Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
série técnica
Projeto de Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde
Secretaria
de Assistência
à Saúde
APRESENTAÇÃO
série técnica
Projeto de Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde
BRASÍLIA DF
2002
1a Edição 2002
Elaboração, distribuição e informações
Organização Pan-Americana da Saúde
Organização Mundial da Saúde
Setor de Embaixadas Norte, lote 19
70800-400 Brasília - DF
www.opas.org.br
Projeto de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde/OPAS
Coordenador do Projeto:
Dr. Juan Eduardo Guerrero
www.opas.org.br/servico
Apoio técnico e administrativo:
Luciana de Deus Chagas
Rosa Maria Silvestre
Revisão:
Manoel Rodrigues Pereira Neto
Capa, Projeto Gráfico e DTP:
Wagner Soares da Silva
Tiragem:
500 exemplares
NLM: W 84
SUMÁRIO
.................................................................................................................... 5
................................................................................................................... 29
................................................................................................................... 67
1. Processos de Descentralização da Saúde no Brasil Documento Analítico
1.
PROCESSOS DE DESCENTRALIZAÇÃO
DA SAÚDE NO BRASIL
Documento Analítico
Autores: Flavio A. de Andrade Goulart: Professor Titular do Departamento de Medicina Social da UnB
Lucinéia Morely Machado: Mestranda em Política Social do Departamento de Serviço Social e Política Social da UnB
INTRODUÇÃO
O presente documento foi elaborado a partir das exposições e debates dos seminá-
rios de regionalização realizados pela SAS/MS com apoio da OPAS em outubro de 2001
e janeiro de 2002, da leitura de documentos técnicos diversos, de entrevistas conce-
didas por pessoas da equipe técnica e consultores da DDGA/SAS, bem como das obser-
vações pessoais do autor. Foram utilizados também textos publicados ou disponíveis
em sites oficiais.
7
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Reconhece-se, também, o setor saúde como aquele que mais tem avançado no
País, inclusive em termos de gestão e de controle social, resultado de uma autêntica
construção coletiva. Constatam-se avanços amplos com os processos desencadeados
pela discussão e pela implantação da NOAS, com uma perspectiva de ação que não é
mais autonomista e liberal do ente local, como já ocorreu no passado. Sem dúvida, um
grande grupo nacional de gestores das três esferas está cada vez mais orgânico e vem
ajustando suas diferenças de visão através de um processo de interação e trabalho.
2. Embora o prazo decorrido (em outubro de 2001) fosse apenas de nove meses da
publicação da NOAS, já se haviam alcançado objetivos importantes, configurando-
se como realidade concreta e incorporada aos processos de gestão por parte das
equipes gestoras estaduais e municipais na maioria das regiões do País.
8
1. Processos de Descentralização da Saúde no Brasil Documento Analítico
8. Uma Norma que, como tal e mesmo sendo compartilhada, não produz mudança
direta; o que conta são os processos de discussão e transformações sucessivas,
com envolvimento dos diferentes atores em busca de inovação e sua manutenção;
«uma grande oportunidade dos Estados repensarem seu papel no SUS». Em outras
palavras: ela não pode ter efeito total e imediato, como nenhuma norma, aliás;
o caráter progressivo é a regra, até pelas características da própria realidade.
9
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Destaca-se também o fato histórico inédito no País de que é a primeira vez que se
tem um levantamento das necessidades de investimento, pelo menos nos extratos
básico e médio da atenção, o que vem a ser uma decorrência direta do novo processo
de planejamento regionalizado e pactuado.
No caso dos PDI, admite-se que este é um primeiro momento, que ainda representa
um exercício em busca de conhecer melhor a realidade, mas que já gerou um desdobra-
mento importante, que é a portaria do MS que direciona as emendas parlamentares.
O MS deixou claro que está trabalhando em busca de consensos para dar suporte
aos desdobramentos do atual processo, mas considera que está mais fácil discutir tais
questões na atualidade do que há um ano.
10
1. Processos de Descentralização da Saúde no Brasil Documento Analítico
NOAS para quê? eis o que poderia ser colocado como pergunta de partida. Algu-
mas respostas parecem consensuais: aumentar capacidade do gestor; ampliar e quali-
ficar a atenção básica; levar os cuidados de saúde de forma mais próxima às situações
de risco; racionalizar e aprimorar a assistência (por exemplo, nas internações e emer-
gências, através da organização da base do sistema); aumentar a resolutividade; redu-
zir mortalidade evitável etc. A eliminação da discriminação interna é outro dos desa-
fios que a NOAS enfrenta.
Admite-se, como já se viu, que a NOAS trouxe inúmeros benefícios para o sistema
de saúde, até mesmo alguns inesperados, como o fato de ter «mexido» na estrutura
das SES, possibilitando novos métodos de trabalho e maior participação dos COSEMS
nos debates referentes à condução da gestão do sistema. A NOAS realmente parece ser
um passo importante para que se possa garantir que os princípios básicos do SUS sejam
operacionalizados. Assim, é natural que a implementação da mesma não seja isenta
de muitos conflitos e debates, mas mesmo assim há evidências de que o atual processo
é de avanço e de que existe um grande grau de consenso no País sobre as questões
despertadas por tal discussão. Faz parte certamente do processo de operacionalização
do SUS, particularmente do atual momento de implementação da NOAS, o fato de que
os agentes da descentralização, no caso os estados, alcançarão seus resultados em
ritmos distintos, que é preciso reconhecer e qualificar.
No que diz respeito ainda ao comando único, este pode ser um conceito com dife-
rentes alternativas de operação. O que não pode existir, e nisso a NOAS é enfática, são
dois gestores em uma mesma realidade. A representação do MS frisou que, se perma-
necerem as regras da NOB 96, como alguns parecem desejar, não surgirá o verdadeiro
comando único, o que certamente não é a melhor opção. O que importa é que a
diretriz do comando único que não venha a ser sinônimo de «caixa único». Há, sem dúvida,
numerosas divergências sobre a NOAS, além dessas, no âmbito do CONASS, por exemplo.
11
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A NOAS deve ser encarada apenas como o início de um processo, e é preciso conti-
nuar discutindo também outros temas, como eqüidade, integralidade etc., antes de se
encerrar definitivamente um autêntico ciclo histórico. No caso, freqüentemente lem-
brado, das transferências espontâneas ou provocadas de pacientes entre estados, re-
lembra-se que a NOAS não fornece mecanismos para fazer algum «fechamento de
fronteiras», além de carecer de aperfeiçoamento nas formas de alocação de recursos.
Reconhece-se avanço, contudo, na definição de tetos municipais e também de respon-
sabilidades sobre recursos, com a conseqüente melhora no desempenho das referências.
Dentro de tal visão de processo, o MS continua trabalhando em várias frentes na ques-
tão da regulação, mas evidentemente não consegue realizar tudo o que é necessário e
ao mesmo tempo, até porque trabalha muitas vezes com hipóteses apenas provisórias.
Na verdade, é preciso reconhecer que ainda não existe consenso sobre alguns pontos
importantes. É preciso estar atento para o sentido que tal processo revela em sua
complexidade. Assim se constrói uma «metáfora do mosaico» (Tasca), na qual a varia-
bilidade deve ser aceita, já que a perfeita simetria não seria o caso mais esperado em
uma realidade tão complexa. É algo a ser tolerado, mas carece de monitoramento,
pois podem se desenvolver distorções.
Encarece-se que esta não é meramente uma norma do MS, mas sim um instrumento
pactuado nas três esferas de governo, que atingiu o que foi possível no momento
político do País. Parece claro que, na diversidade da realidade nacional, o avanço se
dá de forma de diferente em cada estado e em cada município ou região, mas aceita-
se que não haverá regras que darão conta de tudo. Neste aspecto, a norma é apenas
uma ferramenta para dar apoio a todo este processo. As diferenças devem ser reco-
nhecidas e aceitas, como é o caso de PE, MT e outros estados, que defendem um
projeto com características diferentes em termos de regionalização. O importante é
12
1. Processos de Descentralização da Saúde no Brasil Documento Analítico
que eles têm dado conta de mudanças nos indicadores. O MS revela estar aberto para
essas discussões, sempre junto com as SES, pois nem sempre seria possível trabalhar dire-
tamente com os municípios. O ministério reconhece, também, que ainda não se adequou
às novas funções dele exigidas e que tem que se reorganizar para tanto. Da mesma forma,
o mesmo se espera das demais esferas de governo, que também devem se reorganizar
para dar conta de suas novas funções.
Não são poucos nem mesmo irrelevantes os riscos assumidos com a implantação da
NOAS. Em primeiro lugar, porque reformas não se fazem de cima para baixo. Reformas,
como a atualmente proposta, constituem acima de tudo oportunidades que alcançam dife-
rentemente os atores: para uns, elas são geradoras de movimentos de avanço; para outros,
podem até atrapalhar o andamento do sistema. Acima de tudo é preciso ter a clareza de que
o novo sistema que se pretende construir deve conviver com o velho em andamento. Entre
os riscos destacados está a possibilidade de implantação de forma até certo ponto «violen-
ta» e sem o devido consenso por parte dos atores envolvidos mas este não parece o ser o
caso presente. A criação de um «sistema monstruoso» que elimina que existia de bom
anteriormente, sem que o novo seja implantado, é outra possibilidade não totalmente des-
cartada. Outro aspecto é a vigência de atitudes apenas burocráticas nas mudanças este
certamente é o maior risco que o processo atual vai enfrentar. Se apenas alguns estados o
fizerem, não se comprometerá o processo, podendo tal fato ser considerado apenas como
uma forma de se ganhar tempo para a concretização das mudanças.
O processo de avaliação foi enfatizado como um dos avanços propiciados pela NOAS.
Um ponto sem dúvida crucial é o de que se trata de uma ação politicamente delicada, já
que pode gerar fortes reações por parte dos gestores envolvidos, ao se sentirem esvazia-
dos de poder ou avaliados negativamente, por exemplo. Isto poderia inclusive levantar
acusações de discriminação política e abrir uma crise entre os parceiros do sistema.
13
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
14
1. Processos de Descentralização da Saúde no Brasil Documento Analítico
15
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Além disso, algumas considerações de índole cultural foram levantadas, como as tra-
duzidas pela expressão de um prestador local de serviços do Paraná: «Tem que inter-
nar para dar lucro». Esta pressão de prestadores, entretanto, deve ser analisada em
termos mais globais e mais profundos, pois está claro que excessos de oferta podem
gerar consumo exagerado, mas o problema maior ainda é o de carência de acesso. O SUS
precisa avançar na regulação, que viabilizará um balanço entre as diferentes vontades:
a de quem quer vender serviços versus aquela de quem possui necessidades de acesso
aos serviços. Isto deveria ser equacionado mediante processos solidários de construção
de normas, como é o caso da NOAS, mas sem se abrir mão do papel regulador do gestor.
16
1. Processos de Descentralização da Saúde no Brasil Documento Analítico
17
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Sobre a gestão estadual das referências, objeto de polêmica, admite-se que é neces-
sário preservar a atuação das SES, mas é preciso assegurar financiamento compartilha-
do e responsabilidade definida no gasto. Conclui-se que é fundamental que as SES geren-
ciem diretamente o dinheiro. As questões ligadas à gestão da alta complexidade foram
abordadas com freqüência e consideradas de difícil solução. Registra-se que o consumo
das mesmas tende a ser crescente, particularmente entre as classes médias e forma-
doras de opinião. Além disso, como a inflação médica é uma realidade e, além disso,
18
1. Processos de Descentralização da Saúde no Brasil Documento Analítico
Como lembrou o secretário de Saúde de MT, Julio Muller, talvez tenha se perdido «uma
chance histórica» de se organizar os sistemas das microrregiões de forma integrada, en-
volvendo áreas para além da assistência, no caso a ações de saúde coletiva, principalmen-
te considerando-se que o momento presente seria adequado para tanto, pois a FUNASA
também está descentralizada. Assim, deve-se pensar em Planos de Saúde, que envolvam
também este tipo de ação, avançando para a organização de um modelo realmente inte-
gral. Outra questão palpitante dentro deste tema foi a da organização e da confiabilidade
dos sistemas de informação, face à diversidade da realidade dos municípios, destacando-
se a necessidade de incremento de qualidade dos SIS, dadas as evidências de problemas
ligados a bases de dados pouco precisas, alimentação inadequada etc. Também neste
aspecto, as SES deveriam assumir um papel de facilitadoras do processo. Foi bastante
destacada também a necessidade de se avançar também em questões historicamente
complexas como política de RH, tratamentos fora de domicílio e controle e auditoria.
Dos instrumentos da NOAS: ficou claro que depois de aprovado o desenho regionali-
zado da UF no PDR e definida a programação financeira (PPI) e de investimentos (PDI),
vai surgir a necessidade de mecanismos de acompanhamento e de governabilidade
sobre a rede assistencial regionalizada. A elaboração e experimentação de instrumen-
tos confiáveis e eficientes de regulação, deve representar uma prioridade para os
gestores já nos primeiros meses do 2002. Assim, o monitoramento contínuo é um
grande desafio a ser enfrentado, e é preciso acumular as analises existentes até agora
19
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
20
1. Processos de Descentralização da Saúde no Brasil Documento Analítico
21
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Em primeiro lugar, foi aceita como correta a afirmativa de que a NOAS ainda está
em construção e que o exercício da GPSM conta com diversas dificuldades que preci-
sam ser solucionadas. Um aspecto palpável é o grande volume de portarias emitidas
pelo MS, mesmo legitimadas pela CIT, mas associadas a uma enorme dificuldade de
acompanhamento por parte de um grande número de gestores.
No que diz respeito ao papel dos estados, houve marcante divergência de opinião
entre as representações municipais e a do CONASS, sem impedimento de que em outros
pontos estivessem de acordo. Assim, os estados são ainda considerados por alguns como
opositores dos municípios que tentam avançar para a GPSM, aspecto notório em muitas
partes do Brasil. Há casos especiais de cumprimento moroso ou mesmo não-cumprimen-
to dos dispositivos da NOAS, citando-se particularmente os casos do ES (onde a crise
institucional é mais ampla do que a da área da saúde), do PE e da BA, entre outros, com
os problemas agravados especialmente no período eleitoral, com predomínio de práti-
22
1. Processos de Descentralização da Saúde no Brasil Documento Analítico
23
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
somente a elaboração formal da PPI, sem mecanismos compensatórios, pode não ser
suficiente para resolver tal pendência. Uma questão delicada posta em destaque é
que, apesar de todo o avanço, resta o enorme desafio de fazer municípios e prestado-
res conhecerem e praticarem as informações disponíveis, evitando um confronto des-
necessário entre gestores e prestadores (que muitas vezes exercem uma visão mera-
mente contábil) pelos recursos que são, em última análise, públicos.
O fato de que o município de São Paulo, capital, ainda não esteja em GPSM provoca
reações contrárias, pois faz pouco sentido no contexto atual.
Outro aspecto lembrado como pendência ainda não resolvida, embora tenham pas-
sado muitas vezes desde que se estabeleceram compromissos neste sentido, é o do
financiamento do PACS/ PSF, no qual não se registram avanços até o momento.
24
1. Processos de Descentralização da Saúde no Brasil Documento Analítico
Com relação ao financiamento da alta complexidade, esta entidade considera tal ques-
tão pouco discutida, de forma a se levar em conta a necessidade de incremento de
recursos, face às demandas crescentes e as novas tecnologias. Admite ainda a possibi-
lidade de qualificação apenas com o PAB fixo e, posteriormente, a incorporação do
PAB ampliado, mesmo sabendo que não seria a proposta ideal, mas sim a mais adequa-
da para uma definição imediata de critérios de financiamento.
Houve também críticas ao chamado Integra-SUS, que quebraria o comando único e en-
fraqueceria os gestores. Da mesma forma, são lembradas outras contradições e pendências
atuais, como, por exemplo, o caso da portaria que regula pagamento de diferenciais de
tabela com recursos próprios o momento para a mesma pode não ser o mais adequado.
A boa prática estaria sem dúvida em uma configuração «sistêmica» da rede, com atuação
positiva das SES e otimização da utilização dos recursos e também da relação com presta-
dores. É importante não penalizar justamente o município que está avançando. A NOAS
vem ao encontro de soluções para tal problemática. Isto se traduziria no conceito de
governança, ou seja, práticas de gestão mais amplas, sobre redes e sistemas complexos,
com muitos interlocutores presentes uma lógica mais adequada e contemporânea que se
25
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Sem dúvida, a entidade chamada Estado, a unidade federativa, deve ser preserva-
da acima de tudo, pois não só faz parte real da federação brasileira mas também tem
um forte papel a cumprir nas políticas sociais.
1. Instrumentos da NOAS
a. Que seja definida uma metodologia de trabalho para a avaliação dos PDR,
baseada em critérios transparentes e numa lógica de envolvimento das equi-
pes estaduais, com forte participação das equipes das SES em tal processo,
inclusive com práticas publicizadas em relação aos critérios, indicadores e a
própria metodologia de avaliação, acrescida de auto-avaliação das equipes;
2. Regulação
26
1. Processos de Descentralização da Saúde no Brasil Documento Analítico
i. Que se aumente a oferta de serviços mais complexos por parte dos municípios,
mas com determinadas cautelas, evitando-se a superoferta e a pressão de meras
expectativas de consumismo em saúde em contraposição às necessidades reais
da população, com discussão da oferta de tais serviços com a sociedade.
3. Atenção Básica
27
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4. Financiamento
28
1. Processos de Descentralização da Saúde no Brasil Documento Analítico
ii. Que o TFA municipal relativo à população residente seja transferido fundo a
fundo e automaticamente ao município habilitado em GP do sistema local e
incorporado ao TFA estadual dos prestadores sob gestão estadual, no caso
dos municípios ainda não habilitados nos termos da NOB 96 ou da NOAS;
v. Que o TFA estadual dos prestadores de serviços sob gestão da SES, próprios
ou localizados em municípios não habilitados, seja repassado automatica-
mente, entre fundos, para os estados em GPSE e mediante pagamento por
produção nos demais;
vi. Pela necessidade de urgente definição do valor e critérios para o PAB ampliado.
g. Que os recursos possam fluir ao sabor dos movimentos que os cidadãos fazem
em sua vida, com autonomia para os gestores administrarem a partição dos
mesmos, para aplicá-los em benefício de quem de direito;
h. Que o papel verdadeiro das SES, como gestores efetivos do sistema, inclua
também o controle da chave do cofre, nos três níveis do sistema em outras
palavras, que os gestores sejam guardadores reconhecidos dentro do sistema;
i. Que a tabela do SIA-SUS ofereça recursos necessários para uma atenção básica de
qualidade; neste aspecto, os estados têm que colocar recursos também na AB.
29
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
2.
Seminário:
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E A REGIONALIZAÇÃO
Autores: Flavio A. de Andrade Goulart: Professor Titular do Departamento de Medicina Social da UnB
Lucinéia Morely Machado: Mestranda em Política Social do Departamento de Serviço Social e Política Social da UnB
PROGRAMAÇÃO
1. Situação Atual da Implantação da NOAS SUS 01/01
Maria Helena Brandão SAS/MS
Fernando Passos Cupertino CONASS
Renato Tasca OPAS
Debates
31
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Iniciando sua fala, destaca o fato de que hoje um grande grupo nacional de gesto-
res das três esferas está cada vez mais orgânico e que vem ajustando suas diferenças
de visão através de um processo de interação e trabalho. Lembra ainda que a reunião
da CIT de amanhã vai ser pautada pelas conclusões do presente seminário, donde a
importância do mesmo.
32
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
ração de esboço e pactuação com municípios: AC, RR, RO, AM, MA, TO, DF, PE, SE, BA,
RJ, SP, RS; (b) concluído e em aprovação CIB/CES: PA, AP, PI, RN, PB, GO, MG, ES, SC;
(c) aprovado CIB/CES: MT, MS, PR, CE, AL.
Passa, em seguida à análise dos PDR disponibilizados para a DGA/SAS: (a) o PDR já
está detalhado por módulo: AM, RR, AP, PA, PI, CE, RN, PB, AL, SE, GO, MS, PR, SC, RJ,
33
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
ES; (b) o PDR ainda se encontra sem detalhamento por módulo em MG, BA; (c) o PDR
está em análise: PE; (d) o PDR não foi disponibilizado: AC, RO, MT, TO, MA, SP, RS. Além
do mais, já foram identificados, nos PDR, municípios como sede de módulo nos seguin-
tes estados: AM, RR, AP, PI, CE, RN, PB, AL, SE, GO, MS, PR, SC, RJ, ES.
Propõe ainda o CONASS: (a) que o TFA municipal relativo à população residente seja
transferido fundo a fundo e automaticamente ao município habilitado em GP do siste-
ma local e incorporado ao TFA estadual dos prestadores sob gestão estadual, no caso
dos municípios ainda não habilitados nos termos da NOB 96 ou da NOAS; (b) que os
municípios habilitados ainda em GPAB recebam automaticamente e por transferência
entre fundos a parcela resultante do PAB ou PAB ampliado e que o estado receba o teto
da atenção hospitalar e também de alta e média complexidade, caso esteja na condi-
ção GPSE; caso não tenha obtido tal condição, exercerá ainda a gestão de tais moda-
lidades, mas o pagamento respectivo deverá ser feito pelo FNS diretamente ao presta-
34
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
dor, com autorização pela SES; (c) que o TFA estadual das referências intermunicipais
entre municípios em GPSM seja também transferido do FNS para os FMS e repasse este
condicionado à prestação de informações pelo gestor estadual dos valores pactuados,
conforme estabelece o Termo de Garantia de Acesso; (d) que o TFA estadual dos pres-
tadores de serviços sob gestão da SES, próprios ou localizados em municípios não
habilitados, sejam repassados automaticamente, entre fundos, para os estados em
GPSE e mediante pagamento por produção nos demais.
35
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Renato Tasca
Assessoria Técnica OPAS/MS
Com relação à NOAS, acredita que esta é realmente um passo importante para que
se possa garantir que os princípios básicos do SUS sejam operacionalizados. Assim, é
natural que a implementação da mesma não seja isenta de muitos conflitos e debates.
Mesmo assim, acredita que o atual processo está sem dúvida avançando e que existe
um grande grau de consenso no País sobre as questões despertadas por tal discussão.
Destaca o fato auspicioso de que a SAS já recebeu, até o momento, a quase totalidade
36
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
dos planos diretores dos estados, o que é muito significativo. Além disso, ao captar as
questões técnicas colocadas pelos representantes tanto do CONASS como do CONASE-
MS, tem mais uma prova importante de que o processo está sendo operacionalizado,
que há um grande movimento pela descentralização e que também já está superada a
etapa de discussão inicial.
Lembra ainda, para encerrar suas palavras, que faz parte do processo de operacio-
nalização do SUS, particularmente do atual momento de implementação da NOAS, o
fato de que os agentes da descentralização, no caso os estados, alcançarão seus resul-
tados em ritmos distintos, que é preciso reconhecer e qualificar.
DEBATES
3. Municípios que não assumem a responsabilidade pela assistência acima dos ní-
veis previstos de atenção básica, segundo a NOAS, estão na verdade transferin-
do responsabilidades para o estado (Maria Helena Brandão);
5. É preciso ficar claro que os recursos para a assistência no País ainda não são sufici-
entes e que existe grande pressão das necessidades não satisfeitas e que estes são
fatores importante no amadurecimento da discussão da NOAS; da mesma forma,
a norma ainda é muito complexa e isto também precisa ser amadurecido, dentro de
uma discussão que deve ser também conceitual, através de um autêntico processo,
que não deve ser visto como mera sucessão de etapas (Armando de Negri);
6. Os PDI, por sua vez, não podem ser vistos como formados exclusivamente por
recursos federais, mas também estaduais (Armando de Negri);
37
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
7. Não se pode negar que há no atual momento instrumentos que provocam o gestor
a exercer o seu papel e que este é um ganho efetivo do processo (Renilson Rehem);
8. Além disso, cumpre lembrar que conhecer as séries históricas é uma obrigação
do gestor e ainda que o SUS tem sua concepção como um sistema de financia-
mento conjunto, compartilhado e que, assim, a ação do gestor para a alocação
de recursos deve ser positiva, o que é fundamental para o bom andamento do
sistema (Renilson Rehem);
11. É preciso deixar bem claro que uma SES ausente, omissa ou incapaz simplesmen-
te inviabiliza o conjunto do sistema; ou seja, um papel apagado dos estados
na gestão do SUS não favorece os municípios, ao contrário do que pensam alguns
(Renilson Rehem);
12. A NOAS apenas como norma, mesmo compartilhada, não produz mudança de
forma direta, é o processo que interessa, processo de discussão e transforma-
ções sucessivas, com envolvimento dos diferentes atores em busca da prote-
ção da inovação, para que os diferentes sujeitos possam criar e implementar as
mudanças; a presente norma representa uma grande oportunidade para os estados
repensarem seu papel no SUS (Renato Tasca);
14. Questiona sobre os municípios-sede, que, não sendo sedes de referência, no caso
38
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
16. Retoma e insiste na questão do recurso adicional mencionada acima: sua aloca-
ção vai ocorrer de acordo com a programação (Renilson Rehem);
17. Quanto maior a plenitude de gestão, melhor para o SUS. Neste aspecto, não há
surpresas no processo de habilitação verificado pós-NOB 96, lembrando-se que o
verdadeiro papel do MS e das SES é apoiar os municípios em busca de capacidade
de gestão e de mais formas plenas de gestão (J. Ênio Servilha);
18. Importante lembrar que a NOAS não pode ter efeito total e imediato, como
nenhuma norma, aliás; o caráter progressivo é a regra, até pelas características
da própria realidade; ressalta a importância de desenhos de regionalização
em tempos sucessivos, como feito em MG (Maria Helena Brandão);
20. Constatam-se grandes avanços com o presente processo, e a perspectiva não é mais
autonomista e liberal do ente local, como já ocorreu no passado (Júlio Muller);
39
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
26. Há sem dúvida divergências no âmbito do CONASS com relação à NOAS, mas é
preciso escutá-las em busca de alternativas para as mesmas; seria muito difícil
encontrar um modelo único de norma na realidade complexa do Brasil; a diretriz
do comando único não deve ser sinônimo de caixa único (Júlio Muller);
27. A afirmativa de que não pode ser uma norma única para o Brasil é objeto de
discordância; comando único pode ser um conceito com diferentes alternativas
de operação. O que não pode existir, a NOAS é enfática, são dois gestores em
uma mesma realidade; a permanecerem as regras da NOB 96 não surgirá o ver-
dadeiro comando único, mas não seria essa a melhor opção (Renilson Rehem,
comentando a fala de Júlio Muller);
40
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
29. Pontos de destaque do debate: (a) os prazos para o CONASEMS precisam de melhor
esclarecimento, pois envolvem penalidades pelo seu não-cumprimento; (b) a pro-
posta do CONASEMS de voltar à situação da NOB 96, mesmo transitoriamente, é
objeto de discordâncias; (c) quanto às preocupações do CONASS sobre a questão
do comando único e da gestão das referências, a unicidade deve prevalecer (Re-
nilson Rehem, tentando uma síntese final);
31. Ainda os prazos definidos pela NOAS e sua adequação ao status dado pela NOB
anterior: a idéia é não prejudicar os municípios, mas considera que o CONASEMS
precisa esclarecer e explicitar melhor sua proposta quanto a isto; deve prevale-
cer o acordo político em cada CIB (representantes da SAS/MS);
32. Fortalecimento da gestão estadual pode não encontrar na NOAS os instrumentos sufi-
cientes, donde a proposta do CONASS referente à gestão das referências, procurando
um mecanismo mais seguro e adequado ao momento do processo de descentraliza-
ção; o comando único ainda não é objeto de consenso, mas sobre isso deve-se levar
em conta as realidades pré-existentes nos estados (representante do CONASS);
41
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O Pacto da Atenção Básica é realizado tendo como base a situação atual, vista através da
avaliação do Pacto 2000 e do Pacto 2001. São consideradas como indicadores as consultas
básicas, a cobertura vacinal com a terceira dose de DPT, além de outros indicadores. A
expositora lembrou que nos indicadores de 2OOO estão incluídas as consultas de emergência.
Quanto à avaliação do Pacto 2000, vinte estados enviaram a avaliação até o pre-
sente momento (74%). Destes, 40% cumpriram o prazo (6 de setembro), 50% enviaram-
na ainda em setembro e 10%, em outubro. Sete estados ainda não enviaram: MT, PA,
PE, PI, RO, TO. Quanto à avaliação do Pacto 2001, vinte e um estados enviaram (78%),
sendo que 14% cumpriram o prazo (6 de setembro), 48% enviaram-na ainda em setem-
bro e 38%, em outubro. Existe uma proposta de mudança de prazos, já que as falhas
chegam a mais de três meses consecutivos. Informou que 12% dos municípios brasilei-
ros não estão cumprindo os prazos. Ressaltou que, por portaria, se determina o atre-
lamento ao cadastro nacional e também o registro da produção de serviços estratégicos.
Uma análise mais detalhada mostra que 13 estados (62%) enviaram os dados nos instru-
mentos adequados, 5 estados (24%) enviaram-nos em papel, três estados (14%) utilizaram
somente o «simpacto». O Piauí não enviou a pactuação do estado, somente a dos municí-
pios; já o Rio Grande do Norte enviou somente a pactuação do estado, não incluindo a dos
municípios. Até o momento, seis estados não a enviaram. São eles: RO, PA, TO, MA e MT.
O cronograma para o pacto 2002 tem como proposta a definição dos indicadores
(15/12/01), a publicação da portaria (20/12/01), a disponibilização do «simpacto»
municipal (15/01/02), o envio dos Pactos Municipais às SES (15/02/02) e o envio dos
Pactos Municipais e Estaduais ao MS (28/02/02).
Dois pontos merecem ser destacados quanto à alimentação dos Sistemas Nacionais
de Informações em Saúde. O primeiro é a qualidade dos dados. O segundo é a alimen-
tação dos sistemas, na qual existem falhas, o que pode gerar problemas na alimenta-
ção dos sistemas de informação (fluxo de regularidade e cronograma de envio). Seria
válido rever a questão de fluxo e o cronograma de remessa dos dados.
42
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
Ainda quanto à avaliação do PSF, no quesito das ações básicas de controle da tuber-
culose e da hanseníase, 52% fazem o diagnóstico da hanseníase, enquanto 26% execu-
tam o tratamento; 66% diagnosticam a tuberculose, sendo que 35% efetuam o trata-
mento. A proposta é qualificar as equipes para o diagnóstico de hanseníase e estimular
que isso seja uma responsabilidade assumida pelas mesmas.
43
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A classificação dos municípios em relação a alguns dados precisa ser melhor inves-
tigada. A expositora enfatizou a existência de uma proposta de acompanhamento e
monitoramento dos dados, já que algumas informações são preocupantes, sendo que
municípios de pequeno porte teriam esta situação agravada. No entanto, deve ser
ressaltado que é nesses municípios que existe o PACS.
Eduardo Medrado
Representante do CONASS Secretário de Estado de Saúde de Tocantins
Para que haja a satisfação das necessidades prioritárias, enfatizou, é preciso fazer
análises e cuidadosa seleção dos possíveis elementos requeridos para satisfazer as
necessidades, como também a avaliação dos indicadores e do PSF, destacando que o
avanço na atenção básica implica aumentar a sua resolutividade. Quanto à questão da
integralidade, não se pode separar rede básica daquela de média e alta complexidade.
44
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
45
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quanto ao financiamento das ações de saúde, defendeu que o valor do PAB assegu-
re o adicional per capita para todos os municípios, enquanto a proposta do Ministério
da Saúde é apenas para aqueles que possuem um PAB inferior a R$11,00.
Finalizando sua exposição, apresentou alguns dados da situação das equipes PACS/
PSF no estado de Tocantins. Quanto à evolução no número de Agentes Comunitários de
Saúde, houve um crescimento de 877% no período de 1994 a 2001 (aumentaram de 280
para 2736). Em 2001, houve um aumento de 762% nos municípios cadastrados (o número
aumentou de 16 para 138); o número de municípios com o PACS/PSF implantados em
2001 é de 138 com o PACS (98%) e de 109 (64%) com o PSF. O comparativo do número de
equipes e municípios com PSF (1999 2001) mostra que houve um aumento de 46,1% no
número de equipes (169 para 247) e um aumento de 17,2% no número de municípios (93
para 109). O número de profissionais qualificados por categoria existente no PACS/PSF
em 2001 é de 227 médicos e auxiliares de enfermagem, havendo 263 enfermeiros e 2736
agentes comunitários de saúde. Chama a atenção para o significativo número de médi-
cos cubanos: dos 109 municípios com ESF, 44,9% possuem médicos cubanos, ou seja, dos
184 profissionais atuantes no mês de setembro, 28% são cubanos.
46
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
básica. É preciso fazer escolhas coerentes neste sentido, com o uso de indicadores que
devem ser adequados para tanto.
A expositora concluiu que os municípios não podem ser avaliados apenas através de
dados numéricos. Os indicadores também devem ser voltados para a oferta de servi-
ços. O processo saúde/doença é complexo e envolve outras questões. Para o CONASEMS,
a desabilitação dos municípios não resolve a questão. Se eles estão com dificuldades,
necessitam de apoio. As inúmeras dificuldades do PACS e do PSF também precisam ser
consideradas, como a precariedade das relações de trabalho, a formação profissional,
a rotatividade profissional, a baixa remuneração etc.
DEBATES
47
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
48
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
9. Preocupação com a área de RH, com os profissionais que estão na rede, mas
também com a graduação e a pós-graduação. Enfatizou a proposta de discussão
com o MEC para a implantação de mudanças curriculares. Está sendo concluída
uma primeira etapa de avaliação dos Pólos de Capacitação. Enfatiza a pequena
participação das áreas clínicas nos mesmos. Será necessário que os pólos ampliem
seu leque de preocupações para além da Saúde da Família, abrangendo todo
este universo da atenção básica. (Heloiza DAB/SPS/MS);
10. Como enfrentar a questão financeira e implantar o PSF nas grandes cidades?
Reconhece que existem defasagens na forma atual de trabalhar esta cobertura.
A proposta que tem maior adesão é a de trabalhar com a lógica do Distrito
Sanitário, o que é mais estruturante. Defende um reforço ao processo de moni-
toramento da atenção básica e de formação. É preciso pensar na qualidade e
não apenas na quantidade. Um cadastramento único com exigências de pré-
requisitos (Heloiza DAB/SPS/MS);
49
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
11. Ressalta que não se pode ser muito condescendente na questão da atenção
básica. Não defende a desabilitação, mas está convencida de que os municípios
devem ter capacidade de cobertura mínima. Não se deve qualificar na NOAS os
municípios em situação de não-resolutividade de situações elementares. O Mi-
nistério da Saúde recebeu muitas críticas quanto à pobreza dos indicadores. Não
se pode desqualificar a avaliação que já foi realizada. Propõe enfrentar o pro-
blema aprofundando a avaliação, sem desqualificar a informação que já se tem
em mãos (Maria Helena Brandão DDCA/SAS/MS);
João Gabbardo
Secretaria de Assistência à Saúde SAS/MS
No que tange aos gastos com AC, foram apresentados alguns quadros, através dos
quais pode-se inferir que em alguns estados cerca de 100% dos gastos, ou a quase
totalidade dos mesmos, são realizados em outros estados, vizinhos ou não. Da mesma
forma, se verifica que em algumas UF um percentual apreciável do gasto refere-se a
pacientes encaminhados de fora, mesmo quando não se incluem neste cômputo as
despesas realizadas com transplantes.
50
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
Aponta, finalizando, as inúmeras vantagens do novo sistema, tanto para os que transfe-
rem como para os que recebem pacientes, destacando a possibilidade de informação mais
exata sobre os casos referenciados, os desdobramentos para aprimoramento das listas de
espera de transplantes, e ainda uma melhor orientação da política de investimentos do MS.
Armando Raggio
Secretário de Estado da Saúde do Paraná Representante do CONASS
Sobre a gestão estadual das referências, admite que é necessário preservar atua-
ção das SES, pela garantia de financiamento compartilhado, inclusive na responsabili-
dade do gasto é preciso que o estado gerencie dinheiro, sim. Lembra ainda que a
questão orçamentária na área da saúde não se resolverá apenas pela vinculação, o que
poderia assegurar recursos mínimos. Entretanto, lembra que a garantia de alocação
em políticas sociais também é outra questão a ser resolvida, não estando garantida
em sua totalidade o que se tem concretamente ainda é a insuficiência dos recursos.
51
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Prosseguindo, destaca que não deve ser esquecido que o caráter do SUS é de resistência
a uma tendência internacional nas políticas sociais, com o afastamento do estado e o con-
seqüente desfinanciamento por parte do poder público. Assim conclama à palavra de ordem
de não perder o SUS, pois para os gestores é preciso ter a grandeza de saber perder e saber
a hora de ganhar, mantendo-se em vista a perspectiva permanente de não perder o SUS.
Insiste que o Estado, enquanto entidade, unidade federativa, deve ser preservada
acima de tudo, pois não só faz parte real da federação brasileira como tem um forte
papel a cumprir nas políticas sociais.
Acredita que os recursos devam afluir ao sabor dos movimentos que os cidadãos
fazem em sua vida e, neste aspecto, a situação atual do País ainda é de obstáculos que
precisam ser suprimidos. Assim, defende que são os gestores que devem administrar a
justa partição dos recursos, para aplicá-los em benefício de quem de direito. Não se
trata de tirar dinheiro de ninguém, alerta, mas propõe que a despesa esteja alinhada
com a PPI, sendo esta a verdadeira questão de fundo a ser defendida. Defende ainda
que o papel verdadeiro das SES, como gestores efetivos do sistema, inclui também o
controle da chave do cofre, nos três níveis do sistema em outras palavras, que os
gestores sejam guardadores reconhecidos dentro do sistema.
Iniciando sua exposição faz menção aos esqueletos que ainda estão guardados no
armário, numa alusão às práticas do velho sistema de saúde no País. Admite, contu-
52
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
do, que a NOAS sem dúvida é fonte de avanços que até então aconteciam de forma
mais ou menos atabalhoada, mas que, entretanto, não pôde superar totalmente os
velhos moldes do antigo INAMPS. O caso da alta complexidade é notório, adverte,
introduzindo a questão de saber se seria a CNR de fato uma necessidade no momento.
Defende que a NOAS é apenas o início de um processo, mas que é preciso discutir
também outros temas, como eqüidade, integralidade etc., antes de se encerrar defi-
nitivamente um autêntico ciclo histórico. Lembra que a NOAS não fornece mecanis-
mos para evitar o fechamento de fronteiras, no caso dos estados, pois ainda enfoca
de forma distorcida a alocação de recursos. Quanto à questão das referências, acredi-
ta que a NOAS contempla as preocupações presentes, por exemplo, da definição de
tetos municipais e também de responsabilidades sobre recursos.
Uma questãom, sem dúvida delicada, é a do comando único, que deve ser preserva-
do, mas que tal coisa não se resolve simplesmente por força de portarias. Alerta que a
discussão política é fundamentalmente necessária, consistindo em uma maneira de
respeitar a heterogeneidade da situação brasileira.
Quanto ao tema da responsabilidade dos estados, não tem dúvidas de que esta é
clara e que é preciso admitir que a insuficiência de recursos ainda vigora, inclusive por
responsabilidade deste ator.
Finalizando, faz críticas ao chamado Integra-SUS, que quebra o comando único e en-
fraquece gestores. Ressalta que ainda existem muitas outras questões a serem aprofunda-
das, que representam contradições do momento presente, por exemplo, o caso da porta-
ria que regula pagamento de diferenciais de tabela com recursos próprios o momento
para a mesma pode não ser o mais adequado. Em conclusão, defende que a NOAS repre-
senta um avanço sim, mas serve apenas para começar o jogo.
53
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
CNS, da CNBB e da OAB. Uma liminar cautelar será julgada no STF dentro de 10 dias
aproximadamente. Solicitam, assim, desta plenária uma moção de repúdio, bem como
presença ou representação junto ao ministro Moreira Alves, do STF, para impedir o que
classificam como mais uma imoralidade.
DEBATES
3. É preciso que a tabela do SIA-SUS ofereça recursos necessários para uma aten-
ção básica de qualidade; neste aspecto, os estados têm que colocar recursos
também na AB (Jorge Solla);
54
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
7. Fique claro que o MS está trabalhando em busca de um consenso para dar supor-
te aos desdobramentos da regulação, mas, sem dúvida, hoje está mais fácil de
discutir tais questões do que há um ano (Maria Helena Brandão);
55
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
56
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
Além disso, o edital ainda deve conter como cláusulas obrigatórias: a dos critérios
objetivos de avaliação de desempenho a serem utilizados, mediante indicadores de
resultado; a de previsão das obrigações e das responsabilidades das partes; a das pena-
57
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Como tipos de contrato, temos: o termo de compromisso entre entes públicos, o con-
vênio, o contrato de gestão e os contratos. O Termo de Compromisso entre Entes Públicos
é um ajuste firmado entre níveis de governo, no qual se pactuam o uso e as metas de uma
determinada unidade prestadora de serviço, sob gerência de um nível de governo e gestão
de outro. O Convênio pode ser realizado entre os próprios gestores do SUS, e entre estes
e entidades filantrópicas e/ou sem fins lucrativos. O Contrato de Gestão, é firmado entre
gestores do SUS e entidades privadas sem fins lucrativos, qualificadas como Organizações
Sociais.
58
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
Como sugestão aos gestores, é fundamental o uso das cláusulas recomendadas para
auxiliar no processo de contratação, sendo imprescindível o uso de critérios indicado-
res objetivos de avaliação de desempenho. O contrato deve estar, além do mais, inse-
rido na lógica do sistema, ou seja, vinculado a critérios ou indicadores objetivos de
avaliação, como o uso do Cartão SUS, o sistema de regulação, controle e avaliação. O
prestador deve estar submetido ao mesmo sistema, e ciente disto.
João Gabbardo
Secretaria de Assitência à Saúde SAS/MS
O sistema público de saúde ao fazer contratos estabelece uma relação com a uni-
dade prestadora de serviços (relação do sistema com a unidade credenciada, presta-
dora dos serviços). Citou, como exemplo, um hospital que irá se habilitar para a reali-
zação de cirurgia cardíaca, com os seus profissionais e equipamentos. O pagamento é
feito, diretamente, às entidades contratadas por todos os serviços realizados. Cabe à
entidade contratada o pagamento de todos os serviços e profissionais a ela vinculados.
59
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Lembrou, também, que existem várias opções de pagamento para serviços tercei-
rizados. Ao fazer o contrato com a entidade deve estar explicitada a cessão de crédi-
to, e, quando o hospital lançar o CGC, o valor será automaticamente lançado na conta
do médico ou serviço terceirizado. A indicação do CGC de outra entidade, pela unida-
de hospitalar, indica que existe acordo para que seja feita a cessão de crédito. A partir
da existência do contrato, o DATASUS faz automaticamente esse processamento.
60
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
Destacou que é preciso utilizar outra forma de avaliar que não a clássica e colocou
algumas questões para suscitar o debate. Lembrou da existência da tabela do SUS e da
necessidade de se implantar tabelas diferenciadas.
Historicamente esta discussão foi realizada pela pressão dos prestadores, não pela
lógica do valor real dos serviços. É preciso uma mudança de paradigma, na análise real
de custos. A qualificação do sistema de saúde deve prevalecer sobre a lógica do inte-
resse dos prestadores.
As ONGs e os filantrópicos são ambos privilegiados. Diante disto, como optar? Enfa-
tizou a importância da administração da gestão e de suas peculiaridades, como a
percentagem da capacidade instalada para a filantropia sobre todos os serviços e a
questão dos terceirizados, que não são totalmente filantrópicos.
61
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
62
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
DEBATES
1. Esta deve ser considerada uma oportunidade ímpar para a discussão sobre con-
tratos e formas de pagamento. Este tema ainda não foi suficientemente apro-
fundado, ainda não foi devidamente ajustado no SUS; há mudanças necessárias,
sem esquecer que ainda existem questionamentos legais, o que remete à ne-
cessidade de ampliar o arcabouço jurídico legal e a um entendimento mais uni-
forme das questões concernentes tanto para os gestores, como para os presta-
dores, face aos tribunais de contas; mas é bem verdade que a EC 29 já está
propiciando mais agilidade no entendimento por parte dos referidos tribunais.
Enfatiza a necessidade de ampliar esta discussão. O contrato é fundamental não
apenas para o gestor, mas também para o prestador. Deve propiciar um entendi-
mento uniforme para o gestor, para o prestador e para os tribunais de contas da
União e dos estados. O contrato representa a possibilidade da segurança, à medida
que permite o estabelecimento de regras precisas. Sobre a polêmica da aplica-
ção da Lei 8.666, não seria demais lembrar que ela foi desenhada para atender
a outro perfil, as demandas de grandes obras, não exatamente para um campo
como este; faz-se necessário um claro entendimento desse instrumento, à luz
desse fato; assim deve ser a discussão sobre os processos de contratação, para
que se evitem distorções após a sua implantação (René J. M. Santos);
63
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
6. Acha inconcebível esta discussão, que já deveria estar equacionada. Não é pos-
sível a existência de situações de total ilegalidade. O TCU tem cobrado isto do
Ministério da Saúde. Trata-se de tarefa extremamente importante. Algumas pro-
vidências deverão ser tomadas urgentemente. Demonstrou grande preocupação
quanto às questões levantadas sobre dificuldades de cumprimento dos prazos.
Acredita que uma certa omissão do Ministério da Saúde pode estar piorando a
situação. A organização do fluxo de compras é legitimada pelo CONASS e pelo
CONASEMS. O Ministério da Saúde tem o papel de elaborar a proposta e de abrir o
64
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
7. Qual é o real problema para o gestor federal? Não há como aproveitar contratos,
até porque o ente está extinto. O contrato não é um conjunto de regras difusas.
Tudo tem que estar previsto no edital. A proposta é de estabelecimento de
contrato de gestão, e não somente de compra de serviços (Renilson Rehem);
10. As instituições filantrópicas são geridas pelo público ou pelo privado? Se ela se
cadastra como filantrópica ela deve ser gerida como filantrópica, ou seja, tem de
assumir os riscos e vantagens desta opção. É preciso considerar a percentagem do
SUS reconhecida como filantrópica, que deverá ser tratada como tal. Caso ele
não preencha os requisitos, deve receber o tratamento previsto na lei (denúncia).
O cadastro é realizado para que se tenha uma base de prováveis prestadores. A
responsabilidade do setor público vai além disto. Sobre a dotação orçamentária, é
preciso que estados e municípios assumam sua responsabilidade. Todos os estados
deveriam estar em gestão plena. É inadmissível que, depois de onze anos de
promulgação da lei, isto ainda não tenha sido efetivado. A gestão plena não é
prêmio ou conquista, é dever, questão insuperável (Fernando Martins Júnior);
11. O SUS começou nos moldes do antigo INAMPS, o que gerou instabilidade no início
da década de 90 quanto ao financiamento. Os pontos críticos decorrem de falta
de regras. Os municípios foram tentando fazer contratos, o que começou a
gerar problemas, pois alguns serviços não tinham contrato com o INANPS. Pode-
mos estar diante de um grande impasse, pois as dívidas fiscais colocam em risco
a própria sobrevivência do serviço. Esta discussão não é nova. Talvez as discus-
sões e soluções estejam sendo mais sistematizadas. O Estado tem papel funda-
mental (Fernando Martins Júnior);
65
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
14. Não existe a possibilidade de usar partes da Lei 8. 666. Se o edital foi vinculado à
mesma, esse vínculo se dá com a totalidade da lei. O contrato pode ser prorroga-
do, no entanto, o prazo é limitado, conforme o art. 57. Realizar licitações para
compra de serviços a toda hora é um procedimento caro, que traz dificuldades
para se trabalhar. A sugestão, que deve estar prevista no edital, é a de contratar
serviços à parte. Para facilitar estes procedimentos, o Ministério da Saúde deve
fazer um chamamento periódico de todos, realizando um cadastro geral (Gisele);
15. A discussão de um tema tão complexo não será esgotada neste encontro. Não se
pode excluir a Lei 8. 666 (Renilsom Rehen).
16. Não existe a dificuldade de aplicação da lei. A lei de licitação foi regulamentada
pela Constituição. O Ministério da Saúde apenas adota os critérios (Aida Santana);
17. A Lei 8. 666 não foi concebida para a saúde e sim para a realização de obras. As
alternativas da área de saúde devem ser negociadas. As questões geradas pelo
INSS com os profissionais têm que ser resolvidas. A federação dos hospitais filan-
trópicos também deve ser discutida. A questão da realização de convênio ou
contrato deve ser discutida antes, os prós e os contras devem ser pesados (Maria
Luiza Jaeger);
18.Como fazer para resolver um problema que já existe há muito tempo? Existe
uma questão concreta, que é o maior nível de exposição dos municípios. O ente
federal e os municípios podem estar sujeitos a interpretações legais distintas.
Apontou para a questão de chamamento ou de licitação? Não tem nada contra o
chamamento. No entanto, quando existe um grande número de prestadores, o gestor
66
2. Seminário: O Sistema Único de Saúde e a Regionalização
20. O Ministério da Saúde não vai implementar nada ilegal. Existe preocupação
neste sentido, com assessoria jurídica para tanto. Além disto, também existe
jurisprudência sobre esta questão. A rede deve ser desenhada antes do edital de
chamamento. É preciso definir os critérios de julgamento. O Cadastro SIA SUS é
outra modalidade de chamamento público. A escolha deverá ser realizada de
acordo com os critérios de rede. Existem alternativas, como o uso de critérios
vinculados à vigilância sanitária e o estabelecimento de uma comissão de alto
nível. A rede deve estabelecer o que deve ser priorizado quanto ao acesso e
organizar um banco de prestadores (Maria Helena Brandão);
67
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
68
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
3.
Seminário:
PERSPECTIVAS PARA A DESCENTRALIZAÇÃO E
REGIONALIZAÇÃO NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Autores: Flavio A. de Andrade Goulart: Professor Titular do Departamento de Medicina Social da UnB
Lucinéia Morely Machado: Mestranda em Política Social do Departamento de Serviço Social e Política Social da UnB
ABERTURA
O ritmo de implantação da NOAS está sendo muito rápido, sem dúvida, mas com
resultados palpáveis, tal como a elaboração de Planos Diretores de Regionalização
(PDR) na maioria dos estados, o que significa um avanço enorme. Assim, mesmo diante
de expectativas «realistas» a respeito do andamento da implantação da NOAS, não é
difícil ser otimista com o atual processo. O fundamental foi ter começado a caminhar,
para então chegar aonde está sendo possível, mesmo que nem tudo esteja completo
ao final de 2002.
69
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
tado pela prática dos PDI. Este efetivamente é um novo momento na gestão do SUS,
com a organização do mesmo em bases regionalizadas. Não seria possível, realmente,
ter tudo em toda parte, até porque isto não contribuiria para facilitar o acesso à alta
complexidade nos grandes centros.
Faz três anos que ocorreram as primeiras habilitações de GPSM, e que as mesmas
foram resultado de um esforço militante de pessoas que acreditavam no SUS, na pos-
sibilidade de reconstruir e remodelar a gestão. O tempo mostrou que este era o cami-
nho certo, pois importantes conquistas foram alcançadas. O Brasil hoje é referência
internacional no programa da AIDS. O Programa de Controle do Tabagismo também já
alcançou repercussão internacional.
NOAS para quê, afinal? Para aumentar a capacidade do gestor, ampliar e qualificar
a AB, o cuidado à saúde próximo às situações de risco; para racionalizar e aprimorar a
assistência, por exemplo, nas internações e nas emergências, através da organização
da base do sistema, permitindo tocar nos determinantes sociais da doença; para au-
mentar a resolutividade, como acontece, por exemplo, com a implantação do Progra-
ma Saúde da Família; para reduzir a mortalidade.
É certo que ainda existem no País algumas questões pendentes, que poderiam ser
solucionados via AB, como é o caso do controle da tuberculose, do incremento de qualida-
70
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
Silvio Mendes
Presidente do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde CONASEMS
É possível fazer-se hoje uma avaliação muito positiva do atual momento do SUS,
que deverá ter como resultado mais saúde no Brasil. Muito se fez, tanto na decisão
como na ação. O momento é propício para refletir e olhar para frente, aproveitando-se
da maturidade alcançada pelos gestores.
Trata-se de um extenso trabalho que teve como objetivos gerais: (a) avaliar o processo
de implementação da Gestão Plena do Sistema Municipal (GPSM); (b) produzir novos conhe-
cimentos acerca do processo de descentralização em saúde; (c) além de formular recomen-
dações de políticas especialmente voltadas para a construção da regionalização e de siste-
mas de saúde, em um país com acentuadas diferenças de ordem regional e sócio- econômicas,
e com diferentes capacidades administrativas/institucionais no plano municipal.
71
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Foram avaliados 523 municípios em GPSM (até 12/2000), segundo suas trajetórias
de habilitação, ou seja, seus percursos prévios pelas modalidades de gestão da NOB/
93, assim caracterizados: baixa trajetória institucional 159 (30.4%), média trajetória
245 (48,6%) e alta trajetória 110 (21%).
Quanto ao porte populacional dos municípios, cerca de 174 (33,3%) têm de 20 a 100 mil
habitantes, abrigando 53,8% da população da mostra, sendo oito capitais, abrigando 3,3% da
mesma população. A grande maioria dos municípios (452 86,4%) passou a GPSM em 1998.
Foram apresentados os resultados do cruzamento das diversas variáveis: trajetória, ano de
habilitação, porte populacional e região, informações disponíveis no endereço mencionado.
72
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
financiamento e gasto municipal (via SIOPS); (g) modelo de atenção à saúde adotado
no município (perfil da atenção à saúde adotado). Para a elaboração de cada indica-
dor, foram detalhados os elementos escolhidos para compor o perfil das mesmas.
Houve uma evolução positiva dentre os municípios habilitados em gestão plena, entre
1998 e 2000, ou seja, ocorreu um maior adensamento dos sistemas municipais de saúde ou
73
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Esse perfil mais homogêneo do sistema de saúde, em 2000, não significa necessari-
amente uma melhoria nos padrões de igualdade, considerando a igualdade como a
capacidade de o sistema oferecer mais recursos para aqueles que mais necessitam de
assistência, pois a despeito da melhoria da distribuição regional dos grupos (regiões
mais pobres adentram em grupos mais resolutivos), são os grupos menos resolutivos
que possuem menor disponibilidade financeira e menor capacidade de gasto.
Eduardo Levocvitz
Consultor da OPAS/Washington
Destaca-se a importância das informações aqui veiculadas para a divulgação aos diversos
atores políticos. As supostas «imaturidade» ou a «inviabilidade», além de outras críticas que
se fazem costumeiramente ao SUS ficam a partir de agora bastante desacreditadas.
74
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
O momento atual é qualitativamente diferenciado, pois nele juntam-se peças que anda-
ram separadas, ou seja, o sistema e a rede de serviços, o que supera definitivamente uma fase
em que a discussão se concentrava apenas em relações entre esferas de governo. Isto repre-
senta sem dúvida uma forte tendência de amadurecimento político, administrativo e técnico.
O que se vê, afinal, é que a discussão passa a ser a respeito de saúde e também de
formação de redes, não mais sobre dinheiro ou preocupações menores, por exemplo,
sobre vinculação das unidades às esferas de governo, objetos de comando, etc.
75
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O financiamento e o gasto federal por região apresentam uma tendência para alta
e média complexidade, que cresce na Região Centro-Oeste e Sul. Quanto ao gasto
federal, segundo o aprendizado institucional, os municípios que foram habilitados na
NOB/93 são os que detêm maior capacidade de oferta e recebem maior volume de
recursos financeiros.
Quanto aos modelos de atenção à saúde adotados nos municípios, segundo as regiões,
as despesas com PACS/PSF são mais significativas nas regiões Nordeste e Norte, sendo
que as altas coberturas na Região Centro-Oeste parecem não ser suficientes para re-
verter o modelo.
76
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
As ações voltadas para mulheres e crianças aparecem com destaque, o que neces-
sita ser repensado, levando-se em conta os atuais padrões demográficos de envelheci-
mento da população.
77
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
78
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
Como fonte de recursos mais importantes, 71% dos municípios apontam a fonte
federal, com destaque para a região Sudeste, que apresenta a menor dependência dos
recursos federais (56%). O chamado estrangulamento financeiro aparece em 40% dos mu-
nicípios classificados em alto constrangimento financeiro, com destaque para o grupo 2
(alta complexidade) com 63%, e para o grupo 1 (AB) com 32%. Como inovação, na ques-
tão financeira, fontes alternativas de recursos foram apontadas por 77% dos municípios,
tais como multas e outras parcerias.
Barjas Negri
Secretário Executivo do Ministério da Saúde
Estudos feitos, nos anos 80, revelaram que desigualdades já existiam nesse perío-
do, já que os recursos advinham da economia formal, ou seja, mediante a contribui-
ção daqueles que tinham carteira assinada, concentrados nos grandes centros urbanos
do País. Assim, nada menos do que 50% dos gastos ambulatoriais e os hospitalares do
antigo INAMPS estavam alocados em uma única região, a do Sudeste.
79
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tal disparidade precisa, entretanto, ser melhor compreendida. Assim, por exem-
plo, não se prestavam serviços de forma adequada nas regiões Norte, Nordeste ou
Centro-Oeste por falta de vontade política. O que ocorria é que não havia investimen-
tos necessários na rede pública ou na rede privada, que eventualmente pudesse ser
contratada pelo SUS para suprir demanda por atendimento. Mesmo que houvesse von-
tade política de ampliar, de forma razoável, os gastos ambulatoriais e hospitalares,
não existia a possibilidade de uma resposta imediata, por conta da inexistência de
uma maior oferta de serviços, oferecidos por uma rede diminuta de ambulatórios e
hospitais. Assim se consolidou ou até mesmo se aprofundou a iniqüidade no sistema.
Se não bastasse isso, o sistema tinha ainda uma forte instabilidade no seu financi-
amento. Nos anos recentes, há um certo privilégio de atuarmos em um clima de mar-
cante estabilidade no financiamento, porém são bem conhecidos pelos que militam na
saúde os graves problemas correlatos ocorridos entre 1989 e 1994, quando as crises da
economia e seus reflexos nas receitas públicas impactavam, sempre de forma negati-
va, o financiamento da saúde.
Voltando aos gastos do antigo INAMPS, e acompanhando também as outras esferas, verifi-
ca-se que os orçamentos mostravam oscilações, como se fosse uma «montanha-russa»: em um
ano crescia e no outro decrescia, acompanhando os movimentos da economia e da arreca-
dação. O que era pior: como os recursos da saúde eram provenientes do orçamento da
seguridade, a saúde ainda tinha que competir dentro do orçamento previdenciário.
80
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
Entre 1994 e 1996 também houve problemas, e não é por outra razão que os emprés-
timos e recursos do FAT foram mais uma vez solicitados. A tabela de procedimentos
tinha sido reajustada, mas como o sistema de saúde não obtinha numerário para pagar,
estes ficavam, evidentemente, com atrasos no pagamento.
Os anos de 1997 e 1998 foram de transição. O governo tentara, mais uma vez, uma
solução provisória, a criação da CPMF, prevista inicialmente por dois anos, para colocar um
pouco mais de recursos no SUS. Logo em seguida, entretanto, conseguiu-se elevar o pa-
drão de gastos do MS, com maior estabilidade e credibilidade do órgão perante os presta-
dores de serviço, os fornecedores de insumos, o FAT etc. Aliás, é bom lembrar que os
recursos do FAT pertencem aos trabalhadores, e se saíram do seu caixa para empréstimo
devem voltar para a manutenção e recuperação do patrimônio do mesmo. Os emprésti-
mos realizados em 1993 e 1994 foram, em boa parte, pagos em 1997 e 1998, e os emprés-
timos feitos em 1995 e 1996 também foram pagos durante 1997, 1998 e 1999.
81
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
No final dos anos 90, completa-se a transição para um sistema um pouco mais
adequado, com a CPMF passando de provisória para definitiva, elevando dessa forma o
patamar de financiamento do sistema de saúde, mesmo com uma parte da CPMF indo
para a Previdência Social.
A descentralização mediante a NOB 96 como que «se alastra» em 1998 e 1999 por
grande parte dos municípios brasileiros, com um real aporte adicional de recursos na AB
e tentativas de correção das distorções. No PAB, por exemplo, de acordo com estudos
realizados pelos técnicos do MS, principalmente da SAS, foi detectado que a disparidade
da alocação, da distribuição e da transferência de recursos pelo sistema de faturamento
continha grandes distorções, em todos os níveis. Mesmo dentro de um único estado que
recebesse recursos acima da média nacional, havia disparidade dos recursos da atenção
básica. A simples fixação de R$10,00 por habitante/ano já permitiu homogeneizar a
situação de cerca de 2 mil municípios, ou mais, que recebiam abaixo de R$4,00 ou R$5,00
por habitante/ano. Significou, na época, duplicar recursos, mesmo reconhecendo que
tal cifra é ainda insuficiente para o atendimento adequado da população residente.
Assim, ganharam os municípios que, por alguma razão histórica, não tinham condições
de ter uma oferta de serviços em AB. Além disso, a introdução do PAB fixo permitiu
alocar uma quantidade enorme de recursos nos estados, principalmente nas regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Essa distribuição representou sem dúvida um «primeiro
ato» para a redução das desigualdades na atenção básica.
82
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
Mesmo para a AB, havia forte concentração de recursos nas regiões do centro-sul do
País, com valores per capita mais elevados destinados aos centros urbanos. Mas uma
análise simples de dados agregados não revelaria as disparidades existentes mesmo den-
tro do estados. Por exemplo, no Rio Grande do Sul, quase todos os municípios recebiam
em recursos do MS a metade da média nacional. Na Bahia era igual: praticamente todos
os seus municípios não tinham oferta adequada de serviços básicos e recebiam recursos
muito abaixo da média nacional. O que aconteceu, de fato, é que com dois ou três anos
de implantação do PAB, os municípios começaram a se adequar. Alguns alocaram o di-
nheiro da AB para construir e reformar postos de saúde, comprar equipamentos etc.
As informações disponíveis demonstram, por exemplo, a marcante ampliação da oferta
de consultas médicas e de pré-natal uma diferença «da água para vinho», sem dúvida.
Nossas estatísticas ainda padecem de dificuldades de alimentação adequada das infor-
mações para os bancos de dados do SUS, mas, mesmo assim, é notório um crescimento
significativo na realização dos procedimentos básicos.
83
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Uma parte importante dos recursos foi alocada nas regiões Centro-Oeste e Norte.
No Centro-Sul, a adesão ao PSF foi menor, por várias razões históricas; uma delas é
porque já existia uma boa oferta de unidades básicas de saúde, com médicos e outros
profissionais já trabalhando. Assim, a adesão à implantação desse programa veio a
ocorrer realmente nas áreas que dele mais necessitavam.
Na média e alta complexidade, a questão é sem dúvida mais complicada. A lógica que
prevaleceu historicamente e aqui talvez não se tenha percebido como se dava a aloca-
ção dos recursos era muito mais por aumento de tabela do que por aumento de serviços
propriamente dito. Foi entre 1998 e 1999 que a SAS/MS, sob a coordenação de Renilson
Rehem, começou a modificar tal lógica, não sem grandes dificuldades. O esforço de mu-
dança da lógica envolveu, entre outras ações, criar centros de referência, privilegiar
tabelas para maternidade de alto risco, melhorar ou humanizar o parto, incrementar a
prestação de diversos serviços de complexidade muito alta, dinamizar o sistema de emer-
gências. Para tanto, as tabelas foram modificadas de forma diferenciada, pois não havia
mais espaço para «reajustes em linha», com percentuais fixos para todos os procedimentos.
84
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
No entanto, só isso não bastava. Houve, durante esse período, de 1998 a 2001, a
alocação de recursos pactuada com os gestores estaduais para a ampliação da oferta de
serviços, recursos livres independentemente de irem para a tabela, para que pudessem
oferecer um pouco mais de serviços nas suas áreas. E, enquanto se fazia isso, houve uma
articulação com o Congresso Nacional, que permitiu emendas para a ampliação do orça-
mento dos recursos de atendimento à saúde, privilegiando, mais uma vez, as regiões
mais carentes, diminuindo-se também a distância entre os valores per capita com o
Centro-Sul, aumentando a participação relativa de forma direcionada e pactuada com
cada gestor. Algumas negociações foram coletivas, outras individuais, em virtude das
características de cada estado. Foi dentro de tal contexto que se procurou ampliar o
teto financeiro do Nordeste, utilizando-se as sobras de recursos de alguns estados.
Um resultado notório dos novos tempos instaurados na saúde se reflete nos indica-
dores de cobertura vacinal, que melhoraram de forma significativa, pois os municípios
passaram a se organizar, homogeneizando-se, assim, a cobertura vacinal no território
nacional. Existiam municípios que não cobriam mais do que 60% ou 70% da população
e hoje todos se aproximam da faixa dos 90% ou acima.
85
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Nos últimos cinco anos o tema dos investimentos esteve em pauta nas discussões
com os governadores, com as propostas de conclusão de hospitais, prontos-socorros,
policlínicas, hemocentros etc com obras iniciadas há anos e atingidas pelo processo
inflacionário e pela escassez da fonte de recursos. Em 1996, o MS havia aprovado um
programa junto ao Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD),
intitulado REFORSUS, visando a um amplo sistema de financiamentos, com uma parte
significativa dos recursos para recuperar a rede. Assim, os investimentos puderam ser
retomados de forma constante, a partir de 1997, com resultados palpáveis na ampliação
da oferta de serviços. Nos últimos cinco anos, foram ou estão sendo investidos, estando
em prazo de maturação, recursos na ordem de US$1 bilhão em todos os estados.
86
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
A tabela I nos permite algumas inferências a respeito da relação entre a divisão dos
recursos e a da população no território brasileiro. Nela se percebe que na AB há uma
tendência à equalização entre população e distribuição de recursos, invertendo uma
tendência histórica. Na média complexidade, isso ocorreu de forma mais modesta. Os
valores per capita tiveram um crescimento significativo e acentuado na AB e um cres-
cimento menor quanto à média e alta complexidade.
Tabela 1
87
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 2
Na questão da AB, as diferenças positivas são até mais acentuadas, porque está
sendo implantanda a Bolsa Alimentação, vinculada a este item, na qual metade dos
recursos serão para atender a clientela da região Nordeste. Portanto, o crescimento
dos recursos destinados à AB em 2002 tem índices superiores aos da média e da alta
complexidade. Assim, a estabilidade do financiamento, junto com a perspectiva da
implantação e da execução da Emenda Constitucional 29, oferece um horizonte razo-
ável para o planejamento financeiro do sistema, certamente ainda distante do ideal
(por exemplo, nos serviços de média e alta complexidade), mas trata-se de um quadro
relativamente melhor do que era entre 1997 e 2001.
88
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
o executado no ano de 2001. Diante deste quadro, ainda há quem faça críticas ao governo
federal, utilizando argumentos de que houve evasão da parte do COFINS, do PASEP ou da
CPMF. Ora, a previsão é de que até o ano de 2004 isso já não terá importância alguma.
Simplesmente o orçamento ficou obrigado a crescer pela variação do PIB e assim deixa de
ter importância a origem dos recursos da saúde, seja do imposto de renda, de IPI ou
do COFINS, tanto faz. Então, quem faz essa crítica e há gente séria que a faz precisa
mudar o discurso, porque este não tem substância.
Outro efeito da EC 29 é que os estados vão ser obrigados a gastar um pouco mais
nos próximos anos, porque eles estavam num patamar muito baixo de gastos com
saúde. Da mesma forma, espera-se que a saúde não vá sofrer as conseqüências da
reforma tributária, bem como de eventuais reduções de impostos e de isenções.
Em linhas gerais, é isso que tem ocorrido em termos da alocação de recursos para
a saúde nos últimos anos. Os dados estão aí, para quem quiser ver. É o resultado de um
trabalho difícil e complicado, pois a realidade do Brasil é a de um país continental,
com muitos municípios e muita heterogeneidade. Porém, a equipe do MS, em articula-
ção com o CONASS, com o CONASEMS, com o Conselho Nacional de Saúde, com as
entidades dos profissionais da saúde, tem procurado, na medida do possível, dar uma
contribuição para que se possa, cada vez mais, garantir um bom atendimento à popu-
lação, porque essa é a obrigação de todos os profissionais e políticos que estão com-
prometidos com a direção de nosso sistema de saúde.
89
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
De acordo com a NOAS, na elaboração dos PDR os estados definem as bases territoriais
para a descentralização e a organização do atendimento à saúde, delimitando as suas regiões
e/ou microrregiões de saúde, os módulos assistenciais, o município sede de módulo assis-
tencial, o município pólo e a unidade territorial de qualificação na assistência à saúde.
Para o estudo das aglomerações urbanas como aglomerados de saúde, os elementos deri-
vados do estudo da rede urbana foram articulados com dados e informações específicas da
saúde, tais como: (a) fluxo de internações hospitalares; (b) identificação da produção dos
procedimentos de alta complexidade; (c) capacidade instalada dos serviços médico-sanitários,
para se chegar à definição dos fluxos de saúde nos respectivos aglomerados de saúde.
A definição dos aglomerados de saúde foi elaborada a partir da construção das matrizes
de fluxos de AIH, considerando-se o local de moradia do paciente e a localidade do atendi-
mento, com o cálculo de indicadores específicos para a determinação de pólos considerando
o índice de eficácia do movimento de atendimentos (IE), taxas de invasão (TI) e de evasão (TE).
90
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
Para a configuração preliminar dos aglomerados de saúde, tomando-se por base as delimita-
ções territoriais definidas nos PDR, foi realizada uma releitura da matriz de fluxos de AIH,
de acordo com os seguintes procedimentos: (a) confronto de pólos e subpólos anteriormente já
identificados como sedes de macrorregiões, regiões ou microregiões, e (b) identificação de
outros subpólos considerando-se a indicação das sedes de módulos assistenciais pelos PDR, além
de checagem da adscrição de municípios situados nas fronteiras das duas regionalizações.
Também foram apresentadas as principais causas de morte por grupos etários no esta-
do do Pará, com a caracterização dos aglomerados de saúde através do perfil epidemioló-
gico, evidenciando-se as principais causas de morte da população menor de 10 anos,
91
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Foi mostrado o potencial de gasto per capita nos aglomerados de saúde (conside-
rando-se a aplicação da Emenda Constitucional 29/2000), sendo a estimativa do po-
tencial de gasto para 2002, nos pólos e aglomerados de saúde, baseados nas previsões
da receita corrente líquida total e per capita, da receita mínima per capita destinada
à saúde e da distribuição da receita total do estado por aglomerado.
Além disto, a publicação terá informações municipais, com a localização dos municípios
no estado, os volumes de invasão e evasão (AIH), a capacidade instalada de serviços de
saúde e a estimativa preliminar das disponibilidades de recursos dos municípios para a saúde.
No Paraná apenas 13 municípios estão em Gestão Plena (GPSM), mas é neles que residem
45% da população, sendo que recebem 55% do total de recursos destinados à saúde no
estado. A tendência é aumentar a concentração de recursos nesta modalidade de gestão.
A NOAS não deve ser considerada apenas um instrumento de igualdade pura e sim-
ples. A NOB/96 já possibilitou avanços, com o marcante aprimoramento da capacidade
gestora, além de adequação da função de estado. A capacidade de vocalização tem
sido também um fator determinante na alocação de recursos no SUS como um todo
isto faz parte da democracia. O que se procura é acertar, mesmo por tentativa e erro,
sem cometer erros fatais, procurando-se o caminho do meio.
92
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
É claro que casos especiais tiveram que ser resolvidos. Por exemplo, o de municípios
com recusa a serem sede de módulo, ou outros em que os fluxos de AIH não obedeciam
ao esperado, conforme também demonstrou o estudo da UNICAMP sobre aglomerados
urbanos, apresentado anteriormente.
Finalizando, constata-se que a consciência do direito por parte dos usuários do SUS
é cada vez maior. De cada um segundo sua capacidade; a cada um segundo suas neces-
sidades: este deve ser o lema do SUS.
93
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
COMENTÁRIOS
O enfrentamento local com prestadores de serviço é forte, e nem todo município quer
assumir o risco de fazê-lo, como foi o caso de Arapongas e Colombo, entre outros no que
foram respeitados.
94
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
ço» estratégico na região do Cariri. A divisão realizada não está totalmente em sinto-
nia com aquela proposta pela UNICAMP.
Como estratégia optou-se pela ênfase no Programa Saúde da Família, como estra-
tégia concreta para remodelar a atenção básica. Esta foi a opção desde o início do
processo, mas não havia, no primeiro momento, uma proposta definida para organizar
a atenção secundária. Assim, foi implantado o PSF com cobertura de 100% dos municí-
pios, resultando na ampliação de 686 para 1.500 equipes e um grande esforço de
capacitação das equipes, em cursos ofertados pela ESP/CE.
A AB, no estado do Ceará, conta com algumas estruturas de apoio, a saber, acesso
a laboratório, ECG, parto normal e observação clínica no município. Fique claro que a
microrregião é sempre o primeiro nível de referência. Foram definidas como ações
prioritárias no atendimento programado, entre outras, a vacinação de rotina, o con-
trole das doenças infecto-contagiosas de notificação obrigatória, o controle de diabe-
tes e hipertensão, a atenção ao adolescente e à mulher, o acompanhamento do cres-
cimento e desenvolvimento das crianças, a atenção básica em saúde bucal, a vigilân-
cia epidemiológica, a vigilância sanitária e a assistência farmacêutica. Ainda nesta
área, procura-se garantir ações prioritárias no atendimento à demanda espontânea
em clínica médica, pediatria, ginecologia obstetrícia, pequenas cirurgias e de urgên-
cia e emergência realizadas por médico generalista, além de odontologia, com atendi-
mento de urgência e emergência.
95
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
96
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
social, cultural e sanitário, implementado pela ação cooperativa dos governos federal
(indiretamente), estadual e municipal (diretamente). O sistema microrregional de servi-
ços de saúde é uma organização virtual de pactuação e negociação, sustentada por uma
Comissão Intergestora Bipartite microrregional e ativada por instrumentos de planeja-
mento e programação integrados e pela ação cooperativa de seus componentes.
São objetivos dos sistemas integrados de serviços de saúde: (a) ofertar serviços de
saúde, orientados às necessidades de uma população determinada de forma contínua;
(b) melhorar a coordenação e a comunicação horizontais entre as diferentes unidades
prestadoras de serviços de saúde; e (c) ampliar os pontos de atenção à saúde. Além
disso, visam também: (a) garantir serviços prestados de forma certa, na hora certa, no
lugar certo e a um custo certo; (b) aumentar a satisfação dos usuários; (c) maximizar
a eficiência no uso dos recursos; (d) racionalizar a utilização de procedimentos clíni-
cos e administrativos; e (e) estimular o autocuidado, promover o controle público e
integrar os serviços de saúde com os serviços de assistência social.
Como principais nós críticos para implantação da NOAS, foram apontados: a diver-
gência no conceito de microrregião trabalhado pela SES, a organização da microrre-
gião de atenção secundária em dois níveis, a suficiência de oferta de serviços e a
existência de serviços especializados em municípios que não apresentam estrutura de
oferta para assumir responsabilidades de município sede de módulo.
Quanto às estratégias definidas pela SES para implantação da NOAS, foi enfatizado que
a responsabilidade de coordenação do processo será assumida por Gerências Microrregio-
nais ligadas ao gestor estadual, porém as estratégias de condução do processo podem ser
diferentes em cada caso. Existem, no momento, seis microrregiões em processo de im-
plantação e mais 15 microrregiões ainda por implantar. A Gerência Microrregional assumi-
rá a responsabilidade de coordenação do processo e contará com o apoio da Escola de
Saúde Pública, que poderá delegar responsabilidades para as universidades.
97
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
COMENTÁRIOS
Foi destacada a especificidade do processo ocorrido no estado, cujo início deu-se em 1988,
com a implantação da microrregião de Baturité. Foi destacada a relação mantida entre o
Gestor Estadual e o COSEMS, que forneceu informações sobre os municípios e colaborou inten-
samente no processo, de feição bastante democrática e transparente, acima de tudo.
Chama-se atenção para situações que exigem cautela, pois existiria uma tipologia
98
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
O processo de implantação da NOAS teve início com a resolução que criou a Comissão
de Acompanhamento do Processo de Regionalização dos Serviços de Saúde, formada por
representantes da SES, do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde e do município
de São Paulo. Esta comissão teve como missão coordenar o processo de regionalização,
acompanhar e assessorar o processo de articulação e de implantação do Plano Diretor de
Regionalização, tendo sido formados grupos de trabalho para o acompanhamento dos
indicadores da agenda estadual de saúde, da própria regionalização, da Programação
Pactuada Integrada, do Cartão SUS e do cadastro de estabelecimentos de saúde.
A Agenda Estadual foi elaborada através da discussão com técnicos das diversas áreas da
SES, mediante a aprovação do Conselho Estadual de Saúde, visando orientar as Agendas e os
99
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Planos Municipais de Saúde e também o Plano Estadual, com objetivos e indicadores ade-
quados à realidade do estado. Como pressuposto da avaliação de cada objetivo, os indicado-
res devem ter como base informações de rotina e serem confiáveis. A regionalização pressu-
põe o mapeamento prévio dos municípios sedes de módulo e municípios-pólo, considerando
a oferta de serviços, o IPDH e a receita municipal per capita, além do PABA e do agrupamen-
to dos procedimentos com base na necessidade do profissional e percentual de realização.
Foram considerados como critérios para a sede de módulo realizar 70% dos procedi-
mentos de média complexidade 1 (M1) e realizar internação nas três clínicas básicas;
para ser pólo regional é necessário dispor de serviços de alta complexidade.
Como dificuldades para a implantação da NOAS foram citadas a insuficiência para a média
complexidade 1 (M1) e internação básica, a pactuação inter-regional, além de uma definição
mais detalhada dos pólos e a presença de questões políticas municipais e inter-regionais.
O Plano Diretor de Regionalização PDR proposto para o estado define 246 sedes
de módulo e 66 microrregiões. A Programação Pactuada Integrada foi elaborada a
partir de seminários para uniformização dos conceitos, da agenda e do plano, além de
treinamento das regionais na utilização do software apropriado para a PPI.
Para a «M1», foram criados parâmetros para antes e depois da habilitação. Para a
média complexidade, «M2» e «M3», foram utilizados parâmetros de necessidade, com-
parados com as bandas, por exemplo, na demanda reprimida optou-se pela banda
superior. Para a alta complexidade, os parâmetros foram construídos com a colabora-
ção de especialistas e com a utilização de critérios considerados universais.
100
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
COMENTÁRIOS
É atestado o bom andamento do processo em São Paulo, que foi realizado de forma
articulada com o COSEMS SP. É declarada, também a grande «novidade» que é fazer
as coisas acontecerem, dar passos adiante.
Avançar para a Gestão Plena (GPSM) é a grande proposta que deve ser defendida
por todos, pois quanto mais municípios estiverem nesta modalidade de gestão melhor
para o sistema de saúde como um todo.
As máquinas das SES por natureza resistem à descentralização. Muito esforço deve
ser feito para mudar esta cultura e incentivar os municípios. Constata-se um certo
clima de desânimo com a GPSM, que precisa ser revertido.
101
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O fato de o município de São Paulo ainda não estar em GPSM até o momento não faz
sentido. Adentrar em tal modalidade de gestão parece ser, felizmente, a disposição do
secretário de Saúde do município, Eduardo Jorge.
Foram estabelecidas, para tanto, algumas diretrizes, como base de orientação para a
reorganização dos serviços de saúde, a saber: (a) nos municípios, concentração da Atenção
Básica (por exemplo com o PSF); (b) nos módulos assistenciais, a média complexidade, incluindo
o pré natal de alto risco; (c) nas microrregiões, as urgências e a média complexidade M2 e M
3; (d) nas regiões, internação geral e a alta complexidade ambulatorial e hospitalar.
102
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
como assegurar o planejamento dos serviços, o mais próximo possível das comu-
nidades a serem atendidas.
Garantir a melhor participação dos cidadãos na tomada de decisões e escolha
das prioridades regionais e locais, na organização e gestão dos serviços.
103
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Concluindo, é preciso ter clareza de que a PPI seja realmente um marco zero para
a fixação dos novos tetos financeiros dos municípios, especialmente para aqueles que
se encontram em gestão plena do sistema.
COMENTÁRIOS
O Amapá foi convidado para representar a região Norte, uma vez que apresenta
características representativas da mesma, como a baixa densidade demográfica, a
inexistência de prestadores privados e a carência de profissionais.
O estado do Amapá, com população concentrada na área leste, possui extensa área
ainda ocupada por florestas. A principal causa da mortalidade é a malária, cujo con-
trole depende da questão do manejo ambiental, o que exige a adoção das propostas da
agenda 21 (desenvolvimento sustentável).
104
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
tendo como princípios básicos que o investimento seja economicamente viável, social-
mente desejável e ecologicamente responsável. As estratégias são: a promoção da eqüidade
social, o fortalecimento da economia e a manutenção do equilíbrio social e ambiental.
Foram apresentados dados sobre a capacidade instalada da rede SUS, que atende à
demanda espontânea. Destacou-se o fato de o estado ser novo e pequeno, com apenas
um município na gestão plena, sendo que dois não estão habilitados de nenhuma for-
ma, o que é preocupante.
Para que a reorganização dos serviços de saúde seja compatível, é preciso considerar os
recursos de acesso existentes, assim como as dificuldades, o que onera bastante o sistema.
Para que a reorganização dos serviços de saúde seja compatível e viável à luz da
NOAS/SUS/01, foi adotada a seguinte estratégia: na atenção básica, PSF para todos os
municípios; atenção básica e média complexidade para a microrregião ou módulo (mu-
nicípio sede de microrregião/módulo) e MC II, III e alta complexidade para o estado.
105
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
No Amapá, nem todas as clínicas básicas já estão implantadas, mas existe previsão
orçamentária para tal, sendo que é crucial a sensibilização dos gestores municipais
para esta nova forma de organização. Ressaltou que 1/3 dos municípios tem menos de
quatro mil habitantes, sendo que o estado tem dificuldade de contratação de profissionais,
o que gera preocupação em incentivos para a interiorização.
Nas sedes das microrregiões/módulos em que os gestores ainda não possam assumir
a gerência da unidade mista existente, a Secretaria de Saúde do Amapá continuará
gerenciando o sistema até que se viabilize o plano de repasse dessas unidades ao
município, o mesmo ocorrendo com os municípios na gestão da Atenção Básica.
O Tratamento Fora de Domicílio (TFD) intermunicipal deverá ser regulado para que
sejam garantidos os serviços aos usuários referendados, ficando o TFD interestadual
sob responsabilidade da secretaria estadual.
106
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
A microrregião Macapá é formada pelo módulo Macapá e pelo módulo Porto Grande.
Por fim, a microrregião Santana é composta pelo módulo Santana e pelo módulo
Laranjal do Jari.
COMENTÁRIOS
Lineu da Silva Fagundes
Secretário Municipal de Macapá
Presidente e Representante do COSEMS AP
107
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Houve grande apoio dos gestores neste processo, sendo que a Programação Pactuada
Integrada PPI está sendo construída, levando em consideração todos os recursos
disponíveis. Foi possível verificar que, frente à enorme diversidade de realidades exis-
tentes no País, é possível uma adaptação.
Renato Tasca
Consultor da SAS MS
108
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
Uma lógica de cooperação entre níveis de governo deve prevalecer, superando estágios
de tensão e competição este é um fator essencial para o sucesso do processo de descen-
tralização. Deve-se reconhecer que a exigência dos cidadãos neste sentido é palpável, inclu-
sive demandando descentralização de decisões, pois o ganho de eficácia é muito grande
quando isso acontece. O ganho se traduz em governance, ou seja, capacidade de governo
ampliada, aspecto essencial para quem tem de gerenciar uma rede, um sistema complexo
de serviços, com muitos interlocutores. Isto constitui uma lógica mais adequada e contem-
porânea de atuação, que se contrapõe ao mero «governo», em seu sentido tradicional.
Insiste-se que a descentralização faz mais sentido quando seu objeto é material-
mente definido como uma «rede», na qual os mecanismos de cooperação e não de
competição devem prevalecer. Assim, a NOAS é percebida como uma resposta natural
do sistema de saúde, dentro do contexto da acumulação de conhecimentos e práticas
que configuram os cenários da sociedade brasileira atual, com toda sua complexidade.
109
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
pelo mercado? É realmente importante ter crença no modelo no qual se está investindo
política ou economicamente. Não é demais admitir que o pensamento liberal pode aceitar
flexibilizações em suas regras e o mesmo pode ocorrer com outras modalidades de pensa-
mento. É preciso, pois, não só buscar um termo comum, como procurar produzir conheci-
mento neste sentido.
Mas o desafio principal, entre tantos, é sem dúvida de natureza institucional. Nes-
te aspecto, a missão institucional não pode ser considerada imutável ou fixa e pode
mesmo ser revista, por exemplo, ao encontro de outras lógicas, como a divisão de
tarefas entre os níveis de governo, com novos papéis a serem atribuídos aos níveis
centrais. Aqui, mais do que nunca, a noção de governance deve orientar a ação. Ainda
neste campo, recomendar-se-iam processos de comunicação intra- e interinstitucio-
nais mais adequados. Da mesma forma, novas configurações de gestão, como, por
exemplo, agências, devem ser pensadas, particularmente para as estruturas de influ-
ência e referência nacional, com ênfase na flexibilidade.
OFICINAS TÉCNICAS
110
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
Ainda como instrumentos para controle, regulação e avaliação, podem ser conside-
rados: a Agenda de Saúde; o quadro de metas PDR, PDI, termos de garantia de acesso;
termos de compromisso entre entes públicos; tetos físicos financeiros da assistência;
relatórios de gestão, execução orçamentária do fundo de saúde; atos normativos do
Ministério da Saúde, dos gestores e dos Conselhos de Saúde; instrumentos de avaliação
da qualidade assistencial e da satisfação dos usuários etc.
111
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
112
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
113
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Marcos Pinciara
Representante do DATASUS
O projeto tem como objetivos específicos: (a) permitir a regulação e controle de toda
a disponibilidade assistencial de uma região/município; (b) agilizar o atendimento de
forma a dar conforto ao cidadão; (c) auxiliar no controle do fluxo das demandas ofertadas
dos municípios e suas possibilidades de atendimento baseados na Programação Pactuada
Integrada PPI; (d) distribuir de forma igualitária os recursos de saúde para a população
de acordo com as necessidades do atendimento; (e) encaminhar e agendar internações
eletivas e de urgência, e (f) acompanhar a disponibilidade de leitos.
114
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
115
Série Técnica Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
UE e sem condições de ter médico regulador próprio. O regulador vai ter acesso ao
sistema, mesmo se este estiver fora do ar, ou seja, sem sair do município tem-se
clareza do que está disponível pela central.
116
3. Seminário: Perspectivas para a Descentralaização e Regionalização no SUS
117
ISBN 85-87943-11-1
PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS/OMS)
série técnica
Projeto de Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde
2
APRESENTAÇÃO
série técnica
Projeto de Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde
BRASÍLIA — DF
2003
1a Edição — 2002
Elaboração, distribuição e informações
Organização Pan-Americana da Saúde
Organização Mundial da Saúde
Setor de Embaixadas Norte, lote 19
70800-400 Brasília - DF
www.opas.org.br
Projeto de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde/OPAS
Coordenador do Projeto:
Dr. Juan Eduardo Guerrero
www.opas.org.br/servico
Apoio técnico e administrativo:
Luciana de Deus Chagas
Rosa Maria Silvestre
Revisão:
Manoel Rodrigues Pereira Neto
Capa, Projeto Gráfico e DTP:
Wagner Soares da Silva
Tiragem:
500 exemplares
NLM: W 84
AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS .............................................................................................. 5
RESUMO ......................................................................................................... 11
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 13
3. RESULTADOS .............................................................................................. 31
3.1 A Política de Saúde e a Produção em PP&G no Brasil (1974-2000) — Trajetórias
e Interseções ............................................................................................ 31
3.1.1 Uma análise a partir das fases da política ...................................................... 32
FASE 1 — Teórico-conceitual (1974/1979) — a reforma sanitária e a consolidação de um
novo “campo” em saúde ........................................................................ 32
FASE 2 — Político-ideológica (1980-1986) — a negociação da reforma ............................ 37
FASE 3 — Político-institucional (1987/1990) — definições institucionais .......................... 40
FASE 4 — Político-administrativa (1990/1998) — a implementação da política ................... 42
FASE 5 — Complementação jurídico-legal e técnico-operacional (1999/2000)
— regulamentação ................................................................................... 46
3.1.2 Os temas abordados na produção — caracterização e análise dos estudos ............ 47
3.2 Estudos de Reforma do Sistema e Serviços de Saúde e a Fase da Política ................ 57
ANEXOS ......................................................................................................... 71
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo apresenta os resultados do estudo de “Investigação sobre a produ-
ção de conhecimento em política, planejamento e gestão em saúde (PP&G) no Brasil”, no
período de 1974 a 2000. Toda a análise esteve pautada numa comparação da produção
em PP&G com a trajetória de formulação e implementação da política de saúde no Brasil
nesse mesmo período.
1 Professor Adjunto do Curso de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Medicina Social da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ). Doutor em Saúde Coletiva pelo IMS/UERJ.
13
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Desde a adoção da estratégia de Saúde para todos até o ano 2000 (SPT 2000) e a
Declaração de Alma Ata em 1978, os sistemas de saúde têm sofrido profundas
reestruturações, buscando alcançar os objetivos propostos. E o investimento em pesquisas
para o desenvolvimento de sistemas de saúde também tem sido crescente desde então.
E o grande desafio apresentado por aqueles que hoje se dedicam a essa discussão
está em relacionar investigação, política e serviços no processo de construção e desenvol-
vimento dos sistemas. A relação entre gestores e investigadores não é trivial, há uma
distância de interesses que os separa, a começar pelos objetivos que cada um desses
grupos almeja — o investigador quer examinar as informações no que elas apresentam
de peculiaridades e características, o governante busca as informações para utilizá-las
na definição de suas metas e objetivos estratégicos (ROSENTHAL, 1981).
Nesse conjunto, apontar com bastante objetividade qual a importância dos estudos
de investigação para a lógica de organização dos sistemas e serviços pode ajudar na
construção de um diálogo mais cooperativo entre esses grupos; na realidade, tal prática
pode incentivar a prática de pesquisas que visem um maior retorno e busquem transformar
conhecimento em ação. Rosenthal (1981) é categórico nessa análise ao apontar como
questão central para o debate o fato de que não devemos nos perguntar se a investigação
em sistemas de saúde produz boas políticas, mas como fazer com que essas investigações
sejam úteis para o processo político.
Por outro lado, os governos apresentam uma grande dificuldade para estabelecer a
relação entre investigação e política, pois a prática da pesquisa voltada para esse fim
não está institucionalizada, não havendo um estímulo para o desenvolvimento de cen-
tros de pesquisa e para a capacitação de pessoas para esse tipo de investigação (EVANS,
1992). E, ainda, a pesquisa sobre sistemas de saúde envolve uma quantidade grande de
atores, políticos e institucionais, podendo ser considerada uma pesquisa do tipo
participativa, exigindo uma maior democratização do processo político. Assim, o investi-
mento obtido nessa área dependerá do compromisso assumido pelo governo na construção
de suas estratégias políticas e no reconhecimento da relevância da pesquisa no desenvol-
vimento de ações concretas para o Estado (DAVIES, 1991).
14
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Assim, o objetivo geral do estudo foi subsidiar e sistematizar uma reflexão sobre as
possíveis contribuições das investigações de saúde para o debate político, no período de
1974 a 2000, visando correlacionar essa produção com a trajetória de formulação e
implementação da política de saúde no Brasil nesse mesmo período.
2. DEFINIÇÕES METODOLÓGICAS
O objeto de estudo da pesquisa partiu do campo de produção da Saúde Coletiva, no
eixo disciplinar Políticas, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G). A delimitação do
estudo nesse eixo definiu o objetivo estratégico da pesquisa, qual seja: perceber como
o campo da Saúde Coletiva está refletindo sobre a política de saúde, compreendida des-
de a macropolítica até as relações estabelecidas no âmbito das práticas em saúde, e
dialogando com os formuladores de política. A idéia foi perceber como se está pensando
estrategicamente a questão política da saúde, assumindo que este campo de conheci-
mento se constituiu e se sustentou como um campo de saberes e práticas a partir de uma
crítica à realidade de saúde.
6 Um Banco de Dados foi especialmente construído para a pesquisa, atendendo as especificidades da classificação
dos estudos. Tem-se como proposta a divulgação desse banco em CD-Rom, a ser entregue para as instituições
de ensino e pesquisa já relacionadas como de formação em saúde coletiva ou interface, e ainda disponibilizar o
banco na Internet — esse último procedimento se encontra em fase de negociação.
15
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
8 Tatiana W.F.Baptista (coordenadora), Severina Alice da C. Uchôa, Grasiele Nespoli e Mônia Mariani (pesquisadoras).
16
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
tégias para a coleta de informações sobre a produção em PP&G, e delimitamos uma nova
classificação da produção. Todas as estratégias metodológicas foram redefinidas num
Seminário de discussão aberto, realizado9 no Instituto de Medicina Social da Universida-
de do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), com a apreciação de cinco consultores,
escolhidos a partir de suas inserções em instituições do campo da Saúde Coletiva, foram
eles: Carmen F.Teixeira — ISC/UFBa, Paulo E.M.Elias — FM/USP, Pedro L.Barros — NEPP/
UNICAMP, Nilson do R.Costa — ENSP/FIOCRUZ e Ruben de A. Mattos — IMS/UERJ.
Teses/Dissertações
Foi reunida a produção de teses e dissertações das 22 instituições de ensino em pós-
graduação stricto sensu em saúde coletiva. A principal fonte de dados foi o Banco CAPES10 ,
que disponibilizou a produção no período de 1993 a 1998. Para a coleta de informações
relativa ao período anterior a 1993 (1974-1992) e posterior a 1998 (1999 e 2000), foram
investigadas nas principais instituições de pós-graduação a produção referida. Foram
selecionadas as instituições que participam desde os primórdios de constituição do campo
com a formação stricto sensu em saúde coletiva: UFBa, ENSP/FIOCRUZ, IMS/UERJ, FM/
USP. Outra estratégia utilizada na coleta de teses e dissertações foi a busca da produção
em saúde coletiva disponível nos Bancos de Dados da Bireme — Ad-Saúde e Lilacs, especial-
mente. Esse último recurso possibilitou cruzar as informações já obtidas pelas demais
fontes e verificar a eficácia das estratégias adotadas. Foram incorporadas na produção
teses e dissertações das áreas de interface, ou seja, não atuantes na área de saúde
coletiva, e que estavam referidas no Banco da Bireme como teses de “Saúde Pública”. Do
banco Capes foram reunidos 1.252 registros, complementados pela listagem da UERJ,
10 A CAPES — Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior — é uma entidade pública
vinculada ao Ministério da Educação que tem como objetivo principal subsidiar o Ministério da Educação na
formulação das políticas de pós-graduação. Apresenta um banco de dados com informações sobre as teses e
dissertações defendidas desde 1986, apresentando maior rigor de informações a partir de 1990.
17
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
ENSP, UFBA, FM/USP ano a ano (656 referências no período anterior a 1993 e posterior a
1998). E as referências de teses e dissertações de saúde pública constantes na Bireme
totalizaram 971 títulos. Os dados da Bireme e da produção de cada instituição duplicaram
algumas referências já apresentadas pela CAPES, o que dificultou a totalização dos títulos
investigados. Numa tentativa de totalização estimamos o contato com mais de 2.300
referências.
18
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Congressos da Abrasco
Os resumos registrados nos Anais representam, em grande parte, os estudos que não
conseguiram uma publicação formal ou que ainda estão em curso, permitindo uma análise
mais relacional da produção com a fase política. Nem todos os trabalhos foram registrados,
somente aqueles enviados previamente e apresentados em forma de comunicação coorde-
nada, painéis e pôsteres. Os trabalhos apresentados em conferências, palestras, mesas-
redondas ou na modalidade “grandes debates” são encomendados e, por isso, não são
enviados com antecedência, o que impossibilita a publicação nos livros de resumos.
Com o passar dos anos, o volume de publicação cresceu, como também a participação
dos profissionais dos serviços e das instituições de ensino e pesquisa. Através dos Anais
foi publicado um total de 5.317 resumos, sendo selecionados 1.533 trabalhos (29%) sobre
política, gestão, organização, planejamento e avaliação em saúde (PP&G). Além dos
trabalhos sobre PP&G, os trabalhos de epidemiologia sempre ocuparam uma posição de
destaque na produção científica do mesmo modo que as ciências sociais, dada a importân-
cia de suas contribuições. Hoje, a ABRASCO, além de preparar os Congressos de Saúde
Coletiva, é responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Epidemiologia e o
Congresso Brasileiro de Ciências Sociais. Embora seja significativa a produção nestas
duas áreas, escolhemos trabalhar somente com os cadernos referentes ao Congresso de
Saúde Coletiva, visto que, diante das especificidades que marcam os outros dois eixos
disciplinares, concentram a maioria dos trabalhos de PP&G.
Conferências de Saúde
19
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Adotamos com rigor a coleta das referências, estabelecendo como condição de inclusão
no Banco de Dados a obtenção de um resumo, apresentação do estudo ou mesmo o
contato com a publicação na íntegra.
20
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Híbridos — estudos que se encaixam em duas ou mais áreas temáticas propostas pela
classificação.
No interior das áreas temáticas abrimos “subáreas temáticas”, com o objetivo de faci-
litar posteriores cruzamentos na análise das características dos estudos. As subáreas defi-
nidas foram: AIDS, Comunicação e Saúde, Controle Social, Ciência e Tecnologia, Educação
e Saúde, Endemias, Financiamento, Formação/Prática, Informação, Medicamentos, Nutri-
ção, Recursos Humanos, Setor Privado, Saúde Ambiental, Saúde da Mulher, Saúde do Adulto,
Saúde do Adolescente, Saúde Bucal, Saneamento, Saúde da Criança, Saúde Escolar, Saúde
da Família, Saúde do Idoso, Saúde Mental, Saúde Materno-Infantil, Saúde do Trabalhador,
Sangue e Hemoderivados, Vigilância Sanitária e Vigilância Epidemiológica.
Além disso, para cada estudo uma palavra-chave foi destacada. Como padrão, buscamos
usar as palavras apresentadas no estudo considerando sempre a primeira palavra apresen-
tada pelo autor. A lista de palavras-chave é bem mais extensa, mas também possibilitou
um olhar mais detalhado sobre a produção, nos seus principais eixos de discussão. Palavras-
chave: acesso, administração hospitalar, AIS, alocação de recursos, assistência à saúde,
assistência hospitalar, atenção básica, atenção primária, banco mundial, bioética, cidada-
21
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
22
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Nas três últimas décadas, o Brasil ampliou significativamente o seu parque de pesqui-
sas, principalmente quando comparado a outros países de industrialização recente. Ape-
sar de ainda ocupa lugar periférico quando comparado ao panorama mundial, o país tem
a vantagem de, além de gerar internamente a maioria dos recursos que subsidiam o
parque instalado de pesquisa, formar, nas próprias instituições, principalmente as públicas,
a quase totalidade dos profissionais envolvidos nos projetos de pesquisa.
A pesquisa científica começou a ser instituída no Brasil ao fim da década de 50, com a
criação do CNPq e da CAPES, e fortaleceu-se com a publicação do Parecer nº 977 da Câmara
de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação11 e com a promulgação da Reforma
Universitária em 1968. Mas a materialização daquilo que tais medidas preconizavam só pôde
ocorrer na década de 70, quando o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) abriu espaço
para questionar a noção vigente de que o crescimento econômico resolveria as desigualda-
des sociais, propondo políticas sociais ativas — não vinculadas estritamente ao desenvolvi-
mento econômico — materializadas, inclusive, no incremento de investigações tecnológicas
e no apoio à instituições de ensino e pesquisa em políticas públicas.
11 Conhecido como Parecer Sucupira, dispõe sobre a montagem de um parque de pós-graduação no Brasil, associado
à atividade de pesquisa e tendo as Universidades Públicas como lócus institucional.
12 A FINEP era uma agência governamental para o apoio financeiro-institucional, através de convênios com
instituições públicas de ensino e pesquisa, que exercia o papel de Secretaria Executiva do FNDCT.
23
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Esses programas lograram articular uma relação entre instituições acadêmicas com
investigação nas áreas de Saúde Pública, Medicina Social, Medicina Preventiva e Medicina
Comunitária, situando o período de 1975 a 1978 como o período de emergência do campo
da Saúde Coletiva, em que um novo conjunto de preocupações, investigações e, principal-
mente, de recursos humanos em saúde, começou a se formar.
Foi nas instituições de ensino e pesquisa que surgiram as primeiras críticas ao sistema
de saúde13 , foi delas que surgiram as propostas de reorganização do sistema14 e que
saíram os principais quadros profissionais15 que compõem hoje o sistema de saúde, seja
nos serviços de saúde que representam a ponta do sistema, seja no nível gestor, nas
secretarias estaduais e municipais e no Ministério da Saúde.
A crise que afetou a economia nacional e internacional a partir de 1981 provocou uma série
de cortes orçamentários nas pesquisas da área social como um todo e na área de saúde em
13 Na linha de críticas ao sistema de saúde, olhando a forma de organização da prática médica, estão os trabalhos
de tese de Donnangelo (1974, 1975) e Arouca (1975), pioneiros nessa discussão.
14 Os estudos com propostas de reorganização do sistema aparecem principalmente nos periódicos, livros, Congressos e
Conferências de Saúde, estando as teses e dissertações mais voltadas para uma discussão teórica dos modelos,
práticas e organizações sociais, subsidiando o debate propositivo, mas não necessariamente utilizando-se dele.
15 Na realidade, há desde a origem da saúde coletiva uma retroalimentação do sistema de formação com o sistema
gestor, e vice-versa. A proposta mais recente de organização de mestrados profissionalizantes é apenas a
afirmação desse princípio.
24
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
A partir de 1992, com a criação de uma Comissão Intersetorial de Ciência e Tecnologia dentro
do Conselho Nacional de Saúde, iniciou-se um movimento em direção à realização da I Conferência
16 Segundo recomendação de 1990 da Commission on Health Research for Development (COHRED), os países em
desenvolvimento devem alocar pelo menos 2% de seus gastos governamentais com saúde nos setores de Pesquisa
& Desenvolvimento.
25
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde, que seria realizada em 1994. Nessa conferência,
foram esboçadas as primeiras propostas para a criação de uma Política Nacional de Ciência e
Tecnologia em Saúde, comprometida eticamente com os princípios da Reforma Sanitária Brasileira
e articulada às necessidades de saúde da população, proposta como elemento constitutivo da
própria política de saúde do país (ABRASCO, 2001).
No Brasil tudo indica que a crise no setor responde, por uma lado, à crise fiscal do
Estado brasileiro e, por outro, à inexistência de uma reflexão sistemática no sentido de
propor políticas ajustadas não só aos tempos de crise, mas à realidade do sistema cien-
tífico e tecnológico do país. (GUIMARÃES, 1994).
Com o passar dos anos, a crise tornou-se instituída, mantendo o volume de recursos
num patamar de escassez contínuo. Apesar dos investimentos em C&T terem sido inferiores
nos anos 90, comparativamente aos anos 80, o ritmo da produção acadêmica foi acelerado:
a) pela inserção cada vez mais precoce de recém-graduados nos cursos de pós-graduação,
devido à exigência do mercado de maior especialização ou mesmo como opção de remune-
ração; b) pela inserção de profissionais dos serviços de saúde, buscando, além da qualifi-
cação, uma complementação para os salários defasados e c) pela inserção de professores,
obrigados a qualificarem-se como mestres e doutores de acordo com a nova Lei de Diretri-
zes e Bases da educação. Tais fatores aliaram-se às exigências dos centros de pesquisa
e à concorrência, nacional e internacional, na captação de recursos, estimulando ainda
mais o aumento da “produtividade” acadêmica num contexto cada vez maior de restrição
orçamentária.
17 Respectivamente, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Rio de Janeiro.
26
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
18 Podemos dizer que existiram três ondas de criação de cursos de pós-graduação no país. Uma primeira nos anos
70, com o investimento de recursos advindos da política de desenvolvimento em C&T. Uma segunda, mais amena,
ao final dos anos 80, início dos 90, com a política de C&T restrita a lógica da produção, mas ainda com o incentivo
à produção. E uma terceira a partir de meados dos anos 90, com a proliferação de cursos de pós-graduação por
todo o país, respondendo à necessidade de qualificação profissional desenhada na política de educação e cargos e salários.
19 O ano de 1974 foi tomado como referência por algumas razões: a) a partir desse ano, teve início uma nova
conjuntura política no interior do governo autoritário, com maior investimento na área social; b) o investimen
to na área social possibilitou também o fortalecimento das instituições de ensino e pesquisa e o desenvolvimento
da Saúde Coletiva como um novo campo de conhecimento e c) o começo de uma política voltada para a “abertura”
do regime, favorecendo a expressão dos movimentos sociais, dentre eles o movimento sanitário. No entanto,
a utilização desse marco não significa dizer que não tenha ocorrido nenhum tipo de contribuição no momento
anterior, é apenas um recurso metodológico para a delimitação do estudo.
27
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
uma flexibilidade maior para a análise proposta, com períodos flutuantes, onde os fatos
políticos foram os principais norteadores da análise.
QUADRO 2 - Trajetória da Política de Saúde no Brasil (1974-2000) — Fases e Objeto Central da Política
Período/Fase Objeto Central da Política
Fase 3 — 1987/90 Consolidação jurídico-legal e social dos princípios e diretrizes do projeto de reforma
Político-institucional setorial.
Fase 4 — 1991/98 Definição do papel de cada esfera de governo na organização do sistema e formulação/
Político-administrativa implementação de instrumental operacional para esse relacionamento.
20 Trata-se de uma tese de doutorado, defendida em 1997 no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, que inova numa proposta de compreensão de todo o processo de construção da reforma da
saúde no Brasil.
28
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Essa análise incorporou a proposta de estudo da política de saúde como uma política
pública, como um processo de construção de uma agenda governamental para o setor.
Um sistema de ação que envolve recursos, atores, arenas e idéias (Viana, 1997). Os
atores, as instituições que participaram do debate e a política de Estado conformada a
cada período, foram, portanto, tópicos de análise do estudo.
29
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Essas dificuldades trouxeram a certeza de que, por mais que seja feito um esforço de
delimitação da metodologia de pesquisa, para evitar determinados vieses de análise, sem-
pre estaremos enfocando mais ou menos um determinado aspecto da produção. Mas, com
todas as dificuldades metodológicas e de análise da pesquisa, acreditamos ter avançado
30
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
3. RESULTADOS
Um primeiro fato constatado nessa pesquisa aponta para uma harmonia de discussão
do debate acadêmico com o debate político na trajetória da política de saúde. Ou seja,
os estudos acadêmicos, de uma forma ou de outra, com pequenas defasagens de tempo,
buscaram compreender, explicar, analisar e criticar o processo político vivido pelo setor
saúde em cada fase da política, contribuindo de forma direta ou indireta na definição da
política de reforma setorial.
Não significa dizer que haja uma parceria das instituições acadêmicas com os gestores
políticos, mas que há um interesse dessas instituições no acompanhamento do processo
decisório. A peculiaridade do caso brasileiro precisa ser lembrada. A Saúde Coletiva no
Brasil se constituiu como um campo de conhecimento que tomou a realidade de saúde —
política, institucional e social — como objeto de estudo, voltando seu interesse para a
compreensão dos problemas enfrentados no contexto da política de Estado e na garantia
do direito à saúde, colocando-se como tarefa a crítica à realidade e a apresentação de
propostas alternativas.
31
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Foram analisadas ao todo 3.413 referências sobre PP&G, entre livros, teses, periódicos
nacionais e internacionais, congressos de saúde coletiva e conferências de saúde, num
conjunto superior a 15.000 referências, como é possível verificar no quadro 3.
Foi nessa fase que se consolidou o movimento brasileiro da reforma sanitária que,
fundamentado numa análise teórica das relações Estado-sociedade, relações de poder,
sistemas de proteção social e outras, esboçava críticas à política social e de saúde. A
crítica à política revelou um diagnóstico das iniqüidades em saúde e da desigualdade
22 Pela especificidade desse veículo, é impossível estimar a quantidade de livros publicados desde 1974; por isso
consideramos o total de livros incluídos na classificação de PP&G.
23 Em 1974 há uma mudança na condução da política de Estado no Brasil no âmbito do governo militar, concretizada
com a entrada de Geisel no poder. Geisel inaugurou o processo de abertura política no país diante do desgaste e
perda de legitimidade progressiva do governo e configurou um conjunto de medidas específicas de rearranjo da área
social, pautado numa política de desenvolvimento nacional traçada pelo II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND).
32
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
social no país, estabelecendo uma agenda de propostas para a reversão do quadro social
apresentado e, em especial, das condições de saúde.
Assim, essa fase caracterizou-se no debate político pelo interesse na investigação so-
bre os determinantes econômicos, políticos e sociais da conformação do sistema de saúde
brasileiro e na formulação de alternativas de reforma setorial. As discussões giravam em
torno dos problemas e necessidades de saúde da população e seus determinantes, de pro-
postas políticas e de reordenação do sistema, além de debates sobre a medicina preventi-
va e social. Temas congruentes com a ampliação dos movimentos de questionamento do
modelo de atenção à saúde característico dos serviços prestados pelo Estado.
De um modo geral, pode-se dizer ainda que houve nessa fase um grande esforço teórico
no sentido de marcar um novo campo de conhecimento, a Saúde Coletiva, onde a “novidade”
se expressava na contraposição com o conhecimento anteriormente existente e hegemônico
na área da saúde. Tratava-se, portanto, de demonstrar a determinação social do processo
saúde—doença, em oposição, ao considerado reducionismo biológico, naturalismo e pretensa
neutralidade do conhecimento científico, que orientava a atenção à saúde, sobretudo a prá-
tica médica. Ao mesmo tempo, procurava-se evidenciar o cenário de necessidade de trans-
formação da sociedade capitalista. Os estudos utilizavam como ferramenta a epidemiologia
para demonstrar “cientificamente” as relações entre condições de vida e saúde. Aportavam
às ciências sociais, em especial o marxismo, para fundamentar não só esta determinação,
mas também a conformação do Estado e das instituições que o representavam.
33
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Também a partir de meados dos anos 70, iniciaram-se os trabalhos científicos sobre
políticas de saúde, permitindo uma maior consolidação institucional dessa nova área de
atuação acadêmica. As agências de financiamento, como a FINEP (Financiadora de Estu-
dos e Projetos), o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
e outras passaram a investir mais recursos em Ciência e Tecnologia. Nesse contexto,
incluíram-se as pesquisas no setor saúde, com a participação efetiva dos integrantes do
movimento de reforma da saúde.
24 Como estudos que viraram referência: Donnangelo (1974, 1976); Cordeiro (1978); Arouca (1975); Machado (1978),
Luz (1979) e outros.
34
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
35
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
E, ao final dos anos 70, as discussões reformistas no setor saúde passaram a ocupar
maior espaço na esfera estatal de discussão, bem como, no âmbito parlamentar, começava
um momento de transição para uma nova fase, que chamamos aqui de fase político-ideológica.
25 O documento foi elaborado por três professores, cuja origem institucional era o Instituto de Medicina Social da
UERJ: José L.Fiori, Hésio Cordeiro e Reinaldo Guimarães.
36
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
À guisa de síntese desta fase (74-79), vale ressaltar que os anos de governo Geisel
possibilitaram maior espaço para os movimentos contra-hegemônicos ao poder estabele-
cido e o desenvolvimento de políticas sociais. No setor saúde foi possível o fortalecimento
do movimento de reforma da política de atenção para o setor. No aspecto político e
social, imprimiram-se as posições voltadas para a definição de um Estado democrático.
Os impasses da crise geral do Estado e a presença sólida de propostas de reforma para o
conjunto do Estado permitiram o encaminhamento de reformas. E no tocante às políticas
sociais, o início do processo de abertura e democratização social permitiu o desenho de
políticas de proteção de moldes cada vez mais universalistas.
O Prev-Saúde visava dotar o país de uma rede de serviços básicos que oferecesse, em
quantidade e qualidade, os cuidados primários de proteção, promoção e recuperação da
saúde, tendo como meta a cobertura de saúde a toda a população até o ano 2000. A
atenção primária, nesse entender, seria a estratégia para a redução das desigualdades
sociais existentes, estratégia essa que atendia duplamente aos propósitos do Estado.
Por um lado, porque era necessária a reformulação do setor saúde, por outro lado, por-
que respondia às principais diretrizes assinaladas para a saúde nos fóruns internacionais
de discussão sobre saúde.
37
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
No entanto, o Prev-Saúde acabou não sendo incorporado pelo governo e muito menos
estabelecido na prática, dadas as resistências intraburocráticas assentadas no INAMPS,
a forte oposição das entidades do segmento médico-empresarial e, ainda, as pressões
oriundas do campo da medicina liberal (CORDEIRO, 1991). Esse conjunto de forças confor-
maram um sem-número de razões para que o Prev-Saúde não se concretizasse. Os conflitos
em torno aos encaminhamentos da política de saúde ganhavam o espaço da arena
institucional. Por outro lado, e significativamente, o Prev-Saúde também revelou um
momento inédito de entrada do discurso reformista na arena de discussão institucional
estatal da saúde. As idéias reformistas defendidas por diversos grupos de discussão da
saúde começavam a se integrar numa proposta abrangente de definição da política de
saúde. A discussão teórica sobre o modelo de atenção à saúde começava a ganhar
operacionalidade política.
38
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Toda essa discussão configurou um novo marco político para o debate da reforma
setorial e a partir dela foram elaboradas propostas mais operacionais para a reestruturação
do sistema e desmontagem do modelo, como a configuração das Ações Integradas de
Saúde (AIS). As AIS junto com a Programação e Orçamentação Integrada (POI) e o Siste-
ma de Assistência Médico-Hospitalar da Previdência Social (SAMHPS) visavam dar maior
racionalidade, integração e controle às ações de saúde, com a programação e orçamentação
dos recursos para a saúde, com a integração das ações do setor público e conveniado e
com o controle de recursos para o setor privado contratado.
39
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
No mesmo ano, foi realizada a VIII Conferência Nacional de Saúde, configurando o ápice
de todo esse movimento de negociação, tendo sido resultado de forte pressão dos “refor-
mistas da saúde” para a legitimação da reforma. A conferência contou com a presença de
mais de quatro mil pessoas e a participação expressiva de grupos sociais de diversos
segmentos, encerrando uma lista de propostas sistematizadas para a política de saúde,
dentre elas a de reformulação do Sistema Nacional de Saúde, com a constituição de um
comando único do sistema. Esta proposta indicava a transferência imediata do INAMPS
para o MS e a separação progressiva dos recursos para financiamento da previdência,
visando encerrar o debate entre previdência e saúde na disputa por poder e recursos.
A VIII CNS também indicou a formação de uma Comissão Nacional da Reforma Sanitária
(CNRS) para a elaboração mais detalhada das propostas discutidas em plenário e com o
objetivo de formular um texto sistematizado que pudesse subsidiar as discussões relati-
vas à definição da política de saúde na Assembléia Nacional Constituinte (ANC).
40
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
do ainda pelas discussões debatidas na VIII CNS (1986), quando houve uma real possibi-
lidade de legalização da reforma. Nesse sentido, o debate acadêmico nunca esteve tão
próximo da discussão política, subsidiando as reuniões da Assembléia Nacional Constituin-
te, nos anos de 1987/1988, e interferindo na construção da política, com a definição do
Sistema Descentralizado e Unificado de Saúde (em 1987), tendo seu principal formulador
o então presidente do INAMPS, Hésio Cordeiro, importante personagem do cenário aca-
dêmico da Saúde.
O SUDS, como uma estratégia-ponte para o SUS, como foi considerado por muitos analis-
tas políticos, avançou na operacionalização da reforma e serviu como um instrumento de
continuidade ao processo de reforma da saúde, na medida em que os quadros políticos de
apoio à reforma podiam a qualquer momento ser dispensados ou afastados diante do contex-
to de renovação política com as eleições. Mesmo sem a discussão finalizada de qual seria a
melhor estratégia para a saúde naquele momento, o SUDS mostrou-se como única opção no
encaminhamento da reforma, porque, mesmo com o baixo grau de consenso no tocante às
propostas, ainda definia algo mais do que existia até aquele momento. Era o primeiro passo
institucional concreto rumo à reforma nos moldes em que vinha sendo discutida.
41
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Pelo menos duas subfases podem ser apresentadas nessa grande fase da política: uma
primeira, que se concretizou no período de 1990 a 1994, e uma segunda, no período de
1995 a 1998. Essa subdivisão se expressa no conjunto de medidas institucionais de
implementação da reforma, que podem ser verificadas observando-se os marcos políticos
da fase.
42
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
O resultado concreto de todo o debate foi a edição de uma nova Norma Operacional,
a NOB 1993, que não só incorporou as discussões obtidas na IX CNS, como também deu
novo fôlego ao debate da descentralização da política.
43
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Dessa forma, diante dos avanços políticos iniciados pelas Normas Operacionais, pode-
mos considerar que a discussão sobre a descentralização do sistema é a principal carac-
terística dessa subfase, que renderá frutos no debate setorial, inclusive na atualidade.
O processo de descentralização seguiu seu curso e avançou ainda mais com a elaboração
de uma nova Norma Operacional, promulgada no ano de 1996. A NOB96 acentuou o proces-
so de descentralização, inserindo uma série de novos incentivos para o processo de habi-
litação dos estados e municípios, criando a idéia de um pacote básico de atenção para ser
alcançado por todos os municípios e garantindo o mínimo de saúde em todas as regiões.
26 A Comissão Tripartite já existia desde 1991, tendo sofrido algumas pequenas modificações na proposta da NOB93.
27 Portarias executivas editadas a partir de janeiro de 1998, quando a NOB96 começou a ser efetivamente implementada.
44
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Existe, no entanto, uma diferença entre o que foi a proposta original da NOB96 e no
que ela se transformou a partir do momento que foi implementada, em 1998. A NOB
previa a construção de uma política de repasse de recursos condizente para as esferas
subnacionais e o ministério tinha uma postura naquele período de composição de um
caixa mais volumoso de recursos. Foi nessa fase que o Ministro da Saúde negociou e
encabeçou o movimento para a aprovação da Contribuição Provisória sobre Movimentação
Financeira (CPMF) como um recurso vinculado para a saúde.
A partir de 1998, algumas diretrizes políticas começaram a definir novos rumos para
a política de saúde, tendo sido a principal delas a implementação da NOB96. Algumas
portarias complementares (de janeiro, fevereiro e março) regularam os fluxos, habilitações
e valores constantes na NOB, conferindo uma outra operacionalidade para a proposta.
45
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Essa fase apresenta algumas características que nos possibilitam afirmar ser ela uma
fase de complementação jurídico-legal para a política de saúde.
46
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Numa análise sobre o que esteve mais característico nos estudos em cada fase da políti-
ca, percebemos uma inflexão gradativa das temáticas e abordagens das investigações.
Os congressos em todas as fases foram espaços para todo tipo de discussão. Embora
cada congresso tenha apresentado um tema central referente ao contexto histórico que
atravessava, diversas áreas temáticas foram abordadas, o que, em particular, caracteriza
esse tipo de evento como um encontro de estudos, metodologias e proposições variadas.
O tema central, geralmente, aborda uma questão política e é debatido nas grandes con-
ferências que concentram todos os participantes do congresso. Dentro da área de PP&G,
claramente, predominam os estudos de política e os trabalhos voltados para os serviços
e realidades locais, discutindo a organização dos serviços via planejamento e programa-
ção, e a avaliação como estratégia para se repensar os serviços e ações de saúde. Os
estudos de avaliação sempre estiveram presentes nos congressos, enquanto os de plane-
jamento mantiveram-se expressos em número restrito, e os de gestão foram crescendo
com o passar dos anos, principalmente nos anos 90.
47
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
A inflexão mais radical de áreas temáticas abordadas aparece nos livros e teses/
dissertações, que nas primeiras fases apresentavam grande quantidade de estudos de
política e, aos poucos, foram incorporando novas áreas. Também esse movimento ex-
pressa o que são as características desses veículos, que revelam com um atraso temporal
a discussão da realidade e onde há uma preocupação numa discussão mais abrangente da
mesma.
Quanto à forma dos estudos, percebemos uma forte presença dos estudos propositivos
(propostas de intervenção na realidade, críticas diretivas e posicionamentos numa dada
conjuntura) na fase 1 (teórico-conceitual) e, em alguma medida, na fase 2 (político-ideo-
lógica), bem como os estudos não-propositivos de análise mais abrangente sobre a situa-
ção social, de saúde e sobre o Estado brasileiro e suas políticas sociais. Os estudos de
caso/relatos de experiência ganharam maior espaço a partir das fases 3, 4 e 5 (político-
institucional, político-administrativa e técnico-operacional), no momento de implementação
da reforma, reunindo uma parcela bastante significativa dos estudos. Mas também há na
fase atual estudos propositivos e análises teóricas, com o retorno de análises de formula-
ção, indicando uma inflexão no próprio movimento de reforma (ver gráfico 3).
48
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
49
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Quanto aos temas abordados em cada fase da política, foi possível verificar uma
grande congruência do debate acadêmico com a fase da política, mas também um esforço
na construção de uma reflexão crítica e na construção de novos temas para discussão. No
quadro 4, reunimos os temas mais freqüentes por fases da política, o que permite uma
visualização mais nítida do movimento até aqui apresentado, destacando-se o fato de
que há, a cada fase, uma incorporação de temas e uma ampliação do debate, seja especifi-
cando temáticas, seja ampliando o olhar sobre o setor da saúde.
50
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
51
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Assim, o debate acadêmico passou a subsidiar o debate político com o estudo sobre
os processos de implementação de políticas e avaliação de processo. Começaram a sur-
gir estudos mais localizados, como estudos de caso e análises de situações locais, ga-
nhando relevância o debate sobre o planejamento das ações e serviços de saúde e a
organização do trabalho em saúde. Mas a discussão sobre a política ainda era a principal
temática. Dentre os estudos, destacavam-se a análise sobre o modelo assistencial, o
papel das empresas médicas e a forma de relação Estado—sociedade. Nesse conjunto, os
estudos de saúde mental surgiram fortalecendo também o argumento da reforma psiquiá-
trica, que já se apresentava no debate político.
Os estudos tiveram, ainda, um forte respaldo das Ciências Sociais que buscaram
explicar, a partir da análise sobre as relações Estado—sociedade e o padrão de intervenção
estatal, a crise da saúde. As teses produzidas são um exemplo concreto desse movimento,
por exemplo, os trabalhos de Donnangelo (1974, 1975), de Arouca (1975), Cordeiro (1978),
Nogueira (1978) e Gonçalves (1979).
52
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Um estudo que deixou sua marca nessa fase foi o de Possas (1988), sobre os “Padrões
Epidemiológicos e a Política de Saúde”, articulando o saber epidemiológico numa com-
preensão mais abrangente sobre a realidade social e de saúde.
53
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
A reforma passou a ser analisada nas suas mais diversas transformações, e os dile-
mas da política surgiram como questão de pauta na agenda daqueles que um dia idealiza-
ram o processo de reforma.
A produção acadêmica da fase cresceu enormemente, não apenas pelo fato político
em questão, mas principalmente pela política de C&T em vigor nesse período e pela
conseqüente expansão dos cursos de pós-graduação28 , fruto do incentivo à requalificação
profissional, além da própria extensão da fase, que abarcou oito anos. Foram analisadas
2.135 referências em PP&G nessa fase, não tendo sido possível fazer uma análise única,
pois a diversidade dos estudos é enorme. Alguns movimentos precisam ser destacados
a priori :
Primeiro, o fato de não podermos apontar com a mesma nitidez que nas fases anteriores
quais estudos serviram ou servem de referência no debate acadêmico e político da fase.
Podemos no máximo apresentar um conjunto de autores que obteve grande sucesso na
divulgação de seus estudos, seja por livros, artigos em periódicos ou apresentação nos
congressos da Abrasco. Por exemplo: o estudo de Rivera (1991), sobre o agir comunica-
tivo; o de Gallo (1991), sobre planejamento; o de Teixeira (1992), numa análise da polí-
tica de “seguridade social” no Brasil; o de Gerschman (1994), num estudo sobre a refor-
ma sanitária brasileira; o de Silva Jr. (1996), numa análise sobre os modelos assistenciais,
e tantos outros.
Segundo, porque há dentro dessa fase uma diferença bastante significativa da produ-
ção dos três primeiros anos (1991 a 1993) dos demais (a partir de 1994/1995), ocorrendo
ainda uma inflexão dos estudos ao final da década. Entre 1991 e 1993, há ainda um
grande quantitativo de estudos sobre a reforma na linha de argumento da fase anterior,
propondo políticas, versando sobre a implementação de modelos e discutindo diretrizes
operacionais, inclusive a descentralização, que ainda não se implementava de fato dada
a conjuntura política do governo vigente29 . Algumas subáreas de conhecimento apresenta-
vam-se bastante atuantes, como: controle social, saúde mental e saúde materno-infantil.
28 São 27 cursos cadastrados para pós-graduação stricto sensu em saúde coletiva, 17 foram abertos a partir do
ano de 1990 — 12 cursos de mestrado e 5 de doutorado.
29 Conforme a discussão das fases da política, apresentada no capítulo 3, a política de saúde do Governo Collor,
durante o período de 1990 a 1992, consistiu na centralização financeira comprometendo todo o arranjo institucional
para a construção de uma política descentralizada de saúde.
54
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Quarto, o contexto político dos anos 90, que apontava para o debate sobre a Reforma
do Estado (principalmente a partir de meados dos anos 90), produzia inflexões no debate
acadêmico e retomava discussões sobre a relação Estado-sociedade, sob uma nova ótica.
Os temas abordados nas subáreas de conhecimento apontam essa inflexão nos estudos
sobre financiamento e sobre o setor privado.
Outras subáreas conquistaram grande espaço de discussão nessa fase. Foram elas: AIDS,
Sistema de Informação, Medicamentos, Saúde do Trabalhador e Saúde da Família, manten-
do-se atuante a discussão sobre Controle Social, Saúde Materno-Infantil e Saúde Mental.
a) áreas temáticas: há uma distribuição maior dos estudos pelas seis áreas predefinidas
pela pesquisa como áreas de PP&G. Assim, como primeiros no ranking ainda estão os
estudos de política. E os estudos de gestão, organização e avaliação ganharam maior
peso. Os estudos de política perpassaram toda a fase e seguem as características já
apontadas. Já nos estudos de gestão, há uma grande ênfase na discussão sobre a adminis-
tração hospitalar e as relações intergovernamentais na construção de meios para a condu-
ção da política, como a discussão dos consórcios em saúde. Nos estudos de organização,
o enfoque esteve na construção do trabalho em saúde, nas rotinas, no acesso aos serviços
e na definição de modelos assistenciais pautados na qualidade da assistência. Os estudos
55
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
A produção analisada indica, no máximo, uma divisão dos estudos entre as áreas. Na
discussão sobre política, a preocupação é com a reforma do Estado, a descentralização e
o processo decisório. Na discussão sobre gestão, ganhou destaque a temática dos recursos
humanos e da qualidade. Na discussão sobre organização, a formação, a prática profis-
sional e o trabalho em saúde. E, nos poucos estudos de avaliação, a ênfase está no
acompanhamento dos programas. Os estudos de planejamento são escassos, oferecendo
pequena contribuição para o debate.
A fase reúne uma produção que indica a preocupação no debate de estratégias para a
implementação da reforma buscando maior eficácia. Entram em cena, assim, debates
acerca da reforma do Estado e políticas neoliberais, bem como novas estratégias de
56
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
A partir dessas informações sobre a produção como um todo, algumas análises mais
específicas puderam ser vislumbradas. Por exemplo, foi possível visualizar os estudos da
reforma sanitária nesse conjunto, compreendidos aqui como estudos que buscaram com-
preender o processo de reforma, formular diretrizes para o modelo e avaliar as políticas
implementadas. Para a reunião desses estudos consideramos todas as referências que
discutiam a reforma sanitária e psiquiátrica, a descentralização e os modelos assistenciais.
Como nossa análise acompanhou 25 anos da trajetória política e dos estudos de in-
vestigação, devemos considerar que há uma diferença na forma de compreensão da
reforma em cada período, bem como no quantitativo de estudos de cada fase. Os estu-
dos de reforma tornaram-se mais presentes a partir das primeiras políticas institucionais
de reforma setorial, ainda anteriores à definição constitucional de 1988, também apre-
sentando grande destaque na primeira fase da política, com discussões sobre a formula-
ção da proposta de reforma, especialmente. Podemos perceber nos quantitativos do
quadro abaixo alguns movimentos referidos:
Fases Referências De Pp&G Referências Sobre Reforma Percentual De Referências Sobre Reforma
1974-1979 95 14 14,7%
1980-1986 335 34 10,1%
1987-1990 401 74 18,4%
1991-1998 1.861 393 21,1%
1999-2000 721 157 21,7%
Total 3.413 672 19,7%
57
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
O que extraímos dos estudos sobre reforma aponta para uma necessária construção
de novos temas de pesquisa, implicando uma renovação da produção. Antes, porém, de
apresentarmos quais seriam as lacunas identificadas no levantamento, é importante
resgatarmos a contribuição desse debate para a análise da relação política—produção de
conhecimento.
Esse recurso rompeu com as limitações de considerar apenas o que é produzido pelos
agentes reconhecidos formalmente como pertencentes à institucionalização da Saúde
58
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
59
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
60
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
61
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Vale ressaltar que alguns estudos, entre estes os sobre planejamento estratégico,
forneceram elementos teóricos e metodológicos e se apresentaram como bastante críticos
ao chamado planejamento “normativo”. Merece também destaque na argumentação refe-
rente ao potencial crítico, o surgimento, no final da década de 90, de alguns estudos,
veiculados particularmente nos livros e teses, centrados no papel do Estado frente à
globalização e suas conseqüências para as estruturas sociais. A proposição destes estudos
foi de uma análise política não apenas pelo ângulo da racionalidade técnica, mas a partir
da dimensão da articulação entre os agentes em busca de soluções para os problemas.
Os estudos foram se voltando para os “nós críticos” da implementação das propostas,
mas não sobre as visões de mundo que lhes são subjacentes.
Nesse sentido, analisar a produção científica nos ajudou a apontar os dilemas e vazios
dos estudos realizados, além de instigar, com o apontamento de lacunas de discussão,
uma análise crítica do campo de conhecimento e a proposição de novas agendas de
pesquisa. Talvez, assim, possamos contribuir para a definição de novos rumos para a
política e do (re)desenho do próprio modelo de reforma setorial em saúde.
62
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
a) estudos sobre a desigualdade social e econômica (exclusão social) e seus efeitos sobre
as condições de vida e saúde da população, em especial no acesso aos serviços de saúde;
63
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Não esperamos com esse estudo encerrar o debate mas iniciá-lo. É um convite à
reflexão que deixamos aqui, como contribuição para a política e para a Saúde Coletiva.
64
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
65
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
prática médica no Brasil. 1981. Tese (Doutorado) — FM/DMP/USP, São Paulo, 1981.
CORDEIRO, H. Sistema Único de Saúde. Rio de Janeiro : Ayuri Editorial, Abrasco, 1991.
CORDEIRO, H. Determinantes de consumo de medicamentos: uma contribuição à crítica
dos conceitos de necessidade e consumo em saúde. 1978. Dissertação (Mestrado) —
IMS/UERJ, Rio de Janeiro, 1978.
COSTA, N. R.; RIBEIRO, J. M. (org.). Política de saúde e inovação institucional : uma
agenda para os anos 90. Rio de Janeiro : ENSP, 1996.
COSTA, N. R. Estado e políticas de saúde pública: (1889-1930). 1983. Dissertação
(Mestrado) — IUPERJ, Rio de Janeiro, 1983.
COSTA, W. G. A. O processo de descentralização dos serviços de saúde no estado do
Mato Grosso. 1997. Dissertação (Mestrado) — FSP/USP, São Paulo, 1997.
COTTA, R. M. M. Descentralização das políticas públicas de saúde no Brasil: análise do
Sistema Único de Saúde em um contexto local. 1996. Dissertação (Mestrado) — Uni-
versidade Federal de Viçosa, Viçosa,1996.
DAVIES, A. M. The evolving science of health systems research. In: World Health
Organization. From research to decision making: case studies on the use of health
systems research. Geneva, 1991. 139p.
Division of Health Systems and Services Development. Research in health services and
systems. PAHO Document. OPS/CAIS/98, 1998.
DONNANGELO, M. C. F. Medicina e sociedade: o médico e seu mercado de trabalho. São
Paulo: Livraria Pioneira, 1975 (tese de doutorado em 1974).
DONNANGELO, M. C. F. Saúde e Sociedade. 1976. Tese (Livre docência) — FM/USP, São
Paulo, 1976.
DONNANGELO, M. C. F. Medicina e estrutura social: o campo de emergência da medicina
comunitária. 1975. Tese (Livre docência) — FM/USP, São Paulo, 1975.
ELIAS, P. E. M. Das propostas de descentralização da saúde ao SUS: as dimensões técnica
e político-institucional. 1996. Tese (Doutorado) — FM/USP, São Paulo, 1996.
EVANS, J. R. Summary of the discussions. In: World Health Organization. Research
strategies for health. Geneva: WHO, Hogrefe e Heber Publishers, 1992.
FAUSTO, M. C. R. Municipalização da saúde: uma experiência no estado do Rio de Janeiro:
o caso de Cabo Frio. 1997. Dissertação (Mestrado) — IMS/UERJ, Rio de Janeiro,
1997.
FLEURY, S. M. F. “A questão democrática da saúde”. In: FLEURY, S. M. (org). Saúde e
democracia: a luta do CEBES. São Paulo : Lemos Editorial, 1997.
66
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
67
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
68
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
69
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Anexo A
Quadro 1 — Veículos de Divulgação Pesquisados
Veículo
Livros Catálogo da ABRASCO
Bibliotecas Virtuais das Universidades e Institutos de Pesquisa.
Banco de Dados Prossiga — CNPq.
Periódicos Nacionais 1. Cadernos de Saúde Pública — FIOCRUZ
2. Revista de Saúde Pública — FMP/USP
3. Revista da Saúde Coletiva — Physis — IMS/UERJ
4. Saúde e Sociedade — APSP-USP/FSP
5. Série de Estudos em Saúde Coletiva — IMS/UERJ
6. Saúde e Debate — CEBES
7. Ciência e Saúde Coletiva — ABRASCO
8. Planejamento e Políticas Públicas — IPEA
9. Revista Lua Nova
10. Revista Dados — IUPERJ
11. Informe Epidemiológico do SUS — MS
12. Cadernos do Instituto de Medicina Social — IMS/UERJ
13. Revista de Administração Pública — RAP/FGV
14. Interface — Comunicação, Saúde e Educação — UNI-Botucatu/
UNESP
Periódicos Internacionais
Busca por palavras-chave na BIREME
Instituições com Pós-Graduação Stricto Sensu em Saúde Coletiva reco-
nhecidas pela CAPES:
1. UFBa — Universidade Federal da Bahia
2. ENSP/FIOCRUZ — Fundação Oswaldo Cruz
3. IMS/UERJ — Universidade do Estado do Rio de Janeiro
4. FCM/UNICAMP — Universidade Estadual de Campinas
5. FM/USP — Universidade de São Paulo
6. FSP/USP — Universidade de São Paulo
7. FM/USP/Ribeirão Preto — Universidade de São Paulo
8. UEL — Universidade Estadual de Londrina
9. NESq/CPqAM — Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães FIOCRUZ/
Recife
10. FUFMS — Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
11. UFPEL — Universidade Federal de Pelotas
12. UFC — Universidade Federal do Ceará
13. UFMG — Universiade Federal de Minas Gerais
14. IFF/FIOCRUZ — Fundaçao Oswaldo Cruz
15. UEFS — Universidade Estadual de Feira de Santana
16. UFPE — Universidade Federal de Pernambuco
17. UFRJ — Universidade Federal do Rio de Janeiro
18. UFMA — Universidade Federal do Maranhão
19. UNESP/BOT — Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho/Botucatu
20. UFRGS — Universidade Federal do Rio Grande do Sul
21. UNIFESP — Universidade Federal de São Paulo
22. UFSC — Universidade Federal de Santa Catarina
Referências de Teses e Dissertações constantes nos Banco de Dados
Ad-Saúde, Medline e Lilacs (Bireme) de Instituições de Interface, como:
1. FGV — Fundação Getúlio Vargas
2. EBAP/Escola Brasileira de Administração Pública
3. IUPERJ/Instituto
4. ESAE
70
Produção de Conhecimento em Política, Planejamento e Gestão em Saúde (PP&G)
e Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
2500
2000
1500
1000
500
0
FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 FASE 5
100%
90%
80%
70%
60% EC
50% PP
40% NP
30%
20%
10%
0%
FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 FASE 5
71
GRÁFICO 3 — QUANTITATIVO DA PRODUÇÃO EM PP&G
POR FASES DA POLÍTICA
100%
80%
HIB
AVA
60%
ORG
GES
40%
PLAN
POL
20%
0%
FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 FASE 5
100%
80%
60%
40% COM
AVAI
20%
AVAP
0% IMPL
FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 FASE 5 FORM
100%
90%
80%
70%
60% N
50% E
40% L
30%
20%
10%
0%
FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 FASE 5
GRÁFICO 6 — ESTUDOS DE PP&G CLASSIFICADOS QUANTO AO
ENFOQUE DO ESTUDO E A FASE DA POLÍTICA
100%
90%
80%
70%
60% INS
50% ORG
40% SIS
30%
20%
10%
0%
FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 FASE 5
100%
50%
0%
FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 FASE 5
FORMULAÇÃO IMPLEMENTAÇÃO
AVA PROCESSO AVA IMPACTO
140
120
100
80
60
40
20
0
FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 FASE 5
FORMULAÇÃO 4 12 23 61 24
IMPLEMENTAÇÃO 0 3 20 123 61
AVALIAÇÃO DE IMPACTO 0 0 0 12 5
SÉRIE DE DOCUMENTOS
Volume 1
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico
série técnica
Projeto de Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde
BRASÍLIA — DF
2003
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Organização:
Elias Rassi Neto
Universidade Federal de Goiás
BRASÍLIA – DF
2003
2 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Saúde nos aglomerados urbanos: uma visão integrada / Elias Rassi Neto, Cláudia
Maria Bógus (orgs.). – Brasília : Organização Pan-Americana da Saúde, 2003. –
(Série Técnica Projeto de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde, 3)
Bibliografia
ISBN
NLM: W84
| SUMÁRIO | 3
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
AGRADECIMENTO
Nosso agradecimento e reconhecimento ao Dr. Juan Eduardo Guerrero Espinel por sua
contribuição na elaboração e aprovação do desenho na proposta dessa publicação. A
concretização desse volume da Série Técnica é uma realidade graças ao seu esforço,
dedicação e apoio, fundamentais ao desenvolvimento desse trabalho.
| SUMÁRIO | 5
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
6 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
CIDADE E ALMA*
Uma cidade com um espírito grandioso não é suficiente. Não são suficientes palácios
e monumentos, museus, catedrais e arcadas que se dirigem aos céus. Uma cidade que
negligencia o bem-estar da alma faz com que a alma busque seu bem-estar de forma
degradante e concreta, nas sombras desses mesmos reluzentes arranha-céus. Bem-es-
tar, um fenômemo específico das cidades, não é apenas um problema econômico social,
mas predominantemente um problema psicológico. A alma que não for cuidada quer seja
na vida pessoal, quer seja na vida da comunidade torna-se uma criança raivosa. Ela
assalta a cidade que a despersonalizou com uma raiva despersonalizada, uma violência
contra os próprios objetos que representam a falta de alma uniformizada; vitrines de
lojas, monumentos, parques, edifícios públicos. Aquilo que, em sua fúria, os habitantes
da cidade resolveram atacar e defender (árvores, casas antigas e bairros), nesses últi-
mos anos; é significativo.
| SUMÁRIO | 7
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
8 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
SUMÁRIO
PREFÁCIO ......................................................................................................... 11
APRESENTAÇÃO ..............................................................................................13
INTRODUÇÃO ...................................................................................................15
9
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
10
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
PREFÁCIO
Jacobo Finkelman
Representante da Organização Pan-Americana no Brasil
| SUMÁRIO | 11
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
12 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
APRESENTAÇÃO
Nos últimos anos, o tema das políticas públicas integrais em saúde nos aglomerados
urbanos tem sido um aspecto importante nas atividades de cooperação técnica entre a
área de Sistemas e Serviços de Saúde da Organização Pan-Americana de Saúde e o
Ministério da Saúde.
No Brasil, mais de 80% da população vive em áreas urbanas. Por essa razão, o fenômeno da
urbanização é relevante ao se abordar a proposição e a implantação de políticas públicas sociais.
Com essa perspectiva é que foi construída esta publicação. A proposta foi abordar,
com uma visão interdisciplinar, o desafio da integralidade da atenção à saúde, na
perspectiva da gestão e da ação institucional e social. Políticas públicas integrais em
saúde entendidas como iniciativas que repercutem na melhoria das condições de vida e
de saúde da população: ações intersetoriais, desenvolvidas localmente e de forma
descentralizada e que enfrentam as situações-problema de grupos populacionais
prioritários, de modo integral e inovador.
I – “O homem urbano e o espaço urbano”, com três textos. O primeiro deles apresenta
o fenômemo urbano e a sua complexidade. O texto seguinte aborda as possibilidades de
organização e associação da sociedade civil no espaço urbano e o último texto trata do
indiscutível impacto que esta nova geografia tem nas questões culturais dos vários grupos
populacionais atingidos.
| SUMÁRIO | 13
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Finalmente, vale destacar que essa publicação tem por objetivo propiciar um espaço
que ajude a desencadear uma discussão organizada e o mais diversificada possível
sobre o assunto e fomentar o debate analítico e propositivo, a partir da perspectiva
dos governos e da sociedade. Pretendeu-se tratar de alguns cenários atuais e, ao mesmo
tempo, projetar cenários futuros.
14 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
INTRODUÇÃO
Esta publicação tem, entre várias qualidades, uma que se destaca: a oportunidade,
na medida em que se debruça sobre dois dos maiores desafios do Sistema Único de Saúde
no momento: a integralidade nas políticas de saúde e a oferta de atenção à saúde nos
grandes aglomerados urbanos.
No primeiro texto desta coletânea, o autor registra que nas cidades brasileiras com
mais de cem mil habitantes já vivem mais de cinqüenta por cento da população,
apresentando um quadro de morbi-mortalidade extremamente complexo, que sofre
repercussões diretas das condições de vida observadas nesta sociedade de consumo, na
qual persistem doenças associadas ao subdesenvolvimento, além de quadros típicos de
grandes aglomerações urbanas: causas externas (entre elas homicídios, acidentes de
trânsito e violências em geral), dependência a substâncias psicoativas (especialmente
alcoolismo) e doenças crônicas e degenerativas.
As redes de assistência à saúde, em geral, nas grandes cidades brasileiras não estão
preparadas e dimensionadas para conseguirem atender à demanda existente, seja a
gerada pela sua população própria, seja a condicionada pela invasão de pacientes oriundos
de áreas sem oferta ou com oferta insuficiente de serviços de saúde.
1 BRASIL, Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de Atenção Básica. Avaliação da implementa-
ção do Programa de Saúde da Família em Dez Grandes Centros Urbanos.
Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
| SUMÁRIO | 15
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
É importante ressaltar que viabilizar esses reajustes, que em seu conjunto representam
um aumento médio superior a 30% nos repasses federais para os municípios, direcionados
ao financiamento da atenção básica, não foi tarefa fácil frente a um orçamento
extremamente comprometido pelas políticas definidas na gestão anterior e frente à dívida
herdada, com cerca de 3 bilhões de reais encontrados em restos a pagar. Contudo, como
falar que atenção básica é prioridade e continuar deixando seu financiamento congelado?
Como tentar induzir uma ampliação do PSF nas grandes cidades e estimular a participação
efetiva dos Estados no financiamento sem recuperar minimamente valores que estavam
sem ampliação desde 1998 ou 1999?
Contudo, não basta alocar mais recursos; existem particularidades no quadro enfrentado
nos grandes aglomerados urbanos que impõem emprego de determinados referenciais
teóricos e ferramentas metodológicas para seu enfrentamento. As dificuldades enfrentadas
não se justificam plenamente pela dimensão das grandes cidades, pelas barreiras
construídas pela violência urbana, pela invasão de pacientes de outras cidades e pela
inadequação dos recursos humanos hoje existentes. Esses centros urbanos concentram o
estoque de profissionais de saúde, os valores de mercado para remunerá-los são em
geral menores do que para as pequenas cidades, e nelas estão os centros formadores.
16 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
em vez de aplaudir, criam restrições, quando não a combatem. Assim, cabe, além do
esforço de colocar a ampliação e a qualificação da atenção à saúde na agenda política
de prioridades de governo e assegurar recursos financeiros para sua efetivação, também
construir uma estratégia para operacionalizar os avanços necessários, incorporando
novas abordagens, articulando a abordagem intersetorial dos problemas de saúde e
disputando a hegemonia ideológica e política no interior das instituições e corporações
que estão no centro desse processo.
Gostaríamos de parabenizar a OPAS por essa iniciativa e agradecer pela parceria constante
na busca da superação dos principais desafios na construção do Sistema Único de Saúde.
JORGE SOLLA
| SUMÁRIO | 17
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
18 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
PARTE I
O homem urbano e o espaço urbano
| SUMÁRIO | 19
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
20 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Embora não seja um problema apenas do Brasil o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente lembra que, pela primeira vez na história da humanidade, mais de metade
dos habitantes do planeta vive hoje em áreas urbanas, que têm sua população acrescida à
razão de 160 mil pessoas por dia (como em Rio Claro, São Carlos, Barra Mansa, Guarapuava
ou Sobral), viver nas áreas urbanas do país torna-se a cada dia mais difícil, mais complexo.
Segundo as projeções do IBGE, o número de filhos por mulher tende a continuar caindo
está em 2,2 e deverá chegar a 2,15 em 2005. Mas a população urbana seguirá crescendo
e poderá chegar a 200 milhões, até que a população total se estabilize e esteja em 247
milhões no meio do século 21. As cidades com mais de 100 mil habitantes, que hoje já
reúnem mais de 50% da população total, em meados deste século deverão ter cerca de
120 milhões de pessoas.
| SUMÁRIO | 21
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
22 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
contra 11% em 1993). Ao longo da última década do século 20, nada menos de 1,3
milhão de moradias foram construídas em áreas ilegais, 78,9% das quais nas áreas
metropolitanas. A autoconstrução ainda responde por mais de 50% do consumo brasileiro
de materiais de construção.
Essa expansão desordenada das periferias gerou para o poder público já em graves
dificuldades financeiras uma demanda excepcional por todas as infra-estruturas: energia,
transportes, água e esgotos, limpeza urbana, segurança, educação, saúde, lazer. Demanda
a que ele está muito longe de atender, contribuindo para a degradação das periferias,
também assoberbadas pelo desemprego, pelos índices de violência (principalmente entre
jovens, dentre os quais as taxas de desemprego são muito mais altas).
“A cidade fica cada vez mais cara, pois é preciso levar toda a infra-estrutura para
mais longe”, observa um urbanista. Com razão. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a
área central em poucos anos perdeu 19,7% de seus moradores, enquanto as áreas mais
“nobres” (principalmente pelo temor à violência) perderam 20%.
Chegou o quadro urbano a tal ponto que, ainda recentemente, em entrevista à imprensa
brasileira, o cientista político francês Alan Touraine disse que “a miséria do país já não
é mais rural, é urbana. O grande problema do Brasil é a destruição ou sobrecarga das
grandes metrópoles”.
| SUMÁRIO | 23
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Exigirá, nas áreas urbanas, colocar freios à especulação imobiliária e cobrar, na abertura
de novas áreas, a implantação, pelo incorporador, das infra-estruturas.
Não estranha, assim, que o novo governo federal comece por criar um Ministério das
Cidades e que seu primeiro titular diga que será preciso criar consórcios entre municípios
para resolver problemas comuns ou compartilhados, como os do saneamento, destinação
do lixo, transporte coletivo.
Também não estranha que se corra em direção a novas fontes de recursos, criando
taxas de iluminação pública, taxas de lixo, taxas pelo uso do subsolo e do espaço urbano
(com publicidade). Nem que se tente agora repensar a “guerra fiscal” entre municípios,
na qual a redução dos percentuais de cobrança do Imposto Sobre Serviços (ISSQN), para
atrair empresas e postos de trabalho, está levando praticamente todos eles a situações
financeiras muito difíceis.
A Agenda 21 brasileira, por exemplo, propõe, entre muitas outras coisas, proceder a
um reordenamento do solo urbano e à tributação progressiva de espaços não utilizados e
dotados de infra-estrutura (em lugar de licenciar novos loteamentos); a descentralização
administrativa (criação de subprefeituras com autonomia e participação social na
discussão, aplicação e fiscalização do orçamento); a implantação de posturas que impeçam
24 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
A cidade, como diz o pensador basco Julio Baroja, tende hoje a tirar das pessoas o
essencial, a interditar (pela insegurança e violência) o espaço público a crianças e idosos
a poluir/destruir a paisagem (e eliminar o patrimônio arquitetônico histórico), uniformizá-
la, principalmente nas periferias, com o tijolo aparente e as telhas de amianto.
Hoje, muitas cidades no mundo introduzem legislação para limitar a área urbana.
Outras criam corredores exclusivos para ciclistas e pedestres (na cidade de São Paulo,
dizem as estatísticas que 10 milhões, um terço dos deslocamentos diários das pessoas,
são feitos a pé). Outras ainda interditam partes da área urbana ao transporte individual
ou criam pesadas taxas para dar-lhe acesso.
Há até caminhos mais radicais, como os programas de ecovilas, que tentam estimular
comunidades de até 2 mil habitantes a suprimir os transportes internos, a implantar
unidades de tratamento de esgotos localizadas em cada imóvel (para evitar redes), a ser
o máximo possível auto-suficientes na produção de alimentos e materiais, a trocar
materiais com outras comunidades do mesmo tipo que funcionam em rede.
Enfim, são muitos caminhos. Alguns terão de ser escolhidos, para os primeiros
passos em direção a reformulações que tirem as cidades brasileiras do rumo
problemático em que estão.
MORAR NA CIDADE
| SUMÁRIO | 25
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
populacional brasileira, como já se registrou. Entre os dois últimos censos (1991 e 2000), as
áreas rurais de todas as macrorregiões brasileiras perderam população. E desde o período
1960/70, a população rural como um todo experimenta crescimento negativo.
Esse processo de urbanização acelerada destacou o relatório preliminar do Brasil à
conferência Istambul + 5, da ONU produziu “a interiorização do fenômeno urbano, a
acelerada urbanização das áreas de fronteira econômica, o crescimento das cidades
médias, o aumento da periferização dos centros urbanos, e a formação e consolidação
das aglomerações metropolitanas e não-metropolitanas”. Segundo esse documento, a
“reestruturação econômica”do país no período gerou “novos padrões, sobretudo na
estrutura do emprego urbano e na dinâmica migratória”.
Nesse quadro, o percentual de “áreas urbanas informais” (assentamentos e domicílios
ilegais) chega a 50% em muitas das aglomerações.
No conjunto das cidades brasileiras é ainda esse relatório quem diz, 1,33 milhão de
domicílios particulares está so em áreas de “assentamentos subnormais”, dos quais 79,8%
nas principais regiões metropolitanas. A região metropolitana do Rio de Janeiro respondia
por 24,9% dos domicílios em favelas; a de São Paulo, por 17%; e a de Recife, por 15,5%.
Nem sempre coincidem os números sobre o déficit habitacional brasileiro. Um estudo
do BID e da Fundação João Pinheiro, divulgado no início de 2002, apontava um déficit de
6,6 milhões de unidades, correspondentes a 20,2 milhões de pessoas. Mais de 80% do
déficit estavam em áreas urbanas, variando por regiões (o Maranhão era o Estado em
piores condições, com 46,4% da população incluídos no déficit). Com exceção do Distrito
Federal e Tocantins, todos os outros 8 dos 10 Estados em pior situação estavam no Nordeste.
Para a Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano, esse déficit correspondia a
14,8% dos domicílios particulares permanentes. O maior déficit estava em São Paulo,
com 1,16 milhão de moradias.
Por regiões, percentualmente, o déficit maior estava no Nordeste (2,6 milhões de
moradias, 39,5% do total), seguido do Sudeste (36,2% ou 2,4 milhões de domicílios), do
Sul (10,4% ou 690 mil moradias), do Centro-Oeste (7,3% ou 488 mil) e do Norte (6,5% ou
433 mil domicílios).
26 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Ainda na região metropolitana de São Paulo, registrava-se que a região central perdera
em 10 anos um de cada cinco moradores, enquanto a periferia leste e sul ganhara um
para cada quatro (nessas duas últimas áreas viviam 6,9 milhões dos habitantes da cidade).
| SUMÁRIO | 27
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
(pouco mais de 8%), não têm acesso a redes de água. Já no caso das redes de esgotos,
o déficit é muito maior: 60 milhões de pessoas, ou quase 50% das que vivem em regiões
abrangidas pelos serviços de empresas que atuam em 74,3% dos municípios, onde estão
91,8% da população urbana.
Não estranha, assim, que sejam tão altos e preocupantes os custos no sistema de
saúde gerados por doenças de veiculação hídrica (embora as estatísticas divirjam muito
entre as fontes) ou que, segundo a SEADE (Fundação Estadual de Análise de Dados), na
região metropolitana de São Paulo as diarréias sejam responsáveis por mais mortes
(10.844 em 1998) que o crime (10.116).
A deficiência no tratamento de esgotos e sua deposição nos cursos d’água, por sua
vez, contribui fortemente para a situação “crítica” em que se encontram todas as bacias
hidrográficas no espaço entre a Bahia e o Rio Grande do Sul, segundo levantamento da
28 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Agência Nacional de Águas. E com a poluição “fora de controle”em 70% delas. Parte
considerável da poluição nessas bacias se deve à deposição, sem tratamento, de esgotos
nos fluxos d’água.
Apesar de tudo isso, não tem avançado a discussão, no Congresso Nacional, do projeto
de Política Nacional de Saneamento, emperrado nas disputas sobre a titularidade das
concessões entre empresas estaduais e prefeituras, principalmente nas áreas metropolitanas.
É uma disputa que se centra na expectativa de receita com as privatizações na área.
Seja qual for a resposta, os cálculos que têm sido feitos apontam na direção de um
investimento mínimo entre R$2,5 bilhões e R$4 bilhões anuais, durante 10 anos, para eliminar
o déficit na área do saneamento. E não só esses recursos não estão disponíveis como não
estão definidas as fontes de financiamento. Nos orçamentos públicos, eles estão longe de
atender à necessidade. E ainda assim as verbas orçamentárias têm sido contingenciadas,
ano após ano.
Outra forte influência na qualidade de vida das populações das cidades está nas
inundações e nos desabamentos em áreas urbanas, exatamente por causa da ocupação
de áreas de risco e áreas de preservação, além da impermeabilização do solo.
| SUMÁRIO | 29
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Esta última é fruto da ocupação de todo o espaço nos terrenos em que se constrói e do
asfaltamento de praticamente todo o solo urbano. Sem ter onde infiltrar-se, a água só pode
correr para os fundos de vales (onde as margens de cursos também estão ocupadas) e juntar-
se ao fluxo “normal” dos rios. Mas estes já não suportam sequer esse fluxo “normal”, porque
estão assoreados pela deposição de sedimentos (fruto do desmatamento ciliar), lixo e esgotos
urbanos e, portanto, com sua calha reduzida. Além disso, a velocidade das águas aumenta,
com as retificações e/ou canalizações dos próprios cursos ou de seus afluentes. É mais água,
mais rápida, em calhas menores. Os rios têm de extravasar, principalmente para suas antigas
áreas de inundação natural, também ocupadas.
São todas questões com profunda influência na qualidade de vida dos moradores das
cidades. Exigirão esforços e recursos consideráveis nas próximas décadas.
A cultura urbana tem implicado uma produção cada vez maior de resíduos, de lixo.
Calcula-se que as áreas urbanas do mundo produzam hoje cerca de dois milhões de toneladas
por dia só de lixo doméstico sem falar em lixo industrial, entulhos, lixo tecnológico, lixo
tóxico, pneus etc. São 720 milhões de toneladas anuais, pelo menos, que geram um
custo de coleta cada vez mais alto. E um grave problema: onde depositar tantos resíduos?
Ninguém quer um aterro sanitário nas imediações. É difícil encontrar áreas em condições
técnicas adequadas. Áreas cada vez mais distantes significam custos de transporte cada
vez mais altos.
No Brasil não é diferente. E com uma “tecnologização” progressiva dos resíduos, que
também gera novas dificuldades. O cidadão paulistano médio, por exemplo, produz hoje
6 vezes mais lixo plástico que na década de 70; muito mais alumínio, papel, papelão,
outros metais, o que leva à necessidade de muito mais tempo para decomposição. Um
tecido natural precisa, em geral, de 6 meses a um ano para decompor-se; chicletes, de
5 anos; madeira pintada, de 13 anos; nylon, de mais de 30 anos; plásticos e metais, de
mais de 100 anos; vidro, de um milhão de anos.
30 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Os “Indicadores Ambientais”do IBGE dizem que são recolhidas nas áreas urbanas
do Brasil, diariamente, 228,4 mil toneladas de lixo que significariam a média pouco
superior a 1,3 quilo por pessoa por dia, bastante acima da média apontada pelo Ministério
do Meio Ambiente, que estaria em 700 gramas diários por pessoa e um total de 130 mil
toneladas/dia.
Segundo o IBGE, apenas 40,5% desse lixo têm coleta e destinação adequadas.
Portanto, 59,5% não têm destinação apropriada, aí incluído o lixo que vai para aterros
apenas controlados, nos quais não há canalização e tratamento do chorume. Cerca de
metade do lixo vai para lixões a céu aberto.
Pelos indicadores do IBGE, a região Norte é que tem a situação mais delicada, com
86,6% do lixo sem destinação adequada. Mas em 28% dos municípios brasileiros, apontam
outros estudos, não há sequer coleta.
Só a cidade de São Paulo, segundo as últimas estatísticas, gera 15,7 mil toneladas
de resíduos por dia, das quais 10 mil de lixo doméstico, 1.000 da varrição de ruas e o
restante de outras fontes. Na média, mais de 1,5 quilo por pessoa por dia.
| SUMÁRIO | 31
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O custo crescente do serviço leva muitos municípios a tentar criar uma taxa para a
coleta domiciliar e comercial do lixo. O Judiciário, entretanto, tem barrado essas
tentativas, ao exigir que, por tratar-se de taxa, a quantidade de lixo seja medida e
cobrada proporcionalmente à coleta.
São Paulo faz a tentativa mais recente de cobrar taxas de acordo com o volume produzido
em cada residência, além de preços especiais para recolhimentos de quantidades maiores.
O panorama urbano brasileiro, nessa área, só não é mais dramático graças ao trabalho
da legião de centenas de milhares de “catadores”, que trabalham de sol a sol, sem
nenhuma proteção e garantia. Eles coletam mais de 80% do alumínio, 41% do vidro, 38%
do papel e papelão, 26,3% das garrafas de PET e 20% de outras formas de plástico.
32 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Quaisquer que sejam as decisões do Congresso, é uma área que terá custo progressivo
para os moradores das cidades, seja sob a forma de taxas, seja pelas verbas nos
orçamentos municipais. A tendência é de rápido crescimento na produção urbana de
resíduos até mesmo porque não se consegue levar à prática o que seria o princípio
prioritário de uma política de resíduos: reduzir a produção de lixo, o que exige políticas
avançadas (como as de países escandinavos que proíbem embalagens metálicas para
bebidas e refrigerantes, assim como embalagens de plástico para leite ou o fornecimento
gratuito de sacos plásticos em supermercados além de responsabilizar o produtor de
qualquer resíduo pelos custos de sua coleta e destinação).
Na área da saúde está um dos maiores desafios das cidades. Por muitos ângulos:
como enfrentar as doenças agravadas pelo viver em grandes aglomerações na sociedade
de consumo (obesidade, depressão, alcoolismo); como equacionar o problema da migração
de vetores das zonas rurais para as zonas urbanas; como enfrentar o risco de epidemias
e pandemias; como resolver o problema da sobrecarga das redes urbanas de saúde,
agravado pela demanda gerada por migrações e transferências de doentes de áreas menos
dotadas de infra-estruturas e assim por diante.
Na última década do século 20, por exemplo, a mortalidade infantil no país reduziu-se
30,7%. A taxa nacional caiu para 32,7 crianças de menos de um ano mortas para 1.000
crianças nascidas vivas. Mas ainda persiste a desigualdade entre as regiões, já que essa
taxa é de 20 por 1.000 no Sul, 23,5 no Centro-Oeste e 32,6 no Norte. No Nordeste, ainda
está em 51,8 por 1.000 nascidas vivas.
Mas também é certo que crescem muito doenças próprias, principalmente, do viver
em cidades.
| SUMÁRIO | 33
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
34 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Num quadro tão difícil, a taxa de leitos por habitantes tem caído em todo o país. Eles
eram 54,4 por 1.000 habitantes em 1992, caíram para 47,1 em 2000 embora a participação
dos leitos públicos no total tenha subido de 24,8% para 31,5%, ao mesmo tempo em que
as internações passavam de 49,6 por 1.000 para 65,3 por 1.000 (mais 31,5%). Rio de
Janeiro, Goiás e São Paulo são os Estados com maior oferta, enquanto Amazonas, Pará e
Amapá são os de menor oferta.
| SUMÁRIO | 35
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Por isso tudo, adequar a oferta de serviços de saúde nas cidades será uma das tarefas
mais difíceis para o país nas próximas décadas. Principalmente a oferta na rede pública,
com o crescimento exponencial da demanda nas faixas majoritárias da baixa renda e em
tempos de desemprego.
Um dos ângulos mais complexos do viver em cidades está na questão dos transportes,
por suas relações com a saúde das pessoas, sua qualidade de vida, sua produtividade,
sua influência na expansão urbana, na produtividade dos usuários, na ocupação do espaço
público, além dos custos financeiros que implica para os cidadãos e para a sociedade.
Começando pela saúde, os estudos mais recentes mostram que em apenas uma
década a contribuição das emissões de gases poluentes emitidos por veículos para a
poluição atmosférica na cidade de São Paulo aumentou de 50% do total para 90% das
3 mil toneladas diárias.
O prof. Paulo Salviva, que dirige estudos nessa área há muito tempo, estima que os
custos para o sistema de saúde, em conseqüência da poluição do ar em São Paulo, sejam
no mínimo de R$20 milhões/ano, mas provavelmente cheguem a R$500 milhões anuais.
Estudos feitos na Universidade de Birmingham com 500 mil pessoas, durante 16 anos,
mostraram que 20% dos casos de câncer do pulmão em áreas urbanas se devem à poluição
36 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Outra perda importante para as pessoas nas grandes cidades é a do espaço público,
em função da prioridade (e dos subsídios não explicitados) para o transporte individual.
Segundo estudo da Associação Nacional de Transporte Público, na capital paulista, se
somado o espaço do sistema viário (ruas, avenidas) ao espaço de estacionamentos e
garagens, chega-se a mais de 50% do espaço total. Isto é, o que deveria ser meio o
espaço do transporte transforma-se em fim, ao ocupar mais de metade do espaço total,
roubando campo para outras atividades, especialmente o lazer, os espaços de convivência.
Muitas propostas e soluções têm surgido em muitos países que enfrentam problemas
semelhantes. Entre elas: prioridade absoluta para os sistemas públicos de transporte
| SUMÁRIO | 37
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
de massa (metrô, trens suburbanos) nos orçamentos em todos os níveis; criar corredores
exclusivos para ônibus articulados, com emissão de bilhetes antes do embarque para
ganhar tempo; estímulo ao uso de combustíveis mais limpos (ao contrário do que se
está fazendo agora no Brasil, ao reduzir a porcentagem de álcool na gasolina); pistas
exclusivas para ciclistas; pistas exclusivas para pedestres (lembrando que em São Paulo,
das 30 milhões de viagens diárias, 10 milhões são a pé); relocação de atividades, de
modo que as pessoas possam trabalhar perto de suas residências e evitar deslocamentos;
penalização do transporte individual, seja pelos custos no licenciamento, seja por taxas
para trafegar em certas áreas da cidade; interdição de áreas ao tráfego de automóveis
ou todos os veículos.
Enfim, é preciso redirecionar várias políticas públicas, para que o transporte volte a
ser um meio, em favor da qualidade de vida dos moradores das cidades, e não um
problema cada vez mais grave, com conseqüências indesejáveis.
Além da poluição atmosférica, dois outros tipos de poluição a visual (ou da paisagem)
e a química (esta, nos escritórios e outros ambientes fechados) contribuem para prejudicar
a qualidade de vida dos moradores da cidade. Para o chamado “estresse urbano”.
Esse tipo de poluição só pode ser resolvido por meio de um conjunto de políticas
públicas que inclua: limitação legal da área de expansão urbana, em planos diretores
articulados; a exigência, aos incorporadores imobiliários, de implantar infra-estruturas
(energia e saneamento básico, pelo menos) e de contribuir para as demais nos
38 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Muitos desses elementos, reagindo com ozônio que pode ser trazido pelo ar-condicionado,
liberam formaldeídos, ácido acético, ácido nítrico. Em alguns lugares como nos Estados
Unidos o processo já chegou a paralisar centrais telefônicas.
Cientistas da NASA, preocupados com esses efeitos nas câmaras de viagens espaciais,
chegaram à conclusão, nas experiências em laboratório, de que o melhor antídoto está
na presença de plantas no ambiente tulipas, filodendros, trepadeiras, bananeiras, que
são capazes de remover os formaldeídos e têm outros efeitos benéficos.
| SUMÁRIO | 39
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
REPENSAR AS CIDADES
Restariam vários outros ângulos também com influência no modo e na qualidade de
viver nas cidades o da educação, o da segurança pública, o das políticas de emprego (que
envolve todas as políticas econômicas, principalmente a industrial), o da correção de
desigualdades regionais, o das infra-estruturas (energia, especialmente), a política
ambiental. Muitas políticas.
Entre elas, parecem mais urgentes as políticas de segurança, de educação (tendo em
vista a questão do desemprego dos jovens e sua influência na segurança), de emprego
(pelas mesmas razões, para a população em geral) e a política ambiental esta,
principalmente no que se refere à ocupação de áreas de risco, de preservação e de
mananciais, assim como na questão da impermeabilização do solo das cidades.
Na verdade, todas as políticas públicas estão envolvidas na questão, afetam a imensa
maioria de pessoas que vive nas cidades.
Se o grau do problema ainda é bastante diversificado em função do porte das cidades,
também é verdade que as muitas questões abordadas já estão presentes em todas as
aglomerações, mesmo nas menores. E se não houver políticas corretivas, caminharão
todas em direção aos macroproblemas hoje observados nas metrópoles e que ameaçam
torná-las ingovernáveis. Basta ver o que está acontecendo nas chamadas metrópoles
emergentes, que surgem no rastro da inviabilização das cidades maiores pelas
deseconomias de custo, mas seguem pelos mesmos caminhos.
Nossas cidades têm de ser repensadas e reformuladas. E esse processo terá como uma
de suas condições fundamentais a descentralização administrativa, para aproximá-la do
cidadão, que conhece melhor os problemas que estão perto dele, afetam seu cotidiano.
Esse processo exigirá também que se evolua em direção à participação progressiva
da sociedade, dos cidadãos, na formulação das políticas, na definição dos programas, na
destinação de recursos e sua fiscalização.
Só assim poderemos ter cidades que não nos roubem o essencial a visão da nossa
sombra e o ruído dos nossos passos, não suprimam o horizonte, não tornem o espaço
público proibitivo para crianças e idosos, não condenem as pessoas ao estresse, ao
desperdício do seu tempo e à improdutividade.
Cidades que voltem a ser o sonho humano como foi o desejo dos que as inventaram.
40 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
RESUMO
O texto aborda diferentes formas de associativismo civil que atuam nas grandes
cidades brasileiras. Destaca- se a participação da sociedade civil na gestão compartilhada
de políticas públicas tais como os conselhos gestores na área da Saúde. Parte-se de dois
supostos: 1o só podemos compreender a questão do associativismo civil se a inserirmos
no quadro de desenvolvimento histórico de algumas formas de participação da sociedade
civil em passado recente. 2o É necessário examinarmos as formas mais recentes de
participação a exemplo das organizações do Terceiro Setor, os inúmeros conselhos e
fóruns de participação nos marcos institucionais que estabeleceram novas relações entre
o governo e a sociedade civil e criaram canais de gestão compartilhada. O eixo analítico
adotado objetiva qualificar o sentido da participação da sociedade civil organizada,
centrado na descentralização e na democratização das políticas públicas, assim como
suas tendências e possibilidades para a resolução dos problemas urbanos.
| SUMÁRIO | 41
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
As estatísticas nos explicam por que, no início deste novo século, a grande questão
social localiza-se na cidade e não no campo. Essa constatação é também de analistas
internacionais: “ A miséria mais maciça não está mais no Piauí ou no Ceará, mas em
São Paulo ou na Baixada Fluminense”, A. Touraine (2). Noventa por cento de tudo o
que é produzido no país advêm das indústrias, localizadas majoritariamente nas
cidades. É nas metrópoles, como São Paulo e Rio de Janeiro, que os problemas sociais
e urbanos se acirraram: altos índices de desemprego, aumento da pobreza, dos índices
e das formas de violência urbana. Nos contornos dessas metrópoles ocorre a diluição
entre áreas urbanas e rurais, devido à metropolização, e agravamento da situação
ambiental: lixo, água, esgoto, poluição atmosférica, diminuição drástica das áreas
verdes, ocupação desordenada etc. As metrópoles são, atualmente, objeto de
movimentos e lutas sociais. Mas elas são também palco de novas formas de
associativismo civil, por parte da sociedade civil organizada com iniciativas inovadoras
que vão das cooperativas de produção, fóruns e assembléias permanentes, redes de
ONGs, observatórios da cidadania de acompanhamento de políticas públicas etc. aos
atos de resistência pacífica, desobediência civil, movimentos sociais de protestos
etc. A sociedade política também é fonte de inovação, com ações coletivas
institucionalizadas, nas parceria entre órgãos do poder público e representantes da
população organizada, a exemplo dos conselhos gestores.
Entidades brasileiras (3) que estudam e atuam na área do urbano têm destacado
que “organizações populares, tradicionais e novas, enfrentam desafios inéditos que
vão desde as relações de novo tipo, propostas por órgãos governamentais e agências
multilaterais, até a necessidade de consolidação de processos massivos e sistemáticos
42 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 43
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Como a população está reagindo a esse novo cenário? Já se tornou lugar comum
ouvirmos que a sociedade civil está-se firmando até no plano internacional como
impulsionadora de inovações e mudanças. Mas o que é e quem compõe essa sociedade
civil? Essa pergunta é nosso ponto de partida, pois temos de clarificar quem são os
atores sociais de que estamos tratando. No Brasil, a noção de sociedade civil vem sofrendo
reformulações que seguem, em linhas gerais, momentos da conjuntura política nacional
e a trajetória das lutas políticas e sociais do país (8). De uma forma geral, ele surge no
período denominado trajetória das transições democráticas, ao final dos anos 70, quando
o termo foi introduzido no vocabulário político corrente e passou a ser objeto de elaboração
teórica. Na linguagem política, ele se tornou sinônimo de participação e organização da
população civil do país na luta contra o regime militar.
Um dos principais eixos articuladores da sociedade civil, naquele período, foi dado
pela noção de autonomia: tratava-se de organizar-se independentemente do Estado (na
maioria das vezes de costas para o mesmo). Na realidade, a autonomia também era um
discurso estratégico. A democracia direta e participativa, exercitada de forma autônoma,
nos locais de moradia, trabalho, estudo etc., era tida como o modelo ideal para a construção
de uma contra-hegemonia ao poder dominante. Participar das práticas de organização da
sociedade civil significava um ato de desobediência civil e de resistência ao regime
político predominante.
Nos anos 80, as pressões e mobilizações populares dirigidas aos poderes públicos tiveram,
em vários casos, respostas que resultaram na construção de redes urbanas de serviços
públicos. Os projetos das ONGs e dos movimentos populares eram dirigidos para setores
que contribuíam para a construção/edificação do espaço urbano à medida que eles se
44 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 45
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A ampliação de atores da sociedade civil se acentua ao longo dos anos 90. O conceito
de cidadania também foi ressignificado, tanto pela sociedade civil, que passou a falar
em termos de “participação cidadã” e não apenas “participação popular”; como pela
sociedade política, ao ser incorporada nos discursos oficiais em termos próximos à idéia
de “participação civil” (como sinônimo de exercício da civilidade, responsabilidade social
dos cidadãos etc.). Nessa concepção, ela passou a ser utilizada tratando não apenas dos
direitos mas também dos deveres dos cidadãos.
46 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Fóruns e Plenárias são os nomes das frentes que articulam essas redes no urbano,
destacando-se os Fóruns da Reforma Urbana (e da Agrária), de reurbanização dos centros
históricos, os Observatórios de Políticas e Gestão Urbanas, os Fóruns em Defesa da Vida,
contra a violência etc. Essa heterogeneidade de entidades diferencia-se em termos de
visões de mundo, valores, projetos sociopolíticos e culturais e cultura política em si.
Sabemos que nos anos 90 os orçamentos públicos passaram a ter cortes e controles
progressivos. A escassez de recursos atingiu mais as grandes cidades e capitais do país,
transformando-as em pólos de pobreza e miséria. Esse cenário levou as administrações
locais a buscarem, por meio da participação institucionalizada, novas políticas sociais,
que incorporaram entidades oriundas das antigas ONGs militantes, como representantes
da sociedade civil organizada, em parceria com órgãos estatais, na gestão pública da
cidade. É preciso destacar também que essas políticas foram demandas por movimentos
e entidades da população organizada desde os anos 70. Nos anos 90, a sociedade civil
organizada criou Fóruns e Plenárias, e o Estado iniciou a implementação dos Conselhos
gestores, previstos na Constituição de 88, de forma institucionalizada, para atuarem
nas novas esferas públicas, no âmbito das instâncias estatais. Esses conselhos também
foram demandados pela sociedade civil.
| SUMÁRIO | 47
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Em relação às ONGs, é preciso destacar que, nos anos 80, elas foram organizações de
apoio aos movimentos populares, ajudaram a construir um campo democrático popular.
Nos anos 90, elas se tornam atores independentes, com ações e intervenções diretas na
sociedade, especializaram-se em áreas temáticas, buscaram quadros qualificados para
seus projetos etc. É preciso registrar também que, durante o período de hegemonia dos
movimentos sobre as ONGs, no Brasil, não se tratava de um tipo qualquer de ONG, mas
das ONGs cidadãs, movimentalistas, militantes. O paradigma básico de suas atuações
preocupava-se com a transmissão de saberes e de valores aos movimentos com que
interagiam tratados como sujeitos de uma história em construção, dotados de um saber
próprio, que necessitava ser despertado. O paradigma atual que norteia as ações das
ONGs autodenominadas, em sua maioria, como Terceiro Setor – busca subsídios num
leque grande de autores e interpretações, destacando-se a do modelo interpretativo
racional, enfatiza a pluralidade da realidade e dos atores sociais, preocupa-se com as
práticas comunicacionais em termos de interatividade (captando-se os aspectos racional
e a subjetividade presente nas ações). Por isso, a reação do outro face a um desafio
deve ser trabalhada e não simplesmente aceita como natural pelo mediador da ação
cultural (antes denominado educador popular). A reciprocidade passa a ser um indicador.
Avaliações, impactos, resultados e desafios são partes do roteiro a ser seguido pelas
novas intervenções diretas das ONGs do Terceiro Setor. Mobilizar pessoas envolve não
apenas um chamamento para uma ação diretamente relacionada com um interesse de
sua categoria ou classe social. No novo paradigma, mobilizar as pessoas deve ser uma
tarefa integral: mobilizar corpos, emoções, pensamentos e ação de forma a provocar
mudanças nos hábitos e no comportamento dos indivíduos, alterando o resultado de sua
participação política, inserindo-o na comunidade próxima, ajudando a desenvolver um
espírito fraterno e comunitário. No novo paradigma, não importa a ideologia política. O
imperativo atual é criar sujeitos políticos ativos com capacidade de intervir no econômico
(principalmente via economia informal), para melhorar a sua qualidade de vida e a da
sua família, gerando alguma renda monetária. Esse processo tem sido denominado de
“criação e gestão de capital social”.
Capital Social é uma construção metafórica. Ele não consiste em recursos que são
alcançados por indivíduos ou por grupos, mas num processo de interação para obter
resultados. Não se trata de uma “ quantidade”, mas de um processo relacional. Capital
financeiro e capital humano podem ser definidos em termos de quantidades, com
localizações definidas em espaços e relações sócioeconômicas que ocorrem no mundo do
mercado e dos negócios financeiros e em seus quadros humanos. Capital social não pode
ser tão definido dessa forma. Capital social não se localiza em indivíduos, mas na relação
48 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
que se estrutura entre os indivíduos, nas organizações sociais. Ele envolve interações
entre os indivíduos e constitui capital porque produz resultados e benefícios para os
indivíduos. Mas não se trata de qualquer tipo de interação. Elas devem ser orientadas
para objetivos estratégicos e o grupo deve compartilhar orientações normativas voltadas
para estruturas de produção compartilhada entre os grupos. O tipo de solidariedade gerada
é diferente da solidariedade construída a partir de identidades semelhantes, interesses
comuns. Os estudiosos desse tema (9-13) consideram que, como as relações entre os
indivíduos ocorrem em redes sociais, há portanto que se considerar as organizações que
organizam as redes, as conexões da rede, a natureza dos relacionamentos e as normas,
para que se possa ter no capital social. Segundo Bankston e Zhow (2002), trata-se de um
processo mais complexo que o tratamento dado pela sociologia de Durkheim ao normatizar
comportamento objetivando a integração social dos indivíduos via processos de
cooperação; neste caso, a cooperação ocorre via o compartilhamento de normas, que por
sua vez gera a solidariedade (como uma conseqüência funcional).
Nas teorias sobre “capital social” (10-11 e 12), as normas compartilhadas são áreas
da produção do capital como normas promotoras de comportamentos produtivos. Redes
sociais, relacionamentos e normas são etapas na produção de comportamentos voltados
para objetivos pré-orientados, objetivos estratégicos (centrados na produção). As normas
são produzidas nos relacionamentos estruturados em instituições. Família e vizinhança
são usualmente discretas como lugares para redes de relacionamentos. Comunidades de
base e associações formais ou voluntárias: étnicas, religiosas ou cívicas também.
Em termos do futuro das cidades e das populações que nelas habitam, a indagação que
podemos fazer é: o que está sendo gerado com as ações tão diferenciadas e contraditórias
do Terceiro Setor? Podemos dividir a resposta segundo algumas áreas: a percepção da
sociedade, a estrutura física, relativa a territorialidade-urbano/espacial da cidade, o
planejamento urbano, as redes sociocomunicativas, a estrutura produtiva etc.
Do ponto de vista das relações sociais, o trabalho tanto das antigas ONGs cidadãs/
militantes como das ONGs do Terceiro Setor tem gerado uma ampliação do campo da ação
coletiva na sociedade civil. São relações que se constituem a partir de um chamamento à
solidariedade. De uma forma geral, elas são percebidas como relevantes, pois atuam sobre
problemas cruciais da realidade das ruas nas cidades: desemprego, fome, crianças nas ruas,
violência, drogas etc. Não podemos negar que elas contribuem para a construção da cidadania,
| SUMÁRIO | 49
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
50 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Entretanto, estudos realizados pelo Fórum Nacional de Reforma Urbana têm detectado
que as “parcerias que vêm sendo estabelecidas entre setores públicos e privados têm
excluído justamente os grupos mais vulneráveis, realimentando o ciclo de exclusão social
e segregação territorial” (15).
| SUMÁRIO | 51
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
52 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
As associações do Terceiro Setor estão passando a ocupar o papel que antes era
desempenhado pelos sindicatos e pelos partidos políticos. O novo associativismo do
Terceiro Setor tem estabelecido relações contraditórias com o “antigo” associativismo
advindo dos movimentos sociais populares (na maioria urbanos) dos anos 70 e 80. Enquanto
estes últimos fizeram da política seu eixo básico de articulação e identidade, atuando
via reivindicações por direitos (sociais, políticos, econômicos, culturais, por cidadania
de forma geral), e eram amalgamados pelas ideologias da esquerda (num grande espectro
de matizes e tendências), o associativismo do Terceiro Setor é pouco ou nada politizado,
na maioria das vezes avesso às ideologias.
| SUMÁRIO | 53
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
As ONGs têm tido muita desenvoltura para participar nos locais onde foram
implementadas políticas participativas locais. Nesses casos, elas reelaboraram seus
discursos e práticas em direção a uma cultura propositiva que busca tornar as cidades
sustentáveis e mais justas.
A grande novidade dos Conselhos gestores é justamente o fato de eles terem criado
novo padrão de relação entre Estado e Sociedade, via a ampliação da esfera social pública;
isso se deu porque a dinâmica societária dos conselhos fortalece os espaços de representação
da sociedade civil e passou a exigir que os espaços de gestão das políticas públicas fossem
alargados, ampliados, pela inclusão e participação de novos atores sociais. Com isso eles
possibilitam o acesso à população em locais onde se tomam decisões políticas. Mas não é
um acesso departamental, uma nova agência para receber reclamos, demandas etc.
54 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Trata-se de uma esfera que comporta a interação entre os grupos organizados da sociedade,
originários das mais diversas entidades, organizações, associações, movimentos sociais
etc. A natureza dessa esfera é essencialmente política argumentativa, é um espaço para
o debate face a face dos problemas coletivos da sociedade, uma arena de debate e
crítica. A esfera pública é o locus onde podem se inscrever os interesses das maiorias nos
processos de decisão política. Não se trata de um processo simples, relativo apenas ao
cumprimento de um dever constitucional. Envolve dificuldades de três ordens:
2 - para a sociedade política estatal: aprender a conviver com novos processos onde
há parceiros, onde os administradores não são os únicos a decidirem;
| SUMÁRIO | 55
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Uma avaliação feita com representantes de usuários que participam dos conselhos de
saúde no Rio Grande do Sul nos indicou:
1 – Eles têm como marco um conceito amplo de saúde, como um direito pleno da
sociedade, e que a cidade, para ter qualidade de vida, tem de ser saudável.
56 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
A dinâmica das reuniões dos conselhos não podem ser burocráticas, centradas só em
aspectos técnico-administrativos, pois os usuários, usualmente, têm práticas participativas
flexíveis, abertas, mais próximas de assembléias do que de reuniões formais burocráticas.
