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Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018

Órgão Oficial de Informação da Sociedade Brasileira de Urologia • Secção São Paulo

d e vis ta
po n t o
Prostatectomia radical no
câncer de próstata oligometastático

Entrevista Além da Urologia Fique Sabendo


Conversa com o dr. Runco, o médico Como a Nutrologia Esportiva ajuda Os cuidados que devem ser
da seleção brasileira por 16 anos a melhorar a performance tomados na ureteroscopia flexível
P A L A V R A D O E D I T O R

Nossa segunda edição está pronta. Buscamos trazer


conteúdo de interesse geral de nossa classe e específico de
nossa especialidade. Na seção “SBU e Você”, o relatório fi­
nanceiro mostra saldo positivo modesto, mas se observarmos
o relatório da terceira reunião da Diretoria, nosso tesoureiro,
Dr. Iderpól, nos informa que já arrecadamos 3 milhões de
reais com o CPU deste ano, sem contar com as inscrições,
ou seja, estamos em condição financeira confortável. Os
drs. Sidney Glina e Flávio Trigo nos representam nas home­
nagens aos professores Carlos Bezerra e Sami Arap, que nos
deixam saudades e, mais importante, exemplo e ensinamen­
tos que os perpetuam eternamente em nossa sociedade. Luís Gustavo
O entrevistado desta edição é o dr. José Luiz Runco, que Morato de Toledo
nos revela algumas histórias e conflitos dos bastidores da
seleção brasileira de futebol. Os Professores Eliney Faria e
Ubirajara Ferreira abordam a prostatectomia no carcinoma de
próstata oligometastático, tema atual e polêmico. Ressalto a
dedicação destes professores em nos fornecer dados atuali­
zados, abrangentes e resumidos, enriquecidos com suas
interpretações e opiniões. Agradecemos vosso empenho.
coeditores do BIU
Em “Aprimoramento” trazemos o já antigo e bem estru­ Fernando
turado fellowship em Disfunções Miccionais da Disciplina de Korkes
Urologia da EPM, coordenado pelo Prof. Fernando Almeida.
Em “Urologia Legal”, Karin Camarinha expõe sua opinião e
recomendações para a comunicação através da internet
e redes sociais. Penso que o tema é importante, mas sua
relevância é variável e individualizada, dependendo do con­
texto em que cada um de nós está inserido. No entanto, uma
vez decidido por investir em comunicação digital, esta deve
ser profissional, técnica, atualizada e ética, adequada à rotina Sandro
do médico, pois do contrário o resultado pode ser inverso, Nassar
negativo, “um tiro no pé”!
Em “Além da Urologia” o dr. Eduardo Rauen conceitua a
Nutrologia, que é especialidade médica, e esclarece tecnica­
mente seus objetivos. O dr. Marcelo Bptistussi nos transmite
recomendações preventivas para prolongar a vida útil do equi­
pamento e evitar complicações na Ureteroscopia Flexível. Por
fim, o nosso amigo dr. Claudio Toi nos conta como desenvol­
Walter
veu a “Toi’s Beer”, garante que é de qualidade e já foi aprova­
Costa
da por vários degustadores experientes de nossa sociedade.
Há muito empenho e dedicação de editores, jornalistas,
diagramadores e especialmente de autores (urologistas ou
não) na confecção do BIU, para prover conteúdo de qualidade;
então peço sua atenção, leitura e crítica.
Um abraço a todos.

Luís Gustavo Morato de Toledo


Editor do Biu
drluisgtoledo@gmail.com | 11 99639-5014
B o l e t i m d e I n f o r m a ç õ e s U r o l ó g i c a s • M a r ç o / A b r i l 2 0 1 8

expediente
Diretoria da Sociedade Brasileira de Urologia • Secção São Paulo
Biênio 2018 / 2019

Presidente
Flavio Eduardo Trigo Rocha

Vice-Presidente Delegados Suplentes Departamento Robótica e Cirurgia


Armando dos Santos Abrantes Geraldo Benedito Gentille Stefano Minimamente Invasiva
1º Secretário Alexandre Cesar Santos Giuliano Guglielmetti
José Carlos I. Truzzi Vicente de Paula Cirio Nogueira
Departamento Oncologia
2º Secretário Editor do BIU Carlos Hermann Schaal
Geovanne Furtado Souza Luís Gustavo Morato de Toledo
Departamento Urologia Feminina
1º Tesoureiro Coeditores Ana Paula B. Bogdan
Iderpól Leonardo Toscano Jr. Fernando Korkes, Walter Henriques da Costa
e Sandro Nassar Cardoso Departamento HPB
2º Tesoureiro Oscar Rubini Avila
Francisco Kanasiro Departamento Uroneuro
Thiago Souto Hemerly Departamento de Pesquisa
Delegados Leonardo Oliveira Reis
Fernando Nestor Facio Junior Departamento litiase
André Luiz Farinhas Tomé e Endourologia Departamento de Uropediatria
Roberto Vaz Juliano Rodrigo Guerra – Botucatu Edson Daniel Schneider Monteiro

O BIU está aberto para divulgação de eventos, concursos, premiações, notícias, permutas, vendas de equipamentos,
ofertas de trabalho e oportunidades pertinentes à especialidade.
Cartas e artigos deverão ser enviados aos cuidados do editor para:
SBU-SP – Rua Tabapuã, 1123 – Conj. 101 – Itaim Bibi – São Paulo – SP – 04143-014
Outras informações poderão ser obtidas com a Seccional de São Paulo Tel/fax.:
(11) 3168-4229 • E-mail: sbu.sp@uol.com.br • www.sbu-sp.org.br
O Boletim de Informações Urológicas (BIU) é uma publicação bimestral da Sociedade Brasileira de Urologia –
Secção São Paulo. BIU é distribuído amplamente para todos os urologistas do território nacional.
Permite-se a reprodução de textos, desde que citada a fonte.

Jornalista Responsável ADVERTÊNCIA


Simon Widman (simon.widman@esp2.com.br)
As opiniões nos artigos publicados
Produção no BIU são de inteira responsabilidade
Estela Ladner (estela.ladner@esp2.com.br) dos seus autores e não refletem
Arte e Diagramação necessariamente o pensamento da
Fabiana Sant’Ana SBU – Secção São Paulo. A SBU-SP
Impressão e o BIU eximem-se de quaisquer
Gráfica ZELLO responsabilidades por lesões corporais
Tiragem decorrentes de produtos mencionados
4.100 exemplares nas propagandas comerciais.
Sumário

16
Ponto de vista
Prostatectomia radical no câncer
de próstata oligometastático

26
Além da urologia
Nutrologia Esportiva, uma aliada
na melhoria da performance

29
Fique sabendo
Cuidados recomendados
na ureteroscopia flexível

6 21
entrevista
Uma conversa com o dr. José Luiz Runco, médico da
seleção brasileira de futebol entre 1998 e 2014

23 32
13 34
SBU e aprimoramento Urologia sem Agenda
Você legal estresse
SBU e Você

referência: março/2018
DESPESAS VALOR
Advogado Peppe Bonavita R$ 2.462,15

RELATÓRIO Magnitude Assessoria de Imprensa R$ 2.930,00

FINANCEIRO
Condomínio sede Augusta R$ 968,00
Condomínio sede Tabapuã R$ 2.002,84

DA SBU-SP Convênio funcionários


Eletropaulo sede Tabapuã
R$ 2.323,32
R$ 242,46
Copy Service R$ 1.170,60
Acompanhe o demonstrativo IPTU sede Augusta R$ 150,07
bancário da entidade IPTU sede Tabapuã R$ 720,78
referente a abril de 2018 e Ligue Táxi R$ 719,50

as despesas administrativas Limpidus R$ 551,85

feitas em março deste ano. Motoboy SW R$ 1.180,00


Salário Funcionários R$ 5.771,38
texto: Tesouraria SBU-SP Tributos folha funcionários R$ 1.708,58
Site Unimagem R$ 8.054,63
Tectray serv. T.I. R$ 830,00
Prezado associado,
Telefonia + Cel. Corporativo R$ 493,12
VR Funcionários R$ 1.670,40
A diretoria da SBU-SP apresenta a relação
de despesas administrativas para a manuten- VT Funcionários R$ 522,20

ção das sedes e realização das atividades de in- Tarifas bancarias R$ 157,50
teresse dos associados. Também é publicada a UOL Provedor internet R$ 52,85
posição financeira da entidade referente ao dia TOTAL R$ 34.682,23
14 de abril de 2018.
Os custos administrativos permanecem SBU - Secção São Paulo - 14/04/2018
equilibrados e o saldo bancário, positivo. saldos bancários
A diretoria da SBU-SP está à disposição dos Conta Eventos 68.525-1 R$ 76.376,80
associados para esclarecer qualquer dúvida re-
Conta Administrativa 71.322-8 R$ 7.354,86
lacionada aos dados apresentados.
Saldo Atual R$ 83.731,66

aplicações
Aplicação (Eventos) MAX DI/Compromissada DI R$ 101.280,60
Aplicação (SBU-SP) Fundos R$ –
Total R$ 185.012,26

6 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


Urologia da Unicamp
celebra Jubileu de Ouro
com homenagem ao Equipe festejou a da
ta e entregou Certifi
decano Osamu Ikari
Honra ao Mérito ao cado de
prof. Osamu (1º à dir
eita)

Nosso mote sempre foi ensinar aos mais jovens a importância e o respeito ao paciente, não tratando ape­
nas dos exames laboratoriais ou radiológicos, mas, sim, o indivíduo fragilizado”, disse o urologista Osamu
Ikari, durante cerimônia realizada dia 14 de março no Anfiteatro do Hospital de Clínicas da Unicamp, em
comemoração ao Jubileu de Ouro da Disciplina de Urologia do Departamento de Cirurgia da Faculdade
de Ciências Médicas (FCM) e ao Dia Mundial de Incontinência Urinária. “Qualquer médico sabe tratar a
doença, mas bons médicos sabem tratar o doente”, acrescentou Osamu na ocasião do seu discurso, parafraseando o
cirurgião vascular e ex-colega de Departamento, John Cook Lane. Decano da Disciplina, Osamu foi homenageado com
um Certificado de Honra ao Mérito em reconhecimento e agradecimento pelas atividades desempenhadas por ele no
ensino, na pesquisa e assistência médica, e por servir de exemplo de dedicação profissional a ser seguido.

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 7


SBU e Você

Homenagem
“Não é fácil substituir
alguém tão bom e tão querido”
Sidney Glina é professor titular de Urologia da Faculdade de Medicina do ABC

N
o dia 18 de março de dicina do ABC (2008). Atuou prin­ mas sempre com muita ética. Não
2018 a Urologia brasilei­ cipalmente nos seguintes temas: media palavras em busca da ver­
ra perdeu um dos seus incontinência urinária de esforço, dade, era genuíno no que dizia, no
grandes nomes, o prof. bexiga neurogênica, incontinência que defendia e na maneira como
dr. Carlos Alberto Bezer­ urinária no homem e outros distúr­ agia; sempre buscava o argumento
ra. O Carlinhos, como os amigos o bios do trato urinário inferior. correto e justo. Esta postura sem­
chamavam, formou-se pela Facul­ Foi nos últimos anos um dos pre lhe granjeou inúmeros amigos.
dade de Medicina da Universidade expoentes da Urologia Feminina Tinha uma inteligência acima da
de São Paulo (1986), fez residên­ e Neuro-urologia em nosso país, média e a usava com sabedoria,
cia em cirurgia geral no Hospital tendo publicado vários trabalhos principalmente para ensinar os re­
das Clínicas em São Paulo e de na área. Deu incontáveis palestras sidentes e alunos. Seu grande co­
Urologia no Hospital da Amico. sobre o assunto por todo o Brasil e ração e sua capacidade de se doar
Fez mestrado (1997) e doutorado criou um número bastante grande sempre me chamaram a atenção.
(2001) em Urologia pela Universi­ de discípulos. Poucos sabem, mas Nos últimos anos enfrentou uma
dade Federal de São Paulo e Livre o Bezerra, junto com o Roberto luta árdua contra a doença e mais
Docência pela Faculdade de Me­ Vaz Juliano, foi um dos primeiros uma vez portou-se com uma digni­
urologistas brasileiros a utilizar a dade ímpar. Sempre animado, era
laparoscopia como via de acesso realista, mas mantinha a esperança.
para inúmeros procedimentos uro­ Em nosso último encontro quatro
lógicos, já na década de 90. dias antes de falecer, já no hospital,
Foi um dos responsáveis pelo me disse: “avisa o pessoal que eu
desenvolvimento da Disciplina de volto logo”. Infelizmente, desta vez,
Urologia do ABC, onde foi Chefe ele não cumpriu a palavra. Encon­
de Clínica por cerca de 15 anos, trava forças na Suzete, sua esposa,
além de chefiar o Grupo de Disfun­ e nos seus três filhos e fazia ques­
ção Miccional. Atuou ativamente na tão de estar constantemente pre­
SBU, ocupando vários cargos na sente na Uro-ABC, “a minha casa”,
SBU-SP e SBU, além da chefia de segundo ele. O Carlos vai fazer mui­
Departamento. O Carlos sempre foi ta falta! Não é fácil substituir alguém
apaixonado por suas ideias e ide­ tão bom e tão querido.
ais; defendia-os com muita garra, Descansa em paz amigo!

