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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CONSELHEIRO LUIZ EDUARDO CHEREM

Memorando GAC/LEC nº 02/24 Florianópolis, 14 de fevereiro de 2024.

De: Conselheiro Luiz Eduardo Cherem


Para: Conselheiro Presidente Herneus de Nadal

Assunto: Enfrentamento da Dengue pelo Estado e Municípios

Sr. Presidente,

Trata-se de proposta de providências acerca do aumento alarmante dos


casos de Dengue no Estado, de modo a fiscalizar as ações envidadas pelo Poder
Público no combate à doença, que já alcança nível de epidemia em alguns
municípios catarinenses.

1. INTRODUÇÃO

A Dengue e Seu Impacto na Saúde Pública Brasileira

A dengue é uma doença viral transmitida principalmente pelo mosquito


Aedes aegypti e representa um dos maiores desafios de saúde pública no Brasil
e em muitos países tropicais e subtropicais ao redor do mundo. O vírus da
dengue é classificado em quatro sorotipos diferentes (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e
DEN-4), e a infecção por um desses sorotipos geralmente confere imunidade
vitalícia apenas para esse sorotipo específico, tornando a população suscetível
a múltiplas infecções ao longo da vida.

O mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, é altamente adaptado ao


ambiente urbano e se reproduz em recipientes de água parada, como pneus

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velhos, vasos de plantas e recipientes descartados. A rápida urbanização e o


crescimento desordenado das cidades criaram condições propícias para a
proliferação desse vetor, aumentando significativamente o risco de transmissão
da doença.

O impacto da dengue na saúde pública brasileira é multifacetado e


abrangente. Em primeiro lugar, a dengue é uma doença que pode variar de uma
forma leve, com sintomas semelhantes aos da gripe, a uma forma mais grave,
conhecida como dengue grave ou dengue hemorrágica, que pode levar à morte
se não for tratada adequadamente. As complicações da dengue grave incluem
sangramento, choque e disfunção de múltiplos órgãos.

Além do sofrimento humano causado pela doença, a dengue exerce uma


pressão significativa sobre os sistemas de saúde. Durante os surtos de dengue,
os hospitais e clínicas frequentemente ficam sobrecarregados com um grande
número de pacientes, o que pode resultar em uma capacidade reduzida de
atendimento para outras condições médicas urgentes. Isso pode levar a um
aumento da mortalidade e morbidade não apenas devido à dengue em si, mas
também devido à redução da capacidade de resposta a outras emergências
médicas.

Além disso, a dengue também impõe um ônus econômico significativo à


sociedade. Os custos associados ao tratamento médico, ausência do trabalho
devido à doença e medidas de controle do vetor são substanciais e impactam
negativamente a economia. Além disso, o turismo pode ser afetado
negativamente durante os surtos de dengue, à medida que os viajantes evitam
destinos com alta incidência da doença.

Para combater a dengue, é necessária uma abordagem integrada que


inclua medidas de controle do vetor, como eliminação de criadouros, aplicação
de inseticidas e educação da comunidade, bem como investimentos em
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pesquisa para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos mais eficazes. Além


disso, é fundamental fortalecer os sistemas de saúde para garantir uma resposta
eficaz durante os surtos e melhorar o acesso ao diagnóstico e tratamento
adequados para os pacientes.

Em resumo, a dengue continua a representar um desafio significativo


para a saúde pública brasileira, com impactos que vão desde o sofrimento
humano até a pressão sobre os sistemas de saúde e a economia. O combate
eficaz a essa doença requer uma abordagem abrangente e coordenada,
envolvendo o governo, a comunidade e diversos setores da sociedade.

Santa Catarina, Sr. Presidente, nunca foi um Estado que apresentou


potencial de alta endemicidade para a Dengue, mas este ano, estranhamente,
os números saltaram ao nível de alarme.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA DEMANDA

Senhor presidente, urge a necessidade de atuação do Tribunal de


Contas de Santa Catarina no auxílio ao combate a essa possível epidemia de
dengue em nosso Estado.

