedos. Droga.

Irma assentiu. Se ela ficou desconfiada, não deixou transparecer. — Ok,


eu vou falar para Kathy. Embora eu não devesse ter perguntado, de qualquer
maneira. J.D. disse para pedir a qualquer um, menos você. Eu acho que ele
provavelmente já sabia que você estava muito ocupada.

Não, ele não quer que eu saiba que ele está perdendo, Payton pensou
com satisfação. Mas ela mordeu a língua quando Irma saiu do escritório.

Uma vez sozinha, Payton teve um momento para avaliar o caso fortuito,
desta vez cuidadosamente, além dos inesperados acontecimentos.
Ela tinha acabado de ganhar.

Não aparecer para um depoimento, arriscando sanções e honorários


advocatícios contra um dos maiores clientes desta empresa não eram
exatamente as coisas para as quais os parceiros dariam a outra face. Pode não
ter sido culpa do J.D., mas, bem, infração dele. Dos associados, procurando ser
parceiros, era esperado que evitassem magicamente essas coisas, e se eles não
fizessem...

Payton sabia exatamente o que iria acontecer. Se houvesse alguma


consequência resultante do incidente de hoje, Ben iria jogar J.D. para fora num
piscar de olhos. Parceiros cobrem seus traseiros para o melhor.

E se estivesse realmente tão apertada a corrida entre ela e J.D., Payton


tinha que pensar que isso seria o suficiente para colocá-la à frente. Ternos
manchados de café, calcinhas fio dental expostas - essas coisas eram
insignificantes em comparação a irritar o terceiro maior cliente da empresa.

E ela nem sequer teve que levantar um dedo para fazer tudo isso
acontecer.

Fora do seu escritório, Payton ouviu uma Kathy em pânico pedindo ajuda
à Irma.

— Eu tentei todos os do sétimo ano, e nenhum deles pode tomar o


depoimento. — ela ouviu Kathy dizer. — Você pode chamar o sexto e quinto
anos, enquanto eu corro lá em cima e peço ao advogado para esperar apenas
mais cinco minutos? Se você encontrar alguém, avise que o depoimento está na
minha mesa.

Payton suspirou.

Piedade.

Ela voltou sua atenção para as tarefas imaginárias que ela estava tão
diligentemente executando.
Pobre J.D.. Ela poderia apenas imaginá-lo, preso no tribunal, disputando,
preocupado, imaginando que sorte era ter isso acontecendo agora.

Bom. Ele mereceu.

Isso tudo era consequência dos seus atos, na verdade. Ele obviamente
tinha pegado muitos casos este último par de semanas antes da decisão de
parceria, tentando se mostrar. Assim, a bagunça que ele estava envolvido não
era problema dela. Além disso, ele não queria que ela ajudasse, de qualquer
maneira. Peça a qualquer um, mas à Payton não, ele tinha dito.

Bem. Ótimo. Isso, oficialmente, tirava qualquer obrigação de se envolver.

Payton suspirou novamente.

Piedade.

Por alguma razão, o sentimento parecia cada vez menos vitorioso a cada
momento que passava.

Payton se sentou em sua mesa.

E sentou-se um pouco mais. Tamborilando os dedos.

Dum-de-dum-de-dum.

Oh, foda-se. Sem a menor ideia do porquê, ela levantou-se e caminhou


para fora do seu escritório.

***

Payton bateu na porta de Tyler.

Quando ele olhou por cima de sua mesa e a viu ali, Tyler parecia mais do
que um pouco surpreso. Payton entendeu isso. Ela provavelmente poderia
contar em uma mão o número de vezes que ela e Tyler tinham
conversado. Como o melhor amigo de J.D., ele estava de fato fora dos limites.
Surpreso como estava, Tyler sorriu, bem-humorado.

— Payton. Oi. Posso te ajudar com alguma coisa?

Hmm. Na verdade, ele parecia bastante agradável, Payton pensou. Pena


que ele tinha esse mau gosto para amigos.

Ela encostou-se à porta. Totalmente indiferente. — Eu só achei que você


poderia querer saber que J.D. está em apuros. Ele está preso no tribunal e não
pode voltar para alguns depoimentos que ele deveria estar tomando no
momento.

Ela calmamente examinou as pontas das unhas. — Não que seja da minha
conta, mas o depoimento é para algum caso importante que ele tem com KPLM
Consulting. Eu acho que é uma questão muito importante.

Ela suspirou despreocupada, mexendo em uma cutícula. — Ele


provavelmente vai ser demitido se não encontrar alguém para tomar o
depoimento no próximo par de minutos. Não que eu me importe. Só aconteceu
de eu me pegar olhando sobre a nota do depoimento na mesa de Kathy; é um
depoimento 30 (b) (6)50. Qualquer que seja.

Não é de se surpreender, como melhor amigo de J.D., que Tyler ficou


extremamente perturbado com a notícia inesperada.

— Hum... Ok. Uau. Deixe-me pensar por um segundo. — ele levantou-se


da mesa, andou em torno dela, em seguida, voltou. — Eu acho que eu deveria
ligar para Kathy. Não, J.D. — ele parecia indeciso para Payton. — Eu deveria
ligar para J.D., certo? Ver o que ele quer que eu faça?

— Eu não acho que há tempo para isso. — disse Payton. — Kathy disse
que o advogado está pronto para ter um colapso e sair a qualquer momento.

— Ok, eu vou pará-los. — Tyler decidiu.

50
É quando uma empresa ou outra entidade civil designa uma testemunha a depor em nome da
organização.
Payton suspirou em frustração. Será que ela tem que soletrar para ele?

— Tyler. Você tem que tomar este depoimento. Agora.

Ele a olhou fixamente por um momento, depois assentiu. — Claro,


claro. Claro. Você disse que era um depoimento 30 (b) (6)?

— Sim.

Tyler balançou a cabeça novamente, então correu e puxou a cópia das


Regras Federais de Processo Civil para fora da sua prateleira. — Um, 30 (b)
(6)... vamos ver... — ele folheou as páginas. — Ok, aqui está.

Payton olhou para ele, horrorizada. — Meu Deus, menino! Você nunca
tomou um depoimento 30 (b) (6)?

Tyler parou seu estudo para olhar para ela. — Uau, você
soou exatamente como J.D. agora.

Payton fez uma careta. De jeito nenhum.

Vendo sua expressão, Tyler respondeu rapidamente. — Eu acho que


posso ter tomado um depoimento 30 (b) (6) quando eu era um associado de
verão. — ele olhou para ela interrogativamente. — É aquele em que você designa
alguém para depor como um agente da corporação?

Payton revirou os olhos. Eles não estavam ensinando nada a estas


crianças hoje em dia?

— Tyler, isso é tipo, uma grande coisa. — disse ela. — Estes depoimentos
30(b)(6) podem ser complicados. As testemunhas são geralmente muito bem
preparadas, uma vez que tudo o que disserem pode ser usado contra a empresa.

Tyler a olhou. — Então, você já fez isso antes?

Payton bufou. Ela estava falando alemão? — Uh... sim.

— Então, você poderia tomar este depoimento?


— Como uma campeã. Mas. — ela deu Tyler um olhar aguçado. Ele
olhou para ela com aqueles pequenos olhos perdidos e ele só estava no sexto ano
de associados.

Payton falou com cautela. — Você está ciente da minha situação com J.D.,
não é?

— Estou ciente disso, sim.

Então, ele sabia o que estava pedindo a ela, Payton pensou. Ela continuou
a olhar para Tyler.

Ele não piscou nem uma vez.

Depois de um momento, Payton falou.

— Ele não faria isso por mim.

Tyler inclinou a cabeça, interessado. — É isso que importa para você?

Payton jogou o cabelo para trás, decidindo ignorar essa pergunta. — Tudo
bem. — ela disse a Tyler com os dentes cerrados. — Eu vou fazer isso.

Ela ergueu um dedo. — Mas você vai me ajudar. Suba as escadas e diga ao
advogado e seu cliente que pedimos desculpas pelo atraso, mas que tudo foi
endireitado e o depoimento começará em cinco minutos. Apresente-se, e por
sua vez, tenha certeza de conseguir o nome do advogado. Depois volte aqui e
faça uma busca rápida no Martindale Hubbell e na Lexis Nexis51, encontre casos
notáveis manipulados, principais clientes, etc. Eu não vou ter tempo para
analisar tudo antes do início do depoimento, mas eu vou chamá-lo durante a
nossa primeira pausa e você pode me dar os destaques. Ok?

Tyler acenou afirmativamente. — Entendi.

Com isso, Payton saiu do escritório e dirigiu-se pelo corredor para falar
com a secretária de J.D..

51
Bancos de Jurisprudência.
— Kathy eu vou precisar de tudo o que tem nos arquivos de J.D. para este
depoimento. — disse ela, logo que chegou à mesa da secretária dele. — Você
sabe se ele prepara esboços para seus depoimentos? Se você não conseguir
encontrar uma cópia nos arquivos, faça uma busca em seu computador.

Kathy voou para fora da sua cadeira, extremamente aliviada. — Isso


significa que você pode cobrir o depoimento? Oh, graças a Deus, Payton. Vou
pegar esse material imediatamente. Sim, J.D. prepara esboços dos seus
depoimentos, e eu sei exatamente onde eu possa encontrá-los...

Enquanto Kathy corria, Payton foi para seu próprio escritório. Irma a
olhou com curiosidade, enquanto ela passava.

— Mudança de coração? — ela perguntou. — O que aconteceu com Tyler?

— Nunca mande um menino fazer o trabalho de uma mulher, Irma.

Payton piscou para sua secretária, em seguida, desapareceu em seu


escritório para vestir a sua cara de jogadora.

***

Considerando tudo, o depoimento foi muito bem. Payton atribuiu isso ao


fato de que ela tinha habilidades seriamente boas como advogada.

E talvez apenas um pouco, bem pouco, ao fato de que J.D. tinha


preparado um esboço de depoimento muito completo que estabelecia
praticamente todas as perguntas que ela precisava fazer.

Apesar do aviso extremamente tardio, Payton não achou difícil de


intervir. Juntamente com o esboço, J.D. havia preparado suas exposições com
antecedência e ele tinha organizado sequencialmente. Claro, alguns pequenos
desvios do esquema eram esporadicamente necessários, esclarecer algo a
testemunha também. Mas, além disso, ela achou a preparação e estratégia de
J.D., muito parecida com a dela se esse fosse seu próprio caso. Ela ainda
conseguiu - apesar do atraso em começar - terminar o depoimento por quatro e
meia, algo que J.D., aparentemente, havia prometido ao advogado para que ele
e a testemunha pudessem pegar o voo de seis horas de volta para Nova York.

— Obrigado por ser tão amável, Srta. Kendall. — disse o advogado à


Payton depois de ter concluído o depoimento. Ele tinha se tornado muito mais
amigável uma vez que o depoimento tinha começado e a pipoca e biscoitos de
cortesia tinham chegado.

— Não tem problema, Sr. Werner. — disse Payton, balançando a mão dele
em despedida. — J.D. entrará em contato com você para discutir o cronograma
do resto dos depoimentos. Mais uma vez, eu sei que ele está muito triste por
toda a confusão desta tarde. Infelizmente, o Juiz Pearson não o deixou com
muita escolha.

Payton e Werner compartilharam uma risada simpática. Isso nunca


falhava: advogados sempre poderiam, pelo menos, encontrar um terreno
comum ao reclamar sobre os juízes.

Depois que o advogado e seu cliente saíram, Payton começou a arrumar


os arquivos de J.D., tendo o cuidado de mantê-los organizados na forma como
ela os tinha encontrado. Ela pediu ao relator da corte para enviar um e-mail a
ela de uma cópia da transcrição em tempo real, imaginando que ela poderia
transmitir ao J.D. imediatamente.

Quando ela terminou, Payton se sentou e orgulhosamente apoiou os pés


em cima da cadeira na frente dela. Não foi pouco direito que ela tinha arrancado
hoje, ela disse a si mesma.

Ela viu a bandeja de biscoitos que sobraram do depoimento. Que


diabos? Ela certamente tinha ganhado um deleite. Ela verificou a seleção e
escolheu um biscoito duplo de chocolate. Ela pegou o biscoito e estava prestes a
morder quando...

— O que é que você fez?

Ao som da voz, Payton congelou, de boca aberta com o biscoito no ar.

Ela se virou e viu J.D. parado na porta.


— Quão ruim? — ele perguntou em um tom grave, sério.

Payton deu uma mordida no biscoito. Ela mordeu deliberadamente,


tomou seu tempo, então inclinou a cabeça. — Na verdade, é muito gostoso.

J.D. entrou na sala. Foi então que Payton percebeu como ele parecia
exausto. O que era particularmente notável, porque J.D. Jameson nunca parecia
cansado. Seu cabelo estava estranhamente despenteado e ele parecia sem fôlego,
como se tivesse sido atropelado logo após terminar sua audiência.

Payton simpatizou. Ela sabia o quão difícil deve ter sido o seu dia, ela já
teve alguns desses também. Por um momento, ela quase se sentiu mal por J.D..

Pena que o momento não durou muito.

— Ah, o excelente sarcasmo Kendall. — disse J.D.. — Tudo bem, me


conte. O que você fez? Fazer declarações obscenas no registro? Fingir uma
gagueira? Perguntar à testemunha a mesma pergunta quinhentas vezes?

— Não. — disse Payton. Embora, ela tenha feito uma nota mental para
futura referência - aquelas ideias não eram tão ruins.

— Não, claro que não. — J.D. fez uma careta. — Você nunca faria nada
que pudesse prejudicar a sua própria reputação. Tudo o que você fez para me
prejudicar teria que ser muito mais sutil.

Ele olhou ao redor da sala. Sua voz estava no limite quando ele disparou
perguntas para ela. — Onde estão Werner e a testemunha? Foram embora? Você
terminou tão rápido, né? Bem, esqueça. Vou trazê-los de volta para cá. Eu quero
reabrir este depoimento e corrigir a bagunça que você fez.

Payton levantou-se e ajeitou o seu paletó.

— Desculpe, J.D., eu receio que você esteja preso com a minha


bagunça. Regra 30 (c) das Normas Federais de Processo Civil: o exame da
testemunha, procede como se no julgamento. Isso significa que
somente um advogado pode interrogar a testemunha. Será que eles não ensinam
isso em Harvard? — ela demorou sarcasticamente.
— Sim, eles me ensinaram em Harvard. — J.D. disse secamente. Ele
cruzou os braços sobre o peito e olhou para ela. — Eu quero ver a
transcrição. Imediatamente.

Payton olhou para ele. Portanto, este era o agradecimento que tinha por
ajudá-lo. Ela não sabia por que estava surpresa.

— Não há problema. — disse ela. Ela pegou sua maleta e tirou seu
computador portátil. Enquanto J.D. ficou ali, olhando furiosamente para ela,
com os braços cruzados sobre o peito, Payton abriu seu e-mail e encontrou a
transcrição em tempo real que o relator da corte tinha lhe enviado. Ela
rapidamente transmitiu a J.D..

— Feito. — disse ela. Ela agarrou seu laptop, fechou e jogou-o de volta
para sua pasta. Ela se levantou novamente para enfrentar J.D. — Isso foi
imediato o suficiente para você?

Seus olhos brilharam, e por um segundo, ele pareceu fazer uma pausa.

— Sim. — ele disse laconicamente.

— Bom. — Payton pendurou a pasta por cima do ombro e se dirigiu para a


porta. — Seus arquivos estão todos lá, eu coloquei de volta na mesma ordem que
você os tinha. E Werner quer que você ligue amanhã para falar sobre os
depoimentos restantes que precisa agendar. Desfrute da sua transcrição, J.D..

Com esse pensamento de despedida, ela saiu da sala de


conferências. Furiosa. Com ela, principalmente.

Por pelo menos pensar que a conversa poderia ter sido diferente.
Capítulo Quinze

J .D. tocou a

campainha uma segunda vez.

Como ela não respondeu, ele checou o endereço que tinha pesquisado em
seu Blackberry. De acordo com o diretório da empresa, ele estava no lugar certo.

As luzes do andar de cima do flat estavam acesas, então,


presumivelmente, alguém estava em casa. Então um pensamento ocorreu a J.D.,
o mesmo que ele teve após o jantar com Jasper e a equipe da Gibson: talvez ela
não more sozinha. A campainha e a caixa de correio não davam pistas sobre
nada.

Mais cedo, após Payton ter saído da sala de conferências, J.D. tinha se
dirigido imediatamente para o seu escritório e descarregado a transcrição do
depoimento que ela tinha enviado. Ele febrilmente mergulhou, esperando o
pior. Conforme a leitura avançava, ele continuou tenso, à espera de encontrar a
reviravolta, as coisas que ela tinha estragado para ferrar com ele, alguma
coisa. Qualquer coisa.

Mas o que ele tinha descoberto, dessa vez foi... nada. Sem truques. A
menos que alguém contasse o truque que Payton havia conseguido colhendo um
depoimento 30 (b) (6) muito bom, com antecedência de trinta segundos. Claro
que haviam algumas pequenas coisas, algumas linhas que J.D. poderia
questionar e tomar uma abordagem um pouco diferente, ou talvez não, mas, no
entanto, tudo o que ele pôde pensar foi...

Uau.
E justamente quando ele achava que não poderia se sentir mais idiota,
Tyler ligou e o deixou a par de tudo.

E assim, J.D. encontrava-se na porta de Payton.

Em pé, sem rumo em sua varanda da frente, com mais nada a fazer, ele
olhou ao redor verificando o bairro. Várias casas geminadas no bloco, incluindo
a que presumivelmente pertencia a ela. A rua era arborizada e tinha uma
pitoresca lembrança da área urbana.

Ele gostou. Não tanto como gosta do seu arranha céu, onde o condomínio
tem vista para o lago, claro, mas ele achou um lugar aceitável para deixar o
Bentley estacionado na rua. E para J.D., isso dizia muito.

Ele apertou o botão do interfone novamente. A terceira vez vai dar certo,
como sempre dizem, o que era bom, porque dadas as circunstâncias, sorte era
algo que ele definitivamente precisava...

— Olá?

A voz de Payton crepitantemente alta soou através do interfone,


surpreendendo-o momentaneamente. Ela parecia aborrecida. E ele ainda não
tinha falado nada.

J.D. limpou a garganta e apertou o botão do interfone.

— Uh, Payton, oi. É J.D..

Um silêncio de morte.

Em seguida, outro estalo.

— Desculpe. Não estou interessada.

Que bonitinha... mas J.D. persistiu. Mais uma vez no botão.

— Eu quero falar com você.

Estalo.
— Já ouviu falar de telefone, seu idiota?

Ok, ele provavelmente merecia isso.

Botão.

— Escute, eu estou aqui fora há quinze minutos. Por que você demorou
tanto tempo para atender?

Estalo.

(Suspiro irritado). — Eu estava entrando no chuveiro.

J.D. levantou uma sobrancelha. No chuveiro? Humm... ele gostou de


ouvir isso. Espere um segundo, não, ele não gostou.

J.D. mal.

Botão.

— Eu li a transcrição do depoimento.

Estalo.

— Bom para você.

Ela certamente não estava facilitando as coisas. Mas ele esperava isso.

Botão.

— Payton. — J.D. disse em um tom sério. — Eu gostaria de dizer isso


pessoalmente. Por favor.

Silêncio. Ele praticamente podia ouvi-la debatendo.

Em seguida, o botão foi apertado firmemente, destravando a porta da


frente. J.D. mergulhou para apertar a campainha antes de ela mudar de ideia, e
entrou.

***
Os olhos de Payton observaram rapidamente seu cômodo dianteiro e a
cozinha, certificando-se que eles estavam apresentáveis. Não que isso
importasse, porque: (a) era o idiota e (b) ele não ia ficar. Seu apartamento era
seu santuário, o que significava 100 por cento livre de J.D..

Ela abriu a porta da frente pensando que iria pegá-lo nas escadas e
impedi-lo de passar. Mas em vez disso, encontrou-o já de pé ali. Na sua frente. A
forma rápida que ela abriu a porta o pegou desprevenido.

Com uma das mãos na moldura da porta e a outra no quadril, Payton


olhou para ele. — O que você tem a dizer, diga rapidamente. Tive um longo dia.

Recuperando-se da surpresa momentânea, J.D. a olhou. — Isso é um


pouco abrupto. Posso entrar?

— Não.

— Ótimo. Obrigado.

Ele passou por Payton e entrou em seu apartamento.

Payton bufou. Aparentemente, ela não teria escolha no assunto. Ela


fechou a porta atrás dele e viu quando ele olhou em volta, curioso.

— Pois bem, este é o lugar onde você mora. — ele disse, como se
fascinado, um homem que havia sorrateiramente entrado em campo inimigo. —
Espaço agradável. Parece que você tem uma grande quantidade de luz. — ele
olhou por cima. — Só você?

Payton assentiu. — Sim. Olha... o que quer que você...

— Posso ter algo para beber? — ele a interrompeu. — Um copo de água


seria ótimo. Vim direto do trabalho.

Primeiramente, Payton não disse nada. Ela simplesmente olhou para ele,
se perguntando o que diabos ele estava fazendo ali.
— Estou um pouco sedento. — acrescentou.

Ela pensou ter visto o menor traço de um sorriso em seus lábios. Ele
estava tentando ser fofo? Ou talvez ele só estivesse enrolando.

— Tudo bem. — ela suspirou e relutante se virou para ir até a cozinha.

— Perrier, se você tiver.

Payton deu um olhar maligno por cima do ombro.

J.D. sorriu. — Só estou brincando.

Definitivamente tentando ser fofo.

Tanto faz.

Ignorando-o, Payton pegou o copo de água. Era estranho ele estar lá no


apartamento dela. Pareceu pessoal... sentia-se estranhamente nervosa. Inquieta.

Depois de encher um copo com água quente da torneira, sem entusiasmo,


ela voltou para a sala. A sala era dividida por uma parede de estantes embutidas
- uma das poucas coisas do projeto original que ela não tinha mudado depois de
comprar o lugar - e ela encontrou J.D. lá, olhando para sua coleção de livros.

Quando ele se inclinou para conferir a prateleira inferior, Payton notou


pela primeira vez que ele não estava usando um paletó. As mangas da sua
camisa estavam arregaçadas em torno dos seus braços, a gravata afrouxada, e
seu cabelo parecia completamente casual.

É assim que ele fica quando chega em casa do trabalho, Payton


pensou. Ela pegou-se perguntando se se ele tinha para quem voltar.

Deixando isso de lado, Payton se aproximou sem cerimônia e entregou o


copo de água para ele. — Aqui.

A mão de J.D. roçou a dela conforme pegava. — Obrigado.

Havia algo sobre a maneira como ele olhou para ela, Payton
notou. Durante anos, suas expressões haviam oscilado em algum lugar ao longo
do presunçoso/arrogante, você-não-sabe-sobre-o-que-você-está-falando-
Clintonite52, para o mais frustrado gostaria-de-estrangular-você-mas-não-
tenho-tempo-para-pegar-sua-carga-horária. Mas ultimamente ele estava
diferente, e ela achava muito difícil entendê-lo.

— Por que você está aqui? — ela perguntou sem rodeios.

Depois de olhar para o copo com água do lago Michigan que ela deu a ele,
J.D. tomou um gole da água, fez uma pausa, como se ainda estivesse
descobrindo a resposta para isso.

— Eu tenho perguntas. — ele finalmente disse.

— Perguntas? — Payton questionou, surpresa. De tudo o que ela estava


esperando que ele dissesse, não era isso.

— Sobre o depoimento. — explicou.

— Oh. Bem, você leu a transcrição do depoimento. Houve algo que você
não entendeu?

— Sim. — J.D. colocou o copo em cima de uma mesa nas


proximidades. Levantou-se e olhou para ela, lembrando-a o quão alto ele
realmente era. — Por que você fez isso?

Payton levantou a cabeça. — Você realmente achou que eu iria estragar


um depoimento, não é? Além da minha reputação. — ela enfatizou isso em
referência insulto anterior dele. — Eu nunca faria isso com um cliente.

J.D. dispensou isso com um gesto da mão. — Não, eu entendo essa


parte. Mas eu conversei com Tyler. Ele disse que você foi até ele por causa do
depoimento. Você me tinha em um beco sem saída, se você não tivesse feito
nada, eu estaria ferrado. Você sabe como Ben trabalha: não há espaço para erros
quando se trata dos clientes dele. — ele fez uma pausa, voltando para sua
pergunta original. — Então? Por que você me ajudou?

52
Essa palavra faz referência a Bill Clinton, ele foi presidente dos Estados Unidos. Ele foi cassado em
1998 sob a acusação de perjúrio e obstrução da justiça, mas foi absolvido.
Ela levantou uma mão. — Calma aí, amigo. Eu não fiz isso para ajudá-lo.

— Ok, tudo bem. Por que, então?

Payton, ela mesma, tinha pensado muito sobre essa questão depois de ter
chegado em casa naquela noite. Então ela disse a J.D. a única resposta lógica
que ela tinha.

— Eu decidi que eu não quero ganhar por omissão. Se a Comissão de


Parceria me escolher - quando ela me escolher, eu devo dizer - eu quero saber
que é porque eu mereci, não por causa de alguma estúpida confusão sua no
último minuto.

J.D. não disse nada a princípio. Então, ele acenou com a cabeça. — É
justo. — ele hesitou com a próxima parte. — Bem, independentemente das suas
motivações, a verdadeira razão que eu vim aqui hoje é porque eu... — ele
respirou fundo, como se necessitasse se estabilizar. — Eu queria te agradecer. E
me desculpar. Quando eu a encontrei na sala de conferências após o
depoimento, você tinha essa expressão de satisfação em seu rosto e, bem, eu
acho que eu presumi o pior.

Ele fez uma pausa.

— É isso? — Payton perguntou, não inteiramente convencida com este


pedido de desculpas.

— Oh, eu estava apenas esperando você dizer algo sarcástico sobre idiotas
e suposições.

Payton deu-lhe um olhar firme. — Como se eu fosse clichê.

Ela notou que ele estava observando-a. Mais uma vez. — O que?

J.D. sorriu. — Agora eu estou esperando que você faça a coisa com seu
cabelo. A pequena sacudida.

Payton encarou. Nota mental: Investir em grampos de cabelo.


— Você sabe, como desculpa, essa, poderia conseguir uma tonelada de
melhorias. — ela disse. — Mais alguma coisa?

— Não. — ele deu de ombros com naturalidade. — Bem, exceto que eu


estava pensando... eu também não quero ganhar por falha. Então talvez
pudéssemos dar uma trégua.

— Uma trégua? — Payton perguntou. — Isso é muito magnânimo da sua


parte, considerando que a próxima jogada é minha. O que eu ganho com isso?

J.D. deu um passo mais perto dela. — Humm. A satisfação de ser uma
pessoa melhor?

Payton fez uma pausa, muito intrigada com isso. — Você iria admitir
isso?

Os olhos de J.D. brilharam com diversão. Ele deu um passo mais perto. —
Neste contexto, Srta. Kendall, sim.

Payton parou, considerando os termos da sua proposta. Aposta mais alta


para ela não poderia haver.

— Tudo bem. — ela concordou. — Uma trégua.

Ela tinha que inclinar a cabeça para trás para encontrar o olhar de J.D.,
eles estavam, de repente, de pé, muito perto um do outro. Uh-oh, ela pensou, foi
assim que tudo começou da última vez. Ela sentiu aquele ímpeto familiar e
pensou em dar um passo atrás, mas que o céu a ajude se ela desse um
centímetro para J.D. Jameson.

— Eu acho que agora eu devo a você. — a voz de J.D. estava mais suave.

Payton balançou a cabeça. — Não, você realmente não deve.

Ele acenou com a cabeça que sim. — Eu li a transcrição.

— Você já disse isso.

— Você foi incrível, Payton. — ele murmurou, sua voz rouca.


Bem.

Droga, se essa não era a coisa mais sexy que ela já tinha ouvido.

J.D. olhou para ela com uma expressão tímida, como se interessado em
ver o que ela faria a seguir. E pelo seu olhar, Payton percebeu que em algum
lugar no meio de tudo isso, o jogo entre os dois havia mudado.

Tudo começou com aquela briga estúpida na biblioteca. Ou tinha


começado antes disso...? Estando lá, olhando nos olhos fantasticamente azuis de
J.D., Payton, de repente não tinha tanta certeza.

Humm. Ele tinha realmente longos cílios para um cara que ela nunca
tinha notado antes. Quase atraente, como as mechas quentes loiras em seu
cabelo castanho. E por falar em seu cabelo, ela meio que gostava da forma como
o cabelo dele estava ligeiramente despenteado naquela noite. Algo sobre ele a
fez querer agarrá-lo por aquela gravata estilosa e deixá-lo bagunçado de
verdade, passando horas fazendo algumas coisas que ela suspeita que fossem
muito mais surpreendentes do que o depoimento desta tarde.

Uau, ela realmente precisava ficar com alguém.

Não com J.D.. Ele era muito tipo A para o gosto dela. Ela apostaria que
ele seria controlador e dominador na cama. Apesar de que poderia ter
potencial...

E agora ela estava corando.

Vendo que ela não tinha se afastado dele, J.D. levantou uma
sobrancelha. Payton viu os cantos da boca dele inclinarem-se em um sorriso, e
se ela não conhecesse melhor, poderia jurar que ele estava desafiando-a a fazer
uma jogada. Queria que ela fizesse um movimento, mesmo. E ela não teria que
fazer muito, se inclinasse a cabeça poucos centímetros, eles estariam se
beijando.

Humm.
Ela se perguntava se J.D. tinha polo ponies53 em seus preservativos.

— Você precisa ir. — Payton soltou enfaticamente.

J.D. inclinou a cabeça, mas não se mexeu, então para apressá-lo, Payton
colocou a mão em seu peito, empurrando-o para a porta, uau, ele tinha um
peito muito firme para alguém tão extravagante.

— Agora, você tem que ir agora. — ela disse enquanto abria a porta da
frente e, literalmente, empurrava-o para o corredor.

J.D. protestou. — Hey! Espere um segundo, há algo mais...

Payton tentou fechar a porta, mas J.D. bloqueou com o braço.

— Jesus, mulher, vai me deixar falar?!

— Não. Você já disse o que veio para dizer. Desculpas aceitas, não haverá
mais sabotagem, etc., etc. E, à propósito, eu não posso acreditar que você
realmente me chamou de 'mulher'. Isso é quase tão ruim quanto “cupcake”.

— Eu aposto que há um monte de mulheres que pensam que é cativante


ser chamada de cupcake.

— Se houver, com certeza, elas não moram neste apartamento.

J.D. parecia prestes a arrancar os cabelos. — Você sabe o


que? Esqueça. Eu mudei de ideia, eu não tenho mais nada a dizer. E
sério, mulher - acho que você pode realmente ser louca. Ou talvez seja apenas o
efeito que tem sobre mim! — ele terminou seu discurso falando sério e alto. Em
seguida, virou-se e saiu correndo pelas escadas.

Payton meio fechou e meio bateu a porta atrás dele. Bom, ela não queria
ouvir mais nada do que ele tinha a dizer de qualquer maneira e agora, pelo
menos, ele estava fora do seu apartamento, e por falar nisso, ele realmente
precisava melhorar suas reações e...
53
É uma marca muito famosa e cara americana, Polo Ralph Lauren, ela faz essa referência por J.D. só
usar coisas assim, roupas de marca.
Uma batida impaciente soou na sua porta. E então, novamente, mais alta.

O que ele está pensando? Payton abriu a porta e...

J.D. imediatamente levantou a mão.

— Não. Diga. Qualquer. Coisa.

Payton abriu a boca.

J.D. apontou e balançou a cabeça com um olhar firme. — Não.

Payton revirou os olhos. Mas não falou.

— O que eu queria te dizer. — começou ele, deliberadamente. — Era que


você estava errada.

Agora isso era uma maldita surpresa. Payton o encarou.

J.D. continuou, mais calmo agora, sua voz firme. — Quer dizer, sobre o
que você disse à Tyler.

Seus olhos se encontraram e se mantiveram.

— Eu teria feito aquilo por você em um piscar de olhos.

Payton sentiu isso.

O gelo em torno de seu coração, ela sentia parte dele rachar e derreter
logo em seguida. E, pela primeira vez em oito anos, ela não tinha ideia do que
dizer a J.D. Jameson.

Ele deu um leve aceno de cabeça. — Eu só queria esclarecer isso.

Com isso, J.D. se virou e saiu, dessa vez de verdade, e Payton fechou
lentamente a porta atrás dele. Ela resistiu ao impulso de olhar pela janela da
frente e ver enquanto ele deixava seu prédio. Em vez disso, ela ocupou-se
pegando o copo vazio que ele tinha deixado para trás. Ela lavou o copo na pia da
cozinha e o colocou fora da sua vista, ansiosa para se livrar dos vestígios de sua
visita.
Ela sabia que algo tinha mudado naquela noite e, francamente, ela queria
ignorar esse fato - ou pelo menos, tentar - e fazer as coisas voltarem a ser como
eram. Uma trégua era uma coisa, mas - Deus me perdoe - ela realmente
esperava que isso não significasse que J.D. ia começar a ser legal com ela ou
qualquer coisa. De repente, estar em uma boa relação com ele poderia tornar as
coisas complicadas. E ela certamente não precisava de quaisquer complicações
no trabalho agora.

Eu teria feito aquilo por você em um piscar de olhos.

Os pensamentos de Payton permaneceram sobre essas palavras. E apesar


de tudo, ela sorriu.

Não que isso importasse.

Realmente.
Capítulo Dezesseis

— O itenta

dólares por pessoa para um brunch, é melhor ter diamantes escondidos nessa
omelete.

Era o quinto comentário nessa manhã sobre a estúpida omelete. Payton


sabia que ela só deveria ter ido com os waffles belgas. Mas resolveu tomar um
brunch agradável, ela ignorou a observação e gesticulou para o prato da sua
mãe.

— Como estão as frutas frescas e a granola? — no buffet do restaurante


NoMI54, com 100 ou mais itens, essas foram as duas únicas coisas que sua mãe
havia considerado aceitáveis para comer.

Lex Kendall estava em forma típica naquela manhã. E nada iria desviá-la
tão facilmente.

— Você está tentando mudar de assunto. — ela disse.

— Sim, eu estou. — Payton tomou um gole de sua bebida. Nesse ritmo,


ela provavelmente teria a necessidade de uma segunda, então ela levantou um
dedo para o garçom. Serviço, por favor. Rapidamente.

Sentada do outro lado da mesa coberta com uma imaculada toalha de


linho branco, Lex balançou a cabeça em frustração. Seus longos cabelos
castanhos caíram sobre as mangas da blusa camponesa floral excêntrica com
ondas estilizadas. Em seus jeans desbotados e tamancos-ecologicamente-
corretos, ela estava um pouco mal vestida para o brunch de inauguração do
54
Um dos melhores restaurantes do centro de Chicago.
restaurante do Park Hyatt Hotel’s. Não que Payton se atreveria a dizer-lhe isso
algum dia.

— Vamos lá, filha. — Lex pediu. — Você sabe que a indústria avícola está
mais preocupada com atalhos financeiros do que proporcionar condições
humanas para os pássaros que descuidadamente maltratam. Eu não vejo como
você pode ignorar isso.

Payton resistiu à vontade de morder a isca. Ela sabia que estava forçando
a barra, trazendo sua mãe aqui. Mas não haviam tantos restaurantes
vegetarianos na cidade, muitos dos quais ela já havia levado sua mãe nas visitas
anteriores, e ela queria tentar algo diferente, algo mais sofisticado. Ela sabia,
Laney estava certa, se ela se tornasse sócia, estar torno de dinheiro era algo que
era melhor se acostumar, porque certamente ela teria o suficiente. No ano
passado, o associado mais novo em sua empresa ganhou 1,1 milhões de
dólares. E como Payton certamente nunca foi de jogar dinheiro fora,
francamente, ela nunca teve nada antes de começar na empresa - com o salário
ela podia se dar ao luxo de levar a sua mãe para um brunch decente.

