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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

THIAGO DEGANI DEKKER

A REGULAÇÃO APLICÁVEL À PÓS-NEGOCIAÇÃO DE TÍTULOS E VALORES


MOBILIÁRIOS NO BRASIL

São Paulo
2020
THIAGO DEGANI DEKKER

Trabalho de Graduação
Interdisciplinar apresentado como
requisito para obtenção do título de
Bacharel no Curso de Direito da
Universidade Presbiteriana
Mackenzie.

ORIENTADORA: THAIS CÍNTIA CÁRNIO

São Paulo
2020
THIAGO DEGANI DEKKER

A REGULAÇÃO APLICÁVEL À PÓS-NEGOCIAÇÃO DE TÍTULOS E VALORES


MOBILIÁRIOS NO BRASIL

Trabalho de Graduação
Interdisciplinar apresentado como
requisito para obtenção do título de
Bacharel no Curso de Direito da
Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA

Examinador(a):

Examinador(a):

Examinador(a):
Ao meu “Back-office”: Minha avó Maria
Lucia Fabrino Batista e minhas
madrinhas Gilda Degani e Gilka Degani.
RESUMO

O objetivo deste estudo é oferecer um tratamento regulatório, no ordenamento


jurídico/normativo brasileiro, quanto ao processo de pós-negociação de títulos e valores
mobiliários. Serão abordados, juridicamente, os conceitos e as características aplicáveis
às infraestruturas de mercado, ao arcabouço regulatório aplicável, às infraestruturas de
mercado da B3 S.A – Brasil, Bolsa, Balcão e os participantes que integram o ciclo de pós-
negociação. Ademais, será analisado o enquadramento normativo do ciclo completo de
pós-negociação de ações no mercado à vista e, por fim, se abordará a importância das
garantias prestadas pelos participantes das contrapartes centrais, por força da Lei nº
10.214/01.
Palavras-chave: Pós-negociação. Administração de risco. Câmaras e prestadores de
compensação e liquidação. Títulos e valores mobiliários. Infraestruturas de mercado.
ABSTRACT

This study aims to provide a regulatory treatment, in the Brazilian legal system, for the
post-trade processing of securities. Legally, we will discuss the concepts and
characteristcs relevant to market infrastructures, the applicable regulatory framework, the
market infrastructures of B3 S. A. – Brazil Exchange and OTC and its participants.
Furthermore, it will be analyzed the normative framework of the cycle of post-trading
process of stocks in the spot market and, finally, it will be detailed the significance
collateral given by the participants, under the law number 10.214/01.
Keywords: Post-trade process. Risk management. Clearing Houses. Securities. Market
infrastructure.
GLOSSÁRIO

PFMI: Principles for Financial Markets Infrastructures ou Princípios para


Infraestruturas do Mercado Financeiro
CSD: Central Securities Depository ou Depositário Central;
CCP: Central Counterparty ou Contraparte Central Garantidora
SSS: Securities Settlement System ou Sistema de Liquidação de Valores Mobiliários
DvP: Delivery vs. Payment ou Entrega contra Pagamento
TR: Trade Repository ou Repositório de Transações/Câmara Registradora
PS: Payment Systems ou Sistemas de Pagamentos
RGTS: Retail payment system ou Sistema de pagamentos de varejo
LVPS: Large-value payment system ou Sistema de pagamentos de grandes valores
DNS: Deferred net settlement ou Sistema de liquidação diferida;
RGTS: Real time-gross settlement ou Sistema de liquidação bruta em tempo real
FMI: Financial Markets Infrastructures ou Infraestruturas de Mercado
BIS: Bank of Internacional Settlements ou Banco de Compensações Internacionais
CIP: Central Interbancária de Pagamentos
COMPE: Sistema de Compensação de Cheques e Outros Papéis
Câmara BM&FBOVESPA ou câmara: Câmara de Compensação e Liquidação da
BM&FBOVEPSA
Central Depositária: Central Depositária da BM&FBOVESPA
Regulamento da Câmara BM&FBOVESPA: Regulamento da Câmara de Compensação
e Liquidação da BM&FBOVESPA
Regulamento da Central Depositária: Regulamento da Central Depositária da
BM&FBOVESPA
MARisco: Manual de Administração de Risco da Câmara de Compensação e Liquidação
da BM&FBOVESPA
MPO da Câmara BM&FBOVESPA: Manual de Procedimentos Operacionais da Câmara
de Compensação e Liquidação da BM&FBOVESPA
MPO da Central Depositária: Manual de Procedimentos Operacionais da Central
Depositária da BM&FBOVESPA
BCB: Banco Central do Brasil
CVM: Comissão de Valores Mobiliários
LISTA DE FLUXOGRAMAS

Fluxograma 1: Estrutura Básica da Cadeia de Responsabilidades da Câmara


BM&FBOVESPA (Mercado à vista) .............................................................................. 42
Fluxograma 2: Processo de Conciliação de Saldo de Ativos .......................................... 56
Fluxograma 3: Ciclo completo de liquidação no mercado à vista ................................... 64
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Normas Aplicáveis ao Ciclo de Pós-Negociação no Mercado à Vista


(Leis/Regulação e Autorregulação) ................................................................................. 63
Tabela 2: Ativos aceitos como garantia à Câmara BM&FBOVESPA, finalidade e
aperfeiçoamento............................................................................................................... 68
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13
2 INFRAESTRUTURAS DE MERCADO – CONCEITO E ESPÉCIES DE
ACORDO COM O PRINCIPLES FOR FINANCIAL MARKETS
INFRASTRUCTURES ................................................................................................... 15
2.1 Importância do PFMI para a regulação das infraestruturas de mercado
brasileiras ..................................................................................................................... 15
2.2 Conceito ................................................................................................................. 16
2.3 Espécies ............................................................................................................ 17
2.3.1 Sistemas de pagamento (Payment Systems – PS) ........................................... 17
2.3.2 Depositárias centrais de ativos financeiros e valores mobiliários (Central
Securities Depositories – CSDs).............................................................................. 18
2.3.3 Sistema de liquidação de valores mobiliários (Securities Settlement
Systems – SSS) ........................................................................................................ 18
2.3.4 Contrapartes Centrais (Central Counterparties – CCPs) .......................... 19
2.3.5 Repositórios de transações (TR) ................................................................ 20
3 O ARCABOUÇO REGULATÓRIO DAS CÂMARAS DE COMPENSAÇÃO
E LIQUIDAÇÃO E DAS DEPOSITÁRIAS CENTRAIS DE TÍTULOS E
VALORES MOBILIÁRIOS ......................................................................................... 21
3.1 Câmaras de Compensação e Liquidação ...................................................... 21
3.1.1 Lei nº 10.214/01 ........................................................................................ 21
3.1.2 Resolução CMN nº 2882/01 ...................................................................... 22
3.1.3 Regulamento Anexo à Circular BCB nº 3.057/01 ..................................... 23
3.1.4 Circular BCB nº 3.838/17 .......................................................................... 25
3.1.5 Circular BCB nº 3.438/09 .......................................................................... 25
3.1.6 Instrução CVM nº 505/11 .......................................................................... 26
3.1.7 Instrução CVM nº 461/07 .......................................................................... 26
3.1.8 Instrução CVM nº 283/98 .......................................................................... 27
3.2 Depositárias Centrais de Títulos e Valores Mobiliários .............................. 27
3.2.1 Lei nº 12.810/13 (Arts. 22 a 28) ................................................................ 27
3.2.2 Resolução CMN nº 4593/17 ...................................................................... 28
3.2.3 Regulamento Anexo à Circular BCB nº 3.743/15 ..................................... 29
3.2.4 Instrução CVM nº 541/13 .......................................................................... 30
3.2.5 Instrução CVM nº 542/13 .......................................................................... 32
3.2.6 Instrução CVM nº 543/13 .......................................................................... 33
4 COMPONENTES DA INFRAESTRUTURA DE PÓS-NEGOCIAÇÃO DA B3
S.A – BRASIL, BOLSA, BALCÃO ............................................................................. 34
4.1 Conceitos iniciais ............................................................................................. 34
4.1.1 A B3 e a sua função autorreguladora das atividades de pós-negociação de
ativos financeiros, títulos, valores mobiliários e derivativos: ................................. 34
4.1.2 Definição da terminologia utilizada pelas áreas de pós-negociação e risco:
36
4.1.3 Participante autorizado vs Participante Cadastrado ................................... 37
4.2 Câmara BM&FBOVESPA ............................................................................ 38
4.2.1 Classificação de Infraestrutura de Mercado: ............................................. 38
4.2.2 Atuação ...................................................................................................... 38
4.2.3 Data de autorização para o funcionamento: .............................................. 39
4.2.4 Liquidação ................................................................................................. 39
4.2.5 Mercados que opera ................................................................................... 39
4.2.6 Participantes .............................................................................................. 39
4.2.7 Cadeia de responsabilidades – conceito e exemplo de estrutura básica .... 40
4.2.8 Requisitos de acesso dos integrantes da cadeia de responsabilidade
exemplificada: ......................................................................................................... 43
4.2.8.1 Membro de Compensação ..................................................................... 43
4.2.8.2 Participante de Negociação Pleno.......................................................... 44
4.2.9 Informações adicionais .............................................................................. 45
4.3 Central depositária da BM&FBOVESPA .................................................... 46
4.3.1 Classificação de Infraestrutura de Mercado .............................................. 46
4.3.2 Funções ...................................................................................................... 46
4.3.3 Data de autorização ................................................................................... 47
4.3.4 Ativos passíveis de depósito:..................................................................... 47
4.3.5 Mercados que opera ................................................................................... 47
4.3.6 Participantes .............................................................................................. 48
4.3.6.1 Participantes autorizados ....................................................................... 48
4.3.6.2 Participantes cadastrados ....................................................................... 48
4.3.7 Estruturas de contas ................................................................................... 48
4.3.7.1 Características principais ....................................................................... 48
4.3.7.2 Carteiras disponíveis: ............................................................................. 49
4.3.8 Participantes fundamentais no ciclo de liquidação de valores mobiliários
do mercado à vista na Câmara BM&FBOVESPA .................................................. 50
4.3.8.1 Agente de custódia ................................................................................. 50
4.3.8.2 Emissor: ................................................................................................. 51
4.3.8.3 Escriturador ............................................................................................ 53
4.3.8.4 Liquidante .............................................................................................. 54
4.3.9 Processo de conciliação de posições e eventos corporativos: ................... 55
5 NORMAS APLICÁVEIS AO CICLO DE PÓS-NEGOCIAÇÃO NO
MERCADO A VISTA ................................................................................................... 57
5.1 Por que o mercado à vista? ............................................................................... 57
5.2 Prestação de garantias em operações no mercado à vista ................................. 58
5.3 Descrição do processo de pós-negociação no mercado à vista ......................... 59
6 GARANTIAS PRESTADAS ÀS CÂMARAS DE COMPENSAÇÃO E
LIQUIDAÇÃO ............................................................................................................... 65
6.1 A importância dos arts. 6º e 7º da Lei nº 10.214/01 ..................................... 65
6.2 Composição da Estrutura de Salvaguardas da Câmara BM&FBOVESPA:
66
6.3 Ordem de execução de garantias em caso de inadimplência ...................... 70
6.4 Natureza jurídica das garantias previstas na Lei 10.214/01 ....................... 70
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 74
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 76
ANEXOS ........................................................................................................................ 79
13

1 INTRODUÇÃO

A realização deste estudo ocorre em um contexto bastante incomum, pois será


submetido para a análise desta banca alguns meses depois do Índice Bovespa ter sofrido seis
circuit breakers em razão do impacto econômico, derivado da pandemia COVID-19. Testou-
se, na prática, a resiliência da Câmara BM&FBOVESPA, na qualidade de contraparte central
garantidora de operações, realizadas em ambiente de bolsa administrados pela B3 S.A – Brasil,
Bolsa, Balcão (“B3”) ao passo que o autor, atualmente, exerce a profissão de analista de
regulação aplicável ao risco no mercado de capitais na B3.
Em razão do impacto da COVID-19, desde a crise de 2008 não houve momento tão
importante quanto o atual para analisar a regulação aplicável à pós-negociação de títulos e
valores mobiliários no Brasil, uma vez que as operações à vista, realizadas no ambiente da
bolsa, possuem liquidação diferida em dois dias (D+2). Portanto, no contexto de alta
volatilidade dos mercados que vivemos no primeiro semestre de 2020, esse prazo pode fazer
toda a diferença para a solvência ou a insolvência de um participante.
O presente estudo pretende analisar a regulação atualmente aplicável às infraestruturas
de mercado brasileiras, com ênfase nos sistemas de liquidação (SSS), contraparte centrais
garantidoras (CCPs) e depositárias centrais de títulos e valores mobiliários (CSDs), em especial
o ciclo de pós-negociação do mercado à vista da Câmara BM&FBOVESPA. Os mercados
derivativos não foram abordados por este trabalho, haja vista a particularidade de cada
instrumento e o fato de que boa parte deles possuem liquidação financeira, não havendo
movimentação de custódia em depositárias centrais.
Trataremos do assunto começando pela regulação internacional aplicável às
infraestruturas de mercado brasileiras, com ênfase nos conceitos e definições trazidas pelo
Principles for Financial Markets Infrastructures, documento publicado em 2012 pela CPSS-
IOSCO.
Depois, relacionaremos, com detalhes, a regulação brasileira aplicável às câmaras e aos
prestadores de compensação e liquidação com contraparte central, depositárias centrais de
títulos e valores mobiliários, bem como os seus respectivos participantes.
Em seguida, apresentaremos os componentes analisados da infraestrutura de pós-
negociação da B3 (Câmara BM&FBOVESPA e Central Depositária da BM&FBOVESPA),
incluindo, mas não se limitando, às normas autorreguladoras publicadas, definição de
terminologias adotadas pelas áreas de pós-negociação e risco, seus participantes, conceitos de
cadeia de responsabilidades e processo de conciliação de posições.
14

Após, descreveremos o ciclo completo de pós-negociação de uma ação de companhia


aberta no mercado à vista, a necessidade de prestação de garantias, as etapas do processo de
pós-negociação, bem como o seu respectivo enquadramento normativo, com base nas normas
reguladoras e autorreguladoras.
Por fim, analisaremos a natureza jurídica das garantias prestadas por participantes às
contrapartes centrais garantidoras, por força da Lei nº 10.214/01, o posicionamento doutrinário
e do próprio autor.
15

2 INFRAESTRUTURAS DE MERCADO – CONCEITO E ESPÉCIES DE ACORDO


COM O PRINCIPLES FOR FINANCIAL MARKETS INFRASTRUCTURES

O objetivo deste capítulo é detalhar o conceito de infraestrutura de mercado (Financial


Market Infrastructure – FMI), bem como descrever as suas classificações.

2.1 Importância do PFMI para a regulação das infraestruturas de mercado brasileiras

Inicialmente, é importante destacar que o PFMI, documento publicado em 2012, pelo


BIS, que descreve 24 princípios a serem observados pelas infraestruturas de mercado, é, na
verdade, um compilado atualizado de princípios publicados pela mesma entidade em 2001 e
2004, sendo eles:
a) Princípios-chave para sistemas de pagamento sistemicamente importantes (Core
Principles for systemically important payment systems – CPSS), publicado em 2001,
que prevê 10 princípios para a estruturação e operação de eficiente de sistemas de
pagamentos1;
b) Recomendações para sistemas de liquidação de valores mobiliários
(Recommendations for securities settlement systems – RSSS), publicado em 2001, que
identificou 19 recomendações para promover a segurança e a eficiência de sistemas de
liquidação de valores mobiliários2;
c) Recomendações para contrapartes centrais garantidoras (Recommendations central
counterparties – RCCP), publicado em 2004, que descreve 15 recomendações que
endereçam os maiores riscos enfrentados pelas contrapartes centrais3.

A decisão de utilizar os conceitos e espécies de infraestruturas de mercado descritas pelo


PFMI, em detrimento das normas publicadas pelas autoridades brasileiras é corroborada por
múltiplos fatores, como:
a) Os conceitos e as espécies de infraestruturas de mercado descritos no PFMI são
descritos de forma mais didática e clara, não exigindo conhecimento prévio do leitor
sobre o assunto;

1
CPSS-IOSCO. Principles for financial market infrastructures. 2012. Disponível em:
https://www.bis.org/cpmi/publ/d101a.pdf. Acesso em: 15. mai.2020. (item 1.4, p. 16)
2
Ibidem. item 1.4, p. 16
3
Ibidem. item 1.5, p. 16
16

4
b) O Banco Central do Brasil, na qualidade de membro do BIS aplica, no
monitoramento e na avaliação de infraestruturas de mercado, os princípios do PFMI na
supervisão de infraestruturas de mercado, vide Comunicado BCB nº 32.549/19;
c) A regulação brasileira que trata de infraestruturas de mercado é avaliada
periodicamente pelo BIS, pelo Monitoramento de Implementação do PFMI
(Implementation monitoring of PFMIs). Destaca-se que o Brasil foi qualificado como
nível 4 – o mais elevado – o que significa que as autoridades reguladoras observam as
responsabilidades previstas no PFMI.

No entanto, é importante destacar que existem particularidades na regulação brasileira


de infraestruturas de mercado que não observam, em stricto sensu, as recomendações do PFMI,
como:
a) O tratamento conjunto de sistemas de liquidação e contrapartes centrais, previsto na
art. 4º Lei nº 10.214/01. No PFMI, esses sistemas são tratados separadamente;
b) O tratamento conjunto de sistemas de liquidação e depositárias centrais, previsto no
art. 1º, § único, I e II do Regulamento Anexo à Circular BCB nº 3.743/15. No PFMI,
admite-se a possibilidade de integração entre SSSs e CSDs, mas os sistemas, também,
são tratados separadamente;
c) A utilização de métricas objetivas para a definição de infraestruturas de mercado
sistemicamente importantes previstas no art. 8º do Regulamento Anexo à Circular BCB
nº 3.057/01. O PFMI recomenda que todas as infraestruturas de mercados domésticas
sejam, de ofício, consideradas sistemicamente importantes no país em que atua, cabendo
à autoridade reguladora descrever as que não são sistemicamente importantes5.

