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2 TESSALONICENSES

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Original em inglês:

New Testament Commentary: 1 Thessalonians

Author: William Hendriksen

TRADUTOR: CARLOS BIAGINI

Baker Book House

Grand Rapids, Michigan, 1957

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 2

CONTEÚDO

INTRODUÇÃO

I. Razões para o estudo destas epístolas

II. A fundação da igreja

III. Propósito de Paulo ao escrever

IV. Data e lugar

V. O autor

VI. Conteúdo geral

2 TESSALONICENSES 1 – A REVELAÇÃO DO SENHOR JESUS


DO

CÉU
Síntese de 2 Tessalonicenses 1

2 TESSALONICENSES 2 - SERÁ PRECEDIDA PELA APOSTASIA


E

PELA REVELAÇÃO DO INÍQUO.

2Ts 2:1-3a - Os dois eventos que precederão a volta de Cristo: a

apostasia e a revelação do homem do pecado.

Condena-se o falso alarme.

2Ts 2:3b–12 - O homem do pecado

2Ts 2:3b, 4 - Seu caráter perverso e sua atividade desafiadora

contra Deus

2Ts 5–8a - Seu encobrimento presente e futura revelação

2Ts 2:9, 10a - Sua ligação com Satanás e com o poder de

Satanás para enganar

2Ts 2:10b-12 - Seus seguidores endurecidos pelo pecado e

destinados ao inferno

2Ts 2:13-16 - Contraste entre o destino do iníquo e seus

seguidores, por um lado, e o dos leitores, por

outro

Síntese de 2 Tessalonicenses 2

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 3


2 TESSALONICENSES 3 - ESPERANÇA FIRMEMENTE
ANCORADA SEM

DESORDEM; UMA SEGURANÇA TRANQUILA

2Ts 3:1, 2 - Petição de intercessão

2Ts 3:3-5 - Serena segurança e paciência constante que se

requer são prometidas

2Ts 3:6-15 - Condenação da desordem

2Ts 3:16-18 - Conclusão: “Agora que ele, o Senhor da paz, vos

dê esta paz”. Bênção final.

Síntese de 2 Tessalonicenses 3

BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO A 1 E 2 TESSALONICENSES

I. RAZÕES PARA O ESTUDO DESTAS EPÍSTOLAS

Vamos estudar algumas Epístolas escritas por um homem que, com


o apoio de seus colaboradores, “transtornou o mundo inteiro”. O

interesse na pessoa de Paulo jamais se extingue. 1

É um interesse múltiplo. Alguns abordam sua atenção


particularmente sobre Paulo, o teólogo, e formulam perguntas como:
Foi Paulo o arranjador de um sistema doutrinário ou era um
discípulo de Jesus? Quais foram suas opiniões diante de diversos
temas doutrinários?
Deve porventura a igreja do presente conduzir-se por estes critérios
ou simplesmente considerá-los sem valor normativo?

Outros, esboçam um retrato de Paulo, o homem. Seu interesse


central pode ser chamado de psicológico. Perguntam: Qual é nossa
explicação lógica diante de sua inesgotável energia? Era pessoa
normal ou anormal? Pode acaso sua experiência no caminho a
Damasco achar uma explicação psicológica ou efetivamente ocorreu
algo de caráter 1 Assim, entre as obras importantes publicadas,
quer seja pela primeira vez ou reimpresas, somente na década
1940–1950, foram as seguintes:

R. M. Hawkins, The Recovery of the Historical Paul (A recuperação


do Paulo histórico), Nashville, 1943.

C. W. Quimbly, Paul for Everyone (Paulo para todos), New York,


1944.

John Knox, Chapters in a Life of Paul (Capítulos na vida de Paulo),


New York y Nashville, 1946.

E. J. Goodspeed, Paul (Pablo), Philadelphia, Toronto, 1947.

R. Machen, The Origin of Paul’s Religion (A origem da religião de


Paulo), reimpresso, Grand Rapids, 1947.

F. Postma, Paulus (Paulo), Pretoria, 1949.

W. Ramsay, St. Paul the Traveler and the Roman Citizen (São
Paulo, o viajante e o cidadão romano), reimpresso, Grand Rapids,
1949.

W. Ramsay, The Cities of St. Paul (As cidades de São Paulo),


reimpresso, Grand Rapids, 1949.

W. J. Conybeare and J. S. Howson, The Life and Epistles of St. Paul


(Vida e epístolas de São Paulo), reimpresso, Grand Rapids, 1949.
A. Barnes, Scenes and Incidents in the Life of the Apostle Paul
(Cenas e incidentes na vida do apóstolo Paulo), reimpresso, Grand
Rapids, 1950.

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sobrenatural? Era homem intrépido ou tímido? Foi de caráter frio ou


compreensivo?

Finalmente tem-se agrupados aqueles para quem Paulo é,


sobretudo, o missionário. Há neste grupo muitos que insistem na
ideia do missionário a quem devemos imitar. Argumentam que
mesmo quando suas vantagens pudessem ter sido extraordinárias,
não alcançaram estas o extremo de privar seu exemplo de todo
valor para o dia e época presente.

Concluem afirmando que os métodos de Paulo devem também ser


os nossos. Portanto, se ele cria numa igreja nacional
(autofinanciada, autopropagada, autônoma), esse deve ser hoje
nosso critério. Outros, não obstante, mesmo quando apoiam este
ponto de vista em grau considerável, não estão muito convencidos
que os princípios e métodos de Paulo sejam aplicáveis em nossos
dias, salvo profunda modificação.

Põem em relevo a grandeza deste missionário, seus extraordinários


dons carismáticos e qualificações. Também enfatizam o fato de que
os tempos e as circunstâncias evoluíram, e consequentemente, com
frequência achamos que o que para Paulo pôde ter sido correto
fazer, ao contrário, para nós seria incorreto.

Portanto, temos de Paulo o interesse teológico, o pessoal ou


psicológico e o missionário (e para que falar das diversas formas em
que estes interesses se misturam e combinam).

Agora, é um fato que estas três linhas de pensamento convergem


maravilhosamente nas duas epístolas aos tessalonicenses.
Começando com o aspecto teológico ou doutrinário: Certamente há
epístolas de maior consistência doutrinária, no entanto em nenhum
outro lugar nos oferece tanto material original para a doutrina das
últimas coisas (“escatologia”) como nestes oito capítulos. É um fato,
muito conhecido, que em 1 Tessalonicenses cada capítulo termina
com uma referência à segunda vinda. Veja-se 1Ts 1:10; 2:19, 20;
3:11–13; 4:13–18; 5:23, 24.

Também 2 Tessalonicenses aumenta em material escatológico; veja-


se especialmente 2Ts 1:7–10 e 2:1–12. Toda vez que buscamos
informação sobre temas tais como “o rapto” (qualquer que seja o
sentido do conceito

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adotado), o tempo da volta de Cristo, a grande apostasia, “o homem


do pecado”, “aquele que (ou, o que) impede”, “o mistério da
iniquidade”, e a “manifestação de sua (de Cristo) vinda” — nosso
impulso natural é acudir primeiro a uma, ou às duas epístolas aos
tessalonicenses.

Por outro lado, embora seja positivamente certo que outras


passagens nas epístolas de Paulo e no livro de Atos podem ser
consideradas como janelas que nos permitem examinar por dentro o
coração do grande apóstolo, nenhuma nos revela tanto a respeito
como 1Ts 2:1–12; 3:1–10; 5:12–24; e 2 Ts. 3:7–10. Aqui certamente
existe um retrato de Paulo, o homem. É nestas duas epístolas onde
se destaca «em todo o encanto de sua rica e múltipla
personalidade» (George Milligan, St. Paul’s Epistles to the
Thessalonians, London 1908, p. xliii).

Quanto a Paulo, o missionário, sua estratégia — proclamando a


mensagem nos grandes centros, fazendo uso da sinagoga,
baseando seus argumentos nas profecias do Antigo Testamento,
etc. — é tão evidente em Tessalônica como em qualquer outro lugar.
Com efeito, os estudos especiais consagrados a este tema fazem
referência vez após vez, não só a Atos 17:1–19, que contém um
breve relato da obra em Tessalônica, mas também a 1Ts 1:8–10,
onde nos é oferecido algo sobre o conteúdo e surpreendente êxito
da mensagem missionária de Paulo. Cf. também Fp 4:16.
1 e 2 Tessalonicenses podem ser considerados, portanto, como
fonte importante para a subsequente formulação de doutrina, como
guia indispensável para o estudo de Paulo, o homem, e como
capítulo importante num manual de obra missionária. O que se
oferece nestas duas breves epístolas é tudo isso, e ainda mais. São
preeminentemente uma parte da infalível revelação especial de
Deus, que chega a todo crente com absoluta autoridade divina, e
indicando-lhe o que deve crer e como deve viver.

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II. A FUNDAÇÃO DA IGREJA

A evangelização da Europa começou de forma intensa quando


Paulo sentou o pé no que hoje é o trecho longo e estreito do
nordeste da Grécia. Neste lugar estava Filipos situada a 16
quilômetros do mar Egeu, para o interior do continente. Era “uma
cidade da Macedônia”, a primeira do distrito, uma colônia romana
(At 16:12).

Atracaram nesta cidade Paulo, Silas, o companheiro que tinha


escolhido para esta viagem (At 15:40), Timóteo como assistente (At
16:3), e Lucas, o médico amado (At 16:10). Em Filipos levantou-se
uma igreja que mais tarde Paulo chamou “minha alegria e minha
coroa” (Fp 4:1). Foi aqui onde Lídia se converte e foram batizados
ela e sua casa (At 16:14, 15). Logo, os senhores de uma moça que
tinha um espírito adivinhador se encolerizaram quando Paulo
expulsou dela o demônio.

Alegavam que “a esperança do seu lucro estava perdida”. Em


consequência deste incidente, Paulo e Silas foram encarcerados e
açoitados com varas. À meia-noite, Deus enviou um terremoto que
abriu as portas das prisões. O carcereiro converteu-se e em seguida
“foi ele batizado, e todos os seus” (At 16:16–34). Depois de serem
postos em liberdade com devida dignidade, Paulo e Silas entraram
em casa de Lídia: “e, vendo os irmãos, os confortaram. Então,
partiram”, deixando a cidade (At 16:40). Lucas ficou atrás e isto é
claro pelo fato de que ao narrar acontecimentos posteriores já não
diz “nós” (como At 16:16), mas sim “eles” (At 17:1). Pelo fato de que
o nome de Timóteo não volta a ser mencionado até At 17:14, alguns
inferem que ele também permaneceu por um tempo em Filipos, e
que não voltou a reunir-se com os outros dois (Paulo e Silas) até
que estes, tendo trabalhado por um lapso em Tessalônica,
chegaram a Bereia. Outros, no entanto, creem que também Timóteo
viajou de Filipos a Tessalônica (na companhia dos outros ou pouco
tempo depois). Opinam que isto pode inferir-se com segurança pelo
fato de que seu nome, junto com os de Paulo e Silas, inclui-se na
saudação de ambas as epístolas (1Ts 1:1; 2Ts 1:1). Este critério,
segundo

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meu parecer, deve ter preferência. Não é estranho que Timóteo, o


juvenil assistente (cf. 1Tm 4:12), nem sempre seja mencionado junto
com os outros. Até hoje, se os periódicos informassem que o
presidente viajou a Califórnia, com certeza omitiriam os nomes de
muitos dos membros de seu séquito; no entanto, isto não significa
que estiveram ausentes.

De Filipos qualquer um podia viajar por uma das mais famosas


estradas militares romanas, a Grande Via Inácio que se estendia
diretamente de Bizâncio, (= Constantinopla = Istambul) no Bósforo,
até Dirrachium, situada diretamente a oeste no Adriático (no que
hoje é Albânia) constituindo assim o elo de enlace com Roma. Sua
construção era sólida, bem mantida, relativamente livre de perigos,
e sinalizada por marcos (segundo relato de Estrabão). Os
missionários tomaram esta rota, primeiro até Anfípolis, chamada
assim por causa do Rio Struma que em seu curso a rodeava, e
então a Apolônia. Dali continuaram até Tessalônica. A distância total
percorrida ao viajar de Filipos a Tessalônica era de uns cento e
sessenta quilômetros.

De todas as cidades e povos existentes ao longo desta grande via,


Tessalônica, situada no que hoje leva o nome de Golfo de Salônica,
e construída sobre as ladeiras em forma de anfiteatro no seio da
baía, era a cidade maior e influente. A via atravessava o coração da
cidade, tal como o faz até hoje em dia o que subsiste dela, e
levando sempre o antigo nome do Inácio.

A cidade foi fundada em 315 a.C. por Cassandro, em ou perto do


lugar da antiga Termes. Cassandro foi um oficial no comando de
Alexandre o Grande. Assassinou a Olímpia, mãe deste porque se
opôs a ele, e tendo derrotado seu exército, ato seguido casou com a
meia-irmã de Alexandre por razões obviamente políticas. O nome
dela era Tessalônica. É interessante ter em mente o que vem a
seguir: Paulo escreveu uma epístola à igreja em Filipos, cidade que
foi fundada ao redor de 358 a.C. por Filipe II da Macedônia. O
apóstolo escreveu também duas cartas à igreja de Tessalônica. Esta
cidade recebeu seu nome em honra a Tessalônica, filha de Filipe.

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Quando os romanos, depois de conquistar Macedônia, dividiram-na


em quatro regiões, Tessalônica foi feita capital de uma delas. Mais
tarde, ao redor de 146 a.C., chegou a ser a capital de toda a
província da Macedônia. No conflito civil entre Pompeu e César,
Tessalônica foi uma das primeiras bases entre as mais importantes,
mas logo, no ano 42 a.C., colocou-se do lado de Antônio e Otávio. A
lealdade da cidade não passou inadvertida. O grande imperador
Augusto a distinguiu concedendo-lhe o privilégio de ser cidade livre.
Portanto, obteve um considerável grau de “autonomia”, isto é,
governo próprio em assuntos internos. Escolheu seus próprios
magistrados a quem denominou

“politarcas”.

Embora a maioria dos tessalonicenses fossem gregos, de modo que


a cultura da cidade era basicamente helênica, não obstante havia
também alguns romanos e não poucos orientais. Dispensa dizer que
o comércio da cidade foi a atração de um bom número de judeus. A
presença destes e sua atividade missionária exerceram uma grande
influência sobre a religião pagã, motivando alguns gentios a
concorrerem à sinagoga e tornar-se “tementes a Deus”.
Sob jurisdição romana, a cidade desfrutou de grande prosperidade,
e nos dias do império bizantino chegou a ser a segunda cidade
depois de Bizâncio.

A história eclesiástica dá conta de um acontecimento extraordinário


que deu fama a Tessalônica. No ano 390 d.C. o imperador Teodósio
o Grande foi causador de um massacre de mais de sete mil de seus
cidadãos como resultado de uma rebelião ocorrida ali. Ordenou a
execução dos sediciosos sem consideração de posição, sexo, ou
grau de culpabilidade. Foi então que o grande bispo Ambrósio,
querendo vindicar os direitos da lei moral — e incidentalmente os
direitos da igreja sobre o estado — recusou-lhe a comunhão. Foi
necessário que o imperador se submetesse à penitência pública,
pedisse perdão, e fizesse certas promessas definidas, para que
enfim lhe outorgasse a absolvição.

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A cidade tem uma representação proeminente na história das


cruzadas. Ficou sob domínio turco de forma mais ou menos estável
no ano 1430. Os turcos a tinham conquistado em tempo anterior,
mas a perderam. De 1430 até 1912 conseguiram retê-la. Em 1912
foi reconquistada pelos gregos. Durante a Primeira Guerra Mundial,
os aliados iniciaram aqui sua Campanha de Salônica (nome que
mais tarde tomou a cidade), e durante a Segunda Guerra Mundial
sofreu dano muito considerável. Pelo fato de que esta cidade
sempre foi um centro comercial, os judeus se sentiram fortemente
atraídos para ela.

Hoje, Salônica é a cidade que segue imediatamente à maior da


Grécia, com uma população de perto do quarto de milhão de
habitantes.

É o coração de uma região produtora de têxteis, derivados do couro,


ferramentas mecânicas e cigarros. Está conectada com Atenas por
ferrovia e graças à sua posição estratégica, é um centro rodoviário,
ferroviário, marítimo e transporte aéreo. Trafica em produtos como
tabaco, gado, trigo, algodão, seda e vegetais. Sua universidade
abriu suas portas no ano 1926. Encontram-se ali hoje as catedrais
de Santa Sofía, São Jorge, e São Demétrio. Uma de suas mais
famosas relíquias da antiguidade é o arco triunfal do Imperador
Constantino.

A atividade de Paulo em Tessalônica teve um duplo aspecto: a.,


sustentou-se economicamente trabalhando com as mãos para
prover sua diária alimentação (1Ts 2:9; 2Ts 3:8), e b., pregou o
evangelho (At 17:2; 1Ts 1:5; 2:2, 8, 11, 12; 4:1, 2). Fez o primeiro a
fim de não ser carga para ninguém, e com o propósito de que todos
se percebessem que ele não devia ser classificado entre os filósofos
ambulantes, cujos propósitos e interesses eram frequentemente
egoístas e mercenários.

Paulo permaneceu pelo menos três semanas em Tessalônica. Este


lapso de três semanas está mencionado em At 17:2, mas deve
observar-se que provavelmente só se limita ao tempo de seu ensino
na sinagoga.

Mas ao ter em mente que neste lugar levantou-se uma muito grande
igreja (deduzido de 1Ts 5:12), que muitos dos cidadãos de
Tessalônica rejeitaram a idolatria para servir ao Deus vivo (1Ts. 1:9),
que seu

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despertar espiritual foi tão intenso que estendeu sua influência em


todas as direções, e que especialmente, durante a “campanha”
nesta cidade, Paulo recebeu duas vezes dons da igreja de Filipos
(Fp 4:6), a conclusão que salta à vista é, que o período total de
tempo que os missionários utilizaram na fundação da nova igreja,
ultrapassou as três semanas. 2

A pregação (ensino e exortação) teve seu começo na sinagoga. Isto


concorda com o costume de Paulo, e como já se insinuou, foi sua
prática regular em outros lugares. De acordo com a ideia de alguns
“a casa de Jasom” foi sede para a subsequente atividade de
pregação. Outros, não obstante, são da opinião que esta casa
serviu como lugar de hospedagem para os missionários e como
oficina de trabalho para Paulo (cf. neste contexto At 18:2, 3).

As fontes inspiradas não nos dão um estudo completo e minucioso


do conteúdo da mensagem de Paulo em Tessalônica. Não obstante,
são mencionados alguns assuntos de importância. É assim como
nos inteiramos que ensinou que as profecias messiânicas tiveram
seu cumprimento em Jesus, que é o Cristo; que sofreu, morreu, foi
levantado dentre os mortos e virá outra vez, tudo isso, conforme as
Escrituras; que por sua obra livrou da ira vindoura a todos os que
esperam nEle; que a idolatria é maldade; e que os crentes, tendo
sido chamados a integrar seu glorioso reino, devem viver uma vida
de santidade para assim agradar a Deus, autor de sua salvação, e
devem ser disciplinados em sua conduta diária em meio de um
mundo perverso (“se alguém não quer trabalhar tampouco coma”).
Veja-se At 17:3; 1Ts 1:9, 10; 2:12; 4:1–3; 2Ts 3:10.

Sobre um ponto — quer dizer, a volta do Senhor e os


acontecimentos que a precederão — Paulo tinha dado instruções
mais ou menos precisas durante sua permanência em Tessalônica
(2Ts 2:1–5). E

2 Igualmente L. Berkof, New Testament Introduction (Introdução ao


Novo Testamento), Grand Rapids, 1915, pp. 222, 223; F. W.
Grosheide, Handelingen (em Korte Verklaring) (Hechos), Kampen,
segunda edição, 1950, p. 55; George Milligan, op. cit., p. xxviii; mas
não R. C. H. Lenski, The Interpretation of the Acts of the Apostles
(Interpretação dos Atos dos apóstolos), Columbus, Ohio, 1944, p.
693.

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não é improvável que seu ensino a respeito de outros temas


doutrinários tivesse o mesmo caráter minucioso.

As circunstâncias sob as quais se desenvolveu toda essa atividade


evangelística foram, em parte alentadoras, e em parte
desalentadoras.
Paulo tinha “padecido” e tinha sido “tratado ignominiosamente” em
Filipos (2Ts 2:2). Portanto, era preciso intrepidez para penetrar num
novo campo depois de tais experiências. Por outro lado, esta obra
não foi em vão; além disso, como já se assinalou, de Filipos brotou
fortaleza.

Paulo pôs o coração em sua mensagem. Pregou “sem rodeios”.

Jamais houve intento de sua parte para conseguir elogios. No


entanto, a verdade fluiu de seus lábios com espírito de terno afeto e
gentileza.

Deste modo, com o calor de sua íntima convicção, profundamente


persuadido da suprema importância de sua mensagem, o grande
missionário, lidando com cada homem como um pai o faria com seu
filho, ensinou, exortou, e confortou. Veja-se 1Ts 1:1–5; 2:4, 5, 7, 8,
10, 11.

E o Espírito Santo aplicava a mensagem aos corações de cada um


de seus ouvintes (1Ts 1:5). Muitos se converteram e aceitaram a
mensagem, não como se fosse palavra de homem, mas de Deus
(1Ts 2:13). Desde aquele instante, eles procuraram, com a ajuda do
Espírito, agradar a Deus (1Ts 4:1). O amor reinou entre os irmãos
(1Ts 4:9, 10).

Uma igreja floresceu. Seus membros estavam cheios de contagioso


entusiasmo. Em cada coração se ouvia uma canção, em cada lábio,
um testemunho.

É claro, tanto pelo livro de Atos como pelas epístolas, que a maioria
dos convertidos eram dos gentios: “alguns” judeus e “uma grande
multidão” de prosélitos gregos (que estavam habituados a concorrer
à sinagoga) foram persuadidos, como também o foram muitas
mulheres da cidade, pertencentes à classe alta, esposas de homens
influentes (At 17:4). Muitos pagãos, idólatras, tendo ouvido o
evangelho proclamado por Paulo e seus colaboradores,
experimentaram uma mudança radical,
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quer dizer, uma transformação tanto da mente como do coração


(1Ts 1:9; cf. 2:14 e At 20:4).

Paulo jamais esqueceu a extraordinária resposta que sua


mensagem obteve em Tessalônica. Ao escrever uma carta a esta
igreja, pouco tempo depois, faz referência à atitude entusiasta e
alegre com que a mensagem foi acolhida (1Ts 1:6), e de fato esta
congregação chegou a ser exemplo para todos os crentes da
Macedônia e da Acaia (1Ts 1:7). Inclusive acrescenta que sempre
que se faz referência a ele, é descrito como o homem por cuja
pregação produziu-se uma poderosa mudança espiritual em
Tessalônica. O grande missionário sente-se muito satisfeito por este
fato, pois sua obra torna-se assim mais expedita. Onde quer que
vai, a fama de sua mensagem o precedeu. Por certo, os novos
convertidos não puderam guardar silêncio (veja-se 1Ts 1:6–10).

Não é de surpreender-se que o “êxito” de Paulo despertasse nos


judeus inconversos grande inveja e exasperação. Com o concurso
de certos ociosos de ruas se precipitaram à casa de Jasom onde
esperavam surpreender os arautos da nova mensagem. Ao
fracassar em sua intenção de encontrá-los ali, arrastaram a Jasom e
a alguns dos crentes levando-os diante dos “politarcas”
(magistrados da cidade)3 gritando: “Estes que transtornam o mundo
inteiro, também vieram para cá; aos quais Jasom recebeu; e todos
estes transgridem os decretos de César, dizendo que há outro rei,
Jesus” (At 17:6, 7). O povo e os politarcas ficaram alvoroçados
quando ouviram isso, mas “soltaram Jasom e os mais, após terem
recebido deles a fiança” (At 17:8, 9).

Imediatamente, os irmãos enviaram de noite a Paulo e a Silas até


Bereia. Os judeus dali “eram mais nobres” que os de Tessalônica, e
receberam a mensagem com solicitude, fazendo uma investigação
diária das Escrituras para certificar-se se o que Paulo proclamava
era a 3 A palavra “politarca” (Atos 17:6, 8) foi por algum tempo
considerada um erro de Lucas. No entanto, a descoberta de
dezessete inscrições em Salônica, contendo este mesmo termo,
provou que Lucas estava certo e os críticos errados. Veja-se J. P.
Free, Archeology and Bible History (A arqueologia e a história
bíblica), Wheaton, Ill., terceira impressão, 1952, p. 321.

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verdade. Mas quando tudo estava saindo esplendidamente, os


judeus de Tessalônica, sendo informados do êxito obtido pelos
missionários, vieram a Bereia com o ânimo de provocar um alvoroço
contra eles. O

resultado foi que, enquanto Silas e Timóteo ficaram atrás,


permanecendo em Bereia para dar respaldo espiritual à igreja
nascente, o próprio Paulo, escoltado por alguns irmãos, dirigiu-se à
costa. Os que conduziam a Paulo o levaram até Atenas, e quando
aqueles voltavam, Paulo os encarregou de pedir a Silas e Timóteo
que viessem a ele o mais breve possível (At 17:10–15).

Logo segue um interessante ministério em Atenas. Leia-se a


respeito dele em Atos 17:16–34. No entanto, o resultado aqui esteve
muito longe de ser tão favorável como em Bereia. Enquanto isso
Paulo estava solicitamente esperando a chegada de Silas e
Timóteo, com notícias da Macedônia. De 1Ts 3:1, 2 pode-se inferir,
sem dúvida, que Timóteo deixou Bereia e se encontrou com Paulo
enquanto o último permaneceu em Atenas. É provável (embora não
seguro) que também Silas se uniu a Paulo em Atenas. No entanto,
uma coisa é clara: Paulo estava profundamente preocupado pelos
novos conversos que tinha deixado lá em Tessalônica. Duas vezes
(uma, estando em Bereia e outra, estando em Atenas?) propôs-se a
voltar para visitá-los, mas por meios que ignoramos, Satanás o
impediu de realizar seu propósito (1Ts 2:17, 18). Enquanto isso, sua
ansiedade persistia. Finalmente, quando já não a pôde suportar
mais, ele (ou ele com Silas) decidiu ficar em Atenas sozinho, e
enviar Timóteo para confortar e animar os irmãos em Tessalônica
(veja-se os comentários sobre 1Ts 3:1, 2). Se na verdade Silas
permaneceu um tempo com Paulo em Atenas, deve ter voltado logo
a Macedônia (talvez a Filipos), pois é claro que tanto ele como
Timóteo
“vieram da Macedônia” a Corinto depois que Paulo começou sua
obra naquela cidade (At 18:1, 5; cf. 1Ts 3:6).

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 15

III. PROPÓSITO DE PAULO AO ESCREVER

A. 1 Tessalonicenses

Corinto era a metrópole comercial e política da Grécia. Seu nome


era sinônimo de imoralidade. Por algum tempo o grande missionário
trabalhou sozinho, aqui. Travou conhecimento com Áquila e Priscila,
jogados de Roma por decreto do imperador Cláudio (que governou
entre 41–54 d.C.). Permaneceu com eles pelo fato de que se
dedicavam a fazer tendas, ofício que Paulo também praticava.
Começou pregando na sinagoga, mas logo o fez na casa de um
gentio junto a ela.

Parece provável que enquanto Paulo estava sozinho em Corinto —

antes que Silas e Timóteo tivessem voltado da Macedônia —


recebeu notícias muito inquietantes das igrejas da Galácia. Teve
conhecimento que os judaizantes haviam estado ativos e tinham
obtido bastante êxito em sua intenção de destruir o edifício que tinha
levantado a custo de tanto sofrimento e paciência. Isto motivou o
apóstolo a escrever sua Epístola aos Gálatas.

Enquanto isso, a jovem igreja de Tessalônica invadia também seu


pensamento. Sentia temor, não fosse acontecer que, como
resultado de sua permanência tão breve e partida tão repentina, de
sua impossibilidade para voltar pessoalmente, e da zombaria e
ridículo que os membros da igreja da Macedônia deviam suportar da
parte de parentes e vizinhos, a tentação a deslizar-se para o
paganismo ou judaísmo pudesse transformar-se em algo superior a
suas forças (1Ts 3:5). Certamente, alguns judeus tinham recebido o
evangelho, mas, qual seria sua sorte à mercê daquela esmagadora
maioria de judeus que não o haviam aceito? A resposta a esta
pergunta não era difícil de imaginar.
Paulo estava no conhecimento de tudo relacionado com o assalto à
casa de Jasom. Além disso, junto aos judeus hostis, estavam
também os judaizantes aqueles que, conforme as últimas
informações, estavam operando um dano enorme na Galácia.
Porventura iriam introduzir-se

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 16

também na Macedônia e provocar sua ruína? Por outro lado, um


grande número de gregos devotos e não pouco número de mulheres
importantes se converteram; mas, o que dizer dos prosélitos que
não se tinham convertido? e especialmente, … o que dizer dos
maridos das mulheres conversas? O só pensar no que estes
pudessem fazer a suas esposas tentando obrigá-las a rejeitar sua fé
em Cristo era deprimente. É verdade, que durante o pequeno lapso
que Paulo permaneceu em Tessalônica, grande número de pagãos
renunciaram à idolatria e haviam aceito a nova religião; mas, seria
esta uma fé firmemente arraigada e genuína? Seria uma fé bastante
forte para suportar uma perseguição da parte daquele ímpio povo, o
mesmo que sempre, por mesquinho suborno, esteve disposto a
realizar atos de violência? Os crentes de Tessalônica (dos quais
somente alguns são mencionados pelo nome como: Jasom,
Aristarco, Segundo, At 17:5–9; 20:4) eram ainda tão imaturos, tão
deficientes em conhecimento e experiência religiosa! Além disso,
quase todos eram tão pobres (2Co 8:2, 3). Seria possível para
Timóteo, que nesses momentos trabalhava entre eles, fazer frente à
situação existente?

Ser-lhe-ia possível voltar sem perigos, e se assim fosse, que


notícias trariam? Com relação a isso, é interessante indicar que uma
preocupação muito semelhante embargaria o coração do apóstolo
em sua terceira viagem missionária. Além disso, as condições em
Corinto — a própria igreja onde Paulo estava nesses momentos
trabalhando — deveria encher seu pensamento de angústia, e ainda
mais, o colaborador cujo retorno esperava ardentemente seria Tito
em lugar de Timóteo. Leia-se a respeito em 2Co 2:12, 13; 7:5–15.
Na verdade, além dos perigos de fora — e não há dúvida que eram
muitos! — havia algo que oprimia o apóstolo cada dia, ou seja, “a
preocupação por todas as igrejas” (2Co 11:28).

Grande foi o alívio de Paulo quando Timóteo voltou (Silas também


voltou da Macedônia, At 18:5). O relatório que trouxe da igreja de
Tessalônica era tão alentador que o coração do grande missionário
se encheu de alegria e ação de graças. “Agora (realmente) vivo”,
disse Paulo, ao receber de Timóteo as maravilhosas novas da sólida
fé e amor

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 17

da jovem igreja (cf. 1Ts 3:8). Não somente a chegada de Silas e


Timóteo e a informação que trouxeram consigo acrescentou
entusiasmo à sua pregação (At 18:5), mas além disso decidiu
expressar seu sentimento de gratidão por meio de uma carta aos
tessalonicenses. Devia ser carta de encorajamento, cujo teor
poderia expressar-se assim: «Vocês estão se conduzindo muito
bem, prossigam assim, aumentando mais (cf. 1Ts 4:1).

Não permitam que as perseguições os façam desmaiar. Estas são


necessárias; mais ainda, devem ser esperadas, tal como lhes falei
quando estava ainda com vocês (cf. 1Ts 3:2–4)».

Junto com aquelas boas notícias predominantes no relatório trazido


por Timóteo, vinham algumas desagradáveis. Adversários ruins,
cheios de preconceitos e ódio, estavam propagando mal-
intencionados rumores para perda do caráter e ministério de Paulo
(1 Ts. 2:3–10), e desta forma procurando minar sua influência e
destruir o bem-estar espiritual que sua mensagem tinha criado. E
quão urgentemente necessário era aquele consolo! consolo
misturado com maior instrução. Isto era muito certo sobretudo com
relação a um assunto importante. Alguns membros da igreja tinham
adormecido no Senhor, eles poderiam ser partícipes na glória da
volta de Cristo? (Veja-se 1Ts 4:13ss.) Por outro lado, se este retorno
era iminente, para que trabalhar mais? Com que objetivo preocupar-
se pelas coisas que logo pereceriam? (cf. 1Ts 4:11).
É evidente que Paulo estava cheio de profunda preocupação e
ardente afeto por esta igreja tão recentemente estabelecida.
Escreve sua carta em certa ordem:

a. atacar de frente a campanha de murmurações contra sua

“personalidade” e seus motivos (veja-se capítulos 1 e 2), b.


expressar sua alegria e gratidão com motivo das boas novas
trazidas por Timóteo (veja-se capítulo 3),

c. arrojar maior luz sobre o assunto que se tinha levantado com


relação aos que tinham dormido — no Senhor — (veja-se 1Ts 4:13–
18) e o relacionado ao modo do retorno de Cristo (veja-se 1Ts 5:1–
11), e

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 18

d. dar instruções precisas como as que se esperam de um


missionário que escreve a homens que acabam de ser arrancados
do reino das trevas (idolatria, imoralidade, etc.) para entrar no reino
de luz (veja-se 1Ts 4:1–12; 5:12–28). Portanto, realça o fato
coerente, que a nova fé demanda completa ruptura com a conduta
imoral que caracteriza ao paganismo (1Ts 4:1–8); além disso
enfatiza a necessidade do devido com relação aos ministérios, de
amor e paz entre os irmãos, da pronta disposição para socorrer aos
necessitados, e da conduta disciplinada diante dos olhos do mundo
(1 Ts. 5:12–14). 4

4 O problema com referência ao propósito de 1 Tessalonicenses foi


ultimamente revisado com relação a um ponto em particular, ou
seja, se efetivamente o apóstolo está tratando de responder à uma
carta de Tessalônica que presumivelmente Timóteo trouxe consigo.
Pode-se encontrar algo a respeito de este tema nos comentários
mais antigos, no entanto leia-se especialmente uma recente
discussão por Chalmer E. Faw, “On The Writing of First
Thessalonians” JBL 71 (Dezembro 1952), 217–225. Faw apresenta
fortes argumentos (mas, segundo minha opinião, não totalmente
convincentes) em favor da posição que advoga pela existência da
mencionada carta enviada de Tessalônica, e que o apóstolo, além
de expressar sua reação ao relatório oral que Timóteo lhe havia
trazido, toma os diversos pontos mencionados nessa carta,
arrojando luz sobre assuntos sobre os quais a igreja de Tessalônica
(especialmente seus líderes) desejavam mais instrução. Os
argumentos do Faw podem ser resumidos como segue:

a. Expressões tais como estas: “Agora, com relação ao amor dos


irmãos” (1Ts 4:9), “Agora, respeito (observe-se, não obstante a
transposição de palavras no original) aos que dormiram” (1Ts 4:13),
“agora, com relação aos tempos e as estações” (1Ts 5:1) revelam
uma pauta que, nas epístolas de Paulo, acham um paralelo somente
em 1 Coríntios (“Agora, com relação às virgens”, “agora, com
relação aos dons espirituais”, “agora, com relação à coleta para os
santos” — veja-se 1Co 7:25; 8:1; 12:1; 16:1), e que nesta epístola é
introduzida pela frase, “Agora, com relação aos assuntos sobre os
quais vocês escreveram” (1Co 7:1). Como resultado, se esta pauta
literária (de introduzir vários pontos numa série fazendo uso da
frase, agora, com relação a … (com variantes semelhantes tanto em
1 Tessalonicenses como em 1 Coríntios) ao ser usada em 1
Coríntios indica que o apóstolo está respondendo uma carta
seguindo uma série, por que nãodevemos chegar à mesma
conclusão com relação a seu uso em 1 Tessalonicenses?

b. A forma abrupta em que introduz alguns destes assuntos (aqui


em 1 Tessalonicenses) confirma a posição de que Paulo tinha diante
de si a carta enviada pelos tessalonicenses, a qual está comentando
ponto por ponto.

c. O fato de que Paulo parece mostrar-se relutante a escrever sobre


certos assuntos (veja-se 1Ts 4:9; 5:1), mas no entanto a faz, embora
vacilante, apoia o mesmo ponto de vista.