Com este pensamento em mente, em vez de discutir com sua mãe, Payton
sorriu amigavelmente. — Talvez, uma vez que temos tão pouco tempo juntas
neste fim de semana, nós poderíamos debater sobre as virtudes de uma dieta
vegan em outro momento. Vamos apenas ter uma refeição agradável, vamos,
mamãe? — ela fez um gesto com a taça para o restaurante. — Quando eu
perguntei no escritório, as pessoas disseram que este era o melhor brunch na
cidade no dia dos pais.

Embora possa parecer estranho para algumas pessoas, o fato de que ela
celebrava o Dia dos Pais com a sua mãe, deu a Payton uma pequena pausa. Era
algo que as duas faziam a cada ano, sozinhas, continuando a tradição depois que
Lex e seu marido se mudaram para San Francisco, quando Payton começou a
faculdade.

Payton tinha praticamente nenhuma memória do seu pai, pois ele e sua
mãe se separaram logo depois que ela nasceu e ele tinha vindo visitá-la
esporadicamente por apenas um par de anos depois. E enquanto a falta de
interesse do seu pai em manter um relacionamento, era algo que a tinha
incomodado mais cedo na vida, aos 32 anos já não incomodava mais. Sua mãe
raramente falava sobre Shane, e até mesmo Payton pouco se referia a ele, e
como resultado, ela se sentia totalmente desconectada dele. Ela nem sequer
levava o sobrenome do seu pai, já que ele e sua mãe nunca tinham se casado.

Aparentemente, no entanto, eles tinham uma coisa em comum: ela tinha


os olhos do pai. Pelo menos é o que sua mãe costumava dizer-lhe, com uma
espécie de maneira melancólica, quando era mais jovem.

Em resposta ao comentário de Payton sobre o restaurante, Lex olhou em


volta com um olhar crítico. Por solicitação de Payton, elas tinham uma mesa
perto da janela com vista para a Avenida Michigan. Como uma das poucas
comemorações a dois naquela manhã, tinha sido um pedido fácil de acomodar.

— Claro, é um lugar agradável. Se você estiver encenando o brunch. — ela


revirou os olhos e olhou profundamente para Payton. — Você se encaixa aqui.

Payton suspirou. — Mãe...

Lex levantou a mão. — Não é uma acusação, filha. Eu só estou tendo um


daqueles momentos “mãe” onde eu me pergunto o que aconteceu com a menina
que costumava vestir-se com minhas roupas velhas como uma cigana para o
Halloween. — ela sorriu com carinho. — Você se lembra disso? Você fez isso
cinco anos seguidos.

Payton não teve a coragem de dizer a sua mãe que a razão dela ter se
vestido como uma “cigana” era porque ela sabia, até mesmo para uma menina,
que não podiam se dar ao luxo de desperdiçar dinheiro em roupas compradas
em lojas.

— Agora parece que você está em uma passarela em Paris ou algo assim.
— continuou Lex, apontando para a roupa de Payton.

Payton forçou o riso.


— São apenas roupas de trabalho. — disse ela. Ela usava calça preta sob
medida, saltos e um suéter com decote em V. Estava irracionalmente fresco para
junho, aquele dia, mesmo para os padrões de Chicago.

— Bem, normalmente eu gostaria de salientar que o seu “apenas roupas


de trabalho”, provavelmente poderia alimentar dez das minhas meninas por
uma semana. — disse Lex, referindo-se às mulheres que viviam
temporariamente em um abrigo que ela trabalha em San Francisco. — Mas já
que temos tão pouco tempo juntas e no espírito de ter uma refeição agradável, é
claro, eu vou morder minha língua e dizer apenas que você parece muito
elegante. Muito chique, grandiosa advogada. — com isso, Lex inclinou sua
bebida para Payton e tomou um gole. Saúde.

Se Payton, alguma vez já se perguntou como ela tinha chegado a ser tão
sarcástica, bem, pergunta respondida.

Lex olhou por cima da sua bebida, com o silêncio de Payton. — O que?

— Desculpe. Agora eu estou tendo um daqueles momentos “filha”


querendo saber quando, exatamente, eu me transformei em minha mãe.

Lex sorriu. — Aw, Sis, é a melhor coisa que você já me disse. Por causa
disso, eu não gostaria de salientar que uma vaca teve que morrer, a fim de
tornar-se a sua bolsa.

Payton olhou para o teto. A mulher passou por 18 horas de trabalho de


parto para lhe dar a vida, ela se lembrou. Livre de drogas.

— Vamos falar de outra coisa. — ela disse à sua mãe. Ela perguntou sobre
Steven e suas filhas, que estavam em torno da mesma idade que Payton e viviam
em Los Angeles com seus maridos. Sua mãe falou sobre seu trabalho no abrigo,
as circunstâncias que trouxeram alguns de seus moradores mais recentes e, em
seguida, em uma rara expressão de interesse, realmente fez a Payton uma ou
duas perguntas sobre como as coisas estavam indo com a empresa. Payton
respondeu vagamente, não vendo razão para se aprofundar em toda a questão
da sociedade, uma vez que não havia qualquer notícia ainda sobre isso. Em vez
disso, ela falou sobre seus casos, recebendo uma risada da sua mãe quando ela
lhe contou sobre a imagem de dois metros com um pênis que foi um Anexo de
seu julgamento atual.

— Uma imagem com um pênis de dois metros hein, hein? Isso


envergonha qualquer um que eu já vi. — Lex jogou a Payton um olhar furtivo. —
Porém, eu já te contei sobre aquele cara que eu conheci no Woodstock...

Payton cortou o assunto. — Não. E você nunca dirá. — o espírito liberal


da sua mãe e a política de discussão de portas abertas era algo que ela poderia
muito bem ficar sem, quando o tópico em questão fosse sexo.

Lex recostou-se, decepcionada por ser incapaz de contar a sua história. —


Uau, quando você ficou tão puritana?

Com um choque, Payton percebeu o que tinha acontecido.

Ela tinha se tornado Laney.

— Eu não acho que me faça uma puritana só porque eu não quero ouvir
minha mãe falar sobre seus amores liberais e suas travessuras sexuais do
passado. — ela respondeu.

— Tudo bem, vamos falar sobre você em vez disso. — Lex jogou de volta
para ela. — Você está saindo com alguém atualmente?

Payton tinha debatido no fim de semana se devia dizer a sua mãe sobre o
Perfeito Chase. Ele estava fora da cidade, visitando seus pais em Boston, e
quando ele voltasse naquela noite, ele teria planos com seus amigos, por isso
apresentá-lo à sua mãe não estava em discussão.

Era estranho, porque pela primeira vez ela estava namorando alguém
com quem até sua mãe teria problemas para encontrar falhas, mas ainda assim,
hesitou em mencioná-lo. Talvez ela só não quisesse dar sopa para o azar.

— Na verdade, eu comecei a ver alguém, há algumas semanas. — Payton


disse para a sua mãe. — Você iria amá-lo. — e ela passou a descrever Chase, ela
destacou mais de uma vez que ele realmente era um grande cara. E ela, sendo a
pessoa lógica, pragmática, sabia que ele era um daqueles homens que nenhuma
mulher deve deixar escapar, mesmo que o momento não fosse
grandioso. Mesmo que ela estivesse com a atenção desviada atualmente com
outras coisas.

Por causa do trabalho, é claro.

***

Na saída delas do restaurante, Payton e sua mãe pararam na


chapelaria. O clima excepcionalmente frio era a oportunidade perfeita para Lex
começar mais uma das suas discussões sobre a política e a economia da
mudança climática global. Payton assentiu ao longo dos relatórios científicos
distraidamente - sim, sim. Relatórios científicos suprimidos, certamente, o
governo havia feito esforços, é claro, relatórios sobre o petróleo escondido. De
fato, o planeta estava indo em direção a uma iminente catástrofe, enquanto ela
pegava os casacos delas e acenava para o atendente com uma mão. Na outra
mão ela segurava a caixa delicadamente enrolada com a considerável comida
que sua mãe insistiu em levar para o povo “sem casa” (sua mãe se recusava a
dizer “sem-teto”) que passariam por seu caminho para o hotel.

Payton lutou com a caixa pesada, enquanto tentava encontrar a outra


manga do seu casaco. Ela olhou de volta, tateando, ainda fingindo interesse na
conversa de sua mãe, quando...

...alguém ergueu a jaqueta e gentilmente resolveu a questão através de


seus ombros.

Grata pela ajuda, Payton se virou...

...e inesperadamente encontrou-se olhando para J.D..

Ela corou. Nenhuma pista do porquê. — Oh. Olá.

— Olá. — ele sorriu.

— É você.
— Sou eu.

Payton de repente sentiu a necessidade de parecer casual. — Então, nós


viemos aqui para o brunch. — ela disse despreocupadamente. — Eles disseram
que era o melhor na cidade para o Dia dos Pais.

— Você está aqui com sua família, então? — perguntou J.D.. Ele parecia
curioso sobre isso.

Antes que Payton pudesse responder, ela ouviu uma tosse não tão sutil
atrás dela. Merda! Sua mãe. Ela tinha esquecido completamente dela.

Normalmente, Payton gostava de dar às pessoas um discurso


preparatório antes de conhecerem sua mãe, temas de conversa para evitar, o
que não usar, e se refeição estivesse envolvida, o que não comer. Os homens
apresentados para sua mãe precisavam de treinamento adicional, pelo menos
vários dias de “Os 101 Valores de Lex Kendall”. Apesar de tudo isso, poucas
pessoas, mesmo as normais, pessoas perfeitamente inofensivas, conseguiam
passar por um encontro com sua mãe, ilesas.

Por trás de Payton veio uma segunda tosse, mais severa.

J.D. e sua mãe não podiam se conhecer.

E se o fizessem, ela absolutamente não queria estar em qualquer lugar


nas proximidades. Payton olhou para a porta. Era tarde demais para correr para
lá?

J.D. apontou. — Hum, Payton? Acho que alguém está tentando chamar a
sua atenção.

Oh, maldito inferno. Payton se virou e viu o olhar feroz - ninguém coloca
Lex Kendall de canto e - relutantemente, fez a apresentação.

— J.D., eu gostaria que você conhecesse a minha mãe, Lex Kendall. Mãe,
este é J.D. Jameson. Ele trabalha comigo na empresa.

Payton assistiu enquanto J.D. educadamente apertou a mão da sua


mãe. Parecia estranho, os dois se encontrando. Ela rapidamente tentou pensar
se havia qualquer assunto seguro, qualquer coisa que eles tinham em
comum? Ela concluiu com nada. Nada.

Lex cuidadosamente olhou para J.D., suspeita desde o início. Payton


sabia que ela estava fazendo nota mental do corte caro da calça, a boa qualidade
da sua camisa cinza escuro e do jeito que ele usava o paletó, sem gravata,
parecendo sem esforço, elegante.

— É um prazer conhecê-la, senhora Kendall. — disse J.D..

Payton fez uma careta. Já se atrapalhou, e sobre os conceitos


básicos. Tendo mantido o seu próprio nome, mesmo depois de se casar com
Steven, Lex Kendall não era “senhora”.

J.D. sorriu para a mamãe, obviamente, desconhecendo o terreno


movediço em que ele estava. — Eu espero que você e o Sr. Kendall tenham tido
um bom brunch.

Oh... não. Payton viu o lampejo nos olhos da sua mãe.

— Bem J.D., não é? — Lex levou com o que só poderia ser descrito como
um “tom”. — Deixando de lado seus preconceitos patriarcais flagrantes em
assumir a necessidade da presença de uma figura familiar do sexo masculino,
sim, eu tive um bom brunch, obrigada.

Payton revirou os olhos, exasperada. — Ele estava apenas sendo educado,


mãe. — ela olhou, se desculpando para J.D., com a expectativa de encontrá-lo
irritado, ofendido, ou alguma combinação destas.

Mas em vez disso, ele parecia divertido. — Meu erro, senhorita Kendall,
— J.D. se corrigiu. — E obrigado. — ele olhou para Payton, os olhos
dançando. — De repente, tudo se tornou muito mais claro.

Payton lhe lançou um olhar. Muito engraçado.

Ela estava prestes a dizer algo para liberar ela e sua mãe o mais rápido
possível, antes que este encontro que estava à beira de um desastre piorasse,
quando uma voz, uma mulher, veio por trás de J.D..
— Se você não pretende nos apresentar à sua amiga, J.D., talvez o seu pai
e eu devêssemos ir em frente e nos sentarmos à mesa.

Payton se virou para J.D., com olhos arregalados. Agora isso era
interessante. — Você tem pais. — ela disse.

— Sim, surpreendentemente, até eu tenho pais.

Payton riu. Ela tinha se esquecido que J.D. poderia realmente ser
engraçado de vez em quando. Se você gosta de todo esse tipo de humor irônico.

— Não, eu quis dizer aqui, com você. — curiosa, Payton olhou por cima e
viu um casal de aparência distinta, com uns sessenta anos.

J.D. fez as apresentações. — Payton, estes são os meus pais, Preston e


Evelyn Jameson. — ele fez um gesto para Payton e a mãe dela. — Mamãe, papai,
esta é Payton Kendall e sua mãe, Lex Kendall. Payton é uma colega minha, ela
trabalha na mesma empresa que eu.

Com um ar formal, o pai de J.D. adiantou-se para apertar a mão de


Payton. Ele era alto, como seu filho, tinha cabelo grisalho e parecia muito digno
em seu casaco esporte de lã cinza e óculos de aro de metal.

— Então você é uma advogada, senhorita Kendall? — ele perguntou.

— Sim, Juiz. — ela disse, apertando a mão dele. — É um prazer conhecê-


lo. — como membro da profissão de advogado, era realmente uma honra para
ela, conhecer o Honorável Preston D. Jameson da Sétima Corte de Apelações.

Juiz Jameson deu-lhe um leve aceno de cabeça, como se reconhecendo


sua confirmação do seu status judicial. Ele tinha um comportamento severo,
Payton notou, o que lhe pareceu ser muito diferente do seu filho. Havia um
monte de palavras que ela poderia usar para descrever J.D. e nenhum
comentário sobre se ele seria particularmente cortês, mas “severo” não estaria
entre eles.

Payton se virou ao lado de Evelyn Jameson, e a primeira coisa que notou


foi um par de olhos azuis brilhantes. Os olhos de J.D..
A familiaridade surpreendente daqueles olhos foi imediatamente
ofuscada, no entanto, uma segunda coisa que Payton notou sobre a mãe de J.D.:
o casaco de camurça bege que ela usava, tinha - oh senhor - gola de pele de
zibelina55.

Payton apertou a mão dela. — É um prazer conhecê-la, senhora


Jameson. A senhora poderia me dar licença por um segundo?

Ela se virou para sua mãe e sussurrou baixinho. — Se você deixar pra lá o
casaco, eu vou desistir de laticínios por uma semana.

Lex deu-lhe um olhar que era 100 por cento pura tranquilidade
maternal. — É claro, querida, se é tão importante para você. Faça-o por um mês.

Tipicamente Lex Kendall.

— Tudo bem. — Payton assobiou baixinho. — Basta ser educada.

Lex riu, roubando um olhar sobre os Jameson. — Não se preocupe, eu sei


como lidar com pessoas assim. Eles se parecem exatamente como os pais do seu
pai, a primeira vez que me encontrei com eles.

Payton piscou, chocada. Seu pai tinha dinheiro? Esta foi a primeira vez
que ela tinha ouvido falar de tal coisa.

Mas ela adiou essa discussão e prendeu a respiração enquanto observava


sua mãe se apresentar aos pais de J.D.. Lex era agradável o suficiente, mas
nunca falhava, ainda era Lex.

— Casaco agradável. — disse para a mãe de J.D.. — Eu tenho dois do


mesmo jeito em casa.

Evelyn sorriu educadamente. — Ah, eu acho que não. — respondeu ela, de


alguma forma conseguindo soar tanto condescendente quanto gentil. — Este é
um Christian Lacroix, sabe.

55
É uma espécie de marta castanho-escuro da Europa setentrional e partes do Norte da Ásia, um dos
mais valiosos animais produtores de pele.
Payton abafou uma risada. Ah, J.D. estava certo. De repente as coisas
tinham se tornado muito mais claras. Ela ouviu uma voz, baixa em seu ouvido.

— Você não tem que dizer isso em voz alta. Eu já sei o que você está
pensando.

Ela olhou por cima do ombro para ver J.D. de pé ao lado dela. — Você
acha que me conhece tão bem.

— Eu acho. — disse ele, ainda falando baixo para que os pais não
pudessem ouvir.

— Então o que eu estou pensando agora? — perguntou Payton


timidamente. Espera. Ela estava flertando? Não. Sim. A ser decidido.

— Você está pensando que, de todos os restaurantes da cidade, você tinha


que escolher o mesmo que eu. — disse J.D..

Payton não pôde deixar de sorrir com isso. Ela tinha uma visão dos pais
deles, e viu quando sua mãe, sem dúvida, em mais uma discussão, tirou um de
seus tamancos ecologicamente corretos e mostrou para Evelyn Jameson. A mãe
de J.D. parecia aflita.

— Conclusão. Eu estava pensando que se eu soubesse que íamos nos


encontrar no mesmo brunch, eu teria que ter uma terceira bebida diante de
nossos pais se conhecendo.

J.D. se virou na direção aos seus pais e olhou a cena com diversão. —
Sempre há o bar do lobby.

Payton riu.

J.D. estudou-a por um momento. — Na verdade... eu estava pensando


que eu poderia ter que me esgueirar para o bar eu mesmo.

Agora foi a vez de Payton estudá-lo. Isso foi um convite? Difícil dizer. —
Isso soa tentador. — disse ela, imaginando que a resposta funcionava de
qualquer maneira.
— Tentador. — J.D. repetiu.

Então, seu olhar caiu sobre os lábios.

Payton de repente sentiu uma mão em seu ombro, interrompendo-os. Ela


olhou e viu o olhar aguçado da sua mãe.

— Nós não queremos que a comida fique fria, querida. — Lex fez um
gesto para a caixa de comida para as pessoas sem-teto.

Payton assentiu. — Sim. — ela olhou para J.D. — Devemos ir.

J.D. assentiu. — Claro. Vejo você amanhã, então.

Payton murmurou um rápido adeus aos pais de J.D., em seguida, deixou


o restaurante com sua mãe. Quando estavam lá fora, ela entregou o bilhete para
o manobrista.

Ela e sua mãe esperaram na frente do hotel, nenhuma delas disse uma
palavra. Finalmente, Lex quebrou o gelo.

— Você quer me dizer o que foi aquilo?

— Ele é apenas um colega de trabalho, mamãe.

Mais silêncio.

— Por que você nunca mencionou que o meu pai tinha dinheiro? —
perguntou Payton.

Lex deu de ombros. — Eu não sei. Eu não achei que isso fosse relevante,
eu acho.

Payton não engoliu a indiferença da mãe. — Será que isso tem alguma
coisa a ver com o motivo de vocês dois nunca terem se casado?

Por um momento, ela achou que sua mãe não fosse responder.
— Quando seus pais descobriram que eu estava grávida, disseram-lhe
para escolher entre mim e a herança. — disse Lex. — Ele não me escolheu. Ele
não nos escolheu.

— Você não acha que isso é algo que eu poderia querer saber? — Payton
não conseguia acreditar que ela ficou sabendo pela primeira vez sobre isso
depois de todos esses anos. Esclareceu tanto.

Sua mãe se virou para ela. — Escute Payton, eu sei que você não liga
muito para o que eu digo, mas confie em mim. Fique longe dele.

No início Payton pensou que sua mãe queria dizer que ela devia ficar
longe de Shane, seu pai, mas depois percebeu que ela estava se referindo ao
J.D..

— Eu nem sequer gosto dele, mãe. — na maioria das vezes.

Lex estudou sua astúcia. — Não foi isso que pareceu para mim.

— Eu não sabia que você podia nos ver através de todas aquelas farpas
espirituosas que você estava jogando para a mãe de J.D..

— Eu vi o suficiente.

Payton levantou a cabeça dela, admitindo. — A parte em que ele me


ajudou com o meu casaco não foi tão ruim.

— Porcaria de cavalheiro.

— Não esconda nada, mãe. Diga-me o que realmente pensa.

Sua mãe olhou para ela com cautela. — Eu acho que você foi muito mole,
é o que eu acho. — ela resmungou.

Payton pensou sobre isso. Talvez ela tivesse sido.

Sua mãe, de todas as pessoas, uma vez tinha se apaixonado por um


homem rico da alta sociedade. Neste ponto, tudo era possível.

Mesmo ser civilizado para J.D..


Talvez.
Capítulo Dezessete

— E ntão,

espere. Onde foi este grande momento entre você e Payton? Eu perdi isso?

J.D. balançou a cabeça, suspirando. Às vezes, ele realmente se arrependia


de dizer coisas ao Tyler.

— Eu não quis dizer que tivemos um 'momento'. Eu disse que no


restaurante, houve uma breve interação.

— Você disse um “breve momento”. — corrigiu Tyler.

Agitado, J.D. sentou-se como um idoso na poltrona de couro, apontando


distraidamente.

— Tudo bem, sei lá, talvez eu tenha usado a palavra 'momento', mas eu
não quis dizer, você sabe, “momento”. — ele ironicamente enfatizou a palavra,
tentando demonstrar “aspas” com os dedos, mas ele realmente odiava quando
as pessoas faziam isso.

— O que eu quis dizer foi que houve uma breve ocasião no restaurante,
quando eu pensei que nós estávamos... — ele procurou as palavras certas. — Nos
dando bem. — ele decidiu que era a forma mais segura para descrever a sua
interação e de Payton naquela manhã.

Ele e Tyler estavam no bar de charutos em Crimson, um clube privado


para os graduados de Harvard. Era uma tradição não oficial que havia começado
há vários anos: todo dia dos pais, J.D. e seus amigos se encontravam lá para
relaxar. Algumas pessoas em seu círculo social procuravam o conforto de seus
terapeutas para se recuperarem do estresse ou mesmo dos feriados em
família. J.D. não é uma pessoa que acredita na porcaria psicanalítica, mas
descobriu que com um bom copo de puro malte escocês, o truque era tão bom
quanto e por cerca de um quarto do custo. (Sim, tudo bem, Payton tinha
acertado em seu discurso na biblioteca, ele gostava de beber uísque, então
processe-o).

Sendo um clube privado, um diploma de Harvard era o único requisito


para a associação ao pequeno bar. Ele foi projetado para se parecer com uma
biblioteca privada: estantes escuras forrando as paredes, paredes decoradas com
pinturas ostentando várias cenas equestres, poltronas de couro e naquela noite
todas estavam organizadas em grupos íntimos. J.D. e Tyler tiveram sorte e
conseguiram duas cadeiras na parte de trás ao lado da lareira. Seus amigos Trey
e Connor, que chegaram 15 minutos mais tarde, não tiveram a mesma sorte e
foram para a parte onde haviam as pessoas seletivas que rodeavam o bar
principal.

Em algum lugar, próximo da sua segunda bebida, J.D. se viu


mencionando ao Tyler, que ele tinha cruzado com Payton e sua mãe no hotel
Park Hyatt. Seu amigo tinha focado nisso desde então.

— Você achou que você e Payton estavam se dando bem. — Tyler repetiu.

— Talvez mais do que isso.

— Isso seria um choque. — disse Tyler. — Você tem certeza disso?

Segurando a taça pela haste, J.D. mexeu um pouco no copo com seu
Scotch fazendo um redemoinho, observando o líquido girar no cristal. — Eu não
sei. Acho que vi algo diferente em seu olhar.

— Agora essa é uma evidência difícil, se eu tivesse pelo menos ouvido.

J.D. cruzou os braços atrás da cabeça, satisfeito. Os gracejos de Tyler não


tiveram efeito sobre ele hoje. — Ah... meu amigo... foi divertido, acho que você
tinha que estar lá.
Tyler olhou para ele. — Você está com um terrível bom humor por ter
passado o dia com o seu pai. Há mais alguma coisa nesta história com Payton do
que o que você está me dizendo?

J.D. balançou a cabeça com naturalidade. — Não.

— Então eu quero ter certeza que eu entendo a cena corretamente: houve


esse suposto olhar nebuloso que ocorreu durante estes dois minutos no hotel
Park Hyatt, onde os dois, de alguma forma, milagrosamente conseguiram dar
sequência a algumas frases polidas.

— Eu acho que foi um pouco mais do que isso. — disse J.D..

— Não sei... porque isso é realmente um material fumegante. O que


aconteceu a seguir?

J.D. sorriu. — Essa é a parte interessante. Não sei.

— Bem, eu odeio ser o cara a falar isso, mas seja lá o que estiver
acontecendo, a diversão está prestes a acabar. Vocês têm de tudo para que em
cerca de, oh. — Tyler olhou dissimuladamente para o relógio. — Menos de duas
semanas, até a empresa fazer de um de vocês sócio e... bem, você sabe.

— Obrigado pela lembrança. — disse J.D. secamente. Como se ele


precisasse que Tyler mencionasse isso. Como se ele já não soubesse desse fato
por si mesmo, como se isso não fosse a mesma coisa que ele vinha pensando
desde o momento em que ele deixou o apartamento de Payton na outra noite.

Eram piores circunstâncias possíveis. Ela era a única que estava no


caminho de se tornar sócia. Ele precisava esmagá-la. Mas esse desejo tinha
terminado no momento em que ele descobriu como ela o ajudou com o
depoimento.

Ele desejava que tivessem mais tempo.

Tyler estava certo, ele e Payton estavam correndo em direção ao fim da


corrida de oito anos e não havia nada que pudessem fazer para mudar isso. O
que significava que se havia algo a ser feito, ele teria que fazer rapidamente.
Portanto, a pergunta era: havia alguma coisa a ser feita?

Algumas semanas atrás, J.D. nunca teria acreditado que ele estaria tendo
esses pensamentos. Mas as coisas tinham mudado. E não só para ele, para
Payton, também. A menos que ele estivesse realmente, lendo-a muito, muito
errado.

Por outro lado, se ele quisesse que alguma coisa acontecesse, a hora era
agora.

No que talvez tenha sido a primeira vez em sua vida adulta, J.D. não
sabia o que fazer. Ele limpou a garganta. — Eu preciso do seu conselho, Tyler.

Seu amigo não pareceu particularmente surpreso por este momento. —


Despeje então. Mas, primeiro, vamos? — Tyler puxou uma caixa de charuto de
couro preto do bolso interno do seu paletó de veludo com um colete e ofereceu
um dos charutos, um Padron Millennium, série 1964. Fazia parte da tradição
dos dias dos pais, uma homenagem ao tempo em que eles eram crianças e
tinham descoberto a coleção de charutos Premium do pai de J.D., em um
armário trancado no escritório. Tinha sido previsível eles terem fumado naquele
dia na varanda, pensando que eram figurões, não percebendo que, pouco depois
os dois estariam doentes pelas próximas vinte e quatro horas por terem inalado
a fumaça.

J.D. tirou um dos charutos da caixa. Tyler pegou uma caixa de fósforos,
acendeu o seu charuto e em seguida entregou os fósforos para J.D.. Depois de
acender o seu próprio charuto, J.D. recuou em sua cadeira, fumando e girando,
como numa degustação, sem inalar a fumaça.

Depois que eles ficaram em silêncio por alguns momentos, Tyler olhou
para cima. — Eu posso começar, se você quiser.

— Oh, assim é melhor. — J.D. fez um gesto para que ele prosseguisse.

Tyler passou a mão pelo cabelo só para deixa-lo


bagunçado. Casualmente, inclinou-se para trás em sua cadeira e em seguida
levantou uma sobrancelha com um sorriso eu-sou-superior. — Eu estive
pensando sobre algumas coisas...

J.D. ergueu a mão, ofendido. — Espere. Isso deveria ser sobre mim?

— Não interrompa. Tira minha concentração do personagem. — Tyler


voltou para a sua representação. Desta vez, em vez de levantar a sobrancelha
astutamente sorrindo, ele cruzou os braços sobre o peito, segurou seu charuto
no alto, e suspirou em tom melodramático.

— Tyler - eu levo uma vida encantada, não levo? Eu dirijo o carro certo,
eu uso as roupas certas, eu sou fantástico - se for justo comigo - em cada esporte
que eu pratico, bem, vamos ser honestos aqui. — ele piscou sempre-tão-
orgulhoso. — As mulheres vão me amar.

J.D. não achou graça. — Sua vida dificilmente tem sido menos cha...

— Mas, Tyler. — Tyler continuou, falando sobre J.D.. — Ultimamente eu


tenho começado a suspeitar que algo está faltando em minha existência perfeita,
que talvez haja algo mais que eu queira, uma certa mulher, talvez, que
digamos... me intriga.

Tyler fez uma pausa e olhou para J.D. com expectativa.

— Oh, essa é a minha sugestão? — J.D. perguntou sarcasticamente. —


Agora eu devo ser eu ou você?

— Eu poderia continuar, se quiser.

— Obrigado, eu acho que eu posso levar daqui. — J.D. respondeu. — Você


é pior do que ela. — ele resmungou baixinho.

— Admita. Você ama isso. — disse Tyler. — Você subconscientemente se


sente culpado por sua educação privilegiada, então propositalmente sai com as
pessoas que te castigam, exatamente por isso, como uma forma de
autoflagelação.
Agora isso J.D. riu. — Eu não sabia que você ainda estava
divagando Dr. Phil56.

— Há. Tente Psych 10157. Seu ego está tentando equilibrar os desejos do
seu inconsciente enquanto perturbam os objetivos do seu superego.

J.D. revirou os olhos. — Falando de superego, se pudéssemos voltar ao


assunto Payton...

— Por favor, você apenas ama o seu inconsciente para ter todo superego.

J.D. fez uma pausa. Ele não teria colocado dessa forma, mas chegou a
pensar nisso...

— Escute aqui. — disse ele a Tyler. — Dê-me a sua opinião honesta. Você
acha que seria totalmente louco se eu...

— De jeito nenhum!

O grito, ressoando através do bar, veio de trás de Tyler. Reconhecendo a


voz como a de seu amigo Trey, J.D. olhou para cima e o viu apertando as mãos
do outro cara que estava de costas para eles, com quem Trey estava obviamente
animado para conversar. Momentaneamente pausou o rumo da sua conversa
com Tyler e observou enquanto Trey fazia um gesto na direção dele. O homem
misterioso se virou.

Surpreso ao ver um rosto que ele não via desde a faculdade de direito,
J.D. levantou-se sorrindo, quando o homem se aproximou.

— Chase Bellamy... — disse J.D., estendendo a mão em saudação. — O


que você está fazendo aqui?

Chase lhe deu um tapinha no ombro. — J.D. Jameson. É bom vê-lo. — ele
apontou para Trey, explicando. — Encontrei com Trey no outro dia quando eu

56
É um psicólogo dos Estados Unidos que tornou-se conhecido do grande público ao participar nos
programas de Oprah Winfrey como consultor de comportamento e relações humanas.

57
Livro de Psicologia de Paul Kleinman.
estava saindo do tribunal. Ele me falou sobre este lugar e disse que eu deveria
parar hoje à noite. — ele olhou J.D.. — Eu não o vejo desde a formatura. Você
me desejou sorte e disse algo sarcástico sobre salvar o mundo.

J.D. sorriu. Dizer algo sarcástico? Quem, ele? Por mais que ele e Chase
não saíssem regularmente na faculdade de direito, ele gostava. Ele poderia
resumir Bellamy em uma palavra: inofensivo. Um pouco de um liberal
benfeitor, e talvez muito agradavelmente passivo na mente de J.D., mas
inofensivo. Lembrou-se de um debate estridente que ele e Chase tiveram uma
vez na aula de Direito Constitucional, falando sobre o direito da Segunda
Emenda de portar armas. O que ele lembra mais claramente sobre esse debate
era que Chase tinha desistido muito facilmente.

— Assim, a última vez que ouvi sobre você, você estava em DC


trabalhando em uma campanha. — disse J.D.. — Você está morando em Chicago
agora?

Chase assentiu. — Eu só mudei para cá há alguns meses, estou fazendo


trabalhos para o Chicago Legal Clinic.

J.D. sorriu. É claro que estava. Ele incluiu Tyler na conversa, que tinha
estudado com eles na faculdade de direito, um ano atrás deles. Os três
rapidamente começaram a falar sobre o trabalho.

— E quanto a você? Onde foi parar? — perguntou Chase.

— Ripley e Davis. — J.D. disse.

Um olhar de reconhecimento atravessou o rosto de Chase. J.D. supôs que


era um reconhecimento do prestígio da sua empresa, até Chase comentar: —
Oh, eu conheço alguém que trabalha lá. Você está no corporativo ou litigioso?

— Litigioso.

— Então você provavelmente conhece Payton Kendall?


— Claro que conheço a Payton. — J.D. sorriu refletindo como o mundo
era pequeno. — Como você a conhece? — estranho, pois não tinha intenção que
seu tom soasse tão possessivo.

Agora Chase sorriu. — Na verdade... estamos namorando.

J.D. provavelmente teria ficado menos atordoado se Chase tivesse o


levado para fora e dado um soco direto no intestino. Ele inclinou a cabeça. —
Espera... Payton Kendall? — como se houvesse muitas Paytons flutuando em
torno do grupo de litígio para acompanhar.

— Sim, Payton Kendall. — Chase olhou para ele com curiosidade. — Você
parece um pouco surpreso.

Não importava, J.D. disse a si mesmo. Realmente. Ele estava bem com
isso.

Ele se sacudiu com a pergunta de Chase. — Não, não mesmo. Por que eu
iria estar surpreso? Você e Payton têm muito em comum. Bom. Sim. Isso é
ótimo. Tyler, você ouviu isso? Chase está namorando Payton Kendall. Você
conhece Payton, não é?

Tyler deu a J.D. um olhar, dizendo que ele precisava rapidamente calar a
boca.

Tarde demais. Chase parecia suspeitar de algo. — Espere um segundo... já


percebi o que está acontecendo aqui. Você é a competição.

— A competição? — J.D. perguntou alto. — Por que, o que você quer


dizer? — Cristo, agora parecia que ele estava comendo algo estragado. Ele
precisava se controlar.

— Payton não mencionou nomes, mas ela me disse que havia uma forte
concorrência em sua tentativa de se tornar sócia. — disse Chase.

J.D. piscou. Oh... concorrência para a sociedade. Claro.

— Você está na mesma classe que ela? — Chase continuou. — É de você


que ela está falando, não é?
Algumas semanas atrás, J.D. teria ficado contente ao ouvir Payton
descrevê-lo como um forte concorrente. Mas agora que ele tinha pensado sobre
tudo, as coisas eram diferentes.

Mas por que Chase estava perguntando a ele sobre isso? Este era o
seu negócio pessoal com Payton. De ninguém mais.

— Payton e eu somos ambos parceiros este ano, sim. — foi tudo o J.D.
disse.

Mas então, ele se perguntava o quanto Chase sabia sobre os


acontecimentos recentes. Ele só podia imaginar como Payton poderia ter
descrito determinadas situações - em particular, certos acontecimentos que
envolviam, por exemplo, um sapato e talvez uma bunda aparecendo - para
terceiros. E se Chase sabia de certas situações, também.

J.D. fez uma avaliação rápida. Chase parecia ter cerca de cinco a dez
centímetros a mais que ele, talvez uns 6 quilos a mais também. Sem
problemas. Se a pequena árvore começar a balançar, chegando a um
acontecimento mais forte, J.D. estava certo de que ele poderia se defender.

Mas Chase, sendo Chase, apenas sorriu, bem-humorado. — Bem,


Jameson, eu adoraria lhe desejar sorte em sua parceria, mas eu acho que tenho
um conflito de interesses. — com isso, ele estendeu a mão. — Foi bom ver você,
J.D..

Inofensivo e descontraído Chase Bellamy. Ele realmente era o tipo de


cara que ninguém poderia encontrar uma falha. O tipo de cara que nunca ficou
com raiva ou chateado. O tipo de cara que prefere deixar as coisas rolarem
amigavelmente, em vez de colocar para fora e lutar. O tipo de cara que Payton
gostava, aparentemente.

E J.D. sabia que ele não era esse tipo de cara.

Além disso, ele nunca iria ser esse tipo de cara. Francamente, ele
não queria ser esse tipo de cara. Ele só não era moldado dessa maneira.