2.2 Conceito

De acordo com o PFMI6,


uma Infraestrutura de Mercado (Financial Market Infrastructure – FMI) é
definida como um sistema multilateral entre participantes, incluindo o
operador do sistema, utilizado para compensar, liquidar ou registrar
pagamentos, valores mobiliários, derivativos ou outras transações financeiras.

4
BIS. Normas: Comitê de Pagamentos e Infraestruturas de Mercado do Banco de Internacional de Compensações.
Disponível em: https://www.bis.org/cpmi/membership.htm?m=3%7C16%7C29%7C64. Acesso em: 17 mai.
2020.
5
CPSS-IOSCO. Principles for financial market infrastructures. 2012. Disponível em:
https://www.bis.org/cpmi/publ/d101a.pdf. Acesso em 15 mai, 2020. (item 1.4, p. 16)
6
Ibidem. item 1.8, p. 17
17

Cada FMI tipicamente estabelece uma série de regras e procedimentos comuns


para todos os participantes, infraestrutura técnica e uma estrutura de
administração de riscos apropriada aos riscos que incorrem [...] Através da
centralização de atividades específicas, as FMIs também permitem aos
participantes a administração mais efetiva e eficiente de riscos, e, em alguns
casos, eliminar alguns riscos. FMIs podem também aumentar a transparência
em determinados mercados. Algumas FMIs são críticas no auxílio ao Bancos
Centrais para condução de política monetária e manutenção da estabilidade
financeira7 (tradução nossa).

A caracterização de uma FMI como um “sistema” e não como uma “entidade” ou


“instituição” no PFMI se refletirá, como veremos a seguir, no tratamento de infraestruturas de
mercado no ordenamento jurídico brasileiro. Destaca-se, ainda, que o Banco Central do Brasil
é uma das autoridades reguladoras que conduz política monetária através de infraestruturas de
mercado, próprias ou de terceiros.

2.3 Espécies

Trataremos, abaixo, das classificações de infraestruturas de mercado para o PFMI e, em


seguida, comentaremos sobre o funcionamento e/ou as peculiaridades de cada uma delas no
Brasil.

2.3.1 Sistemas de pagamento (Payment Systems – PS)

Um sistema de pagamento é um conjunto de instrumentos, procedimentos e


regras para a transferência de fundos entre participantes; o sistema inclui os
participantes e a sua respectiva entidade operadora. São tipicamente baseados
em um acordo entre os participantes e o operador do sistema, e a transferência
de fundos é efetivada utilizando infraestrutura operacional pré-acordada.
Sistemas de pagamentos são geralmente categorizados como sistema de
pagamentos de varejo (Retail payment system – RPS) ou sistema de
pagamentos de grandes valores (Large-value payment system – LVPS).
Um sistema de pagamentos de varejo é um sistema de transferência de fundos
que, tipicamente, opera com volumes baixos de pagamentos, como cheques,
transferências bancárias, débitos em conta e transações, envolvendo cartões
de crédito e podem ser operados pelo setor público e privado, utilizando
sistema de liquidação diferida (deferred net settlement - DNS) ou sistema de
liquidação bruta em tempo real (real time-gross settlement - RTGS). Uma
LVPS é um sistema de transferência de fundos que, tipicamente, trabalha com
grandes valores e pagamentos de alta prioridade. Em contraste com sistemas
de varejo, muitas LVPSs são operadas por bancos centrais, utilizando RGTS
ou mecanismo equivalente8 (tradução nossa)

7
Ibidem. item 1.8, p. 13
8
Ibidem. item 1.10, p. 14
18

Exemplos de sistemas de pagamento no Brasil são:


a) LVPS: Sistema de Transferência de Reservas, operado pelo BCB, e os seus
participantes são câmaras e prestadores de compensação e liquidação, instituições
financeiras e instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil;
b) RTGS: SITRAF (Sistema de Transferência de Fundos), operado pela CIP, e processa
pagamentos em tempo real entre clientes de bancos por TED (Transferência Eletrônica
Disponível)

2.3.2 Depositárias centrais de ativos financeiros e valores mobiliários (Central Securities


Depositories – CSDs)

As CSDs fornecem contas de ativos, serviços de depósito centralizado e “asset


services”, que podem incluir a administração de eventos corporativos,
resgates e tem papel especial em auxiliar na integridade dos valores
mobiliários (isso é, assegurar que os valores mobiliários não foram criados
acidentalmente, de forma fraudulenta, destruídos ou com suas informações
alteradas). Uma CSD pode custodiar valores mobiliários na forma física (mas
imobilizada) ou na forma escritural (isso é, eles existem apenas em registros
eletrônicos). As atividades de uma CSD variam de acordo com sua jurisdição
e práticas de mercado. Por exemplo, as atividades de uma CSD podem se
modificar tendo como base a autorização regulatória para arranjos de custódia
diretos ou indiretos, ou, ainda, uma combinação dos dois. Uma CSD pode
manter o registro definitivo da titularidade do ativo; [...] Em vários países,
uma CSD também pode operar um sistema de liquidação de valores
mobiliários. 9 (Tradução nossa).

Como veremos nos próximos capítulos, o arcabouço regulatório brasileiro prevê,


necessariamente, a atividade de sistema de liquidação para a autorização de depositárias
centrais.

2.3.3 Sistema de liquidação de valores mobiliários (Securities Settlement Systems – SSS)

“Uma SSS permite que títulos e valores mobiliários sejam transferidos e


liquidados de forma escritural, de acordo com um a série de regras
multilaterais. Esses sistemas permitem transferências de títulos e valores
mobiliários livres de pagamento ou contra pagamento. Quando uma
transferência é contra pagamento, a maioria dos sistemas possuem o
mecanismo de entrega contra pagamento (DvP), onde a entrega dos títulos ou
valores mobiliários somente se aperfeiçoa mediante o respectivo pagamento.
Uma SSS pode oferecer serviços de compensação e liquidação adicionais,

9
Ibidem. item 1.11. p. 14
19

como confirmação de transações e instruções de liquidação. 10 ” (Tradução


nossa).

Nota-se que tanto a Câmara BM&FBOVESPA, como a Central Depositária da


BM&FBOVESPA são considerados sistemas de liquidação que operam o mecanismo de
entrega contra pagamento do tipo 3 (DvP 3), em que se é calculado e liquidado o saldo líquido
multilateral em moeda nacional (Câmara BM&FBOVESPA), via Sistema de Transferência de
Reservas e em ativos (Central Depositária), via conta de liquidação da câmara na Central
Depositária.

2.3.4 Contrapartes Centrais (Central Counterparties – CCPs)

“Uma contraparte central se interpõe entre duas contrapartes em transações


derivadas de um ou mais mercados financeiros, tornando-se a compradora
para todo vendedor e a vendedora para todo comprador e, desta forma,
garantindo o adimplemento das posições em aberto. Uma CCP se torna
contraparte das transações efetuadas pelos participantes de mercado através
de novação ou do sistema open offer. As CCPs têm o potencial de reduzir
significativamente os riscos dos participantes através da compensação
multilateral das transações e impondo controles de riscos mais efetivos em
seus participantes. Por exemplo, CCPs tipicamente requerem garantias aos
seus participantes para cobertura de exposições presentes e futuras. As CCPs
podem também mutualizar alguns riscos através de fundos de liquidação.
Como resultado de potencial redução de risco em relação aos seus
participantes, as CCPs também podem reduzir o risco sistêmico nos mercados
em que opera. Para atingir esses benefícios, a CCP deve manter atenção
especial em relação a efetividade de seu controle de risco e a suficiência de
recursos financeiros.11” (Tradução nossa)

Hoje, a principal infraestrutura de mercado considerada contraparte central de operações


firmadas em ambientes de bolsa e balcão organizado12 no Brasil é a Câmara BM&FBOVESPA.
Para transações de câmbio spot, a Câmara de Câmbio B3 também é contraparte central das
operações. De fato, como tratado pelo PFMI, a efetividade do controle de risco de uma CCP é
fundamental, especialmente se a garantia requerida aos participantes for calculada de acordo
com risco de portifólio do investidor e não por operação, já que o montante a ser prestado à
câmara é geralmente menor em razão da compensação de riscos entre posições em um mesmo
portifólio. (Exemplo: um portfólio composto por posições que guardam correlação negativa,

10
Ibidem. item 1.12. p. 14
11
Ibidem. item 1.13. p14
12
A Câmara BM&FBOVESPA, desde 2019, também pode ser contraparte central de derivativos de balcão como
swaps e opções flexíveis firmados no ambiente Cetip UTVM.
20

como já foi o caso do Contrato Futuro de Ibovespa e o Contrato Futuro de Dólar, normalmente
requer menos garantias do que um portfólio composto por apenas uma dessas posições).

2.3.5 Repositórios de transações (TR)

Um repositório de transações é uma entidade que possui registros


centralizados de dados de transações (banco de dados). TRs emergiram como
um novo tipo de FMI e aumentaram a sua importância, particularmente nos
mercados de derivativos de balcão. Ao centralizar a coleta, armazenagem e
disseminação de dados, uma TR bem estruturada que opera com mecanismos
de controle de risco efetivos podem ter papel importante no aumento da
transparência de informações sobre transações às autoridades e ao público,
promovendo estabilidade financeira e auxiliando na detecção de prevenção de
abusos e mercado. Uma importante função de uma TR é fornecer informações
que auxiliem na redução de riscos, eficiência e efetividade operacional e
redução de custos, tanto para os participantes, quanto para o mercado como
um todo. Em razão dos dados mantidos por uma TR poderem ser usados por
vários stakeholders, é crítico que as TRs mantenham a contínua
disponibilidade, confiabilidade e exatidão dos dados lá armazenados. 13

Apesar da expressão “Repositório de Transações” ser utilizada oficialmente pelo BCB


no Comunicado BCB nº 32.549/19, no Brasil, a nomenclatura comumente utilizada para essas
infraestruturas de mercado é “câmara registradora”. No exterior, a figura dos trade repositories
surgiu em consequência da crise do subprime de 2008: Não era comum o registro de derivativos
de crédito até o estouro da bolha financeira. No Brasil, a câmara registradora mais conhecida
era a Cetip (Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos) que originalmente era uma
associação de instituições financeiras. A origem da Cetip, fundada em 1984, desmutualizada
em 2008 e incorporada pela B3 em 2017, teve, historicamente, maior correlação com o registro
de títulos de captação bancária do que com o registro de derivativos de balcão. Sendo a
registradora de referência, virou verbo: “cetipar”, que, no jargão do mercado financeiro, quer
dizer “levar a registro na Cetip”.

13
Ibidem. item 1.14, p. 15
21

3 O ARCABOUÇO REGULATÓRIO DAS CÂMARAS DE COMPENSAÇÃO E


LIQUIDAÇÃO E DAS DEPOSITÁRIAS CENTRAIS DE TÍTULOS E VALORES
MOBILIÁRIOS

Inexiste, nas normas brasileiras, regramento unificado que regule a totalidade das
espécies de infraestruturas de mercado. Haja vista que o objeto do presente estudo se limita à
análise jurídica dos procedimentos aplicáveis na pós-negociação de títulos e valores mobiliários
no Brasil, a definição do arcabouço regulatório se restringe àquelas infraestruturas de mercado
envolvidas diretamente nesse processo, que são as Câmaras de Compensação e Liquidação e as
Depositárias Centrais de Ativos Financeiros, Títulos e Valores Mobiliários, detalhado à seguir.

3.1 Câmaras de Compensação e Liquidação

A seguir, serão apresentadas as leis e as normas que regem os sistemas de compensação


e liquidação dentro do Sistema de Pagamentos Brasileiro (“SPB”).

3.1.1 Lei nº 10.214/01

A Lei nº 10.214/01 “Dispõe sobre a atuação das câmaras e dos prestadores de serviços
de compensação e de liquidação, no âmbito do sistema de pagamentos brasileiro e dá outras
providências” 14.
A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente
estudo:
a) Determina que os sistemas de compensação e de liquidação de operações realizadas
em bolsas de mercadorias e futuros integram o sistema de pagamentos brasileiro
(“SPB”) (art. 2º, § único, IV);
b) Define e admite a compensação multilateral de obrigações em uma mesma câmara
(art. 3º, caput e art. 3º § único);
c) Impõe que sistemas de liquidação capazes de oferecer risco à solidez do sistema
financeiro sejam contraparte centrais das operações por novação contratual (art. 4º,
caput). Nota-se, portanto, que a lei prevê o exercício da função de contraparte central,

14
BRASIL. Lei nº 10.214, de 27 de março de 2001. Dispõe sobre a atuação das câmaras e dos prestadores de
serviços de compensação e de liquidação, no âmbito do sistema de pagamentos brasileiro, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 mar. 2001
22

por sistemas de liquidação, preenchidas as hipóteses supramencionadas, ainda que


sejam, para efeitos do PFMI, duas espécies de infraestruturas de mercado distintas;
d) Estipula e ilustra os mecanismos de salvaguardas que sistemas com contraparte
central garantidora devem possuir para assegurar a certeza da liquidação das operações
compensadas e liquidadas no seu ambiente, bem como prevê a incomunicabilidade do
patrimônio especial, destinado às câmaras de compensação e liquidação (art. 4º e 5º);
e) Prevê a impenhorabilidade de bens e direitos do patrimônio especial e das garantias
oferecidas pelos participantes às câmaras (art. 6º);
f) Estipula a manutenção das obrigações assumidas pelos participantes da câmara até a
sua respectiva liquidação em um evento de entrada em regime falimentar ou de
resolução (art. 7º);
g) Determina os procedimentos que devem ser observados pelas câmaras de
compensação e liquidação, na hipótese de inadimplência de um participante (art. 8º)
h) Confere dupla competência (CVM e BCB) para baixar normas e instruções para o
cumprimento da lei (art. 10º).

3.1.2 Resolução CMN nº 2882/01

A Resolução CMN nº 2882/01: “Dispõe sobre o sistema de pagamentos e as câmaras e


os prestadores de serviços de compensação e de liquidação que o integram”.15
A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente
estudo:
a) Define o funcionamento de sistemas de compensação e liquidação (Art. 2º). Nota-se
que referida norma permite a interpretação de que o funcionamento do sistema não se
esgota no operador em si, mas também na existência de participantes diretos. Desse
modo, é possível observar, com mais clareza, que as infraestruturas de mercado são
“ecossistemas” e dependem da atuação de participantes para exercerem as suas
atividades;
b) Diferencia as câmaras de compensação e liquidação de prestadores de serviços de
compensação e liquidação (art. 2º, § único, I e II);

15
CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL. Resolução n° 2.882 de 30/8/2001, art. 2º, parágrafo incisos I a IV.
Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/exibenormativo?tipo=Resolu%C3%A7%C3%A3o&numero=288
2. Acesso em: 15 mar. 2020
23

c) Define os conceitos de participante direto e indireto das câmaras de compensação e


liquidação (art. 2º, § único, III e IV). A existência de participantes indiretos permite
esboçar a existência da estrutura de cadeia de responsabilidades da Câmara
BM&BOVESPA, como veremos a frente;
d) Determina uma série de regras gerais às câmaras e prestadores de serviços de
compensação e liquidação (Art. 3º, I a IX). É interessante notar a semelhança entre esse
regramento com os princípios previstos na publicação das “Recomendações para
sistemas de liquidação de valores mobiliários16” realizada pelo Banco de Compensações
Internacionais em 2001;
e) Delimita o escopo de competência da CVM e do Banco Central no exercício da
regulamentação, autorização e supervisão de câmaras e prestadores de serviços de
compensação e liquidação (Art. 5º e 6º).

3.1.3 Regulamento Anexo à Circular BCB nº 3.057/01

O Regulamento Anexo à Circular BCB nº 3.057/01 objetiva: “Aprovar o regulamento


que disciplina o funcionamento dos sistemas operados pelas câmaras e pelos prestadores de
serviços de compensação e de liquidação que integram o sistema de pagamentos” 17

A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente


estudo:
a) Define os termos “aceitação”, “certeza de liquidação”, “compensação”,
“compensação multilateral”, “evento definitivo” e “sistema de liquidação”, dentre
outros (Art. 2º, I a XXIII);
b) Dispõe sobre o regramento aplicável ao sistema de liquidação diferida18, incluindo o
dever de liquidação de obrigações financeiras interbancária definitiva pelo STR
(Sistema de Transferência de Reservas) (art. 4º);
c) Fundamenta o enquadramento de sistemas de liquidação “sistemicamente
importantes” (Art. 8º e 9º);

16
BIS. Recommendations for Securities Settlement Systems (RSSS). 2001; Disponível em:
https://www.bis.org/cpmi/publ/d101a.pdf. Acesso em:15 mai, 2020.
17
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Circular n° 3.057 de 31/8/2001. 2001. Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments
/47058/Circ_3057_v12_P.pdf. Acesso em: 17 mai. 2020
24

d) Prevê a possibilidade de diferimento da liquidação por até três dias (D+3), nos casos
de operações à vista, com ações realizadas nas bolsas de valores (art. 11);
e) Determina que as câmaras ou prestadores de serviço de compensação e liquidação de
transações com ativos financeiros, títulos, valores mobiliários, derivativos financeiros e
moedas estrangeiras que devem ser contrapartes garantidoras das obrigações assumidas
pelos seus participantes nos seus respectivos ambientes (Art. 11-A, I), bem como
estabelecem o dever de assegurar a liquidação das obrigações aceitas, constituindo
patrimônio especial e adotando mecanismos de administração de risco (Art. 11-A, II);
f) Impõe a abertura de conta no BCB, por operadores de sistemas de liquidação diferida,
destinada exclusivamente a: (a) a liquidação definitiva dos resultados apurados pelos
sistemas de liquidação; (b) as movimentações financeiras relacionadas aos mecanismos
de administração de risco adotados ou vinculadas aos eventos de custódia ligadas às
obrigações de emissores (pagamento de dividendos, por exemplo) e (c) liquidar
obrigações financeiras com o BCB (Art. 13, I, II, III). O regramento específico para a
abertura de conta de liquidação no BCB é dado pela Circular BCB nº 3.438;
g) Relaciona os aspectos relevantes que devem constar clara e objetivamente nos
regulamentos dos sistemas de liquidação (Art. 15, I a X);
h) Determina que os operadores de sistemas de compensação e liquidação exijam dos
seus participantes a entrega de ativos preferencialmente líquidos, como garantia dos
seus compromissores (art. 17);
i) Prevê a sistemática de alteração de regulamentos de sistemas de liquidação, exigindo
a autorização prévia do BCB em determinadas matérias (art. 22 I, II e III) ou,
dependendo do caso, a mera comunicação ao regulador (Art. 22, § 1);
j) Estabelece a competência do BCB na supervisão de câmaras e prestadores de serviços
de compensação e liquidação (Art. 25). Nota-se, portanto, que o BCB: (a) autoriza o
funcionamento dos sistemas de compensação e liquidação e (b) supervisiona as
respectivas entidades operadoras do sistema. A distinção entre a supervisão e a
autorização pelo BCB é de suma importância para diferenciar a pessoa jurídica
operadora do sistema de compensação e liquidação com instituições autorizadas a
funcionar pelo BCB;
k) Determina que os participantes dos sistemas de compensação e liquidação sejam
instituições financeiras ou demais instituições autorizadas pelo BCB (Art. 26, caput) e
confere competência às câmaras ou prestadores de serviços de compensação e
liquidação para estabelecer regras de acesso (Art. 26, §1)
25

3.1.4 Circular BCB nº 3.838/17

A Circular BCB nº 3.838/17:


Altera o Regulamento Anexo à Circular nº 3.057, de 31 de agosto de 2001,
que disciplina o funcionamento dos sistemas operados pelas câmaras e pelos
prestadores de serviços de compensação e de liquidação integrantes do
Sistema de Pagamentos Brasileiro e dá outras providências 19.