Certamente que é preciso achar um meio termo. Se tudo virar uma Assembléia, não
precisamos dos conselhos – já temos as “Plenárias”, os Congressos da Saúde etc. (que
se preocupam com grandes metas e objetivos estratégicos da ação a médio e longo
prazos e não com o cotidiano de uma Secretaria em especial).
| SUMÁRIO | 57
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A universidade tem grande contribuição a dar nesse sentido: ela deve atuar tanto dando
subsídios nos grandes aportes teóricos da questão da saúde, estando junto dos conselhos,
ajudando a construir as políticas sociais na área; assim como trabalhando via extensão
direta junto à população, identificando lideranças para com elas definirem prioridades e as
melhores metodologias para ações coordenadas na área da saúde. Essas ações poderão auxiliar
no resgate da auto-estima e humanização dos cidadãos, pois muitos deles encontram-se em
situação de desemprego, ou emprego precário, deprimidos pelo “não-lugar” em que se
localizam na sociedade. Participar de ações de seu bairro/coletividade, como agente ativo,
poderá apontar-lhes horizontes, resgatar-lhes o sentido e o desejo de viver.
Biancarelli (22), em artigo na “Folha de São Paulo” afirma que “há uma relação direta
entre saúde das cidades e saúde das pessoas. E, quando um maior número de moradores
participa coletivamente dos seus próprios cuidados, as ações da saúde costumam ser mais
bem-sucedidas”. Mas o mesmo jornal indaga: “como um município pode ser saudável quando
convive com desigualdades sociais, sofre com problemas de moradia, não oferece o básico
em saúde, não trata o esgoto nem preserva o ambiente”. A resposta pode ser encontrada em
estudos e orientações da própria OMS – Organização Mundial de Saúde, ao sugerir 20 passos
para se ter uma “cidade saudável”: aumentar a consciência dos moradores sobre a saúde,
mobilizar os diferentes setores do governo e da sociedade, definir um projeto de trabalho,
capacitar pessoas, dividir responsabilidades, preparar propostas e colocá-las em prática”.
Corroborando com essas sugestões, estudos realizados pela USP/SP e pela PUC Campinas
concluíram: no Brasil, as cidades que oferecem melhor qualidade de vida são aquelas com
maior autonomia na administração dos seus recursos e com maior participação social (vide
Folha de São Paulo, 30/12/2002, C1). Acrescentamos um alerta: as ações devem ser articuladas
no plano da esfera pública (onde se dão as relações institucionalizadas da sociedade civil com
a administração) e dinamizadas nos espaços públicos específicos da sociedade civil
(associações, movimentos, fóruns, entidades e organizações diversas) (23).
58 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Em 2001, em São Paulo, cerca de 110 mil pessoas escolheram mais de 3.000
conselheiros populares de saúde. Os conselheiros da Saúde têm participado também de
congressos em que são apresentados trabalhos. Ainda em 2001 ocorreu em Santos o 7o
Congresso Paulista de Saúde Pública e, dos 533 trabalhos apresentados, 27 tratavam da
questão dos conselhos e da participação social. Entretanto, em São Paulo também podemos
observar a falta de eqüidade na composição dos conselhos de saúde. O Conselho Gestor
de Saúde do Distrito de Pinheiros, por exemplo, é composto de 12 membros efetivos e
12 suplentes. Dos efetivos, 50% são representantes de usuários, 25% de trabalhadores na
área da saúde e os outros 25% membros do poder público. O mandato não é remunerado.
Na realidade, só não é remunerado para os 50% dos representantes dos usuários, porque
os demais recebem salários para atuar na área. Historicamente, os atores principais que
os constituíram foram os movimentos populares e os profissionais da saúde. Uma outra
dificuldade detectada é: os conselhos estaduais e o nacional “ditam” as regras para os
conselhos municipais.
10. CONCLUSÕES
| SUMÁRIO | 59
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
cotidiano de 80% de seus cidadãos; abrigam as estruturas de poder e decisão; são cenários
de grandes eventos assim como de grandes tragédias. São focos de tensão e violência,
espaços de contrastes entre incluídos e excluídos. A grande questão social no Brasil atual
situa-se nas grandes metrópoles e não no campo ou nas pequenas cidades pobres do
Norte e Nordeste do país. Mas as grandes metrópoles são também locus de construção
de inovações e novos direitos.
Uma questão chave para entender o futuro das cidades é olharmos para os novos
processos participativos que estão ocorrendo na nova esfera pública criada pela interação
entre o governo e a sociedade civil organizada; na interação entre os representantes da
população e os representantes dos poderes constituídos, qualquer que seja a posição
política dos dirigentes políticos administrativos estatais. A inclusão de novos atores sociais
como sujeitos sociopolíticos investidos de poder institucional, a exemplo dos diferentes
tipos de conselhos, além de criar a figura nova de novo sujeito sociopolítico representante
da sociedade civil na arena pública, faz emergir e acionar múltiplas redes sociopolíticas.
Denominamos o novo processo de participação cidadã; ela joga luz sobre a gestão pública
e corresponde a mudanças no processo do fazer política dos grupos e entidades
organizadas, assim como o fazer política da própria administração pública. A gestão
pública adota formas colegiadas e uma das questões chaves será obter altos índices de
representatividade entre os atores que interagem. Com isso, criam-se oportunidades
para se alterar a relação sociedade civil e Estado. A gestão urbana, planejada a partir das
demandas sociais, busca equilibrar a equação: necessidade – oportunidades – recursos
disponíveis. Entretanto, para não ficarmos apenas nas virtualidades, em relação aos
conselhos analisados, para que eles possam exercitar de fato a participação cidadã,
assinalamos que eles têm de ter uma relativa autonomia, atuarem com autodeterminação,
não serem apenas porta-voz de anseios ou meros “referendum” de decisões já tomadas
nos gabinetes; sem isso, é difícil exercitarem a cidadania ativa, propositiva.
60 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
economia de mercado, ainda que sem fins lucrativos, tendem a predominar sobre as
ONGs que trabalham com maior ênfase na capacidade da sociedade de se organizar e
defender seus interesses, na construção de novos sujeitos sociopolíticos que atuam em
defesa dos direitos da cidadania.
O Terceiro Setor não substitui a forma movimento social – típica das ações coletivas
de protesto, resistência e lutas que vigorou nos anos 80 (até porque essa forma ainda é
muito forte na área rural (24). Ele se alimenta das conquistas dos movimentos sociais,
principalmente as que foram consolidadas no plano da lei. Mas ele retraduziu bastante as
práticas daqueles movimentos. Portanto, alterou-se o sentido das ações coletivas de
participação da população. Com isso, temos a chave necessária para entender o processo
de perda de visibilidade da mobilização social e sua substituição pela participação em
projetos focalizados. Entretanto, esse novo sentido não deve nos impedir de reconhecer
a capacidade da sociedade civil de se organizar, na última década, de defender seus
interesses e propor formas de gestão e políticas que se orientam em direção a uma
ampliação da esfera pública e da cidadania (25). Resulta disso tudo um cenário
contraditório, em que convive a inclusão dos setores mais pobres em políticas
compensatórias, com projetos e práticas emancipatórias, que buscam a transformação
social via mudança dos eixos e diretrizes que têm sido dados à sociedade brasileira até
agora. Inúmeras ONGs cidadãs afirmam: já não bastam princípios gerais e boas análises
da sociedade. São necessárias boas análises para armar estratégias políticas viáveis
segundo a correlação de forças políticas presentes na conjuntura.
| SUMÁRIO | 61
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(2) TOURAINE, Alain. Integração crítica. Folha de São Paulo, Caderno MAIS, 5 jan
2003, p. 8.
(3) Fórum Nacional da Reforma Urbana, Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental,
Instituto dos Arquitetos do Brasil, Associação Nacional de Planejamento Urbano e Regional,
Fórum Nacional de Participação Popular –Conam –Coordenação Nacional Associações de
Moradores, Instituto da Cidadania, Instituto Brasileiro de Administração Municipal, Frente
Nacional de Prefeitos das Grandes Cidades, Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior
da Câmara dos Deputados.
(5) GOHN, Maria da Glória. “Educação não-formal e cultura política”. 2.ed. São Paulo:
Cortez, 2001.
(6) Destacam-se: a mortalidade infantil caiu um quinto em relação a 1970; houve ampliação
do sistema público de atendimento e aumento no sistema de cobertura e da oferta das
vacinas; diminuição das filas para cirurgias (principalmente catarata e varizes); crescimento
dos transplantes (rins, coração, medula óssea e fígado); incremento de procedimentos
ambulatoriais, como exames de mamografia pelo SUS, tomografias computadorizadas, a
ressonância magnética passou a ser oferecida à rede pública de saúde. Houve ainda aumento
de 57% dos tratamentos de hemodiálise e 66,5% na quimioterapia. Destacam-se ainda o
aumento da distribuição de remédios gratuitos e de coquetel de DST/Aids e a ampliação do
Programa de Saúde da Família – PSF. Fonte: BARJAS NEGRI. “A saúde rompeu o círculo
vicioso”. In: Folha de São Paulo, 15 nov/2002, p. A3.
62 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
nos filhos sob agressão. Vide: DIMENSTAIN, Gilberto. “Hospital de brincadeira”. Folha de
São Paulo, 20 nov/2002, C2.
(8) Para uma discussão sobre o conceito de sociedade civil, vide CARVALHO, José Murilo.
“Cidadania no Brasil: o longo caminho”. São Paulo: Companhia das Letras, 2002; e meu
texto “Sociedade civil no Brasil: conceito e sujeitos atuantes”. In: Caderno Ideação,
Porto Alegre, Número Especial, p. 73-82, 2002.
(9) BANKSTON; ZHOW, Min. ” Social capital as process: the meamungs and problems of a
theoratical metaphos”. Inquiry, [S.l.], v. 72, n. 2, p. 285-317, 2002.
(11) PORTES, Alejandro. “Social capital: its originis and aplications in moderne sociology”.
Annual Review of Sociology, v. 24, p. 1-24, 1998.
(12) PUTNAM, Robert. “Bowling alone: Americas decling social capital”. Journal of
Democracy, [S.l.], v. 6, p. 65-78, 1995.
(13) ZHOU, Min. “Social capital in China Town: the role of Community Based Organizations
and Families in the Adaptations of the younger generation”. In: WEISS, Lois; SELLER,
Maxime S. (ed). “Beyond Black and whinthe: new voices, new faces in the Unithed States
Schools”. Albany: SUNY Press, 1997.
(15) Fórum Nacional de Reforma Urbana. Seminário Mundial pelo Direito à Cidade Contra
a Desigualdade e Discriminação. Porto Alegre, Janeiro 2002.
(16) A respeito de espaço público, vide: DAGNINO, Evelina. “Sociedade civil e espaços
públicos no Brasil”. São Paulo: Unicamp/Paz e Terra, 2002, e Fernandes, Rubem César, et
al. “Terceiro setor: desenvolvimento social sustentado”. São Paulo: GIFE/Paz e Terra, 1997.
(17) Vide análises mais detalhadas em meu livro “Conselhos gestores e participação
sociopolítica”. São Paulo: Cortez, 2001.
(18) CARVALHO, Pedro Ivo. “Conselhos de Saúde no Brasil: participação cidadã e controle
social”. [S.l.]: IBAM/FASE, 1995.
(19) Mercadante, O; et al. “Conselhos municipais das áreas sociais”. Informativo CEPAM,
São Paulo, n. 1, p. 41, 2002.
| SUMÁRIO | 63
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
(20). Existem inúmeras modalidades de divulgação dessas leis, tais como o “Guia do
Conselheiro”, do próprio Ministério da Saúde, material do Conselho Regional de Saúde,
da Associação dos Secretários Municipais de Saúde e do Conselho Nacional dos Secretários
de Saúde, entre outros. Essas publicações apresentam dois problemas: a) elas não são
divulgadas o suficiente ou nos canais corretos, pois a maioria dos usuários as desconhece,
ficando incapazes de participar ou se candidatar para conselheiros; b) o material oficial
elaborado, usualmente, expressa-se em linguagem de difícil compreensão para o leigo.
Os representantes dos usuários tentam decodificar as informações via cartilhas. É bom
lembrarmos também que existem outras estruturas que tratam da questão da saúde –
nas empresas, por exemplo – via CIPA´s (com cartilhas sobre prevenções de acidentes, o
LER – Lesões por esforços repetitivos, Aids etc.); entidades sindicais e associações
comunitárias também têm criado departamentos específicos e organizado campanhas
preventivas; a Pastoral da Saúde capacita agentes comunitários, distribui materiais para
prevenção de doenças, uso de ervas, remédios, xaropes, pomadas etc. Mas há uma total
desarticulação entre essas ações, atuando cada um no “seu pedaço” ou território
organizativo. Além disso, não há encontros, trocas de experiências entre os próprios
conselheiros e nem entre estes e os agentes comunitários da área.
(23) Vide também Fundação Osvaldo Cruz; FGV. “Municipalização da saúde e poder local
no Brasil”. Rio de Janeiro: FGV/Fiocruz, 1998
64 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
nas ruas, escolas, ações contra as pessoas e seu patrimônio); 3) mobilização e organização
popular em torno de estruturas institucionais de participação na gestão política-
administrativa da cidade (Orçamento Participativo e Conselhos Gestores); 4) mobilizações
e movimentos de recuperação de estruturas ambientais, físico-espaciais (como praças,
parques), assim como de equipamentos e serviços coletivos (área da saúde, educação,
lazer, esportes e outros serviços públicos degradados nos últimos anos pelas políticas
neoliberais); 5) mobilizações e movimentos sindicais contra o desemprego; 6) movimentos
de solidariedade e apoio a programas com meninos e meninas nas ruas, adolescentes que
usam drogas, portadores de HIV, portadores de necessidades especiais; 7) mobilizações
e movimentos dos sem-terra, na área rural e suas redes de articulações com as cidades
via participação de desempregados e moradores de ruas, nos acampamentos do MST –
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra; 8) movimentos étnico-raciais (índios e
negros); 9) movimentos envolvendo questões de gênero (mulheres e homossexuais); 10)
movimentos contra as políticas neoliberais e os efeitos da globalização (contra ALCA,
Fórum Social Mundial etc.); 11) movimentos de demandas na área dos direitos humanos,
culturais etc.; 12) movimentos pela educação (no setor popular: creches e vagas nas
escolas; no setor universitário: contratação de professores, mais verbas para educação
e reajustes das mensalidades nas faculdades particulares); 13) movimentos religiosos de
diferentes crenças, seitas e tradições religiosas; 14) movimentos culturais de jovens.
Sobre a categoria “movimento social”, vide GOHN, Maria da Glória. “Teoria dos
movimentos sociais”. 3.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
| SUMÁRIO | 65
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
66 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
RESUMO
Neste pequeno ensaio estaremos enfocando uma dessas facetas nesta geografia do
mundo contemporâneo, a saber os fluxos migratórios de pessoas. O objetivo principal é
observarmos algumas das conseqüências desse processo de escala verdadeiramente mundial,
especialmente na definição daquilo que poderíamos designar como a cidade e sua geografia
cultural-urbana. Há aqui fundamentos ontológicos a serem destacados, especialmente como
| SUMÁRIO | 67
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
68 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
marcada por lógicas novas. Lugar de morada não é o mesmo que lugar de trabalho. Nesse
mosaico denso das cidades, os lugares tendem à discriminação. A redefinição da identidade
encontra seu lugar no bairro operário. Reduto dos mesmos em suas identidades de lugares
longínquos. O contíguo agora e a identidade no outro que tem em comum o fato de seu
lugar não ser ali. Ser aqui sendo de lá.
A Cidade mostra aspectos novos. Não só os lugares são diferentes na sua constituição.
Também nesses lugares a relação homem/meio mostra singularidades. Os que não são
dali agora também pertencem à cidade e, por isso, farão parte dela. Farão o que a cidade
será. Na cidade, rapidamente se deixa de ser estrangeiro. Os ritmos são outros. A cidade
assimila. Ao indivíduo cabe assimilá-la, senão morre. Daqui veremos as primeiras
manifestações fruto dessa nova interação entre homem/meio. Um Homem impingido a
ser urbano, situação estacionada no coração da alienação que ele produz em sua relação,
mas também um Homem de subjetividade calcada na ruralidade. No bairro a solidariedade
é outra, a ética é outra. Reporta-se muito ao lugar que ficou para trás. A cultura agora
será síntese de dois lugares. Um do imaginário e outro do vivido. Dois espaços num só
lugar. Eis o traço da primeira geografia cultural-urbana. A segunda é mostrar o lugar
vivido. Aqui se toca um samba e se dança um tango. A primeira cultura de origem urbano-
industrial é uma cultura popular. Ela passa a marcar e dizer o que é a cidade.
| SUMÁRIO | 69
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Mas isso tomará proporções ainda maiores quando a densidade da cidade tornar-se
crítica. No processo histórico, a geografia das cidades tornar-se-á tensa. Os ritmos, que
em sua síntese são o urbano, não mostraram harmonia, mas sim hierarquia. A densidade
é expressão que o espaço toma no ritmo industrial. E todos os recursos serão empregados
para que ele se acelere. Nisso, o número dos que chegam torna-se incompatível com a
premência dessa velocidade rítmica. A tecnologia toma o lugar do homem no campo e na
cidade. E a este volta a necessidade de migrar. Agora o espaço contíguo não é mais
possível. A saída é para o mar, no além-mar. As distâncias podem ser agora oceânicas, ou
mesmo continentais. Do outro lado, outro lugar, outra cidade, outro campo, outras culturas.
Tão grande agora o estranhamento, quão grande é agora a distância. O drama ganha em
proporções maiores. A origem agora será o velho mundo, no oriente e no ocidente. No
destino o novo mundo. Sua história é recente. Sua geografia é nova e dinâmica. A saudade
vem agora com a esperança.
Estamos diante da diáspora das culturas. A geografia agora tem escala planetária. De
campo para cidade, vamos agora de país para país, ou mais exatamente a migração
campo-campo, campo-cidade, cidade-cidade, cidade-campo, onde a origem é um país e
o destino é um outro país. Aos recém-chegados as dificuldades de adaptação são agora
ainda maiores. De origens distintas, num primeiro momento podem estar juntos. Todavia,
a identidade cultural faz muitas vezes que o convívio torne-se difícil, e das dificuldades
enfrentadas a tendência é a solidariedade baseada na origem ou na raça. Aquilo que era
antes uma inclinação torna-se algo efetivo: os guetos se constituem. Ali, no gueto, o
mundo pregresso em seus valores ético-culturais são melhor exercidos e até mesmo uma
certa paisagem originária é territorializada.
70 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 71
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
E esse desequilíbrio põe mais uma vez os indivíduos em movimento. Mas agora um
continente composto de cidades mundiais conectadas, e os fluxos migratórios serão de
fora para dentro do continente e entre os nódulos desiguais do continente. Assim como
teremos agora não só estrangeiros, também teremos clandestinos. As cidades são
mundiais, mas as fronteiras para a mobilidade das pessoas são cada vez mais rígidas.
Um desequilíbrio sob controle precário.
E o que há de novo nessas migrações? As culturas continuam diversas. Mas agora são
culturas de origem urbana. Os que chegam, clandestinos ou não, são também de origem citadina.
Talvez os que migrem para dentro do continente não sejam assim tão fundados numa
subjetividade urbana. Porém, muitas vezes são um híbrido dicotômico entre passado e presente,
entre a mentalidade do colonizador e a condição de colonizado, entre o mundo ocidental e sua
alteridade. Algo que tenderá a se reconstituir no seu destino, na sua nova condição, em sua
nova geografia. Assim as pluralidades muitas vezes já estão dadas na origem.
A geografia urbana das cidades está, como nunca, mais complexa. Os guetos se
reconstituem. Novos surgem e não necessariamente nas periferias. Áreas deterioradas
acolhem esses novos estrangeiros-clandestinos, constituindo-se não mais só o gueto
clássico, mas sim uma espacialidade marginal, ou mesmo paralela. Um submundo mundial
numa geografia desintegrada.
E aquilo que anteriormente era uma tendência manifesta, nessas atuais circunstâncias,
já é caraterística marcante das cidades: o seu multiculturalismo e seu estágio mais
profundo, o hibridismo cultural. As origens culturais agora são memória, são folclore. O
que agora viceja nas cidades é uma tradição metamorfoseada, fundida pelas contingências
da geografia das cidades. Mesmo assim, os dramas não desaparecem. As intolerâncias
ressurgem numa face curiosamente perversa. Pois agora aqueles que, outrora, em gerações
72 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 73
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
74 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Isso repõe os termos daqueles que pensam ser interventores da ordem/desordem urbana.
Isso nos revela que a territorialidade das cidades é a dimensão espacial da complexidade,
seja ela na relação sociedade/natureza ou entre o eu e sua alteridade. Isso recoloca o
Homem no centro da nossa discussão, o que equivale a ter de pensar sobre sua ontologia
fundante e assim ver como a geografia à qual ele vem respondendo o atira em um drama
em que os sentimento mais comuns são o Medo, a Angústia e o Tédio. Afinal, a cidade é ou
deve ser para quem?
| SUMÁRIO | 75
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
76 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
PARTE II
Demografia e urbanização
| SUMÁRIO | 77
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
78 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
RESUMO
| SUMÁRIO | 79
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
INTRODUÇÃO
1 A natureza e as dimensões da Idade de Ouro do Brasil (1), (2) e particularmente seu caráter moderno e urbano, vêm sendo
rediscutidas e redimensionadas em novos trabalhos; ver, entre outros: (3), (4), (5), (6).
80 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 81
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4 (10),(11) e (12) discutem a concentração industrial em São Paulo e (13), seu crescimento urbano.
82 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 83
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
5 Cidades mono-industriais são cidades controladas por grandes indústrias; podem ser novas, construídas para abrigar a
indústria, ou cidades existentes, apropriadas para constituir a base urbana necessária aos serviços de apoio à produção e
à reprodução (coletiva) da força de trabalho (15), (16).
84 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
6 Tecido urbano é um termo largamente utilizado pelos urbanistas mas reapropriado por Henri Lefèbvre (17) para discutir
sua formulação da revolução urbana (18). Utilizo o conceito de urbanização extensiva (19) para descrever o processo de
extensão das condições gerais de produção urbano-industriais para além das cidades, atingindo espaços próximos e
longínquos onde as relações sócioespaciais urbano-industriais se impõem como dominantes, independentemente das densidades
urbanísticas.
| SUMÁRIO | 85
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
7 Programas como o PIN — Programa de Integração Nacional, que estabelecia o assentamento de colonos na faixa de 100 km ao
longo das estradas federais em áreas de fronteira até a Amazônia, e o II PND — Plano Nacional de Desenvolvimento, com sua visão
espacializada, foram determinantes para a extensão das condições de produção (e reprodução) a novas e amplas parcelas do
território nacional. Ver (22), (23), (24).
86 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
são assim produzidas na periferia do capitalismo mundial, gerando novos espaços urbano-
industriais também incompletamente integrados ao centro da acumulação capitalista
globalizada. Assim, esses espaços acumulam tempos-espaciais distintos e justapostos em
maior profusão e variedade do que suas contrapartes nos países capitalistas centrais (26).
Entretanto, um estudo recente da rede urbana brasileira feito pelo governo federal
em parceria com uma universidade pública identificou doze aglomerações metropolitanas
que reúnem 33,7% da população do país (52,7 milhões de habitantes). Além dessas, 37
aglomerações “não-metropolitanas”, reunindo 13,1% da população (20,6 milhões) e 62
centros urbanos isolados com população superior a 100 mil habitantes formam o conjunto
das 111 aglomerações urbanas, que, ao final da década de 1990, englobavam 440
municípios e 55% da população brasileira, cerca de 86,6 milhões de pessoas10 .(29)
| SUMÁRIO | 87
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Assim, o Brasil, além de quase todo urbanizado, está ainda se urbanizando a passos
largos, devendo-o tanto aos altíssimos percentuais de concentração de população urbana
nos estados mais populosos e desenvolvidos quanto à urbanização intensa nas regiões
de fronteira do Centro-Oeste e do Norte. Portanto, ainda que a taxa anual média de
crescimento urbano tenha sistematicamente se reduzido no país nas últimas décadas 11,
os novos padrões de urbanização tanto reforçam a concentração populacional em áreas
conurbadas quanto promovem a desconcentração sobre cidades médias e pequenas.
Pode-se assim identificar um duplo padrão de urbanização no Brasil, já manifesto em
décadas anteriores, mas hoje mostrando nova natureza e organização. De um lado, uma
concentração populacional em grandes e médias áreas urbanas, principalmente as regiões
metropolitanas e regiões urbanas do Centro e do Sul como um todo. De outro, a extensão
da urbanização sobre amplos espaços regionais por meio de das redes de transportes,
comunicação e serviços integrando as espacialidades diversificadas e (re)qualificando as
relações urbano-rurais, mudando assim a natureza da urbanização no Brasil. Não se trata
mais apenas da urbanização em cidades; o tecido urbano se expandiu para além dos
perímetros urbanos, gerando e integrando novas centralidades e periferias diversas, ao
mesmo tempo em que estendeu as relações de produção (capitalistas) urbano-industriais
pelo espaço social como um todo. A partir dessa nova urbanização, ao mesmo tempo
concentrada e estendida, articulam-se ações políticas, locais e distantes, em processos
de competição e cooperação cada vez mais complexos e plurais, tanto internos às unidades
urbanas quanto externos, articulando centros e regiões urbanizadas.
Podem-se apontar, portanto, algumas novas dinâmicas na urbanização brasileira. Em
primeiro lugar, a expansão e proliferação das aglomerações urbanas—metropolitanas ou
não — com a ampliação das áreas conurbadas e/ou funcionalmente integradas e o
conseqüente aumento da participação da população concentrada nessas áreas face ao
total da população brasileira, expandindo e redefinindo suas periferias de múltiplas formas:
entornos, cinturões, áreas de influência e outras denominações que podem envolver
municípios e cidades distantes centenas de quilômetros da metrópole original12 .
11 A taxa anual média de crescimento urbano, de 5,2% nos anos 60, reduziu-se para 2,4% nos anos 90.
12 As nove RMs eram originalmente compostas por 117 municípios, e esse número se manteve até 1980; em 1991, o número
total de municípios passou a ser 131; em 1996, passou a 167 e, em 2001, passou a 190, expressando tanto a expansão das
RMs sobre novos municípios quanto o desmembramento de municípios já incorporados que sofreram grande crescimento e/
ou adensamento.
88 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
13 As regiões mais populosas – Nordeste, Sudeste e Sul – concentram quarenta e quatro das quarenta e nove (90%)
aglomerações metropolitanas e não-metropolitanas do país, contra apenas quarenta e cinco dos sessenta e dois (70%)
centros urbanos isolados (cálculo a partir de dados de (29).
14 O prof. Milton Santos (21) utiliza o conceito de meio técnico-científico e informacional para se referir às transformações
que o meio sócioespacial vem sofrendo com o equipamento do território, conceito que me parece muito útil e relevante
para se entender a transformação geográfica, mas que não apreende com clareza ou enfatiza a dimensão política aqui
pretendida.
| SUMÁRIO | 89
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
15 Foweraker {1981 #16} produziu um dos mais extensivos relatos da expansão das fronteiras agrárias no Brasil.
90 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
16 (22), (19), (23), (30), (31),(32) apenas para citar alguns autores conhecidos que produziram trabalhos importantes e
influentes, sem abordar essa questão. Becker constitui a exceção principal, tendo visto na Amazônia a fronteira urbanizada
(33), (34).
17 A introdução do termo fronteira, no sentido do avanço da modernidade sobre espaços da “barbárie”, ou “vazios”, deve-
se a Frederick Jackson Turner, que, em seu famoso ensaio de 1894 sobre a fronteira norte-americana, cunhou de forma
influente e definitiva esse conceito (35).
18 Não há evidências de referências entre os dois autores, que, todavia, desenvolveram conceitos próximos. Soja (37), em
sua busca lefebvriana pelo Terceiroespaço, dedica um capítulo às heterotopias foulcautianas e suas articulações.
| SUMÁRIO | 91
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Entretanto, a fronteira pode apontar também para uma terceira posição, para a
possibilidade da reinvenção da relação com o outro, da ambigüidade da complexidade
contemporânea, das opções virtuais a partir do confronto das dualidades dicotômicas.
Entre o campo e a cidade, outras possibilidades estão contidas na urbanização extensiva.
Entre a cidade e a região, muitas periferias mutantes se reconstituem, produzindo novos
centros, assim como novas centralidades periféricas e espaços marginais centrais. Às
mais óbvias centralidades urbanas somam-se inúmeras formas de organização urbano-
rural, exigindo a criação de novas categorias mediadoras, entre os distritos e as áreas
rurais, tais como os núcleos rurais, os núcleos urbanos isolados, as áreas de extensão
urbana, entre várias outras. Os limites entre o rural e o urbano se tornam assim cada vez
mais difusos, assim como as centralidades e periferias passam a ser definidas por outros
fatores que não apenas sua localização na malha sócio-espacial ou mesmo sua concentração
de comércio e serviços tradicionais. Periferias podem abrigar atividades produtivas ou
de lazer de caráter central, enquanto áreas urbanas localizadas nos centros podem estar
periferizadas em sua utilização e função no sistema urbano local.
92 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BOXER, C. R. “The golden age of Brazil, 1695-1750: growing pains of a colonial society”.
Berkeley: Sociedade de Estudos Históricos Dom Pedro Segundo Rio de Janeiro: University
of California Press, 1969.
10. DEAN, W. “The industrialization of São Paulo, 1880-1945”. Austin: University of Texas
Press, 1969.
11. SILVA, S. “Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil”. São Paulo: Editora
Alfa-Omega, 1976.
12. CANO, W. “Raízes da concentração industrial em São Paulo”. 2.ed. São Paulo: T.A.
Queiroz, 1983.
13. MORSE, R. “São Paulo since independence: a cultural interpretation”. Hispanic American
Historic Review, [S.l.], n. 34, p. 419-444, 1954.
14. MONTE-MÓR, R. L. M. “Do urbanismo à política urbana: notas sobre o caso brasileiro”.
Belo Horizonte, UFMG, 1981. (Textos para discussão Cedeplar, n. 11)
| SUMÁRIO | 93
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
27. LIPIETZ, A. “Mirages and miracles: the crisis in global Fordism”. London: Verso, 1987.
30. BUNKER, S. G. “Underdeveloping the Amazon: extraction, unequal exchange, and the
failure of the modern state”. Chicago: University of Chicago Press, 1988.
31. HECHT, S. B.; COCKBURN, A. “The fate of the forest: developers, destroyers, and
defenders of the Amazon”. London: New York: Verso, 1989.
94 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
32. SCHMINK, M.; WOOD, C. H. “Contested frontiers in Amazonia”. New York: Columbia
University Press, 1992.
34. BECKER, B. K.; MIRANDA, M.; MACHADO, L. O. “Fronteira Amazônica: questões sobre
a gestão do território”. Brasília: Editora UnB: Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1990.
35. TURNER, F. J. “The frontier in American history”. New York: H. Holt and Company, 1920.
36. FOUCAULT, M. “Of other spaces”. Diacritics, [S.l.], n. 16, p. 22-27, 1986.
37. SOJA, E. W. “Thirdspace: journeys to Los Angeles and other real-and-imagined places”.
Cambridge: Blackwell, 1996.
| SUMÁRIO | 95
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
96 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
RESUMO
| SUMÁRIO | 97
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
INTRODUÇÃO
A evolução demográfica da população brasileira vem sendo marcada, nos últimos cin-
qüenta anos, pelo processo de transição demográfica, decorrentes de mudanças nos ní-
veis de mortalidade e fecundidade1 . Esse processo teve seu início nos anos 40 com o
declínio da mortalidade, acentuando-se nos anos 50 e 60. Até esse período os níveis de
fecundidade permaneceram estáveis (em torno de 6,2 filhos por mulher), configurando
uma etapa da dinâmica demográfica brasileira marcada por altas taxas de crescimento
da população (Gráfico 1).
1 A transição demográfica brasileira teve pouca influência da migração internacional, que a partir dos anos 40 foi bastante
reduzida; apenas recentemente esse fenômeno migratório vem se acentuando no país.
98 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Gráfico 1
Brasil
1940-2000
Fonte: Fundação IBGE (1994); Anuário Estatístico do Brasil de 1995;Censo Demográfico de 2000.
| SUMÁRIO | 99
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 1
Brasil
1940-2020
Fonte: Simões e Oliveira (1988); FIBGE, Anuário Estatístico do Brasil, 1995 e Censo Demográfico de 2000.
100 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Tabela 2
Esperanç a de Vida
| SUMÁRIO | 101
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desde os anos 40, tem-se observado no Brasil aumento significativo de sua população
urbana. Em 1940, 12,8 milhões de pessoas residiam no meio urbano, sendo que a população
rural ainda representava 69% do total nacional; em 1991, mais de 110 milhões de habitantes
residiam em áreas urbanas, passando para 137,9 milhões em 2000 (Tabela 3). Ou seja,
102 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
em 2000, apenas 18,7% da população nacional viviam em áreas rurais – cerca de 31,8
milhões de pessoas.
Por outro lado, o processo de urbanização no Brasil gerou a criação de significativa rede
urbana, diferentemente de outros países latino-americanos que se caracterizam por uma
primazia urbana (FARIA, 1983; VILLA; RODRÍGUEZ, 1994). O dinamismo e a complexidade
desse processo se expressou na multiplicação do número de cidades no País. Entre 1950 e
2000, passou-se de 1.889 cidades, no início do período, para 5.507, ao seu final.
De fato, o enorme esvaziamento do campo que se operou a partir dos anos 50 levou à
aceleração do processo de urbanização; a taxa de crescimento da população urbana passou
de 3,8% a.a., no período 1940-50, para 5,32% a.a., entre 1950-60. O impacto da
transferência de população rural para o meio urbano se fez sentir de maneira mais
acentuada nos anos 50, uma vez que a base demográfica não era tão extensa; à medida
que essa base foi-se alargando, o impacto dessa população foi diminuindo e apresentando,
portanto, taxas menores de crescimento urbano: 5,15% a.a. no período 1960/70; 4,44%
a.a. entre 1970/80; 2,96%a.a. no período 1980-91, chegando a 2,44% entre 1991-2000.
| SUMÁRIO | 103
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 3
Brasil
1940-2000
104 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 105
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O padrão de urbanização que se processou no Brasil, nos últimos trinta anos, foi marcado
por um crescimento rápido, amplo e concentrado da população, contribuindo, de um lado, para
a emergência de grandes metrópoles, e de outro, para a expansão de uma diversificada rede
urbana nacional, com o crescimento acelerado das capitais regionais e subregionais, bem como
com o aumento da população urbana em grande número de cidades de diferentes tamanhos
(FARIA, 1986). Esse processo de concentração urbana em determinadas localidades teve
momentos de maior intensidade e, ao que tudo indica, atualmente está-se frente a um movimento
de desaceleração no ritmo de crescimento populacional dos grandes centros urbanos.
As novas formas de estruturação do espaço urbano têm-se caracterizado por um
crescente processo de conurbação e de complexa interação entre as cidades, configurando
a emergência de novas áreas metropolitanas e a formação de aglomerações urbanas não-
metropolitanas no interior do País6.
Na dinâmica do processo de redistribuição espacial da população, portanto, essas
novas espacialidades vêm assumindo importância crescente, já que podem ser capazes
tanto de absorver quanto de reter grande parte dos fluxos migratórios que, anteriormente,
se dirigiriam às grandes concentrações metropolitanas.
5 Considera-se, neste item, as antigas regiões metropolitanas do país: Belém, Recife, Salvador, Fortaleza, São Paulo, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre.
6 Veja-se o estudo recente “Caracterização e Tendências da Rede Urbana Brasileira”. NESUR - Instituto de Economia –
UNICAMP/ IPEA, 1998.
7 Refere-se às pessoas que mudaram de município, pelo menos uma vez, na década; não inclui a migração intrametropolitana.
106 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Tabela 4
População Total e Taxas de Crescimento
Regiões Metropolitanas – Brasil
1970-2000
Regiões
Metropolitanas População Total Taxas de Crescimento (% a.a.)
(antigas)
| SUMÁRIO | 107
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
8 Considera-se como núcleo, a sede regional de determinada área metropolitana, e como periferia os demais municípios que
compõem tais áreas.
9 Utiliza-se as informações sobre migrações para os períodos 1970-1980, 1980-1991 e, para as migrações interestaduais,
o de 1991-1996, uma vez que ainda não foram divulgadas os dados censitários de 2000, referente ao período 1991-2000.
108 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
menos uma vez de município nos anos 70, elevando-se para 10,5%, nos anos 80.
Dos anos 70 para os 80, assistiu-se a um aumento no volume de pessoas que mudaram de
município, pelo menos uma vez, nos respectivos contextos metropolitanos, à exceção da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro. Nas metrópoles regionais, esse fenômeno foi extremamente
acentuado, destacando-se os casos das Regiões Metropolitanas de Fortaleza (de um volume
intrametropolitano de 45.416 migrantes, no período 1970-1980, para 140.082, no período
1981-1991), de Salvador (de 36.132 para 63.538, respectivamente), de Belo Horizonte (185.336
e 313.416) e de Curitiba (de 89.782 para 131.481), reafirmando o crescente processo de
periferização das populações metropolitanas.
Esses deslocamentos internos em nível metropolitano imprimem novas características ao
processo de redistribuição da população: consolidam-se espaços urbanos na periferia nacional,
antes incapazes de reter e atrair sua população. No entanto, as “especializações do território”
(SANTOS, 1994) traduzem-se em metrópoles diferenciadas e fragmentadas, cujo processo de
periferização é antes de tudo a expressão do empobrecimento da população10.
Os resultados do Censo de 2000 sugerem a continuidade do processo de desaceleração do
ritmo de crescimento das antigas metrópoles brasileiras, especialmente a Região Metropolitana
de São Paulo (com uma taxa de 1,7% a.a), Rio de Janeiro (1,54% a.a.) e Porto Alegre (1,7%
a.a.); taxas menores que a verificada para o conjunto da população urbana do país (2,44%
a.a.) e para as áreas metropolitanas (2,00% a.a.).
O Brasil das nove regiões metropolitanas manteve nos anos 90 o mesmo ritmo de crescimento
dos anos 80, ritmo este inferior ao conjunto da população urbana do País. A importância desse
processo de desaceleração metropolitana é revelada pela expressiva perda de participação
relativa das populações dessas metropóles no total da população urbana do País: em 1970, a
população das nove regiões metropolitanas respondia por 45,56% da população urbana brasileira,
passando para 37,03%, em 2000.
Na verdade, o entendimento do atual processo de urbanização e desaceleração das
grandes concentrações metropolitanas está relacionado com a distribuição da população
em diferentes espacialidades do sistema urbano brasileiro; característica do processo de
urbanização, na virada do século XX para o XXI, tem sido o intenso processo de
interiorização das aglomerações urbanas.
10 A pesquisa “Características e Tendências da Rede Urbana no Brasil” (NESUR-IE/UNCAMP/IPEA, 1998) aponta menor renda
para os chefes de domicílios nas áreas periféricas que nos núcleos metropolitanos.
| SUMÁRIO | 109
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
11 Veja-se Martine (1992) para uma análise da evolução das localidades urbanas no Brasil segundo Grandes Regiões de 1940
a 1991.
12 O estudo “Características e Tendência da Rede Urbana Brasileira” – (NESUR – IE/IPEA, 1998) analisa os impactos da
economia no sistema urbano regional, onde se observa o crescimento de localidades fora das grandes metrópoles.
13 Adota-se o período 1991-1996 neste e no próximo item, uma vez que as ultimas informações sobre migração interestaduais
ao nível de município constam da Contagem de População de 1996
110 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Esses dois grupos de municípios não-metropolitanos (de médio e grande porte) vêm
demonstrando rápida capacidade de absorção populacional com o crescente aumento relativo
de suas populações no total nacional. Os municípios de 100 mil a 500 mil habitantes não-
metropolitanos representavam 12,4% da população nacional, em 1970, e, numa tendência
ascendente (mesmo com o intenso processo de metropolização dos anos 80), chegaram a
15,5%, em 1996. Os municípios de grande porte situados fora de regiões metropolitanas
respondiam por 1,5% do total da população, em 1970, alcançando 2,8%, em 1996.
Os municípios intermediários (20 mil a 100 mil habitantes) situados em áreas não-
metropolitanas totalizavam, em 1996, 45,2 milhões de habitantes – volume bastante
próximo ao das regiões metropolitanas antigas (46,1 milhão) –, concentrando 44,5% da
população residente no interior não-metropolitano do Brasil e participando com 24,7% do
incremento absoluto nacional.
| SUMÁRIO | 111
Tabela 5
População segundo Categorias de Municípios
Brasil
1970, 1980, 1991 e 1996
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
| SUMÁRIO |
Notas: (*) Referem-se às regiões metropolitanas de Natal, Vitória, Santos, Brasília, (Campinas) e Goiânia.
(**) São elas: Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.
112
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980 e 1991 e Contagem da População de 1996. A população segundo classes de tamanho de municípios foram extraídas de Pacheco (1997).
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 113
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 6
Taxas de Crescimento e Participação no Incremento da População Regional
Municípios Metropolitanos e Não-Metropolitanos
Grandes Regiões
1970 a 1996
15 As análises referentes a rede urbana de cada uma das regiões beneficiam-se dos resultados do projeto “Caracterização
e Tendências da Rede Urbana no Brasil” realizada no NESUR – IE/UNICAMP/IPEA, entre dezembro de 1997 e novembro de 1998.
114 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
16 Veja-se o Relatório 6 do Projeto “Caracterização e Tendências da Rede Urbana no Brasil – Estudo Regional: Nordeste”,
(IPEA/NESUR-IE/UNICAMP/IBGE, 1998b).
17 Segundo o estudo IPEA/NESUR-IE/UNICAMP/IBGE, são eles: Aglomerado Urbano de Feira de Santana (BA); de Campina
Grande (PB); de Ilhéus/Itabema (BA); de Caruaru (PE); de Juazeiro do Norte/Crato (CE); de Teixeira de Freitas/Eunápolis/
Porto Seguro (BA); de Santo Antonio de Jesus (BA); de Sousa/Cajuzeiros (PB); Mossoró/Açú; de Petrolina/Juazeiro (BA); apud
IPEA/NESUR-IE/UNICAMP/IBGE (1998b).
| SUMÁRIO | 115
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
116 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
decréscimo dos anos 70 (5,6% a.a.) para os anos 80 (3,2% a.a.), seguiram com níveis mais
elevados de crescimento que os municípios não-metropolitanos (2,0% a.a. e 1,3% a.a.,
respectivamente, no período 1991-1996).
Esse aspecto parece indicar que o impulso metropolizador das novas regiões metropolitanas,
com a manutenção de altas taxas de crescimento, não se sustenta por períodos tão longos,
como o foi em décadas passadas, para as antigas regiões metropolitanas; no prazo de uma
década, essas áreas já começaram a dividir com as demais aglomerações (metropolitanas ou
não) a distribuição e crescimento da população.
| SUMÁRIO | 117
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Preto, Sorocaba, Jundiaí, São José do Rio Preto, Araraquara-São Carlos, Araçatuba, Limeira-
Rio Claro e Guaratinguetá, além dos importantes centros urbanos de Franca, Presidente
Prudente, Marília, Piracicaba, Bragança Paulista e Itapetininga19.
19 Essa classificação para os estados do Sudeste está baseada no Relatório 6 da pesquisa “Caracterização e Tendências da
Rede Urbana no Brasil” (IPEA/NESURÌE?UNICAMP/IBGE, 1998c e 1998d).
118 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
20 Trata-se da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE); o Decreto no 2710 de 04/08/1998
regulamentou a Lei Complementar no 94 e autorizou o Poder Executivo a criar a Região (CODEPLAN/GDF).
| SUMÁRIO | 119
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
21 Catalão; Ponta-Porã; Aquidauana; Cáceres, Ceres, Naviraí; Dourados; Rondonópolis; Itumbiara; Rio Verde; Barra do
Garças; Três Lagoas; Tangará da Serra; Jataí; Goianésia; Goiatuba; Uruaçu; Nova Andradina; Corumbá; Porangatu; Iporá;
Mineiros; Coxim; Inhumas; São Luís de Montes Belos; Morrinhos; Caldas Novas
22 Considera-se apenas os municípios pertencentes às nove regiões metropolitanas.
23 Com o declínio da fecundidade e o contínuo descenso da mortalidade, para muitas localidades a migração vem respondendo
por significativa parcela do incremento populacional.
120 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 121
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 7
e Não-Metropolitanos
1986-1991 e 1991-1996
Municípios Não-Metropolitanos
Regiões Metropolitanas
Regiões Metropolitanas
Total de Imigrantes
Nota: (*) Pessoas residentes de 5 anos na UF atual. Inclui não-natural e retorno, bem como os movimentos inter e intra–regional.
(**) Consideram-se as antigas e novas regiões metropolitanas.
Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 1991 e Contagem da População de 1996; Tabulações Especiais – NEPO/ÚNICA
122 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Gráfico 2
Distribuição Relativa da Imigração Interestadual por Grande Região
Municípios Metropolitanos e Não-Metropolitanos
Brasil
1986-1991 e 1991-1996
Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 1991; Contagem da População de 1996; Tabulações Especiais, NEPO/UNICAMP.
| SUMÁRIO | 123
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Nas regiões Norte, Nordeste e Sul, esse fenômeno foi mais acentuado, com os municípios
não-metropolitanos chegando a responder por quase toda a emigração interestadual das
regiões, nesse qüinqüênio. No caso da Região Norte, o esgotamento da fronteira agrícola
se faz sentir diretamente em seus municípios não-metropolitanos, tanto que mais de 35%
das pessoas que saíram para outros estados, nos anos 8027, voltaram às suas UF’s de
nascimento. Nas regiões Nordeste e Sul, o baixo dinamismo ou a inexistência de atividades
econômicas que pudessem reter e absorver população contribuíram ainda, no final dos
anos 80, para os expressivos volumes de emigrantes dessas áreas.
Para a Região Centro-Oeste, embora cerca de 70% de seus emigrantes tenham saído
de seu interior, a Região Metropolitana de Brasília chegou a responder por 30% da emigração
regional, no período 1986-1991.
124 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Tabela 8
1986-1991 e 1991-1996
Nos casos das regiões Norte e Nordeste, torna-se interessante observar que seus
municípios metropolitanos, no período 1986-1991, demonstraram perdas populacionais
nos movimentos migratórios interestaduais: 8.808 pessoas e 36.852, respectivamente;
porém, no caso do Nordeste, essa perda foi muito inferior à de seus municípios não-
metropolitanos. Nas demais regiões, as áreas metropolitanas registraram saldos positivos,
destacando-se o do Sudeste (517.723 pessoas) e o do Centro-Oeste (128.121), áreas de
forte absorção de migrantes nordestinos.
| SUMÁRIO | 125
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
28 As regiões metropolitans consideradas neste item são as adotadas pelo IBGE e as informações foram extraídas do site do
DATASUS.
29 Outras áreas metropolitanas foram incluídas em categorias como metrópoles regionais, como é o caso de Campinas. Veja-
se IPEA/NESUR-IE-UNICAMP/IBGE (2000).
30 Veja-se, dentre outros, Villaça (2001).
126 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Tabela 9
A g lo mera do s
9.141.654 13.083.551 16.759.231 3,31 2,79 3.941.897 3.675.680
Metro po lita no s Rec entes
Norte/Nordeste
245.477 363.149 453.249 3,62 2,49 117.672 90.100
Catarinense
Foz do Rio Itajaí 145.841 222.515 319.389 3,92 4,10 76.674 96.874
| SUMÁRIO | 127
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Nos anos 90, várias foram os aglomerados metropolitanos recentes que registraram
elevadas taxas de crescimento, dentre eles aqueles que são sediados por capitais estaduais
– Entorno de Brasília (3,5% a.a.), Goiânia (3,0% a.a.), Florianópolis (3,3% a.a.) e São
Luis (3,0% a.a.) – bem como outras no interior, tais como Foz do Rio Itajaí (4,1% a.a.),
Maringá (2,4% a.a.), Campinas (2,5% a.a.), Norte/Nordeste Catarinense (2,5% a.a.) e
Região Carbonífera (3,2% a.a.).
128 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Tabela 10
| SUMÁRIO | 129
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
São José do Rio Preto 219.742 328.764 418.400 3,73 2,72 109.022 89.636
130 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
São José dos Campos 711.529 1.008.897 1.211.748 3,23 2,06 297.368 202.851
Volta Redonda/Barra
526.396 597.259 627.986 1,15 0,56 70.863 30.727
Mansa
CONSRDERAÇÕES FINAIS
| SUMÁRIO | 131
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, T. M. B. “Nordeste, Nordeste: que Nordeste?” In: AFFONSO, R.; BARROS SILVA,
P. L. (orgs). “Desigualdades regionais e desenvolvimento: federalismo no Brasil”. São
Paulo: FUNDAP/ ED. UNESP, 1995. p. 125-156.
132 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 133
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
134 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
PARTE III
Instrumentos metodológicos e proposição de políticas públicas
| SUMÁRIO | 135
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
136 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
RESUMO
INTRODUÇÃO
| SUMÁRIO | 137
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
138 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Alguns trabalhadores manuais (como os barbeiros) foram duramente atingidos pela mudança
temporária e repentina dos padrões de troca entre preços de alimentos e preços de serviços
ocorrida no período.
Note-se que produzir mapas de localização espacial dos eventos de saúde e das condições
socioeconômicas da população por si só não é suficiente para estabelecer os intitulamentos da
população em estudo aos serviços de saúde coletiva. Será preciso ainda estabelecer: (a) se o
fenômeno em estudo apresenta propriedades variantes no espaço, isto é, se os aglomerados
eventualmente distinguíveis não são apenas flutuação aleatória; (b) se é possível estabelecer
| SUMÁRIO | 139
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
140 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 141
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Figura 2 – Exemplo de visualização de estruturas computacionais para dados socioeconômicos no espaço: acima (à esquerda),
polígonos representando distritos de São Paulo; abaixo, tabela com dados censitários referentes a esses distritos (Fonte dos
Dados: IBGE, Censo 1991).
142 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 143
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
144 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
modelo estatístico que não leve em conta a existência dessa dependência espacial será
equivocado, tanto mais quanto mais forte for a dependência; e (ii) essa propriedade pode
ser utilizada para melhorar as estimativa dos indicadores.
Essa dependência espacial pode ser quantificada por meio de algumas medidas
estatísticas. A idéia básica é medir o quanto a distribuição espacial do processo em estudo
se afasta da completa aleatoriedade espacial. Baseiam-se nesse conceito as estatísticas
de detecção de aglomerados (cluster) espaciais, que seriam afastamentos dessa distribuição
espacial completamente ao acaso. Um bom exemplo, apresentado na Figura 3, é o tratamento
do índice de exclusão/inclusão social da cidade de São Paulo4 , baseado em variáveis do
censo de 1991. À esquerda (Figura 3A), está o mapa da cidade de São Paulo, onde cerca de
2/3 dos 96 distritos estavam abaixo dos índices mínimos de inclusão social em 1991. Uma
forte polarização centro-periferia é claramente perceptível no mapa, que apresenta duas
grandes regiões de exclusão social, as zonas Sul e Leste da cidade. Na zona Leste, nota-se
um gradiente do índice de exclusão/inclusão social, que piora à medida que nos afastamos
do centro. Na zona Sul, a descontinuidade do índice é mais abrupta, e verificamos a existência
de distritos com altos índices de exclusão/inclusão social próximos a áreas excluídas. À
direita (Figura 3B), a significância estatística do índice local de Moran, indicando as regiões
que apresentam correlação local significativamente diferente do resto do dados. Essas
regiões podem ser vistas como “bolsões”, áreas com dinâmica espacial própria e que
merecem análise detalhada (SPOSATI, 2000; CÂMARA et al., 2002).
Figura 3 - Índice de Exclusão/Inclusão Social dos 96 distritos da Cidade de São Paulo, com agrupados por sextis (A) e mapa (B)
de significância estatística do indicador de autocorrelação local (LISA)
4 O índice de exclusão/inclusão social é uma medida agregada das disparidades socioeconômicas, que varia de –1 a +1, em
que o valor 0 (zero) indica o nível básico de inclusão social.
| SUMÁRIO | 145
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Uma questão fundamental no estudo das áreas é a flutuação aleatória dos indicadores,
devido às pequenas populações das áreas. A contradição é: áreas pequenas permitem
identificar melhor o risco, mas os valores estimados dos indicadores são pouco confiáveis;
áreas maiores estabilizam os indicadores, mas são médias pouco esclarecedoras do que
se deseja estudar. Esse problema já está bem resolvido tecnicamente, com o uso dos
modelos bayesianos, cuja implementação ainda é bastante penosa (ASSUNÇÃO et al.,
1998; ASSUNÇÃO, 2001; SOUZA et al., 2001).
Existem dezenas de métodos estatísticos voltados para a análise espacial, com grande
potencial na identificação de áreas e dinâmicas espaciais, com características
diferenciadas e úteis na identificação de carência social, e diversos livros-texto bastante
atualizados. A proposta aqui, dadas as limitações de espaço, é apenas chamar a atenção
para os aspectos conceituais mais importantes, remetendo o leitor para leitura mais
técnica (ASSUNÇÃO, 2001; DRUCK et al., 2003).
5. ESTUDANDO O ACESSO
A simples identificação das rotas de origem-destino dos pacientes que chegam a usar
os serviços de saúde auxilia na compreensão dos mecanismos envolvidos. É uma técnica
simples que permite construir setas proporcionais ao volume da população que se desloca.
Na Figura 4, pode-se visualizar o fluxo entre local de residência e local do óbito para cada
componente da mortalidade infantil – neo e pós-neonatal (CAMPOS; CARVALHO;
BARCELLOS, 2000). As diferenças são evidentes: enquanto que na mortalidade até os 7
dias de vida os trajetos são mais curtos, indicando alguma regionalização da assistência
ao parto, as crianças mais velhas têm como padrão as longas distâncias percorridas em
direção ao centro do Rio. O sombreamento de fundo da imagem é uma classificação
socioeconômica dos bairros do Rio de Janeiro baseada em indicadores do censo
demográfico de 1991. As áreas mais escuras têm, na classificação realizada, pior qualidade
de vida e são as áreas “exportadoras” de crianças doentes.
146 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Figura 4 – Diagrama origem-destino de entre residência da mãe e hospital do óbito infantil, Rio de Janeiro, 1994.
| SUMÁRIO | 147
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Por fim, a utilização do conceito de mercado: área cujos moradores, na sua maioria,
recebem assistência daquele determinado serviço, ou rede articulada de serviços, que é
pouco utilizada por moradores de outras regiões. A utilização desse tipo de recorte
territorial permite avaliar diferenças na qualidade de serviços de saúde prestado à
população, não somente a partir dos usuários, mas incluindo também os desassistidos
em cada região assim definida (PINHEIRO et al., 2001).
148 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
evolução temporal dos “mercados” dessas unidades. Nessa figura foram trabalhados
somente os mercados “dominantes”, ou seja, as áreas onde mais de 50% do atendimento
são feitos por uma determinada unidade. Pode-se observar a evolução ao longo da década,
com a maior participação das unidades locais (Peixinhos e São Benedito) nos períodos
mais recentes. A importância desse tipo de análise é grande, permitindo qualificar o
atendimento realizado pelos serviços, avaliar os resultados dos investimentos em
treinamento, expansão de rede com o programa de saúde da família, entre outras.
| SUMÁRIO | 149
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Figura 6 – Evolução de áreas de domínio de atendimento segundo Unidades de Saúde. Olinda, 1991 – 1998
150 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
6. PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS
Entretanto sua, usabilidade ainda é baixa: os SIGs, ainda que poderosos instrumentos
de gestão urbana, dependem de grande volume de investimento durante um longo tempo
para viabilizar as propostas mais avançadas; os modelos estatísticos no contexto espacial
não são de fácil execução; a integração entre SIG e métodos estatísticos, mesmo os
mais simples, ainda não está ao alcance imediato do gestor. Ainda assim os avanços
foram imensos na última década. Um grupo de instituições brasileiras vem buscando
atender a essa carência no acesso à tecnologia de SIG e de estatística espacial no contexto
de dados de saúde. Com a participação do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE
– São José dos Campos/SP), da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ – Rio de Janeiro e
Recife), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC–RIO), Laboratório de
Estatística Espacial da Universidade Federal de Minas Gerais (LESTE–UFMG), da Empresa
de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte (PRODABEL) e do Departamento
de Estatística da Universidade Federal do Paraná (DEST–UFPR), este grupo vem
desenvolvendo soluções de geoinformação que incluem técnicas de estatística espacial.
A mais recente geração dessas tecnologias está disponível na forma de uma biblioteca
aberta de software e de aplicativos de visualização de dados espaciais, disponíveis no
sitio http://www.terralib.org.
| SUMÁRIO | 151
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
10. LAPA, T. M. “Análise da demanda aos serviços de saúde através do uso de técnicas de
análise espacial: hanseníase: Olinda”. 2003. Tese (Doutorado em preparação - Centro de
Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2003.
11. LILLEY, S. “An annotated bibliography on indicators for the determinants of health”.
[S.l.]: Canada Health, 2001. Disponível em http://www.hc-sc.gc.ca/hppb/regions/
atlantic/pdf/annotated_bibliography_e.pdf Acesso em: 08 mai 2003, 15:37:00.
152 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
18. RABINO, G. A.; OCCELLI, S. “Understanding spatial structure from network data:
theoretical considerations and applications”. CYBERGEO, v. 29, 1997.
20. SEN, A. “Poverty and famines: an essay on entitlement and deprivation”. Oxford:
Claredon Press, 1981.
22. __________. “Desenvolvimento como liberdade”. São Paulo: Companhia das Letras,
2001.
24. SOUZA, W. V. et al. “The use of socioeconomic factors in mapping tuberculosis risk
areas in a city of northeastern Brazil”. Revista Panamericana de Salud Publica, v. 8, n. 6,
p. 403-410, 2000.
25. SPOSATI, A. “Mapa de exclusão/inclusão social de São Paulo 2000: dinâmica social
dos anos 1990”. São Paulo: PUC/SP, 2000.
| SUMÁRIO | 153
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
154 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
RESUMO
DESCRITORES:
planejamento urbano.
INTRODUÇÃO
A literatura internacional acerca dos impactos da globalização sobre as grandes cidades
tem insistentemente destacado o aumento da segregação residencial. Três têm sido os
mecanismos apontados como causas desse fenômeno. Em primeiro lugar, a globalização;
ao difundir ideais liberais pelo mundo, gerou mudanças dos modelos e paradigmas
regulatórios que até então fundamentavam as políticas urbanas. Ocorreram em vários
países, como conseqüência, reformas institucionais na direção da liberalização do mercado
de terras e da moradia. Os preços imobiliários tornaram-se o mecanismo central de
distribuição da população no território da cidade, o que tem significado o reforço das
desigualdades de renda sociais na organização do espaço urbano. A privatização dos
serviços urbanos, ao mesmo tempo, tem aumentado a desigualdade de acesso aos serviços
| SUMÁRIO | 155
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
156 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
2 O “efeito de vizinhança” reproduz ou não “modelos, activos y estructuras de oportunidades disponibles para cada
segmento sócio-econômico (Kaztman, 1999), isto é, promove de maneira simultânea a reprodução intergeracional da
riqueza e da pobreza.” (Segregación residencial socioeconómica: ¿qué es?,¿cómo se mide?, ¿qué está pasando?, ¿importa?
Jorge Rodríguez Vignoli, PNUD)
| SUMÁRIO | 157
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
construídas com bases em informações obtidas dos censos e pretendem estimar e localizar da
forma a mais desagregada possível as carências sociais dos domicílios e a sua relação com
certas características sociodemográficas da população moradora em cada unidade geográfica.
Vários autores, como por exemplo Katzman (1996), têm assinalado a importância dos
mapas sociais como instrumentos de política social em razão da sua capacidade de:
(i) quantificar e focalizar os beneficiários das políticas sociais;
(ii) analisar de maneira sistemática e diferenciada a importância de variáveis
sociodemográficas na compreensão das diversas causalidades dos problemas sociais;
(iii) permitir comparações no tempo e no espaço dos problemas sociais e dos resultados
nas políticas públicas;
(iv) organizar uma base de informações geopreferenciadas.
A avaliação dos resultados do uso desses mapas pelos organismos públicos em vários
países da América Latina tem evidenciado o seu potencial como instrumento de orientação
das políticas sociais. Assim, Katzman (1996) destaca que, onde eles têm sido utilizados,
pôde-se observar os seguintes resultados positivos:
(i) elevou a sensibilidade pública sobre o tema da pobreza e estimulou o debate nacional
sobre a adequação dos indicadores de pobreza;
(ii) estimulou a uniformização das definições e usos de indicadores entre os organismos
responsáveis pela ação social;
(iii) reduziu a duplicidade de esforços e criou condições, para integrar a informação e
coordenar melhor ação dirigida aos pobres.
Segundo ainda Katzman (1996), o uso de mapas sociais tem gerado a aproximação dos
vários especialistas envolvidos nas tarefas de quantificação, análise da pobreza e na
conceituação, desenho e gestão das políticas sociais. A sua elaboração e utilização, com efeito,
tem incentivado a cooperação entre as atividades de diagnóstico e de ação. Os mapas sociais,
ao criarem uma forma simples, atrativa e de fácil de compreensão e representação dos problemas
sociais, favorecem a colaboração entre estatísticos, acadêmicos, especialistas em informática,
gestores públicos, além de facilitarem o entendimento entre os responsáveis pelas políticas
sociais e os representantes da sociedade envolvidos nas tarefas de monitoramento da ação
pública. O resultado tende a ser a racionalização e a otimização dos gastos sociais, em razão de
maior eficácia na focalização e desenho das políticas sociais, além das grandes possibilidades
de elas poderem ser submetidas a um eficiente processo de accountability.
Encontramos em muitas cidades brasileiras experiências de territorialização de
políticas públicas, caracterizadas, porém, pela ausência de uma análise social sistemática
e adequada do conjunto da cidade. Inexistem em nossos organismos de planejamento
158 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 159
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
160 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
3 Segundo Robert Park, as cidades de certo porte tendem a reproduzir em seu interior as “áreas naturais” encontradas
em todas as cidades.
“...toda cidade americana de certo tamanho tende a reproduzir todas as áreas típicas de”.
todas as cidades, e os moradores dessas áreas demonstram, de cidade em cidade, os mesmo característicos culturais, os
mesmos tipos de instituições, os mesmos tipos sociais, com as mesmas opiniões, interesses e modos de encarar a vida”. (D.
P. P. 344)
| SUMÁRIO | 161
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
enquanto que a megalópole supõe uma exposição de unidades primárias, anunciando, talvez,
uma reestruturação da vida local em outras bases.
No Brasil, podemos identificar como pioneiros da análise social do território para fins
de planejamento urbano os estudos da SGMACS4 sobre o Rio de Janeiro, São Paulo e Belo
Horizonte, realizados sob orientação das idéia do Padre Lebret e seus seguidores. A cidade
era analisada segundo dois planos, um regional, no qual as necessidades e potencialidades
de desenvolvimento eram levantadas, e outro intra-urbano, dedicado aos estudos dos bairros
populares. Para tanto, o espaço da cidade era desagregado em unidades territoriais sobre
as quais buscava-se acumular um vasto conjunto de informações obtidas pela aplicação de
diversas técnicas: observação e contagens diretas realizadas diretamente no campo,
aplicação de questionários e realização de entrevistas. Segundo Lamparelli (1981), integrante
da equipe da SAGMACS, para cada unidade era constituído o que modernamente podemos
identificar como um banco de dados que identificava e quantificava “as condições locais
dos equipamentos e dos serviços e seus âmbitos de atendimento; os níveis de vida pelo
grau de satisfação de suas necessidades; a opinião das suas autoridades e lideranças sobre
as principais carências; a posição relativa de cada unidade dentro da aglomeração e quanto
aos escalões de equipamentos e serviços; e outros dados particulares” (p.95). Essas
informações eram posteriormente utilizadas para classificar hierarquicamente os bairros
em áreas típicas que retratassem a diferenciação da estrutura e das dinâmicas urbanas,
das quais se extraía uma amostra para a realização de uma pesquisa urbanística de campo.
O objetivo da técnica desenvolvida pelo Padre Lebret era o de identificar as “anomalias”
do processo de urbanização, a partir das quais deveriam ser elaboradas as leis de uso e
ocupação do solo urbano.
A importância do conceito de “áreas naturais” nos estudos urbanos pode ser atribuída
ao fato de ele dar sentido empírico à dualidade teórica fundadora entre comunidade e
sociedade e o seu desdobramento no plano analítico, que ensejou a difusão da concepção
da organização da sociedade em escalas espaciais em um contínuo, partindo de relações
primárias e suas instituições até as relações secundárias. É certo que muitos estudos
empíricos e outras vertentes teóricas colocaram em dúvida essa concepção da sociedade.
O próprio Ledrut, em seus estudos empíricos sobre Toulouse, concluiu no sentido da
negação dessa hierarquia, ao constatar que na sociedade existe uma “polarização da
vida social em torno de dois extremos, a cidade e a moradia, sem que haja mais
possibilidades de sobrevivência para os grupos intermediários na sociedade moderna”
(Castells, p. 162). A influência dessa concepção permanece, porém, presente nos estudos
contemporâneos sobre a divisão social da cidade e a segregação residencial, assim como,
de maneira implícita, não teorizada, nos atuais modelos de políticas urbanas.
4 Sociedade da Análise Gráfica e Mecanográfica Aplicada aos Complexos Sociais. Sobre a concepção teórica da SAGMACS e a sua
importância na formação intelectual dos modernos planejadores urbanos o leitor interessado poderá encontrar na rica
crônica de experiência escrita por Lamparelli (1981).
162 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 163
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
5 “É porque as relações sociais são freqüentemente ligadas a relações espaciais, na medida em que as distâncias físicas são
ou parecem ser indicadores de distâncias sociais, que estatísticas têm alguma importância para a sociologia. E isto é
verdadeiro, definitivamente, porque é somente na medida em que podemos reduzir ou relacionar fenômenos sociais ou
físicos aos fenômenos espaciais que podemos medir de uma maneira ou de outra. “ (Robert Park, “A Comunidade urbana:
um modelo espacial de ordem moral”, )
164 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
É possível quantificar a segregação? Podemos dizer que existe uma tradição na sociologia
e na geografia de trabalhos empíricos que procuram objetivar e quantificar a segregação
residencial. Identificamos duas famílias de metodologia de quantificação: (i) as que traduzem
em índices sintéticos (dissimilaridade, segregação etc.); e (ii) as que procuram construir
tipologias. As medidas sintéticas procuram traduzir a segregação em índices construídos
com a utilização de duas variáveis, úteis na avaliação comparativa, entre cidades e em
momentos históricos diferentes de uma mesma cidade. Tal metodologia, porém, não nos
permite conhecer de maneira aprofundada e tecnicamente controlada as dinâmicas geradoras
da segregação. Já a utilização da técnica da tipologia nos permite, ao mesmo tempo,
| SUMÁRIO | 165
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
6 Para o conhecimento extenso dos índices sintéticos de segregação utilizados tradicionalmente nos estudos de sociologia
e geografia o leitor poderá consultar o documento elabora pelo bureau do censo americano através do endereço http://
mumford1.dyndns.org/cen2000/report.html.
7 O tipo-ideal se diferencia do tipo médio. Este é a construção de um tipo à partir de várias realidades que se diferenciam
em graus, mas são fatos quantitativamente iguais. O tipo-ideal é construído à partir de realidades qualitativamente
heterogêneas. Ou seja, para analisar a complexidade e pluralidade presentes na realidade social, Weber propõe a constru-
ção de um tipo-ideal. O tipo-ideal não é uma representação exata do mundo social, mas que, para as necessidades da
pesquisa, acentuam deliberadamente certos traços. O tipo-ideal não reflete o real, mas facilita a análise dos seus componen-
tes. Esta imagem mental é um meio de elaborar hipóteses, de clarificar a linguagem. É um instrumento de pesquisa
puramente lógico. Como se usa o conceito tipo –ideal? Comparando a realidade do fenômeno e a lógica de seu tipo ideal que
o pesquisador aponta e valida a coerência do fenômeno, que ele o relaciona a causas externas que agem sobre ele.
8 O leitor encontrará um no texto de Katzman (1999) um bom exemplo da utilização deste procedimento.
166 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
9 Os estudos sobre mobilidade social utilizam classicamente a família como unidade de análise. Ver Boudon,
10 No restante do texto utilizamos o termos indivíduos no sentido estatístico, ou seja, de unidade de análise.
| SUMÁRIO | 167
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A segunda lógica consiste em escolher uma das dimensões da estrutura urbana como
central na explicação da localização dos indivíduos. Essa escolha é prévia à análise e
fundamenta-se em algumas suposições teóricas. Na prática, os estudos realizados com
esse tipo de lógica têm utilizado as variáveis relacionadas com a posição dos indivíduos
nas relações de produção, organizadas em um sistema de classificação socioprofissional ou
sócio-ocupacional. As justificativas metodológicas dessa escolha podem ser sintetizadas
em duas proposições teóricas amplamente admitidas na sociologia em razão de resultados
empíricos de pesquisas, a saber: que nas sociedades capitalistas, especialmente nas que
alcançaram um certo de grau de industrialização, o lugar dos indivíduos é determinado pela
sua inserção na estratificação social definida pelas relações sociais de produção,
contrariamente às sociedades tradicionais, nas quais a origem social (familiar, étnica etc.)
define a posição social; por outro lado, cada posição social está associada a um feixe de
propriedades mais ou menos convergentes, o que a torna (profissão ou ocupação) um
indicador importante de identidade social (Desroisières, Goy et Thevenot, 1983) e de
posse diferenciada de recursos em termos de quantidade e qualidade (magnitude e natureza
168 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 169
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
padrão de distribuição espacial bastante singular, pois estão repartidos entre a cidade
de Paris e as suas periferias próximas e distantes. Esse exemplo indica o valor da
aplicação do procedimento multidimensional, pois permite capturar o sentido particular
das combinações singulares da variável posição social e as que indicam diferenciação
social. O padrão de localização residencial das famílias de operários estrangeiros não
segue o dos operários e tampouco o relativo às famílias. Certamente em razão do
fato de que nesse meio social verifica-se uma combinação singular entre recursos,
constrangimentos e preferências.
A escolha da unidade espacial de análise é também uma operação de fundamental
importância na análise da segregação. Temos aqui duas questões: os critérios utilizados para
definir as unidades espaciais e o seu tamanho demográfico. Previamente à análise, é necessário
recortar o território da cidade em unidades a partir das quais estudamos a variação da
distribuição da população, segundo a ou as variáveis escolhidas. Quanto maior o número de
unidades definirmos, mais fina será a nossa análise, na medida em que podemos capturar
maior diferenciação social do espaço. Que critérios utilizar nessa tarefa de maneira que o
resultado da análise não seja influenciado? É necessário que a desagregação seja
suficientemente fina para que ela não imponha sua própria lógica, mas, ao contrário, deixe
transparecer “todas as continuidades, as rupturas e as linhas de forças segundo as quais se
organiza o espaço social da cidade” (GRAFMEYER; 1999, p. 100). A dificuldade está no fato
de os dados disponíveis serem organizados geograficamente com base em recortes territoriais
instituídos, como os utilizados pela FIBGE. Esses recortes são influenciados pelos saberes e
pelas representações sobre a divisão social da cidade que orientaram a organização do sistema
espacial de coleta e agregação. Na experiência brasileira, o FIBGE utiliza as escalas setor
censitário, distritos e subdistritos. O setor é definido como a unidade de coleta na qual
moram cerca de 1.000 pessoas e cuja extensão permite ser percorrida a pé pelo recenseador.
Entretanto, o desenho dessa unidade não é absolutamente neutro, especialmente em
aglomerados urbanos densamente ocupados. O setor censitário, não obstante ser definido
por esses critérios demográfico e geográfico, exprime em seu desenho alguma pré-concepção
sobre a diferenciação socioespacial. Já os bairros, subdistritos e distritos são categorias de
classificação do espaço que contêm as representações administrativamente institucionalizadas
da divisão do espaço. Por outro lado, essas escalas de organização das informações são
bastante heterogêneas em termos demográfico e geográfico. Tais considerações implicam a
necessidade de uma análise crítica dos recortes espaciais utilizados nos sistemas de
organização das informações que serão utilizadas na análise da segregação.
Outro problema é o tamanho demográfico das unidades geográficas. Sabemos que o
resultado da utilização das medidas sintéticas – tais como os índices de dissimilaridade
170 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
11 A tipologia aqui descrita foi elaborada em colaboração com Edmond Preteceille do CSU- Centre National de la Recherche
Scientifique e Luciana Corrêa do Lago do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ.
12 Em anexo apresentamos a lista das categorias construídas, bem como a sua definição. Utilizamos como referência inicial
o sistema de classificação das profissões na França (CSP), criado no início dos 50 e aperfeiçoado desde então pelo Institut
National d’Économie et Statistíque – INSEE, e que tem sido utilizado como instrumento de análise de temas diversos, entre
eles, a mobilidade social, a estrutura e as práticas de consumo, as mudanças demográfica e, mais recentemente, a estrutura
socioespacial (Tabard & Chenu, 1993; Tabard, 1993). Embora não tenhamos no Brasil uma proposta tão sistemática e testada
de classificação, utilizamos ainda como referência trabalhos anteriores que também propuseram sistemas de classificação,
com base nas variáveis ocupacionais14, utilizadas pela FIBGE nos censos demográficos e nas pesquisas por amostra (JORGE
et al, s/d; JORGE et al, 1985; VALLE SILVA, s/d; VALLE SILVA, 1973; VALLE SILVA, 1985).
13 Para a descrição das técnicas de análise fatorial por correspondência múltipla e classificação ascendente, ver SANDERS
(1989) e FENELON (1981).
| SUMÁRIO | 171
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
privado, 80,3% dos dirigentes do setor público e 76,1% dos profissionais liberais, muito
embora o conjunto da elite dirigente represente apenas 5,8% dos ocupados que moram
nesses espaços. O peso da elite dirigente está expresso pela densidade relativa alcançada;
5 a 7 vezes superior ao que tem no conjunto da estrutura social da região metropolitana.
A elite intelectual tem também importante presença nos espaços superiores, pois 43,7%
dos profissionais de nível superior autônomos e 38,6% dos profissionais de nível superior
empregados estão neles concentrados, o que representa uma densidade relativa 4,1 a
3,6 superior ao peso dessas categorias na estrutura social da metrópole. Ao lado das
elites dirigente e intelectual, os espaços superiores também são caracterizados pela
importante presença dos pequenos empregadores, dos empregados de supervisão e dos
técnicos e artistas. As elites, os pequenos empregadores e as frações superiores da
classe média, conjuntamente, representam 55,3% dos ocupados que moram nos espaços
superiores. Observa-se, contudo, traços de um espaço polarizado, pois as categorias
populares representam 28,9% dos ocupados que moram nos espaços superiores, dos quais
10,3% são empregados domésticos cuja presença decorre essencialmente de relações de
trabalho e não de vizinhança, e 13,4% compõem o proletariado terciário (empregado do
comércio e prestadores de serviços). Por outras palavras, podemos estimar que cerca de
18% dos ocupados moradores dos espaços superiores são integrados por aqueles que
atendem à demanda de serviços pessoais das elites e de parte da classe média.
Os espaços médios-superiores têm composição social próxima à dos espaços superiores,
porém com maior grau de mistura. Diminui o peso das elites dirigente e intelectual e dos
pequenos empregadores, que representam 37% dos ocupados. A classe média, por sua vez,
representa 39% dos ocupados, sendo que aumenta a presença das frações menos qualificadas
dos empregados de escritório e dos empregados da segurança, da justiça e dos correios e
dos empregados da saúde e da educação. Aumenta a presença das categorias populares
(36,6%) em razão do maior peso das frações operárias e dos empregados do comércio.
Nos espaços médios, cai muito fortemente a presença das elites dirigente e intelectual,
permanece inalterado o peso da classe média e aumenta o grau de mistura social pelo
aumento do proletariado terciário e do operariado. Os espaços médios-inferiores
constituem a fronteira entre as duas pontas da estrutura socioespacial da metrópole
fluminense. Neles, o conjunto das categorias operárias e subproletárias atinge densidades
relativas superiores a 100, o que significa dizer que passam estar sobre-representados,
com destaque para os operários da indústria moderna e os dos serviços auxiliares da
economia. Há diminuição da classe média em relação ao tipo médio, mas que continua
representando cerca de 1/3 dos ocupados que moram nesses espaços.
Nos espaços operários cai significativamente a densidade relativa da classe média,
que passa a estar sub-representada, com exceção dos empregados da segurança, da
172 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
justiça e dos correios. O operariado representa um pouco menos que 1/3 dos ocupados,
sendo que o proletariado propriamente industrial (indústria moderna, indústria tradicional
e serviços econômicos auxiliares) representa 17,5%. Os espaços populares-operários
apresentam composição semelhante aos do tipo operário, mas com menor presença da
classe média e aumento da presença dos operários da construção civil (12,5%) e dos
empregados domésticos (12,2%).
Nos espaços populares, cai a presença do operariado industrial e aumenta ainda
mais a presença dos empregados domésticos (16%) e dos prestadores de serviços não-
especializados (8,8%). O subproletarido e o proletariado terciário representam 55% dos
ocupados que moram nos espaços populares. Os espaços populares-periféricos
diferenciam-se dos demais tipos populares principalmente pela elevada participação
da categoria agrícola (6,2%), percentual 5,5 vezes superior ao peso da categoria na
estrutura social da metrópole. Também estão sobre-representados os operários da
construção civil, os biscateiros e os empregados domésticos. É o tipo com a menor
participação das ocupações “médias”.
O mapa construído com a tipologia socioespacial representa a geografia da divisão
social do espaço metropolitano. Cada tipo reúne um conjunto de áreas que em termos
relativos consideramos como socialmente homogêneas. Como dissemos anteriormente,
a associação entre os tipos e outras variáveis indicam a diferenciação social, especialmente
as relacionadas com (i) o tamanho, tipo e ciclo familiar, (ii) a faixa etária, (iii) a cor, (iv)
condições de moradia, permitiu-nos identificar os meios sociais de que se compõe o
espaço social da metrópole fluminense. Temos, dessa forma, condições de reconhecer e
discriminar as diferenças da população e de seus territórios, superando assim as concepções
abstratas e homogenizadoras da divisão social da cidade. Por exemplo, vias de regra no
senso comum técnico das políticas habitacionais, as “favelas” são concebidas como espaços
sociais homogêneos, o mesmo acontecendo com a “periferia”. As propostas de integração
do habitat popular à cidade, em conseqüência, não levam em consideração as diferenças
internas das estrutura e da organização social desses espaços, o que, ao nosso juízo, é
uma das razões que explicam o seu pouco êxito.
A tipologia socioespacial é uma valiosa ferramenta analítica para a investigação da
possível associação entre a regularidade de certos fenômenos com as características
singulares de cada meio social. Por exemplo, podemos nos perguntar se a incidência de
dengue está associada a algum meio social existente na metrópole e, se a resposta for
positiva, focalizar a intervenção pública preventiva. Da mesma maneira, podemos
investigar se a situação de pobreza urbana está associada a algum dos indicadores da
diferenciação social. O mapa mostrado a seguir ilustra o resultado da análise social da
metrópole do Rio de Janeiro.
| SUMÁRIO | 173
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
174 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
ANEXO
1. Categoria dirigente
1.2. Dirigentes do setor público, formada pelas ocupações do alto escalão decisório no
setor público, como ministros, magistrados e procuradores;
2. Categoria Intelectual
3. Pequena Burguesia
3.1 Pequenos empregadores urbanos, que reúnem os empregadores com menos de dez
empregados;
3.2 Comerciantes por conta própria que desenvolvem suas atividades em casa ou em
empresas próprias.
4. Categoria Média
4.1 Trabalhadores em atividades de rotina, categoria formada pelas ocupações sem função
decisória, tais como secretárias, auxiliares administrativos e auxiliares de escritório;
14 Colocar esta categoria no grupo da elite dirigente deveu-se a compreensão de que, no Brasil, (i) essas profissões foram
historicamente exercidas pelos filhos da elite, (ii) são as profissões que melhor se organizaram enquanto corporação e (iii)
são identificadas como de mais elevado status social. São portando as ocupações que se estruturam em torno do controle e
da valorização de um capital social. Nesse sentido, pareceu-nos pouco relevante a separação empregadores e conta-própria.
| SUMÁRIO | 175
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4.2 Trabalhadores em atividades de supervisão, formada por ocupações com algum poder
de decisão, tais como assistentes de administração, corretores de imóvel e
administradores do comércio;
4.5 Trabalhadores nas áreas de segurança pública, justiça e correios, tais como
investigadores de polícia, oficiais do corpo de bombeiros, praças das forças armadas
e carteiros.
5. Proletariado do Secundário
5.1 Operários da indústria moderna, categoria formada pelos trabalhadores nas indústrias
metalúrgica, mecânica, material elétrico, química, produção de petróleo e
farmacêutica, entre outras, que envolvem trabalhadores com posição mais elevada
entre o operariado, em razão de as ocupações exigirem maior qualificação,
proporcionarem nível mais elevado de remuneração e de proteção social e os
trabalhadores apresentarem maior grau de organização corporativa;
5.2 Operários da indústria tradicional, formada pelos trabalhadores das indústrias dos
demais ramos, exceto a construção civil;
5.3 Operários dos serviços auxiliares, categoria formada pelos empregados nos setores
de transportes, comunicação e serviços auxiliares;
6. Proletariado Terciário
176 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
7. Sub-Proletariado
7.3 Trabalhadores Agrícolas, categoria formada por todas as ocupações agrícolas, exceto
as ocupações criador bovino, proprietário agropecuário e avicultor.
| SUMÁRIO | 177
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOOTH, C. (Ed.) “Life and labour in London: first series: poverty”. Londres: Macmillan,
1902.
BOURDIEU, P. “Espaço social e espaço simbólico”. In: “Razões práticas: sobre a teoria da
ação”. Campinas: Papirus Editora, 2001.
BRUN, J. “Essai critique sur la notion de segrégation et sur son usage en géographie
urbaine”. In: BRUN ET RHEIN (org.) “La ségrégation dans la ville”. [S.l.]: L’Harmattan,
1994. p. 21-57.
DESROISIÈRES, A.; GOY, A.; THEVENOT, L. “L’identité sociale dans lê travail statistique:
La nouvelle nomenclature des profissions et catégories profissionnelles”. Economie et
Statisques, Paris, n. 152, fev 1983.
LEBRET, J. L. et al. “Guide pratique de l’enquete social II: manuel de l’enqueteur. Paris:
Presse Universitaure de France, 1951.
178 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
________. “¿Por qué los hombres son tan irresponsables?”. Revista de la CEPAL, Santiago
de Chile, n. 46, abr 1992.
________. “Seducidos y abandonados: el aislamento social de los pobres urbanos”. Revista
de la CEPAL, Santiago do de Chile, n. 75, dez/abr 2001.
LAMPARELLI, C. Louis. “Joseph Lebret e a pesquisa urbano-regional no Brasil: crônicas
tardias ou história prematura”. Espaço e Debates, Neru, n. 37, p. 90-99.
LEDRUT, R. “Sociologie urbaine”. Paris: Presse Universitaire de France, 1968.
MASSEY, D. “Residential segregation of Spanish Americans in United States urbanized
areas”. Demography, [S.l.], n. 4, nov 1979.
MASSEY, D.; M. Eggers. “The ecology of inequality; minorities and the concentration of
poverty, 1970-1980”. American Journal of Sociology, [S.l.], n. 95, 1990.
RIBEIRO, L.C.Q.; LAGO, L. “O espaço social das grandes metrópoles brasileiras: São
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte”. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais,
[S.l.], n. 3, nov 2000.
RIBEIRO, L.C.Q. “A Cidade, as Classes e a Política: uma nova questão urbana brasileira?”
In: LIPPI., L.O. “Cidade e História”. [S.l.]: Editora da FGV, 2002.
RIBEIRO, L.C.Q.; SANTOS JUNIOR, O. “Democracia e segregação urbana: reflexões sobre
a relação entre cidade e cidadania na sociedade brasileira”. Curitiba, 2001. (Seminário
“Democracia: Teoria e Prática”)
RIBEIRO, L.C.Q. “Cidade desigual ou cidade partida?: tendências da metrópole do Rio de
Janeiro”. In: RIBEIRO, L.C.Q. (org.) “O futuro das metrópoles: desigualdades e
governabilidade”. Rio de Janeiro: Revan/Observatório, 2000.
VALLE SILVA, N. “Posição social das ocupações”. [S.l.]: Centro de Informática/IBGE, 1973.
(Mimeo)
________. “Atualização da escala socioeconômica de ocupações para 1980”. [S.l.]:
Laboratório Nacional de Computação Científica, 1985. (Mimeo)
RHEIN, C. “La Ségrégation et ses Mesures”. In: BRUN, J.; RHEIN, C. “La ségrégation
dans la ville. concepts et mesures”. Paris: L’Harmattan, 1995.
SABATINI, F. “Tendencias de la segregacion residencial urbana en Latinoamerica:
reflexiones a partir del caso de Santiago de Chile”. Santiago do Chile: Instituto de Estudios
Urbanos/Pontificia Universidad Catolica, 1999. (Série Azul, n. 29)
________. “Reforma de los mercados de suelo en Santiago, Chile: efectos sobre os precios
de la tierra y la segregacion espacial”. Santiago do Chile: Instituto de Estudios Urbanos/
Pontificia Universidad Catolica, 1998. (Série Azul, n. 24)
| SUMÁRIO | 179
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
________. “Reforma de los mercados de suelo en Santiago, Chile: efectos sobre los precios
de la tierra y la segregación residencial”. EURE, [S.l.], v. 26, n. 77, p. 49-80, 2000.
TABARD, N. “Des Quartiers pauvres aux quartiers aisée: une representation sociale tu
territoire”. Economie et Statistique, Paris, n. 270, p. 5-22, 1993.
WILSON, W. J. “The truly disadvantaged: the inner city, the underclass and public policy”.
Chicago: University of Chicago, 1987.
180 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
PARTE IV
O sistema urbano brasileiro e as políticas de atenção à saúde
| SUMÁRIO | 181
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
182 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
RESUMO
O artigo tem como objetivo discutir questões referentes à gestão da atenção básica
de saúde nas cidades e algumas proposições preliminares para a sua consolidação no
Sistema Único de Saúde. A abordagem desenvolvida insere-se no campo disciplinar da
Política de Saúde, contemplando um eixo vertical (formulação de políticas públicas de
caráter nacional) e um eixo horizontal (análise da situação de saúde das cidades e
possíveis intervenções). Após uma breve revisão sobre as noções de atenção primária de
saúde, administração estratégica e território, apresenta uma contextualização da gestão
da atenção básica nas políticas de saúde. Na análise da situação atual, são discutidos
três problemas centrais: o desprestígio da análise da situação de saúde, a segmentação
do sistema de saúde e o viés do planejamento agregado e normativo. São formuladas
algumas propostas que enfatizam a distritalização, os sistemas de informação geográfica,
o planejamento e a programação local, a vigilância da saúde, as cidades saudáveis, a
saúde da família e a regulação de modalidades assistenciais não-SUS. Reconhece que a
gestão da atenção básica efetiva implica interagir com todo o sistema de saúde e com
todos os setores que influenciam na qualidade de vida.
INTRODUÇÃO
O presente texto apresenta uma breve revisão sobre as noções de atenção primária
de saúde (APS) e de atenção básica de saúde (ABS), tendo como referência as políticas
de saúde implementadas no Brasil nas últimas décadas. Seu objetivo é discutir algumas
questões referentes à gestão da atenção básica de saúde (ABS) nas cidades e certas
proposições para a sua consolidação no Sistema Único de Saúde (SUS).
| SUMÁRIO | 183
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
184 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
1. ASPECTOS CONCEITUAIS
Ao conceber a APS como estratégia, esse autor destaca seus princípios fundamentais
(participação, descentralização, ação multisetorial e tecnologia apropriada), rejeitando
a idéia de “uma cortina de fumaça paliativa e tendente a postergar reivindicações
sociais em sociedades onde existem grandes desigualdades e injustiças” (TEJADA DE
RIVERO, 1992, p.174).
No entanto, no âmbito internacional, a atenção primária tem sido definida como
“aquele nível de um sistema de serviço de saúde que oferece a entrada no sistema para
todas as novas necessidades e problemas” (STARFIELD, 2002, p. 28).
| SUMÁRIO | 185
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
No Brasil, o Ministério da Saúde tem utilizado a expressão atenção básica talvez para
evitar a confusão com a concepção de APS correspondente à “atenção primitiva de saúde”.
Desse modo, a atenção básica de saúde (ABS) tem sido definida, no âmbito oficial, como
“um conjunto de ações, de caráter individual ou coletivo, situadas no primeiro nível de
atenção dos sistemas de saúde, voltadas para a promoção da saúde, prevenção de agravos,
tratamento e reabilitação” (BRASIL, 1998b, p. 11). Admite que “a ampliação desse
conceito se torna necessária para avançar na direção de um sistema de saúde centrado
na qualidade de vida das pessoas e do seu meio ambiente” (BRASIL, 1998b, p. 11).
Isso significa que a gestão da atenção básica, ao mesmo tempo em que administra
esse primeiro nível do sistema de serviços de saúde, deve conduzir a estratégia de
reorientação de todo o sistema buscando uma atuação intersetorial. Trata-se, portanto,
de uma administração estratégica requerendo o desenho de instrumentos que permitam
identificar todos os conjuntos sociais e os problemas de saúde, a atenção a toda a população
que vive em sua área de intervenção, a gerência de todos os recursos que se encontrem
nessa área, além da capacidade técnica, poder decisório, democratização e participação
social ampliada no nível local (OPS, 1992).
A gestão da atenção básica, nessa perspectiva, pode ser entendida como uma “forma
de relacionar os problemas e necessidades em saúde dos conjuntos sociais que vivem
em espaços geográficos delimitados com os conhecimentos e recursos, institucionais e
comunitários, de tal modo que seja possível definir prioridades, considerar alternativas
reais de ação, alocar recursos e conduzir o processo até a resolução ou controle do
problema” (OPS, 1992, p. 48).
A gestão da atenção básica nas cidades, por sua vez, implica analisar o espaço urbano
utilizando como categoria de análise não o território em si, mas o território-processo ou
o território utilizado (SANTOS; SILVEIRA, 2001). Como chamam à atenção esses autores,
186 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
2. CONTEXTUALIZAÇÃO
A atenção primária de saúde (APS) passou a ter mais visibilidade política no Brasil a
partir da VII Conferência Nacional de Saúde (VII CNS), realizada em 1980. Antes desse
evento, a APS restringia-se às experiências da medicina comunitária e dos programas de
extensão de cobertura (PECS) das décadas de 1960 e 1970 (PAIM, 2002).
A VII CNS, cujo tema central foi “Extensão das Ações de Saúde através dos Serviços
Básicos” (CNS, 1980), representou um momento privilegiado para a discussão das propostas
da Conferência de Alma-Ata sobre os Cuidados Primários de Saúde (BRASIL, 2001b).
Contou, inclusive, com a presença do Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde
(OMS), que, repetindo questões levantadas em Alma-Ata, indagou aos participantes se
estavam “dispostos a introduzir, se necessário, mudanças radicais no atual sistema de
| SUMÁRIO | 187
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
prestação de serviços de saúde para que sirva de base adequada à atenção primária de
saúde como principal prioridade” (MAHLER, 1980, p. 14). Nessa oportunidade, o governo
federal anunciou a criação do Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (PREV–
SAÚDE), no sentido de integrar os Ministérios da Saúde e da Previdência Social na prestação
de serviços, juntamente com as secretarias estaduais e municipais de saúde.
Apesar de o PREV–SAÚDE não ter sido implantado, parte do corpo doutrinário da APS
continuou inspirando no Brasil certas políticas de saúde, a exemplo dos programas especiais
do Ministério da Saúde e das tentativas de descentralização dos serviços de saúde na
década de 1980, com destaque para as Ações Integradas de Saúde (AIS). Diante das
limitações dessas iniciativas, a atenção básica não foi enfatizada nas proposições
elaboradas durante a 8ª Conferência Nacional de Saúde em 1986 (PAIM, 2002).
No caso do Programa de Saúde da Família (PSF), foi dirigido para a atenção básica e
implantado mediante equipes voltadas para uma população adscrita de 600 a 1.000 famílias
e compostas por médico, enfermeiro, auxiliares e agentes comunitários, podendo ser
1 O PAB corresponde a um valor per capita, que, somado às transferências estaduais e aos recursos próprios dos municípios,
deveria financiar a atenção básica da saúde (Brasil, 1998).
188 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Depois de implantado o PAB, contendo um valor fixo e uma parte variável destinada ao
incentivo de intervenções, como Ações Básicas de Vigilância Sanitária, PACS/PSF, Programa
de Combate às Carências Nutricionais, vigilância epidemiológica etc., o Ministério da Saúde
(MS) estabeleceu as orientações para a organização da atenção básica, por meio da Portaria
No 3.925/GM de 13 de novembro de 1998 (BRASIL, 1998a).
O PSF tem sido visto como estratégia para a reorientação do modelo de atenção, além de
constituir-se em porta de entrada do sistema municipal de saúde. Prevê a participação da
comunidade em parceria com as equipes na discussão dos problemas de saúde, na definição
de prioridades, no acompanhamento e na avaliação. Considera um erro ser imaginado como
serviço paralelo, com equipes responsáveis apenas pelas visitas domiciliares e atividades
coletivas ou individuais de prevenção de doenças, “enquanto a assistência curativa continua
sob a responsabilidade de outros profissionais do modelo anterior” (BRASIL, 2001a, p. 60).
| SUMÁRIO | 189
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
190 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Além dessas normas, existe o Pacto da Atenção Básica, que permite, desde 1999, a
realização de uma espécie de “contrato de gestão”, pautado em indicadores selecionados
e em negociação de metas, bem como o estabelecimento de processos sistemáticos de
acompanhamento e de avaliação. Desse modo, o Pacto de Indicadores da Atenção Básica
“inaugura no cotidiano da gestão do SUS uma nova prática que vincula a organização de
ações e serviços de saúde à análise do desempenho de indicadores de saúde selecionados”
(BRASIL, 2000a, p. 2), no sentido de melhorar a qualidade da atenção à saúde.
2 Entre os objetivos da PPI, destacam-se: a) garantir a eqüidade do acesso; b) explicitar os recursos federais, estaduais e
municipais, que compõem o montante de recursos do SUS; c) consolidar o papel das secretarias estaduais de saúde na
coordenação da política estadual de saúde e na regulação geral do sistema estadual de saúde; d) estabelecer processos e
métodos que assegurem a condução única do sistema de saúde em cada esfera de governo; e) consubstanciar as diretrizes
de regionalização da assistência à saúde; f) explicitar a programação dos recursos estaduais e municipais, respeitada a
autonomia dos vários níveis de gestão e realidades locais (Brasil, 2000a).
3 A Agenda estabelece os seguintes eixos prioritários de intervenção: a) redução da mortalidade infantil e materna; b) controle
de doenças e agravos prioritários; c) reorientação do modelo assistencial e descentralização; d) melhoria da gestão, do acesso
e da qualidade das ações e serviços de saúde; e) desenvolvimento de recursos humanos do setor saúde (Brasil, 2001d).
| SUMÁRIO | 191
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4 Nesse particular, não se pode esquecer a grande variedade das cidades brasileiras. O país possui cerca de 5.500 municípios
com grande diversidade de extensão, de população e de condições sócioeconômicas. Se forem consideradas apenas as cidades
com mais de 100.000 habitantes, elas passaram de 12 em 1940 para 101 em 1980 e 175 em 1996 (Santos & Silveira, 2001:205).
192 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
hospitalar têm sido pouco investigados para orientar a oferta. Desse modo, as doenças
e os agravos que se distribuem na população nem sempre são considerados para o
estabelecimento de prioridades ou mesmo para fundamentar as intervenções. A
utilização da epidemiologia na planificação da atenção à saúde (KNOX, 1981) passa a
ser supérflua, cumprindo apenas o ritual de apresentar certos indicadores no capítulo
diagnóstico dos planos de saúde. As recentes propostas de elaboração de agendas de
saúde (nacional, estadual e municipal) ainda não modificaram tal situação.
A ausência de um sistema de informação que forneça indicadores de necessidades
e cobertura/utilização de serviços de saúde restringe a análise dos problemas. A
inexistência de indicadores que apontem tais necessidades ou mesmo as demandas
real e potencial, considerando a população residente nos diversos lugares da cidade e
o fluxo adicional de pessoas de outros municípios ou estados que buscam serviços de
saúde de grandes centros urbanos, compromete o processo decisório referente à
condução dos sistema de saúde e, em particular, a gestão da atenção básica.
Até o sistema de informações ambulatoriais do SUS (SIA–SUS), montado sob uma
lógica inampsiana vinculada a procedimentos e produtividade, tem sido pouco utilizado
para fins de planejamento. Esse sistema encontra-se atualmente em declínio, pois a
implantação do PAB, viabilizando repasses financeiros globais em vez de pagamentos por
procedimentos, teve como efeito colateral o abandono do SIA–SUS por parte de certos
gestores municipais (SAMPAIO, 2003).5
O Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), inicialmente concebido para o
acompanhamento do PACS/PSF, inclui diversos indicadores (demográficos, sociais, cobertura
do PACS e PSF, morbidade, mortalidade, difusão de práticas preventivas e de utilização de
serviços), além de contemplar as dimensões de território, microlocalização de problemas e
responsabilidade sanitária. Abrange diversos níveis de agregação – microárea em que residem
150 a 250 famílias cobertas por agentes comunitários, território com 600 a 1.000 famílias
vinculadas à equipe de saúde da família (ESF), segmento, estado, regiões e país. Esse sistema
tem sido objeto de propostas de reformulação, no sentido de contemplar todas as unidades
básicas de saúde e não apenas aquelas de saúde da família, podendo contribuir para
“identificação de desigualdades nas condições de saúde da população através da espacialização
das necessidades e respostas sociais” (BRASIL, 2000a, p. 22).
Apesar da sua importância e dos indicadores que produz, esses sistemas de
informação não são suficientes para uma análise da situação da saúde que contemple
5 Existe, no entanto, um conjunto de indicadores para o acompanhamento da atenção básica nos municípios habilitados pelas
normas em vigor, tendo em conta os seguintes bancos de dados nacionais: a) Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM;
b) Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – SINASC; c) Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN; d) Sistema
de Informações sobre Agravos de Notificação – SINAN (Brasil, 1998b).
| SUMÁRIO | 193
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
6 Observou-se em São Paulo que “as unidades básicas atendiam à população e faziam seu encaminhamento, sem entrar no
mérito de ter essa assistência se transformado ou não em ‘encaminhoterapia’; quando o paciente chegava aos serviços de
referência, ou não recebia atendimento, ou, se atendido, os diagnósticos e tratamento preconizados nas unidades básicas
não eram considerados” (HEIMANN et al., 1992, p. 151). Resultados semelhantes foram constatados na Bahia (CARDOSO, 1988).
194 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
7“É na assistência médica especializada que a força do corporativismo se faz decisiva e os critérios de acesso mais
‘obscuros’. Trata-se de uma clientela construída pela própria prática médica. Destarte é nos hospitais especializados que
sobressai o intercâmbio informal entre médicos, sobrepondo-se ao sistema de referência e contra-referência, formando
verdadeiras clientelas cativas dentro do serviço público” (VELLOZO; SOUZA, 1993, p. 109).
8 Estudo realizado em uma área de planejamento do Rio de Janeiro no início da implantação do SUS indicava uma “proporção
de praticamente 50% entre o número de hospitais e de unidades ambulatoriais e, consequentemente, um enorme déficit de
unidades básicas na área” (CARVALHO, 1993, p. 126).
| SUMÁRIO | 195
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
em contraposição aos serviços públicos. Esse sistema, voltado para subespecialidades médicas,
compromete a eqüidade, já que “os recursos necessários para a atenção altamente técnica
orientada para a enfermidade competem com aqueles exigidos para oferecer serviços básicos,
especialmente para as pessoas que não podem pagar por eles” (STARFIELD, 2002, p. 21).
Além disso, a oferta desordenada de assistência médica ambulatorial desse setor privado
dificulta a realização do planejamento e da programação local em saúde e favorece a
concentração de atendimentos em uns indivíduos em detrimento de outros.
Apesar de a Lei 8080/90 estabelecer a regulação em saúde para todo o sistema de
saúde e não apenas para o subsistema público (SUS), a sua regulamentação, mediante
normas operacionais e assistenciais, não contemplou as modalidades assistenciais
supostamente autônomas por referência ao SUS (SAMS ou serviços não-SUS). Os planos
municipais e estaduais de saúde e a vigilância sanitária que poderiam orientar, pelo
menos, a instalação e o funcionamento de estabelecimentos de saúde (hospitais,
laboratórios, consultórios, clínicas, ambulatórios etc.) não têm prestado atenção ao pleno
cumprimento da Lei. Esqueceram-se do preceito constitucional segundo o qual os serviços
de saúde são de relevância pública, apesar de serem livres à iniciativa privada.
Até mesmo a Lei dos Planos de Saúde e a própria criação da Agência Nacional de
Saúde (BRASIL, 2002c), nascidas sob o modismo da regulação, não regularam
adequadamente a oferta de serviços de saúde e, em particular, a ABS nessas
modalidades assistenciais não-SUS.
Esses fatos tornam a gestão da atenção básica muito complexa, sobretudo por não
poder se descolar dos outros níveis do sistema, do mesmo modo que os municípios não
conseguem prescindir das instâncias de gestão estadual e nacional do SUS. Assim, ao
lado da engenharia política necessária à implementação da descentralização da gestão
em saúde face às características do federalismo brasileiro, o gestor da atenção básica
participa de negociações penosas para compra de serviços no setor privado contratado
pelo SUS e tem fora de sua governabilidade a assistência médica supletiva. Resolver essa
equação, composta por elementos extremamente contraditórios, representa uma das
questões centrais da gestão da atenção básica nas grandes cidades brasileiras.
Pensar a atenção básica nas grandes cidades brasileiras, portanto, requer levar em
consideração duas questões que continuam a produzir fatos negativos para ABS em situações
concretas: o aprofundamento das desigualdades sociais entre os diferentes segmentos
populacionais que ocupam distintamente o espaço urbano e a segmentação do sistema de
saúde brasileiro, com superposição de consumo entre diversas modalidades assistenciais
para as classes alta e média e dificuldades de acesso ou exclusão para os mais pobres.
196 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Esse apartheid sanitário representa, portanto, o enigma a ser decifrado para a gestão
da atenção básica, especialmente nas grandes cidades. Assim, a pergunta central é:
como fortalecer processos de reorganização da atenção básica, mantendo o padrão de
desigualdades e a segmentação do sistema de saúde por tempo indeterminado?
Evidentemente que tais questões, ao permanecerem sem políticas públicas consistentes
voltadas para a sua equação, configuram constrangimentos para o desenvolvimento da
ABS na perspectiva da eqüidade, qualidade, efetividade e humanização.
7. PROPOSIÇÕES PRELIMINARES
As proposições e estratégias expostas a seguir constituem uma sistematização
preliminar, sem proceder, por conseguinte, a análises de coerência, factibilidade e de
viabilidade. Seu propósito é estimular uma reflexão capaz de propiciar debates e
encaminhamentos políticos que favoreçam a consolidação da ABS nas grandes cidades. O
Brasil já dispõe de um acúmulo de experiências inovadoras nas últimas décadas (ALMEIDA,
1989; SCHRAIBER, 1990; CECÍLIO, 1994; CAPISTRANO FILHO, 1995; TEIXEIRA; MELO,
| SUMÁRIO | 197
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
1995; SCHRAIBER et. al., 1996; MERHY; ONOCKO, 1997; MENDES, 1998; SILVA JR, 1998;
TEIXEIRA, 2002) que precisam ser valorizadas e difundidas, no sentido de contribuir para
a qualificação da gestão da atenção básica.
No que diz respeito à análise da situação de saúde cabe reforçar o estudo da distribuição
espacial de problemas de saúde no sentido de identificar grupos mais vulneráveis para a
adoção de políticas públicas. Desde a constatação de uma distribuição extremamente
desigual da mortalidade infantil entre diferentes distritos ou bairros em cidades como
São Paulo, Porto Alegre e Salvador na década de 1980, aponta-se para a pertinência da
utilização dessa abordagem na planificação e gestão. Tais investigações sobre
desigualdades em saúde recuperaram os estudos ecológicos da epidemiologia para a
planificação em saúde e possibilitaram a sua utilização pela mídia, organizações da
sociedade civil e secretarias de saúde. Na Bahia, verificou-se o aproveitamento dos
resultados dessas pesquisas pela Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, no
desenvolvimento dos seus programas entre 1993 e 1996 e na elaboração do Plano Municipal
de Saúde (1997-2001), e pela Secretaria do Estado no caso do Plano Estadual de Saúde
(1996-1999). Tais estudos (PAIM et al., 1999; PAIM, 2000) revelam o caráter desigual da
distribuição espacial das violências, possibilitando compor “mapas do risco” de homicídios
(NORONHA et al., 1997). Desse modo, tornou-se possível “microlocalizar” o risco de
morrer por essa causa e identificar os diferenciais intra-urbanos de mortalidade. O
mapeamento das áreas de maior risco permite, portanto, uma maior atenção para as
populações vulneráveis e a formulação de políticas públicas tendo em conta os espaços
de ocorrência das violências e de residência das vítimas.
Portanto, a análise de informações desagregadas no espaço urbano pode ensejar,
também, um planejamento desagregado e a organização da saúde no nível local (MENDES,
1998). No caso da gestão, caberia assegurar a universalização da atenção básica ampliada,
iniciando pelas áreas com piores condições de vida e saúde, enquanto se racionaliza a
oferta dos níveis secundário e terciário (média e alta complexidade) e se valorizam os
mecanismos formais referência e contra-referência mediante um desenho estratégico.
O caminho a ser acionado seria o cadastro amplo dos indivíduos e famílias para o cartão
SUS, por intermédio da distritalização. As iniciativas de organização de distritos sanitários
em cidades como Salvador, Maceió, Natal, Fortaleza, Curitiba e São Paulo, entre outras
(TEIXEIRA; MELO, 1995; SILVA JR, 1998), apesar de negligenciadas até recentemente pelo
Ministério da Saúde, poderão ser recuperadas por processos inovadores de gestão da atenção
básica. A metodologia a ser adotada seria semelhante à usada pelo IBGE nas pesquisas
censitárias. Isso facilitaria procedimentos posteriores de geoprocessamento dos dados,
bem como a utilização de técnicas de análise espacial (NAJAR; MARQUES, 1998).
198 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 199
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
de vida informassem que não pretendem “usar” o SUS9 . Na realidade, elas poderão
utilizar o SUS na urgência/emergência, nos procedimentos de alta complexidade, ou
mesmo no atendimento domiciliar para idosos, pacientes com transtornos mentais e
doenças crônicas. E ainda que não utilizem tais serviços, estarão sujeitas a surtos e
epidemias a exigir ação coletiva (que também é SUS), bem como a ações de proteção a
riscos, prevenção de danos e de promoção da saúde.
No caso da proposta referente às cidades saudáveis, contempla uma gestão
governamental, que “inclui a promoção da cidadania e o envolvimento criativo de
organizações ‘comunitárias’ no planejamento e execução de ações intersetoriais dirigidas
à melhoria das condições de vida e saúde, principalmente em áreas territoriais das grandes
cidades onde se concentra a população exposta a uma concentração de riscos vinculados
à precariedade das condições de vida, incluindo fatores econômicos, ambientais e
culturais” (TEIXEIRA, 2002, p. 90-91).
Essa proposta, apoiada pela OMS a partir da década de 1980, vem sendo reconhecida
como geradora de políticas públicas saudáveis com impacto positivo sobre a qualidade
de vida nas cidades (FERRAZ, 1993). Alguns setores do Ministério da Saúde vêm
estimulando o desenvolvimento da Promoção da Saúde e apoiando a estratégia do Município
Saudável (RADIS, 2000; BRASIL, 2002a)10 . De acordo com o Ministério, “um município
começa a se tornar saudável quando suas organizações locais e seus cidadãos adquirem
o compromisso e iniciam o processo de melhorar continuamente as condições de saúde
e bem-estar de todos os seus habitantes” (BRASIL, 1999, p. 1)11 .
O movimento das cidades saudáveis pode potencializar a ampliação progressiva do
PSF.12 Assim, o cadastro amplo, sugerido no início deste tópico, deveria distinguir os
segmentos da população totalmente usuários do SUS e aqueles apenas parcialmente
usuários, qualificando os vários graus e níveis. O PSF seria mantido como a estratégia
fundamental para tal proposição face a sua compatibilidade com a vigilância da saúde e
com a proposta das cidades saudáveis. No entanto, deveriam ser cogitadas algumas
9 O atual Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Dr. Jorge Solla, lembrou que “o senso comum diz que o
usuário do SUS está na população de baixa condição sócio-ecnonômica, enquanto sabemos que, hoje, o SUS é utilizado por toda
a população. O que difere é o quanto você precisa utilizar e o que você precisa utilizar” (Radis, 2003:31).
10 Entre as principais características desses municípios destacam-se: iniciativa local com forte compromisso político;
mobilização e participação comunitária; estrutura organizada e ações intersetoriais; diagnóstico de problemas e necessi-
dades; liderança local reconhecida.
11 Essa estratégia teria as vantagens de apoiar processos de descentralização, fortalecer a participação social e o processo
democrático, influir nas políticas públicas locais, incorporar a promoção da saúde na agenda de desenvolvimento local e de
coadjuvar com a reorientação dos serviços de saúde (BRASIL, 1999).
12 O Secretário de Atenção à Saúde informou, recentemente, o propósito da expansão e qualificação da atenção básica, com
investimentos apoiados pelo Banco Mundial para os próximos cinco anos e meio. No que se refere ao PSF, a meta é implantar
mais 4000 equipes em 2003 (Saúde, Brasil, 2003) e dobrar a população coberta em quatro anos (100 milhões de pessoas).
Assim, pretende “requalificar a Atenção Básica, criando condições de maior resolutividade para o PSF, articulando o acesso
de pacientes que precisarem da Atenção Especializada, melhorando e investindo em ações de qualificação de recursos
humanos visando superar a precarização do trabalho na área da Saúde” (RADIS, 2003:29).
200 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
13 A partir de maio de 2001 a primeira versão eletrônica de um instrumento de programação elaborado pelo Ministério da
Saúde foi colocada à disposição dos estados para subsidiar a elaboração da PPI juntamente com os municípios. “Este
instrumento buscou relacionar e explicitar compromissos que iam desde a agenda nacional e agendas estaduais e municipais
de saúde, o pacto da atenção básica, até a programação das ações propriamente ditas e relatórios de cunho gerencial. A
programação iniciava-se pela atenção básica, seguindo para média e alta complexidade, programação hospitalar, do
tratamento fora do domicílio – TFD, das órteses e próteses, enfim de todos os grupos que compõem as ações financiadas pelo
SUS nos três níveis de governo (SAMPAIO, 2003, p. 11-12).
14 Uma das desvantagens atuais desse aplicativo da PPI reside no planejamento de agregados e normativo. Assim, o objeto
de programação é a população do município e não os residentes de unidades menores como regiões administrativas,
distritos sanitários ou bairros, tal como trabalha o planejamento e programação local da vigilância a saúde. No entanto, ao
nível local este aplicativo poderia ser complementado com os instrumentos elaborados por Silva (2002). Nesse estudo, a
autora indica os avanços alcançados pelo PSF, no que se refere à realização de atividades voltadas para o controle de riscos
e de danos, porém com insuficiência das ações de controle das causas. Os 6 instrumentos elaborados servem ao planejamento
e gestão do trabalho em Saúde da Família e, especialmente, para a supervisão das equipes e dos agentes das práticas de
saúde. Mesmo reconhecendo a pertinência de considerar o trabalho vivo em ato e, portanto, as tecnologias leves como
propõe Merhy (1997), que permitiriam a criatividade e a adequação às singularidades do real, não creio ser dispensável
certo grau de padronização de condutas técnicas tendo em vista a meta de mais de 30.000 equipes de saúde da família no
Brasil. Consequentemente, as atividades relacionadas nos 6 instrumentos poderiam representar um embrião para o
estabelecimento de normas técnicas para o trabalho das equipes e, como tal, balizamentos para a formação das equipes e
para a educação permanente dos seus agentes. Nessa perspectiva, as universidades e serviços de saúde que integram os
Polos de Capacitação em Saúde da Família teriam muito o que contribuir para o salto de qualidade que requer o PSF tendo
em conta a sua expansão no Sistema Único de Saúde.
| SUMÁRIO | 201
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
202 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
COMENTÁRIOS FINAIS
A gestão da atenção básica, portanto, não está imune aos grandes desafios postos
para o desenvolvimento do sistema de saúde brasileiro. As dicotomias historicamente
postas entre saúde pública e medicina, desde o século XIX, têm sido objeto de reflexão e
de intervenção pelo campo da Saúde Coletiva no Brasil. E a chamada rede básica de
serviços de saúde atraiu para si distintos projetos tecno-assitenciais que competiram na
condução das políticas de saúde nas diferentes conjunturas da República: posições
conservadoras, em que a assistência médica é vista sob a lógica do mercado em que a
saúde pública é destinada aos necessitados ou excluídos, mediante campanhas, programas
especiais e educação sanitária em postos e centros de saúde; posições reformadoras,
que preservam a dicotomia assistência médica e saúde pública e apenas propõem uma
rede básica como “porta de entrada” do sistema público de saúde; e as posições
transformadoras, originárias do movimento sanitário e da 8ª CNS, ao postularem que a
“a rede básica teria de ser não só a porta de entrada de um sistema de saúde, mas o
lugar essencial a realizar a integralidade das ações individuais e coletivas de saúde, ao
mesmo tempo em que fosse a linha de contato entre as práticas de saúde e o conjunto
das práticas sociais que determinam a qualidade de vida, provocando a mudança no
sentido das práticas” (MERHY, 1997, p. 224).
Na medida em que a atenção básica de saúde (ABS) não fique confinada aos antigos
“pobres da cidade” (MONTANO, 1983) nem à gente pobre criada pelas grandes cidades
junto ao desmantelamento do estado de bem-estar (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 287), a
gestão da ABS terá de interagir com todo o sistema de saúde e com arranjos intersetoriais
para garantir efetividade, qualidade, eqüidade e integralidade das intervenções. Nesse
| SUMÁRIO | 203
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
sentido, alguns autores têm mostrado a necessidade de “novas missões e papéis para
essa rede básica, que se traduzem pela construção de um modelo de atenção que permita,
junto ao conjunto dos usuários, realizar práticas que acolham, vinculem e resolvam, no
sentido de promover e proteger a saúde, no plano coletivo” (MERHY, 1997, p. 198).
NOTAS
1 O atual Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Dr. Jorge Solla, lembrou
que “o senso comum diz que o usuário do SUS está na população de baixa condição
sócioecnonômica, enquanto sabemos que, hoje, o SUS é utilizado por toda a população. O
que difere é o quanto você precisa utilizar e o que você precisa utilizar” (Radis, 2003:31).
204 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 205
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
206 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ALMEIDA, C. M. de. “Os atalhos da mudança na saúde do Brasil: serviços em nível
local: 9 estudos de caso: uma análise comparativa”. Rio de Janeiro: OPAS/OMS; 1989.
119p. (Série Desenvolvimento de Serviços de Saúde, n.10).
2. BAHIA. SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE. Plano estadual de saúde (1988-1991).
Salvador: SESAB/Assessoria de Planejamento; 1987. 106p.
3. BODSTEIN, R. (org.) “Serviços locais de saúde: construção de atores e políticas”. Rio
de Janeiro: Relume-Dumará; 1993. 136p.
4. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Norma Operacional Básica SUS – 01/1993. Inf. Epid.
SUS Jul 1993; 49-73; Número Especial, 1993a.
5. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa de agentes comunitários de saúde. Brasília:
Fundação Nacional de Saúde, 1993b.
6. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Avaliação Qualitativa do PACS. Brasília: Fundação
Nacional de Saúde, 1994a.
7. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. PACS. Normas e Diretrizes. Brasília: Fundação Nacional
de Saúde, 1994b.
| SUMÁRIO | 207
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
16. BRASIL. MINISTERIO DA SAÚDE. Declaração de Alma-Ata. In: _____. Promoção da Saúde:
Declaração de Alma Ata, Carta de Otawa, Declaração de Adelaide, Declaração de Sundsvall,
Declaração de Santafé de Bogotá, Declaração de Jacarta, Rede de Megapaises, Declaração do
México. Brasília: MS/Projeto Promoção da Saúde; 2001b. p.15-17.
18. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Gabinete do Ministro. Portaria No. 393 de 29 de março de
2001. DOU 2001 Mar 30(63):2001d
23. CAPISTRANO FILHO, D. “Da saúde e das cidades”. São Paulo: Hucitec; 1995. 155p
27. CONASEMS. Sistema Único de Saúde: Constituição Federal – Seção II; Lei Orgânica
da Saúde No. 8080; Lei 8142; Decreto No. 99.438; Carta de Fortaleza. Porto Alegre,
1990. 28p. (Publicações Técnicas, 2).
208 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 209
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
44. NORONHA, C. V. et al. “Mapa de Risco da Violência: cidade de Salvador”. CEDEC: São
Paulo, 1997.
50. PAIM, J. S. “Saúde, política e reforma sanitária”. Salvador: CEPS-ISC, 2002. 446p.
51. PAIM, J. S. et al. “Distribuição espacial da violência: mortalidade por causas exter-
nas em Salvador (Bahia), Brasil”. Rev. Panamericana de Salud Pública/ Pan Am J Public
Health Washington, v. 6, n. 5, p. 321-332, nov 1999.
52. CIDADES Saudáveis. Radis Temas, [S.l.], n. 19, p. 30, mai 2000.
53. RADIS. Radis Entrevista: Jorge Solla. Radis Comunicação em Saúde 2003 Abr (8):29-31.
54. RIPSA (Rede Interagencial de Informações para a Saúde). Conceitos básicos de Siste-
mas de Informação Geográfica e Cartografia aplicada à saúde. Brasília: Organização
Panamericana da Saúde/Ministério da Saúde; 2000. 124p.
58. SANTOS, M. “Por uma economia política da cidade”. São Paulo: Hucitec, 1994. p. 115-145.
59. SANTOS, M. “A natureza do espaço: técnica e tempo, razão emoção”. 2. ed. São
Paulo: Hucitec, 1997. p. 15-88.
210 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
60. SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. “O Brasil: território e sociedade no início do século XXI”. Rio
de Janeiro: Record, 2001. 471p.
61. Saúde, Brasil. Medidas reforçam atenção básica. Saúde, Brasil 2003 (84):4-5.
63. SILVA, A da P. “A prática da equipe do Programa de Saúde da Família”. 100f. 2002. Disser-
tação (Mestrado) – ISC/UFBA. Salvador, 2002.
65. SILVA JR, A. G. da. “Modelos tecnoassistenciais em saúde: O debate no campo da Saúde
Coletiva”. São Paulo: Hucitec, 1998. 143p.
66. SCHRAIBER, L. B. (org.). “Programação em saúde, hoje”. HUCITEC: São Paulo, 1990. 226p.
70. TASCA, R.; GREGO, C.; VILLAROSA, F. N. di. “Sistemas de informação em saúde para
distritos sanitários”. In: MENDES, E. V.(org.) “Distrito Sanitário: o processo social de
mudança das práticas sanitárias do Sistema Único de Saúde”. São Paulo: Hucitec, Rio de
Janeiro: ABRASCO, 1993. p. 267-310.
71. TASCA, R.; GREGO, C.; VILLAROSA, F. N. di. “A construção de um sistema de informação
territorializado nos distritos de saúde de Campo Limpo e de Itaquera, SP”. In: TEIXEIRA, C. F.;
MELO, C. “Construindo distritos sanitários: a experiência da cooperação italiana no município
de São Paulo”. São Paulo: Hucitec, Salvador: Cooperação Italiana em Saúde, 1995. p. 45-68.
| SUMÁRIO | 211
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
75. TEIXEIRA, C. F.; PAIM, J. S.; VILASBOAS, A. L. “SUS, modelos assistenciais e vigilân-
cia da Saúde”. Inf Epidem SUS, [Brasília], v. 7, n. 2, p. 7-28, 1998.
77. TEJADA DE RIVERO, D. “Salud pública y atención primária de salud: una evaluación crítica”.
In: ORGANIZACIÓN PANAMERICA DE LA SALUD. “La crisis de la salud pública: reflexiones para
el debate”. Washington, D. C., 1992. p. 173-183. (Publicación Científica, 540).
78. TESTA, M. “Pensar em saúde”. Porto Alegre: Artes médicas: ABRASCO, 1992. 226p.
212 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
RESUMO
| SUMÁRIO | 213
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
1. NOTAS INTRODUTÓRIAS
Este texto procura identificar alguns dos desafios que se colocam à estratégia de
regionalização e hierarquização das ações de atendimento à saúde no Brasil, que vem
sendo implementada pelo Ministério da Saúde, derivando-os de conclusões de um estudo
sobre a dinâmica e as principais características da rede urbana brasileira, bem como da
análise de dados específicos da área de saúde. Parte-se também da premissa de que as
propostas de regionalização, quaisquer que sejam os campos de atuação pública a que as
mesmas se refiram, devem levar em conta fatores estruturais que definem dinâmicas
sócioeconômicas regionais e que condicionam os processos de articulação funcional e de
fluxos de bens e serviços entre centros urbanos.
1 De acordo com o que prevê a NOAS – SUS 2001, nos PDRs, os Estados devem definir as bases territoriais para a
descentralização e organização do atendimento à saúde, delimitando: Regiões e Microregiões de Saúde, Módulos Assistenci-
ais, Municípios-Sede de Módulos Assistenciais, Municípios-Pólo e Unidades Territoriais de Qualificação na Assistência à Saúde.
(NOAS – SUS 2001, Capítulo I).
214 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
2. ALGUNS ANTECEDENTES
| SUMÁRIO | 215
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
parte do governo federal, e nem mesmo em maior eficácia e produtividade da gestão local.
Com efeito, nesses estratos mais complexos da rede urbana do Brasil, verifica-se que
a concentração espacial dos recursos de saúde em geral privilegia as cidades-pólo,
configurando um grave problema a ser resolvido, sobretudo porque os hospitais existentes
nessas áreas são, via de regra, indevidamente sobrecarregados, na medida em que não
existe uma rede secundária de suporte nos municípios da periferia, rede essa que possa
evitar, ou pelo menos minorar, o fluxo de população demandante de pronto-atendimento
da periferia para o núcleo.
Por outro lado, remarca-se, ainda, que os estados, por sua vez, também vêm deixando
de assumir o papel estratégico de planejamento e coordenação das redes regionais de
saúde, atribuição que, de resto, extrapola a capacidade técnica e administrativa de ação
das prefeituras municipais, o que problematiza a adequada distribuição dos equipamentos
e recursos destinados ao atendimento de saúde.
Fica claro, assim, que não basta repassar recursos e/ou serviços às Prefeituras
Municipais, impondo-se a necessidade inadiável de estabelecer parâmetros e orientações
básicas de organização e hierarquização regionalizada dos serviços de saúde,
particularmente aqueles destinados a áreas cujos limites extrapolam as fronteiras
municipais, encarando-se esse tipo de procedimento como parte imprescindível do
planejamento da destinação e alocação dos recursos de saúde, especialmente nas
aglomerações urbanas do país.
Tendo em vista a importância dos fluxos de bens e serviços na definição das formas
de articulação entre população e espaço e o papel da descentralização do sistema de
saúde como interveniente nessa relação, como etapa prévia para a realização deste
estudo, considerou-se adequado que o ponto de partida da definição de uma rede
hierarquizada de saúde fosse um diagnóstico atualizado das características da rede de
cidades do Brasil. Nesse sentido, este trabalho beneficiou-se diretamente de estudo
disponível sobre essa questão, Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil,
coordenado pelo IPEA e desenvolvido em parceria pelo NESUR – Núcleo de Economia Social
Urbana e Regional, do Instituto de Economia da UNICAMP, e pelo DGEO – Departamento
216 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Uma primeira observação a ser feita diz respeito às mudanças experimentadas pelo
processo de urbanização brasileiro. Nas décadas de 1980 e 1990, o processo de
urbanização no Brasil experimentou um conjunto de transformações fortemente
articuladas às grandes mudanças espaciais da atividade econômica. A trajetória de
desconcentração econômica ocorrida no Brasil, a partir de meados da década de 1970,
aumentou a heterogeneidade econômica e social no desenvolvimento das regiões e
cidades brasileiras, além de ter estruturado algumas características novas que definem
o processo de urbanização, bem como o desenho do sistema de cidades: crescimento
populacional mais elevado das antigas periferias econômicas nacionais, provocando a
intensificação do fenômeno da formação de aglomerações urbanas; padrões
relativamente baixos de crescimento das regiões metropolitanas, e sobretudo de suas
sedes; e um peso crescente do conjunto das cidades de porte médio.
| SUMÁRIO | 217
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
218 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Contudo, em que pese essa concentração de recursos, nem sempre as demandas são
adequadamente atendidas, uma vez que a alocação dos mesmos é planejada sem considerar
a realidade da polarização, bem como a existência de áreas de influência delimitadas e com
características demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas definidas.
Com efeito, na esfera federal, e mesmo nos estados, os processos de decisão relativos
à descentralização da saúde são rotineiramente definidos em função de demandas locais,
a despeito do fato de que, nas aglomerações urbanas, dadas as especificidades que
definem a integração dos espaços componentes, a descentralização dos recursos e a
alocação de equipamentos de saúde no nível local nem sempre se configuram como soluções
adequadas, ou em soluções que se traduzem necessariamente em maior eficiência, no
que tange às decisões de descentralização adotadas, e nem mesmo em maior eficácia e
produtividade da gestão local desses recursos.
Assim, estava presente no estudo o objetivo de definir uma metodologia de organização
e hierarquização das ações da saúde, baseada fundamentalmente na articulação entre
elementos relativos às características e dinâmica da rede urbana e em elementos que
compunham o quadro de distribuição espacial dos recursos de saúde, considerando o tipo
e a qualidade dos equipamentos e recursos, a distribuição espacial da clientela do sistema
e o perfil epidemiológico da população.
3. NOTAS METODOLÓGICAS
| SUMÁRIO | 219
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
5 Sobre as características desta fonte de dados, particularmente suas limitações, ver Anexo.
6 Na identificação e caracterização dos aglomerados de saúde foram utilizados os seguintes bancos de dados gerais e
específicos da saúde: SIH-SUS – Sistema de Informações Hospitalares; SIA-SUS – Sistema de Informações Ambulatoriais; SIM-SUS
– Sistema de Informações de Mortalidade; Censo Demográfico de 1991 e 2000 – IBGE; Contagem Populacional 1996 – IBGE; STN
– Secretaria do Tesouro Nacional: Balanços Estaduais e Municipais.
7 Sobre algumas limitações das AIH’s ver anexo.
220 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Em que:
Xij : volume de AIHs de pacientes com residência no município (ou Estado) “i” e cujo
atendimento deu-se no município (ou Estado) “j”.
Como se pode notar, a partir da construção dessa simples matriz é possível estudar os
movimentos de pacientes entre os municípios de um mesmo estado ou de estados
diferentes. Nesse estudo, essa matriz foi criada de forma a discriminar todos os municípios
do Estado a ser analisado, sendo os demais movimentos especificados apenas em termos
das outras Unidades da Federação em que ocorreram ou se originaram os atendimentos.
Fica claro que com essa forma de analisar os dados é possível mensurar os seguintes volumes:
8 Os termos invasão e evasão serão usados de maneira análoga ao que é feito na demografia e epidemiologia quando se trata
de analisar as estatísticas vitais. Assim, no caso das AIH’s, o termo invasão refere-se ao local de atendimento do paciente que
apresenta lugar de residência distinto e o termo evasão, tem como referência o local de residência do paciente, configuran-
do-se sempre que o atendimento não ocorra nessa área. Para detalhes sobre o uso desses termos no estudos com
estatísticas vitais ver, por exemplo, Fundação SEADE, 1982.
| SUMÁRIO | 221
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Dessa forma, supõe-se que tais fluxos refletiriam não apenas demandas reprimidas
por internação em certos municípios, mas sobretudo áreas que, por sua capacidade
instalada e complexidade de serviços de saúde disponíveis, acabavam atraindo pacientes,
configurando-se como pólos de atendimento.
Para se posicionar como pólo, não basta, contudo, que o município apresentasse um
contingente populacional elevado, que tivesse um grande número de internações de não-
residentes, ou tão somente que se destacasse regionalmente pelo volume desse tipo de
demanda. A identificação do município-pólo dependeu de uma análise multidimensional
que, além do fluxo e do volume dos atendimentos, também levou em conta a capacidade
da rede de saúde instalada, o perfil sóciodemográfico e epidemiológico da população etc.
Dessa forma, foi possível definir mais apropriadamente as áreas de influência dos pólos,
evitando definições equivocadas de regionalizações que poderiam ser propostas pela
simples análise dos fluxos das AIHs.
Nesse sentido, a metodologia de definição de pólos e de suas áreas de influência foi
apresentada para a proposição do quadro dos aglomerados de saúde dos Estados, quadro
esse passível de modificação no âmbito da definição dos Planos Diretores de
Regionalização, que eventualmente podem considerar dados e informações sobre a
dinâmica de atendimento à saúde que não são disponíveis nos bancos do DATASUS.
Tendo em vista o tipo de informação utilizada, a metodologia adotada para a
caracterização dos municípios em termos de atração ou expulsão de atendimentos em
saúde, baseou-se em grande medida nos estudos realizados no NEPO/UNICAMP sobre
migração. Embora relativos a um fenômeno de natureza distinta, os dados sobre os
movimentos migratórios são similares àqueles derivados dos fluxos de AIHs. Portanto,
nos dois casos, a análise quantitativa do fenômeno – de um lado, a invasão ou a evasão
de pacientes e, de outro, a imigração ou a emigração de indivíduos – pode ser feita da
mesma forma, já que ambas tratam de fluxos de pessoas. Sendo assim, de modo similar
ao que é usualmente feito nos estudos migratórios, a partir da matriz apresentada foram
construídos indicadores, destinados a discriminar particularidades dos municípios no que
se refere aos fluxos organizados pela internação hospitalar. Assim volumes de invasão,
evasão, os saldos dessas entradas e saídas, bem como outros índices foram analisados
de maneira as indicar a condições de cada município.9
Vale lembrar que os indicadores foram utilizados de maneira complementar, uma vez
que nenhum deles isoladamente poderia espelhar a condição de pólo de atração ou área
de expulsão. Além disso, tal análise não poderia prescindir da consideração do tamanho
9 Para maiores detalhes ver: Identificação e Caracterização de Aglomerados de Saúde: notas metodológicas. Relatório I,
Projeto de Pesquisa Organização e Hierarquização das Ações de Saúde, NESUR/NEPO/UNICAMP, abril de 2000.
222 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
populacional do município, uma vez que esse indicador, por si só, está intrinsecamente
relacionado com a condição (ou não) de centralidade da área. De fato, na maioria dos
casos, os pólos coincidiram com as localidades com grandes contingentes populacionais,
tendo em vista que a concentração demográfica tem, em muitos sentidos, uma estreita
relação com a concentração de atividades, sejam elas de serviços – como é o caso da
saúde –, produção, culturais, sociais etc.
No caso específico do corte regional, optou-se por partir das microregiões definidas
pelo IBGE, sendo que a abrangência regional foi atribuída àquelas áreas cuja relação com
a microregião fossem intensas.
Além dessa classificação pelo critério da abrangência espacial, foi adotada uma segunda
forma de hierarquização dos pólos considerando sua importância no contexto estadual,
não apenas em termos do volume das AIHs registradas e do seu valor médio, mas também
em termos do volume de invasões registradas, sem desconsiderar seu porte, dada a
forte correlação entre o volume total de AIHs registradas em municípios determinados e
seu tamanho populacional.
10 De fato, a acessibilidade ou facilidade de comunicação entre determinadas áreas em função da existência de estradas,
transporte regular, etc. acaba sobrepujando a importância da proximidade territorial.
| SUMÁRIO | 223
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
de suas funções, serviços etc. e, portanto, também seu grau de atratividade. No entanto,
considerou-se fundamental um tratamento diferenciado das AIHs por residência, como
forma de melhor definir o caráter ou condição, não apenas dos pólos, como também suas
áreas de influência. Assim, os pólos foram classificados como exercendo alta polaridade,
média polaridade e baixa polaridade.
Outra condição que mereceu tratamento especial foi a configuração de áreas menores
de polarização dentro de regiões mais amplas e polarizadas por centros maiores. Essas
situações foram observadas especialmente nas aglomerações urbanas metropolitanas,
onde foram claramente identificados casos de polarização secundária, o que obrigou a
criação de uma nova categoria - subpólos –, os quais podem eventualmente ter maior
importância no funcionamento do sistema de saúde estadual do que os próprios pólos.
Assim, O conjunto de municípios-pólo e municípios polarizados constitui um aglomerado
de saúde. Os aglomerados de saúde podem contar com subpólos (municípios que exercem
atração significativa, porém menor que aquela do pólo) que nucleiam sub-aglomerados.
Nesses casos, dentro dos aglomerados, os subpólos compartem com o pólo as funções de
atenção à saúde11 . Foram identificados, também, municípios que, por concentrarem
recursos de atendimento especializado (geralmente de tisiologia ou psiquiatria), têm
uma abrangência que extrapola os limites do aglomerado e, eventualmente, do Estado.
Tais municípios foram chamados pólos de especialidade.
a) tamanho da população: embora não tenha sido fator decisivo para a configuração
dos pólos, o total da população residente constituiu um elementos importante
para sua seleção;
11 Em geral, as consultas médicas, o atendimento ambulatorial, os exames de apoio a diagnóstico, as terapias e outros
procedimentos executados com cobertura do SUS são realizados em instalações hospitalares. Portanto, os fluxos das
internações refletem boa parte dos movimentos dos pacientes que se deslocam em busca de atendimento público à saúde.
Assim, embora apoiada basicamente nos fluxos de internações, a configuração dos aglomerados de saúde reflete também o
fluxo de pacientes que se desloca procurando outros tipos de atendimento. Em apoio à observação acima, vale destacar que,
para testar o método adotado para a delimitação dos aglomerados de saúde, foram processados os dados do Sistema de
Informações Ambulatoriais de Exames e Terapias para Pacientes Externos ao SUS – SIAEX, base de dados construída pela
Secretaria de Saúde do Estado de Alagoas. O processamento permitiu identificar pólos, sub-pólos e configurações dos
aglomerados de saúde idênticos aos obtidos a partir do processamento das AIHs.
224 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Resta ainda mencionar a forma como foram definidas as áreas de influência dos
pólos. A primeira condição para a definição dos aglomerados de saúde, ou, em outros
termos, os pólos e suas áreas influência, é a contigüidade espacial dos municípios. Tal
restrição representou a eliminação de áreas de municípios mais distantes e, portanto,
sem uma relação funcional clara com o pólo, mesmo que registrando eventualmente
fluxos de pacientes.
Partindo desse princípio, as áreas de influência foram definidas tendo em vista a
magnitude do fluxos estabelecidos entre os pólos e os municípios do Estado, em especial,
aqueles caracteristicamente “exportadores” de pacientes. Pôde-se detectar que poucos
foram os casos em que a observação dos fluxos não revelou quase que automaticamente
12 Como o próprio nome sugere, esse indicador, calculado pelo quociente (I-E)/(I+E), aponta para a eficiência de uma
determinada área no que se refere aos fluxos de atendimento (invasão ou evasão) a que a mesma está exposta. Valores
próximos a 1 (limite máximo) espelham zonas com invasão elevada; ao contrário, valores próximo a –1 (limite mínimo),
áreas que “exportam” elevado número de pacientes. Valores ao redor de zero sugerem “unidades de circulação” de
pacientes (invasão igual ou próxima à evasão).
| SUMÁRIO | 225
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
as áreas de abrangência dos pólos. Na verdade, situações como as das Capitais, que
tendem a centralizar fortemente os serviços mais complexos de saúde, configuram-se
como exceções, nas quais a influência sobrepassa o nível do regional ou, em termos das
relações interestaduais, o nível fronteiriço. Contudo, mesmo nesses casos, a atração
exercida pelo município central mostra-se muito maior para as localidades mais próximas,
ou contíguas, do que para aquelas mais distantes.
13 Consulte-se: Configuração dos Aglomerados de Saúde, Pesquisa Organização e Hierarquização de Ações de Saúde, Relatório
Final. NESUR/NEPO – UNICAMP, out. de 2001.
226 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Dada a não disponibilização dos PDRs, não pode ser efetuada a comparação para
os Estados do Maranhão, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, São Paulo e Tocantins. Por
outro lado, para estados cujos PDRs foram disponibilizados incompletos – Pernambuco,
Goiás e Bahia –, a comparação foi feita considerando apenas os elementos disponíveis.
Para Pernambuco e Bahia, não foi procedida a comparação para regiões que não
contavam do PDR – duas regiões em Goiás e uma em Pernambuco. E, no caso da
Bahia, só foi feita a comparação para pólos e subpólos.
Não cabe no espaço deste texto relatar os resultados da regionalização definida
para cada Estado14 , contudo, apresenta-se a seguir, a título de exemplificação, um
cartograma da configuração final dos aglomerados de saúde do Estado do Espírito
Santo, chamando-se atenção para tendências que têm implicações para a
regionalização e a organização e hierarquização das ações de saúde.
Entre os setenta e sete municípios do Estado do Espírito Santo, cinco foram
identificados como pólos de aglomerados de saúde: Vitória, Colatina, São Mateus,
Linhares e Cachoeiro do Itapemirim.
Considerando o total da população dos municípios-pólo e dos aglomerados de saúde
configurados, observou-se uma variação significativa de porte, chamando atenção
para a necessidade de planejamento de políticas de saúde que considerem essa
questão, em especial aquelas relativas à distribuição dos equipamentos de saúde,
uma vez que se constatou que o maior volume de internações relativas às AIHs ocorre
na Região Metropolitana de Vitória, e particularmente na Capital e em Vila Velha,
dada a concentração de equipamentos e recursos.
Com efeito, os dados relativos de capacidade instalada dos serviços de assistência
14 Para resultados da comparação e da configuração final dos Aglomerados de Saúde dos Estados, consulte-se: Configuração
dos Aglomerados de Saúde, Pesquisa Organização e Hierarquização de Ações de Saúde, Relatório Final. NESUR/NEPO/
UNICAMP, out. de 2001.
| SUMÁRIO | 227
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Fontes:
Projeto Organização e Hierarquização de Ações de Saúde. Caracterização de Aglomerados de Saúde do Estado do Espírito
Santo. NESUR–NEPO/UNICAMP, 2001.
Sistema de Internações Hospitalares e Cadastro de Leitos Hospitalares – SIH/SUS. DATASUS, 2000. Tabulações especiais NESUR–
NEPO/UNICAMP.
Sistema de Informações de Atendimento Ambulatorial e Cadastro de Serviços Ambulatoriais – SIA/SUS. DATASUS, 2001.
Tabulações especiais NESUR–NEPO/UNICAMP.
228 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Além da delimitação dos aglomerados de saúde dos Estados, também foi procedida
uma ampla caracterização de condições sócioeconômicas, da cobertura de infra-estrutura
de saneamento básico, do perfil epidemiológico da população, da capacidade instalada
de serviços de assistência médico-sanitária dos aglomerados e, por fim, estimativas do
potencial de gasto dos municípios que integram os aglomerados com saúde. Esse trabalho
foi desenvolvido a partir de dados secundários disponíveis, compondo-se um Atlas dos
aglomerados de saúde de cada um dos vinte e sete Estados da Federação.15
Esses Atlas organizam dados e informações de abrangência estadual, dados e
informações que detalham a configuração e caracterização dos aglomerados e, ainda,
dados e informações agregados no nível municipal. De acordo com essa sistematização,
também é possível identificar e caracterizar cada um dos municípios no contexto estadual.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo teve como principal objetivo apresentar a metodologia, bem como
os elementos teóricos que nortearam a elaboração de uma proposta de regionalização
para efeitos da organização do atendimento de saúde nos vários estados da Federação.
Fruto de uma necessidade gerada pela edição da Norma Operacional da Assistência à
Saúde – NOAS/SUS 01/2001, o projeto encomendado pelo Ministério da Saúde, dado o
alcance nacional exigido, ao mesmo tempo que deveria partir de um enfoque teórico
consistente, também teria de se basear em uma metodologia de fácil replicação e,
sobretudo, lançar mão de fontes de dados minimamente confiáveis e disponíveis ao
nível nacional. Acredita-se que o procedimento apresentado neste artigo cumpriu
adequadamente todos os requisitos acima.
O uso das AIHs como fonte de identificação de fluxos de pacientes, mesmo que restrito
às internações hospitalares, mostrou-se robusto, no sentido de captar a forma como se
organiza no Brasil a rede de cidades em termos dos serviços de saúde. Nesse sentido, os
resultados obtidos, mesmo que não apresentados aqui, dado a ênfase metodológica deste
artigo, não deixam lugar a dúvidas de que, com raras exceções – muitas delas ligadas
mais a questões políticas/regionais –, a lógica da organização e/ou configuração da rede
de cidades é muito mais complexa e engloba qualquer outra lógica setorial, como, por
exemplo, a da saúde.
Acredita-se que este artigo, assim como os resultados do projeto do qual ele se deriva,
representam uma contribuição objetiva e útil para o melhor equacionamento da distribuição
e eficácia dos serviços de saúde no país.
| SUMÁRIO | 229
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
REFERÊNCIAS
FIBGE. Regiões de influência das cidades: revisão atualizada do estudo divisão do Brasil
em regiões funcionais urbanas. Rio de Janeiro, 1987.
230 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
ANEXO
Pelo que se sabe, poucas são as avaliações sobre a qualidade dos dados das SIH–SUS
(Sistema de Informações Hospitalares) e de seu instrumento, as AIHs, como fonte de
dados para estudos sobre morbidade, gastos em saúde, características da população
atendida, volumes de pacientes etc. Em um breve, mas esclarecedor texto, Travassos
(1996) discorre sobre algumas das principais características dessa fonte. Para esse estudo
basta, no entanto, apenas recuperar as limitações ou os problemas que a autora considera
como principais.
Na verdade, parece ser que, para cada uma das dimensões elencadas acima, existe
um aspecto que cobra certos cuidados para o uso das AIHs. No caso dos estudos de
morbidade e das características dos pacientes, problemas como a precariedade como são
anotadas as informações provenientes dos prontuários médicos, o processo de codificação
e a não-existência de registro de reinternações, que tenderia a contar múltiplas vezes
um doente (e sua doença) crônico, tornariam bastante delicada a análise. Quanto aos
gastos do sistema SUS, a ocorrência de fraudes mencionadas por Travassos, questão,
aliás, que tem sido noticiado freqüentemente, também exigiria grande cuidado ao utilizar
o dado. Não obstante o anterior, não se pode perder de vista a potencialidade dessa
fonte e a necessidade da existência de mecanismo de constante controle e avaliação de
maneira a torná-la cada vez mais útil.
Nesse caso específico, a questão mostrou-se um pouco mais séria, tendo em vista o
significativo percentual de municípios de residência “não declarado” ou “ignorado”. Para
que se tenha uma idéia, no caso dos estudos preliminares feitos para Pernambuco e Rio
Grande do Sul, esse percentual chegou, para os anos de 1996 e 1997, considerados em
conjunto, respectivamente a 12,4% e 17,2%. Esse problema tornava-se ainda mais
complexo quando se tomavam esses percentuais ao nível municipal.
| SUMÁRIO | 231
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Assim, e tendo em conta que boa parte das invasões ocorridas nos pólos de atendimento
se devem a serviços de maior complexidade, é muito provável que essa múltiplas contagens
de indivíduos sejam até mesmo úteis para caracterizar a polarização existente.
232 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
RESUMO
O estudo sobre São Paulo trata da caracterização dos seus contrastes, da distribuição
das desigualdades pelo seu território urbano e da não-universalização dos serviços básicos
entre os Distritos, do perfil da sua saúde e de uma investigação sobre os dois anos da
implantação da distritalização da saúde no Grajaú (janeiro 2001/janeiro 2003), o Distrito
mais populoso da cidade. A análise da distritalização mostrou que a dimensão estrutural
dos problemas existentes exige soluções de longo prazo e que as duas principais prioridades
do Distrito de Saúde, no período estudado, eram oferecer Atenção Básica para todos e
enfrentar a dificuldade de acesso aos serviços. Garantiu-se , para 2003, um planejamento
diferenciado e socialmente construído com possibilidade de motivar um compromisso
coletivo em relação à humanização e à qualidade da atenção. Os indicadores investigados
e a experiência estudada delinearam um quadro preocupante da saúde e da vida da
população, ressaltando a urgência da implementação da descentralização da organização
e das decisões do sistema municipal de saúde, das acertadas estratégias de combate à
pobreza, ao desemprego e à desigualdade, por meio dos Programas da Secretaria Municipal
do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade e das Agendas Regionais de Políticas Sociais
Integrais das Subprefeituras, como parte do resgate da dívida social acumulada pelas
últimas décadas.
1 Agradeço o apoio técnico de Catarina A. G. Silvério e Zilda Pereira da Silva e a colaboração imprescindível de Rute Barreto
Ramos para a compreensão do processo de distritalização.
| SUMÁRIO | 233
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Durante 449 anos, São Paulo vendeu índios como escravos, exterminou suas nações,
encontrou metais preciosos, redefiniu fronteiras nacionais, tornou o café o principal
produto de exportação brasileira, substituindo a mão-de-obra escrava africana pelo
trabalho livre dos imigrantes (a partir de 1850), iniciou a industrialização (1914), criando
contornos urbanos e dando origem à burguesia nacional, ao operariado e à classe média.
De 1930 a 1954, o Brasil toma feição de Nação, fortalece o processo de capitalização
nacional e renova a estrutura da produção industrial, sobretudo a paulista. Em 1956, a
indústria automobilística torna São Paulo e seu entorno o maior parque industrial e o
centro da economia do país, impulsionando a migração, a partir dos anos 60.
234 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Fragmento desse contexto, São Paulo, desafiado a situar-se no novo mapa do Mundo,
chega, ao ano 2000, com uma população de 10,4 milhões, um grau de urbanização de
94%, numa área de 1.509 km 2, e mais 7,4 milhões de habitantes em sua Região
Metropolitana. Dos 96 Distritos Administrativos – DAs, os mais populosos são Grajaú
(zona sul), com 331,9 mil habitantes, e Sapopemba (zona leste), com 281,9 mil, e os
menos são Marsilac (zona sul) e Barra Funda (zona central), com 8,4 mil e 12,9 mil
pessoas, respectivamente.
Indicadores gerados pelo Censo 2000 mostram uma proporção de crianças com menos
de cinco anos de 8,4%, uma proporção de idosos de 9,3% (quase um milhão em números
absolutos) e uma razão de dependência total de 45,512 (BRASIL, 2001).
A riqueza produzida na cidade, medida pelo seu Valor Adicionado, representa 24,7% da
do Estado (EMPLASA, 2002); no entanto, o Censo 2000 verifica contrastes no rendimento
dos responsáveis pelos domicílios3 : de um lado, 10,4% não possuíam rendimentos, 6,4%
possuíam rendimentos até um salário mínimo e, de outro, 21,0% recebiam mais que 10
salários mínimos. Em 1991, havia 123,6 mil responsáveis sem nenhum rendimento; em
2000, atingiram 311,3 mil (crescimento de 152%).
2 População economicamente dependente é aquela com 65 anos e mais de idade e aquela com menos de 15 anos, em relação
à população entre 15 e 64 anos, considerada potencialmente produtiva.
3 O Censo 2000 substituiu a denominação chefe de domicílio por responsável pelo domicílio.
| SUMÁRIO | 235
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Barracas e carrocinhas (10 mil ambulantes apenas no Centro4 ) dividem espaços com
pedestres, veículos, moradores de rua (8,7 mil5 ), catadores de papel e sucatas, meninos
e meninas em situação de rua (cerca de 2 500, no Centro6 ), desempregados, dando a rua
visibilidade às contradições da sociedade contemporânea (SANTOS, 1999). Mooca (1 061),
Brás (971), Sé (820), República (796) e Liberdade (736), em 2000, concentravam o maior
número de moradores de rua da cidade7 (12,2%, 11,2%, 9,4%, 9,1% e 8,5%).
Mais de dois mil bairros, loteamentos (cerca de 2,5 milhões de moradores clandestinos)
tomam forma, sem controle de planejadores e gestores. As favelas (1,1 milhão de
moradores e 286.954 domicílios favelados8 ) aparecem na periferia, em bairros valorizados
ou não, à beira das marginais, e os cortiços (600 mil moradores) também vão-se
organizando (PONCIANO, 1999). Dos 96 DAs, apenas 14 não têm favelas (CIDADE, 2003).
236 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
10 Programa de Aprimoramento de Informações de Mortalidade no Município de São Paulo, coordenado pela Secretaria
Municipal da Saúde – SMS e executado com o Serviço Funerário do Município de São Paulo – SFMSP e Companhia de
Processamento de Dados do Município de São Paulo – PRODAM. Criado em 1989, tem por objetivo fornecer informações de
mortalidade para a elaboração de diagnósticos de saúde, vigilância epidemiológica e avaliação de serviços.
11 Fundação SEADE, 2002.
12 Jardim Paulista, Moema, Alto de Pinheiros, Itaim -Bibi, Pinheiros, Consolação, Vila Mariana, Perdizes e Santo Amaro.
13 Grupo 4: Sacomã, Jabaquara, Vila Medeiros, Cangaíba, Cidade Líder, Vila Andrade, Vila Maria, Tremembé, Ermelino
Matarazzo, São Miguel Paulista, José Bonifácio, Jaçanã, Itaquera, Raposo Tavares, Campo Limpo, São Mateus, Parque do
Carmo, Vila Jacuí, Perus, Cidade Dutra, Jardim São Luís, Jaraguá. Grupo 5: Cachoerinha, Guaianases, Sapopemba, Capão
Redondo, Lajeado, Anhangüera, São Rafael, Jardim Helena, Cidade Ademar, Brasilândia, Itaim Paulista, Pedreira, Parelhei-
ros, Jardim Ângela, Grajaú, Cidade Tiradentes, Iguatemi e Marsilac.
14 Lei No 13 399/01/08/2002.
| SUMÁRIO | 237
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
15 Pesquisa que constrói índices de discrepâncias, de exclusão e de inclusão social para os 96 DAs, com base em 47 variáveis,
realizada pela PUC-SP, Instituto Pólis e INPE.
238 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
16 Emplasa, 2001.
17 Companhia do Metropolitano de São Paulo, 1997.
18 Comunicado 01/01 SMS.G e Comunicado 87/02 SMS.G.
| SUMÁRIO | 239
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
240 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
100 mil habitantes, mais que o dobro da média do País, 52,1. Para os idosos, predominam as
doenças isquêmicas do coração (17% dos óbitos dos paulistanos com 60 anos e mais).
Embora a mortalidade infantil venha caindo significativamente, no Município,
passando de 30,9 óbitos por mil nascidos vivos, em 1990, para 15,2, em 2001, a sua
taxa média encobre grandes desigualdades (5,5, no DA da Penha e 23,3 no de Vila
Leopoldina). Verifica-se concentração de 65% de óbitos neonatais (até 28 dias),
especialmente na primeira semana de vida (46%), predominando os óbitos associados
a fatores ligados à gestação e ao parto.
O número de óbitos e os coeficientes de mortalidade materna permanecem altos20.
Em 1996, o coeficiente foi de 50,9 óbitos por 100.000 nascidos vivos e, em 2000,
54,5. Numericamente parecem poucos (108, em 1996, e 113, em 2000), porém
representam óbitos de mulheres em idade fértil relacionados à gravidez, ao parto e
ao puerpério, em sua maioria, evitáveis, dependendo do acesso a serviços de saúde
de boa qualidade. Dos 113 óbitos 21 , em 2000, 57% deveram-se a causas diretas,
resultantes de complicações obstétricas do estado gestacional, de intervenções,
omissões, tratamento incorreto ou de uma seqüência de eventos de qualquer uma
dessas situações, sendo as duas principais causas a eclâmpsia/pré-eclâmpsia (19%
do total) e a gestação terminada em aborto (12%).
Entre as doenças transmissíveis destacam-se a tuberculose e a Aids. A tuberculose
permanece em patamares elevados. Em 2001, registrou-se um coeficiente de
incidência de 57,6 casos por 100 mil habitantes, com maiores taxas na região central,
nos DAs República e Brás (210,4 e 242,8 casos, respectivamente)22. Dados preliminares
de 2001 indicam 23,3 casos de Aids por 100 mil habitantes, com piores situações,
novamente, nos DAs República (208,3) e Brás (131,7), evidenciando a associação
entre tuberculose e Aids. O DA de Iguatemi tem a menor taxa (7,2 casos).
Em 2002, o Município sediava 1.769 estabelecimentos de saúde, 19% do total do
Estado: 177 hospitais, 1.210 estabelecimentos sem internação e 382 de apoio a
diagnose e terapia, predominando a rede privada (75%), com o restante distribuído
entre unidades municipais (18%) e estaduais (6,5%). A rede hospitalar dispunha de
24.957 leitos, uma oferta de 2,6 leitos por mil habitantes, 62% na rede privada, com
metade dessa prestando serviços ao SUS. A Prefeitura e o Estado respondiam por 11%
e 26% desses leitos (IBGE23, 2002).
20 Há subenumeração devido à falha no preenchimento da causa de morte nas declarações de óbito, porém a notificação foi
aprimorada com a implantação dos Comitês Regionais e Distritais de Mortalidade Materna.
21 Óbitos ocorridos até 42 dias após o término da gestação, classificados como morte materna direta e indireta.
22 Comitê Central de Mortalidade Materna -PMSP.
23 Pesquisa de Assistência Médica- Sanitária.
| SUMÁRIO | 241
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
242 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 243
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A equipe técnica do DS constituía-se por três enfermeiros que trabalhavam com vigilância,
um auxiliar de enfermagem, um auxiliar administrativo, dois pediatras, um sanitarista,
um psicólogo, um dentista e um assistente social. Havia um carro (que cada uma das
Unidades tinha o direito de utilizar quatro horas por semana) e uma ambulância (no Posto
Avançado em Santo Amaro) para servir toda a Região Sul. Há também os veículos do Projeto
Resgate Cidadão (acidente na rua ou em casa), projeto esse em fase de implantação.
Existia assistência farmacêutica básica universal (até para receita do convênio), no entanto,
não se trabalhava com todas as medicações porque o DS não tinha farmacêutico.
27 Folha de SP. Cotidiano. Cidade ganha uma favela a cada oito dias. 12/02/2003, p. C1 e C3.
244 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
As duas principais prioridades do DS eram oferecer Atenção Básica para todos (com o
PSF como eixo) e enfrentar a dificuldade de acesso aos serviços. A dimensão estrutural dos
problemas existentes fazia com que se enxergassem soluções apenas de longo prazo. A
demanda existente mostrava que, além de oferecer, era preciso estabelecer uma boa relação
com os serviços de referência e que os serviços funcionassem durante 24 horas, diariamente.
As ações desenvolvidas, além das pré-definidas pelo Índice-Saúde – combate à mortalidade
infantil e às mortes prematuras relacionadas a diabetes e hipertensão, à incidência da
tuberculose e promoção de atividades contra a violência – eram discutidas com o Conselho
Gestor Distrital e com as UBS. Foi possível observar que a grande variável para a
qualificação do serviço estava na chefia, naquela que acredita no que faz, que tem
| SUMÁRIO | 245
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
29 Janeiro de 2003.
246 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
recebiam o maior número de capacitações, pois, em sua maioria, têm habilitação para o
trabalho hospitalar e não para o de Atenção Básica.
A descentralização da gestão foi considerada como muito importante, embora a autonomia
do DS ainda fosse relativa; existia para a organização dos serviços, para o estabelecimento
de parcerias e referências, no entanto, o orçamento ainda estava centralizado. O primeiro
Plano de Gestão/Ação foi elaborado no DS e repassado para as unidades, o segundo, o de
2003, foi elaborado em cada uma das unidades; delas para o DS, juntamente com um
levantamento histórico da unidade (um compromisso dos profissionais e da comunidade com
a memória do serviço). O DS mantinha um banco de dados de Saúde, cujos indicadores e
informações necessitavam ser desagregados.
O trabalho intersetorial, de promoção de saúde, ainda não fazia parte da rotina, não
havendo atividades, projetos e ações planejadas e integradas com outros setores de atuação
social, ainda que as UBS tivessem boas relações com as escolas e realizassem atividades
esporádicas conjuntamente. A principal necessidade apontada, nesse sentido, era a de planejar
e executar um trabalho conjunto com a Pastoral da Criança, que já prestava assistência na
região, fazendo pesagem e distribuindo suplementação alimentar, para incentivar e evitar
abandono na vacinação. Havia dois tipos de ações educativas, nas UBS e nos espaços
comunitários, por exemplo, nas igrejas. Ainda se sentia dificuldade no exercício de interagir,
sendo que o engajamento da população local no planejamento e no monitoramento das ações
do DS encontrava-se embrionário, em construção. A adesão a eventos educativos dá-se mais
facilmente quando realizados nos locais de moradia, como as Passeatas e as Gincanas contra
a Dengue (o DS não registrou casos de dengue autóctone). Existem também as rádios-
comunitárias, em que os profissionais das UBS e os ACS dão entrevistas e participam da
programação respondendo perguntas. Essas rádios são levadas ao ar por lideranças locais. A
maior demanda para o Conselho Tutelar-CT da Capela do Socorro vem do Grajaú, Distrito que
realizou uma das maiores plenárias temáticas deliberativas do processo do Orçamento
Participativo, com cerca de 600 pessoas, sendo o PSF escolhido quase por aclamação. O
Conselho Gestor Distrital, formado em março de 2002 e composto de 24 integrantes, constituía-
se por 12 representantes da Comunidade, seis trabalhadores em saúde das UBS e seis
prestadores de serviços do poder público (o DS oferecia capacitações para lideranças,
desenvolvidas pelo Instituto Pólis).
A articulação com as demais políticas públicas municipais, que favorecem impacto positivo
na qualidade de vida e possibilitam a integração estrutural com as diferentes esferas
administrativas da Subprefeitura, tinha como principal protagonista os ACS, pois divulgam
projetos de diferentes áreas, informam os critérios de participação, o calendário de inscrição
e participam de cadastramentos dos programas com propostas de inclusão social. O PSF era
considerado a diretriz para ampliação da rede de Atenção Básica, uma forma de olhar e
| SUMÁRIO | 247
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
As ações da SMS, por meio da distritalização, suscitam uma rica reflexão, ao mesmo
tempo em que reacendem as expectativas de resgate da qualidade do serviço público, de
um maior vínculo dos dirigentes locais com a população organizada e de um compromisso
com o pleno funcionamento dos serviços (KAYANO, 2002).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo sobre São Paulo trata da caracterização dos seus contrastes, da distribuição
das desigualdades por seu território urbano, do perfil da saúde e da análise de uma
modalidade de gestão e gerenciamento de sistemas e serviços de saúde, por meio do
processo de distritalização no Grajaú.
248 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
soluções seriam de alcance em longo prazo. Garantiu-se, no entanto, pela primeira vez,
um planejamento socialmente construído e diferenciado, para 2003, com possibilidade
de motivar um compromisso coletivo em relação à humanização e à qualidade da atenção.
O controle social envolvendo a participação popular ativa ainda não era uma realidade,
porém parecia haver um comprometimento militante da Direção do DS com a construção
de um saber coletivo para favorecer a identificação e o combate aos fatores
desencadeadores de risco e o estímulo ao fortalecimento de fatores protetores à saúde e
à vida da comunidade do Grajaú, onde todos pudessem engajar-se de forma consistente.
| SUMÁRIO | 249
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
“Se podes ver, olha. Se podes olhar, repara”. Mais do que o reparar da observação e
do enxergar, sente-se, nessa conclamação, o desejo de Saramago (1995) de consertar,
de recuperar e de reparar os danos causados aos que viram suas terras e casas arrasadas
e aos seres humanos física, psicológica, social e culturalmente mutilados em sua
potencialidade e capacidade de pensar, criar, construir e reconstruir a vida e a beleza.
São Paulo precisa compartilhar desses sentimentos para se reencontrar e recuperar aquela
que sempre foi a sua vocação: acolher sem distinção.
250 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CIDADE ganha uma favela a cada oito dias. Folha de São Paulo, São Paulo, 12 fev
2003. Cotidiano.
FUNDAÇÃO BANK BOSTON. Travessia. São Paulo, 2002. Disponível em: http://
www.bankboston.com.br/fundacao/proj_travessia.asp. Acesso em: 20 dez 2002.
FUNDAÇÃO SEADE. Índice de vulnerabilidade juvenil. São Paulo, 2002. Disponível em:
http://www.seade.gov.br/ivj/. Acesso em: 01 fev 2003.
FUNDAÇÃO SEADE. Perfil Municipal. São Paulo, 2002. Disponível em: http://
www.seade.gov.br/perfil/index.html. Acesso em: 21 fev 2003.
| SUMÁRIO | 251
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
FUNDAÇÃO SEADE. Pesquisa de Emprego e Desemprego 1990 e 2001. SEP. Convênio SEADE-
DIEESE, São Paulo. Disponível em http://www.seade.gov.br/cgi-bin/titabpv98/
tab.htm?tbl/PED/tbl00030-PED. Acesso em 17/02/2002.
JORDÃO, Claúdia.“The big issue” chega a São Paulo e ao Rio para dar mais dignidade aos
moradores de rua. São Paulo: Ig, 2003. Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/
home/cadernoi/artigo/0,2945,836478,00.html. Acesso em: 03 jan 2003.
MARRA, Lívia. “Reforma da catedral pode acelerar recuperação do centro de São Paulo”.
Folha de São Paulo, São Paulo, 28 set 2002. Cotidiano on-line. Disponível em: http://
www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u59910.shtml. Acesso em: 03 jan 2003.
MINAYO, M.C.S.(org.) “Os muitos Brasis: saúde e população na década de 80”. 2.ed. São
Paulo: Hucitec: Rio de Janeiro: Abrasco, 1999.
PONCIANO, L. “Mil faces de São Paulo: pequeno dicionário histórico e amoroso dos bair-
ros de São Paulo”. São Paulo: Editora Fênix, 1999.
REUNIÃO REGIONAL DOS ESTADOS AMERICANOS, 14, 1999, Lima. Prioridades da OIT nas
Américas. Lima: OIT, 2000. Disponível em: http://www.itamericas99.org.pe/spanish/
conclus/text_por.shtml. Acesso em: 06 dez 2002.
SÃO PAULO. Prefeitura do Município. História e perfil da Capela do Socorro. São Paulo,
2002a. Disponível em: http://www6.prefeitura.sp.gov.br/subprefeituras/spcs. Acesso
em: 02 dez 2002.
252 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
SÃO PAULO. Secretaria Municipal da Saúde. Informações em Saúde. São Paulo, 2002d.
Disponíveis em: http://www2.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/saude/
informacoes_saude/001. Acesso em: 15 dez 2002.
SÃO PAULO. Governo do Estado. Essa gente paulista. São Paulo, 2002g. Disponível em:
http://www.saopaulo.sp.gov.br/saopaulo/gente. Acesso em: 12 dez 2002.
SARAMAGO, J. “Ensaio sobre a cegueira”. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
| SUMÁRIO | 253
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
254 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
RESUMO
| SUMÁRIO | 255
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
1. CARACTERÍSTICAS BÁSICAS
O principal marco de mudança da cidade de Curitiba pode ser observado em meados dos
anos 60, quando o primeiro plano efetivo de redirecionamento urbano é implementado na
cidade. Os planos anteriores se mostraram importantes da mesma forma, mas é ao último que
se atribui a peculiaridade do fenótipo curitibano.
O espaço urbano foi sendo moldado à estrutura concebida pelo Plano Diretor por meio
de uma política de zoneamento, que estabelecia gradativamente as áreas onde o
adensamento populacional era desejado e conveniente, de acordo com a capacidade do
poder público de oferecer os serviços urbanos necessários, em especial um transporte
coletivo adequado.
256 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
recreação, formando os primeiros parques com essa concepção. A criação do Setor Histórico,
ainda nessa década, consolidou o início de uma política institucional de preservação do patrimônio
Histórico e Cultural. No que diz respeito ao estímulo ao desenvolvimento econômico, houve a
implantação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) na região oeste do município, concentrando
o setor produtivo numa área dotada de infraestrutura para tal. Na CIC, a exemplo da totalidade
da cidade, o zoneamento local definiu áreas destinadas ao trabalho, à moradia e ao lazer,
integradas aos Eixos Estruturais, não caracterizando assim um distrito segregado.
A opção pelo modelo linear de expansão urbana ao longo de eixos estruturais, prevista
pelo plano diretor, foi baseada na integração de uma política de uso do solo, circulação e
transporte. O desenvolvimento linear foi caracterizado pela implantação de eixos viários
formando um sistema trinário, cujas vias tem funções específicas: uma via central, que
contém a canaleta para o transporte de massa (ônibus), pistas lentas para atendimento
às áreas lindeiras, e duas vias externas, paralelas à via central, com sentido único de
tráfego (bairro-centro-bairro), destinadas ao fluxo contínuo e rápido de veículos. A
conseqüência imediata da circulação de ônibus em canaleta exclusiva é a diminuição do
tempo de viagem, além da diminuição da sobrecarga ao sistema viário, principalmente
em áreas de tráfego intenso.
| SUMÁRIO | 257
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A Pesquisa Mensal do Emprego, realizada na RMC desde 1999 pelo IBGE em parceria
com o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES, mostra
que deste ano até os primeiros meses de 2002, a taxa de desemprego na RMC permaneceu
abaixo da média nacional em praticamente todos os meses, mostrando,
comparativamente, que a região está apresentando melhores condições de enfrentamento
da crise econômica que está afetando não apenas o país, mas todas as demais economias.
258 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Na década de 1970, esta foi a região que apresentou os maiores índices de crescimento
populacional em relação às outras regiões metropolitanas brasileiras. Esse índice foi de
5,78% ao ano, enquanto Belo Horizonte, que ocupa a segunda posição, cresceu 4,7% e o
Brasil, 2,48% ao ano.
Curitiba, nesse período caracterizou-se pela ocupação de vazios urbanos e pela ocupação
de novas áreas por empreendimentos habitacionais de interesse social promovidos
principalmente por iniciativa do Poder Público Municipal, chegando, em 2002, a 1.644.599
habitantes, distribuídos por 75 bairros.
| SUMÁRIO | 259
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
entender esse conceito na sua plenitude, com seus vieses e limitações. Uma maneira de
interpretá-lo é sob o enfoque de diferenciais intraurbanos, ou seja, observando onde as
desigualdades se manifestam no espaço-tempo, no contexto interno da cidade. Se a cidade se
projeta como detentora de qualidade de vida, onde isso ocorre e quem usufrui dessa condição?
Essa análise está sendo efetuada desde 1996, utilizando-se o método genebrino-
distancial, que mensura as variáveis prioritariamente qualitativas, ou seja, os benefícios
sociais alcançados por uma população (IPPUC, 2001). Para isso, definem-se quais variáveis
e quais indicadores são relevantes para compor essa avaliação. Em Curitiba, estão sendo
avaliadas as variáveis: educação, saúde, habitação e transporte, por meio de um conjunto
de indicadores para cada uma dessas áreas, conforme discriminação na Tabela 1.
A cada indicador (medidor) é atribuído um limiar máximo que significa o melhor resultado
alcançado, considerando as várias cidades brasileiras, ou os parâmetros internacionalmente
aceitos. Igualmente, é atribuído um limiar mínimo, tomando-se como referência a pior
situação encontrada.
Esses limiares servirão de parâmetros para a avaliação dos valores reais (empíricos)
verificados no município para cada indicador, medindo a distância em que se encontram
da situação considerada ótima (limiar máximo).
260 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Tabela 1 Índices de satisfação da qualidade de vida alcançados por meio dos benefícios
sociais nos setores de habitação, saúde, educação e transporte, em Curitiba – 2000.
0% - 100%
1.2 Pessoas por domicílio (Área Urbana) Pessoas 4,42 3,43 3,57 100,00
2.2 Baixo peso ao nascer (< 2,5 Kg)** % 8,80 7,78 7,02 57,30
3.EDUCA ÇÃ O 77,17
4.2 Acesso a rede integrada de transporte (RIT)* n/linhas 4,19 10,64 16,39 49,50
1.4 Concentração (Dist. do Fundo Geral da Renda) 65% da população fica com 25 % da renda geral
Fonte: Qualidade de Vida em Curitiba, 2000, IPPUC OBS: RENDA – dados de 1991 (IBGE)
* Limiares calculados a partir das médias dos bairros de Curitiba
** Limiares calculados a partir das médias das capitais brasileiras
*** Limiares definidos a partir de opinião e validação de especialistas
Para os demais medidores, os limiares foram calculados a partir das médias das Grandes Regiões Brasileiras
| SUMÁRIO | 261
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Na análise intraurbana, verifica-se que o setor de saúde é aquele que possui o maior
número de bairros com índices de satisfação inferiores a 60% – 47 bairros que concentram
74,76% da população. É importante ressaltar que, desses bairros, 28 estão na faixa entre
40 e 60% de satisfação. O setor educação é o segundo a concentrar maior número de
bairros com níveis de satisfação inferiores a 60% – 45 bairros e 73,05% da população em
idade escolar. Se atrelarmos saúde e educação numa análise única, visto que são duas
áreas subjacentes, observa-se que mais da metade dos bairros possuem qualidade de
vida com indicadores inferiores a 60%, mesmo se a média da cidade atinge mais de 75%
de satisfação em qualidade de vida. Isso significa que a maioria da população não goza
de um sistema que propicie qualidade impactante em suas vidas.
O transporte aparece como o terceiro setor com maior número de bairros nas faixas
inferiores a 60% – 43 bairros com 29,7% da população. Já o setor habitação, que possui
31 bairros com avaliação inferior a 60%, concentra, nessa faixa, 57,86% da população.
262 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Mapa 1 Índice sintético de satisfação da qualidade de vida, por bairro, Curitiba – 2000
| SUMÁRIO | 263
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Ao longo das duas últimas décadas, a rede própria de serviços de saúde cresceu
significativamente, atingindo, em 2002, o montante de 104 unidades de saúde, sendo
cinco delas de pronto-atendimento 24 horas/dia;s 90 possuem clínica odontológica, 11
incluem especialidades médicas ou odontológicas, 42 trabalham com o programa saúde
da família e a maioria possui agentes comunitários de saúde fazendo parte de seu quadro
264 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
A rede pública própria está voltada, principalmente, para a atenção básica à saúde,
sendo responsável, no 1º semestre de 2002, por 92,10% do total dos procedimentos
básicos realizados pelo SUS. Quando se avaliam os procedimentos não-básicos (média e
alta complexidade), o percentual oferecido pela rede pública equipara-se ao oferecido
pela rede privada vinculada ao SUS – respectivamente 54,07% e 45,93% no mesmo período.
No entanto, 72,83% do pagamento por esses serviços foram destinados à rede privada,
refletindo a maior complexidade das especialidades ofertadas por esse setor. Essa relação
fica ainda mais evidente quando se trata dos internamentos hospitalares. No período
analisado, 73,98% dos internamentos ocorreram nos hospitais privados conveniados ao
SUS, representando 77,39% dos gastos nessa categoria, demonstrando o peso do setor
privado de atendimento à saúde em Curitiba.
A definição das áreas prioritárias para intervenção por meio de políticas públicas
locais, não é o resultado de um processo unilinear, baseado apenas em informações
eminentemente técnicas, trabalhadas na forma de um relatório diagnóstico. A priorização
| SUMÁRIO | 265
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
266 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
curitibanos. É um sistema alternativo que coleta e trata o efluente quadra a quadra e possibilita
sua ligação à rede pública convencional quando esta estiver completa na cidade.
A cidade criou também uma política específica de resíduos sólidos. Inicialmente com
a perspectiva de efetuar uma coleta seletiva, em 1989, lançou o programa “Lixo que Não
é Lixo”. Tal projeto comporta questões ambientais essenciais: educação ambiental,
separação do lixo orgânico do inorgânico e destino final a um aterro sanitário tecnicamente
adequado. Conectado a este projeto, nasceu o programa Câmbio Verde, ação de intensa
integração com a comunidade onde o lixo reciclável é trocado por hortifrutigranjeiros.
Outros projetos complementam a concepção deste, como na área da educação, em que a
troca se faz entre o lixo reciclável por cadernos e outros produtos. Existem ainda serviços
especiais de coleta de resíduos, como o lixo tóxico (pilhas, baterias de celular, latas de
tinta, entre outros) e resíduos de serviços de saúde, que coletam materiais provenientes
de hospitais, clínicas e serviços correlatos. O projeto Piá Ambiental, Programa de
Integração da Infância e Adolescência, criado em 1990, integra jovens que vivem em
áreas de fragilidade ambiental, por meio de um processo educativo com práticas sociais
e ambientais. Os jovens aprendem desde práticas de jardinagem e horta, até noções
básicas de saúde, alimentação e desenvolvem atividades artísticas.
1.5.2 Transporte
Em 1991, começa a circular o Ônibus Ligeirinho, linha direta para transportar até 110
passageiros por viagem, em percurso de poucas paradas, cujo embarque e desembarque
| SUMÁRIO | 267
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O Sistema Integrado de Transporte é, portanto, formado por uma rede composta por
terminais de integração, linhas expressas, alimentadoras, diretas e interbairros. O
Sistema de Transporte é complementado por outras linhas que fazem percursos específicos:
Convencionais, que fazem a ligação entre bairros e municípios vizinhos e centro; a Linha
Circular Centro, que atende a malha central da cidade, a qual é operada por micro-ônibus
para fazer percursos mais curtos; a Linha Turismo, destinada a cobrir o itinerário dos
Parques Públicos e outros pontos turísticos da cidade, facilitando o acesso da população.
Além disso, é oferecido também o transporte para deficientes, com a chamada Linha de
Ensino Especial, num total de 28 linhas específicas de ônibus, atendendo aproximadamente
1.700 portadores de deficiência física e mental, por dia útil. O sistema de transporte
contempla ainda linhas inter-hospitais e linhas madrugueiras.
268 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Atualmente tais estratégias vem sendo viabilizadas pelo Programa Nossa Vila – ação
que tem como objetivos promover a urbanização e a regularização fundiária de ocupações
irregulares – selecionadas por critérios sociais, físico-territoriais e legais; a integração
dessas áreas ao seu entorno e à cidade legal; a melhoria sócio-econômica das famílias
beneficiárias e a prevenção de novas invasões nas áreas de intervenção do projeto.
Busca-se alcançar esses objetivos utilizando-se o “Modelo Curitiba de Participação” que,
por meio de discussões com a comunidade, aponta a complementação da infra-estrutura
básica, equipamentos sociais e serviços públicos de seu interesse, além de envolver a
população em todo o processo de regularização, para dar sustentabilidade às ações de
intervenção. Atua ainda na geração de trabalho e renda.
| SUMÁRIO | 269
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Além dos dados de mortalidade, poucas informações estão disponíveis, não permitindo
um melhor dimensionamento e qualificação da violência. Essa situação tem exigido um
esforço na busca por dados, numa área em que o poder público municipal não tem tradição
de atuação. Com o objetivo de criar um sistema de informações sobre a violência, a
Secretaria Municipal de Saúde e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
realizaram levantamentos no Instituto Médico Legal, na Delegacia da Mulher, no SOS
Criança, nos Conselhos Tutelares, no Serviço de Atendimento ao Trauma em Emergência
– SIATE, na Polícia Militar e nas Delegacias Especializadas da Polícia Civil.
Com base nesses dados, pode-se identificar que as mulheres e as crianças constituem
um grupo populacional em risco para a violência, sendo a violência doméstica
preponderante frente às demais. Uma das estratégias para o enfrentamento dessa realidade
é objeto do relato descrito na Parte II.
270 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
PARTE II
DESCRIÇÃO E JUSTIFICATIVA
Os maus-tratos contra crianças e adolescentes independem da classe social, etnia,
religião ou escolaridade das famílias e são importante causa para as demais formas de
violência urbana. À medida que se estabelece um padrão de comportamento baseado
na violência, abre-se caminho para a marginalização de crianças e adolescentes e para
a formação de adultos que tendem a reproduzir tal padrão de relacionamento familiar e
social.
Poucos dados existem sobre o problema que, mesmo após mais de uma década da vigência
do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, permanece no senso comum, como um
problema de foro privado. Estima-se que, em cada vinte casos de violência contra crianças e
adolescentes, apenas um é denunciado. Pesquisa realizada em 1998 pelo Instituto de Pesquisa
e Planejamento Urbano de Curitiba e Secretaria Municipal da Saúde, no Instituto Médico
Legal de Curitiba, registrou um total de 1.496 crianças e adolescentes que sofreram agressões
físicas, sexuais e, conseqüentemente, emocionais. (CURITIBA, 1998)
O SOS Criança de Curitiba atende a uma média de nove crianças ou adolescentes por
dia, vítimas de violência doméstica – agressão, negligência, cárcere privado, abandono.
Os Conselhos Tutelares de Curitiba atenderam, em 1999, 11.617 denúncias de violação
de direitos de crianças e adolescentes, dos quais 46% tinham como agentes violadores os
familiares. Apesar da magnitude desses números, sabe-se que eles representam apenas
uma pequena parte da realidade.
O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê, em seus artigos 13 e 245, a
obrigatoriedade da denúncia de violação de direitos, citando expressamente os
profissionais da saúde e da educação. No entanto, muitos profissionais desconhecem
essa obrigatoriedade, ou simplesmente se omitem e, dessa forma, a maioria dos casos
de abuso infantil permanece oculto e as vítimas sem assistência e proteção.
A PROPOSTA – OBJETIVOS
| SUMÁRIO | 271
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A Rede de Proteção adota uma concepção de trabalho que dá ênfase para a atuação
integrada e intersetorial, envolvendo todas as instituições que desenvolvem suas atividades
com crianças e adolescentes e suas famílias, destacando-se as escolas, creches, unidades de
saúde, programas de contra-turno escolar (programa de atividades e acompanhamento do
estudante, em turno contrário ao turno do estudo regular), entre outras.
Como parte de uma rede, cada um tem o seu papel. Isso implica a mudança das
posturas e das práticas disseminadas, tanto nos serviços como na própria comunidade –
a de não envolvimento e a de passar o problema adiante.
272 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
avaliação deverá resultar a definição dos procedimentos a serem tomados pelo serviço
que identificou o problema.
Todos os casos, tanto leves, como moderados e graves, são acompanhados e monitorados
pelos serviços que atendem aquela criança ou adolescente e sua família. Tais serviços
atuam de forma integrada, organizando-se como uma Rede Local de Proteção. Cada Rede
Local tem sob sua responsabilidade a população residente em um dado espaço geográfico,
definido de acordo com a delimitação da área de abrangência da Unidade de Saúde que a
compõe. Assim, as escolas, creches, programas de contra-turno escolar ou qualquer outro
serviço localizado na circunscrição de uma unidade de saúde, formam uma rede e trabalham
como tal, discutindo e acompanhando os casos identificados no âmbito daquela área.
| SUMÁRIO | 273
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A implantação teve início em agosto de 2000, com um Projeto Piloto em uma Regional
Administrativa. Objetivava-se avaliar o projeto em todos os seus aspectos, readequar
os pontos que se mostraram falhos ou deficientes, para então expandir para as demais
regionais, o que aconteceu entre outubro de 2001 e setembro de 2002 . Foram capacitados
aproximadamente 2.500 profissionais entre educadores, médicos, dentistas, enfermeiros,
psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, agentes comunitários de saúde, dirigentes
de ONGs conveniadas à Prefeitura, que, por sua vez, têm a incumbência de atuar como
multiplicadores em seus respectivos serviços e equipes. Atualmente existem em torno
de cem Redes Locais implantadas, envolvendo mais de 600 equipamentos.
274 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Muito há que se caminhar ainda para tornar esse Projeto cada vez mais resolutivo. No
entanto, a equipe responsável pelo seu desenvolvimento entende que a violência contra
crianças e adolescentes é multicausal e, conseqüentemente, as necessidades de intervenção
não se esgotam em um projeto. Especialmente quando se trata dos casos mais graves, já
cronificados, qualquer ação tem alcance limitado. Assim, o objetivo maior da Rede de Proteção
é intervir precocemente nas situações que se configuram como de risco para a violência,
procurando evitar a progressão do problema.
| SUMÁRIO | 275
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
276 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 277
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
RESUMO
Belo Horizonte, cidade planejada, foi inaugurada em 1897. Nos últimos 50 anos, a
cidade e sua região metropolitana apresentaram expressivo incremento populacional,
especialmente até o final dos anos 70. A cidade compartilha, com outros grandes centros
urbanos brasileiros, importantes iniqüidades em relação a indicadores de morbidade,
de mortalidade, sócio-econômicos e de acesso a bens e serviços de saúde e trabalho.
Três indicadores específicos para o contexto da cidade procuram expressar a
complexidade da qualidade de vida no município. Esses indicadores, conhecidos como
Índice de Qualidade de Vida Urbana (IQVU), Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) e
Índice de Risco à Saúde (IRS), são compostos por diversas dimensões da cidadania. Os
serviços de saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMSABH) estão organizados em
base territorial, em nove Distritos Sanitários. A partir de 2000, com a implantação do
Programa de Agentes Comunitários e posteriormente do Programa de Saúde da Família,
as áreas de abrangência dos centros de saúde foram subdivididas em microáreas, tendo
em cada uma de cem a duzentas famílias. A SMSABH opera sua intervenção por meio
das equipes de saúde da família, que se relaciona com outros níveis hierárquicos do
sistema de saúde, no sentido de promover cuidado integral à população. Projeto piloto
e prioritário, o Programa BH–Cidadania é proposto como principal estratégia utilizada
pela Prefeitura de Belo Horizonte, no intuito de enfrentar os problemas decorrentes da
situação de aglomerado urbano. Propõe, em sua essência, garantir de forma integrada
o acesso às políticas sociais de educação, saúde, segurança alimentar, assistência,
convivência, esportes, lazer, cultura, trabalho e condições de vida mais dignas para a
população residente em áreas socialmente críticas da cidade.
278 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
PARTE I
A discussão sobre a criação de uma cidade que viesse a ser a nova capital do Estado
remonta ao período da Inconfidência Mineira, no século XIX. Contudo, essa discussão só
ganhou novo impulso com o esgotamento das minas de ouro e com a emergência de
novos pólos econômicos importantes, principalmente aqueles relacionados com a cultura
cafeeira no leste e no sul do Estado e com a pecuária. Além das causas econômicas,
vários fatores favoreciam a idéia da mudança da capital do Estado, tais como a localização
de Ouro Preto e sua estruturação urbana, que limitava a expansão da cidade e a construção
de um pólo industrializado e moderno. Todos os argumentos eram reforçados pelos novos
ares advindos do processo da Proclamação da Republica: fazia-se necessário o rompimento
com o velho, com o núcleo inicial das Minas Gerais e o surgimento de uma nova mentalidade
política, mais compatível com a nova era técnica do século XX.
| SUMÁRIO | 279
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O projeto criado por essa Comissão encerrou seus trabalhos em maio de 1895 e o
modelo traçado de cidade era inspirado em outras grandes metrópoles do mundo, tais
como Washington e Paris. Fundamentalmente, a cidade seria dividida em três grandes
áreas: a área central-urbana, a área suburbana e a área rural. Na parte central,
predominava um traçado geométrico e regular, formando uma espécie de quadriculado
de ruas. As avenidas, mais largas, se dispunham de forma diagonal no projeto. Nessa
área estariam concentrados os principais equipamentos urbanos, tais como estrutura
de transporte, educação, saneamento e assistência médica, abrigando os edifícios
públicos e os respectivos funcionários.