Então, com isso em mente, ele apertou a mão de Chase com firmeza.
— Foi bom ver você, também, Chase. — disse J.D.. — E boa sorte. Com
tudo. — ele até conseguiu dar um sorriso educado.

Afinal, mesmo que não pudesse ser o tipo de cara que Chase era, ele
poderia pelo menos ser um cavalheiro.

***

J.D. e Tyler foram para fora do bar tentar pegar um táxi. Além de estar
excepcionalmente frio naquela noite, tinha começado a chover e encontrar um
táxi disponível estava provando ser um desafio.

Tyler não tinha trazido o assunto Payton desde a conversa deles com
Chase e por isso J.D. estava grato. Ele não tinha certeza se queria falar sobre ela
naquele momento. Ele precisava pensar, para processar este novo
desenvolvimento de que ela estava namorando alguém, e descobrir exatamente
o que isso significava. Se isso significasse alguma coisa.

Um táxi livre finalmente virou na esquina e J.D. e Tyler concordaram em


compartilhá-lo. Enquanto o táxi se aproximava do meio-fio, J.D. olhou pela
janela e viu todo mundo correndo na chuva com suas golas levantadas e bolsas
sobre suas cabeças. O meteorologista havia previsto uma noite fria e clara, então
agora as pessoas estavam lutando.

— Em resposta à sua pergunta anterior, não, eu não acho que seria


completamente louco.

J.D. olhou para Tyler. Piadas à parte, eles tinham sido melhores amigos
desde a escola primária e normalmente, ele colocava mais peso nas opiniões de
Tyler do que praticamente qualquer outra pessoa. Mas as coisas mudaram no
último par de horas.

— Não é tão simples assim. — disse ele. — Na verdade, não era simples
antes e agora é menos ainda.
— Por quê? Por causa do Chase? — perguntou Tyler.

— Em parte por causa de Chase. Certamente ele achou que eu estava


interpretado mal as coisas.

— Você não sabe merda nenhuma sobre o relacionamento deles. Quem


sabe quanto tempo eles estão namorando? Ou se ela está mesmo com ele? Chase
pode ser bom, mas eu não vejo Payton com ele por um longo tempo.

— Também é bem possível que ela ainda me odeie.

Tyler descartou isso com um aceno. — Você vai deixar uma coisa como
essa pará-lo?

— Eu estava pensando que o intenso menosprezo poderia ser um


obstáculo para ir atrás dela, isso sim.

— Veja... isso é o que torna tudo ainda mais interessante. — disse


Tyler. Ele adotou um tom grandiosamente dramático. — Será que a nossa “freira
Srta. Kendall realmente detesta o arrogante Sr. Jameson”, como ela tão
ardentemente proclama, ou é tudo uma farsa para cobrir mais sentimentos
amorosos por um homem que ela relutantemente admira?

Na frente, o taxista bufou alto. Ele parecia estar gostando do show.

— Psych 101 de novo? — perguntou J.D..

Tyler balançou a cabeça. — Literatura 305. Ficção do século XVIII da


Mulher. — ele pegou o olhar de J.D. e rapidamente se defendeu. — O
que? Levei-o para a aula por causa das garotas da classe. De qualquer forma, eu
vejo um pouco de dinâmica O e P acontecendo entre você e Payton.

J.D. não achou que ele queria saber. Realmente. Mas ele perguntou de
qualquer maneira. — O e P?

Tyler lhe lançou um olhar, chocado. — Orgulho e Preconceito. — seu tom


de voz dizia que apenas um cretino não sabe disso.
— Ah, certo, O e P. — disse J.D.. — Sabe Tyler, você pode querer pegar
suas bolas - acho que elas acabaram de cair quando você disse isso.

Na frente, o taxista deixou escapar uma boa risada.

Tyler balançou a cabeça. — Ria se quiser, mas deixe-me dizer uma coisa:
as mulheres são loucas por esse livro. E ainda mais loucas pelos homens que o
leem. Se eu pretendo levar uma garota para casa, eu deixo uma cópia do livro na
minha mesa de centro e vamos dizer, que frequentemente elas curtem. E você
sabe o que? Não é um mau contador histórias. Eu gosto de colocar um belo bule
de chá Earl Grey, talvez uma fatia de biscoito de amêndoa, e, sim, tudo bem,
continue a rir amigo, mas eu aposto que tenho transado mais do que você
ultimamente.

— Ei, não que eu não esteja me divertindo com o pensamento do seu


pequeno e acolhedor chá, mas você embrulhado em um cobertor lendo esse
livro...

— Eu não disse que havia um cobertor. — Tyler fez uma pausa. — Bem. Às
vezes pode haver um cobertor.

— Mas a minha pergunta é, se você vai a algum lugar com isso, ou é


apenas uma espécie de momento estranho compartilhado?

Tyler teve que pensar. — Onde eu estava indo com isso...? — ele estalou
os dedos. — Oh, sim, Orgulho e Preconceito. Mulheres e todo o complexo
Darcy. Para Payton, é você.

— Eu pensei que Darcy era o idiota.

Tyler sorriu carinhosamente. — Sabe, ele realmente é meio isso.

— Grande conversa para animar, Tyler. Obrigado.

— Mas ela não fica com o idiota. — disse Tyler. — Veja... você só não
entende as mulheres da maneira que eu faço J.D.. Elas querem tudo: uma
carreira, martinis de maçã, independência financeira, sapatos de salto, mas, ao
mesmo tempo, e isso elas nunca vão admitir, elas são atraídas por homens
patriarcais que são dominantes e controladores. Essa é a essência do complexo
de Darcy. Ele pode ser um idiota, mas ele é um idiota que fica com a garota no
final.

J.D. revirou os olhos. Toda esta conversa era tão ridícula.

Mas ainda assim.

— E como ele conseguiu isso? — ele perguntou.

— Oh, é um pouco complicado. — disse Tyler. — Veja, Lizzie tem essa


irmã mais nova e problemática que foge com o cara que
ela pensava inicialmente que gostava - espere, volte - para entender realmente,
eu deveria começar com a visita a Pemberley, porque na verdade, começou com
a tia e o tio, veja, o tio dela ama pescar e Darcy pergunta...

J.D. ergueu a mão, muito, muito triste e pediu. — A versão curta por
favor. Nós já estamos na porta da sua casa.

Tyler olhou pela janela e viu que o táxi tinha realmente parado em frente
do seu prédio. Voltou-se para J.D. — Okay. A versão curta, a mais curta: ele
consegue a garota sendo bom para ela.

J.D. esperou. — É isso aí? Ele é bom para ela? Isso é tão... sem graça.

— Olha, se você quer ganhar Payton...

J.D. parou ali. — Ei, nós estamos apenas falando em hipóteses, ok? Ainda
não decidi se eu quero ganhar.

— Oh. Então o meu conselho é que você deve começar por


aí. Descobrindo o que você quer. — com isso, Tyler saiu do táxi e correu através
da chuva até seu prédio.

Ótimo. Obrigado pela ajuda. J.D. deu ao taxista o endereço dele. Ele
olhou pela janela enquanto o táxi fazia o seu caminho pelos seis blocos indo
para sua casa. Quando eles chegaram, J.D. alcançando através do divisor,
entregou ao taxista uma nota de vinte e lhe disse para ficar com o troco.
O motorista se virou. — Ei, o seu amigo te deu conselhos muito
estranhos. — ele era um homem aparentando ser um quarentão, vestindo uma
camisa de flanela esfarrapada e um boné, com sobrancelha grossa e um sotaque
de Chicago acentuado que J.D. nunca tinha ouvido. — Ele parecia um pouco
fora da casinha, se você entende o que quero dizer. Eu acho que não deveria
ouvi-lo.

J.D. sorriu. — Vou levar isso em consideração. — abriu a porta do táxi e


saiu.

— Porque todo mundo sabe que Darcy não ganha Lizzie apenas por ser
bom.

J.D. parou. Olhou por cima do ombro.

O motorista descansava o braço sobre o divisor. A manga enrolada


revelou uma tatuagem de um escorpião preto que cobria todo seu antebraço. —
Veja, é tudo sobre o Grande Gesto. É assim que consegue ficar com a garota.

— Obrigado. — J.D. conseguiu dizer.

O motorista encolheu os ombros. — Não há problema


homem. Francamente, pareceu que toda ajuda possível pudesse ser útil.

Ele colocou o táxi em funcionamento.

— E escute... diga ao seu amigo para tentar um café da manhã da próxima


vez. É um pouco mais robusto. Earl Grey é realmente mais um tipo de chá de
Razão e Sensibilidade.

***

Em casa, mais tarde naquela noite, depois que J.D. fez as verificações
finais da noite, olhou seus e-mails, revisou o trabalho e o correio de voz do
telefone celular e da sua casa, estava convencido de que não havia questões de
trabalho que exigiam sua atenção imediata. Pensou no conselho de
Tyler. Descobrir o que você quer. E foi então que J.D. percebeu.

Ele não sabia.

Como ele havia dito ao Tyler, as coisas não eram tão simples. Chase
deixou as coisas ainda mais complicadas. Claro que deixou. Talvez Payton
realmente gostasse dele. J.D. podia ver os dois juntos, com tudo o que tinham
em comum, eles só pareciam fazer sentido.

Tyler tinha desconsiderado isso e talvez para ele, Chase e todos os outros
obstáculos, só faziam da questão Payton uma intriga melhor, por outro lado,
Tyler não estava concorrendo para ser o parceiro daquele ano. Tyler também
não estava competindo com Payton pela única vaga na sociedade. E Tyler
certamente não tinha a história que ele teve com Payton. Oito anos de história.

Era um longo tempo. Isso atingiu J.D. então, ele havia se tornado tão
afetado por “bater” em Payton, que não havia dirigido sua ira onde ele deveria:
na empresa. Eles foram os que colocaram ele e Payton nessa posição. Entrar na
sociedade nunca foi uma garantia, mas depois de todo o trabalho duro, ele
merecia mais. Ela merecia mais.

Mas o que incomodava J.D. mais não era a injustiça da decisão da


empresa. Pelo contrário, era o fato de que, quando ele olhou para trás nos
últimos oito anos, ele não ficou necessariamente orgulhoso de seu próprio
comportamento. Ele teve arrependimentos, e havia coisas que ele desejava
voltar e fazer diferente. Havia aquela coisa em particular que mesmo Tyler não
sabia...

Descobrir o que você quer.

J.D. sabia que ele queria desfazer-se do passado. Precisava começar de


novo. Pelos próximos 14 dias pelo menos, ele queria fazer as coisas direito. Se
ele não podia mudar o fato de que as coisas tinham que chegar a um fim com
Payton, ele poderia pelo menos mudar a forma como terminaria.
Não era muito, J.D. percebeu, e ela certamente não respondeu a todas as
questões remanescentes.

Mas era um começo.

***

Na manhã seguinte, Payton correu em torno de seu escritório, arrumando


sua passa para o julgamento. Sim, agora ela desejava ter guardado tudo na
noite anterior, mas sua mãe tinha pegado um voo atrasado e Payton não tinha
visto a necessidade de fazer uma viagem especial para o escritório à meia-
noite. Um bom advogado deve estar preparado para qualquer coisa. Ela sabia, e
é por isso que ela sempre programava o tempo extra, especialmente desde que
pegava o “L” para o trabalho. Ah, esses pequenos trapaceiros do Chicago Transit
Authority58, ela sempre podia contar com eles para manter as coisas
picantes. Porque realmente, quem não quer gastar um extra de 55 minutos no
vagão lotado e quente, mal cheiroso que inexplicavelmente, se movia apenas a
30km por hora durante toda a viagem até o centro da cidade? Isto era
uma coisa divertida.

Payton pegou os arquivos do caso que ela tinha revisado no fim de


semana e enfiou-os na pasta grande do julgamento, que pesava quase uma
tonelada. Esperava que Brandon aparecesse em breve para que ela pudesse
jogar as coisas em cima dele, afinal, não para era isso o que serviam os
associados júniores e homens?

Payton ouviu uma batida na porta e olhou para cima. Em vez de Brandon,
ela viu J.D. parado na porta. Ele estava armado com um copo de Starbucks.

Caramba.

58
Autoridades de trânsito de Chicago.
— Eu notei que você parece estar atrasada. — disse ele. — Eu não acho
que você teria tempo para agarrar isso no seu caminho para o tribunal. Um
grande copo de baunilha com leite sem açúcar, certo? — ele perguntou,
apontando para o café. — Eu ouvi você dizer isso para Irma algumas vezes. — ele
acrescentou rapidamente.

Ele estendeu o copo para ela.

Payton olhou para o copo. Depois para J.D.. Era uma armadilha, tinha
que ser. Ela permaneceu onde estava.

Os cantos da boca de J.D. se levantaram. — Não, eu não pretendo jogá-lo


em você.

Payton sorriu. Haha. Jogar nela? Como se isso tivesse passado por sua
mente.

— Não era nisso que eu estava pensando. — ela assegurou assim que se
aproximou e pegou o copo. Ele certamente estava levando a sério a trégua, ela
pensou. Como é doce.

Ela sutilmente cheirou o café para ver se sentia o cheiro de veneno.

J.D. sorriu novamente. — E não, eu não coloquei qualquer coisa nele.

Payton tomou um gole do café com leite.

J.D. piscou. — Nada do que possa ser detectado pelo seu cheiro, de
qualquer maneira.

Payton parou no meio do gole e segurou o líquido em sua boca. Ele estava
brincando, é claro. Payton sorriu e balançou um dedo para que ele soubesse que
ela estava na brincadeira. Ah, J.D. Você é engraçado cara. Ela olhou ao redor
do escritório. Sério, por que não havia nunca uma escarradeira por perto
quando ela precisava de uma?

— Eu estou brincando, Payton. — disse J.D.. — Você não tem que ficar tão
chocada. Eu só estou tentando ser... — ele hesitou. — Bom?
Payton quase engasgou. — Bom?

J.D. assentiu. — Claro. Chame isso, você sabe, um gesto. — ele olhou ao
redor do escritório. — Então, como está o indo o seu julgamento? Do pouco que
eu vi do seu sapato, uh... e então você... bem, você estava lá, você sabe o que
aconteceu - parecia que o júri estava do seu lado. O que você acha?

Payton olhou para ele. — Sério. O que você está fazendo?

J.D. piscou inocentemente para ela. — O que quer dizer, com o que eu
estou fazendo?

— Primeiro, o café, e agora você - o que - está jogando conversa fora? É


isso?

J.D. encolheu os ombros. — Claro.

— Outro gesto, eu suponho? — ela perguntou.

— Exatamente outro gesto. — J.D. sorriu. — Portanto, agora temos


dois gestos.

Payton olhou-o com cuidado. — Você tem certeza que está bem? — ele
estava agindo de forma estranha. Talvez ele estivesse doente.

— Eu estou bem. — disse ele. — Você ia me contar sobre o seu


julgamento?

— Bem... as coisas estão indo bem, eu acho. Supondo que não haja
nenhuma surpresa, devemos começar a fechar os argumentos em dois
dias. Obrigada por perguntar.

— Claro.

Payton esperou enquanto J.D. continuava persistente, parado em sua


porta. Havia mais alguma coisa? — Eu realmente deveria ir para o tribunal.

— Você realmente deveria. — ele concordou.

Ainda persistente.
Payton fez um gesto para o café. — Obrigada pela Starbucks. — talvez ele
estivesse esperando por uma dica.

J.D. parecia satisfeito com esta resposta. — Por nada. — ele se


endireitou. — Bem, então. Boa sorte no tribunal, Payton. — com um aceno de
cabeça, ele se virou e saiu.

Payton balançou a cabeça ao vê-lo sair. Qualquer que seja o inferno que
foi isso, ela não tinha ideia.

Em oito anos - todas as suas brigas, ternos manchados de café, bunda de


fora e tudo mais considerado - aquela tinha que ter sido a interação mais
estranha que já tivera com J.D. Jameson.
Capítulo Dezoito

— E u acho

que nós precisamos conversar.

Seis palavras tão simples, mas Payton odiava ouvi-las. Todo mundo
odiava ouvi-las.

Fazia parte de uma mensagem de correio de voz que Chase tinha deixado,
que ela ouviu pela primeira vez quando voltou para o escritório depois de
terminar no tribunal. Tinha sido um longo dia, o juiz tinha os dispensado mais
tarde do que o habitual - ele estava tentando garantir que o julgamento
terminasse, como previsto, em dois dias. Payton foi exterminada, vaporizada,
como ela foi durante todo o julgamento nos dias que suas testemunhas foram
interrogadas pelo conselho de oposição. Ela, pessoalmente, achava que era a
coisa mais desgastante que um advogado tinha a fazer: proteger suas próprias
testemunhas durante o interrogatório e rezar, rezar, rezar que elas não
dissessem nada estúpido.

Assim, não era necessário dizer que, quando ouviu pela primeira vez a
mensagem de Chase em que, além de querer “conversar” - ele sugeriu que eles
se encontrassem em algum café chamado de Fixx, ela hesitou e, sim, como a
terrível pessoa que ela era, Payton pensou em não ligar para ele de volta. Mas
então a culpa se estabeleceu (ele é um cara tão legal, ele é amigo de Laney e
Nate), seguida de racionalização (ela só ficaria por meia hora, em seguida,
voltaria ao escritório para trabalhar), e uma curta corrida de táxi mais tarde,
aqui estava ela, prestes a começar seu terceiro latte do dia, quando ela sorriu se
desculpando com Chase, porque, é claro, ela estava 15 minutos atrasada.
— Eu sinto muito. — ela disse a ele pela segunda vez. Ela estava exausta
com tudo que está acontecendo no trabalho e, incrivelmente, um pouco ligada
com toda a cafeína.

Eles pegaram uma mesa perto da frente da loja de café, nas janelas. Como
Payton tinha aprendido rapidamente quando ela equivocadamente ordenou um
“grande”, o Fixx era um desses lugares independentes, do tipo nós-mijamos-na-
Starbucks que atendiam a uma mistura eclética de multi-tatuados/grunge
perfurados e tipos góticos para uma multidão de literatos de cachecol e gola
rolê. O tipo de lugar que sua mãe adoraria.

Enquanto ela e Chase tomaram seus assentos, Payton sentiu-se muito


coberta com o terno e saltos que tinha usado para o tribunal. Ela olhou em volta,
querendo saber quando exatamente foi que ela havia parado de se sentir
adequada em lugares como este.

— Você disse que queria conversar? — ela incitou Chase, não tentando
apressá-lo, mas... ok, tudo bem, ela estava tentando apressá-lo.

Chase assentiu. — Primeiro, quero começar por dizer que eu entendo


agora o que está acontecendo. Com você e J.D., quero dizer. Eu encontrei com
ele ontem à noite e começamos a conversar e, bem, eu meio que coloquei dois e
dois juntos.

Payton não tinha ideia do que Chase estava falando. Embora ela tivesse
pego uma coisa. — Você falou com J.D. Jameson? Você o conhece?

— Nós fomos para a faculdade de direito juntos.

Claro. Payton sabia que os dois tinham ido para Harvard; ela não sabia
por que não tinha concluído que estiveram na mesma classe. Ela estava
interessada em ouvir como J.D. tinha sido na faculdade de direito,
especialmente porque há anos ela o via quase como um personagem
unidimensional: o Vilão, o Arqui-inimigo, o Inimigo. Fazendo isso, tinha sido
mais fácil para ela desprezar todas as vezes que ele tinha sido um idiota com
ela. Mas agora... bem, as coisas tinham mudado e ela se viu querendo saber
mais sobre ele, coisas mais pessoais. Para começar, ela estava muito curiosa
para saber o que “J.D.” representava.

Payton percebeu, porém, que agora não era o momento de pedir a Chase
um tour por trás dos bastidores. — Então, você encontrou com o J.D. ontem à
noite, e estes dois e dois que você colocou juntos são, o que, exatamente?

— Que ele é aquele com quem você está competindo contra para se tornar
sócia. — disse Chase. — E agora eu entendo totalmente porque você está tão
estressada nos dias de hoje. Eu não gostaria de estar contra J.D. também.

Payton endireitou-se e cruzou as pernas na defensiva. — Eu não tenho


medo de competir com J.D.. Acho que sou muito boa, você sabe.

Chase foi rápido para assegurá-la. — Claro que você é, é que saiu errado.
— ele disse em tom de desculpa. — O que eu quis dizer é que eu sei o quão
estressante isso deve ser para você, por causa do jeito que J.D. é.

— Significa?

— Bem, honestamente, eu acho que ele é uma espécie de idiota. Ele é


cheio de si mesmo, teimoso, e acima de tudo, extremamente competitivo. Ele é
um dos tipos eu-sempre-tenho-que-vencer, eu-sempre-tenho-que-estar-
certo. Eu odeio pessoas assim.

Payton riu. — Bem, então, nós precisamos conversar. Porque você acabou
de me descrever.

Chase sorriu carinhosamente. — Você não é assim.

— Sim, eu sou, Chase. Eu sou exatamente assim.

Chase tentou descartar isso. — Mas é diferente com você, essas


qualidades são admiráveis em uma mulher. É assim que você tem que agir, a fim
de ser bem sucedida, particularmente na profissão de advogado.

— Isso é um tipo de sexismo contra os homens, não é? — Payton olhou


para fora da janela. Espera - era um porco, que ela acabou de ver voando?
Chase se mexeu desconfortavelmente na cadeira. — Olha, acho que
estamos saindo do assunto aqui. Tudo o que eu estou tentando dizer é que,
antes, talvez, eu pensasse que você estava ficando um pouco exaltada em se
tornar sócia, mas agora eu entendo o porquê. Tenho certeza de que J.D. elevou
as apostas, em tipo, dez graus.

Bem, sim. Por outro lado, ela também. E em outra nota, Payton achou
muito interessante que Chase tinha pensado que ela estava ficando “muito
exaltada” para se tornar sócia. Quem era ele para decidir o nível adequado de
importância que ela deveria colocar no avanço da sua carreira?

E, francamente, enquanto ela estava pensando sobre isso, ela


particularmente não gostava da maneira como Chase falou sobre J.D.. Claro,
J.D. definitivamente poderia ser um pouco arrogante e talvez às vezes,
excessivamente confiante, mas ele tinha seus momentos. Por exemplo, ela
relutantemente teve que lhe dar crédito para o fato de que, após o depoimento,
ele tinha vindo para a casa dela para pedir desculpas pessoalmente. Ela sabia
que não tinha sido fácil para ele. E havia outras coisas, coisas pequenas, como
em um jantar com os representantes da Gibson, quando ele ficou em sua
companhia, enquanto os outros saíram para fumar charutos. Ou a forma como
ele veio procurá-la na biblioteca depois que Ben lhes tinha dado a notícia de que
apenas um deles seria sócio. Ele só estava tentando ser legal, ela sabia, mas em
troca ela tinha sido rude e defensiva.

E depois havia a coisa que ele disse a ela na outra noite, ao sair de sua
casa. Eu teria feito aquilo por você em um piscar de olhos. Payton tinha
passado por aquelas palavras umas cem vezes em sua cabeça. Ela precisava ser
cuidadosa quando se tratava de J.D.. Ela tinha que se proteger; ela não queria
interpretá-lo mal, não podia arcar por dar erroneamente demasiada
importância a algo que para ele talvez significasse apenas uma cortesia
profissional.

Payton percebeu que Chase estava estudando-a, provavelmente


esperando que ela dissesse alguma coisa igualmente negativa sobre J.D.. Mas
estranhamente, a pessoa por quem ela tinha sentimentos questionáveis como
resultado dessa conversa, era Chase. Ele tinha sido muito enfático em querer
falar com ela, mas até agora ela não tinha ouvido nada que merecesse tê-la
tirado do trabalho e distanciado das horas de pesquisa que ainda tinha à sua
frente naquela noite.

— Eu não quero ser rude, Chase, mas eu realmente tenho que voltar para
o escritório. — disse ela. — Como um último esforço, a autora mudou para
atacar algumas das nossas instruções do júri e o juiz quer ouvir nossos
argumentos amanhã. — explicou ela. — Então é por isso que você me pediu para
encontrá-lo aqui? Para falar sobre J.D.?

Chase balançou a cabeça. — Na verdade, eu queria falar sobre nós. Olha,


obviamente, você tem muita coisa acontecendo com o trabalho agora, e talvez
isso é tudo o que é, mas eu estava pensando em você ontem à noite, que eu
queria fazer algo de bom para você, algo para tirar sua mente das coisas. Mas
então isto me bateu, que eu não tinha certeza de que você realmente queria que
eu tirasse a sua mente das coisas, que talvez tudo que você quer é estar focada
em seu trabalho, e isso é ótimo, Payton, não me entenda errado mas...

Ele hesitou, seus olhos castanhos cheios de perguntas. — Isso é realmente


tudo? Porque eu posso esperar esses últimos dias até a sua empresa tomar suas
decisões de sociedade, mas se for mais do que isso, então... talvez, só seria
melhor se eu recuasse agora.

Primeiro, Payton não sabia o que dizer. Ela não estava pronta para ter
essa conversa, pelo menos não agora, de qualquer maneira. Ela respirou fundo.

— Eu te peguei de surpresa com isso, não foi? — perguntou Chase,


sorrindo timidamente.

— Sim, você poderia dizer isso. — disse Payton, exalando com uma risada
nervosa.

Chase alcançou através da mesa e pegou sua mão. — Olha, nós não
precisamos terminar essa conversa agora. Eu apenas pensei que isso era algo
que eu precisava dizer. E eu odeio falar sobre essas coisas por telefone.
Payton assentiu. Ela provavelmente era uma tola por não dizer
imediatamente, não, é claro que ela não queria que ele se afastasse. Mas Chase
estava certo: ela precisava pensar antes de responder. Agora mesmo, ela estava
confusa e, por mais que odiasse admitir, lutando contra o desejo de verificar o
relógio. Mas desde que ele tinha trazido à tona o assunto, ela respondeu o mais
honestamente que pôde. Ele merecia isso, pelo menos.

— Esse julgamento é a última coisa com a qual a empresa vai me avaliar


antes de tomar sua decisão da sociedade. — ela disse a ele. — Eu entendo que
você tem perguntas, mas é difícil para mim me concentrar em qualquer outra
coisa agora. Mas vai acabar em dois dias. Se você puder esperar até lá, eu
prometo que nós vamos sentar e realmente conversar.

Chase sorriu e disse que entendia.

Engraçado, Payton pensou. Porque ela pessoalmente não tinha ideia do


que estava fazendo.

***

De volta ao escritório.

Mais uma vez.

Às vezes, parecia como se ela nunca saísse do lugar. Provavelmente


porque ela raramente fazia.

Eram quase sete horas, o que significava que os secretários foram embora
e o escritório estava quieto. Quando Payton chegou a seu escritório, ela viu que
Brandon tinha deixado três pilhas de casos sobre a mesa para sua revisão - os
resultados da sua pesquisa em cada uma das três instruções do júri que o autor
tinha contestado. Infelizmente para Payton, cada pilha era de pelo menos dois
centímetros de espessura, o que significava que suas chances de deixar o
escritório em qualquer momento próximo eram inexistentes.
Ela apenas tinha começado a abordar o primeiro monte de casos, quando
ouviu uma batida na porta. Ela olhou para cima e viu Laney.

— Ei. Por que você ainda está aqui? — perguntou Payton. Ela baixou a voz
para um sussurro. — Eu pensei que esta noite era a grande noite. — Laney -
então Payton tinha descoberto ontem em uma conversa que incluía totalmente
demais informações - estava ovulando hoje. Ela tinha planejado sair mais cedo e
surpreender Nate. Etc.

— Estou saindo. — disse Laney. — A que horas você vai para o coquetel?

Payton franziu a testa, confusa. — Coquetel? — ela bateu na testa,


lembrando-se de repente. — Merda o coquetel!

Todo mês de junho, o grupo de litígio sediava um coquetel de boas-vindas


para a safra de associados de verão daquele ano, e todos os advogados do grupo
eram “fortemente encorajados” a participar. Com tudo que estava acontecendo,
ela tinha esquecido completamente que a festa era esta noite. Ela fez um
lembrete na agenda diária do seu computador que deve ter dado o lembrete,
enquanto ela estava no Fixx com Chase.

Porcaria.

Com um gemido, Payton esfregou a testa. — Eu não vou conseguir ir para


o coquetel hoje à noite. — ela apontou para os dez centímetros e meio de casos
sobre a mesa que ela ainda precisava ler. — Eu tenho muito trabalho a fazer. —
ela suspirou. Pobre Cinderela. Não poderia ir para o baile, porque ela tinha que
ler sobre as limitações probatórias das normas de defesa afirmativa
Ellerth/Faragher.

— Mas você precisa ir. — Laney a advertiu. Ela assentiu com a cabeça
sutilmente na direção do escritório de J.D.. — Você sabe que ele vai trabalhar a
multidão, entrosando com Ben e todos os outros na Comissão de Parceria. Você
tem que estar lá, também.

Payton, de repente se sentiu muito cansada de todo o calvário de


competir contra J.D.. Se a decisão do Comitê de Parceria fosse toda baseada em
quem marcou mais rosto na hora do coquetel do grupo de litígio, então,
francamente, eles eram um bando de idiotas.

— Por mais que eu realmente odeie perder a oportunidade de dar uma


série de animados, venha-trabalhar-para-a-empresa, é-claro-que-eu-nunca-
faturei-mais-de-duas-mil-horas, discursos de recrutamento para um grupo de
estagiários que têm, claramente, nenhum indício de que eles estão prestes a
perder suas vidas, eu vou ter que passar esta noite.

Laney olhou para Payton, surpresa. — Eu não acho que eu já ouvi você
falar mal da empresa antes. Você é normalmente tão partidária. — ela balançou
a cabeça em aprovação. — Bom para você. Eu vou te dizer que, eu vou ficar e
ajudá-la a ler esses casos, e talvez você consiga pegar o final da festa.

Payton sorriu em agradecimento. — Isso é muito gentil da sua parte. Mas


não se preocupe comigo, estou bem. Vá para casa e aproveite a noite com Nate.

Laney hesitou. — Você tem certeza?

Payton assentiu enfaticamente. — Sim. Vá. É bom saber que pelo menos
uma pessoa de alguma forma está conseguindo encontrar tempo para ter
relações sexuais durante o trabalho aqui.

Ela pegou o olhar de Laney.

— Não se preocupe, ninguém está por perto para me ouvir de qualquer


maneira.
Capítulo Dezenove

— P or que

você não colocou o garoto para trabalhar nisso?

Ao ouvir a voz familiar, Payton levantou os olhos da leitura. Ela estava de


frente para a janela a qual ela gostava de ficar quando tinha que trabalhar à
noite. A vista dos outros arranha-céus ao redor dela com suas luzes cintilantes
era espetacular. E de alguma forma, a fazia se sentir um pouco menos solitária
ver outros escritórios iluminados.

Ela virou-se em sua cadeira e viu J.D. parado na porta.

— O 'garoto' está em seu escritório, escravizado sobre as quinze outras


coisas que eu pedi a ele para fazer. — ela disse a ele, assumindo que ele estava se
referindo a Brandon. — Então, infelizmente, eu estou presa aqui.

J.D. olhou para o relógio. — Você não vai para o coquetel?

Payton balançou a cabeça negativamente. — Por que não está lá?

— Eu estava em uma chamada de conferência que ia até tarde. Mas eu


estou indo lá em cima agora.

J.D. fez uma pausa, então se mexeu na porta.

— Você não vai fazer a coisa persistente estranha de novo, não é? —


perguntou Payton. — Porque isto está começando a me assustar.

— Não, eu não vou fazer a coisa persistente estranha de novo. — J.D.


respondeu, apesar de Payton pensar ter detectado o leve rastro de um sorriso
em seus lábios.
Ele entrou em seu escritório e caminhou até sua mesa. — No que você
está trabalhando, afinal?

— Apenas algumas pesquisas relacionadas às instruções do júri. — disse


Payton, suspirando. — O juiz quer ouvir as alegações primeiro amanhã, antes
que ele traga o júri. Estou muito confortável com a nossa posição, eu só quero
ter certeza de que não existem quaisquer casos extremos que o requerente possa
citar.

J.D. a estudou. — Você gostaria de alguma ajuda?

— De você?

— Sim, Payton. De mim.

— Mas você vai perder o coquetel de recepção. Você não precisa ir


conversar com Ben e os outros parceiros litigantes? — ela perguntou.

— Não, se você não for. — ele disse.

Bom ponto. Talvez J.D. realmente estivesse tentando ajudar. Ele parecia
muito agradável sobre os gestos no dia de hoje, Payton pensou. Ou talvez ele
estivesse apenas confiante em suas chances de se tornar sócio. Sua mente ia e
voltava, e parte dela queria dizer a J.D. que ela não precisava da ajuda dele, que
ele não precisava devolver o favor do depoimento. Mas a verdade era que ela
poderia realmente usar a ajuda, e a segunda verdade, era que ela meio queria
que J.D. ficasse - e não só porque ela não queria que ele fosse para o coquetel de
recepção e trocasse ideias sem ela.

Ela assentiu com a cabeça. — Ok.

J.D. sorriu. — Ok.

Ele se sentou em uma das cadeiras em frente à sua mesa. — Por que eu
não começo com essa pilha aqui? — ele apontou para a pilha de casos mais
próxima dele.

— Claro. — Payton começou a explicar. — Eu coloquei Brandon para


pesquisar todas as decisões relevantes, tanto do Sétimo Circuito e do Distrito
Norte de Illinois, mais ele encontrou um par de casos do Distrito Central,
aqueles que, obviamente, são apenas autoridade persuasiva.

— Eu não sou um primeiro ano, Payton. Apenas me diga quais são os


problemas.

— Olha, só porque eu aceitei a sua oferta de ajuda não significa que este
não seja o meu caso.

— Eu tinha a sensação de que eu ia me arrepender disso...

— Bem, então, você está certamente livre para sair a qualquer momento...

— E negar-lhe o prazer da sua viagem de poder? Eu não sonharia com


isso.

Et cetera.

***

Humm.

O cabelo dele estava um pouco mais comprido esses dias.

Payton sorrateiramente deu outra olhada.

J.D. recostou-se na cadeira, suas longas pernas esticadas na sua frente


enquanto lia o próximo caso na sua pilha. Sua cabeça inclinou ligeiramente para
baixo enquanto ele lia, e Payton podia ver que a parte de trás do seu cabelo
castanho quase roçava no colarinho engomado azul de sua camisa. Sem dúvida
uns bons três centímetros mais longo do que ele normalmente usava. Não que
ela prestasse atenção nessas coisas.

Ela havia se movido e agora sentava em uma cadeira ao lado de J.D.. Era
mais fácil para eles trabalharem assim. Desta forma, ela não teria que manter-se
inclinada sobre sua mesa sempre que ele quisesse salientar algo que havia
encontrado em um dos casos que ele estava revendo. E essa era a história dela e
ela estava aderindo a ela.

As pilhas de casos sobre a mesa tinham sido reduzidas a quase nada. Foi
uma coisa boa que ela tinha voado através da sua pilha quando ela e J.D.
começaram a trabalhar juntos, porque seu ritmo desacelerou drasticamente ao
longo da última meia hora. Nos últimos 15 minutos, em especial, ela havia se
tornado, alguém poderia dizer, um pouco distraída. Ela encontrou-se
estranhamente com pensamentos que alguns poderiam chamar de um
pouco... atrevidos.

Era um empate estúpido novamente, Payton pensou. Ela tinha estado


inocentemente cuidando do seu próprio trabalho de leitura, quando J.D. tinha
casualmente afrouxado a gravata e ela tinha pensado, hmm... ele realmente
devia apenas tirar a maldita coisa, não havia mais ninguém no escritório de
qualquer maneira. Então, hmm... falando de ninguém mais estar no escritório,
ela se perguntou o que faria J.D., se - hipoteticamente falando - ela estendesse a
mão e soltasse a gravata para ele... e então, o inferno, se ela já tinha ido tão
longe, - ainda hipoteticamente, é claro - ela supunha que ela também deveria
desfazer esses primeiros botões da sua camisa, que pareciam um pouco
restritivos, também, e, oops, nesse caso, ela poderia muito bem apenas jogar a
toalha e ir para a direita para baixo para o botão da sua ca...