Reportagem do site G1 de 9 de fevereiro do corrente ano afirma que,


segundo dados da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE), 5 (cinco)
pessoas morreram por causa da dengue em 2024 em Santa Catarina. No estado,
em 39 dias deste ano já são 8.710 casos prováveis da doença, um aumento de
611% (seiscentos e onze por cento) em relação ao mesmo período no ano
passado.

Dessas 5 (cinco) mortes, 4 (quatro) foram no munícipio de Joinville, e


uma em Araquari.

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A Secretaria de Comunicação do Governo – SECOM – produziu matéria


no dia 24 de janeiro acerca da coletiva de imprensa em que o Governo
apresentou o cenário epidemiológico da dengue e ações previstas para 20241.

Naquela oportunidade foi comunicado que seriam 900% (novecentos por


cento a mais) de casos em comparação ao mesmo período no ano passado, e
anunciada a criação de um Grupo de Ações Coordenadas (GRAC) para lidar
com o assunto, que integraria diversas pastas.

Foi divulgado na coletiva que o estado já tem 4.043 casos prováveis de


dengue. Além disso, já foram identificados mais de cinco mil focos do mosquito
Aedes aegypti em 186 municípios, sendo que 154 já são considerados
infestados. A Secretária de Estado da Saúde anunciou que 13 (treze) municípios
iriam receber a vacina para crianças de 10 a 14 anos.

Em pesquisa ao site da DIVE – Diretoria de Vigilância Epidemiológica do


Estado, verifico que existe um Plano de Contingência2 para o enfrentamento de
uma epidemia de Dengue pelo Governo do Estado. Diante disso, como primeira
providência há que se verificar se o mesmo ocorre nos munícipios, e se estão
sendo cumpridos, pedindo que enviem os respectivos planos de contingência a
este Tribunal com brevidade.

A DIVE divulga em seu site também, o Informe Epidemiológico nº


02/2024, “Vigilância Entomológica do Aedes Aegypti e Situação Epidemiológica
de Dengue, Chikungunya e Zika em Santa Catarina”3.

1
Disponível em: https://estado.sc.gov.br/noticias/governo-de-sc-apresenta-cenario-epidemiologico-da-dengue-e-acoes-
previstas-para-2024-2/
2
Disponível em: https://dive.sc.gov.br/index.php/dengue
3
Disponível em: https://dive.sc.gov.br/index.php/component/phocadownload/category/29-
dengue?download=1904:informe-epidemiologico-dengue-sc-02-2024
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Matéria da SECOM de 9 de fevereiro4 anuncia que Santa Catarina não


receberá doses da vacina contra a dengue na primeira remessa do ano do
Ministério da Saúde. Segundo Fábio Gaudenzi, Superintendente de Vigilância
em Saúde, “A região Oeste do estado já tem a presença maciça do
mosquito Aedes aegypti. Mais da metade dos municípios da região já registram
casos de dengue em 2024. Itapiranga já apresenta condição de epidemia da
doença e é o quarto município catarinense com a maior incidência de casos”.

Como visto, Sr. Presidente, o problema precisa de uma congregação de


forças. O Governo do Estado está atuante e tem procurado unir as secretarias
de estado no combate à doença. O Ministério Público de Santa Catarina ainda
não se manifestou em 2024. Mas, em 2023 foram expedidas recomendações de
medidas para o enfrentamento da Dengue para os municípios, inclusive para o
município de Joinville5, que este ano é reincidente a apresenta 4 (quatro) das 5
(cinco) mortes pela doença registradas.

Alguns Tribunais de Contas atuam na questão fiscalizando os gastos dos


recursos recebidos para o combate à Dengue, outros, em campanhas de
orientação e prevenção. Enfim, existem algumas frentes em que o Tribunal de
Contas pode exercer a sua competência constitucional com relação à matéria.

O Tribunal de Contas possui amplo trabalho de fiscalização dos planos


de contingência de enfrentamento da Dengue (Acórdãos 810/2007, 1187/2007,
2458/2007). Em 2008 mais de um bilhão de reais foram recebidos pelos estados
e municípios. As auditorias do TCU focam regiões cuja situação epidemiológica
é mais grave, e formulam determinações aos gestores para melhorar o combate
à dengue.