Apesar de que, segundo minha opinião, o artigo do Faw está bem


escrito e proporciona bastante informação de valor, e embora sua
teoria — de que Paulo em 1 Tessalonicenses está respondendo
uma carta — pudesse ser correta, este escrito e a mencionada
teoria não têm para mim valor convincente quanto a ser a única
possível conclusão, e isto pelas seguintes razões:

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 19

B. 2 Tessalonicenses

Não é difícil imaginar a alegria com que foi lida 1 Tessalonicenses


pelos membros daquela congregação recentemente estabelecida.

Contudo, muito em breve se viu que seria necessária uma segunda


carta.

a. O paralelo solitário de 1 Coríntios é base muito fraco para tal


conclusão, afinal, e tal como o artigo do Faw claramente o mostra,
no Novo Testamento existem outros casos onde se usa a frase
agora, a respeito, e onde evidentemente não se introduz reação
alguma a algum ponto de determinada carta (Mc. 12:26; 13:32; Jo
16:11; At 21:25).

b. Quanto a um aspecto, 1 Coríntios não é um paralelo, porque ali


(1Co 7:1) Paulo nos está informando de forma específica que ele
está tomando assuntos a respeito dos quais lhe tinham escrito.

Em 1 Tessalonicenses, não faz menção a carta alguma que os


tessalonicenses lhe tivessem escrito! É

ainda possível que eles nem estimassem necessário escrever tal


carta sendo que confiavam em que Timóteo daria um completo
relatório oral.

c. O segundo e terceiro argumento do Faw não provam que Paulo


tinha diante de si uma carta dos tessalonicenses. Bastava para
cumprir o propósito, somente um memorando cuidadoso da parte de
Timóteo, ou simplesmente um relatório ordenado. Quanto ao
terceiro argumento, não se deve dar por sentado tão logo que a
maneira como Paulo se expressa em 1Ts 4:9 e 5:1 indique
realmente resistência de sua parte. Pode existir outra explicação.
Veja-se comentário sobre estes versículos.

Qualquer um que tiver interesse neste tema poderia ler (além do


escrito do Faw de data recente) o que os seguintes escritores
comentam a respeito:

Bacon, B. W., An Introduction to the New Testament (Introdução ao


Novo Testamento), New York, 1900, p. 73.

Barnett, Albert E., The New Testament, Its Making and Meaning (O
Novo Testamento, sua confecção e significado), New York, 1946, p.
37.

Frame, James E., A Critical and Exegetical Commentary of the


Epistles of St. Paul to the Thessalonians (em The International
Critical Commentary) (Comentário crítico e exegético das epístolas
de São Paulo aos tessalonicenses (no comentário crítico
internacional), New York, 1912, pp.

9, 157, 178.

Harris, J. Rendel, “A Study in Letter Writing”, The Expositor (“Estudo


na escritura de epístolas”), Série 5, Vol. 8 (Setembro, 1898), 161–
180.

Lenski, R. C. H., op. cit., pp. 318, 319.

Moffat, James, An Introduction to the Literature of the New


Testament (Introdução à literatura do Novo Testamento) New York,
1917, p. 67.

Plummer, Alfred, A Commentary on St. Paul’s First Epistle to the


Thessalonians (Comentário da primeira epístola de São Paulo aos
tessalonicenses), London, 1916, p. xviii.

Smith, David, The Life and Letters of St. Paul (A vida e epístolas de
São Paulo) New York, 1920, pp. 152–166.
Van Leeuwen, J. A. C., Paulus’ Zendbrieven aan Efeze, Colosse,
Filemon, en Thessalonika (em Kommentaar op het Nieuwe
Testament) (As epístolas de Paulo a Éfeso, Colossos, Filemom, e
Tessalônica — em Comentário sobre o Novo Testamento),
Amsterdam, 1926, pp. 359, 360.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 20

Chegaram notícias a Paulo — seria talvez pelos mesmos que


tinham levado a primeira carta ao seu destino e agora estavam de
volta? — que os crentes em Tessalônica, mesmo quando
experimentavam crescimento espiritual, continuavam sendo
perseguidos, e até de forma mais intensa que nunca. Além disso,
com relação à segunda vinda de Cristo, tema sobre o qual o
apóstolo tinha escrito tão consoladoras palavras, existia ainda certa
confusão. Alguns abrigavam a ideia que a repentina vinda do
Senhor, a respeito da qual Paulo tinha escrito (1Ts 5:3), implicava
um cumprimento imediato. Urgia portanto, não só dar maior ensino
sobre este ponto, mas também exortar a igreja a submeter-se às
instruções que previamente tinham recebido dele. Com relação a
isso, parece que alguém tinha pretendido ter (ou ter ouvido a
respeito de) uma carta que vinha, ou supunha-se vir de Paulo; e
este fato teve também um efeito prejudicial. O conceito de que o
Senhor, com absoluta certeza, voltaria a

“qualquer momento” poderia ser um estímulo para que a conduta


desordenada de alguns (cf. 1Ts 4:11, 12) se acentuasse ainda mais.
Era um assunto então, que necessitava solução pronta. Existia
também outro problema: «Que se faria com aqueles que não
obedeciam as instruções recebidas? Mais exatamente, como devia
a igreja comportar-se com estes desobedientes?» E por último, o
próprio Paulo (e os que estavam com ele em Corinto), em meio de
sérias dificuldades, sentiu a necessidade de solicitar as orações de
seus irmãos tessalonicenses.

Como resultado, o propósito de Paulo ao escrever 2


Tessalonicenses foi o seguinte:
a. expressar sua gratidão pelo crescimento espiritual (incremento
em fé e amor) que os crentes em Tessalônica estavam
experimentando em meio a perseguição, e confortá-los
assegurando-lhes que na segunda vinda de Cristo seus inimigos
seriam castigados, e quanto a eles mesmos, seriam glorificados
(veja-se capítulo 1),

b. sossegar os que estavam agitados e confusos com relação à


segunda vinda, e informá-los que antes que aquela segunda vinda

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 21

ocorresse, teriam lugar outros acontecimentos prévios (veja-se 2Ts


2:1–

12),

c. quanto a isso, exortar todos sobre a necessidade de sujeitar-se às


tradições em que tinham sido ensinados, quer fosse por palavra ou
por carta, prevenir contra cartas imaginárias ou espúrias tendentes a
falsificar a doutrina da segunda vinda, repreender os que andavam
fora de ordem (que ao que parece tinham abandonado suas
ocupações motivados por um conceito fanático da segunda vinda), e
dar ensino referente àqueles que não obedeciam as instruções
recebidas (ver 2Ts 2:13–3:18; cf. 2:2).

Entretecidos com estes pensamentos há passagens em que se


solicita aos crentes de Tessalônica ter em mente Paulo e seus
colaboradores em oração, e em que os encomenda ao cuidado
amoroso de Deus, a fim de que seus corações fossem confirmados,
e que pudessem receber boa esperança pela graça, paz sempre em
toda maneira, o amor de Deus, e a paciência de Cristo.

Através deste breve resumo, é evidente que nos encontramos, sem


dúvida, diante de uma epístola sobre a Segunda Vinda.

IV. DATA E LUGAR


Ultimamente tentou-se compor uma cronologia sobre a vida do
apóstolo Paulo inteiramente nova. 5 Mas dado o fato de que esta
tentativa 5 Refiro-me ao intento feito pelo John Knox; leia-se seus
Chapters In A Life Of Paul (Capítulos numa vida de Paulo), New
York and Nashville, 1946. Aqui se ataca a confiabilidade em Atos
(ver p. 35).

Aparentemente o autor se uniu à lista daqueles que consideram


Lucas como um escritor mais ou menos parcial que superenfatizou o
lugar que correspondia a Jerusalém na história da igreja primitiva.

Essencialmente a posição destes autores foi refutada,


principalmente, e de forma muito adequada por J. G. Machen, The
Origin of Paul’s Religion (A origem da religião de Paulo), Grand
Rapids, Mich., reimpressão 1947). Tem especial importância, do
ponto de vista cronológico, a opinião do Knox, no sentido que as
cartas de Paulo não revelam nem a mais mínima consciência da
parte de Paulo do fato de estar comprometido em extraordinárias
viagens (p. 40). É lógico que se o ensinado no livro de Atos a
respeito das três viagens missionárias fica em dúvida, a cronologia
inteira fica exposta em troca.

Para compreender a diferença que existe entre a cronologia antiga e


a nova (do Knox) pode-se consultar Contemporary Thinking About
Paul (Pensamento contemporâneo a respeito de Paulo)

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 22

se baseia em que o livro de Atos não é totalmente digno de


confiança, seria estéril continuar a discussão (veja-se, não obstante,
a nota 5).

Voltando, então, a Atos e as duas epístolas que nos preocupam,


achamos um notável paralelo. Tal paralelo indica, sem sombra de
dúvida, que 1 e 2 Tessalonicenses foram escritos enquanto Paulo
realizava sua segunda viagem missionária, e provavelmente de
Corinto.
Baseamos esta conclusão nas seguintes considerações: (1) De
acordo com Atos 16:11–40, o apóstolo, em sua segunda viagem
missionária, tinha trabalhado em Filipos. Dali seguiu a Tessalônica e
Bereia e logo a Atenas (At 17). De Atenas prosseguiu a Corinto (At
18:1). Permaneceu em Atenas por breve tempo sozinho, mas ao
tempo de chegar a Corinto, Silas e Timóteo chegam da Macedônia
(At 18:1, 5). Logo, a ordem de percurso é: Filipos, Tessalônica,
Bereia, Atenas, Corinto. Agora, isso está em perfeito acordo com o
que achamos em 1 Tessalonicenses. Aqui também nos encontramos
com um Paulo que tinha estado em Filipos (1Ts 2:2), e que dali foi a
Tessalônica, e logo (via Bereia, que não se menciona aqui) a Atenas
(1Ts 3:1). Quando além disso, lemos que agora Timóteo tinha
chegado (1Ts 3:6), a inferência natural é que se está referindo à
mesma chegada da qual Atos fala, e que Paulo, por conseguinte,
está nesse momento em Corinto.

(2) Pelas saudações (1Ts 1:1; 2Ts 1:1) é evidente que Silas
(também Timóteo) estava com Paulo quando escreveu as epístolas
aos Tessalonicenses. E de acordo com livro de Atos, Silas
acompanhou Paulo em sua segunda viagem missionária (depois de
At 18:5 não se volta a mencionar Lucas), não na primeiro nem
tampouco na terceira.

Embora esta não seja uma prova positiva, não obstante assinala
editado por Thomas S. Kepler, cf. o índice em pp. 158, 159 com a de
p. 169. Mas, é acaso verdade que Paulo em suas epístolas não
deixa entrever pensamento alguém que indique haver-se
comprometido em grandes viagens? Eu não vejo em que forma
pode-se sustentar tal afirmação, especialmente à luz das seguintes
passagens: Rm 1:15; 15:24, 28; 1Co 16:5; 2Co 1:15, 16, 23; 2:12,
13; 7:5–15; 9:2; 10:16; 12:14; 13:1; Fp 4:15, 16.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 23

definitivamente em apoio à conclusão que 1 e 2 Tessalonicenses


foram escritas durante a segunda viagem missionária de Paulo.
Será possível acaso fixar a data de forma ainda mais precisa? Com
relação a isso, repetidas vezes se faz menção ao fato histórico
quando no ano 1909 foi descoberta perto de Delfo uma pedra
calcária com uma inscrição que perpetua uma carta do imperador
Cláudio aos cidadãos de Delfo, contendo o nome de Gálio e, além
disso, uma data importante.

Esta data claramente indica que Gálio, diante de cujo tribunal foi
trazido Paulo estando em Corinto (At 18:12–17), foi procônsul por
um período de um, ou talvez dois anos entre os anos 51–53 d.C. 6
Pelo fato de que Paulo tinha estado em Corinto só antes de
escrever 1 Tessalonicenses, e que ao escrevê-la Silas e Timóteo já
se tinham unido a ele, é claro que não podemos situar esta epístola
no começo do período 51–53. Além disso, dado o fato de que
necessariamente deve ter transcorrido um tempo apreciável antes
que 1 Tessalonicenses fosse seguida por 2

Tessalonicenses, resulta também claro, que a primeira epístola não


pode ser situada no final deste período. Se, como resultado, damos
por aceita para as duas epístolas uma data “ao redor de 52 d.C.” (ou
simplesmente

“algum ponto do período 51–53”), cremos que não andamos muito


longe da verdade.

No que antecede temos dado por sentado que a ordem de sucessão


das duas epístolas em nossas Bíblias é o correto, isto é, que a que
dizemos ser 1 Tessalonicenses foi realmente escrita antes que a
que dizemos ser 2 Tessalonicenses. Um exame cuidadoso e livre de
preconceitos destas duas epístolas, parece dar apoio à veracidade
deste ponto de vista. Razões:

(1) Embora 1 Tessalonicenses contenha muitas referências ao fato


de que Paulo tinha tido contato pessoal com a igreja em questão,
contato cujo lembrança persistia ainda vividamente (cf. 1Ts 1:5; 2:1–
16; 3:4) e 6 Veja-se Millar Burrows, What Mean These Stones (O
que estas pedras significam), New Haven, 1941, p. 86.
2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 24

que deveu ser recente, nesta carta não faz nenhuma referência a
alguma epístola anterior. Mas 2 Tessalonicenses, sim, contém uma
clara e definida referência a uma epístola anterior, uma vez que diz:
“Assim que, irmãos, estejam firmes e retenham as tradições em que
vocês foram ensinados por nós, quer seja por mensagem verbal ou
por carta” (2Ts 2:15).

(2) Em 1Ts 1:6; 2:13, Paulo indica que os tessalonicenses haviam


aceito o evangelho por meio de uma fé viva e verdadeira. Em 2Ts
1:3

expressa sua gratidão em relação ao fato de que é uma fé em


crescimento. De igual maneira, em sua primeira epístola (1Ts 3:12;
4:10) exorta os crentes a crescer em amor uns para com os outros,
e na segunda (2Ts 1:3) regozija-se porquanto este crescimento
gradual em amor já é um fato.

(3) Em 1Ts 4:17 o apóstolo prediz “o rapto” (o ser arrebatados nas


nuvens ao encontro do Senhor no ar); em 2Ts 2:1 claramente
pressupõe que os leitores receberam prévio ensino a respeito deste
tema.

(4) De acordo com 1Ts 1:6; 2:14; 3:3, é evidente que desde o
princípio os tessalonicenses sofreram perseguição. Segundo 2Ts
1:4, 6, entendemos que esta penosa prova de sua fé não tinha
amainado. Se tivesse havido uma mudança, teria sido para pior.

(5) A primeira epístola contém vários mandamentos (1Ts 4:1–12;


5:12–28). Na segunda, alguns destes requerimentos se expressam
de forma mais severa (especialmente com relação a pessoas
ociosas e de conduta desordenada), e são dadas à igreja instruções
específicas de como tratar os desobedientes (2Ts 3:6–15).

(6) A primeira epístola apresenta o caráter repentino e inesperado


da segunda vinda de Cristo (cf. 1Ts 4:13–18; 5:1–11); note-se
especialmente a frase “como ladrão na noite”. Na segunda, adverte-
se claramente que esta vinda repentina não significa
necessariamente que deva ser imediata (2Ts 2:1–12).

(7) Na segunda epístola, Paulo lhes põe em guarda contra cartas


imaginárias, ou supostas, mesmo espúrias (2Ts 2:2) e ao
acrescentar a

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 25

saudação diz “Este é o sinal em cada epístola” (2Ts 3:17), coisa que
se entende facilmente se se trata de uma segunda carta e não de
uma primeira.

Por estas razões, apegamo-nos à prioridade de 1 Tessalonicenses.

Como já se assinalou (veja-se pontos 1–7 mais acima), pressupõe


que os destinatários se familiarizaram com 1 Tessalonicenses. Isto
também ajuda a mostrar que aquele ponto de vista, de acordo com
o qual crê-se que 1 Tessalonicenses estava dirigida à congregação
“gentia”, e 2

Tessalonicenses à congregação judaica de Tessalônica, está


totalmente fora de lugar. Ambas as epístolas estão dirigidas ao
mesmo grupo de crentes, ou seja, “a igreja dos tessalonicenses”
(1Ts 1:1; 2Ts 1:1). 7

7 Lyle O. Bristol num artigo, “Paul’s Thessalonian Correspondence”


(Correspondência Tessalônica de Paulo), ExT 55 (1944), 223,
considera a prioridade de 2 Tessalonicenses como provável porque:
a. É

mais curta que 1 Tessalonicenses; b. Quando 1 Tessalonicenses foi


escrita alguns dos membros da igreja tinham morrido; e c. A
organização que se pressupõe em 1 Ts. 5:12, 13 implica um
intervalo de tempo maior do que é possível se 1 Tessalonicenses se
escrito primeiro.
Mas nenhuma destas razões é o bastante sólida para provar coisa
alguma. Não se vê clara a razão de porquê a primeira das duas
epístolas devesse ser necessariamente mais breve. Tampouco deve
ser motivo de surpresa o fato de que no intervalo de uns poucos
meses, com a fera perseguição que se deu em Tessalônica,
produziram-se algumas falecimentos. Finalmente, houve bastante
tempo para organizar a igreja, já fosse durante o próprio ministério
de Paulo ou subsequentemente (por exemplo, depois da chegada
de Timóteo a cuidem; em tal caso Tito 1:15 proveria um paralelo
interessante).

Paulo foi um grande organizador (At 14:23).

Outro artigo é o de Edward Thompson, “The Sequence of the Two


Epistles to the Thessalonians”

(A sequência das duas epístolas aos tessalonicenses), ExT 56


(1945) 306, 307. Este autor defende a prioridade de 1
Tessalonicenses. Entre outras coisas assinala que não existe nada
em tradições antigas que apoie a prioridade de 2 Tessalonicenses,
que o caráter mais judaico de 2 Tessalonicenses (discussão sobre o
apocalipse judaico) não implica a prioridade desta epístola, e que
não é verdade que a alusão de Paulo a seu autógrafo (2Ts 3:17)
prove que 2 Tessalonicenses foi escrita primeiro, porquanto em 1Co
16:21 encontra-se uma alusão semelhante embora se escrito uma
carta anterior à igreja de Corinto (veja-se 1Co 5:9).

Quanto ao ponto de vista de A. Harnack e Kirsopp C. Lake (2


Tessalonicenses foi dirigida à uma congregação judaica, 1
Tessalonicenses à uma congregação gentil) veja-se deste último,
seu capítulo em Contemporary Thinking About Paul (Pensamento
contemporâneo a respeito de Paulo) (editado por Thomas S.
Kepler), New York, Nashville (sem data), pp. 234–238.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 26

V. O AUTOR
A. De 1 Tessalonicenses

A autenticidade de 1 Tessalonicenses é aceita hoje em quase todos


os setores. Contudo, sempre existiram aqueles que discrepam com
esta quase unânime opinião, e que consideram esta epístola como
obra, quer inteiramente ou em parte, de um falsificador. 8

Seus argumentos podem ser resumidos como segue:

(1) Esta epístola é muito menos doutrinária que as que sabemos


com absoluta certeza que foram escritas por Paulo. Quanto ao seu
conteúdo, é insignificante.

Mas, por que todos os escritos do grande apóstolo devem ter um


caráter igualmente doutrinário? As epístolas de Paulo surgiram de 8
Com relação aos argumentos contra a autenticidade veja-se
especialmente F. C. Baur, Paulus, Stuttgart, 1845, pp. 480ss. (Para
uma ainda mais recente crítica veja-se Schrader, Der Apostel Paulus
(El apóstol Pablo), V, 1836, pp. 23ss. A crítica do Baur foi a mais
séria e eficaz. Conseguiu convencer a alguns: Noack, Volkmar,
Holsten, etc. Cf. también Vander Vies, De Beide Brieven aan de
Thessalonicenzen (As duas epístolas aos tessalonicenses), 1865,
pp. 128–164. Mas a negação que faz Baur de Paulo como autor de
1 Tessalonicenses está viciada pela filosofia parcial hegeliana sobre
a qual descansa. A questão de que se uma epístola se caracterizar
por uma linha argumentadora antijudaica, para o Baur, parece
resolvê-lo tudo. Desta maneira, todo o pensamento e os escritos de
Paulo são arrojados dentro de um fossa comum. Isto é francamente
desonesto.

Na literatura recente apresenta-se de vez em quando um


subjetivismo algo semelhante. Um autor poderia começar com a
pressuposição de que tudo o que é apocalíptico é antipaulino, e que
Paulo ensinava a salvação, identificando-a por meio da fé, com a
morte e ressurreição de Cristo. Como resultado disso, ficam
rejeitadas certas passagens e até parágrafos inteiros de 1
Tessalonicenses: 1:10; 2:14–16; 4:13–18; 5:1–10; e pelas mesmas
razões, tampouco se consideram genuínas as seções seguintes de
2 Tessalonicenses: 2Ts 1:5–10; 2:1–17. Cf. R. M. Hawkins, The
Recovery of the Historical Paul (A recuperação do Paulo histórico),
Nashville, Tenn., 1943; veja-se especialmente pp.

234, 241, 292.

Não obstante, Paulo era hebreu de hebreus. Agora, o pensamento


hebreu esteve sempre caracterizado pela presença de conceitos
escatológicos e apocalípticos. Paulo teve que ter conhecido bem o
livro de Daniel assim como as linhas de pensamento semelhantes
em outros escritos do Antigo Testamento (se é que nos limitamos
somente aos escritos canônicos). Por outro lado, temos conceitos
semelhantes no ensinos de Jesus (Mt 24, 25; Mc. 13; Lc 21). Uma
ausência total de tais conceitos nas epístolas de Paulo teria sido
surpreendente.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 27

situações concretas, as que naturalmente foram variadas. Portanto,


a necessidade primordial de uma igreja pôde ter sido a elucidação
de alguma doutrina; em outra a admoestação, exortação, repressão,
ou às vezes, em vez disso, se requeria consolo. Além disso, não é
verdade que 1 Tessalonicenses seja doutrinariamente insignificante.
É a que arroja a luz necessária sobre a doutrina da Segunda Vinda.

(2) Esta epístola não ataca o conceito de justificação por meio das
obras da lei.

Mas, porventura era Paulo homem de uma, e nada mais que uma só
ideia? Naturalmente que a situação em Tessalônica não era a
mesma que existia na Galácia!

(3) É impossível que num período de poucos meses somente, os


tessalonicenses tivessem podido influir com resultados
permanentes, de forma tão intensa e tão extensa como se descreve
em 1 Tessalonicenses 1:7, 8; 4:10.
Respondemos: Por que não? Com efeito, acontece que justamente
esta pequena informação subministrada pela epístola, acha sua
plena confirmação no relato de Atos (At, 17:6). Até os inimigos de
Paulo e seus sequazes reconheceram que a obra dos missionários
era de um caráter tão eficaz que se referiram a eles como “os
homens que transtornaram o mundo inteiro”. Quando o Espírito
opera nos corações e vidas de ministros e conversos cheios de
autêntico entusiasmo, fruto de uma profunda convicção interna, é
quando coisas como estas começam a acontecer!

(4) O “vocabulário duro” usado em 1 Tessalonicenses 2:14–16

com referência aos judeus, não pôde ter sido usado por alguém que
em sua genuína epístola aos romanos declara: “Porque eu mesmo
desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor a meus
irmãos, meus parentes segundo a carne.” (Rm 9:3).

Mas, por que devemos considerar impossível para um autor


inspirado, que por um lado revele uma terrível realidade (ou seja, o
derramamento da ira de Deus sobre os desobedientes) e ao mesmo

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 28

tempo, de forma terna, expresse sua sincera tristeza e dor do


coração por seus irmãos e parentes? Além disso, o que se ensina
em 1Ts 2:14–16 não difere materialmente do que se ensina em Rm
9:22; 10:21; e 11:22, 25.

(5) Esta epístola, é muito paulina! Contém excesso de passagens


semelhantes às usadas nas epístolas genuínas de Paulo
(especialmente 1

e 2 Coríntios). Como resultado, é evidente que existe um falsificador


em ação.

Mas este tipo de raciocínio é muito oposto ao que se segue nos


argumentos mais acima (1) e (2). Ali, rejeita-se 1 Tessalonicenses
por ser muito não-paulina, aqui, ataca-se por ser muito paulina!
Evidentemente ambos os argumentos anulam-se um ao outro. Além
disso, é-nos muito difícil entender por que Paulo não pôde ter sido o
autor de uma epístola que contém passagens paulinas.

Considerando o lado positivo, existe em primeiro lugar a evidência


oferecida pela epístola em si mesma. Isto definitivamente aponta a
Paulo como o autor (embora outros dois são a ele acrescentados,
enviando saudações e confirmando tudo o que escreve).

Considere-se o seguinte:

(1) A epístola apresenta-se a si mesma como carta de Paulo (1Ts


1:1; 2:18).

(2) As pessoas de quem se diz que estiveram com o autor quando


foi escrita a carta são identificadas (pelo livro de Atos) com as que
estiveram com Paulo em sua segunda viagem missionária.

Eles são Silvano (isto é, Silas) e Timóteo (1Ts 1:1; 3:2, 6); cf. At
15:40; 16:1–3, 19; 17:4, 10, 14; 18:5.

(3) A epístola tem uma forma tipicamente paulina; quer dizer, possui
a estrutura epistolar que caracteriza a Romanos, 1 Coríntios, 2

Coríntios, e Gálatas, cartas atribuídas a Paulo, até pela maioria dos


que rejeitam a autenticidade de 1 Tessalonicenses.

Este plano epistolar é o seguinte (com pequenas variações): a


menção do nome do escritor (com frequência acrescenta o ofício),
designação dos destinatários (às vezes com uma breve descrição),
a

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 29

saudação, a ação de graças ou doxologia, o corpo da carta


(argumentação, admoestação, exortação, consolação, instrução,
etc.), a saudação final (nem sempre presente; e quando presente,
nem sempre igualmente circunstancial) e a bênção.
(4) O vocabulário é definidamente de Paulo.

Mais de 4/5 das palavras usadas em 1 Tessalonicenses encontram-


se nas assim chamadas epístolas paulinas maiores (Romanos, 1

Coríntios, 2 Coríntios, e Gálatas). Se a estas acrescentamos as


epístolas carcerárias (Efésios, Filipenses, Colossenses, e Filemom),
entre as que devem ser consideradas como verdadeiramente
paulinas, achamos que quase 9/10 das palavras que o autor
emprega em 1 Tessalonicenses ocorrem também nestas oito
epístolas (as quatro maiores e as quatro carcerárias). E se a estas,
também acrescentamos as pastorais (1

Timóteo, 2 Timóteo, Tito), a percentagem resulta até algo mais alto.


9

(5) Não somente as palavras isoladas apontam a Paulo como o


autor, mas também muitas de suas frases características, frases que
ao estar em outro lugar, pertencem somente a Paulo.

a. Frases10 que se encontram em 1 Tessalonicenses (não em 2

Tessalonicenses); e se forem encontradas em outros lugares, será


somente nas epístolas de Paulo:

9 Com o fim de chegar a estes percentagens anotei


cuidadosamente em cartões, e por ordem alfabética, cada palavra
que encontrei em 1 Tessalonicenses (fiz o mesmo com 2
Tessalonicenses) e, usando Moulton and Geden’s Concordance
(Concordância do Moulton e Geden) para o Novo Testamento,
cotejei o uso destas palavras nas epístolas maiores de Paulo, nas
carcerárias e as pastorais. Sobre esta base foi que cheguei a
minhas conclusões. Como estas conclusões concordam no principal
com aquelas obtidas por J. E. Frame, A Critical and Exegetical
Commentary on the Epistles of St. Paul to the Thessalonians (en
The International Critical Commentary) (Comentário crítico e
exegético das epístolas de São Paulo aos Tessalonicenses — no
Comentário crítico internacional). Creio que a referência às páginas
da mencionada obra prova ser suficiente (pp. 28–32).

10 Estas frases (em grego) encontram-se também no Frame (op.


cit., pp. 32–34), mas se omitem as referências às epístolas maiores.
dei uma referência também em tais casos (para uma lista completa
deve ser usado Moulton and Geden’s Concordance). Além disso, dei
uma lista dos equivalentes em inglês, e feito uma reordenação das
frases de acordo com seu capítulo e sequência de versículos.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 30

1Ts 1:2 em nossas orações Rm 1:10

1Ts 1:3; 3:11, 13 nosso Deus e Pai Gl 1:4

1Ts 1:5, 6; 2:2, 17 em muito (ἐν πολλῆ) Rm 9:22

1Ts 2:4, 15 agradando a Deus Rm 8:8

1Ts 2:5, 10 Deus é (meu) testemunha Rm 1:9

1Ts 2:12; 5:24 quem lhes chama Gl 5:8

1Ts 2:12 a fim de que vivam vidas dignas de Deus Cl 1:10

1Ts 2:18 vez após vez Fp 4:16

1Ts 3:2 colaborador de Deus 1Co 3:9

1Ts 3:2 o evangelho de Cristo Rm 15:19

1Ts 3:5 em vão (εἰς κενόν) 2Co 6:1

1Ts 3:8 vocês estejam firmes no Senhor Fp 4:1

1Ts 4:1 no Senhor Jesus Rm 14:14

1Ts 4:11 trabalhando com suas mãos 1Co 4:12


1Ts 4:13 não queremos que estejam em ignorância Rm 1:13

1Ts 4:15, 17 nós que estamos vivos 2Co 4:11

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 31

1Ts 4:17 estar com o Senhor Fp 1:23

1Ts 5:9 por meio de nosso Senhor Jesus Cristo Rm 5:1

1Ts 5:10 viver juntamente com ele 2Co 13:4

1Ts 5:18 em tudo (ἐν παντί) 1Co 1:5

1Ts 5:24 que lhes está chamando Gl 5:8

1Ts 5:26 beijo santo Rm 16:16

b. Frases que se encontram em 1 e 2 Tessalonicenses; se em outro


lugar, somente nas epístolas de Paulo:

1Ts 2Ts

1:5 2:14 nosso evangelho 2Co 4:3

2:9 3:8 para que não (πρός τὸ μή c. inf.) 2Co 3:13

2:9 3:8 trabalho e afã 2Co 11:27

4:1 3:1 finalmente, irmãos 2Co 13:11

5:6 2:15 Assim que (ἄρς οὖν) Rm 5:18

Além destas, existem várias frases que, embora disseminadas aqui


e ali e sem conexão aparente com Paulo, no entanto ocorrem
principalmente naquelas epístolas que em geral se atribuem ao
apóstolo.
É positivamente certo que há também muitas frases que poderiam
ser catalogadas como únicas (que ocorrem em 1 Tessalonicenses
e/ou em 2

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 32

Tessalonicenses, mas que não se acham em nenhum outro lugar do


Novo Testamento nem tampouco nas outras epístolas de Paulo).
Tanto a diversidade de assuntos a tratar, como a inclinação natural
de quase todo escritor (e especialmente de um autor tão versátil
como Paulo) de variar suas expressões ao escrever epístolas, a
diferentes pessoas, em circunstâncias totalmente diferentes, obriga-
nos a esperar isto. O bem considerável número de frases que são já
exclusivamente ou principalmente paulinas, aponta indubitavelmente
a Paulo como o autor.

(6) A epístola reflete claramente o caráter de Paulo.

Aqui, como também em outros lugares das epístolas usualmente


atribuídas a Paulo, enfrentamos face a face um homem que se
sente tão profundamente interessado naqueles a quem dirige suas
epístolas, que dá graças a Deus por eles e os lembra sempre em
suas orações (1Ts 1:2ss.; cf. Rm 1:8, 9); está ansioso por vê-los
(1Ts 2:17, 18; cf. Rm 1:11; Fp 2:24), e quando lhe é impossível fazê-
lo, envia um de seus colaboradores (1Ts 3:2; cf. Fp 2:19–23).
Deleita-se em derramar elogios sobre seus leitores em cada
oportunidade possível, e em comunicar-lhes ânimo (1Ts 1:3, 6–10;
cf. 2Co 8:7; Fp 4:15–17). Com relação a isso, observe-se a próxima
semelhança entre 1Ts 2:19, 20 e Fp 4:1. Não obstante, este louvor
não termina no homem. O autor está sempre pronto a atribuir todo o
bem que existe no crente à soberana graça de Deus, visualizando-o
como evidência da eleição de que foi objeto o crente, e da presença
do Espírito Santo em seu coração (1Ts 1:4, 5; cf. Rm 8:28–30; 8:23;
Gl 5:22–25; Fp 1:6). Não vacila em defender seus motivos ao pregar
o evangelho, toda vez que são atacados, e ao fazê-lo, gosta de
fazer uma recapitulação da forma como entrou em contato e relação
com o povo que agora constitui a igreja (1Ts 2:1–12; cf. 1Co 2:1–5;
3:1, 2).
Manifesta muita tato ao admoestar (1Ts 4:9, 10; cf. Fm 8–22), mas
nunca teme em estabelecer sua autoridade (1Ts 5:27; cf. 1Co 16:1).
Vai abordando um por um os assuntos de especial importância para
seus leitores, assuntos sobre os quais necessitam (ou solicitaram)
maior instrução (1Ts 4:13; 5:1, 12; cf. 1Co 7:1, 25; 8:1; 12:1; 16:1).

