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Marilyn Frye

Virgem Obstinada - Ensaios sobre Feminismo


1976 - 1992

"No sentido original, a palavra 'virgem' não significava uma mulher intocada, e sim
uma mulher livre, não noiva, não casada, não vinculada, não possuída por homem
nenhum. Significava uma mulher que é sexualmente e, portanto, socialmente sua
própria pessoa. Em qualquer universo de patriarcado, não há virgens nesse sentido."

Uma Perspectiva Lésbica sobre os Estudos das Mulheres1


1980

Observando os estudos das mulheres a partir da minha perspectiva Lésbica e com


minha sensibilidade feminista Lésbica, o que vejo é que são estudos heterossexuais. A
predominância de perspectivas, valores, compromissos, pensamento e visão heterossexuais
costuma ser tão total e onipresente que, por falta de contraste, não pode ser percebida.
(Como o ar em um dia ameno, o sexismo ainda é assim para muitas pessoas.) Às vezes, em
geral por causa da ruptura e do contraste trazidos por minha própria presença, o caráter
básico e penetrantemente heterossexual dos estudos das mulheres é muito evidente e
perceptível, esmagador e profundamente decepcionante. Também é, em geral, não dito e
indizível.
Algumas das minhas colegas no âmbito dos estudos das mulheres dizem que não
podem falar a verdade ou "ser radicais" no ensino porque isso afastaria as alunas. Eu digo a