A área suburbana era constituída por ruas irregulares, não comportando grandes
investimentos em infraestrutura, uma vez que sua ocupação se daria a partir do
esgotamento da área urbana. Por fim, na área rural, estariam cinco colônias agrícolas
e várias chácaras, que teriam como objetivo abastecer com seus produtos agrícolas as
duas áreas anteriores.
ASPECTOS DEMOGRÁFICOS
Até 1989 a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) era composta por 14
municípios: Belo Horizonte, Betim, Caeté, Contagem, Ibirité, Lagoa Santa, Nova Lima,
Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Sabará, Santa Luzia e
Vespasiano. Neste ano, mais quatro municípios foram incorporados à Região
Metropolitana: Brumadinho, Esmeraldas, Igarapé e São José da Lapa. Em 1992, os
municípios de Juatuba e de São José da Lapa foram desmembrados, respectivamente,
de Mateus Leme e Vespasiano.
Entre 1940 e 1996, a população da RMBH passou de 368.784 para 3.803.249 habitantes
(IBGE 1940, 1996). Proporcionalmente, a contribuição do Município de Belo Horizonte foi de
57,3% (211.223 habitantes) e 55% (2.091.371 habitantes), mostrando-se estável no período.
280 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
B elo
Perío do R MB H Ento rno
Ho riz o nte
Fonte: IBGE. Censos Demográficos 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e Contagem da População, 1996
| SUMÁRIO | 281
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Belo Horizonte compartilha, com outras grandes cidades brasileiras, importantes inqüidades
em relação a indicadores de morbidade, mortalidade e de acesso a bens e serviços de saúde
e trabalho. Três indicadores ou índices específicos para o contexto da cidade procuram
expressar a complexidade da qualidade de vida do lugar urbano. Esses indicadores, conhecidos
como Índice de Qualidade de Vida Urbana (IQVU), Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) e
Índice de Risco à Saúde (IRS), são compostos por diversas dimensões da cidadania.
O IRS de maior especificidade para a área de saúde foi desenvolvido pela Secretaria
Municipal de Saúde (SMSA-BH) e agrega indicadores de saúde, renda, escolaridade e presença
de áreas de favela. É representado por uma escala que varia de zero a dez, com o maior valor
indicando maior risco à saúde. Permite localizar espacialmente os diferentes eventos
relacionados à saúde e seus possíveis determinantes, tanto para setores censitários como
para cada uma das 81 unidades de planejamento da cidade (Mapas 2 e 3).
Como segundo exemplo, temos a mortalidade por homicídios em Belo Horizonte. A taxa
de mortalidade por homicídio no período de 1990 a 2000 apresentou um incremento de
108,5%. A distribuição dos 1551 homicídios mostra evidente aglomeração dos eventos, em
algumas áreas da cidade. Essa aglomeração não estava somente relacionada à densidade de
população nessas áreas, o que se verifica pela heterogeneidade encontrada nas taxas de
homicídio entre as unidades de planejamento (UP). Os marcadores utilizados para caracterizar
as condições de vida foram capazes de evidenciar as desigualdades existentes entre as UP.
Por exemplo, a variável que apresentou maior heterogeneidade entre as UP foi o percentual
da população vivendo em favelas. Ainda, o aumento no percentual de moradores em favelas,
na proporção de analfabetos, o maior número de moradores por domicílio e a piora nos
indicadores IVS e IRS foram associados ao aumento das taxas de mortalidade por homicídio.
282 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Cada Distrito Sanitário, portanto, tem definido um certo espaço geográfico, populacional
e administrativo. Em média, 15 a 20 unidades ambulatoriais fazem parte de um Distrito,
constituído de unidades básicas (Centros de Saúde) e unidades secundárias como os PAM
(Postos de Assistência Médica), além da rede hospitalar pública e contratada. Cada unidade
básica, por sua vez, tem um território de responsabilidade denominado “área de
abrangência de Centro de Saúde”.
| SUMÁRIO | 283
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Sendo Belo Horizonte um grande centro urbano, a lógica de organização do seu espaço
não se distancia da lógica das megacidades: acúmulo de lixo, poluição do ar, desorganização
do trânsito, condições deficitárias de habitação e relações sociais complexas. Toda essa
dinâmica vem determinando uma deterioração das condições de vida, com importantes
implicações na realidade sanitária e com o aumento de problemas sociais. Associada a
esta, a magnitude das áreas periféricas, consolidando grandes aglomerados de favelas,
marcados pela desigualdade social, pela maior vulnerabilidade da sua população no processo
284 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
A asma é uma doença de determinação múltipla e complexa, que envolve fatores genéticos
e ambientais. Dentre os fatores ambientais destaca-se a poluição extra e intradomiciliar,
estando, especialmente a última, intimamente relacionada ao nível sócio-econômico.
Indivíduos mais carentes são os mais expostos à poluição ambiental. Geralmente residem
em domicílios mais propensos à exposição aos alergenos e moram em regiões mais poluídas,
tornando evidentes as disparidades na ocorrência da asma e de suas conseqüências. Um
estudo realizado em Belo Horizonte mostrou que as internações por asma formam agregados
espaciais especialmente nos grandes complexos favelares da cidade (Mapa 3).
| SUMÁRIO | 285
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
286 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
O Programa BH-Cidadania pode ser definido como “um programa de inclusão social
que busca garantir maior resolutividade e acessibilidade dos bens e serviços públicos à
população vulnerabilizada. Busca também implementar um modelo de gestão baseado na
descentralização, articulação e integração intersetorial, e inverter a lógica setorial e
fragmentada de operação dos diversos programas da área social da Prefeitura de BH”.
| SUMÁRIO | 287
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Cada uma de suas nove áreas de implantação conta também com um Núcleo de Apoio
Sociofamiliar (NASF), estrutura de articulação que atende às demandas identificadas na
unidade de saúde, escola ou comunidade e que funciona como uma unidade que presta e
organiza informações, faz encaminhamentos e organiza as ações locais a partir da ênfase
ao trabalho comunitário.
288 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
PARTE II
Embora esse modelo tenha mostrado resultados muito positivos em vários países do
mundo – pobres ou ricos–, um longo processo de discussão envolvendo o Conselho
Municipal de Saúde, gestores, trabalhadores, representações de corporações, usuários
e outras entidades, foi necessário para que as devidas adequações à realidade de Belo
Horizonte se concretizassem.
A nova forma de trabalho adotada pressupõe que a atenção à saúde prestada por cada
equipe esteja voltada a todos os componentes da família, independentemente do sexo
ou da idade, não estando restritas apenas às doenças já estabelecidas, pois seu
compromisso envolve, também, ações a serem realizadas enquanto os indivíduos ainda
se encontram saudáveis. Para a consecução desses objetivos, a equipe elabora um plano
de trabalho que envolve não apenas a agenda de atendimentos diários, mas também –
com base no levantamento dos problemas identificados no território–, uma proposta de
ação que busque ter como resultado a melhoria contínua da saúde da população.
| SUMÁRIO | 289
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO
A implantação do programa teve início em fevereiro de 2002, quando foram estruturadas
172 equipes. A partir desta data, vêm sendo acrescidas novas equipes, permitindo a cobertura
quase total das áreas de muito elevado e elevado risco de adoecer e morrer (aproximadamente
600 mil habitantes), mais de 60% das áreas de médio risco (aproximadamente 700 mil
habitantes), já tendo sido iniciadas as discussões para a cobertura das áreas de baixo risco. A
meta é ligar todos os cidadãos de Belo Horizonte a alguma equipe.
Paralelamente, vem-se dando a estruturação das equipes matriciais de apoio, com a
incorporação progressiva de outros profissionais ao projeto, por meio da estruturação de
equipes ampliadas, com a participação de profissionais de serviço social, das equipes de saúde
bucal, equipes de saúde mental, núcleos de especialidades etc., com o objetivo de, ao término
do projeto, termos toda a rede básica e a atenção secundária envolvidas. Em futuro não muito
distante, o objetivo é articular também as redes de atenção à urgência e aos hospitais.
Um dos exemplos mais ilustrativos dessa articulação com outros níveis é o núcleo de
especialidades de Venda Nova. Este núcleo, constituído por um pequeno grupo de cinco
especialistas (oftalmologista, otorrinolaringologista, ortopedista, cardiologista e dermatologista),
trabalha diretamente ligado a um conjunto de 25 equipes. Esse processo vem permitindo uma
grande agilidade no acesso à atenção secundária, com redução acentuada do tempo de espera
para consultas.
A reorganização do processo de trabalho nas unidades e a capacitação dos trabalhadores
tem-se constituído em prioridades. Constituir-se como equipe de saúde da família é um processo
que se dá entre os membros da equipe, mas, também (e acima de tudo), na relação com as
famílias concretas pelas quais cada equipe se torna responsável. Esse arranjo, além de possibilitar
o estabelecimento de compromissos com a saúde dos cidadãos adstritos, propicia, ao mesmo
tempo, a realização pessoal e profissional dos trabalhadores.
Para dar suporte a essa profunda mudança no sistema, um extenso leque de capacitações
profissionais necessitou ser desenvolvidas. Entre eles, cabe destacar o Curso de
Especialização em Saúde da Família, ministrado pela Universidade Federal de Minas Gerais,
com metodologia especialmente desenvolvida para a realidade de Belo Horizonte, que
está sendo apoiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), pelo Ministério
da Saúde e pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde,
com a finalidade de servir de modelo para outros centros urbanos. Ao contrário do que
muitos imaginam, o profissional de saúde da família necessita ser altamente capacitado,
com profundidade em vários campos do conhecimento.
Além dessa especialização, várias outras iniciativas de capacitação em serviço,
palestras, videoconferências, educação continuada à distância via Internet, conversas
290 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
CONCLUSÃO
| SUMÁRIO | 291
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
292 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 293
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
294 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Mapa 3 Taxa de incidência de primeiras internações (100 mil habitantes) para asma,
menores de 5 anos por setor censitário de residência. Belo Horizonte, 1997 – 2000.
| SUMÁRIO | 295
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
296 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
CARACTERÍSTICAS GERAIS
O território fluminense, com uma área de 43.864,3 km2, está dividido em 92 municípios,
agrupados em oito Regiões de Governo. O relevo do Estado é caracterizado por dois
grandes domínios: as terras altas e as baixadas. As baixadas são mais conhecidas pelas
suas denominações locais: Baixada dos Goytacazes (ou Campista), Baixada dos Rios Macaé
e São João, Baixada da Guanabara e Baixada de Sepetiba. A denominação Baixada
Fluminense fica restrita à porção do território que abrange os Municípios de Belford
Roxo, Duque de Caxias, Japeri, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e São João
de Meriti, que integram a Região Metropolitana e são tributários do Município do Rio de
Janeiro, capital do Estado.
A mais importante bacia hidrográfica é a do Rio Paraíba do Sul, que é o mais extenso
do estado, com 464 km de comprimento. Outro rio importante, também aproveitado
para o abastecimento de água, o uso agrícola e a geração de energia elétrica é o Guandu
(26,5 km). Apenas 36,4 % do território estadual são cobertos por vegetação remanescente
(florestas, mangues e restingas) e secundária. O restante é ocupado por pastagens,
áreas cultivadas e/ou urbanizadas (Fundação CIDE, 2002).
| SUMÁRIO | 297
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
HISTÓRICO
Com a vinda, em 1808, da família real portuguesa para o Brasil, o aspecto da cidade
melhora com as primeiras medidas sanitárias e de infra-estrutura urbana. A população
aumenta, o comércio se expande, o porto moderniza-se. O café começa a ser cultivado
no Rio de Janeiro e segue o seu caminho pelo Vale do Paraíba. Assim, o Rio de Janeiro
chega, ao final do século XVIII, com cerca de 50 mil habitantes.
298 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
No início do século XX, na gestão do prefeito Pereira Passos, o Rio sofre uma grande
transformação marcada, entre outros fatores, pela inauguração do novo Porto do Rio de
Janeiro em 1910, e pelo saneamento da cidade sob o comando de Oswaldo Cruz, acabando
com três epidemias que assolavam a população: febre amarela, varíola e peste bubônica.
Durante a República Velha, com a decadência de suas áreas cafeeiras, o estado perde
força econômica e política para São Paulo e Minas Gerais. A industrialização avança em
São Paulo e apenas a cidade do Rio de Janeiro consegue manter sua vitalidade por força
de seu estatuto de capital da República e de Distrito Federal.
A aliança entre Minas e São Paulo dá um golpe na cidade com a mudança da capital
para Brasília, em 1960. Apesar disso, o Rio de Janeiro, transformado em cidade-estado
da Guanabara, consegue continuar sendo importante pólo turístico, cultural e comercial.
Os investimentos públicos se intensificam nas áreas mais ricas, acelerando o processo
de especulação imobiliária.
Durante o regime militar, o governo federal determina, em 1975, a fusão dos estados
da Guanabara e do Rio de Janeiro. A cidade passa a ser a capital do estado com o título
de Município do Rio de Janeiro. A conseqüência social dessa fusão foi a brusca necessidade
de incorporação aos benefícios de uma infra-estrutura urbana adequada, do grande
contingente populacional que já residia na Baixada Fluminense. Os municípios da Baixada,
tributários economicamente da cidade do Rio, não eram reconhecidos pelo antigo Estado
do Rio e haviam ficado à margem dos investimentos públicos. Contaminada pela presença
política da nova capital e pela redemocratização do país, a Baixada não pôde mais ficar
de fora da partilha pelos recursos de infra-estrutura. Esse fato é ilustrado pelo início do
fornecimento de água da adutora do Rio Guandu para diversos bairros do Município de
Nova Iguaçu, por onde passava a tubulação para abastecer a cidade do Rio de Janeiro,
sem que até então aqueles bairros fossem beneficiados.
Nas duas últimas décadas do século XX, o Rio sofre, mais que muitas unidades da
federação, as conseqüências da crise econômica que se instala no país e com o
esvaziamento do Estado face à afirmação da hegemonia neoliberal.
| SUMÁRIO | 299
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Pelo breve histórico apresentado, observa-se que, desde sua fundação até os dias de
hoje, a Cidade do Rio de Janeiro tem tido várias funções de abrangência não apenas
regional e estadual, como muitas vezes nacional: funções de defesa, de porto, comerciais,
administrativas, políticas, industriais, cultural, e turísticas1 .
300 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
POPULAÇÃO
| SUMÁRIO | 301
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Fonte: Taxas calculadas a partir de dados de Fundação CIDE, 2002, Tabela 3.2.
302 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 303
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Em 2001, 66,7% dos lares brasileiros metropolitanos tinham linha telefônica fixa, o
que representava um acréscimo de quase 40 pontos percentuais em relação a 1992.
O percentual de domicílios com telefone fixo na Região Metropolitana do Rio passou no
mesmo período de 27,2% para 57,7%, inferior ao da média brasileira e das outras regiões
304 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Em termos habitacionais, o Rio deixou de ser a região com melhor densidade domiciliar,
entendida como menor percentual de domicílios com mais de duas pessoas por dormitório.
A RMRJ não conseguiu reduzir muito o número de domicílios com mais de duas pessoas
por dormitório, passando de 15,6% em 1992 para 11,9% em 2001. Por outro lado, desde o
início do período analisado, o Rio de Janeiro metropolitano possui quase a totalidade dos
seus domicílios construídos com materiais duráveis e, em 2001, alcançou o melhor índice
entre todas as regiões (99,7%).
A televisão está presente nos lares brasileiros metropolitanos (96,1%), sobretudo nos
do Rio de Janeiro, que apresenta o maior percentual (98%). A posse da televisão chega a
ser mais expressiva que a da geladeira, sendo que o Rio também apresenta o maior percentual
de domicílios com esse eletrodoméstico (97,8%) entre as regiões. (FONTES et al, 2003).
CONDIÇÕES ECONÔMICAS
A redução da pobreza foi generalizada nas regiões metropolitanas do Brasil entre 1992
e 2001, influenciada fortemente pelo ano de 1995. O ritmo de queda no Rio foi mais baixo,
o que o levou o estado a perder posição em relação às outras regiões. Em 1992, era a
segunda região com o menor percentual de pobres, acima apenas de São Paulo, já em 2001
passou para o quarto lugar, acima também de Belo Horizonte (19,9%) e Curitiba (19,6%).
| SUMÁRIO | 305
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
CONDIÇÕES DE SAÚDE
306 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Fonte: Tabela montada a partir de dados obtidos de Brasil, Ministério da Saúde, Datasus, Pacto da Atenção Básica -
2002, http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/siab/pacto2002/pacmap.htm, acessado em 13/04/2003 e dados fornecidos
pela SES-RJ para 2001.
Fonte: Cálculo efetuado a partir de informações de Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Saúde, Indicadores e
Informações em Saúde, http://www.saude.rj.gov.br/informacoes/obitos.shtml, acessado em 13/04/2003.
| SUMÁRIO | 307
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
308 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Esses dados servem para ilustrar a complexidade dos problemas de saúde da área
metropolitana do Rio de Janeiro, onde se superpõem os problemas da pobreza, com os
da aglomeração urbana, dos modos de andar na cidade e os das populações mais
desenvolvidas. Sua determinação diversa e necessidades também distintas para o seu
enfrentamento tanto do ponto de vista das medidas preventivas quanto curativas, de
reabilitação e cuidados de longo prazo, impedem a formulação de uma estratégia única
para a ordenação da assistência à saúde. O planejamento é necessariamente complexo
e multisetorial. Dificilmente seria possível determinar um eixo central de organização
dos serviços de saúde, sendo que a idéia de cuidados básicos em uma área metropolitana
como a do Rio de Janeiro deve levar em conta essa complexidade. A integração de
programas como o da saúde da família, com ambulatórios especializados, hospitais e
com a rede de serviços de emergência de níveis variados de complexidade é um desafio
para o planejamento e operação dos serviços.
| SUMÁRIO | 309
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
magnitude. Os caso dos recém-nascidos com menos de 1.500g ilustram bem o argumento.
No ano de 2000, foram registrados 31.275 nascimentos de crianças com menos de 1.500g.
A Região Metropolitana do Rio de Janeiro registrou 2.642 casos, correspondendo a 8,5%
do total, ficando em segundo lugar, atrás de São Paulo, cifra superior a todas as outras
unidades da federação. A pobreza metropolitana esconde-se atrás de suas multidões.
310 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 311
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
312 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
a expansão do segmento privado também foi expressiva nesta região. A tendência da elevada
concentração de serviços públicos, mas também dos serviços privados (não necessariamente
vinculados ao SUS) permanece até os dias atuais e não foi superada mesmo com o processo
de transferência gradativa de responsabilidades e recursos financeiros, e conseqüente maior
participação dos municípios do interior na oferta de serviços, observada na década de 1990.
Segundo levantamento a partir dos dados fornecidos pela Pesquisa Assistência Médico-
Sanitária (AMS) do IBGE2 , dos 3.750 estabelecimentos de saúde existentes em 1992 no
estado, 2.349 (62,64%) situavam-se na Região Metropolitana I e II e, principalmente, no
município do Rio de Janeiro (36,67%). Embora a concentração de serviços na região
diminua um pouco em 1999, esta se mantém, ainda, bastante significativa – dos 4.240
estabelecimentos de saúde existentes, 2.550 localizavam-se na região (60,14%) e 1.562
no município do Rio de janeiro (36,84%).
Se considerarmos os segmentos público e privado separadamente, veremos também a
importância da rede de serviços localizada na Região Metropolitana para o restante do estado
do Rio de Janeiro. Segundo a AMS, em 1992, 38,93% dos estabelecimentos públicos e 76,40%
dos estabelecimentos privados, pertencentes ou não à rede SUS, localizavam-se na região.
Esses percentuais passam a 32,96% e 75,10%, respectivamente, em 1999.
O segmento privado é também expressivo no interior da Região Metropolitana, mas
principalmente na Região Metropolitana I, como se observa no Gráfico 2. Em 1992, 77,18 %
do total de estabelecimentos existentes na Região Metropolitana I e II são privados e, em
1999, esse percentual chega a 80,55% (Gráfico 2)3 . A participação percentual desse segmento
no total do estado, em 1992 e 1999, é inferior, respectivamente, 63,28% e 64,5%.
É preciso também considerar que a relação público-privado diferencia-se entre os
municípios da Região Metropolitana. Se, para os municípios mais populosos, como o Rio
de Janeiro, São Gonçalo e Niterói, a rede privada é superior a 70% nos dois anos
considerados e tende a crescer no período, nos municípios menores, como Seropédica,
Rio Bonito, Silva Jardim e Tanguá, a importância do segmento privado é menos expressiva
e seu crescimento entre 1992 e 1999 não é tão grande.
2 A Pesquisa Assistência Médico-sanitária (AMS) é realizada periodicamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
tica (IBGE). Nessa pesquisa, é feito um levantamento, em todo o país, de todos os estabelecimentos que prestam serviços de
saúde, com ou sem fins lucrativos, particulares ou públicos, em regime de internação ou não. São considerados todos os locais
que possuem um mínimo de técnica apropriada para o atendimento rotineiro à população, segundo os critérios do
Ministério da Saúde.
3 A análise da relação público-privado nesse artigo se restringe à apresentação de alguns dados sintéticos de oferta de
serviços públicos e privados. A caracterização do setor privado suplementar foge ao escopo desse texto, apesar da
importância desse setor na Região Metropolitana do Rio, visto que estimativas a partir PNAD/IBGE de 1998 sugerem que
cerca de 36% da população da região possui algum plano privado de saúde, sendo que esse percentual aumenta nos segmentos
com renda mais elevada (CARNEIRO, 2002).
| SUMÁRIO | 313
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4 Destacam-se, nesse período, a municipalização de PAMS, Maternidades Federais e da Colônia Juliano Moreira.
314 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 315
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
...Seropédica 0,47 - - - - -
Fonte: DATASUS/MS.
316 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
6 Em 2000, o processo de municipalização de estabelecimentos hospitalares federais foi intensificado. Destaca-se, neste
processo, a transferência para a gestão municipal dos Hospitais da Lagoa, Andaraí, Ipanema, Cardoso Fontes, Raphael de
Paula Souza e Piedade.
| SUMÁRIO | 317
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Total Região
75,29 38,19 62,74 0,74
Metropolitana
Fonte: DATASUS/MS.
318 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 319
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 8 Cobertura da Atenção Básica por Municípios da Região Metropolitana I e II, Segundo
Indicadores Selecionados – Pacto da Atenção Básica 2002 – Dados Referentes a 2000.
Metro po lita na I
Metro po lita na II
Fonte: DATASUS, considerando as seguintes bases de dados para os diversos indicadores: Cobertura Vacinal – PNI
%Nascidos Vivos c/ mais de 3 consultas no Pré-natal - SINASC
%Nascidos Vivos c/ mais de 6 consultas no Pré-natal - SINASC
Média cons. Médicas por habitante nas especialidades básicas - SIA/SUS e IBGE
320 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Existentes
Po pulaç ão % Co bertura no minal
Reg iõ es ESF A CS
To tal da po pulaç ão PSF
| SUMÁRIO | 321
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
7 A NOB SUS 01/96 estabeleceu duas novas condições de gestão para os municípios. A Gestão Plena da Atenção Básica implica
que o gestor municipal assuma as responsabilidades pela gestão da Atenção Básica no território, recebendo diretamente do
Fundo Nacional de Saúde para o Fundo Municipal de Saúde o conjunto de recursos federais correspondentes ao financiamento
da Atenção Básica. Já a Gestão Plena do Sistema Municipal pressupõe o comando pleno do gestor municipal sobre o sistema
de saúde em seu território, com o recebimento em bloco e automático no Fundo Municipal de Saúde dos recursos federais
correspondentes ao seu teto financeiro total. No estado do Rio, ainda não houve nenhuma habilitação de município na NOAS
SUS 01/02.
322 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Gestão Plena do
Itaboraí e Niterói 37,67% 66,37%
Sistema Municipal
To ta l
100% 100%
Metro po lita na I + II
Gestão Plena da
11 municípios 17,24% 6,89%
Atenção Básica
Gestão Plena do
8 municípios 82,76% 93,11%
Sistema Municipal
Fonte: Condições de gestão: SES-RJ – www.saude.rj.gov.br; dados populacionais – IBGE; Transferências Federais – SIOPS/
DATASUS.
*Nota: Transferências Federais (segundo o SIOPS/DATASUS)– compreendem tanto as transferências diretas para os fundos
municipais como os pagamentos por produção efetuados diretamente pelo Ministério da Saúde aos prestadores localizados
nos municípios. Foram usados os dados de 2001, por estarem mais completos no SIOPS/DATASUS.
| SUMÁRIO | 323
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Básica, recebendo diretamente em seu fundo de saúde apenas os recursos federais para
gestão desse nível de atenção. Note-se que cerca de 62% da população da região reside
em municípios habilitados em Gestão Plena da Atenção Básica, enquanto os recursos
federais transferidos para esses municípios correspondem a menos de 35% do total de
recursos federais. Isso ocorre devido à concentração de recursos federais no município
de Niterói (que recebe mais de 50% dos recursos federais da Metropolitana II), que
apresenta uma rede de serviços mais densa e atende residentes de vários outros municípios
da região, incluindo São Gonçalo.
A Tabela 11 apresenta em maior detalhe alguns indicadores do gasto público em saúde
nos municípios da Região Metropolitana em 2001.
Fonte: SIOPS/DATASUS.
Nota: Os municípios de Magé e Seropédica não constam na tabela por não terem apresentado dados para o ano de 2001.
Observa-se que a despesa pública em saúde por habitante nos municípios da Região
foi em média de R$135,04 no ano de 2001, tendo variado de R37,01 (em Queimados)
a R$214,15 (em Niterói). Já a participação dos recursos federais no total da despesa
em saúde foi de cerca de 64% para o total da região, apresentando uma variação
expressiva de uma faixa de 20 a 30% (em Silva Jardim e Rio Bonito) a mais de 90% (em
Nova Iguaçu e em São João de Meriti).
324 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 325
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
12 Os autores agradecem à equipe da SES-RJ pelo fornecimento de diversas informações relevantes para este item, em
especial a Ceres Albuquerque, Magda de Souza Chagas, Cláudia Regina de Andrade Pereira, Juliano de Carvalho Lima e
Franklin Monteiro da Silva.
326 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 327
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
328 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 329
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
população nos serviços de saúde, com repercussão para os tetos financeiros dos municípios,
que são periodicamente revistos. Além da coordenação política do processo pelo estado, a
SES desempenha um importante papel na elaboração de instrumentos técnicos de suporte,
entre os quais pode ser destacado o desenvolvimento de um software específico para
consolidação das referências ambulatoriais pactuadas, com a emissão de relatórios técnicos
e financeiros voltados para o acompanhamento do cumprimento dos pactos.
Metropolitana I
Metropolitana II
16 O indicador de invasão corresponde à proporção de pessoas internadas em um dado município que reside em outros
municípios. Já a evasão corresponde ao percentual de residentes em um município que se interna em outros municípios, em
relação ao total dos residentes que foram internados.
330 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
| SUMÁRIO | 331
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
332 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
CONCLUSÕES
4 - Não apenas por preceito, mas por imposição da demanda, é extremamente difícil
estabelecer programas focalizados de atendimento à saúde. A oferta de serviço
qualificado em qualquer ponto da malha metropolitana tende a atrair numeroso
contingente de usuários.
| SUMÁRIO | 333
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
334 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
7. CARNEIRO, Alcides J.C. “Como anda a saúde na Região Metropolitana do Rio de Janeiro?”
[Rio de Janeiro: s.n.], 2002. Disponível em: http://www.armazemdedados.rio.rj.gov.br/
index.htm. Acesso em: 10 abr 2003.
11. FONTES, A. et. al.. “Evolução dos indicadores econômicos e sociais da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro dez anos depois: como vai você, Rio de Janeiro?” Boletim
Rio de Janeiro – Trabalho e Sociedade, v. 3, n. 5, 2003. Disponível em http://
www.iets.org.br. Acesso em: 17 mar 2003.
| SUMÁRIO | 335
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
12. FUNDAÇÃO CIDE. “Anuário Estatístico do Estado do Rio de Janeiro: 2002”. Rio de
Janeiro, 2002.
16. RIO DE JANEIRO. Secretaria de Estado de Saúde. “Plano Estadual de Saúde 2001-
2004”. Rio de Janeiro, 2002a.
336 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
PARTE V
Comentários Finais
| SUMÁRIO | 337
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
338 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
O Brasil tem, atualmente, mais de 80% de sua população vivendo nas cidades, e suas
50 maiores aglomerações concentram quase a metade da população. Esse quadro é fruto
de um processo de intensa inversão da relação rural/urbano, ocorrido principalmente nos
últimos 40 anos, com importantes alterações na natalidade, na composição etária, nas
ocupações e, de forma muito perceptível, nos perfis de morbi-mortalidade, exigindo
cada vez mais o conhecimento das novas realidades vinculadas a essas grandes
concentrações humanas.
| SUMÁRIO | 339
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Além disso, a complexidade das questões relacionadas às condições de vida que influem
sobre o cuidado à saúde mostra diferentes processos e desafios na integração da gestão
pública e leva a um claro reconhecimento de que não existe uma solução padrão. As
340 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
Em muitos momentos, o setor saúde tem-se articulado com outras áreas, mas é preciso
ainda muito esforço para não tentar impor a sua agenda, buscando alternativas para que
a saúde, e não somente a doença, entre definitivamente na agenda das cidades.
| SUMÁRIO | 341
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O estudo sobre São Paulo mostrou que ainda não existe atenção básica para todos,
que há grande dificuldade de acesso aos serviços e que, pela dimensão dos problemas
existentes, as soluções são de longo prazo e, ainda, que faz parte dessa estratégia o
combate à pobreza, ao desemprego e à desigualdade.
O município de Belo Horizonte passou a organizar os seus serviços a partir de uma base
territorial, compondo nove Distritos Sanitários, operando as suas intervenções de acordo
com o conceito de responsabilidade sanitária e propõe uma integração no processo de
formulação e implementação de políticas sociais de forma intersetorial até mesmo para o
monitoramento das condições de saúde. A experiência no combate à violência em Curitiba,
em particular contra crianças e adolescentes, demonstra a clara viabilidade da organização
em redes intersetoriais envolvendo instituições de diversas naturezas, públicas ou não.
342 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
ANEXO
| SUMÁRIO | 343
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
344 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
OFICINA DE TRABALHO
PUBLICAÇÃO
“POLÍTICAS PÚBLICAS INTEGRAIS EM SAÚDE
NOS AGLOMERADOS URBANOS”
- Orgnizadores: Julio Suarez (OPAS); Rosa Silvestre (OPAS); Luciana Chagas (OPAS);
Elias Rassi Neto (UFGO e ABRASCO); Cláudia Maria Bógus (IS-SES/SP e CEPEDOC/USP)
AGENDA
MESA DE ABERTURA
Afra Suassuna – MS
MESA PROBLEMATIZADORA
| SUMÁRIO | 345
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
PARTICIPANTES
346 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
A seleção dos trabalhos a serem publicados está baseada nos seguintes critérios
gerais: trabalhos originais inéditos; relevância do tema; qualidade formal do texto
e solidez cientifica; conclusividade; atualidade da contribuição; contribuições
teóricas e de aplicabilidade na prática e vinculação com atividades de cooperação
da OPAS na área de desenvolvimento de sistemas e serviços de saúde.
Excepcionalmente, serão analisados trabalhos alheios à cooperação sempre que
tenham relação com áreas temáticas do Projeto.
No caso de publicações com autoria externa, as opiniões dos autores são de sua exclusiva
responsabilidade e não refletem necessariamente critérios nem políticas da OPAS.
Tipologia de publicações
A Série publicará, entre outros, textos integrais como artigos, ensaios, pesquisas,
relatórios; textos preparados por meio de metanálise; e destaques em seções curtas,
demandados pelo Projeto.
| SUMÁRIO | 347
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Os manuscritos aceitos passam por um processo editorial que, de acordo com o formato
da publicação, pode requerer, se necessário, sua condensação, e/ou supressão de quadros
ou anexos. A versão editada será remetida ao autor para aprovação, no caso de autores
externos à Organização.
Direitos de reprodução
No caso de manuscritos de autores externos, esses devem ser acompanhados de uma
declaração assinada pelo autor indicando que, se o trabalho for publicado, os direitos de
reprodução são propriedade exclusiva da OPAS.
Apresentação
O texto deve ser apresentado em folhas tamanho A4 (212 x 297mm), em fonte
tamanho 12, escritas a espaço duplo. Os gráficos, tabelas e/ou figuras deverão ser
mantidos ao mínimo e enviados em impressão separada de alta qualidade, em preto e
branco e/ou diferentes tons de cinza e/ou hachuras. A totalidade do trabalho deve
acompanhar-se de cópia em disquete.
Referências Bibliográficas
São essenciais para identificação das fontes originais de conceitos, métodos e técnicas
referidas no texto. Artigos de pesquisa devem conter um mínimo de 20 referências
bibliográficas pertinentes e atualizadas.
A lista de referências deverá ser apresentada no final do manuscrito em ordem
alfabética ascendente. O estilo deverá seguir os padrões da ABNT, sendo recomendadas
as seguintes normas relativas à normalização de documentos:
• NBR 6023 – Referências bibliográficas – Elaboração.
• NBR 6028 – Resumos.
• NBR 10520 – Citações em documentos – Apresentação.
• NBR 12256 – Apresentação de originais.
• NBR 14724 – Apresentação de trabalhos acadêmicos.
348 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
a) Série Monográfica:
BOURDIEU, P. O campo científico. São Paulo: Ed. Ática, 1976. (Coleção Grandes
cientistas sociais)
b) Capítulo de Monografia:
DAVIES, A. M. The evolving science of health systems research. In: World Health
Organization. From research to decision making: case studies on the use of health
systems research. Geneva, 1991. 139p.
c) Artigo de Revista:
FARFAN, G. et. al. Digestive disease in the elderly. Rev. Gastroenterol. Lima, v.11,
n.3, p.164-170, 1991
ROSENTHAL, G. et. al. Does good health services research produce good health policy?
Health Policy Quarterly, [S.l.], v. 1, n.1, 1981.
e) Documento técnico
SECLEN, Juan et. al. Estudio comparativo de la calidad de atención y uso de servicios
de salud materno perinatales (1997-2000). Lima: Ministerio de Salud del Peru, 2002.
| SUMÁRIO | 349
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2. Exemplos de Citações
a) Citação Direta
b) Citação de Citação
Segundo Silva (1983 apud ABREU, 1999, p.3) diz ser [...]
http://bu.ufsc.br/framerefer.html
350 | SUMÁRIO |
Saúde nos Grandes Aglomerados Urbanos: Uma Visão Integrada
a
3 CAPA
| SUMÁRIO | 351
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
a
4 CAPA
352 | SUMÁRIO |
PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE APRESENTAÇÃO
SÉRIE DE DOCUMENTOS ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (Opas/OMS)
A Organização Pan-Americana da Saúde
SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE – SAS — Opas, exercendo sua atribuição de
série técnica
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico que a concretização desta ação, no
Projeto de Desenvolvimento de
de Sistemas e Serviços de Saúde/Opas
apresenta a Série Técnica como uma
das atividades de gestão do conhecimen-
to, necessária à construção e à consoli-
4
para a melhoria da qualidade da aten-
ção à saúde individual e coletiva, a re-
dução de desigualdades e o alcance da
eqüidade.
Brindamos a comunidade de saúde
pública do país e da Região das Amé-
ricas com esta publicação. Esperamos
que possa se tornar um espaço vivo
de apoio à construção do SUS no Brasil
e que proporcione visibilidade e acesso
aos produtos concretos advindos da
Setor de Embaixadas Norte - Lote 19
4
Cooperação Técnica da Opas.
Brasília-DF - 70800-400
www.opas.org.br Sigamos avançando na conquista pela
qualidade de vida e saúde da população.
APRESENTAÇÃO
série técnica
Projeto de Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde
4
E COMPORTAMENTO DO GASTO
2.O PAPEL E AS CONSEQUÊNCIAS DOS INCENTIVOS COMO ESTRATÉGIA
DE FINANCIAMENTO DAS AÇÕES DE SAÚDE
BRASÍLIA — DF
2003
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Elizabeth Barros
Brasília — DF
2003
Elaboração, distribuição e informações
Organização Pan-Americana da Saúde
Organização Mundial da Saúde
Setor de Embaixadas Norte, 19
70.800-400 — Brasília — DF
http://www.opas.org.br
Projeto de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde/OPAS
http://www.opas.org.br/servico/paginas/index.cfm
1. Coordenador do Projeto
Júlio Manuel Suárez
2. Conselho editorial
Juan Seclen
Luciana Chagas
Luisa Guimarães
Rosa Maria Silvestre
3. Apoio técnico e administrativo:
Luciana de Deus Chagas
Rosa Maria Silvestre
4. Normalização
Fernanda Nahuz
Leila Barros
Luciana dos Santos
Revisão
Manoel Rodrigues Pereira Neto
Capa, Projeto Gráfico e DTP
Wagner Soares da Silva
Tiragem:
1.500 exemplares
origem e articulação do movimento sanitário, pode ser encontrada com a referência atualizada:
Trata-se de um livro que discorre sobre um “movimento de pessoas” lutando por mudanças
na própria Academia. Sarah Escorel detalha o início do movimento sanitário no Brasil, a partir do
governo Geisel, utilizando não somente documentos, mas depoimentos. É a história contada
LISTA DE QUADROS
5
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
LISTA DE TABELAS
Tabela 4 - Brasil: Percentual da despesa média mensal familiar com assistência à saúde
no desembolso global das famílias. Total das áreas POF – 1987/88 e 1995/96 ....... 27
6
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Cf Constituição Federal
Ec Emenda Constitucional
Gm Gabinete do Ministro
7
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Lc Lei Complementar
Mf Ministério da Fazenda
Ms Ministério da Saúde
Se Secretaria Executiva
8
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
9
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................... 14
PREFÁCIO
Segundo, porque faz uma análise crítica da evolução desse sistema, principalmente,
no seu período mais recente utilizando-se de informações atuais e de argumentos proce-
dentes. A estrutura de financiamento é de importância central, não apenas pelas neces-
sidades operacionais do SUS, mas como indicador das prioridades do Sistema.
Muitos recursos do SUS são destinados aos estados e municípios na forma de incenti-
vos financeiros, porém os efeitos destes não têm sido suficientemente avaliados. O
presente estudo é um passo importante neste sentido e traz uma contribuição valiosa ao
esclarecimento dos efeitos e impactos de tais incentivos sobre a gestão local. Os resul-
tados da pesquisa sobre incentivos levam a considerações essenciais, como a clara ne-
cessidade de se avaliar o alinhamento do financiamento com as prioridades federais,
estaduais, e municipais, e como essas prioridades nas três esferas do governo podem
ser melhor harmonizadas. Sem dúvida, estas questões deverão merecer novas análises
no futuro, em seguimento à contribuição importante ora apresentada.
Por fim, agradecemos aos autores e revisores desta publicação por seu empenho e
capacidade de sintetizar e garantir as informações necessárias para o cumprimento do
objetivo proposto: apoiar e estimular a reflexão crítica sobre o sistema de saúde brasi-
leiro, tendo como orientador o cumprimento dos princípios de eqüidade, integralidade e
universalidade.
13
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
APRESENTAÇÃO
14
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Elizabeth Barros
15
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
16
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
1. INTRODUÇÃO
O financiamento de sistemas de saúde tem constituído preocupação de gestores e
analistas de políticas públicas, ao longo das duas últimas décadas, em todas as sociedades.
O crescimento do gasto com saúde, associado a fatores de diferentes ordens, produziu,
inicialmente, reações que se restringiram ao estabelecimento de controles e de restrições
ao acesso. Mas um fator central — o modelo de atenção à saúde — só recentemente, na
década dos noventa, começou a ser tratado com maior cuidado. Nesse mesmo período,
começam a ser implementadas no Brasil medidas visando a reforma do sistema de saúde,
cujo marco legal incluía a reorganização institucional, a redefinição da forma de financia-
mento e a reorientação do modelo de atenção. Nos quase quinze anos após o início da
vigência do texto constitucional de 1988, que instituiu o Sistema Único de Saúde — SUS,
diversas iniciativas introduziram importantes mudanças no sistema de saúde com vistas
a implementar as diretrizes de constituição de um sistema público universal, descentrali-
zado e capaz de ofertar atenção integral à saúde. A maior parte das medidas foi deflagrada
pelo Ministério da Saúde, responsável pela coordenação nacional de um sistema que
congrega as três esferas de governo. Processos decisórios compartilhados, através de
Comissões Intergestores Tripartite (na esfera federal) e Bipartites (na esfera estadual)
não foram suficientes para romper a hegemonia da esfera federal na determinação dos
rumos e das estratégias. Essa hegemonia se sustenta em uma cultura política ainda
muito marcada pelo centralismo e no fato de que expressiva parcela dos recursos desti-
nados ao financiamento do sistema são originários do Orçamento da Seguridade Social,
que integra o Orçamento da União. Os mecanismos de alocação de recursos têm se cons-
tituído em variáveis relevantes na determinação dos rumos da política e têm sido usados
ora como instrumentos de descentralização do processo decisório, ora como formas de
determinação centralizada ações e serviços. Neste texto, procuramos analisar o compor-
17
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
tamento do gasto federal com saúde com ênfase nas mudanças verificadas, ao longo da
década dos noventa, nos mecanismos de alocação de recursos e em sua utilização como
definidores da direção da política de saúde.
2. ANTECEDENTES
Desde sua constituição, do início do século vinte até a década dos oitenta, o sistema
de saúde brasileiro foi caracterizado por um padrão institucional dual, que distinguia e
separava “saúde pública” e “medicina previdenciária”, marcada pelo exclusão e pela
reprodução das desigualdades sociais. O Ministério da Saúde, ao qual estavam vinculadas
as instituições incumbidas do controle de endemias, das ações de vigilância sanitária e
do controle de doenças transmissíveis foi, a partir da década dos cinqüenta, responsável
pela ações de saúde pública. Nesse período, observou-se um processo de interiorização
das campanhas sanitárias, que eram inicialmente realizadas em grandes centros urbanos,
em áreas ligadas aos interesses da economia agro-exportadora, acompanhando os fluxos
migratórios do trabalho assalariado.
18
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Tabela 1
Composição da rede hospitalar, por natureza do prestador Brasil, 1945-1975
Públicos 45 38 34 32
Privados Lucrativos 8 9 29 31
Privados não-lucrativos 47 53 37 37
Na década dos oitenta, num contexto de forte endividamento do país, recessão eco-
nômica e crise do padrão de financiamento estatal, o aparato institucional das políticas
sociais, em particular do sistema previdenciário, enfrentou aguda crise que levou a medidas
de racionalização da assistência médica. Diante do quadro, que também incluía baixos
índices de qualidade do atendimento, da produtividade e da resolutividade, bem como
freqüentes fraudes dos provedores privados, a agenda da política previdenciária incorporou
o relacionamento diferenciado e prioritário com a rede pública e os hospitais filantrópicos.
1 Lei 6.229/75.
19
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Embora nem todas as suas propostas tenham sido implementadas, o Plano Conasp
teve como principal conseqüência a mudança na estratégia de pagamento dos serviços
hospitalares prestados ao sistema público de saúde, que deixou de ser baseada em Uni-
dades de Serviço — US e passou a ser feita por grupos de procedimentos, mediante
instrumento denominado Autorização de Internação Hospitalar — AIH, que permitia melhor
controle sobre o gasto, efetivado através de sistema de auditoria médica e contábil.
20
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Tabela 2
21
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
“ A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da
lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregado, da empresa e da entidade a ela
equiparada na forma da lei, incidentes sobre a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho
pagos ou creditados a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício; b) a receita ou o faturamento e c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados
da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo
regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III- sobre a receita de concursos de
prognósticos” art. 195, com alterações pela (BRASIL, 1998).
22
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem a redução do risco de doença e de outros agravos e assegurem o acesso universal e igualitário
às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde” art. 196 (BRASIL, 1988).
23
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
“São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos
termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita
diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.”
art. 197 (Brasil, 1988).
No início da década dos noventa, a expansão dos gastos com benefícios da previdência
social provocou restrições orçamentárias à área da saúde, no âmbito do Orçamento da
Seguridade Social, produzindo aguda crise de financiamento, que agravou ainda mais as
condições da oferta de ações e serviços de saúde à população e comprometeu fortemente
o processo de descentralização.
Ao longo da primeira metade da década dos noventa, o sistema público enfrentou
forte oscilação na evolução dos montantes e permanente irregularidade dos fluxos financei-
ros disponibilizados pela esfera federal, com a execução orçamentária condicionada a
interesses do ajuste econômico, uma vez que o texto constitucional não especificava as
parcelas da arrecadação das contribuições sociais destinadas a cada área da seguridade
social, deixando para a lei de diretrizes orçamentárias essa atribuição. Nesse contexto,
as esferas de governo subnacionais, particularmente os municípios, foram obrigadas a
assumir, gradualmente, papel de maior relevância no financiamento do sistema.
24
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Tabela 3
Brasil: Crescimento do Sistema Privado Supletivo 1977 - 1998
Seguradoras 1 5 20 40 8
Fontes: (1) 1º Congresso de Medicina de Grupo, 1978; (2) ABRAMGE, 1989, Unimed do Brasil ( 1998), ABRASPE e SUSEP; (3)Arthur Andersen (1996) e
(4) ABRAMGE (1999), Unimed d Brasil(1999); Ciefas (1998) e Susep(1999) apud Ligia Bahia (2001)
25
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Outro item importante do gasto das famílias está direcionado à compra de medica-
mentos, refletindo a fragilidade da assistência farmacêutica do sistema público.
11 BAHIA (2001).
12 IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios — PNAD 1998.
13 Towers Perrin, (1989/1998) apud Bahia, 2001.
26
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
R$72 bilhões. O gasto privado representava quase dois terços desse total, correspondendo
a 4,6% do PIB e com forte participação do gasto das famílias (out of pocket), responsável
por 60% do gasto privado. A participação do gasto público era de 41,2% , correspondente
a 3,3% do PIB e resultando em um gasto público per capita de R$183,00.
Estudo com base nas informações da Pesquisa de Orçamentos Familiares — POF, rea-
lizado por Silveira et al ( IPEA, 2001) identificou os montantes e as alterações ocorridas
na participação dos gastos com assistência à saúde no orçamento global das famílias
residentes em áreas metropolitanas, entre 1987 e 1996, para todos os estratos de renda.
A análise revelou o crescimento dos valores gastos e o maior peso dos mesmos no orça-
mento familiar, que passaram a ser, em 1996, o quarto principal item de despesa na
média das classes de renda familiar, superados apenas pelos gastos com alimentação,
habitação e transporte. Para famílias com renda de até 2 salários mínimos, os gastos em
saúde subiram da quinta para a terceira posição entre os itens de despesa familiar, no
período.
Tabela 4
Brasil: Percentual da despesa média mensal familiar com Assitência à Saúde no Desembolso Global
das famílias. Total das áreas, POF - 1987/88 e 1995/96
Classes de recebimento mensal
familiar (s. m.) 1987 1996 Variação Percentual
Média 5,31 6,50 22,41
Até 2 6,30 9,59 52,22
Mais de 2 a 3 5,45 7,29 33,76
Mais de 3 a 5 5,21 6,65 27,64
Mais de 5 a 6 4,61 6,54 41,87
Mais de 6 a 8 5,07 6,57 29,59
Mais de 8 a 10 5,67 7,04 24,16
Mais de 10 a 15 5,36 6,84 27,61
Mais de 15 a 20 5,80 7,55 30,17
Mais de 20 a 30 5,72 6,76 18,18
Mais de 30 5,04 5,80 15,08
Fonte: IBGE - Pesquisa de Orçamentos Familiares apud Silveira et al (2001)
27
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 5
Brasil: Composição Percentual do Gasto Médio Mensal com Assistência à Saúde das famílias
Total das áreas metropolitanas, POF - 1987/88 e 1995/96
O gasto social federal, no período 1993 a 2001, passou de R$113.038 milhões para
R$172.549 milhões. Representava, entre 1993 e 1998, cerca de 12% do PIB. A partir de
1998, essa participação apresenta crescimento, alcançando, em 2001, 14% do PIB. A
maior parcela desse gasto se destinou à previdência social, cuja participação, no período,
oscilou entre 42% e 47% do gasto social federal e significou mais de 65% do Orçamento da
Seguridade Social. Em valores per capita, o gasto social passou de R$732,00 em 1993
para R$1.033,00 em 1998, caindo em 2001 para R$1.002,00. O gasto com saúde repre-
28
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
sentava, em 1993, 15,7% do total do gasto social federal e sua participação caiu, em
2001, para 13,8%.
Tabela 6
Brasil: Composição do Gasto Social Federal (%) - 1993 - 2001
Área de atuação 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Saúde 15,69 16,20 17,54 14,66 15,66 13,19 13,92 13,88 13,82
Alimentação e Nutrição 0,60 0,93 0,56 0,95 0,75 0,91 0,89 0,85 0,77
Previdência Social 46,90 42,39 44,00 45,81 44,33 47,01 46,88 45,81 44,74
Assistência Social 3,29 1,33 1,29 1,31 1,95 2,03 2,73 2,97 3,39
Benefícios a Servidores* 17,72 21,66 21,36 21,35 20,17 20,04 20,63 19,18 19,82
Subtotal 84,20 82,51 84,74 84,07 82,86 83,19 85,06 82,69 82,55
Demais áreas de política social** 15,80 17,49 15,26 15,93 17,14 16,81 14,94 17,31 17,4
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100
GASTO SOCIAL - Valor Total** * 113.038 122.873 144.461 148.075 165.918 171.238 168.101 171.178 172.549
Fonte: IPEA/DISOC
*- Inclui Encargos Previdenciários da União
* * Inclui gastos federais com Educação e Cultura, Saneamento e Meio Ambiente, Emprego e Defesa do Trabalhador, Treinamento de RH,
Habitação e Urbanismo, Ciência e Tecnologia e Organização Agrária
*** Valor em R$ milhões
29
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Gráfico 1
Brasil: Evolução do Gasto Federal com Saúde
Fonte: IPEA/DISOC
30
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Gráfico 2
Fonte: IPEA/DISOC
A participação das esferas subnacionais, contudo, não permite a superação das desi-
gualdades no financiamento, dadas as diferentes capacidades de arrecadação, associa-
das à desigual distribuição interregional da atividade econômica.
Enquanto o PIB per capita médio do país alcançava, em 1998, R$5.647, nos estados
mais pobres, chegava a ser inferior a 1/4 desse valor. Os menores valores eram observa-
dos no Piauí (R$1.624) e Maranhão ( R$1.348). Nas regiões mais ricas, o PIB per capita
superava amplamente a média nacional, atingindo R$13.053 no Distrito Federal e R$9.183
em São Paulo.
31
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Gráfico 3
Brasil: PIB per capita segundo UF 1998
Fonte: IBGE
6. FONTES DE FINANCIAMENTO DO MS
As fontes destinadas ao financiamento do sistema de saúde foram previstas no texto
constitucional e envolviam recursos ordinários do tesouro, nas três esferas de governo,
e contribuições sociais da seguridade social, arrecadadas pela esfera federal.
Não houve especificação de uma fonte exclusiva para o setor saúde nem foram defini-
dos percentuais de vinculação que assegurassem a transferência proporcional à arrecadação
das contribuições. O Ato das Disposições Transitórias da CF-88 estabeleceu um parâmetro
ao definir que “até que seja aprovada a lei de diretrizes orçamentárias, trinta por cento,
no mínimo, do orçamento da seguridade social, excluído o seguro desemprego, serão
destinados ao setor de saúde”15 .
32
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Gráfico 4
Orçamento MS — Fontes de Financiamento Brasil — 1993
A grave crise desencadeada por essa decisão recolocou na agenda política setorial a
demanda por vinculação de recursos para a saúde. A apresentação da proposta de Emen-
da Constitucional 169 – PEC 16916 , reabre o debate no Congresso Nacional e restabelece
a articulação setorial em torno da proposição de destinação de um mínimo de 30% da
arrecadação das Contribuições Sociais da Seguridade Social e 10% dos recursos fiscais da
União, Estados e Municípios. Em 1995, diante de proposta de EC relativa à previdência
social que especializava a contribuição incidente sobre salários para o pagamento de
benefícios previdenciários, nova Proposta de Emenda Constitucional17 foi apresentada,
33
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Na mesma época, diante das dificuldades para aprovação das propostas de Emenda
Constitucional, que tramitavam lentamente, sob forte oposição da área econômica do
governo, o então Ministro da Saúde estabeleceu negociações no Congresso com vistas à
criação de uma nova contribuição, incidente sobre movimentação financeira, para, com
caráter provisório, assegurar recursos para o sistema. Obteve, em 1996, a aprovação da
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF)18, como solução transi-
tória para suprir as necessidades do financiamento setorial. Até o ano de 1998, a CPMF
destinava-se exclusivamente à saúde. Quando foi prorrogada, em 199919 , houve aumen-
to da alíquota de contribuição, que passou de 0,20% para 0,38%, adicionando 0,18% para
a previdência social e mantendo a alíquota de 0,20% para a saúde.
34
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
§ 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da
seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.
I – no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no § 3º;
II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere
o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas
as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios;
III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se
refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º.”
§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá:
II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando
a progressiva redução das disparidades regionais;
III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal,
estadual, distrital e municipal;
A principal diferença da EC 29, em relação à PEC 169, diz respeito à solução adotada
para a esfera federal: como resultado das negociações no Congresso, envolvendo tam-
bém a área econômica do governo federal, a União foi excluída do dever de alocar percentual
das receitas arrecadadas, cabendo-lhe assegurar a alocação dos recursos corresponden-
tes ao valor empenhado no ano anterior, corrigido pela variação nominal do produto
interno bruto — PIB. As esferas subnacionais ficaram obrigadas a alocar 12% de suas
receitas, no caso dos estados, e 15%, nos municípios, a partir de 2004.
Regra de transição foi estabelecida para o período entre 2000 e 2004, para viabilizar
o gradual ajuste dos orçamentos, determinando acréscimo, em 2000, de 5% em relação
ao gasto federal de 1999 e percentuais crescentes à razão de 20% ao ano, a partir de um
patamar de 7% da receita vinculável, a ser destinado em 2000 por estados e municípios.
Com o objetivo de permitir a flexibilização das normas, a EC 29 determinou que tais
percentuais poderão ser revistos a cada cinco anos através de Lei Complementar, instru-
mento que exige maioria absoluta para sua aprovação no Congresso.
35
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Art. 76 - Até o exercício financeiro de 2004, os recursos mínimos aplicados nas ações e serviços
públicos de saúde serão equivalentes:
I – no caso da União:
b) no ano de 2001 ao ano de 2004, o valor apurado no ano anterior, corrigido pela variação nominal do
produto interno bruto – PIB.
II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, doze por cento do produto da arrecadação dos
impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, incisos I “a” e
II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos municípios;
III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, quinze por cento do produto da arrecadação dos
impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, incisos I “b” e § 3º.
§1º Os Estados, o Distrito Federal e Municípios que aplicarem percentuais inferiores aos fixados nos
incisos II e III deverão elevá-los gradualmente, até o exercício financeiro de 2004, reduzida a
diferença à razão de, pelo menos, um quinto por ano, sendo que, a partir de 2000, a aplicação será
de pelo menos sete por cento.
§ 2º Dos recursos da União apurados nos termos deste artigo, quinze por cento, no mínimo, serão
aplicados nos Municípios, segundo critério populacional, em ações e serviços básicos de saúde, na
forma da lei.
§ 3º Os recursos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinados às ações e serviços
públicos de saúde e os transferidos pela União para a mesma finalidade serão aplicados por meio de
Fundo de Saúde que será acompanhado e fiscalizado por Conselho de Saúde, sem prejuízo do disposto
no Art. 74 da Constituição Federal.
§ 4º Na ausência da lei complementar a que se refere o art. 198, § 3º, a partir do exercício financeiro
de 2005, aplicar-se-á à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios o disposto neste artigo.
36
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Gráfico 5
Brasil: Estimativa de gastas com saúde por esfera de governo 2001 — Siops
Fonte: MS/SIOPS
O critério adotado para a esfera federal, contudo, a despeito de ter protegido o orça-
mento do Ministério da Saúde das oscilações observadas na década anterior, resultou em
processo de redução da participação relativa do mesmo no total das receitas federais.
Gráfico 6
Brasil: Evolução da Arrecadação Federal de Impostos e
Contribuições e dos gastos com saúde — 1999-2001
37
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Gráfico 7
BrasiL Gasto com Saúde como % da arrecadação federal
1995 — 2001
Essa tendência está refletida nas estimativas mais recentes de composição do gasto
público realizadas pelo Siops, segundo as quais a expectativa é de que a participação das
esferas de governo no financiamento do Sistema sofrerá importante alteração, decor-
rente de dois fatores simultâneos: a relativa estabilização dos montantes aportados pela
esfera federal e o acréscimo de recursos provenientes dos estados, instância que, histo-
ricamente, menos contribuiu para o financiamento. Os dados indicam que, em 2004, o
gasto público com saúde deverá estar muito próximo de R$50 bilhões, dos quais R$25,3
bilhões provenientes da esfera federal, R$13,3 bilhões dos estados e R$11,3 bilhões dos
municípios.21
38
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Gráfico 8
Brasil: Participação das esferas de governo no gasto com saúde
Reestimativa Siops para 2004
Fonte: Siops
Não obstante o comportamento dos montantes alocados ao setor, que deve significar
importante acréscimo de receita para o SUS, persistiram problemas relacionados à interpre-
tação do texto legal quanto à operacionalização e à fiscalização da aplicação da EC 29. Os
mais importantes diziam respeito à especificação da base de cálculo e de quais as despesas
que poderiam ser consideradas para efeito da verificação do cumprimento dos dispositivos
de vinculação. Como a Lei Complementar prevista não foi ainda encaminhada à apreciação
do Congresso, após amplo debate envolvendo o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional
de Saúde, o Ministério Público e os Tribunais de Contas, foi estabelecido consenso que
resultou na aprovação de Diretrizes Operacionais para a Aplicação da Emenda Constituci-
onal N° 29, de 200022 , que deverá orientar gestores e instituições de controle. Por esse
instrumento, ficam estabelecidas que serão consideradas somente as despesas “que
atendam, simultaneamente aos princípios do art. 7° da Lei n° 8.080, de 19 de setembro
de 1990, e às seguintes diretrizes:
39
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
IV - saneamento básico, mesmo o previsto no inciso XII do art. 7°, realizado com recursos proveni-
entes de taxas ou tarifas e do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, ainda que excepcional-
mente executado pelo Ministério da Saúde, pela Secretaria de Saúde ou por entes a ela vinculados;
VI - preservação e correção do meio ambiente, realizadas pelos órgãos de meio ambiente dos Entes
Federativos e por entidades não-governamentais;
VII – ações de assistência social não vinculadas diretamente à execução das ações e serviços refe-
ridos no art. 7°, bem como aquelas não promovidas pelos órgãos de Saúde do SUS;
Parágrafo único. Não integrarão o montante considerado para o cálculo do percentual mínimo cons-
titucionalmente exigido:
II - no caso dos Estados, Distrito Federal e Municípios, as despesas listadas no art. 7o, no exercício
em que ocorrerem, realizadas com receitas oriundas de operações de crédito contratadas para
financiá-las. ( Port. MS/GM 2047 de 5 de novembro de 2002, ANEXO).
40
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Algumas iniciativas já vem sendo implementadas, desde o início da década dos no-
venta, associadas ao esforço de descentralização do sistema de saúde, e avanços têm
sido obtidos. Em alguns casos, porém, o esforço de redistribuir teve resultados ofuscados
por conseqüências negativas, uma vez que produziu, em razão das estratégias adotadas,
o enfraquecimento do papel das instâncias subnacionais na gestão do sistema. O desafio
que persiste é o de desenhar políticas que permitam combinar a redistribuição de receitas
ao fortalecimento do processo de descentralização e da capacidade de gestão.
23 Lei 8.689/93.
24 Portaria GM/MS 545, de maio de 1993.
41
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
42
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
43
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
(... (...)
11.2. Recomenda-se que uma equipe de saúde da família deva ser composta minimamente pelos
seguintes profissionais: médico, enfermeiro, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de
saúde (na proporção de um agente para, no máximo, 150 famílias ou 750 pessoas).
11.3. Para efeito de incorporação dos incentivos financeiros do Ministério da Saúde, as equipes
deverão atender aos seguintes parâmetros mínimos de composição:
Os valores atribuídos aos municípios para o custeio das equipes variavam em sentido
inversos ao valor do per capita recebido através do PAB Fixo, visando estimular a criação
de condições para expansão da cobertura naquelas áreas onde a capacidade de atendi-
mento era mais precária .
44
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
PT MS/GM -Nº157/98
Art. 3º Os recursos financeiros federais relativos aos incentivos ao PACS e PSF serão transferidos
fundo a fundo, em parcelas mensais, somente a Municípios habilitados, de acordo com a Norma
Operacional Básica - NOB/SUS - 01/96.
I. para cada Agente Comunitário de Saúde, R$1.500,00 (Um mil e quinhentos reais) por ano;
a). municípios com parte fixa do PAB maior ou igual a R$10,00 (dez reais) e menor que R$12,00 (doze
reais), incentivo de R$21.000,00 por ano;
b). municípios com parte fixa do PAB maior ou igual a R$12,00 (doze reais) e menor que R$14,00
(quatorze reais), incentivo de R$19.000,00 por ano;
c). municípios com parte fixa do PAB maior ou igual a R$14,00 (quatorze reais) e menor que R$16,00
(dezesseis reais), incentivo de R$17.000,00 por ano;
d). municípios com parte fixa do PAB maior ou igual a R$16,00 (dezesseis reais) e menor ou igual a
R$18,00 (dezoito reais), incentivo de R$15.000,00 por ano.
Parágrafo Único: Os incentivos são cumulativos no limite de 6 (seis) ACS por equipe de saúde da
família, com exceção das equipes compostas nos termos do item 11.3.2 do anexo 2 da Portaria\GM\MS
nº 1.886, de 18 de dezembro de 1997.
45
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Gráfico 9
Brasil: Evolução do Número de Equipes PSF
46
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Gráfico 10
Brasil: Evolução das transferências a Municípios para Pacs e PSF R$ milhões
Fonte: MS/COF
O crescimento, entre 2000 e 2001, das transferências para os programas que são
objeto dos incentivos coincide com a estabilização dos valores transferidos na modalidade
fundo a fundo, através do PAB Fixo, que em 1999 correspondia a 72,8% do gasto total
com atenção básica e em 2002 teve sua participação reduzida para 49%. Como proporção
do gasto total, o PAB cai de 28,7% em 1999 para 16,5% em 2002. Esses dados reforçam a
percepção da existência de prioridade à forma de transferência que vincula os recursos a
ações definidas pelo nível central do sistema. São mecanismos que restauram a forte
presença de transferências negociadas nas relações financeiras intergovernamentais,
pela introdução de condicionalidades para o acesso aos recursos, criam rigidez e reduzem
a capacidade decisória dos gestores subnacionais, além de determinarem grande complexi-
dade na gestão dos recursos, que passam a ter que ser controlados através de contas
específicas, sujeitos a programação e prestação de contas de modo fragmentado.
47
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Gráfico 11
Brasil: Evolução das Transferências a Municípios – PAB Fixo
(valores nominais)
Fonte: MS/COF
48
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Os municípios que à época da edição da NOAS já recebiam o PAB Fixo em valor superior
ao definido para o PAB Ampliado não sofreram alteração no valor per capita do PAB Fixo
destinado ao seu município, a despeito da ampliação das responsabilidades30 .
Até 1998, os recursos para o financiamento das ações de média e alta complexidade
eram incluídos nos tetos financeiros de municípios em gestão plena do Sistema, repassados
fundo a fundo, ou mediante pagamento por serviços prestados (pela União ou pelos esta-
dos em gestão plena) para as demais unidades. A ausência/omissão das instâncias esta-
duais na coordenação dos processos de referência intermunicipal de pacientes e a insu-
ficiência dos mecanismos de controle do acesso aos serviços começaram a se fazer sen-
tir como problema, determinando que alguns dos municípios em gestão plena do siste-
ma, diante da impossibilidade de obter ressarcimento dos valores gastos com atendi-
mentos à população originária de outras UF começassem a estabelecer barreiras buro-
cráticas ao acesso. Em outros casos, o porte dos municípios, por razões associadas a
custo e escala de determinados serviços, dificultava a implementação de ações mais
complexas. A questão da organização regional da rede de atenção e da organização dos
fluxos de referência colocou-se, assim, como prioridade na agenda dos gestores das três
esferas de governo. É nesse contexto que algumas medidas relacionadas ao financia-
mento das ações de média e alta complexidade, são tomadas pelo MS, a primeira delas
em 1999, com a criação do Fundo de Ações Estratégicas e Compensação.
49
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O Art. 2º dessa Portaria31 define, também, sanções para estados e municípios que
reduzirem alocação de recursos próprios, determinando que o Ministério da Saúde “redu-
zirá, proporcionalmente, os recursos dos Limites Financeiros (...) para aqueles Estados
e municípios em Gestão Plena do Sistema Municipal, que reduzirem seus orçamentos
destinados à Saúde, em relação ao exercício anterior.”
Art. 1º Definir que, para os procedimentos estratégicos e de alta complexidade, custeados pelo
Fundo de Ações Estratégicas e Compensação — FAEC, é de competência dos gestores estaduais,
municipais e do Distrito Federal, de acordo com as prerrogativas compatíveis com o nível de gestão,
a contratação, cadastramento, autorização para realização de procedimentos, autorização de
pagamento, acompanhamento, controle, avaliação e auditoria das Unidades Prestadoras de Serviços
do SUS.
Art. 2º Estabelecer que a produção referente aos procedimentos financiados pelo FAEC deverá ser
apresentada pelos prestadores de serviços aos respectivos gestores, para as providências relativas
aos processamentos, seguindo os mesmos prazos, fluxos e rotinas estabelecidos pelo Sistema de
Internações Hospitalares / SIH-SUS e Sistema de Informações Ambulatoriais / SIA-SUS.
Art. 3º Estabelecer que os pagamentos dos valores relativos aos procedimentos financiados pelo
Fundo de Ações Estratégicas e Compensação, quando cumpridos o disposto nos Artigos 1º e 2º, serão
executados pelo Ministério da Saúde diretamente aos prestadores de serviços, independente da
condição de gestão do estado, município e Distrito Federal.
Parágrafo único. Os valores de que trata este Artigo deixam de ser repassados fundo a fundo ou para
conta específica dos respectivos gestores habilitados em Gestão Plena do Sistema Estadual e Municipal.
50
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
51
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Finalmente, parte dos recursos alocados no FAEC têm sido destinados ao financia-
mento de procedimentos de alta complexidade para usuários do SUS, realizados por uma
UF em pacientes provenientes de outros estados, que não dispõem desses serviços,
através da Central Nacional de Regulação da Alta Complexidade.
52
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Quadro 1
53
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
54
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
55
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
No caso das ações de média complexidade, admite-se que um mesmo município enca-
minhe referências para mais de um pólo de MC, dependendo da disponibilidade de oferta,
condições de acesso e acordos entre gestores.
56
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
NOAS 01/2001
13 - Excetuando as ações mínimas da média complexidade de que trata o Item 7 - Capítulo I desta
Norma desta Norma, que devem ser garantidas no âmbito microrregional, as demais ações assistenciais
de média complexidade, tanto ambulatoriais como hospitalares, podem ser garantidas no âmbito
microrregional, regional ou mesmo estadual, de acordo com o tipo de serviço, a disponibilidade
tecnológica, as características do estado e a definição no Plano Diretor de Regionalização do estado.
57
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Na esfera federal, o Fundo Nacional de Saúde já existia desde o final da década dos
sessenta. Em 2001, foi reestruturado e ajustado às nova funções36 , particularmente a de
realizar transferências de recursos para os Fundos Estaduais e Municipais de Saúde, no
contexto da descentralização do SUS. Possibilita, ainda a celebração de convênios com
órgãos e entidades, o parcelamento de débitos dos mesmos junto ao Ministério da Saúde
e o financiamento das ações de saúde para os governos estaduais e municipais, entida-
des filantrópicas, universidades e outras instituições, além de consolidar as atividades
de acompanhamento e prestação de contas dos convênios celebrados.
Art. 33. Os recursos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) serão depositados em conta espe-
cial, em cada esfera de sua atuação, e movimentados sob fiscalização dos respectivos Conselhos de
Saúde.
58
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
A concepção do SUS incluiu duas instâncias de controle sobre o gasto setorial já na sua
legislação básica: os Conselhos de Saúde e o Sistema Nacional de Auditoria. Além dessas
instâncias internas, o sistema está submetido às instituições de controle regulares do
Estado brasileiro, em particular os Tribunais de Contas, da União e dos Estados, e o
Ministério Público. É também regido pelas mesmas regras legais38 e mecanismos de
controle aos quais está submetida a administração pública, envolvendo diversas instân-
cias institucionais. Algumas dessas normas visam a ampliação do controle local sobre os
recursos transferidos pela União.
59
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
LRF - Art. 8º - Até trinta dias após a publicação dos orçamentos, nos termos em que dispuser a lei de
diretrizes orçamentárias e observado o disposto na alínea c do inciso I do art. 4º, o Poder Executivo
estabelecerá a programação financeira e o cronograma de execução mensal de desembolso.
Parágrafo único. Os recursos legalmente vinculados a finalidade específica serão utilizados exclusi-
vamente para atender ao objeto de sua vinculação, ainda que em exercício diverso daquele em que
ocorrer o ingresso.
RF - Art. 9º
§ 2º Não serão objeto de limitação as despesas que constituam obrigações constitucionais e legais do
ente, inclusive aquelas destinadas ao pagamento do serviço da dívida, e as ressalvadas pela lei de
diretrizes orçamentárias.
60
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
a) Conselhos de Saúde
A legislação também estabelece sua composição: devem ser integrados por represen-
tantes do governo, de prestadores de serviços, de profissionais de saúde e de usuários
do sistema. A representação dos usuários deve ser paritária em relação ao conjunto do
demais segmentos.
40 Decreto 67.300/70.
41 Decreto 99.438/90.
61
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
62
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Art. 2º O SNA exercerá sobre as ações e serviços desenvolvidos no âmbito do SUS as atividades de:
I - controle da execução, para verificar a sua conformidade com os padrões estabelecidos ou detectar
situações que exijam maior aprofundamento;
II - avaliação da estrutura, dos processos aplicados e dos resultados alcançados, para aferir sua
adequação aos critérios e parâmetros exigidos de eficiência, eficácia e efetividade;
III - auditoria da regularidade dos procedimentos praticados por pessoas naturais e jurídicas, mediante
exame analítico e pericial.
Parágrafo único Sem embargo das medidas corretivas, as conclusões obtidas com o exercício das
atividades definidas neste artigo serão consideradas na formulação do planejamento e na execução
das ações e serviços de saúde.
A NOAS 2002 ressalta que todos os níveis de governo devem avaliar o funcionamento
do sistema de saúde e que as atribuições de controle, regulação e avaliação devem ser
definidas através de pactuações efetuadas entre eles, com prioridade para: a avaliação
da organização do sistema e do modelo de gestão; a relação com os prestadores de
serviços; a qualidade da assistência e satisfação dos usuários e os resultados e impacto
sobre a saúde da população.
63
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Os processos de compras de bens e serviços com recursos públicos são regulados por
dispositivo constitucional44 e por legislação específica45 e sujeitos à fiscalização e con-
trole de instituições próprias, das quais as mais importantes são a Secretaria Federal de
Controle Interno, os Tribunais de Contas da União e dos Estados e o Ministério Público.
O Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal tem como missão avaliar a
ação governamental e a gestão dos administradores públicos federais, por intermédio da
fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial. A Secretaria
Federal de Controle Interno é seu órgão central.
44 Brasil, 1988, Capítulo VII, da Administração Pública, Art. 37, inciso XXI.
45 Uma das mais importantes é a Lei Federal 8.666, de 21/06/93 - Regulamenta o Art. 37, inciso XXI da Constituição
Brasileira e institui normas para Licitações e Contratos da Administração Pública, com as alterações da Lei
Federal 8.883, de 08/06/94 e Lei Federal 9.648, de 27/05/98.
46 Lei nº 10.180, de 6 de fevereiro de 2001 - art. 19 e 20.
47 Decreto Nº 4.427, de 17 de Outubro de 2002.
48 Lei Nº 8.625, de 12 de Fevereiro de 1993.
49 Brasil, 1988 - Cap. IV, Art. 129 - inciso II.
64
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras
leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:
(...)
a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor,
aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outros
interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;
(...)
VIII - ingressar em juízo, de ofício, para responsabilizar os gestores do dinheiro público condenados
por tribunais e conselhos de contas;
(...)
65
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
tivas sobre matéria de suas atribuições e a ele devem prestar contas todos os entes
públicos ou privados que utilizem, arrecadem, guardem, gerenciem ou administrem dinhei-
ros, bens e valores públicos.
Sua atuação tem sido extremamente importante não apenas na fiscalização, mas
também no estabelecimento de resoluções que firmam interpretação de dispositivos legais
sobre os quais não haja consenso entre os gestores, como ocorreu, por exemplo, com a
expressão “demais ações de saúde”, contida no parágrafo único do art. 2°, da Lei n°
8.142/90 e que vinha sendo utilizada para justificar o uso de recursos dos Fundos de
Saúde em outras áreas de política pública.51
Esse conjunto de instituições jogou importante papel na redução das práticas à margem
da lei que marcavam o sistema e eram objeto de constantes denúncias até o início da
década dos noventa. Mesmo que, pontualmente, ainda ocorram denúncias de corrupção
ou de superfaturamento em compras, configurando mau uso do recursos públicos, o proces-
so de accountability e a ação decidida dessas instituições, internas e externas, atuando
de forma descentralizada e estabelecendo punições aos responsáveis, conferiram ao sis-
tema um grau de controle sobre o gasto nunca antes experimentado. O avanço que se
torna necessário é a extensão desse esforço à verificação da qualidade e da efetividade
das ações e serviços disponibilizados pelo SUS aos cidadãos.
66
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
da atenção (o Brasil é, dentre os países que optaram por sistemas universais, o único em
que o gasto privado supera o gasto público). Persistem importantes desigualdades de
acesso entre cidadãos residentes nas diferentes regiões do país, não obstante os avanços
significativos observados na distribuição inter-regional dos recursos.
Como também foi apontado, o esforço de redistribuir foi ofuscado pelos seus efeitos
negativos, em razão das estratégias adotadas, que ocasionaram o enfraquecimento do
papel das instâncias subnacionais na gestão do sistema, persistindo como desafio o
desenho de políticas que permitam combinar a redistribuição de receitas ao fortaleci-
mento do processo de descentralização e da capacidade de gestão.
67
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
legal do comando único do sistema em cada esfera de governo fica comprometido, se não
houver autonomia sobre a gestão dos recursos e sobre a possibilidade de programá-los
sob a ótica das necessidades da população. Reduz-se também a possibilidade de que o
controle social opere induzindo políticas e estratégias mais adequadas.
A construção de um sistema que produza efeitos eqüitativos não pode também restrin-
gir-se à redistribuição de recursos destinados o custeio: é imprescindível uma política de
investimentos orientada para esse objetivo, que promova a expansão da rede e da oferta
de serviços de maneira a viabilizar o acesso, dimensão que ainda não foi objeto de
adequada atenção.
68
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
REFERÊNCIAS
BAHIA, Lígia. O mercado de planos e seguros de saúde no Brasil: tendências pós regula-
mentação. In: NEGRI, B; GIOVANNI, G. Brasil, radiografia da saúde, Campinas: Unicamp,
2001.
BARROS, Elizabeth; PIOLA, Sérgio; VIANNA, Salon. Política de saúde: diagnóstico e pers-
pectivas. Texto para Discussão, Brasília: IPEA, n. 401, 1996.
BARROS, Ricardo P. ; HENRIQUES, Ricardo; MENDONÇA, Rosane. A estabilidade inaceitável:
desigualdade e pobreza no Brasil. Texto para Discussão, Rio de Janeiro: IPEA, n. 800,
jun. 2001.
BRAGA, J. Carlos de Souza; PAULA, S. Góes. Saúde e previdências: estudos de política
social. São Paulo: CEBES, 1981.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado, 1988.
_______. Emenda Constitucional nº 29, de setembro de 2000.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 95, de 26 de janeiro de 2001. Norma Operacional
de Assistência à Saúde. Brasília, DF, 2001.
_______. Portaria nº 373, de 27 de fevereiro de 2002. Norma
Operacional de Assistência à Saúde. Brasília, DF, 2002.
_______. Sistema Único de Saúde. Departamento de Informática. Sistema de Informação
Ambulatorial. Banco de dados. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/tabnet>
_______. Sistema Único de Saúde. Departamento de Informática. Sistema de Internação
Ambulatorial. Banco de dados. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/tabnet>.
CARVALHO, Gilson. Financiamento federal para a saúde 1988-2001. 2002. 1v. Tese
(doutorado) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.
CORDEIRO, H. Sistema Único de Saúde. Rio de Janeiro: Ayuri Editorial, 1991.
CORREIA, M. Valéria C. Que controle social? Os conselhos de saúde como instrumento.
Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2000.
DALLARI, S. G. Municipalização dos serviços de saúde. São Paulo: Brasiliense, 1985.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios – PNAD: acesso e utilização de serviços de saúde. Brasília, DF, 1998.
_______. Pesquisa Assistência Médica e Sanitária – AMS. Brasília, DF, 1999.
NEGRI, Barjas; DI GIOVANNI, Geraldo (Org.). Brasil: radiografia da saúde. Campinas, 2001.
69
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
70
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
RESUMO
Este artigo apresenta os resultados de seis estudos de caso, organizados pela Organiza-
ção Pan-Americana da Saúde, através do Observatório da Reforma do Sistema de Saúde
no Brasil, com o intuito de verificar a reação da gestão municipal, sob diferentes formas
de adesão ao SUS, aos incentivos do PAB Variável e às transferências federais destinadas,
entre outras, às campanhas desenvolvidas pelo Ministério da Saúde. Sintetizando os
principais resultados obtidos na pesquisa, o artigo discute, para os municípios estudados,
se o PAB Variável induziu a política de saúde local, impedindo que o município alocasse os
recursos próprios e transferidos segundo as necessidades expressas em seu planejamento.
Além disso, é enfatizado se há diferenças de impacto sobre a gestão quando o município
é de gestão Plena da Atenção Básica ou Plena do Sistema Municipal. É discutida, ainda, a
conseqüência das transferências sob a forma de campanhas, tais como a de combate ao
câncer de colo uterino, cirurgia de catarata, entre outras, e de ações estratégicas.
ABSTRACT
This article presents the results of six case studies organized by Pan-American Health
Organization, through its Observatory of Brazilian Reform Health System. Its objective is
to analyse the municipal management reaction, under the different levels of management
in Health Unified System (SUS), to “PAB-variável” incentives and to federal transfers
directed, among others, to the “campaigns” developed by the Ministry of Health. Summing
71
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
up the main results found in the research, this article discusses, to the municipalities
studied, if the “PAB-variável” has induced local heath policy, preventing the municipality
to allocate its own and transfered resources according to health necessities raised in its
planning. Beyond this, it is emphasized if there are different results when the municipality
is under Basic Care Management or Fully Municipal System Management. It is also discussed,
the consequence of federal transfers under “campaigns”, such as “combate ao câncer de
colo uterino”, “cirurgia de catarata”, amonst others, and strategic actions.
INTRODUÇÃO
Ao longo da década de 90, o avanço do processo de municipalização, a universalização
da atenção básica e o estabelecimento de novas sistemáticas para o financiamento das
ações e serviços de saúde foram prioridades-chave da política desenvolvida pelodo in-
vestimento do Ministério da Saúde. Na tentativa de reorientar a reorganização da lógica
assistencial do SUS e da política de saúde, o Ministério atribuiu ênfase à implementação
de uma nova dinâmica para os mecanismos de transferência e de aplicação dos recursos
da esfera federal. De um lado, perseguindo uma reforma mais ampla do financiamento
do setor saúde, o governo federal promoveu e estimulou o aumento dos recursos finan-
ceiros destinados à atenção básica, priorizando as transferências a municípios, através
da introdução de incentivos financeiros, particularmente do Piso de Atenção Básica Variá-
vel. De outro lado, foram expandidas as transferências fundo a fundo para a Média e Alta
Complexidade e as transferências relacionadas às campanhas desenvolvidas pelo Minis-
tério da Saúde.1
1 Para o o conhecimento da despesa do Ministério da Saúde realizada sob ass formas s de pagamentos direto aos
prestadores de serviços e de transferências aos estados e municípios habilitados no SUS, no período entre 1997
e 2001, ver Marques & Mendes (2002).
72
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
73
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
NOTA METODOLÓGICA
De forma específica, o artigo investiga se o PAB Variável induz à determinação da
política de saúde municipal, impedindo que o município aloque os recursos próprios e
transferidos segundo as necessidades sentidas pelo planejamento local, bem como ana-
lisa se o impacto do PAB Variável sobre a definição da política de saúde é diferente
quando o município é de gestão plena da Atenção Básica ou Plena do Sistema Municipal.
São analisadas, ainda, as conseqüências das transferências que compreendem campa-
nhas de combate ao câncer de colo uterino, cirurgia de catarata, entre outras, e ações
estratégicas na política de saúde dos municípios de gestão plena do sistema municipal.
74
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Quadro 2
Caracterização Geral dos Municípios
75
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 3
SUS: Estrutura da oferta por tipo de serviço e segundo a modalidade
de gestão local em seis municípios selecionados - 2001
O período analisado foi 1998/2001, uma vez que a implantação dos diferentes incen-
tivos ocorreu nesses anos. Para a coleta de dados foram utilizados dois instrumentos: a
análise documental e o questionário auto-aplicável. O primeiro é integrado por: extratos
das contas municipais das transferências federais para o Fundo Municipal de Saúde;
mecanismos de planejamento e gestão da política de saúde, preconizados pelo SUS, tais
como a Agenda Municipal de Saúde, o Plano Municipal de Saúde e o Relatório de Gestão;
Balanços Gerais Municipais e o banco de dados do Sistema de Informações sobre Orça-
mentos Públicos em Saúde — Siops para a análise das despesas executadas em saúde.
76
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
O período compreendido para análise das informações foi de 1998 a 2001, uma vez
que, neste período, foram implementados os incentivos, traduzindo uma nova sistemática
para as transferências federais.
Nos anos 90, o comprometimento dos municípios com a implementação do SUS resultou,
entre 1994 e 2000, numa redução do gasto público total per capita de R$230,29 para
R$238,17 (valores corrigidos pelo IGP-DI de dezembro de 2001), ampliando a participa-
ção dos municípios nesse gasto de 17,2% para 24,3%.1
Esse mesmo tipo de comprometimento foi observado com relação aos municípios
estudados. Contudo, a pesquisa realizada revelou que entre esses municípios não há
correlação entre o seu grau de comprometimento com o gasto com saúde e a forma de
habilitação ao SUS. No ano de 2001, por exemplo, Natividade, município em gestão plena
da atenção básica, superou em quase 2 pontos percentuais o percentual médio de aplicação
da receita própria para os 6 municípios analisados (19,75%). Já Resende e Assis, em
gestão Plena do Sistema Municipal, aplicaram abaixo da média em 2,27% e 1,48%, res-
pectivamente (Gráfico 1).
1 Informações obtidas em Marques & Mendes (2001); e para o ano de 2000, os dados foram extraídos de Faveret
et al (2001), com base no Siops.
77
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A idéia geralmente difundida de que municípios em gestão mais avançada acabam por
comprometer maior volume de seus recursos próprios em saúde somente se confirmou
em Jacareí (2,79% acima da média em 2001) e em Ipaussu, pelo seu reverso, que aplicou
0,95% abaixo da média no mesmo ano. No caso de Lindolfo Collor, que não forneceu
dados de 2001, para os demais anos registrou, tal como Ipaussu, comprometimento
abaixo da média.
78
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Tabela 1
SUS: Distribuição percentual, por componente do PAB, das transferências do Ministério da Saúde destina-
das à atenção básica em três municípios sob Gestão Plena da Atenção Básica.
1998 - 2001
79
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
80
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Tabela 2
SUS: Distribuição percentual, por componente do PAB, das transferências do
Ministério da Saúde destinadas à Atenção Básica e aos demais níveis de atenção em
três municípios sob Gestão Plena do Sistema Municipal de Saúde
1998 - 2001
81
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 4
Ranking dos componentes do PAB-variável nos municípios, por ordem de importância (2001)
Plena Básica
Natividade Ipaussu Lindolfo Collor
PSF Ep.e Controle Doenças PSF
Ep.e Controle Doenças Comb.Carências Nutric. Farmácia Básica - Munic.
Comb.Carências Nutric. Vig.Sanitária Comb.Carências Nutric.
Vig.Sanitária - Vig.Sanitária
Plena Sistema Municipal
Resende Assis Jacareí
Ep.e Controle Doenças PSF Ep.e Controle Doenças
PSF Ep.e Controle Doenças Comb.Carências Nutric.
PACS PACS Vig.Sanitária
Farmácia Básica - Munic. Comb.Carências Nutric. PSF
Comb.Carências Nutric. - PACS
A análise das transferências federais para a Média e Alta Complexidade, nos municí-
pios em gestão Plena do Sistema, revela que sua participação relativa no total das trans-
ferências foi decrescente, em que pese representarem cerca de 70% desse total. Regis-
tre-se que no período a queda foi de: -8,2% em Resende; -2,3% em Assis e -10,3% em
Jacareí. Isso se deveu ao aumento de importância atribuído pelo governo federal à aten-
ção básica ao longo da segunda metade dos anos 90 (Tabela 3).
82
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Tabela 3
SUS: Distribuição percentual, por item específico, das transferências do Ministério da Saúde destinadas à
Média e Alta Complexidade em três municípios sob gestão Plena do Sistema — 1998-2001
em % e R$ mil de dez/2001
TIPO DE DESPESA 1998 1999 2000 2001 1998 1999 2000 2001 1998 1999 2000 2001
MÉD.ALTA
COMPLEXIDADE 74,02 75,90 71,25 68,00 78,08 81,78 78,48 76,25 78,61 76,27 73,23 70,55
Assist.Hosp.e
Amb.(MAC) 70,86 75,37 70,90 24,47 76,22 80,9 77,71 31,59 76,66 74,58 71,10 28,69
Prog.Comb.
Câncer Colo Uterino - 0,07 0,07 0,04 0,34 0,47 0,16 - 0,96 1,90 0,85
Transplantes - - - - - - 0,02 0,01 - - 0,01 -
Camp.Cirurgia
de Catarata - 0,03 0,01 - - 0,54 0,26 0,16 - 0,17 - 0,31
P.Nac.Controle
da Tuberculose - 0,06 0,11 0,11 - - 0,01 - - - - 0,01
Camp.Cirurgia
de Próstata - - 0,13 0,35 - - - 0,07 - 0,08 0,06 0,06
Camp.Cirurgia
de Varizes - 0,02 0,01 0,06 - - - - - 0,18 0,06 0,01
Camp.Retinopatia
Diabética - - 0,02 0,03 - - - - - - - -
Gestantes de
A.Risco/ExtraTeto - 0,35 - - - - - - - 0,18 - -
Co-financ.Custeio
Un.Próprias - - - - - - - 0,16 - - - -
G.P.Sistema -
Média Complex. - - - 42,17 - - - 36,62 - - - 30,64
G.P.Sistema -
Alta Complex. - - - 0,77 - - - 7,46 - - - 9,98
Fator Recomp.
25% (Plena) 3,16 - - - 1,86 - - - 1,95 - - -
Impacto da
Psiquiatria - - - - - - - 0,02 - - - -
Antígeno HLA - - - - - - - - - - 0,07 -
Neurocirurgia -
Extra Teto - - - - - - - - - 0,04 - -
Leitos UTI -
Extra Teto - - - - - - - - - 0,06 - -
Camp.Cirurgia de
Hérnia Inguinal - - - - - - - - - 0,02 - -
Cirurgia Oncológica - - - - - - - - - - 0,03 0,02
DEMAIS NÍVEIS
DE ATENÇÃO 25,98 24,10 28,75 32,00 21,92 18,22 21,52 23,75 21,39 23,73 26,77 29,45
TOTAL % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
TOTAL 5.498 6.677 6.685 6.382 6.736 8.943 7.898 8.077 7.913 9.822 8.580 8.640
Fonte: www.datasus.gov.br - acesso direto em 10/092002
Obs: Dados referem-se ao regime de competência; deflator médio IGP-DI/FGV
83
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Ainda, nesta perspectiva, destaca-se que, no ano de 2001, foram criados 16 itens
como “desdobramento” das transferências federais para Ações Estratégicas nos três
municípios de gestão Plena do Sistema Municipal. Os recursos repassados para esse
conjunto de ações representaram, do total das transferências federais, 2,3% em Jacareí,
1,34% em Assis e 0,75% em Resende. Essas Ações Estratégicas referem-se a, entre outras,
Campanhas de Oftalmologia e Câncer de Colo Uterino (ambas em Jacareí), Próstata,
Tuberculose e Varizes (Resende) (Tabela 4).
Tabela 4
SUS: Distribuição percentual, por item específico, das transferências do
Ministério da Saúde destinadas às Ações Estratégicas em três municípios sob
Gestão Plena do Sistema Municipal – 2001 - em % e R$ mil de dez/2001
84
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
85
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 5
Percentual do gasto com Pessoal no total da despesa
com saúde nos municípios — 1998–2001
Tabela 6
Percentual do subprograma Assistência Médica e
Sanitária nos municípios de Plena do Sistema — 1998–2001
Dep de Administração
em Saúde 69,46 72,57 74,72 72,31
86
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
87
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
88
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
programa voltado à saúde do trabalhador, que não conta com recursos federais. Essa
especificidade tem a ver com a sua realidade econômica. Lindolfo Collor fornece aos
municípios vizinhos carvão vegetal, originado da grande quantidade de acácia negra
plantada em seu território e também couro e calçados. Sua população ocupada se distribui
em 70% na indústria e madeireiras, 15% no comércio e nos serviços e o restante na
agricultura, pecuária e silvicultura. Este quadro econômico responde por si próprio à
necessidade do município em realizar um programa de saúde do trabalhador.
89
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
parte, comprometem-se com programas que não contam com recursos específicos repas-
sados pelo Ministério da Saúde. Foram encontrados: em Assis — insistência no âmbito do
planejamento para a implantação de um programa de Saúde do Trabalhador; em Resende
e Jacareí — atenção à saúde específica ao adolescente. Ambos municípios dispõem em
sua rede de serviços de saúde de Centros Especializados em Saúde do Adolescente (ver
Quadro 2). Particularmente, nos documentos de Resende, é destacada a atuação do Centro
de Assistência ao Adolescente e, ainda, o funcionamento do Programa de Atenção à Depen-
dência Química.
Observou-se que não foram encontradas citações nos documentos dos três municípios
acerca das “campanhas” incentivadas financeiramente pelo Ministério da Saúde. Em que
pese os municípios de Assis e Jacareí receberem recursos para o Programa Combate ao
Câncer de Colo Uterino e para a Campanha de Cirurgia de Catarata, e Resende para a
Campanha de Cirurgia de Próstata e o Programa Nacional de Controle de Tuberculose, não
são citados como ações de saúde consideradas prioritárias por eles. Contudo, deve ser
feito uma ressalva ao Programa Nacional de Controle de Tuberculose de Resende, pois
conforme já mencionado, esse município relacionou ações de controle à tuberculose nos
seus documentos.
90
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
Segundo os secretários de saúde dos municípios, alguns dos programas ou ações desses
municípios foram alçados a prioritários devido aos incentivos do Ministério da Saúde.
Exemplos: Resende — onde os incentivos do PACS e PSF contribuíram para que a alocação
91
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
a) Resende considera que deveria ser levado em conta: o quanto das receitas próprias
o município aloca em saúde, considerando sua população; se o município atende as ne-
cessidades locais; os indicadores sócio-econômicos, o perfil epidemiológico, a capacida-
de instalada, entre outros. Além disso, Resende defende o repasse global, para a atenção
à saúde da população;
92
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
c) Natividade sugere a elevação dos valores per capita fundo a fundo e a definição de
pactos e metas que levem em consideração as especificidades dos municípios;
d) Lindolfo Collor defende que o critério pode ser o populacional, mas que o valor
deve ser majorado. Além disso, refletindo sua realidade, defende a diferenciação dos
municípios que não dispõem de rede hospitalar.
93
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
94
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
CONCLUSÕES
95
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Porém, não faltaram sugestões desses gestores municipais quanto a novos critérios
para a definição dos repasses. Dentre os mencionados, salientam: a utilização de crité-
rios epidemiológicos, respeitando as especificidades e o planejamento local; elevação
dos valores per capita dos repasses fundo a fundo; e a definição de metas e resultados a
serem definidos em pactuação. Ainda que possa haver muita polêmica sobre os mecanis-
mos de transferências de recursos, merecem destaque esses pontos levantados pelos
gestores uma vez que contribuem para uma alocação de recursos mais eqüitativa em
área pública fundamental como é a da saúde.
Além disso, os alertas dos gestores dos Fundos Municipais de Saúde quanto à
operacionalização das atuais formas de transferências adicionam aspectos importantes
a serem considerados para a futura agenda de revisão das sistemática de repasses aos
municípios, quais sejam: a execução financeira dos recursos da atenção básica e da
média complexidade é prejudicada, uma vez que os recursos estão vinculados a progra-
mas e ações, não podendo ser remanejados conforme as necessidades em saúde, e a
proliferação de contas bancárias individuais vinculadas a cada forma de incentivo au-
menta o volume de trabalho contábil, incompatível com o número disponível de técnicos
na área financeira, bem com o conhecimento técnico específico, necessário à melhor
gestão dos recursos.
Por fim, nunca é demais reafirmar que essas são considerações decorrentes da análise
dos questionários respondidos pelos gestores municipais realizados nos municípios estu-
dados para os fins particulares dessa pesquisa. Qualquer generalização deve ser muito
cuidadosa, embora a pesquisa tenha se preocupado em estudar casos representativos
das diversas realidades dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Mesmo assim, os resultados apontam para a necessidade de uma maior preocupação com
os atuais instrumentos de transferência de recursos do Ministério da Saúde aos municípios.
A reversão das atuais sistemáticas para o financiamento das ações e serviços de saúde
requer uma ampla reforma, de maneira a garantir o avanço do processo de municipalização
do SUS e de uma política de saúde universal definida localmente.
96
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
REFERÊNCIAS
97
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
98
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
A seleção dos trabalhos a serem publicados está baseada nos seguintes critérios gerais:
trabalhos originais inéditos, relevância do tema; qualidade formal do texto e solidez
científica; conclusividade; atualidade da contribuição; contribuições teóricas e de
aplicabilidade na prática e vinculação com atividades de cooperação da Opas na área de
desenvolvimento de sistemas e serviços de saúde. Excepcionalmente serão analisados
trabalhos alheios à cooperação, sempre que tenham relação com áreas temáticas do Projeto.
No caso de publicações com autoria externa, as opiniões dos autores são de sua exclu-
siva responsabilidade e não refletem necessariamente critérios nem políticas da Opas.
Tipologia de publicações:
A Série publicará, entre outros, textos integrais, como artigos, ensaios, pesquisas,
relatórios; textos preparados através de meta-análise; e destaques em seções curtas,
demandados pelo Projeto.
99
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Os manuscritos aceitos passam por um processo editorial que, de acordo com o for-
mato da publicação, pode requerer, se necessário, sua condensação, e/ou supressão de
quadros ou anexos. A versão editada será remetida ao autor para aprovação, no caso de
autores externos à Organização.
Direitos de reprodução:
Apresentação:
O texto deve ser apresentado em folhas tamanho A4 (212 x297mm), em fonte tamanho 12,
e escritas a espaço duplo. Os gráficos, tabelas e/ou figuras deverão ser mantidos ao
mínimo e enviados em impressão separada de alta qualidade, em preto e branco e/ou
diferentes tons de cinza e/ou hachuras. A totalidade do trabalho deve acompanhar-se de
cópia em disquete.
Referências Bibliográficas
São essenciais para identificação das fontes originais de conceitos, métodos e técnicas
referidas no texto. Artigos de pesquisa devem conter um mínimo de 20 referências biblio-
gráficas pertinentes e atualizadas.
100
1. Financiamento do Sistemas de Saúde no Brasil: Marco Legal e Comportamento do Gasto
2. O Papel e as Consequências dos Incentivos como Estratégia de Financiamento das Ações de Saúde
a) Série Monográfica:
BOURDIEU, P. O campo científico. São Paulo: Ed. Ática, 1976. (Coleção Grandes cien-
tistas sociais).
b) Capítulo de Monografia:
DAVIES, A. M. The evolving science of health systems research. In: World Health
Organization. From research to decision making: case studies on the use of health
systems research. Geneva, 1991. 139p.
c) Artigo de Revista:
FARFAN, G. et. al. Digestive disease in the elderly. Rev. Gastroenterol. Lima, v.11,
n.3, p.164-170, 1991.
ROSENTHAL, G. et. al. Does good health services research produce good health policy?
Health Policy Quarterly, [S.l.], v. 1, n.1, 1981.
e) Documento técnico
SECLEN, Juan et. al. Estudio comparativo de la calidad de atención y uso de servicios
de salud materno perinatales (1997-2000). Lima: Ministerio de Salud del Peru, 2002.
101
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2.Exemplos de Citações
a) Citação Direta
b) Citação de Citação
Segundo Silva (1983 apud ABREU, 1999, p.3) diz ser [...]
Para maiores informações sobre o estilo da ABNT, consultar o site da Internet: http:/
/bu.ufsc.br/framerefer.html
102
SÉRIE DE DOCUMENTOS
Volume 1
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico
2. Seminário: o Sistema Único de Saúde e a
Regionalização
3. Seminário: Perspectiva para a descentralização
e a Regionalização no Sistema Único de Saúde
Volume 2
Produção de conhecimento em Política,
Planejamento e Gestão em Saúde e
Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Volume 3
Saúde nos aglomerados urbanos: uma visão
integrada
PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE APRESENTAÇÃO
SÉRIE DE DOCUMENTOS ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (Opas/OMS)
A Organização Pan-Americana da Saúde
SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE – SAS — Opas, exercendo sua atribuição de
série técnica
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico que a concretização desta ação, no
Projeto de Desenvolvimento de
de Sistemas e Serviços de Saúde/Opas
apresenta a Série Técnica como uma
das atividades de gestão do conhecimen-
to, necessária à construção e à consoli-
4
para a melhoria da qualidade da aten-
ção à saúde individual e coletiva, a re-
dução de desigualdades e o alcance da
eqüidade.
Brindamos a comunidade de saúde
pública do país e da Região das Amé-
ricas com esta publicação. Esperamos
que possa se tornar um espaço vivo
de apoio à construção do SUS no Brasil
e que proporcione visibilidade e acesso
aos produtos concretos advindos da
Setor de Embaixadas Norte - Lote 19
4
Cooperação Técnica da Opas.
Brasília-DF - 70800-400
www.opas.org.br Sigamos avançando na conquista pela
qualidade de vida e saúde da população.
PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE APRESENTAÇÃO
SÉRIE DE DOCUMENTOS ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (Opas/OMS)
A Organização Pan-Americana da Saúde
SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE – SAS — Opas, exercendo sua atribuição de
série técnica
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico que a concretização desta ação, no
Projeto de Desenvolvimento de
de Sistemas e Serviços de Saúde/Opas
Volume 4
apresenta a Série Técnica como uma
1. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil:
das atividades de gestão do conhecimen-
marco legal e comportamento do gasto
to, necessária à construção e à consoli-
5
para a melhoria da qualidade da aten-
ção à saúde individual e coletiva, a re-
dução de desigualdades e o alcance da
eqüidade.
Brindamos a comunidade de saúde
pública do país e da Região das Amé-
ricas com esta publicação. Esperamos
que possa se tornar um espaço vivo
de apoio à construção do SUS no Brasil
e que proporcione visibilidade e acesso
aos produtos concretos advindos da
Setor de Embaixadas Norte - Lote 19
5
Cooperação Técnica da Opas.
Brasília-DF - 70800-400
www.opas.org.br Sigamos avançando na conquista pela
qualidade de vida e saúde da população.
APRESENTAÇÃO
série técnica
Projeto de Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde
5
MODERNIZAÇÃO DAS SECRETARIAS DE ESTADO DA SAÚDE:
COOPERAÇÃO TÉCNICA DESCENTRALIZADA PARA O DESENVOLVIMENTO
DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE NO BRASIL, ANO 2002
BRASÍLIA — DF
2003
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Eduardo Guerrero
Luciana Chagas
Luisa Guimarães
Vinicius Pawlowski
BRASÍLIA – DF
2003
Elaboração, distribuição e informações
Organização Pan-Americana da Saúde
Organização Mundial da Saúde
Setor de Embaixadas Norte, 19
70.800-400 — Brasília — DF
http://www.opas.org.br
Projeto de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde/OPAS
http://www.opas.org.br/servico/paginas/index.cfm
1. Coordenador do Projeto
Júlio Manuel Suárez
2. Conselho editorial
Juan Seclen
Luciana Chagas
Luisa Guimarães
Rosa Maria Silvestre
3. Apoio técnico e administrativo:
Luciana de Deus Chagas
Rosa Maria Silvestre
4. Normalização
Fernanda Nahuz
Leila Barros
Luciana dos Santos
Revisão
Manoel Rodrigues Pereira Neto
Capa, Projeto Gráfico e DTP
Wagner Soares da Silva
Tiragem:
1.500 exemplares
NLM W84
Quadro 11 – Número de leitos, por natureza, por 1000/ha em 2001 ................... 101
LISTA DE GRÁFICOS
Tabela 3 - Produto Interno Bruto Total e per capita por Estado, 1999 ................... 89
SIGLA SIGNIFICADO
Bm Banco Mundial
Ms Ministério da Saúde
Rh Recursos Humanos
PREFÁCIO ......................................................................................... 14
APRESENTAÇÃO .................................................................................. 16
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 19
POTENCIALIDADES ............................................................................... 65
A atuação da Opas no apoio às necessidades dos governos locais visa consolidar uma
gestão de programas de saúde com bases democráticas. A modalidade de Cooperação
Técnica Descentralizada gera uma renovação de valores e compromissos com a sociedade
para revitalizar a missão permanente de saúde para todos e redução de desigualdades
sociais.
A Opas, por sua essência, visa a melhoria das condições e da qualidade de vida dos
cidadãos, e a CTD tem um papel importante na concretização deste compromisso de luta
pela redução de enfermidades imunopreviníveis e infectocontagiosas; ações de sanea-
mento e proteção ao meio ambiente; formulação e implementação da estratégia de ação
primária e desenvolvimento local para melhorar a cobertura e a qualidade de serviços de
saúde.
Jacobo Finkelman
Aceitei o convite, que muito me honrou, para escrever algumas linhas de apresentação
deste volume da Série Técnica do Projeto de Desenvolvimento de Serviços de Saúde, da
Organização Pan-Americana da Saúde sobre a Cooperação Técnica Descentralizada e a
modernização das Secretarias de Estado da Saúde (SES), por duas razões: por também
ter sido ator desse processo e, portanto, sujeito/objeto da Cooperação; e pela oportuni-
dade de fazer algumas reflexões a posteriori sobre essa importante ação desenvolvida
pela Opas/OMS em apoio à consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.
Assistência à Saúde (NOAS), teve ainda viés restrito à organização regional da assistência
médica especializada, denominada de média e alta complexidade, no interior de cada
estado. Entretanto, ao reforçar o papel da SES de coordenação e regulação da assistência
médica e de articulação de redes de serviços municipalizados e regionalizados, a NOAS
contribui para o desenvolvimento desta nova e importante atribuição da gestão estadual.
Ocorreu também, pari passu à descentralização de ações e de serviços, o incremento
gradual da capacidade de muitas Secretarias de Saúde nos estados, sobretudo naqueles
aspectos que podemos classificar como macrofunções do gestor estadual. Assim, a SES
passa a exercitar as capacidades, algumas vezes ainda de modo incipiente, de formular
e implementar políticas; de organizar, coordenar, controlar, avaliar e regular ações de
prestação de serviços de saúde; de cooperação técnica e financeira com os municípios,
sobretudo na área da atenção primária; e de formação e desenvolvimento de recursos
humanos.
Ao lado dessas também são implementadas outras importantes funções: a conforma-
ção de sistemas estaduais e regionais de vigilância e o apoio à municipalização destas
ações; e o desenvolvimento de competência técnica para a gestão de sistemas de infor-
mação. Finalmente, a SES, ao deixar de prestar serviços diretamente aos usuários do
sistema, passa a especializar-se na execução direta de ações e na organização de servi-
ços de referência em áreas como: laboratórios de saúde pública, serviços de hemoterapia
e hematologia, assistência farmacêutica, serviços de saúde mental e reabilitação física,
entre outros.
Este conjunto configura, sem esgotar, o amplo e complexo campo de responsabilidades
das esferas estaduais de governo na saúde.
O presente estudo da Cooperação Técnica da Opas, sob o prisma da modernização das
Secretarias de Estado da Saúde, analisa aspectos importantes desse processo de ade-
quação das SES aos novos papéis e as reformas necessárias para isto, seja na estrutura
organizacional, seja nas estruturas funcionais. Assim, a experiência dos 5 Estados
cooperadores é bastante reveladora, tanto de conflitos e contradições entranhados por
esse rico processo de construção coletiva, quanto dos limites e obstáculos que ainda
necessitam ser superados.
Como é ressaltado neste estudo, pode-se afirmar que o atual estágio de desenvolvi-
mento institucional das Secretarias de Estado da Saúde é de transição, devido à nítida
superposição e convivência simultânea de papéis e estruturas no âmbito de cada SES.
Essa situação é ainda mais complexa porque ocorre em um quadro restritivo geral, pois
em que pesem as especificidades econômicas, sociais e políticas de cada estado brasileiro,
todos estão submetidos, com maior ou menor intensidade, às exigências do ajuste fiscal.
20
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Essa realidade tem imposto limites muito claros, sobretudo em relação ao financiamento
e às políticas de pessoal.
Assim, a reorganização das ações e serviços de saúde de acordo com os princípios e
diretrizes do Sistema Único de Saúde — da universalidade e da integralidade —, entre
outros, em uma República Federativa como o é o caso do Brasil, com três instâncias de
governo autônomas e uma sociedade democrática crescentemente participativa, não é
tarefa simples, fácil e muito menos rápida. Cada vez mais é patente a necessidade de
que a atitude que deve presidir as relações entre os gestores do SUS é a cooperação e
não a competição. A noção de que o arcabouço institucional do Sistema possa prescindir
de alguma das instâncias de governo ou, em outros termos, que possam existir entes
federados com diferentes “valências ou potências” é politicamente equivocada e não
contribui para o fortalecimento do sistema.
Por isso mesmo, o atual estágio de consolidação do Sistema de Saúde no Brasil exige
o desenvolvimento simultâneo da capacidade de autoridade sanitária das esferas de
governo federal, estadual e municipal para que exerçam de modo articulado as funções
essenciais da saúde pública e possam, desse modo, formular políticas, coordenar e regular
sistemas de saúde, manter a governabilidade do setor e garantir o direito à saúde da
população.
A continuidade de estudos e pesquisas sobre modernização das SES, assim como de
atividades de cooperação técnica na modalidade desenvolvida pela Opas/OMS deve ser
priorizada nas agendas pactuadas como um dos eixos fundamentais das relações
intergovernamentais no SUS. Esse pressuposto foi reafirmado em maio deste ano, em
Brasília, na oficina Contribuições para o Processo de Descentralização do SUS, realizada
pelo Ministério da Saúde, que finalizou as atividades do “Projeto de Fortalecimento e
Apoio ao Desenvolvimento Institucional da Gestão Estadual do SUS”. As principais con-
clusões de ambas oficinas, a de Salvador e a de Brasília, apontam na direção da coopera-
ção para a construção do SUS.
Reafirmo, assim, a importância desta publicação e do trabalho de Cooperação Técnica
Descentralizada que a Organização Pan-Americana da Saúde realiza em prol da consolidação
do Sistema Único de Saúde no Brasil.
21
A COOPERAÇÃO TÉCNICA DESCENTRALIZADA
E A MODERNIZAÇÃO DAS SECRETARIAS DE
ESTADO DA SAÚDE
1 O texto desta publicação tem como base o registro das apresentações, revisado pelos participantes e
disponível à consulta no Centro de Documentação da Opas/OMS (Cedoc).
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
24
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
25
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
oficina de dois dias não seja espaço suficiente para propiciar o conhecimento de todas as
transformações de uma década vividas pelas SES, foi um espaço privilegiado da CTD
para indicar questões a que os governos se dedicaram nos últimos anos, seja em decor-
rência da política estadual ou da federal ou de pressões locais organizadas.
Nesse sentido, com base nos relatos dos estados na Oficina de Modernização foram
destacadas algumas tendências dos processos de modernização daquelas SES, no contexto
de construção do SUS. De algum modo e intensidade os governos passaram por processos
de diminuição de todas as estruturas administrativas, alcançando reformas significativas.
No caso das SES as funções de provisão de serviços foram substituídas pelas de coorde-
nação, regulação, cooperação técnica e fiscalização. Tais funções devem dar viabilidade
às adaptações institucionais de acordo com o modelo de descentralização nacional, regido
por normas federais que atribuem responsabilidades para cada esfera e definem ações e
serviços prioritários para custeio e financiamento.
26
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Se muito vale o já feito, mais vale o que será, e o que foi feito é preciso conhecer
para melhor prosseguir.2 É com essa perspectiva que o Projeto de Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde está difundindo o presente informe.
27
PARTE 1 – REFORMAS SETORIAIS NA REGIÃO DAS AMÉRICAS:
CONTRIBUIÇÕES TEÓRICO-PRÁTICAS
CAPÍTULO 1
CONTEXTUALIZAÇÃO DOS PROCESSOS DE
REFORMA SETORIAL E MODERNIZAÇÃO
INSTITUCIONAL NAS AMÉRICAS
A Oficina de Modernização das SES, além do relato da situação de reforma na visão
dos gestores estaduais, teve como subsídio a conferência de José María Marin, consultor
da Divisão de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde da sede da Opas/OMS,
que em uma perspectiva da Região das Américas introduziu quatro elementos de reflexão
sobre o desenvolvimento da capacidade da autoridade sanitária para o exercício descen-
tralizado da gestão em saúde.3
Em síntese, os quatro elementos propostos por José María Marin permitiram traçar
paralelos entre a experiência regional e a do Brasil com referência à modernização das
SES, especificamente dos estados presentes na Oficina. Isso foi possível porque, mesmo
com variadas especificidades presentes em cada país, alguns fenômenos relacionados ao
processo de modernização dos órgãos gestores da saúde são comuns a todos quando se
trata do desenvolvimento da autoridade sanitária.4
O primeiro elemento de reflexão apontado por Jose Maria Marin refere-se à possibili-
dade de identificar um marco comum ao processo de modernização das SES, no contexto
das reformas relacionado aos princípios do SUS. As identidades do exercício da gestão
setorial nos processos de reforma e de modernização do Estado decorrem, em princípio,
de características globais dos cenários e das similaridades nos processos de gestão pú-
blica presentes tanto no Brasil quanto nas Américas.
Para tal desafio, os gestores em cada nível do Sistema devem estar preparados para
assumir a condução setorial, entendida como o acúmulo de recursos técnicos e políticos.
E, além disso, devem assumir o exercício das funções de formular, organizar e dirigir a
execução da política de saúde por meio da definição de objetivos nacionais e subnacionais,
da elaboração e implementação da planos estratégicos de proteção social em saúde, do
5 Sobre a descrição e análise de mudanças setoriais em alguns países da América Latina, ver Guimarães (2001).
32
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
O terceiro aspecto para a reflexão articula, por sua vez, a implantação da descentra-
lização com o fortalecimento do poder sanitário, envolvendo a harmonização da provisão
de serviços de saúde pública e da atenção às pessoas.
Coordenação da descentralização
33
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A estrutura conceitual das funções essenciais de saúde pública difundida pela Opas/
OMS pode apoiar o desenvolvimento das capacidades, atribuições e metas de gestão
para o exercício da coordenação da descentralização.6 A incorporação na prática de ges-
tão das funções essenciais instrumentaliza para o enfrentamento de questões como:
compatibilização no planejamento setorial de bens públicos meritórios e de alta
externalidade positiva; a complexidade crescente e o impacto dos riscos ambientais e
dos modos de vida e comportamentos sociais na saúde; e, ainda, a compatibilização de
áreas e recursos de intervenção estatal com as necessidades e práticas sociais em saúde
pública.
6 As funções essenciais de saúde pública são: monitoramento, avaliação e análise da situação de saúde; vigilância
de saúde pública, investigação e controle de riscos e danos em saúde pública; promoção da saúde; participação
dos cidadãos em saúde; desenvolvimento de políticas e capacidade institucional de planejamento e gestão em
saúde pública; fortalecimento da capacidade institucional de regulamentação e fiscalização em saúde pública;
avaliação e promoção do acesso eqüitativo aos serviços de saúde necessários; desenvolvimento de recursos
humanos e capacitação em saúde pública; garantia e melhoria da qualidade dos serviços de saúde individuais e
coletivos; pesquisa em saúde pública; redução do impacto de emergências e desastres em saúde (www.opas.org.br
servico).
34
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
7 Dos estados da CTD, apenas Rondônia não estava habilitado na Noas; os demais inclusive estiveram habilitados na
NOB/96: Bahia e Rio Grande do Sul, na condição Avançada do Sistema Estadual, e Goiás e Paraná, na condição Plena
do Sistema Estadual. Quanto à habilitação de municípios nos estados da CTD, observa-se que, embora na NOB/96
tenha atingido 100%, mantendo a tendência de concentração na condição Plena da Atenção Básica, na Noas apenas
8 municípios estão habilitados na Bahia; 8 em Goiás; e 12 no Paraná (informações obtidas na SAS/MS, em 2002).
8 No caso dos estados do Paraná e Rondônia, a Opas/OMS tem participação mais direta; nos estados da Bahia e
Goiás, a Opas/OMS tem apoiado as iniciativas já presentes; e no caso do Rio Grande do Sul tem acompanhado os
avanços em relação à modernização da Secretaria de Estado da Saúde.
9 A lista dos participantes encontra-se no início do texto.
35
PARTE 2 – MODERNIZAÇÃO DAS SECRETARIAS DE ESTADO DA SAÚDE
NA REFORMA SETORIAL NO BRASIL: EXPERIÊNCIAS NOS ESTADOS
DA BAHIA, GOIÁS, PARANÁ, RONDÔNIA E RIO GRANDE DO SUL.
CAPÍTULO 2
RESPONSABILIDADES DAS SECRETARIAS
DE ESTADO DA SAÚDE:
AVANÇOS E LIMITAÇÕES NO PERÍODO DE 1999 A 2002
10 Nas eleições de 2002 o panorama dos governos estaduais foi o seguinte: na Bahia permaneceu o Partido da
Frente Liberal; em Goiás permaneceu o Partido da Social Democracia Brasileira; no caso do Paraná houve
mudança, do Partido da Frente Liberal para o Partido do Movimento Democrático Brasileiro; no Rio Grande do
Sul também ocorreu mudança, do Partido dos Trabalhadores para o Partido do Movimento Democrático Brasi-
leiro; já em Rondônia houve mudança do Partido da Frente Liberal para Partido da Social Democracia Brasileira.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
40
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
2.1 BAHIA
41
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Face a todo esse movimento, em 1999, a Secretaria passou por reforma e redefinição
de estrutura organizacional. Hoje conta com quatro Superintendências que abrangem as
macrofunções.11 Essa organização se reflete também no Plano Plurianual (PPA), o qual foi
trabalhado como um projeto onde as Superintendências apresentam os programas res-
pectivos.
Com relação à macrofunção de prestação de serviços, o estado tem sob sua gestão
cinqüenta e dois hospitais, alguns desses com gerência terceirizada e vem experimentando
modalidades alternativas de gerenciamento dessas unidades. Mantém, todavia, o co-
financiamento do sistema de saúde municipal mediante convênios. Em relação à vigilân-
cia sanitária o processo de modernização estava voltado para a atuação sobre problemas
e, a partir disso, a reforma da estrutura. O interesse da gestão era de reformular a
assistência como um processo de regulação integrado do Sistema e de integrar interna-
mente de atividades para reduzir a fragmentação e melhorar a gestão.
2.2 GOIÁS
11 As macrofunções muitas vezes referidas neste texto decorrem de iniciativa do Ministério da Saúde, no ano de
1999, para apoiar a formulação de políticas: i) condução das políticas estaduais de saúde; ii) regulação; iii)
cooperação técnica; iv) e execução de ações de saúde. O exercício de todas as macrofunções concretizaria o
papel de gestor estadual do SUS conforme os princípios constitucionais.
42
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
43
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A SES-GO passou a ter definição mais clara do papel a partir das quatro macrofunções
tratadas na cooperação com o Ministério da Saúde e OPAS/OMS: formulação e condução
de políticas de saúde no Estado; gestão compartilhada e regulação do SUS; execução de
ações de saúde supramunicipais e suplementares; e cooperação técnica com os municípios.
Quanto à terceira macrofunção, o estado ainda exercia esse tipo de atividade de forma
intensa, principalmente no interior, o que levava a dificuldades de atuação da SES-GO.
Outro aspecto de dificuldade era a questão da modernização de estruturas e de proces-
sos administrativos importantes, sem os quais não prosseguiam as ações.
2.3 PARANÁ
44
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
45
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho dos Fluxos; Fase 4 — Otimização dos Processos; Fase 5 — Redesenho dos Proces-
sos otimizados; Fase 6 — Implementação. Essas atividades tiveram como resultado o
aperfeiçoamento dos processos nas áreas da SES, com a melhoria do desenvolvimento
das atividades das Diretorias Administrativa e Financeira, nas quais o projeto foi desen-
volvido e apoio operacional para a expansão das outras áreas da SES.
2.4 RONDÔNIA
O estado de Rondônia ainda não viveu uma história que possa ser compartilhada, pelo
fato de ter sido criado em 1982 e ser, portanto, um estado jovem. Todos os municípios
do estado ofereciam serviços de saúde contando com estrutura hospitalar, laboratórios,
serviços de apoio diagnóstico e terapêutico. A primeira iniciativa de descentralização do
Sistema ocorreu com a Norma Operacional Básica/93 (NOB/93), decisão considerada
precipitada ao delegar às prefeituras municipais a gerência da saúde, independente das
condições dos municípios em absorver essa responsabilidade. Os cinqüenta e dois muni-
cípios tinham população dispersa em território relativamente grande, dos quais doze
municípios passaram a ter gestão plena do sistema e quarenta municípios gestão básica
na Norma Operacional Básica/96 (NOB/96).
Para apoiar a reorganização da SES-RO, foi produzido no âmbito da Cooperação Téc-
nica Descentralizada um diagnóstico da situação administrativo-gerencial e construída
uma lista de atividades para a CTD. Dentre essas, um anteprojeto de lei de nova estru-
tura. A nova estrutura foi aprovada na Assembléia Legislativa, em abril de 2002. Entre-
tanto para regulamentar a nova estrutura era necessário um Decreto e o Regimento
Interno. O primeiro estava pronto aguardando a assinatura do governo do estado, e o
segundo estava sendo elaborado, quando da Oficina.
As atividades propostas para a CTD se concentraram desde o início na recuperação da
capacidade de gestão da SES no Sistema e na Rede de Saúde Pública. Assim, foram
definidas atividades de curto e médio prazos: i) retorno para a SES da gestão do Fundo
Estadual de Saúde, da gestão de recursos humanos e do setor de compras e licitações; ii)
separação de cargos em comissão, de livre preenchimento, e os cargos de provimento
exclusivo por funcionários públicos de carreira, de forma a assegurar maior continuidade
administrativa; iii) implantação de nova estrutura que incluiu a criação de Conselho de
Gestão integrado pelo secretário, dirigentes e representantes de outras áreas de gover-
no; iv) desenvolvimento e implantação de Plano de Cargos e Carreiras para o setor saú-
de; v) realização de curso de aperfeiçoamento em planejamento e gestão de sistemas de
saúde; vi) elaboração de Plano Estadual de Saúde que contemplasse as necessidades
atuais do Sistema Estadual de Saúde e otimizasse os recursos existentes.
46
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Tal Plano Estadual de Saúde deveria dar conta da indispensável oferta regional de
serviços e servir de base para o alcance de novo patamar no relacionamento entre o
estado e os municípios. Outras atividades são: vii) estruturação dos setores de manutenção
de equipamentos e instalações das unidades estaduais, incluindo levantamento de neces-
sidade de investimentos/adequações na rede assistencial; viii) implantação do Sistema
Estadual de Auditoria previsto no Decreto 7.524, de 31 de julho de 1996; ix) fortaleci-
mento das atividades de vigilância epidemiológica e ambiental (a vigilância epidemiológica
foi compreendida no sentido amplo e não apenas no que diz respeito às doenças
transmissíveis. As informações processadas e analisadas pelo setor de vigilância deveriam
subsidiar o conjunto de atividades da SES e do Sistema Estadual de Saúde); x) fortaleci-
mento das Delegacias Regionais de Saúde como unidades de apoio do Sistema e de arti-
culação com os municípios.
47
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
entendidos como direito de cidadania, ou seja, tomados como desafio a ser implementado
com a aproximação da sociedade e permeabilidade às suas demandas.
48
CAPÍTULO 3
LINHAS ESTRATÉGICAS, MODELOS E PERFIS
DE ORGANIZAÇÃO:
A MODERNIZAÇÃO NA PRÁTICA
Entretanto, o papel mais ativo do Ministério da Saúde está representado pela indução
às mudanças dos estados e municípios, mediante normas que estabelecem requisitos e
prerrogativas para a descentralização de recursos. Nesse sentido, desde 1993 as normas
operacionais criam condições de gestão que, para serem implantadas demandam por
parte dos entes territoriais transformações institucionais importantes. No caso dos es-
tados, duas condições foram previstas, denominadas, mais recentemente, de avançada
e plena do sistema estadual.
Ainda que o desenho de tais condições tenha evoluído com a descentralização, pode-
se considerar que não contemplam inovações relevantes, fora a ênfase na coordenação
da regionalização. Isso se reflete nos requisitos a serem cumpridos pelos estados que
12 A seguir as datas dos decretos que aprovam as estruturas formais das SES em vigência: Bahia, Decreto 7.546,
de 24 de março de 1999; Paraná, Decreto 1.421, de 30 de junho de 1992 (criação do Instituto de Saúde do Paraná);
Rondônia, Decreto 9.997, de 3 de julho de 2002; Rio Grande do Sul, Decreto 35.502, de 11 de março de 1996 (atua
com outra competência a partir de 1999).
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
são os mesmos para as duas condições; sendo que o alcance da avançada representa
grande esforço de organização institucional sem correspondência em prerrogativas fi-
nanceiras, o que ocorre com a habilitação na condição plena do sistema estadual. Na
prática, para o estado, em termos institucionais não existe diferença entre a condição
avançada e a plena do sistema. Entretanto, a transição para a condição plena implica
desenvolver capacidades de gestão alcançadas com as transformações propiciadas pela
avançada.
50
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Para a Bahia o foco dessas atividades foi organização e gestão, seguida da definição
de modelos de atuação em áreas específicas. Em Goiás o foco esteve na modernização
técnico-administrativa, seguida da organização e gestão. No caso do Rio Grande do Sul o
foco foi organização e gestão, seguida de modernização técnico-administrativa.
3.1 BAHIA
As estratégias adotadas pela SES-BA estavam articuladas com o Projeto do BM, orçado
em 65 milhões de dólares, que vinha sendo construído com a cooperação da Opas/OMS e
do Projeto de Fortalecimento da Gestão Estadual com o MS. O Projeto com o BM estava
conformado em quatro eixos: política de saúde; modelo de atenção; reorganização dos
serviços; e modernização da SES. Os componentes estratégicos eram: implementar
microrregiões no Estado; apoiar institucionalmente a Secretaria da Saúde do Estado, em
relação aos sistemas de informação e capacitação; e apoiar a atenção básica, baseada
na reconversão do modelo vigente para a estratégia de saúde da família.
51
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
3.2 GOIÁS
3.3 PARANÁ
Esses projetos estratégicos surgiram após o período eleitoral de 1998, trazendo mu-
danças na estrutura organizacional e redesenho dos processos organizacionais para dar
conta de ações de suporte-meio. O estado assumiu a Gestão Plena do Sistema Estadual
na NOB/96, em dezembro de 1999, fator significativo para a gestão estadual no período.
52
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Duas diretorias precisavam passar por mudanças para darem conta da nova sistemá-
tica do trabalho: a administrativa e a econômico-financeira. Optou-se pelo redesenho
dos processos organizacionais das diretorias que, por tratarem de um grupo de tarefas
interligadas, fez uso dos recursos da organização para gerar resultados definidos em
apoio aos objetivos institucionais. Do ponto de vista macro, os processos são as ativida-
des-chave necessárias para administrar e/ou operar uma organização, onde tudo o que é
feito ou envolve a equipe faz parte de um processo.
53
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
3.4 RONDÔNIA
Como a SES-RO não tinha definição clara de seu papel ou de uma política de saúde
para o estado, dedicou-se mais às unidades hospitalares especiais que davam cobertura
aos municípios, laboratórios centrais e policlínica especializada, caminhando à margem
da descentralização.
13 É importante ressaltar que, em apenas dois anos e nove meses de governo estadual em Rondônia, houve quatro
diferentes secretários de saúde, configurando situação de instabilidade e descontinuidade política e administra-
tiva. Uma irregularidade percebida era o fato de a SES-RO não gerir diretamente o Fundo Estadual de Saúde,
cuja gestão orça Secretaria de Estado de Fazenda.
14 O Termo de Compromisso e Cooperação Técnica foi firmado em agosto de 2001 pela SES RO, pelo MS e pela Opas
OMS, com vigência até 31 de dezembro de 2002. Os recursos para a execução foram alocados pelo MS, por meio
do Termo de Cooperação e Assistência Técnica firmado com a Opas/OMS.
54
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
55
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
56
CAPÍTULO 4
PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO
TÉCNICO-ADMINISTRATIVO:
GANHOS, LIMITES E REFLEXÕES
Durante os anos de implementação do Sistema Único de Saúde, as estruturas admi-
nistrativas estaduais em todo o país têm sido fortemente tensionadas pelas novas
exigências, demandas e atribuições assumidas por essa esfera de governo. Atribuições
voltadas para a coordenação do Sistema e atividades de regulação da oferta de serviços
foram alinhadas na estrutura de gestão estadual às ações de vigilância à saúde. Ao lado,
disso as SES devem dispor de quadros com formação especializada para atender as
crescentes necessidades de estados e municípios.
Essas novas exigências não encontram paralelo em outros setores dos governos esta-
duais, o que estabelece uma tensão interna nas estruturas governamentais dos estados.
Essa situação encontra-se associada à necessidade de contenção de orçamentos para
atender a leis relativas ao controle de gastos públicos. E, ainda, ao estabelecimento de
limites na possibilidade de contratação e nas despesas com recursos humanos. Configu-
ra-se então para a gestão estadual simultaneamente uma situação de complexidade de
funções e restrições administrativas.
Nos estados participantes da CTD, ainda que a situação não tenha sido diferente em
cada caso, ocorreram condições particulares em termos de capacidades, de prioridades e
da busca e obtenção de apoios. A Bahia valorizou ações de cooperação, demonstrando
mobilização do estado para atualizar uma estrutura, que, mesmo tendo pouco mais de
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
dois anos, não mais atende à complexidade das atribuições e as demandas. O Paraná,
por sua vez, enfatizou opções estratégicas para assumir novas responsabilidades e
atribuições e a forma de lidar com uma estrutura administrativa que já não atendia às
necessidades da gestão.
Goiás relatou a convivência de novos desafios e velhos problemas e o papel das ações
de cooperação técnica para apoiar as mudanças e o desenho de novos caminhos para uma
estrutura antiga e inadequada. Rondônia, um ex-território, com estrutura pequena e
deficiente e baixa capacidade de atuação, relatou as dificuldades e a importância da
cooperação técnica para permitir que a Secretaria assumisse as novas funções. O Rio
Grande do Sul demonstrou evolução da estrutura associada à concepção democrática
definida no modelo de atuação e no papel do gestor estadual no Sistema.
Outro aspecto com influência na organização das competências da SES é o perfil rede
de serviços do estado quanto à natureza. Nos estados da CTD, embora nos últimos anos
o número de unidades privadas tenha diminuído, em geral, o número de leitos hospitalares
privados aumentou nos Estados da Bahia, de Rondônia e do Rio Grande do Sul, e diminuiu
em Goiás e no Paraná.
4.1 BAHIA
58
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
e dos Sistemas Municipais quanto à oferta. Apesar desse ponto positivo, ainda não se
conseguiu capitalizar e transformar a questão da regulação de forma mais clara e coor-
denada entre as áreas internas da SES. Existe proposta de reformular o programa no
próximo PPA de forma a promover a integração entre as atividades das áreas técnicas.
59
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4.2 GOIÁS
contratualização de prestadores;
60
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
4.3 PARANÁ
4.4 RONDÔNIA
Além desses, que afetavam a todos os estados da Região, Rondônia tinha como difi-
culdades a ingerência política na gestão da saúde, com quadro deficiente de pessoal
61
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O Orçamento Participativo é uma iniciativa que ocorria no estado desde 1999, com a
participação popular direta. Eram realizadas assembléias públicas em todos os municípios
e regiões do Rio Grande do Sul, para decidir as prioridades de investimento na aplicação
de recursos públicos. A população propunha, debatia e estabelecia prioridades para as
obras, serviços e programas de desenvolvimento do estado e elegiam delegados. Esses
debatiam e decidiam o plano de investimentos (obras e serviços) em cada região, com
base nas prioridades definidas nas assembléias públicas e na análise técnica, legal e
financeira apresentada pelo governo. Os delegados elegiam conselheiros que debatiam e
decidiam o conjunto da proposta de orçamento estadual, que era posteriormente enca-
minhada à Assembléia Legislativa.
62
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
e de 644 para 735 assembléias realizadas, no período de 1999 a 2001 (informações tira-
das do perfil do RS).
COMUNICAÇÃO HORIZONTAL
63
CAPÍTULO 5
MUDANÇA ORGANIZACIONAL E NAS
PRÁTICAS DE GESTÃO: POTENCIALIDADES
5.1 BAHIA
— A missão e da função da SES deve estar definida para, então, se passar à organização
e estrutura.
— As reformas devem considerar que o poder da SES está no aspecto técnico, já que
os poderes administrativo e político estão atrelados às outras Secretarias do Estado e de
algum modo à Reforma Fiscal e ao nível federal.
— A incorporação tecnológica no SUS não pode ocorrer por regras definidas pelo setor
privado.
5.2 GOIÁS
66
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
5.3 PARANÁ
Para a SES-PR, com a Noas ocorreu um novo papel para a esfera estadual, que come-
çou a ser praticado. Esse se expressava na competência técnica da Secretaria para assu-
mir seu papel: nas referências intermunicipais; no planejamento da Programação Pactu-
ada e Integrada (PPI); no Plano Diretor de Regionalização (PDR); no Plano Diretor de
Investimento (PDI); na regulação, controle e avaliação; na contratualização; no cadastro
de usuários (Cartão SUS) e de prestadores de Serviços.
Essa Norma se destaca, pois os estados ainda têm autonomia relativa por dependerem
em média de 60% de recursos da União. Assim, quando os primeiros movimentos de
descentralização com intenção política de mudar o eixo se resumiram à municipalização
da saúde, o papel da esfera estadual ficou contraditório, frente ao desafio de como
pactuar dentro da integralidade e hierarquização. Essa situação gerou uma crise de iden-
tidade.
Mais centrado na prática das mudanças, o estado do Paraná apontou aspectos que
limitavam as novas práticas que se aplicam em geral:
67
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
5.4 RONDÔNIA
A CTD foi considerada importante no avanço dos processos estaduais que vinham
ocorrendo há oito anos. Ao lado da dificuldade de aplicação da Noas na Região Norte, o
estado aponta como potencialidade o fato de que os municípios por essa Norma sejam
pólos. Além disso, é necessário que haja um forte investimento na questão da capacitação
de pessoal e na potencialização da cooperação com a Opas/OMS.
68
CAPÍTULO 6
COOPERAÇÃO TÉCNICA DESCENTRALIZADA:
AÇÃO E PARTICIPAÇÃO
A CTD busca integrar a diretriz institucional de melhoria das condições de saúde nas
Américas com os interesses da política nacional de saúde e os projetos específicos dos
governos estaduais. Essa forma de atuar permite maior vitalidade aos projetos
interinstitucionais e, por estar condicionada aos acordos alcançados em cada país e com
os atores públicos, ganha mais permanência e atualidade. As atividades da CTD encon-
tram-se em processo de institucionalização junto à Opas/OMS, estados e Ministério da
Saúde. Esse processo culminará em termos de cooperação que possam incrementar e
expandir os objetivos e as atividades específicas de cada estado, incorporando perma-
nentemente ajustes pelas partes.
A visão que orienta a CTD considera que o Brasil é um país que vem avançando na
descentralização da gestão pública dos serviços de saúde. A partir da reforma constituci-
onal de 1988, o princípio da saúde como um direito social e um dever do Estado, assim
como universalidade, a eqüidade, a qualidade, a eficiência e a integralidade, orientam
as ações do Sistema Único de Saúde.
70
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Em face das atividades realizadas nesse período, podem ser identificados 3 eixos da
CTD:
iii) Comunicação e informação na tomada de decisão: visa levar aos gestores do SUS
informações relevantes através de fóruns de temas estratégicos, estudos e pesquisas,
bibliografias. A utilização da tecnologia da informática é um instrumento de grande valor
para favorecer esta ação de tomada de decisão.
6.1 BAHIA
O estado da Bahia buscou com a CTD a construção de nova estrutura menos complexa
e conflituosa e mais condizente com as responsabilidades atuais da SES. Para tanto,
rediscutiu um projeto iniciado há 3 anos, com vistas ao financiamento pelo Banco
Interamericano (Bird). O apoio da Opas/OMS ocorreu essencialmente na definição de
indicadores e de acompanhamento desse projeto, culminando com seminário de socializa-
ção e instrumentalização para a SES. Nesse período, o governo estadual criou um núcleo
estratégico de avaliação de políticas públicas e sociais. A SES foi considerada como a
secretaria de governo que mais avançou na modernização das funções de Estado.
71
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
6.2. GOIÁS
A SES-GO contou com o apoio da Opas/OMS e do MS para o desenvolvimento
institucional por 4 anos, que se estenderia para os próximos 4 anos. A ênfase foi o
planejamento estratégico como processo dinâmico e vivo que traz reformulações e desa-
fios. As atividades previstas da CTD apoiaram: a regionalização da organização da assistên-
cia; a implantação do winsig (fase piloto); o Curso de Especialização em Gestão de Sistemas
e Serviços de Saúde dentro das atividades de formulação de políticas e objetivos sanitários;
e o Observatório da Saúde.
72
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
6.3 PARANÁ
6.4 RONDÔNIA
Um dos avanços obtidos com a CTD foi superar o momento político delicado e a aprova-
ção de Lei na Assembléia Legislativa para a mudança da estrutura da SES-RO. Essa ques-
tão contribuiu para superar a ingerência política, um dos fatores que dificultavam o
avanço de atividades da CTD. Por outro lado, as dificuldades de Rondônia eram estrutu-
rais, aliadas à escassez de recursos humanos. Nesse sentido, destaca-se o apoio da CTD
para a criação do Fundo Estadual de Saúde.
73
CAPÍTULO 7
CONTRIBUIÇÕES À DISCUSSÃO DA MODERNIZAÇÃO
E FORTALECIMENTO DA SECRETARIAS DE ESTADO
DA SAÚDE À LUZ DA EXPERIÊNCIA DA COOPERAÇÃO
TÉCNICA DESCENTRALIZADA
Modernização e descentralização
76
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Síntese de inovações
O estudo da modernização dos órgãos gestores do SUS ainda é um campo pouco explo-
rado. Mesmo que muitas inovações no aspecto da formulação de políticas e da gestão
sejam reconhecidas, a base institucional e organizacional é quase sempre vista com
certo formalismo e distância. Devido às pressões que exercem necessidades de mudanças
nos processos de trabalho, a tendência é que novas atividades e sistemáticas de ações
sejam implantadas sobre estruturas antigas. Até porque mudanças de estruturas
organizacionais envolvem aprovação do legislativo.
Nesse sentido, o material obtido na Oficina de Modernização da CTD é uma rica fonte
de análises e interpretações com indicativos para estudos e agenda de discussões futuras.
Os primeiros registros e análises aqui expressados têm ainda o valor de resgatar o histórico
de uma esfera de governo no processo de descentralização, viveu momentos de crises
institucionais com repercussão na implantação do SUS, considerando as características
da estrutura federativa. Nessa perspectiva, os avanços, inovações e desafios podem ser
solidariamente compartilhados com o nível federal e com a esfera municipal. Ou seja, a
compreensão dos processos relacionados à modernização da SES certamente tem impactos
na construção de todo o Sistema. O quadro abaixo é uma tentativa de sintetizar as
principais inovações das SES integrantes da CTD.
77
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Ênfase Ênfase na
Estrutura Ênfase na Ênfase na Ênfase em
aperfeiçoar democratização
regulação e função criar
atribuições de e eficiência
eficiência de gestão condições
regulação, administrativa.
administrativa. setorial. para a
cooperação
função
e coordenação.
de gestão.
Regulação Desenvolvimento
Desenvolve Desenvolvimento Desenvolve e Desenvolvimento
mecanismos do controle e implanta de mecanismos de mecanismos
de regulação. avaliação instrumentos de regulação. de regulação
de regulação. principalmente
da média
complexidade.
78
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Epidemiologia:
Serviços de Saúde:
Desenvolve ações voltadas para o estudo da oferta de serviços de saúde, como atenção
básica, de média e alta complexidade e de financiamento e incentivos. Apóia ajustes do
Plano Diretor de Regionalização (PDR) e Plano Diretor de Investimentos (PDI). Atua nas
áreas de contas estatais de saúde, sistemas de avaliação de produção, prestação e cus-
tos (Winsig), Saúde da Família, acompanha o Observatório da Saúde no processo de
Reforma, Descentralização e Regionalização. Comunicação e informação voltadas para a
Cooperação Técnica via Internet. Gestão administrativa que trata de assuntos adminis-
trativos, convênios de Cooperação Técnica, curso de consultores gestores de cooperação
técnica.
Para os próximos anos, espera-se que as ações sejam intensificadas nos projetos de:
Meio Ambiente:
79
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Recursos Humanos:
Promoção da Saúde:
Atua no estudo da oferta e formas de organização dos serviços de saúde coletiva para
a vigilância epidemiológica, ambiental, ações intersetoriais e estilos de vida e nos Planos
de Regionalização da Saúde Coletiva.
Investigação e Tecnologia:
80
PARTE 3 PANORAMA E DIVERSIDADES DAS SECRETARIAS
DE ESTADO DA SAÚDE
CAPÍTULO 8
CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DOS
ESTADOS DA CTD/OPAS — ANO-2002
Os estados apoiados pela Cooperação Técnica Descentralizada da Opas/OMS, apre-
sentados neste informe, possuem características próprias, refletindo em certa medida a
diversidade do país. Das 5 Regiões do país, em quatro a Cooperação Técnica Descentrali-
zada está presente com o apoio a pelo menos um estado, o que demanda atuações especí-
ficas em cada situação por parte da Opas/OMS, considerando, como pode ser observado
nos relatos dos capítulos, distintas capacidades institucionais e propostas políticas.
A soma da população residente nos estados da CTD totaliza 23% da população brasileira
e, de acordo com os dados da Tabela 1, referentes à população residente e a densidade
demográfica nos estados da CTD no ano de 2000, a Bahia, o Paraná e o Rio Grande do Sul
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 1
População residente por Estado, 2000
No caso dos estados da CTD, conforme o Quadro 2, Número de Municípios por Faixa
Populacional, 2002, observa-se que a Bahia, o Paraná e o Rio Grande do Sul têm muitos
municípios, enquanto Rondônia é um dos estados do Brasil com menos municípios.
O número de municípios por faixas populacionais permite uma idéia da complexidade da
descentralização em cada estado. Nos estados de Goiás e do Rio Grande do Sul, 66% dos
municípios são pequenos, com menos de 10 mil habitantes, onde residem cerca de 14%
da população. O estado do Paraná tem 80% dos municípios com menos de 20 mil habitan-
tes, onde residem cerca de 27% da população; e o estado da Bahia tem 91% dos municípi-
os com até 50 mil habitantes, onde residem 51% da população.
84
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Tabela 2
Número de Municípios por faixa populacional, 2002
85
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 2
Indicadores de saúde por Estado, de acordo com o ano
Indicador
Taxa de Mortalidade
Taxa de Mortalida- Esperança de
Estado Infantil, 1999 de Materna, 1999 Vida ao Nascer,
2000
BA 45,4 ¾ 67,67
GO 25,0 69,14 69,58
PR 19,7 83,03 70,28
RO 33,0 ¾ 68,26
RS 15,1 50,33 71,60
Brasil 33,1* ¾ 68,1**
Fonte: Elaborado com base nas informações pesquisadas no DATASUS, http://www.datasus.gov.br, em novembro de 2002.
* para 1998 e ** para 2001.
Obs: as taxas de mortalidade infantil para 1999 na BA, GO e RO são estimativas.
A taxa de mortalidade materna apresentada apenas para 3 estados não permite estabe-
lecer correlações com os dados anteriores. Essa carência de informação sugere a existência
de dificuldades de procedimentos e de sistemas para o acompanhamento destes indica-
dores.
86
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
A Tabela 2 exibe o PIB per capita, total e percentual em relação ao Brasil para cada um
dos estados da CTD, no ano de 1999. Os 5 estados da CTD somam 20,76% do PIB do país.
Em relação ao PIB per capita, os dados permitem constatar basicamente duas faixas.
Na primeira estão estados com PIB inferior à média do Brasil (R$5.740,00), que são a
Bahia, Goiás e Rondônia (entre R$3.200,00 e R$3.700,00). Na segunda faixa estão esta-
dos com PIB per capita bem superior à média do Brasil, que são o Paraná (R$6.446,00) e
Rio Grande do Sul (R$7.389,00).
Os 3 estados da primeira faixa juntos contribuem com 6,67% do PIB Brasil; enquanto
os 2 estados da segunda faixa juntos contribuem com 14,09% do PIB Brasil. Nota-se a
baixa participação no PIB Brasil do estado de Rondônia (0,52%). Em geral, baixo PIB
reflete baixo potencial de gasto público próprio e de investimento privado. Ao mesmo
tempo, indica a existência de segmentos sociais em precárias condições de vida que
demandam maior aporte de recursos para políticas públicas de interesse social.
Tabela 3
Produto Interno Bruto total e per capita por Estado, 1999
Estado Per capita (R$ mil) Total (R$ milhões) % do PIB Brasil
BA 3.206 41.608 4,31%
GO 3.603 17.742 1,84%
PR 6.446 61.084 6,34%
RO 3.657 4.972 0,52%
RS 7.389 74.666 7,75%
Brasil 5,740 963.868 100%
Fonte: Elaborado com base nas informações pesquisadas no IBGE, http://www.ibge.gov.br/, em novembro de 2002.
Não existem ainda bases de dados completas sobre os gastos públicos em saúde. Entre-
tanto, utilizando os Balanços dos Governos Estaduais, o Datasus/MS vem consolidando
informações sobre os recursos aplicados em saúde. Embora estes dados sejam prelimina-
res exibem informações importantes com referência ao tema da modernização das Secre-
tarias de Estado da Saúde, conforme pode ser observado nos Quadros 4 e 5 a seguir.
87
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
No ano de 1999 teve início um novo mandato dos governos estaduais, sendo que, nos
casos da Bahia e do Paraná, houve continuidade por reeleição. Embora a tendência geral
no período para as 5 regiões e na média do Brasil tenha sido de aumento da receita
aplicada em saúde, no caso dos estados da CTD apenas no Rio Grande do Sul não se
observa diminuição no percentual de receita aplicada no período de 1998 a 2000, última
informação disponível para todos os estados da CTD.
Mesmo que em última instância a redução percentual possa não significar menos
recursos, os percentuais dos estados praticados em 2000 estão bem longe do disposto na
Emenda Constitucional/29, que prevê 12% dos recursos próprios para a saúde em 2004.
Mesmo assim, é digno de notar que com base nas fontes consultadas, para o ano de 2001
os estados da Bahia, de Goiás e de Rondônia apresentam percentuais de receitas próprias
superiores à média nacional.
Tabela 4
Evolução do percentual da receita própria aplicada em saúde, 1998 a 2001
88
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Gráfico 1
Evolução do Percentual da Receita Própria Aplicada em Saúde, 1998 a 2001.
Fonte: Elaborado com base nas informações pesquisadas no DATASUS e SIOPS, http://www.datasus.gov.br, referentes aos Balanços dos Governos
Estaduais, em novembro de 2002.
No caso da esfera estadual, os gastos em saúde são integrados por fontes próprias
estaduais e transferências federais. Com base nas mesmas fontes anteriores, recursos
aplicados em saúde, o Quadro 5 e o Gráfico 2 exibem a evolução da despesa per capita
empenhada com ações e serviços de saúde públicos no período de 1998 a 2000. No ano de
2000, os estados da CTD tinham despesa per capita entre R$42,00 e R$60,00; estes
valores agrupam os estados em relação às variáveis anteriores. Com per capita mais
baixa estão a Bahia (R$42,03) e o Rio Grande do Sul (R$41,75); seguidos de Paraná
(R$47,15) e de Goiás (R$50,57); e com per capita mais alta do grupo está Rondônia
(R$59,32).
De 1998 a 2000, a tendência nos estados da CTD foi de aumento da despesa total,
exceto no caso de Rondônia. Quanto aos recursos estaduais, nos estados da Bahia, Paraná
e Rondônia, este foi reduzido e nos estados de Goiás e Rio Grande do Sul foi aumentado.
Em todos os estados da CTD a despesa per capita com recursos federais sofreu incre-
mento no período. Os estados de Rondônia e Goiás tiveram aumentos de recursos federais
ao redor de 180%; e Bahia e Rio Grande do Sul, por sua vez, tiveram aumentos de 73 e
62% no mesmo período. O estado do Paraná teve incremento de dez vezes neste período.
89
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 3
Evolução da despesa per capita empenhada com ações
e serviços públicos de saúde, 1998 a 2000
Valores em reais
90
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Gráfico 2
Evolução da despesa per capita empenhada com ações e serviços públicos de saúde, 1998 a 2000
Fonte: Elaborado com base nas informações pesquisadas no SIOPS, http://www.datasus.gov.br, referentes aos Balanços dos Governos Estaduais, em
novembro de 2002.
A informação sobre a evolução do valor per capita da atenção básica de 1997 a 2001,
constante do Quadro 6, integra este conjunto de informações dos estados da CTD e
correlaciona-se com as transformações que as Secretarias de Estado de Saúde têm que
efetivar durante a implantação do SUS. Embora este recurso seja tipicamente municipal,
os estados devem cooperar com os municípios de modo que estes desenvolvam capacida-
des de gestão da atenção básica. Para tanto, os estados devem especializar suas funções
nas atividades típicas da esfera estadual (cooperação técnica, coordenação do sistema,
assistência de alta complexidade).
O processo recente de modernização das SES teve início com a implantação da NOB/
96 no ano de 1998, quando a descentralização de recursos se acentua a partir da definição
do per capita da atenção básica a ser transferido aos municípios. O avanço dos municípios
impõe a redefinição do papel dos estados no SUS e um processo intenso de transformações
passa a ocorrer nos estados no setor saúde.
91
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Vários fatores influem no montante do per capita da atenção básica, mas considerando
as informações já demonstradas, observa-se a correlação entre os maiores valores da
atenção básica e as mais altas taxas de mortalidade infantil dos estados. Estes estados
são os que receberam maiores incrementos de recursos federais no período com objetivo
de reduzir desigualdades de acesso.
Quadro 4
Evolução do valor per capita da atenção básica – PAB fixo e variável, 1997 a 2001.
Valores em reais
As variações nos valores dos per capitas da atenção podem indicar o perfil histórico
da oferta de serviços por estado; ou seja, maiores valores na média e alta complexidade
sugerem a prevalência de rede mais complexa. Nessa perspectiva, as Regiões Sul e Sudeste
tendem a concentrar os serviços mais complexos. De outro lado, per capita elevado em
ações de alta externalidade em estados com populações em precárias condições indica
certa racionalidade.
Pode-se considerar que o perfil da rede indicado pelos valores presentes no Quadro 6
apresenta desafios diferenciados para os estados: ou seja, onde existe rede complexa, o
órgão gestor tem que desenvolver mecanismos de controle e qualidade da atenção. Onde
prevalece a rede básica, por sua vez, os esforços de gestão devem orientar-se para
ampliar a oferta e melhorar as capacidades institucionais de modo a alcançar a
integralidade e redução de desigualdades.
92
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Quadro 5
Valores per capita da Atenção Básica, Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar, 2001
Quanto às capitais dos estados da CTD, com referência aos números relativos à rede
SUS existente e a rede da Capital, são observados dois grupos com uma variação de 6% a
16%. Curitiba e Porto Alegre são as capitais com menor concentração relativa de unidades
entre os estados da CTD, e Goiânia é a capital com maior concentração deste grupo.
93
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 6
Estabelecimentos de saúde existentes no Estado e na respectiva Capital, 1999
Estabelecimentos de saúde
Estado Público Privado
Fed. Est. Mun. Total SUS Total Total SUS
Porto Velho 1 3 68 72 3 33 75
RS 33 44 2.009 2.086 520 1.351 2.606
Porto Alegre 16 12 91 119 47 319 166
Fonte: Elaborado com base em informações pesquisadas no IBGE, http://www1.ibge.gov.br, em novembro de 2002.
O Quadro 9 mostra a variação do perfil da rede de serviços de 1998 para 2001. De modo
geral nos estados da CTD foi mantida a tendência de predomínio de unidades municipais,
sendo mais alta em Rondônia (88%) e mais baixa em Goiás (58%). O estado da Bahia
continuou sendo aquele com mais unidades estaduais e Rondônia com mais unidades fede-
rais. O setor privado vinculado ao SUS está mais presente em Goiás, representando 37%
das unidades existentes e mais quente em Rondônia, representando 8%.
94
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Quadro 7
Participação no SUS e variação de Unidades por Natureza, 1998 a 2001
Mun Est Fed Priv Outros Mun Est Fed Priv Outros
BA 72,89 2,98 0,26 20,37 3,50 19,17 -62,39 -79,05 -18,69 -24,12
GO 57,77 1,13 0,44 37,13 3,53 98,71 -4,77 -50,81 -43,26 3,56
PR 61,38 1,15 0,32 32,54 4,61 11,32 15,12 32,19 -15,10 -12,92
RO 87,95 1,25 0,62 8,41 1,77 -5,26 29,46 -2,91 82,90 83,40
RS 59,14 1,38 0,17 31,40 7,91 19,14 -8,60 208,68 -20,94 -12,87
Fonte: Elaborado com base nas informações pesquisadas no Datasus, http://www.datasus.gov.br, em novembro de 2002.
A implantação do saúde da família tem sido, por sua vez, a mais significativa transfor-
mação do modelo de atenção no SUS. A Tabela 3 e o Gráfico 3 demonstram a evolução do
número de equipes e agentes e a respectiva população coberta no período de 1998 a
2001. Os dados indicam que em todos os estados da CTD ocorreu aumento da cobertura
em ambos os programas estratégicos.
95
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 8
Evolução do número de equipes de saúde da família e de agentes comunitários de saúde e população
coberta, 1998 a 2001
Gráfico 3
Fonte: Elaboração com base nas informações da Secretaria de Políticas de Saúde/MS pesquisadas em novembro de 2002.
96
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Quadro 9
Unidades Ambulatoriais por ano, dezembro de 1998 a dezembro de 2001
Fonte: Elaborado com base em pesquisa no Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS), http://
www.datasus.gov.br, em novembro de 2002.
A Tabela 5 mostra o perfil de leitos hospitalares do SUS nos estados da CTD no ano de
2001. Nos estados da Bahia, Goiás e Paraná a maior concentração de leitos hospitalares
é contratada do setor privado. Em Rondônia a maior concentração de leitos do SUS é de
natureza municipal e no Rio Grande do Sul de natureza filantrópica. Os estados da Bahia
e de Rondônia têm os maiores percentuais de leitos de natureza estadual entre os esta-
dos da CTD. Não existem em Rondônia leitos universitários, sendo que no Rio Grande do
Sul a presença deste tipo de leito é a maior entre os estados da CTD.
Tabela 5
Leitos hospitalares vinculados ao SUS, por natureza, em 2001
Natureza BA GO PR RO RS
Leitos % Leitos % Leitos % Leitos % Leitos %
Contratado 8.930 29,97 13.771 62,22 17.142 56,60 856 24,99 5.139 16,30
Federal 0 0 0 0 0 0 102 2,98 57 0,18
Estadual 3.803 12,76 1.147 5,18 912 3,01 600 17,51 626 1,99
Municipal 6.044 20,28 3.787 17,11 2.910 9,61 1.718 50,15 1.704 5,41
Filantrópico 7.453 25,01 3.134 14,16 7.217 23,83 150 4,38 17.307 54,90
Universitário 3.448 11,57 292 1,32 2.103 6,94 0 0.00 6.693 21,23
Sindicato 78 0,26 0 0 0 0 0 0 0 0
Total 29.756 100 22.131 100 30.284 100 3.426 100 31.526 100
Fonte: Elaborado com base em pesquisa realizada no Datasus, http://www.datasus.gov.br, em novembro de 2002.
97
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 10
Variação do número de leitos na Rede Hospitalar vinculada ao SUS,
por natureza, entre 1998 e 2001
Natureza BA GO PR R0 RS
Contratado 1,12 -4,00 -3,53 15,68 3,07
Federal -100,00 0 0 0 -74,09
Estadual 12,18 5,71 8,83 3,27 0
Municipal 31,39 7,19 14,52 1,48 55,90
Filantrópico -2,37 -4,63 2,50 0 -2,69
Universitário 6,95 0 0,62 0 5,24
Sindicato 0 0 0 0 0
Total 6,60 -1,82 0,02 4.90 1.46
Fonte: Elaborado com base em pesquisa realizada no Datasus, http://www.datasus.gov.br, em novembro de 2002.
O Quadro 11 mostra o número de leitos por mil habitantes e natureza em 2001 nos
estados da CTD. Observa-se que Paraná e Rio Grande do Sul têm leitos ao redor do
recomendado pela OMS (3 leitos por mil habitantes), enquanto a Bahia e Rondônia têm
leitos abaixo do recomendado pela OMS. Apenas Goiás tinha taxa de leitos acima, fator
que justifica a redução do número de leitos neste estado, observada no Quadro 10.
98
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Quadro 11
Número de leitos, por natureza, por 1000/ha, em 2001
Natureza BA GO PR RO RS
Contratado 0,68 2,69 1,77 0,61 0,50
Federal 0 0 0 0,07 0,01
Estadual 0,29 0,22 0,09 0,43 0,06
Municipal 0,46 0,74 0,30 1,22 0,17
Filantrópico 0,56 0,61 0,74 0,11 1,68
Universitário 0,26 0,06 0,22 0 0,65
Sindicato 0,01 0 0 0 0
Total 2,25 4,33 3,12 2,43 3,06
Fonte: Elaborado com base em pesquisa realizada no Datasus, http://www.datasus.gov.br, em novembro de 2002.
O Gráfico 4 ilustra a evolução do número total de leitos por mil habitantes nos estados
da CTD entre 1998 a 2001, onde todos os estados exibem redução, exceto a Bahia, sendo
de Goiás a mais significativa, o que reflete a redução na oferta do setor privado que
ocorreu em 1999, na quase totalidade dos estados. Na Bahia ocorreu ampliação no número
de leitos municipais devido à habilitação em Plena do Sistema e ainda de leitos estaduais,
relacionada a algumas iniciativas estaduais de ampliação de oferta de serviços.
Gráfico 4
Fonte: Elaborado com base em pesquisa realizada no Datasus, http://www.datasus.gov.br, em novembro de 2002.
99
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Gráfico 5
Cobertura de beneficiários de planos ou seguros desaúde por Estado, 2002
Número de médicos
100
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Tabela 7
Número de enfermeiros, por unidade da federação, Brasil, 2002
Número de enfermeiros
101
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 8
Número de médicos e enfermeiros por habitante, 2000
Fonte: Elaborado com base nas informações pesquisadas no IBGE, http://www.ibge.gov.br/, e pesquisa no
Datasus, http://cnes.datasus.gov.br, em novembro de 2002.
Em seguida, com base nas informações recolhidas nos Perfis de Saúde dos Estados da
CTD (www.opas.org.br/servico/observatorio) foram destacadas características do con-
texto, aspectos demográficos e políticos dos estados, de modo a complementar a infor-
mação acima com base nesta referência.
8.6.1.Bahia
O estado está dividido em 417 municípios, dos quais 61,68 % têm menos de 20.000
habitantes. O processo de urbanização da Bahia é marcado, de um lado, pela concentração
de parcela expressiva da população na Capital — única cidade do estado a ultrapassar a
marca dos 500 mil habitantes. E de outro lado, pela dispersão da população em centenas
de centros urbanos de pequeno porte. Em décadas recentes, o crescimento expressivo de
centros de médio porte vem contribuindo para fortalecer a rede urbana da Bahia.
15
No Estado estão registrados 20 partidos políticos, que formam 2 blocos parlamentares. A maioria governista
agrega os seguintes partidos: Partido da Frente Liberal (PFL), Partido Liberal (PL), Partido Trabalhista Brasi-
leiro (PTB), Partido Progressista Brasileiro (PPB) e Partido Social Trabalhista (PST). E a minoria, o Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido Democrático Trabalhista (PDT), Partido Socialista Brasileiro (PSB),
Partido Comunista do Brasil (PC do B), Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Verde (PV), Partido do Moviento
Democrático Brasileiro (PMDB) e Partido Social Cristão (PSC).
102
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
8.6.2.Goiás
A população de Goiás constitui-se essencialmente de jovens, sendo que 59% dos resi-
dentes possui menos de 30 anos de idade. Apresenta crescimento populacional de 2,5%
ao ano. A relação de masculinidade é de 96,64 para a população urbana e 120,6 para a
população rural.
A Taxa de Mortalidade Materna no estado, segundo dados divulgados pela RIPSA, foi de
69,1 por 100.000 nascidos vivos em 1999, das quais 81% foram por causas diretas (eclampsia,
infecções e hemorragias). Garantir o acesso e a qualidade do pré-natal, parto e planeja-
mento familiar é uma prerrogativa para a modificação deste indicador tão negativo no
estado. Em números absolutos, no ano de 2000, foram registrados 94.030 nascimentos e
65 mulheres morreram por causas relacionadas ao parto e pós-parto, sendo que pelo menos
48 delas morreram por causas que poderiam ter sido evitadas.
103
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
8.6.3.Paraná
O Paraná possui 399 municípios, sendo que 79,7% têm menos de 20 mil habitantes,
nos quais residem 27,9% do total da população estadual. No estado, aproximadamente
39% da população ainda residem na zona rural.
O Produto Interno Bruto (PIB) da economia paranaense alcançou cerca de R$70 bilhões
em 2000, propiciando um PIB per capita de R$7.400,00. Nos anos 1990, a economia do
estado cresceu mais do que a brasileira: a participação do estado no PIB nacional aumentou
de 6,3% para 6,5%. No mesmo período, a diferença entre o PIB per capita estadual e o
nacional aumentou de 9% para 14%.
104
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
foi de 98,8 por 100.000 nascidos vivos. Nesse ano, porém, existia ainda grande
subnotificação, pois os dados eram baseados somente nas informações obtidas nas decla-
rações de óbitos.
A importância do SUS é avaliada quando se observa que mais de 78,4% das pessoas no
estado não possuem cobertura de planos de saúde privados. Nas classes de rendimento
familiar mensal inferior a 5 salários mínimos, o percentual de pessoas sem plano varia
de 85,7% a 96,5%. Por outro lado, entre as famílias com rendimento superior a 20 salários
mínimos, apenas 34,4% não têm plano privado.
Doze municípios são considerados pólos estaduais de referência por oferecerem ser-
viços ambulatoriais e hospitalares de média e alta complexidade e atenderem à população
além da sua microrregião: Curitiba, Campina Grande do Sul, Ponta Grossa, Guarapuava,
Pato Branco, Francisco Beltrão, Cascavel, Umuarama, Maringá, Apucarana, Arapongas e
Londrina.
O estado do Paraná se encontra no grupo que terá que fazer ajustes nos recursos
próprios gastos em saúde, de forma a alcançar os percentuais previstos pela Emenda 29
(12%) em 2004. No geral, os municípios paranaenses terão que fazer ajustes bem menores,
dado que em 1998 já estavam gastando com saúde em média 13% das receitas próprias.
8.6.4.Rondônia
105
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Na capital Porto Velho residem 24% da população total do estado, que juntamente com
os 10 municípios mais populosos, acumula 62% da população total. As populações resi-
dem em geral nas cidades existentes ao longo do principal eixo rodoviário do estado.
Neste estão localizados a capital e outros 7 municípios, os quais totalizam 55% da popu-
lação residente.
Situado na Região Sul do Brasil, o estado do Rio Grande do Sul possui área territorial
de 282.674 Km². Possui 497 municípios, em geral pequenos: 45,67% possuem menos de 5
mil habitantes e 68% possuem menos de 10 mil habitantes. Trinta novos municípios
foram implantados em janeiro de 2001.
A maior parte dos 10.309.000 habitantes, 81,6% (a média do país é 81,2%), estará,
em 2001, concentrada nas áreas urbanas; 27% da população reside nos municípios-pólo,
configurando macrorregiões de saúde. A título de comparação, em 1970 o estado possuía
6,7 milhões de habitantes, dos quais 53,3% em áreas urbanas. A taxa de crescimento
entre 1991 e 2000 foi de 1,22% (a do país foi de 1,63%) e a taxa de fecundidade em 1999
foi de 2,1% (a do país foi de 2,9%).
106
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
107
REFERÊNCIAS
NEGRI, B. ; VIANNA Ald’A. (Org.). O Sistema Único em Saúde em dez anos de desafio.
São Paulo: Sobravime, Celog, 2002.
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Estado da Saúde. Perfil do sistema de saúde do Rio
Grande do Sul. Disponível em: http://www.opas.gov.br/observatorio/Mapa/esta
do.cfm?hOBSNUMCOD=13&hITENumCod=105&uf-RS&estado=Rio%20Grande%20do%Sul.
Acesso em: nov. 2002.
110
ANEXO
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
112
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Slide 1 Slide 2
Slide 3 Slide 4
113
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Slide 5 Slide 6
Slide 7 Slide 8
Slide 9 Slide 10
114
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Slide 11 Slide 12
Slide 13 Slide 14
Slide 15 Slide 16
115
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Slide 17 Slide 18
Slide 19 Slide 20
Slide 21 Slide 22
116
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
Slide 23 Slide 24
Slide 25 Slide 26
Slide 27 Slide 28
117
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Slide 29 Slide 30
118
Informações e instruções aos autores para
apresentação de manuscritos a serem
publicados na Série Técnica do Projeto de
Desenvolvimento de Sistemas e Serviços
de Saúde da Opas
A seleção dos trabalhos a serem publicados está baseada nos seguintes critérios gerais:
trabalhos originais inéditos, relevância do tema; qualidade formal do texto e solidez
científica; conclusividade; atualidade da contribuição; contribuições teóricas e de
aplicabilidade na prática e vinculação com atividades de cooperação da Opas na área de
desenvolvimento de sistemas e serviços de saúde. Excepcionalmente serão analisados
trabalhos alheios à cooperação, sempre que tenham relação com áreas temáticas do Projeto.
No caso de publicações com autoria externa, as opiniões dos autores são de sua exclu-
siva responsabilidade e não refletem necessariamente critérios nem políticas da Opas.
Tipologia de publicações:
A Série publicará, entre outros, textos integrais, como artigos, ensaios, pesquisas,
relatórios; textos preparados através de meta-análise; e destaques em seções curtas,
demandados pelo Projeto.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Os manuscritos aceitos passam por um processo editorial que, de acordo com o for-
mato da publicação, pode requerer, se necessário, sua condensação, e/ou supressão de
quadros ou anexos. A versão editada será remetida ao autor para aprovação, no caso de
autores externos à Organização.
Direitos de reprodução:
Apresentação:
O texto deve ser apresentado em folhas tamanho A4 (212 x297mm), em fonte tamanho 12,
e escritas a espaço duplo. Os gráficos, tabelas e/ou figuras deverão ser mantidos ao
mínimo e enviados em impressão separada de alta qualidade, em preto e branco e/ou
diferentes tons de cinza e/ou hachuras. A totalidade do trabalho deve acompanhar-se de
cópia em disquete.
Referências Bibliográficas
São essenciais para identificação das fontes originais de conceitos, métodos e técnicas
referidas no texto. Artigos de pesquisa devem conter um mínimo de 20 referências biblio-
gráficas pertinentes e atualizadas.
120
Modernização das Secretarias de Estado da Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde no Brasil, ano 2002
a) Série Monográfica:
BOURDIEU, P. O campo científico. São Paulo: Ed. Ática, 1976. (Coleção Grandes cien-
tistas sociais).
b) Capítulo de Monografia:
DAVIES, A. M. The evolving science of health systems research. In: World Health
Organization. From research to decision making: case studies on the use of health
systems research. Geneva, 1991. 139p.
c) Artigo de Revista:
FARFAN, G. et. al. Digestive disease in the elderly. Rev. Gastroenterol. Lima, v.11,
n.3, p.164-170, 1991.
ROSENTHAL, G. et. al. Does good health services research produce good health policy?
Health Policy Quarterly, [S.l.], v. 1, n.1, 1981.
e) Documento técnico
SECLEN, Juan et. al. Estudio comparativo de la calidad de atención y uso de servicios
de salud materno perinatales (1997-2000). Lima: Ministerio de Salud del Peru, 2002.
121
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2.Exemplos de Citações
a) Citação Direta
b) Citação de Citação
Segundo Silva (1983 apud ABREU, 1999, p.3) diz ser [...]
Para maiores informações sobre o estilo da ABNT, consultar o site da Internet: http:/
/bu.ufsc.br/framerefer.html
122
SÉRIE DE DOCUMENTOS
Volume 1
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico
2. Seminário: o Sistema Único de Saúde e a
Regionalização
3. Seminário: Perspectiva para a descentralização
e a Regionalização no Sistema Único de Saúde
Volume 2
Produção de conhecimento em Política,
Planejamento e Gestão em Saúde e
Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Volume 3
Saúde nos aglomerados urbanos: uma visão
integrada
Volume 4
1. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil:
marco legal e comportamento do gasto
2. O Papel e as conseqüencias dos incentivos
como estratégia de financiamento das ações
de saúde
PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE APRESENTAÇÃO
SÉRIE DE DOCUMENTOS ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (Opas/OMS)
A Organização Pan-Americana da Saúde
SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE – SAS — Opas, exercendo sua atribuição de
série técnica
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico que a concretização desta ação, no
Projeto de Desenvolvimento de
de Sistemas e Serviços de Saúde/Opas
Volume 4
apresenta a Série Técnica como uma
1. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil:
das atividades de gestão do conhecimen-
marco legal e comportamento do gasto
to, necessária à construção e à consoli-
5
para a melhoria da qualidade da aten-
ção à saúde individual e coletiva, a re-
dução de desigualdades e o alcance da
eqüidade.
Brindamos a comunidade de saúde
pública do país e da Região das Amé-
ricas com esta publicação. Esperamos
que possa se tornar um espaço vivo
de apoio à construção do SUS no Brasil
e que proporcione visibilidade e acesso
aos produtos concretos advindos da
Setor de Embaixadas Norte - Lote 19
5
Cooperação Técnica da Opas.
Brasília-DF - 70800-400
www.opas.org.br Sigamos avançando na conquista pela
qualidade de vida e saúde da população.
PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE APRESENTAÇÃO
SÉRIE DE DOCUMENTOS ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (Opas/OMS)
A Organização Pan-Americana da Saúde
SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE – SAS — Opas, exercendo sua atribuição de
MINISTÉRIO DA SAÚDE – BRASIL
série técnica
Volume 1 apoiar um sistema de saúde democrá-
tico, integral e equânime, entende
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico que a concretização desta ação, no
Projeto de Desenvolvimento de
de Sistemas e Serviços de Saúde/Opas
Volume 4
apresenta a Série Técnica como uma
1. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil:
das atividades de gestão do conhecimen-
marco legal e comportamento do gasto
to, necessária à construção e à consoli-
6
para a melhoria da qualidade da aten-
ção à saúde individual e coletiva, a re-
dução de desigualdades e o alcance da
eqüidade.
Brindamos a comunidade de saúde
pública do país e da Região das Amé-
ricas com esta publicação. Esperamos
que possa se tornar um espaço vivo
de apoio à construção do SUS no Brasil
e que proporcione visibilidade e acesso
aos produtos concretos advindos da
Setor de Embaixadas Norte - Lote 19
6
Cooperação Técnica da Opas.
Brasília-DF - 70800-400
www.opas.org.br Sigamos avançando na conquista pela
qualidade de vida e saúde da população.
APRESENTAÇÃO
série técnica
Projeto de Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde
BRASÍLIA — DF
2003
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
Organizadores
Luisa Guimarães
Doutoranda em Saúde Pública, Bolsista do CNPq - Brasil,
formação em Saúde Internacional pela OPAS/OMS e
funcionária do Ministério da Saúde do Brasil.
Eduardo Guerrero
Médico, Mestre em Saúde Pública e Especialista em Sistemas
e Serviços de Saúde; Consultor da Opas/OMS atuou no
Brasil de 1997 a 2003, altualmente em El Salvador.
Brasília — DF
2003
Elaboração, distribuição e informações
Organização Pan-Americana da Saúde
Organização Mundial da Saúde
Setor de Embaixadas Norte, 19
70.800-400 — Brasília — DF
http://www.opas.org.br
Projeto de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde/OPAS
http://www.opas.org.br/servico/paginas/index.cfm
1. Coordenador do Projeto
Júlio Manuel Suárez
2. Conselho editorial
Juan Seclen
Luciana Chagas
Luisa Guimarães
Rosa Maria Silvestre
3. Apoio técnico e administrativo:
Luciana de Deus Chagas
Rosa Maria Silvestre
4. Normalização
Fernanda Nahuz
Leila Barros
Luciana dos Santos
Revisão
Manoel Rodrigues Pereira Neto
Capa, Projeto Gráfico e DTP
Wagner Soares da Silva
Tiragem:
1.500 exemplares
Para que este volume da Série Técnica se tornasse realidade, com forma e conteúdo, foi preciso uma
conjugação de forças e da confiança daqueles que nos apoiaram em todos os momentos. Assim, nós
autores(as) expressamos nosso reconhecimento e agradecimento a vocês que nos impulsionaram em
vários momentos dessa caminhada:
A Opas
Jacobo Finkelman
Julio Suarez
Juan Seclen
Luciana Chagas
SIGLA SIGNIFICADO
Abrasco Associação Brasileira de Saúde Coletiva
AMG Assistência Médica Gerenciada
Anvisa Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BIRD Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento
BM Banco Mundial
Cenforh Centro Formador de Recursos Humanos
CEP-Saúde Centro de Educação Profissional de Saúde do Estado de Goiás
CIB Comissão Intergestores Bipartite
CIT Comissão Intergestores Tripartite
Conasems Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde
Conass Conselho de Secretários de Saúde
Cosems Conselho de Secretários Municipais de Saúde
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
CPI Comissão Parlamentar de Inquérito
CTD Cooperação Técnica Descentralizada
Datasus Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
ENSP Escola Nacional de Saúde Pública
GCN Grupo Condução Nacional
GTI Grupo de Trabalho Interinstitucional
FGV Fundação Getúlio Vargas
FPPS Formulação de Políticas Públicas de Saúde
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
Inamps Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
MEC Ministério da Educação e Cultura
MS Ministério da Saúde
Noas Norma Operacional de Assistência à Saúde
NOB/93 Norma Operacional Básica 01/93
NOB/96 Norma Operacional Básica 01/96
OAB Organização dos Advogados do Brasil
Opas/OMS Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde
Pacs Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PCCS Plano de Cargos, Carreiras e Salários
PDI Plano Diretor de Investimentos
PDR Plano Diretor de Regionalização
PPA Plano Plurianual
PPI Programação Pactuada Integrada
Profae Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem
Proformar Programa de Formação de Agentes Locais de Vigilância em Saúde
PSF Programa de Saúde da Família
Reforsus Reforço à Reorganização do Sistema Único de Saúde
RH Recursos Humanos
Ripsa Rede Integrada de Informação para a Saúde
SAF Serviço de Assistência Farmacêutica
SIA/SUS Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS
Siab Sistema de Informação de Ações Básicas
SIH/SUS Sistema de Informações Hospitalares do SUS
SIM Sistema de Informação Mortalidade
Sinan Sistema Nacional de Agravos de Notificação
Sinasc Sistema Nacional de Nascidos Vivos
SINTEGO Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás
SPS Secretaria de Políticas de Saúde
SUS Sistema Único de Saúde
SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
UFG Universidade Federal de Goiás
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UTI Unidade de Terapia Intensiva
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS ORIENTADAS AO MODELO DE ATENÇÃO NO SUS
Luisa Guimarães e Eduardo Guerrero ................................................................... 27
CAPÍTULO 2
A IMAGEM NA SAÚDE: UMA VISÃO SETORIAL NOS DESENHOS DE PROFISSIONAIS
QUE MILITAM NA SAÚDE
Carlos Henrique de Oliveira Furtado e Celene Santana ............................................ 53
CAPÍTULO 3
A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS NA PERSPECTIVA DOS ATORES
Parte 1 A formalização de Políticas Públicas de Saúde na óptica dos gestores:
uma discussão do conteúdo
Nazareth Elias Silva Nascimento e Marta Rovery de Souza ....................................... 131
Parte 2 Paralelo entre o ciclo político e a prática: refletindo sobre um exercício
Silvana Cruz Fuini ......................................................................................... 157
CAPÍTULO 4
MODELOS DE ATENÇÃO DESEJÁVEIS: SUBSÍDIOS PARA CONSTRUÇÃO DE UMA AGENDA DA SAÚDE
Cheila Marina de Lima e Dais Gonçalves Rocha ..................................................... 171
CAPÍTULO 5
ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE
NO ESTADO DE GOIÁS: PERFIL DOS ALUNOS(AS)
Graça Maria Bezerra Sobreira .......................................................................... 195
ANEXOS ..................................................................................................... 225
ORGANIZADORES
Luisa Guimarães, doutoranda em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública
da Fundação Oswaldo Cruz; bolsista do CNPq — Brasil; formação em Saúde Internacional
na Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial de Saúde; graduada em
Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Psicóloga do Ministério da Saúde.
luisa.guimaraes@rudah.com.br
AUTORES
Carlos Henrique de Oliveira Furtado, graduado em Letras Português, Inglês e Litera-
turas correlatas, pela Universidade Federal de Goiás. Gestor Público do Estado de Goiás,
exercendo atividades na Superintendência de Ciência e Tecnologia e Inovação em Saúde
Leide das Neves Ferreira da Secretária de Estado de Saúde de Goiás. Interesses: adminis-
tração pública no Sistema Único de Saúde; saúde no mundo; e língua inglesa.
Luisa Guimarães, doutoranda em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública
da Fundação Oswaldo Cruz; bolsista do CNPq — Brasil; formação em saúde internacional
na Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial de Saúde; graduada em
Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Psicóloga do Ministério da Saúde;
exercendo atividades de Acompanhamento da Assistência à Saúde juntos aos estados e
municípios. Interesses em: formulação de políticas; gestão de políticas públicas; saúde
internacional; pactos bilaterais e multilaterais.
A atuação das instituições formadoras, por sua vez, vem sendo intensificada por
meio de parcerias com os governos locais e nacional. A publicação deste volume, Modelo
e Formulação de Políticas Públicas, expressa o desfio dessa atuação ao propor a discussão
de processos de construção de políticas para a redução de desigualdades e as suas corre-
lações com a saúde em exercícios e atividades de campo.
Jacobo Finkelman
Representante da Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil
APRESENTAÇÃO
Júlio Suarez
18
INTRODUÇÃO
examinados com aguda capacidade reflexiva. Sobretudo quando se almeja uma acentuação
do caráter participativo nesse processo.
20
PALAVRAS INICIAIS
Eduardo Guerrero
Marzo del 20031
Mario Benedetti
Para mí es imposible conocer una ciudad sin caminar de una orilla a otra, de una calle
a otra, de un edificio a otro. Sin conocer sus iglesias. Sin sentarme en un parque. Sin
recorrer y seguir la mirada de los ciudadanos de la calle que transitan en un estado de
sobre vivencia permanente. Los beneficiados del modelo social y la clase media se movilizan
en vehículos de diferente tipo y valor. Los pobres trabajadores van en vehículos de trans-
porte urbano como sardinas en lata. Las calles se congestionan y la contaminación
ambiental aumenta. Todos sin excepción recorren las calles en forma rauda en una carrera
contra el tiempo. El tiempo de los ciudadanos de la calle es diferente. Es más lento y
tiene una dimensión que se une con la eternidad.
Recientemente fui a una librería compre unos libros de poesía, y algunos sobre la
salud en EL Salvador. Este es un país que esta aprendiendo a convivir en democracia
después de varias décadas de guerra. La paz esta firmada. La vida y los problemas
sociales están presentes en un modelo desigual. Uno de los libros narra la experiencia de
los médicos, enfermeras, auxiliares sanitarios que apoyaron el movimiento guerrillero.
Ellos construyeron su modelo de atención sanitaria para atender a los hombres, mujeres,
ancianos, niños y a los militantes guerrilleros que vivían en sus zonas de combate. Tenían
puestos, casas de salud y hospitales improvisados escondidos bajo el bosque, bajo la
tierra, con subterráneos y trincheras para protegerse del enemigo.
Por otro lado, otros actores con otra visión como los médicos internacionalistas brindaron
su apoyo a esta causa. La Cruz Roja también cumplía su modelo de atención humanitaria
en zonas de conflicto. La Organización Panamericana de la Salud aportó con su estrategia
Salud un puente para la Paz.
Los relatos de esa época son apasionantes para entender los mecanismos de
participación social y solidaridad. En plena lucha los civiles y los militantes de la guerrilla
procuraban un lugar de descanso eterno para los seres queridos caídos en combate.
Transferían los heridos de un lugar a otro para protegerlos de una muerte casi segura.
Utilizaban diversos sistemas de comunicación para afrontar la adversidad. Ese fue un
modelo de atención construido bajo el fragor de la guerra para proteger y cuidar a los que
luchaban por una causa que consideraban liberadora. Hoy los salvadoreños todavía no
tienen un acuerdo social sobre el modelo de salud que necesitan. Las fuerzas políticas
están polarizadas y existe un largo camino para construir una propuesta aceptable por la
sociedad. Mientras tanto en la vida diaria de las ciudades, de las aldeas, de los cantones
22
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
los esfuerzos por brindar servicios de salud continúan y se salvan miles de vidas diaria-
mente. Todos los interlocutores saben que la brecha social y la desigualdad son el gran
enemigo a vencer en medio de una economía dependiente. La búsqueda por un modelo
alternativo de salud sostenible con los recursos de la sociedad se mantiene y la esperanza
esta vigente.
Hoy los noticieros internacionales nos informan que estamos a pocos días de una
guerra anunciada en el medio oriente. Los motivos son confusos para unos y reales para
otros. En alta mar los grandes barcos hospitales altamente equipados esperan los jóvenes
combatientes del ejército dominante para salvar sus vidas. Helicópteros y sofisticados
mecanismos de rescate han sido instalados para garantizar la vida de los soldados. Médi-
cos, enfermeras, científicos están preparados para un momento de lucha que busca cam-
biar la correlación de fuerzas en el medio oriente. Los pacifistas del mundo en las calles
de sus ciudades claman por la paz. Las Naciones Unidas luchan por cumplir su misión para
lograr un acuerdo, una negociación que cuide y beneficie a los diferentes actores. La
economía se mueve al palpitar de la guerra. Las bolsas suben y bajan. El precio del
petróleo sube y los más miserables son cada día más pobres.
Mientras tanto los ciudadanos de Irak saben que van a morir y se preparan para una
lucha desigual. Una lucha que entienden como el choque entre dos culturas. Ellos también
tendrán su modelo desigual para atender a su población en guerra, una guerra que los
afecta a todos y a todas.
En esta guerra hay un gran temor por el posible uso de armas químicas. Los modelos
de vigilancia epidemiológica y sanitaria se preparan para una posible guerra bacteriológica.
Los equipos de protección han subido de precio y casi se han agotado. La población
susceptible ha sido vacunada contra enfermedades del pasado como la viruela, entre
otras.
Y en este momento, en que los especialistas en salud pública de América Latina estamos
repensando los modelos de salud, los procesos de reforma y los mecanismos de
modernización del Estado. ¿Cuál será el futuro? ¿Podremos seguir en nuestro optimismo
idealista o nos sumergimos en el pesimismo de la derrota? Indudablemente la vida nos
23
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
enseña que hay que seguir luchando por un mundo mejor, por la salud para todos y por
todos, por la esperanza de una sonrisa. Miles de trabajadores de la salud están en sus
servicios esperando para dar alivio al dolor. Miles de profesionales de la salud pública
estudian el proceso salud enfermedad para mantener el equilibrio que las sociedades
requieren para seguir su proceso productivo.
Hoy mas que nunca debemos trabajar para reconstruir los modelos de salud en la
diversidad y precariedad de nuestras sociedades desiguales. Hay que descender del tren
de la burocracia para caminar por las calles del suburbio, de los campamentos de
desplazados, de los emigrantes, de los desempleados en busca de trabajo, hay que recorrer
la precaria estructura de las instituciones de salud y la potencialidad de las redes sociales
para reconfigurar el modelo de salud y buscar caminos alternativos junto con los actores
sociales que día a día sufren y sobreviven a la inercia y apatía de la sociedad opulenta. La
lucha por los derechos humanos esta vigente y el cumplimiento de los tratados
internacionales son una de las armas más valiosas que el sistema de Naciones Unidas ha
aportado a lo largo de su historia. La lucha contra el hambre, el dolor y el sufrimiento son
el aliento divino para lograr sociedades más justa e igualitarias. Esa es la verdadera
guerra para lograr la paz y una sociedad más humanitaria. Unamos nuestras manos y
nuestras mentes para detener el odio y las respuestas amenazadoras y desequilibradas.