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 33

Quanto mais se estuda este aspecto intensamente pessoal da


epístola, tanto mais entramos na convicção de que, houve somente
um homem que pôde ter escrito esta epístola, ou seja, Paulo!

(7) Não existe nada nesta epístola que não esteja em completa
harmonia com a doutrina proclamada por Paulo nas epístolas
maiores (sem mencionar as epístolas da prisão e pastorais):
Embora, excluindo a exceção já mencionada (p. 10), esta epístola
não é preeminentemente doutrinária, não obstante, em todo lugar
pressupõe a ênfase paulina em pontos doutrinários importantes.
Portanto, o escritor de 1 Tessalonicenses ensina que o homem por
natureza vai diretamente confrontar-se com a ira de Deus que há de
ser revelada (1Ts 1:10; 5:9; cf. Rm 1:18; 2:8; 9:22); está sob o
domínio das trevas (5:5; cf.

Rm 2:19; 13:12; 2Co 6:14). Mas que desta multidão caída, Deus em
Sua soberana graça, escolheu alguns (1Ts 1:4; cf. Rm 9:11; 11:5, 7).
Esta eleição tem como propósito a santificação do crente, sua
segurança, e seu final, total salvação, para a glória de Deus (1Ts
1:3–5; 3:13; 4:3, 7; 5:23; cf. Rm 6:1, 22; 11:36; 1Co 1:30; 10:31). Foi
o Senhor Jesus Cristo que morreu pelos crentes (1Ts 5:10; cf. Gl
2:20), para que vivam com Ele e para Ele. Enquanto o crente está
nesta vida sendo tentado por Satanás, que faz o impossível para
desviá-lo (1Ts 3:5; cf. Rm 16:20; 1Co 7:5; 2Co 2:11; 12:7). Mas
Deus o preserva para o dia da gloriosa manifestação do Senhor
Jesus Cristo dos céus, quando estará com Cristo para sempre (1Ts
1:10; 2:19; 3:13; 4:17; 5:23; cf. Rm 8:18, 19; 1Co 15:50–58; 16:22).

O testemunho da igreja cristã primitiva está em harmonia com a


conclusão que se derivou da própria epístola. É assim como
Eusébio, fazendo uma cuidadosa investigação da literatura ao seu
dispor, declara:

«Mas claramente evidente e singelas (πρόδηλοι καὶ σαφεῖς) são as


quatorze (cartas) de Paulo; contudo, não é justo ignorar que alguns
refutam a (carta) aos hebreus” ( História eclesiástica III. iii. 4,5). É
óbvio que Eusébio, ao escrever no começo do quarto século, jamais
tinha ouvido alguém que duvidasse da autenticidade de 1 e 2
Tessalonicenses.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 34

Antes dele, Orígenes (FL. 210–250), vez após vez, refere-se a (e


cita de) estas epístolas e definidamente as atribui a Paulo. Mostra-
se especialmente inclinado a citar prazenteiramente 2
Tessalonicenses 2.

De Orígenes podemos retroceder ainda mais, ao seu mestre,


Clemente de Alexandria (FL. 190–200). Ele também está bem
familiarizado com as epístolas aos tessalonicenses, e as atribui a
Paulo.

As seguintes são algumas das referências a (ou citações de) 1

Tessalonicenses nas obras de Clemente:

1 Tessalonicenses

1Ts 2:4 Stromata (Miscelâneas) VII. xii 1Ts 2:5–7 Stromata I. i

1Ts 2:6, 7 O Instrutor (Educador, Pedagogo) I. v 1Ts 4:3–8 Stromata


IV. xii

1Ts 4:9 O Instrutor I. vi

1Ts 4:17 Stromata VI. xiii

1Ts 5:5–8 O Instrutor II. ix


1Ts 5:6–8 Stromata IV. xxii

1Ts 5:13–15; 19–22 O Instrutor III. xII

Por volta do mesmo tempo Tertuliano, ao escrever contra Marcião, e


mencionando a Paulo definidamente pelo nome e “todos os seus
escritos apostólicos” (V. i) não só cita 1Ts 2:15 (V. xv), mas ainda
implica que Marcião e outros hereges, para meados do segundo
século, consideravam 1 Tessalonicenses como epístola autêntica do
apóstolo aos gentios, fato que se pode comprovar também através
de outras fontes.

Tertuliano refere-se a (e cita de) 1 e 2 Tessalonicenses


(especialmente 2

Tessalonicenses 2) vez após vez.

Contemporâneo de Clemente foi Irineu. Dada suas inumeráveis


viagens e íntima relação com quase a totalidade das igrejas de sua
época, o que Irineu diz a respeito da paternidade literária de 1 e 2

Tessalonicenses adquire um grande significado. Sua voz, num


assunto

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 35

tão importante como este, bem pode ser considerada a voz da


igreja.

Agora, em sua obra Contra as heresias (V. vi. 1) não só cita 1Ts 5:23

mas além disso, de forma clara a atribui a Paulo. Inclusive faz


referência a (e cita) outras passagens de ambas as epístolas aos
tessalonicenses.

O Fragmento Muratório, que é uma lista incompleta dos livros do


Novo Testamento, está escrito num latim deficiente. Deriva seu
nome do Cardeal L. A. Muratori (1672–1750) que o descobriu na
Livraria Ambrosiana de Milão. Pode atribuir-se a ele uma data entre
180–200

d.C. Contém o seguinte:

«Agora, quanto às epístolas de Paulo, o que são, quando e por que


foram escritas e por que razão foram enviadas, elas falam por si
mesmas com quem quer entendê-las. Em primeiro lugar, escreveu
por extenso aos coríntios para proibir cismas provenientes de
heresias, logo aos gálatas contra a circuncisão, e aos romanos
sobre a ordem nas Escrituras, ensinando também que Cristo é o
tema central nelas — cada uma das quais é necessária para nossa
discussão, vendo que o bendito apóstolo Paulo, seguindo o exemplo
de seu predecessor João, escreve a não mais de sete igrejas pelo
nome na seguinte ordem: aos coríntios (primeira), aos efésios
(segunda), aos filipenses (terceira), aos colossenses (quarta), aos
gálatas (quinta), aos tessalonicenses (sexta), aos romanos (sétima).

Mas … escreve uma segunda, com fim corretivo aos coríntios e aos
tessalonicenses …» Tanto 1 como 2 Tessalonicenses estão
incluídas nas versões Antiga Latina e Antiga Siríaca.

É verdade que antes da época dos testemunhos que até este


momento foram mencionados não existem citações das quais se
possam dizer definidamente que tenham derivado das cartas de
Paulo aos tessalonicenses, ou possam derivar-se destas cartas com
certeza. Isto, naturalmente, não nos deve surpreender, uma vez que
os escritos que podem com confiança ser atribuídos àquela data
anterior, são muito poucos, ainda mais, as cartas aos
tessalonicenses são breves e (com a exceção indicada; ver p. 10);
contêm pouco material doutrinário. Não

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 36

eram provavelmente tão conhecidas como, por exemplo, Romanos


e1

Coríntios.
É possível, não obstante, que certas expressões de 1 e 2

Tessalonicenses encontrem um eco na literatura do período


subapostólico. Isto nem pode ser confirmado nem negado. Veja-se o
seguinte:

1Ts 1:6 Inácio, aos efésios X. iii

“Vocês chegaram a ser imitadores “Sejamos ardentes para imitar ao


Senhor”.

de nós e do Senhor”.

1 Ts. 2:4 Inácio, Aos romanos II. i

“Não como agradando aos homens, “Não gostaria que vocês


fossem dos mas a Deus que prova os corações”. que agradam aos
homens mas dos que agradam a Deus”.

1Ts 4:9 Barnabé, Epístola de XXI. vi (cf. IV. ix)

“Vocês mesmos são ensinados “Sede ensinados de Deus”


(instruídos de Deus).

de Deus”.

1Ts 4:16 O ensino (Didaquê) dos doze apóstolos XVI. vi

“Porque o próprio Senhor descerá “E então aparecerão os sinais da


do céu com um grito (voz de mando), verdade. Primeiro o sinal
estendido com voz de arcanjo, e com a trombeta nos céus, logo o
sinal do som da de Deus; e os mortos em Cristo se trombeta, e
terceiro a ressurreição dos levantarão primeiro”. mortos”.

1Ts 5:13 O pastor III. ix. 10

“Estejam em paz entre vocês”. “Em paz entre eles mesmos”.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 37


1Ts 5:17 Inácio, Aos efésios X. i

“Orem sem cessar”. “Orem sem cessar”.

Esta evidência não constitui prova absoluta em favor da posição que


no final do primeiro e a começos do segundo século d.C., as cartas
de Paulo à igreja de Tessalônica são citados em escritos que
chegaram a nossas mãos. A expressão “ensinados de Deus” (1Ts
4:9; cf. Barnabé XXI. vi) era muito comum, bem pôde ser derivada
do Antigo Testamento, como o pôde ser de Paulo. As seguintes
passagens vêm à mente imediatamente: Is 54:13; 60:2, 3; Jr 31:33,
34; Jl 2:28; Mq 4:2; Sf 3:9 e Ml. 1:11. Jesus a citação (veja-se Jo
6:45) como uma expressão que está “escrita nos profetas”.
Similarmente, a passagem a respeito dos sinais (1Ts 4:16; cf. O
ensino XVI. vi) pode retroceder possivelmente a um dito de Jesus
mencionado por Mateus (Mt 24:30, 31). A passagem a respeito de
estar em paz (1Ts 5:13; cf. O pastor III. iX. 10) pode haver-se
derivado do dito do Senhor referido por Marcos (Mc. 9:50). Por outro
lado, se em cada ocasião em que se cita Inácio tivéssemos diante
de nós seu texto genuíno, parecer-nos-ia que o uso que ele faz de 1

Tessalonicenses poderia ser considerado provável (embora não


seguro).

O ponto crucial é este: em nenhum lugar da literatura anterior (nem


sequer nos escritos dos hereges!) projetam-se dúvida contra a
paternidade literária de Paulo sobre 1 Tessalonicenses! Sempre que
a epístola é atribuída a alguém, é ao apóstolo Paulo (assim o fazem
Orígenes, Tertuliano, Clemente, Irineu, etc.). E este testemunho
externo, como já se estabeleceu, está em perfeita harmonia com o
interno, quer dizer, a evidência oferecida pela própria epístola. A
única conclusão razoável é que Paulo foi, sem dúvida, o verdadeiro
autor.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 38

B. De 2 Tessalonicenses
Os argumentos daqueles que rejeitam, quer em sua totalidade, 11
ou em parte, 12 a Paulo como o autor de 2 Tessalonicenses, salvo
algumas variações individuais, são as seguintes:

(1) 2 Tessalonicenses 2:1–12 é uma passagem apocalíptica. Fixa a


atenção na futura glória de Cristo quando tiver conquistado a seus
inimigos. Este quadro apresenta um marcado contraste com a
ênfase acostumada de Paulo posto na necessidade de crescimento
em fé, em amor, agora mesmo.

Este argumento de caráter totalmente subjetivo já foi refutado.

Veja-se nota 8. A passagem (2Ts 2:1–12) é totalmente natural, como


o manifestaram recentes estudos em literatura apocalíptica. Rejeitá-
lo pelo fato de ser apocalíptico é arbitrário.

(2) Se Paulo escreveu 1Ts 4:13–18; 5:1–11, não pôde ter escrito
também 2Ts 2:1–12 porque, enquanto o primeiro ponto de vista a
respeito da segunda vinda de Cristo tem o caráter de iminente, o
segundo tem o caráter de não iminente.

O fato é que a primeira epístola apresenta a segunda vinda de


Cristo como repentina, a segunda como não iminente (precedida de
certos acontecimentos). Estes dois conceitos não são mutuamente
exclusivos.

Certos sinais, com efeito, precederão a volta de Cristo. Não


obstante, quando ocorrer, tomará os homens de surpresa. Este
quadro, além disso, 11 Veja-se especialmente Kern, “Ueber II Thess.
2:1–12, Nebst Andeutungen über den Ursprung des zweiten Briefes
an die Thessalonicher”, Tubinger Zeitschrift für Theologie (Sobre 2Ts
2:1–12, e notas sobre a origem da segunda carta aos
tessalonicenses), (1839 Zweites Heft), 145–214. Cf. também a
conclusão obtida por Mayerhof, Baur, Weizsäcker, Wrede. A
argumentação varia.

12 Um dos mais recentes é R. M. Hawkins, The Recovery of the


Historical Paul (A recuperacíon do Paulo histórico), Nashville, Tenn.,
1943, pp. 262, 269, 292. Algumas teorias sobre interpolação mais
anteriores (segundo as quais 2 Tessalonicenses é em parte genuína
e em parte espúria) foram sustentadas por J. E. C. Schmidt (1801),
que subsequentemente rejeitou toda a epístola como não paulina,
Paul Schmidt (1881), y otros más. Alguns consideram 2Ts 2:1–12
como espúrio; outros o veem como o único genuíno da epístola.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 39

está em harmonia com passagens tais como Dn 11:1–12:3; Mt 24:1–


44; e Lc 17:20–37.

(3) A passagem 2Ts 2:1–12 refere-se a Nero (o homem do pecado),


dado por morto, mas que aqui se apresenta realmente como oculto
e prestes a voltar (de acordo com outros, como verdadeiramente
morto, mas prestes a levantar-se), e a Vespasiano (aquele que
impede); ou (conforme ainda outros) refere-se aos dias de Trajano e
a crescente marca do gnosticismo. Isto mostra que Paulo (que
durante os reinados de Vespasiano e Trajano já não vivia) não pôde
tê-la escrito.

Nada no contexto apoia esta interpretação. Veja-se o comentário


sobre 2Ts 2:1–12.

(4) A forte inclinação à predestinação de 2Ts 2:11, 12, 13 é


antipaulina.

Mas, por que não pode aquele que escreveu Rm 8:28, 39; 9:10–24;
Ef 1:4, 11; 2:10, ter escrito também 2Ts 2:11, 12, 13? Para ser
coerentes com aqueles que enfatizam o argumento (4) deve admitir-
se em honra da verdade, que seria justo também apagar de
Romanos e Efésios as passagens sobre a predestinação,
considerando-os também como antipaulinas. A objeção a esta
argumentação é: que a doutrina da predestinação harmoniza com
todo o sistema de raciocínio das epístolas de Paulo. Se em algum
lugar não se declara de forma definida, pelo menos se pressupõe.
É, em certo sentido, a pedra angular da teologia do homem que
ensinou que “dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas”
(Rm 11:36). Se for para ser coerente, a crítica deve ser também
usada para rejeitar esta passagem, e junto com ela, muitas outras.
Com o que ficaríamos enfim? (E o que dizer do Evangelho de João,
expoente dos ensinos de Jesus; não é porventura contínua
predestinação do começo até o final? 13) Não há, finalmente,
nenhum exagero com referência à predestinação, uma vez que
existe abundante ensino quanto ao exercício 13 Veja-se meu New
Testament Commentary (Comentario del Nuevo Testamento) (daqui
daí em diante será mencionado como C.N.T.), em John’s Gospel
(Evangelho de João), Vol. I, p. 46.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 40

da responsabilidade humana. Para maior explicação, veja-se


comentário sobre 2Ts 2:11, 12, 13.

(5) Em grande parte 2 Tessalonicenses é repetição de 1

Tessalonicenses. Evidentemente, é obra de algum falsificador!

Uma comparação real das duas epístolas — tomara que o leitor o


comprove! — mostra que o novo material de 2 Tessalonicenses
(novo com relação à primeira epístola) equivale a umas duas terças
partes da carta. O fato de que existam algumas repetições, é o que
logicamente se espera, ao levar-se em conta, que o mesmo autor
escreve à mesma igreja durante o mesmo período de tempo
(separadas as cartas só por uns poucos meses) e nas mesmas
circunstâncias (em linhas gerais).

(6) 2 Tessalonicenses difere em muitos aspectos das epístolas


genuínas de Paulo para que sejam consideradas como produto da

“pena” de Paulo. Especificamente falando, é muito mais “fiável”

(menos amigável, e mais “oficial”) e também de um tom “muito mais


judaico” que 1 Tessalonicenses.
Foi especialmente Wrede quien, en Die Echtheit des zweiten
Thessalonicherbriefs, estendeu-se nisso. Mas até certo ponto os
argumentos (5) e (6) anulam-se um ao outro. Quanto ao resto, já se
assinalou a estreita relação que existe entre as duas cartas. Veja-se
pp.

24, 25; e observe-se o que se diz acerca da semelhança que há


entre 2

Tessalonicenses e outras epístolas Paulinas (pp. 29, 38).

(7) A saudação (2Ts 3:17) parece suspeita. É evidente que existe


uma tentativa deliberada de um falsificador para fazer parecer a
epístola como autêntica.

A resposta a isso é que em virtude do item de informação que 2Ts


2:2 proporciona — veja-se comentário sobre esta passagem — a
conclusão autográfica de 2Ts 3:17 é totalmente natural.

A mesma evidência interna que já foi aduzida para provar a


autenticidade de 1 Tessalonicenses, estabelece a de 2
Tessalonicenses.

Veja-se pp. 31, 32. Logo, em vista do que já foi dito referente à
primeira epístola, só uma breve asserção será suficiente.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 41

Esta segunda epístola (igual à primeira) dá a entender por si mesma


que foi escrita por Paulo (2Ts 1:1; 3:17), com quem estão
associados os homens reconhecidos como seus acompanhantes
em sua segunda viagem (2Ts 1:1). Aqui também se faz presente a
acostumada forma epistolar de Paulo, com interessantes variações
em seus detalhes. O vocabulário é francamente paulino, também a
percentagem de palavras que esta segunda epístola tem em comum
com outras geralmente atribuídas a Paulo, é ligeiramente superior à
percentagem de palavras comum a 1
Tessalonicenses e as demais epístolas.

A lista de frases que 2 Tessalonicenses tem em comum com outras


epístolas paulinas e que também se acham em 1 Tessalonicenses
(veja-se p. 30) lhe podem acrescentar as que se encontram na
segunda epístola e em outras geralmente atribuídas a Paulo, mas
não em 1 Tessalonicenses.

Observe-se as seguintes:

2 Tessalonicenses

2Ts 1:1 Deus nosso Pai Rm 1:7

2Ts 1:8 obedecem ao evangelho Rm 10:16

2Ts 1:10 foi crido em (ἐπιστεύθη com sujeito impessoal) Rm 10:10

2Ts 2:2 como que (ou: como se ὡς ὁτι) 2Co. 5:19

2Ts 2:3 que ninguém (μή τις com aor. subjuntivo) 1Co 16:11

2Ts 2:7 posição adiantada da palavra só (μόνον) Gl 2:10

2Ts 2:10 aqueles que estão perecendo 1Co 1:18

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 42

2Ts 2:17 conforte seus corações Cl 2:2

2Ts 3:4 temos confiança no Senhor Fp 2:24

2Ts 3:13 não se cansem de fazer o bem Gl 6:9

2Ts 3:14 nossa palavra 2Co 1:13

2Ts 3:17 a saudação de Paulo, com minha própria mão 1Co 16:21
Tanto aqui, como na primeira epístola, reflete-se o caráter pessoal
de Paulo. (Veja-se p. 31 com relação a passagens em outras
epístolas paulinas que refletem os mesmos aspectos). Em 2
Tessalonicenses estamos diante de frente com uma pessoa
profundamente interessada em seus leitores (2Ts 1:3, 11, 12) e
desdobra um ardente afeto por eles.

Compartilha (tem companheirismo) suas experiências, e com muito


agrado louva todo o bem que há neles (1:4; 3:4). Não obstante,
atribui suas virtudes à fonte verdadeira: Deus e sua soberana
eleição (2Ts 2:13).

Manifesta muita tato ao admoestá-los (2Ts 3:4, 6–15) e preocupa-se


com temas de especial interesse para eles (2Ts 2:1–12; 3:6–15). A
terna e paternal preocupação por seus leitores é evidente, mesmo
quando descreve o dia da revelação da ira de Deus, uma vez que
imediatamente acrescenta que esta ira é somente para com os
inimigos da igreja (“para pagar com aflição aqueles que afligem a
vocês”), e que os crentes (entre os quais inclui também seus
leitores) serão libertos, recebendo a glória quando Cristo voltar (2Ts
1:3–10; 2:8–14).

O tipo de caráter pessoal exposto nesta carta aponta


inconfundivelmente a Paulo. No entanto, ao chegar a este ponto,
devemos ser cautelosos. Alguns dos aspectos revelados nestas
duas epístolas e nas outras do mesmo autor ocorrem também nos
escritos dos outros apóstolos. Não é portanto o fato de que eles
ocorram aqui, mas a maneira como são expressos (o estilo
específico) o que define a Paulo

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 43

como o autor. Este fato com frequência é passado por alto. Tome-
se, por exemplo, o sentido de companheirismo (para com seus
leitores) do qual falamos. O apóstolo faz menção do fato que os
santos de Tessalônica chegaram a ser imitadores de Paulo (e de
seus companheiros e, até do próprio Senhor!) em suas aflições (1Ts
1:6); e que eles estariam de novo unidos a Paulo no bendito
repouso que os esperava “na revelação do Senhor Jesus do céu”
(2Ts 1:7). No entanto esta forma tão amável de dirigir-se aos seus
leitores para ganhar sua plena confiança, e fazê-los sentir que como
escritor se situa ao mesmo nível deles, é igualmente característico
de João como o é de Paulo. Em João, demonstra-o aquela bela
expressão do Apocalipse 1:9. 14 Isto então, é o sinal de todo
cristão, não somente o sinal de Paulo! No entanto, diferem na forma
de expressão: Paulo diria, vocês com (e de) nós; João diz, eu com
vocês.

Paulo diz aos leitores que eles chegaram a ser imitadores (um
substantivo que não se encontra em nenhum lugar das epístolas de
João).

João declara que ele chegou a ser co-participante. (Paulo no


contexto semelhante também usa esse termo mas com diferença
característica, Fp 1:7 “vocês são participantes comigo”. O mesmo
termo, mas em diferente contexto: Rm 11:17; 1Co 9:23). De igual
maneira, quando Paulo louva as virtudes dos leitores, simplesmente
está fazendo o que de acordo com o livro do Apocalipse, faz o
grande visitante das igrejas (Ap 2:2, 3, 13, 19, etc.). Mas novamente
a forma de expressão é totalmente diferente. A solene e muito
recorrida frase: “Eu conheço as tuas obras, etc.”, caracteriza o livro
do Apocalipse, não a Paulo.

Quanto à evidência exterior, e para conhecer o testemunho de


Eusébio, Orígenes, Tertuliano, e o Fragmento Muratório, em favor
da paternidade literária de Paulo, veja-se pp. 32, 33.

14 Veja-se minha obra More Than Conquerors (Más que


vencedores) (Interpretação do Apocalipse) Editorial Buena Semilla,
Bogotá, 1965, p. 56.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 44

Clemente de Alexandria (FL. 190–200) na Stromata V. iii cita 2


Tessalonicenses 3:1, 2. Irineu, contemporâneo dele, cita desta
epístola vez após vez:

2 Tessalonicenses Contra as heresias 2Ts 1:6–8 IV. xxxiii. 11

2Ts 1:6–10 IV. xxvii. 4

2Ts 2:4 III. vi. 5

2Ts 2:8 III. vii. 2 (cf. V. xxv. 3) 2Ts 2:11 IV. xxix. 1

Ele, além disso, deixa bem claro que “o apóstolo” cujas passagens
cita, é Paulo. Veja-se IV. xxiv. 1; xxxiii.11. Embora alguns vejam
possíveis referências a 2 Tessalonicenses na epístola de Vienay
Lyons (segundo é citado na História eclesiástica de Eusébio V. i) ou
em Inácio, ou na Didaquê ( O ensino), ou Barnabé, tais conclusões
parecem ser exageradas. Uma mera frase ou um dito comum, nada
podem provar.

Parece-nos pisar em terreno mais firme ao encontrar uma referência


a2

Tessalonicenses 2:3 em Diálogos com o Trifo de Justino Mártir (CX;


cf.

XXXII): “o homem da apostasia que fala coisas estranhas contra o


Altíssimo”. Veja-se todo o contexto na passagem tessalônica. Mas a
mais clara de todas é uma referência a (sua versão latina) a Epístola
aos Filipenses de Policarpo (XI. iii), cf. 2Ts 1:4: “ele se gloria a
respeito de vocês em todas as igrejas”, e outra referência segue
imediatamente (de Policarpo, Filipenses XI. iv), cf. 2Ts 3:15: “e, no
entanto, não os tenham como inimigos”. Policarpo não somente cita
de 2 Tessalonicenses, mas além disso o faz num contexto onde
definidamente menciona “ao bendito Paulo”. Policarpo estimava
profundamente ao “bendito e glorioso Paulo” (veja-se seu Filipenses
III. iI).

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 45


O que foi apresentado para apoiar a paternidade literária paulina de
2 Tessalonicenses pode ser resumido como segue:

(1) 2 Tessalonicenses era conhecida na igreja cristã primitiva, o


testemunho retrocede desde Eusébio e Orígenes chegando até
Policarpo (ao redor de 135 d.C.).

(2) Sempre que a epístola era atribuída a alguém, era ao apóstolo


Paulo. Irineu, cujo testemunho tinha caráter representativo, tem
valor especial, nunca deixa lugar a dúvidas sobre a posição que
define o grande apóstolo como o escritor de 2 Tessalonicenses.

(3) A evidência interna está em completa harmonia com a externa.

VI. CONTEÚDO GERAL

A. De 1 Tessalonicenses

Muitos livros da Bíblia, incluindo várias epístolas, contêm temas


definidos. Cobrem uma matéria definida, específica. Basta um breve
estudo para conhecer logo a natureza de seu tema central. 15 No
entanto, não se pode dizer o mesmo de todos os livros bíblicos,
como tampouco se pode dizer isso das comunicações escritas de
hoje. As cartas diferem umas das outras. Se você ouvir que seu
amigo sofreu uma dolorosa perda, naturalmente você lhe escreve
uma carta de consolo. O teor da carta gira ao redor de um só tema,
porquanto você está consciente do fato que agora não é o momento
apropriado para incomodá-lo com outros assuntos. Mas um ano
mais tarde, quando o tempo e a reflexão nas promessas de Deus
realizaram sua obra de graça e quando as 15 Como já o assinalei
em Bible Survey (Estudo bíblico), Grand Rapids, Mich., terceira
edição (quarta impressão); 1953, pp. 36, 37.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 46

circunstâncias novamente se normalizaram (até onde tenha sido


possível), você lhe escreve outra carta. Este é agora uma
mensagem cheia de notícias, conselhos, perguntas, etc. Você se
comunica com seu amigo por meio de vários temas. Agora seria na
verdade arbitrário se alguém examinasse logo sua segunda carta
com o fim de amontoar todos os seus pensamentos sob um só tema
central (a menos que se faça esse tema tão amplo em alcance e tão
indefinido que é um título antes que um tema substancial, definido, e
específico). Agora, se se pretende agir assim, tão arbitrariamente
com documentos não inspirados, o que é errôneo, mais errôneo
ainda é proceder assim com as epístolas divinamente inspiradas de
Paulo. O que deve resultar é uma unidade meramente imaginária.
Com frequência, como resultado de procurar colocar tudo sob um
tema central, essa ou aquela matéria de grande importância omite-
se completamente do tema e/ou do esboço respectivo. 16

É lógico então que, à vista dos diferentes propósitos que o apóstolo


(e seus colaboradores) tiveram presente ao escrever esta epístola
(veja-se o capítulo a respeito do Propósito, já desenvolvido),
comenta sobre vários assuntos. Portanto, neste caso será um título
geral e amplo, que tomará o lugar de um tema substancial, definido
e unificado. O título e as divisões que escolhi harmonizam com o
que se disse do propósito de Paulo ao escrever a epístola (veja-se
p. 20).

16 É por esta razão que não posso estar de acordo com o tema e o
esboço que foi sugerido por Edward P. Blair em seu artigo “The First
Epistle to the Thessalonians” (Primeira epístola aos
tessalonicenses), Int. Vol. II, número 2 (Abril, 1948), 209–217. Onde,
seja no tema que sugere ou no esboço (veja-se p.

216 desse artigo), é dito algo sobre a importante seção que procura
a segunda vinda de Cristo? Se alguém observar ou tema ou ou
esboço dado por Blair, saberá que uma considerável porção da
carta de Paulo aborda um problema específico levantado em
relação à volta do Senhor? — Quanto a outros, de bom grado
admito que o artigo em si mesmo é esplêndido em muitos aspectos,
e em vários de seus pontos encontram-se exatamente as
advertências que todo aquele que começa o estudo de um livro da
Bíblia deve levar em conta. Por causa de sua excelência, merece
um estudo cuidadoso!

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 47

Paulo17 escreve aos tessalonicenses 1Ts 1 e 2 ou 1Ts 1:1–3:5 –


Lembrando-lhes, em conexão com sua ação de graças por eles,
como o evangelho tinha chegado a Tessalônica, como genuína obra
de Deus e não como produto de enganos humanos; 18

1Ts 3 ou 1Ts 3:6–13 – Informando-lhes como se regozija pelo


relatório de Timóteo a respeito de seu contínuo progresso espiritual
até em meio de perseguição;

1Ts 4:13–5:11 – Instruindo-os de como Cristo virá outra vez, ou seja,


com imparcialidade para todos os crentes, de sorte que os
sobreviventes não tenham vantagem sobre aqueles que dormiram; e
repentinamente, de modo que os homens sejam tomados de
surpresa; e por conseguinte:

1Ts 4:1–12 e 1Ts 5:12–28 – Exortando-os sobre como devem


conduzir-se, vivendo vidas santificadas, com relação a todas classes
e em todo tempo. 19

Portanto, em geral, há quatro divisões (Ação de graças e defesa,


Expressão de alegria, Instrução, e Exortação); no entanto, estas
divisões não são rígidas ou precisas (veja-se comentário sobre 1Ts
4:1). Os pensamentos já expressos numa seção reaparecem na
próxima. Além disso, a quarta divisão — Exortação — compreende
tanto 1Ts 4:1–12

como 1Ts 5:12–28. Como resultado, as quatro divisões se


transformam realmente em cinco:

Ação de graças e defesa

Expressão de alegria
Exortação

17 Ou de forma mais completa: Paulo, Silvano, e Timóteo escrevem,


etc., no entanto, em todo caso, Paulo é o principal responsável.

18 Esta é a ação de graças do apóstolo e sua defesa à maneira de


reminiscência.

19 Estou consciente que este amplo título e as subdivisões


correspondentes são muito extensos para memorização,
especialmente se a pessoa procura conservar na memória os temas
ou títulos ou breves esboços de todos os livros da Bíblia. É por isso
que para um propósito mais prático sugeri título e divisão mais
breve: veja-se meu Bible Survey (Estudo bíblico), pp. 340, 341; cf. p.
37.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 48

Instrução

Exortação. 20

B. De 2 Tessalonicenses

Esta epístola é grandemente mais breve que a primeira. Seu


material está mais definidamente organizado ao redor de um tema
central, mesmo quando o tema não seja imediatamente introduzido,
como acontece num ensaio formal ou um tópico definido, no entanto
aflora à superfície gradualmente. Assim, no primeiro capítulo faz-se
claramente evidente ao chegar ao versículo 5, e continua por seis
versículos completos (vv. 5 a 10), embora pareça perder-se um
pouco nos dois últimos versículos (11 e 12), ainda se pressupõe,
pelo fato de que a oração contida naquele pequeno parágrafo final é
pronunciada

«tendo como perspectiva» a realização das expectações


mencionadas nos versículos 5–10. O tema mencionado neste
capítulo é “A revelação do Senhor Jesus do céu” (v. 7).
Não se requer nenhum argumento para entender que este tema
continua no capítulo 2, uma vez que neste capítulo se introduz
imediatamente pelas palavras, "Agora com relação à vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo e nossa reunião (para encontrar) a ele".

Nem todos os intérpretes estão prontos a admitir que o pensamento


da segunda vinda é a base do capítulo 3. Alguns negam toda
relação entre a desordem, considerada neste capítulo, e os
conceitos a respeito do retorno do Senhor. No entanto, ao fazer uma
comparação de várias passagens em ambas as epístolas, parece
indicar que efetivamente há uma conexão. É verdade, sem dúvida,
que 1 Tessalonicenses não é 2

Tessalonicenses, e que as circunstâncias que sustentam a segunda


epístola não são exatamente as mesmas que se pressupõem ou 20
Esta divisão em cinco partes é feita também, de forma aproximada
em meu Bible Survey, pp. 340, 341, onde três destas cinco se
juntam num grupo como uma divisão mais extensa, e as outras
duas, em outra.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 49

descrevem na primeira. O mal tinha se tornado mais grave quando a


segunda epístola foi escrita. No entanto, é difícil imaginar que as
pessoas que andavam fora de ordem, mencionadas na primeira
epístola, eram-no por uma razão totalmente diferente àquelas
caracterizadas similarmente na segunda (cf. 1Ts 5:14 com 2Ts 3:6).
Se podemos assumir então que em geral os mesmos males
prevaleciam e que pela mesma razão, obtemos o quadro seguinte
(combinando referências em ambas as epístolas):

Os tessalonicenses foram sacudidos de seu normal modo de pensar


(2Ts 2:1, 2), estavam intranquilos (1Ts 4:11), por causa de seu
conceito errôneo a respeito do retorno de Cristo. Este é
evidentemente o motivo segundo se declara em 1Ts 2:2. Eles
pensavam que o dia do Senhor já tinha chegado. Foi esta atitude
perturbada a que os instigou a deixar suas ocupações diárias e a
andar fora de ordem (1Ts 4:11; cf. 5:14; logo 2Ts 3:6), até mesmo a
ponto de depender dos demais para seu sustento econômico (2Ts
3:7, 8).

