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Para Jackson
Sinopse
Mas tudo é possível quando eles são convidados a unir forças em um caso
importante. Embora apreensivos no começo, eles começam a apreciar a
dedicação um do outro à lei - e as faíscas entre eles rapidamente se transformam
em atração. Mas a conexão cada vez mais quente não dura muito tempo, quando
eles descobrem que apenas um deles será nomeado sócio. Agora é uma guerra
total. E a batalha entre os sexos obriga esses advogados a ficarem perturbados.
Capitulo Um
O despertador tocou
às 5h30.
Payton tinha um plano para esta manhã - ela tinha posto o despertador
para acordá-la uma meia hora mais cedo do que o habitual. Havia um propósito
para isso: ela tinha observado a rotina diária dele e deduziu que ele chegava ao
escritório todas as manhãs as 07h:00. Gostava de ser o primeiro no escritório,
ela sabia. Nesta manhã, no entanto, ela estaria lá quando ele entrasse.
Esperando.
Ele estaria usando um dos seus ternos de grife, os quais Payton sabia que
ele tinha mandado fazer sob medida, pois só assim para servir-lhe tão bem. — O
homem sabe como usar um terno. — ela tinha ouvido uma das secretárias dizer
enquanto bisbilhotava pela cafeteira na sala de descanso do quinquagésimo
terceiro andar. Payton tinha resistido ao impulso de acompanhar o comentário
da secretária com um dos seus, para que ela não revelasse os seus sentimentos
em relação a ele, os quais ela tinha lutado para manter tão cuidadosamente
escondidos.
A viagem pelo ‘L’1 para o escritório foi tranquila, com muito menos
passageiros no início da manhã. A cidade parecia estar acabando de acordar
enquanto Payton andava ao longo do rio Chicago, os três blocos para o seu
escritório de advocacia. O sol da manhã brilhava perto do rio, lançando um
suave brilho dourado. Payton sorriu para si mesma enquanto atravessava o
saguão do prédio; ela estava em um estado de espírito tão bom.
1
É um sistema de trânsito rápido em Chicago.
Seu entusiasmo cresceu quando o elevador subiu para o quinquagésimo
terceiro andar. Meu andar. Andar dele. A porta se abriu, revelando um corredor
de escritórios escuros. As secretárias não chegariam por pelo menos duas horas,
o que era bom. Se tudo ocorresse como planejado, ela tinha algumas coisas a
dizer para ele e agora seria capaz de falar livremente, sem medo dos dois serem
ouvidos.
J.D. JAMESON.
Nossa, como a simples menção desse nome faz seu pulso acelerar...
Mas - como? Isso não podia acontecer. Ela tinha se levantado nessa hora
ridícula para chegar primeiro. E os seus planos, seus grandes planos? O passeio
descontraído pela impressora, a forma como ela deveria sorrir com confiança e
dizer: Bom dia, J.D.?
O pulso de Payton disparou. Ela não conseguia evitar, apenas ouvir sua
voz tinha esse efeito sobre ela. Ela se virou e lá estava ele.
J.D. Jameson.
Payton fez uma pausa para olhá-lo de novo. Ele parecia tão
essencialmente J.D., com o paletó fora e sua clássica calça risca de giz azul
marinho sob medida e sim, seu cabelo castanho claro de um estilo
perfeitamente jovial. Ele estava bronzeado - provavelmente de ficar fora
jogando tênis ou golfe no fim de semana - e ele deu-lhe um dos seus sorrisos
com perfeitos-dentes-brancos enquanto se inclinava casualmente contra o
aparador atrás dele.
— Eu disse: 'Bom dia'. — repetiu ele. E assim Payton fez o que sempre
fazia quando ela via J.D. Jameson.
— Bom dia, J.D.. — ela respondeu com aquele tom sarcástico que
reservava só para ele.
Ela observou com satisfação como a resposta dela tirou o sorriso do seu
rosto. Touché. Com uma atitude fria, calma e bem praticada, ela se virou em
seus calcanhares e se dirigiu pelo corredor até seu escritório.
Uma coisa tão boba, Payton pensou. Esta competição interminável que
J.D. tem com ela. O homem claramente passa muito tempo focado no que ela
está fazendo. Tem sido assim desde... bem, sempre, desde quando ela consegue
se lembrar. Graças a Deus ela estava acima desse absurdo mesquinho.
Payton chegou a seu escritório e fechou a porta atrás dela. Ela colocou a
maleta em cima da mesa e sentou-se na cadeira revestida de couro. Quantas
horas ela tinha ficado nessa cadeira? Quantas noites ela tinha perdido? Quantos
fins de semana ela havia sacrificado? Tudo em busca de mostrar à empresa que
ela seria uma ótima associada - que ela era a associada superior em sua classe.
Através do vidro em sua porta, ela podia ver do outro lado do corredor o
escritório de J.D.. Ele já estava de volta à sua mesa, na frente de seu
computador, trabalhando. Ah, claro, como se ele tivesse tantos assuntos
importantes a tratar.
Payton tirou o laptop da sua mala e ligou-o, pronta para começar o seu
dia. Afinal, ela também tinha coisas muito mais importantes para se concentrar.
— V ejo que
Irma deu a Payton um olhar que dizia que ela estava pisando em terreno
muito perigoso. — Isso soa como zombaria.
Pelo menos quatro vezes por ano Irma fazia a peregrinação para o West
Loop para sentar-se na plateia do Harpo Studios e estar na presença de Sua
Santidade Winfrey. Irma pegava todas as recomendações da especialista da TV -
estilo de vida, literatura e outras coisas - como um evangelho. Quaisquer
2
Romance do escritor russo Liev Tolstói, considerado, em 2007, o maior romance já escrito pela revista
Time.
comentários negativos feitos por Payton ou qualquer outra pessoa eram
estritamente proibidos.
— Você tem visto a prova da minha falta de tempo livre. — disse Payton,
apontando para suas folhas de ponto. — Até que eu tenha acabado isso aqui,
temo que Tolstoy tenha que esperar. — ela apontou. — Mas, se acontecer de
Oprah saber de um livro sobre como responder a intimações para documentos
corporativos, nisso eu estaria interessada.
Irma bufou. — Por favor. Você tem este mês destacado na sua agenda
eletrônica por oito anos.
Irma se levantou para sair. — Tudo bem, tudo bem, eu sei como você é
discutindo sobre essas coisas. — ela se dirigiu para a porta, em seguida, fez uma
pausa e virou-se. — Eu quase me esqueci. A secretária do Sr. Gould
ligou. Perguntou se você está livre para encontrá-lo em seu escritório à uma e
meia.
Payton rapidamente verificou. — Por mim tudo bem. Diga a ela que eu
vou passar pelo escritório dele, então. — ela começou a escrever o compromisso
em sua agenda diária, quando ouviu sua secretária chamar por ela da porta.
Payton sentiu seu batimento cardíaco começar a correr quando ela cedeu
a um pequenino momento de emoção. Então, não querendo se empolgar ainda,
ela se acalmou e, como sempre, ficou ocupada com o trabalho.
***
Alguns minutos antes das 01h30min, Payton recolheu suas notas e sua
pasta de arquivo de julgamento sumário3 para seu encontro com Ben. Ela não
tinha certeza exatamente do que ele queria com esse encontro, mas ela achou
que tinha algo a ver com o julgamento que estava prestes a começar na próxima
semana. Como chefe do departamento de litigioso da empresa, Ben ficava em
cima de todos os casos que vão a julgamento, mesmo aqueles com os quais ele
não estivesse diretamente envolvido.
...viu J.D.
— Meu Deus, que bom da sua parte perguntar, Payton. — ele até falou
calorosamente enquanto olhava para ela. — Estou bem, obrigado. E você?
Como sempre, Payton encontrou-se irritada pela forma com quão
malditamente alto J.D. era. Ela odiava estar em uma posição de, literalmente,
ter que olhar para cima para falar com ele. Ela não tinha nenhuma dúvida de
que J.D., por outro lado, gostava muito disso.
Payton sorriu, sabendo que ele certamente tinha uma ou duas coisas a
dizer sobre isso. Estava feliz por ele ter visto o artigo da revista que tinha saído
na edição deste mês. Ela havia ficado tentada a enviar-lhe uma cópia em um
malote de correio de ontem, mas pensou que seria melhor se ele descobrisse isso
sozinho.
4
Revista do meio jurídico.
— Quarenta Para Observar Abaixo dos 40. — ela disse, fazendo referência
ao título do artigo e orgulhosa da sua inclusão na distinção dele.
Payton tentou não rir quando ela jogou o cabelo para trás sobre seus
ombros. Dificilmente.
Bingo.
J.D. segurou a porta aberta para ela e fez um gesto para que ela
entrasse. Ao passar por ele, Payton notou que Ben não estava em seu escritório,
no entanto, ela sentou-se na frente da sua mesa. Como J.D. estava sentado na
cadeira ao lado dela, ela se virou para ele, com frieza imperturbável.
— Acho muito interessante quando um homem, um graduado da
Universidade de Princeton e Harvard Law School5, sentado ao meu lado em um
terno Armani, tem a coragem, de alguma forma, de afirmar que ele é vítima de
discriminação.
— O que é ilustrativo?
Payton sentou-se ereta ao som da voz. Ela olhou quando Ben Gould, sócio
chefe do litígio, caminhou com confiança em seu escritório e se sentou em sua
mesa. Ele fixou em Payton com um olhar curioso nos seus olhos escuros e
sondou. Ela se ajeitou na cadeira, tentando não sentir como se estivesse sob
interrogatório.
J.D. respondeu a Ben antes que Payton tivesse uma chance. — Oh, não é
nada. — disse ele com um gesto de desprezo. — Payton e eu estávamos
discutindo a recente decisão da Suprema Corte no Ledder v. Arkansas6, e como
a opinião é ilustrativa de continuar a relutância do Tribunal de enredar-se em
direitos de estado.
5
Faculdade de Direito de Harvard.
6
Decisão da Suprema Corte Americana sobre o caso em referência. Nos EUA quando há um leading case
(caso paradigma), como o citado, o Tribunal adota a decisão para processos que envolvem as mesmas
questões.
Payton olhou para J.D. com o canto do olho.
Idiota espertinho.
O idiota.
Ben riu para eles quando olhou rapidamente para as mensagens que sua
secretária havia deixado em sua mesa. — Vocês dois, vocês nunca param.
— Desculpe por ligar para vocês virem aqui tão repentinamente. — disse
Ben. — Mas, como vocês devem estar cientes, a cadeia de farmácias da Gibson’s
Drug Stores acaba de ser atingida com uma ação judicial na classe de
discriminação de gênero.
Ben sorriu para a ânsia deles. Ele se inclinou para trás, girando a caneta
casualmente. — É a maior ação de discriminação já apresentada. Isso significa
muito dinheiro para o escritório de advocacia que defender Gibson.
Ben entrelaçou os dedos, batendo-os contra a parte de trás das suas mãos
como um vilão em um filme de James Bond.
Ben assentiu, orgulhoso como sempre, por que o seu grupo de advogados
era constantemente classificado entre os melhores do mundo. — Bom
palpite. Recebi o telefonema no início desta manhã do próprio Jasper Conroy.
Ele apontou para J.D. e Payton. — E é aqui onde vocês entram: Jasper foi
muito claro sobre o tipo de equipe de julgamento que ele está procurando. Ele
quer uma imagem mais fresca para representar o rosto da sua empresa, e não
um bando de homens inexpressivos velhos de terno, como eu. — Ben riu,
plenamente consciente de que nos seus 49 anos de idade, ele era realmente
muito jovem para ser o chefe de litígios em uma empresa tão prestigiada. —
Pessoalmente. — ele continuou. — Eu acho que Jasper está apenas tentando
evitar o pagamento de taxas dos sócios.
Felizmente, tinha sido relativamente fácil manter sua farsa. Mesmo que
eles estivessem no mesmo grupo, tinha sido anos desde que eles tinham
trabalhado juntos em um caso. Havia algumas razões para isso: primeiro, como
regra geral, os casos no grupo de litígio eram dotados de um parceiro, um
associado sênior, e um ou dois sócios juniores. Como membros de uma mesma
classe, havia pouca razão para Payton e J.D. trabalharem com o mesmo assunto.
7
Counter Terrorist Unit, ou simplesmente CTU, como é mais comumente conhecida em inglês, ou em
português Unidade Contraterrorismo (UCT), é uma agência federal fictícia, apresentada na série 24
Horas, designada para o combate ao terrorismo.
Até agora - se por acaso ou sorte, havia muito pouca sobreposição nas
áreas de atuação do nicho que ela e J.D. tinham esculpido por eles mesmos.
Ben sorriu para eles, o futuro da sua empresa. Ele recostou-se na cadeira,
ficando sentimental. Sem dúvida, com o pensamento dos grandes dólares que
eles trariam.
— Ah... oito anos. — ele disse carinhosamente. — Há oito anos eu tenho
visto vocês se transformarem nesta empresa, para os grandes advogados que
são. Estou animado por esta oportunidade de vê-los trabalhando juntos, pois
vocês fazem uma grande equipe. E é a hora perfeita, também, porque em breve
vocês ambos ser...
J.D. e Payton se sentaram na beirada dos seus assentos, quase caindo das
suas cadeiras enquanto se penduravam na última palavra de Ben.
Aparentemente percebendo que ele tinha falado demais, Ben acenou isso
com um sorriso tímido. — Bem, uma coisa de cada vez. Agora, vocês têm uma
apresentação para preparar.
Ben balançou a cabeça. — Não, isso é tudo, Payton. Tenho mais uma
coisa que eu quero discutir com J.D., algo que não lhe diz respeito. — ele deu um
breve aceno de cabeça em adeus. Lá estava ele, foi amigável o suficiente apenas
momentos atrás, mas agora ele voltou a ser todo negócios.
Enquanto Payton caminhava de volta para seu escritório, ela tentou não
deixar que isso a incomodasse, o fato de que J.D. sempre teve mais facilidade
para conectar-se com seu chefe em um nível pessoal. Até o momento, as
tentativas dela de estabelecer uma relação semelhante com Ben tinham sido
muito mal sucedidas. Filmes? Ele não os assistia. Televisão? Certa vez ele
perguntou a ela se era em Seinfeld8 “que tinha um gordinho sempre por perto
das máquinas de venda automática.” Quando Payton tinha rido, achando que
ele estava brincando, ela recebeu um olhar vazio e tinha imediatamente se
calado. A partir desse ponto, ela prometeu que até que pudesse poetizar sobre
algum negócio em que ela era um rosto em uma jogada inteligente para a equipe
que precisava muito, provavelmente era melhor manter o bate-papo não
jurídico com Ben o mínimo possível.
8
Seriado americano.
entre os associados mais jovens era que Payton e J.D. tinham assustado os
outros membros da turma, que não estavam tão interessados em manter o ritmo
e trabalhar as mesmas horas ridículas que eles.
E era por isso que não havia uma competição entre eles.
Payton chegou em seu escritório e se sentou em sua mesa. Ela olhou para
o computador e viu que tinha recebido trinta e duas novas mensagens de e-mail
durante o breve tempo que tinha ido ao escritório de Ben. Ela se absteve de
suspirar alto, exasperada. Mais quatro semanas, ela se lembrou.
Ela pegou o telefone para ligar para Laney, que sabia que teria uma
reação semelhante à notícia. No meio da discagem, ela olhou através do
corredor e viu J.D. retornar da sua reunião masculina dos poderosos detentores
de pênis com Ben. Payton desligou o telefone enquanto observava J.D. entrar
em seu escritório, ela tinha que ver isso.
9
Comitê que busca a equiparação de mulheres e homens no exercício da advocacia.
J.D. se sentou em sua mesa. Assim como Payton, ele imediatamente
olhou para o seu e-mail. Houve um momento de demora enquanto Payton
esperava em deliciosa antecipação... então...
Seu amigo Tyler, Payton supôs. Se ela fosse uma mulher apostando, ela
apostaria que J.D. estava apenas um pouco menos animado com o e-mail
garantindo a conservação das mulheres do que ela.
De modo nenhum.
Capítulo Três
— I sso é
besteira!
J.D. sentiu certa satisfação quando acertou a bola de squash com a sua
raquete. Ele esteve de mau humor durante todo o dia, desde quando tinha visto
o ridículo e-mail do Comitê Executivo.
Tyler saudou J.D.. — Elas ainda só têm vinte e oito por cento. — ele disse,
bem-humorado.
— Quem é você, Gloria Steinem10? — J.D. olhou para seu amigo por até
mesmo sugerir que havia qualquer defesa possível para a mudança política que
a empresa tinha anunciado hoje. — É a decisão deles, Tyler. — ele continuou. —
Não há teto de vidro mais - essas mulheres optam por deixar a força de trabalho
delas à disposição.
— Ei, eu sou a favor da igualdade. — disse J.D. enquanto batia a bola com
a raquete. Francamente, a falta de preocupação do amigo com o e-mail do
10
Uma jornalista americana feminista.
Comitê Executivo o deixou perplexo. Afinal, Tyler também trabalhava na
empresa, e por enquanto ele ainda não era sócio, porém o seu dia logo chegaria.
J.D. não conseguia ouvir mais nada. Com uma mão, ele pegou a bola,
levando o jogo a uma parada abrupta. Ele apontou sua raquete para Tyler. — Eu
vou te dizer qual é o meu problema.
Tyler olhou para ele com ceticismo. — Você realmente acredita nisso?
— Você está certo, nós não conseguimos. — J.D. terminou por ele. —
Ninguém do Departamento de Recursos Humanos está dizendo à Comissão
Executiva que necessitam aumentar a porcentagem de homens brancos
sócios. Então nós. — ele apontou. — Temos que cuidar de nós mesmos,
certificando-nos de que não tenham qualquer desculpa para não nos promover.
Tyler ergueu as mãos. — Tudo bem - só tenha calma. Eu sei que você está
estressado esses dias...
— ...estou apenas dizendo que todos devem ser julgados somente pelo
mérito. Nenhum fator 'plus' para o sexo, raça, origem nacional, ou...
— ...que com a decisão da sociedade chegando e tudo, eu sei que você está
nervoso...
— ...só que cada pessoa receba uma chance justa... — J.D. parou. Ele
acabou de ouvir as últimas palavras de Tyler. — Espera, você acha que eu
estou nervoso sobre virar sócio?
Tyler olhou para ele. — Você está dizendo que não está nervoso?
— Você está dizendo que eu tenho uma razão para ficar nervoso?
J.D. olhou ao redor e baixou a voz para sussurrar. — Por que, o que você
já ouviu falar? Sabe de alguma coisa? Espere, não se preocupe e me diga. Não,
realmente, o que?
Tyler sorriu inocentemente. — Oops, essa era uma das coisas que não
devemos dizer em voz alta?
J.D. ainda não disse nada. Pois o seu melhor amigo, Tyler entendia que o
tema do seu pai estava claramente fora dos limites.
J.D. lhe deu uma olhada. — Muito bonitinho. Ria agora, mas vamos ver
quem vai rir em dois anos, quando você vier procurar um sócio e eles lançarem
o seu traseiro para a rua com nada mais do que um “obrigado pelo seu tempo.”
— J.D. apontou para a quadra. — Agora, se nós terminamos com suas pequenas
percepções pessoais sobre a minha psique, você se importaria de começarmos a
jogar algum Squash por aqui?
— Então, eu vi você andar pelo escritório esta tarde com Payton. — disse
Tyler. — Vocês dois pareciam íntimos, como sempre.
J.D. sacou a bola e por pouco não errou. Xingando baixinho, ele se
levantou do chão e caminhou para fora. Ele sabia que Tyler estava provocando-o
mais uma vez e não queria dar a ele a satisfação de ser bem sucedido uma
segunda vez.
— Payton e eu tínhamos uma reunião no escritório do Ben. — ele
respondeu ao assunto com naturalidade. E jogou a bola para Tyler.
J.D. sorriu, lembrando-se da sua conversa com Payton mais cedo naquele
dia. — Sim, na verdade, eu fiz isso. À minha maneira, é claro.
— Sexuais...?
E foi atingido com um tapa na cara pela bola de Squash. Ele tombou para
trás e esparramou-se desajeitadamente através da quadra.
Tyler passou por cima e girou sua raquete. — Isso é bom. Devemos falar
disso com mais frequência.
J.D. foi para casa mais tarde naquela noite, ainda sofrendo com o golpe
da bola de Squash em sua bochecha. Ele não sabia o que doía mais, o rosto ou o
seu ego. Como um jogador muito competitivo, ele não podia acreditar que tinha
deixado Tyler distraí-lo tão facilmente. Insultando-o sobre Payton, isso
era... complexo. Mas o que ele poderia dizer? Como sempre, aparentemente ela
trazia à tona o pior dele. Mesmo jogando Squash.
No entanto, nesta ocasião em particular, verdade seja dita, ele tinha algo
mais em sua mente além de Payton Kendall. Quando J.D. estacionou seu carro
na garagem subterrânea do edifício Gold Coast, condomínio onde morava, ele se
sentiu cansado. Realmente muito cansado. Como se as dezenove horas diárias
que ele tivesse feito no último ano estivessem de repente o alcançando.
— Você tem que vender o carro. — seu pai tinha dito em termos
inequívocos, um dia depois do funeral do avô de J.D..
J.D. tinha apontado que o seu avô, o ilustre empresário Earl Jameson,
tinha especificamente deixado o carro em seu testamento para J.D.. Este
lembrete tinha apenas irritado seu pai mais ainda, que definitivamente não era
um “apaixonado por carros”. E que também era ressentido com o vínculo entre
J.D. e seu avô.
— Mas você não pode dirigir o carro para ir trabalhar, os sócios não
querem ver um associado dirigindo um carro de cento e cinquenta e mil dólares!
— seu pai havia tentado apelar para o que normalmente era a fraqueza de J.D.,
seu desejo em ser bem sucedido na empresa. Mas foi a primeira (e até hoje,
única) vez, que J.D. tinha outras prioridades e o carro significava mais para ele
do que seu pai compreendia.
— Você sabe o que as pessoas vão dizer? — seu pai esbravejou. — Não é
digno de um juiz no banco de apelação federal ter um filho playboy, mimado
correndo por aí em algum carro esportivo!
11
Uma revista criada em 1887 por um grupo de estudantes da Harvard Law School, nos EUA. A
publicação é independente da instituição. Também conhecida como "The Review", é publicada
mensalmente entre novembro e junho e tem cerca de duas mil páginas por volume, segundo
informações do site oficial.
Ripley & Davis, a outra das duas principais empresas da cidade e concorrente
direta do escritório de advocacia que seu pai havia trabalhado e sido parceiro
sênior antes de ser nomeado para o tribunal.
Mas o que incomodou J.D. muito mais do que decepção do seu pai ou
preocupação com a reputação profissional dele (em 32 anos, ele havia crescido
bastante e se acostumou a conviver com essas coisas), foi o fato de que seu pai
teve a audácia de chamá-lo de mimado. Claro, sua família tinha dinheiro, muito
dinheiro, mas isso não deveria diminuir que ele tinha trabalhado pra caramba
para chegar onde estava. Esse foi o motivo pelo qual ele havia optado por não
trabalhar para a antiga empresa do seu pai, ele não queria nenhum tratamento
especial por causa do seu sobrenome.
E ele também era orgulhoso do Bentley. Não por apenas ser uma ligação
sentimental entre ele e seu avô, mas porque se tornou o símbolo da sua
Declaração de Independência ao não seguir os passos do seu pai. E além disso...
Sim, de fato, J.D. não tinha dúvida de que o e-mail do Comitê Executivo
havia sido o destaque absoluto do dia de Payton. Ela era inteligente, nunca
jogou diretamente a carta de gênero com os sócios da empresa, mas ela também
nunca perdeu uma chance de exibir seu status feminino. Como por exemplo, o
artigo “Quarenta Mulheres para Observar Abaixo dos 40”. A única razão pela
qual ele tinha perguntado a ela sobre isso foi para antecipar qualquer prazer que
ela tivesse em esfregar isso na cara dele.
12
Chamada também de The Mag Mile, é uma parte prestigiada da Avenida Michigan, que vai do Rio
Chicago, que deságua no Lago Michigan até Rua Oak, no lado Norte.
Payton Kendall, Esquire13, poderia ser nomeada em dez artigos de
revistas, ela poderia ter toda a empresa envolvida em torno do seu pequeno
feminismo liberal, mas ele não se preocupava nem um pouco. J.D. sabia que ele
era um bom advogado, muito bom, e uma vez que ele fosse sócio (mesmo
que ela conseguisse isso, também), e estivesse no controle completo da sua
própria carga de trabalho, ele planejava ter certeza de que ele e Payton nunca
trabalhassem juntos novamente.
Agora, se ele pudesse passar por esse negócio com Gibson Drug Stores...
De modo nenhum.
13
A revista Esquire é uma revista estadunidense direcionada ao público masculino, editada pela Hearst
Corporation. Foi fundada em 1933 e prosperou durante a Grande Depressão, sob a direção do fundador
e editor Arnold Gingrich.
Capítulo Quatro
P ayton reviu o
Grande erro.
Agarrando a sua agenda na mão, Payton olhou para sua secretária com
uma mistura de frustração e ansiedade.
J.D. olhou para cima de sua mesa quando ouviu a batida na porta.
— Mas você também vai jogar golfe com eles amanhã à tarde. Por que eu
não fui convidada?
Atordoada pela afronta aberta, Payton abriu a boca para responder. Ela
apertou seu punho enquanto procurava alguma resposta, algum insulto,
qualquer coisa, e passou um momento, e depois outro... e...
Nada.
J.D. sorriu vitoriosamente. — Vamos fazer o seguinte, por que não pensa
sobre isso por um tempo? Volte quando estiver pronta, elabore uma boa
resposta para mim. — então ele conduziu Payton para fora do seu escritório e
fechou a porta atrás dela.
Era verdade, ela não sabia nada sobre o golfe; ela nunca tinha sequer ido
a um clube. Sua fuga era proposital. Ela tinha opiniões distintas a respeito do
esporte e, mais importante, de quem jogava isso.
Payton considerou suas opções. Por um lado, ela odiava a ideia de J.D.
levar a melhor sobre ela. E ela realmente odiava a ideia de ser uma novata sem
noção no golfe jogando na frente de Jasper e equipe da Gibson.
Por outro lado, o pensamento de ser deixada de fora durante toda a tarde
não era atraente. Com a decisão da parceria iminente, precisava garantir que ela
fosse uma parte integrante do esforço para conseguir Gibson como um cliente. E
ela simplesmente não achava que tinha estômago para fazer o papel da pequena
mulher sentada no escritório, enquanto os homens conversavam no escritório
no vigésimo quinto andar ou o que quer que seja.
Assim, tanto quanto Payton podia ver, ela não tinha escolha.
Apesar do fato de que ela já estava se preocupando sobre como ela faria
uma rápida aula de golfe para-ao-menos-não-jogar-como-uma-total-burra,
naquela noite, ela caminhou confiante para o escritório de J.D..
Ele olhou para cima da sua mesa quando a porta se abriu, surpreso com
sua entrada repentina. — Isso foi rápido. — ele recostou-se na cadeira e acenou
com a mão. — Ok, vamos ouvi-la, Kendall. Dê-me seu melhor tiro.
As palavras de J.D. pararam Payton quando ela chegou à porta. Ela virou-
se para encará-lo. — Você não pode estar falando sério. Você
está tão desesperado para conseguir algum tempo a sós com os representantes
da Gibson?
— Não, não é isso. — disse J.D. rapidamente. Ele hesitou, e por um breve
segundo, Payton podia jurar que ele parecia desconfortável.
— E? — ela perguntou.
Payton não conseguia ver qual era o problema. — Mas se você pode levar
as pessoas da Gibson como convidados, eu não vejo por que não posso ir,
também.
Não querendo ver o que ela supôs que seria um olhar presunçoso no rosto
de J.D., ela se virou e saiu do escritório dele.
***
— Eu vou soar como um bebê chorão total, se eu disser que não é justo?
— Eu o odeio. — ela disse, com a voz abafada. Ela olhou para Laney. —
Isso significa que ele vai ficar o dobro do tempo com os representantes da
Gibson.
— Então você vai ter que ser duas vezes melhor quando você encontrá-los
para o jantar. — Laney respondeu. — Esqueça J.D..
— Quer dizer, é ruim o suficiente que ele jogue cartas com os sócios. —
continuou Payton. Ela abaixou a voz, fazendo uma má representação do sexo
masculino. — Ei, J.D., você deveria vir ao meu clube algum dia. Ouvi dizer que
você fez um two-fifty14.
Ignorando isso, Payton tomou outro gole de café com leite e baunilha. —
No mundo dos negócios, o que é o equivalente ao feminino de ir jogar golfe com
um cliente?
Quão deprimente.
14
Strike, no boliche.
Payton suspirou, fingindo resignação. — Bem, é isso. Eu acho que eu vou
ter que dormir com eles.