Tinha uma inteligência acima


da média e a usava com sabedoria,
principalmente para ensinar os
residentes e alunos.

8 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


Conheça os temas tratados na
3ª Reunião da Diretoria da SBU-SP

N
o dia 14 de abril de 2018 foi realizada a 3ª Urologia, o dr. Flávio Trigo informou que a agência CCM
Reunião Ordinária da Diretoria da SBU-SP, será responsável pela organização.
gestão 2018/2019. O dr. Flávio Trigo, pre­ Outro tema abordado na reunião foi o Congresso
sidente da SBU-SP, abriu a reunião para­ Paulista de Urologia 2018. De acordo com o dr. Iderpól,
benizando a todos pelo sucesso alcançado as arrecadações chegam a R$ 3 milhões, sem contar
com a realização do Proteus. Em seguida, o dr. Iderpól com o valor das inscrições, o que permite estimar que o
Toscano, 1º tesoureiro da entidade, apresentou os sal­ evento proporcionará um lucro significativo para a SBU
dos bancários e um gráfico da evolução das finanças -SP. O Jantar do Presidente acontecerá no Hilton, a um
nas últimas gestões, assinalando que foi positiva. Com custo muito razoável. Ainda não foi definida a atração
relação ao Proteus, o dr. Iderpól destacou o avanço musical, mas há uma tendência para que a escolhida
dos patrocínios nesta edição. O dr. Trigo solicitou que seja a banda Rod Hanna.
a Perfecta envie uma carta de agradecimento para as O dr. André expôs aos presentes a solicitação de
empresas que patrocinaram o evento. apoio que recebeu das Ligas Urológicas para a realiza­
Foi divulgada a data do próximo Proteus: de 13 a ção de um Simpósio durante o Congresso e ficou de­
15 de março de 2019, podendo haver mudança se a finido que será cedida a sala Degas para esse evento.
SBU Nacional necessitar dessa data para realização da O dr. José Carlos Truzzi, 1º secretário da SBU-SP e co­
prova do TiSBU. O dr. André Tomé informou que em ordenador da programação científica do Congresso, in­
2019 será publicada a nova edição do livro do Proteus. formou que o programa está pronto e que estão sendo
O presidente da SBU-SP confirmou que o Uro Onco enviadas cartas para todos os palestrantes com quatro
Litoral 2018 acontecerá no Guarujá, de 2 a 4 de novem­ meses de antecedência contendo todos os detalhes.
bro. O dr. Roberto Vaz Juliano, que lidera o projeto Maio Dr. Leonardo Reis compartilhou com os presentes
Vermelho, informou que será realizada a caminhada dia que, juntamente com o CCM, está solicitando apoio ao
5 de maio próximo. Com relação à Jornada Paulista de CNPQ para o Congresso e outros eventos da SBU-SP.

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 9


SBU e Você

Homenagem

“Sami is a great man”


Flavio Trigo Rocha, presidente da SBU-SP

E
sta frase me foi dita pelo diátrica no Brasil, estabelecendo a bros do board da Genito-urinary
professor Lowell R King, primeira unidade de Urologia Pedi­ Surgeons Association.
professor de Urologia Pe­ átrica em nosso meio e tornando- Em 1986, após concurso públi­
diátrica na Duke Univer­ se uma referência para urologistas co, tornou-se professor titular e dire­
sity após uma aula sobre e pediatras não apenas no Brasil tor da Divisão de Clinica Urológica do
cirurgia urológica reconstrutiva em e América do Sul, mas em todo Hospital das Clinicas de São Paulo.
pacientes com extrofia de bexiga. o mundo. Graças a ele, a Clinica Realizou uma grande reestruturação
Embora seja uma frase curta, ela Urológica tornou-se uma referência da Clínica Urológica tanto do ponto
reflete a reputação internacional mundial no tratamento de diversas de vista assistencial como científico.
obtida pelo professor Sami Arap, doenças do aparelho urinário em Criou o Curso de Pós-Graduação
reconhecida nos maiores centros de crianças, como extrofia de bexiga, em Urologia. Graças a seu prestigio
Urologia ao redor do mundo. epispadias, hipospadias e reflu­ pessoal e grande nível de relacio­
Sami Arap formou-se na Facul­ xo vesico-ureteral. Várias técnicas namento internacional, viabilizou a
dade de Medicina da USP, onde desenvolvidas e publicadas nesta formação de vários professores nos
também realizou sua residência área são mundialmente conheci­ maiores centros de Urologia ao re­
médica em cirurgia. Posteriormen­ das com seu nome, constando nos dor do mundo, incluindo o Hospital
te, entre 1962 e 1963, realizou es­ maiores compêndios de Urologia Necker de Paris, a Universidade de
tágio de especialização na França, disponíveis em diversas línguas. Mainz na Alemanha, Universidade da
no Hospital Necker, sob orientação Aliado a seu mérito científico, Califórnia, San Francisco, Universida­
do professor Roger Couvelaire, se­ o prof. Sami sempre foi uma figura de da Pensilvânia, Cleveland Clinic,
gundo o professor Sami, um dos carismática e cativante. Teve grande MD Anderson Cancer Center, Duke
maiores cirurgiões que ele já havia participação associativa, tornando- University, Universidade de Michigan,
conhecido. Após seu regresso, trou­ se membro e parte da diretoria de entre outros. Também, em conjunto
xe várias inovações nas áreas de várias sociedades urológicas como com o prof. Kelalis, criou um progra­
cirurgia vascular renal, transplante Associação Americana de Urologia ma de intercâmbio internacional re­
renal, tratamento do câncer de be­ e Associação Europeia de Urolo­ gular para os residentes de Urologia
xiga e urologia pediátrica, mantendo gia. Foi presidente da Confedera­ na Mayo Clinic de Jacksonville, EUA,
grande contato com o grupo lidera­ ção Americana de Urologia – CAU, concedendo a cada estagiário dois
do pelo dr. Jacob Cukier, no Necker, presidente da Comissão Científica meses naquela instituição.
e dr. Willi Gregoir, em Bruxelas. do Congresso Brasileiro de Urolo­ Além disso, no Hospital das
Ao retornar e ingressar na Clíni­ gia, realizado em Salvador em 1995, Clínicas o prof. Sami implementou
ca Urológica do Hospital das Clíni­ presidente e fundador da Sociedade várias novas técnicas cirúrgicas
cas o prof. Sami, juntamente com Latino-Americana de Urologia Pedi­ em transplante renal e modernizou
o dr. Alfredo Cabral, iniciaram o átrica (SLAUI), além de membro do a prática de endo-urologia, urolo­
desenvolvimento da Urologia Pe­ seleto grupo de professores mem­ gia geral e uro oncologia, propor­
cionando aos residentes do HC o
acesso a vários novos procedimen­
Mais do que saudade, sinto que foi um grande tos introduzidos nessas áreas. Par­
privilégio conviver com seu brilhantismo e carisma ticipou efetivamente da formação

10 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


Prof. Sami (ao centro) recebendo homenagem
do então presidente da SBU-SP, dr. João
Luiz Amaro, e do presidente da Comissão
Científica do XIV Congresso Paulista de
Urologia, dr. Flavio Trigo, por sua inestimável
contribuição à Urologia.

de numerosos mestres, doutores e pro­


fessores nas diversas áreas de Urologia
no Hospital das Clínicas. Ministrou au­
las e realizou demonstrações cirúrgicas
como professor visitante nos maiores
centros de Urologia da America Latina,
Europa e Estados Unidos. Era membro
honorário e recebeu homenagens de
diversas sociedades médicas espalha­
das pelo mundo. Desenvolveu também
vários cursos e congressos com alguns

Curso de
dos mais renomados professores do
Brasil e estrangeiros, privilegiando tan­
to a parte prática como as inovações
na Urologia. Realizou inúmeras publi­
cações de grande impacto nas mais vídeolaparoscopia

D
importantes revistas científicas urológi­
cas em diferentes áreas de nossa es­ ias 6 e 7 de abril aconteceu o Curso Teórico-Prático
pecialidade. Alguns de seus trabalhos de Vídeolaparoscopia Básico CEPEC Vicky Safra, or­
resultaram em mudanças significativas ganizado pela Divisão de Clínica Urológica da Facul­
da prática da Urologia. Também desen­ dade de Medicina da USP e com apoio SBU- SP. O
volveu intensa atividade de clínica priva­ evento teve ótima avaliação pelos participantes e há
da em seu consultório e no Hospital Sí­ planos para a sua realização dentro do programa do Congresso
rio-Libanês, onde sempre teve posição Paulista de Urologia deste ano.
de destaque junto à diretoria e junto a
seus pares. Em conjunção com todas
estas atividades profissional, o prof.
Sami sempre prezou por sua vida fami­
liar, conseguindo conciliar com maestria
invejável sua profissão e sua família. Este espaço é seu
Alem da amizade e admiração, estas
são apenas algumas das razões pelas Caro urologista, utilize este
quais sentiremos uma enorme falta do espaço para divulgar o lançamento
prof. Sami e da lacuna que ele deixa de livros ou informações de utilidade
na Urologia brasileira e mundial. Porém pública. Mande suas sugestões
mais do que saudade, sinto que foi um
pelo e-mail sbu.sp@uol.com.br ou
grande privilégio conviver com seu bri­
lhantismo e carisma em uma parte de
para a SBU-SP, rua Tabapuã, 1123
nossas carreiras. Conj. 101 – CEP 04143-014, aos
cuidados do Editor do BIU.

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 11


SBU e Você

PROTEUS 2018 supera a


marca de participantes
Tradicionalmente conhecido como PROTEUS Intensivão, o evento
bateu recorde no número de participantes, e já se consolida como
um dos principais encontros para residentes —Por Adriana Veronez

C
om o objetivo de proporcionar um in­ conciso, tradicional e essencial”, pontua Dr. Rober­
tercâmbio de conhecimentos e expe­ to Vaz Juliano, diretor da SBU-SP. A cada ano, o
riências, aconteceu entre os dias 11 a PROTEUS Intensivão bate o recorde de inscrições.
13 de abril, a 20ª edição do PROTEUS Os temas abrangeram toda a Urologia, refor­
Intensivão, no Centro de Convenções çando conceitos estabelecidos e trazendo as últi­
Rebouças, do Hospital das Clínicas FMUSP. Nessa mas atualizações nos seus diversos segmentos. “É
edição, reuniu mais de 750 profissionais vindos de um curso completo, que aborda todos os temas
todo o País, entre palestrantes e expositores. urológicos, atualizados e baseados nas importan­
O evento, que acontece anualmente, propor­ tes diretrizes internacionais. Isso não só ajuda na
ciona uma maratona de palestras para residentes prova de obtenção do Título de Urologista, bem
sobre os principais temas da especialidade, com como, possibilitará uma excelente reciclagem a to­
o objetivo de preparar os candidatos para a prova dos os urologistas”, afirma o Dr. Francisco Kanasi­
de Título de Especialista da Sociedade Brasileira ro, diretor da SBU-SP.
de Urologia (TiSBU) e, também, uma atualização Para a Dra. Mariane Ruch Salmeron, de Votu­
completa para médicos que procuram aprimorar poranga, o curso é importante para todos os mé­
os conhecimentos técnicos. Organizado pela SBU dicos urologistas, pois aborda temas da especia­
-SP contou com participantes de vários Estados lidade de forma ampla, rápida e completa. “Eu já
brasileiros, a maioria vindos da capital paulista, tenho o título, mas estou aqui participando nova­
seguida por Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, mente para fazer uma revisão com os especialistas
Ceará, Paraná e Goiás. renomados que eles convidam. Vale muito a pena
“Renovamos o quadro de médicos palestrantes fazer esse curso”, finaliza.
esse ano, pois entendemos que é uma grande porta
de entrada para início da trajetória profissional, além
de ser uma forma de apresentarmos à comunidade
urológica os grandes talentos que se destacaram
recentemente nas diversas áreas da Urologia”, diz
Flavio Trigo, presidente da Sociedade Brasileira de
Urologia de SP, na abertura do PROTEUS 2018.
Com uma programação diversificada e cursos
pré-congresso de Endourologia e Fisioterapia, o
encontro teve a presença de grandes nomes da
Urologia moderna, bem como incentivou o debate
de experiências clínicas bem-sucedidas na área. “O
PROTEUS é um programa de educação baseada
na estrutura educacional promovida pela SBU-SP.
Funciona como revisão para os residentes e re­
cém-formados, mas também como reciclagem. É

