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CADERNO 1

DPMA da 9ª Região | 2021


Coleção de Cadernos: Semeando SAFs para Plantio de Mariri e Chacrona na 9ª Região
Departamento de Plantio e Meio Ambiente (DPMA)
CR da 9ª Região - Triênio 2021 - 2024

Diretor - M. Mauro Carneiro


M. Central da 9ª Região - M. João Bosco Carneiro Xavier
Coordenação Regional do DPMA - 9ª Região
Coordenador Regional: M. Saulo Augusto Teixeira
Auxiliar no Estado do Paraná: Tiago Mafra
Auxiliares no Estado de Santa Catarina:
C. Roberta Moriconi Freire Schardong e Elis do Nascimento Silva
Auxiliar no Estado do Rio Grande do Sul: C. Wagner Vitória
1ª Secretária - Géssia dos Santos Machado
2ª Secretária - Erika da Silva Paulo Teodoro

Equipe Editorial

Preparando o Terreno - Caderno 1


Organização: C. Roberta Moriconi Freire Schardong
Participação: M. Saulo Augusto Teixeira, C. Wagner Vitória,
Elis do Nascimento Silva, Erika da Silva Paulo Teodoro,
Géssia dos Santos Machado e Tiago Mafra.
Diagramação: Erika da Silva Paulo Teodoro
Revisão: C. Fabíola Pozza Korndorfer - Coordenação Regional
do Departamento de Memória e Comunicação - 9ª Região
Revisão e correção ortográfica: Christian Fuentes,
Karin Romano e Lucileine Rossa.

Ficha Catalográfica

Centro Espírita Beneficente União do Vegetal.


Coleção Semeando SAFs para Plantio de Mariri e Chacrona na 9ª Região.
Preparando o Terreno - Caderno 1.1ª edição,
21 páginas, 2021.

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Queridos zeladores do Plantio da União,
Nosso querer com a produção deste material é disponibilizar essas boas
práticas agroflorestais que nos convidam a conhecer as dinâmicas com que Deus,
com sua superior sapiência, rege toda a natureza.
Peço a todos que se inspirem no sábio Rei Inca, “vamos experimentar”
implantar esse reconhecido conhecimento onde ele ainda não é praticado,
confiando neste trabalho que vem de encontro com as diretrizes do
Departamento de Plantio e Meio Ambiente da UDV.
Um bom plantio a todos e que a colheita seja farta.
Luz, Paz e Amor.
M. Saulo A. C. Teixeira
Coordenador Regional - DPMA 9ª Região

Irmãos plantadores da 9ª Região,


Sinto-me feliz por ver um movimento espontâneo e necessário no
sentido do aprimoramento técnico das equipes do plantio da UDV.
Apesar de buscarmos no livro aberto da natureza o nosso maior
referencial de estudo agroflorestal, sabemos que materiais técnicos
de apoio são sempre bem vindos e auxiliam no entendimento dos
trabalhos que estão sendo desenvolvidos e apoiados pelo DPMA.
Parabenizo o coordenador da 9ª Região e sua equipe pela iniciativa
da elaboração deste material. Desejo que possamos plantar sempre boas
sementes no solo e em nossos corações!
Fraternalmente,
C. Murilo de Lima Arantes
Vice Diretor de Capacitação do DPMA

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Apresentação
“Vejo na terra, plantio e colheita,
Vejo no mundo um prenúncio de paz”. Marinês

Mestre Gabriel é o primeiro plantador. Quando voltou a Porto Velho, depois de


descoberto o tesouro que foi encontrar na floresta, comprou uma casa e em seu terreno
plantou o Mariri e a Chacrona.
Quando profetizou que a União do Vegetal chegaria a muitos países, foi questionado
como seria possível e respondeu: “plantando Mariri e Chacrona”.
Desse momento em diante o Plantio no âmbito da União do Vegetal vem crescendo.
Hoje está em todas as regiões do nosso país e continua expandindo para além do
território brasileiro com o trabalho de dedicação e amor de um grande número de
pessoas.
Num movimento ascendente de trabalho em união, foi criado em, 1993, um
Departamento dedicado ao plantio.
Hoje, o denominado Departamento de Plantio e Meio Ambiente – DPMA traz princípios
alinhados com as diretrizes do Centro que norteiam esse trabalho. São 11 princípios,
apresentados no quadro a seguir, para que todo bom plantador guie suas ações neles em
plantios da União do Vegetal.