1
Este ensaio é uma versão ligeiramente revisada de uma palestra que dei na conferência de 1980 da
Associação Nacional de Estudos da Mulher em um painel intitulado "Perspectivas Lésbicas sobre os Estudos das
Mulheres", organizado por Sarah Hoagland. Meus pensamentos refletem discussões com minha amante
Carolyn Shafer, e ela deu ajuda e sugestões no processo de revisão. O ensaio foi publicado sob o título
"Assignment: NWSA-Bloomington-1980: Speak on Lesbian Perspectives on Women's Studies" em Sinister
Wisdom, 14, Fall 1980, pp. 3-7, foi reimpresso com o título "Lesbian Perspectives on Women's Studies" in
Lesbian Studies, editado por Margaret Cruickshank (Old West Westbury, NY: The Feminist Press, 1982), e em
tradução para o alemão “An Den Hochschulen Der USA: Americanische Frauen Sprechen”, editado por Renate
Duelli-Klein e Maresi Nerad, na série “Blickpunkt Hochschuldidaktik” publicada e distribuída por
Arbeitsgemeinschaft fuer Hochschuldidaktik.
Nota da Tradutora: “Estudos das mulheres, ou estudos feministas, é um campo interdisciplinar de estudo
acadêmico que examina a questão de gênero como uma construção social e cultural, o estatuto social e as
contribuições das mulheres, e as relações entre poder e gênero.” Fonte: Wikipedia
elas para não se preocuparem em afastar as mulheres; digo que a verdade é desafiadora,
interessante, convincente e muito eficaz em sala de aula. Também digo que, quando
tentamos só dizer a verdade, as respostas, sejam construtivas ou hostis, honestas ou
desonestas, serão as melhores pistas para os erros de alguém. Mas, nas minhas relações
com colegas heterossexuais nos estudos das mulheres, não sigo meu próprio conselho: eu,
rotineira e habitualmente, abafo ou sufoco meus pensamentos sobre o Lesbianismo e o
heterossexualismo, o feminismo e os estudos das mulheres, porque tenho algum receio de
afastá-las. Algumas dessas mulheres ficam nitidamente desconfortáveis com o Lesbianismo
e se ofendem só por eu ser gritantemente fora do armário; não acho que tenham notado
que evito discutir Lesbianismo e heterossexualidade com elas por medo de que o pouco que
elas conseguem se associar com os estudos das mulheres se tornaria insustentável. Muito
mais importante para mim são as poucas colegas de trabalho e companheiras políticas de
confiança na universidade, que, no mundo acadêmico, têm políticas feminista e antirracistas
mais evidentes e fortes; aquelas com algum compromisso de não serem homofóbicas e de
tentarem compreender e apoiar as Lésbicas e o Lesbianismo. Se eu afastar essas mulheres,
perderei o único apoio político e pessoal que tenho para sobreviver a longo prazo no
trabalho cotidiano da academia. São aliadas importantes, valiosas e respeitadas. Tomo muito
cuidado, a níveis extremos, quando falo com elas sobre heterossexualidade.
Mas é uma situação assimétrica, como sempre acontece entre pessoas de minorias
ou grupos marginalizados e pessoas de maiorias ou grupos dominantes. O que para elas é
um assunto, que algumas podem e outras não podem abordar de forma frutífera, para mim
é uma condição de vida. Eu evito "afastá-las", mas é constante e (em geral) inconsciente a
forma como elas me afastam por conta de seu compromisso majoritariamente acrítico e
aparentemente inalterável (e para mim insondável) com a heterossexualidade – e com isso
quero dizer os compromissos emocionais e intelectuais profundamente ligados aos homens,
à reforma, à integração e à centralidade e necessidade natural do sexo genital heterossexual.
O peso indesejável desse heterossexualismo é um fato evidente da minha vida, e suas
manifestações na política dos estudos das mulheres estão cada vez mais claras para mim e
precisam ser declaradas.