Se esta posição for correta, então também o capítulo 5 pressupõe o


mesmo tema que controla os capítulos 1 e 2. Como resultado,
sugere-se o seguinte tema e esboço:

A revelação do Senhor Jesus do céu

Capítulo 1 - Tem um duplo propósito.

Capítulo 2 (ou 2Ts 2:1–12) - Será precedida pela apostasia e pela


revelação do iníquo.

Capítulo 3 (ou 2Ts 2:13–3:17) - É uma esperança firmemente


ancorada cuja contemplação não deve dar como resultado a
desordem, mas uma segurança tranquila, paciência constante, e
uma paz fortalecedora.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 50

2 TESSALONICENSES 1

A REVELAÇÃO DO SENHOR JESUS DO CÉU

1:1, 2. Paulo e Silvano e Timóteo à igreja dos tessalonicenses


em Deus nosso Pai e no Senhor Jesus Cristo; graça a vós e paz
de Deus o Pai e do Senhor Jesus Cristo.

Este cabeçalho difere do qual se acha em 1Ts 1:1 somente em dois


aspectos:

(1) Diz “nosso Pai” em lugar de “o Pai”. Assim, o fato de que tanto
os escritores como os leitores tenham o mesmo Pai é assunto que
aqui fica expressamente definido, embora também estivesse
implícito em 1Ts 1:1.

(2) Depois da cláusula “graça a vós e paz” acrescenta uma frase


que esclarece qual é a fonte da graça e a paz, fazendo ver que vem
“de Deus o Pai e do Senhor Jesus Cristo”. Em 1 Tessalonicenses
1:1 esta fonte estava implícita na declaração que a igreja estava
(fundada e ainda existente) “em Deus o Pai e no Senhor Jesus
Cristo”.

Quanto ao resto, veja-se comentário sobre 1 Tessalonicenses 1:1.

3. Estamos na obrigação de dar sempre graças a Deus por vós,


irmãos, como é apropriado.

Com relação ao significado de “dar sempre graças a Deus”, veja-se


sobre 1 Tessalonicenses 1:2. No entanto, aqui em 2
Tessalonicenses 1:3

os escritores não dizem “Damos graças a Deus sempre”, mas


“Estamos na obrigação” (ὀφείλομεν) de fazê-lo. Sentem-se
impelidos a expressar sua gratidão a Deus. Não podem agir ao
contrário. E a necessidade subjetiva está em harmonia com a
objetiva: “como é apropriado” (ἄξιον).

A ideia proposta por alguns comentaristas que a substituição de

“Estamos obrigados a dar graças”, em lugar de “Damos graças”


implica certo grau de resistência ou dúvida, e que esta «um tanto
vacilante forma de expressão» deve ser entendida à luz de 2Ts 2:2;
3:6, 10, 11—

passagens que indicam que a atitude mental e a conduta de alguns


tinha piorado em lugar de melhorar —, mas isto nos impressiona
como um

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 51

exemplo de casos em que se vai além do que o texto diz. Também


estaria sujeito a sérias dúvidas aquele ponto de vista segundo o
qual a mudança de “por todos vós” (1Ts 1:2) a simplesmente “por
vós” (aqui em 1Ts 1:3) deve ser explicado se de forma semelhante.
Paulo não está procurando omitir a nenhum verdadeiro “irmão”; isto
se observa claramente pelo que se segue imediatamente (notem-se
as palavras “cada um de vós”): porque vossa fé está crescendo
sobremaneira, e o amor de cada um de vós (literalmente, “de
cada um de vós todos”) uns para com outros está
constantemente aumentando. É claro que em toda esta passagem
— não há diferença se for lido no original ou na tradução — os
escritores se revelam a si mesmos como pessoas entusiastas, antes
que resistentes (cf.

2Ts 2:13; 3:4), exuberantes antes que vacilantes. Não se pode


negar a presença de alguns membros na congregação que não
estavam vivendo de acordo com as normas requeridas. Com efeito,
continuava sendo um problema real, ainda pior que quando foi
escrita a primeira epístola. Mas na jubilosa passagem que agora
estamos comentando as desordens ficam no momento num plano
secundário. O que achamos aqui é uma alegria irrefreável, uma
alegria em forma de sincera e humilde ação de graças que se dirige
ao Doador de todo o bem.

O motivo da constante ação de graças é que a fé dos


tessalonicenses está crescendo sobremaneira (ὑπεραυξάνει) ou
muitíssimo, e o amor de cada um dos irmãos está constantemente
aumentando (πλεονάζει), que era exatamente o que Paulo tinha
desejado e pelo qual tinha orado de forma tão intensa (veja-se
comentário sobre 1Ts 3:12; 4:1, 10). É

verdade que na presente passagem estão mencionadas a fé e o


amor, não a esperança. Contraste-se com 1Ts 1:3, onde as três são
mencionadas.

Mas deduzir desta omissão (como alguns intérpretes o fazem) que


na opinião de Paulo os tessalonicenses tinham perdido sua
esperança é injustificável. Tal conclusão nos põe em conflito com o
que claramente se estabelece em 2Ts 2:16 “que nos deu (tanto a
leitores como a escritores) boa esperança”. Além disso, Paulo
imediatamente acrescenta (versículo 4) que ele se jacta da
paciência que os leitores estão
2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 52

demonstrando; e porventura não está a paciência inspirada na


esperança?

Veja-se sobre 1Ts 1:3.

É indubitavelmente certo que os tessalonicenses necessitavam mais


instrução com relação às coisas por vir (veja-se 2Ts 2:1–12), mas
sua esperança não era de maneira nenhuma fraca. Ao contrário, era
corajosa sustentando-os de tal maneira que os capacitava para
sofrer a perseguição. O versículo 3 não deve ser interpretado como
se o versículo 4 não existisse! A única forma correta para interpretar
uma passagem é continuar lendo mais adiante. Se for feito assim,
não cometeremos o erro de dizer que Paulo louva os
tessalonicenses por sua fé e amor, mas não por sua esperança.

4. Um dos resultados do crescimento dos leitores em fé e amor é


expresso a seguir: de tal modo que da nossa parte nos jactamos
de vós nas igrejas de Deus, da vossa paciência e fé em todas
as vossas perseguições e nas aflições que estais suportando.

A forma perfeitamente natural e fácil em que o termo paciência é


colocado aqui parece implicar que já estava pressuposto no
versículo 3.

A fé amadurecida implica a esperança, e a esperança produz


paciência.

Paulo, Silas, e Timóteo estão se jactando (isto é, “falam com


orgulho”) sobre os tessalonicenses. Com relação a este jactar-se
são realçados quatro fatos:

(1) Seus autores: “nós mesmos” (αὐτοὺς ἡμᾶς). Cf. Rm 9:3; 15:14;
2Co 12:13. A ideia parece ser de contraste, não de semelhança. Em
outras palavras, o significado não é “nós, como outros que ouviram
que vós” (em cujo caso teríamos esperado a expressão καὶ ἡμᾶς),
tampouco é
“nós segundo própria decisão”, mas sim: “nós da nossa parte em
contraste com “vós da vossa parte”. Os missionários devem ter
ouvido dos tessalonicenses desde que a primeira epístola foi escrita.

Naturalmente, os crentes genuínos da recém-fundada igreja eram


discretos a falar da sua própria condição espiritual. Eram humildes,
prontos para admitir que até os mais devotos entre eles se achavam
longe do alvo de perfeição espiritual, e que alguns deles
comportavam-se de tal

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 53

maneira que outros se sentiam envergonhados. Em contraste,


Paulo, com o fim de incentivá-los, diz: “Nós da nossa parte jactamo-
nos de vós”.

(2) Seu objeto pessoal: “vós”, isto é, os tessalonicenses.

(3) Seu objeto impessoal: “vossa paciência e fé em todas as vossas


perseguições e nas aflições que estais suportando”.

Isto indica as qualidades que existiam nos leitores e que tinham


dado motivo para a jactância. Os missionários falavam com orgulho
a respeito dos tessalonicenses porque eles estavam suportando
(manifestavam a graça de ὑπομονή, a paciência; veja-se sobre 1Ts
1:3; 4:14) todas as suas angústias, armados, como o estavam, da fé
em Deus e em Suas promessas. Estas angústias eram
caracterizadas aqui como perseguições (palavra usada por Paulo
também em Rm 8:35; 2Co 12:10; 2Tm 3:11) sendo este o termo
mais específico, e aflições, o mais geral. O

último pode também indicar o resultado das perseguições. Estas


aflições são as “tribulações” causadas pela pressão que os inimigos
exercem sobre os filhos de Deus. Veja-se C.N.T. sobre João 16:33.
Paulo louva os tessalonicenses por suportarem (ἀνέχεσθε) aquelas
provas. A expressão
“todas as vossas perseguições” parece indicar que no transcurso do
tempo estas tinham aumentado em lugar de diminuir.

(4) Seu lugar ou esfera: “as igrejas de Deus”. Veja-se sobre 1Ts 1:7,
8; 2:14. O fato de Paulo ter um estreito contato com estas igrejas se
observa vez após vez. A solicitude por todas as igrejas o oprimia
diariamente (2Co 11:28). Está seu pensamento posto em outras
igrejas da Macedônia, de Corinto e outras igrejas da Acaia (cf. 2Co
1:1), e nas igrejas da Ásia Menor? Não o sabemos. Mas, sim,
sabemos que era coisa normal em Paulo recomendar uma igreja
diante de outra (2Co 8:1–6; 9:2; contraste-se isto com Fp 4:15).

5. evidente indicação do justo juízo de Deus, para que sejais


julgados dignos do reino de Deus, pelo qual vós, também,
estais sofrendo.

Esta atitude determinada por parte dos tessalonicenses (sua


paciência e fé em meio de todas as perseguições e aflições) Paulo a
chama indicação (ἔνδειγμα) ou “prova positiva” do justo juízo de
Deus.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 54

O próprio fato de que Deus galardoa os Seus filhos com fortaleza


indica que Deus é um Deus justo, quem, como resultado,
manifestará sua justiça no juízo final, juízo que terá como propósito
manifestar publicamente que Seus leais súditos são dignos de
entrar no reino eterno.

Por este reino não somente Paulo, Silas, Timóteo e muitos outros
fora de Tessalônica estão sofrendo, mas também o estão fazendo
os crentes em Tessalônica. Eles de bom grado suportam a
tribulação para um dia entrar no reino da perfeição, no qual Deus
será tudo em todos, e sua soberana vontade será alegremente
reconhecida e obedecida. 21

Os tessalonicenses não devem abrigar dúvida com relação a este


bondoso propósito de Deus quanto a eles, ou seja, julgá-los dignos
de entrar no reino. Não devem ter temor (cf. 1Ts 5:4, 5, 9). Devem
ter em mente que Deus não somente é Juiz, mas sim é juiz justo,
que galardoa a 21 A exegese aqui se baseia nas seguintes
conclusões com relação a pontos gramaticais.

a. ἔνδειγμα ou é acusativo em acréscimo com o versículo 4b (algo


assim como λατρείαν em Rm 12:1) ou deve ser considerado como
um predicado nominativo (depois de ὅ ἐοτιν subentendido). Em
ambos os casos a referência não é às perseguições e aflições como
tais, como se Paulo estivesse dizendo que as tribulações que os
crentes deviam suportar eram uma evidência do justo juízo de Deus,
mas à fé e a paciência dos crentes em meio de todas suas
perseguições e aflições.

b. A κρίσις refere-se, na verdade, ao juízo final, e não ao veredito de


Deus aqui e agora com relação ao caráter genuíno da paciência e a
fé dos tessalonicenses. (Sobre o substantivo juízo e o verbo julgar
veja-se C.N.T. sobre João 3:17–19.).

Prova: os versículos que se seguem (6–10) indicam claramente que


Paulo pensa no juízo “na revelação do Senhor do céu”, faz-se
necessário seguir adiante na leitura.

c. εἰς τό; segundo o uso frequente que dele faz Paulo, é melhor
tomá-lo naquele sentido que enfatiza o propósito; cf. o pensamento
paralelo expresso no versículo 10. O dia do juízo vem a fim de que
os santos sejam julgados dignos do reino, e para que Cristo seja
glorificado em seus santos.

d. O verbo καταξιόω não significa “fazer” mas “contar” digno. Para


evidência ver M.M., p. 330.

e. Tal como em 2Ts 2:12 (veja-se comentário sobre esse versículo),


assim também aqui a expressão “o reino de Deus” indica a
sociedade redimida do futuro que de bom grado reconhecerá e
obedecerá a vontade divina. Este sentido futuro é evidente ao
considerar todo o contexto (vv. 6–10).
Também em outros lugares das epístolas de Paulo este reino é uma
herança que os crentes hão de receber logo, e do qual serão
excluídos todos os que praticam a imoralidade, imundícia, etc. (1Co
6:9, 19; Gl 5:21; Ef 5:5). A carne e o sangue não podem herdá-lo
(1Co 15:50). Não obstante, este futuro reino está prefigurado no
presente, ao qual os crentes foram transladados (Cl 1:13). Seus
súditos possuem já “justiça, paz e a alegria no Espírito Santo” (Rm
14:17). “Não consiste em palavras, mas em poder” (1Co 4:20).

f. Quanto ao significado de ὑπέρ veja-se C.N.T. sobre João 10:11.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 55

fé e a obediência, e que para sempre é fiel à Sua promessa. O


caráter justo do juízo de Deus é enfatizado nos versículos imediatos
que vêm a seguir:

6, 7. (dizemos, o justo juízo de Deus) se, na verdade, (é) justo


na opinião de Deus (como certamente o é) recompensar com
aflições aos que vos afligem, e (conceder) a vós que sois
afligidos repouso conosco na revelação do Senhor Jesus do
céu.

Aqui Paulo mostra que o bondoso propósito de Deus com relação


aos tessalonicenses (julgá-los dignos de entrar no reino) está em
harmonia com o princípio básico de recompensa, segundo o qual os
que perseguem o povo de Deus sofrerão castigo, e os que são
perseguidos por sua fé receberão o galardão.

O apóstolo está tão profundamente convencido do absolutamente


indiscutível caráter deste princípio básico, que pode dizer, “Se …”

Observe-se, no entanto, que não diz simplesmente, “se”, mas sim


“Se, na verdade!” (εἴπερ), e que a condição supõe-se ser certa
(oração condicional de primeira classe). Daí que, para dar a
entender claramente toda a força do original, deve-se acrescentar
às palavras “Se, na verdade, (é) justo na opinião de Deus” algo
semelhante a: “como certamente o é”.
Até hoje fazemos uso de tais cláusulas (iniciadas com “se”) vez
após vez. Nós as usamos quando estamos seguros que a
declaração incluída na “se” cláusula for indiscutível; por exemplo:

«Se o sol saiu ontem, sairá amanhã».

«Se sou pobre, não sou desonesto».

«Se a correspondência foi enviada ontem, será enviada hoje».

Em cada caso esse “se” significa «com a segura hipótese que».

Portanto, o sentido dos versículos 6 e 7 em relação ao versículo 5b


é: «Com a segura hipótese que é a lei divina que o perseguidor seja
castigado e o perseguido recompensado, Deus vos recompensará
no dia do juízo que virá, julgando-vos dignos de entrar em seu
glorioso reino».

A justiça de Deus se manifesta num duplo aspecto. Por um lado, é


retributiva: Deus recompensa ( dá em retorno; veja-se 1Ts 3:9) com

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 56

aflições (veja-se C.N.T. sobre Jo 16:33) aos que afligem os crentes.


Por outro lado, é remunerativa: concede repouso (ἄνεσιν, de ἄνεσις,
literalmente, cessar), os que estão padecendo aflição, grato alívio
(2Co 2:13; 7:5; 8:13) de todas as penalidades que suportaram por
causa de sua valente luta pela verdade.

De forma comovedora faz-se uso das palavras de tal modo que a


associação com outros no sofrimento por la causa de Cristo
(observe-se o versículo 5: “vós, também, estais sofrendo”) está
equilibrada pela associação com outros em o desfrute do repouso
(“repouso conosco”, quer dizer, com Paulo, Silas, Timóteo, e,
naturalmente, com todos os outros crentes).

O repouso — liberdade de toda forma de escravidão, e eterna paz


na presença do Deus de amor — será concedido aos crentes “na
revelação do Senhor Jesus do céu”.

Paulo está afeiçoado com esta palavra revelação (ἀποκάλυφις,


literalmente o descobrir, o abrir o véu). Com frequência a usa no
sentido da revelação da verdade divina (Rm 2:5; 16:15; 1Co 14:6,
26; 2Co 12:1, 7; Gl 1:12; Ef 3:3). No caso presente, no entanto, o
termo tem referência à gloriosa manifestação do Senhor em Sua
segunda vinda. Assim também em 1 Coríntios 1:7. Então o véu que
atualmente o esconde de nossa vista será tirado, porque O veremos
em Sua descida majestosa do céu (veja-se 1Ts 4:16). A expressão
“na revelação do Senhor Jesus do céu” significa «quando o Senhor
Jesus seja revelado, vindo do céu». 22

22 É claro que tomei o genitivo como sendo objetivo ou talvez


objetivo-subjetivo; na verdade não somente subjetivo (como Van
Leeuwen sostiene, op. cit. p. 409) como em Gl 1:12. O Senhor
Jesus (quanto ao significado de “Senhor” e “Jesus” veja-se sobre
1Ts 1:1) apresenta-se aqui em 2Ts 1:7

como sendo revelado. Minhas razões para aceitar esta posição são
as seguintes: (1) Está em harmonia com o contexto (veja-se
versículo 10: “o vem para ser admirado”).

(2) Concorda com o modo próprio de falar de Cristo (que deve ter
sido transmitido a Paulo).

Assim conforme Lucas 17:30 Jesus falou a respeito “do dia em que
o Filho do Homem seja revelado”.

(3) “A revelação do Senhor Jesus” (cf. expressão semelhante em


1Pe 1:7, 13) é “a revelação de sua glória”.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 57

Esta é a Parousia (veja-se sobre 1Ts 2:19; cf. C.N.T. sobre Jo 21:1).
Com os anjos de seu poder em fogo flamejante (“em fogo de
chama” = “fogo flamejante” é talvez a melhor tradução; contraste-se
com At 7:30 “chama de fogo”).
O fato de que o Senhor em Sua volta virá acompanhado pelos anjos
(naqueles que Seu poder torna-se manifesto) tinha sido proclamado
pelo próprio Jesus (Mt 13:41, 42; 25:31; cf. Jd 15; Ap 14:19). A
função deles será dupla: “primeiro, recolher a erva daninha, atando-
a em molhos para ser queimada”, e também “recolher o trigo dentro
de meu (do Senhor) celeiro”.

A adição da frase “em fogo flamejante” indica a santidade do Senhor


manifestada em juízo (cf. Ex. 3:2; 19:16–20; Is 29:6; 66:15, 16; Sl
50:3; 97:3). A passagem que deve ter estado vividamente presente
na consciência de Paulo quando escreveu é Isaías 66:15, 16:

“Porque eis que o SENHOR virá em fogo, e os seus carros, como


um torvelinho, para tornar a sua ira em furor e a sua repreensão, em
chamas de fogo, porque com fogo e com a sua espada entrará o
SENHOR em juízo …”

O quadro é muito vívido. Quase podemos ver as hostes angélicas, o


próprio Senhor no centro. Além disso, este não é meramente um
quadro; é a realidade! De maneira nenhuma se estabeleceu que a
massa de fogo com suas línguas de chamas lançadas em todas as
direções seja um

“mero” símbolo do juízo. Sem dúvida, não será até que estes
eventos se convertam em história real que saberemos quanto desta
descrição deve ser tomado literalmente e quanto figurativamente;
além do mais, é inútil especular. Por outro lado, também é verdade
que o vidente de Patmos descreve como na vinda de Cristo a terra e
o céu fugiram (Ap 20:11); e É verdade, naturalmente, que o Senhor
Se revela a Si mesmo. Portanto, é uma revelação de Si mesmo, por
si mesmo (objetivo-subjetivo), mas a ênfase está centrada na ideia
de que é uma revelação na qual Sua glória é exposta (objetivo).

(4) Assim visto, obtemos uma antítese entre Cristo e o anticristo:


Cristo é revelado quando voltar em glória, e então também o
anticristo (“o homem do pecado”, “o sem lei”) será revelado (veja-se
sobre 2Ts 2:3, 6, 8).
2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 58

2Pe 3:7, 11, 12 declara que o universo será purificado


completamente pela grande conflagração (“os céus sendo
incendiados serão dissolvidos, e os elementos se fundirão com
ardente calor”). Pretender explicar a frase “em fogo flamejante”
como indicando que as hostes de anjos que descem serão por si
mesmas um fogo flamejante, não é satisfatório. O

“em” é de investidura: a hoste — com Cristo dirigindo no centro —


está investida em, rodeada por, fogo. As três frases proposicionais
são claramente paralelas. A revelação do Senhor Jesus é: a. do céu

b. com os anjos de seu poder

c. em chama flamejante.

Falar de um mero símbolo em tal relação nunca é correto. A


realidade que responde ao símbolo é sempre muito mais terrível (ou
muito mais gloriosa) que o próprio símbolo. A linguagem humana é
forçada quase até o impossível a fim de expressar o terrível caráter
da vinda do Senhor com relação aos ímpios:

8. infligindo vingança sobre os que não conhecem a Deus, até


sobre os que não obedecem o evangelho de nosso Senhor
Jesus.

O Senhor vem com o fim de “infligir vingança” (cf. Dt 32:35; Is 59:17;


Ez 25:14). Sobre quem? Há duas possíveis respostas dependentes
da tradução adotada, quer seja “infligindo vingança sobre os que
não conhecem a Deus, e sobre os que não obedecem o evangelho
do Senhor Jesus”, ou “infligindo vingança sobre os que não
conhecem a Deus, quer dizer sobre os que não obedecem o
evangelho de nosso Senhor Jesus”.

No primeiro caso se indicam duas classes: a. pagãos que nunca


ouviram o evangelho e b. judeus e pagãos que rejeitaram o
evangelho. No segundo caso faz-se referência somente a uma
classe, quer dizer, aos que, tendo ouvido o evangelho, recusam
obedecê-lo. À vista do fato de que em todo o contexto não existe
alusão alguma ao pagão em trevas que esteve alheio à mensagem
de salvação, e que os que preocupam definidamente a mente do
apóstolo são aqueles que com voluntária

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 59

desobediência perseguem os filhos de Deus (veja-se versículos 4, 6,


9), aceitamos a última alternativa.

O pecado dos perseguidores não era ignorância do evangelho, mas


sim desobediência a ele. É verdade que aqui os ímpios são
descritos como “os que não conhecem a Deus”. Quer dizer, não O
conhecem como seu próprio Deus. Não invocam o Seu nome. Eles
O odeiam; portanto, também odeiam o Seu evangelho (o evangelho
que O

proclama, e ao mesmo tempo é proclamado por Ele. Cf. Jr 10:25;


logo C.N.T. sobre João 7:17; 2Ts 3:14; Rm 10:16).

9. Com referência aos perseguidores Paulo continua: os quais


sofrerão o castigo de eterna destruição longe do rosto do
Senhor e da glória do seu poder.

Mais uma vez se aborda a atenção sobre os cruéis indivíduos que,


em seu ódio contra Deus e o evangelho, tornam difícil a vida dos
verdadeiros crentes. Eles são os que (οἵτινες é um pronome relativo
qualitativo, não é o mesmo que “aqueles que”) que sofrerão a pena
de eterna (realmente, sem-fim; veja-se C.N.T. sobre João 3:16)
destruição.

O próprio fato de que esta “destruição” (cf. 1Ts 5:3; 1Co 5:5; 1Tm
6:9) seja “eterna” mostra que não equivale a “aniquilação” ou
“cessar de existir”. Ao contrário, indica existência “longe do rosto de
Deus e da glória de seu poder”.
Enquanto a “vida eterna” se manifesta como bendita contemplação
do rosto de Deus, doce companheirismo com Ele, proximidade dEle
(Ap 22:4; cf. Sl 17:15; Mt 5:8), o mais maravilhoso estar com Ele
(1Ts 4:17), a “eterna destruição” — que é o resultado da vingança
de Deus (veja-se versículo 8 mais acima) — é o diametralmente
oposto. Assim como a

“bênção” de Esaú consistiu no seguinte, que sua morada seria longe


das gorduras da terra, e longe do orvalho do céu (Gn 27:39
traduzido corretamente), assim também o castigo que todos os
perseguidores do povo de Deus sofrerão será existência eterna
longe de (ἀπό) Cristo, proscritos para sempre de Seu favor. Cf. Rm
9:3. A linguagem

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 60

empregada aqui nos lembra um dos repetidos refrões de Is 2:10, 19,


21

ou a seguinte estrofe:

“Viver longe de Deus é só morte,

Meu bem é de seu rosto desfrutar;

O Deus vivo é meu refúgio e forte,

Suas maravilhas quero eu contar”. (Baseado em Salmo 73:27) Esta


proscrição da amorosa comunhão com Cristo implica expulsão da
«glória (radiante esplendor) de Seu poder» como se manifesta na
salvação dos santos.

10. A terrível separação chegará a ser evidente de forma pública


quando vier para ser glorificado em seus santos e ser admirado
em todos os que creem — porque nosso testemunho a vós foi
crido — naquele dia.
O significado da segunda vinda de Cristo para aqueles que pela
soberana graça depositaram sua confiança nEle, é o que aqui se dá
a conhecer. Em certo sentido pode ser considerado como uma
continuação do pensamento começado no versículo 7. De acordo
com esse versículo, os filhos de Deus receberão repouso quando o
Senhor Jesus for revelado.

Aqui no versículo 10 é-nos mostrado que este repouso que


desfrutarão significa glória para Ele. Ele será glorificado em (não
meramente entre) eles; isto é, refletirão Sua luz, Seus atributos,
como, em princípio, o estão fazendo agora mesmo (2Co 3:18). Todo
vestígio de pecado terá sido eliminado de suas almas. Eles refletirão
a Sua imagem e andarão à luz de Seu rosto (Sl 89:15–17). Nisto Ele
se regozijará. Também os anjos, ao ver isto, se regozijarão. E nisto
cada um dos redimidos, vendo o reflexo da imagem de Cristo em
todos os outros redimidos, se regozijarão. Além disso, não somente
se regozijará ao ver sua própria imagem refletida neles, mas sim
que Cristo se regozijará no regozijo deles! Cf. Sf 3:17. E

o regozijar-se na alegria deles refletirá glória sobre Ele! Assim,


qualquer que seja o sentido em que se tome, ele será glorificado em
seus santos.

Cf. Is 49:3; cf. C.N.T. sobre João 12:28. Será admirado (visto com
alegre assombro e grata maravilha; portanto, glorificado) em todos
os que creram.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 61

Por um lado, aos redimidos lhes vê aqui como santos (separados


por Deus para Seu serviço); por outro, como crentes, pessoas que
depositaram sua confiança no Senhor. O primeiro termo enfatiza o
fato de que sua salvação é basicamente obra de Deus. O segundo
deixa claro que eles, não obstante, voluntária e ativamente se
aderem ao Cristo.

“Quando (ὄταν) vier” significa «quando Ele voltar naquele dia que
para nós é indefinido». Não obstante, para Deus é bem conhecido: é
aquele preciso dia (observe-se a posição enfática no final da
oração), isto é, o dia da volta de Cristo para juízo. Cf. Is 2:11, 17, 20;
Mt 24:36; 2Tm 1:12, 18; 4:8.

A expressão “Porque nosso testemunho (cf. 1Co 1:6; 2:1) a vós foi
crido” obviamente está entre parêntese. O que Paulo, Silas, e
Timóteo quiseram dizer pode parafrasear-se da seguinte maneira:

«Os inimigos de Deus que tão amargamente vos perseguem


receberão a recompensa de eterna perdição, longe do rosto do
Senhor e da glória do Seu poder, quando Ele vier para ser
glorificado em Seus santos e ser admirado em todos os que creram;
e por favor notem que dissemos, ‘Em todos os que creram’. Isto
inclui a vós, tessalonicenses; sim, inclui tanto aos que entre vós já
dormiram como aqueles que (se os houver) estiverem vivendo
quando o Senhor voltar. Inclui a todos os crentes sinceros sem
exceção. Portanto, inclui a vós, porque nosso testemunho a vós foi
crido».

Estas eram palavras de consolo para a congregação em conjunto,


mas especialmente para aqueles que se achavam perplexos com
relação ao estado de sua salvação e da sorte dos crentes que já
haviam falecido.

Veja-se sobre 1Ts 4:13–5:11.

11. Em vista disso estamos também orando sempre por vós,


que nosso Deus vos tenha por dignos da chamada. Ou, com
vista à realização das expectações mencionadas nos versículos 5–
10 (ou seja, que no dia do juízo vós sejais tidos por dignos de entrar
no reino, que vós possais receber então repouso, que Ele possa em
Sua vinda ser glorificado em vós, etc.), Paulo, Silas, e Timóteo estão
não somente dando graças (veja-

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 62

se versículo 3 mais acima), mas também (καί) orando. Não deixam


passar um só dia — note-se orando sempre, e veja-se sobre 1Ts 1:2

mas estão continuamente lembrando as necessidades dos


tessalonicenses diante do trono da graça.

Agora, é lógico que se no dia do juízo os tessalonicenses tiverem


que ser tidos por dignos de herdar o reino, devem agora mesmo
conduzir-se em harmonia com a chamada do evangelho23 que
receberam.

Se nossa vida for Cristo, nosso futuro será lucro; do contrário, não.
Daí que o conteúdo (e naturalmente também o propósito) da oração
é “que Deus vos tenha por dignos” (veja-se o versículo 5 mais
acima) do convite de graça que vos estendeu por meio da pregação
do evangelho, já em princípio salvificamente aplicado aos vossos
corações pelo Espírito Santo; em outras palavras, que em face da
opinião de Deus, vós vivais e atueis como convém aos que
receberam a chamada que vós recebestes.

Cf. Efésios 4:1.

Mas uma vez que o homem em sua própria força é incapaz de viver
de maneira que Deus o tenha por digno do chamado, acrescenta-se
imediatamente, e que ele por (seu) poder faça cumprir todas (as
vossas) resoluções motivadas pela bondade e (toda a vossa)
obra resultante da fé.

Observe-se a combinação: resolução e obra. A primeira é


incompleta sem a segunda. Prazer (εὐδακία, usada por Paulo
também em Rm 10:1; Ef 1:5, 9; Fp 1:15; 2:13; boa vontade) em
desejar fazer algo que seja para a honra de Deus, a ponto de ser
uma firme resolução ou

determinação, é excelente; mas deve ser traduzido em ação; é


necessário que isto chegue à sua realização. Para entender melhor
o tipo de genitivo empregado em expressões tais como “resolução
motivada pela bondade (ἀγαθωσύνης admiração pelo bem)” e “obra
resultante de (e alimentada 23 No Novo Testamento κλἠσις é
sempre o chamado divino a salvação; Rm 11:29; 1Co 1:26; 7:20; Ef
1:18; 4:1, 4; Fp 3:14; 2Tm 1:9; Hb 3:1; 2Pe 1:10. De acordo com
Lenski ( op. cit., p. 394) não vemos a necessidade de interpretar o
termo assim como se usa aqui em 2 Tessalonicenses 1:11 em outra
forma que não seja indicando o chamado eficaz do evangelho.
Quanto a diferente interpretação veja-se Van Leeuwen, op. cit., p.
414.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 63

por) a fé (πίστεως)” veja-se sobre 1 Tessalonicenses 1:3. Quase não


é necessário assinalar que o que Paulo tinha em mente era a
resolução dos crentes (cf. Rm 10:1; Fp 1:15) e a obra dos crentes
(não de Deus). Se tal for o significado ao usar a última frase em 1
Tessalonicenses 1:3 (veja-se sobre essa passagem), por quê não
aqui? Além disso, uma vez que as duas frases (“resolução motivada
pela bondade” e “obra resultante da fé”) estão emparelhadas,
deduz-se que não somente a última, mas também a primeira se
referem aos tessalonicenses e não a Deus; (εὐδοκία refere-se à boa
vontade de Deus em Ef 1:5, 9; Fp 2:13; cf. Mt 11:26; Lc 2:14; 10:21).

Mentalmente a palavra toda (πᾶσαν, feminina) deve-se conectar


tanto com resolução (εὐδοκίαν, feminina) como com obra (ἔργον,
neutro): “toda resolução” e “toda obra”. Os missionários estão
constantemente orando para que no caso dos tessalonicenses
nenhuma resolução que provenha da boa disposição criada pelo
Espírito Santo em suas almas deixe de cumprir-se, e que nenhuma
obra inspirada pela fé fique inconclusa. Oram para que Deus realize
tudo isto “por (seu) poder”

(ἐν δυνάμει), o poder de sua graça operando neles. Cf. Rm 1:29; Cl


1:4; 1Co 1:24; e veja-se sobre 1Ts 1:5.

É disparatado perguntar: «Mas se Paulo sabia já por meio das


evidências — fé, amor, paciência (veja-se vv. 3, 4 mais acima) —
que Deus no dia do juízo os julgaria dignos de entrar no reino, então
por quê ele, tendo em vista o veredito final, acha-se ainda orando
por maior santificação?” A resposta não é: «Porque, afinal, temia
que eles pudessem ainda cair da graça». Em tal caso não teria dito
o expresso no versículo 5. A verdadeira resposta é: «Paulo entendia
pelas evidências que como resultado da oração constante (sua
própria vida de oração e as orações de outros por eles) os
tessalonicenses viveriam e se comportariam como convém aos que
receberam a chamada, de modo que no dia do juízo Deus os
julgaria dignos de entrar no reino». Na cadeia da salvação, que
conecta uma eternidade com outra, a oração constante e a
santificação diária são elos indispensáveis.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 64

12. Além disso, o interesse dos missionários vai ainda além da


salvação dos tessalonicenses. Desejam que toda resolução
motivada pela bondade e toda obra resultante da fé cheguem a sua
realização e que os leitores finalmente possam ser julgados dignos
de entrar naquele estado de completa perfeição para que (ὅπως)
seja alcançada uma meta ainda mais sublime, segundo se expressa
no versículo 12: para que o nome de nosso Senhor Jesus seja
glorificado em vós, e vós nele conforme a graça de nosso Deus
e do Senhor Jesus Cristo.

