Você está na página 1de 6

AO JUÍZO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE ESPERA DA BOA

MORTE/MG.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS

GERAIS, por meio do seu órgão de execução que a esta subscreve, vem à

presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 129, IIl e IX, da

Constituição Federal, art. 72, IV, "a" e "b", da Lei Complementar n.° 11/96 e

arts. 1o e 50 da Lei n.o 7.345/85, propor a presente:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

em face do MUNICÍPIO DE ESPERA DA BOA MORTE,


pelos motivos de fato e direito a seguir aduzidos:

I - DOS FATOS:

A referida cidade fora acometida por uma grave crise

sanitária, o alastramento e os efeitos devastadores por ela provocados nos

levam à adoção de medidas necessárias para evitar a sua disseminação.

Entretanto, diante do alto grau de infectados, já encontra-


se em falta insumos básicos, medicamentos, pro ssionais da saúde (médicos,

enfermeiros, etc) e leitos nos hospitais da supracitada cidade.

Assim sendo, é notória a crise sanitária que assola a

cidade de Espera da Boa Morte. Até o início do dia 25/10/2023, foram

con rmados na cidade 5.000 (cinco mil) casos de pessoas que contraíram tal
doença, com um total de 500 (quinhentos) óbitos até o presente momento.

Com efeito, a partir da análise de dados coletados sobre a

realidade da disseminação desse vírus na cidade retromencionada, nota-se

que as características que mais impressionam em relação à esse vírus, são as

seguintes:
fi
fi
(1) A diferença entre a velocidade de propagação da doença e do número

de óbitos na cidade;

(2) A aparente constância quando o crescimento exponencial do número

de infectados passa a ser verdadeiramente percebido, aproximadamente,

um mês após detecção do primeiro caso.

Esse segundo fato, aliado à constante curva ainda

crescente de infectados e mortos em Espera da Boa Morte, impõe o

reconhecimento, baseado em dados empíricos, de que o pior está por vir e é

iminente, exigindo-se redobradas cautelas sanitárias.

Com efeito, diante da ausência de certeza cientí ca


quanto as medicações e cazes e da inexistência de vacina ou outro

medicamento, há um ponto de relativo consenso: o


distanciamento/isolamento social é estratégia que se tem mostrado e caz

no retardamento da velocidade de propagação da doença.

Deste modo, não há alternativa, senão, a decretação

de lockdown na cidade de Espera da Boa Morte, a m retardar sua

velocidade de propagação é a única forma de mitigar os impactos sobre o

Sistema de Saúde, impedindo, ou, ao menos reduzindo o número de mortes

evitáveis.

Diante desse quadro, forçoso reconhecer a

necessidade de ajuizamento desta Ação Civil Pública, com vistas à

decretação de lockdown total, em caráter de urgência, como forma de

maior proteção da população esperaboamortence.

Il - DO ATENTADO A VIDA E A SAÚDE:

Diante dessa terrível situação, medidas deveriam ser

previamente ou o mais rapidamente tomadas pelo Gestor Municipal deste

município, onde o mesmo, ciente do iminente perigo que tal vírus traria a
fi
fi
fi
fi
cidade, noticias veiculadas na mídia e estudos que apontavam 0 iminente

perigo que estaria por vir através deste vírus.

Como dito, o Gestor tinha plena ciência da situação que

estava se desenhando e ainda assim, optou por não tomar medidas de

prevenção para que caso tal vírus chegasse até o município citado, já estivesse

preparado para enfrentar tal moléstia, medidas essas como, por exemplo,

ampliar a rede municipal de saúde, contratar novos pro ssionais da saúde,

aquisição de remédios e insumos hospitalares e o mesmo não fez.

Deste modo, é notório que a má gestão e a omissão feita

por este Gestor, que in uenciou diretamente os infelizes resultados que vimos

hoje na cidade de Espera da Boa Morte, onde casos e mais casos de

infectados e óbitos não param de crescer.

