Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
C O N S E L H O B R A S I L E I R O DE O F T A L M O L O G I A
3* Edição
Coordenador
MILTON RUIZ ALVES
BANCO DE OLHOS,
TRANSPLANTE DE CÓRNEA
HAMILTON MOREIRA
LUCIENE BARBOSA DE SOUSA
ELCIO HIDEO SATO
MARCO ANTÔNIO REY DE FARIA
CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA
SERIE
OFTALMOLOGIA BRASILEIRA
3a Edição
BANCO DE OLHOS,
TRANSPLANTE DE CÓRNEA
2013-2014
SÉRIE
OFTALMOLOGIA BRASILEIRA
Conselho Brasileiro de Oftalmologia - CBO
BANCO DE OLHOS,
TRANSPLANTE DE CÓRNEA
EDITORES
COORDENADOR
Milton Ruiz Alves
m
GUANABARA C u ltu ra Médica®
KOOGAN
Rio de Janeiro - RJ - Brazil
V
CIP-BRASIL. CATALOGAÇAO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B161
3. ed.
Banco de olhos, transplante de córnea/editores Hamilton Moreira, ... [et al.j; coordenador Milton
Ruiz Alves. - 3.ed. - Rio de Janeiro: Cultura Médica: Guanabara Koogan, 2013.
11. (Oftalmologia Brasileira / CBO)
1. Banco de olhos. 2. Transplante de córnea. 3. Córnea - Cirurgia. I. Moreira, Hamilton. II. Alves, Milton
Ruiz. III. Conselho Brasileiro de Oftalmologia. IV. Série.
Esta obra está protegida pela Lei n° 9.610 dos Direitos Autorais, de 19 de fevereiro de 1998, sanciona
da e publicada no Diário Oficial da União em 20 de fevereiro de 1998.
Em vigor a Lei n- 10.693, de I a de julho de 2003, que altera os Artigos 184 e 186 do Código Penal e
acrescenta Parágrafos ao Artigo 525 do Código de Processo Penal.
Caso ocorram reproduções de textos, figuras, tabelas, quadros, esquemas e fontes de pesquisa, são de
inteira responsabilidade do(s) autor(es) ou colaborador(es).
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Cultura Médica®
Rua Gonzaga Bastos, 163
20541-000 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.(55 21)2567-3888
Site: www.culturamedica.com.br
e-mai 1: cu 11tira@cu 1turamed ica.com.br
VI
Colaboradores
VII
Apresentação
IX
Agradecimentos
A lca rí
a Novartis company G EN O M
OFTALMOLOGIA
XI
Sumário
SEÇÃO I
Banco de Tecidos Oculares
1 Introdução.................................................................................................................................................................3
Luciene Barbosa de Sousa • Hamilton Moreira • Marco Antônio Rey de Faria
2 Distribuição de Córneas.................................................................................................................................13
Luciene Barbosa de Sousa
6 Septicemia.............................................................................................................................................................. 27
Daniel Wasilewski • Guilherme José Nunes Marques Rocha • Peter J . McDonnell
XIII
8 Doadores com Câncer............................................................................................................... 31
Daniel Wasilewski • Hamilton Moreira
9
r
XIV
21 Mudanças nos Bancos de Olhos com as Novas Técnicas de Transplante de Córnea. . .67
Luciene Barbosa de Sousa
SEÇÃO II
Transplante de Córnea
24 Histórico................................................................................................................................................................. 75
Wallace Chamon
26
r
28 Ceratoplastia Penetrante................................................................................................................................ 93
Mareia Higashi • Elcio Hideo Sato
32 Transplante Tectônico....................................................................................................................................107
Samir Jacob Bechara • Gleisson Rezende Pantaleão • Hamilton Moreira
XV
33 Epiceratoplastia 109
Alexandre Seminoti Marcon
36 Ceratoprótese....................................................................................................................................................115
Lúcio Hercuiano Calvão Dantas
SEÇÃO III
Manejo Pós-Operatório e Complicações
XVI
45 Ceratopatia Cristalina Infecciosa................................... 157
Rafael Allan Oechsler
SEÇÃO IV
Transplante em Situações Especiais
r
índice Alfabético.................................................................................................. 183
XVII
Banco de Tecidos Oculares
Introdução
No Brasil, a implantação de bancos de olhos teve início há mais de meio século. A partir da dé
cada de 1990, as atividades começaram a ser profissionalizadas e melhores resultados foram
sendo obtidos em algumas regiões do País.
Em setembro de 2001, através da portaria 1.559/GM, foi criado o Sistema Nacional de
Transplantes (SNT). Em função da grande lista de espera para transplante de córnea, na mesma
época foi instituído o Programa Nacional de Implantação de Bancos de Olhos. Esse programa
teve por objetivo gerar as condições necessárias para a implantação de 30 bancos de olhos
a serem distribuídos estrategicamente em todo o País, como forma de viabilizar e estimular
a ampliação do número de captações de córneas para transplante, garantir adequadas condi
ções técnicas e de segurança para essa captação e ampliar o número de transplantes de córnea
no Brasil.
Todo o planejamento foi feito visando reduzir o tempo de espera dos candidatos ao trans
plante de córnea. Os bancos de olhos devem ter estreita articulação com as Centrais de No-
r
3
4 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
tecidos de acordo com a lista de espera. O gerenciamento dessa lista, a análise dos casos es
peciais ou de emergência e a fiscalização da qualidade das cirurgias ficaram sob a responsabili
dade do Estado. Todas essas etapas estão sujeitas à fiscalização do Ministério Público (Portaria
n- 1.559/GM de 6 de setembro de 2001).
Mesmo com as mudanças significativas evidenciadas, o número de doações de córneas no
Brasil e, consequentemente, de transplantes de córnea poderia ser bem maior se os bancos de
olhos contassem com os recursos mínimos necessários para o correto funcionamento.
Espalhadas pelo País, existem aproximadamente 68 equipes responsáveis pelo funciona
mento dos bancos de olhos de suas regiões. Essas 68 unidades, em diferentes estágios de
organização e/ou funcionamento, têm enfrentado várias dificuldades para cumprir as tarefas
que lhes competem e prestar um serviço de qualidade para a sociedade. Entre os obstáculos,
a falta de recursos financeiros para estruturação e manutenção das atividades (adequação do
espaço físico); compra de equipamentos, de materiais de consumo e de meios de preservação;
contratação de recursos humanos e estabelecimento de sistema de transporte e comunicação
para atendimento 24 h.
Os recursos, previstos na legislação para reembolso dos procedimentos realizados pelos
bancos de olhos, são insuficientes para cobrir os custos e, na maioria dos casos, não são apli
cados ao que se destinam, pois são pagos às instituições hospitalares onde os bancos de olhos
estão instalados. Ou seja, falta autonomia gerencial. O número de equipes e bancos de olhos
é apropriado em quantidade. Comparando com os Estados Unidos, onde existem cerca de 85
bancos de olhos, vemos que os problemas no Brasil são gerenciais. A capacidade de trabalho
instalada, com 68 equipes, seria adequada e suficiente para atender à população.
Outra dificuldade é a falta de orientação específica sobre o processo de doação de córne-
r
TABELA I Número de transplantes de órgãos por unidade da Federação entre janeiro e dezembro de
2001
TABELA II Número de transplantes de órgãos por unidade da Federação entre janeiro e dezembro de 2002
TABELA III Número de transplantes de órgãos por unidade da Federação entre janeiro e dezembro de 2003
TABELA IV Número de transplantes de órgãos por unidade da Federação entre janeiro e dezembro de 2004
TABELA V Número de transplantes de órgãos por unidade da Federação entre janeiro e dezembro de 2005
TABELA VI Número de transplantes de órgãos por unidade da Federação entre janeiro e dezembro de 2006
0continuo)
8 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
TABELA VI Número de transplantes de órgãos por unidade da Federação entre janeiro e dezembro de 2006
(<continuação)
Em 2001, o SNT registrou 6.193 transplantes de córneas, aumentando para 9.848 trans
plantes em 2006. Quando comparamos os números de transplantes de rins, vemos um au
mento de 2.672 em 2001 para 2.904 em 2006. Esses dados significam um aumento de 59%
nos transplantes de córneas, comparado com apenas 8,6% nos transplantes de rins em 6 anos.
Observa-se, entretanto, que as diferenças entre os diversos Estados da Federação são menores
em relação aos outros órgãos, quando comparados com os transplantes de córneas.
Quando comparamos o número de transplantes de córnea em 2001 nos três Estados da
Região Sul em conjunto (1.166), os Estados da Região Sudeste, exceto São Paulo (1.011), e o
Estado de São Paulo isolado (2.623), percebemos o aumento significativo de transplantes de
córnea e suas diferenças regionais. Em 2006, 5 anos de intervalo, tivemos um crescimento na
Região Sul de 46% (1.705), na Região Sudeste, exceto São Paulo, diminuição de 20,9% (800) e,
no Estado de São Paulo isoladamente, crescimento de 81,3% (4.756). Percebe-se também um
paralelo entre os transplantes de rins e os de córnea. No mesmo período, tivemos um cres
cimento de 23,5% nos transplantes de rins na Região Sul, um decréscimo de 24,7% na Região
Sudeste, exceto São Paulo, e crescimento para o Estado de São Paulo isolado de 15,8%.
Por outro lado, vemos que, até 2008, havia maior crescimento no número de transplante
de córneas em relação aos outros transplantes; entretanto, ao observarmos o relatório anu-
r
al da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (RTB 2008, 2009, 2010), notamos uma
pequena e preocupante queda com tendência a estabilização no número de transplantes de
córnea entre 2008 e 2010 em todo o Brasil. Em 2008 = 13.341 transplantes, 2009 = 12.723
transplantes e 2010 = 12.788 transplantes.
Introdução 9
Com base nesse relatório mais recente da ABTO, observamos que, em número absoluto,
São Paulo continua disparado como o Estado que mais transplantes de córnea realizou (5.767
em 2010). Porém, quando estudados a relação entre o número de transplantes por milhão de
habitantes, constatamos que o Distrito Federal se encontra no mesmo patamar que São Paulo
(140/milhão de habitantes) (Gráficos 1 e 2) e que temos 9 Estados com mais de 60/milhão de
habitantes, sendo 3 da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), 3 da Região
Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso), 2 da Região Sudeste (São Paulo e Minas
Gerais) e 1 da Região Nordeste (Rio Grande do Norte).
SP MG PR RS PE SC CE GO DF RN BA PB MS ES PI PA RJ MA AM SE AL MT AC
■ Total de transplantes
Gráfico 1 RTB2010.
■ Total de transplantes
Gráfico 2 RTB2010.
10 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Esses dados deixam evidente que começa, timidamente, a haver uma melhor distribuição
no número de transplantes de córnea entre os Estados brasileiros, porém há números preocu
pantes como os do Rio de Janeiro, segunda maior cidade do Brasil, ex-capital federal, apenas
17â colocada em números absolutos e última colocada na relação transplantes/milhão de ha
bitantes. Além do mais, há 6 Estados com menos que 20 transplantes/milhão de habitantes.
Isto mostra que há desequilíbrios de eficiência das diversas equipes de captação e, pro
vavelmente, um modus operandi diferenciado entre algumas delas, tornando-as umas mais ou
menos efetivas que as outras.
r
BIBLIOGRAFIA
Associação Pan-Americana de Bancos de Olhos, APABO. Disponível em: http://www.apabo. com.br.
Brasil. Extrato de Estatuto, n- 14.640, de 28/07/49, sobre a fundação do Banco de Olhos Sociedade Civil de Assistência So
cial e Pesquisa Científica Oftalmológica [Rio de Janeiro], Diário Oficial [dos] Estados Unidos do Brasil, Seção I, 30/07/49,
Rio de Janeiro, Capital Federal.
Brasil. Portaria/GM n2 92, de 23/01/01. Portaria/GM n2 1.117, de 01/08/01. Portaria/GM n2 2.280, de 28/11/03. Disponíveis
em: http://dtr2001 .saude.gov.br/ transplantes/legislacao.htm.
Dados Estatísticos, Sistema Nacional de Transplantes, SNT, Ministério da Saúde. Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.
b r/transplantes.
Dados Estatísticos, Associação Brasileira de Transplante de Órgãos - ABTO. Disponível em: http://www.abto.org.br.
PM
Distribuição de Córneas
A distribuição de córneas e outros tecidos oculares é feita pelas CNCDO (Central de Notifica-
r
ção, Captação e Distribuição de Órgãos) estaduais e/ou nacional, obedecendo ao tempo de
corrido da inscrição na lista única, como determinado na Portaria GM n° 3.407 de 5 de agosto
de 1998.
Em relação à data de inscrição na lista única, sabemos que a lista é estadual e até mesmo
regional em alguns Estados do Brasil. Passa a ser respeitada a data de ingresso na lista, caso
ocorram transferência da inscrição para outra região ou uma distribuição de córnea pela Cen
tral Nacional.
Essa mesma portaria determina ainda os critérios de urgência, ou seja, as situações em
que a distribuição do tecido é priorizada. São elas:
■ Falência primária de enxerto, ou seja, estado de opacidade com duração superior a 30 dias
a partir da realização do transplante (em alguns Estados, esse tempo é de 90 dias).
r
ao banco de olhos que forneceu o tecido. E responsabilidade do banco de olhos enviar o teci
do para comprovação do diagnóstico com estudo anatomopatológico.
O fator idade do doador é motivo de confusão na distribuição das córneas. Mesmo com
evidências científicas demonstrando que a importância maior é a qualidade do tecido, a idade
passou a ser fator importante na distribuição das córneas. Muitos cirurgiões ainda colocam
a idade avançada do doador como um impedimento para aceitação de determinado tecido
para um paciente receptor jovem. Existem várias evidências comprovando que uma córnea
13
14 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
com idade mais avançada (70 anos, por exemplo) pode estar em melhores condições para o
transplante penetrante que outra de 15 anos. O que determina a retirada da córnea, o meio
de conservação e o tempo de armazenamento são tão importantes quanto à idade do doador,
além de outras variáveis que veremos mais adiante.
BIBLIOGRAFIA
Associação Pan-Americana de Bancos de Olhos, APABO. Disponível em: http://www. apabo.com.br.
Brasil. Extrato de Estatuto, n- 14.640, de 28/07/49, sobre a fundação do Banco de Olhos Sociedade Civil de Assistência So
cial e Pesquisa Científica Oftalmológica [Rio de Janeiro], Diário Oficial [dos] Estados Unidos do Brasil, Seção I, 30/07/49,
Rio de Janeiro, Capital Federal.
Brasil. Portaria/GM n2 92, de 23/01/01. Portaria/GM n2 1.117, de 01/08/01. Portaria/GM n2 2.280, de 28/11/03. Disponíveis
em: http://dtr2001 .saude.gov.br/ transplantes/legislacao.htm.
Dados Estatísticos, Sistema Nacional de Transplantes, SNT, Ministério da Saúde. Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.
br/trans plantes.
Critérios de
Exclusão do Doador
E importante lembrar que o Brasil ainda não tem uma sociedade conscientizada suficiente
mente para a doação de órgãos para transplante. Assim, devemos ter sensibilidade ao excluir
mos um doador. 0 banco de olhos local, ao ser chamado para uma retirada de córnea, deve ter
muito cuidado para recusar um doador. Essa atitude somente pode ser tomada após constatar
que existe algum risco para o profissional captador, ou após comprovação de que determinada
doação não será utilizada nem mesmo para pesquisas.
A atenção aos chamados de doação é de fundamental importância para estimular a socie
dade sobre a necessidade de doação. Na maioria dos casos, somente após a retirada e análise
do tecido e sorologia é que iremos determinar o seu correto destino. Em regiões onde existe
uma carência muito grande de córneas, um tecido sem condições para transplante penetrante
poderá ser utilizado para cirurgias lamelares ou tectônicas.
A triagem para a possível exclusão de um doador segue quatro passos bem definidos: 1)
história clínica do doador; 2) exame físico do doador; 3) testes sorológicos; e 4) avaliação do
tecido.
Os critérios de exclusão são em todo o mundo baseados nos padrões adotados pela EBAA
(Eye Bank Association of América - Medical Standards) e aprovados pela Academia Americana
de Oftalmologia. A Associação Pan-Americana de Bancos de Olhos segue os mesmos padrões.
Eles existem para garantir que o tecido doado seja de alta qualidade, e que o doador não apre
sente doenças que possam ser transmitidas ao receptor.
Os critérios de exclusão da córnea doada são:
1) Morte de causa desconhecida.
2) Doença de Creutzfeldt-Jacob, ou qualquer variante.
3) Morte por doença neurológica com diagnóstico não estabelecido.
4) Demência, exceto aquelas provocadas por doença cerebrovascular, tumor cerebral ou trau
ma craniano.
15
16 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
O Brasil é um dos poucos países que estabelece em portaria ministerial esse tempo como
máximo de 6 h, ou 24 h com córneas refrigeradas. Isto prova um desconhecimento científico
sobre o assunto, pois, em um país continental, as temperaturas variam imensamente. Nem
mesmo a EBAA (Eye Banking Association of América) estabelece um prazo fixo para a retirada,
e, apesar de sabermos que quanto mais breve esse tempo melhor será o tecido, não podemos
Critérios de Exclusão do Doador 17
BIBLIOGRAFIA
Chu W. The past twenty-five years in eye banking. Cornea, 2000; 19(5)754-65.