Foto: https://dpma2.udv.org.br/

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“Não jogue fora as sementes
guarde pra mim por favor. Vou transformar as sementes
numa semente de amor”.
(Majó)

Foto: Denilson Gualberto

Com esse sentimentos de amor, elaboramos esse Caderno 1, de outros que virão,
para estudos a respeito do plantio do Mariri e da Chacrona em Sistemas Agroflorestais.

Nos próximos cadernos iremos tratar assuntos que são necessários para continuar
esses estudos, tais como:

Diagnóstico das áreas de Plantio para planejamento do plantio de Mariri e Chacrona em


sistemas agroflorestais;

O passo a passo para implantação de sistemas agroflorestais, seleção de espécies para


comporem os desenhos e técnicas de Plantio, de cultivo e de manejo das plantas;

Relatos das experiências de cultivo de Mariri e de Chacrona nos Plantios da 9ª Região.

Consideramos também a importância da participação de todos nesses estudos


trazendo ideias para mais temas que sejam necessários para essa construção de um
conhecimento teórico e prático em nossos Plantios.

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Dessa forma, a intenção dos conceitos, informações e experiências que serão
apresentados nos cadernos de estudos dessa coleção é para que alimente discussões e
amplie os horizontes para que juntos possamos:

“III. Fortalecer e aprimorar a sistematização e o zelo das práticas de cultivo de Mariri


e Chacrona nas áreas de plantio”.

De forma a atendermos o oitavo princípio do Departamento de Plantio e Meio


Ambiente:

“VIII. Constituir acervo de experiências e metodologias na formação de plantadores


e zeladores, auxiliando na Preparação de Dirigentes”.

Para tanto convidamos todos os senhores para esse trabalho de forma a:

“IX. Promover estudos, reuniões e encontros para compartilhamento do


conhecimento”.

E para reforçar e ampliar esses estudos, quem ainda não visitou a Plataforma on-
line do Departamento do Plantio e Meio Ambiente (dpma2.udv.org.br), convidamos para
acessar o site para conhecer as orientações e as recomendações que foram construídas
com amor para todos os Caianinhos!

Foto: https://dpma2.udv.org.br

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1. Biodiversidade da Floresta

“Ontem o menino que brincava me falou.


Que o hoje é semente do amanhã”.
Gonzaguinha

Num ambiente biodiverso com mecanismos naturais complexos e energeticamente


eficientes em circulação de água e em reciclagem de nutrientes, José Gabriel da Costa
encontra o Tesouro – Hoasca - que é a União de dois Vegetais: o Mariri e a Chacrona.

Foto: Sérgio Polignano

Duas plantas da Floresta Amazônica e que por isso, dentre os 11 princípios


norteadores das atividades do DPMA, traz:

“Plantar o Mariri, a Chacrona e espécies lenheiras” (Princípio I) de forma a “Manter


a prática dos princípios agroflorestais, considerando a diversidade de espécies”
(Princípio V).

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2. Floresta Cultivada

“Pois quem cultiva a esperança, rega em seu peito uma flor ”.


Pau de Corda

Florestas clímax, consideradas intocadas pelo ser humano até pouco tempo,
podem ter sido sistemas florestais plantados e manejados por povos que nos
antecederam. O conhecimento de práticas milenares possibilitou trabalharem em
harmonia ao equilíbrio dinâmico existente, assim como, nas florestas naturais.

Integrando dados e estudos de campo de diferentes áreas das ciências sociais


e naturais, estudo recente trouxe indícios de que populações humanas, que viveram ao
longo dos últimos milhares de anos na Amazônia, domesticavam e cultivavam espécies
de plantas em sistemas florestais.

Na tese que reuniu dados de várias pesquisas, a autora concluiu que,


provavelmente, pelo menos 138 espécies de plantas, principalmente árvores e outras
espécies perenes foram domesticadas por povos da Amazônia antes da conquista
européia.

Dentre estas ressaltamos algumas espécies que estamos utilizando na


implantação de nossos sistemas agroflorestais, tais como, castanha-do-brasil
(Bertholletia excelsa H.B.K.), o açaí-do-mato (Euterpe oleracea Mart.), a seringueira
(Hevea brasiliensis L.), o ingá (Inga ynga (Vell.) J.W. Moore), a uva da Amazônia
(Pourouma cecropiifolia Mart.), o abiu-grande (Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk.), o
cacuaeiro (Theobroma cacao L.), o cajueiro (Anacardium occidentale L.), o jenipabo
(Genipa americana L.), a sapota sul-americana (Matisia cordata Bonpl.), o bacuri
(Platonia insignis Mart.) e o cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng.) K.
Schumm.).