12 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


Entrevista

O médico PERFIL

da seleção

Divulgação
Embora a presença de médicos nas comissões téc-
nicas das diversas modalidades esportivas seja uma
realidade observada há décadas, o nome de José Luiz
Runco, médico da seleção brasileira de futebol entre
1998 e 2014, está associado de maneira emblemática
a esse papel. Ele atuou em quatro Copas do Mundo,
conviveu com oito técnicos diferentes, vetou jogadores Idade: 63 anos
às vésperas da estreia, como Emerson, na Copa de
Qual é a sua especialidade:
2002, e bancou a presença de outros, mesmo contra-
ortopedia, traumatologia
riando a orientação de médicos de seus clubes, como e especificamente cirurgia
foi o caso do Rivaldo, também em 2002, que jogou de joelho. Fiz mais de 3 mil
por insistência sua e foi um dos principais responsá- cirurgias de joelho.
veis pela conquista daquele campeonato. O que o fez se interessar
pela especialidade: foi ter

N
passado por uma cirurgia
esta entrevista ao BIU, o dr. Runco fala sobre sua carreira de joelho.
que contabiliza mais de 3 mil cirurgias de joelho, descreve Locais onde trabalha:
alguns momentos marcantes em sua trajetória como mé­ hoje eu trabalho em
dico da seleção e, como torcedor, dá seu palpite sobre o clínica privada e também
desempenho dos brasileiros na Copa da Rússia. tenho consultório.

BIU: Como surgiu seu interesse em trabalhar na área de orto- Desde quando atua na
especialidade: desde 1981.
pedia, com esportes?
Dr. José Luiz Runco: Em 1973 sofri uma lesão no menisco. Eu era O que faz nas horas
estudante na área de tecnologia, mas essa situação me animou muito vagas, como lazer
para cursar Medicina e seguir uma especialidade que envolvesse a ou hobby: gosto de dar
parte do esporte. Ou seja, por causa dessa lesão no menisco eu re- uma corridinha na beira
solvi fazer Medicina. Não tinha nenhum médico na família e me encon- da praia, sentar num
trei na profissão. Gostei do ambiente hospitalar, do centro cirúrgico. bom restaurante, comer
uma boa comida e beber
BIU: Como foi a sua trajetória desde a sua cirurgia no menisco um vinhozinho.
até chegar a ser médico da seleção principal de futebol, em 1998? Time do coração: eu
Dr. José Luiz Runco: Eu comecei a faculdade com a cabeça vol- trabalhei muitos anos no
tada a trabalhar com o esporte. E sempre gostei muito de futebol. Em Flamengo e devo muita
1978 tive um convite para ser estagiário no Vasco da Gama, onde co- coisa a ele. Meu coração
mecei minha carreira. Em 1979 me formei e como eles gostaram do hoje é Flamengo, clube no
meu trabalho, fui contratado. No segundo semestre de 1981 recebi a qual cresci e me projetou.
proposta para ir trabalhar no futebol de base do Flamengo e no início
de 1983 surgiu a oportunidade de trabalhar no futebol profissional do

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 13


Entrevista

namente essa função sempre foi

Divulgação
valorizada. Muitos não sabem, mas
quando um clube contrata um joga-
dor, quem assina o contrato, além
do presidente do clube, é o médico.
Por isso eu criei a Comissão Nacio-
nal de Médicos de Futebol. Dentro
da Sociedade de Ortopedia temos
a SBRATE, Sociedade Brasileira de
Artroscopia e Traumatologia do Es-
porte. Criou-se uma respeitabilidade
muito grande em relação ao Depar-
tamento Médico e fico muito feliz em
ter participado disso.

BIU: Como o médico deve pro-


ceder quando um atleta está lesio-
nado e há pressão da torcida e até
da comissão técnica para que ele
volte logo a jogar?
Dr. José Luiz Runco: Esse pensa-
Na Copa do mundo de 1986 eu fui mento do torcedor não pode estar no
ao México como médico da seleção seu rol de preocupações. Você é um
Neymar chega ao principal do Iraque. médico e está preocupado em fazer
hospital acompanhado Voltei para o Brasil em 1988 medicina. É preciso ter postura mé-
como médico do futebol profissio- dica e muito cuidado ao falar, porque
do médico José nal do Flamengo e em 1998, depois nesse momento você pode prejudicar
Luiz Runco (2014) da Copa da França, recebi o convi- a sua imagem e a imagem do atleta,
te para assumir a chefia do Depar- que naquele momento é um paciente
tamento Médico da CBF. Fomos comum. A credibilidade é tudo.
Botafogo. E aí fiquei por um ano e 4 campeões do mundo em 2002 e fui A cobrança do técnico e da tor-
meses. Depois disso o Flamengo me continuando. Fiquei por lá 16 anos, cida é algo natural. Por exemplo, no
convidou para voltar para o futebol de durante quatro Copas do Mundo - Flamengo eu tive um jogador que
base, mas dando atenção também 2002, 2006, 2010 e 2014. Depois foi um fenômeno. Quando operei o
ao futebol profissional. Nesse mesmo da copa de 2014, eu já estava can- Obina todo mundo queria saber so-
ano fui para a seleção brasileira de sado. Além disso, mudou a diretoria bre ele, que era muito carismático.
juniores, hoje chamada de sub-20. e resolveram mudar o Departamento Você não pode se deixar influenciar
Virei campeão sul americano, depois Médico, mas foi ótimo, porque fi- por essa pressão, mas tem que res-
fomos para o Mundial na Rússia e fo- caram com a minha cria, o Rodrigo peitar essa cobrança. Você tem que
mos campeões do mundo. Quando Lasmar, que era meu assistente, o saber o que é cobrança e o que é
eu voltei, fui para o futebol profissio- que me deixou muito satisfeito. obrigação sua fazer.
nal do Flamengo, em 1985.
BIU: Da época em que o senhor BIU: É possível mencionar um
BIU: O sr. teve também uma pas- começou, no Vasco, até hoje, o pa- momento de muita tensão em sua
sagem pelo futebol do Iraque? pel do médico no futebol mudou. trajetória na seleção brasileira?
Dr. José Luiz Runco: Nessa épo- Além disso, a medicina esportiva Dr. José Luiz Runco: O corte do
ca era muito comum querer ir traba- evoluiu muito. Poderia fazer um pa- Emerson foi um momento crítico. Eu
lhar no mundo árabe, onde se paga- ralelo entre aquela época e hoje? cortei o capitão da seleção brasileira
va muito bem. Eu tive uma proposta Dr. José Luiz Runco: Eu acho de 2002 e homem de confiança do
para trabalhar na seleção nacional que houve uma valorização da fun- treinador 24 horas antes do início da
do Iraque, onde fiquei por dois anos. ção do médico, apesar que inter- competição. Foi uma decisão difícil,

14 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


num momento que eu ainda não tinha sobrinho, depois de apenas quatro Dr. José Luiz Runco: Não precisei
o lastro e a experiência que depois dias em Bagdá, e deu certo. Aí eu medicar ninguém. Aquela derrota es-
acumulei na seleção. virei rei. Foi uma cirurgia de menis- portivamente foi ruim, mas na Copa
co, que naquela época não era de de 2014, do ponto de vista médico,
BIU: E um momento gratificante? artroscopia. Mesmo na época sen- desempenhamos bem nossa função,
Dr. José Luiz Runco: Depois de do um regime fechado, como fui tra- que é cuidar, preservar, dar o trata-
terminar a copa do mundo de 2002 balhar com o filho do presidente da mento correto aos atletas. No caso
o Rivaldo me deu a camisa dele, que república foi tranquilo. do Neymar, por exemplo, que teve
está guardada comigo até hoje em uma lesão com uma certa gravidade,
um quadro. Os médicos do Barce- BIU: Qual a cena mais marcante o tratamento foi correto. As pessoas
lona, que era seu time, não queriam de seu tempo de seleção brasileira? acham que o jogador é da seleção
que ele jogasse e eu mostrei que ele Dr. José Luiz Runco: A cena mais brasileira, mas na realidade ele é do
já jogava com esse problema na per- emocionante aconteceu depois da clube. É uma responsabilidade muito
na desde muito tempo antes e que derrota para a Holanda, em 2010. No grande que temos de devolver esse
não precisaria fazer a cirurgia naque- jantar todas as pessoas choraram, jogador íntegro e sem sequelas.
le momento. Ele jogou a Copa muito porque perdemos o jogo com um time
bem e na minha opinião foi o melhor que estava indo bem, num desempe- BIU: O senhor arriscaria algum
jogador. Depois continuou jogando e nho crescente. Tínhamos feito um pri- palpite sobre o desempenho da se-
só quando parou fez a cirurgia. meiro tempo exemplar, que poderia ter leção brasileira na Copa na Rússia?
terminado 2 ou 3 a 0. E no final fomos Dr. José Luiz Runco: Eu acho que
BIU: Como foi sua passagem pe­la derrotados por 2 a 1. Foi muito mar- temos um time com condições de
seleção do Iraque? cante para mim, mais do que os 7 a ganhar essa Copa do Mundo, porém
Dr. José Luiz Runco: Foi uma ex- 1 contra a Alemanha em 2014. Tínha- existem outras equipes capacitadas
periência muito interessante. Foram mos a possibilidade de vencer aquele também. Mudou um pouco o futebol,
dois anos em que convivi com Uday jogo, ir à final e ganhar a Copa. a gente reinava absoluto e hoje não
Hussein, filho do Saddam, que era tem mais ninguém bobo, como se
presidente do Comitê Olímpico e da BIU: Depois da derrota por 7 a diz popularmente. Temos jogadores
Federação de Futebol. Eu dei sorte. 1, o senhor, como médico, teve que de qualidade, uma comissão técnica
Cheguei lá e operei um sobrinho do cuidar de algum jogador ou membro muito competente e as condições físi-
Saddam Hussein, sem saber que era da comissão técnica? cas dos jogadores muito boa.
Divulgação

A cena mais
emocionante aconteceu
depois da derrota para
a Holanda, em 2010.
No jantar todas as
pessoas choraram

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 15


P O N T O D E V I S T A

Prostatectomia radical no câncer


de próstata oligometastático

O O tema desta edição é abordado pelos especialistas


Eliney Ferreira Faria e Ubirajara Ferreira

16 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


Ausência de evidência não é a mesma coisa que evidência de ausência
Eliney Ferreira Faria, uro-oncologista do Hospital de Câncer de Barretos, Diretor IRCAD/
Urologia, doutor em Oncologia pela USP e post doc pelo MDAnderson Cancer/USA