O que para nosso Senhor Jesus significa ser glorificado em Seus


discípulos (ou santos) já foi explicado em conexão com o versículo
10

mais acima. Aqui no versículo 12, no entanto, o que se glorifica é o


nome do Senhor. O nome de Cristo significa o próprio Cristo
segundo Se revelou a Si mesmo: por exemplo, como o Ungido de
Deus, o Salvador e Senhor dos Seus. Daí que, quando eles
participam de Sua unção, aceitam a Sua salvação, e reconhecem o
Seu senhorio, então o Seu nome é glorificado neles. E isto, por sua
vez, reflete glória sobre eles.

(Aceitamos a tradução “nele”, embora “nisso” — quer dizer, no nome



seja também possível, com muito pouca diferença quanto a
significado.) Este “ele em vós” e “vós nele”) está diretamente
baseado no ensino de Jesus. Veja-se C.N.T. sobre João 17:10, 22;
logo também João 15:4.

Indica a estreita relação de comunhão existente entre o Senhor e os


que são Seus. Sua obra nos corações deles reflete glória sobre Ele.
A proximidade dEle significa glória para eles. Além disso, a glória
que eles recebem não foi concedida conforme a norma de méritos
humanos, porque então nada haveria. É concedida com base na
norma da graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo”. Esta
graça (veja-se sobre 1Ts 1:1) deriva-se de Deus nosso Pai como a
fonte, e é mediada pelo Senhor Jesus Cristo (veja-se sobre 1Ts 1:1)
e, por isso, pode-se dizer que se deriva também dEle.

A tradução preferida por alguns, ou seja, “conforme a graça de


nosso Deus e Senhor Jesus Cristo”, de tal maneira que toda a
expressão teria referência à segunda pessoa da Trindade, e assim
fosse outra prova
2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 65

em favor da deidade de Cristo, não tem muito a seu favor. Nas


epístolas aos tessalonicenses (1Ts 1:1, 2; 2Ts 1:2) a graça aparece
como procedente de uma dupla fonte, ou seja, Deus o Pai e o
Senhor Jesus Cristo. Não existe razão sólida para introduzir uma
mudança aqui. É

definidamente falso que a gramática exija tal mudança. 24

SÍNTESE DE 2 TESSALONICENSES 1

A revelação do Senhor Jesus do céu tem um duplo propósito: ser


glorificado nos santos e pagar com vingança os desobedientes.

Depois da introdução habitual (vv. 1 e 2) Paulo escreve que se sente


impulsionado a expressar sua gratidão a Deus pelo crescimento em
fé e amor dos leitores. Ele (e, naturalmente, seus colaboradores
com ele) se gloria dos tessalonicenses sempre que entra em contato
com alguém de outras igrejas. Considera que a paciência dos
leitores e sua perseverante fé no meio da perseguição e aflição são
a recompensa por sua lealdade, de acordo com a forma habitual em
que Deus recompensa o santo esforço com fortaleza, para que
continue aumentando. O fato de que aqui o próprio Deus está
cumprindo Suas promessas, faz com que o apóstolo olhe para
frente com coragem ao juízo final, confiando plenamente que
também a justiça de Deus será evidente, e que os leitores serão
tidos por dignos do reino em perfeição.

Esta ação da parte de Deus está em harmonia com o princípio


divinamente estabelecido de que o que o homem colhe é o que
semeou.

24 A Regra de Sharp é valiosa, mas sob a seguinte condição: que


seja aplicada somente nos casos em que a regra o exija, não aos
nomes próprios que podem ser definidos mesmo sem o artigo.
Assim A.
T. Robertson, que escreveu um precioso capítulo a respeito da
Regra de Sharp (“The Greek Article and the Deity of Christ” [O artigo
grego e a deidade de Cristo] em The Minister and his Greek New
Testament, Nova York, 1923, pp. 61–68; cf. Gram. N.T., pp. 785,
786), admite que o argumento em favor de interpretar o que vem a
seguir ao τοῦ final em 2 Tessalonicenses 1:12 como referindo-se
somente à uma pessoa se debilita pelo fato de que κύριος emprega-
se com frequência como nome próprio sem o artigo. Cf. Word
Pictures, vol. IV, p. 46. Dissentimos, portanto, de Lenski, op. cit., pp.

398, 399, e concordamos com a maioria dos intérpretes.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 66

De acordo com isso, Deus aflige os que causam aflição, e concede


repouso aos que descansam em Suas promessas. Assim, para os
não-crentes a revelação do Senhor Jesus do céu com os anjos do
Seu poder em fogo flamejante terá como propósito recompensá-los
com vingança.

Esta vingança será em forma de “eterna destruição longe do rosto


do Senhor e da glória do seu poder”. Mas para os crentes seu
propósito será que Ele seja glorificado e admirado neles, vendo-se
refletido neles o resplendor de Seus atributos. Esta será a parte de
todos os santos, incluindo os tessalonicenses, porquanto eles, tanto
como os outros, aceitaram o testemunho dos missionários.

Com vista ao “grande tribunal” e seu glorioso galardão Paulo jamais


deixa passar um dia sem orar pelos leitores, a fim de que a obra
iniciada neles seja completada pela graça de Deus: que as piedosas
resoluções se transformem em ações, e que estas ações sejam
terminadas. Desta maneira o nome do Senhor Jesus será
glorificado. E

isso, também, será glória para eles, de acordo com a norma da


graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo”.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 67


2 TESSALONICENSES 2

SERÁ PRECEDIDA PELA APOSTASIA E PELA REVELAÇÃO

DO HOMEM DO PECADO.

2TS 2:1-3A - OS DOIS EVENTOS QUE PRECEDERÃO A VOLTA


DE CRISTO: A APOSTASIA E A REVELAÇÃO DO HOMEM DO
PECADO. CONDENA-SE O

FALSO ALARME.

2:1, 2. Agora referente à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e


nossa reunião com (encontrar-nos com) ele, rogamo-vos,
irmãos, que não sejais facilmente sacudidos de vosso (estado
normal de) pensamento nem perturbados.

Paulo tinha escrito a respeito do caráter repentino da (segunda)


vinda de Cristo (parousia; veja-se sobre 1Ts 2:19) e a respeito da
necessidade de estar preparados para ela (1Ts 5:1–11).
Aparentemente esta mensagem tinha sido interpretada mal, como
se vinda “repentina”

significasse vinda “imediata”. Paulo também transmitiu aos


tessalonicenses o que o Senhor lhe tinha revelado concernente
(ὑπέρ, veja-se sobre Jo 10:11) “à reunião com (encontrar-nos com)
ele” (1Ts 4:13–18). Tinha enfatizado o caráter imparcial deste
grande evento futuro: os ainda vivos não teriam vantagem sobre os
que haviam partido.

Juntos os dois grupos (agora unidos) subiriam a encontrar o Senhor


no ar para estar com Ele para sempre. Mas embora este ensino
deva ter consolado os leitores, tal consolo até certo ponto tinha sido
ofuscado pela agitação sobre a “iminente” vinda. Os crentes
estavam se comportando como barcos arrastados pelos ventos e as
ondas e sacudidos de um lado para outro. Parece que no caso de
alguns deles a parousia tinha chegado a ser o tema principal de
conversação, o mais importante e contínuo tema de discussão.
Estavam “perdendo a cabeça”

quanto a este assunto, de tal modo que alguns tinham decidido


abandonar totalmente seus trabalhos. Estavam perturbados a
respeito,

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 68

terrivelmente “agitados”, sim, “sacudidos (σαλεύω, σαλευθῆναι, de


σάλος, a esmagadora quebra de onda do mar, cf. Lc 21:25) de seu
(estado normal de) pensamento”.

Portanto, Paulo se dirige docemente aos leitores como “irmãos”

(veja-se sobre 1Ts 1:4), e roga (cf. 1 Ts. 4:1; 5:12) que não sejam
repentinamente sacudidos (aor. infinitivo) ou, como resultado,
continuamente perturbados (presente infinitivo, cf. Mt 24:6; Mc. 13:7;
Lc 24:37); especificamente, não alarmar-se tão facilmente, isto é,
nem por espírito, nem por palavra, nem por carta como de nós.
25 Parece que depois que 1 Tessalonicenses tinha sido lida à
congregação reunida, não havia falta de “intérpretes”. Um indivíduo
poderia ter estado falando a respeito de uma “mensagem inspirada”
ou “voz profética” (“espírito”) recebida por ele (pelo menos assim
pensou); outro teria atraído a atenção dos demais assegurando que
«Paulo quis dizer isto, porque eu ouvi a mensagem de seus próprios
lábios quando esteve aqui conosco», e um terceiro poderia ter feito
circular a notícia de que “alguém” tinha recebido uma carta de
Paulo, na qual este dava a conhecer seus pontos de vista de tal e tal
maneira. Em vista de 2Ts 3:17, a ideia de que alguém até tivesse
enviado uma carta falsificada (uma pretendendo ser de Paulo)

— embora sujeita a certas objeções — não pode ser ligeiramente


rejeitada.

A essência de todas estas possíveis interpretações (quer seja por


espírito ou por palavra ou por carta como de nós) se expressa nas
palavras: no sentido de que o dia do Senhor chegou. Esta
agitada gente estava convencida de que “o dia do Senhor” (isto é,
Sua volta para juízo e dos sinais que imediatamente precederiam
esta volta) já estava à vista.

Uns poucos dias mais, ou semanas, ou meses como máximo, e o


próprio Jesus faria Sua aparição nas nuvens do céu. Seu “dia” tinha
chegado.

25 É impossível determinar se “como de nós” modifica só o artigo


imediatamente precedente (“por carta como de nós”), ou os dois
artigos precedentes, ou os três juntos. Parece mais natural que
modifique os dois artigos precedentes, mas falta certeza a respeito.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 69

3a. Ninguém de modo nenhum vos engane. A causa da agitação


que ameaçava os corações e as mentes dos tessalonicenses era
um erro doutrinário. Estavam sendo enganados, desencaminhados,
alucinados (ἐξαπατάω, usado somente por Paulo — Rm 7:11; 16:18;
1Co 3:18; 2Co 11:3; 1Tm 2:14 —, embora a forma sem o prefixo ἐχ
que lhe dá força ocorre também em Tiago 1:26). Por isso, Paulo lhes
previne a fim de que não se deixem desviar de modo nenhum, quer
por “espírito, palavra, carta” ou qualquer outro meio.

A razão pela qual os leitores não deviam deixar-se enganar e


alarmar-se é declarado nas palavras: porque (aquele dia não
chegará) a menos que antes venha a apostasia. As palavras
incluídas entre parêntese não se encontram no original, mas podem
derivar-se facilmente do contexto precedente. Temos aqui outro
caso de expressão abreviada.

O fato de que o dia do Senhor seria precedido pela apostasia (o


renegar, rebelião) — apostasia a respeito da qual os leitores tinham
recebido prévia instrução (veja-se sobre v. 5) — tinha sido
claramente predito pelo Senhor estando Ele ainda na terra (Mt
24:10–13). Durante a antiga dispensação a predita apostasia final
tinha sido prefigurada vez após vez pela deserção de Israel do Deus
vivo. Um dos mais chamativos casos de apostasia ocorreu durante o
reinado do cruel e ímpio antecessor do anticristo, ou seja, Antíoco
Epifânio (que reinou de 175–164 a.C.).

Propôs-se liquidar a religião de Israel sem deixar raiz nem ramo:

“Naqueles dias saíram de Israel transgressores da lei, que


persuadiram a muitos, dizendo: ‘Vamos e façamos aliança com os
gentios que estão ao redor de nós … E se fizeram incircuncisos, e
abandonaram a aliança santa, e se uniram aos gentios, e se
venderam para praticar o mal … E muitos de Israel consentiram
neste culto, e sacrificaram aos ídolos, e profanaram o sábado … E
os oficiais do rei, encarregados de impor a apostasia, vieram à
cidade de Modin para sacrificar” (1 Mc. 1:11, 15, 43; 2:15).

Ali em Modin, não muito longe de Jerusalém, vivia por aquele tempo
um ancião sacerdote, Matatias. Quando o oficial de Antíoco lhe

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 70

pediu que dirigisse um sacrifício pagão, não só recusou fazê-lo, mas


também matou tanto o oficial como um judeu apóstata que estava
prestes a aceder à petição. Aquele ato de coragem marcou o
começo da esplêndida era da rebelião dos macabeus.

O que o apóstolo Paulo está dizendo aqui, em 2 Tessalonicenses


2:3, equivale ao seguinte: Tal como a primeira vinda de Cristo foi
precedida por um período de apostasia, assim também a segunda
vinda não ocorrerá até que uma apostasia semelhante tenha tido
lugar. Neste caso, no entanto, a apostasia será um renegar de (sim,
uma aberta rebelião contra) o Deus que culminou Seu amor por
meio de um ato de infinito sacrifício em prol dos pecadores, ou seja,
o dar Seu Filho unigênito.

A passagem referente à apostasia vindoura de maneira nenhuma


significa que os que verdadeiramente são filhos de Deus “cairão da
graça”. Não existe tal queda. O bom pastor conhece Suas próprias
ovelhas, e ninguém as arrebatará de Suas mãos (veja-se C.N.T.
sobre Jo 10:28; cf. 1Ts 1:4). Mas significa que a fé dos pais — fé à
qual os filhos se apegam por um tempo de maneira meramente
formal — será finalmente abandonada totalmente por muitos dos
filhos. Neste sentido a apostasia será muito real, na verdade.

Será uma deserção da parte daqueles que foram alcançados pelo


evangelho (cf. 1Pe 4:17; Ez 9:6), e será em grande escala: “muitos
tropeçarão … muitos falsos profetas se levantarão e apartarão a
muitos

… o amor de muitos esfriará” (Mt 24:10–13). 26 O uso do termo


apostasia aqui em 2 Tessalonicenses 2:3 sem um adjetivo anexo
indica para o fato de que, de uma maneira geral, a igreja visível
abandonará a verdadeira fé.

26 Calvino também enfatiza estes dois pontos em seu comentário.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 71

2TS 2:3B–12 - O HOMEM DO PECADO

2TS 2:3B, 4 - SEU CARÁTER PERVERSO E SUA ATIVIDADE

DESAFIADORA CONTRA DEUS

3b, 4. E seja revelado o homem do pecado, o filho da perdição,


aquele que se opõe e se exalta contra tudo o (que é) chamado
Deus ou recebe adoração, de modo que se senta no santuário
de Deus, proclamando-se ser Deus.

O movimento da apostasia logo terá seu líder, ou seja, “o homem da


iniquidade” (ὁ ἄνθρωπος τῆς ἀνομίας). Esta é provavelmente a
melhor leitura, embora exista também um bom apoio para a versão
“o homem do pecado” (ἀνθρωπος τῆς ἁμαρτίας). Mas já que
“pecado é iniquidade”

(1Jo 3:4), não há diferença. É importante observar em ligação com


isso, que assim como a apostasia não será meramente passiva,
mas sim ativa (não só um renegar, mas também uma rebelião contra
Deus e Seu Cristo), assim também o homem do pecado será um
ativo e agressivo transgressor. Ele não é chamado “sem lei” porque
nunca ouviu a lei de Deus, mas porque abertamente a desafia!

Acima de tudo, devem eliminar-se alguns conceitos errôneos quanto


a este “homem do pecado”.

(1) Não deve ser identificado com Satanás.

O próprio fato de que sua vinda é “segundo a operação de Satanás”

(versículo 9) mostra que o mesmo não é Satanás. Chamá-lo “a


encarnação do diabo” é um erro.

(2) Não deve ser identificado com “a besta que sai do mar” do
Apocalipse 13 e 17.

Existe, sim, uma estreita relação entre os dois:

a. “O homem do pecado” está em íntima relação com Satanás,


como também com “a besta que sai do mar” (2Ts 2:9; cf. Ap 13:4).

b. “O homem do pecado” opõe-se a Deus e se exalta a si mesmo,


proclamando-se como sendo Deus; similarmente “a besta que sai do

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 72

mar” abre sua boca em blasfêmias contra Deus, e recebe a honra


de ser adorada por um mundo pecaminoso (2Ts 2:4; Ap 13:5–8).

c. “O homem do pecado” é um “filho da perdição” e sofre total


derrota quando Cristo aparecer nas nuvens do céu; assim também a
besta que sai do mar vai à perdição (2Ts 2:8; cf. Ap 17:8; 19:20).

Não nos deve estranhar, portanto, que muitos autores simplesmente


os considerem idênticos. No entanto tal identificação “não tem
fundamento algum”. 27 No Apocalipse, as quatro bestas da profecia
de Daniel (Daniel 7) combinam-se para formar uma besta composta.
Agora, deve ser evidente que se até as bestas da profecia de Daniel
claramente indicam reinos e não somente indivíduos (embora a
ideia de indivíduos não fica totalmente excluída), a besta composta
do Apocalipse não pode referir-se a uma só pessoa. Ao contrário
deve referir-se ao governo anticristão sempre que e onde quer que
seja manifestado. 28

Para captar o quadro completo, devemos, portanto, combinar 2

Tessalonicenses 2 e Apocalipse 13 e 17. Então fica claro que em


todas as épocas o poder anticristão se manifesta, e é nosso dever
resisti-lo com todas as forças. Vez após vez este domínio do
“anticristo” sofre derrotas.

Sofrerá seu maior derrota no final da presente era quando,


simbolizado pela “besta que sobe do mar” sob a sua oitava cabeça,
estará sob o controle de um terrível blasfemo, ou seja, o homem do
pecado, o antagonista pessoal mencionado e descrito em 2
Tessalonicenses 2.

Apocalipse (13 e 17) e 2 Tessalonicenses (capítulo 2) se


complementam um ao outro. Um apresenta um movimento, o outro
seu líder final. Isto nos leva a uma proposição mais geral:

(3) Não é um poder abstrato nem um conceito coletivo, mas sim


especificamente uma pessoa escatológica.

27 A. Pieters, The Lamb, the Woman, and the Dragon, Grand


Rapids, Mich., 1937, p. 205.

28 Veja-se meu comentário sobre o livro do Apocalipse, ou seja,


Más que vencedores, Grand Rapids, Mich., 1977, pp. 175–179,
200–208. Também J.E.H. Thompson “Antichrist” artigo em I.S.B.E.;
S.

Greydanus, Kommentaar op het Nieuwe Testament, Vol. XIV, p. 406;


K. Dijk, Het Rijk der Duizend Jaren, Kampen, 1933, p. 236.
Contraste o ponto de vista expresso por V. Hepp, De Antichrist,
1919.
2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 73

O princípio do pecado, sempre presente, será finalmente encarnado


no “homem do pecado”. Mas isso não significa que ambos — o
princípio e o homem — sejam exatamente o mesmo. É verdade que
o “homem do pecado” real e final tem seus precursores; mas o que
se descreve aqui em 2 Tessalonicenses não é um precursor mas
sim o próprio “homem do pecado”.

Baseamos este ponto de vista não tanto nos termos “homem do


pecado” ou “filho da perdição” (expressões que por seu caráter e
significado semíticos não podem ser conclusivas para a tese de que
“o homem do pecado” aqui em 2 Tessalonicenses é uma pessoa),
mas no fato de que toda a descrição aqui dada é de caráter pessoal.
O homem do pecado “opõe-se”, “exalta-se”, “se senta no santuário
de Deus”,

“proclama-se ser Deus”, e será “morto”. Também há toda a razão


para crer que o homem do pecado descrito por Paulo é a mesma
pessoa mencionada por João como o anticristo. Ora, Cristo é uma
pessoa. Daí que, com toda probabilidade, o anticristo (“contra
Cristo”) é também uma pessoa. Portanto, “o homem do pecado”,
sendo o anticristo, sem dúvida, é também uma pessoa. Como o
próprio Cristo, “o homem do pecado” realiza sinais e maravilhas,
tem sua “parousia” e sua

“revelação”. Seria estranho, portanto, se “o homem do pecado” não


fosse uma pessoa. Mas, porventura deve ser “o homem do pecado”

identificado com o anticristo? Nossas razões para considerar ambos


idênticos são as que seguem:

a. “O homem do pecado” será revelado imediatamente antes da


vinda de Cristo. O anticristo com relação ao qual os leitores
receberam prévia informação virá “na última hora” (2Ts 2:8; 1Jo
2:18).

b. O “mistério da iniquidade” já está operando. Agora mesmo


“existem muitos anticristos” (2Ts 2:7; 1Jo 2:18). Em ambos os casos
a ideia é a seguinte: embora os crentes estejam certo ao esperar um
indivíduo definido no final da era, indivíduo em quem a ímpia
oposição a Cristo chegará a cristalizar-se, devem , antes, centralizar
sua atenção

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 74

nos “muitos anticristos já apresente em seus próprios dias e época,


no fato de que o mistério de desaforo está em operação agora
mesmo.

c. A vinda do “homem do pecado” é segundo a operação de


Satanás, com grandes sinais e milagres, todos eles falsos.
Igualmente, o anticristo é chamado mentiroso e enganador (2Ts 2:9;
1Jo 2:22; 2Jo 7).

No entanto, “homem do pecado” não somente é uma pessoa; é,


além disso, uma pessoa que pertence ao tempo do fim; daí que é
uma pessoa escatológica. Isto é claro segundo os versículos 3 e 8.

Na verdade, ao falar de uma linha longa de anticristos, estamos


fazendo justiça a um conceito bíblico (1Jo 2:18; cf. 2Ts 2:7). Além
disso, este conceito tem uma vantagem prática sobre a ideia de um
só anticristo final. O conceito linha — que existem anticristos em
cada época contra o qual a Igreja deve estar sempre em guarda —
provê tema muito útil e apropriado para sermões. Mas uma
cuidadosa leitura de 2

Tessalonicenses 2:3, 4, 8 e 9 deve ser suficiente para convencer a


qualquer um que aqui estamos diante de uma predição precisa
acerca de certa pessoa definida que há de receber sua sentença
quando Cristo voltar. Outras explicações podem ser filosóficas, mas
não são exegéticas.

Isto nos leva à próxima proposição:

(4) Não deve ser identificado com a linha de imperadores romanos.


Desta vez não posso estar de acordo com o Dr. B. B. Warfield,
robusto defensor da fé, cujos pontos de vista sobre temas teológicos
merecem o maior respeito. Sua opinião era que o homem do pecado
deve ser identificado com a linha de imperadores romanos como
Calígula, Nero, Vespasiano, Tito, e Domiciano (veja-se seu Biblical
and Theological Studies, [Estudos bíblicos e teológicos] editado por
S. C.

Craig, Filadelphia, 1952, p. 472). Mas, como já se tem demonstrado,


todo o contexto aqui em 2 Tessalonicenses 2 é escatológico. Tem
que ver com “o fim” da atual dispensação. O “homem do pecado” é
aquele que precede imediatamente a segunda vinda de Cristo
(versículo 3), e será

“morto pelo alento da boca de Cristo” quando o Senhor voltar


gloriosamente (versículo 8). Este fato é um obstáculo insuperável no

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 75

desenvolvimento da teoria do “imperador romano”. Também desfaz


as teorias discutidas mais abaixo, ou seja, que “o homem do
pecado” é Nero Redivivus, o papa, ou alguma vaga figura
mitológica.

(5) Não é Nero Redivivus (Nero voltado à vida).

Aqui não se fala da linha inteira de imperadores romanos nem


algum imperador de forma particular.

Assim, por exemplo, o anticristo não é Nero.

Foi Kern (em Tübinger Zeitschrift für Theologie, 2 [1839], p.

145ss.) quem reavivou a antiga teoria — Agostinho a conhecia! —:


«o homem do pecado é Nero Redivivus». Pensou que a ideia partiu
daquele muito difundido e supersticioso temor da igreja primitiva de
que o monstro de crueldade reaparecesse em qualquer momento. A
lenda quanto a Nero parece ter-se manifestado em duas formas.
Segundo a primeira, o imperador não morreu na verdade em 68
d.C., mas simplesmente se escondeu; segundo a segunda (que
chegou a prevalecer especialmente depois de 88 d.C.), Nero
realmente morreu, mas se levantaria outra vez.

Mas além do persuasivo argumento já apresentado (veja-se sob (4)


mais acima), a resposta mais terminante é esta, que aquela teoria,
segundo a qual quem quer que tenha escrito 2 Tessalonicenses 2

realmente quis dizer que Nero voltaria e que estava detido


temporariamente por Vespasiano e seu filho Tito, deve ser
considerada como “impossível de aceitar” por todo aquele que crê
numa Bíblia infalível, uma vez que Nero nunca voltou! Esta é a
resposta que damos a Kern, Baur, Weizäcker, Holzmann,
Schmeidel, e todos os seus seguidores.

Mas se “o homem do pecado” não é o imperador romano, então,


não poderia ser o Papa romano?

Isto introduz a próxima proposição:

(6) Não é o papa.

A ideia segundo a qual o anticristo é o papa remonta-se … ao


próprio Papa! Foi Gregório I (“o Grande”, 550–604 d.C.) quem disse
que

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 76

qualquer um que se adote o título de “sacerdote universal” é um


precursor do anticristo. Ele fez esta declaração numa epístola em
que denunciou as pretensões do “patriarca”, seu contemporâneo do
Leste. A ideia se manteve viva através da Idade Média e era
sussurrada aqui e ali toda vez que algum ocupante da cadeira papal
se mostrava arrogante e ambicioso de poder. Wyclif até escreveu
um tratado Concerning Christ and his Adversary, Antichrist
[Concernente a Cristo e seu adversário, o Anticristo]. Defendeu a
proposição “o Papa é o anticristo”, dando doze razões.
Naturalmente, a ideia foi acolhida com entusiasmo por muitos
líderes da Reforma. Assim, em Outubro 11, 1520, Lutero escreveu
que se sentia muito mais aliviado desde que se convenceu
inteiramente de que o Papa é o anticristo. As explicações marginais
da versão holandesa

“autorizada” ou “oficial” (Staten-Bijbel) de 1637 são muito


interessantes a respeito. (Em casa temos uma destas pesadas,
antigas Bíblias com tampas de madeira e dobradiças de bronze; a
nossa foi publicada em 1643 em “Amstelredam” = Amsterdã.). Às
vezes os comentários nos parecem quase jocosos. Tudo o que
pertence ao “homem do pecado”, “o anticristo”, “a besta que sai do
mar”, “a besta que sai da terra”

(Apocalipse 13), é aplicado de forma muito consistente ao Papa e


toda sua maquinaria. Assim, o fogo que a “besta” faz descer do céu
diz-se ser a representação do decreto de excomunhão de parte do
Papa. Os

“milagres” dos quais a Igreja Católica Romana se jacta, seus


sacramentos, e especialmente (entre estes) a missa, podem ser
todos achados no Santo Escrito. E o número “666” (Ap 13:18)
interpreta-se como significando “Lateinos”, uma vez que o Papa é a
cabeça da igreja latina!

Mas se isto nos parece um tanto jocoso, na verdade não o é menos


aquela declaração no prefácio da versão autorizada inglesa na qual
“o mais elevado e poderoso príncipe, Tiago, pela graça de Deus, rei
de Grã-

Bretanha, França, e Irlanda, Defensor da Fé, etc.” é reconhecido por

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 77

haver, por meio de um tratado, atirado “tal golpe ao Homem do


pecado (significando o Papa) que não poderá curar.”
A Confissão de Fé de Westminster fala de forma muito positiva
quanto a este aspecto: «Não há outra cabeça da igreja senão o
Senhor Jesus Cristo; não pode o Papa de Roma ser a cabeça dela
em nenhum sentido; mas é o anticristo, aquele homem do pecado e
filho da perdição, que se exalta na igreja contra Cristo e tudo o que
se chama Deus» (XXV, vi).

Mas embora a proposição “o Papa é o anticristo” continue ainda


sendo defendida, não acha apoio em 2 Tessalonicenses 2. É lógico
que se o homem do pecado for definitivamente uma pessoa
escatológica, não pode ser o primeiro Papa, nem o segundo, nem o
terceiro, etc., e tampouco pode ser o conceito coletivo de “o
papado”. É verdade, naturalmente, que qualquer homem (seja
ditador religioso ou político) que adote para si atributos e
prerrogativas que pertencem à deidade possui aspectos anticristãos.
Pode ser chamado “um anticristo”, um entre muitos dos precursores
do anticristo final. Em tal homem o mistério da iniquidade já estaria
em ação. Mas chamar o Papa o anticristo é contrário a toda sã
exegese. Embora nós como evangélicos com toda razão
deploramos toda idolatria, mariologia, superstição, e cultos de
tradição que se encontram na Igreja Católica Romana, males contra
os quais devemos nos expressar com crescente vigor e seriedade,
não temos direito de condenar tudo o que se acha naquela igreja.

Devemos nos esforçar em ser honestos e justos, não seja que


condenando os males de Roma fechemos nossos olhos aos muitos
e sérios males que estão entrando em todos os setores da igreja
protestante. A proposição,

“o Papa é o anticristo”, indesculpável — embora compreensível! —

mesmo durante os dias de intensa luta que marcaram o nascimento


do protestantismo, não é menos indesculpável no dia de hoje. E o
veredito de alguns, ou seja, que todos os que não estão prontos
para identificar o homem do pecado de 2 Tessalonicenses 2 com o
Papa nunca

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 78


experimentaram em seus corações e vidas a “justificação pela fé”,
impressiona-nos como julgamento sem caridade.

Em círculos liberais a tendência a interpretar os conceitos bíblicos à


luz de fontes não canônicas e mesmo pagãs tem feito também valer
seus direitos com relação ao termo agora em discussão. Isto nos
leva à proposição final:

(7) Não é o dragão Caos dos babilônios, nem tampouco deve ser
identificado com a perversão apócrifa e pseudepigráfica do termo

“Belial” .

Começando com o primeiro, é uma referência à épica babilônica da


criação com sua história da luta entre o dragão Caos, Tiamat, por
um lado, e o deus da luz, Marduque, por outro. Tem-se apontado
vez após vez, no entanto, que os elementos legendários que
caracterizam este relato inteiramente mitológico e “impossível”,
contrastam fortemente com a sóbria descrição que se encontra na
Bíblia referente aos grandes oponentes de Deus, Satanás e o
anticristo. Neste contexto, além disso, deve sempre distinguir-se
entre forma e conteúdo, entre um termo e o uso que dele se faz. É
certo, há autores inspirados que fazem uso de vez em quando da
terminologia de superstições populares antigas. Assim, o autor do
livro do Apocalipse introduz um dragão. Mas este dragão não é
Tiamat a quem Marduque parte em dois como a um peixe, depois de
ter esquartejado seu coração com um dardo. (Os críticos fazem
referência também a passagens como Sl 74:13; 89:10; Jó 41:1, mas
cada passagem deve ser interpretada à luz de seu próprio e
específico contexto e pano de fundo.)

Além disso, recentemente todo a intenção de derivar ensinos


bíblicos das fontes babilônicas, tentativa que nunca teve muito êxito
e que foi refutada mais de uma vez, recebeu outra sacudida com a
descoberta dos tabletes de Ras Shamra. Estes foram achadas em
1929 na antiga cidade Fenícia de Ugarit na costa da Síria. Estes
tabletes oferecem um tesouro de informação com relação aos
antecedentes cananeus do Antigo Testamento. Contêm diversas
variações sobre o tema da matança

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 79

de um dragão. Daí que agora os críticos começaram a revisar seus


pontos de vista mais uma vez, e estão dizendo que, afinal, a religião
de Israel pode ter sido influenciada mais diretamente pela de Canaã
que pela de Babilônia. Alguém se pergunta qual será a próxima
teoria que proporão?

Existe também outra teoria que está estreitamente relacionada e


que pretende derivar o conceito “homem do pecado” das perversões
apócrifas e pseudepigráficas do termo veterotestamentário Belial ou
Beliar (1Sm 2:12; 2Cr 13:7; cf. 2Co 6:15). Depois de um detalhado
estudo, G. Vos comenta o seguinte:

«Este recorrer à literatura apocalíptica e pseudepigráfica para


descobrir antecedentes da figura do anticristo não tem muito poder
convincente. Naturalmente, não se pode negar a priori que em
círculos judaicos, antes que as epístolas paulinas fossem escritas,
uma quantidade de folclore supersticioso estava em voga. Mas que
estas crenças populares de forma tão grosseira e rudimentar fossem
a fonte de onde surgiu a doutrina neotestamentária do anticristo, e
de onde esta possa obter explicação satisfatória é muito difícil crer
… Nenhum caminho conhecido e seguro nos guia até o passado
para descobrir o conceito de homem do pecado, exceto aquela via a
profecia de Daniel». 29

Tendo repassado os vários conceitos errôneos referentes à natureza


de “o homem do pecado” e da origem da ideia, pode-se agora
estabelecer 29 G. Vos, The Pauline Eschatology, Princeton, 1930,
pp. 103–105. Cf. Sib. Or., livro III; 4 Esdras 5:4, 6; Apoc. Bar., cap.
40; e Asc. Isa., cap. 4.

A respeito da teoria da “derivação babilônica” veja-se F. Delitzch,


Babel and Bible (tradução de Babel und Bibel), Nova York, 1903,
especialmente pp. 47–49; logo, E. Konig, Die moderne
Babylonisierung der Bibel, Stuttgart, 1922, especialmente pp. 22–26.

E para informação com relação aos textos do Ras Shamra veja-se


R. de Vaux, “Les textes de Ras Shamra et l ‘Ancient Testament”, RB
46 (1937), 526–565; René Dussaud, Les découvertes de Ras
Shamra et l ‘Ancien Testament, Paris, segunda edição, 1941, vol. I;
A. Lods, “Quelques remarques sur les poémes mythologiques de
Ras Shamra et leurs rapports avec l’Ancien Testament”, RHPR 16

(1936), 112–117; Julian Obermann, Ugaritic Mythology, New Haven,


1948; H. F. Hahn, Old Testament in Modern Research, Filadélfia,
1954, especialmente pp. 110–117. Este autor assinala que os
aspectos distintivos da religião do Antigo Testamento eran de muito
maior significado que aqueles outros que tinha em comum com
outras religiões, e que até aqueles elementos que poderiam ser
chamados derivados tinham sido transformados em veículos para
crenças distintivas.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 80

positivamente que o uso que faz o apóstolo do conceito possa


rastrear-se a um livro canônico. É, sem dúvida, verdade, como os
conservadores mantiveram sempre, que muitos dos aspectos da
descrição de Paulo referente ao grande e final príncipe da maldade
se derivam do livro de Daniel:

(1) “O homem do pecado”, cf. Daniel 7:25; 8:25.