Glasser DB. Medical standards for eye banking. In: Krachmer JH, Mannis MJ, Holland EJ. Cornea. Philadelphia: Elsevier/
Mosby, 2005; p. 411 -20.
Wilson SE, Bourne WM. Corneal preservation. Surv Ophthalmol, 1989; 33:237-59.
Riscos de Transmissão de
Infecção
HEPATITES B E C
a positividade dos exames. E importante lembrar que o teste de ELISA apresenta alto grau de
sensibilidade, porém é pouco específico; já a PCR (Polymerase Chain Reaction) apresenta alto
grau de sensibilidade e especificidade.
Um estudo realizado por Sengler et ai (2001) avaliou, por meio de ELISA e PCR, a detec
ção do DNA do vírus da hepatite B (HBV-DNA) e o RNA do vírus da hepatite C (HCV-RNA) em
amostras de soro, meios de cultura tecidual e córneas de doadores com teste soropositivo
para HBsAg. Os resultados mostraram a detecção de ácido nucleico virai em 6 das 17 amostras
de soro de doadores positivos para HBsAg e em 6 das 14 amostras positivas para anti-HCV. Os
19
20 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
genomas virais não foram detectados nos meios de cultura tecidual, na região central das cór
neas, e nem nos anéis corneoesclerais através da PCR. Em relação ao RNA do vírus da hepatite
C, 2 dos 27 meios foram positivos em baixíssimas concentrações de cópias virais, utilizando
um método mais sensível (amplificação mediada por transcrição - TMA). Ou seja, o risco de
transmissão do vírus da hepatite B ou da C através de ceratoplastia penetrante parece ser
muito baixo.
Apesar disso, um estudo realizado por Lee et al. (2001), utilizando a PCR para detecção do
HCV-RNA, demonstrou que, de 29 córneas de doadores soropositivos, 7 (24,1%) confirmaram a
presença do HCV-RNA. Esse foi o primeiro estudo que demonstrou uma correlação significati
va entre a soropositividade do HCV e a presença do HCV nas córneas. Por isso, testes sorológi-
cos de rotina para HCV, para todos os potenciais doadores de córneas, e o descarte de tecidos
baseado na soropositividade do HCV são certamente justificáveis.
Em relação à pesquisa do anti-HBC, Mattern e Cavanagh (1997) mostraram que não há evi
dência suficiente que justifique a introdução desse exame como rotina nos testes sorológicos
para doadores de córnea.
Contudo, existem trabalhos mostrando que, em casos duvidosos, é extremamente impor
tante a utilização de testes confirmatórios para vírus de superfície da hepatite B (HBsAg) a fim
de reduzir a frequência de exames falso-positivos. Durante o ano de 1994, 11,4% dos tecidos
usados para ceratoplastia penetrante foram obtidos de doadores com exames falso-positivos
para hepatite B.
HIV
No entanto, é importante lembrar que a entrevista médica social pós-morte, apesar de extre
mamente importante, não pode presumir conhecimento completo dos riscos de doenças poten
cialmente transmissíveis dos doadores. Um estudo realizado por Scardino et ai (2002) mostrou que
parentes de jovens doadores tatuados tendem a dar respostas inconsistentes sobre fatores de risco
relacionados às doenças infecciosas, principalmente nos casos de morte por traumatismo.
Um estudo publicado por Goode, Hertzmark e Steinert (1988) mostrou que o risco de um
paciente submetido a ceratoplastia penetrante receber uma córnea de um doador infectado
por HIV, apesar de resultados sorológicos negativos do soro do doador, é de 0,03%.
O transplante de córnea já foi provado ser uma via potencial de transmissão de infecção por
herpes vírus simples (HSV), a qual deve ser levada em consideração pelos bancos de olhos. A
transmissão do HSV leva à falência primária do botão, podendo induzir à reativação do vírus
no receptor, geralmente na forma dendrítica ou em formas atípicas. No entanto, é difícil pro
var que uma infecção herpética pós-operatória em um transplante de córnea é proveniente da
córnea doadora, já que a maioria dos receptores que desenvolvem a infecção tem sorologia
positiva para HSV.
Alguns casos suspeitos de soroconversão herpética pós-ceratoplastia já foram publicados
na literatura, mas são muito raros. Um estudo de Robert et a i (2006), analisando a presença
de anticorpos circulantes contra HSV, VZV, CMV e EBV antes e depois do transplante em 117
receptores, mostrou que a soroconversão não é significativa. Apesar disso, deve-se investigar
qualquer história que indique infecção herpética prévia no doador.
Robert et ai (2003) confirmaram observações prévias da presença do DNA do HSV no teci
do corneano de pacientes soropositivos para HSV, a qual, aparentemente, não estava relacio
nada a nenhuma manifestação clínica de infecção herpética. No entanto, como demonstrado
pela cultura, o HSV continua a ser transmitido e pode induzir infecção do doador para o re
ceptor em transplante de córneas.
CMV E HTLV
Com o objetivo de prevenir uma infecção após o transplante, pode-se realizar cultura
microbiológica no momento da captação corneana através de irrigação da superfície corneana
22 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
SÍFILIS
A prática atual, na qual os bancos de olhos rastreiam córneas doadoras para sífilis, é baseada
principalmente na utilidade potencial da sorologia positiva para sífilis como um marcador para
a infecção pelo HIV-1 (vírus da imunodeficiência humana). Goldberg et ai (1995) analisaram
a correlação entre positividade para sífilis e HIV-1 entre a população de potenciais doadores,
concluindo que nenhum doador com sorologia positiva para sífilis foi também soropositivo
para HIV-1. Também foi observada uma alta incidência (38,7%) de exames sorológicos falso-
positivos para sífilis, já que 12 dos 31 doadores que apresentaram positividade no VDRL con-
firmaram-se negativos quando realizado o FTA-ABS. Ou seja, entre os potenciais doadores de
córnea, sorologia positiva para sífilis parece ser um pobre marcador para infecção pelo HIV-1.
Portanto, o papel da sorologia para sífilis precisa ser reavaliado.
No caso da sífilis, a Associação Pan-Americana de Bancos de Olhos (APABO) não pede teste
de rotina em todos os doadores [Normas Médicas da Asociacion Pan-Americana de Bancos de
Ojos (APABO) 1998]. A utilização da sorologia positiva para sífilis como marcador para infecção
pelo HIV, na tentativa de detectar os casos de infecção sem soroconversão, mostrou-se inefi
caz. Não só não há relatos de transmissão da sífilis através de transplantes de córnea, como
há relatos de doação de órgãos sólidos de pacientes sabidamente sifilíticos, que, através da
profilaxia antibacteriana, não transmitiram sífilis aos receptores.
DOENÇA DE CHAGAS
A doença de Chagas, causada pelo parasito Trypanosoma criizi, é endêmica em algumas áreas
da América Latina, incluindo certas regiões do Brasil. Acredita-se que aproximadamente 18
milhões de pessoas apresentem a doença. O Trypanosoma cruzi é transmitido primariamente
24 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Krachmer JH, Mannis MJ, Holland EJ. Cornea: Fundamentals of Cornea and External Disease. Volume I. St. Louis: Mosby,
1997; p 489.
Lee HM, Naor J, Alhindi R, ChinfookT, Krajden M, MazzulliT, Rootman DS. Cornea. 2001 Jan; 20(1):37-40. Detection of he
patitis C virus in the corneas of seropositive donors.
Lenzi HL, Oliveira DN, Lima MT, Gattass CR. Trypanosoma cruzi: pan infectivity of CL strain during murine acute infection.
Exp Parasitol, 1996; 84(1 ):16-27.
Mattern RM, Cavanagh HD. Cornea. 1997 Mar; 16(2):138-45 Should antibody to hepatitis B core antigen be tested in routi
ne screening of donor corneas for transplant?
Migden MR, Dennis WH, Clinch TE. Am J Ophthalmology, 1996 Sep; 122(3):439-42. Testing for hepatitis B surface antigen
in processing donor tissue for penetrating keratoplasty.
MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2006; 55(29): 798-800. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Chagas disease
after organ transplantation-Los Angeles, California, 2006.
Remeijer L, Maertzdorf J, Doornenbal P, Verjans GM, Osterhaus AD. Lancet, 2001 Feb 10; 357(9254):442 Herpes simplex
virus 1 transmission through corneal transplantation.
Robert PY, Adenis JP, Denis F, Drouet M, Ranger-Rogez S. J Fr Ophthalmol, 2006 Mar; 29(3):259-63. [Herpesviruses serologic
survey of corneal allograft recipients.]
Robert PY, Adenis JP, Denis F, Ranger-Rogez S. Clin Lab, 2005; 51 (7-8):419-23 Transmission of viruses through corneal trans
plantation.
Robert PY, Adenis JP, Denis F, Ranger-Rogez S. Clin Lab, 2005; 51(7-8):419-23.Transmission of viruses through corneal trans
plantation.
Robert PY, Adenis JP, Pleyer U. Klin Monatsbl Augenheilkd, 2005 Nov; 222(11):870-3. [How"safe"is corneal transplantation?
A contribution on the risk of HSV-transmission due to corneal transplantation].
Robert PY, Camezind P, Drouet M, Ploy MC, Adenis JP. Internal and external contamination of donor corneas before in situ
excision: bacterial risk factors in 93 donors. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmology, 2002 Apr; 240(4):265-70.
Robert, Adenis JP, Denis F, Alain S, Ranger-Rogez S. J Med Virol, 2003 Sep; 71(1):69-74 Herpes simplex virus DNA in corneal
transplants: prospective study of 38 recipients.
Robert, Adenis JP, Denis F, Ranger-Rogez S. Clin Lab, 2005; 51 (7-8):419-23. Transmission of viruses through corneal trans
plantation.
Scardino MK, Hwang SJ, Hanna CL, Danneffel-Mandelkorn MB, Wilhelmus KR. Cornea, 2002 Nov; 21 (8):798-802.The post
mortem sociomedical interview: uncertainty in confirming infectious disease risks of young tattooed donors.
Schearz A, Hoffman F, L'age-Stehr J, Tegzess AM, Offermann G. Transplantation, 1987 Jul; 44(1 ):21-4 Human immunodefi
ciency virus transmission by organ donation. Outcome in cornea and kidney recipients.
Schwarz A, Hoffmann F, L'age-Stehr J, Tegzess AM, Offermann G. Human immunodeficiency virus transmission by organ
donation. Outcome in cornea and kidney recipients.Transplantation, 1987; 44(1 ):21 -4.
Sengler U, Reinhard T, Adams O, Gerlich W, Sundmacher R. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmology, 2001 Oct; 239(10): 783-
7. Testing of corneoscleral discs and their culture media of seropositive donors for hepatitis B and C virus genomes.
Simonds RJ, Holmberg SH, Hurwitz RL, Coleman TR, Bottenfield S, Conley LJ, Kohlenberg SH, Cairo KG, Dahan BA, Schable
CA e t o l. N. Engl J Med, 1992 Mar 12; 326(11):726-32 Transmission of human immunodeficiency virus type 1 from a se
ronegative organ and tissue donor.
Sorologia Obrigatória -
Interpretação dos Testes
Sorológicos
Os exames sorológicos obrigatórios após a retirada do tecido ocular são: HBsAg (EIA - enzytne-
-linked immuno-absorbent cissay), Anti-HBc (Total EIA), Anti-HCV (EIA) e Anti-HIV 1 e 2 (EIA).
Entre todos os exames, os que podem trazer dúvidas nas suas interpretações são os exa
mes para identificação de hepatite B.
A presença de HBsAg positivo significa infecção ativa do doador. Quanto ao Anti-HBc, exis
te uma dosagem de IgG, IgM e de imunoglobulina total. A dosagem de IgM positiva acontece
no início da infecção e se torna negativa mesmo com a presença da doença crônica, enquanto
a IgG aparece tardiamente e permanece indefinidamente. Quando a dosagem é feita separada
mente, a presença de IgG positiva indica o contato, mas não que a doença está ativa. Assim, na
sua presença específica, seria indicada a realização de Anti-HBs, que, quando positivo, indica
fase não infecciosa da doença (imunidade) (Tabela I).
Alterações normais que ocorrem no sangue de indivíduos após a morte, como hemólise e
reações cruzadas, podem apresentar resultados falso-positivos em testes para detecção de an-
tígenos e anticorpos para doenças virais em doadores potenciais. Isso pode levar ao descarte
de tecidos com boa possibilidade de serem usados em transplantes.
25
26 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Devido à escassez de tecidos e órgãos doados no Brasil, uma possibilidade em casos duvi
dosos seria testar o sangue em outro kit para detecção de antígenos/anticorpos virais. Como
demonstrado por Padley et ai (2005), resultados de testes com 104 amostras de 97 indivíduos
demonstraram que alguns kits resultam em um número maior de resultados positivos que ou
tros, principalmente o HbsAg, com uma positividade de cerca de 40% entre os kits.
Outra possibilidade seria testar os casos duvidosos com PCR (Polymerase Chain Reaction),
pois esse tipo de teste é mais específico que as sorologias, pelo fato de basear-se em técnicas
de extração do DNA de partículas virais circulantes.
Miedouge et ai. (2002) também demonstraram, por meio da pesquisa por PCR, que amos
tras de sangue coletadas até 48 h após a morte em doadores de córnea apresentam 14,4% de
resultados sorológicos indeterminados em comparação com 1,8% de resultados indetermina
dos em amostras retiradas de doadores de órgãos com função cardíaca normal e apenas morte
encefálica. Nesse estudo houve 84% (16/19) de resultados indeterminados para HIV-1 e 100%
(4/4) para o HCV, que se mostravam negativos pelo PCR. Isto demonstra a influência da pior
qualidade das amostras de sangue retiradas após a parada cardíaca, devendo essa coleta ser
feita o quanto antes e com o maior cuidado possível. Também confirma a validade do uso da
PCR em doadores cujos testes sorológicos mostram-se indeterminados.
Assim, um dos principais fatores que limitam o tempo após a parada cardiorrespiratória
para a retirada de córneas é a qualidade dos exames sorológicos. Certamente teremos uma va
riação da positividade dos testes sorológicos por doença e região estudada. Existem algumas
regiões endêmicas, no Brasil, com maior positividade para a hepatite B ou outras doenças. En
tretanto, taxas de positividade sorológicas acima de 20% devem ser melhor examinadas, bem
como devem ser revistas a metodologia do laboratório e coleta do sangue. São necessários
investimentos nesse setor para minimizar a falta de córneas para transplante.
BIBLIOGRAFIA
Heim A, Wagner D, RothëmelT, Hartmann U, Flik J, Verhagen W. Evaluation of serological screening of cadaveric sera for
donor selection for cornea transplantation. J Med Virol, 1999; 58(3):291 -5.
Miedouge M, Chatelut M, Mansuy JM, Rostaing L, Malecaze F, Sanders-Saune K e t a t Screening of blood from potential
organ and cornea donors for viruses. J Med Virol, 2002; 66(4):571-5.
Padley D, Ferguson M, Warwick RM, Womack C, Lucas SB, Saldanha J. Challenges in the testing of non-heart-beating cada
vers for viral markers: implications for the safety of tissue donors. Cell Tissure Bank, 2005; 6(3):l71-9.
VO
Septicemia
Uma das complicações mais sérias do transplante de córneas é a infecção ocular pós-operató
ria, que pode resultar na perda do globo ocular. A contaminação do botão corneano doador,
antes do transplante, pode resultar nesse tipo de complicação.
Existe um conceito bem definido que córneas doadas de portadores de septicemia repre
sentam um risco para os receptores pela possível transmissão da doença infecciosa. Apesar
disso, não é possível quantificar esse risco como em outras doenças transmissíveis. Assim,
septicemia representa uma contraindicação formal para o transplante de córnea em todo o
mundo, inclusive no Brasil, através da portaria ministerial que regulamenta o assunto. Portan
to, os tecidos (córnea, esclera e conjuntiva) provenientes de doadores com septicemia devem
ser rejeitados para transplante.
Evidências científicas recentes sugerem o contrário. Spelsberg etal. (2002) transplantaram
182 córneas oriundas de doadores com sepse após conservação em meios de preservação usu
ais. O índice de rejeição imune e de falência dos transplantes não diferiu daquele encontrado
em córneas oriundas de doadores sem infecção. Além disso, nenhum paciente desenvolveu
endoftalmite infecciosa após receber as córneas de doadores com septicemia. Os dados suge
rem que não há razão para contraindicação de transplante de córneas oriundas de pacientes
com septicemia. Robert et ai (2002) estudaram a contaminação relativa de córneas retiradas
in situ e a relevância para o sucesso do transplante. Concluíram que a infecção bacteriana no
momento da morte não influencia o aparecimento de endoftalmite infecciosa e as córneas não
devem ser excluídas para o transplante.