Epilogo
24
CAPÍTULO 1
FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS ORIENTADAS
AO MODELO DE ATENÇÃO NO SUS
Autores: Luisa Guimarães*, Eduardo Guerrero**
INTRODUÇÃO
Neste texto, vamos apresentar aspectos institucionais e teóricos que fundamentam a
disciplina Modelo de Atenção e Formulação de Políticas de Saúde desenvolvida no Curso
de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás, no ano de 2002.
O objetivo deste capítulo é contribuir na discussão de processos de educação permanente
no Sistema Único de Saúde (SUS), ilustrando com o relato e a análise de uma experiência.
Nosso ponto de partida é buscar entender as relações entre modelo de atenção e política
de saúde considerando que, embora a política de saúde não se realize apenas no campo
dos serviços de saúde é, neste espaço, que as políticas exercem peso fundamental.
A relevância desta experiência nos parece justificada por ter sido desenvolvida em pro-
cesso de capacitação de equipes da saúde com responsabilidades e liderança nas ativida-
des que exercem.1
* Doutoranda em saúde pública, bolsista do CNPq — Brasil, psicóloga do Ministério da Saúde do Brasil.
** Mestre em saúde pública, consultor de sistemas e serviços de saúde da Opas/OMS.
1 Agradecemos a leitura e os comentários de Julio Suarez que muito contribuíram para a melhoria do texto.
Aproveitamos ainda para agradecer a Maria Helena Carvalho Brandão pelo apoio à conclusão deste Livro.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2 Das oficinas de organização do texto desta publicação participaram Ivan Maciel e Maria Terezinha Cunha pela
Coordenação do Curso; Juan Seclen e Julio Suarez, consultores da Opas/OMS.
28
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Este capítulo está organizado em três partes. Na primeira parte, em duas sessões,
consta pequeno histórico — na perspectiva dos autores — do Projeto Nacional de Qualifi-
cação de Equipes Gestoras de Sistemas e Serviços de Saúde, apoiado pelo Ministério da
Saúde e parceiros institucionais no ano de 2002/2003; e a estratégia de capacitação de
equipes gestoras desenvolvida em Goiás. A segunda parte, em quatro sessões, apresenta
primeiramente o marco conceitual da disciplina de Modelo de Atenção e Formulação de
Políticas de Saúde, seguido da sua organização e traça relações entre a formulação de
políticas e o modelo de gestão. Para encerrar a segunda parte são indicados rotas e
espaços da formulação de políticas no SUS, a partir de análise da experiência em Goiás.
A terceira parte busca, por fim, ampliar o debate com comentários preliminares sobre a
temática de construção de modelos de saúde e formulação de políticas na perspectiva de
demarcar novo campo, estimular outras iniciativas e estudos sobre a capacitação de
profissionais dirigentes no SUS — equipes gestoras .
Nos últimos anos, muitos autores e especialistas têm indicado que a formação de
recursos humanos consoante com as necessidades do SUS é, ainda, um desafio. A criação
em 2003 no Ministério da Saúde da Secretária de Gestão do Trabalho sinaliza a importância
e relevância institucional que o tema alcança na atualidade (BRASIL, 2003).
29
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
30
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Nacional (GCN).3 O GCN foi assessorado pelo Grupo de Trabalho Interinstitucional (GTI).4
E, em cada estado, foi constituída Coordenação Estadual de Gestão do Projeto com res-
ponsabilidade de condução técnica e política da formulação e desenvolvimento dos cur-
sos em âmbito local.5
3 O Grupo de Condução Nacional foi integrado, conforme indicação, pelas seguintes instituições: do Conselho
Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), por Eliana Pasini; do Conselho Nacional de Secretários
de Saúde (Conass), por Volnei Pedroso; da Escola Nacional de Saúde Pública/Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Ficruz),
por Antônio Ivo; do Projeto Reforsus (Reforsus/MS), por Trajano Quinhões; da Associação Brasileira de Saúde
Coletiva (Abrasco), por Francisco Campos; da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), por Eduardo
Guerrero; da Coordenação de Recursos Humanos para o SUS (CGRHSUS/MS), por Paulo Seixas; e coordenado por
Elias Rassi, da Secretária de Políticas de Saúde (SPS/MS).
4 O Grupo de Trabalho Interinstitucional foi integrado por Inácio Motta (Ensp/Fiocruz); Murilo Wanzeller (UFPB);
Tomaz Martins (ESP/Sobral); Pedro Benevenuto (Emescan/ES); Edmundo Gallo (consultor); Marco Akerman (con-
sultor); Luisa Guimarães (SPS/MS); e Bertrand Almeida (SPS/MS).
5 A Coordenação Estadual de Gestão do Projeto foi criada por portaria ou resolução e composta por representantes
da Secretaria de Estado da Saúde, do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado e das instituições
formadoras.
6 Nas etapas de formulação do Projeto Nacional, de apresentação e de condução junto às Coordenações Estaduais, em
Seminários Nacionais, foram de relevância especial as contribuições de Tânia Celeste Nunes, Vice-Presidente de
Recursos Humanos da Fiocruz e José Paranaguá de Santana, consultor de recursos humanos da Opas/OMS.
7 O Projeto Nacional, considerando as estratégias desse tipo de capacitação, induziu a distribuição crescente de
vagas para profissionais de Secretarias Municipais de Saúde de cidades acima de 30 mil habitantes. As informa-
ções da época levavam a considerar difícil que municípios pequenos tivessem profissionais suficientes para
dispor em processos de especialização de maior duração. Outra característica nacional é a reserva de número
de vagas para as Secretarias de Estado da Saúde. Com base nessas estratégias e nos recursos financeiros do
projeto foi previsto o apoio a um número definido de cursos em cada estado. Entretanto, a experiência mostrou
que a certa flexibilidade do projeto permitiu soluções diferenciadas, nos casos de municípios alvo e número de
cursos em vários estados.
31
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
(Projeto Nacional, Anexo A). Na segunda oficina nacional, foi iniciada pelo GTI a discus-
são da elaboração de currículo baseado no perfil de competências: técnicas, subjetivas e
sociais desejadas para as equipes gestoras.8
De acordo com as análises feitas pelo GCN, o Projeto Nacional incluiu ainda estratégias
de ampliação das capacidades de atuação das instituições formadoras — Núcleos de Saú-
de, Departamentos de Saúde Pública, Escolas de Saúde, entre outros— frente às novas
necessidades de formação e assessoria academia/serviço. Ao longo do processo de
formulação, negociação e implantação do Projeto Nacional, foi realizada avaliação externa
e formativa, cujos resultados foram inputs fundamentais para a condução estratégica do
projeto. A avaliação previa também uma segunda fase voltada para os cursos que orien-
taria a avaliação de egresso.
Cada estado interessado apresentou, com base nos delineamentos nacionais, proposta
de Projeto Estadual e Plano de Curso. Para tanto, uma Coordenação Estadual do Projeto
foi constituída pela Secretaria de Estado da Saúde, com representantes da gestão muni-
cipal, estadual e das instituições formadoras. Essa coordenação foi a contraparte esta-
dual do Projeto para o MS. O Projeto Estadual continha as estratégias acordadas na
Coordenação Estadual para realizar os cursos no estado. O Plano de Curso, por sua vez,
contemplou a grade curricular e as ementas dos cursos e a sistemática de divulgação e de
seleção dos(as) alunos(as).
8 Foram realizadas duas oficinas nacionais do projeto com a presença de representantes das Coordenações
Estaduais de todos os estados. Essas atividades foram realizadas sob a condução do GCN e coordenadas pelo GTI
com a colaboração e participação ativa de técnicos e consultores do MS: Ângela Siman, Elizabeth Albuquerque,
Jaime Rabelo, Margarida Paes, Mário Grassi, Moema Brito, Rosângela Benevenuto, Sílvia Belluci, Sônia Saldanha
e Vinicius Pawlowski.
32
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
A adesão dos estados ao Projeto Nacional, expressa nos números acima, reflete con-
senso quanto às necessidades atuais de capacitar pessoal dedicado ao processo de for-
mulação, gerenciamento e implementação de projetos, programas e políticas de saúde
percebidas por governo, financiadores e profissionais. Ainda que a Qualificação de Equi-
pes Gestoras de Sistemas e Serviços de Saúde Nacional não tenha sido sistematicamente
avaliada quanto aos resultados, inclusive para a continuidade, certamente a experiência
em Goiás aqui descrita e a de outros estados traz elementos importantes para a discus-
são de processos permanentes de capacitação no SUS.
33
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
com previsão de término para junho de 2003. O Curso está organizado em módulos que
totalizam carga horária de quinhentas horas, das quais trezentos e sessenta horas são de
atividade presencial e as restantes para a elaboração de trabalho de campo (Plano de
Curso de Goiás, Anexo B).
O curso foi divulgado em vários meios no estado de Goiás e junto aos municípios.
Os candidatos à especialização para ingressar foram submetidos à seleção, a que cons-
tou de análise curricular, envio de documentos e entrevistas. Na conclusão, para obten-
ção do título devem apresentar trabalho em formato de monografia, priorizando temas
relativos aos sistemas locais de saúde e à qualidade dos serviços e, fundamentalmente,
serem desenvolvidos na área de atuação profissional dos(as) alunos(as). Os professores
das unidades de ensino da UFG e convidados de outras instituições foram os docentes
dos cursos. Os conteúdos do curso foram organizados em três áreas temáticas: contexto
e quadro conceitual da saúde; gestão de sistemas e serviços, e ferramentas gerenciais.
9 Graciano Silva, representante dos Secretários Municipais de Saúde de Goiás; Carlos Lisboa, representante da
Secretaria de Estado da Saúde de Goiás; e Ivan Maciel representante da UFG são os Coordenadores do Curso e
acumulam a Coordenação Estadual do Curso.
10 Eduardo Guerrero foi membro do GCN, representando a Opas/OMS; Luisa Guimarães foi integrante do GTI e
enquanto servidora do MS participou da formulação, elaboração, acordos e condução do Projeto Nacional, até
agosto do ano de 2002.
34
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
tivemos apoio da Coordenação do Curso de Goiás para propor aos(às) alunos(as) conteú-
dos para além da ementa inicialmente prevista.
35
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Como não somos mestres de formação, nos esforçamos na busca do melhor trânsito
possível entre paradigmas de ensino e práticas ao construir a disciplina. Queríamos co-
meçar por encontrar fundamentos para análises do processo de formulação de políticas —
rotas, atores, fontes, etc —, realizando a reflexão teórica do modelo de atenção. Em
seguida, discutir conceitos que influem em processos de formulação de políticas de saúde,
resgatando a experiência de cada aluno(a)-ator e incorporar processos de auto-aprendi-
zagem sustentáveis. Entretanto, o que nos movia era o desejo de colocar em evidência,
a partir da experiência com a equipe de Goiás, o tema de formulação de políticas.
Ainda que existam diferenças entre as comunidades ecológicas e humanas, para Capra
o elo entre essas comunidades é a presença de redes organizadas abertas aos fluxos de
energia e de recursos. Ambas são, portanto, estruturas determinadas por históricos de
mudanças. Teorias pedagógicas mais recentes incluem novos desafios que, de certo modo,
têm paralelos com a alfabetização ecológica. A compreensão de que o processo educacio-
nal é a confluência da ação de formação em três dimensões existenciais religando sabe-
res assemelha-se ao conceito de sustentabilidade. Nessa perspectiva a primeira ação de
36
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
formação incide sobre a condição humana, que envolve o permanente diálogo entre as
dimensões científicas e humanistas do conhecimento. A segunda dimensão é o aprender
a viver que prepara os espíritos e afronta as incertezas e os problemas da existência
humana. A terceira é o aprendizado da cidadania, dimensão histórica, política e cultural
do processo instituinte do cidadão (CAPRA, 1977).
As especificidades do trabalho em saúde transitam assim, a nosso ver, nos dois campos
anteriores — alfabetização ecológica e religação de saberes — pois, com base nos argumen-
tos anteriores, é um trabalho reflexivo, no qual as decisões tomadas implicam a articu-
lação de vários saberes que provêm da formação geral, da formação profissional e das
expectativas de trabalho e social, mediados por uma dimensão ético-política.
Os intensos processos de ajustes ocorridos nos últimos anos no setor saúde confirmam
os argumentos anteriores sobre a complexidade do perfil de trabalho setorial. Motta e
Buss (2001) detalham que tal complexidade se transforma em uma das dificuldades pre-
sentes de construção do Sistema Único de Saúde (SUS): a pujança das reformas devem se
acompanhar de processos permanentes de qualificação e requalificação. Os autores con-
sideram que especificidades da gestão do sistema de saúde vêm exigindo formas dinâ-
micas e atualizadas de capacitação, com implicações nos modelos de formação. Nessa
perspectiva, eleger estratégias e modelos de capacitação renovados e aderidos aos con-
textos de trabalho e espaço de ação do agente tende a diminuir o vácuo na formação dos
profissionais frente à permanente reestruturação do modelo de atenção.
37
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Embora de uso muito corrente, o termo política tem significâncias variadas e inter-
pretações abrangentes. Considerando que nos interessava influir e orientar o modelo de
atenção a partir da compreensão e análise de processos de formulação de políticas,
entendemos política como um conjunto de decisões estratégicas formais que orientam
atividades para um determinado fim. Entendemos que política é uma construção social
feita por sujeitos políticos que têm forças e limitações e desatam processos de decisão
a partir de fontes sociais (BIRNER; WITTMER, 2002).
Segundo revisões da literatura feitas por Gasgó e Equiza (2002), política é o conjunto
de práticas e normas — programa de ação governamental — que emanam de um ou vários
atores políticos. Todas as políticas têm as seguintes características: um conteúdo ou
produto; um programa ou marco geral de atuação; uma orientação normativa; um fator
de coesão, conseqüência da autoridade dos atores públicos, e uma competência social
que afeta aos cidadãos.
Nesse sentido, um governo ou dirigente público põe em marcha uma política pública
quando detecta a existência de um problema. A política é, então, um conjunto de decisões
e ações adotadas como solução para uma dificuldade considerada pelo próprio governo e
pelos cidadãos como prioritária. A análise do entorno político e do interior das entidades
públicas permite identificar grandes riscos e problemas a partir dos quais são formuladas
diferentes alternativas estratégicas de ação (GASGÓ; EQUIZA, 2002).
38
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
12 Era nosso desejo enquanto docentes da disciplina, aprofundar o mapa das redes de relações que influem na
formulação de políticas de saúde que afetam modelos de atenção. Existe um método para estudo de redes em
políticas públicas descrito em Marques 1999. Optamos por buscar, senão um mapa, alguns indicativos de atores,
fontes e outras características em exercício de campo descrito à frente.
39
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Outros assuntos indicados, tais como novas tecnologias, novas exigências dos modelos
e a redução de desigualdades, impõem a necessidade de transformar processos de ensi-
no e aprendizagem para que as novas gerações de profissionais alcancem saltos
qualitativos que permitam superar as dificuldades presentes. Ainda que os temas de
interesse demarcados pelo(os) alunos(as) superem o conteúdo e o tempo da disciplina
Modelos de Atenção à Saúde, foram para nós reforçadores do caminhar na discussão de
formulação de políticas e modelo de atenção de modo a superar limites e buscar construir
ferramentas de compreensão, análise e intervenção na realidade pelos(as) alunos(as).
40
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Alguns(umas) alunos(as) assinalam que, por serem novatos no Sistema, buscam su-
perar as deficiências, o despreparo e a desinformação para gerir o SUS. Ao tempo que se
consideram novatos, têm ansiedade por maiores conhecimentos para sentirem-se úteis
dentro do SUS. O interesse por tais temas demonstra que, na atualidade, com quinze
anos de existência, novas gerações de profissionais ingressam no SUS e tentam compre-
ender a história para fazer parte da concretização dos princípios. A nova geração de-
monstra compromisso com a saúde para todos e por todos em um modelo participativo,
que luta pela justiça social e a redução de desigualdades. Muitos desses novos profissi-
onais de saúde pública querem usar o conhecimento com coragem para mudar e melhorar
a saúde; outros procuram aprimorar a atuação para vislumbrar a melhoria na saúde. Em
todos estão presentes a força, a esperança e o desejo de mudança para lograr um mundo
melhor e contribuir para o bem-estar dos cidadãos em cada realidade.
41
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Nossos(as) alunos(as) consideram que o Sistema tem que trabalhar para melhorar os
resultados na entrega de serviços de saúde e que é preciso identificar a participação e o
controle social como aliados. Ao lado disso, para alguns não está clara a relação entre
saúde individual e coletiva. Essas percepções são reais, considerando que o SUS ainda
aprimora os mecanismos com relação à assistência a saúde e inicia o processo de trabalho
para avançar na regionalização da saúde coletiva.
Tanto os(as) alunos(as) que recentemente se integraram ao SUS quanto aqueles que
têm vários anos de trabalho — estes últimos em maioria — expressam nas expectativas
que procuram obter uma visão critica dos Sistemas de Saúde; desejam conhecer outras
experiências, outras realidades para objetivar a própria prática. Querem aprender para
aplicar os conhecimentos na vida diária, reconstruir modelos e aplicar em novas realida-
des diversas e complexas. Desejam aprender para contribuir no processo de tomada de
decisões da sociedade. Esses profissionais sabem e compreendem que o conhecimento
deve iluminar as decisões com responsabilidade social.
Assim, resumem que desejam aprender para enfrentar realidades sociais e sanitárias
diversas e alcançar transparência na gestão do setor social. Quanto a esses aspectos, o
SUS tem valores de extrema importância em relação às outras realidades em processo na
Região das Américas. Entre os quais o resgate da gestão pública dos recursos públicos e
privados da sociedade com fins de alcance de metas na saúde. Os(as) alunos(as) estão
imersos nessa realidade e, a partir dela, procuram reconstruir e transformar o SUS,
conservando os pilares fundamentais e básicos constitucionais de 1988. Também estão
cientes do crescimento em paralelo do subsetor suplementar de saúde e valorizam os
esforços governamentais para a regulação deste segmento. Essa percepção se abre ao
debate da relação público/privado com objetivo de evitar crescentes iniqüidades e/ou
subsídios cruzados da sociedade no modelo de atenção à saúde.
42
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
A partir da riqueza de interesses expressos pelo conjunto das turmas vimos um grande
desafio de aprendizagem em mão-dupla na disciplina Modelos de Atenção à Saúde. Assim,
na busca de abordagens inovadoras — o que exigiu muita criatividade de nossa parte e a
participação compartilhada com os(as) alunos(as)— que estimulem reflexões e possibili-
tem mudanças históricas (aprendizagem ecológica). E para introduzir o tema de modelo
de atenção solicitamos a cada aluno(a) uma representação do modelo de atenção.
Assim, solicitamos que cada um desenhasse em uma folha de papel a imagem que
tinha do modelo de atenção à saúde vigente no SUS. Em seguida, desse um título singelo
que expressasse a mensagem da sua obra. O titulo permite, ao nosso ver, expressar de
forma resumida e contundente a percepção de cada aluno(a). Em outro momento, pedi-
mos a descrição, em um parágrafo, do modelo atual percebido e representado. E, final-
mente, que escrevessem sobre um modelo ideal de atenção e suas implicações para o
processo de formulação de políticas. Todos desenharam a visão do modelo vigente; mui-
tos conseguiram pôr um título. Um grau de dificuldade surgiu no momento de escrever o
modelo ideal.
43
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Com base nas configurações do sistema nacional de saúde é possível identificar cam-
pos da saúde. Esses podem ser simplificados em: saúde assistencial dirigida à doença
para restabelecer o equilíbrio perdido; saúde individual, com ênfase em estilos saudáveis,
que requer mudanças de práticas de vida do indivíduo na sociedade; a saúde coletiva,
com orientação intersetorial para gerar e produzir comunidades saudáveis em ambientes
limpos, com água potável, saneamento básico, escolas saudáveis, ergonomia no trabalho,
lazer, e recreação para a convivência cidadã. E, finalmente, a necessidade de sistemas
ativos e participativos de vigilância epidemiológica e sanitária para a luta contra antigos
e novos problemas da sociedade, não limitados exclusivamente aos problemas produzi-
dos por vírus, bactérias e fungos. Tais sistemas devem captar problemas da modernidade
como: a violência; o acidente, e a drogadicção, que requerem concepção do conceito de
vigilância acrescido de problemas sociais e incrementado pela fome, o desemprego e
desesperança da sociedade.
44
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
45
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
ações dos governos centrais. Em decorrência o ator social é confundido, em alguns casos,
com o cargo público ou político. As fontes de informação mais citadas pelos entrevistados
são documentos, eventos, estudos e a própria ação cotidiana.
Ainda que de forma incipiente observamos, pela leitura das entrevistas, que
atores mais próximos ou comprometidos com os beneficiários vinculam o processo de
formulação à participação social. Em outros casos não é reconhecido que existem grupos
organizados da sociedade que influenciam as políticas públicas. Por outro lado, em rela-
ção ao SUS, há referência ao distanciamento, no sentido de que quem formula não utiliza
os serviços. Há um ressentimento de que os espaços de participação são utilizados como
referendo de propostas prévias. E, quanto à efetivação das políticas, haveria um condicio-
namento da decisão, a depender de cada gestor.
46
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Ainda que o objetivo desta publicação não seja responder a todos os questionamentos
que o tema traz, a organização das atividades realizadas pelos(as) alunos(as) é uma contri-
buição relevante ao avanço do tema. As questões que suscitam fazem parte de outras que
enfrentam outros atores para lograr mudanças de comportamento individual e social e avan-
çar em mudanças do modelo de atenção, a partir da formulação de políticas integrais no SUS.
Ainda que esses procedimentos normativos possam ser válidos para favorecer o encon-
tro de verdadeiras soluções, devem ser reconhecidos alguns limites de enfoques racionais.
Pelo menos duas limitações da abordagem estritamente racional dos problemas sociais
podem ser destacadas: a capacidade de transformação dos fenômenos ligados às causas;
e a dificuldade de se alcançar pactos sociais para radicalizar as decisões que conduzem a
uma ordem social mais eqüitativa. Em certa medida, o formalismo racional mantém o
status quo estrutural o qual privilegia a imobilidade de privilégios e a não solidariedade.
47
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
15 A Opas/OMS vem buscando aproximar-se do tema nas atividades de Cooperação Técnica Descentralizada
(www.opas.org.br/servico). Em 2002, realizou uma Oficina de trabalho em Porto Alegre com a participação de
interlocutores governamentais para discutir o processo de formulação de políticas. O aspecto mais relevante
apreendido com essa Oficina foi a necessidade de conhecer e compreender o pensamento de diferentes atores
em processos de construção de políticas públicas para a solução de problemas de saúde. Entre os atores com
influência foram destacados: a sociedade organizada; os meios de comunicação social; o legislativo e o judiciário;
a procuradoria de direitos humanos; os três níveis do executivo; os entes formadores de recursos humanos; e
os organismos internacionais.
48
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
As contribuições da OMS e da Opas têm sido importantes neste tema. Vários estudos
e documentos têm ressaltado a necessidade de reorganizar os modelos de atenção para
dar respostas às necessidades dos países, priorizando problemas, e de acordo com os
recursos existentes. Em 1977, a Assembléia Mundial da Saúde decidiu que a principal
meta social dos governos deveria ser a de prover, até o ano 2000, a todos os cidadãos um
nível de saúde que lhes permitisse ter vida social e economicamente produtiva. Relatórios
produzidos durante as assembléias são matrizes de formulação de políticas com pressu-
postos de redução de desigualdades.
Sem dúvida, na atualidade, existem brechas apreciáveis entre a visão ideal e a reali-
dade. Alguns paises têm modelos realmente excludentes, ainda que na formulação de
políticas apreciem as declarações retóricas; outros cumpriram as expectativas formuladas
e se deparam com novos e emergentes problemas (GUIMARAES, 2001). Tal cenário nos
instiga a perguntar: quais são as diferenças entre esses processos políticos? Como analisar
realidades para lograr mudanças substanciais que sejam aceitas pela sociedade? Em que
medida os modelos implantados por reformas orientadas a privilegiar o mercado compe-
titivo de serviços de saúde significaram um retrocesso ou avanço da atenção primária
em saúde? Em que medida se avança no cumprimento da Carta de Ottawa, que evoca a
formulação de políticas públicas saudáveis e a reorientação dos serviços de saúde com
enfoque de promoção da saúde? E as iniciativas de medicina familiar e saúde da família
implementadas em alguns países, ao lado da modificação do modelo dominante de uso
intensivo do hospital e dos centros ambulatoriais de alta e média complexidade?
16 Os esforços da Opas/OMS se somam aos de governos para aproximar a prática integral em programas e
serviços. Países tentam prover conjunto básico de prestações e serviços individuais e coletivos para atender às
necessidades com os recursos existentes e reduzir desigualdades. Os modelos que estão em processo de
implementação buscam privilegiar a participação e a comunicação social para lograr apropriação por parte da
sociedade de novas práticas.
49
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Neste sentido, nos aproximamos das contribuições do estudo de Marques (2001), que
utiliza um método de mapeamento de interações e conformações de redes sociais em
políticas públicas. O autor analisa como a teia de interações estrutura padrões
organizacionais no interior do Estado, e padrões de relações entre interesses público e
privado. Introduz o conceito de permeabilidade do Estado, o qual contribui para a com-
preensão das relações entre Estado e sociedade com influências na construção de políti-
cas públicas e tomada de decisões. A rede de interesses condiciona ainda o resultado
social, e a correlação do poder direciona o curso do resultado social.
50
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
EDER, Klauss. As sociedades aprendem mas o mundo é difícil de mudar. Lua Nova, n. 53,
2001.
FRANCO, Augusto de. Alfabetização ecológica. Revista Século XXI, n. 3, set. 1999.
51
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
52
CAPÍTULO 2
A IMAGEM NA SAÚDE: UMA VISÃO SETORIAL
NOS DESENHOS DE PROFISSIONAIS QUE
MILITAM NA SAÚDE
Autores: Carlos Henrique de Oliveira Furtado*, Celene Santana**
INTRODUÇÃO
Com este relato objetivamos compartilhar a riqueza do material produzido bem como
sua análise, abrindo espaço para que o(a) leitor(a) se sinta convidado(a) a tecer suas
próprias indagações e considerações sobre o material que vamos comentar. Para tanto,
criamos o endereço eletrônico cursogestaosaude@hotmail.com, como um meio de interagir
com os(as) leitores(as) e receber opiniões sobre o trabalho realizado neste capítulo.
O marco inicial foi a primeira aula da disciplina, quando os professores adotaram uma
didática que combinou desde modernos recursos audiovisuais até slides, palestras, textos
complementares e atividades práticas em sala de aula. Aqui estaremos tratando em
específico de uma dessas atividades, desenvolvida pelos(as) alunos(as), com base numa
técnica bastante simples: o desenho. Esse tipo de exercício lúdico tem aplicação em
várias áreas, como por exemplo, na Arteterapia e na Psicologia, onde a linguagem oral e
escrita cede lugar à imagem, a fim de comunicar o pensamento criativo.
54
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
(2003) que todo público consome algum tipo de arte. Entendemos, portanto, que antes
da escrita o homem já manifestava seus sentimentos e experiências cotidianas por meio
de representações gráficas. Assim, convidamos o(a) leitor(a) a prosseguir junto conosco
nessa fascinante jornada que é entender o mundo da saúde via as imagens de profissionais
que efetivamente fazem saúde.
O texto deste capítulo está organizado de modo a contribuir para a melhor visualização
por parte do(a) leitor(a) das representações dos alunos(as). Na Introdução fizemos
referências à origem da idéia que nos motivou a executar tal trabalho. Em seguida, em
seis títulos descrevemos o nosso entendimento dos desenhos criados em sala de aula.
Incluímos a reprodução dos desenhos de modo a que o(a) leitor(a) possa também ver a
arte. Ao final tecemos comentários gerais sobre o tema e a importância da capacitação
de recursos humanos para o estado de Goiás frente aos novos desafios na gestão do
Sistema Único de Saúde.
Para muitos de nós, o desenho é uma atividade relacionada aos primeiros anos da
infância e aos bancos escolares. Nesse sentido, em nada condizente ao mundo dos adultos
e muito menos à realidade do Sistema Único de Saúde, em fase de implementação e con-
solidação em nosso país. Esta parece ter sido a percepção inicial dos colegas de curso
quando tal atividade nos foi solicitada pelos(as) professores(as). O exercício consistiu em
realizar um desenho individual que enfocasse o modo como cada um via o atual Modelo de
Atenção à Saúde. O desenho de tal modelo deveria ser relacionado às atividades vivenciadas
pelos(as) alunos(as) em sua realidade diária, de tal forma que um mundo variado e diferentes
aspectos viessem à tona, levando-se em consideração que os mais diversos setores da
saúde se encontravam representados ali na sala de aula por diferentes profissionais.
55
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Segundo Hammer (1981, p.2), historicamente o homem utiliza desenhos para expres-
sar ações e sentimentos, mesmo antes dos símbolos que registraram a fala. Ressalte-se
que o indivíduo começa a usar a comunicação gráfica numa época muito precoce de sua
vida, antes mesmo de desenvolver a escrita.
Apesar da surpresa inicial, nós conseguimos dar vazão a nossa veia artística e produ-
zimos verdadeiras obras de arte, que, se não o são do ponto de vista do estilo, com
certeza o são quanto às realidades retratadas. Como todos podem ver nos desenhos
dispostos ao longo deste capítulo, fomos libertos das amarras impostas pela escrita, tão
ligada ao nosso policiado e limitador consciente e mergulhamos num mundo de imagens
ligadas ao nosso inconsciente e que tão ricamente ornamentam este volume.
Poderíamos afirmar, com base nos escritos da Psicanálise, que as imagens escapam
com mais facilidade do superego do que as palavras, alojando-se no inconsciente e por
este motivo o indivíduo expressa-se melhor de forma não verbal (ARTERAPIA, 2003).
Aqui sem dúvida, nos deparamos com um conceito importante, o da projeção. Segundo
Laplanche e Pontallis (1970, p.478), em Psicologia projeção é um processo através do
qual o indivíduo responde ao ambiente em função de seus próprios interesses, hábitos,
estados afetivos, expectativas e desejos. Já no sentido psicanalítico, ainda para os
autores, é a operação pela qual o indivíduo expulsa de si e localiza no outro, pessoa ou
coisa, qualidades, sentimentos, desejos e mesmo objetos que ele desdenha ou recusa
em si. Neste caso pode ser compreendida como um mecanismo de defesa de origem
muito arcaica.
As técnicas projetivas são utilizadas em ambientes terapêuticos, com base nos co-
nhecimentos da Psicanálise, como um meio de estimular a imaginação, de evocar e de
expor imagens simples, fantasias e intenções. Desta forma, as projeções imaginativas
de elementos reprimidos e inconscientes e elementos não aceitáveis ou mesmo admira-
dos pelos sujeitos tendem a se expressar em desenhos.
56
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
A Psicologia, como outros campos do conhecimento, foi citada para apoiar o enfoque
teórico de nossas afirmações e não com vistas a esgotar as possibilidades de análise ou
interpretação da produção dos(as) alunos(as), o que certamente escapa aos objetivos do
Volume. A Arteterapia, por seu turno, é uma das principais técnicas a que poderíamos
aludir para que o(a) leitor(a) possa nos acompanhar no caminho que traçamos para orga-
nizar a apresentação dos desenhos. O próprio nome já evidencia a mescla de arte com
terapia. De um lado podemos ter representações da arte, como a pintura, música, litera-
tura, escultura, colagem e o desenho, entre outras. E, de outro a mescla destas artes
com abordagens terapêuticas, como por exemplo, a Psicologia, Psicopedagogia e a Tera-
pia Ocupacional, entre outras. A Arteterapia preconiza que o importante não é o estético
e sim o significado que se extrai das técnicas projetivas e expressivas, como é o caso
dos desenhos.
Uma obra de arte consegue, por si só, transmitir sentimentos como alegria, de-
sespero, angústia e felicidade, de maneira única e pessoal. (...) A utilização de
recursos artísticos (...) figuras, desenhos (...) tem como finalidade a mais pura
expressão do verdadeiro self não se preocupando com a estética, e sim com o
conteúdo pessoal implícito em cada criação e explicito como resultado final
(ARTERAPIA. 2003).
É com base nesses argumentos que acreditamos ser bastante possível e relevante a
análise do exercício da disciplina, uma vez que os desenhos claramente se referem às
questões debatidas no setor saúde em todo o território nacional, em suas mais variadas
visões e temáticas. Ressalte-se que a heterogeneidade do grupo de alunos(as) é grande
e, portanto, responsável por um conjunto de expressões ainda mais diversificadas.
No momento em que estávamos trabalhando com o conjunto dos desenhos para orga-
nizar o capítulo, também nos ocorreu o fato de que a linguagem simbólica pode ter várias
abordagens quanto à tentativa de transpô-la para a linguagem escrita. Assim, dificilmen-
57
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
te alguém faria tal transposição sem contaminar o pensamento subjetivo inicial do autor
do desenho. Em nossas reuniões com os organizadores e demais autores do volume,
pudemos debater este tema e alcançar um consenso de que a tarefa seria mais facilmen-
te realizada se assumíssemos o peso e a responsabilidade de que, ao agrupar os dese-
nhos em algumas categorias ou temáticas, seria inevitável lidarmos com nossas subjeti-
vidades.
Entretanto, consideramos que tal contaminação deveria ser vista como uma contri-
buição e não como um desvirtuamento da expressão ou da proposta inicial feita pelos(as)
professores, pois trata-se de conhecimentos agregados à imagem inicial. Conhecimen-
tos estes que foram aprendidos, apreendidos e compartilhados por ocasião da atividade
que originou este volume assim como de outras ao longo do curso.
O passo seguinte foi, frente aos 70 desenhos, buscar atentamente aspectos que pu-
dessem levar à melhor abordagem dos mesmos. Conseqüentemente, percebemos a repe-
tição de alguns temas a partir dos quais foi possível fazer um ordenamento por tópicos
temáticos que facilitassem nossos comentários. Este ordenamento, em nossa ótica, otimiza
as vivências expressas pelos autores dos desenhos quanto aos simbolismos e se esten-
dem à realidade de todos aqueles que, como nós, atuam no setor saúde. Nesse contexto,
notamos inclusive um navegar pelo atual e por outros modelos de atenção à saúde que já
existiram no país.
58
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
particular e único ao deparar-se com uma obra de arte, aplicando-o, na medida do possível,
ao cotidiano num provável exercício de auto-reconhecimento de suas realidades. Os tópicos
principais que as imagens analisadas evocaram em nossas mentes estão a seguir.1
“O Programa de Saúde da Família, por sua vez, contribui para a reorganização do mode-
lo assistencial, tendo como base uma equipe de saúde que presta assistência através de
1 De modo a resguardar os autores, os desenhos, quando solicitados em sala de aula, não foram assinados.
59
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Esta falha na entrada do Sistema faz com que o usuário, em boa parte dos casos,
acabe recorrendo aos ambulatórios de emergências e urgências dos hospitais mais próximos
às suas residências, o que sobrecarrega e compromete a efetividade do sistema hospitalar
(DRAIBE apud SENNA, 2002). Dessa forma, e em função do atendimento recebido pelos
usuários, que dificilmente são reencaminhados para outras instâncias de atendimento, o
protocolo de referência e contra-referência é totalmente prejudicado. Conseqüentemen-
te, um dos princípios do SUS, o da integralidade — as ações de saúde(que) devem ser
combinadas e voltadas, ao mesmo tempo, para a prevenção e a cura (ALMEIDA et al,
2001) — é desconsiderado devido à solução de continuidade no tratamento necessário.
O investimento físico e financeiro, bem como a reestruturação das equipes de PSF no
que se refere aos quadros de profissionais, muitas vezes insuficientes produzindo equipes
incompletas, é uma questão de importância para o momento atual do SUS.
60
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 1
Desenho 2
61
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 3
62
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 4
63
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 5
64
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 6
65
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 7
66
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 8
67
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 9
68
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 10
69
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 11
70
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 12
71
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Com tal objetivo alguns instrumentos são fundamentais para a realização desse desafio.
Estamos falando do Plano Diretor de Regionalização (PDR), do Plano Diretor de Investi-
mento (PDI) e da Programação Pactuada e Integrada (PPI). O uso desses instrumentos
pelos municípios, sob a coordenação do estado, tem possibilitado, em certa medida, a
realização dessa diretriz do SUS.
2 Anotações de aula do professor Clarisvan do Couto Gonçalves, em abril de 2003. Advogado. Políticas Públcas e
Orçamento. Aula ministrada em Goiânia em abril de 2003.Curso de Gestão de Sistemas e Serviços.
72
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Mesmo com todos esses esforços, a crescente demanda por serviços, seja na AB,
média e alta complexidades, tem pressionado o Sistema, superando a capacidade
operativa do sistema municipal. Nas situações em que, face às limitações reais de recursos,
ocorre o descumprimento do Termo de Garantia de Acesso firmado entre os gestores, a
população busca serviços existentes em cidades maiores e nas capitais que poderiam ser
realizados na própria região. Essa situação evidencia descumprimento importante das
normas de descentralização (Noas). E, em última instância, demonstra a necessidade de
fortalecer a capacidade gestora de Estados e Municípios para viabilizar o processo de
regionalização (LIMA e PASTRANA, 2000). Assim, a regionalização, aliada à descen-
tralização, poderá ser efetiva, promovendo a melhoria do acesso de serviços e recursos.
73
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 13
74
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 14
75
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 15
76
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 16
77
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 17
78
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 18
79
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 19
80
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 20
81
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Todavia, a lógica calcada na produção de serviços ainda está presente no SUS, como
herança do modelo médico-assistencial-privatista, que imperou no país até fins da década
de 1980. Tal lógica privilegia a oferta de serviços, sem levar em consideração a real
necessidade dos usuários. O equívoco de tal proposta revela-se num pensamento de Bob
Rae, Primeiro Ministro do Canadá, expresso em 1994:
“Mais leitos hospitalares, mais remédios, não eram a receita. Melhores gerências
das grandes organizações, melhores programas comunitários e de saúde pública e
mais atenção a todos os determinantes da saúde — emprego, habitação, estilo de
vida, renda — era o caminho a seguir” (RAE apud MENDES, 1999).
Assim, em nossa opinião, e de acordo com o que vemos nos desenhos, a racionaliza-
ção dos serviços prestados é uma necessidade do Sistema. A esta deve ser aliada a visão
do ser humano como um todo, pertencente a uma sociedade com múltiplos fatores
determinantes do processo saúde-doença. A racionalização e a humanização são assim
necessárias para a maior resolubilidade no atendimento às demandas existentes. Nessa
perspectiva, a intersetorialidade não pode ser desprezada.
82
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 21
83
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 22
84
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 23
85
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 24
86
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 25
87
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 26
88
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 27
89
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 28
90
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 29
91
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 30
92
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 31
93
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 32
94
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 33
95
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Nessa perspectiva, nos casos em que a prevenção aos agravos à saúde falhou ou não,
a Política Nacional de Medicamento desempenha papel fundamental no modelo de aten-
ção à saúde. O entendimento da AB realmente resolutiva deve, então, compreender: a
consulta médica; o acesso aos exames; a internação, se for o caso, e os medicamentos
gratuitos.
96
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
97
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 34
98
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 35
99
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 36
100
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 37
101
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O atual Sistema, que responde pela assistência médica aos brasileiros, foi estabeleci-
do pelos princípios e diretrizes da Constituição Federal de 1988. No aspecto doutrinário,
estabeleceu o direito universal e o dever do Estado, com descentralização política e
transferência de recursos aos municípios, com o controle pela sociedade.
Operacionalmente, como um Sistema Único, regionalizado e com atribuições definidas
pela esfera de governo respectiva. A Constituição de 1988 dedica à saúde a Seção III da
Ordem Social e os artigos 196 a 200 (GOULART, [s.d.]). As Leis Orgânicas No. 8.080 e
8.142 e as Normas Operacionais Básicas e de Assistência vieram posteriormente a regu-
lamentar aspectos do SUS.
Os dois lados possuem argumentos fortes e que crêem verdadeiros. Não nos cabe
solucionar tal questão. Mesmo porque um dos alicerces da democracia é justamente a
tolerância em relação a opiniões contrárias ao que se acredita ser o certo. Normalmente
a tolerância conduz ao caminho do debate, do diálogo que produz via de regra soluções
para problemas que se apresentam. Este é, sem dúvida, o caminho do crescimento e da
construção de uma sociedade melhor, mais justa e equânime.
102
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
O SUS não surgiu do nada e sim de outros modelos, como o sanitarista e o médico-
assistencial-privatista. Daí ter herdado dívidas que não foram feitas pelo Sistema, mas
que, com certeza, precisam ser solucionadas em sua vigência. Do modelo médico-
assistencial-privatista, com fundamentos da medicina científica ou flexneriana, herda-
mos a organização, produção e distribuição de serviços de saúde sob critério da lógica de
mercado (REIS, 1999). Nesse modelo, a atenção está focada no atendimento aos doentes,
na medicina curativa e na fragmentação por especialidades, no alto custo e no hospital.
103
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
dade ainda é desrespeitado, quando nem todos recebem os serviços de que necessitam,
quando precisam, na forma e na quantidade que demandam. Comprometidos com o SUS,
nossos desenhos cobram respostas aos dilemas ainda não superados, seja no acesso e na
referência ao Sistema, seja na insuficiência e fluxo de serviços de média e alta comple-
xidade, ocasionando longas esperas pelo tratamento especializado.
Por outro lado, o SUS não é um Sistema que apresente apenas falhas, pois considerável
número de usuários tem os problemas solucionados nos diversos níveis de atenção. Isso
é um sinal de esperança que também aparece nos desenhos. Em vários desenhos é possível
observar que, embora existam empecilhos, ainda há solução, ainda que demandando
muito trabalho, mais recursos, ao lado de mais racionalidade. O aspecto da capacitação
de profissionais, técnicos e administrativos, é certamente um aspecto essencial para
alcançar humanização no acolhimento e no atendimento do usuário. Ao lado disso, é
fundamental como meio de acelerar o processo de solução desses dilemas, que ainda
persistem no Sistema, o fortalecimento de ações políticas, político-institucionais e téc-
nico-administrativas nos vários níveis de gestão do SUS (TEIXEIRA, 2000).
104
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 38
105
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 39
106
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 40
107
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 41
108
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 42
109
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 43
110
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 44
111
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 45
Desenho 46
112
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 47
113
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 48
114
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 49
115
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 50
Desenho 51
116
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 52
117
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 53
118
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 54
119
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 55
120
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 56
121
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 57
122
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 58
123
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desenho 59
124
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Desenho 60
125
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O foco principal deste capítulo buscou enfatizar a linguagem simbólica como forma de
expressão das experiências vivenciadas no mundo da saúde por parte de alunos(as) —
grupo do qual fazemos parte — do Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e
Serviços de Saúde de Goiás. Um grupo extremamente heterogêneo tanto na formação
acadêmica quanto nas experiências profissionais. Essa diversidade contribuiu e enrique-
ceu as atividades desenvolvidas em sala de aula e em campo. Margareth Mead, uma das
mais famosas antropólogas do Século 20, afirmou que a diversidade humana é um recur-
so, não um entrave e que todos os seres humanos têm a capacidade de aprender e
ensinar uns aos outros (MEAD, 2003).3
Nosso desejo de trabalhar com o exercício dos desenhos da disciplina se originou
desse sentimento. Ou seja, a cada desenho que víamos e a partir dos quais buscávamos
abstrair sentidos, apreendíamos um pouco mais sobre as múltiplas realidades e visões
do Sistema Único de Saúde. É por acreditar, respeitar e valorizar o trabalho que foi
desenvolvido na disciplina que reiteramos nosso convite inicial ao leitor para que nos
acompanhe nessa jornada, criando ao mesmo tempo o seu próprio percurso. Acreditamos
que, cada um a seu modo e segundo suas vivências no mundo da saúde, e mesmo fora
deste, poderá, ao acompanhar os desenhos, construir as próprias conclusões, criando
hipóteses e possibilidades de interpretações. O(a) leitor(a), assim como nós, deve sen-
tir-se livre para organizar a disposição dos desenhos, como se estivesse montando seu
próprio mosaico, do qual cada desenho conta a sua parte do todo de uma história muito
maior.
O conteúdo abordado neste capítulo, segundo nossa visão dos desenhos, em nada
impede ao amigo leitor fazer a própria interpretação. Pelo contrário, nosso objetivo foi
tecer um exemplo das possibilidades para que outras interpretações surjam. Mesmo os
temas que discutimos admitem outros entendimentos. Acreditamos que, em um exercí-
cio salutar de contrastes entre variadas realidades, se encontre a convergência e tam-
bém a divergência construtiva de versões. O nosso texto, assim, está exposto à
relativização das verdades que cercam o setor saúde no país. Acreditamos que assim
podemos admitir as variadas possibilidades de interpretações de quem analisa os dese-
nhos, que certamente estará interagindo conosco, alunos(as) do curso. A cada análise
percebemos o incremento de mais heterogeneidade positiva ao mundo da saúde.
3 Margareth Mead: 1901-1978/Norte Americana. Foi uma das mais brilhantes antropólogas de todos os tempos.
“She insisted that human diversity is a resource, not a handicap, that all human beings have the capacity to
learn from and teach each other” (MEAD, 2003). “Tradução de Carlos Henrique de Oliveira Furtado. Margareth
Mead (1901-1978).
.
126
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
127
REFERÊNCIAS
ECHEVERRIA, C.; BORDIN, V. Medicamento genérico: quando o barato sai caro. Cuidados
pela vida. Revista Vida, São Paulo, ano 5, n. 19, p. 20-25, dez. 2000.
KRIEGER, G. Remédio: lucros garantidos, CPI constata omissão de informação sobre efeitos
colaterais em propaganda de medicamentos. Revista Época, Brasília, DF, n. 92, 21 fev.
2000. Disponível em: <http://www.epoca.com.br>. Acesso em: abr. 2003.
LOWENFELD, V. A criança e sua arte: um guia para orientação de pais. São Paulo:
Mestre Jou, 1976.
_______. Um novo paradigma sanitário: a produção social da saúde. In: Uma agenda
para saúde. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 1999. p. 233-300.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
SÃO PAULO. Sindicato dos Farmacêuticos. Boletim Princípio Ativo, n. 42, set./out. 2002.
Disponível em: < http://www.sinfar.org.br/Telas/Noticias/noticias1.5bh.asp>. Acesso em:
maio 2003.
130
CAPÍTULO 3
A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS
NA PERSPECTIVA DOS ATORES
Parte 1
A formalização de políticas públicas de saúde na ótica dos gestores: uma discussão do conteúdo
INTRODUÇÃO
Este capítulo foi idealizado com o propósito de contextualizar as entrevistas realizadas
com os atores sociais que participaram do processo de Formulação de Políticas Públicas
de Saúde, bem como explicitar os conceitos e as teorias úteis à análise de políticas
públicas. Trata-se de contribuição dos(as) alunos(as) do Curso de Especialização de Ges-
tão em Sistemas e Serviços de Saúde do Estado de Goiás, dos professores e de todos os
entrevistados (atores) que direta ou indiretamente estão envolvidos nas políticas de
saúde e no processo de consolidação do SUS no Brasil.
* Biomédica e mestranda em Epidemiologia pelo Instituto de Patologia Tropical da UFG e exercendo atividades na
Vigilância Sanitária na SES/GO e na SMS/Goiânia.
** Doutora em Ciências Sociais pela UNICAMP e professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade
Federal de Goiás- UFG.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
fatores que podem influir e interferir na FPPS; as diretrizes que devem orientar os atores
para a formulação das políticas de saúde; as opiniões e sugestões dos diversos atores
entrevistados sobre as políticas de saúde no país. Os(as) alunos(as) (entrevistadores)
tiveram a liberdade de modificar as perguntas, conforme o entendimento dos atores que
foram entrevistados. No entanto, foram orientados a manterem a idéia original das
questões e a formatação do questionário para a consolidação das entrevistas.
Apesar dos vícios interpretativos que possam ter ocorrido, foram feitas tentativas de
minimizar estes problemas, preservando as respostas originais dos entrevistados, e fun-
damentando-as em outros conceitos teóricos de autores que estudam as políticas públi-
cas de saúde no Brasil. As identidades dos atores entrevistados e entrevistadores
(alunos(as)) foram preservados.
132
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
133
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
134
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Segundo Rua (1998), existem vários critérios para identificar os atores. Entretanto,
o mais simples e eficaz é estabelecer a existência de alguma coisa em jogo na política
em questão, ou seja, quem ganha ou quem perde com a política. Vale ressaltar a impor-
tância de se definir os conceitos, considerando os diversos atores sociais que participam
direta ou indiretamente da formulação de políticas públicas de saúde, pois no Brasil
ainda persiste a cultura de que as políticas são elaboradas pelos atores políticos — Exe-
cutivo e Legislativo.
135
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Os atores públicos são aqueles que exercem funções públicas e mobilizam os recursos
associados a essas funções. Distinguem-se duas categorias: os políticos e os burocratas.
Os atores políticos são parlamentares, governadores, prefeitos, membros eleitos do
executivo federal. Os burocratas são aqueles que exigem conhecimentos especializados
e que se situam em um sistema de carreira pública (RUA, 1988).
136
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
mente incompleta para ver se cola ou como é que fica na prática. Tais características
dependem principalmente do grau de racionalidade do processo decisório, e a fase de
formulação pode contemplar etapas como: pesquisa do assunto; filtragem do assunto;
prospecção; explicitação de valores e objetivos globais (MATUS, 1996).
A formulação de políticas consiste em processos de barganha no interior e entre uni-
dades da organização. Decisões negociadas são resultados de consenso entre atores com
diferentes preferências e recursos. Negociação não requer que as partes entrem em
acordo sobre objetivos comuns, nem eventualmente requer contribuição para o êxito do
processo de negociação. A barganha exige apenas que as partes concordem em ajustar
mutuamente a conduta no interesse de preservar a negociação como instrumento para a
alocação de recursos (TEIXEIRA, 2001).
Na prática a concretização das prioridades das ações de saúde resulta, em última
instância, de decisões de ordem política, com maior ou menor grau de fundamentação
nos conhecimentos técnicos científicos disponíveis. Essas decisões nem sempre expressam
os interesses ou necessidades dos grupos sociais que geraram o problema. Entre a
elaboração da política pública e o resultado, que é a promulgação da lei, decreto, nor-
mas, medidas provisórias, portarias e outros, podem ser distinguidas as seguintes fases:
1. O surgimento do problema, que deve ser de relevância pública, portanto de inte-
resse da sociedade e do governo.
2. Os problemas ou demandas sociais passam a ser problema de governo, portanto
ocorre a inclusão na agenda de governo para buscar alternativas de solução. Esta fase é
de grande negociação, pois surgem interesses antagônicos aos interesses da sociedade e
têm que ser negociados para que se chegue ao consenso.
3. Depois de discutidos e avaliados os aspectos formais, chega-se à formulação da
política pública de saúde.
4. Implementação da política pública. Nessa fase podem surgir interesses que não
foram negociados nas fases anteriores e podem ser reformulados.
5. Fase de tomada de decisão com o processo de seguimento, avaliação e correção da
situação.
A formulação de políticas públicas na área da saúde tem o intuito de modificar uma
situação de saúde que não mais atende às necessidades da sociedade. A história da
discussão e da formação de um modelo para a saúde no Brasil sempre foi tensa e contra-
ditória. A medicina comunitária foi intensamente criticada, ocorrendo inclusive disputas
de cunho político-ideológico entre as propostas de formação médica, intituladas medici-
na geral comunitária e medicina preventiva (GOULART, 1999).
137
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Embora o conceito de ator social tenha sido trabalhado em sala de aula, percebe-se
que durante as entrevistas houve algumas dificuldades na identificação dos atores, que
participaram do processo de formulação de políticas públicas de saúde. A cultura de que
os atores que participam do processo político são aqueles que ocupam posição privilegiada,
esteve presente tanto entre os entrevistadores quanto entre os atores entrevistados.
138
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Inicialmente, foram feitas duas tentativas: uma com o usuário do sistema de saúde/
SUS e outra com um profissional de saúde do PSF do município. Mas, com as perguntas
formuladas tornou-se inviável pois os dois não têm acesso a formulação de políticas.
Os atores envolvidos no processo político são aqueles que têm alguma coisa a ganhar
ou a perder com as decisões e ações. Eles se materializam através das comunidades; das
igrejas; das fundações de atuação social e fiscalização social; dos grupos que têm convênios
com a organização pública e privada; dos tribunais de conta; das instituições espontâneas,
tipo comunitárias; das ONGs ligadas à cidadania, às questões ambientais, aos os direi-
tos humanos de crianças, adolescentes e jovens, mulheres (RUA, 1998).
É preciso fortalecer a ação comunitária para que haja participação efetiva na definição
de prioridades, tomada de decisões, estratégias de planejamento e na sua implementação,
visando à melhoria das condições de saúde.
139
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A maioria dos programas de saúde foi produzido pelo Ministério da Saúde, que os
encaminhou aos estados e municípios para serem executados. Estes programas não fo-
ram construídos levando em conta as prioridades da população de cada região e nem
tiveram a participação dos técnicos responsáveis pela execução. Registre-se que conforme
os conceitos de Paim (1997) (...) o nível técnico-administrativo e técnico-operacional
contribuem na formulação de políticas públicas, mas indiretamente. As funções técnicas
são para informar e programar a execução dos aspectos formais — as medidas políticas
propostas.
Alguns autores chamam a atenção para a baixa efetividade dos programas de prevenção
enquanto política de saúde por não reconhecerem as prioridades e não proporcionarem
incentivo à participação da comunidade na busca de soluções, e desconsiderar a construção
compartilhada do conhecimento científico e popular (ALMEIDA, 2001 e OLIVEIRA, 2001).
140
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Em sua opinião a mídia, com o grande poder de influenciar as pessoas, deveria ter
papel de utilidade pública, atuando de forma gratuita.
A comunicação deveria formar opinião sensata sobre os fatos e ser menos sensacionalista.
Considera os meios de comunicação ignorante. Não é feita nenhuma reflexão, são meros
repetidores. Porque não se discute na imprensa a questão da implementação das medi-
das constitucionais, o que contribuiria para a coletividade?
141
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
142
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
aplicabilidade nos outros níveis de gestão por não refletirem a realidade sócio-demográfica
e epidemiológica de cada região e por serem construídas sem a devida sustentação social.
Deveria ser uma construção coletiva, sobretudo em nível de município, e de estado que
normalmente tomam decisões centralizadas, dando margem à arbitrariedade de con-
trole social às avessas.
Políticas estas, que têm como objetos as necessidades sociais de saúde, e sujeitos os
dirigentes do sistema de saúde, pesquisadores, técnicos, profissionais e trabalhadores
de saúde, pessoas que necessitam de atendimento, etc., vão intervir nos problemas,
necessidades e demandas dos serviços de saúde.
A política de saúde precisa ser mudada em um contexto geral, porque apesar dos
esforços a saúde não é prioridade no Brasil. Adultos e crianças muitas vezes morrem
por falta de assistência, devido á infra-estrutura inadequada, que dificulta o trabalho
dos profissionais em saúde, deixando, o usuário sofrendo pela insegurança.*
Essa visão do processo deve considerar, além das questões meramente administrativas,
a incorporação de questões outras que levem à transformação das práticas em saúde, ou
seja: enfoque de planejamento estratégico, levantamento das necessidades de saúde da
143
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
144
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
(...) não são ideais, havendo inclusive inconsistências entre os bancos de dados perti-
nentes aos sistemas relacionados. Há necessidade de desenvolvimento, implementação
dos atuais destinos e, inclusive, de conformidade às características de cada esfera de
gestão, criar-se uma comissão para revisão dos mesmos para que eles venham acompa-
nhar a assistência de forma mais rápida e eficaz.
Em geral os Planos de Saúde são feitos de maneira quase empírica, pois não se tem um
diagnóstico epidemiológico confiável no Estado.*
Além dos dados obtidos dos sistemas de informações em saúde, os atores ou gestores
precisam estar envolvidos com a comunidade, ter a capacidade de ser um bom ouvinte e
participar dos saberes e experiências locais. As práticas cotidianas consistem em expe-
riências com diferentes significações, sendo a linguagem o meio pelo qual as pessoas
constroem suas interpretações, descrevem, explicam e objetivam os significados dos
fenômenos que estão acontecendo a sua volta e interpretam as reivindicações populares
dos usuários do SUS.
145
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
146
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Os Conselhos representam a instância colegiada que exerce o controle social das po-
líticas de saúde, inclusive fiscalizando as aplicações dos recursos financeiros do SUS.
Compõem-se de 50% de usuários, 25% de trabalhadores da saúde e 25% de prestadores de
serviços. As políticas públicas de saúde devem ser aprovadas pelos respectivos Conse-
lhos de Saúde. Entretanto, ainda convivemos com municípios sem Conselho de Saúde ou
que não exercem satisfatoriamente o seu papel:
147
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O resultado ou produto das propostas de saúde encaminhadas pelos atores sociais que
participaram do processo político é traduzido sob a forma de leis, decretos, normas,
portarias, planos, programas, projetos, regulamentações, os quais são desenvolvidos
pelo Estado para administrar de maneira mais eqüitativa os diferentes interesses sociais.
Portanto, todos esses procedimentos recebem o nome de políticas públicas, visto que
pretendem abranger e organizar os interesses coletivos de determinada sociedade
(MENDES, 1993).
1. AVANÇOS ESTRUTURAIS:
148
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Isto possibilitou o planejamento local das ações de saúde — planos municipais de saúde,
a organização dos serviços de saúde para a assistência da população com qualidade e a
inserção de portadores de doenças especiais no SUS.
Os saldos positivos das políticas de saúde podem ser acompanhados pela melhoria dos
indicadores de saúde, que refletem a qualidade de vida da população.
A Emenda Constitucional deve ser discutida sob o ponto de vista de não vir a se consti-
tuir em um instrumento contrário às diretrizes do SUS.
É preciso ser criterioso para habilitar os municípios para os níveis de gestão avançados,
pois este é o momento de se exigir que adeqüem as diretrizes do SUS.
149
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Os avanços do SUS enquanto Política Social podem ser percebidos pela maioria dos
atores entrevistados. Alguns ainda convivem com divergências políticas ou interesses
antagônicos, os quais terminam por comprometer as ações de saúde e a concretização do
SUS no país.
Difícil responder: com a pactuação da NOAS, o município perdeu parte do teto finan-
ceiro e a demanda por serviços não diminuiu.*
Os resultados das políticas públicas tendem a ser mais evidentes, a partir do momento
que se estabeleça um modelo de elaboração de políticas de saúde, fundamentados na
intersetorialidade e no desenvolvimento social da população, e que respeitem as dimensões
regionais e culturais de cada município.
150
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
CONSIDERAÇÕES GERAIS:
O SUS é a maior política social do país e está se consolidando como modelo de saúde.
Portanto, as diretrizes para formular políticas de saúde devem obedecer aos preceitos
legais da Constituição Federal de 1988 e das Leis Nº 8.080 e Nº 8.142/90. E, ainda,
devem estar orientadas para a promoção e o desenvolvimento integral das pessoas e
sociedade. Pautando-se pela promoção da justiça social e priorizando os segmentos mais
vulneráveis (desprotegidos), mediante ações intersetoriais que promovam mudanças de
comportamento da sociedade.
Todas as pessoas devem ter condições de vida feliz, casa com razoável conforto, emprego
e salário que sustente a família, escola para os filhos e cidade sem violência.
151
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
lhadores da saúde com elementos para análise crítica das práticas de saúde, e para a
inserção em processos de formulação de políticas, seja na elaboração e execução ou na
avaliação necessária para a consolidação do SUS no país.
É importante ressaltar que, além do aprofundamento teórico, alcançamos uma visão mais
ampla e real das particularidades que permeiam todo o processo de formulação de políti-
cas públicas de saúde e estamos mais conscientes de nossos papéis enquanto futuros gestores.
Não há como nos furtarmos da responsabilidade de trabalharmos no sentido de construir-
mos o modelo de atenção à saúde de que realmente precisamos para nosso país.*
Prefeito 01 Municipalização
Médico: 01 Elaboração do Plano Municipal de Saúde
Secretário Municipal de Saúde 09 Municipalização
Médico: 05 Política Municipal de Saúde
Médico Veterinário: 01 Reforma Sanitária
Enfermeiro: 02 Implantação do SUDS / SUS
Nível Secundário: 01 1ª Conferência Municipal de Saúde
Conselho Municipal de Saúde
Organização dos serviços municipais de saúde
Implantação do PSF
Participação da PPI / PPA
Plano de Carreira Cargos e Salários — PCCS
Política do COSEMS e CONASEMS
Secretário Executivo do COSEMS / CES 02 Política Estadual de Saúde
Médico Veterinário: 01 Política Municipal de Saúde
Médico: 01
Analista de Saúde 04 Política Municipal de Saúde
Médico: 02 Organização da Conferência Municipal de Saúde
Enfermeiro: 02 Professor de políticas públicas
Consulta ampliada para escolha de diretores de unidades de
saúde
152
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
TOTAL 39
Fonte: Elaborado com base nas entrevistas realizadas na disciplina Modelo de Atenção e Formulação de Políticas pelos(as) alunos(as) do Curso de
Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás no ano de 2002.
153
REFERÊNCIAS
A SAÚDE no Brasil: avanços, impasses, retrocessos. Revista Súmula, n. 86, p. 1-8, fev.
2002.
COSTA, Humberto. Discurso. Jornal do Conselho Federal de Medicina, ano 18, n. 140,
dez. 2002/ jan. 2003.
DAGNINO, Renato et. al. Gestão estratégica da inovação: metodologias para análise e
implementação. Taubaté: Cabral Universitária, 2002.
MATUS, C. Política, planejamento e governo. 2. ed. Brasília, DF, DF: IPEA, 1996.
RUA, Maria das Graças. Jovens acontecendo na trilha das políticas públicas. [S. l.]:
CNPD, 1998.
WILDAVSKY, A. Speaking truth to power: the art and craft of policy analysis. Boston :
Little Brown 1979. 431p.
156
Parte II
Paralelo entre o ciclo político e a prática: refletindo sobre um exercício
INTRODUÇÃO
Nesta segunda parte do capítulo 3, pretendemos apresentar uma reflexão, em outra
perspectiva, sobre os processos políticos contidos nas respostas às entrevistas realizadas
pelos(as) alunos(as) do Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de
Saúde de Goiás, consolidadas no Quadro 2. Em realidade, trata-se de abordagem contextual
da interação das diferentes fases do ciclo político no âmbito do estado a partir do exer-
cício realizado, o qual possibilitou constatar a pouca ênfase à capacitação dos múltiplos
atores — sociais e políticos — responsáveis pela formulação, implementação e avaliação
de políticas públicas.
1. LINHA DE ABORDAGEM
A reflexão sobre políticas públicas é ainda incipiente, não apenas no Brasil. Nos Estados
Unidos, por exemplo, essa área de pesquisa começou a se desenvolver no início dos anos
1950. Na Europa, por sua vez, o interesse por determinados campos da política só foi
implementado duas décadas depois, em função do crescimento da social-democracia. No
caso do Brasil, os estudos sobre políticas públicas passaram a ser realizados apenas
recentemente, ainda assim, com ênfase na análise de estruturas das instituições ou na
análise de áreas específicas, como as políticas econômicas, financeiras, tecnológicas,
sociais ou ambientais (FREY, 1997).
* Psicóloga e Assessora Técnica Gerente de Apoio Técnico aos Municípios na Superintendência de Planejamento da
SES/GO.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
diferentes atores envolvidos. Tal experiência gerou grande inquietude nos(as) alunos(as),
considerando a inserção de cada um no Sistema de Saúde.
O que pôde ser evidenciado com tal inquietude foi a existência de incertezas conceituais
frente à complexidade das questões das políticas públicas, principalmente, no que concerne
à falta de referências específicas quanto ao papel e às modalidades, assim como quanto
ao momento e atores que participam do processo político.
Com base nisso, buscaremos a seguir tecer paralelos entre o ciclo político e as respostas
obtidas nas entrevistas realizadas na disciplina (ver Quadro 2). Para isso, destacamos a
fase de avaliação como linha de abordagem por nos parecer que é nesse momento do
ciclo político que se consolida, entre os diversos atores, a análise das políticas públicas.
Nessa perspectiva, podemos observar que as várias fases dos processos políticos
ficam evidentes nas respostas das entrevistas aplicadas (ver Quadro 2). Nota-se também,
entre outros fatores, que redes e arenas de políticas setoriais sofrem modificações no
decorrer dos processos de elaboração e implementação das políticas. Além do caráter
dinâmico, as várias fases correspondem à seqüência de elementos do processo político-
administrativo e podem ser investigadas quanto aos atores, às redes políticas e sociais
e às práticas político-administrativas que se encontram tipicamente em cada fase.
158
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
O grau de importância dessas fases está relacionado com: o resultado desejado; estilo
político; e a questão temporal dos mesmos. Com base na experiência do curso, parece-
nos fundamental focalizar a fase da avaliação devido ao fato de que esta é um exercício
permanente tanto para o aprendizado quanto para a percepção do impacto de políticas
públicas, frente ao contexto social. É durante a fase de avaliação que os atores exercem
plenamente a capacidade crítica para avançar no conhecimento da realidade.
A incipiente prática de avaliação pode ser uma razão dos resultados deficientes das
políticas e conseqüentemente da correção de processos decisórios. Contribui para isso a
circunstância de que os métodos utilizados pelas autoridades públicas, em geral, pouco
evoluíram na buscar de soluções para problemas relativos a implementação das políticas
públicas. Mesmo cada vez mais complexos e numerosos, tais processos devem ser subme-
tidos permanentemente à avaliação de modo atualizado e com agilidade necessária aos
novos tempos. Uma razão importante é apresentada por Schultze (apud LOZANO):
“(...) os programas de governo raramente possuem um regulador automático que nos diga
quando uma atividade deixou de ser produtiva, ou poderia se tornar mais eficiente ou
159
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
deveria ser substituída por outra atividade. Na empresa privada, a sociedade se baseia
nos lucros e na concorrência para fornecer os necessários incentivos e disciplina, bem
como proporcionar o “feedback” sobre a qualidade das decisões. O sistema é imperfeito,
mas basicamente seguro no setor privado; é virtualmente existente; mas, é virtualmente
inexistente no setor governamental. Neste, precisamos encontrar outra ferramenta para
fazer as escolhas que a escassez de recursos nos exige” (LOZANO, 1989).
Diante dessa realidade é comum observar que autores e cientistas políticos acreditam
que a maior e mais inteligente utilização da análise de políticas que se pode fazer hoje
em dia poderá prover grande contribuição para melhores decisões e correções na admi-
nistração pública.
Do ponto de vista do cidadão a avaliação permite, ainda, o controle social sobre o uso
dos recursos que são, em última instância, de toda a sociedade. Em segundo lugar, o
emprego mais eficiente de recursos públicos implica, na prática, melhor utilização de
recursos finitos, na medida em que busca o atendimento de maior número de necessidades
sociais com mesmos volumes de recursos (ARRETCHE, 1998).
Ao se pensar o agir público nas fases do ciclo político, percebe-se, ainda conforme o
Quadro 2, o âmbito no qual são definidas as políticas, a influência de fatores culturais,
de padrões de comportamento e, inclusive, atitudes de atores singulares. Tais ingredien-
tes são essenciais para melhor compreensão do processo político e por sua vez repercu-
tem na qualidade dos programas e projetos elaborados e implementados (FREY, 1997).
160
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Em outras palavras, se não houver a forte iniciativa política na realização dos objetivos
descentralizadores com enfoque na participação de todos os segmentos da sociedade,
restará concordar com a proposição tecnocrática de que a elaboração de política pública
pode ser encarada como a simples operacionalização de um conjunto de normas, proce-
dimentos e passos de um manual, cujo processo decisório não fica imune à dinâmica das
relações de poder.
161
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As exigências e requisitos para a maior participação dos atores políticos e sociais em
todos os ciclos do processo político estão relacionados à implementação de nova cultura
gerencial, cujo objetivo é desenvolver a gestão cooperativa e promover a colaboração
institucional. Desse modo, todos os setores devem trabalhar sintonizados, articulados,
otimizando recursos próprios, trocando idéias, socializando conquistas e responsabilidades.
O uso da revolução tecnológica na atualidade é um meio potente de difundir e processar
informações com maior rapidez e de forma democrática.
162
Quadro 2
Consolidado das Respostas de Entrevistas Realizadas pelos(as) alunos(as) do Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde, Goiás 2002.
Políticas Públicas de Saúde em Posição/contribuição Resultados finais Fontes de informação para Pessoas, instituições ou Pessoas, instituições ou
que participa ou participou na Formulação de destas Políticas participar e apoiar os grupos que Influem na grupos que se opõem ou
Políticas Públicas de Públicas de Saúde processos de Formulação formulação de políticas vetam a Formulação de
Saúde de Políticas Públicas de públicas Políticas Públicas de
Saúde Saúde
Programa Gestante de Alto Levantamento Elaboração do Plano DATASUS (necessidade de Ministério da Saúde Prestadores privados
Risco-GESTAR capacidade instalada e Diretor de revisão - bancos de dados
recursos humanos nas Regionalização-PDR inconsistentes e não são
regiões de saúde PDI/PPI desintegrados)
Programa de Qualidade Goiás/ Capacitação de Implantação do Levantamento in loco Organização Industrias Farmacêuticas
Humanização recursos humanos Programa Gestante Panamericana de Saúde-
de Alto Risco-GESTAR OPAS
Atendimento às Usuários Secretaria Estadual de Grupos políticos com
Programas relacionados as Planejamento das
necessidades do Saúde / Comissão interesses contrários
doenças infecto-contagiosas macrodiretrizes
usuário Intergestores Bipartite
estaduais (doenças
infecto-contagiosas)
Disseminação Gerentes Conselhos de Saúde
Implementação do Organização da
Organizações que tem
Conferência Municipal conceito de cidadania
Controle Social lucro com a doença
de Saúde
8ª Conferência Nacional de Saúde Organiz. Consulta Cumprimentos das Dados estatísticos e Associações/Sindicatos
Ministério da Saúde
ampliada p/ escolha de metas 2001; epidemiológicos; pesquisa
gestores das Unid. Diminuição 80% junto ao usuário;
Saúde algumas patologias relatórios setoriais;
(infecto-contagiosas) relatórios Vigilância
Sanitária
163
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Assistência aos Radioacidentados Delegada na 8ª CNS - Capacitação equipe Dados empíricos Conferências de Saúde Conselhos que não tem
164
- Césio 137 sugestões na área técnica de (Rádioacidentados) interesse ou desconhecem
saúde do presidiário fitoterapia o SUS
Construção do SUS nas 3 esferas Programas de Qualidade Escolha dos gestores Constituição Federal Usuários Sistema capitalista
p/ Unidades de
Saúde
1ª Conferência Municipal de Saúde Representante CES Formulações das Leis Normas Operacionais ONGs
Omissão dos prefeitos
8.080 e 8.142 e as Básicas
municipais
NOB’s 93 e 96.
ção comissões
município de Goiânia
intersetoriais
- PMS
(orçamentos e finanças)
Associação Médica
Programa - Saúde da Criança Debates em torno do Dengue - não vê Artigos científicos, Brasileira-AMB
novo conceito acerca desdobramentos congressos e reuniões
dos elementos que concretos técnicas
envolvem a saúde
mental/saúde pública
Políticas de saúde referentes à Textos jornalísticos Não existe deliberação Secretaria Estadual de Saúde
Estruturação da rede
gestão municipal para área da educação no Conselho Estadual tem dificuldades de prestar
assistencial do município
de Saúde, apenas de Anápolis informações
referenda as propostas
apresentadas
Membro da Comissão Implantação do Estruturação da rede Conselho Estadual de Saúde
Garantia de serviços
Intergestores Bipartite-CIB Programa de Ações assistencial do tem dificuldade de contestar
com qualidade no seu
Integradas de Saúde município de Anápolis dados
município
Membro do Conselho dos Processo de habilitação Garantia de serviços Fortalecimento do Bibliografias
Secretários Municipais de em GPSM com qualidade no seu Conselho Municipal de
Saúde-COSEMS município Saúde
Política de proteção do meio Fortalecimento do
Melhoria do acesso da Casas populares
ambiente Jornais, apesar de muitas
população do seu Conselho Municipal de construídas
vezes serem sensacionalistas
município aos serviços Saúde
de saúde
Conselheiro Municipal de Saúde Assessoria técnica de Reestruturação das Resultados inadequados Associação Brasileira de
Secretaria Municipal ações de saúde e sua em virtude da pactuação Saúde Coletiva-ABRASCO
de Saúde hierarquização da NOAS/PPI
Resultados inadequados CONASS / CONASEMS/COSEMS
em virtude da
pactuação da NOAS/PPI
165
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
SINOPSE DAS ENTREVISTAS APLICADAS
Como são formuladas as políticas Como é a tomada de decisão Diretrizes que devem orientar a Como influem na formulação de políticas públicas de saúde os
166
nos níveis municipal, estadual, política nos níveis municipal, formulação de políticas públicas meios de comunicação, a academia, o legislativo, as organizações
federal e internacional estadual, federal e internacional de saúde comunitárias, as associações de usuários, profissionais de saúde,
prestadores de serviços, gestores do SUS nas três esferas de
governo e as agências de cooperação.
Itens
Indicadores de saúde Ministério da Saúde / Comissão Identificar nós críticos Mídia:Divulgação e evidenciando problemas e irregularidades
Intergestores Tripartite
Fontes de financiamento Níveis infra ministeriais Identificar recursos disponíveis Academia realizando debates e estudos
Atividades de intervenção Conselho Estadual de Saúde Políticas de impacto Legislativo: demandas da sociedade
Necessidades da comunidade Comissão Intergestores Identificar necessidades dos Organiz./Associações: potencializando repercussão do problema
Bipartite usuários
Convênios de cooperação técnica Secretarias Municipais de Saúde Envolvimento dos níveis Profissionais de saúde: demandas coorporativas e técnicas
intermediários (Diretores de
unidades, coordenadores de
programas)
Convênios de cooperação técnica Municipalização Gestores: análise e formulação de políticas públicas de saúde
Conselho Municipal de Saúde -
aprovação Plano Municipal de
Saúde
Onde existe poder político Garantia de acesso universal com Pesquisa técnico-científica
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Diagnóstico epidemiológico
qualidade
Ações de saúde (média e alta População usuária do sistema Eqüidade / Integralidade Conferências de Saúde
complexidade, ações básicas e
acompanhamento do PSF
De maneira verticalizada Atendem aos interesses das Lei Orgânica da Saúde 8.080 e Interesses coorporativos
classe dominantes - compradores 8.142
de serviços
Política estadual baseada em Direcionadas de forma Intersetorialidade Meios de comunicação: formadores de opinião pública
diagnóstico epidemiológicos/ eleitoreira sem conhecimento
Respostas
Políticas municipais sem diagnóstico epidemiológico
Princípios e diretrizes Sem diagnóstico da saúde Constituição Federal Divulgação da aplicação dos recursos da saúde
estabelecidos em leis
Pactuações ascendentes Decisões centralizadas Capacitação de gestores e Academia - formar cidadãos com consciência ética
trabalhadores da saúde
Gestor municipal juntamente Federal é fragmentado e Garantir as ações dos programas Conselheiros deveriam ser instrumento real para formulação de
com o executivo municipal é mais concensual de saúde políticas públicas de saúde
Descentralização Haverá influência se for Distribuição de renda Legislativo perdeu sua finalidade e o executivo faz
divulgada através do controle papel dos dois
social e a verificação da
satisfação dos usuários
Ministério da Saúde - formulação Greves Geração de emprego Organizações comunitárias não são ouvidas
de políticas
Todos o níveis não consultam a Conselho de Saúde Estadual Não fazer assistencialismo puro Satisfação e insatisfação do usuários e profissionais de saúde
comunidade somente referenda as propostas
apresentadas nos Planos de
Governo
Pesquisas sociais elegendo Alguns conselheiros apresentam Ampliar mecanismos de participação Divulgando e contribuindo na formulação, controle e divulgação
prioridades propostas visando apenas o popular das políticas de saúde
grupo que representa
Ministério da Saúde, Secretaria Integração com cultura popular e Meios de comunicação geralmente vendem idéias falsas
Estadual de Saúde e Conselho construção coletiva
Municipal de Saúde
De cima para baixo, não Promover justiça social Academia tem poucas pesquisas
observando que muitas vezes o
município não tem recursos
humanos devidamente
capacitados e os prazos são
curtos.
Deveriam ser formuladas pelos
Políticas econômicas e sociais do Legislativo influem muito, através de projetos de lei
diversos atores, sendo
governo federal
deliberadas pelos Conselhos das
três esferas
Deveria ter um maior Câmaras Técnicas de Saúde Baixos salários desmotivam profissionais de saúde
Respostas
engajamento das academias
167
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Custo benefício Resgate da cidadania Prestadores de serviços tem grande poder de influência
168
Depende dos interesses do Integração intersetorial Entidades de Classe (OAB, AMG, UMES, SINTEGO, DA-Feclu, AHU, etc.)
momento
Através de experiências de base Divulgação das políticas públicas de saúde
Academia deve repensar o papel de formadores de profissionais
em saúde
Midia deve fazer papel de utilidade pública
Todos têm influência
Ministério Público tem posições distorcidas
Academia influi muito pouco
Legislativo é sempre contrário
Conselho influente; as organizações comunitárias serão decisivas
Maior capacitação de profissionais
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Respostas
Fonte: Elaboração a partir do exercício entregue pelos alunos(as) do Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde, Goiás, 2002.
REFERÊNCIAS
ARRETCHE, Marta T. S. Tendências no estudo sobre avaliação. In: RICO, Elizabeth Melo
(Org.). Avaliação de políticas sociais: uma questão em debate. São Paulo: Cortez, 1998.
p. 29-45.
LOZANO, José Ricardo Leal. Aspectos básicos na análise de políticas públicas. In: QUADE,
E. S. Analysis for public decisions. 3. ed. [S.l]: Prentice Hall, 1989.
NOGUEIRA, Marco Aurélio. A dimensão política. Em Perspectiva. Saúde, São Paulo, v. 11,
n. 5, jul./set. 1997.
CAPÍTULO 4
MODELOS DE ATENÇÃO DESEJÁVEIS:
SUBSÍDIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA
AGENDA DA SAÚDE
Autores: Cheila Marina de Lima** , Dais Gonçalves Rocha**
Confúcio
INTRODUÇÃO
Partindo do pressuposto de que a concepção de Modelo de Atenção adotada pode
determinar a incorporação ou não de diferentes práticas de saúde, realizou-se um estudo
sobre a visão dos(as) alunos(as) do Curso de Especialização em Gestão de Sistema e
Serviços de Saúde em Goiás 2002 sobre o Modelo de Atenção à Saúde Desejável.
O tema Modelo de Atenção tem sido debatido e constitui objeto de vários estudos
(CECÍLIO, 1997; SILVA Jr, 1998; TEIXEIRA, PAIM, VILASBÔAS, 1998; REIS, 1999; CARVA-
LHO, CAMPOS, 2000). Observa-se, na literatura citada, a utilização de diversas termino-
logias: modelo assistencial; modelo tecno-assistencial; modelo de atenção. Para adentrar
o terreno dessa discussão, faz-se necessário iniciar com algumas distinções.
Paim (1993) considera que pelo menos três visões ou concepções podem ser
identificadas na definição de modelos assistenciais ou de atenção à saúde, sendo
a primeira visão relacionada à organização, gestão e planejamento de serviços; outra
concepção mais ampla, que reconhece
(...) certas intermediações entre o técnico e o político, ou seja, uma tradução para um
Projeto de Atenção à Saúde de princípios éticos, jurídicos, organizacionais, clínicos,
socioculturais e da leitura de uma determinada conjuntura epidemiológica e de um
certo desenho de aspirações e desejos sobre o viver saudável.
E há, ainda, uma terceira que diz respeito à combinação de tecnologias, materiais e
não-materiais, utilizadas nos processos de trabalho em saúde. (PAIM, 1993) Teixeira ,
PAIM e VILAS-BÔAS (1998) utilizam o termo modelos assistenciais concebidos como for-
mas de organização tecnológica do processo de prestação de serviços de saúde. Eviden-
ciam que no sistema de saúde brasileiro coexistem diversas propostas de organização.
172
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
alternativos que pretendem concretizar o ideário do Sistema Único de Saúde (SUS), preo-
cupação esta que se encontra ausente nas discussões realizadas sobre Modelo de Aten-
ção. Predomina a visão relacionada à organização, gestão e planejamento de serviços,
sendo que esta “racionalização dos serviços” desconsidera, muitas vezes, a visão ou
visões das pessoas que implementam ou executam as propostas.
“Boa parte da literatura sobre modelos assistenciais em saúde tem uma certa postura
de ‘exterioridade’ em relação ao objeto trabalhado, um olhar ‘desde fora’, quase sempre
com a intenção de uma abordagem mais ‘estrutural’, no sentido de totalizador (....).”
1. DEFINIÇÕES METODOLÓGICAS
Realizou-se um estudo de caráter exploratório de natureza descritiva, onde foi utili-
zada a análise qualitativa e o trabalho com motivos, aspirações, crenças, valores e ati-
tudes. Para aprofundar o mundo dos significados das ações e relações humanas, que
incluem a vivência, a experiência e cotidianeidade respectiva, onde a linguagem, as
práticas e as coisas são inseparáveis, o material primordial foi a leitura e a interpreta-
ção da palavra que expressa a fala cotidiana (MINAYO, 2001). Para a análise nesta ver-
tente, optou-se por conjugar a visão de Pereira (1999, p. 22) de dado ou evento qualita-
tivo, fazendo o registro do número de vezes que cada atributo foi expresso pelos (as)
alunos(as) na descrição do Modelo de Atenção à Saúde Desejável.
O objeto de estudo teve como ponto de partida o eixo da disciplina Modelos de Atenção
à Saúde e Formulação de Políticas, onde foi proposta a tarefa de descrever o Modelo de
173
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Dos 73 alunos(as) inscritos (as) no curso, 46,5% (33) desenvolveram o exercício soli-
citado no mês de novembro de 2002. Para realizar a proposta de análise dos atributos, o
conjunto de respostas foi sistematizado e categorizado de modo a permitir os comentá-
rios aqui apresentados.
174
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
“(...) modelo futuro que ‘eu desejo’ baseia-se na concretização dos princípios do SUS
(Sistema Único de Saúde): cumprimento dos princípios e diretrizes constitucionais da
atenção à saúde da população”.
No conjunto de concepções expressas pelos (as) alunos(as) está evidente ser o SUS o
superador do Modelo de Atenção à Saúde Atual, individualista, tecnicista, dicotômico. O
modelo citado como ideal baseia-se na integralidade da atenção à saúde, onde os serviços
voltam-se para o conjunto de ações de promoção, prevenção, cura e reabilitação e abran-
gem a atenção ao indivíduo, à comunidade e ao meio ambiente. Nessa concepção, o
modelo garante também que a atenção recebida no nível primário tenha continuidade
nos demais níveis de complexidade do Sistema, quando necessário e de forma ascendente,
hierarquizada e resolutiva.
Quadro 1
Número de citações por atributo da categoria Princípios Doutrinários e Organizativos do SUS.
PRINCÍPIOS Descentralização 17
Eqüidade 14
Hierarquização 13
Regionalização 05
Fonte: Elaboração a partir dos textos dos(as) alunos(as) produzidos na disciplina Modelo de Atenção e Formulação de Políticas do Curso de Especialização
de Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde, ano 2003.
175
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
“(...) modelo de atenção à saúde deve ser integral e privilegiar a promoção à saúde e
prevenção de riscos e agravos, e também retomar os aspectos éticos e culturais imprescin-
díveis para o cuidado com a saúde das pessoas e grupos.”
“(...) tenha uma atuação pautada nos interesses da coletividade e direitos da cidadania,
realizando efetivamente as atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde
sob o princípio da integralidade.”
Autores como Junqueira e Inojosa, citados por Westphal e Mendes (2000, p.54) con-
cordam que a Intersetorialidade pode ser entendida como a “articulação de saberes e
experiências no planejamento, a realização e a avaliação de ações, com o objetivo de
176
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Observa-se, de maneira geral, pelas colocações feitas, que, para estruturar um Modelo
de Atenção à Saúde Desejável, deve-se ter como estratégia a descentralização e
efetivação local, com a participação governamental, da sociedade civil organizada em
seus diferentes segmentos e concepções.
Grande importância foi atribuída ao nível local ou ao papel do município. Para os(as)
alunos(as), o município deve formular políticas públicas que garantam uma ampla rede
177
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
178
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
“(...) só que não poderia ser um privilégio de poucos e, sim, deveria ser oferecido a
todos com igualdade no atendimento.”
“Eqüidade na utilização dos serviços de saúde e nas condições de vida da população, nos
determinantes da saúde da população.”
“(...) tendo em mente a equidade para produzir mudanças montando a idéia força em
função de resolver os problemas da população.”
“(...) está se formando uma prática freqüente dos próximos gestores municipais que
argumentam não terem pactuado com o município de origem do usuário, esquecendo o
princípio constitucional de Universalidade.”
179
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
“(...) Entendo que a academia, como formadora, tem papel essencial nesta discussão e
operacionalização do SUS, e precisa desempenhá-lo. Destaco este aspecto porque consi-
dero a falta de capacitação gerencial e profissional o principal entrave do SUS neste
momento.”
Outras expectativas foram direcionadas aos egressos dos variados cursos na saúde. En-
tre essas se destaca uma referente ao desenvolvimento de uma postura e capacitação na
área de saúde coletiva e outra que esses cursos sejam voltados para os princípios do SUS.
180
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Quadro 2
Número de citações por atributo da categoria Organização dos Serviços.
Outro atributo constante da organização de serviços que merece ser discutido diz
respeito à necessidade da organização ser realizada a partir de um diagnóstico local.
A diversidade e a heterogeneidade da realidade da população brasileira e dos serviços
foram relatadas sob diferentes aspectos na escrita dos (as) alunos(as) para justificar a
importância da definição do território, com anterioridade à proposição/apresentação e
realização/execução das ações de saúde.
“O conhecimento detalhado das condições de vida e trabalho das pessoas, bem como
das formas de organização e atuação dos diferentes órgãos governamentais e não-gover-
namentais, fornece uma visão clara acerca do que é necessário e possível fazer para
melhorar a qualidade de vida. (... ) Os modelos assistenciais a serem construídos devem
ser coerentes com a problemática de cada município e viável, quanto aos aspectos de
recursos e capacidades técnica, gerencial e política. (...)”
181
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
“Há, pelo menos, duas grandes correntes de pensamentos que apreendem de forma
distinta a questão do território. (...) A primeira, toma-o de forma naturalizada como
um espaço físico que está dado e que está completo. Nesta concepção, são os critérios
geopolíticos que definirão um território denominado de território-solo (...). A segunda,
coerente com o distrito sanitário como processo, vê o território como um espaço em
permanente construção, produto de uma dinâmica social onde se tensionam sujeitos
sociais postos na arena política. Uma vez que essas tensões são permanentes o território
nunca está acabado, mas, ao contrário, em constante construção e reconstrução (...).”
Predominou a visão de que esses instrumentos têm uma lógica funcional que procura
articular os diferentes níveis de governo em questões pertinentes à atenção à saúde,
182
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
“(...) com esse processo os gestores adquirem mais autonomia para gerenciar melhor as
ações, serviços e recursos, utilizando os instrumentos de gestão que estão sendo ofere-
cidos, os PDR, PPI, PDI e outros, desencadeando os papéis a serem desempenhados por
cada esfera de governo, facilitando os trabalhos, o planejamento (...)”.
“Acho que, a partir do momento em que pudermos controlar o nosso próprio estoque,
teremos condições de parar um pouco de fazer as coisas quase que mecanicamente por
emergências, e planejar todo e qualquer tipo de trabalho.”
183
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
“A Organização da atenção à saúde deve incluir ações que incidem não só sobre a
doença, mas principalmente ações e serviços que incidem sobre o modo de vida das
pessoas e grupos sociais.”
184
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
2.3 Humanização
Quadro 3
Número de citações por atributo da categoria Humanização.
3 Grifo no original.
185
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2. “Reorganizar o processo de trabalho, de forma que este desloque seu eixo central do
médico para uma equipe multiprofissional — equipe de acolhimento — que se encarre-
ga da escuta do usuário, se comprometendo a resolver seu problema de sáude (...).”
“(...) para ser capaz de resolver os problemas dos usuários e transformar em prazer o
que muitas vezes tem sido um fardo para os trabalhadores.”
186
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
“(..) qualidade tem muitas facetas e autores diferentes podem empregar significados
distintos para este termo. Hoje em dia o termo qualidade geralmente denota um gran-
de espectro de características desejáveis de cuidados.”
Quadro 4
Número de citações por atributo da categoria Qualidade do Serviço
187
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2.5 Gestão
Quadro 5
Número de citações por atributo da categoria Gestão
CATEGORIA ATRIBUTOS NÚMERO DE CITAÇÕES
Gestão Democrática (Colegiada) 05
Fortalecimento de Ações Políticas, 03
GESTÃO Técnico-Administrativas e
Institucionais
Relações Bi/Tripartites 01
Fonte: Elaboração a partir dos textos dos(as) alunos(as) produzidos na Disciplina Modelo de Atenção e Formulação de Políticas do Curso de Especialização
de Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde, ano 2003.
188
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
2.6 Financiamento
Quadro 6
Número de citações por atributo da categoria Financiamento
Outros aspectos emergiram nesse exercício e não configuraram uma categoria com
atributos. Nove alunos(as) referiram o Programa Saúde da Família (PSF), ora identificado
como Programa, ora como estratégia organizativa que pode favorecer a mudança do
Modelo de Atenção. O Programa de Agentes Comunitários (Pacs) foi citado por quatro
outros(as) alunos(as) sem maiores comentários.
Foi identificada a utilização de três termos para designar os Modelo de Saúde: Vigilância
da Saúde com nove citações; Cidades Saudáveis, com duas citações; Ações Programáticas,
com uma citação. Estes três Modelos Alternativos em vigência no SUS foram objeto de
estudo de Silva Jr. (1998) e podem subsidiar os que queiram se aprofundar nesta discussão.
Por fim, destaca-se o reconhecimento do papel protagonista dos gestores por parte de
vários(as) alunos(as). E para exemplificar, pode-se citar:
“Como gestor enfatizo que devemos criar espaços de discussão onde habitamos para
viabilizar planos de desenvolvimento integrados (interprogramático e intersetoriais)
para cuidar deste ambiente, resolver os problemas que sentimos juntos, discuti-los
para criar uma dinâmica diferente. (...) Ser o grande articulador para negociar com
diversos atores sociais e institucionais nas diversas esferas de organização dos serviços,
para criar novas formas de solucionar os problemas. Acreditar nas mudanças e no poder
para fazê-las.”
189
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Foram identificados entre os(as) alunos(as) os pressupostos das atribuições dos pro-
fissionais da saúde, na perspectiva da promoção da saúde: mediação, articulação com os
diversos setores da sociedade, atuação junto à comunidade, mediada pela comunicação
e educação em saúde, visando a mudança da concepção do processo saúde-doença.
A regulação pode ter sido citada como reflexo do contexto atual – Noas/02 – inserida
nas agendas dos (as) gestores (as) do SUS.
Para os(as) alunos(as) foi consensual que a área de recursos humanos não acompanhou
190
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
os avanços ocorridos no SUS. Uma das mais visíveis transformações tem sido a busca por
profissionais não só mais qualificados, como requalificados, atuando em planejamento
de mudanças e mobilização de pessoas para tais, na obtenção de energias e compro-
misso das mesmas. Não se pode exigir mudanças e evolução sem a compreensão prévia
e ampla dos fatos. Vale lembrar que cada vez é necessário fazer mais com menos
(MANDELLI, 2001).
“(...) Qualquer projeto mudancista que aspire ao sucesso deveria tentar, ao mesmo
tempo, tanto a mudanças das pessoas, dos seus valores, da sua cultura ou ideologia,
quanto providenciar alterações no funcionamento das instituições sociais. Dizendo de
outra maneira, temos que mexer simultaneamente com as pessoas, as estruturas e com
as relações entre elas. Isso parece-nos óbvio, mas freqüentemente nos esquecemos des-
ta antiga evidência, assumindo desvios unilaterais.”
191
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
192
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
193
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
194
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
CAPÍTULO 5
ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SISTEMAS E
SERVIÇOS DE SAÚDE NO ESTADO DE GOIÁS:
PERFIL DOS(AS) ALUNOS(AS)
Autores: Graça Maria Bezerra Sobreira*
“Seja o que for que você possa fazer ou sonhe fazer, comece.
Autor desconhecido
INTRODUÇÃO
A tarefa de fazer cumprir a Constituição Federal Brasileira quanto aos princípios e
diretrizes para implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) requer dos profissionais de
saúde envolvidos no preparo técnico e gerencial que dêem conta de resolver impasses
gerados anteriormente por um modelo que, por si só, desmoronou. Para tal são necessá-
rias mudanças — verdadeiros desafios — de inversão com nova modelagem e abordagem
do processo saúde-doença. A mudança deve enfatizar intervenções de caráter coletivo,
voltadas para a prevenção e promoção da saúde e a garantia da atenção integral à saúde
do cidadão.
Assim, ao lado da mudança da concepção e das práticas, outros fatores estão envolvidos
no processo de implementação do SUS. Não menos complexos, tais fatores são referen-
tes à formação profissional de recursos humanos em áreas específicas de modo a aten-
der as necessidades da nova demanda do setor saúde. Além de profundas, tais mudanças
são rápidas e apresentadas em situações cotidianas, em geral desafiadoras. Nessa pers-
pectiva, a capacitação de profissionais para o SUS, tanto para nível técnico quanto para
o gerencial, tem que ocorrer com a mesma velocidade da urgência necessária para
195
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Esse perfil variado parece refletir, em certa medida, se não uma mudança importante,
1 A autora agradece as colaborações inestimáveis de Dorival R. Sobreira e as orientações de Ana Lúcia G. Reis,
Carlos Henrique O. Furtado e Ivani Penques para a realização e conclusão deste Capítulo. E aproveita a
oportunidade para registrar seu agradecimento à Coordenação do Curso e Coordenação de Recursos Humanos
da SES/GO e especialmente agradecer a disponibilidade dos Colegas do Cursos em prestar as informações que
compõem o perfil dos alunos(as) do Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás,
ano 2003.
196
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
pelo menos uma tendência à interdisciplinaridade no SUS. Esse fenômeno traz possibili-
dades de complementação e intercâmbio entre campos profissionais, fator que, potencial-
mente, contribui para a abordagem mais integral na saúde. Em outra perspectiva, mostra
a tendência de incorporação de segmentos profissionais mais variados, para além das
Ciências da Saúde. Embora recentes, tais mudanças sinalizam que a pluralidade de
formação, frente à complexidade das questões de gestão pode contribuir muito para a
ampliação do escopo de desenho de soluções aos problemas e novos desafios setoriais.
Nossa vivência no curso nos leva a considerar que tal iniciativa apóia, de forma sobe-
ja, a concretização dos objetivos expressos tanto na Carta Magna quanto na Lei Orgâni-
ca da Saúde nº 8.080/90, principalmente, no tocante à capacitação de recursos huma-
nos. Assim, capacitando equipes gestoras estaduais e municipais, contribui fortemente
para o melhor desempenho das atribuições dos respectivos órgãos do Sistema no alcance
do objetivo mais fundamental do SUS: a prestação da atenção integral à saúde ao usuá-
rio cada vez mais qualificada e planejada de acordo com as necessidades.
1.1 Objetivos
197
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
para atender demandas de capacitação de serviços de saúde desse nível de gestão com
vistas à melhoria do desempenho das responsabilidades e da qualidade de atendimento à
população, dentro das premissas do Sistema Único de Saúde.
A maior destinação de vagas no curso para os municípios vinha atender o acordado na
Comissão Intergestores Bipartite de Goiás (CIB) quanto ao desenvolvimento do Sistema
Estadual de Saúde. A SES/GO tem, nesse sentido, se organizado para coordenar o funcio-
namento de rede hierarquizada de assistência, onde o ponto de apoio gerencial seja a
própria Secretaria. Para tanto, deve desenvolver suas capacidades e competências técni-
cas. Os municípios, por sua vez, consolidam a base do Sistema desenvolvendo ações de
saúde junto à comunidade, estimulando o controle social, e realizando articulações
intermunicipais. Tais propostas previam a intensificação de processos de aperfeiçoa-
mento de recursos humanos em todos os níveis, e o curso vem atender parte dessa
demanda.
1.2 Divulgação
A divulgação do curso foi feita nos meios de comunicação oficial em toda a SES,
inclusive nas Regionais de Saúde e junto aos Municípios. Nessa etapa, foi especificado o
quantitativo de vagas para cada esfera, cabendo a estas a indicação dos candidatos à
seleção de modo a garantir o apoio necessário à efetiva participação no curso.
1.3 Seleção
O processo seletivo dos candidatos apresentados pela SES/GO e pelos municípios foi
efetuado a partir de critérios estabelecidos no Projeto Estadual do curso, entre os quais
constaram: comprovação do nível superior; análise curricular; comprovação de estar atuan-
do em gestão estadual, regional ou municipal; entrevista; documento de autorização da
chefia com permissão de ausentar-se para participar do curso; compromisso assumido
de aplicar os conhecimentos adquiridos na especialização nas atividades da Secretaria
de Saúde correspondente.
1.4 Estrutura
O Curso ofereceu 75 (setenta e cinco) vagas, distribuídas em 3 (três) turmas, com 25
(vinte e cinco) alunos(as) cada. As inscrições, seleção e entrevistas foram realizadas de
8 a 16 de julho. Dois terços (2/3) das vagas foram oferecidas para as Secretarias Muni-
cipais de Saúde e um terço (1/3) para a Secretaria Estadual da Saúde (Jornal Saúde em
Pauta, ano II, edição nº 79).
198
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
A carga horária do curso prevista no Projeto Estadual foi de 500 horas/aula, distribuídas
em 360 horas/aula destinadas às atividades presenciais e 140 horas/aula destinadas à
realização de trabalhos de campo, para a monografia final. Os conteúdos do curso foram
organizados em três áreas temáticas fundamentais:
• Ferramentas Gerenciais.
199
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O estado de Goiás tem como determinantes para a saúde e a doença da sua população
vários fatores. Dentre eles, o crescimento populacional predominantemente urbano e em
algumas regiões de forma desordenada, sofrendo grandes influências de pólos importan-
tes, com peculiaridades sócio-econômicas e políticas diferenciadas dos demais estados
brasileiros, como é o caso dos municípios que fazem parte do Entorno do Distrito Federal
(GOIÁS, 2002).
A Taxa de Mortalidade Geral do estado tem permanecido em torno de 4,72 óbitos por
1.000 habitantes. Na causalidade das mortes por grupos de doenças, destaca-se o grupo
das Doenças do Aparelho Circulatório, que se apresentam como primeiro grupo de causas
de mortalidade geral do estado, com 27,57% dos casos registrados em 2000. O segundo
grupo é constituído pelas causas externas, com 14,73% dos óbitos do estado, sendo 36%
por acidentes de trânsito, e com uma distribuição significativa em todas as faixas etárias,
entre 15 e 69 anos. O terceiro grupo é formado pelas neoplasias, representando 11,76%
do total de óbitos (GOIÁS, 2002).
2.1 Regionalização
200
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
uma das 14 Regiões de Saúde terá condições de realizar procedimentos como a cesárea,
ter unidades de cuidados intermediários neonatais e, ainda, leitos de UTI, hemodiálise e
referência em saúde mental (GOIÁS, 2002).
201
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Figura 1
Número de treinamentos no Cenforh no período de 1999 a 2002
PROFAE
202
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Capacitação de Conselheiros
Capacitação de Gestores
PROFORMAR
203
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
204
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Após a coleta dos dados solicitados, foi possível realizar o confronto destes com as
outras fontes. Para permitir a melhor análise dos resultados, os dados foram tabulados e
organizados em quadros e figuras aqui apresentados. Foi utilizada a abordagem quanti-
tativa, com suporte qualitativo, visando a valorização dos dados subjetivos e objetivos.
Vale ressaltar dois apectos presentes no perfil profissional dos(as) alunos(as). Primei-
ramente, todos são profissionais que desenvolvem, no momento, funções administrati-
vas e/ou de gestão, na maioria dos casos distantes das atividades tradicionais das
respectivas graduações. Em segundo lugar, a variedade da formação básica dos alunos(as)
inclusive de outros setores, os quais, supostamente com olhar externo aos problemas da
saúde, podem ver sob novas perspectivas o que para os demais é cotidiano. Em uma
visão idealista da junção dos dois perfis de profissionais nas atividades do curso, pode-
rão surgir idéias novas que tragam soluções para antigos dilemas.
205
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Para compor o perfil das características pessoais, foram selecionados aspectos referentes
à faixa etária, o sexo e o local de residência dos(as) alunos(as) do curso de Especialização de
Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde. Das informações obtidas, observa-se que a faixa
etária predominante no curso (87% dos(as) alunos(as)) está situada entre 31 e 50 anos de
idade (ver Tabela 1 e Figura 2). Esses dados, confrontados ao tempo de formação profissional
dos alunos(as), indicam que o grupo já possui experiência profissional acumulada (Tabela 5).
Tabela 1
Distribuição por faixa etária dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em
Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
Faixa etária alunos(as) Percentual
26 – 30 3 4,2
31 – 35 17 24,0
36 – 40 19 26,8
41 – 45 13 18,3
46 – 50 13 18,3
51 – 55 5 7,0
56 – 60 1 1,4
Total 71 100
Fonte: Elaboração a partir de Questionário Perfil Profissional e dados da Coordenação
do Curso.
206
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Figura 2
Distribuição por faixa etária dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em Gestão de
Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
Quanto ao sexo, observa-se que a expressiva maioria dos(as) alunos(as) são do sexo
feminino (73,2%), conforme consta na Tabela 2 e Figura 3. Mais de 2/3 (73,2%) do grupo
de alunos(as) é composto por mulheres, confirmando a tendência de que na área de
saúde a maioria dos profissionais é do sexo feminino.
Tabela 2
Distribuição por sexo dos(as) alunos(as) do curso de Especialização
em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
Faixa etária alunos(as) Percentual
Feminino 52 73,2
Masculino 19 26,8
Total 71 100
Fonte: Elaboração a partir de Questionário Perfil Profissional e dados da Coordenação do Curso.
207
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Figura 3
Distribuição por sexo dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em Gestão
de Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
Tabela 3
Distribuição por local de residência dos(as) alunos(as) do
curso de Especialização em Gestão de Sistemas e
Serviços de Saúde de Goiás, 2002
208
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Figura 4
Distribuição por local de residência dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em
Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
209
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Figura 5
Distribuição por nível de escolaridade dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em
Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
Tabela 5
Distribuição por tempo de formação profissional dos(as)
alunos(as) do curso de Especialização em Gestão de Sistemas e
Serviços de Saúde de Goiás, 2002
210
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Figura 6
Distribuição por tempo de formação profissional dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em
Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
Tabela 6
Distribuição por tempo de serviços dos(as) alunos(as) do
curso de Especialização em Gestão de Sistemas e
Serviços de Saúde de Goiás, 2002
Anos de serviço alunos(as) Percentual
0–1 3 4,2
2 – 10 33 46,5
11 – 20 25 35,2
21 – 30 10 14,1
Total 71 100
Fonte: Elaboração a partir de Questionário Perfil Profissional e dados da Coordenação do Curso.
211
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Figura 7
Distribuição por tempo de serviços dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em
Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
Tabela 7
Distribuição por vínculo dos(as) alunos(as) do curso de Especialização
em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
212
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Figura 8
Distribuição por vínculo dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em Gestão de
Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
Tabela 8
Distribuição por função dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em
Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
213
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Figura 9
214
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Tabela 9
Distribuição por formação dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em Gestão de Sistemas
e Serviços de Saúde de Goiás lotados na Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, 2002
Formação profissional alunos(as) Percentual em relação à SMS Goiânia Percentual em relação ao Total
Enfermeiro 3 37,5 4,2
Psicóloga 2 25,0 2,8
Bióloga 1 12,5 1,4
Biomédica 1 12,5 1,4
Médico 1 12,5 1,5
Total 8 100 11,3
Fonte: Elaboração a partir de Questionário Perfil Profissional e dados da Coordenação do Curso.
Portanto, os(as) alunos(as) do curso, de acordo com o local de trabalho, estão distri-
buídos em estaduais (46,5%) e municipais (53,5%). No Quadro acima está a presença do
município capital (11,3%) e na Tabela 11 a presença dos municípios do interior (42,2%).
Os dados mostram que, no conjunto, os participantes de Outros Municípios são repre-
sentados em quantidades iguais por profissionais de áreas diretamente ligadas aos ser-
215
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 11
Distribuição por formação dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços
de Saúde de Goiás lotados nas Secretarias Municipais de Saúde de Outros Municípios, 2002
Formação profissional alunos(as) Percentual em relação a outros municípios Percentual em relação ao Total
Administrador * 6 20,0 8,4
Bioquímico
(Farmacêutico) 5 16,7 7,1
Economista *** 4 13,3 5,6
Odontólogo 4 13,3 5,7
Advogado ** 2 6,7 2,8
Biomédico 2 6,7 2,8
Enfermeiro 2 6,7 2,8
Serviço Social 2 6,7 2,8
Contador 1 3,3 1,4
Médico 1 3,3 1,4
Veterinário 1 3,3 1,4
Total 30 100 42,2
216
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Tabela 12
Resumo da distribuição por categorias/local de trabalho
A inserção do(as) alunos(as) no curso, de acordo com o previsto no Plano de Curso (Anexo
B), foi feita por inscrição, mediante a indicação do município ou do estado, entrevistas e
avaliação curricular. Este grupamento é composto pelas modalidades de inscrição de se-
leção. Confirmando o previsto no Plano de Curso, o processo inicial priorizou a indicação
como forma de aceitação para a seleção. Constata-se que 84,5% dos(as) alunos(as) fo-
ram admitidos para a seleção por indicação ou convite (ver Tabela 13). Observa-se ainda
que 12,7% se apresentaram como interessados, após tomarem conhecimento do curso
em conversas informais e foram aceitos para a seleção.
Tabela 13
Distribuição por tipo de inscrição dos(as) alunos(as) do curso
de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de
Saúde de Goiás, 2002
TIPO DE INSCRIÇÃO ALUNOS(AS) PERCENTUAL
INDICAÇÃO 29 40,9
CONVITE 27 38,0
OUTROS – CONVERSAS INFORMAIS 9 12,7
INDICAÇÃO E CONVITE 4 5,6
CONVOCAÇÃO 1 1,4
SOLICITAÇÃO 1 1,4
Total 71 100
Fonte: Elaboração à partir de Questionário Perfil Profissional e dados da Coordenação do Curso.
217
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Figura 10
Distribuição por tipo de inscrição dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em Gestão de
Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
No processo de seleção para preencher as vagas oferecidas, foram incluídos, além dos
indicados, outros candidatos mediante avaliação curricular. Entretanto, houve candidatos
que concorreram além da cota prevista para o município ou o estado. Nestes casos, no
final da seleção ocorreu sorteio de nomes. Nos dados da Tabela 14 e Figura 11, observa-
se que, no geral, no processo seletivo, a entrevista e a avaliação curricular foram sobe-
jamente predominantes, correspondendo à quase totalidade dos(as) alunos(as) (93%).
Tabela 14
Distribuição por tipo de seleção dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em
Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
218
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Figura 11
Distribuição por tipo de seleção dos(as) alunos(as) do curso de Especialização em
Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde de Goiás, 2002
COMENTÁRIOS FINAIS
Conforme preconizado pela Lei No. 8.080/90, que regulamenta o Art. 200, III da Consti-
tuição Federal, a política de recursos humanos para a saúde deverá ser implantada de
forma articulada, pelas diferentes instâncias governamentais, inclusive no que diz respeito
à organização do ensino em nível de pós-graduação. Nesse contexto, insere-se este curso
de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde, cujo objetivo é capacitar
profissionais na área de saúde, tanto técnica como gerencialmente, a fim de imple-
mentar as mudanças instituídas pelo novo modelo de serviços do setor, de forma descen-
tralizada e hierarquizada, otimizando as estruturas existentes e a aplicação de novos
recursos, de sorte a garantir a atenção integral à saúde do cidadão.
219
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
220
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
CASTRO, Janete L. ; CASTRO, Jorge L. Estudo do perfil dos gerentes dos hospitais
públicos. Rio Grande do Norte. Disponível em: <http://www.observatorio.nesc.ufrn.br/
perfil_t04.htm>. Acesso em: fev. 2003.
REZENDE, C. A. P. Perfil do sistema de saúde do Estado de Goiás – Brasil 1998 – 2000. In:
Observatório da reforma do Estado no Brasil. Jan. 2003.
VILLAR, R. L. A. de. Estudo sobre o perfil dos gestores municipais de saúde do Estado do
Rio Grande do Norte. In: UFRN-Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva. Jul. 2001.
221
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
222
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
CI Nº 023/02, 15.01.02
-Resolvem Pactuar, por unanimidade de seus membros, em sua 11ª Reunião Ordinária,
realizada no dia 29.11.01, a instituição da Coordenação Estadual do Projeto,com a tarefa
inicial de proporcionar a realização do Curso EGSSSaúde.
-II Seminário Nacional e I Oficina Nacional, em Brasília de 10 a 12.06.02, onde foi apre-
sentado o Plano do Curso em Goiás
OF.134/2002-GAB-SES/GO
223
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Assunto: Aprova o Regulamento Geral dos Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu da UFG
JORNAL A SAÚDE EM PAUTA, ANO II, EDIÇÃO Nº 79, Editado pela Assessoria de Comunica-
ção da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás - SES-Go.
224
ANEXO A – PROJETO NACIONAL
MINISTÉRIO DA SAÚDE
SECRETARIA DE POLÍTICAS DE SAÚDE
Fortalecimento da Gestão Estadual e Municipal
Especialização de Equipes Municipais e Estaduais
3 – Duração
Os cursos deverão ocorrer no período de março a dezembro de 2002. Outras ativida-
des do Projeto terão cronograma posteriormente definido.
4 – Exposição do Problema
Uma questão relevante para o Ministério da Saúde (MS), no processo de descen-
tralização, tem sido o incremento da capacidade gerencial no interior do Sistema, avan-
çando para o aprimoramento da atenção, do controle e avaliação dos serviços e ações de
saúde. O aprofundamento e a rapidez do processo de descentralização e a definição mais
precisa de responsabilidades de cada esfera de governo, par a par com a regulação de
transferências financeiras, com a edição de normas específicas para a regionalização da
assistência, associados ao fato do ano 2001 ser o primeiro de novas administrações
municipais, conformam um contexto propício para atualização, adequação de perfil e
ampliação de capacidades de equipes gestoras de sistemas e serviços de saúde munici-
pais e estaduais.
228
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Assim, dois são os eixos principais do presente Projeto: (i) o fortalecimento das
capacidades de gestão e (ii) a ampliação da capacidade de atuação das instituições forma-
doras existentes nos estados. O objetivo específico centra-se na oferta de cursos de
especialização que apóiem o incremento de capacidades de gestão das esferas de governo
para assumirem novas responsabilidades oriundas do processo de descentralização, incor-
porando estratégias orientadas à expansão da atenção básica, promoção da saúde e
regionalização garantindo a integralidade das ações de saúde. Tal Projeto visa, também,
promover a ampliação da capacidade de atuação de instituições formadoras, em cada
estado, e a aproximação de atividades permanentes dessas instituições às necessidades
de formação e assessoria técnica aos gestores municipais e estaduais. Isso significa
reforçar a capacidade de propor e desenvolver programas de formação, e de desenvolver
estratégias que possibilitem a articulação mais efetiva com configuração em rede entre
os centros de formação, para ampliar o atendimento às demandas de capacitação estra-
tégica no SUS.
Esse recorte para a participação de municípios visa apoiar aqueles que, no processo
de regionalização, terão atribuições ampliadas, seja pelo potencial de se tornarem pólos
regionais, seja por fazerem parte de aglomerados urbanos que concentram serviços e
população. A distribuição geográfica dos locais de realização dos cursos de um estado ou
região deverá ser realizada de forma a reduzir os deslocamentos, os custos de transporte
e o dispêndio de tempo dos(as) alunos(as).
229
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
230
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
5 - Objetivos
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
•
Promover habilidades individuais e de equipes referentes ao planejamento, execução,
acompanhamento, avaliação e controle de atividades e ações relativas aos sistemas
e serviços de saúde no nível local e regional.
•
Desenvolver capacidades individuais e de equipe para a proposição, negociação,
tomada de decisões e execução de ações pertinentes aos serviços de saúde locais e
regionais.
•
Capacitar integrantes e equipes quanto à gestão e gerenciamento de sistemas e
serviços de saúde, com ferramentas para identificar, diagnosticar e propor soluções
criativas em áreas críticas das secretarias de saúde, ampliando a capacidade de
resposta dos serviços de saúde, em conformidade com as realidades locais e regionais.
•
Desenvolver habilidades para identificar carências, deficiências e potencialidades
locais e regionais, bem como para formular e implementar ações visando maior
efetividade, eficiência e eficácia dos sistemas e serviços de saúde de realidades
locais e regionais.
•
Sensibilizar gestores e equipes quanto à necessidade e importância de se trabalhar
numa perspectiva de humanização, tanto nas relações de trabalho, quanto nos serviços
e ações de saúde, capacitando-os para promover uma mudança de cultura de assis-
tência à saúde.
•
Apoiar o desenvolvimento da capacidade de oferta de cursos direcionados para a
gestão em instituições formadoras públicas em todos os estados de forma a ampliar
a possibilidade de acesso à formação gerencial voltada para o setor saúde na
perspectiva da gestão pública.
•
Criar vínculos entre alunos(as) instituições gestoras e instituições de ensino.
231
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
7 - Metas
Realizar 70 cursos de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde, com
mínimo de 360 horas-aula, com conteúdo adequado às atuais necessidades de gestão de
sistemas e serviços de saúde e às especificidades regionais, para capacitar 2.241 técni-
cos selecionados e com atividades nas secretarias municipais de saúde incluídas no Pro-
jeto e de equipes das secretarias estaduais de saúde.
8 - Estratégias
8.1- Estabelecimento de parcerias
232
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
233
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
•
Ao término de cada disciplina realizar-se-á a avaliação individual do(a) aluno(a) e,
como produto final da capacitação, cada aluno(a) deverá produzir, sob orientação
pedagógica, protocolo de intervenção em área de atuação na respectiva secretaria
de saúde.
234
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
•
Produzir e disseminar material instrucional correspondente aos conteúdos comple-
mentares e específicos (publicações, vídeos, CD-ROM, etc.), promover e participar
de eventos relacionados ao Projeto (seminários, workshops, etc).
•
Elaborar ementas e currículos, definir e preparar conteúdos e realizar cursos e ativi-
dades de avaliação do projeto.
•
Definir carga horária semanal e a distribuição das atividades no tempo, bem como
os critérios de avaliação, durante e ao final do curso.
•
Conceder a respectiva titulação de especialização quando do cumprimento e aprovação
do(a) aluno(a) no curso de especialização ministrado.
9 – Conteúdo Programático
O programa do curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde
está estruturado em três eixos, considerados os fundamentais para a capacitação de
equipes gestoras. São eles: Contexto e Quadro Conceitual da Saúde, Gestão de Sistemas
e Serviços e Ferramentas Gerenciais.
235
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Sistemas de informação
Planejamento estratégico
Epidemiologia
FERRAMENTAS GERENCIAIS
Financiamentos e Orçamentos
Gerência de materiais
Gerência de compras
Gerência de qualidade
Gerência de custos.
236
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
237
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública
Departamento de Medicina Tropical, Saúde Coletiva e Dermatologia
Coordenação de Cursos de Especialização
DADOS GERAIS:
1- Identificação:
1.1.Título do Projeto:
1.3.1.Entidade:
1.3.2.Órgão:
1.3.3.Unidade Responsável:
2- Caracterização do Curso
2.1. Período de realização
240
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
500 horas: 360 horas de atividades presenciais e 140 atividades de dispersão e elabo-
ração de trabalho.
Especialização
Modular
Anual.
3. Objetivos
Geral
241
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Específicos
3.3 Capacitar integrantes e equipes dos municípios do Entorno de Brasília, das cida-
des pólos para sistema de referência regional, cidades com população acima de 20.000
habitantes e/ou com gestão plena e do município de Goiânia, visando identificar, diag-
nosticar e propor soluções criativas nas áreas críticas das secretarias, promovendo mai-
or eficiência, eficácia e efetividade dos sistemas e serviços regionais e locais de saúde.
3.4 Promover um processo de integração entre ensino e serviço, a partir das necessi-
dades municipal e estadual de saúde.
4. Justificativa
O processo de descentralização intensificado na década de 90 pela criação de Normas
Operacionais Básicas de Saúde(NOBS), que regulamentavam a sua prática, se segue a
uma reorganização dos Sistemas Locais de Saúde, que atuavam de maneira desarticula-
da entre os vários municípios e o estado, promovendo práticas de organização inadequa-
das às necessidades da população. Este quadro, associado ao modelo assistencial predo-
minante no Brasil que prioriza os procedimentos hospitalares e o atendimento focalizado
na doença, apoiado na utilização irracional de recursos tecnológicos de alto custo, com
pouca resolutividade e efetividade, gera alto grau de insatisfação para todos os partícipes
do processo — gestores, profissionais de saúde e população. Neste contexto, o Ministé-
rio da Saúde, em parceria com o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde
(Conasems), Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass), Associação
Brasileira de Saúde Coletiva(Abrasco) e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas)
tiveram a iniciativa de promover, em conjunto com as instituições formadoras, a
capacitação de profissionais que atuam em funções gestoras, em busca de adequar o
perfil de oferta de formação técnica ao processo de descentralização do SUS. A realização
destes cursos vem possibilitar a busca de um compromisso e de responsabilidade da
Universidade junto aos serviços e as equipes dos governos municipais para a reconfiguração
de práticas e processo gerenciais orientados à gestão de sistemas e serviços de saúde
em rede regionalizada.
242
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Esta iniciativa, abre uma nova parceria da universidade com instituições internacio-
nais, nacionais, estaduais e municipais, no sentido de encontrar práticas e formas de
organização do sistema de saúde adequadas às realidades locais e regionais.
243
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
6. Recursos Humanos
— O curso contará com pessoal técnico-administrativo e docente.
— O corpo docente do curso será constituído por professores das Unidades de Ensino
da UFG e convidados de outras instituições (Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de
Saúde e Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia), os quais deverão possuir a titulação
mínima de mestre, obtida em curso credenciado ou reconhecida pelo conselho específico
de cada área de atuação e/ou pelo Conselho Federal de Educação, comprovada através
244
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
de Curriculum Vitae, desde que seja sua qualificação julgada suficiente pela Câmara de
Pesquisa e Pós-Graduação do CEPEC. A participação de professores convidados se justifica
pela necessidade de realizar uma capacitação sintonizada com as normas institucionais.
— Dois terços do total de docentes do curso deverão possuir título mínimo de mestre,
obtido em curso reconhecido pelo Conselho Federal de Educação.
245
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
246
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Disciplinas:
Sistema de Informações.
Sistema Nacional de Informação em Saúde.
Introdução à Informática(uso de banco de dados e Internet). 40 h
Análise de dados.
247
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Epidemiologia.
28 h
Conceitos gerais de Epidemiologia.
Epidemiologia na prática dos serviços de saúde e Programas.
Dinâmica das doenças infecciosas e não infecciosas.
8h
Mecanismo de pactuação e regulação.
Instrumentos de negociação e pactuação.
Negociação como instrumento de gerência nos serviços de saúde.
Financiamentos e Orçamentos.
Histórico da gestão financeira em saúde.
Instrumentos de gestão financeira.
Legislação Básica do SUS na área financeira.
26 h
Alocação de Recursos.
Estratégias de organização da área financeira.
20 h
Gerência de Materiais.
Organização e Planejamento de materiais – rotinas.
Gerenciamento de manutenção.
248
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
16 h
Gerência de Compras.
Planejamento e organização de compras.
Instrumentos de licitações.
Estratégias de organização de compras.
2h
Gerência de qualidade.
Avaliação.
Qualidade e questões associadas.
Aplicação das idéias de Avaliação e Qualidade.
16 h
Gerência de custo.
Conceito e tipos de custo nos serviços de saúde.
Organização de serviços de custo.
Controle e contenção de custos.
360
TOTAL
7. Cronograma Previsto
249
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Maio de 2003.
Junho de 2003.
8. Recursos Financeiros
250
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
ITEM VALOR
RECEITA** (detalhar a fonte) total R$265.848,50
Matrícula (75alunos x 37,98) R$2.848,50
Ministério da Saúde R$263.000,00
PREVISÃO DE DESPESAS
1- ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS (total) R9.500,00
Pessoa Jurídica (Café) R$9.500,00
251
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
1.Nome Completo:
2.Filiação
3. Endereço
5. Formação acadêmica
Graduação: Instituição:
Instituição;
6.Atividade profissional
Empresa
Endereço
Cargo: Telefone
252
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REQUERIMENTO DE INSCRIÇÃO
Prezado Coordenador,
Eu,
Estado de sito à
N0.
Nestes termos,
Peço deferimento
Goiânia, de de
253
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A cada pergunta indique a alternativa de resposta que expressa sua opinião. São concei-
tos utilizados:
1. Identificação
Professor Disciplina
2. Avaliação
Itens Conceito
Assiduidade: O professor comparece com regularidade e exatidão às aulas e compromissos
assumidos com os alunos.
Pontualidade: O professor não se atrasa nem prolonga muito a aula, além do tempo estabelecido.
Dedicação: O professor demonstra que gosta da tarefa de ensinar e está sempre disposto a
esclarecer dúvidas.
Atendimento extraclasse: O professor se mostra disponível para atender os alunos em horários
fora da aula.
Planejamento da disciplina: O professor distribui aos alunos seu programa, com objetivos,
conteúdos, procedimentos, forma de avaliação e bibliografia.
Habilidade didática: O professor tem uma linguagem clara, coerente e acessível aos alunos.
Relaciona os conteúdos da disciplina entre si, bem como o conteúdo de outras disciplinas, responden-
do às perguntas de forma precisa.
Sistema de avaliação do aproveitamento: O professor elabora as provas/exercícios de acordo
com a matéria ensinada e o tempo disponível para respostas. Corrige-os com esclarecimento ao
aluno da nota atribuída.
254
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Objetivos
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 14 horas.
255
REFERÊNCIAS
COSTA, NR; MINAYO, MC; RAMOS, CL; STOTZ, EN (Org.). Demandas populares, políticas
públicas e saúde. Vol. II. Petrópolis: Vozes-ABRASCO, 1989.
COHN, A; NUNES, E; JACOBI, PR; KARSCH, US. A saúde como direito e como serviço. São
Paulo: Cortez, 1991.
DONNANGELO M C F; PEREIRA L. Saúde e sociedade. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1979.
GARCIA, JC. Pensamento Social em Saúde na América Latina. São Paulo, Cortez/Abrasco,
1989. 238 pág.
MENDES, EV. Distrito sanitário: o processo social de mudança das práticas sanitárias do
Sistema Único de Saúde. São Paulo - Rio de Janeiro: HUCITEC-ABRASCO, 1993.
MENDES, EV. Uma agenda para a saúde. São Paulo: HUCITEC, 1996.
Objetivos
•Conhecer a evolução das políticas públicas de saúde no Brasil com ênfase no processo
de reforma sanitária.
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 22 horas.
258
REFERÊNCIAS
Objetivos
Ementa
Carga horária.
Intraclasse: 16 horas.
260
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Norma Operacional Básica INAMPS No. 1/91. Diário Oficial
da União de 18 de julho de 1991, Brasília, pp 14216 – 14219.
BRASIL. Ministério da Saúde. Norma Operacional Básica – SUS No. 2/92, Portaria No. 234/
92. Diário Oficial da União. Brasília.
BRASIL. Ministério da Saúde. Norma Operacional Básica – SUS No. 1/93, Portaria No. 545/93.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portarias: No. 30/SAS de 24/4/1995, Portaria No.46 de 12/
6/95, Portaria 50/SAS de 21/06/95, Portaria 51 de 21/6/95, Portaria No.52 de 22/06/
95, Portaria No.58 de 30/06/95, Portaria No.74/SAS de 24/07/95, Portaria No.75/SAS de
24/07/95, . Portaria No.2.203 de 5/11/96 e Resolução SS-367 de 28/11/95.
BRASIL. Ministério da Saúde. Norma Operacional Básica – SUS 01/96. Diário Oficial da
União 6/nov/1996. Brasília.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Objetivos
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 28 horas.
262
REFERÊNCIAS
CAMPOS, GWS. Reforma da reforma. Repensando a saúde. São Paulo: HUCITEC, 1992.
CAMPOS, GWS. Reforma da reforma. Repensando a saúde. São Paulo: HUCITEC, 1992.
MERHY, E E; R.Onocko (org). Agir em Saúde. Um Desafio para o Público. São Paulo,
HUCITEC, 1997. Saúde em Debate No. 108 – Série didática No. 6.
264
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Objetivos
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 24 horas.
265
REFERÊNCIAS
CHIAVENATO, I. Introdução à teoria Geral da Administração. São Paulo: McGraw Hill, 1983.
KISIL, M. Gestão da Mudança Organizacional – Saúde & Cidadania. São Paulo: F. Peirópolis,
1998.
2. Sistema de Informações.
Objetivos
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 40 horas.
268
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
269
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2. Planejamento em Saúde.
Objetivos
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 32 horas.
270
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
MATUS, C. O Método PES – Roteiro de Análise Teórica. Ed. Fundap: São Paulo, 1996.
MENDES, E C e cols. Distrito Sanitário – O Processo Social de Mudança das Práticas Sanitá-
rias do SUS. HUCITEC: São Paulo, 1997.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Série HSP –UNI / Manuais Operativos - Vol. 1, 1995.
271
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4. Epidemiologia.
Objetivos
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 40 horas.
272
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
BARROS, FC; VICTORA, CG. Epidemiologia da saúde infantil. UM manual para diagnósticos
comunitários . São Paulo: HUCITEC-UNICEF, 1991.
DEVER, GEA. A epidemiologia na administração dos serviços de saúde. São Paulo: Pioneira,
1988.
PEREIRA, MG. Epidemiologia. Teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995.
SUSSER, M. The logic in ecological I: the logic of analysis. American Journal of Public
Health, 84(5):825-829, 1994.
VAUGHAN, JP; MORROW, RH. Epidemiologia para os municípios. Manual para gerenciamento
dos distritos sanitários. São Paulo: HUCITEC, 1992.
SUSSER M, SUSSER. Choosing a future for epidemiology I: eras and paradigms. American
Journal of Public Health, 86 (5): 668-673, 1996.
SUSSER M, SUSSER E. Choosing a future for epidemiology II: from black box to Chinese
boxes and eco-epidemiology. American Journal of Public Health, 86(5):674-677, 1996.
273
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Objetivos
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 40 horas.
274
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
MALIK, A M. Manual de Recursos Humanos en Salud. OPS, HSP – UNI Vol.1, No. 3, 1996.
MALIK, A M e cols. Gestão de Recursos Humanos. Saúde & Cidadania. E.F. Peirópolis: São
Paulo, 1988.
275
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Objetivos
•Apresentar formas e ações de controle que possam ser usadas na organização dos
serviços de saúde.
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 32 horas.
276
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
CALEMAN e cols. Auditoria, Controle e Programação de Serviços de Saúde. Saúde & Cida-
dania. E.F. Peirópolis: São Paulo, 1998.
FISHER, R. & URY, W. Obtenga el SI. El arte de negociar sin Ceder. C. E. Continental:
México, 1984.
277
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Objetivos
Ementa
278
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Carga horária
Intraclasse: 38 horas.
279
REFERÊNCIAS
CAMARGO, JRKR. Paradigma ciência e saber médico. Estudos em Saúde Coletiva, 6:1-20.
Rio de Janeiro: UERJ/IMS, 1992.
SANTOS, BS. Introdução a uma ciência pós-moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1989.
SEVERINO, AJ. Metodologia do trabalho científico. 17a ed., São Paulo: Cortez - Autores
Associados, 1991.
1. Financiamento e Orçamento.
Objetivos
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 26 horas.
282
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
283
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2. Gerência de Materiais.
Objetivos
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 20 horas.
284
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
285
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
3. Gerência de Compras.
Objetivos
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 16 horas.
286
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
MEIRELES, H L. Licitação e Contrato Administrativo. Revista dos Tribunais: São Paulo, 1991.
MOTTA, C P C. Eficácia nas Licitações e contratos. Del Rey: Belo Horizonte, 1994.
287
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4. Gerência de Qualidade.
Objetivos
Ementa
Qualidade nos serviços de saúde. Avaliação nos serviços de saúde. Serviço ou rede de
acreditação.
Carga horária
Intraclasse: 12 horas.
288
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
AGUAYO, R. Dr. Deming, o americano que ensinou qualidade total aos japoneses. Editora
Campus: Rio de janeiro, 1993.
289
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
5. Gerência de Custo.
Objetivos
Ementa
Carga horária
Intraclasse: 16 horas.
290
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
REFERÊNCIAS
REIS, H C. Contabilidade Municipal: Teoria e Prática. Rio de janeiro, IBAMA, 2a. es.,
1979.
291
ANEXO C – PLANO DA DISCIPLINA
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Curso de Especialização em
Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde
Apresentação
Este é o Plano de Curso da disciplina Modelos de Atenção à Saúde a ser ministrada no
curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde.
O curso está sendo realizado pela Universidade Federal de Goiás, com o apoio do
Ministério da Saúde, Secretaria de Estado da Saúde, Colegiado de Secretários Municipais
de Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde. Este é o primeiro curso nessa área
no Brasil e destina-se aos profissionais que atuam no campo da gestão de sistemas
municipais, regionais ou estaduais de saúde. O objetivo é capacitar profissionais de
nível superior oriundos das secretarias municipal e estadual e fortalecer o processo de
descentralização e implementação do Sistema Único de Saúde.
Ementa da disciplina
Modelo assistencial: histórico e evolução; modelos de organização de sistemas e
serviços de saúde: sistemas locais de saúde, distrito sanitários, atenção primária, saú-
de comunitária e saúde da família; descentralização, regionalização e cooperação
intergestores; formulação de políticas e objetivos sanitários.
294
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Carga horária: 28 h
Primeira parte
Segunda parte
Terceira parte
Local
Objetivos da disciplina
Compartilhar conceitos e informações, baseadas em experiências nacionais e inter-
nacionais sobre modelos de organização da atenção à saúde, expressos em políticas de
saúde, estabelecendo correspondência com processos de reformas de Estado e reforma
setorial. Apresentar estudos de sistemas de saúde com vistas à discussão de implicações
com a integralidade e a eqüidade. Estudar e discutir a questão da formulação de políticas
e de objetivos sanitários pelos governos.
Objetivos específicos
Fortalecer as competências críticas e analíticas dos alunos, com referência às funções
de gestão de sistemas e serviços de saúde e suas implicações em processos de formulação
de políticas e de objetivos sanitários. Estimular a comunicação e a atitude cooperativa.
•
Conhecer modelos de atenção, identificando momentos e características.
•
Compreender processos de construção de sistemas locais de saúde de acordo com
modelos integrais no SUS.
•
Refletir sobre o processo de descentralização da saúde.
•
Identificar vantagens e entraves na descentralização e em desafios futuros.
295
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Estratégias metodológicas
Aulas expositivas, debates, leituras dirigidas e comentadas, vídeo, exercícios em
campo e apresentação em sala. Consultas às páginas eletrônicas e estudo de documen-
tos elaborados por governos e outros.
Professores
Luisa Guimarães e Eduardo Guerrero.
296
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
Bibliografia
Nota sobre as leituras: os alunos receberão a seleção bibliográfica básica, e a comple-
mentar ficará disponível junto à coordenação do curso para cópia por interessados. Lei-
turas complementares ampliam a abordagem dos temas e servem de referência para o
aluno em suas atividades.
a) Básica
MENDES, E.V. Um novo paradigma sanitário: a produção social da saúde. In: Uma
agenda para a saúde, Cap IV, São Paulo: Hucitec, 1996.
b) Complementar
FIGUERAS, J.; MUSGROVE, P.; CARRIN,G.; e DURAN, A. Retos para los sistemas sanitários
de Latinoamérica: que puede aprenderse de la experiencia europea? Revista Gaceta
Sanitaria, Madrid, 2002; 16(1):5-17.
297
GIOVANELLA, L. Solidariedade ou Competição? Políticas e sistema de atenção à saúde
na Alemanha. Capítulo 4. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2001.
MENDES, E.V. (org) Distrito sanitário: o processo social de mudança das práticas sanitá-
rias do Sistema Único de Saúde. São Paulo - Rio de Janeiro: HUCITEC-ABRASCO, 1993.
MENDES, E.V. (org) A organização da saúde no nível local. São Paulo - Rio de Janeiro:
HUCITEC-ABRASCO, 1998.
ANEXO D – EXERCÍCIO 3
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Objetivo
Esse trabalho será a síntese final da nossa disciplina e busca integrar os conteúdos
dos textos, as atividades realizadas, as apresentações e as aulas. O exercício objetiva,
a partir da integração desse material constriur lista de temas, agenda, atores, fontes de
informação, consensos e negociação para a formulação de políticas de saúde e mudança
do modelo de atenção. Para essa atividade os alunos devem ter as anotações completas
das entrevistas e outros materiais para a discussão com os colegas.
Preparamos o formato abaixo para auxiliar os alunos no envio dos resultados das
entrevistas, para que possamos preparar a síntese a ser apresentada em sala pelos profes-
sores. Essa forma é uma sugestão com a recomendação de que o tópico a) seja mantido.
E, no caso do b), fica a possibilidade de os alunos enviarem com o formato que julgarem
mais adequado.
300
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
8. E como são tomadas decisões políticas que influenciam a vida das pessoas nos
níveis municipal, estadual, nacional e internacional?
10. Deve ser a última pergunta para não influenciar as anteriores: Na opinião do
entrevistado, como influem na formulação de políticas de saúde os meios de comunicação,
a academia, o legislativo, as organizações comunitárias, as associações de usuários, os
profissionais de saúde, os prestadores de serviços, os gestores do SUS nas três esferas
de governo, as agências de cooperação?
Relatório
O relatório das entrevistas a ser enviado aos professores deve constar de três partes
no mínimo: introdução, dados e comentários. Iniciar com pequeno texto introdutório
com informações sobre a realização das entrevistas, indicando condições, facilidades,
dificuldades e outros aspectos relevantes. Em seguida, informe os dados obtidos nas
entrevistas, conforme sistemática abaixo. E, finalmente, teça comentários sobre aspectos
importantes relatados pelo entrevistado que extrapolam as informações básicas e sobre
as impressões durante e depois da entrevista.
301
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Formação ( ) ______________________________
Escrever a formação de cada entrevistado ( ) ______________________________
Por ex.: (2) Médicos; (1) Enfermeiro ( ) ______________________________
Cargo ( ) ______________________________
Escrever o cargo de cada entrevistado ( ) ______________________________
Por ex.: (1) SMS; (1) Presidente de Associação; ( ) ______________________________
(1) Jornalista
Função ( ) ______________________________
Escrevera a função de cada entrevistado ( ) ______________________________
Por ex.: (3) Profissionais de saúde ( ) ______________________________
Como são formuladas as políticas nos níveis municipal, estadual, nacional e ...
internacionalmente
Como é a tomada de decisão política nos níveis municipal, estadual, ...
nacional e internacionalmente.
Diretrizes que devem orientar a FPPS para promover o desenvolvimento ...
integral das pessoas e sociedade.
Como influem na FPPS os meios de comunicação, a academia, o legislativo,
as organizações comunitárias, as associações de usuários, profissionais de
saúde, prestadores de serviços, gestores do SUS nas três esferas de
governo, agências de cooperação.
302
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
303
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Nome:
Idade:
Tempo de Formação:
( ) coordenação.
( ) gestão.
( ) técnico .
( ) Outros. Qual?__________________________________
( ) Sim. Qual?____________________________________
( ) Não.
( ) Sim.
( ) Não.
( ) indicação
( ) convocação
( ) convite
304
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
A seleção dos trabalhos a serem publicados está baseada nos seguintes critérios gerais:
trabalhos originais inéditos, relevância do tema; qualidade formal do texto e solidez
científica; conclusividade; atualidade da contribuição; contribuições teóricas e de
aplicabilidade na prática e vinculação com atividades de cooperação da Opas na área de
desenvolvimento de sistemas e serviços de saúde. Excepcionalmente serão analisados
trabalhos alheios à cooperação, sempre que tenham relação com áreas temáticas do Projeto.
No caso de publicações com autoria externa, as opiniões dos autores são de sua exclu-
siva responsabilidade e não refletem necessariamente critérios nem políticas da Opas.
Tipologia de publicações:
A Série publicará, entre outros, textos integrais, como artigos, ensaios, pesquisas,
relatórios; textos preparados através de meta-análise; e destaques em seções curtas,
demandados pelo Projeto.
305
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Os manuscritos aceitos passam por um processo editorial que, de acordo com o for-
mato da publicação, pode requerer, se necessário, sua condensação, e/ou supressão de
quadros ou anexos. A versão editada será remetida ao autor para aprovação, no caso de
autores externos à Organização.
Direitos de reprodução:
Apresentação:
O texto deve ser apresentado em folhas tamanho A4 (212 x297mm), em fonte tamanho 12,
e escritas a espaço duplo. Os gráficos, tabelas e/ou figuras deverão ser mantidos ao
mínimo e enviados em impressão separada de alta qualidade, em preto e branco e/ou
diferentes tons de cinza e/ou hachuras. A totalidade do trabalho deve acompanhar-se de
cópia em disquete.
Referências Bibliográficas
São essenciais para identificação das fontes originais de conceitos, métodos e técnicas
referidas no texto. Artigos de pesquisa devem conter um mínimo de 20 referências biblio-
gráficas pertinentes e atualizadas.
306
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas Públicas: Uma Abordagem de Conteúdo
Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde em Goiás
a) Série Monográfica:
BOURDIEU, P. O campo científico. São Paulo: Ed. Ática, 1976. (Coleção Grandes cien-
tistas sociais).
b) Capítulo de Monografia:
DAVIES, A. M. The evolving science of health systems research. In: World Health
Organization. From research to decision making: case studies on the use of health
systems research. Geneva, 1991. 139p.
c) Artigo de Revista:
FARFAN, G. et. al. Digestive disease in the elderly. Rev. Gastroenterol. Lima, v.11,
n.3, p.164-170, 1991.
ROSENTHAL, G. et. al. Does good health services research produce good health policy?
Health Policy Quarterly, [S.l.], v. 1, n.1, 1981.
e) Documento técnico
SECLEN, Juan et. al. Estudio comparativo de la calidad de atención y uso de servicios
de salud materno perinatales (1997-2000). Lima: Ministerio de Salud del Peru, 2002.
307
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2.Exemplos de Citações
a) Citação Direta
b) Citação de Citação
Segundo Silva (1983 apud ABREU, 1999, p.3) diz ser [...]
Para maiores informações sobre o estilo da ABNT, consultar o site da Internet: http:/
/bu.ufsc.br/framerefer.html
308
SÉRIE DE DOCUMENTOS
Volume 1
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico
2. Seminário: o Sistema Único de Saúde e a
Regionalização
3. Seminário: Perspectiva para a descentralização
e a Regionalização no Sistema Único de Saúde
Volume 2
Produção de conhecimento em Política,
Planejamento e Gestão em Saúde e
Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Volume 3
Saúde nos aglomerados urbanos: uma visão
integrada
Volume 4
1. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil:
marco legal e comportamento do gasto
2. O Papel e as conseqüencias dos incentivos
como estratégia de financiamento das ações
de saúde
Volume 5
Modernização das Secretarias de Estado da
Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de
Saúde no Brasil, Ano 2002
PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE APRESENTAÇÃO
SÉRIE DE DOCUMENTOS ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (Opas/OMS)
A Organização Pan-Americana da Saúde
SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE – SAS — Opas, exercendo sua atribuição de
MINISTÉRIO DA SAÚDE – BRASIL
série técnica
Volume 1 apoiar um sistema de saúde democrá-
tico, integral e equânime, entende
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico que a concretização desta ação, no
Projeto de Desenvolvimento de
de Sistemas e Serviços de Saúde/Opas
Volume 4
apresenta a Série Técnica como uma
1. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil:
das atividades de gestão do conhecimen-
marco legal e comportamento do gasto
to, necessária à construção e à consoli-
6
para a melhoria da qualidade da aten-
ção à saúde individual e coletiva, a re-
dução de desigualdades e o alcance da
eqüidade.
Brindamos a comunidade de saúde
pública do país e da Região das Amé-
ricas com esta publicação. Esperamos
que possa se tornar um espaço vivo
de apoio à construção do SUS no Brasil
e que proporcione visibilidade e acesso
aos produtos concretos advindos da
Setor de Embaixadas Norte - Lote 19
6
Cooperação Técnica da Opas.
Brasília-DF - 70800-400
www.opas.org.br Sigamos avançando na conquista pela
qualidade de vida e saúde da população.
PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE APRESENTAÇÃO
SÉRIE DE DOCUMENTOS ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (Opas/OMS)
A Organização Pan-Americana da Saúde
SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE – SAS — Opas, exercendo sua atribuição de
série técnica
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico que a concretização desta ação, no
Projeto de Desenvolvimento de
de Sistemas e Serviços de Saúde/Opas
Volume 4
apresenta a Série Técnica como uma
1. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil:
das atividades de gestão do conhecimen-
marco legal e comportamento do gasto
to, necessária à construção e à consoli-
7
Volume 6 para a melhoria da qualidade da aten-
ção à saúde individual e coletiva, a re-
1. Modelo de tenção e formulação de Políticas
Públicas: uma abordgem de conteúdo: Curso dução de desigualdades e o alcance da
de Especialização em Gestão de Sistemas e eqüidade.
Serviços de Saúde em Goiás Brindamos a comunidade de saúde
pública do país e da Região das Amé-
ricas com esta publicação. Esperamos
que possa se tornar um espaço vivo
de apoio à construção do SUS no Brasil
e que proporcione visibilidade e acesso
aos produtos concretos advindos da
Setor de Embaixadas Norte - Lote 19
7
Cooperação Técnica da Opas.
Brasília-DF - 70800-400
www.opas.org.br Sigamos avançando na conquista pela
qualidade de vida e saúde da população.
APRESENTAÇÃO
série técnica
Projeto de Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde
7
METODOLOGIA PARA ANÁLISES FUNCIONAIS
DA GESTÃO DE SISTEMAS E REDES DE SERVIÇOS
DE SAÚDE NO BRASIL
BRASÍLIA — DF
2003
Organização Pan-Americana da Saúde — OPAS
Brasília — DF
2003
Elaboração, distribuição e informações
Organização Pan-Americana da Saúde
Organização Mundial da Saúde
Setor de Embaixadas Norte, 19
70.800-400 — Brasília — DF
http://www.Opas.org.br
Projeto de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde/OPAS
http://www.Opas.org.br/servico/paginas/index.cfm
1. Coordenador do Projeto
Júlio Manuel Suárez
2. Conselho editorial
Juan Seclen
Luciana Chagas
Luisa Guimarães
Rosa Maria Silvestre
3. Apoio técnico e administrativo:
Luciana de Deus Chagas
Rosa Maria Silvestre
4. Normalização
Fernanda Nahuz
Leila Barros
Luciana dos Santos
Revisão
Manoel Rodrigues Pereira Neto
Capa, Projeto Gráfico e DTP
Wagner Soares da Silva
Tiragem:
1.500 exemplares
Quadro 31 – Resumo da oferta de ações básicas por região de saúde .................. 104
Quadro 35 – Análise da oferta de ações básicas por região de saúde .................. 107
Quadro 36 – Parâmetros de atenção do Programa Materno-Infantil ..................... 110
PREFÁCIO ......................................................................................... 14
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 15
1 METODOLOGIA ................................................................................ 23
Créditos
Este trabalho foi possível graças ao esforço inicial das Doutoras Marisol Concha e
Ximena Aguilera que, com a colaboração de outros profissionais, especialmente o Doutor
Alberto Infante, desenvolveram os primeiros estudos sobre esta metodologia de análise
funcional de redes de serviços de saúde.
Reconhecimento
Agradecimentos
Nesta linha, foi trabalhada uma experiência-modelo sobre a análise de redes funcionais
de serviços de saúde no estado de Goiás, tendo como referência a metodologia de análise
previamente desenvolvida pela Organização. Desta forma, gestores da Secretaria de
Estado da Saúde de Goiás, do Ministério da Saúde, do Núcleo de Estudos em Saúde
Coletiva (Nescom), da Universidade Federal de Minas Gerais e o próprio quadro técnico
da OPAS se esforçaram conjuntamente e alcançaram a adaptação e o fortalecimento da
metodologia inicial, aplicando-a ao sistema de saúde local de Goiás.
Este documento tem como propósito sistematizar a experiência, apresentar sua essência
metodológica e seu nível de aplicação na gestão e avaliação do sistema de saúde. A OPAS
a considera de valor, na medida em que possa servir como referência para ações de
mudança e modernização da gestão sanitária em outros cenários do país.
a) elaboração, pela coordenação, de Plano de Trabalho que foi acordado entre a Opas/
OMS, o Ministério da Saúde, a Secretaria de Estado da Saúde e o Nescon/FM/UFMG, que
previu, para um primeiro momento, o estudo e a análise do texto da Opas/OMS1 pela
equipe do Nescon;
1 CONCHA, M., AGUILERA, X. Delineamentos metodológicos para a realização de análises funcionais das redes de
serviços de saúde, In: Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde, Organização e
Gestão de Sistemas de Saúde, Washington D.C., Série 3, 1998, Tradução, Brasil,1999.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
16
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
A realização do estudo contou com algumas dificuldades que foram consideradas durante
a avaliação do resultado final: a grande quantidade de informações a serem coletadas,
selecionadas e analisadas; a fragmentação das informações em vários bancos de dados;
a dispersão das fontes de informações; as dificuldades operacionais para coletá-las; o
tempo definido para o estudo e a pequena quantidade de pessoas da equipe responsável
(Nescon).
17
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O texto final foi composto por nove capítulos.2 O primeiro tratou da metodologia
utilizada e relatou o processo de elaboração do mesmo.
2 REZENDE, C. A. P., PEIXOTO, M. P. B. Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás.
OPAS, SES/GO, Ministério da Saúde, UFMG/NESCON, mar. 1999.
18
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
19
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
20
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Como no estudo de Goiás, este texto foi composto por nove capítulos, dos quais, sete
sofreram modificações, em relação à metodologia proposta inicialmente no texto da
Opas/OMS, além do acréscimo de dois novos para se adequar à metodologia ao Sistema
Nacional de Saúde, que possui especificidades em relação aos outros países da Região. O
capítulo três, da “Gestão do Sistema de Saúde”, que trata das competências e atribuições
das três esferas de governo em relação à gestão do sistema nacional de saúde, propõe
uma metodologia de análise do exercício e cumprimento efetivo das mesmas, especial-
mente pela esfera estadual, motivada pelo estudo solicitado pela Secretaria de Estado da
Saúde de Goiás, o qual foi orientado pela legislação do setor no Brasil. O capítulo nove,
também novo, define a metodologia para a “Identificação de Alternativas de Solução”, a
partir do levantamento dos principais problemas identificados em todos os aspectos abor-
dados pela metodologia, o levantamento de linhas estratégicas de atuação e as propostas
de ação para o Gestor do Sistema que, neste caso, contém na íntegra, o exemplo do
estudo do Sistema de Saúde do estado de Goiás.
21
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
22
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
1. METODOLOGIA
23
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Será considerado sistema se houver uma interligação e uma interação entre seus
componentes, capaz de resultar numa atenção organizada, que produza respostas às
necessidades de saúde de uma determinada população, com gestão única em cada esfera
de governo.
A organização do sistema e dos serviços de saúde no Brasil deve basear-se nos princípios
da descentralização, através da gestão municipal; da regionalização, com a rede de
serviços planejada a partir de critérios epidemiológicos e com adscrição da população a
ser atendida; e de hierarquização, com níveis crescentes de complexidade, circunscritos
a uma determinada área de abrangência. Não se trata de simples divisão de níveis de
atenção. A hierarquização implica, sobretudo, a implementação de mecanismos que ga-
rantam o acesso a ações e serviços que contemplem toda a complexidade requerida,
numa determinada área de abrangência. Deve incorporar a organização de fluxos de
encaminhamentos — referência — e de retorno dos usuários e das informações ao nível
da atenção básica do sistema — contra-referência.
Habitualmente este tipo de análise se orienta para uma ou várias das seguintes finali-
dades:
1.2. OBJETIVOS
24
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
1.2.6. Identificar e propor alternativas de solução que permitam dar conta das neces-
sidades de ações e serviços e definir linhas estratégicas para gestão do sistema.
Para o cumprimento dos objetivos definidos, devem ser realizadas as seguintes tarefas:
25
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Para o desenvolvimento do estudo sugere-se seguir uma estratégia que se inicia com
a revisão sistemática dos recursos da rede de serviços e do sistema de saúde e das
condições em que são prestados os serviços. Paralelamente avaliam-se as necessidades
de saúde da população, traduzidas nas necessidades de serviços. Estas se comparam
com a oferta atual e, desta comparação, surgem as deficiências ou excedentes, que
representam as necessidades não cobertas ou a super-utilização.
Como se verifica no esquema, o trabalho inicia-se com três grandes tarefas, que
podem ser realizadas de forma paralela:
26
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Figura 1
27
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
28
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Finalmente, com base nas informações obtidas nas etapas mencionadas, procede-se
à elaboração das propostas de solução para as necessidades identificadas.
29
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Esta metodologia está dirigida aos gestores e pessoal técnico de sistemas de saúde,
para utilização na execução dos estudos de sistemas de saúde e redes assistenciais e
para a análise da organização e provisão de serviços específicos, como por exemplo, os
estudos sobre serviços de urgência, ambulatoriais, hospitalares e outros.
• equipamentos.
30
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
• Planejamento;
• Recursos Humanos;
• Informação e Comunicação;
Este capítulo oferece uma pauta para a elaboração da análise demográfica e epide-
miológica da população atendida pela rede de serviços. Organiza-se em duas seções:
a) características demográficas e projeções da população e, b) perfil epidemiológico.
A transição demográfica3 que afeta a maior parte dos países da América Latina e
Caribe, inclusive o Brasil, faz com que as redes de serviços devam adequar-se principal-
mente, às necessidades de populações jovens (serviços para a infância e saúde da mulher),
junto a uma demanda crescente de serviços destinados a patologias crônicas e
degenerativas que afetam a população de maior idade.
Por outro lado, a quantidade de serviços solicitados está diretamente relacionada com
a dimensão da população, da qual uma estimativa precisa é fundamental para o êxito
31
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A maior dificuldade nesta etapa é identificar a população que é atendida nos diferen-
tes sistemas de atenção, dentro de uma determinada área geográfica. No Brasil é comum
a população acessar sistemas de atenção à saúde de diferentes municípios e, ainda, de
serviços de assistência suplementar.
32
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 1
Exemplo de índice de dependência por
procedência de pacientes atendidos por tipo de serviço
33
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 2
Exemplo de índice de dependência por procedência e quantitativo
de pacientes atendidos por Município de atendimento
Procedência Município 1 Município 2 Município 3 Total
Região A 1.000 2.000 400 3.400
Região B 30 110 - 140
Região C 50 - 20 70
TOTAL 180 310 60 550
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços de Saúde –
MS/Opas/OMS, Março 1998.
Por exemplo, se for estimado que as necessidades de atendimento das três regiões
crescerão em 10% no período de 5 anos, este crescimento poderá ser distribuído entre os
serviços e os três municípios, utilizando-se os índices de dependência calculados. Tam-
bém podem ser estabelecidos diferentes cálculos de índices de dependência, de acordo
com as possíveis variações na capacidade de absorção de demanda de cada sistema de
saúde municipal ou de unidades de saúde. Isto poderia ocorrer sem incrementar ou redu-
zir os recursos instalados.
2.1.2.Características da População
Uma vez definida a área de influência, a população pode ser caracterizada sob o ponto de
vista demográfico, epidemiológico e sócio-econômico, com informações que ajudarão a esta-
belecer até que ponto os sistemas e unidades de saúde respondem às suas necessidades.
34
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
• população com distribuição por faixa etária e sexo (menores de 1 ano; de 1 a 4 anos;
de 5 a 9; de 10 a 14; de 15 a 19; de 20 a 29; de 30 a 39; de 40 a 49; de 50 a 59; de
60 a 69; de 70 a 79; de 80 e mais) do ano do estudo;
• outras variáveis que condicionem o acesso aos diversos níveis de atenção, como
nível sócio-econômico, cultura e etnia, variações sazonais por migrações internas
ou turismo se for o caso, entre outras;
Tabela 1
Estrutura demográfica de uma população
35
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
36
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 3
Exemplo de projeção de população/área de abrangência
Situação atual:
• População da área geográfica: 4.744.174 habitantes
• Estrutura populacional: população de 0 a 14 anos = 31,89%
população de 15 a 64 anos = 62,18%
população acima 60 ano = 6,33%
37
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 4
Alguns sistemas de informações nacionais
Tipo de Informação Sistemas Siglas Órgão
Informações relacionadas Sistema de Informações sobre Mortalidade SIM CENEPI
à situação de saúde.
Sistema de Informações sobre Agravos Notificáveis Sinan Cenepi
Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos Sinasc Cenepi
Sistema de Informações de Vigilância Alimentar e Sisvan CENEPI
Nutricional SIAB Datasus
Sistema de Informações de Atenção Básica
b) Agravos à saúde;
38
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 5
Fatores condicionantes de saúde
1. DEMOGRAFIA (*):
• Tamanho da população, distribuição por grupo etário e sexo. População economicamente ativa. Taxa de atividade
masculina e feminina. Índice de Masculinidade e Índice de Dependência.
• Crescimento demográfico (natalidade, mortalidade, migrações) tendências e projeções.
• Distribuição espacial da população, de acordo com a organização administrativa do sistema em estudo.
• Conclusão a respeito dos problemas de saúde associados à estrutura demográfica.
2. AMBIENTE:
• Meio físico e biológico — água, ar, solo, flora, fauna (riscos de poluição, projetos existentes em Defesa do Meio
Ambiente, projetos de controle dos ambientes de trabalho, política de saneamento).
• Meio sócio-econômico — infra-estrutura urbana, condições de saneamento(cobertura de água tratada, esgotamento
sanitário, coleta de lixo), condições de habitação (situação de moradia urbana e rural, assentamentos, entre
outros), proteção de alimentos.
• Conclusão a respeito dos problemas de saúde associados ao ambiente.
3. CULTURA E ETNIA:
• Composição étnica.
• Linguagem e dialetos.
• Crenças, mitos e procedimentos em saúde.
4. CARACTERÍSTICAS SOCIO-ECONÔMICAS DA POPULAÇÃO:
• Principais atividades econômicas da área de abrangência do estudo.
• Condições de emprego, taxa de pobreza, taxa de desemprego, renda per capita.
• Distribuição da população economicamente ativa nos setores da economia.
• Fontes de recursos financeiros da esfera de governo, incluindo arrecadação nos últimos dois anos.
• Conclusão a respeito dos problemas de saúde associados às condições econômicas.
5. EDUCAÇÃO:
• Analfabetismo e escolaridade, por faixa etária e sexo.
• Tempo de estudo da população, por faixa etária e sexo.
• Cobertura de educação básica e média.
6. CONDUTAS ASSOCIADAS À SAÚDE:
• Alimentação e nutrição.
• Atividade física e sedentarismo.
• Tabagismo, consumo de álcool, drogas.
• Violência delitual e intrafamiliar.
• Conduta sexual.
(*) São incluídos os fatores demográficos, vistos em detalhes na seção anterior, para se ter o quadro completo dos
condicionantes de saúde.
O conhecimento dos agravos em saúde permite orientar a eleição das melhores interven-
ções para a sua solução. Da mesma forma, permite estabelecer um referencial para
avaliar o impacto na saúde das intervenções propostas como resultado do estudo.
39
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 6
Medidas do agravo em saúde
1.Taxas de Mortalidade:
• Mortalidade geral (por faixa etária e por causa - pelo menos 10).
• Mortalidade por grupos especiais de população: Taxa de Mortalidade Infantil - TMI (menor de 1 ano) e principais
causas - pelo menos 5); Mortalidade na Infância (01 a 04 anos) e principais causas; Taxa de Mortalidade Materna - TMM;
adolescentes, adulto, distribuição dos óbitos por causas evitáveis.
• Análise de tendências e projeções.
2. Expectativa de Vida ao Nascer
3. Anos Potenciais de Vida Perdidos, por grupo de causas, grupo etário, sexo e tendências.
4. Indicadores de Morbidade:
• Morbidade hospitalar geral, por idade, causa e sexo; morbidade hospitalar feminina, morbidade hospitalar por
gravidez, parto e puerpério,morbidade hospitalar masculina, morbidade hospitalar de 05 a 14 anos, morbidade
hospitalar de 01 a 04 anos, por causa, sexo e faixa etária, morbidade hospitalar de menores de 1 ano.
• Morbidade ambulatorial geral, por causa, sexo e faixa etária.
• Cobertura vacinal, por faixa etária e sexo e nível de Controle das Doenças Imunopreveníveis. Incluir o controle das
zoonoses.
• Controle das Endemias em geral.
• Situação das doenças crônico-degenerativas e doenças sexualmente transmissíveis.
• Doenças de notificação compulsória.
• Referência a consultas especializadas.
• Saúde escolar, saúde ocupacional e saúde bucal.
5. Problemas de saúde percebidos pela população.
6. Indicadores de Expectativa de Vida:
• DALY
• QALY
Entre os métodos de priorização que podem ser utilizados nas análises dos problemas
de sistemas ou redes de serviços, mencionaremos os seguintes:
40
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Método de Hanlon:
Para cada problema estabelece-se uma pontuação por aspecto, para o qual utiliza-se
uma escala definida por consenso de grupo. O grupo é constituído por especialistas,
especialmente convocados para esta finalidade.
Uma vez definidas as pontuações por aspectos do problema, aplica-se uma fórmula
através da qual se obtém a pontuação final ou pontuação de prioridade de cada problema
avaliado.
Pontuação de prioridade = (a + b) x c x d
Onde: a = magnitude
b = severidade
c = eficácia
d = factibilidade
Como se observa na fórmula, de acordo com este método, os distintos aspectos ava-
liados recebem uma mesma ponderação, ou seja, a magnitude e severidade do problema
em avaliação têm a mesma característica que a eficácia e a factibilidade.
Pontuação de Prioridade = a x b x c
d
41
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Onde: a = magnitude
b = transcendência
c = vulnerabilidade
d = custo
Método Simplex:
Nas circunstâncias em que se conta com medições de DALY ou QALY, eles devem ser
utilizados para a identificação dos problemas de saúde de maior relevância, já que estes
indicadores incorporam o componente de mortalidade à qualidade de vida. Caso estes
indicadores mencionados não estejam disponíveis, recomenda-se utilizar os APVP que
incorporam o conceito de mortalidade evitável.
42
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 7
Análise do sistema de saúde em Goiás, 1999
Resumo de indicadores demográficos
Indicador Ano Valor
População Geral do Estado 1996 4.514.967
Urbana 85,77
Rural 14,23
População Geral do Estado 1997 4.639.734
População Geral do Estado 1998 4.744.174
Crescimento Populacional 1996-1998 2,3
Densidade populacional (hab/Km2) total 1998 13,90
População por faixa etária (%)
Menores de 1 ano 1998 2,03%
De 1 a 4 anos 8,09%
De 5 a 9 anos 10,28%
De 10 a 14 anos 10,89%
De 15 a 19 anos 10,86%
De 20 a 29 anos 19,21%
De 30 a 39 anos 15,43%
De 40 a 49 anos 10,29%
De 50 a 59 anos 6,39%
De 60 a 69 anos 3,93%
De 70 a 79 anos 1,77%
De 80 anos e mais 0,63%
Relação de masculinidade (homens por 100 mulheres) 1996 100,0
População com acesso a água tratada 1998 80%
População com acesso a esgotamento sanitário 1998 33%
Renda per capita 1994 1.575US$
PIB Estadual (% em relação ao Brasil) 1996 3,2
Taxa de Pobreza (população com renda inferior a 1/2 SM) 1996 24,85%
Taxa de Desemprego 1996 7,54%
Taxa de Alfabetização 1996 86,80%
Taxa de Escolaridade (população com até 7 anos de estudo) 1996 71,20%
Expectativa de vida ao nascer geral 1996 68,60
Masculina 65,43
Feminina 71,88
Expectativa de vida aos 65 anos do sexo masculino 1996 12,72
Expectativa de vida aos 65 anos do sexo feminino 1996 14,84
Taxa bruta de natalidade (por 1.000 hab.) 1998 20,86
Taxa de fecundidade geral 1996 2,12
Taxa de mortalidade geral (por 1.000 hab.) 1998 4,72
Taxa de mortalidade infantil - TMI 1998 16,64
Taxa de mortalidade materna - TMM (nº de óbitos da mãe, por 100.000 nascidos vivos) 1998 63,23
Cobertura Vacinal:
Anti-Pólio 1998 91,57
Anti-Sarampo (até 09/98) 84,68
DPT 88,88
BCG 104,37
43
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 8
Anos potenciais de vida perdidos por 1.000 ha
de 1 a 69 anos, 1996 - Goiás, por grupos de causas
Causas APVP Taxa APVP
Doenças do aparelho circulatório 42.782,0 9,5
Causas externas 119.013,9 26,4
Afecções mal definidas 45.107,2 10,0
Neoplasias 26.477,0 5,9
Doenças do aparelho respiratório 24.014,1 5,3
Doenças infecciosas e parasitárias 35.920,9 8,0
Outras 122.556,5 27,1
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de
Goiás, Brasil - MS/Opas/Nescon-UFMG, Março de 1999
44
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
45
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A definição dos recursos a serem aplicados numa política setorial é a forma mais
objetiva e concreta de se demonstrar um processo de eleição de prioridades.
46
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
• os relatórios de gestão;
O Sistema Único de Saúde — SUS, funciona como uma engrenagem, para a qual é
necessária a implementação de todos os instrumentos de gestão previstos na legislação,
que implicam a conformação de bases fundamentais para o seu funcionamento, quais
sejam:
4 - Constituição da República Federativa do Brasil, Art. 5º, incisos XXXIII e LXXIII, Art. 31, § 1º e 3º, Art. 70 a 75 e
Art. 165, inciso III, § 3º;
- Lei Federal nº 8.666, Art. 16;
- Lei Federal nº 8.689, Art. 6º e12.
- Lei Federal nº 8.142, Art. 4º, inciso V;
- Decreto Federal nº 1.651, Art. 4º.
5 - Constituição da República Federativa do Brasil, Art. 198, inciso I;
- Lei Federal 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde), Art. 9º, incisos I, II e III;
- Lei Federal 8.142/90;
- Decreto nº 1.232/94 (repasse Fundo-a-Fundo),;
- Decreto nº 1.651/95 (Sistema Nacional de Auditoria);
- Normas Operacionais Básicas do SUS.
6 - Constituição da República Federativa do Brasil, Art. 198, inciso I;
- Lei Federal nº 8.80 (Lei Orgânica da Saúde), Art. 9º, incisos I, II e III.
47
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
48
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
- Lei Federal nº 8.080 (Lei Orgânica da Saúde), Art. 9º, incisos I, II e III.
a) Fundo de Saúde1 com estrutura que garanta a Os Fundos de Saúde têm por finalidade
autonomia de funcionamento do setor saúde e do operacionalizar a gestão dos recursos finan-
ceiros do SUS, em cada esfera de governo,
gestor para gerir todos os recursos orçamentários, entendidos como todos os recursos destina-
financeiros e contábeis destinados à saúde (na respec- dos ao setor saúde, pelas três esferas, cujo
montante e utilização tenham visibilidade
tiva esfera de governo), com a agilidade necessária pública.
49
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
para resolver os problemas de saúde dos usuários e com a devida discussão e definição
da aplicação e prestação de contas ao Conselho de Saúde;
b Plano de Saúde2 , explicitando o modo como se No planejamento das ações e serviços de saúde,
organiza o sistema de atenção à saúde, definido com para uma determinada área de abrangência,
definidas em programação própria, devem
a participação ativa dos trabalhadores da saúde (em constar as que serão realizadas no próprio
reuniões por local de trabalho, colegiados e mesas de território e as que serão realizadas por refe-
rência (encaminhamento a outro subsistema
negociações), considerando-se a importância deste de saúde), da mesma forma que devem constar
as ações e serviços que serão ofertados a
segmento na etapa de sua implementação, e pactuado outras áreas de influência dos serviços (às po-
com os usuários (nos Conselhos de Saúde) do respec- pulações de outras áreas geográficas), tendo
sido devidamente negociadas nas comissões
tivo sistema. No caso dos estados, o Plano deve ser intergestores, em consórcios intermunicipais
pactuado, também, com os Gestores Municipais e, de saúde e formalizadas em Programação
Pactuada Integrada — PPI.
no caso da União, com os Gestores Estaduais.
Os Planos de Saúde traduzem o projeto técnico- A Norma Operacional Básica 01/96 — NOB 01/
político de governo para o planejamento e a opera- 96 instituiu o desenvolvimento do processo
de Programação Pactuada Integrada — PPI,
cionalização das ações e serviços setoriais de saúde, que deve traduzir a responsabilidade sanitá-
ria de cada município, com a garantia de
com o objetivo de solucionar os problemas da popula- acesso da população às ações e serviços de
ção de uma determinada área de abrangência e das saúde, pela oferta existente no nível local ou
pelo encaminhamento a outros municípios,
áreas de influência do sistema de saúde. bem como o atendimento de demandas de
outras áreas de influência de sistemas que
Neste processo, cada esfera de governo apresenta não oferecem atendimentos de maior comple-
o seu Plano Plurianual — PPA (para quatro anos), xidade, através de negociações entre os ges-
tores municipais, em processo ascendente,
explicitando a concepção de Gestão do Sistema e do coordenadas e intermediadas pelo gestor
estadual, respeitando-se a autonomia de cada
Modelo Assistencial, com a programação das ações e gestor. A PPI deve traduzir o conjunto de
serviços de saúde (oferta, demanda e necessidades), ações e serviços de saúde necessários às po-
pulações de todos os municípios e a alocação
estabelecendo as prioridades (atividades, programas dos respectivos recursos, independente da
vinculação institucional ou órgão responsável
e projetos), organizando-se de forma hierarquizada
pela execução dessas atividades.
o sistema de saúde, definindo-se objetivos e metas,
recursos, prazos e responsáveis pela execução.
50
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
O Plano de Saúde (que deve ser elaborado anualmente) deve ser entendido como o
resultado de um “Planejamento Estratégico” para a Operacionalização do Sistema de Saú-
de. É estratégico porque envolve o conhecimento da realidade (demográfica, epidemiológica
e da rede de serviços de saúde) para a qual se está planejando, a definição das priori-
dades, objetivos, metas, recursos necessários e, principalmente, a pactuação entre todos
os atores sociais envolvidos, tais como o conjunto do governo, trabalhadores, usuários e
prestadores de serviços de saúde, os gestores das outras esferas de governo, especialmente
os gestores municipais, o Ministério Público e o Poder Legislativo.
3 - Constituição da República Federativa do Brasil, Art. 37, incisos I, II e VI, Art. 39, § 2º; Art. 41, Art. 200, inciso III;
- Lei Federal nº 8.080 (Lei Orgânica da Saúde), Art. 15, inciso IX, Art. 27, inciso IV;
- Lei Federal nº 8.142, Art. 4º, inciso VI;
- Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde, Princípios e Diretrizes para uma Norma Operacional Básica
de Recursos Humanos para o SUS, 2ª edição, Brasília, DF, 2002.
51
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4 FERREIRA, S.M.G., Sistemas de Informações em Saúde, Gestão de Saúde: curso de aperfeiçoamento para
dirigentes municipais de saúde: programa de educação à distância. Rio de Janeiro, Brasília: Editora FIOCRUZ,
UnB, 1998. 3v.
5 - Lei Federal nº 8.080 (Lei Orgânica da Saúde), Art. 33, § 4º;
- Lei Federal nº 8.142, Art. 4º, Inciso IV;
- Ministério da Saúde - Plano de Saúde e Relatório de Gestão, Brasília - 11/1997;
- NOB/SUS 01/96 - DOU 6/11/96.
52
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
“As ações e serviços de saúde são de relevância pública, cabendo ao Poder Público
dispor sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita
diretamente ou através de terceiros, por pessoa física ou jurídica de direito privado.” 6
A regulação desses serviços é feita através dos seguintes mecanismos:
• em relação à rede suplementar (não contratada pelo SUS), a regulação é feita espe-
cialmente pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelos componentes estaduais de Vigilância Sanitária, com
base em Código de Saúde ou Código Sanitário, legislação específica, normas infralegais
e mecanismos de controle social;
6 Constituição da República Federativa do Brasil, Art. 197 e 199, § 1º; Lei Federal, nº 8.080 (Lei Orgânica da Saúde),
Art. 18, inciso I e X;
7 No momento atual de implementação do SUS (transição), existem algumas contradições acerca da competência
das três esferas de governo (gestão), em relação à gestão do sistema municipal de saúde e à regulação dos
prestadores de serviços, que podem significar resquícios de modelos centralizadores anteriores ao SUS, ainda
não superados. De acordo com a legislação em vigor, compete aos municípios o estabelecimento de contratos e
convênios com os prestadores de serviços de saúde, além do seu controle, avaliação e auditoria. No entanto, a
Norma Operacional Básica do SUS/96 confere ao município habilitado na condição de Gestão Plena da Atenção
Básica de Saúde, a responsabilidade de gerir apenas este tipo de atenção. Os prestadores de serviços de saúde
especializados e hospitalares são pagos diretamente pelos estados (conforme habilitação) ou pela União. Na
prática, o que ocorre é que os gestores municipais são, de fato, os gestores da atenção à saúde nos municípios,
mas não têm, ainda, o acesso aos recursos financeiros integrais, o que inviabiliza a aplicação adequada dos
mesmos, dificultando a organização da atenção integral e o estabelecimento dos respectivos contratos e
convênios, como instrumentos de gestão local.
53
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
54
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
11 - NOB/SUS 01/93
12 - Lei Federal nº 8.142, Art. 1º. Incisos I e II;
- Resolução nº 33, de 23/12/92, do Conselho Nacional de Saúde;
- Resolução nº 52, de 06/05/93, do Conselho Nacional de Saúde.
55
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
13 - Lei Federal nº 8.080 (Lei Orgânica da Saúde), Art. 18, inciso X e Art. 26, § 1º, 2º e 4º.
14 - Lei Federal nº 8.142, de 28/12/90, Art. 1º, incisos I e II e § 1º a 5º.
15 - Lei Federal nº 8.689, Art. 12.
16 - Lei Federal nº 8.625, de 12/02/93.
56
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
57
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
É importante ressaltar que todos os avanços asse- Por “gestão do Modelo Assistencial”, en-
tende-se a forma escolhida por um gestor
gurados na Constituição Brasileira de 1988 e nas leis para organizar os serviços de saúde em cada
de 1990 para o Sistema de Saúde do país, em última comunidade.
Um Modelo Assistencial baseia-se em uma
instância, objetivam a mudança da qualidade de vida “escolha” de política de saúde, em uma meto-
dologia para a sua gestão, em uma teoria
e a garantia de acesso da população aos serviços e
que explica como se dá o processo saúde/
ações de saúde. doença num determinado lugar, em uma
proposta prática de ação para a solução
Por isto, o modelo assistencial implantado em um dos problemas e em um método (processo
de trabalho) de intervenção.
Sistema de Saúde deve assegurar aos seus usuários o Estas opções são técnico-políticas, já que
acesso universal, equânime e integral, organizado de implicam determinar os rumos que a saúde
deve tomar, as estratégias de ação que de-
forma hierarquizada e descentralizada (gestão e aten- vem ser desenvolvidas, as prioridades que
deverão ser perseguidas, entre outros. Por
ção à saúde), a todas as ações e serviços de promo-
isto, o modelo assistencial não pode ser con-
ção, proteção e recuperação, com controle social efe- cebido como algo tecnocrático, afastado da
realidade, dos profissionais de saúde e da
tivo do sistema. população.
18 - Lei Federal 8.080 (Lei Orgânica da Saúde), Art. 18, inciso X e Art. 26, § 1º, 2º e 4º;
- Instrução Normativa nº 02, de 19/04/93;
- Portaria MS/GM nº 1.695, de 23/09/94;
- Portaria MS/GM nº 1286, de 26/10/93;
- Lei Federal nº 8.666, de 21/06/93;
- Lei Federal nº 8.883, de 08/06/94;
- Lei Federal nº 9.648, de 27/05/98.
58
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
59
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
60
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
e das doenças produzidas pelo ambiente de modo geral, inclusive pelo ambiente de tra-
balho; as ações de bloqueio, quimioprofilaxia entre outras; o estudo e a divulgação da
cobertura e resultados das ações e serviços de saúde de programas especiais, analisan-
do-se a necessidade de se implantar novos programas, incluindo as doenças de testagem
obrigatória em doadores de sangue; o estudo e a análise permanente da morbidade
ambulatorial e hospitalar, verificando sempre o local de ocorrência, apontando para a
revisão das prioridades de oferta de ações e serviços de saúde; a implantação em todos
os estados e municípios dos sistemas de informações epidemiológicas básicos,
prioritariamente os de registro de nascidos vivos, mortalidade, morbidade e de vigilân-
cia nutricional e alimentar;
• o acesso dos usuários às ações e serviços de saúde. Os usuários devem ser atendidos
nas unidades de saúde ou em seus domicílios, conforme suas necessidades;
61
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
lidade e solidariedade. O usuário deve ser informado sobre sua doença (seu problema)
e participar da sua cura;
62
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
O Fundo de Saúde:
As informações solicitadas têm por objetivo
• Lei de criação e funcionamento do respectivo Fun- verificar a existência deste instrumento na
esfera de governo em análise, os valores orça-
do de Saúde;
dos para a saúde e os efetivamente gastos,
em que medida esses recursos estão sendo
• Orçamento para o setor saúde na respectiva esfe-
geridos pelo respectivo gestor do SUS, os
ra de gestão, no último exercício e sua com- mecanismos de repasses desses recursos ao
respectivo fundo, a forma de aplicação dos
patibilidade com os mandamentos constitucionais; mesmos (quais as prioridades em valores
gastos por projetos, por atividades meio,
• Mecanismos de recebimento dos recursos de ou- ações intermediárias e finais, em ações bási-
tras esferas de gestão; cas, especializadas e hospitalares, em recursos
humanos, em serviços públicos e privados,
• Recursos recebidos da União pelo Fundo de Saú- dentro ou fora do respectivo território), o
sistema de compras de bens e serviços ado-
de, no último exercício (SIA, SIH, Convênios, en- tado, sistema contábil e os mecanismos e
instrumentos de prestação de contas utilizados.
tre outros, acordados em PPI).
63
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
• Recursos próprios, repassados ao Fundo Saúde ou gastos com saúde, no último exer-
cício, incluindo pessoal para a saúde, reforma e construção de unidades ou serviços
de saúde e equipamentos adquiridos;
• Despesas por Origem dos Recursos, no último exercício, conforme modelo apresen-
tado no quadro a seguir
Quadro 9
Despesas realizadas por origem dos recursos
Despesas Pessoal Material de Medicamentos Serviços Equipamentos Obras Aquisição de Total
Origem Consumo Terceiros Imóveis
Federal
Estadual
Municipal
Consórcio
Outras
TOTAL
64
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
• Programa de desenvolvimento dos recursos humanos, nos últimos dois anos e atual;
65
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
66
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
• Plano de trabalho;
67
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
68
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
• Resolubilidade;
• Ciência e Tecnologia.
69
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Intergestores:
• Formalização e funcionamento das comissões A análise deste item implica verificar a exis-
tência, o funcionamento e a legitimidade en-
intergestores (regionais ou estadual); tre os parceiros, desses espaços de negocia-
ções intergestores, bem como o cumprimen-
• Regularidade das reuniões; to e a implementação das decisões tomadas.
Esta análise permite, ainda, verificar a con-
• Ata das reuniões dos últimos 6 (seis) meses; sonância dos pactos intergestores sobre os
modelos de gestão e assistencial.
• Resoluções e mecanismos de divulgação das mes-
mas;
Com os trabalhadores:
Esta informação consiste em verificar a
• Existência de Mesa de Negociação; existência e avaliar o funcionamento e a
legitimidade entre os parceiros desses espa-
• Colegiados; ços de negociações, bem como verificar o
cumprimento e a implementação dos acordos
• Outros mecanismos de relação entre Gestor e realizados.
Trabalhadores;
70
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
• Relatórios das Conferências de Saúde A análise deste item tem o objetivo de verificar a reali-
zação de conferências de saúde no âmbito do sistema de
realizadas no âmbito do respectivo sis- saúde em análise; a forma de convocação das reuniões e
tema de saúde; de apresentação e discussão de documentos e projetos
para a apreciação do conselho de saúde, o cumprimento
e a implementação das decisões tomadas, a avaliação do
• Atas das reuniões do Conselho de Saúde;
sistema de saúde pelos conselheiros, bem como a legi-
timidade desses espaços de negociação, avaliada por mem-
• Entrevistas com conselheiros de saúde
bros do respectivo conselho.
(pelo menos um, de cada segmento).
• Outros.
71
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Com esta finalidade, buscam-se informações sobre as redes de serviços e dos sistemas
de referência. No caso do estudo das internações hospitalares, podem ser obtidas pelo
Sistema de Informações Hospitalares — SIH do SUS; no caso de referências ambulatoriais
pode-se recorrer a informações próprias do sistema em estudo. É importante lembrar,
ainda, que novas estratégias de vinculação dos usuários aos serviços vêm sendo
implementadas, tais como o Programa de Saúde da Família — PSF, o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde — Pacs, o Cartão SUS e os Modelos Assistenciais com Estratégias
de Acolhimento, que são algumas alternativas de adscrição da população aos serviços e
unidades de saúde.
• Coeficientes técnicos.
72
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 10
Sistemas de Informações Nacionais
Um modelo é um esquema teórico de uma realida- A forma como são organizadas e combinadas,
numa determinada sociedade, as diversas
de ou de um sistema, que se elabora para facilitar ações de intervenção no processo saúde-doen-
sua compreensão e o estudo do seu comportamento, ça chama-se modelo assistencial ou modelo
de atenção à saúde.
conforme já descrito no capítulo anterior. Dito de outro modo, pode-se conceituar o
modelo de atenção à saúde como a forma de
No setor saúde, os mecanismos de satisfação das organização e articulação entre os diversos
recursos físicos, tecnológicos e humanos dis-
necessidades de saúde têm experimentado um contí- poníveis, objetivando enfrentar e resolver
nuo aperfeiçoamento no tempo, até chegar na atuali- os problemas de saúde vigentes numa coleti-
vidade.
dade à constituição de organizações complexas, que
73
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
74
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
75
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 11
Unidades ambulatoriais e hospitalares cadastradas no SUS/Goiás por tipo de gestão — 1998.
76
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 12
Serviços de saúde cadastrados no SUS/Goiás
por macrorregião de saúde — 1998.
Quadro 13
Recursos ambulatoriais e leitos hospitalares por macrorregião de Saúde no SUS/Goiás - 1998
77
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 2
Unidades ambulatoriais e leitos hospitalares cadastrados no SUS/Goiás
segundo a natureza jurídica dos prestadores - 1998
Natureza Unidades Ambulatoriais Leitos Hospitalares
Nº % Nº %
Pública Municipal 1.109 20,8 3.509 15,7
Pública Estadual 71 1,33 1.116 5,0
Pública Federal 2 0,03 0 0
Universitária 13 0,24 292 1,3
Filantrópica 86 1,61 3.286 14,7
Privada 4.049 76,0 14.086 63,2
Total 5.330 100 22.289 100
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás — MS/Opas/Nescon-UFMG, Março de 1999.
78
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 14
Serviços ambulatoriais cadastrados no SUS/Goiás por nível de atenção - 1998
Estrada de Sudoeste M. Grosso
Nível do Serviço Central Nordeste Norte Sul Total
Ferro Goiano
Unidades de Saúde de Atendimento Básico e Especializado
Atendimento Básico 3.013 131 257 143 135 112 224 4.015
Atendimento Especialidade 132 5 10 4 6 6 8 171
SADT 307 1 39 24 9 14 17 411
Ambulatório Hospital 172 20 56 27 18 38 58 389
Atend. Urgência/Emergência 21 3 15 17 8 10 3 77
Unidades de Saúde de Média e Alta Complexidade
Serviço Hemodinâmica 17 0 0 0 0 0 0 17
Medicina Nuclear 16 0 0 0 1 0 0 17
Ultra-sonografia 80 0 3 6 3 8 0 100
Tomografia 27 0 2 2 1 0 0 32
Unidades de Saúde de Hemoterapia, Terapia Renal Substitutiva e Oncologia
Hemoterapia 29 0 3 8 3 2 0 45
Terapia Renal Substitutiva 31 0 0 2 1 1 0 35
Quimioterapia 17 0 0 0 1 0 0 18
Radioterapia 3 0 0 0 0 0 0 3
Total 3.865 160 385 233 186 191 310 5.330
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás – MS/Opas/Nescon-UFMG, Março de 1999.
Para o pessoal que cumpre funções assistenciais deve-se descrever a sua composição.
79
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 15
Composição de recursos humanos e disponibilidade
de horas semanais por região de saúde.
Tipo de Recursos Humano Região A* Região B* Região C*
Médico - Clínica Geral 100 80 200
Médico - Pediatria 80 100 150
Médico - Gineco-Obstetrícia 200 120 150
Médico - Plantonista 150 100 120
Odontólogo 80 50 70
Enfermeiro 120 120 80
Farmacêutico 40 40 40
Agentes Comunitários de Saúde 200 160 200
Técnico Higiene Dental 80 40 40
Técnico Enfermagem 160 200 80
Técnico Radiologia Nível Médio 20 40 12
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de
Análises Funcionais das Redes de Serviços de Saúde – Opas/OMS, Março 1998.
*Horas semanais
Quadro 16
Composição de recursos humanos e disponibilidade
de horas semanais na Região A por tipo de serviço
Tipo de Recursos Humano Serviço de Serviço à Atendimento
Urgência* criança Pré-Natal
Médico - Pediatria 0 80 0
Médico - Gineco-Obstetrícia 0 0 200
Médico - Plantonista 150 0 0
Enfermeiros 40 40 40
Técnicos Enfermagem 80 40 40
Agentes Comunitários de Saúde 0 80 120
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de
Análises Funcionais das Redes de Serviços de Saúde – Opas/OMS, Março 1998.
