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Os três começos de Deus

A Palavra de Deus, especificamente o evangelho, possui um ponto central. Envolvemo-nos em


demasia com coisas secundárias e até periféricas, enquanto o ponto central do evangelho é a
Igreja, é Cristo dentro de nós.
Desde a eternidade passada, estava no coração de Deus Seu desejo de ter filhos. Deus
intentava cumprir esse propósito por meio de Adão, mas Adão pecou, e o propósito de Deus foi
momentaneamente adiado. Mas hoje, em Cristo, Seu propósito é restabelecido.
Dentro da visão celular, classificamos as igrejas como sendo igrejas de programas ou igrejas
em células. As igrejas de programas são todas cujo propósito é o fazer algo, o realizar
atividades, ou seja, realizar programas.
As igrejas em células, por outro lado, têm outro objetivo. Seu alvo básico não é o fazer, o
realizar programas, mas gerar filhos e discípulos. Esse é o ponto central da visão de células, a
base que sustenta toda a visão.
Todavia, com o passar do tempo, mesmo as igrejas em células podem tornar-se voltadas
apenas para as atividades. As próprias células podem se tornar apenas um programa, mais
uma atividade da igreja.
Desta forma, a simples distinção entre igrejas em células e igrejas de programas não é
suficiente para alcançar o centro do propósito de Deus. Há um princípio básico que sustenta a
igreja de programas, assim como há um princípio fundamental na base da igreja em células. A
mentalidade básica da igreja de programas é o fazer algo para Deus. Não há preocupação com
o propósito, desejam apenas fazer algo para Deus.
Por outro lado, em uma igreja celular, toda a atenção é voltada para a edificação, multiplicação
e para o cuidado uns com os outros. Há, portanto, dois princípios, duas visões sobre a obra de
Deus: a visão de fazer algo para Deus, em contraposição à visão de gerar alguém para Deus –
fazer versus gerar.
Naturalmente, não estamos dizendo que seja errado fazer coisas para Deus. Não é questão de
certo ou errado, de conflito entre o pecaminoso e o santo. Para nós, é uma questão de
paradigma, de modelo. Supomos que tanto os que fazem coisas quanto os que geram filhos
desejam agradar ao Senhor. A grande questão é qual dos dois paradigmas atinge o objetivo de
agradar ao coração do Pai.
Os que fazem coisas e promovem atividades realizam coisas louváveis, obras de misericórdia,
serviços, artes e outras realizações. Quem faz coisas para Deus deseja algo bom e até
louvável. Trata-se de uma maneira de se enxergar o relacionamento com Deus, baseado
sempre em fazer coisas para o Senhor. Eles acreditam que só agradam a Deus quando estão
fazendo coisas para Ele.
Em oposição a esse modelo, há quem entenda que, no coração de Deus, está o gerar. Não
que não façam mais coisas, mas as coisas que fazem não são um fim nelas mesmas, mas
apenas um meio de gerar mais para Deus. Esses dois paradigmas são opostos entre si e se
confrontam na Palavra de Deus. Esse contraste pode ser percebido nos três começos
promovidos por Deus em Gênesis.

O primeiro começo de Deus


No começo, Deus criou o homem, abençoou-o e disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos e
enchei a terra”. Deus ordenou que eles fossem fecundos. É como se o Senhor dissesse para
Adão: “Eu quero ter filhos. Criei você para ser meu filho. Darei a você habilidade para transmitir
aos seus filhos a minha imagem, essa vida que eu quero que você tenha”.