Quem quiser conhecer mais dados dessa pesquisa intitulada


“Domestication of Amazonian Forests”,
defendida por Carolina Levis em 2018, pode acessar o link:
https://ppbio.inpa.gov.br/sites/default/files/Carolina_Levis_Tese_2018.pdf

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3. Aprendendo com a Floresta

“As relações intra e interespecíficas na natureza são todas elas baseadas


unilateralmente no Amor Incondicional e na Cooperação”.
Ernst Götsch

Bebendo dessa fonte, Ernst Götsch, suíço erradicado na Bahia, relata sua
experiência com os indígenas da Costa Rica. Mostraram a ele que a queda natural de
folhas de uma grande árvore possibilita a entrada da luz solar e o plantio de culturas de
ciclo rápido embaixo dela.

Esse importante pesquisador e agricultor da atualidade, por mais de três


décadas, estuda e observa como a natureza age. Vem divulgando esse conhecimento
adquirido com suas experiências de implantação, manejo de sistemas agroflorestais e
consultorias em diversos biomas do Planeta. A esses sistemas batizou como agricultura
sintrópica.

Em 2018, o Núcleo Flor Divina, por intermédio do irmão Antônio Gomide,


conseguiu trazer Ernst para a realização de dois eventos, uma palestra e um curso que
reuniram sócios de 12 Regiões do Centro e de 14 estados brasileiros. No curso estava
presente Antônio Gomide, Eric Lassmann, Márcio Armando, Murilo de Lima, Pedro
Faria e Vilmar Luiz Lemen, que auxiliaram como monitores nas atividades práticas.

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Além dos eventos terem sido importantes como promoções para arrecadar
recursos ao Centro, a troca de experiências entre os participantes e a riqueza de
informações trazidas por Ernst foram importantes nesse movimento de formação de
plantadores no âmbito do Centro.

O curso contemplou conhecimentos teóricos e atividades práticas. Os conceitos


dos princípios da agricultura sintrópica foram exemplificados em observações da
natureza. Nas atividades práticas foram manejadas duas áreas e foi feita a implantação
de uma SAF desenhada por Ernst Götsch para o cultivo de Chacrona e,
posteriormente, semeadura de Mariri na borda, considerando as especificidades do
terreno do Núcleo. Foram explicadas a importância e a função de cada elemento
escolhido para compor o desenho, sendo o objetivo principal promover um ambiente
adequado e saudável para o desenvolvimento da Chacrona.

Nas próximas páginas vamos navegar por esses princípios tratados no curso.
São ideias que podem nos aproximar da compreensão do ambiente natural onde
encontramos o Mariri e a Chacrona. E, ao longo desse e dos outros cadernos,
incluiremos o conhecimento de pesquisas e experiências a respeito da importância de
criar ambientes biodiversos e bem estruturados para não termos necessidade do uso
contínuo e intenso de insumos externos.

Estudando esses conceitos que serão apresentados e fazendo um exame das


experiências já vivenciadas em nossos plantios de Mariri e de Chacrona podemos criar
um alicerce estruturado para darmos o passo seguinte com mais firmeza:

Colocar em prática esses conhecimentos para


ver os resultados!
Foto: Sérgio Polignano

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4. Princípios Inspirados na Floresta

“O que está embaixo é como o que está no alto.


E o que está no alto é como o que está embaixo”.
Hermes Trismegisto

No Princípio V do DPMA, que orienta “Manter a prática dos princípios


agroflorestais, considerando a diversidade de espécies”, podemos estudá-lo
iniciando com duas perguntas-chave:

O que são Sistemas Agroflorestais e que princípios são esses mencionados


nesse enunciado?

As ideias que serão expostas para buscar respostas para essas duas perguntas
são informações que devem ser examinadas e aprofundadas para depois poderem ser
adaptadas e aplicadas para a realidade de cada Plantio do Centro.

Então vamos começar conversando a respeito dos tipos e definições de


Sistemas Agroflorestais. No caso, os SAFs tratados aqui não são aqueles mais simples
compostos por poucas plantas, como por exemplo: os consórcios de eucalipto
(Eucalyptus urograndis), uma planta arbórea, com a soja (Glycine max (L.) Merrill), uma
planta herbácea.