— Então, há quanto tempo você está vendo Chase?

A pergunta - de J.D. - abruptamente trouxe Payton de volta para a


realidade.

— Hmm? O que? — perturbada, ela disfarçou gesticulando para o caso


que ela concluía. — Desculpe. Lendo. Lei e tudo. Poxa, isso é bom! — ela se
abanou. — Eu sinto muito, você me perguntou alguma coisa?

J.D. mexeu-se na cadeira. — Eu só estava perguntando há quanto tempo


você está vendo Chase? Ele disse que vocês dois estavam namorando. Eu
encontrei com ele na noite passada. — ele explicou.

— Sim, ele mencionou isso quando o vi hoje mais cedo.


Payton podia jurar que viu um flash de algo nos olhos de J.D. sobre isso.

— Vocês dois estão sérios, então? — perguntou.

Payton hesitou. Será que ela se importaria com o que J.D. pensasse dela e
Chase? Surpreendentemente, ela viu que sim.

— Estamos nos vendo por algumas semanas. — disse ela.

Na ponta dos pés, ponta dos pés.

J.D. assentiu. — Vocês dois parecem ter muito em comum. — ele esperou
para ver onde ela iria chegaria com isso.

Na ponta dos pés, ponta dos pés.

— Parece que sim.

Silêncio. Mais uma vez, eles estavam em um impasse.

Então Payton pensou, que diabos? E decidiu ir para o combate.

— Por que você está aqui, J.D.?

— Eu trabalho aqui, lembra? Veja, ali é o meu escritório e...

Payton colocou a mão em cima da dele. — Não. Vamos só pular a parte


sarcástica pela primeira vez.

J.D. olhou para sua mão, em seguida subiu, até encontrar o olhar dela. —
O que é que você realmente quer saber, Payton?

Ela perguntou algo que ela tinha se perguntado nos últimos dias. — Por
que você está sendo tão bom para mim agora?

J.D. se inclinou para frente em sua cadeira. Ele olhou diretamente nos
olhos dela, e Payton de repente se viu se perguntando por que ele tinha levado
oito anos para olhá-la dessa forma.

— Porque você está deixando. — disse ele em voz baixa.


E nesse momento, Payton soube.

“O Perfeito Chase” estava condenado.

E não por causa de uma cordialidade. O Perfeito Chase tinha sido


condenado desde o início, e de fato, Payton estava começando a suspeitar que a
razão de que praticamente todas as suas relações ao longo dos últimos oito anos,
tinham sido condenadas desde o início, estava sentada na cadeira na frente dela,
olhando-a nos olhos.

Percebendo isso, Payton só tinha uma coisa a dizer. — Oh... Não. — ela
suspirou.

Só que ela não tinha exatamente a intenção de dizer isso em voz alta.

J.D. inclinou a cabeça. — Resposta interessante.

Payton não podia dizer se ele estava divertido ou com raiva. Ela abriu a
boca para explicar, mas foi interrompida por uma batida na porta.

Brandon entrou em seu escritório, alheio a tudo. — Então, eu encontrei


mais dois casos que você pode querer dar uma olhada... oh, ei, J.D.. Eu não
sabia que você estava aqui.

Payton e J.D. levantaram-se das cadeiras ao mesmo tempo.

— Na verdade, eu estava saindo. — disse J.D. às pressas. — Payton, eu


não acho que você precisa mais da minha ajuda; vocês dois devem ser capazes
de acabar com o resto dos casos. Foi bom vê-lo novamente, Brendan.

— É Brandon.

— Claro.

Payton assistiu enquanto J.D. deixava seu escritório e atravessou o


corredor para o seu próprio.

— Eu espero que eu não tenha interrompido nada. — disse Brandon.


— Não, nem um pouco. — Payton assegurou. Isso é tudo o que ela
precisava agora, ser alvo de fofocas de mau gosto do escritório. Esse tipo de
coisa poderia matar uma carreira. — J.D. só estava me ajudando a passar por
algumas dessas pesquisas. — ela se sentou em sua mesa. — Então, o que você
achou?

Brandon se sentou em uma das cadeiras na frente da mesa dela. E


quando ele começou a explicar - como sócios subalternos ávidos sempre faziam
- a grande pausa no julgamento, que ele acreditava que ele tinha acabado de
descobrir, Payton mantinha a atenção vigorosa. Entre olhares roubados em todo
o hall. Ela se perguntou o que J.D. estaria pensando, se isso ia ser mais um
daqueles momentos entre eles que nenhum deles reconhecia, ou se ele estava
com raiva mesmo, pensando que ela queria dizer algo pelo “oh... não”, que ela
nem queria dizer, ou talvez ela quis dizer isso, ela não sabe mais; sua mente era
uma bagunça de mil pensamentos oscilantes e ela não conseguia entender
qualquer um deles, exceto pelo fato de que ela sabia que deveria estar centrada
no julgamento e...

Ao lado dela, na tela de seu computador, a caixa de alerta, de repente


apareceu, indicando que ela tinha acabado de receber uma nova mensagem de
e-mail. Ainda balançando a cabeça enquanto ouvia Brandon, Payton clicou o
mouse e viu que tinha uma mensagem de J.D.. Nada na linha de assunto, de
modo que ela clicou novamente e leu:

Eu gostaria de levá-la para casa esta noite.

Sem diminuir o passo, Payton perguntou a Brandon simultaneamente


uma questão de acompanhamento a respeito da sua pesquisa e disparou uma
resposta rápida ao e-mail do J.D..

Vinte minutos.

***
— Bem, pelo menos agora eu posso dizer que eu montei no Bentley
infame.

Enquanto caminhavam pela calçada, aproximando-se da sua casa, Payton


viu J.D. sorrir e verificar o relógio.

— O que? O que foi isso? — ela perguntou.

— Eu tenho cronometrado quanto tempo você levaria para fazer um


comentário sobre o carro. Na verdade, estou surpreso que você fez toda a
viagem aqui sem dizer nada.

— Eu quase não sou tão previsível. — disse Payton, começando a atirar os


cabelos para trás sobre os ombros, mas parou.

J.D. percebeu e riu. — Sim, realmente, você é. Em oito anos, eu não acho
que eu já vi você se abstendo de comentar sobre qualquer coisa.

Tinham chegado à porta da frente. Payton se virou para J.D. — Isso não é
verdade.

— Não é, né? — ele levantou uma sobrancelha.

Payton olhou para ele. — Eu não comentei sobre o fato de que você
estacionou seu carro na rua, em vez de deixar-me aqui na frente. Porque se eu
tivesse comentado isso, eu teria dito que você parece pensar que vai entrar.

J.D. se aproximou um passo o e olhou para ela. — E se esse pensamento


me ocorresse, eu estaria errado?

— Hmm... sem comentários. — Payton destrancou a porta da frente, e


J.D. manteve aberta para ela.

— Talvez eu esteja apenas tendo certeza que você entre com segurança. —
disse ele enquanto subiam as escadas para o apartamento dela. — Chame-me de
antiquado. — então ele saltou à frente de Payton, andando de costas e de frente
para ela. — Ou espere - é irritado, imbecil, dono-de-pony, miserável-em-dar-
amor, só-bebedor-de-Scotch-no-gelo, minha-esposa-fica-melhor-com-meu-
sobrenome idiota machista!!? De alguma forma, eu sempre chego aos dois
misturados.

Tinham chegado à porta do apartamento de Payton.

— Eu não sei... — ela disse. — Me faz lembrar que, isso foi antes ou depois
de você me chamar de teimosa, irritante, motorista-de-Prius, com-ombreiras-
no-terno, que -‘ficar-em-casa’-com-a-mãe-é-uma-ofensa à sua feminazi.

Ela abriu a porta e entrou em seu apartamento. Ela jogou a pasta e bolsa
para o sofá da sala.

J.D. a seguiu para dentro, fechando a porta atrás deles. Ele sorriu
ouvindo suas palavras atiradas de volta para ele. — Depois, definitivamente
depois. É assim que tem sido desde o início, você dispara o primeiro tiro,
e eu apenas reajo.

Ele disse levemente, provocador, mas Payton pegou algo na sua escolha
de palavras.

— O que quer dizer com é assim que tem sido desde o início?

Ela viu um lampejo momentâneo nos olhos de J.D., como se ele


percebesse que tinha dito mais do que ele pretendia. Ele acenou para
desconsiderar a pergunta dela.

— Não importa. Esqueça que eu disse isso. Isso não é importante.

Payton estava curiosa. Mas ela recuou, sentindo que pressionar o


problema só levaria a uma discussão. E os dois tinham tido o suficiente delas
para durar uma vida.

— Então... — ela disse, interrompendo. Encostou-se na parede de


estantes embutidas, de frente para J.D., que estava do outro lado da sala dela.

— Então... — ele respondeu. Ele a olhou, como se estivesse esperando que


ela fizesse ou dissesse algo primeiro. O que era bom, porque, na verdade, havia
algo que ela queria dizer. Ela limpou a garganta.
— Sabe, J.D. - para o registro - na verdade, eu não acho que você seja
sexista. — ela o viu mover a cabeça com esta admissão repentina, então ela
explicou. — Eu apenas pensei, você sabe, que não fosse algo legal para falar. Em
poucos dias, nós não vamos mais trabalhar juntos, e eu não queria deixar isso
suspenso entre nós.

J.D. lentamente começou a atravessar a sala em direção a ela. — Nesse


caso, já que estamos limpando o registro, feminazi foi, provavelmente, um
pouco duro.

— Um pouco? Você acha?

— Muito duro. — J.D. se aproximou dela, então mais perto ainda. Payton
sentiu seu coração começar acelerar.

— E, na verdade, eu não acho que você seja irritado. — ela disse, ainda
conseguindo parecer fria e calculista, pelo menos. — Obstinado e arrogante,
talvez, mas não irritado.

— Obrigado. — disse J.D., com um aceno de reconhecimento. Ele parou


diante dela agora, de modo que ela estava presa entre ele e as estantes.

— Também para registro. — disse Payton, em voz baixa. — Eu não dirijo


um Prius.

J.D. olhou para ela, seus olhos escuros e intensos. — Para o registro, eu
nunca possuí um pony.

— Isso é uma vergonha. — Payton disse-lhe em um sussurro. — Eu


achava que devia ser bem legal possuir um pony. — ela sentiu a mão de J.D. na
parte de trás do seu pescoço.

— Você vai parar de falar agora? — disse ele, puxando-a para ele. —
Porque eu já esperei tempo suficiente para fazer isso.

Então sua boca desceu sobre a dela, e, finalmente, depois de oito anos,
J.D. Jameson a beijou.
Os lábios de Payton se separaram ansiosamente, provocando-o quando
sua língua levemente tocou a dele. A mão de J.D. moveu-se para a cintura dela e
puxou-a para mais perto enquanto sua boca procurava a dela, aprofundando o
beijo. Ela pressionou seu corpo contra o dele e instintivamente ele reagiu
imediatamente, empurrando-a contra as prateleiras. Com seus braços de cada
lado dela, segurando-a ali, seus lábios arrastaram um caminho ao longo do seu
pescoço.

— Diga-me que você queria isso. — disse ele com voz rouca em seu
ouvido, e Payton pensou que todo o seu corpo tinha acabado de derreter. Ela
arqueou para trás, e a boca dele fez o seu caminho para sua clavícula.

— Sim. — ela sussurrou grossa, a única coisa que ela era capaz de dizer
logo após J.D. beijá-la novamente, mais exigente dessa vez. De repente, os dois
estavam impacientes; Payton empurrou seu paletó, precisando dele fora, e as
mãos de J.D. agarraram seus quadris e a puxou, eles tropeçaram para fora da
sala e na cozinha. Eles atingiram o balcão, e J.D. empurrou os bancos de bar
para fora do caminho e colocou-a sobre ele.

Empoleirada em cima do balcão, Payton inclinava-se para trás para olhar


para J.D.. Sua respiração estava irregular. — Eu gosto disso - você não está
elevando-se sobre mim, por uma vez, tentando me intimidar.

— Duvido que haja qualquer coisa que a intimide. — J.D. brincou. — Nem
mesmo estar nua em um tribunal, aparentemente.

— Estou começando a me lembrar por que eu não gosto de você. — disse


Payton. Mas, então, ela prendeu a respiração quando ele prendeu suas mãos
atrás das suas costas com uma das dele e se colocou entre suas pernas.

Os olhos de J.D. brilharam maliciosamente. — Bom, agora me chame de


'imbecil' e me dê esse olhar como se você quisesse jogar algo em mim, essa é a
minha parte favorita.

Payton riu, mas a boca de J.D. desceu sobre a dela e todas as brincadeiras
caíram no esquecimento. Ela sentiu as mãos dele se moverem para sua camisa,
arrancando os botões enquanto ela, simultaneamente, alcançava e puxava a
gravata, afrouxando o nó. Havia uma pressa em seus movimentos, como se cada
um deles estivesse com medo do outro mudar de ideia, e Payton estava apenas
começando a ter pensamentos vagos no fundo da sua mente sobre o quão longe
isso pode ir, e se o balcão da sua cozinha era o melhor local para quão longe isso
poderia ir, quando...

O telefone dela tocou.

— Ignore-o. — disse J.D., suas mãos se movendo para o fecho da frente


de seu sutiã, e pela primeira vez Payton concordou plenamente com ele.

O toque - vinha do telefone em sua sala de estar - era fácil o suficiente de


ignorar, mas, em seguida, a secretária eletrônica clicou e a voz de Payton ecoou
em todo o apartamento, desculpe, não posso atender o telefone, blá, blá.

— Já ouviu falar de correio de voz? — J.D. perguntou enquanto seus


dedos provocadores se arrastavam ao longo da borda rendada do sutiã e Payton
tentou reunir a inteligência e pensar em algo audacioso para dizer de volta
quando uma segunda voz masculina gritou para ela.

— Payton é Chase.

Era uma verdadeira maravilha da tecnologia, Payton notou, a forma


como a clareza da sua secretária eletrônica fez parecer como se o cara que ela
estava namorando estivesse parado lá na cozinha com ela e o cara que ela
enganchado entre as pernas.

— Eu só queria ligar para dizer boa noite e me certificar de que você


chegou bem em casa. — Chase continuou na máquina. — Eu sei que você tem
uma longa noite pela frente, e com tudo o que falamos anteriormente, esqueci
de desejar-lhe boa sorte com o seu julgamento. Eu sei o como você está sobre
isso, de modo que tente dormir um pouco. E lembre-se o que eu disse sobre
J.D., fique de olho nas suas costas, o cara vai fazer de tudo para ganhar.

Payton ouviu o sinal sonoro, indicando o fim da mensagem de


Chase. J.D. se inclinou para trás para ver sua reação.
— E aqui estava eu, preocupada que ele poderia dizer algo que tornaria
isso estranho. — disse ela. — Graças a Deus nós nos esquivamos da bala.

J.D. ignorou seu sarcasmo. — Ele te liga para dizer boa noite? Quão sério
vocês dois estão? — ele exigiu saber.

Payton passou por ele, deslizou para baixo do balcão, e começou a


abotoar a camisa. — Essa é a parte da mensagem que você tem um
problema? Que ele tenha me ligado para dizer boa noite?

— Oh, eu deveria responder às acusações feitas contra o


seu namorado? Aqui está a minha resposta: ele é cheio de merda.

Payton assentiu enquanto ela alisava a saia. — Talvez não seja a sua
resposta mais eloquente, mas vou dar-lhe pontos pela franqueza.

Com um olhar confuso, J.D. observava enquanto ela se recompunha. —


Espera, o que está acontecendo aqui? Você não está realmente comprando o que
Chase disse, não é?

— Não. — não realmente, ela quase acrescentou, mas se conteve.

Ela deveria suspeitar de J.D.? Até Chase ter deixado a mensagem, a


possibilidade ainda não tinha ocorrido à Payton, que J.D. poderia ter alguma
agenda oculta naquela noite. Na verdade, ela estaria no tribunal desde muito
cedo amanhã de manhã, mas e daí? O que ela deveria pensar, que tudo isso foi
algum esquema de sedução elaborada para entrar em seu apartamento, e o que?
Atrasar o seu despertador em uma hora para que ela perdesse a hora do
julgamento? Agora esse era um pensamento ridículo.

Não era?

Pensando sobre isso... o cara tinha se infiltrado em seu escritório, em


seguida, cortado e depois colado seu salto novamente para que ela caísse e se
envergonhasse no tribunal. Mas eles estavam além disso agora. Não estavam?

— Bem, é óbvio que a mensagem de Chase mudou alguma coisa. — disse


J.D..
Payton terminou de abotoar a camisa e se virou. — Isso tudo é tão
complicado.

— Por causa de Chase?

— Por causa de um monte de coisas. — disse Payton. — Porque eu preciso


estar no tribunal amanhã de manhã cedo. Por causa da nossa história. Devido
ao fato de que eu deveria estar me concentrando no trabalho agora, e porque,
ironicamente, você é a razão pela qual eu deveria estar centrada no trabalho
agora. — ela fez uma pausa. — Eu só gostaria de ficar sozinha para pensar sobre
as coisas.

J.D. concordou e Payton podia ver que ele estava com raiva.

— Tudo bem. — ele disse laconicamente. Ele se aproximou, pegou o


paletó do chão e se dirigiu para a porta da frente.

Tão confusa quanto ela estava, Payton odiou que eles terminassem a
noite com uma impressão tão ruim. — J.D., espere. — ela gritou para ele.

Ele virou-se na porta. — Esta é a segunda vez que você me expulsa do seu
apartamento. Se você mudar de ideia sobre as coisas, você sabe onde você pode
me encontrar.

E com isso, ele se foi.

Payton ficou ali por um momento, depois que ele saiu. Então ela pegou
sua pasta e dirigiu-se para seu quarto.

Uma hora depois, ela adormeceu só, com o seu trabalho empilhado ao
seu redor.
Capítulo Vinte

S ó falta uma

semana.

Apenas sete dias.

Payton entrou na reta final da sua missão de oito anos para se juntar à
elite de prestígio, de poucos advogados de sucesso, da Ripley & Davis que
tinham sido elevados à categoria de sócios, mantendo duas promessas que fizera
recentemente.

Em primeiro lugar, ela ganhou o julgamento - confirmando assim seu


voto para o júri durante seu discurso de abertura, que ela estava certa de que
depois de ouvir todas as evidências, eles iriam acreditar que seu cliente não era
responsável pelo assédio sexual.

Como era tradição, sempre que um dos advogados de litigio tinha vitória
num processo, quando ela voltou ao escritório depois do julgamento, os outros
membros do grupo foram em seu escritório para oferecer-lhe os
parabéns. Todos, exceto J.D., é claro.

Ele permaneceu em seu escritório a tarde inteira, com a porta fechada.

— O que deu nele? — Irma perguntou quando ela parou em seu caminho,
com um aceno de cabeça na direção do escritório de J.D.. — Vocês dois estão
brigando de novo?

— Eu não acho que ele está falando comi... — Payton parou, depois de ter
compreendido a insinuação na pergunta de Irma. — O que quer dizer, com
estamos brigando de novo? — ela e J.D. sempre tinham sido tão cuidadosos
para não expor as suas disputas em público.

Irma lançou um olhar. — O pessoal do administrativo são os olhos e


ouvidos dessa instituição, Payton. Nós sabemos de tudo.

Payton sentou-se em sua cadeira. — Vocês falam sobre nós?

Irma deu de ombros despreocupadamente. — Sim.

Payton cruzou os braços sobre o peito. — Bem. E sobre o que vocês


falam?

— Agora, principalmente falamos de vocês dois na disputa para se


tornarem sócios.

— Vocês sabem sobre isso?

Mais uma vez, Irma deu de ombros despreocupadamente. — Sim. Temos


até um grupo de apostas em qual de vocês irá conseguir isso.

A boca de Payton caiu aberta, chocada ao descobrir que sua árdua luta
pelo sucesso da sua carreira era objeto de conversas pegajosas, fofocas sem
sentido.

— Eu não posso acreditar que você está participando disso, Irma. É tão
desagradável. Quem está na frente da aposta?

— Está praticamente definido pelos gêneros.

Payton sorriu com satisfação. — Então, eu estou na liderança. Há, o que,


dois secretários do sexo masculino em toda a empresa?

— Bem, alguns dos associados juniores estão apostando também. E por


alguns, quero dizer todos eles.

Payton revirou os olhos. — Eu suponho que todos os sócios, também?

— Estranhamente, não. — Irma ponderou. — Nenhum dos sócios parece


saber sobre você e J.D. não se dando muito bem.
Payton zombou dessa. — Não é tão estranho, realmente. Metade dos
sócios aqui parece não saber nada a menos que seja explicitado em um
memorando que algum pobre associado teve que sacrificar todo o final de
semana redigindo.

Agora foi a vez de Irma se surpreender. — Isso soou terrivelmente


desapontado para você. — ela balançou a cabeça em aprovação. — Eu gosto
disso. — com uma piscadela, ela se virou e saiu.

Payton suspirou Nota para si mesma: Morder a língua com


mais frequência.

E descobrir que associados juniores tiveram a audácia de apostar no J.D..

Se fosse Brandon, ela mataria o garoto.

***

A segunda promessa que Payton manteve era a que ela tinha feito para
Chase, que eles iriam sentar e conversar assim que o julgamento tivesse
acabado. O encontro ocorreu no apartamento de Chase, mas a conversa foi
principalmente sobre o término de Payton.

Chase levou bem a separação. Ele até riu quando Payton disse que ela
tinha os melhores interesses dele em mente tanto quanto os dela, vendo como
ela estava completamente convencida de que ela era uma pessoa muito difícil e
não iria faria qualquer outra coisa com ele, senão, totalmente miserável.

Na verdade, todos os pensamentos que ela ainda podia ter mantido que
as coisas poderiam funcionar com Chase, praticamente terminaram no
momento em que ela beijou J.D.. Ela não tinha ideia do que estava acontecendo
entre eles ultimamente, mas é evidente (como evidenciado no pequeno encontro
no balcão da cozinha dela), ela não tinha como namorar outra pessoa até que ela
entendesse isso.
No dia seguinte, no trabalho, ela estava procurando uma maneira de ver
Laney para dar a má notícia de que, infelizmente, Chase não era mais o seu
Perfeito, quando ouviu a voz de J.D. chamando seu nome. Ela virou-se e o viu
no meio do corredor, aproximando-se dela.

— Ben pediu para ver nós dois, de imediato, se possível. — disse J.D.. —
Aparentemente houve algum desenvolvimento no caso da Gibson.

Sem mais palavra, ele friamente passou por ela e continuou ao longo do
corredor para o escritório de Ben.

Payton seguiu atrás dele, sem fazer qualquer tentativa para alcançá-lo. Se
esse é o tipo de jogo que ele queria jogar, que assim seja. Os dois caminharam
por todo o caminho em silêncio.

Quando chegaram ao escritório de Ben, eles o encontraram no


telefone. Ele sinalizou que estava resolvendo algumas questões e gesticulou para
que esperassem lá fora. J.D. foi até a janela no final do corredor, virou as costas
para Payton, verificando a vista lá fora, ele continuava seu tratamento
silencioso.

Payton ficou tentada no início de simplesmente ignorá-lo, mas depois


mudou de ideia. J.D. estava começando a irritá-la a sério e ela tinha a intenção
de deixá-lo saber isso. Ela rapidamente caminhou até ele.

— Você realmente não está falando comigo? — ela manteve a voz baixa,
de modo que não seria ouvida.

J.D. olhou de lado para ela. — Eu estou apenas lhe dando espaço, Payton.
— ele se voltou para a janela.

— Você está sendo um idiota.

— E você está jogando. Como vai o Chase? — ele perguntou


sarcasticamente.

— Tudo bem, eu acho. Chase e eu não estamos nos vendo mais.

J.D. se virou para encará-la. — Você terminou com ele?


— Por uma questão de fato, eu terminei. — disse Payton. — Ao contrário
do que você pensa, eu não gosto de jogar com as pessoas. E por falar nisso, você
tem muita coragem de me acusar de jogar quando você é o único me dando o
tratamento de silêncio. O que me lembra, obrigada por ser a única pessoa no
nosso grupo a não me felicitar por ganhar meu julgamento. Suas ações levam-
me a crer que ou: (a) você se sentiu estranho me parabenizando, uma vez que
estamos numa competição um com o outro, nesse caso, você não pode me
culpar por lutar da mesma forma com as complicações de nossa situação na
outra noite; ou (b) que você estava simplesmente sendo um imbecil rancoroso
teimoso, que no caso eu não tenho certeza se gostaria de estar na sua companhia
de qualquer maneira. De qualquer forma, se você está esperando por algum
grande pedido de desculpas de mim por te pedir para sair na outra noite, você
vai esperar muito, muito tempo, porque, como você vê, claramente eu estava
com a razão. — Payton colocou a mão em seu quadril, desafiadora. Então é isso.

J.D. olhou para ela por um momento, com aquele olhar “divertido” em
seu rosto. — Você realmente é uma advogada incrível, Payton. — disse ele.

Ela cutucou-o no peito. — Não tente me bajular agora, Jameson.

Ele sorriu. — Você está com raiva de mim novamente.

— Eu acho que esta situação é difícil o suficiente sem você torná-la mais
difícil.

Isso pareceu golpeá-lo com uma corda. — Justo. Talvez eu deva fazer isso
para você, então. O que você diria - hipoteticamente falando, é claro, - se eu lhe
pedisse para jantar fora para comemorar sua vitória no julgamento?

Payton hesitou. Não porque ela não ficou tentada por sua oferta, ou quase
oferta. Muito pelo contrário, na verdade.

— Hipoteticamente falando, eu não tenho certeza se eu confio em mim


em torno de você. — disse ela. Ela poderia dizer que J.D. gostou da sua resposta.
Ele abaixou a cabeça, baixando a voz ainda mais. — Por quê? O que você
tem medo que pudesse acontecer se nós ficássemos sozinhos? Hipoteticamente
falando.

Era um jogo perigoso para eles, ficarem flertando no


escritório. Estranhamente, porém, Payton não tinha certeza se ela se
preocupava com o escritório nessa altura. Claro, J.D. a irritava como ninguém
mais poderia. Mas quando ele lhe deu aquele olhar, aquele olhar que era ousado
e íntimo, mas também um pouco cauteloso - como se ele estivesse esperando e
avaliando cada movimento dela - ela sentiu emoções de antecipação com o
pensamento de onde podia chegar sua pequena trama.

Então ela inclinou-se, seu sorriso descaradamente tímido. —


Hipoteticamente falando, eu tenho medo que eu possa...

— Aí estão vocês dois! Desculpem por isso, eu fiquei preso numa questão
de uma conferência que durou um pouco mais do que o esperado.

Interrompidos pelo som da voz de Ben, Payton e J.D. olharam e o viram


de pé na soleira da porta.

— Vamos? — Ben gesticulou para que se juntassem a ele em seu


escritório.

J.D. chamou a atenção de Payton, enquanto se dirigiam para dentro,


parecendo achar a interrupção de Ben tão inconveniente quanto ela. Eles mal
tomaram o assento na frente da mesa quando Ben foi direito ao que interessava.

— Então, eu recebi um telefonema de Jasper, esta manhã. — ele


começou. — Aparentemente, eles tiveram um pouco de agitação no
departamento jurídico da Gibson. Ele demitiu o conselho - provavelmente uma
jogada inteligente, já que o cara obviamente não fez um trabalho muito bom de
evitar essa confusão. O novo conselho geral começa na segunda-feira e, não
surpreendentemente, está ansioso para se encontrar com algumas das pessoas
em nossa empresa que estão trabalhando no caso. Jasper perguntou
especificamente se um - ou ambos - poderia, possivelmente, estar livre para
voar até amanhã para um encontro com ele e o novo conselho geral. Ele
reconheceu que este era um curto prazo, mas disse que pensou que já que
amanhã é sexta-feira, haveria uma chance de que vocês dois pudessem estar
livres de seus compromissos de trabalho à noite.

Ben pigarreou. — Obviamente, Jasper não tem conhecimento da situação


aqui, que um de vocês não vai continuar nesse assunto. E eu acho que é melhor
que ele não esteja ciente desse fato até que seja anunciada a decisão da parceria.
— inclinando-se para trás na cadeira, suspirou em tom melodramático. — Dadas
as circunstâncias, acho que é um pouco estranho para eu pedir para os dois
fazerem isso. Embora, a decisão esteja perto.

— Eu vou. — disse J.D..

Ben parou e olhou por cima. Ele pareceu satisfeito com a determinação
com que J.D. tinha respondido. — Ótimo. — ele acenou com a aprovação, em
seguida, virou-se. — O que você diz, Payton?

Ela podia sentir os olhos de J.D. sobre ela quando ela respondeu.

— Eu vou, também.

Ben sorriu. — Ótimo. Vou ligar para Jasper e deixá-lo saber que pode
esperar por vocês dois. — ele olhou para J.D. — Você chega cedo o suficiente,
Jameson, você pode até ser capaz de passear ao redor. Palm Beach tem alguns
bons lugares. Acho que a última vez que estive lá foi mais de três anos
atrás. Fomos em maio e estava quase trinta e cinco graus. E úmido como o
inferno. — ele apontou. — Vocês dois estejam preparados para isso. Vai ser uma
viagem quente e úmida.

Levou toda a força de Payton para não reagir a isso.


Capítulo Vinte e Um

A aeromoça colocou

a refeição de Payton na frente dela.

— E um prato principal vegetariano para você. — ela disse de forma


eficiente antes de se virar para servir almoço aos passageiros através do
corredor.

Sentado ao lado de Payton, J.D. não se preocupou nem em tirar os olhos


do seu Jornal Wall Street.

— Vegetariana? Agora, isso é uma surpresa.

— Tão surpreendente quanto você virar primeiro para a seção financeira


do jornal.

J.D. encolheu os ombros. — Então? Eu tenho alguns investimentos.

— Eu tenho investimentos. Você tem um portfolio59. — enfatizou Payton.

J.D. sentiu a necessidade de esclarecer as coisas. Ele largou o jornal e se


virou em seu assento para encará-la.

— Payton, eu tenho que te contar uma coisa, e eu sei que isso vai ser um
choque, mas é melhor que você ouça agora. — ele se inclinou no encosto. —
Você tem dinheiro. — ele balançou a cabeça. Que vergonha.

Payton dispensou o comentário com um aceno. — Por favor. Você tem


dinheiro. Eu tenho um emprego que paga bem. Há uma diferença.

59
Investimento no mercado imobiliário.
— Nós ganhamos exatamente o mesmo salário.

— Mas você tem um estilo de vida extravagante.

J.D. riu daquilo. Ele tinha agora? Talvez no ponto de vista dela, ele
supôs. Ela era uma contradição ambulante e completamente alheia a esse fato.

— Você tem sapatos de quinhentos dólares. — ele ressaltou.

— Não mais.

J.D. pigarreou. Provavelmente era melhor se eles mudassem de assunto.

Ele observou enquanto Payton pegou no seu sanduíche, algum


Sprouty60/totalmente natural/mistura sem gosto. Uma vez que eles estavam
voando na classe executiva, eles tinham assentos juntos, só os dois. Eles podiam
falar sobre qualquer coisa e não serem ouvidos, apesar de que a conversação de
Payton com ele durante todo o voo consistiu inteiramente de conversas
relacionadas à negócios e/ou insolentes. Talvez fosse hora de agitar as coisas.

— Então... você não disse por que você terminou com Chase.

— Você está certo, eu não disse.

— Você está evitando o assunto?

Payton abaixou seu sanduíche e se virou para ele. — Por que não falamos
de você para variar um pouco?

Percebendo que ele realmente precisava refinar suas habilidades de


mudança de assunto, J.D. lançou um olhar indiferente. — O que sobre mim?

— Bem, você tem 32 anos...

— A mesma idade que você.

60
Sanduíche natural vegetariano.
—... e ainda é solteiro. — ela terminou. — Você não deveria estar casado
agora com uma Muffy ou uma Bitsy ou algum outro tipo de socialite com um
cérebro tão grande quanto este picles?

J.D. olhou para cima. — Esse é um picles muito grande.

Payton sorriu. — Então? O que me diz?

J.D. não pôde deixar de olhá-la, enquanto ela aguardava a resposta dele,
Payton cruzou uma perna com salto alto sobre a outra, notadamente em sua
direção. Será que ela sabia o efeito que tinha sobre ele? Ele suspeitava que
soubesse. Era um pouco como uma dança o que eles faziam, a forma como
ambos visivelmente evitavam falar sobre o que aconteceu no apartamento dela
naquela noite. Ele tinha a sensação de que havia mais por trás das perguntas
“inocentes” dela, relacionadas à vida amorosa dele, do que ela queria
admitir. Mas ele não tinha a intenção de acabar com o jogo. Ainda não, de
qualquer maneira.

Vendo que ela ainda esperava sua resposta, J.D. encolheu os ombros. —
Eu acho que acabei ficando focado em coisas no trabalho. — ele observou,
enquanto Payton assentia. Isso ela podia entender.

Agora que o tema do trabalho tinha sido levantado, a conversa derivou


para um tópico mais seguro: a próxima reunião deles com Jasper e seu novo
conselho geral. Como agradecimento pelo fato de que Payton e J.D.
concordaram em voar para a Flórida em tão pouco tempo, Jasper havia
sugerido, para a comodidade deles, que se encontrassem para jantar no hotel
deles. J.D. certamente poderia pensar em lugares piores para passar uma sexta-
feira à noite do que no Ritz-Carlton, Palm Beach. Deixando de lado todas as
questões da sociedade/avanço na carreira, um dos principais motivos que ele
tinha tão rapidamente aceitado a viagem era porque ele sabia que Payton
também nunca deixaria passar a oportunidade.

Payton perguntou-lhe quais informações, se houvesse, que ele tinha sido


capaz de descobrir sobre o advogado que Jasper havia contratado para ser o
novo conselheiro geral da Gibson. J.D. alcançou em sua pasta o arquivo que ele
tinha jogado lá naquela manhã, quando ele parou no escritório antes de ir para
o aeroporto.

Estranhamente, ele descobriu algo em sua pasta que ele não tinha
colocado lá.

Um livro.

Confuso - e com o pensamento momentâneo de que ele ia ficar realmente


muito chateado se isso fosse algum tipo de esquema de contrabando para o Sul
da Flórida que o colocaria na prisão e acabaria com seu tempo de elegante
relaxamento no Ritz-Carlton - J.D. tirou o livro.

Orgulho e Preconceito.

Tinha um recado, não assinado, que dizia:

No caso de uma emergência. Confie em mim.

J.D. revirou os olhos. Oh, pelo amor de Deus. Ele disse a Tyler sobre a
sua viagem com Payton e seu amigo “útil” deve ter escorregado o livro em sua
bagagem de mão quando saiu do escritório dele.

Assim, quando ele estava prestes a enfiar o volume feminino bobo de


volta na pasta, Payton olhou para cima.

— Oh, você trouxe um livro? O que você está lendo? — ela se inclinou e
viu o título, em seguida, olhou para J.D. com uma expressão de surpresa
inconfundível. — Orgulho e Preconceito? Uau. Eu não poderia imaginar que
esse era o seu tipo de livro.

J.D. ficou imediatamente na defensiva. — Vamos lá, você realmente


acha... — suas palavras sumiram quando Payton recostou-se languidamente em
seu assento com um olhar sonhador, distante.

— Sr. Darcy... — ela suspirou melancolicamente. Distraidamente colocou


a caneta na boca - J.D. notou um pouco de rubor nas bochechas dela - e, mesmo
sem perceber, ela deslizou lentamente a caneta para dentro e para fora, entre
seus lábios.
Dentro e fora.

— Fitzwilliam Darcy e seus dez mil por ano... — ela disse, ainda
sonhadora.

J.D. não tinha ideia do que ela estava falando, mas ele não podia deixar
de olhar. A caneta. Os lábios. Dentro e fora.

Dentro e fora.

Tyler era um gênio.

Com um piscar de olhos, Payton saiu do seu devaneio. Muito


infelizmente.