(2) “o filho da perdição”, cf. Daniel 8:26.

(3) “aquele que se opõe”, cf. Daniel 7:25.

(4) “e se exalta contra tudo o (que é) chamado Deus ou recebe


adoração”, cf. Daniel 7:8, 20, 25; 8:4, 10, 11.

(5) “de modo que se senta no santuário de Deus, proclamando-se


ser Deus”, cf. Daniel 8:9–14.
Isto não nos deve causar admiração, uma vez que “o chifre
pequeno” de Daniel 7, aquele que cresceu depois dos outros dez, é
o anticristo, e “o chifre pequeno” de Daniel 8, o qual saiu de um dos
quatro chifres notáveis, é Antíoco Epifânio, o mais conspícuo
precursor do anticristo, aquele que profanou o templo de Jerusalém
erigindo um altar pagão sobre o altar do sacrifício, e logo oferecendo
sacrifícios sobre ele (o qual foi um “horror espantoso” aos olhos de
todo verdadeiro crente).

Além disso, em Mt 24:15 (cf. Mc. 13:14) “a abominação desoladora”


(“horror espantoso”) de que fala Jesus deriva-se de Daniel 11:31;
12:11 (talvez não diretamente de Dn 9:27). A história, em certo
sentido, se repete. Melhor dizendo: a profecia se realiza em
múltiplos cumprimentos. O pensamento básico é sempre o mesmo.
A cidade de Deus e o santuário são profanados, quer por Antíoco
Epifânio e suas sacrílegas ofertas (Dn 8:9–14; cf. “Gogue” em Ez 38
e 39), pelos exércitos romanos e suas normas idólatras (Lc 21:20;
Mc. 13:14); ou finalmente pelo próprio anticristo.

Agora com relação ao anticristo final tal como o descreve Paulo, a


passagem que estamos tratando (2Ts 2:3b, 4) declara o seguinte:

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 81

Ele é “o homem do pecado” (um semitismo), isto é, o homem em


quem se encarnará, por assim dizer, a oposição à lei de Deus, a
própria personificação da rebelião contra as ordenanças de Deus.

É também “o filho da perdição (outro semitismo), o Judas final, veja-


se C.N.T. sobre João 17:12. Cf. a observação de Davi a Natã, “o
homem que fez isso é filho de morte” (2Sm 12:5; isto é, certamente
deve morrer); e cf. também Mateus 23:15; “filho do inferno”. O
homem do pecado é descrito aqui como alguém absolutamente
perdido, destinado à perdição. Contraste-se com “filhos de luz” 1
Tessalonicenses 5:5.

Ainda mais, é descrito como “aquele que se opõe”. Esta palavra


(ἀντίκειμαι, aqui ὁ ἀντικείμενος) acha-se oito vezes no Novo
Testamento (Lc 13:17; 21:15; 1Co 16:9; Gl 5:17; Fp 1:28; 2Ts 2:4;
1Tm 1:10; 1Tm 5:14). usa-se como verbo (finito) ou como
substantivo particípio (como aqui). O homem do pecado é o
adversário de Deus, da lei de Deus, do povo de Deus, etc. Como tal,
lembra-nos imediatamente o seu mestre, Satanás, que é “o grande
adversário”.

Em relação muito estreita com esta atividade opositora ressalta o


fato de que este adversário que aparecerá no tempo do fim “se
exalta contra tudo o (que é) chamado Deus ou recebe adoração”.
Em sua imprudente audácia e feroz insolência se exalta a si mesmo
(ὑπεραιρόμενος) não só contra o Deus verdadeiro que Se revelou
em Jesus Cristo e contra os assim chamados deuses, mas sim
também contra todos os objetos sagrados, e contra tudo o que se
relacione com cultos sagrados. Refere-se provavelmente a objetos
tais como templos, lugares de adoração. Arde em ira contra todos
eles. Reconhece somente um deus ( ele o soletraria com maiúscula:
Deus), ou seja, ele mesmo! Daí que se senta no santuário (o termo
ναός em seu sentido primário, diferente de ἰερόν, refere-se
geralmente ao santuário antes mesmo que a todo o complexo
arquitetônico) de Deus, ou seja, na igreja (veja-se 1Co 3:16; 6:19;
2Co 6:16; Ef 2:21; e veja-se C.N.T. sobre Ef 2:19–22), uma vez que
o termo ναός usa-se aqui claramente de forma metafórica. Adota-se
autoridade sobre o povo de Deus. Naturalmente, eles não
reconhecerão

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 82

este violento usurpador, e recusarão render-lhe homenagem. A


consequência será grande tribulação para eles (Mt 24:15; 21, 22,
29).

“Posto onde não deve estar”, proclama ou publicamente declara ser


o próprio Deus. No grego daquela época o verbo (ἀποδείκνυμι) era
usado para proclamar uma designação para um ofício público.
Somos informados, por exemplo, «A expectação e esperança do
mundo, Nero!
foi declarado (ἀποδέδεικται) imperador» (M.M., p. 60), cita que
também é exemplo do culto ao imperador. Mas mesmo Antíoco
Epifânio, ou seja,

“Antíoco (o) ilustre (Deus)” ou “Antíoco (o) Deus que se revela”, ao


demandar homenagem divina, mas sem desconhecer inteiramente a
Zeus, não foi tão blasfemo como o será o final homem do pecado,
uma vez que este último reconhecerá somente uma deidade, ou
seja, ele mesmo, se sentará ( não meramente colocará sua imagem)
no santuário de Deus, e demandará adoração divina somente para
si.

É instrutivo observar que a explicação que dei com relação à


passagem do “homem do pecado” está em harmonia com a que
recebeu o apoio dos primeiros escritores eclesiásticos. Eles o
entenderam como uma profecia referente a uma pessoa definida
que viveria na terra no final da história e que seria totalmente
derrotada por Cristo em Sua volta.

A igreja não devia jamais ter-se afastado desta interpretação. Eis


aqui algumas citações:

O Didaquê (“Ensino dos doze apóstolos”)

«… À medida que aumenta o pecado odiar-se-ão uns aos outros e


perseguirão e trairão uns aos outros, e então aparecerá o
enganador do mundo como um Filho de Deus, e fará sinais e
maravilhas … E então aparecerão os sinais … primeiro, o sinal
estendido no céu, logo o sinal do som da trombeta, e terceiro a
ressurreição dos mortos» (XVI. iv–vi).

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 83

Justino Mártir, Diálogo com o Trifo

«Que homens estúpidos! uma vez que não puderam entender o que
foi ensinado mediante todas estas passagens, ou seja, que foram
anunciados dois adventos de Cristo, o primeiro, no qual é mostrado
sofrendo, sem glória, sem honra, sujeito à crucificação, e o segundo,
no qual virá dos céus em glória, quando o homem da apostasia, que
fala coisas arrogantes contra o Altíssimo, tentará atrevidamente
perpetrar atos ilegais contra nós os cristãos» (CX).

Agostinho, De Civitate Dei (“Sobre a Cidade de Deus”) Ao comentar


sobre 2 Tessalonicenses 2:1–11 diz: «Não resta dúvida que o que se
acha aqui se refere ao anticristo e ao dia do juízo, ou como Paulo o
chama, o dia do Senhor …» (XX. xix).

No mesmo capítulo assinala que ainda em seus dias a interpretação


que nos afasta do único anticristo final para uma grande multidão de
anticristos já estava começando a ser popular; também acrescenta
que a teoria de Nero Redivivus, em suas duas formas, é muito
forçada.

Tendo já discutido a natureza do homem do pecado de forma


extensa, podemos resumir a ideia expressa nos versículos 3 e 4
como segue:

O dia da gloriosa vinda de Cristo não virá até que a apostasia tenha
chegado a ser um fato e o homem caracterizado por um total
desprezo pela lei, homem que com toda certeza está sob
condenação, seja revelado, de modo que tanto ele mesmo como
seu programa de ação sejam visíveis a todos, e o véu que agora o
esconde da vista (porque até aqui ele é somente uma ideia na
mente de Satanás) tenha sido aberto.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 84

2TS 5–8A - SEU ENCOBRIMENTO PRESENTE E FUTURA


REVELAÇÃO

5. Por isso, os tessalonicenses não devem deixar-se enganar,


pensando que o dia do Senhor está às portas. Ainda mais, não têm
desculpa para pensar assim. Paulo diz: Não vos lembrais que,
estando ainda convosco, eu vos dizia estas coisas?
Esta é uma suave repreensão. É como se Paulo dissesse: «Se vós
tivésseis refletido com mais frequência e mais seriamente sobre o
que tantas vezes vos repeti estando ainda convosco, não estaríeis
tão confusos quanto a este assunto, e não teríeis chegado a estar
tão agitados e perturbados». Observe-se: “Eu vos dizia” (não
meramente, “Eu vos disse”). Evidentemente a doutrina concernente
a assuntos tais como a apostasia, o homem do pecado, a vinda de
Cristo, e o rapto tinha recebido uma atenção mais que regular na
pregação aos tessalonicenses.

O pronome singular no verbo (“Eu vos dizia” e não “nós vos


dizíamos”) mostra que embora Silas e Timóteo estão intimamente
associados com Paulo ao escrever a epístola, como também o
estiveram ao levar o evangelho a Tessalônica, é, não obstante,
Paulo aquele que em ambas as atividades é considerado como o
espírito diretor.

6, 7. Paulo continua: E vós sabeis o que agora o está retendo,


para que ele seja revelado em seu tempo apropriado. Porque o
mistério da iniquidade já está operando, (mas como mistério)
somente até que aquele que agora (o) retém, seja tirado do
meio. 30

Gramaticalmente falando, pode-se traduzir também: “E agora vós


sabeis o que o está retendo”. Surge então a pergunta: “Modifica
agora ao particípio (retendo) ou ao verbo (vós sabeis)?” A lógica de
toda a passagem (cf. versículo 7 com versículo 6) parece apontar no
sentido de vinculá-lo com o particípio. O contraste parece estar
entre os dois conceitos “agora retido ou refreado” e “então
revelado”.

30 Ou: “somente (há) um que agora o retém, até que seja tirado do
meio”. Essencialmente não há diferença; o significado resultante é o
mesmo.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 85


Entendemos facilmente que “o mistério da iniquidade” já esteja em
operação. Até nos dias de Paulo a rebelião contra Deus e Suas
ordenanças se achava presente no mundo. No entanto, não era
evidente de que algum dia este espírito de iniquidade se encarnaria
em “o homem do pecado”. Isto era ainda um mistério (cf. Rm 11:25;
1Co 15:51; Ef 5:22); ou seja, uma verdade desconhecida à parte da
divina revelação especial. Na ímpia oposição ao evangelho, que
mostraram alguns dos que conheciam o caminho, Paulo viu, como
resultado de divina revelação e iluminação, um claro sinal daquele
sinistro movimento que algum dia culminaria no reinado do
anticristo. O que o apóstolo escreve pode ser comparado com a
declaração de João, dizendo que o espírito do anticristo já está no
mundo, e que agora muitos anticristos se levantaram (1Jo 4:3; 2:18).

muito mais difícil de responder é a pergunta: “O que significa o que


ou aquele que agora o está retendo” de ser revelado como “o
homem do pecado”?

Para nos aproximar corretamente desta pergunta, é necessário


acima de tudo determinar a tradução correta. Nas obras de
comentaristas o verbo em questão (κατέχω) foi traduzido em três
formas diferentes: a.

reter ou refrear, b. sujeitar ou apegar, e c. dominar ou governar.

Começando pela última, o significado poderia chegar a ser:

«E o que agora está dominando (quer dizer, o mistério da


iniquidade) vós sabeis, para que ele (Cristo) seja revelado em seu
tempo apropriado. Porque o mistério da iniquidade já está operando,
somente até que aquele que agora domina (quer dizer, Satanás)
seja tirado do meio».

Podemos rejeitar esta imediatamente. Não somente é difícil de


ajustar este significado ao contexto presente, mas também: embora
o verbo apareça mais ou menos com frequência no Novo
Testamento, nem uma vez (em qualquer dos outras passagens do
Novo Testamento) tem este significado ( dominar).
2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 86

O segundo significado ( sujeitar, apegar) e o primeiro ( reter, refrear)


estão estreitamente relacionados, e enfim é provável que cheguem
ao mesmo resultado na interpretação de toda a passagem.

Recorrendo a passagens tais como Jó 7:12 (colocando guarda


sobre um monstro marinheiro), Apocalipse 20:1–3 (atando o dragão
por mil anos), e passagens dos apócrifos, pretende-se defender o
ponto de vista de que o homem do pecado é aqui comparado com
um ser mitológico (um dragão ou um monstro marinheiro) o qual é
retido por agora. No entanto, deve ter-se em mente que o “dragão”
no Apocalipse 20 é um símbolo, e não representa o instrumento de
Satanás, mas sim o próprio Satanás. E

mesmo assim o significado resultante do símbolo é o refreamento


de Satanás, de modo que não possa enganar mais as nações até
que os mil anos sejam cumpridos. Portanto, uma apelo a Apocalipse
20, se for legítimo, pareceria apoiar a tradução reter, refrear tão
facilmente como apegar, sujeitar. Algo parecido pode ser dito no que
respeita à passagem de Jó 7:12. E quanto às passagens dos
apócrifos, estas oferecem muito pouco que seja de algum valor a
respeito. Além disso, se o homem do pecado está sendo sujeito, é
com um propósito, propósito que no contexto presente (em vista do
que vem a seguir imediatamente nos versículos 8 e 9) é refreá-lo no
momento para impedir que seja revelado.

No Novo Testamento os vários significados do verbo podem ser


classificados como segue (embora no que respeita a alguns existe
certa dúvida):

(1) possuir, ter, sujeitar: 1Co 7:30; 2Co 6:10.

(2) tomar posse de: Lucas 14:9.

(3) apegar, guardar: Lucas 8:15; Romanos 7:6 (mas alguns


classificariam isto sob o quarto cabeçalho); 1Co 11:2; 15:2; 1Ts 5:21
(veja-se sobre essa passagem); Hb 3:6, 14; 10:23. É possível que o
sentido da palavra conforme usada em Atos 27:40 não esteja muito
afastada deste. Eles “dirigiram-se para” (ou foram rumo a) a praia.

(4) reter, refrear, deter: Lucas 4:42 (a multidão procurava detê-lo,


para lhe impedir que se fosse deles); Rm 1:18 (homens ímpios que
detêm

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 87

ou suprimem a verdade); Filemom 13 (Paulo teria desejado reter


Onésimo). No contexto presente este significado tem excelente
sentido.

Tem abundante apoio nos pergaminhos (veja-se M.M., pp. 336,


337).

Adotando o significado (4) como o mais natural no contexto


presente, achamo-nos face a face com o problema de identificar o
que retém. Neste ponto, no entanto, os tessalonicenses estavam
mais adiantados que nós em seu conhecimento da escatologia. Eles
sabiam.

Nós não. Agostinho em seus dias confessou francamente que


mesmo fazendo grandes esforços não se achava em condições de
descobrir o que o apóstolo quis dizer (Sobre a Cidade de Deus. XX.
xix).

Algumas interpretações mostram seu erro mesmo à primeira vista


(tais como, “Paulo”, “Deus”, “o Espírito Santo”). Deus ou o Espírito
Santo não são “tirados do meio” (expressão que apesar das
objeções que se apresentaram, é bom equivalente do grego ἐκ
μέσου γίνεσθαι); cf.

também Cl 2:14.

De todas as teorias propostas até agora, a que parece ter mais peso
a seu favor é aquela segundo a qual aquele que retém é “o poder do
bem ordenado governo humano”, “o princípio da legalidade
contraposto ao da ilegalidade” (veja-se o Comentário de Ellicott
sobre esta passagem).

Segundo este ponto de vista Paulo quer dizer que enquanto a lei e a
ordem prevalecerem, o homem do pecado não pode aparecer na
cena da história com seu programa de injustiça, blasfêmia, e
perseguição sem precedentes. Em favor deste ponto de vista, note-
se o seguinte: a. De algum modo o contexto a seu favor: “o homem
do pecado”

está sendo detido pelo domínio da lei.

b. Explica como Paulo pode falar ao mesmo tempo de “o que retém”


e “aquele que retém”. Pense-se no império e o imperador, na justiça
e o juiz, na lei e aquele que a faz cumprir.

c. Isto (ou algo assim) é o ponto de vista mais frequentemente


expresso pelos pais da igreja. Tertuliano, comentando sobre esta
passagem, declara: «Que obstáculo há senão o estado romano?» (
On the Resurrection of the Flesh, XXIV).

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 88

d. Está a seu favor o fato de que Paulo se sentia orgulhoso de sua


cidadania romana, que lhe foi útil vez após vez, até aqui mesmo em
Corinto onde esta epístola foi escrita (At 18:12–17). Além disso, num
bem conhecido capítulo de outra epístola fala do poder do estado
romano como “ministro de Deus para teu bem”, e dos governantes
como “um terror não contra a boa, mas sim da má conduta” (Rm
13). 31 Podemos dizer sem temor de errar, portanto, que o apóstolo
considerou o governo e seus administradores como um freio para o
mal.

e. É uma teoria razoável também dado o fato de que em certo


sentido nem a lei romana nem sua ordem morreram quando o
império caiu. No mundo civilizado de hoje ainda está em vigência.
No entanto, quando a estrutura básica de justiça desaparece, e
quando os juízos falsos e as confissões fraudulentas chegam a ser
a norma do dia, o cenário se acha preparado para a revelação do
homem do pecado.

A teoria segundo a qual Miguel32 ou algum outro anjo é aquele que


ata, refreia ou retém o anticristo (os que a favorecem apelam a
passagens tais como Dn 10:13 e Ap 20:1–3) não explica como tal
anjo pode ser chamado ao mesmo tempo “aquele que” e “o que”
retém. No entanto estas duas últimas teorias mencionadas — a
saber, a. que o que retém é a lei e a ordem e os que a fazem
cumprir, e b. o que retém é um anjo —

poderiam não ser tão díspares como aparentam sê-lo. Porventura


as disposições dos governantes não são influídas pelos anjos?
(veja-se Dn 10:13, 20).

Repetimos, não obstante, que o ponto de vista que consideramos


como o melhor que se tenha oferecido até agora, segundo nossa
opinião, 31 Alguns até têm descoberto um jogo de palavras no fato
de que Cláudio era o imperador reinante quando isso foi escrito;
assim que eles conectam Cláudio com o verbo claudo, fechar, parar,
refrear, fazendo de Cláudio aquele que refreia! Isto nos dá a
impressão de ser muito forçado.

32 V. Hepp, De Antichrist, p. 102, criticado por A. Pieters, op. cit., p.


197.

W. Neil (in The Moffat New Testament Commentary) é da opinião de


que aquele que retém pode ser talvez Miguel, ou Elias, “mais
provavelmente alguém ou algo de algum modo” (The Epistle of Paul
to the Thessalonians, Nueva York, 1950, pp. 172, 173).

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 89

bem poderia não ser o correto. Não há certeza alguma quanto a


este ponto.
Como resultado, o sentido de toda a passagem (versículos 6 e 7)
parece ser o seguinte: Enquanto Satanás está perfeitamente
informado de que ele mesmo não pode encarnar-se, no entanto,
gostaria de imitar a segunda pessoa da Trindade também neste
aspecto até onde fosse possível. Deseja ardentemente a presença
de um homem sobre o qual possa ter controle total, e que cumprirá
sua vontade assim como Jesus cumpriu a vontade do Pai. Deve ser
um homem de talentos sobressalentes. Mas até o momento o diabo
fracassou em sua intenção de pôr este plano em operação. Algo e
alguém está sempre “retendo” o homem do pecado, necessário
instrumento do enganador. Isto, naturalmente está ocorrendo sob
direção divina. Daí que, no momento, o máximo que Satanás pode
fazer é promover o espírito da iniquidade. Mas isso não o satisfaz. É
como se ele e seu homem do pecado estivessem aguardando o
tempo. No momento divinamente decretado (“o tempo apropriado”)
quando, em castigo pela cooperação voluntária dos homens com
este espírito, o designado como “alguém” e “algo” que agora retém
seja tirado, Satanás começará a levar a cabo seus planos: 8. E
então será revelado o sem lei. Este “então” está em contraste com
o “agora” do versículo 6: “agora” “o sem lei” é retido, mas “então”

será revelado. “O sem lei” é o mesmo que “o homem do pecado”

introduzido no versículo 3, ou seja, o antagonista final, aquele que


abertamente desafia todas as ordenanças de Deus, o anticristo.
Quando o tempo apropriado chegar, o programa de Satanás será
realizado de forma visível. O mistério será substituído pelo homem.
O sem lei aparecerá na terra e será revelado em suas palavras e
atos.

Para incentivar os crentes, que caso contrário poderiam estar cheios


de injustificável alarma, Paulo imediatamente acrescenta: a quem o
Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca, e derrotará
totalmente pela manifestação de sua vinda.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 90


Não haverá um prolongado conflito, com a vitória aparentemente
alternando entre o sem lei e Cristo, este “round” a favor de Satanás,
o outro para Cristo. Este assunto será liquidado num instante. O
Senhor Jesus (veja-se sobre 1Ts 1:1) de forma muito breve e
decisiva porá fim ao anticristo e seu programa. Toda a descrição é
simbólica. As duas cláusulas são paralelas, não significando isto
necessariamente que as duas são completamente idênticas en
significado. A primeira cláusula enfatiza o que acontecerá ao próprio
sem lei: será morto (o que neste contexto foi interpretado como
significando que será castigado com morte eterna, mas a ideia de
receber primeiro morte física não deve excluir-se). O Senhor
simplesmente soprará sobre ele, tão veloz será sua destruição. A
segunda cláusula indica também o que lhe há de acontecer, talvez
com a ideia adicional: com relação ao seu programa de atividades.

Também a este respeito será “abolido”, “completamente derrotado”,

“arruinado”, “inutilizado”, “tornado inoperante ou inativo” (καταργέω;


verbo usado por Paulo com muita frequência e quase confinado só a
ele no Novo Testamento; no que respeita ao grau particular de
significado na presente relação, veja-se especialmente passagens
tais como Rm 3:31; 4:14; 1Co 1:28; Gl 3:17; Ef 2:15; 2Tm 1:10). Em
relação paralela a

“sopro de sua boca” está “manifestação de sua vinda”. A própria


aparência (ἐπιφάνεια, epifania, que em outros lugares do Novo
Testamento somente se acha nas pastorais: 1Tm 6:14; 2Tm 1:10;
4:1, 8; Tt 2:13) da vinda de Cristo (Parousia; veja-se sobre 1Ts
2:19), o primeiro brilho do advento, será suficiente para arruinar o
sem lei, para inutilizá-lo.

O aspecto total, veloz, e repentino da derrota do anticristo descreve


aqui em linguagem simbólica. O caráter decisivo de sua queda é o
pensamento único e central. Simplesmente pelo sopro e aparência
de Cristo o “homem do pecado” será derrotado. Não se deve
procurar tirar mais desta passagem. Por exemplo, não se deveria
começar a embelezar a interpretação argumentando que “o sopro
de sua boca (de Cristo)”
significa a Palavra de Deus, que esta palavra é sempre eficaz, etc.
Se há

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 91

necessidade de maior comentário deve ler-se Isaías 11:4 e


Apocalipse 1:16. 33

2TS 2:9, 10A - SUA LIGAÇÃO COM SATANÁS E COM O PODER


DE

SATANÁS PARA ENGANAR

9, 10. Tendo consolado os leitores com o pensamento da decisiva


intervenção do Senhor Jesus ao dever julgar, de modo que a
passagem relacionada com o final antagonista perde todo seu terror
para os que creem, Paulo dá agora uma mais ampla descrição do
caráter do sem lei e de sua atividade. Poderia dizer-se que a
descrição já começada no versículo 4 continua aqui; mas com a
seguinte diferença: enquanto que o versículo 4 descreveu a relação
do anticristo com o reino divino, os versículos 8 e 9 expõem sua
relação com o reino do mal: (aquele) cuja vinda é segundo a
operação de Satanás, acompanhada de todo poder e sinais e
prodígios mentirosos e por todo engano que se origina na
injustiça para os que estão perecendo, porque não aceitaram o
amor pela verdade para que fossem salvos.

A vinda ou parousia do sem lei (para o significado do termo veja-se


sobre 1Ts 2:19) está (presente profético: sê-lo-á certamente) em
completo acordo com a poderosa atividade de Satanás, seu senhor.

Aquela “operação de Satanás” será a base de comparação. Daí que


esta vinda será acompanhada por (ou: investida com) todo poder e
sinais e prodígios; ou seja, haverá grandioso desdobramento de
poder (δύναμις, cf. dinamite); haverá sinais (σημεῖα), façanhas
sobrenaturais que apontarão para quem os realiza, ou seja, o
anticristo controlado pelo diabo (veja-se C.N.T. sobre Jo 2:11); e
prodígios ou maravilhas 33 Sobre o última passagem comentei da
seguinte maneira: “Não destrua a unidade do símbolo. Por exemplo,
não interprete a espada aguda de dois fios que procede da boca de
Cristo como se fosse simbólica das doces e ternas influências do
evangelho em sua missão de conversão. Observe-se que em Ap
2:16 lemos: ‘E farei guerra contra eles com a grande espada de
minha boca.’ Isto está dirigido aos que recusam arrepender-se” (
Más que vencedores, 1977, p. 61).

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 92

(τέρατα), as mesmas temíveis façanhas vistas agora sob o aspecto


de seu caráter insólito e seu efeito sobre os que as presenciam. Mas
todo este desdobramento (poder, sinais, prodígios) será produto da
falsidade, do desejo de enganar. 34 Por isso segue, “e por todo
engano que se origina na injustiça”. O substantivo engano é usado
por Paulo também em Cl 2:8

(“filosofias e ocas sutilezas”; e veja-se o verbo composto, derivado


da mesma raiz, em 2Ts 2:3). O engano será inspirado pela injustiça.
Isto não nos deve surpreender, uma vez que o anticristo recebe sua
energia do próprio diabo. Cf. C.N.T. sobre João 8:44.

2TS 2:10B-12 - SEUS SEGUIDORES ENDURECIDOS PELO


PECADO E

DESTINADOS AO INFERNO

Agora, a vinda do final antagonista, com seu poder mentiroso, seus


sinais e maravilhas, embora observado por crentes e não-crentes,
tem seu efeito enganador sobre os que estão perecendo (quer dizer,
os que então estiverem perecendo); cf. 1Co 1:18; 2Co 2:15; 4:3. A
causa pela qual perecem não está em Deus mas neles mesmos.
Perecem porque35 não aceitaram (tempo passado olhado do ponto
de vista dos dias imediatamente anteriores ao juízo final) o amor
pela verdade.

Mas o que significa a expressão “o amor pela verdade”?


Respondemos como segue:

Ao ser proclamado o evangelho, insiste-se com se os ouvintes a


aceitar a Cristo com todos os seus benefícios. Tais benefícios não
são 34 Não existem boas razões para restringir “da falsidade” no
nome que imediatamente lhe precede a dois dos três nomes. É
verdade que poder é singular, e que sinais e prodígios são plurais,
mas os três termos estão coordenados por “… e … e …”
Evidentemente constituem um grupo.

35 Van Leeuwen assegura que ἀνθ ὤν ocorre com pouca frequência


na LXX ( Kommentaar op het Nieuwe Testament, vol. X, p. 435).
Ocorre umas oitenta vezes, no entanto, e é o equivalente grego de
mais de quinze palavras ou frases hebraicas com significados tais
como: por causa de, porque, conforme, por quando que, depois
disso, até onde, como resultado do fato que, em troca do fato que,
como resultado de, tantas vezes como. O significado predominante
é porque, isto é, em troca do fato que. É dada uma coisa em lugar
de outra.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 93

somente objetivos, como o céu, a ressurreição do corpo, etc., mas


também subjetivos, como o amor e a esperança. Os ouvintes que
perecem chegam a este destino porque rejeitaram o que lhes foi
solicitado aceitar, neste caso: “o amor pela verdade” (genitivo
objetivo) como está Cristo (a verdade evangélica). O propósito de
sua aceitação teria sido “para que fossem salvos”. É verdade que
nenhum homem pode aceitar “o amor pela verdade” em suas
próprias forças. No entanto, esta não é a ênfase aqui. O que aqui se
sublinha é a culpa do homem. Quando o homem perde-se, é
sempre sua própria culpa, jamais a de Deus.

11. E por esta razão Deus lhes envia uma enganadora força
para que criam na mentira. Ou seja, os homens do tempo do fim,
que se endurecerem contra a fervorosa exortação para arrepender-
se e receber o amor pela verdade, sofrerão o castigo de ser
endurecidos. Deus lhes envia (quer dizer, na verdade lhes enviará)
uma «energia de (isto é, para) erro». Será um poder que agirá
poderosamente dentro deles, afastando-os ainda mais, de modo
que crerão na mentira do anticristo. Veja-se C.N.T.

sobre João 12:36b–43.

Deus é amor. Não é um monstro cruel que deliberadamente e com


íntimo deleite prepara pessoas para eterna condenação. Ao
contrário, seriamente adverte, proclama o evangelho, e declara o
que acontecerá se pessoas crerem, mas também o que lhes virá se
não crerem. Ainda mais, insiste com eles para aceitar o amor pela
verdade. Mas quando as pessoas por si só e depois de repetidas
ameaças e promessas O rejeitam e desprezam Suas mensagens,
então — e somente então — os endurece a fim de que os que não
quiseram arrepender-se fiquem incapacitados para arrepender-se
mas aptos para crer na mentira que “o homem do pecado”

é Deus, o único Deus, e que todo mundo deve obedecer-lhe.

Quando Faraó endurecia seu coração (Ex. 7:14; 8:15, 32; 9:7), Deus
endurecia o coração de Faraó (Ex. 9:12). Quando o rei de Israel se
enchia de ódio contra os verdadeiros profetas de Deus, então o
Senhor permitiu que fosse enganado colocando um espírito de
mentira na boca de outros profetas (2Cr 18:22). Quando os homens
praticam a impureza, Deus

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 94

entrega nas concupiscências de seus corações à imundícia (Rm


1:24, 26).

E quando teimosamente recusam reconhecer a Deus, ele lhes


entrega finalmente a um estado mental sujo e à uma conduta impura
(Rm 1:28).

12. Assim será no tempo do fim. Deus enviará uma enganadora


força aos corações dos que teimosamente recusaram aceitar Sua
verdade redentora; e isto, para que sejam condenados todos os
que não creram na verdade, pelo contrário, deleitaram-se na
injustiça.

Isto tem referência ao juízo final. Então todos os enganados serão


julgados, quer dizer, condenados (quanto ao verbo κρίνω veja-se
C.N.T.

sobre Jo 3:17). Esta sentença de condenação será justa e imparcial,


uma vez que estes sobre os quais é pronunciado, longe de entregar-
se à redentora verdade de Deus, acharam seu deleite
(εὐδοκήσαντες, veja-se sobre 2Ts 3:1) no que é francamente oposto,
a saber, na injustiça (Veja-se sobre o versículo 9 mais acima). Tal
antítese entre verdade e injustiça (cf. Rm 1:18; 2:8; 1Co 13:6) indica
que não se pode separar o intelecto humano da vontade e as
emoções. Quando uma pessoa realmente aceita a verdade de
Deus, praticará a justiça; quando não o faz, antes, aceita a mentira
do anticristo (ser neutro é impossível!), se deleitará na injustiça.

El verdadero creyente jamás debe temer pertenecer a la minoría.

Sólo el remanente será salvo. Todos los demás serán condenados.

2TS 2:13-16 - CONTRASTE ENTRE O DESTINO DO INÍQUO E


SEUS

SEGUIDORES, POR UM LADO, E O DOS LEITORES, POR


OUTRO.

2:13, 14. Mas estamos na obrigação de dar graças a Deus


sempre por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos
escolheu desde o princípio para salvação por meio da
santificação pelo Espírito e a crença na verdade; a qual
(salvação) também vos chamou por meio de nosso evangelho,
com o propósito de obter a glória de nosso Senhor Jesus
Cristo.

Contrastando (note-se δε) à condenação que aguarda os seguidores


de Satanás se acha a salvação entesourada para os filhos de Deus.
Esta é

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 95

a ideia que se desenvolve na presente passagem, cheia de ricos


conceitos.

No entanto, como todos estes já foram discutidos, e alguns de forma


muito ampla, bastará fazer uma referência ao lugar onde se acha
este material:

Sobre “estamos na obrigação de dar graças a Deus sempre por vós”

veja-se 2Ts 1:3.

Sobre “irmãos amados pelo Senhor” cf. 1Ts 1:4.

Sobre “porque Deus vos escolheu” veja-se 1Ts 1:4.

Sobre “salvação” veja-se 1Ts 5:8, 9.

Sobre “santificação” veja-se 1Ts 4:3, 7.

Sobre “crença” veja-se 2Ts 1:3, 4, 11; 1Ts 1:3.

Sobre “verdade” veja-se 2Ts 2:10, 12.

Sobre “chamado” veja-se 1Ts 1:5; 2:12; 4:7; 5:24; 2Ts 1:11.

Sobre “com o propósito de obter” veja-se 1Ts 5:9.

Sobre “glória” veja-se 1Ts 2:12.

Sobre “nosso Senhor Jesus Cristo” veja-se 1Ts 1:1.

Com base nos comentários destes vários conceitos e do próprio


contexto aqui em 2 Tessalonicenses 2:13, 14, poderíamos agora
parafrasear o pensamento da presente passagem como segue:
«Nós — Paulo, Silas, e Timóteo — não podemos menos que dar
graças por vós incessantemente, irmãos na fé (aqueles que são o
objeto do amor especial de Deus), porque em seu soberana e
imutável eleição, Ele vos escolheu desde o princípio para salvação
— a qual negativamente falando, é o resgate da culpa, corrupção e
castigo pelo pecado; positivamente, a entrada à herança reservada
para os filhos de Deus —; salvação que chega a ser vossa
possessão mediante a obra do Espírito Santo, quer dizer, mediante
a santificação — processo que vos move progressivamente a ser
desatados do mundo e aderidos a Cristo até que Sua imagem seja
completamente formada em vós — e mediante vosso ativo, vital
consenso ao corpo da verdade redentora revelada em Cristo; para
cuja final e completa salvação Deus também vos chamou, tendo
aplicado eficazmente aos vossos corações o evangelho que vos

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 96

pregamos e que vos rogamos aceitar, a fim de que vós possais um


dia participar da glória de nosso Senhor Jesus Cristo».