A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente


estudo:
a) Prevê a possibilidade de prestação de garantias no exterior, observados os limites de
exposição e liquidez (Art. 1º, inclusão dos arts. 17-A e 17-B no Regulamento Anexo à
Circular BCB nº 3.057/01).

3.1.5 Circular BCB nº 3.438/09

A Circular BCB nº 3.438/09: “Regulamenta a conta Reserva Bancária e a Conta de


Liquidação no Banco Central do Brasil”. 20
A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente
estudo:
a) Dispõe sobre a destinação das contas de liquidação e reserva bancária no STR (art.
2º), bem como as hipóteses em que a abertura é obrigatória ou facultativa (art. 5º, I e II);
b) Proíbe a manutenção de saldo negativo nas contas de liquidação e de reservas
bancárias (art. 8º);
c) Prevê as hipóteses compulsórias e voluntárias encerramento das contas no STR (art.
10º).

19
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Circular n° 3.838 de 27/6/2017. 2017. Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments
/50400/Circ_3838_v1_O.pdf
20
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Circular n° 3.438 de 2/3/2009. 2009. Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments
/47671/Circ_3438_v2_P.pdf Acesso em: 17 mai. 2020
26

3.1.6 Instrução CVM nº 505/11

A Instrução CVM nº 505/11: “Estabelece normas e procedimentos a serem observados


nas operações realizadas com valores mobiliários em mercados regulamentados de valores
mobiliários” 21.
A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente
estudo:
a) Define os termos “intermediário”, “comitente” e “membro ou agente de
compensação” (Art. 1º, I, III e IV). Nota-se que o termo “intermediário” se refere aos
participantes indiretos e o termo “membro ou agente de compensação” aos participantes
diretos dos sistemas de compensação e liquidação para efeitos da Resolução CMN nº
2882/01;
b) Prevê o dever das entidades de compensação e liquidação somente compensarem e
liquidarem operações cujo comitente final esteja cadastrado no seu sistema (art. 22).
Uma das consequências dessa previsão para a sistemática operacional de entidades de
compensação de liquidação no Brasil é o desdobramento do processo de aceitação da
operação em “captura” e “alocação”, que veremos em detalhes nos capítulos seguintes;
c) Estabelece que o pagamento de valores a intermediários por clientes deve ser feito
por transferência bancária ou cheque (Art. 27). Esse detalhe é de grande importância no
fluxo da cadeia de responsabilidades entre participantes, já que destaca a
interdependência entre infraestruturas de mercado para liquidação de operações
envolvendo títulos, valores mobiliários e derivativos financeiros (CIP/COMPE e
Câmara BM&FBOVESPA).

3.1.7 Instrução CVM nº 461/07

A Instrução CVM nº 461/07: “Disciplina os mercados regulamentados de valores


mobiliários e dispõe sobre a constituição, organização, funcionamento e extinção das bolsas de
valores, bolsas de mercadorias e futuros e mercados de balcão organizado” 22.

21
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM 505. 2011. Disponível em:
http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/500/inst505consolid.pdf. Acesso em: 17
mai. 2020.
22
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM 461. 2007. Disponível em:
http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/400/inst461consolid.pdf. Acesso em: 17
mai. 2020.
27

A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente


estudo:
a) Prevê a possibilidade de entidades administradoras de mercado gerirem sistemas de
compensação, liquidação e custódia de valores mobiliários (art. 13, I). Por essa
permissão, a B3 é autorizada a operar uma estrutura verticalizada de negociação (PUMA
Trading System) e pós-negociação (Câmara BM&FBOVESPA e Central Depositária da
BM&FBOVESPA);
b) Estabelece o dever de liquidação física e financeira das operações realizadas em
ambientes de negociação em entidades de compensação e liquidação autorizadas pelo
BCB ou CVM (Art. 16, II)

3.1.8 Instrução CVM nº 283/98

A Instrução CVM nº 283/98: “Dispõe sobre os mercados de liquidação futura” 23


A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente
estudo:
a) Define entidades de compensação e liquidação como entidades autorreguladoras que
devem implementar mecanismos de administração de risco (Art. 2º caput e parágrafo
único);
b) Confere à entidade autorreguladora a competência para a definição dos ativos
elegíveis como garantia (art. 7º), com base nos critérios técnicos e considerando fatores
de risco intrínsecos das garantias, como volatilidade histórica e liquidez.

3.2 Depositárias Centrais de Títulos e Valores Mobiliários

3.2.1 Lei nº 12.810/13 (Arts. 22 a 28)

A Lei nº 12.810/13:
“Dispõe sobre o parcelamento de débitos com a Fazenda Nacional relativos às
contribuições previdenciárias de responsabilidade dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios; altera as Leis nºs 8.212, de 24 de julho de 1991,
9.715, de 25 de novembro de 1998, 11.828, de 20 de novembro de 2008,
10.522, de 19 de julho de 2002, 10.222, de 9 de maio de 2001, 12.249, de 11
de junho de 2010, 11.110, de 25 de abril de 2005, 5.869, de 11 de janeiro de

23
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM 283. 1998. Disponível em:
http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/200/inst283consolid.pdf. Acesso em: 17
maio 2020.
28

1973 - Código de Processo Civil, 6.404, de 15 de dezembro de 1976, 6.385,


de 7 de dezembro de 1976, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, e 9.514, de 20
de novembro de 1997; e revoga dispositivo da Lei nº 12.703, de 7 de agosto
de 2012. 24

A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente


estudo:
a) Define as atividades de depósito centralizado, como a guarda centralizada de ativos
financeiros e valores mobiliários, fungíveis e infungíveis, o controle da sua titularidade
efetiva e o tratamento dos seus eventos (Art. 23);
b) Prevê a competência da CVM e BCB para autorizar, supervisionar e estabelecer
condições para o exercício da atividade depósito centralizado de ativos financeiros e
valores mobiliários;
c) Estabelece a forma de aperfeiçoamento do depósito centralizado (cessão fiduciária)
(Art. 24, caput);
d) Define a responsabilidade de conciliação entre os registros do emissor/escritoras com
os controles de titularidade do depositário central (art. 24, §2);
e) Define a responsabilidade pelos controles de titularidade do depositário central para
presunção da titularidade efetiva dos ativos financeiros e valores mobiliários
depositados (Art. 25, caput), bem como estabelece a transferência de titularidade
exclusivamente mediante instruções recebidas. Percebe-se a importância dos
participantes desta infraestrutura de mercado (custodiantes) para a movimentação de
ativos financeiros ou valores mobiliários nessa infraestrutura, bem como a natureza de
“ecossistema” das depositárias centrais.

3.2.2 Resolução CMN nº 4593/17

A Resolução CMN nº 4593/17: “Dispõe sobre o registro e o depósito centralizado de


ativos financeiros e valores mobiliários por parte de instituições financeiras e demais

24
BRASIL. Lei nº 12.810, de 15 de maio de 2013. Dispõe sobre o parcelamento de débitos com a Fazenda
Nacional relativos às contribuições previdenciárias de responsabilidade dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios; altera as Leis nºs 8.212, de 24 de julho de 1991, 9.715, de 25 de novembro de 1998, 11.828, de 20
de novembro de 2008, 10.522, de 19 de julho de 2002, 10.222, de 9 de maio de 2001, 12.249, de 11 de junho de
2010, 11.110, de 25 de abril de 2005, 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, 6.404, de 15
de dezembro de 1976, 6.385, de 7 de dezembro de 1976, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, e 9.514, de 20 de
novembro de 1997; e revoga dispositivo da Lei nº 12.703, de 7 de agosto de 2012. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 16 mar. 2013.
29

instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, bem como sobre a prestação
de serviços de custódia de ativos financeiros” 25.

A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente


estudo:
a) Define o conceito de ativos financeiros (art. 2º), excluindo da definição os valores
mobiliários (art. 2º, §2);
b) Condiciona a negociação de valores mobiliários e determinados ativos financeiros
em plataformas eletrônicas centralizadas e multilaterais ao respectivo depósito
centralizado (art. 4º, I);
c) Determina a adoção de procedimentos de conciliação de informações entre
instituições depositantes de ativos financeiros e valores mobiliários e com suas
respectivas depositárias centrais (art. 10º);

3.2.3 Regulamento Anexo à Circular BCB nº 3.743/15

O Regulamento Anexo à Circular BCB nº 3.743/15: “Aprova o regulamento que


disciplina as atividades de registro e de depósito centralizado de ativos financeiros e a
constituição de ônus e gravames sobre ativos financeiros registrados ou depositados”. (Redação
dada pela Circular nº 3.912, de 5/9/2018.)” 26

A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente


estudo:
a) Define que as atividades de depósito centralizado consistem ou integram um sistema
de liquidação (SSS), conforme o caso (Art. 1º, § único, I e II). Destaca-se que a
integração entre CSDs e SSSs pela regulação permite a transferência de titularidade de
ativos financeiros e valores mobiliários, mediante a entrega contra pagamento (Delivery
vs. Payment – DVP);
b) Prevê que o exercício de atividades de depósito centralizado depende de prévia
autorização do BCB à entidade requerente (art. 2º). É interessante notar que enquanto

25
CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL. Resolução nº 4.593, de 28 de agosto de 2017. 2017. Disponível
em:
https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments
/50425/Res_4593_v3_P.pdf. Acesso em: 17 mai. 2020
26
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Circular nº 3.743, de 8 de janeiro de 2015. 2015. Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments
/48587/Circ_3743_v4_P.pdf. Acesso em: 17 mai. 2020.
30

as câmaras de compensação e liquidação devem ter seus sistemas autorizados e suas


entidades operadoras supervisionadas27, as entidades operadoras de sistemas de depósito
centralizado devem ser autorizadas diretamente pelo BCB;
c) Delimita as disposições obrigatórias que devem conter em regulamentos de
depositários centrais (art. 3º);
d) Determina o escopo da atividade de depósito centralizado, incluindo: (a) guarda de
ativos financeiros e valores mobiliários, (b) armazenamento de informações, (c)
manutenção e movimentação de contas de ativos financeiros, contemplando a
transferência e controle de titularidade, (d) fornecimento de saldos e extratos, (e)
registro constitutivo de emissão de ativos financeiros, (f) constituição e desconstituição
de ônus e (g) tratamento de eventos incidentes por ativos financeiros. (Art. 4º, I a VII);
e) Relaciona os procedimentos de transferência de titularidade fiduciária ao depositário
central (Art. 5º);
f) Prevê o dever, ao depositário central, de conciliação entre ativos financeiros mantidos
em depósito centralizado e as posições de ativos financeiros mantidas em contas de
custódia (art. 6º);
g) Confere a responsabilidade ao depositário central, com relação à manutenção de
contas que permitam a identificação do cliente final (art. 8º) ou, quando não for possível,
a estrutura de contas deve segregar as posições proprietárias do participante direto com
as dos seus clientes (Art. 8º, § 1);
h) Estabelece o dever, aos depositários centrais, de instituir mecanismos que
identifiquem operações fora do padrão de mercado por instituições autorizadas a
funcionar pelo BCB ou com ativos financeiros sob a sua esfera de competência, como
mecanismos de prevenção de lavagem de dinheiro (Art. 17).

3.2.4 Instrução CVM nº 541/13

A Instrução CVM nº 541/13: “Dispõe sobre a prestação de serviços de depósito


centralizado de valores mobiliários28”.
A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente
estudo:

27
Item 3.1.3, “j”
28
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM 541. 2013. Disponível em:
http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/500/inst541consolid.pdf. Acesso em: 17
mai. 2020
31

a) Prevê o escopo de atividades da prestação de serviço de depósito centralizado de


valores mobiliários (Art 1º, §1, I a IV);
b) Define o conceito de investidor como cliente do custodiante e que mantém relação
indireta com o depositário central (art. 1º, §4);
c) Condiciona o depósito centralizado de valores mobiliários para distribuição pública
e negociação em mercados organizados (art. 3º, I e II);
d) Define o rol mínimo de participantes dos depositários centrais, sendo: a) custodiantes;
b) escrituradores e c) sistemas de negociação, compensação e liquidação de operações
ou outros depositários centrais (Art. 4º, I, II e III);
e) Prevê a possibilidade de exercício, por depositários centrais, de atividades distintas a
de depósito centralizado (art. 7º);
f) Sujeita à aprovação prévia da CVM, para produzirem efeito, os regulamentos dos
depositários centrais e as regras de acesso dos participantes;
g) Confere, aos depositários centrais, a responsabilidade de manter mecanismos de
monitoramento de riscos inerentes as suas atividades (Art. 20, I e II);
h) Impõe a segregação de atividades de depositária central das demais atividades
exercidas pela entidade, no caso de infraestruturas verticalizadas (art. 23);
i) Define a constituição de depósito centralizado de valores mobiliários com a
transferência de titularidade fiduciária ao depositário central, nos termos do seu
regulamento (art. 26), bem como estabelece os procedimentos operacionais para o seu
aperfeiçoamento (art. 27, I e II);
j) Indica as pessoas autorizadas para a solicitação de pedido de depósito centralizado
(Art. 29, I, II e III);
k) Indica as condições para a extinção do depósito centralizado (art. 31, I e II);
l) Determina que as contas de depósito de valores mobiliários devem ser
individualizadas por investidor e movimentáveis a partir de crédito ou débito em ativos
(Art. 32);
m) Estabelece que as estrutura de contas de depósito devem ter segregação entre: a)
valores mobiliários que estejam em processo de retirada, transferência, compensação e
liquidação, dos demais valores mobiliários existentes nas contas de depósito e b) os
valores mobiliários onerados, gravados ou depositados como garantia dos demais
valores mobiliários mantidos em conta de depósito ou de outras operações (art. 33, I e
II). Veremos a frente como é a estrutura de contas da Central Depositária da
BM&FBOVESPA;
32

n) Estipula as condições para a movimentação de valores mobiliários mediante a


comunicação do investidor ao seu custodiante e da instrução do custodiante ao
depositário central (art. 34);
o) Prescreve o estabelecimento de mecanismos de comunicação entre depositários
centrais e sistemas de compensação e liquidação, a fim de permitir o envio de
informações que permitam a correta liquidação das operações (Art. 34, §2);
p) Proíbe a manutenção de saldo negativos nas contas de depósito de ativos (art. 36)
q) Confere competência ao regulamento do depositário para determinar o momento em
que a transação é considerada definitiva e irrevogável (art. 37)
r) Define os procedimentos de conciliação (art. 39);
s) Derroga a responsabilidade ao depositário central de fiscalização e supervisão
contínua de seus participantes (art. 40);
t) Estabelece regras mínimas de organização e funcionamento de atividades que devem
ser abordadas nos regulamentos e manuais do depositário central (Art. 44);
u) Confere responsabilidade ao depositário central para estabelecer mecanismos de
adesão de seus participantes, tendo em vista, inclusive, a sua vinculação à cadeia de
responsabilidades29 (Art. 45).30

3.2.5 Instrução CVM nº 542/13

A Instrução CVM nº 542/13: “Dispõe sobre a prestação de serviços de custódia de


valores mobiliários” 31.
A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente
estudo:
a) Determina a classificação de participantes-alvo para a prestação de serviços de
custódia (Art. 1, §1) e os escopo dos serviços a serem prestados (Art. 1, §2);
b) Enumera as entidades que são autorizadas a prestar serviços de custódia (Art. 3º)
c) Estabelece a necessidade de segregação de contas de clientes individualizadas e de
contas proprietárias da instituição custodiante (art. 11);

29
Nota-se que o art. 45 da Instrução CVM nº 541 é a primeira norma “não-autorreguladora” que utiliza a expressão
“cadeia de responsabilidades”.
30
(COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2013)
31
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM 542. 2013. Disponível em:
http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/500/inst542consolid.pdf. Acesso em: 17
mai. 2020
33

d) Determina a conciliação diária entre as posições mantidas nas contas de custódias e


os registros informados pelo depositário central (Art. 12, §1, I);

3.2.6 Instrução CVM nº 543/13

A Instrução CVM nº 543/13 “Dispõe sobre a prestação de serviços de escrituração de


valores mobiliários e de emissão de certificados de valores mobiliários” 32.
A seguir serão apresentados alguns destaques da lei/norma para efeitos do presente
estudo:
a) Delimita o escopo de prestação de serviços de escrituração de valores mobiliários
(art. 1, §1);
b) Destaca a possibilidade da prestação de serviços de escrituração com ou sem emissão
de certificados de valores mobiliários (art. 2º);
c) Limita a prestação de serviços de escrituração de valores mobiliários às instituições
financeiras autorizadas pelo BCB (art. 4º);
d) Prevê as cláusulas mínimas do contrato de prestação de serviços a ser celebrado com
emissor do valor mobiliário e o seu respectivo escriturador (art. 11);
e) Impõe a individualização de contas de valores mobiliários individualizada e por
titular (art. 13), bem como relaciona as informações que são mantidas nessas contas (art.
15);
f) Define as hipóteses de lançamentos de registros na conta de valores mobiliários pelo
escriturador (art. 16);
g) Estabelece o dever de conciliar diariamente as posições registradas nas contas de
valores mobiliários, bem como os seus respectivos eventos, com os registros mantidos
por depositários centrais (art. 18)

32
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM 543. 2013. Disponível em:
http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/500/inst543consolid.pdf. Acesso em: 17
mai. 2020.
34

4 COMPONENTES DA INFRAESTRUTURA DE PÓS-NEGOCIAÇÃO DA B3 S.A –


BRASIL, BOLSA, BALCÃO33

Neste capítulo serão abordados os componentes da infraestrutura de pós-negociação da


B3, bem como os principais normativos, terminologias e características gerais dessas
infraestruturas de mercado.