Deus planejava que Adão comesse da Árvore da Vida e assim recebesse dentro de si a própria
natureza divina. Dessa forma, os filhos dele teriam a semelhança de Deus. Todavia, Adão
pecou e já não podia transmitir a imagem de Deus, e sim a própria imagem caída. Em Gênesis
5.3, lemos: “Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a
sua imagem”. O filho de Adão já não era a semelhança de Deus. Era a semelhança do próprio
Adão. Por quê? Porque, ao pecar, Adão perdeu a imagem da glória de Deus. A imagem de
Deus é a Sua própria glória e a glória de Deus está na face de Cristo, que é a exata
semelhança de Deus Pai (2 Co 4.6). No Éden, Adão e Eva estavam vestidos da glória de Deus,
mas, no dia em que pecaram, perderam a glória. Por isso, o autor da Carta aos Romanos diz
que todos pecaram e foram destituídos da glória de Deus. Eles perderam essa glória.
A consequência da queda foi a perda da imagem divina. Ao cair, o homem foi contaminado
pelo pensamento de Lúcifer, recebendo em si a semente do diabo, e agora ele não está mais
preocupado em cumprir o propósito de Deus. Sua preocupação agora é outra, é ter realizações
e feitos para receber reino, poder e glória para si mesmo. O homem quer agora uma posição,
um título de honra e é isso o que vemos no decorrer da narração bíblica.
Os capítulos 4 e 5 de Gênesis nos dão um retrato de duas gerações de homens a partir de
Adão: os descendentes de Caim e os descendentes de Sete. Duas gerações representando
dois tipos de homens e dois paradigmas: o do fazer e o do gerar.
A Bíblia até menciona que Caim teve filhos, mas o principal que se diz a respeito da sua
geração é que eles fizeram coisas, eram grandes realizadores. No versículo 17 do capítulo 4,
ficamos sabendo que Caim construiu uma cidade, evidência de sua extrema habilidade. Ele
construiu uma cidade para o filho, o que exige habilidade, talento, trabalho e muita criatividade.
A narração continua até chegar a Lameque (v. 19). Esse homem teve duas esposas, Ada e
Zilá. Ada deu à luz a Jabal, o pai dos que habitam em tendas e possuem gado. O texto diz que
ele foi pai, porém, pai dos que fazem alguma coisa. A ênfase não está nos filhos, mas na
habilidade que eles têm, no que eles produzem.
Depois, no verso 21, lemos a respeito de Jubal, pai dos que tocam harpa e flauta, dos que
trabalham com arte e diversão. Você consegue perceber a habilidade dessa gente? Além
deles, lemos no verso 22 a respeito de Tubalcaim, que era artífice, alguém que, além de ter
habilidade artística, também dominava a técnica do artesão. Artífice é uma mistura do artista
com o artesão. Ele era entendido em produzir obras de arte de bronze e de ferro, bem como
armas cortantes.
Se vivessem em nossos dias, essas pessoas estariam nas capas das revistas. Elas realizam
grandes coisas e fazem grandes feitos. Tudo digno de nota. Eles são a descendência de Caim.
O valor deles é exclusivamente este, o que fazem. O texto bíblico não diz quanto tempo
viveram – indicando que para Deus estavam mortos –, apenas registra o que realizaram.
Em oposição à descendência de Caim, no capítulo 5, encontramos a geração de Adão por
meio de Sete. A respeito dessa geração, não se diz que fizeram ou realizaram coisa alguma.
Eles apenas geraram filhos. 
Veja o que diz o capítulo 5, verso 4: “Depois que gerou a Sete, viveu Adão oitocentos anos; e
teve filhos e filhas”. É algo impressionante! No verso 7, descobrimos que “depois que gerou a
Enos, viveu Sete oitocentos e sete anos; e teve filhos e filhas”. O mesmo vemos no verso 10:
“Depois que gerou a Cainã, viveu Enos oitocentos e quinze anos; e teve filhos e filhas”. Esse
padrão se repete com relação a todos daquela geração. Eles apenas viveram e geraram filhos.
O fato de se mencionar a idade de cada um, em oposição à geração de Caim, indica que eles
viveram aos olhos de Deus.
Talvez você questione que Enos e Noé também fizeram coisas para Deus. De fato, sobre Enos,
diz-se que, a partir dele, começou-se a invocar o Senhor. Todavia, invocar e orar são coisas
tidas como nada aos olhos da geração de Caim. Até entre os cristãos, há essa mentalidade.