Na minha experiência com os estudos das mulheres, parece comum e típico que as
professoras partam do pressuposto de que a heterossexualidade generalizada e a
dominância das concepções heterossexuais sempre foram e sempre serão O Jeito Que As
Coisas São para os seres humanos neste planeta, em particular para as mulheres. O
Lesbianismo é visto pela maioria (mas não por todas) como uma alternativa aceitável e
plausível para algumas mulheres, e é entendido (não por todas), pelo menos nas falas, como
claramente coerente com o feminismo. Mas todas acreditam que compreender que a
maioria das mulheres é e será heterossexual, pelo menos durante qualquer era sobre a qual
nossa prática política prática possa se debruçar, é só uma questão de ser realista. O
conteúdo programático dos estudos das mulheres é baseado no pressuposto de que a
grande maioria das alunas é e sempre será heterossexual. Por isso, trabalhamos com elas
quase que só a literatura feminina heterossexual, a história das mulheres heterossexuais2 e a
análise dos papéis de mulheres heterossexuais no trabalho, nos negócios, nas artes e na vida
doméstica heterossexual. Também se supõe que devemos apoiar (não apenas tolerar)
palestrantes, filmes, oficinas, aulas, cursos inteiros, que incentivam as mulheres a se
prepararem para lidar com a vida de “jornada dupla” do casamento, as ensinam como ser
casada e feminista e as treinam nos truques da reforma legislativa, para que possam tentar
garantir que os abortos estejam disponíveis quando precisarem, já que é óbvio que não irão
praticar o único método seguro e garantido de contracepção.3 Presumimos que as alunas
são irremediavelmente heterossexuais e que atendem aos interesses e necessidades que
presumimos que as mulheres heterossexuais têm, em vez de pensar que elas são educáveis
para outras formas de vida, para necessidades e interesses diferentes e para uma
sensibilidade e uma política não heterossexista ou anti-heterossexista.
A instituição dos estudos das mulheres, da forma como conheço, apoiam ativa e
agressivamente as mulheres a se tornarem e permanecerem heterossexuais; procuram
ativamente encorajá-las a acreditar que devem batalhar contra os problemas pessoais,
políticos, econômicos e de saúde associados à heterossexualidade para mulheres, em vez de
preveni-los — que esses problemas são inevitáveis, mas mais ou menos solucionáveis (com
muita resistência e trabalho), ao invés de, apesar de não terem solução, serem
definitivamente evitáveis.
Sou famosa na minha cidade por recrutar mulheres para o Lesbianismo e as
perspectivas Lésbicas. Mas o que eu faço é minúsculo. Imagine uma inversão real do ensino
heterossexual que nosso programa de estudos oferece. Imagine trinta membros do corpo
docente de uma grande universidade engajadas rotineiramente e com seriedade no
incentivo vigoroso e agressivo de que as mulheres sejam Lésbicas, ajudando-as a aprender
habilidades e ideias para viverem como Lésbicas, ensinando as conexões entre Lesbianismo
e feminismo e entre heterosexismo e sexismo, construindo a compreensão da influência de
indivíduos homens para manter as mulheres na linha, individualmente, para o patriarcado.
Imagine-nos aberta e ativamente aconselhando mulheres a não se casarem, não foderem,
não se unirem com nenhum homem. Imagine-nos ensinando muita literatura Lésbica,
poesia, história e arte em cursos de estudos das mulheres, e ensinando a partir de uma
política determinada pela percepção e sensibilidade Lésbicas. Imagine tudo isso
acontecendo tão ativa, aberta e entusiasticamente quanto o programa atual promove a
busca de carreiras e de "homens feministas", o desenvolvimento de "casamentos
igualitários" e a gestão do sexo heterossexual e da família.4