Payton riu. Era bom rir, ela tinha estado muito mal-humorada desde o
seu encontro com J.D.; ela não conseguia acreditar que ele tinha conseguido
excluí-la do jogo de golfe com os representantes da Gibson, levando-os a um
clube que não permitia a entrada de mulheres. Espera, correção: o que ela
realmente não podia acreditar era que ainda havia, na verdade, um clube que
não deixava as mulheres entrarem. Uma vez que a existência deste clube tinha
sido estabelecida, no entanto, ela não tinha nenhum problema em acreditar que
J.D. era um Grand Poobah15.
15
O termo era usado nos Flinstones para designar as posições de destaque dos clubes masculinos. Fred
e Barney eram membros da Ordem Real dos Búfalos, uma referência à maçonaria.
Laney suspirou. — Nós temos que fazer isso agora?
— Eu passo, obrigada.
Payton deu de ombros. — Sua escolha, mas eu acredito que você vai achar
que é libertador. Todo mundo poderia usar um bom “pênis” de vez em quando.
— Desculpe, você está certa. Boa regra de ouro: se você vai falar “pênis”
em um lugar público, dever ser em voz baixa. Caso contrário, atrai muita
atenção.
Laney se inclinou. — Peço desculpas por minha amiga. Ela fica desta
forma às vezes. — ela abaixou a voz para um sussurro. — Síndrome de
Tourette16. Tão triste.
A mulher acenou com simpatia, então fingiu fazer uma chamada em seu
telefone celular.
16
A síndrome de Tourette ou doença de Gilles de la Tourette é um transtorno
neuropsiquiátrico hereditário que se manifesta durante a infância, caracterizado por diversos
tiques físicos e pelo menos um tique vocal.
17
A Primeira Emenda (Amendment I) da Constituição dos Estados Unidos é uma parte da Declaração de
direitos do país. Impede, textualmente, ao Congresso americano de infringir seis direitos fundamentais,
no caso do texto, “limitar a liberdade de expressão”.
— Ok. Minha sugestão é... — Laney fez uma pausa dramática... —
Aprender a jogar golfe. — ela deixou isso afundar por um momento. — Então,
você nunca vai ter esse problema de novo.
Laney deu-lhe um olhar penetrante. — Você sabe, quando você virar uma
sócia, vai ter que se acostumar a estar perto de pessoas que cresceram com
dinheiro.
— Oh, certo, certo. Você não acha que tem alguma coisa a ver com a razão
de você ser tão dura com J.D.?
— Rico.
Laney continuou. — E J.D. trabalha duro, assim como você, e ele pode ser
engraçado em um tipo de forma sarcástica isso...
Bem na hora, lutando com o sorriso, Laney colocou o seu menu para
bloquear o guardanapo que veio voando em seu rosto.
— Quente? — Payton quase gritou. — Aquele bajulador, idiota,
frequentador-de-escola-preparatória, vestido-com-camisa-pink-Izod18, que teve
seu diploma entregue em uma bandeja de prata? — ela cobriu a boca. — Bem,
olhe para isso, talvez eu realmente tenha um ou dois problemas com dinheiro.
Payton foi surpreendida por isso. — Você acha que estou sendo
cautelosa?
Payton tentou decidir se ela deveria se sentir ofendida. Mas, por mais que
não queira admitir isso, uma parte dela sabia que o que Laney estava dizendo
não estava completamente longe da verdade.
— Eu suponho que esta “coisa” com J.D. ficou um pouco fora de controle.
— ela admitiu com relutância. — Você está certa, eu deveria ser uma pessoa
melhor nisso. — ela sorriu. — Isso não deve ser muito difícil, em comparação
com J.D.. — ela pegou o olhar de Laney — É exatamente o que a Payton Nervosa
teria dito. Mas a Nova Payton não faz isso.
Laney inclinou a caneca de café com aprovação. — Bom para você. À nova
Payton.
— À Nova Payton.
18
Marca de roupa feminina e masculina, inicialmente associada à Lacoste.
Capítulo Cinco
Seja a bola.
Seja a bola.
Ele recuou, então swoosh! Seu balanço foi fácil. Com uma mão levantada
para bloquear o brilho do sol, ele viu quando a bola pousou sobre o verde20 a
240 metros de distância, a poucos centímetros do buraco.
19
Se referindo ao golfe, a área inicial perto do buraco.
20
A área final, onde está o buraco.
seguida, observou a bela paisagem arborizada do oitavo buraco. — Vou te
dizer. Espere até o décimo quinto buraco. Então vamos conversar.
Jasper riu. — Um homem segundo o meu coração. Mas você tem certeza
que quer esperar? Eu ouvi por aí que o buraco nove deixa um homem de
joelhos.
Sorrindo, J.D. tomou um gole de sua cerveja. Até agora, a sua tarde com a
equipe da Gibson estava indo muito bem. Ele estava confortável aqui, no seu
elemento - o que, sem dúvida, foi uma das razões para Ben tê-lo escolhido para
esta missão. J.D. tinha crescido em torno de homens como Jasper toda a sua
vida e estava familiarizado com a rotina de menino ‘bem-educado’. Ele entendia
a linguagem, o jogo, o papel que deveria desempenhar. Ben queria fazer uma
pequena exibição, é por isso que ele tinha pedido especificamente a J.D. para
trazer a equipe da Gibson para este campo. Ele estava tentando impressioná-los,
mas não queria que parecesse assim. O fato de J.D. simplesmente ter uma
participação em um dos clubes mais exclusivos do país foi a maneira perfeita
para realizar essa tarefa.
Havia outra imagem que J.D. tinha dificuldade de esquecer: o olhar que
Payton tinha lhe dado quando ele disse que o clube não permitia mulheres. Por
um breve momento, ele viu algo em seus olhos que não tinha visto antes. Uma
ligeira rachadura, um vacilar em sua armadura habitual de confiança. Por
alguma razão, incomodou ver isso.
Além disso, como ele sabia muito bem, Payton Kendall podia cuidar de si
mesma.
***
Legal.
— E estes são os caras que estão lá fora. — ela grunhiu mais tarde para
Laney. Sua amiga não tinha tais problemas, tendo, naturalmente, se casado com
seu querido namorado mauricinho da faculdade.
Tendo agora acabado sua bebida, Payton olhou para o relógio e viu que
seus companheiros de jantar estavam 20 minutos atrasados. Verdade seja dita,
ela estava um pouco preocupada com este jantar com os representantes da
Gibson. Ela tinha feito muitas reuniões antes, e ela tinha certeza de que J.D.
também, mas porque suas práticas raramente se sobrepunham, ela e J.D. nunca
tinham feito uma em conjunto. Sozinhos. Estas reuniões exigiam certa fineza e
coesão entre os advogados que fazem a apresentação - eles precisavam
apresentar uma fachada unida.
Unida.
21
Marca de saquê.
22
No original: a bidge of trupple, enfatizando o quanto estava bêbado, quando queria dizer um grande
problema (a big trouble).
Coesa.
Foi estranho, por qualquer que seja motivo, o que lhe veio à cabeça
naquele momento foram as palavras de Laney do outro dia sobre como J.D. era
bonito. Payton tinha visto J.D. praticamente cinco dias por semana, durante os
últimos oito anos, mas naquele hora, ela se viu olhando-o mais de perto. Ela
tentou vê-lo como se fosse uma estranha. Alguém que nunca tinha realmente
falado com ele ou qualquer coisa.
... Bem, tudo bem. Não havia realmente qualquer coisa negativa que
Payton poderia dizer sobre os olhos do J.D.. Falando em um sentido puramente
objetivo, ela meio que gostava deles. Eles eram um azul brilhante. Uma
vergonha serem desperdiçados nele.
Tendo terminado a sua avaliação, Payton supôs que, se pressionado,
dentro daquela crosta externa, de Ralph Lauren-masculino, suéter-jogado-
sobre-os-ombros, de um jeito, você-sentiu-meu-polo-pony23, J.D. era muito
lindo.
Interpretando mal o olhar dela, J.D. inclinou a cabeça e apontou para seu
telefone. — Oh, me desculpe, Payton, eu não quis interrompê-la no meio do seu
negócio importante. — ele disse com aquele tom de zombaria.
— Eu espero que você não tenha esperado muito tempo, Srta. Kendall. —
disse Jasper. — Foi culpa de Charlie aqui, quantos golpes você tomou naquele
último buraco? — ele virou-se para Charles, que era claramente o membro mais
jovem da equipe de julgamento. — Quatorze? Quinze?
— Eu também sou meio que uma principiante. — ela sorriu. Então ela se
virou para Jasper. — E, por favor, me chame de Payton.
23
Polo pony, perfume masculino, Ralph Lauren.
Jasper riu. — Ligeiramente menos jardas de passagem - eu gosto disso. —
ele se virou para J.D., apontando para Payton. — Onde você estava escondendo
essa garota, J.D.?
Payton quase engasgou com o vinho que estava tomando. Claramente, ela
precisava de um momento antes de responder.
Ela estava protelando. E, enquanto fazia isso, Payton podia ver através da
mesa, onde J.D. estava sentado. Quando ela hesitou, ele olhou para baixo e
mexeu desconfortavelmente com os talheres de prata.
— Veja, Jasper, a coisa sobre J.D. é... — Payton tentou comprar um outro
momento. Qual era “a coisa” sobre J.D.? Ela trabalhava com ele há oito anos, e
de muitas maneiras, ela o conhecia melhor do que ninguém. E, em muitos
aspectos, ela não o conhecia.
Não leve a mal, ele ainda era um idiota. Mas ele era um idiota
que foi conduzido. Como Payton sabia muito bem, J.D. estava em seu escritório
todas as manhãs às 7h:00 da manhã, e tanto quanto ela pode não querer
admitir, seu trabalho valia a pena. Nos últimos oito anos, ele havia realizado
uma quantidade enorme para um advogado da sua idade. Laney estava certa, ele
era inteligente e talentoso. Ele era uma ameaça. E se ela fosse honesta consigo
mesma, esse era um dos principais motivos pelo qual ela não gostava dele.
Payton se virou para Jasper. — A coisa sobre o J.D. é que ele é um dos
mais bem sucedidos advogados de ação coletiva nessa cidade, provavelmente
até do país. Ele ganhou toda oposição à certificação de classe que ele processou -
nem uma vez uma classe foi atendida em um caso que ele tratou. Ele tem sido o
principal advogado nos casos multimilionários das empresas da Fortune 50024
desde o seu sexto ano. Ele sabe as estratégias envolvidas na prática de ação
coletiva melhor do que os advogados com o dobro da sua idade. Ele é brilhante
no que faz.
24
Global Fortune 500 é uma classificação das 500 maiores corporações em todo o mundo, conforme
medido por sua receita. A lista é compilada e publicada anualmente pela revista Fortune.
Seu olhar fez Payton pausar. Porque ela se lembrou daquele olhar - ela
tinha visto isso uma vez antes, há muito tempo.
Payton arrastou seu olhar para longe de J.D. e sorriu para Jasper. — Por
que você apenas não me conta quais as outras empresas que está considerando,
e eu vou poupar o seu tempo. Posso dizer-lhe exatamente o que eles vão
dizer. Melhor ainda, deixe-me adivinhar. — ela fez uma pausa, pensando nas
outras duas empresas que eles provavelmente estavam pensando em
entrevistar.
— Essas empresas são boas. — J.D. interrompeu. — Mas elas não são
adequadas para o seu caso.
— Por que? O que a sua empresa tem que eles não têm? — Jasper
perguntou.
Payton prendeu a respiração, esperando que J.D. fosse tão justo quanto
ela. Ele certamente pareceu muito confiante quando começou.
J.D. pegou o seu copo. — Agora eu tenho certeza que Payton seria
modesta sobre esses fatos; ela provavelmente diria que ela teve sorte de obter os
casos que são vencedores. Mas a verdade é que ela tem um talento natural na
sala de audiências. Ela tem instintos incríveis como advogada, e isso é
exatamente o que sua empresa precisa, alguém que pode orientar a sua empresa
através do processo de contencioso do início ao fim. — ele fez uma pausa. —
Além disso, ela é uma mulher.
J.D. olhou através da mesa para Payton, que tinha estado ocupada
tentando parecer como se ela o ouvisse dizer isso sobre ela todos os dias. —
Payton? — ele disse, indicando que ela deveria conduzir até lá.
Ela sabia exatamente para onde isso estava indo. — J.D. está certo,
Jasper. Sua empresa está sendo processada por discriminação de gênero. 1.8
milhões de mulheres afirmam que sua empresa não dá a mínima em tratá-las de
forma justa. A imprensa vai ter um dia de campo. E se você ficar na frente de um
júri com uma equipe de tribunal de homens, você vai perder este caso.
J.D. balançou a cabeça. — Não há rotina aqui. Com Payton e eu, o que
você vê é o que você recebe.
Enquanto o grupo ria junto com Jasper, tilintando os copos num brinde,
os olhos de Payton pegaram J.D. do outro lado da mesa. Com um sorriso sutil,
ele ergueu o copo para ela. Ela assentiu com a cabeça de volta em
reconhecimento. Naquele momento, pelo menos, eles compartilhavam o mesmo
pensamento.
Vitória.
D epois do jantar,
— Eu não vou assinar qualquer papel ainda, mas eu acho que um charuto
de comemoração poderia vir a calhar. — ele declarou.
Payton disse ao grupo que iria encontrá-los lá fora e foi para o banheiro
das mulheres. Ela não fumava charutos e agora não seria um bom momento
para experimentar. Permaneceu por alguns minutos no banheiro, em seguida,
parou no bar, pensando que poderia matar um pouco mais de tempo pedindo
uma bebida.
Payton não tinha escolha. Com um olhar relutante fingindo, ela balançou
a cabeça. — Desculpe. — ela disse. — Lésbica.
— Lésbica?
J.D. se juntou a ela no bar. Ele gesticulou para pedir uma bebida
enquanto Payton deu de ombros simulando inocência. — A menos que você
conte aquela vez na faculdade.
— Oh. Certo. — J.D. assentiu enquanto ele jogou algumas notas no balcão
pela sua bebida. Observando-o, Payton levantou a cabeça, curiosa. — O que você
está fazendo aqui?
J.D. balançou a cabeça tristemente. — Uh-oh, olha isso... que pena. Vocês
dois pareciam tão fofos juntos.
Payton revirou os olhos. — Você sabe, J.D.... — ela estava prestes a dizer
algo sarcástico, provavelmente algo que incluiria um palavrão ou dois, quando a
mulher do outro lado de Payton se inclinou.
O problema foi realmente conseguir algo que não fosse um insulto para
dizer ao J.D., Payton se sentia uma idiota, parada ali, então ela deixou escapar a
primeira coisa que veio à mente.
— Então, hum, o que eu ia dizer era... como foi o seu jogo de golfe? Você
teve um bom jogo?
***
Bem.
J.D. certamente não esperava que ela dissesse isso. Algo assim...
inofensivo. Até mesmo, agradável.
Ele olhou para baixo, para Payton, pego de surpresa pelo tom da sua
voz. Ou melhor, o fato de que não havia um.
— Por que? Porque todo mundo que é alguém joga golfe? — ela
perguntou sarcasticamente.
Ela era linda. J.D. sabia disso, ele sempre soube, só porque ela era uma
cápsula de defesa argumentativa não significava que ele não poderia ver que ela
era linda. Ele normalmente não gostava de loiras, mas ela tinha o cabelo liso
loiro escuro, do tipo de Jennifer Aniston. Tinha profundos olhos azuis
expressivos que mostravam todas as emoções (aparentemente raiva e/ou
aborrecimento governava o dia, pelo que ele poderia dizer) e, o que J.D. tinha
acabado de notar - a primeira dispersão de sardas no nariz - se ela fosse
qualquer outra pessoa - ele teria descrito como “bonita”.
Payton olhou para ele e abriu a boca como se quisesse dizer alguma
coisa. Então ela pareceu mudar de ideia.
Ela olhou para ele incisivamente. — Agora é a sua vez de dizer algo
agradável.
J.D. olhou para ela com toda a seriedade. — Você sabe que é uma grande
advogada, Payton. Você não precisa me fazer dizer isso. — aí está. Bem. Ele
havia dito isso. E agora? Este era um território novo para eles.
Ele se mexeu nervosamente. Então ele viu os cantos dos olhos de Payton
enrugarem em diversão.
J.D. nunca iria admitir isso para outra alma, mas ele sabia o que estava
pensando naquele momento.
Eram os olhos dela. Não, o sorriso dela, ela nunca sorriu para ele. Pelo
menos não genuinamente, de qualquer maneira.
Exceto pela parte em saber como se vestir, isso é. Ele tinha muito orgulho
do seu traje. Era chamado de antiquado (algo que ela sempre parecia ter contra
ele), mas ele achava que havia uma certa falta de civilidade em sua geração. O
que tinha acontecido nos dias de hoje que os homens usavam paletós para o
jantar? Quando mulheres carregavam carteiras e enchiam de pó os seus
narizes? (E não, cheirar cocaína em um vaso sanitário no banheiro das mulheres
não bastava aqui.)
Não que ele tivesse notado especialmente os cortes retos das suas saias,
ou a forma das suas pernas naqueles saltos de sete centímetros que ela usava
aqui e no tribunal. Ele nem havia notado o fato de que, hoje à noite, sua camisa
estava desabotoada até o ponto de posso-dar-uma-espiada?
Payton inclinou a cabeça com o seu silêncio. — Tem alguma coisa errada?
J.D. tentou pensar em algo que ele normalmente diria, algo que
recuperasse o controle dele.
— Está tudo bem. — ele garantiu, para que não houvesse qualquer dúvida
sobre isso. — Eu só estava me perguntando se as suas colegas feministas
aprovariam você usar a sua sexualidade como isca.
Ele viu o flash de dor nos olhos de Payton, mas ela rapidamente desviou o
olhar para encobri-lo. Quando ela se virou para ele, seu olhar estava gelado.
Ela não olhou nem uma vez para J.D. o resto da noite.
***
Ela não sabia por que deixou aquilo incomodá-la tanto, o que J.D. tinha
dito. Sim, foi ofensivo ele insinuar que ela estava jogando sua sexualidade para
seduzir os representantes da Gibson. O comentário foi inesperado, ela nunca
tinha feito nada pouco profissional para merecer tal ataque a seu caráter. Mas o
que a incomodava ainda mais era o fato de que ela tinha sido pega
completamente despreparada para o insulto. Normalmente ela tinha a guarda
erguida em torno de J.D., mas esta noite ela pensou que eles estavam se dando
bem, ou pelo menos, que eles estavam tolerando um ao outro, que tinham
pendurado as luvas de boxe por esta noite, com o espírito de trabalho em
conjunto.
***
De sua parte, J.D. não estava exatamente em um clima de comemoração
quando chegou em casa, também. Mais e mais, sua mente percorria o mesmo
debate.
E por que deveria se preocupar, afinal? Então ela estava chateada com
ele... grande surpresa. Ela vive chateada com ele. Na verdade, ele provavelmente
tinha ganho a noite, com o que ele disse. Com seu comentário, sozinho, tinha lhe
dado troncos legítimos para abastecer seu fogo.
Ele tinha cruzado a linha. Ao longo dos anos os dois tinham trocado
inúmeras farpas e insultos, mas sabia que tinha ido longe demais naquela noite.
Então J.D. resolveu em sua mente. Ele iria ligar para ela.
Suspirando para si mesmo, não gostando desta tarefa que estava prestes
a realizar, J.D. pegou o telefone. Foi então que lhe ocorreu que ele estava prestes
a ligar para Payton em casa. Tentou imaginá-la em seu... apartamento?
Condomínio? Casa? Ele se perguntou como deveria ser o lugar onde ela morava.
Ele deveria saber coisas como esta, não deveria? Ele deveria pelo menos
saber o básico, ter alguma curiosidade de como era a vida dela quando não
estava ocupada sendo ela.
25
Tipo Hippie.
Depois de um longo momento, ele colocou o receptor do telefone no
gancho.
Essa coisa com Payton era uma distração. E ele certamente não precisava
de nenhuma distração no momento. Seria melhor se ele a tirasse da sua mente
completamente. Ele simplesmente precisava permanecer na linha pelo resto do
mês, fazendo tudo exatamente como tinha feito nos últimos oito anos.
Talvez, fosse bom que Payton lhe desse o tratamento de silêncio. Ah, e se
bastasse só isso, ele deveria ter sido um bastardo rude anos atrás. Talvez agora,
ele finalmente tenha um pouco de paz no trabalho. Não haveria mais irritação
com a jogada de cabelo, sem mais olhares encobertos de você-é-um-idiota-J.D.,
sem mais discussões secretas nos corredores por trás das agendas feministas e
de direita.
De modo nenhum.
Capítulo Sete
— E u
Payton mal olhou para cima enquanto Laney entrava em seu escritório e
se jogava em um dos assentos na frente da sua mesa.
— Desculpe Laney, você está certa. Eu tinha esquecido que tinha viajado
de volta no tempo para 1950.
— Chase.
— E o que torna o perfeito Chase tão perfeito? — Payton perguntou.
Laney quase pulou da cadeira. — Isso foi exatamente o que ele disse!
Percebe, vocês dois são perfeitos um para o outro. — ela parou deliberadamente.
— Então? Devo dizer a ele para ligar a você?
26
Chicago Legal Clinic: é uma provedora de qualidade baseada na comunidade serviços jurídicos para os
carentes e desfavorecidos na área de Chicago.
27
ACLU (American Civil Liberties Union): é uma ONG norte-americana sediada na cidade de Nova Iorque
cuja missão é "defender e preservar os direitos e liberdades individuais garantidas a cada pessoa neste
país pela Constituição e leis dos Estados Unidos".
28
Núcleo de prática estudantil de Harvard, dedicada a Direitos Humanos.
O momento não era exatamente o melhor, mas Payton achou o
entusiasmo de sua amiga difícil de resistir. E o Perfeito Chase soava um tanto
promissor. Impulsionado pela carreira. Interessado em política. Apaixonado por
suas crenças. É verdade, estas eram todas as coisas que ela acha atraentes em
um homem. E certamente não seria válido usar sua boa aparência contra ele.
Payton ponderou sobre as coisas. — Harward Law, hein. — ela não podia
evitar; olhou no outro lado do corredor para o escritório de J.D. Eles não tinham
se falado desde a noite da apresentação para Gibson.
Ao longo dos últimos dias, na medida do possível, ela tinha evitado andar
pelo escritório de J.D. e vinha utilizando as escadas internas para todos os
percursos com menos de cinco andares (normalmente dois para cima, três para
baixo eram os limites em saltos), a fim de minimizar o risco de ficar presa no
elevador com ele. Porque no que lhe dizia respeito, ela estava acabada com J.D..
Não significa que ela já tivesse começado algo com J.D, é claro.
Na forma que ela via isso, ela se abriu na outra noite no restaurante. Ela
tinha feito uma tentativa de ser simpática e para dizer o mínimo, ele não tinha
correspondido. Ela se permitiu ser pega de surpresa, ficar momentaneamente
vulnerável na frente dele, e não iria cometer esse erro novamente. E agora ela só
queria esquecer a coisa toda.
Não que ela perdesse algum tempo pensando sobre essas coisas.
Payton voltou sua atenção para Laney, que já estava pensando no futuro
em onde deveria ser seu primeiro encontro com o Perfeito Chase.
Irma pigarreou sem jeito. — Ela disse que estava pensando em mim e,
hum, queria discutir algo antes que eu transferisse para você.
Payton acenou para Laney, que já estava saindo, e disse à Irma para
transferir sua mãe. Ela pegou o telefone, preparando-se. — Oi, mamãe.
— Tudo bem, mamãe. Eu ouvi de Irma que você está tentando reunir as
tropas contra os homens.
— Veja, eu sabia que você iria ficar toda tensa se eu ligasse para ela.
Payton suspirou. Sua mãe era a única pessoa que ela conhecia que ficava
desapontada por seu filho ser bem sucedido financeiramente. — Irma poderia
entrar em um monte de problemas, se a pessoa errada ouvisse sua conversa e a
29
Norma Rae: (mesmo título no Brasil e em Portugal) é um filme estadunidense de 1979, do gênero
drama biográfico, dirigido por Martin Ritt. Conta a história de Norma Rae, uma mãe solteira de dois
filhos e que vive com os pais que também são operários da fábrica e Reuben, sindicalista, que acabam
amigos e ele passa a influenciá-la para que se engaje na luta sindical. Mesmo admirando Reuben, Norma
Rae se casa com o operário Sonny Webster que a ama mas fica inseguro quando ela se filia à entidade
de classe e começa a passar muito tempo com o sindicalista.
30
Abreviação de Sister, irmã.
compreendesse errado. Você esqueceu que eu trabalho como advogada
trabalhista.
Sim, Lex Kendall tinha um motivo para protestar contra quase tudo.
Não que Payton não concordasse com os princípios de sua mãe. Ela
estava de acordo com alguns deles, mas não com a mesma intensidade. Por
exemplo, ela era absolutamente contra as pessoas usando casacos de pele. O que
31
Yuppie: é uma derivação da sigla "YUP", expressão inglesa que significa "Young Urban Professional",
ou seja, Jovem Profissional Urbano. É usado para referir-se a jovens profissionais, geralmente com
formação universitária, entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira
intermediária entre a classe média e a classe alta. Ocasionalmente o termo é utilizado com certa carga
pejorativa, como um rótulo, um estereótipo, tanto em países de língua inglesa (nos EUA, por exemplo,
onde a expressão surgiu) quanto também no Brasil ou em Portugal.
significava que ela, pessoalmente, não usaria um. Isso não significava que ela
ficaria fora da Gucci, na Avenida Michigan, jogando baldes de tinta vermelha
em clientes que saíam de lá. (Ah, sim, sua mãe fez isso, várias vezes, de fato, e
tinha até duas vezes ido para a cadeia por seus esforços artísticos renegados,
necessitando que a jovem Payton passasse várias noites com seus avós.)
Aos olhos da sua mãe, Payton sabia, ela tinha se vendido. Na verdade,
quando Lex descobriu que Payton havia planejado defender a Corporate
America32 como parte no seu escritório de advocacia, ela se recusou a falar com
a filha por duas semanas consecutivas.
Ah... Payton ainda lembrava dessas duas semanas com carinho. Tinham
sido as mais pacíficas 336 horas de sua vida.
— Você não precisa me ligar de volta. — sua mãe lhe disse. — Eu posso
ouvir a tensão em sua voz. Você continua fazendo yoga? Você provavelmente
precisa liberar seus chacras33.
32
Corporações que fazem grandes negócios.
33
Chacras: Chacras ou xacras, também conhecidos pela grafia chakras' ' segundo a filosofia iogue,
centros energéticos dentro do corpo humano, que distribuem a energia (prana) através de canais (nadis)
que nutre órgãos e sistemas.
Payton colocou a cabeça sobre a mesa. Sim, é claro, a tensão em sua voz
não tinha nada a ver com o fato de que ela não tirava férias há quase quatro
anos. O problema era que seus chacras não estavam liberados.
Ela podia ouvir sua mãe divagar no telefone que segurava na mão.
Neste momento, Payton saltou de volta à vida. — Você vem para Chicago?
— Steven planeja visitar Sarah e Jess em LA no Dia dos Pais. — disse sua
mãe, referindo-se às duas meias-irmãs de Payton. — Eu pensei em ir à Chicago
para que pudéssemos passar o fim de semana juntas.
Payton olhou para o calendário. Ela tinha estado tão ocupada que ela
esqueceu completamente sobre o feriado próximo. E, apesar do começo difícil
da conversa, de repente, ela sentiu uma onda de afeição pela mãe. Lex Kendall
poderia ser uma mulher difícil, sem dúvida, mas ela jamais permitiu que Payton
passasse um Dia dos Pais sozinha, nem mesmo depois que ela e seu marido
Steven haviam se casado e se mudado para San Francisco vários anos atrás.
Embora elas nunca tivessem discutido abertamente, Payton sabia que era a
tentativa da sua mãe de compensar o fato de que Payton não tinha notícias do
seu pai em anos.
Era isso.
Q uando Payton
Payton olhou ao redor da sala. De repente, ela ficou muito consciente das
suas mãos. Resolveu encostar seus braços nos braços da cadeira, depois parou,
em seguida, dobrou as mãos no colo.
Mais silêncio.
E, em seguida...
Payton estava olhando para a janela. Ela virou a cabeça para J.D..
Pega de surpresa, Payton não disse nada a princípio. Direto e sem vacilar,
J.D. sustentou seu olhar.
Ele realmente tinha os olhos azuis mais surpreendentes que ela já tinha
visto.
J.D. parecia ter se preparado para algo muito pior. — Ok. — ele disse.
Payton pensou que teria ouvido J.D. exalar com certo alívio. Então ele sorriu
genuinamente.
J.D. se inclinou para frente em sua cadeira e seus olhos brilharam com
entusiasmo. — Qual é a primeira coisa que você vai fazer quando se tornar
sócia?