4
Disponível em: https://dive.sc.gov.br/index.php/noticias-todas/623-dengue-em-sc-secretaria-de-saude-realiza-reuniao-
tecnica-na-macrorregiao-do-grande-oeste-para-acoes-de-prevencao-a-doenca
5
Disponível em: https://www.mpsc.mp.br/radio-mpsc/mpsc-recomenda-que-o-municipio-de-joinville-adote-medidas-
urgentes-no-combate-controle-da-dengue
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Reportagem do Jornal o Globo de 12 de fevereiro6 dá conta de que 2024


será o pior ano da Dengue no Brasil de todos os tempos, com uma previsão de
mais de 1000 (mil) mortes e mais de 4 (quatro) milhões de casos. Para se ter
uma ideia, em 2007 o que levou o TCU a fazer as referidas auditorias no assunto
Dengue foi o aumento exponencial em relação ao ano anterior, sendo que em
2007 houveram menos de 500 (quinhentos) mil casos e 290 (duzentos e
noventa) mortes. A informação é bem clara no quadro abaixo:

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Disponível em: https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2024/02/12/dengue-brasil-tera-149percent-mais-casos-em-
2024-do-que-registrado-no-pior-ano-da-serie-historica-veja-infografico.ghtml
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Neste Sentido, Sr. Presidente, solicito a assinatura em conjunto de um


ofício a ser expedido à todas as Prefeituras e ao Estado (o qual, como já
afirmado, possui um Plano), para apresentação de seu plano de contingência.
Deve ser verificado pela Diretoria competente, no conteúdo desses planos, se
as ações ali elencadas suprem as necessidades de combate ao vetor,
formulando sugestões em caso negativo.

Em caso de ausência de Plano do ente, deverá ser determinado ao


respectivo Gestor a elaboração e apresentação deste o mais rápido possível,
sob pena de responsabilidade, sem prejuízo da adoção de outras providências
que forem sugeridas pelo Corpo Técnico e GAP. A forma, o tipo de processo, de
expedição dos ofícios e das determinações, bem como a análise dos planos
remetidos, fica a critério da Diretoria Técnica.

Solicito, por fim, senhor Presidente, a celeridade que o tratamento do


assunto requer, assim como na questão relativa à obrigatoriedade de
apresentação de vacinação da Covid19 para matrícula na rede municipal de
estadual de ensino, cuja demanda está consubstanciada no Memo GACLEC nº
01/2024, anexo ao Processo SEI nº 24.0.000000471-1, lembrando que a
Covid19 é mais letal e muito mais transmissível que a Dengue.

3. PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

Ante todo o exposto, e considerando que a Constituição Federal prevê em


seu art. 5º que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade”, sendo direito à vida o direito fundamental mais precioso de todos;

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Considerando que a saúde é um direito fundamental social, inserido


também no art. 6º da Constituição Federal, assegurado, nos termos do art. 196
da Carta Magna, como “direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação”;

3.1. Venho respeitosamente solicitar à Vossa Excelência, a adoção de


providências com vistas a assinatura em conjunto de ofício requisitando aos
municípios catarinenses que enviem seus Planos de Contingência de
combate à Dengue. Constando do ofício que, caso não possuam Plano de
Contingência para enfrentamento da Dengue, que seja determinada a sua
elaboração e remessa ao Tribunal, no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de
multa ao Prefeito Municipal e ao Secretário Municipal da Saúde, em caso de
eventual descumprimento.

3.2. Solicito, também, que seja verificada pelo Corpo Técnico e pela
equipe da Presidência a conveniência e oportunidade da adoção de outras
providências cabíveis no sentido de contribuir e fiscalizar o combate à Dengue
no Estado, informando-as a este Conselheiro.

Florianópolis, 14 de fevereiro de 2022.

LUIZ EDUARDO Assinado de forma digital por LUIZ


CHEREM:507193009 EDUARDO CHEREM:50719300991
Dados: 2024.02.14 14:22:31 -03'00'
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Luiz Eduardo Cherem
Conselheiro

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