Em um estudo onde se examinou a influência dos fatores de risco do doador que podem
contribuir para a contaminação do botão corneano doado, os tumores malignos e doença car
díaca como causas de morte foram associados à contaminação do botão doado. Septicemia
não foi um fator de risco estatisticamente significativo. A idade e o sexo do doador, o tempo
entre a morte e a retirada das córneas e o tempo entre a retirada e o transplante não foram
27
28 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
fatores significativos para a contaminação. Nessa série estudada, somente 6 transplantes evo
luíram com úlcera corneana (1,27%) e somente 1 dos 469 transplantes (0,22%) apresentou
endoftalmite, apesar de 79 botões (16,8%) terem sido positivos na cultura. Culturas positivas
do anel corneoescleral não foram indicadores de infecção após ceratoplastia. Nesse estudo,
não houve diferença estatisticamente significativa entre infecção corneana pós-operatória de
pacientes que receberam botões contaminados comparados com pacientes que receberam bo
tões estéreis. Ou seja, infecção ocular pós-transplante de córnea é infrequente (1,49%), apesar
da alta prevalência de contaminação microbiana dos botões corneanos, sugerindo que outros
fatores de risco para a infecção ocular pós-operatória estejam envolvidos.
Assim, culturas do tecido doador têm valor prognóstico limitado, e a probabilidade de
transmissão de microrganismos infecciosos que resultem em infecção clínica é extremamente
baixa. O perigo da septicemia do doador não é demonstrável.
Redbrake et ai (1997) demonstraram que não há comprometimento do estado metabólico
do botão corneano mantido em meio de preservação tecidual entre doadores que morreram
por morte súbita, processos malignos, septicemia, insuficiência renal e diabetes. O meio de
preservação até permite uma recuperação do estado metabólico da córnea.
Em sociedades com potencial para litígio, entretanto, o risco de ações legais em resposta
a possível infecção pode guiar a decisão final.
Em países onde córneas para transplante são facilmente obtidas e a espera para um trans
plante não representa um custo social relevante, não há razão para utilizar córneas oriundas
de doadores com septicemia. Porém, em países como o Brasil, onde existe carência de cór
neas, o uso desse tipo de tecido pode representar um grande avanço no número de transplan
tes, sem comprometer a qualidade final da cirurgia. Protocolos científicos rígidos e estudos
prospectivos são necessários para verificar se a septicemia deve continuar sendo uma con-
traindicação para transplante de córneas no Brasil.
BIBLIOGRAFIA
O'Day DM. Diseases potentially transmitted through corneal transplantation. Ophthalmology, 1989; 96(8):1133-7.
Redbrake C, Salla S, Vonderheken M, Seiben P, Reim M.Tissue condition of human corneas before and after organ culture.
Effect of donor cause of death. Ophthalmology, 1997 Aug; 94(8):573-7.
Rehany U, BalutG, Lefler E, Rumelt S.The prevalence and risk factors for donor corneal button contamination and its asso
ciation with ocular infection after transplantation. Cornea, 2004; 23:649- 654.
Robert PY, Camezind P, Drouet M, Ploy MC, Adenis JP. Internal and external contamination of donor corneas before in situ
excision: bacterial risk factors in 93 donors. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol, 2002; 240(4):265-70.
Spelsberg H, Reinhard T, Sengler U, Daeubener W, Sundmacher R. Organ-cultured corneal grafts from septic donors: a
retrospective study. Eye, 2002; 16(5):622-7.
Doenças do Sistema
Nervoso Central
29
30 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Bredehorn T, Wilhelm F, Wilhelm F, Wierderhold C, Duncker Gl. Incidence of potential transmitters of Creutzfeldt-Jakob
disease. A study of a collective of potential cornea donor. Ophthalmology, 2001 Mar; 98(3):269-72.
BronnertJ, Wilde H,Tepsumethanon V, Lumlertdacha B, HemachudhaT. Organ transplantations and rabies transmission. J
Travel Med, 2007 May-Jun; 14(3):177-80.
Bruce Allan, Senior registrar, A Stephen Tuft, Consultant ophthalmologist. Transmission of Creutzfeldt-Jakob disease in
corneal grafts. BMJ, 1997; 315:1553-4.
Hogan RN, Brown P, Heck E, Cavanaugh HD. CRisk of prion disease transmission from ocular donor tissue transplantation,
ornea, 1999 Jan; 18(1 ):2-11.
Hogan RN, Cavanagh HD. Transplantation of corneal tissue from donors with diseases of the central nervous system. Cor
nea, 1995 Nov; 14(6):547-53.
Javadi MA, Fayaz A, Mirdehghan AS, Ainollahi B. Cornea, 1996 Jul; 15(4):431 -3. Transmission of rabies by corneal graft.
Kennedy RH, Hogan RN, Brown P, Holland E, Johnson RT, Stark W, Sugar J. Eye banking and screening for Creutzfeldt-Jakob
disease. Arch Ophthalmology, 2001 May; 119(5):721 -6.
Wagoner MD, Dohman CH, Albert DM, Lavin P, Murphy A, O'Neill-Dryja M. Corneal donor material selection. Ophthalmol
ogy, 1981 Feb; 88(2):139-45.
00
31
32 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Harrison DA, Hodge DO, Bourner WM. Outcome of corneal grafting with donor tissue from eyes with primary choroidal
melanomas. A retrospective cohort comparison. Arch Ophthalmology, 1995 Jun; 113 (6)753-6.
Lôpez-Navidad A, Soler N, Caballero F, Lerma E, Gris 0 . Corneal transplantations from donors with cancer.Transplantation,
2007 May 27; 83(10):1345-50.
Salame N MD, Viel Jean Francois MD, PhD, Arveux P MD PhD, Delbosc B MD, PhD. Cancer Transmission Through Corneal
Transplantation Cornea, 2001; Oct; 20(7):680-682.
ON
33
34 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Krohn J, Hovding G.The influence of donor age and cause of death on corneal endothelial cell density. Acta Ophthamol
Scand, 2005 Dec; 83(6)746-50.
Redbrake C e t al. Effect of donor illness on endothelial cell number of human corneas. Klin Monatsbl Augenheilkd, 1995
Jan; 2006(1 ):46-8.
Sobottka Ventura AC e t a l. Endothelial cell death in organ-cultured donor corneae, the influence of traumatic versus no
traumatic cause of death. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol, 1997 Apr; 235(4): 230-3.
Relação entre Idade do
Doador e do Receptor de
Córneas para Transplante
A atitude de aceitar ou recusar córneas para transplante baseado na idade do doador é comum
entre os cirurgiões. Córneas obtidas de crianças com menos de 18 meses devem ser evitadas
com a finalidade óptica pelo alto risco de ectasia e alta miopia que podem induzir no receptor.
Essas córneas provindas de recém-nascidos têm alta elasticidade e são de difícil manipulação
cirúrgica. Sugestões do passado, como utilizar córneas de recém-nascidos em pacientes alto
hipermetropes ou afácicos, não têm comprovação científica.
Se o tecido doador tem contagem endotelial satisfatória e foi armazenado corretamente
de modo a manter endotélio viável para suportar o trauma cirúrgico e a futura perda celular,
não importa a idade do doador.
Um grupo de estudos está investigando se a idade do doador está relacionada à sobrevida
do transplante em longo prazo. Características do doador têm sido avaliadas, tais como idade,
r
35
36 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Beck RW, Gal RL, Mannis MJ é t a l. Is donor age an important determinant of graft survival? Cornea, 1999; 18:503-510.
Gal RL e t al. Cornea Donor Study Investigator Group. The effect of Donor age on Corneal Transplantation Outcome.
Ophthalmology, 2008; 115(4):620-6.
Lass JH e t al. Cornea Donor Study Group. Donor age and Corneal Endothelial Cell loss 5 years after Successful Corneal
Transplantation. Ophthalmology, 2008; 115(4):627-32.
Mannis MJ e t a l. cornea donor study group. Clinical profile and early surgical complications in the Cornea Donor Study.
Cornea, 2006; 25(2):164-70.
Mush DC, Meyer RF, Sugar A. Effects of the donor's age and endothelial cell density on graft survival and endothelial cell
loss after corneal transplantation. Cornea, 1995; 14:116.
Reinhart WJ. Medical Standards for Eye Banking. In: Krachmer JH, Mannis MJ, Holland EJ. Cornea: Fundamentals of Cornea
and External Disease. Volume I. St. Louis: Mosby, 1997; p489.
Sugar A e t a l. cornea donor study group. Baseline donor characteristics in the Cornea Donor Study Group. Cornea, 2005;
24(4):389-96.
Equipamentos Necessários
para o Funcionamento de um
Banco de Tecidos Oculares
Um banco de olhos deve atender às exigências legais para a sua instalação e autorização.
A legislação a respeito do funcionamento está contida na Resolução de Diretoria Colegiada
(RDC) 347 (02/12/03) e na portaria 2.692 (23/12/04). Segundo essa portaria, o banco de teci
dos oculares deve estar situado dentro de um hospital, e estabelece a área física mínima para
funcionamento. A planta arquitetônica final deve seguir as normas ministeriais e ser aprovada
pela vigilância sanitária local. O ponto mais importante atualmente é a aprovação das Secre
tarias Municipal e Estadual de Saúde. Após atender a todos os requisitos da portaria, o gestor
de saúde pública local precisa justificar a necessidade da criação de um novo banco de tecidos
oculares na região, para posteriormente conseguir a aprovação do Sistema Nacional de Trans
plantes (SNT).
Para o funcionamento de um banco de tecidos oculares garantindo a segurança e o contro
le de qualidade do material processado, são necessários os seguintes equipamentos:
1) Dois refrigeradores (geladeiras): todo o processo de armazenamento de tecidos requer a
conservação de temperatura entre 2°C e 8°C para manter a viabilidade destes. Para isso
utilizam-se dois refrigeradores no banco de olhos, sendo um para armazenamento dos te
cidos que ainda não se encontram aptos para transplantes (bulbos oculares, córneas já pro
cessadas que aguardam resultados de sorologias e/ou avaliação como também os tecidos
que serão encaminhados para exame anatomopatológico). O outro refrigerador destina-se
aos tecidos aptos para cirurgia (córneas já processadas, com resultados das avaliações
tectônica e óptica e sorologias negativas, meios de preservação, além de escleras que já
tenham cumprido o prazo de descontaminação). A temperatura desses refrigeradores deve
ser controlada por termômetro digital com leitura externa. Deve existir um livro próprio
para as anotações da temperatura e um gerador de energia suficiente que as mantenha em
funcionamento por um período de 24 h caso exista queda da energia elétrica no hospital
que sedie o banco.
37
38 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Além dos equipamentos mencionados, o banco de tecidos oculares deve ainda dispor de
depósito de material de limpeza, acesso a uma autoclave, expurgo e preparo de material, que
geralmente é feito no centro cirúrgico do hospital. Os diversos procedimentos operacionais-
padrão (POP) exigidos para o funcionamento do banco devem descrever os diversos fluxos,
como descarte dos tecidos não utilizados, fluxo dos materiais utilizados nas retiradas ou no
preparo das córneas e, até mesmo, a manutenção preventiva dos equipamentos, que é obri
gatória. É muito importante descrever o fluxo dos tecidos utilizados e rejeitados para trans
plante, assim como manter organizados todos os comprovantes para possível consulta futura.
BIBLIOGRAFIA
Chu W. The past twenty-five years in eye banking. Cornea, 2000;19(5):754-65.
Farge EJ, Cox WGM, Khan MM. An eye banking program for selecting donor corneas for surgical distribution. Cornea, 1995;
14(6):578-82.
Moffatt SL, Cartwright VA, Stumpf TH. Centenial review of corneal transplantation. Clin Experiment Ophthalmology, 2005;
33(6):642-57.
Wilson SE, Bourne WM. Corneal preservation. Surv Ophthalmology, 1989; 33(4):237-59.
Técnica para Enucleação
do Globo Ocular do
Doador de Córnea
41
42 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Instrumentais necessários: blefarostato, pinça com dentes (0,3 mm), tesoura de conjun
tiva, gancho de estrabismo, tesoura de estrabismo, pinça mosquito, tesoura de enucleação e
porta-agulha.
A técnica propriamente dita começa com a colocação do blefarostato (de forma cuidadosa,
para não lesar a córnea) (Figs. 4A-F). Com a pinça com dentes delicados e tesoura de conjunti
va são feitas a peritomia (em 360°, a 2,0 mm do limbo) e a tenotomia (inserindo a tesoura de
conjuntiva em cada um dos quatro quadrantes, para liberar todas as aderências à esclera). Com
gancho e tesoura de estrabismo, os músculos retos superior, inferior e medial são isolados e
seccionados (próximos à inserção no globo ocular). O reto lateral é isolado e fixado (próximo
à inserção no globo) com uma pinça mosquito, para facilitar o manuseio e a remoção do globo
Técnica para Enucleação do Globo Ocular do Doador de Córnea 43
Fig. 4E Com auxílio de uma pinça he- Fig. 4F Após enucleação, o globo ocu
mostática, faz-se tração no músculo reto lar é armazenado em câmara úmida,
lateral, e, com uma tesoura curva com envolto por gazes umedecidas com soro
extremidade romba, própria para enu- fisiológico e antibiótico até ser transpor
cleação, seccionamos o nervo óptico. tado ao banco de olhos, onde será feita
(Ilustração de Conceyção Rodriguez.) a preparação dos tecidos (córnea e es-
clera). É importante que o frasco seja
bem lacrado, e que a córnea fique úmida,
porém deve-se tomar cuidado para que
a gaze não cubra a córnea, podendo
danificá-la. (Ilustração de Conceyção
Rodriguez.)
BIBLIOGRAFIA
Eye Bank Association of America. Medical Standards, 2006. Disponível em: http://www. restoresight.org/Pan-American
Association of Eye Banks. Medical Standards, 2002. Disponível em: http://www.apabo.com.br.
Câmara de Fluxo Laminar para
o Processamento das Córneas
A câmara ou cabine de fluxo laminar (Fig. 1), também denominada cabine de segurança bio
lógica, é um equipamento de proteção coletiva utilizado para evitar o contágio de aerossóis
infecciosos, limitar a exposição do analista e do ambiente e ainda proteger o material manuse
ado de contaminantes provenientes do ar. Trata-se de um sistema eletromecânico em que uma
massa de ar ultrafiltrada por filtros HEPA (High Efficiency Particulate Air) move-se em sentido
unidirecional, a baixa velocidade, criando um ambiente estéril e removendo a contaminação
gerada no ambiente. Dentro da área de trabalho, é gerada uma pressão evitando que partícu
las externas tenham acesso. Atrás dos filtros há um sistema de luzes ultravioleta de alta inten
sidade que inativa partículas viáveis que possam ter passado pelo sistema de filtros.
45
46 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
A excisão da córnea em uma câmara de fluxo laminar consiste no preparo do globo ocular
para a remoção do botão corneoescleral utilizando técnicas cirúrgicas estéreis. O processa
mento consiste em:
1) Limpeza da câmara com álcool iodado e imediatamente após com o acionamento dos fil
tros de ar e da lâmpada germicida. Essa última deve permanecer ligada por 30 min antes
do início do trabalho.
2) Separação de todo o material a ser utilizado em uma bandeja, paramentado com luvas de
procedimento, gorro e máscara. Abre-se um campo cirúrgico encostando apenas nas bor
das para forrar o centro da área de trabalho da capela; abrem-se as gazes, o envelope com
o material cirúrgico e as lâminas colocando-os no campo, sem contaminar com as luvas.
Posicionam-se os frascos com líquido de preservação à direita e fora do campo estéril com
as tampas livres, apoiando-as apenas sobre o tubo. Os frascos com os globos oculares são
posicionados à esquerda do campo cirúrgico, sem contaminá-los, com as tampas livres e
apenas apoiadas sobre os recipientes.
3) Escovação das mãos e a colocação do avental cirúrgico e das luvas estéreis.
4) Posicionamento sentado em frente à cabine e início do trabalho. Jamais retirar as mãos de
dentro da cabine, para evitar a contaminação.
5) Preservação dos globos a partir da confecção de um “cachecol” com gazes para envolver
os globos e permitir sua mobilização com as mãos. Utilizando uma gaze estéril, retira-se a
tampa da câmara úmida para acessar os globos, que deverão ser retirados com uma pinça,
deixando para trás as gazes contaminadas que estão ao seu redor. A partir desse momento,
inicia-se a técnica cirúrgica de excisão do botão corneoescleral. O botão já liberado do glo
bo é colocado dentro do meio de conservação, que terá sua tampa elevada com o auxílio
de gaze estéril. A partir desse momento, todo o restante do globo ocular é inspecionado
para anormalidades. A esclera pode ser preservada caso necessário.
BIBLIOGRAFIA
Almeida-Muradian LB. In: Hirata MH e Mancini Filho J (eds.). Manual de Biossegurança. Barueri: Manole, 2002; 57-86.
47
48 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Fig. 1E Com a secção escleral completa Fig. 1F Com auxílio de pinças delicadas
em 360°, realiza-se a retirada do botão ou cotonetes umedecidos, faz-se a sepa
corneoescleral. (Ilustração de Conceyção ração cuidadosa do anel escleral com o
Rodriguez.) corpo ciliar por leve tração. Cuidado espe
cial na região da raiz da íris, como mos
trado na ilustração. (Ilustração de Concey
ção Rodriguez.)