— Nem no BlackBerry.
— Nem por qualquer aparelho de telefone celular.
— Nem pelo laptop. — J.D. disse com uma piscadela, sabendo que não
havia nenhuma maneira dela superar isso.
Payton deu de ombros. — Eu não sei. Apenas soa como um lugar que eu
gostaria de ir.
J.D. sorriu, e ocorreu à Payton que ela estava apenas falando sobre Bora
Bora, quando alguém como J.D. provavelmente tinha ido passar as férias em
lugares que nem em toda sua vida ela poderia conhecer. Inferno, provavelmente
seus empregados deviam ir a lugares como esses passar férias. Ela deve ter
soado ridícula para ele.
— Bora Bora... parece muito bom. — ele concordou, indo para trás em sua
cadeira. Em seguida, ele novamente lançou outro olhar para ela. — Sabe Payton,
agora que tudo isso vai acabar, eu estava esperando que pudéssemos deixar de
lado nossas d...
Payton prendeu a respiração. Com o canto dos olhos, ela viu J.D. ir
alguns centímetros à frente em seu assento.
Ben pigarreou. — E é por isso que o que eu estou a ponto de dizer vai ser
uma surpresa.
Payton piscou. Surpresa? Essa não era a palavra que ela queria ouvir
naquele momento.
Ben olhou para Payton para obter ajuda. — Você é uma advogada
trabalhista. Você sabe o quanto todas as outras empresas nesta cidade
acompanharam esse caso. Inclusive nós.
Ben fez uma pausa para olhar para cada um deles. — Nós decidimos
permanecer apenas com um sócio de litígio este ano. Só um de vocês irá
permanecer nisso.
Apenas um deles.
Ela ou ele.
Ben balançou a cabeça. — Receio que não. Vocês têm sorte de estarem
ouvindo isso de mim agora. — ele apontou para si mesmo, como se esperasse
gratidão. — Eu insisti nisso. Eu queria dar pelo menos um aviso ao que não vai
conseguir.
— Então a decisão não foi tomada ainda? — J.D. perguntou com seu tom
um pouco incrédulo.
J.D. parecia nada menos que furioso. Ele olhou para Ben friamente. —
Isso é besteira. Na semana passada você praticamente prometeu que Payton e
eu estávamos ambos na sociedade.
Ben deu de ombros, com muito desdém na mente de Payton. Afinal, esta
conversa era sobre a vida dela, carreira, assim como a de J.D..
Payton não precisava que Ben terminasse. Ela, como qualquer outro
advogado lá, sabia sobre “Tudo ou nada” na política da empresa. Associados que
não viravam sócios, eram rapidamente retirados dos seus casos e tinham um
prazo de carência curto para “voluntariamente” demitir-se e encontrar outro
emprego.
— Eu sei que esta notícia provavelmente vem como um choque para vocês
dois. — disse Ben. — E isso é extremamente lamentável. As circunstâncias
levaram as coisas acabarem desta maneira, mas é a decisão do Comitê de
Parceria. Quero enfatizar, entretanto, que a escolha entre os dois ainda não foi
feita. Vai acontecer no último momento. Então, para valer a pena, eu incito cada
um de vocês a darem tudo o que podem nestas próximas semanas.
Payton resistiu ao impulso de rir amargamente com isso. Dar tudo o que
ela tem? O que mais ela poderia dar? Um rim? Seu primogênito?
Ela olhou para J.D. sentado ao lado dela. Ele a olhou e encontrou seu
olhar e Payton podia dizer pelo olhar em seus olhos, que compartilhavam o
mesmo pensamento.
Quando ele chegou ao seu escritório, entrou, fechou a porta atrás dele, e
imediatamente começou a andar. Ele estava tendo problemas para pensar
claramente. Ele se sentou em sua mesa, ignorando a luz do seu telefone
piscando, indicando o recebimento de uma nova chamada.
Ele tinha sido despedaçado. Por um lado, querendo gritar com Ben,
querendo dizer para ele que era um cagão e por outro lado consciente do fato de
que a decisão ainda não havia sido tomada. Definitivamente ele tinha o que
perder e precisaria agir para tornar-se sócio. Ele sentiu-se pressionado para
continuar a jogar, para continuar sendo o bom advogado que era.
Mas a verdade da questão é que ele não podia acreditar que isso estava
acontecendo.
Através do vidro em sua porta J.D. podia ver Payton correndo em seu
escritório. Ele percebeu que assim como ele, ela também imediatamente fechou
a porta transtornada. Isso não deu nenhum consolo, o fato dela ter obviamente
ficado tão atordoada com a notícia de Ben quanto ele.
J.D. fechou os olhos, esfregando ambos com força. Sentiu uma dor de
cabeça chegando e não estava com bom humor para lidar com o seu conselheiro
oponente. — Obrigado, Kathy. Eu vou retornar para ele.
***
Payton abriu os olhos e foi até sua mesa. Olhando por cima do seu
computador, viu que ela tinha vinte e cinco novas mensagens de e-mail.
Houve uma batida na porta. Sem hesitar, Irma enfiou a cabeça para
dentro do escritório.
— Oh, bem, eu pensei que você estivesse aqui. O Sr. McKane está
aguardando na linha um e Eric Riley esperando por você na linha dois. Ele quer
falar sobre o julgamento de Middleton.
Agora.
Ela passou por Irma dizendo: — Diga a todos que eu vou ligar de
volta. Eu... Tenho que cuidar de algo. Um assunto urgente.
***
Quase seis anos atrás, era possível se perder ao olhar para o lado das
prateleiras de contabilidade. Payton tinha topado com a biblioteca de direito
(que nem era incluída na nova turnê dos associados) e tinha encontrado ali a
sua paz. Era um oásis de serenidade em meio ao caos e agitação de outros
andares da empresa.
Na verdade, era praticamente o único lugar em todo o edifício que um
associado poderia escapar sem ser chamado, incomodado, ou qualquer outra
forma de perseguição dos sócios tentando falar sobre emergências às 16:00
horas em uma tarde de sexta-feira. Ela estava sempre utilizando a biblioteca
para tais fins. Ela só poderia supor que a biblioteca seria um ótimo lugar para se
esconder, passando despercebida.
Payton invadiu a biblioteca aliviada ao ver que ela estava vazia como
sempre. Ela se apressou passando pela mesa da bibliotecária em rota para o seu
local favorito para pensar: As prateleiras com os arquivos no canto extremo da
biblioteca.
— Não vou demorar muito hoje. — Payton disse por cima do ombro. Ela
só precisava de um ou dois minutos para se recompor. A notícia de Ben tinha
vindo como um choque. Toda a sua raiva estava borbulhando até a superfície e
se ela não tivesse um momento para se acalmar, ela ia explodir.
Payton foi para a seção dos Arquivos, e quando virou a esquina com
segurança, fora da vista de outras pessoas, ela parou. Ela encostou-se nas
estantes e respirou fundo. E novamente.
Acalme-se, ela disse a si mesma. Não era o fim do mundo. Ainda. Ela
ainda teria uma chance de se tornar sócia.
Oh, inferno. Antes que ela pudesse deter, lágrimas de frustração
brotaram de seus olhos. Ela olhou para o teto. Não, não, não, ela não faria
isso. Não aqui, não agora.
Foi nesse momento que Payton ouviu Agnes saudar alguém. Ela olhou
através das estantes e viu - Merda - J.D., de pé na entrada da biblioteca. Payton
viu quando ele se dirigiu até a mesa de Agnes, dizendo algo que ela não
conseguiu ouvir.
Payton rapidamente afastou as lágrimas dos seus olhos, rezando para que
o rímel não estivesse borrado. Ela precisava se recompor rápido. Ela viu uma
escadinha próxima e subiu. Ela pegou o primeiro livro que viu na prateleira e
abriu logo que J.D. dobrou a esquina.
— Claro que não. — ele falou. — E nem você. Segui você até aqui. — ele
olhou em volta. — Estranho... Eu pensei que este era um andar de contabilidade.
Ela sentiu a mão de J.D. em seu ombro. — Não faça isso, Payton. — ele
disse em uma voz suave.
Era demais ouvir J.D. falar assim. Ela precisava fazê-lo parar. Obrigou-se
a parecer indiferente quando se virou. — O que você quer J.D.? Porque eu
pensei que talvez você pudesse, por uma vez, simplesmente recuar.
— Não?
Ela estava sendo cruel e sabia disso. Mas Payton não conseguia impedir
que as comportas se abrissem e todas as emoções dos últimos 20 minutos
fossem derramadas.
Ela viu nos olhos de J.D. um flash de raiva. — Oh, mas e sobre o que
mais você pode dar a eles, Payton?
Com uma batida forte, Payton jogou o livro que ela estava segurando na
prateleira ao lado dela. Poeira voou por toda parte, inclusive na manga do terno
de J.D.. — Diversidade? — ela repetiu incrédula. — Por que você não olha em
volta desta empresa e veja que todo mundo aqui é assim como você J.D.. Branco
com um pênis.
— Oh desculpe. Eu acho que você vai ter que comprar outro na próxima
vez que você visitar Sua Majestade para o chá. Ou ela não é mais uma amiga da
família? — irada, Payton empurrou J.D. do seu caminho e saiu pelas estantes.
34
É um grupo de oito universidades privadas do Nordeste dos Estados Unidos da América, entre elas,
Harvard e Columbia.
J.D. seguiu atrás dela. — Você está dizendo que eu não mereço isso? — ele
perguntou. — Eu trabalhei mais de 2900 horas nos últimos oito anos.
Payton sentiu seu rosto corar de raiva. — Sério? Bem, você sabe o
que eu penso, J.D.? — ela cutucou o peito dele com um de seus dedos. — Eu
acho que você é um grande imbecil, dono-de-pony35, miserável-em-dar-amor,
só-bebedor-de-Scotch-no-gelo, minha-esposa-fica-melhor-com-meu-
sobrenome idiota machista!
J.D. agarrou a mão dela e puxou-a. — Bem, pelo menos eu não sou um
teimoso, irritante, motorista-de-Prius, com-ombreiras-no-terno, que -‘ficar-em-
casa’-com-a-mãe-é-uma-ofensa à sua feminazi36.
35
Perfume Rauph Laures, Polo.
36
Militante feminista, fanática, com ideais extremistas. Costuma ser misândrica, de forma velada ou
explícita. Também conhecida como Feminazista.
Ela tinha a sensação de que J.D. ia beijá-la.
J.D. deve ter lido a expressão em seu rosto. Payton viu os olhos dele
piscarem, mas não de raiva neste momento, e ela sentiu a mão dele de repente
chegar na sua nuca, seus braços e puxando-a pela cintura com força, a cabeça
dele inclinando-se para ela e mesmo que ela tivesse xingando-o por pensar que
ela alguma vez permitiria isso, ela fechou os olhos, abriu os lábios e...
— Com licença.
— Vamos ficar apenas mais um minuto. — disse J.D.. Sua voz soava
rouca. Sexy.
Agnes balançou a cabeça. Assim que ela estava fora de vista, Payton
empurrou J.D. dela, com raiva.
— Fique longe de mim, Jameson. — ela disse com a voz ainda um pouco
insegura. Ela limpou a garganta e esperava que não estivesse corando.
Payton passou por ele, com os olhos para frente. Mas quando ela chegou
ao final do corredor, se virou e olhou para trás.
J.D. a olhou. — Não aposte seu carro nisso. — com uma piscadela
arrogante, ele passou por ela e friamente saiu da biblioteca.
***
Insanidade temporária.
Payton felizmente estava mais uma vez lúcida e focada. Ela havia chegado
tão longe, não perderia agora. Ela não deixaria que estes últimos oito anos,
todos fossem para nada. Em outras palavras:
***
Cerca de vinte minutos atrás, ele olhou por cima do seu computador e viu
Payton arrumando sua bolsa para ir. Ela não tinha olhado nenhuma vez na
direção do seu escritório, enquanto ia embora.
Bom, J.D. pensou. Ele preferia quando eles não estavam se falando. As
coisas eram muito mais simples quando eles não estavam se falando.
Ele ainda não tinha entendido por qual motivo seguiu Payton para a
biblioteca em primeiro lugar. Claramente, isso tinha sido um erro.
Hmm... vamos pensar sobre isso. Ele era um dos melhores advogados da
cidade, ela mesma havia dito. Ele deveria ficar com medo? Ele jogaria a toalha,
lançaria oito anos de trabalho duro para o ralo e cederia a parceria, tudo por
causa de uma mulher equipada de saia e saltos altos?
Muito improvável.
Capítulo Nove
P ayton chegou ao
E então você pensa imediatamente, espere - não pode ser ele, por que
qualquer um que se parece com ele estaria em um encontro às cegas? Mas você
se permite esperar de qualquer maneira, até-que-inevitavelmente-uma-mulher-
igualmente-linda volta da sala de descanso e senta-se à sua mesa, e você percebe
- sorte sua - seu encontro está no bar com uma camisa azul brega de botão e
calça cáqui de cintura alta que, obviamente, acabou de terminar seu turno no
Blockbuster37.
37
Foi a maior rede de locadoras de filmes e vídeo games no mundo.
O que explica por que, quando Payton entrou primeiramente no
restaurante naquela noite, ela imediatamente percebeu o cara no bar com a
camisa escura e calça jeans, mas com a mesma rapidez voltou sua atenção para
outros lugares, aquele parecia delicioso até demais.
Doce Jesus.
Uau.
Payton sorriu. — Você deve ser Chase. — quando ela estendeu a mão para
cumprimentá-lo, aproveitou a oportunidade para dar-lhe uma olhada mais
aprofundada.
38
39
Um homem galã, o fofo, bom moço, inteligente, sensível, com um olhar meio perdido... o cara dos
seus sonhos, como o próprio nome já diz.
aproximadamente 1,80, mas desde que Payton media exatamente 1,60, ela
poderia lidar com isso.
Chase pegou a mão dela. Seu aperto era firme. — É um prazer, Payton. —
ele disse, ainda com um sorriso fácil, absolutamente genuíno.
Payton ficou impressionada. Como ele era altruísta. Sua mãe iria adorar
esse cara. — O conselho geral? Laney não tinha mencionado isso.
Depois de um tempo, eles foram para uma mesa privada na parte de trás
do bar para a sua segunda rodada de bebidas. (Um Tom Collins, Payton tinha
aprendido desde então, consistia de gin, suco de limão, soda, açúcar, e hmm
uma cereja marrasquino40).
Chase riu bem humorado. — Isso é o que eu dizia a mim mesmo, todos os
dias, mesmo quando eu enviei meu pedido de aceitação. — ele se inclinou em
direção a ela, seus olhos castanhos dançando com diversão. — Laney me alertou
sobre isso, Payton, e só para constar eu tenho que dizer que nem todos somos
Ivy Leaguers totalmente idiotas. Alguns de nós realmente vai lá para aprender,
não apenas para conseguir se gabar por ter ido para Harvard.
Payton não podia deixar de sorrir. Ponto para você. — Agora, o que eu
deveria dizer sobre isso? Eu odeio quando vocês meninos de Harvard estão
certos.
40
É uma cereja preservada e adoçada, tipicamente feita com cerejas doces e de coloração clara.
Mais especificamente, nela e J.D. na biblioteca. A maneira arrogante que
ele disse a ela para não ter esperanças de se tornar sócia. Quão zangado ele
tinha ficado quando eles discutiram. O jeito que ele furiosamente a apoiou
contra as estantes. E a maneira como ele olhou para ela logo antes dela ter
ficado mal com a doença da alta altitude.
Sobre a luz da vela que cintilava no centro da sua mesa, Chase voltou a
sorrir.
***
— Laney!
— Um homem não vai comprar a vaca, Payton, se ele puder beber o leite
de graça.
— Nós sete?
— Claro que eu gostei dele. — disse Payton. — Quer dizer, o que há para
não gostar? Ele é bonito e agradável e bem sucedido...
— Mas?
— Bom.
— Fico feliz em ouvir isso — Laney não disse mais nada; ela apenas olhou
para Payton com o leve rastro de um sorriso.
— Você está toda em cima de mim com isso. — disse Payton, um pouco
irritada.
— Vamos torcer para que o Comitê de Parceria concorde com você sobre
isso. — disse ela.
— Você não vai. — disse Laney com naturalidade. — Você nunca perdeu
nada.
***
Pelos próximos dois dias, Payton teve pouco tempo para se preocupar
com J.D., tão absorta nos últimos preparativos para o seu julgamento. Ela e
Brandon, o colaborador júnior que trabalhava com ela no caso, ficavam em seu
escritório desde o amanhecer até o anoitecer passando através do julgamento,
para a seleção do júri, para alegações finais. O julgamento estava programado
para durar apenas duas semanas, o que significava que seria, essencialmente, a
última missão sobre a qual ela poderia ser julgada pelo Comitê de Parceria antes
que eles tomassem a decisão. Uma vitória seria uma tremenda pena em seu
boné; uma perda seria desastrosa.
Payton sabia que J.D. também, tinha muito em seu prato. No seu almoço
mensal com o grupo de litígio, ela ouviu-o falar para Max, um sócio sênior que
“simplesmente aconteceu” de estar na Comissão de Parceria, que estava fazendo
malabarismos com duas oposições de ações coletivas de certificação, das quais
estava confiante que finalizaria com sucesso até o final do mês.
Estando perto, Payton estava certa que o comentário de J.D. era para
ela. Então ela virou-se para Helen, outra sócia sênior, que também “apenas
acontecia” de estar na Comissão de Parceria, e disse que tinha ouvido falar que a
filha de Helen estava se candidatando para a faculdade de direito da
Universidade de Illinois, a Universidade de Payton.
Alguns momentos mais tarde, depois de Helen ir embora, J.D. passou por
Payton e Laney. Ele bateu palmas sarcasticamente.
— Laney!
***
— Oi. — ela disse quando ele atendeu. — Eu sei que está em cima da hora,
mas eu pensei em ver se você está livre para jantar hoje à noite.
***
Payton quase morreu de vergonha ali. Oh meu Deus, ela ia matar Laney.
Payton relaxou. Era praticamente impossível não gostar de Chase. Ele era
tão fácil de lidar, estar com ele era tão... confortável.
— Estou feliz que você pôde vir. — ela disse a ele. Depois de tudo,
confortável era bom.
Não era?
— Peixe?
— Não. Nada com uma cara. — como minha mãe costumava dizer.
Depois que eles decidiram tentar aperitivos sem carne, Chase sinalizou
para a garçonete e fizeram seu pedido. Enquanto Payton o olhava, não podia
deixar de pensar: se ela tivesse o criado à La Weird Science41 no build-a-
date.com42, o tivesse embalado, embrulhado com um laço vermelho e enviado à
41
Filme de 1985, título traduzido no Brasil como Mulher Nota 1000, em que o protagonista constrói a
mulher dos seus sonhos.
42
Site norte-americano que organiza encontros conforme as suas preferências.
sua porta da frente, ela não poderia ter encontrado um cara aparentemente mais
perfeito para ela do que Chase Bellamy.
Ela ouviu Chase lhe fazer uma pergunta; ele queria saber sobre o seu
julgamento. Ele disse que adoraria passar pelo tribunal um dia para vê-la.
Tudo começou
inocentemente o bastante.
O júri riu.
Payton voltou para o escritório durante a sua pausa para o almoço; ela e
Brandon planejavam usar o tempo para rever os interrogatórios das
testemunhas da acusação que começariam naquela tarde. Quando ela chegou ao
escritório, no entanto, encontrou Irma em um estado frenético, vasculhando os
arquivos sobre a mesa de Payton.
— Graças a Deus você está aqui. — disse Irma assim que viu Payton
caminhar através da porta. — Marie ligou. Ela está procurando em todos os
lugares pelos recibos do seu jantar no Japonês com os representantes da
Gibson. Ela precisa apresentá-los antes do fim do ciclo de faturamento. A
Contabilidade não irá processar qualquer um dos gastos com a apresentação de
vocês até que eles tenham todos os recibos em mãos.
Payton fez uma careta. — J.D. pagou pelo jantar, não eu. Ele deve ter o
recibo.
Irma olhou para ela sem poder fazer nada. — Eu sei, e eu disse isso à sua
secretária, mas ela não conseguiu encontrá-lo em seu escritório.
Payton olhou para o relógio. Ela queria que Irma digitasse as notas do
julgamento que Brandon tinha tomado naquela manhã antes que ela voltasse ao
tribunal em uma hora e meia. Quanto mais rápido ela pudesse resolver esse
negócio sobre o recibo, melhor.
Ela entregou as notas para Irma. — Aqui, tome isso e comece a digitá-
las. Vou olhar no escritório de J.D. e ver se consigo encontrar o recibo.
A cara de J.D., ela pensou, ignorar algo tão básico como a apresentação
de um recibo. Em todo caso, era uma indicação da pressão que ele tinha estado,
uma vez que Ben tinha deixado cair sua bomba que apenas um deles seria sócio.
Bom. Ela estava contente de ver que ela não era a única que estava no
limite estes dias.
No início, ela não viu nada. Então, quase tendo esquecido dele, ela viu um
pequeno pedaço de papel que espreitava para fora do calendário ficava na mesa
de J.D.. Querendo saber se isso poderia ser o recibo, Payton chegou
apressadamente ao longo para levantar o calendário e...
Payton olhou e viu J.D. parado na porta com uma expressão muito
brava. Ele segurava sua pasta, como se estivesse preparado para sair para o
tribunal, e é claro que ele estava impecavelmente vestido com uma camisa sob
medida e calças que se encaixavam perfeitamente.
Seguindo em frente.
Ela se virou para J.D. para explicar. — Eu estava procurando pelo recibo
do jantar da Gibson's.
— Siiii...m.
Ele cruzou os braços sobre o peito. — Oh, eu vejo. Talvez você pensou que
eu escondi o recibo da Gibson em um copo de Starbucks?
Payton olhou para ele. É claro que ele pensou que ela tinha feito isso de
propósito.
Agora, ela cruzou os braços sobre o peito. — Você tem que estar
brincando. — ela estava prestes a pedir desculpas, mas agora, também... dane-se
ele. Ela não estava mais com vontade.
Ela revirou os olhos para ele. — Você sabe, eu ia explicar, mas agora nem
vale a pena. — ela passou por J.D. para deixar seu escritório, esquecendo
momentaneamente que ela ainda segurava, tanto o paletó, quanto o copo de
café.
Ele estava provocando-a, ela sabia disso. Ela considerou deixar isso para
lá. Poderia virar e sair do seu escritório sem dizer uma palavra. Em duas
semanas, de um jeito ou de outro, ela nunca teria que lidar com ele novamente.
— Nesse caso. — disse ele, apontando para o paletó que ela ainda
segurava. — Eu vou esperar que você consiga uma lavagem a seco em um lugar
decente. Apenas certifique-se de me devolver antes de colocarem a sua bunda
para fora daqui. — dispensando-a, ele se voltou para o seu trabalho.
— Oh. Isso é uma pena. — e com isso, Payton arrancou a tampa do copo
de Starbucks e rapidamente jogou o café restante em todo o terno que ele tinha
colocado tão ajeitadamente sobre a cadeira.
A boca de J.D. caiu. Ele lentamente olhou para ela. — Oh. Não.
Você. Não.
Payton olhou para o terno. Puta merda, ela tinha, ela realmente tinha.
— Você pode me cobrar pela limpeza a seco, J.D. e, hum, pela xícara de
café também. — com isso, ela delicadamente colocou o copo de café agora vazio
na mesa dele.
— Payton!
J.D. estava em sua porta com o que tinha de ser apenas o olhar mais
furioso que ela já tinha visto no rosto de qualquer ser humano.
Com um olhar astuto, ela olhou para Irma e Kathy, que estavam sentadas
em suas mesas curiosamente olhando para ela e J.D.. Então ela se virou para ele
com uma sobrancelha levantada.
44
J.D. olhou ao redor, consciente de que seu grito havia atraído muito o
interesse dos outros ao redor do escritório. Ele fez uma pausa, em seguida, deu a
Payton um breve aceno de cabeça.
***
Com cada avanço, a cada passo que ele dava enquanto andava três
quadras até o tribunal, J.D. ficava mais e mais furioso.
Ele tinha que deixar como estava; ele estava correndo porque pretendia
passar por suas alegações uma última vez na sala de conferências, querendo que
elas fossem perfeitas.
Talvez, ele disse a si mesmo, a mancha não estivesse tão ruim quanto
tinha estado da última vez que ele olhou. Talvez algum café tenha evaporado na
caminhada para o tribunal. Ele olhou para baixo, esperançoso.
J.D. chegou ao Dirksen Federal Building e correu para dentro. Ele teve
que tirar o casaco para passar pela segurança, e ficou momentaneamente
tentado a deixá-lo fora da sua argumentação oral, mas decidiu no final que
aparecer sem paletó na corte não era apenas desrespeitoso, mas também muito
mais propenso a atrair atenção negativa do juiz.
J.D. começou.
Foi mais ou menos nesse ponto que J.D. notou o juiz inclinado para a
frente em sua cadeira. Ele olhou para baixo, curiosamente do banco, tentando
dar uma olhada melhor em alguma coisa.
— O que é isso?
***
Uma vez fora da porta do tribunal, J.D. abaixou a pasta, correndo para
tirar o paletó manchado o mais rápido possível. Ele ouviu uma voz familiar atrás
dele.
— Margie viu seu nome na pauta desta manhã. — disse o pai, referindo-se
à sua secretária. — Ela cuida dos seus casos. Desde que sua mãe e eu não vimos
você em um tempo, eu pensei que eu podia parar e prestar atenção na sua
argumentação oral.
Preston deu um passo mais perto, seu olhar fixado no paletó do seu
filho. J.D. preparou-se para o inevitável.
— Você parece ridículo. — seu pai disse a ele. — Você realmente devia ter
um terno de reposição em seu escritório.
Vingança.
— Você sabe que está preparada. — ele ouviu Laney dizer a ela. — Vamos
lá, a aula irá ajudá-la a relaxar.
J.D. estava familiarizado com a rotina; ela e Laney iam para essa aula a
cada semana, não que ele prestasse atenção no paradeiro de Payton ou nada
assim, e hoje não foi exceção. Ela se trocou para-alguma-outra-merda-hippie de
yoga, deixando suas roupas de trabalho para trás em seu escritório.
J.D. viu quando ela e Laney saíram. Por um breve segundo, ele pensou ter
visto Payton olhar em direção ao seu escritório, mas ele provavelmente estava
apenas sendo paranoico. Quando elas foram embora, ele esperou e esperou mais
alguns instantes, apenas para ficar seguro. Ele tinha cerca de uma hora para
realizar a sua tarefa, o que estava bom. Ele precisaria de apenas alguns minutos.
Restringindo o desejo de soltar uma risada má, J.D. verificou, viu que
estava tudo limpo, abriu a porta do escritório de Payton, e entrou. Uma rápida
olhada ao redor e viu o que ele estava procurando no chão, no canto do
escritório.
Os sapatos dela.
O motivo dele era simples: se ela quisesse ser baixa e suja nesta corrida
pela vaga na sociedade, que assim seja. Ela o fez parecer um idiota no tribunal,
por isso agora... bem, vingança era uma cadela.
Percebendo que ele estava em perigo de perder o foco, ele enfiou o sapato
na pasta dobrada e saiu correndo do escritório de Payton para a sala de
suprimentos.
***
***
45
Representa o som feito quando se limpa a garganta.
Antes de sair com Laney para sua aula de ioga, ela olhou na direção do
escritório de J.D. e momentaneamente tinha estado tentada a fazer isso
pessoalmente, mas, bem, isso não era exatamente fácil para ela.
Então, em vez disso, ela se deitou na cama naquela noite, tendo decidido
primeiramente pedir desculpas na parte da manhã antes que ela se dirigisse ao
tribunal. Mas o sono lhe fugia. Frustrada, Payton virou e pegou o telefone na
mesa de cabeceira ao lado da cama.
Ela olhou para ele por um longo momento, debatendo. Então ela ligou.
***
Por costume, ele olhou o correio de voz do trabalho uma última vez antes
de ir dormir e ficou surpreso ao descobrir que alguém tinha ligado pouco antes
da meia-noite.
— Então, eu sei que você provavelmente vai pensar que isso é uma fuga
de responsabilidade, também. — começou a mensagem de Payton. — Mas está
tarde e talvez você esteja dormindo e eu suponho que eu poderia apenas dizer
isto na parte da manhã, mas agora eu não consigo dormir e estou deitada aqui,
então eu poderia muito bem acabar com isso, e bem...
Interessante.
***
Mais tarde naquela noite, depois de dormir por algumas horas, J.D.
atirou-se na cama.
Oops.
Capítulo Doze
Ele não havia recebido ameaças de morte naquela manhã, por isso, ou o
salto tinha aguentado o caminho do trabalho para casa ontem à noite, ou ela
simplesmente tinha ficado com seus sapatos de yoga depois da aula.