*Horas semanais
80
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
A diferença entre ambos os tipos de ações é im- Ações Finais - resultantes do processo produ-
tivo nos serviços de saúde: consultas do nível
portante porque são tratadas de maneiras diferen- básico, especializadas e de urgência; saídas
tes na etapa de estimativa da demanda. Assim sen- hospitalares (internações, intervenções
cirúrgicas).
do, a demanda, em primeira instância, é estabelecida Ações Intermediárias - procedimentos que
para as ações finais, as quais servem de referência fazem parte do processo produtivo e que
atuam como insumo para a produção da ação
para a projeção das ações intermediárias (calculadas final: exames de radiodiagnóstico, os proce-
dimentos de patologia clínica e outros pro-
sobre percentuais das consultas). cedimentos diagnósticos ou terapêuticos
(laparoscopias, laserterapias, etc.).
Para a análise das ações finais recomenda-se uti- Incorporam-se também, dentro do elenco de
lizar uma série histórica de 4 (quatro) anos, com a ações intermediárias a produção das unida-
des de apoio geral, como são a lavanderia, a
finalidade de determinar o comportamento no tempo unidade de alimentação e dietética, de este-
rilização e outros.
e a sazonalidade da produção, desagregando pelas
diferentes ações produzidas na rede assistencial e con-
templando a área de abrangência. No caso das ações intermediárias, estas devem ser
diferenciadas por tipo e de acordo com a estrutura organizacional do sistema em estudo,
num horizonte mínimo de 1 (um) ano. Em uma fase posterior, as ações finais são relacio-
nadas com a população da área de abrangência e de influência, construindo-se as taxas
de utilização por habitante, a serem utilizadas na estimativa da demanda.
20 Conjunto de atividades, ações e procedimentos de apoio diagnóstico e terapêutico realizadas pelos estabeleci-
mentos sanitários.
81
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 17
Quadro-resumo da produção de Ações Finais e Intermediárias — Ambulatoriais —
Série histórica - SUS/Goiás, 1996 a 1999.
ITEM PROGRAMAÇÃO 1996 1997 1998 Estimativa 1999
Ações Finais – Básicas
A.V.E.I.A.N.M. – PAB 15.314.682 17.059.381 17.238.953 20.085.516
Consulta Básica 6.814 12.292 5.969.194 6.476.456
Procedimentos Médico – Básico 1.838 7.306 100.309 120.500
Atendimento Odontológico Básico 2.112.981 2.067.727 2.374.941 2.544.734
Ações Finais Especializadas
A.V.E.I.A.N.M. - Não Básico 3.511 2.753 60.640 190.120
Consulta Especializada 6.622.196 6.535.613 2.580.936 3.116.658
Procedimento Médico Não Básico 557.319 535.667 430.916 458.374
Procedimento Odontológico - Não Básico 130.254 148.152 84.580 91.632
Fisioterapia 124.293 134.903 134.318 152.494
Outros Terapias Especializadas 525.306 512.967 524.833 518.666
Ações Finais – Alta Complexidade
Terapia Renal Substitutiva 73.439 80.357 90.868 98.350
Radioterapia 179.361 204.846 190.924 136.502
Quimioterapia 15.666 16.670 18.134 14.742
Ações Intermediárias
Patologia Clínica 3.880.920 4.023.696 4.204.775 4.305.134
Radiodiagnóstico 563.709 555.223 585.314 645.202
Ultra-sonografia 72.050 74.910 70.018 74.878
Outros Exames Imagenologia 9.904 13.119 19.944 22.542
Medicina Nuclear 17.769 21.118 19.789 21.832
Exames Hemodinâmicos 1.752 1.897 1.497 1.998
Outros Exames Especializados 373.313 348.405 507.593 402.586
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás - MS/Opas/Nescon-UFMG, Março de 1999.
Quadro 18
Quadro-resumo da produção anual de Ações Finais — Internações Série histórica
por Macrorregião — SUS/Goiás, 1996 a 1999.
Macrorregião 1996 1997 1998 Estimativa 1999
Central 198.800 197.263 203.016 215.408
Nordeste 17.854 17.761 18.399 21.140
Norte 37.895 34.511 34.831 39.554
Sul 17.005 17.267 19.250 21.156
Estrada de Ferro 9.838 10.003 10.461 10.540
Sudoeste 26.978 27.319 28.102 27.086
Mato Grosso Goiano 30.383 29.014 30.433 35.044
Total 338.753 333.138 344.492 369.928
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás - MS/Opas/Nescon-UFMG, Março de 1999
82
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
No quadro 17, observa-se que a produção das ações finais e intermediárias ambulatoriais
apresenta flutuações, que devem ser objeto de análise para estabelecer as possíveis
causas das variações. Estas podem estar vinculadas a mudanças na disponibilidade de
recursos humanos, insumos ou a modificações da área de influência.
Quadro 19
Série histórica — Produção anual de internações
no SUS/Goiás por especialidade 1996 – 1998
83
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 3
Produção ambulatorial do SUS/Goiás por
natureza jurídica dos prestadores de serviços, 1996-1999.
NATUREZA 1996 % 1997 % 1998 % Estimativa 1999 %
Públicos Municipais 16.497.599 52 21.020.714 61 23.809.198 69 29.659.606 74
Contratados* 11.645.663 36,5 9.210.061 27,5 7.110.203 21 6.369.800 16
Públicos Estaduais 2.649.837 8 2.389.808 8 2.002.031 6 1.866.602 5
Universitários 785.884 3 940.538 3 1.081.202 3 1.534.780 4
Públicos Federais 158.197 0,5 30.264 0,5 291.060 0,85 344.796 0,87
TOTAL 31.737.180 100 33.591.385 100 34.293.694 100 39.775.584 100
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás – MS/Opas/Nescon-UFMG - Março de 1999.
*Privados com fins lucrativos e filantrópicos
Tabela 4
Produção hospitalar do SUS/Goiás por natureza jurídica dos prestadores de serviços, 1996-1998.
NATUREZA 1996 % 1997 % 1998 % Estimativa 1999 %
Público Municipal 44.299 13 51.992 16 66.133 19 76.750 21
Público Estadual 13.567 4 11.902 4 20.728 6 25.582 7
Contratados* 272.061 80 258.470 77 246.996 72 257.702 70
Universitário 9.543 3 10.774 3 10.905 3 9.894 3
TOTAL 339.470 100 333.138 100 344.762 100 369.928 100
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás – MS/Opas/Nescon-UFMG - Março de 1999.
*Privados com fins lucrativos e filantrópicos
Como pode ser verificado nos exemplos, as informações comparadas ao longo dos
anos e considerando as mudanças decorrentes do processo de descentralização em curso,
as ações ambulatoriais executadas pelos serviços públicos municipais têm incremento
crescente nos anos analisados, com percentuais significativos na execução das ações e
redução na rede contratada. No que se refere às internações hospitalares, a rede contratada
responde pela sua maioria, apesar de decréscimos gradativos no período observado.
Tabela 5
Recursos financeiros gastos na assistência ambulatorial no SUS/Goiás,
por natureza jurídica dos prestadores de serviços — Em R$1,00 — de 1996 a 1999.
NATUREZA 1996 % 1997 % 1998 % Estimativa 1999 %
Público Municipal 22.558.248 25 28.614.447 31 36.252.246 34 44.553.521 35
Público Estadual 5.067.037 6 5.069.662 6 7.609.890 7 8.385.736 7
Contratados* 56.602.888 64 53.418.706 58 55.496.367 52 61.276.929 49
Universitário 3.516.319 4 4.241.415 5 7.499.133 7 11.483.568 9
Públicos Federais 907.955 1 165.883 0,2 386.909 0,2 545.990 0,2
TOTAL 88.652.447 100 91.510.112 100 107.244.545 100 126.245.745 100
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás – MS/Opas/Nescon-UFMG - Março de 1999.
*Privados com fins lucrativos e filantrópicos
84
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Tabela 6
Recursos financeiros gastos na assistência hospitalar no SUS/Goiás,
por natureza jurídica dos prestadores — Em R$1,00 — 1996 a 1999.
NATUREZA 1996 % 1997 % 1998 % Estimativa 1999 %
Público Municipal 7.282.350 8 8.631.203 9 12.607.185 11 15.092.896 12
Público Estadual 1.964.535 2 2.011.998 2 5.618.012 5 7.983.270 6
Contratados* 81.365.472 86 79.136.269 83 87.809.645 78 94.331.713 76
Universitário 4.205.624 4 5.175.347 6 6.812.935 6 6.124.394 5
TOTAL 94.817..981 100 94.954.817 100 112.847.777 123.532.273 100
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás – MS/Opas/Nescon-UFMG - Março de 1999.
*Privados com fins lucrativos e filantrópicos
85
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
86
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Figura 2
Sistemas de referência e contra-referência da Rede
de atenção à saúde
Para verificar a coerência das diretrizes do Plano de Saúde do sistema em estudo, das
ações implementadas, da organização da rede de atenção à saúde, da garantia do acesso
da população aos serviços — integralidade da atenção —e do cumprimento da pactuação
realizada entre os gestores, as informações devem ser confrontadas com o estabelecido
formalmente na Programação Pactuada e Integrada - PPI.
Quadro 20
Comparativo entre as referências programadas e os
pacientes atendidos por tipo de serviço.
Procedência Serviço de Urgências Ambulatório de Hospitalar
Especialidades
Programa- Atendido Programa- Atendido Programa- Atendido
Região A do
1.000 1.100 do
2.000 1.800 do 400 380
Região B 30 80 110 150 0 100
Região C 50 150 0 80 40 60
Total 1.080 1.330 2.110 2.030 440 520
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de
Serviços de Saúde – Opas/OMS, Março 1998.
87
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Nº consultas realizadas
Nº consultas realizadas
A análise quantitativa deve ser realizada para as ações finais e eventualmente para
algumas ações intermediárias que se considerem relevantes, como os exames radiológicos
e exames de laboratório.
Estas análises servirão de base para a fase de estimativa da demanda potencial que
se desenvolve no capítulo 7. A proporção de ações não resolvidas em cada nível de atenção
deve ser colocada como demanda no nível de complexidade superior.
88
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
21 Entende-se por produção, a relação entre a quantidade de um bem ou de um serviço e a quantidade de fatores
que têm servido para produzi-lo.
89
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Estas informações servirão de base para o cálculo da otimização da oferta (Capítulo 6).
90
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 21
Coeficiente de atendimento por tipo de serviço na Região A
Tipos de Servico Médico horas/dia Nº Atendimento/ Coeficiente de
dia Atendimento
Serviço de Urgência 30 160 5,3
Atendimento à Criança 16 52 3,2
Atendimento Pré-Natal 40 120 3
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços
de Saúde – Opas/OMS, Março 1998.
Fórmula de cálculo:
Horas Médico/dia
91
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Fórmula de Cálculo:
Tabela 7
Indicadores de utilização do recurso leitopor especialidades no SUS/Goiás, 1998.
Especialidade Nº de Leitos Média de Permanência (dias) Total Saídas Hospitalares Taxa de Ocupação % TOH
Clínica Médica 7.296 5,0 149.712 28,0
Clínica Cirúrgica 4.316 5,0 59.040 18,7
Clínica Pediátrica 3.144 5,8 24.912 12,6
Clínica Obstétrica 4.064 2,3 73.356 11,4
Clínica Psiquiátrica 2.470 48,1 26.808 140,0
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás — MS/Opas/Nescon-UFMG, Março de 1999.
Para sua estimativa, a definição da capacidade operacional dos consultórios deve ser
calculada de acordo com os parâmetros previamente estabelecidos para o sistema de
92
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 23
Coeficientes de utilização de consultórios no SUS/Goiás Período: 1998
Macrorregião Nº de Consultórios* Nº Atendimento Coeficiente de
Ambulatoriais Utilização Consultóri-
Central 4.548 9.324.727 1,0os
Nordeste 311 3.739.878 6,2
Norte 632 3.755.496 3,0
Sul 434 2.427.999 2,8
Estrada de Ferro 332 854.568 1,3
Sudoeste 379 2.046.899 2,7
Mato Grosso Goiano 625 2.665.235 2,2
Total 7.261 24.814.802 1,7
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás — MS/Opas/Nescon-UFMG - Março de
1999.
*Consultórios cadastrados no SUS/Goiás
Quadro 24
Coeficientes técnicos da unidade de Apoio Clínico
Terapêutico:
pavilhões cirúrgicos – Chile 1992
Tipo de Ação Recurso físico/pavilhão
Grande cirurgia 1,6 horas / intervenção
Urgência 1,6 horas / intervenção
Obstetrícia 1,8 horas / intervenção
Fonte: Metodologia Projetos Desenvolvimento Integrado de Serviços de Saúde, Pro-
jeto MINSAL – Banco Mundial, Chile 1992.
93
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
No caso das hospitalizações, a ação final a ser utilizada é o número de saídas hospi-
talares e, em alguns casos, os dias de ocupação dos leitos (leito-dia). Exemplo: número
de exames de laboratório por saída/internação; porções de alimento por dia de leito
ocupado; quilos de roupa por dia de leito ocupado; litros de esterilização por dia de leito
ocupado.
Este indicador relaciona a produção de ações finais com a população adscrita ao siste-
ma de saúde, informação que será levada em conta na análise da oferta.
São exemplos: egressos hospitalares por habitante; consultas por habitante; inter-
venções cirúrgicas por habitante; consultas de urgência por habitante; número de partos
por mulheres em idade fértil, etc. Estes parâmetros devem ser adaptados à realidade
local, uma vez que são variáveis em função das situações de saúde loco-regionais.
94
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Também devem ser considerados consensos clínicos existentes sobre uma determina-
da situação. Por exemplo: em um determinado sistema de saúde define-se, mediante
acordo entre os diversos atores, que a média de permanência para parto será superior ao
estabelecido no nível estadual ou nacional.
Quadro 26
Coeficientes de consultas médicas, atenção à urgência e a grupos específicos no SUS/Goiás, por macrorre-
gião - 1998
Região de Saúde Nº de consultas Nº Cons. urgência Nº Cons. mulher Nº Cons. pré-natal Nº Cons. criança
hab./ano hab./ano hab./ano gestante 0 a 14 anos
Central 1,8 0,4 0,51 1,4 0,7
Nordeste 1,2 0,2 0,1 1,3 0,3
Norte 2 0,2 0,3 1,7 0,4
Sul 2,9 0,5 0,6 2,6 1
Estrada de Ferro 2,1 0,3 0,2 1,4 0,8
Sudoeste 1,3 0,1 0,2 2,6 0,6
Mato Grosso Goiano 1,8 0,1 0,2 1,2 0,4
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás — MS/Opas/Nescon-UFMG - Março de 1999.
Quadro 27
Taxa de internação/1.000 habitantes por especialidade e
macrorregião no SUS/Goiás - 1998
Clínica Clínica Clínica
Macrorregião Clínica Médica*
Cirúrgica Obstétrica Psiquiátrica
Central 44,3 21,4 17,6 12,5
Nordeste 11,7 1,4 11,3 0
Norte 47,1 8,8 15,6 0
Sul 34,7 10,5 15,2 0,8
Estrada de Ferro 41,6 12,2 14,1 0
Sudoeste 34,7 8,3 16,3 3,7
Mato Grosso Goiano 50,7 5,6 13,5 0
Fonte: Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás — MS/Opas/Nescon-UFMG, Março de
1999.
*Inclui pediatria
95
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
5. AVALIAÇÃO DA REDE
Nesta fase do estudo, avalia-se o cumprimento dos requisitos básicos que um sistema
de saúde deve ter para promover a melhoria na situação de saúde da população.
qual podem ser medidos (com o auxílio de instrumen- Universalidade — o acesso às ações e ser-
tos e técnicas específicas) e comparados entre si viços de saúde deve ser garantido a todas as
pessoas.
fatos, situações, realidades, estratégias, procedi- Integralidade — significa considerar a pes-
soa como um todo, atendendo às suas neces-
mentos e serviços, de modo a, com base em escolha
sidades, incluindo as ações de promoção da
prévia de um dado enfoque, ser possível emitir um saúde, a prevenção de doenças, o tratamento
e a reabilitação. Ao mesmo tempo, pressupõe
juízo de valor que sirva para nortear determinada a articulação do setor saúde com outras polí-
tomada de decisão. ticas públicas, como forma de assegurar uma
atuação intersetorial, que tenha repercus-
Dentro da perspectiva política de mudança, tanto são na saúde e na qualidade de vida dos
indivíduos e da coletividades.
no setor saúde quanto na realidade de saúde da popu- Eqüidade — o objetivo da eqüidade é reduzir
as desigualdades. Como as pessoas não são
lação, a atividade de avaliação assume nova dimen-
iguais e têm necessidades diferentes, a eqüi-
são e importância. Deve constituir-se em um instru- dade significa tratar de modo diferente os
desiguais, investindo mais onde houver maior
mento fundamental para a gestão, ágil e facilitador necessidade. A rede de serviços deve estar
das mudanças pretendidas e que, se incorporada sis- atenta às reais necessidades da população a
ser atendida.
tematicamente aos serviços, revelará se as ações e
atividades desenvolvidas são adequadas e compatíveis com a realidade sanitária local e
qual o seu impacto sobre o nível de saúde da população.
96
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
No estudo de redes de serviços, são abordados os dois primeiros aspectos, por sua
maior relação com os objetivos orientados para a identificação das necessidades de
atenção não cobertas, sendo fundamental a análise de cobertura.
Quadro 28
Tipos básicos de indicadores
Tipos de análises que podem ser realizadas Tipos Básicos de Indicadores Categoria do Indicador
• Produção por tipo de procedimento (con- Eficiência
Avaliação da estrutura do Sistema de Saúde sultas, exames laboratoriais, etc.).
• Utilização da capacidade instalada (rede
Avaliação quanto à utilização dos recursos dis- física).
poníveis. • Utilização da capacidade operacional (recur-
sos humanos).
• Distribuição dos gastos por tipo de atenção
prestada (ambulatorial básica e especializada;
hospitalar e urgência; apoio diagnóstico e te-
rapêutico, etc.).
• Cobertura alcançada por meio das ações pro- Eficácia
Avaliação do processo de trabalho em saúde duzidas (consultas, vacinas, partos, etc.).
Avaliação dos resultados alcançados pelas ações • Concentração de procedimentos oferecidos
produzidas considerando: (por exemplo: três consultas de pré-natal por
• Quantos foram atingidos (cobertura); gestante).
• Quanto foi oferecido (concentração); • Resolubilidade da atenção (por exemplo: a
• Como foi respondido (resolubilidade). proporção de altas em relação às consultas
realizadas).
• Indicadores de mortalidade. Efetividade
Avaliação do impacto sobre a situação de saú- • Indicadores de morbidade.
de, considerando as respostas produzidas pelo • Indicadores demográficos.
Sistema de Saúde e também aquelas geradas • Indicadores sócio-econômicos.
por outros setores (educação, saneamento, • Indicadores ambientais (saneamento).
etc.).
Fonte: FERREIRA, S. M. G., Sistema de Informações em Saúde: curso de aperfeiçoamento para dirigentes municipais: programa de educação a distância,
Rio de Janeiro, Brasília, DF: Editora FIOCRUZ, ENSP/UNB, 1998.
97
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A cobertura também pode ser definida como o fator que articula a capacidade potencial
de produção de serviços de uma rede com a utilização efetiva dos serviços e ações
produzidos, isto é, neste conceito combinam-se dois aspectos: o acesso aos serviços e
a sua utilização.
5.1.1. Acessibilidade
98
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Em geral, considera-se que este aspecto tem maior influência na utilização de serviços
preventivos do que nos curativos e é ainda menor quando se percebe uma necessidade de
atenção de urgência.
99
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A avaliação destes aspectos pode ser feita por meio da aplicação de questionários
aos usuários potenciais do sistema de saúde em estudo.
• Outras.
100
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 29
Taxas de utilização de serviços ambulatoriais e hospitalares.
Taxa/Habitante Região 1 Região 2 Região 3 Sistema de Saúde
Consulta médica 1,8 1,2 2 1,8
Atendimento Urgência 0,4 0,2 0,2 0,3
Atendimento Pré-Natal 4,0 3,8 4,7 4,2
Saídas Clínica Médica 47,7 44,3 22,9 38,3
Saídas Obstétricas 17,6 15,8 18,4 17,2
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços
de Saúde – MS/Opas/OMS, Março 1999.
5.2. EFETIVIDADE
101
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A principal dificuldade nesta área é o tempo entre A efetividade refere-se ao grau de conse-
a implementação das intervenções e a obtenção de cução dos objetivos do sistema que, em últi-
ma instância, corresponde à melhoria da
resultados passíveis de serem medidos ao nível da situação de saúde da população, expressa
população, especialmente quando se utilizam indica- através de indicadores sanitários.
Provavelmente, será difícil medir o impacto que a rede tenha obtido ao longo do
tempo. No entanto, é fundamental colocar esta perspectiva para que seja incorporada
como um aspecto relevante nas linhas prioritárias de intervenção, de forma que permita
a avaliação futura do impacto das modificações incorporadas como conseqüência da aná-
lise da rede de serviços e do sistema de saúde.
6. ESTUDO DA OFERTA
Neste capítulo faz-se uma síntese das informações relativas à produção de serviços
da rede assistencial, para a qual são utilizados os dados obtidos na descrição da rede de
serviços de saúde (capítulo 4). É oportuno lembrar a importância da fidedignidade da
informação, devendo as bases de dados serem alimentadas corretamente.
102
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 30
Exemplo de tipos de ações a serem consideradas
na caracterização da oferta de ações básicas de saúde.
• AVEIANM – Ações de Vigilância Epidemiológica, Imunizações e Ações não Médicas;
• Consultas médicas – adultos, crianças, ginecológicas, pré-natal;
• Atendimentos de urgência;
• Vacinações;
• Exames de laboratório;
• Atividades Educativas;
• Visitas domiciliares;
• Dispensação de medicamentos;
• Outras.
103
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 31
Resumo da oferta de ações básicas por Região de Saúde.
Consultas de Consultas de
Região de Saúde Ações de AVEIANM Consultas Pré-Natal Consultas Urgência
Atenção à Criança Atenção à Mulher
Região A 1.950.000 30.000 300.000 50.000 60.000
Região B 1.500.000 27.000 320.000 160.000 120.000
Região C 1.400.000 16.250 300.000 64.000 100.000
Região D 1.000.000 18.000 200.000 90.000 45.000
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços de Saúde – MS/Opas/OMS, Março 1998.
Quadro 32
Resumo da oferta de internações por especialidades e por região de Saúde
Região de Saúde Clínica Médica* Clínica Cirúrgica Clínica Obstétrica
Região A 13.000 4.000 7.000
Região B 16.000 6.000 9.600
Região C 10.000 4.000 5.000
Região D 12.000 5.000 6.800
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços
de Saúde, MS/Opas/OMS, Março 1998.
* Inclui adulto e criança
Estes tipos de quadros-resumo devem ser elaborados para cada uma das ações finais,
de acordo com a definição empregada no capítulo 4 (Descrição da Rede de Serviços).
Esta fase se concentra na quantificação das ações de saúde oferecidas pelo sistema
em estudo, observando-se as suas áreas de abrangência e de influência, e calculando-se
as taxas de oferta de ações por habitante, além da identificação de fatores que possam
contribuir para dificultar o acesso dos usuários aos serviços de saúde (descritos no Capítulo
da Avaliação da Rede).
104
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 33
Exemplo de análise da oferta – taxas de atendimento/habitante segundo o tipo de atenção por Região de
Saúde.
Ação de Saúde Região A Região B Região C Região D Total
Fórmula de cálculo
produção
Taxa por usuário =
população da área de influência
Quadro 34
Taxas de internações/1.000 habitantes por clínica e Região de Saúde.
Região de Saúde Clínica Médica* Clínica Cirúrgica Clínica Obstétrica
Região A 43,3 13,3 23,3
Região B 53,3 20,0 32,0
Região C 40.0 16,0 20,0
Região D 48,8 20,0 27,2
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços
de Saúde – MS/Opas/OMS, Março 1998.
*Inclui adulto e criança
Fórmula de cálculo
Taxa de Internações =
Oferta internações X População área influência
1.000
105
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A análise das informações acima permite verificar que as taxas de atendimento por
habitante, em todos os tipos de atenção na Região D, encontram-se abaixo daquelas
observadas nas demais regiões e no sistema em estudo (total) e a taxa de internação/
1.000 habitantes situa-se na média das outras regiões. Nas Regiões A, B e C as taxas não
evidenciam grande variação, apontando peculiaridades da Região D que merecem estudo
mais aprofundado.
Estes quadros fornecem uma imagem global da produção de ações de saúde que a
rede de serviços está oferecendo à sua população, permitindo que se faça uma primeira
apreciação a respeito da suficiência da oferta, em comparação com taxas de utilização
de serviços previamente definidas, conhecidas, nacionais ou internacionais. A desagre-
gação das informações segundo as áreas de abrangência e influência do sistema em
estudo permite a visualização das diferenças e perfil dos atendimentos, cuja análise
deve ser feita à luz das características populacionais de cada área.
Naqueles casos em que exista capacidade instalada não utilizada (ociosidade de recur-
sos), a otimização significará aumentar o rendimento dos recursos disponíveis e, portanto,
uma maior capacidade de oferta teórica. No caso de superutilização de recursos, a
otimização consistirá em rebaixar o rendimento observado dos recursos.
106
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 35
Análise da oferta de ações básicas por Região de Saúde
Região de Saúde Região A Região B
Nº atendimentos realizados no ano 120.000 120.000
População da área de influência 60.000 60.000
Nº atendimentos/habitante 2 2
Nº de consultórios de atendimento 10 22
Nº atendimentos/hora consultório 6 2,8
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de
Serviços de Saúde – Opas/OMS, Março 1998.
Fórmula de cálculo
Nº de atendimentos/hora consultório =
107
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Otimização:
Oferta otimizada =
108
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
7. ESTIMATIVA DA DEMANDA
A estimativa da demanda pode ser realizada para Entende-se por demanda o número de ações
de saúde que socialmente seja desejável ofe-
o ano em que se está realizando o estudo (ano 0) e
recer, ou que se deveria esperar que fosse
para diferentes horizontes de tempo, que habitual- oferecido à população da área de influência
em um determinado período. Implica tradu-
mente correspondem a previsões de tempo de cinco zir e quantificar as necessidades de saúde
a dez anos e é calculada para as ações finais. A popula- de uma população em necessidades de ações
de saúde.
ção a utilizar essas ações de saúde corresponde àquela
projetada no capítulo 2 deste estudo.
A demanda de ações intermediárias pode ser estimada com base nos coeficientes
técnicos que relacionam as ações finais com as ações intermediárias (exemplo: exames
de laboratório por egresso), ou que relacionam ações intermediárias com a população
(exames radiológicos por habitante), dependendo do tipo de ações. Estes coeficientes
técnicos foram revisados no capítulo 4 (Descrição da Rede de Serviços).
a) Necessidades de saúde;
c) Utilização de serviços;
d) Razão recursos/população.
Com base nestes métodos são definidos os coeficientes técnicos que relacionam pro-
dução de ações finais com a população, obtendo-se desta forma ações que o sistema de
saúde em estudo deveria proporcionar em sua área de influência.
109
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
em solicitação de recursos físicos e humanos com base nos coeficientes técnicos calculados
na etapa de diagnóstico da rede de serviços.
Este método baseia-se na definição de objetivos dos serviços de saúde, que se traduzem
em metas quantificadas de produção de ações de saúde por habitante. Os objetivos são
definidos por especialistas e expressam-se através de normas de serviço ou padrões de
atenção. Sua aplicação mais freqüente é no nível de atenção ambulatorial, dada a sua
vinculação com programas de atenção, que habitualmente estabelecem metas de ações a
serem executadas principalmente neste nível.
Quadro 36
Parâmetros de atenção do Programa Materno-Infantil
Atividade Grupo Objetivo Parâmetro Objetivo (ação por habitante)
Controle de pré-natal Grávidas 8,64
Controle do puerpério Puérperas 1,00
Controle de RN Recém-nascidos 1,00
Controle ginecológico Mulheres acima 15 anos 0,15
Controle de Mulheres acima 15 anos 0,72
contracepção
Controle de nutrizes Puérperas 2,00
Morbidade obstétrica Grávidas 0,60
Consulta nutricional Puérperas 0,50
Fonte: Actualización Proyecto HSRP. Ministerio de Salud de Chile – Banco Mundial, 1994.
110
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Quadro 37
Exemplo de cálculo da demanda de controles de Pré-Natal
População projetada = 200.000 grávidas em um ano
Parâmetro-objetivo = 8,64 ações por grávida
Demanda de controle pré-natal = 200.000 x 8,64 = 1.728.000 ações
Este método diferencia-se dos anteriores por não utilizar normas para determinar a
demanda. Tem como referência, a utilização atual dos serviços pela população e se cons-
titui no método mais utilizado no Brasil. O processo de estimativa da demanda consiste
na projeção dos parâmetros de utilização observados na população usuária projetada
segundo a metodologia descrita no capítulo 2.
111
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 38
Taxa de atendimento de urgência, Pré-Natal, atenção à
Criança e à Mulher por Região de Saúde
Consultas de Consultas de Consultas de Consultas de
Região Urgência Atenção à Criança Atenção à Mulher
Pré-Natal
Região A 1,6 6,0 4,0 2,0
Região B 1,06 6,0 4,0 2,0
Região C 1,2 6,5 4,0 2,5
Região D 0,8 3,0 2,0 1,5
Total 1,2 5,6 3,4 2,0
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços
de Saúde, MS/Opas/OMS, Março 1998.
Baseado no quadro 37, pode-se definir que o ideal a alcançar pode corresponder a
distintas alternativas:
• A razão mais alta observada em qualquer das ações, isto é, em consultas de urgência
— 1,6 (Região A), em consultas pré-natal — 6,5 (Região C), em consultas infantis —
4,0 (Regiões A e B) e consultas atenção à mulher – 2,5 (Região C);
• A razão observada em um dos serviços de uma região, porque se avalia que o verifi-
cado corresponde somente à demanda da população de sua área de influência;
• A razão média da região, que corrigiria o efeito da atração que geram alguns estabe-
lecimentos sobre a população, pelo qual esta seria uma estimativa mais realista da
demanda.
112
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Qualquer que seja o método utilizado, deve guardar coerência com as características
demográficas e perfil epidemiológico (Capítulo 2). A seleção do método depende do obje-
tivo do estudo e de outras variáveis, tais como:
Como já foi mencionado, qualquer que seja o método a ser utilizado levará à seleção
de um coeficiente técnico de demanda, que será aplicado na projeção da população para
o horizonte do estudo, desagregado por nível de atenção e por área de abrangência e
influência. Este procedimento se desenvolve para as redes em seu conjunto e, posterior-
mente, para as unidades e serviços de saúde que a compõem, dependendo das alternativas
de solução que se definam para as necessidades de atenção.
113
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
a) Determinação dos coeficientes técnicos com base em alguns dos métodos mencio-
nados, desagregados por tipo de atenção final e segundo o nível.
Atenção Ambulatorial
• Controles de saúde por habitante
• Consultas ambulatoriais de atenção básica, por habitante
• Consultas ambulatoriais especializadas por habitante
Atenção Hospitalar
• Internações hospitalares por habitante
• Intervenções cirúrgicas por habitante
• Atenção ao parto por mulheres em idade fértil
Quadro 39
Cálculo da demanda de consultas de Pré-Natal por Região de Saúde
114
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Atenção Hospitalar
Quadro 40
Resumo de demanda de ações básicas de saúde por Região de Saúde
Consultas de Consultas de
Região de Saúde Ações de AVEIANM Consultas Pré-Natal Consultas Urgência
Atenção à Criança Atenção à Mulher
Região A 1.950.000 30.000 480.000 200.000 120.000
Região B 1.950.000 27.000 480.000 160.000 120.000
Região C 1.625.000 15.000 400.000 64.000 100.000
Região D 1.625.000 42.000 400.000 180.000 75.000
Total 7.150.000 114.000 1.760.000 604.000 415.000
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços de Saúde – MS/Opas/OMS, Março 1998.
115
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 41
Resumo de demanda de internações hospitalares por especialidade e Região de Saúde
Região Clínica Médica* Clínica Cirúrgica Clínica Obstétrica
Região A 15.000 6.000 9.000
Região B 15.000 6.000 9.000
Região C 12.500 5.000 7.500
Região D 12.500 5.000 7.500
Total 55.000 22.000 33.000
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços
de Saúde – MS/Opas/OMS, Março 1998.
8. NECESSIDADE DE AÇÕES
Quadro 42
Relação oferta X demanda de consultas ambulatoriais de
ações básicas de saúde, por Região de Saúde
Oferta de Taxa de Demanda de Necessidade de
Região Consultas Consultas Consultas
Consulta/hab.
Região A 678.000 2,26 789.000 111.000
Região B 789.000 2,63 789.000 -
Região C 340.000 1,36 657.500 317.500
Região D 332.500 1,33 657.500 324.500
Total 2.139.500 1,95 2.893.000 753.500
116
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Neste exemplo, a demanda foi estimada para o ano do estudo da seguinte forma:
a) Análise das taxas de consultas por habitante para cada uma das regiões que com-
põem o sistema de saúde em estudo.
Neste mesmo estudo, determinou-se que a necessidade poderia ser coberta com um
aumento da produção das unidades de saúde existentes, isto é, que a otimização da
oferta é suficiente para atender à demanda, não sendo necessária a instalação de novas
unidades de saúde, conforme demonstrado no Quadro 43.
Quadro 43
Otimização da oferta na atenção ambulatorial básica.
Oferta de Nº de Rendimento Rendimento Oferta Demanda
Região
Consultas Consultórios Consultório/Hora Otimizado Otimizado Anual
Região A 678.000 92 3,8 4,6 819.315 789.000
Região B 789.000 88 4,6 4,6 789.000 789.000
Região C 340.000 75 2,8 4,6 667.920 657.500
Região D 332.500 74 4,0 4,6 659.014 657.500
Total 2.139.500 329 3,3 4,6 2.935.249 2.893.000
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços de Saúde – MS/Opas/
OMS, Março 1998.
117
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 44
Exemplo de balanço oferta X demanda hospitalização clínica médica por Região de Saúde
População Área de Oferta de Interna- Taxa Internações/ Demanda Necessidade de
Região de Saúde Influência ções 1000/hab Internações
Região A 300.000 13.000 43,3 15.000 2.000
Região B 300.000 16.000 53,3 15.000 - 1000
Região C 250.000 10.000 40,0 12.500 2.500
Região D 250.000 12.000 48,8 12.500 500
Total 1.100.000 51.000 46,3 55.000 4.000
24 Cálculo para a estimativa: 365 dias de funcionamento; taxa de ocupação hospitalar de 85% e média de permanência
de 4,5 dias (o observado).
118
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Nos quadros seguintes, apresentam-se resumos de cálculo das necessidades para ações
intermediárias de patologia clínica e exames de radiologia, projetadas para o ano zero.
Para o cálculo da demanda de exames de patologia clínica, utilizou-se o coeficiente de
40% das consultas médicas e para exames radiológicos 8%.
Quadro 45
Demanda de exames de patologia clínica e exames radiológicos por Região de Saúde
Região de Saúde Demanda de Consultas Demanda de Demanda de
Patologia Clínica Radiologia
Região A 789.000 315.600 63.120
Região B 789.000 315.000 63.120
Região C 657.500 263.000 52.600
Região D 657.500 263.000 52.600
Total 2.893.000 1.156.600 231.440
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços
de Saúde – MS/Opas/OMS, Março 1998.
Quadro 46
Relação oferta X demanda de exames de patologia clínica por Região de Saúde
Região de Saúde Oferta Demanda Necessidade
Região A 450.000 315.600 134.400
Região B 300.000 315.000 (15.000)
Região C 200.000 263.000 (63.000)
Região D 150.000 263.000 113.000
Total 1.100.000 1.156.600 169.400
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços
de Saúde, MS/Opas/OMS, Março 1998.
Quadro 47
Relação oferta X demanda de exames radiológicos por Região de Saúde
Região de Saúde Oferta Demanda Necessidade
Região A 60.000 63.120 3.120
Região B 70.000 63.120 6.880
Região C 60.000 52.600 (7.400)
Região D 45.000 52.600 7.600
Total 235.000 231.440 10.200
Fonte: Adaptado de Delineamentos Metodológicos para a Realização de Análises Funcionais das Redes de Serviços
de Saúde – MS/Opas/OMS, Março 1998.
119
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Para cada uma das soluções propostas, devem ser estimados os custos de investimen-
tos e as operações para avaliar as suas possibilidades. A estimativa de custos representa
a conversão da necessidade de ações em necessidades de recursos físicos, materiais e
humanos, cuja última expressão corresponde ao montante de recursos financeiros neces-
sários, que devem ser negociados com o respectivo governo e previstos no plano pluria-
nual, na lei de diretrizes orçamentárias e no respectivo orçamento.
O resultado esperado é a definição das melhores alternativas para a solução dos proble-
mas existentes, o que implica decidir sobre o nível de atenção que será potencializado,
a modalidade de oferta de ações, o desenvolvimento dos sistemas municipais e de pólos
de atenção de acordo com a distribuição da população na área de abrangência do sistema
de saúde, interesses estratégicos ou outros.
120
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
121
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Estas derivam das situações nas quais a otimização da oferta pode cobrir parte da
necessidade das ações projetadas, além de melhorar a qualidade das ações.
122
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
Para cada alternativa deve-se realizar a estimativa dos distintos tipos de custos que
envolvem o projeto de investimento:
• Custos de investimento: são aqueles presentes desde o início da execução dos pro-
jetos, até deixá-los em condições de iniciar seu funcionamento. Compreendem os
custos de terreno, de construção, de equipamentos e investimentos complementares,
se forem procedentes.
• Custos de operação: referem-se àqueles gastos necessários para que o projeto funcione
e preste serviços de forma adequada. Dentro destes custos se encontram as remunera-
ções de pessoal, os medicamentos, os materiais e outros insumos, por exemplo,
materiais de escritório e limpeza, assim como os gastos gerais.
26 Inversión Pública Eficiente: Metodología de Preparación y Presentación de Proyetos en Salud. Chile: ODEPLAN,
1990.
123
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 48
Exemplo de seleção de alternativas
Para solucionar a necessidade de internações hospitalares numa determinada região, podem existir duas alternativas:
1) Ampliação de um hospital existente ou redefinição do sistema de referência para realizar as ações e os serviços
necessários à população da região;
2) Construção de um novo hospital.
A alternativa dois será possível, se no estudo de infra-estrutura for verificado que as condições do hospital permitem
uma reforma e sua localização for funcional à área de influência. Sendo assim, a avaliação das alternativas consistiria
na comparação dos custos de investimentos e operação das duas alternativas, escolhendo-se aquela de menor custo.
Para obter-se maior visibilidade para a análise, deverão ser definidas as linhas estraté-
gicas de ação, consolidadas em quadro-resumo, baseadas nos principais problemas de-
tectados e nas soluções propostas (após o estudo de alternativas), a partir do conteúdo
de cada tipo de estudo, como no exemplo a seguir, da “análise funcional da gestão do
sistema de saúde do estado de Goiás – Brasil”27 e deverão servir de base para a priorização
dos projetos, pela equipe de saúde, durante a elaboração do plano de saúde do respectivo do
sistema, assim como para sua análise e aprovação final pelo respectivo conselho de saúde.
27 Fonte: Rezende, C. A. P. et al, Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás, OPAS,
SES/GO, Ministério da Saúde, UFMG/NESCON, mar. 1999.
124
A. PROBLEMAS LOCALIZADOS E ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO, COM RELAÇÃO AO ESTUDO DEMOGRÁFICO
Linha estratégica: Realizar ação intersetorial do conjunto do Governo de Goiás, promovida pelo Gestor Estadual da Saúde visando a realização de investimentos para a melhoria
da infra estrutura, da qualidade de vida, do nível educacional, nutricional e novos estilos de vida saudáveis.
125
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
B. PROBLEMAS LOCALIZADOS E ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO, COM RELAÇÃO AO ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO
126
Linha estratégica: Promover um maior investimento na Atenção Básica de Saúde, priorizando a vigilância e intervenções nos fatores de risco, estabelecendo um novo processo
de trabalho e a implementação de Sistema de Controle e Avaliação de serviços, para a alcançar a diminuição da mortalidade e da morbidade por causas evitáveis.
- Afecções Originadas no Período Perinatal: 53,50% de Vigilância Sanitária, que inclua a análise do perfil dos serviços,
- Anomalias Congênitas: 13,70% dos casos registrados por tipo de unidade de saúde, por local e especialidade; central de
- Doenças Infecciosas e Parasitárias: 10,85% dos casos leitos e autorização de internações; com atividades de supervisão
1.7. Período de Ocorrência: e de auditoria integradas, publicizando os processos e resultados
- Perinatal: 49,37% dos casos registrados para as instâncias colegiadas e de controle social, objetivando a
- Neonatal: 12,84% dos casos registrados melhoria da qualidade dos serviços públicos e contratados. Isto
- Pós-Neonatal: 37,65% dos casos registrados poderá contribuir para esclarecer, também, as “causas mal definidas”
1.8. Mortalidade Materna: 63,23/100000 nascidos vivos e de “CID não preenchido” nos casos de internações hospitalares e
- Causas: Eclampsia, Infecções e Hemorragias – 75% dos casos atendimentos ambulatoriais.
registrados
2. Anos Potenciais de Vida Perdidos 2. Por causas:
2.1. Causas Externas: coeficiente de 26,4 do total de anos perdi-
dos de vida/1000 habitantes de 01 a 70 anos
2.2. Afecções Mal Definidas: coeficiente de 10,0 do total de anos
perdidos/1000 habitantes
2.3. Doenças do Aparelho Circulatório: com 9,5 do total de anos
perdidos
3. Indicadores de Morbidade 3.1. Morbidade Hospitalar Geral, causas:
- Doenças do Aparelho Respiratório: 20,67% dos casos
- Gravidez, Parto e Puerpério: 20,48% dos casos
- Transtornos Mentais e Comportamentais: 10,46% dos casos
registrados
3.2. Distribuição das internações por sexo: 38,75% (M) e 59,30% (F)
3.3. Principais Internações do Sexo Feminino:
- Gravidez, Parto e Puerpério: 39,75% dos casos.
- Doenças do Aparelho Respiratório: 12,98% dos casos.
- Doenças do Aparelho Circulatório: 10,36% dos casos
3.4. Morbidade Hospitalar por Gravidez, Parto e Puerpério:
- Partos: 51,80% das internações por esta causa
- Outras Complicações da Gravidez e do Parto: 43,17%
- Abortos: 5,02% das internações por esta causa.
3.5. Principais Internações do Sexo Masculino:
- Doenças do Aparelho Respiratório: 20,61% dos casos
- Transtornos Mentais e Comportamentais: 16,95% dos casos
- Doenças do Aparelho Circulatório: 16,50% dos casos
3.6. Morbidade Hospitalar de 01 a 09 anos:
- Doenças do Aparelho Respiratório: 47,58% dos casos.
- Algumas Doenças Infecciosas e Parasitárias: 14,55%
- Doenças do Aparelho Digestivo: 8,33% dos casos registrados.
3.7. Morbidade Hospitalar em Menores de 01 ano:
- Doenças do Aparelho Respiratório: 42% dos casos registrados
- Algumas Doenças Infecciosas e Parasitárias: 18,03%
- Algumas Afecções Originadas no Período Perinatal: 12,10%
4. Doenças Imunopreveníveis 4.1. Ocorrências de Tétano Neonatal e Obstétrico
4.2. Sarampo, Difteria e Coqueluche, são endêmicos no Estado
5. Cobertura Vacinal 5.1. Anti-Pólio: 91,57%
5.2. Anti-Sarampo: 84,68%
5.3. DPT: 88,88%
5.4. BCG: 104,37%
6.1 Hanseníase: 14,81 casos com registro ativo/10.000/hab (1997)
6. Ações Programáticas de Saúde 6.2 Tuberculose: Média de mais de 1000 registros de casos
novos/ano
127
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
6.3 Ausência da implementação de várias ações programáticas
128
de Saúde, em vários municípios do estado: Controle da Tuber-
culose, da Hanseníase, Saúde Mental, Saúde da Mulher, da Criança
e Adolescente, entre outros
7.Problemas Percebidos pela População 7.1 Inexistência de pesquisa junto à população sobre o seu estado
de saúde.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
C. PROBLEMAS LOCALIZADOS E ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO, RELACIONADOS COM A GESTÃO DO SISTEMA ESTADUAL DE SAÚDE
Linha estratégica: Modernizar a SES, com a criação e a implementação de todos os instrumentos de gestão; efetivação do relacionamento do Gestor Estadual com as instâncias
colegiadas; exercício da coordenação dos fluxos de informações e comunicações que dinamizem o funcionamento, a integração e articulação do Sistema Estadual de Saúde.
129
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
4. Implementar Projeto amplo de Formação e Capacitação de Recursos
130
Humanos.
2.3. Plano Estadual de Saúde 2.3.1 Não existe Plano Estadual de Saúde e sim um Plano Dire- 1. Elaborar o Plano Estadual de Saúde para a Gestão 1999 a 2002,
tor (anual) da Secretaria de Estado da Saúde. estabelecendo os objetivos e as metas físicas, orçamentárias, financei-
2.3.2. As metas são exclusivamente físicas, por série histórica ras e da atenção à saúde, propriamente dita, a serem atingidos,
e orçamentária. Não foram consideradas informações demo- considerando os indicadores epidemiológicos, a oferta, a demanda e as
gráficas, epidemiológicas e da organização da rede de servi- necessidades, por nível de complexidade, por DRSs e macrorregiões.
ços (oferta, demanda e necessidades, por área de abrangência 2. A PPI deve ser parte integrante do Plano Estadual de Saúde.
e níveis de complexidade) para a elaboração da Programação 3. O Plano deve explicitar a proposta de descentralização, incluindo
de Ações e Serviços de Saúde do estado. as ações ou serviços especializados a serem assumidos pelos municí-
2.3.3. O Plano Diretor não contém a Programação Estadual das pios ou consórcios intermunicipais de saúde.
Ações e Serviços de Saúde e nem os acordos firmados na PPI.
2.3.4. O Plano Diretor não contém as propostas de Ações e
Serviços que devem ser descentralizadas para as macrorregiões,
DRSs ou consórcios.
2.4. Fundo Estadual de Saúde 2.4.1. A SES/GO opera com dois sistemas financeiros: do Fundo 1. Tornar o Fundo Estadual de Saúde em instrumento único da ges-
e o da Secretaria. Portanto, não há um instrumento único da tão dos recursos para a saúde no Estado.
gestão dos recursos orçamentários, financeiros e contábeis do 2. Submeter a proposta orçamentária e de execução financeira de
Sistema Estadual de Saúde. gastos de custeio e investimentos à apreciação do Conselho Estadual
2.4.2. Apresenta organização complexa, dificultando a obten- de Saúde.
ção de informações acerca do orçamento, da real execução 3. Submeter a prestação de contas, incluindo os convênios e o resul-
orçamentária e principalmente, da realização financeira (re- tado dos investimentos, à avaliação do Conselho Estadual de Saúde,
ceitas e despesas) do Fundo. a cada três meses, conforme a Lei.
2.4.3. A forma de gestão dos convênios firmados entre a União 4. Redirecionar parte do montante de gastos com a Atenção Es-
e o Estado e deste com os municípios não estão explicitadas no pecializada e Hospitalar para a Atenção Básica de Saúde.
orçamento, na execução financeira e na contabilidade.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2.8. Comissão Intergestores Bipartite – CIB 2.8.1. O funcionamento da CIB tem se caracterizado por reu- 1. Efetivar a CIB como um espaço de negociação, resolução de confli-
niões com pautas elaboradas exclusivamente pela SES e comu- tos e pactuação de acordos entre os gestores e procurar o cumpri-
nicadas no dia da reunião. mento de suas resoluções, cabendo ao Gestor Estadual traçar estra-
2.8.2. Os critérios de distribuição dos recursos federais entre tégias em conjunto com o COSEMS/GO para cumprimento deste obje-
os municípios não foram pactuados. tivo.
2.8.3. Não existe representação das DRSs como membros efe- 2. Promover o funcionamento da Secretaria Executiva da CIB com a
tivos da CIB. participação de representantes do COSEMS, implementando medidas
2.8.4. As resoluções da CIB não são publicadas. que objetivem: definição de cronograma de reuniões ordinárias,
acordo prévio das pautas, efetivar a publicação das resoluções em
órgão oficial, bem como divulgar as atas destas reuniões.
3. Submeter as resoluções da CIB ao Conselho Estadual de Saúde para
deliberação.
2.9. Comissões Intergestores Bipartites Re- 2.9.1. Em fase de implantação e ainda não estão definidos os 1. Efetivar a implementação das CIB Regionais para que se constitu-
gionais – CIB/R critérios para a tomada de decisão. am como instâncias colegiadas atuantes, favorecendo os processos
2.9.2. Composta por membros das DRSs que não estão informa- de decisão sobre problemas locais no nível macrorregional.
dos sobre as decisões do nível central e da CIB.
131
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
2.10. Relatório de Gestão 2.10. Não foi apresentado à equipe deste estudo. 1. Adotar a prática de elaborar relatórios anuais da Gestão Estadual
132
do Sistema.
2.11. Conselho Estadual de Saúde 2.11. O funcionamento do CES tem se caracterizado por: 1.Apoiar a constituição do CES como órgão deliberativo das políticas
- ter a pauta de reuniões definida pela SES sem a antecedência de saúde do estado, inclusive em seus aspectos financeiros, sendo
necessária. fundamental que o Gestor Estadual promova cursos de capacitação
- deliberações não formalizadas ou divulgadas oficialmente. para os conselheiros.
- falta de capacitação e assessoria independente aos Conselhei- 2. Apoiar a definição pelo CES de assessoria aos conselheiros objeti-
ros. vando as condições efetivas de exercício do seu papel.
- os assuntos em geral são apresentados ao CES como “notícia” 3. Envidar esforços para o pleno funcionamento da Mesa Diretora
e não para discussão ou deliberações. do Conselho Estadual de Saúde, que deve adotar a prática de reu-
niões freqüentes, buscando a definição democrática da pauta a ser
tratada nas reuniões do CES, contemplando os interesses dos dife-
rentes atores que o compõem.
4. Formalizar a convocação das reuniões, bem como, as deliberações
do CES mediante a publicação em órgão oficial do estado.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
C. PROBLEMAS LOCALIZADOS E ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO, RELACIONADOS COM A GESTÃO DO SISTEMA ESTADUAL DE SAÚDE
Linha estratégica: Modernizar a SES, com a criação e a implementação de todos os instrumentos de gestão; efetivação do relacionamento do Gestor Estadual com as instâncias
colegiadas; exercício da coordenação dos fluxos de informações e comunicações que dinamizem o funcionamento, a integração e articulação do Sistema Estadual de Saúde.
1.3. Assistência de Média e Alta 1.3.1. A característica dos serviços de saúde em Goiás é de 1. Estabelecer em conjunto com os gestores municipais uma es-
Complexidade concentração na Macrorregião Central; a maioria dos presta- tratégia para descentralizar a oferta das ações, priorizando as
dores são de natureza jurídica privada; os recursos do TFD ações básicas e definindo pólos de atendimento de média e alta
encontram-se todos alocados em Goiânia; há ausência de Siste- complexidade, mediante a implantação de serviços próprios muni-
ma de Referência e Contra-Referência. cipais ou da contratação de serviços nos municípios de origem da
1.3.2. Incipiente instrumento de pactuação entre os gestores demanda.
em relação aos recursos e atendimentos da referência de ou- 2. Instituir os critérios, mecanismos, rotinas e fluxos de referência
tros estados, entre as regiões e macrorregiões. e contra-referência para acesso a estes serviços, organizando a
demanda expontânea. Devem ser asseguradas as condições de trans-
porte, alimentação e hospedagem aos pacientes e acompanhantes,
133
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
quando a referência estiver fora do município de origem, utilizando
134
os recursos do TFD, distribuindo estes recursos de acordo com a
necessidade dos municípios.
3. Pactuar com os municípios a responsabilidade pelos atendimentos
dos pacientes referenciados dentro do Estado e negociar os recur-
sos recebidos pela pactuação interestadual.
4.Estabelecer mecanismos de controle e avaliação dos serviços pres-
tados por prestadores de natureza jurídica privada (controle públi-
co efetivo).
2. Gestão das Ações de Vigilância 2.1. A Vigilância Epidemiológica no Organograma da SES apre- 1.Reestruturar de modo geral a Vigilância Epidemiológica na SES:
Epidemiológica senta diferentes concepções e modelo de organização o que rever a sua localização no organograma; descentralizar as ações;
dificulta uma ação integrada, o uso das informações e a comuni- redefinir as atribuições; definir a abrangência de ações; contratar
cação de resultados para a gestão do sistema e DRSs com rela- recursos humanos, inclusive para as DRSs; informatizar, entre ou-
ção as enfermidades transmissíveis e não transmissíveis. tros.
2.2. Faltam recursos humanos na SES, nas DRSs e nos municípios. 2.Atribuir à Vigilância Epidemiológica a responsabilidade de cons-
tituir-se como banco de informações da atenção à saúde no Estado
sem prejuízo da produção das informações pelos serviços e setores
de políticas específicas.
3.Subsidiar com informações demográficas e epidemiológicas a ela-
boração de projetos prioritários e do Plano Estadual de Saúde.
4.Utilizar o órgão de Comunicação Social para a Saúde como meio de
divulgação de informações relevantes.
3. Gestão das Ações Intermediárias 3. Concentração na Macrorregião Central. 1. Descentralizar a oferta destas ações para outras Macrorregiões
e DRSs (municípios), submetendo a sua utilização a mecanismos pú-
blicos de distribuição, de fluxos de referência e contra-referência,
controle e avaliação da oferta e da qualidade. Devem ser assegura-
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
135
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
E. PROBLEMAS LOCALIZADOS E ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO, RELACIONADOS COM A ORGANIZAÇÃO DA REDE DE SERVIÇOS
136
Linha estratégica: Fortalecer a capacidade dos gestores para regular os sistemas de contratação dos prestadores, implantando novas formas de controle, avaliação e auditoria
para os serviços contratados e favorecer a adoção de um novo modelo de saúde pactuado entre gestores e discutido nos conselhos de saúde, e um novo processo de trabalho
pactuado com os trabalhadores da saúde, orientado para as ações de vigilância e atenção básica e uso racional e otimizado da atenção especializada de média e alta complexidade.
137
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
- Clínica Médica: 28,0%.
138
- Clínica Cirúrgica: 18,7%.
- Clínica Pediátrica: 12,6%.
- Clínica Obstétrica: 11,4%.
- Clínica Psiquiátrica: 140,0% dos leitos.
8.Indicadores que relacionam Ações 8.1. As Ações de Vigilância Epidemiológica, Imunizações e Ações 1. Priorizar as ações básicas no Sistema Estadual de Saúde, estabe-
Ambulatoriais Intermediárias e Finais Não Médicas, estão abaixo dos parâmetros em todo o Estado. lecer programas para detecção e tratamento precoce de enfermi-
8.2. Os Procedimentos Dialíticos apresentam taxas acima do dades crônicas (tumores e neoplasias).
parâmetro nas Macrorregiões Central, Estrada de Ferro e 2. Redefinir os critérios de solicitação de ações intermediárias;
Sudoeste. Está abaixo na Macrorregião Sul e não existem nas estabelecer rotinas e fluxos pactuados entre os serviços de contro-
outras. A taxa global do Estado está abaixo do preconizado. le e avaliação dos municípios e do Estado, com os gestores dos
8.3. A Radioterapia existe somente na Macrorregião Central. respectivos sistemas de saúde e com os profissionais médicos das
8.4. A Quimioterapia existente na Macrorregião Central apre- diferentes especialidades, que atuam na rede, para reordenar e
senta taxas superiores às preconizadas. Na Macrorregião da controlar o uso e a distribuição destas ações; possivelmente, con-
Estrada de Ferro tem taxas abaixo do preconizado. tratar pessoal ao nível de coordenação estadual e nas DRSs, para a
8.5. As ações de reabilitação e recuperação são deficitárias em gestão destes processos.
todo o Estado. Se resumem às ações de fisioterapia, que apre-
sentam taxas abaixo do preconizado em todas as Macrorregi-
ões onde existem os serviços. É inexistente na Sudoeste e
Mato Grosso Goiano. Não existem ações universalizadas para
toda a população que necessita de equipamentos de órtese e
prótese ou de outras ações reabilitadoras.
8.6. Os recursos intermediários de Radiodiagnósticos estão
concentrados nas Macrorregiões Central e Sudoeste. A Macror-
região Nordeste apresenta taxas de 1,45% de exames das
consultas médicas para um parâmetro de 8%.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
139
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
com (0).
9.12. As taxas de internações no Estado, pelo SUS, estão abaixo
140
dos parâmetros em todas as especialidades, com exceção para
a Clínica Psiquiátrica:
- Clínica Médica (parâmetro = 50 internações por 1.000 habi-
tantes/ano). O Estado realiza 38,94 internações por 1.000 ha-
bitantes/ano, pelo SUS.
- Clínica Cirúrgica (parâmetro = 18 internações por 1.000 habi-
tantes). O estado realiza 12,73 internações por 1.000 habitan-
tes.
- Clínica Obstétrica (parâmetro = 28 internações por 1.000
habitantes). O estado realiza 15,81 internações/1.000/habi-
tantes.
- Clínica Psiquiátrica (parâmetro = 04 internações por 1.000
habitantes. O estado realiza 5,9 internações por 1.000 habi-
tantes.
9.13. Quando se observa por Macrorregiões, a situação é mais
grave ainda, principalmente nas Clínicas Cirúrgica e Obstétri-
ca, na Nordeste (1,37 e 11,38 respectivamente); na Norte (6,84
e 10,28); na do Mato Grosso Goiano (5,29 e 13,75) e na Sudoeste
(8,03 e 16,84). A Clínica Psiquiátrica teve índices de internações
por 1000 habitantes de 12.5 na Central; 0,79 na Sul e 3,74 na
Sudoeste.
9.14. A distribuição das internações por DRSs é pior ainda, pela
concentração da oferta de algumas clínicas em algumas ma-
crorregiões.
9.15. Existe uma oferta mínima de “marcação” de consultas ou
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Linha estratégica: Reorganizar as Diretorias Regionais de Saúde e das Macrorregiões para garantir o acesso integral, eqüitativo, com qualidade aos serviços de saúde,
estabelecendo o sistema de referência e de contra-referência.
141
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
5. Cobertura 5.1. A disponibilidade dos serviços no estado como um todo é
142
insuficiente pela distribuição geográfica e sócio-organizacio-
nal dos mesmos. Não há comodidade de acesso aos usuários.
5.2. Os parâmetros de cobertura das ações e serviços de saúde
estão longe de serem alcançados.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
G. PROBLEMAS DETECTADOS E ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO, NA OFERTA, DEMANDA E NECESSIDADE DE AÇÕES E SERVIÇOS DE SAÚDE
Linha estratégica: Modificar os sistemas de planejamento, programação e pactuação, considerando o cálculo de necessidades com base em parâmetros regionais e microrre-
gionais e em indicadores epidemiológicos; no conhecimento da população que tem acesso à saúde suplementar; e estabelecendo uma estratégia progressiva para a descentralização
dos serviços em pólos de atendimentos*.
143
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
144
coeficiente é de Pontalina, com 60%. O parâmetro utilizado foi
de 4 consultas/ano na faixa etária de 0-1ano/ criança/ano e 2,5
consultas criança ano para o restante.
2.6. Atendimento à Mulher 2.6. Para um parâmetro de 2,5 consultas mulher/ano, os coefi-
cientes de necessidade estão acima de 70% nas seguintes DRSs:
Formosa, Campos Belos, Posse, Luziânia, Porangatu, Pontalina,
Catalão, Jatai, Rio Verde, Goiás, Iporá, São Luis de Montes
Belos, Goiânia, Anápolis, Ceres, Uruaçu, Crixás, Morrinhos, Pi-
res do Rio, Quirinópolis e Anicuns.
2.7. Assistência Hospitalar 2.7. Com exceção da Macrorregião Nordeste, todas as outras 1. Alternativas apresentadas anteriormente.
apresentam suficiência de leitos cadastrados, em todas as Clíni-
cas Básicas. Na prática a ocupação dos leitos é mínima, como já
foi visto, em todas as Clínicas, exceto na Psiquiatria.
2.8. Ações Intermediárias 2.8. Existe déficit para todos os itens no estado. 1. Suprir o déficit existente no bojo dos Projetos de Cobertura de
Atendimentos em geral.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
145
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 49
Ficha básica de um projeto
a) Nome do Projeto
b) Tipo do Projeto: Programas, Infra-estrutura, Desenvolvimento Institucional, Aquisições.
c) Objetivos
d) Benefícios esperados
e) Descrição (com planos, se for necessário)
f) Custos de investimento
g) Custos de recuperação ou de operação
h) Avaliação econômica e social (se for o caso)
i) Cronograma de execução
j) Métodos de acompanhamento e avaliação
28 A avaliação social é um tipo de avaliação econômica que tenta quantificar o benefício que resultará da execução
de um determinado projeto para a totalidade da sociedade. Também pode ser entendida como a identificação
dos projetos que mais contribuem para o desenvolvimento da sociedade.
29 REZENDE, C. A. P., PEIXOTO, M. P. B. Análise Funcional da Gestão do Sistema de Saúde do Estado de Goiás
– Brasil. Brasília, DF: Opas, mar. 1999. Mimeografado.
30 REZENDE, C. A. P. et al. Perfil do Sistema de Saúde do Estado de Goiás - Brasil, 1998-2000. Observatório
da Reforma do Estado no Brasil, Opas/OMS, jan. de 2003.
146
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
b) capacitação de servidores.
Em fase de implementação, tem como foco principal a compra de serviços, sob a ótica
das necessidades da população e da organização do sistema, por avaliação dos gestores
147
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
6.Capacitação de servidores:
Dentro de uma política de recursos humanos qualificados para gerir o SUS, foram
realizados convênios com algumas das melhores universidades do país para a
operacionalização de projetos de formação e desenvolvimento. Assim, foram desenvol-
vidos os seguintes cursos:
Em implantação.
148
REFERÊNCIAS
BANCO MUNDIAL. Informe sobre el desarollo mundial 1993. Washington, DC, 1994.
_______. Sistema Único de Saúde. Norma Operacional Básica n. 01/1993. Brasília, DF,
1993.
_______. Sistema Único de Saúde. Norma Operacional Básica n. 01/1996. Brasília, DF,
1996.
MERHY, E. E.; ONOCKO, R. Agir em saúde, um desafio para o público. São Paulo: Hucitec,
1997.
REICHENHEIM, M. E.; WERNECK, G. L. Adoecer e morrer no Brasil dos anos 80: perspec-
tivas de novas abordagens. In: GUIMARÃES, R.; TAVARES, A. W. Saúde e sociedade no
Brasil: anos 80. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.
150
Informações e instruções aos autores para
apresentação de manuscritos a serem
publicados na Série Técnica do Projeto de
Desenvolvimento de Sistemas e Serviços
de Saúde da Opas
A seleção dos trabalhos a serem publicados está baseada nos seguintes critérios gerais:
trabalhos originais inéditos, relevância do tema; qualidade formal do texto e solidez
científica; conclusividade; atualidade da contribuição; contribuições teóricas e de
aplicabilidade na prática e vinculação com atividades de cooperação da Opas na área de
desenvolvimento de sistemas e serviços de saúde. Excepcionalmente serão analisados
trabalhos alheios à cooperação, sempre que tenham relação com áreas temáticas do Projeto.
No caso de publicações com autoria externa, as opiniões dos autores são de sua exclu-
siva responsabilidade e não refletem necessariamente critérios nem políticas da Opas.
Tipologia de publicações:
A Série publicará, entre outros, textos integrais, como artigos, ensaios, pesquisas,
relatórios; textos preparados através de meta-análise; e destaques em seções curtas,
demandados pelo Projeto.
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Os manuscritos aceitos passam por um processo editorial que, de acordo com o for-
mato da publicação, pode requerer, se necessário, sua condensação, e/ou supressão de
quadros ou anexos. A versão editada será remetida ao autor para aprovação, no caso de
autores externos à Organização.
Direitos de reprodução:
Apresentação:
O texto deve ser apresentado em folhas tamanho A4 (212 x297mm), em fonte tamanho 12,
e escritas a espaço duplo. Os gráficos, tabelas e/ou figuras deverão ser mantidos ao
mínimo e enviados em impressão separada de alta qualidade, em preto e branco e/ou
diferentes tons de cinza e/ou hachuras. A totalidade do trabalho deve acompanhar-se de
cópia em disquete.
Referências Bibliográficas
São essenciais para identificação das fontes originais de conceitos, métodos e técnicas
referidas no texto. Artigos de pesquisa devem conter um mínimo de 20 referências biblio-
gráficas pertinentes e atualizadas.
152
Metodologia para Análises Funcionais da Gestão de Sistemas
e Redes de Serviços de Saúde no brasil
a) Série Monográfica:
BOURDIEU, P. O campo científico. São Paulo: Ed. Ática, 1976. (Coleção Grandes cien-
tistas sociais).
b) Capítulo de Monografia:
DAVIES, A. M. The evolving science of health systems research. In: World Health
Organization. From research to decision making: case studies on the use of health
systems research. Geneva, 1991. 139p.
c) Artigo de Revista:
FARFAN, G. et. al. Digestive disease in the elderly. Rev. Gastroenterol. Lima, v.11,
n.3, p.164-170, 1991.
ROSENTHAL, G. et. al. Does good health services research produce good health policy?
Health Policy Quarterly, [S.l.], v. 1, n.1, 1981.
e) Documento técnico
SECLEN, Juan et. al. Estudio comparativo de la calidad de atención y uso de servicios
de salud materno perinatales (1997-2000). Lima: Ministerio de Salud del Peru, 2002.
153
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2.Exemplos de Citações
a) Citação Direta
b) Citação de Citação
Segundo Silva (1983 apud ABREU, 1999, p.3) diz ser [...]
Para maiores informações sobre o estilo da ABNT, consultar o site da Internet: http:/
/bu.ufsc.br/framerefer.html
154
SÉRIE DE DOCUMENTOS
Volume 1
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico
2. Seminário: o Sistema Único de Saúde e a
Regionalização
3. Seminário: Perspectiva para a descentralização
e a Regionalização no Sistema Único de Saúde
Volume 2
Produção de conhecimento em Política,
Planejamento e Gestão em Saúde e
Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Volume 3
Saúde nos aglomerados urbanos: uma visão
integrada
Volume 4
1. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil:
marco legal e comportamento do gasto
2. O Papel e as conseqüencias dos incentivos
como estratégia de financiamento das ações
de saúde
Volume 5
Modernização das Secretarias de Estado da
Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de
Saúde no Brasil, Ano 2002
Volume 6
1. Modelo de tenção e formulação de Políticas
Públicas: uma abordgem de conteúdo: Curso
de Especialização em Gestão de Sistemas e
Serviços de Saúde em Goiás
PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE APRESENTAÇÃO
SÉRIE DE DOCUMENTOS ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (Opas/OMS)
A Organização Pan-Americana da Saúde
SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE – SAS — Opas, exercendo sua atribuição de
série técnica
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico que a concretização desta ação, no
Projeto de Desenvolvimento de
de Sistemas e Serviços de Saúde/Opas
Volume 4
apresenta a Série Técnica como uma
1. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil:
das atividades de gestão do conhecimen-
marco legal e comportamento do gasto
to, necessária à construção e à consoli-
7
Volume 6 para a melhoria da qualidade da aten-
ção à saúde individual e coletiva, a re-
1. Modelo de tenção e formulação de Políticas
Públicas: uma abordgem de conteúdo: Curso dução de desigualdades e o alcance da
de Especialização em Gestão de Sistemas e eqüidade.
Serviços de Saúde em Goiás Brindamos a comunidade de saúde
pública do país e da Região das Amé-
ricas com esta publicação. Esperamos
que possa se tornar um espaço vivo
de apoio à construção do SUS no Brasil
e que proporcione visibilidade e acesso
aos produtos concretos advindos da
Setor de Embaixadas Norte - Lote 19
7
Cooperação Técnica da Opas.
Brasília-DF - 70800-400
www.opas.org.br Sigamos avançando na conquista pela
qualidade de vida e saúde da população.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS/OMS) APRESENTAÇÃO
SÉRIE DE DOCUMENTOS MINISTÉRIO DA SAÚDE – BRASIL
A Organização Pan-Americana da Saúde
— OPAS, exercendo sua atribuição de
série técnica
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico que a concretização desta ação, no
Projeto de Desenvolvimento de
de Sistemas e Serviços de Saúde/OPAS
Volume 4
apresenta a Série Técnica como uma
1. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil:
das atividades de gestão do conhecimen-
marco legal e comportamento do gasto
to, necessária à construção e à consoli-
8
Volume 6 para a melhoria da qualidade da aten-
ção à saúde individual e coletiva, a re-
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas
Públicas: uma Abordgem de Conteúdo: Curso de dução de desigualdades e o alcance da
Especialização em Gestão de Sistemas e eqüidade.
Serviços de Saúde em Goiás Brindamos a comunidade de saúde
pública do país e da Região das Amé-
Volume 7 ricas com esta publicação. Esperamos
Metodologia para Análises Funcionais da que possa se tornar um espaço vivo
Gestão de Sistemas e Redes de Serviços
de apoio à construção do SUS no Brasil
de Saúde no Brasil
e que proporcione visibilidade e acesso
aos produtos concretos advindos da
8
Cooperação Técnica da OPAS.
Sigamos avançando na conquista da
qualidade de vida e saúde da população.
Apresentação
série técnica
Projeto de Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde
8
EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS DA ATENÇÃO BÁSICA
E SAÚDE FAMILIAR: CASO BRASIL
BRASÍLIA — DF
2004
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
Organizadores
Juan Seclen
BRASÍLIA — DF
2004
Elaboração, distribuição e informações
Organização Pan-Americana da Saúde
Organização Mundial da Saúde
Setor de Embaixadas Norte, 19
70.800-400 – Brasília – DF
http://www.opas.org.br
Projeto de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde/OPAS
http://www.opas.org.br/servico/paginas/index.cfm
1. Coordenador do Projeto
Júlio Manuel Suárez
2. Conselho editorial
Ministério da Saúde
OPAS/OMS
3. Equipe Técnica/OPAS:
Luciana de Deus Chagas
Rosa Maria Silvestre
4. Equipe Técnica/MS:
Camilla Sá Freire
Danusa Fernandes Benjamim
5.Colaboração/MS
Maria Fátima Sousa
6. Normalização
CEDOC/OPAS
7. Revisão
Manoel Rodrigues Pereira Neto
8. Capa, Projeto Gráfico e DTP
Wagner Soares da Silva
9. Tiragem:
5.000 exemplares
PREFÁCIO ...................................................................................................... 07
APRESENTAÇÃO .............................................................................................. 09
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11
CAPÍTULO 1
ENFOQUE DA SAÚDE DA FAMÍLIA E SEU POTENCIAL DE CONTRIBUIÇÃO NO ALCANCE DOS
OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO
Juan A. Seclen-Palacin ...................................................................................... 15
ANEXO .......................................................................................................... 31
CAPÍTULO 2
INTEGRALIDADE E REDES DE ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA: A EXPERIÊNCIA DO MUNI-
CÍPIO DE CURITIBA–PR
Elisete Maria Ribeiro, Eliane Regina da Veiga Chomatas e Michele Caputo Neto ............... 37
CAPÍTULO 3
A EXPERIÊNCIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO ESTÍMULO À PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO MUNICÍPIO
DE VITÓRIA DA CONQUISTA–BA
Jussiara Barros Oliveira, Stael Cristine Gusmão ........................................................ 63
CAPÍTULO 4
AVALIAÇÃO DOS USUÁRIOS SOBRE PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM VITÓRIA DA CONQUISTA
— BAHIA — BRASIL
Simone Andrade Teixeira ................................................................................... 77
CAPÍTULO 5
REDE BRASILEIRA DE HABITAÇÃO SAUDÁVEL: HABITAÇÃO SAUDÁVEL COMO ESTRATÉGIA SINÉRGICA
DA SAÚDE DA FAMÍLIA NO BRASIL
Simone Cynamon Cohen, Szachna Elias Cynamon, Débora Cynamon Kligerman, Luís César Peruci
do Amaral, Lauro Mesquita e Luísa Perciliana Ribeiro .............................................. 103
CAPÍTULO 6
ENFERMIDADES NÃO-TRANSMISSÍVEIS NA ATENÇÃO BÁSICA — NOVO DESAFIO PARA O PSF
Maria Lúcia Carnelosso, Maria Alves Barbosa, Ana Luiza Lima Sousa, Estelamaris Tronco Monego
e Magna Maria Carvalho .................................................................................. 117
CAPÍTULO 7
CÍRCULOS VIRTUOSOS E BOAS PRÁTICAS EM SAÚDE DA FAMÍLIA
Flavio A. de Andrade Goulart ............................................................................ 127
CAPÍTULO 8
ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA E ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE SOBRAL
— CEARÁ — BRASIL: PRINCIPAIS AVANÇOS E DESAFIOS NA PERSPECTIVA DE PRODUZIR MUDANÇAS
POSITIVAS NA SAÚDE.
Luiz Odorico Monteiro de Andrade, Ivana Cristina de Holanda Cunha Barreto, Neusa Goya,
Tomaz Martins Júnior ..................................................................................... 143
PREFÁCIO
Por isso, a Organização tem grande prazer em participar desta iniciativa, pois consi-
dera que as experiências resumidas neste texto são de crucial valor na idéia de fortale-
cer as iniciativas de melhoria dos sistemas locais de saúde das Américas.
Horácio Toro
Desde 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil vem experimentando mudanças
e inovações em aspectos de gestão, organização e financiamento de seus serviços, res-
pondendo aos princípios de universalidade, eqüidade, integralidade e participação social.
Nesse contexto, destaca-se a implementação e expansão da Estratégia Saúde da Família
no âmbito do nível primário de atendimento.
Humberto Costa
Ministro da Saúde
9
INTRODUÇÃO
A Saúde da Família, portanto, desponta como uma estratégia catalisadora, que con-
forma a possibilidade de transformação do modelo de atenção à saúde no Brasil e tem
provocado profundas reflexões e mudanças, nas instituições, nos padrões de pensamen-
to e comportamento dos profissionais e cidadãos brasileiros. É uma estratégia que tem
colaborado para a efetivação da máxima constitucional que preconiza a Saúde como um
Direito Social.
No campo teórico, tem servido de objeto de muitos estudos e análises, mas, acima de
tudo: tem estimulado repensar o arcabouço da formação e educação dos profissionais de
saúde, culminando na organização de novas estratégias de educação, em especial a Edu-
cação Permanente; tem sugerido novas metodologias de gestão das práticas e dos recur-
sos, como os Pólos de Educação Permanente; e tem suscitado a implantação de novas
propostas curriculares e metodológicas, tanto na graduação como na pós-graduação.
11
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
saúde e doença a que estão expostos os indivíduos dentro de sua realidade local, comu-
nitária e familiar, baseando as práticas coletivas; a necessidade de mudança na organi-
zação dos serviços e da oferta das ações de saúde ora fragmentadas, para a constituição
de ações integradas que incluam ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde,
e que estejam inseridas em novas redes familiares e sociais que servirão de base para a
constituição do cuidado em saúde.
No campo político-administrativo, tem sido cada vez mais compreendida como a prin-
cipal estratégia de organização do SUS, exigindo um amplo debate analítico e reflexivo
para a superação de problemas oriundos de sua implantação, num constante empenho da
gestão, da academia, das entidades e da sociedade organizada, especialmente nos Con-
selhos e Conferências de Saúde.
São inegáveis os avanços, como a constituição de uma rede SUS fora do ambiente
hospitalar. Numa breve análise, a Saúde da Família, que surge em meados da década de
1990 como uma alternativa de atenção à saúde, ainda na perspectiva das respostas
compensatórias de focalização, desponta hoje como alternativa estruturante, reorienta-
dora, organizadora do sistema de saúde brasileiro.
Para que isso se efetive verdadeiramente, o debate acerca da Saúde da Família não
pode eximir-se da necessidade de superação de problemas hoje fundamentais, como: a) a
urgente demanda de qualificação da rede ora implantada, tanto na perspectiva do profissi-
onal de saúde que deve estar inserido a um processo de Educação Permanente, quanto na
necessidade de readequação físico-estrutural; b) a constante reavaliação do arcabouço
jurídico-legal brasileiro, que tem impossibilitado a expansão e qualificação da estratégia e
colaborado com a precarização das relações trabalhistas; c) a necessidade de criação de
mecanismos que venham melhorar as respostas às situações de desigualdade da nação
brasileira, como as questões da Amazônia Legal, dos assentamentos rurais, dos remanes-
centes de Quilombos, das periferias dos grandes centros urbanos, entre outros; d) a neces-
sidade de flexibilizar a composição das equipes, dada a imprescindível prática multidisci-
plinar; e, por fim, e) repensar formas de financiamento, acompanhamento, monitoramen-
to e avaliação que possam cada vez mais tornar a estratégia efetiva.
Os artigos que compõem essa publicação descrevem análises sobre diferentes experiên-
cias em diversos contextos de implantação da estratégia Saúde da Família, e têm como
objetivo contribuir para o debate nacional sobre os diversos enfoques comentados anterior-
mente. Não pretende de forma alguma esgotar possibilidades de análise, mas coletivizar
essas experiências e ampliar a discussão sobre o tema.
12
A parceria entre o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
tem sido fundamental na observação dos elementos que determinam a realidade do setor
Saúde em toda a América Latina. A realização de publicações desse cunho busca preen-
cher lacunas entre o espaço tempo que decorre entre a formulação da estratégia, sua
implantação efetiva e a reflexão acadêmica e dos serviços sobre ela. Pretende comparti-
lhar elementos que venham contribuir para o desenvolvimento dos diversos sistemas
locais de saúde que compõem o SUS, acreditando que é possível tornar realidade o ideá-
rio do arcabouço constitutivo da Estratégia Saúde da Família no Brasil: a efetivação da
Atenção Básica à saúde no SUS.
13
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
CAPÍTULO 1
ENFOQUE DA SAÚDE DA FAMÍLIA E SEU POTENCIAL
DE CONTRIBUIÇÃO PARA O ALCANCE DOS
OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO
Juan A. Seclen-Palacin
Médico Epidemiólogo. Unidade de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde,
Representação no Brasil.
Introdução
A família constitui o palco social de maior relevância na vida dos indivíduos; sua
conformação, dinâmica comunicacional, relações entre seus membros e seus valores
dependem de condutas relacionadas, entre outros aspectos, com a saúde.
15
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A família também influi em aspectos positivos para a saúde; por exemplo, a adoção de
estilos de vida saudáveis é maior em famílias onde alguns de seus membros têm conhe-
cimentos e condutas positivas. Na população peruana, notou-se que a atividade física
esportiva é maior entre os membros de uma família quando o chefe familiar é esportista
(SECLEN & Jacoby, 2003). Inversamente, a família pode influir em hábitos alimentícios
inadequados, pobre atividade física, tabagismo, consumo de álcool e drogas, entre outros.
A família tem impacto, positivo ou negativo, sobre seus membros durante todo seu
ciclo de vida, isto é, desde o período gestacional até a velhice, o que tem importância
no entendimiento dos problemas em saúde e sua abordagem integral.
16
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
A dinâmica familiar se relaciona com outra dimensão, a das relações entre os membros
da família; aqui os aspectos comunicacionais e de relação social, o estabelecimento de
princípios e regras de comportamento, a definição de princípios e valores para o indiví-
duo, a família e a sociedade, bem como a resposta frente ao meio social mutante, consti-
tuem aspectos de relevância fundamental para o desenvolvimento e o futuro das pessoas.
A gênese de condutas de risco para a saúde e a adoção de doença têm base na estru-
tura e dinâmica familiar. Esses aspectos são de interesse para os sistemas e serviços de
saúde em sua perspectiva de organizar sua oferta de serviços.
17
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Por outro lado, existem vários problemas derivados do modelo de atendimento centrado
no indivíduo. Um deles é a continuidade do atendimento. Citemos o exemplo do manejo
das doenças crônicas não-transmissíveis como a hipertensão arterial e o diabetes melito.
Como se sabe, essas doenças se localizam dentro das principais causas de morbi-morta-
lidade no mundo inteiro. Propôs-se que a inclusão do enfoque familiar nas ações dos serviços
de saúde contribuiria para a diminuição de um grave problema: a falta de continuidade do
tratamento e a adoção de medidas preventivas (OPS, 2003). Isso também traria conseqüên-
cias externas, já que, por um lado, contribuiria para melhorar a qualidade de vida das
pessoas e seu meio e, por outro, geraria maior eficácia e eficiência do sistema.
Organização de serviços
O enfoque de Saúde da Família considera que os riscos em saúde e a aparição de doenças,
bem como a obtenção do bem-estar têm como um de seus fatores determinantes o aspecto
familiar, entendido este em suas concepções estrutural e dinâmica. Se a família tem um papel
nos processos de saúde e doença, é necessário que a resposta dos serviços de saúde transite
pelo caminho de considerá-la no momento de desenvolver as intervenções em saúde.
18
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
No início do século XXI, os serviços de saúde devem responder a três grandes desa-
fios da sociedade: a melhora eqüitativa do acesso a serviços, o fortalecimento de sua
qualidade e resolutividade a consolidação da legitimidade social. Os esforços de gestão,
financiamento, organização, implementação e avaliação de serviços devem considerar
estes desafios, tendo como um de seus referentes o aspecto família (Figura 1).
19
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Figura 1
Esquema das ações e resultados sociais esperados dos serviços de saúde
20
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Serviços que resolvem problemas e são aceitos pelo usuário em seu meio favorecem
uma maior confiança na segurança das ações que eles realizam, o que se traduz em uma
progressiva legitimidade social que contribui para sua sustentabilidade, favorecendo
mudanças efetivas na qualidade de vida da população. Os governos deveriam esforçar-se
para evidenciar os avanços nessa linha.
Em síntese, o que se pretende é ressaltar que o foco de ação dos serviços não é
unicamente o indivíduo, mas também a família e suas redes sociais (Figura 2).
21
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Figura 2
Focos de ação dos serviços de saúde
22
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
O Atraso 1 tem relação com aquelas mulheres grávidas que estão na comunidade e
têm problemas para reconhecer o benefício do controle pré-natal, os signos de alarme
durante a gestação, as vantagens do atendimento do parto e o puerpério imediato. Nisso
influem questões relacionadas com a visão local, crenças, pensamentos predominantes
no âmbito familiar.
23
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O atraso para chegar até os serviços de saúde (Atraso 3) relaciona-se com o aspecto
acesso. Entendendo como acesso a facilidade com que uma potencial usuária chega e
utiliza os serviços, aqui se incluem aspectos não só de distância geográfica, mas também
o financeiro, a organização do atendimento e o sociocultural.
Esses atrasos variam segundo o lugar e não necessariamente têm que ocorrer seqüen-
cialmente. Como se observa, uma abordagem com enfoque familiar e um sistema de
saúde baseado em atendimento primário resolutivo e articulado com os demais níveis de
complexidade são importantes para diminuí-los. Experiências comunitárias internacio-
nais na América Latina e no sudeste asiático trabalharam com as famílias das gestantes,
conseguindo avanços substantivos na redução dos três primeiros atrasos (ROSS, 1998).
Para isso, é importante melhorar a qualidade dos serviços, sua capacidade de resolu-
ção de problemas em saúde, sua adaptabilidade ante a diversidade social e favorecer
24
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
a gestão participativa efetiva. É necessário adotar um modelo que abarque todo o ciclo
de vida para responder a necessidades e expectativas dos indivíduos e famílias no meio
de sua comunidade.
25
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Cabe aos diversos gestores dos sistemas de saúde adotar estes critérios plasmando-
os em seus serviços: a evidência disponível respalda o uso desses modelos, pois se
observou uma redução do gasto em saúde, um menor uso de serviços de atendimento
hospitalar e um melhor estado de saúde.
26
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Tabela 1
Objetivos de desenvolvimento do milênio relacionados
com a saúde, suas metas e indicadores
27
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Referências
BODENHEIMER, T. et al. ImprovIng Primary Care for Patients With Chronic Illness —
the chronic care model, part 2. JAMA, 2002; 288:1909-1914.
CARROLI, G.; ROONEY, C.; VILLAR, J.. “How effective is antenatal care in preventing
maternal mortality and serious morbidity: an overview of the evidence”. Paediatric and
Perinatal Epidemiology, 2001; Vol. 15 Suppl 1: 1-42.
DONNAY, F.. “Maternal survival in developing countries: what has been done, what can be
achieved in the next decade”. Int J Gynecol Obstet, 2000; 8: 89-97.
HANDLER, A.; ISSEL, M.; TURNOCK, B.. “A conceptual framework to measure performance
of the Public Health System”. Am J Public Health, 2001; 91(8): 1235-1239.
MENDES, Eugênio Vilaça. A Atenção Primária à Saúde no SUS. Fortaleza, Escola de Saúde
Pública do Ceará, 2002.
ROSS, Susan R.. Promoviendo la calidad del cuidado materno y del recién nacido.
CARE, 1998.
28
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
SOUZA, M. H.. “Reforma da reforma”. Revista Brasileira de Saúde da Família. Ano II,
N.04, Janeiro 2002.
THADEUS, S.; MAINE, D.. Too far to walk: maternal mortality in context. Soc Sci Med
1998; 38:1091-1101.
29
ANEXO
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
RESOLUÇÃO
CD44.R12
FAMÍLIA E SAÚDE
33
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
RESOLVE:
1. Tomar nota do documento CD44/10, Família e Saúde, que ressalta o papel das
famílias na manutenção e melhoria da qualidade de vida e dos resultados da saúde da
população das Américas, bem como a necessidade de melhor orientar os cuidados e os
serviços para apoiar esse papel.
(a) fortalecer as ações nacionais a fim de garantir suficientes recursos para o cumpri-
mento dos compromissos, objetivos e resultados internacionais das relevantes
conferências e reuniões de cúpula das Nações Unidas, relacionadas com a família;
(c) tomar medidas para garantir que as políticas, os planos e os programas de saúde
reconheçam as amplas necessidades de saúde das famílias e de seus membros;
(f) promover a ação e a liderança nacionais, nos mais altos níveis do governo, a fim
de aumentar a conscientização e enfrentar os desafios relacionados com a saúde
34
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
(b) assessore os Estados membros no apoio aos elos entre a ativa participação das famí-
lias e comunidades e a promoção e proteção de sua própria saúde;
(c) proporcione apoio técnico aos Estados membros no tocante aos seus esforços por
cumprir seus compromissos com os objetivos e resultados das relevantes conferências
e reuniões de cúpula das Nações Unidas que trataram dos problemas das famílias, em
cooperação com os parceiros relevantes e com outras entidades interessadas;
(d) desenvolva e apóie uma estratégia centrada na Saúde da Família em toda a orga-
nização e garanta a sinergia entre essa estratégia e outras estratégias relevantes,
dentro da organização;
35
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
CAPÍTULO 2
INTEGRALIDADE E REDES DE ATENÇÃO BÁSICA E
SAÚDE FAMILIAR: A EXPERIÊNCIA DO MUNICÍPIO
DE CURITIBA–PR
Elisete Maria Ribeiro
Coordenação de Atenção Básica, SMS Curitiba.
Eliane Regina da Veiga Chomatas
Diretora do Centro de Informação em Saúde, SMS Curitiba.
Michele Caputo Neto
Secretário Municipal da Saúde de Curitiba.
Resumo
A Rede de Atenção Básica e Saúde Familiar em Curitiba é orientada e consolidada pelo
princípio da integralidade, tanto no âmbito da organização do sistema e dos serviços de
saúde, como na atenção e cuidados à saúde prestados à população. Os passos
metodológicos da experiência são orientados por concepções, diretrizes, estratégias e
instrumentais que fundamentam as práticas e o processo de trabalho dos profissionais
da Secretaria Municipal da Saúde — SMS e demais pontos da rede de atenção que
compreendem o Sistema Integrado de Serviços de Saúde — SISS. Os conteúdos demostram
que um sistema é fruto da determinação política e capacidade técnico-operativa assumida
pelas gestões da SMS, cujos resultados são comprovados pelos indicadores de saúde e de
qualidade de vida alcançados nos últimos anos. Neste espaço, insere-se uma questão
mais ampla, qual seja, a determinação social das práticas em saúde, constituída de
acordo com os pressupostos da Atenção Primária á Saúde, do Sistema Único de Saúde
(SUS), que orientam a integralidade da atenção à saúde.
Introdução
Assim, considera-se importante apresentar o desenvolvimento histórico que consolidou
a Rede de Atenção Básica e Saúde Familiar, com destaque para a participação de uma
grande equipe, constituída por milhares de sujeitos institucionais que, em tempos diversos
e inserções diferenciadas, construíram o atual sistema de saúde.
37
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Nesse período, foi criada a Divisão de Odontologia Escolar, dando início ao trabalho
da Odontologia na proposta de atenção à crianças na faixa etária escolar. Em 1966,
ocorreu o primeiro levantamento epidemiológico na área da Odontologia, através dos
consultórios instalados em três escolas periféricas do município.
38
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
39
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A política municipal optou pela estruturação de uma rede de atenção primária que
representasse não apenas a extensão de cobertura dos serviços de saúde, mas um
significativo impacto junto à população a ser beneficiada, corrigindo as distorções
existentes no setor saúde, incluindo as seguintes questões: a) democratização da atenção
médica; b) extensão de cobertura e hierarquização dos níveis de atenção; c) medicina
integral; d) participação comunitária; e e) delegação de funções na equipe.
40
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Naquele ano, foi assinado o convênio das Ações Integradas de Saúde, implementando-se o
repasse de recursos financeiros ao município, contribuindo para a expansão das US, a melhoria
da infra-estrutura assistencial e o incremento do apoio laboratorial (ampliação do laboratório
próprio) e da disponibilidade de medicamentos para a Atenção Básica (PARANÁ, 1991).
A gestão da SMS de 1985 a 1988 foi marcada pela continuidade do trabalho anterior,
mesmo com a mudança significativa da tendência político-partidária. A expansão da rede
teve novo impulso chegando a 40 Centros de Saúde em 1986. Os centros funcionavam em
três turnos com 3 pediatras, 2 clínicos gerais, 1 ginecologista-obstetra, 1 enfermeiro, 1
auxiliar administrativo, 1 vigilante, 1 auxiliar de serviços gerais e 14 auxiliares de saúde.
As clínicas odontológicas foram sendo instaladas junto aos centros de saúde, contando com
6 cirurgiões-dentistas, 11 auxiliares odontológicos e um técnico em higiene dental.
41
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Nesse momento histórico, a Secretaria Municipal da Saúde, que mantinha um razoável grau
de mobilização, realizou, no ano de 1991, sua primeira Conferência Municipal, num contexto
de articulação e legitimidade que incluía o início do processo de municipalização da saúde. O
tema central foi “A Prática da Saúde no Município” e teve a participação de 600 delegados.
42
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Nesse período, aconteceu também a fusão dos Centros de Saúde e Clínicas Odontológicas
em Unidades Municipais de Saúde e o processo seletivo interno para as funções das gerências
distritais e chefias locais das US, as chamadas Autoridades Sanitárias Locais — ASL.
43
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
44
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
45
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
46
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
47
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
que havia sido entendido como substituto do SUS. A estratégia institucional foi apoiada no
referencial do debate teórico que aponta “O dilema da fragmentação ou integração dos
sistemas de serviços de saúde” (MENDES, 2001, p.70), base que influenciou a formulação do
Plano Municipal de Saúde para o período de 2001 a 2005.
Nos últimos anos, a equipe gerencial da SMS tem buscado implementar um processo de
discussão baseado em problemas relacionados ao sistema municipal de saúde. Para efeito
de apoio técnico, firmou-se novamente consultoria com Eugênio Vilaça Mendes, considerando
que este é autor da estratégia “Sistemas Integrados de Serviços de Saúde”, a qual analisa
e apresenta meios de superação para a problemática dos serviços fragmentados — atenção
descontínua, polarização entre o hospital e o ambulatório, a hegemonia da atenção hospitalar
e a ausência de integração entre pontos de atenção à saúde.
48
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
A rede municipal conta com uma estrutura de serviços próprios composta de 105
unidades de saúde, entre as quais 5 funcionam 24 horas, realizando serviços de urgência
de baixa e média complexidade; muitas unidades agregam serviços de referência
especializada, dando suporte à rede de ABS/SF na abrangência do DS. Ainda são 57
caracterizadas como UBS, e 42 atuam na estratégia da SF. Nesse universo, 95 possuem
Clínicas Odontológicas.
49
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Enquanto o modelo flexneriano (EUA, 1910) apontava para a interação dos componentes
do processo de trabalho tecnologia-médico-enfermo, outra tendência, com base no
relatório Dawson (INGLATERRA, 1920), já demonstrava o caminho para constituir um
sistema de saúde envolvendo os recursos da comunidade, além da base estrutural de
serviços e ações específicas do setor saúde. Uma prática de atenção primária à saúde é
sustentada nas ações de promoção dos meios para prevenção das enfermidades e
promoção da saúde, condição possível com a participação da população.
Como estratégia de estabelecimento do vínculo das equipes da ABS/ SF, busca maior
aproximação com os demais serviços da Rede de Atenção especializada ambulatorial e
hospitalar, rompendo o distanciamento, os preconceitos e as condutas de abuso de poder
ainda vigentes nas relações institucionais e profissionais que compõem o sistema.
50
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Starfield (2002) considera que um sistema de serviços de saúde possui duas metas
principais: otimizar a saúde da população, o que implica no o reconhecimento das causas
das enfermidades, manejo das doenças e maximização da saúde e minimizar as
disparidades entre grupos populacionais, principalmente aquelas relacionadas às condições
de acesso aos serviços de saúde. Foi assim que Curitiba conseguiu implantar e expandir
a rede municipal de serviços de saúde, através da inclusão, via políticas setoriais, dos
mais excluídos da participação econômica e da cidadania. Um sistema orientado e
construído com base no conjunto de princípios postos para a atenção primária:
...dirigidos por valores de dignidade humana, eqüidade, solidariedade e ética profissional;
direcionados para a proteção e promoção da saúde; centrados nas pessoas permitindo que os
cidadãos influenciem os serviços de saúde e assumam a responsabilidade por sua própria saúde;
focados na qualidade, incluindo a relação custo efetividade; baseados em financiamento susten-
tável, para permitir a cobertura universal e o acesso eqüitativo direcionados para a atenção
primária (STARFIELD, 2002, p.19).
51
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
52
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Cada meta se traduz em uma estratégia de vigilância à saúde para as equipes e US.
Os resultados podem ser aferidos através do aumento significativo da cobertura dos
programas, na atenção interdisciplinar e na qualidade dos cuidados desenvolvidos pelas
equipes, que se traduzem na redução da mortalidade materna e infantil, aumento da
expectativa de vida e outros.
53
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
54
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
modo de inverter o eixo da atenção à saúde, centralizado na consulta médica, que trouxe
benefícios para os usuários, deslocando a pressão da demanda para a categoria da
enfermagem, hoje a responsável pelo acolhimento.
55
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
56
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
57
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A avaliação final será realizada pelo Corpo Gerencial da SMS e submetida à aprovação
do Conselho Municipal de Saúde de Curitiba. Esse prêmio será concedido anualmente, no
mês de março, em comemoração da implantação do Programa Mãe Curitibana e Pacto
pela Vida, valorizando os parceiros destes programas. Destacamos um dos maiores
compromissos da SMS, expresso no “Pacto pela Vida”, estabelecido com as equipes e
movimentos comunitários no sentido de reduzir a mortalidade infantil no município para
apenas um dígito, em 2005. Para tanto, além do investimento na rede de serviços de
saúde, as mães e as crianças de risco contam com uma rede de solidariedade, composta
por voluntários que atuam nos Comitês em Defesa da Vida.
58
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Esse processo aponta, a médio e longo prazo, para uma estratégia de gestão voltada
para resultados, que valoriza a saúde familiar, o cuidado com os portadores de patologias
crônicas e riscos populacionais. Em especial, reforça a prática do autocuidado e institui
profissionais e usuários como sujeitos, numa relação de cidadania organizada nos planos
individual, familiar e social.
59
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Considerações Finais
De fato, uma das principais contribuições desta experiência é que os avanços e resul-
tados alcançados estão relacionados a conjunturas de continuidade e determinação téc-
nica e política, condições que agregaram capacidade gerencial na estruturação da Rede
de ABS e SF que compõem o Sistema Integrado de Serviços de Saúde em Curitiba. Destaca-se
ainda a contribuição de estratégias intersetoriais, entre outras o “Modelo Colaborati-
vo”, experiência iniciada em 1999 no Distrito Sanitário Cajuru, implantada com apoio
técnico da Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional — CIDA, a qual en-
foca o desenvolvimento social e a qualidade de vida e saúde ancorados na parceria efe-
tiva entre governo, iniciativa privada e sociedade civil. No trabalho intersetorial, que
expandiu em todos os Distritos Sanitários, agregam-se diferentes formas de organização
e expressão participativa de integralidade das ações no setor saúde.
60
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Referências
CAMARGO Jr., Kenneth R. “Um ensaio sobre a (in) definição de integralidade”. In:
PINHEIRO; MATTOS (Orgs). Construção da integralidade: cotidiano, saberes e práticas
em saúde. Rio de Janeiro: UERJ, IMS: Abrasco, 2003.
PEDOTTI, Maria Alice; MOISÉS, Samuel Jorge. “A história dos 20 anos de Atenção Primária
à saúde em Curitiba e outras ‘estórias’”. Revista Divulgação em Saúde para Debate,
Rio de Janeiro, nov. 2000.
61
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
CAPÍTULO 3
A EXPERIÊNCIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO
ESTÍMULO À PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO MUNICÍPIO
DE VITÓRIA DA CONQUISTA–BA
Jussiara Barros Oliveira
Enfermeira,Técnica da Atenção Básica, Secretaria Municipal de Saúde do Município de Vitória da Conquista-Ba,
Especialista em Saúde da Família — UnB–DF
Stael Cristine Gusmão
Assistente Social, Coordenadora do Núcleo de Controle Social, Secretaria Municipal de Saúde do Município de
Vitória da Conquista-BA, Especialista em Comunicação em Saúde — UESB–BA
Resumo
O presente artigo relata a experiência do município de Vitória da Conquista — Bahia,
quanto à contribuição da Estratégia Saúde da Família na participação popular e controle
social no SUS. Destaca também a importância da gestão pública municipal, na valorização
de espaços democráticos definidos por bases legais, atrelados às políticas sociais, que
estimulam o exercício da cidadania e co-responsabilidade social. Nesse sentido, a
Estratégia Saúde da Família tem sido a política adotada pelo município para a reorientação
do modelo assistencial, tornando a comunidade ator social e político importante para a
construção de um Sistema Local de Saúde. A trajetória de organização e formação dos
Conselhos de Saúde, bem como da capacitação permanente dos conselheiros é apresentada
neste artigo, tendo o processo educativo como ponto de partida para instrumentalizar a
população de conhecimentos que favoreçam sua emancipação política.
Introdução
Vitória da Conquista está localizada no Sudoeste da Bahia, no polígono da seca, sendo
o terceiro município do estado, distante 510 km da capital, com população estimada de
cerca de 270.364 habitantes, com taxa de urbanização de 86% e população rural distribuída
por 284 povoados em dez distritos. A cidade está no centro de um importante cruzamento
rodoviário, ligando pela BR-116, o Norte ao Sul do país, e por estrada estadual o Leste ao
63
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A cidade polariza uma região com mais de 80 municípios com cerca de dois milhões de
habitantes, inclusive cidades do Norte-Nordeste de Minas Gerais, tornando-se o principal
centro regional na prestação de serviços nas áreas de educação e saúde, contando com
serviços médicos especializados, uma universidade pública estadual e três privadas.
Em janeiro de 1997, o governo atual assumiu o município com uma dívida de U$ 28,6
milhões, para uma arrecadação anual inferior a U$ 10,3 milhões. Os salários do
funcionalismo estavam atrasados em cinco meses e havia um quadro de precariedade em
todos os serviços prestados à comunidade, como o de limpeza pública, que se encontrava
paralisado. As primeiras ações da administração foram no sentido de saneamento
financeiro, colocando em dia os salários, pagando os fornecedores, renegociando as dívidas
da previdência e contribuições trabalhistas, possibilitando o início da expansão da oferta
de serviços ainda no primeiro ano de governo.
Na Secretaria Municipal da Saúde (SMS), a situação não era diferente, existiam apenas
195 funcionários, e desses somente 8 eram médicos contratados pelo município. A rede
era composta de 7 Unidades Básicas de Saúde, em péssimas condições de funcionamento,
com baixa oferta de ações e serviços, inexistência de medicamentos e materiais de
consumo e com profissionais completamente desmotivados. As ações de vigilância
Epidemiológica e Sanitária sequer tinham sido implantadas efetivamente e a cobertura
vacinal em gestantes e crianças era muito baixa. O Conselho Municipal de Saúde
encontrava-se desativado (VITÓRIA DA CONQUISTA, 2002).
Priorizou-se oferecer uma assistência integral que pudesse dar cobertura à maioria
absoluta das famílias de baixa renda do município. A política de saúde previu o aumento
64
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
As bases legais do direito à saúde são postas, nesse contexto, como direito de cidadania,
valorizando a participação popular nas decisões sobre a política de saúde por meio das
relações que são estabelecidas entre os profissionais das equipes de saúde da família e
da comunidade.
A participação popular e o controle social têm-se dado através dos diversos Conselhos
Municipais, Conselhos Locais de Saúde (CLS), Orçamento Participativo e, mais recente-
mente do Congresso da cidade, bem como das diversas Conferências Municipais que a
cidade vem realizando durante todos estes anos. Reconhecemos, porém, que esta não
seja uma tarefa das mais fáceis de um governo desempenhar, porque depende constan-
temente do exercício da autocrítica e do entendimento de que um dos papéis do Estado
é de instrumentalizar a população de conhecimentos que favoreçam a sua emancipação
política. Como afirma Demo:
Fundamental é, pois, restabelecer o confronto dialético entre Estado e sociedade civil.
Não dicotomia, porque um é cria da outra, e as pessoas e os grupos se entrelaçam nos dois.
Mas relação federativa de controle democrático, de baixo para cima. Até porque somente
assim podemos fazer a defesa crítica do Estado, algo hoje de importância fundamental.
E ainda complementa “o Estado não é o que diz ser nem o que quer ser, mas o que a
cidadania popular organizada o faz ser e querer”s (DEMO, 2003, p.54).
Uma outra questão que tem nos movido para a mobilização popular através das
organizações dos diversos conselhos municipais e os conselhos locais de saúde, é o
entendimento de que essa mobilização precisa ser exercida enquanto processo educacional.
Assim, concordamos plenamente com Paulo Freire (FREIRE, 2003, p.130) quando diz: “é
impossível organizar sem educar e sem ser educado pelo próprio processo de organizar.
65
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Este novo conceito de saúde foi construído a partir do movimento da reforma sanitária,
referendado na VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, e inscrito na
Constituição Federal de 1988, que em seu artigo 196 declara:
A saúde como direito de todos e dever do estado garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e outros agravos e ao acesso universal
e igualitário às ações e serviços de saúde para a sua promoção proteção e recuperação.
66
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
67
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
68
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
do sistema local de saúde. A partir de suas ações, tem sido impulsionada a oferta de
serviços de referência e organizado o fluxo dos usuários, que, após a habilitação do
município em gestão Plena Municipal, apresentou um incremento e diversificação na
oferta de procedimentos pela rede SUS (SOLLA, 2002).
O sistema de referência para as Equipes de Saúde da Família também conta com uma
rede hospitalar de atendimento pelo SUS, composta por 9 hospitais: 3 públicos (1 geral e
1 psiquiátrico estaduais, 1 materno-infantil municipal), 1 filantrópico (Santa Casa) e 5
privados (1geral, 1 obstétrico, 1 de especialidades e 2 pediátricos), além de um pronto-
socorro municipal instalado em hospital conveniado.
69
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
70
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Essa conferência, simbolizou para o município o marco na luta por uma nova ordem social,
onde prevaleceu a justiça e a esperança da construção coletiva de um sistema de saúde
universal e equânime, referendando o controle social no município e a ampliação em 100%
dos CLS das Unidades Básicas de Saúde.
A partir da formação dos Conselhos, a SMS realizava a capacitação dos conselheiros, que
a princípio contavam apenas com os conselheiros titulares e suplentes. Posteriormente, as
capacitações passaram a ser feitas, com a participação dos conselheiros e todos os membros
da equipe de saúde da unidade de referência do conselho, o que ajudou bastante na mudança
de comportamento dos membros das equipes de saúde, que tendiam a responsabilizar apenas
os conselheiros pelo envolvimento nas ações desenvolvidas pelos conselhos.
71
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Hoje existem 21 CLS em funcionamento, com 186 conselheiros titulares e 186 suplentes.
Somando-se aos 20 titulares e 20 suplentes do Conselho Municipal de Saúde, contamos
hoje no município com 412 conselheiros de saúde, 80% desses capacitados, que vêm
discutindo e deliberando sobre o sistema de saúde municipal.
Apesar de todos os conselhos terem sido capacitados, eram freqüentes as queixas por
parte dos conselheiros da pouca participação da comunidade nas reuniões. Assim, em 2000,
foram realizadas 10 oficinas em participação popular e controle social, com 355 agentes
comunitários de saúde (ACS), fortalecendo a importância da contribuição política do ACS
no processo de organização de controle social no SUS.
Foi criado, também, um grupo de estudo em controle social no SUS, com reuniões semanais
que contou com a participação de 15 conselheiros locais e municipais, com o objetivo de
desenvolver capacitação continuada, dando aos conselheiros oportunidade de aprofundar
seus conhecimentos sobre o SUS.
Ainda como estratégia para ampliar a participação da comunidade nas reuniões dos CLS,
em maio de 2000 foi realizada um oficina com o tema “Participação Popular”, que contou
com a presença de dois representantes de cada Unidade de Saúde (sendo um usuário e um
profissional de saúde). Essa oficina objetivou a discussão sobre a participação popular,
propondo caminhos para que os conselhos locais ampliassem a atuação em sua área de
abrangência, contando com a participação de 30 conselheiros.
Em dezembro de 2000 e dezembro de 2001, foram realizados o I e II Encontro de Conse-
lheiros de Saúde de Vitória da Conquista, que contou com a participação de 72 e 83
conselheiros de saúde, respectivamente. Nestes encontros avaliou-se o desempenho dos
conselhos de saúde no controle social, com apresentação dos trabalhos desenvolvidos
pelos conselhos, e encaminhamento de propostas para a efetivação do controle social no
município.
Atualmente a Coordenação de Controle Social, com a colaboração de residentes do
Instituto de Saúde Coletiva — ISC/UFBA, está ministrando um curso de capacitação para
23 conselheiros locais de saúde, com carga horária de 144 horas, oferecidas em momentos
intercalados com 48 horas de concentração e 96 horas de dispersão, em que os componentes
72
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
do grupo realizam análise da situação operativa dos CLS, bem como a elaboração de
projeto de intervenção com levantamento de estratégias para o incentivo da participação
da comunidade.
Entende-se que apenas as capacitações não são suficientes para a garantia de uma
participação efetiva da comunidade no sistema de saúde. Importante se faz o desenvol-
vimento de práticas democráticas no processo de trabalho das equipes de saúde e nos
conselhos. Como afirma Bordenave (1983):
A participação não é um conteúdo que se possa transmitir, mas uma mentalidade e um
comportamento com ela coerente. Também não é uma destreza que se possa adquirir pelo
mero treinamento. A participação é uma vivência coletiva e não individual, de modo que
somente se pode aprender na práxis grupal. Parece que só se aprende a participar, participando
(BORDENAVE, 1983, p. 74).
73
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Considerações Finais
Não podemos deixar de avaliar, como um fator extremamente positivo para a construção
do Sistema Único de Saúde em nossa cidade, a participação popular e o controle social,
incentivados pela implementação da Estratégia Saúde da Família.
Mesmo com dificuldades em envolver uma parcela maior da comunidade para participar
das reuniões dos conselhos, consideramos que o número de conselheiros existentes e o
processo de capacitação que vem sendo desenvolvido pela SMS desde 1999 nos coloca no
caminho da construção coletiva, na busca de uma sociedade que caiba em nossos sonhos
de viver em um país mais justo, mais fraterno e mais igual.
74
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Referências
CORREIA, Maria Valéria Costa. Que Controle Social? Os conselhos de saúde como instru-
mento. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2000.
DEMO, Pedro. Política Social, Educação e Cidadania. São Paulo: Papirus, 2003.
FREIRE, Paulo; HORTON, Myles. O Caminho se Faz Caminhando: conversas sobre educa-
ção e mudança social. Petrópolis: Vozes, 2003.
75
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
CAPÍTULO 4
AVALIAÇÃO DOS USUÁRIOS SOBRE O PROGRAMA
DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM VITÓRIA DA
CONQUISTA — BAHIA — BRASIL
Simone Andrade Teixeira
Enfermeira, Mestre em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília, Docente da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia, Coordenadora da Graduação em Enfermagem da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Vitória da
Conquista – Bahia – Brasil. simone@uesb.br
Resumo
Este artigo apresenta um estudo sobre a satisfação dos usuários do Programa de Saúde
da Família — PSF, no município de Vitória da Conquista — Bahia — Brasil. Tal pesquisa foi
realizada em maio de 2001 e como instrumento de investigação optou-se pela aplicação
de uma pesquisa de opinião, cujo instrumento foi um questionário. Os resultados indicaram
uma grande satisfação popular com a estratégia Saúde da Família, mas também, problemas.
Dentre eles, destacaram-se os relacionados à formação acadêmica dos profissionais de
saúde, que apresentam um perfil ainda distante do necessário para o trabalho coletivo.
Concluiu-se, afinal, que sob a ótica dos usuários a experiência de Vitória da Conquista
pode ser considerada exitosa, contribuindo para o fortalecimento da Atenção Básica e
reorientação do modelo assistencial vigente, apontando para um maior equilíbrio entre
as dimensões da sustentabilidade, e, conseqüentemente, para a promoção do Desenvol-
vimento Sustentável. Por outro lado, destacou-se a necessidade de urgentes ações inter-
setoriais, cujas ausências poderiam vir a comprometer a manutenção e expansão da
estratégia Saúde da Família.
77
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Um dos campos do saber mais marcado pelo avanço técnico-científico foi a Medicina.
No entanto, como o progresso das técnicas visa mais ao indivíduo que à coletividade,
sem representar uma melhoria da saúde da população em geral, as mudanças tanto são
extraordinárias quanto frustrantes. Mais: sob o ponto de vista ético, ou da aplicabilidade
das técnicas para a elevação das condições de vida das pessoas do planeta, os novos
conhecimentos médicos são pouco aplicáveis para melhorar as condições de vida de boa
parte de seus habitantes, que continuam convivendo com as doenças imunopreveníveis e
evitáveis através do saneamento básico.
Em nosso meio, a Medicina passou a ser exercida com base em regras extraídas do
espírito da racionalidade moderna, com a incorporação de uma tecnologia impessoal que
reduz os momentos de manifestações da subjetividade e de avaliações socioantropológi-
cas. Isso produz graves rupturas não só no relacionamento médico-paciente, mas tam-
bém no atendimento do próprio ser humano, que praticamente não participa, como su-
jeito, das decisões sobre sua saúde.
Como reflexo dessa prática médica, o modelo de saúde passou a ser centrado na
doença, na especialidade e no mercado, constituindo-se em um modelo caro, excludente
e de baixo impacto sobre a saúde da população em geral. Segundo Illich (1975, p.44), “o
nível de saúde não melhora quando aumentam as despesas médicas: Cabe então concluir
pela ineficácia global crescente da empresa médica e que a sociedade se torna rapida-
mente cada vez menos sadia.”
78
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Assim, sob a ótica do Desenvolvimento Sustentável, tal modelo apresenta: baixa sus-
tentabilidade social, pois, centralizando-se no mercado, discrimina ao invés de promo-
ver a eqüidade, a solidariedade social e a igualdade de direitos à dignidade humana;
baixa sustentabilidade econômica, primeiramente como simples decorrência de sua bai-
xa sustentabilidade social e, em segundo lugar, pelos elevados custos associados; baixa
sustentabilidade político-institucional, porque seu controle escapa do âmbito de deci-
sões político-participativas; baixa sustentabilidade cultural, porque desvaloriza o saber
tradicional e o poder pessoal através de uma “colonização médica” apoiada na especia-
lização; baixa sustentabilidade ecológica, pois transforma a dor e a doença em estímulos
à produção de mercadorias, e a saúde como coisa a ser comprada e não conquistada
através de hábitos diários e do equilíbrio com o meio ambiente.
79
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Muitos estudos têm-se debruçado sobre o PSF; no entanto, poucos têm privilegiado a
visão dos seus usuários. O estudo ora apresentado dedicou-se a investigar a satisfação
dos usuários com a estratégia Saúde da Família em Vitória da Conquista.
A maior conquista desse quarto de século de lutas para melhorar o sistema de saúde
brasileiro é o texto da nova Constituição. Ele consagra o resgate da saúde da condição de
mercadoria e a eleva à dignidade de direito de cidadania, além de concebê-la de forma ampla,
como vinculada às condições gerais de vida, trabalho e cultura.
80
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Para a definição do tamanho da amostra fixou-se como desejada uma precisão (ou
erro) de 3%, no máximo, quando se fosse trabalhar com intervalos com confiança de 95%.
Assim, chegou-se à conclusão de que necessitaríamos entrevistar 1.050 famílias. Te-
mendo que uma parte das entrevistas pudesse ser excluída após a coleta, optou-se por
uma meta de 1.200 entrevistas.
81
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quanto à escolaridade, 26% eram analfabetos, seguidos por aqueles com o primeiro
grau incompleto — 29%. Tinham como ocupação principal os serviços domésticos, sendo
que 64,1% não tinham nenhuma renda. Quando estavam trabalhando mas tinham cartei-
ra assinada, com média salarial individual de R$70,53 (US$25,18). A renda familiar apre-
sentava uma média de US$131.30.
Sobre a moradia, a média encontrada de moradores por domicílio foi de 4,5 pessoas
(55,6%), seguida por 5 a 7 pessoas (31,8%). A construção típica era de alvenaria (82%),
com água proveniente da rede geral cobrindo 84,2% dos domicílios (gráfico 4.20), sendo
que, na zona urbana, 95,4% dos domicílios tinham cobertura da rede geral, enquanto
que na zona rural apenas 24,2% contavam com esse serviço.
O tratamento da água para consumo em mais de 80% dos casos era a filtração, tanto
na zona urbana como na rural. A coleta do lixo era realizada pelo serviço público na zona
urbana em 98,9% dos domicílios e na zona rural esse índice foi de 38,2%.
A zona urbana contava com apenas 17,3% dos domicílios entrevistados servidos de
rede de esgotos, sendo que a fossa era o destino final dos dejetos em 78,4% das casas.
Já na zona rural a fossa representava o destino final dos dejetos na maioria dos domi-
cílios (72,6%), sendo que em 27,4% desses o destino era a céu aberto.
2.2 A avaliação dos serviços oferecidos pela Unidade de Saúde da Família — USF:
Gosto muito do PSF. Antes não existia nada!
Na avaliação dos serviços, o entrevistado opinou sobre todos os serviços oferecidos, inclu-
sive a recepção da unidade. Dentre os serviços prestados, os mais bem avaliados foram o
serviço de vacinação, com 79,7% de aprovação (28,6% ótimo e 51,1% bom), seguido pela
recepção da unidade, com 72,6% de aprovação (24,2% de ótimo e 48,4% de bom) e o atendi-
mento médico, com 71,9% da aprovação popular, sendo que 35,1% o consideram ótimo e 36,8%,
bom. No entanto, chama atenção o fato de a opção “não sabe avaliar” atingir proporções acima
de 65% nos seguintes serviços: Programa de Combate às Carências Nutricionais (PCCN), 90,6%;
82
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Pré-Natal, 83,3%; Inalação, 83,2%; Planejamento Familiar, 77,8%; Exame do pezinho (Fenilce-
tonúria), 77%; Curativos, 75,4%; Preventivo de Câncer Ginecológico, 73,1%; Crescimento e
Desenvolvimento da Criança, 72,3%; Atendimento Odontológico, 66%. A resposta “não sabe
avaliar” pode não estar relacionada ao desconhecimento do serviço e sim ao fato de o usuário
nunca ter sido atendido pelo mesmo, não sabendo, portanto, avaliar. Também não guarda,
necessariamente, relação direta com a cobertura do serviço.
Alguns serviços não são utilizados por toda a comunidade, a exemplo do Pré-Natal.
Analisando esse dado, diz o Secretário Municipal de Saúde, Dr. Jorge Solla1 :
Tal resultado é previsível uma vez que a estimativa epidemiológica de mulheres grávidas
numa população é de 3%. Esta estimativa tem reflexo diretamente proporcional no número
de crianças que fazem o exame do pezinho e que freqüentam o CD.
Considerando que o universo amostral foi superior à demanda populacional por alguns
serviços, é natural que parte da população não saiba avaliar tais serviços. Dentre os que
avaliaram o serviço do Pré-Natal, o mesmo obteve 90,9% de aprovação.
O Planejamento Familiar, por sua vez, não foi avaliado por 77,8% dos entrevistados,
sendo que esse serviço é específico para mulheres em idade fértil, que corresponde a 74,2%
dos entrevistados. Infere-se, portanto, baixa cobertura do serviço. Todos os médicos e en-
fermeiros do PSF municipal foram habilitados para exercerem ações de planejamento fami-
liar. Entretanto, deve-se considerar que a ausência de métodos contraceptivos nas USFS
pode estar desmotivando os profissionais para o desempenho e divulgação de tal ação.
83
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Sobre mais de 90% dos entrevistados não saberem avaliar o Programa de Combate
às Carências Nutricionais, esse dado tornou-se instigante. O presente estudo foi reali-
zado em bairros periféricos e pobres, onde provavelmente a população de crianças em
estado de desnutrição deva ser numerosa. Segundo estudo realizado pela Fundação
Getúlio Vargas, intitulado “Mapa do Fim da Fome: Metas Sociais contra Miséria nos
Municípios Baianos” (FGV, 2001), Vitória da Conquista apresenta 50,8% da população
na Linha de Indigência 3 . Considerando este dado da FGV e o contexto socioeconômico
dos entrevistados, infere-se que a cobertura de tal programa não esteja atendendo à
verdadeira demanda comunitária.
A Secretaria Municipal da Saúde possui os dados das crianças cobertas pelo PCCN. No
entanto, não tem estimativa do número de crianças desnutridas no município. Segundo a
nutricionista responsável pelo PCCN, Srª Wanessa Casteluber Lopes4 , a estimativa do
número de crianças em risco nutricional5 já vem determinada pelo Ministério da Saúde6 .
A estimativa ministerial para o município para o ano de 2001 foi de 1.307 crianças de 6
a 23 meses. Assim, o ministério repassa o incentivo financeiro para o Fundo Municipal de
Saúde e a Secretaria Municipal de Saúde complementa o valor necessário para a aquisi-
84
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
ção dos alimentos e repassa às crianças cadastradas no programa. Cada criança recebe
3,6 Kg leite/mês e 1 lata de óleo (900ml).
Embora mais de 50% dos entrevistados não soubessem avaliar 8 dos 14 serviços ofereci-
dos, a avaliação geral dos serviços obteve aprovação de 68,4% (17,5%, ótimo e 50,9%, bom).
Quando indagados sobre os encaminhamentos para outros serviços, 51,9% dos entre-
vistados não souberam avaliar, inferindo-se que o programa esteja apresentando uma
certa resolutividade. O acesso ao atendimento médico obteve aprovação de 47,7% dos
entrevistados, enquanto que o acesso ao atendimento odontológico obteve apenas 9% de
aprovação, sendo considerado ruim por 31% dos respondentes, enquanto 53% não soube-
ram avaliar. Observou-se, também, que o tempo de implantação não influenciou na ava-
liação dos serviços.
A dificuldade de acesso a exames foi uma das maiores queixas relacionadas pelos
usuários questão aberta, principalmente ao Serviço odontológico. Pesquisa de opinião
realizada em Mato Grosso revelou que 25,4% dos entrevistados também apresentaram a
mesma queixa (GONZAGA; NETO, 2000).
85
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Dentre os usuários que avaliaram, todos os serviços foram aprovados (ótimo + bom)
com percentuais acima de 75%. Infere-se que tal aprovação possa ser um reflexo da
qualidade do atendimento (Gráfico 2.1).
Gráfico 2.1
Avaliação dos serviços oferecidos pela USF, dentre os usuários que avaliaram
Vitória da Conquista, maio de 2001
86
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Gráfico 2.2
Satisfação comunitária com o PSF. Vitória da Conquista, maio, 2001
Comparando-se o índice de satisfação da zona rural, que foi de 96,2% com o da zona
urbana — 77,8% , conclui-se que a população rural esteja mais satisfeita com o programa.
Tal conclusão foi possível pela aplicação do teste qui-quadrado ou teste de independên-
cia. Neste caso, o valor p ou p-value foi de 9,60107E-05.
O que faz a população rural avaliar melhor o PSF? Uma hipótese a ser considerada
seria a de que antes na zona rural não existia qualquer espécie de atenção em saúde. No
entanto, essa população é mais participativa que a urbana (o índice de participação nos
grupos de educação em saúde é maior), podendo-se inferir, também, que essa população
seja mais receptiva ao programa.
87
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Estudos realizados sobre satisfação comunitária com o PSF apontam sempre para um
bom nível de aprovação popular. (GONZAGA; NETO, 2000; MENDES,1999, FRANCO; RO-
CHA, 2000). A experiência com o PSF da cidade de Piraju — SP, aponta que a satisfação
popular é maior nos bairros que têm o PSF há mais tempo. (CÁCERES, 2000). No presente
estudo, também investigou-se a relação da satisfação popular com o tempo de implanta-
ção da USF e observou-se que esse não influenciou na avaliação. Já a avaliação do aten-
dimento médico guarda relação de proporcionalidade com a satisfação com o programa,
observando-se que o percentual de satisfação é maior entre os usuários que estão satis-
feitos com o atendimento médico.
Pesquisa realizada pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, sobre a satisfação dos
usuários do PSF no estado, aponta para um elevado grau de satisfação dos mesmos e
destaca uma clara associação dessa satisfação com os seguintes itens: maior acesso aos
cuidados médicos; melhoria do nível de informação sobre o processo saúde-doença (situação
de risco e proteção, cuidados básicos), e a existência da visita domiciliar como elemento
chave da prevenção e do acompanhamento (BONFIM, 2001).
88
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Gráfico 2.3
Avaliação dos grupos de educação das USFs
Vitória da Conquista, maio de 2001
Gráfico 2.4
Participação nos grupos educação X localização da Unidade de Saúde da Família
aaaaaa
aaaaaa
aaaaaa aa
aaaaaa aa
aaaaaa
aaaaaa
aaaaaa
aaaaaa aa
aaaaaa aa
aaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa aaaaaa
aaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaa
89
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Os ACS têm a obrigacão de visitar cada família de sua microárea (geralmente com 150
famílias), no mínimo uma vez ao mês. As visitas dos demais profissionais da equipe, em
Vitória da Conquista, se dão de forma oportuna, geralmente em caso de necessidade de
atendimento domiciliar.
Para o PSF tornar-se de fato “saúde da família”, o foco da atenção deve ser a família
e sua morada, sendo que a visita domiciliar deve ser realizada por todos os integrantes
da equipe. Quanto mais o profissional se limita ao atendimento na unidade de saúde, se
restringindo ao atendimento em casos de doença a domicílio, mais difícil se torna a
reversão do modelo centrado na doença e mais se distancia dos propósitos filosóficos do
próprio PSF. É muito mais agradável visitar para promover a saúde do que para tratar a
doença. A família deve ser o eixo norteador das ações de saúde que desejam ir além da
dimensão curativa, alcançando as áreas preventivas e de promoção à saúde.
90
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
91
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Gráfico 2.5
Conhecimento do CLS das Unidades de Saúde da Família
Vitória da Conquista, maio de 2001
Quando indagados sobre a participação nas reuniões do CLS, 53,9% afirmaram nunca
terem participado. Dos que disseram participar, 3,7% disseram participar sempre, 10,5%
participam pouco, 4,3% disseram ter participado mas pararam. 27,4% disseram não sa-
ber da existência do CLS, enquanto 0,2% não responderam (Gráfico 2.6).
92
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Gráfico 2.6
Participação comunitária nas reuniões do CLS das USFs
Vitória da Conquista, maio de 2001
aa
aa
aaaaaaa
aaaaaaa
aaaaaaa
aaaaaaa
aaaaaaa
aaaaaaa
Embora 54% afirmassem saber da existência do CLS, quase o mesmo percentual (53,9%)
afirmou nunca ter participado de suas reuniões. Embora a obrigatoriedade de participa-
ção das reuniões do conselho seja apenas dos representantes eleitos pela comunidade, o
incremento da participação popular é um anseio tanto da coordenação do programa de
Controle Social do SUS, como dos próprios conselheiros. Segundo Stael Gusmão7 (coorde-
nadora do programa), a falta de participação popular nas reuniões do CLS tem se consti-
tuído em uma preocupação por parte dos conselheiros e de sua coordenação. Destaca a
dificuldade que algumas equipes têm de reconhecer na comunidade uma parceira no
trabalho para a viabilização da saúde e diz:
Sentimos a angústia de algumas equipes e conselheiros no sentido de aumentar a participa-
ção popular. Temos que trabalhar mais a comunicação entre a equipe e a comunidade. A gente
depara com a formação dos profissionais de saúde, caracterizada pela centralização das infor-
mações, a comunidade com espírito pouco participativo, que vem de um processo de pouca
ou nenhuma participação. (...) Os profissionais de saúde ainda têm uma visão muito autoritária
do serviço de saúde e isso torna a relação com a comunidade mais difícil, menos democrática.
7
Entrevista concedida em julho de 2001.
93
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Sentimos que algumas equipes ainda não alcançaram um nível bom para serem trabalhadas
para lidar com o diferente, com o outro. Para que haja participação popular esse pensamento
tem que ser revertido. Não queremos inverter o modelo assistencial? Um dos nossos entraves
é conquistar a equipe para um trabalho com a comunidade.
Como processo social, a participação tem que ser gestada, amadurecida e pode ser
que isso já esteja acontecendo com os moradores adscritos à ESF. No entanto, é válido
ressaltar a falta de tradição do nosso povo em movimentos sociais e no exercício da
cidadania. Nesse sentido, o incentivo da administração pública municipal para a imple-
mentação dos Conselhos Locais de Saúde pode ser considerada positiva, desde que a
ação esteja desvinculada de qualquer forma de dominação.
Para se chegar à participação nas definições e decisões sociais, não se pode deixar de
considerar outros pressupostos da existência humana. De acordo com Marx e Engels
(1978, p. 39-41):
O primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto de toda a história, é que os
homens devem estar em condições de viver para poder fazer história. Mas, para viver, é preciso,
antes de tudo, comer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais (...); o segundo ponto
é que, satisfeita esta primeira necessidade, a ação de satisfazê-la e o instrumento de satisfação
já adquirida conduzem a novas necessidades. A terceira condição que, já de início, intervém no
desenvolvimento histórico, é que os homens, que diariamente renovam sua própria vida, começam
a criar outros homens...
Sobre o perfil do profissional de saúde, que tem dificuldade de trabalhar com o outro e com
o coletivo, pode-se explicar o fato como fruto de sua formação profissional tecnicista/tecnoló-
gica, distante da realidade sanitária e social do país, uma formação voltada para o mercado de
trabalho até então hospitalocêntrico e especializado, onde a clínica médica e o espaço de ouvir
o outro foi substituído pela parafernália tecnológica. Os profissionais de saúde vêm elegendo a
ciência como salvadora de todas as coisas, sem, no entanto, questioná-la.
94
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Gráfico 2.7
Avaliação comunitária da importância do CLS, dentre os que opinaram
Vitória da Conquista, maio de 2001
Outro aspecto observado é que a participação nas reuniões do CLS não aumenta com
o tempo de implantação, sendo que tal fato confirma a necessidade de maior envolvi-
mento da ESF com sua comunidade adscrita.
95
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Essa avaliação constou de três aspectos: avaliação dos impactos do programa sobre
as condições do bairro, sobre a qualidade da saúde da família e sobre o atendimento em
caso de doença. De acordo com os resultados, pode-se observar que a população consi-
dera que após a implantação da Unidade de Saúde da Família, houve melhoria no bairro,
sendo que 75,6% dos entrevistados admitem essa melhoria. Observou-se uma relação de
proporcionalidade entre os que consideraram que houve melhoria do bairro e apontaram
para a melhoria da saúde da família (o teste de dependência de variáveis apresentou um
p-value =6,6487E-105 ). Os resultados obtidos estão expressos no gráfico 2.8:
Gráfico 2.8
Avaliação comunitária dos impactos do PSF
Vitória da Conquista, maio de 2001
96
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Sobre os impactos na saúde da família, 81,4% admitiram melhora, sendo que a avalia-
ção sobre o atendimento médico guarda relação de proporcionalidade com o grau de melho-
ria da saúde da família. Dentre os que consideraram que a saúde da família melhorou
muito, 83,9% aprovaram o atendimento médico (ótimo+bom). Dos que consideraram que
melhorou pouco, tal atendimento foi aprovado por 69,7% dos entrevistados e, dentre os
que consideraram que a saúde piorou, a aprovação do atendimento médico caiu para 50%.
Gráfico 2.9
Avaliação do atendimento em caso de doença após implantação das USFs
Vitória da Conquista, maio de 2001
97
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Considerações Finais
O modelo de atenção em saúde na cidade de Vitória da Conquista deu um salto qualita-
tivo considerável, especialmente ao observar-se os impactos positivos nos indicadores de
saúde populacionais, a exemplo da redução da mortalidade infantil, aumento da cobertura
vacinal e da cobertura do pré-natal, dentre outros. Tais resultados foram obtidos, prepon-
derantemente, através do investimento na atenção básica à saúde, viabilizada pelo PSF
em conjunto com o PACS, que gozam de uma aprovação popular acima de 80% e são
favorecidos pela vontade política municipal para a efetiva implementação do SUS.
Entretanto, a pesquisa revelou aspectos sobre os quais deve haver uma maior aten-
ção por parte dos gestores, tanto nas esferas municipal, estadual e federal, a exemplo
da necessidade de urgentes ações intersetoriais (de educação, empregabilidade, sanea-
mento, violência), cujas ausências poderão vir a comprometer a manutenção e expansão
da estratégia Saúde da Família. Tal afirmação é reforçada pelo relatório da Comissão das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, quando destaca:
a área da saúde não tem como satisfazer suas necessidades e atender seus objetivos; ela depende
do desenvolvimento social, econômico e espiritual, ao mesmo tempo que contribui direta-
mente para tal desenvolvimento. A área da saúde também depende de um meio ambiente
saudável, inclusive da existência de um abastecimento seguro de água, de serviços de sanea-
mento e da disponibilidade de um abastecimento seguro de alimentos e de nutrição adequada
(CNUMAD, 1992).
98
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Tal fato, entretanto, também relaciona-se com o grande agente dificultador da viabi-
lização do programa, que é o modelo predominante de atenção à saúde, centrado na
doença, na especialidade médica e no mercado. Esse modelo reflete-se na visão que a
comunidade tem sobre saúde, na formação dos profissionais de saúde e no financiamen-
to da política de saúde. Esses reflexos trazem como conseqüências imediatas a centrali-
zação das ações na USF (pressão popular pelo atendimento médico, filas), a inadequação
do perfil dos profissionais de saúde para o trabalho coletivo, e compromete, ainda, a
expansão e manutenção do programa. Conseqüentemente, ocorre a baixa participação
popular nos grupos de educação continuada em saúde e nos Conselhos Locais de Saúde e
comprometimento da integralidade da assistência na esfera da atenção básica, devido
às dificuldades de financiamento. Ao final dessa cadeia sucessiva de implicações, obser-
vam-se as seguintes dificuldades: a reversão do modelo hegemônico em saúde, a plena
viabilização do PSF e conseqüentemente do SUS; e o comprometimento de todas as di-
mensões envolvidas na promoção da sustentabilidade.
Conclui-se, afinal, que, sob a ótica dos usuários, a experiência de Vitória da Conquis-
ta pode ser considerada exitosa, contribuindo para o fortalecimento da Atenção Básica e
reorientação do modelo assistencial vigente, apontando para um maior equilíbrio entre
as dimensões da sustentabilidade, e, conseqüentemente, para a promoção do Desenvol-
vimento Sustentável.
99
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Referências
BARTHOLO JR., Roberto S. “A ética da responsabilidade e o poder científico-tecnológico
moderno”. In: Labirintos do Silêncio. Cosmovisão e Tecnologia na Modernidade. Rio
de Janeiro: COPPE/UFRJ: Ed Marco Zero, 1986.
BEZERRA, Maria do Carmo de Lima; BURSZTYN. Marcel (Orgs). Agenda 21 Brasileira:
Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável. Brasília: Ministério do Meio
Ambiente, 2000.
BONFIM, Leny Alves (coord). Análise de Situação de Saúde nos Estados e Municípios:
Avaliando a Satisfação do Usuário do Programa de Saúde da Família — PSF, na Bahia.
Salvador: Instituto de Saúde Coletiva, 2001.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: 1988. 12 ed. Brasília: Câmara
dos Deputados, Coordenação de Publicações, 1999. 360p
BUARQUE, Cristovam. Os Tigres Assustados. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1999.
BURSZTYN, Marcel (org). Para Pensar o Desenvolvimento Sustentável. 2 ed. São Paulo:
Editora Brasiliense,1994.
100
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
MENDES, Eugênio Vilaça. Uma Agenda Para a Saúde. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 1999a.
MONTENEGRO, et al. “Vitória: o destino tomado nas mãos”. Revista Brasileira de Saú-
de da Família, Brasília, v. 1, n. 3, p. 26-31, dez. 2000.
VASCONCELOS, Maria da Penha Costa. “Reflexões sobre a saúde da família”. In: MENDES,
Eugênio Vilaça (org). A Organização da Saúde no Nível Local. São Paulo: Hucitec, 1998.
101
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
CAPÍTULO 5
REDE BRASILEIRA DE HABITAÇÃO SAUDÁVEL:
HABITAÇÃO SAUDÁVEL COMO ESTRATÉGIA
SINÉRGICA DA SAÚDE DA FAMÍLIA NO BRASIL
Simone Cynamon Cohen
Arquiteta, Mestre em Saúde Pública e Doutoranda em Saúde Pública. Coordenadora da Rede Brasileira de Habitação
Saudável. Contato: cohen@ensp.fiocruz.br; sccohen@centroin.com.br
Szachna Elias Cynamon
Engenheiro Civil, Doutor em Saúde Pública e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública/Fundação Oswaldo Cruz.
Contato: cynamon@ensp.fiocruz.br
Débora Cynamon Kligerman
Débora Cynamon Kligerman é Engenheira Civil, Mestre em Planejamento Urbano e Regional e Doutora em Planejamento
e Gestão Ambiental. Coordenadora da Rede Sudeste de Habitação Saudável. Contato: kliger@ensp.fiocruz.br;
debora@kligerman.net
Luís Cesar Peruci do Amaral
Arquiteto Urbanista pela UFRJ e Especialista em Engenharia Sanitária e Controle Ambiental pela Fundação Oswaldo Cruz.
Secretário Executivo e Secretário de Mobilização e Cooperação Social da RBHS. Contato: lperucci@ensp.fiocruz.br
Lauro Mesquita
Arquiteto e Mestre em Planejamento Urbano e Regional. Representante do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/RJ) no
Conselho Nacional de Administração da RBHS e Membro da Câmara Técnica desta Rede. Contato: lauro_mesquita@ig.com.br
Luísa Perciliana Ribeiro
Engenheira Civil e Especialista em Engenharia Sanitária e Controle Ambiental (FIOCRUZ/RJ). Membro da Secretaria
Executiva e Membro-Gestor da Comissão Técnica da RBHS. Contato: lperciliana@fiocruz.br.
Resumo
Este capítulo aborda conceitos e elementos necessários à compreensão da Rede
Brasileira de Habitação Saudável (RBHS), de sua importância como ferramenta para a
operacionalização da Política de Promoção da Saúde no âmbito habitacional e de sua
sinergia com a estratégia Saúde da Família, sendo explicitado que suas estratégias de
ação baseiam-se no enfoque intersetorial, multidisciplinar, de participação comunitária
e no trabalho em rede, agregando instituições governamentais, entidades não-
governamentais e outros grupos envolvidos com questões em torno da habitação, saúde
103
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Introdução
O sonho de ter onde e como morar.
(CYNAMON, 2003)
Através das aceleradas transformações estruturais que o país sofreu nas últimas
décadas, observa-se, pela multiplicação dos programas sociais, “a necessidade de se
construir uma sociedade solidária e decidida a diminuir as desigualdades sociais, ampliando
o sentido e os valores da cidadania, como base de um processo crescente de melhoria da
qualidade de vida...” (COHEN, et al, 2003). Uma das bases fundamentais dessa conquista
é um sistema eficaz, efetivo e democrático de saúde pública.
104
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Histórico
Em 1987, Organização Mundial da Saúde estabeleceu uma comissão com o objetivo de
delinear uma política de habitação saudável, baseada na estratégia de espaços saudáveis
como ferramenta de promoção da saúde. Em 1994, a Organização Pan-Americana da
Saúde identificou atores nas regiões das Américas interessados em promover ambientes
saudáveis nos espaços funcionais da habitação. Em 1995, se criou a Red Interamericana
de la Vivienda Saludable como instrumento de uma iniciativa pan-americana de habitação
saudável, hoje integrada por 16 países (COHEN; AMARAL, 2003).
105
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Bases Conceituais
Entendendo a habitação como um espaço onde a função principal é ter a qualidade de
ser habitável, faz-se necessário que em uma análise mais aprofundada se incorpore à
visão das múltiplas dimensões1 que compõem a habitação. Nesse conceito deve estar
incluso o entorno, como ambiente, fator de saúde de seus moradores.
106
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Nessa direção, a RBHS prioriza, como ferramenta, quatro estratégias de ação, a saber:
padrões de habitabilidade; educação em saúde; análise de risco; e participação comunitária.
Identificam-se tais estratégias como mecanismo indispensável de articulação entre a
habitação saudável e o Programa de Saúde da Família.
107
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tendo como principal objetivo a redução dos problemas de saúde gerados pela
habitação, as ações por uma Habitação Saudável podem ser desenvolvidas em três grandes
blocos: investigação dos fatores determinantes da situação; seu diagnóstico; orientação
2 Atenção Primária Ambiental refere-se a uma estratégia preventiva e participativa onde se reconhece o direito humano
à vida em um ambiente saudável, sendo as pessoas informadas sobre os riscos relacionados a sua saúde e bem-estar.
108
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Para cumprir tais objetivos, a RBHS vem discutindo a criação de novos instrumentos
que facilitem esse processo. Como resultado desse debate, estão sendo desenvolvidos,
em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde da Cidade do Rio de Janeiro, Coordenação
do PSF da CAP 3.1 (Área de Planejamento 3 — Rio de Janeiro) e Centro Saúde Escola
Germano Sirval Faria/Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/FIOCRUZ), três grandes
ações, que se estabeleceram a partir do Seminário Família Saudável e Habitação Saudável,
acontecido na ENSP, em agosto de 2003. São elas:
Os agentes passam a ter uma visão ampliada do conceito de saúde (OMS), incorporando
noções de hábitos saudáveis, qualidade de vida e conhecimento de ações minimizadoras dos
fatores de risco. Sua abordagem deve se dar de forma interativa e participativa, tornando-
109
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
110
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Usar conceitos de
Diagnóstico da realidade
Sustentabilidade sustentabilidade no projeto e
local
implantação dos módulos
111
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
112
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Considerações Finais
Com pouco mais de um ano de existência, a RBHS avança no sentido da estruturação de
uma forte aliança estratégica, baseada na articulação com o Ministério da Saúde, através do
Programa Saúde da Família, Coordenação Geral da Vigilância Ambiental, Fundação Nacional
de Saúde e Fundação Oswaldo Cruz, e outras entidades como a Red Interamericana de la
Vivienda Saludable, a OPAS, a Secretaria Municipal de Saúde da Cidade do Rio de Janeiro, a
Coordenação do PSF — Área de Planejamento 3.1/Rio de Janeiro. Essas articulações visam
o trabalho em rede para facilitar o intercâmbio entre experiências e o fortalecimento da
capacidade nacional no enfrentamento de problemas locais de habitação saudável.
113
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Por outro lado, a rede tem como perspectiva o estreitamento de laços com diversas
Secretarias Municipais de Saúde no sentido de implementar, através dos municípios,
projetos de capacitação dos agentes municipais de saúde. Ela enfatiza a necessidade da
implementação de uma política pública de melhorias habitacionais vinculada a ações
como a abertura de linhas de crédito e programas técnicos de assessoria comunitária, a
exemplo do Arquiteto Comunitário, de Cuba, e o urbanizador social, em estudo para
Porto Alegre. Trata-se de uma política centrada no modelo de espaços saudáveis, onde
se reconhece a importância da qualidade do ambiente, das condições de vida e da
satisfação plena das necessidades humanas como componentes fundamentais para a
preservação da saúde.
114
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Referências
BUSS, P. M. et al. Promoção da Saúde e Saúde Pública. Rio de Janeiro: ENSP, 1998.
COHEN, S. C. et. al. Habitação Saudável no SUS: uma estratégia de ação para o PSF:
uma incorporação do conceito de habitação saudável na política pública de saúde. Rio de
Janeiro: Rede Brasileira de Habitação Saudável, ENSP, 2003.
115
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
116
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
CAPÍTULO 6
ENFERMIDADES NÃO-TRANSMISSÍVEIS NA
ATENÇÃO BÁSICA:
NOVO DESAFIO PARA O PSF
Maria Lúcia Carnelosso
Superintendente de Políticas de Atenção Integral à Saúde da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás
Maria Alves Barbosa
Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás
Ana Luiza Lima Sousa
Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás
Estelamaris Tronco Monego
Docente da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Goiás
Magna Maria Carvalho
Subgerente da Vigilância Epidemiológica da Superintendência de Políticas de Atenção Integral à Saúde da Secretaria Estadual de
Saúde de Goiás
Resumo
Discute a necessidade de mudança do modelo de assistência, tendo como referencial
experiências cuja implantação tem mostrado eficácia e possibilidade de reprodução em
contextos similares. Faz considerações sobre a iniciativa CARMENT e o Programa Saúde
da Família, como estratégias altamente eficazes na Atenção Básica. Relata a experiência
de Goiás — Brasil, que com o apoio da OPAS implantou um novo modelo de assistência.
Evidencia desdobramentos importantes na área de saúde.
Introdução
As concepções sobre sanidade e saúde têm uma construção social diferente ao longo
da história. As relações sociais dos homens têm determinado a sua qualidade de vida e o
seu modo de pensar a vida. Essas relações privilegiam o espaço urbano para acontecer.
117
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A segunda opção entendia a doença como um ser ou algo que penetra no homem e o faz
adoecer. Trata-se de uma concepção ontológica, que tem em Galeno seu mais árduo defen-
sor. Historicamente a concepção ontológica prevaleceu por todo o período da Idade Média
e seus medos de miasmas, até adentrar a Modernidade. Durante o século XIX, a humani-
dade viu um grande avanço científico e tecnológico, principalmente sobre o controle de
doenças infecciosas e parasitárias (CANGUILHEM, 1982).
Atualmente, as doenças crônicas são responsáveis por 60% de todo o ônus decorrente de
doenças no mundo. O crescimento é tão vertiginoso que, no ano de 2020, 80% da carga de
doenças dos países em desenvolvimento deverão advir de problemas crônicos. Nesses países,
a aderência aos tratamentos chega a ser apenas de 20%, levando a estatísticas negativas na
área da saúde com encargos muitos elevados para a sociedade, o governo e os familiares.
Até hoje, em todo o mundo, os sistemas de saúde não possuem um plano de gerenciamento
das doenças crônicas; simplesmente tratam os sintomas quando aparecem (OMS, 2002).
Dentre essas, as doenças do aparelho circulatório respondem por 32,4% do total de óbitos
ocorridos no país (BRASIL, 2001). Em Goiás, segundo a mesma fonte, essas causas representam
12,4% das internações na rede do Sistema Único de Saúde — SUS. A prevenção dessas doenças
está intimamente ligada a mudanças de estilo de vida e comportamento. O sedentarismo, o
tabagismo e a ingestão excessiva de alimentos não-saudáveis, abuso de bebidas alcoólicas e
o estresse são as principais causas e fatores de risco para as doenças crônicas.
118
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Monteiro (1995) define política de saúde como a ação ou omissão do Estado enquanto
resposta social diante dos problemas de saúde (danos e riscos) e seus determinantes,
bem como a intervenção sobre a produção, distribuição e regulação de bens, serviços e
ambientes que afetam a saúde dos indivíduos e da coletividade.
A doença é o lado sombrio da vida, uma espécie de cidadania mais onerosa. Todas as pessoas
vivas têm dupla cidadania, uma no reino da saúde e outra no reino da doença. Embora todos
prefiramos usar somente o bom passaporte, mais cedo ou mais tarde cada um de nós será
obrigado, pelo menos por um curto período, a identificar-se como cidadão do outro país
(SONTAG, 1984).
119
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A 11.ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 2000, que trouxe como tema
central “Efetivando o SUS: Acesso, Qualidade e Humanização na Atenção à Saúde com
Controle Social”, continuou afirmando que o modelo vigente é inadequado e não atende
aos problemas de saúde no país com eqüidade, mantém um caráter assistencialista,
incapaz de responder às necessidades da população. Este quadro se delineia a partir de
um modelo curativo, voltado para a doença, onde atuam, em sua maioria, profissionais
despreparados, consolidando o distanciamento entre o formal e o real na assistência à
saúde no país (BRASIL, 2000).
Várias têm sido as tentativas de intervenção no sentido de intervir sobre este quadro
de forma mais resolutiva, dentre as quais propostas internacionais bem-sucedidas, a
exemplo da Finlândia (Projeto da Carélia do Norte); da Europa (Programa CINDI). As
áreas prioritárias deste modelo incluem a intervenção sobre o tabagismo, a hipertensão
arterial, o estado nutricional e o consumo alimentar, o colesterol sangüíneo elevado e os
programas direcionados a jovens (OMS, 2000).
A partir desses modelos, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) vem apoiando
iniciativas que visam incorporar o controle e a prevenção integrada das enfermidades
não-transmissíveis (ENTs) nas agendas de saúde pública. Surge, assim, a estratégia CAR-
MEN (Conjunto de Ações para Redução Multifatorial das Enfermidades Não-Transmissí-
veis) ratificada na 23.ª Conferência Sanitária Pan-Americana, em 2002, como sendo a
principal estratégia para a prevenção integrada de ENTs, para as Américas (OPAS, 2000)
O Canadá e o Chile foram os primeiros países a implantarem a estratégia, em 1996,
e desde então se estendeu para 7 países. Dentre as finalidades da iniciativa CARMEN,
evidencia-se a redução dos fatores de risco associados às ENTs. Isso se consegue através
do desenvolvimento, da implementação e da avaliação de políticas públicas, da mobilização
social, de intervenções comunitárias, da vigilância epidemiológica das condições de risco
para as ENTs e os serviços preventivos de saúde (OPAS, 2003).
Em 1998, a Secretaria de Estado da Saúde em Goiás — Brasil, com o apoio da OPAS,
implantou a iniciativa CARMEN com a denominação de CARMENT, como estratégia para
enfrentamento e mudança do modelo de assistência vigente. A partir dessa experiência,
o Brasil integra a rede de países das Américas com iniciativa CARMEN implantada, sendo
o único estado a utilizar essa metodologia no país.
Essa iniciativa propõe-se: implementar abordagens para fatores de risco junto à
população de forma integrada e intersetorial; iniciar a intervenção em áreas demonstrativas
que sejam monitoradas e avaliadas adequadamente para logo estender a experiência a
outros municípios, estados ou países; e utilizar a estratégia de colaboração internacional
de maneira que se estimule o intercâmbio de experiência entre países.
120
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
A Iniciativa em Goiás
A implantação dessa iniciativa em Goiás fez surgir o Comitê Diretivo do CARMENT,
com representantes das instituições parceiras (Universidade Federal de Goiás,
Universidade Estadual de Goiás, Secretaria de Estado da Educação, Secretaria de Esporte
e Lazer, Sociedades Goianas de Endocrinologia e Cardiologia, Liga de Hipertensão Arterial
da Universidade Federal de Goiás e Secretaria Municipal da Saúde de Goiânia). Esse
comitê definiu dois critérios para adesão dos municípios, quais sejam, a decisão política
do gestor local em adotar essa nova metodologia e a existência de Equipes Saúde da
Família (ESFs), por ser essa a forma de garantir a sustentabilidade da nova estratégia.
Com base nesses dados, o Comitê CARMENT propôs para o Distrito Sanitário Leste as
ações de intervenção, com a participação da comunidade. Integram essas ações a
capacitação dos profissionais de saúde para diagnóstico precoce de fatores de risco para
as ENTs, a abertura de espaços de lazer para o estímulo de exercícios físicos regulares, a
proposição de uma investigação junto a crianças e adolescentes da rede de ensino buscando
a detecção e intervenção precoce sobre os fatores de risco detectados.
121
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Essa estratégia não só eleva o acesso da população ao sistema, como também proporciona
considerável melhoria na qualidade do atendimento oferecido, traduzido por um atendimento
mais resolutivo e integrado das equipes de saúde com a comunidade, o que traz um
admirável grau de satisfação da população e dos próprios profissionais (CHAVES, 2002).
Tem sido um grande desafio para a área de saúde vivenciar a transição do paradigma
biomédico para outro, que privilegia o aspecto cultural de indivíduos e grupos familiares.
A decisão política dos gestores de saúde locais, a mobilização dos segmentos organizados
da sociedade para o enfrentamento dos problemas de saúde de forma integrada e
intersetorializada, bem como a capacitação dos profissionais que fazem parte das Equipes
de de Saúde da Família têm-se mostrado eficazes na condução e sustentabilidade deste
novo modo de atenção à saúde. Por outro lado, a reordenação do modelo assistencial, com
a descentralização e o fortalecimento dos municípios, exige modificações estruturais
profundas no atual mercado de trabalho dos profissionais de saúde e requer reformulação
de suas práticas para atuar no novo modelo assistencial. Deste modo, projetos de educação
permanente foram surgindo no âmbito das instituições e conteúdos sobre a nova modalidade
de assistência continuam sendo inseridos nos cursos de graduação e pós-graduação.
122
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
A proposta do PSF que está sendo implementada pelo Ministério da Saúde, pelas
Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, através do trabalho de equipes locais, permite
maior diversidade das ações e considera os aspectos culturais e sociais daquela população.
Segundo Leininger (1991), para se chegar a um estado de saúde (bem-estar) devem-se
considerar os fatores culturais e sociais, que vão influenciar o padrão de cuidado. Vale
considerar que satisfazer necessidades de saúde num contexto amplo de diversidade
cultural não é uma tarefa muito simples.
Tendo claro que as ENTs estão relacionadas a comportamentos de risco, tais como o
sedentarismo, o tabagismo, a ingestão excessiva de alimentos não-saudáveis, o abuso de
bebidas alcoólicas e o estresse, foi estabelecida uma área de demonstração local que
contemplasse a mudança das práticas dos profissionais de saúde que prestam assistência
na atenção às ENTs. Dessas práticas centradas no indivíduo e no tratamento a doenças,
partiu-se para a sistematização e organização dos serviços de saúde da Atenção Básica, a
partir do conhecimento por parte dos profissionais de saúde, autoridades e comunidade
local da situação epidemiológica das ENTs e seus fatores de risco, além do planejamento de
ações de intervenção local de forma integrada e intersetorializada. Para tanto, vem sendo
buscado o envolvimento de diferentes segmentos organizados da sociedade, tais como
igrejas, comércio, indústria, secretarias de educação, esporte e lazer, universidades,
sociedades científicas e representantes dos Conselhos Locais de Saúde.
123
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Ministério da Saúde, para implantação da vigilância de fatores de risco para ENTs. Ainda,
a interiorização da proposta com a implantação, em Firminópolis, da iniciativa CARMENT
e no município de Quirinópolis, da iniciativa CARMENT e o Projeto Mega Country.
Finalizando, considera-se que a atuação das equipes do PSF permite a aproximação dos
indivíduos sem perder de vista o coletivo e as interações sociais. E no caso específico das
doenças crônicas, tem-se mostrado como o modelo mais provável para alterar a realidade,
a partir dos indivíduos e a mudança de seus comportamentos e hábitos de vida.
As considerações aqui realizadas quanto aos aspectos sociais estão respaldadas pelo
estudo de Chaves (2002), que discutiu percepções da população, indicando melhoria do
acesso aos serviços de saúde e da resolubilidade nas ações desenvolvidas pelo PSF. Sendo
a iniciativa CARMENT implantada nas regiões onde há equipes do Programa Saúde da
Família, há indícios de que o novo modelo facilita a atenção, o controle dos fatores de
risco e a promoção da saúde.
124
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Referências
CHAVES, L. M. Programa Saúde da Família: satisfação dos membros das famílias inscritos
em Goiânia. 2002. 118f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) — Centro de Ciências
Biológicas e Saúde, Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.
125
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÕES PARA SAÚDE. IDB 2001 Brasil. Brasília, 2001.
TESTA, Mario. Pensar em saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. 226p.
126
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
CAPÍTULO 7
CÍRCULOS VIRTUOSOS E BOAS PRÁTICAS EM
SAÚDE DA FAMÍLIA
Flávio A. de Andrade Goulart
Doutor em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ; Secretário Municipal de Saúde de Uberlândia-MG. E-mail:
fgoulart@uberlandia.mg.gov.br
Resumo
O presente artigo deriva de um trabalho mais extenso cujo objetivo geral foi analisar
a implementação do Programa de Saúde da Família — PSF no país, observando as relações
entre os aspectos normativos, explicitados no processo de formulação pelo Ministério da
Saúde, de um lado e, de outro, as inovações locais decorrentes de sua (re)formulação e
implementação descentralizada. O pressuposto geral era que o PSF, como toda política
social, situa-se em um movimentado cruzamento de princípios e estratégias políticas e
operacionais, onde são freqüentes as contradições, de natureza político-ideológica ou
conceitual. A hipótese central era que o PSF surgiu no âmbito de um conflito entre a
normatização dura, realizada pelo governo federal e as iniciativas dos governos municipais,
nas quais prevaleceram a flexibilidade e as inovações de caráter local. Foram analisados,
dessa forma, os processos de formulação e de implementação de diferentes casos de
PSF, a saber: o programa nacional brasileiro e os programas desenvolvidos em cinco
municípios e mais duas experiências pioneiras do Sul do país (GOULART, 2002).
1. Introdução
A seleção dos casos do estudo teve como ponto de partida a evidência de experiências
de PSF consideradas bem-sucedidas, ou seja, que tenham sido premiadas na I Mostra
Nacional do PSF realizada pelo Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde
(DAB/MS) em outubro de 1999 (BRASIL, 1999), ou pelo Conselho Nacional de Secretários
127
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 1
Justificativas da escolha de casos para estudo
128
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
2.1 Contagem
O município de Contagem, antigo centro fiscal de “contagem” de mercadorias na
época do Império, localiza-se na zona metalúrgica mineira, fazendo parte da região
metropolitana de Belo Horizonte, distando não mais do que 20 km do centro da capital,
com a qual é conurbada. Sua população de 537.806 habitantes, da qual cerca de 99%
residem em zona urbana, conforme dados do censo de 2000. Representa o segundo maior
contingente populacional de Minas Gerais, sendo também seu maior pólo industrial, com
um PIB que é considerado o segundo do estado em valor. A sua densidade demográfica,
expressivamente alta, é de 2.762,84 hab/km².
2.2 Curitiba
Curitiba, capital do Paraná, é uma cidade três vezes centenária, com uma história
ligada aos vários ciclos (mineração, gado, café e industrialização) que fazem parte da
herança cultural e econômica típica da Região Sul do Brasil. É uma cidade-pólo típica,
agregadora de conhecimentos e de tecnologia, constituindo um grande centro de serviços
de saúde, de cultura e de ensino, para todo o estado do Paraná, demais estados das
regiões Sul e Sudeste do Brasil e mesmo para países da bacia platina. Tem também como
característica marcante a migração, principalmente européia, tendo como etnias
predominantes a polonesa e a italiana, além da japonesa.
129
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2.3 Ibiá
Ibiá é uma cidade situada na parte oeste de Minas Gerais, no chamado Alto Paranaíba,
berço de águas formadoras da bacia do Rio Paraná. Seu nome deriva do idioma tupi e
significaria “terras altas” ou “águas altas”. Situa-se a 300 km da capital do estado. Sua
história está ligada à do trajeto que unia as minas de Vila Rica àquelas de Goiás, pelo
qual transitavam tropeiros e comerciantes.
No censo de 2000, Ibiá apresentava cerca de 21 mil habitantes, dos quais 80% residiam
em zona urbana, principalmente na sede do município e também em três distritos menores.
Possui extensa área territorial, cerca de 2,7 mil km2 e sua densidade populacional é baixa,
com menos de oito habitantes por km2. Não existem estabelecimentos de ensino superior
no município. Suas relações econômicas, comerciais, culturais e de saúde se fazem
principalmente com Araxá (distante 50 km), Uberaba (140 km) e Uberlândia (220 km). Com
a capital do estado, as relações são essencialmente de cunho político-administrativo.
2.4 Niterói
Niterói, cidade quatro vezes centenária, detém historicamente posição apenas secundária
entre as cidades do Sudeste do Brasil, por força da pujança política e econômica da cidade
vizinha do Rio de Janeiro. Foi capital do estado, mas por todo o tempo teve sua presença
ofuscada pela metrópole que se expandiu na banda oeste e sul da Guanabara. A cidade está
praticamente conurbada com a de São Gonçalo, somando juntas cerca de um milhão de
habitantes, fazendo parte de uma área metropolitana típica, que se estende dos dois lados
da Baía de Guanabara, com problemática urbana intensa e indicadores sofríveis de saúde,
saneamento e de qualidade de vida em geral. Entre todos os problemas da região, destaca-
se a forte presença do crime organizado, principalmente o tráfico de drogas. O resultado
mais visível desta situação é o alto índice de violência, que constitui o primeiro lugar na
mortalidade, afetando principalmente os jovens, já a partir dos 14 anos de idade.
130
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
O município tem população pouco superior a 260 mil habitantes pelo censo de 2000 e
índice de urbanização da ordem de 85%. A população rural, embora proporcionalmente
pequena (para os padrões nordestinos) está extremamente dispersa, existindo na zona
rural do município cerca de 284 povoados de variados tamanhos. Seus indicadores
urbanísticos se apresentam como bastante precários: no saneamento básico, a rede de
abastecimento de água não alcança mais do que 55% da população urbana e a de esgotos
chega apenas a 35% na zona urbana; a coleta de lixo atende a quase 100% da população
urbana, mas o produto é depositado a céu aberto. Na zona rural, esses indicadores são
bem piores. A economia do município está assentada, via de regra, na prestação de
serviços, particularmente nas áreas de educação e saúde, além da agricultura e do
comércio, com a abrangência bi-estadual, já citada acima. A produção agrícola está
baseada no café, implantado intensivamente na região a partir dos anos 70, a qual,
entretanto, já teve seu apogeu e hoje está em declínio, o que estaria afetando de forma
marcante a vida econômica e social do município.
131
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 2
Aspectos Diferenciais dos Municípios Estudados
Po pula ç ã o 600 mil 1,4 milhão 25 mil 450 mil 250 mil
Periferia de
Cla ssific a ç ã o Periferia de Região Sede de Região Porte
Região Porte Médio
NESUR/Unic a mp Metropolitana Metropolitana Médio
Metropolitana
1 A expressão resgata o título da tese que deu origem a este texto, ou seja, “Experiências de Saúde da Família: cada
caso é um caso?” e sua preocupação de caracterizar as singularidades, similaridades e diferenças entre as experiên-
cias de PSF estudadas em cinco municípios brasileiros.
132
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
133
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Quadro 3
Contextos e Desempenho das Experiências
A NTECEDENTES CONSEQÜENTES
CA SOS CONCRETOS
(CONTEXTOS) (DESEMPENHO)
Dito de outra forma, o primeiro caso seria aquele onde tudo convergia para o melhor
dos mundos e, de fato, os acontecimentos confirmaram os indicativos do contexto social
e político. No segundo caso, nem tudo era favorável. No entanto, o desenvolvimento dos
programas apresentou bons resultados. Já no terceiro, tanto havia fatores negativos
como positivos no contexto, mas o sucesso obtido frustrou-se, depois de uma eleição
malsucedida, aliás, o único evento dessa natureza entre todos os casos examinados.
Assim, em Curitiba e Niterói, o cenário prévio era marcado por: continuidade política,
tradição de luta e discussões pela saúde; presença de lideranças de base carismática,
empreendedora e ideológica; equipes técnicas qualificadas; sociedade local com um bom
grau de organização; condições de sustentabilidade adequadas (pelo menos em relação aos
principais obstáculos políticos); presença marcante de inovações (mais em Curitiba); forte
articulação externa, além de fatores culturais com peso positivo sobre as experiências.
O que aconteceu nessas cidades foi o esperado: experiências duradouras, sem retrações
134
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
2 As expressões comunidade epistêmica, questão médica, bom governo, rede PT e outras, destacadas em itálico no
texto, dizem respeito a categorias analíticas desenvolvida na tese do autor, já citada (GOULART, 2002).
3 Cardosismo: diz respeito ao modo de fazer política característico do ex-governador de MG e ex-Prefeito de Contagem,
Newton Cardoso, traduzido por certo populismo e clientelismo.
135
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Alguns conceitos merecem ser firmados. Primeiro: seria engano supor que a formulação
do PSF seja uma prerrogativa exclusiva do Ministério da Saúde, enquanto aos gestores locais
caberia apenas sua implementação. Ao gestor federal caberia, sem dúvida, a ação de formular,
mas ao mesmo tempo estaria imerso em processos de implementação, recebendo
permanentemente retroalimentação dos níveis locais. Ao mesmo tempo, aos gestores locais
caberia implementar, mas sem perder de vista as nuanças da dinâmica e do câmbio permanente
da realidade local — o resultado é que sua ação se daria em torno de um complexo de interações
que incluiriam formulação-implementação-avaliação-reformulação, nem sempre
necessariamente nesta ordem, mas com conexões importantes entre si.
136
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
137
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
138
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
(f) A ação foi sempre subsidiada pelos conteúdos essenciais da Reforma Sanitária e do
SUS, com incorporação de uma nova pauta de discussões contemporâneas envolvendo, por
exemplo, qualidade de vida, vigilância e promoção da saúde, ética, humanização, etc.
(h) Embora o PSF fosse sem dúvida bem aceito pelas comunidades, predominavam
em relação ao mesmo, por parte das representações de usuários, posturas de “gratidão”
e reconhecimento, mas não necessariamente reivindicações pró-ativas.
(i) Pareciam ser mais expressivas as possibilidades de se ter melhores PSFs naqueles
municípios onde a sociedade se encontrava mais bem organizada, seja no plano político
geral, seja em relação a temas e setores específicos, configurando o que se denominou
de comunidade cívica e capital social (PUTNAN, 1994).
(j) Os ritmos de implementação dos PSFs tiveram como regra a aceleração, ou mesmo
de uma autêntica explosão — big-bang (VIANA, 1997), guardando, por vezes, sintonia
com os ciclos do calendário político-eleitoral vigente nos municípios.
139
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
(p) Fatores culturais de diversas naturezas, seja ligados aos usuários, seja aos
profissionais, perpassavam de modo geral o quadro das experiências, influenciando seu
desenvolvimento de forma negativa ou mesmo positiva (MORGAN, 1986).
A lista abaixo oferece uma tentativa de sistematização, mas certamente não tem
caráter exaustivo, dada a riqueza e a complexidade dos processos em jogo. Além do
mais, procurou-se inserir nestas linhas apenas aquilo que parece interessar ao maior
conjunto possível de atores, deixando de lado, portanto, aspectos considerados
demasiadamente particulares ou de aplicação muito restrita.
(a) Boa condução é muito importante e, entre seus atributos, podem ser arrolados
capacidade de tomada de decisões, liderança, carisma, espírito empreendedor,
embasamento ideológico, além de qualificação técnica e continuidade.
140
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
(b) A boa condução teria pouco a oferecer se não contasse com boas equipes técnicas,
aspecto que pode ser traduzido por qualificação de conhecimentos, tradição de discussões em
saúde, base ideológica, capacidade empreendedora associada a militância, sintonia com o
projeto político, aceitação da liderança, organização e inserção em entidades representativas.
(c) Boas práticas sociais também possuem um lugar de destaque, traduzidas: por
equilíbrio e sintonia entre as propostas de participação originadas do governo e as da
sociedade; associação sinérgica entre as noções de responsabilidade pública e de direito
à saúde; bem como produção de efeitos concretos como resultado de tais práticas.
(d) Como decorrência, a presença de um bom governo, que se traduz por práticas
políticas e administrativas transparentes, efetivas e socialmente aceitáveis, que se
estendem bem além do campo da saúde, tendo como substrato ideológico as noções de
cidadania, direitos coletivos e responsabilidade pública.
141
Referências
TENDLER, J. Bom governo nos trópicos: Uma visão crítica. Brasília: ENAP: Rio de Janeiro:
Revan Editora, 1998.
WALT, G.; GILSON, L. “Reforming the health sector in developing countries: the central role
of policy analysis”. Health Policy and Planning, [S.l], v. 9, n. 4, p. 353-370, 1994.
CAPÍTULO 8
ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA E
ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DE
SOBRAL — CEARÁ — BRASIL: PRINCIPAIS AVANÇOS
E DESAFIOS NA PERSPECTIVA DE PRODUZIR
MUDANÇAS POSITIVAS NA SAÚDE
Luiz Odorico Monteiro de Andrade
Médico, Doutorando em Saúde Coletiva pela Universidade de Campinas, Professor Assistente da Faculdade de Medicina da
UFC/Sobral, Secretário de Desenvolvimento Social e da Saúde de Sobral/Ce e Presidente do CONASEMS.
Ivana Cristina de Holanda Cunha Barrêto
Médica, Doutoranda em Pediatria pela Universidade de São Paulo, Professora Assistente da Faculdade de Medicina da UFC/
Sobral e Diretora de Ensino e Pesquisa da Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia.
Neusa Goya
Assistente Social, Especialista em Gestão de Sistemas Locais de Saúde e Assessora Técnica do CONASEMS.
Tomaz Martins Júnior
Cirurgião Dentista, Mestre em Gestão e Modernização Pública, Assessor Técnico da Escola de Formação em Saúde da Família
Visconde de Sabóia.
Resumo
A experiência do município de Sobral — Ceará — Brasil, apresenta a idéia força de que
a Saúde da Família é uma estratégia estruturante do modelo de atenção à saúde, carac-
terizando-se como potencializadora dos processos que desenvolvem o Sistema Único de
Saúde (SUS) e seus princípios norteadores, como a integralidade, a universalidade e a
eqüidade. Para tanto, são aprofundados, na experiência do município de Sobral, aspec-
tos como a concepção, a organização e o funcionamento da Estratégia Saúde da Família,
cujo desenvolvimento tem possibilitado a produção e a sistematização de importantes
saberes e práticas da gestão municipal, construídos nos espaços do serviço, no território
vivo. É o que indica a estratégia da educação permanente implementada no sistema de
saúde de Sobral, pela Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia.
Através da práxis da Saúde da Família, desenvolvida no município, novas tecnologias em
saúde, altamente complexas, têm sido elaboradas, como por exemplo: o método da Ten-
da Invertida; a sistematização de um campo comum de conhecimento construído no
143
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
144
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Sobral é considerado um município pólo, tendo destaque não somente seu crescimento
e influência na economia local da região, mas também a implementação de políticas públi-
cas integradas, o que tem impulsionado o desenvolvimento sociocultural em âmbito regio-
nal. Os serviços públicos municipais são tidos como referência na região centro-norte.
De 1997 a 2003, verifica-se uma melhoria da qualidade dos serviços e da atenção presta-
da à população, além da ampliação dos equipamentos sociais, melhoria da infra-estrutura
145
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
O modelo de atenção à saúde está organizado com base nos princípios e diretrizes do
SUS. A concepção de saúde adotada é abrangente e positiva, não se limitando à atuação
do setor saúde, mas requerendo o exercício de práticas intersetoriais e interdisciplina-
res, construídas a partir da contribuição de diferentes atores e áreas do conhecimento.
O sistema de saúde dispõe de uma rede física capacitada para a realização de servi-
ços de saúde em seus diferentes níveis de complexidade, o que faz com que o município,
no modelo estadual de reorganização da saúde, seja referência em âmbito micro e ma-
crorregional1 .
1 Segundo o Plano Diretor de Regionalização do Ceará, o estado encontra-se dividido em 21 microrregiões e três macrorre-
giões de saúde. A microrregião de Sobral está constituída por uma população de 549.257 habitantes (inclui a população de
Sobral e de mais dez municípios circunvizinhos) e a macrorregião por 1.418.663 habitantes (engloba as microrregiões de
Sobral, Acaraú, Tianguá, Crateús e Camocim, totalizando 21 municípios, além do próprio município de Sobral).
146
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
A partir dessa rede física, a SDSS tem estruturado os serviços de atenção primária,
secundária e terciária. A assistência primária é prestada através das Equipes de Saúde
da Família que, na medida do necessário, encaminham os pacientes para os serviços
secundários ou terciários. O agendamento das consultas ambulatoriais especializadas e
exames complementares é feito por meio da Central de Marcação de Consultas, implan-
tada em 1998, pela SDSS. Além dos pacientes do próprio município, a central agenda os
atendimentos para todos os municípios da micro e macrorregião de Sobral, com referên-
cias devidamente programadas durante a Programação Pactuada e Integrada — PPI.
III — A ESF prioriza em suas bases teóricas a promoção da saúde, o que não significa
desprezar a clínica, visto que a integralidade da atenção é um dos seus princípios norteadores.
IV — A ESF tem o coletivo como seu foco de atenção, entendendo que os indivíduos
estão inseridos em uma família e esta última em determinado grupo populacional, e que
o processo saúde-doença é determinado socialmente, e, conseqüentemente, só uma abor-
dagem coletiva poderá efetivamente provocar um impacto profundo e duradouro nesse
processo. Isto não significa que a abordagem individual deverá ser desprezada.
147
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
V — A ESF, por ser sendo historicamente muito recente, não se constitui em um modelo
acabado, pelo contrário. Está em pleno processo de aprofundamento de suas bases concei-
tuais e criação de uma nova práxis entre os trabalhadores integrantes das equipes. Tal
construção ocorre concomitantemente ao seu crescimento quantitativo. É preciso lembrar
ainda que esse crescimento está sendo estimulado por uma grande aceitação popular, haja
vista sua aprovação em centenas de Conferências Municipais, Estaduais e Nacionais de
Saúde realizadas no Brasil no processo de implementação do SUS (BRASIL, 2000b).
148
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Tabela 1
Distribuição de equipes do PSF segundo situação do domicílio e razão
equipe por habitantes e equipe por famílias em Sobral
Situação de novembro/2003
149
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Tabela 2
Distribuição das equipes e profissionais da ESF por ADS em Sobral-CE
150
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
i. Estimativa rápida
A primeira iniciativa da SDSS em 1997 foi realizar o diagnóstico de saúde do municí-
pio. Foram visitadas todas as Unidades de Saúde em funcionamento na época. Partindo
de dados secundários da própria Prefeitura Municipal, do Datasus, do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística — IBGE e Sistema Nacional de Embrego — SINE, foi elaborado
o diagnóstico, que contou com uma análise da estrutura demográfica, socioeconômica,
da rede de serviços de saúde existentes e de indicadores de saúde da população. Na
medida em que as Equipes de Saúde da Família eram implantadas, cada equipe se encar-
regava, com apoio de técnicos da SDSS, de realizar o levantamento das informações e
problemas de saúde prioritários de seu território de abrangência.
151
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
tantes em cada território, gerando relatórios com informações essenciais para o plane-
jamento das equipes, como taxa de cobertura vacinal, cobertura de consultas de pré-
natal, percentual de crianças até 4 meses em aleitamento materno exclusivo, número de
casos de hanseníase e tuberculose, óbitos infantis e maternos etc. (BRASIL, 2000b).
iv. Salas de Situação em Saúde: construindo uma inteligência epidemiológica no nível local
Cada Equipe de Saúde da Família organizou em sua unidade um conjunto de informa-
ções em saúde que ficam expostas no formato de cartazes com atualização semanal ou
mensal dos dados, dependendo do tipo de informação, denominado Sala de Situação de
Saúde. As informações em saúde expostas dessa forma se prestam ao acompanhamento
contínuo da situação de saúde do território, permitindo a tomada de decisões em tempo
hábil e de forma descentralizada, aumentando a efetividade do trabalho da equipe, pro-
piciando ainda o acompanhamento dos indicadores pela própria população e pela SDSS. A
Coordenação de Vigilância à Saúde acompanha o conjunto de indicadores do Sistema
Municipal, alimentando uma Sala de Situação de Saúde virtual na homepage da Prefeitu-
ra. Mensalmente o secretário municipal de saúde envia correspondência (em forma de
carta) a todos os servidores municipais sobre os indicadores de saúde de cada ADS, em
152
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
O planejamento local também passa pelas coordenações da SDSS e por seu Conselho
Gestor, que acompanham problemas prioritários, como a mortalidade infantil e a den-
gue, de forma contínua, num movimento de ida e volta do nível local para a coordenação
do sistema, onde as demandas circulam em movimentos horizontais.
Em Sobral, as Equipes de Saúde da Família vêm passando por esse processo de aprendi-
zado, que no âmbito da atenção à família envolve o domínio de conceitos e técnicas, como
ciclos de vida familiar, heredrograma, visita domiciliar, internações domiciliares e outros.
153
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
munitária foi criada pelo Prof. Adalberto Barreto, da Universidade Federal do Ceará, na
comunidade de Quatro Varas, em Fortaleza (BARRETO, 2003). Foram formados 20 tera-
peutas comunitários e 20 massoterapeutas dentre trabalhadores de saúde e lideranças
comunitárias de Sobral.
154
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Quanto ao acolhimento, aqui esse conceito foi entendido numa perspectiva ampla,
como sendo “receber bem e resolver o problema dos usuários do SUS” no Sistema Muni-
cipal de Saúde como um todo (COSTEIRA, 2000; ALVES SOBRINHO; INOJOSA, 2002). As-
sim sendo, várias ações caracterizam o acolhimento dos usuários em Sobral: a)no Centro
de Saúde da Família, com uma recepção dos pacientes pelos trabalhadores de saúde, que
devem se empenhar em entender e resolver os problemas trazidos pela população de seu
território; b) a humanização das estruturas físicas das unidades de saúde, que fazem os
usuários sentirem-se confortáveis estando nelas; c) a existência de uma lista básica de
medicamentos para distribuição, sem ônus extras para os usuários do SUS; d) a existên-
cia da Central de Marcação de Consultas, que permite o agendamento de consultas e
exames sem deslocamentos extras; e e) a existência do Serviço de Apoio ao Cidadão,
serviço de assistência social que possibilita apoio nos casos em que os pacientes preci-
sam realizar algum tratamento em Fortaleza, capital do estado, ou necessita de uma
órtese ou prótese; enfim, muitas outras ações poderiam ser relacionadas como fazendo
parte de um modelo de acolhimento dos usuários no Sistema Municipal de Saúde, sendo
que as relações dos usuários com todas essas ações sempre são mediadas ou efetuadas
pelas Equipes de Saúde da Família.
Outro aspecto importante foi a Coordenação Municipal da ESF ter aplicado o princípio
da eqüidade na distribuição das equipes no território do município. Os bairros onde a
população era mais desfavorecida economicamente e a mortalidade infantil mais eleva-
da, como o Padre Pallhano e os Terrenos Novos, foram contemplados com um número
relativamente maior de equipes que os bairros onde a situação socioeconômica da popu-
lação era melhor. É importante ressaltar que esse aspecto foi fundamental para que o
trabalho das equipes conseguisse impacto nos indicadores de saúde da população, bem
como para viabilização da rede hierarquizada proposta pelo Sistema Municipal de Saúde,
reduzindo a ocorrência de atendimentos ambulatoriais nos serviços de emergência.
155
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Desde 1997, a SDSS estimulou a formação dos Conselhos Locais de Saúde (CLS), que
atuam nos territórios das Equipes de Saúde da Família. São um total de 22 conselhos, com
representação paritária. Através dos CLS, são discutidas as necessidades e as potencialida-
des das comunidades e de seus atores para a resolução dos problemas enfrentados. Trata-se
de uma instância de participação e construção da política de saúde mais próxima da comuni-
dade, portanto, com grande poder de mobilização, organização e regulação social.
Desde agosto de 2001, a SDSS faz uso dessa metodologia de organização e trabalho.
Assim, cada unidade de saúde tem uma roda, que reúne, no mínimo mensalmente, e, em
alguns casos, semanalmente, seus trabalhadores e sua gerência. As decisões sobre os
156
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
problemas cuja governabilidade está na Equipe de Saúde da Família são tomadas na roda
da própria Unidade de Saúde; as demais são encaminhadas para o Conselho Gestor, que
se constitui na roda que congrega todos os coordenadores da SDSS.
Figura 1
Co-gestão coletiva, método da roda na Secretaria de
Desenvolvimento Social e Saúde de Sobral
157
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
158
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Figura 2
Modelo multiprofissional tradicional ou modelo das “Casinhas Paralelas”
Na ESF, esse modelo não responde aos problemas complexos que necessitam ser en-
frentados cotidianamente pela equipe de saúde. Partindo de uma visão sistêmica, o
indivíduo é um todo que faz parte de uma família, inserida em uma comunidade, em
determinado bairro ou distrito, cidade ou país, em um determinado tempo histórico.
Assim sendo, torna-se necessária uma abordagem totalizante para que se alcance o ob-
jetivo de promover saúde entendida como qualidade de vida. As várias categorias profis-
sionais, nesse caso, necessariamente devem trabalhar em conjunto, havendo espaço
para aplicação do campo de conhecimento exclusivo de cada uma em muitas situações.
Entretanto, muito freqüentemente ocorrem situações complexas na comunidade que ne-
cessitam de abordagem interdisciplinar. Os novos e inusitados problemas exigem na
prática e construção de um “novo campo” de saber “comum a todas categorias” dentro
da ESF. Esse “Novo Campo de conhecimento para a ESF”, vai sendo criado a partir da
“intersecção dos conhecimentos, habilidades e práticas de cada categoria”, com o obje-
tivo de responder adequadamente às necessidades de saúde da população, promovendo
qualidade de vida (Figura 3).
159
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Figura 3
A construção da interdisciplinaridade na Estratégia Saúde da Família
160
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Esse processo teve início ainda em março de 1997, abordando temas como Evolução
das Políticas e Saúde, SUS, Sistemas Locais de Saúde, Territorialização, Estimativa Rápi-
da, Informação em Saúde, Epidemiologia, Vigilância Sanitária, Atenção Integral à Saúde da
Mulher e da Criança. Além desse curso, destacou-se já nesse período uma reunião semanal
com todos os membros das Equipes de Saúde da Família, com o objetivo de integrar e
avaliar o trabalho, mas, acima de tudo, dar continuidade a esse processo de qualificação,
constituindo-se também em espaços privilegiados de trocas de experiências entre as equi-
pes. Assim, foi-se estruturando um processo permanente de qualificação para as equipes
de Saúde da Família, na perspectiva de superação do modelo assistencial hegemônico.
Essa qualificação partia de uma reflexão sobre o processo de trabalho, capaz de gerar
novas práticas e conseqüentemente novas reflexões. Esse processo de reflexão-ação-re-
flexão, foi denominado de Educação Permanente.
161
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
162
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Outra ação de destaque que a EFSFVS vem realizando, desde dezembro de 2002, é o
curso seqüencial para agentes comunitários de saúde. Atualmente este curso dispõe de
duas turmas de trinta alunos cada, formada por agentes de saúde que já haviam concluído
o ensino médio. Em um período de dois anos, esse agentes terão um certificado de conclu-
são de um curso superior (também concedido pela UVA). Essa iniciativa foi tomada com o
objetivo de valorizar as competências dos agentes comunitários de saúde e, além disso,
construir condições efetivas de progressão profissional para essa categoria.
163
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Figura 4
Educação permanente na Estratégia Saúde da Família (ESF)
e a proposta da tenda invertida
164
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
O percentual de gestantes que não compareceu a nenhuma consulta foi reduzido de 9,9%,
em 1995, para 1% em 2002 (p=0,001); já o percentual de gestantes que realizaram mais de
seis consultas aumentou de 18,6%, em 1995, para 59,7% em 2002 (p=0,019) (Gráfico 1).
A média mensal das gestantes visitadas pelos agentes de saúde no período estudado
aumentou de 807 para 1.420 (p=0,003). Simultaneamente, o percentual de gestantes que
compareceu à consulta nos últimos trinta dias cresceu significativamente, de 73,9%, em
1995, para 95,1% em 2002 (p=0,001).
Gráfico 1
Evolução do número de consultas de pré-natal, no município de Sobral–CE,
no período de 1995 a 2002
2 Tese da Profa. Dra. Ana Maria Cavalcante e Silva, intitulada O Impacto do Programa de Saúde da Família no
Município de Sobral — Ceará: uma análise da evolução da saúde das crianças menores de cinco anos de idade no período
de 1997-2001, aprovada pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP em setembro de 2003.
165
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
b. Mortalidade Infantil
A redução da taxa de mortalidade infantil (TMI) no período estudado foi estatistica-
mente significativa, de 61,4 no início do estudo para 19,0 por mil nascidos vivos (NV).
Conforme é possível verificar na Tabela 3, a captação de dados sobre NV e óbitos em
menores de um ano apresentava uma subnotificação — 1.530 nascidos vivos, 94 óbitos e
TMI 61,4%. Essa falha na coleta dos dados passou a ser corrigida e em 1998 foram
notificados 4.209 NV e 157 óbitos infantis com taxa de mortalidade infantil de 37,3%. No
ano de 2002, foram notificados 3.422 NV e 65 óbitos em menores de um ano com TMI
decrescente de 19%.
3 Projeto elaborado e supervisionado pela Profa. Dra. Ana Cecília Lins Sucupira, chefe do ambulatório de Pediatria do
Hospital da Criança – Faculdade de Medicina da USP e consultora da SDSS de Sobral.
166
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Em relação às causas de morte no primeiro ano de vida, observou-se uma redução impor-
tante das doenças infecto-parasitárias, representadas sobretudo pelas doenças diarréicas: de
26,6% para 4,6% (82,7%); bem como das doenças do aparelho respiratório: de 12,8% para 1,5%.
No mesmo período cresceu a importância relativa das afecções no período neonatal (Grá-
fico 3) e o percentual de óbitos hospitalares: de 88,3%, em 1995, passou para 95,4%; o
percentual de óbitos infantis no domicílio diminuiu de 6,4%, em 1995, para 4,6% em 2002,
porém não foram significativas estas mudanças (p=0,104; p=0,267, respectivamente).