Consideramos nesse material como SAFs, os sistemas mais diversificados e


que apresentam características observadas nas florestas naturais, nas quais
encontramos o Mariri e a Chacrona. Esses sistemas biodiversos são conhecidos na
literatura como agroflorestas sucessionais, as quais são caracterizadas pela grande
diversidade de espécies e seu manejo inspirado na sucessão natural das mesmas, ou
seja, na sucessão ecológica.

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Dentro dessa definição precisamos compreender, numa perspectiva mais ampla,
o que é diversidade de espécies e a importância do manejo. Esses dois elementos são
essenciais para que os Plantios, dentro dos princípios da dinâmica da vida, reflitam o
equilíbrio e a resiliência, característicos de uma Floresta Natural.

Pela diversidade de espécies, o processo de alta eficiência energética


(fotossíntese), regido pela luz do Sol com a utilização de gás carbônico e da água,
produz a extraordinária complexidade de material orgânico existente no Planeta Terra,
em que o fluxo da vida se manifesta e interage.

Os princípios agroflorestais ocorrem de forma integrada e dinâmica


estabelecendo o equilíbrio e o fluxo da vida nos sistemas.

A diversidade das espécies é importante para que possamos observar e


conhecer cada vez mais os princípios que promovem a dinamização e o fluxo da vida
nas florestas. Quando o sistema é biodiverso, esses princípios impulsionam um
equilíbrio dinâmico em que é possível percebê-los pela ascendente:

Estruturação do solo;

Interação das plantas e das ervas com a Luz do Sol (fotossíntese) nos
diferentes estratos preenchidos no espaço por copas e folhas;

Espiral da vida ao longo do tempo pela sucessão das espécies vegetais.

Quem quiser conhecer os diferentes tipos e definições utilizadas na literatura para Sistemas
Agroflorestais pode consultar o livro:
“Restauração Ecológica com Sistemas Agroflorestais: como conciliar conservação com
produção. Opções para Cerrado e Caatinga”(2016),
em que um dos autores desse material é um sócio da União, Maurício Rigon Hoffmann.

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4.1. Estruturação do SOLO

O solo da Floresta Amazônica é diverso. Nesse ambiente existem áreas de Terra


Firme que não são sujeitas a inundações. Outras denominadas Várzeas sujeitas a
inundações periódicas. Também há solos antrópicos, estudados em sítios arqueológicos,
conhecidos como Terra Preta de Índio (TPI), de grande interesse pela elevada fertilidade
e altos teores de matéria orgânica. As Terras Pretas de Índio já foram encontradas tanto
em Terra Firme quanto em Várzeas e sua ocupação é estimada entre 0,1%-0,3% no
Bioma Amazônico.

As terras pretas de índio da Amazônia: sua caracterização e uso deste


conhecimento na criação de novas áreas.
Wenceslau Geraldes Teixeira; Dirse Clara Kern; Beáta Emöke Madari; Hedinaldo
Narciso Lima; William Woods. Manaus: Embrapa Amazônia Ociental, 2009. 420 p

O que prevalece são indicativos de que 86% dos solos da Amazônia são de baixa
qualidade. Então o que justifica a riqueza e biodiversidade florestal? A alta capacidade
de ciclagem de nutrientes provenientes da produção e decomposição da serrapilheira.

Serrapilheira = material orgânico ou em decomposição presente na superfície do solo da


floresta proveniente de folhas, frutos, sementes, galhos, dejetos de animais, entre outros.

Nos sistemas agroflorestais quanto mais adensado os Plantios mais materiais para
compor a serrapilheira serão fornecidos ao solo. Quanto mais cobertura pelas podas
constantes, menos problemas com erosão, mais retenção de umidade e um ambiente
mais estruturado com a presença da microvida (micro-organismos, microfauna)
responsável pela ciclagem dos materiais da serrapilheira.

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Na Floresta Amazônica o percentual de fungos é maior do que de bactérias, sendo
os fungos seres vivos que podem formar associações com as raízes das plantas
constituindo as micorrizas. Da parte dos fungos formam-se finos filamentos de células
denominadas hifas que podem alcançar minerais em pequenos espaços existentes entre
partículas de solo, não acessado pelas raízes das plantas devido ao tamanho das
mesmas serem maiores e não passarem entre essas partículas.

Os fungos que compõem as micorrizas são capazes de manter uma rede de


comunicação entre as plantas. Estudos têm contribuído na observação e constatação da
troca de nutrientes entre plantas da mesma espécie e de espécies diferentes.