Aceitamos a leitura, “Deus vos escolheu desde o princípio” (ἀπʼ

ἀρχῆς) e não, “Deus vos escolheu como primícias” (ἀπαρχήν).


Ambas as versões têm boas razões a seu favor, e o conceito de
crentes como

“primícias” é perfeitamente bíblica (Tg 1:18; Ap 14:4)36 e também


paulina (Rm 8:23; 11:16; 16:5; 1Co 15:20, 23; 16:15). No entanto,
Paulo nunca a usa em conexão com a ideia de eleição ou escolha.
Por outro lado, a ideia de que Deus escolheu os seus (ou decretou
algo) “antes dos séculos” (1Co 2:7), “dos séculos” (Cl 1:26), “antes
da fundação do mundo” (Ef 1:4) é definitivamente paulina. A isto
corresponderia a tradução “vos escolheu desde o princípio” (isto é,
desde a eternidade) aqui em 2 Tessalonicenses 2:14. Além disso o
pensamento expresso aqui, ou seja, que Deus chamou os homens à
uma salvação para a qual os tinha eleito de antemão é lógico e
também paulino (Rm 8:30).
Paulo agora se volta para resumir e tirar uma conclusão: 15.
Portanto, irmãos, estai firmes e apegai-vos às tradições que
vos foram ensinadas por nós, quer verbalmente ou por carta.

Em vista de tudo o que se disse (note-se “portanto”), especialmente


com relação aos perigos provenientes da parte de Satanás e com
relação à gloriosa perspectiva dos que se aderem à fé, insiste-se
agora com os tessalonicenses a abandonar suas dúvidas e temores
e a estar firmes (Rm 14:4; 1Co 16:13; Fp 1:27; 4:1) e apegar-se —
isto é, permanecer firmes e continuar apegando-se (note-se os
imperativos no presente que aqui, como acontece com frequência,
são sem dúvida continuativos) — às tradições, quer dizer, aos
ensinos autoritativos que lhes foram dados (1Co 11:2; Gl 1:14; Cl
2:8; e veja-se sobre 2Ts 3:6), quer verbalmente, isto é, por palavra
ou de lábios enquanto Paulo, Silas, e Timóteo 36 Com relação aos
antecedentes no Antigo Testamento da ideia de primícias e seu
significado em Ap 14:4 veja-se meu Más que vencedores, Grand
Rapids, Mich., 1977, pp. 183–184. Naturalmente, os que favorecem
a ideia de que 2 Tessalonicenses foi dirigida à “comunidade judaica”
estão em favor de

“primícias” aqui. Veja-se nota 7 (na Introdução).

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 97

estiveram entre eles e depois quando Timóteo os visitou, ou por


carta (1

Tessalonicenses, mas observe-se “por nós”, ou seja, não por


alguma carta pretendendo ser de Paulo; veja-se sobre versículo 2
mais acima).

Com relação a ideia de estar firmes veja-se a bela passagem de


1Co 16:13; também sobre 1Ts 3:8. A respeito do assunto de
transmitir tradições ou ensinos que foram recebidas cf. Rm 6:17;
16:17; 1Co 15:1–

11; Fp 4:9; Ap 2:14, 15.


16, 17. Agora que ele, nosso Senhor Jesus Cristo e Deus nosso
Pai, que nos amou e benignamente (nos) deu eterno consolo e
boa esperança, vossos incentive corações e (os) fortaleça em
toda boa obra e palavra.

Agora (δέ é aqui ligeiramente adversativo; pode ser traduzido agora)


os tessalonicenses não poderão estar firmes e apegar-se às
tradições a menos que Deus em Cristo incentive e fortaleça seus
corações. É por essa razão que o mandato é seguido aqui pela
expressão de um desejo solene e eficaz. Com relação à
combinação “nosso Senhor Jesus Cristo” e “Deus nosso Pai” com
verbo singular para enfatizar a unidade de essência e de propósito,
veja-se sobre 1Ts 3:11. No entanto, aqui em 2Ts 2:16, 17, “nosso
Senhor Jesus Cristo” menciona-se primeiro (antes de “Deus nosso
Pai”), talvez devido à referência a Cristo que se acha no contexto
quase imediatamente precedente, versículo 14).

Embora seja indubitavelmente certo que os particípios aoristos


(“Aquele tendo amado” e “benignamente tendo dado”) encerram
todas as bênçãos da redenção sem exceção, da eternidade e até a
eternidade, não obstante, isto não significa que na mente de Paulo
não houvesse fatos centrais claramente destacados; tais como,
“escolheu-nos”, “deu a seu Filho (também a si mesmo) por nós”,
“deu-nos o Espírito Santo”, etc. A ideia central, no entanto, é que,
como resultado destes dons, “o Senhor Jesus Cristo-e-Deus-nosso-
Pai, concebido como Um, deu eterno (isto é, sem fim) consolo e boa
esperança aos leitores. Em vista de seus temores e dúvidas (veja-se
sobre 2Ts 2:1–12; cf. 1Ts 4:13–5:11) tal ajuda era urgentemente
necessária. No que respeita ao significado da palavra consolar ou
incentivar (παρακαλέω) veja-se sobre 1 Tessalonicenses 2:3;

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 98

também C.N.T. sobre João 14:16. O alento não é somente para a


vida presente. Será comunicado também no dia final do juízo. Na
verdade, embora o consolo ou a consolação no meio da tristeza não
será necessário nem comunicado no céu — o lugar de deleite sem
fim —, no entanto, mesmo ali Deus em Cristo “incentivará para
sempre os redimidos, outorgando-lhes gloria sobre glória. A boa
esperança à qual Paulo se refere é uma esperança que está bem
fundada, ou seja, sobre as promessas de Deus, sobre a obra
redentora de Cristo, etc., está impregnada de alegria, jamais termina
na desilusão, e tem seu objeto no Deus Triúno. Quando, pela
soberana graça de Deus, as palavras de 2

Tessalonicenses (por exemplo, quanto ao “repouso” entesourado


para os filhos de Deus, a “vitória” de Cristo sobre Satanás, a divina
“eleição” e

“chamado” dos leitores) são levados a sério, os leitores efetivamente


experimentarão permanente consolo e boa esperança.
Objetivamente (também subjetivamente, mas somente até certo
ponto) possuem-no já.

Subjetivamente será então aplicado aos seus corações na plena


medida.

Naturalmente, tal consolo e boa esperança não tem seu fim no


homem.

Aqui, também, o círculo deve ser completado. Eterno consolo e boa


esperança produzem gratidão e um desejo de agradar ao Doador.
Por isso, Paulo escreve, “agora que ele … incentive o vosso
coração (o órgão central da vossa vida) em toda boa obra e
palavra”. Tais obras e palavras são as que redundam na honra de
Deus. Assim, o ciclo outra vez foi completado. Aquilo que teve sua
origem em Deus voltou, mediante a ação de graças, a Ele!

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 99

SÍNTESE DE 2 TESSALONICENSES 2

A revelação do Senhor Jesus do céu será precedida pela apostasia


e pela revelação de “o homem do pecado” .
O destino deste último e o de seus seguidores contrastado com o
dos leitores.

Versículos 1–3a Os dois eventos que precederão a volta de Cristo.

Neste capítulo o apóstolo previne os leitores que não procedam


como se o fim do mundo já tivesse chegado, e que não pensem que
ele mesmo tivesse escrito algo que pudesse ter dado asas a esta
noção.

Declara que primeiro terão lugar dois eventos, ou seja, a. a


apostasia —

isto é, o afastamento mundial, afastando-se das (e rebelando-se


contra as) ordenanças de Deus — e b. a chegada do “sem lei”.

Versículos 3b–12 O homem do pecado

a. Seu caráter perverso (versículo 3b)

Será a infernal encarnação pessoal do espírito de antagonismo à lei


de Deus.

b. Sua atividade desafiante contra Deus (versículo 4) Ele se


empenhará em destronar a Deus e entronizar-se a si mesmo.

Em sua temerária audácia e feroz insolência se exaltará a si


mesmo, não somente contra o verdadeiro Deus e os assim
chamados deuses, mas também contra todos os objetos sagrados.
Ele se esforçará para exercer domínio sobre o povo de Deus. Seu
protótipo é todo aquele que aspire a ser Deus, por exemplo, o rei de
Babilônia (Is 14), o rei de Tiro (Ez 28), e especialmente Antíoco
Epifânio.

c. Seu encobrimento presente e futura revelação (versículos 6–8a)


No presente está sendo retido. Embora presente na mente de
Satanás, algo ou alguém (talvez a lei e a ordem e os responsáveis
em fazê-la cumprir) está no momento impedindo que o anticristo
apareça na cena da história. No entanto, o espírito da ilegalidade,
interpretado à luz da revelação de Deus que limpa esse mistério,
tem em si o sem lei. Será revelado quando chegar o tempo
apropriado. Logo que o ou o que retém

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 100

seja tirado do meio, o antagonista final predito será visto. Quando a


lei e a ordem, fundados na justiça, forem tirados, então o homem da
iniquidade será manifestado.

d. Seu decisiva (versículo 8b)

O Senhor Jesus, voltando nas nuvens, intervirá decisivamente em


favor de Seu povo. O próprio sopro do Messias (cf. Is 11:4), o
primeiro brilho de seu advento, será suficiente para destruir o iníquo
e para interromper a realização de seu programa. (Isto indica que o
sem lei pertence ao tempo do fim.)

e. sua relação a Satanás e ao poder de Satanás para enganar


(versículos 9, 10a)

A vinda do grande adversário é acompanhada de surpreendentes


façanhas, designadas para enganar as massas em seu caminho
para a perdição. A energia do diabo operará em e mediante o filho
da perdição.

f. Seus seguidores endurecidos pelo pecado e destinados ao inferno


(versículos 10b–12)

Seus seguidores perecerão por sua própria culpa, uma vez que eles
rejeitaram voluntariamente o amor pela verdade, e por decisão
própria se satisfizeram com a injustiça. Deus, portanto, os castigará,
enviando-lhes uma enganadora força a fim de que creiam na
mentira do anticristo e sofram condenação eterna.

Versículos 13–16 Contraste entre o destino do iníquo e seus


seguidores, por um lado, e o dos leitores, pelo outro.
Estes versículos são de caráter transitório. Na medida que traçam
um agudo contraste entre a perdição do anticristo e seus seguidores
(veja-se os versículos precedentes), por um lado, e a salvação
eterna dos

“irmãos amados pelo Senhor”, por outro, pertencem à presente


seção.

Não obstante, a mudança de estilo (de didático e revelatório a


congratulatório e exortativo), mostra que este parágrafo pode
também ser considerado com relação ao conteúdo do capítulo 3.
Observe-se as similitudes:

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 101

a. Expressão de graças a Deus e (por dedução) de confiança nos


leitores (2Ts 2:13, 14; cf. 3:4).

b. Exortação (2Ts 2:15; cf. as exortações em 2Ts 3:1, 6, 12–15) c.


Expressão de um desejo com a solenidade de uma oração (2Ts
2:16; cf. 3:5, 16).

Ao dividir o material de 2 Tessalonicenses em seções ou unidades


de pensamento não se cai em erro se se considerar 2Ts 2:13–16
quer com os doze versículos precedentes do capítulo 2, ou junto
com o conteúdo do capítulo 3. Existe aqui superposição.

Paulo conforta os leitores com o pensamento de que a sentença de


condenação não cairá sobre eles, porque eles foram escolhidos
desde a eternidade. Nesta soberana eleição foi preordenado não
somente o fim, mas também os meios através dos quais se
realizaria. O fim é a salvação, e os meios são “a santificação pelo
Espírito e a crença na verdade”. Com efeito, o divino chamado
interno pode ser também considerado como um dos meios, uma vez
que os leitores foram chamados “com o propósito de obter a glória
de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Como resultado, os irmãos são admoestados a estar firmes e a
apegar-se às tradições que lhes foram ensinadas pelos escritores,
quer seja por palavra ou por carta.

O pêndulo oscila mais uma vez em direção à ênfase sobre o fator


divino. O desejo expresso no versículo 16 (veja-se a explicação) é
muito comovedor.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 102

2 TESSALONICENSES 3

ESPERANÇA FIRMEMENTE ANCORADA SEM DESORDEM;

UMA SEGURANÇA TRANQUILA

Tema: A revelação do Senhor Jesus do céu

é uma esperança firmemente cimentada cuja contemplação deve


resultar não em desordem, mas em serena segurança, paciência
constante, e paz fortalecedora.

2TS 3:1, 2 - PETIÇÃO DE INTERCESSÃO

3:1, 2. Além do mais, irmãos, orai por nós, para que a palavra
do Senhor corra sua carreira.

A expressão “além do mais” (cf. 1Ts 4:1; logo 2Co 13:11; Fp 4:8) é
realmente muito apropriada quando uma carta aproxima-se do seu
fim; embora não esteja limitada a este uso (veja-se, por exemplo,
1Co 1:16; 2Ts 1:16; 4:2; 7:29; Fp 3:1). É como se Paulo, tendo
terminado os capítulos 1 e 2, leu o que tinha escrito, e então decidiu
acrescentar alguns assuntos importantes que não se devia deixar
sem mencionar. Assim que, ao desejo de alento divino e de
fortalecimento (2Ts 2:16, 17) acrescenta-lhe agora algumas
admoestações finais. Nos escritos de Paulo o divino e o humano, os
decretos de Deus e a responsabilidade do homem, aparecem
constantemente um junto ao outro. Assim também no capítulo 3
encontramos uma série de expressões que recalcam o primeiro —
“Fiel é o Senhor, que vos fortalecerá e guardará”, “Que o Senhor
dirija o vosso coração”, “Que ele, Senhor de paz, vos dê esta paz”,
“O Senhor seja com todos vós”, “A graça de nosso Senhor Jesus
Cristo seja com todos vós”

— está entretecida com outra série, enfatizando o último — “Orai


por nós”, “Separai-vos das pessoas desordenadas”, “Mandamos que
comam seu próprio pão”, “Não vos canseis em fazer o bem”,
“Apontai àquele

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 103

homem”, “Admoestai-o como irmão”. Apressamo-nos a acrescentar,


no entanto, que no ensino de Paulo assim como no de Jesus o
poder eficaz que capacita o homem para fazer o que Deus ordena
vem sempre de Deus, de quem, e por quem, e para quem são todas
as coisas. Assim também na presente passagem a palavra de Deus
corre sua carreira em resposta à oração. Deus é sempre a fonte das
bênçãos.

Tal como se indicou previamente, Paulo dá muita importância à


intercessão dos crentes por ele e seus companheiros (veja-se sobre
1Ts 5:25; cf. Rm 15:30–32; 2Co 1:11; Fp 1:19; Cl 4:2; Fm 22). Não é
improvável que aqui o tempo presente tenha sentido continuativo:

“Continuem orando por nós”, ou “Orai por nós constantemente”.

Observe-se, no entanto, que a oração não é tanto por bênçãos


pessoais como o é pelo progresso do evangelho por meio da obra
dos missionários, embora o último não exclui o primeiro. Paulo ora
para que a palavra do Senhor (chamada assim porque procede dEle
e se refere a Ele, quer dizer, ao Senhor Jesus Cristo) corra ( corra
sua carreira) sem obstáculo e interferência constante por parte do
inimigo. Compreende-se do contexto imediato que este é o
significado. O apóstolo acrescenta: e seja coroada com glória. 37
Torna-se imediatamente evidente que aqui está usando uma figura,
uma vez que no sentido literal “a palavra do Senhor” não “corre”.
Certamente que está em harmonia com o uso paulino o pensar que,
assim como acontece em muitas outras passagens também aqui, o
apóstolo está lançando mão de uma metáfora tirada das carreiras
olímpicas (cf. Rm 9:16; 1Co 9:24–27; Gl 2:2; 5:7; Fp 2:16).

Também faz uso da mesma figura o escritor de Hebreus (Hb 12:1,


2). No entanto, o verbo “e ser glorificada” que com certa liberdade
pode ser traduzido “e ser coroada com glória” indica também que
em seu pensamento a realidade emerge depreendendo-se da figura.
A palavra do Senhor é glorificada quando é aceita com fé
verdadeira, de modo que logo começa a adornar a vida dos crentes.
Agora, esta “palavra do 37 Ou simplesmente: seja glorificada.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 104

Senhor” tinha tido êxito em Tessalônica. Daí que Paulo acrescenta:


assim como foi entre vós (veja-se o primeiro capítulo b

de am as as epístolas).

A primeira cláusula-objeto é esclarecida pela segunda: e para que


sejamos livrados daqueles homens perversos e maus.

Observe-se o artigo definido: “os” ou “aqueles” homens perversos e


maus. Paulo tem em mente uma circunstância concreta e definida,
ou seja, a situação em Corinto. Dizer que a referência não tem
relação com o episódio diante de Gálio, registrado em Atos 18:12–
17, porque teve lugar pouco tempo depois, é errôneo. O que nesse
parágrafo descreve é o tumulto final. Mas indubitavelmente, a
oposição da parte dos judeus não começou então (veja-se, por ex.,
At 18:5, 6). À luz de 1 Tessalonicenses 2:15, 16 (veja-se sobre essa
passagem), esclarece-se imediatamente que ao falar de homens
perversos e maus Paulo se está referindo aos judeus ( perversos,
literalmente fora de lugar). A cláusula modificativa, que explica a
existência destes homens ímpios é um litotes caracteristicamente
paulino: pois a (verdadeira) fé não é a posse de todos (ou
simplesmente: “pois nem todos têm [verdadeira] fé”). O significado é
«Muitas pessoas possuem e mostram mediante sua conduta o
diametralmente oposto à fé, ou seja, incredulidade, oposição
maligna à verdade». É a falta de fé que explica a atitude hostil para
com Cristo, Seu evangelho, e Seus embaixadores.

2TS 3:3-5 - SERENA SEGURANÇA E PACIÊNCIA CONSTANTE


QUE SE

REQUER SÃO PROMETIDAS

3. Agora, em contraste com estes que não têm fé ressalta o fiel


Senhor (observe-se a combinação de palavras fiel), sempre
preparado para proteger a seu povo: Mas, fiel é o Senhor, que vos
fortalecerá e vos guardará do maligno.

Por meio de uma transição muito natural Paulo, havendo-se


preocupado momentaneamente do tema de seu próprio conflito
experimentado em Corinto, volta à batalha semelhante que os

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 105

Tessalonicenses estavam sustentando. Internamente a jovem igreja


precisa ser fortalecida em sua luta. Externamente — uma vez que
Satanás é indubitavelmente um estranho! — precisa ser protegido.
Paulo assegura aos leitores que o desejo que manifestou com
relação a eles (veja-se sobre 2Ts 2:16, 17) se tornará também
eficaz. Serão

“incentivados e fortalecidos” (2Ts 2:16, 17) ou, tal como o apóstolo o


expressa “o Senhor fortalecerá e guardará” os tessalonicenses. Este
guardar prevenirá os crentes de cair nos laços tendidos pelo
maligno, tal como o fanatismo, a vadiagem, a intromissão, o
abandono dos deveres, o derrotismo (veja-se versículo 5–8).

É do “maligno” de quem os leitores devem ser protegidos. Embora o


nome usado aqui (τοῦ πονηροῦ) e pode também traduzir-se “mal”,
no entanto, com toda probabilidade Paulo se refere ao diabo
pessoal. Isto está em harmonia com o curso inteiro desta epístola e
da que a precede (veja-se sobre 1Ts 2:18; 3:5; 2Ts 2:9) e também
com Ef 6:16; Mt 6:13; 13:19, 38 (e veja-se C.N.T. sobre Jo 17:15).

Existe uma relação muito estreita entre o fortalecer e o guardar. Ao


ser positivamente fortalecido em fé, amor, toda boa obra e palavra
(1Ts 3:2, 12, 13; 2Ts 2:17) os crentes serão guardados contra o
pecado de claudicar diante de Satanás.

Em tudo isso o Senhor (Jesus Cristo) manifestará Sua fidelidade (cf.

1Ts 5:24). Sua promessa jamais falha. Sempre finaliza o que


começou (Fp 1:6).

Mas, como já se indicou (veja-se mais acima sobre versículo 1),


neste processo de fortalecimento espiritual os crentes não
desempenham uma parte passiva. Ao contrário, chegam a ser muito
ativos.

É exatamente como está declarado nos Cânones de Dort:

«Além disso, quando Deus leva a cabo Seu beneplácito nos


escolhidos, ou opera neles a verdadeira conversão, não somente
provê para que o evangelho lhes seja pregado exteriormente, e
ilumina poderosamente suas mentes mediante o Espírito Santo,
para que possam entender e discernir retamente quais são as
coisas do Espírito de Deus,

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 106

mas também, pela eficácia do mesmo Espírito regenerador, penetra


até as partes mais íntimas do homem, abre o fechado, abranda o
endurecido, e circuncida o incircunciso coração, infunde novas
qualidades na vontade, e torna viva aquela vontade que estava
morta, boa a que era má, disposta a que era resistente, dócil a qual
era contumaz; ativa-a e fortalece, para que, como árvore boa, seja
capaz de produzir fruto de boas obras.… A vontade, sendo agora
renovada, não somente é ativada e movida por Deus, mas ao ser
ativada por Deus, chega a ser ativa por si mesma. Portanto, pode-se
dizer com razão que o próprio homem por meio desta graça
recebida, arrepende-se” (Terceiro e quarto cabeçalhos de doutrina,
Artigo XI e XII).

4. Daí que, voltando-se da obra de Deus à atividade do crente, qual


atividade usa Deus como meio para levar a cabo o desígnio divino,
o apóstolo continua: Além disso, temos confiança no Senhor a
respeito de vós, que estais fazendo o que mandamos e
continuareis a fazê-lo.

À parte de “o Senhor” (a saber, Jesus Cristo; veja-se sobre 1Ts 1:1)


a confiança nos leitores e em sua conduta futura não teria tido base
firme. Nunca se sabe o que o homem por si só fará. Mas em virtude
de sua união com o Senhor (uma vez que este é o significado de “no
Senhor”) a confiança de Paulo acha um firme fundamento,
porquanto o Senhor sempre aperfeiçoa o que começou (cf. Gl 5:10;
Fp 1:6). Mediante a obediência aos mandamentos (cf. 1Ts 4:11) —
os já promulgados antes e os que Paulo se prepara para expressar
(em vv. 6–15) — se obterão a fortaleza espiritual e a proteção. Os
leitores estão fazendo e farão o que lhes foi ordenado.

O versículo 4 não começa uma nova seção. Está muito


estreitamente relacionado ao versículo precedente, como já o
fizemos ver. Além disso, é um preparativo para as coisas que
imediatamente se seguem. Mostra um delicado, admirável tato. O
mandamento não parecerá tão duro quando os que o exigem
(principalmente Paulo, mas também Silas e Timóteo) introduzem-no
dizendo: “Temos confiança …

que o que mandamos, estais fazendo e continuareis a fazê-lo”. O

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 107

versículo 4 é, portanto, uma janela através da qual podemos olhar


para o fundo da sábia, amável, e considerada alma de Paulo.

5. Mas embora os missionários tenham plena confiança nos leitores,


eles percebem, no entanto, que é somente com a ajuda do Senhor
que o homem terá boa disposição para guardar os mandamentos.
Por isso, o pêndulo oscila mais uma vez (veja-se sobre o versículo 1
mais acima) do humano ao divino: E que o Senhor dirija vosso
coração ao amor de Deus e à paciência de Cristo.

Quando o amor que Deus tem para com os tessalonicenses e que


Ele lhes mostra constantemente chega a ser o poder motivador de
suas vidas e quando a paciência exercida por Cristo em meio de um
mundo hostil chega a ser seu exemplo, então farão e continuarão
fazendo tudo o que Deus mediante Seus servos demandar deles.

Os complementos “de Deus” e “de Cristo” devem ser considerados


genitivos subjetivos. Não “o amor deles para com Deus” e sim “o
amor de Deus para com eles” é o que significa. Este é o uso paulino
habitual (veja-se Rm 5:5, 8; 8:39; 2Co 13:14; cf. Ef 2:4). Este é “o
amor de Deus que foi derramado em nosso coração”. É “seu próprio
amor por nós”. É

“o amor de Deus em Cristo do qual nada nos poderá separar”. É


“seu imenso amor com o qual nos amou”.

“Teu amor por mim, ó Cristo,

Teu amor por mim,

Não o meu a Ti, insisto,

Não o meu a Ti.

É esta minha forte confiança,

É este meu doce louvor,

Teu amor por mim”.

(Mrs. M. E. Gates, 1886)

Este amor es fuerte, soberano, incondicional (i.e., no dependiente


en cuando a su origen de algún previsto amor de parte nuestra, sino
creando amor en nuestros corazones), eterno, y por sobre todo
entendimiento humano. Véase también C.N.T. sobre Juan 21:15, 17.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 108

Cuando corazones humanos (véase sobre 1Ts. 3:13; 2Ts. 2:17) son
dirigidos hacia este amor, el resultado es la obediencia; porque este
amor no solamente es un atributo divino, sino que además
constituye dentro de ellos una fuerza divina y dinámica, un principio
de vida operando en su más íntimo ser.

La “paciencia de Cristo” no debe ser interpretada como aquella


maravillosa longanimidad que Jesús mostró hacia sus amigos, por
ejemplo, hacia Pedro. Paciencia (ὑπομονή) es la gracia para
soportar.

Equivale a firmeza, sin importar cual sea el precio. En casi todos los
casos en que el apóstol emplea este término usa también una
palabra que da a entender la hostilidad en contra de Cristo y sus
seguidores, o bien las pruebas y penalidades que ellos han de
soportar. Obsérvense los siguientes ejemplos:

Romanos 5:3, 4: paciencia en medio de la tribulación Romanos


15:4, 5: paciencia en medio de los vituperios (cf. v. 3) 2 Corintios
1:6: paciencia en medio del sufrimiento 2 Corintios 6:4: paciencia en
medio de la aflicción 2 Corintios 12:12: paciencia en medio de la
persecución, angustia 2 Tesalonicenses 1:4: paciencia en medio de
la persecución 1 Timoteo 6:11: paciencia en medio de “la buena
batalla de la fe”

(véase versículo 12)

2 Timoteo 3:10: paciencia en medio de la persecución, sufrimiento


(véase versículo 11)

Veja-se sobre 1 Tessalonicenses 1:3. Embora as duas classes de


paciência, ou seja, paciência (ὑπομονή) e longanimidade
(μακροθυμία, com frequência lentidão para a ira) estão muito
estreitamente relacionadas (cf. Cl 1:11), não se deve confundi-las.
Veja-se sobre 1

Tessalonicenses 5:14. Temos paciência em meio de circunstâncias


adversas; mostramos longanimidade com (ou: exercitamos a
paciência para) pessoas. 38 A paciência vem a ser uma proeza da
perseverança na 38 Por isso não posso estar de acordo com a
interpretação dada por Lenski, op. cit., p. 452.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 109

fé e em toda boa obra mesmo quando todas as circunstâncias nos


parecem adversas.

No contexto presente a menção da paciência é muito apropriada. O

significado é o seguinte: tal como Cristo correu a carreira com


paciência expressa em firmeza — suportando a cruz, desprezando a
vergonha —, assim nós (neste caso, os tessalonicenses) em meio
de nossas aflições devemos seguir o mesmo trajeto. Devemos
“olhar a Jesus”, e seguir seu exemplo. (A ideia aqui em 2Ts 3:5 nos
sugere imediatamente Hb 12:1–

4). Daí que não deveria existir nenhum abandono do dever, nem
fanatismo, nem indesculpável intranquilidade até ao ponto de que
alguém abandone seu trabalho, pensando, “Para o que trabalhar,
quando o tempo da volta de Cristo nos vem em cima?” Jesus
perseverou. Ele jamais recorreu à ociosidade ou vadiagem. Ele Se
apegou à obra que Lhe foi atribuída até sua completa realização. Tal
deve ser também nosso proceder.

Paulo expressa o solene desejo de que “o Senhor” (isto é, Jesus


Cristo; veja-se sobre 1Ts 1:1) represe o coração dos leitores em
direção a este amor de Deus e para esta paciência ou firmeza de
Cristo.

2TS 3:6-15 - CONDENAÇÃO DA DESORDEM


6. Por meio de tal expressão de confiança (versículo 4) e tão solene
desejo (versículo 5), Paulo preparou o leitor para o que vem a
seguir, nos versículos 6–15: Agora vos mandamos, irmãos, em
nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão
que se comporte de forma desordenada e não segundo a
tradição que recebestes 39 de nós.

O mandamento expresso é dado “no nome de” — isto é, com base


na autoridade e segundo o ensino (revelação) de — o Senhor Jesus
Cristo (veja-se sobre 1Ts 1:1). Somente Ele é o Ungido Senhor e 39
Quer o texto segundo o escrito no original tivesse “vós recebestes”
ou “eles receberam” a resultante diferença não é essencial. Se vós a
recebestes, então eles (os desordenados) também a receberam.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 110

Salvador da igreja, e em tal qualidade tem pleno direito a promulgar


mandamentos.

O mandamento tem que ver com casos específicos de “conduta


desordenada”. A expressão “todo irmão” parecesse indicar que os
casos eram isolados: um aqui, outro ali. A congregação como um
todo era sã em doutrina e prática. A “conduta desordenada”
consistia provavelmente em assuntos tais como:

a. ociosidade (veja-se versículo 11: “nada fazem”), devido à noção


de que o Senhor estava já prestes a voltar a qualquer momento; b.
disseminação de todo tipo de comentários perturbadores a respeito
da iminente volta de Cristo (cf. 2Ts 2:2); c. petições para serem
sustentados pela igreja (veja-se v. 12:

“comam seu próprio pão” indicando que isso era o que eles não
queriam fazer); e

d. intrusão, talvez intrometendo-se nos assuntos que correspondiam


aos oficiais (veja-se versículo 11: “se intrometem”).
O fato de que se dedique a este pecado um parágrafo bastante
longo (vv. 6–15) parece indicar que o mal aqui assinalado tornou-se
pior desde que a primeira epístola foi escrita (veja-se 1Ts 4:11, 12;
5:14; logo também 1Ts 2:9). Tal comportamento estava realmente
em desacordo com “a tradição” (veja-se 2Ts 2:15) que os
tessalonicenses receberam dos missionários. Esta “tradição” era o
ensino que Paulo, Silas, e Timóteo, com base na autoridade da qual
foram investidos, tinham comunicado à congregação. Incluía
instruções como esta: “Se alguém não quer trabalhar, tampouco
coma” (v. 10). Os tessalonicenses a tinham recebido dos
missionários em sua primeira visita (versículo 10), e também
subsequentemente por carta (1Ts 2:9; 4:11; 5:14). Sem dúvida,
Timóteo, em sua visita, enfatizou o mesmo assunto.

No caso de alguns indivíduos toda esta instrução tinha sido em vão.

Por isso, deviam ser usados alguns métodos mais enérgicos.


Quando a admoestação não tem êxito, deve-se recorrer à
segregação, pelo menos até certo ponto. Observe-se que a severa
medida mencionada em 1Co 5:5

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 111

ainda não está proposta aqui em 2 Tessalonicenses. Os “irmãos”


(veja-se sobre 1Ts 1:4) recebem a ordem que se apartem (cf. 2Co.
8:20) do tal

“irmão” (note-se que ainda refere-se às pessoas desordenadas com


este nome!). No entanto, até este afastamento tem seus limites. Não
significa um total ostracismo, uma vez que o versículo 15
expressamente estabelece que tal pessoa deve ser admoestada
como irmão. Significa, no entanto, que o resto da congregação não
deve “associar-se com ele”

(versículo 14), isto é, não deve associar-se com tal pessoa de forma
íntima, apoiando-o e seguindo seu exemplo.
Tal conduta desordenada não somente era contrária às instruções
dadas aos tessalonicenses, quer de forma oral ou por escrito; era
também conflitiva com o exemplo que os missionários lhes tinham
dado: 7, 8. Porque vós mesmos sabeis como deveis imitar-nos,
porque não nos comportamos de uma forma desordenada
(quando estivemos) entre vós, nem comemos o pão de
ninguém sem pagar por ele, mas com fadiga e árduo trabalho
estivemos trabalhando por nosso sustento noite e dia, para não
sermos carga a nenhum de vós.

À luz do contexto que imediatamente precede (v. 6), a presente


passagem (vv. 7 e 8), na qual vários pensamentos se condensaram
em poucas palavras, poderia parafrasear-se como segue:

«Agora vos ordenamos irmãos … que vos afasteis de todo irmão


que se comporte de forma desordenada e não segundo a tradição
que recebestes de nós. Temos direito de vos lembrar o ensino que
vos transmitimos, porque vós sabeis, naturalmente, ao que me
refiro; também sabeis como deveis imitar (μιμεῖσθαι, cf. nossa
palavra

“mímica”, usada por Paulo somente aqui e no versículo 9; também


em Hb 13:7; 3Jo 11; cf. 1Ts 1:6; 2:14) a maneira como pusemos em
prática nossa pregação. Sentimo-nos em liberdade para acrescentar
isso, uma vez que não nos comportamos de forma desordenada
quando estivemos entre vós. Francamente falando, não comemos o
pão de ninguém sem pagar por ele (grátis “como uma doação”
δωρεάν, acusativo adverbial), mas com fadiga e árduo trabalho
estivemos trabalhando pelo nosso

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 112

sustento (ou “trabalhamos numa profissão”) de noite e de dia.

Procedemos assim para não sermos carga para nenhum de vós».

A cláusula “com fadiga e árduo trabalho estivemos trabalhando para


nosso sustento noite e dia, para não ser carga a nenhum de vós”
ocorre também em 1 Tessalonicenses 2:9; veja-se sobre essa
passagem.

Na verdade, o que estas pessoas desordenadas estavam fazendo


era diametralmente oposto ao que os missionários tinham feito.
Estes últimos tinham estado pregando o evangelho e, além disso,
trabalhando com suas mãos! Os outros não moviam nem sequer um
dedo para realizar um trabalho útil. Eram ociosos e bocas a mais!
Em vez de ser ajuda, eram obstáculos para o progresso do
evangelho.