Tabela 3
Mortalidade infantil/1.000 nascidos vivos, no município de Sobral–CE,
1995–2002
2002 3.422 65 19
Fonte: SILVA, 2003 — dados do SIM e SINASC — Coordenação de Vigilância à Saúde de Sobral
167
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Gráfico 2
Evolução dos componentes da mortalidade infantil,
no município de Sobral–CE,
1995–2002
Fonte: SILVA, 2003 — dados do SIM e SINASC — Coordenação de Vigilância à Saúde de Sobral
Gráfico 3
Causas de óbitos em crianças menores de 1 ano no município de Sobral–CE,
1995–2002
168
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Gráfico 4
Variação dos indicadores de saúde da ciança e da
mulher, no município de Sobral–CE,
1995–2002
Fonte: SILVA, 2003 — dados do SIM, SINASC e SIAB — Coordenação de Vigilância à Saúde de Sobral
169
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
No município de Sobral, no ano 2002 foram confirmados 1.210 casos de Dengue (Gráfico
5), o que corresponde à incidência de 750 casos por 100.000 habitantes. Em 2001 foram
confirmados 1.274 casos de Dengue, 64 casos a menos do que no ano anterior. Observa-se
também que houve uma maior incidência nos meses de maio, junho e julho, enquanto que
em 2001, a incidência maior foi nos meses de janeiro a maio, correspondente ao período de
170
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
chuvas. No ano de 2003, até o mês de outubroo foram confirmados 210 casos de dengue. A
redução do número de casos desse ano foi de 82,6% em relação ao ano de 2002 no mesmo
período, o que representou uma queda significativa na incidência da doença no município.
Gráfico 5
Número de casos confirmados de dengue por mês,
no município de Sobral–CE
2001, 2002 e até junho de 2003
b. Hanseníase
Até 1999, os portadores de hanseníase eram atendidos em uma única Unidade de
Saúde, referência inclusive para vinte e cinco municípios da região norte do estado. A
partir de então, iniciou-se um processo de descentralização do atendimento de casos,
que compreendeu a capacitação dos profissionais de Saúde da Família: agentes de saú-
de, auxiliares de enfermagem, médicos e enfermeiros de família. Houve ainda uma
intensa mobilização social, que contou com o envolvimento de escolas, clubes de serviço,
rádios, lideranças comunitárias e espirituais, como as rezadeiras e curandeiros. Esse
processo levou à efetiva descentralização de todas as ações de controle da doença para
os Centros de Saúde da Família, com aumento do coeficiente de detecção de casos novos
de 7:10.000 habitantes em 1998 para 11,4:10.000 em 2002. A taxa de abandono era de
19,9% em 1998. Em 2002 não houve nenhum caso de abandono de tratamento. O objetivo
da equipe é detectar e tratar todos os casos prevalentes para eliminar a hanseníase
como um problema de saúde pública do município até 2005 (Gráficos 6 e 7).
171
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Gráfico 6
Taxas de detecção e prevalência de hanseníase, Sobral–CE
1997–2002
Gráfico 7
Percentual de abandono de pqt/oms entre os casos que deveriam ter
completado tratamento (coorte) em Sobral–CE
1997–2002
172
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Gráfico 8
Internações por AVC de residentes em Sobral–CE
1997–2002
Tabela 4
Coeficiente de incidência de internações por AVC por 10.000 habitantes
no município de Sobral–CE
1997–2002
A no Nº de interna mento s Po pula ç ão Inc idênc ia
173
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Gráfico 9
Média mensal de hipertensos acompanhados
pelas equipes do PSF de Sobral–CE
1999–2002
174
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Em resumo houve uma significativa redução de internações por asma e no valor total
gasto com internações por esse agravo, concomitante a um aumento no valor médio
pago por AIH. Esses fatos coincidiram temporalmente com o incremento na Atenção Bá-
sica representado pela expansão no número de Equipes de Saúde da Família. Quanto ao
aumento no valor médio da AIH, a hipótese é que tenha decorrido dos reajustes financei-
ros ocorridos no período.
9. Desafios e Perspectivas
A adoção da Estratégia Saúde da Família, como estruturante do modelo de atenção à
saúde no município de Sobral, vem se configurando como uma idéia que, além de corre-
ta, na medida em que gera produtos positivos, é também potencializadora dos processos
que induzem e desenvolvem o SUS e seus princípios como a integralidade, a universali-
dade e a eqüidade.
É sob essa perspectiva que a Estratégia Saúde da Família vem desencadeando, no muni-
cípio de Sobral, a sistematização de importantes saberes e práticas da gestão municipal,
evidenciando que a produção de novos conhecimentos, o aprendizado e o ensino podem ser
vivenciados e construídos nos espaços do serviço. É o que indica a estratégia da educação
permanente implementada no sistema de saúde de Sobral, pela Escola de Formação em
Saúde da Família Visconde de Sabóia. Através da práxis da Saúde da Família, desenvolvida
em Sobral, novas tecnologias em saúde, altamente complexas, têm sido elaboradas, como
por exemplo: o método da Tenda Invertida; a sistematização de um campo comum de conhe-
cimento construído no território a partir do processo de trabalho interdisciplinar das equipes;
a construção e vivência da estratégia da educação permanente para os trabalhadores do
SUS; a implementação dos mecanismos de co-gestão participativa, entre outros processos
complementares que contribuem para a formação de um novo fazer em saúde. A práxis
revoluciona e estrutura o SUS, porque potencializa e viabiliza seus princípios e diretrizes.
175
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Outro aspecto relevante diz respeito à formação interdisciplinar que tem constituído
as Equipes de Saúde da Família de vários municípios. É fundamental que o Ministério da
Saúde reconheça esse processo de trabalho e proponha alternativas de financiamento
para os municípios que estiverem atuando nesse sentido. Além disso, identifica-se a
importância da efetivação dos mecanismos de incentivo por resultados alcançados pela
atuação das equipes.
Destaca-se ainda a extrema necessidade de investimento na política de educação,
formação e qualificação dos trabalhadores da saúde. O trabalho humano é a alma do SUS,
assim como é responsabilidade do sistema ordenar e qualificar os recursos humanos.
Nesse sentido, vale ressaltar a necessidade de uma intervenção, por parte dos gestores
das três esferas de governo, para implantar em grande escala processos de educação
permanente tanto para capacitações específicas demandadas pelo processo de trabalho
em saúde, como também para a formação dos profissionais em modalidades como espe-
cialização, mestrado e doutorado. Chama atenção, inclusive, a necessidade do desenvol-
176
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
Reconhecer que no caminhado trilhado há desafios que impõem uma busca e uma constru-
ção permanente é mais do que positivo. É proativo. Possuídos por esse sentimento e compro-
misso de continuar fazendo saúde, a nova saúde, é que o município de Sobral se manifesta.
Suas contribuições são construídas coletivamente. E, nesse processo de produção coletiva,
reconhece-se a grande contribuição prestada pelos diferentes parceiros. Sobral caminha as-
sim, como aqui relatado, porque tem companheiros. Companheiros solidários pelo SUS.
177
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Referências
178
Experiências e Desafios da Atenção Básica e Saúde Familiar: Caso Brasil
COELHO, L.F.V. “Trabalho pleno: um desafio de política pública em nível local”. Sanare —
Revista Sobralense de Políticas Públicas, Sobral, ano II, n. 3, p. 56-59, out/dez., 2000.
COSTEIRA, A. M. Acolhimento. Disponível em: http://www.sobral.ce.gov.br/saudedafa-
milia. Acesso em: 12 nov., 2002.
CEARÁ. Secretaria da Saúde do Estado. Plano Diretor de Regionalização. Fortaleza,
2001 (mimeo).
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 1996. 165p. (Coleção Leitura).
GOYA, N. O SUS que funciona nos municípios do Ceará. Fortaleza: [S.l.], 1996. p.170.
_______.“Promoção da saúde, poder local e saúde da família”: Estratégias para a construção
de espaços locais saudáveis, democráticos e cidadãos humanamente solidários e felizes.
Sanare — Revista Sobralense de Políticas Públicas, Sobral, v. 4, n. 1, p.51-56, 2003.
HADDAD Q., J.; ROSCHKE, M.A.C.; DAVINI, M.C.(eds). Educación Permanente del Per-
sonal de Salud. Washington: OPS, 1994.
MENDES, R.; DONATO, A.F. “Território: espaço social de construção de identidades e de políti-
cas”. Sanare — Revista Sobralense de Políticas Públicas, Sobral, v. 4, n. 1, p.39-42, 2003.
SANTOS, M. “O espaço e a noção de totalidade”. In: A Natureza do Espaço: espaço e
tempo: razão e emoção. 3a. edição. São Paulo: HUCITEC, 1999. p. 91-100.
SILVA, A. M. O Impacto do Programa de Saúde da Família no Município de Sobral — Ceará:
uma análise da evolução da saúde das crianças menores de cinco anos de idade no período de
1995-2002. out 2003. Tese (Doutoramento em Pediatria) — Faculdade de Medicina, Universi-
dade de São Paulo, São Paulo, 2003.
SILVA Jr. Modelos Técnico-Assistenciais em Saúde. São Paulo: Editora Hucitec, 1998.
SOBRAL. Secretaria de Desenvolvimento Social e da Saúde. Plano Municipal de Saúde.
Sobral, 2001 (mimeo).
SUCUPIRA, A.C.L. et. al. “Projeto Trevo de 4 Folhas: uma estratégia para redução da
mortalidade materna e infantil”. In: Anais do Congresso da Associação Brasileira de
Saúde Coletiva, 1, 2003, Brasília: Abrasco, 2003.
VIANA, A.L. d’Á; DAL POZ, M.R. “A reforma do sistema de saúde do Brasil e o Programa
Saúde da Família”. Physis — Revista de Saúde Coletiva, [S.l.], v. 8, n. 2, p. 11-48, 1998.
179
SÉRIE DE DOCUMENTOS
Volume 1
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico
2. Seminário: o Sistema Único de Saúde e a
Regionalização
3. Seminário: Perspectiva para a descentralização
e a Regionalização no Sistema Único de Saúde
Volume 2
Produção de Conhecimento em Política,
Planejamento e Gestão em Saúde e
Políticas de Saúde no Brasil (1974-2000)
Volume 3
Saúde nos Aglomerados Ubanos: uma visão
integrada
Volume 4
1. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil:
marco legal e comportamento do gasto
2. O Papel e as Conseqüencias dos Incentivos
como Estratégia de Financiamento das Ações
de Saúde
Volume 5
Modernização das Secretarias de Estado da
Saúde: Cooperação Técnica Descentralizada para
o Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de
Saúde no Brasil, Ano 2002
Volume 6
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas
Públicas: uma Abordgem de Conteúdo: Curso de
Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços
de Saúde em Goiás
Volume 7
Metodologia para Análises Funcionais da
Gestão de Sistemas e Redes de Serviços
de Saúde no Brasil
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS/OMS) APRESENTAÇÃO
SÉRIE DE DOCUMENTOS MINISTÉRIO DA SAÚDE – BRASIL
A Organização Pan-Americana da Saúde
— OPAS, exercendo sua atribuição de
série técnica
1. Processos de Descentralização da Saúde
no Brasil — Documento Analítico que a concretização desta ação, no
Projeto de Desenvolvimento de
de Sistemas e Serviços de Saúde/OPAS
Volume 4
apresenta a Série Técnica como uma
1. Financiamento do Sistema de Saúde no Brasil:
das atividades de gestão do conhecimen-
marco legal e comportamento do gasto
to, necessária à construção e à consoli-
8
Volume 6 para a melhoria da qualidade da aten-
ção à saúde individual e coletiva, a re-
Modelo de Atenção e Formulação de Políticas
Públicas: uma Abordgem de Conteúdo: Curso de dução de desigualdades e o alcance da
Especialização em Gestão de Sistemas e eqüidade.
Serviços de Saúde em Goiás Brindamos a comunidade de saúde
pública do país e da Região das Amé-
Volume 7 ricas com esta publicação. Esperamos
Metodologia para Análises Funcionais da que possa se tornar um espaço vivo
Gestão de Sistemas e Redes de Serviços
de apoio à construção do SUS no Brasil
de Saúde no Brasil
e que proporcione visibilidade e acesso
aos produtos concretos advindos da
8
Cooperação Técnica da OPAS.
Sigamos avançando na conquista da
qualidade de vida e saúde da população.
SERIE TÉCNICA – PROYECTO DE DESARROLLO DE SISTEMAS Y SERVICIOS DE SALUD – 9
El MERCOSUR, promoviendo la consolidación de la región,
viene favoreciendo el desarrollo de los más diversos secto-
gração dos sistemas de saúde do MERCOSUL.
res, entre ellos los de la salud, educación, justicia, cultura,
rialização de um primeiro convite ao debate sobre a inte-
transportes, energía, medio ambiente y agricultura. Se en-
Planejamento do MERCOSUL, em 2003, este livro é a mate-
Fruto de encomenda dos Estados-Parte em Seminário de
SIS-MERCOSUR fatiza el impacto que el Mercado Común del Cono Sur es
tribuir para o processo de integração. capaz de ejercer sobre el desarrollo de las industrias de los
paralelamente à harmonização dos sistemas, de modo a con- Una agenda para integración Países Miembros, una vez que ofrece ‘protección’ a las in-
saúde nas fronteiras. A idéia é buscar a ‘transfronteirização’ dustrias aún en desventaja competitiva en relación con
de equacionar a organização e estruturação dos serviços de los países más desarrollados. En este caso, no solamente se
que marca os países da América do Sul, justifica a importância (Organizadores) puede dirigir la producción hacia la demanda regional, sino
tiça social, a má distribuição de renda e a pobreza, situação LAÍS COSTA también aprovechar la ventaja comparativa entre la pro-
interesse das quatro nações em acabar com o quadro de injus-
EDMUNDO GALLO ducción de los países, permitiendo la especialización de la
O desenvolvimento comum baseado na solidariedade e no producción, además de beneficios diversos en función del
dade característica do processo de harmonização. aumento de la escala potencial del mercado.
saúde nas fronteiras mostra-se incompatível com a morosi- La búsqueda de un mercado regional del MERCOSUR propi-
Entretanto, a urgência da organização conjunta da atenção à ciará, idealmente, a través del desarrollo de políticas co-
escala para a oferta de serviços. munes o integradas, el fortalecimiento industrial de la re-
da atenção de média e alta complexidade que demandam gión, avanzando en la superación de la brecha tecnológica
dias ambientais que não ‘reconhecem’ fronteiras, além disto, que hoy separa países más competitivos de los menos en
de saúde, sanitária e epidemiológica, de superação de tragé- el mercado global.
de planejamento regional de ações que tratem de vigilância En el caso del sector salud, dos peculiaridades marcan la
SIS-MERCOSUL
terialización de una primera invitación al debate sobre la
O MERCOSUL, visando a consolidação da região, vem favore-
SÉRIE TÉCNICA – PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE – 9 integración de los sistemas de salud del MERCOSUR.
SIS-MERCOSUL
terialización de una primera invitación al debate sobre la
O MERCOSUL, visando a consolidação da região, vem favore-
SÉRIE TÉCNICA – PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE – 9 integración de los sistemas de salud del MERCOSUR.
série técnica
Projeto de Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde
Edição Especial
BRASÍLIA – DF
2004
Ministro da Saúde
Humberto Costa
Secretário Executivo
Gastão Wagner de Souza Campos
Diretor de Investimentos e Projetos Estratégicos
Edmundo Gallo
Coordenadora Nacional do SGT-11 “Saúde”/MERCOSUL
Enir Guerra Macedo de Holanda
Gerente do SIS-MERCOSUL na DIPE/SE/MS
Laís Costa
Equipe de Elaboração do Projeto/MS
Edmundo Gallo
Laís Costa
Adnei Moraes
Solange Baraldi
Equipe técnica/MS
Técnicos do Ministério da Saúde de diversas áreas contribuíram para a construção deste documento
Apoio
Coordenação Nacional do SGT-11 “Saúde”/MERCOSUL — Brasil
Agência Nacional de Saúde Suplementar — ANS
Banco Interamericano de Desenvolvimento — BID
Organização Pan-Americana da Saúde — OPAS
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura — UNESCO
PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS/OMS)
ORGANIZADORES
EDMUNDO GALLO
Médico especialista em Medicina Social, mestre em Saúde Pública, doutorando em
Planejamento Urbano e Regional pela Fiocruz. Foi secretário Municipal de Saúde de
Belém, secretário-geral e presidente do CONASEMS e consultor de organismos interna-
cionais. Hoje é diretor de Investimentos e Projetos Estratégicos da Secretaria Exe-
cutiva do Ministério da Saúde.
LAÍS COSTA
Administradora especializada no setor público, mestre em Development Studies pela
London School of Economics and Political Sciences (LSE). Consultora de organismos
internacionais, participou de debates nacionais e internacionais sobre federalismo
fiscal e descentralização de ações públicas. Atualmente é assessora da Diretoria de
Investimentos e Projetos Estratégicos da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde
e gerente do projeto SIS-MERCOSUL.
Brasília – DF
2004
Elaboração, distribuição e informações
Gallo, Edmundo
NLM: W84
7
LISTA DE SIGLAS
9
EHMA European Health Management Association
EPF European Property Federation
ESIP Parceiros Europeus da Segurança Social
EU European Union
FDA Federal Drug Administration
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
GMC Grupo do Mercado Comum
GT Grupo de Trabalho
HIV Human Imunodeficiency Virus
HOPE Hospitals for Europe
HTA Avaliação Tecnológica da Saúde
IBAM Instituto Brasileiro de Administração Municipal
IMPAC Internet and Mail-order Pharmacy Accreditation Commission
INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica de Previdência Social
INPS Instituto Nacional da Previdência Social
INTERREG O INTERREG é um programa de Iniciativa Comunitária
da Comunidade Européia
LSE London School of Economics and Political Sciences
MERCOSUL Mercado Comum do SUL
MERCOSUR Mercado Comun Del Sur
MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
MS Ministério da Saúde
NAFTA North American Free Trade Agreement
NOAS Normas Operacionais de Assistência à Saúde
NOB Norma Operacional Básica
OECD (OCDE) Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OJN Ordenamento Jurídico Nacional
OMS Organização Mundial de Saúde
ONG Organização Não-Governamental
OPAS Organização Panamericana de Saúde
OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PAHO Pan American Health Organization
PDI Plano Diretor de Investimentos
PDR Plano Diretor de Regionalização
PIASS Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento
PIB Produto Interno Bruto
PMDI Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PPAG Plano Plurianual de Ação Governamental
PPI Programação Pactuada e Integrada
PPTB Presidência Pró-Tempore do Brasil
10
PT/PR Partido dos Trabalhadores/Paraná
RDA Revista de Direito Administrativo
RMS Reunião dos Ministros da Saúde
RMSM-BCh Reunião dos Ministros da Saúde do MERCOSUL, Bolívia e Chile
RTJ Revista do Tribunal de Justiça
SARS Síndrome Respiratória Aguda Grave
SAS Secretaria de Atenção à Saúde
SE Secretaria Executiva
SES Secretaria Estadual de Saúde
SGP Secretaria de Gestão Participativa
SGT-11 Subgrupo de Trabalho número 11 - Saúde no MERCOSUL
SGTES Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde
SIS Sistema Integrado de Saúde do MERCOSUL
SIS-MERCOSUL Sistema Integrado de Saúde do MERCOSUL
SMS Secretaria Municipal de Saúde
SPO Subsecretaria de Planejamento e Orçamento
SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
SUS Sistema Único de Saúde
SVS Secretaria de Vigilância em Saúde
SW Software
TI Technology Information
TCE Tribunal de Contas do Estado de São Paulo
TCMG Tribunal de Contas de Minas Gerais
TCU Tribunal de Contas da União
TEC Tarifa Externa Comum
UE União Européia
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura
UNICAMP Universidade de Campinas
Unisinos Universidade do Vale do Rio dos Sinos
US United States
VA Vigilância Ambiental
VE Vigilância Epidemiológica
VS Vigilância em saúde
11
SUMÁRIO
A integração dos países do MERCOSUL tem refletido, à luz das demais experiências
regionais, o fortalecendo a capacidade de equacionar problemas comuns. A integração
dos Estados partes tem trazido resultados favoráveis visíveis através da articulação de
esforços na busca de um desenvolvimento comum e solidário. Resultados positivos estão
presentes em todas as áreas dos Estados partes, reforçando que a decisão de ampliar a
integração entre Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil é o caminho correto para o desen-
volvimento econômico social destes países.
Nesse sentido, a proposta da integração dos serviços de saúde dos países do MERCOSUL,
SIS-MERCOSUL, surge como uma alternativa para a equação da atenção à saúde nos
municípios de fronteira. Seu objetivo principal é a reversão da situação precária vivida
por essas populações, limitante do exercício de sua cidadania.
Entende-se a necessidade de ações conjuntas, uma vez que demandas de saúde e
doenças transmissíveis não enxergam fronteiras. Justificados pela urgência em promo-
ver a justiça social - através da melhoria da eficiência e especialização do sistema, do
planejamento racional e de ações sustentáveis -, os quatro Estados partes do MERCOSUL
concordaram que deve ser dada mais atenção à integração regional da atenção à saúde.
Na prática, os sistemas de saúde nestas regiões já se comunicam através de práticas
informais diversas, ocasionando efeitos colaterais indesejáveis e desnecessários, caso
houvesse planejamento das ações em saúde de forma conjunta entre os quatro países.
Entendendo a dimensão do desafio a ser enfrentado, o Ministério da Saúde vem pro-
movendo uma série de debates sobre as diversas motivações, dificuldades, ausências e
empecilhos à integração dos sistemas de saúde que atendem às populações fronteiriças
do MERCOSUL. Neste primeiro momento houve uma movimentação interna visando apro-
ximar gestores brasileiros de fronteira dos planejadores públicos.
É de interesse maior que este processo de reflexão interna brasileiro seja acompa-
nhado pela Argentina, Paraguai e Uruguai. Somente através da socialização dos debates,
teremos, no momento da elaboração da ferramenta de auxílio à gestão propriamente
dita, o SIS-MERCOSUL, melhor qualidade de informação e harmonização de idéias.
Esta publicação tem, portanto, o objetivo maior de tornar transparente este ciclo de
debates brasileiro e principalmente convidar para o debate os demais países, entendendo que,
somente através da participação de todos, conseguiremos alcançar a eficiência necessária.
15
INTRODUÇÃO
Edmundo Gallo
Diretor de Investimentos e Projetos Estratégicos
Secretaria Executiva/MS
17
APRESENTAÇÃO - O MERCOSUL E A INTEGRAÇÃO
19
1. COOPERAÇÃO EM SAÚDE E INTEGRAÇÃO
REGIONAL: POLÍTICAS PARA PROMOVER
A DINAMIZAÇÃO DO COMPLEXO DA SAÚDE
NO MERCOSUL
Edmundo Gallo
Diretor de Investimentos e Projetos Estratégicos da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde do Brasil (DIPE/SE/MS) e
Doutorando em Saúde Pública – FIOCRUZ-RJ.
Antonio Claret
Assessor do Secretário de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(MDS) e Doutorando em Saúde Pública pela Fiocruz.
Laís Costa
Assessora da Diretoria de Investimentos e Projetos Estratégicos (DIPE/SE/MS), Gerente do SIS-MERCOSUL na DIPE
e Mestre em Development Studies pela London School of Economics and Political Sciences(LSE).
Natascha Nunes
Assessora da Assessoria de Cooperação Externa do Programa Nacional de AIDS (COOPEX/AIDS/MS) e Mestre em
Economia Política Internacional pela London School of Economics and Political Sciences.
1. Introdução
21
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
2. Antecedentes e diagnóstico
O desenvolvimento do setor Saúde, pelo bem social que representa, é tido como
prioridade, dado que trata do bem-estar da população. Neste momento histórico especí-
fico, em que se prioriza a inclusão social, o combate à pobreza e às desigualdades diver-
sas, o desenvolvimento da voz política dos menos favorecidos e historicamente margi-
nalizados da sociedade e o resgate da dívida social, a saúde apresenta-se como um dos
setores em maior evidência para a realização de políticas públicas1 .
Adicione-se o fato de que a saúde é considerada como inquestionável indutor desen-
volvimentista2 : o reconhecimento de sua importância é praticamente unânime em todos
os campos de estudos. Estudos da OMS3 , coordenados pelo Dr. Sachs, por exemplo, de-
monstram a clara relação entre as condições de saúde da população e sua capacidade de
desenvolvimento econômico4 (Costa, 2003).
1 Crow enfatiza o papel fundamental que o provisionamento de saúde pública e o estabelecimento de certo nível de
seguridade social, além de políticas de emprego e distribuição de alimentos, tiveram na redução da pobreza e da
fome durante a Revolução Chinesa.
2 Amartia Sen afirma que liberdades individuais, como por exemplo acesso à saúde e educação, representam o
principal meio para se promover desenvolvimento (SEN, 1999).
3 Estudos coordenados pelo Dr. Sachs, de Harvard, e sistematizados no relatório Macroeconomics and health: investing
in health for economic development (OMS, 2001).
22
1. Cooperação em Saúde e integração Regional:
Políticas para Promover a Dinamização do Complexo da Saúde no MERCOSUL
4 De acordo com Dréze e Sen (1995), a expansão do atendimento à saúde foi uma das principais conquistas no período
pré-reforma na China. “[A expansão do acesso à saúde] provou ser uma ferramenta de grande importância para as
reformas econômicas. Sua importância pode ser observada não somente no tocante à qualidade de vida, mas
também em termos de desempenho econômico, dado que morbidade e subnutrição podem representar sérias
barreiras à produtividade do trabalho e à performance econômica” (p. 41 – tradução própria).
5 É “o excedente gerado pela introdução das inovações [que] realmente impulsiona o investimento” (Guimarães,
2000).
6 Gadelha em palestra no Congresso sobre Saúde Coletiva em 2003, Abrasco.
23
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
7 Este espaço vem tendo sua importância reconhecida pelo BNDES, ao se verificar o impacto potencial do desenvolvi-
mento do Complexo Industrial da Saúde (CIS) e do Complexo Produtivo (CPS) como um todo sobre o desenvolvimento
sustentável de uma nação. “Por meio do comércio exterior, da capacitação das tecnologias avançadas e da busca de
investimentos produtivos, o relacionamento externo do Brasil deverá contribuir para as melhorias das condições de
vida da mulher e do homem brasileiros, elevando os níveis de renda e gerando empregos dignos” (Mensagem ao
Congresso Nacional, 2003). Nesse contexto político, o referido banco de fomento desenvolvimentista brasileiro vem
debatendo a possibilidade de promover ações integradas para o desenvolvimento articulado dos CPS dos Estados
partes do MERCOSUL. Este reconhecimento por parte do BNDES pode ser verificado pela agenda do banco que, desde
o ano de 2003, inclui seminários, debates e publicações sobre o tema.
24
1. Cooperação em Saúde e integração Regional:
Políticas para Promover a Dinamização do Complexo da Saúde no MERCOSUL
ainda em 1999, estiveram aqueles sobre Dengue, Cólera, Sarampo e Carência de Mi-
cronutrientes. Em junho daquele ano, os ministros da Saúde da região concordaram em
apoiar e fortalecer os processos de reforma e buscar consenso dentro dos mesmos em
relação a mecanismos que permitam o inter-relacionamento dos sistemas de saúde no
contexto sub-regional. Também instruíram a criação de um grupo técnico para elaborar
uma proposta de trabalho identificando os lineamentos a serem desenvolvidos por um
núcleo de articulação no âmbito da RMS. Os últimos dois acordos trataram da considera-
ção de informes epidemiológicos e da criação de um grupo ad hoc para estudar diretrizes
a serem implementadas no nível das zonas fronteiriças para realizar um diagnóstico da
situação dos deslocamentos por motivos de atenção à saúde.
No ano 2000 foi definida uma política de medicamentos, e também foi acordada a
criação de um banco de preços no âmbito MERCOSUL, Bolívia e Chile, tendo como base as
compras governamentais, os serviços de saúde e o consumidor. No segundo semestre de
2002 foi aprovada a política de medicamentos e recomendado ao Conselho do Mercado
Comum (CMC) que instruia o Subgrupo de Trabalho nº 11 – Saúde a conferir tratamento
prioritário para a Comissão de Produtos para Saúde. O último acordo assinado em 2000
foi em relação ao controle de dengue. Em 2001, foi criada a Comissão Intergovernamen-
tal de Vigilância e Controle de Dengue, tendo sido estabelecida uma política de medica-
mentos e acordada a participação do MERCOSUL, Bolívia e Chile no processo de revisão
do regulamento sanitário internacional.
Considerando os avanços obtidos até aqui e a crescente importância do complexo da
saúde para o crescimento econômico e para o desenvolvimento social da região, sugere-
se a necessidade de um aprofundamento da integração na área da saúde para o esforço
de retomada do MERCOSUL a partir de 2003.
O chamado complexo da saúde inclui desde a produção de medicamentos, equipamen-
tos, insumos, imunobiológicos e outros produtos de uso não exclusivo da saúde, até as
atividades de promoção, prevenção e prestação de serviços de saúde, envolvendo em
sua produção, instituições públicas, privadas e filantrópicas, incluindo parte relevante
do setor informal do mercado de trabalho.
Pode-se separar a estrutura do complexo de saúde em cinco segmentos8 : a) industri-
al; b) comercial; c) serviços; d) formativo; e) pesquisa e desenvolvimento. Enquanto o
segmento de serviços constitui os principais loci da atenção e promoção de saúde para as
populações, os segmentos industrial9 e comercial lançam hoje importantes desafios para
a autonomia dos países, a geração de empregos, o desenvolvimento tecnológico, a com-
petitividade econômica e a sustentabilidade social do crescimento do PIB.
8 Para maiores detalhes acerca da composição e inter-relacionamento do CPS, ver Gadelha, 2002.
9 Fármacos, equipamentos para diagnóstico e terapêutica, cadeias produtivas de insumos etc.
25
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
26
1. Cooperação em Saúde e integração Regional:
Políticas para Promover a Dinamização do Complexo da Saúde no MERCOSUL
27
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
4. Mecanismos de Execução
28
1. Cooperação em Saúde e integração Regional:
Políticas para Promover a Dinamização do Complexo da Saúde no MERCOSUL
29
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
5. Considerações finais
30
1. Cooperação em Saúde e integração Regional:
Políticas para Promover a Dinamização do Complexo da Saúde no MERCOSUL
6. Referências
31
2. SAÚDE NO MERCOSUL:
O DESAFIO DO NOVO
Dr. Rosinha
(Florisvaldo Fier) – Médico, Deputado Federal pelo PT/PR e Presidente da Comissão Parlamentar Conjunta do MERCOSUL.
O objetivo deste texto é uma reflexão sobre o MERCOSUL e os grandes desafios que
se colocam, especificamente, para o setor saúde. Não pretendo apresentar soluções,
mas tão somente contribuir na reflexão para a sua busca.
A realidade política e econômica da América Latina, no início deste novo século, deve
ser analisada com muita atenção para elaborar qualquer projeto de construção de um
bloco, no caso o MERCOSUL. Segundo Emir Sader, em A vingança da história, nunca a
América Latina foi tão povoada por regimes políticos democráticos, conforme os concei-
tos liberais, como nesta entrada do século XXI.
Por mais problemas que tenham essas democracias liberais – que foram construídas,
principalmente, nas duas últimas décadas do século passado – elas constituem um ponto
positivo e favorável para a construção de blocos, mesmo que com relativa, ou quase
ausente, participação popular. Concomitante a isso, construiu-se também a pior crise
econômica e social desde a década de 30. Crise esta, segundo Sader, agravada pelo
aumento da dependência econômica desses países aos grandes centros financeiros e pela
submissão política dos países em desenvolvimento às grandes potências.
Essa dependência e submissão dificultam ou mesmo impedem a capacidade de decisão
política de fortalecer o MERCOSUL, pois nenhum dos Estados que integram o bloco tem
grande capacidade para fazer os investimentos tão necessários para corrigir “assimetrias”
ou diferenças existentes entre os países. As diferenças ou “assimetrias” (como as regis-
tradas na área de saúde), no entanto, devem ser identificadas não só com o objetivo de
superá-las – não existe relação só de países simétricos (quer coisa mais assimétrica que o
Nafta ou até a União Européia?). Em alguns setores específicos, as “assimetrias” são
positivas e devem ser utilizadas. Exemplo: a oferta de serviços de uma determinada espe-
cialidade médica pode estar mais presente em um país em uma determinada fronteira,
enquanto que, do outro lado, o país vizinho não a tem. Nesse caso, o mais correto é que
esses especialistas atendam à população toda da fronteira, ao invés de tornar a fronteira
simétrica, com o outro país deslocando para lá igual número de profissionais.
33
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
O MERCOSUL nasceu no início da década de 90, portanto num outro cenário, com um
objetivo, mesmo que não explícito: o mercado. Com isso, não houve ênfase para os
demais segmentos, como os serviços, e sequer levou em conta as questões sociais e
humanas. Mesmo sendo o mercado o objetivo, segundo Maria Claudia Drummond, esse
acordo anunciava um período rico na história do Cone Sul, quando se pensava corrigir ou
até superar os antigos equívocos que haviam marcado as relações entre Brasil, Argenti-
na, Paraguai e Uruguai. Esse prenúncio já podia ser sentido a partir do título do primeiro
acordo-quadro firmado com a Argentina, ainda em 1988: Tratado de Integração, Coope-
ração e Desenvolvimento. A idéia de integração estava, então, atrelada ao objetivo do
desenvolvimento que acarretaria, em última instância, portanto, de maneira indireta, a
melhoria do nível de vida das populações da região.
A intenção inicial da integração foi totalmente abandonada por Collor e Menen e não
corrigida por Fernando Henrique Cardoso, quando, através do Tratado de Assunção, prio-
rizou-se uma área de livre comércio e a união aduaneira, com o objetivo de abrir o
mercado a qualquer custo. Tal política estimulou a disputa das empresas intrabloco e não
a busca da integração e cooperação, gerando em curto prazo uma crise no MERCOSUL,
que ficou reduzido quase que meramente a uma marca, agravada, ainda, com a crise
econômica que afetou os quatro países do bloco, com maior profundidade na Argentina.
Impulsionados pela eleição e posse de governantes com uma visão integracionista e
comprometidos com a questão social e seu povo, é retomado o processo de negociação e
construção do MERCOSUL, agora com o entendimento de que não só o mercado é impor-
tante, mas a sua população e seus direitos e, entre esses, o da saúde que, anteriormen-
te, já fazia parte do debate, mas que agora ganha maior dinamismo.
Os quatro países do MERCOSUL têm experiências históricas e modelos distintos no
setor saúde, o que é positivo. Em comum, tiveram iniciativas de incentivo à pesquisa e
ao combate às endemias (final do Século XIX e início do XX), então “articulados à trans-
formação histórica do processo de produção econômica”, segundo Juan César Garcia. Se
nesse momento – final do Século XIX e início do XX –, mesmo com parcos recursos, os
Estados, uns com mais, outros com menos, iniciaram um processo estatal de enfrenta-
mento dos problemas de saúde pública, principalmente na área da pesquisa, agora na
construção do MERCOSUL coloca-se novamente esta necessidade. Há desafios não só na
área dos recursos financeiros, mas também de profissionais. Chamo a atenção para
alguns deles: (1) investimento em infra-estrutura e ofertas de serviços em cada Estado
parte, na região de fronteira, dentro de seu próprio território; (2) investimentos dentro
do bloco, o que pode significar um Estado parte investindo em outro; (3) capacitação dos
profissionais de todas as áreas como uma ação conjunta do bloco; (4) livre trânsito para
os profissionais do setor saúde, de início na região de fronteira; (5) profunda relação de
troca de experiências, serviços e conseqüentemente dos próprios profissionais; (6) o
34
2. Saúde no MERCOSUL: o Desafio do Novo
programa deve ser distinto para cada fronteira de cada Estado parte, pois distintos são
os problemas; (7) identificação de populações, de início na região fronteiriça, mais ne-
cessitada; (8) construção de uma identidade política de que saúde é um direito de todos,
portanto obrigação de cada Estado parte – e do bloco – para com todos os que vivem no
espaço intrabloco; (9) e o conhecimento e reconhecimento e o respeito à diversidade
cultural. Estes dois últimos pontos, aparentemente simples, são fundamentais para a
integração do MERCOSUL e da América do Sul. Sem uma identidade política, econômica,
social e cultural e sem o respeito à diversidade, por mais recursos que tenhamos à dispo-
sição, a integração não se concretizará. Esta diversidade cultural pode ser, de imediato,
aproveitada respeitando os migrantes, ou seja, é necessário mudar o olhar sobre os
mesmos: ao invés de serem concorrentes no mercado de trabalho, passam a ser agentes
da integração cultural e do conhecimento.
Novamente recorro a Juan César Garcia, que nos ensina que “a concepção e a propo-
sição de ações médicas não surgem por um simples jogo do pensamento, mas têm ori-
gem na experiência dos indivíduos com o mundo material objetivo, nas relações práticas
do homem com as coisas e nas relações das pessoas entre si”. Com a riqueza cultural do
MERCOSUL é possível imaginar quão rica é a história das atividades de saúde na região.
Os desafios são muitos, e o principal deles é a escassez de recursos financeiros, o que
reafirma a importância de unir esforços, já que nenhum país do bloco tem capacidade
para fazer um grande aporte. Contrapõe-se a isso, positivamente, a vontade política de
construir o MERCOSUL como sócios e não como competidores e a quantidade e qualidade
dos profissionais de saúde. A integração com qualidade e a superação dessas dificulda-
des dependem da criatividade das propostas, portanto fundamentalmente desses profis-
sionais. Se hoje o exercício da medicina é caro (pelo avanço tecnológico e pela deficiên-
cia da formação, principalmente, do profissional médico), cabe uma reflexão crítica so-
bre as práticas médicas e o tipo de integração queremos. Isso não só para os serviços
públicos de atendimento à saúde, mas também para a definição dos requisitos que serão
exigidos do setor privado para que ele atenda à demanda do público.
O modelo desenvolvimentista e dependente construído no século passado mostrou
que poucos ganharam e que a grande maioria da população perdeu. Entramos no novo
século uma vez mais devedores de uma política econômica e social voltada para a maio-
ria. A construção do MERCOSUL, e quiçá do bloco sul-americano, deve ter o olhar voltado
para essa maioria e, no caso da saúde, o sistema a ser construído deve transcender a
lógica do mercado e basear-se na do direito do cidadão, buscando a universalidade e a
eqüidade no atendimento.
35
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Referências
36
3. A SAÚDE NO MERCOSUL:
INTEGRAÇÃO EM BENEFÍCIO DA SAÚDE
Enir Guerra Macêdo de Holanda
Assessora do Ministro de Estado da Saúde e Coordenadora Nacional do SGT nº 11 – Saúde e da Reunião dos Ministros da
Saúde do MERCOSUL, Bolívia e Chile (RMSM-BCh).
Desde 1997, o Ministério da Saúde vem articulando uma série de ações com os países
do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Neste período houve avanço expressivo no pro-
cesso de harmonização de normas e da negociação entre os países para solucionar even-
tuais conflitos na área de saúde. Esse trabalho conta com a participação de outros minis-
térios especialmente o das Relações Exteriores.
As ações são desenvolvidas em dois fóruns: a Reunião dos Ministros da Saúde do
MERCOSUL, Bolívia e Chile (RMSM-BCh) e um subgrupo criado especialmente para atuar
nessa área (SGT nº 11 – Saúde).
Realizada semestralmente, a Reunião dos Ministros da Saúde do MERCOSUL, Bolívia e
Chile (RMSM-BCh) é a instância definidora de macropolíticas e programas no âmbito do
MERCOSUL. Além dos quatro Estados partes, participam também o Chile e a Bolívia como
associados. A RMSM-BCh está ligada ao Conselho do Mercado Comum (CMC), organismo
máximo do MERCOSUL. Desde 1997 foi fechada uma série de acordos entre os Ministros
da Saúde, tais como: Política de Medicamentos para o MERCOSUL; Vigilância e Controle
de Enfermidades Transmissíveis (Dengue, Doença de Chagas, Cólera, Febre Amarela,
Sarampo e SARS); criação de um sistema de informações e comunicação em saúde,
contando com dois sítios oficiais (www.mercosulsaude.org e www.mercosulsalud.org);
Banco de Preços de Medicamentos do MERCOSUL; Contas Nacionais de Saúde; Controle
do Tabaco; HIV/AIDS, Saúde Sexual e Reprodutiva, Saúde e Desenvolvimento, Revisão
do Código Sanitário Internacional, e outros.
Estruturado em outubro de 1998, o Subgrupo de Trabalho nº 11 – Saúde é um dos 14
subgrupos que compõem o Grupo Mercado Comum (GMC), e é dividido em Comissões Temá-
ticas. O chamado SGT-11 tem como tarefa harmonizar as legislações dos Estados Partes
referentes aos bens, serviços, matérias-primas e produtos da área da saúde, além do esta-
belecimento de critérios para Vigilância Epidemiológica e Controle Sanitário. O objetivo é
proteger e promover a saúde e a vida da população, além de eliminar os obstáculos ao
comércio regional, contribuindo dessa maneira para o processo de integração.
37
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
• a integração é um processo;
• o MERCOSUL é uma política de Estado e não de governo;
• muitas vezes a integração implica perda de soberania;
• é necessário um acompanhamento e intensa articulação entre os fóruns da Saúde,
o CMC e o GMC, para que este passe a ser parte integrante do processo.
38
3. A Saúde no MERCOSUL: Integração em Benefício da Saúde
39
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
40
4. A INTEGRAÇÃO DOS SISTEMAS DE SAÚDE QUE
ATENDEM A POPULAÇÃO FRONTEIRIÇA DOS
PAÍSES DO MERCOSUL – SIS – MERCOSUL
Edmundo Gallo
Diretor de Investimentos e Projetos Estratégicos da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde do Brasil (DIPE/SE/MS) e
Doutorando em Saúde Pública – FIOCRUZ-RJ.
Laís Costa
Assessora da Diretoria de Investimentos e Projetos Estratégicos (DIPE/SE/MS), Gerente do SIS-MERCOSUL na DIPE e
Mestre em Development Studies pela London School of Economics and Political Sciences (LSE).
Adnei Moraes
Assessor da Diretoria de Investimentos e Projetos Estratégicos (DIPE/SE/MS) com Especialização em Medicina Ocupacional,
pela Unicamp e Psiquiatria pela UnB.
1. Introdução
41
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
ção da saúde nas fronteiras, o SIS – MERCOSUL, que possibilite a integração da oferta de
serviços prestados, racionalizando a organização e utilização dos recursos referentes à
atenção à saúde na fronteira. Esse instrumento proporcionará melhoria da qualidade de
vida ao racionalizar a oferta otimizando a infra-estrutura instalada em seu espaço de
cobertura. Nesse sentido, o SIS contribuirá para o processo de sedimentação da integração
regional, tido hoje como um impulsionador à eficácia das políticas desenvolvimentistas.
Este artigo traz uma breve reflexão sobre as possibilidades e barreiras à execução de
uma ação integradora de saúde nas fronteiras. Para tanto, apresenta o histórico da mo-
tivação da criação do SIS e sua importância político-econômica e social. A seguir trata de
apontar os principais avanços esperados em decorrência dessa ferramenta de integra-
ção, acompanhada da exposição acerca das dificuldades intrínsecas a esse processo de
integração e, por fim, são sugeridas algumas linhas de ações que podem ser, no curto
prazo, implementadas. Este trabalho pretende figurar como um convite a debate mais
aprofundado sobre as possibilidades de ações que levem à integração dos sistemas.
2. Histórico/Motivação
42
4. A Integração dos Sistemas de Saúde que Atendem
a População Fronteiriça dos Países do MERCOSUL - SIS - MERCOSUL
Nesse caso, a realidade cotidiana impõe-se às restrições legais vivenciadas por pessoas
que vivem em regiões de fronteira.
Essa imposição de uma solução conjunta é particularmente visível no setor saúde,
uma vez que:
• doenças comunicáveis e desastres naturais não respeitam fronteiras (PAHO, 2002);
• estruturas de média e alta complexidade demandam organização de entrada e
escala de uso;
• diferenciações no padrão de qualidade e no escopo da atenção ofertada estimulam
migrações para uso de serviços nos países vizinhos;
• utilização dos serviços por parte de populações estrangeiras à nação ofertante,
representada pelo fluxo informal da demanda, geram sub-registros e dificuldade
de planejamento das ações;
• peculiaridades das fronteiras, como, por exemplo, a magnitude da população mó-
vel marcada pelo tráfico, prostituição, contrabandos, deslocamento de caminho-
neiros, impactam substancialmente a saúde da população; e
• o caráter de intersetorialidade da saúde torna-a afeta ao desenvolvimento e qua-
lidade da infra-estrutura de demais setores (saneamento, educação, condições de
trabalho, voz política etc.).
Não fosse saúde sinônimo de qualidade de vida, ainda assim a busca da eficiência
deste setor teria que ser prioritária, dado que o setor saúde é considerado como inques-
tionável indutor desenvolvimentista. De acordo com Costa (2004), “o desenvolvimento
desse setor é ferramenta também importante ao aumento da inclusão social no país; é
estratégico para a soberania do Brasil; para sua autonomia tecnológica – ou ao menos
para a diminuição da lacuna tecnológica hoje existente; é capaz de impulsionar desen-
volvimento sustentável e integrado; e está diretamente relacionado com o combate à
pobreza.”
Dada a histórica vulnerabilidade da população de fronteira e as características do
setor saúde, torna-se evidente que há, em particular para essas populações fronteiriças,
urgência de uma política externa mais articulada, um planejamento integrado, uma vez
que quando o município vizinho é também de país vizinho, barreiras diplomáticas, le-
gais, econômicas e sociais se interpõem ao planejamento conjunto. Entende-se que o
êxito no processo de harmonização é paralelo à necessidade de organizar a saúde nas
fronteiras uma vez que “a harmonização de protocolos e ações de vigilância não serão,
necessariamente, convergentes com a organização dos serviços” (Dain, 2004).
Diversas ações visando a equacionar a situação vulnerável dessa população foram
empreendidas. A despeito delas, as populações têm tido dificuldade de acesso ao siste-
43
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
1 As pesquisas em saúde são majoritariamente voltadas para tópicos de interesses de países mais ricos que dominam
o P&D de saúde mundial, por exemplo.
44
4. A Integração dos Sistemas de Saúde que Atendem
a População Fronteiriça dos Países do MERCOSUL - SIS - MERCOSUL
3. SIS – MERCOSUL
45
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
O SIS – MERCOSUL concebe ainda uma resposta à agenda política das nações envolvi-
das, dado que representa um avanço no combate à pobreza, fortalece o processo de
integração regional, enfatiza o desenvolvimento local2 , a inclusão social (proverá aces-
so, fortalecimento econômico e político), promove a melhoria dos indicadores de desen-
volvimento humano, representa novo potencial de captação de recursos, a racionaliza-
ção necessária para os países do MERCOSUL da utilização dos recursos humanos, finan-
ceiros e dos equipamentos.
Vale sinalizar que a expectativa é de que o SIS – MERCOSUL seja concebido como um
processo, combinando ações de curto, médio e longo prazos, sejam elas voltadas a ações
de transfronteirização ou de harmonização3 , sejam elas unilaterais ou multilaterais. A pers-
pectiva é de fornecer resposta objetiva e prática aos gestores e à população local, sem
que para isso seja necessário aguardar por processos que exijam um amadurecimento
político-institucional mais demorado, criando assim condições de viabilidade e factibili-
dade para estes últimos.
4. Desafios
2 Isto se deve ao forte impacto que ações em saúde exercem sobre o desenvolvimento da economia local. Caso o SIS seja
planejado com esta vertente desenvolvimentista este impacto será ainda mais visível.
3 A harmonização refere-se à compatibilização dos protocolos e das ações de vigilância epidemiológica e sanitária e
transfronteirização, à reorganização da atenção à saúde em bases regionais, a partir das necessidades da população
da região (Dain, 2004).
46
4. A Integração dos Sistemas de Saúde que Atendem
a População Fronteiriça dos Países do MERCOSUL - SIS - MERCOSUL
na comunicabilidade e eficiência dos sistemas de informações dos países, uma vez que
no momento os países estão planejando reformas em seus sistemas de informação.
Protelar esse debate implicaria dificuldades e custos diversos no futuro.
A integração e compatibilização dos sistemas de informação apresentam-se, vale enfati-
zar, como um sério nó crítico à evolução do SIS-MERCOSUL, especialmente porque, de acordo
com Reis (2004), para planejar atividades de integração há a necessidade prévia de identifi-
cação de: a) equipamentos, serviços e fluxos de usuários existentes; b) recursos ociosos e
sobrecarregados; e c) necessidade e priorização da implementação de novos serviços.
A diferença entre os sistemas de saúde dos quatro países é outra questão que age
como um dificultador à integração: o Brasil, por exemplo, é o único país a ter um sistema
público universal. Ademais, de acordo com a experiência internacional (Dain, 2004), a
integração do sistema de saúde de uma nação com os demais cuja qualidade seja dife-
rente tende a impactar negativamente a qualidade da atenção daquele país. Outra ques-
tão abordada pela autora refere-se ao impacto sobre a gestão local da integração dos
sistemas: a substituição conjunta de uma tecnologia por outra mais moderna apresenta,
para alguns gestores, custo–benefício negativo.
A definição das localidades envolvidas também é crítica para a constituição do SIS,
uma vez que a base territorial é que definirá o planejamento regionalizado. O respeito à
soberania dos países e à autonomia municipal (art. 18 da CF-88) é outra questão delica-
da. Essa integração somente será eficiente através da construção de metas conjuntas
baseadas na solidariedade entre os países do MERCOSUL, na diminuição das diferenças e
na busca da equidade.
Possíveis tensões causadas pela incompatibilidade temporária das prioridades de pro-
cessos estruturais de harmonização e estruturadores de serviços nas fronteiras podem
prejudicar a governança do SIS. É importante que essa ferramenta seja pouco suscetível
às mudanças políticas observadas no país e, a exemplo do consorciamento intermunici-
pal, as ações do SIS terão que representar a vontade de todos os países que o compõem,
mesmo que isso restrinja, inicialmente, o escopo dessa ferramenta de apoio à gestão.
Por fim, diferenças e desarmonia entre o arcabouço jurídico dessas quatro nações
apresentam-se como um problema central a ser resolvido. Nesse sentido, a experiência
sugere que acordos bilaterais, a exemplo do acordo fronteiriço assinado entre o Brasil e
Uruguai recentemente (14 de abril de 2004), permitindo que mais de 700 mil pessoas que
vivem próximas às fronteiras desses países possam “morar, estudar trabalhar e ter aces-
so aos serviços de ambos os lados” (Reuters), podem ajudar a estreitar a relação entre
os países, contribuindo para a consolidação do processo de integração do MERCOSUL4 .
4 Em que pesem alguns efeitos colaterais preocupantes, é inquestionável o passo significativo em direção à consolidação
do bloco regional.
47
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
5 A materialização dessas ações se daria por meio da adesão dos municípios ao SIS – MERCOSUL, através do compromisso
com um conjunto de ações e metas pactuadas, que poderiam implicar recebimento de transferências financeiras fundo-
a-fundo, nos moldes do PAB-Variável e do selo “Município SIS – MERCOSUL”, identificando serviços e unidades.
48
4. A Integração dos Sistemas de Saúde que Atendem
a População Fronteiriça dos Países do MERCOSUL - SIS - MERCOSUL
6 A iniciativa do grupo técnico da Itaipu Binacional (GT Itaipu Saúde na Fronteira), por exemplo, pode ser uma fonte
de aprendizado no processo de integração das fronteiras. Há, no anexo deste livro, um resumo dessa experiência.
7 Nesse sentido, sugere-se a utilização do site www.saudemercosul.org / www.saludmercosul.org, como um canal
para a disseminação e atualização das ações de integração da saúde entre os quatro países.
8 A vontade política dos quatro países, adicionada daquela específica dos governos subnacionais envolvidos, passa a ser
um impulsionador para a realização das investigações em questão.
9 Para maior detalhamento recomenda-se recorrer às publicações da OPAS, que vem desenvolvendo uma série de
estudos sobre o tema.
49
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Através dessas informações e desses primeiros passos, que não implicam quaisquer
interferências no processo de harmonização10 – podendo ter, portanto, sua velocidade pró-
pria –, já estará sendo dado um passo realista em direção à integração das ações de saúde.
Vale enfatizar que, de acordo com a experiência brasileira, no caso a experiência de
consórcios intermunicipais, a sustentabilidade dessa ferramenta vem sendo diretamente
relacionada com a forma em que se deu a união dos municípios. Dessa forma, normal-
mente os consórcios estabelecidos a partir de cooperação que já existia, ou por deman-
das exclusivas dos municípios, mostraram-se sustentáveis ao longo do tempo e pouco
suscetíveis a tornarem-se frágeis em função de mudanças de governos.
A tradução dessa experiência para a proposta supracitada será a impressão de racio-
nalidade à prática de saúde, através de uma ferramenta sustentável ao longo do tempo.
Servirá não somente à melhoria da eficiência e regulamentação do que já existe na
prática, como também para desenvolver a relação institucional entre municípios de paí-
ses diversos, o que facilitará sobremaneira a implantação da integração das demais
ações a comporem este sistema.
Além da normatização e organização das ações existentes na atualidade, sugere-se,
da mesma forma, a criação de linhas de financiamento para melhoria da capacidade de
gestão das secretarias municipais de saúde, a exemplo do PMAT, programa do BNDES
lançado para a melhoria da eficiência da administração tributária municipal11 . A melhora
da eficiência gestora foi rapidamente observada, nesse caso através de melhorias quase
imediatas na arrecadação tributária, permitindo, inclusive, a devolução do empréstimo
em curto espaço de tempo. A proposta do PMAT, em suma, era a apresentação de uma
cesta de ações entendidas como necessárias à melhoria da administração municipal no
tocante à arrecadação, que eram comuns a todas as secretarias fazendárias municipais,
a despeito da heterogeneidade dos municípios brasileiros. Essas diferenças intermunicipais
eram respeitadas através de uma faixa de composição de investimento por ação, variável
de acordo com as necessidades e peculiaridades de cada município. No caso específico das
SMS, pode-se em primeiro momento sugerir a criação de uma linha de empréstimos
direcionados à seguinte “cesta” de ações:
• melhoria dos sistemas de informação;
• criação de uma sala situacional inserida em seu contexto regional;
• definição e monitoramento de metas de atenção e vigilância à saúde;
• controle e avaliação dos prestadores de serviços próprios e contratados; e
• capacitação de pessoal e melhoria da capacidade gestora.
50
4. A Integração dos Sistemas de Saúde que Atendem
a População Fronteiriça dos Países do MERCOSUL - SIS - MERCOSUL
Essas cinco iniciativas já são capazes de exercer impacto relevante para a realização
de melhoria de qualidade e do custo–efetividade das ações em saúde. Pode-se também
aproveitar para condicionar os desembolsos à prestação de informações e a relatórios
situacionais, por exemplo. As externalidades positivas dessas melhorias de gestão apon-
tam para a qualificação do gasto e da atenção à saúde e maior visibilidade das realida-
des, permitindo a construção de um sistema regionalizado a partir de maior base de
informações e unidades gestoras mais eficientes.
Pode-se pensar em iniciativas diversas nesse sentido, ou seja, o estímulo e desenvol-
vimento de projetos que não dependam do avanço da harmonização, que, pelo contrário,
contribuam para o mesmo.
6. Considerações finais
51
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
na fronteira pode e deve ser planejada paralelamente, ainda que de forma contextualiza-
da, ao processo de harmonização.
As considerações feitas e as sugestões acima citadas refletem a necessidade de se
operacionalizar a integração de ações em fronteira no curto prazo, especialmente consi-
derada a situação precária hoje vivida pelas populações fronteiriças e a capacidade de
reversão desse quadro que o desenvolvimento do setor saúde representa. Trata-se de
encaminhamento necessário e que consegue coexistir com a falha e falta de qualidade da
informação disponível para e pelos países envolvidos.
Vale, entretanto, enfatizar que se entende a importância, ao longo do tempo de:
• planejar um sistema de referência e contra-referência que permita integralidade e efi-
ciência no acesso a todos os usuários potenciais, independente do país de residência;
• estruturar e tornar eficiente os serviços de urgência e emergência;
• utilizar a promoção à saúde na busca da equidade;
• estimular a criação de uma escola de saúde supranacional que trate da saúde desta
região de forma diferenciada, enfocando os sistemas dos quatro países e os pro-
blemas locais (formação especializada no bloco e não identificada com um ou ou-
tro país especificamente);
• estimular projetos de treinamento conjuntos e mudança de modelo das escolas de
saúde hoje existentes, considerando a realidade e a cultura dos países;
• pensar na construção de cartão de identificação do usuário e de ordenamento
conjunto das informações coletadas dos serviços de saúde, permitindo o acompa-
nhamento do quadro clínico do paciente e o atendimento baseado em evidência,
entre tantas outras necessárias ações;
• planejar a criação de fundos específicos ao desenvolvimento do SIS –MERCOSUL, à
luz da experiência do PMAT e de experiências bem-sucedidas da capacitação ges-
tora do sistema, fundos voltados para o desenvolvimento local etc12 .
As ações para o médio e longo prazos deverão sempre ser pactuadas e divulgadas de
modo que se possam direcionar as iniciativas e desenvolver a estrutura necessária à
realização das metas ao longo do tempo. Sem o devido planejamento, não se alcança a
eficiência e a racionalidade, ou a qualidade e o bem-estar, demanda motivadora dessa
ferramenta de apoio à gestão.
12
Pode-se ainda, em médio prazo, planejar um fundo que funcione como um sistema de compensação financeira das
ações previstas. A experiência trazida por essa iniciativa poderá construir bases para a elaboração de um fundo
com o intuito de promover a atenção à saúde nas fronteiras, capaz de captar e administrar recursos públicos e
privados, apoiar a equiparação da qualidade dos sistemas, atrelar parcela de repasse de recursos à pactuação de
indicadores de desempenho, coordenar uma câmara técnica para atrelar o desenvolvimento do sistema ao desenvol-
vimento local, promover ações que visem ao intercâmbio de informações e prover assistência técnica para a
preparação, financiamento e execução dos projetos a serem implementados nas fronteiras.
52
4. A Integração dos Sistemas de Saúde que Atendem
a População Fronteiriça dos Países do MERCOSUL - SIS - MERCOSUL
7. Referências
53
5. INTEGRAÇÃO DAS AÇÕES DE SAÚDE NAS
FRONTEIRAS FÍSICAS DO MERCOSUL
Coordenação Nacional do SGT nº 11 “Saúde” / MERCOSUL – Brasil
Propostas do Grupo 1
PERÍODO: agosto/2004
OBJETIVOS
GERAL
• Subsidiar a Integração das Ações de Saúde nas Fronteiras Físicas do MERCOSUL, estabe-
lecendo o grau de prioridade de cada uma e as estratégias operacionais necessárias.
ESPECÍFICOS
• Inserir nas agendas políticas dos dirigentes dos Estados partes o pacto da Integra-
ção das Ações de Saúde nas Fronteiras Físicas do MERCOSUL.
• Definir prioridades de atendimento nas diversas áreas do setor saúde.
• Propor instrumentos e mecanismos que viabilizem a integração operacional e de gestão.
PÚBLICO ALVO: foi estabelecido o limite de 100 pessoas por país ou total, pois foi consi-
derada a questão dos custos. O Brasil já havia proposto financiar dois participantes de
cada país. Aventou-se a possibilidade de cada instituição brasileira financiar represen-
tantes de suas contrapartes dos demais países. Também é possível solicitar apoio do
município e do estado que sediarem o evento.
Representantes das instituições dos Estados partes do MERCOSUL – Argentina, Brasil,
Paraguai e Uruguai – e dos Estados sócios do MERCOSUL – Chile e Bolívia:
• ministérios partícipes;
1 Resultados da oficina promovida pela Coordenação Nacional do SGT nº 11 “Saúde” / MERCOSUL – Brasil (Assessoria de
Assuntos Internacionais do Ministério da Saúde).
55
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
• OPAS;
• municípios de fronteira;
• Estados partícipes e suas instâncias regionais;
• prestadoras de serviço e operadoras de planos de saúde;
• agências financiadoras e parceiros diversos (Comissão da Câmara de Deputados
para assuntos do MERCOSUL, ABC, BID etc.);
• empresas produtoras de alimentos;
• conselhos de saúde;
• conselhos de profissionais de saúde.
TEMAS PROPOSTOS
• Vigilância em Saúde (Vigilância Sanitária – destaque para Alimentos/Produtos e
Serviços/Vigilância Epidemiológica/Ambiente e Saúde e/ou Vigilância Ambiental);
• Prestação de Serviços (públicos e saúde suplementar);
• Tecnologia em Saúde;
• Recursos Humanos, com ênfase no exercício profissional;
• Aspectos Jurídico-Institucionais;
• Instrumentos de Integração;
• Investimentos;
• Interfaces da Atenção à Saúde;
• Situação das Aduanas.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
1. Desenvolvimento do seminário: cada país elaborará, preliminarmente, um docu-
mento contendo: análise da situação de saúde nas fronteiras, ações necessárias escalo-
nadas por prioridades e a proposta de pacto, com definição de competências e atribui-
ções de cada instância, com ênfase na necessidade de autonomia no nível local.
Durante o seminário esses três itens serão objeto de discussão em momentos diferentes:
• a análise da situação será discutida em plenária;
• as ações serão discutidas em grupos temáticos;
• o pacto será discutido em grupo específico, formado por pessoas com poder deci-
sório e com assessoria jurídica e de relações exteriores.
Após o seminário serão realizadas oficinas locais e/ou regionais para concretização
das ações na forma pactuada.
Existe a previsão de uma reunião em outubro para a assinatura do(s) pacto(s) entre os países.
2. Quanto ao documento de análise da situação de saúde, foi colocada a necessidade de
padronizar a forma de apresentação dos dados, a fim de facilitar a apresentação e a própria
discussão. Também é importante que cada país explicite o seu conceito de fronteira.
56
5. Integração das Ações de Saúde nas Fronteiras Físicas do MERCOSUL
1. VIGILÂNCIA EM SAÚDE
Propostas de integração:
• buscar a compatibilidade entre os sistemas de informação já existentes, bem
57
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
como a sua implantação onde ainda não existir, com definição conjunta dos pro-
cessos de coleta e análise de dados;
• harmonizar os calendários vacinais e estabelecer ações conjuntas de vacinação;
• elaborar proposta conjunta de qualificação das equipes na operacionalização de
todo o sistema de VE (rede de frio; aplicação de vacinas; investigação de casos;
ações de bloqueio etc.); e
• garantir que os laboratórios de fronteira sejam retaguarda para as ações de Vigi-
lância em Saúde (epidemiológica, sanitária e ambiental).
Propostas de integração:
• harmonização de normas e procedimentos com vistas à adoção de política comum
de vigilância sanitária em região de fronteiras;
• elaboração de programa conjunto de capacitação profissional, objetivando não só
a qualificação da equipe, mas, principalmente, a troca de informações e a adoção
de providências concomitantes;
• adoção de atividades conjuntas de educação para a participação em saúde, dirigi-
das à população; e
• regulamentação sanitária do comércio transfronteiriço de subsistência.
58
5. Integração das Ações de Saúde nas Fronteiras Físicas do MERCOSUL
Propostas de integração:
• adoção de política comum para VA baseada nos pressupostos já colocados no docu-
mento “Política Comum da América Central”;
• promoção de estudos a respeito dos projetos de emergências elaborados pelo Uru-
guai e pelo Brasil, de forma a integrar suas propostas e aplicá-las nas fronteiras
físicas do MERCOSUL;
• harmonização da legislação e das ações de controle de resíduos e da qualidade da
água para consumo humano.
• estabelecer mecanismos de ressarcimento entre operadoras e entre estas e o ser-
viço público; e
• promover troca de informações entre os países até que sejam implantados siste-
mas automatizados compatíveis.
2.1.1 Públicos
Em relação ao documento de análise da situação atual:
• organização dos serviços de saúde, por nível de atenção (primária, secundária e
terciária) e formas de gestão, com destaque para a oferta e as condições de
acesso ao serviços de urgência e emergência, atenção hospitalar e unidades de
referência (em especial a hemodiálise, terapia intensiva e transplantes).
Propostas de integração:
• promover a compatibilidade entre os sistemas de informação referentes à pres-
tação de serviços de saúde;
• assegurar os mecanismos de compensação financeira conforme propostas elabo-
radas pelo grupo 3; e
• adotar política comum de assistência à saúde mediante articulação entre as
redes de serviços com processos acordados de referência e contra-referência.
59
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
2.1.2 Privados
Em relação ao documento de análise da situação atual:
• situação atual das operadoras de planos de saúde (organização de serviços nas
áreas de fronteiras e inter-relacionamento com o gestor público);
• participação dos prestadores do setor privado na rede pública e junto às opera-
doras de planos de saúde; e
• necessidade de ênfase de ambos os documentos em: serviços de urgência/
emergência, terapia intensiva, atenção hospitalar e referências (apoio diag-
nóstico).
Propostas de integração:
• estabelecer mecanismos de ressarcimento entre operadoras e entre estas e o
serviço público; e
• promover troca de informações entre os países até que sejam implantados
sistemas automatizados compatíveis.
3. RECURSOS HUMANOS
• formação e capacitação; e
• exercício profissional.
OBS.: Não houve detalhamento devido à ausência de profissional do setor no grupo 2.
VISÃO GERAL
1. ASPECTOS JURÍDICO-INSTITUCIONAIS
60
5. Integração das Ações de Saúde nas Fronteiras Físicas do MERCOSUL
As questões das aduanas do MERCOSUL têm gerado áreas de controle integrado que
vêm trabalhando conjuntamente inclusive, no compartilhamento de espaços físicos e
logísticos, o que não significa a implantação completa e eficaz do modelo proposto.
Além de outras medidas a serem definidas e propostas pelos setores diretamente
ligados à atividade de fiscalização, há de se ressaltar a necessidade de realização das
obras aduaneiras nos demais Estados partes.
Propor ampliação das ações da rede laboratorial de fronteiras, visando não apenas a
Vigilância Epidemiológica, mas também o controle de qualidade e a identificação de
produtos relacionados à Vigilância Sanitária e análises de Vigilância Ambiental.
61
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Uma abordagem complementar deverá ser apresentada posteriormente por via ele-
trônica aos participantes da oficina.
62
6. POSSIBILIDADES E LIMITES PARA
IMPLEMENTAÇÃO DO SIS – MERCOSUL
SOB TRÊS ENFOQUES – UMA INTRODUÇÃO1
Gilberto Antônio Reis
Médico da Secretaria Municipal de Saúde de Betim/MG e Professor do Curso de Especialização em Saúde Pública da
Universidade do Estado de Minas Gerais
1 Prefácio dos trabalhos acerca da viabilidade da integração à luz da experiência internacional, da economia da saúde
e da experiência nacional. Elaborado pelo Dr. Gilberto Antônio Reis.
63
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
64
6. Possibilidades e Limites para Implementação
do SIS - MERCOSUL sob Três Enfoques – Uma Introdução
saúde e da situação da saúde) nos quatro países. Essa caracterização buscou identificar
as diferenças que, para efeito do processo de integração precisam ser aproximadas, os
problemas comuns, para os quais esforços integrados podem gerar melhores resultados,
mas também as potencialidades que podem ser estimuladas, em busca do desenvolvi-
mento de uma rede de ações e serviços supranacional capaz de gerar um benefício soli-
dário para a população da região.
Finalmente, o professor Gilberto Reis apresenta um texto versando sobre as experi-
ências de união de municípios para a ampliação e melhoria de qualidade da prestação dos
serviços no processo de implantação do Sistema Único de Saúde – SUS no Brasil. O traba-
lho foi desenvolvido através de revisão bibliográfica sobre a experiência brasileira de
consórcios intermunicipais de saúde nos aspectos organizacionais e operacionais e da
revisão da legislação brasileira aplicável à constituição de consórcios intermunicipais,
apontando as questões jurídicas e administrativas envolvidas pertinentes à esfera do
direito público. A partir dessa análise, o autor aponta possibilidades e limites dessa
experiência avaliando sua aplicabilidade ao SIS – MERCOSUL, no sentido da elaboração
de instrumentos de gestão locais de sistemas de saúde transfronteiriça.
Temos aqui a articulação de três enfoques distintos e complementares que vêm auxi-
liar o processo de construção do SIS – MERCOSUL, contemplando os diversos níveis de
gestão e as experiências concretas já implementadas em situações similares.
65
7. SUBSÍDIOS PARA A FORMULAÇÃO DE UM
SISTEMA DE INTEGRAÇÃO DOS MODELOS DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE NO
MERCOSUL E NAS REGIÕES DE FRONTEIRA:
HARMONIZAÇÃO E TRANSFRONTEIRIZAÇÃO
DOS SISTEMAS DE SAÚDE
Sulamis Dain
Professora Titular do Instituto de Medicina Social da UERJ
1. Introdução
Este trabalho visa a subsidiar uma proposta de modelo político institucional para a
constituição de um sistema de integração dos modelos de prestação de serviços de saúde
em regiões de fronteira dos países do MERCOSUL. (M.S., 2003).
Para tanto, examina a experiência de harmonização dos sistemas de saúde na União
Européia, bem como os casos observados de integração em fronteiras, além de estudar,
ainda que com menor ênfase, as experiências entre Canadá e Estados Unidos, e entre
México e Estados Unidos. A maior homogeneidade e semelhança entre os sistemas de
saúde europeus antes da integração vem facilitando a harmonização e fornecendo mais
exemplos e iniciativas relevantes para a construção de um modelo político institucional
de integração dos sistemas de saúde no MERCOSUL.
Com base na exposição dos benefícios prováveis e das dificuldades esperadas na
conformação do Sistema de Integração da Saúde do MERCOSUL, SIS – MERCOSUL, à luz
da experiência internacional analisada, chega-se à elaboração de propostas sobre o tema
visando a estabelecer e implementar a agenda de transformações nos serviços de saúde
para as regiões de fronteira do MERCOSUL, a serem articuladas através dese sistema.
Marco Conceitual
O trabalho destaca a diferença conceitual entre a harmonização dos sistemas de saú-
de em países cuja integração já está avançada em termos de acordos comerciais e livre
circulação de bens e serviços, de cidadãos, unificação das políticas monetária e financei-
ra e dos princípios da proteção e a coordenação das ações de saúde na fronteira, através
da articulação de estratégias integradas de ações de saúde para populações fronteiriças.
67
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Trata-se neste caso de uma ação entre dois ou mais países para resolver problemas mais
imediatos e mais tópicos.
O êxito no processo de harmonização não elimina a necessidade de organizar a saúde
nas fronteiras. Este é um tema próprio, que implica trabalhar com dois níveis de ques-
tões bastante diversos, não necessariamente convergentes: o da harmonização dos
protocolos e das ações de vigilância epidemiológica e sanitária e o da organização de
serviços, que impõem aos países a necessidade de soluções pragmáticas, que precedem
ou substituem, no curto prazo, as diretrizes da integração.
Elementos básicos da harmonização em saúde
Um processo de harmonização efetivo deve tomar como ponto de partida o sistema
de valores, ou seja, uma solidariedade que leve em conta: as diferenças de capacidade
contributiva e a correção das desigualdades de acesso; a existência e a qualidade da
informação e do controle social; as diretrizes éticas quanto aos cuidados de saúde e as
prestações; e finalmente a harmonização da responsabilidade financeira dos diversos
estados nacionais em seu compromisso com a Saúde.
Os acordos transfronteiras
A promoção do desenvolvimento econômico das regiões de fronteira inclui, no caso
europeu, o apoio financeiro a iniciativas de cooperação em saúde na partilha de recursos
humanos, hospitais, serviços e equipamentos de saúde transfronteiras. Muitos projetos
foram implementados nas regiões de fronteira na Europa, com o objetivo principal de
partilhar a capacidade disponível de serviços de saúde1 . Foram minimizados procedi-
mentos burocráticos e entraves à mobilidade e, em muitas regiões, todos passaram a
estar qualificados para a Atenção Básica no serviço de sua escolha.
Até agora, o impacto econômico desses acordos tem sido pequeno, assim como o
fluxo de pacientes que demandam cuidados médicos transfronteiras, exceto quando os
serviços não existem ou dependem de longas esperas. Os fatores que impelem os pacien-
tes transfronteiras a ultrapassar tais barreiras envolvem tecnologias avançadas como
cardiologia, traumatologia, emergência, neonatologia, diálise e radioterapia. Os proje-
tos que requerem a implementação de acordos bilaterais chamam a atenção para a im-
portância da organização dos provedores e financiadores e cada vez mais envolvem cida-
dãos através de fóruns e observatórios de saúde, do acesso à informação e de sua divul-
gação, requerendo também o treinamento dos provedores e o desenvolvimento de siste-
mas on line entre países.
1 Por exemplo, os pacientes de HIV belgas foram tratados em clínica francesa especializada, enquanto pacientes
franceses recebiam tratamento de hemodiálise na Bélgica. A etapa final deste projeto foi a criação de um observa-
tório transfronteiras com o objetivo de reorganizar a atenção a saúde em bases regionais, a partir das necessida-
des da população da região.
68
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
69
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
70
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
71
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
72
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
73
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
74
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
Para propiciar uma reflexão sobre o tema da conciliação dos objetivos nacionais com
as obrigações européias, a Bélgica, os Países Baixos, a Finlândia, o Reino Unido, a Fran-
ça, o EPF, o HOPE, a EHMA e os ESIPOs constituíram um grupo de trabalho, responsável
pela elaboração de um questionário relativo aos “Sistemas Nacionais de Saúde numa
Europa Integrada”.Tal questionário contém perguntas relacionadas com os objetivos bá-
sicos dos sistemas nacionais de saúde; o impacto específico das regras do mercado
interno na gestão e na capacidade de direção dos sistemas de cuidados de saúde; ques-
tões relacionadas com os cuidados transfronteiriços; e mecanismos para melhorar a se-
gurança jurídica. Com base no trabalho deste grupo, o processo de reflexão identificou
as questões e recomendações que a seguir se apresentam.
A organização e o financiamento dos sistemas de saúde e de proteção social são da
responsabilidade dos Estados membros. Contudo, os Estados membros deverão exercer
as suas responsabilidades neste domínio de acordo com o Direito comunitário.
Sob ponto de vista econômico, existem diferenças substanciais entre os serviços no
setor dos cuidados de saúde e os serviços no contexto de um mercado comercial, por
exemplo, devido ao papel chave desempenhado pelos profissionais da saúde na determi-
nação dos serviços que são necessários ao doente.
Além disso, na maioria dos casos, os doentes não pagam diretamente serviços médi-
cos que são financiados pelos sistemas de segurança social ou de seguro de saúde. Um
mercado para a prestação de cuidados de saúde é inevitavelmente imperfeito e cada vez
mais complexo, com profundas assimetrias ao nível da informação.
Os governos de toda a União têm desempenhado um papel ativo na organização dos
cuidados de saúde com vista ao estabelecimento de sistemas fundamentados nos princí-
pios da universalidade, da solidariedade e da equidade.
Através de uma série de acordos sobre a eventual obrigação dos sistemas de saúde de
bancarem os custos de tratamentos prestados noutro Estado membro, o Tribunal de Jus-
tiça reconheceu o direito dos doentes a serem reembolsados, sob determinadas circuns-
tâncias, quanto aos cuidados de saúde de que beneficiaram noutros Estados membros.
Simultaneamente, o Tribunal de Justiça reconheceu que é necessário que os Estados
membros estejam aptos a planejar seus serviços de saúde, de modo a assegurar o acesso
a uma gama equilibrada de tratamentos hospitalares de alta qualidade, a evitar o risco
75
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
76
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
das regras do mercado interno à questão do reembolso dos serviços de saúde prestados
noutro Estado membro, tendo em conta as características do setor da saúde. Poderão ser
igualmente necessárias outras ações tendo em vista outros aspectos em matéria de
saúde pública e social.
Foram desenhadas diferentes opções para melhorar a segurança jurídica no que diz
respeito à aplicação das regras européias aos sistemas de cuidados de saúde, tais como:
• a alteração do Tratado;
• o desenvolvimento de soluções no âmbito do direito derivado;
• a cooperação européia, incluindo comunicações da Comissão;
• o melhoramento do processo de tomada de decisão, incluindo a avaliação do im-
pacto das propostas em matéria de saúde; e
• o apoio a iniciativas por parte dos Estados membros e de cooperação bilateral.
As possibilidades que o direito derivado oferece poderiam incluir uma nova atualiza-
ção das disposições em matéria de coordenação dos sistemas de segurança social, dispo-
sições gerais relativas à livre circulação dos serviços ou esclarecimentos específicos
referentes à aplicação do direito comunitário aos serviços de saúde.
Um mecanismo permanente, no nível da União, permitiria apoiar a cooperação euro-
péia no domínio dos cuidados de saúde e acompanhar o impacto da ação da Comunidade
sobre os sistemas de cuidados de saúde.
Esse mecanismo, que poderia reunir responsáveis de alto nível no domínio da saúde
representando os Estados membros e a Comissão e envolver as partes interessadas per-
tinentes, teria por objetivo estabelecer uma panorâmica dos problemas de acesso e de
qualidade que afetam a mobilidade dos doentes e dos profissionais, propiciar o diálogo
político e a cooperação reforçada no domínio dos cuidados de saúde, constituindo um
meio de colaborar em questões como as melhores práticas, sem deixar de tomar em
consideração as estruturas existentes e os trabalhos desenvolvidos por outras organiza-
ções ativas neste domínio (incluindo a OMS e a OCDE).
Para estes fins, a Comissão seria convocada a fornecer uma análise das evidências
que digam respeito às questões suscitadas pela interação das regras comunitárias com
os objetivos da política nacional de saúde, assim como a analisar a forma de melhorar a
segurança jurídica na seqüência da jurisprudência do Tribunal de Justiça relativamente
aos direitos dos doentes de beneficiarem de tratamento médico noutro Estado membro,
e a apresentar as propostas que forem adequadas.
Finalmente, é preciso que a Comissão considere a necessidade de desenvolvimento
de um mecanismo permanente, no nível da União, para apoiar a cooperação européia no
domínio dos cuidados de saúde acompanhando o impacto da ação da UE sobre os siste-
mas de cuidados de saúde e a apresentar as propostas adequadas.
77
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Uma maior mobilidade dos doentes levanta, nos Estados aderentes, várias questões e
preocupações referentes ao desenvolvimento de infra-estruturas sanitárias e à melhoria
da situação no domínio da saúde, bem como, em certos casos, o desenvolvimento de
competências.
78
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
79
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
80
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
2 Têm freqüentemente uma especialização excessiva, possuem uma formação estritamente clínica, faltando-lhes
conhecimentos mais vastos no domínio da gestão da saúde, incluindo a contenção de despesas nos sistemas de saúde
modernos. Embora as organizações de médicos (ordens dos médicos, seções de médicos) tenham desempenhado um
papel fundamental na evolução do setor dos cuidados de saúde nos Estados membros da União Européia, os seus
homólogos nos países candidatos ainda não concretizaram todas as suas potencialidades.
81
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
4. Cooperação regional
A União Européia tem valorizado o apoio à cooperação regional graças à sua experiên-
cia prévia na integração regional (Steiman, R, Machado, L. O., 1996). Na Saúde, é im-
portante assinalar que os desafios em matéria de saúde são freqüentemente desafios
transfronteiras, enfatizando a necessidade do reforço ao processo de integração ou de
3 Foi recentemente criada uma base de dados limitada e provisória sobre cooperação (e assistência) técnica com os
países candidatos, a partir de um inquérito da Comissão dirigido aos Estados membros, às agências internacionais,
a certos países terceiros, às ONG e a partir dos próprios programas da Comissão.
4 Por exemplo, a Alemanha centrou-se no financiamento da saúde, os Países Baixos na saúde mental e a Finlândia
preparou alguns países para a participação nos programas de saúde pública da UE. Alguns Estados membros
desenvolveram atividades em quase todos os Países candidatos, outros se dedicaram a certos países, por exemplo,
a Hungria, a Polônia e a República Checa e outros ainda a regiões específicas.
82
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
83
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
5 Existem hoje projetos Euregio entre Alemanha, Bélgica, Holanda, França, países nórdicos e algumas fronteiras do
Leste Europeu, todos de ampla cooperação e partilha de serviços e recursos.
84
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
85
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
86
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
União Européia em sua definição atual ou ampliada faz parte da agenda de prioridades da
região. Até que isso aconteça, entretanto, as medidas comunitárias com impacto na
Saúde continuarão a ser amplamente influenciadas e dominadas por considerações eco-
nômicas e não pelo interesse maior da política de saúde;
Os governos nacionais foram lentos no reconhecimento do impacto da UE sobre a política
de saúde. Tal impacto é conseqüência inevitável da integração e continuará, portanto a
crescer em importância. Sua ênfase local variará, entretanto com características organiza-
cionais dos sistemas de saúde e a posição geográfica dos países.
Ao montar seu marco regulatório para intervir em cada um dos sistemas, a Comuni-
dade negligenciou o efeito combinado dos vários sistemas nacionais. Assim, problemas
no âmbito nacional existem, e a falta de consenso e/ou o desinteresse dos países tem
provocado crescentemente a ação da Corte Européia de Justiça não só para interpretar o
Tratado, mas também formulando a política comunitária de Saúde.
Muito menos elaborada e pactuada é a situação das fronteiras das Américas, na área
de atuação do NAFTA. O North American Free Trade Agreement (NAFTA) integra as eco-
nomias do Canadá, México, (Brandon, J., 1996) e Estados Unidos, na perspectiva de
equilibrar o fluxo de serviços, produtos e população através de forças que ao longo do
tempo gerariam empregos e prosperidade. A perspectiva imediata, entretanto, é de que
a industrialização provocará um impacto populacional que acrescentará mais pressão à
já limitada oferta de serviços de saúde na fronteira, assim como alterará a natureza da
demanda.
A ameaça mais forte sobre a saúde pública nas fronteiras é a disseminação de doen-
ças infecciosas. Entretanto, na integração entre fronteiras, os recursos per capita de-
crescerão, por acúmulo populacional, sugerindo a necessidade de novo plano sanitário
nas novas circunstâncias.
Neste contexto as ações de prevenção e promoção da saúde tornam-se essenciais,
uma vez que podem se refletir na diminuição dos custos de atenção a saúde associada à
manifestação das doenças (Gray, C, 1996).
A necessidade de atenção à saúde eficiente, efetiva e coordenada na região é evidente.
Os residentes de San Diego a Brownsville sofrem de agravos de saúde, há muito erradica-
dos em outras partes do país, tais como tuberculose e cólera. Entretanto, a extrema
desigualdade entre os países, regiões e sistemas de saúde do NAFTA reduz a integração
dos sistemas de saúde na fronteira a ações de vigilância epidemiológica e sanitária e a
uma disputa por preços de medicamentos. De fato, longe do FDA, México e Canadá
87
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Muitos são os resultados da pesquisa comparada que podem ser ao menos analisados,
com vistas a sua implantação na organização dos sistemas de Saúde do MERCOSUL e
demais fronteiras brasileiras. Caberia em primeiro lugar estabelecer as principais dife-
renças da experiência local, relativamente à experiência internacional.
88
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
89
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
90
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
91
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Há que separar as ações para pacientes brasileiros a serem realizados fora do país e
as ações de saúde para pacientes de outras nacionalidades a serem realizadas no Brasil.
Para os brasileiros, o acesso a outros serviços e sua regulação não envolve mudanças ou
pressões sobre o financiamento. Bastaria, como na área dos projetos Euregio credenciar
alguns serviços além fronteiros, que operariam segundo a tabela do SUS e para eles
encaminhar nossos pacientes, regulando o acesso em torno a questões geográficas e de
distribuição espacial das redes de serviço. A recíproca, entretanto não é verdadeira, uma
vez que, nos demais países do MERCOSUL, só os segurados por planos de saúde ou em
esquemas contributivos diretos poderiam ter direito a reembolso, nos padrões atuais de
funcionamento de seus diversos serviços de saúde. Assim poucos pacientes poderiam
utilizar-se da infra-estrutura de serviços de saúde no Brasil e obter ressarcimento de
seus gastos fora das respectivas fronteiras, sem uma ação estatal voltada para diluir a
separação entre financiamento público e privado, nestas circunstâncias.
Note-se que, na Europa, os projetos Euregio operam em geral em áreas onde o siste-
ma de saúde é publico, mas baseado em contribuições diretas, que demarcam de alguma
maneira, o espaço do direito social. É assim na Alemanha e na Holanda. Ou seja, não há
mecanismo automático de reconhecimento desta possível reciprocidade, a não ser no
campo do judiciário, da interpretação do escopo dos direitos comunitários, ou onde o
custo alternativo da montagem de uma infra-estrutura de serviços é mais oneroso.
Assim, seria preciso alocar algum recurso, inicialmente brasileiro, e também do seg-
mento “contributivo” dos demais países, que se incorporariam às transferências fundo a
fundo do SUS e a PPI, de modo a formalizar esta demanda, hoje já exercida por pacientes
de outras nacionalidades no Brasil, como por brasileiros em outros sistemas de saúde,
nas cidades de fronteira.
A experiência internacional revela também que parte desta demanda concentra-se
nos serviços mais onerosos e de maior complexidade, como as cardiopatias graves, o
câncer, as hemodiálises, os transplantes. Poder-se ia, à semelhança do Chile, operar um
adicional contributivo a um fundo denominado Fondo Catastrófico, que atua nesta faixa de
serviços. A contribuição brasileira seria de natureza fiscal e incluída na PPI como hoje, e
sua dimensão dependeria de quanto o país decide subsidiar seus vizinhos e parceiros.
O ponto de partida seria a territorialização desta demanda comunitária no MERCOSUL,
com hierarquização de serviços e eventualmente menor restrição à generalização da
atenção primária. Caso o PPI passasse a incorporar novos fatores e valores, quer originá-
rios de aportes dos planos de saúde, dos governos ou de um Fondo Catastrofico para as
fronteiras, os pacientes transfronteiriços poderiam ser referidos a outros níveis de aten-
ção, e, em cada região de fronteira, pactuadas as ações entre países envolvidos. Além
da questão do financiamento e da regulação pelo SUS segundo suas normas operacionais
92
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
(dado que nos demais países não há propriamente um sistema de igual abrangência)
outros elementos seriam requeridos para a montagem do novo sistema.
Entre outros, seria essencial a acreditação de instituições e profissionais, estabeleci-
mento de padrões e protocolos clínicos, além da conformação de outros aspectos não
clínicos da qualidade, tais como a garantia sobre uso e manipulação dos equipamentos,
disponibilidade e compatibilidade de sistemas de informação, tanto para pacientes como
entre os sistemas para os quais são referidos (médicos e serviços). Entre os requisitos,
estaria incluída a consistência dos procedimentos de contratação e reembolso e na lega-
lidade das transações entre fronteiras.
Não menos importante seria a formalização de um acordo sobre definições de meto-
dologia para avaliar desempenho e qualidade. Finalmente, caberia fomentar o networking
de especialistas e de estruturas de saúde da União no campo da Medicina de Emergência
(via site na Internet) para estimular e apoiar a cooperação em caso de catástrofes e
acidentes de grandes dimensões (pontos de contato, disponibilidade de acordos bilaterais
e transfronteiras).
O arcabouço legal seria constituído de acordos bilaterais, através da constituição das
regiões supranacionais de saúde.
7.2.1 Os municípios SIS - MERCOSUL
A mera observação dos acordos bilaterais em curso, que se expressa, por exemplo, no
âmbito da empresas Itaipu Binacional como em acordos entre cidades de fronteira entre
Brasil e Uruguai demonstra a existência de uma predisposição à pactuação entre países
que até mesmo precede o avanço e a generalização do processo de harmonização. De
outra parte, a formalização de ações já em curso no sistema de saúde brasileiro e que
incluem cidadãos de regiões de fronteira, brasileiros ou não, que transcendem as consi-
derações formais de residência certamente viria a contribuir para a melhor gestão do
sistema de saúde nas áreas transfronteiriças, onde é mais tênue a demarcação da clien-
tela própria do SUS.
Com base nesta constatação e nos avanços destacados no campo informal, no âmbito
dos programas de vacinação, da atenção primária ou mesmo nos demais níveis de com-
plexidade, o reconhecimento e valorização destas ações espontâneas correspondem a
uma necessidade imediata de regulação da demanda e do financiamento das ações a ela
correspondentes, no campo da vigilância epidemiológica e sanitária, e da assistência.
A proposta concreta desenvolvida em contraponto à experiência de ações integradas de
saúde nas fronteiras européias e que considera, entretanto, as assimetrias entre os siste-
mas de saúde do Brasil e dos demais países do MERCOSUL seria a de criar uma categoria de
gestão, a dos municípios SIS-MERCOSUL, na qual seriam habilitados, por adesão, os muni-
cípios de fronteira brasileiros, que se dispusessem a operar em âmbito transfronteiriço.
93
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Esta condição de gestão, inicialmente no âmbito das ações do SUS poderia ser poste-
riormente generalizada para os demais países, nos territórios de fronteira, e também,
no Brasil, para as fronteiras não MERCOSUL.
Os municípios habilitados na condição de municípios SIS-MERCOSUL, receberiam cré-
dito suplementar fundo a fundo e também teriam que planejar suas ações transfrontei-
ras no espaço do PDI e do PDR, juntamente com as ações dos demais municípios.
Faria parte da condição de habilitação para gestão SIS-MERCOSUL:
• a capacitação de profissionais de Saúde para operar em âmbito transfronteiriço;
• a harmonização dos calendários de vacinação transfronteiras;
• a acreditação dos serviços e dos profissionais;
• a adaptação dos sistemas de informação, dentro da estrutura dos sistemas de
informação do SUS; e
• a definição da referência e da contra-referência.
A habilitação SIS-MERCOSUL poderia ocorrer no campo da gestão plena da atenção
básica e também no campo da gestão plena do sistema, para municípios previamente
habilitados nesta condição.
Neste caso, o PDI e o PDR deveriam refletir os novos fluxos de ações, e estabelecidos
recursos adicionais para adaptar a oferta a este padrão ampliado de demanda.
A possibilidade de comprar serviços financiados pelo SUS e remunerados segundo sua
tabela de remuneração de procedimentos em território transfronteiras do MERCOSUL
deveria ser observada.
As ações dos municípios do SIS-MERCOSUL deveriam integrar os Observatórios de
Fronteira, e nestas regiões deveriam ser desenvolvidos os primeiros Centros de Referên-
cia do MERCOSUL, tanto no campo das especialidades médicas, como no campo do ensi-
no dos profissionais de saúde.
94
7. Subsídios para a Formulação de um Sistema de Integração dos Modelos de
Prestação de Serviços de Saúde no MERCOSUL e nas Regiões de Fronteira:
Harmonização e Transfronteirização dos Sistemas de Saúde
8. Referências
Brandon, J. Border Health: an overview of Challenges along the U.S. Mexico Border,
Associate Dean, College of health and Social Services, Head, Department of Health Sci-
ence, New Mexico State University, 1996.
Coheur A. Integrating Care in Border Regions: an analysis of the Euregio projects.
Eurohealth 2001;7(4):10–12.
European Commission. The Internal Market and Health Services. Report of the High
Level Committee on Health, Health and Consumer Protection Directorate General, 2001.
Gray, C. Debate over NAFTA’s Effect on Health Care a Sign Medicare will be dominant
election issue. Canadian Medical Association Journal, 1996.
MERCOSUL. Sistema de Informação de Saúde. Na Internet in Sistema de Informação de
Saúde no MERCOSUL.htm.
MERCOSUL. Pauta Negociadora do SGT no 11 SAÚDE – várias resoluções e atas de reuniões.
Ministério da Saúde. MERCOSUL, A Saúde no MERCOSUL, 2ª edição Revista e Ampliada,
Série B, Textos Básicos de Saúde, Brasília, D.F, 2003.
OBSERVATOIRE SOCIAL EUROPÉEN. The Influence of EU Law on the Social Character of
Health Care Systems in the European Union, 2001. Disponível em http://www.ose.be/
health/files/exesumnl.pdf
OMS. The Role of the Private Sector and Privatization in European Health System,
rapport de l’OMS, Bureau régional de l’Europe. Disponível em http://www.ose.be/heal-
th/files/exesumnl.pdf
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Proposta
de Plano de Ação do Instituto Pan-Americano de Proteção de Alimentos e Zoonoses
(INPPAZ), 2004-2005.13ª Reunião Interamericana em Nível Ministerial sobre Saúde e
Agricultura, Washington, DC, 24 a 25 de abril de 2003 Punto 7 da Agenda Provisória
RIMSA13/5 (Port.), 17 março 2003. Original Espanhol.
Palm, Willy; Nickless, Jason; Levalle, Henri; Coheur, Alain. Implications de la Jurispru-
dence Recente Concernant la Coordination des Systèmes de Protection Contre le
Risqué de Maladie, Rapport général effectué pour la Direction Générale de l’emploi et
des affaires sociales de la Commission européenne, Mai 2000. Brussels: Association In-
ternationale de la Mutualité.
Steiman, Rebeca; Machado, Lia Osorio. A Questão da Classificação das Fronteiras. Limites
e Fronteiras Internacionais, Uma Discussão Histórico |Geográfica,
Villar, Tereza Cristina Scatena et allii. “Saúde Internacional: alguns aspectos conceituais
95
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
96
8. RACIONALIZAÇÃO DOS RECURSOS E
ORGANIZAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO
NOS FLUXOS INTERFRONTEIRAS ENTRE OS
SISTEMAS DE SAÚDE DA ARGENTINA, DO BRASIL,
DO PARAGUAI E DO URUGUAI: UMA ANÁLISE
PRELIMINAR A PARTIR DA ECONOMIA DA SAÚDE
Alcindo Antônio Ferla
Médico, doutor em educação (UFRGS), foi Secretário Substituto da Secretaria do Estado
da Saúde do Rio Grande do Sul (1999 a 2002) e atualmente é assessor da direção
do Grupo Hospitalar Nossa Senhora da Conceição e consultor do Departamento
de Informação e Informática do SUS/Ministério da Saúde.
Janice Dornelles de Castro
Economista, mestre em planejamento e financiamento em saúde (LSE/Londres),
doutora em saúde coletiva (UNICAMP) e professora do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva
da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Maria Lectícia de Pelegrini
Enfermeira, sanitarista, mestre em ciências da saúde (Unisinos) e atualmente
é assessora da direção do Grupo Hospitalar Nossa Senhora da Conceição.
1. Introdução
Esta reflexão, que compõe um trabalho de maior extensão (Castro, Ferla & Pelegrini,
2004) busca sistematizar, a partir da ótica da economia da saúde, contribuições para o
desenho de estratégias de integração dos sistemas de saúde nas fronteiras dos países do
MERCOSUL (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). No trabalho anterior buscou-se cons-
tituir um marco de aproximação geral através da revisão de alguns conceitos atualmente
em uso no âmbito da economia da saúde, da revisão de referências sobre fontes e sobre
modelos de financiamento da saúde, da revisão e análise de dados secundários relativos
à organização e ao funcionamento dos sistemas de saúde dos quatro países e da revisão
de aspectos relativos à gestão do financiamento e da integração entre os sistemas de
saúde dos países da União Européia. Com base nessas análises e considerando os pontos
mais relevantes identificados, sugerimos o desenho de alguns eixos de aprofundamento
da integração entre os países.
97
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
98
8. Racionalização dos Recursos e Organização de Estratégias de Integração nos Fluxos
Interfronteiras entre os Sistemas de Saúde da Argentina, do Brasil, do Paraguai
e do Uruguai: uma Análise Preliminar a Partir da Economia da Saúde
99
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
100
8. Racionalização dos Recursos e Organização de Estratégias de Integração nos Fluxos
Interfronteiras entre os Sistemas de Saúde da Argentina, do Brasil, do Paraguai
e do Uruguai: uma Análise Preliminar a Partir da Economia da Saúde
101
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Aliás, esses achados parecem não diferir de forma significativa das redes que se
estabelecem na maior parte dos grandes centros urbanos brasileiros para o suporte ao
atendimento de demandas espontâneas originadas em regiões com menor infra-estrutu-
ra de serviços. Assim, qualquer proposta de aumento de regulação e de viabilização de
regras de financiamento diferenciado implica partir de uma equação que garanta o aces-
so que já vem sendo efetivado e qualifique o fluxo ao mesmo tempo, sem contar com
evidências sólidas derivadas de dados e informações qualificadas, projetando novos ce-
nários para o futuro. Uma quebra nesses fluxos, com a inclusão de restrições de acesso,
teria como resultado, por certo, um aumento no sub-registro da origem do usuário.
Conforme já foi apresentado no documento anterior e listado na parte inicial deste
documento, a escolha de fontes de recursos, modelos de financiamento e mecanismos de
acompanhamento e controle depende da análise de situações concretas, em que vanta-
gens e limites de cada uma delas possam ser ponderados para subsidiar a decisão.
A adoção de uma estratégia para a formalização desse processo de integração deve ser
feita preservando-se a possibilidade da implementação de modelos mistos de financia-
mento, a serem definidos e pactuados em acordos multilaterais estabelecidos a posteriori.
Também é preciso que se tenha claro que qualquer proposta que envolva um componente
financeiro somente é viável se estiver compatível com propostas mais gerais de organização
do processo de integração.
Com vistas a obter: a) o desenho de estratégias mistas de financiamento e organiza-
ção da atenção, com a ampliação progressiva da cobertura – com padrões conhecidos e
pactuados; b) a harmonização progressiva dos sistemas, o estabelecimento de padrões
mínimos e comuns de desenvolvimento assistencial e tecnológico; e c) a qualificação e
integração entre os sistemas de informação para incremento nas ações de planejamento,
monitoramento e regulação dos fluxos, algumas considerações, baseadas em grande medi-
da na experiência da União Européia (União Européia, 2003), são de grande utilidade.
102
8. Racionalização dos Recursos e Organização de Estratégias de Integração nos Fluxos
Interfronteiras entre os Sistemas de Saúde da Argentina, do Brasil, do Paraguai
e do Uruguai: uma Análise Preliminar a Partir da Economia da Saúde
da saúde, devem ser identificados em cada um dos países não somente a disponibilidade
de recursos orçamentários próprios e o grau de facilidade de captação de fontes externas
de recursos que possam ser utilizados na área da saúde, mas também os instrumentos,
fluxos e a metodologia de prestação de contas e controle do uso de recursos públicos. Os
arranjos a serem propostos devem considerar esses aspectos para o desenho de estraté-
gias de implementação mais imediata e também para o desenho de estratégias específi-
cas para o ajustamento formal de questões relativas a esses domínios, com efeitos
sobre o processo de integração somente a médio e longo prazos. Mas esse é um movi-
mento de grande importância para o processo de integração, já que pode amalgamar
neste as condições suficientes para fazê-lo avançar mais rapidamente na direção dese-
jada num futuro próximo.
103
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
na tomada das decisões para orientar o processo. Mais do que isso, a formalização de
acordos multilaterais parciais, no contexto de um conjunto conhecido e compartilhado de
valores que norteiam o processo mais geral para a aproximação dos sistemas de saúde,
mostra-se necessária e útil à progressão da integração entre eles. Ao que está indicado
nas análises disponíveis, a opção por acordos entre os países, consolidando consensos
parciais ao processo de integração, na medida em que os consensos vão sendo constitu-
ídos, permite mediar as diferentes expectativas envolvidas, em particular em relação ao
escopo dos avanços e à sua velocidade. Acordos parciais ajudam a consolidar o processo
global de integração, materializando os avanços à medida da sua possibilidade política e
tornando possíveis novos patamares de negociação, bem como permitem desenhar ar-
ranjos mais versáteis para a política de financiamento.
104
8. Racionalização dos Recursos e Organização de Estratégias de Integração nos Fluxos
Interfronteiras entre os Sistemas de Saúde da Argentina, do Brasil, do Paraguai
e do Uruguai: uma Análise Preliminar a Partir da Economia da Saúde
105
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
de cidadãos dos países vizinhos, principalmente em Foz do Iguaçu (Astorga J., Pinto C. &
Figueiroa M., 2002). Dessa característica nesses níveis de sofisticação tecnológica do
atendimento, parece ser exceção a oferta de ações e serviços para o atendimento à
gravidez, ao parto e ao puerpério, embora as significativas diferenças nos principais
indicadores (mortalidade materna e infantil) demonstrem que há diferenças importantes
na qualidade dos serviços oferecidos à população nesse segmento.
A organização de um fluxo referenciado para os demais níveis de complexidade do
sistema implica o ordenamento e a resolutividade das portas de entrada, que parece ser
uma obrigação típica do Estado nos quatro países. No estudo anteriormente referido
(Astorga J., Pinto C. & Figueiroa M., 2002) dos sistemas de saúde nos municípios da
trifronteira Argentina-Brasil-Paraguai, foi destacado que o fluxo interfronteiras estava
aumentado não somente nas situações de diferenças de capacidade instalada, mas tam-
bém quando o atendimento nesse nível de complexidade implicava pagamento por parte
dos usuários. Parece necessário, portanto, pactuar mecanismos de ampliação da cober-
tura e da resolutividade para esses níveis de sofisticação tecnológica da atenção (Aten-
ção Básica, urgência e emergência) nos países – em particular nos municípios de frontei-
ra –, bem como assegurar gratuidade para o acesso dos usuários. Esse item tem grande
influência no custo dos procedimentos realizados e, portanto, é fundamental para o de-
senho de qualquer estratégia de financiamento.
106
8. Racionalização dos Recursos e Organização de Estratégias de Integração nos Fluxos
Interfronteiras entre os Sistemas de Saúde da Argentina, do Brasil, do Paraguai
e do Uruguai: uma Análise Preliminar a Partir da Economia da Saúde
4. Construção de cenários
Tendo em conta as considerações listadas até aqui, é possível desenhar alguns cená-
rios para o processo de integração. Esses extrapolam as questões relacionadas ao finan-
ciamento propriamente dito, mas é preciso destacar que o componente financeiro está
sempre presente em todas as ações propostas, seja pelo desembolso de recursos, seja
para a identificação de elementos que permitam desenhar estratégias específicas para a
utilização e controle de recursos financeiros. Por outro lado, não é possível operar com as
contribuições da economia da saúde para um processo de racionalização e integração de
sistemas de saúde entre países sem um conjunto de definições e informações anterio-
res, relativas à política mais geral que orienta esses processos. Também é oportuno
registrar que, dependendo do avanço nas negociações entre os países, é perfeitamente
possível combinar elementos de cada um dos cenários apresentados.
Assim, nos parece factível operar com as contribuições encomendadas para essa aná-
lise em três cenários, descritos e caracterizados abaixo, exceto no que se refere às
contribuições que têm registro de aplicação apenas nos fluxos entre os municípios das
fronteiras ou para o processo mais geral.
Cenário 1
Preserva o que já está sendo desenvolvido
Nesta proposta listamos ações que poderiam compor um cenário mais conservador. Este
seria indicado para situações que de alguma forma possam comprometer o aceleramento da
integração, seja por existirem dúvidas sobre aspectos do processo seja por dificuldades na
avaliação acerca da governabilidade interna dos países, seja ainda por dificuldades na imple-
mentação de medidas adicionais para o aprofundamento da integração. Algumas iniciativas
que não implicam custos adicionais, mas podem fortalecer as etapas futuras do processo de
integração, também estão listadas. A estratégia de formalização da integração entre os
sistemas de saúde que está sendo desenhada deveria consolidar o interesse comum e o
compromisso de cada país na realização das atividades listadas, bem como a não-redução
dos padrões atuais de financiamento para a região da fronteira.
Propostas para este cenário:
• formalização de garantia de acesso, nos padrões atuais, do atendimento a cida-
dãos de outros países;
• manutenção do padrão atual de avanços no processo de integração, particular-
mente na área de Vigilância em Saúde;
• estímulo à realização de estudos sobre o custo de ações e serviços de saúde oferecidas
nas regiões de fronteira;
107
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Cenário 2
Ampliação da integração, na medida da capacidade financeira e operacional
existente nos países, sem o incremento significativo de recursos financeiros novos
Neste panorama, listamos ações que poderiam compor um cenário intermediário, em
que o componente financeiro muito provavelmente poderia ser absorvido pelas fontes já
existentes nos quatro países, mesmo que de forma solidária. São questões que podem
contribuir para avanços no processo de integração ou subsidiar uma aceleração nesse
processo. A estratégia de formalização da integração entre os sistemas de saúde que
está sendo construída, neste cenário, consolidaria as questões referidas no cenário ante-
rior, bem como o incremento dos padrões atuais de financiamento para as regiões de
fronteira e para a integração dos sistemas de saúde nos itens listados.
Propostas para este cenário:
• indução à realização de diagnóstico detalhado sobre a capacidade instalada nos
sistemas de saúde dos quatro países, no que se refere à assistência e à produção
de insumos e tecnologias, bem como às demandas que poderiam ser referidas aos
outros países;
• partilha das capacidades operacionais atualmente disponíveis para o atendimento
de cidadãos de outros países;
• compartilhamento de serviços de referência para a assistência de alta densidade
tecnológica e criação de redes transnacionais de desenvolvimento tecnológico;
• planejamento integrado para a ampliação de capacidade operacional em áreas de
maior demanda na região de fronteira;
• busca conjunta e articulada entre os países de recursos externos para investimen-
tos estratégicos, desencadeando um processo solidário de identificação de fontes
de recursos para a saúde;
108
8. Racionalização dos Recursos e Organização de Estratégias de Integração nos Fluxos
Interfronteiras entre os Sistemas de Saúde da Argentina, do Brasil, do Paraguai
e do Uruguai: uma Análise Preliminar a Partir da Economia da Saúde
109
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Verifica-se que é possível proceder a escolhas que variam desde o universo dos muni-
cípios brasileiros fronteiriços com outros países do MERCOSUL, municípios por estado e
por país e até mesmo por porte populacional, para estabelecer um valor de referência
sobre a população a título de repasse para o fortalecimento da integração entre os siste-
mas de saúde dos países. A partir da experiência brasileira de financiamento, indicamos
o repasse na modalidade fundo a fundo. A inexistência atual de dados sobre a referência
populacional de estrangeiros não nos parece impeditiva de operacionalizar tal repasse,
já que é possível estabelecer preliminarmente uma estimativa a partir da população do
próprio município. As ações de vigilância, de informação e de referenciamento e contra-
referenciamento de cidadãos de outros países nos parecem imprescindíveis como res-
ponsabilidade formal dos municípios para adesão aos repasses.
Cenário 3
Ampliação da integração com indução financeira e aplicação de
recursos financeiros novos
Neste cenário, listamos ações que comporiam um cenário mais ambicioso, onde seri-
am desencadeadas ações decisivas para uma ampliação significativa dos padrões de
integração atualmente existentes. Merecem destaque a criação de fundos para financia-
mento de atividades assistenciais e para o desenvolvimento de incrementos estruturais,
a integração das políticas de informação e o desenho de uma agenda de prioridades para
uso de recursos financeiros comuns para o processo de integração. A estratégia de acor-
dos multilaterais que está sendo analisada, neste cenário, consolidaria as questões refe-
ridas no cenário anterior, bem como o incremento dos padrões atuais de financiamento,
inclusive na captação de fontes externas, para a região da fronteira e para a integração
dos sistemas de saúde nos itens listados, bem como para a definição de uma agenda de
prioridades para uso dos recursos adicionais, principalmente por meio dos fundos de
financiamento (para custeio e investimento), particularmente para a integração dos sis-
temas de informação e para a indução de projetos integrados de identificação de usuári-
os, profissionais e serviços de saúde.
110
8. Racionalização dos Recursos e Organização de Estratégias de Integração nos Fluxos
Interfronteiras entre os Sistemas de Saúde da Argentina, do Brasil, do Paraguai
e do Uruguai: uma Análise Preliminar a Partir da Economia da Saúde
À análise da economia da saúde é preciso agregar uma análise dos aspectos legais e
institucionais dos quatro países. A definição de fontes de recursos – próprios dos países
e/ou captados em projetos de cooperação – e de mecanismos de acompanhamento e
controle e de estruturas para a gestão desses recursos deve ser objeto de pactuação e
formalização entre os países, envolvendo não somente as estruturas executivas dos go-
vernos, mas os demais poderes. Se essa estratégia implica um decurso considerável de
tempo, também é verdade que, embrionariamente, pode ser desenvolvida por meio da
busca integrada de fontes externas de financiamento, bem como na definição de recur-
sos próprios dos quatro países, para utilização em projetos nacionais, de acordo com
prioridades definidas em conjunto pelos demais países. A atenção ao agudo processo de
envelhecimento da população desses países, com características e problemas já identifi-
cados anteriormente, parece ser um bom exemplo de campo de projetos que poderiam
ser desenvolvidos dessa forma.
111
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
112
8. Racionalização dos Recursos e Organização de Estratégias de Integração nos Fluxos
Interfronteiras entre os Sistemas de Saúde da Argentina, do Brasil, do Paraguai
e do Uruguai: uma Análise Preliminar a Partir da Economia da Saúde
5. Referências
ASTORGA J., I.; PINTO C., A.M.; FIGUEROA M., Marco. Informe de la trifrontera – Estudio de
Red Fronteriza Brasil – Argentina – Paraguay. Informe final. Relatório impresso. Junho 2002.
CASTRO, J.D.; FERLA. A.A.; PELEGRINI, M.L.M. (2004). Racionalização dos Recursos e
Organização de Estratégias de Integração entre os Sistemas de Saúde da Argentina, do
Brasil, do Paraguai e do Uruguai: uma análise preliminar a partir da economia da saúde.
Brasil: Ministério da Saúde, 2004.
MERCOSUL. SGT Nº 11. XXI Reunión Ordinaria del Subgrupo de Trabajo Nº 11 - “Salud”.
Acta Nº 2/03. Disponible en www.MERCOSULsaude.org. Consultado en 05/03/2004.
MINISTERIO DA SAÚDE. Relatório Final da 11ª Conferência Nacional de Saúde. Efetivan-
do o SUS: acesso, qualidade e humanização na atenção à saúde, com controle social.
Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
OPS – Organización Panamericana de la Salud. La Salud en las Américas. Washington,
D.C.: OPS, 2 v. , 2002.
OPS – Organización Panamericana de la Salud. Sistema Regional de Datos Básicos en
Salud - Perfil de Salud del País, año 2002, Argentina. 2003a. Disponível em: http://
www.paho.org/spanish/DD/AIS/Sistema Regional de Datos Básicos en Salud - Perfil de
Salud de País 2002 ARGENTINA.htm. Consultado en 05/03/2004.
OPS – Organización Panamericana de la Salud. Sistema Regional de Datos Básicos en Salud -
Perfil de Salud del País, año 2002, Brasil. 2003b. Disponível em: http://www.paho.org/
spanish/DD/AIS/Sistema Regional de Datos Básicos en Salud - Perfil de Salud de País
2002 BRASIL.htm Consultado en 05/03/2004.
OPS – Organización Panamericana de la Salud. Sistema Regional de Datos Básicos en Salud
- Perfil de Salud del País, año 2002, Paraguay. 2003c Disponível em: http://
www.paho.org/spanish/DD/AIS/Sistema Regional de Datos Básicos en Salud - Perfil de
Salud de País 2002 PARAGUAY.htm. Consultado en 05/03/2004.
OPS – Organización Panamericana de la Salud. Sistema Regional de Datos Básicos en Salud -
Perfil de Salud del País, año 2002, Uruguay. 2003d. Disponível em: http://www.paho.org/
spanish/DD/AIS/Sistema Regional de Datos Básicos en Salud - Perfil de Salud de País
2002 URUGUAY.htm. Consultado en 05/03/2004.
PIOLA, S.F.; VIANNA, S.M. (Org.). Economia da Saúde: conceito e contribuições para
a gestão da saúde. Brasília: IPEA, 1995.
União Européia. Processo de Reflexão de Alto Nível sobre a Mobilidade dos Doentes e
a Evolução dos Cuidados de Saúde na União Européia, Documento: Resultados do
processo de reflexão. Data: 9/12/2003. Referência: HLPR/2003/16) http://europa.eu.int/
comm/health/ph_information/documents/health_status_en.pdf.
113
9. EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS DE PARCERIAS
ENTRE MUNICÍPIOS NA BUSCA DE ORGANIZAR,
RACIONALIZAR E QUALIFICAR A ASSISTÊNCIA
À SAÚDE
Gilberto Antônio Reis
Médico da Secretaria Municipal de Saúde de Betim/MG e Professor de Curso de Especialização em Saúde Pública da
Universidade do Estado de Minas Gerais.
1. Introdução
115
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
116
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
MENDES (1994) afirma que, ao longo do século XX, o sistema de saúde brasileiro foi
articulado:
• até os anos 30, sob a hegemonia do modelo sanitarista-campanhista, tendo como
referência o trabalho de sanitaristas como Oswaldo Cruz;
• dos anos 30 aos anos 80, sob a hegemonia do modelo médico-assistencial privatis-
ta, estruturado a partir dos institutos de aposentadoria e consolidado no Instituto
Nacional de Previdência Social – INPS, e depois Instituto Nacional de Assistência
Médica da Previdência Social - INAMPS; e
• a partir dos anos 80, sob a hegemonia do modelo neoliberal, consolidado nos pla-
nos e seguros privados de saúde para os trabalhadores urbanos qualificados e para
as classes médias.
O primeiro período inaugura a intervenção do Estado brasileiro nas questões de saúde,
atuando de forma seletiva sobre epidemias e endemias que produziam impacto negativo
sobre a economia agroexportadora. O segundo período representa uma resposta do Esta-
do às pressões dos trabalhadores no sentido de terem acesso aos avanços da moderna
medicina científica e corresponde à constituição do setor de serviços de saúde como
atividade econômica dinâmica, contribuindo o Estado para a formação do capital do
complexo médico-hospitalar nascente, através do INPS/INAMPS. O último período teve
como pano de fundo as profundas crises econômica e política que levaram à transição do
regime autoritário para a democracia liberal e a proliferação dos planos e seguros privados
de saúde. Nesse cenário, emerge como projeto contra-hegemônico a reforma sanitária,
consolidada formalmente na legislação que instituiu o SUS.
O início do processo de construção do SUS pode ser localizado na década de 70, como
parte do processo geral de lutas de amplas parcelas da sociedade brasileira na reconstru-
ção da democracia. Nesse processo, a reforma sanitária foi a bandeira que articulou
técnicos e políticos reformadores, lideranças dos movimentos sociais urbanos emergen-
tes e do novo movimento sindical. Os fatos apresentados a seguir em ordem cronológica
permitem verificar como a idéia da saúde como direito de todos e dever do Estado evolui
nesse período:
• 1976 – Criado o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento –
PIASS, com o objetivo de estender as ações básicas de saúde para as regiões mais
carentes do país;
• 1978 – Realizada a Conferência Mundial de Saúde pela Organização Mundial de
Saúde na cidade de Alma-Ata no Casaquistão, tendo o governo brasileiro assumido
o compromisso internacional de implementar uma política de saúde que assegu-
rasse “saúde para todos no ano 2000”;
• 1982 – Elaborado o Plano do Conselho Nacional de Administração da Saúde Previ-
117
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
118
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
119
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
120
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
121
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
122
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
lhes correspondam. No artigo 18, inciso VII, a Lei estabelece que compete à direção
municipal do SUS formar consórcios administrativos intermunicipais.
A Lei Complementar 8.142, que dispõe sobre as transferências intergovernamentais
de recursos financeiros na área da saúde, nos seus artigos 2º e 3º, estabelece que os
municípios poderão estabelecer consórcio para execução de ações e serviços de saúde,
remanejando, entre si, parcelas dos recursos destinados à cobertura das ações e servi-
ços de saúde a serem implementados (investimentos na rede de serviços, cobertura
assistencial ambulatorial e hospitalar e demais ações de saúde), devendo o repasse de
recursos ser feito de forma regular e automática para os municípios de acordo com os
critérios técnicos definidos no artigo 35 da Lei n.º 8.080, artigo esse ainda não regula-
mentado.
A Norma Operacional Básica – NOB-SUS – 01/96 (BRASIL, 1997), editada pelo Ministé-
rio da Saúde, estabelece que a relação entre os sistemas municipais de saúde deverá
obedecer as seguintes regras:
1. Relação exclusiva entre gestores municipais para acerto de prestação de serviços
assistenciais à saúde. Caso um serviço necessário para atendimento à população
de um município esteja localizado em outro, as negociações para a oferta desse
serviço à população deve se dar entre os gestores e nunca do gestor diretamente
com o prestador.
2. Essa relação entre os sistemas municipais é mediada pelo estado e tem como
instrumento a Programação Pactuada e Integrada (PPI) que deve ser negociada na
Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e submetida à aprovação do Conselho Es-
tadual de Saúde. No caso de impasse na CIB, decide o gestor estadual, cabendo
recurso ao Conselho Estadual de Saúde.
3. Se o gestor municipal julgar necessária uma avaliação ou auditoria dos prestado-
res de serviços de saúde situados em outro município, deve recorrer ao gestor
estadual para isto.
4. O pagamento ao prestador, em qualquer circunstância, é feito pelo poder público
do município sede do estabelecimento.
5. O município que presta serviços ou tem no seu território prestadores que prestam
serviços aos municípios vizinhos, terá os recursos destinados à remuneração des-
tes serviços incorporados ao seu teto financeiro.
6. Quando um município, que demanda serviços a outro, ampliar a sua própria capa-
cidade resolutiva, pode requerer ao gestor estadual a incorporação no seu teto
financeiro da parte de recursos alocados no município vizinho.
123
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
124
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
125
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
126
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
127
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
128
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
129
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
interessam àquele Município. Isto não significa dizer que os recursos devam
ser repartidos, na origem de sua transferência, ou seja, já do Fundo Nacional
de Saúde para os consórcios.
(...)
Entretanto, nada impede que o Ministério da Saúde venha a celebrar convênio com
o consórcio para a execução de programa de interesse comum dos consorciados,
desde que, é claro, não venha a substituir nem desnaturar as transferências
obrigatórias do Ministério da Saúde para os Municípios (p. 14 e 15).
Essa posição é compartilhada por WANDERLEY JÚNIOR (1999) ao observar que os
consórcios têm recebido os recursos financeiros na qualidade de prestadores. O autor
alerta para que não ocorra, em hipótese nenhuma, o duplo pagamento – para a prefeitura
e para o Consórcio, de um mesmo serviço prestado.
130
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
131
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
132
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
133
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
ros das três esferas de governo e teriam autonomia para aquisição de serviços no merca-
do para atender a população de uma microrregião nos níveis de maior complexidade da
assistência. Cada microrregião agregaria um conjunto de municípios constituindo um
distrito sanitário. Experiência nesse sentido, denominada “Microrregião Saudável”, vem
sendo desenvolvida com o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Alto Rio Grande, em
Minas Gerais. Essa discussão tem avançado mais recentemente no sentido de transfor-
mar cada associação civil denominada consórcio em Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público - OSCIP, de acordo com a lei 9790/1999.
O argumento inicialmente apresentado a favor da personificação dos consórcios pela
criação de associações civis de direito privado seria a possibilidade de evitar os procedi-
mentos burocráticos da administração pública. Esse argumento foi esvaziado a partir do
posicionamento de juristas e dos tribunais de contas, determinando a obrigatoriedade
de cumprimento das normas da administração pública (licitações, concursos públicos,
controle externo via tribunais de contas). Segundo SANTOS (2000), outro argumento
apresentado a favor da personificação dos consórcios é a possibilidade de contrair obri-
gações em nome de um conjunto de entidades jurídicas – os municípios consorciados.
Para a autora, no entanto
(...) hoje, o que prepondera não é o interesse em buscar soluções para problemas
existentes na administração pública, mas, simplesmente, fugir ao regime do
direito público, de preceitos constitucionais e legais. Sob a alegação da
ineficiência da administração pública, todos querem encontrar soluções que
lhes permitam gerir a coisa pública sem as “amarras” da administração pública.
Se se reconhece que existem “amarras” que emperram a administração, e se o
desejo é obter uma maior flexibilidade para administrar, que ela seja colocada
legalmente ao alcance de toda a administração. A intenção de nossos
doutrinadores de buscar soluções para problemas jurídicos julgados insolúveis
foi tragada pelo descompromisso de muitos gestores públicos para com as leis
e os princípios que regem a administração pública. Na realidade, o administrador
que introduz em sua administração mecanismos que lhe permitam, de forma
transversa, desobedecer as regras impostas para a administração pública deve
ser considerado, na atualidade, um bom gerente público (p. 5-6).
WANDERLEY JÚNIOR (1999) associa a instabilidade jurídico-institucional dos consór-
cios à ausência de uma lei que houvesse definido a sua natureza jurídica e sua estrutura.
Essa lacuna legal, segundo o autor
(...) fez com que este instituto fosse implantado em diversas localidades do
país, sem nenhum critério objetivo, servindo, na verdade como instrumento
político, sendo realizado e estruturado de acordo com a conveniência política
das autoridades locais, dos grupos que viram no consórcio um meio de “ocupar
134
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
135
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
136
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
137
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
138
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
139
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
140
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
141
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
142
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
Sendo assim, o objeto de cada parceria deverá ser definido pelos parceiros, reunidos
pela identidade em torno de problemas comuns, contando sempre com o apoio técnico e
logístico dos demais níveis de governo e, do lado brasileiro, especialmente das secreta-
rias estaduais de saúde - SES. O objeto determina a base territorial sobre a qual realizar-
se-ão as ações previstas no termo de cooperação por questões de economia de escala e
de acessibilidade dos usuários. O planejamento das atividades a serem desenvolvidas
deverá utilizar técnicas que propiciem a participação de representantes de todos os
municípios consorciados, devendo partir de uma abrangente análise de situação da as-
sistência à saúde na região ou microrregião, com ênfase nos seguintes aspectos:
• identificação dos equipamentos, serviços e fluxos de usuários já existentes;
• identificação de equipamentos e serviços ociosos e sobrecarregados; e
• identificação da necessidade e priorização da implantação de novos serviços.
Os diversos níveis de gestão do SUS já dispõem de dados sobre a movimentação de
usuários estrangeiros nos serviços de saúde localizados em municípios fronteiriços. Da-
dos semelhantes relativos aos demais países deverão ser agregados aos brasileiros,
gerando informações que permitam traçar ações no sentido de reorientar e normatizar,
através de instrumentos de regulação da oferta e da demanda, esses fluxos que ocorrem
espontaneamente. A identificação de equipamentos e serviços ociosos deverá comple-
mentar esse estudo inicial, contribuindo para o redirecionamento de fluxos no sentido de
maior racionalidade na utilização dos recursos existentes com melhor distribuição da
demanda em relação às capacidades já instaladas.
Esse estudo sobre fluxos existentes e ociosidade/sobrecarga de equipamentos e servi-
ços é o primeiro passo para a apropriação dos custos dos serviços e ações de saúde em
cada região das fronteiriça. Servirá para orientar a negociação em torno da forma de
participação de cada país no financiamento do SIS-MERCOSUL. Face à diversidade de ar-
ranjos institucionais na prestação de serviços de saúde nos quatro países, avaliamos que
os mecanismos de transferência de recursos serão viáveis apenas entre os ministérios da
saúde ou congêneres. A partir de cada ministério – ou estrutura similar, os recursos serão
transferidos aos municípios ou utilizados para pagamento aos prestadores. Uma questão
pendente, que demandará estudos específicos, diz respeito aos valores para pagamento
dos serviços prestados, quer se adote o critério de valor per capita ou por procedimento
realizado. Aqui poderá ser identificada uma grande barreira à concretização do SIS-MERCOSUL.
Como verificado no estudo de caso brasileiro, desníveis de capacidade de financiamento do
sistema de saúde podem representar um grande obstáculo à cooperação.
A expansão da oferta de serviços poderá ocorrer em segundo momento e deverá
integrar, no caso brasileiro, o Plano Diretor de Investimentos – PDI estadual. Os 4 estados
parte deverão instituir no âmbito do MERCOSUL um fundo específico para financiar a
143
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
144
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
da melhoria da qualidade dos serviços prestados. Acreditamos que tal influência poderá
ser exercida pelo SUS sobre os sistemas de saúde dos demais países.
Além da implementação de instrumentos de referência e contra-referência, tais sis-
temas deverão definir as portas de entrada para atenção à saúde, evitando a demanda
espontânea e não referenciada de usuários aos níveis mais complexos. Tal modelo assis-
tencial poderá buscar o apoio de organismos internacionais para o seu desenvolvimento,
com destaque para a Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS. Outra alternativa é o
cadastramento da população vinculada ao SIS-MERCOSUL, instituindo um cartão de saú-
de específico para as regiões fronteiriças, minimizando assim a demanda não regulada.
O cadastramento da população permite também o desenvolvimento de mecanismos de
financiamento dos serviços por critérios de cobertura populacional.
A participação da sociedade no caso brasileiro já está definida na legislação do SUS
em todos os níveis de governo. Dessa forma, a adesão de cada município ao SIS-MERCOSUL
deverá ser objeto de deliberação das conferências ou conselhos municipais de saúde.
Cabe aos conselhos acompanhar e fiscalizar a execução das ações previstas nos termos
de cooperação e a indicação de membros para composição das câmaras de desenvolvi-
mento regional dos sistemas de saúde propostas acima. Tais câmaras, na ausência de
estruturas similares aos conselhos municipais de saúde nos demais países do MERCOSUL,
deverão constituir-se como espaço aberto à participação da sociedade civil daqueles
países, resguardado, do lado brasileiro, o poder deliberativo final dos conselhos e
conferências municipais de saúde. Consideramos a participação da sociedade civil ele-
mento crítico para a sustentabilidade política e institucional do SIS-MERCOSUL. Nesse
sentido, as propostas em desenvolvimento no Ministério da Saúde no sentido de qualifi-
car a participação da sociedade nos espaços de controle social do SUS deverão priorizar
os municípios e estados fronteiriços.
Feitas essas considerações, reiteramos que a instituição de instrumentos de gestão
similares aos consórcios entre os municípios fronteiriços dos países que compõem o
MERCOSUL, representa, à luz da experiência brasileira, a melhor forma para implemen-
tação do SIS. A reprodução dessa experiência nas relações internacionais pode vir a ser
menos instável por pressupor um posicionamento mais claro e consistente dos ministérios
da saúde, em especial do brasileiro, superando a situação atual de inexistência de normas
para sua organização no nosso país.
Finalmente, não podemos omitir o fato de que a estruturação de um sistema de saúde
relaciona-se com outros processos socioeconômicos como a estruturação das vias e meios de
transporte, do sistema educacional e dos serviços de assistência social, por exemplo. Os
projetos a serem implementados através dos consórcios podem demandar operações a outros
setores das administrações públicas nos três níveis de governo. As respostas a essas operações
exercerão grande influência sobre as possibilidades de êxito do SIS-MERCOSUL.
145
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
7. Referências
ASTORGA J., Ignácio; PINTO C., Ana Maria & FIGUEROA M., Marco.Informe de la Tri-
frontera - Estudio de Red Fronteriza Brasil – Argentina – Paraguay. Informe Final.
OPAS, 2002 (mimeog.).
BASTOS, Francisco A. & MISOCZKY, Maria C. Avançando na Implantação do SUS:
Consórcios Intermunicipais de Saúde. Porto Alegre, Dacasa/Escola Superior de Direito
Municipal, 1998.
BARROS, Ubiratan Laranjeiras. Consórcio Intermunicipal de Saúde. Boletim de Direito
Municipal. São Paulo, v. 11, nº 10, out. 1995, p. 507-513.
_______. Consórcio Administrativo Intermunicipal. Revista da Procuradoria-Geral
do Município de Porto Alegre. Porto Alegre, v. 11, nº 12, set. 1998, p. 39-53.
BRASIL. Incentivo à participação popular e controle social do SUS. Brasília, Ministério
da Saúde, 1994.
_______. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde/NOB-SUS 96. Brasília,
Ministério da Saúde, 1997.
_______. Constituição da República Federativa do Brasil. [online] Brasília, Câmara
dos Deputados,1998. [citado 21 fevereiro 2004]. Disponível na Internet: <http://
www.camara.gov.br/Internet/cf/default.asp>
_______. Estudo Prospectivo de Três Modalidade de Consórcios Intermunicipais de Saúde:
Microrregião de Penápolis/SP; Região de Teles Pires/MT e Associação dos Municípios do
Noroeste/PR. [online] Brasília, Ministério da Saúde & Organização Panamericana da Saúde,
1998a [citado 21 fevereiro 2004]. Disponível na Internet: <www.opas.org.br>
_______. Diário Oficial., Processo n.º TCU - 014.640/97-0, Ata n.º 41/99, Plenário.
Brasília, Tribunal de Contas da União, 15/09/1999.
_______. Consórcios Intermunicipais de Saúde: perspectivas de avaliação de algumas
experiências [online] Brasília, Ministério da Saúde & Organização Panamericana da Saúde,
2000. [citado 21 fevereiro 2004]. Disponível na Internet: < www.opas.org.br>
_______. Diagnóstico da Situação Atual de Consórcios Intermunicipais de Saúde no
Brasil. Relatório de Pesquisa [online] Brasília, Ministério da Saúde & Organização
Panamericana da Saúde, 2000a [citado 21 fevereiro 2004]. Disponível na Internet:
<www.opas.org.br>
_______. Legislação. [online] Brasília, Ministério da Saúde,2002. [citado 21 fevereiro
2004]. Disponível na Internet: <http://portal.saude.gov.br/ saude/visao.cfm?id_area=169>
146
9. Esperiências Brasileiras de Parcerias entre Municípios
na Busca de Organizar, Racionalizar e Qualificar a Assistência à Saúde
147
10. RELATÓRIO DO 1O SEMINÁRIO PARA
ESTRUTURAÇÃO DOS “SERVIÇOS
INTEGRADOS DE SAÚDE DO MERCOSUL,
O SIS – MERCOSUL”
Diretoria de Investimentos e Projetos Estratégicas – DIPE/SE/MS.
1 Esse seminário contou com a participação de: Comissão Parlamentar Conjunta do MERCOSUL, Coordenação Nacional
do SGT nº 11 – Saúde no MERCOSUL, AISA, Comitê de Fronteiras (AISA/MS), IBAM, CEPAM, CONASS, CONASEMS, Itaipu
Binacional, SES, SMS, ANVISA, Fiocruz, ANS, DIPE, SPO, DAD, SAS, SGP, SVS, DATASUS, SGTES, AIDS, UERJ, OPAS, UNESCO,
BNDES, BID, PNUD, consultores OPAS.
149
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
No primeiro dia pela manhã, houve uma série de apresentações que abordaram a
evolução histórica, justificativas, dificuldades observadas e previsíveis sobre a integra-
ção dos sistemas de saúde dos países do MERCOSUL. Dificuldades jurídico-administrati-
vas e diplomáticas são traduzidas em lento processo de harmonização. Essa realidade
reflete-se em uma série de ações em saúde atualmente realizadas e estruturadas por
acordos informais, gerando diversas distorções quanto à qualidade do registro de usuá-
rios, ao financiamento dos sistemas de saúde, a falta de racionalidade da estruturação
dos sistemas, ao custo–efetividade dos investimentos, à dificuldade de acesso a todos
150
10. Relatório do 1º Seminário para Estruturação dos
“Serviços Integrados de Saúde do MERCOSUL, o SIS – MERCOSUL
os níveis de complexidade, dentre outros. A manhã de trabalho foi composta por painéis
que apresentaram a experiência prática dos profissionais brasileiros de saúde pública
nas fronteiras do MERCOSUL.
No período da tarde, os painéis abordaram o processo de integração e harmonização
dos sistemas de saúde, através da experiência acumulada pela Coordenação Nacional do
SGT nº 11 – Saúde no MERCOSUL e de três trabalhos que estudaram a viabilidade da
construção do SIS, à luz: da experiência nacional de consorciamento entre municípios
para viabilizar a atenção integral da saúde; da experiência internacional e intrabloco
regional, em particular da União Européia que, guardadas as devidas diferenças, foi o
bloco que mais avançou no processo de harmonização; e por fim, da economia da saúde,
enfatizando que diferentes composições de fontes de financiamento geram diferentes
perfis de oferta e demanda de serviços de saúde. Esse trabalho propôs ainda três cená-
rios distintos para a integração e harmonização: um com incremento residual de recursos
e obrigações; o segundo contando com incrementos coerentes com as capacidades finan-
ceiras e operacionais dos países; e, por fim, aquele com indução financeira e aplicação
de novos recursos.
De acordo com o conhecimento que foi sendo acumulado através do intercâmbio de
informações, documentações e experiências, conclui-se que, dada a especificidade de
processos de integração, as ações deveriam ser pensadas e planejadas de acordo com
horizontes temporais distintos. Dessa forma, as ações possíveis no curto prazo servirão
também como fortalecimento e banco de dificuldades e experiências exitosas para o
fortalecimento da integração. Assim, além de importante ferramenta para qualificar as
políticas de saúde, o SIS também tem sua importância política como indutor do processo
de integração regional, uma das prioridades do governo brasileiro.
Foi realizada, no segundo dia, uma oficina de trabalho composta pelos participantes
anteriormente mencionados neste documento que, em posse das informações comparti-
lhadas no dia anterior e do interesse comum de viabilizar, imprimir racionalidade, sus-
tentabilidade e qualidade às ações de saúde nas fronteiras, buscou travar um debate
sobre a integração. Considerada a reconhecida dificuldade no tocante à qualidade e dis-
ponibilidade de informações, assim como à sua comunicabilidade entre países, a oficina
foi orientada para a elaboração de propostas para a estruturação do SIS – MERCOSUL a
partir dos principais indicadores disponíveis de saúde na região fronteiriça, dados da
situação epidemiológica, das questões referentes ao financiamento consideradas as rea-
lidades, necessidades e limitações observadas.
151
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Cenário I
Transfronteiriço e imediato:
• ações que podem ser realizadas independentemente do processo de integração
(quando há indefinições quanto aos instrumentos e processos de integração);
• ações que não implicam recursos adicionais, mas podem fortalecer etapas futuras
do processo de integração; e
• ações que dão continuidade e otimizam a utilização e qualidade das ações atual-
mente existentes no âmbito transfronteiriço.
Cenário II
Harmonização intrapaíses e médio prazo:
• ações que contribuem para a definição e criam os alicerces para viabilizar a im-
plantação dos instrumentos e processo de integração (avançam no sentido da har-
monização);
• ações que ampliam a integração na medida da capacidade financeira e operacional
existente nos países, sem incremento significativo de novos recursos financeiros; e
• ações visando consolidar àquelas no cenário I.
Cenário III
Harmonização interpaíses e longo prazo:
• ações que implantam e consolidam instrumentos e processo de integração, ou seja,
que harmonizam as estruturas, políticas e economias da saúde entre os países;
152
10. Relatório do 1º Seminário para Estruturação dos
“Serviços Integrados de Saúde do MERCOSUL, o SIS – MERCOSUL
• ações que ampliam a capacidade financeira e operacional dos países para a implan-
tação e consolidação do SIS, ou seja, cria estruturas e gera recursos para o SIS; e
• ações cujos resultados são observáveis no longo prazo.
O trabalho dos grupos foi iniciado com a apresentação de alguns DESAFIOS existentes
e/ou previsíveis, conclusões traçadas a partir da discussão do dia anterior. Além desses,
cada grupo buscou elencar demais DESAFIOS por cenário, relacionados aos temas atribu-
ídos aos grupos. Após a definição dos mesmos, foram atribuídas as ações já em execu-
ção relacionadas à superação de cada desafio e, posteriormente, aquelas que ainda de-
vem ser realizadas.
Por fim, o grupo temático “Regulação e Financiamento” levantou prazos estimados
para a realização das ações descritas e atores envolvidos na execução destas ações. Esta
última etapa foi realizada somente por este grupo temático uma vez que nos demais
grupos não houve tempo hábil para sua realização.
O resultados dos trabalhos poderão ser vistos nas planilhas seguintes, de acordo com
resumo abaixo:
153
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
154
10. Relatório do 1º Seminário para Estruturação dos
“Serviços Integrados de Saúde do MERCOSUL, o SIS – MERCOSUL
155
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
156
10. Relatório do 1º Seminário para Estruturação dos
“Serviços Integrados de Saúde do MERCOSUL, o SIS – MERCOSUL
157
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
158
10. Relatório do 1º Seminário para Estruturação dos
“Serviços Integrados de Saúde do MERCOSUL, o SIS – MERCOSUL
159
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
160
10. Relatório do 1º Seminário para Estruturação dos
“Serviços Integrados de Saúde do MERCOSUL, o SIS – MERCOSUL
161
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
162
10. Relatório do 1º Seminário para Estruturação dos
“Serviços Integrados de Saúde do MERCOSUL, o SIS – MERCOSUL
163
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
164
10. Relatório do 1º Seminário para Estruturação dos
“Serviços Integrados de Saúde do MERCOSUL, o SIS – MERCOSUL
165
GRUPO TEMÁTICO: ASPECTOS POLÍTICO-INSTITUCIONAIS
166
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
10. Relatório do 1º Seminário para Estruturação dos
“Serviços Integrados de Saúde do MERCOSUL, o SIS – MERCOSUL
167
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
168
10. Relatório do 1º Seminário para Estruturação dos
“Serviços Integrados de Saúde do MERCOSUL, o SIS – MERCOSUL
169
11. UMA AGENDA PARA VIABILIZAR O
SIS – MERCOSUL1
Gilberto Antônio Reis
Médico da Secretaria Municipal de Saúde de Betim/MG e Professor do Curso de Especialização em Saúde Pública da
Universidade do Estado de Minas Gerais.
Sulamis Dain
Professora Titular do Instituto de Medicina Social da UERJ
Alcindo Antônio Ferla
Médico, doutor em educação (UFRGS), foi Secretário Substituto da Secretaria do Estado da Saúde do Rio Grande do Sul (1999
a 2002) e atualmente é assessor da direção do Grupo Hospitalar Nossa Senhora da Conceição e consultor do Departamento
de Informação e Informática do SUS / Ministério da Saúde.
Janice Dornelles de Castro
Economista, mestre em planejamento e financiamento em saúde (LSE/Londres), doutora em saúde coletiva (UNICAMP) e
professora do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Maria Lectícia de Pelegrini
Enfermeira, sanitarista, mestre em ciências da saúde (Unisinos) e atualmente é assessora da direção do Grupo Hospitalar
Nossa Senhora da Conceição.
1 Baseada no resultado dos debates travados em reuniões, oficinas, seminários e do esforço de pesquisa sobre
integração regional.
171
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
dos sistemas nacionais de saúde dos quatro países foi destacada. Julgamos pertinente que
as próximas etapas de atividades diplomáticas para a integração entre os sistemas de saúde
dos quatro países incluam a realização de estudos diagnósticos (de capacidade instalada, de
necessidades reprimidas, das perspectivas, dos eixos orientadores do planejamento, de
custo e preço de produtos e serviços, em particular de média e alta sofisticação tecnológica),
bem como que se desenvolva esforço conjunto para a indução de agendas comuns de pesquisa
aos órgãos nacionais dos quatro países responsáveis pelo fomento à pesquisa e ao desenvol-
vimento tecnológico, assim como aos institutos e órgãos de pesquisa.
Um importante aspecto a ser dimensionado de forma mais adequada é a caracteriza-
ção do volume e do tipo dos atendimentos interfronteiras que já ocorrem. Estudos e
relatos indicam que há um grande fluxo transfronteiras informal, que não é capturado
pelos inúmeros sistemas de informação já existentes. Acerca desse problema é importante
frisar que, na avaliação dos consultores, qualquer iniciativa que dificulte ou ameace os
fluxos atualmente existentes terá, como efeito mais rápido, o retorno à informalidade,
já que as redes de solidariedade para o atendimento à saúde são efetivas não somente
nesses fluxos interfronteiras, mas também, como se pode facilmente constatar, nos gran-
des centros urbanos brasileiros. Uma ação de comunicação que afirme a garantia do
acesso aos serviços de saúde em fluxos transfronteiras pode ser um eficiente mecanismo
para o melhor ordenamento desses fluxos, com a captura de informações necessárias
para o desenho de estratégias de compensação financeira ou mesmo para o adequado
dimensionamento dos serviços de saúde nas regiões de fronteira. Parece igualmente
estratégico desenvolver ações nesse sentido nas regiões onde já se verifica um fluxo
mais expressivo de atendimentos transfronteiras e/ou onde já se desenvolvem iniciativas
locais de regulação da oferta e do acesso a esses serviços. As experiências da Itaipu
Binacional, do estado do Paraná e do município de Foz do Iguaçu e do estado do Rio
Grande do Sul com o Uruguai mostram um importante grau de solidez para abrigar um
esforço adicional nesse sentido.
Da mesma forma, o reforço à agenda conjunta de discussões sobre a implementação
de projetos/políticas de informação e informática em saúde mostra-se oportuno, já que
se verifica atualmente uma fase incipiente de mudanças nessa área, nos quatro países.
A migração conjunta para padrões tecnológicos e de representação de informação com-
patíveis e integráveis entre si tem, nesses momentos de transição, uma oportunidade
singular. Por outro lado, sugerimos a busca de fontes internacionais de recursos para, em
complemento às fontes já existentes nos orçamentos nacionais, avançar na implantação
de projetos de identificação de usuários, profissionais e serviços, a exemplo do que vem
acontecendo no Brasil com a implantação do Cartão Nacional de Saúde. Esse projeto, de
relevância destacada internacionalmente, vem despertando o interesse nos demais paí-
ses do bloco e pode ser um importante estímulo ao reordenamento dos sistemas nacio-
172
11. Uma Agenda para Viabilizar o SIS-MERCOSUL
nais de informação e informática, segundo as diretrizes que vêm sendo destacadas in-
ternacionalmente e implementadas no projeto brasileiro.
Em relação ao financiamento, as diversas alternativas apresentadas mostraram-se
adequadas. A adoção de uma estratégia para a formalização do processo de integração
deve ser feita preservando-se a possibilidade da implementação de modelos mistos de
financiamento, a serem definidos e pactuados em acordos multilaterais estabelecidos a
posteriori. Deve ser ressaltada a sugestão de que, antes mesmo da coleta de dados para
permitir a construção de propostas mais embasadas na realidade, tendo em vista o volu-
me de demandas regulares e informais que já se observa nos municípios brasileiros da
região das fronteiras com países do MERCOSUL, seja criado um incentivo financeiro para
garantir minimamente os padrões atuais de atendimento a cidadãos de outros países
com suportes adequados dos governos federal e estaduais aos municípios da linha de
fronteira, paralelamente à adoção de medidas que fomentem a cooperação internacional
no nível local para a organização de redes assistenciais transfronteiriças. Mais do que
isso, tal iniciativa pode representar uma experiência piloto para a validação de novos
componentes das estratégias de aproximação.
De acordo com as evidências sistematizadas até agora, esse incentivo poderia tomar
a forma de um repasse na modalidade fundo a fundo, tomando como base a população do
próprio município. Tendo em vista o que se pode verificar pela revisão de relatos e
estudos anteriores, um incentivo equivalente ao intervalo de 30 a 50% dos repasses per
capita para a Atenção Básica, além de representar um pequeno impacto financeiro para o
governo brasileiro, também teria condições de permitir o incremento nas ações de regu-
lação atualmente desenvolvidas, tais como o registro dos cidadãos, dos procedimentos
demandados e realizados e algum fluxo de contra-referência para os serviços de saúde
do país de origem. Também parece adequado que esse repasse seja antecedido da firma-
tura de um compromisso para adesão entre o Ministério da Saúde e os respectivos muni-
cípios e estados, descrevendo com mais precisão as obrigações das partes e os mecanis-
mos de prestação de contas. A participação mais ativa dos Conselhos de Saúde está
indicada, quer porque têm essa prerrogativa assegurada legalmente, essa tem sido uma
deliberação reiterada nas últimas Conferências Nacionais de Saúde, quer porque a for-
mação de uma rede social transfronteiras parece oferecer efeitos mais rapidamente no
que se refere ao controle social do que a pactuação de estratégias similares nos trâmites
diplomáticos, que já têm sob sua responsabilidade a construção de mecanismos para a
integração/harmonização da gestão.
A proposta concreta, que considera as assimetrias entre os sistemas de saúde do
Brasil e dos demais países do MERCOSUL, seria a de criar uma categoria de gestão, a dos
municípios SIS – MERCOSUL, na qual seriam habilitados, por adesão, os municípios bra-
sileiros de fronteira que se dispusessem a operar em âmbito transfronteirço. Haveria
173
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
clara identificação dessa condição de gestão, com destaque para os projetos neles desenvol-
vidos, assim como para sua identidade visual (selo SIS –MERCOSUL), institucional e política.
Essa condição de gestão, inicialmente no âmbito das ações do SUS, poderia ser poste-
riormente generalizada para os demais países, nos territórios de fronteira e também, no
Brasil, para as fronteiras não MERCOSUL.
Os municípios habilitados na condição de municípios SIS – MERCOSUL receberiam
crédito suplementar fundo a fundo e também teriam que planejar suas ações transfron-
teiras no espaço do PDI e do PDR, juntamente com as ações dos demais municípios.
Fariam parte da condição de habilitação para gestão SIS – MERCOSUL:
• a capacitação de profissionais de saúde para operar em âmbito transfronteiriço;
• a harmonização dos calendários de vacinação transfronteiras;
• a acreditação dos serviços e dos profissionais;
• a adaptação dos sistemas de informação, dentro da estrutura dos sistemas de
informação do SUS; e
• a definição da referência e da contra-referência.
A habilitação SIS – MERCOSUL ocorreria não só no campo da gestão plena da Atenção
Básica, mas também no campo da gestão plena do sistema, para municípios previamente
habilitados nesta condição.
Nesse caso, o PDI e o PDR deveriam refletir os novos fluxos de ações e estabelecer
recursos adicionais para adaptar a oferta a esse padrão ampliado de demanda.
A possibilidade de comprar serviços financiados pelo SUS e remunerados segundo sua
tabela de remuneração de procedimentos em território transfronteiras do MERCOSUL
deveria ser observada.
As ações dos municípios do SIS – MERCOSUL deveriam integrar os Observatórios de
Fronteira, aos quais deveriam ser incorporadas as experiências já em curso na fronteira
com o Uruguai e na empresa Itaipu Binacional, com a intenção de difusão das boas práti-
cas transfronteiriças;
Nessas regiões deveriam ser desenvolvidos os primeiros Centros de Referência do
MERCOSUL, tanto no campo das especialidades médicas, quanto no campo do ensino dos
profissionais de saúde.
Tendo como referência as atividades desenvolvidas no Brasil, sugerimos que os demais
Estados partes desenvolvam processos internos de construção de consenso em torno da
análise de situação e elaboração de propostas para implementação do SIS –MERCOSUL, en-
volvendo os diversos atores que atuam na área da saúde em suas regiões de fronteira, para
que se construa uma agenda comum exeqüível para Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
A análise da experiência internacional sugere a necessidade de uma separação entre
174
11. Uma Agenda para Viabilizar o SIS-MERCOSUL
175
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
176
11. Uma Agenda para Viabilizar o SIS-MERCOSUL
Aspectos organizacionais:
• Formalizar a garantia de acesso, nos padrões atuais, do atendimento a cidadãos
de outros países – recomendamos a instituição, pelo Ministério da Saúde brasilei-
ro, de processo de habilitação de municípios da linha de fronteira para atendimen-
to a estrangeiros, com revisão dos seus tetos financeiros e suporte técnico em
parceria com as secretarias estaduais de saúde. Julgamos possível desenhar uma
proposta com viabilidade técnica para a criação de um repasse fundo a fundo, a
partir da adesão dos municípios de fronteira brasileiros a um cardápio de obriga-
ções formais com capacidade de ajustar fluxos, suprir parte das deficiências atu-
ais e induzir novos padrões de integração entre os países. A partir da experiência
brasileira de financiamento, indicamos o repasse na modalidade fundo a fundo. A
inexistência atual de dados sobre a referência populacional de estrangeiros não
nos parece impeditiva de operacionalizar tal repasse, já que é possível estabele-
cer preliminarmente uma estimativa a partir da população do próprio município.
As ações de vigilância, de informação e de referenciamento e contra-referencia-
177
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Aspectos político-institucionais:
• Realizar estudos sobre o arcabouço jurídico-normativo e institucional dos siste-
mas de saúde dos países, em questões relacionadas à integração transfronteira
com fluxo de recursos financeiros, com destaque para a disponibilidade de recur-
sos orçamentários próprios e o grau de facilidade de captação de fontes externas
de recursos que possam ser utilizados na área da saúde, além dos instrumentos,
fluxos e metodologia de prestação de contas e controle do uso de recursos públicos.
• Identificar ou desenvolver instrumentos de gestão que possibilitem a formalização
no nível local das ações de saúde transfronteiriças, através de parcerias entre os
municípios brasileiros e os diversos prestadores dos sistemas de saúde dos países
vizinhos, considerando a autonomia dos municípios brasileiros na gestão do SUS no
nível local e as peculiaridades dos municípios e sistemas de saúde dos demais países.
178
11. Uma Agenda para Viabilizar o SIS-MERCOSUL
Regulação e financiamento:
• Fomentar a realização de estudos sobre o custo de ações e serviços de saúde
oferecidas nas regiões de fronteira pelos quatro países.
• Estimular o compartilhamento das discussões atuais sobre sistemas de informa-
ção em saúde e projetos de identificação de usuários, profissionais e serviços de
saúde, bem como o intercâmbio das atuais tecnologias disponíveis.
• Iniciar a troca de informações com a padronização de relatórios mínimos a partir
dos sistemas já existentes, possibilitando a instalação imediata de Observatórios
de Saúde do MERCOSUL, nas regiões de fronteira.
• Integrar as discussões que vêm acontecendo nos quatro países sobre medidas de
compensação financeira para municípios de fronteira e estimular o avanço dessas
discussões.
Aspectos organizacionais:
• Organizar a demanda assistencial, disciplinando os fluxos e identificando centros
de referência para média e alta complexidade.
• Criar instrumento único de identificação de usuários, observadas as legislações de
cada país.
• Possibilitar o livre exercício profissional na fronteira, garantindo procedimentos
claros, simples e transparentes de validação profissional, de modo a facilitar e a
179
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
Aspectos político-institucionais:
• Regulamentar, por meio de lei complementar, que atualmente tramita como proje-
to de lei, o artigo 20, parágrafo 2°, da Constituição Federal, que trata da defini-
ção de faixa de fronteira, e necessariamente considerar os antecedentes da legis-
lação brasileira, bem como as Resoluções Incorporadas ao Ordenamento Jurídico
nos quatro Estados partes do MERCOSUL.
Regulação e financiamento:
• Iniciar o planejamento integrado para a ampliação da capacidade operacional em
áreas de maior demanda na região de fronteira. Foi sugerida, com essa finalida-
de, a criação de câmaras de desenvolvimento regional dos sistemas de saúde, com
a participação de prestadores privados e públicos, além de representantes da so-
ciedade civil.
• Promover a compatibilidade entre os sistemas de informação referentes à presta-
ção de serviços de saúde.
• Desenvolver sistema integrado de informação epidemiológica para a faixa de fron-
teira.
• Estabelecer mecanismos de ressarcimento entre operadoras de planos de saúde e
entre estas e o serviço público.
• Iniciar busca conjunta e articulada, entre os países, de recursos externos para
investimentos estratégicos, desencadeando um processo solidário de identifica-
ção de fontes de recursos para a saúde.
• Fomentar a realização de diagnóstico detalhado sobre a capacidade instalada nos
sistemas de saúde dos quatro países, no que se refere à assistência e à produção
de insumos e tecnologias, bem como às demandas que poderiam ser referidas aos
outros países.
180
11. Uma Agenda para Viabilizar o SIS-MERCOSUL
Aspectos organizacionais:
• Adotar política comum de assistência à saúde mediante articulação entre as redes
de serviços com processos acordados de referência e contra-referência.
• Integrar gestão e formação de recursos humanos.
Aspectos político-institucionais:
• Identificar as condições de direitos e deveres dos usuários no arcabouço legal e
institucional dos quatro países, bem como o estabelecimento de padrões comuns
para orientar o acesso, a oferta e a qualidade das ações e dos serviços de saúde
disponibilizados e os mecanismos que serão utilizados para dirimir dúvidas a esse
respeito.
• Ampliar a mobilização da sociedade civil, por meio de amplo diálogo com gestores,
trabalhadores e usuários nas regiões de fronteiras, visando à relevância da inte-
gração para os governos.
Regulação e financiamento:
• Criar fundos de coesão e desenvolvimento estrutural para áreas estratégicas, como
custeio de ações já desenvolvidas (atenção), custeio de ações novas (atenção) e
expansão em projetos multilaterais (gestão, pesquisa, informação, desenvolvi-
mento tecnológico, produção de insumos, etc). A definição de fontes de recursos –
próprios dos países e/ou captados em projetos de cooperação – e de mecanismos
de acompanhamento e controle e de estruturas para a gestão desses recursos deve
ser objeto de pactuação e formalização entre os países, envolvendo não somente
as estruturas executivas dos governos, mas também os demais poderes. Se essa
estratégia implica um decurso considerável de tempo, também é verdade que,
embrionariamente, pode ser desenvolvida por meio da busca integrada de fontes
externas de financiamento, bem como na definição de recursos próprios dos qua-
tro países, para utilização em projetos nacionais, de acordo com prioridades defi-
nidas em conjunto pelos demais países.
• Iniciar o compartilhamento de padrões de informação, do processo de registro de
eventos e da identificação de usuários, profissionais e serviços para efeitos do
sistema de informações.
Esse é o conjunto de operações consideradas por nós necessárias e suficientes para
181
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
182
ANEXO
GRUPO DE TRABALHO ITAIPU/SAÚDE
Joel de Lima
AS/FE - Itaipu Binacional
A Itaipu Binacional sempre atuou, por meio das suas diretorias, em parceria com as
autoridades brasileiras e paraguaias, de todas as esferas de governo, no sentido de
minimizar o impacto causado à região com a construção da usina hidrelétrica.
A atual diretoria da Itaipu Binacional, amparada no conceito da responsabilidade soci-
al, tem ampliado as ações da empresa buscando a melhoria do Índice de Desenvolvimen-
to Humano, maximizando sua intervenção em vários setores, entre eles a saúde.
A fim de orientar as ações de Itaipu na área da saúde, garantindo-lhe maior impacto
e resolubilidade, foi criado o Grupo de Trabalho Itaipu/Saúde, composto por 12 integran-
tes, sendo 6 brasileiros e 6 paraguaios, obedecendo à seguinte distribuição:
Brasil
• 1 Representante da Itaipu Binacional
• 1 Representante da Fundação de Saúde Itaiguapy
• 1 Representante do Ministério da Saúde
• 1 Representante da Secretaria de Estado de Saúde do Paraná
• 1 Representante da Secretaria Municipal de Saúde de Foz do Iguaçu
• 1 Representante do CRESEMS da 9ª Regional de Saúde
Paraguai
• 2 Representantes da Itaipu Binacional
• 1 Representante da Fundação Tesai
• 1 Representante do Ministério da Saúde Pública e Bem-Estar Social
• 1 Representante da 10ª Região Sanitária de Alto Paraná
• 1 Representante da 14ª Região Sanitária de Canindeyu.
O grupo de trabalho, de caráter permanente e consultivo, vinculado à Itaipu Binacio-
nal, tem por objetivo propor as estratégias para inserção das fundações de saúde insti-
tuídas pela Itaipu Binacional na organização e novapoio às ações de saúde na sua área de
influência, região da fronteira entre Brasil e Paraguai, abrangendo 27 municípios brasi-
185
SIS-MERCOSUL – Uma Agenda para Integração
186
Anexo — Grupo de Trabalho Itaipu/Saúde
187
SIS-MERCOSUR – Una agenda para integración
SERIE TÉCNICA – PROYECTO DE DESARROLLO DE SISTEMAS Y SERVICIOS DE SALUD – 9
El MERCOSUR, promoviendo la consolidación de la región,
SIS-MERCOSUR
viene favoreciendo el desarrollo de los más diversos secto-
gração dos sistemas de saúde do MERCOSUL.
SÉRIE TÉCNICA – PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE – 9 integración de los sistemas de salud del MERCOSUR.
SIS-MERCOSUR – Una agenda para integración
SERIE TÉCNICA – PROYECTO DE DESARROLLO DE SISTEMAS Y SERVICIOS DE SALUD – 9
El MERCOSUR, promoviendo la consolidación de la región,
SIS-MERCOSUR
viene favoreciendo el desarrollo de los más diversos secto-
gração dos sistemas de saúde do MERCOSUL.
SÉRIE TÉCNICA – PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE – 9 integración de los sistemas de salud del MERCOSUR.
SÉRIE TÉCNICA – PROYECTO DE DESARROLLO DE SISTEMAS Y SERVICIOS DE SALUD – 9
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD (OPS/OMS)
serie técnica
Proyecto de Desarrollo de
Sistemas y Servicios de Salud
Edición Especial
BRASILIA – DF
2004
Ministro de Salud
Humberto Costa
Secretario Ejecutivo
Gastão Wagner de Souza Campos
Director de Inversiones y Proyectos Estratégicos
Edmundo Gallo
Coordinadora Nacional del SGT-11 “Salud” / MERCOSUR
Enir Guerra Macedo de Holanda
Gerente del SIS-MERCOSUR en la DIPE/SE/MS
Laís Costa
Equipo de Elaboración del Proyecto
Edmundo Gallo
Laís Costa
Adnei Moraes
Solange Baraldi
Equipo Técnico
Técnicos del Ministerio de Salud de diversas áreas contribuyeron con la construcción de este
documento.
Apoyo
Coordinación Nacional del SGT-11 “Salud” / MERCOSUR – Brasil
Agencia Nacional de Salud Suplementaria, ANS
Banco Interamericano de Desarrollo, BID
Organización Panamericana de la Salud, OPS
Organización de las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura, UNESCO
Organización Mundial de la Salud (OMS)
Organización Panamericana de la Salud (OPS)
Ministerio de Salud - Brasil
ORGANIZADORES:
EDMUNDO GALLO
Médico especialista en Medicina Social, con Maestría en Salud Pública, Doctorando en
Salud Pública por Fiocruz. Fue Secretario Municipal de Salud de Belém, Secretario
General y Presidente del CONASEMS y Consultor de Organismos Internacionales. Hoy
es Director de Inversiones y Proyectos Estratégicos de la Secretaría Ejecutiva del
Ministério de Salud/Brasil.
LAÍS COSTA
Administradora especializada en el Sector Público, con Maestría en ‘Development Studies’
por la London School of Economics and Political Sciences (LSE). Consultora de Organismos
Internacionales, ha participado de debates nacionales e internacionales sobre
Federalismo Fiscal y Descentralización de acciones públicas. Actualmente es asesora
de la Directoría de Inversiones y Proyectos Estratégicos de la Secretaría Ejecutiva
del Ministério de Salud y gerente del proyecto SIS-MERCOSUR.
Brasilia – DF
2004
Elaboración, distribución e informaciones
Gallo, Edmundo
NLM: W84
(...) “Soluciones para los problemas de salud representan mecanismos esenciales para la
erradicación de la pobreza y, como tales, son extremamente importantes para cualquier
diálogo cuyo tema sean las Américas”.
Muchas son las personas que participaron de esta publicación, directamente o a través
de importantes colaboraciones, para la reflexión sobre el tema. El Ministerio de Salud
está profundamente agradecido a todos y, anticipadamente, pide disculpas por eventuales
omisiones en este agradecimiento:
Del mismo modo y en función de reflexiones esenciales para la discusión del SIS-MERCOSUR,
agradecemos la ayuda de la Comisión Parlamentaria Conjunta del MERCOSUR, de Itaipú
Binacional, de centros de estudios municipales (principalmente la CEPAM, IBAM e Instituto
Polis), de agencias de fomento al desarrollo, nacionales y multilaterales, como BNDES,
BIRD, PNUD, de todas las entidades que se involucraron en la discusión, como el CONASS
y CONASEMS y de las SES y SMS.
Además, sin el apoyo de la Coordinación Nacional del SGT-11 y de las demás Secretarías
del Ministerio de Salud, la calidad de la discusión resultaría sustancialmente perjudicada
en función de la poca visibilidad y conocimiento del complejo contexto en el que se
encuentra inserto este debate.
7
LISTA DE SIGLAS
9
DIPE Direccíon de Inversiones y Proyectos Estratégicos
DST Enfermedades Sexualmente Transmisibles
EEUU Estados Unidos de América
EHMA European Health Management Association
EPF European Property Federation
ESIP Partícipes Europeos de la Seguridad Social
EU Unión Europea
FDA Federal Drug Administration
FIOCRUZ Fundación Oswaldo Cruz
GMC Grupo del Mercado Común
GT Grupo de Trabajo
HIV Human Imunodeficiency Virus
HOPE Hospitals for Europe
HTA Evaluación Tecnológica de Salud
IBAM Instituto Brasileño de Administración Municipal
IMPAC Internet and Mail-order Pharmacy Accreditation Commission
INAMPS Instituto Nacional de Asistencia Médica de Seguridad Social
INPS Instituto Nacional de Seguridad Social
INTERREG El INTERREG es un programa de Iniciativa Comunitaria
de la Comunidad Europea
LSE London School of Economics and Political Sciences
MERCOSUR Mercado Común del Sur
MDS Ministerio de Desarrollo Social y Combate al Hambre
MS Ministerio de Salud
NAFTA North American Free Trade Agreement
NOAS Normas Operacionales de Asistencia a la Salud
NOB Norma Operacional Básica
OECD (OCDE) Organización para la Cooperación y Desarrollo Económico
OJN Ordenamiento Jurídico Nacional
OMS Organización Mundial de Salud
ONG Organización No-Gubernamental
OPAS Organización Panamericana de Salud
OSCIP Organización de la Sociedad Civil de Interés Público
PAHO Pan American Health Organization
PDI Plan Director de Inversiones
PDR Plan Director de Regionalización
PIASS Programa de Interiorización de las Acciones de Salud y Saneamiento
PIB Producto Interno Bruto
PMDI Plan del Estado de Minas Gerais de Desarrollo Integrado
PNUD Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo
PPAG Plan Plurianual de Acción Gubernamental
10
PPI Programación Pactada e Integrada
PPTB Presidencia Pro-Tempore del Brasil
PT/PR Partido de los Trabajadores/Paraná
RDA Revista de Derecho Administrativo
RMS Reunión de los Ministros de Salud
RMSM-BCh Reunión de los Ministros de Salud del MERCOSUR, Bolivia y Chile
RTJ Revista del Tribunal de Justicia
SARS Síndrome Respiratoria Aguda Grave
SAS Secretaría de Atención a la Salud
SE Secretaría Ejecutiva
SES Secretaría Estadual de Salud
SES-RS Secretaría Estadual de Salud de Rio Grande do Sul
SGP Secretaría de Gestión Participativa
SGT-11 Subgrupo de Trabajo numero 11 - Salud en el Mercosur
SGTES Secretaría de Gestión del Trabajo y de la Educación en la Salud
SIS Sistema Integrado de Salud del MERCOSUR
SIS-Mercosul Sistema Integrado de Salud del MERCOSUR
SMS Secretaría Municipal de Salud
SMS-POA Secretaría Municipal de Salud de Porto Alegre
SPO Subsecretaría de Planeamiento y Presupuesto
SUDS Sistema Unificado y Descentralizado de Salud
SUS Sistema Único de Salud
SVS Secretaría de Vigilancia en Salud
SW Software
TI Technology Information
TCE Tribunal de Cuentas del Estado de São Paulo
TCMG Tribunal de Cuentas de Minas Gerais
TCU Tribunal de Cuentas da la Unión
TEC Tarifa externa común
UE Unión Europea
UERJ Universidad del Estado de Río de Janeiro
UFRGS Universidad Federal de Río Grande do Sul
UNESCO Organización de las Naciones Unidas para la Educación,
la Ciencia y la Cultura
UNICAMP Universidad de Campinas
Unisinos Universidad del Vale do Rio dos Sinos
US Estados Unidos
VA Vigilancia Ambiental
VE Vigilancia Epidemiológica
VS Vigilancia en Salud
11
SUMARIO
La integración de los países del MERCOSUR ha demostrado, a la luz de las demás experiencias
regionales, que la unión de esfuerzos viene fortaleciendo la capacidad de enfrentar proble-
mas comunes. La integración de los Estados Partes ha aportado resultados favorables, visi-
bles a través de la articulación de esfuerzos en la búsqueda de un desarrollo común y solida-
rio. Los resultados positivos están presentes en todas las áreas de los Estados Partes, refor-
zando la idea de que la decisión de ampliar la integración entre la Argentina, Paraguay,
Uruguay y Brasil es el camino correcto para el desarrollo socioeconómico de estos países.
En ese sentido, la propuesta de la integración de los servicios de salud de los países del
MERCOSUR, SIS-MERCOSUR, surge como una alternativa para la ecuación de la atención
a la salud en los municipios de frontera. Su objetivo principal es la reversión de la situación
precaria vivida por esas poblaciones, limitativo del ejercicio de su ciudadanía.
Se entiende la necesidad de acciones conjuntas, una vez que demandas de salud y enferme-
dades transmisibles no distinguen fronteras. Justificados por la urgencia en promover la justi-
cia social – a través de la mejoría de la eficiencia y especialización del sistema, del planeamien-
to racional y de acciones sustentables -, los cuatro Estados Parte del MERCOSUR concordaron en
que debe ser dada más atención a la integración regional de la atención a la salud.
En la práctica, los sistemas de salud en estas regiones ya se comunican a través de
prácticas informales diversas, ocasionando efectos colaterales indeseados e innecesarios,
que no se presentarían caso hubiera un planeamiento de las acciones en salud de forma
conjunta entre los cuatro países.
Entendiendo la dimensión del desafío a ser enfrentado, el Ministerio de Salud viene pro-
moviendo una serie de debates sobre las diversas motivaciones, dificultades, ausencias
y trabas para la integración de los sistemas de salud que atienden a las poblaciones
fronterizas del MERCOSUR. En este primer momento, hubo un movimiento interno obje-
tivando aproximar a gestores brasileños de frontera de los planificadores públicos.
Es del mayor interés que este proceso de reflexión interna brasileña sea acompañado por la
Argentina, Paraguay y Uruguay. Solamente a través de la socialización de los debates ten-
dremos, en el momento de la elaboración de la herramienta de auxilio a la gestión propia-
mente dicha, el SIS-MERCOSUR, una mejor calidad de información y armonización de ideas.
Esta publicación tiene, por lo tanto, el objetivo mayor de tornar transparente este ciclo de
debates brasileño y, principalmente, invitar para el debate a los demás países, entendiendo que
solamente a través de la participación de todos conseguiremos alcanzar la eficiencia necesaria.
15
INTRODUCCIÓN
Edmundo Gallo
Director de Inversiones y Proyetos Estratégicos
Secretaría Ejecutiva / Ministerio de Salud
17
PRESENTACIÓN – EL MERCOSUR Y LA INTEGRACIÓN
19
1. COOPERACIÓN EN SALUD E INTEGRACIÓN
REGIONAL: POLÍTICAS PARA PROMOVER
LA DINAMIZACIÓN DEL COMPLEJO DE SALUD
EN EL MERCOSUR
Edmundo Gallo
Director de Inversiones y Proyectos Estratégicos de la Secretaría Ejecutiva del Ministerio de Salud de Brasil (DIPE/SE/MS)
y Doctorando en Salud Pública – Fundación Oswaldo Cruz – FIOCRUZ - RJ.
Antonio Claret
Asesor del Secretario de Evaluación y Gestión de la Información del Ministerio de Desarrollo Social y Combate al Hambre
(MDS) y Doctorando en Salud Pública - FIOCRUZ.
Laís Costa
Asesora de la Dirección de Inversiones y Proyectos Estratégicos (DIPE/SE/MS), Gerente del proyecto SIS-MERCOSUR en la
DIPE y Master in ‘Development Studies’ - London School of Economics and Political Sciences (LSE).
Natascha Nunes
Asesora de la Asesoría de Cooperación Externa del Programa Nacional de SIDA (COOPEX/AIDS/MS) y Master en Economía
Política Internacional - London School of Economics and Political Sciences (LSE).
1. Introducción
21
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
2. Antecedentes y Diagnósticos
El desarrollo del sector salud, por el bien social que representa, es considerado como
prioridad, puesto que trata del bienestar de la población. En este momento histórico
específico, en el que se prioriza la inclusión social, el combate a la pobreza y a las
desigualdades diversas, el desarrollo de voz política de los menos favorecidos e históri-
camente marginados de la sociedad y el rescate de la deuda social, la salud se presenta
como uno de los sectores más evidentes para la realización de políticas públicas1.
Hay que agregar el hecho de que la salud es considerada como una incuestionable
inductora de desarrollo 2: el reconocimiento de su importancia es prácticamente unánime
en todos los campos de estudios. Estudios de la OMS3, coordinados por el Dr. Sachs, por
1 Crow enfatiza el papel fundamental que la provisión de servicios de salud pública y el establecimiento de cierto nivel
de seguridad social, además de políticas de empleo y distribución de comida, tuvieron en la reducción de la pobreza
y del hambre durante la Revolución China.
2 Amartia Sen afirma que las libertades individuales, como por ejemplo el acceso a la salud y la educación, representan
el principal medio para promover el desarrollo. (Sen, 1999)
3 Estudios coordinados por el Dr. Sachs, de Harvard, y sistematizados en el informe ‘Macroeconomics and health:
investing in health for economic development”. (OMS, 2001)
22
1. Coopeeración en Salud e Integración Regional:
Políticas para Promover la Dinamización del Complejo de Salud en el MERCOSUR
4 De acuerdo con Dréze y Sen (1995), la expansión de la atención a la salud fue una de las principales conquistas en el
período pre-reforma en China. La expansión del acceso a la salud probó ser una herramienta de gran importancia
para las reformas económicas. Su importancia puede ser observada no solamente en lo que respecta a la calidad de
vida, sino también en términos de desempeño económico, dado que la morbilidad y la subnutrición pueden represen-
tar serias barreras para la productividad del trabajo y para el desempeño económico’. (p. 41 — traducción propia)
5 De acuerdo a Guimarães, 2000, “el excedente generado por la introducción de las innovaciones realmente impulsa
la inversión.” (Guimarães, 2000)
6 Gadelha en conferencia en el Congreso sobre Salud Colectiva en 2003, ABRASCO.
23
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
7 La importancia de este espacio está siendo reconocida por el BNDES al verificar el impacto potencial del desarrollo del
Complejo Industrial de la Salud (CIS) y del Complejo Productivo (CPS) como un todo sobre el desarrollo sustentable de una
nación. “Por medio del comercio exterior, de la capacitación de las tecnologías avanzadas y de la búsqueda de
inversiones productivas, la relación externa de Brasil deberá contribuir para las mejorías de las condiciones de vida
de la mujer y del hombre brasileños, elevando los niveles de ingresos y generando empleos dignos” (Mensagem ao
Congresso Nacional, 2003). En ese contexto político, el referido banco de fomento de desarrollo brasileño viene
debatiendo la posibilidad de promover acciones integradas para el desarrollo articulado de los CPS de los Estados Partes
del MERCOSUR. Este reconocimiento por parte del BNDES se puede verificar por la agenda del Banco que, desde el año 2003,
incluye seminarios, debates y publicaciones sobre el tema.
24
1. Coopeeración en Salud e Integración Regional:
Políticas para Promover la Dinamización del Complejo de Salud en el MERCOSUR
aún en 1999, figuran los acuerdos sobre Dengue, Cólera, Sarampión y Carencia de Micro-
nutrientes. En junio de ese año los ministros de salud de la región acordaron apoyar y
fortalecer los procesos de reforma y buscar consenso dentro de los mismos con relación a
mecanismos que permitan la interrelación de los sistemas de salud en el contexto subre-
gional. También instituyeron la creación de un Grupo Técnico para elaborar una propues-
ta de trabajo identificando las líneas a ser desarrolladas por un núcleo de articulación en
el ámbito de la RMS. Los últimos dos acuerdos trataron de la consideración de informes
epidemiológicos y de la creación de un grupo ad hoc para estudiar las directivas a ser
implementadas a nivel de las zonas fronterizas, para realizar un diagnóstico de la situa-
ción de los desplazamientos por motivos de atención a la salud.
En el año 2000 se definió una política de medicamentos, y también se acordó la crea-
ción de un banco de datos de precios en el ámbito MERCOSUR, Bolivia y Chile, teniendo
como base las compras gubernamentales, los servicios de salud y el consumidor. En el
segundo semestre de 2002, se aprobó la política de medicamentos y fue recomendado al
Consejo del Mercado Común (CMC) que instruyera al Subgrupo de Trabajo de Salud (SGT-
11) a otorgar tratamiento prioritario a la Comisión de Productos para Salud. El último
acuerdo firmado en 2000 fue con relación al control de dengue. En 2001, fue creada la
comisión intergubernamental de vigilancia y control de dengue, habiendo sido estableci-
da una política de medicamentos y acordada la participación del MERCOSUR, Bolivia y
Chile en el proceso de revisión del Reglamento Sanitario Internacional.
Considerando los avances logrados hasta aquí, y la creciente importancia del complejo
de salud para el crecimiento económico y el desarrollo social de la región, se sugiere la
necesidad de una profundización de la integración en el área de la salud para el esfuerzo
de retomada del MERCOSUR a partir de 2003.
El llamado complejo de la salud incluye desde la producción de medicamentos, equipa-
mientos, insumos, inmunobiológicos y otros productos de uso no exclusivo de la salud,
hasta las actividades de promoción, prevención y prestación de servicios de salud, invo-
lucrando en su producción, instituciones públicas, privadas y filantrópicas, incluyendo
parte relevante del sector informal del mercado de trabajo.
Se puede dividir la estructura del complejo de salud en cinco segmentos8: a) industrial;
b) comercial; c) servicios; d) formativo; e) investigación y desarrollo. Mientras el segmen-
to de servicios constituye los principales ‘loci’ de la atención y promoción de salud para las
poblaciones, los segmentos industrial9 y comercial presentan hoy importantes desafíos
para la autonomía de los países, la generación de empleos, el desarrollo tecnológico, la
competitividad económica y la sustentabilidad social del crecimiento del PIB.
8 Para más detalles sobre la composición e interrelación del CPS, ver Gadelha, C., 2002.
9 Fármacos, equipamientos para diagnóstico y terapéutica, cadenas productivas de insumos, etc.
25
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
26
1. Coopeeración en Salud e Integración Regional:
Políticas para Promover la Dinamización del Complejo de Salud en el MERCOSUR
27
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
aprobada por el SGT-11 y por la Reunión de Ministros de Salud para ser elevado al
GMC y adoptado por los Estados Partes y Asociados.
4. Mecanismos de Ejecución
Esta propuesta de Cooperación Técnica entre los países del MERCOSUR en el área de
salud sería ejecutada por equipos designados/contratados por los ministerios de salud
de los Estados Partes (Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay) y de los Estados Asociados
(Bolivia y Chile), bajo la coordinación del Ministerio de Salud de Brasil.
Naturalmente, tal propuesta necesitaría ser previamente aprobada por el Foro de
Coordinadores Nacionales del SGT Nº 11 (Salud) del Grupo Mercado Común (GMC), órgano
ejecutor del Bloque, y por la Reunión de Ministros de Salud (RMS) del Consejo del Mercado
Común (CMC).
Una vez aprobada, el Ministerio de Salud de Brasil, por medio de la Dirección de
Inversiones y Proyectos Estratégicos (DIPE) de la Secretaría Ejecutiva, se encargaría de
coordinar los trabajos de producción del Atlas y de la Metodología de Seguimiento, de
articular el Mecanismo Institucional de coordinación y monitoreo, apoyando también las
Coordinaciones Nacionales del SGT-11, quienes deberán preparar el Plan de Trabajo.
28
1. Coopeeración en Salud e Integración Regional:
Políticas para Promover la Dinamización del Complejo de Salud en el MERCOSUR
29
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
5. Consideraciones Finales
30
1. Coopeeración en Salud e Integración Regional:
Políticas para Promover la Dinamización del Complejo de Salud en el MERCOSUR
existentes sean conocidas. Además, se deberán identificar los nudos críticos para la
integración de las políticas de salud, dirigir esfuerzos hacia la integración de los CPS de
los cuatro países involucrados y también tratar de organizar una agenda común. Final-
mente, el documento describe acciones para viabilizar el alcance de los objetivos antes
mencionados, como también estimaciones de sus costos.
31
2. SALUD EN EL MERCOSUR:
EL DESAFIO DE LO NUEVO
Dr. Rosinha (Florisvaldo Fier)
Médico, diputado federal del PT/PR y Presidente de la Comisión Parlamentaria Conjunta del MERCOSUR
El objetivo del presente texto es proponer una reflexión sobre el MERCOSUR y los
grandes desafíos que representa, específicamente, para el sector salud. No pretendo
presentar soluciones, sino tan sólo contribuir con la reflexión para su búsqueda.
La realidad política y económica de América Latina en los comienzos de este nuevo
siglo, se debe analizar con mucha atención, para elaborar proyectos de construcción de un
bloque, en este caso, el MERCOSUR. Según Emir Sader, en “La Venganza de la Historia”,
América Latina nunca ha estado tan poblada de regímenes políticos democráticos, según
los conceptos liberales, como en el comienzo del siglo XXI.
Por más problemas que tengan esas democracias liberales - que fueron construidas,
mayormente, en las dos últimas décadas del siglo pasado - ellas constituyen un punto
positivo y favorable para la construcción de bloques, aunque con relativa o casi ausente
participación popular. Concomitantemente, se construyó también la peor crisis económica
y social desde la década del 30. Crisis esta, según Sader, agravada por el aumento de la
dependencia económica de esos países con relación a los grandes centros financieros, y por
la sumisión política de los países en desarrollo a las grandes potencias.
Dichas dependencia y sumisión dificultan o impiden la capacidad de decisión política de
fortalecer el MERCOSUR, porque ninguno de los Estados que integran el bloque tiene gran
capacidad para realizar las inversiones tan necesarias para corregir las ‘asimetrías’ o dife-
rencias existentes entre los países. Las diferencias o ‘asimetrías’ (como las registradas en
el área de la salud) deben ser identificadas, no sólo con el objeto de superarlas - no existe
relación sólo entre países simétricos. (¿Quieren algo más asimétrico que el NAFTA o la
Unión Europea?). En algunos sectores específicos, las ‘asimetrías’ son positivas y se deben
utilizar. Por ejemplo: la oferta de servicios de una determinada especialidad médica puede
estar presente en un país, en una determinada frontera, mientras que del otro lado, el país
vecino carece de ella. En ese caso, lo más conveniente es que esos especialistas atiendan
a toda la población de la franja de frontera, en vez de tornar la frontera simétrica con el
otro país, desplazando hacia allá igual número de profesionales.
33
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
El MERCOSUR nació a comienzos de la década del 90, por lo tanto en otro escenario,
con un objetivo, aunque no explícito: el mercado. Por eso, no hubo énfasis en los demás
segmentos como los servicios, y no tomó en cuenta las cuestiones sociales y humanas.
Aún siendo el mercado el objetivo, según Maria Claudia Drummond, este acuerdo anun-
ciaba un período rico en la historia del Cono Sur, cuando se pensaba corregir y hasta
superar los antiguos equívocos que habían marcado las relaciones entre Argentina, Para-
guay, Uruguay y Brasil. Ese pronóstico ya se podía sentir a partir del título del primer
acuerdo-cuadro firmado con Argentina en 1988: Tratado de Integración, Cooperación y
Desarrollo. La idea de integración estaba, por lo tanto, aliada al objetivo del desarrollo
que ocasionaría, en última instancia, de manera indirecta, la mejoría del nivel de vida de
las poblaciones de la región.
La intención inicial de la integración fue totalmente abandonada por Collor y Menem.
Abandono que no fue corregido por Fernando Henrique Cardoso cuando, a través del
Tratado de Asunción, se dio prioridad a un área de libre comercio y a la unión aduanera,
con el objetivo de abrir el mercado a cualquier precio. Tal política estimuló la competencia
entre las empresas intrabloque y no la búsqueda de la integración y cooperación, gene-
rando a corto plazo una crisis en el MERCOSUR, que quedó reducido casi meramente a
una marca, agravada, además, por la crisis económica que afectó a los cuatro países del
bloque, con mayor intensidad a la Argentina.
Impulsados por la elección y asunción de gobernantes con una visión integracionista y
comprometidos con la cuestión social y su pueblo, se retoma el proceso de negociación y construc-
ción del MERCOSUR, ahora en el entendimiento de que no sólo el mercado es importante, sino
también su población y sus derechos, entre ellos el derecho a la salud que, anteriormente, era
parte integrante del debate, pero ahora adquiere mayor dinamismo.
Los cuatro países del MERCOSUR tienen experiencias históricas y modelos distintos
en el sector de salud, lo que es positivo. En común, tuvieron iniciativas de incentivo a la
investigación y al combate a las endemias (fines del siglo XIX y comienzos del XX), en
aquel entonces “articulados a la transformación histórica del proceso de producción eco-
nómica”, según Juan César García. Si en aquel momento - fines del siglo XIX y comienzos
del XX-, aún con parcos recursos, los Estados, unos con más otros con menos, iniciaron
un proceso estatal para hacer frente a los problemas de la salud pública, mayormente en
el área de investigación, ahora en la construcción del MERCOSUR se coloca nuevamente
esta necesidad. Hay desafíos no sólo en el área de los recursos financieros, sino también
de profesionales, y llamo la atención para algunos de ellos: (1) más inversión financiera
en infraestructura y ofertas de servicios en cada Estado Parte, en la región de frontera,
dentro de su propio territorio; (2) inversiones dentro del bloque, lo que puede significar
un Estado Parte invirtiendo en otro; (3) capacitación de los profesionales de todas las
áreas como acción conjunta del bloque; (4) libre tránsito para los profesionales del sector
34
2. Salud en el MERCOSUR: el Desafio de lo Nuevo
35
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
Referencias
Desde 1997, el Ministerio de Salud viene articulando una serie de acciones con los
países del Mercado Común del Sur (MERCOSUR). En ese período hubo un avance significa-
tivo en el proceso de armonización de normas y de negociación entre los países para
solucionar eventuales conflictos en el área de salud. Ese trabajo cuenta con la participa-
ción de otros ministerios, especialmente el de Relaciones Exteriores.
Las acciones son desarrolladas en dos foros: la Reunión de Ministros de Salud del
MERCOSUR, Bolivia y Chile (RMSM-BCh) y un Subgrupo creado especialmente para actuar
en esa área (SGT Nº 11 “Salud”).
Realizada semestralmente, la Reunión de Ministros de Salud del MERCOSUR, Bolivia y
Chile (RMSM-BCh) es la instancia definidora de macro políticas y programas en el ámbito
del MERCOSUR. Además de los cuatro Estados Partes, participan también Chile y Bolivia
como Asociados. La RMSM-BCh está vinculada al Consejo del Mercado Común (CMC),
organismo máximo del MERCOSUR. Desde 1997, fueron establecidos una serie de acuer-
dos entre los Ministros de Salud, tales como: Política de Medicamentos para el MERCO-
SUR, Vigilancia y Control de Enfermedades Transmisibles (Dengue, Enfermedad de Cha-
gas, Cólera, Fiebre Amarilla, Sarampión y SARS), creación de un sistema de informacio-
nes y comunicación en salud con dos sitios oficiales (www.mercosulsaude.org y
www.mercosulsalud.org); el Banco de Precios de Medicamentos del MERCOSUR, Cuentas
Nacionales de Salud, Control del Tabaco, VIH/SIDA, Salud Sexual y Reproductiva, y otros.