Certa vez, um irmão foi até a casa de um pastor pedir sua ajuda. Ao chegar, perguntou ao
pastor: “Você está fazendo alguma coisa?” O pastor lhe respondeu: “Eu estou orando”. Diante
da resposta, o irmão retrucou: “Bom, já que não está fazendo nada, poderia vir comigo resolver
um problema”. Essa é a mentalidade de Caim, para quem a oração não é fazer algo.
Entretanto, nas gerações de Adão, houve quem realmente fez algo para Deus: Noé. Ocorre
que até o fazer dele não era em função de uma obra, um programa ou uma realização artística
ou ministerial. A obra de Noé teve o propósito de preservar a vida, não o trabalho em si
mesmo. Além disso, o fazer de Noé teve algum valor para a geração de Caim? Podemos até
imaginar Jabal apresentando seu último modelo de tenda, Jubal dando um concerto com sua
mais nova sinfonia para harpa e flauta e Tubalcaim expondo suas obras de arte em bronze.
Eles viram-se para Noé e perguntam: “Qual é a sua realização?” E Noé seriamente diz: “Eu
estou construindo uma arca”. “Mas, para quê?”, perguntam eles. “Porque virá um grande dilúvio
e na arca estaremos salvos”, responde Noé. Os outros meneiam a cabeça, com um olhar
condescendente, como a dizer: “Pobre homem, investindo a vida em algo inútil!”.
Essa é a atitude da geração de Caim. Quando dizemos que nosso trabalho é edificar uma
grande arca, os Cains riem de nós. A arca é, na verdade, um símbolo da Igreja, que será
preservada no Dia do Juízo de Deus. Eventualmente, me perguntam se eu sou só pastor ou se
eu também trabalho. Quem vive para gerar é sempre desprezado pela geração de Caim. 
Observe como as donas de casa são tratadas do mesmo jeito. Sempre há alguém
perguntando: “A senhora é apenas dona de casa ou trabalha também?” Gerar é algo
desprezado pelo mundo. Uma mulher que decide abandonar uma carreira para ter filhos é
taxada de louca. “Como é possível deixar uma carreira por causa de filhos?” E as que
investiram a vida criando filhos são acusadas de terem desperdiçado sua existência.
Há dois tipos de pensamento, de paradigma. E esses dois tipos de mentalidade vão permear
toda a Palavra de Deus. De um lado, a mentalidade dos que querem fazer algo para Deus. Do
outro, a mentalidade dos que querem gerar filhos para o Senhor.
Talvez essas diferenças ainda pareçam algo muito abstrato, mas creia, fazem toda a diferença.
Todos nós devemos ter o compromisso de gerar filhos, cuidar deles, discipulá-los e levá-los a
crescer para que eles também tenham seus próprios filhos. Isso não significa que não
precisamos fazer coisas, até porque certas atividades são imprescindíveis para manter a vida.
Mas não faça das atividades o foco de sua vida cristã. Ter filhos, sim, é o centro de nossas
vidas.

O segundo começo de Deus


Antes do dilúvio, o homem decaiu a tal ponto que Deus precisou enviar o juízo e destruir toda
aquela geração. Depois do dilúvio, entretanto, Deus realiza um segundo começo. O primeiro
começo foi com Adão, o segundo vem com Noé.
Após destruir toda a humanidade, Deus começa tudo de novo com Noé, no capítulo 9 de
Gênesis. E disse Deus a Noé: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra” (Gn 9.1).
Deus não muda. Seus propósitos, desígnios e pensamentos se mantêm de eternidade a
eternidade. O que foi dito a Adão, também o foi a Noé, porque Deus não muda os Seus
propósitos. Hoje, Ele diz o mesmo também a nós. Deus jamais mudou o que deseja em Seu
coração. Anteriormente, vimos que Suas primeiras palavras denotam Seu coração. Mas agora
vemos que aquilo que sempre é repetido também expõe o que está em Seu coração.