9. Por que foi que os missionários “trabalhavam para sustentar-se


noite e dia”? Uma das razões já foi dada, ou seja, “para não ser
carga a nenhum de vós”. Outra razão, estreitamente relacionada
com a primeira, acrescenta-se agora: “para nos oferecer a nós
mesmos como exemplo para que nos imiteis”. A declaração que
encerra a segunda cláusula de propósito é como segue: não
porque não tenhamos direito (de ser sustentados por vós)
senão para nos oferecer a nós mesmos como exemplo para que
nos imiteis.

Vez após vez Paulo insiste em seus direitos, mas vez após vez, pelo
bem do reino, está disposto a renunciar o uso destes direitos. Isto
(sobre o seu ponto de vista quanto à questão de remunerações
recebidas) já foi discutido em detalhe; veja-se sobre 1Ts 2:9 (as 10
proposições).

Os missionários anelavam que os tessalonicenses, cada um à sua


maneira e segundo suas oportunidades, pudessem imitar (veja-se
sobre o versículo 7) o exemplo de devoção desinteressada
oferecido por aqueles de cujos lábios tinham ouvido a gloriosa
mensagem de salvação. Uma vez que o exemplo de Cristo tinha
sido imitado por Paulo, ele por sua vez agora se sente em liberdade
de admoestar outros a imitar o seu próprio exemplo (e o de seus
companheiros). Com relação a este pensamento (de forma mais
específica os conceitos de imitar, ou chegar a ser imitadores e
exemplos) veja-se o comentário sobre 1Ts 1:6, 7. O
2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 113

exemplo dado por Paulo e seus companheiros devia ser imitado não
somente no “receber a palavra com alegria comunicada pelo
Espírito Santo em meio de grande tribulação”, mas também na
entrega de si mesmo de todo coração. A grande maioria dos leitores
tinha cumprido o primeiro e isto se vê no pensamento expresso em
1 Tessalonicenses 1:6, 7. O fato de que alguns recusaram a fazer o
último está implícito aqui em 1 Tessalonicenses 3:9.

10. Os tessalonicenses que andavam de forma “irregular” não


podiam desculpar sua conduta dizendo,: “Vós nunca nos ensinastes
algo diferente”. Eles conheciam o caminho, porque os missionários:
a. Tinham lhes dado exemplo de generosidade e devoção
(versículos 7, 8, 9)

b. Tinham lhes dado também (note-se καί no começo do versículo


10) um preceito definido, ou seja, “Se alguém não quer trabalhar,
também não coma” (versículo 10).

Portanto, a conjunção pois no versículo 10 realmente faz referência


ao versículo 7, sendo o pensamento: “Vós mesmos sabeis … pois
quando estávamos convosco (além de ensinar-vos mediante o
exemplo) isto vos ordenávamos”, etc. Em certo sentido este pois
olha para atrás até o versículo 6: “a tradição que recebestes de
nós”.

Pois também quando estávamos convosco, isto vos


mandávamos, Se alguém não quer trabalhar, também não
coma. Em nenhum outro lugar se achou um verdadeiro paralelo a
esta expressão de Paulo. Máxima tal como «Quem não trabalha,
nada tem para comer», não é paralela. É um mero truísmo, um
axioma muito óbvio para todo mundo, exceto para o rico, que a
expressão em si mesma parece supérflua. Mas o que Paulo esteve
repetindo vez após vez, estando em Tessalônica, e que aqui
reafirma, é algo diferente. Concerne ao folgazão piedoso que não
quer trabalhar, e que parte da seguinte ideia: “A igreja me deve o
sustento”.
Digamos “mundo” ou “governo” em lugar de “igreja”, e a passagem
se adaptará admiravelmente a muitas pessoas de hoje em dia, tanto
dentro como fora da igreja!

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 114

O mandamento que Paulo, por inspiração do Espírito Santo,


expressava constantemente era este: «Não se permita a tal pessoa
comer», isto é, «Não provejam suas necessidades materiais». Se tal
pessoa recusa trabalhar, que passe fome. Isto lhe dará uma lição.

Paulo conserva um equilíbrio perfeito. Enquanto por um lado seu


coração se compadece daqueles que realmente estão em
necessidade, bem sabemos que o apóstolo é da classe de homem
que está disposto até a realizar uma viagem missionária cuja
finalidade é em parte a ativa promoção de uma coleta para os
santos necessitados da Judeia (veja-se 2Co, capítulos 8 e 9; cf. Rm
15:26–29; Gl 2:10), mas, por outro lado, não tem simpatia alguma
com a atitude das pessoas que recusam dedicar-se ao trabalho.
Conforme vemos, o apóstolo não está (pelo menos não meramente)
“tomando um pouquinho daquela tão boa moral antiga de oficina,
uma máxima aplicada, sem dúvida, centenas de vezes por
laboriosos mestres quando proibiam a um frouxo aprendiz sentar-se
à mesa a comer,” 40 mas está partindo do pensamento de que, em
imitação ao exemplo de Cristo que com Seu amor chegou até o
autossacrifício pelos Seus, os que foram salvos pela graça cheguem
a ser tão abnegados que lhes repugne a mera ideia de chegar a ser
desnecessariamente uma carga para seus irmãos e que, por outro
lado, anelem a oportunidade de compartilhar o que têm com aqueles
que realmente estão em necessidade. Embora, sem dúvida, seja
verdade que qualquer homem que tem algum sentido de justiça
estará de acordo com a retidão e sabedoria da máxima aqui
apresentada (“Se alguém não quer trabalhar, também não coma”),
não obstante, é também muito certo que para o crente tem força
adicional uma vez que o egoísmo e a verdadeira vida cristã estão
totalmente opostos.
11. O apóstolo agora declara a razão que o constrange a dizer estas
coisas: Porque ouvimos que alguns entre vós estão se
comportando de 40 Nestes termos se expressa A. Deissmann, op.
cit., p. 314.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 115

forma desordenada, não sendo aplicados trabalhadores, mas


curiosos intrometidos.

Para nós que vivemos numa época em que o transporte, as


comunicações aéreas, telegráficas, telefônicas, e televisivas são
velozes, é-nos muito difícil imaginar as dificuldades dos métodos de
enviar e receber mensagens que prevaleciam no primeiro século
d.C.; no entanto, não devemos exagerar este contraste. As notícias
partiam e chegavam a seu destino até nos tempos de Paulo. As
estradas e linhas marítimas se achavam com muita frequência
lotadas de viajantes. As novas continuavam chegando a Paulo e
seus colaboradores. Portanto, ele estava bem a par de um fato, ou
seja, que alguns “entre” os leitores (e que ao ler esta carta tomem
nota da preposição “entre” que, em seu sentido mais profundo, não
significa “de” a menos que se arrependam) estavam se
comportando na forma que se esboçou mais acima em conexão
com o versículo 6 (veja-se sobre essa passagem). Paulo descreve a
estes indivíduos desordenados como “nada ativos em trabalho útil,
mas muito ativos em misturar-se em assuntos alheios”. No original
se expressa por meio de um jogo de palavras. Lemos μηδὲν
ἐργαζομένους ἀλλά

περιεργαζομένους. Com o fim de obter embora seja em parte um


sabor do original poderíamos expressá-lo assim: “não ativos
trabalhadores, mas ativos intrometidos”. É fácil imaginar estas
pessoas — havia alguns, não muitos — deixando suas ferramentas
abandonadas, correndo e indo de um irmão a outro para contar
fantásticas histórias a respeito do imediata volta de Cristo — o “dia”
já chegou! — aduzindo extravagantes argumentos para convencê-
los da veracidade de seus comovedores contos, voltando para o lar
sem o sustento diário, logo aproveitando-se de outros ou até do
«fundo dos diáconos» da igreja, misturando-se nos assuntos que
correspondiam às autoridades, etc.

12. A tais pessoas mandamos e insistimos no Senhor Jesus


Cristo que trabalhando tranquilamente por seu sustento comam
o seu próprio pão.

Para essas pessoas irregulares Paulo tem um mandamento formal


objetivo, um mensagem enviada ou transmitida (o primeiro verbo é

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 116

παραγγέλλω, tal como nos versículos 4, 6, e 10; cf. 1Ts 4:11) da


cabeça da igreja, que é o Comandante-em-chefe. Além disso, este
mandamento é também uma admoestação pessoal e afetuosa (o
segundo verbo é παρακαλέω: admoesta, insiste, 1Ts 2:11; 4:1, 10;
5:14; cf. com um sentido levemente diferente em 1Ts 3:2, 7; 4:18;
5:11: incentiva, conforta; e veja-se C.N.T. sobre João 14:26).

Os missionários mandam e insistem “no Senhor Jesus Cristo”, quer


dizer, em virtude de sua união com Ele, o Seu Espírito falando
através deles. Com relação ao título “o Senhor Jesus Cristo”, veja-
se sobre 1Ts 1:1.

A essência do mandamento e a admoestação é que “trabalhando


tranquilamente por seu sustento” estes irregulares “comam o seu
próprio pão” em lugar de andar daqui para lá febrilmente, dando
voltas e agitando, espalhando notícias alarmantes por todas as
partes, tais pessoas devem trabalhar tranquilamente (literalmente
“com calma”). Esta última expressão nos faz lembrar imediatamente
1 Tessalonicenses 4:11 (“tende ambição de viver em paz”); veja-se
sobre essa passagem e também sobre 1Tm 2:2.

Se eles obedecerem este mandamento e prestarem atenção à


admoestação, não somente estarão fazendo um favor a si mesmos
tanto no espiritual como no material, mas também aos demais. Já
não estarão mais incomodando a outros. Estarão “comendo o seu
próprio pão”, provendo seu próprio sustento material.
13. Em contraste com a conduta irregular destes poucos, Paulo
insiste com os muitos a persistir em fazer tudo o que seja excelente:
Mas quanto a vós, irmãos, não vos canseis em fazer o bem. Não
devem começar a comportar-se mal ou cansar-se (ἐγκακήσητε,
aoristo subjuntivo ingressivo, cf. Lc 18:1; 2Co 4:1, 16; Gl 6:9; Ef
3:13) quanto a fazer o bem. Como verbo composto (aqui plural
nominativo, masc.

gerúndio καλοποιοῦντες) bem fazer ou fazer o bem faz pouca ou


nenhuma diferença. As duas palavras (três se o artigo é contado
quando é: τὸ καλὸν ποιοῦντες) acham-se em 2 Coríntios 13:7;
Gálatas 6:9;

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 117

Romanos 7:21. O ponto a notar é que em cada uma destas


passagens o significado é geral ou seja, o que significa não é
especificamente “dando aos pobres”, principalmente mas sim
realizar o que for conforme à vontade de Deus em todos os passos
da vida. Fazendo o excelente, honorável, ou belo (καλός—ή—όν, a
boa obra, cf. Mc. 14:6) simplesmente é um vivo contraste fazendo
(o) mal. Note-se o seguinte: 2 Coríntios 13:7: “E rogamos a Deus
que vós não façais mal … que façais o bem”.

Gálatas 6:9 “E com relação a fazer o bem (ou simplesmente “no


bem fazer”) não nos cansemos”.

Romanos 7:21: “Acho pois a lei que, quanto a mim que desejo fazer
o bem, o mal está muito próximo”.

Provavelmente não é preciso afastar-se deste significado general


aqui em 2 Tessalonicenses 3:13. É verdade que se pode dizer algo
em favor da ideia sustentada por vários sobressalentes
comentaristas, que o que Paulo quis significar no contexto presente
foi o seguinte:

«Não deveis exasperar-vos tanto pela conduta perturbadora de uns


quantos ociosos até o ponto de vos cansar no exercício da caridade
para com aqueles que realmente merecem». Não obstante, não
existe no contexto nada que nos proíba interpretar seu significado
da seguinte maneira:

«Não deveis deixar-vos desviar. Não permitais que umas poucas


pessoas que descuidam seus deveres vos impeçam de realizar os
vossos.

Nunca vos canseis de fazer o que é justo, honorável, excelente».

Pelo fato de que esta interpretação, além de ser adequada à


presente situação concreta e ao contexto, é também a exigida nas
outras passagens (como já se mostrou), aceitamo-la como a correta.

Quanto ao conceito irmãos, veja-se sobre 1 Tessalonicenses 1:4.

14, 15. Fazer o que é bom e honorável significa obedecer a vontade


de Deus conforme foi revelada pelos Seus servos. Alguns, não
obstante, recusam obedecer. Por isso, Paulo continua dizendo: Se
alguém não

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 118

obedecer a nossa palavra expressa nesta carta, apontai àquele


homem, e não vos associeis com ele, para que se envergonhe.

Paulo e seus colaboradores fazem provisão pela possibilidade de


que alguns recusem obedecer “nossa palavra expressa nesta carta”.
Os escritores estão pensando certamente de forma especial
naqueles membros que se estavam sendo culpados de conduta
desordenada: abandonando suas ferramentas de trabalho, ativos
em espalhar suas próprias ideias sobre a Parousia, e aproveitando-
se materialmente assim como intrometendo-se nos assuntos de
outras pessoas.

Estes membros tinham sido reiteradamente advertidos no que


respeita a estes assuntos: primeiro, durante a visita pessoal dos
missionários quando o evangelho foi levado a Tessalônica (2Ts
3:10).

Sem dúvida, Timóteo, em sua missão, tinha repetido a advertência.

Logo, por meio da primeira carta (tanto implicitamente, 1Ts 2:9; 5:14,
como explicitamente, 1Ts 4:11, 12) e agora por esta segunda carta
são admoestados novamente, com linguagem clara e enérgica (2Ts
3:6–12).

Em lugar de os chamar “trabalhadores” apontou-os como


“intrometidos”

(2Ts 3:11). Poderia esperar-se que Paulo já tivesse esgotado a


paciência com eles, e que lhes tivesse anunciado a excomunhão.
No entanto, não achamos nada disso. O apóstolo continua os
considerando como

“irmãos” (veja-se versículo 15), embora irmãos em erro.


Naturalmente, Paulo e seus companheiros estão conscientes de sua
autoridade, e creem na disciplina, quer seja pessoal, mútua, e
eclesiástica. Mas não são partidários da dura intolerância, nem da
ação imprudente, nem da decisão precipitada que não pode
suportar a luz. Creem na honestidade e integridade, e no exercício
do amor genuíno e da paciência! Portanto, o que desejam — e
falam por inspiração divina! — é o seguinte, que se todas as
admoestações prévias fracassam em seu propósito, deve-se
recorrer a medidas mais severas. Mas mesmo estas medidas têm
um caráter corretivo. O propósito é reformar, guiar ao
arrependimento, salvar; não destruir.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 119

A pessoa que persistir em sua desobediência deve agora ser


assinalada ou reconhecida. “Apontai àquele homem” (segunda
pessoa plural, presente imperativo médio), diz. Isto é dito a todos os
irmãos fiéis de Tessalônica, não somente ao consistório da igreja.
Ou assumiremos que embora o pronome vós no versículo 13 e
também no versículo 16

refere-se a todos, não obstante, o vós (implícito no verbo) dos


versículos intermediários (vv. 14 e 15) não se aplica à congregação
mas sim somente ao consistório? A ideia de alguns é que os
escritores tinham em mente o seguinte: «Que o consistório coloque
o nome da pessoa desobediente no quadro-negro ou no boletim».
Tal ideia não se pode encontrar no texto, nem mesmo fazendo
referência a certos manuscritos onde o verbo (“note” ou “assinale”
ou “denote”) efetivamente ocorre, mas em conexões tais que
projetam muito pouca ou nenhuma luz sobre o uso aqui em 2
Tessalonicenses.

O que realmente significa é provavelmente o seguinte: Tendo a


congregação escutado cuidadosamente a leitura pública de 2

Tessalonicenses, carta na qual se indica claramente o caráter e a


conduta desordenada de alguns membros, ela deve tomar devida
nota das pessoas descritas. Daí em diante estes indivíduos não
devem ser tratados como se nada tivesse acontecido. Ao contrário,
até certo ponto os membros obedientes devem “apartar-se”
daqueles desobedientes. Que isto é o que os escritores têm em
mente fica claro pelo fato de que é exatamente o que já tinham dito
no versículo 6 (veja-se sobre esse versículo). Deve-se conceder aos
escritores o direito de interpretar suas próprias palavras!

Aqui no versículo 14 o mandamento é este: «Que não haja íntima


associação com ele» (isto é, com tal membro recalcitrante). 41 Os
41 Quer se adote o imperativo ou o infinitivo algo melhor
testemunhado, não há grande diferença. Não se pode negar que, de
Homero em diante, o grego às vezes leva sentido imperativo por
meio de um infinitivo com significado imperativo. Veja-se Gram. N.T.
pp. 943, 944. Aqui em 2 Tessalonicenses 3:14 (συναναμίγνυσθαι)
temos provavelmente um caso de tal infinitivo no qual o sentido
imperativo do verbo precedente (σημειοῦσθε) é exercido. Esta
pareceria ser a mais singela explicação.
Basicamente nada muda quando se adota a leitura mais fraca
(συναναμίγνυσθε), uma vez que esta é imperativa. Mas ainda se se
estivesse de acordo com alguns intérpretes que favorecem o
infinitivo,

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 120

membros obedientes não devem associar-se com tal indivíduo de


forma íntima. Não devem recebê-lo no círculo dos amigos íntimos,
nem estar de acordo com ele, nem aprovar sua conduta, etc.

O propósito desta segregação limitada ou ostracismo é “para que se


envergonhe” (cf. 1Co 4:14; veja-se Tt 2:8). Evidentemente o
propósito é corretivo. Brota do amor, do desejo de curar, não do
desejo de livrar-se de um indivíduo pouco simpático.

A vergonha provavelmente virá quando o indivíduo em questão


comece a refletir na atitude paciente e amorosa com que se exerceu
esta

“disciplina”, apesar de seu oneroso erro que lhe foi indicado (veja-se
o versículo 15). Este homem não foi excomungado, pelo menos
ainda não, e provavelmente nunca. Isto dependerá de seu próprio
comportamento daí em diante. A abordagem dos escritores (aqui em
2Ts 3:14, 15) não é que a pessoa em questão seja excluída ou
expulsa, mas que os membros obedientes se afastem dele!
Exegeticamente é injustificável sobrepor 1

Coríntios 5:13 (“Tirem esse perverso”) ou 1 Coríntios 5:11 (“nem


mesmo comais com ele”) sobre 2 Tessalonicenses 3:14, 15. O caso
presente é diferente. Naturalmente, esta situação poderia
desenvolver-se em algo semelhante à severa medida disciplinadora
exigida no quinto capítulo de 1 Coríntios, mas aqui ainda não se
tinha chegado a essa etapa. E ainda no que respeita à passagem
em Coríntios devemos ter em mente que, de acordo com o que
muitos consideram a mais provável interpretação, a severa medida
disciplinadora ali imposta, obteve um saudável efeito, de tal modo
que Paulo se achou feliz de poder dizer mais adiante: “Perdoai-o,
confortai-o … confirmai o vosso amor para com ele” (2Co 2:5–11).

O “isolamento” do desobediente não devia ser absoluto,


entendendo-se isto pelas palavras: E não o considereis (ou “Não o
olheis mas que o consideram como infinitivo de propósito
(“assinalem aquele homem a fim de não ter íntima comunhão com
ele”) ou de resultado (“Assinalem àquele homem para que não
tenhais íntima comunhão com ele”), a ideia básica — ou seja, quer
diretamente ou por dedução, os leitores são ordenados aqui a não
ter comunhão íntima com tal pessoa desobediente — sempre é a
mesma.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 121

como”; ὡς é pleonástico, talvez um hebraísmo; cf. Jó. 19:11) um


inimigo, mas admoestai-o como irmão.

Esta bela exortação que nos dá um olhar no coração paternal de


Paulo — e no paternal coração de Deus! — faz-nos lembrar
imediatamente de Rm 12:20 (“Se o teu inimigo tem fome, dai-lhe de
comer; se tiver sede, dai-lhe de beber”), e através de Paulo o
pensamento volta até Cristo em Mt 5:44 ou Lc 6:27 (“Amai vossos
inimigos”). Em todos estes casos usa-se a mesma palavra, ou seja,
inimigo (ἐχθρός, que segundo alguns se deriva de ἐκτός; portanto,
basicamente um de fora, estranho; logo, pessoa com disposição
hostil para um; um inimigo: cf. o latim hostis, um estranho,
estrangeiro, e finalmente inimigo).

Mas embora Romanos 12:20, Mateus 5:44 e Lucas 6:27 tomam


como ponto de partida a existência real de um inimigo, 2

Tessalonicenses 3:15 adverte contra supor um inimigo onde não


deveria haver nenhum. A pessoa em questão, embora indiferente a
todas as prévias admoestações e até ao intenso conselho dado em
2
Tessalonicenses, não deve ser colocada na lista dos inimigos …
não, pelo menos ainda não! É como se ouvíssemos o vinhadeiro
dizer,

“Senhor, deixa-a este ano também” (cf. Lc 13:8). “E não lhe


considereis como inimigo, mas admoestai-o (νουθετεῖτε) como
irmão”. Veja-se sobre 1 Tessalonicenses 5:12, onde o verbo
admoestar já foi discutido.

Quanto à palavra irmão veja-se sobre 1 Tessalonicenses 1:4. Que


esta obra de admoestação deve ser realizada pela congregação
inteira é claro pelo que diz 1 Tessalonicenses 5:14 (e cf. Rm 15:14;
Cl 3:16). É

evidente de 1 Tessalonicenses 5:12, 13 que os anciãos devem


tomar a iniciativa.

Vem a pergunta: «Mas que acontece quando a pessoa cuja conduta


se repreende, persiste em rejeitar o amoroso conselho e as
admoestações?» Sem dúvida, tal indivíduo teria finalmente que ser
excomungado, uma vez que seria revelado em seu verdadeiro
caráter como pessoa facciosa (cf. Tt 3:10). A tolerância cristã tem
seus limites (cf. Mt 18:17; Ap 2:14–16; 2:20–23), não obstante, faz
bem a

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 122

congregação em nem sequer pensar em tal possibilidade até que


isto se faça absolutamente necessário. Daí que Paulo aqui em 2
Tessalonicenses 3:15 nada diz nesse sentido! Quem quer que se
ache em erro não deve ser considerado nem tratado como um
possível reprovado, e sim como um irmão equivocado!

2TS 3:16-18 - CONCLUSÃO: “AGORA QUE ELE, O SENHOR DA


PAZ, VOS DÊ ESTA PAZ”. BÊNÇÃO FINAL.

16. Inteiramente convencido que os leitores em sua própria força


não podem cumprir os preceitos contidos nos versículos
precedentes, o escritor acrescenta: Agora que ele, o Senhor de
paz, vos dê esta paz em todo tempo e em toda maneira. O
Senhor de paz é o Senhor Jesus Cristo.

É ele que estabeleceu a paz mediante Sua cruz. É ele que não
somente a pronuncia, mas também realmente a comunica. Por isso,
Paulo escreve,

“agora que ele … dê (δῴη aor. optativo ativo, terceira pes. sing.).
Esta paz ou prosperidade espiritual prevalecerá quando as pessoas
desordenadas comecem a viver tranquilamente, preocupando-se
com os seus deveres tanto terrestres quanto celestiais (é o que se
acha no contexto imediato aqui), quando os de coração
desacordado se submirjam nas profundidades das promessas de
Deus, sem mais atormentar-se pela sorte de seus amigos que
partiram e por sua própria condição espiritual, e quando os fracos
obtiverem fortaleza por meio da santificação. Isto é necessário “em
todo tempo e em toda forma”, quer dizer, em todas as circunstâncias
da vida. A paz que aqui se indica é de um caráter muito especial.
Observe-se o artigo no original (literalmente,

“Agora que ele, o Senhor da paz”). Objetivamente, é a condição de


ser reconciliado, tendo sido tirada a ira de Deus. Mas aqui o
subjetivo não deve desassociar-se do objetivo. É o reflexo do sorriso
de Deus no coração do crente que, pela soberana graça, recebeu a
bendita segurança de seu estado de reconciliação. Isto, na verdade,
é prosperidade! Note-se também a expressão semelhante para o
final da primeira epístola (veja-se

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 123

sobre 1Ts 5:23; também sobre 1Ts 1:1, para o significado de paz; e
veja-se C.N.T. sobre Jo 14:27).

Implícita nesta paz está a comunhão, a qual, no entanto, por causa


de seu valor superlativo, merece uma menção especial. Portanto,
segue: O Senhor (quer dizer., o Senhor Jesus Cristo) com todos
vós (com o verbo “seja” subentendido). Note-se: vós todos. Nem
sequer se exclui aos desordenados! Não é acaso verdade que os
escritores procediam da ideia de que as pessoas censuradas eram,
afinal, irmãos? Cf. 1 Coríntios 16:24; 2 Coríntios 13:13.

17. Segue uma conclusão autográfica, como sinal de que esta carta
é um produto autêntico da mente e do coração do grande apóstolo:
A saudação de minha própria mão, de Paulo, que é um sinal de
autenticidade em toda epístola; assim escrevo. Era costume
naqueles dias que a pessoa que ditava a carta — como Paulo, sem
dúvida, o fez —

acrescentasse umas poucas palavras de saudação, etc., com sua


própria mão, como sinal de autenticidade. 42 Que isto fosse também
um costume em Paulo se evidencia na presente passagem e por 1
Coríntios 16:21; Colossenses 4:18. Cf. também Filemom 19. O
apóstolo nunca deixou de fazer isso. Era, com efeito, um sinal de
autenticidade (σημεῖον) em toda epístola. Naturalmente, isso não
quer dizer que Paulo sempre está chamando a atenção a isso!
Muitas vezes não o fez. Mas isso não muda o fato. Podemos
assumir, pois, que a bênção final de 2 Coríntios foi escrita pela
própria mão de Paulo, embora ali não o declare expressamente.

As palavras, “que é um sinal de autenticidade em toda epístola” não


são difíceis de entender se for levado em conta os seguintes fatos:
a. Paulo já tinha escrito 1 Tessalonicenses e provavelmente também
Gálatas.

b. Não há dúvida que tinha a intenção de escrever muitas outras


cartas. Além disso, pela sábia providência de Deus, nem todas as
cartas 42 Veja-se A. Deissmann, op. cit., pp. 171, 172.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 124

escritas por Paulo chegaram até nós (veja-se 1Co 5:9). Talvez, o
apóstolo até agora já havia escrito mais cartas.

Por que aqui em 2 Tessalonicenses 3:17, chama o apóstolo a


atenção especial a este sinal de autenticidade? Têm sido sugeridas
as seguintes razões que bem podem apontar na direção correta: a.
Para impedir que as pessoas desordenadas dissessem,

«Admitimos que a carta que foi lida durante o culto (2


Tessalonicenses) continha algumas coisas não muito agradáveis
com relação a nós, mas não cremos que realmente represente o
pensamento de Paulo. Negamos que tenha sido escrita ou ditada
por ele».

b. Para impedir a disseminação de epístolas espúrias e/ou a


pretensão de alguém de ter em seu poder (ou ter visto) uma carta
de Paulo, afirmando que o dia do Senhor tinha chegado; ver sobre
2Ts 2:2.

18. A bênção final A graça de nosso Senhor Jesus Cristo (seja)


com todos vós é exatamente a mesma que 1 Tessalonicenses 5:28
(veja-se sobre essa passagem), com a simples exceção que aqui,
no final da segunda epístola, acrescenta-se a palavra todos.
Porventura foi acrescentada esta palavra para assegurar que os
indivíduos que tinham recebido a repreensão sentissem que, no
grande e amante coração de Paulo, havia lugar até para eles?

SÍNTESE DE 2 TESSALONICENSES 3

A revelação do Senhor Jesus do céu é uma firmemente cimentada


esperança cuja contemplação deve resultar não em desordem, mas
em serena segurança, paciência constante, e paz fortalecedora.

Versículos 1 e 2. Petição de intercessão

Sendo homem de profunda convicção no poder da oração


intercessora, Paulo pede que os irmãos tessalonicenses lembrem
em suas devoções aos homens que não somente em Tessalônica,
mas também em Corinto, onde se encontram Paulo, Silas, e
Timóteo no momento em que

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 125


esta epístola é escrita, a palavra de Deus corra sua carreira e seja
coroada de glória, e que os servos de Deus sejam resgatados
daqueles “homens perversos e maus”, expressão que
provavelmente se refere aos adversários judeus.

Versículos 3–5. Serena segurança e paciência constante são


requeridas.

Em contraste com os homens infiéis emerge a figura eternamente


fiel do Senhor que fortalecerá internamente e assim (como também
em outras formas) guardará os leitores do maligno. Paulo expressa
sua total confiança na obediência do grupo ao qual se dirige.
Expressa a esperança de que o Senhor represe os corações dos
leitores ao amor que emana do coração de Deus, e à paciência
exibida por Cristo durante Seu próprio e amargo sofrimento. Quando
esse amor chega a ser a força motriz na vida dos tessalonicenses e
quando essa paciência vem a ser seu exemplo, a vitória espiritual
tem, então, seu êxito assegurado.

Versículos 6–15. Instruções com relação a “todo irmão que se


comporte de forma desordenada”. Condena-se a desordem
Lembrando aos leitores seu próprio exemplo (e o de Silas e
Timóteo) enquanto esteve em Tessalônica, exemplo de incansável
atividade e laboriosidade (“com fadiga e árduo trabalho estivemos
trabalhando por nosso sustento noite e dia”), e da ordem que
reiteradamente tinha dado durante esse tempo (“Se alguém não
quer trabalhar, também não coma”), Paulo repreende os
intrometidos que recusam trabalhar. Ordena-lhes e admoesta no
Senhor Jesus Cristo “que trabalhando tranquilamente por seu
sustento comam o seu próprio pão”.

Aconselha à congregação a não imitar seu mau exemplo, isto é, não


desanimar em fazer tudo o que seja nobre e honesto. Se os
indivíduos

“desordenados” desobedecem as ordens dadas na presente carta,


devem ser isolados, mas não totalmente. Outros membros devem
pôr-se em contato com eles a fim de admoestá-los. No entanto,
enquanto os

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 126

folgazões sigam por sua pecaminosa vereda, os membros devem


recusar associar-se com eles de forma íntima. O propósito de
admoestá-los e de insistir com outros a que recusem “associar-se”
com eles e suas más obras é que os que estejam em erro possam
envergonhar-se e assim sejam restaurados a uma perspectiva
saudável da vida.

Versículos 16–18. Conclusão

O apóstolo expressa seu ardente desejo de que a paz estabelecida


por Cristo, aquela paz que é a única capaz de comunicar fortaleza e
coragem, possa repousar sobre a curvada igreja de Tessalônica,
oprimida pela perseguição de fora e infestada de fanatismo por
dentro. Continua,

“O Senhor seja todos vós”. Isto é, não somente com aqueles que
não têm necessidade de instruções ou admoestações especiais,
mas também com os enfermos, com os que estão a caminho de ser
martirizados, com os fracos, sim, até com os fanáticos, intrometidos,
e ociosos, que se arrependem de seus pecados.

Com o fim de acrescentar peso ao conteúdo da divinamente


inspirada epístola, para impedir a extensão de falsos rumores, e
para pronunciar sobre os leitores, reunidos para a adoração, o mais
precioso de todos os dons, vem a seguir: “A saudação de minha
própria mão, de Paulo, que é um sinal de autenticidade em toda
epístola; assim escrevo.

A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós”.

2 Tesalonicenses (William Hendriksen) 127

BIBLIOGRAFIA
Figuran en la lista solamente los libros a los cuales se ha hecho
referencia en este tomo. Han sido usados muchos otros libros, pero
no se incluyen aquí.

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Loeb Classical Library, New York (various dates). The Latin-English


volumes have been consulted for the translated writings of
Augustine, Cicero, Horace, Lucretius, Pliny, Tertullian, and Virgil; the
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Laertius, Epictetus, Euripedes, Eusebius, Homer, Philo, and Plato.

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Document Outline
COMENTÁRIO DO NT (H & K)
2 TESSALONICENSES
CONTEÚDO
Introdução
I. Razões para o estudo destas epístolas
II. A fundação da igreja
III. Propósito de Paulo ao escrever
IV. Data e lugar
V. O autor
VI. Conteúdo geral
2 Tessalonicenses 1
Síntese de 2 Tessalonicenses 1
2 Tessalonicenses 2
2Ts 2:1-3a - Os dois eventos anes da VJ : a apostasia
e o homem do pecado .
2Ts 2:3b–12 - O homem do pecado
2Ts 2:3b, 4 - Seu caráter perverso
2Ts 5–8a - No presente e no futur o
2Ts 2:9, 10a - Ligação com Satanás
2Ts 2:10b-12 - Seus seguidores
2Ts 2:13-16 - Contraste entre os destinos
Síntese de 2 Tessalonicenses 2
2 Tessalonicenses 3
2Ts 3:1, 2 - Petição de intercessão
2Ts 3:3-5 - Serena segurança e paciência constante
que se requer são prometidas
2Ts 3:6-15 - Condenação da desordem
2Ts 3:16-18 - Conclusão: “Agora que ele, o Senhor da
paz, vos dê esta paz”. Bênção final.
Síntese de 2 Tessalonicenses 3
Bibliografia
Table of Contents
COMENTÁRIO DO NT (H & K)
2 TESSALONICENSES
CONTEÚDO
Introdução
I. Razões para o estudo destas epístolas
II. A fundação da igreja
III. Propósito de Paulo ao escrever
IV. Data e lugar
V. O autor
VI. Conteúdo geral
2 Tessalonicenses 1
Síntese de 2 Tessalonicenses 1
2 Tessalonicenses 2
2Ts 2:1-3a - Os dois eventos anes da VJ
: a apostasia e o homem do pecado .
2Ts 2:3b–12 - O homem do pecado
2Ts 2:3b, 4 - Seu
caráter perverso
2Ts 5–8a - No presente
e no futur o
2Ts 2:9, 10a - Ligação
com Satanás
2Ts 2:10b-12 - Seus
seguidores
2Ts 2:13-16 - Contraste entre os destinos
Síntese de 2 Tessalonicenses 2
2 Tessalonicenses 3
2Ts 3:1, 2 - Petição de intercessão
2Ts 3:3-5 - Serena segurança e paciência
constante que se requer são prometidas
2Ts 3:6-15 - Condenação da desordem
2Ts 3:16-18 - Conclusão: “Agora que ele,
o Senhor da paz, vos dê esta paz”.
Bênção final.
Síntese de 2 Tessalonicenses 3
Bibliografia

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