4.1 Conceitos iniciais

Assim como em países como Austrália34 e Japão35, a B3 oferece, no Brasil, infraestrutura


verticalizada de negociação e pós-negociação aos seus participantes. “Verticalização” para
efeitos deste estudo, significa a combinação das atividades de ambiente de negociação, câmara
de compensação e liquidação e depositária central em uma única entidade. Este modelo de
negócios, no segmento, é conhecido internacionalmente como “one-stop shop”.

4.1.1 A B3 e a sua função autorreguladora das atividades de pós-negociação de ativos


financeiros, títulos, valores mobiliários e derivativos:

Como comentado inicialmente, o modelo de verticalização de negócios da B3 se impõe


de forma que nem a Câmara BM&FBOVESPA, nem a Central Depositária da
BM&FBOVESPA possuem personalidades jurídicas próprias. Esses sistemas, na realidade,
constituem-se como departamentos operacionais da B3, autorizados e supervisionados pela
CVM e BCB, conforme o caso.
Haja vista a competência concedida pelo art. 15 e 22 do Regulamento Anexo à Circular
BCB nº 3.057/01 (Câmara BM&FBOVESPA), dos arts. 39 e 44 da Instrução CVM nº 541/01
e do art. 3º do Regulamento Anexo à Circular BCB nº 3743/15 (Central Depositária), a B3 tem
certa autonomia autorreguladora para definir as regras e procedimentos operacionais das suas
infraestruturas de mercado, bem como os direitos e obrigações dos seus participantes.
A autorização prévia do BCB para alteração dessas normas é limitada a matérias
específicas definidas no art. 22, I. II e III do Regulamento Anexo à Circular BCB nº 3.057/01

33
A maioria dos normativos de pós-negociação da B3 ainda não foram atualizados com a atuação razão social.
Por essa razão, inexiste, para efeitos do presente estudo, diferenças materiais entre B3 e BM&FBOVEPSA.
34
ASX:
35
JPX: Japan Exchange Grop
35

(Câmara BM&FBOVESPA) e no art. 3º, § 3 do Regulamento Anexo à Circular BCB nº 3743/15


(Central Depositária). Com exceção das matérias apontadas nesses artigos, obriga-se que a B3
se restrinja a comunicar previamente o BCB a alteração normativa, conforme leitura do art. 22º
§1 do Regulamento Anexo à Circular BCB nº 3.057/01 e no art. 3º, § 34 do Regulamento Anexo
à Circular BCB nº 3743/15. Ao contrário, normalmente todas as alterações normativas relativas
às infraestruturas de mercado que operem títulos e valores mobiliários devem ser autorizadas
previamente pela CVM devido ao art. 117, I da Instrução CVM nº 46136.
Destaca-se, ainda, que, para efeitos de publicidade aos participantes, todas as alterações
normativas são comunicadas por ofícios-circulares, disponibilizados no site da B3. Os
principais normativos de pós-negociação produzidos pela B3 são:
a) Da Câmara BM&FBOVESPA:
• Regulamento da Câmara BM&FBOVESPA: Define as regras gerais de
funcionamento da câmara, bem como os tipos, direitos e responsabilidades dos seus
participantes;
• Manual de Administração de Risco da Câmara BM&FBOVESPA: Trata
especificamente do modelo de administração de risco adotado pela B3, incluindo, mas
não se limitando, aos riscos enfrentados pela CCP e pelos participantes, a estrutura de
salvaguardas da Câmara, o rol de ativos aceitos como garantia, o modelo de precificação
de garantias prestadas (CORE), dentre outros aspectos;
• Manual de Procedimentos Operacionais da Câmara BM&FBOVESPA: Compreende
as regras operacionais da Câmara, como os conceitos de captura e alocação, a relação
de carteiras de posições disponíveis aos participantes, os horários em que a Câmara
apura o saldo líquido multilateral dos seus participantes, bem como os horários de
liquidação dos saldos líquidos devedores e credores. Uma particularidade do MPO da
Câmara é que ele também define o regramento do BTB (Banco de Títulos B3), que é o
sistema de empréstimo de ativos da Câmara BM&FBOVESPA;

b) Da Central Depositária da BM&FBOVESPA:


• Regulamento da Central Depositária: Analogamente ao regulamento da Câmara,
define as regras gerais de funcionamento da central depositária, bem como os tipos,
direitos e responsabilidades dos seus participantes;

36
Art. 117. Sem exclusão de outras matérias previstas nesta Instrução, estão sujeitos à aprovação prévia
da CVM, para produzirem efeito: I – as normas de funcionamento de mercados organizados de valores
mobiliários, ou segmentos de mercados organizados de valores mobiliários, bem como suas alterações
36

• Manual de Procedimentos Operacionais da Central Depositária da


BM&FBOVESPA: Do mesmo modo, o MPO da Central Depositária definirá os tipos
de contas disponíveis aos participantes, os procedimentos para harmonizar a atuação
com a Câmara, com fins de promover a eficiente entrega vs. pagamento dos ativos,
determinar os procedimentos de conciliação de ativos entre a depositária, emissores e
bancos escrituradores.

Não se limitando apenas à pós-negociação, temos também o Regulamento e o Manual


de Acesso à Infraestrutura de Mercado da BM&FBOVESPA, que dispõe sobre os requisitos
aplicáveis às instituições que desejam obter acesso à infraestrutura de mercado da B3, bem
como seus direitos e deveres perante a B3.

4.1.2 Definição da terminologia utilizada pelas áreas de pós-negociação e risco:

Com o intuito de proporcionar a interação entre a terminologia utilizada nas áreas de


pós-negociação e risco com a respectiva análise jurídica, cabe definir algumas expressões
utilizadas, diariamente, pelos participantes de mercado, de acordo com o Glossário da
BM&FBOVESPA:
Comitente: pessoa física, jurídica, fundo ou entidade de investimento coletivo
ou qualquer entidade semelhante, no Brasil ou no exterior, que participa como
titular das operações realizadas pela sua conta e ordem, por intermédio de um
participante e liquidadas, também, por um participante e que utiliza os
serviços de um agente de custódia para a custódia dos seus ativos na central
depositária da BM&FBOVESPA e de um participante Selic para a custódia
de títulos públicos federais no SELIC37

Participante: pessoa física ou jurídica, fundo ou entidade de investimento


coletivo, com autorização de acesso ou com cadastro, inclusive comitente, que
segue regras de acesso ou de cadastro estabelecidas em regulamento
específico da BM&FBOVESPA38

Posição: quantidade líquida de determinado ativo negociado no mercado à


vista e a liquidar, determinado instrumento de contrato derivativo ou de
empréstimo, ou determinada moeda estrangeira, registrada em uma conta.39

Saldo Líquido Multilateral (“SLM”): valor resultante da compensação


multilateral das obrigações das contrapartes, obtido pela soma dos respectivos
saldos líquidos bilaterais e devido pelo participante à câmara ou dela ao

37
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Glossário. 2019. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/13/47/B6/0C/8704D6100C22BFC6AC094EA8/Gloss%C3%A1rio%20--
%2020190916.pdf. Acesso em: 16 maio 2020.
38
Ibidem. Item 105. p. 8
39
Ibidem. Item 114. p. 8
37

participante em cada data de liquidação, em ativos, derivativos, moeda


estrangeira e moeda nacional.40

Inadimplência: descumprimento de obrigações no tempo, no lugar e na forma


devidos, podendo ou não ser sanado.41

Inadimplente: participante, inclusive comitente, que não cumpriu as suas


obrigações, no tempo, no lugar e na forma estabelecidos pela
BM&FBOVESPA e que seja assim declarado por ela.42

Salvaguardas: princípios, regras, critérios e mecanismos adotados para


assegurar, direta ou indiretamente, o processo de liquidação e a integridade
dos mercados, ambientes e sistemas administrados pela BM&FBOVESPA.

Evento corporativo 43 : obrigações do emissor relativas aos ativos por ele


emitidos e depositados na central depositária da BM&FBOVESPA.44

4.1.3 Participante autorizado vs Participante Cadastrado

Cabe, ainda, distinguir as classificações de participantes, já que cumprem papéis


bastante distintos na infraestrutura de mercado da B3:
Participante autorizado (“PA”): pessoa jurídica, fundo ou entidade de
investimento coletivo, com autorização de acesso outorgada pelo Conselho de
Administração da BM&FBOVESPA, nos termos do seu estatuto social e da
regulamentação em vigor, que segue regras de acesso estabelecidas pela
BM&FBOVESPA em regulamento específico, sendo considerados como
participantes autorizados: a) participante de negociação pleno; b) participante
de negociação; c) membro de compensação; d) participante de liquidação; e)
agente de custódia; f) participante de registro e g) infraestrutura de mercado.”
45

Participante cadastrado (“PC”)46: pessoa física, jurídica, fundo ou entidade


de investimento coletivo, que segue procedimentos, fluxos e regras de
cadastro, sendo considerados como participantes cadastrados: a) emissor; b)
escriturador; c) liquidante; d) depositário do agronegócio; e) depositário de
ouro; f) fundidor de ouro; g) participante Selic; h) administrador de clubes de
investimento; i) banco correspondente j) banco emissor de garantias; k)
supervisora de qualidade de produtos agrícolas; l) comitente e m) outros
estabelecidos no manual de acesso da BM&FBOVESPA.

Nota-se que os participantes autorizados são aqueles que detêm o acesso aos sistemas
de negociação e pós-negociação da B3, sendo necessária outorga de autorização do Conselho

40
Ibidem. Item 126. p. 9
41
Ibidem. Item 65. p. 6
42
Ibidem. Item 66. p. 6
43
Ibidem. Item 58. p. 5
44
Ibidem. Item 127. p. 9
45
Ibidem. Item 103. p. 8
46
Ibidem. Item 104. p. 8
38

de Administração da B3. Já os participantes cadastrados, muitas vezes, são clientes de


participantes autorizados ou da própria B3.

4.2 Câmara BM&FBOVESPA

Neste tópico trataremos das características gerais da Câmara BM&FBOVESPA como


infraestrutura de mercado integrante do SPB.

4.2.1 Classificação de Infraestrutura de Mercado:

A Câmara BM&FBOVESPA é classificada como CCP (Contraparte Central Garantidora)


e SSS (Sistema de Liquidação de Títulos e Valores Mobiliários), já que liquida e garante as
operações firmadas no ambiente de negociação da B3.

4.2.2 Atuação

A câmara (BM&FBOVESPA) realiza a aceitação, a compensação, a


liquidação e a administração de risco de contraparte de operações que são
realizadas em ambientes de negociação e em ambiente de contratação de
empréstimo ou registradas em ambientes de registro administrados pela
BM&FBOVESPA ou por outras entidades administradoras de mercados
organizados de valores mobiliários47.

Veremos com maiores detalhes no capítulo 5º os procedimentos-chave do ciclo de


liquidação de operações no ambiente da Câmara BM&FBOVESPA, que são, justamente, os
processos de aceitação, compensação e liquidação. As garantias prestadas à câmara, que é um
dos componentes necessários para administração de risco de contraparte central serão
examinadas no capítulo 6º.
Destaca-se, ainda, que a câmara opera o modelo DvP nº 3, introduzido no capítulo 1,
onde há a apuração do saldo líquido multilateral de cada um dos participantes para a liquidação
dos saldos em ativos e em moeda nacional, mediante entrega contra pagamento.

47
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Regulamento da câmara de compensação e liquidação da BM&FBOVESPA.
2019. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/2C/06/4C/89/A2D6F6109A4874F6AC094EA8/Regulamento%20da%20Camar
a%20de%20Compensacao%20e%20Liquidacao%20da%20BMFBOVESPA_20191230.pdf. Acesso em: 20 mai.
2020.
39

4.2.3 Data de autorização para o funcionamento

A autorização para o funcionamento ocorreu em 19/04/2002, vide Comunicado BCB nº


9.419/0248.

4.2.4 Liquidação

A liquidação de valores mobiliários do mercado a vista na câmara BM&F BOVESPA


ocorre, usualmente, via sistema de liquidação diferida (D+2), vide art. 11, II, “c” do
Regulamento Anexo à Circular BCB nº 3.057/01.

4.2.5 Mercados que opera

Os mercados que a câmara opera são: “mercado à vista de renda variável e de renda fixa
privada, mercado de derivativos de renda variável, listados e de balcão, de empréstimo de
ativos, derivativos financeiros e de commodities, listados e de balcão e no mercado à vista de
ouro”. 49

4.2.6 Participantes

Não especificaremos, nesse item, as funções, os direitos e as obrigações de cada um dos


participantes da Câmara BM&FBOVESPA, já que a necessidade de utilização de cada um deles
pelo investidor (comitente) depende de fatores como: a) o mercado em que atua; ) instrumentos
que transaciona e c) do nível de aceitação de risco.
Em resumo, não é necessária a atuação de todos os participantes, autorizados e
cadastrados, para o aperfeiçoamento do ciclo de liquidação de uma transação na câmara.
Veremos, no item 4.2.7, abaixo, quais são os participantes que entendemos ser indispensáveis
para o processo de pós-negociação da Câmara BM&FBOVESPA.
.

48
A Câmara BM&FBOVESPA é o resultado da incorporação da CBLC pela B3 e segue o modelo normativo da
Câmara de Derivativos da BM&F.
49
Ibidem. Art. 9º,I a VI. p. 9-10
40

a) Participantes autorizados 50 : Membro de Compensação (“MC”), Participante de


Negociação Pleno (“PNP”), Participante de Liquidação (“PL”), Participante de
Negociação (“PN”), Agente de Custódia (“AC”);
b) Participantes cadastrados51: Liquidante, Depositário do Agronegócio, Banco Emissor
de Garantias e Comitente.

4.2.7 Cadeia de responsabilidades – conceito e exemplo de estrutura básica

A cadeia de responsabilidades da BM&FBOVESPA, no processo de liquidação, é


definida como o “conjunto de relações, entre as diversas classes de participantes e a
BM&FBOVESPA, de responsabilidades pelo cumprimento das obrigações decorrentes das
operações aceitas pela câmara, ou seja, pela liquidação de tais operações”52.
É baseada no conceito de “tiered participation arrangements”, previsto em detalhes no
Princípio 19 do PFMI, em que participantes diretos de uma câmara de compensação e
liquidação são corresponsáveis pela liquidação das obrigações de participantes indiretos 53 .
Como visto, o art. 2º, § único, III e IV da Resolução CMN nº 2.882/01 prevê a existência de
participantes diretos e indiretos nas câmaras de compensação e liquidação.
A estrutura da cadeia de responsabilidades em exame, parte da premissa de que a
Câmara BM&FBOVESPA somente é contraparte central dos seus membros de compensação
(“MCs”), isso é, dos seus participantes diretos. Esses participantes, por sua vez, são
corresponsáveis pela liquidação das obrigações dos seus participantes indiretos, normalmente
Participantes de Negociação Plenos (“PNP”), agentes intermediários que possuem acesso direto
ao ambiente de negociação54. Consequentemente, os PNPs, dependendo da estrutura de cadeia

50
Ibidem. Art. 13, I, III, IV, V, VI . p. 12
51
Ibidem. Art. 13. II, VII, VIII, IX. p. 12
52
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de administração de risco da câmara de compensação e liquidação
da BM&FBOVESPA. 2020. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/20/A6/AD/29/F15D0710E1C54D07AC094EA8/Manual%20de%20Administrac
ao%20de%20Risco%20da%20Camara%20BMFBOVESPA%20--%2020200120.pdf. Acesso em:15 mai. 2020
53
CPSS-IOSCO. Principles for financial market infrastructures. 2012. Disponível em:
https://www.bis.org/cpmi/publ/d101a.pdf. Acesso em: 15 mai, 2020. item 1.27. p. 15)
54
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Regulamento da câmara de compensação e liquidação da BM&FBOVESPA.
2019. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/2C/06/4C/89/A2D6F6109A4874F6AC094EA8/Regulamento%20da%20Camar
a%20de%20Compensacao%20e%20Liquidacao%20da%20BMFBOVESPA_20191230.pdf. Acesso em: 20 mai.
2020.
41

de responsabilidades, são responsáveis pela liquidação de operações dos seus clientes


(comitentes)55.