A geração de Noé também não respondeu a Deus. Ao acompanhar suas gerações,
chegaremos até a Torre de Babel, no capítulo 11.
Deus disse: “Multiplique-se, seja fecundo e encha a terra”. Para encher a terra, há que se
espalhar por ela. Todavia, encontramos os homens de Babel fazendo algo frontalmente
contrário ao propósito de Deus.  Eles disseram entre si mesmos: “Vinde, edifiquemos para nós
uma cidade e uma torre cujo topo chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para
que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn 11.4).
Veja o mesmo princípio de Caim atuando novamente. Deus manda o homem gerar, mas a sua
reação é fazer algo. A Torre de Babel tinha um propósito místico, esotérico, pois seu alvo era
tocar nos céus. Babel é o surgimento da religião performática das grandes obras. Seu conceito
se desenvolve no decorrer da Palavra de Deus e, no final, ela se transforma na Grande
Babilônia descrita em Apocalipse, um sistema religioso abominado por Deus.
Deus abomina esse sistema religioso começado em Gênesis, o princípio de Babel, de fazer
coisas para ter um nome, a visão de ser famoso e reconhecido, de ser visto, não pelo número
de filhos que se tem, mas pelas realizações que se faz.
Todo que segue o paradigma do fazer coisas deve admitir que, no fundo, deseja ser conhecido.
Se os cantores fossem colocados para cantar em nossos cultos no meio do povo, logo
desanimariam e diriam que a igreja não reconhece seus ministérios.
Qualquer ministério sem sala especial ou crachá de identificação logo morrerá, e ainda dirão
que foi por falta de reconhecimento. Reconhecimento para os discípulos de Babel é ter o nome
conhecido e publicado. Todavia, Babel é o oposto do mover de Deus.

O terceiro começo de Deus


O começo de Deus foi primeiro com Adão, que caiu. O segundo foi com Noé, que resultou em
Babel. Agora, Deus chama Abraão dizendo:
De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!
Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão
benditas todas as famílias da terra. (Gn 12.2,3)
Deus diz a Abraão o mesmo que disse a Adão e a Noé, mas em outras palavras. Antes o
Senhor disse: “Eu os abençôo”, mas desta vez Deus diz para Abraão: “Seja uma bênção! Você
quer ser uma bênção, Abraão? Através de você todas as famílias da terra serão abençoadas”.
Abraão entendeu o que queria dizer a afirmação de Deus. Ele sabia que ser uma bênção para
toda a terra implicava ter filhos. O próprio nome Abrão significa “Pai exaltado”, e o nome
recebido depois, Abraão, significa “Pai de multidões”. Aquele que é chamado para ser pai de
nações obviamente precisará ter muitos filhos. Ao lhe dar um nome, Deus revelava a Abraão o
Seu coração, o que havia em Sua mente. Era como se Deus dissesse: “Abraão, eu lhe chamei
para ser pai. Eu não lhe chamei pra fazer nada, apenas para ser fecundo”.
O que Abraão fez em toda sua vida? Nada. Sejamos sensatos. Como Abraão iria abençoar as
famílias da terra? Fazendo obras extraordinárias? Fazendo alguma coisa? Como é que Abraão
seria uma bênção para as famílias da terra? A única maneira seria tendo filhos. Ao olharmos a
história de Abraão, veremos que a vida dele foi uma luta em torno de como ter um filho. Abraão
terá um filho ou não? Você consegue imaginar um homem ficar a vida inteira em função de ter
filhos? Isso nos parece uma contradição.
Pelo pensamento de hoje, o chamado de Deus a Abraão seria algo assim: “Abraão, o diabo
está construindo uma grande torre. Eu quero que você vá e construa uma ainda maior para
mim”. O conceito de Babel diz que, para honrar a Deus, temos de fazer algo maior; mas o
conceito de Deus não é sequer o fazer, mas o gerar.