— Desculpe. O que estávamos falando? — ela perguntou, um pouco sem


fôlego.

Limpando a garganta, J.D. ergueu o livro. — Orgulho e Preconceito?

Payton sorriu carinhosamente. — Sim. É um dos meus favoritos.

— Isso eu percebi. Tem que amar aquela... — J.D. rapidamente lançou um


olhar para a parte de trás da capa — Elizabeth Bennet.

Isso pareceu despertar Payton. — Bem, é claro. — ela disse, não muito
diferente de Tyler, como se apenas um homem Neandertal não a conhecesse. —
Elizabeth Bennet é apenas uma das maiores heroínas literárias de todos os
tempos.

J.D. podia ver que ela estava começando a ficar toda irritada e dando
sermão novamente. Não que ele particularmente se importasse. — Sério?

— Sim, isso mesmo. Ela é inteligente, espirituosa, corajosa e


independente. Na verdade, ela pode ser um pouco orgulhosa, alguns diriam que
ela é muito atrevida para seu tempo, e ela é definitivamente crítica, mas ainda
assim, é por isso que a amo.

J.D. inclinou a cabeça. — Bem. Acho que isso resolve.


Payton sorriu, um pouco envergonhada. — Desculpe. Eu posso ficar meio
empolgada falando sobre esse livro. — ela fez uma pausa, lembrando-se. — Você
não ia me mostrar as informações que você procurou do novo conselheiro geral
da Gibson?

De volta aos negócios. J.D. entregou a Payton o arquivo que ele havia
compilado e ela começou a lê-lo. Mas depois de alguns minutos de trabalho em
silêncio, ela lançou um olhar de soslaio na direção dele.

— Ainda... é tipo uma leitura maricas para um cara, Jameson. — com um


meio sorriso malicioso, ela se voltou para sua leitura.

J.D. não se preocupou em dignificar isso com uma resposta. Mas depois
que alguns minutos se passaram, ele sutilmente olhou para cima e observou
Payton enquanto trabalhava.

Orgulhosa e atrevida, sem dúvida. E definitivamente crítica.

Mas ainda assim.

***

Payton ficou na frente do armário usando apenas roupas íntimas,


examinando seu vestido, procurando por rugas. Ela ficou aliviada ao ver que
tinha sobrevivido à viagem de avião relativamente ileso, porque (a) ela tinha
absolutamente zero de habilidade quando se tratava de usar um ferro e (b) não
havia tempo para passar de qualquer maneira, porque ela deveria encontrar J.D.
no bar do hotel, no andar de baixo, em cinco minutos.

Isso era trabalho, ela continuou lembrando a si mesma. Ela e J.D.


estavam aqui, no luxuoso Ritz-Carlton, Palm Beach, a poucos passos da praia de
areia branca e água azul celeste do Oceano Atlântico, a trabalho.

Ela tinha ficado em hotéis agradáveis antes, é claro. Muitos deles. Uma
das vantagens de trabalhar para uma empresa de primeira linha era que
esperava-se que seus advogados - para fins de imagem - ficassem em hotéis de
primeira linha quando viajavam. Também não era a primeira vez que ela viajava
a negócios em uma sexta-feira à noite, e certamente não era a primeira vez que
ela viajava com um colega do sexo masculino.

Mas.

Desta vez não parecia com trabalho. Ou, pelo menos, isso não
parecia inteiramente como trabalho.

Após o check-in na recepção do hotel, ela e J.D. tinham concordado em


encontrar às sete, meia hora antes do jantar com Jasper. Isso tinha sido
sugestão de Payton - isso teria sido sugestão dela se ela estivesse com qualquer
outro associado e ela não via razão para desviar do protocolo. Trabalho ainda
era trabalho, Gibson’s Drug Stores era ainda o cliente novo mais importante da
empresa, e o fato de que ela passaria a noite com J.D. era irrelevante.

Da mesma forma, era irrelevante o fato de que ela tinha escapado para
uma depilação rápida depois de saber que eles fariam essa viagem.

E não deve-se, de modo algum interpretar qualquer coisa da lingerie de


renda preta sexy que ela tinha colocado poucos momentos
atrás. Honestamente. Seu vestido justo praticamente a obrigava a vestir uma
tanga e sutiã decotados a fim de evitar calcinha e sutiã bregas. E a peça rendada
sexy? Puro acaso.

E sim, é verdade, ela pode ou não ter usado um pouco de sombra escura
naquela noite para dar um efeito esfumaçado nos olhos, talvez ela tivesse gasto
um extra de dez ou vinte minutos no cabelo dela, e era até mesmo possível que
algumas pinceladas de perfume - Bulgari Au Thé Blanc, seu favorito - tinha feito
o seu caminho para a sua pele, um pouco aqui, um pouco ali. Mas ela só tinha
feito esses esforços, porque ela tinha tido tempo extra em suas mãos e não viu
qualquer razão para ficar à toa em seu quarto de hotel. E essa era a história dela
e ela estava fina...

Merda! – ela estava atrasada. Payton de repente avistou o relógio na


mesa de cabeceira. Ela rapidamente entrou em seu vestido e deslizou sobre os
saltos. Porque este era um jantar de trabalho, o vestido era preto e
clássico. Mas, no entanto, um vestido com um encaixe justo. Ela havia decidido
anteriormente contra vestir um terno, estava calor e úmido e ela ficaria com
muito calor vestindo um terno.

E essa era a história dela.

***

O elevador chegou ao primeiro andar e as portas se abriram. Enquanto


Payton saía, ela sentiu uma vibração momentânea de -
emoção? Nervosismo? Ela nunca sabia o que esperar de J.D. - pelo menos nos
dias de hoje, de qualquer maneira. Claro, eles tinham flertado algumas vezes
durante a viagem de avião, mas por outro lado, eles falaram um monte sobre
negócios também.

A questão tinha sido levantada naquela noite em seu apartamento, e


Payton sabia que o tempo para responder a essa pergunta estava rapidamente
chegando ao fim. Era uma pergunta simples.

O que ela queria?

Ela atravessou o lobby do hotel e encontrou o bar, chamado Stir, onde ela
deveria encontrar J.D.. O que ela queria? No tribunal, ela sempre confiava em
seus instintos. Talvez ela devesse aplicar a mesma filosofia aqui.

Ela entrou no bar e foi surpreendida ao ver uma multidão tão grande que
já se reunia lá. Seus olhos rapidamente examinaram o lugar, primeiro o bar
principal, então as mesas privadas, e não encontrou J.D. em nenhum dos
dois. Então ela avistou um terraço ao ar livre.

Payton se dirigiu para fora e viu que o terraço do bar tinha vista para o
mar. Levou um momento para os seus olhos se ajustarem à pouca luz fornecida
pelas velas tremeluzentes que enfeitavam as mesas. No meio da multidão, ela
finalmente avistou J.D. perto do fundo, sentado em uma mesa ao longo da
borda da varanda. Ela sorriu - é claro que ele teria a melhor mesa no local.

J.D. tinha o seu perfil para ela enquanto ele olhava para o oceano. Ela se
dirigiu para lá e - aproveitando o fato de que ele ainda não a tinha visto - ela
tomou seu tempo apreciando a forma como ele parecia em seu terno cinza
escuro e uma camisa azul escura. Ela observou a calma e a sofisticação dos
movimentos dele, a maneira segura com que ele segurava o copo firmemente
enquanto tomava um gole, a subida sutil da sua manga quando ele olhou para o
relógio. Ele certamente tinha estilo de sobra, não havia dúvida sobre isso, e ele
era inegavelmente, incrivelmente bonito. Ocorreu-lhe então o quão engraçado
era que este era o homem que tinha trabalhado com ela, do outro lado do
corredor - e brigado com ela - durante os últimos oito anos.

Como se sentisse sua proximidade, J.D. olhou. Quando ele viu Payton, ele
virou-se em sua cadeira e observou enquanto ela caminhava em direção a ele.

— Você está maravilhosa. — seus olhos percorreram seu vestido.

Payton parou na mesa e sorriu. — Obrigada. Eu percebi que está muito


quente para um terno. — oh, a teia emaranhada que nós tecemos.

J.D. observou-a sentar na cadeira na frente dele. — Você também está


atrasada. — mas seu olhar sugeria que ele realmente não se importava.

— Sinto muito; eu sei. — Payton disse. Ela cruzou uma perna sobre a
outra de modo que a fenda do seu vestido revelou uma quantidade justa de sua
coxa. Um velho truque, mas ainda assim um bom.

— Ansioso para começar a trabalhar? — ela perguntou provocativamente.

J.D. olhou para a sua perna exposta, e quando ele olhou para cima, seus
olhos azuis a perfuraram.

— Há alguns negócios inacabados que eu pretendo finalizar hoje à noite,


sim.
Uau. Payton literalmente sentiu sua respiração parar com a forma como
J.D. olhava diretamente para ela, em seguida, um olhar que dizia, em termos
inequívocos, exatamente o que ele queria. Nenhum outro homem teve esse
efeito sobre ela; ninguém mais poderia fazer seu coração acelerar com apenas
um olhar e algumas palavras simples. E foi nesse momento que ela soube, sem
qualquer hesitação exatamente o que ela queria.

— Eu acho que a pergunta que eu tenho, J.D.... — ela pausou


demoradamente quando alcançou do outro lado da mesa e pegou a mão
dele. Ela começou a traçar círculos suaves e lentos com os dedos. — Como nós
vamos mesmo conseguir passar por esse jantar?

Ela viu o brilho de desejo nos olhos dele quando ele pegou a mão dela na
sua.

— O mais rápido possível. — disse ele com uma voz rouca. Ele levemente
roçou os lábios contra seus dedos, seus olhos nunca deixando os dela, e Payton
poderia dizer que ele queria beijá-la tanto quanto ela. Mas Jasper podia
caminhar através da porta a qualquer minuto, e, francamente, se ela já estava
toda quente e incomodada com alguns olhares esfumaçados, era melhor manter
as mãos, lábios, e todas as outras partes de J.D. tão longe dela quanto possível
até que a parte de negócios de festividades da noite houvesse oficialmente sido
concluída.

Então ela se afastou, olhando J.D. através da mesa a luz de velas. —


Talvez. Mas, por agora, talvez você devesse começar comprando-me uma
bebida.

— Isso é terrivelmente retrô para você, não é?

— Não posso ser antiquada, também? — ela perguntou. Mesmo que ela
soubesse o que queria, isso não significava que os jogos deveriam
acabar. Ainda. Afinal, eles tinham pelo menos duas horas para matar e ela
precisava de algo para distraí-la durante o jantar.

Mas J.D. estava com ela. Ele se recostou na cadeira. — Então, é assim que
você quer jogar isso.
— Hmm... desapontado?

Com um sorriso de diversão, J.D. balançou a cabeça. — De modo


nenhum. Basta lembrar, Payton, dois podem jogar.

Mais olhos azuis esfumaçados.

Droga. Ela realmente precisava inventar um movimento contrário ao


olhar escaldante de sexo quente.

Mas até que ela fizesse, Payton planejava saborear cada momento das
possibilidades que tinha pela frente.

***

— O que você diz, Jameson? Outro Scotch? Vamos, Payton, você não
parece o tipo de garota que deixaria um homem te embriagar.

Jasper estava um tipo raro naquela noite.

J.D. assistiu com espanto enquanto o CEO fez sinal para o garçom e
pediu mais uma rodada. Tinha esquecido o quanto esses velhos garotos sulistas
conseguiam beber. E Jasper, aparentemente alheio ao fato de que todos os
outros na mesa ainda tinham bebidas intocadas das duas rodadas anteriores de
“que tal outro?” - não mostrava sinais de abrandar tão cedo.

Richard Firestone, novo conselheiro geral da Gibson’s Drug Stores e um


daqueles - para soar delicadamente – advogados estilo-bundão, que dava a
todos os outros um nome ruim, se inclinou em sua cadeira em direção ao
Jasper. — Não diga 'garota'. — ele sussurrou baixinho.

— O que é isso? — Jasper perguntou em voz alta.

Richard olhou na direção de Payton. — ‘Você não parece o tipo


de mulher que deixaria um homem te embriagar’. — ele corrigiu a frase de
Jasper. — Nós não dizemos 'garota' mais.
— Você sabe o que eu digo sobre esse politicamente correto nos dias de
hoje? É uma carga-gigante-de-besteira. — Jasper acenou com o copo ao redor,
enquanto olhava através da mesa. — Payton, você é minha especialista em
discriminação - ainda posso dizer 'garota'?

— Você pode dizer o que quiser aos seus advogados, Jasper.

— Ha! Vejam, vocês meninos estão muito tensos. — Jasper apontou para
Richard e J.D. — E reparem que eu disse meninos. — ele enfatizou com orgulho.
— Para que ninguém nunca me acuse - ou minha empresa - de ser desigual na
oportunidade. — ele tomou seu uísque em um só gole e bateu o copo com ênfase
indignado. Então, ele olhou ao redor da mesa. — Ok, então eu acho que este é
um momento tão bom quanto qualquer outro - devemos começar a
trabalhar? Falar sobre nosso pequeno caso?

J.D. mordeu a língua e lutou contra o desejo de verificar o


relógio. Agora Jasper queria falar sobre o caso? Essa não era uma discussão que
poderiam ter começado, digamos, a duas rodadas atrás?

Ele deu um rápido olhar para Payton, que estava sentada à sua
esquerda. Ela, ou tinha a melhor cara de pau que ele já tinha visto, ou era
terrivelmente indiferente à velocidade de tartaruga fodida com que este jantar
estava se movendo, porque ela realmente parecia bastante divertida com as
palhaçadas de Jasper. E isso, pensando melhor, estava começando a irritá-lo,
também. Ele havia dito anteriormente que dois podem jogar o jogo dela, e
também nas primeiras duas rodadas do jantar, ele estava tão tranquilo quanto
ela. Mas a verdade da questão é, ele só queria ficar sozinho com
ela. Francamente, ele estava farto de todas as coisas que constantemente
ficavam entre eles, como o trabalho e Chase Bellamy e jantares com clientes. E
roupas.

J.D. observou enquanto Payton assentia, conforme Richard se lançava na


sua visão introdutória sobre a estratégia de litígio dele. Bem. Qualquer que
seja. Se ela não via nenhuma razão pressionando para apressar as coisas, então
ele também não.
—... então o que eu estou pensando. — Richard estava dizendo: — É que
eu gostaria que cada um de vocês me desse uma visão geral de como pretendem
abordar a sua parte da defesa. Payton, já que Jasper destacou que você é a
especialista em discriminação, por que você não me inicia - diga seus
pensamentos sobre como devemos atacar os problemas de fundo apresentados
neste caso.

— Claro, Richard, eu ficaria feliz. — Payton concordou. Então ela riu. —


Você sabe, eu posso ser um pouco prolixa quando eu começo. Acho que estou
vendo o nosso garçom vindo, por que não ir em frente e pedir a sobremesa
agora? Tirar isso do caminho.

J.D. repente sentiu a mão Payton roçar em sua coxa por baixo da mesa.

Interessante.

O garçom colocou os menus de sobremesa na frente de todos. Com a mão


livre, Payton pegou seu menu e casualmente o examinou. — Agora, estou no
clima de que?

Ela começou a acariciar ao longo da coxa de J.D. com o dedo.

Muito interessante.

— Vamos, agora, Payton esta é a Flórida. Vocês tem que experimentar a


torta de limão. — Jasper declarou. Ele tomou a liberdade de pedir para todos
eles, e o garçom fugiu.

— Na verdade. — Jasper disse. — Você sabia que no ano passado, torta de


limão foi nomeada a torta oficial do nosso estado?

Os dedos de Payton subiram na coxa de J.D., agora se aproximando do


território semi-impróprio. Mais dois centímetros e eles estariam oficialmente
dentro dos limites do completamente-impróprio.

— Eu não sabia disso, Jasper. — disse Payton, nunca interrompendo o


movimento. — Na verdade, eu não sabia nem que os estados tinham tortas
oficiais. Você sabia, J.D.?
— Não.

Ele poderia dar a mínima para tortas.

— Oh, absolutamente. — Jasper garantiu-lhes. — Isso causou uma grande


agitação no Senado, na verdade. Foi um grande contingente que fez pressão
para nomear outra, como a torta de Estado. Algum palpite? Payton?

Círculo. Círculo. Dedos. Coxa. Subindo.

Payton levantou a cabeça, pensando. — Hmm... algum tipo de torta com


laranjas?

— Não. — Jasper sorriu, claramente gostando de ser o único que


sabia. Ele se virou para a direita. — Richard?

— Torta de pêssego? — o conselheiro geral adivinhou sem entusiasmo.

— Isso seria a Georgia, desculpe. E quanto a você, J.D.?

Na pergunta de Jasper, três pares de olhos de repente se viraram e


olharam diretamente para J.D., que, além de não dar a mínima para tortas,
tinha estado ocupado concentrando-se no fato de que Payton tinha
provocativamente parado os dedos logo no limite do semi-
impróprio/completamente-impróprio.

— Você está bem, J.D.? — Payton perguntou com um sorriso travesso. —


Você tem estado tão calado ultimamente.

Ha. Ela ia pagar por isso mais tarde.

J.D. fez uma pausa. Então...

— Noz.

Payton piscou e sorriu enquanto Jasper bateu a mão na mesa e gritou.

— Sim! Com todas as fazendas de noz na Flórida, houve um impulso para


o estado fazer essa torta. Muito bem, Jameson. — Jasper disse, impressionado.
— O que posso dizer? Eu trabalho bem sob pressão. — J.D. respondeu,
com um olhar complacente na direção de Payton. — Agora, se acabamos com os
jogos... acho que Payton ia dar-nos a sua visão geral sobre as formas
substantivas em que devemos atacar as alegações dos reclamantes.

— Sim, eu estava, obrigada J.D.

— Não tem problema, Payton, a palavra é sua.

Três pares de olhos se voltaram para Payton. Enquanto isso, debaixo da


mesa, uma das mãos de J.D. moveram para o joelho dela. Muito conveniente
que a fenda de seu vestido era na coxa dela, dando-lhe acesso fácil à sua pele
nua.

Vingança poderia ser uma putinha diabólica, às vezes.


Capítulo Vinte e Dois

P ouco depois das dez

horas, Payton e J.D. estavam no hall de entrada com Jasper e Richard,


esperando o manobrista buscar o carro.

— Estou muito feliz que tivemos a chance de fazer isso. — Jasper disse,
apertando as mãos deles calorosamente. Richard fez o mesmo, dizendo o quanto
ele gostou de conhecê-los.

— Eu não disse que você ficaria impressionado com esses dois? — Jasper
deu um empurrão jovial nas costas de Richard, quase derrubando o pobre rapaz
direto na pesada urna de mosaico que estava sobre a mesa de carvalho ao lado
deles. J.D. tinha uma suspeita de que o novo conselheiro geral não ia durar mais
de um mês.

— Normalmente eu não gosto de advogados. — Jasper falou lentamente


com uma risada. — E eu definitivamente não gosto quando alguém tenta
processar uma das minhas empresas por duzentos milhões de dólares, mas com
vocês dois. — ele piscou um olho, mirando com seus dedos em Payton e J.D.. —
Eu tenho um bom pressentimento aqui. Acho que estou em boas mãos com
vocês.

Essa tinha sido a única parte negativa da noite.

J.D. observou enquanto Payton tentava manter a expressão impassível,


mas ele podia ver isso em seus olhos. Ela odiava não contar a Jasper a verdade
tanto quanto ele, por causa da empresa - copiando a frase de Jasper - decisão
com carga-gigante-de-besteira, um deles não teria nada a ver com o caso dele
em cerca de cinco dias. Não pela primeira vez, J.D. ressentia-se de Ben e dos
outros poderosos, por colocarem ele e Payton nesta posição. Dito isto, ele teve
que reconhecer a sua própria falta de visão; talvez ele tivesse saltado muito
rapidamente com a oportunidade de ir para Palm Beach, antes de realmente
pensar no fato de que ir também significaria que estaria enganando, em parte,
Jasper. Mas francamente, não era em Jasper que ele estava pensado quando
tinha concordado com a viagem.

Não que J.D. tivesse arrependido da decisão de vir para Palm Beach,
longe disso. É verdade que as brincadeiras debaixo da mesa entre ele e Payton
durante o jantar nunca tinham cruzado a fronteira semi-
impróprio/completamente-impróprio, mas, na realidade, ele nunca acreditou
realmente que iria. Sem ter que dizer uma palavra um ao outro, ambos sabiam
exatamente onde traçar a linha com diversão e jogos. Embora em um ponto
durante o jantar, J.D. tivesse brevemente se preocupado que Jasper tinha visto
algo.

Eles tinham acabado de comer a sobremesa, e o garçom finalmente


trouxe a conta. Payton e Richard tinham pedido licença para ir ao banheiro e,
depois de entregar seu cartão de crédito para o garçom, Jasper se virou para
J.D.. — Você se importaria se eu fizesse uma pergunta pessoal, Jameson?

J.D. sorriu. — Claro, embora eu não possa prometer que vou responder. E
lembre-se que você é um cavalheiro, Jasper.

Jasper riu disso. — Justo. Vou colocar isso no mais cavalheiresco dos
termos: você está cortejando a senhorita Kendall?

— Isso definitivamente é uma pergunta que eu não vou responder.

— Porque eu senti uma vibração.

— Nós não podemos ter essa conversa, Jasper. Sinto muito.

— Algo sobre a maneira como você olha para ela.

— Hmm.
Quando J.D. permaneceu absolutamente, firme em seu silêncio, Jasper
riu. — Uau, em toda a minha vida, eu acho que nunca vi um advogado calar a
boca tão rápido. Vocês são normalmente alegres em falar tudo. Tudo bem então,
eu sei quando recuar.

J.D. simplesmente sorriu, e tão rapidamente quanto possível, mudou de


assunto. Porque se havia uma coisa que ele sabia, era nunca cometer o mesmo
erro duas vezes.

***

Quando o manobrista finalmente trouxe o carro de Jasper, J.D. não


poderia deixar de dar um assobio de apreço. Mesmo ele - sem dúvida, já tinha
visto muitos carros de luxo, quando trabalhava no Ritz-Carlton, olhou
brevemente em estado de choque quando o manobrista abriu a porta e saiu do
banco do motorista do elegante e luxuoso Rolls-Royce Phantom Drophead
Coupé azul. Talvez não seria a cor escolhida por J.D., ele imaginava-se mais em
uma espécie de cor prateada, mas o carro impressionava muito, no entanto.

Jasper matou o silêncio de respeito que tinha abatido cada homem com a
visão do elegante carro, dando outro tapa saudável nas costas de Richard. —
Obrigado por se oferecer para dirigir, cara. Acho que o Bayles61 que eles
colocaram no meu café algo que me deixou exausto.

J.D. e Payton trocaram olhares divertidos. Ou talvez tenha sido os oito


uísques, mas quem estava contando? Pelo menos Jasper tinha o bom senso de
não ir dirigindo para casa naquela condição, ou pelo menos, a consciência de
que um dos três advogados na companhia dele, nunca o deixariam dirigir para
casa na condição em que ele se encontrava.

Jasper deu uma gorjeta ao manobrista - generosa, supôs J.D., a julgar


pela forma como os olhos do cara quase saltaram da sua cabeça quando viu o

61
Marca de licor irlandês.
dinheiro em sua mão - e subiu no lado do passageiro do Rolls-Royce. Mas antes
que ele e Richard partissem, Jasper - sendo Jasper - abaixou a janela do
passageiro, incapaz de resistir a algumas palavras de despedida.

— Agora vocês crianças não deixem de aproveitar o resto da sua estadia,


ok? — ele gritou para Payton e J.D..

Com uma piscadela sorrateira, Jasper se despediu e deu um sinal de


“vamos lá” para Richard. Com cuidado, sempre tão cuidadosamente, Richard
cutucou o acelerador do automóvel de mais de quatrocentos mil para fora do
hotel, e - em uma velocidade vertiginosa de pelo menos dez quilômetros por
hora - eles estavam fora.

Payton se virou para J.D. enquanto o carro se afastava. — Existe alguma


coisa que eu deva saber sobre a piscadela que Jasper nos deu?

— Ele pescou algo sobre nós quando você e Richard foram ao banheiro. —
J.D. disse a ela.

Payton olhou-o nos olhos. — Você não disse nada, não é?

— Você quer dizer, como na sobremesa que você mal conseguia manter as
mãos longe do meu p...

— Sim, J.D.. — ela abruptamente interrompeu, embora não sem um


sorriso, ele observou. — Você disse alguma coisa sobre isso, ou qualquer outra
coisa sobre nós em geral?

Agora foi a vez de J.D. dar-lhe um olhar. — Claro que não, Payton. Eu sou
mais esperto para misturar negócios com conversa de vestiário.

Seu suspiro de alívio lento lembrou o quão estreitamente ele havia


driblado aquela bomba de anos atrás. Sim, ele certamente era mais esperto que
isso.

Agora, no entanto, não era o momento para arrastar-se para as partes


desagradáveis de seu passado. Logo em seguida, tudo o que J.D. queria fazer era
focar no presente. Ele pegou na mão de Payton. — Venha. Há algo que eu quero
te mostrar.

— Eu aposto que você tem. — disse ela com uma risada.

J.D. sorriu. — Eu quis dizer a praia, atrevida. Nós estivemos aqui por oito
horas e não a vimos ainda. — ele conduziu Payton pelo saguão, na direção da
varanda. Quando ele abriu a porta para ela passar, ele pegou seu olhar.

— O que? — ele perguntou.

Uma leve brisa soprou seu cabelo sobre os olhos. Com a mão livre, Payton
levantou a mão e colocou uma mecha longa loira atrás da orelha.

— Nada. — disse ela. — Você me surpreende às vezes, isso é tudo.

Percebendo que aquilo era surpreendentemente algo perto de um elogio


real, J.D. conduziu Payton para os degraus de pedra que os levariam para uma
passarela que ele tinha visto mais cedo da varanda do quarto de hotel dele. Ele
gostou do jeito que sua mão estava na dela, gostou da intimidade do simples
gesto e a forma que dizia - sem a necessidade de palavras - que eles estavam
juntos.

Não que ele particularmente se importasse onde suas mãos tinham ido
mais cedo naquela noite, claro. Mas haveria muito tempo para isso mais
tarde. Embora ele certamente não recusaria se ela quisesse abandonar o passeio
ao luar romântico e começasse a pegar novamente em seu p...

— O que você está pensando? — Payton cortou os pensamentos de


J.D.. Ele olhou para baixo e viu seu olhar de curiosidade.

— Você tem um olhar tão diabólico em seu rosto. — disse ela, com os
olhos azuis escuros brilhando de interesse.

J.D. riu, puxando-a para mais perto dele. Ela realmente o conhecia muito
bem.

***
Eles encontraram um mirante, provavelmente utilizado para pequenos
casamentos, no final da passarela. Payton tomou uma decisão que deveria parar
por aí - J.D. não seria o único a executar este show, depois de tudo, - e o levou
até a grade que dava para o oceano. Lá, ela se virou para encará-lo. Claro, a vista
era grandiosa, mas não era por isso que ela parou por ali. Sem nenhuma
palavra, ela chegou até J.D. e o beijou.

A mão dele deslizou até seu pescoço, exigindo mais do beijo enquanto sua
língua encontrou a dela. Cada parte do corpo de Payton reagiu, - ela queria
mais, também, precisava das mãos dele sobre ela, precisava senti-lo, sua
respiração ficou presa e ela quase gemeu alto quando J.D. a empurrou contra o
corrimão e deslizou entre suas pernas. Sua boca deixou a dela e arrastou pelo
seu pescoço e ao longo da sua clavícula. Então ele ousadamente foi ainda mais
longe, em direção ao decote do vestido, e sem qualquer hesitação, ele tirou o
vestido e o sutiã para o lado e abaixou a boca para o seu peito.

Desta vez, Payton gemeu. Tão vagamente consciente do som das ondas
quebrando atrás dela, ela arqueou as costas e enrolou os dedos no cabelo de
J.D., cedendo à pura necessidade física. Querendo tocá-lo, ela puxou a boca dele
até a dela e deslizou suas mãos ao longo do seu peito, em seguida, para baixo
seu estômago. Ela sentiu o abdômen dele contraindo sob seus dedos quando
descansou a mão em seu cinto. Ela o beijou avidamente quando começou a
desfazer seu cinto. J.D. puxou a boca da dela. — Vamos para o meu quarto. —
ele sussurrou.

Payton podia ouvir - e sentir - o tanto que J.D. a queria. O pensamento de


deixá-lo totalmente perdido emitia correntes de emoções por sua espinha.

— Talvez a gente devesse andar um pouco mais. Nós temos a noite toda.
— ela pegou a mão de J.D. e levou à sua boca. Com os olhos fixos nos dele, ela
beijou o dedo e enquanto ele assistia, lentamente deslizou a ponta entre os seus
lábios. A partir do olhar em seus olhos, ela podia dizer o quanto ele estava
excitado. Ela pode ter sido a primeira a gemer, mas ela tinha a sensação de que
podia rapidamente igualar o placar aqui, então ela corajosamente passou sua
língua ao redor da ponta do seu dedo e deu-lhe um olhar que evidentemente
disse quão mais divertido seria se sua boca estivesse em outro local que...

J.D. enrolou a mão no cabelo dela e parou. Seus olhos estavam escuros e
intensos quando ele olhou para ela. — Você quer me ouvir dizer isso, Payton? Eu
quero você. Agora.

Payton sentiu seu corpo inteiro ficar instantaneamente quente.

Fim de jogo.

***

Eles tiveram uma pequena divergência no elevador.

— Em que andar você está?

Apalpada. Apalpada.

— Em cima. Suíte master.

Zíper.

— Meu quarto é mais perto.

Mais apalpada. Suspiro.

— Meu quarto é de frente para o mar. Foda-se, essa coisa continua


ficando no caminho.

Barulho de tecido rasgando.

— De frente para o mar? Hmm... eu vejo que alguém foi um pouco


presunçoso no check...

Ingestão aguda de respiração. — Oh, sim...

Gemido. Mãos segurando o corrimão. Respiração pesada.


— Dane-se, eu não me importo... vamos fazer aqui, J.D. agora.

Riso malvado.

— Ainda não.

— Você vai pagar por isso.

Sorriso diabólico.

— Eu certamente espero que sim.

***

J.D. pressionou Payton contra a porta do quarto dele, enquanto deslizava


o cartão chave na fechadura. Quando ouviu o clique familiar, ele pegou Payton
pela cintura e puxou-a para o quarto com ele.

Ok, tudo bem - no check-in, quando ela não estava prestando atenção, ele
pediu para ser colocado em uma suíte de frente para o mar. Ele estava se
sentindo um pouco... otimista.

E Payton não parecia exatamente descontente com a decisão dele. Ainda


segurando sua mão, ela caminhou ao redor do quarto, verificando a área da sala
de grandes dimensões, o quarto principal separado, banheiro em mármore com
uma sólida banheira, e claro, virada para o mar, uma varanda privada com vista
direta para o Atlântico.

— Você gostou? — J.D. perguntou enquanto ela terminava de verificar o


quarto.

Payton sorriu. — Eu ainda quero saber quanto isso custou a você?

Na verdade, ele pagou uma grande fortuna do próprio bolso pela


acomodação. Ele debateu o que era melhor: deixá-la pensar que tudo isso era
parte do seu chamado “estilo de vida extravagante” ou dizer-lhe a verdade. Ele
decidiu ir com a verdade. Até agora, naquela noite, dizer exatamente o que
estava em sua mente tinha sido recompensador.

— É para você. — ele disse a ela.

Payton pareceu momentaneamente surpresa com isso. Então ela o puxou


para perto e colocou os braços em volta do pescoço.

— É perfeito.

Ela o beijou. Antes que J.D. percebesse, eles fizeram o seu caminho para
o quarto. Os funcionários do hotel já tinham transformado o ambiente, a cama
estava arrumada e as luzes estavam baixas. Ele olhou nos olhos de Payton e viu
uma mistura familiar de ousadia e travessura. Vendo como a coisa toda de “ser
direto” estava funcionando para ele.

— Tire o seu vestido. — ele disse.

Payton deu-lhe um olhar. — Oh, sério? — e J.D. poderia dizer que parte
dela queria ficar atrevida novamente. Mas ele também poderia dizer que a outra
parte dela realmente, realmente gostava daquilo.

Ela encolheu os ombros com indiferença. — Bastante simples. Você já


rasgou o zíper no elevador. — com seu encolher de ombros e a simples tira de
uma alça, o vestido caiu no chão.

Interessante.

E ele tinha pensado que ela estava linda no vestido.

Os olhos de J.D. viajaram da (renda preta) superior a (tanga atrevida)


inferior. E ela ainda usava saltos altos.

Isso ia ser uma noite fodidamente longa.

Apontando para a renda preta, J.D. deu Payton um olhar — Oh, sério? —
de sua autoria. — Parece que alguém estava sendo um pouco presunçosa,
também. A menos que você use isso para todos os seus jantares com clientes?
Com um leve chute de perna, Payton tirou o vestido do seu caminho. Ela
colocou os braços ao redor de J.D., com uma mão na parte de trás da sua
cabeça, e enfiou os dedos pelos seus cabelos. Ela olhou para ele e repetiu suas
palavras anteriores.

— É para você. — ela disse suavemente.

J.D. olhou profundamente em seus olhos azuis escuros.

Esta garota o deixava absolutamente louco.

Com um sorriso, ele a pegou e jogou na cama.

Porque esta noite, ela era dele.

***

Por quase uma hora eles se provocaram, até que Payton finalmente cedeu
e pegou um preservativo no criado-mudo.

J.D. enganchou uma de suas pernas ao redor da sua cintura e segurou sua
mão. — Coloque em mim. — ele sussurrou, quase um gemido. Então ela
colocou. Em seguida ela falou para ele que precisava verificar rapidamente os
polos ponies.

Quando J.D. colocou a outra perna dela ao redor da sua cintura e


prendeu os braços sobre a cabeça dela, Payton decidiu deixar a verificação dos
polos ponies para outra hora.

Enquanto ele se movia sobre ela, J.D. lhe disse para abrir os olhos e olhar
para ele, e ela pensou que o momento não poderia ficar melhor.

Então, ele segurou o rosto dela entre as mãos e sussurrou o nome dela, e
ela sabia que ele tinha acabado de gozar.
***

Depois, J.D. caiu em cima de Payton, ainda enrolado entre as pernas


dela, o rosto enterrado em seu pescoço, enquanto tentava recuperar o fôlego.

Os pensamentos dele.

Profundos, também.

Só.

Tinham.

Sexo.

Sonolento.

Ele sentiu, de repente, Payton se agitar debaixo dele e ele se animou, com
a cabeça instantaneamente alerta.

Ooh-novamente?

***

Algum tempo após a segunda rodada, eles decidiram abrir as cortinas e


as portas de vidro deslizantes para que pudessem ouvir as ondas. Ficaram de
frente um para o outro sob o luar. Com os dedos de J.D. traçando arcos
preguiçosos ao longo do seu quadril, Payton não podia deixar de sorrir.

— O que? — ele olhou para ela enquanto se apoiava em um cotovelo.

— Nada. — disse Payton. — Só isso... é você.

J.D. inclinou a cabeça para beijá-la no ombro, parecendo entender


exatamente o que ela queria dizer. — Eu sei. Nós já dissemos um monte de
coisas um para o outro ao longo desses últimos oito anos.
— Eu acho que deveríamos ter feito isso há muito tempo.

J.D. riu. — Você me odiava até cerca de uma semana atrás, lembra?

Payton passou a mão ao longo do antebraço de J.D., de um ombro ao


outro nos músculos firmes do seu peito. Ela realmente sempre o
odiou? Engraçado, porque agora ela não conseguia manter suas mãos longe
dele. Ela imaginava que J.D. estivesse em boa forma, porque qualquer um que
parecia tão grande em um terno tinha que estar em boa forma,
mas... Uau. Houve um momento durante a segunda rodada, quando ele a
levantou dele e virou-a sobre seu estômago como se fosse nada. Etc.

