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A Igreja é um grupo de pessoas nas quais Deus colocou a Si mesmo. Isso não
quer dizer, no entanto, que nos tornaremos Deus. Cremos que a Igreja se unirá
a Deus e se tornará a Sua. Muitos sabem somente sobre ser salvo, nascer de
novo, tornar-se filho de Deus e, algum dia, ir para o céu. Mas, o propósito eterno
de Deus, é muito superior a isso. Ele diz respeito a ter uma Igreja constituída
pelos que foram cheios dEle e unidos a Ele. Talvez, em lugar de dizermos que
somos membros do Corpo de Cristo, poderíamos dizer que somos parte de
Cristo. Eu sou uma parte de Cristo, você é outra parte e, quando essas partes se
encontram debaixo do encabeçamento Dele, temos a plenitude do Corpo. Isso é
extremamente poderoso.
Cada uma de nossas células precisa entender essa verdade e trabalhar para
a edificação de uma casa para Deus. A Igreja é a habitação de Deus, é o lugar
onde estamos nEle e Ele está em nós. Quando vivemos uma vida de uns aos
outros, estamos começando a construir essa casa espiritual para a habitação
divina. A célula é a expressão da Igreja, e edificar a célula é edificar a Igreja.
Muitos, porém, veem a célula apenas como uma reunião de irmãos numa casa,
mas ela é muito mais que isso. Para edificarmos a célula de forma apropriada,
precisamos ter clareza do que é a Igreja.
Mesmo uma igreja em discipulado, com o passar do tempo, pode se tornar ativista,
quando a própria célula torna-se apenas um programa, ou mais uma atividade.
Como isso acontece? Quando a célula se torna opcional; podemos fazer células
como podemos fazer qualquer outra coisa, ela é apenas mais uma das atividades
que está no “menu” da igreja à disposição dos membros. Essa comunidade se
torna, então, uma igreja que se reúne em células, mas que também está voltada
para o fazer.
Por detrás de uma igreja que está preocupada em realizar atividades e
programações, existe um paradigma, um princípio de vida. Por detrás de uma
igreja que está preocupada em gerar filhos para Deus, há um outro paradigma e
um outro princípio de vida. Nos bastidores de uma igreja de programas, existe a
preocupação no fazer. E por trás de uma igreja em discipulado, o ponto central é
baseado em gerar filhos. Essas duas igrejas na realidade são sinceras, e ambas
querem agradar a Deus. Qual das duas irá conseguir? Essa é a pergunta crucial
a ser feita. É possível viver a vida inteira fazendo algo, e no final descobrir que
não era o que estava no centro do coração de Deus. Naturalmente, não estou
afirmando que seja errado fazer coisas para Deus. Não é questão de certo ou
errado, de conflito entre pecaminoso e santo. Para nós, é uma questão de atingir
o centro do coração de Deus.
Imagine uma pessoa que deseja muito agradar a Deus, e então resolve fazer um
bolo de chocolate. Ela investe a vida em fazer o melhor bolo de chocolate, com
a melhor receita e os melhores ingredientes. Até que chega o grande dia em que
ela é recebida na glória, e Deus percebe que ela tem algo em mãos. Ela abre um
sorriso enorme para Ele, afirmando que dedicou toda uma vida para fazer um
bolo de chocolate e oferecê-lo. Deus então vira para ela e diz: “não te contaram
que não gosto de bolo de chocolate?” Eu gosto de bolo de cenoura, de laranja,
não gosto de bolo de chocolate. Por gentileza, pode entregar o seu bolo para o
anjo Gabriel, porque ele gosta bastante de bolos de chocolate. É óbvio que na
nossa “teologia” é praticamente pecado alguém não gostar de chocolate, mas
vamos supor que Deus não gosta. Isso não te incomoda? Uma pessoa investir
a sua vida inteira em função de algo, mas no Grande Momento não conseguir
atingir o seu objetivo, por não saber aquilo que estava no centro do coração do
Senhor?
Nossas obras serão provadas, testadas e checadas por Deus. E é possível que a
obra de toda uma vida, ao chegar no tribunal de Cristo, se perca porque não era
aquilo que Deus desejava, por isso é vital saber o que Ele deseja. Infelizmente a
pergunta de algumas igrejas não é “o que Deus deseja”, e sim “o que os irmãos
gostam?”, presumindo que o que os irmãos gostam deve ser o desejo de Deus.
Não edificamos a igreja de acordo com o nosso gosto pessoal e sim de acordo
com o propósito eterno de Deus. Não coloque o homem no centro, coloque o
coração de Deus no centro. Se Deus quer filhos, seremos uma igreja que coloca
filhos nos braços do Pai.