E
mbora a incidência de câncer nos levavam a um excelente controle Uma outra reflexão a ser feita sob
de próstata (CAP) metastático de atividade metastática do câncer de a luz dos avanços das técnicas de
tenha diminuído ao longo das próstata bem como a redução da fos­ imagem seria a respeito do estadia­
últimas décadas por causa do fatase sérica, exame utilizado na épo­ mento. O que é tido hoje como pa­
uso do PSA (prostate specific anti- ca(3). Sem dúvida foi uma descoberta drão pelos guidelines não tem acurá­
gen) como ferramenta de detecção muito relevante para a Medicina, e ain­ cia tão alta assim. Cabe pensar que
em todo o mundo, no Brasil se verifica da hoje o bloqueio androgênico é um uma percentagem de pacientes nos
uma menor difusão do rastreamento. dos pilares do tratamento do câncer quais fizemos tratamento local com
Existem dados mostrando que em de próstata metastático. Mas será que prostatectomia radical nos últimos
algumas regiões brasileiras a incidên­ este “benefício confortável” do trata­ anos poderia já ter algumas metás­
cia de casos de CAP mais avança­ mento de CAP metastático através do tases linfonodais ou ósseas e que
do é mais expressiva, principalmente controle endócrino não nos fez atrasar não foram detectadas nos métodos
em populações de mais baixa renda os conhecimentos em citorredução convencionais de imagem? Sim,
e sem acesso aos exames de ras­ do tumor primário? A evidência é que provavelmente isso ocorreu. Hoje,
treamento, como foi publicado por estes benefícios de citorredução são bem como em um futuro próximo,
nosso grupo(1). Demonstramos que vistos em outros tipos de tumores, estaremos detectando mais casos
a população atendida pelo Sistema como por exemplo: câncer renal, do de pacientes com CAP oligometas­
Único de Saúde (SUS), dependendo aparelho digestivo, ovariano, meso­ tático, haja visto o crescimento dos
exclusivamente do governo muni­ telioma, entre alguns outros(4-7). Será, métodos de imagem tipo PET-PSMA
cipal ou estadual, apresentava três então, que o mesmo benefício poderia com 68Ga, PET-FDG com 18F, no­
vezes mais casos de CAP localmente se mostrar em casos selecionados de vas técnicas de ressonância nuclear
avançado e metastático que o grupo CAP metastático? magnética de corpo inteiro, e outras
que foi rastreado por meio de unida­ Quando falamos em casos sele­ que estão em estudo para detectar
de móvel, ou seja, submetendo-se cionados de CAP metastático para com mais acurácia doença metastá­
ao rastreamento ativo. Inclusive, em tratamento local do tumor primário tica mínima(10-12).
relação ao grupo que teve acesso estamos querendo classificar e/ou Atualmente, o tratamento cirúrgi­
ao rastreamento por unidade móvel, quantificar corretamente o montante co do CAP é reservado para doença
70% nunca tinham feito antes o exa­ de doença extra prostática que cada localizada e doença localmente avan­
me de PSA sérico(2). Estes dados nos paciente estádio IV possui. Muitas çada com ou sem doença linfonodal
remetem a pensar que o câncer de vezes colocamos pacientes com me­ localizada pélvica(13). Existe o receio
próstata oligometastático tenha real­ tástases no mesmo grupo, porém sa­ de que o tratamento local do tumor
mente interesse, sobretudo em nos­ bemos que o prognóstico e compor­ primário para casos classificados
so sistema de saúde. tamento da doença está diretamente como doença sistêmica poderia atri­
Não sei se nos atrasamos em re­ relacionada ao número e à localiza­ buir apenas morbidade e sem algum
lação aos benefícios de citorredução ção destas metástases, ou seja, se benefício. Não existem ainda estudos
em CAP, mas um fato histórico deve a doença é óssea, linfonodal e/ou com nível de evidência 1 que mos­
ser pontuado nessa trajetória do trata­ visceral e quanto de volume destas trem ganho de sobrevida em pacien­
mento. Há algumas décadas um cien­ existem é informação fundamental no tes com CAP metastático. Acredito
tista chamado Charles Breton Huggins entendimento da história natural da que este seja um próximo paradigma
e sua equipe foram agraciados com o doença. Saber se nosso paciente é a ser quebrado. Estudos já mostra­
prêmio Nobel de Medicina (1966), por “polimetastático”, “oligometastático”, ram benefício do tratamento multi­
descobrir ações hormonais em certas ou “oligo-recorrrente” pode, basea­ modal no CAP localmente avançado,
formas específicas de câncer. Hug­ dos em conhecimentos mais recen­ com melhora de sobrevida livre de
gins e col. verificaram que a castra­ tes, alterar o raciocínio clínico e as recorrência bioquímica e sobrevida
ção cirúrgica ou utilizando-se estróge­ opções terapêuticas(8, 9). global e provavelmente a bola da vez

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 17


elimina-se a produção intra-tumoral de em comparação com o grupo metastá­
testosterona no caso do CAP(15) etc. tico que não foi submetido a nenhuma
O tratamento cirúrgico Algum benefício clínico da remoção forma de tratamento do tumor primário.
do CAP é reservado do tumor primário foi mostrado, por Mas, claro, são estudos retrospectivos
exemplo, em estudos retrospectivos e sofrem todas as críticas de metodo­
para doença localizada com metástase linfonodal. Estes estu­ logia e de critérios de seleção, porém
e doença localmente dos mostraram que naqueles casos de eles existem. A recomendação de mui­
linfonodos positivos em que a próstata tos guidelines (NCCN, AUA, NCI, EAU,
avançada, com ou foi removida houve melhor sobrevida SBU) é: “para doença sistêmica, trata­
sem doença linfonodal livre de progressão de doença e so­ mento sistêmico”. Será que não pode­
brevida câncer específica do que na­ mos realmente melhorar os resultados
localizada pélvica queles em que foi realizada somente a da terapia sistêmica? Então, o que te­
linfadenectomia(16, 17). mos na literatura até agora são estudos
será discutir o controle do tumor pri­ Em relação a pacientes com doença retrospectivos, com pequeno número
mário nos casos selecionados de CAP metastática mínima, um estudo alemão de pacientes, tempo de seguimento
metastático. Digo casos selecionados, retrospectivo publicado por Heidenrei­ não tão longo, estudos com viés de se­
pois também hoje não sabemos quais ch e col.(18) com pouco mais de 60 pa­ leção, porém eles apontam que talvez
destes pacientes se beneficiariam desta cientes, onde foi comparado bloqueio haja sim um benefício com o tratamen­
mudança de paradigma. androgênico com e sem associação to local nestes pacientes selecionados
A literatura tem alguns dados que com prostatectomia radical, mostrou com doença metastática.
suportam o tratamento de casos se­ que pacientes com pequeno volume de Entretanto, se esse tema evoluir
lecionados de CAP oligometastático. metástases ósseas quando submetidos pode gerar uma outra discussão. Se
Existe algum racional biomolecular para a prostatectomia radical poderiam ter deveríamos tratar individualmente as
se tentar tratar um tumor primário mes­ benefício em relação ao tempo de pro­ metástases, já que fizemos o trata­
mo em doença metastática, porque gressão para resistência a castração, mento do tumor primário, deveríamos
quando os removemos em tese po­ sobrevida livre de progressão, sobrevi­ então remover ou usar de radioterapia
demos ter alguns efeitos: a) cessa-se da global e câncer especifica. Em outro nestas? A literatura já apresenta dados
a produção de fatores de crescimento estudo também peculiar, Culp e col.(19) mostrando resultados de linfadenecto­
tumoral e imunossupressores produzi­ analisaram o SEER-database (EUA) e mia de resgate naqueles casos onde
dos pelo próprio tumor; b) elimina-se a mostraram que pouco mais de trezen­ houve recidiva linfonodal mínima e ra­
fonte produtora de metástases evitando tos pacientes que tinham feito controle dioterapia dirigida em altas doses para
aparecimento de mais doença a distân­ local com prostatectomia ou braquite­ sítios metastáticos(20, 21). Acredito que os
cia e reduzindo células circulantes(14), c) rapia tinham tido ganho de sobrevida dados sobre o benefício no retardo na

18 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


progressão da doença ou na melhora recrutamento, todos eles com boa que estes trabalhos ainda não te­
dos efeitos da terapia sistêmica es­ qualidade metodológica (www.clini­ nham sido publicados, o importante
tarão disponíveis em futuro próximo. caltrials.gov) (22), avaliando o papel é estarmos atentos para esta possí­
Claro que precisamos de estudos da prostatectomia radical na multi­ vel mudança de paradigma que pode
bem desenhados, multicêntricos, modalidade do tratamento do câncer acontecer em alguns anos, enquanto
pros­
pectivos e randomizados, que de próstata metastático. Esperamos isso acreditar que “ausência de evi­
responderão estas questões. Exis­ no futuro evidências para sabermos dência não é a mesma coisa que evi­
tem vários trabalhos em andamento/ o real papel da citorredução. Mesmo dência de ausência”.

Referências 12. Luna A, Vilanova JC, Alcala Mata L. [Total body MRI in early detection of bone
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cer: new management by cytoreductive surgery and intraperitoneal chemohyper­ 16. Engel J, Bastian PJ, Baur H, Beer V, Chaussy C, Gschwend JE, et al. Survival
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patients with stage IV colorectal cancer. J Clin Oncol. 2004;22(17):3475-84. 17. Steuber T, Budaus L, Walz J, Zorn KC, Schlomm T, Chun F, et al. Radical prosta­
tectomy improves progression-free and cancer-specific survival in men with lymph
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node positive prostate cancer in the prostate-specific antigen era: a confirmatory
sation for R, et al. Radical nephrectomy plus interferon-alfa-based immunotherapy
study. BJU Int. 2011;107(11):1755-61.
compared with interferon alfa alone in metastatic renal-cell carcinoma: a randomi­
sed trial. Lancet. 2001;358(9286):966-70. 18. Heidenreich A, Pfister D, Porres D. Cytoreductive radical prostatectomy in patients
with prostate cancer and low volume skeletal metastases: results of a feasibility
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and case-control study. J Urol. 2015;193(3):832-8.
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Culp, Paul F. Schellhammer, Michael B. Williams. Might men diagnosed with me­ 19. Culp SH, Schellhammer PF, Williams MB. Might men diagnosed with metastatic
tastatic prostate cancer benefit from definitive treatment of the primary tumor? A prostate cancer benefit from definitive treatment of the primary tumor? A SEER
SEER-based study. Eur Urol 2014;65:1058-66. Eur Urol. 2014;65(6):e97-8. -based study. Eur Urol. 2014;65(6):1058-66.
9. Gandaglia G, Karakiewicz PI, Briganti A, Passoni NM, Schiffmann J, Trudeau V, et 20. Gonzalez-Motta A, Roach M, 3rd. Stereotactic body radiation therapy (SBRT) for
al. Impact of the Site of Metastases on Survival in Patients with Metastatic Prostate high-risk prostate cancer: Where are we now? Pract Radiat Oncol. 2017.
Cancer. Eur Urol. 2015;68(2):325-34. 21. Ost P, Jereczek-Fossa BA, As NV, Zilli T, Muacevic A, Olivier K, et al. Progres­
10. Lenzo NP, Meyrick D, Turner JH. Review of Gallium-68 PSMA PET/CT Imaging in sion-free Survival Following Stereotactic Body Radiotherapy for Oligometastatic
the Management of Prostate Cancer. Diagnostics (Basel). 2018;8(1). Prostate Cancer Treatment-naive Recurrence: A Multi-institutional Analysis. Eur
Urol. 2016;69(1):9-12.
11. deSouza NM, Liu Y, Chiti A, Oprea-Lager D, Gebhart G, Van Beers BE, et al. Stra­
tegies and technical challenges for imaging oligometastatic disease: Recommen­ 22. https://clinicaltrials.gov/ct2/results?cond=Prostate+Cancer+Metastatic&term=ra­
dations from the European Organisation for Research and Treatment of Cancer dical+prostatectomy&cntry=&state=&city=&dist=.
imaging group. Eur J Cancer. 2018;91:153-63.

Parece trazer vantagens, mas deve ser encarada


como alternativa experimental
Ubirajara Ferreira é professor titular de Urologia e chefe do
Departamento de Cirurgia da Universidade Estadual de Campinas

N
o passado, pacientes com tumores preferencialmente locali­ e/ou jovens acometimento linfonodal
câncer prostático (CAP) de zados. Com os avanços técnicos e (N+) quando submetidos à PR. As
alto risco e/ou doença avan­ diminuição da morbidade cirúrgica, taxas de sobrevida desses grupos
çada eram prontamente enca­ descrita por Walsh, suas indicações de maior risco foram de 70-80%,
minhados para tratamento hormonal, foram ampliadas e a PR passou a ser em 10-15 anos de seguimento, índi­
associado ou não à radioterapia. A largamente utilizada(1). ce apenas um pouco inferior quando
prostatectomia radical (PR) era reser­ Em estudo clássico e pioneiro, Zin­ comparados à cirurgia para tumores
vada principalmente para pacientes cke e cols. demonstraram ganho de localizados (T2), os quais apresenta­
com longa expectativa de vida (maior sobrevida significativo nos pacientes ram sobrevida maior de 90%, no mes­
de 10-15 anos) e que apresentassem com doença extra-prostática (T3-4) mo período de seguimento(2).