A pergunta incômoda na parte de trás da mente de Payton era, se J.D. era


tão incrível assim com as outras mulheres que ele tinha dormido. Odiava pensar
que o que foi sem dúvida o melhor sexo de sua vida, era apenas uma brincadeira
habitual medíocre na cama para ele.

Payton decidiu que era melhor empurrar seus sentimentos de lado. Desde
que ela não sabia o que J.D. estava pensando, era melhor manter as coisas
simples e leves.

— 'Ódio' é uma palavra tão forte. — brincou ela. — E na verdade, quando


nos conhecemos, eu não desgostava de você em tudo. Muito pelo contrário, na
verdade.

Payton se levantou em um braço. — Você ainda se lembra do dia em que


nos conhecemos? Foi o nosso primeiro dia de trabalho, em orientação de boas-
vindas da empresa.

J.D. brincou com uma mecha do seu cabelo entre dois de seus dedos. — É
claro que eu me lembro. Eu te vi sentada à mesa com os outros associados de
litígio, e eu andei e me apresentei. Você disse, - cito - 'Então você é o infame J.D.
Jameson’.

Payton sorriu. Antes de começar na empresa, ela tinha ouvido coisas


sobre J.D. dos associados e parceiros que o recrutaram. — E você disse: — Eu já
ouvi histórias sobre você também, Payton Kendall.
Ela ainda lembrava vividamente o que tinha acontecido em seguida. —
Então, eles nos disseram para tomar nossos lugares, e você se sentou ao meu
lado, e quando eles começaram a nos dar boas-vindas, você se inclinou e
perguntou se eu era realmente tão boa quanto as pessoas diziam que eu era.

J.D. sorriu quando se lembrou. — E, em resposta, você me deu este


pequeno olhar manhoso por cima do ombro e disse: 'Eu acho que você vai ter
que descobrir por si mesmo, J.D. Jameson’.

Payton riu. — Parece muito mais escandaloso quando você diz isso.

— Fiquei intrigado. Para dizer o mínimo. — J.D. fez uma pausa. — Mas
então você se voltou contra mim.

Payton estudou-o cuidadosamente. Essa era a segunda vez que ele tinha
feito um comentário como esse. — O que quer dizer, eu me voltei contra você?

J.D. lhe deu um olhar. — O interessante é que você não se


lembra dessa parte... foi cerca de uma semana depois.

— Na verdade, eu me lembro que uma semana depois, eu ainda estava


tentando flertar com você. — disse Payton. — Sem sucesso, devo acrescentar.

J.D. sentou-se com uma expressão de ceticismo puro. — Sério? E quando,


exatamente, foi esta suposta tentativa de flertar comigo?

Agora Payton sentou-se, também. — Não que eu espere que você se


lembre, mas foi no elevador. Você saltou antes das portas se fecharem, e eu
notei que você estava usando óculos naquela manhã.

J.D. pulou da cama e a circulou. Ele apontou como se dissesse que a tinha
pegado agora. Não que ela estivesse particularmente intimidada, considerando
que ele estava de cueca. Bem, ela também.

— Oh, mas eu me lembro dessa conversa, Payton. Cada palavra. Eu tinha


começado a usar óculos e você zombou do jeito que eu ficava neles.
Agora Payton estava fora da cama, também circulando. — O que você está
falando? — ela acendeu a luz ao lado da cama para vê-lo melhor. — Eu nunca fiz
piada com o jeito que você ficou em seus óculos.

J.D. atacou. — Aha! Veja. - você não se lembra. Permita-me refrescar sua
memória, senhorita Kendall. Você olhou para mim e disse - e eu posso citar
perfeitamente - 'Legal, Jameson. Você se parece com Clark Kent'. — ele cruzou
os braços sobre o peito. Então aí está.

Payton olhou para ele. — Sim, eu sei. Isso foi exatamente o que eu disse.

J.D. estendeu as mãos. — Clark Kent? O alter-ego dócil e desajeitado do


Super Homem?

Payton balançou a cabeça. — Não. Clark Kent, o cara que parece todo
intelectual e contido do lado de fora, mas realmente ele tem esse... poder e tudo
isso... músculos escondidos debaixo da tão apertada camisa abotoada até em
cima, que faz você querer apenas agarrá-lo e bagunçar aquele cabelo perfeito
dele e descobrir o quanto o Homem de Aço pod...

J.D. levantou a mão. — Eu acho que já tenho a imagem.

Payton se abanou. — De qualquer forma, quando eu disse que você


parecia com Clark Kent com seus óculos, foi um elogio.

J.D. se sentou na beirada da cama. — Oh.

Ele tinha um olhar estranho em seguida.

Payton se aproximou e entrou entre as pernas dele. Ela colocou os braços


em volta dele. — Não importa agora J.D.. Isso foi a muito tempo atrás. — ela
empurrou-o de volta na cama, montou sobre ele, e deslizou suas mãos pelo peito
dele. — Você por acaso não tem aqueles óculos com você, tem? — com uma
piscadela, ela estendeu a mão e desligou a luz.

Através da escuridão, J.D. falou. Ainda parecendo perturbado. — É só, eu


pensei que você tivesse me insultado, Payton.

— Mas agora você sabe que eu não fiz isso. Então, qual é o problema?
Silêncio.

— Espere um segundo...

A luz voltou.

Payton olhou para ele. — Por favor, não me diga que foi assim que a briga
toda entre nós começou.

J.D. timidamente fez uma tentativa de sorrir. — Hum... no dia seguinte,


eu meio que te dei um tempo difícil, quando você fez a sua apresentação na
reunião do grupo sobre as novas alterações às regras de descobertas federais.

— Eu me lembro disso! — Payton o cutucou no peito. — Você foi um


completo idiota comigo, fazendo todas aquelas perguntas sobre se eu tinha me
dado ao trabalho de ler as notas do Comitê Consultivo e outras besteiras como
essas. — ela o cutucou no peito novamente, mais forte dessa vez. — Foi por
isso? Porque eu disse que você parecia com Clark Kent?

— Hum... sim?

Payton saiu de cima dele. — Eu não acredito nisso, essa é a coisa mais
estúpida que eu já ouvi! — ela agarrou seu vestido e sapatos no chão. — Oito
anos, J.D.! Oito anos! Pelo menos eu acreditava que começamos a brigar por
algum motivo legítimo, como política ou questões socioeconômicas, ou, pelo
menos, porque você é rico e minha família está do lado errado do trilho.

J.D. riu alto com isso. — Lado errado do trilho? O que é isso, 1985 e nós
vivemos em um filme de John Hughes? Eu não dou a mínima se sua família tem
dinheiro. Isso é quase tão estúpido quanto brigar por causa do comentário sobre
Clark Kent.

Payton deslizou em seu vestido. — Quase J.D., mas não


completamente. Definitivamente, não é bem assim. — ela saiu correndo para a
sala.

J.D. a seguiu. — Onde você vai?


— Eu não sei. Preciso me refrescar. Eu poderia dizer algo que vou me
arrepender.

Ela estava deslizando em um dos seus saltos quando J.D. se aproximou,


agarrou a mão dela e a puxou para longe da porta.

— Você não vai a lugar nenhum. — ele disse com firmeza. Ele a levou para
a varanda. — Se você precisa se refrescar, você pode fazer isso aqui.

— Estão uns trinta graus aqui fora, idiota. Com uma sensação de trinta e
cinco.

— Bem, então, o ar fresco vai te fazer bem. — ele fechou a porta da


varanda atrás dele e bloqueou seu caminho.

Payton cruzou os braços sobre o peito e esperou.

J.D. suspirou. — Olha Payton, eu entendo que você está com raiva de
mim, e pela primeira vez eu entendo o porquê. Gostaria, no entanto, de salientar
que você não é completamente inocente em tudo isso - você já jogou mais do
que sua quota de insultos para mim ao longo dos anos, mas, apesar desse fato...
— ele passou a mão pelo cabelo, então ergueu as mãos. — O que posso dizer? Eu
estraguei tudo. Sinto muito. Realmente sinto muito.

Payton suavizou um pouco com sua sinceridade. Ela sabia o quão difícil
era para ele pedir desculpas, especialmente para ela. E ele estava certo,
independentemente de como tudo começou, uma vez que a briga havia
começado, ela não tinha sido uma espectadora inocente.

— É exatamente isso... — ela mordeu o lábio nervosamente. — Eu gostei


de você desde o início, J.D.. Eu realmente gostaria que as coisas tivessem sido
diferentes, isso é tudo.

J.D. a olhou diretamente nos olhos. — Você não tem ideia do quanto eu
desejo isso também, Payton.

Ele parecia tão sério que era impossível para ela ficar com raiva
dele. Além disso, ele ainda estava em sua cueca o que estava se tornando uma
distração definitiva. Com um sorriso de consentimento, Payton apontou. — Você
está pensando em bloquear a porta a noite toda?

J.D. abandonou seu posto na porta de correr e se juntou a ela na grade da


varanda. — Não, se você prometer que não vai sair. — ele passou os braços em
volta dela.

— Eu não vou sair. — disse ela, recostando-se contra seu peito.

Eles assistiram as ondas baterem na praia, e Payton entrelaçou os dedos


nos de J.D.. — Você sabe, eu acho que foi a maneira mais rápida, mais racional
que já resolvemos uma briga. Estamos muito melhor aqui.

— É porque estamos fora do escritório. — disse J.D.. Ele parecia


firmemente convencido sobre isso.

Payton fechou os olhos. — O escritório... nem me lembre. — ela não tinha


pensado sobre a competição pela sociedade entre eles nas últimas horas e queria
manter assim.

J.D. falou baixinho perto de seu ouvido. — Eu estive pensando - amanhã


é sábado. Por que não passamos uma noite extra aqui? Francamente, se um de
nós não for ao escritório amanhã, então o outro não tem por que ir.

Payton se virou para encará-lo. — Ficar aqui juntos?

J.D. encolheu os ombros. Indiferença ou indiferença fingida? Era difícil


dizer.

— Eu achei que você poderia mudar as suas coisas para o meu quarto pela
manhã. — disse ele casualmente.

Payton pensou por um momento. Ou melhor, ela fingiu pensar por um


momento. Ela encolheu os ombros também. — Claro. Por que não? Eu gosto
daqui.

— Bem. Está resolvido, então. — ele concordou.

— Bem.
— Bom.

— Ok.

Payton levantou seu dedo. — Mas eu vou pagar por metade do quarto.

J.D. sorriu. — Você sabe o que, Payton - vá em frente. Em mil e


quinhentos dólares por uma noite, você não vai ter qualquer resistência minha.

Seus olhos se arregalaram em choque. — Bom Deus - é isso o quanto você


está pagando? — ela fez uma pausa. — Hmm.

— Hmm, o quê?

— Hmm, já que o quarto custa tanto, é uma coisa boa que eu não
pretenda dormir muito.

J.D. riu e a puxou para perto. — Eu realmente, realmente gosto... da sua


maneira de pensar.

Payton sorriu. Ela suspeitava que poderia ter havido um pequeno deslize
oculto lá. E a verdade da questão era que ela realmente, realmente gostava... da
maneira como ele pensava, também.

Então ela pegou a mão que J.D. estendeu para ela e o seguiu para dentro.
Capítulo Vinte e Três

E les dormiram na

manhã seguinte.

Payton não conseguia se lembrar da última vez que tinha dormido até
depois das sete - ela acordou com um sobressalto algum tempo depois das oito e
quase entrou em pânico quando viu o despertador no criado-mudo. Mas então
ela viu J.D. dormindo ao lado dela.

Ele se mexeu - ele estava com o braço em volta dela e ela o tinha tirado
quando se sentou depois de ver o relógio. Payton rapidamente se aninhou de
volta, na esperança de não acordá-lo. Ela queria que ele
dormisse. Ele precisava dormir - inferno, ambos precisavam. E não apenas
porque tinha sido uma noite muito longa - apesar de que isso provavelmente
não ajudava - não que ela estivesse reclamando, nem um pouco - mas mais
porque ambos passaram por duas semanas desgastantes.

E não tinha acabado. É verdade que, ao concordar em ficar em Palm


Beach até domingo, eles agora tinham apenas mais um dia de trabalho real para
passar. Mas a parte mais difícil viria na terça-feira, o Dia da decisão, o dia em
que a empresa escolheria um deles sobre o outro. Decidindo quem era melhor,
em essência.

Ela e J.D. não tinham falado muito sobre a decisão iminente da empresa,
desde que eles chegaram à Flórida. Mas era um incômodo constante no fundo
da mente de Payton e ela suspeitava que ele sentia o mesmo.

Era meio engraçado, o pensamento de passar todo o dia e noite com J.D..
Não engraçado de um jeito ruim, apenas novo. Há um mês, Payton nunca teria
acreditado que ela estaria aqui, em uma suíte de frente para o mar no Ritz-
Carlton, dormindo ao lado do homem que tinha sido seu inimigo jurado, nos
últimos oito anos. Mas agora, isso parecia... certo.

Essa era, talvez, a parte mais assustadora de tudo - o quão certo parecia
estar com J.D.. Porque, eles falando sobre isso ou não, eles tinham um grande
problema à frente na terça-feira.

Payton se aconchegou na curva do braço de J.D.. Estas eram coisas que


ela não queria pensar, pelo menos ainda não. Por agora, a questão mais grave
que ela queria resolver era se os dois iriam descer para o café da manhã no
terraço à beira-mar do hotel ou simplesmente pedir serviço de quarto.

Quando Payton fechou os olhos e começou a deixar o sono retomá-la, ela


não podia deixar de pensar: normalmente, isso iria contra todos os seus
princípios e bom senso, gastar mil e quinhentos dólares por noite em um quarto
de hotel, ou até mesmo metade disso. Por outro lado - e esta foi a sua
justificativa e estava se agarrando a ela - ela mal tocou em nenhuma das férias
de três semanas que a empresa lhe deu em todos os anos e ela pensou -
que diabos? - ela estava autorizada a ter um pouco de diversão durante um fim
de semana.

Diversão. Payton abriu os olhos novamente e olhou para J.D. de relance.


Isso era tudo que havia entre eles? Diversão?

Ela sabia que, para seu próprio bem, ela provavelmente deveria sair desse
quarto de hotel, ir direto para o aeroporto e pegar o primeiro avião de volta para
Chicago. Havia um perigo definitivo em estender as coisas.

Mas então ela viu quando os olhos de J.D. tremularam levemente, em


seguida, relaxaram novamente, profundamente no sono. Ela nunca o tinha visto
tão calmo.

Payton se enrolou mais perto de J.D. e bocejou sonolenta. Ah, dane-se,


ela ia ficar.
Se não por outro motivo, ela estava curiosa para ver como ficaria todo o
dilema café-da-manhã-no-terraço-à-beira-mar-versus-serviço-de-quarto.

***

— Então o que você acha de tentar sua sorte em uma partida de golfe,
esta tarde?

Payton terminou seu gole de suco de laranja espremido na hora, pousou o


copo e olhou através da mesa para J.D..

— Eu acho que não é muito provável que isso aconteça. — ela disse a
ele. Mas ela adoçou com um sorriso.

Serviço de quarto havia vencido no café da manhã. Na verdade, tinha


acabado por ser a única opção viável - enquanto o hotel oferece todos os
produtos de higiene pessoal que se possa imaginar para os hóspedes em suas
suítes, a única roupa atualmente disponível para Payton, era um vestido preto
com um zíper rasgado e um roupão de banho do Ritz-Carlton. E enquanto o
roupão era perfeitamente aceitável para o café da manhã no terraço com J.D.,
uma questão mais interessante era que merda ela iria vestir para voltar para o
seu quarto para pegar as suas coisas.

Talvez ela pudesse pegar a jaqueta emprestada de J.D. ou uma camiseta


para jogar por cima do vestido, quando ela fosse para o quarto dela. Claro, e
talvez ela também pudesse apenas colocar um sinal na bunda dela que
dissesse: Olá, pessoas ricas, eu acabei de passar a noite toda no quarto de
outra pessoa sendo fo...

— Mas eu estava pensando. — J.D. cortou os pensamentos de Payton,


ainda sobre a coisa de golfe. — Que poderia ser divertido se eu lhe mostrasse
como jogar.
Payton sorriu enquanto ela passava manteiga em seu muffin de
blueberry. — Tenho certeza de que seria divertido. Para você.

— Vamos lá, Payton. — ele a provocou. — Você não quer ampliar seus
horizontes? Tentar algo novo? Ter um pequeno insight sobre ‘meu mundo’ como
você gosta de chamá-lo?

Ela inclinou a cabeça. — Você sabe o que - você está certo. Vamos ambos
ampliar nossos horizontes. Eu vou aprender a jogar golfe esta tarde e, em
seguida, você pode, bem, deixe-me ver... — ela fingiu pensar por um momento,
em seguida, apontou. — Já sei: você pode comer comida vegetariana todo fim de
semana. — ela encolheu os ombros sobre o assunto com naturalidade. — Parece
uma troca justa para mim.

J.D. pensou sobre isso. Então ele sorriu, estendendo as mãos.

— Ou talvez pudéssemos ir à praia. — ele pegou um grande pedaço de


bacon do seu prato, mordeu com prazer e piscou.

— Agora essa ideia, eu gosto. — Payton concordou, colocando as pernas


debaixo dela e inclinando-se para trás na cadeira para apreciar a vista das ondas
quebrando contra a areia. Sim, definitivamente - a praia parecia ótimo.

Um pouco mais tarde, Payton desceu os quatro lances de escada até o


quarto dela. Não é a coisa mais confortável para fazer de saltos, mas ela achou
que encontraria menos pessoas na escada interna do hotel do que nos
elevadores, que por sua vez, diminuíam as chances de alguém notar o trabalho
de retalhos que ela e J.D. tinham feito em seu vestido.

Felizmente, eles haviam encontrado um alfinete para prender o


zíper. Quando o fixou nela, J.D. havia beijado seu pescoço e suas mãos
começaram a vagar, e apesar do fato de que Payton sabia que ela precisava
verificar seu quarto antes do tempo expirar, ele a empurrou contra a parede e
eles estavam em seu caminho para algum prejuízo sério quando o telefone
tocou. Era a companhia de viagens, retornando a ligação para reprogramar os
seus voos para o dia seguinte. Payton escapou, deixando J.D. para explicar que
sim, ambos queriam mudar os voos, mas, não, apenas um deles precisava
reservar uma noite no hotel. Preencha o espaço em branco.

Quando Payton chegou no quarto, ela olhou para o relógio e viu que tinha
tempo suficiente para encaixar um banho rápido antes do checkout. Mas as
primeiras coisas primeiro. Ela tirou seu BlackBerry e rolou através de seu e-
mail. Felizmente era sábado e as coisas pareciam relativamente calmas. Quando
ela chegou ao fim, ela viu que tinha um e-mail de J.D. - um que ele tinha
enviado cerca de cinco minutos antes. Ela abriu a mensagem e leu:

Pare de verificar seu e-mail e volte para cá.

Payton riu. Uau - para J.D. isso era praticamente sentimental. Ela tomou
banho, ficou pronta, jogou suas coisas em sua mala e antes que ela percebesse,
estava de volta ao “Nível de Clube” abrindo a porta do quarto de J.D. com a
chave reserva que ele lhe dera.

Embora agora, ela supunha, era o quarto deles.

Dada a história, era meio surreal que ela e J.D. tivessem qualquer coisa
“deles”. Payton empurrou a mala para dentro do armário, imaginando que ela
decidiria depois onde colocar as coisas dela. Ela parou no corredor de mármore,
de repente, hesitando antes de entrar na parte principal da suíte.

Talvez esta fosse uma má ideia.

Talvez ela e J.D. deveriam ter deixado as coisas com uma nota
alta. Ontem à noite foi perfeito, e talvez isso fosse tudo que eles foram feitos
para ter juntos - apenas uma grande, noite louca, 95 por cento dos detalhes
teriam de ser editados do conteúdo quando ela voltasse para Chicago e dissesse
para Laney. Talvez agora, à luz do dia, as coisas vão ser diferentes.

Payton se dirigiu para a sala de estar e podia ouvir J.D. no banheiro. Dos
salpicos de água, seguido de pausas intermitentes, parecia que ele estava
fazendo a barba. Ela espiou o canto e viu que a porta do banheiro estava aberta,
então ela bateu levemente. Ele disse-lhe para entrar, assim ela fez e...

...quase teve que esfregar os olhos.

— Ei, você. — disse J.D. com um sorriso, enquanto enxugava o rosto com
uma toalha. Ele estava sem camisa, mas os olhos chocados de Payton estavam
focados em outro lugar do seu corpo, um pouco mais ao sul.

Ele estava vestindo jeans.

J.D. Jameson estava vestindo calça jeans.

Ele pegou a expressão de Payton no espelho. — Que olhar é esse?

Payton se apoiou contra a porta, apreciando a vista. — Nada - eu pensei


que você não usava jeans, só isso.

Agora ele deu-lhe um olhar. — É claro que eu uso jeans.

Payton entrou no banheiro. — Eu não sabia que os alfaiates da Rainha


trabalhavam com jeans. — brincou ela. Mas a verdade era que ela adorou: muito
chique: empresário-sexy-conservador-desce-à-terra-no-fim-de-semana. E ela
tinha mencionado que ele estava sem camisa?

— Muito engraçado. — J.D. alcançou a camisa polo de manga curta que


ele tinha atirado sobre o vaso sanitário de mármore antes de se barbear.

Oh, inferno, não. Com dois passos, Payton atravessou o banheiro e


colocou os braços ao redor da cintura de J.D., impedindo-o de vestir a
camisa. Ela levantou-se na ponta dos pés e beijou-o.

— O que foi isso? — perguntou J.D..

Payton sorriu. — Eu não sei, acho que senti sua falta.

Uau. Isso tinha acabado de voar direto para fora de sua boca antes que
ela tivesse a chance de pensar sobre isso. Ela rapidamente disfarçou. — Ou
talvez eu realmente, realmente, goste de você nesses jeans.
J.D. olhou para ela. Seus olhos sondaram os dela, e ela teve a sensação de
que ele estava debatendo se apontaria o seu deslize. Mas então ele sorriu. —
Nesse caso, talvez eu nunca deveria tirá-los.

Payton interiormente deu um suspiro de alívio. Uma piada. Flerte. Bom,


isso é o que ela sabia - eles estavam em igualdade novamente. Ela passou as
mãos ao longo do peito de J.D.. Admitindo ou não, ela tinha sentido falta dele. E
tinha sido apenas uma hora.

— Tenho a sensação de que eu poderia tirá-lo desses jeans se eu quisesse.


— disse ela.

— Você é bem-vinda a tentar. — respondeu ele. Ele se inclinou para beijá-


la, e Payton sabia que sua hesitação anterior tinha sido um erro.

O que quer que isso fosse entre ela e J.D., definitivamente não tinha
acabado ainda.

***

O dia passou muito rapidamente.

Foi depois da 01:00 que eles finalmente, saíram cambaleando para o


brilhante sol da Flórida. Embora cada um deles tivesse levado roupas extras,
não tinham traje de banho, e enquanto J.D. estava completamente a favor de ver
Payton em um biquíni, não havia nenhuma maneira que ele estava prestes a
usar qualquer traje de banho que vinha de uma loja de presentes do
hotel. Payton riu e o chamou de esnobe, mas não parecia decepcionada quando
ele sugeriu caminhar na praia em vez disso.

A caminhada levou-os para um café à beira-mar nas proximidades, o que


levou ao almoço e bebidas à tarde - Payton parecia tão chocada quando ele
pediu uma cerveja, quanto ficou quando ela o tinha visto em jeans - e no
momento em que voltaram para o hotel, ambos estavam se sentindo bem e
animados e talvez só um pouquinho queimados do sol.

Em parte por conveniência, em parte devido à preguiça, e, francamente,


porque não havia nada que batesse a vista, eles jantaram no terraço à beira-mar
do hotel. A “cena do crime”, como Payton chamou quando eles pediram uma
garrafa de vinho. Em certo sentido, J.D. concordou - esse era o lugar onde todas
as coisas tinham começado. Mas nem isso. Na verdade, as coisas tinham
começado há oito anos, em uma orientação de boas-vindas, quando ele
caminhou até a mulher mais bonita que ele já tinha visto e se apresentou.

J.D. nunca teria se descrito como um cara particularmente sensível ou


romântico - e mesmo que ele tivesse todas as tendências desse tipo, ele
definitivamente teria escondido muito, muito abaixo do seu exterior de espírito
de advogado racional - mas ele estava em contato com suas emoções o suficiente
para saber que, em termos simples, tudo sobre seu fim de semana com Payton
tinha sido perfeito e ele queria mais tempo com ela.

O problema, é claro, era que ele não tinha ideia se ela tinha uma opinião
semelhante sobre o assunto. Ele sentiu que ela estava se segurando, e ele
entendia isso melhor do que ninguém. Possivelmente sua parte favorita do fim
de semana tinha sido no início do dia, o momento no banheiro quando ela disse
que sentiu falta dele. Era uma coisa rara para ele, vê-la baixar a guarda assim.

J.D. percebeu que, mais cedo ou mais tarde, ele e Payton iam ter que ter
uma conversa séria, e se ela não a iniciasse, então, ele o faria. Se ele tivesse
aprendido alguma coisa com Clark Kent Fodido-Estúpido-Para-O-Alto-E-
Avante-Estúpido-Fodido, era que ele não estava disposto a perder mais tempo
pensando ou supondo o que Payton Kendall poderia estar pensando.

***

— Admita - você foi uma esquentadinha na faculdade de direito, não é?


Payton sorriu para a pergunta de J.D., balançando a cabeça
negativamente. — Quando comecei a faculdade de direito, meus rebeldes, dias
instigantes eram muito longos. Meu primeiro ano de faculdade, por influência
da família sem dúvida, entrei nos protestos sobre... bem, tudo. Mas, a partir do
segundo, eu acho que cansei de ser assim... — ela procurou a palavra certa. —...
angustiada o tempo todo.

Eles deitaram na cama, novamente com a porta de vidro deslizante


aberta, para que pudessem ouvir o bater das ondas na praia. Sendo esta a sua
segunda noite juntos, eles tinham uma rotina agora, uma maneira de “como”
gostavam de fazer as coisas. Eles entraram no tipo de conversa sentimental,
arejada, que os amantes têm depois de oito anos querendo estrangular um ao
outro e então percebem - opa - talvez nós devêssemos apenas ter relações
sexuais em vez disso.

— Eu gostaria de ter visto você em seus dias angustiantes de faculdade. —


disse J.D..

Enrolada na curva do braço dele, Payton não podia ver seu rosto, mas ela
podia ouvir o sorriso em sua voz. — Você realmente não gostaria. — ela
assegurou. — Você conheceu minha mãe - imagine-a reduzida a apenas um
detalhe ou dois.

— Considerando que estamos aqui deitados nus, eu acho que vou passar a
parte de visualizar a sua mãe fazendo algo, obrigado. — J.D. levantou o rosto em
direção ao dela. — Embora eu seja meio curioso - ela me odeia tanto quanto eu
acho que ela odeia?

— Minha mãe geralmente não gosta de todas as pessoas que eu apresento


a ela. — disse Payton evasivamente.

J.D. deu-lhe um olhar penetrante.

— Ok, tudo bem - você não é exatamente sua pessoa favorita. — ela
admitiu.

— Isso te incomoda? — ele perguntou.


Payton pensou que era uma espécie de pergunta curiosa. — Não, isso não
me incomoda. — junto com seus dias angustiantes, suas tentativas de seguir os
passos de sua mãe tinham terminado há muito tempo.

Payton notou que J.D. relaxou novamente depois da sua resposta, e


enquanto ela tinha suspeitas de onde ele poderia ter ido com a sua pergunta, ela
não estava 100 por cento certa. O que significava, mais uma vez, que ela foi para
um tom leve e provocante.

— Isso significa que agora podemos falar sobre como você era na
faculdade? — ela perguntou a ele.

— Não.

— Não?

Em um movimento suave, J.D. de repente rolou sobre Payton, enredando


ambos no lençol e prendendo-a debaixo dele. Ele olhou para ela com uma
espécie de expressão meio-tímida, meio séria. — Eu quero falar sobre o que vai
acontecer quando voltarmos para Chicago.

Payton encontrou seu olhar. Ok. Bom. Francamente, ela ficou aliviada
por finalmente conversarem sobre isso.

— Eu não sei. — ela respondeu com sinceridade.

Agora com essa resposta ele não parecia tão satisfeito.

— Eu estive pensando sobre isso. — continuou Payton. — Muito, na


verdade.

— E?

— E eu acho que essas foram provavelmente as duas noites mais incríveis


da minha vida. — ela disse a ele. — Eu adoraria descobrir uma maneira disso
funcionar em Chicago. Mas eu estou preocupada com o que vai acontecer depois
de terça-feira.

Ela viu o reconhecimento nos olhos do J.D..


— Estou preocupado, também. — ele admitiu.

— Eu não posso odiá-lo novamente, J.D.. — Payton gentilmente tocou seu


rosto.

Ele pegou a mão dela na sua. — Eu pensei que você disse que nunca tinha
sido ódio. — ele disse suavemente, mas sua expressão permaneceu séria.

— O problema é que nós dois estamos nesta corrida para ganhar. — disse
Payton. — O que vai acontecer com o outro que a firma não escolher - aquele
que tem que sair, tem que ir embora, fazer entrevistas e começar tudo de novo
em outro lugar? Eu gostaria de dizer-lhe que eu não vou ficar ressentida, se
escolherem você - que eu poderia engolir meu orgulho e não ficar com raiva ou
vergonha - mas honestamente, eu estaria mentindo. Eu me conheço muito
bem. E eu sei que você também.

Ela procurou os olhos de J.D., tentando avaliar sua reação. Ele ficou em
silêncio por alguns momentos. Então ele saiu de cima dela e estava deitado de
costas com um braço dobrado atrás da cabeça.

— Então você está dizendo que é isso? — ele perguntou.

Payton sentiu algo puxar para ela. — Eu estou dizendo... que eu acho que
nós precisamos ver como serão as coisas na terça-feira. Então, seguimos de lá. —
ela mudou-se ao lado dele, querendo que ele olhasse para ela. — Não fique com
raiva de mim. — ela disse suavemente.

J.D. virou o rosto na direção dela. — Eu não estou com raiva de


você. Apenas com raiva da situação.

Sem saber o que dizer, Payton o beijou, segurando seu rosto entre as
mãos, esperando que o gesto transmitisse pelo menos um pouco a maneira
como ela se sentia. E quando ele passou os braços em volta dela e a puxou para
mais perto, com seu queixo aninhado contra o topo da cabeça dela, Payton
fechou os olhos para saborear o momento e se forçou a não pensar no que
estava por vir.
***

J.D. tomou uma decisão: Payton tinha dado a resposta dela e era isso.

Na verdade, ele não tinha certeza se discordava das preocupações


dela. Na terça-feira, um deles poderia muito bem se ressentir do outro por se
tornar sócio, e - dada a animosidade que tinha sido a pedra angular do
relacionamento de oito anos - quem sabia onde isso poderia levá-los?

Embora fosse verdade que J.D. tinha algumas reações concretas para a
abordagem de Payton de “esperar para ver” - para ser franco, ele odiava isso -
ele não queria ter que dizer isso a ela. E ele certamente não queria gastar parte
de seu tempo restante juntos discutindo. Assim, pelo resto da noite, ele não
disse nada.

Da mesma forma, na manhã seguinte, quando ele acordou Payton


deslizando sobre ela, quando ele entrelaçou seus dedos com os dela e beijou seu
pescoço, não querendo desperdiçar outro momento com sono, ele não disse
nada.

Durante o café da manhã, enquanto eles brincavam sobre se eles


poderiam faturar o seu tempo para o fim de semana, e sobre como Ben, Irma,
Kathy e todos os outros no escritório reagiriam se soubessem o que tinham
feito, ele não disse nada.

Durante a volta para casa de avião, quando Payton encostou a cabeça no


ombro dele e a manteve lá quase todo o voo, J.D. pode ter chegado ao apoio de
braço para pegar a mão dela, mas ele ainda não disse nada.

E, finalmente, quando o avião pousou no aeroporto O’Hare de Chicago, e


Payton deu-lhe um sorriso triste e lamentável, o coração de J.D. afundou porque
ele sabia que a estava perdendo.

Mas, mesmo assim, ele não disse nada.


***

Quando a limusine estacionou na frente do prédio dela - e apesar do fato


de que era apenas meio da tarde - finalmente atingiu Payton que o fim de
semana tinha acabado. Ela se virou para J.D., não tendo a menor ideia do que
dizer, e ficou surpresa ao vê-lo já saindo do carro. Ele pegou a mala dela com o
motorista e pediu para que ele esperasse, dizendo que só levaria alguns minutos.

Uma vez dentro do prédio dela, J.D. carregou a mala para cima e a
colocou em sua porta. Mas quando Payton destrancou a porta da frente, ele não
a seguiu enquanto ela entrava em seu apartamento.

— Eu tenho que voltar para o carro. — disse ele.

Ela assentiu com a cabeça. — Obrigada por me ajudar com a minha mala.
— lamentável. Tinham estado em casa por cerca de trinta segundos e ela já
odiava a forma como as coisas estavam entre eles.

Ela encostou-se à porta. — Eu não quero que as coisas fiquem estranhas


entre nós.

— Eu não quero isso, também. — disse J.D.. Ele hesitou. — Há algo que
eu tenho vontade de dizer, Payton, algo que eu preciso que você entenda, e isso
é...

Payton se conteve segurando a respiração.

—... que eu não vou correr atrás de você.

Payton piscou. De tudo o que ela achava que J.D. ia dizer, não tinha sido
isso.

— Você tomou a sua decisão. — disse J.D.. — Você quer ver como as
coisas andam uma vez que a empresa tomar a sua decisão, e eu entendo isso. E
enquanto eu não estou com raiva, ao mesmo tempo, eu não sei o que você
espera que eu faça em resposta a sua decisão. Então, eu só senti que precisava
dizer, apenas para constar, eu acho, que...
— Você não vai me perseguir. — Payton terminou por ele. — Eu
entendi. Estamos claros. — ela tentou decidir o quanto ela estava irritada com
J.D. por pensar que ela pode ser o tipo de garota que queria ser perseguida. Em
seguida, ela tentou decidir o quanto ela estava irritada consigo mesma por
secretamente pensar que talvez ela seja.

J.D. lhe deu um meio sorriso. — Tudo bem. Eu só não quero que você
fique esperando que eu apareça fora da sua janela explodindo Peter Gabriel62 no
rádio do meu carro ou algo assim.

Payton não pôde deixar de rir com isso. O pensamento de J.D. em pé na


frente do Bentley segurando um aparelho de som sobre sua cabeça era demais,
impagável. — Você é orgulhoso demais para esse tipo de coisa, J.D.? — ela
brincou.

Ela quis dizer isso como uma brincadeira, mas de repente J.D. ficou sério.

— Sim. — ele disse suavemente. Ele tocou suavemente o queixo dela. —


Com você, Payton - na verdade, só com você - eu sou.

Enquanto ele segurava o olhar dela, Payton percebeu que ele poderia ter
tentado dizer-lhe muito mais do que tinha pensado inicialmente. Mas ela não
teve a chance de fazer mais nada, porque ele se virou e desceu os degraus e saiu
pela porta da frente.

Payton fechou a porta, foi até a janela e viu quando J.D. entrou na
limusine que esperava lá em baixo por ele. Por um longo tempo depois que o
carro tinha saído, ela continuou a olhar para fora da janela, correndo através
das palavras dele uma e outra vez.

Ela sabia que era demais para ela lidar. Depois de um fim de semana
como o que ela tinha acabado de ter, ela precisava de dados. Orientação. Ela
precisava de alguém com um olhar objetivo, com quem ela poderia rever os
últimos dois dias, alguém com quem pudesse realizar as análises adequadas de
tom e expressão facial, alguém cujas habilidades ela confiava a arte nebulosa e

62
Músico inglês, um dos maiores representantes da música mundial do anos 70.
precária conhecida como a leitura em cada palavra. Ela precisava de alguém que
não só a entendia, mas ao inimigo também.

Em suma, as coisas iam ficar difíceis e ela precisava de sua consigliere63


de guerra.

Então ela pegou o telefone e ligou para Laney.