Dessa forma, a ordem dada a Adão, no Jardim do Éden, a Noé, em Gênesis 9, e a Abraão, em
Gênesis 12, é a mesma que recebemos hoje. Deus quer o mesmo de nós. Ele não mudou, Ele
continua desejando ter filhos. E Abraão sabia disso.
O chamado de Deus a Abraão foi unicamente para Abraão ter um filho. Parece cruel chamar
alguém para ter um filho quando esta pessoa já não tem idade apropriada e sua esposa é
estéril. Talvez Abraão pensasse: “Deus, peça o que o Senhor quiser que eu faça e realizarei
para Ti, mas não me peça um filho porque não posso gerá-lo”.
É o mesmo princípio que vemos hoje na Igreja. Deus não nos chamou para fazer coisas, mas
para gerar filhos. Ao perguntarmos a um pastor quantos membros há em sua igreja, ele se
ofende e diz: “Eu não tenho poder para converter ninguém”. Em outras palavras, “Não está em
mim o poder de gerar filhos”.
Mas essa afirmação contradiz o propósito de Deus. Como Abraão, fomos chamados para ser
pais de nações. Como ele, não podemos gerar por nós mesmos; mas, se tivermos fé e
disposição de obedecer, como ele teve, certamente Isaque virá e, com ele, numerosas nações.
Não tenha dúvidas de que fazer coisas é mais fácil do que gerar filhos. Gerar filhos traz
pressão; fazer coisas apenas traz cansaço. Gerar filhos nos força a depender de Deus;
enquanto podemos fazer coisas por nós mesmos. Gerar filhos exige fé; fazer coisas exige
apenas trabalho.
Muitos são acusados de querer filhos ou uma igreja grande por mera vaidade. Ninguém é mais
acusado de ser vaidoso do que o pastor de uma grande igreja. Ora, a Palavra de Deus diz que
a mentalidade de Babel é buscar tornar o próprio nome célebre. Todavia, é interessante ver o
Senhor dizer a Abraão que tornaria o nome dele grande (Gn 12.2). É como se Ele dissesse:
“Abraão, se você gerar filhos, seus próprios filhos exaltarão o seu nome”. A questão não é se
ficaremos famosos ou não. A grande questão é quem está trazendo essa fama. Você está
tornando seu próprio nome célebre ou Deus o está engrandecendo? Preste atenção! Quem
quer tornar seu nome célebre faz coisas. Todavia, quem gera filhos espera que Deus
engrandeça seu nome através deles.
Em muitos lugares, as pessoas parecem ocupadas demais fazendo muitas coisas, mas, na
verdade, apenas querem tornar célebres os próprios nomes.
A maioria dos que fazem, fazem para serem vistos. Poucos fazem algo apenas pelo prazer de
fazer para Deus. Não que seja errado fazer coisas, mas a ênfase não pode estar no trabalho.
Não é esse o centro do coração de Deus. Realizando grandes obras e coisas para Deus,
apenas nos entretemos e fugimos da pressão. Fazer coisas é fugir da pressão de ter que gerar
discípulos. Discípulos gastam tempo e exigem lágrimas e fé. O que seria mais fácil? Abraão ter
um filho ou construir uma torre? Ora, imagino que seja bem mais fácil construir a bendita torre.
Às vezes, pergunto a líderes da igreja local: “Você já ganhou alguma alma?” Eles ficam em
crise: “Como vou ganhar uma alma? Eu não tenho o poder de convencê-las do pecado”, dizem
eles. O que eles não compreendem é que a ordem do Senhor não mudou. A ordem de Deus se
mantém a mesma. Deus quer que geremos filhos.