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 19


cios na progressão local e distante da
doença, mas também evitar a ocor­
rência de sintomas locais, tais como:
complicações ureterais, retenção uri­
nária, sangramento e dor pélvica.
Vários autores têm defendido a PR
citorredutora como alternativa viável,
sem aumento de efeitos colaterais e
complicações indesejáveis da PR, já
convencionalmente realizada para pa­
cientes com tumores localizados ou lo­
calmente avançados. Além da melhora
na qualidade de vida dos pacientes
com doença metastática, especula-se
o ganho de sobrevida e recorrência tu­
moral, achados ainda não comprova­
dos devido à falta de estudos prospec­
Há alguns anos tem sido discuti­ tratamento foi testado em casos sele­ tivos randomizados(4, 5, 6, 7, 8, 9, 10).
da a indicação de PR para pacientes cionados: pacientes com poucas me­ Atualmente, existem três grandes
com tumor de próstata avançado e tástases ósseas (3 ou menos lesões estudos sendo realizados de forma
doença prostática extensa. Esta pro­ detectadas na cintilografia óssea), prospectiva para comparação da PR
posta tem sido defendida pelo fato ausência de metástases viscerais ou citorredutora ou RT associada ao BH
de alguns autores terem demonstra­ acometimento linfonodal extenso e (ou terapias sistêmicas) versus isolada.
do vantagens quanto aos sintomas PSA < 1,0ng/ml após bloqueio hor­ Esses estudos comparativos estão
locais nos pacientes submetidos à monal. Os autores descreveram 0% se desenvolvendo no MD Anderson
cirurgia, quando comparados aos de complicações locais nos pacien­ (USA), na Universidade de Hamburgo
pacientes submetidos à radioterapia tes tratados operados versus 33% (Eppendorf, Alemanha) e no Hospi­
ou a nenhum tratamento local. Won nos pacientes submetidos a bloqueio tal de Ghent (Bélgica). Os resultados
e cols, demonstraram incidência de hormonal (BH) sem tratamento local estarão disponíveis entre 2018-2020.
sintomas locais, principalmente re­ do tumor primário. Porém, não houve Concluindo, a PR na doença oligome­
tenção urinária e obstrução ureteral, ganho significativo de sobrevida glo­ tastática parece trazer vantagens na
de 20%, 42% e 54%, respectivamen­ bal nos pacientes submetidos a trata­ qualidade de vida e possível ganho de
te para cirurgia, radioterapia e ne­ mento local do câncer. A diminuição sobrevida. Porém, deve ser encarada
nhum tratamento local, nos pacientes dos sintomas locais pode estar di­ como alternativa experimental, sendo
com doença metastática(3). retamente relacionada à melhora da reservada a instituições de pesquisa
A PR na doença oligometastáti­ qualidade de vida desses pacientes(4). com protocolos adequados e bem
ca tem sido também defendida com Portanto, a PR citorredutora para conduzidos, até que surjam resulta­
base na teoria da citoredução tumo­ pacientes com CAP metastático tem dos mais concretos e baseados nas
ral do foco prostático primário. Esse sido testada não só para obter benefí­ melhores evidências científicas.

Referências 7. M
 athieu R, Korn SM, Bensalah K, Kramer G, Shariat SF. Cytoreductive radical­
1. W alsh P. Radical prostatectomy in locally confined prostatic carcinoma.Prog Clin prostatectomy in metastaticprostate cancer: Does it really make sense? World J
Biol Res. 1990; 359: 199-207. Urol. 2016 Aug 8.
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 ooriakumaran P, Karnes J, Stief C, Copsey B, Montorsi F, Hammerer P, Beyer
for clinically advanced (cT3) prostate cancer since the advent of prostate-specific B, Moschini M, Gratzke C, Steuber T, Suardi N, Briganti A, Manka L, Nyberg T,
antigen testing: 15-year outcome.BJU Int. 2005 Apr; 95(6): 751-6. Dutton SJ, Wiklund P, Graefen M. A Multi-institutional Analysis of Perioperative
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3. Won AC, Gurney H, Marx G, De Souza P, Patel MI. Primary treatment of the
tatic Prostate Cancer at Presentation. Eur Urol. 2016 May; 69(5):788-94.
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ticenter, prospective, randomized study to evaluate the effect of standard drug
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therapy with or without radical prostatectomy in patients with limited bone me­
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sibility and case-control study. J Urol. 2015 Mar; 193(3): 832-8.
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gery for men with metastatic prostate cancer. Prostate Int. 2016 Sep;4(3):103-6.
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6. Costa WH, Guimarães GC. Difference of opinion - Radicalprostatectomy in me­ Beam Radiation Therapy vs No Local Therapy for Survival Benefit in Metastatic
tastaticprostate cancer: is there enough evidence? Opinion: Yes.Int Braz J Urol. Prostate Cancer: A SEER-Medicare Analysis. J Urol. 2015 Aug;194(2):378-85.
2016 Sep-Oct;42(5):876-879.

20 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


Aprimoramento

Fellowship em disfunção
do trato urinário inferior
Conheça o programa oferecido pela Unifesp

A
disciplina de Urologia da UNIFESP-EPM, do trato urinário inferior. O objetivo do fellowship é que
por meio de seu Setor de Disfunções Mic­ o participante aprenda a diagnosticar e tratar todas as
cionais, Urologia Feminina e Reconstrução doenças que produzem essas disfunções, seja em ho­
do Assoalho Pélvico, oferece desde 2006 mens, mulheres ou crianças. “Durante o programa são
o fellowship em Disfunção do Trato Urinário ensinadas todas as técnicas, inclusive as que envolvem
Inferior Masculina e Feminina e Reconstrução do As­ novas tecnologias, como tratamento e desobstrução da
soalho Pélvico. O programa, com duração de um ano, próstata, correções de prolapso da bexiga e tratamento
admite um participante por ciclo. de incontinência urinária de homens e mulheres”.
De acordo com o professor Fernando Almeida, co­ O ensino dessas técnicas muitas vezes exige que o
ordenador des­sa atividade, diversos problemas uroló­ fellow conheça tecnologias nem sempre disponíveis no
gicos podem levar a uma alteração no funcionamento hospital da UNIFESP para atendimento de pacientes

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 21


Aprimoramento

do SUS, como o uso de próteses e outros materiais Opinião da participante


caros. Para atender essa necessidade, foi firmada uma A dra. Alessa Machado participou do fellowship
parceria como o Complexo Hospitalar Prof. Edmundo da UNIFESP em 2014. Ela se interessou pelo pro­
Vasconcelos, onde o prof. Fernando Almeida também grama por entender que as disfunções miccionais,
trabalha. “Com isso, o fellow tem a oportunidade de mesmo sendo uma das principais queixas urológi­
acompanhar cirurgias maiores e mais complexas no cas, representa um dos grandes desafios nas con­
hospital da UNIFESP e as que envolvem novas tecno­ sultas urológicas.
logias, como o uso de Interstim, no Edmundo Vascon­ “A condução adequada dos casos de disfunção
celos, o que lhes permite obter conhecimento amplo, miccional muitas vezes é negligenciada pelo próprio
envolvendo os diferentes procedimentos e tecnolo­ urologista e pelos programas de Residência. Por isso,
gias”, assinala o coordenador do programa. Durante o que me motivou foi a busca de maior conhecimento
o programa, o fellow participa de reuniões científicas na área, que permitisse me sentir segura para indicar a
semanais, com discussão de artigos e de casos. Tam­ abordagem individualizada e adequada para os meus
bém realiza em torno de trinta exames urodinâmicos pacientes”, assinala a dra. Alessa.
por mês e semanalmente tem dois períodos de atendi­ Segundo acrescenta, a participação do progra­
mento clínico sozinho e outros dois em que acompa­ ma foi de grande importância para seu aprendizado,
nha os atendimentos do prof. Fernando Almeida. Além crescimento pessoal e profissional. “Pude ter maior
disso, acompanha entre oito e dez cirurgias semanais, vivência com defeitos do assoalho pélvico feminino,
de variados graus de complexidade. entender melhor sobre disfunção miccional, estudo
O programa também estimula o interesse pela pes­ urodinâmico, em um ambiente acadêmico, com dis­
quisa. Nos doze anos de existência, ao menos cinco cussões englobando desde indicação à abordagem e
participantes desenvolveram pesquisas para obterem tratamento dos casos”, explica.
o doutorado. Para ela, um importante diferencial desse fellowship
Os candidatos ao fellowship da UNIFESP devem é seu vínculo com um hospital-escola, com grande
ter concluído Residência Médica em Urologia em al­ volume de pacientes, casos complexos e assistência
gum serviço credenciado pela SBU e precisam enviar permanente dos preceptores. A convivência com a
o currículo, além de duas cartas de apresentação as­ equipe no ambiente acadêmico a estimulou desde o
sinadas por membros do Serviço. Com base nesses início para a realização de trabalhos, pesquisas e pós-
documentos é feita uma pré-seleção, seguida de en­ graduação. Quem quiser informações sobre o progra­
trevistas individuais. O selecionado terá direito a uma ma deve enviar mensagem ao e-mail contato@drfer­
bolsa no valor mensal de R$ 3.500,00. nandoalmeida.com.br.

O objetivo é que o
participante aprenda
a diagnosticar e tratar
todas as doenças
que produzem essas
disfunções, seja
em homens, mulheres
ou crianças.

22 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


Urologia Legal

O boca a boca hoje é digital


Karin Camarinha, cirurgiã-dentista, membro da comissão de mídias
do CROSP e sócia-diretora da agência de comunicação Welcome Mídia

V
ocê sabia que existem mais aparelhos celu­ pendentemente de a divulgação ser sobre um consul­
lares em nosso país que o número de habi­ tório ou clínica, devem ser respeitados. No entanto,
tantes? Você já deve ter percebido que as também existem inúmeras possibilidades para se co­
operadoras de celular oferecem planos sem municar com seus pacientes atuais e futuros de manei­
limite para redes sociais e para o aplicativo ra eficiente, obtendo resultados significativos sem ferir
whatsapp. Seguramente você deve ter notado que mui­ o Código de Ética.
tos pacientes têm feito contato com o seu consultório O ponto principal na hora de elaborar um plano de
ou clínica por meio do aplicativo whastapp. Muita coisa comunicação é dedicar atenção aos múltiplos gargalos
está acontecendo no chamado mundo virtual e muitos que interferem no bom resultado da divulgação nas mí­
acompanham essas mudanças apenas de longe. dias. Mas o que são esses gargalos? Vou explicar com­
Mas por que essas informações são importantes partilhando um cenário bastante comum no dia a dia
para um médico? Quais resultados ele pode esperar de atendimento. Algum tempo atrás, quando alguém
da internet ou das redes sociais? Quais ferramentas buscava um médico (desconsiderando a possibilidade
estão disponíveis para desenvolver um trabalho efi­ de indicação) essa pessoa iria às Páginas Amarelas,
ciente nas mídias digitais? O código de ética permite encontraria o telefone e ligaria. Essa realidade é com­
divulgação na internet? pletamente diferente hoje. Quando alguém tem dúvida
Nosso objetivo com este artigo é esclarecer esses sobre qualquer assunto vai ao Google. Assim, o pri­
pontos essenciais. meiro gargalo seria: se a pessoa buscar um médico
De início, é importante lembrar que existem alguns da sua especialidade, na região do seu consultório,
limites no que tange ao Código de Ética e que, inde­ encontrará você? Para avaliar esse primeiro gargalo

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 23


Urologia Legal

anúncios e seu resultados - é possí­


vel escolher em qual rede seu anúncio
será veiculado (Facebook ou Insta­
gram), além de outros detalhes, como
horários, posicionamento, etc.
Uma pergunta importante: por que
o médico deve estar presente nas re­
des sociais? Note que eu não utilizei
“se divulgar”, mas “estar presente” -
que são coisas bastante diferentes. É
provável que a maioria, senão todos os
seus pacientes, estão no Facebook ou
no Instagram. E isso já seria motivo sufi­
ciente para você também estar presen­
te. Outro ponto: seus futuros pacientes
importa quão bom você seja, quão di­ também estão nas redes sociais. Con­
ferenciada seja sua infraestrutura, ele vido você a se perguntar: será que as
Existem inúmeras não vai saber que você existe. pessoas perto do seu consultório ou
Assumindo que tenha um website, clínica sabem que você existe e co­
possibilidades para se esse paciente muito provavelmente nhecem seus diferenciais? Certamente
comunicar com seus encontrou também outros especialis­ existem pessoas que estão buscando
pacientes atuais e futuros tas e abriu pelo menos três websites por sua especialidade nos arredores
diferentes - afinal, nós fazemos isso do seu consultório. Portanto, as re­
de maneira eficiente, quando estamos procurando alguma des sociais são um caminho ideal para
obtendo resultados coisa no Google. E como ele irá decidir que as pessoas conheçam você. Mas
sobre qual consultório ou clínica entra­ como estar presente nas redes sociais
significativos sem ferir rá em contato? Existe vários critérios de maneira ética e eficiente? Evitando
o Código de Ética que podem potencializar esse resulta­ erros comuns que afetam diretamente
do, entre eles: utilização de imagens a eficácia da presença nas redes so­
temos as seguintes perguntas: interessantes; qualidade do conteúdo ciais. Vou abordar alguns desses erros:
n Você tem um website? editorial; rapidez de abertura e intera­
n Seu website abre adequadamen­
te em celular (conforme as boas
práticas indicadas pelo Google)?
ção do usuário com o website. Enfim,
existem diversas propriedades que
podem alavancar - ou prejudicar - o
1. Frequência
É preciso publicar com frequência.
Isso não quer dizer que você tenha que
n Seu website é rápido mesmo desempenho do seu website. publicar todos os dias. Não adianta pu­
para acessos via 3G ou ele fica Outro local indispensável são as blicar por duas semanas todos os dias
rodando, rodando, rodando... mídias sociais ou redes sociais, que e depois ir diminuindo esse ritmo. Para
n Você divulga seu website na desempenham um papel importantíssi­ isso, sugiro criar um calendário edito­
rede? Quais são as estratégias? mo na comunicação para profissionais rial, que é uma agenda na qual você
Você paga anúncios ao Google da saúde. Vou concentrar meu comen­ define com antecedência suas publica­
para aparecer no topo ou prefere tário no Facebook e Instagram. ções. Assim você consegue se progra­
ser encontrado de outra forma? O Facebook é a maior rede social, mar por um período maior de tempo.
ultrapassando os 2 bilhões de usuá­
Ou seja, se você não tiver um we­
bsite, esse paciente não o encontrará.
Ainda que você tenha o Google Meu
rios no mundo e o Instagram supera
os 700 milhões. As duas redes estão
intimamente ligadas, não apenas por
2. conteúdo
A ideia é ser informativo, mas
também interessante. Não publique
Negócio (ferramenta do Google para “serem do mesmo dono”, mas tam­ apenas informações sobre sua espe­
inserir nome, endereço e outras in­ bém pela plataforma de anúncios des­ cialidade, descritivos de tratamentos,
formações essenciais), se o paciente sas duas redes serem integradas. No etc. O paciente não quer ver o conte­
buscar especificamente por um pro­ Gerenciador de Anúncios - que é uma údo de venda. Pelo contrário, ele quer
cedimento, não encontrará você. Não das ferramentas para administrar os saber quem é você, quer conhecer o