A prática agroflorestal de disposição de troncos no solo e a realização de podas


de galhos fornecendo continuamente madeira e cobertura vegetal, têm a intenção de
criar ambientes que possibilitem o aparecimento e desenvolvimento de fungos e outros
seres microscópicos e macroscópicos que habitam o solo.

Toda essa diversidade de seres é de fundamental importância para a manutenção


da vida no solo e ciclagem de nutrientes. A estruturação do solo depende dessa
microvida para que as plantas tenham resiliência e o sistema prospere.

O livro ‘Manual do Solo Vivo’ da professora e pesquisadora Ana Primavesi pode


contribuir com informações importantes para esse entendimento da ciclagem de
nutrientes por meio da diversidade e riqueza da microvida no solo.

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4.2. Diferentes ESTRATOS da copa das plantas e das ervas

A fotossíntese é um processo bioquímico no qual a energia luminosa do


Sol irradiada age sobre pigmentos existentes nas folhas e partes verdes das
plantas, em algas e em bactérias denominadas cianobactérias. Nesse processo
são sintetizados compostos orgânicos (matéria-prima que compõe e nutre os
seres vivos) pela reestruturação e ligação de átomos das moléculas de gás
carbônico e de água, enquanto moléculas de gás oxigênio formadas são
liberadas para a atmosfera.

Na figura a seguir, é possível observar plantas da mesma espécie em que


suas copas têm a mesma altura. Essa imagem não é a que encontramos na
Floresta Amazônica, na qual plantas da mesma espécie, na maioria das vezes,
encontrem-se distantes umas das outras e as plantas de diferentes espécies
estão bem próximas ocupando várias alturas diferentes: umas com copas mais
altas, outras medianas e outras mais baixas.

Fonte: Canva, 2021.

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Na imagem seguinte, as plantas ocupam espaços diferentes em relação à altura
(vertical), possibilitando maior difusão da Luz do Sol para chegar às folhas de todas as
plantas, ocasionando maior produção de matéria orgânica num mesmo espaço de área
horizontal, quando comparado à imagem anterior. O espaço engloba um número maior
de plantas, sendo ocupado de forma mais eficiente com as copas das árvores em
diferentes alturas, ou seja, diferentes estratos. Dessa forma, a diversidade de espécies
se faz presente com a troca de nutrientes suprindo necessidades distintas de cada ser
vivo presente e que se complementam.

Emergente

Alto

Médio

Baixo

Fonte: Canva, 2021.

Embora na Floresta existam muitos estratos, inicialmente, podemos incluir nos


desenhos dos sistemas agroflorestais os estratos: baixo→80-90%, médio→50-60-%,
alto→30-40% e emergente→15-25%, considerando o percentual apresentado
correspondente à área sombreada abaixo das copas das plantas de cada estrato. O
desenho compondo os estratos deve ser bem planejado para que o ambiente tenha um
equilíbrio dinâmico em que exista a cooperação e não a competição pelos mesmos
recursos em relação aos nutrientes e à Luz do Sol.

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4.3. SUCESSÃO de espécies vegetais

Quando uma árvore grande cai na floresta abre um espaço chamado clareira.
Nesse local existem muitas sementes dormentes e outras de germinação e crescimento
rápido levadas ao local por animais, insetos, vento. As plantas crescem todas juntas,
cada qual no seu ritmo e conforme as necessidades de maior ou menor incidência solar.
As pioneiras são as primeiras espécies que despontam, tem um ciclo de vida
curto e ajudam a “criar” as secundárias iniciais. Por sua vez, essas outras criam
ambientes mais adequados para o crescimento das plantas secundárias tardias e das
clímax. Todas crescem juntas, cada qual no seu ritmo, e cada uma cumprindo sua
função no sistema, tais como:
De sombreamento para outras que necessitam crescer com menos luminosidade
possam se desenvolver abaixo destas;
De abrir caminho, descompactando e modificando a estrutura física do solo a partir
de suas raízes para facilitar o estabelecimento das raízes de outras plantas;
Da interação com a microvida do solo e troca de nutrientes modificando o meio
químico e biológico para disponibilizar recursos que outras plantas de crescimento
mais lento necessitam.
Todos esses eventos, em que cada planta contribui com suas características
próprias para a modificação do ambiente, oferecem condições mais adequadas para que
as plantas que têm um ciclo mais longo possam continuar sua jornada por muitos anos.
Essas plantas de ciclo mais longo registram em seus anéis de crescimento informações
climáticas importantes do meio em que estão inseridas, podendo viver algumas
centenas de anos.
Desta forma, para que esse elo em prol da vida se estabeleça ao longo do
tempo realizamos o plantio de todas as espécies que são importantes para o sistema
agroflorestal ao mesmo tempo. Contando, também, com o movimento da natureza em
que o vento, animais, pássaros, insetos participam desse processo trazendo espécies
que se agregam para compor os sistemas.
Nosso papel é conhecer essas plantas, estudá-las e aprender com elas para
que possamos permitir que se desenvolvam e cumpram seu papel dentro dos sistemas.