Muitos se escondem atrás do fazer. Não há crise por não ter filhos já que estão fazendo algo
para Deus. Como se dissessem: “Já estou fazendo algo para Deus, não venham me
incomodar”. Há quem diga com todas as letras: “Diga o que eu tenho de fazer e eu farei, mas
não me mande ganhar ninguém”. Infelizmente, até pastores têm essa mentalidade babilônica.
Para alguns pastores, perguntar o número de membros de suas igrejas é quase uma ofensa.
Recentemente, ao perguntar para um pastor o tamanho da igreja que pastoreava, ele se
ofendeu comigo, dizendo: “Eu não tenho poder sobre isso, Deus é que convence. Se Ele não
fez, o problema não é meu”. Ele não utilizou esses termos, contudo o resumo de sua defesa foi
essa.
Ao afirmar não ter o poder de gerar, esse pastor mostrou ignorância sobre o nosso verdadeiro
chamado. Nós temos, sim, o poder de gerar. A suposta incapacidade de gerar filhos para Deus
é mentira do diabo. Há muita gente estéril no seio da Igreja, mas a estéril Sara foi curada por
Deus.
Todos devem gerar filhos para Deus. As pessoas ficam embriagadas fazendo coisas. Essa é a
mentalidade de Caim, de Babel. Impressiona uma igreja ter de 150 a 200 ministérios e ser vista
como uma igreja que faz, que trabalha. Só uma coisa o Senhor nos pediu. Somos livres para
fazer coisas. Todavia, apenas uma coisa é necessária: gerar filhos para Deus.
Só haverá mudança no mundo, se gerarmos filhos para Deus. A lógica é simples: se as
pessoas são transformadas, a nação é restaurada. Alguns movimentos oram pela restauração
do Brasil e usam 1 Pedro 2.9 como base para seus propósitos. A realidade, porém, é que a
nação santa é o povo de Deus, e não a nossa pátria terrestre. Nem mesmo Israel é a nação
santa, mas a Igreja, que é composta por todos os que foram gerados por Deus.
A nação de Deus é a Igreja. Ela é povo de Deus, não o Brasil ou qualquer outro país. Outro dia
perguntei a um promotor dessa visão como será o Brasil quando ocorrer essa restauração. Sua
resposta me intrigou mais ainda. Ele descreveu um Brasil nos padrões de uma Suécia ou
Suíça.
Ora, quando o Brasil for como a Suécia ou como a Suíça, ainda assim será uma nação morta
precisando de Deus. Se a Suécia ou a Suíça fosse o reino dos céus, Jesus estaria reinando lá.
Na verdade, a nação de Deus, a nação santa, é composta apenas pelos filhos de Deus. Nós
nos preocupamos com a nação, mas Deus se preocupa com a Igreja. Preocupar-se com a
restauração da nação em si mesma não cumpre o propósito de Deus. Precisamos ganhar os
brasileiros, pregar o evangelho e gerar filhos para Deus. Esse é o anseio que deve permanecer
em nosso coração e se fortalecer no coração da Igreja.
Ao ministrar sobre esse tema, fico inquietado. Deus nos chamou para algo e o diabo tenta nos
embriagar e nos desviar para outras coisas. Ele procura prender nossa atenção em coisas que,
embora não sejam erradas, tiram nosso foco do ponto central. Apenas a filiação é o
fundamental na vida cristã. A Igreja deveria orar e chorar, como Raquel, à procura de filhos:
“Senhor, dá-me filhos se não eu morrerei!” (Gn 30.1).
Abraão creu quando Deus disse que ele seria pai de multidões. No fim, o que contará são as
vidas. Tudo o que se faz passa. Apenas os filhos permanecem.
De nada adianta realizar grandes coisas e não mover o coração de Deus. É ilusão realizar
feitos sem o propósito de gerar filhos. Muitos dedicam a vida inteira nesse sentido. Nossa
dedicação deve se concentrar em gerar filhos, cuidar deles, fazer com que se tornem
discípulos, reproduzindo neles a nova identidade dos filhos de Deus.