24 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


dia a dia da clínica, sobre os cuidados pessoas que entrarem em contato, uma página. Não apenas por ser uma
com o paciente. ainda que seja uma pergunta desinte­ norma do Facebook, mas também
ressante para você. Não apenas por porque com a página você tem aces­

3. Replicar postagens
com marcas de
outro colega
consideração, mas lembrando que,
quanto mais interatividade houver nas
publicações, melhor será para a sua
so a informações importantíssimas,
como por exemplo: a) qual horário
tem mais pessoas conectadas ao Fa­
Ao invés de simplesmente comparti­ conta nas mídias sociais. cebook perto do seu consultório/clíni­
lhar um conteúdo de outro médico por ca; b) qual o perfil principal (gênero e
acha-lo interessante, por que não se
inspirar e escrever um artigo sobre o
assunto? Assim, ao invés de valorizar
6. Utilizar somente o
perfil ao invés de
uma página no Facebook
idade) das pessoas que estão próxi­
mas ao seu consultório/clínica e que
seguem a sua página; c) qual o melhor
outro profissional, colocando-o como Diferente do Instagram, que disponi­ horário para as suas publicações; d)
autoridade sobre o tema, você se po­ biliza apenas um perfil, no Facebook comparativo com páginas concorren­
siciona, expressa sua opinião e valoriza temos: perfil, páginas e grupo. Apenas tes; dentre muitas outras informações.
seus diferenciais. como exemplo: digamos que o perfil é É indispensável ser visto para ser
sua “pessoa física”, seu dia a dia pes­ lembrado e as redes sociais ofere­

4. Impulsionar ao
invés de realizar
anúncios patrocinados
soal. A página seria sua “pessoa jurí­
dica”, o seu consultório ou clínica e o
grupo seria um agrupamento de perfis.
cem condições para que cada vez
mais pessoas conheçam você. Aten­
ção para não cometer os principais
Existe uma ferramenta muito tentado­ erros citados, respeite o Código de
ra que é o botão “impulsionar” (mais Para divulgar seu consultório ou Ética, seja interessante e interaja com
evidente no Facebook), que fica logo clínica é indispensável que você tenha seu público.
abaixo das suas publicações. Ele in­
dica que se você clicar alcançará um
número enorme de pessoas com um
investimento muito baixo. De fato, sua As dicas do Cremesp para
publicação atingirá um número grande
de pessoas, mas existem outras op­
utilizar as mídias sociais
ções no Facebook que podem fazer Para auxiliar os médicos a utilizarem as médicos, eles também não devem
com que você tenha resultado melho­ mídias sociais de forma produtiva, mas oferecer prêmios, consultas ou avalia-
res do que o “impulsionamento”. São sem correr riscos de ferir a ética, o Con- ções gratuitas.
selho Regional de Medicina do Estado
filtros que você terá acesso apenas
com o gerenciador de anúncios, como,
de São Paulo (Cremesp) elaborou uma
cartilha com oito dicas sobre o que se 5. Nas páginas de clínicas, hospi-
tais, casas de saúde e outras ins-
tituições de saúde deverão constar o
por exemplo, selecionar os horários pode ou não postar nas redes sociais.
nome do diretor técnico médico e sua
que seu anúncio será publicado. No
gerenciador também é possível fazer 1. Não publicar fotos de seu paciente
ou em conjunto com o mesmo; de
recém-nascidos com seus familiares;
correspondente inscrição no Conselho
Regional de Medicina.

6.
anúncios diversos, como conquistar nem em sala cirúrgica para relatar o que O médico pode divulgar em suas
seguidores para a página no facebook será feito ou procedimento já realizado. redes sociais informações, en-
ou anúncios específicos para os stories trevistas e publicar artigos, versando

2. O médico não pode afirmar que sobre assuntos médicos de fins estri-
no Instagram. Esses são apenas alguns tamente educativos.
não existem complicações em seus
exemplos das vantagens de investir em procedimentos ou que todos os seus
anúncios e não em impulsionamento. pacientes estão satisfeitos, nem publi-
car imagens de “antes e depois”.
7. O médico pode divulgar os cursos e
atualizações realizados, desde que
relacionados à sua especialidade ou

5. Não responder
interações 3. Não publicar elogios ou agrade-
cimentos por parte de terceiros e
prêmios que não tenham valor científi-
área de atuação devidamente registra-
da no Conselho Regional de Medicina.
do público
É muito comum haver interações,
co, como “melhor médico”, “médico em
destaque” e similares. 8. Sempre que houver dúvida, o mé-
dico deverá consultar a Comissão
de Divulgação de Assuntos Médicos
seja em modo privado (por meio de
inbox ou direct) ou publicamente nos 4. Preços de procedimentos e for-
mas de pagamentos não devem
ser divulgados nas redes sociais dos
(Codame) dos Conselhos Regionais de
Medicina, visando enquadrar o anúncio
aos dispositivos legais e éticos.
comentários das publicações. É in­
dispensável responder a todas as

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 25


Além da Urologia

Nutrologia Esportiva,
uma aliada na melhoria da performance
Eduardo Rauen é nutrólogo e anestesista, membro do corpo clínico do Hospital
Israelita Albert Einstein. Diretor técnico do Instituto Rauen e membro da Associação
Brasileira de Nutrologia, cuida da atenção nutrológica da equipe do Corinthians
e de jogadores profissionais no Brasil e exterior.

A
Nutrologia Esportiva é dica da Nutrologia, passamos a tratar loesquelético e respiratório, o médi­
um ramo Nutrologia, “es­ desse ramo chamado de Nutrologia co consegue quantificar e qualificar
pecialidade médica que Esportiva, que associa também co­ de forma individualizada o nutriente
estuda, pesquisa e avalia nhecimentos ligados ao exercício fí­ adequado para a atividade física es­
os benefícios e malefícios sico, fisiologia e nutrição, visando a pecífica obtendo uma melhora do
causados pela ingestão dos nutrien­ compreensão e otimização do desem­ desempenho. Basicamente os nu­
tes, aplicando este conhecimento penho do atleta. Além disso, a Nutro­ trientes são divididos em macronu­
para a avaliação das necessidades logia Esportiva, interdisciplinarmente, trientes e micronutrientes. Os macro­
orgânicas, visando a manutenção da associa a influência do tipo de traba­ nutrientes são as proteínas, gorduras
saúde e redução de risco de doenças, lho muscular (sistema musculoesque­ e carboidratos. Já os micronutrientes
assim como o tratamento das mani­ lético) sobre a necessidade do aporte são as vitaminas e sais minerais.
festações de deficiência ou excesso. de nutrientes (agente) em quantidade, De acordo com a Lei do Escudei­
O acompanhamento do estado nu­ qualidade, harmonia e adequação, in­ ro , que trata da quantidade, quali­
tricional do paciente e a compreen­ fluenciando reciprocamente na capa­ dade, harmonia e adequação dos
são da fisiopatologia das doenças cidade de rendimento físico.” Desde a nutrientes, a Nutrologia Esportiva
diretamente relacionadas aos nutrien­ antiguidade, “das antigas Olimpíadas tem um papel especial para que, de
tes permitem ao nutrólogo atuar no (776 a.C.), inúmeras práticas dietéti­ forma eficaz, respeite todos esses
diagnóstico, prevenção e tratamento cas foram utilizadas para melhorar o preceitos, garantindo a quantidade,
destas doenças, contribuindo na pro­ desempenho nos exercícios”. a qualidade de acordo com o gasto
moção de uma longevidade saudável, Com o avanço da medicina no calórico do indivíduo na modalidade
com melhor qualidade de vida”. conhecimento da fisiologia, do sis­ escolhida. Vale destacar que é de ex­
Conceituando a especialidade mé­ tema digestivo, circulatório, muscu­ trema importância o médico especia­

26 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


lista garantir a hora de ser inserido o em casos em que a ingestão desses O jogador de futebol
nutriente adequado para a obtenção componentes seja insuficiente. Falando especialmente do futebol,
da performance desejada. O produto pode ser apresentado já que neste ano acontecerá a Copa
Atualmente, com a chegada da nas formas sólida, semi-sólida, líquida do Mundo da FIFA, para que um time
tecnologia na área da Medicina e e aerossol, como tabletes, drágeas, tenha melhora, precisamos aprimo­
Nutrição, vários suplementos alimen­ pós, cápsulas, granulados, pastilhas rar o indivíduo. Existem variações
tares foram desenvolvidos para com­ mastigáveis, líquidos e suspensões.” nas estratégicas nutricionais que
plementar a dieta. Trata-se de uma No meio médico ainda existe um vão depender da posição ocupada
ferramenta essencial para o trabalho certo “preconceito” no que tange aos por cada jogador. Por exemplo: o
do profissional da área da saúde. suplementos alimentares, por falta de trabalho realizado com o goleiro, é
O suplemento alimentar, quando conhecimento durante a formação muito diferente do que é feito com
utilizado de forma correta, adequada acadêmica. Precisamos desmistificar um atacante, zagueiro, meio campo,
e individualizada, faz com que o ga­ o uso dos suplementos alimentares lateral. Cada uma dessas posições
nho na performance seja alcançado, e, além disso, saber indicar, utilizan­ possui uma especificidade.
trazendo benefícios ao atleta, assim do-o como ferramenta para todas as O papel do nutrólogo é realizar
como conseguindo evitar lesões e, especialidades médicas. Lembrando o exame médico, que consiste na
por consequência, prolongar o su­ sempre que os suplementos alimen­ anamnese, exame físico, laboratorial
cesso na carreira. tares têm por finalidade complemen­ e métricas utilizadas em Nutrologia
Utilizando uma definição da So­ tar a alimentação de indivíduos, ser­ (medidas, bioimpedância, calorimetria
ciedade Brasileira de Alimentação vindo de coadjuvantes aos alimentos indireta, espiroergométrico, avaliação
e Nutrição em 2015, “suplementos e que devem sempre ser indicados e corporal), e conhecer muito bem as re­
alimentares são produtos consti­ prescritos na dose certa por médicos gras e a característica do esporte para
tuídos por fontes concentradas de e nutricionistas.Todavia, voltando ao
substâncias como vitaminas, mine­ ramo específico da Nutrologia com
rais, fibras, proteínas, aminoácidos, foco no esporte, o uso de suplemen­
ácidos graxos, ervas e extratos, pro­ tos alimentares é bastante difundido
bióticos, enzimas, carotenóides, fito­ entre os atletas. Para os atletas profis­
esteróides, entre outros. A partir de sionais, é importante ressaltar que al­
sua composição podem apresentar gumas substâncias podem ser consi­
efeitos nutricionais, metabólicos e/ deradas “substância dopantes” e, por Por que o
ou fisiológicos que se destinam a consequência, devem ser evitadas.
complementar a alimentação normal A título de curiosidade, o doping urologista
é tão antigo quanto o esporte. No precisa saber de
sec. III d.C, “os atletas gregos da an­
tiguidade tentavam melhorar o pró­
Nutrologia?
1.Mais
prio desempenho atlético utilizando da metade dos nossos pa­
estimulantes como conhaque, vinho, cientes estão acima do peso.
cogumelos alucinógenos e semen­
tes de gergelim. Gladiadores roma­
nos tomavam estimulantes para evi­
2. 48% dos pacientes interna-
dos sofrem com a subnutrição
hospitalar.
tar a fadiga e lesões”.
Precisamos desmistificar A WADA – World Antidoping
Agency –, foi criada em 1999 com o
3.Melhoria
paciente.
do prognóstico do

o uso dos suplementos


alimentares e, além
apoio do COI – Comitê Olímpico In­
ternacional – para coordenar a luta
4. O médico é um dos que mais
precisam da Nutrologia para
a sua própria vida, com alta carga
contra o doping. Esse órgão elabora
disso, saber indicar, anualmente uma lista, que é seguida
horária.

utilizando-o como por todas as modalidades esportivas,


O médico que não se preocupa
com a sua própria alimentação,
informando as substâncias e méto­
ferramenta para todas as dos proibidos de serem utilizados pe­
inevitavelmente aumenta as chan-
ces de se tornar paciente.
especialidades médicas los atletas de competição.