Bem. Sem problemas. Ele iria esperar ela chegar. Não que ele tivesse
qualquer fodida ideia do que ele ia dizer quando a visse. “Oi, Payton, obrigado
pelo pedido de desculpas, foi legal. Viu que tenho muffins na sala de
descanso? Ah, à propósito, eu cortei um de seus saltos e os colei
desastrosamente de volta na esperança que quebrasse no tribunal e a deixasse
mancando como uma prostituta bêbada de uma perna só. Tenha um bom dia.”
De alguma forma, ele tinha a sensação de que não poderia sair disso tão
bem.
Quando nada mais lhe veio à mente, J.D. decidiu que iria improvisar. Ele
era bom em pensar estratégias em cima da hora.
Então ele esperou em seu escritório. Ele olhava para cima de sua mesa
cada vez que alguém entrava, esperando ver Payton a qualquer momento.
Quando 8h00 chegou, então 8h:30, ele ficou um pouco preocupado. Às
9h:00 ele estava em um pânico total, pensando no pior cenário. E se ela
estivesse usando os sapatos em seu caminho para o trabalho e o salto de repente
quebrou e ela caiu e quebrou o tornozelo? Ele deveria refazer sua rota para o
escritório? Espere, ela normalmente usava o “L” para vir ao trabalho. E se ela
tivesse tropeçado enquanto entrava, torcido, aleijado, ou se separado de algo, e
agora estava presa dentro de um dos vagões do trem, pedindo ajuda, fazendo
círculos intermináveis ao redor do lugar?
Ele caminhou até a mesa de Irma, onde ela digitava cada vez menos em
seu computador. Ele então casualmente se inclinou contra sua cadeira, tomando
cuidado para parecer o mais indiferente possível.
— Bom dia Irma, nossa, esse é um lindo broche, é uma gaivota? Bom
tempo lá fora, não é? Ei, por acaso você já ouviu falar de Payton esta manhã?
Irma parou sua digitação por um breve momento, olhou J.D., em seguida
retomou seu trabalho.
— Então, por acaso Payton disse o que ela estava usando esta manhã? —
ele pegou um fiapo imaginário de seu terno. — Mais especificamente, ela
mencionou algo sobre seus sapatos?
Irma parou de digitar e lentamente olhou para ele. J.D. sabia que
precisava dizer algo rápido para se explicar.
— Eu só quero ter certeza que ela está, você sabe, vestida de forma
adequada.
— Sr. Jameson. Seja o que for, eu não tenho tempo para isso. Se você
tiver dúvidas sobre o traje de Payton esta manhã, eu sugiro que você dê um
passeio ao redor do tribunal e verifique por você mesmo. Ela está na sala de
audiências do juiz Gendelman.
J.D. assentiu. Sim, sim, muito bem, obrigado. Boa atitude, por sinal. Tal
chefe, tal secretária.
Em seguida, ele correu para fora do escritório e foi direto para o Palácio
da Justiça.
***
J.D. olhou ao redor cautelosamente. Que raio de lei que Payton praticava
por aqui? Todo mundo na sala do tribunal, no entanto, parecia totalmente
imperturbável pela exposição.
Não tendo nenhuma escolha a não ser ficar de braços cruzados na plateia
e esperar, J.D. se distraiu focando no interrogatório das testemunhas de
Payton. Ele pôde dizer, em segundos, a partir do modo como ela incisivamente
questionou a mulher sobre o suporte, de que esta não era uma festa amigável.
— Sim.
— Então, é justo dizer, Srta. Kemple, que você nunca mais teve qualquer
problema com o seu ex-gerente, depois daquele incidente? — perguntou Payton.
— Srta. Kemple, estou também certa que, após seu gerente ser demitido,
o diretor de Recursos Humanos saiu para o seu escritório e realizou um
seminário o dia inteiro sobre assédio sexual, que foi obrigatório para todos os
funcionários?
A testemunha tentou se proteger aqui. — Eu não tenho certeza que foi um
dia inteiro...
— Será que você não descreveria sete ou oito horas como um dia inteiro?
— Desculpe?
Ela era boa. Imediatamente, J.D. viu o quão relaxante e confortável ela
ficava na sala do tribunal. No entanto, sempre profissional. Era óbvio que o júri
gostava dela, e mais importante, que confiava nela, ele poderia dizer pela forma
como eles a ouviam atentamente, como alguns deles até acenavam com a
cabeça, juntamente com suas perguntas.
— Bem, eu acho que há algumas coisas que a empresa poderia ter feito de
forma diferente... — a testemunha disse em um tom defensivo.
— Como o que? — perguntou Payton. — Você não discorda que a empresa
lidou com a questão imediatamente, não é?
Enquanto Payton fazia esta pergunta, ela cruzou os braços sobre o peito e
casualmente se encostou na mesa, num único pé esquerdo para apoio.
— E você teria que concordar que eles lidaram com o assunto de forma
eficaz, vendo como você nunca mais viu seu ex-gerente, e muito menos teve um
problema com ele?
J.D. se encolheu. Merda, merda, isso ia ser ruim. Ele não podia ver. Mas
ainda assim ele tinha que fazer. Ele deveria fazer alguma coisa? Talvez ele
pudesse...
— Sim, eu suponho que você poderia dizer que a forma como a empresa
optou por responder ao assédio do meu gerente foi eficaz o suficiente.
J.D. exalou em alívio. Caso encerrado. Mas ele achava melhor começar
essa nota para Brandon/Brendan agora, enquanto ele ainda tinha a chance. Ele
olhou pra cima. Alguns outros retardatários se sentaram no final da sua
fileira. Ele teria que passar despercebido por eles para sair.
— Não, eu não acho que foi isso o que eu disse. — Srta. Kemple
respondeu rapidamente.
— Aqui, Srta. Kemple, deixe-me ler para vocês uma parte do seu...
... e antes que J.D. percebesse o que estava acontecendo, Payton fez uma
espécie de meio salto fora da mesa para se aproximar das testemunhas e quando
ela caiu sobre seus pés houve um forte estalo que soou por todo o tribunal e
puta merda, de repente Payton tropeçou descontroladamente fora de equilíbrio,
com os braços balançando, e ela...
Todo o tribunal ofegou enquanto J.D. voou para fora do seu assento em
horror.
Ela olhou para o depoimento da posição que ela caiu, ela se virou e todo o
público no tribunal gritou em choque.
Oh Deus, foi horrível, horrível, bem, na verdade, não foi tudo horrível
para ele, ela tinha realmente uma bunda fantástica, mas para Payton, este foi
um acidente de trem, um desastre...
Na frente, Payton ouviu o tumulto vindo da plateia atrás dela, então ela
se virou ao redor...
Ela se levantou, sua mão voou para a saia dela, e ela sentiu o rasgo na
costura. Ela imediatamente reagiu; ela desabotoou o paletó e rapidamente
amarrou em volta da cintura, nada mais bochechas pálidas - e J.D. ouviu alguns
gemidos de decepção quando o juiz finalmente colocou as coisas sob controle,
batendo o martelo e pedindo ordem no tribunal.
Ela parou por um momento. Então ela se virou e olhou para o júri.
— Levante a mão se você não tinha ideia de que veria tanta nudez em
uma semana de trabalho do júri.
Algo mudou.
Ele não sabia quem teria manipulado uma situação tão ridícula tão
bem. Talvez ele não tivesse notado isso antes, mas ela era realmente do
tipo... engraçada. Ou talvez ele já soubesse, de repente ele não tinha
certeza. Mas o que ele sabia era que ele tinha surtado por causa de uma maldita
mancha de café em seu terno, e aqui Payton tinha feito uma cara de paisagem
completa diretamente de volta para doze jurados e, em seguida, os deu um peep
show46 gratuito, mas, no entanto, conseguiu manter-se calma e serena.
Uh-oh.
46
Peep shows, também conhecido como peep box ("caixa de surpresas") ou raree show ("espetáculo
raro") remontam a tempos antigos (Século XV na Europa, por Leon Battista Alberti) e são conhecidos em
várias culturas. Um peep show poderia ser uma caixa de madeira com um buraco ou vários buracos. O
interior das caixas eram decoradas frequentemente para se parecer com cenas teatrais. O espetáculo
era acompanhado por uma recitação dramatizada, explicando o que estava acontecendo em seu
interior.
47
Um dos mais temíveis assassinos em série da história dos Estados Unidos da América durante
a década de 1970. Com uma infância perturbada, ele iniciou a sua carreira criminosa assassinando
e estuprando as suas vítimas.
48
Também conhecido como o Filho de Sam e o Assassino da Calibre .44 é um assassino em série (serial
killer) estadunidense, que aterrorizou a cidade de Nova Iorque com seus crimes, praticados
durante julho de 1976 e agosto de 1977, até ser preso.
audiências e viu J.D. sentado ali, o assassinato era exatamente o que estava em
seus olhos.
Quando Payton encontrou o olhar dele, J.D. pensou que nunca tinha
visto seus olhos azuis escuros parecerem tão frios. E ele sabia que uma coisa era
certa.
***
Uma parte dela queria que ela nunca tivesse que voltar ao
tribunal. Melhor ainda, uma parte dela queria que a terra apenas abrisse e a
engolisse, ela ficou mortificada.
O juiz tinha chamado um recesso de uma hora para que, como ele havia
delicadamente colocado... quem quisesse ajustar o seu traje pudesse fazer isso.
— Payton agora estava em uma corrida para voltar para o escritório, trocar-se
com terno de reposição, em seguida, ir até a loja de departamentos mais
próxima para comprar um novo par de sapatos. Por cima de tudo, o bastardo,
nenhum outro nome era necessário, a partir de agora o homem antes conhecido
como J.D. seria simplesmente chamado O Bastardo, O Chato, ou O Idiota, havia
arruinado seu melhor par de sapatos. Mas essa não era sua maior preocupação.
— Eu tinha que usar uma calcinha fio dental hoje, não era? — ela
sussurrou com raiva. Ela poderia dar um tapa em sua própria cabeça por essa
decisão.
Payton não podia aguentar isso por mais um momento. Ela avançou
sobre J.D. — Oh, você acha que isso é engraçado? Por favor, permita-me
desiludi-lo dessa noção.
— Payton...
— Se é assim que você quer jogar o jogo Jameson, está bom para mim. As
luvas estão de fora agora. Estou prestes a me tornar a cadela que você sempre
pensou que eu fosse.
Payton viu que seu comentário pegou J.D. de surpresa, isso tirou o seu
sorriso - o que ela interpretou como um sorriso - do seu rosto. E ela viu algo
momentaneamente intermitente em seus olhos, talvez fosse raiva, talvez fosse
outra coisa, agora ela não se importava de qualquer maneira. Agora mesmo,
enquanto ela estava naquela calçada, em frente ao J.D., com a saia rasgada e
salto quebrado e seu bumbum nu mal coberto pelo paletó amarrado na cintura,
tudo o que importava era pelo menos ter a dignidade de dar a última palavra.
Então, vendo que ela tinha momentaneamente o silenciado, Payton
aproveitou a oportunidade, se virou e foi embora.
Capítulo Treze
— N ão
Enrolada em seu sofá, Payton deu a Chase um olhar sobre a caixa de pad
thai49 que ela segurava. Ela engoliu em seco, depois fez um gesto com seus
pauzinhos para dar ênfase.
Chase tinha ligado para ela mais cedo, quando ela ainda estava no
escritório. Embora o resto do seu dia no tribunal tivesse, felizmente, passado
sem intercorrências - após o intervalo, ela ainda conseguiu voltar aos trilhos
com seu interrogatório do autor - Payton ainda estava tão envergonhada que ela
só disse a Chase, o que deve ter sido o eufemismo do ano, que ela tinha tido
“uma espécie de um mau dia no tribunal”.
Uma hora mais tarde, Chase a tinha surpreendido em casa com um saco
de comida asiática para viagem. Para animá-la, disse ele. Não tendo certeza qual
deles ela preferia, ele trouxe pad thai, tofu e legumes com arroz frito. Tocada
com o gesto, Payton imaginou que ela poderia, pelo menos, dar-lhe a versão
condensada do que tinha acontecido naquela manhã. Ela apreciou quando ele
educadamente cobriu o riso como uma tosse e culpou o tempero da comida.
— Mas você se recuperou bem, isso é o que o júri vai se lembrar. — Chase
disse a ela. Estendido confortavelmente no sofá à frente dela, pôs a sua caixa na
mesa de café e se inclinou.
49
Macarrão tailandês.
— Na verdade, estou um pouco triste por não estar lá, eu acho que teria
gostado de ver. — ele disse com um sorriso de menino. Em seguida, ele se
inclinou e beijou-a.
Como Payton tinha descrito a Laney no outro dia, ela descobriu que estar
com Chase era... calmante. Foi uma boa mudança de ritmo para ela -
determinadas situações no trabalho, e certo alguém sem nome em particular,
tinham uma tendência a perturbá-la. Mas com Chase, não havia barulho. No
momento em que as coisas na vida de Payton pareciam incertas e mais do que
um pouco fora de controle, estar com Chase era fácil. Ele era fácil.
Ainda.
— Uau. Eu não sei. Este fim de semana, deixe-me ver... — Payton fingiu
meditar sobre isso. — Tinha alguma roupa que eu estava querendo lavar, mas
acho que se eu reorganizar minha agenda...
Chase riu. — Bem, agora que eu sei que eu fui classificado acima dos
lençóis, sinto-me muito melhor.
Payton olhou em seus olhos castanhos. Sim, isso é tudo o que era, ela
disse a si mesma, ela estava ocupada com o trabalho. Nada mais.
***
Mais ou menos uma hora depois, eles disseram boa noite. Depois de uma
breve discussão sobre os seus planos para a sexta-feira, Payton fechou a porta
atrás de si. Ela encostou-se à porta, refletindo.
Este era Chase. Um cara tão bom. Como ela também ansiava pelo
próximo encontro deles.
Agora, o que ela poderia fazer que superaria a humilhação da sua bunda-
nua no tribunal...?
gostava de dizer, todas as mulheres eram irmãs sob a mesma lua, então a Sra.
Justiça não era exceção. Ela foi gentil com Payton, de fato.
Levou apenas dois dias antes dela tropeçar em sua grande chance.
A melhor parte foi que Payton nem sequer teve que fazer nada. A
oportunidade apenas caiu em cima dela. Ela tomou isso como um sinal de que o
destino - também as mulheres, ela observou - estavam ao seu lado.
Quando Irma olhou para cima, Payton fez um gesto para ela entrar em
seu escritório.
— E... — Irma lançou à Payton um olhar, que ela estava chegando lá. — O
juiz não vai deixá-lo sair. Ele quer ouvir as alegações e ter uma audiência sobre a
moção. Mas o problema é, J.D. tem um depoimento marcado para esta tarde,
que era para começar, a tipo, 15 minutos atrás. O outro advogado e seu cliente
estão lá em cima e ameaçando sair se o depoimento não começar
imediatamente. Kathy foi lá para tentar atrasá-los.
Payton ignorou isso. — O que Kathy disse? Ela não parecia bem. Isso é
ruim? Quão ruim? Diga-me.
— Kathy disse que ele está pirando. Eu acho que ele ligou para o outro
advogado do tribunal e tentou explicar a situação, mas, aparentemente, o cara
foi um idiota sobre isso. E quando Kathy subiu para falar com ele e seu cliente, o
advogado disse que tinha voado da cidade de Nova York especialmente para este
depoimento e se não começasse imediatamente, ele iria apresentar uma moção
de sanções, exigindo ser reembolsado por sua passagem de avião, hotel, e
honorários de advogado.
— Na verdade, é o caso de Ben Gould. Mas ele está fora da cidade. — disse
Irma.
— Que pena. Quem é o cliente?
— KPLM Consulting.
— Ouch.
Tendo ido a todas as reuniões - como associada diligente que era - Payton
sabia que KPLM era o terceiro maior cliente da empresa. Ben não ia ficar feliz
em ouvir qualquer coisa dando errado envolvendo os assuntos deles.
Payton assentiu. Então ela virou-se em sua cadeira e voltou para a tarefa
muito importante de triagem do seu e-mail. — Bem, eu espero que dê certo para
ele.
— Eu acho que isso significa que você não está disponível para ajudar? —
perguntou Irma.
Não, ele não quer que eu saiba que ele está perdendo, Payton pensou
com satisfação. Mas ela mordeu a língua quando Irma saiu do escritório.
Uma vez sozinha, Payton teve um momento para avaliar o caso fortuito,
desta vez cuidadosamente, além dos inesperados acontecimentos.
Ela tinha acabado de ganhar.
E ela nem sequer teve que levantar um dedo para fazer tudo isso
acontecer.
Fora do seu escritório, Payton ouviu uma Kathy em pânico pedindo ajuda
à Irma.
Payton suspirou.
Piedade.
Ela voltou sua atenção para as tarefas imaginárias que ela estava tão
diligentemente executando.
Pobre J.D.. Ela poderia apenas imaginá-lo, preso no tribunal, disputando,
preocupado, imaginando que sorte era ter isso acontecendo agora.
Isso tudo era consequência dos seus atos, na verdade. Ele obviamente
tinha pegado muitos casos este último par de semanas antes da decisão de
parceria, tentando se mostrar. Assim, a bagunça que ele estava envolvido não
era problema dela. Além disso, ele não queria que ela ajudasse, de qualquer
maneira. Peça a qualquer um, mas à Payton não, ele tinha dito.
Piedade.
Por alguma razão, o sentimento parecia cada vez menos vitorioso a cada
momento que passava.
Dum-de-dum-de-dum.
***
Quando ele olhou por cima de sua mesa e a viu ali, Tyler parecia mais do
que um pouco surpreso. Payton entendeu isso. Ela provavelmente poderia
contar em uma mão o número de vezes que ela e Tyler tinham
conversado. Como o melhor amigo de J.D., ele estava de fato fora dos limites.
Surpreso como estava, Tyler sorriu, bem-humorado.
Ela calmamente examinou as pontas das unhas. — Não que seja da minha
conta, mas o depoimento é para algum caso importante que ele tem com KPLM
Consulting. Eu acho que é uma questão muito importante.
— Eu não acho que há tempo para isso. — disse Payton. — Kathy disse
que o advogado está pronto para ter um colapso e sair a qualquer momento.
50
É quando uma empresa ou outra entidade civil designa uma testemunha a depor em nome da
organização.
Payton suspirou em frustração. Será que ela tem que soletrar para ele?
— Sim.
Payton olhou para ele, horrorizada. — Meu Deus, menino! Você nunca
tomou um depoimento 30 (b) (6)?
Tyler parou seu estudo para olhar para ela. — Uau, você
soou exatamente como J.D. agora.
— Tyler, isso é tipo, uma grande coisa. — disse ela. — Estes depoimentos
30(b)(6) podem ser complicados. As testemunhas são geralmente muito bem
preparadas, uma vez que tudo o que disserem pode ser usado contra a empresa.
Payton falou com cautela. — Você está ciente da minha situação com J.D.,
não é?
Então, ele sabia o que estava pedindo a ela, Payton pensou. Ela continuou
a olhar para Tyler.
Payton jogou o cabelo para trás, decidindo ignorar essa pergunta. — Tudo
bem. — ela disse a Tyler com os dentes cerrados. — Eu vou fazer isso.
Ela ergueu um dedo. — Mas você vai me ajudar. Suba as escadas e diga ao
advogado e seu cliente que pedimos desculpas pelo atraso, mas que tudo foi
endireitado e o depoimento começará em cinco minutos. Apresente-se, e por
sua vez, tenha certeza de conseguir o nome do advogado. Depois volte aqui e
faça uma busca rápida no Martindale Hubbell e na Lexis Nexis51, encontre casos
notáveis manipulados, principais clientes, etc. Eu não vou ter tempo para
analisar tudo antes do início do depoimento, mas eu vou chamá-lo durante a
nossa primeira pausa e você pode me dar os destaques. Ok?
Com isso, Payton saiu do escritório e dirigiu-se pelo corredor para falar
com a secretária de J.D..
51
Bancos de Jurisprudência.
— Kathy eu vou precisar de tudo o que tem nos arquivos de J.D. para este
depoimento. — disse ela, logo que chegou à mesa da secretária dele. — Você
sabe se ele prepara esboços para seus depoimentos? Se você não conseguir
encontrar uma cópia nos arquivos, faça uma busca em seu computador.
Enquanto Kathy corria, Payton foi para seu próprio escritório. Irma a
olhou com curiosidade, enquanto ela passava.
***
— Não tem problema, Sr. Werner. — disse Payton, balançando a mão dele
em despedida. — J.D. entrará em contato com você para discutir o cronograma
do resto dos depoimentos. Mais uma vez, eu sei que ele está muito triste por
toda a confusão desta tarde. Infelizmente, o Juiz Pearson não o deixou com
muita escolha.
J.D. entrou na sala. Foi então que Payton percebeu como ele parecia
exausto. O que era particularmente notável, porque J.D. Jameson nunca parecia
cansado. Seu cabelo estava estranhamente despenteado e ele parecia sem fôlego,
como se tivesse sido atropelado logo após terminar sua audiência.
Payton simpatizou. Ela sabia o quão difícil deve ter sido o seu dia, ela já
teve alguns desses também. Por um momento, ela quase se sentiu mal por J.D..
— Não. — disse Payton. Embora, ela tenha feito uma nota mental para
futura referência - aquelas ideias não eram tão ruins.
— Não, claro que não. — J.D. fez uma careta. — Você nunca faria nada
que pudesse prejudicar a sua própria reputação. Tudo o que você fez para me
prejudicar teria que ser muito mais sutil.
Ele olhou ao redor da sala. Sua voz estava no limite quando ele disparou
perguntas para ela. — Onde estão Werner e a testemunha? Foram embora? Você
terminou tão rápido, né? Bem, esqueça. Vou trazê-los de volta para cá. Eu quero
reabrir este depoimento e corrigir a bagunça que você fez.
Payton olhou para ele. Portanto, este era o agradecimento que tinha por
ajudá-lo. Ela não sabia por que estava surpresa.
— Não há problema. — disse ela. Ela pegou sua maleta e tirou seu
computador portátil. Enquanto J.D. ficou ali, olhando furiosamente para ela,
com os braços cruzados sobre o peito, Payton abriu seu e-mail e encontrou a
transcrição em tempo real que o relator da corte tinha lhe enviado. Ela
rapidamente transmitiu a J.D..
— Feito. — disse ela. Ela agarrou seu laptop, fechou e jogou-o de volta
para sua pasta. Ela se levantou novamente para enfrentar J.D. — Isso foi
imediato o suficiente para você?
Seus olhos brilharam, e por um segundo, ele pareceu fazer uma pausa.
Por pelo menos pensar que a conversa poderia ter sido diferente.
Capítulo Quinze
J .D. tocou a
Como ela não respondeu, ele checou o endereço que tinha pesquisado em
seu Blackberry. De acordo com o diretório da empresa, ele estava no lugar certo.
Mais cedo, após Payton ter saído da sala de conferências, J.D. tinha se
dirigido imediatamente para o seu escritório e descarregado a transcrição do
depoimento que ela tinha enviado. Ele febrilmente mergulhou, esperando o
pior. Conforme a leitura avançava, ele continuou tenso, à espera de encontrar a
reviravolta, as coisas que ela tinha estragado para ferrar com ele, alguma
coisa. Qualquer coisa.
Mas o que ele tinha descoberto, dessa vez foi... nada. Sem truques. A
menos que alguém contasse o truque que Payton havia conseguido colhendo um
depoimento 30 (b) (6) muito bom, com antecedência de trinta segundos. Claro
que haviam algumas pequenas coisas, algumas linhas que J.D. poderia
questionar e tomar uma abordagem um pouco diferente, ou talvez não, mas, no
entanto, tudo o que ele pôde pensar foi...
Uau.
E justamente quando ele achava que não poderia se sentir mais idiota,
Tyler ligou e o deixou a par de tudo.
Em pé, sem rumo em sua varanda da frente, com mais nada a fazer, ele
olhou ao redor verificando o bairro. Várias casas geminadas no bloco, incluindo
a que presumivelmente pertencia a ela. A rua era arborizada e tinha uma
pitoresca lembrança da área urbana.
Ele gostou. Não tanto como gosta do seu arranha céu, onde o condomínio
tem vista para o lago, claro, mas ele achou um lugar aceitável para deixar o
Bentley estacionado na rua. E para J.D., isso dizia muito.
Ele apertou o botão do interfone novamente. A terceira vez vai dar certo,
como sempre dizem, o que era bom, porque dadas as circunstâncias, sorte era
algo que ele definitivamente precisava...
— Olá?
Um silêncio de morte.
Estalo.
— Já ouviu falar de telefone, seu idiota?
Botão.
— Escute, eu estou aqui fora há quinze minutos. Por que você demorou
tanto tempo para atender?
Estalo.
J.D. mal.
Botão.
— Eu li a transcrição do depoimento.
Estalo.
Ela certamente não estava facilitando as coisas. Mas ele esperava isso.
Botão.
***
Os olhos de Payton observaram rapidamente seu cômodo dianteiro e a
cozinha, certificando-se que eles estavam apresentáveis. Não que isso
importasse, porque: (a) era o idiota e (b) ele não ia ficar. Seu apartamento era
seu santuário, o que significava 100 por cento livre de J.D..
Ela abriu a porta da frente pensando que iria pegá-lo nas escadas e
impedi-lo de passar. Mas em vez disso, encontrou-o já de pé ali. Na sua frente. A
forma rápida que ela abriu a porta o pegou desprevenido.
— Não.
— Ótimo. Obrigado.
— Pois bem, este é o lugar onde você mora. — ele disse, como se
fascinado, um homem que havia sorrateiramente entrado em campo inimigo. —
Espaço agradável. Parece que você tem uma grande quantidade de luz. — ele
olhou por cima. — Só você?
Primeiramente, Payton não disse nada. Ela simplesmente olhou para ele,
se perguntando o que diabos ele estava fazendo ali.
— Estou um pouco sedento. — acrescentou.
Ela pensou ter visto o menor traço de um sorriso em seus lábios. Ele
estava tentando ser fofo? Ou talvez ele só estivesse enrolando.
Tanto faz.
Havia algo sobre a maneira como ele olhou para ela, Payton
notou. Durante anos, suas expressões haviam oscilado em algum lugar ao longo
do presunçoso/arrogante, você-não-sabe-sobre-o-que-você-está-falando-
Clintonite52, para o mais frustrado gostaria-de-estrangular-você-mas-não-
tenho-tempo-para-pegar-sua-carga-horária. Mas ultimamente ele estava
diferente, e ela achava muito difícil entendê-lo.
Depois de olhar para o copo com água do lago Michigan que ela deu a ele,
J.D. tomou um gole da água, fez uma pausa, como se ainda estivesse
descobrindo a resposta para isso.
— Oh. Bem, você leu a transcrição do depoimento. Houve algo que você
não entendeu?
52
Essa palavra faz referência a Bill Clinton, ele foi presidente dos Estados Unidos. Ele foi cassado em
1998 sob a acusação de perjúrio e obstrução da justiça, mas foi absolvido.
Ela levantou uma mão. — Calma aí, amigo. Eu não fiz isso para ajudá-lo.
Payton, ela mesma, tinha pensado muito sobre essa questão depois de ter
chegado em casa naquela noite. Então ela disse a J.D. a única resposta lógica
que ela tinha.
J.D. não disse nada a princípio. Então, ele acenou com a cabeça. — É
justo. — ele hesitou com a próxima parte. — Bem, independentemente das suas
motivações, a verdadeira razão que eu vim aqui hoje é porque eu... — ele
respirou fundo, como se necessitasse se estabilizar. — Eu queria te agradecer. E
me desculpar. Quando eu a encontrei na sala de conferências após o
depoimento, você tinha essa expressão de satisfação em seu rosto e, bem, eu
acho que eu presumi o pior.
— Oh, eu estava apenas esperando você dizer algo sarcástico sobre idiotas
e suposições.
Ela notou que ele estava observando-a. Mais uma vez. — O que?
J.D. sorriu. — Agora eu estou esperando que você faça a coisa com seu
cabelo. A pequena sacudida.
J.D. deu um passo mais perto dela. — Humm. A satisfação de ser uma
pessoa melhor?
Payton fez uma pausa, muito intrigada com isso. — Você iria admitir
isso?
Os olhos de J.D. brilharam com diversão. Ele deu um passo mais perto. —
Neste contexto, Srta. Kendall, sim.
Ela tinha que inclinar a cabeça para trás para encontrar o olhar de J.D.,
eles estavam, de repente, de pé, muito perto um do outro. Uh-oh, ela pensou, foi
assim que tudo começou da última vez. Ela sentiu aquele ímpeto familiar e
pensou em dar um passo atrás, mas que o céu a ajude se ela desse um
centímetro para J.D. Jameson.
— Eu acho que agora eu devo a você. — a voz de J.D. estava mais suave.
Droga, se essa não era a coisa mais sexy que ela já tinha ouvido.