Passei a juventude “inventando moda”. Criava tanta programação na igreja, tantas invenções
saíam da minha mente. Contudo, nada disso teve o valor que imaginei. O que teve valor foram
os filhos que gerei e que permanecem até hoje como discípulos.
Volto a repetir que não somos contra fazer coisas e realizar atividades. Nós temos atividades,
mas elas não são o centro do nosso trabalho. O centro do nosso trabalho é gerar filhos para
Deus. Claro que fazemos muitas coisas necessárias. Temos de manter e limpar o prédio da
igreja, imprimir material de treinamento. Evidentemente, alguém precisa parar para digitar o
texto e enviar para a gráfica. Muitas coisas são feitas, e elas são necessárias. Todavia, não são
um fim em si mesmas. Alguém precisa fazê-las e ganhará sua recompensa pelo feito, mas o
coração de Deus só se alegra quando um filho nasce.
É como a mulher que espera o filho. Ela se prepara, arruma o quartinho do nenê. Se ela tem
algum dom especial, certamente o colocará em prática. O pai pintará o quarto, fará a
decoração. Enfim, há muitas coisas a se fazer enquanto se espera o filho. Contudo, depois do
nascimento do menino, alguém nota essas coisas? Se o menino não nascer, adianta tudo isso?
Não seria uma grande frustração, um vazio terrível? Há igrejas assim. Arrumam o quarto, vivem
pintando coisas, fazendo brinquedinhos e roupinhas, mas o filho nunca vem!
O reconhecimento é esperado em toda atividade. Contudo, essa não é a base da Igreja, mas
sim o gerar. Ao gerar, não há necessidade de elogios, pois o reconhecimento vem do filho. A
alegria do pai é escutar do filho: “Você é o melhor pai do mundo. Não há pai como você”. O pai
sabe que pode até não ser verdade, que é um tremendo exagero, mas ele fica todo feliz e
cheio de si. Então, o menino vai crescendo e diz: “Pai, eu quero ser como você”. Há alegria
maior para um pai? A glória do pai é ter alguém querendo andar e ser como ele.
Não há alegria maior do que ouvir um discípulo falar coisas como: “Você acredita mais em mim
do que eu mesmo”. Quando ouço: “Tenho aprendido tanto com você, minha vida foi
transformada”, esse reconhecimento mostra os filhos que tenho gerado. Os filhos são a minha
glória e o meu louvor. Eles é que me motivam. Eu não largaria isso por nada na vida. Jamais
deixaria de gerar meus filhos para fazer coisas. Não vejo lógica nessa atitude. Um filho aponta
para a eternidade. É uma marca mais profunda.
O que você quer dar para Deus que Ele não tenha? Uma música? Sejamos francos, os anjos
adoram o Senhor com canções muito melhores que as nossas. Você quer fazer uma pintura
para Deus? Onde Ele pregará seu quadro? Já viu os quadros que Deus pinta todos os dias?
Deus possui tudo, mas ainda assim há algo que Ele nos pede na Bíblia: “Filho, dá-me o seu
coração”. Ele não tem o coração dos homens, e é isso que Ele quer. O que Ele pedirá no dia
do julgamento dos vencedores, no Tribunal de Cristo? O que você acha que Ele lhe
perguntará? Certamente será: “Onde estão os seus filhos?” 
Jesus poderia ter usado uma série de ilustrações para descrever seus discípulos, mas é
precioso ouvi-lo dizer que somos sementes. Devemos ser como a semente que só tem uma
utilidade, reproduzir-se.
Consegue imaginar um monte de sementinhas querendo fazer obras para Deus? “Vamos fazer
para Deus uma grande torre”, dizem elas. E começam a subir umas nas outras e a construir.