Técnica de Preparação do Botão Corneoescleral em Olho. Enucleação e Retirada in Situ 49
Para a conservação da esclera, faz-se o esvaziamento de toda a cavidade vítrea, bem como
a escovação da esclera em sua faces externa e interna, para retirar todas as aderências da
coroide e conjuntiva, e preservação em meio apropriado (glicerina estéril ou álcool). É impor
tante que o epitélio pigmentado e todo o pigmento sejam removidos por completo. Esse pig
mento está relacionado com grande reação inflamatória em cirurgias oculoplásticas.
A técnica de retirada da córnea in situ é similar à descrita para preparação após enucle
ação, com a diferença de que é feita no próprio doador, sem a retirada completa do globo
ocular. A única particularidade seria a peritomia e tenotomia 360°, realizadas antes do sulco
escleral, tal como na técnica de enucleação.
BIBLIOGRAFIA
Rosenwasser GOD, Nicholson WJ. Introduction to Eye Banking: A Handbook and Atlas. Proforma, 2003.
Enucleação e Retirada in S itu
O tecido corneano sobrevive por muito mais tempo, em meio de cultura tecidual, quando
r
preservado como anel corneoescleral em vez da preservação do globo ocular inteiro. E sabido
que as preparações corneoesclerais são viáveis por vários dias a semanas, enquanto as prepa
rações de globo ocular inteiro são viáveis somente por alguns dias. Portanto, independente
mente da técnica utilizada para a obtenção do tecido, é importante que o anel corneoescleral
seja mantido sob refrigeração, em algum meio de preservação. Assim, não somente mantém
maior integridade celular, como também garante que os exames sorológicos necessários para
a liberação do tecido com segurança sejam realizados.
A captação da córnea pode ser feita através de enucleação ou de excisão in situ. Ambas as
técnicas apresentam vantagens e desvantagens, sendo aceitas por todos os bancos de olhos.
A decisão da técnica adotada em cada banco cabe ao diretor médico, levando em considera
ção custos, qualidade da equipe de captação, aceitação da sociedade, entre outros fatores. A
técnica para chegarmos à configuração final desejada da córnea doadora, isto é, o botão cor
neoescleral, pode variar dependendo do costume local, termo de consentimento e habilidade
técnica da equipe do banco de olhos em obter o tecido. Por exemplo, a proteção do endotélio
contra o trauma durante a retirada corneoescleral in situ é essencial para manter a qualidade
da córnea doadora. Portanto, a perícia na retirada é muito importante no momento da retira
da e preparação. A enucleação é menos traumática para o endotélio. O globo ocular é então
transportado ao banco de olhos para remoção do componente corneoescleral. O processo
depende da perícia do técnico de retirada no local da doação (hospital, funerária etc.).
A principal justificativa para adotar a preservação in situ é que, após a morte, no globo
ocular, o endotélio corneano é banhado em produtos tóxicos de degradação devido à deterio
ração dos tecidos intraoculares, em vez da solução de cultivo tecidual do meio de preservação
do banco de olhos. Por outro lado, o endotélio das preparações in situ é banhado em solução
de cultivo tecidual desde o momento em que ele é excisado do globo ocular e colocado no
51
52 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Bigar F, Kaufman HE, McCarey BE e t o l. Improved corneal storage for penetrating keratoplasties in man. Am J Ophthalmol,
1975; 79: 115- 20.
Sangramento na
Retirada da Córnea
Entre as atividades atribuídas ao banco de olhos está a captação do tecido ocular, que pode ser
realizada por meio da retirada da córnea (excisão in situ), ou com a retirada de todo o globo
ocular (enucleação).
Durante a retirada de tecido ocular, devemos nos preocupar em não danificar a córnea e
reconstituir, da melhor maneira, a aparência do doador. Uma das complicações de mais difícil
controle durante uma retirada de córnea é a hemorragia, que pode ocorrer na excisão in situ
ou na enucleação. Inicialmente, a família do doador deve ser sempre alertada quanto ao risco
de hemorragia ou formação de hematomas perioculares durante os procedimentos de retirada
de tecido, principalmente se o doador fazia uso de anticoagulantes. Em doadores obesos cujo
peso da gordura abdominal pode preocupar e naqueles cuja terapêutica anticoagulante foi
intensa antes do óbito, os cuidados devem ser maiores, pois o risco de sangramento aumenta.
Com o objetivo de minimizar o risco de sangramento, antes da retirada devem-se manter
compressas geladas sobre as pálpebras e a cabeça do doador elevada.
Todo o procedimento deve ser realizado com cuidado, manuseando os tecidos delicada
mente para evitar maior sangramento.
Caso seja feita uma excisão in situ e o sangramento ocorra, a espera é a melhor conduta.
Na maioria das vezes, o sangramento cessa por si sem a necessidade de intervenção especí
fica. Mas pode-se lançar mão de uma sutura em bloco, abrangendo esclera e conjuntiva. Na
falha da sutura, deve ser realizada a evisceração ou enucleação do globo ocular.
O sangramento durante a enucleação pode ocorrer no final do procedimento, e a melhor
conduta é a expectante, ou seja, deixar que o sangramento pare espontaneamente. As medi
das utilizadas para conter a hemorragia, como sutura em bloco, pinçamento do nervo óptico,
uso de substâncias hemostáticas locais, como formol ou gel focim, podem levar à formação de
hematomas perioculares. Caso o sangramento seja abundante e não seja possível aguardar o
53
54 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
A recomposição estética do doador é de extrema importância e deve ser feita com cuidado
para que fique com a melhor aparência possível. A boa aparência vai fazer com que a família do
doador e outros não percebam que dali foi retirado um tecido, principalmente porque o rosto
geralmente fica descoberto, enquanto o tórax e o abdome ficam cobertos e não necessitam
de maiores cuidados. Tudo isso contribui para estimular a doação de órgãos, pois aqueles que
observam o corpo do doador e não percebem a retirada da córnea não sentem receio de um
dia serem doadores ou autorizarem a doação de órgãos de um parente.
A restauração difere de acordo com a enucleação ou retirada da córnea in situ. No processo
de restauração após enucleação, deve-se colocar um chumaço de gaze ou bola de algodão para
preencher a órbita antes do fechamento palpebral. Em seguida, devem-se fechar as pálpebras,
podendo-se utilizar cola de secamento rápido ou sutura, evitando que o conteúdo orbitário
fique eventualmente exposto. Por último, faz-se a limpeza da pele removendo a iodopovidona
ou outra solução utilizada no processo de captação. Algumas equipes de captação, ou mesmo
nas funerárias, fazem, ainda, maquiagem em torno dos olhos para ocultar qualquer edema ou
hematoma que o processo de captação possa ter deixado. O processo de restauração após re
tirada da córnea in situ é mais fácil. Como o globo ocular não é retirado, pode-se seguir para o
fechamento das pálpebras logo após a obtenção do tecido. Em alguns casos, quando disponí
vel, utiliza-se uma fina lente de plástico, de uso comum em agências funerárias nos EUA (mor-
gan eye ccips), que promove um contorno ainda mais perfeito da superfície sob as pálpebras.
BIBLIOGRAFIA
Reinhart WJ. Medical Standards for Eye Banking. In: Krachmer JH, Mannis MJ, Holland EJ. Cornea: Fundamentals of Cornea
and External Disease. Volume I. St. Louis: Mosby, 1997; p 489.
Rosenwasser GOD, Nicholson WJ. Introduction to Eye Banking: A Handbook and Atlas. Proforma, 2003.
55
Avaliação do Botão
Corneoescleral em
Lâmpada de Fenda
Cada banco de tecidos oculares tem seu protocolo específico de avaliação da córnea, que deve
ser realizada sistematicamente em todos os tecidos doados. A falta de uma padronização na
avaliação dos tecidos doados gera confusão. Como córneas de uma região podem ser distri
buídas a cirurgiões não familiarizados com a rotina daquele banco de olhos, a falta de padro
nização dificulta o bom andamento do fluxo para a cirurgia.
Inicia-se o protocolo pelos dados do doador, como identificação, idade, causa do óbito,
história clínica pregressa resumida (patologias, histórico de tratamentos ou cirurgias oculares
e outros pertinentes).
Após toda a identificação e liberação sorológica, o frasco com o tecido é colocado em
um suporte adaptado em lâmpada de fenda, onde, através de um espelho, podemos realizar
o exame adequado (Figs. 1 e 2). O exame deve seguir uma ordem, avaliando-se as estruturas
oculares e anotado-se no protocolo.
Fig. 1 Lâmpada de fenda adaptada com suporte para avaliação de córneas. O suporte é preso na cabeceira
com um parafuso de pressão, e fixa o frasco em uma posição única. Desse modo, facilita a avaliação, pois o
médico pode utilizar ambas as mãos ao mesmo tempo, possibilitando o uso da lâmpada de fenda com todos
os seus atributos.
57
58 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Estroma: tal como o epitélio, deve ser avaliado e graduado quanto à claridade, edema,
infiltrado e presença de corpos estranhos. Também se avalia quanto à presença de estrias e
dobras estromais, que são causadas pelo edema estromal (Figs. 6A-C). Outras alterações possí
veis são: cicatrizes de procedimentos anteriores, como cirurgias refrativas (LASIK, PRK, cerato-
tomia radial e outras incisões cirúrgicas), depósitos de ferro (anel de Fleisher no ceratocone,
anel de Hudson-Stahli depois de retirada de corpo estranho), depósito de cobre (doença de
Wilson), halo senil, ou ainda patologias como distrofias e degenerações corneanas. Infiltrados
estromais subjacentes à ruptura epitelial devem sempre ser reportados. Mesmo quando peri
férico, o possível comprometimento infeccioso pode descartar o tecido para transplante, com
qualquer técnica.
60 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
É mais fácil avaliar o endotélio na lâmpada de fenda com o globo ocular inteiro, antes do
processamento. Entretanto, é necessária uma segunda avaliação dentro do frasco para assegu
rar que não houve trauma endotelial exagerado no preparo do tecido. Dentro do frasco com
conservante, a córnea é posicionada de maneira a expor o endotélio para baixo, em direção
ao espelho do suporte de avaliação de córneas. Inicialmente, observam-se sangue ou cílios
depositados nessa área. É importante também procurar áreas com trauma pelos instrumentos
do processamento. Já com a córnea voltada com o epitélio para baixo, a microscopia especular
endotelial com lâmpada de fenda pode ser realizada (Fig. 7). Nem sempre é possível identificar
o padrão mosaico pelas condições de transparência. A limpeza do frasco por fora, com álco
ol ou outra substância, como limpa-vidros, ajuda na observação dos detalhes. Muitas vezes,
nesse tempo, o cirurgião retira o frasco do suporte, segurando-o em posição inclinada para
conseguir observar o reflexo especular endotelial.
Fig. 7 Esquema ilustrativo da técnica de microscopia por reflexo especular com utilização de lâmpada de
fenda. (Ilustração de Conceyção Rodriguez.)
O exame à lâmpada de fenda pode ser complementado com microscópio especular que
faz uma contagem mais fidedigna das células; e podemos ter um documento impresso mos
trando a contagem celular, graduação de polimegatismo e pleomorfismo bem como outros
achados. A avaliação do endotélio em lâmpada de fenda, apesar de ser um exame fácil e muito
fidedigno in vivo, quando aplicado a córneas processadas, fica aquém do exame aparelhado.
Após toda a avaliação, o médico avaliador irá graduar a qualidade do tecido e determinar
sua utilidade para transplante penetrante, lamelar ou tectônico.
BIBLIOGRAFIA
Davis RM. Tissue Evaluation. In: Krachmer JH, Mannis MJ, Holland EJ. Cornea: Fundamentals of Cornea and External Disease.
Volume I. St. Louis: Mosby, 1997; p. 501-7.
Rosenwasser GOD, Nicholson WJ. Introduction to Eye Banking: A Handbook and Atlas. Proforma, 2003.
ON
Conservação da Córnea
para o Transplante
Antes do advento da conservação do tecido corneano para transplante, as cirurgias eram rea
lizadas com córneas de olhos enucleados de doadores vivos. Durante longo período, diversos
métodos para conservação foram descritos, tais como fixação em formalina, congelamento,
desidratação e armazenamento em parafina líquida, todos com resultados insatisfatórios. Com
o surgimento do meio M-K, em 1974, houve uma verdadeira revolução, uma vez que este
possibilitava a conservação do tecido doador a 4°C durante 3 a 4 dias. Desde então, diversos
meios e técnicas de conservação do tecido corneano têm sido descritos e utilizados com su
cesso na prática oftalmológica.
O meio Optisol GS (Bausch & Lomb, Irvine, Califórnia, EUA) é o mais popular e utilizado
r
63
64 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
65
66 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Brunette I, Nelson LR; Bourne WM. Tolerance of human corneal endothelium to glycerol. Cryobiology, 1989 Dec; 26(6):
513-23.
Jeng BH. Preserving the cornea: corneal storage media. Curr Opin Ophthalmol, 2006 Aug; 17(4):332-7.
Simon M, Fellner P, El-Shabrawi Y, Ardjoman N. Influence of donor storage time on corneal allograft survival. Ophthalmo
logy, 2004 Aug; 111(8):1534-8.
Mudanças nos Bancos de
Olhos com as Novas Técnicas
de Transplante de Córnea
67
rsi
rM
Processamento e Conservação
do Tecido Escleral
Após a preservação do botão corneoescleral, o conteúdo ocular deve ser retirado e examina
do. A esclera deve então ser invertida e cuidadosamente limpa, até a retirada total de todos
os fragmentos de tecido uveal. Ao final, coloca-se o tecido novamente em sua forma original,
faz-se uma irrigação com antibiótico de amplo espectro e leva-se ao meio de preservação es
colhido. O tecido escleral pode ser preservado em álcool etílico, glicerina ou liofilização.
A preservação com álcool etílico em uma concentração superior ou igual a 70% pode ser
mantida por um período de até 1 ano. O tecido deve ser conservado de forma asséptica, inte
gralmente, em um frasco ou dividido em quartos, mantido em temperatura ambiente. O álcool
etílico possui atividade antibacteriana maior que a glicerina, porém, como quando preservado
em glicerina, o tecido somente deve ser liberado para utilização após 5 dias de preservação.
A glicerina conserva por tempo indeterminado, pode ser mantida à temperatura ambiente
e não desidrata tanto o tecido, mantendo suas propriedades físicas mais próximas do normal.
Devido à preocupação de alguns cirurgiões relacionada à possível toxicidade do tecido
escleral preservado em álcool, Enzenauer fez um estudo demonstrando que, em escleras pre
servadas em etanol a 95%, por um período de 31 dias em média, o enxágue do tecido em BSS
(solução salina balanceada), durante 20 min ou mais, é capaz de retirar aproximadamente 98%
do etanol proveniente da esclera preservada. O mesmo procedimento é recomendado para a
esclera preservada em glicerina.
BIBLIOGRAFIA
Dailey JR, Rosenwasser GO. Viability of bacteria in glycerin and ethanol preserved sclera. J Refract Corneal Surg, 1994; 10(1): 38-40.
Enzenauer RW, Sieck EA, Vavra DE, Jacobs ER Residual ethanol content of donor sclera after storage in 95% ethanol and
saline rinse of various durations. Am J Ophthalmology, 1999; 128(4):522-4.
Medical Standards. The Eye Bank Association of America Medical Standards-June 2006.
69
Obtenção e Conservação
da Membrana Amniótica para
Uso em Oftalmologia
A membrana amniótica deve ser obtida a partir de placentas provenientes de cesáreas ele
tivas, após consentimento assinado pela gestante. Todas essas pacientes devem ter exames
sorológicos negativos para HIV-1, hepatite B, hepatite C e sífilis, que são reconfirmados pela
realização de sorologia do sangue do cordão umbilical após o parto. Pelo risco da “janela imu-
nológica”, em alguns países preconiza-se que o tecido permaneça congelado em “quarentena”
durante pelo menos 6 meses, quando deverá ser repetido o teste para HIV-1 na gestante.
Após a obtenção da placenta no centro cirúrgico obstétrico, procede-se à sua lavagem
com soro fisiológico a 0,9% em ambiente estéril. Utilizando-se tesoura e pinça estéril, separa-
se o âmnio do córion (através do espaço que existe entre essas duas estruturas), estendendo o
âmnio sobre um filtro de nitrocelulose estéril (Millipore, Bedfort, MA, EUA) com a face epitelial
para cima. A membrana amniótica e o filtro são lavados com solução tampão fosfato contendo
1.000 U/ml de penicilina, 20 mcg/ml de estreptomicina e 2,5 mcg/ml de anfotericina B, corta
dos em fragmentos entre 2x2 e 4x4 cm, colocados em um recipiente estéril contendo meio de
preservação de membrana amniótica (formada por glicerina e meio de preservação de córnea
na proporção de 1:1 Ophthalmos, São Paulo/SP, Brasil) e congelados entre -70°C e -80°C.
Amostras de cada membrana obtida devem ser enviadas para estudo anatomopatológico
e microbiológico (bacterioscopia e cultura) para controle de qualidade. O tempo máximo para
utilização ds membranas é de 4 meses após o congelamento. A membrana deve ser desconge
lada à temperatura ambiente, imediatamente antes do uso, e enxaguada em soro fisiológico a
0,9% ou lactato de Ringer estéril.