J.D. olhou para ela com uma expressão tímida, como se interessado em
ver o que ela faria a seguir. E pelo seu olhar, Payton percebeu que em algum
lugar no meio de tudo isso, o jogo entre os dois havia mudado.
Humm. Ele tinha realmente longos cílios para um cara que ela nunca
tinha notado antes. Quase atraente, como as mechas quentes loiras em seu
cabelo castanho. E por falar em seu cabelo, ela meio que gostava da forma como
o cabelo dele estava ligeiramente despenteado naquela noite. Algo sobre ele a
fez querer agarrá-lo por aquela gravata estilosa e deixá-lo bagunçado de
verdade, passando horas fazendo algumas coisas que ela suspeita que fossem
muito mais surpreendentes do que o depoimento desta tarde.
Não com J.D.. Ele era muito tipo A para o gosto dela. Ela apostaria que
ele seria controlador e dominador na cama. Apesar de que poderia ter
potencial...
Vendo que ela não tinha se afastado dele, J.D. levantou uma
sobrancelha. Payton viu os cantos da boca dele inclinarem-se em um sorriso, e
se ela não conhecesse melhor, poderia jurar que ele estava desafiando-a a fazer
uma jogada. Queria que ela fizesse um movimento, mesmo. E ela não teria que
fazer muito, se inclinasse a cabeça poucos centímetros, eles estariam se
beijando.
Humm.
Ela se perguntava se J.D. tinha polo ponies53 em seus preservativos.
J.D. inclinou a cabeça, mas não se mexeu, então para apressá-lo, Payton
colocou a mão em seu peito, empurrando-o para a porta, uau, ele tinha um
peito muito firme para alguém tão extravagante.
— Agora, você tem que ir agora. — ela disse enquanto abria a porta da
frente e, literalmente, empurrava-o para o corredor.
— Não. Você já disse o que veio para dizer. Desculpas aceitas, não haverá
mais sabotagem, etc., etc. E, à propósito, eu não posso acreditar que você
realmente me chamou de 'mulher'. Isso é quase tão ruim quanto “cupcake”.
Payton meio fechou e meio bateu a porta atrás dele. Bom, ela não queria
ouvir mais nada do que ele tinha a dizer de qualquer maneira e agora, pelo
menos, ele estava fora do seu apartamento, e por falar nisso, ele realmente
precisava melhorar suas reações e...
53
É uma marca muito famosa e cara americana, Polo Ralph Lauren, ela faz essa referência por J.D. só
usar coisas assim, roupas de marca.
Uma batida impaciente soou na sua porta. E então, novamente, mais alta.
J.D. continuou, mais calmo agora, sua voz firme. — Quer dizer, sobre o
que você disse à Tyler.
O gelo em torno de seu coração, ela sentia parte dele rachar e derreter
logo em seguida. E, pela primeira vez em oito anos, ela não tinha ideia do que
dizer a J.D. Jameson.
Com isso, J.D. se virou e saiu, dessa vez de verdade, e Payton fechou
lentamente a porta atrás dele. Ela resistiu ao impulso de olhar pela janela da
frente e ver enquanto ele deixava seu prédio. Em vez disso, ela ocupou-se
pegando o copo vazio que ele tinha deixado para trás. Ela lavou o copo na pia da
cozinha e o colocou fora da sua vista, ansiosa para se livrar dos vestígios de sua
visita.
Ela sabia que algo tinha mudado naquela noite e, francamente, ela queria
ignorar esse fato - ou pelo menos, tentar - e fazer as coisas voltarem a ser como
eram. Uma trégua era uma coisa, mas - Deus me perdoe - ela realmente
esperava que isso não significasse que J.D. ia começar a ser legal com ela ou
qualquer coisa. De repente, estar em uma boa relação com ele poderia tornar as
coisas complicadas. E ela certamente não precisava de quaisquer complicações
no trabalho agora.
Realmente.
Capítulo Dezesseis
— O itenta
dólares por pessoa para um brunch, é melhor ter diamantes escondidos nessa
omelete.
Lex Kendall estava em forma típica naquela manhã. E nada iria desviá-la
tão facilmente.
— Vamos lá, filha. — Lex pediu. — Você sabe que a indústria avícola está
mais preocupada com atalhos financeiros do que proporcionar condições
humanas para os pássaros que descuidadamente maltratam. Eu não vejo como
você pode ignorar isso.
Payton resistiu à vontade de morder a isca. Ela sabia que estava forçando
a barra, trazendo sua mãe aqui. Mas não haviam tantos restaurantes
vegetarianos na cidade, muitos dos quais ela já havia levado sua mãe nas visitas
anteriores, e ela queria tentar algo diferente, algo mais sofisticado. Ela sabia,
Laney estava certa, se ela se tornasse sócia, estar torno de dinheiro era algo que
era melhor se acostumar, porque certamente ela teria o suficiente. No ano
passado, o associado mais novo em sua empresa ganhou 1,1 milhões de
dólares. E como Payton certamente nunca foi de jogar dinheiro fora,
francamente, ela nunca teve nada antes de começar na empresa - com o salário
ela podia se dar ao luxo de levar a sua mãe para um brunch decente.
Com este pensamento em mente, em vez de discutir com sua mãe, Payton
sorriu amigavelmente. — Talvez, uma vez que temos tão pouco tempo juntas
neste fim de semana, nós poderíamos debater sobre as virtudes de uma dieta
vegan em outro momento. Vamos apenas ter uma refeição agradável, vamos,
mamãe? — ela fez um gesto com a taça para o restaurante. — Quando eu
perguntei no escritório, as pessoas disseram que este era o melhor brunch na
cidade no dia dos pais.
Embora possa parecer estranho para algumas pessoas, o fato de que ela
celebrava o Dia dos Pais com a sua mãe, deu a Payton uma pequena pausa. Era
algo que as duas faziam a cada ano, sozinhas, continuando a tradição depois que
Lex e seu marido se mudaram para San Francisco, quando Payton começou a
faculdade.
Payton tinha praticamente nenhuma memória do seu pai, pois ele e sua
mãe se separaram logo depois que ela nasceu e ele tinha vindo visitá-la
esporadicamente por apenas um par de anos depois. E enquanto a falta de
interesse do seu pai em manter um relacionamento, era algo que a tinha
incomodado mais cedo na vida, aos 32 anos já não incomodava mais. Sua mãe
raramente falava sobre Shane, e até mesmo Payton pouco se referia a ele, e
como resultado, ela se sentia totalmente desconectada dele. Ela nem sequer
levava o sobrenome do seu pai, já que ele e sua mãe nunca tinham se casado.
Payton não teve a coragem de dizer a sua mãe que a razão dela ter se
vestido como uma “cigana” era porque ela sabia, até mesmo para uma menina,
que não podiam se dar ao luxo de desperdiçar dinheiro em roupas compradas
em lojas.
— Agora parece que você está em uma passarela em Paris ou algo assim.
— continuou Lex, apontando para a roupa de Payton.
Se Payton, alguma vez já se perguntou como ela tinha chegado a ser tão
sarcástica, bem, pergunta respondida.
Lex olhou por cima da sua bebida, com o silêncio de Payton. — O que?
Lex sorriu. — Aw, Sis, é a melhor coisa que você já me disse. Por causa
disso, eu não gostaria de salientar que uma vaca teve que morrer, a fim de
tornar-se a sua bolsa.
— Vamos falar de outra coisa. — ela disse à sua mãe. Ela perguntou sobre
Steven e suas filhas, que estavam em torno da mesma idade que Payton e viviam
em Los Angeles com seus maridos. Sua mãe falou sobre seu trabalho no abrigo,
as circunstâncias que trouxeram alguns de seus moradores mais recentes e, em
seguida, em uma rara expressão de interesse, realmente fez a Payton uma ou
duas perguntas sobre como as coisas estavam indo com a empresa. Payton
respondeu vagamente, não vendo razão para se aprofundar em toda a questão
da sociedade, uma vez que não havia qualquer notícia ainda sobre isso. Em vez
disso, ela falou sobre seus casos, recebendo uma risada da sua mãe quando ela
lhe contou sobre a imagem de dois metros com um pênis que foi um Anexo de
seu julgamento atual.
— Eu não acho que me faça uma puritana só porque eu não quero ouvir
minha mãe falar sobre seus amores liberais e suas travessuras sexuais do
passado. — ela respondeu.
— Tudo bem, vamos falar sobre você em vez disso. — Lex jogou de volta
para ela. — Você está saindo com alguém atualmente?
Payton tinha debatido no fim de semana se devia dizer a sua mãe sobre o
Perfeito Chase. Ele estava fora da cidade, visitando seus pais em Boston, e
quando ele voltasse naquela noite, ele teria planos com seus amigos, por isso
apresentá-lo à sua mãe não estava em discussão.
Era estranho, porque pela primeira vez ela estava namorando alguém
com quem até sua mãe teria problemas para encontrar falhas, mas ainda assim,
hesitou em mencioná-lo. Talvez ela só não quisesse dar sopa para o azar.
***
— É você.
— Sou eu.
— Você está aqui com sua família, então? — perguntou J.D.. Ele parecia
curioso sobre isso.
Antes que Payton pudesse responder, ela ouviu uma tosse não tão sutil
atrás dela. Merda! Sua mãe. Ela tinha esquecido completamente dela.
J.D. apontou. — Hum, Payton? Acho que alguém está tentando chamar a
sua atenção.
Oh, maldito inferno. Payton se virou e viu o olhar feroz - ninguém coloca
Lex Kendall de canto e - relutantemente, fez a apresentação.
— J.D., eu gostaria que você conhecesse a minha mãe, Lex Kendall. Mãe,
este é J.D. Jameson. Ele trabalha comigo na empresa.
— Bem J.D., não é? — Lex levou com o que só poderia ser descrito como
um “tom”. — Deixando de lado seus preconceitos patriarcais flagrantes em
assumir a necessidade da presença de uma figura familiar do sexo masculino,
sim, eu tive um bom brunch, obrigada.
Mas em vez disso, ele parecia divertido. — Meu erro, senhorita Kendall,
— J.D. se corrigiu. — E obrigado. — ele olhou para Payton, os olhos
dançando. — De repente, tudo se tornou muito mais claro.
Ela estava prestes a dizer algo para liberar ela e sua mãe o mais rápido
possível, antes que este encontro que estava à beira de um desastre piorasse,
quando uma voz, uma mulher, veio por trás de J.D..
— Se você não pretende nos apresentar à sua amiga, J.D., talvez o seu pai
e eu devêssemos ir em frente e nos sentarmos à mesa.
Payton se virou para J.D., com olhos arregalados. Agora isso era
interessante. — Você tem pais. — ela disse.
Payton riu. Ela tinha se esquecido que J.D. poderia realmente ser
engraçado de vez em quando. Se você gosta de todo esse tipo de humor irônico.
— Não, eu quis dizer aqui, com você. — curiosa, Payton olhou por cima e
viu um casal de aparência distinta, com uns sessenta anos.
Ela se virou para sua mãe e sussurrou baixinho. — Se você deixar pra lá o
casaco, eu vou desistir de laticínios por uma semana.
Lex deu-lhe um olhar que era 100 por cento pura tranquilidade
maternal. — É claro, querida, se é tão importante para você. Faça-o por um mês.
Payton piscou, chocada. Seu pai tinha dinheiro? Esta foi a primeira vez
que ela tinha ouvido falar de tal coisa.
55
É uma espécie de marta castanho-escuro da Europa setentrional e partes do Norte da Ásia, um dos
mais valiosos animais produtores de pele.
Payton abafou uma risada. Ah, J.D. estava certo. De repente as coisas
tinham se tornado muito mais claras. Ela ouviu uma voz, baixa em seu ouvido.
— Você não tem que dizer isso em voz alta. Eu já sei o que você está
pensando.
Ela olhou por cima do ombro para ver J.D. de pé ao lado dela. — Você
acha que me conhece tão bem.
— Eu acho. — disse ele, ainda falando baixo para que os pais não
pudessem ouvir.
Payton não pôde deixar de sorrir com isso. Ela tinha uma visão dos pais
deles, e viu quando sua mãe, sem dúvida, em mais uma discussão, tirou um de
seus tamancos ecologicamente corretos e mostrou para Evelyn Jameson. A mãe
de J.D. parecia aflita.
J.D. se virou na direção aos seus pais e olhou a cena com diversão. —
Sempre há o bar do lobby.
Payton riu.
Agora foi a vez de Payton estudá-lo. Isso foi um convite? Difícil dizer. —
Isso soa tentador. — disse ela, imaginando que a resposta funcionava de
qualquer maneira.
— Tentador. — J.D. repetiu.
— Nós não queremos que a comida fique fria, querida. — Lex fez um
gesto para a caixa de comida para as pessoas sem-teto.
Ela e sua mãe esperaram na frente do hotel, nenhuma delas disse uma
palavra. Finalmente, Lex quebrou o gelo.
Mais silêncio.
— Por que você nunca mencionou que o meu pai tinha dinheiro? —
perguntou Payton.
Lex deu de ombros. — Eu não sei. Eu não achei que isso fosse relevante,
eu acho.
Payton não engoliu a indiferença da mãe. — Será que isso tem alguma
coisa a ver com o motivo de vocês dois nunca terem se casado?
Por um momento, ela achou que sua mãe não fosse responder.
— Quando seus pais descobriram que eu estava grávida, disseram-lhe
para escolher entre mim e a herança. — disse Lex. — Ele não me escolheu. Ele
não nos escolheu.
— Você não acha que isso é algo que eu poderia querer saber? — Payton
não conseguia acreditar que ela ficou sabendo pela primeira vez sobre isso
depois de todos esses anos. Esclareceu tanto.
Sua mãe se virou para ela. — Escute Payton, eu sei que você não liga
muito para o que eu digo, mas confie em mim. Fique longe dele.
No início Payton pensou que sua mãe queria dizer que ela devia ficar
longe de Shane, seu pai, mas depois percebeu que ela estava se referindo ao
J.D..
Lex estudou sua astúcia. — Não foi isso que pareceu para mim.
— Eu não sabia que você podia nos ver através de todas aquelas farpas
espirituosas que você estava jogando para a mãe de J.D..
— Eu vi o suficiente.
— Porcaria de cavalheiro.
Sua mãe olhou para ela com cautela. — Eu acho que você foi muito mole,
é o que eu acho. — ela resmungou.
— E ntão,
espere. Onde foi este grande momento entre você e Payton? Eu perdi isso?
— Tudo bem, sei lá, talvez eu tenha usado a palavra 'momento', mas eu
não quis dizer, você sabe, “momento”. — ele ironicamente enfatizou a palavra,
tentando demonstrar “aspas” com os dedos, mas ele realmente odiava quando
as pessoas faziam isso.
— O que eu quis dizer foi que houve uma breve ocasião no restaurante,
quando eu pensei que nós estávamos... — ele procurou as palavras certas. — Nos
dando bem. — ele decidiu que era a forma mais segura para descrever a sua
interação e de Payton naquela manhã.
— Você achou que você e Payton estavam se dando bem. — Tyler repetiu.
Segurando a taça pela haste, J.D. mexeu um pouco no copo com seu
Scotch fazendo um redemoinho, observando o líquido girar no cristal. — Eu não
sei. Acho que vi algo diferente em seu olhar.
— Bem, eu odeio ser o cara a falar isso, mas seja lá o que estiver
acontecendo, a diversão está prestes a acabar. Vocês têm de tudo para que em
cerca de, oh. — Tyler olhou dissimuladamente para o relógio. — Menos de duas
semanas, até a empresa fazer de um de vocês sócio e... bem, você sabe.
Algumas semanas atrás, J.D. nunca teria acreditado que ele estaria tendo
esses pensamentos. Mas as coisas tinham mudado. E não só para ele, para
Payton, também. A menos que ele estivesse realmente, lendo-a muito, muito
errado.
Por outro lado, se ele quisesse que alguma coisa acontecesse, a hora era
agora.
No que talvez tenha sido a primeira vez em sua vida adulta, J.D. não
sabia o que fazer. Ele limpou a garganta. — Eu preciso do seu conselho, Tyler.
J.D. tirou um dos charutos da caixa. Tyler pegou uma caixa de fósforos,
acendeu o seu charuto e em seguida entregou os fósforos para J.D.. Depois de
acender o seu próprio charuto, J.D. recuou em sua cadeira, fumando e girando,
como numa degustação, sem inalar a fumaça.
Depois que eles ficaram em silêncio por alguns momentos, Tyler olhou
para cima. — Eu posso começar, se você quiser.
— Oh, assim é melhor. — J.D. fez um gesto para que ele prosseguisse.
J.D. ergueu a mão, ofendido. — Espere. Isso deveria ser sobre mim?
— Tyler - eu levo uma vida encantada, não levo? Eu dirijo o carro certo,
eu uso as roupas certas, eu sou fantástico - se for justo comigo - em cada esporte
que eu pratico, bem, vamos ser honestos aqui. — ele piscou sempre-tão-
orgulhoso. — As mulheres vão me amar.
J.D. não achou graça. — Sua vida dificilmente tem sido menos cha...
— Há. Tente Psych 10157. Seu ego está tentando equilibrar os desejos do
seu inconsciente enquanto perturbam os objetivos do seu superego.
— Por favor, você apenas ama o seu inconsciente para ter todo superego.
J.D. fez uma pausa. Ele não teria colocado dessa forma, mas chegou a
pensar nisso...
— Escute aqui. — disse ele a Tyler. — Dê-me a sua opinião honesta. Você
acha que seria totalmente louco se eu...
— De jeito nenhum!
Surpreso ao ver um rosto que ele não via desde a faculdade de direito,
J.D. levantou-se sorrindo, quando o homem se aproximou.
Chase lhe deu um tapinha no ombro. — J.D. Jameson. É bom vê-lo. — ele
apontou para Trey, explicando. — Encontrei com Trey no outro dia quando eu
56
É um psicólogo dos Estados Unidos que tornou-se conhecido do grande público ao participar nos
programas de Oprah Winfrey como consultor de comportamento e relações humanas.
57
Livro de Psicologia de Paul Kleinman.
estava saindo do tribunal. Ele me falou sobre este lugar e disse que eu deveria
parar hoje à noite. — ele olhou J.D.. — Eu não o vejo desde a formatura. Você
me desejou sorte e disse algo sarcástico sobre salvar o mundo.
J.D. sorriu. Dizer algo sarcástico? Quem, ele? Por mais que ele e Chase
não saíssem regularmente na faculdade de direito, ele gostava. Ele poderia
resumir Bellamy em uma palavra: inofensivo. Um pouco de um liberal
benfeitor, e talvez muito agradavelmente passivo na mente de J.D., mas
inofensivo. Lembrou-se de um debate estridente que ele e Chase tiveram uma
vez na aula de Direito Constitucional, falando sobre o direito da Segunda
Emenda de portar armas. O que ele lembra mais claramente sobre esse debate
era que Chase tinha desistido muito facilmente.
J.D. sorriu. É claro que estava. Ele incluiu Tyler na conversa, que tinha
estudado com eles na faculdade de direito, um ano atrás deles. Os três
rapidamente começaram a falar sobre o trabalho.
— Litigioso.
— Sim, Payton Kendall. — Chase olhou para ele com curiosidade. — Você
parece um pouco surpreso.
Não importava, J.D. disse a si mesmo. Realmente. Ele estava bem com
isso.
Ele se sacudiu com a pergunta de Chase. — Não, não mesmo. Por que eu
iria estar surpreso? Você e Payton têm muito em comum. Bom. Sim. Isso é
ótimo. Tyler, você ouviu isso? Chase está namorando Payton Kendall. Você
conhece Payton, não é?
Tyler deu a J.D. um olhar, dizendo que ele precisava rapidamente calar a
boca.
— Payton não mencionou nomes, mas ela me disse que havia uma forte
concorrência em sua tentativa de se tornar sócia. — disse Chase.
Mas por que Chase estava perguntando a ele sobre isso? Este era o
seu negócio pessoal com Payton. De ninguém mais.
— Payton e eu somos ambos parceiros este ano, sim. — foi tudo o J.D.
disse.
J.D. fez uma avaliação rápida. Chase parecia ter cerca de cinco a dez
centímetros a mais que ele, talvez uns 6 quilos a mais também. Sem
problemas. Se a pequena árvore começar a balançar, chegando a um
acontecimento mais forte, J.D. estava certo de que ele poderia se defender.
Além disso, ele nunca iria ser esse tipo de cara. Francamente, ele
não queria ser esse tipo de cara. Ele só não era moldado dessa maneira.
Então, com isso em mente, ele apertou a mão de Chase com firmeza.
— Foi bom ver você, também, Chase. — disse J.D.. — E boa sorte. Com
tudo. — ele até conseguiu dar um sorriso educado.
Afinal, mesmo que não pudesse ser o tipo de cara que Chase era, ele
poderia pelo menos ser um cavalheiro.
***
J.D. e Tyler foram para fora do bar tentar pegar um táxi. Além de estar
excepcionalmente frio naquela noite, tinha começado a chover e encontrar um
táxi disponível estava provando ser um desafio.
Tyler não tinha trazido o assunto Payton desde a conversa deles com
Chase e por isso J.D. estava grato. Ele não tinha certeza se queria falar sobre ela
naquele momento. Ele precisava pensar, para processar este novo
desenvolvimento de que ela estava namorando alguém, e descobrir exatamente
o que isso significava. Se isso significasse alguma coisa.
J.D. olhou para Tyler. Piadas à parte, eles tinham sido melhores amigos
desde a escola primária e normalmente, ele colocava mais peso nas opiniões de
Tyler do que praticamente qualquer outra pessoa. Mas as coisas mudaram no
último par de horas.
— Não é tão simples assim. — disse ele. — Na verdade, não era simples
antes e agora é menos ainda.
— Por quê? Por causa do Chase? — perguntou Tyler.
Tyler descartou isso com um aceno. — Você vai deixar uma coisa como
essa pará-lo?
J.D. não achou que ele queria saber. Realmente. Mas ele perguntou de
qualquer maneira. — O e P?
Tyler balançou a cabeça. — Ria se quiser, mas deixe-me dizer uma coisa:
as mulheres são loucas por esse livro. E ainda mais loucas pelos homens que o
leem. Se eu pretendo levar uma garota para casa, eu deixo uma cópia do livro na
minha mesa de centro e vamos dizer, que frequentemente elas curtem. E você
sabe o que? Não é um mau contador histórias. Eu gosto de colocar um belo bule
de chá Earl Grey, talvez uma fatia de biscoito de amêndoa, e, sim, tudo bem,
continue a rir amigo, mas eu aposto que tenho transado mais do que você
ultimamente.
— Eu não disse que havia um cobertor. — Tyler fez uma pausa. — Bem. Às
vezes pode haver um cobertor.
Tyler teve que pensar. — Onde eu estava indo com isso...? — ele estalou
os dedos. — Oh, sim, Orgulho e Preconceito. Mulheres e todo o complexo
Darcy. Para Payton, é você.
— Mas ela não fica com o idiota. — disse Tyler. — Veja... você só não
entende as mulheres da maneira que eu faço J.D.. Elas querem tudo: uma
carreira, martinis de maçã, independência financeira, sapatos de salto, mas, ao
mesmo tempo, e isso elas nunca vão admitir, elas são atraídas por homens
patriarcais que são dominantes e controladores. Essa é a essência do complexo
de Darcy. Ele pode ser um idiota, mas ele é um idiota que fica com a garota no
final.
J.D. ergueu a mão, muito, muito triste e pediu. — A versão curta por
favor. Nós já estamos na porta da sua casa.
Tyler olhou pela janela e viu que o táxi tinha realmente parado em frente
do seu prédio. Voltou-se para J.D. — Okay. A versão curta, a mais curta: ele
consegue a garota sendo bom para ela.
J.D. esperou. — É isso aí? Ele é bom para ela? Isso é tão... sem graça.
J.D. parou ali. — Ei, nós estamos apenas falando em hipóteses, ok? Ainda
não decidi se eu quero ganhar.
Ótimo. Obrigado pela ajuda. J.D. deu ao taxista o endereço dele. Ele
olhou pela janela enquanto o táxi fazia o seu caminho pelos seis blocos indo
para sua casa. Quando eles chegaram, J.D. alcançando através do divisor,
entregou ao taxista uma nota de vinte e lhe disse para ficar com o troco.
O motorista se virou. — Ei, o seu amigo te deu conselhos muito
estranhos. — ele era um homem aparentando ser um quarentão, vestindo uma
camisa de flanela esfarrapada e um boné, com sobrancelha grossa e um sotaque
de Chicago acentuado que J.D. nunca tinha ouvido. — Ele parecia um pouco
fora da casinha, se você entende o que quero dizer. Eu acho que não deveria
ouvi-lo.
— Porque todo mundo sabe que Darcy não ganha Lizzie apenas por ser
bom.
***
Em casa, mais tarde naquela noite, depois que J.D. fez as verificações
finais da noite, olhou seus e-mails, revisou o trabalho e o correio de voz do
telefone celular e da sua casa, estava convencido de que não havia questões de
trabalho que exigiam sua atenção imediata. Pensou no conselho de
Tyler. Descobrir o que você quer. E foi então que J.D. percebeu.
Como ele havia dito ao Tyler, as coisas não eram tão simples. Chase
deixou as coisas ainda mais complicadas. Claro que deixou. Talvez Payton
realmente gostasse dele. J.D. podia ver os dois juntos, com tudo o que tinham
em comum, eles só pareciam fazer sentido.
Tyler tinha desconsiderado isso e talvez para ele, Chase e todos os outros
obstáculos, só faziam da questão Payton uma intriga melhor, por outro lado,
Tyler não estava concorrendo para ser o parceiro daquele ano. Tyler também
não estava competindo com Payton pela única vaga na sociedade. E Tyler
certamente não tinha a história que ele teve com Payton. Oito anos de história.
Era um longo tempo. Isso atingiu J.D. então, ele havia se tornado tão
afetado por “bater” em Payton, que não havia dirigido sua ira onde ele deveria:
na empresa. Eles foram os que colocaram ele e Payton nessa posição. Entrar na
sociedade nunca foi uma garantia, mas depois de todo o trabalho duro, ele
merecia mais. Ela merecia mais.
***
Payton ouviu uma batida na porta e olhou para cima. Em vez de Brandon,
ela viu J.D. parado na porta. Ele estava armado com um copo de Starbucks.
Caramba.
58
Autoridades de trânsito de Chicago.
— Eu notei que você parece estar atrasada. — disse ele. — Eu não acho
que você teria tempo para agarrar isso no seu caminho para o tribunal. Um
grande copo de baunilha com leite sem açúcar, certo? — ele perguntou,
apontando para o café. — Eu ouvi você dizer isso para Irma algumas vezes. — ele
acrescentou rapidamente.
Payton olhou para o copo. Depois para J.D.. Era uma armadilha, tinha
que ser. Ela permaneceu onde estava.
Payton sorriu. Haha. Jogar nela? Como se isso tivesse passado por sua
mente.
— Não era nisso que eu estava pensando. — ela assegurou assim que se
aproximou e pegou o copo. Ele certamente estava levando a sério a trégua, ela
pensou. Como é doce.
J.D. piscou. — Nada do que possa ser detectado pelo seu cheiro, de
qualquer maneira.
Payton parou no meio do gole e segurou o líquido em sua boca. Ele estava
brincando, é claro. Payton sorriu e balançou um dedo para que ele soubesse que
ela estava na brincadeira. Ah, J.D. Você é engraçado cara. Ela olhou ao redor
do escritório. Sério, por que não havia nunca uma escarradeira por perto
quando ela precisava de uma?
— Eu estou brincando, Payton. — disse J.D.. — Você não tem que ficar tão
chocada. Eu só estou tentando ser... — ele hesitou. — Bom?
Payton quase engasgou. — Bom?
J.D. assentiu. — Claro. Chame isso, você sabe, um gesto. — ele olhou ao
redor do escritório. — Então, como está o indo o seu julgamento? Do pouco que
eu vi do seu sapato, uh... e então você... bem, você estava lá, você sabe o que
aconteceu - parecia que o júri estava do seu lado. O que você acha?
J.D. piscou inocentemente para ela. — O que quer dizer, com o que eu
estou fazendo?
Payton olhou-o com cuidado. — Você tem certeza que está bem? — ele
estava agindo de forma estranha. Talvez ele estivesse doente.
— Bem... as coisas estão indo bem, eu acho. Supondo que não haja
nenhuma surpresa, devemos começar a fechar os argumentos em dois
dias. Obrigada por perguntar.
— Claro.
Ainda persistente.
Payton fez um gesto para o café. — Obrigada pela Starbucks. — talvez ele
estivesse esperando por uma dica.
Payton balançou a cabeça ao vê-lo sair. Qualquer que seja o inferno que
foi isso, ela não tinha ideia.
— E u acho
Seis palavras tão simples, mas Payton odiava ouvi-las. Todo mundo
odiava ouvi-las.