63
Uma posição dentro da estrutura de liderança da Sicília, Calábria e Máfia americana. A palavra foi
popularizada pela série O Poderoso Chefão (1969) e sua adaptação para o cinema. Um conselheiro.
Capítulo Vinte e Quatro

L aney abriu a porta da

frente da casa que ela dividia com Nate. Payton rapidamente entrou, ansiosa
para sair da chuva que tinha decidido cair em cima dela assim que pulou no táxi
para vir.

Elas tinham decidido pular o café, seu ponto de encontro habitual, uma
vez que Nate estava com alguns amigos e porque Payton já estava ligada e
provavelmente poderia fazer sem o burburinho adicional de cafeína.

Ela tinha sido vaga com Laney no telefone - dizendo apenas que ela
precisava conversar, pois ela queria falar isso pessoalmente. Mas não podia
esperar mais, ela mal tinha posto os pés nos degraus da casa imaculada da sua
amiga estilo-Martha Stewart Living64, antes que sua amiga chegasse até ela.

— Eu tenho algo que eu preciso te contar sobre este fim de semana. —


Payton disse, colocando sua bolsa sobre a mesinha ao lado da porta da frente,
nunca mais cometendo o erro de jogá-la sobre o sofá como ela poderia ter feito
em sua própria casa - porque, como Laney tinha muito prestativamente
observado a primeira e única vez que Payton tinha feito isso - de fato, essa
não era a sua casa.

— E eu sei que isso vai ser um choque. — ela continuou. — Então eu só


vou dizer de uma vez. — ela parou. — Espera, eu acabei de perceber que eu
nunca te contei que terminei com Chase.

64
Programa de TV, de decoração de casa, receitas.
— Não, você não falou. — Laney disse incisivamente enquanto observava
os esforços de Payton para secar seus sapatos sobre o tapete ao lado da porta. —
Eu tive que saber disso através de Nate.

— Eu sei, eu sei, eu sinto muito por isso, tudo está acontecendo tão
rápido esses dias, e eu queria te dizer, mas depois a viagem para a Flórida
surgiu. — Payton provisoriamente pisou com um sapato fora do tapete. Quando
Laney não disse nada, Payton tomou isso como uma indicação de que ela havia
sido considerada adequada para ter acesso à moradia.

Ela entrou na sala de estar. — Mas se isso te faz sentir melhor, você é a
primeira e única pessoa que eu já disse isso. — ela se virou e olhou Laney.

— Eu dormi com J.D..

A boca de Laney caiu aberta, atordoada.

— Eu sei. — Payton sorriu. — Puta merda, Laney, eu dormi com J.D..

Laney sacudiu seu choque. — Onde? Quando?

— Este fim de semana. Palm Beach. Voamos para encontrar Jasper


Conroy e o novo conselho geral da Gibson. — Payton olhou a amiga nos olhos. —
Laney, foi incrível.

Payton apontou para o corredor, na direção da cozinha. — Você se


importa? Vou pegar um copo de água. — inferno, ela já estava ficando
ruborizada, revivendo o fim de semana em sua mente. Enquanto ela se dirigia
ao fundo do corredor, ela começou a análise pós-jogo. — Eu mal sei por onde
começar.

— Na verdade, Payton, você pode querer...

— Eu quero dizer, fizemos sexo, tipo, um bilhão de vezes. E eu estou


falando em todos os lugares - na cama, no chão, na mesa, no banho - eu tenho
certeza, as pessoas infelizes no quarto ao lado ouviram, o que me lembra: Você e
Nate tem um desses banquinhos no seu chuveiro?

— Por uma questão de fato, nós temos, mas...


— Bom, porque eu tenho que dizer-lhe sobre este truque que eu descobri
que o torna muitíssimo mais fácil para...

— Eu realmente não acho que você deseja dizer isso nesse momento em
especial...

Payton acenou por cima do ombro. — Tudo bem, mais tarde, então, de
qualquer maneira, eu não tinha ideia do quão ridiculamente o J.D. é sexy - e eu
não quero dizer só o seu corpo, que é delicioso - as coisas que eu fiz com aquele
homem, isso é tudo que eu vou dizer agora - mas também a maneira como ele
olhou para mim e, merda, algumas das coisas que ele disse foram tão sexy que
explodiram a minha mente, como aquele momento em que ele me prendeu
contra a parede e me disse que queria to... — ela parou quando virou a esquina
para a cozinha.

Nate e cinco outros caras estavam em pé ao redor do balcão.

Tendo acabado de ouvir tudo.

Os seis homens permaneceram imóveis com suas bocas abertas tal como
Laney ficou em seguida ao virar a esquina.

Payton olhou para ela. — Eu pensei que você disse que Nate tinha um
jogo de futebol.

Laney gesticulou para a janela, lá fora a chuva caía sem parar. —


Cancelado.

A boca de Payton formou um O. Cancelado. Maldição.

De repente, encontrando sua voz, Nate se virou para sua esposa com uma
pergunta da sua autoria. — É assim que vocês conversam? — ele gesticulou
entre as duas mulheres.

Laney encolheu os ombros. — Sim.

Nate e seus amigos sussurraram nervosamente sobre isso entre si.

Homens.
Se eles soubessem.

Payton olhou para Laney. — Talvez devêssemos ir para o café depois de


tudo. — sugeriu ela, com uma sobrancelha levantada que falava em código. Eu:
envergonhada. Você: na merda. Da próxima vez. Avise. Com mais vontade.

— À luz do que eu ouvi até agora, eu acho que vou precisar de algo mais
forte do que café. — disse Laney. Ela pegou as chaves do organizador que ela e
Nate tinham embutido na parede, em seguida, aproximou-se e deu a seu marido
um beijo na bochecha. — Eu posso chegar tarde. Há uma lasanha na geladeira.

Nate assentiu. — Ok, me ligue para te buscar quando estiver pronta. —


então ele fez uma pausa, olhou rapidamente na direção de Payton, e baixou a
voz quando ele sussurrou no ouvido de sua esposa.

— E descubra qual é o truque é com o assento no banheiro.

***

Dada a chuva, elas decidiram não ir muito longe, pegaram um táxi para a
curta distância até o 404 Wine Bar. A atmosfera íntima do bar era adequada ao
humor confessional de Payton. Ela e Laney se afundaram em um sofá de couro
em frente à lareira. Quando a garçonete chegou, Payton ordenou um dos vinhos
tintos do menu principal, pensando que várias bebidas para contar tudo de uma
vez, era o caminho certo a seguir naquela noite. Laney pediu o mesmo.

Payton lançou um olhar. — A propósito, eu quase tive um ataque cardíaco


quando você disse que esses caras eram da equipe de futebol de Nate. Eu estava
esperando que Chase saísse de algum canto, tendo ouvido tudo o que eu disse
sobre J.D..

— Na verdade, Nate mencionou que Chase tinha um encontro hoje à


noite. É assim que eu soube que vocês dois não estavam se vendo mais. — disse
Laney. — Eu estou supondo, sob a luz de tudo o que aconteceu com o J.D., que
você está bem com isso?
Payton assentiu. — Definitivamente, tudo bem. Fico feliz em ouvir isso,
na verdade. — ela gostava de Chase. E talvez se as circunstâncias tivessem sido
diferentes... bem, provavelmente nem mesmo assim. Mas, independentemente
disso, ela ainda achava que ele era um bom rapaz.

A garçonete chegou com os vinhos. Depois que ela colocou quatro taças
na frente de cada uma delas, Payton decidiu que era hora de contar a Laney
tudo. Ou, pelo menos, a versão PG-1365, de tudo. Laney ouviu atentamente e,
finalmente, saltou com uma pergunta que foi surpreendentemente franca para
ela.

— Então isso foi tudo sobre sexo? — Laney ergueu a mão, sua expressão
suavizando. — Isso soou como se eu estivesse julgando. Não estou julgando.

Payton balançou a cabeça. — Não, não era só sobre sexo. — ela sabia que
era verdade. — Essa é apenas a parte que é mais fácil para eu falar. — ela
hesitou, mas depois decidiu falar logo. — Eu acho que eu tinha sentimentos por
J.D. por um tempo.

Laney riu. — Ah, é mesmo? Você acha?

Payton sentou-se ereta. — Bem, se você sabia tanto, por que você nunca
disse nada?

— Eu disse. Por anos eu incitei você a ficar com J.D..

— Eu pensei que era alguma coisa estranha de lealdade republicana.

— Não, é porque eu sempre pensei que você e ele só precisavam voltar


para o caminho certo. — Laney tomou um gole do segundo vinho, um pinotage
sul-Africano. — À propósito, enquanto vocês dois estavam fodendo seus miolos,
aconteceu de você descobrir como foi mesmo que a rixa de vocês começou?

— Você não acreditaria em mim se eu te contasse. — Payton lançou a


Laney um olhar divertido. — Fodendo nossos miolos? Sério?

65
Classificação indicativa para menores de 13 anos.
— É o máximo de mau gosto que nós republicanos conseguimos.

Payton pensou em voltar para certas partes de seu fim de semana com
um certo Republicano que haviam sido censuradas pela PG-13. — Oh, eu não sei
nada sobre isso. — ela disse. — Eu não cheguei a falar sobre o momento no
sábado à noite, quando voltamos para o quarto após o jantar e J.D. me
empurrou contra a mesa e disse...

Laney levantou a mão. — Não. Eu não posso saber essas coisas, eu vou
corar cada vez que vir o cara. Eu tenho que trabalhar com ele, lembra?

Ela quis fazer o comentário em tom de brincadeira, mas teve um efeito


moderador imediato sobre Payton.

— Você acha que você ainda vai trabalhar com ele depois de terça-feira?
— ela perguntou calmamente.

Vendo o olhar em seu rosto, Laney ficou séria também. — Eu


honestamente não sei quem eles vão escolher, Payton.

Payton rodou a taça, fingindo estudar o vinho escorrendo pelo lado.

— Se eles não me escolherem, eu não tenho certeza se posso olhar na cara


dele de novo. — ela disse. — Eu não poderia suportar se ele sentisse pena de
mim. — ela tomou um gole de vinho. — É claro que, se me escolherem, então é
exatamente assim que ele vai se sentir, e eu provavelmente vou perdê-lo de
qualquer maneira.

Laney suspirou. — Essa é uma situação difícil.

— Você tem que me dar mais do que isso, Laney. Você é meu consigliere
em tempo de guerra. — Payton viu o olhar confuso da amiga. — É de O Poderoso
Chefão.

Laney cruzou as mãos no colo. — Oh. Nunca vi isso. Muita violência. Mas
lembre-me com quem, exatamente, você está em guerra?

— É apenas uma expressão.


— Uma expressão interessante. Acho que o meu primeiro conselho
enquanto sua conselheira de guerra é: pare de pensar em J.D. como o inimigo.

Payton pensou sobre isso. Bom ponto.

Laney pressionou com mais força. — Sério, como você se sente sobre
ele? Você já dormiu com ele, Payton, eu acho que não há problema em admitir
isso agora.

Payton olhou sua amiga enquanto ela considerava a questão. Depois de


um momento, ela sorriu. — Eu sou louca por ele. — ela viu o sorriso de Laney. —
E, em muitos aspectos, eu quero dizer, literalmente, você sabe. Há vezes -
muitas e muitas vezes - quando ele me deixa absolutamente louca. Mas mesmo
assim.

— Você o ama? — Laney perguntou.

Payton corou. — Isso é um pouco pessoal, você não acha?

Laney ergueu as mãos. — Oh, meu Deus, nós finalmente encontramos


uma palavra que faz Payton Kendall corar. Amor. — ela apontou. — É porque
sua mãe não deixou você ler contos de fadas quando você era criança.

— E quando eu pensei ter entendido todos os níveis em que ela me


desarrumou, um novo problema surge.

Laney riu. — Então, você quer o meu segundo conselho?

— Não dê ouvidos a qualquer coisa que minha mãe diz?

— Ok, talvez o meu terceiro conselho.

Agora foi a vez de Payton rir. — Claro, vá em frente.

A expressão de Laney era séria de fato. — Se você é tão louca por J.D.
como você diz que é, então, bem, você meio que não tem que tentar fazer isso
funcionar? Quem sabe o que vai acontecer depois de terça-feira? Talvez ele vai
se surpreender. Talvez você se surpreenda.
Payton pensou sobre isso. Talvez, apenas talvez, Laney estivesse
certa. Ela olhou para sua amiga com suspeita falsa. — Tem certeza de que não
estamos dizendo isso só porque você quer começar a fazer planos para
domingos de casais e churrasco?

— Bem, sim. — disse Laney. — Você é minha melhor amiga, Payton. É


claro que eu quero que você ache uma pessoa que realmente te faça feliz.

Emocionada, Payton se aproximou e abraçou-a. — Obrigada, Laney. —


quando ela se afastou, apertou a mão de Laney timidamente. — Eu estive tão
envolvida em tudo, eu nem perguntei como você está indo. Apesar de eu ter
percebido que você está bebendo vinho hoje à noite.

Laney suspirou melancolicamente. — Sim, não aconteceu este mês. —


então ela se animou. — Tudo bem. A diversão está na tentativa.

— Wow, você está quase se aproximando de um PG-13. Nota-se com esse


comentário.

Laney sentou-se e alisou o cabelo para trás, aparentemente satisfeita. —


Eu? PG-13? Nesse caso, uma vez que já cruzei a linha, eu acho que devemos tirar
isso do caminho. Não, espere...

Payton assistiu com diversão enquanto Laney rapidamente bebeu o resto


da sua bebida. Então ela abaixou a taça e olhou para cima.

— O truque do chuveiro. Vamos ouvi-lo, Kendall.


Capítulo Vinte e Cinco

F altava apenas um

dia.

A preocupação de Payton sobre o que dizer na primeira vez que ela


encontrasse J.D. no trabalho na segunda-feira, tinha sido
desnecessária. Enquanto as coisas poderiam ter mudado para os dois no fim de
semana, a vida na empresa manteve-se constante e como de costume, o que
significava que ela mal teve tempo para o almoço, e muito menos para um
passeio pelo corredor para um tête-à-tête.

Não ajudava em nada que Irma estivesse estranhamente ansiosa e


nervosa. Como se de repente, percebendo que poderia ser o seu último dia de
trabalho em conjunto, a secretária de Payton tinha entrado no seu escritório
diversas vezes. A cada quinze minutos, fazendo o que mais ela poderia fazer
para ajudar.

— Sério Irma, você está me deixando nervosa. — disse Payton após a


décima entrada.

— Você não precisa de mim para começar a fazer as suas despesas da


viagem do fim de semana? — Irma usava o tom “estou preocupada, mas
tentando não transformar minhas entradas em um turbilhão de perguntas”.
Com a expressão de que alguém tinha que distrair o amigo que acabara de pegar
exames médicos graves.

— Sim, obrigada por lembrar. Aqui está. — Payton entregou-lhe a pilha


de recibos do final de semana. Os que ela iria solicitar reembolso dos dias da
viagem.
Irma balançou a cabeça, parecendo apaziguada pelo trabalho entregue a
ela e deixou a sala de Payton.

Ela voltaria em cinco minutos.

— Estes reembolsos não fazem qualquer sentido. — Irma folheou os


recibos. — O recibo da companhia aérea diz que seu voo de retorno foi no
domingo, mas você apresentou a conta do hotel na sexta à noite.

Secretária trabalhadora e eficiente. Sentada em sua mesa, Payton tentou


manter a expressão indiferente. — Eu decidi ficar uma noite extra. Eu não
solicitei o faturamento do cliente para isso.

— Para uma noite extra? — perguntou Irma, confusa.

— Sim... eu... decidi relaxar por um dia.

No primeiro momento, Irma pareceu surpresa, então ela balançou a


cabeça em aprovação. — Realmente Payton, seja o que for que deu em você nas
últimas semanas, eu estou gostando. — ela apontou, lembrando de repente. —
Eu esqueci as suas folhas para assinatura. Estarei de volta com elas.

— Tudo bem. — disse Payton, levantando-se. — Eu posso assiná-las em


sua mesa. — este era o código para a criação de um potencial do tipo “esqueça o
que aconteceu e volte a trabalhar”.

Payton seguiu Irma para sua mesa, onde ela desatou a assinar as folhas.
Quando estava próxima das últimas folhas, ouviu Kathy chamar J.D. na mesa ao
lado de Irma.

— Oh, bem, J.D., você tem um minuto?

Quando Payton ouviu a resposta de J.D. vinda de trás dela, ela fez um
esforço para ser normal e casual. Afinal, eles haviam representado para o
público durante anos. Isso não deveria ser diferente.

Ela olhou por cima do ombro e o viu de pé ao lado dela. Merda.


Era totalmente diferente agora.
— Olá, Payton. — disse ele.

— Olá, J.D.. — ela respondeu no mesmo tom inócuo.

Kathy folheou os papéis que segurava felizmente dando pouca atenção à


sua interação estranha. — Estou confusa sobre estes recibos da viagem. — ela
disse a J.D.. — Particularmente no pedido de reembolso do hotel. Eu sei que
você disse que eu deveria enviar um reembolso referente à noite de sexta como
tarifa normal, o que eu fiz. Mas você não precisaria ser reembolsado por duas
noites? Você só voltou domingo.

Com a certeza de que ela estava corando, Payton não se atreveu a olhar
para cima das folhas que assinava, ela estava imaginando a cara de Irma.

— A segunda noite da viagem foi pessoal. Eu vou cuidar disso eu mesmo.


— disse J.D..

— Viagem pessoal? — Kathy repetiu surpresa.

Com o canto do olho, Payton podia ver que Irma estava ouvindo
atentamente a conversa. Ela decidiu que agora seria um excelente momento
para voltar ao seu escritório.

— Eu decidi ficar e jogar golfe. — ela ouviu J.D. dizer a Kathy. — Você
sabe, tirar um dia para relaxar.

— Oh. Meu. Deus.

Payton parou na porta de seu escritório, virou-se e viu Irma encarando


J.D. com a boca aberta em estado de choque.

Com os olhos arregalados, Irma olhou para Payton. Sem perceber cobriu
a boca. — Oh, meu Deus. — ela repetiu, rindo.

Payton foi até a mesa da sua secretária. — Irma, eu posso vê-la em meu
escritório? Agora?
Balançando a cabeça, ainda com o sorriso do Gato da Alice do País das
Maravilhas, Irma seguiu Payton para seu escritório. Ela manteve sua mão sobre
a boca, como se temesse pelo que poderia falar.

Payton fechou a porta atrás de si e se virou para Irma. — Tudo o que você
acha que acabou de entender, eu preciso pedir-lhe para manter em sigilo para si.

Irma tirou a mão da boca. — Pelo menos eu sei o que deu em você
ultimamente. Literalmente.

— Tudo bem. — disse Payton em resposta à insinuação não tão sutil de


sua secretária. — Uau, eu realmente não sei o que fazer a partir de agora.

— Você e J.D. fizeram... — Irma abaixou a voz para um sussurro


conspiratório. — Oooh... o sexo foi irado?

— Eu vou fingir que não ouvi essa pergunta.

— Isso quer dizer que é sério entre vocês? — perguntou Irma.

Payton permaneceu firme sobre o assunto. — Irma, eu preciso que você


faça um favor para mim. Por favor, não me pergunte mais nada. Nenhuma
pergunta, porque você sabe que eu não posso respondê-las. E por favor, não
diga nada a ninguém sobre o que você ouviu. Você sabe o quão difícil é lidar com
a fofoca do escritório.

Vendo como isso era importante para Payton, Irma suspirou. — Tudo
bem.

Payton sorriu. — Obrigada. — ela sabia o quão difícil era para sua
secretária ficar indiferente sobre as fofocas, ainda mais algo tão suculento como
isso.

Irma assentiu, medindo Payton com um olhar. — Cara, vocês dois


realmente decidiram fechar com chave de ouro, não é?

— Irma...

— Desculpe. Foi simplesmente muito para deixar passar.


***

No final do dia, Irma entrou pelo escritório de Payton. Ela segurava uma
caixa de médio porte em suas mãos.

— Uma portadora entregou isso enquanto você estava em sua


teleconferência. — ela disse. — Eles precisavam de alguém para assinar por
você, então fui em frente e cuidei disso. — ela colocou a caixa sobre a mesa de
Payton. — Posso ver também?

Distraída, Payton olhou por cima de seu computador. — Você pode ver o
que?

Irma fez um gesto para a caixa. — Os sapatos que você pediu.

— Eu não pedi nenhum sapato.

Irma apontou para a etiqueta de endereço. — Diga isso para Jimmy Choo.

Payton pegou a caixa e abriu. Vasculhou cerca de vinte quilos de papel de


seda, o que naturalmente levou a outra caixa menor. Quando ela abriu,
descobriu um novo par de saltos pretos.

Irma se inclinou para inspecioná-los. — Você já tem um par como esse,


não?

— Eu costumava ter. Quebrei um dos saltos. — disse Payton.

— Ah, certo... quando você rasgou sua saia no tribunal. Um amigo meu
que trabalha no escritório do escrivão, disse que todos falaram sobre isso por
semanas. — Irma parecia deixar Payton cada vez mais para baixo. — Isso deve
ter sido muito embaraçoso.

— Sim, obrigada Irma, foi muito embaraçoso.


— Ele também disse que eles falaram mais ainda sobre o quão bem você
se saiu na situação. Ele disse que você foi uma verdadeira profissional.

A expressão de Irma ficou orgulhosa. — O que quer que digam amanhã


Payton, você poderá sair com a cabeça erguida. Eu não poderia ter pedido para
trabalhar com uma advogada melhor nestes últimos oito anos. Obrigada.

Payton ficou com os olhos marejados. Todos estavam ficando


malditamente moles nos dias de hoje. — Obrigada, Irma.

— É claro que se você pudesse, de alguma forma conseguir sair daqui com
seus sapatos e em sua saia, provavelmente seria melhor.

Payton riu. Com um rápido aceno de adeus, Irma se virou e saiu pela
porta.

Uma vez sozinha em seu escritório, Payton pegou a caixa e tirou o


pequeno envelope que tinha escondido com os sapatos. Ela abriu o cartão e
sorriu ao lê-lo.

Você já sabe de quem são.

***

Payton esperou até que o pessoal da secretaria tivesse deixado o


escritório e fez seu caminho para o escritório em frente ao dela.

Ela bateu na porta de J.D. e ficou surpresa ao encontrá-lo arrumando sua


pasta para ir embora.

— Você está indo embora? — ela perguntou.

J.D. assentiu. — Já. Pela primeira vez, eu quero deixar este lugar
enquanto ainda está claro lá fora.
Payton fechou a porta atrás dela. — Eu recebi os sapatos. Eu não posso
aceitá-los J.D..

Ele pegou sua pasta. — Claro que você pode. — ele olhou para ela na sua
saída para a porta. — Além disso, eles são os meus favoritos.

— J.D....

— Não há nada que você precise dizer. De verdade. — ele chegou perto, e
Payton pensou que ele ia beijá-la, mas em vez disso ele abriu a porta e saiu para
o corredor.

— Boa sorte amanhã, Payton. — seus olhos se encontraram, então ele se


virou e saiu.

Payton estava no escritório de J.D., sozinha. Mensagem recebida. Em alto


e bom som. Ela trouxe à mente um outro encontro, não há muito tempo atrás,
quando ele saiu do apartamento dela em uma noite similar. E naquela ocasião,
ela não tinha ido atrás dele.

Mas desta vez ela iria.

Entre outras coisas, que se dane se ela ia deixar J.D. Jameson ficar com a
última palavra.

***

Assim que J.D. alcançou a maçaneta da porta do motorista do Bentley,


ele ouviu uma voz um pouco chateada atrás dele.

— Você é um pé no saco, sabia disso?

Ele se virou e viu Payton caminhando pela garagem, vindo da direção dos
elevadores e indo em direção a ele. Ela levava sua bolsa e o casaco sobre o braço.

— Você veio aqui para dizer isso? — ele falou de volta.


— Sim, isso é uma das coisas que eu vim até aqui para dizer. — Payton
parou diante dele e cruzou os braços sobre o peito. — Eu também vim aqui para
dizer que, ao contrário do que você imagina, eu não preciso ser perseguida.

— Ah, é?

— Não me venha com esse olhar. Na verdade, provavelmente é melhor se


você não fizer ou falar nada. Eu preciso passar por isso.

J.D. observou enquanto Payton respirou fundo.

— Esta situação entre nós está totalmente bagunçada. — ela começou. —


Francamente, eu não mudei de ideia ao pensar que qualquer que seja a decisão
que a empresa fará amanhã, será um problema para nós. Um grande problema.

Ela deu um passo para mais perto dele. — Mas aqui está a coisa, as
alternativas significam não estar com você. E eu tenho não estado com você por
anos, J.D.. Eu não quero mais isso. — Payton olhou para ele. Seus olhos azuis
escuros e expressivos. — Eu acho que nós podemos superar esta coisa de
sociedade se fizermos isso juntos. — ela fez uma pausa, depois corou e riu
nervosamente. — Agora seria um bom momento para você dizer alguma coisa.

Na mente de J.D. corriam umas mil coisas que queria dizer a ela. Era
hora? Ele pensou que talvez, mas finalmente, era.

— Payton, eu...

Mas ele parou quando viu algo ou alguém, por cima do ombro. — Merda.

Payton levantou a cabeça dela. — 'Payton, eu... merda'. — ela repetiu. —


Isso é bom saber. Fico feliz que esclarecemos tudo.

J.D. teve que morder a língua para não rir. — Não, não é isso. É Ben. —
ele disse a ela baixinho. — Ele acabou de sair do elevador.

O sorriso de Payton se transformou em uma carranca. — Merda. Eu não


quero lidar com ele agora.

— Ele está andando em linha reta para nós.


— Você sabe o que? Desde que vocês dois são tão bons amigos, você
deve lidar com ele. Apenas descubra alguma maneira de se livrar
dele. Rapidamente.

J.D. observou enquanto Payton se apressou em sair, com cuidado para


nunca mais olhar na direção de Ben. Dirigiu-se até uma escada, a poucos
metros de distância.

— Jameson! — Ben o chamou do outro lado da garagem.

Como J.D. esperava, enquanto Ben se aproximava, ele foi atingido por
um medo súbito: e se Ben propositadamente ou acidentalmente, dissesse algo
sobre um deles ou sobre o que a empresa tinha decidido fazer, ou sobre qual
parceiro havia escolhido? E nesse momento, J.D. não queria admitir. Ele
começou a se perguntar se Payton estava certa em pensar que os dois poderiam
começar numa boa após a decisão da empresa.

Deixando o pensamento de lado, J.D. sorriu quando Ben caminhou até


ele, na esperança de jogar o estilo casual e inocente. — Ben, Olá.

— Para onde é que Payton correu? — perguntou Ben.

— Payton?

— Sim, Payton. Ela estava de pé aqui, falando com você, apenas um


segundo atrás.

Disse com casual inocência.

— Oh, Payton. — disse J.D.. Ele começou a imaginar o teatro em sua


cabeça. — Ela esqueceu seu cartão chave lá em cima. Ela me viu e pediu para
pegar o meu emprestado para que ela pudesse voltar e subir para pegar. — não
foi tão ruim quanto J.D. pensou. Isso realmente parecia plausível.

Ben assentiu. — Certo, certo, seu cartão chave. — então, ele se inclinou
para J.D.. — Você acha mesmo que eu sou estúpido é?

— O que você quer dizer?


— Eu vi o quão perto vocês estavam. Do jeito que ela estava se inclinando
para você. — Ben piscou. — Eu acho que você decidiu voltar a esse tema mais
uma vez, hein?

J.D. sentiu seu coração parar.

— Eu não sei do que você está falando, Ben.

Ben sorriu maliciosamente. — Você pode soltar a charada,


Jameson. Somos só nós dois aqui. Ou eu deveria chamar os responsáveis dos
Recursos Humanos e dizer que você está trepando com Payton novamente? —
ele abaixou a voz. — Vocês pelo menos, podem fazer isso fora do seu escritório
desta vez? — rindo, ele deu um tapinha no ombro de J.D..

J.D. fechou os olhos.

Cinco malditos minutos.

Se ele tivesse deixado seu escritório apenas cinco minutos depois, nada
teria acontecido.

— Tudo bem, tudo bem. — Ben estava dizendo. — Você mantém os


detalhes sujos para si mesmo neste momento. Provavelmente é melhor que eu
não saiba. — com uma piscadela, ele disse para J.D. ter uma boa noite, então foi
na direção do carro dele.

J.D. esperou, observando quando Ben virou a esquina e finalmente


desapareceu de vista. Em seguida, ele esperou um pouco mais, tentando decidir
se havia alguma chance de Payton não ter ouvido a conversa. Ele caminhou
lentamente para a escada onde ela havia se escondido para evitar Ben. Assim
que ele virou a esquina, sabia que não havia nenhuma chance de que ela não
tivesse ouvido absolutamente tudo.

A boca de Payton estava definida em uma linha sombria. — Diga-me, que


eu entendi errado.

Mais do que tudo, J.D. desejava que ele pudesse dizer isso a ela. — Foi há
muito tempo, Payton. — ele disse calmamente.
Seus olhos escureceram de raiva. — Foi a muito tempo atrás que você o
que? Que você mentiu pra Ben e disse que dormimos juntos?

— Sim.

Ela recuou surpresa, e J.D. sabia que parte dela esperava que houvesse
alguma outra explicação para o que ela tinha ouvido. Ela olhou para ele com
uma expressão de traição. — Diga-me o que você disse a ele.

— Não é importante. — J.D. disse a ela, embora soubesse que não era
verdade.

— Eu ouvi Ben perguntar. Seja qual for a mentira que você disse a ele, eu
quero saber. Eu acho que você me deve pelo menos isso. — disse Payton
friamente.

J.D. teve que desviar o olhar incapaz de encontrar o dela. Quando ele
hesitou, ele ouviu a fluência do pânico na voz de Payton.

— Oh, Deus, J.D.! Ele é meu chefe! O que você disse a ele?

J.D. virou-se para encará-la. Ela estava certa. Ela deveria saber
exatamente o que havia sido dito. E ele precisava parar com seus erros. Assim,
ele preparou-se para o inevitável.

— Eu disse a ele que fizemos sexo em cima da minha mesa uma noite,
depois que todos foram embora.

Payton piscou. — Por quê? Por que você disse isso?

J.D. odiava que ele era aquele a colocar essa expressão de dor no rosto
dela. Ele tentou desviar o olhar dela, mas não conseguiu. Ela atacou novamente
para confrontá-lo. — Sabe o que a fofoca pode fazer com uma reputação?
Particularmente a reputação de uma mulher? — ela sussurrou. — Por que você
diria algo assim para Ben? Para ajudá-lo a chegar à frente? Olhe para mim,
J.D.! Diga-me!
Quando J.D. olhou para ela, viu toda a raiva e desconfiança em seus olhos
mais uma vez. Ele cerrou o maxilar. — Eu não sei Payton. Talvez eu seja o idiota
que você sempre pensou que eu fosse.

Foi um balde de água fria... ele sabia. A única alternativa era a verdade, e
a verdade - pelo menos com o jeito que ela estava olhando para ele - não parecia
ser a opção mais viável.

Payton olhou para ele com uma expressão de incredulidade. — É isso


aí? Isso é tudo o que você vai dizer?

— Realmente existe alguma coisa que eu poderia dizer que faria alguma
diferença? — J.D. estava certo de que já sabia a resposta para isso.

E aqui ele pensou que seus olhos não poderiam ficar mais frios.

Quando Payton se afastou dele, seu olhar era absolutamente gelado. —


Eu acho que nós nunca saberemos. — ela disse em um tom uniforme, sem
emoção.

Então ela se virou e foi embora.


Capítulo Vinte e Seis

— P or que

diabos o seu celular não está ligado?

Fora da Wrigley Field, J.D. invadiu a cabine onde Tyler esperava,


zangado demais para se preocupar com uma saudação.

Tyler não pareceu notar a frustração na voz de J.D.. Ele pegou seu celular
e olhou para ele com naturalidade.

— Eu gostaria que você olhasse para isso, a bateria acabou. Eu devo ter
esquecido de checar isso. Oh, bem.

J.D. poderia ter estrangulado ele. Três semanas atrás, Tyler tinha
sugerido ir a um jogo na noite anterior à decisão da parceria, como uma
distração. Na época, parecia uma ótima ideia. Mas agora, depois de tudo que
tinha acontecido com Payton, o beisebol era a última coisa que estava em sua
mente.

— 'Oh, bem?'. — disse. — Eu tenho tentado ligar pela última hora.

— Sinto muito. — Tyler inclinou a cabeça. — O que você queria?

— Te dizer que eu não vou esta noite.

— Você veio aqui para me dizer que você não vai? — perguntou Tyler.

— Sim. — J.D. disse, exasperado.

— Mas se você não vai... então como você está aqui? Espera, isso é uma
espécie de coisa de viagem no tempo? Se assim for, você tem que me dizer como
isso funciona, porque eu realmente gostaria de voltar para sábado à noite e dizer
a mim mesmo para não levar para casa a senhorita Looney Tunes, porque
aquela garota tem...

— Dane-se isso. — J.D. se virou, cortando Tyler. — Eu deveria ter deixado


você ficar aqui fora esperando a noite toda. — ele começou a caminhar de volta
para seu carro. Normalmente, ele poderia tomar toda a merda que Tyler queria
repartir. Mas não esta noite.

— Ei, J.D., vamos. — disse Tyler, seguindo-o. — Eu só estou brincando


com você. Espere um segundo.

J.D. abrandou e, finalmente, virou-se.

Tyler viu o olhar em seu rosto. — O que aconteceu?

J.D. olhou para o céu, balançando a cabeça. Ele ainda não conseguia
acreditar nele mesmo.

Vendo a reação dele, Tyler deu um palpite. — A empresa. Disseram-lhe a


sua decisão. — disse ele em um tom sombrio.

J.D. riu amargamente. — Eu desejava que fosse isto. — ele ficou


impressionado com a sua escolha de palavras. Essa era uma declaração
considerável para fazer.

Tyler parecia menos surpreso. Passou por cima e colocou a mão no


ombro de J.D.. — Assim, então. Você quer me dizer o que aconteceu com
Payton?

J.D. não sabia por onde começar. Ele passou a mão pelo cabelo. —
Eu... uau, eu totalmente estraguei tudo.

Tyler assentiu. — Eu vou dizer que, estamos nós dois aqui, e eu já tenho
os bilhetes. Vamos entrar, tomar uma cerveja, e você pode me contar tudo.

J.D. sabia que Tyler tinha comprado camarote, apenas cinco fileiras atrás
do banco de suplentes, e se sentiu mal deixando o dinheiro do seu amigo ir para
o lixo. Além disso, a parte sobre a cerveja não parecia uma má ideia. Ele ia
precisar de algum álcool, - provavelmente de vários, de fato, - apenas para poder
ter essa conversa.

— Ok. — ele concordou. Ele seguiu Tyler para dentro do estádio.

***

Ficar acabou por ser uma ideia surpreendentemente boa.

Era mais fácil para J.D. falar fingindo manter um olho sobre o
jogo. Discutir suas emoções não era exatamente algo que vinha naturalmente
para ele, e o jogo deu-lhe a oportunidade de olhar longe de Tyler durante certas
peças-chave da conversa.

Ele contou para o seu amigo sobre o fim de semana em Palm Beach, a
respeito das hesitações de Payton sobre a decisão da sociedade, e o que ela havia
dito a ele na garagem apenas algumas horas atrás.

Que o levou, então, para a conversa que Payton tinha ouvido entre ele e
Ben, e mais importante, para a mentira que ele tinha dito a Ben há vários anos.

Foi aqui que J.D. parou. Por mais que ele pudesse querer encobrir
determinada parte da história, ele sabia que não ia acontecer.

Tyler, que tinha ficado relativamente calmo até este ponto, passou a mão
sobre a boca, e então exalou alto. — J.D.... isso é muito ruim.

— Eu sei.

— Como é que Payton reagiu quando você admitiu o que você disse a
Ben?

— Não muito bem. — J.D. olhou por cima em Tyler. — Ela queria saber o
porquê. Então eu disse a ela que eu sou um idiota.