BIBLIOGRAFIA
Azuara-Blanco A, Pillai CT; Dua HS. Amniotic membrane transplantation for ocular surface reconstruction. Br J Opththal-
mol, 1999; 83:399-402.
Gomes JAP, Komagome CM, Santos N, Chaves AR Cunha MC, Freitas D. Membrana amniótica nas cirurgias reconstrutivas
da superfície ocular nas ceratoconjuntivites cicatriciais. Arq Bras Oftlamolo, 1999; 62(5):562-76.
71
Transplante de Córnea
Histórico
WALLACE CHAMON
Desde as primeiras tentativas até o seu atual sucesso, os transplantes de córnea apresentaram
grande evolução técnica e científica. A história da cirurgia corneana pode ser dividida em “Era
da Heteroplastia”, de 1800 a 1900, e “Era da Homoplastia”, a partir de 1900. A idealização do
tratamento das opacidades corneanas por meio de transplante lamelar ou penetrante de cór
nea data do século XIX. Entre os idealizadores do transplante de córnea, destacam-se Pellier
de Quengsy, que, em 1771, imaginou o uso de implante de vidro em córneas opacas, e Himly,
que, em 1813, preconizou o transplante penetrante de córnea. Vários autores realizaram es
tudos em animais, e começaram a definir a realidade de uma cirurgia que se tornaria rotineira
após 1 século (Tabela I).
TABELA I Autores que contribuíram para o início do desenvolvimento da cirurgia corneana com estudos
em animais
75
76 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
existir há cerca de 1 século, a era da ceratoplastia moderna começou no final do século XIX,
com a realização da primeira ceratoplastia lamelar pelo cirurgião alemão Arthur von Hippel
(1841-1917). Este foi o mais importante personagem da história da cirurgia corneana e, entre
outras coisas, foi o idealizador do trépano de von Hippel. A técnica-padrão do final do século
foi definida por ele e incluía o transplante lamelar heterólogo, com trepanação mecânica. Em
1888, von Hippel relatou o caso de uma paciente com evolução de visão de vultos para 20/200,
após o transplante lamelar de córnea; o doador foi a córnea de coelho. Ernst Fuchs (1851-
1930) relatou, em 1894, 30 casos de transplantes homólogos, com a técnica de von Hippel.
Obteve 11 “bons resultados” , dos quais 2 apresentaram melhora de acuidade visual (Tabela II).
TABELA II Autores que contribuíram para o início do desenvolvimento da cirurgia corneana com estudos
em humanos
Autor Ano Contribuição
Kissam 1844 Transplante penetrante com córneas de porco
Sellerbeck 1878 Córneas fetais sem sucesso
Wolfe 1880 Transplante penetrante em ponte com sucesso temporário
von Hippel 1888 Transplante lamelar heterólogo com sucesso em uma paciente
Fuchs 1894 Transplante lamelar homólogo em 30 pacientes
Zirm 1906 Transplante penetrante com sucesso permanente
Magitot 1911 Preservação corneana durante 8 dias
Elschnig 1930 Suturas de contenção
Filatov 1935 Primeiro banco de olhos (Ucrânia)
Paton 1945 Primeiro banco de olhos (Nova Iorque)
BIBLIOGRAFIA
Arentsen JJ, Morgan B, Green WR. Changing indications for keratoplasty. Am J Ophthalmol, 1976; 81 (3):313-8.
Benson WH, Goosey GB, Prager TC, Goosey JD. Visual improvement as a function of time after lamellar keratoplasty for
keratoconus. Am J Ophthalmol, 1993; 116(2):207-11.
Castroviejo R. Historical review. In: Gastroviejo R. Atlas of keratectomy and keratoplasty. 1st ed. Philadelphia: Saunders, 1966;
p. 19-42.
Magitot A. Recherches expérimentales sur la survie possiblie de la cornée conservée en dehours de l'organisme et sur la
kératoplastie différée. Ann d'Ocul, 1911; 146:1-34.
Malbran E. Lamellar keratoplasty in keratoconus. Int Ophthalmol Clin, 1966; 6(1): 99-109.
McDonnell PJ, Falcon MG.The lamellar corneal graft for optical indications. Eye, 1988;2:390-4.
Mohamadi P, Mcdonnell JM, Irvine JA, Mcdonnell PJ, Rao N, Smith RE. Changing indications for penetrating keratoplasty.
American Journal of Ophthalmology, 1989; 107(5):550-2.
Olson RJ. Corneal transplantation techniques. In: Kauffmann HE, McDonald MB, Barron BA, Waltman SR.The cornea. 1st ed.
New York: Churchill Livingstone, 1988; p. 743-85.
Paton RT. History of corneal grafting. In: Paton RT. Keratoplasty. 1st ed. New York: McGraw-Hill, 1955; p. 4-35.
Richard JM, Paton D, Gasset AR. A comparison of penetrating keratoplasty and lamellar keratoplasty in the surgical man
agement of keratoconus. Am J Ophthalmol, 1978; 86(6):807-11.
Zirm E. Eine erfolgreiche totale keratoplastik. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol, 1906; 64:580-93.
Zirm EK. Eine erfolgreiche totale keratoplastik (a successful total keratoplasty). 1906. Refract Corneal Surg, 1989; 5(4):258-
61:59-70.
ui
r\i
Indicações de
Transplante de Córnea
79
80 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
TRANSPLANTE PENETRANTE
Mesmo com os avanços nas técnicas já descritas, o transplante penetrante mantém-se como
técnica prioritária naquelas condições que comprometam ou envolvam toda a espessura da
córnea, como nas endoteliopatias crônicas com cicatrizes estromais e superficiais, nos trans
plantes terapêuticos de processos infecciosos das ceratites bacterianas, virais, fúngicas e pa
rasitárias, dentre outras.
tocone a indicação mais frequente de transplante de córnea. Vários outros estudos nacionais,
a seguir, confirmaram essa preponderância.
Recentemente, em nova revisão de dados do banco de olhos de 1995 a 2005, o mesmo
grupo detectou tendência de mudança na principal causa de transplante naquele hospital.
Nesse estudo, ceratite infecciosa, trauma, ceratopatia bolhosa do pseudofácico e herpes tor
naram-se mais frequentes, com cada vez menor indicação nos casos de ceratocone e reope-
ração.
Em contrapartida, nos EUA uma pesquisa realizada por Gosheh et cil., analisando as ten
dências do transplante de córnea nos últimos 25 anos, identificou um expressivo aumento do
número de transplantes realizados na década de 1980, correspondendo ao aumento da cera
topatia bolhosa do pseudofácico.
Mais recentemente, foi observado um leve declínio anual do número de ceratoplastias por
essa alteração, mantendo-se, entretanto, ainda como a principal causa. Retransplantes têm se
mostrado como uma importante indicação de ceratoplastia à medida que enxertos antigos vão
à falência. Ceratocone, distrofia de Fuchs e outras desordens hereditárias têm permanecido
como uma consistente indicação de ceratoplastia nos últimos 25 anos, mesmo em países mais
adiantados, com abundância de tecido para transplante.
No Brasil, fica ainda mais evidente a influência dos fatores sociais na cirurgia do transplan
te de córnea. Devido à fragilidade dos organismos nos extremos da vida (infância e senilidade)
e às dificuldades inerentes ao acompanhamento de transplante de córnea, é necessário pesar
qual o real benefício que o paciente terá com o procedimento.
Indicações para transplante de córnea podem variar não somente pela doença corneai,
mas outros fatores devem ser levados em consideração.
Idade do paciente é um fator importante. Pacientes nos extremos da vida (idosos e crian
ças) devem ser considerados à parte. Descrevemos, a seguir, algumas considerações aplicáveis
a idosos e crianças quanto à indicação do transplante de córnea:
1) Doença corneai bilateral progressiva, sem melhora com correção (óculos e/ou lentes de
contato), causando baixa de acuidade visual no idoso ou ambliopia na criança, e com bom
prognóstico visual no período pós-operatório.
2) Doença corneai unilateral no olho de melhor visão e com bom prognóstico de recuperação
visual.
3) Olho doloroso crônico que não obtenha melhora com lentes de contato terapêuticas ou
recobrimento conjuntival em idosos e que tenha bom prognóstico visual.
4) Considerar a causa da doença e a possibilidade de recidiva.
5) Avaliar o estado geral do paciente (comprometimento sistêmico) para ser submetido
a anestesia geral ou local com sedação, além do prognóstico de sobrevida (este, no
idoso).
6) Ter capacidade de compreender a complexidade do procedimento cirúrgico e o tempo de
recuperação da visão e/ou conforto ocular, cuidados pós-operatórios (visitas periódicas,
uso correto de medicação, risco de rejeição) e de perceber sinais e sintomas de possível
rejeição. No caso das crianças, os pais devem estar cientes desses quesitos.
82 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Estudo multicêntrico importante, realizado ainda na década de 1990 com 108 crianças
com até 12 anos de idade, demonstrou que 18% dos olhos submetidos ao transplante de cór
nea apresentaram piora da acuidade visual após a cirurgia. Porém, 62% das córneas permane
ceram claras, e 20% foram ao retransplante, em média 17 meses pós-operatórios. Foi muito
comum procedimentos adicionais como facectomia, vitrectomia ou cirurgia antiglaucomatosa.
Segundo os autores, existiu forte correlação entre pobre acuidade visual e falta de correção
óptica adequada, vitrectomia associada, falta de tratamento da ambliopia bem como outras
complicações pós-operatórias. Já se a indicação do transplante for herpes simples, em crianças
até 12 anos de idade, o sucesso pode chegar a 87% dos casos. Recentemente, em crianças por
tadoras de síndrome de Peters, com média de idade de 4,4 meses e seguimento de 11 anos, o
índice de sucesso chegou a 35% dos 144 transplantes estudados, demonstrando avanço técni
co e melhora dos resultados.
INDICAÇÕES DE URGÊNCIA
Devem ser considerados como urgência todos os transplantes de córnea cuja demora na sua
realização gere sequelas.
Indicações de Transplante de Córnea 83
BIBLIOGRAFIA
Chen ES, Shamie N,Terry MA. Descemet-stripping endothelial keratoplasty: improvement in vision following replacement
of a healthy endothelial graft. J Cataract Refract Surg, 2008;34:1044-6.
Chen ES, Terry MA, Shamie N. Retention of an anterior chamber IOL versus IOL exchange in endothelial keratoplasty. J
Cataract Refract Surg, 2009; 35:613.
Chen ES, Terry MA, Shamie N e t a!. Endothelial keratoplasty: vision, endothelial survival, and complications in a compara
tive case series of fellows vs attending surgeons. Am J Ophthalmol, 2009; 148:26-31.
Esguenazi S. Safety of DSAEK in pseudophakic eyes with anterior chamber lenses and fuchs endothelial dystrophy. Br J
Ophthalmol, 2009; 93:558-9.
Esguenazi S, Esquenazi K. Endothelial cell survival after Descemet stripping with automated endothelial keratoplasty with
retained anterior chamber intraocular lens. Cornea, 2010; 12:1368-72.
Esquenazi S, Rand W. Effect of the shape of the endothelial graft on the refractive results after descemet stripping with
automated endothelial keratoplasty. Can J Ophthalmol, 2009; 44:557-61.
Ghosheh FR, Cremona FA, Rapuano CJ, Cohen EJ, Ayres BD, Hammersmith KM, Raber IM, Laibson PR.Trends in penetrating
keratoplasty in the United States 1980-2005. Int Ophthalmology, 2008; 28(3):147-53.
Hafezi F, Mrochen M, Fankhauser F. Anterior lamellar keratoplasty with a microkeratome: a method for managing compli
cations after refractive surgery. J Refract Surg, 2003; 19:52-7.
Ham L, Dapena I, van Luijk C. Descemet's membrane endothelial keratoplasty (DMEK) for Fuchs'endothelial dystrophy:
review of the first 50 consecutive cases. Eye, 2009; 23:1990-8.
Krumeich JH, Schoner P, Lubatschowski H, et al. Excimer laser treatment in deep lamellar keratoplasty 100 mm over Des
cemet's membrane. Ophthalmologe, 2002; 99:946-8.
Mannis MJ, De Sousa LB, Gross RH.The stromal dystrophies. In: Krashmer JH, Mannis MJ, Holland EJ. Cornea, St. Louis:
Mosby, 1997; 2:1043-62.
84 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Marchi PAH, Marchi Júnior WA, Hueb LA, Arieta C EL Transplante de córnea no Hospital das Clínicas da Unicamp. Revista
Ciências Médicas, 2002; 11 (2):115-22.
Nishiwaki-Dantas MC, Dantas PEC, Holzchuh N, Lui Netto A, Giovedi Filho R, Giovedi M, Almeida GV. Indicações de trans
plante penetrante de córnea. 1991-1995. Arq Bras Oftalmol, 1998; 61(1 ):23-33.
O'Brien PD, Lake DB, Saw VP e t a l. Endothelial keratoplasty: case selection in the learning curve. Gornea, 2008; 27:1114-8.
Pineda R 2nd, Jain V, Shome D e t a l. Descemet's stripping endothelial keratoplasty: is it an option for congenital hereditary
endothelial dystrophy? Int Ophthalmol, 2009; 30:307-10.
Price FW Jr. Air lamellar keratoplasty. Refract Corneal Surg, 1989; 5:240-3.
Price MO, Giebel AW, Fairchild KM, et al. Descemet's membrane endothelial keratoplasty: Prospective multicenter study of
visual and refractive outcomes and endothelial survival. Ophthalmology, 2009; 116:2361-8.
Russ HHA, Kara-Jose N. Processos degenerativos da conjuntiva, córnea e esclera. In: Kara-José N, Almeida GVA. Senilidade
Ocular. São Paulo: Roca, 2001; 3:85-98.
Sano FT, Dantas PEC, Silvino WR, Sanchez JZ, Sano RY, Adams F, Nishiwaki-Dantas MC. Tendência de mudança nas indica
ções de transplante penetrante de córnea. Arq Bras Oftalmol, 2008; 71 (3):400-404.
Straiko MD, Terry MA, Shamie N. DSAEK under PK: a surgical strategy to minimize complications. Am J Ophthalmol, 2011;
151:233-7.
Teixeira MF, Almeida Junior GC, Rodrigues ML, Kamimoto OS, Kashiwabuchi LK. Resultados e indicações de ceratoplastias
penetrantes realizadas por medicos em treinamento num país em desenvolvimento. Arq Bras Oftalmol, 2001; 64(6):
577-61.
Terry MA. The evolution of lamellar grafting techniques over twenty-five years. Gornea, 2000; 19:611 -6.
Terry MA, Shamie N, Chen ES e t al. Pre-cut tissue for Descemet's stripping endothelial keratoplasty: vision, astigmatism,
and endothelial survival. Ophthalmology, 2009; 116:248-56.
Victor G, Barth B, Júnior AS. Avaliação das indicações em ceratoplastia penetrante. Rev Bras Oftalmol, 2002; 61 (3):174-8.
Yoo SH, Kymionis GD, Deobhakta AA e t a l. One-year results and anterior segment optical coherence tomography findings
of Descemet stripping automated endothelial keratoplasty combined with phacoemulsification. Arch Ophthalmol,
2008;126:1052-5.
vO
fM
índices de Sucesso
O sucesso dos transplantes de córnea tem relação direta com a indicação da cirurgia. Defini
ções de sucesso baseadas em transparência do botão ou acuidade visual não são ideais, ser
vindo para análises estatísticas de tais características. Determinado paciente com diminuição
significativa de visão em ambos os olhos pode ter pequena melhora após o transplante e,
mesmo assim, ser um grande sucesso individual. Ao isolarmos os grupos estudados de acordo
com a indicação do transplante, a definição de sucesso fica mais fidedigna.
Astigmatismo pós-operatório ainda é a principal causa de insucesso do procedimento em
córneas não vascularizadas, especialmente no ceratocone. Esse fato com frequência obriga, no
pós-operatório, o paciente a utilizar métodos de correção óptica como as lentes de contato
rígidas gás-permeáveis, ou procedimentos cirúrgicos, como implante de anel intraestromal,
fotoablação com excimer laser, topoplastia e até mesmo retransplante. Com o surgimento dos
recentes avanços tecnológicos que possibilitam a obtenção de botões doadores e receptores
com bordas mais regulares, como com uso do laser de femtossegundo para a trepanação, há
possibilidade de resultados refrativos provavelmente melhores no pós-operatório.
Levando-se em consideração todas as indicações cirúrgicas para a realização de um trans
plante de córnea penetrante, envolvendo tanto o grupo de alto quanto o de baixo risco, ob-
tém-se uma taxa de sucesso em torno de 75% em 5 anos. Porém, quando se levam em conside
ração apenas os casos com bom prognóstico, essa taxa varia em torno de 80% ao longo de 10
anos. Se considerarmos apenas os casos com ceratocone, o índice de transparência do botão
transplantado chega a 97% em 5 anos e 92% em 10 anos. Nos casos de retransplante, as taxas
caem bastante, reportadas em 53% aos 5 anos e 41% aos 10 anos. Maior parte das falências
do transplante, em torno de 25%, ocorre por fatores imunológicos (rejeição), dos quais cerca
de 20% são irreversíveis. As causas não imunológicas (falência primária ou tardia) estão rela
cionadas à qualidade do enxerto, como retirada ou preservação inadequada. Técnica cirúrgi
ca imprópria ou complicações pós-operatórias, como pico hipertensivo ou glaucoma após o
transplante, também podem contribuir para falência não imunológica do botão.