55
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de administração de risco da câmara de compensação e liquidação
da BM&FBOVESPA. 2020. p. 32. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/20/A6/AD/29/F15D0710E1C54D07AC094EA8/Manual%20de%20Administrac
ao%20de%20Risco%20da%20Camara%20BMFBOVESPA%20--%2020200120.pdf. Acesso em: . Acesso em:
15 mai. 2020.
42

Fluxograma 1: Estrutura Básica da Cadeia de Responsabilidades da Câmara BM&FBOVESPA (Mercado à vista)

Fonte: Autor (2020)


43

4.2.8 Requisitos de acesso dos integrantes da cadeia de responsabilidade exemplificada:

Conforme estabelecido no art. 26, §1 do Regulamento Anexo à Circular BCB nº


3.057/01, o BCB dá competência à entidade operadora da câmara de compensação e
liquidação para redigir as regras de acesso dos seus participantes. Nesse sentido, a B3
prevê uma série de requisitos para a admissão de participantes na Câmara
BM&FBOVESPA, no seu Manual de Acesso da BM&FBOVESPA (“Manual de
Acesso”). Destacamos, abaixo, as principais funções, bem como as exigências de acesso
aplicáveis aos MC’s e PNP’s.

4.2.8.1 Membro de Compensação

A Elegibilidade concerne às:


Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários (“CTVMs”),
Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários (“DTVMs”),
bancos múltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento e bancos
de desenvolvimento e Caixa Econômica Federal. 56

Os Requisitos técnicos devem: a) ser ou contratar liquidante57, isso é, titular de


conta de liquidação ou reservas bancárias no BCB, nos termos da Circular BCB nº 3.438-
09 e (b) ser previamente autorizado como um agente de custódia ou contratar um
participante com esse tipo de acesso58;
Os Requisitos econômico-financeiros 59 , presentes no Manual de Acesso,
preveem sete faixas de risco, nas quais se requer Ativo Financeiro Desvinculado Mínimo
e Patrimônio Líquido Mínimo ao MC. Essa análise é feita pela B3 mediante averiguação
das demonstrações financeiras da instituição que quer tornar-se participante;

B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. MANUAL DE ACESSO DA BM&FBOVESPA. 2009 Item 2.3.2. Pg.29. Disponível em
http://www.b3.com.br/data/files/24/07/15/11/99082710547B5127AC094EA8/Manual%20de%20Acesso_20190916.pdf. Acesso em: 15 mai. 2020
57
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Regulamento da câmara de compensação e liquidação da
BM&FBOVESPA. 2019. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/2C/06/4C/89/A2D6F6109A4874F6AC094EA8/Regulamento%20da%20
Camara%20de%20Compensacao%20e%20Liquidacao%20da%20BMFBOVESPA_20191230.pdf. Acesso
em: 20 mai. 2020. (Art. 17º, p. 14, versão 30/12/2019).
58
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de acesso da BM&FBOVESPA. 2009. Item 2.3.2. Pg.30.
Disponível em
http://www.b3.com.br/data/files/24/07/15/11/99082710547B5127AC094EA8/Manual%20de%20Acesso_
20190916.pdf. Acesso em: 15 mai. 2020
59
Ibdem, Item 2.3.3. p. 30.
44

No que tange às contribuições para o Fundo de Liquidação (“FLI”)60, para obter


acesso à infraestrutura de mercado da B3, o MC deverá fazer uma contribuição prévia ao
FLI, conforme enquadramento em faixas de risco e na forma de cotas do Fundo
Investimento Liquidez Câmara BM&FBovespa 61
(“FILCB”). Essas garantias são
mutualizadas entre participantes e, por essa razão, enquadram-se como garantias
“Survivor pay”, em que todos os participantes de uma infraestrutura de mercado, inclusive
a operadora, devem arcar com os prejuízos de um participante insolvente.

4.2.8.2 Participante de Negociação Pleno

A Elegibilidade 62 concerne às: Sociedades corretoras de títulos e valores


mobiliários (“CTVMs”) e Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários
(“DTVMs”)63.
Os requisitos técnicos devem: a) nomear um MC para a liquidação das obrigações
decorrentes das suas operações e b) ser previamente autorizado como um agente de
custódia ou contratar um participante com esse tipo de acesso.64;
Os Requisitos econômico-financeiros 65 , no Manual de Acesso, preveem sete
faixas de risco, nas quais se requer Ativo Financeiro Desvinculado Mínimo e Patrimônio
Líquido Mínimo ao MC. Essa análise é feita pela B3 mediante averiguação das
demonstrações financeiras do participante
Com relação ao Depósito de Garantia Mínima Não Operacional 66 , para obter
acesso à infraestrutura de mercado da B3, o PNP deverá depositar garantias mínimas não
vinculadas às operações sob responsabilidade do PNP e dos participantes que compõem
sua cadeia de responsabilidades. O valor dessas garantias é dado conforme enquadramento

60
Ibidem. Item 2.3.4. p. 31.
61
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de administração de risco da câmara de compensação e
liquidação da BM&FBOVESPA. 2020. Pg. 130. Item. 6.13 Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/20/A6/AD/29/F15D0710E1C54D07AC094EA8/Manual%20de%20Admi
nistracao%20de%20Risco%20da%20Camara%20BMFBOVESPA%20--%2020200120.pdf. Acesso em:15
mai. 2020
62
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de acesso da BM&FBOVESPA. 2009. Item 2.1.2. Pg. 10.
Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/24/07/15/11/99082710547B5127AC094EA8/Manual%20de%20Acesso_
20190916.pdf. Acesso em: 15 mai. 2020
63
Tratando-se das operações de mercado de renda variável, existem exceções para as demais instituições
em outros mercados de negociação.
64
Ibidem. Item 2.12. p. 11
65
Ibidem. Item 2.13. p. 13
66
. Ibidem. Item 2.15. p. 13
45

em faixas de risco e também na forma de cotas do FILCB67. Essas garantias não são
mutualizadas entre participantes e, por essa razão, enquadram-se como garantias
“Defaulter pay”, em que o participante insolvente arca com os seus próprios prejuízos.

4.2.9 Informações adicionais

a) Câmara como participante do STR: Além de infraestrutura de mercado, a


Câmara é participante do STR (Sistema de Transferência de Reservas), LVPS do
BCB, para liquidação dos saldos líquidos multilaterais dos seus MC’s;
b) FILCB: em resumo, o FILCB é um fundo de investimento multimercado, gerido
e administrado pelo Banco B3, que provê liquidez à câmara e cuja carteira é
composta de aportes de participantes, em dinheiro ou títulos públicos federais, a
título de FLI ou GMNO68, e contribuição da própria B3.
c) Possibilidade de concessão de mais de uma classificação de acesso à uma pessoa
jurídica: Não necessariamente um MC e um PNP são pessoas jurídicas distintas.
Caso cumpram os requisitos de acesso, um PNP pode ser seu próprio MC ou vice-
versa;
d) Função do Agente de Custódia na Câmara BM&FBOVESPA: O Agente de
Custódia é participante autorizado tanto na Câmara BM&FBOVESPA, como na
Central Depositária da BM&FBOVESPA, mas com funções distintas. Suas
funções na Câmara guardam relação com a autorização para movimentação de
ativos associadas a eventos de liquidação de operações nos ambientes de
negociação.69

67
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de administração de risco da câmara de compensação e
liquidação da BM&FBOVESPA. 2020. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/20/A6/AD/29/F15D0710E1C54D07AC094EA8/Manual%20de%20Admi
nistracao%20de%20Risco%20da%20Camara%20BMFBOVESPA%20--%2020200120.pdf. Acesso em:15
mai. 2020. (Item 6.1.3. pg. 130)
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de administração de risco da câmara de compensação e
liquidação da BM&FBOVESPA. Versão 20/01/2020. Pg. 130. Item 6.1.1
68
Ibidem. . Item 1.4.1. Pg. 25.
69
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Regulamento da câmara de compensação e liquidação da
BM&FBOVESPA. 2019. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/2C/06/4C/89/A2D6F6109A4874F6AC094EA8/Regulamento%20da%20
Camara%20de%20Compensacao%20e%20Liquidacao%20da%20BMFBOVESPA_20191230.pdf. Acesso
em: 20 mai. 2020.. (Art. 36º, p. 22. versão 30/12/2019)
46

4.3 Central depositária da BM&FBOVESPA

Neste tópico, trataremos das características gerais da Central Depositária


da BM&FBOVESPA como infraestrutura de mercado integrante do SPB.

4.3.1 Classificação de Infraestrutura de Mercado

A Central Depositária da BM&FBOVESPA é classificada como CSD (Depositária


Central) e SSS (Sistema de Liquidação de Títulos e Valores Mobiliários) em razão do
exercício de atividade de depósito centralizado de títulos e valores mobiliários e por
participar do processo de entrega contra pagamento por meio da conta de liquidação de
ativos da Câmara BM&FBOVESPA.

4.3.2 Funções

De acordo com seu regulamento:


A central depositária da BM&FBOVESPA, no desempenho das suas
atividades, adota mecanismos que visam assegurar a existência e a
integridade dos ativos nela depositados, efetuando sua guarda e controle
escritural, bem como a devida conciliação70 [...]. Os mecanismos que
visam assegurar a existência e a integridade dos ativos abrangem:
I – a transferência da titularidade fiduciária do ativo para a central
depositária da BM&FBOVESPA, realizada pelo emissor, escriturador
ou depositário de ouro, conforme o caso;
II – a imobilização do ativo sob a titularidade fiduciária da central
depositária da BM&FBOVESPA enquanto ativo se encontrar nela
depositado;
III – a conciliação entre o saldo de ativos mantido nas contas de depósito
sob a titularidade dos comitentes e o saldo de ativos mantido na
titularidade fiduciária da central depositária da BM&FBOVESPA junto
ao emissor, escriturador ou depositário de ouro, conforme o caso;
IV – o registro da titularidade dos ativos em nome dos respectivos
comitentes e a sua guarda em contas de depósito segregadas, mantidas e
controladas pelos agentes de custódia responsáveis e pela central
depositária da BM&FBOVESPA;
V – o registro de todas as movimentações de saldos de ativos entre a
central depositária da BM&FBOVESPA e os emissores, escrituradores
ou depositários de ouro, conforme o caso, bem como entre contas de
depósito dentro da central depositária da BM&FBOVESPA; e

70
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Regulamento da central depositária da BM&FBOVESPA. 2019.
Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/85/46/30/9C/40F0F610B1508FE6AC094EA8/Regulamento%20da%20C
entral%20Depositaria%20BMFBOVESPA_20191216.pdf. Acesso em: 20 mai. 2020. (art 2º. p. 5, versão
16/12/2019).
47

VI – o registro de todos os eventos corporativos relacionados aos ativos


depositados.71

Destaca-se que o texto redigido pela B3 no Regulamento da Central Depositária da


BM&FBOVESPA, que detalha as suas atividades, guarda extrema semelhança com
previsões do PFMI, com os arts 22 a 28 da Lei 12.810/13 e com as normas emitidas pelo
BCB e CVM, justamente em razão dessas atividades abrangerem escopo estrito e serem
passíveis de autorização e supervisão regulatória.

4.3.3 Data de autorização

A data de autorização da Central Depositária da BM&FBOVESPA ocorreu no dia


19/04/2002.

4.3.4 Ativos passíveis de depósito:

São elegíveis ao depósito na central depositária da BM&FBOVESPA:


i ativos admitidos à negociação, emitidos por emissores listados ou
dispensados de listagem, nos termos do regulamento para listagem de
emissores e admissão à negociação de valores mobiliários da
BM&FBOVESPA;
ii ativos não admitidos à negociação, emitidos por emissores
cadastrados, nos termos do manual do acesso da BM&FBOVESPA e
iii ouro ativo financeiro72

4.3.5 Mercados que opera

Os mercados que a Central Depositária opera são: à vista (renda fixa, variável e
ouro), de empréstimo de ativos e derivativos, que exigem entrega do ativo (liquidação
não-financeira), como opções de ações.

71
Ibidem. Art. 2º, parágrafo único. p. 5
72
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Regulamento da central depositária da BM&FBOVESPA. 2019.
Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/85/46/30/9C/40F0F610B1508FE6AC094EA8/Regulamento%20da%20C
entral%20Depositaria%20BMFBOVESPA_20191216.pdf. Acesso em: 20 mai. 2020. (art 7º, I, II, III. p. 9,
versão 16/12/2019).
48

4.3.6 Participantes

Os participantes que integram o ecossistema da Central Depositária da


BM&FBOVESPA são:

4.3.6.1 Participantes autorizados73

Sendo eles: os agentes de custódia e a infraestrutura de mercado.

4.3.6.2 Participantes cadastrados74

Sendo eles: emissor, escriturador, fundidor de ouro, depositário de ouro,


liquidante e comitente.

4.3.7 Estruturas de contas

Neste tópico abordaremos um dos elementos com maior peso em termos de


avaliação da segurança jurídica das depositárias centrais: A estrutura de contas de
custódia.

4.3.7.1 Características principais

De acordo seu Regulamento, a estrutura de contas da Central Depositária da


BM&FBOVESPA possui as seguintes características principais:

A estrutura de contas mantida pela central depositária da


BM&FBOVESPA assegura a segregação:
I - entre os ativos próprios dos agentes de custódia e os pertencentes aos
comitentes;
II - entre os ativos que estejam em processo de movimentação de ativos,
compensação e liquidação da câmara ou de infraestrutura de mercado e os
demais existentes nas contas de depósito;

73
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Regulamento da central depositária da BM&FBOVESPA. 2019.
Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/85/46/30/9C/40F0F610B1508FE6AC094EA8/Regulamento%20da%20C
entral%20Depositaria%20BMFBOVESPA_20191216.pdf. Acesso em: 20 mai. 2020. (art 33º. p. 20, versão
16/12/2019).
74
Ibidem. Art 33, §2. p. 20
49

III - entre os ativos com ônus e gravames dos demais ativos mantidos em
contas de depósito; e
IV - entre os ativos depositados e constituídos como garantia em favor da
câmara ou de infraestrutura de mercado dos demais ativos mantidos em
contas de depósito75.

4.3.7.2 Carteiras disponíveis:

As carteiras disponíveis para custódia de ativos nas contas individualizadas da


Central Depositária da BM&FBOVESPA dispõem de um leque que varia conforme a
necessidade dos participantes, seus intermediários e, conforme o caso, do próprio Poder
Judiciário, como é o caso da carteira de ônus e gravames.
a) livre movimentação: utilizada para manter ativos sobre os quais não
recaia o registro de quaisquer ônus, gravame ou garantia, estando
disponíveis para movimentação, inclusive para a entrega;
b) garantia: utilizada para manter ativos objeto de garantias
depositadas para a câmara;
c) empréstimo de ativos: utilizada para a movimentação de ativos,
em razão de operações de empréstimo de ativos realizadas por sistema
de empréstimo de ativos da BM&FBOVESPA;
d) cobertura de termo: utilizada para a cobertura de vendas de ativos
a termo;
e) cobertura de opções: utilizada para a cobertura de posições
vendidas de opções sobre ações e abatimento, caso haja necessidade de
depósito de garantias;
f) ônus e gravames: utilizado para a constituição, a alteração, a
retificação e a extinção de ônus e gravames sobre ativos depositados na
central depositária da BM&FBOVESPA, decorrentes de: (a)
determinação judicial; (b) instrução de órgãos reguladores ou
administrativos e (c) instrução de agente de custódia;
g) controle gerencial: utilizada para fins de controle pelo agente de
custódia dos ativos depositados na central depositária da
BM&FBOVESPA, em relação às contas de depósito por ele mantidas.
A movimentação de ativos para essa carteira não implica constituição de
ônus, gravame ou garantia com eficácia perante terceiros, nos termos
dos normativos da BM&FBOVESPA e da legislação em vigor76.

75
Ibidem. Art. 15
76
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de procedimentos operacionais da central depositária da
BM&FBOVESPA. 2019. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/F3/66/7A/17/60F0F610B1508FE6AC094EA8/Manual%20de%20Procedi
mentos%20da%20Central%20Depositaria%20da%20BMFBOVESPA_20191216.pdf. Acesso em:20 mai.
2020. (Item 3.1. p. 10)
50

4.3.8 Participantes fundamentais no ciclo de liquidação de valores mobiliários do mercado


à vista na Câmara BM&FBOVESPA

Com exceção do comitente, que é o investidor e principal contratante dos serviços


dos participantes da Câmara BM&FBOVESPA e da Central Depositária, os principais
participantes da CSD são: Agente de custódia, Emissor, Escriturador ou Liquidante.