— E eu estou supondo que isso não melhorou nada.


— Não, não melhorou.

Tyler olhou para J.D. com expectativa. — Então? Você, pelo menos, vai
me dizer a verdade?

J.D. levou um momento, depois olhou de volta para o jogo. — Foi a


alguns anos atrás, na festa de natal da empresa. Payton tinha trazido um
encontro, algum escritor que ela conheceu na academia ou algo assim, e eles
estavam no bar pegando uma bebida. E me lembro, enquanto eu a
observava... eu acho que foi o jeito que ela sorriu para o rapaz. O jeito que ela riu
de algo que ele disse. Isso me fez pensar, me fez pensar como seria se... — ele
limpou a garganta. — De qualquer forma, Ben me pegou olhando para ela, e ele
me encurralou no dia seguinte no escritório e fez algumas piadas sobre
isso. Entrei em pânico, pensando que ele poderia dizer algo na frente de Payton,
então eu inventei uma história que eu pensei que iria tirá-lo de cima de
mim. Uma história que faria... que parecesse que as coisas fossem menos do que
eram.

— Fazer as coisas parecerem ser menos do que eram?

J.D. fez uma pausa. Então ele lentamente olhou Tyler diretamente nos
olhos. Ele não disse uma palavra. Ele não precisava.

— Por quanto tempo? — perguntou Tyler, chocado.

J.D. considerou isso. — Cerca de oito anos, eu acho.

— Você está brincando comigo. — a expressão de Tyler foi de descrença.


— Todo esse tempo.

— Praticamente, sim.

— Esse tempo todo.

— O que você precisa saber, como, o momento exato? — perguntou J.D..

— Bem, agora que você mencionou, eu estou tipo curioso. Espere, deixe-
me adivinhar, desde o primeiro momento em que a conheceu. — Tyler brincou.
— Na verdade, não, espertinho. — J.D. fez uma pausa. — Foi o segundo
momento. — Eu acho que você vai ter que descobrir por si mesmo, J.D.
Jameson. Sim, ele passou anos tentando negar, até para si mesmo, mas aquele
olhar dissimulado dela tinha praticamente o destruído.

Tyler riu. — Sem ofensa, J.D., mas não é um pouco profundo para você?

— Eu consegui permanecer muito raso em praticamente todos os outros


aspectos da minha vida. Eu acho que equilibra.

Tyler assentiu. — Bom ponto.

A multidão ao seu redor, de repente rugiu e as coisas ficaram feias


quando as pessoas começaram a vaiar o árbitro. Por alguns minutos, J.D. e
Tyler estavam distraídos, varridos no jogo. Em seguida, os fãs se acalmaram
convencidos de que sua indignação foi devidamente expressada, e todos
voltaram para suas cervejas, cachorros-quentes e amendoins. Eram fãs do
Cubs66 - eles tiveram mais uma decepção rapidamente.

Tyler e J.D. pediram outra rodada de cerveja de um vendedor que


passava. Depois que entregaram o dinheiro para o vendedor, pegaram as
cervejas e fizeram seu caminho de volta, Tyler se estabeleceu em seu lugar.

— Você tem que dizer a ela, você sabe.

— Eu sabia que você ia dizer isso. — disse J.D.. — Eu não acho que ela vai
entender. Você não viu o olhar em seu rosto quando ela se afastou.

— Mas antes disso, ela veio atrás de você para lhe dizer que queria ficar
com você. Há esperança nisso.

J.D. tomou um gole de sua cerveja. — Mesmo se ela pudesse me perdoar


pelo que eu disse a Ben, acho que ela está certa. No mínimo, isso vai ser um
pouco estranho entre nós após a decisão da empresa. E haverá tensão,
muita. Talvez até mesmo ressentimento. — ele trocou a cerveja entre suas

66
Cubs ou Chicago Cubs é uma equipe de beisebol de Chicago, Illinois.
mãos. — Eu não quero começar algo com ela que está destinado ao fracasso. Isso
seria pior do que não estar com ela, eu acho.

Tyler se mexeu na cadeira. — Você já pensou... — ele parou, incerto se


deveria mesmo sugerir tal ideia.

— Sim. — J.D. já havia considerado a possibilidade, mesmo que ele não


pudesse dizer isso em voz alta. Ele passou os dedos pelo cabelo. — Eu, uh... ufa.
— ele tomou uma respiração profunda. — Eu realmente não sei se eu poderia
fazer isso. Talvez se eu soubesse que faria a diferença. Talvez.

— Não há nenhuma maneira de saber isso, J.D..

— Eu já compreendi isso, sim.

Tyler agarrou o ombro de J.D.. — Eu gostaria que houvesse mais que eu


pudesse te dizer, amigo. Mas eu acho que você só vai ter que perguntar a si
mesmo o que está disposto a arriscar por uma chance de estar com ela. Isso é
realmente o resumo, não é?

J.D. levou um momento para considerar as palavras do amigo. — Não é


só o trabalho, você sabe. — ele finalmente disse. — Eu gostaria de, pelo menos,
sair de lá amanhã com o meu orgulho. Eu não sou exatamente bom em ser
dispensado.

Tyler riu. — Não diga?

— Você tem algum conselho que é realmente construtivo? Não me


interprete mal, eu gosto de comentários banais e perguntas retóricas, tanto
quanto o cara ao lado, mas você pode pelo menos me ajudar com algo útil?

Tyler ficou sério. — Escute, eu não posso lhe dar algum conselho sobre o
que fazer a respeito da coisa que você não sabe se você pode fazer. Só você pode
tomar essa decisão. Mas em termos de se você deve se colocar em xeque, eu vou
te dizer o seguinte: se eu fosse Payton, e eu tivesse ouvido o que você disse para
Ben, eu não teria sequer me preocupado em dar-lhe a oportunidade de você se
explicar. Eu teria puxado a minha luva branca e dado um tapa em seu rosto e
iria embora.
— Eu só quero esclarecer, neste cenário, estamos também em um
desenho animado de Pernalonga?

— É uma metáfora, J.D..

— Eu acho que sim.

— Tudo bem, eu vou ser mais direto: Você não gosta de ser
dispensado? Bem, muito ruim. Foda-se o seu orgulho, é a única chance que você
tem.

— Você está me pedindo para sacrificar as duas coisas que estão,


provavelmente, mais definidas em toda a minha vida adulta. — disse J.D..

— Eu não estou pedindo que você faça qualquer coisa. — Tyler disse. —
Eu estou apenas dizendo o que eu acho que tem que acontecer, se você quiser
alguma chance de fazer as coisas funcionarem com ela.

J.D. assentiu e ficou em silêncio. Realmente não havia mais nada a dizer
sobre o assunto.

Gostando ou não, ele sabia que Tyler estava certo.


Capítulo Vinte e Sete

P ayton olhou para

fora da janela do seu escritório.

Tinha acabado de descobrir que tinha vista para o lago.

Na verdade, não era uma linda vista. De fato, não era nem uma visão
medíocre, mas se ela olhasse para a direita, lá estava: passando entre dois
grandes arranha-céus pretos, um caminho fino e estreito por onde a água
cristalina do lago Michigan refletia o brilhante azul claro do céu de verão.

Estranho que ela nunca tivesse notado isso antes. Por outro lado, talvez,
não fosse tão estranho - ela não tinha exatamente passado muito tempo no
escritório olhando pelas janelas.

Laney havia ligado e se oferecido para esperar com ela, e embora ela
apreciasse, Payton recusou. Esta manhã seria algo que ela precisaria enfrentar
sozinha. Além disso, ela não seria exatamente uma boa companhia.

Como já tinha feito várias vezes, Payton olhou para o relógio em sua
mesa. Naquele momento respirou fundo e fechou os olhos com força. Dez
horas. Finalmente.

Já era tempo.

Como se fosse uma sugestão, ouviu a batida na porta. Payton virou-se e


viu Irma através do vidro, e acenou com a cabeça.

Irma entrou. — Ben disse que você pode ir para o escritório dele agora.
Payton olhou para outro lado do corredor. Sabia que essa era a hora. No
mesmo instante viu Kathy deixar o escritório de J.D.. Presumivelmente devia ter
acabado de dizer a mesma coisa para ele. Ela podia ver J.D. através do vidro e
notou que ele parecia estar hesitando um pouco.

Se ele estivesse esperando por ela, pensando que iam juntos para o
escritório de Ben, ficaria esperando. Depois do que aconteceu ontem, não havia
absolutamente nada para dizer a J.D. Jameson.

Depois de alguns instantes, Payton saiu e virou-se para o corredor em


direção ao escritório de Ben. Não querendo se atrasar, saiu do seu escritório
com o que esperava ser uma expressão de confiança e otimismo. Mesmo que ela
não sentisse isso, estava determinada a olhar para o lado.

Quando chegou ao escritório de Ben, não encontrou apenas ele, mas


também os outros seis membros da Comissão de Parceria da empresa. Eles se
sentaram em cadeiras em volta da mesa de Ben, formando um
semicírculo. Duas cadeiras vazias foram colocadas na frente dos parceiros,
presumivelmente para ela e J.D..

— Venha Payton! — Ben chamou da sua mesa.

Surpresa ao ver as duas cadeiras vazias, Payton olhou em volta e viu J.D.
em pé em um dos lados da sala. Ele olhou para cima quando ela entrou e por um
momento, Payton estava tentada a desviar o olhar. Então ela pensou O inferno
com isso e olhou diretamente nos olhos dele. Com a cabeça erguida, ela se
sentou em uma das cadeiras em frente à mesa de Ben.

Ben olhou para cima. — J.D.?

Payton manteve o olhar fixo sobre os parceiros quando J.D. tomou o


assento ao lado dela.

— Payton, J.D., obviamente, sabem a razão de estarem aqui. — Ben


começou.

Com o canto do olho, Payton podia ver J.D. olhar em sua direção.
— Nós sabemos como isso é importante para ambos. Sabemos da
dedicação que cada um de vocês tem mostrado para a empresa. Todos nós da
Comissão de Parceria lamentamos profundamente as circunstâncias que nos
obrigaram a fazer esta escolha.

Payton podia sentir os olhos de J.D. repousarem sobre ela. Ben


continuou.

— Vocês dois são advogados muito talentosos, o que tornou a nossa


decisão extremamente difícil. No entanto, a decisão correta já foi feita.

Payton podia ver J.D. se mexer novamente em sua cadeira, quando


percebeu que ele mexia as pernas nervosamente. Finalmente, incapaz de
resistir, ela olhou.

Como se ele estivesse esperando apenas por isso, J.D. sustentou seu
olhar. Seus olhos procuraram os dela, tendo uma expressão no rosto, que
Payton nunca tinha visto antes. Um olhar de incerteza.

Então algo aconteceu. Payton viu um clarão em seus olhos, e ele apertou
o maxilar.

— Tudo bem, Payton. — ele disse. — Foda-se.

Ele se virou para Ben.

— Eu me demito.

A boca de Payton caiu. — O que?

Essa foi a resposta coletiva de praticamente todos na sala.

J.D. se levantou de sua cadeira. — Eu me demito. Com efeito imediato.

— Oh não, você não vai fazer isso. — Payton disse para J.D..

J.D. olhou para ela. — Sim, eu vou.

Nesse momento Payton se levantou também. — Não, realmente, você não


vai. — ela se virou para Ben. — Ignore-o, ele não sabe o que está
dizendo. Qualquer um que conheça J.D. sabe que ele está disposto a fazer
qualquer coisa para conseguir isso.

J.D. mudou-se para o seu lado falando em voz baixa. — Posso falar com
você por um segundo Payton?

— Não.

— Obrigado. — sem mais delongas, ele pegou-a pelo cotovelo e levou-a


para o canto da sala.

Quando chegaram lá, Payton cruzou os braços sobre o peito e abaixou a


voz para que só ele pudesse ouvir. — Como você ousa sequer pensar em tentar
isso. — ela sussurrou. — Eu te disse antes, eu não vou ganhar por piedade.

— Estou renunciando, Payton. — J.D. disse com firmeza. — Mesmo que


me escolhessem, eu não poderia aceitar. Não depois do que eu disse a Ben.

— Tudo bem, eu entendo. Minha culpa. Não me importo - estou pronta


para aceitar a decisão da empresa, seja ela qual for. Pelo menos a partir de hoje,
eu nunca mais vou ter que vê-lo novamente. Então, podemos continuar com
isso? — ela se virou para voltar até sua cadeira, mas J.D. agarrou seu cotovelo
novamente.

— Não. Eu quero falar com você.

— Desculpe você teve sua chance de falar ontem. Agora eu estou focada
em coisas mais importantes.

— O que aconteceu entre nós não é importante para você?

— Você está brincando comigo falando uma merda dessa aqui né? —
Payton fez um gesto para a linha de parceiros que estavam olhando para eles em
total confusão. — Sério J.D.? Você quer falar sobre isso agora?

— Sim. Agora. — ele disse.


— Bom, nesse caso... desculpe, mas ainda mantenho meu não. — Payton
disse. — E a propósito, eu me esqueci de dizer isso ontem à noite: Você é um
idiota.

De sua mesa, Ben olhava enquanto se sentava na cadeira.

— Com licença Payton e J.D.... — ele olhou entre eles, confuso. — Quando
o inferno que vocês dois vão sentar para que possamos começar?

Mil respostas sarcásticas vieram à mente de Payton. Ela foi rapidamente


percorrendo a lista, debatendo se ela poderia dar qualquer uma delas, mas nesse
momento ela sentiu a mão de J.D. em seu braço.

— Eu quero falar com você, Payton. — ele repetiu. — Podemos fazer isso
aqui ou em algum lugar mais privado. Você decide.

Pelo olhar determinado em seu rosto, Payton poderia dizer que ele estava
falando sério. Ela se virou e viu os pares de olhos do Comitê de Parceria
atordoados e extremamente curiosos sobre eles.

Ela sorriu educadamente.

— Poderiam dar-nos licença? Nós só vamos precisar de alguns minutos.

***

Payton e J.D. saíram do escritório de Ben. Virando para o corredor


principal, ambos pararam surpresos com o que viram.

A multidão tinha pelo menos metade do escritório. Eles estavam reunidos


em grandes grupos fofocando. Os advogados, secretárias, assistentes jurídicos,
todo pessoal. Todos ficaram num silêncio absoluto assim que Payton e J.D.
apareceram.
J.D. notou um grupo reunido em torno de Irma e de Kathy. Nele incluía
um muito envergonhado Tyler, que foi pego por seu melhor amigo. E o que
parecia mais suspeito ainda, era como o topo da cabeça de Laney aparecia atrás
da planta, perto da mesa de Irma.

Todos ficaram em silêncio olhando para eles.

J.D. se sentiu compelido a dizer alguma coisa. — Estamos em um


intervalo.

Ele ouviu os sussurros confusos.

Pensando que era melhor se manter em movimento, J.D. seguiu Payton


para um escritório vazio. Uma vez lá dentro, ele fechou a porta e trancou-a.

Payton se afastou dele em direção à mesa vaga. — Obrigada. Você acha


que poderia chamar mais a atenção para a gente?

— Acho que provavelmente poderia, claro.

Ela virou-se. — Você perdeu o direito de ser sarcástico comigo. Ou talvez


você ache que tenho que ficar aqui enquanto você...

J.D. colocou a mão sobre sua boca. — Normalmente Payton, eu adoraria


fazer isso com você. Mas preciso dizer várias coisas e você não está tornando
isso mais fácil. Assim, por agora, eu preciso que você se sente e cale a boca. —
com as mãos em seus ombros, ele a empurrou para a cadeira.

Payton olhou para ele.

Curiosamente, J.D. notou que ela não disse nada. Embora ela realmente
não precisasse, o olhar em seus olhos dizia mais do que toda a escolha de
palavras profanadas lá fora.

Particularmente não era nada encorajador.

Ele começou a andar pela sala. Sentia o olhar de Payton sobre ele
enquanto se movia de um lado para outro.
— Tudo bem, deixe-me começar com a coisa que eu disse a Ben. Eu sei
que foi imperdoável. Arrependi no momento que eu disse. Eu entrei em pânico.
— J.D. olhou para Payton. — Aparentemente, eu tenho essa maneira reveladora
de olhar para você.

Ele parou diante dela. — Talvez você pudesse apenas acenar com a cabeça
dizendo sim ou não, para eu saber que você está entendendo o que estou
dizendo.

Payton balançou a cabeça negativamente. Ainda encarando.

J.D. voltou ao seu ritmo. — Você me deixa louco, você sabe. A maneira
como você vira em seus calcanhares nos saltos, seus terninhos, sua saia, seu
atrevimento, ironia, respostas... e o jeito que você sempre, sempre me desafia
em tudo o que diz e faz. Por oito anos eu tentei chegar à sua frente. Eu tentei
fugir de você Payton, e eu não consegui.

Ele parou diante dela esperando. — Agora você vê onde estou indo com
isso?

Mais uma vez, Payton balançou a cabeça negativamente. Mas o deixou


falar.

J.D. assentiu. Porcaria. Ele tomou uma respiração profunda.

— Eu estou apaixonado por você, Payton.

Sua boca se abriu. Em seguida, fechou e abriu novamente.

J.D. percebeu que não havia como voltar atrás. — Eu estive apaixonado
por você desde o início. Você perguntou por que não há mais ninguém na minha
vida, e a razão... é você. — ele limpou a garganta. — Eu sei que tenho agido de
outra forma. Eu sei que tenho sido terrível para você. Isso foi um mecanismo de
defesa. Idiota, mas foi. Porque a verdade é que todos os dias durante os últimos
oito anos, eu queria que você olhasse para mim do jeito que você fez quando nos
conhecemos.
Ele esperou que ela dissesse alguma coisa. — Se isso faz significa algo
para você, sinta-se livre para falar.

Payton assentiu. Ela parecia em estado de choque, e para J.D. o silêncio


era angustiante.

Então o impensável aconteceu.

Uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Ela riu encabulada e limpou-a. —
Desculpe. Eu só fico pensando... — ela olhou para suas mãos livres — Como
perdemos tempo... — ela olhou para ele. — Por que você nunca disse nada?

A lágrima caiu totalmente. J.D. ficou de joelhos diante dela. — Eu sei


cupcake. Eu gostaria de poder voltar, eu gostaria de poder ter tudo de volta. —
ele limpou a lágrima de seu rosto. — Mas estou dizendo agora. E não me diga
que é tarde demais.

De repente, houve uma batida e a voz de Ben chamou através da porta. —


Payton? J.D.? Está tudo bem aí? Isso é extremamente incomum.

J.D. observou a maçaneta da porta girando. Ele ouviu Ben falar com
alguém no corredor. — Chame a manutenção. Descubra se eles têm uma chave
reserva para esta porta.

Percebendo que estava correndo contra o tempo, J.D. se virou para


Payton. — Você estava certa quando disse que esta decisão de parceria nos
dividiria. Mesmo deixando a empresa escolher, nunca vai funcionar. Somos
orgulhosos demais. Isso foi para o nosso próprio bem. É por isso que eu estou
renunciando.

Payton balançou a cabeça. — Muito orgulhoso ou não, eu não quero fazer


parceria dessa forma.

— Eu sei. Então... em vez disso... eu estava esperando que você viesse


comigo.

Os olhos de Payton se arregalaram com a sugestão. Ela mordeu o lábio


ansiosamente. — Eu realmente não sei se eu poderia fazer isso, J.D..
Houve outra batida na porta, mais firme desta vez. — Tudo bem, vocês
dois, eu gostaria que vocês abrissem esta porta. Seja o que for, está ficando
ridículo.

J.D. sustentou seu olhar. — Nós podemos fazer isso, Payton. Não temos
que aceitar que eles nos separem - essa foi a decisão deles, não a nossa. A
melhor parte deste trabalho é que eu posso passar todos os dias com você. Ter
você ao meu lado, a um olhar da minha porta. E eu não quero perder isso.

— O que está dizendo? Que nós devemos mudar para outro


escritório? Você realmente acha que nós poderíamos encontrar um lugar que
nos aceitasse como parceiros?

— Sim. O nosso lugar. Eu quero que nós comecemos nossa própria vida.

Payton riu. — Isso é ridículo.

J.D. balançou a cabeça negativamente. — Não, não é. Basta olhar para o


caso Gibson. Nós trabalhamos muito bem juntos. E você sinceramente quer ir a
algum lugar que vai ser novamente a mesma coisa? O mesmo estilo de vida? As
mesmas horas de trabalho? Você não gostaria de trabalhar para si mesma e
controlar sua própria programação? Talvez até mesmo ser capaz de tirar férias
uma vez que seja?

— Tudo isso soa muito bom, mas é um grande risco. — Payton disse.

— Realmente? Você e eu somos bons advogados. Iniciando a nossa


própria empresa agora, provavelmente é o mais inteligente que nós poderíamos
fazer.

Outra batida. Neste ponto, Ben soou extremamente chateado quando ele
gritou através da porta. — Eu apenas pensei que deveria informar que um
homem de manutenção está vindo abrir a porta.

J.D. voltou. — Nós estamos sem tempo, Payton. Você mesma disse: a
única maneira de fazermos isso, é juntos. Eu sei que podemos fazer isso. Mas eu
preciso que você acredite. Você precisa acreditar... em nós.
Payton não disse nada por um longo momento e J.D. poderia
literalmente ouvir seu coração batendo.

Então ela finalmente respondeu.

— Teria que chamar Kendall e Jameson.

Demorou alguns instantes até J.D. entender o que ela disse. Então ele
sorriu. — De jeito nenhum. Jameson e Kendall. É a ordem alfabética.

— Você disse ao nosso chefe que você me comeu em cima da sua mesa.

— Kendall e Jameson, soa perfeito.

Payton sorriu vitoriosa.

— Então, nós realmente vamos fazer isso juntos? — J.D. perguntou.

Ela estendeu a mão. — Devíamos apertar as mãos?

Ele pegou a mão de Payton e levantou-se, puxando-a para ele.

— Eu quero ouvir você dizer isso. Vamos mesmo fazer isso juntos Payton?

Ela assentiu com a cabeça. — Sim.

— Bom... então você deve saber que a partir de hoje, eu nunca, nunca
mais na minha vida, quero passar um dia que seja sem você.

A expressão de Payton mudou e o sorriso alegre transformou-se em algo


mais profundo. Ela aproximou-se de J.D. tomando as mãos dele.

— Feito. — ela disse suavemente.

J.D. levou a sua mão ao rosto dela e a beijou. Mais suavemente do que
nunca, mais persistente, porque pela primeira vez, ele sentiu que absolutamente
nada pairava sobre suas cabeças, nada mais estava entre eles. Eles teriam todo o
tempo do mundo.
Exceto pelo homem irritado batendo incessantemente na porta. E pela
multidão de pelo menos uma centena de pessoas esperando impacientemente
no corredor.

Com todos os rumores que vinham do outro lado da porta, Payton se


afastou. — Acho que deveríamos sair.

J.D. sorriu maliciosamente. — Na verdade, há algo que eu gostaria de


fazer primeiro.

— É mesmo? — ela perguntou. — Oh, eu entendo... a mesa vazia está lhe


dando algumas ideias?

— Só para eu ter uma noção, quanto tempo, ainda, isso será usado contra
mim?

— Mais do que um dia. — ela disse com um sorriso doce.

— Bem, sua mente pode estar na sarjeta, mas eu estava pensando em


outra coisa. — J.D. puxou o celular do bolso do paletó e rolou até encontrar um
número. Ele estendeu o telefone e mostrou para ela. — O que você acha?

Payton olhou para o número na tela. — Se fizermos isso, não há como


voltar atrás.

— Eu sei.

Ela sorriu. — Eu realmente gosto da maneira como você pensa J.D.


Jameson. Vamos fazê-lo.
Capítulo Vinte e Oito

Q uando a porta se

abriu e Payton e J.D. saíram, a multidão que se reunia em frente ao escritório se


acalmou imediatamente.

No centro, à frente, estava Ben, que foi até eles com um olhar que dizia
que ele estava completamente irritado. — Terminamos com o teatro
agora? Podemos finalmente terminar isso?

Payton assentiu. — Na verdade Ben, isso está terminado. Porque eu


renuncio, também.

Ela podia jurar que ouviu várias pessoas ofegarem.

Os olhos de Ben se estreitaram. Ele olhou entre ela e J.D.. — Que tipo de
besteira é essa? Você dois renunciaram?

— Sinto muito, Ben. Mas você forçou a mão. — disse J.D.. — Payton e eu
decidimos ficar juntos.

Payton ouviu um “ohhh” vindo da multidão atrás dela, com uma voz que
soou suspeitosamente como Irma.

Mas Ben não estava pronto para se dar por vencido ainda. Ele levantou
um envelope lacrado. Seu trunfo. — Eu tenho uma carta oferecendo a parceria
que eu acho que vai mudar uma das suas mentes.

Nem Payton, nem J.D. se moveram.

Ben olhou entre eles, atordoado. — Vocês pelo menos não querem saber
quem nós escolhemos?
Inferno, sim. Payton não iria negar que parte dela estava tentada a pegar
o envelope da mão de Ben rasgá-lo e abrir ali mesmo.

Mas.

Ela olhou para J.D., que olhou para ela, e ela sabia que ele estava
pensando a mesma coisa.

Algumas questões eram melhor ficar sem resposta.

Percebendo que nenhum deles ia morder, Ben empurrou o envelope no


bolso interno do paletó. — Vocês dois são loucos. — ele retrucou.

— Sim. Mas só por não termos feito isso antes. — disse J.D..

— Você não deveria ter deixado chegar a isso, Ben. J.D. e eu merecemos
isso. — disse Payton. — E se essa empresa valoriza a alavancagem estratégica
sobre o compromisso que temos demonstrado ao longo dos últimos oito anos,
então, francamente, vocês não nos merece.

J.D. olhou para ela com aquele olhar “divertido”. — Discurso legal.

— Obrigada. Trabalhei nele enquanto você estava no telefone.

J.D. inclinou a cabeça na direção do corredor atrás deles. — Nós


devemos?

— Sim. — incapaz de evitar, os olhos de Payton foram para o bolso da


jaqueta de Ben onde ele tinha escondido o envelope.

J.D. riu e estendeu a mão. — Vamos lá, cupcake, vamos embora.

Payton lançou um olhar. — Eu não posso acreditar que você acabou de


me chamar disso na frente de todo o escritório.

Ela pegou a mão dele, e lado a lado, eles caminharam pelo corredor do
escritório, além dos seus escritórios, para os elevadores e à saída.

J.D. sorriu. — Eu disse a você, é cativante.


— Não, é paternalista e quase-sexista. Eu não consigo pensar em um
nome comparável que uma mulher pode chamar um homem.

— Eu sei. Isso é o que torna tão legal.

Etc.

***

Tão logo as portas fecharam, o escritório virou um pandemônio


completo. A principal preocupação, é claro, foram as apostas, e como lidar com
a questão da dupla perda.

O Time Kendall, liderado por Laney, devidamente constatou que a


declaração de Payton para Ben tinha sido - eu renunciei, também. -
evidenciando que J.D. tinha, de fato, renunciado em primeiro lugar, tornando
assim Payton a vencedora, mesmo que apenas por alguns breves momentos.

O Time Jameson, no entanto - encabeçado por Tyler, contando com os


boatos e testemunhos secretamente adquiridos a partir de um dos membros da
Comissão de Parceria que estavam dentro do escritório de Ben - argumentou
que, embora J.D. tinha tentado renunciar primeiro, a renúncia ao emprego não
fora aceita, já Payton tinha exigido sua renúncia, assim, a sua declaração a Ben
de “eu renuncio, também” foi, de fato, a primeira e única demissão oficial,
tornando J.D. o vencedor.

No meio do caos, Marie, a secretária de Ben, caminhou até ele e


sussurrou que ele tinha um telefonema.

— Anote o recado. — Ben falou. Quem quer que fosse, poderia esperar.

Marie pareceu incerta. — Ele insistiu em falar com você imediatamente.

Ben não estava de bom humor. — Lide com ele, quem quer que seja. —
disse ele, passando por ela.
— É Jasper Conroy.

Ben parou em seu caminho.

Eles não fariam.

Ele acenou para Marie. — Vou atender. — não querendo perder mais um
minuto, ele se dirigiu para seu escritório. Ele viu a luz piscando em seu telefone
e imediatamente atendeu.

— Jasper! É bom ouvir você. Como estão as coisas em Palm Beach?

O sotaque de Jasper veio do outro lado da linha. — Bem, fico feliz que eu
peguei você. Escute, eu tenho pensado ultimamente sobre fazer um pouco de
reestruturação na equipe de julgamento da Gibson... eu estou preocupado que
nós estamos aprofundando um pouco demais no lado advogado. Então eu
decidi colocar o meu negócio em outro lugar, em uma empresa menor.

Ben olhou para o teto. — E quem poderia ser?

— Uma equipe nova, na verdade. Acabei de receber o telefonema hoje,


dizendo que eles estão abertos para negociar.

— Jasper, você não pode estar falando sério sob...

— Lealdade, Ben. Eu não teria chegado onde estou hoje sem isso. Que é
algo que você deveria considerar.

— Não seja um idiota só para provar um ponto, Jasper. Você não pode
entregá-los um caso de duzentos milhões de dólares.

— Oh, eu acho que posso. — disse Jasper. — Eu te disse, eu tenho um


pressentimento sobre esses dois. Eu acho que você vai ver grandes, grandes
coisas vindas deles. — ele riu. — Te vejo por aí, Ben. Ah, sim, e obrigada pela
introdução.

Ben ouviu o clique quando Jasper desligou. Ele colocou o telefone no


gancho e olhou para ele.
Eles realmente fizeram isso.

Filhos da puta.

***

Tão logo a porta do elevador se fechou atrás deles, Payton enfrentou J.D.,
esfregando as mãos ansiosamente. — Então. Nós vamos ter que contratar
colaboradores de imediato. Quantos você acha que precisamos para
começar? Cinco?

— Dez.

— Hmm... provavelmente você está certo. — refletiu. — Eu certamente


não planejo que Jasper seja nosso único cliente por muito tempo. Assim que ele
apresentar uma moção para substituir o advogado da Gibson, as pessoas vão
querer saber quem somos.

J.D. encostou-se na grade de elevador. — Podemos lançar uma curta


declaração à imprensa com nossas informações de contato.

— O que significa que nós também precisamos ter um grande escritório e


uma equipe administrativa. — Payton notou.

— Tenho certeza de que podemos conseguir Irma e Kathy para vir junto -
elas devem ser suficientes para cobrir-nos por um curto prazo.

Payton assentiu. — Sim. Bom. Certo. — ela respirou fundo e sorriu. — Eu


não posso acreditar que estamos fazendo isso.

J.D. levantou uma sobrancelha. — Pensando melhor?

Payton balançou a cabeça definitivamente. — Não. — muita coisa


aconteceu nos últimos minutos e ainda estava tentando processar tudo. Ela
estendeu a mão e puxou as lapelas do terno de J.D.. — Você está tão calmo.
— E eu pretendo continuar assim, pelo menos pelas próximas
semanas. Não que eu acho que vai ser particularmente difícil, considerando
onde estamos indo.

— Onde estamos indo? — Payton repetiu. — Ooh... para onde nós


estamos indo?

— Você se esqueceu? — perguntou J.D.. — Você fez parceria, embora


numa empresa diferente, mas você disse que era o que você queria.

Payton tinha que pensar. Em seguida, estalou. — Bora-Bora?

J.D. sorriu. — E eu estou estabelecendo uma lei agora: não haverá,


absolutamente nenhum celular, correio de voz, e-mail, ou laptops.

— Uau. O que vamos fazer com todo esse tempo livre?

J.D. agarrou o casaco de Payton e puxou-a para mais perto. — Eu tenho


certeza que vamos chegar a algo.

Payton passou os braços em volta do pescoço dele. — Contanto que nós


realmente façamos na água dessa vez.

— Estou certo de que podemos lidar com isso. — disse J.D. com um
sorriso. — Eu ouvi que esses bangalôs sobre a água são muito particulares.

— Um bangalô sobre a água? — perguntou Payton. Caramba, ela tinha


esquecido sobre o estilo Jameson de fazer as coisas. — Eu não acho que eu quero
saber o quanto algo como isso custa por noite.

J.D. se afastou e a olhou nos olhos. — Tudo bem, Payton, vamos lidar
com isso agora, tire do caminho. Você conhece as estimativas, assim como eu, os
honorários advocatícios da Gibson para o primeiro ano devem ser algo em torno
de vinte milhões de dólares. E agora, graças a nossa brilhante manobra, que,
para registro, foi iniciada por mim, só existem dois parceiros que irão dividir
essas taxas. Você e eu. — ele a pegou pelos ombros. — O que significa que você
vai ser uma mulher muito, muito rica, Payton Kendall.
Payton olhou para J.D. enquanto absorvia isso. É claro que ela sabia que
desembarcar com a Gibson como um cliente seria um golpe para os dois. Mas
ela estava tão presa com o que estava acontecendo entre ela e J.D., que não
tinha parado e feito as contas sobre exatamente quão grande tinha sido o golpe
de Estado.

Ela e J.D. estariam dividindo cerca de US $ 20 milhões em honorários


advocatícios no primeiro ano.

Claro, haveria despesas comerciais, associados e salários do pessoal


administrativo, despesas gerais de escritório, etc. Mas ainda assim.

Vinte milhões em honorários advocatícios.

Vinte milhões.

J.D. sorriu. — Diga alguma coisa, Payton.

Ela fechou os olhos e gemeu. — Minha mãe vai me matar.

J.D. riu. — Compre para ela mil créditos de carbono. Ela vai superar isso.

O elevador parou, e quando as portas se abriram, ele pegou a mão de


Payton e saiu. Eles atravessaram o estacionamento em direção ao carro de
J.D.. — E se isso não funcionar, então eu vou falar com a sua mãe e as coisas
ficarão mais suaves. — ele disse com segurança.

Eles pararam no Bentley. J.D. abriu a porta do passageiro.

Payton sorriu quando ela começou a subir. — Eu te amo por sua


confiança, J.D.. Quão equivocada ela pode estar nessa situação particular.

J.D. de repente a bloqueou com seu braço.

Payton olhou para trás, surpresa.

Ele inclinou a cabeça. — O que você acabou de dizer?

Payton tentou pensar. — O que? O que acabei de — ohhh... — ela cobriu a


boca. — Eu disse isso, não disse?
— Eu não tenho certeza. — disse J.D.. — Havia um monte de incoerência
acontecendo aqui. Você poderia repetir isso?

Payton fingiu indiferença. — Isso é necessário? Quer dizer, não é o que


eles dizem, que as ações falam mais que palavras?

Com um olhar - provavelmente aquele que estava constantemente


recebendo quando estava em apuros - J.D. deu um passo mais perto dela. — E
quais ações poderiam ser?

Payton de repente, estava consciente de que estava presa entre J.D. e o


Bentley. Essa era tipicamente a parte onde os dois começavam a ter problemas.

— Bem, para começar, eu não teria saído da empresa, se eu não tivesse,


pelo menos, alguns sentimentos por você. — ressaltou.

— Você poderia ter feito isso, porque era uma jogada inteligente para sua
carreira. — disse J.D..

— Verdade, verdade. — Payton admitiu. — Mas eu estou indo para Bora-


Bora com você, o que diz alguma coisa, não é?

— Talvez você esteja me usando para o sexo.

— Essa é uma possibilidade... — Payton ponderou. Ela estendeu as


mãos. — Tem que haver algo que eu possa apontar. Espere, eu sei.

Ela tocou o rosto de J.D.. — E sobre o fato de que, através do bom e do


mau, você é praticamente o único homem que eu tenho pensado nos últimos
oito anos? Será que isso quer dizer alguma coisa?

J.D. colocou delicadamente uma mecha de cabelo atrás da orelha dela. —


Eu acho que sim.

— Bom. Ou em vez disso, o que você diria se eu dissesse que eu te amo? —


Payton olhou em seus olhos. — O que você diria, J.D. Jameson, se eu te dissesse
isso? — J.D. sorriu. Ele tocou a testa de Payton, fechou os olhos e lhe respondeu
com uma palavra.
— Finalmente.

Fim

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