O livro ‘Agricultura Sintrópica segundo Ernst Götsch’, escrito por José Fernando dos
Santos Rabello e Daniela Ghiringhello Sakamoto, traz importantes conceitos e informações
para quem quiser aprofundar mais o conhecimento dos princípios agroflorestais.

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5. Sistemas Agroflorestais

“Água de beber, camarada, terra de plantar, olê!


Fonte de saber, camarada, tempo de aprender”.
Marina

Nos Sistemas Agroflorestais, devemos incluir nos desenhos espécies que


componham todos os estratos, espécies de todos os ciclos de vida, espécies que
cumpram diferentes funções (“criadoras” de outras plantas, fornecedoras de biomassa e
nutrientes, espécies de crescimento rápido). E é importante plantar tudo junto!

Lembrando que o foco principal é o Mariri e a Chacrona! Por isso devemos incluir
nos desenhos plantas tutoras do Mariri e que sombreiam a Chacrona, com as espécies
lenheiras.

Dar preferência à utilização de muitas sementes em vez de mudas para que a


natureza selecione e defina os indivíduos mais fortes, adequados e resistentes para
aquele local, pois as sementes guardam em si um potencial de variação e manifestação
genética bem maior do que uma muda. Colocando muitas sementes de uma
determinada espécie, deixamos que a Natureza mostre-nos quais têm mais condições
para desenvolverem-se no local plantado.

Usamos estacas e mudas para plantas com determinado objetivo e função dentro
dos sistemas. Seguem alguns exemplos: a estaca de mandioca (Manihot esculenta) é
uma planta de raiz tuberosa proporcionando a aeração do solo e inocula os fungos
que irão se associar às raízes das sementes germinadas formando
as micorrizas e ampliando, assim, a área de absorção de nutriente
pela planta; a muda de abacaxi (Ananas sp) oferece um
ambiente sombreado e propício para as sementes
germinarem e se criarem; mudas de eucalipto
desenvolvem-se rápido trazendo informação de
crescimento para todo sistema.

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Foto: 15/09/2019 Muvuca de Sementes. Implantação da


UD-SAF 9ª Região. Fonte: DMC/NLA.
Exemplos como a mandioca, o eucalipto (Eucalyptus sp.), as estacas de gliricidia
(Gliricidia sepium), a semeadura de gramíneas e de leguminosas para a poda cumprirão
o papel de fornecer biomassa servindo de material para a cobertura do solo, manutenção
da umidade e provimento de nutrientes que serão quebrados pela microfauna, pela
macrofauna e pelos decompositores presentes no solo.

Nesse contexto o manejo é fundamental para a organização e dinamização dos


SAFs. Na Floresta quem cumpre esse papel são ventos, derrubando folhas e galhos; os
insetos, cortando as folhas; os mamíferos quebrando galhos.

Em nossas SAFs, por volta de 95%, do progresso e da resiliência dos sistemas


dependem das capinas seletivas e das podas, realizadas no momento preciso para
favorecer a continuidade do crescimento e sucessão das plantas.

No manejo faz-se necessário, cada vez mais, aperfeiçoar e conhecer a ciência da


poda em cada espécie de planta e, também, podas que permitam a entrada adequada
da Luz do Sol em cada ambiente específico. Então, sendo o manejo de fundamental
importância nos sistemas agroflorestais, sempre que oportuno, estaremos conversando
a respeito dele nos próximos cadernos.

Antes do manejo Após o manejo

02/04/2021.Manejo na UD-SAF 9ª Região. Foto: Ricardo Moncau

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Esperamos que esse primeiro caderno contribua para
a busca do aprofundamento dos estudos e
aprimoramento das práticas em sistemas
agroflorestais nos nossos Plantios!

Foto: Denilson Gualberto

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