85
86 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Olhos com leitos receptores muito vascularizados, como aqueles que sofreram queimadu
ra por álcali, herpes simples, ceratopatia bolhosa avançada, doenças da superfície ocular, ou,
ainda, pacientes com diminuição da sensibilidade da córnea ou com história de transplantes
anteriores são considerados casos de alto risco e com prognóstico reservado. As taxas de
falência nesse grupo podem chegar a 50% no primeiro ano e 65% em 5 anos. Pacientes com
doenças cicatriciais da conjuntiva, particularmente aqueles com penfigoide ocular cicatricial e
síndrome de Stevens-Johnson, necessitam de procedimentos cirúrgicos adicionais, prévios ou
concomitantes ao transplante de córnea, como enxerto de membrana amniótica e transplante
de limbo alogênico. Mesmo assim, o prognóstico em médio e longo prazos é muito ruim, com
taxas de falência acima de 50% em 5 anos.
Transplante de córnea em criança constitui um grupo à parte, com índice de falência que
pode ultrapassar 50% no primeiro ano.
Causas infecciosas tardias, como infecções secundárias a fio de sutura exposto, defeito
epitelial ou uso inadequado de corticoide, podem representar 14% das causas de falência tar
dia. Levando-se em consideração as dimensões continentais do Brasil, pode-se inferir que, em
regiões onde exista maior dificuldade de deslocamento, pior nível de desenvolvimento social
ou onde as distâncias aos centros oftalmológicos especializados sejam muito grandes, os ín
dices de sucesso em longo prazo tendem a ser menores. Os fatores que reduzem o sucesso
dos transplantes de córnea são inúmeros; portanto, uma seleção criteriosa dos pacientes,
junto com bom planejamento e técnica cirúrgica adequada, é fundamental para o sucesso do
procedimento.
BIBLIOGRAFIA
Alldredge OC, Krachmer JH. Clinical types of corneal transplant rejection. Arch Ophthal, 1981; 99:599-604.
Arentsen JJ. Corneal transplant allograft reaction: possible predisposing factor. Trans Am Ophthal Soc, 1983; 81:361 -402.
Batchelor JR, Casey TA, Gibbs DC. HLA matching and corneal grafting. Am J Ophthalmology, 1974; 77:543.
Bourne WM, Hodge DO, Nelson LR. Corneal endothelium five years after transplantation. Am J Ophthalmology, 1994;
118:185-196.
Bourne WM. Endothelial cell survival on transplanted human corneas preserved at 4° C in 2.5% chondroitin sulfate for one
to 13 days. Am J Ophthalmology, 1986; 102:382-6.
Brightbill FS, Stainer GA, Hunkeler JD. A comparison of intracapsular and extracapsular lens extraction combined with
keratoplasty. Ophthalmology, 1983; 90:34-7.
Chalita MRC, Diazgranados EBM, Sato EH, Branco BC, Freitas D. Rejeição corneana pós transplante de córnea: análise de
dados do Banco de Olhos do Hospital São Paulo - Escola Paulista de Medicina. Arq Bras Oftalmol, 2000; 63:55-8.
Fares U, Sarhan AR, Dua HS. Management of post-keratoplasty astigmatism. J Cataract Refractive Surgery, 2012; 38:2029-39.
Foulks GN, Sanfilippo F. Beneficial effects of histocompatibility in high-risk corneal. Am J Ophthalmology, 1982; 94:622-9.
Foulks GN e t a l. Histocompatibility testing for keratoplasty in high-risk patients. Ophthalmology, 1983; 90:239-44.
Gibbs DC e t al. The influence of tissue-type compatibility on the fate of full-thickness corneal grafts. Trans Ophthal Soc
UK, 1974;94:101-27.
Hirai FE, Klattle S, Pacini KM, Sato EH. Falência primária pós-transplante de córnea em serviço universitário. Arq Bras Oftal
mol, 2002; 65:655-8.
índices de Sucesso 87
Ing JJ, Ing HH, Nelson LR; e t a l . Ten-year postoperative results of penetrating keratoplasty. Ophthalmology, 1998; 105:
1855-65.
KurzGH, D'Amico RA. Histopathology of corneal graft failures. Am J Ophthalmology, 1968; 66:184-99.
Polack FM. Keratoplasty in aphakic eyes with corneal edema. Ophthalmic Surg, 1980; 11:701 -7.
Santos NC, Sucomine PT, Sousa LB, Sato EH, Freitas D. Ceratite infecciosa pos-transplante de cornea. Arq Bras Oftalmol,
1999; 62:48-53.
Thompson RW Jr, Price MO, Bowers PJ e t a l. Long-term graft survival after penetrating keratoplasty. Ophthalmology, 2003;
110:1396-402.
Vail A, Gore S, Bradley B e ta l. Corneal graft survival and visual outcome: a multicenter study. Corneal Transplant Follow-up
Study Collaborators. Ophthalmology, 1994; 101:120-7.
Waldock A, Cook SD. Corneal transplantation: how successful are we? Br Ophthalmology, 2000; 84:813-5.
Wilson SE, Kaufman HE. Graft failure after penetrating keratoplasty. Surv Ophthalmology, 1990; 34:325-6.
Apresentação das
Técnicas Cirúrgicas
89
90 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
e para deformidades estruturais, como nas ectasias como ceratocone. O objetivo da técnica é en
contrar o plano de clivagem entre o estroma profundo e a membrana de Descemet, o que pode ser
conseguido com auxílio de ar ou substância viscoelástica. Atualmente, a técnica mais utilizada é a
da grande bolha (big bubble), descrita por Anwar. Nessa técnica, o plano de clivagem entre a mem
brana de Descemet e o estroma é encontrado com auxílio de uma injeção de bolha de ar.
Candidatos a ceratoplastia lamelar anterior devem ter o endotélio saudável. Apesar de
uma curva de aprendizado inicialmente mais longa, essa é uma técnica que oferece vantagens
importantes, já que conserva o endotélio do receptor (reduzindo muito o risco de rejeição
endotelial) e mantém o globo ocular fechado durante todo o procedimento.
Transplante lamelar endotelial é indicado para falência do endotélio da córnea em pacien
tes com relativa transparência do estroma e com superfície ocular saudável. A membrana de
Descemet do receptor é removida junto com o endotélio doente. Umas das primeiras técnicas
descritas foi a ceratoplastia endotelial lamelar profunda (DLEK), que envolvia confecção de um
leito ou pocket na córnea receptora para receber a lamela doadora, composta de uma fina cama
da de estroma posterior e Descemet. Essa técnica evoluiu para o ceratoplastia endotelial sem
necessidade de criar um pocket no receptor, na qual o endotélio doador é removido com uma
lamela fina de estroma posterior de forma manual (ceratoplastia endotelial por desnudamento
da Descemet - DSEK) ou automatizada, com auxílio do microcerátomo (ceratoplastia endotelial
por desnudamento automatizado da Descemet - DSAEK), o que proporciona interface estromal
r
com superfície mais regular. E a técnica mais recente de ceratoplastia endotelial com apenas
membrana de Descemet e endotélio (DMEK), sendo apenas a membrana de Descemet substitu
ída com Descemet e endotélio do doador, o que torna a cirurgia tecnicamente mais difícil e me
nos previsível, porém com possibilidade de melhor acuidade visual final que as outras técnicas.
Curva de aprendizado do transplante lamelar é difícil inicialmente, com taxas de falência
primaria de 5%, após a curva de aprendizado do DSEK, e que podem chegar a 50% durante a
curva de aprendizado do DMEK. No entanto, o procedimento oferece como vantagem para o
receptor uma menor morbidade e recuperação visual mais rápida porque causa modificação
mínima da curvatura anterior da córnea, já que o tecido doador é inserido na câmara anterior
por uma incisão límbica pequena, se comparada com a incisão da ceratoplastia penetrante.
Grande parte dessas falências se deve à manipulação do tecido doador na hora da cirurgia.
Fornecimento da lamela doadora já preparada por bancos de olhos reduz o tempo cirúrgico e
pode aumentar a taxa de sucesso da cirurgia.
Enxerto lamelar com finalidade tectônica é útil para restabelecer a integridade da periferia
corneana em afmamentos por doenças não inflamatórias, como degeneração marginal de Ter-
rien, degeneração marginal pelúcida ou durante exérese de tumor dermoide no limbo. Pode
ser usada também em casos de ceratite periférica ulcerativa (PUK), associada ou não a doenças
do colágeno. Nesses casos, é recomendado o controle da condição inflamatória antes da cirur
gia para aumentar a possibilidade de sucesso do transplante.
BIBLIOGRAFIA
Akdemir MO, Kandemir B, Sayaman IB, Selvi C, Kamil Dogan 0. Comparison of contrast sensitivity and visual acuity be
tween deep anterior keratoplasty and penetrating keratoplasty in patients with keratoconus. Int J Ophthalmol, 2012;
5(6):737-41.
Apresentação das Técnicas Cirúrgicas 91
Anwar M,Teichmann KD. Big-bubble technique to bare Descemet's membrane in anterior lamellar keratoplasty. J Cataract
Refract Surg, 2002; 28(3):398-403.
Barraquer Jl. Queratoplastia refraciva. Estúdios inform. Oftal Inst Barraquer, 1949; 10:2-21.
Barraquer Jl. Anterior chamber plastic lenses. Results of and conclusions from Five years experience. Trans Ophthalmol
Soc UK, 1959;79:393-424.
Barraquer Jl. Conducta de La córnea frente à los câmbios de espesor. Soc Am Oftalmol Optom, 1964; 5:81-7.
Co van Dijk K, Ham L, Tse WH, Liarakos VS, Quilendrino R, Yeh RY, Melles GR. Near complete visual recovery and refractive
stability in modern corneal transplantation: Descemet membrane endothelial keratoplasty (DMEK). Cont Lens Anterior
Eye, 2013; 36(1 ):13-21.
Foster CS, Azar DT, Dohlman CH. Smolin andThoft's.The Cornea. Scientific foundations & clinical practice. 4th ed. Philadel
phia: Lippincott Williams & Wilkins, 2005.
Ham L, van der Wees J, Melles GR. Causes of primary donor failure in descemet membrane endothelial keratoplasty. Am J
Ophthalmol, 2008; 145(4):639-44.
Jain S, Azar DT. New lamellar keratoplasty techniques: posterior keratoplasty and deep lamellar keratoplasty. Curr Opin
Ophthalmol, 2001; 12(4):323-8.
Ko W, Freuh B, Shield C e t al. Experimental posterior lamellar transplantation of the rabbit cornea. Invest Ophthalmol Vis
Sci, 1993; 34:1102.
McDonnell P. Recurrence of Mooren's ulcer after lamellar keratoplasty. Cornea, 1989; 8:191 -4.
Melles G, Eggink F, Lander F e t al. A surgical technique for posterior lamellar keratoplasty. Cornea, 1998; 17:618-26.
Patel SV. Graft survival and endothelial outcomes in the new era of endothelial keratoplasty. Exp Eye Res. 2012; 95(1 ):40-7.
Sogutlu SE, Kubaloglu A, Unal M, Pinero LD, KouatakA, Ofluoglu NA, OzerturkY. Penetrating keratoplasty versus deep an
terior lamellar keratoplasty: comparison of optical and visual outcomes. Br J Ophthalmol, 2012; 96(8):1063-7.
Terry MA. Deep lamellar endothelial keratoplasty (DLEK): pursuing the ideal goals of endothelium replacement. Eye, 2003;
17:982-88.
Ceratoplastia Penetrante
Muitas das alterações corneanas que levam à diminuição da acuidade visual podem ser clinica
mente tratadas por óculos ou lentes de contato. No entanto, em alguns casos onde o dano à
córnea como meio óptico é mais intenso, há a necessidade de substituir o tecido degenerado,
opacificado ou irregular, sendo necessário transplante de córnea penetrante ou lamelar. Cera
toplastia penetrante, que consiste na substituição da córnea em espessura total, tem sido o
processo dominante durante mais de 100 anos e tem atendido com sucesso a maior parte das
indicações. Porém, a ceratoplastia lamelar, em que somente as camadas doentes da córnea são
seletivamente substituídas, teve sua indicação extensamente ampliada com vantagens sobre
o transplante penetrante devido às inovações na técnica por cirurgiões especializados nos úl
timos anos. Coletivamente, esses avanços resultaram em melhores resultados e ampliaram a
indicação e a possibilidade de reabilitação visual dos casos de cegueira por doenças da córnea.
Transplante penetrante ainda é a forma mais comum de ceratoplastia, pois permite que
se elimine a doença corneana primária e, normalmente, oferece melhor reabilitação visual.
Alguns exemplos de indicação de ceratoplastia penetrante são leucoma pós-trauma ou pós-
úlcera de córnea, ceratocone, ceratopatia bolhosa do afácico ou pseudofácico, distrofia de
Fuchs descompensada e úlcera de córnea por infecção (com fins tectônico e terapêutico). Em
países em desenvolvimento como o Brasil, o transplante a quente é uma indicação frequente
de transplante penetrante.
No entanto, com melhorias técnicas, o transplante lamelar tem sido cada vez mais indi
cado em detrimento ao penetrante. A seguir, uma breve comparação entre as técnicas lame
lar anterior e penetrante que pode nortear a escolha do cirurgião para cada caso. Apesar de
vantajoso sobre o transplante penetrante por não apresentar rejeição endotelial e não expor
o conteúdo ocular ao ambiente (“céu aberto”), o transplante lamelar anterior ainda tem sua
indicação restrita, pois é tecnicamente mais difícil, dependendo de mais habilidade do cirur
gião e equipamentos e instrumentais cirúrgicos mais complexos (câmaras artificiais, micro-
93
94 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
nodular de Salzmann). E também indicado para restabelecer a superfície normal da córnea por
meio da reposição de áreas localizadas de afmamento e prevenir uma perfuração em desceme-
tocele sem inflamação, afmamentos corneanos pós-ceratectomia profunda, como, por exem
plo, pós-exérese de pterígio recidivado e afmamentos marginais e ectasias (degeneração mar
ginal de Terrien, degeneração marginal pelúcida e pós-trauma). Mesmo sem a retirada comple
ta do tecido acometido, a melhora da transparência da córnea e a regularização da superfície
óptica contribuem para a reabilitação visual e justificam o procedimento. Outra grande van
tagem do transplante lamelar anterior é não depender da contagem de células endoteliais do
tecido doador (permitindo uso de córneas não viáveis para transplante penetrante óptico) e
não ter risco de induzir a temida rejeição endotelial. Em ambas as técnicas, o botão doador
é suturado ao leito receptor e sempre há indução de algum grau de astigmatismo cirúrgico.
Há uma tendência mundial de redução e até de inversão no número de indicações de cera-
toplastia penetrante com o aumento da ceratoplastia lamelar, seja anterior ou posterior. Téc
nicas como automated lamelar therapeutic keratoplasty (ALTK), deep anterior lamellar keratoplasty
(DALK), para lamelar anterior. E, para transplante lamelar posterior endotelial, uso de técnicas
como DescemeVs stripping endothelial keratoplasty (DSEK), Descemet’s stripping automated endothe
lial keratoplasty (DSAEK) e Descemet membrane endothelial keratoplasty (DMEK).
Recentemente descrito, o laser de femtossegundo permite criar configurações especiais
de incisões de forma controlada e precisa, obtendo uma melhor estabilidade da ferida cirúr
gica e promovendo uma melhor cicatrização e menor tempo de recuperação. Sua aplicação
em banco de olhos tem sido proposta para a preparação da córnea doadora e receptora pela
maior precisão de corte e capacidade de obtenção de lamelas finas, mas o obstáculo tem sido
o custo.
São perspectivas para o futuro: melhores tratamentos para o controle de rejeição, lentes
intraoculares mais modernas, procedimentos menos invasivos, cirurgia assistida por laser de
femtossegundo, córneas artificiais produzidas por bioengenharia e o tratamento clínico das
doenças do endotélio corneano.
CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS
que podem comprometer o sucesso terapêutico também devem ser detectadas e sua correção
programada antes ou mesmo no decorrer do transplante. Em algumas situações, pode até
contraindicar a própria cirurgia devido ao baixo prognóstico visual.
Anestesia
Pode ser sob anestesia local (bloqueio retro ou peribulbar) e, de preferência, acompanhada de
sedação devido ao tempo cirúrgico (em torno de 1 a 2 h) e frequente ansiedade do paciente.
Anestésico pode ser lidocaína a 2% (para procedimentos mais rápidos), bupivacaína a 0,5%
- 0,75% ou rupivacaína 7,5 mg/ml (quando o tempo cirúrgico previsto for mais longo e para
maior analgesia pós-operatória). Volume de anestésico injetado no espaço periocular (3 a 8
ml) pode causar aumento da pressão ocular e consequente aumento do risco intraoperatório
de complicações como perda vítrea e hemorragia expulsiva. Baroftalmo após o bloqueio anes
tésico e/ou agentes hiperosmóticos como manitol 20% endovenoso (1 g/kg) podem contribuir
para diminuir a pressão ocular antes do início da cirurgia.