Estructurado en octubre de 1998, el Subgrupo de Trabajo Nº 11 “Salud” es uno de los
14 Subgrupos que compone el Grupo Mercado Común (GMC) y se divide en Comisiones
temáticas. El llamado SGT-11 tiene como tarea armonizar las legislaciones de los Estados
Partes referentes a los bienes, servicios, materias primas y productos del área de la
salud, además del establecimiento de criterios para Vigilancia Epidemiológica y Control
Sanitario. El objetivo es proteger y promover la salud y la vida de la población, además
de eliminar los obstáculos al comercio regional, contribuyendo de esa manera al proceso
de integración.
37
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
38
3. La Salud en el MERCOSUR: Integración en Beneficio de la Salud
39
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
40
4. LA INTEGRACIÓN DE LOS SISTEMAS DE SALUD
QUE ATIENDEN A LA POBLACIÓN FRONTERIZA
DE LOS PAÍSES DEL MERCOSUR – SIS-MERCOSUR
Edmundo Gallo
Director de Inversiones y Proyectos Estratégicos de la Secretaría Ejecutiva del Ministerio de Salud de
Brasil (DIPE/SE/MS) y Doctorando en Salud Pública – FIOCRUZ-RJ.
Laís Costa
Asesora de la Dirección de Inversiones y Proyectos Estratégicos (DIPE/SE/MS), Gerente del proyecto
SIS-MERCOSUR con Maestría en ‘Development Studies’ – London School of Economics and Political
Sciences (LSE).
Adnei Moraes
Asesor de la Dirección de Inversiones y Proyectos Estratégicos (DIPE/SE/MS) con Especialización en
Medicina Ocupacional - UNICAMP y Psiquiatría - UnB.
1. Introducción
Los municipios de frontera de Brasil han tenido gran dificultad en suministrar a sus
munícipes atención integral a la salud según lo preconizado en la Constitución Federal. La
falta de recursos humanos especializados, la insuficiencia de equipamientos para la rea-
lización de procedimientos de mediana y alta complejidad, y la distancia entre los muni-
cipios y los centros de referencia son las principales justificativas presentadas.
Las mismas dificultades han sido observadas en los países que hacen frontera con
Brasil, generando un desplazamiento de las poblaciones allí residentes en flujos, ya sea
en un sentido o en otro, en búsqueda de mejor oferta de acciones y servicios de salud.
Esta movilidad ha generado grandes dificultades para los intendentes y gestores de salud
de los municipios brasileños, así como para las autoridades de los países vecinos, ade-
más de previsibles problemas diplomáticos y de salud pública. Desde hace mucho se está
tratando de solucionar estos problemas sin mucho éxito, principalmente en función de
obstáculos jurídicos y operacionales.
Entendiendo el carácter político estratégico de integración de las fronteras y que el
desarrollo del sector salud debe también ser planificado teniendo en cuenta su calidad
propulsora de desarrollo sustentable, los países decidieron priorizar la búsqueda de una
solución para el problema. Se propuso la creación de una herramienta eficaz de integración
41
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
42
4. La Integración de los Sistemas de Salud que Atienden
a la Pobación Fronteriza de los Países del MERCOCUR – SIS- MERCOSUR
43
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
de salud afectan desproporcionadamente a las poblaciones de frontera, una vez que la orga-
nización de sistemas de referencia y contrarreferencia queda imposibilitada por barreras
físico-políticas a ser transpuestas, programas de inmunización quedan perjudicados por la
falta de articulación con la acción vecina, y la precariedad de la calidad de vida de la mayor
parte de la población fronteriza impacta sustancialmente la salud de estas personas.
Vale también poner énfasis en el fuerte apelo social del SIS, una vez que, en actualidad,
en función de la organización mundial del sector salud, la oferta de servicios en el área,
así como accesibilidad a los medicamentos, no necesariamente atienden la demanda
observada en la región1. Con la integración propuesta por el SIS, el sistema de salud de
los países se fortalece conjuntamente a través, inclusive, de la adecuación de escala,
pudiendo aproximar la oferta de la real demanda de la población.
Además, independiente de que un ciudadano viva en un país, su acceso más racional
se da en país vecino. Moraes y Costa (2003) ilustran con exactitud esta situación: “Un
triste ejemplo de esta realidad se refiere a la existencia de diez pacientes residentes en
el municipio de Quaraí-RS y dependientes de hemodiálisis que tienen que viajar 120 Km
hasta Santana do Livramento, tres veces por semana, para recibir tratamiento. Además
de la incomodidad física que este procedimiento le genera al paciente, es fácil observar
que en esta rutina de tratamiento, este ciudadano es imposibilitado de trabajar y acaba
marginado de la vida socio-cultural de la comunidad. Una solución racional sería que
estos mismos diez pacientes atravesaran el puente que une a Artigas, en Uruguay, donde
el mismo tratamiento está disponible. En este caso, el desplazamiento tomaría diez
minutos de la vida de cada uno de estos pacientes”.
La mayoría de las veces, y por cuestiones diversas, le es absolutamente imposible al
gestor municipal adquirir equipamientos o contratar recursos humanos para atender a su
demanda, tanto por la falta de recursos, como por la dificultad en contratar especialistas.
Esta situación se agrava cuando el municipio es de difícil acceso, posee frágil actividad
económica, poco atractivo social o cuando su porte es pequeño. En la práctica, la integración
de los países fortalecerá el poder de inducción del Estado para el desarrollo, en especial
en la región fronteriza, en función de su poder de compra, pudiendo llevar a la reversión
parcial de la situación sobredicha.
Reconociendo, por lo tanto, la importancia y urgencia de resolver la situación vivida
en las fronteras del MERCOSUR, fue solicitado, en reunión del SGT-11, en seminario de
planificación en 2003, que Brasil hiciese una reflexión inicial sobre el tema, para que,
posteriormente, los países elaborasen conjuntamente un acuerdo que permita la necesa-
ria integración organizativa del sistema.
1 Las investigaciones en salud son mayoritariamente dedicadas a tópicos de intereses de países más ricos que dominan
la P&D (Investigación y Dessarrolo) de la salud mundial, por ejemplo.
44
4. La Integración de los Sistemas de Salud que Atienden
a la Pobación Fronteriza de los Países del MERCOCUR – SIS- MERCOSUR
3. SIS-MERCOSUR
2 A través de la reunión de fuerzas, los países pasarán a tener mayor poder para inducir el desarrollo del sistema, llevando
a la mejoría de la capacidad reguladora.
45
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
4. Desafíos
No obstante ello, muchos son los desafíos para la elaboración de la herramienta en cues-
tión. La manutención, garantía y estandarización de la calidad de la atención son dificul-
tadas por la incompatibilidad de los sistemas de informaciones, perjudicando el monito-
reo de las acciones, y por la morosidad característica de los procesos de harmonización y
por distinciones en la capacidad de financiación de los cuatro países en cuestión. Diseñar
acciones conjuntas requiere una amplia y nada fácil definición acerca de cómo será com-
puesta la financiación de estas actividades. La naturaleza misma de la acción a ser
planificada puede ser esencialmente contradictoria de un país a otro. Existen países que
comparten la opinión de que sin una fuerte y organizada participación de la sociedad civil
se pierde calidad en el resultado de las políticas públicas. La experiencia brasileña en el
consorcio de municipios para el logro de un objetivo común, por ejemplo, se muestra
más eficaz y sustentable a lo largo del tiempo cuanto más participativa y ascendiente
haya sido su administración y planificación.
La frágil calidad y falta de sistematización de las informaciones recogidas también
dificultan el conocimiento de la realidad, lo que ejerce un impacto negativo sobre la capa-
cidad de enfoque de las políticas públicas. Esta es, incluso, una ocasión estratégica para
pensar en la comunicabilidad y eficiencia de los sistemas de informaciones de los países,
una vez que por el momento los países están planeando reformas en sus sistemas de
información. Retardar dicho debate implicará en dificultades y costos diversos en el futuro.
3 Ello se debe al fuerte impacto que acciones en salud ejercen sobre el desarrollo de la economía local. En el caso de que el
SIS sea planificado con esta vertiente de desarrollo, este impacto será todavía más visible.
4 La armonización se refiere a la compatibilización de los protocolos y de las acciones de vigilancia epidemiológica,
sanitaria y ambiental, y transfronterización, a la reorganización de la atención a la salud en bases regionales, a
partir de las necesidades de la población de la región (Dain, 2004).
46
4. La Integración de los Sistemas de Salud que Atienden
a la Pobación Fronteriza de los Países del MERCOCUR – SIS- MERCOSUR
5 En que pese a algunos efectos colaterales preocupantes, es incuestionable el paso significativo hacia la consolidación
del bloque regional.
47
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
Analizando el contexto en que se insiere esa integración, en la que son enormes las
diferencias de los sistemas de salud, em que hay poca transparencia de las acciones
necesarias y falla en la calidad de las informaciones y, en común, hay exceso de demanda
presionando al sistema, incompatibilidad entre la necesidad de organizarlo y morosidad
característica de los procesos de integración, se entendió que la organización de la aten-
ción a la población fronteriza debe darse en horizontes distintos. En este caso, la organi-
zación de la atención en la frontera no será reflejo de un sistema armonizado y sí repre-
sentará un proceso paralelo y a la vez organizador y propulsor de esta armonización.
Una iniciativa importante del SIS sería la reglamentación de lo que existe hoy. Se
deberán identificar las acciones que actualmente son intercambiadas y darles legitimi-
dad jurídica. Dicha iniciativa por sí sola presenta carácter inductor de organización del
sistema: al mapear la situación existente y los usuarios del sistema, se comienza a tener
informaciones necesarias para planificaciones de horizontes más amplios.
Los ministerios de salud pueden condicionar, por ejemplo, aumentos de recursos, su
desembolso o cooperación técnica a la mejoría de la información colectada sobre los
usuarios de las fronteras. Simples ajustes en la calidad de la información, que permitan
considerar el fenómeno de la transitoriedad y migración existente en los criterios de
financiación y transferencias, podrán mejorar la capacidad de oferta. En realidad, la
cuestión de la financiación es una cuestión clave del SIS. Aunque su solución definitiva
exija un largo proceso reflexivo, se puede entender que a corto plazo la simple supera-
ción del estrangulamiento en la financiación de determinados municipios que atienden a
poblaciones fronterizas ya imprime mejorías en la planificación de la atención en estas
localidades.
Una alternativa sería, por ejemplo, aumentar el techo financiero de los municipios de
frontera en función de la población de referencia y no solamente de aquella residente,
vinculando porcentuales de este techo a algunas metas pactadas en las áreas de atención
y vigilancia, a las estrategias de registro de usuarios y captura de informaciones e inte-
gración de sistemas y, por fin, a la capacitación en estas áreas6.
De todos modos, en caso de que no haya condiciones de aumentar el aporte financiero
a estos municipios, el simple reconocimiento de la realidad ya abre nuevas posibilidades
de planificación regional del sistema y de instalación de tecnologías más avanzadas en
función de la escala real de uso.
6 La materialización de estas acciones se daría por medio de la adhesión de los municipios al SIS-MERCOSUR, a través
del compromiso con un conjunto de acciones y metas pactadas, que implicarían en recibimiento de reasignaciones
financieras fondo a fondo, en los moldes del PAB-Variable y del sello “Municipio SIS-MERCOSUR”, identificando servicios
y unidades. Una primera simulación se presentará a continuación.
48
4. La Integración de los Sistemas de Salud que Atienden
a la Pobación Fronteriza de los Países del MERCOCUR – SIS- MERCOSUR
Otro punto que es consensual y central para la implementación del SIS, y que también
no depende de avances en los procesos de armonización, es el conocimiento de las condi-
ciones de salud de la región, así como de la disponibilidad de recursos físicos y humanos
sin los cuales queda dificultada la verificación de la compatibilidad y cantidad de los
objetivos comunes. Amén de estos, los objetivos de cada nación respecto al desarrollo
del sector salud también están vinculados a sus capacidades de financiación y a lo que es
prioritario como inversión pública. Todas estas cuestiones tienen que ser claramente
presentadas, so pena de imposibilitar el acuerdo y visualización del rumbo del proceso de
integración. Solamente así se podrá elaborar una propuesta cuya operacionalización sea
más eficiente en el uso de los recursos disponibles.
La realización de este conocimiento tiene potencial impulsador de la mejoría de la
calidad gestora local, lo que generará mejor calidad en la atención prestada y de la capa-
cidad de planificación de las acciones necesarias. Vale mencionar la importancia de la
diseminación de las distintas iniciativas relacionadas a las fronteras7, instrumento im-
portante de aprendizaje para la gestión local.8
Por fin, la importancia del fortalecimiento inmediato de la integración de las fronte-
ras se refiere a su capacidad en el desarrollo de la facultad reguladora del sistema, del
control sobre sus costos y de la inducción de olas de desarrollo económico y social loco-
regional.
Esas soluciones sugeridas para corto plazo no priman por su carácter innovador, sino
por su facultad de inducir la ordenación del sistema. Además, conllevan gran fuerza polí-
tica9 debiendo, por lo tanto, figurar como prioridad en la ejecución de las acciones inte-
gradoras en las fronteras.
Vale considerar también que es de suma relevancia para el desarrollo de cualquier
acción, en el sentido de integrar los sistemas de salud, el conocimiento de la estructura
legal de salud que comprende los cuatro países, así como la definición de qué localidades
serán beneficiadas directamente -y las que ya lo son-. Además del conocimiento de deta-
lles sobre la manera en que se desarrollaron estas reglas legales y de la legislación inter-
nacional que trata del tema, es importante la potencial efectividad y eficacia del acuerdo
a ser elaborado. Guardadas las diferencias entre los bloques, se puede aprender tanto
con el desarrollo del MERCOSUR, como con las experiencias de integración de los demás
7 La iniciativa del grupo técnico de Itaipú Binacional (GT Itaipú Salud en la frontera), por ejemplo, puede ser una fuente
de aprendizaje en el proceso de integración de las fronteras. En el anexo de este libro hay un resumen sobre esa
experiencia.
8 En este sentido se sugiere la utilización del sitio www.mercosulsalud.org / www.mercosulsaude.org, como un canal
para la diseminación y actualización de las acciones de integración de la salud entre los cuatro países.
9 La voluntad política de los cuatro países, y aquella específica de los gobiernos subnacionales involucrados, pasa a ser
un impulsador para la realización de las investigaciones en cuestión.
49
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
10 Para más detalles se recomienda recurrir a las publicaciones de la OPS, que viene desarrollando una serie de estudios
sobre el tema.
11 De inicio mejorarán la eficiencia y reglamentarán relaciones ya legitimadas.
12 La idea es aprovechar las experiencias exitosas de la administración pública. El BID también lanzó un programa con
la misma intención que el PMAT, dedicado a los estados, el PNAFE, y otro a los municipios, el PNAFM.
50
4. La Integración de los Sistemas de Salud que Atienden
a la Pobación Fronteriza de los Países del MERCOCUR – SIS- MERCOSUR
6. Consideraciones Finales
La importancia de la integración regional y del desarrollo del sector salud, dadas sus
características de inducción del desarrollo social y económico, está llamando la atención
hacia el proceso de armonización de las acciones de salud entre los países del MERCO-
SUR. Paralelamente, y considerando las peculiaridades de la salud, la inobservancia de la
existencia de fronteras cuando el tópico se refiere a enfermedades transmissibles, de-
sastres ambientales y necesidad de organizar y racionalizar la atención, los países reco-
nocieron la importancia de estructurar los servicios de salud que atiendan a la frontera,
como algo integrante del proceso mayor de armonización de los sistemas.
En la práctica, muchos de esos municipios de frontera, marcados por la pobreza y la
escasez de servicios, tienen como solución única para proveer bienes y servicios sociales,
la unión con municipios y equivalentes vecinos, siendo ellos del mismo país o no. La cues-
tión es que, de no haber base legal para esta alianza, acciones informales resultan la
solución disponible para la atención local, lo que genera distorsiones distintas en los siste-
mas, entre ellas, fragilidad de financiación, sobrecarga sobre los recursos humanos, tecno-
lógicos y financieros de los municipios ‘exportadores netos’ de acciones de salud, baja
calidad de los sistemas de información y dificultad de monitorear la calidad y eficiencia de
las acciones de esos acuerdos informales, por mencionar algunos problemas.
Este artículo defiende que se planifique la organización de los servicios en las fronte-
ras y que se implementen acciones que independan del proceso de armonización, en
particular aquellas ya en ejecución.
51
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
13 Se puede además, a medio plazo, planificar un fondo que funcione como un sistema de compensación financiera de las
acciones previstas. La experiencia aportada por esa iniciativa podrá construir bases para la elaboración de un fondo
con la intención de promover la atención a la salud en las fronteras, capaz de captar y administrar recursos públicos
y privados, apoyar la equiparación de la calidad de los sistemas, someter la cuota de représtamo de recursos al pacto
de indicadores de desempeño, coordinar una cámara técnica para someter el desarrollo del sistema al desarrollo
local, promover acciones para el intercambio de informaciones y proveer asistencia técnica para la preparación,
financiación y ejecución de los proyectos a ser implementados en las fronteras.
52
4. La Integración de los Sistemas de Salud que Atienden
a la Pobación Fronteriza de los Países del MERCOCUR – SIS- MERCOSUR
de las metas a lo largo del tiempo. Sin la debida planificación, no se alcanza la eficiencia
y racionalidad, o la calidad y el bienestar, demanda motivadora de esta herramienta de
apoyo a la gestión.
Como un evento subjetivo, pero basado en lo real, una cultura supranacional se constru-
ye a través de las prácticas cotidianas generadoras de símbolos universalmente reconoci-
dos y adoptados. Políticas públicas que partan de esta base tienen posibilidad de ser más
efectivas tanto para la solución de los problemas cotidianos, como para la construcción de
este nuevo ideal, difícil de desarrollar, pero imprescindible para nuestro futuro.
7. Referencias
53
5. INTEGRACIÓN DE LAS ACCIONES DE SALUD
EN LAS FRONTERAS FÍSICAS DEL MERCOSUR
Coordinación Nacional del SGT N.º 11 “Salud” / MERCOSUR — Brasil
LUGAR: Brasilia / Foz de Iguazú / Porto Alegre (observándose que en los Municipios
Fronterizos los costos de traslado serán menores)
PERÍODO: agosto/2004
OBJETIVOS:
GENERAL:
• Brindar aportes para la integración de las acciones de salud en las fronteras físicas
del MERCOSUR, estableciendo el grado de prioridad de cada una y las estrategias
operacionales necesarias.
ESPECÍFICOS:
• Incluir, en las agendas políticas de los dirigentes de los Estados Parte, el pacto de
la Integración de las Acciones de Salud en las Fronteras Físicas del MERCOSUR.
• Definir prioridades de atención en las diversas áreas del sector salud
• Proponer instrumentos y mecanismos que hagan viable la integración operacional y
de gestión.
PÚBLICO ENFOCADO: ¿establecido el límite de 100 personas por país o total? Pues se
consideró el tema de los costos. Brasil había propuesto financiar dos participantes de
cada país. Se consideró la posibilidad de que cada Institución brasileña financiara
representantes de sus contrapartes de los demás países. También se puede solicitar
apoyo del Municipio y del Estado que sea sede del evento.
Representantes de las Instituciones de los Estados Partes del MERCOSUR - Argentina /
Brasil / Paraguay / Uruguay - y Estados Asociados del MERCOSUR - Chile y Bolivia:
1 Resultados del taller promovido por la Coordinación Nacional del SGT N.º 11 “Salud” / MERCOSUR — Brasil (Gabinete del
Ministro — Ministerio de Salud).
55
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
• Ministerios involucrados;
• Organización Panamericana de la Salud (OPS);
• Municipios de Frontera;
• Estados Participantes y sus instancias regionales;
• Prestadoras de Servicios y Operadoras de Planes de Salud;
• Agencias de Financiación y socios diversos (Comisión de la Cámara de Diputados
para Temas del MERCOSUR, ABC, BID, etc);
• Empresas Productoras de Alimentos;
• Consejos de Salud;
• Consejos de Profesionales de salud.
TEMAS PROPUESTOS
• Vigilancia en Salud (Vigilancia Sanitaria – relieve para Alimentos / Productos y Servicios /
Vigilancia Epidemiológica / Ambiente y.Salud y/o Vigilancia Ambiental);
• Prestación de Servicios (públicos y salud suplementaria);
• Tecnología en Salud;
• Recursos Humanos con énfasis en el ejercicio profesional;
• Aspectos jurídico-institucionales;
• Instrumentos de Integración;
• Inversiones;
• Interfaces de la Atención a la Salud;
• Situación de las Aduanas.
CONSIDERACIONES GENERALES
56
5. La Integración de las Acciones de Salud en ls Fronteras Físicas del MERCOCUR
1. VIGILANCIA EN SALUD
57
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
Propuestas de integración:
• Buscar la compatibilidad entre los sistemas de información preexistentes, como
también la implantación donde aún no exista, con definición conjunta de los procesos
de recolección y análisis de datos;
• Armonizar los calendarios de vacunación y establecer acciones conjuntas de
vacunación;
• Elaborar propuesta conjunta de calificación de los equipos en la operacionalización
de todo el sistema de VE (cadena de frío; aplicación de vacunas; investigación de
casos; acciones de bloqueo, etc);
• Garantizar que los laboratorios de frontera sean la retaguardia de las acciones de
Vigilancia en Salud (epidemiológica, sanitaria y ambiental).
Propuestas de integración:
• Armonización de normas y procedimientos objetivando la adopción de política común
de vigilancia sanitaria en región de fronteras;
58
5. La Integración de las Acciones de Salud en ls Fronteras Físicas del MERCOCUR
Propuestas de integración:
• Adopción de política común para Vigilancia Sanitaria basada en los presupuestos ya
presentados en el documento “Política Común de América Central”;
• Promoción de estudios respecto a los proyectos de emergencia elaborados por
Uruguay y Brasil, de forma a integrar sus propuestas y aplicarlas en las fronteras
físicas del MERCOSUR;
• Armonización de la legislación y de las acciones de control de residuos y de la
calidad del agua para el consumo humano.
2.1.1 Públicos
Respecto al documento análisis de la situación actual:
• Organización de los servicios de salud, por nivel de atención (primaria, secundaria
y terciaria) y formas de gestión, con relieve en la oferta y las condiciones de
acceso a los servicios de urgencia y emergencia, atención hospitalaria y unidades
de referencia (en especial hemodiálisis, terapia intensiva y transplantes)
59
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
Propuestas de integración:
• Promover la compatibilidad entre los sistemas de información referentes a la
prestación de servicios de salud;
• Asegurar los mecanismos de compensación financiera, según propuestas
elaboradas por el grupo 3;
• Adoptar política común de asistencia a la salud mediante articulación entre las
redes de servicios con procesos acordados de referencia y contrarreferencia.
2.1.2 Privados
Respecto al documento análisis de la situación actual:
• Situación actual de las operadoras de planes de salud (organización de servicios
en las áreas de fronteras e interrelaciones con el gestor público);
• Participación de los prestadores del sector privado en la red pública y ante las
operadoras de planes de salud;
• Ambos documentos deberán dar énfasis a los servicios de urgencia/emergencia,
terapia intensiva, atención hospitalaria y referencias (apoyo diagnóstico).
Propuestas de integración:
• Establecer mecanismos de resarcimiento entre operadoras y entre éstas y el
servicio público;
• Promover el intercambio de informaciones entre los países hasta que sean
implantados sistemas automatizados compatibles.
3. RECURSOS HUMANOS
• Formación y capacitación;
• Ejercicio Profesional.
Visión General:
Es consenso que los Estados Partes y Asociados del MERCOSUR necesitan perfeccionar
los temas referentes a la atención a la salud.
Teniendo en cuenta que el MERCOSUR tiene como una de sus finalidades promover la
60
5. La Integración de las Acciones de Salud en ls Fronteras Físicas del MERCOCUR
integración regional de los pueblos y que la actual realidad señala la necesidad de realización
de un estudio con el objeto de estructurar un sistema viable de intercambio / prestación
de servicios de salud en las regiones de frontera, recomendamos que se dispongan las
siguientes medidas:
61
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
62
6. POSIBILIDADES Y LÍMITES PARA LA
IMPLEMENTACIÓN DEL SIS-MERCOSUR
BAJO TRES ENFOQUES – UNA INTRODUCCIÓN
Gilberto Antônio Reis
Médico de la Secretaría Municipal de Salud de Betim/MG y Profesor del Curso de Especialización en Salud Pública de la
Universidad del Estado de Minas Gerais
La integración de los servicios de salud de los países del MERCOSUR impone la necesidad
de crear herramientas de gestión eficaces que posibiliten la integración de la oferta de
servicios prestados, racionalizando la organización y la utilización de los recursos refe-
rentes a la atención de la salud en la frontera. Frente al carácter pionero de esa propuesta,
se buscó la experiencia de profesionales que han desarrollado reflexiones sobre las expe-
riencias internacionales de organización de la atención a la salud en regiones fronterizas,
sobre la situación actual de los sistemas de salud de los países que integran el MERCOSUR
según la economía de la salud, y sobre las experiencias de alianzas entre municipios
brasileños en la implementación del Sistema Único de Salud. Dichas reflexiones fueron
sumadas a aquellas desarrolladas en el taller “Integración de las Acciones de Salud en las
Fronteras Físicas del MERCOSUR”, culminando en el seminario que reunió profesionales
que desarrollaron tales actividades con gestores municipales y provinciales/departamentales
de las regiones de frontera, además de representantes de experiencias en desarrollo en
esas regiones.
En el primer texto presentado a continuación, desarrollado por la recopilación de informa-
ciones sobre esas experiencias internacionales de políticas de salud en frontera, a través del
análisis de documentos oficiales y textos académicos, que enfocaban las cuestiones político-
institucionales relevantes en el ámbito del universo a ser cubierto por el Sistema Integrado
de Salud – SIS-MERCOSUR, la profesora Sulamis Dain analiza las experiencias internacionales
de redes de salud en regiones de frontera y de procesos de armonización de sistemas
nacionales de salud para su integración, con énfasis en la prestación de servicios de
salud entre países de la Unión Europea. Analiza además la situación actual de prestación
de servicios de salud en las zonas de frontera entre Canadá y Estados Unidos, y entre
Estados Unidos y México, y las cuestiones colocadas por el proceso de integración entre
los países de la Unión Europea y el Este Europeo. Finalmente, expone los beneficios
probables y las dificultades esperadas en la conformación del SIS-MERCOSUR a luz de la
experiencia internacional analizada.
63
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
64
6. Posibilidades y Límites para la Implementación
del SIS-MERCOCUR bajo tres Enfoques – Una Introducción
65
7. SUBSIDIOS PARA LA FORMULACIÓN DE UN
SISTEMA DE INTEGRACIÓN DE LOS MODELOS DE
PRESTACIÓN DE SERVICIOS DE SALUD EN EL
MERCOSUR Y EN LAS REGIONES DE FRONTERA:
ARMONIZACIÓN Y TRANSFRONTERIZACIÓN DE
LOS SISTEMAS DE SALUD
Sulamis Dain
Profesora Titular del Instituto de Medicina Social de la UERJ
1. Introducción
El presente trabajo tiene el objetivo de brindar aportes a una propuesta de modelo políti-
co institucional para la constitución de un sistema de integración de los modelos de presta-
ción de servicios de salud en regiones de frontera de los países del MERCOSUR. (M.S., 2003).
Por lo tanto, examina la experiencia de armonización de los sistemas de salud en la
Unión Europea, así como los casos observados de integración en fronteras, además de
estudiar, aunque con menor énfasis, las experiencias entre Canadá y Estados Unidos, y
México y Estados Unidos. La mayor homogeneidad y semejanza entre los sistemas de
salud europeos antes de la integración viene facilitando la armonización y suministrando
más ejemplos e iniciativas relevantes para la construcción de un modelo político institu-
cional de integración de los sistemas de salud en el MERCOSUR.
Con base en la exposición de los beneficios probables y de las dificultades esperadas en la
conformación del Sistema de Integración de la Salud del MERCOSUR, SIS-MERCOSUR a luz de la
experiencia internacional analizada, se llega a la elaboración de propuestas sobre el tema con
el objeto de establecer e implementar la agenda de transformaciones en los servicios de salud
para las regiones de frontera del MERCOSUR, a ser articuladas a través de este sistema.
Marco Conceptual
El trabajo destaca la diferencia conceptual entre la armonización de los sistemas de
salud en países cuya integración está ya avanzada en términos de acuerdos comerciales
y libre circulación de bienes y servicios, de ciudadanos, unificación de las políticas mone-
taria y financiera, y de los principios de la protección y la coordinación de las acciones de
salud en la frontera, a través de la articulación de estrategias integradas de acciones de
67
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
salud para poblaciones fronterizas. Se trata en este caso de una acción entre dos o más
países para resolver problemas más inmediatos y tópicos.
El éxito en el proceso de armonización no elimina la necesidad de organizar la Salud
en las fronteras. Este es un tema que implica trabajar con dos niveles de cuestiones
bastante distintos, no necesariamente convergentes: el de la armonización de los proto-
colos y de las acciones de vigilancia epidemiológica, sanitaria y ambiental, y el de la
organización de servicios, que imponen a los países la necesidad de soluciones pragmá-
ticas, que preceden o sustituyen a corto plazo las directrices de la integración.
Elementos Básicos de la Armonización en Salud
Un proceso de armonización efectivo debe tomar como punto de partida el sistema de
valores, o sea, una idea de solidaridad que tenga en cuenta las diferencias de capacidad
contributiva y la corrección de las desigualdades de acceso; la existencia y la calidad de
la información y del control social; las directrices éticas respecto a los cuidados de salud
y la prestación de servicios, y, por fin, la armonización de la responsabilidad financiera
de los diversos estados nacionales en su compromiso con la Salud.
Los acuerdos transfronterizos
La promoción del desarrollo económico de las regiones de frontera incluye, en el caso
europeo, el apoyo financiero a iniciativas de cooperación en Salud en la división de recur-
sos humanos, hospitales, servicios y equipamientos de salud transfronteriza. Muchos
proyectos han sido implementados en las regiones de frontera en Europa, con el objetivo
principal de compartir la capacidad disponible de servicios de Salud1. Fueron minimiza-
dos procedimientos burocráticos y trabas para la movilidad, y, en muchas regiones, todos
pasaron a calificarse para la atención básica en el servicio de su elección.
Hasta el momento, el impacto económico de estos acuerdos ha sido pequeño, como el
flujo de pacientes que demandan cuidados médicos transfronterizos, excepto cuando los
servicios no existen o dependen de largas esperas. Los factores que incitan a los pacien-
tes transfronterizos a pasar tales barreras involucran tecnologías avanzadas como car-
diología, traumatología, emergencia, neonatología, diálisis y radioterapia. Los proyec-
tos que requieren la implementación de acuerdos bilaterales llaman la atención sobre la
importancia de organización de los proveedores y financiadores, crecientemente involucran
ciudadanos a través de foros y observatorios de salud, del acceso a la información y de su
divulgación, requiriendo también el entrenamiento de los proveedores y el desarrollo de
sistemas on line entre países.
1 Por ejemplo, los pacientes de VIH belgas fueron tratados en una clínica francesa especializada, mientras que
pacientes franceses recibían tratamiento de hemodiálisis en Bélgica. La etapa final de este proyecto fue la creación
de un observatorio transfronterizo con el objetivo de reorganizar la atención a la salud en bases regionales, a
partir de las necesidades de la población de la región.
68
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
69
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
70
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
71
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
72
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
73
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
74
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
vos países, para seleccionar las opciones consideradas más adecuadas para dar respues-
ta a estas cuestiones; también deberán, así como la Comisión, desarrollar y reforzar el
sistema de recolección de datos en materia de movilidad de los profesionales de la salud;
incentivar los Estados Miembros y los países adherentes a recolectar y compartir, en
colaboración con la Comisión y las organizaciones internacionales pertinentes, datos com-
parables sobre los profesionales de la salud.
Para propiciar una reflexión sobre el tema de la conciliación de los objetivos naciona-
les con las obligaciones europeas, Bélgica, los Países Bajos, Finlandia, el Reino Unido,
Francia, el EPF, el HOPE, la EHMA y los ESIPOs constituyeron un grupo de trabajo, respon-
sable por la elaboración de una encuesta sobre los “Sistemas nacionales de salud en una
Europa integrada”. Tal encuesta contiene preguntas relacionadas a los objetivos básicos
de los sistemas nacionales de salud; el impacto específico de las reglas del mercado
interno en la gestión y en la capacidad de dirección de los sistemas de cuidados de salud;
cuestiones relacionadas a los cuidados transfronterizos; y mecanismos para mejorar la
seguridad jurídica. Con base en el trabajo de este grupo, el proceso de reflexión identi-
ficó las cuestiones y recomendaciones que se presentan a continuación.
La organización y la financiación de los sistemas de salud y de protección social son de
responsabilidad de los Estados Miembros. Sin embargo, los Estados Miembros deberán
ejercer sus responsabilidades en este dominio de acuerdo con el Derecho comunitario.
Desde un punto de vista económico, existen diferencias sustanciales entre los servi-
cios en el sector de cuidados de salud y los servicios en el contexto de un mercado
comercial, por ejemplo, debido al papel clave desempeñado por los profesionales de la
salud en la determinación de los servicios que son necesarios al enfermo.
Además, en la mayoría de los casos, los enfermos no pagan directamente servicios
médicos que son financiados por los sistemas de seguridad social o de seguro de salud.
Un mercado para la prestación de cuidados de salud es inevitablemente imperfecto y
cada vez más complejo, con profundas asimetrías al nivel de la información.
Los gobiernos de toda la Unión han desempeñado un papel activo en la organización
de los cuidados de salud con vistas al establecimiento de sistemas fundamentados en los
principios de universalidad, solidaridad y equidad.
A través de una serie de acuerdos sobre la eventual obligación de los sistemas de
salud de pagar los costos de tratamientos prestados en otro Estado Miembro, el Tribunal
de Justicia reconoció el derecho de los enfermos a ser reembolsados, bajo determinadas
75
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
76
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
77
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
78
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
79
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
de la salud, los progresos son frustrados por problemas relacionados con infraestructuras
obsoletas y de manutención deficiente, por sistemas de gestión desactualizados y por la
escasez de recursos. Existen también diferencias significativas entre los Países Candi-
datos, agravadas por el aumento de las desigualdades sociales, el reaparecimiento de
enfermedades transmisibles, el aumento del tabaquismo y del alcoholismo, la contami-
nación ambiental y la disminución drástica del crecimiento demográfico natural, que van
dando origen a graves problemas y a nuevas necesidades en el sector de la salud.
La evaluación hecha en el contexto de la Agenda 2000, respecto al estado de la salud
en los Países Candidatos, menciona que estos países -con excepción de Eslovenia y de
Chipre- están muy abajo de las normas de la UE en casi todas las áreas de la salud. Sus
sistemas de salud necesitan tornarse económicamente viables y socialmente aceptables,
garantizando que el diálogo y la participación social se extiendan a la promoción de la
salud y a la prevención de las enfermedades.
Los Estados Miembros deciden sobre los principios y la organización de sus sistemas de
salud, que son todos distintos (reflejando la diversidad de las necesidades y de las cultu-
ras). Sin embargo, los Estados Miembros acordaron algunos principios orientadores en la
Recomendación del Consejo, del 27 de Julio de 1992, relativa a la convergencia de obje-
tivos y políticas de protección social. En lo que se refiere a la salud, están de manera
general cubiertos, proporcionando a todos los residentes el acceso a los cuidados de
salud necesarios y a las estructuras de prevención de enfermedades, desarrollan un sis-
tema de cuidados de salud de elevada calidad, orientado a las necesidades evolutivas de
la población; proporcionan en especial la rehabilitación de convalecientes y servicios de
maternidad, y aseguran las prestaciones adecuadas de protección social para los trabaja-
dores que interrumpen el trabajo por motivos de enfermedad o maternidad.
Algunas características positivas de los sistemas de salud comunes a todos los Esta-
dos Miembro de la UE, como la solidaridad, la cobertura universal y el acceso a cuidados
de salud eficaces y accesibles del punto de vista económico (un “sistema de valores
europeos comunes”), no son todavía aspectos dominantes en los sistemas de salud en la
mayoría de los Países Candidatos.
En la transición, independientemente del sistema adoptado, basado en tributación ge-
neral o en sistemas de seguros nacionales y obligatorios y/o privados, deberán ser salva-
guardados los siguientes elementos básicos: (i) sistema de valores: solidaridad basada en
los rendimientos y ante los riesgos/mercado correctamente reglamentado; (ii) calidad (for-
mación, homologación, directrices éticas, protección del consumidor); (iii) rentabilidad
(restricciones de la oferta, control, contratación); (iv) igualdad (acceso, financiación, dis-
tribución); (v) responsabilidad financiera y (vi) autorregulación, participación.
Los reglamentos destinados a asegurar la existencia de las garantías pertinentes y de
80
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
su correcto funcionamiento son más importantes cuando los sistemas sufren transforma-
ciones fundamentales y se orientan hacia una lógica de mercado. Los sistemas de cuidados
de salud integrados verticalmente, como los que existían antiguamente en todos los Países
Candidatos, exigían una menor reglamentación, una vez que disponían de una estructura
de gestión jerarquizada y los flujos financieros no dependían de los resultados.
En su mayoría, los Países Candidatos adoptaron ahora los sistemas de los Estados
Miembros como modelo y se aproximan, en su reforma, a sistemas menos integrados
verticalmente, en sintonía con los elementos básicos de los sistemas de salud de la UE.
Esto implica la creación de sistemas de reglamentación y de una fuerte capacidad insti-
tucional, todavía no adecuadamente desarrollada en la mayoría de los Países Candidatos.
Las reformas de los cuidados de la salud también tienen el objetivo de aumentar la
eficacia de los sistemas, lo que no es fácil en un ambiente económico difícil. La introduc-
ción indiscriminada de nuevas tecnologías puede traer dificultades adicionales y puede
sustituir, de forma incorrecta, los actuales tratamientos, más baratos y eficaces. Los
Países Candidatos, tal como los Estados Miembros de la UE, deben enfrentar el desafío de
la introducción de tratamientos y procedimientos innovadores y eficaces, y controlar y
limitar la prestación y la aplicación de tratamientos y procedimientos ineficaces, o me-
nos eficaces, especialmente si consumen recursos que podrían ser consagrados a la fi-
nanciación de tratamientos eficaces.
Habitualmente, los Países Candidatos conciben la descentralización como un aumento
de la eficacia y de la capacidad de respuesta, pero no necesariamente de la eficiencia,
mediante una mejor adaptación de los servicios a las necesidades locales. Sin embargo, los
gobiernos y/o las instituciones locales todavía no tienen la experiencia ni las aptitudes
suficientes para tratar de la creciente complejidad del sector de los cuidados de la salud.
A pesar de haber disminuido en muchos Países Candidatos el número de camas en los
hospitales, así como la duración promedio de las hospitalizaciones, siendo en algunos
inferiores al promedio de la UE, la capacidad en exceso del sistema de salud todavía no
fue adecuadamente abordada en todos los Países Candidatos.
El número de médicos empleados en el sector de la salud es superior al de la UE en casi
todos los Países Candidatos. Habitualmente, los médicos no tienen la motivación adecuada,
una vez que generalmente son mal pagos y víctimas de subempleo2. La práctica de la salud
pública se restringía, en el pasado, a los profesionales de la medicina. Los conceptos mo-
dernos de salud pública, incluyendo el trabajo multidisciplinar, todavía no fueron plenamente
2 Tienen frecuentemente especialización excesiva, poseen formación estrictamente clínica, faltándoles conocimientos
más vastos en el dominio de la gestión de la salud, incluyendo la contención de gastos en los sistemas de salud
modernos. Aunque las organizaciones de médicos (Colegios de Médicos, Secciones de Médicos) hayan desempeñado un
papel fundamental en la evolución del sector de los cuidados de la salud en los Estados Miembro de la Unión Europea,
sus homólogos en los Países Candidatos todavía no concretaron todas sus potencialidades.
81
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
3 Fue recientemente creada una base de datos limitada y provisoria sobre cooperación (y asistencia) técnica con los
Países Candidatos, a partir de una investigación de la Comisión dirigida a los Estados Miembros, a las agencias
internacionales, a ciertos países terceros, a las ONGs y a partir de los propios programas de la Comisión.
4 Por ejemplo, Alemania se centró en la financiación de la salud; los Países Bajos en la salud mental y Finlandia preparó
algunos países para la participación en los programas de salud pública de la UE. Algunos Estados Miembros desarro-
llaron actividades en casi todos los Países Candidatos, otros se dedicaron a ciertos países, por ejemplo, Hungría,
Polonia y la República Checa, y otros a regiones específicas.
82
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
4. Cooperación Regional
En Europa, la norma comunitaria 1408/71 (Artículo 22) especifica las condiciones en las
cuales la autorización para el acceso a cuidados médicos más allá de las fronteras no puede
ser rechazada “cuando el tratamiento en cuestión es parte de los servicios de salud previs-
tos en la legislación del estado Miembro de residencia de un individuo y cuando tales
servicios no están disponibles en tiempo hábil, considerando el estado de salud y el curso
probable de la enfermedad”. No obstante, en la práctica, los criterios que gobiernan en la
EU la autorización previa para el acceso a cuidados médicos fuera del país fueron siempre
dejados para decisión de los Estados Miembros.
Recientemente, algunos pacientes recurrieron a las Cortes Europeas para legislar so-
bre la cuestión del acceso comunitario a la Salud, creando jurisprudencia sobre la libre
movilidad de los pacientes en el territorio de la Unión. Aunque sea este el tema central en
debate en la Unión Europea sobre los sistemas de salud, para nuestras finalidades, esta
es una condición muy peculiar al caso europeo. De ser así, parece más relevante, en la
perspectiva del SIS-MERCOSUR, la consideración de las experiencias de cooperación para
acceso transfronterizo en curso en varios países europeos.
83
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
84
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
5 Existen hoy proyectos Euregio entre Alemania, Bélgica, Holanda, Francia, países nórdicos y algunas fronteras de Este Europeo,
todos de amplia cooperación y división de servicios y recursos.
85
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
• Sistemas de información para pacientes y sistemas para los cuales son referidos
(médicos y servicios);
• Consistencia de los procedimientos de contratación y reembolso;
• Legalidad de las transacciones entre fronteras;
• Uso de sistemas e infraestructura de informaciones compatibles.
Comandada por Holanda, la Unión desarrolló un proyecto más ambicioso, involucrando
todos los Estados Miembros. Los siguientes objetivos fueron alcanzados:
• campo de la Medicina de Emergencia (vía sitio en Internet) para estimular y apoyar
la cooperación en caso de catástrofes y accidentes de grandes dimensiones (pun-
tos de contacto, disponibilidad de acuerdos bilaterales y transfronterizos);
• Definiciones de metodología para evaluar desempeño, calidad, etc;
• Definición de programa común de entrenamiento en el campo de la emergencia;
• Establecimiento de parámetros para la implementación práctica de apoyo psicoso-
cial para auxiliadores y víctimas, así como para familiares y otros presentes en el
lugar del accidente;
• Establecimiento de un plan de acción para acciones futuras en este campo.
Se debe también tomar en cuenta que policy papers, normas para publicación y dise-
minación de informaciones deberán ser desarrolladas en el campo de la asistencia trans-
fronteriza, en los siguientes temas:
• Nomenclatura común;
• Restricciones legales a intercambios de personal y equipamiento;
• Comunicación;
• Necesidades de entrenamiento;
• Rutinas, sistemas de registro e información.
86
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
Mucho menos elaborada y pactada es la situación de las fronteras de las Américas, en el área
de actuación del NAFTA. El North American Free Trade Agreement (NAFTA) integra las econo-
mías de Canadá, México (BRANDON, J., 1996) y Estados Unidos, en la perspectiva de equilibrar
el flujo de servicios, productos y población, a través de fuerzas que a lo largo del tiempo
generarían empleos y prosperidad. La perspectiva inmediata, a pesar de ello, es que la indus-
trialización provocará un impacto poblacional que agregará más presión a la ya limitada oferta
de servicios de salud en la frontera, así como alterará la naturaleza de la demanda.
La amenaza más importante sobre la salud pública en las fronteras es la diseminación
de enfermedades infecciosas. Sin embargo, en la integración entre fronteras, los recur-
sos per capita disminuirán, por acumulación poblacional, sugiriendo la necesidad de un
nuevo plan sanitario en las nuevas circunstancias.
En tal contexto, las acciones de prevención y promoción de la salud se vuelven esen-
ciales, una vez que pueden reflejarse en la disminución de los costos de atención a la
salud asociada a la manifestación de las enfermedades (GRAY, C, 1996).
87
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
88
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
Muchos son los resultados de la pesquisa comparada, que pueden ser al menos anali-
zados, para implantación en la organización de los sistemas de Salud del MERCOSUR y
demás fronteras brasileñas. Cabría en primer lugar establecer las principales diferencias
de la experiencia local, con respecto a la experiencia internacional.
Las diferencias más significativas se refieren al estándar de financiación y a la con-
cepción pública del sistema de salud brasileño con respecto a los demás países del MER-
COSUR, lo que coloca desde luego diferencias significativas en el estándar de remunera-
ción de servicios, y en el establecimiento de relaciones financieras de reciprocidad, en el
caso que éstas se intensifiquen.
El sistema brasileño de Salud es de naturaleza pública, financiado por impuestos y
contribuciones. Los recursos remuneran acciones y servicios de salud en los tres niveles
de gobierno, destacando todavía la política de medicamentos brasileña, que suministra a
la población atendida, de forma gratuita, los medicamentos de la farmacia básica, ade-
más de medicamentos genéricos para el tratamiento de VIH y tuberculosis, entre otros.
Los demás sistemas nacionales se organizan esencialmente en seguros privados, y
acciones financiadas por el sector público, de límites reducidos.
Así, parece claro que debe haber una separación entre principios de la armonización
de los sistemas de salud en el MERCOSUR y la operación concreta de proyectos transfron-
terizos. Pasaremos, a partir de ahora, a operar según estos dos niveles, para nuestra
argumentación final en este trabajo.
Es preciso, no obstante, destacar que la radicalización de las acciones positivas trans-
fronterizas constituye un proceso en sí mismo, y no una etapa de la plena armonización
de los sistemas de salud del MERCOSUR.
Tanto es posible desarrollar acciones de corto plazo relativas a la armonización de los
sistemas de salud del MERCOSUR, como organizar la financiación y la provisión de accio-
nes de salud transfronteriza en las áreas predispuestas a esta cooperación de forma
inmediata, como reproducirlas en otras regiones de frontera, de forma bilateral o trilate-
ral, en regiones delimitadas como espacios de convergencia e intersección de acciones.
7. 1 Armonización en el MERCOSUR
La U.E. nos ofrece una referencia común y bastante amplia, en parte ya apropiada por los
acuerdos en curso en el MERCOSUR, sobre grandes temas de la Salud para ser abordados.
89
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
Desde luego, es posible destacar un campo común de las acciones regionales, (MERCOSUR,
SGT11, 2000 a 2003) que, independiente de las diferencias de concepción y de estándar
de financiación entre los sistemas de salud de la región, podría constituir un punto de
partida para la organización del sistema de salud integrado en el MERCOSUR.
Desde luego, se deben registrar los avances concretos del proceso de armonización en
los campos de la vigilancia epidemiológica y sanitaria.
En ese sentido, se destaca el cuidado común a los jóvenes y niños, con énfasis en el
apoyo a las acciones de prevención que enfocan VIH/SIDA y las infecciones sexualmente
transmisibles, la tuberculosis y las enfermedades de resistencia a antibióticos, además
de las acciones relativas al control de malaria, hanseniasis, fiebre amarilla, cólera y
leishmaniasis. Este campo de la prevención no depende de la naturaleza pública o priva-
da de los sistemas de salud y de sus gradaciones de financiación, siendo de responsabi-
lidad estatal en todos los países del MERCOSUR. Por esta razón, el conjunto de estas
acciones constituye un denominador común de políticas que podrá y deberá ser ampliado
a corto plazo, a través de la cooperación bilateral o multilateral entre los países del área.
Del mismo modo, hay un conjunto de enfermedades no transmisibles que pueden tam-
bién movilizar la acción colectiva a nivel del MERCOSUR, en el campo de los determinantes
de las enfermedades cardiovasculares, uso excesivo de alcohol y tabaco. El conjunto de
acciones preventivas en el campo de los servicios sociales y de salud debe ser reforzado,
inclusive con campañas comunes, incluyendo acciones contra el uso ilícito de drogas.
La colaboración intersectorial se podría fomentar en nivel supranacional, por ejem-
plo, entre sistemas de salud, prevención social, educación, sector privado y ONGs, des-
tacándose que existe ya un conjunto significativo de acciones empresariales y del tercer
sector en nivel supranacional en el campo de la Salud.
Otras acciones relevantes deben ser desarrolladas en el nivel de la cooperación de las
acciones de vigilancia sanitaria, al nivel de las enfermedades transmisibles y no transmisi-
bles y de sus determinantes, como también de las campañas de información y educación.
Programas comunes de entrenamiento y capacitación en Salud Pública y Asistencia
Social, realizados de modo informal, deberían ser fomentados, creando las bases para la
futura integración de un objetivo mayor de acciones de salud.
Se podrían desarrollar proyectos piloto sobre educación en salud para los jóvenes, pensados
de forma integrada, y debería constituirse un Observatorio sobre Reorientación de las Políticas
de Protección Social, Sistemas de Salud y Acciones Transfronterizas. Esto ayudaría a elevar el
status de estas cuestiones en la agenda del MERCOSUR y también en cada uno de los países.
Asimismo sobre este asunto, tomando en cuenta la diversidad de los modelos de
oferta de servicios y la heterogeneidad de las prácticas terapéuticas en la región, es
90
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
posible seleccionar las buenas prácticas que deberían integrar la temática de un Obser-
vatorio de Salud, contribuyendo así para la gobernabilidad en Salud en la región.
Para ello, es preciso asegurar un intercambio eficiente de información, incluyendo el
uso de bancos de datos relevantes para la temática de las políticas y acciones en el
campo de la Salud.
Finalmente, en el campo institucional, cumple sensibilizar a las autoridades y en el
futuro a la Justicia Comunitaria para cuestiones de arbitraje en el campo de la demanda
por reciprocidad que ciertamente vendrá, a ejemplo de la Unión Europea, de parte de los
pacientes, en algún momento futuro. La constitución de Centros de Referencia de Especia-
lidades en el ámbito del MERCOSUR, aunque proyecte un horizonte temporal más largo en
el ámbito de la armonización del MERCOSUR, seguramente se impondrá, una vez que la
libre circulación entre ciudadanos de los Estados Partes se vuelva realidad.
La importancia de la cuestión de los medicamentos en las relaciones de Salud en el
NAFTA llama la atención hacia un punto sensible en las relaciones del MERCOSUR. De una
manera general, la normalización de los productos y mercaderías, tales como alimentos,
productos de belleza y de limpieza, como de los medicamentos, constituye un espacio
bastante avanzado de armonización en el ámbito de los grupos de trabajo del MERCO-
SUR. La consideración de los medicamentos en su aspecto de política pública, sin embar-
go, requiere otras estrategias de intervención que trascienden el espacio victorioso de la
normalización de los flujos comerciales entre países.
Puesto que Brasil tiene la mejor (si no la única) política de medicamentos para VIH/SIDA
de la región, además de producir y distribuir, en el ámbito de las acciones públicas, todos
los medicamentos contra la tuberculosis, se puede prever que este será un tema relevante
de la política de salud de la región, y un posible foco de presión a ser ejercida por los demás
países del área sobre el sistema de salud brasileño. Se destaca que estas son enfermeda-
des transmisibles que obligarán a Brasil, en un escenario de ampliación de fronteras, a un
posicionamiento claro de reafirmación de su política, so pena de comprometer los signifi-
cativos avances ya concretados en el país. Tales avances deberían constituir un marco de
referencia para el futuro desarrollo de acciones coordinadas al nivel regional (OPAS, 2003).
Aun en el campo de la atención primaria, donde pacientes buscan los servicios de la
red de salud brasileña en las ciudades de frontera, hay que tener en cuenta que parte de
la demanda por asistencia a la salud se asocia también a la búsqueda de vacunas y de
medicamentos gratuitos que constan de la Farmacia Básica local.
En términos de la financiación, las acciones supranacionales relativas a la prevención
y también a los medicamentos de alto costo y de administración supervisada deberían
ser objeto de un acuerdo financiero por separado, disociado de las acciones corrientes de
la política de Salud, en el campo del Acuerdo del MERCOSUR, con aportes de recursos de
91
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
los países y también con donaciones internacionales, tales como existen hoy en África. El
resultado sería el establecimiento de un Fondo Financiero de naturaleza supranacional,
financiado con impuestos, contribuciones y donaciones internacionales, que garantice la
producción y distribución de medicamentos esenciales, en los campos antedichos.
7.2 El SIS y las acciones de Salud transfronterizas
Un segundo punto relevante sería el de la reorganización o adaptación de nuestro siste-
ma de salud a las presiones observadas en la frontera (VILLAR, T. C SC ET ALLII, 2001).
Aunque en Brasil el peso demográfico y espacial de esta frontera no corresponda a su
equivalente europeo, este es, sin duda, un tema relevante para el país y sus vecinos, en el
MERCOSUR y fuera de él, y que tiene una conducción paralela al proceso de armonización.
Hay que separar las acciones para pacientes brasileños a ser realizadas fuera del país y
las acciones de salud para pacientes de otras nacionalidades a ser realizadas en Brasil. Para
los brasileños, el acceso a otros servicios y su regulación no involucra cambios o presiones
sobre la financiación. Bastaría, como en el área de los proyectos Euregio, acreditar algunos
servicios más allá de las fronteras, que operarían según la tabla del SUS, y para que ellos
encaminen nuestros pacientes, regulando el acceso en torno a cuestiones geográficas y de
distribución espacial de las redes de servicio. La recíproca, sin embargo, no es verdadera,
una vez que, en los demás países del MERCOSUR, sólo los asegurados por planes de salud o
esquemas contributivos directos podrían tener derecho a reembolso, en los estándares
actuales de funcionamiento de los distintos servicios de salud. Así pocos pacientes podrían
utilizar la infraestructura de servicios de salud en Brasil y obtener resarcimiento de sus
gastos fuera de las respectivas fronteras, sin una acción estatal dedicada para diluir la
separación entre financiación pública y privada, en estas circunstancias.
Se debe notar que, en Europa, los proyectos Euregio operan en general en áreas donde
el sistema de salud es público, pero basado en contribuciones directas, que demarcan, de
alguna manera, el espacio del derecho social. Es así en Alemania y en Holanda. O sea, no
hay mecanismo automático de reconocimiento de esta posible reciprocidad, sino en el
campo judicial, de la interpretación del propósito de los derechos comunitarios, o donde
el costo alternativo del montaje de una infraestructura de servicios es más oneroso.
Así, sería necesario asignar algún recurso, inicialmente brasileño, y también del segmento
“contributivo” de los demás países, que se incorporarían a las transferencias fondo a fondo del
SUS y la PPI, para formalizar esta demanda, hoy ya ejercida por pacientes de otras nacionalida-
des en Brasil, como por brasileños en otros sistemas de salud, en las ciudades de frontera.
La experiencia internacional revela también que parte de esta demanda se concentra
en los servicios más costosos y de mayor complejidad, como las cardiopatías graves, el
cáncer, las hemodiálisis, los transplantes. Se podría, a semejanza de Chile, operar un
adicional contributivo a un fondo denominado Fondo Catastrófico, que actúa en esta faja
92
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
93
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
94
7. Subsidios para la Formulación de un Sistema de Integración de los Modelos de
Prestación de Servicios de Salud en el MERCOSUR y en las Regiones de Frontera:
Armonización y Transfronterización de los Sistemas de Salud
8. Referencias
BRANDON, J. , Border Health, an Overview of Challenges along the U.S. Mexico Border,
Associate Dean, College of health and Social Services, Head, Department of Health Science,
New Mexico State University, 1996
COHEUR A. Integrating care in border regions: An analysis of the Euregio projects.
Eurohealth 2001;7(4):10–12.
EUROPEAN COMMISSION, The Internal Market and Health Services, Report of the High
Level Committee on Health, Health and Consumer Protection Directorate General, 2001
GRAY, C, Debate over NAFTA’s effect on health care a sign Medicare will be dominant
election issue, Canadian Medical Association Journal 1996; 154: 1549-1551
MERCOSUL, Sistema de Informação de Saúde, na Internet in
Sistema de Informação de Saúde no Mercosul.htm.
MERCOSUL Pauta Negociadora do SGT no 11 SAÚDE, várias resoluções e atas de reuniões.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, MERCOSUL, A Saúde no MERCOSUL, 2ª edição Revista e Ampliada,
Série B, Textos Básicos de Saúde, Brasília, D.F, 2003
OBSERVATOIRE SOCIAL EUROPÉEN The influence of EU law on the social character of
health care systems in the European Union, 2001. Disponível em http://www.ose.be/
health/files/exesumnl.pdf
OMS, The role of the private sector and privatization in European Health System, rapport
de l’OMS, Bureau régional de l’Europe. Disponível em http://www.ose.be/health/files/
exesumnl.pdf
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, Proposta
de Plano de Ação do Instituto Pan-americano de Proteção de Alimentos e Zoonoses (INPPAZ),
2004-2005, em 13a Reunião Interamericana em Nível Ministerial sobre Saúde e Agricultura,
Washington, DC, 24 a 25 de abril de 2003 Punto 7 da Agenda Provisória RIMSA13/5 (Port.)
17 março 2003 Original Espanhol.
PALM, WILLY, NICKLESS, JASON, LEVALLE, HENRI, COHEUR, ALAIN, Implications de la
jurisprudence recente concernant la coordination des systèmes de protection contre le
risqué de maladie, Rapport général effectué pour la Direction Générale de l’emploi et des
affaires sociales de la Commission européenne Mai 2000,. Brussels: Association
Internationale de la Mutualité
STEIMAN, REBECA, MACHADO, LIA OSORIO A questão da classificação das fronteiras.
Limites e Fronteiras Internacionais, Uma Discussão Histórico |Geográfica,
95
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
VILLAR, TEREZA CRISTINA SCATENA ET ALLII. Saúde Internacional: Alguns Aspectos Conceituais
Contemporâneos, Revista Latino-Americana de Enfermagem 2001 maio; 9(3): 101-5.
Union européenne et protection sociale Documents de la Commission Emploi et affaires
sociales. Disponíveis em http://europa.eu.int/comm/employment_social/soc-prot/social/
index_fr.htm
UNIVERSIDADE DE PATRAS E COMISSÃO EUROPÉIA, “Acesso e Qualidade nos Cuidados de
Saúde na UE - melhoramento da experiência e dos resultados para o doente”, Patras, 4 e
6 de Maio de 2003.
96
8. RACIONALIZACIÓN DE LOS RECURSOS Y
ORGANIZACIÓN DE ESTRATEGIAS DE INTEGRACIÓN
EN LOS FLUJOS INTERFRONTERAS ENTRE LOS
SISTEMAS DE SALUD DE ARGENTINA, BRASIL,
PARAGUAY Y URUGUAY: UN ANÁLISIS PRELIMINAR
A PARTIR DE LA ECONOMÍA DE LA SALUD.
Alcindo Antônio Ferla
Médico, doctor en educación (UFRGS), fue Secretario Sustituto de la Secretaría de Estado
de Salud de Rio Grande do Sul (1999 a 2002) y actualmente es asesor de la dirección
del Grupo Hospitalario Nossa Senhora da Conceição y consultor del Departamento
de Información e Informática del SUS / Ministerio de Salud
Janice Dornelles de Castro
Economista, con Maestría en planificación y financiamiento en salud (LSE/Londres),
doctora en salud colectiva (UNICAMP) y profesora del Curso de Maestría en Salud Colectiva
de la Universidad de Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
Maria Lectícia de Pelegrini
Enfermera, sanitarista, con Maestría en ciencias de la salud (UNISINOS) y actualmente
es asesora de la dirección del Grupo Hospitalario Nossa Senhora da Conceição.
1. Introducción
La presente reflexión, que compone un trabajo de mayor extensión (Castro, Ferla &
Pelegrini, 2004) busca sistematizar, a partir de la óptica de la economía de la salud,
contribuciones para el diseño de estrategias de integración de los sistemas de salud en
las fronteras de los países del MERCOSUR (Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay). En el
trabajo anterior, se buscó construir un marco de aproximación general a través de la
revisión de algunos conceptos actualmente en uso en el ámbito de la economía de la
salud, de referencias sobre fuentes y sobre modelos de financiación de la salud, del
análisis de datos secundarios relativos a la organización y al funcionamiento de los sistemas
de salud de los cuatro países, y de la revisión de aspectos relativos a la gestión de la
financiación e integración entre los sistemas de salud de los países de la Unión Europea.
Con base en estos análisis y considerando los puntos más relevantes identificados,
sugerimos el diseño de algunos ejes de profundización de la integración entre los países.
97
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
98
8. Racionalización de los Recursos y Organización de Estrategias de Integración
en los Flujos Interfronteras entre los Sistemas de Salud de Argentina, Brasil,
Paraguay y Uruguay: un Análisis Preliminar a partir de la Economía de la Salud
99
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
se vienen utilizando para identificar las consecuencias del desarrollo del sector salud para
la economía, como forma de construir, incluso sin un conjunto de definiciones previas, un
marco de referencia en el área para apoyar el proceso decisorio.
Para enriquecer aún más el escenario de aportes al proceso decisorio, también
se buscaron algunos datos e informaciones sobre el contexto de la salud (de los sistemas
de salud y de la situación de la salud) en los cuatro países. Esa caracterización buscó
identificar las diferencias que, a efectos del proceso de integración, necesitan ser
superadas, los problemas comunes para los cuales esfuerzos integrados pueden generar
mejores resultados, y también las potencialidades, que se pueden estimular buscando el
desarrollo de una red de acciones y de servicios supranacional, capaz de generar un
beneficio solidario para la población de la región. Sólo a título de ejemplo, existe en la
región una diferencia en el acceso a la atención básica que es decisiva para la eficacia de
los sistemas de salud y de su integración, que implicará en un esfuerzo de todos los países,
aunque en intensidades bastante distintas, para alcanzar niveles similares de acceso.
Por otra parte, en lo que se refiere a los problemas comunes, existe un agudo
envejecimiento de la población, con consecuencias importantes para los cuatro países,
que necesitan – y pueden – ser enfrentadas de manera conjunta. Finalmente, en lo que se
refiere a las potencialidades, a la producción de insumos, tecnologías, medicamentos, y
a la asistencia de enfermedades y problemas de mayor complejidad (como el SIDA por
ejemplo) que están ya avanzadas en algunos países, esas capacidades pueden ser
extendidas a los demás países. Para reforzar más aún la importancia de esa ampliación
de escala en la producción de acciones y servicios, es necesario verificar que tiene
impactos, seguramente, en el costo final, y también en el estímulo a las economías
nacionales, representado por el crecimiento del complejo productivo de la salud.
Seguramente, una propuesta para la integración de la salud que incluya el fortalecimiento
de las economías nacionales creará condiciones políticas para los gestores de la salud en
el contexto de sus gobiernos, para hacer avanzar más rápido esa integración sectorial.
Finalmente, haremos algunas consideraciones preliminares, teniendo en cuenta
las referencias presentadas hasta aquí, para el proceso de integración de los sistemas de
salud en el MERCOSUR, con énfasis en la racionalización/optimización.
100
8. Racionalización de los Recursos y Organización de Estrategias de Integración
en los Flujos Interfronteras entre los Sistemas de Salud de Argentina, Brasil,
Paraguay y Uruguay: un Análisis Preliminar a partir de la Economía de la Salud
hecho de que, en la mayoría de los casos, las consideraciones son aplicables para la
optimización de flujos en los municipios de las regiones de frontera, y también para una
integración más general de los flujos de atención a la salud entre los países.
Cuestiones más específicas para la operacionalización de los modelos de
financiación, como definición de fuentes de recursos, modalidades de remuneración/
reembolso, monto de recursos y las simulaciones complementarias aún no pueden ser
especificadas en esta fase, porque dependen de informaciones adicionales y/o de más
detalles del propio modelo de integración que se está proponiendo. Sin embargo, siempre
que pertinente, los escenarios descriptos traen elementos que permiten visualizar, aunque
de modo muy panorámico, esos temas.
101
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
102
8. Racionalización de los Recursos y Organización de Estrategias de Integración
en los Flujos Interfronteras entre los Sistemas de Salud de Argentina, Brasil,
Paraguay y Uruguay: un Análisis Preliminar a partir de la Economía de la Salud
103
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
104
8. Racionalización de los Recursos y Organización de Estrategias de Integración
en los Flujos Interfronteras entre los Sistemas de Salud de Argentina, Brasil,
Paraguay y Uruguay: un Análisis Preliminar a partir de la Economía de la Salud
aumento de la efectividad de esos esfuerzos. Los relatos existentes sobre las tensas
relaciones de muchos países con la industria farmacéutica y de producción de insumos
(principalmente en lo que respecta a medicamentos, equipos e insumos con gran densidad
tecnológica y costo); las dificultades de estandarización por parte de áreas de vigilancia
sanitaria de productos de interés de la salud producidos en otros países; la mayor facilidad
con que las políticas que rigen las relaciones comerciales avanzan en los países que
poseen acuerdos comerciales o de formación de bloques económicos en comparación con
normas comunes de políticas sociales (sanitarias, laborales, de derechos civiles,
humanitarias, etc). Todos esos ejemplos muestran la importancia estratégica y política
de avances formalmente constituidos en la definición de mecanismos comunes de
regulación en el área de la salud.
En lo que se refiere a los países del MERCOSUR, ese movimiento de afinar compromisos
comunes en busca de la equidad está siendo ejercitado en el momento actual, según lo
demuestran las prioridades de los cuatro países presentadas con motivo de la XXI Reunión
Ordinaria del SGT n.º 11 (MERCOSUR/SGT11, 2003). A ejemplo de lo que se ha verificado
en el área de la Vigilancia en Salud, parece ser oportuna la definición de otras áreas para
la concertación y formalización de metas a corto y mediano plazos.
La profundización de pactos entre los países en la dirección señalada interfiere de forma
significativa y favorable para los gobiernos en el costo de los servicios, en la reglamentación
de la oferta, en los estándares de calidad y en el ajuste de las condiciones de compra de
acciones y servicios por parte de los gestores de los sistemas de salud en el MERCOSUR.
105
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
106
8. Racionalización de los Recursos y Organización de Estrategias de Integración
en los Flujos Interfronteras entre los Sistemas de Salud de Argentina, Brasil,
Paraguay y Uruguay: un Análisis Preliminar a partir de la Economía de la Salud
4. Construcción de escenarios
Escenario 1
Preserva lo que ya está siendo desarrollado
En esta propuesta, se listan acciones que podrían componer un escenario más
conservador. Eso sería indicado para situaciones que de alguna forma puedan comprometer
la aceleración de la integración, sea por existir dudas sobre aspectos del proceso, o por
dificultades en la implementación de medidas adicionales para la profundización de la
integración. Algunas iniciativas que no implican en costos adicionales, pero que puedan
fortalecer las etapas futuras del proceso de integración, también son mencionadas. La
estrategia de formalización de la integración entre los sistemas de salud que está siendo
diseñada debería consolidar el interés común y el compromiso de cada país en la realización
de las actividades listadas, así como la no reducción de los estándares actuales de
financiamiento para la región de la frontera.
Propuestas para este escenario:
• Formalización de garantía de acceso, en los estándares actuales, de la atención a
ciudadanos de otros países;
• Manutención del estándar actual de avances en el proceso de integración,
particularmente en el área de vigilancia en salud;
• Estímulo a la realización de estudios sobre el costo de acciones y servicios de salud
107
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
Escenario 2
Ampliación de la integración, en la medida de la capacidad financiera y operacional
existente en los países, sin el incremento significativo de recursos financieros
En este escenario, listamos acciones que podrían componer un escenario intermedio,
en el que el componente financiero probablemente podría ser absorbido por las fuentes ya
existentes en los cuatro países, aunque en forma solidaria. Son cuestiones que pueden
contribuir para avances en el proceso de integración o subsidiar una aceleración en ese
proceso. La estrategia de formalización de la integración entre los sistemas de salud que
se está construyendo, en este escenario, consolidaría las cuestiones referidas en el escenario
anterior, así como el incremento de los estándares actuales de financiamiento para las
regiones de frontera y para la integración de los sistemas de salud en los puntos listados.
Propuestas para este escenario:
• Inducción a la realización de diagnóstico detallado sobre la capacidad instalada en
los sistemas de salud de los cuatro países, en lo que se refiere a la asistencia y la
producción de insumos y tecnologías, así como a las demandas que podrían ser
referidas a los otros países;
• Compartimiento de las capacidades operacionales actualmente disponibles para la
atención de ciudadanos de otros países;
• Compartimiento de servicios de referencia para la asistencia de alta densidad
tecnológica y la creación de redes transnacionales de desarrollo tecnológico;
• Planificación integrada para ampliación de capacidad operacional en áreas de mayor
demanda en la región de frontera;
• Búsqueda conjunta y articulada entre los países, de recursos externos para
inversiones estratégicas, desencadenando un proceso solidario de identificación
de fuentes de recursos para la salud.
108
8. Racionalización de los Recursos y Organización de Estrategias de Integración
en los Flujos Interfronteras entre los Sistemas de Salud de Argentina, Brasil,
Paraguay y Uruguay: un Análisis Preliminar a partir de la Economía de la Salud
109
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
Se verifica que es posible proceder a selecciones que varían desde el universo de los
municipios brasileños fronterizos con otros países del MERCOSUR, municipios por estado y
por país, e incluso por tamaño poblacional para establecer un valor de referencia sobre la
población a título de transferencia para el fortalecimiento de la integración entre los sistemas
de salud de los países. A partir de la experiencia brasileña de financiamiento, indicamos la
transferencia en la modalidad fondo a fondo. La inexistencia actual de datos sobre la
referencia poblacional de extranjeros no nos parece impedimento para operacionalizar tal
transferencia, ya que es posible establecer preliminarmente una estimación a partir de la
población del propio municipio. Las acciones de vigilancia, de información y de referencia
y contrarreferencia de ciudadanos de otros países nos parecen imprescindibles como
responsabilidad formal de los municipios para la adhesión a las transferencias.
Escenario 3
Ampliación de la integración con inducción financiera y aplicación
de recursos financieros nuevos
En este escenario, listamos acciones que compondrían un escenario más ambicioso,
en donde serían desencadenadas acciones decisivas para una ampliación significativa de
los estándares de integración actualmente existentes. Merecen relieve la creación de
fondos para financiación de actividades asistenciales y para el desarrollo de incrementos
estructurales, la integración de las políticas de información y el diseño de una agenda de
prioridades para el uso de recursos financieros comunes para el proceso de integración.
La estrategia de acuerdos multilaterales que se analiza en este escenario consolidaría las
cuestiones referidas en el escenario anterior, así como el incremento de estándares actuales
de financiación, incluso en la captación de fuentes externas, para la región de la frontera
y para la integración de los sistemas de salud en los puntos listados, así como para la
definición de una agenda de prioridades para uso de los recursos adicionales,
principalmente por medio de los fondos de financiamiento (para costeo e inversión),
particularmente para la integración de los sistemas de información y para la inducción de
proyectos integrados de identificación de usuarios, profesionales y servicios de salud.
Propuestas para este escenario:
• Creación de fondos de cohesión y de desarrollo estructural:
La creación de fondos destinados a acciones y proyectos específicos puede tener un
efecto bastante positivo, sea para el fomento de nuevos niveles de integración; o para
tornar viable el desarrollo asistencial, científico o tecnológico, en áreas estratégicas
desde el punto de vista asistencial o político, de modo a garantizar un estándar mayor de
homogeneidad entre los países o, por lo menos, no agravar las desigualdades actuales.
Para el análisis de la economía de la salud es necesario agregar un examen de los aspectos
110
8. Racionalización de los Recursos y Organización de Estrategias de Integración
en los Flujos Interfronteras entre los Sistemas de Salud de Argentina, Brasil,
Paraguay y Uruguay: un Análisis Preliminar a partir de la Economía de la Salud
111
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
112
8. Racionalización de los Recursos y Organización de Estrategias de Integración
en los Flujos Interfronteras entre los Sistemas de Salud de Argentina, Brasil,
Paraguay y Uruguay: un Análisis Preliminar a partir de la Economía de la Salud
Referencias
ASTORGA J., I.; PINTO C., A.M.; FIGUEROA M., Marco. Informe de la trifrontera – Estúdio
de red fronteriza Brasil – Argentina – Paraguay. Informe final. Junio 2002. Relatório impresso.
CASTRO, J.D.; FERLA. A.A.; PELEGRINI, M.L.M. Racionalização dos recursos e organização
de estratégias de integração entre os sistemas de saúde da Argentina, do Brasil, do
Paraguai e do Uruguai: uma análise preliminar a partir da economia da saúde. Brasil:
Ministério da Saúde, 2004.
MERCOSUL. SGT Nº 11. (2003). XXI Reunión Ordinaria del Subgrupo de Trabajo Nº 11 -
“Salud”. Acta Nº 2/03. Disponible en www.mercosulsaude.org. Consultado el 05/03/2004.
MINISTERIO DA SAÚDE. Relatório Final da 11ª Conferência Nacional de Saúde. Efetivando
o SUS: acesso, qualidade e humanização na atenção à saúde, com controle social. Brasília:
Ministério da Saúde, 2001.
OPAS (2002). Organización Panamericana de la Salud. La salud en las Américas. Edición
de 2002. Washington, D.C.: OPS, 2002 – 2 v. (Publicación Científica y Técnica; 587).
OPAS (2003a). Organización Panamericana de la Salud. Sistema Regional de Datos Básicos
en Salud - Perfil de Salud del País, año 2002, Argentina. Disponible em: http://
www.paho.org/spanish/DD/AIS/Sistema Regional de Datos Básicos en Salud - Perfil de
Salud de País 2002 ARGENTINA.htm. Consultado el 05/03/2004.
OPAS (2003b). Organización Panamericana de la Salud. Sistema Regional de Datos Básicos
en Salud - Perfil de Salud del País, año 2002, Brasil. Disponible em: http://www.paho.org/
spanish/DD/AIS/Sistema Regional de Datos Básicos en Salud - Perfil de Salud de País
2002 BRASIL.htm. Consultado el 05/03/2004.
OPAS (2003c). Organización Panamericana de la Salud. Sistema Regional de Datos Básicos
en Salud - Perfil de Salud del País, año 2002, Paraguay. Disponible em: http://
www.paho.org/spanish/DD/AIS/Sistema Regional de Datos Básicos en Salud - Perfil de
Salud de País 2002 PARAGUAY.htm. Consultado el 05/03/2004.
OPAS (2003d). Organización Panamericana de la Salud. Sistema Regional de Datos Básicos
en Salud - Perfil de Salud del País, año 2002, Uruguay. Disponible en: http://www.paho.org/
spanish/DD/AIS/Sistema Regional de Datos Básicos en Salud - Perfil de Salud de País
2002 URUGUAY.htm. Consultado el 05/03/2004.
PIOLA, S.F.; VIANNA, S.M. (Org.). Economia da Saúde: conceito e contribuições para a
gestão da saúde. Brasília: IPEA, 1995.
União Européia. Processo de Reflexão de Alto Nível sobre a Mobilidade dos Doentes e
a Evolução dos Cuidados de Saúde na União Europeia, Documento: Resultados do
processo de reflexão Data: 9/12/2003 Referência: HLPR/2003/16) http://europa.eu.int/
comm/health/ph_information/documents/health_status_en.pdf
113
9. EXPERIENCIAS BRASILEÑAS DE ASOCIACIONES
ENTRE MUNICIPIOS BUSCANDO ORGANIZAR,
RACIONALIZAR Y CALIFICAR LA ASISTENCIA
A LA SALUD.
Gilberto Antônio Reis
Médico de la Secretaría Municipal de Salud de Betim, Estado de Minas Gerais, y profesor del Curso de Especialización en
Salud Pública de la Universidad del Estado de Minas Gerais
1. Introducción
115
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
116
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
MENDES (1994) afirma que, a lo largo del siglo XX, el sistema de salud brasileño se fue
articulando:
• Hasta los años 30, bajo la hegemonía del modelo sanitarista-campañista, tomando
como referencia el trabajo de sanitaristas como Oswaldo Cruz;
• De los años 30 a los años 80, bajo la hegemonía del modelo médico-asistencial
privatista, estructurado a partir de los institutos de jubilación y consolidado en el
Instituto Nacional de Previsión Social (INPS), y luego Instituto Nacional de Asistencia
Médica de la Previsión Social (INAMPS);
• A partir de los años 80, bajo la hegemonía del modelo neoliberal, consolidado en los
planes y seguros privados de salud para los trabajadores urbanos calificados y para
las clases medias.
El primer período inaugura la intervención del Estado brasileño en los temas de salud,
actuando de forma selectiva sobre epidemias y endemias que producían impacto negati-
vo sobre la economía agro-exportadora. El segundo período representa una respuesta del
Estado a las presiones de los trabajadores en el sentido de tener acceso a los avances de
la moderna medicina científica y corresponde a la constitución del sector de servicios de
salud como actividad económica dinámica, contribuyendo el Estado para la formación del
capital del complejo médico hospitalario naciente, a través del INPS/INAMPS. El último
período tuvo como telón de fondo las profundas crisis económica y política que llevaron a
la transición del régimen autoritario hacia la democracia liberal y la proliferación de los
planes y seguros privados de salud. En ese escenario, emerge como proyecto contra-
hegemónico la reforma sanitaria, consolidada formalmente en la legislación que institu-
yó el Sistema Único de Salud (SUS).
El inicio del proceso de construcción del SUS puede ser localizado en la década del 70,
como parte del proceso general de lucha de amplios sectores de la sociedad brasileña en
la reconstrucción de la democracia. En ese proceso, la reforma sanitaria fue la bandera
que articuló técnicos y políticos reformistas, líderes de los movimientos sociales urbanos
emergentes y del nuevo movimiento sindical. Los hechos presentados a continuación, en
orden cronológico, permiten verificar cómo la idea de la salud como derecho de todos y
deber del Estado evoluciona en ese período:
• 1976 – Creado el Programa de Interiorización de las Acciones de Salud y Sanea-
miento (PIASS), con el objetivo de extender las acciones básicas de salud para las
regiones más carenciadas del país;
• 1978 – Realizada la Conferencia Mundial de Salud por la Organización Mundial de la
Salud en la ciudad de Alma-Ata, en Cazaquistán, habiendo el gobierno brasileño
asumido el compromiso internacional de implementar una política de salud que
asegurara “salud para todos en el año 2000”;
• 1982 – Elaborado el Plan del Consejo Nacional de Administración de la Salud Previ-
117
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
sional (CONASP), a partir del cual fueron implementadas las Acciones Integradas
de Salud (AIS), dando inicio a un proceso sistemático y generalizado en el territo-
rio brasileño de municipalización de la asistencia a la salud;
• 1986 – La 8ª Conferencia Nacional de Salud aprueba la implantación de una nueva
política de salud, efectivamente democrática, teniendo como directrices la uni-
versalización, la integralidad y la gratuidad de la asistencia, y la descentralización
y unificación de la gestión con participación de la sociedad;
• 1987 – Implementado el Sistema Unificado y Descentralizado de Salud (SUDS), en el
contexto de la llamada “Nueva República”, que transfirió a los gobiernos estadua-
les y del Distrito Federal la coordinación y gestión de los recursos financieros para
la manutención de las AIS;
• 1988 – Promulgada la Constitución Federal, conteniendo, por primera vez en la
historia, un capítulo dedicado a la salud, reflejando todo el proceso desarrollado a
lo largo de dos décadas e instituyendo el Sistema Único de Salud (SUS);
• 1990 – Sancionadas las leyes orgánicas de la salud (Leyes Federales 8.080 y 8.142);
• 1991 – Editada la Norma Operacional Básica (NOB) 01/91, por el Ministerio de
Salud, que da inicio al proceso de municipalización de los sistemas federales y
estaduales de salud;
• 1996 – Editada la Norma Operacional Básica (NOB) 01/96, por el Ministerio de Salud, que
define las modalidades de gestión del SUS en los demás niveles de gobierno, a saber:
1. Para los estados – gestión avanzada o gestión plena del sistema estadual de salud.
2. Para los municipios – gestión plena de la atención básica o gestión plena del
sistema municipal de salud.
• 2000 – Promulgada por el Congreso Nacional la Enmienda Constitucional n.º 29 que
obliga a estados y municipios a destinar a la salud el 12 y el 15 % de los respectivos
presupuestos, y a la Unión gastos con aumentos anuales progresivos de acuerdo
con el crecimiento nominal del Producto Bruto Interno (PBI), a partir del año 2000;
• 2001/2002 – Editadas las Normas Operacionales para la Salud (NOAS) 01/2001 y
01/2002, por el Ministerio de Salud, que normatizan el proceso de regionalización
de la asistencia a la salud en el ámbito del SUS, bajo la coordinación de las secre-
tarías estaduales de salud.
Según CAMPOS (1992), el SUS puede ser presentado como el resultado de la tensión
permanente entre dos proyectos – el neoliberal y el reformista. De esa forma, sus funda-
mentos legales (Constitución Federal y leyes orgánicas de la salud) acogieron las pro-
puestas de la reforma sanitaria, pero su implementación, en la práctica, ha caminado en
sentido de la realización de la propuesta neoliberal: un sistema público mínimo para la
población de bajos ingresos, organizado como una canasta familiar básica de cuidados
de la salud, y la compra en el mercado de servicios de atención médica por parte de las
118
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
empresas para sus empleados, y por parte de las clases media y alta a través de planes y
seguros de salud.
A pesar de ello, en comparación a la situación verificada en otros países de Sudamé-
rica (ASTORGA J; PINTO C. & FIGUEROA M; 2002), el SUS es reconocido, en cuanto siste-
ma público de salud, como socialmente más justo y, desde el punto de vista organizacio-
nal, más avanzado. Por ofrecer acceso a todos los niveles de complejidad de la asistencia
a la salud de forma gratuita, el SUS ha atraído contingentes crecientes de residentes en
países vecinos en busca de asistencia a la que no tienen acceso en sus países. Esa situa-
ción es más aguda y problemática en los municipios de la línea de frontera, y demanda
una solución, bajo pena de que el SUS se torne inviable en esos municipios.
Este trabajo busca evaluar la experiencia brasileña en el desarrollo de asociaciones
entre municipios, buscando organizar, racionalizar y calificar la asistencia a la salud en el
ámbito del SUS, enfocando los consorcios administrativos intermunicipales en el sentido
de señalar las posibilidades y límites de la proyección de esa experiencia a la organiza-
ción del Sistema Integrado de Salud del MERCOSUR.
119
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
120
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
ésos y entes privados, el consorcio, como se afirmó con anterioridad, solamente es cele-
brado entre entes públicos de la misma especie. Se destaca además que el consorcio públi-
co no se confunde con otras modalidades de consorcios de naturaleza privada existentes en
el mundo jurídico, tales como los consorcios comerciales y empresariales.
121
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
122
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
conjunto, las acciones y los servicios de salud que les correspondan. En el artículo 18,
inciso VII, la Ley establece que es atribución de la dirección municipal del SUS formar
consorcios administrativos intermunicipales.
La Ley Complementaria 8.142, que dispone sobre las transferencias interguberna-
mentales de recursos financieros en el área de la salud, en sus artículos 2º y 3º, establece
que los municipios podrán establecer consorcio para la ejecución de acciones y servicios
de salud, redistribuyendo, entre ellos, porciones de los recursos destinados a cubrir las
acciones y servicios de salud a ser implementados (inversiones en la red de servicios,
cobertura asistencial médica y hospitalaria y demás acciones de salud), debiendo la
transferencia de recursos ser realizada de forma regular y automática para los municipios
de acuerdo con los criterios técnicos definidos en el artículo 35 de la Ley n.º 8.080,
artículo ése aún no reglamentado.
La Norma Operacional Básica – NOB-SUS – 01/96 (BRASIL, 1997), editada por el Minis-
terio de Salud, establece que la relación entre los sistemas municipales de salud deberá
obedecer las siguientes reglas:
1. Relación exclusiva entre gestores municipales para la composición de prestación
de servicios asistenciales a la salud. Caso un servicio necesario para la atención de
la población de un municipio esté localizado en otro, las negociaciones para la
oferta de ese servicio a la población deben llevarse a cabo entre los gestores y
nunca directamente entre gestor y prestador.
2. Esa relación entre los sistemas municipales es mediada por el Estado y tiene como
instrumento la Programación Pactada e Integrada (PPI) que debe ser negociada en
la Comisión Intergestores Bipartita (CIB) y sometida a la aprobación del Consejo
Estadual de Salud. En el caso de desacuerdo en la CIB, decide el gestor estadual,
cabiendo recurso al Consejo Estadual de Salud.
3. Si el gestor municipal juzga necesaria una evaluación o auditoria de los prestado-
res de servicios de salud situados en otro municipio, debe recurrir al gestor esta-
dual para ello.
4. El pago al prestador, en cualquier circunstancia, es efectuado por el poder público
del municipio sede del establecimiento.
5. El municipio que presta servicios o tiene en su territorio prestadores que prestan
servicios a los municipios vecinos, tendrá los recursos destinados al pago de esos
servicios incorporados en su partida financiera.
6. Cuando un municipio, que demanda servicios a otro, amplíe su propia capacidad
resolutiva, puede requerir al gestor estadual la incorporación en su partida finan-
ciera de la parte de recursos usados en el municipio vecino.
123
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
124
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
125
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
Por lo tanto, el consorcio existe a partir de la firma del acuerdo o ajuste consorcial por
parte de los intendentes y secretarios municipales de salud. El acuerdo consorcial debe
explicitar el objeto y los objetivos básicos del Consorcio, las formas de participación de
los municipios consorciados, así como sus obligaciones en la gestión y en la transferencia
de recursos financieros, la definición del modelo administrativo y las reglas mínimas
para los procedimientos administrativos rutinarios, los derechos de los consorciados, la
composición y reglas mínimas de funcionamiento de sus instancias deliberativas y con-
sultivas, la forma de vinculación y de desvinculación de municipios al Consorcio, el nú-
mero mínimo de participantes para deliberación, el foro para saldar pendencias y la
vigencia, que podrá ser por tiempo indeterminado.
El autor llama la atención para la necesidad de apertura de una cuenta especialmente
destinada a recibir los recursos financieros a ser utilizados para el pago de las activida-
des o inversiones previstas en el acuerdo del consorcio. Dicha cuenta deberá ser vincula-
da al consorcio y administrada por el órgano gestor del Sistema Único de Salud del Muni-
cipio escogido como líder del consorcio por los participantes. En esa circunstancia, debe-
rá ser establecido un sistema de prestación de cuentas al conjunto de los consorciados, y
a otros órganos, de acuerdo con la legislación aplicable a los actos de la administración
pública. Concluyendo su argumentación, el autor afirma:
Además, creemos que la conclusión por la necesidad de que se cree una entidad
privada para ejecutar el consorcio es fruto de una cultura en que la Administra-
ción Pública no funciona, está trabada, lenta, pesada; y que el sector privado
es ágil, eficiente y eficaz. Inicialmente, se intentó negar los valores y princi-
pios defendidos en la época de la asamblea constituyente, o sea, se propuso la
creación de una entidad regida por el derecho privado a fin de evitar el proceso
licitatorio, la concesión de derechos a los funcionarios – como la estabilidad –
el concurso público etc. Pues bien, si eso no sirve, es malo y nocivo, ¿por qué
preservarlos para la Administración Pública? ¿Será que el sector público es un
nido de lo inservible? Creemos que no. Vemos en ello una deturpación de aque-
llos principios por quien aún no comprendió lo que es administrar la cosa aje-
na, la cosa pública. Quiere administrarlos como su propiedad. El régimen pri-
vado de esas personas jurídicas, por otro lado, mereció manifestación del Tri-
bunal de Cuentas del Estado de San Pablo, en septiembre de 1992, en el sentido
de que, siendo tales asociaciones mantenidas fundamentalmente con recursos
públicos, deberían ser regidas por las reglas de la Administración Pública (Proceso
7.489/0 26/92 del TCE/SP) (p. 511).
La estructura administrativa mínima del consorcio debe contemplar instancias cole-
giadas de intendentes y/o secretarios municipales de salud, además de un consejo fiscal
y un grupo técnico ejecutivo. El colegiado de intendentes tiene como atribuciones insti-
126
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
tuir el consorcio, definiendo los términos del instrumento consorcial, así como decidir
sobre la adhesión o el alejamiento de municipios. El colegiado de secretarios municipales
de salud o equivalentes debe coordinar el planeamiento estratégico que resultará en un
Plan Intermunicipal de Salud. El grupo técnico ejecutivo participa del planeamiento e
implementa el Plan con el apoyo de los secretarios municipales de salud, además de
operacionalizar las acciones de salud en el día a día, realizando la interlocución con y
entre los servicios y unidades de salud. Debe ser estimulada la constitución de grupos
técnicos dedicados a proyectos específicos como salud mental, urgencias/emergencias y
otros de acuerdo con las prioridades establecidas en el Plan Intermunicipal de Salud. El
consejo fiscal hace el control interno de los actos administrativos practicados.
127
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
128
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
129
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
130
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
ferencia o del consejo, de acuerdo con el papel atribuido a cada una de esas instancias
por la legislación en vigor.
Por otra parte, la articulación entre los consejos de los municipios participantes del
Consorcio es deseable y potencia la actuación de cada consejo en su municipio. En ese
sentido, existen experiencias de plenarias de consejeros, realizadas en el ámbito de los
municipios consorciados con encaminamientos articulados, fortaleciendo la posición de
cada consejo municipal en el enfrentamiento de problemas comunes del conjunto de
municipios participantes.
131
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
dad y la eficiencia global del Sistema, caso el modelo de atención no incluya fundamen-
tos de solidaridad. (p. 26).
Esa práctica encuentra respaldo teórico en MENDES (1999), al definir lo que llama
“Consorcio de Salud” – introduciendo la participación directa de los estados, como una
estrategia de organización de los niveles secundario y terciario de los sistemas micro-
regionales de salud (p. 284). Al identificar las finalidades de las asociaciones en funcio-
namiento, el autor propone la siguiente tipología:
• consorcios para una finalidad – son constituidos para responder a una única demanda,
como por ejemplo la asistencia oftalmológica; y
• consorcios para varias finalidades – los más comunes, son constituidos para res-
ponder a diversas demandas, generalmente en niveles de complejidad y costos por
arriba de las posibilidades de cada municipio consorciado aisladamente.
En ese mismo sentido, BASTOS (1998) prescribe:
Teniendo por norma no entrar en la atención primaria, incumbencia que debe ser
asumida integralmente por los municipios bajo pena de perjudicar toda la rela-
ción existente, el CIS viene avanzando en dirección al montaje de un sistema
regionalizado y jerarquizado, de forma que permita a los medianos y pequeños
municipios tener todo tipo de asistencia necesitada por sus ciudadanos. (p. 64).
Para utilizar los servicios, cada municipio encamina el paciente de acuerdo con el flujo
acordado. Algunas asociaciones operan centrales de lechos o para agendar procedimientos,
realizando la regulación para el acceso de los usuarios a los niveles más complejos de
asistencia. Sin embargo, en regiones conurbanas, existen experiencias de cooperación
entre municipios para la organización y disponibilidad de acciones básicas de salud.
A pesar de estar siendo desarrolladas en Brasil hace casi 20 años, hay pocas evalua-
ciones sobre la experiencia de los consorcios. GUIMARÃES (2001) informa que:
Opiniones desfavorables en general asocian a los consorcios a los efectos ne-
gativos de la descentralización evaluada como desordenada y que resultaría en
la pulverización de recursos, en la atomización y en la fragmentación de siste-
mas municipales, junto con el vaciamiento de la función de la esfera estadual.
El surgimiento de los consorcios en ese contexto fue visto como estructura
competitiva con las funciones del estado y de baja institucionalidad (Mendes,
1998; Machado, 1998). Las opiniones favorables refuerzan que la adopción de
132
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
133
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
134
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
acuerdo con intereses particulares, en detrimento del interés común, que, teórica-
mente, debería ser la finalidad de los consorcios públicos (p. 152).
Otro aspecto problemático de la experiencia brasileña en consorcios intermunicipales
de salud ha sido la posición ambivalente del Ministerio de Salud y la falta de participación
de la mayoría de las secretarías estaduales de salud. El Ministerio de Salud realizó tres
estudios sobre consorcios en asociación con la Organización Panamericana de la Salud
(BRASIL, 1998; BRASIL 2000; BRASIL 2000a). Esos estudios objetivaron conocer la situa-
ción de los consorcios, habiendo realizado el último una evaluación con visitas de campo
a todos los consorcios existentes, suministrando subsidios para el desarrollo de una po-
lítica del Ministerio dirigida a los consorcios, lo que nunca se consolidó. Las acciones del
Ministerio se limitaron al acompañamiento puntual, al soporte técnico eventual con reco-
mendaciones y orientaciones a través de textos técnicos y la elaboración de un manual
(El Consorcio y la Gestión Municipal de Salud. Brasilia, Ministerio de Salud, 1997) y a la
organización, en 1994, del I Seminario Nacional sobre Consorcios de Salud.
GUIMARÃES (2001), al investigar la viabilidad y condicionantes de cooperación entre
estados y municipios en el ámbito de los consorcios intermunicipales de salud, verificó
una participación variable de las secretarías estaduales de salud en la implementación y
mantenimiento de los consorcios. Esa participación fue más efectiva en los estados que
asumieron la responsabilidad por el proceso de regionalización de la asistencia y que
redefinieron sus estructuras administrativas para el cumplimiento de sus nuevas funcio-
nes. Donde no ocurrieron tales cambios, los consorcios presentan mayores dificultades
para consolidarse como instrumentos de apoyo a la descentralización. La autora hace la
siguiente evaluación de la actuación de los estados:
• Minas Gerais – promovió aceleración inducida de consorcio dependiente de incen-
tivo e independiente de regulación, pasando a ser enfáticamente atribuida a los
consorcios actuación competitiva o sustitutiva a la función de coordinación del
sistema estadual, en la medida en que promovían la organización regional.
• Paraná y Mato Grosso – implementaron procesos de estímulo y apoyo al desarrollo
de consorcios y aumentaron las funciones estaduales en las regiones.
• Paraíba y Espírito Santo – promovieron la organización regional por medio de consorcios.
Para la autora, otros factores, además del apoyo de los otros niveles de gobierno,
influye en la cooperación intergubernamental a través de los consorcios, a saber:
• Desniveles de capacidad tributaria;
• Desniveles de organización de los sistemas municipales de salud;
• Sostén político ocasionado por la fragilidad jurídica del instrumento; y
• Confianza política.
Al hacer una revisión de estudios que buscaron evaluar los consorcios, la autora apunta
los siguientes elementos positivos:
135
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
136
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
que constan en los registros del Sistema Único de Salud del Estado de Minas Gerais y en
la Comisión de Salud de la ALMG serían objeto de análisis, así como todas las informacio-
nes serían insertadas en tablas. Los cuestionarios recibidos – 32 en total – representan el
45,07% del universo de 71 consorcios formados en Minas Gerais. Participan de esos 32
consorcios, 340 municipios, lo que corresponde al 39,85% de los 853 municipios mineros.
El trabajo resultante objetiva contribuir con el debate y el proceso de toma de decisión
acerca del desarrollo futuro de esa experiencia. Hemos participado de esa evaluación y
presentamos, a continuación, una síntesis de los resultados obtenidos.
Respecto a los aspectos legales, la investigación reitera las posiciones presentadas en
este trabajo, afirmando la importancia de los consorcios como:
• Estrategia para asegurar la integralidad de la asistencia para la mayoría de los
municipios brasileños;
• Instrumento de gestión intermunicipal;
• Extensión natural del principio constitucional de autonomía municipal, no osten-
tando autonomía administrativa, financiera y presupuestaria.
Cuanto a las informaciones obtenidas con la investigación:
1. Respecto a los objetivos relativos al desarrollo del modelo de gestión, se identifi-
caron acciones de apoyo a la gestión municipal paralelas a las acciones de sustitu-
ción de la gestión municipal – lo que contraría la Ley, como también fue constata-
do, de forma inequívoca, en la justificación presentada para el proyecto de ley que
declara de utilidad pública el CIS-AMVAP, cuyo objetivo consiste en la organización
del sistema de salud en el área de jurisdicción de los municipios consorciados,
según las directrices del SUS. En virtud de esa meta, es competencia del consor-
cio, entre otras atribuciones: promover el planeamiento integrado, con base epi-
demiológica; definir la política de inversión para la micro-región; prestar asisten-
cia técnica y administrativa a los municipios consorciados y asegurar la participa-
ción de las comunidades involucradas en el proceso de decisión. Planificar y orga-
nizar sistemas de salud, definir políticas y asegurar la participación de la comuni-
dad son atribuciones típicas del gestor.
2. Respecto al desarrollo del modelo asistencial, los objetivos se concentran en la
oferta de servicios y de acciones de salud de nivel secundario y terciario. Sin
embargo, se observó el desarrollo de acciones básicas como consultas de pediatría
y citología cérvico-uterina.
3. Respecto a la naturaleza jurídica de los consorcios, quedó comprobado que los consor-
cios intermunicipales de salud, formados en el Estado de Minas Gerais, son asociacio-
nes civiles, registradas en escribanía como persona jurídica de derecho privado.
137
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
138
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
139
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
140
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
promiso mutuo para que se alcancen objetivos comunes. En ese sentido, se asemejan a
los consorcios por depender de una predisposición para la cooperación. Consideramos las
relaciones políticas vigentes actualmente en el MERCOSUR favorables a ese acuerdo.
Por principio, el consorcio intermunicipal de salud, siendo un acuerdo en donde los
partícipes se relacionan horizontalmente como entes dotados del mismo status y de inde-
pendencia política entre ellos, permitiría la profundización de la colaboración, de la solida-
ridad, de la ayuda mutua, de la transparencia en las relaciones entre sus miembros y de la
corresponsabilidad. En la experiencia brasileña, ha sido efectivamente un inductor o faci-
litador de la cooperación entre los municipios. Al reunirse en torno a la mesa, los gestores
municipales construyen y refuerzan compromisos mutuos en búsqueda de la solución para
problemas comunes a todos, creando una identidad y el sentimiento de pertenecer a un
grupo. Verificamos aquí el fenómeno del desarrollo de una institución induciendo conductas
y comportamientos moldeados por el compromiso del grupo a través de la construcción de
consensos. Es común en reuniones de participantes de consorcios el uso de la expresión
estamos todos en el mismo barco y debemos remar en la misma dirección.
Evidentemente, la cooperación siempre será una decisión de cada municipio, a partir
de los intereses y objetivos políticos hegemónicos locales. En esos procesos de decisión,
la sociedad civil viene ganando importancia creciente en la democratización de los países
del MERCOSUR. La experiencia del Estado de Minas Gerais demuestra que la inducción de
los consorcios de arriba hacia abajo, incluso utilizando recursos financieros y coacciones
políticas, no asegura su supervivencia. Esa situación impone la elaboración de estrate-
gias menos coercitivas y más articuladoras de los diversos actores locales interesados en
la implementación del SIS-MERCOSUR, lo que cuesta mucho trabajo. En esa perspectiva,
podemos insertar el instrumento consorcial en un modelo de gestión más amplio que
denominamos administración gerencial participativa, en contraposición al modelo de
administración gerencial tecnocrática, ya que, atento a las directrices del Sistema Único
de Salud, esa propuesta no desiste de la participación de la sociedad, ya instituida por la
Constitución Federal de Brasil y por las leyes orgánicas de la salud. Por lo tanto, además
de la participación de los Ministerios de Salud de los Estados Partes del MERCOSUR,
deben ser involucrados los gestores de los demás niveles de gobierno en los cuatro países
y entidades de la sociedad civil organizada de los municipios fronterizos en la definición
del diseño final del SIS-MERCOSUR. Especial atención, en el caso de Brasil, deberá ser
dada a los secretarios municipales de salud con la participación directa del CONASEMS y
de sus entidades estaduales en la elaboración e implementación de la propuesta. La
sustentabilidad política de esas asociaciones, según verificado en Brasil, depende de su
base de sostén social y de las respuestas efectivas que produce para los problemas rela-
cionados con el acceso de los ciudadanos a los servicios y acciones de salud.
La sustentabilidad institucional del SIS-MERCOSUR dependerá, inicialmente, en el caso
141
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
brasileño, de los poderes legislativos de los tres niveles de gobierno. Como expuesto en
este trabajo, a pesar de previsto en la Constitución Federal de Brasil, el instituto del
consorcio público depende de reglamentación a través de ley complementaria que corrija
los desvíos cometidos. Por lo tanto, sugerimos que se dé prioridad al acompañamiento de
la tramitación y votación del proyecto de ley n.º 1.071/1999 en el Congreso Nacional, con
las modificaciones necesarias para la caracterización del consorcio como instrumento de
gestión. Según previsión constitucional, los estados y municipios deberán contar con
leyes semejantes y ese compromiso deberá ser firmado entre el Ministerio de Salud,
secretarías estaduales y municipales de salud. Otra opción es que se normaticen instru-
mentos específicos para la cooperación transfrontera. Tal compromiso, con relación a la
revisión o implementación de legislación específica sobre consorcios públicos o instru-
mentos similares, caso necesario, deberá ser firmado entre los países del MERCOSUR en
el tratado o acuerdo para la institución del SIS.
En nuestro entendimiento, el instrumento consorcial, según conceptos desarrollados
en este trabajo, atiende perfectamente a los requisitos de flexibilidad y agilidad para la
institución del SIS-MERCOSUR, permitiendo diversas articulaciones de municipios según
las necesidades y características locales. Como instrumento, torna posible la inserción
de un ente federado en diversos arreglos territoriales simultáneos, siendo adecuado a un
proceso de gestión dinámica y no burocrática entre entes federados cooperativos, con
necesidades y potencialidades específicas relativas a la atención a la salud de sus pobla-
ciones. De esa manera, para determinado ente federado, la adopción de la estrategia
consorcial no implica en su fijación a un único territorio geográficamente determinado.
El mismo municipio puede ser partícipe de diversas asociaciones simultáneas, según sus
necesidades y estrategias. Al ser un instrumento de gestión cooperativa de carácter
dinámico, adecuado al dinamismo de las relaciones existentes entre demanda y oferta de
servicios y acciones de salud, tal cual esas relaciones, el consorcio desconoce fronteras
que no sean las de su disposición a la cooperación.
A pesar de las diversas normas que atribuyen a los municipios la responsabilidad por la
atención básica, existen experiencias de consorcios que buscan la integración de redes básicas
de asistencia a la salud e incluso la prestación de esa asistencia a residentes en municipios
vecinos en áreas conurbanas. Cuando se verifica la conurbación entre municipios de la línea de
frontera, la atención básica podrá, por lo tanto, ser objeto de asociación transfrontera.
El análisis de la experiencia brasileña permite afirmar que los consorcios:
• facilitan el acceso de las poblaciones del interior del país a equipos y servicios que,
hasta entonces, se concentraban apenas en las capitales y grandes ciudades;
• posibilitan la utilización plena de equipos y servicios ociosos;
• inducen la implantación de nuevos servicios y acciones de salud y la mejoría de los
existentes;
142
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
143
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
144
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
145
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
por ejemplo. Los proyectos a ser implementados a través de los consorcios pueden de-
mandar operaciones a otros sectores de las administraciones públicas en los tres niveles
de gobierno. Las respuestas a esas operaciones ejercerán gran influencia sobre las posi-
bilidades de éxito del SIS-MERCOSUR.
146
9. Experiencias Brasileñas de Asociaciones entre Municipios Buscando
Organizar, Racionalizar y Calificar la Asistencia a la Salud
Referencias
ASTORGA J., Ignácio; PINTO C., Ana Maria & FIGUEROA M., Marco. Informe de la Tri-
frontera - Estudio de Red Fronteriza Brasil – Argentina – Paraguay. Informe Final. OPS,
2002 (mimeog.).
BASTOS, Francisco A. & MISOCZKY, Maria C. Avançando na Implantação do SUS: Con-
sórcios Intermunicipais de Saúde. Porto Alegre, Dacasa/Escola Superior de Direito Mu-
nicipal, 1998.
BARROS, Ubiratan Laranjeiras. Consórcio Intermunicipal de Saúde. Boletim de Direito
Municipal. San Pablo, v. 11, nº 10, oct. 1995, p. 507-513.
________. Consórcio Administrativo Intermunicipal. Revista da Procuradoria-Geral do
Município de Porto Alegre. Porto Alegre, v. 11, nº 12, sept. 1998, p. 39-53.
BRASIL. Incentivo à participação popular e controle social do SUS. Brasilia, Minis-
terio de Salud, 1994.
_______. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde/NOB-SUS 96. Brasi-
lia, Ministerio de Salud, 1997.
_______. Constituição da República Federativa do Brasil. [online] Brasilia, Cámara de
Diputados,1998. [citado 21 febrero 2004]. Disponible en la Internet: <http://
www.camara.gov.br/Internet/cf/default.asp>
_______. Estudo Prospectivo de Três Modalidade de Consórcios Intermunicipais de
Saúde: Microrregião de Penápolis/SP; Região de Teles Pires/MT e Associação dos Mu-
nicípios do Noroeste/PR. [online] Brasilia, Ministerio de Salud & Organización Paname-
ricana de la Salud, 1998a [citado 21 febrero 2004]. Disponible en la Internet:
<www.opas.org.br>
_______. Diário Oficial., Processo n.º TCU - 014.640/97-0, Ata n.º 41/99, Plenário.
Brasilia, Tribunal de Cuentas de la Unión, 15/09/1999.
_______. Consórcios Intermunicipais de Saúde: perspectivas de avaliação de algu-
mas experiências [online] Brasilia, Ministerio de Salud & Organización Panamericana de
la Salud, 2000. [citado 21 febrero 2004]. Disponible en la Internet: < www.opas.org.br>
_______. Diagnóstico da Situação Atual de Consórcios Intermunicipais de Saúde no
Brasil. Informe de Pesquisa [online] Brasilia, Ministerio de Salud & Organización Pana-
mericana de la Salud, 2000a [citado 21 febrero 2004]. Disponible en la Internet:
<www.opas.org.br>
_______. Legislação. [online] Brasilia, Ministerio de Salud, 2002. [citado 21 febrero
2004]. Disponible en la Internet: <http://portal.saude.gov.br/ saude/
visao.cfm?id_area=169>
147
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
148
10. INFORME DEL 1º SEMINARIO PARA
ESTRUCTURACIÓN DE LOS “SERVICIOS
INTEGRADOS DE SALUD DEL MERCOSUR,
EL SIS-MERCOSUR”
Dirección de Inversiones y Proyectos Estratégicos, DIPE/SE/MS.
1 Este seminario contó con la participación de: Comisión Parlamentaria Conjunta del MERCOSUR, Coordinación Nacional
del SGT Nº 11 “Salud” y de la Reunión de Ministros de Salud del MERCOSUR, Bolivia y Chile, AISA, Comité de Fronteras
(AISA/MS), IBAM, CEPAM, CONASS, CONASEMS, Itaipú Binacional, SES, SMS-POAS, ANVISA, Fiocruz, ANS, DIPE, SPO, DAD,
SAS, SGP, SVS, DATASUS, SGTES, AIDS, UERJ, OPAS, UNESCO, BNDES, BID, PNUD, consultores OPS.
149
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
La estructuración del SIS-MERCOSUR fue, por lo tanto, discutida por diversas personas
que representan instituciones y prácticas con visiones distintas y complementarias de la
situación, ocasionando un ensayo de construcción del entendimiento nacional sobre el tema.
Por fin, vale enfatizar que este seminario no tuvo la pretensión de surgir con una
propuesta de elaboración de la referida herramienta, una vez que sólo había represen-
tantes nacionales, quorum insuficiente para la construcción del SIS-MERCOSUR en sus
diversos aspectos.
El primer día, por la mañana, hubo una serie de presentaciones que abordaron la
evolución histórica, justificaciones, dificultades observadas y previsibles sobre la inte-
gración de los Sistemas de Salud de los países del MERCOSUR. Dificultades jurídico-
administrativas y diplomáticas se traducen en un lento proceso de armonización. Dicha
realidad se refleja en un conjunto de acciones en salud actualmente realizadas y estruc-
turadas por acuerdos informales, generando diversas distorsiones respecto a la calidad
del registro de usuarios, a la financiación de los sistemas de salud, a la falta de raciona-
lidad de la estructuración de los sistemas, al costo-efectividad de las inversiones, a la
dificultad de acceso a todos los niveles de complejidad, entre otros. La mañana de traba-
150
10. Informe del 1º Seminario para Estructuración de los
“Servicios Integrados de Salud del MERCOSUR, el SIS-MERCOSUR”
jo estuvo compuesta por paneles que presentaron la experiencia práctica de los profesi-
onales brasileños de salud pública en las fronteras del MERCOSUR.
Por la tarde, otros paneles abordaron el proceso de integración y armonización de los
sistemas de salud a través de la experiencia acumulada por la Coordinación Nacional del
SGT Nº 11 “Salud” del MERCOSUR y de tres trabajos que estudiaron la viabilidad de la
construcción del SIS a la luz de la experiencia nacional de consorcio entre municipios para
viabilizar la atención integral de la salud; de la experiencia internacional e intrabloque
regional, en particular de la Unión Europea que, con las debidas diferencias, fue el bloque
que más avanzó en el proceso de armonización; y, por fin, a la luz de la economía de la
salud, enfatizando que diferentes composiciones de fuentes de financiación generan di-
ferentes perfiles de oferta y demanda de servicios de salud. Ese trabajo propuso además
tres escenarios distintos para la integración y armonización, uno con incremento residual
de recursos y obligaciones, el segundo contando con incrementos coherentes con las
capacidades financieras y operacionales de los países, y por fin otro con inducción finan-
ciera y aplicación de nuevos recursos.
De acuerdo con el conocimiento acumulando a través del intercambio de informacio-
nes, documentos y experiencias, se puede concluir que, dada la especificidad de proce-
sos de integración, las acciones deberían ser pensadas y planificadas de acuerdo a hori-
zontes temporales distintos. De esa manera, las acciones posibles a corto plazo servirán
también como fortalecimiento y banco de dificultades y experiencias exitosas para el
fortalecimiento de la integración. Así, además de importante herramienta para calificar
las políticas de salud, el SIS también tiene su importancia política como inductor del
proceso de integración regional, una de las prioridades del gobierno brasileño.
El segundo día, se realizó un taller de trabajo compuesto por los participantes anterior-
mente mencionados en este documento, que, en posesión de las informaciones compar-
tidas el día anterior y del interés común de viabilizar, imprimir racionalidad, sustentabi-
lidad y calidad a las acciones de salud en las fronteras, buscaron crear un debate sobre la
integración. Considerada la reconocida dificultad en lo que se refiere a la calidad
y disponibilidad de informaciones, como también su comunicación entre países, el taller
fue orientado hacia la elaboración de propuestas para la estructuración del SIS-MERCO-
SUR a partir de los principales indicadores disponibles de salud en la región fronteriza,
datos de la situación epidemiológica, de las cuestiones referentes a la financiación con-
sideradas las realidades, necesidades y limitaciones observadas.
Para que el taller asegurara la participación de todos los presentes en el Seminario,
151
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
Escenario I
Transfronterizo e Inmediato:
• Acciones que pueden ser realizadas independientes del proceso de integración (cuan-
do hay indefiniciones respecto a los instrumentos y procesos de integración);
• Acciones que no implican en recursos adicionales, pero que pueden fortalecer eta-
pas futuras del proceso de integración;
• Acciones que dan continuidad y optimizan la utilización y calidad de las acciones
actualmente existentes en el ámbito transfronterizo.
Escenario II
Armonización Intra Países y Mediano Plazo:
• Acciones que contribuyen para la definición y crean las bases para viabilizar la implan-
tación de los instrumentos y proceso de integración (avanzan hacia la armonización);
• Acciones que amplían la integración en la medida de la capacidad financiera y operacio-
nal existente en los países, sin incremento significativo de nuevos recursos financieros;
• Acciones con el objetivo de consolidar aquellas del escenario I.
Escenario III
Armonización Inter Países y Largo Plazo:
• Acciones que implantan y consolidan instrumentos y proceso de integración, o sea,
que armonizan las estructuras, políticas y economías de la salud entre los países;
• Acciones que amplían la capacidad financiera y operacional de los países para la implan-
tación y consolidación del SIS, o sea, crea estructuras y genera recursos para el SIS;
• Acciones cuyos resultados son observables a largo plazo.
152
10. Informe del 1º Seminario para Estructuración de los
“Servicios Integrados de Salud del MERCOSUR, el SIS-MERCOSUR”
El trabajo de los grupos fue iniciado con la presentación de algunos DESAFIOS existen-
tes y/o previsibles, conclusiones trazadas a partir de la discusión del día anterior. Amén
de ello, cada grupo buscó incluir los demás DESAFIOS por escenario, relacionados a los
temas atribuidos a los grupos. Luego de la definición de los mismos, fueron atribuidas
las ACCIONES ya en ejecución relacionadas a la superación de cada desafío y, finalmente,
aquellas que todavía deben ser realizadas.
Por fin, el grupo temático ‘Regulación y Financiación’ listó PLAZOS estimados para la
realización de las acciones descriptas y PARTÍCIPES involucrados en la ejecución de estas
acciones. Esta última etapa fue realizada solamente por este grupo temático, una vez que
en los demás grupos no hubo tiempo hábil para su realización.
Los resultados de los trabajos podrán ser vistos en las planillas que siguen, de acuerdo
con el resumen a continuación:
153
GRUPO TEMÁTICO: ASPECTOS ORGANIZACIONALES
154
Tabla I – Aspectos Organizacionales – Desafíos por Escenario
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
10. Informe del 1º Seminario para Estructuración de los
“Servicios Integrados de Salud del MERCOSUR, el SIS-MERCOSUR”
155
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
156
10. Informe del 1º Seminario para Estructuración de los
“Servicios Integrados de Salud del MERCOSUR, el SIS-MERCOSUR”
157
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
158
10. Informe del 1º Seminario para Estructuración de los
“Servicios Integrados de Salud del MERCOSUR, el SIS-MERCOSUR”
159
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
160
10. Informe del 1º Seminario para Estructuración de los
“Servicios Integrados de Salud del MERCOSUR, el SIS-MERCOSUR”
161
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
162
10. Informe del 1º Seminario para Estructuración de los
“Servicios Integrados de Salud del MERCOSUR, el SIS-MERCOSUR”
163
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
164
10. Informe del 1º Seminario para Estructuración de los
“Servicios Integrados de Salud del MERCOSUR, el SIS-MERCOSUR”
165
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
166
10. Informe del 1º Seminario para Estructuración de los
“Servicios Integrados de Salud del MERCOSUR, el SIS-MERCOSUR”
167
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
168
10. Informe del 1º Seminario para Estructuración de los
“Servicios Integrados de Salud del MERCOSUR, el SIS-MERCOSUR”
169
11. UNA AGENDA PARA VIABILIZAR
EL SIS-MERCOSUR1
Gilberto Antônio Reis.
Médico de la Secretaría Municipal de Salud de Betim/MG y Profesor del Curso de Especialización en Salud Pública de la
Universidad del Estado de Minas Gerais
Sulamis Dain
Profesora Titular del Instituto de Medicina Social de la UERJ
Alcindo Antônio Ferla
Médico, doctor en educación (UFRGS), fue Secretario Sustituto de la Secretaría de Estado de Salud de Río Grande del Sur
(1999 a 2002) y actualmente es asesor de la dirección del Grupo Hospitalario Nossa Senhora da Conceição y consultor del
Departamento de Información e Informática del SUS / Ministerio de Salud.
Janice Dornelles de Castro
Economista, con Maestría en planeamiento y financiamiento en salud (LSE/Londres), doctora en salud colectiva (UNICAMP) y
profesora del Curso de Maestría en Salud Colectiva de la Universidad de Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Maria Lectícia de Pelegrini
Enfermera, sanitarista, con Maestría en ciencias de la salud (Unisinos) y actualmente es asesora de la dirección del Grupo
Hospitalario Nossa Senhora da Conceição.
1 Basada en el resultado de los debates en reuniones, talleres, seminarios y el esfuerzo de investigación sobre integración
regional.
171
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
y también de los sistemas nacionales de salud de los cuatro países fue relevante. Juzga-
mos pertinente que las próximas etapas de actividades diplomáticas para la integración
entre los sistemas de salud de los cuatro países incluyeran la realización de estudios
diagnósticos (de capacidad instalada, de necesidades reprimidas, de perspectivas, de
los ejes orientadores de la planificación, de costo y precio de productos y servicios, en
particular de mediana y alta complejidad tecnológica), como así también se desarrolle un
esfuerzo conjunto para la inducción de agendas de investigación comunes a los órganos
nacionales de los cuatro países responsables por el fomento a la investigación y el desa-
rrollo tecnológico, así como a los institutos y órganos de investigación.
Un importante aspecto a ser dimensionado de forma más adecuada es la caracteriza-
ción del volumen y del tipo de las atenciones interfronterizas que ya ocurren. Estudios y
relatos indican que hay un gran flujo transfronterizo informal, que no es capturado por
los innumerables sistemas de información existentes. Sobre ese problema, es importan-
te poner en relieve que, en la evaluación de los consultores, cualquier iniciativa que
dificulte o amenace los flujos actualmente existentes tendrá, como efecto más rápido, el
retorno a la informalidad, puesto que las redes de solidaridad para la atención a la salud
son efectivas no solamente en esos flujos interfronterizos, sino que es una constatación
fácilmente comprobable en los grandes centros urbanos brasileños. Una acción de comu-
nicación que afirme la garantía del acceso a los servicios de salud en flujos transfronte-
rizos puede ser un eficiente mecanismo para un mejor ordenamiento de esos flujos, con
la captura de informaciones necesarias para el diseño de estrategias de compensación
financiera o, también, para el adecuado dimensionamiento de los servicios de salud en
las regiones de frontera. Parece igualmente estratégico desarrollar acciones en ese sen-
tido en las regiones donde ya se verifica un flujo más significativo de atenciones trans-
fronterizas y/o donde ya se desarrollan iniciativas locales de regulación de la oferta y del
acceso a esos servicios. Las experiencias de Itaipú Binacional, del Estado de Paraná y del
Municipio de Foz de Iguazú, y del Estado de Rio Grande do Sul con Uruguay muestran un
importante grado de solidez para propiciar un esfuerzo adicional en ese sentido.
Del mismo modo, el refuerzo a la agenda conjunta de discusiones sobre la implementa-
ción de proyectos/políticas de información e informática en salud se muestra oportuno,
porque se verifica actualmente una fase incipiente de cambios en dicha área en los cuatro
países. La migración conjunta a estándares tecnológicos y de representación de información
compatibles e integrables entre ellos tiene, en estos momentos de transición, una oportuni-
dad singular. Por otra parte, sugerimos la búsqueda de fuentes internacionales de recursos
para, en complemento a las fuentes ya existentes en los presupuestos nacionales, avanzar en
la implantación de proyectos de identificación de usuarios, profesionales y servicios, a ejem-
plo de lo que viene sucediendo en Brasil con la implantación de la Tarjeta Nacional de Salud.
Dicho proyecto, de relevancia destacada internacionalmente, viene despertando el interés en
172
11. Una Agenda para Viabilizar el SIS-MERCOSUR
los demás países del bloque, y puede ser un importante estímulo para el reordenamiento de
los sistemas nacionales de información e informática, según las directivas que están siendo
destacadas internacionalmente e implementadas en el proyecto brasileño.
Respecto a la financiación, las distintas alternativas presentadas resultaron adecuadas.
La adopción de una estrategia para la formalización del proceso de integración se debe
hacer preservando la posibilidad de la implementación de modelos mixtos de financiación,
a ser definidos y pactados en acuerdos multilaterales establecidos a posteriori. Se debe
resaltar la sugerencia de que, inclusive antes de la recolección de datos para permitir la
construcción de propuestas mejor basadas en la realidad, teniendo en vista el volumen de
demandas regulares e informales que se observa ya en los municipios brasileños de la
región de las fronteras con países del MERCOSUR, se cree un incentivo financiero para
garantizar, como mínimo, los estándares actuales de atención a ciudadanos de otros países
con soportes adecuados de los gobiernos federal y estaduales/provinciales/departamenta-
les a los municipios de la línea de frontera, paralelamente a la adopción de medidas que
fomenten la cooperación internacional en nivel local para organización de redes asistencia-
les transfronterizas. Más aun, tal iniciativa puede representar una experiencia piloto para
la validación de nuevos componentes de las estrategias de aproximación.
De acuerdo a las evidencias sistematizadas hasta el momento, dicho incentivo podría
tomar la forma de una transferencia en la modalidad fondo a fondo, tomando como base la
población del municipio mismo. Teniendo en cuenta lo que se puede verificar por la revisión
de relatos y estudios anteriores, un incentivo equivalente al intervalo de 30 a 50% de las
transferencias per capita para la atención básica, además de representar un pequeño impac-
to financiero para el gobierno brasileño, también tendría condiciones de permitir el incre-
mento en las acciones de regulación actualmente desarrolladas, tales como el registro de los
ciudadanos, de los procedimientos demandados y realizados, y algún flujo de contrarreferen-
cia para los servicios de salud del país de origen. También parece adecuado que esa transfe-
rencia sea antecedida por la firma de un compromiso de adhesión entre el Ministerio de Salud
y los respectivos Municipios y Estados/Provincias/Departamentos, describiendo con más pre-
cisión las obligaciones de las partes y los mecanismos de prestación de cuentas. La participa-
ción más activa de los Consejos de Salud está indicada, sea porque tienen esa prerrogativa
asegurada legalmente (esa ha sido una deliberación reiterada en las últimas Conferencias
Nacionales de Salud), sea porque la formación de una red social transfronteriza parece ofre-
cer efectos más rápidamente en lo que se refiere al control social que el acuerdo de estrate-
gias similares en los trámites diplomáticos, que tienen ya bajo su responsabilidad la cons-
trucción de mecanismos para la integración/ armonización de la gestión.
La propuesta concreta, que considera las asimetrías entre los sistemas de salud de
Brasil y de los demás países del MERCOSUR, sería la de crear una categoría de gestión, la
de los municipios SIS-MERCOSUR, en la cual se habilitarían, por adhesión, los municipios
173
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
174
11. Una Agenda para Viabilizar el SIS-MERCOSUR
175
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
176
11. Una Agenda para Viabilizar el SIS-MERCOSUR
Aspectos organizacionales:
• Formalizar la garantía de acceso, en los estándares actuales, a la atención a ciuda-
danos de otros países. Recomendamos la institución, por el Ministerio de Salud
brasileño, de proceso de habilitación de municipios de la línea de frontera para
atención a extranjeros, con revisión de sus límites financieros y soporte técnico
en alianza con las secretarías estaduales/provinciales/departamentales de salud.
Juzgamos ser posible diseñar una propuesta con viabilidad técnica para la creación
de transferencias fondo a fondo, a partir de la adhesión de los municipios de
frontera brasileños a un menú de obligaciones formales con capacidad de ajustar
flujos, suplir parte de las deficiencias actuales e inducir nuevos estándares de
integración entre los países. A partir de la experiencia brasileña de financiación,
indicamos la transferencia en la modalidad fondo a fondo. La inexistencia actual
de datos sobre la referencia poblacional de extranjeros no nos parece un impedi-
mento para operacionalizar tal transferencia, ya que es posible establecer prelimi-
177
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
narmente una estimativa a partir de la población del propio municipio. Las acciones
de vigilancia, de información y de referencia y contrarreferencia de ciudadanos de
otros países nos parecen imprescindibles como responsabilidad formal de los mu-
nicipios para adhesión a las transferencias.
• Identificar o desarrollar, en alianza con la OPS, metodología adecuada al análisis de
aspectos de oferta y demanda por acciones de salud en las regiones de frontera que
contemple la organización de los servicios de salud, por nivel de atención (primaria,
secundaria y terciaria) y formas de gestión, destacando la oferta y las condiciones de
acceso a los servicios de urgencia y emergencia, atención hospitalaria y unidades de
referencia (en especial de hemodiálisis, terapia intensiva y transplantes). Ese estudio
es de fundamental importancia para el diseño de estrategias de integración y para la
proposición de modelos de financiación para la atención interfronteriza. Esa preocu-
pación está siendo procesada, como lo demuestra el Acta de la XXI Reunión Ordinaria
del Subgrupo de Trabajo Nº 11 “Salud” del MERCOSUR, que estudia una metodología
para diagnóstico y análisis de las capacidades instaladas en los municipios de frontera,
así como la demanda que ya está siendo atendida. A la vez que se realiza ese diagnós-
tico, sugerimos un mapeo complementario de áreas de interés de los cuatro países.
Esa acción de diagnóstico general de capacidad instalada y de demanda puede ser
recortada para los municipios de frontera. Ella tendrá gran capacidad para permitir la
movilidad de los escenarios y de las estrategias para la financiación de la atención a la
salud ofrecida entre los sistemas de salud de los países del MERCOSUR.
• Fomentar la realización de estudios sobre el perfil de salud en las fronteras del
punto de vista epidemiológico, sanitario y ambiental.
• Incluir en la pauta de revisión de la política de regionalización del SUS las regiones
fronterizas No-MERCOSUR.
Aspectos Político-Institucionales:
• Realizar estudios sobre la estructura jurídico-normativa e institucional de los siste-
mas de salud de los países, en cuestiones relacionadas a la integración transfronte-
riza con flujo de recursos financieros, destacando la disponibilidad de recursos
presupuestarios propios y el grado de facilidad de captación de fuentes externas
de recursos que puedan ser utilizados en el área de la salud, además de los instru-
mentos, flujos y metodología de prestación de cuentas, y control del uso de recur-
sos públicos.
• Identificar o desarrollar instrumentos de gestión que posibiliten la formalización en el
nivel local de las acciones de salud transfronterizas a través de alianzas entre los muni-
cipios brasileños y los diversos prestadores de los sistemas de salud de los países
178
11. Una Agenda para Viabilizar el SIS-MERCOSUR
Regulación y Financiación:
• Fomentar la realización de estudios sobre el costo de acciones y servicios de salud
ofrecidos en las regiones de frontera por los cuatro países.
• Estimular el compartir las discusiones actuales sobre sistemas de información en
salud y proyectos de identificación de usuarios, profesionales y servicios de salud,
así como el intercambio de las actuales tecnologías disponibles.
• Iniciar el intercambio de informaciones con la estandarización de informes míni-
mos a partir de los sistemas ya existentes, posibilitando la instalación inmediata
de Observatorios de Salud del MERCOSUR en las regiones de frontera.
• Integrar las discusiones que van ocurriendo en los cuatro países sobre medidas de
compensación financiera para municipios de frontera y estimular el avance de
esas discusiones.
Aspectos organizacionales:
• Organizar la demanda asistencial, disciplinando los flujos e identificando centros
de referencia para mediana y alta complejidad.
• Crear un instrumento único de identificación de usuarios observando las legisla-
ciones de cada país.
179
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
Aspectos Político-Institucionales:
• Reglamentar, por medio de ley complementaria, que actualmente se tramita como
proyecto de ley, el artículo 20 párrafo 2° de la Constitución Federal que trata de la
definición de franja de frontera y considerar, necesariamente, los antecedentes
de la legislación brasileña, así como las Resoluciones Incorporadas al Ordena-
miento Jurídico en los cuatro Estados Partes del MERCOSUR.
Regulación y Financiación:
• Iniciar la planificación integrada para la ampliación de la capacidad operacional en
áreas de mayor demanda en la región de frontera. Fue sugerida, con esa finalidad,
la creación de cámaras de desarrollo regional de los sistemas de salud con la partici-
pación de prestadores privados y públicos, además de representantes de la sociedad
civil.
• Promover la compatibilidad entre los sistemas de información referentes a la pres-
tación de servicios de salud.
• Desarrollar un sistema integrado de información epidemiológica para la faja de frontera.
• Establecer mecanismos de resarcimiento entre operadoras de planes de salud, y
entre éstas y el servicio público.
• Iniciar la búsqueda, conjunta y articulada entre los países, de recursos externos
para inversiones estratégicas, poniendo en marcha un proceso solidario de identi-
ficación de fuentes de recursos para la salud.
• Fomentar la realización de diagnóstico detallado sobre la capacidad instalada en
los sistemas de salud de los Estados Partes, en lo que se refiere a la asistencia y
a la producción de insumos y tecnologías, así como a las demandas que podrían
ser referidas a los otros países.
180
11. Una Agenda para Viabilizar el SIS-MERCOSUR
Aspectos organizacionales:
• Adoptar una política común de atención a la salud mediante articulación entre las
redes de servicios con procesos acordados de referencia y contrarreferencia.
• Integrar la gestión y formación de recursos humanos.
Aspectos Político-Institucionales:
• Identificar las condiciones de derechos y deberes de los usuarios en la estructura
legal e institucional de los cuatro países, como también el establecimiento de
estándares comunes para orientar el acceso, la oferta y la calidad de las acciones
y de los servicios de salud disponibles, y los mecanismos que se utilizarán para
dirimir dudas al respecto.
• Ampliar la movilización de la sociedad civil con amplio diálogo con gestores, traba-
jadores y usuarios en las regiones de frontera, observando la relevancia de la
integración para los gobiernos.
Regulación y Financiación:
• Crear fondos de cohesión y desarrollo estructural para áreas estratégicas como
costeo de acciones ya desarrolladas (atención); costeo de acciones nuevas (aten-
ción) y expansión en proyectos multilaterales (gestión, investigación, informa-
ción, desarrollo tecnológico, producción de insumos, etc.). La definición de fuen-
tes de recursos -propios de los países y/o captados en proyectos de cooperación- y
de mecanismos de seguimiento y control, y de estructuras para la gestión de esos
recursos debe ser objeto de pacto y formalización entre los países, involucrando
no solamente las estructuras ejecutivas de los gobiernos, sino también los demás
poderes. Si bien esa estrategia implica en un transcurso considerable de tiempo,
también es verdad que, embrionariamente, puede ser desarrollada por medio de la
búsqueda integrada de fuentes externas de financiación, así como en la definición
de recursos propios de los cuatro países, para utilización en proyectos nacionales,
de acuerdo a prioridades definidas en conjunto por los demás países.
• Comenzar a compartir estándares de información, del proceso de registro de eventos
y de la identificación de usuarios, profesionales y servicios para efectos del siste-
ma de informaciones.
Ese es el conjunto de operaciones que consideramos necesarias y suficientes para la
181
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
182
ANEXO
GRUPO DE TRABAJO ITAIPÚ/SALUD
Joel de Lima
AS/FE — Itaipú Binacional
Itaipú Binacional siempre actuó, por medio de sus Direcciones, en alianza con las
autoridades brasileñas y paraguayas de todas las esferas de gobierno, en el sentido de
minimizar el impacto causado a la región con la construcción de la usina hidroeléctrica.
La actual Dirección de Itaipú Binacional, amparada en el concepto de la responsabilidad
social, ha ampliado las acciones de la Empresa buscando la mejoría del Índice de Desarrollo
Humano, maximizando su intervención en varios sectores, entre ellos, la salud.
A fin de orientar las acciones de Itaipú en el área de la salud, garantizándole mayor
impacto y resolutividad, fue creado el Grupo de Trabajo Itaipú/Salud, compuesto por 12
integrantes, de los cuales 6 son brasileños y 6 paraguayos, según la siguiente distribución:
Brasil:
• 1 Representante de la Itaipú Binacional
• 1 Representante de la Fundación de Salud Itaiguapy
• 1 Representante del Ministerio de Salud
• 1 Representante de la Secretaría de Estado de Salud de Paraná
• 1 Representante de la Secretaría Municipal de Salud de Foz de Iguazú
• 1 Representante del CRESEMS de la 9ª Regional de Salud
Paraguay:
• 2 Representantes de la Itaipú Binacional
• 1 Representante de la Fundación Tesãi
• 1 Representante del Ministerio de Salud Pública y Bienestar Social
• 1 Representante de la 10ª Región Sanitaria de Alto Paraná
• 1 Representante de la 14ª Región Sanitaria de Canindeyú.
El Grupo de Trabajo, de carácter permanente y consultivo, vinculado a Itaipú Binacio-
nal, tiene por objetivo proponer las estrategias para inserción de las Fundaciones de
Salud instituidas por Itaipú Binacional en la organización y apoyo a las acciones de salud
en su área de influencia, región de la frontera entre Brasil y Paraguay, que comprende 27
185
SIS-MERCOSUR – Una Agenda para Integración
186
Anexo — Grupo de Trabajo Itaipú/Salud
187
SÉRIE DE DOCUMENTOS APRESENTAÇÃO
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS/OMS)
MINISTÉRIO DA SAÚDE – BRASIL
A Organização Pan-americana da Saú-
Volume 1 de — Opas, Exercendo sua Atribuição
de Apoiar um Sistema de Saúde Demo-
1. Processos de Descentralização da Saúde
série té c n i c a
no Brasil — Documento Analítico crático, integral e equânime, entende
2. Seminário: o Sistema Único de Saúde e a que a concretização desta ação, no
Regionalização Brasil, é direcionada ao fortalecimento
3. Seminário: Perspectiva para a descentralização do Sistema Único De Saúde (Sus).
e a Regionalização no Sistema Único de Saúde
Neste sentido, a missão da Opas no
Brasil, um país de extensão continental
Volume 2
e com um sistema de saúde em proces-
Produção de Conhecimento em Política,
10
Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços
de Saúde em Goiás ção à saúde individual e coletiva, a
redução de desigualdades e o alcance
Volume 7 da eqüidade.
série técnica
Desenvolvimento de
Sistemas e Serviços de Saúde
10
CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAIS E DO DESEMPENHO DOS
SERVIÇOS DE ATENÇÃO BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
(SUS) EM NÍVEL LOCAL
BRASÍLIA — DF
2006
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
Celia Almeida
MD, MPH, PhD, Pesquisador Titular
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca,
Fundação Oswaldo Cruz
Rio de Janeiro, Brasil
James Macinko
PhD, Professor de Saúde Pública
New York University, EUA
BRASÍLIA — DF
2006
(*) Esta pesquisa foi financiada pela ENSP/FIOCRUZ, Programa PED, mas contou também com aportes
financeiros da Fundação Fulbright (bolsa de pesquisador visitante para James Macinko) e da Organização
Pan-Americana da Saúde, Escritório do Brasil (para o trabalho de campo da enquete com usuários dos
serviços de atenção básica), além de apoio logístico da Secretaria Municipal de Petrópolis.
Elaboração, distribuição e informações
Organização Pan-Americana da Saúde
Organização Mundial da Saúde
Setor de Embaixadas Norte, 19
70.800-400 − Brasília − DF
http://www.opas.org.br
Unidade Técnica de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde/OPAS
http://www.opas.org.br/servico/paginas/index.cfm
1. Coordenador do Projeto
Júlio Manuel Suárez
2. Conselho editorial
OPAS/OMS
3. Equipe Técnica/OPAS
Luciana de Deus Chagas
Rosa Maria Silvestre
4. Revisão
Eliana Silva
5. Adaptação de Capa, Projeto Gráfico e DTP
All Type Assessoria Editorial Ltda
6. Tiragem:
1.000 exemplares
ISBN: 85-87943-57-X
5
LISTA DE SIGLAS
AB − Atenção Básica
ACS − Agentes Comunitários de Saúde
CONASEMS − Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde
CONASS − Conselho Nacional de Secretários de Saúde
DAPS − Departamento de Administração e Planejamento em Saúde
ENSP − Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca
ESB − Equipes de Saúde Bucal
ESF − Equipe de Saúde da Família
FIOCRUZ − Fundação Oswaldo Cruz
MS − Ministério da Saúde
OMS − Organização Mundial de Saúde
OPAS − Organização Pan-Americana da Saúde
PAB − Piso da Atenção Básica
PACS − Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PAHO − Pan-American Health Organization
PCAT − Primary Care Assessment Tool
PIB − Produto Interno Bruto
PROESF − Programa de Expansão da Saúde da Família
PSF − Programa de Saúde da Família
SIAB − Sistema de Informação à Atenção Básica
SIPACS − Sistema de Informação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde
SMS − Secretaria Municipal de Saúde
SUS − Sistema Único de Saúde
UBS − Unidade Básica de Saúde Tradicional
UFBA − Universidade Federal da Bahia
UNICEF − Fundo das Nações Unidas para a Infância
7
LISTA DE TABELAS
9
Tabela 20 – Coordenação por tipo de unidade (usuários),
Petrópolis, 2004 ............................................................ 117
Tabela 21 – Enfoque familiar por tipo de unidade (usuários),
Petrópolis, 2004 ............................................................ 119
Tabela 22 – Orientação para a comunidade por tipo de unidade (usuários),
Petrópolis, 2004 ................................................................... 120
Tabela 23 – Formação profissional por tipo de unidade (usuários),
Petrópolis, 2004 ............................................................ 121
Tabela 25 – Índice composto total de atenção básica por tipo de unidade
(usuários), Petrópolis, 2004 .............................................. 122
Tabela 26 – Comparação entre índices compostos segundo fontes de dados
distintas, unidades do PSF, Petrópolis, 2004 ........................... 127
Tabela 27 – Comparação entre índices compostos segundo fontes de dados
distintas, UBS, Petrópolis, 2004 ......................................... 129
Tabela 28 – Regressão logística multivariada para auto-avaliação
do usuário sobre seu estado de saúde, Petrópolis, 2004 ............. 134
Tabela 29 – Auto-avaliação da confiança dos informantes-chave
nas sua respostas, Petrópolis, 2004. .................................... 136
10
LISTA DE GRÁFICOS
11
Gráfico 18 – Distância da média do índice total de AB, UBS,
Petrópolis, 2004 ............................................................ 125
Gráfico 19 – Comparação entre índices compostos segundo fontes de dados
distintas, PSF, Petrópolis, 2004 .......................................... 128
Gráfico 20: Comparação entre índices compostos segundo fontes de dados
distintas, UBS, Petrópolis, 2004 ......................................... 129
Gráfico 21 – Relação entre o índice composto total da atenção básica e
probabilidade de estar com boa saúde, por faixa etária,
Petrópolis, 2004 ............................................................ 134
Gráfico 22 – Proposta de algoritmo para solicitar as
respostas do questionário................................................. 137
Gráfico 23 – Acesso por unidade ........................................................ 163
Gráfico 24 – Porta de Entrada por unidade ............................................ 163
Gráfico 25 – Vínculo por unidade ....................................................... 164
Gráfico 26 – Elenco de serviços por unidade .......................................... 164
Gráfico 27 – Coordenação por unidade................................................. 165
Gráfico 28 – Foco Familiar por unidade ................................................ 165
Gráfico 29 – Orientação para a comunidade por unidade ........................... 166
Gráfico 30 – Formação profissional por unidade ...................................... 166
12
LISTA DE QUADROS
LISTA DE FIGURAS
13
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS .............................................................................. 5
LISTA DE SIGLAS ................................................................................. 7
LISTA DE TABELAS ............................................................................... 9
LISTA DE GRÁFICOS ........................................................................... 11
LISTA DE QUADROS ........................................................................... 13
LISTA DE FIGURAS ............................................................................. 13
PREFÁCIO ....................................................................................... 19
APRESENTAÇÃO ............................................................................... 21
RESUMO EXECUTIVO .......................................................................... 23
Objetivos ..................................................................................23
Marco teórico e revisão da literatura ................................................24
Metodologia ..............................................................................26
Plano de análise .........................................................................30
Resultados, conclusões e recomendações ...........................................31
I. INTRODUÇÃO............................................................................ 37
Objetivos ..................................................................................38
II. MARCO TEÓRICO ....................................................................... 39
III. UMA REVISÃO DA LITERATURA SOBRE AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA NO
BRASIL.................................................................................... 45
IV. MECANISMOS INSTITUCIONAIS DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DA
ATENÇÃO BÁSICA ....................................................................... 61
V. METODOLOGIA .......................................................................... 67
A. Medidas ................................................................................67
B. Seleção de entrevistados ...........................................................71
C. Plano de análise......................................................................75
D. Considerações éticas ................................................................79
VI. RESULTADOS ............................................................................ 81
A. Um perfil do Município de Petrópolis .............................................81
B. Primeira etapa da pesquisa: entrevistas com profissionais e gestores .......87
1. Acesso .............................................................................88
2. Porta de entrada: atenção ao primeiro contato ............................90
3. Vínculo.............................................................................91
4. Elenco de serviços ...............................................................94
5. Coordenação ......................................................................97
15
6. Enfoque familiar ............................................................... 101
7. Orientação para a comunidade .............................................. 102
8. Formação profissional ......................................................... 104
9. Índice composto total de atenção básica .................................. 105
C. Segunda etapa da pesquisa: enquete com os usuários dos serviços ....... 106
1. Acesso ........................................................................... 108
2. Porta de entrada ............................................................... 110
3. Vínculo........................................................................... 111
4. Elenco de serviços ............................................................. 113
5. Coordenação .................................................................... 116
6. Enfoque familiar ............................................................... 118
7. Orientação para a comunidade .............................................. 120
8. Formação profissional ......................................................... 121
9. Índice composto total de atenção básica .................................. 122
D. Análise de desempenho das unidades .......................................... 122
VII. VALIDAÇÃO DOS INSTRUMENTOS E DA METODOLOGIA .........................127
A. Comparação entre as fontes de dados ......................................... 127
B. Relação entre organização e desempenho dos serviços de atenção básica e
percepção dos usuários entrevistados sobre seu estado de saúde ......... 131
C. Validação dos indicadores (perguntas): testes estatísticos ................. 135
D. Considerações sobre o instrumento (questionário) ........................... 136
VIII. DISCUSSÃO .............................................................................139
IX. CONCLUSÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ........................................145
REFERÊNCIAS .................................................................................147
ANEXOS ........................................................................................153
ANEXO I: CARTÃO DE RESPOSTA ..........................................................155
ANEXO II: TABELA DE NÚMEROS ALEATÓRIOS ...........................................157
ANEXO III: UNIDADES INCLUÍDAS NA PESQUISA – ETAPA 1 ............................159
ANEXO IV: UNIDADES INCLUÍDAS NA PESQUISA − ETAPA 2............................161
ANEXO V: DESEMPENHO POR ÍNDICE COMPOSTO DE ATENÇÃO BÁSICA ............163
ANEXO VI: CRONBACH’S ALPHA: ETAPA 1 (PROFISSIONAIS NAS UNIDADES) ......167
Acesso ................................................................................... 167
Vínculo .................................................................................. 167
Elenco de serviços ..................................................................... 168
Coordenação ........................................................................... 169
Enfoque familiar ....................................................................... 170
16
Orientação para a comunidade ...................................................... 170
Formação profissional................................................................. 170
Índice composto total ................................................................. 171
ANEXO VII: CRONBACH’S ALPHA: ETAPA 2 (USUÁRIOS ) ..............................173
Acesso ................................................................................... 173
Porta de entrada ....................................................................... 173
Vínculo .................................................................................. 174
Elenco de serviços ..................................................................... 175
Coordenação ........................................................................... 176
Enfoque familiar ....................................................................... 176
Orientação para a comunidade ...................................................... 177
Formação profissional................................................................. 177
Índice composto total ................................................................. 178
ANEXO VIII: QUESTIONÁRIOS ...............................................................179
17
PREFÁCIO
Por isso, a OPAS tem a satisfação de lançar mais este volume da Série Técnica, pois
considera que essa experiência é de crucial valor na idéia de fortalecer as iniciativas de
melhoria dos sistemas locais de saúde das Américas.
Horácio Toro
Representante da OPAS no Brasil
19
APRESENTAÇÃO
São inegáveis os avanços obtidos com a ampliação e qualificação das ações no âmbito
da Atenção Básica no Brasil, advindos da implementação do Sistema Único de Saúde e da
crescente descentralização dos serviços. Todo um conjunto de estratégias e normatiza-
ções, em especial a garantia de finaciamento especifico, possibilitaram à ampla maioria
dos municípios brasileiros a assunção de um novo papel no sistema de saude, tendo sob
sua responsabilidade a organização e prestação de serviços na esfera local.
A principal estrategia nacional para a qualificação da atencao básica tem sido, sem
duvida, a saúde da família, que ampliou o vínculo e a responsabilização das equipes da
atenção básica com a população assistida, bem como inseriu novas práticas no tradicional
escopo das ações realizadas por essa equipes.
De maneira sintética, podemos dizer que a idéia àquela época, e que permanece, era
aproximar as equipes de saúde da realidade da população. Por isto o desenho da equipe
em regime integral de trabalho com, profissionais que pudessem garantir a integralidade
da atenção e do cuidado, traduzidos nas figuras do enfermeiro, do médico de família,
dos auxiliares e dos agentes comunitários da saúde.
Esse esforço nacional de implantação da estratégia de saúde da família, possibilitou
uma significativa ampliação do acesso aos serviços de atenção básica. Terminamos 2005
superando 24.000 equipes e promovendo o cuidado a mais de 80 milhões de cidadãos
brasileiros.
O desafio que agora se apresenta, após uma ampla expansão, é o da qualificação da
rede de atenção básica, acompanhada por um processo consistente de monitoramento
e avaliação. Alguns importantes passos vem sendo dados, pelo Ministério da Saúde, no
sentido da institucionalização da avaliação na atenção básica, incluindo financiamento de
estudos acadêmicos nesse campo, apoio ao desenvolvimento de parcerias entre serviços e
centros formadores, contratação de instituições para realização de pesquisas avaliativas,
desenvolvimento de metodologias de avaliação da atenção básica, entre outros.
É neste contexto que o Ministério da Saúde e a Organização Panamericana de Saúde
apresentam, na série técnica Projeto de Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de
Saúde o relatório final desse estudo que discute e propõe formas de medir e avaliar im-
portantes elementos estruturais de um sistema de saúde com base na Atenção Primária
à Saúde - APS. A validação de uma metodologia de avaliação da APS, internacionalmente
utilizada, é uma importante contribuição para esse momento de consolidação da saúde
da família no Brasil.
21
Neste estudo, conceitos como acessibilidade, aceitabilidade, integralidade, abran-
gência da atenção, cuidado apropriado e baseado na família e na comunidade são forte-
mente abordados, sendo proposta uma representação da atenção básica que incorpora
as dimensões internacionalmente utilizadas, mas que avança numa combinação de
outros elementos, levando a uma noção mais ampla de atenção primária, mais próxima
à proposta no modelo brasileiro.
O estudo tambem presta uma importante contribuição categorizando as pesquisas
realizadas no campo de avaliação da atenção básica, que é seguida de discussões dos
principais e mais relevantes trabalhos realizados recentemente no país.
A metodologia proposta é descrita de forma clara e objetiva, possibilitando a sua
disseminação.
Por fim, destaca-se a importância de contarmos com mais uma ferramenta de ava-
liação, no campo da atenção básica. Metodologias como esta, que apontam fortalezas e
debilidades do modelo proposto para a atenção básica no Brasil, certamente contribuirão
para o preenchimentos das lacunas existentes.
Esperamos que esta metodologia possibilite aos gestores, técnicos, pesquisadores
e todos os envolvidos na consolidação da atenção básica no Brasil, a realização de
aproximações sucessivas de nossa “imagem objetivo” que é de uma atenção básica de
qualidade, resolutiva e que contribua na reorganização do sistema de saúde brasileiro,
possibilitando a melhoria de indicadores de saude da população brasileira.
22
RESUMO EXECUTIVO
Objetivos
O objetivo geral da pesquisa foi testar, num município específico − Petrópolis, no
Rio de Janeiro − uma nova metodologia de avaliação rápida para medir as característi-
cas organizacionais e de desempenho dos serviços de atenção básica (AB) no SUS. Essa
metodologia trabalhou com diferentes fontes de dados − secundários e rotineiros, in-
formantes-chave (profissionais e gestores) e usuários dos serviços − para medir aspectos
críticos desses serviços em nível municipal.
Os objetivos específicos foram:
1. Adaptar uma metodologia para medir as dimensões organizacionais e de desempe-
nho dos serviços de atenção básica (AB) em nível municipal e aplicá-la no Município
de Petrópolis, Rio de Janeiro.
23
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
24
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
25
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Conclui-se, de forma sintética, que o Pacto ainda não pode ser considerado um siste-
ma de avaliação de desempenho, nem permite pesquisas detalhadas. É uma ferramenta
que possibilita ter uma idéia geral do sistema de atenção básica. Permite também
gerar hipóteses sobre possíveis problemas existentes, mas não fornece elementos para
formular respostas a esses problemas, nem para definir “correções de rota”. Necessita
também melhor desenvolvimento técnico em termos de formulação (em nível federal)
e de capacidade de implementação (em nível estadual e municipal). E o SIAB, por sua
vez, é um sistema de informação bastante complexo que oferece dados que possibilitam
monitoramento, avaliação e pesquisa, mas, até o momento, essa potencialidade não
tem sido bem explorada na avaliação do sistema. Por esse motivo, está sob revisão, para
que seja capaz de monitorar o conjunto de ações desenvolvidas em unidades de atenção
básica, sejam elas referidas a equipes PSF ou não.
Em resumo, a necessidade de instrumentos ágeis e efetivos para uma avaliação orga-
nizacional e de desempenho da AB em nível local é confirmada pela revisão da literatura
disponível e dos instrumentos governamentais existentes.
Metodologia
O estudo foi realizado no Município de Petrópolis, Rio de Janeiro, que foi escolhido
para testar a metodologia pela facilidade de acesso, por ser de médio porte, com uma
população diversificada e por ter um sistema local de saúde com razoável tradição his-
tórica no desenvolvimento da atenção básica. O PSF funciona no município em algumas
localidades há cerca de seis anos, sendo que atualmente está em processo de expansão
com novas equipes sendo implantadas; e as unidades básicas tradicionais funcionam
regularmente em todo o município há algumas décadas. Os serviços públicos de atenção
básica atendem a cerca de 75% dos estratos mais pobres da população que não possuem
planos privados de saúde (PAHO, 2000). Além disso, as autoridades municipais na área
de saúde foram muito receptivas à avaliação proposta pela pesquisa.
A metodologia foi elaborada a partir da adaptação de instrumentos componentes do
Primary Care Assessment Tool (PCAT), formulados e validados para avaliar os aspectos
críticos da atenção primária em países industrializados, como EUA e Canadá, desenvol-
vidos na Universidade de Johns Hopkins (Starfield 2000; 1998). Esses instrumentos e a
metodologia proposta foram utilizados para medir os aspectos críticos dos serviços de
atenção primária nos países europeus. Pesquisadores norte-americanos demonstraram
que esses instrumentos possibilitaram avaliar as dimensões essenciais da atenção básica
de maneira válida e confiável (Shi et al 2001).
26
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Primeira etapa:
Foram elaboradas duas versões do instrumento (questionário), traduzidas do espanhol
para o português e adaptadas à realidade brasileira: uma para uso com os informantes-
chave das unidades de atenção básica e a outra para os informantes-chave da SMS. Cada
instrumento contem cerca de 90 perguntas específicas sobre as dimensões essenciais
da atenção básica (92 o de profissionais e 94 o dos gestores). Cada uma das perguntas
corresponde a indicadores de atenção básica utilizados nas pesquisas e experiências in-
ternacionais sobre esse nível de atenção. Construiu-se um indicador geral para cada uma
das oito dimensões da atenção básica mencionadas anteriormente. Alguns indicadores
foram modificados em relação aos originais do questionário PCAT, para melhor refletir o
contexto brasileiro, como por exemplo, a lista de serviços oferecidos na atenção básica,
que está voltada para as prioridades da política e o perfil epidemiológico da população
do Brasil.
O entrevistado respondeu a cada pergunta segundo uma escala de possibilidades pre-
estabelecida, à qual se atribuiu um valor entre zero e cinco. As respostas foram somadas
e o valor médio das respostas de todas as perguntas para cada dimensão foi calculado
para cada pessoa entrevistada. As respostas foram então analisadas individualmente
e também por tipo de unidade (do PSF ou Unidade Básica Tradicional − UBS). Como as
perguntas e as escalas são iguais para todos os entrevistados foi possível a comparação
entre unidades (PSF e UBS tradicional) e entre entrevistados (profissionais e gestores)
(ver questionários no Anexo VIII).
Segunda etapa:
Foi feita a tradução do inglês para o português do instrumento do Primary Care
Assessment Tool−PCAT voltado para a enquete de usuários dos serviços de atenção básica
e a adaptação das perguntas à realidade nacional e local. Registra-se que o instrumento
original do PCAT para usuários dos serviços é constituído de dois questionários separa-
dos − um para adultos e outro para os pais das crianças atendidas (ou acompanhantes).
27
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
28
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
29
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
população nos usuários entrevistados cada unidade foi visitada duas vezes, em dois dias
consecutivos.
Também integrou o treinamento um pré-teste feito com os próprios pesquisadores
e o pré-teste final do instrumento, após os ajustes e sugestões de modificações que
surgiram durante o treinamento, que foi realizado com usuários do Centro de Saúde
Germano Sinval Faria, da ENSP/FIOCRUZ.
Plano de análise
Um dos objetivos da pesquisa foi testar e validar uma metodologia de avaliação rá-
pida que permitisse uma visão crítica da organização e do desempenho dos serviços de
atenção básica em nível municipal. Para tal, foram construídos índices compostos que
correspondem às oito dimensões da atenção básica consideradas essenciais e selecionadas
para avaliação nesta pesquisa.
Os índices compostos foram construídos como descrito a seguir. Cada questionário
tem cerca de 100 perguntas específicas, que correspondem a um indicador relacionado
com uma determinada dimensão da atenção básica. Existiam seis opções de resposta
para cada pergunta e essas opções foram iguais para cada tipo de entrevistado (pro-
fissional de saúde na unidade, supervisor/gestor e usuário). Cada resposta (“nunca”,
“quase nunca”, “algumas vezes”; “muitas vezes” “quase sempre” e “sempre”) foi então
convertida em um escore ou escala, que variou entre 0 e 5. O escore “0” correspondeu
à resposta “nunca”, “1” correspondeu à resposta “quase nunca” etc. Depois, os escores
dos indicadores foram somados para construir um índice composto para cada dimensão
da AB. Por exemplo, todos os escores das perguntas sobre acesso foram somados e a
média dessa soma representou o índice composto “acesso”. Esse processo foi seguido
para construir oito índices compostos, isto é, um índice composto para cada dimensão
da AB. Finalmente, foi criado um índice composto total, que é o resultado da soma de
todos os oito índices compostos. Esse último índice representa a experiência total na
atenção básica.
Outro objetivo da pesquisa foi validar a metodologia de informantes-chave vis a vis a
triangulação com outras fontes de dados (dados secundários e entrevistas com usuários),
avaliando a concordância e discordância entre diferentes fontes.
Para a validação dos dados coletados a partir dos informantes-chave foram empre-
gados vários mecanismos, incluindo: a) determinação das propriedades do instrumento
(tais como consistência entre itens e análise de fatores); e b) utilização de técnicas
qualitativas (triangulação) e quantitativas para medir a validade dos dados coletados
com os dados obtidos dos informantes-chave.
30
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Foram utilizados vários testes para a construção e validação dos instrumentos: auto-ava-
liação do informante (na primeira etapa), consistência entre itens (técnica de Cronbach’s
alpha), análise de fatores e regressão logística multivariada (Odds Ratio, na segunda
etapa). O teste de X2 foi realizado para detectar as diferenças entre os tipos de unidades
e entre as diversas fontes de informação (por exemplo, usuários versus profissionais nas
unidades). Para a segunda fase da pesquisa, o teste-F foi empregado em vez do teste X2,
pois a amostra dos usuários foi uma amostra por conglomerados e, por isso, foi necessário
ajustar os desvios-padrão para o agrupamento dos entrevistados nas unidades.
Além desses, outros mecanismos foram utilizados também para assegurar a validade
das respostas. Em primeiro lugar, todo informante-chave foi selecionado segundo seu cargo
atual, o número de anos que trabalha na municipalidade pesquisada e suas credenciais
profissionais. Segundo, vários informantes-chave foram selecionados para informar sobre
o mesmo município, permitindo avaliar a concordância interavaliador. E terceiro, todo
entrevistado foi solicitado a avaliar a sua própria confiança nas respostas dadas. Ou seja,
foi perguntado que porcentagem das respostas foi extraída de dados previamente existentes
e que porcentagem foi unicamente devida à opinião/experiência pessoal do informante.
Finalmente, os resultados dessa sondagem foram cotejados com dados já existentes,
estudos de caso, relatórios e outros documentos disponíveis para comparar e avaliar
a validade das respostas apresentadas pelos informantes. Esse processo de “triangula-
ção” (usando várias fontes de dados para confirmar a sua validade) é muito comum nas
pesquisas qualitativas.
31
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
32
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
33
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
UBS tradicional) indica que algumas estão melhores que outras, o que sugere a
possibilidade de melhora, a partir de intervenções específicas.
7. O índice composto total da AB está correlacionado com a auto-avaliação de saú-
de segundo a percepção dos usuários, controlando por outros determinantes da
saúde. Isso pode sugerir que uma boa experiência na AB, seja no PSF ou na UBS, é
importante para melhores níveis de saúde da população. Entretanto, essa hipótese
deve ser comprovada com estudos longitudinais.
Em relação à metodologia e aos instrumentos elaborados e testados, concluiu-se
que:
1. O questionário com informantes-chave pode ser utilizado de forma rotineira para
monitoramento e avaliação rápida das mudanças organizacionais da AB, pela
própria SMS, e pode ser aplicado (ou autopreenchido pelos profissionais, gestores
e supervisores) em cerca de uma semana.
2. A utilização de um único questionário para a enquete de usuários (pacientes e
acompanhantes) trouxe alguns problemas. Sendo assim, foi elaborado um ques-
tionário específico para acompanhantes, a partir do já existente e utilizado na
pesquisa, a ser aplicado em separado.
3. O processo de validação (comparação de fontes, análises estatísticas tais como
análise de fatores, Cronbach’s alpha e triangulação com dados secundários) su-
gere que a metodologia de avaliação da AB utilizada nesta pesquisa é válida para
monitorar a organização e o desempenho desses serviços em nível municipal.
Pode-se dizer que apesar de Petrópolis ter realizado avanços importantes na aten-
ção básica, enfrenta ainda vários desafios, como: melhorar acesso, reforçar o papel
da atenção básica como porta de entrada no sistema, melhorar elenco de serviços e a
a coordenação, aumentar a orientação para a comunidade e fomentar a participação
comunitária.
A apresentação dos resultados finais da pesquisa à SMS de Petrópolis, em agosto de
2004, realizada em duas etapas − uma para o staff da SMS, supervisores e gestores com
cargo de coordenação, além da então secretária municipal de saúde; e outra para todos
os profissionais que trabalham na rede de atenção básica (cerca de 100 profissionais),
além de pesquisadores da Universidade e representantes do Ministério da Saúde − foi
um interessante momento de debate, onde não apenas os achados da pesquisa foram
referendados e reconhecidos como verdadeiros pelo próprio pessoal local, por exemplo,
em relação às unidades com melhor ou pior desempenho, mas também os instrumen-
tos foram considerados válidos e passíveis de utilização pela equipe local. Ao mesmo
tempo, a então secretária municipal de saúde manifestou interesse em que a pesquisa
34
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
35
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
bom ou muito bom; ou então, o fato do usuário considerar que tem “boa saúde”
pode significar também que a sua demanda de atenção básica é pequena e, sendo
assim, sua experiência com a atenção recebida pode ser considerada boa. Nenhuma
pesquisa transversal pode determinar a relação causa-efeito. Pesquisas futuras
devem incluir elementos de avaliação longitudinal no desenho metodológico para
testar essa relação.
36
I. INTRODUÇÃO
Desde os anos 90 o Brasil vem reformando seu sistema de saúde, a partir da definição
de novas formas de financiamento e de reorganização da oferta de serviços. Nesse pro-
cesso, a atenção básica tem merecido especial atenção, com a introdução de programas
inovadores e estratégicos para a mudança do modelo assistencial do Sistema Único de
Saúde (SUS).
Vários fatores têm contribuído para essa priorização, entre eles a necessidade de se
desenvolver e disponibilizar para a população serviços básicos que sejam mais acessíveis,
eqüitativos e de melhor qualidade. Para responder a esse desafio, o Ministério da Saúde
vem utilizando diversas estratégias, destacando-se os programas especiais − o Programa
de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), desde 1991, e o Programa de Saúde da Famí-
lia (PSF), desde 1994 − assim como o Piso da Atenção Básica (PAB), introduzido com a
Norma Operacional Básica de 1996 (NOB 1996) e atualizado com as Normas Operacionais
de Assitência à Saúde de 2001 e 2002 (NOAS 2001 e 2002), como parte do processo de
descentralização.
O PSF em particular vem sendo considerado como a estratégia prioritária do governo
para a reestruturação não apenas da atenção básica, mas também do modelo assisten-
cial, juntamente com o PAB, e apresentou um crescimento considerável. De 900 equipes
em 900 municípios, em 1996 (Aguiar, 1998), passou para quase 5.000 equipes em 1.870
municípios, em 1999, e 10.025 equipes em 3.059 municípios, em 2000; e, em 2004, exis-
tiam mais de 19.943 equipes de saúde da família atuando em 4.565 municípios e mais
de 188 mil agentes comunitários de saúde presentes em 5.175 municípios (Aguiar, 1998;
MS, 2000; 2004). Segundo o MS, em 2004, o PSF atendia quase 60 milhões de pessoas,
ou seja, cerca de 38% da população brasileira (Machado, 2004).
Entre as características inovadoras do programa incluem-se a ênfase em reorganizar os
serviços de atenção básica centrando-os na família e na comunidade e integrando-os aos
outros níveis de atenção. Entretanto, as pesquisas e metodologias existentes para medir
o alcance do programa nestas novas dimensões ainda são insuficientes (MS, 2003).
Daí o interesse em avaliar o alcance dessa reestruturação e, mais amplamente, o
impacto dessas inovações na organização da atenção básica e na provisão de serviços,
assim como o resultado na saúde da população dessas mudanças na organização de
serviços em nível local.
O propósito desta pesquisa é contribuir para o processo de desenvolvimento e utili-
zação de instrumentos de avaliação e monitoramento da organização e do desempenho
37
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Objetivos
O objetivo geral da pesquisa foi testar, num município específico − Petrópolis, Rio
de Janeiro − uma nova metodologia de avaliação rápida para medir as características
organizacionais e de desempenho dos serviços de atenção básica (AB) no SUS. Esta
metodologia utiliza diferentes fontes de dados − secundários e rotineiros, informantes-
chaves (profissionais e gestores) e usuários dos serviços − para medir aspectos críticos
desses serviços em nível municipal.
Os objetivos específicos foram:
1. Adaptar uma metodologia para medir as dimensões organizacionais e de desempe-
nho dos serviços de atenção básica (AB) em nível municipal e aplicá-la no Município
de Petrópolis, Rio de Janeiro.
2. Adaptar e aplicar os instrumentos específicos para o levantamento de dados, uti-
lizando informantes-chave (entrevistas com profissionais de saúde nas unidades
de AB; e com gestores e supervisores da Secretaria Municipal de Saúde−SMS) e
enquete populacional (com usuários dos serviços de AB).
3. Comparar os diferentes pontos de vista desses distintos atores, a partir dessas
fontes de dados.
4. Validar a metodologia de uso de informantes-chave para a avaliação rápida, or-
ganizacional e de desempenho, dos serviços de atenção básica em nível local.
5. Elaborar um perfil dos serviços de atenção básica no Município de Petrópolis, com-
parando determinadas dimensões organizacionais entre as unidades do Programa
Saúde da Família (PSF) e Unidades Básicas de Saúde tradicionais (UBSs).
Espera-se que essa metodologia possa ser aplicada, futuramente, a um número maior
de municípios para determinar tendências no alcance das dimensões organizacionais e
de desempenho da atenção básica em nível nacional.
38
II. MARCO TEÓRICO
Nas últimas décadas, de maneira geral, todos os países vêm reformando seus sistemas
de serviços de saúde, orientados por objetivos de alcance de maior eficiência, eqüidade
e qualidade na atenção, sendo que novos modelos e paradigmas de reforma vêm sendo
difundidos mundialmente. Na América Latina, esses processos têm sido particularmen-
te importantes, pois ao mesmo tempo em que estão vinculados às políticas de ajuste
macroeconômico e à reforma do Estado, são concomitantes ao aumento impactante da
pobreza e das desigualdades, pari passu à deterioração das instituições públicas, exa-
cerbadas exatamente por essas mesmas políticas (Fanelli et al, 1992; Hoeven & Stewart,
1993; Cominetti, 1994). Paralelamente, assistimos a mudanças muito mais radicais dos
sistemas de saúde, com resultados pífios em relação ao preconizado pelas agendas de
reforma, ou mesmo piora das condições previamente observadas (Almeida, 2002 a e
b). Mais recentemente, esses resultados tem levado à formulação de estratégias que
apontem para a reconstrução de sistemas de saúde mais eqüitativos e com serviços de
melhor qualidade (Infante, 2000).
A atenção básica em saúde tem desempenhado papel de destaque nessas reformas
contemporâneas. Inicialmente pensada numa perspectiva restrita, como uma forma de
diminuir o gasto hospitalar, particularmente alto em todos os sistemas de saúde, vem
sendo retomada de forma mais ampla, voltada para a “reversão do modelo assistencial”,
excessivamente centrado na assistência médica, e recomenda-se que deve fazer parte
integral das estratégias de desenvolvimento econômico e social (World Bank 1993; WHO
2001a). Entretanto, o impacto da atenção básica no alcance desses objetivos não foi
sistematicamente investigado. Quase um quarto de século após Alma Ata (1978) existe
pouca evidência disponível sobre o impacto da atenção básica na saúde da população e,
menos ainda, no desenvolvimento socioeconômico ao longo do tempo (Hill et al 2000).
A discussão recente sobre a avaliação dos sistemas de serviços de saúde reconhece
a importância de definir os seus limites, explicitando-se claramente as áreas passíveis
de intervenção direta das autoridades sanitárias (PAHO, 2001a). No que toca à atenção
básica, a avaliação se enfrenta com o problema adicional de que não existe consenso na
literatura sobre uma definição, tendo sido conceituada de forma diferente, no tempo
e no espaço.
Assim, em 1978, na Declaração de Alma Ata, a atenção primária foi aprovada como a
principal estratégia para atingir a meta de “Saúde para todos no ano 2000” (Assembléia
Mundial da Saúde, 1977) e definida como:
39
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Esse enfoque interrelacionava pelo menos dois significados: uma prescrição geral
que advogava que os sistemas sanitários deveriam dar prioridade à assistência básica,
antecipando e evitando os problemas de saúde e os agravamentos das doenças, quebran-
do os ciclos perversos produtores das enfermidades; e um conjunto mínimo de ações
e serviços que compunham a Atenção Primária, que se estendia para além do campo
estrito dos serviços de assistência médica, focalizando as condições de vida e saúde das
populações, incorporando ações na área de educação, saneamento, promoção da oferta
de alimentos e da nutrição adequada, saúde materno-infantil (incluindo planejamento
familiar), medidas de prevenção, provisão de medicamentos essenciais, garantia de
acesso aos serviços etc. (Walt, 1994; Almeida, 1995).
A proposta da Atenção Primária, promovida também pela UNICEF, conjuntamente com
a OMS, foi acolhida entusiasticamente pelos países da periferia, mas tratado de forma
muito mais cautelosa no mundo central.
Posteriormente, esse significado foi mudando e se confundindo com o de atenção
básica, sendo que, para alguns autores, se refere a um determinado nível de atenção;
para outros, é um conjunto de serviços ou intervenções em saúde ou uma estratégia de
conscientização das comunidades para melhora de seus problemas coletivos de saúde
(Vuori, 1985).
A relação melhor conhecida entre atenção básica e o resto do sistema de saúde é o
sistema de referência e contra-referência entre esse nível e a atenção especializada ou
1 “Essential health care based on practical, scientifically sound and socially acceptable methods and
technology made universally accessible to individuals and families in the community through their full
participation and at a cost that the community and country can afford to maintain… It forms an integral
part of the country’s health system…and of the social and economic development of the community. It
is the first level of contact on individuals, the family and community…bringing health care as close as
possible to where people live and work, and constitutes the first element of a continuing health care
process” (WHO, 1978:1).
40
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
hospitalar, sendo que o principal objetivo da atenção básica seria de “porta de entrada”
no sistema de saúde, sobretudo nos países mais ricos, numa perspectiva de racionalizar
custos e diminuir a sobre-utilização dos serviços especializados e mais caros; ou seja, o
acesso dos usuários aos serviços especializados e hospitalares só seria garantido a partir
de uma referência formal do nível básico, exceto em casos de urgência ou emergência.
Na prática, existe pouca evidência de que sistemas que empregam a atenção básica
como porta de entrada de fato tenham custos mais baixos do que outros sistemas com
livre acesso aos serviços especializados ou hospitalares (Delnoij et al., 2000).
Por outro lado, o papel da atenção básica como porta de entrada no sistema pode ser
justificado também com base nos princípios da vigilância epidemiológica. Um sistema
integrado de atenção básica deveria resolver a maioria dos problemas de saúde da po-
pulação e referir para os demais níveis apenas aquela parcela dos usuários dos serviços
básicos, que “realmente” tem “necessidade” da atenção especializada. Assim, o “valor
preditivo positivo” da atenção especializada seria melhorado porque a população aten-
dida (referida pela atenção básica) teria uma prevalência elevada de doença, diferente
da população geral. Essa “triagem”, efetuada pelo nível básico, seria particularmente
importante para evitar intervenções especializadas desnecessárias, mais caras, ou que
podem até provocar efeitos adversos ou indesejáveis.
Além dessa relação com os níveis de maior complexidade, a atenção básica também
tem uma interface com os serviços de saúde não assistenciais, tais como programas
de vigilância sanitária, de controle de vetores, de saneamento ou de educação em
saúde nas suas várias modalidades (empregando a mídia, entre outros mecanismos).
Esses programas podem ou não ser organizados pela mesma entidade responsável pela
prestação ou financiamento da atenção básica ou pelo setor saúde. Não obstante, a
atenção básica tem relação com esses programas, uma vez que eles contribuem para
diminuir as causas de doenças na população, mudar o comportamento das pessoas e
das comunidades em relação à saúde, ou mesmo aumentar a demanda para os serviços
de saúde.
Essa noção da atenção básica reconhece papel importante da participação da comuni-
dade na melhora de suas condições de vida, mas admite também que entidades externas
ao sistema saúde podem ser as principais responsáveis no desenvolvimento dessas ações.
Em síntese, se a atenção básica for limitada somente à provisão de serviços individuais
de saúde, não teria possibilidade de influir nas outras condições políticas, sociais, eco-
nômicas e ambientais que integram o desenvolvimento humano sustentável.
Neste trabalho, elaboramos um modelo teórico (ou uma representação) da atenção
básica que tenta incorporar essas diferentes dimensões (Figura 1). A ênfase está posta
41
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
nas características e funções essenciais da atenção básica e nas suas relações com os
outros elementos do sistema de saúde e demais setores relacionados, definido de forma
ampla pela Organização Mundial da Saúde como todas as ações cuja principal intenção é
promover a saúde (WHO 2000:5). Esse modelo pode ser utilizado para descrever qualquer
unidade de atenção básica, seja pública, privada ou não governamental.
Figura 1 – Atenção básica e sua relação com o sistema de saúde como um todo
42
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
meio ambiente ou desenvolvimento econômico. Por outro lado, a atenção básica deve
ser responsável pela criação e manutenção da inter-relação entre esses níveis ou setores
e a saúde das populações. E o grau de participação da atenção básica nessas ações vai
variar segundo o elenco de ações desenvolvidas e a disponibilidade de recursos.
Devido à tendência mundial à descentralização e privatização de serviços públicos de
saúde, atualmente muitas das ações originalmente pensadas em Alma Ata como parte
da atenção primária estão sendo desenvolvidas por organizações não governamentais ou
empresas privadas que, na maioria dos casos, não tem relação formal com o setor saúde
(WHO 2001b). Isso justifica a definição da atenção básica pelas funções que cumpre,
sendo que essas definições funcionais também são úteis para avaliar os determinantes
da saúde que podem ser mais especificamente enfrentados pelos serviços de saúde.
Historicamente, as próprias definições de atenção básica dificultaram a medida do seu
impacto na saúde da população (Starfield, 1992; 2003). Para Starfield, esse desafio pode
ser superado pelo exame dos elementos estruturais e processuais da atenção básica.
Entre os elementos estruturais, quatro definem o potencial da atenção primária −
acesso, elenco de serviços, população adscrita e continuidade (ou atenção contínua).
E os elementos processuais incluem a utilização de serviços e o reconhecimento das
necessidades de saúde da população. É necessário pelo menos um dos quatro elementos
estruturais e pelo menos um dos dois elementos processuais para medir o potencial e
alcance de cada um dos atributos da atenção primária (desempenho), que são: porta de
entrada, longitudinalidade, elenco de serviços e coordenação (Starfield, 2003).
Nessa perspectiva Barbara Starfield elaborou a seguinte definição de atenção pri-
mária:
43
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
44
III. UMA REVISÃO DA LITERATURA SOBRE
AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA NO BRASIL
45
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A pesquisa não incluiu grupos-controle, mas examina a tendência nos indicadores nos
últimos 10 anos. Entre as características do programa associadas com a melhora nos
indicadores de saúde incluem-se: ênfase da participação comunitária na identificação de
problemas e na gestão do programa; utilização de mapas da comunidade e a adscrição da
população a serviços definidos; foco na família; implementação de visitas domiciliares;
e atenção ao primeiro contato. E os seguintes fatores são considerados desfavoráveis
ao êxito do programa: deficiência dos mecanismos de referência e contra-referência,
barreiras no acesso e utilização dos serviços médicos e as próprias condições socioeco-
nômicas e ambientais da população adscrita ao programa.
Assunção et al (2001), por sua vez, avaliou a adequação das unidades de atenção
básica no atendimento e acompanhamento de portadores de diabetes em Pelotas, Rio
Grande do Sul. O diabetes é um traçador importante para avaliar a qualidade da atenção
básica, uma vez que o paciente portador dessa doença necessita de acompanhamento
contínuo, permanente, longitudinal e precisa mudar seus hábitos de vida, o que requer
orientação e educação para a saúde. Além disso, quando o atendimento é adequado
a doença pode ser controlada. O estudo de corte transversal examinou 32 clínicas, 61
médicos e 378 pacientes. Os autores constataram que 50% dos pacientes tinham níveis
de glicemia elevados e somente em 6 a 11% deles a doença foi considerada adequada-
mente controlada. A partir desses resultados, os autores concluíram que a qualidade da
atenção básica para essa doença não era de boa qualidade e sugeriram que a melhora
dessa situação poderia ser conseguida com maiores investimentos no treinamento dos
profissionais (inclusive médicos) e em infra-estrutura dos serviços.
Outros autores examinaram a preferência das mulheres pelos serviços de atenção
básica fornecidos pelo setor privado, em detrimento do SUS. Assim, Behague et al (2002)
realizou uma pesquisa etnográfica em Pelotas sobre as percepções de usuárias das clíni-
cas privadas sobre a qualidade da atenção, comparando-as com uma análise técnica da
qualidade do serviço. Os achados da pesquisa informam que as mulheres valorizam mais
positivamente a atenção que recebem nos serviços privados do que aquela prestada no
SUS, mesmo quando esses serviços foram avaliados de pior qualidade técnica. Curiosa-
mente essa mesma percepção foi prevalente também entre os médicos do SUS. Os autores
concluíram que a preferência pela atenção privada está relacionada parcialmente à idéia
de que este subsetor tem melhores instalações e tecnologia disponível.
Dantos et al (2000), por sua vez, numa pesquisa de corte transversal, entrevistaram
400 mulheres no período pós-parto, perguntando sobre o atendimento recebido durante
a gravidez, tipos de controles que realizaram e as razões para a escolha do lugar de aten-
dimento no acompanhamento pré-natal. Cinqüenta e um por cento das mães receberam
46
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
atendimento num posto de saúde do SUS, sendo que as mulheres mais pobres foram as
que tiveram maior probabilidade de atendimento numa unidade pública de saúde. A ra-
zão principal para a escolha de um posto de saúde do SUS foi à proximidade da casa da
usuária; e a razão principal para o não uso dos serviços públicos (postos de saúde) foi a
percepção de baixa qualidade da atenção. Em relação à qualidade do atendimento, os
autores encontraram diferenças entre os dois tipos de unidades − pública e privada. As
mulheres atendidas pelas unidades do SUS informaram ter recebido menos suplementação
de ferro, ter realizado menos consultas médicas e menos exames complementares com
uso de tecnologia mais sofisticada, quando comparadas com as atendidas nas clínicas
privadas. Entretanto, tiveram maior probabilidade de receber número adequado de
vacinações contra tétano do que as mulheres atendidas nas clínicas privadas.
Santos et al (2000) avaliaram a assistência à saúde da mulher e da criança no estado
do Rio de Janeiro. Numa amostra de conveniência eles encontraram uma subutilização
de serviços de atenção básica, sobretudo nos controles para câncer de mama e de útero,
e um baixo número de visitas pós-parto. Porém, como a amostra não foi aleatória não
é possível generalizar os resultados para o resto da população.
Wayland et al (2002), por sua vez, realizaram uma pesquisa qualitativa sobre parti-
cipação comunitária onde foram comparadas experiências no Brasil e na Bolívia: entre-
vistaram membros da comunidade, profissionais de saúde e gestores do sistema sobre as
suas concepções a respeito da “comunidade”. Constatou-se que cada informante tinha
uma idéia diferente sobre o que seria a “comunidade” e o autor demonstrou que podem
existir diferenças importantes entre o entendimento dos gestores, dos profissionais de
saúde e dos usuários dos serviços sobre o conceito da participação comunitária e o papel
apropriado da comunidade na promoção da saúde.
Várias pesquisas foram realizadas, também nos últimos anos, sobre o Programa de Saú-
de da Família (PSF). Goulart (2003) analisou as políticas da implantação do PSF em cinco
municípios. O autor constatou que entre os fatores que favorecem o desenvolvimento
do PSF nos municípios examinados se incluem: 1) capacidade de liderança política e do
setor saúde, sobretudo no processo de tomada de decisão; 2) formação e qualificação
técnica das equipes de profissionais que atuam no programa; 3) base ideológica favorável
ao programa e “empreendedora”, associada a uma certa característica de “militância
pró-PSF” no município; 4) existência de práticas sociais e políticas que vão além da
noção médica de saúde; 5) investimento em padrões “efetivamente substitutivos” do
modelo de atenção, buscando a neutralização da competição e do antagonismo com os
elementos estruturais e ideológicos dos “velhos regimes de práticas”; 6) desenvolvimento
de inovações gerenciais; e 7) sustentabilidade financeira do programa.
47
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
48
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
49
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
era tida como boa/excelente por 83,2% e o futuro do PSF era visto com otimismo
por mais da metade desses profissionais.
Existe ainda uma pesquisa que pretendeu conhecer e avaliar a opinião do gestor
municipal sobre algumas dimensões consideradas importantes no PSF (Machado, 2000).
Nesse estudo foram entrevistados cerca de 200 gestores de cidades de diferentes portes,
em distintas unidades da federação de todo o país. Os principais resultados foram:
1. O PSF é considerado uma estratégia que conseguiu ser implementada principal-
mente nos municípios do interior do país, mais especificamente das cidades de
menos de 50.000 habitantes das regiões Nordeste (Ceará e Pernambuco) e Sudeste
(Minas Gerais e São Paulo).
2. A percepção do PSF, sob a ótica do gestor municipal, é positiva, pois, na sua visão,
o Programa presta assistência de qualidade às famílias, possibilitará a mudança do
modelo assistencial, com reorganização dos serviços, e permite o desenvolvimento
de ações básicas/preventivas.
3. A equipe de saúde da família preconizada pelo Ministério da Saúde é considerada
“ideal” pela maioria dos gestores. Entretanto, a metade deles refere que, depen-
dendo da situação do município, um odontólogo e um assistente social deveriam
ser incluídos na equipe.
4. As especialidades médicas consideradas fundamentais para o que o PSF se propõe
são medicina interna, pediatria e ginecologia/obstetrícia. Em relação à enferma-
gem, deveria contemplar principalmente profissionais com formação em saúde
pública e enfermagem obstétrica.
5. Para melhor capacitação profissional, seja devido à deficiência da graduação ou
porque existe dificuldade de se encontrar um profissional “generalista” no mer-
cado, os gestores são favoráveis à criação de Cursos de Especialização em Saúde
da Família e de Programas de Residência do tipo multiprofissional.
Segundo essa pesquisa, os avanços obtidos com o PSF vis a vis os desafios a serem
enfrentados podem ser sintetizados como no Quadro 1.
50
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Avanços Desafios
1. Maior acesso aos serviços de saúde 1. Conseguir financiamento adequado que
2. Melhoria na qualidade do atendimento permita ampliação de cobertura
3. Atendimento de demanda organizada 2. Melhorar a referência e contra-referência
4. Vínculo da equipe com a comunidade 3. Melhorar a disponibilidades de médicos
5. Aumento da satisfação dos usuários 4. Desenvolver ações de avaliação e acom-
6. Trabalho em equipe panhamento
7. Maior resolutividade dos serviços de 5. Resolver o problema legal de contratação
saúde dos profissionais
8. Assistência integral 6. Melhorar a capacitação dos profissionais
9. Territorialização do atendimento 7. Diminuir a rotatividade de profissionais
10. Tratamento domiciliar 8. Incluir novos profissionais na equipe
11. Economia nas internações 9. Superar dificuldade de deslocamentos
10. Enfrentar problemas quanto às diferenças
salariais e baixos salários dos profissionais
11. Conseguir que o médico e o enfermeiro
residam no município do PSF.
Fonte: Machado, 2000.
Uma outra pesquisa foi elaborada para analisar a evolução da implantação do PSF no
Brasil (Vieira da Silva & Hartz, 2000). A estratégia metodológica utilizada foi realizar um
estudo ecológico em municípios brasileiros que implantaram o Programa até dezembro
de 2001. Para caracterização do perfil dos municípios foram constituídos quatro grupos,
considerando-se o período de implantação do Programa: de 1994 a 1998, 1999, 2000 e
2001.
Os indicadores selecionados para esse estudo foram: a) situação socioeconômica e
demográfica dos municípios (taxa de urbanização em 2000; taxa de alfabetização em
maiores de 15 anos em 2000); b) Gestão e financiamento do SUS e complexidade da
rede de serviços de saúde (percentual de municípios habilitados em gestão plena do
sistema em 1999 e 2000; número de consultas médicas especializadas por habitante/ano;
número de hospitalizações por local de ocorrência); c) Implantação do PSF (percentual
da população coberta pelo PSF em 1998, 1999, 2000 e 2001; percentual da população
coberta pelo PACS em 1998, 1999, 2000 e 2001).