Mas há uma indo contra a correnteza. Ela diz: “Eu quero gerar para Deus, e vou me enterrar e
esperar Ele fazer”. As outras dizem: “Isso é desperdício de potencial. Vamos fazer alguma
coisa para Deus”. Ao que a sementinha diz: “Não, eu quero é gerar”. As outras ficam fazendo
algo para Deus e, com o tempo, elas conseguem juntar um monte de palha e feno. A
sementinha, no entanto, brota do chão e começa a crescer. Num belo dia, começa a gerar fruto
para Deus. Quem você acha que cumprirá o propósito do Senhor? A obra das sementinhas ou
os frutos da semente? Não preciso responder.
No dia do julgamento, alguns trarão ouro, prata e pedras preciosas, outros trarão madeira,
palha e feno. Pedro disse que somos pedras vivas. Portanto, ouro, prata e pedras preciosas
nos falam de pessoas para Deus, enquanto madeira, palha e feno nos falam de obras
humanas, trabalho humano.
A Bíblia fiz que o fogo de Deus testará a obra de cada um. O que o fogo consumir irá se perder,
a pessoa será salva, mas não terá recompensa (1 Co 3). Todavia, o que o fogo não consumir
ficará para ela como recompensa e glória. Sabe qual a única coisa que o fogo não consome?
Fogo não consome fogo. A Carta aos Hebreus diz que os filhos de Deus são ministros feitos
labaredas de fogo (Hb 1.7). No dia em que você creu em Jesus, você foi feito filho de Deus. O
que Deus é? Deus é fogo consumidor e os Seus filhos são pequenas labaredas de fogo porque
nós somos da Sua natureza. Quando Deus vem até você, Ele não lhe ferirá, só aumentará seu
fogo, fogo não destrói fogo. Contudo, ai de quem não for fogo. A presença de Deus será um
inferno para essa pessoa.
Só quem é fogo gera filhos para Deus que serão fogo também. No instante em que sair o fogo
de Deus e passar por todos nós, esse fogo queimará a madeira, a palha e o feno. Em seguida,
o Senhor verá o que sobrou. Sobrará somente o que for fogo também, ou seja, os filhos que
nós geramos para Deus.
Quando você estiver diante de Deus, o que acha que será requerido de você? Você quer ser
vencedor? Só reinará aquele que tiver coroa. Quem é nossa coroa e glória? Segundo o
apóstolo Paulo, os filhos são a nossa coroa e glória (Fp 4.1; 1Ts 2.19). Se quiser reinar naquele
dia, apresente para Deus o que Ele deseja. 
Não quero descobrir depois de velho que estava fazendo algo que não era o centro do coração
do Senhor. Seu desejo é que geremos filhos. Você consegue se lembrar de algo que Jesus
tenha feito? A Bíblia não diz que Ele construiu coisa alguma. Não organizou nada, nem mesmo
os Evangelhos Ele escreveu. A única coisa que Ele fez, com excelência, foi gerar filhos.
Paulo era fabricante de tendas. Contudo, nunca ocorreu a ele fazer uma grande tenda para
abrigar a igreja de Éfeso ou Corinto. E por quê? Será que Paulo não tinha visão? Paulo mostra-
se uma pessoa altamente pragmática. Ele não perdia tempo fazendo coisas. Seu alvo era gerar
para Deus.
Alguém pode questionar que Paulo escreveu muitas cartas. De fato, Paulo escreveu muitas
epístolas. Todavia, tais cartas não são fruto de um ministério epistolar. Ele escrevia por razões
mais prosaicas. Ele escrevia para cuidar dos filhos que possuía. Os coríntios, Timóteo, Tito,
Filemom eram todos filhos dele. Ele apenas cuidava deles. Como não havia internet e nem
telefone, então ele usava as cartas. Tratava-se de um instrumento. E graças a Deus por elas,
porque nós podemos hoje conhecer o Evangelho de Deus. Todavia, do ponto de vista natural,
Paulo não era um realizador. Ele não construiu nada.
Precisamos ter cuidado com a pergunta que o Senhor fez em Lucas 13.7: “Há três anos venho
procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando
inutilmente a terra?”

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