O paciente deve ter sido avaliado e liberado clinicamente para o procedimento anestésico
e cirúrgico. Diabetes mellitus descompensado, cardiopatias, pneumopatias, infecções e outras
alterações sistêmicas devem estar controladas. Cuidado especial em relação à capacidade de
se manter em decúbito dorsal deve ser observado.
Anestesia geral é indicada para crianças e pacientes que não colaboram com o procedi
mento por serem muito ansiosos, com deficiência mental, apresentarem hipoacusia ou outras
barreiras na comunicação. Anestesia geral também tem indicação em casos cirúrgicos mais
complexos e demorados como, por exemplo, cirurgia combinada, trauma ocular e desorgani
zação do segmento anterior.
Início da cirurgia
Realizada a anestesia, seguem-se as etapas rotineiras de assepsia com iodopovidona a 2% ou
clorexidina e colocação de campos estéreis. O blefarostato deve respeitar a abertura palpebral
de cada paciente, não pressionar o globo ocular e, assim, não causar aumento da pressão ocu
lar. Recomenda-se a fixação do anel de sustentação escleral de Flieringa (anel mais comumente
usado) com Vicryl 7-0 com agulha espatulada. Indicado principalmente se houver risco de de-
sestruturação do arcabouço escleral (crianças, afácicos e cirurgias combinadas), de hemorragia
expulsiva ou se o tempo cirúrgico previsto for longo. O tamanho do anel é determinado de
maneira a se posicionar de 2 a 3 mm do limbo (normalmente, tamanho de 18 a 20 mm). Como
o próprio anel pode causar distorção e induzir astigmatismo, ele pode ser retirado após o oi
tavo ponto (no caso de sutura interrompida).
Apoio familiar
Cuidados pós-operatórios devem ser bem enfatizados antes da cirurgia, e o suporte da família
é fundamental para o sucesso do transplante de córnea, principalmente em casos de trans
plante em crianças. Deve-se fornecer toda a orientação quanto às possíveis complicações, à
importância do uso correto das medicações, à frequência de consultas e exames, ao longo
96 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
TÉCNICA CIRÚRGICA
Tamanho do botão
O tipo de doença e a extensão da opacidade corneana determinam o tamanho do enxerto,
assim como o material para a sutura e seu padrão. Botão doador deve se centralizar na zona
óptica tentando abranger a doença corneana, que pode ser discreta e superficial ou profunda
com comprometimento endotelial e/ou periférico. Geralmente, os botões doadores são de 7
a 8,5 mm de diâmetro. Botões menores que 7 mm podem comprometer o resultado óptico
pelo alto astigmatismo induzido, e botões maiores que 8,5 mm são mais suscetíveis a rejeição
pela maior proximidade ao limbo. Em casos em que se deseja um aplanamento corneano no
pós-operatório, o botão doador pode ter o mesmo diâmetro que o receptor ou ser até menor
(casos de alta miopia axial ou câmara anterior bem profunda). Geralmente, botão doador é 0,5
mm maior que o botão receptor, podendo ser 1 mm maior em casos de transplante tectônico,
onde se deseja uma câmara anterior bem profunda para diminuir as chances de sinequias an
teriores e glaucoma ou em afácicos para se compensar a hipermetropia pós-operatória. Além
disso, o botão doador maior leva ao receptor mais células endoteliais e pode ser interessante
em casos de deficiência endotelial. Botão doador trepanado com o mesmo diâmetro que o
receptor é, na prática, 0,2 a 0,5 mm menor, o que deve ser considerado ao se planejar a cirur
gia. Isto ocorre porque a trepanação é feita na face endotelial da córnea do doador e na face
epitelial da córnea do receptor. A trepanação pode ainda ser discretamente descentralizada
para se abranger a maior extensão da lesão, como, por exemplo, no ceratocone (geralmente
inferior) ou em leucomas paracentrais.
Trepanação
A trepanação pode ser manual, automatizada ou com laser de femtossegundo. Os trépanos
mais usados no Brasil são o trépano mecânico de Franceschetti e o a vácuo de Barron-Hess-
burg (Katena Products, EUA). Existe a trepanação automatizada utilizando o trépano de Han-
na (Moria, França). Mais recentemente, temos à disposição o laser de femtossegundo, que
possibilita a confecção de lamelas de formas diferentes (incisões tipo top hat indicadas para
deficiência endotelial ou mushroom shapecl para ceratocone, Z, árvore etc.), incisões mais au-
tosselantes, diminuindo a necessidade de suturas.
Sutura
A sutura do botão doador pode ser com 16 pontos separados de mononáilon 10-0, sutura
combinada com contínua de mononáilon 11-0 e pontos separados de mononáilon 10-0 ou so
mente sutura contínua com mononáilon 10 ou 11-0. A sutura com pontos separados permite
um melhor ajuste do astigmatismo pós-operatório, pode ser removida precocemente nos lo-
Ceratoplastia Penetrante 97
cais de neovascularização e é tecnicamente mais simples de ser realizada, apesar de mais de
morada. A sutura deve ser profunda, ao nível da membrana de Descemet, porém deve-se evitar
a sutura perfurante. O ponto deve ser equidistante, aproximadamente envolvendo 0,5 mm da
córnea doadora e 0,5 mm da córnea receptora, e todos os pontos devem ser sepultados, se
possível, do lado doador para evitar neovascularização. Em crianças, as suturas geralmente
devem ser precocemente retiradas, pois a cicatrização é rápida e a inflamação e a neovascula
rização são mais intensas.
Viscoelástico
Viscoelástico é fundamental para se manter a câmara anterior e proteger o endotélio. Viscoleás-
tico tipo coesivo é mais indicado que o dispersivo, pois é mais facilmente removido do ângulo da
câmara anterior, diminuindo o risco de bloqueio e o aumento de pressão ocular no pós-operatório.
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS
Visitas ao consultório
■ observar: defeitos epiteliais, inflamação intraocular (reação de câmara anterior), edema de
córnea, dobras de Descemet, sinequias anteriores e posteriores, profundidade da câmara
anterior, presença de sinal de Seidel, sutura (pontos frouxos, apertados ou não sepultados),
infiltrados ou sinais de infecção; em cirurgias combinadas, atentar-se para a forma da pupi
la, posicionamento da lente intraocular e medir a pressão intraocular
■ periodicidade: visitas com 1 dia de pós-operatório, 1 semana, 3 semanas, 8 semanas, 12
semanas, 6 meses, 9 meses e 1 ano. A partir do 2- ano, avaliações anuais. Muito importante
orientar sobre sinais e sintomas precoces de rejeição para que o paciente procure avaliação
oftalmológica imediata.
Medicações (colírios)
■ Acetato de prednisolona a 1% ou dexametasona a 0,1% de 3/3 h e diminuir gradualmente a
partir da semana.
■ Cobertura antibiótica, por exemplo com quinolona de 4- geração (besifloxacino a 0,6%,
gatifloxacino a 0,3 ou a 0,5% ou mofloxacino a 0,5%) de 6/6 h. Suspender quando o epitélio
estiver íntegro (geralmente em torno de 1 a 2 semanas pós-cirurgia).
Glaucoma
■ colírio de maleato de timolol a 0,5% 1 gota de 12/12 h;
■ associar colírio agonista a-2 adrenérgico (tartarato de brimonidina a 0,2%) de 12/12 h;
■ associar inibidor de anidrase carbônica (acetazolamida) 250 mg VO de de 6/6 h;
■ evitar, se possível, colírio de análogo de prostaglandina;
■ avaliar a necessidade de implante de drenagem antiglaucomatosa.
Rejeição endotelial
Detecção precoce é a melhor forma de controlar e reverter a rejeição. O paciente deve ser
orientado sempre a procurar atendimento oftalmológico especializado se apresentar olho ver
melho, fotofobia, embaçamento visual, lacrimejamento e dor.
■ colírio de acetato de prednisolona a 1%de 1/1 h (inclusive à noite) nos primeiros dias;
■ associar 3 injeções subconjuntivais diárias de dexametasona 1 mg quando houver dúvida
do uso correto do colírio ou para rejeição que não melhorar em 24 h;
■ associar prednisona 1 mg/kg/dia VO;
■ em casos de alto risco, pode-se associar pulsoterapia com dose única de metilprednisolona
500 mg EV com supervisão clínica.
Infecção
Colher raspado corneano para bacterioscopia, citologia e cultura com antibiograma e tratar de
acordo com resultado laboratorial. Logo após a coleta, iniciar tratamento com colírio de an
tibiótico de amplo espectro (quinolona de quarta geração: besifloxacino a 0,6%, gatifloxacino
Ceratoplastia Penetrante 99
0,5% ou mofloxacino a 0,5%) de 6/6 h e nos casos graves de 1/1 h. Considerar o uso de colírios
(cefazolina e tobramicina) fortificados de 1/1 h conforme o quadro clínico (infiltrado grande e
profundo, consumo de tecido - melting, proximidade com o eixo visual).
BIBLIOGRAFIA
Brightbill FS. Corneal Surgery: theory, technique and tissue. St. Louis: Mosby, 2009.
Frost NA, Wu J, Lai TF, Coster DJ. A review of randomized controlled trials of penetrating keratoplasty techniques. Ophthal
mology, 2006; 113(6): 942-9.
Keenan TD, Jones MN, Rushton S, Carley FM - National Health Service Blood and Transplant OcularTissue Advisory Group
and Contributing Ophthalmologists (OcularTissue Advisory Group Audit Study 8 ).Trends in the indications for corne
al graft surgery in the United Kingdom: 1999 through 2009. Arch Ophthalmol, 2012; 130(5):621-8.
Lichtinger A, Yeung SN, Kim P, Amiran MD, Rootman DS. The era of lamellar keratoplasty, evolving surgical techniques in
corneal transplantation: the University ofToronto experience. Can J Ophthalmol, 2012; 47(3):287-90.
Niederkorn JY. Cornea: Window to Ocular Immunology. Curr Immunol Rev, 2011; 7(3):328-35.
Price FW, Price MO. Adult keratoplasty: has the prognosis improved in the last 25 years? Int Ophthalmol, 2008; 28:141-6.
Santos NC, Sucomine PT, Sousa LB, Sato EH, Freitas D. Ceratite infecciosa pos-transplante de cornea. Arq Bras Oftalmol,
1999;62:48-53.
Shah SU, Gritz DC. Application of the femtosecond laser LASIK microkeratome in eye banking. Curr Opin Ophthalmol,
2012; 23(4):257-63.
Shimmura S, Ando M, IshiokaM, Shimazaki J, Tsubota K. Same-size donor corneas for myopic keratoconus. Cornea, 2004;
23(4):345-9.
Young AL, Kam KW, Jhanji V, Cheng LL, Rao SK. A new era in corneal transplantation: paradigm shift and evolution of tech
niques. Hong Kong Med J, 2012; 18(6):509-16.
ON
fM
0 primeiro transplante lamelar, com finalidade de restaurar a visão, foi realizado por Arthur
von Hippel no final do século XIX. A ideia inicial da ceratoplastia lamelar era a de trocar apenas
a parte da córnea acometida, mantendo as camadas normais do receptor intactas. Até 1980,
o único tipo de transplante lamelar que existia era denominado in \ay, no qual o estroma do
receptor era removido em parte e a córnea doadora era colocada nesse leito preparado pre
viamente para repor a espessura do tecido corneano perdido.
Com o advento da epiceratofacia foi introduzido o termo on lay. Nesse caso, o estroma do
receptor não é removido e outro tecido corneano é colocado sobre o leito receptor desepiteliza-
do centralmente, após uma ceratectomia circular na sua porção periférica. Essa técnica foi muito
utilizada para correção de altas ametropias, ceratocone, ceratoglobo e degenerações periféricas.
Atualmente, existem variações técnicas do procedimento in lay. Ressecções profundas do
tecido receptor, com maior regularidade da superfície, podem ser obtidas com a injeção de ar,
solução fisiológica salina e/ou viscoelástico no estroma. A utilização do microcerátomo ou do
excimer laser, tanto no receptor quanto no doador, permite a aquisição de cortes de diferentes
espessuras e diâmetros. Recentemente, o femtosecond laser, que trabalha com comprimento de
onda superior ao excimer, vem sendo utilizado para ressecção do tecido corneano em trans
plantes lamelares (com profundidade máxima de 400 micra), por meio de um processo deno
minado de fotodisrupção.
De acordo com a quantidade de tecido removido do receptor, o preparo da córnea doa
dora pode ser o mesmo das ceratoplastias penetrantes, com sua trepanação total e remoção
ou não do endotélio e Descemet. A obtenção de lamelas de tecido doador foi facilitada com o
advento das câmaras anteriores artificiais, que permitem que o botão corneoescleral seja pre
parado da mesma forma que se estivéssemos trabalhando com o globo ocular inteiro.
A ceratoplastia lamelar anterior, apesar de considerada tecnicamente mais difícil, apresen
ta a vantagem de não penetrar na câmara anterior, reduzindo os riscos inerentes aos proce
101
102 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Brightbill FS. Corneal Surgery: Theory, Technique and Tissue. St. Louis: Mosby, 1993.
Nosé W, Nosé RAM. Ceratoplastias e Ceratectomias. In: Belfort Jr R, Kara-Jose N. Córnea: Clínica - Cirúrgica. São Paulo: Roca,
1997, p 493-504.
Terry MA. The evolution of lamellar grafting techniques over twenty-five years. Córnea, 2000; 19(5):611-6.
Ceratoplastia
Lamelar Posterior
O transplante endotelial lamelar profundo é uma nova técnica de transplante de córnea que
permite a troca do endotélio doente pelo de um doador, sem a necessidade de grandes inci-
r
sões ou suturas na superfície corneana. E uma técnica nova, tendo sido apresentada à comu
nidade oftalmológica em 1993. Durante sua evolução, a técnica sofreu alterações e recebeu
diferentes nomes:
■ PLK: Posterior Lamellar Keratoplasty.
■ DLEK: Deep Lamellar Endothelial Keratoplasty.
■ DSEK: Descemets Stripping Endothelial Keratoplasty.
■ DSAEK: Descemets Stripping with Automated Endothelial Keratoplasty.
103
104 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
forma usual com diâmetros que variam, em geral, de 8 a 9 mm. A porção anterior da córnea
trepanada é descartada.
O preparo da córnea receptora se inicia com a marcação do epitélio corneano com um
trépano de tamanho predeterminado, geralmente o mesmo tamanho do tecido doador, para
guiar o descolamento do endotélio doente. Através de uma incisão limbar de 5 mm, o endoté-
lio é lacerado de forma circular sob a área marcada no epitélio para depois ser descolado junto
com a membrana de Descemet.
Ao final, insere-se o tecido doador dobrado com a porção endotelial voltada para dentro
e coberta por substância viscoelástica. Uma bolha de ar e um gancho auxiliam no correto po
sicionamento da córnea doadora.
Entre as complicações relatadas, encontram-se a falência primária, deslocamento de dis
co, infecção de interface, glaucoma e catarata.
BIBLIOGRAFIA
Ko WW, Feldman ST, Frueh BE, Shields CK, Costello ML. Experimental posterior lamelar transplantation of. the rabbit cor
nea. Invest. Ophthalmol Vis Sci, 1993; 34(suppl):1102 p.
Melles GR, Lander F, van Dooren BT e t a l. Preliminary clinical results of posterior lamellar keratoplasty through a sclerocor-
neal pocket incision. Ophthalmology, 2000; 107:1850-6.
Price FW Jr, Price MO. Descemet's stripping with endothelial keratoplasty in 200 eyes - Early challenges and techniques to
enhance donor adherence. J Cataract Refract Surg, 2006.
Terry MA, Ousley PJ. Replacing the endothelium without corneal surface incisions or sutures: the first United States clinical
series using the deep lamellar endothelial keratoplasty procedure. Ophthalmology, 2003; 110:755-64.
Terry MA, Ousley PJ. Deep Lamellar Endothelial Keratoplasty: Early Complications and their Management. Cornea, 2006.
Perspectivas Futuras em
Transplantes Lamelares
O transplante lamelar é certamente a forma mais lógica de transplante de córnea, pois per
mite a troca apenas da porção doente desse tecido, mantendo intactas as partes saudáveis.
Por isso, muitos são os estudos e os avanços acerca das mais diversas técnicas de transplante
lamelar, tanto anterior quanto posterior.
A doença endotelial seria idealmente tratada através da indução da replicação das células
endoteliais in loco. Contudo, ainda não se viabilizou a indução e o controle da mitose endote
lial desencadeada farmacologicamente. Infelizmente, a nossa realidade ainda é outra, sendo
a cirurgia de substituição endotelial a melhor opção. Atualmente, a melhor forma de trans-
plantar-se e posicionar-se adequadamente o endotélio no olho receptor é estando aderido à
membrana de Descemet, desprovido de estroma, permitindo a realização da melhor interface
possível e, consequentemente, de uma adequada acuidade visual.
As opacidades anteriores da córnea são alterações que normalmente cursam com endo
télio saudável, o que faz ser desejável mantê-lo e trocar apenas a porção doente do tecido.