Fazia parte de uma mensagem de correio de voz que Chase tinha deixado,
que ela ouviu pela primeira vez quando voltou para o escritório depois de
terminar no tribunal. Tinha sido um longo dia, o juiz tinha os dispensado mais
tarde do que o habitual - ele estava tentando garantir que o julgamento
terminasse, como previsto, em dois dias. Payton foi exterminada, vaporizada,
como ela foi durante todo o julgamento nos dias que suas testemunhas foram
interrogadas pelo conselho de oposição. Ela, pessoalmente, achava que era a
coisa mais desgastante que um advogado tinha a fazer: proteger suas próprias
testemunhas durante o interrogatório e rezar, rezar, rezar que elas não
dissessem nada estúpido.
Assim, não era necessário dizer que, quando ouviu pela primeira vez a
mensagem de Chase em que, além de querer “conversar” - ele sugeriu que eles
se encontrassem em algum café chamado de Fixx, ela hesitou e, sim, como a
terrível pessoa que ela era, Payton pensou em não ligar para ele de volta. Mas
então a culpa se estabeleceu (ele é um cara tão legal, ele é amigo de Laney e
Nate), seguida de racionalização (ela só ficaria por meia hora, em seguida,
voltaria ao escritório para trabalhar), e uma curta corrida de táxi mais tarde,
aqui estava ela, prestes a começar seu terceiro latte do dia, quando ela sorriu se
desculpando com Chase, porque, é claro, ela estava 15 minutos atrasada.
— Eu sinto muito. — ela disse a ele pela segunda vez. Ela estava exausta
com tudo que está acontecendo no trabalho e, incrivelmente, um pouco ligada
com toda a cafeína.
Eles pegaram uma mesa perto da frente da loja de café, nas janelas. Como
Payton tinha aprendido rapidamente quando ela equivocadamente ordenou um
“grande”, o Fixx era um desses lugares independentes, do tipo nós-mijamos-na-
Starbucks que atendiam a uma mistura eclética de multi-tatuados/grunge
perfurados e tipos góticos para uma multidão de literatos de cachecol e gola
rolê. O tipo de lugar que sua mãe adoraria.
— Você disse que queria conversar? — ela incitou Chase, não tentando
apressá-lo, mas... ok, tudo bem, ela estava tentando apressá-lo.
Payton não tinha ideia do que Chase estava falando. Embora ela tivesse
pego uma coisa. — Você falou com J.D. Jameson? Você o conhece?
Claro. Payton sabia que os dois tinham ido para Harvard; ela não sabia
por que não tinha concluído que estiveram na mesma classe. Ela estava
interessada em ouvir como J.D. tinha sido na faculdade de direito,
especialmente porque há anos ela o via quase como um personagem
unidimensional: o Vilão, o Arqui-inimigo, o Inimigo. Fazendo isso, tinha sido
mais fácil para ela desprezar todas as vezes que ele tinha sido um idiota com
ela. Mas agora... bem, as coisas tinham mudado e ela se viu querendo saber
mais sobre ele, coisas mais pessoais. Para começar, ela estava muito curiosa
para saber o que “J.D.” representava.
Payton percebeu, porém, que agora não era o momento de pedir a Chase
um tour por trás dos bastidores. — Então, você encontrou com o J.D. ontem à
noite, e estes dois e dois que você colocou juntos são, o que, exatamente?
— Que ele é aquele com quem você está competindo contra para se tornar
sócia. — disse Chase. — E agora eu entendo totalmente porque você está tão
estressada nos dias de hoje. Eu não gostaria de estar contra J.D. também.
Chase foi rápido para assegurá-la. — Claro que você é, é que saiu errado.
— ele disse em tom de desculpa. — O que eu quis dizer é que eu sei o quão
estressante isso deve ser para você, por causa do jeito que J.D. é.
— Significa?
Payton riu. — Bem, então, nós precisamos conversar. Porque você acabou
de me descrever.
Bem, sim. Por outro lado, ela também. E em outra nota, Payton achou
muito interessante que Chase tinha pensado que ela estava ficando “muito
exaltada” para se tornar sócia. Quem era ele para decidir o nível adequado de
importância que ela deveria colocar no avanço da sua carreira?
E depois havia a coisa que ele disse a ela na outra noite, ao sair de sua
casa. Eu teria feito aquilo por você em um piscar de olhos. Payton tinha
passado por aquelas palavras umas cem vezes em sua cabeça. Ela precisava ser
cuidadosa quando se tratava de J.D.. Ela tinha que se proteger; ela não queria
interpretá-lo mal, não podia arcar por dar erroneamente demasiada
importância a algo que para ele talvez significasse apenas uma cortesia
profissional.
— Eu não quero ser rude, Chase, mas eu realmente tenho que voltar para
o escritório. — disse ela. — Como um último esforço, a autora mudou para
atacar algumas das nossas instruções do júri e o juiz quer ouvir nossos
argumentos amanhã. — explicou ela. — Então é por isso que você me pediu para
encontrá-lo aqui? Para falar sobre J.D.?
Primeiro, Payton não sabia o que dizer. Ela não estava pronta para ter
essa conversa, pelo menos não agora, de qualquer maneira. Ela respirou fundo.
— Sim, você poderia dizer isso. — disse Payton, exalando com uma risada
nervosa.
Chase alcançou através da mesa e pegou sua mão. — Olha, nós não
precisamos terminar essa conversa agora. Eu apenas pensei que isso era algo
que eu precisava dizer. E eu odeio falar sobre essas coisas por telefone.
Payton assentiu. Ela provavelmente era uma tola por não dizer
imediatamente, não, é claro que ela não queria que ele se afastasse. Mas Chase
estava certo: ela precisava pensar antes de responder. Agora mesmo, ela estava
confusa e, por mais que odiasse admitir, lutando contra o desejo de verificar o
relógio. Mas desde que ele tinha trazido à tona o assunto, ela respondeu o mais
honestamente que pôde. Ele merecia isso, pelo menos.
***
De volta ao escritório.
Eram quase sete horas, o que significava que os secretários foram embora
e o escritório estava quieto. Quando Payton chegou a seu escritório, ela viu que
Brandon tinha deixado três pilhas de casos sobre a mesa para sua revisão - os
resultados da sua pesquisa em cada uma das três instruções do júri que o autor
tinha contestado. Infelizmente para Payton, cada pilha era de pelo menos dois
centímetros de espessura, o que significava que suas chances de deixar o
escritório em qualquer momento próximo eram inexistentes.
Ela apenas tinha começado a abordar o primeiro monte de casos, quando
ouviu uma batida na porta. Ela olhou para cima e viu Laney.
— Ei. Por que você ainda está aqui? — perguntou Payton. Ela baixou a voz
para um sussurro. — Eu pensei que esta noite era a grande noite. — Laney -
então Payton tinha descoberto ontem em uma conversa que incluía totalmente
demais informações - estava ovulando hoje. Ela tinha planejado sair mais cedo e
surpreender Nate. Etc.
— Estou saindo. — disse Laney. — A que horas você vai para o coquetel?
Porcaria.
— Mas você precisa ir. — Laney a advertiu. Ela assentiu com a cabeça
sutilmente na direção do escritório de J.D.. — Você sabe que ele vai trabalhar a
multidão, entrosando com Ben e todos os outros na Comissão de Parceria. Você
tem que estar lá, também.
Laney olhou para Payton, surpresa. — Eu não acho que eu já ouvi você
falar mal da empresa antes. Você é normalmente tão partidária. — ela balançou
a cabeça em aprovação. — Bom para você. Eu vou te dizer que, eu vou ficar e
ajudá-la a ler esses casos, e talvez você consiga pegar o final da festa.
Payton assentiu enfaticamente. — Sim. Vá. É bom saber que pelo menos
uma pessoa de alguma forma está conseguindo encontrar tempo para ter
relações sexuais durante o trabalho aqui.
— P or que
— De você?
Bom ponto. Talvez J.D. realmente estivesse tentando ajudar. Ele parecia
muito agradável sobre os gestos no dia de hoje, Payton pensou. Ou talvez ele
estivesse apenas confiante em suas chances de se tornar sócio. Sua mente ia e
voltava, e parte dela queria dizer a J.D. que ela não precisava da ajuda dele, que
ele não precisava devolver o favor do depoimento. Mas a verdade era que ela
poderia realmente usar a ajuda, e a segunda verdade, era que ela meio queria
que J.D. ficasse - e não só porque ela não queria que ele fosse para o coquetel de
recepção e trocasse ideias sem ela.
Ele se sentou em uma das cadeiras em frente à sua mesa. — Por que eu
não começo com essa pilha aqui? — ele apontou para a pilha de casos mais
próxima dele.
— Olha, só porque eu aceitei a sua oferta de ajuda não significa que este
não seja o meu caso.
— Bem, então, você está certamente livre para sair a qualquer momento...
Et cetera.
***
Humm.
Ela havia se movido e agora sentava em uma cadeira ao lado de J.D.. Era
mais fácil para eles trabalharem assim. Desta forma, ela não teria que manter-se
inclinada sobre sua mesa sempre que ele quisesse salientar algo que havia
encontrado em um dos casos que ele estava revendo. E essa era a história dela e
ela estava aderindo a ela.
As pilhas de casos sobre a mesa tinham sido reduzidas a quase nada. Foi
uma coisa boa que ela tinha voado através da sua pilha quando ela e J.D.
começaram a trabalhar juntos, porque seu ritmo desacelerou drasticamente ao
longo da última meia hora. Nos últimos 15 minutos, em especial, ela havia se
tornado, alguém poderia dizer, um pouco distraída. Ela encontrou-se
estranhamente com pensamentos que alguns poderiam chamar de um
pouco... atrevidos.
Payton hesitou. Será que ela se importaria com o que J.D. pensasse dela e
Chase? Surpreendentemente, ela viu que sim.
J.D. assentiu. — Vocês dois parecem ter muito em comum. — ele esperou
para ver onde ela iria chegaria com isso.
J.D. olhou para sua mão, em seguida subiu, até encontrar o olhar dela. —
O que é que você realmente quer saber, Payton?
Ela perguntou algo que ela tinha se perguntado nos últimos dias. — Por
que você está sendo tão bom para mim agora?
J.D. se inclinou para frente em sua cadeira. Ele olhou diretamente nos
olhos dela, e Payton de repente se viu se perguntando por que ele tinha levado
oito anos para olhá-la dessa forma.
Percebendo isso, Payton só tinha uma coisa a dizer. — Oh... Não. — ela
suspirou.
Só que ela não tinha exatamente a intenção de dizer isso em voz alta.
Payton não podia dizer se ele estava divertido ou com raiva. Ela abriu a
boca para explicar, mas foi interrompida por uma batida na porta.
— É Brandon.
— Claro.
Vinte minutos.
***
— Bem, pelo menos agora eu posso dizer que eu montei no Bentley
infame.
J.D. percebeu e riu. — Sim, realmente, você é. Em oito anos, eu não acho
que eu já vi você se abstendo de comentar sobre qualquer coisa.
Tinham chegado à porta da frente. Payton se virou para J.D. — Isso não é
verdade.
Payton olhou para ele. — Eu não comentei sobre o fato de que você
estacionou seu carro na rua, em vez de deixar-me aqui na frente. Porque se eu
tivesse comentado isso, eu teria dito que você parece pensar que vai entrar.
— Talvez eu esteja apenas tendo certeza que você entre com segurança. —
disse ele enquanto subiam as escadas para o apartamento dela. — Chame-me de
antiquado. — então ele saltou à frente de Payton, andando de costas e de frente
para ela. — Ou espere - é irritado, imbecil, dono-de-pony, miserável-em-dar-
amor, só-bebedor-de-Scotch-no-gelo, minha-esposa-fica-melhor-com-meu-
sobrenome idiota machista!!? De alguma forma, eu sempre chego aos dois
misturados.
— Eu não sei... — ela disse. — Me faz lembrar que, isso foi antes ou depois
de você me chamar de teimosa, irritante, motorista-de-Prius, com-ombreiras-
no-terno, que -‘ficar-em-casa’-com-a-mãe-é-uma-ofensa à sua feminazi.
Ela abriu a porta e entrou em seu apartamento. Ela jogou a pasta e bolsa
para o sofá da sala.
J.D. a seguiu para dentro, fechando a porta atrás deles. Ele sorriu
ouvindo suas palavras atiradas de volta para ele. — Depois, definitivamente
depois. É assim que tem sido desde o início, você dispara o primeiro tiro,
e eu apenas reajo.
Ele disse levemente, provocador, mas Payton pegou algo na sua escolha
de palavras.
— O que quer dizer com é assim que tem sido desde o início?
— Muito duro. — J.D. se aproximou dela, então mais perto ainda. Payton
sentiu seu coração começar acelerar.
— E, na verdade, eu não acho que você seja irritado. — ela disse, ainda
conseguindo parecer fria e calculista, pelo menos. — Obstinado e arrogante,
talvez, mas não irritado.
J.D. olhou para ela, seus olhos escuros e intensos. — Para o registro, eu
nunca possuí um pony.
— Você vai parar de falar agora? — disse ele, puxando-a para ele. —
Porque eu já esperei tempo suficiente para fazer isso.
Então sua boca desceu sobre a dela, e, finalmente, depois de oito anos,
J.D. Jameson a beijou.
Os lábios de Payton se separaram ansiosamente, provocando-o quando
sua língua levemente tocou a dele. A mão de J.D. moveu-se para a cintura dela e
puxou-a para mais perto enquanto sua boca procurava a dela, aprofundando o
beijo. Ela pressionou seu corpo contra o dele e instintivamente ele reagiu
imediatamente, empurrando-a contra as prateleiras. Com seus braços de cada
lado dela, segurando-a ali, seus lábios arrastaram um caminho ao longo do seu
pescoço.
— Diga-me que você queria isso. — disse ele com voz rouca em seu
ouvido, e Payton pensou que todo o seu corpo tinha acabado de derreter. Ela
arqueou para trás, e a boca dele fez o seu caminho para sua clavícula.
— Sim. — ela sussurrou grossa, a única coisa que ela era capaz de dizer
logo após J.D. beijá-la novamente, mais exigente dessa vez. De repente, os dois
estavam impacientes; Payton empurrou seu paletó, precisando dele fora, e as
mãos de J.D. agarraram seus quadris e a puxou, eles tropeçaram para fora da
sala e na cozinha. Eles atingiram o balcão, e J.D. empurrou os bancos de bar
para fora do caminho e colocou-a sobre ele.
— Duvido que haja qualquer coisa que a intimide. — J.D. brincou. — Nem
mesmo estar nua em um tribunal, aparentemente.
Payton riu, mas a boca de J.D. desceu sobre a dela e todas as brincadeiras
caíram no esquecimento. Ela sentiu as mãos dele se moverem para sua camisa,
arrancando os botões enquanto ela, simultaneamente, alcançava e puxava a
gravata, afrouxando o nó. Havia uma pressa em seus movimentos, como se cada
um deles estivesse com medo do outro mudar de ideia, e Payton estava apenas
começando a ter pensamentos vagos no fundo da sua mente sobre o quão longe
isso pode ir, e se o balcão da sua cozinha era o melhor local para quão longe isso
poderia ir, quando...
— Payton é Chase.
J.D. ignorou seu sarcasmo. — Ele te liga para dizer boa noite? Quão sério
vocês dois estão? — ele exigiu saber.
Payton assentiu enquanto ela alisava a saia. — Talvez não seja a sua
resposta mais eloquente, mas vou dar-lhe pontos pela franqueza.
Não era?
J.D. concordou e Payton podia ver que ele estava com raiva.
Tão confusa quanto ela estava, Payton odiou que eles terminassem a
noite com uma impressão tão ruim. — J.D., espere. — ela gritou para ele.
Ele virou-se na porta. — Esta é a segunda vez que você me expulsa do seu
apartamento. Se você mudar de ideia sobre as coisas, você sabe onde você pode
me encontrar.
Payton ficou ali por um momento, depois que ele saiu. Então ela pegou
sua pasta e dirigiu-se para seu quarto.
Uma hora depois, ela adormeceu só, com o seu trabalho empilhado ao
seu redor.
Capítulo Vinte
S ó falta uma
semana.
Payton entrou na reta final da sua missão de oito anos para se juntar à
elite de prestígio, de poucos advogados de sucesso, da Ripley & Davis que
tinham sido elevados à categoria de sócios, mantendo duas promessas que fizera
recentemente.
Como era tradição, sempre que um dos advogados de litigio tinha vitória
num processo, quando ela voltou ao escritório depois do julgamento, os outros
membros do grupo foram em seu escritório para oferecer-lhe os
parabéns. Todos, exceto J.D., é claro.
— O que deu nele? — Irma perguntou quando ela parou em seu caminho,
com um aceno de cabeça na direção do escritório de J.D.. — Vocês dois estão
brigando de novo?
— Eu não acho que ele está falando comi... — Payton parou, depois de ter
compreendido a insinuação na pergunta de Irma. — O que quer dizer, com
estamos brigando de novo? — ela e J.D. sempre tinham sido tão cuidadosos
para não expor as suas disputas em público.
A boca de Payton caiu aberta, chocada ao descobrir que sua árdua luta
pelo sucesso da sua carreira era objeto de conversas pegajosas, fofocas sem
sentido.
— Eu não posso acreditar que você está participando disso, Irma. É tão
desagradável. Quem está na frente da aposta?
***
A segunda promessa que Payton manteve era a que ela tinha feito para
Chase, que eles iriam sentar e conversar assim que o julgamento tivesse
acabado. O encontro ocorreu no apartamento de Chase, mas a conversa foi
principalmente sobre o término de Payton.
Chase levou bem a separação. Ele até riu quando Payton disse que ela
tinha os melhores interesses dele em mente tanto quanto os dela, vendo como
ela estava completamente convencida de que ela era uma pessoa muito difícil e
não iria faria qualquer outra coisa com ele, senão, totalmente miserável.
Na verdade, todos os pensamentos que ela ainda podia ter mantido que
as coisas poderiam funcionar com Chase, praticamente terminaram no
momento em que ela beijou J.D.. Ela não tinha ideia do que estava acontecendo
entre eles ultimamente, mas é evidente (como evidenciado no pequeno encontro
no balcão da cozinha dela), ela não tinha como namorar outra pessoa até que ela
entendesse isso.
No dia seguinte, no trabalho, ela estava procurando uma maneira de ver
Laney para dar a má notícia de que, infelizmente, Chase não era mais o seu
Perfeito, quando ouviu a voz de J.D. chamando seu nome. Ela virou-se e o viu
no meio do corredor, aproximando-se dela.
— Ben pediu para ver nós dois, de imediato, se possível. — disse J.D.. —
Aparentemente houve algum desenvolvimento no caso da Gibson.
Sem mais palavra, ele friamente passou por ela e continuou ao longo do
corredor para o escritório de Ben.
Payton seguiu atrás dele, sem fazer qualquer tentativa para alcançá-lo. Se
esse é o tipo de jogo que ele queria jogar, que assim seja. Os dois caminharam
por todo o caminho em silêncio.
— Você realmente não está falando comigo? — ela manteve a voz baixa,
de modo que não seria ouvida.
J.D. olhou de lado para ela. — Eu estou apenas lhe dando espaço, Payton.
— ele se voltou para a janela.
J.D. olhou para ela por um momento, com aquele olhar “divertido” em
seu rosto. — Você realmente é uma advogada incrível, Payton. — disse ele.
— Eu acho que esta situação é difícil o suficiente sem você torná-la mais
difícil.
Isso pareceu golpeá-lo com uma corda. — Justo. Talvez eu deva fazer isso
para você, então. O que você diria - hipoteticamente falando, é claro, - se eu lhe
pedisse para jantar fora para comemorar sua vitória no julgamento?
Payton hesitou. Não porque ela não ficou tentada por sua oferta, ou quase
oferta. Muito pelo contrário, na verdade.
— Aí estão vocês dois! Desculpem por isso, eu fiquei preso numa questão
de uma conferência que durou um pouco mais do que o esperado.
Ben parou e olhou por cima. Ele pareceu satisfeito com a determinação
com que J.D. tinha respondido. — Ótimo. — ele acenou com a aprovação, em
seguida, virou-se. — O que você diz, Payton?
Ela podia sentir os olhos de J.D. sobre ela quando ela respondeu.
— Eu vou, também.
Ben sorriu. — Ótimo. Vou ligar para Jasper e deixá-lo saber que pode
esperar por vocês dois. — ele olhou para J.D. — Você chega cedo o suficiente,
Jameson, você pode até ser capaz de passear ao redor. Palm Beach tem alguns
bons lugares. Acho que a última vez que estive lá foi mais de três anos
atrás. Fomos em maio e estava quase trinta e cinco graus. E úmido como o
inferno. — ele apontou. — Vocês dois estejam preparados para isso. Vai ser uma
viagem quente e úmida.
A aeromoça colocou
— Payton, eu tenho que te contar uma coisa, e eu sei que isso vai ser um
choque, mas é melhor que você ouça agora. — ele se inclinou no encosto. —
Você tem dinheiro. — ele balançou a cabeça. Que vergonha.
59
Investimento no mercado imobiliário.
— Nós ganhamos exatamente o mesmo salário.
J.D. riu daquilo. Ele tinha agora? Talvez no ponto de vista dela, ele
supôs. Ela era uma contradição ambulante e completamente alheia a esse fato.
— Não mais.
— Então... você não disse por que você terminou com Chase.
Payton abaixou seu sanduíche e se virou para ele. — Por que não falamos
de você para variar um pouco?
60
Sanduíche natural vegetariano.
—... e ainda é solteiro. — ela terminou. — Você não deveria estar casado
agora com uma Muffy ou uma Bitsy ou algum outro tipo de socialite com um
cérebro tão grande quanto este picles?
J.D. não pôde deixar de olhá-la, enquanto ela aguardava a resposta dele,
Payton cruzou uma perna com salto alto sobre a outra, notadamente em sua
direção. Será que ela sabia o efeito que tinha sobre ele? Ele suspeitava que
soubesse. Era um pouco como uma dança o que eles faziam, a forma como
ambos visivelmente evitavam falar sobre o que aconteceu no apartamento dela
naquela noite. Ele tinha a sensação de que havia mais por trás das perguntas
“inocentes” dela, relacionadas à vida amorosa dele, do que ela queria
admitir. Mas ele não tinha a intenção de acabar com o jogo. Ainda não, de
qualquer maneira.
Vendo que ela ainda esperava sua resposta, J.D. encolheu os ombros. —
Eu acho que acabei ficando focado em coisas no trabalho. — ele observou,
enquanto Payton assentia. Isso ela podia entender.
Estranhamente, ele descobriu algo em sua pasta que ele não tinha
colocado lá.
Um livro.
Orgulho e Preconceito.
J.D. revirou os olhos. Oh, pelo amor de Deus. Ele disse a Tyler sobre a
sua viagem com Payton e seu amigo “útil” deve ter escorregado o livro em sua
bagagem de mão quando saiu do escritório dele.
— Oh, você trouxe um livro? O que você está lendo? — ela se inclinou e
viu o título, em seguida, olhou para J.D. com uma expressão de surpresa
inconfundível. — Orgulho e Preconceito? Uau. Eu não poderia imaginar que
esse era o seu tipo de livro.
— Fitzwilliam Darcy e seus dez mil por ano... — ela disse, ainda
sonhadora.
J.D. não tinha ideia do que ela estava falando, mas ele não podia deixar
de olhar. A caneta. Os lábios. Dentro e fora.
Dentro e fora.
Isso pareceu despertar Payton. — Bem, é claro. — ela disse, não muito
diferente de Tyler, como se apenas um homem Neandertal não a conhecesse. —
Elizabeth Bennet é apenas uma das maiores heroínas literárias de todos os
tempos.
J.D. podia ver que ela estava começando a ficar toda irritada e dando
sermão novamente. Não que ele particularmente se importasse. — Sério?
De volta aos negócios. J.D. entregou a Payton o arquivo que ele havia
compilado e ela começou a lê-lo. Mas depois de alguns minutos de trabalho em
silêncio, ela lançou um olhar de soslaio na direção dele.
J.D. não se preocupou em dignificar isso com uma resposta. Mas depois
que alguns minutos se passaram, ele sutilmente olhou para cima e observou
Payton enquanto trabalhava.
***
Ela tinha ficado em hotéis agradáveis antes, é claro. Muitos deles. Uma
das vantagens de trabalhar para uma empresa de primeira linha era que
esperava-se que seus advogados - para fins de imagem - ficassem em hotéis de
primeira linha quando viajavam. Também não era a primeira vez que ela viajava
a negócios em uma sexta-feira à noite, e certamente não era a primeira vez que
ela viajava com um colega do sexo masculino.
Mas.
Desta vez não parecia com trabalho. Ou, pelo menos, isso não
parecia inteiramente como trabalho.
Da mesma forma, era irrelevante o fato de que ela tinha escapado para
uma depilação rápida depois de saber que eles fariam essa viagem.
E sim, é verdade, ela pode ou não ter usado um pouco de sombra escura
naquela noite para dar um efeito esfumaçado nos olhos, talvez ela tivesse gasto
um extra de dez ou vinte minutos no cabelo dela, e era até mesmo possível que
algumas pinceladas de perfume - Bulgari Au Thé Blanc, seu favorito - tinha feito
o seu caminho para a sua pele, um pouco aqui, um pouco ali. Mas ela só tinha
feito esses esforços, porque ela tinha tido tempo extra em suas mãos e não viu
qualquer razão para ficar à toa em seu quarto de hotel. E essa era a história dela
e ela estava fina...
***
Ela atravessou o lobby do hotel e encontrou o bar, chamado Stir, onde ela
deveria encontrar J.D.. O que ela queria? No tribunal, ela sempre confiava em
seus instintos. Talvez ela devesse aplicar a mesma filosofia aqui.
Ela entrou no bar e foi surpreendida ao ver uma multidão tão grande que
já se reunia lá. Seus olhos rapidamente examinaram o lugar, primeiro o bar
principal, então as mesas privadas, e não encontrou J.D. em nenhum dos
dois. Então ela avistou um terraço ao ar livre.
Payton se dirigiu para fora e viu que o terraço do bar tinha vista para o
mar. Levou um momento para os seus olhos se ajustarem à pouca luz fornecida
pelas velas tremeluzentes que enfeitavam as mesas. No meio da multidão, ela
finalmente avistou J.D. perto do fundo, sentado em uma mesa ao longo da
borda da varanda. Ela sorriu - é claro que ele teria a melhor mesa no local.
J.D. tinha o seu perfil para ela enquanto ele olhava para o oceano. Ela se
dirigiu para lá e - aproveitando o fato de que ele ainda não a tinha visto - ela
tomou seu tempo apreciando a forma como ele parecia em seu terno cinza
escuro e uma camisa azul escura. Ela observou a calma e a sofisticação dos
movimentos dele, a maneira segura com que ele segurava o copo firmemente
enquanto tomava um gole, a subida sutil da sua manga quando ele olhou para o
relógio. Ele certamente tinha estilo de sobra, não havia dúvida sobre isso, e ele
era inegavelmente, incrivelmente bonito. Ocorreu-lhe então o quão engraçado
era que este era o homem que tinha trabalhado com ela, do outro lado do
corredor - e brigado com ela - durante os últimos oito anos.
Como se sentisse sua proximidade, J.D. olhou. Quando ele viu Payton, ele
virou-se em sua cadeira e observou enquanto ela caminhava em direção a ele.
— Sinto muito; eu sei. — Payton disse. Ela cruzou uma perna sobre a
outra de modo que a fenda do seu vestido revelou uma quantidade justa de sua
coxa. Um velho truque, mas ainda assim um bom.
J.D. olhou para a sua perna exposta, e quando ele olhou para cima, seus
olhos azuis a perfuraram.
Ela viu o brilho de desejo nos olhos dele quando ele pegou a mão dela na
sua.
— O mais rápido possível. — disse ele com uma voz rouca. Ele levemente
roçou os lábios contra seus dedos, seus olhos nunca deixando os dela, e Payton
poderia dizer que ele queria beijá-la tanto quanto ela. Mas Jasper podia
caminhar através da porta a qualquer minuto, e, francamente, se ela já estava
toda quente e incomodada com alguns olhares esfumaçados, era melhor manter
as mãos, lábios, e todas as outras partes de J.D. tão longe dela quanto possível
até que a parte de negócios de festividades da noite houvesse oficialmente sido
concluída.
— Não posso ser antiquada, também? — ela perguntou. Mesmo que ela
soubesse o que queria, isso não significava que os jogos deveriam
acabar. Ainda. Afinal, eles tinham pelo menos duas horas para matar e ela
precisava de algo para distraí-la durante o jantar.
Mas J.D. estava com ela. Ele se recostou na cadeira. — Então, é assim que
você quer jogar isso.
— Hmm... desapontado?
Mas até que ela fizesse, Payton planejava saborear cada momento das
possibilidades que tinha pela frente.