Sendo assim, a omissão na implantação das políticas

públicas necessárias para a garantia dos direitos previstos na nossa

Constituição consiste em descumprimento de lei, ferindo princípios entabulados

na nossa Constituição Federal, vejamos o disposto no Art. 6° , onde versa sobre

direitos sociais inerentes à pessoa humana:

Art. 6° São direitos sociais a educação, a

saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,

o transporte, o lazer, a segurança, a

previdência social, a proteção à maternidade

e à infância, a assistência aos desamparados,

na forma desta Constituição.

Nesta toada, os arts. 196 e 197 da CF-88 corroboram com

todo o exposto acima, vejamos:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever

do Estado, qarantido mediante políticas

sociais e econômicas que visem à redução


fl
fi
do risco de doenca e de outros agravos e

ao acesso universal e iqualitário às ações

e servicos para sua promoção, proteção e

recuperação.

E mais:

Art. 197. São de relevância pública as

ações e servicos de saúde, cabendo ao

Poder Público dispor, nos termos da lei,

sobre sua requlamentação, scalização e

controle, devendo sua execução ser feita

diretamente ou através de terceiros e,

também, por pessoa física ou jurídica de

direito privado.

Sendo assim, é cristalino a responsabilidade que paira


sobre o Gestor Municipal da cidade em epígrafe, no qual deve ser

responsabilizado pelo atentado à vida e a saúde do povo esperaboamortence.

Il - DA TUTELA DE URGÊNCIA:
A tutela de urgência é medida imprescindível para

salvaguardar a e cácia do pronunciamento judicial, tornando-se uma forma de

providência emergencial que encontra respaldo legal no art. 19 da Lei n°


7.347/1985, combinado com o artigo 300 do Código de Processo Civil.

A teor do disposto no art. 300 do Código de Processo

Civil, poderá o Juiz, conceder tutela de urgência quando houver elementos que

evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao


resultado útil do processo.

Art. 300. A tutela de urgência será concedida

quando houver elementos que evidenciem a

probabilidade do direito e o perigo de dano ou

O risco ao resultado útil do processo.


fi
fi
No que concerne a probabilidade do direito restou claro,

que o alto índice de contágio da população residente em Espera da Boa Morte,

em razão do enfrentamento a grave crise de saúde, viola o direito

constitucional à saúde e o princípio fundamental da dignidade da pessoa

humana.

Veja-se que o fumus boni iuris é demonstrado

fortemente com as provas documentais colacionadas aos autos e

documentadas por veículos de comunicação, que demonstram a violação do

direito à saúde da população esperaboamortence.

Quanto ao periculum in mora, resta consubstanciado na

constatação, através de Boletins Epidemiológicos e dados cientí cos, do alto

risco de contaminação populacional e provável agravamento da disseminação

deste vírus no seio das famílias esperaboamortences, principalmente no

deslocamento casa-trabalho e qualquer outro tipo de aglomeração, o que

certamente causará prejuízo irreversível ao interesse público, notadamente à

saúde pública.

IV - DOS PEDIDOS:
Diante o exposto, requer:

1 - A procedência da presente ação, com o decretação da medida excepcional


do Lockdown total, a m de proteger a população desta cidade;
2 - Que seja reconhecido o atentado contra a saúde e segurança do povo
esperaboamortence, por parte de seu gestor municipal visto a omissão,

descumprimento e falta de preparo para o enfrentamento da situação

calamitosa;

3 - Que seja concedida a Tutela de Urgência pretendida.

V - DO VALOR DA CAUSA:

Dá-se a presente causa, o valor de R$ 50.000,00

(cinquenta mil reais).

Nestes termos, pede deferimento.


fi
fi
Espera da Boa Morte/MG

13 de novembro de 2023.

ANDRE R BARBOSA
Promotor de justiça

Você também pode gostar