2
…ou a literatura e a história de mulheres que são presumidas como heterossexuais. A evidência de que
muitas das mulheres que estudamos eram Lésbicas é geralmente negligenciada – um apagamento que fortifica
a suposição de que a heterossexualidade é natural e praticamente universal.
3
Por "o único método seguro e garantido" não quero dizer só o Lesbianismo, mas também qualquer coisa que
contribua para o controle total das mulheres na relação sexual reprodutiva.
4
Para uma noção da magnitude disso, considere: no estado de Michigan, as aulas de estudos das mulheres
representam bem mais de 12 mil horas de crédito estudantil a cada ano.
Mas a política que os estudos das mulheres fornece, mesmo quando algum material
de ou sobre Lésbicas é incluído em alguns cursos, é a política heterossexual. E, de acordo
com a política heterossexual, o Lesbianismo nunca poderia ser a norma, e promover o
Lesbianismo para as mulheres costuma ser visto como não realista e abusivo.
As principais agentes em determinar e promover essa política nos estudos das
mulheres na academia são as feministas heterossexuais. Essas mulheres são (não sem
exceção) muito boas em suas relações com as poucas Lésbicas com quem trabalham, muito
solidárias, tolerantes e solícitas. Mas essa atitude amigável, de mente aberta e até mesmo
apreciativa camufla seu compromisso contínuo e firme com nossa marginalidade. Essas
mulheres serem amigáveis, solidárias e respeitosas com algumas Lésbicas (que
inevitavelmente servem como tokens) obscureceu de mim e delas o fato persistente de que
elas nunca levam a sério nenhuma noção de que as Lésbicas e o Lesbianismo não devem ser
marginais.
Quero pedir às feministas acadêmicas heterossexuais que façam um trabalho
analítico e reflexivo. Para começar, quero dizer a elas:
Eu gostaria que vocês percebessem que são heterossexuais.
Gostaria que vocês chegassem à compreensão de que escolheram a
heterossexualidade.
Eu gostaria que vocês se levantassem a cada manhã e soubessem que são
heterossexuais e que escolhem ser heterossexuais — que são e escolhem integrar uma classe
privilegiada e dominante, e que um de seus privilégios é não perceber isso.
Eu gostaria que vocês parassem e considerassem a sério, como estratégia política
feminista ampla e de longo prazo, a conversão das mulheres para uma sexualidade e
erotismo identificados com mulheres e direcionados a mulheres como forma de
quebrar o controle dos homens sobre as mentes e os corpos das mulheres, de
removê-las do apego crônico às principais situações de violência sexual e física que
são infligidas continuamente pelos homens contra as mulheres, e como um método
para promover um vínculo firme e confiável das mulheres contra a opressão.
Algumas mulheres heterossexuais responderam a esse tipo de fala com “vejo a
conexão entre o Lesbianismo e o feminismo, mas não consigo simplesmente decidir ser
Lésbica… Eu não sinto atração sexual por mulheres, elas simplesmente não me excitam". E
eu quero perguntar: "Por que não? Por que as mulheres não te excitam? Por que você não
se sente atraída por mulheres?" Não são perguntas retóricas. Estou falando sério.
A supressão do sentimento Lésbico, da sensibilidade e da resposta Lésbicas tem sido
tão completa e tão brutal, há tanto tempo, que, se não houvesse uma inclinação forte e
difundida para o Lesbianismo, ele teria sido apagado da vida humana. Há tanta pressão
sobre as mulheres para serem heterossexuais, e essa pressão é tão dominante e ao mesmo
tempo tão completamente negada, que acredito que a heterossexualidade não pode vir
naturalmente para muitas. Acredito que a heterossexualidade generalizada entre as
mulheres é um produto altamente artificial do patriarcado. Suspeito que não é verdade que
devemos supor que a maioria das mulheres é e será para sempre heterossexual. Acredito
que a maioria das mulheres tem que ser coagida à heterossexualidade. Gostaria que as
mulheres heterossexuais considerassem esta proposta a sério. Quero que elas passem pela
conscientização e pela exploração intensa e séria de suas próprias histórias pessoais e
descubram como e quando, em seu próprio desenvolvimento, lhes ocorreu a dissociação das
mulheres do erótico.5 Gostaria que as mulheres heterossexuais fossem tão ativamente
curiosas sobre como, por que e quando se tornaram heterossexuais quanto eu tenho sido
sobre como, por que e quando me tornei Lésbica.
A esta altura, pode parecer que estou exigindo das mulheres heterossexuais o
respeito pela minha escolha, mas que não estou disposta a respeitar a delas. No entanto,
acredito que a autonomia é respeitada com uma investigação genuína sobre a história e os
motivos das escolhas, e a autonomia é desrespeitada ou negligenciada se for permitido que
a falta de liberdade se disfarce de escolha ou que a declaração "é minha escolha" encerre a
investigação, em vez de abri-la.
Milhões de mulheres heterossexuais não pensam no que é heterossexualidade ou
em por que são heterossexuais. Simplesmente compreendem a heterossexualidade como
sexualidade, e presumem, acriticamente e sem pensar, que é só como os humanos são; elas
não concebem a heterossexualidade como uma opção. Onde não se veem opções, não pode
haver escolha e, portanto, não se pode respeitar a escolha. Mas mulheres bem educadas,
experientes, politicamente astutas, meticulosas, analíticas e feministas sabem perfeitamente
bem que existem opções, que a vida Lésbica é uma opção que se encaixa muito bem com a
política feminista. As mulheres escolhem, sim, ser heterossexuais. O respeito por essa
escolha (da minha parte e da parte delas) exige que tornem essa escolha inteligível.
Muitas Lésbicas feministas pensaram e refletiram e escreveram e trabalharam muito
para demonstrar que nossa escolha faz sentido. Nós fomos além, participamos de painéis e
oficinas, aparecemos na televisão nos explicando. Nós, repetidamente, com grande risco
pessoal e custo considerável, trabalhamos tão duro quanto possível para tornar nossa
escolha inteligível para públicos que variam desde as curiosas desocupadas até as céticas e
abertamente hostis. Da mesma maneira, o respeito pela escolha das heterossexuais exige
que elas mostrem, dentro dos padrões gentis de racionalidade recomendados pela
sensibilidade feminina, que essa escolha pode ser entendida como uma escolha razoável.
Até que isso seja demonstrado, não vou admitir a suposição de que a heterossexualidade
pode fazer sentido para as feministas e não estou disposta a continuar aceitando
acriticamente os programas de estudos das mulheres que promovem a heterossexualidade
feminina.