***
— O que você diz, Jameson? Outro Scotch? Vamos, Payton, você não
parece o tipo de garota que deixaria um homem te embriagar.
J.D. assistiu com espanto enquanto o CEO fez sinal para o garçom e
pediu mais uma rodada. Tinha esquecido o quanto esses velhos garotos sulistas
conseguiam beber. E Jasper, aparentemente alheio ao fato de que todos os
outros na mesa ainda tinham bebidas intocadas das duas rodadas anteriores de
“que tal outro?” - não mostrava sinais de abrandar tão cedo.
— Ha! Vejam, vocês meninos estão muito tensos. — Jasper apontou para
Richard e J.D. — E reparem que eu disse meninos. — ele enfatizou com orgulho.
— Para que ninguém nunca me acuse - ou minha empresa - de ser desigual na
oportunidade. — ele tomou seu uísque em um só gole e bateu o copo com ênfase
indignado. Então, ele olhou ao redor da mesa. — Ok, então eu acho que este é
um momento tão bom quanto qualquer outro - devemos começar a
trabalhar? Falar sobre nosso pequeno caso?
Ele deu um rápido olhar para Payton, que estava sentada à sua
esquerda. Ela, ou tinha a melhor cara de pau que ele já tinha visto, ou era
terrivelmente indiferente à velocidade de tartaruga fodida com que este jantar
estava se movendo, porque ela realmente parecia bastante divertida com as
palhaçadas de Jasper. E isso, pensando melhor, estava começando a irritá-lo,
também. Ele havia dito anteriormente que dois podem jogar o jogo dela, e
também nas primeiras duas rodadas do jantar, ele estava tão tranquilo quanto
ela. Mas a verdade da questão é, ele só queria ficar sozinho com
ela. Francamente, ele estava farto de todas as coisas que constantemente
ficavam entre eles, como o trabalho e Chase Bellamy e jantares com clientes. E
roupas.
J.D. repente sentiu a mão Payton roçar em sua coxa por baixo da mesa.
Interessante.
Muito interessante.
— Noz.
— Estou muito feliz que tivemos a chance de fazer isso. — Jasper disse,
apertando as mãos deles calorosamente. Richard fez o mesmo, dizendo o quanto
ele gostou de conhecê-los.
— Eu não disse que você ficaria impressionado com esses dois? — Jasper
deu um empurrão jovial nas costas de Richard, quase derrubando o pobre rapaz
direto na pesada urna de mosaico que estava sobre a mesa de carvalho ao lado
deles. J.D. tinha uma suspeita de que o novo conselheiro geral não ia durar mais
de um mês.
Não que J.D. tivesse arrependido da decisão de vir para Palm Beach,
longe disso. É verdade que as brincadeiras debaixo da mesa entre ele e Payton
durante o jantar nunca tinham cruzado a fronteira semi-
impróprio/completamente-impróprio, mas, na realidade, ele nunca acreditou
realmente que iria. Sem ter que dizer uma palavra um ao outro, ambos sabiam
exatamente onde traçar a linha com diversão e jogos. Embora em um ponto
durante o jantar, J.D. tivesse brevemente se preocupado que Jasper tinha visto
algo.
J.D. sorriu. — Claro, embora eu não possa prometer que vou responder. E
lembre-se que você é um cavalheiro, Jasper.
Jasper riu disso. — Justo. Vou colocar isso no mais cavalheiresco dos
termos: você está cortejando a senhorita Kendall?
— Hmm.
Quando J.D. permaneceu absolutamente, firme em seu silêncio, Jasper
riu. — Uau, em toda a minha vida, eu acho que nunca vi um advogado calar a
boca tão rápido. Vocês são normalmente alegres em falar tudo. Tudo bem então,
eu sei quando recuar.
***
Jasper matou o silêncio de respeito que tinha abatido cada homem com a
visão do elegante carro, dando outro tapa saudável nas costas de Richard. —
Obrigado por se oferecer para dirigir, cara. Acho que o Bayles61 que eles
colocaram no meu café algo que me deixou exausto.
61
Marca de licor irlandês.
dinheiro em sua mão - e subiu no lado do passageiro do Rolls-Royce. Mas antes
que ele e Richard partissem, Jasper - sendo Jasper - abaixou a janela do
passageiro, incapaz de resistir a algumas palavras de despedida.
— Ele pescou algo sobre nós quando você e Richard foram ao banheiro. —
J.D. disse a ela.
— Você quer dizer, como na sobremesa que você mal conseguia manter as
mãos longe do meu p...
Agora foi a vez de J.D. dar-lhe um olhar. — Claro que não, Payton. Eu sou
mais esperto para misturar negócios com conversa de vestiário.
J.D. sorriu. — Eu quis dizer a praia, atrevida. Nós estivemos aqui por oito
horas e não a vimos ainda. — ele conduziu Payton pelo saguão, na direção da
varanda. Quando ele abriu a porta para ela passar, ele pegou seu olhar.
Uma leve brisa soprou seu cabelo sobre os olhos. Com a mão livre, Payton
levantou a mão e colocou uma mecha longa loira atrás da orelha.
Não que ele particularmente se importasse onde suas mãos tinham ido
mais cedo naquela noite, claro. Mas haveria muito tempo para isso mais
tarde. Embora ele certamente não recusaria se ela quisesse abandonar o passeio
ao luar romântico e começasse a pegar novamente em seu p...
— Você tem um olhar tão diabólico em seu rosto. — disse ela, com os
olhos azuis escuros brilhando de interesse.
J.D. riu, puxando-a para mais perto dele. Ela realmente o conhecia muito
bem.
***
Eles encontraram um mirante, provavelmente utilizado para pequenos
casamentos, no final da passarela. Payton tomou uma decisão que deveria parar
por aí - J.D. não seria o único a executar este show, depois de tudo, - e o levou
até a grade que dava para o oceano. Lá, ela se virou para encará-lo. Claro, a vista
era grandiosa, mas não era por isso que ela parou por ali. Sem nenhuma
palavra, ela chegou até J.D. e o beijou.
A mão dele deslizou até seu pescoço, exigindo mais do beijo enquanto sua
língua encontrou a dela. Cada parte do corpo de Payton reagiu, - ela queria
mais, também, precisava das mãos dele sobre ela, precisava senti-lo, sua
respiração ficou presa e ela quase gemeu alto quando J.D. a empurrou contra o
corrimão e deslizou entre suas pernas. Sua boca deixou a dela e arrastou pelo
seu pescoço e ao longo da sua clavícula. Então ele ousadamente foi ainda mais
longe, em direção ao decote do vestido, e sem qualquer hesitação, ele tirou o
vestido e o sutiã para o lado e abaixou a boca para o seu peito.
Desta vez, Payton gemeu. Tão vagamente consciente do som das ondas
quebrando atrás dela, ela arqueou as costas e enrolou os dedos no cabelo de
J.D., cedendo à pura necessidade física. Querendo tocá-lo, ela puxou a boca dele
até a dela e deslizou suas mãos ao longo do seu peito, em seguida, para baixo
seu estômago. Ela sentiu o abdômen dele contraindo sob seus dedos quando
descansou a mão em seu cinto. Ela o beijou avidamente quando começou a
desfazer seu cinto. J.D. puxou a boca da dela. — Vamos para o meu quarto. —
ele sussurrou.
— Talvez a gente devesse andar um pouco mais. Nós temos a noite toda.
— ela pegou a mão de J.D. e levou à sua boca. Com os olhos fixos nos dele, ela
beijou o dedo e enquanto ele assistia, lentamente deslizou a ponta entre os seus
lábios. A partir do olhar em seus olhos, ela podia dizer o quanto ele estava
excitado. Ela pode ter sido a primeira a gemer, mas ela tinha a sensação de que
podia rapidamente igualar o placar aqui, então ela corajosamente passou sua
língua ao redor da ponta do seu dedo e deu-lhe um olhar que evidentemente
disse quão mais divertido seria se sua boca estivesse em outro local que...
J.D. enrolou a mão no cabelo dela e parou. Seus olhos estavam escuros e
intensos quando ele olhou para ela. — Você quer me ouvir dizer isso, Payton? Eu
quero você. Agora.
Fim de jogo.
***
Apalpada. Apalpada.
Zíper.
Riso malvado.
— Ainda não.
Sorriso diabólico.
***
Ok, tudo bem - no check-in, quando ela não estava prestando atenção, ele
pediu para ser colocado em uma suíte de frente para o mar. Ele estava se
sentindo um pouco... otimista.
— É perfeito.
Ela o beijou. Antes que J.D. percebesse, eles fizeram o seu caminho para
o quarto. Os funcionários do hotel já tinham transformado o ambiente, a cama
estava arrumada e as luzes estavam baixas. Ele olhou nos olhos de Payton e viu
uma mistura familiar de ousadia e travessura. Vendo como a coisa toda de “ser
direto” estava funcionando para ele.
Payton deu-lhe um olhar. — Oh, sério? — e J.D. poderia dizer que parte
dela queria ficar atrevida novamente. Mas ele também poderia dizer que a outra
parte dela realmente, realmente gostava daquilo.
Interessante.
Apontando para a renda preta, J.D. deu Payton um olhar — Oh, sério? —
de sua autoria. — Parece que alguém estava sendo um pouco presunçosa,
também. A menos que você use isso para todos os seus jantares com clientes?
Com um leve chute de perna, Payton tirou o vestido do seu caminho. Ela
colocou os braços ao redor de J.D., com uma mão na parte de trás da sua
cabeça, e enfiou os dedos pelos seus cabelos. Ela olhou para ele e repetiu suas
palavras anteriores.
***
Por quase uma hora eles se provocaram, até que Payton finalmente cedeu
e pegou um preservativo no criado-mudo.
J.D. enganchou uma de suas pernas ao redor da sua cintura e segurou sua
mão. — Coloque em mim. — ele sussurrou, quase um gemido. Então ela
colocou. Em seguida ela falou para ele que precisava verificar rapidamente os
polos ponies.
Enquanto ele se movia sobre ela, J.D. lhe disse para abrir os olhos e olhar
para ele, e ela pensou que o momento não poderia ficar melhor.
Então, ele segurou o rosto dela entre as mãos e sussurrou o nome dela, e
ela sabia que ele tinha acabado de gozar.
***
Os pensamentos dele.
Profundos, também.
Só.
Tinham.
Sexo.
Sonolento.
Ele sentiu, de repente, Payton se agitar debaixo dele e ele se animou, com
a cabeça instantaneamente alerta.
Ooh-novamente?
***
J.D. riu. — Você me odiava até cerca de uma semana atrás, lembra?
Payton decidiu que era melhor empurrar seus sentimentos de lado. Desde
que ela não sabia o que J.D. estava pensando, era melhor manter as coisas
simples e leves.
J.D. brincou com uma mecha do seu cabelo entre dois de seus dedos. — É
claro que eu me lembro. Eu te vi sentada à mesa com os outros associados de
litígio, e eu andei e me apresentei. Você disse, - cito - 'Então você é o infame J.D.
Jameson’.
Payton riu. — Parece muito mais escandaloso quando você diz isso.
— Fiquei intrigado. Para dizer o mínimo. — J.D. fez uma pausa. — Mas
então você se voltou contra mim.
Payton estudou-o cuidadosamente. Essa era a segunda vez que ele tinha
feito um comentário como esse. — O que quer dizer, eu me voltei contra você?
J.D. pulou da cama e a circulou. Ele apontou como se dissesse que a tinha
pegado agora. Não que ela estivesse particularmente intimidada, considerando
que ele estava de cueca. Bem, ela também.
J.D. atacou. — Aha! Veja. - você não se lembra. Permita-me refrescar sua
memória, senhorita Kendall. Você olhou para mim e disse - e eu posso citar
perfeitamente - 'Legal, Jameson. Você se parece com Clark Kent'. — ele cruzou
os braços sobre o peito. Então aí está.
Payton olhou para ele. — Sim, eu sei. Isso foi exatamente o que eu disse.
Payton balançou a cabeça. — Não. Clark Kent, o cara que parece todo
intelectual e contido do lado de fora, mas realmente ele tem esse... poder e tudo
isso... músculos escondidos debaixo da tão apertada camisa abotoada até em
cima, que faz você querer apenas agarrá-lo e bagunçar aquele cabelo perfeito
dele e descobrir o quanto o Homem de Aço pod...
— Mas agora você sabe que eu não fiz isso. Então, qual é o problema?
Silêncio.
— Espere um segundo...
A luz voltou.
Payton olhou para ele. — Por favor, não me diga que foi assim que a briga
toda entre nós começou.
— Hum... sim?
Payton saiu de cima dele. — Eu não acredito nisso, essa é a coisa mais
estúpida que eu já ouvi! — ela agarrou seu vestido e sapatos no chão. — Oito
anos, J.D.! Oito anos! Pelo menos eu acreditava que começamos a brigar por
algum motivo legítimo, como política ou questões socioeconômicas, ou, pelo
menos, porque você é rico e minha família está do lado errado do trilho.
J.D. riu alto com isso. — Lado errado do trilho? O que é isso, 1985 e nós
vivemos em um filme de John Hughes? Eu não dou a mínima se sua família tem
dinheiro. Isso é quase tão estúpido quanto brigar por causa do comentário sobre
Clark Kent.
— Você não vai a lugar nenhum. — ele disse com firmeza. Ele a levou para
a varanda. — Se você precisa se refrescar, você pode fazer isso aqui.
— Estão uns trinta graus aqui fora, idiota. Com uma sensação de trinta e
cinco.
J.D. suspirou. — Olha Payton, eu entendo que você está com raiva de
mim, e pela primeira vez eu entendo o porquê. Gostaria, no entanto, de salientar
que você não é completamente inocente em tudo isso - você já jogou mais do
que sua quota de insultos para mim ao longo dos anos, mas, apesar desse fato...
— ele passou a mão pelo cabelo, então ergueu as mãos. — O que posso dizer? Eu
estraguei tudo. Sinto muito. Realmente sinto muito.
Payton suavizou um pouco com sua sinceridade. Ela sabia o quão difícil
era para ele pedir desculpas, especialmente para ela. E ele estava certo,
independentemente de como tudo começou, uma vez que a briga havia
começado, ela não tinha sido uma espectadora inocente.
J.D. a olhou diretamente nos olhos. — Você não tem ideia do quanto eu
desejo isso também, Payton.
Ele parecia tão sério que era impossível para ela ficar com raiva
dele. Além disso, ele ainda estava em sua cueca o que estava se tornando uma
distração definitiva. Com um sorriso de consentimento, Payton apontou. — Você
está pensando em bloquear a porta a noite toda?
— Eu achei que você poderia mudar as suas coisas para o meu quarto pela
manhã. — disse ele casualmente.
— Bem.
— Bom.
— Ok.
Payton levantou seu dedo. — Mas eu vou pagar por metade do quarto.
— Hmm, o quê?
— Hmm, já que o quarto custa tanto, é uma coisa boa que eu não
pretenda dormir muito.
Payton sorriu. Ela suspeitava que poderia ter havido um pequeno deslize
oculto lá. E a verdade da questão era que ela realmente, realmente gostava... da
maneira como ele pensava, também.
Então ela pegou a mão que J.D. estendeu para ela e o seguiu para dentro.
Capítulo Vinte e Três
E les dormiram na
manhã seguinte.
Payton não conseguia se lembrar da última vez que tinha dormido até
depois das sete - ela acordou com um sobressalto algum tempo depois das oito e
quase entrou em pânico quando viu o despertador no criado-mudo. Mas então
ela viu J.D. dormindo ao lado dela.
Ele se mexeu - ele estava com o braço em volta dela e ela o tinha tirado
quando se sentou depois de ver o relógio. Payton rapidamente se aninhou de
volta, na esperança de não acordá-lo. Ela queria que ele
dormisse. Ele precisava dormir - inferno, ambos precisavam. E não apenas
porque tinha sido uma noite muito longa - apesar de que isso provavelmente
não ajudava - não que ela estivesse reclamando, nem um pouco - mas mais
porque ambos passaram por duas semanas desgastantes.
Ela e J.D. não tinham falado muito sobre a decisão iminente da empresa,
desde que eles chegaram à Flórida. Mas era um incômodo constante no fundo
da mente de Payton e ela suspeitava que ele sentia o mesmo.
Era meio engraçado, o pensamento de passar todo o dia e noite com J.D..
Não engraçado de um jeito ruim, apenas novo. Há um mês, Payton nunca teria
acreditado que ela estaria aqui, em uma suíte de frente para o mar no Ritz-
Carlton, dormindo ao lado do homem que tinha sido seu inimigo jurado, nos
últimos oito anos. Mas agora, isso parecia... certo.
Essa era, talvez, a parte mais assustadora de tudo - o quão certo parecia
estar com J.D.. Porque, eles falando sobre isso ou não, eles tinham um grande
problema à frente na terça-feira.
Ela sabia que, para seu próprio bem, ela provavelmente deveria sair desse
quarto de hotel, ir direto para o aeroporto e pegar o primeiro avião de volta para
Chicago. Havia um perigo definitivo em estender as coisas.
***
— Então o que você acha de tentar sua sorte em uma partida de golfe,
esta tarde?
— Eu acho que não é muito provável que isso aconteça. — ela disse a
ele. Mas ela adoçou com um sorriso.
— Vamos lá, Payton. — ele a provocou. — Você não quer ampliar seus
horizontes? Tentar algo novo? Ter um pequeno insight sobre ‘meu mundo’ como
você gosta de chamá-lo?
Ela inclinou a cabeça. — Você sabe o que - você está certo. Vamos ambos
ampliar nossos horizontes. Eu vou aprender a jogar golfe esta tarde e, em
seguida, você pode, bem, deixe-me ver... — ela fingiu pensar por um momento,
em seguida, apontou. — Já sei: você pode comer comida vegetariana todo fim de
semana. — ela encolheu os ombros sobre o assunto com naturalidade. — Parece
uma troca justa para mim.
Quando Payton chegou no quarto, ela olhou para o relógio e viu que tinha
tempo suficiente para encaixar um banho rápido antes do checkout. Mas as
primeiras coisas primeiro. Ela tirou seu BlackBerry e rolou através de seu e-
mail. Felizmente era sábado e as coisas pareciam relativamente calmas. Quando
ela chegou ao fim, ela viu que tinha um e-mail de J.D. - um que ele tinha
enviado cerca de cinco minutos antes. Ela abriu a mensagem e leu:
Payton riu. Uau - para J.D. isso era praticamente sentimental. Ela tomou
banho, ficou pronta, jogou suas coisas em sua mala e antes que ela percebesse,
estava de volta ao “Nível de Clube” abrindo a porta do quarto de J.D. com a
chave reserva que ele lhe dera.
Dada a história, era meio surreal que ela e J.D. tivessem qualquer coisa
“deles”. Payton empurrou a mala para dentro do armário, imaginando que ela
decidiria depois onde colocar as coisas dela. Ela parou no corredor de mármore,
de repente, hesitando antes de entrar na parte principal da suíte.
Talvez ela e J.D. deveriam ter deixado as coisas com uma nota
alta. Ontem à noite foi perfeito, e talvez isso fosse tudo que eles foram feitos
para ter juntos - apenas uma grande, noite louca, 95 por cento dos detalhes
teriam de ser editados do conteúdo quando ela voltasse para Chicago e dissesse
para Laney. Talvez agora, à luz do dia, as coisas vão ser diferentes.
Payton se dirigiu para a sala de estar e podia ouvir J.D. no banheiro. Dos
salpicos de água, seguido de pausas intermitentes, parecia que ele estava
fazendo a barba. Ela espiou o canto e viu que a porta do banheiro estava aberta,
então ela bateu levemente. Ele disse-lhe para entrar, assim ela fez e...
— Ei, você. — disse J.D. com um sorriso, enquanto enxugava o rosto com
uma toalha. Ele estava sem camisa, mas os olhos chocados de Payton estavam
focados em outro lugar do seu corpo, um pouco mais ao sul.
Uau. Isso tinha acabado de voar direto para fora de sua boca antes que
ela tivesse a chance de pensar sobre isso. Ela rapidamente disfarçou. — Ou
talvez eu realmente, realmente, goste de você nesses jeans.
J.D. olhou para ela. Seus olhos sondaram os dela, e ela teve a sensação de
que ele estava debatendo se apontaria o seu deslize. Mas então ele sorriu. —
Nesse caso, talvez eu nunca deveria tirá-los.
O que quer que isso fosse entre ela e J.D., definitivamente não tinha
acabado ainda.
***
O problema, é claro, era que ele não tinha ideia se ela tinha uma opinião
semelhante sobre o assunto. Ele sentiu que ela estava se segurando, e ele
entendia isso melhor do que ninguém. Possivelmente sua parte favorita do fim
de semana tinha sido no início do dia, o momento no banheiro quando ela disse
que sentiu falta dele. Era uma coisa rara para ele, vê-la baixar a guarda assim.
J.D. percebeu que, mais cedo ou mais tarde, ele e Payton iam ter que ter
uma conversa séria, e se ela não a iniciasse, então, ele o faria. Se ele tivesse
aprendido alguma coisa com Clark Kent Fodido-Estúpido-Para-O-Alto-E-
Avante-Estúpido-Fodido, era que ele não estava disposto a perder mais tempo
pensando ou supondo o que Payton Kendall poderia estar pensando.
***
Enrolada na curva do braço dele, Payton não podia ver seu rosto, mas ela
podia ouvir o sorriso em sua voz. — Você realmente não gostaria. — ela
assegurou. — Você conheceu minha mãe - imagine-a reduzida a apenas um
detalhe ou dois.
— Considerando que estamos aqui deitados nus, eu acho que vou passar a
parte de visualizar a sua mãe fazendo algo, obrigado. — J.D. levantou o rosto em
direção ao dela. — Embora eu seja meio curioso - ela me odeia tanto quanto eu
acho que ela odeia?
— Ok, tudo bem - você não é exatamente sua pessoa favorita. — ela
admitiu.
— Isso significa que agora podemos falar sobre como você era na
faculdade? — ela perguntou a ele.
— Não.
— Não?
Payton encontrou seu olhar. Ok. Bom. Francamente, ela ficou aliviada
por finalmente conversarem sobre isso.
— E?
Ele pegou a mão dela na sua. — Eu pensei que você disse que nunca tinha
sido ódio. — ele disse suavemente, mas sua expressão permaneceu séria.
— O problema é que nós dois estamos nesta corrida para ganhar. — disse
Payton. — O que vai acontecer com o outro que a firma não escolher - aquele
que tem que sair, tem que ir embora, fazer entrevistas e começar tudo de novo
em outro lugar? Eu gostaria de dizer-lhe que eu não vou ficar ressentida, se
escolherem você - que eu poderia engolir meu orgulho e não ficar com raiva ou
vergonha - mas honestamente, eu estaria mentindo. Eu me conheço muito
bem. E eu sei que você também.
Ela procurou os olhos de J.D., tentando avaliar sua reação. Ele ficou em
silêncio por alguns momentos. Então ele saiu de cima dela e estava deitado de
costas com um braço dobrado atrás da cabeça.
Payton sentiu algo puxar para ela. — Eu estou dizendo... que eu acho que
nós precisamos ver como serão as coisas na terça-feira. Então, seguimos de lá. —
ela mudou-se ao lado dele, querendo que ele olhasse para ela. — Não fique com
raiva de mim. — ela disse suavemente.
Sem saber o que dizer, Payton o beijou, segurando seu rosto entre as
mãos, esperando que o gesto transmitisse pelo menos um pouco a maneira
como ela se sentia. E quando ele passou os braços em volta dela e a puxou para
mais perto, com seu queixo aninhado contra o topo da cabeça dela, Payton
fechou os olhos para saborear o momento e se forçou a não pensar no que
estava por vir.
***
J.D. tomou uma decisão: Payton tinha dado a resposta dela e era isso.
Embora fosse verdade que J.D. tinha algumas reações concretas para a
abordagem de Payton de “esperar para ver” - para ser franco, ele odiava isso -
ele não queria ter que dizer isso a ela. E ele certamente não queria gastar parte
de seu tempo restante juntos discutindo. Assim, pelo resto da noite, ele não
disse nada.
Uma vez dentro do prédio dela, J.D. carregou a mala para cima e a
colocou em sua porta. Mas quando Payton destrancou a porta da frente, ele não
a seguiu enquanto ela entrava em seu apartamento.
Ela assentiu com a cabeça. — Obrigada por me ajudar com a minha mala.
— lamentável. Tinham estado em casa por cerca de trinta segundos e ela já
odiava a forma como as coisas estavam entre eles.
— Eu não quero isso, também. — disse J.D.. Ele hesitou. — Há algo que
eu tenho vontade de dizer, Payton, algo que eu preciso que você entenda, e isso
é...
Payton piscou. De tudo o que ela achava que J.D. ia dizer, não tinha sido
isso.
— Você tomou a sua decisão. — disse J.D.. — Você quer ver como as
coisas andam uma vez que a empresa tomar a sua decisão, e eu entendo isso. E
enquanto eu não estou com raiva, ao mesmo tempo, eu não sei o que você
espera que eu faça em resposta a sua decisão. Então, eu só senti que precisava
dizer, apenas para constar, eu acho, que...
— Você não vai me perseguir. — Payton terminou por ele. — Eu
entendi. Estamos claros. — ela tentou decidir o quanto ela estava irritada com
J.D. por pensar que ela pode ser o tipo de garota que queria ser perseguida. Em
seguida, ela tentou decidir o quanto ela estava irritada consigo mesma por
secretamente pensar que talvez ela seja.
J.D. lhe deu um meio sorriso. — Tudo bem. Eu só não quero que você
fique esperando que eu apareça fora da sua janela explodindo Peter Gabriel62 no
rádio do meu carro ou algo assim.
Ela quis dizer isso como uma brincadeira, mas de repente J.D. ficou sério.
Enquanto ele segurava o olhar dela, Payton percebeu que ele poderia ter
tentado dizer-lhe muito mais do que tinha pensado inicialmente. Mas ela não
teve a chance de fazer mais nada, porque ele se virou e desceu os degraus e saiu
pela porta da frente.
Payton fechou a porta, foi até a janela e viu quando J.D. entrou na
limusine que esperava lá em baixo por ele. Por um longo tempo depois que o
carro tinha saído, ela continuou a olhar para fora da janela, correndo através
das palavras dele uma e outra vez.
Ela sabia que era demais para ela lidar. Depois de um fim de semana
como o que ela tinha acabado de ter, ela precisava de dados. Orientação. Ela
precisava de alguém com um olhar objetivo, com quem ela poderia rever os
últimos dois dias, alguém com quem pudesse realizar as análises adequadas de
tom e expressão facial, alguém cujas habilidades ela confiava a arte nebulosa e
62
Músico inglês, um dos maiores representantes da música mundial do anos 70.
precária conhecida como a leitura em cada palavra. Ela precisava de alguém que
não só a entendia, mas ao inimigo também.
63
Uma posição dentro da estrutura de liderança da Sicília, Calábria e Máfia americana. A palavra foi
popularizada pela série O Poderoso Chefão (1969) e sua adaptação para o cinema. Um conselheiro.
Capítulo Vinte e Quatro
frente da casa que ela dividia com Nate. Payton rapidamente entrou, ansiosa
para sair da chuva que tinha decidido cair em cima dela assim que pulou no táxi
para vir.
Elas tinham decidido pular o café, seu ponto de encontro habitual, uma
vez que Nate estava com alguns amigos e porque Payton já estava ligada e
provavelmente poderia fazer sem o burburinho adicional de cafeína.
Ela tinha sido vaga com Laney no telefone - dizendo apenas que ela
precisava conversar, pois ela queria falar isso pessoalmente. Mas não podia
esperar mais, ela mal tinha posto os pés nos degraus da casa imaculada da sua
amiga estilo-Martha Stewart Living64, antes que sua amiga chegasse até ela.
64
Programa de TV, de decoração de casa, receitas.
— Não, você não falou. — Laney disse incisivamente enquanto observava
os esforços de Payton para secar seus sapatos sobre o tapete ao lado da porta. —
Eu tive que saber disso através de Nate.
— Eu sei, eu sei, eu sinto muito por isso, tudo está acontecendo tão
rápido esses dias, e eu queria te dizer, mas depois a viagem para a Flórida
surgiu. — Payton provisoriamente pisou com um sapato fora do tapete. Quando
Laney não disse nada, Payton tomou isso como uma indicação de que ela havia
sido considerada adequada para ter acesso à moradia.
Ela entrou na sala de estar. — Mas se isso te faz sentir melhor, você é a
primeira e única pessoa que eu já disse isso. — ela se virou e olhou Laney.
— Eu realmente não acho que você deseja dizer isso nesse momento em
especial...
Payton acenou por cima do ombro. — Tudo bem, mais tarde, então, de
qualquer maneira, eu não tinha ideia do quão ridiculamente o J.D. é sexy - e eu
não quero dizer só o seu corpo, que é delicioso - as coisas que eu fiz com aquele
homem, isso é tudo que eu vou dizer agora - mas também a maneira como ele
olhou para mim e, merda, algumas das coisas que ele disse foram tão sexy que
explodiram a minha mente, como aquele momento em que ele me prendeu
contra a parede e me disse que queria to... — ela parou quando virou a esquina
para a cozinha.