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 27


Além da Urologia

Com o uso da suplementação


antes, durante e pós-jogo, o atleta
se recupera muito mais rápido, pre­
venindo câimbras e desidratação.
É um ajuste fino que se reali­
za de forma individual, acertando
quantidades de alimentos, suple­
mentação, hidratação e, o mais
importante, a adesão por parte do
paciente/jogador. A título de ilustra­
ção, este ano um paciente retor­
nou ao consultório, noticiando que,
entre a avaliação anterior datada
de três meses atrás e a recente,
obteve um aumento da velocidade
de 28 para 32 km/h, tornando-se
titular absoluto em sua posição e o
desenvolver a melhor estratégica gaste diário muito grande no jogador segundo mais rápido do time.
para obter o melhor rendimento. de futebol. Ele convive com dor, le­ Abdicar de bebidas alcoólicas,
No futebol é sabido que no pri­ sões, viagens, estresse físico e men­ alimentos refinados, farinhas, açú­
meiro tempo de jogo, a distância tal. Isso leva a uma preocupação do cares refinados são mecanismos
percorrida é 5% superior à per­ médico, que precisa minimizar esses utilizados para a obtenção da me­
corrida no segundo tempo. Que a fatores e manter o atleta focado no lhor forma física e, deste modo,
corrida de baixa intensidade cor­ planejamento elaborado no que se melhor rendimento.
responde a 35% em média, a de refere ao aporte energético adequa­ O principal obstáculo que en­
alta intensidade corresponde de 8 do, que tem por objetivo melhorar e contramos quando iniciamos um
a 18% e os sprints de 8 a 12% da antecipar a recuperação desse atleta trabalho com um atleta de alto nível,
distância percorrida, com um gasto para a próxima partida. como o jogador de futebol, é o hábi­
calórico de 1300 calorias por parti­ A importância de um bom tra­ to alimentar ruim, pois muitos deles
da, em média. A variação da distân­ balho realizado na preparação do saíram de casa com pouca idade
cia percorrida depende da posição atleta é garantir a sua recuperação para morar no clube de base, não
do jogador. Em média, o atacante ao final da competição, para que tendo ainda noção da importân­
percorre 10,5 km, o zagueiro, 9 km ele saia livre de lesões e prolongue cia de ingerir frutas e legumes, por
e o meio campista, 11 km. sua carreira com alto rendimento. exemplo. Muitos se tornam profis­
Dessa forma, o nutrólogo traça Na prática, quando tratamos de sionais ainda jovens e solteiros, vão
estratégias na alimentação e suple­ um atleta, em especial o jogador de morar sozinhos, inexistindo uma ro­
mentação que tem início na casa do futebol, que inicia um trabalho com tina familiar, alimentando-se de “fast
jogador, passando pelo clube, dia de 15% de gordura corporal e chega food”, dormindo pouco e tarde.
concentração e dia do jogo, visando a 10% em 2 meses, constatamos Vencer esse obstáculo é um
melhorar o rendimento desse atleta. que o jogador diminuiu o peso fi­ grande desafio, pois precisamos
Para quantificar esse rendimento cando mais leve, mais rápido e, por obter um tratamento contínuo e
usamos métricas como bioimpe­ consequência, com menos chan­ duradouro para que se torne um
dância, pregas cutâneas e GPS, que ces de lesões por diminuição da hábito, que vai dar qualidade e du­
nos informa distância percorrida e carga osteomuscular. rabilidade na carreira do atleta.
velocidade. No exame de bioimpe­
dância analisamos a composição Referências
corporal, com o intuito de aumentar 1. www.abran.org.br, de 7 de abril de 2018.
a massa magra e reduzir a gordura 2. Nutrologia esportiva. Carlos Alberto Werutsky, Porto Alegre: AGE, p. 15.
3. Tratado de Nutrologia/coordenadores Durval Ribas, Vivian Suen. Barueri, SP: Manoel, p. 137.
corporal. Desta forma, conseguimos
4. Em 1937, o médico argentino Pedro Escudeiro elaborou quatro leis da alimentação saudável que até hoje é
melhorar a potência, velocidade e a base fundamental e seguidas pelos maiores especialistas do mundo, www.cfn.org.br
também diminuir lesões. Há um des­ 5. https://portugues.medscape.com/features/slides/65000021#page=2, 10 de abril de 2018.

28 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


Fique Sabendo

Cuidados recomendados na
ureteroscopia flexível
Marcelo Denilson Baptistussi, urologista e diretor científico do ICEPS

E
m 1993 D. Bagley e M. também era muito conhecida, mas centini, Meller, Baptistussi, Morihisa,
Grasso, em parceria com sem grande desenvolvimento devi­ Hayacibara, Fugita e Andreoni) que
a empresa Storz, conse­ do à dificuldade de ensino e apren­ não vou enumerar para não come­
guiram criar e produzir dizagem. Com o passar dos anos ter erros, iniciaram a cirurgia renal
para uso o primeiro ure­ as empresas foram aperfeiçoando flexível com laser em condições difí­
teroscópio flexível (UF) com canal e melhorando seus equipamentos ceis, com aparelhos robustos e lito­
de trabalho, que permitiria realizar e o UF se tornou uma peça funda­ tritores não tão eficientes quanto os
a cirurgia totalmente endourológi­ mental para a realização dos pro­ que hoje dispomos em nosso meio.
ca, sem cortes ou alguma incisão cedimentos endourológicos. Em 2008 iniciaram-se cursos de
pequena na pele. Naquela época No Brasil, pioneiros como os cirurgia renal flexível na cidade de Ri­
a LECO estava apresentando um doutores Maríngolo, Milfon, Fortes, beirão Preto, que ao longo dos anos
momento inicial de desenvolvimen­ Xavier e tantos outros (entre eles foram continuamente realizados.
to e a cirurgia renal percutânea Mitre, Chambo, Brito, Mazuchi, Vi­ Nos últimos anos vários cursos fo­

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 29


Fique Sabendo

ram oferecidos em todas as regiões do de laser ao longo da fibra. Também é rio, que movimenta muito a deflexão,
país e no exterior. A partir de 2010, to­ importante evitar o disparo acidental para se encontrar dentro do sistema
dos os congressos nacionais e muitos do laser, sendo que devemos sempre urinário. Sempre que trocar de UF é
dos regionais começaram a oferecer ter o cuidado de verificar os pedais do necessário manter o sistema de de­
treinamento “hands on” de ureteros­ laser e do RX (para não se confundir) e flexão. Os aparelhos americanos e
copia flexível e laser, ajudando ainda manter sempre o laser em “stand by” europeus têm sistema Up and Down
mais na disseminação do procedimen­ quando a fibra está saindo, entrando ou invertidos, para evitar movimentos de
to entre os urologistas. Muito devemos fora, devendo haver uma comunicação deflexão em excesso. Deve-se usar
a algumas empresas que acreditaram permanente com operador do laser. sempre fibras com 200-273 microme­
nos treinamentos e propiciaram o cres­ tros, sondas extratoras <s que 2,4 FR
cimento deste tipo de procedimento. nC  orpo e reposicionar cálculos de polo inferior
Nos guidelines da AUA, em 1997, O uso das bainhas de acesso é mui­ sempre, para não usar deflexão manti­
não havia referências à ureterosco­ to importante na cirurgia flexível, mas da durante litotripsia com laser.
pia flexível e a evolução desta técni­ elas têm que ser posicionadas sempre
ca mudou totalmente o panorama no abaixo da JUP, para facilitar movimen n Li
 mpeza e esterilização
ano de 2018. Naturalmente, quando tação dos 5 cm finais do aparelho, É necessário ter cuidado de higienizar
surge uma nova tecnologia é neces­ que é a parte de deflexão ativa e pas­ o canal de trabalho, limpar a lente dis­
sário que haja um aprendizado ade­ siva. Sempre devemos usar bainhas tal com cotonete e álcool 70% e secar
quado, com todas as orientações, de 45 cm para homens, 35 cm para totalmente o equipo usando ar de bai­
bem como em relação aos cuidados mulheres e 20 cm para crianças, res­ xa pressão. Para esterilizar, usar óxi­
com o equipamento, que, neste caso, peitando situações excepcionais. do de etileno, Sterrad ou Cidex OPA,
não é muito durável devido à sua fra­ cada com suas características. Quan­
gilidade. Diante disto é importante que nA  rmazenamento do o aparelho é usado em um método
todos os médicos que praticam a UF Uma situação não incomum é a danifi­ não se aconselha utilizar um segundo
conheçam alguns detalhes técnicos, cação do equipamento no armazena­ método diferente de esterilização.
para evitar complicações e preservar mento. Por isso é importante ter uma
equipamento. Com relação ao equi­ instrumentadora cirúrgica capacitada Como evitar
pamento, basicamente devemos cui­ quanto à fragilidade do equipamento. complicações
dar de cinco aspectos: em cirurgia
nD eflexão As complicações cirúrgicas podem ser:
nC  anal de trabalho Talvez seja a mais frequente das le­
Para evitar danos ao canal de trabalho sões no equipamento flexível, muitas nA vulsão ureteral
devemos ter cuidado principal com vezes pela pouca prática do usuá­ Temível e rara, ocorre normalmente em
a inserção da fibra de laser. Como
essa fibra é de quartzo e o aparelho
tem uma ponta de PTFE, é necessário
termos o cuidado de não inserir a fi­
bra com aparelho em deflexão. Como
exceção lembrar que existe fibra com
ponta romba (a primeira inserção é
segura, mas depois do uso a ponta
perde sua característica romba) e em
alguns casos onde não conseguimos
reposicionar o cálculo de polo inferior
podemos inserir a fibra sem ponta (vi­
sualmente só vemos o ”core” da mes­
ma) com aparelho defletido, como se
fosse uma sonda extratora.
Devemos sempre acender luz piloto
do laser e apagar as luzes da sala ci­
rúrgica para verificar se não há escape