4.3.8.1 Agente de custódia

O agente de custódia: “é o participante detentor de autorização de acesso para a


custódia perante a central depositária da BM&FBOVESPA”77.
Os principais deveres do agente de custódia, para efeitos deste estudo, são: a)
manter o controle dos ativos depositados em nome dos comitentes78; b) responsabilizar-
se pela constituição de ônus e gravames nos ativos de seus comitentes79; c) autorizar a
central depositária da BM&BOVESPA para acatar instruções da Câmara
BM&FBOVESPA para a movimentação de ativos em custódia para fins de liquidação de
operações 80 ; d) promover a transferência de ativos para dar suporte à liquidação das
operações, com base nas informações recebidas dos comitentes e da câmara81; e) contratar
liquidante, caso não seja, para efetuar as transferências de recursos financeiros de e para a
central depositária82 (pagamentos de proventos, por exemplo); f) solicitar formalmente a
central depositária da BM&FBOVESPA, condicionada à instrução do comitente sob a sua
responsabilidade, o exercício de eventos corporativos atribuídos aos ativos mantidos sob
a sua responsabilidade83; g) praticar todos os atos necessários para o processamento dos
eventos corporativos relativos aos ativos mantidos em sua custódia84, bem como prover
85
os recursos financeiros necessários ao exercício de eventos corporativos ; h)

77
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Regulamento da central depositária da BM&FBOVESPA. 2019.
Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/85/46/30/9C/40F0F610B1508FE6AC094EA8/Regulamento%20da%20C
entral%20Depositaria%20BMFBOVESPA_20191216.pdf. Acesso em: 20 mai. 2020. (versão
16/12/2019. Art. 38. p. 22)
78
Ibidem. Art. 39, III. p. 22.
79
Ibidem. Art. 39, III. p. 22.
80
Ibidem. Art. 39, IX. p. 22.
81
Ibidem. Art. 39, XI. p. 23.
82
Ibidem. Art. 39, XIII. p. 23.
83
Ibidem. Art. 39, XVIII. p. 23.
84
Ibidem. Art. 39, XIX. p. 24.
85
Ibidem. Art. 39, XX. p. 24.
51

responsabilizar-se, perante os comitentes sob a sua responsabilidade, pelo repasse dos


recursos financeiros ou ativos referentes aos eventos corporativos86; i) obter autorização
formal do comitente sob sua responsabilidade para transferência de ativos livres de
pagamento entre contas de depósito87; j) realizar conciliação diária entre as posições e
eventos corporativos informados pela central depositária da BM&FBOVESPA e pelos
emissores, bem como os registros dos ativos custodiados e os direitos provenientes desses
ativos, além do respectivo cálculo de tributos incidentes, mantidos no agente de custódia
em nome do comitente88.
Os Requisitos de acesso são:
Elegibilidade: Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários;
Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários; Bancos
múltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento e bancos de
desenvolvimento e Caixa Econômica Federal. 89

Requisitos econômico-financeiros: possuir patrimônio líquido (PL)


mínimo no valor de R$ 1.500.000,00. 90

Limites de custódia: Dado pela B3, conforme enquadramento de


patrimônio líquido.91

4.3.8.2 Emissor

O emissor “é o participante responsável pela existência, integridade, regularidade


e pelas obrigações inerentes aos ativos por ele emitidos, bem como pelos seus eventuais
lastros e garantias subjacentes, na forma da legislação em vigor;” 92:
Os principais deveres do emissor, para efeitos deste estudo, são: a) fornecer à central
depositária todas as informações necessárias para atividade de depósito centralizado,
incluindo a conciliação de saldos e tratamentos de eventos corporativos93; b) comunicar à

86
Ibidem. Art. 39, XXI. p. 24.
87
Ibidem. Art. 39, XXXIII. p. 27.
88
Ibidem. Art. 39, XLI. p. 28.
89
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de acesso da BM&FBOVESPA. 2009 Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/24/07/15/11/99082710547B5127AC094EA8/Manual%20de%20Acesso_
20190916.pdf. Acesso em: 15 mai. 2020(Item 2.5.1. Pg. 48)
90
Ibidem. Item 2.5.2. p. 48.
91
Ibidem. Item 2.5.3. p. 49.
92
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Regulamento da central depositária da BM&FBOVESPA. 2019.
Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/85/46/30/9C/40F0F610B1508FE6AC094EA8/Regulamento%20da%20C
entral%20Depositaria%20BMFBOVESPA_20191216.pdf. Acesso em: 20 mai. 2020. (versão 16/12/2019.
Art. 44).
93
Ibidem. Art. 45, I
52

central depositária a respeito do término do contrato de escrituração de ativos94; c) manter


contas individualizadas em nome da central depositária, cujos ativos depositados nelas
sejam considerados como titularidade fiduciária da BM&FBOVESPA, inclusive com
relação aos ativos cujo registro constitutivo tenha sido realizado na central depositária da
BM&FBOVESPA95; d) assegurar a existência e a integridade dos valores mobiliários,
ativos financeiros ou instrumentos contratuais que sejam lastro de valores mobiliários da
sua emissão, custodiados ou objeto de guarda no terceiro por ele contratado96; e) no caso
dos ativos depositados na central depositária da BM&FBOVESPA, o emissor deverá
manter controles para identificar os respectivos comitentes 97 ; f) tratar as instruções
recebidas da central depositária da BM&FBOVESPA referentes às movimentações de
depósito de ativos e retirada de ativos 98 ; g) informar à central depositária da
BM&FBOVESPA o tratamento tributário a ser dado ao evento corporativo, de acordo com
o regime fiscal aplicável a cada tipo de comitente e de acordo com o seu país de origem99;
h) repassar à central depositária da BM&FBOVESPA todos os recursos financeiros ou
ativos correspondentes aos eventos corporativos atribuídos aos ativos da sua emissão100;
i) realizar procedimentos de conciliação diária entre os saldos de ativos e eventos
corporativos mantidos nos seus registros em nome da titularidade fiduciária da
BM&FBOVESPA e os saldos de ativos e eventos corporativos informados pela central
depositária da BM&FBOVESPA101; j) efetuar as transferências de recursos financeiros de
e para a central depositária da BM&FBOVESPA correspondente aos pagamentos relativos
aos eventos corporativos, pelo liquidante por ele contratado e nomeado102.
Os requisitos previstos no Manual de Acesso são:
Categorias: “Listado”103 e “não-listado”104

94
Ibidem. Art. 45, IV
95
Ibidem. Art. 45, VI
96
Ibidem. Art. 45, VIII
97
Ibidem. Art. 45, XII
98
Ibidem. Art. 45, XVIII
99
Ibidem. Art. 45, XX
100
Ibidem. Art. 45, XXIII
101
Ibidem. Art. 45, XXVI
102
Ibidem. Art. 45, XXXIV
103
Aquele que segue as regras e os procedimentos dispostos no regulamento para a listagem de emissores e
a admissão à negociação de valores mobiliários da BM&FBOVESPA.
104
Categoria exclusiva para emissores dispensado de listagem e que não tenham efetuado pedido de listagem
ou admissão à negociação dos seus valores mobiliários.
53

Elegibilidade 105 : sociedades empresárias e fundos de investimentos


autorizados para a emissão de títulos ou valores mobiliários objeto de
registro ou guarda.

4.3.8.3 Escriturador

O escriturador pode ser compreendido como a: “instituição contratada pelo


emissor para a prestação do serviço de escrituração de ativos, nos termos da legislação em
vigor”. 106
Os deveres principais do escriturador, para efeitos deste estudo, são: a) fornecer, à
central depositária da BM&FBOVESPA, todas as informações necessárias à sua atuação,
inclusive no que se refere à conciliação dos saldos na titularidade fiduciária da central
depositária da BM&FBOVESPA e ao tratamento de eventos corporativos, para que seja
feita, de forma correta, a atualização dos ativos depositados em nome dos comitentes na
central depositária da BM&FBOVESPA107; b) manter contas individualizadas em nome
da central depositária da BM&FBOVESPA, cujos ativos nelas depositados sejam
considerados como de titularidade fiduciária da BM&FBOVESPA 108 ; c) no caso dos
ativos depositados na central depositária da BM&FBOVESPA, o escriturador deverá
manter controles para identificar os respectivos comitentes, a partir das informações
fornecidas pela central depositária da BM&FBOVESPA 109 ; d) providenciar os atos
necessários à transferência da titularidade fiduciária do ativo à central depositária da
BM&FBOVESPA; e) providenciar os atos necessários à transferência da titularidade
fiduciária do ativo à central depositária da BM&FBOVESPA110; f) informar à central
depositária da BM&FBOVESPA o tratamento tributário a ser dado ao evento corporativo,
de acordo com o regime fiscal aplicável a cada tipo de comitente e de acordo com o seu
país de origem111; g) repassar ao emissor os valores previamente recebidos da central
depositária da BM&FBOVESPA, em nome dos comitentes que possuem ativos em

105
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de acesso da BM&FBOVESPA. 2009 Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/24/07/15/11/99082710547B5127AC094EA8/Manual%20de%20Acesso_
20190916.pdf. Acesso em: 15 mai. 2020 . (Item 3.1.3. Pg.80)
106
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Regulamento da central depositária da BM&FBOVESPA. 2019.
Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/85/46/30/9C/40F0F610B1508FE6AC094EA8/Regulamento%20da%20C
entral%20Depositaria%20BMFBOVESPA_20191216.pdf. Acesso em: 20 mai. 2020. (Art. 47)
107
Ibidem. Art. 48, I
108
Ibidem. Art. 48, VI
109
Ibidem. Art. 48, VII
110
Ibidem. Art. 48, VIII
111
Ibidem. Art. 48, XV
54

depósito centralizado, relativos ao exercício de direitos de subscrição e conversões, entre


outros112; h) repassar à central depositária da BM&FBOVESPA, desde que previamente
pagos pelo emissor, todos os recursos financeiros ou ativos correspondentes aos eventos
corporativos atribuídos aos ativos de emissão do emissor que o contratou113; i) realizar
procedimentos de conciliação diária entre os saldos de ativos e eventos corporativos
mantidos nos seus registros em nome da titularidade fiduciária da BM&FBOVESPA e os
saldos de ativos e eventos corporativos informados pela central depositária da
BM&FBOVESPA114.
O requisito previsto no Manual de Acesso concerne à: “Elegibilidade: [...] qualquer
instituição regularmente autorizada pelo BCB e pela CVM a prestar serviços de
escrituração de ativos115”

4.3.8.4 Liquidante

O liquidante é o:
participante cadastrado que utiliza a sua conta de Reservas Bancárias ou
a conta de Liquidação para efetuar ou receber os pagamentos referentes
ao processo de liquidação de eventos corporativos116O liquidante pode
efetuar ou receber pagamentos referentes à: liquidação de eventos
corporativos, na qualidade de agente de custódia ou emissor e liquidação
de eventos corporativos de terceiros.117

Os deveres principais do liquidante, para efeitos deste estudo, são:


a) efetuar ou receber pagamentos para a ou da conta de liquidação da
câmara nos prazos e horários estabelecidos no manual de procedimentos
operacionais da central depositária da BM&FBOVESPA; b) comunicar
à central depositária da BM&FBOVESPA e aos participantes
envolvidos qualquer indício ou fato que possa implicar a
impossibilidade de transferência, total ou parcial, no prazo estabelecido,
de recursos financeiros relativos à liquidação de eventos corporativos118.
O requisito previsto no Manual de Acesso é a:

112
Ibidem. Art. 48, XVIII
113
Ibidem. Art. 48, XIX
114
Ibidem. Art. 48, XXII
115
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de acesso da BM&FBOVESPA. 2009. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/24/07/15/11/99082710547B5127AC094EA8/Manual%20de%20Acesso_
20190916.pdf. Acesso em: 15 mai. 2020 . (Item 3.1.3. Pg.80)
116
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Regulamento da central depositária da BM&FBOVESPA. 2019.
Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/85/46/30/9C/40F0F610B1508FE6AC094EA8/Regulamento%20da%20C
entral%20Depositaria%20BMFBOVESPA_20191216.pdf. Acesso em: 20.mai.2020
118
Ibidem. Art. 51, I, II.
55

Elegibilidade: Poderá cadastrar-se como liquidante junto à


BM&FBOVESPA qualquer instituição financeira regularmente
autorizada pelo BCB e pela CVM, detentor de conta Reserva Bancária
ou de conta de Liquidação.119
4.3.9 Processo de conciliação de posições e eventos corporativos:

O processo de conciliação na central depositária da BM&FBOVESPA consiste na


verificação diária do saldo de ativos nas contas de cada um dos comitentes mantida na sua
titularidade fiduciária com respectivos registros dos emissores e escrituradores. A
principal importância dessa etapa é assegurar que nenhum ativo foi “criado” ou
“destruído” durante o processo de liquidação. Para os ativos depositados na central
depositária, a B3 realiza a conciliação junto aos emissores e escrituradores, conforme o
caso120 . Já para os ativos que não estão depositados na central depositária, deve-se receber
uma declaração formal do respectivo emissor, assegurando a conciliação dos ativos com
os respectivos lastros121. Em contrapartida, a central depositária fornece, diariamente, as
informações de saldos de ativos e eventos corporativos, para que o emissor/escriturador,
e o agente de custódia procedam com a conciliação dos ativos mantidos nas contas de
depósito dos comitentes, junto à central depositária da BM&FBOVESPA, com aqueles
mantidos nos seus registros122.

119
Ibidem. Art. 48, XXII
119
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de acesso da BM&FBOVESPA. 2009. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/24/07/15/11/99082710547B5127AC094EA8/Manual%20de%20Acesso_
20190916.pdf. Acesso em: 15 mai. 2020 . (Item 3.1.3. Pg.80)
120
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Regulamento da central depositária da BM&FBOVESPA. 2019.
Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/85/46/30/9C/40F0F610B1508FE6AC094EA8/Regulamento%20da%20C
entral%20Depositaria%20BMFBOVESPA_20191216.pdf. Acesso em: 20.mai.2020
121
Ibidem. Art. 23, § 2
122
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de procedimentos operacionais da central depositária da
BM&FBOVESPA. 2019. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/F3/66/7A/17/60F0F610B1508FE6AC094EA8/Manual%20de%20Procedi
mentos%20da%20Central%20Depositaria%20da%20BMFBOVESPA_20191216.pdf. Acesso em:20. mai.
2020 . (Item 4.4 (2), pg. 34)
56

Fluxograma 2: Processo de Conciliação de Saldo de Ativos

As setas abaixo representam o envio (ou a troca) de informações entre a Central Depositária e os seus participantes no processo de
conciliação de saldo de ativos por comitente:

Fonte: Autor (2020)


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5 DESCRIÇÃO DO CICLO DE PÓS-NEGOCIAÇÃO NO MERCADO A VISTA

O presente capítulo objetiva, em resumo, descrever as etapas fundamentais do ciclo


de liquidação de uma transação no mercado à vista realizada em ambiente de bolsa,
utilizando a cadeia de responsabilidades básica da Câmara BM&FBOVESPA, prevista no
capítulo 3 (Comitente – PNP – MC liquidante) e, no caso da Central Depositária, a
participação do Agente de custódia, Emissor e Escriturador. Em seguida, realizaremos o
enquadramento normativo das etapas descritas, em termos de regulação e autorregulação.

5.1 Por que o mercado à vista?

A escolha em detalhar a regulação aplicável ao mercado à vista, em detrimento de


mercados de liquidação futura, fundamenta-se, essencialmente, para a demonstração do
mecanismo de entrega contra pagamento, isso é a utilização conta de liquidação da Câmara
BM&FBOVESPA na central depositária para a transferência de custódia do ativo do
comitente-vendedor ao comitente-comprador, mediante pagamento, na conta de
liquidação da Câmara BM&FBOVESPA no STR pelo MC do comitente comprador ao
MC do comitente vendedor. Na medida em que a câmara utiliza o sistema DvP 3,
suponhamos que essa transação tenha gerado saldo líquido multilateral credor e devedor
entre os MCs a ser liquidado.
Nota-se, ainda, a interdependência entre infraestruturas de mercado no Brasil, na
medida que para realizar essa simples operação no mercado à vista, é possível que estejam
envolvidas até seis infraestruturas de mercado, a saber:
a) Sistema de Transferência de Reservas (STR), operado pelo BCB, para
liquidação do saldo líquido multilateral credor e devedor dos MCs, mediante a
movimentação de contas de liquidação e de reservas bancárias;
b) Câmara BM&FBOVESPA, operada pela B3, para apuração do saldo líquido
multilateral, mediante compensação de obrigações, de comitentes, PNP’s e MC’s,
e com a interposição como contraparte central garantidora entre MC’s credores e
devedores, mediante novação contratual123;

123
PEREIRA FILHO, Valdir Carlos. Aspectos Jurídicos da Pós-Negociação de Ações.Sâo Paulo: Edições
Almedina, 2013. (Coleção Insper). (Edição do Kindle. Posição nº 877 de 2593) “No caso da novação,
haveria a substituição do contrato original celebrado no ambiente de negociação por um novo contrato no
qual a contraparte central assume a posição de contraparte de cada parte do contrato original. Desta feita, a
compra e venda pactuada originalmente se desdobraria em novos contratos, passando o vendedor a ter como
58

c) Central Depositária da BM&FBOVESPA, operada pela B3, para a liquidação


do saldo em ativos e transferência de custódia, coordenada com a câmara.
d) Sistema de Transferência de Fundos (SITRAF), operado pela CIP, para a
liquidação do saldo líquido multilateral entre comitente e PNP124, e, conforme o
caso, entre PNP e MC125
e) Centralizadora da Compensação de Cheques (Compe), operado pelo Banco do
Brasil S.A, caso a liquidação entre comitente e PNP seja efetuada por cheque126;
f) Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), operado pelo BCB, para
o depósito de títulos públicos federais em garantia para a cobertura do risco de
crédito das partes em relação à contraparte central até a liquidação dos respectivos
saldos líquidos multilaterais. A prestação de garantias à câmara no mercado à vista
é detalhada no item 5.2, abaixo.

5.2 Prestação de garantias em operações no mercado à vista

Em razão da utilização do sistema de liquidação diferido (LDL) em D+2, a Câmara


BM&BOVESPA, na qualidade de contraparte central das operações firmadas no ambiente
de negociação da B3, corre risco de crédito dos seus participantes até a efetiva data de
liquidação das operações. Em razão dessa exposição, a câmara exige garantias, prestadas
na forma de títulos públicos federais, pelos comitentes ou pelos seus PNPs. Destaca-se
que, na maioria das vezes, esse tipo de risco é coberto pelo próprio PNP, por meio de saldo
operacional.
O art. 91 do Regulamento da Câmara BM&FBOVESPA prevê a sistemática de
depósito de garantias de operações no mercado à vista, a saber:
Art. 91 No caso de operações com ativos no mercado à vista, conforme
classificação estabelecida pela BM&FBOVESPA, o risco de crédito
calculado:
I - pode ter como base a posição segregada do comitente sob o
participante de negociação pleno, participante de negociação ou
participante de liquidação, e ser coberto por garantias depositadas
pelo comitente a favor da câmara, por intermédio do participante de

comprador a contraparte central e, de modo inverso, o comprador passa a ter como vendedor a contraparte
central.”
124
Instrução CVM nº 505/11, art. 27: “Art. 27. O pagamento de valores a intermediários por clientes deve
ser feito por meio de transferência bancária ou cheque de titularidade do cliente.”
125
Caso o PNP não seja o seu próprio MC e/ou não possua conta de liquidação ou reservas bancárias no
STR.
126
Acreditamos que, em razão do prazo de dois dias úteis para a transferência de valores por cheque, o
COMPE não deve ser muito utilizado para a liquidação de valores entre comitentes e PNP’s.
59

negociação, participante de negociação pleno ou participante de


liquidação; ou
II - pode ter como base o conjunto de posições dos comitentes
registradas sob o participante de negociação pleno ou participante de
liquidação, e ser coberto por garantias depositadas pelo participante
de negociação pleno ou participante de liquidação a favor da
câmara.