O começo com Adão
Em Gênesis, encontramos uma série de pistas que mostram que Deus não
criou o homem para fazer algo para Ele. O Criador não estava precisando de
trabalhadores ou de operários. Deus não cria o homem e o coloca em uma linha
de montagem, ou em uma lavoura. Ele cria o homem e o coloca em um jardim,
um lugar de desfrute, um lugar para você apenas estar, isso já nos mostra a
intenção de Deus para o homem. O primeiro dia do homem foi o sétimo dia, visto
que ele foi criado no sexto, portanto, ele passou a existir já no dia do descanso.
Talvez Adão tenha acordado perguntando para Deus, “o que temos para fazer
hoje?”, e Deus respondeu dizendo, “hoje é sábado, não fazemos nada, separei
o dia só para estar com você”. Ali, Ele está mostrando para Adão para o que
ele foi criado; o homem foi criado para o desfrute, para o prazer, não quer dizer
que Adão não iria fazer algo, estou apenas compartilhando o alvo, a intenção do
coração de Deus.
Todavia, Adão pecou e já não podia transmitir a imagem de Deus, e sim a própria
imagem caída. Em Gênesis 5.3, lemos: “Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou
um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem”. O filho de Adão já não era
a semelhança de Deus, mas a semelhança do próprio Adão. Por quê? Porque,
ao pecar, Adão perdeu a imagem da glória de Deus. A imagem de Deus é a Sua
própria glória e a glória de Deus está na face de Cristo, que é a exata semelhança
de Deus Pai (2 Co 4.6).
No Éden, Adão e Eva estavam vestidos da glória de Deus, mas, no dia em que
pecaram, perderam a glória. Por isso, o autor da Carta aos Romanos diz que
todos pecaram e foram destituídos da glória de Deus. A consequência da queda
foi a perda da imagem divina. Ao cair, o homem foi contaminado pelo pensamento
de Lúcifer, recebendo em si a semente do diabo, e agora ele não está mais
preocupado em cumprir o propósito de Deus. Sua preocupação agora é outra,
é ter realizações e feitos para receber reino, poder e glória para si mesmo. O
homem quer agora uma posição, um título de honra e é isso o que vemos no
decorrer da narração bíblica.
Depois, no verso 21, lemos a respeito de Jubal, pai dos que tocam harpa e flauta,
dos que trabalham com arte e diversão. Você consegue perceber a habilidade
dessa gente? Além deles, lemos no verso 22 a respeito de Tubalcaim, que era
artífice, alguém que, além de ter habilidade artística, também dominava a técnica
do artesão.
Se vivessem em nossos dias, essas pessoas seriam aquelas com mais seguidores
e curtidas nas redes sociais, afinal são talentos como esse que fazem das pessoas
famosas e importantes. Elas realizam grandes coisas e fazem grandes feitos.
Eles são a descendência de Caim. O valor deles é exclusivamente este, o que
fazem. O texto bíblico apenas registra o que realizaram. A mentalidade de Caim
é que o seu valor está naquilo que você faz.
Antes do dilúvio, o homem decaiu a tal ponto que Deus precisou enviar o juízo e
destruir toda aquela geração. Depois do dilúvio, entretanto, Deus começa tudo
novamente, agora através de Noé. Após destruir toda a humanidade, o Senhor
começa tudo de novo, no capítulo 9 de Gênesis. E disse Deus a Noé: “Sede
fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra” (Gn 9.1).
Será que Deus não tem outra coisa para falar? A repetição da mesma ordem do
início de Gênesis não é por falta de repertório ou originalidade, mas sim porque
Deus não muda. Seus propósitos, desígnios e pensamentos se mantêm de
eternidade a eternidade. O que foi dito a Adão, também o foi a Noé, porque Deus
não muda os Seus propósitos. Hoje, Ele diz o mesmo também a nós. Deus jamais
mudou o que deseja em Seu coração. Aquilo que sempre é repetido expõe o que
está em Seu coração.
O começo de Deus foi primeiro com Adão, que caiu. O segundo foi com Noé,
que resultou em Babel. Agora, Deus chama Abraão dizendo: “De ti farei uma
grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!
Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti
serão benditas todas as famílias da terra”. (Gn 12.2,3)
Deus diz a Abraão o mesmo que disse a Adão e a Noé, mas em outras palavras.
Desta vez Ele diz: “Seja uma bênção! Você quer ser uma bênção, Abraão? Através
de você todas as famílias da terra serão abençoadas”. Abraão entendeu o que
queria dizer a afirmação de Deus. Ele sabia que ser uma bênção para toda a
terra implicava ter filhos. O próprio nome Abrão significa “Pai exaltado”, e o nome
recebido depois, Abraão, significa “Pai de multidões”. Aquele que é chamado
para ser pai de nações obviamente precisará ter muitos filhos. Ao lhe dar um
nome, Deus revelava a Abraão o Seu coração, o que havia em Sua mente. Era
como se Deus dissesse: “Abraão, eu lhe chamei para ser pai. Eu não lhe chamei
pra fazer nada, apenas para ser fecundo”.