30 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


ureter superior. Sempre devemos usar re nas LECOs e também na cirurgia • sempre usar duplo J quando
sondas extratoras com parcimônia em renal percutânea. Devemos sempre usar bainha ou em procedimen­
ureter, com muita delicadeza ao tra­ ter urocultura prévia negativa e, para tos complexos.
cionar ou quando usar dilatadores se­ aqueles pacientes que tiveram ITU
quenciais ureterais. Na ureteroscopia, prévia à cirurgia, devemos sempre n Problemas na extração de
quando identificarmos ureteres não colher urina no ato da cirurgia, além pedras e uso de energia
complacentes, devemos evitar a as­ de enviar fragmentos de cálculo para Com relação ao aparelho de laser,
censão desse equipamento. Também cultura, pensando em uma possível deve-se ter cuidado de separar os
devem ser evitados tratamentos de cál­ infecção pós-operatória. Quando lida­ pedais do laser e do Raio X, para
culos ureterais superiores ou pélvicos mos com paciente com cálculo uretral não acionar inadvertidamente o la­
com aparelho semirrígido por tempo obstrutivo e cálculos renais, devemos ser. Nunca acionar o pedal com fibra
prolongado, pois a isquemia ureteral somente nos preocupar com cálculo dentro do flexível. Sempre deixar em
distal provocada pela parte mais cali­ ureteral, drenar o rim e, num segundo modo “stand by” na entrada e saída
brosa do aparelho pode facilitar a avul­ momento, após curada a ITU, intervir da fibra. Evitar acionar o pedal do la­
são durante a saída do equipamento. nos cálculos do paciente. ser por mais de 10 segundos a cada
vez, para evitar retropulsão e dano
nP  erfuração nS  angramento no equipamento. Evitar usar sondas
As injúrias ureterais e renais ocorrem Um dos problemas que podem abortar extratoras com ponta, para não dani­
com grande frequência devido à fra­ uma cirurgia flexível é o sangramento, ficar a mucosa e, com isto, provocar
gilidade da mucosa do trato urinário e devido à pouca irrigação pelo canal de sangramento. Procurar usar sondas
pelo fato de os aparelhos serem metá­ trabalho do flexível e grande dificuldade que facilitem a pega do cálculo e que
licos com capa de PTFE. Ocorrem em de visualização nessas condições. O tenham facilidade para soltá-lo.
0,8 a 6% dos casos e normalmente sangramento é muito frequente em UF
são diagnosticadas por visão direta ou (cerca de 28%) e a maioria é sangra­ nA  lta expectativa do paciente
pielografia. Para evita-las é necessário mento mínimo. Para evitar sangramen­ Creio que este seja o maior problema
manusear o equipamento gentilmente, tos, o fio guia deve ser inserido com da ureterescopia flexível, pois mui­
ter muito cuidado na inserção do fio- muito cuidado, sem ferir a mucosa. Não tos médicos não têm facilidade em
guia, identificar os ureteres não com­ usar alta pressão intrarrenal pela irriga­ seus serviços de fazer cirurgia renal
placentes e nunca forçar a subida do ção, evitar perfurar a mucosa durante a percutânea e ocorre uma indicação
aparelho. Usar sempre uma anestesia litotripsia com laser e manter uma boa maior de cirurgia renal flexível para
para que o paciente não se mova e anestesia, com pouca movimentação cálculos grandes. Nessas situações,
manter a bexiga drenada, além de usar do paciente durante a respiração. principalmente pelo fato de essa ci­
bainha ureteral. Não se deve aumentar rurgia ser feita por orifício natural e
a pressão intrarrenal com irrigação. nE  stenose obviamente ser preferida por médico
Na maioria das vezes é causada por e paciente, devemos ter o cuidado de
nA  lta pressão intrarrenal cálculo ureteral impactado por longo explicar que a cirurgia tem suas limi­
Talvez um dos grandes problemas en­ tempo, história prévia de RT ou ci­ tações e que pode ser necessário um
frentados atualmente, muitas vezes por rurgia ou, então, perfuração ureteral segundo – ou até um, terceiro – pro­
desinformação, seja o uso excessivo importante. Para evitar esse tipo de cedimento para resolução completa.
de irrigação com aumento da pressão complicação, deve-se: Ultimamente temos tido um de­
intrarrenal. Sempre devemos manter a • tratar precocemente cálculo ure­ senvolvimento maior de equipamentos
bexiga drenada: mulheres e crianças teral impactado; de laser que conseguem pulverizar
com sonda uretral 8-12 FR e homens • usar sempre fio-guia de trabalho os cálculos numa velocidade maior e
com sondas ou bainha do cistoscópio, e segurança; também estamos assistindo o advento
lembrando que nunca se deve usar • posicionar duplo J quando ne­ dos equipamentos descartáveis, que
com esta o flexível sem a bainha urete­ cessário e manter por mais tem­ tende a apresentar alta performance
ral, para não danificar o aparelho. po quando há lesões; e resolutividade. Esses fatores devem
• remover a bainha uretral sob vi­ impulsionar cada vez mais a cirurgia
n I nfecção são direta; flexível e, com isso, devemos estimular
As ITUs não são compatíveis com ci­ • realizar pielografia antes e após todos os urologistas a procurarem o
rurgia renal flexível, assim como ocor­ procedimento de rotina; e aprendizado adequado dessa técnica.

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 31


Sem Estresse

O prazer de produzir (e consumir)


sua própria cerveja
Cláudio Hideki Toi, assistente do Serviço de Urologia do Hospital Ipiranga

32 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


I
niciei a produção artesanal de as receitas de produção. Pesquisei
cerveja há cerca de dois anos também vídeos no Youtube sobre a
e meio e o faço para o consu­ produção e participei de um curso
mo próprio, da minha família e para cervejeiros iniciantes, onde tive
amigos. Tudo teve início quan­ a oportunidade de assistir algumas
do meu filho mais velho, Bruno, um brassagens (parte do processo em
apreciador de cerveja, começou que o malte da cerveja é mergulhado
a trazer cervejas artesanais para em água quente para extração dos
experimentarmos. Há três anos açúcares da cerveja). Em minhas
e meio estivemos na Alemanha e produções, compro receitas de 10
visitamos diversas cervejarias. Ele litros a cada duas semanas, variados
me explicou as variedades e de­ tipos de cerveja. Cada kit demora
gustamos vários tipos de cervejas em média 35 dias para a cerveja ficar
regionais. Depois disso, passamos pronta para o consumo.
a experimentar receitas de outros Um dos meus maiores praze­
países, como a Witbier, uma cerve­ res ao produzir cerveja, além da
ja de trigo belga, e as Ales inglesas, degustação da bebida, é poder ter
que são as preferidas do Bruno. a companhia do meu filho Bruno
O que despertou nossa curio­ (“primeiro auxiliar”) e minha espo­
sidade foi um programa de TV sa Eloise (“chefe do centro cirúr­
em que os participantes entravam gico”) nas diversas etapas do pro­
numa competição de cerveja e mui­ cesso e explorar o lado criativo do
tos deles faziam a cerveja no fogão meu filho Gustavo, que desenhou o
da própria casa em apartamentos rótulo da cerveja Toi’s Beer.
pequenos. Além disso, participei O fato de eu ser cirurgião me
de alguns cursos de degustação auxiliou na produção de cerveja,
com sommelier de cerveja, onde pois as etapas de produção são
fui informado da possibilidade de equivalentes aos tempos cirúrgi­
produzir cerveja caseira. cos. Lidar com os equipamentos
Perto de onde moro localizei cervejeiros é semelhante a lidar
uma loja de insumos e equipamen­ com os equipamentos cirúrgicos.
tos de cerveja onde pude degustar O cirurgião, por estar habituado
cervejas caseiras de diversos tipos. à perfeição na hora do trabalho, à
Tive a possibilidade de conversar melhoria na rapidez do processo e
com vários produtores de cerve­ à higiene e esterilização dos equipa­
jas caseiras e me convenci que era mentos, utiliza dos mesmos cuida­
possível realizar a produção na mi­ dos na hora da produção cervejeira.
nha própria casa. Minha família me Um conselho para quem quiser se
apoiou e incentivou. Então decidi aventurar nesse agradável mundo
pesquisar o material necessário. da produção de cervejas artesa­
O fato de eu ser
Uma dica para quem quiser nais: procure se interessar pela de­ cirurgião me
fazer a sua própria cerveja. As in­ gustação de cerveja, inicialmente.
formações básicas podem ser en­ Depois disso, busque algum parcei­
auxiliou na produção
contradas na própria loja de venda ro, como um familiar ou amigo que de cerveja, pois
de insumos. Ao comprar os kits de
equipamentos e insumos, obtive
divida o mesmo gosto pela cerveja
e o interesse pela produção.
as etapas são
equivalentes aos
tempos cirúrgicos.

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 33


A G E

CALENDÁRIO

48ª Reunião Anual

Independence Hall

Uro-Onco
Litoral 2018

D
iante dos resultados
positivos alcançados
no ano passado com
a realização do primeiro

E
Uro-Onco Litoral, que teve
ntre os dias 28 e 31 de agosto será rea­ a participação de mais de
lizada na Filadélfia (Pensilvania, Estados 300 especialistas, a SBU
Unidos) a 48ª Reunião Anual da Interna­ -SP dará continuidade à
tional Continence Society, presidida pelo iniciativa. De 2 a 4 de no-
Prof. Alan Wein. O encontro reunirá reno­ vembro deste ano aconte-
mados especialistas internacionais em pesquisa e cerá, no Casa Grande Ho-
tratamento de disfunções dos órgãos pélvicos e do tel do Guarujá, o Uro-Onco
assoalho pélvico, com especial atenção à inconti­ litoral 2018.
Durante o evento se-
nência. O evento é multidisciplinar, envolvendo to­
Liberty Bel
l rão discutidas novas tec-
dos os profissionais que atuam na área: urologistas,
nologias e tratamentos
ginecologistas, neurologistas, fisioterapeutas, enfer­
para combater o câncer
meiros, parteiras e pesquisadores.
de próstata, testículo, pê-
O programa abordará a importância do diag­
nis, bexiga e rim. Os orga-
nóstico e tratamento da incontinência e outras dis­
nizadores acreditam que
funções dos órgãos pélvicos e do assoalho pélvico.
neste ano se repetirá ou
Os destaques do programa incluem palestras sobre
aumentará a aceitação do
o estado da arte em temas como “Sensibilidade do evento, que na primeira
Trato Urinário Inferior – Desconforto Miccional” e “O edição atraiu profissionais
Futuro dos Eletrocêuticos - Dispositivos Implantá­ de diversas localidades
Reading
veis no Trato Urinário Inferior”. Além disso, serão Terminal
Market do país, como Bahia, Dis-
realizadas mesas redondas abordando temas rele­ trito Federal, Goiás, Mi-
vantes como “Redes de Pesquisa Clínica em LUTS, nas Gerais, Pernambuco,
dos Institutos Nacionais de Saúde”, e “Noctúria e Santa Catarina e Rio de
suas consequências”, “Envelhecimento Vesical”, Janeiro, além do estado
“Considerações da ICS sobre Tecnologia Emergen­ de São Paulo.
te e Incontinência” e “Papel do Sistema Nervoso”. Informações no site
Informações e inscrições pelo site www.ics. sbu-sp.org.br
org/2018.
Hall
hia City
Philadelp

34 BIU · Boletim de Informações Urológicas · Mar/Abr 2018


N D A

u rol ó g ico

Conheça os palestrantes
estrangeiros que
participarão do

XV congresso
paulista
Bertrand Guillonneau Brian R. Matlaga (EUA) Cesare Marco
(França) Professor de Urologia. Diretor Scoffone (Itália)
Chefe de Urologia do Groupe da Divisão de Doenças Litiásicas, Chefe do Departamento

de urologia
Hospitalier Diaconesses Croix Johns Hopkins Medical de Urologia, Hospital
Saint-Simon, Paris Institutions, Baltimore Cottolengo, Torino

O XV congresso paulista de
urologia, organizado pela sbu-sp,
reunirá respeitados nomes da
urologia mundial.
veja quem serão os palestrantes
estrangeiros nesse evento que
acontecerá entre os dias 6 e 8 Christofer Wood (EUA) Craig Donatucci (EUA) Fernando Kim (EUA)
Professor de Urologia, Chefe Urologista do Duke Regional
de setembro no wtc de são paulo do Departamento de Urologia Hospital e Duke University
Professor de Urologia, Chefe
do Departamento de Urologia,
– MD Anderson Cancer Center Denver Health Medical Center,
Universidade do Colorado

Francisco Cruz (Portugal) Gommert A Van Gregg Eure (EUA) John Denstedt (Canadá) Juan Pablo
Professor de Urologia, Chefe do Koeveringe (Holanda) Urologista - Eastern Professor de Urologia – Corbetta (Argentina)
Departamento de Urologia da Chefe do Departmento Virginia Medical School Departamento de Cirurgia Urologista – Hospital
Faculdade de Medicina do Porto. de Urologia - Maastricht Western University Pediátricol Dr. Juan P.
Chefe da Seção Europeia de University Medical Center Garrahan | Samic · Urology
Urologia Feminina e Funcional

Laurence Klotz (Canadá) Max Kates (EUA) Michael A. Gorin (EUA) Neal Shore (EUA) Paul Austin (EUA)
Professor do Departamento de Urologista, Johns Hopkins Professor de Urologia, Diretor Carolina Urologic Professor de Cirurgia Urológica
Cirurgia da Universidade de Hospital, Baltimore Faculdade de Medicina - Research Center – Baylor College of Medicine,
Toronto. Chefe da Federação Johns Hopkins University Diretor do Programa de Ciência
Mundial de Uro-Oncologia (Wuof) Básica em Urologia Pediátrica,
Texas Children`S Hospital

Informações e inscrições: congressopaulistadeuro2018.com.br

Mar/Abr 2018 · Boletim de Informações Urológicas · BIU 35


XV Congresso
Paulista de Urologia
SAVE THE DATE!
06 a 08 setembro 2018
São Paulo | WTC

congressopaulistadeuro2018.com.br

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