Para a execução do projeto, foi desenvolvido um sistema informatizado que permite
capturar e compatibilizar dados e indicadores provenientes de diversos sistemas de infor-
mação de saúde e criar bases de dados integradas. Segundo os autores, esta ferramenta,
desenvolvida pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA),
além de contribuir para a continuidade dos projetos de avaliação da implantação do
PSF no Brasil, seria utilizada para atividades de ensino da instituição e disponibilizada
para os gestores de saúde.
51
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
52
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
53
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
54
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
55
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
forma a ampliar as áreas de atuação desses profissionais. Por outro lado, os meios
de comunicação e de publicidade instituídos devem, além de prestar informações
para a população, difundir a importância das atividades realizadas pelos ACS e
demais integrantes das ESF, como forma de fortalecer o vínculo e criar social-
mente uma imagem positiva do trabalho desses profissionais no PSF. Além disso,
é recomendável estimular a regularidade mensal das visitas domiciliares por ACS,
o que exige a redução do número de famílias sob sua responsabilidade.
• Estimular atividades em grupo como forma de criar vínculos de apoio social entre
os integrantes das equipes e informar sobre assuntos técnicos/atividades comuns
(prevenção de doenças e cuidados com a saúde). A participação dos ACS nas ativi-
dades de grupo contribuiria para a sua capacitação e a constituição desses grupos
deve ser orientada pelo perfil epidemiológico local.
A estratégia da Saúde da Família, intensiva em força de trabalho, encontra obstáculos
na sua implementação que fragilizam o processo de mudança do modelo assistencial.
Vínculos empregatícios estáveis e legalmente protegidos favoreceriam a maior adesão
dos profissionais e a formação de vínculos mais sólidos com as comunidades. Por outro
lado, recomenda-se:
• É necessário considerar a possibilidade de incentivos que apóiem a redução da
rotatividade dos profissionais e consolidem as ESF implantadas. Por exemplo, a
criação de incentivos salariais para ESF que atuem em áreas de maior risco social
e epidemiológico possibilitaria, talvez, maior permanência dos profissionais nessas
áreas.
• Aprimorar o processo de capacitação, garantindo que todos os profissionais realizem
o treinamento introdutório, superando a fragmentação programática do conheci-
mento e articulando na capacitação permanente os aspectos técnico-científicos
mais gerais com a especificidade dos condicionantes locais, além de estratégias
de humanização do atendimento.
• É recomendável também ampliar as responsabilidades e a capacitação de ESF
para o acompanhamento de doentes crônicos, tendo em vista a alta proporção
de famílias com portadores dessas enfermidades. A função do médico generalista
como “coordenador” dos cuidados ao doente crônico deve ser reforçada por meio
da melhoria da comunicação entre a ESF e especialistas.
As percepções das famílias sobre os problemas da comunidade guardaram grande co-
erência com as características domiciliares (condições de vida) e municipais. É recomen-
dável, portanto, enfatizar a realização periódica e uso rotineiro do diagnóstico de saúde,
estimulando a participação da população na sua elaboração. Além disso, considerando
56
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
57
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
2 A análise fatorial (ou factor analysis) consiste numa técnica estatística de análise multivariada que se
aplica à identificação de fatores que apontem objetivamente para a agregação de um conjunto de medi-
das. Ao contrário de um indicador criado por uma composição de variáveis arbitrada pelo pesquisador, os
fatores derivados da análise fatorial são dimensões abstratas, ocultas sob um determinado conjunto de
medidas.
3 Esta técnica se aplica à determinação de proximidades geométricas entre os elementos estudados dentro
de um espaço onde a dimensão é dada pelo número de variáveis existentes. Quando se dispõe de um
conjunto de dados multivariados, ou seja, uma matriz de dados com p variáveis e n elementos e deseja-se
identificar padrões de similaridades existentes entre os elementos deste conjunto, é possível utilizar a
técnica de análise de agrupamentos para a identificação destes padrões.
58
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
As técnicas empregadas na análise elaborada por Vianna & Pierantoni (2002) têm vários
pontos positivos. Os agrupamentos e fatores foram criados baseados nos próprios dados
secundários dos municípios, ou seja, segundo a variabilidade dos indicadores disponíveis.
Para uma proposta de monitoramento, é essencial poder replicar a análise facilmente,
permitindo monitorar a dinâmica de melhora ou piora dos indicadores. Sendo assim, o
uso de dados secundários disponíveis é o procedimento mais lógico e econômico para tal
acompanhamento. E essa metodologia possibilita uma análise mais objetiva do desem-
penho dos municípios. Registra-se ainda o enorme esforço de produção de conhecimento
empreendido nesse trabalho.
Mas identificam-se também algumas limitações, pois não é claramente explicitado
um modelo de análise teórico e analítico que justifique as técnicas estatísticas utili-
zadas e a seleção de indicadores. Aponta-se também fragilidade metodológica nessas
técnicas estatísticas, primeiro porque a interpretação dos grupos não utiliza catego-
rias operacionais normalmente empregadas na administração/avaliação de programas
sociais; e, segundo, porque apesar das fortalezas consideráveis mencionadas e dos
resultados interessantes da pesquisa, como proposta de sistema de monitoramento
tem deficiências, tais como: muitos dos indicadores propostos (os fatores sintéticos)
são pouco operacionais; os indicadores selecionados não são necessariamente está-
veis; a técnica de análise fatorial talvez não seja a melhor para o monitoramento do
desenvolvimento de um programa de saúde ao longo do tempo, uma vez que os indi-
cadores sintéticos mudarão sempre que se utilizarem novos dados sobre o programa;
e não é demonstrada nenhuma correlação entre os indicadores (fatores sintéticos) e
os resultados obtidos pelo programa.
De acordo com avaliação recente do PSF, que leva em consideração alguns desses
estudos, (Ministério da Saúde, 2003), os resultados mais importantes dessas pesquisas
podem ser assim resumidos: 1) não existem grandes dificuldades na implementação do
PSF nos municípios de pequeno porte e sem uma capacidade instalada de AB; 2) há maior
dificuldade na implementação do PSF quando se substitui o modelo e a rede tradicio-
nal (conversão do modelo); 3) existem vários desafios na inserção e desenvolvimento
de recursos humanos; 4) apontam-se dificuldades no monitoramento do processo de
implementação, incluindo instrumentos e estratégias para a avaliação de processos e
resultados; e 5) identificam-se problemas relacionados com a garantia da integração do
PSF aos demais níveis de complexidade da rede de serviços de saúde.
Para concluir, com base na literatura analisada, existem poucas evidências sobre o
impacto da reforma da atenção básica na saúde da população. As evidências existentes
estão limitadas às avaliações de ações sobre populações específicas (sobretudo mulheres
59
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4 ...”the evidence so far on the effectiveness of PHC is rather slim although case studies of implementa-
tions are more common…. There is an urgent need to have a clearer understanding of the impact of
comprehensive PHC on mortality and morbidity to avoid erroneous policy decisions in the future” (Hill
et al, 2000:107).
60
IV. MECANISMOS INSTITUCIONAIS DE
MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO
BÁSICA
A atenção básica no Brasil conta com pelo menos dois mecanismos operacionais es-
pecíficos, instituídos pelo Ministério da Saúde, para o seu monitoramento e avaliação: o
Pacto dos Indicadores da Atenção Básica (Pacto) e o Sistema de Informações de Atenção
Básica (SIAB).
O Pacto de Indicadores da Atenção Básica é um instrumento nacional de monito-
ramento das ações e serviços desse nível de atenção e foi criado com a intenção de
avaliar o alcance das modificações introduzidas na atenção básica (PACS, PSF, PAB) e,
mais amplamente, o resultado da ação dos serviços de atenção primária nos indicadores
epidemiológicos e demográficos da população em nível local.
Pretende-se, através dele, estabelecer formalmente uma negociação entre gestores
das três esferas de governo, que tem por objeto metas a serem alcançadas em relação
a indicadores de saúde previamente acordados. Ao fim de cada ano, municípios e esta-
dos teriam seu desempenho avaliado em função do cumprimento das metas pactuadas
(Aquino et al, 2000; Medina & Aquino, 2002).
O Pacto foi criado em 1999 com o Manual para Organização da Atenção Básica que,
entre outros objetivos, definiu as áreas de responsabilidade para o município (Minis-
tério da Saúde, 1999). Tem antecedentes, entretanto, nas portarias ministeriais que
acompanharam a implementação da NOB 1996. Adotado nacionalmente no período
de 1999 a 2002, o processo de pactuação tem sofrido alterações anuais desde então,
tanto com relação à forma de condução do monitoramento quanto aos indicadores
selecionados para avaliação, e vem sendo reestruturado e normatizado anualmente a
partir de portarias do Ministério da Saúde.
Assim, a Portaria nº 3.925 (13/11/1998) instituiu o Manual para Organização da Aten-
ção Básica, que formulava orientações aos gestores municipais do SUS para organização
da atenção básica a partir da pactuação de metas entre as três esferas de governo e
a definição de indicadores de acompanhamento da sua implementação para 1999; e a
Portaria nº 476, de 1999, regulamentou o processo de acompanhamento e avaliação da
atenção básica no Brasil (Brasil, 1998, 1999).
Em 2001, a Portaria nº 1.158 (08/08/2001) definia os componentes que seriam utili-
zados para a avaliação da atenção básica dos municípios:
61
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
62
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
63
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
64
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
65
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
esses problemas, nem para definir “correções de rota”. Necessita também melhor de-
senvolvimento técnico em termos de formulação (em nível federal) e de capacidade de
implementação (em nível estadual e municipal).
O SIAB, por sua vez, foi criado em 1998, como uma ampliação do Sistema de Informação
do Programa de Agentes Comunitário de Saúde (SIPACS). É um sistema de informação que
coleta e organiza informações sobre cada usuário do PSF ou PACS e é territorializado,
baseado no cadastro populacional que permite o acompanhamento das famílias e as ações
dos agentes comunitários e das equipes PSF (Medina & Aquino, 2002). Inclui indicadores
sociais e demográficos, indicadores de procedimentos, inclusive visitas domiciliares e
consultas médicas, e indicadores de morbidade e mortalidade. Assim, é um sistema de
informações complexo que oferece muitas possibilidades de monitoramento, avaliação
e pesquisa, mas, até o momento, esta potencialidade não tem sido bem explorada na
avaliação do sistema (Medina & Aquino, 2002). Por esses motivos o Ministério da Saúde,
juntamente com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e o Conselho
Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS), iniciou um processo para
reformular o SIAB, ampliando a abrangência do sistema, para que seja mais efetivo no
monitoramento do conjunto de ações desenvolvidas em unidades de atenção básica,
sejam elas referidas a equipes do PSF ou não (Ministério da Saúde, 2003).
Concluindo, a necessidade de instrumentos ágeis e efetivos para uma avaliação orga-
nizacional e de desempenho da AB em nível local é confirmada pela revisão da literatura
disponível e dos instrumentos governamentais existentes.
66
V. METODOLOGIA
A. Medidas
67
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
dimensões trabalhado por Starfield, mas foi considerada importante nesta avaliação,
seja porque existem programas específicos de capacitação para profissionais que atuam
neste âmbito da atenção (como os Pólos de Capacitação do PSF), seja porque a “mudan-
ça do modelo assistencial” a partir da priorização da atenção básica, preconizada pela
política nacional de saúde, exige transformações importantes no processo de trabalho
nas unidades desse nível de atenção, o que implica formação profissional específica.
Sendo assim, consideramos que é um importante requisito para o alcance de uma boa
atenção básica.
A aplicação desta metodologia teve como objetivo estabelecer a sua validade, aperfei-
çoar os instrumentos, adaptando-os à realidade brasileira, testar sua aplicação, comparar
as repostas dos informantes-chave com dados rotineiros existentes e com uma enquete de
usuários dos serviços de AB. Embora essa metodologia já tenha sido aplicada em outros
países latino-americanos, ainda não havia sido utilizada no contexto brasileiro.
Dimensão Definição
Acesso Envolve a localização da unidade de saúde próxima da população
a qual atende, os horários e dias em que está aberta para atender,
o grau de tolerância para consultas não-agendadas e o quanto
a população percebe a conveniência destes aspectos do acesso
(Starfield et al., 2003: 60).
Porta de Entrada Implica acesso e uso do serviço de AB a cada novo problema ou
novo episódio de um problema pelo qual as pessoas buscam aten-
ção à saúde (Starfield et al., 2003:61), sempre como o primeiro
atendimento procurado, excepto nos casos de urgência.
Vínculo (ou Pressupõe a existência de uma fonte regular de atenção e seu
longitudinality) uso ao longo do tempo. Assim a unidade de atenção primária
deve ser capaz de identificar a população adscrita, bem como os
indivíduos dessa população, que deveriam receber atendimento
na unidade, exceto quando for necessário realizar consulta espe-
cializada ou fazer um encaminhamento. Além disso, o vínculo da
população com a unidade de saúde requer o estabelecimento de
fortes laços interpessoais que reflitam a cooperação mútua entre
as pessoas da comunidade e os profissionais de saúde (Starfield et
al., 2003:62).
Elenco de serviços Implica que as unidades de atenção primária devem estabelecer
(comprehensiveness) arranjos para que o paciente receba todo tipo de serviço de atenção
à saúde que necessite. Isso inclui o elenco de serviços que a unidade
oferece e encaminhamentos para consultas especializadas (nível
secundário), serviços terciários, internação domiciliar e outros
serviços comunitários (Starfield et al., 2003:62).
68
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Dimensão Definição
Coordenação (ou Pressupõe alguma forma de continuidade, seja por parte do aten-
integração dos serviços) dimento pelo mesmo profissional, seja por meio de prontuários
médicos, ou ambos, além do reconhecimento de problemas ante-
riores e novos. Inclui ainda o encaminhamento e acompanhamento
do atendimento em outros serviços especializados. Por exemplo,
os problemas observados em consultas anteriores ou pelos quais
houve algum encaminhamento para outros profissionais especiali-
zados deveriam ser avaliados nas consultas subseqüentes (Starfield
et al., 2003:63).
Enfoque familiar Pressupõe a consideração do indivíduo em seu ambiente cotidiano,
sendo que a avaliação das necessidades de saúde deve considerar
o contexto familiar e a exposição a ameaças à saúde de qualquer
ordem, além do enfrentamento do desafio dos recursos familiares
limitados. Resulta do alcance do elenco de serviços e da coorde-
nação. (Starfield et al., 2003:487).
Orientação para Implica o reconhecimento de que todas as necessidades de saúde
a comunidade da população ocorrem num contexto social determinado, que
deve ser conhecido e tomado em consideração (Starfield et al.,
2003:489).
Formação profissional Pressupõe que a atenção básica seja uma área de “especialização”
que requer formação específica. Requer que os profissionais de
saúde sejam capacitados para desempenhar suas funções segundo
as dimensões mencionadas anteriormente.
Primeira etapa:
Foram elaboradas duas versões do instrumento (questionário), traduzidas do espanhol
para o português e adaptadas à realidade brasileira: uma para uso com os informantes-
chave das unidades de atenção básica e a outra para os informantes-chave da SMS. Cada
instrumento contém cerca de 90 perguntas (92 o de profissionais e 94 o dos gestores)
específicas sobre as dimensões essenciais da atenção básica mencionadas anteriormen-
te. Essas perguntas correspondem a indicadores utilizados nas pesquisas e experiências
internacionais de avaliação da atenção básica. Alguns indicadores foram modificados
em relação aos originais do questionário PCAT, para melhor refletir a realidade local,
no contexto brasileiro. Por exemplo, foi modificada a lista de serviços oferecidos na
atenção básica para espelhar as prioridades da política nacional e local, além do perfil
epidemiológico da população.
O entrevistado respondeu cada pergunta segundo uma escala de possibilidades
preestabelecida, à qual se atribuiu um valor entre zero e cinco. As respostas foram
somadas e o valor médio das respostas de todas as perguntas para cada dimensão foi
69
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
calculado para cada pessoa entrevistada. As respostas foram então analisadas individu-
almente e também por tipo de programa (PSF ou unidade de saúde tradicional). Como as
perguntas e as escalas são iguais para todos os entrevistados foi possível a comparação
entre diferentes tipos de unidades de saúde (PSF e UBS tradicional) e entre entrevistados
(profissionais e gestores) (ver questionários no Anexo X).
Segunda etapa:
Foi feita a tradução do inglês para o português do instrumento do Primary Care
Assessment Tool, voltado para a enquete de usuários dos serviços de atenção básica, e
a adaptação das perguntas à realidade nacional e local. Registra-se que o instrumento
original do PCAT para usuários dos serviços é constituído de dois questionários separa-
dos − um para adultos e outro para os pais das crianças atendidas (ou acompanhantes).
Para tentar simplificar o instrumento, nesta pesquisa, incluiu-se num único questionário
perguntas referentes a três grupos − acompanhantes de crianças, acompanhantes de
incapacitados e usuários adultos − o que se mostrou problemático na enquete, como
veremos mais adiante. A recomendação explícita, depois da realização do trabalho de
campo, foi utilizar dois questionários diferentes − um para os acompanhantes (de crianças
ou incapacitados) e outro para usuários adultos.
O questionário para usuários contém cerca de 100 perguntas, a maioria delas utilizadas
no questionário para profissionais e gestores de saúde, nas mesmas dimensões essenciais
da AB selecionadas, mas incluiu também algumas perguntas sobre demografia e saúde do
usuário, resultando em um total de 107 perguntas no questionário para adultos e 110 no
questionário para os acompanhantes. Os dados demográficos e socioeconômicos foram
incluídos para poder cruzar essas informações com aquelas da experiência do cliente
no momento da atenção. Alguns indicadores foram revistos ou modificados para melhor
refletir o contexto brasileiro. Como na primeira etapa, as respostas a cada pergunta
tiveram um valor entre zero e cinco. Mas foram adicionadas duas opções − “não sabe”
e “recusa responder” − para captar todas as possibilidades nas entrevistas com usuários
dos serviços (ver questionários no Anexo X).
Da mesma forma que anteriormente, as respostas foram somadas e o valor médio
de todas as perguntas para cada dimensão foi calculado para cada pessoa entrevistada.
Estas respostas foram analisadas individualmente e também segundo o tipo de atenção
recebida (PSF ou posto de saúde tradicional). O fato das perguntas e escalas serem
praticamente iguais para cada pessoa entrevistada (profissionais, supervisores, gestores
e usuários) facilitou a comparação entre diferentes tipos de organização e diferentes
fontes de dados.
70
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
B. Seleção de entrevistados
Primeira etapa:
Existem dois grupos de informantes-chave entrevistados nesta etapa: o primeiro é
constituído pelos profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) que responderam ao
questionário sobre a unidade na qual trabalhavam; e o segundo pelos gestores da SMS
e supervisores do PSF e das UBS tradicionais. O primeiro grupo foi composto a partir do
censo das unidades de AB no Município de Petrópolis, Rio de Janeiro (unidades do PSF,
postos e centros de saúde tradicionais) e o médico ou enfermeiro foi entrevistado em
cada unidade. Já os informantes-chave para o nível municipal foram selecionados entre
os gestores da SMS e supervisores do PSF e das UBS tradicionais que tivessem pelo menos
cinco anos de experiência na Secretaria Municipal de Petrópolis. Estes informantes-chave
responderam ao questionário em nível da gestão do município.
Todas as entrevistas foram realizadas por um dos pesquisadores.
Segunda etapa:
Nesta etapa trabalhamos com uma amostra por conglomerados, com o objetivo de
selecionar uma amostra que fosse representativa de todos os usuários dos serviços públicos
de atenção básica em Petrópolis. Um objetivo adicional do processo de amostragem foi
assegurar que todas as unidades de saúde estivessem integradas à amostra. Como exis-
tiam somente 40 unidades públicas de AB em Petrópolis, o nosso objetivo foi selecionar,
aleatoriamente, o mesmo número de usuários em cada unidade e a amostragem por
conglomerados facilitou esse objetivo. Em municípios de maior porte, variações dessa
metodologia (amostragem por conglomerados em duas etapas) podem ser aplicadas para,
primeiro, selecionar aleatoriamente um número determinado de unidades e, em seguida,
selecionar dentro destas unidades um número determinado (conglomerado) de usuários.
71
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Onde:
Ζ(1-α/2) = valor da distribuição normal correspondente à probabilidade de um erro tipo 1 (0.05);
Ζ(1-β) = valor da distribuição normal correspondente à probabilidade de erro tipo 2 (0.8);
δ = diferença entre o valor médio da escala total de atenção básica PSF-UBS; e
σ = desvio-padrão das médias
Para controlar a correlação intraclasse foi necessário multiplicar essa fórmula pelo
“design effect” (efeito do desenho de projeto) usando a seguinte fórmula:
1 + ρ (m-1)
Onde:
ρ = correlação intraclasse; e
m = número de observações por conglomerado.
72
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Como não sabíamos ainda o valor da correlação intraclasse, selecionamos uma va-
riedade de valores possíveis. Para calcular as estimativas, empregamos o programa de
estatística Stata 8.0 (usando os comandos sampsi e sampclus).
A Tabela 1 mostra os tamanhos necessários para uma amostra representativa. Com
base nas informações obtidas na primeira etapa da pesquisa, a amostra conservadora
incluiria 480 pessoas, o que corresponde a 12 pessoas por unidade.
Diferença estimada
entre valor médio Desvio- Coeficiente de Tamanho
Nº de Nº entrevistados
da escala total de padrão Correlação mínimo da
unidades por unidade (m)
atenção básica (σ) (ρ) amostra (n)
PSF-UBS (δ)
0,5 1 0,10 40 5 200
0,5 1 0,20 40 7 280
0,5 1 0,25 40 12 480
0,5 1 0,30 40 41 1640
(*) α = 0.05 β = 0.80
A técnica utilizada para a seleção dos entrevistados foi a seguinte: uma tabela de
números aleatórios foi empregada para gerar a “janela da amostra” em cada unidade.
Antes de iniciar as entrevistas, os entrevistadores receberam a lista de unidades e o
número aleatório da amostra para cada uma. Ao chegar a cada unidade, os entrevista-
dores identificavam o começo da fila e começavam entrevistar a enésima pessoa na fila,
segundo o número aleatório correspondente. Quando terminavam a entrevista, passavam
para a próxima enésima pessoa na fila, continuando assim até completar a amostra (seis
ou sete entrevistas por unidade, por dia) (Ver tabela de números aleatórios no Anexo II).
Para obter uma maior representatividade da população nos usuários entrevistados, cada
unidade foi visitada duas vezes, em dois dias consecutivos, totalizando 12 entrevistas
em cada serviço.
Foi realizado o treinamento de três entrevistadores para a aplicação do instrumento,
especialmente contratados para esse fim e que já tinham experiência com enquetes
populacionais na área de saúde5. O treinamento incluiu a discussão dos objetivos do
5 Para a realização da enquete populacional foi contratada uma empresa especializada na realização desse
tipo de trabalho de campo (PRODEMAN, Universidade Estadual do Rio de Janeiro-UERJ). O trabalho de
campo foi coordenado e supervisionado pelos pesquisadores, que também treinaram os entrevistadores,
juntamente com a empresa contratada.
73
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
questionário; leitura e análise crítica das perguntas; instruções sobre os filtros para se-
leção do respondente, sobre o Termo de Consentimento e questões éticas da pesquisa;
o correto preenchimento das respostas; e os critérios de seleção dos usuários a serem
entrevistados, para que fosse garantida a aleatoriedade da amostra.
Integrou o treinamento um pré-teste feito com os próprios pesquisadores, quando
também se utilizou o pequeno cartaz com a escala das opções de resposta representada
graficamente para facilitar a escolha pelos entrevistados. E o pré-teste final do instru-
mento, após os ajustes e sugestões de modificações que surgiram durante o treinamento,
foi realizado com usuários do Centro de Saúde Germano Sinval Faria, da ENSP/FIOCRUZ.
Finalmente, foi feito o ajuste final do instrumento.
Antes da realização da enquete foi elaborado, com os técnicos da Secretaria Municipal
de Saúde de Petrópolis (SMS) − especificamente, o coordenador da área de atenção básica
e os supervisores do Programa de Saúde da Família (PSF) −, um roteiro seqüencial das
unidades/postos/centros de saúde a serem visitadas cada dia (cronograma). Para esse
planejamento utilizou-se um mapa da cidade, onde foram localizadas as unidades de
saúde e as informações fornecidas pela SMS sobre o nome das unidades, telefone, ende-
reço, forma de acesso, horário de funcionamento e equipe de profissionais atuando nos
diferentes horários. Também foi registrado o roteiro de visitas dos supervisores e os seus
respectivos telefones celulares, para que fossem acionados em caso de necessidade.
Foram fornecidas cartas de apresentação aos entrevistadores pela SMS e esta informou
os serviços sobre a realização da pesquisa.
Um dos coordenadores da pesquisa acompanhou os entrevistadores na primeira semana
do trabalho de campo em Petrópolis, com o intuito de complementar o treinamento e
assegurar a superação de possíveis imprevistos.
74
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
C. Plano de análise
Documentos
Informantes-chave Informes, relatórios,
(Nível município) pesquisas
• Supervisores e Gestores Resultados
esperados
• Validação da
Informantes-chave metodologia
Dimensões da
(Nível unidade)
atenção básica
Processo de Validação • Estudo de caso
• Enfermeiros e Médicos de um município
• Recomendações
para aplicação
Enquete em nível nacional
(Nível unidade)
Dados rotineiros
• Usuários
(PACTO, SIAB, PNAD)
Um dos objetivos da pesquisa foi testar e validar uma metodologia de avaliação rá-
pida que permitisse uma visão crítica da organização e do desempenho dos serviços de
atenção básica em nível municipal. Para tal, foram construídos índices compostos que
correspondem às oito dimensões da atenção básica consideradas essenciais e selecionadas
para avaliação nesta pesquisa.
Os índices compostos foram construídos como descrito a seguir. Cada questionário tem
cerca de 100 perguntas específicas, que correspondem a um indicador relacionado com
uma determinada dimensão da atenção básica. Existiam seis opções de resposta para
cada pergunta e essas opões foram iguais para cada tipo de entrevistado (profissional de
saúde na unidade, supervisor/gestor e usuário). Cada resposta (“nunca”, “quase nunca”,
“algumas vezes”, “muitas vezes”, “quase sempre” e “sempre”) foi então convertida
em um escore ou escala, que variou entre 0 e 5. O escore “0” correspondeu à resposta
“nunca”, “1” correspondeu à resposta “quase nunca” etc. No caso da enquete com os
usuários, como existem também as opções “recusa” e “não sabe”, foram codificadas na
análise como valores em branco (i.e. como “missing”).
Os escores dos indicadores foram somados para construir um Índice Composto para
cada dimensão da AB. Por exemplo, todos os escores das perguntas sobre acesso foram
somados e a média dessa soma representou o Índice Composto de Acesso. Esse processo
foi seguido para construir oito índices compostos, isto é, um índice composto para cada
dimensão da AB. Finalmente, foi criado um Índice Composto Total da Atenção Básica que
75
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
é o resultado da soma de todos os oito índices compostos. Esse último índice represen-
ta a experiência total de atenção básica. A Figura 3, a seguir, apresenta o processo de
construção dos índices compostos.
Respostas
1 2 3 4 5 6
Índice(s) composto(s)
8 índices compostos
(relacionados a cada dimensão)
76
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Prova
Técnica O que pretende testar
estatística
Auto-avaliação Nenhuma Determina o nível de confiança que cada informan-
do informante te tem nas suas respostas a partir da pergunta se
elas foram baseadas na opinião pessoal, segundo
sua experiência, ou nos dados e informações dis-
poníveis.
Consistência entre itens Cronbach’s Permite identificar qual é o nível de correlação
alpha (α) entre as perguntas no mesmo índice composto.
Determina se as perguntas do questionário medem
algum conceito (dimensão) maior.
Análise de fatores Eigen value Verifica a existência e composição de fatores la-
tentes (indicadores) no questionário. É utilizado
para confirmar ou modificar a composição de cada
índice.
Regressão logística Odds-ratios Possibilita determinar a associação entre uma va-
multivariada riável independente, que seja de interesse, e uma
variável dependente (por exemplo, resultado da
ação dos serviços de saúde), controlando outros
determinantes da saúde.
Fontes: Streiner & Norman 1995; Devellis 1991.
77
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
a proporção da variação total de uma escala que pode ser atribuída a uma dimensão
comum difícil de ser observada ou calculada diretamente. Sendo assim, esse coeficien-
te é usado para medir a precisão que um grupo de itens possui para prever o efeito
“latente” desta dimensão, isto é, que não pode ser diretamente observado. Quanto
maior o valor, melhor a interação dos itens para medir essa dimensão. Depois de calcular
o Cronbach’s alpha para todos os itens, calculou-se a mudança no valor do Cronbach’s
alpha quando da retirada de um item de cada vez da escala. Se a retirada de um item
específico resultar no aumento do valor do Cronbach’s alpha significa que este item não
mediu necessariamente a mesma dimensão que os outros itens da escala e que deve,
portanto, ser eliminado (Devellis, 2003).
A técnica de análise de fatores é usada de maneira semelhante à de Cronbach’s Alpha,
isto é, determina se um grupo de indicadores (como, por exemplo, dez diferentes indicado-
res de acesso) pode ser agrupado e reduzido a uma dimensão só, que não foi diretamente
observada. A técnica foi usada aqui para determinar se os indicadores que, teoricamente,
deviam fazer parte da mesma dimensão são de fato redutíveis àquela dimensão.
A regressão logística multivariada, por sua vez, é usada para determinar se, contro-
lando outros determinantes da saúde, a experiência da atenção básica (medida do ponto
de vista dos usuários) está correlacionada com o estado de saúde dos que utilizam os
serviços. Se, de fato, as dimensões da atenção básica medidas nos questionários estão
correlacionadas com a saúde dos indivíduos, pode ser uma evidência científica de que
essas dimensões são importantes na organização e desempenho dos serviços de atenção
básica em saúde. Essa técnica foi usada apenas para a enquete de usuários, pois foi a
única etapa que coletou informações sobre a saúde dos indivíduos.
Outros mecanismos foram utilizados também para assegurar a validade das respostas.
Em primeiro lugar, todo informante-chave foi selecionado segundo seu cargo atual, o nú-
mero de anos que trabalha na municipalidade pesquisada e suas credenciais profissionais.
Segundo, todos os informantes-chave foram selecionados para responder sobre o mesmo
município, permitindo avaliar a concordância inter-avaliador. E terceiro, todo entrevistado
foi solicitado a avaliar a sua própria confiança nas respostas dadas. Ou seja, foi pergun-
tado que porcentagem das respostas foi extraída de dados previamente existentes e que
porcentagem é unicamente devida à opinião/experiência pessoal do informante.
Finalmente, os resultados dessa sondagem foram cotejados com dados já existentes,
estudos de caso, relatórios e outros documentos disponíveis para comparar e avaliar a
validade das respostas apresentadas pelos informantes. Esse processo de “triangulação”
(usando várias fontes de dados para confirmar a sua validade) é muito comum nas pes-
quisas qualitativas (Gomes Víctoria et al., 2000).
78
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
D. Considerações éticas
Essa pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de
Saúde Pública Sergio Arouca/FIOCRUZ (Comissão de Ética na Pesquisa da ENSP/FIOCRUZ) e
da Universidade de New York (the New York University Committee on Human Subjects).
Os primeiros questionários não tratam de informações pessoais e só contem perguntas
sobre a organização do sistema de saúde, não pedindo informações sobre a saúde do
informante-chave. Cada entrevistado teve que ler e assinar um Termo de Consentimento,
assegurando a livre participação na pesquisa, também aprovado pelos Comitês de Ética
em Pesquisa. Para garantir a confidencialidade dos informantes apenas as respostas
agregadas foram relatadas. Nenhuma resposta individual foi atribuída à sua fonte pessoal
original. Todos os questionários foram guardados em lugar seguro e confidencial.
O segundo questionário trata de informações pessoais sobre a percepção dos usuá-
rios em relação à sua experiência com a utilização dos serviços de atenção básica do
SUS em Petrópolis. O questionário contém perguntas sobre os problemas de saúde, os
tratamentos recebidos e a opinião do usuário sobre a qualidade do atendimento. Todo
entrevistado teve também que ler e assinar o Termo de Consentimento, em duas vias,
e uma cópia da carta ficou com o entrevistado. Caso o respondente fosse analfabeto o
entrevistador lia a carta para o entrevistado e assinava por ele, uma vez manifestada
explicitamente a sua concordância com os termos do consentimento, assegurando sua
livre vontade de participar da pesquisa.
Os entrevistados não obtiveram benefícios, nem correram nenhum risco de discrimi-
nação ao participar da pesquisa. Podiam se recusar a participar ou a responder qualquer
pergunta. Para assegurar a confidencialidade das informações e proteger a identidade dos
usuários, os entrevistados não foram identificados. As entrevistas foram realizadas numa
área da unidade onde o usuário tinha maior privacidade. Somente respostas agregadas
foram relatadas e nenhuma resposta individual foi atribuída à fonte pessoal original.
Todos os questionários foram guardados em lugar seguro e confidencial.
79
VI. RESULTADOS
81
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
82
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
83
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Petrópolis Estado RJ
Indicadores
2001 2002 2001 2002
Despesa total com saúde por habitante 242,15 221,71 131,25 162,95
Despesas com recursos
47,45 88,43 53,92 78,92
próprios por habitante
Fonte: Ministério da Saúde, Datasus, SIOPS. http://www.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?SIOPS/siops2003/
municipio/pagoRJ03.def (acessado em 19/08/2004).
84
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Petrópolis Estado RJ
Indicador
2001 2002 2001 2002
Taxa de mortalidade infantil3,4 19,24 19,5 18,25 20,0
Proporção de nascidos vivos
com baixo peso ao nascer3 12,00 11,11 9,03 9,18
Taxa de internação por infecção respiratória
aguda (IRA) em menores de 5 anos2 19,59 18,85 25,90 23,26
Taxa de mortalidade infantil neonatal 3,4
15,73 14,28 12,78 20,0
Taxa de mortalidade materna3,4 144,84 109,82 68,08 73,7
Proporção de nascidos vivos de mães
com 4 ou mais consultas de pré-natal 3 90,85 90,84 87,39 87,55
Taxa de mortalidade em mulheres
por câncer de colo do útero4 5,32 8,56 6,93 5,8
Taxa de mortalidade em mulheres
por câncer de mama4 25,28 20,42 18,86 18,35
Proporção de nascidos vivos de mães
com 7 ou mais consultas de pré-natal3 70,58 72,24 56,93 57,6
Taxa de internação por acidente
vascular cerebral2 32,82 32,59 32,03 30,04
Taxa de mortalidade por doenças
cerebro-vasculares2 264,38 247,70 173,33 174,54
Taxa de internação por insuficiência
cardíaco-congestiva2 67,16 71,80 64,48 67,00
Proporção de internações por
cetoacidose e coma diabético2 3,72 9,20 18,10 18,20
Proporção de internação por
diabetes mellitus2 1,97 1,99 1,89 1,83
Taxa de mortalidade por tuberculose4 3,79 6,14 7,07 6,53
Proporção da população coberta pelo
Programa de Saúde da Família1 12,83 18,48 8,36 12,86
Média anual de consultas médicas nas
especialidades básicas por habitante1 1,51 1,39 1,95 1,87
Média mensal de visitas
domiciliares por família1 0,19 0,21 0,10 0,13
Fontes: Ministério da Saúde/Datasus: (1) Sistema de Informações de Atenção Básica (SIAB); (2) Sistema de
Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS); (3) Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC);
(4) Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).
85
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
86
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
A partir de 1998, o município, ainda com a mesma rede de AB, começou a implantação
das equipes do Programa Saúde da Família, do Ministério da Saúde, de forma tímida e
experimental, implantando duas equipes, com profissionais contratados especificamente
para o Programa, mas que não eram vinculados à SMS. Em 1999 e 2000, outras ESF foram
implantadas no município, chegando a 11 equipes, sendo que duas eram de responsabi-
lidade da Faculdade de Medicina de Petrópolis.
A partir de 2001, a discussão sobre a mudança do modelo assistencial tornou-se mais
intensa no município e o governo local fez então um grande investimento no PSF, elevando
para 30 o número de equipes implantadas até 2004, sendo que cinco delas funcionam sob
a responsabilidade da Faculdade de Medicina de Petrópolis, totalizando uma cobertura
de mais de 30% da população. A habilitação do município na gestão plena do sistema foi
reiterada com a NOAS 2001.
Em 2004 a rede de atenção básica era constituída por mais de 40 unidade de saúde,
das quais cerca de 30 eram PSF, algumas com até três equipes básicas trabalhando, e as
restantes eram as unidades básicas tradicionais (UBS). O antigo Centro de Saúde Coletiva
chama-se agora Instituto de Atenção à Saúde da Mulher e da Criança, acumulando ser-
viços de atenção básica e especializada. O município é também signatário do Programa
de Expansão da Saúde da Família (PROESF), estando comprometido com a ampliação da
cobertura do PSF para 70% da população até 2008.
Vale ressaltar que nem o município nem a Secretaria Estadual de Saúde possuem essas
informações em registros oficiais (por exemplo, não se encontra registrada a data de
criação de cada uma das unidades de saúde, nem mesmo dos primeiros postos de saúde
mencionados acima), sendo que a lógica histórica e cronológica de constituição da rede
de serviços de atenção básica em Petrópolis, reconstituída acima, foi obtida a partir
de entrevistas informais realizadas com profissionais de saúde da SMS que vivenciaram
essa história a partir da década de 70, seja como estudantes ou residentes de Medicina
Comunitária, seja como gerentes ou como gestores do sistema, ao longo de todo esse
período, até o presente momento. Somente com a implantação das equipes do PSF é
que esse tipo de registro oficial vem sendo realizado.
87
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
1. Acesso
O índice composto de acesso é 2,2 para as unidades do PSF e 2,3 para as unidades
básicas tradicionais (UBS). A diferença do índice entre as primeiras e as segundas não
é estatisticamente significativa. Mas entre os vários indicadores específicos existem
diferenças (Tabela 6 e Gráfico 1).
Entre os principais achados destaca-se:
• É mais provável conseguir uma consulta médica (não urgente) no prazo de 24 horas
nas unidades do PSF do que nas UBS.
• As UBS tradicionais têm mais probabilidade de estar abertas durante o fim de
semana do que as unidades do PSF.
• É mais provável ter de esperar mais de 30 minutos para uma consulta médica não
marcada nas unidades do PSF do que nas UBS.
88
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
UBS Todos
PSF (n = 23) X2
Indicador (n = 10) (n = 33)
(gl)***
Média Média Média
89
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4,5
3,5
2,5
1,5
0,5
0
s
to
a)
s
a
o
ar 18 h
to
ra
ta
to
to
an
st
ad
en
ul
ho
en
inu
en
po
em
ch
ns
am
m
m
m
24
fe
da
co
ica
pa
ag
co
e
30
o
<
p/ ois
-p
ui
ed
nd
ce
fim
Eq
>
rc
i ca
Co
p
M
ua
di
de
a
éd
Ín
ta
ra
(q
ta
er
m
pe
ne
Te ber
Ab
Es
ta
ne
fo
ul
le
fo
ns
Te
le
Co
90
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
UBS Todos
PSF (n = 23) X2
Indicador (n = 10) (n = 33)
(gl)*
Média Média Média
O resultado sugere que essa dimensão poderia ser mais bem trabalhada pelo mu-
nicípio, uma vez que um dos princípios do PSF é funcionar como porta de entrada ao
sistema saúde.
3. Vínculo
As unidades do PSF estabelecem vínculo mais forte com seus usuários do que as UBS
tradicionais. O índice composto é 4.4 (de um total possível de 5) para o PSF e 3.9 para as
UBS. Esta diferença é estatisticamente significativa (p < 0.05) (Tabela 8 e Gráfico 2).
Além da diferença no índice composto também existe uma variação entre os indica-
dores específicos de vínculo:
• a população adscrita é mais freqüente nas unidades do PSF do que nas UBS tradi-
cionais (p < 0.05);
• os usuários têm mais facilidade para telefonar ou falar com o mesmo profissional
de saúde que o atendeu, quando têm algum problema ou pergunta sobre seu
tratamento, nas unidades do PSF do que nas UBS tradicionais (p < 0.05);
• o usuário é examinado pelo mesmo profissional, cada vez que vai à consulta, mais
freqüentemente nas UBS tradicionais do que no PSF, mas esta diferença não é
estatisticamente significativa;
• todas as unidades do PSF e as UBS tradicionais reportam que os profissionais de
saúde sempre usam os prontuários médicos em cada consulta do usuário.
91
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
UBS Todos
PSF (n = 23) X2
Indicador (n = 10) (n = 33)
(gl)***
Média Média Média
92
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
l
is
co
s
lta
da
sto
na
to
to
na
ini
su
di
io
en
en
po
io
s m mé
on
f
iss
de
m
iss
m
of
ic a
ica
co
f
o
o
ro
na
pr
i
çã
ed
ed
ce
uá
/p
e
la
o
di
t
t
m
pu
ien
on
Ín
es
as
so
Po
io
pr
fic
vid
m
es
ár
su
do
ac
elo
su
dú
po
ão
o
p
çã
ão
ce
aç
os
iza
aç
Te
re
rm
ad
cla
rm
til
in
fo
U
am
Es
fo
In
In
Ex
93
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
4. Elenco de serviços
O índice composto de elenco de serviços para o PSF é quase igual ao índice para as
UBS tradicionais (3.98 versus 3.70), e essa pequena diferença não é estatisticamente
significativa. Entretanto, existem diferenças importantes entre alguns indicadores es-
pecíficos (Tabela 9 e Gráfico 3a e 3b).
• As unidades do PSF oferecem mais freqüentemente controles pré-natais do que
as UBS tradicionais (p < 0.05).
• Os postos do PSF oferecem mais controles para tuberculose do que as UBS (p <
0.05). Importante notar que o programa de controle de tuberculose é centralizado
e tanto as unidades do PSF quanto as UBS tradicionais acompanham os pacientes,
mas a distribuição dos medicamentos e a definição do tratamento são normatizadas
pelo programa municipal.
• As unidades do PSF mais freqüentemente oferecem aconselhamento sobre o uso
de álcool e tabaco do que as UBS (p < 0.1), assim como educação em saúde em
geral (p < 0.1).
• As unidades do PSF oferecem mais informações sobre a violência doméstica (p <
0.05).
94
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
95
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Vacinações crianças
Atendimento crianças
Atendimentos adultos
Atendimento idosos
Controle pré-natal
Planejamento familiar
Atendimento DST
Tuberculose
Doenças endêmicas
Doenças epidêmicas
Doenças crônicas
Diabetes
Hipertensão
Pequenas feridas
Pequenas cirurgias
Nutrição
Educação em saúde
Violência doméstica
Acidentes domésticos
Educação odontológica
Assistência odontológica
Protocolos de atendimento
Índice composto
96
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
tenha testado esta hipótese ela representa uma área importante a ser explorada, pois
este poderia ser um indicador fundamental de diferença de qualidade no acompanha-
mento da gestação oferecido pelo PSF.
Quanto ao controle da tuberculose, embora seja centralizado, é interessante observar
que o PSF reportou uma maior oferta de controle da doença, ainda que a realização
dos exames e a distribuição dos medicamentos sejam feitas pelo programa e não nas
unidades. Ao mesmo tempo, como o controle de tuberculose é uma prioridade para o
PSF (refletida na presença do indicador no Pacto da Atenção Básica), parece lógico que
as ESF do PSF estejam mais conscientizadas sobre a doença do que as equipes das UBS.
Nas discussões com os profissionais dessas equipes eles admitem que o tratamento para
a tuberculose acontece em “outro lugar”, mas referem que são eles que fazem o acom-
panhamento do paciente e que cuidam dos outros aspectos da sua saúde relacionados à
doença, assim como da saúde da família.
O PSF aparentemente dá mais ênfase à promoção da saúde do que as UBS − educação
para a saúde, conselhos sobre o uso de tabaco e álcool, sobre violência doméstica,
entre outros. Esta oferta provavelmente reflete a orientação comunitária do PSF e
a capacitação dos membros da equipe sobre esses temas. Não obstante, o valor ab-
soluto da oferta de educação para a saúde é baixo: os profissionais das unidades do
PSF informaram que oferecem educação em saúde apenas em cerca de 40 a 60% das
consultas. Portanto, esta é uma dimensão que mereceria ser mais bem explorada em
futuras pesquisas.
Por outro lado, no atendimento odontológico as unidades do PSF apresentaram pior
resultado que as UBS tradicionais. Apesar de existir a decisão política de implantar
serviços de odontologia nas unidades do PSF, esta meta ainda não foi realizada. Mesmo
sem odontólogos trabalhando nas equipes do PSF seria possível melhorar a educação
preventiva odontológica, talvez por meio dos ACS ou atividades realizadas nas escolas.
Finalmente, as equipes do PSF têm mais protocolos clínicos específicos de atendi-
mento para os serviços oferecidos. Esse fato reflete a ação do Ministério de Saúde, que
com os Pólos de Capacitação, formulou e distribuiu protocolos de atendimento para as
doenças prioritárias do programa. Os protocolos fazem parte do treinamento das equipes
do PSF. Para melhorar a situação nas UBS tradicionais talvez valesse a pena estimular ou
implantar a utilização dos mesmos protocolos do PSF.
5. Coordenação
Na dimensão coordenação, segundo os profissionais, não existe grande diferença
entre as unidades do PSF e as tradicionais (Tabela 10 e Gráfico 4). O valor médio para
97
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
98
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
99
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Recebe contra-referência
Informações escritas p/
referência
Mecanismos p/ marcar
consultas
Referência e contra-referência
Registro (individual) de
crianças
0 1 2 3 4 5
PSF (n=23) UBS (n=10)
O PSF mostrou melhor coordenação que as UBS tradicionais em três áreas. Duas delas
(utilização de normas para referências e fornecimento de informações escritas para serem
entregues ao serviço especializado) têm a ver com as ações do médico ou enfermeiro
que faz a referência e podem refletir a capacitação permanente da equipe do PSF. A
100
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
6. Enfoque familiar
Observa-se uma diferença importante entre as unidades PSF e as UBS tradicionais no que
se refere ao enfoque familiar, sendo que é mais freqüente nas unidades do PSF (4.5) do que
nas tradicionais (3.13), e essa diferença é estatisticamente significativa (p < 0.05). Existem
várias outras diferenças entre os indicadores específicos (Tabela 11 e Gráfico 5):
• nas unidades do PSF os profissionais afirmam que quase todos os prontuários mé-
dicos são organizados por família, mas nenhum é organizado dessa maneira nas
UBS tradicionais (p < 0.05);
• os profissionais do PSF reportam que mais freqüentemente perguntam ao usuário
sobre fatores de risco na família (p < 0.1); e
• quase todas as unidades, sejam PSF ou não, incluem perguntas sobre fatores de
risco socioeconômico durante a consulta.
101
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
Prontuários Informações Família Fatores de Índice
organizados sobre saúde incluída na risco sociais composto
por família da família consulta discutidas
Esse resultado confirma a implementação de uma das principais diretrizes do PSF, o foco
de ação está voltado para a família (Canesqui & de Oliveira, 2002). É importante mencionar,
porém, que mesmo as UBS tradicionais poderiam melhorar sua atuação nesta dimensão e
incluir a família na consulta, além de perguntar sobre os fatores de risco e as condições
de vida do usuário, assim como organizar os prontuários segundo a lógica familiar.
102
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
Enquetes Enquetes Representação Serviços Visitas Trabalhos Autonomia Índice
sobre de saúde comunitária de saúde domiciliares intersetoriais para composto
serviços da população nas escolas reorganizar
103
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
8. Formação profissional
Existe diferença entre as unidades do PSF e as UBS tradicionais no que se refere à
formação e orientação dos profissionais de saúde para a atenção básica. As unidades do
PSF são mais freqüentemente associadas com melhor formação nesta área (p < 0.05)
(Tabela 13 e Gráfico 7). Ressalta-se que:
• Os médicos no PSF são mais freqüentemente treinados na atenção básica do que
os médicos que trabalham nos postos tradicionais (p < 0.05).
• As equipes do PSF foram mais provavelmente treinadas para compreender e atuar
segundo a diversidade cultural da comunidade do que as equipes nos postos de
saúde tradicionais (p < 0.05).
104
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
s ic s
ico
éd em
sto
bá os
id r e
bá o
o ad
o ad
un b
a
e
éd
a
s
po
m titu
s ic
m so
ad
ico
ç ã e in
ç ã in
m
m
os ubs
en re
co ada
e n tr
co
1
at s t
at ais
=
d e it
ce
na ico
e ac
os
>
na n
di
s io
ad cap
eir
éd
m
Ín
fis
m
te
rs p e
er
ro
e
ve ui
ad
sp
En
di eq
id
nid
ro
A
ut
U
105
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
6 O sistema de entrada e crítica de dados desta etapa da pesquisa foi elaborado por Fernando Cesar de
Castro Bezerra, da PRODEMAN/UERJ, empresa que realizou o trabalho de campo da enquete, juntamente
com a coordenação da pesquisa. Mas a análise dos dados foi elaborada pela equipe de pesquisadores.
106
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Segundo a percepção dos entrevistados, seu estado de saúde é pior do que o da po-
pulação em geral: apenas 57% referem que o seu estado de saúde é bom ou muito bom;
60% têm pelo menos uma doença crônica (diabetes, hipertensão, câncer, artrite, asma,
doença do coração ou depressão), sendo que, entre eles, 43% têm hipertensão e quase
20% relatam que tem depressão; e 31% têm alguma co-morbidade (mais de uma doença
crônica) (Tabela 15).
O fato de essa população ser principalmente “doente” era esperado, pois as pessoas
entrevistadas foram selecionadas e incluídas na amostra entre os usuários de unidades
de saúde que estavam no próprio serviço em busca de atendimento, além de ser uma
população que não usa regularmente esses serviços para ações de prevenção. Na Pesquisa
Mundial de Saúde 2003 (Swarzcwald et al., 2004), 53,3% dos entrevistados avaliaram
seu estado de saúde como “bom” ou “muito bom” e aproximadamente 30% tinham
uma doença de longa duração ou incapacidade − 6% tem diabetes, 12% tem asma e 19%
tem depressão. Em Petrópolis esse índice foi de 57%, portanto, um perfil semelhante.
No Suplemento Saúde da PNAD 2003 essa porcentagem foi cerca de 78% (81% para os
homens e 76,3% para as mulheres), e cerca de 30% refere ser portadora de pelo menos
uma doença crônica (IBGE, 2005).
107
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Não houve nenhuma diferença estatística entre os usuários das unidades do PSF e os
das unidades básicas tradicionais em termos de idade, nível econômico ou de escolari-
dade, estado de saúde ou prevalência de condições crônicas.
1. Acesso
Para ambos tipos de unidades − PSF e UBS tradicional − o índice composto de acesso
foi menor do que 50%, indicando que existe muita possibilidade de melhora. A diferença
do índice de acesso não foi estatisticamente significativa entre os dois tipos de unida-
des, apesar de algumas diferenças importantes em alguns indicadores. Os principais
problemas para os usuários são: as horas de funcionamento e o tempo de espera (Tabela
16 e Gráfico 8).
As principais diferenças encontradas entre os dois tipos de unidades são:
• Os usuários informam mais freqüentemente que é fácil obter uma consulta médica
no prazo de 24 horas nas unidades do PSF e que a UBS normalmente tem medica-
mentos adequados.
• Os usuários das UBS informam ter melhor acesso durante os fins de semana e no
fim da tarde. Isso acontece provavelmente porque entre as unidades tradicionais
incluem-se alguns centros de saúde que ficam abertos durante os finais de semana
e funcionam até mais tarde.
108
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
PSF
UBS (n = 186) Teste-F
Indicador (n = 283)
Média Ep Média Ep p
É fácil conseguir uma consulta * 4,23 1,30 3,75 1,64 0,048
Consegue uma consulta em
menos de 24 horas* 3,03 1,97 2,12 2,08 0,005
Unidade aberta fim de semana* 0,07 0,45 0,48 1,42 0,009
Unidade aberta uma noite por
semana depois das 18 horas* 0,04 0,38 0,43 1,29 0,005
Telefone para marcar consultas* 3,89 1,97 3,02 2,28 0,053
Telefone quando unidade
está fechada 0,28 1,10 0,51 1,46 0,569
Normalmente espera-se
menos de 30 minutos 1,41 1,62 1,09 1,57 0,094
Tem que deixar de trabalhar
para consultar 3,23 1,49 2,78 1,74 0,087
Medicamentos adequados* 3,53 1,78 2,46 2,16 0,000
Equipamentos adequados 4,08 1,63 4,00 1,71 0,160
Co-pagamento para
consultar nessa unidade 4,00 0,00 3,98 0,29 0,215
Índice composto: Acesso 2,56 0,13 2,32 0,10 0,032
(*) Diferença estatisticamente significativa (teste ajustado pela amostra por conglomerados)
109
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Co-pagamento**
Equipamentos adequados
Medicamentos adequados*
Índice composto
2. Porta de entrada
A diferença do índice composto de porta de entrada entre os dois tipos de unidade
foi estatisticamente significativa, isto é, na percepção dos usuários, as unidades do
PSF funcionam melhor do que as UBS como porta de entrada ao sistema de saúde. Mas,
mesmo assim, uma porcentagem importante de usuários de ambas unidades informam
que não foi necessária uma consulta nas unidades de atenção básica antes de buscar
um atendimento especializado. Por outro lado, os usuários do PSF mais provavelmente
utilizam a mesma unidade para serviços curativos e controles preventivos do que os
usuários das unidades tradicionais (Tabela 17 e Gráfico 9).
110
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
3. Vínculo
Os valores de todos os indicadores de vínculo para usuários de ambos tipos de unidades
são altos, indicando um bom desempenho nesta dimensão. Mas, em geral, os valores
são mais altos para as unidades do PSF. Apesar de existirem diferenças entre alguns
indicadores, a diferença do índice composto entre PSF e UBS não é estatisticamente
significativa (Tabela 18 e Gráfico 10).
111
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Ressalta-se que os usuários do PSF informam que é mais provável serem examinados
pelo mesmo profissional cada vez que consultam na unidade; e também afirmam que
os profissionais destas unidades, diferente dos das UBS tradicionais, destinam tempo
suficiente para a consulta, compreendem bem as preocupações dos clientes, respondem
claramente às perguntas e tratam o usuário como um “ser humano completo” e não
apenas a sua doença (tabela 18 e Gráfico 10).
112
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Prof. responde
claramente*
Prof. compreende
preocupações*
Tempo suficiente na
consulta*
Sempre mesmo
profissional*
0 1 2 3 4 5
PSF (n=283) UBS (n=186)
(*) Diferença estatisticamente significativa p < 0.05 (teste ajustado pela amostra por conglomerados)
(**) Não incluído no cálculo do índice composto
4. Elenco de serviços
O índice composto para a elenco de serviços foi maior para as unidades do PSF e a
diferença entre ambas unidades − PSF e UBS − é estatisticamente significativa. Em todos
os indicadores (menos para atendimento odontológico) as informações dos usuários do
PSF resultaram em valores maiores do que as dos usuários das UBS tradicionais. E, em
muitos deles (atendimento para adultos, controle pré-natal, planejamento familiar,
doenças epidêmicas, diabetes, hipertensão, tratamento de pequenas feridas, conselhos
sobre álcool, nutrição, atividade física, prevenção etc.) a diferença foi estatisticamente
significativa (Tabela 19 e Gráfico 11).
113
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
114
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Controle pré-natal*
Planejamento familiar*
Atendimento DST
Tuberculose
Doenças epidêmicas*
Doenças crônicas
Diabetes*
Hipertensão*
Pequenas feridas*
Saúde mental
Nutrição*
Atividade física*
Violência doméstica*
Acidentes Domésticos*
Educação odontológica
Atendimento odontológico
Índice composto:
elenco de serviços
(*) Diferença estatisticamente significativa p < 0.05 (teste ajustado pela amostra por conglomerados)
115
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Uma explicação possível para essa diferença é que os usuários do PSF mais freqüen-
temente usam os serviços da unidade seja para controles de saúde preventivos, seja
para necessidades agudas de saúde. Assim, eles talvez tenham maior conhecimento do
elenco de serviços disponíveis nessas unidades. Além disso, o PSF tem como prioridade
programas especiais para controle de doenças crônicas e condições específicas (tais
como diabetes, hipertensão, atendimento pré-natal etc.).
5. Coordenação
O índice composto para coordenação, nos dois tipos de unidades de atenção básica,
foi praticamente igual, assim como são quase iguais as percepções dos usuários sobre
as ações de coordenação nas unidades do PSF e nas UBS. Por outro lado, os usuários
do PSF informam mais freqüentemente que poderiam ver seus prontuários médicos, se
quisessem; e que os profissionais dessas unidades pedem para trazer seus documentos de
controle de saúde a cada consulta, mais freqüentemente do que os das UBS tradicionais
(Tabela 20 e Gráfico 12).
116
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
117
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
(*) Diferença estatisticamente significativa p < 0.05 (teste ajustado pela amostra por conglomerados)
6. Enfoque familiar
Apesar das unidades do PSF terem um maior valor no índice composto de enfoque
familiar do que as UBS tradicionais, ambas têm valores baixos nesse indicador e a dife-
rença no índice composto de ambos tipos de unidades é estatisticamente significativa.
Os resultados sugerem, entretanto, que os profissionais do PSF estabelecem uma
melhor relação com os usuários; e estes informam que os médicos quase sempre conhe-
118
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
cem as suas famílias e falariam com os familiares sobre as suas condições de saúde, se
fosse necessário. Além disso, os profissionais do PSF mais freqüentemente perguntam as
opiniões dos usuários e discutem fatores de risco social com eles. Em síntese, do ponto
de vista dos usuários, os profissionais do PSF são mais orientados para a família do que
os das UBS tradicionais (Tabela 21 e Gráfico 13).
Profissional pergunta as
opiniões do cliente*
119
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Colaboração intersetorial*
Visitas domiciliares*
120
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
8. Formação profissional
Os índices compostos dos dois tipos de unidades foram muito parecidos. De uma
maneira geral, os usuários de ambos tipos de serviços consideram os profissionais de
saúde bastante disponíveis e bem preparados. No caso das unidades do PSF, os usuários
consideram, mais freqüentemente, que os profissionais relacionam-se melhor com a
comunidade, se comparados com os das UBS tradicionais (Tabela 23 e Gráfico 15).
121
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
122
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41
Código do posto/centro/unidade
123
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
23
25
21
40
27
30
41
2
15
9
33
32
37
35
16
22
24
38
31
13
26
18
10
17
-0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8
124
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
O Gráfico 18, a seguir, mostra a diferença entre o índice composto total de atenção
básica de cada unidade e o valor médio de todas as UBS tradicionais. Aproximadamente
50% estavam acima do valor médio e 50% abaixo.
5
7
14
19
1
6
20
4
34
28
39
3
11
36
13
Segundo a enquete realizada com os usuários, as UBS com melhor desempenho são:
• UBS − código 13: onde os todos os índices compostos, menos coordenação, foram
superiores ao valor médio.
• UBS − código 36: onde vínculo, elenco de serviços e profissionais foram muito
altos.
• UBS − código 11: apresentou índices compostos altos nas dimensões vínculo, elenco
de serviços e profissionais de saúde.
• UBS − código 3: com índices compostos bons para porta de entrada e coordena-
ção.
E as unidades que tiveram índices compostos “inferiores” às outras, isto é, que ob-
tiveram valores abaixo da média são:
• UBS − código 1: onde os índices compostos foram muito baixos para orientação
para a comunidade, enfoque familiar e acesso. Talvez uma possível explicação
seja que essa unidade é um centro de saúde que atende demanda possivelmente
maior, por sua área de abrangência.
125
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
126
VII. VALIDAÇÃO DOS INSTRUMENTOS E DA
METODOLOGIA
127
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Acesso
5
Total 4 Vínculo
3
Família Coordenação
No caso das UBS tradicionais, em 77,7% dos casos a enquete com os usuários dos
serviços apresentou resultado estatisticamente igual aos das entrevistas com os infor-
mantes-chave profissionais que trabalham em cada unidade. A comparação dos resul-
tados dos outros tipos de informantes-chave (profissionais das unidades, supervisores e
gestores) concordaram em 66,7% dos casos. Mas, também neste caso, não encontramos
uma concordância muito boa entre as opiniões dos usuários e a dos gestores (Tabela 27
e Gráfico 20).
128
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Acesso
5
Total 4 Vínculo
3
Família Coordenação
129
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
130
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Nesta pesquisa, tanto os usuários quanto os profissionais de saúde nas unidades in-
formaram que sondagens (mesmo enquetes informais) não são realizadas regularmente
para avaliar a experiência dos usuários e o nível de satisfação com os serviços ofere-
cidos. A relativa concordância entre os valores atribuídos pelos profissionais de saúde
e os usuários sugere ainda que, apesar da validade e da importância dessas sondagens
populacionais, avaliações com os profissionais de saúde nas unidades podem ser usadas
para auxiliar na melhora da qualidade dos serviços, uma vez que elas são mais rápidas
de serem conduzidas, utilizam menos recursos financeiros e humanos e são mais fáceis
de serem analisadas do que as enquetes com os usuários.
131
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
de realizar qualquer atividade por motivo de saúde; e “1” (hum) em caso contrário.
Essas variáveis são importantes para determinar se um indivíduo considera estar com
boa saúde ou não. Por essa razão, foram incluídas na análise.
Para controlar os efeitos da renda dos usuários, construímos uma escala com ele-
mentos das características do domicílo e bens de consumo como indicativos de nível
de renda domiciliar, que varia entre “0” (zero) e “8” (oito), constituída pelas respostas
dos entrevistados em relação a terem em casa os seguintes itens: luz, água encanada,
banheiro, geladeira, rádio, telefone, televisão e carro. Testamos várias combinações
do indicador, por exemplo, designando como “muito pobres” os que não tinham todas
as “necessidades básicas” de moradia satisfeitas, tais como, luz, água encanada e ba-
nheiro dentro da casa. Esta e outras combinações entre os elementos da escala deram
os mesmos resultados que a escala original. Por isso optamos por utilizar usar a escala
simples (de 1 a 8).
Construímos ainda um indicador de escolaridade, chamado “ensino médio”, que tem
valor “0” (zero) se o usuário não completou o segundo grau; e “1” (um) se completou.
Para testar se o atendimento pelo PSF, por si só, apresenta associação com o estado
de saúde dos usuários, construímos um indicador para identificar se o indivíduo rece-
beu atenção básica numa unidade do PSF ou numa unidade básica tradicional (PSF = 1;
outras UBS = 0).
Testamos várias combinações de variáveis comparando modelos usando o “Likliehood
ratio test” (Long & Freese, 2001). Todas as análises foram realizadas usando o programa
STATA 8.2 e o desvio-padrão para cada análise foi ajustado para a amostra por conglo-
merados (Statacorp, 2003).
A Tabela 28 apresenta o melhor modelo estatístico para explicar as variações na variá-
vel dependente (a saúde do usuário). Transformamos os resultados da regressão logística
em “Odds ratios” para facilitar a sua interpretação. Os principais resultados são:
1. Controlando com os determinantes de saúde incluídos no modelo estatístico, a
melhora de um ponto no índice composto total da AB aumenta em 48,5% a pro-
babilidade de o usuário referir que seu estado de saúde é bom. Entretanto, as
seguintes observações são importantes:
• Cada ano de idade a mais do usuário reduziu a probabilidade de ele referir
que seu estado de saúde é bom ou muito bom.
• A presença de uma doença crônica também reduziu a probabilidade de con-
siderar seu estado de saúde bom ou muito bom.
132
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
133
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Para ilustrar os resultados das regressões na Tabela 28, o Gráfico 21 apresenta a rela-
ção entre o índice composto total da atenção básica e a probabilidade de um indivíduo
avaliar seu estado de saúde como bom ou muito bom. O gráfico mostra que, em cada
faixa etária, a probabilidade de um indivíduo reconhecer estar com boa saúde aumenta
em cada aumento no índice composto.
Idade 20 Idade 30
Idade 40 Idade 50
1
Pr(Saúde = Bom ou Muito bom)
.75
.5
.25
0
0 1 2 3 4 5
Escala
(*) Controlado por idade, renda domiciliar, escolaridade, doença crônica, doença recente e utilização do PSF
134
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
135
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
formações fornecidos que não foram baseados nessas fontes de informação. O nível de
confiança médio dos profissionais no PSF foi de 2,36 e para os das UBS tradicionais foi de
4,6. Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que, em geral, os profissionais do PSF
têm menos anos de experiência trabalhando nesse tipo de unidade do que os profissionais
das UBS tradicionais, pelo pouco tempo de implantação do PSF no município.
136
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
uma escala alternativa ou mais clara, pois a diferença entre “quase nunca” e “algumas
vezes”, ou ainda entre “muitas vezes” e “quase sempre” pode ser muito sutil e de difícil
discernimento pelo entrevistado. Aconselha-se ainda acrescentar uma nova opção de
“Não se aplica”, para os casos em que de fato a resposta não se encaixe em nenhuma
das opções da escala.
Outra solução seria fazer as perguntas em dois estágios: o primeiro estabeleceria
categorias amplas para posicionar o entrevistado de acordo com sua percepção; e o se-
gundo estágio verificaria a intensidade dessa percepção, o que permitiria uma resposta
mais específica. Por exemplo, no primeiro estágio o entrevistador faria a pergunta e
pediria que o entrevistado escolhesse uma das respostas seguintes: “Nunca”, “Às Ve-
zes”, ou “Sempre”. Depois, o entrevistador passaria ao segundo estágio, esclarecendo
a intensidade da resposta. Se a resposta fosse “nunca”, por exemplo, o entrevistador
perguntaria se o entrevistado quis dizer “nunca” ou “quase nunca”. O mesmo processo
ocorreria para as outras possíveis respostas, como mostrado no Gráfico 22 a seguir.
Entretanto, essa forma de aplicar o questionário não foi testada neste estudo.
Escore final
1 2 3 4 5 6
No que toca às opções “não sabe” e “recusa” (consideradas missing, como mencionado
anteriormente), menos de 5% das perguntas tinham essa resposta.
Em relação às perguntas em si, os entrevistadores mencionaram dificuldades dos en-
trevistados na compreensão de algumas questões, sendo que essa dificuldade foi maior
naqueles usuários de baixa escolaridade e idosos. Foi sugerido que essas perguntas fossem
reestruturadas ou simplificadas, para facilitar o entendimento pelo entrevistado7.
7. No questionário para usuários adultos as perguntas que apresentaram dificuldade de compreensão, na sua
formulação original foram a 79, 96, 97 e 101. Todas foram revistas e modificadas.
137
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
138
VIII. DISCUSSÃO
139
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
8 Participaram dessa reunião, além do então secretário Municipal de Saúde, vários outros profissionais que
atuam na área da atenção básica, como supervisores, ou que acupam cargos de direção, num total de 11
pessoas.
140
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
141
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
142
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
143
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
mais freqüentemente informaram que seu estado de saúde era bom ou muito bom.
Isso pode significar que a boa experiência do usuário com as unidades de atenção
básica foi um fator importante para que ele respondesse que seu estado de saúde
era bom ou muito bom; ou então, o fato de o usuário considerar que tem “boa
saúde” pode significar também que a sua demanda de atenção básica é pequena
e, sendo assim, sua experiência com a atenção recebida pode ser considerada
boa. Nenhuma pesquisa transversal pode determinar a relação causa-efeito.
144
IX. CONCLUSÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
O objetivo geral desta pesquisa foi testar a validade de uma metodologia para a ava-
liação rápida e contínua da organização e desempenho dos serviços de atenção básica
em nível local, disponibilizando um instrumento de monitoramento para tal fim. Essa
metodologia foi testada e validada no município de Petrópolis, mas pode ser utilizada
em qualquer localidade no território nacional.
As principais conclusões da pesquisa podem ser resumidas como se segue:
• A aplicação do questionário permitiu identificar a especificidade dos diferentes
tipos de unidades da rede de atenção básica do município, assim como alguns dos
principais problemas de organização e desempenho.
• Os gestores e supervisores concordaram com as respostas obtidas dos profissio-
nais das unidades em 45% dos casos no PSF e 67% dos casos nas UBS tradicionais e
ambulatórios. Esse resultado não seria o esperado, uma vez que o PSF possui um
sistema de informação específico.
• Existem diferenças entre a percepção dos usuários sobre a atenção que recebem e
a opinião dos gestores sobre o desempenho das unidades. Isto sugere a necessidade
de uma maior aproximação entre gestores e população.
• As entrevistas com os usuários identificaram alguns pontos fortes do sistema AB
em Petrópolis, tais como o estabelecimento de razoável vínculo entre profissionais
e usuários; e um bom desempenho dos profissionais de saúde.
• Segundo os profissionais, supervisores e gestores, as unidades do PSF tiveram
valores mais altos que as UBS tradicionais nas seguintes áreas: alguns indicadores
de acesso, elenco de serviços, coordenação, formação profissional e gestão; e
índices compostos de porta de entrada, enfoque familiar e orientação para a co-
munidade. Já em relação ao vínculo, é muito alto seja nas unidades do PSF seja
nas UBS tradicionais.
• Segundo os usuários, as unidades PSF tiveram valores mais altos que as UBS tra-
dicionais nas seguintes áreas: alguns indicadores de acesso, vínculo, elenco de
serviços e formação dos profissionais; e índices compostos de porta de entrada,
enfoque familiar e orientação para a comunidade.
• Apesar das diferenças nos valores médios, os resultados mostraram uma variação
considerável no desempenho das unidades. Em geral, as unidades do PSF tiveram
valores maiores do que as UBS; entretanto algumas UBS tiveram desempenho
igual ou superior a algumas unidades PSF. Essa variação entre as unidades (PSF ou
145
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
UBS tradicional) indica que algumas estão melhores que outras, o que sugere a
possibilidade de melhora, a partir de intervenções específicas.
• O índice composto total da AB está correlacionado com a auto-avaliação de saú-
de segundo a percepção dos usuários, controlando por outros determinantes da
saúde. Isto pode sugerir que uma boa experiência na AB, seja no PSF ou na UBS,
talvez seja importante para melhores níveis de saúde da população. Entretanto,
essa hipótese deve ser comprovada com estudos longitudinais.
Em relação à metodologia e aos instrumentos elaborados e testados, concluiu-se que:
• O questionário com informantes-chave pode ser utilizado de forma rotineira para
monitoramento e avaliação rápida das mudanças organizacionais e de desempenho
da AB, pela própria SMS, e pode ser aplicado (ou autopreenchido pelos profissio-
nais, gestores e supervisores) em cerca de uma semana.
• A utilização de um único questionário para a enquete de usuários (pacientes e
acompanhantes) trouxe alguns problemas, portanto, foi elaborado um questionário
específico para acompanhantes, a partir do já existente e utilizado na pesquisa,
a ser aplicado em separado.
• O processo de validação (comparação de fontes, análises estatísticas tais como
análise de fatores, Cronbach’s alpha e triangulação com dados secundários) su-
gere que a metodologia de avaliação da AB utilizada nesta pesquisa é válida para
monitorar a organização e o desempenho desses serviços em nível municipal.
146
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
REFERÊNCIAS
147
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
148
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
30. LODOÑO, J.; SZEKELY, M. Persistent poverty and excess inequality: Latin America
1970-1995. Journal of Applied Economics, v.3, n.1, p.93-134, 2000.
31. LONG, S.; FREESE, J. Regression models for categorical dependent variable using
stata. College Station, TX: Stata Press, 2001.
32. MACHADO, K. Saúde da Família se firme como estratégia permanente do SUS. RADIS,
v. 23, p. 10-11, jul., 2004.
33. MACHADO, M. H. (Coord). Pesquisa de opinião dos gestores sobre o Programa de
Saúde da Família no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Convênio UNESCO/MS, 2000.
34. MACHADO, M. H. (Coord.). Perfil dos médicos e enfermeiros do Programa de Saúde
da Família no Brasil: Pesquisa desenvolvida em convênio com o Ministério da Saúde
/Secretaria de Política de Saúde/ DAB/ e ENSP/FIOCRUZ. Brasília, 1999.
35. MACINKO, J.; STARFIELD, B.; SHI, L. The contribution of primary care systems to health
outcomes within Organization for Economic Cooperation and Development (OECD)
Countries, 1970-1998. Health Services Research, v.38, n.3, p.819-854, 2003.
36. MACINKO. J. Primary care orientation of health systems in the Américas. Washing-
ton, DC: Pan American Health Organization, 2002.
37. MCGUIRE, J. Social provisioning, socioeconomic context, and child mortality: a
cross-national analysis. Manuscript submitted for publication, 2002.
38. MEDINA, M. G.; AQUINO, R. Avaliando o Programa de Saúde da Família. In: SOUSA,
M. F. (Org.). Os sinais vermelhos do PSF. São Paulo: Editora Hucitec, p.135-151,
2002.
39. PAGANINI, J. La cobertura de la atención de salud en América Latina y el Caribe.
Revista Panamericana de Salud Publica, v.4, n.5, p.305-310, 1998.
40. OR, Z. Exploring the effects of health care on mortality across OECD countries.
Paris: Organization for Economic Cooperation and Development (OECD), 2001.
41. Pan American Health Organization. Indicadores de medición del desempeño del
sistema de salud.. Washington, DC, 1997. (LAC/RSS Document, 6).
42. Pan American Health Organization. Third evaluation of the implementation of the
strategy for health for all by the year 2000. Washington, DC, 1998a.
43. Pan American Health Organization. Methodology for monitoring and evaluation of
health sector reform in Latin America and the Caribbean. Washington, DC, 1998b.
(LAC/HSR Document, 1).
44. Pan American Health Organization. Regional consultation of the Americas on health
systems performance assessment (background paper for the regional consultation):
final report. Geneva: World Health Organization [aa].
149
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
45. Pan American Health Organization. Health system performance assessment and
improvement in the regions of the Americas. Washington, DC, 2001.
46. Pan American Health Organization. Desarrollo y fortalecimiento de la informacion
para la gestion y operación de los servicios de salud. Documento borrador: actu-
alizacion 04/2001. Washington, DC, 2001.
47. Pan American Health Organization. Indicadores de salud: elementos básicos para el
análisis de la situación de salud. Boletín Epidemiológico, v.22, n.4, p.1-5, 2001.
48. PUENTES-MARKIDES, C. Health for All in the Americas: preferred scenario. In: BEZOLD,
C.; FRENK, J.; McCARTHY, S. (eds.). 21st Century Health Care in Latin America and
the Caribean.. Mexico City: Institute for Alternative Futures. p.155-178, 1998.
49. RIFKIN, S. B.; WALT, G. Why health improves: defining the issues concerning com-
prehensive primary health care and selective primary health care. Social Science
& Medicine, v.23, p. 559-566, 1986.
50. SANTOS, S. et al. Avaliação da assistência à saúde da mulher e da criança em loca-
lidade urbana da região Sudeste do Brasil. Rev Saúde Pública, v.34, n.3, p.266-271,
2000.
51. SHI, L.; STARFIELD, B.; XU, J. Validating the adult primary care assessment tool.
Journal of Family Practice, v.50, n.2, p.161-175, 2001.
52. STARFIELD, B. Primary care: balancing health needs, services and technology. Lon-
don/New York: Oxford University Press, 1998.
53. STARFIELD, B. Primary care: Is it essential? Lancet, v.344, p.1129-1133, 1994.
54. STARFIELD B. Primary care: concept, evaluation, and policy. New York, Oxford:
Oxford University Press, 1992.
55. STARFIELD, B. Postneonatal mortality. Annual Review of Public Health, v.6, p.21-
40, 1985.
56. STARFIELD, B. Atención primaria: equilibrio entre necesidades de salud, servicios
y tecnología. Barcelona: Fundación Jordi Gol i Gurina/SCMFIC/Masson, 2000.
57. STREINER, D., NORMAN, G. Health measurement scales: a practical guide to their
development and use. London: Oxford University Press, 1995.
58. SVITONE, E. et al. Primary care lessons from the northeast of Brazil: the agentes de
saúde program. Rev Panam Salud Publica, v.7, n.5, p.293-302, 2000.
59. SZWARCWALD, C.L. et al. A saúde em números: pesquisa mundial de saúde 2003.
RADIS, v.23, p.14-33, jul., 2004.
60. TERRA DE SOUZA, A. et al. Variations in infant mortality rates among municipalities
in the state of Ceará, northeast Brazil: an ecological analysis. Int J Epidemiol.,
v.28, p.267-75, 1999.
150
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
151
ANEXOS
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
SEMPRE
QUASE SEMPRE
MUITAS VEZES
ALGUMAS VEZES
QUASE NUNCA
NUNCA
155
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
14595 35050 40469 27478 44526 67331 93365 54526 22356 93208 72749 13347 65030 26128 49067 27904 49953 74674 94617 13317
30734 71571 83722 79712 25775 65178 07763 82928 31131 30196 81638 36566 42709 33717 59943 12027 46547 61303 46699 76243
64628 89126 91254 24090 25752 03091 39411 73146 06089 15630 46574 79670 10342 89543 75030 23428 29541 32501 89422 87474
42831 95113 43511 42082 15140 34733 68076 18292 69486 80468 11873 57196 32209 67663 07990 12288 59245 83638 23642 61715
80583 70361 41047 26792 78466 03395 17635 09697 82447 31405 13862 72778 09949 23096 01791 19472 14634 31690 36602 62943
00209 90404 99457 72570 42194 49043 24330 14939 09865 45906 08312 27886 82321 28666 72998 22514 51054 22940 31842 54245
05409 20830 01911 60767 55248 79253 12317 84120 77772 50103 11071 44430 94664 91294 35163 05494 32882 23904 41340 61185
95836 22530 91785 80210 34361 52228 33869 94332 83868 61672 82509 11842 86963 50307 07510 32545 90717 46856 86079 13769
65358 70469 87149 89509 72176 18103 55169 79954 72002 20582 07426 67341 80314 58910 93948 85738 69444 09370 58194 28207
72249 04037 36192 40221 14918 53437 60571 40995 55006 10694 57696 25592 91221 95386 15857 84645 89659 80535 93233 82798
41692 40581 93050 48734 34652 41577 04631 49184 39295 81776 08074 89810 48521 90740 02687 83117 74920 25954 99629 78978
61885 50796 96822 82002 07973 52925 75467 86013 98072 91942 20128 53721 01518 40699 20849 04710 38989 91322 56057 58573
48917 48129 48624 48248 91465 54898 61220 18721 67387 66575 00190 27157 83208 79446 92987 61357 38752 55424 94518 45205
88378 84299 12193 03785 49314 39761 99132 28775 45276 91816 23798 55425 32454 34611 39605 39981 74691 40836 30812 38563
77800 25734 09801 92087 02955 12872 89848 48579 06028 13827 85306 57995 68222 39055 43890 36956 84861 63624 04961 55439
24028 03405 01178 06316 81916 40170 53665 87202 88638 47121 99719 36036 74274 53901 34643 06157 89500 57514 93977 42403
86558 84750 43994 01760 96205 27937 45416 71964 52261 30781 95970 81452 48873 00784 58347 40269 11880 43395 28249 38743
78545 49201 05329 14182 10971 90472 44682 39304 19819 55799 56651 91460 92462 98566 72062 18556 55052 47614 80044 60015
14969 64623 82780 35686 30941 14622 04126 25498 95452 63937 71499 80220 35750 67337 47556 55272 55249 79100 34014 17037
58697 31973 06303 94202 62287 56164 79157 98375 24558 99241 66660 78443 47545 70736 65419 77489 70831 73237 14970 23129
38449 46438 91579 01907 72146 05764 22400 94490 49833 09258 35483 84563 79956 88618 54619 24853 59783 47537 88822 47227
Fonte: http://www.mrs.umn.edu/~sungurea/introstat/public/instruction/ranbox/randomnumbersII.html
157
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
159
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
161
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
����������
�
�
�����������
�����������
�
� � � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
� � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
����
�
�����������
����������
�
� � � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
� � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
163
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
���������
�
�����������
�
���������������������
�
� � � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
� � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
���������
�
� �����������
����������������������
�
� � � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
� � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
164
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
����������
�
�
�����������
�����������������
�
� � � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
� � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
��������
�
�
������������������������
� �����������
�
� � � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
� � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
165
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
��������
�
���������������������������
� �����������
�
� � � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
� � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
���������
�
�����������
�
��������������������������
�
� � � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
� � � � �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� �� ��
166
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Acesso
item-test item-rest inter-item
Item Obs. Sinal alpha*
correlação correlação covariança
Vínculo
item-test item-rest inter-item
Item Obs. Sinal alpha*
correlação correlação covariança
vinc1 33 – 0,4318 0,1447 0,2274515 0,4798
167
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Elenco de serviços
item-test item-rest inter-item
Item Obs. Sinal alpha*
correlação correlação covariança
elenc1 33 – 0,3264 0,3060 0,2662302 0,7621
168
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Coordenação
item-test item-rest inter-item
Item Obs. Sinal alpha*
correlação correlação covariança
169
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Enfoque familiar
item-test item-rest inter-item
Item Obs. Sinal alpha*
correlação correlação covariança
Formação profissional
item-test item-rest inter-item
Item Obs. Sinal alpha*
correlação correlação covariança
170
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
171
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Acesso
item-test item-rest inter-item
Item Obs. Sinal alpha*
correlação correlação covariança
Porta de entrada
item-test item-rest inter-item
Item Obs. Sinal alpha*
correlação correlação covariança
173
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Vínculo
item-test item-rest inter-item
Item Obs. Sinal alpha*
correlação correlação covariança
174
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Elenco de serviços
item-test item-rest inter-item
Item Obs. Sinal alpha*
correlação correlação covariança
175
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Coordenação
item-test item-rest inter-item
Item Obs. Sinal alpha*
correlação correlação covariança
Enfoque familiar
Item Obs. Sinal item-test item-rest inter-item alpha*
correlação correlação covariança
fam1 467 + 0,6886 0,4591 0,2683 0,5946
176
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Formação profissional
item-test item-rest inter-item
Item Obs. Sinal alpha*
correlação correlação covariança
177
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
178
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
B. Decisores e supervisores
C. Usuários adultos
D. Usuários acompanhantes
179
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
Este questionário pode ser utilizado desde que a ENSP/FIOCRUZ e a coordenadora nacional
da pesquisa (Celia Almeida – calmeida@ensp.fiocruz.br) sejam informados sobre a sua
utilização e os resultados obtidos.
181
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
INSTRUÇÕES
Estimamos que este questionário requer apenas 30 minutos para ser preenchido. Por
favor responda às perguntas da maneira mais completa possível. Tente responder às
perguntas baseando-se em dados, relatórios, outros documentos ou informações
disponíveis. Caso não tenha informação sobre alguma questão, nos diga a sua própria
opinião, baseada na sua experiência como profissional trabalhando na área de
atenção básica, neste município. O questionário será preenchido mais fácil e
rapidamente se os informantes tiverem à mão os dados relevantes sobre a atenção
básica no seu serviço, antes de começar a entrevista ou a responder as perguntas.
Nas perguntas que pedem informações sobre serviços específicos solicitamos que
considere o período dos últimos 6 meses. Agradecemos a sua participação.
A. Informações gerais
1. Data
2. Seu nome
3. Seu titulo
6. Numero de telefone
7. Fax
8. E-mail
9. Endereço
10. Cidade
182
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
B. Recursos humanos
13. Por favor, indique quantos e que tipo de profissionais trabalham na unidade.
C. Acesso
(*) Adequado quer dizer: todos os dias estão disponíveis todos os medicamentos (ou equipamentos) necessários para o atendimento da
maioria do atendimento das necessidades (não urgentes nem especializadas) dos usuários/clientes que procuram esta unidade de
atenção básica.
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
14. Durante os últimos seis meses, com que
freqüência a unidade teve uma adequada* 1 2 3 4 5 6 88
oferta de medicamentos essenciais ?
15. Durante os últimos seis meses, com que
freqüência a unidade teve adequado*
1 2 3 4 5 6 88
equipamento básico e estoque para cumprir
com suas funções essenciais?
16. Quantos usuários/clientes pagam alguma
1 2 3 4 5 6 88
quantia para ser atendido (co-pagamento)?
17. Que porcentagem da população coberta pode
obter uma consulta médica (não urgente) no 1 2 3 4 5 6 88
prazo de 24 horas?
18. A unidade de atenção básica está aberta
durante o fim de semana?
19. Qual é o horário normal de funcionamento da
sua unidade (de atenção básica)?
De _________horas às ________horas
183
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
D. Porta de entrada
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
24. Exceto em casos de emergência, é preciso
uma consulta com prestador do nível básico
antes que um usuário/cliente busque outro
1 2 3 4 5 6 88
nível de atenção (por exemplo, uma clínica
hospitalar ou consulta especializada)?
E. Vínculo
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
25. Em geral os usuários/clientes são examinados
pelo mesmo profissional de saúde cada vez 1 2 3 4 5 6 88
que consultam?
26. A unidade tem população adscrita? 1 2 3 4 5 6 88
27. Se o usuário/cliente tem uma dúvida sobre seu
tratamento, pode ligar para falar com o mesmo 1 2 3 4 5 6 88
profissional que o atendeu?
28. Acha que, na sua unidade, os profissionais de
saúde dão tempo suficiente para que os
1 2 3 4 5 6 88
clientes explicitem bem suas dúvidas ou
preocupações?
29. Os profissionais de saúde da sua unidade
normalmente utilizam o prontuário do 1 2 3 4 5 6 88
usuário/cliente em cada consulta?
30. Geralmente os profissionais de saúde são
informados sobre todos os medicamentos
1 2 3 4 5 6 88
utilizados pelo usuário/cliente na hora do
atendimento?
31. Os profissionais de saúde são informados
quando um usuário/cliente não consegue obter 1 2 3 4 5 6 88
ou comprar um medicamento prescrito?
184
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
F. Elenco de serviços
Em que medida a sua unidade ou clínica de atenção básica oferece os seguintes serviços?
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
32. Vacinações para crianças 1 2 3 4 5 6 88
33. Atendimento para crianças e adolescentes 1 2 3 4 5 6 88
34. Atendimento para adultos 1 2 3 4 5 6 88
35. Atendimento para idosos 1 2 3 4 5 6 88
36. Controle pré-natal 1 2 3 4 5 6 88
37. Serviços de planejamento familiar 1 2 3 4 5 6 88
38. Atendimento de doenças sexualmente transmissíveis 1 2 3 4 5 6 88
39. Programa de controle de tuberculose 1 2 3 4 5 6 88
40. Controles/tratamento de doenças endêmicas 1 2 3 4 5 6 88
41. Controles/tratamento de doenças epidêmicas 1 2 3 4 5 6 88
42. Atendimento de doenças crônicas 1 2 3 4 5 6 88
43. Tratamento/controle de diabetes 1 2 3 4 5 6 88
44. Tratamento/controle de hipertensão 1 2 3 4 5 6 88
45. Tratamento de pequenas feridas 1 2 3 4 5 6 88
46. Pequenas cirurgias 1 2 3 4 5 6 88
47. Conselhos sobre o uso de álcool e tabaco 1 2 3 4 5 6 88
48. Problemas de saúde mental não graves 1 2 3 4 5 6 88
49. Programa de nutrição 1 2 3 4 5 6 88
50. Educação em saúde 1 2 3 4 5 6 88
51. Educação sobre violência doméstica 1 2 3 4 5 6 88
52. Educação sobre acidentes domésticos 1 2 3 4 5 6 88
53. Educação preventiva odontológica 1 2 3 4 5 6 88
54. Assistência preventiva odontológica 1 2 3 4 5 6 88
55. Existem protocolos específicos de atendimento 1 2 3 4 5 6 88
para a maioria dos serviços mencionados?
G. Coordenação
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
56. Para que porcentagem das crianças atendidas
1 2 3 4 5 6 88
existe um registro obrigatório?
57. Que porcentagem de usuários/clientes tem em
seu poder o registro das imunizações
1 2 3 4 5 6 88
realizadas e do monitoramento do crescimento
das crianças?
58. Para que porcentagem das grávidas existe um
1 2 3 4 5 6 88
registro obrigatório de controle pré-natal?
59. Quantas grávidas têm em seu poder um
registro sobre consultas pré-natais e resultados 1 2 3 4 5 6 88
de exames?
60. Existem normas definidas para transferência
de informações sobre pacientes entre os níveis 1 2 3 4 5 6 88
de atenção?
61. Com que freqüência os profissionais de saúde
na sua unidade utilizam normas definidas para 1 2 3 4 5 6 88
referência e contra-referência?
62. Quando um usuário/cliente precisar ser
referido para outro serviço, os profissionais de
1 2 3 4 5 6 88
atenção básica discutem com ele ou indicam
os possíveis lugares de atendimento?
185
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
H. Enfoque familiar
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
75. Que porcentagem dos prontuários médicos é
1 2 3 4 5 6 88
organizada por família (e não por indivíduo)?
76. Durante a consulta, os profissionais de saúde
normalmente pedem informações sobre 1 2 3 4 5 6 88
doenças de outros membros da família?
77. Os profissionais de saúde têm possibilidade de
falar com a família do usuário/cliente para 1 2 3 4 5 6 88
discutir seu problema de saúde?
78. Durante a anamnese, os profissionais de
saúde normalmente perguntam sobre fatores
de risco social ou condições de vida do
1 2 3 4 5 6 88
usuário/cliente (ex. desemprego,
disponibilidade de água potável, saneamento
básico etc.)?
186
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
J. Formação profissional
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
86. Que porcentagem da semana a unidade conta
1 2 3 4 5 6 88
com pelo menos um médico?
87. Enfermeiros ou outros profissionais substituem
regularmente os médicos no atendimento à 1 2 3 4 5 6 88
população?
88. Que porcentagem dos médicos recebeu
treinamento especifico na área de atenção 1 2 3 4 5 6 88
básica?
89. Que porcentagem dos outros profissionais de
saúde recebeu treinamento específico na área 1 2 3 4 5 6 88
de atenção básica?
90. A equipe de atenção básica foi capacitada
para atuar segundo a diversidade cultural da
1 2 3 4 5 6 88
comunidade (ex. cultura, nível
socioeconômico, idioma etc.)
187
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Para poder incluir as suas informações na pesquisa, devemos receber este questionário respondido
antes do dia _____de _______ de _________..
188
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
B. Decisores e supervisores
Este questionário pode ser utilizado desde que a ENSP/FIOCRUZ e a coordenadora nacional
da pesquisa (Celia Almeida – calmeida@ensp.fiocruz.br) sejam informados sobre a sua
utilização e os resultados obtidos.
189
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
INSTRUÇÕES
Estimamos que este questionário requer apenas 30 minutos para ser preenchido. Por
favor responda às perguntas da maneira mais completa possível. Tente responder às
perguntas baseando-se em dados, relatórios, outros documentos ou informações
disponíveis. Caso não tenha informação sobre alguma questão, nos diga a sua própria
opinião, baseada na sua experiência como profissional trabalhando na área de
atenção básica, neste município. O questionário será preenchido mais fácil e
rapidamente se os informantes tiverem à mão os dados relevantes sobre a atenção
básica no seu serviço, antes de começar a entrevista ou a responder as perguntas.
Nas perguntas que pedem informações sobre serviços específicos solicitamos que
considere o período dos últimos 6 meses. Agradecemos a sua participação.
A. Informações gerais
1. Data
2. Seu nome
3. Seu Titulo
6. Numero de telefone
7. Fax
8. E-mail
9. Endereço
10. Cidade
190
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
C. Acesso
(*) Adequado quer dizer: todos os dias estão disponíveis todos os medicamentos (ou equipamentos) necessários para o atendimento da
maioria das necessidades (não urgentes nem especializadas) dos usuários/clientes que procuram esta unidade de atenção básica.
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
16. Durante os últimos seis meses, para que
porcentagem das unidades de atenção básica
1 2 3 4 5 6 88
havia uma adequada* oferta de
medicamentos essenciais ?
17. Durante os últimos seis meses para que
porcentagem dessas unidades havia
1 2 3 4 5 6 88
adequado* equipamento básico e estoque
para cumprir com suas funções essenciais?
18. Que porcentagem das unidades básicas exige
algum pagamento dos usuários/clientes na 1 2 3 4 5 6 88
hora do atendimento (co-pagamento)?
19. Que porcentagem da população coberta pode
obter uma consulta médica (não urgente) no 1 2 3 4 5 6 88
prazo de 24 horas?
20. Geralmente, as unidades de atenção básica
1 2 3 4 5 6 88
estão abertas durante o fim de semana?
21. Qual é o horário normal de funcionamento das Centro de saúde De _________horas às ________horas
unidades de atenção básica? Posto de saúde De _________horas às ________horas
PSF De _________horas às ________horas
Outros De _________horas às ________horas
22. Que porcentagem das unidades de atenção
básica fica aberta pelo menos um dia durante 1 2 3 4 5 6 88
a semana depois das 18 horas?
23. Durante o funcionamento da unidade existe
um número de telefone para marcar consultas 1 2 3 4 5 6 88
ou pedir informações?
191
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
192
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
��� ������������������������������ � � � � � � ��
��� ������������������ � � � � � � ��
��� ���������������������������������������� � � � � � � ��
��� ������������������������������������ � � � � � � ��
��� �������������������� � � � � � � ��
��� ����������������� � � � � � � ��
��� ���������������������������������� � � � � � � ��
��� ����������������������������������� � � � � � � ��
��� �������������������������������� � � � � � � ��
��� ����������������������������������� � � � � � � ��
��� ���������������������������������������������
� � � � � � ��
����������������������������������������
����� ������� ������ �����
����� ������ ���
G. Coordenação ����
����� ����� ����� ������
��������� ����
������� �������� �������� ��������
��� �����������������������������������������
������� ������� ��� ��������� ������������ ��� ����� � � � � � � ��
����������������������
��� �������������������������������������������
������������������������������������
� � � � � � ��
��������������������������������������������
�������������
��� �����������������������������������������
���������������������������������������� � � � � � � ��
�������������������
��� ������������������������������������
������������������������������������� � � � � � � ��
���������������������
��� ��������������������������������������
��������������������������������������������� � � � � � � ��
������������������
��� ��������������������������������������
��������������������������������
� � � � � � ��
��������������������������������������������
���������������������������
��� ��������������������������������������
�����������������������������������������������
� � � � � � ��
�������������������������������������
���������������������������������
��� ����������������������������������������
������������������������������������������� � � � � � � ��
�������������
��� ��������������������������������������������
��������������������������������������������
� � � � � � ��
�������������������������������������������
��������������������
��� ������������������������������������������
�������������������������������������������� � � � � � � ��
������������������������������������
��� ���������������������������������������������
����������������������������������������� � � � � � � ��
������������
��� �������������������������������������
����������������������������������� � � � � � � ��
�������������������������������
� ����������������������������������������
193
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
H. Enfoque familiar
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
77. Em que porcentagem das unidades são os
prontuários médicos organizados por família (e 1 2 3 4 5 6 88
não por indivíduo)?
78. Durante a consulta, os profissionais de saúde
normalmente pedem informações sobre 1 2 3 4 5 6 88
doenças de outros membros da família?
79. Os profissionais de saúde têm possibilidade de
falar com a família do usuário/cliente para 1 2 3 4 5 6 88
discutir seu problema de saúde?
80. Durante a anamnese, os profissionais de
saúde normalmente perguntam sobre fatores
de risco social ou condições de vida do
1 2 3 4 5 6 88
usuário/cliente (ex. desemprego,
disponibilidade de água potável, saneamento
básico etc.)?
I. Orientação para comunidade
Com que freqüência as unidades de atenção básica:
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
81. Realizam enquetes de usuários/clientes para
saber se os serviços oferecidos estão
1 2 3 4 5 6 88
respondendo às necessidades (demanda de
atendimento) da população?
82. Realizam enquetes de usuários/clientes para
1 2 3 4 5 6 88
identificar problemas de saúde da população?
83. Têm representantes da comunidade
participando na direção da unidade ou nos 1 2 3 4 5 6 88
conselhos comunitários?
84. Oferecem serviços de saúde nas escolas? 1 2 3 4 5 6 88
85. Oferecem visitas domiciliares? 1 2 3 4 5 6 88
194
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
195
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
Para poder incluir as suas informações na pesquisa, devemos receber este questionário respondido
antes do dia _____de _______ de _________.
196
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
C. Usuários adultos
Apresentação:
“Bom-dia!
Eu sou ......
Estou participando de uma pesquisa.
Posso conversar um pouco com o(a) senhor(a)?”
Se não tiver pelo menos 18 anos (nascido antes de 1986) não continue a entrevista.
Se tiver pelo menos 18 anos CONTINUE.
Este questionário pode ser utilizado desde que a ENSP/FIOCRUZ e a coordenadora nacional da pesquisa (Celia Almeida –
calmeida@ensp.fiocruz.br) sejam informados sobre a sua utilização e os resultados obtidos.
197
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A. Informações gerais
1. Data
2. Nome do entrevistador
3. Código do entrevistador
4. Nome do posto/centro/unidade
5. Bairro
C. Saúde do usuário
Muito Muito Recusa
Bom Regular Ruim Não sabe
bom ruim / na
198
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
D. Acesso
Quase Algumas Muitas Quase Sempre
Nunca Recusa Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) / na sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
29. O(a) senhor(a) acha fácil conseguir uma
1 2 3 4 5 6 88 99
consulta neste posto/centro/unidade?
30. O(a) senhor(a) acha que pode obter uma
consulta médica (não urgente) neste
1 2 3 4 5 6 88 99
posto/centro/unidade no prazo de 24
horas?
31. Este posto/centro/unidade está aberto
1 2 3 4 5 6 88 99
durante os fins de semana?
32. Este posto/centro/unidade fica aberto
depois das 18 horas pelo menos um dia 1 2 3 4 5 6 88 99
durante a semana?
33. Durante o período de funcionamento
normal deste posto/centro/unidade
1 2 3 4 5 6 88 99
existe um número de telefone para marcar
consultas ou pedir informações?
34. Quando este posto/centro/unidade está
fechado, existe um número de telefone
1 2 3 4 5 6 88 99
para marcar consultas ou pedir
informações?
35. Normalmente o(a) senhor(a) tem que
esperar mais de 30 minutos neste
1 2 3 4 5 6 88 99
posto/centro/unidade antes de ser
atendido por um profissional de saúde?
36. Quando vem consultar neste
posto/centro/unidade o(a) senhor(a) tem
1 2 3 4 5 6 88 99
que deixar de trabalhar ou perder o seu
dia de trabalho?
37. Nas suas consultas mais recentes (no
último mês) este posto/centro/unidade
1 2 3 4 5 6 88 99
tinha todos os medicamentos que o(a)
senhor(a) precisava?
38. Nas suas consultas mais recentes (no
último mês), este posto/centro/unidade
1 2 3 4 5 6 88 99
tinha todos equipamentos necessários ao
atendimento do seu problema de saúde?
39. O(a) senhor(a) tem que pagar alguma
quantia em dinheiro para ser atendido (co- 1 2 3 4 5 6 88 99
pagamento) neste posto/centro/unidade?
199
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
E. Porta de entrada
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Recusa Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) / na sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
40. Geralmente, quando o(a) senhor(a) ou sua
família precisa de algum controle de
saúde preventivo (vacinar, medir 1 2 3 4 5 6 88 99
pressão, exames de rotina), o(a) senhor(a)
vem a este posto/centro/unidade?
41. Quando o(a) senhor(a) ou sua família tem
um problema de saúde, vocês
1 2 3 4 5 6 88 99
normalmente vêm a este
posto/centro/unidade?
42. Exceto em casos de emergência, o(a)
senhor(a) normalmente tem que realizar
uma consulta neste 1 2 3 4 5 6 88 99
posto/centro/unidade antes de consultar
com um especialista?
F. Vínculo
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Recusa Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) / na sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
43. Quando o(a) senhor(a) vem a este
posto/centro/unidade para uma consulta
1 2 3 4 5 6 88 99
é examinado pelo mesmo profissional de
saúde?
44. Se o(a) senhor(a) tem alguma dúvida
sobre seu tratamento o(a) senhor(a)
consegue falar com o mesmo profissional 1 2 3 4 5 6 88 99
deste posto/centro/unidade que lhe
atendeu?
45. Neste posto/centro/unidade os
profissionais de saúde dão tempo
suficiente para o senhor(a) explicar bem 1 2 3 4 5 6 88 99
as suas preocupações e tirar as suas
dúvidas?
46. O profissional deste
posto/centro/unidade que lhe atende
1 2 3 4 5 6 88 99
compreende (entende) bem as suas
perguntas?
47. Os profissionais deste
posto/centro/unidade respondem às
1 2 3 4 5 6 88 99
suas perguntas de uma maneira clara, que
o(a) senhor(a) entende bem?
48. Durante as suas consultas os profissionais
deste posto/centro/unidade anotam as 1 2 3 4 5 6 88 99
suas queixas no seu prontuário médico?
49. Os profissionais deste
posto/centro/unidade estão informados
1 2 3 4 5 6 88 99
sobre todos os medicamentos que o(a)
senhor(a) está utilizando?
50. Os profissionais deste
posto/centro/unidade são informados
1 2 3 4 5 6 88 99
quando o(a) senhor(a) não pode conseguir
ou comprar um medicamento prescrito?
Os profissionais de saúde podem ver uma pessoa apenas como um doente ou como um ser humano completo.
200
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
H. Coordenação
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Recusa Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) / na sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
74. O(a) senhor(a) recebe os resultados de
1 2 3 4 5 6 88 99
seus exames de laboratório?
75. O(a) senhor(a) traz os resultados de seus
exames de laboratório para este 1 2 3 4 5 6 88 99
posto/centro/unidade?
76. O(a) senhor(a) é avisado sobre o
agendamento da sua consulta de retorno
1 2 3 4 5 6 88 99
para saber os resultados dos seus exames
de laboratório?
77. Quando o(a) senhor(a) vem a este
posto/centro/unidade, traz consigo
documentos, prontuários, resultados ou 1 2 3 4 5 6 88 99
pedidos de exames, cartão de
imunizações etc.?
201
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
202
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
I. Enfoque familiar
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Recusa Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) / na sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
92. Durante a consulta os profissionais deste
posto/centro/unidade normalmente
perguntam sobre as suas condições de
1 2 3 4 5 6 88 99
vida e as da sua família (ex., desemprego,
disponibilidade de água potável,
saneamento básico etc.)?
93. Durante a consulta os profissionais deste
posto/centro/unidade normalmente
1 2 3 4 5 6 88 99
pedem informações sobre doenças de
outros membros da sua família?
94. O(a) senhor(a) acha que os profissionais
de saúde neste posto/centro/unidade 1 2 3 4 5 6 88 99
conhecem bem a sua família?
95. O(a) senhor(a) acredita que, se quisesse,
os profissionais deste
1 2 3 4 5 6 88 99
posto/centro/unidade falariam com a sua
família sobre o seu problema de saúde?
96. Os profissionais deste
posto/centro/unidade lhe perguntam
1 2 3 4 5 6 88 99
sobre quais são as suas idéias e opiniões
sobre o seu tratamento ou da sua família?
J. Orientação para a comunidade
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Não
nunca vezes vezes sempre Recusa
(0%) (81-100%) sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
97. O(a) senhor(a) ou sua família é
consultado(a) para saber se os serviços
1 2 3 4 5 6 88 99
deste posto/centro/unidade atendem aos
seus problemas de saúde?
98. O(s) senhor(a) acha que os profissionais
deste posto/centro/unidade sabem sobre
1 2 3 4 5 6 88 99
os problemas de saúde mais importantes
da sua comunidade?
99. As autoridades da Secretaria de Saúde
pedem a representantes da comunidade
para participarem nas reuniões da direção 1 2 3 4 5 6 88 99
deste posto/centro/unidade ou no
Conselho Local de Saúde?
100 Este posto/centro/unidade oferece
1 2 3 4 5 6 88 99
serviços de saúde nas escolas?
101 Com que freqüência os profissionais deste
posto/centro/unidade fazem visitas 1 2 3 4 5 6 88 99
domiciliares?
102 O(a) senhor(a) acha que este
posto/centro/unidade trabalha com
outros grupos para realizar atividades que 1 2 3 4 5 6 88 99
melhoram as condições de vida de sua
comunidade?
203
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
K. Formação profissional
Quase Algumas Muitas Quase
Nunca Sempre Não
nunca vezes vezes sempre Recusa
(0%) (81-100%) sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
103 Na sua experiência, com que freqüência
o(a) senhor(a) veio a este
1 2 3 4 5 6 88 99
posto/centro/unidade e tinha pelo menos
um médico trabalhando?
104 Na sua experiência, com que freqüência
o(a) senhor(a) veio a este
1 2 3 4 5 6 88 99
posto/centro/unidade e tinha pelo menos
um enfermeiro trabalhando?
105 O(a) senhor(a) recomendaria este
1 2 3 4 5 6 88 99
posto/centro/unidade a um amigo(a)?
106 O(a) senhor(a) recomendaria este
posto/centro/unidade a alguém que
1 2 3 4 5 6 88 99
utiliza terapias alternativas (ervas,
homeopatia, acupuntura)?
107 Os profissionais deste
posto/centro/unidade são capazes de
1 2 3 4 5 6 88 99
resolver a maioria dos seus problemas de
saúde?
108 Os profissionais de saúde neste
posto/centro/unidade relacionam-se bem 1 2 3 4 5 6 88 99
com a sua comunidade?
204
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
D. Usuários acompanhantes
Apresentação:
“Bom-dia!
Eu sou ......
Estou participando de uma pesquisa.
Posso conversar um pouco com o(a) senhor(a)?”
Se não tiver pelo menos 18 anos (nascido antes de 1986) não continue a entrevista.
Se tiver pelo menos 18 anos CONTINUE.
FILTRO 3: A pessoa/criança que está acompanhando hoje já foi atendida anteriormente neste
posto/centro/unidade?
1. Sim (CONTINUE E PASSE PARA O TERMO DE CONSENTIMENTO)
2. Não (NÃO CONTINUE A ENTREVISTA).
Este questionário pode ser utilizado desde que a ENSP/FIOCRUZ e a coordenadora nacional da pesquisa (Celia Almeida –
calmeida@ensp.fiocruz.br) sejam informados sobre a sua utilização e dos resultados obtidos.
205
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
A. Informações gerais
1. Data
2. Nome do entrevistador
3. Código do entrevistador
4. Nome do posto/centro/unidade
5. Bairro
206
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
C.Saúde do paciente.
Muito Muito Recusa
Bom Regular Ruim Não sabe
bom ruim / na
17. De um modo geral, nos últimos 30 dias,
o(a) senhor(a) considera o estado de 88 99
5 4 3 2 1
saúde do paciente como muito bom,
bom, regular, ruim ou muito ruim?
18. Nos últimos 30 dias, o paciente deixou Sim Não Recusa Não sabe
de realizar quaisquer de suas atividades 1 0 88 99
habituais (trabalhar, ir à escola, correr, (passe à pergunta 19) (passe à pergunta 20) (passe à (passe à
brincar) por motivo da saúde? pergunta 20) pergunta 20)
19 Nos últimos 30 dias, quantos dias o
paciente deixou de realizar suas
atividades habituais por motivo de Recusa /
saúde? na Não sabe
Número de dias _____________ 88 99
O paciente tem....?:
Sim Não Recusa / na Não sabe
20. Doença de coluna ou dor nas costas? 1 0 88 99
21. Artrite ou reumatismo? 1 0 88 99
22. Câncer? 1 0 88 99
23. Diabetes? 1 0 88 99
24. Bronquite ou asma? 1 0 88 99
25. Hipertensão ou pressão alta? 1 0 88 99
26. Doença do coração? 1 0 88 99
27. Depressão? 1 0 88 99
28. Outra doença? 1 0 88 99
(especifique __________________)
Agora vamos fazer algumas perguntas sobre a atenção à saúde que o paciente tem recebido neste
posto/centro/unidade. Por favor responda segundo a sua experiência como acompanhante do paciente.
OBS: MOSTRAR E EXPLICAR AO ENTREVISTADO O CARTÃO DE RESPOSTAS
D. Acesso
Quase Algumas Muitas Quase Sempre Recusa
Nunca Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) / na sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
29. O(a) senhor(a) acha fácil conseguir uma
consulta para o paciente neste 1 2 3 4 5 6 88 99
posto/centro/unidade?
30. O(a) senhor(a) acha que pode obter
uma consulta médica (não urgente) para
1 2 3 4 5 6 88 99
o paciente neste posto/ centro/unidade
no prazo de 24 horas?
31. Este posto/centro/unidade está aberto
1 2 3 4 5 6 88 99
durante os fins de semana?
32. Este posto/centro/unidade fica aberto
depois das 18 horas pelo menos um 1 2 3 4 5 6 88 99
dia durante a semana?
33. Durante o período de funcionamento
normal do posto/centro/unidade existe
1 2 3 4 5 6 88 99
um número de telefone para marcar
consultas ou pedir informações?
34. Quando este posto/centro/unidade
está fechado, existe um número de
1 2 3 4 5 6 88 99
telefone para marcar consultas ou pedir
informações?
35. Normalmente o(a) senhor(a) tem que
esperar mais de 30 minutos neste
posto/centro/ unidade antes que o 1 2 3 4 5 6 88 99
paciente seja atendido por um
profissional de saúde?
3 James Macinko & Celia Almeida, 2003/2004
207
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
E. Porta de entrada
Quase Algumas Muitas Quase Sempre Recusa
Nunca Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) / na sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
208
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
209
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
H. Coordenação
Quase Algumas Muitas Quase Sempre Recusa
Nunca Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) / na sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
74. O(a) senhor(a) recebe os resultados dos
1 2 3 4 5 6 88 99
exames de laboratório do paciente?
75. O(a) senhor(a) traz os resultados dos
exames de laboratório quando vem 1 2 3 4 5 6 88 99
consultar neste posto/centro/unidade?
76. O(a) senhor(a) é avisado sobre o
agendamento da consulta de retorno
1 2 3 4 5 6 88 99
para saber os resultados dos exames de
laboratório do paciente?
77. Quando o(a) senhor(a) vem a este
posto/centro/unidade, traz consigo
documentos, prontuários, resultados ou 1 2 3 4 5 6 88 99
pedidos de exames, cartão de
imunizações etc. do paciente?
78. O profissional de saúde deste
posto/centro/unidade tem sempre
disponível o seu prontuário médico 1 2 3 4 5 6 88 99
quando o(a) paciente está sendo
atendido(a) ou examinado(a)?
79. Os profissionais deste
posto/centro/unidade permitem que
1 2 3 4 5 6 88 99
o(a) senhor(a) veja o prontuário médico
do paciente?
PERGUNTAS 80 E 81: SÓ PARA MULHERES (OU HOMENS) QUE ESTEJAM ACOMPANHANDO CRIANÇAS
PERGUNTA 82: SÓ PARA PACIENTES MULHERES QUE ALGUMA VEZ NA VIDA ESTIVERAM GRÁVIDAS
PERGUNTA 83 E 84: SÓ PARA PACIENTES MULHERES GRÁVIDAS
SE O ENTREVISTADO NÃO ACOMPANHA UMA CRIANÇA OU MULHER MENOR PASSAR PARA A PERGUNTA 85.
Quase Algumas Muitas Quase Sempre Recusa
Nunca Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) / na sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
80. O(a) senhor(a) tem em seu poder um
cartão de registro das imunizações 1 2 3 4 5 6 88 99
realizadas na criança e do crescimento
dela?
81. Os profissionais de saúde deste
posto/centro/unidade pedem que o(a)
senhor(a) traga consigo(a) o registro de 1 2 3 4 5 6 88 99
imunizações e do crescimento quando
vem para consultar as crianças?
82. Quando a paciente estava grávida tinha
consigo um cartão com os registros dos 1 2 3 4 5 6 88 99
controles pré-natais?
83. Nesta gravidez a paciente tem em seu
poder o cartão de registro dos exames 1 2 3 4 5 6 88 99
de pré-natal?
84. Os profissionais de saúde deste
posto/centro/unidade pedem que traga
consigo o cartão para registro dos 1 2 3 4 5 6 88 99
exames de pré-natal da paciente toda
vez que vem à consulta?
85. O paciente foi alguma vez a um (1) Sim (continue com a pergunta 86)
especialista ou a uma clínica (0) Não (Passe para a pergunta 94 � Enfoque Familiar)
especializada para fazer consulta?
86. Quando o paciente vai consultar com
um especialista é encaminhado por um
1 2 3 4 5 6 88 99
profissional deste
posto/centro/unidade?
6 James Macinko & Celia Almeida, 2003/2004
210
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
I. Enfoque familiar
Quase Algumas Muitas Quase Sempre Recusa
Nunca Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) / na sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
94. Durante a consulta os profissionais de
saúde deste posto/centro/unidade
normalmente perguntam sobre as
1 2 3 4 5 6 88 99
condições de vida da família do paciente
(desemprego, disponibilidade de água
potável, saneamento básico etc.)?
95. Durante a consulta os profissionais
deste posto/centro/unidade
normalmente pedem informações sobre 1 2 3 4 5 6 88 99
doenças de outros membros da família
do paciente?
96. O(a) senhor(a) acha que os profissionais
de saúde deste posto/centro/unidade 1 2 3 4 5 6 88 99
conhecem bem a família do paciente?
97. O(a) senhor(a) acredita que, se
quisesse, os profissionais de saúde
deste posto/centro/unidade falariam 1 2 3 4 5 6 88 99
com a família do paciente sobre o seu
problema de saúde?
98. Os profissionais de saúde deste
posto/centro/unidade perguntam sobre
1 2 3 4 5 6 88 99
quais são as suas idéias e opiniões
sobre o tratamento do paciente?
211
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
K. Formação profissional
Quase Algumas Muitas Quase Sempre Recusa
Nunca Não
nunca vezes vezes sempre
(0%) (81-100%) / na sabe
(1-20%) (21-40%) (41-60%) (61-80%)
105 Na sua experiência, com que
freqüência o(a) senhor(a) veio a este
1 2 3 4 5 6 88 99
posto/centro/unidade e tinha pelo
menos um médico trabalhando?
106 Na sua experiência, com que
freqüência o(a) senhor(a) veio a este
1 2 3 4 5 6 88 99
posto/centro/unidade e tinha pelo
menos um enfermeiro trabalhando?
107 O(a) senhor(a) recomendaria este
1 2 3 4 5 6 88 99
posto/centro/unidade a um amigo(a)?
108 O(a) senhor(a) recomendaria este
posto/centro/unidade a alguém que
1 2 3 4 5 6 88 99
utiliza terapias alternativas (ervas,
homeopatia, acupuntura)?
109 Os profissionais deste
posto/centro/unidade são capazes de
1 2 3 4 5 6 88 99
resolver a maioria dos problemas de
saúde do paciente?
110 Os profissionais de saúde deste
posto/centro/unidade relacionam-se 1 2 3 4 5 6 88 99
bem com a sua comunidade?
212
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
213
Série Técnica — Desenvolvimento de Sistemas e Serviços de Saúde
MODELO PROFISSIONAL/GESTOR
LOCAL, DATA
Termo de Consentimento
Prezado senhor(a),
Caso tenha qualquer dúvida pedimos que a esclareça diretamente com o(a)
coordenador(a) da equipe de pesquisadores, [NOME DO(A) COODENADOR(A)] da
[NOME DA INSTITUIÇÃO], nos telefones [N. DOS TELEFONES], ou pelo e-mail
[ENDEREÇO DE E-MAIL].
Coordenadores da pesquisa
[NOMES DOS COORDENADORES]
(OBS.: CADA VEZ QUE O QUESTIONÁRIO FOR UTILIZADO DEVERÁ SER APROVADO
PELO RESPECTIVO COMITÊ DE ÉTICA DA INSTITUIÇÃO DOS PESQUISADORES OU
PROFISSIONAIS QUE QUEIRAM APLICAR O QUESTIONÁRIO)
214
Validação de Metodologia de Avaliação Rápida dos
Serviços de Atenção Básica do SUS em Nível Local
MODELO ADULTO/ACOMPANHANTE
LOCAL E DATA.
TERMO DE CONSENTIMENTO
Prezado(a) senhor(a),
O(a) senhor(a) foi selecionado(a) para participar da pesquisa [NOME DA PESQUISA]. Esta pesquisa está
sendo realizada por uma equipe de pesquisadores da [NOME DA INSTITUIÇÃO / INSTITUIÇÕES] . Tem
como objetivos a realização de uma enquete populacional para medir aspectos críticos do sistema de atenção
básica em [NOME DO MUNICÍPIO].
Sua participação consistirá em responder a um questionário, o que não deve levar mais de 45 minutos. O
questionário não vai registrar seu nome e os dados serão divulgados de forma agregada, guardando assim o
mais absoluto sigilo sobre as informações fornecidas pelo(a) Sr.(a). Após a conclusão do trabalho de campo,
os dados serão publicados, mas não será possível identificar nenhum dos indivíduos que participaram da
pesquisa.
A sua participação é voluntária, sendo que o(a) senhor(a) pode se recusar a responder qualquer pergunta do
questionário. O(a) senhor(a) também pode desistir de participar da pesquisa a qualquer momento. A sua
participação na pesquisa não lhe trará nenhum benefício individual e a sua recusa em participar também não
trará qualquer prejuízo na sua relação com a instituição responsável pela pesquisa, com os serviços de saúde,
ou com os pesquisadores. No entanto, é de fundamental importância que todas as pessoas selecionadas
participem, pois, as informações fornecidas servirão para melhor descrever o desempenho dos serviços de
atenção básica em Petrópolis e sugerir possíveis melhorias.
Caso tenha qualquer dúvida pedimos que a esclareça diretamente com a coordenadora da equipe de
pesquisadores da [NOME DA INSTITUIÇÃO], Dra./Dr. [NOME DO COORDENADOR(A)], pelos telefones [No.
DE TELEFONE], ou ainda pelo e-mail [ENDEREÇO DE E-MAIL].
Caso queira mais informações sobre os seus direitos como participante desta pesquisa, entre em contato com
o Comitê de Ética da [NOME DA INSTITUIÇÃO] pelo telefone [N. DO TELEFONE] ou pelo e-mail [ENDEREÇO
DE E-MAIL]
Coordenadores do Projeto
[NOME DO(S) COORDENADOR(A) / COORDENADORES(AS), INSTITUIÇÃO]
________________________________________ ________________________
Assinatura do entrevistado Data
Nota para entrevistadores: Se o entrevistado for analfabeto ou não for capaz de assinar seu nome, verifique se
compreendeu bem os Termos de Consentimento, coloque as iniciais do nome do entrevistado no local da
assinatura, escreva uma observação de que ele é analfabeto mas compreendeu os termos e aceitou participar
na pesquisa e rubrique.
(OBS.: CADA VEZ QUE O QUESTIONÁRIO FOR UTILIZADO DEVERÁ SER APROVADO PELO
RESPECTIVO COMITÊ DE ÉTICA DA INSTITUIÇÃO DOS PESQUISADORES OU PROFISSIONAIS QUE
QUEIRAM APLICAR O QUESTIONÁRIO)
215
SERIE DE DOCUMENTOS PRESENTACIÓN
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD (OPS/OMS)
MINISTERIO DE SALUD – BRASIL
Volumen 1 La Organización Panamericana de
1. Processos de Descentralização da Saúde no la Salud – OPS, en su atribución
Brasil — Documento Analítico
de apoyar un sistema de salud
2. Seminário: o Sistema Único de Saúde e a
democrático, integral y ecuánime,
Regionalização
3. Seminário: Perspectiva para a descentrali- entiende que la consolidación de
zação e a Regionalização no Sistema Único esta acción en Brasil objetiva for-
de Saúde talecer el Sistema Único de Salud
(SUS). En este sentido, la misión
Volumen 2 de la OPS en Brasil, un país con
Produção de Conhecimento em Política,
extensión continental y con un
Planejamento e Gestão em Saúde e Políticas
sistema de salud en proceso de
de Saúde no Brasil (1974-2000)
permanente construcción, requiere
Volumen 3 un ejercicio continuo de la gestión
serie técnica
Saúde nos Aglomerados Ubanos: uma visão del conocimiento, que permita el
integrada cambio de experiencias y reflexión
critica y creativa sobre acciones
Volumen 4 innovadoras, visando a la mejoría
1. Financiamento do Sistema de Saúde no
de políticas y servicios públicos de
Brasil: marco legal e comportamento do
gasto serie técnica salud. Así, la Unidad Técnica de
Desarrollo de
2. O Papel e as Conseqüencias dos Incentivos Desarrollo de Sistemas y Servicios
como Estratégia de Financiamento das de Salud/OPS presenta la Serie
Ações de Saúde Técnica como una de las activida-
des de gestión del conocimiento,
Volumen 5
11
Volumen 7 de la calidad de la atención a la
Metodologia para Análises Funcionais da salud individual y colectiva, la
Gestão de Sistemas e Redes de Serviços de reducción de desigualdades y el
Saúde no Brasil alcance de la equidad. Brindamos
la comunidad de salud pública del
Volumen 8
país y de la Región de las Américas
Experiências e Desafios da Atenção Básica e
Saúde Familiar: Caso Brasil con esa publicación. Esperamos que
pueda tornarse un espacio vivo de
Volumen 9 apoyo a la construcción del SUS en
Sistema Integrado de Saúde do Mercosul / Brasil y que proporcione visibilidad
SIS-Mercosul – Uma Agenda Para Integração y acceso a los productos concretos
de la Cooperación Técnica de OPS.
Volumen 10
Sigamos avanzando en la conquista
Validação de uma metodologia de avaliação 11 de la calidad de vida y salud de la
rápida das características organizacionais e
do desempenho dos serviços do sistema de población.
Atenção Básica do SUS em nível local
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD – OPS/OMS
UNIDAD TÉCNICA DE DESARROLLO DE SISTEMAS Y SERVICIOS DE SALUD
serie técnica
Desarrollo de
Sistemas y Servicios de Salud
BRASÍLIA-DF, BRASIL
2006
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD – OPS/OMS
UNIDAD TÉCNICA DE DESARROLLO DE SISTEMAS Y SERVICIOS DE SALUD
LA POLÍTICA NACIONAL
DE SALUD BUCAL DE BRASIL:
REGISTRO DE UNA CONQUISTA HISTÓRICA
ORGANIZACIÓN
José Felipe Riani Costa
Odontólogo, especialista en Salud Colectiva, asesor
técnico de la Coordinación Nacional de Salud Bucal del
Ministerio de Salud
La política nacional de salud bucal de Brasil: registro de uma conquista histórica. José Felipe Riani Costa
/ Luciana de Deus Chagas / Rosa Maria Silvestre (orgs.). Brasília: Organização Pan-Americana da
Saúde, 2006.
59 p.: il. color. (Serie técnica desarrollo de sistemas y servicios de salud; 11)
ISBN:
1. Políticas de Salud. 2. Salud Bucal. I. Costa, José Felipe Riani de. Chagas, Luciana de Deus.
Silvestre, Rosa Maria. II. Título. III. Organização Pan-Americana da Saúde. IV. Brasil. Ministerio de Salud.
V. Serie técnica desarrollo de sistemas y servicios de salud.
NLM: WU113
GRÁFICO 4.3 – PROPORCIÓN ENTRE LOS ESF Y LOS ESB. BRASIL, DICIEMBRE/2005 ............ 46
TABLA 3.1 – COMPARACIÓN ENTRE LAS METAS DE LA OMS PARA EL AÑO 2000 Y LOS
RESULTADOS DEL SB BRASIL 2003 ........................................................................ 39
CAPÍTULO 1
INTRODUCCIÓN ............................................................................................. 15
1.1. LA INSTITUCIONALIZACIÓN DE LA SALUD BUCAL EN BRASIL .......................... 18
CAPÍTULO 2
LA PARTICIPACIÓN SOCIAL EN LA ELABORACIÓN DE LA POLÍTICA DE SALUD BUCAL ............ 25
2.1. 1A CONFERENCIA NACIONAL DE SALUD BUCAL (1A CNSB) ............................. 26
2.2. 2A CONFERENCIA NACIONAL DE SALUD BUCAL (2A CNSB) ............................. 28
2.3. 3A CONFERENCIA NACIONAL DE SALUD BUCAL (3A CNSB) ............................. 29
CAPÍTULO 3
RETRATO DE LA SITUACIÓN DE SALUD BUCAL DE LA POBLACIÓN BRASILEÑA:
LEVANTAMIENTOS EPIDEMIOLÓGICOS .................................................................... 31
3.1. LEVANTAMIENTO EPIDEMIOLÓGICO EN SALUD BUCAL (1986) ........................ 32
3.2. LEVANTAMIENTO EPIDEMIOLÓGICO EN SALUD BUCAL (1996) ........................ 34
3.3. LEVANTAMIENTO EPIDEMIOLÓGICO EN SALUD BUCAL (2003) ........................ 36
CAPÍTULO 4
LA SALUD BUCAL EN LA ACTUALIDAD: LA POLÍTICA BRASIL SONRIENTE ......................... 41
4.1. LA SALUD FAMILIAR COMO ENFOQUE ESTRATÉGICO PARA LA
ORGANIZACIÓN DE LA ATENCIÓN BÁSICA EN SALUD ......................................... 42
4.2. AMPLIACIÓN Y CALIFICACIÓN DE LA ATENCIÓN SECUNDARIA Y TERCIARIA:
CENTROS DE ESPECIALIDADES ODONTOLÓGICAS Y LABORATORIOS REGIONALES
DE PRÓTESIS DENTALES ........................................................................... 48
4.3. FLUORACIÓN DEL AGUA DEL ABASTECIMIENTO PÚBLICO .............................. 49
4.4. INVERSIONES EN EL BRASIL SONRIENTE .................................................. 50
REFERENCIAS................................................................................................. 51
ANEXO
DIRECTRICES DE LA POLÍTICA NACIONAL DE SALUD BUCAL – BRASÍLIA, ENERO DE 2004 ...... 55
PREFACIO DE LA OPS
9
PREFACIO DEL MINISTERIO DE SALUD DE BRASIL
Además, la publicación “La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: registro de una
conquista histórica” tiene el objetivo de explicitar todos los hechos principales que hicieron
parte de esa conquista en salud bucal dentro del escenario sanitario brasileño. Al colecti-
vizar esta realidad dentro del país, se espera un acercamiento a la percepción brasileña y
de los otros países de las Américas, permitiendo extender la discusión sobre este tema.
11
PRESENTACIÓN
De este modo, la Política del Brasil Sonriente surge como una opción para mejorar
la atención sanitaria de todos los brasileños, posibilitando la ejecución de acciones
conjuntas, pues las demandas de salud bucal y de enfermedades sistémicas no tienen
fronteras y apoyar la salud bucal significa apoyar la salud general.
Gilberto Pucca
Coordinador Nacional de Salud Bucal
13
CAPÍTULO 1
INTRODUCCIÓN
Las prácticas sanitarias de esa época estaban enfocadas sobretodo al control del con-
junto de enfermedades que amenazaban el mantenimiento de la fuerza de trabajo y el
avance de las actividades capitalistas en la ciudad y otras áreas del campo. Su objetivo,
al contrario de proteger la totalidad de los habitantes del país o de recobrar la salud de
los hombres fue, básicamente utilitario, definiéndose por el interés de grupos dominantes
internos o por la expansión del capitalismo a escala internacional (COSTA, 1986). La salud
pública de entonces, se instrumentalizó para luchar contra los estorbos que determinadas
enfermedades presentaban para el desarrollo de la producción. A partir de ese momento
comenzó la creación de modelos institucionales de práctica sanitaria conducidos por los
más avanzados conocimientos desplegados en el campo médico y sanitario en los países
capitalistas centrales (como Alemania y Francia en Europa o EEUU en América del Norte),
basándose en los descubrimientos en microbiología y bacteriología.
15
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
El período que va de 1930 hasta 1945, como fue comentado por Mendes (1994) cons-
tituye el comienzo de la Seguridad Social brasileña, en la que sobresale la doctrina del
seguro, la orientación economizadora de los gastos y la organización de los Institutos de
Jubilación y Pensiones (IAPs), estructurados bajo categorías profesionales. La asistencia
médica, en esa época, se volvió secundaria y provisoria. Con el avance del proceso de
industrialización, ocurrido después de 1950, hubo un desplazamiento del polo dinámico
de la economía hacia los centros urbanos, generando una masa operaria que debería ser
asistida por el sistema de salud. De esa manera, los IAPs se concentraron y terminaron por
ser remplazados por el Instituto Nacional de Seguridad Social (Instituto Nacional da Pre-
vidência Social - INPS) en el año 1966 con la intención de uniformizar los beneficios.
16
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
medicina simplificada para las poblaciones marginalizadas, defendida por los movimientos
contrarios a la hegemonía establecidos tras la propuesta internacional de los cuidados
primarios, acordada en Alma-Ata. El proceso de redemocratización del país ocurrió tras
este período de acentuada crisis económica y de la Seguridad Social (MENDES, 1994).
Fue con un concepto más amplio de salud que se ejecutó el informe final de la 8ª
Conferencia Nacional de Salud en 1986, siguiendo la Reforma Sanitaria brasileña que
tuvo como uno de sus principios la universalización de la salud como forma de superar
el déficit de oferta de salud a la población (WERNECK, 1998). La cuestión de la reforma
sanitaria y el de su papel en el establecimiento de un orden social democrático con-
tribuyeron en la transformación de la política de salud. Estas cuestiones exigieron un
cambio estructural y una política social capaz de acabar con la “deuda social histórica”.
Con la Constitución de 1988, se ratificó la unión de los servicios institucionales de salud
a través de la propuesta del Sistema Único de Salud (SUS) que aportó una nueva formu-
lación política y organizacional para el reordenamiento de los servicios y acciones de
salud, para los cuales establece la ejecución de actividades de promoción, protección
y recuperación de la salud, basado en los principios doctrinarios de la universalidad,
equidad e integridad (LUZ, 1991).
Estos instrumentos han definido un nuevo concepto ampliado de salud y han apuntado
a las estrategias de organización y control de las acciones y servicios de salud, interconec-
tando los sectores y buscando soluciones para las situaciones y problemas considerados
determinantes del estado de salud de la población. Estos instrumentos han constituido
asimismo la estructura legal de soporte del SUS, representando la responsabilidad del
Estado en la atención a la salud de la población desde el punto de vista legal, con un
propósito de descentralización, regionalización y jerarquización (WERNECK, 1994).
17
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
Otra influencia de los EEUU tiene relación con las acciones de asistencia pública,
reflejada en la diseminación de la política de higiene, que derivó en la higiene escolar
(SCHLOSMAN, 1989), teniendo como reflejo la introducción de la odontología en las
escuelas, siguiendo algunos años después los pasos de lo que había hecho la medicina
(STARR, 1994). Proposiciones entorno a la salud escolar han florecido en Brasil después
de mediados del siglo XIX y en 1889 surgió el primero decreto sobre higiene escolar,
reglamentando la inspección de los establecimientos de enseñanza públicos y privados
para identificar y proponer la exclusión del estudiante que sufriera de enfermedad
transmisible, revacunar a los estudiantes y cuidar de todos aquellos que no pudieran
tener en su hogar un tratamiento conveniente (BARBOSA apud LIMA, 1985). Los primeros
pasos para la institucionalización de la higiene escolar en el país estuvieron directa-
mente ligados a las ideas y los nombres de los intelectuales brasileños que planteaban
modernizar la sociedad bajo los padrones europeos y americanos. Además había que
18
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
enseñar y moralizar para que nuevas prácticas de higiene pudiesen reducir las diarreas,
la mortalidad infantil, el alcoholismo, la tuberculosis y la sífilis. Tales ideas se enlazaban
con la lucha por la reforma de la República y la modernización del país (CARVALHO &
LOUREIRO, 1997).
19
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
20
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
tal fuese aplicado durante cuatro décadas, repitiendo las actividades de atender tan
sólo de urgencias a los adultos, debido al coste elevado de sus insumos, por el empleo
de recursos humanos escasamente capacitados para actuar en el servicio público y a la
planificación limitada al carácter normativo (por la ausencia de integración con todos
los otros sectores). Este sistema, asentado en la base poblacional de mayor facilidad
administrativa y de control para el servicio, que es la población infantil debidamente
matriculada en la enseñanza primaria de la red pública de enseñanza, no permite la
inclusión en el programa de toda la población situada bajo el grupo de edad escolar
de 6 hasta los 14 años. Además, otros grupos de edad fueron omitidos o timidamente
asistidos por los demás programas del sector. Suele percibirse que estos programas,
en los servicios públicos, se definieron por la reproducción de la práctica liberal de la
odontología. Así, se ha caracterizado por la predominancia de la individualidad, del
tratamiento mutilador/restaurador y con un grado de resolución tremendamente bajo
(WERNECK, 1994).
Durante los años 1990, se ha debatido el espacio escolar como un lugar exclusivo
de atendimiento de la salud bucal y se ha abierto el debate sobre otras perspectivas e
estrategias de organización del trabajo odontológico. Nuevos conocimientos técnicos
y científicos sobre enfermedades bucales y formas de intervención, cambios ocurridos
en la distribución y manifestación de las enfermedades, además de los métodos alter-
nativos de planificación de salud aplicados a la realidad odontológica, han permitido
otras propuestas y modelos de organización de la práctica pública odontológica, lejos
del espacio escolar (CARVALHO & LOUREIRO, 1997).
21
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
las corrientes de los nuevos tiempos, tampoco los demás elementos de programación,
a saber: los dispositivos de garantía de acceso, los instrumentos de programación, la
naturaleza de las prácticas, la dinámica de formulación, implementación, ejecución,
control y evaluación; además del propio proceso de programación en Salud Bucal con-
siderado globalmente.
La crítica más grande contra este modelo promisorio es que todavía existe una con-
centración de la atención preventiva en el espacio limitado de la unidad de salud, así
como la falta de dispositivos que articulen la atención curativa a las acciones preventi-
22
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
Garrafa (1994) afirma que, aunque la odontología haya llegado al final del siglo XX
avasallando la intimidad de las enfermedades más frecuentes del área estomatológica
(principalmente la caries y la afección periodontal), además de las medidas técnicas
colectivas adecuadas para prevenirlas y curarlas, continuó recorriendo de manera
obstinada una vía individual y de sentido único que ha beneficiado meramente a unas
pocas personas que pueden pagarla. No obstante, la creación del Sistema Único de Sa-
lud aportó un grande avance social y político: su armadura legal e institucional definió
nuevas atribuciones para los niveles de gobierno federal, estadual y municipal; creó
nuevos espacios para la participación de la comunidad y de las entidades de la sociedad
23
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
civil y estableció nuevas relaciones entre las esferas administrativas de gobierno y las
instituciones del sector. Como resultado, la búsqueda de respuestas para el desafio po-
lítico-sanitario del SUS originó una cadena de opciones programáticas que, en algunos
aspectos, han destrozado el modelo de programación planteado por el Sesp (ZANETTI
et all, 1996).
24
CAPÍTULO 2
LA PARTICIPACIÓN SOCIAL EN LA
ELABORACIÓN DE LA POLÍTICA DE SALUD BUCAL
De esa manera, para que el sistema de salud brasileño fuera implantado, debería
incluirse el ejercicio regular de los consejos de salud y la realización cada cuatro años
de conferencias de salud en los tres niveles de gobierno, como instancias para el ejer-
cicio de la participación y del control social. Actualmente se crearon consejos de salud
en 99% de los municipios y en todos los estados en los cuales participan usuarios (50%
de los miembros de los consejos y coloquios), trabajadores de salud, proveedores y
administradores públicos (OPS, 2005).
25
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
Durante la década de 1980, pueden destacarse dos CNS por haber sobresalido en sus
textos el sector de la salud bucal en Brasil.
La primera fue la 7a Conferencia Nacional de Salud que abrió las puertas a la intro-
ducción de la odontología en un programa nacional de salud, señalando el modelo de
odontología propuesto hasta entonces como inefectivo, ineficaz, mal distribuido, de baja
cobertura, con enfoque curativo, de carácter mercantilista y monopolista, de recursos
humanos inadecuadamente capacitados. Durante la 8a Conferencia Nacional de Salud, el
movimiento político sanitario odontológico respaldó las directrices del Movimiento de la
Reforma Sanitaria y un proyecto contra la hegemonía en las ramas política, ideológica
e institucional (SERRA, 1998).
Hay que decir que, siguiendo el carácter interactivo de las CNS, las Conferencias
Nacionales de Salud Bucal ya realizadas han contado con la participación de miles de
personas de todos los ámbitos del gobierno. Ellas han marcado la historia de la salud
bucal en Brasil por contribuir con discusiones oportunas y por presentar proposiciones,
tanto de corto, como de medio y largo plazo, con vistas a alcanzar una salud bucal digna
y con calidad para todos los brasileños. A partir de sus decisiones fue posible aprove-
char los entornos políticos para implementar los dispositivos correctos de cumplimiento
efectivo de sus proposiciones, así como para rediseñar el escenario de la salud bucal,
como se verá a continuación.
26
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
Cuatro grandes temas han centralizado las discusiones de la 1a CNSB: La Salud como
Derecho de Todos y Deber del Estado, Diagnóstico de Salud Bucal en Brasil, Reforma
Sanitaria: Introducción de la Odontología en el Sistema Único de Salud e Inversión del
Sector de Salud Bucal.
27
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
28
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
partir de ellas, se definirían las prioridades y programas locales; el trabajo con el Ministe-
rio Público concerniente al deber del Estado de ofrecer la salud para que la Constitución
fuera acatada; y el trabajo con los gobiernos estaduales y municipales para que la salud
bucal fuera incluida entre las acciones de salud, entre otras cuestiones.
Puede decirse que la 2a Conferencia Nacional de Salud Bucal fue una respuesta legí-
tima de la sociedad civil organizada para rechazar una situación iatrogénica, excluyente
e ineficaz.
29
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
Así, las condiciones de salud bucal y el estado de los dientes fueron considerados
señales de exclusión social y de las precarias condiciones de vida de millones de per-
sonas en todo el país, debido a los problemas de salud localizados en la boca o por las
dificultades de acceso a los servicios asistenciales. En este marco, los desafíos a los
que se enfrentaban los participantes de la 3a CNSB tenían como propósito identificar los
principales problemas del país en el área de salud bucal, descubrir los medios y recursos
destinados a definir las estrategias para superarlos.
El Informe Final de la 3a CNSB fue aprobado en sucesivas sesiones plenarias por 803
delegados elegidos para la etapa nacional, durante las conferencias nacionales de salud
bucal de los 26 Estados y del Distrito Federal. Esos delegados (447 representantes de los
usuarios de los servicios de salud; 228 representando a los trabajadores de salud; y 208
representando a los administradores y proveedores de servicios de salud) analizaron las
proposiciones provenientes de todo el país resultantes de las 2.542 conferencias munici-
pales o regionales sobre salud bucal y de las 27 conferencias correspondientes a la etapa
estadual, de las cuales resultó un volumen de 651 páginas. El documento-referencia
sometido a discusión en la etapa nacional fue un resumen del volumen mencionado y,
de este esfuerzo de construcción colectiva de nuevos rumbos para la política nacional
de salud bucal, resultaron las proposiciones para orientar las decisiones de la sociedad
y del Estado brasileño, de manera tal que logren producir los cambios necesarios para
garantizar a todos el acceso a las acciones y a servicios de salud bucal de calidad.
30
CAPÍTULO 3
RETRATO DE LA SITUACIÓN DE SALUD
BUCAL DE LA POBLACIÓN BRASILEÑA:
LEVANTAMIENTOS EPIDEMIOLÓGICOS
Así, la salud bucal se convirtió el reflejo de ese contexto, con la agraviante de,
históricamente, presentar un defectuoso sistema de oferta de servicios odontológicos,
además de la práctica odontológica iatrogénica y mutiladora, contribuyendo así para la
creciente pérdida de dientes.
En el ámbito internacional, varios países, como Inglaterra y los países Nórdicos, con-
taban con bases de datos de caries dental desde las primeras décadas del siglo XX. En
Brasil, el primer levantamiento de salud bucal en nivel nacional es de 1986, llevado a
cabo por el Ministerio de Salud. Otros levantamientos en nivel nacional fueron conducidos
por el Ministerio, en asociación con entidades de clase y las secretarías municipales y
estaduales de salud, en 1996 y 2003, cuando se concluyó el Proyecto SB Brasil, lo más
grande y más completo levantamiento en salud bucal que se realizó en el país. Se van
a detallar a continuación eses levantamientos.
31
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
32
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
del período de 1975-80), se ha considerado el grupo de 50-59 años como el más repre-
sentativo y válido en términos de programación de actividades.
El continuo crecimiento del índice CPO-D – 12,7 de los 15 a los 19 años; 22,5 de los
35 a los 44 años y 27,2 de los 50 a los 59 años (Gráfico 3.1) – se ha dado esencialmente
como resultado del incremento de la contribución en el índice del componente corres-
pondiente a los dientes extraídos:
Gráfico 3.1 – Médias del CPO-D y participación de los componentes de acuerdo con la
edad. Brasil, 1986
Fuente: banco de datos del levantamiento epidemiológico – Brasil, zona urbana, 1986
33
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
Algunos de los datos sobre la caries dental y la condición periodontal de los diferentes
grupos de edad obtenidos en el levantamiento epidemiológico de 1986 se encuentran
resumidos en el Cuadro 3.1.
Cuadro 3.1 – Datos del levantamiento epidemiológico en salud bucal. Brasil, 1986
Levantamiento epidemiológico en salud bucal: Brasil, zona urbana, 1986
Muestra 25.407 personas en 16 municipios
Problemas Caries dental, enfermedades periodontales, uso y necesidad de
levantados e prótesis total, acceso a los servicios odontológicos, evaluación
informaciones socio-económica
obtenidas
Porcentaje de contribución Porcentaje de
Promedio del del componente Perdido en individuos con
Edad índice CPO-D el CPO-D periodonto sano
12 años 6,65 6,64% +6,54 -
15 a 19 años 12,68 15,20% 28,76
35 a 44 años 22,5 66,48% 5,38
65 a 74 años 27,21 85,97% 1,33
Fuente: Brasil (1988)
34
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
una segunda etapa en la que estaría inclusa la población adulta y otras enfermedades
investigadas, pero no resultó hacerlo.
Las escuelas fueran seleccionadas de forma aleatoria, en cada capital, con una escuela
de la periferia (pública), una escuela de barrio (pública) y dos escuelas en el centro,
una particular y otra pública. Se levantaron en total cuarenta estudiantes con edades
de 6 a 12 años en, al menos, cuatro escuelas de cada capital, logrando así 1.120 por
municipio, totalizando 30.240 en todo el país.
Como resultado se percibió que el CPO-D promedio creció de 0,28 a los 6 años a
1,53 a los 9 años, alcanzando 3,06 a los 12 años (Gráfico 3.2 y Cuadro 3.2). Los niños
de 12 años en las capitales de la región Norte presentaban un CPO-D de 4,27 mientras
que en las capitales de las regiones Sur y Sudeste presentaban un CPO-D de 2,41 y 2,06
respectivamente, patentizando diferencias regionales considerables (DATASUS, acceso
en 2005).
Gráfico 3.2 – Médias e intervalos de confianza (95%) de acuerdo con la edad. Brasil, 1996
35
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
Cuadro 3.2 – Datos del levantamiento epidemiológico en salud bucal. Brasil, 1996
Levantamiento epidemiológico sobre Salud Bucal (1996) – Caries dental
Muestra 30.240 personas en 27 municipios
Problema levantado Caries dental
e información
obtenida
Promedio del índice Porcentaje de contribución del
Edad CPO-D componente Perdido en el CPO-D
12 años 3,06 9,42%
Fuente: Brasil (1996)
36
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
En total se han examinado 108.921 personas, entre niños (18 a 36 meses, 5 y 12 años),
adolescentes (15 a 19 años), adultos (35 a 44 años) y ancianos (65 a 74 años) en zonas
urbanas y rurales de 250 municipios brasileños (50 por Macro-región).
37
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
Asunto Descripción
Volumen de la Calculado de acuerdo con el promedio y con la desviación típica
muestra de la caries dental por región con corrección para el tamaño
poblacional.
Entrenamiento Se adoptó la técnica del consenso, con cálculo de la
y Calibración concordancia porcentual y coeficiente Kappa para cada par
de examinadores. Monitores entrenados por los coordinadores
regionales llevaron a cabo el entrenamiento para cada equipo
local. Se establecieron niveles de concordancia para cada
agravio investigado.
Fuente: adaptado de RONCALLI et al. 2000
38
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
Tabla 3.1 – Comparación entre las metas de la OMS para el año 2000 y los resultados del
SB Brasil 2003
EDAD META DE LA OMS PARA 2000 SB Brasil
5 a 6 años 50% sin experiencia de cáries 40% sin experiencia de cárie
12 años CPO-D ≤ 3,0 CPO-D = 2,78
18 años 80 % con todos los dientes 55% con todos los dientes
35 a 44 años 75% con 20 o más dientes 54% con 20 o más dientes
65 a 74 años 50% con 20 o más dientes 10% con 20 o más dientes
Fuente: Brasil, 2003.
El Cuadro 3.4 presenta los datos relativos a la caries dental y la situación de las encías
en los distintos grupos de edad obtenidos en 2003.
39
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
Cuadro 3.4 – Datos del levantamiento epidemiológico en salud bucal. Brasil, 2003
Levantamiento sobre las condiciones de salud bucal en la población brasileña (2003)
Muestra 108.921 personas en 250 municipios
Problemas Caries dental, enfermedades periodontales, uso y necesidad de
levantados e prótesis total, acceso a servicios odontológicos, evaluación socio-
informaciones económica, fluorosis, mala oclusión, alteración del tejido blando,
obtenidas auto-percepción en salud bucal
Edad Promedio del Porcentaje de contribución Porcentaje de
índice CPO-D del componente Perdido en el individuos con
CPO-D periodonto sano
12 años 2,78 6,47 -
15 a 19 años 6,17 14,42 46,18
35 a 44 años 20,13 65,72 21,94
65 a 74 años 27,79 92,25 7,89
Fuente: Brasil, 2003.
40
CAPÍTULO 4
LA SALUD BUCAL EN LA ACTUALIDAD:
LA POLÍTICA BRASIL SONRIENTE
En el año 2003 empieza una nueva coyuntura política, expresada en la pose del
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, en la que fuerzas democráticas que originaron la
salud bucal como un derecho intrínseco del ciudadano se juntan en un proyecto común,
institucionalizándose en el gobierno federal brasileño, apuntando estratégicamente
para la disminución de la exclusión social. En ese contexto, se inicia la elaboración de
una Política Nacional de Salud Bucal que rescata el derecho del ciudadano brasileño a
la atención odontológica a través de acciones gubernamentales, superando el histórico
abandono y falta de compromiso con la salud bucal de la población.
41
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
En esa perspectiva, era necesario que la política, desde su origen, pudiera expresar
su construcción conjuntamente con la conformación del sistema de salud brasileño, o
sea, el Sistema Único de Salud (SUS). Este sistema, según sus principios constitucionales,
está basado en la universalización del acceso, en la integralidad, en la equidad y en el
control social.
•Atención
4.1. La salud familiar como enfoque estratégico para la organización de la
Básica en salud
A partir de 1986, con el movimiento de la reforma sanitaria, la discusión sobre el
concepto de salud/enfermedad propone la realización de nuevas acciones en salud,
empezando el desarrollo de proyectos de salud comunitaria y familiar y el diseño de un
nuevo modelo de organización de los servicios de salud.
42
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
Respecto a los Agentes Comunitarios de Salud (ACS), fueron incluidos 32.641 nuevos
agentes en el período de diciembre de 2002 a diciembre de 2005, totalizando 208.104
ACS actuando en el país. La población cubierta por los ACS pasó de 90,7 millones de
personas en diciembre de 2002 para 103,5 millones en diciembre de 2005.
43
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
se relacione con los usuarios y que participe de la gestión de los servicios para suplir las
demandas de la población y ampliar el acceso a las acciones y servicios de promoción,
prevención y recuperación de la salud bucal, a través de medidas de carácter colectivo
y por medio del establecimiento del vínculo territorial.
• ESB Modalidad II: Compuesta por CD, ACD y Técnico en Higiene Dental (THD). Reci-
bía inicialmente el importe de 5 mil reales (aproximadamente 2.200 dólares) para
implantación y 16 mil reales (aproximadamente 7.000 dólares) al año para pagos.
Originariamente, cada ESB servía como referencia para dos ESF de modo que cada ESB
cubría un promedio de 6.900 personas. Esta razón representaba un factor limitante al
proceso de implantación de los equipos de salud bucal e imponía a los expertos de salud
bucal un volumen de demanda de procedimientos clínicos curativos que comprometía
la incorporación de la filosofía de la estrategia de Salud de Familiar en el proceso de
trabajo de estos profesionales.
Con la Ordenanza Nº 74/GM, del 20 enero de 2004, se han efectuado nuevos rea-
justes de los incentivos, recibiendo cada ESB Modalidad I el importe de 20.400 reales
(aproximadamente 8.900 dólares) mientras que las ESB Modalidad II reciben 26.400 reales
(aproximadamente 11.500 dólares) al año para pagos. Estos importes son 56,9% más
44
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
elevados para las ESB Modalidad I, y 65%, para las ESB Modalidad II si se comparan con
los valores de 2001 y 2002. Ambas modalidades han recibido 6 mil reales como incentivo
adicional para la adquisición de equipos e instrumental. Después de esta ordenanza, las
ESB Modalidad II pasaron a recibir un equipo odontológico completo (sillón de dentista,
taburete, unidad auxiliar y piezas de mano) para la labor del Técnico en Higiene Dental
(THD).
Desde diciembre de 2002 hasta diciembre de 2005 se han implantado 8.342 nuevos
Equipos de Salud Bucal (ESB) en la Estrategia de Salud Familiar, alcanzando un total de
12.603 ESB, un incremento de más de 195% en la cantidad de equipos (Gráfico 4.1).
Fuente: Siab
45
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
Fuente: SIAB
Gráfico 4.3 – Proporción entre los ESF y los ESB. Brasil, diciembre/2005
Fuente: SIAB
Hasta diciembre de 2005 94,2% de los municipios contaban con ACS, mientras que
89,6% contaban con ESF y 70,1% con ESB, conforme se refleja en el Mapa 4.1.
46
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
47
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
•Centros
4.2. Ampliación y Calificación de la Atención Secundaria y Terciaria:
de Especialidades Odontológicas y Laboratorios Regionales de
Prótesis Dentales
La asistencia odontológica en los servicios públicos brasileños ha sido restringida
casi exclusivamente a los servicios básicos – aún así con una gran demanda reprimida
por procedimientos básicos. Los datos del Sistema de Informaciones Ambulativas del
SUS (SIA/SUS) de 2002 muestran que los servicios especializados no corresponden a
más de 3,5% del total de los procedimientos clínicos odontológicos. Es evidente la poca
capacidad de oferta de servicios de atención secundaria y terciaria, comprometiendo
en consecuencia el establecimiento de sistemas de referencia y contra-referencia en
salud bucal adecuados en la casi totalidad de los sistemas loco-regionales de salud. La
ampliación de la red asistencial de atención secundaria y terciaria no ha alcanzado,
en el sector odontológico, el incremento en la oferta de servicios de atención básica
(BRASIL, 2004).
Los CEO son unidades de referencia para la Atención Básica integrados en el proceso
de planificación loco-regional que proveen mínimamente, las especialidades de perio-
doncia, endodoncia, pacientes con necesidades especiales, diagnóstico bucal y cirugía
oral menor, clasificados en dos tipos:
• CEO Tipología I: Con 3 sillones odontológicos. Cada CEP Tipología I recibe 40 mil
reales (aproximadamente 17.400 dólares) para su implantación y 6 mil reales (apro-
ximadamente 2.600 dólares) mensuales.
48
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
• CEO Tipología II: Con 4 hasta 6 sillones odontológicos. Cada CEO Tipología II recibe
50 mil reales (aproximadamente 21.700 dólares) para su implantación y 8 mil reales
(aproximadamente 3.500 dólares) mensuales para otros costos.
Hasta diciembre de 2005 se pasaron los recursos para la implantación de otros 181
CEO. A través de la Ordenanza Nº 74/GM del 20 de enero de 2004, se incluyeron en la
Atención Básica los procedimientos de moldeado y suministro de prótesis total. Para
apoyar la confección de las prótesis totales se han creado recursos financieros por Prótesis
Total confeccionada por medio de la emisión de una Autorización para Procedimientos
de Costo/Complejidad Elevado (APAC) de 30 reales (aproximadamente 13 dólares) por
Prótesis Total.
49
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
Gracias al Brasil Sonriente los datos de diciembre de 2005 muestran que se implantaron
205 nuevos sistemas de fluoración del agua de abastecimiento público, abarcando 106
municipios en 6 Estados. Este proceso está siendo viabilizado por medio de una acción
conjunta con la Fundación Nacional de Salud (FUNASA) y acuerdos con las Secretarías
Estaduales de Salud.
Gráfico 4.4 – Recursos Federales aplicados en Salud Bucal. Brasil, 2002 - 2006
50
REFERENCIAS
10. COSTA, N. R. . Lutas Urbanas e Controle Sanitário - Origens das Políticas de Saúde
No Brasil. 2. ed. PETROPOLIS: VOZES, 1986. v. 2. 115 p.
11. FEDERATION DENTAIRE INTERNACIONALE. Global Goals for Oral Health in the year
2.000. Int. Dent. J., 32(1):74-7, 1982.
51
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
13. GARRAFA, V. Saúde Bucal e Cidadania. Rev. Saúde em Debate, n°. 41, p.50-57,
dezembro de 1994.
14. LUZ, M. T. 1991. Notas sobre as políticas de saúde no Brasil de transição democrática
– anos 80. Physis v. 1, n. 1, p. 77-96.
15. MENDES,E.V. (Org) Distrito Sanitário: O Processo Social de Mudança das Práticas
Sanitárias do Sistema Único de Saúde. 2 ed. São Paulo - Rio de Janeiro: Hucitec/Abras-
co, 1994. 310p.
16. NARVAI, P. C. Odontologia e Saúde Bucal Coletiva. São Paulo: Editora Hucitec - Hu-
manismo Ciência e Tecnologia. 1994. 108p.
18. PAIM, J.; ALMEIDA Filho, N. Saúde Coletiva: Uma ‘’nova saúde pública’’ ou campo
aberto para novos paradigmas? Revista de Saúde Pública, v. 4, n. 32, 1998. Disponible
en: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-891019980004000
01&lng=en&nrm=iso>. Acceso en octubre 2005.
23. SHEIHAM A .; JOFFE M. Public Dental Health Strategies for Identifying and Controlling
Dental Caries in High and Low Risk Populations. In: Risk marks for oral disease. Cam-
bridge: Cambridge University Press, 1992.
24. SCHLOSMAN, Steven L., BROWN, JoAnne, SEDLAK Michael. The Public School in
American Dentistry. Los Angeles: Robert Wood Johnson Foudation, 1986. 70p.
25. SERRA, C. G. A saúde bucal como políticas de saúde. Análise se três experiências
recentes: Niterói, Campinas e Curitiba. 1998, 1323p. Dissertação – Instituto de Medicina
Social, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
52
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
26. SILVA, Pedro Luiz Barros. Acesso e gerenciamento dos serviços de saúde: o dilema
do SUS na nova década, 2002. Disponible en: <http://www.comciencia.br/reportagens/
ppublicas/pp12.htm#nota2>. Acceso en octubre 2005.
27. SILVEIRA FILHO, Antônio Dercy. A saúde bucal no PSF: o desafio de mudar a prática.
Boletim do Programa de Saúde da Família, dez. 2002.
28. STARR, P. The social transformation of American Medicine – The rise of a sovereign
profession and the making of a vast industry. Basic Books, 1982.
32. ZANETTI, C. H. G., LIMA, M. A., Ramos L. et al. Em busca de um paradigma de pro-
gramação local em saúde bucal mais resolutivo no SUS. Revista Divulgação Saúde em
Debate, n.13, p.18-35. 1996.
53
ANEXO
DIRECTRICES DE LA POLÍTICA NACIONAL
DE SALUD BUCAL – BRASÍLIA, ENERO DE 2004
•PRESENTACIÓN
Este documento presenta las directrices del Ministerio de la Salud para organizar la
atención a la salud bucal en el ámbito del SUS resultantes de un proceso de discusiones
con los coordinadores estaduales de salud bucal. Tales directrices se fundamentan en
las proposiciones concebidas durante las últimas décadas en congresos y cumbres de
odontología y de salud colectiva y en conformidad con las deliberaciones de las Con-
ferencias Nacionales de Salud y de la 1a y la 2a Conferencia Nacional de Salud Bucal.
Estas directrices constituyen el eje político básico para la reorientación de los planes y
prácticas en el campo de la salud bucal, capaces de permitir un nuevo proceso de tra-
bajo y que tienen como meta la realización del cuidado. Debe comprenderse así como
referencia conceptual para el proceso de realizar el modelo de atención en el espacio de
la micro-política donde se lleva a cabo, confrontando problemas y demandas diferentes,
el encuentro entre el saber y el hacer entre los usuarios y expertos.
Hay que aclarar que se espera que este paquete de proposiciones continúe en discusión
durante el amplio proceso de debates que representa la 3a Conferencia Nacional de Salud
Bucal en varios niveles, cuyas decisiones van a permitir reforzar ciertas proposiciones
y reorientar otras.
55
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
•1. INTRODUCCIÓN
Las directrices aquí presentadas señalan una reorganización de la atención en salud
bucal en todos los niveles, tomando el concepto de cuidado como eje de reorientación
del modelo, respondiendo a un plan de salud que no está centrado simplemente en la
asistencia a los enfermos, sino principalmente en la promoción de la buena calidad de
vida y la intervención en los factores que la ponen en riesgo – por medio de la incorpo-
ración de las acciones programáticas de una forma más abarcadora y del desarrollo de
acciones intersectoriales.
De ese modo, las acciones y los servicios deben resultar de un conocimiento adecu-
ado de la realidad de la salud en cada lugar para construir una práctica efectivamente
resolutiva a partir de los mismos. Es imprescindible acercarse las personas e intentar
conocerlas en su medio ambiente: sus condiciones de vida, las representaciones y con-
cepciones que tienen sobre su salud, sus hábitos, las medidas que toman para remediar
sus problemas cuando padecen y lo que hacen para evitar a las enfermedades.
Para la organización de este modelo, es imprescindible que se conciban las líneas del
cuidado (del niño, adolescente, adulto y anciano) por medio de la creación de flujos que
impliquen acciones resolutivas de los equipos de salud, centrados en acoger, informar y
atender (referencia y contra-referencia). En ese modelo el usuario conoce cada parte
que compone la estructura del servicio de acuerdo con su experiencia personal y se
siente parte de ello y capaz de influir en su evolución. La línea del cuidado implica un
56
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
Como consecuencia, los expertos del equipo de salud bucal deben desarrollar la ca-
pacidad de proponer alianzas o en el sistema de salud, sea en las acciones desarrolladas
junto con las áreas de saneamiento, enseñanza, asistencia social, cultura o transporte,
entre otras.
•2. POSTULADOS
La reorientación del modelo de atención en salud bucal tiene los siguientes postu-
lados:
2.2. Garantizar una red de atención básica articulada con toda la red de servicios y
como parte indisoluble de la misma.
2.3. Asegurar que las acciones de salud bucal están integradas, articulando lo individual
a lo colectivo, la promoción y la prevención al tratamiento y la recuperación de
la salud de la población adscrita, sin dejar de atender cualquier ciudadano que
se encuentre en una situación de emergencia.
57
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
2.5. Realizar un acompañamiento del impacto de las acciones en salud bucal por me-
dio de indicadores adecuados, lo que implica la existencia de registros simples,
confiables y continuados.
2.8. Definir la política de enseñaza continua para los trabajadores de la salud bucal,
con el fin de implementar proyectos de cambio en la formación técnica, de
doctorado y de post-doctorado para que atiendan las necesidades de la pobla-
ción y los principios del SUS. Establecer responsabilidades entre las esferas del
gobierno, con dispositivos de cooperación técnica y financiera, orientados a la
formación inmediata de personal auxiliar, para posibilitar la implantación de los
equipos de salud bucal en la ESF. En los estados en los que los Polos de Educación
Permanente ya esten implantados, la enseñaza continuada de los trabajadores
en salud bucal debe darse a través de ellos.
2.10. Definir una agenda de investigación científica con el objetivo de investigar los
principales problemas relativos a la salud bucal, además de desarrollar nuevos
productos y tecnologías necesarias para expandir las acciones de los servicios
públicos de salud bucal en todos niveles de atención.
3.2. Ética: garantizar que cualquier acción sea gobernada por los principios universales
de la ética en la salud.
58
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
3.3. Acceso: buscar el acceso universal a la asistencia y atender toda demanda ex-
presa o constreñida, desarrollando acciones colectivas que partan de situaciones
individuales y vice-versa, asumiendo también la responsabilidad por todos los
problemas de salud de la población de un determinado espacio geográfico. Debe
darse prioridad absoluta a los casos de dolor, infección y sufrimiento.
59
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
4.2. Integralidad de la atención: el equipo debe ser apto para proveer acciones de
promoción, protección, prevención, tratamiento, cura y rehabilitación, sea en
nivel individual o colectivo.
4.3. Intersectorialidad: las acciones de promoción de salud van a ser más efectivas
al involucrar la escuela, el centro de trabajo, el comercio, los medios de co-
municación, la industria, el gobierno, las organizaciones no-gubernamentales y
otras instituciones. La intersectorialidad en este sentido implica incluir en la
planificación los distintos sectores que influyen en la salud humana: entre otros,
la enseñanza, la agricultura, la comunicación, la tecnología, los deportes, el
saneamiento, el trabajo, el medio ambiente, la cultura y asistencia social.
60
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
4.6. Parámetros: los parámetros para orientar el proceso de trabajo deben discutirse
y convenirse entre las coordinaciones de la salud bucal (nacional y estaduales; y
estaduales y municipales) para garantizar la dignidad en el trabajo a los expertos
y los usuarios, la calidad de los servicios ofrecidos y observar las reglas de bio-
seguridad.
•5. ACCIONES
El concepto ampliado de salud, definido en el articulo 196 de la Constitución de
la República, debe orientar el cambio progresivo de los servicios, evolucionando de
un modelo asistencial enfocado en la enfermedad y asentado en la atención a quien
la procura, hacia un modelo de atención integral a la salud, donde se incorporen pro-
gresivamente acciones de promoción y protección, junto con aquellas de recuperación
propiamente dichas.
Las acciones de salud bucal deben inserirse en la estrategia planificada por el equipo de
salud en una inter-relación permanente con las demás acciones de la unidad de salud.
61
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
5.1.1. Fluoración del agua: se entiende que el paso al agua depurada y fluo-
rada es fundamental para la salud de la población. De este modo, viabilizar las
políticas públicas que garantizan la implantación de la fluoración del agua, ex-
tensión del programa a los municipios con sistemas de tratamiento constituye
62
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
63
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
realizarán preferentemente por parte del THD, ACD y ACS. El CD debe plani-
ficarlas, organizarlas, supervisarlas y evaluarlas siendo él en última instancia
el responsable técnico-científico de las mismas.
e) Menos de 30% de los individuos del grupo están libres de caries a los 12
años de edad.
64
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
65
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
66
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
67
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
6.5.4. Grupo de adultos: los adultos, sobre todo los trabajadores, tienen
dificultades en el acceso a las unidades de salud principalmente en horarios
convencionales de trabajo de eses grupos. Tales situaciones acarrean una
peoría de los problemas existentes, cambiándoles en urgencia y motivo de
ausencia al trabajo, además de las consecuentes pérdidas dentarias. Recomen-
dase facultar horarios de atención que sean compatibles con las necesidades
de atención a este grupo e integrar la atención odontológica a los programas
68
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
•Y TERCIARIA
7. AMPLIACIÓN Y CALIFICACIÓN DE LA ATENCIÓN SECUNDARIA
69
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
Los CEOs serán unidades de referencia para los Equipos de Salud Bucal de la atención
básica y, siempre integrados al proceso de planificación loco-regional, van a ofertar,
conforme la realidad epidemiológica de cada región y municipio, los procedimientos
clínicos odontológicos complementares a los hechos en la atención básica. Se incluyen
los tratamientos quirúrgicos periodontales, endodoncias, dentística de más elevada
complejidad y los procedimientos quirúrgicos que sean compatibles con este nivel de
atención.
70
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
En tales situaciones, es primordial que se tenga cuidado con las personas: sus con-
diciones de vida, sus valores y sus hábitos. Hay una historia, peculiar, cercando cada
situación. Es imprescindible poseer la consciencia de las diferencias sociales y culturales
entre expertos del servicio y los usuarios. Tales diferencias son reales y perfectamente
sentidas por los interlocutores, sea en la atención que ocurre en la unidad de salud, sea
mientras una visita al hogar.
Para la salud bucal, esta nueva manera de se hacer frente a las acciones cuotidianas
representa, a la vez, un avance significativo y un grande desafío. Un nuevo espacio de
prácticas y relaciones que se plantean construir con posibilidades de reorientar el pro-
ceso de trabajo y la propia inserción de la salud bucal en el ámbito de los servicios de
salud. Se percibe una posibilidad de incremento del cubrimiento, de la certidumbre en
la respuesta a las demandas de la población y del alcance de las medidas de carácter
colectivo. Las más grandes posibilidades de ganancias se ubican en los campos del tra-
bajo en equipo, de las relaciones con los usuarios y de la gestión, implicando una nueva
manera de producirse el cuidado en salud bucal.
71
SERIE DE DOCUMENTOS PRESENTACIÓN
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD (OPS/OMS)
MINISTERIO DE SALUD – BRASIL
Volumen 1 La Organización Panamericana de
1. Processos de Descentralização da Saúde no la Salud – OPS, en su atribución
Brasil — Documento Analítico
de apoyar un sistema de salud
2. Seminário: o Sistema Único de Saúde e a
democrático, integral y ecuánime,
Regionalização
3. Seminário: Perspectiva para a descentrali- entiende que la consolidación de
zação e a Regionalização no Sistema Único esta acción en Brasil objetiva for-
de Saúde talecer el Sistema Único de Salud
(SUS). En este sentido, la misión
Volumen 2 de la OPS en Brasil, un país con
Produção de Conhecimento em Política,
extensión continental y con un
Planejamento e Gestão em Saúde e Políticas
sistema de salud en proceso de
de Saúde no Brasil (1974-2000)
permanente construcción, requiere
Volumen 3 un ejercicio continuo de la gestión
serie técnica
Saúde nos Aglomerados Ubanos: uma visão del conocimiento, que permita el
integrada cambio de experiencias y reflexión
critica y creativa sobre acciones
Volumen 4 innovadoras, visando a la mejoría
1. Financiamento do Sistema de Saúde no
de políticas y servicios públicos de
Brasil: marco legal e comportamento do
gasto serie técnica salud. Así, la Unidad Técnica de
Desarrollo de
2. O Papel e as Conseqüencias dos Incentivos Desarrollo de Sistemas y Servicios
como Estratégia de Financiamento das de Salud/OPS presenta la Serie
Ações de Saúde Técnica como una de las activida-
des de gestión del conocimiento,
Volumen 5
11
Volumen 7 de la calidad de la atención a la
Metodologia para Análises Funcionais da salud individual y colectiva, la
Gestão de Sistemas e Redes de Serviços de reducción de desigualdades y el
Saúde no Brasil alcance de la equidad. Brindamos
la comunidad de salud pública del
Volumen 8
país y de la Región de las Américas
Experiências e Desafios da Atenção Básica e
Saúde Familiar: Caso Brasil con esa publicación. Esperamos que
pueda tornarse un espacio vivo de
Volumen 9 apoyo a la construcción del SUS en
Sistema Integrado de Saúde do Mercosul / Brasil y que proporcione visibilidad
SIS-Mercosul – Uma Agenda Para Integração y acceso a los productos concretos
de la Cooperación Técnica de OPS.
Volumen 10
Sigamos avanzando en la conquista
Validação de uma metodologia de avaliação 11 de la calidad de vida y salud de la
rápida das características organizacionais e
do desempenho dos serviços do sistema de población.
Atenção Básica do SUS em nível local
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD – OPS/OMS
UNIDAD TÉCNICA DE DESARROLLO DE SISTEMAS Y SERVICIOS DE SALUD
serie técnica
Desarrollo de
Sistemas y Servicios de Salud
BRASÍLIA-DF, BRASIL
2006
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD – OPS/OMS
UNIDAD TÉCNICA DE DESARROLLO DE SISTEMAS Y SERVICIOS DE SALUD
LA POLÍTICA NACIONAL
DE SALUD BUCAL DE BRASIL:
REGISTRO DE UNA CONQUISTA HISTÓRICA
ORGANIZACIÓN
José Felipe Riani Costa
Odontólogo, especialista en Salud Colectiva, asesor
técnico de la Coordinación Nacional de Salud Bucal del
Ministerio de Salud
La política nacional de salud bucal de Brasil: registro de uma conquista histórica. José Felipe Riani Costa
/ Luciana de Deus Chagas / Rosa Maria Silvestre (orgs.). Brasília: Organização Pan-Americana da
Saúde, 2006.
59 p.: il. color. (Serie técnica desarrollo de sistemas y servicios de salud; 11)
ISBN:
1. Políticas de Salud. 2. Salud Bucal. I. Costa, José Felipe Riani de. Chagas, Luciana de Deus.
Silvestre, Rosa Maria. II. Título. III. Organização Pan-Americana da Saúde. IV. Brasil. Ministerio de Salud.
V. Serie técnica desarrollo de sistemas y servicios de salud.
NLM: WU113
GRÁFICO 4.3 – PROPORCIÓN ENTRE LOS ESF Y LOS ESB. BRASIL, DICIEMBRE/2005 ............ 46
TABLA 3.1 – COMPARACIÓN ENTRE LAS METAS DE LA OMS PARA EL AÑO 2000 Y LOS
RESULTADOS DEL SB BRASIL 2003 ........................................................................ 39
CAPÍTULO 1
INTRODUCCIÓN ............................................................................................. 15
1.1. LA INSTITUCIONALIZACIÓN DE LA SALUD BUCAL EN BRASIL .......................... 18
CAPÍTULO 2
LA PARTICIPACIÓN SOCIAL EN LA ELABORACIÓN DE LA POLÍTICA DE SALUD BUCAL ............ 25
2.1. 1A CONFERENCIA NACIONAL DE SALUD BUCAL (1A CNSB) ............................. 26
2.2. 2A CONFERENCIA NACIONAL DE SALUD BUCAL (2A CNSB) ............................. 28
2.3. 3A CONFERENCIA NACIONAL DE SALUD BUCAL (3A CNSB) ............................. 29
CAPÍTULO 3
RETRATO DE LA SITUACIÓN DE SALUD BUCAL DE LA POBLACIÓN BRASILEÑA:
LEVANTAMIENTOS EPIDEMIOLÓGICOS .................................................................... 31
3.1. LEVANTAMIENTO EPIDEMIOLÓGICO EN SALUD BUCAL (1986) ........................ 32
3.2. LEVANTAMIENTO EPIDEMIOLÓGICO EN SALUD BUCAL (1996) ........................ 34
3.3. LEVANTAMIENTO EPIDEMIOLÓGICO EN SALUD BUCAL (2003) ........................ 36
CAPÍTULO 4
LA SALUD BUCAL EN LA ACTUALIDAD: LA POLÍTICA BRASIL SONRIENTE ......................... 41
4.1. LA SALUD FAMILIAR COMO ENFOQUE ESTRATÉGICO PARA LA
ORGANIZACIÓN DE LA ATENCIÓN BÁSICA EN SALUD ......................................... 42
4.2. AMPLIACIÓN Y CALIFICACIÓN DE LA ATENCIÓN SECUNDARIA Y TERCIARIA:
CENTROS DE ESPECIALIDADES ODONTOLÓGICAS Y LABORATORIOS REGIONALES
DE PRÓTESIS DENTALES ........................................................................... 48
4.3. FLUORACIÓN DEL AGUA DEL ABASTECIMIENTO PÚBLICO .............................. 49
4.4. INVERSIONES EN EL BRASIL SONRIENTE .................................................. 50
REFERENCIAS................................................................................................. 51
ANEXO
DIRECTRICES DE LA POLÍTICA NACIONAL DE SALUD BUCAL – BRASÍLIA, ENERO DE 2004 ...... 55
PREFACIO DE LA OPS
9
PREFACIO DEL MINISTERIO DE SALUD DE BRASIL
Además, la publicación “La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: registro de una
conquista histórica” tiene el objetivo de explicitar todos los hechos principales que hicieron
parte de esa conquista en salud bucal dentro del escenario sanitario brasileño. Al colecti-
vizar esta realidad dentro del país, se espera un acercamiento a la percepción brasileña y
de los otros países de las Américas, permitiendo extender la discusión sobre este tema.
11
PRESENTACIÓN
De este modo, la Política del Brasil Sonriente surge como una opción para mejorar
la atención sanitaria de todos los brasileños, posibilitando la ejecución de acciones
conjuntas, pues las demandas de salud bucal y de enfermedades sistémicas no tienen
fronteras y apoyar la salud bucal significa apoyar la salud general.
Gilberto Pucca
Coordinador Nacional de Salud Bucal
13
CAPÍTULO 1
INTRODUCCIÓN
Las prácticas sanitarias de esa época estaban enfocadas sobretodo al control del con-
junto de enfermedades que amenazaban el mantenimiento de la fuerza de trabajo y el
avance de las actividades capitalistas en la ciudad y otras áreas del campo. Su objetivo,
al contrario de proteger la totalidad de los habitantes del país o de recobrar la salud de
los hombres fue, básicamente utilitario, definiéndose por el interés de grupos dominantes
internos o por la expansión del capitalismo a escala internacional (COSTA, 1986). La salud
pública de entonces, se instrumentalizó para luchar contra los estorbos que determinadas
enfermedades presentaban para el desarrollo de la producción. A partir de ese momento
comenzó la creación de modelos institucionales de práctica sanitaria conducidos por los
más avanzados conocimientos desplegados en el campo médico y sanitario en los países
capitalistas centrales (como Alemania y Francia en Europa o EEUU en América del Norte),
basándose en los descubrimientos en microbiología y bacteriología.
15
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
El período que va de 1930 hasta 1945, como fue comentado por Mendes (1994) cons-
tituye el comienzo de la Seguridad Social brasileña, en la que sobresale la doctrina del
seguro, la orientación economizadora de los gastos y la organización de los Institutos de
Jubilación y Pensiones (IAPs), estructurados bajo categorías profesionales. La asistencia
médica, en esa época, se volvió secundaria y provisoria. Con el avance del proceso de
industrialización, ocurrido después de 1950, hubo un desplazamiento del polo dinámico
de la economía hacia los centros urbanos, generando una masa operaria que debería ser
asistida por el sistema de salud. De esa manera, los IAPs se concentraron y terminaron por
ser remplazados por el Instituto Nacional de Seguridad Social (Instituto Nacional da Pre-
vidência Social - INPS) en el año 1966 con la intención de uniformizar los beneficios.
16
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
medicina simplificada para las poblaciones marginalizadas, defendida por los movimientos
contrarios a la hegemonía establecidos tras la propuesta internacional de los cuidados
primarios, acordada en Alma-Ata. El proceso de redemocratización del país ocurrió tras
este período de acentuada crisis económica y de la Seguridad Social (MENDES, 1994).
Fue con un concepto más amplio de salud que se ejecutó el informe final de la 8ª
Conferencia Nacional de Salud en 1986, siguiendo la Reforma Sanitaria brasileña que
tuvo como uno de sus principios la universalización de la salud como forma de superar
el déficit de oferta de salud a la población (WERNECK, 1998). La cuestión de la reforma
sanitaria y el de su papel en el establecimiento de un orden social democrático con-
tribuyeron en la transformación de la política de salud. Estas cuestiones exigieron un
cambio estructural y una política social capaz de acabar con la “deuda social histórica”.
Con la Constitución de 1988, se ratificó la unión de los servicios institucionales de salud
a través de la propuesta del Sistema Único de Salud (SUS) que aportó una nueva formu-
lación política y organizacional para el reordenamiento de los servicios y acciones de
salud, para los cuales establece la ejecución de actividades de promoción, protección
y recuperación de la salud, basado en los principios doctrinarios de la universalidad,
equidad e integridad (LUZ, 1991).
Estos instrumentos han definido un nuevo concepto ampliado de salud y han apuntado
a las estrategias de organización y control de las acciones y servicios de salud, interconec-
tando los sectores y buscando soluciones para las situaciones y problemas considerados
determinantes del estado de salud de la población. Estos instrumentos han constituido
asimismo la estructura legal de soporte del SUS, representando la responsabilidad del
Estado en la atención a la salud de la población desde el punto de vista legal, con un
propósito de descentralización, regionalización y jerarquización (WERNECK, 1994).
17
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
Otra influencia de los EEUU tiene relación con las acciones de asistencia pública,
reflejada en la diseminación de la política de higiene, que derivó en la higiene escolar
(SCHLOSMAN, 1989), teniendo como reflejo la introducción de la odontología en las
escuelas, siguiendo algunos años después los pasos de lo que había hecho la medicina
(STARR, 1994). Proposiciones entorno a la salud escolar han florecido en Brasil después
de mediados del siglo XIX y en 1889 surgió el primero decreto sobre higiene escolar,
reglamentando la inspección de los establecimientos de enseñanza públicos y privados
para identificar y proponer la exclusión del estudiante que sufriera de enfermedad
transmisible, revacunar a los estudiantes y cuidar de todos aquellos que no pudieran
tener en su hogar un tratamiento conveniente (BARBOSA apud LIMA, 1985). Los primeros
pasos para la institucionalización de la higiene escolar en el país estuvieron directa-
mente ligados a las ideas y los nombres de los intelectuales brasileños que planteaban
modernizar la sociedad bajo los padrones europeos y americanos. Además había que
18
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
enseñar y moralizar para que nuevas prácticas de higiene pudiesen reducir las diarreas,
la mortalidad infantil, el alcoholismo, la tuberculosis y la sífilis. Tales ideas se enlazaban
con la lucha por la reforma de la República y la modernización del país (CARVALHO &
LOUREIRO, 1997).
19
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
20
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
tal fuese aplicado durante cuatro décadas, repitiendo las actividades de atender tan
sólo de urgencias a los adultos, debido al coste elevado de sus insumos, por el empleo
de recursos humanos escasamente capacitados para actuar en el servicio público y a la
planificación limitada al carácter normativo (por la ausencia de integración con todos
los otros sectores). Este sistema, asentado en la base poblacional de mayor facilidad
administrativa y de control para el servicio, que es la población infantil debidamente
matriculada en la enseñanza primaria de la red pública de enseñanza, no permite la
inclusión en el programa de toda la población situada bajo el grupo de edad escolar
de 6 hasta los 14 años. Además, otros grupos de edad fueron omitidos o timidamente
asistidos por los demás programas del sector. Suele percibirse que estos programas,
en los servicios públicos, se definieron por la reproducción de la práctica liberal de la
odontología. Así, se ha caracterizado por la predominancia de la individualidad, del
tratamiento mutilador/restaurador y con un grado de resolución tremendamente bajo
(WERNECK, 1994).
Durante los años 1990, se ha debatido el espacio escolar como un lugar exclusivo
de atendimiento de la salud bucal y se ha abierto el debate sobre otras perspectivas e
estrategias de organización del trabajo odontológico. Nuevos conocimientos técnicos
y científicos sobre enfermedades bucales y formas de intervención, cambios ocurridos
en la distribución y manifestación de las enfermedades, además de los métodos alter-
nativos de planificación de salud aplicados a la realidad odontológica, han permitido
otras propuestas y modelos de organización de la práctica pública odontológica, lejos
del espacio escolar (CARVALHO & LOUREIRO, 1997).
21
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
las corrientes de los nuevos tiempos, tampoco los demás elementos de programación,
a saber: los dispositivos de garantía de acceso, los instrumentos de programación, la
naturaleza de las prácticas, la dinámica de formulación, implementación, ejecución,
control y evaluación; además del propio proceso de programación en Salud Bucal con-
siderado globalmente.
La crítica más grande contra este modelo promisorio es que todavía existe una con-
centración de la atención preventiva en el espacio limitado de la unidad de salud, así
como la falta de dispositivos que articulen la atención curativa a las acciones preventi-
22
La Política Nacional de Salud Bucal de Brasil: Registro de una Conquista Histórica
Garrafa (1994) afirma que, aunque la odontología haya llegado al final del siglo XX
avasallando la intimidad de las enfermedades más frecuentes del área estomatológica
(principalmente la caries y la afección periodontal), además de las medidas técnicas
colectivas adecuadas para prevenirlas y curarlas, continuó recorriendo de manera
obstinada una vía individual y de sentido único que ha beneficiado meramente a unas
pocas personas que pueden pagarla. No obstante, la creación del Sistema Único de Sa-
lud aportó un grande avance social y político: su armadura legal e institucional definió
nuevas atribuciones para los niveles de gobierno federal, estadual y municipal; creó
nuevos espacios para la participación de la comunidad y de las entidades de la sociedad
23
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
civil y estableció nuevas relaciones entre las esferas administrativas de gobierno y las
instituciones del sector. Como resultado, la búsqueda de respuestas para el desafio po-
lítico-sanitario del SUS originó una cadena de opciones programáticas que, en algunos
aspectos, han destrozado el modelo de programación planteado por el Sesp (ZANETTI
et all, 1996).
24
CAPÍTULO 2
LA PARTICIPACIÓN SOCIAL EN LA
ELABORACIÓN DE LA POLÍTICA DE SALUD BUCAL
De esa manera, para que el sistema de salud brasileño fuera implantado, debería
incluirse el ejercicio regular de los consejos de salud y la realización cada cuatro años
de conferencias de salud en los tres niveles de gobierno, como instancias para el ejer-
cicio de la participación y del control social. Actualmente se crearon consejos de salud
en 99% de los municipios y en todos los estados en los cuales participan usuarios (50%
de los miembros de los consejos y coloquios), trabajadores de salud, proveedores y
administradores públicos (OPS, 2005).
25
Serie Técnica — Desarrollo de Sistemas y Servicios de Salud
Durante la década de 1980, pueden destacarse dos CNS por haber sobresalido en sus
textos el sector de la salud bucal en Brasil.
La primera fue la 7a Conferencia Nacional de Salud que abrió las puertas a la intro-
ducción de la odontología en un programa nacional de salud, señalando el modelo de
odontología propuesto hasta entonces como inefectivo, ineficaz, mal distribuido, de baja
cobertura, con enfoque curativo, de carácter mercantilista y monopolista, de recursos
humanos inadecuadamente capacitados. Durante la 8a Conferencia Nacional de Salud, el
movimiento político sanitario odontológico respaldó las directrices del Movimiento de la
Reforma Sanitaria y un proyecto contra la hegemonía en las ramas política, ideológica
e institucional (SERRA, 1998).
Hay que decir que, siguiendo el carácter interactivo de las CNS, las Conferencias
Nacionales de Salud Bucal ya realizadas han contado con la participación de miles de
personas de todos los ámbitos del gobierno. Ellas han marcado la historia de la salud
bucal en Brasil por contribuir con discusiones oportunas y por presentar proposiciones,
tanto de corto, como de medio y largo plazo, con vistas a alcanzar una salud bucal digna
y con calidad para todos los brasileños. A partir de sus decisiones fue posible aprove-
char los entornos políticos para implementar los dispositivos correctos de cumplimiento
efectivo de sus proposiciones, así como para rediseñar el escenario de la salud bucal,
como se verá a continuación.