O que Abraão fez durante toda sua vida? Nada. Sejamos sensatos. Como Abraão
iria abençoar as famílias da terra? Fazendo obras extraordinárias? Fazendo
alguma coisa? Como ele seria uma bênção para as famílias da terra? A única
maneira seria tendo filhos. Ao olharmos a história do Pai da Fé veremos que a
vida dele foi uma luta em torno de como ter um filho. Abraão terá um filho ou não?
Você consegue imaginar um homem ficar a vida inteira em função de ter filhos?
Isso nos parece uma contradição. Pelo pensamento de hoje, o chamado de Deus
a Abraão seria algo assim: “Abraão, o diabo está construindo uma grande torre.
Eu quero que você vá e construa uma ainda maior para mim”. O conceito de
Babel diz que, para honrar a Deus, temos de fazer algo maior; mas o conceito de
Deus não é o fazer, mas o gerar.
É o mesmo princípio que vemos hoje na Igreja. Como Abraão, fomos chamados
para sermos pais de nações. Como ele, não podemos gerar por nós mesmos; mas,
se tivermos fé e disposição de obedecer, como ele teve, certamente Isaque virá e,
com ele, numerosas nações. Não tenha dúvidas de que fazer coisas é mais fácil
do que gerar filhos. Gerar traz pressão; fazer coisas apenas traz cansaço. Gerar
filhos nos força a depender de Deus; enquanto podemos fazer coisas por nós
mesmos. Gerar filhos exige fé; fazer coisas exige apenas trabalho. Abraão viveu
a vida inteira em função de ter esse filho, mas tem uma questão, o nascimento
de Isaque estava além da capacidade dele. Nós também não conseguimos gerar
filhos, está além da nossa capacidade. Abraão precisava de uma intervenção
divina, da mesma forma só podemos gerar filhos pelo poder de Deus.
Quem faz, está fazendo porque consegue fazer. Quem gera, só pode gerar se
Deus fizer brotar dentro dele o propósito. Não será pela força de Agar, não será
pelo braço do homem. Os filhos que Deus vai te dar nascerão pela dependência
do céu, essa é a glória dos filhos de Deus. Deus sempre vai requerer aquilo que
você não pode fazer, porque aquilo que você pode fazer é obra sua, aquilo que
você não pode fazer é obra dele. Abraão recebeu uma recompensa por algo que
ele nem podia gerar, porque essa é a graça de Deus.
Quando Deus começa tudo novamente através da igreja, Ele afirma as mesmas
palavras dos três primeiros começos. Quando Jesus comissiona os discípulos
dizendo: “ide, portanto, fazei discípulos”, em outras palavras Ele está dizendo:
“gere filhos”. Tudo o que nós fazemos passa, os filhos permanecem. Os livros
que escrevemos passam, as músicas que cantamos e gravamos passam, mas os
filhos permanecem. Por isso concentre-se em ganhar, consolidar, edificar, treinar
e enviar. Em outras palavras faça discípulos, gere filhos para Deus. Outras coisas
podem vir acontecer, mas é tudo secundário, o que traz realização e satisfação
são filhos (Fp 4.1).
Por que aqui o Senhor não os ensinou a orar? Por que nesse momento Ele não
falou sobre as bem-aventuranças? Por que Ele não pregou o sermão do monte?
Porque o mais importante que Ele tinha a falar era exatamente a ordem para
gerar.
A questão é que novamente encontramos esses dois paradigmas na vida da
Igreja: o fazer e o gerar. Há uma necessidade de fazer coisas, e não há nada
de errado nisso, podemos fazer; mas o propósito do coração de Deus é o gerar.
Onde estão os nossos filhos espirituais? Quem caminha conosco? A vida de
quem estamos marcando na família, na escola, na faculdade ou no trabalho?
Quando você̂ chegar diante do Senhor, o que você̂ dirá́ ? “Eis-me” aqui e os 327
cultos em que você̂ participou? “Eis-me” aqui e as 497 tortas de frango que você̂
fez para a reunião de mulheres? “Eis-me” aqui e as 103 vezes que você̂ subiu ao
monte? “Eis-me” aqui o que? “Eis-me” aqui quem? É isso que Ele quer ouvir de
você̂?
“Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e
o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia
do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo.
Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com
os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo
estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá,
já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram”
Apocalipse 21.1-4.
Nós vivemos em uma época de muitas vozes, é por isso que você precisa ter
revelação dos nossos valores e das bases da nossa visão. Uma das vozes nos
nossos dias é a afirmação que a prática dos pequenos grupos já passou, que
Deus está fazendo uma coisa nova, como se Deus mudasse o seu propósito e
planos. O que Deus desejava desde a eternidade, Ele continua desejando hoje,
e a sua vontade será cumprida na eternidade. Uma vez que você entende os
nossos valores que sustentam tudo o que nós fazemos, você percebe que não
é uma questão de metodologia, estratégia e organização. Na realidade estamos
falando de algo espiritual, queremos edificar a igreja, é isso que está no centro
do coração de Deus.