5.3 Descrição do processo de pós-negociação no mercado à vista

O Prof. Valdir Carlos Pereira Filho (2013), na sua obra “Aspectos Jurídicos da
Pós-Negociação de Ações”, descreve que as fases do ciclo de pós-negociação no mercado
de ações consistem na: a) aceitação; b) compensação; c) liquidação e d) guarda ou depósito
de ativos127.
Após a análise das normas da Câmara BM&FBOVESPA, percebemos que é
possível obter uma visão mais abrangente das etapas do ciclo de pós-negociação, que, para
efeitos do presente estudo, consistem nas seguintes fases:

a) Aceitação, que se divide em:


• Captura: procedimento pelo qual os sistemas da câmara recebem
as operações realizadas por intermédio dos ambientes de negociação,
contratadas por um sistema de contratação de empréstimo ou registradas
em ambientes de registro.128
• Alocação: procedimento pelo qual se identifica o comitente da
operação, mediante a inserção da sua conta e de informações necessárias
à liquidação, quando aplicável, como: (a) o direcionamento da entrega
de ativos, (b) a carteira de depósito e (c) a quantidade negociada pelo
comitente129;

b) Compensação, que consiste:


[...] na apuração dos direitos e das obrigações líquidas dos participantes.
A compensação multilateral é o procedimento destinado à apuração da
soma dos resultados devedores e credores de cada participante em
relação aos demais. O procedimento de compensação multilateral gera
um único resultado líquido entre os membros de compensação e a
câmara130;

127
PEREIRA FILHO, Valdir Carlos. Aspectos Jurídicos da Pós-Negociação de Ações.São Paulo:
Edições Almedina, 2013. (Coleção Insper). (Edição do Kindle. Posição nº 781-797 de 2593).
128
B3 S.A. - BRASIL, BOLSA BALCÃO. GLOSSÁRIO. versão 16/09/2019. Item 25. Pg. 19. Pg 3
129
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de procedimentos operacionais da central depositária da
BM&FBOVESPA. 2019. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/F3/66/7A/17/60F0F610B1508FE6AC094EA8/Manual%20de%20Procedi
mentos%20da%20Central%20Depositaria%20da%20BMFBOVESPA_20191216.pdf. Acesso em: 20 mai
2020 (Item 5.2. p. 39).
130
Ibidem. Capítulo 7. p. 140
60

c) Liquidação, que consiste:


[...] no processo de extinção de obrigações remanescentes após o
processo de compensação multilateral, sendo composta das seguintes
etapas:
1. Entrega de ativos dos comitentes devedores em ativos à câmara; e
2. Pagamento dos devedores líquidos em recursos financeiros à câmara
3. entrega de ativos aos credores em ativos e pagamento aos credores
líquidos em recursos financeiros131;

d) Conciliação:
[...] processo de verificação dos saldos de ativos depositados nas contas
de depósito na central depositária, com as posições mantidas na sua
propriedade fiduciária, conforme informadas pelo emissor, escriturador
por ele contratado132.

Nota-se que a existência da divisão da etapa de aceitação em captura e alocação é


dada em razão justamente de exigência regulatória, posto que o art. 22 da Instrução CVM
nº 505/11 prevê o dever das entidades de compensação e liquidação somente quando
compensarem e liquidarem operações cujo comitente final esteja cadastrado no seu
sistema.
A justificativa para a substituição da etapa “guarda ou depósito de ativos” para
“conciliação” nada mais é do que a identificação do processo específico realizado na
central depositária no ciclo de pós-negociação dentro do escopo de guarda e depósito de
ativos, conforme descrito pelo Prof. Valdir Carlos Pereira Filho (2013).
Em resumo, uma vez que uma operação é “fechada” entre os participantes no
sistema de negociação da B3:
a) A Câmara BM&FBOVESPA captura a ordem, verificando, nesse processo,
situação e habilitação dos participantes; data e horário da operação; instrumento-
objeto da operação e, conforme o caso, a conta informada pelo PNP133;

131
Ibidem. Item 8.1. p. 151
132
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de procedimentos operacionais da central depositária da
BM&FBOVESPA. 2019. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/F3/66/7A/17/60F0F610B1508FE6AC094EA8/Manual%20de%20Procedi
mentos%20da%20Central%20Depositaria%20da%20BMFBOVESPA_20191216.pdf. Acesso em: 20.mai.
2020. (Item 4.4 (2). p. 34)
133
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de procedimentos operacionais da câmara de compensação
e liquidação da BM&FBOVESPA. 2020. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/2C/06/4C/89/A2D6F6109A4874F6AC094EA8/Regulamento%20da%20
Camara%20de%20Compensacao%20e%20Liquidacao%20da%20BMFBOVESPA_20191230.pdf. Acesso
em: 16 mai. 2020(Item 5.1. p. 36)
61

b) O PNP deve alocar a ordem até as 20h30 do mesmo dia da realização da


operação (D+0), no caso de comitentes residentes, informando à Câmara
BM&BOVESPA a identificação do comitente da operação. Quando aplicável, o
PNP deve também instruir a câmara com as informações necessárias para a
liquidação, como direcionamento da entrega de ativos, conta de depósito e
quantidade negociada pelo comitente134;
c) Como parte do processo de compensação multilateral, a efetiva entrega para a
conta de depósito indicada fica condicionada à expressa autorização de entrega ou
de recebimento a ser concedida exclusivamente pelo agente de custódia
responsável. O agente de custódia pode autorizar ou rejeitar a entrega ou o
recebimento do saldo de ativos a ele direcionado, a partir da sua indicação, até
20h30 de D+1;
d) Após a respectiva apuração, a Câmara BM&FBOVESPA informa, entre 07h e
07h30 na data de liquidação (D+2), os saldos líquidos multilaterais provisórios dos
MC aos seus liquidantes e ao BCB135;
e) Às 11h da data de liquidação, a câmara processa a transferência dos ativos da
conta de depósito do comitente devedor para a conta de liquidação da câmara
mantida na central depositária136;
f) Até às 13h30 da data de liquidação, os comitentes devedores devem liquidar as
suas obrigações perante os seus PNPs137;
g) Até às 14h30 da data de liquidação, os PNPs devem liquidar as suas obrigações
perante os seus MCs138;
h) Até às 14h50 da data de liquidação, a câmara processa a liquidação dos
membros de compensação devedores: ordem de crédito a favor da conta de
liquidação da câmara no STR na conta de liquidação/reservas bancárias dos
liquidantes dos MCs, liquidando, portanto, os saldos líquidos multilaterais dos
MCs devedores139;
i) Às 15h50 da data de liquidação, a câmara, simultaneamente: (a) envia uma
solicitação de transferência de recursos da sua conta liquidação no STR para a

134
Ibidem. Item. 5.2.5. p. 48
135
Ibidem. Item. 7.1.2.2. p. 147
136
Ibidem. Item. 8.1.4. Etapa 1. p. 166
137
Ibidem. Item. 8.1.4. Etapa 13. p. 168
138
Ibidem. Item. 8.1.4. Etapa 14. p. 169
139
Ibidem. Item. 8.1.4. Etapa 17. p. 169
62

conta de liquidação/reservas bancárias dos liquidantes dos MCs credores,


liquidando os seus respectivos saldos líquidos multilaterais e; (b) coordena a
entrega dos ativos contra o pagamento do valor financeiro de forma simultânea,
final e irrevogável, instruindo o débito da sua conta de liquidação de ativos e o
crédito na conta de depósito credora líquida de ativos na central depositária140;
j) Não obtivemos informações a respeito do horário exato, mas, como tratado
anteriormente, a central depositária concilia, diariamente, as posições registradas
nos seus sistemas com aquelas enviadas pelo escriturador/emissor, bem como
remete os seus registros aos agentes de custódia.

140
Ibidem. Item. 8.1.4. Etapa 19. p. 169
63

Tabela 1: Normas Aplicáveis ao Ciclo de Pós-Negociação no Mercado à Vista (Leis/Regulação e Autorregulação)

Etapa Leis/Regulação Autorregulação


Aceitação Circular BCB nº 3057/01: Art. 2, I; Art. 11, II; Art. 15, IV e Regulamento da Câmara BM&FBOVESPA: Capítulo III,
Captura e V; Art. 22, II, a). Seção I.
Alocação Instrução CVM nº 505/11: Art. 22 MPO da Câmara BM&FBOVESPA: Item 5.1, 5.2.
Compensação Lei nº 10.214/01: Art. 3º. Regulamento da Câmara BM&FBOVESPA: Capítulo III,
Circular BCB nº 3057/01: Art. 2, V; Art. 4º, I, Art. 22, II, d); Seção V.
MPO da Câmara BM&FBOVESPA: Capítulo 7.
Liquidação Lei nº 10.214/01: Art. 4º Regulamento da Câmara BM&FBOVESPA: Capítulo III,
Resolução CMN nº 2882/01: Art. 4º, II, III e IV Seção VI e VII.
Circular BCB nº 3057/01: Art. 2, II, V e XI; Art. 3º, V; Art. MPO da Câmara BM&FBOVESPA: Capítulo 8.
4º I e II; Art. 11º, I e II , d); Art. 11 -A, I e II; Art. 13, I; Art.
15, I; Art. 22, II, e); Art. 33;
Circular BCB nº 3438/09: Art. 2º, I, a), b) e c); Art. 5º, I e II;
Conciliação: Resolução CMN nº 4593/17: Art. 8º, I; Art. 10º; Regulamento da Central Depositária: Capítulo I, Seção IV,
Circular BCB nº 3743/15: Art. 3º, I, e); Art. 6º; Subseção III.
Instrução CVM nº 541/13: Art. 38, caput, §1 e §2; MPO da Central Depositária: Item 4.4.
Instrução CVM nº 542/13: Art. 1º, §2, a; Art. 12, §1, I e §2,
VII.
Instrução CVM nº 543/13: Art. 18.

Fonte: Autor (2020)


64

Fluxograma 3: Ciclo completo de liquidação no mercado à vista

Nota: Link para imagem em alta resolução: encurtador.com.br/ovJO4


Fonte: Autor (2020)
65

6 GARANTIAS PRESTADAS ÀS CÂMARAS DE COMPENSAÇÃO E


LIQUIDAÇÃO

Diferentemente das garantias previstas no Código Civil Brasileiro, as garantias


prestadas por participantes às câmaras de compensação, por força da Lei nº 10.214/01,
observam um rito legal próprio, conforme veremos a seguir.

6.1 A importância dos arts. 6º e 7º da Lei nº 10.214/01

Os arts. 6º e 7º da Lei nº 10.214/01 preveem:


Art. 6o Os bens e direitos integrantes do patrimônio especial, bem como
aqueles oferecidos em garantia pelos participantes, são impenhoráveis,
e não poderão ser objeto de arresto, seqüestro, busca e apreensão ou
qualquer outro ato de constrição judicial, exceto para o cumprimento das
obrigações assumidas pela própria câmara ou prestador de serviços de
compensação e de liquidação na qualidade de parte contratante, nos
termos do disposto no caput do art. 4o desta Lei.
Art. 7o Os regimes de insolvência civil, concordata, intervenção,
falência ou liquidação extrajudicial, a que seja submetido qualquer
participante, não afetarão o adimplemento de suas obrigações,
assumidas no âmbito das câmaras ou prestadores de serviços de
compensação e de liquidação, que serão ultimadas e liquidadas pela
câmara ou prestador de serviços, na forma de seus regulamentos. (Grifo
nosso)

A proteção dada aos ativos prestados em garantia à câmara pelos arts. 6º e 7º da


Lei nº 10.214/01 é condição fundamental para o exercício da atividade de contraparte
central garantidora pela Câmara BM&FBOVESPA, na medida em que confere segurança
jurídica à B3 para a liquidação de operações e, caso necessário, para a execução de
garantias, sem que esses ativos estejam sujeitos à eventual concurso de credores de um
participante insolvente. Caso inexistisse tal dispositivo na lei, seria muito improvável que
uma contraparte central garantidora pudesse assegurar a liquidação das operações por ela
aceitas, pois subsistiria o risco jurídico de determinado ativo ser objeto de constrição
judicial, majorando, em consequência, o risco de crédito da câmara em relação aos seus
participantes.
66

6.2 Composição da Estrutura de Salvaguardas da Câmara BM&FBOVESPA

Antes de tratarmos da estrutura de salvaguardas, é necessário abordarmos do


conceito de “margem de garantia”, bem como o seu tratamento na doutrina brasileira e no
PFMI.
Rachel Sztajn define a margem como:
a soma a ser depositada para iniciar qualquer operação na bolsa, sendo
facultado à bolsa requerer o aumento de margem se o valor depositado
se mostrar insuficiente para garantir a liquidez do operador ou se a
variação do preço do bem esgotar o montante depositado como
garantia141.

Já o PFMI define como “o depósito de garantias na forma de dinheiro, valores


mobiliários ou outros instrumentos financeiros para assegurar a liquidação e mitigar a
exposição (de crédito) da contraparte central142” (Tradução nossa)
Vejamos, então, que margem não é a garantia depositada per se, mas sim o ato de
depositar garantias para a cobertura de risco, derivada das posições dos participantes,
perante uma contraparte central garantidora. Portanto, entendemos que não é possível falar
em “margens” (no plural), referindo-se às garantias prestadas à Câmara
BM&FBOVESPA. Esclarecer esse conceito é muito importante, pois existem “chamadas
de margem”, com propósitos distintos e que podem não se referir à cobertura de risco de
posições de comitentes.
O Manual de Administração de Risco da Câmara BM&FBOVESPA define a
“estrutura de salvaguardas” como os “mecanismos constituídos com a finalidade de
mitigar perdas referentes a eventos de inadimplência, ou seja, relacionadas ao
descumprimento de obrigações no processo de liquidação de operações143” e define a sua
composição como144:
(i) Garantias prestadas por comitentes, de sua titularidade, para
cobertura de perdas associadas às suas posições, incluindo seus ativos
alocados como cobertura, os quais são considerados como garantia em
caso de inadimplência;

141
SZTAJN, Rachel. Futuros e Swaps: uma visão jurídica. São Paulo: Cultural Paulista. 1999. p. 210
142
CPSS-IOSCO. Principles for financial market infrastructures. 2012. Disponível em:
https://www.bis.org/cpmi/publ/d101a.pdf. Acesso em: 15 mai 2020 . (item 3.6.1. p. 51)
143
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de administração de risco da câmara de compensação e
liquidação da BM&FBOVESPA. 2020. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/20/A6/AD/29/F15D0710E1C54D07AC094EA8/Manual%20de%20Admi
nistracao%20de%20Risco%20da%20Camara%20BMFBOVESPA%20--%2020200120.pdf. Acesso em:15
mai. 2020, pg. 7.
144
Ibidem. Item 1.1, p. 11
67

(ii) Garantias prestadas por terceiros para comitentes e para participantes


de negociação plenos e participantes de liquidação, nos termos do
capítulo 6 (Administração de garantias) deste manual;
(iii) Garantias prestadas por participantes de negociação plenos e
participantes de liquidação para cobertura de perdas associadas a
operações do mercado a vista de seus comitentes;
(iv) Garantias prestadas por participantes de negociação, participantes
de negociação plenos e participantes de liquidação e membros de
compensação para cobertura do risco intradiário decorrente das
operações registradas sob sua responsabilidade;
(v) Garantias prestadas por bancos emissores de garantias para
ampliação de limites de emissão, nos termos do capítulo 6
(Administração de garantias) deste manual;
(vi) Garantias mínimas não operacionais prestadas por participantes de
negociação plenos e participantes de liquidação, exigidas como
condição de acesso à câmara; e
(vii) O fundo de liquidação, constituído por recursos da
BM&FBOVESPA e dos membros de compensação, destinado à
cobertura de perdas decorrentes de falha de membros de compensação
no cumprimento de suas obrigações perante a câmara.

As garantias descritas nos itens I a IV são objeto de “chamada de margem”, isso é,


a solicitação de prestação de garantias adicionais à câmara derivado da majoração do risco
do participante perante a contraparte central garantidora. No entanto, o item “iv”, por
exemplo, é a garantia prestada para a cobertura de saldo operacional, que é, simplificando
bastante, “a quantidade de risco que uma corretora pode assumir derivada de operações
próprias e de seus comitentes”. 145 Um dos parâmetros para a definição de saldo
operacional, por exemplo, é a quantidade de operações não-alocadas, isso é, aquelas que
a corretora ainda não identificou o comitente, conforme tratamos no item 5, acima.
Por essa razão, as normas da Câmara BM&FBOVESPA não tratam somente da
composição da estrutura de salvaguardas, mas também da finalidade de cada uma das
garantias prestadas à câmara pelos participantes146, todas elas cobertas pela proteção dos
arts. 6º e 7º da Lei nº 10.214/01:
a) Garantia de operações, prestadas pelos comitentes e corretoras (PNPs/PLs), em
favor das posições dos seus comitentes;
b) Saldo operacional, prestadas pelas corretoras e membros de compensação em
favor das corretoras que compõem a sua cadeia de responsabilidade;
c) Garantia mínima não operacional, prestadas por corretoras para o acesso à
infraestrutura de mercado;

145
Ibidem. item 4.3.2. p. 83
146
Ibidem. Item. 6.1.2. p. 130
68

d) Fundo de liquidação, prestado por membros de compensação para o acesso à


infraestrutura de mercado;
e) Limites de emissão, prestada pelas instituições financeiras para a ampliação da
capacidade de emissão de ativos financeiros aceitos pela câmara em garantia
(CDBs, por exemplo).

Esse modelo de prestação de garantias às contrapartes centrais é chamado pelo


PFMI como “cachoeira” (waterfall) e definido como “uma sequência de recursos
financeiros prestados por participantes e pela câmara, para administração de perdas
derivadas de eventos de inadimplência147” (Tradução nossa)
O formato “cachoeira” se dá em razão da maior parte das garantias disponíveis à
câmara serem garantias de operações (71%), diminuindo gradativamente a proporção até
o fundo de liquidação.