5
Esta frase é devida a Adrienne Rich. Meu pensamento sobre essas coisas se beneficiou da minha
correspondência com ela.
A menos que muitas feministas heterossexuais comecem a trabalhar tão duro para
tornar sua escolha inteligível quanto as Lésbicas trabalharam para tornar inteligível a nossa,
é preciso que se abstenham de ensinar, publicar e realizar outros trabalhos que encorajem,
aberta ou implicitamente, outras mulheres a se tornarem ou permanecerem comprometidas
com a heterossexualidade, e as Lésbicas deveriam parar de apoiar os estudos das mulheres.

Posfácio de 1992
Eu entreguei a transcrição dessa palestra para minhas amigas heterossexuais que
participam de Estudos das Mulheres na minha instituição de origem, que a discutiram entre
si. Os relatórios que me foram enviados indicaram que elas ficaram (compreensivelmente)
perturbadas pela raiva dessa fala e tendiam a responder de forma um pouco defensiva. Mas
parece que isso estimulou algumas delas a discutir sua sexualidade de maneiras diferentes
do que já haviam feito. Ao que parece, elas pensaram que havia uma contradição no meu
argumento, no que eu estava ao mesmo tempo dizendo que sua heterossexualidade era
uma escolha e que havia uma história por trás de terem se tornado heterossexuais, uma
história da dissociação entre as mulheres e o erótico voltado para elas, e que há uma grande
pressão sobre as mulheres para serem heterossexuais. Isso não me parece uma contradição.
Eu não quis dizer que é possível simplesmente escolher, de repente e por razões
doutrinárias, ficar excitada por coisas diferentes daquelas que excitavam até então. Mas é
possível escolher quais ambientes ocupar, que literatura ler, com qual arte se envolver; é
possível escolher ter pensamento crítico a respeito de coisas sobre as quais não se pensou
criticamente antes; também é possível escolher como se apresentar ao mundo. Como
consumidoras espertas, escolhemos, por exemplo, silenciar a TV na hora dos comerciais; ler
mais e assistir menos TV; nos envolver mais com pessoas que resistem ao consumismo e
menos com as que gostam disso. E, como pessoas preocupadas com o cuidado inteligente
de nossa própria saúde, nós nos desviamos de alimentos prejudiciais, nos quais somos mais
ou menos viciadas e que desejamos regularmente, buscando exposição a informações e
imagens selecionadas; interagindo mais com quem é exemplo de pessoa com boa
alimentação e menos com quem representa uma alimentação ruim; mudando
deliberadamente alguns dos nossos comportamentos para que nos afastem dos desejos que
queremos desaprender e nos alinhem com os que queremos aprender. E, com o tempo, de
fato alteramos nossos desejos, vontades, necessidades, padrões de excitação e assim por
diante. Pode não ser sensato para uma mulher heterossexual se envolver na reciclagem de
seus desejos eróticos; pode ser que seja. Mas o fato de que esses desejos têm uma história e
que essa história inclui pressão coercitiva não significa que a mulher não tenha muitas
escolhas a fazer em relação a esses desejos. Na época em que eu estava elaborando essa
palestra, achei que muitas das mulheres heterossexuais que encontrei nos Estudos das
Mulheres tinham escolhido encarar esses desejos como naturais, dados, inatos e imutáveis,
optado por vivê-los em grande medida de acordo com os padrões da heterossexualidade
feminina, conforme institucionalizado no patriarcado contemporâneo.
A questão prática que meu discurso evoca é a de saber se esta lésbica irritada
continuou se envolvendo com os Estudos das Mulheres. Ela continuou, e continua. Afinal, eu
não estava disposta a entregar os Estudos das Mulheres ao heterossexualismo. Apesar de
tudo, as Lésbicas e o propósito lésbico podem ser abrigados e nutridos nos programas de
Estudos das Mulheres, e a influência das Lésbicas nesse campo tem sido significativa e
salutar. Em termos políticos, os Estudos das Mulheres são um lar muito mais adequado na
academia do que os recém-desenvolvidos e eufemisticamente nomeados como "Estudos
Lésbicos e Gays", nos quais as Lésbicas precisam lutar quase do zero por análises e
perspectivas feministas, bem como contra as percepções e comportamentos sexistas dos
homens envolvidos.6
A tensão e a raiva entre feministas lésbicas e não lésbicas na academia ainda existem
e resurgem de tempos em tempos, e questões muito básicas sobre sexualidade e política
feminista continuam total e dolorosamente sem solução. Meu próprio esforço mais recente
para lidar um pouco com isso está no texto "Virgem Obstinada ou Você Tem Que Ser Lésbica
Para Ser Feminista?", presente nesta antologia.

6
Veja Marilyn Frye, "Feminismo Lésbico e o Movimento dos Direitos Gays: Outra Visão da Supremacia
Masculina, Outro Separatismo", no livro “Políticas da Realidade” (Politics of Reality. Freedom, CA: The Crossing
Press, 1983).

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