Os seis homens permaneceram imóveis com suas bocas abertas tal como
Laney ficou em seguida ao virar a esquina.
Payton olhou para ela. — Eu pensei que você disse que Nate tinha um
jogo de futebol.
De repente, encontrando sua voz, Nate se virou para sua esposa com uma
pergunta da sua autoria. — É assim que vocês conversam? — ele gesticulou
entre as duas mulheres.
Homens.
Se eles soubessem.
— À luz do que eu ouvi até agora, eu acho que vou precisar de algo mais
forte do que café. — disse Laney. Ela pegou as chaves do organizador que ela e
Nate tinham embutido na parede, em seguida, aproximou-se e deu a seu marido
um beijo na bochecha. — Eu posso chegar tarde. Há uma lasanha na geladeira.
***
Dada a chuva, elas decidiram não ir muito longe, pegaram um táxi para a
curta distância até o 404 Wine Bar. A atmosfera íntima do bar era adequada ao
humor confessional de Payton. Ela e Laney se afundaram em um sofá de couro
em frente à lareira. Quando a garçonete chegou, Payton ordenou um dos vinhos
tintos do menu principal, pensando que várias bebidas para contar tudo de uma
vez, era o caminho certo a seguir naquela noite. Laney pediu o mesmo.
A garçonete chegou com os vinhos. Depois que ela colocou quatro taças
na frente de cada uma delas, Payton decidiu que era hora de contar a Laney
tudo. Ou, pelo menos, a versão PG-1365, de tudo. Laney ouviu atentamente e,
finalmente, saltou com uma pergunta que foi surpreendentemente franca para
ela.
— Então isso foi tudo sobre sexo? — Laney ergueu a mão, sua expressão
suavizando. — Isso soou como se eu estivesse julgando. Não estou julgando.
Payton balançou a cabeça. — Não, não era só sobre sexo. — ela sabia que
era verdade. — Essa é apenas a parte que é mais fácil para eu falar. — ela
hesitou, mas depois decidiu falar logo. — Eu acho que eu tinha sentimentos por
J.D. por um tempo.
Payton sentou-se ereta. — Bem, se você sabia tanto, por que você nunca
disse nada?
65
Classificação indicativa para menores de 13 anos.
— É o máximo de mau gosto que nós republicanos conseguimos.
Payton pensou em voltar para certas partes de seu fim de semana com
um certo Republicano que haviam sido censuradas pela PG-13. — Oh, eu não sei
nada sobre isso. — ela disse. — Eu não cheguei a falar sobre o momento no
sábado à noite, quando voltamos para o quarto após o jantar e J.D. me
empurrou contra a mesa e disse...
Laney levantou a mão. — Não. Eu não posso saber essas coisas, eu vou
corar cada vez que vir o cara. Eu tenho que trabalhar com ele, lembra?
— Você acha que você ainda vai trabalhar com ele depois de terça-feira?
— ela perguntou calmamente.
— Você tem que me dar mais do que isso, Laney. Você é meu consigliere
em tempo de guerra. — Payton viu o olhar confuso da amiga. — É de O Poderoso
Chefão.
Laney cruzou as mãos no colo. — Oh. Nunca vi isso. Muita violência. Mas
lembre-me com quem, exatamente, você está em guerra?
Laney pressionou com mais força. — Sério, como você se sente sobre
ele? Você já dormiu com ele, Payton, eu acho que não há problema em admitir
isso agora.
A expressão de Laney era séria de fato. — Se você é tão louca por J.D.
como você diz que é, então, bem, você meio que não tem que tentar fazer isso
funcionar? Quem sabe o que vai acontecer depois de terça-feira? Talvez ele vai
se surpreender. Talvez você se surpreenda.
Payton pensou sobre isso. Talvez, apenas talvez, Laney estivesse
certa. Ela olhou para sua amiga com suspeita falsa. — Tem certeza de que não
estamos dizendo isso só porque você quer começar a fazer planos para
domingos de casais e churrasco?
F altava apenas um
dia.
Payton seguiu Irma para sua mesa, onde ela desatou a assinar as folhas.
Quando estava próxima das últimas folhas, ouviu Kathy chamar J.D. na mesa ao
lado de Irma.
Quando Payton ouviu a resposta de J.D. vinda de trás dela, ela fez um
esforço para ser normal e casual. Afinal, eles haviam representado para o
público durante anos. Isso não deveria ser diferente.
Com a certeza de que ela estava corando, Payton não se atreveu a olhar
para cima das folhas que assinava, ela estava imaginando a cara de Irma.
Com o canto do olho, Payton podia ver que Irma estava ouvindo
atentamente a conversa. Ela decidiu que agora seria um excelente momento
para voltar ao seu escritório.
— Eu decidi ficar e jogar golfe. — ela ouviu J.D. dizer a Kathy. — Você
sabe, tirar um dia para relaxar.
Com os olhos arregalados, Irma olhou para Payton. Sem perceber cobriu
a boca. — Oh, meu Deus. — ela repetiu, rindo.
Payton foi até a mesa da sua secretária. — Irma, eu posso vê-la em meu
escritório? Agora?
Balançando a cabeça, ainda com o sorriso do Gato da Alice do País das
Maravilhas, Irma seguiu Payton para seu escritório. Ela manteve sua mão sobre
a boca, como se temesse pelo que poderia falar.
Payton fechou a porta atrás de si e se virou para Irma. — Tudo o que você
acha que acabou de entender, eu preciso pedir-lhe para manter em sigilo para si.
Irma tirou a mão da boca. — Pelo menos eu sei o que deu em você
ultimamente. Literalmente.
Vendo como isso era importante para Payton, Irma suspirou. — Tudo
bem.
Payton sorriu. — Obrigada. — ela sabia o quão difícil era para sua
secretária ficar indiferente sobre as fofocas, ainda mais algo tão suculento como
isso.
— Irma...
No final do dia, Irma entrou pelo escritório de Payton. Ela segurava uma
caixa de médio porte em suas mãos.
Distraída, Payton olhou por cima de seu computador. — Você pode ver o
que?
Irma apontou para a etiqueta de endereço. — Diga isso para Jimmy Choo.
— Ah, certo... quando você rasgou sua saia no tribunal. Um amigo meu
que trabalha no escritório do escrivão, disse que todos falaram sobre isso por
semanas. — Irma parecia deixar Payton cada vez mais para baixo. — Isso deve
ter sido muito embaraçoso.
— É claro que se você pudesse, de alguma forma conseguir sair daqui com
seus sapatos e em sua saia, provavelmente seria melhor.
Payton riu. Com um rápido aceno de adeus, Irma se virou e saiu pela
porta.
***
J.D. assentiu. — Já. Pela primeira vez, eu quero deixar este lugar
enquanto ainda está claro lá fora.
Payton fechou a porta atrás dela. — Eu recebi os sapatos. Eu não posso
aceitá-los J.D..
Ele pegou sua pasta. — Claro que você pode. — ele olhou para ela na sua
saída para a porta. — Além disso, eles são os meus favoritos.
— J.D....
— Não há nada que você precise dizer. De verdade. — ele chegou perto, e
Payton pensou que ele ia beijá-la, mas em vez disso ele abriu a porta e saiu para
o corredor.
Entre outras coisas, que se dane se ela ia deixar J.D. Jameson ficar com a
última palavra.
***
Ele se virou e viu Payton caminhando pela garagem, vindo da direção dos
elevadores e indo em direção a ele. Ela levava sua bolsa e o casaco sobre o braço.
— Ah, é?
Ela deu um passo para mais perto dele. — Mas aqui está a coisa, as
alternativas significam não estar com você. E eu tenho não estado com você por
anos, J.D.. Eu não quero mais isso. — Payton olhou para ele. Seus olhos azuis
escuros e expressivos. — Eu acho que nós podemos superar esta coisa de
sociedade se fizermos isso juntos. — ela fez uma pausa, depois corou e riu
nervosamente. — Agora seria um bom momento para você dizer alguma coisa.
Na mente de J.D. corriam umas mil coisas que queria dizer a ela. Era
hora? Ele pensou que talvez, mas finalmente, era.
— Payton, eu...
Mas ele parou quando viu algo ou alguém, por cima do ombro. — Merda.
J.D. teve que morder a língua para não rir. — Não, não é isso. É Ben. —
ele disse a ela baixinho. — Ele acabou de sair do elevador.
Como J.D. esperava, enquanto Ben se aproximava, ele foi atingido por
um medo súbito: e se Ben propositadamente ou acidentalmente, dissesse algo
sobre um deles ou sobre o que a empresa tinha decidido fazer, ou sobre qual
parceiro havia escolhido? E nesse momento, J.D. não queria admitir. Ele
começou a se perguntar se Payton estava certa em pensar que os dois poderiam
começar numa boa após a decisão da empresa.
— Payton?
Ben assentiu. — Certo, certo, seu cartão chave. — então, ele se inclinou
para J.D.. — Você acha mesmo que eu sou estúpido é?
Se ele tivesse deixado seu escritório apenas cinco minutos depois, nada
teria acontecido.
Mais do que tudo, J.D. desejava que ele pudesse dizer isso a ela. — Foi há
muito tempo, Payton. — ele disse calmamente.
Seus olhos escureceram de raiva. — Foi a muito tempo atrás que você o
que? Que você mentiu pra Ben e disse que dormimos juntos?
— Sim.
Ela recuou surpresa, e J.D. sabia que parte dela esperava que houvesse
alguma outra explicação para o que ela tinha ouvido. Ela olhou para ele com
uma expressão de traição. — Diga-me o que você disse a ele.
— Não é importante. — J.D. disse a ela, embora soubesse que não era
verdade.
— Eu ouvi Ben perguntar. Seja qual for a mentira que você disse a ele, eu
quero saber. Eu acho que você me deve pelo menos isso. — disse Payton
friamente.
J.D. teve que desviar o olhar incapaz de encontrar o dela. Quando ele
hesitou, ele ouviu a fluência do pânico na voz de Payton.
— Oh, Deus, J.D.! Ele é meu chefe! O que você disse a ele?
J.D. virou-se para encará-la. Ela estava certa. Ela deveria saber
exatamente o que havia sido dito. E ele precisava parar com seus erros. Assim,
ele preparou-se para o inevitável.
— Eu disse a ele que fizemos sexo em cima da minha mesa uma noite,
depois que todos foram embora.
J.D. odiava que ele era aquele a colocar essa expressão de dor no rosto
dela. Ele tentou desviar o olhar dela, mas não conseguiu. Ela atacou novamente
para confrontá-lo. — Sabe o que a fofoca pode fazer com uma reputação?
Particularmente a reputação de uma mulher? — ela sussurrou. — Por que você
diria algo assim para Ben? Para ajudá-lo a chegar à frente? Olhe para mim,
J.D.! Diga-me!
Quando J.D. olhou para ela, viu toda a raiva e desconfiança em seus olhos
mais uma vez. Ele cerrou o maxilar. — Eu não sei Payton. Talvez eu seja o idiota
que você sempre pensou que eu fosse.
Foi um balde de água fria... ele sabia. A única alternativa era a verdade, e
a verdade - pelo menos com o jeito que ela estava olhando para ele - não parecia
ser a opção mais viável.
— Realmente existe alguma coisa que eu poderia dizer que faria alguma
diferença? — J.D. estava certo de que já sabia a resposta para isso.
E aqui ele pensou que seus olhos não poderiam ficar mais frios.
— P or que
Tyler não pareceu notar a frustração na voz de J.D.. Ele pegou seu celular
e olhou para ele com naturalidade.
— Eu gostaria que você olhasse para isso, a bateria acabou. Eu devo ter
esquecido de checar isso. Oh, bem.
J.D. poderia ter estrangulado ele. Três semanas atrás, Tyler tinha
sugerido ir a um jogo na noite anterior à decisão da parceria, como uma
distração. Na época, parecia uma ótima ideia. Mas agora, depois de tudo que
tinha acontecido com Payton, o beisebol era a última coisa que estava em sua
mente.
— Você veio aqui para me dizer que você não vai? — perguntou Tyler.
— Mas se você não vai... então como você está aqui? Espera, isso é uma
espécie de coisa de viagem no tempo? Se assim for, você tem que me dizer como
isso funciona, porque eu realmente gostaria de voltar para sábado à noite e dizer
a mim mesmo para não levar para casa a senhorita Looney Tunes, porque
aquela garota tem...
J.D. olhou para o céu, balançando a cabeça. Ele ainda não conseguia
acreditar nele mesmo.
J.D. não sabia por onde começar. Ele passou a mão pelo cabelo. —
Eu... uau, eu totalmente estraguei tudo.
Tyler assentiu. — Eu vou dizer que, estamos nós dois aqui, e eu já tenho
os bilhetes. Vamos entrar, tomar uma cerveja, e você pode me contar tudo.
J.D. sabia que Tyler tinha comprado camarote, apenas cinco fileiras atrás
do banco de suplentes, e se sentiu mal deixando o dinheiro do seu amigo ir para
o lixo. Além disso, a parte sobre a cerveja não parecia uma má ideia. Ele ia
precisar de algum álcool, - provavelmente de vários, de fato, - apenas para poder
ter essa conversa.
***
Era mais fácil para J.D. falar fingindo manter um olho sobre o
jogo. Discutir suas emoções não era exatamente algo que vinha naturalmente
para ele, e o jogo deu-lhe a oportunidade de olhar longe de Tyler durante certas
peças-chave da conversa.
Ele contou para o seu amigo sobre o fim de semana em Palm Beach, a
respeito das hesitações de Payton sobre a decisão da sociedade, e o que ela havia
dito a ele na garagem apenas algumas horas atrás.
Que o levou, então, para a conversa que Payton tinha ouvido entre ele e
Ben, e mais importante, para a mentira que ele tinha dito a Ben há vários anos.
Foi aqui que J.D. parou. Por mais que ele pudesse querer encobrir
determinada parte da história, ele sabia que não ia acontecer.
Tyler, que tinha ficado relativamente calmo até este ponto, passou a mão
sobre a boca, e então exalou alto. — J.D.... isso é muito ruim.
— Eu sei.
— Como é que Payton reagiu quando você admitiu o que você disse a
Ben?
— Não muito bem. — J.D. olhou por cima em Tyler. — Ela queria saber o
porquê. Então eu disse a ela que eu sou um idiota.
Tyler olhou para J.D. com expectativa. — Então? Você, pelo menos, vai
me dizer a verdade?
J.D. fez uma pausa. Então ele lentamente olhou Tyler diretamente nos
olhos. Ele não disse uma palavra. Ele não precisava.
— Praticamente, sim.
— Bem, agora que você mencionou, eu estou tipo curioso. Espere, deixe-
me adivinhar, desde o primeiro momento em que a conheceu. — Tyler brincou.
— Na verdade, não, espertinho. — J.D. fez uma pausa. — Foi o segundo
momento. — Eu acho que você vai ter que descobrir por si mesmo, J.D.
Jameson. Sim, ele passou anos tentando negar, até para si mesmo, mas aquele
olhar dissimulado dela tinha praticamente o destruído.
Tyler riu. — Sem ofensa, J.D., mas não é um pouco profundo para você?
— Eu sabia que você ia dizer isso. — disse J.D.. — Eu não acho que ela vai
entender. Você não viu o olhar em seu rosto quando ela se afastou.
— Mas antes disso, ela veio atrás de você para lhe dizer que queria ficar
com você. Há esperança nisso.
66
Cubs ou Chicago Cubs é uma equipe de beisebol de Chicago, Illinois.
mãos. — Eu não quero começar algo com ela que está destinado ao fracasso. Isso
seria pior do que não estar com ela, eu acho.
Tyler ficou sério. — Escute, eu não posso lhe dar algum conselho sobre o
que fazer a respeito da coisa que você não sabe se você pode fazer. Só você pode
tomar essa decisão. Mas em termos de se você deve se colocar em xeque, eu vou
te dizer o seguinte: se eu fosse Payton, e eu tivesse ouvido o que você disse para
Ben, eu não teria sequer me preocupado em dar-lhe a oportunidade de você se
explicar. Eu teria puxado a minha luva branca e dado um tapa em seu rosto e
iria embora.
— Eu só quero esclarecer, neste cenário, estamos também em um
desenho animado de Pernalonga?
— Tudo bem, eu vou ser mais direto: Você não gosta de ser
dispensado? Bem, muito ruim. Foda-se o seu orgulho, é a única chance que você
tem.
— Eu não estou pedindo que você faça qualquer coisa. — Tyler disse. —
Eu estou apenas dizendo o que eu acho que tem que acontecer, se você quiser
alguma chance de fazer as coisas funcionarem com ela.
J.D. assentiu e ficou em silêncio. Realmente não havia mais nada a dizer
sobre o assunto.
Na verdade, não era uma linda vista. De fato, não era nem uma visão
medíocre, mas se ela olhasse para a direita, lá estava: passando entre dois
grandes arranha-céus pretos, um caminho fino e estreito por onde a água
cristalina do lago Michigan refletia o brilhante azul claro do céu de verão.
Estranho que ela nunca tivesse notado isso antes. Por outro lado, talvez,
não fosse tão estranho - ela não tinha exatamente passado muito tempo no
escritório olhando pelas janelas.
Laney havia ligado e se oferecido para esperar com ela, e embora ela
apreciasse, Payton recusou. Esta manhã seria algo que ela precisaria enfrentar
sozinha. Além disso, ela não seria exatamente uma boa companhia.
Como já tinha feito várias vezes, Payton olhou para o relógio em sua
mesa. Naquele momento respirou fundo e fechou os olhos com força. Dez
horas. Finalmente.
Já era tempo.
Irma entrou. — Ben disse que você pode ir para o escritório dele agora.
Payton olhou para outro lado do corredor. Sabia que essa era a hora. No
mesmo instante viu Kathy deixar o escritório de J.D.. Presumivelmente devia ter
acabado de dizer a mesma coisa para ele. Ela podia ver J.D. através do vidro e
notou que ele parecia estar hesitando um pouco.
Se ele estivesse esperando por ela, pensando que iam juntos para o
escritório de Ben, ficaria esperando. Depois do que aconteceu ontem, não havia
absolutamente nada para dizer a J.D. Jameson.
Surpresa ao ver as duas cadeiras vazias, Payton olhou em volta e viu J.D.
em pé em um dos lados da sala. Ele olhou para cima quando ela entrou e por um
momento, Payton estava tentada a desviar o olhar. Então ela pensou O inferno
com isso e olhou diretamente nos olhos dele. Com a cabeça erguida, ela se
sentou em uma das cadeiras em frente à mesa de Ben.
Com o canto do olho, Payton podia ver J.D. olhar em sua direção.
— Nós sabemos como isso é importante para ambos. Sabemos da
dedicação que cada um de vocês tem mostrado para a empresa. Todos nós da
Comissão de Parceria lamentamos profundamente as circunstâncias que nos
obrigaram a fazer esta escolha.
Como se ele estivesse esperando apenas por isso, J.D. sustentou seu
olhar. Seus olhos procuraram os dela, tendo uma expressão no rosto, que
Payton nunca tinha visto antes. Um olhar de incerteza.
Então algo aconteceu. Payton viu um clarão em seus olhos, e ele apertou
o maxilar.
— Eu me demito.
— Oh não, você não vai fazer isso. — Payton disse para J.D..
J.D. mudou-se para o seu lado falando em voz baixa. — Posso falar com
você por um segundo Payton?
— Não.
— Desculpe você teve sua chance de falar ontem. Agora eu estou focada
em coisas mais importantes.
— Você está brincando comigo falando uma merda dessa aqui né? —
Payton fez um gesto para a linha de parceiros que estavam olhando para eles em
total confusão. — Sério J.D.? Você quer falar sobre isso agora?
— Com licença Payton e J.D.... — ele olhou entre eles, confuso. — Quando
o inferno que vocês dois vão sentar para que possamos começar?
— Eu quero falar com você, Payton. — ele repetiu. — Podemos fazer isso
aqui ou em algum lugar mais privado. Você decide.
Pelo olhar determinado em seu rosto, Payton poderia dizer que ele estava
falando sério. Ela se virou e viu os pares de olhos do Comitê de Parceria
atordoados e extremamente curiosos sobre eles.
***
Curiosamente, J.D. notou que ela não disse nada. Embora ela realmente
não precisasse, o olhar em seus olhos dizia mais do que toda a escolha de
palavras profanadas lá fora.
Ele começou a andar pela sala. Sentia o olhar de Payton sobre ele
enquanto se movia de um lado para outro.
— Tudo bem, deixe-me começar com a coisa que eu disse a Ben. Eu sei
que foi imperdoável. Arrependi no momento que eu disse. Eu entrei em pânico.
— J.D. olhou para Payton. — Aparentemente, eu tenho essa maneira reveladora
de olhar para você.
Ele parou diante dela. — Talvez você pudesse apenas acenar com a cabeça
dizendo sim ou não, para eu saber que você está entendendo o que estou
dizendo.
J.D. voltou ao seu ritmo. — Você me deixa louco, você sabe. A maneira
como você vira em seus calcanhares nos saltos, seus terninhos, sua saia, seu
atrevimento, ironia, respostas... e o jeito que você sempre, sempre me desafia
em tudo o que diz e faz. Por oito anos eu tentei chegar à sua frente. Eu tentei
fugir de você Payton, e eu não consegui.
Ele parou diante dela esperando. — Agora você vê onde estou indo com
isso?
J.D. percebeu que não havia como voltar atrás. — Eu estive apaixonado
por você desde o início. Você perguntou por que não há mais ninguém na minha
vida, e a razão... é você. — ele limpou a garganta. — Eu sei que tenho agido de
outra forma. Eu sei que tenho sido terrível para você. Isso foi um mecanismo de
defesa. Idiota, mas foi. Porque a verdade é que todos os dias durante os últimos
oito anos, eu queria que você olhasse para mim do jeito que você fez quando nos
conhecemos.
Ele esperou que ela dissesse alguma coisa. — Se isso faz significa algo
para você, sinta-se livre para falar.
Uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Ela riu encabulada e limpou-a. —
Desculpe. Eu só fico pensando... — ela olhou para suas mãos livres — Como
perdemos tempo... — ela olhou para ele. — Por que você nunca disse nada?
J.D. observou a maçaneta da porta girando. Ele ouviu Ben falar com
alguém no corredor. — Chame a manutenção. Descubra se eles têm uma chave
reserva para esta porta.
J.D. sustentou seu olhar. — Nós podemos fazer isso, Payton. Não temos
que aceitar que eles nos separem - essa foi a decisão deles, não a nossa. A
melhor parte deste trabalho é que eu posso passar todos os dias com você. Ter
você ao meu lado, a um olhar da minha porta. E eu não quero perder isso.
— Sim. O nosso lugar. Eu quero que nós comecemos nossa própria vida.
— Tudo isso soa muito bom, mas é um grande risco. — Payton disse.
Outra batida. Neste ponto, Ben soou extremamente chateado quando ele
gritou através da porta. — Eu apenas pensei que deveria informar que um
homem de manutenção está vindo abrir a porta.
J.D. voltou. — Nós estamos sem tempo, Payton. Você mesma disse: a
única maneira de fazermos isso, é juntos. Eu sei que podemos fazer isso. Mas eu
preciso que você acredite. Você precisa acreditar... em nós.
Payton não disse nada por um longo momento e J.D. poderia
literalmente ouvir seu coração batendo.
Demorou alguns instantes até J.D. entender o que ela disse. Então ele
sorriu. — De jeito nenhum. Jameson e Kendall. É a ordem alfabética.
— Você disse ao nosso chefe que você me comeu em cima da sua mesa.
— Eu quero ouvir você dizer isso. Vamos mesmo fazer isso juntos Payton?
— Bom... então você deve saber que a partir de hoje, eu nunca, nunca
mais na minha vida, quero passar um dia que seja sem você.
J.D. levou a sua mão ao rosto dela e a beijou. Mais suavemente do que
nunca, mais persistente, porque pela primeira vez, ele sentiu que absolutamente
nada pairava sobre suas cabeças, nada mais estava entre eles. Eles teriam todo o
tempo do mundo.
Exceto pelo homem irritado batendo incessantemente na porta. E pela
multidão de pelo menos uma centena de pessoas esperando impacientemente
no corredor.
— Só para eu ter uma noção, quanto tempo, ainda, isso será usado contra
mim?
— Eu sei.
Q uando a porta se
No centro, à frente, estava Ben, que foi até eles com um olhar que dizia
que ele estava completamente irritado. — Terminamos com o teatro
agora? Podemos finalmente terminar isso?
Os olhos de Ben se estreitaram. Ele olhou entre ela e J.D.. — Que tipo de
besteira é essa? Você dois renunciaram?
— Sinto muito, Ben. Mas você forçou a mão. — disse J.D.. — Payton e eu
decidimos ficar juntos.
Payton ouviu um “ohhh” vindo da multidão atrás dela, com uma voz que
soou suspeitosamente como Irma.
Mas Ben não estava pronto para se dar por vencido ainda. Ele levantou
um envelope lacrado. Seu trunfo. — Eu tenho uma carta oferecendo a parceria
que eu acho que vai mudar uma das suas mentes.
Ben olhou entre eles, atordoado. — Vocês pelo menos não querem saber
quem nós escolhemos?
Inferno, sim. Payton não iria negar que parte dela estava tentada a pegar
o envelope da mão de Ben rasgá-lo e abrir ali mesmo.
Mas.
Ela olhou para J.D., que olhou para ela, e ela sabia que ele estava
pensando a mesma coisa.
— Sim. Mas só por não termos feito isso antes. — disse J.D..
— Você não deveria ter deixado chegar a isso, Ben. J.D. e eu merecemos
isso. — disse Payton. — E se essa empresa valoriza a alavancagem estratégica
sobre o compromisso que temos demonstrado ao longo dos últimos oito anos,
então, francamente, vocês não nos merece.
J.D. olhou para ela com aquele olhar “divertido”. — Discurso legal.
Ela pegou a mão dele, e lado a lado, eles caminharam pelo corredor do
escritório, além dos seus escritórios, para os elevadores e à saída.
Etc.
***
— Anote o recado. — Ben falou. Quem quer que fosse, poderia esperar.
Ben não estava de bom humor. — Lide com ele, quem quer que seja. —
disse ele, passando por ela.
— É Jasper Conroy.
Ele acenou para Marie. — Vou atender. — não querendo perder mais um
minuto, ele se dirigiu para seu escritório. Ele viu a luz piscando em seu telefone
e imediatamente atendeu.
O sotaque de Jasper veio do outro lado da linha. — Bem, fico feliz que eu
peguei você. Escute, eu tenho pensado ultimamente sobre fazer um pouco de
reestruturação na equipe de julgamento da Gibson... eu estou preocupado que
nós estamos aprofundando um pouco demais no lado advogado. Então eu
decidi colocar o meu negócio em outro lugar, em uma empresa menor.
— Lealdade, Ben. Eu não teria chegado onde estou hoje sem isso. Que é
algo que você deveria considerar.
— Não seja um idiota só para provar um ponto, Jasper. Você não pode
entregá-los um caso de duzentos milhões de dólares.
Filhos da puta.
***
Tão logo a porta do elevador se fechou atrás deles, Payton enfrentou J.D.,
esfregando as mãos ansiosamente. — Então. Nós vamos ter que contratar
colaboradores de imediato. Quantos você acha que precisamos para
começar? Cinco?
— Dez.
— Tenho certeza de que podemos conseguir Irma e Kathy para vir junto -
elas devem ser suficientes para cobrir-nos por um curto prazo.
— Estou certo de que podemos lidar com isso. — disse J.D. com um
sorriso. — Eu ouvi que esses bangalôs sobre a água são muito particulares.
J.D. se afastou e a olhou nos olhos. — Tudo bem, Payton, vamos lidar
com isso agora, tire do caminho. Você conhece as estimativas, assim como eu, os
honorários advocatícios da Gibson para o primeiro ano devem ser algo em torno
de vinte milhões de dólares. E agora, graças a nossa brilhante manobra, que,
para registro, foi iniciada por mim, só existem dois parceiros que irão dividir
essas taxas. Você e eu. — ele a pegou pelos ombros. — O que significa que você
vai ser uma mulher muito, muito rica, Payton Kendall.
Payton olhou para J.D. enquanto absorvia isso. É claro que ela sabia que
desembarcar com a Gibson como um cliente seria um golpe para os dois. Mas
ela estava tão presa com o que estava acontecendo entre ela e J.D., que não
tinha parado e feito as contas sobre exatamente quão grande tinha sido o golpe
de Estado.
Vinte milhões.
J.D. riu. — Compre para ela mil créditos de carbono. Ela vai superar isso.
— Você poderia ter feito isso, porque era uma jogada inteligente para sua
carreira. — disse J.D..
Fim