Tabela 2: Ativos aceitos como garantia à Câmara BM&FBOVESPA, finalidade e


aperfeiçoamento

Ativo Finalidade(s) Aperfeiçoamento148


Título Público Federal Garantia de operações Depósito na conta
Saldo operacional Custódia especial câmara
Limites de emissão no Selic. A titularidade da
conta depende da
finalidade da garantia e da
operação.
Moeda Nacional Garantia de operações Depósito no Banco B3
Saldo operacional Via janela de liquidação no
Limites de emissão Sistema de Transferência
de Reservas

147
CPSS-IOSCO. Principles for financial market infrastructures. 2012. Disponível em:
https://www.bis.org/cpmi/publ/d101a.pdf. Acesso em:15 mai. 2020 . (item 3.4.17. p. 48)
148
B3 S.A. - Brasil, Bolsa Balcão. Manual de procedimentos operacionais da câmara de compensação
e liquidação da BM&FBOVESPA. 2020. Disponível em:
http://www.b3.com.br/data/files/2C/06/4C/89/A2D6F6109A4874F6AC094EA8/Regulamento%20da%20
Camara%20de%20Compensacao%20e%20Liquidacao%20da%20BMFBOVESPA_20191230.pdf. Acesso
em: 16 mai. 2020. (Item. 6.5.1.3. p. 166 – 170)
69

Ação, cota de ETF, Garantia de operações Transferência do ativo da


certificado de depósito de carteira “livre” para
ações (unit) e ouro carteira “garantias”, de
titularidade do comitente
na Central Depositária da
BM&FBOVESPA
Certificado de Depósito Garantia de operações Vinculação do título à
Bancário (CDB), Letra de conta da câmara no
Crédito Imobiliário (LCI) e ambiente de registro (Cetip
Letra de Crédito do UTVM)
Agronegócio (LCA)
Carta de fiança bancária Garantia de operações Recebimento da carta e
confirmação eletrônica
pela câmara
Cotas do fundo de Garantia de operações Aquisição de cotas do
investimento fundo via Banco B3
BM&FBOVESPA
Margem Garantia
Cotas do FILCB Garantia Mínima Não- Transferência do valor em
Operacional moeda nacional ao Banco
Fundo de Liquidação B3.
Integralização em títulos
públicos federais.
Dólar Garantia de operações Depósito em banco
(Comitente – Investidor correspondente
Não Residente) (atualmente o Citibank)
Títulos de emissão do Garantia de operações Transferência dos títulos à
tesouro norte-americano, (Comitente – Investidor conta-pledge na DTCC
títulos de emissão do Não Residente) (EUA) ou Euroclear
tesouro alemão e ADRs (Bélgica)
70

6.3 Ordem de execução de garantias em caso de inadimplência

O art. 123 do Regulamento da Câmara BM&FBOVESPA prevê a sequência de


utilização de garantias pela câmara na hipótese de inadimplência de um ou mais
participantes:
I - as garantias do comitente vinculadas ao participante de negociação,
participante de negociação pleno ou participante de liquidação e
membro de compensação;
II - as garantias do comitente depositadas por intermédio de outros
participantes e que estiverem livres;
III - as garantias do participante de negociação vinculadas ao
participante de negociação pleno e ao membro de compensação;
IV - as garantias do participante de negociação pleno ou participante de
liquidação, vinculadas ao membro de compensação;
V - as garantias do membro de compensação;
VI - a contribuição do membro de compensação para o fundo de
liquidação;
VII - a contribuição da BM&FBOVESPA para o fundo de liquidação;
VIII - as contribuições dos demais membros de compensação para o
fundo de liquidação, de forma proporcional ao valor da contribuição de
cada membro de compensação; e
IX - o caixa da BM&FBOVESPA dedicado à câmara.

6.4 Natureza jurídica das garantias previstas na Lei 10.214/01

O último tema a ser abordado por este estudo é a análise da natureza jurídica das
garantias prestadas às contrapartes centrais garantidoras previstas no art. 4º, §3 da Lei nº
10.214, a saber:
Art. 4o Nos sistemas em que o volume e a natureza dos negócios, a
critério do Banco Central do Brasil, forem capazes de oferecer risco à
solidez e ao normal funcionamento do sistema financeiro, as câmaras e
os prestadores de serviços de compensação e de liquidação assumirão,
sem prejuízo de obrigações decorrentes de lei, regulamento ou contrato,
em relação a cada participante, a posição de parte contratante, para fins
de liquidação das obrigações, realizada por intermédio da câmara ou
prestador de serviços.

§ 2o Os sistemas de que trata o caput deverão contar com mecanismos e


salvaguardas que permitam às câmaras e aos prestadores de serviços de
compensação e de liquidação assegurar a certeza da liquidação das
operações neles compensadas e liquidadas.

§ 3o Os mecanismos e as salvaguardas de que trata o parágrafo


anterior compreendem, dentre outros, dispositivos de segurança
adequados e regras de controle de riscos, de contingências, de
compartilhamento de perdas entre os participantes e de execução direta
de posições em custódia, de contratos e de garantias aportadas pelos
participantes. (Grifa-se)
71

Não são muitas as opiniões na doutrina a respeito do assunto. No entanto,


destacam-se os posicionamentos de Eduardo Salomão Neto (2005) e Nelson Eizirik
(1991).
Para Eduardo Salomão Neto149, as garantias prestadas à Câmara BM&FBOVESPA
pode ter duas naturezas, a depender da fungibilidade do bem.
Para bens fungíveis, trata-se de um "depósito irregular", ou depósito de coisas
fungíveis, que seria regulado pelas regras do mútuo (art. 645 do Código Civil - CC). Isso
permite que a propriedade dos bens depositados se transfira ao depositário, A condição da
devolução, no caso das garantias prestadas à câmara, é o cumprimento das obrigações do
depositante perante a Câmara BM&FBOVESPA. A transferência da propriedade operada
no depósito permite a retenção do valor até mesmo na hipótese de falência do depositante,
visto que a obrigação de devolução somente surge com o pagamento das operações
contratadas.
Por outro lado, em se tratando de garantias constituídas de bens infungíveis, não
haveria a transferência de propriedade à Câmara BM&FBOVESPA, porque, não se
aplicariam as regras do mútuo. Neste caso, se trataria de um penhor.
O autor defende150, ainda, que o depósito da de garantias é uma etapa do contrato
com a câmara e, independentemente da natureza jurídica das garantias, é permitida a
alienação dos bens pela câmara para que , com isso, salde as obrigações da parte
inadimplente, com ou sem insolvência.
Isso ocorre porque as garantias prestadas às câmaras de compensação e liquidação
possuem regime jurídico próprio (Lei nº 10.214/01) e que se sobrepõe aos dispositivos da
lei civil, que impedem a alienação da coisa empenhada (vedação ao pacto comissório) e
do regime concursal (art. 194 da Lei nº 11.101/05).
Já para Nelson Eizirik 151 , as “margens” têm natureza de "caução necessária".
Segundo o autor:
As margens constituem modalidade de caução, posto que sua função
precípua é a de assegurar a solvabilidade do comitente; daí decorre a sua
natureza de obrigação acessória, firmando-se na existência de uma
obrigação principal, consistente na de pagar ou entregar a mercadoria ao
término do contrato, se antes não ocorrer a liquidação por diferença. O
depósito de margens constitui modalidade de caução necessária, imposta

149
SALOMÃO NETO, Eduardo. Direito Bancário. São Paulo: Atlas, 2005. p. 346
150
Ibidem. p. 346
151
EIZIRIK, Nelson. Aspectos jurídicos dos mercados futuros. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991.
p. 34.
72

pelos regulamentos da Bolsa; com efeito, se o comitente não presta a


caução, é tido como inadimplente e sua posição contratual liquidada
compulsoriamente.

Tais posicionamentos divergem de nosso posicionamento pelas razões descritas a


seguir.
A aplicação das regras de mútuo pode ser considerada inadequada, haja vista a
autorização expressa da câmara em dispor do ativo (liquidação das garantias) na hipótese
de inadimplência do participante, conforme redação do art. 8º, II da Lei nº 10.214/01:
Art. 8o Nas hipóteses de que trata o artigo anterior, ou quando verificada
a inadimplência de qualquer participante de um sistema, a liquidação das
obrigações, observado o disposto nos regulamentos e procedimentos das
câmaras ou prestadores de serviços de compensação e de liquidação, dar-
se-á:

II - com a entrega do produto da realização das garantias e com a


utilização dos mecanismos e salvaguardas de que tratam os §§ 2o e 3o do
art. 4o, quando inexistentes ou insuficientes os ativos negociados ou os
recursos a transferir. (Grifa-se)

No caso do enquadramento como caução, além dessa forma de prestação de


garantias encontrar pouco respaldo na doutrina, o termo é utilizado genericamente para
definir a prestação de ativos em garantia em operações diversas. Muito menos subsiste a
hipótese da aplicação das regras de caução definidas no art. 37, I da Lei nº 8.245/91, na
medida em que a lei trata, especificamente, das regras de locação de imóveis.
Por fim, entendemos que é igualmente inapropriada a aplicação do regramento
relativo aos direitos reais de garantia, como é caso do penhor, previstos nos arts. 1.431 ao
1.471 do Código Civil Brasileiro, conforme fundamentação abaixo.
A professora Maria Helena Diniz define o direito real de garantia 152 como aquele
que:
[...] vincula diretamente ao poder do credor de determinado bem do
devedor, assegurando a satisfação de seu crédito se inadimplente este.
Na hipoteca ou penhor, havendo inadimplemento da obrigação, o bem
dado em garantia é oferecido à penhor, e o produto, por ele alcançado
em praça, será destinado, de preferência, ao pagamento da obrigação
garantida. Logo, pagar-se-ão primeiramente os credores hipotecários ou
pignoratícios. Os demais só terão direito ao que sobrar. [...] (Grifo
nosso)

A autora, ainda, defende a acessoriedade das garantias reais153 como:

152
DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 17. ed. São Paulo, 2014. p. 1072
153
Ibdem. p. 1072
73

[...] A garantia real apresenta-se como um direito acessório, uma vez que
sua existência só se compreende se houver uma relação jurídica
obrigacional, cujo adimplemento assegura. O débito é o principal, e a
garantia real, o acessório, seguindo o destino do primeiro, extinguindo-se
com a extinção da dívida. (Grifo nosso)

Como vimos, o art. 4º, §3 da Lei nº 10.214/01 prevê que as garantias prestadas
pelos participantes são consideradas como uma das “salvaguardas” para o exercício de
atividade de contraparte central por câmaras e prestadores de serviço de compensação e
liquidação. A lei inclui todas as garantias prestadas pelos participantes, inclusive aquelas
que não têm natureza operacional, como é o caso das garantias de acesso de participantes
(Fundo de Liquidação e Garantias Mínimas Não-Operacionais). No momento de prestação
dessas garantias, inexiste débito e dívida do participante perante a câmara, pois ele ainda
está no processo de autorização para atuar na infraestrutura de mercado da B3.
A função das garantias de acesso é cobrir o risco residual futuro que pode não ser
coberto 154 pelas demais garantias depositadas na câmara derivadas das operações de
comitentes, caso ocorra um evento de inadimplência.
Nesse sentido, defendemos, por fim, que as garantias depositadas às contrapartes
centrais têm natureza sui generis, na medida que a sua destinação é definida no próprio
art. 4º, §2 da Lei nº 10.214/01155, isso é, o de “assegurar a certeza da liquidação das
operações [...] compensadas e liquidadas”, podendo existir ou não uma dívida do
participante perante a contraparte central no momento de seu depósito, a depender da
finalidade.

154
Como flutuação dos preços de ações em garantia, por exemplo.
155
BRASIL. Lei nº 10.214, de 27 de março de 2001. Dispõe sobre a atuação das câmaras e dos prestadores
de serviços de compensação e de liquidação, no âmbito do sistema de pagamentos brasileiro, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 mar. 2001
74

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento deste estudo possibilitou a análise estruturada da regulação


aplicável à pós-negociação de títulos e valores mobiliários no Brasil, a forma na qual
diplomas internacionais, como o PFMI, comunicam-se com a regulação brasileira, bem
como eventuais diferenças de regramentos.
Mediante a utilização dos conceitos no PFMI, foi possível trazer compreensão
mais didática das classificações de infraestruturas de mercado no mundo, trazendo,
simultaneamente para realidade das infraestruturas de mercado no Brasil.
Não somente foi possível identificar a divisão de competências para edição de
normas aplicáveis ao tema pelo BCB e CVM, como se observou o alto nível de
complexidade técnica desse regramento.
Detalhamos, também, os componentes da infraestrutura de pós-negociação da B3,
sendo a Câmara BM&FBOVESPA e a Central Depositária da BM&FBOVESPA, bem
como suas características principais, mediante análise de normas reguladoras e
autorreguladoras.
Em conjunto com a exposição dos componentes da infraestrutura de pós-
negociação da B3, descrevemos os principais participantes da Câmara BM&FBOVESPA
e da Central Depositária da BM&FBOVESPA, através da análise das normas
autorreguladoras da B3.
Mediante a análise de normas reguladoras e autorreguladoras, constatamos a
interdependência entre as infraestruturas de mercado e os seus respectivos participantes
para viabilizar a pós-negociação de títulos e valores mobiliários no mercado brasileiro,
servindo ao propósito do SPB, estruturado para diminuir o risco de crédito de instituições
financeira e autorizadas a funcionar do BCB da atuação desta autoridade reguladora.
Identificamos, ainda, a necessidade de prestação de garantias pelos participantes
independentemente da natureza da operação, desde que a liquidação seja diferida e
realizada por contraparte central garantidora.
Ademais, constatamos que a proteção dada às garantias prestadas por participantes
por força dos arts. 6º e 7º da Lei nº 10.214/01 é condição sine qua non para o exercício da
atividade de contraparte central no mercado brasileiro.
Por fim, construímos a tese da natureza sui generis das garantias prestadas às
contrapartes centrais, na medida que não encontra enquadramento em outras espécies de
75

garantias no ordenamento jurídico brasileiro e tem destinação específica prevista na


própria Lei nº 10.214/01, isso é, a de assegurar a certeza de liquidação das operações
compensadas e liquidadas em contrapartes centrais.
76

REFERÊNCIAS

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liquidação da BM&FBOVESPA. 2019. Disponível
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77

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Internacional de Compensações. Disponível em:
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em: https://www.bis.org/cpmi/publ/d101a.pdf. Acesso em: 15 maio 2020
BRASIL. Lei nº 10.214, de 27 de março de 2001. Dispõe sobre a atuação das câmaras e
dos prestadores de serviços de compensação e de liquidação, no âmbito do sistema de
pagamentos brasileiro, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
28 mar. 2001.
BRASIL. Lei nº 12.810, de 15 de maio de 2013. Dispõe sobre o parcelamento de débitos
com a Fazenda Nacional relativos às contribuições previdenciárias de responsabilidade
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; altera as Leis nºs 8.212, de 24 de
julho de 1991, 9.715, de 25 de novembro de 1998, 11.828, de 20 de novembro de 2008,
10.522, de 19 de julho de 2002, 10.222, de 9 de maio de 2001, 12.249, de 11 de junho de
2010, 11.110, de 25 de abril de 2005, 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de
Processo Civil, 6.404, de 15 de dezembro de 1976, 6.385, de 7 de dezembro de 1976,
6.015, de 31 de dezembro de 1973, e 9.514, de 20 de novembro de 1997; e revoga
dispositivo da Lei nº 12.703, de 7 de agosto de 2012. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 16 mar. 2013.
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM 461. 2007. Disponível
em:
http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/400/inst461consol
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COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM 505. 2011. Disponível
em: http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/500/inst505c
onsolid.pdf. Acesso em: 17 maio 2020.
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COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM 542. 2013. Disponível
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COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Instrução CVM 543. 2013. Disponível
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78

CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL. Resolução n° 2.882 de 30/8/2001, art. 2º,


parágrafo incisos I a IV. Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/exibenormativo?tipo=Resolu%C3%A7%
C3%A3o&numero=2882. Acesso em: 15 mar. 2020.
CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL. Resolução nº 4.593, de 28 de agosto de
2017. 2017. Disponível
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CPSS-IOSCO. Principles for financial market infrastructures. 2012. Disponível em:
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DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
EIZIRIK, Nelson. Aspectos jurídicos dos mercados futuros. São Paulo: Revista dos
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PEREIRA FILHO, Valdir Carlos. Aspectos Jurídicos da Pós-Negociação de Ações.
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SALOMÃO NETO, Eduardo. Direito Bancário. São Paulo: Atlas, 2005.
SZTAJN, Rachel. Futuros e Swaps: uma visão jurídica. São Paulo: Cultural Paulista.
1999.
79

ANEXOS

Anexo A - Termo de autenticidade


Faculdade de Direito

COORDENADORIA DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC)

TERMO DE AUTENTICIDADE DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE


CURSO

Eu, THIAGO DEGANI DEKKER

Aluno(a), regularmente matriculado(a), no Curso de Direito, na disciplina do


TCC da 10ª etapa, matrícula nº 31446833, Período 10º , Turma T ,

tendo realizado o TCC com o título: A REGULAÇÃO APLICÁVEL À PÓS-


NEGOCIAÇÃO DE TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS NO BRASIL

sob a orientação do(a) professor(a): THAIS CÍNTIA CÁRNIO

declaro para os devidos fins que tenho pleno conhecimento das regras
metodológicas para confecção do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC),
informando que o realizei sem plágio de obras literárias ou a utilização de
qualquer meio irregular.

Declaro ainda que, estou ciente que caso sejam detectadas irregularidades
referentes às citações das fontes e/ou desrespeito às normas técnicas próprias
relativas aos direitos autorais de obras utilizadas na confecção do trabalho, serão
aplicáveis as sanções legais de natureza civil, penal e administrativa, além da
reprovação automática, impedindo a conclusão do curso

São Paulo, 18 de junho de 2020 .

______________________
Assinatura do discente

Campus Higienópolis: Rua da Consolação, 930 ⚫ Prédio 24 ⚫ 1º Andar ⚫ Consolação ⚫ São Paulo - SP ⚫ CEP: 01302-907
Tel. (11) 2766-7153 ⚫ www.mackenzie.br ⚫ e-mail: tcc.fdir@mackenzie.br

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