Muitas das causas de transplante por opacidade corneana são resultados de distrofias estro-
mais, ceratocone ou trauma corneano, por exemplo. As duas primeiras poderão, no futuro, ser
tratadas com alguma forma de terapia gênica. Atualmente, dispõe-se apenas da substituição
mecânica do tecido doente ou da sua ablação a laser.
Diversos avanços técnicos, alguns ainda em investigação, poderão ser de grande auxílio
no futuro. No entanto, alguns pré-requisitos devem ser alcançados antes para garantir o su
cesso do tratamento, como, por exemplo, tecido doador em quantidade suficiente, cirurgiões
capacitados para a realização de procedimentos complexos e diminuição dos custos de mate
riais e equipamentos especializados. Além disso, outro desafio bem conhecido, em ambos os
tipos de transplante, é a obtenção de uma interface doador-receptor opticamente adequada
que garanta a melhor acuidade visual possível.
105
106 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
E muito provável que, em alguns anos, o transplante endotelial e o transplante lamelar an
terior venham a substituir o penetrante, propiciando grandes benefícios a todos aqueles com
doenças corneanas. As técnicas atualmente empregadas evoluirão para tornar o procedimento
mais acessível, de realização menos complexa e com melhor acuidade visual, a partir da con
fecção de uma interface opticamente adequada.
Transplante Tectônico
Tectônico significa: arte de construir, arte de carpintar ou ramo da geologia que estuda a cros
ta terrestre. Entende-se que o transplante tectônico é aquele com características de reconstru
ção do globo ocular, sem a finalidade óptica no momento.
O enxerto tectônico é uma opção em casos selecionados de córneas extremamente afi
nadas, em risco iminente de perfuração; ou em casos de perfuração corneana, onde a sutura
primária não é possível, visando principalmente à restauração da integridade do globo ocular.
O fator preponderante para determinar a escolha entre as técnicas lamelar e penetrante
na ceratoplastia tectônica baseia-se na extensão e profundidade da lesão. Sendo a lesão de
até 1 mm e interessando o terço anterior da córnea, aplica-se a solução lamelar. Nos outros
casos, mais extensos e profundos, impõe-se a técnica penetrante. Por vezes, o afmamento é
grande em extensão, porém a perfuração é pequena e central a esse afmamento. Assim, a téc
nica lamelar terá preferência, mesmo que uma pequena parte entre em contato com o humor
aquoso.
Vale a pena enfatizar que o transplante tectônico de emergência raramente é indicado em
traumas corneanos. Com as técnicas de cola e suturas, a maioria das feridas pode ser fechada
sem o auxílio do transplante. Essa cirurgia pode ser deixada para uma segunda etapa, com o
olho estabilizado e melhor prognóstico visual, então com finalidade óptica.
107
Epiceratoplastia
A epiceratoplastia é uma forma de transplante de córnea lamelar onde uma lente preparada a
partir de tecido corneano humano é suturada na porção anterior da córnea, com o objetivo de
alterar sua curvatura anterior e propriedades refrativas. No início da história dessa técnica, o
tecido era preparado e liofilizado, necessitando de reidratação no momento da cirurgia. Com
o tempo, as lentículas passaram a ser preparadas a fresco, sem o processo da liofilização. Epi-
ceratofaquia é um termo que deriva da epiceratoplastia e se refere à mesma técnica cirúrgica
com o propósito de corrigir a afacia na infância, especialmente em casos de trauma, onde a
córnea pode estar com sua topografia comprometida.
A estratégia cirúrgica consiste em empregar lentícula corneana preparada a partir de teci
do doador sem condições de ser utilizado em um transplante penetrante por baixa qualidade
endotelial. A lentícula é confeccionada com diâmetro e espessura predeterminados por alguns
bancos de olhos capacitados. No ceratocone, por exemplo, o procedimento inicia-se com a
remoção do epitélio central do receptor e continua com a trepanação de aproximadamente
225 a 250 jum de profundidade, mantendo intacta a porção central desepitelizada da córnea.
O diâmetro empregado é 0,5 mm menor do que o do tecido doador e o da lentícula suturada
no sulco originado pela trepanação parcial.
O sucesso da epiceratoplastia depende fundamentalmente da capacidade de reepiteli-
zação do tecido e do controle da inflamação, que evitam a vascularização da interface e das
suturas e a diminuição da transparência, respectivamente. Os resultados visuais com essa téc
nica em comparação ao transplante de córnea penetrante demonstram uma acuidade visual
corrigida média de 20/50 para epiceratoplastia e 20/30 para transplante penetrante.
A utilização de material sintético na epiceratoplastia é um procedimento em investigação
científica, onde uma lentícula de material biocompatível é afixada na porção anterior de uma
córnea receptora desepitelizada, da mesma forma que na técnica tradicional. Materiais como
os com conteúdo colágeno ou como o 2-hidroxietil metacrilato (HEMA) são potencialmente
109
110 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
adequados por serem biocompatíveis, permeáveis aos nutrientes e aos metabólitos do aquo
so, e por serem facilmente confeccionados quanto ao diâmetro, espessura e poder dióptrico.
Avanços nas técnicas de transplante lamelar reduziram o entusiasmo no desenvolvimento e
implementação da epiceratoplastia sintética. Resumidamente, há poucas indicações da epice-
ratoplastia.
BIBLIOGRAFIA
Kaufman HE. The correction of aphakia. Am J Ophthalmol, 1980; 89:1-10.
Wagoner MD, Smith SD, Rademaker WJ e t al. Penetrating keratoplasty vs. epikeratoplasty for the surgical treatment of
keratoconus. J Refract Surg, 2001.
Wagoner MD, AI Swailem S, Rademaker WJ e t a l. In: Azar DT. (ed.). Refractive Surgery. Philadelphia: Mosby/Elsevier; 2007;
373-8.
Ceratoplastia Rotacional
Indica-se ceratoplastia rotacional nas opacidades de córnea em que a rotação do enxerto pro
picia, em virtude da localização da opacidade, seu deslocamento para fora do eixo visual.
Nesses casos, obtém-se a melhora da transparência corneana na região do eixo visual, dispen-
sando-se a aplicação do enxerto homólogo. Existem vantagens nessa técnica, como a utiliza
ção do tecido do próprio paciente, eliminando-se a preocupação com rejeição imunológica.
Entretanto, todas as outras possíveis complicações continuam presentes. Geralmente, nesses
casos, onde se dá preferência pela rotação do botão corneano, o astigmatismo residual é
muito grande. A opacidade é levada mais para a periferia, mas a diferença entre as espessuras
corneanas criadas a partir da rotação, assim como o próprio leucoma, acaba gerando grande
astigmatismo. Esse astigmatismo de características irregulares demanda adaptação de lentes
de contato rígidas gás-permeáveis. Essas lentes são de difícil adaptação, por vezes com movi
mentação excessiva, o que pode provocar fracasso terapêutico.
Assim, a técnica de ceratoplastia rotacional é utilizada quando não há córneas suficientes
para o transplante, em casos de olho único, e onde a rejeição imunológica é a principal preo
cupação pós-operatória, e o prognóstico de acuidade visual corrigida pode ficar reduzido sem
comprometer a satisfação do paciente.
111
ui
Transplante de
Córnea Autólogo
113
114 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Fukuda M, Kato Y, HibinoT, Shimomura Y, Inoue Y Three cases of "domino" keratoplasty: report of case. Jpn J Ophthalmol,
2003; 47(5):529-30.
Matsuda M, Manabe R. The corneal endothelium following autokeratoplasty. A case report. Acta Ophthalmol, 1988;
66(1)54-7.
Sugar J. Phakic keratoplasty. In: Brightbill FS (ed.). Corneal surgery. St. Louis: Mosby, 1999:279-83.
Ceratoprótese
115
116 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Ilhan-Sarac V, Akpek EK. Current concepts and techniques in keratoprosthesis. Curr Opin Ophthalmol, 2005; 16:246-50.
Ilhan-Sarac V, Akpek EK. Current concepts and techniques in keratoprosthesis. Curr Opin Ophthalmol, 2005.
Khan B, Dudenhoefer EJ, Dohlman CH. Keratoprosthesis: an update. Curr Opin Ophthalmol, 2001; 12:282-7.
Niederkorn JY. Mechanisms of corneal graft rejection: the sixth annual Thygeson Lecture, presented at the Ocular Micro
biology and Immunology Group meeting, October 21,2000. Cornea, 2001.
Manejo Pós-Operatório
Complicações
Astigmatismo
FERNANDO DOS REIS SPADA • FLÁVIO EDUARDO HIRAI • MÁRCIO ZAPPAROLI CÁSSIO
VENDRAMIN • GLEISSON REZENDE PANTALEÃO • SÂMIA ALI WAHAB
HAMILTON MOREIRA • ELCIO HIDEO SATO
Atualmente, taxas de sucesso, definidas como transparência da córnea após 1 ano, estão aci
ma de 90%. Com taxas altíssimas de sobrevivência do enxerto, e pelo fato de que a transparên
cia do enxerto nem sempre significa bom resultado visual, oftalmologistas de todo o mundo
começaram a analisar os resultados funcionais, que ainda hoje são muito dependentes da
habilidade e experiência do cirurgião.
O principal fator responsável por uma má reabilitação visual é o astigmatismo. Ele é vari
ável e relativamente imprevisível, com casos de astigmatismos tão altos quanto 20,0 D. Altos
astigmatismos têm um impacto negativo na qualidade de vida de pacientes transplantados, de
acordo com estudos realizados com questionários sobre qualidade de vida associada à saúde.
O astigmatismo pode ter origem nos mais variados fatores, que incluem: trepanação, dis
paridades entre córnea doadora e receptora, patologia da córnea receptora, irregularidades
na configuração da incisão, técnica de sutura e controle pós-operatório do astigmatismo, e até
mesmo o astigmatismo do doador.
De acordo com alguns levantamentos com grande número de pacientes, entre 47 e 48%
dos pacientes atingem uma acuidade visual igual ou superior a 20/40, com a melhor correção
em 2 anos. E apenas 27 a 34% dos pacientes apresentam astigmatismo inferior ou igual a 3,0
D em 2 anos.
Até cuidados básicos, como a escolha do blefarostato, podem interferir no resultado final
do astigmatismo. Este deve ter o tamanho adequado para a fenda palpebral do paciente e ser
posicionado de modo a minimizar a pressão sobre o globo ocular, para que seja exercida dire
tamente pelo próprio blefarostato ou indiretamente, através das pálpebras. Qualquer pressão
sobre o globo pode provocar distorção e levar a uma trepanação oval ou irregular, bem como
a posicionamento não simétrico das suturas.
Levando-se em conta o mesmo princípio aplicável aos blefarostatos, o anel de fixação es-
cleral pode induzir astigmatismo. Usado principalmente em pacientes pediátricos, afácicos ou
119
120 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
pseudofácicos, nas quais há maior risco de colapso escleral, o anel de fixação escleral deve ter
diâmetro menor do que a abertura palpebral conseguida com o blefarostato, para não transmi
tir pressão das pálpebras e do próprio blefarostato sobre o globo. Esse anel deve ser retirado
nos passos finais da cirurgia para posterior ceratoscopia e ajuste dos pontos, melhorando o
controle do astigmatismo.
O centro da córnea pode ser marcado com o auxílio de um compasso, ou simplesmente de
um gancho de Sinskey ou instrumento semelhante. A trepanação deve ser realizada centrada
ou, quando há deslocamento da pupila, que em geral é ligeiramente nasal, entre o centro da
córnea e o centro pupilar. Algumas vezes, o centro da pupila fica deslocado significativamente
em relação ao centro da córnea. Nesses casos, o cirurgião pode optar por uma trepanação de
maior diâmetro. A topografia pré-operatória, o centro da pupila e o diâmetro da córnea recep
tora são variáveis que devem ser observadas conjuntamente nesse tempo cirúrgico.
A colocação de suturas simétricas é importante para o controle do astigmatismo. Dessa
forma, alguns cirurgiões optam por marcar previamente à trepanação o posicionamento das
suturas radiais.
Existem algumas variáveis não controláveis que pesam no astigmatismo residual final de
um transplante de córnea: o astigmatismo da córnea doadora, a biomecânica da córnea re
ceptora, a estabilidade da cicatrização corneana. Entretanto, entre as variáveis controláveis, a
trepanação parece ser a mais importante em longo prazo.
A trepanação adequada dos botões corneanos é o principal fator responsável por um bom
resultado refrativo. Uma boa trepanação com um leito homogêneo proporciona, no pós-ope
ratório de um transplante penetrante de córnea, principalmente após a remoção das suturas,
melhor controle do astigmatismo. A confecção da trepanação pode ser realizada por dife
rentes técnicas e trépanos. Os trépanos se diferenciam tanto no modelo quanto nas marcas.
Pode ser realizada de maneira mecânica (com ou sem vácuo) e automatizada (excimer laser ou
femtosecond laser).
Entre as formas mecânicas, a mais simples é a manual, com trépano de Franceschetti (Fig. 1).
Nessa técnica, para trepanar a córnea receptora, o globo ocular deve estar estável, e, para tal, é
aconselhável a preensão dos retos superior e inferior. O cirurgião produz um terceiro ponto de
apoio e estabilização, segurando o globo com pinça de dentes finos próximo ao limbo. Em se
guida, posiciona o trépano descartável de acordo com o planejado e gira cerca de 33% de volta,
alternando movimentos horários e anti-horários até a profundidade adequada. Esta deve ser
uniforme. Uma das dificuldades técnicas com esse tipo de trépano é a desigualdade do corte,
mais profundo de um lado que do outro. Quando toda a circunferência atinge a profundidade
adequada, completa-se a entrada na câmara anterior com lâmina de bisturi ou diamante, com
pletando a retirada da córnea com tesouras curvas. Deve-se evitar o uso de muita pressão para
o corte. Para isso, é importante que o corte da lâmina do trépano esteja adequado, evitando
a reutilização do mesmo. Com trépanos reutilizados, a afiação fica progressivamente compro
metida, exigindo pressão para realizar o corte. Isso pode levar a uma penetração da câmara
inadvertida, com sangramento de vasos do ângulo, ou pior, traumas na íris ou cristalino.
Para a trepanação da córnea doadora, o botão é apoiado em uma base de teflon côncava, e
a lâmina corta a córnea pela face endotelial. Existem diversas marcas de suportes para a lâmina
descer verticalmente sobre o botão.
Astigmatismo 121
Figs. 2 (A e B) A. Trépano de Barron-Hessburg com sistema de vácuo acionado por seringa. B. Referência
central em forma de cruz para controle de centragem da trepanação.
122 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Figs. 3 (A e B) A. Trépano de Barron-Hessburg para córnea doadora com sistema a vácuo acionado por
seringa. B. Detalhe da base para apoio da córnea doadora com dispositivo a vácuo.
Além disso, apresentam sistema de encaixe entre a base (onde é apoiada a córnea) e a lâ
mina, fazendo com que a lâmina desça, obrigatoriamente de maneira vertical. Isso minimiza
r
as chances de um corte oblíquo ou ovalado do botão doador. E importante ressaltar que os
trépanos manuais também podem ser acoplados a dispositivos semelhantes, evitando que a
lâmina desça de forma irregular ou oblíqua.
Entre as principais diferenças entre os dois sistemas com acionamento do vácuo, podemos
citar a localização onde o vácuo é exercido na córnea, no trépano de Barron-Hessburg e no lim
bo no trépano de Hanna. Outra diferença está no dispositivo que aciona a descida da lâmina.
No trépano de Hanna, o controle da descida da lâmina é lateral e não tem contato direto com
a lâmina, possuindo também marcador em micra da profundidade do corte. Já no sistema de
Barron-Hessburg, o controle da descida da lâmina é superior e faz parte da lâmina, havendo,
nesse caso, maior movimentação do globo ocular durante a rotação desse dispositivo, e não
favorecendo, assim, a realização de um corte tão suave quanto aquele obtido com o sistema
de Hanna.
Estudos em laboratório comparando os cortes de ambos os trépanos demonstraram que
o trépano de Hanna realiza cortes anteroposteriores corneanos mais circulares e com menor
variação de ângulos ao redor das bordas quando comparado ao trépano de Barron-Hessburg.
Já em estudo clínico, que comparou os resultados refrativos no pós-operatório de transplante
de córnea em 124 olhos operados (62 com cada trépano), demonstrou-se melhor AV e maior
ganho de linhas de visão com 6 e 12 meses de pós-operatório (ainda com sutura) no grupo que
utilizou o trépano de Hanna. Não se notou diferença significativa quanto ao astigmatismo re-
r
Visando uma trepanação ainda mais regular, e cada vez menos dependente da habilidade
do cirurgião, foi proposta uma maneira não mecânica de trepanação através da utilização de
excimer laser e, posteriormente, com ofemtosecond laser.
A trepanação com o excimer laser é uma técnica que não alcançou popularidade pelas difi
culdades técnicas inerentes ao procedimento.
A trepanação com femtoseconcl laser tem ganhado popularidade pela possibilidade de rea
lizar cortes com diferentes formatos, impossíveis de realizar manualmente. Esse tipo de tre
panação modelada (formas de cogumelo, sombrero e zigue-zague) diminuiria o astigmatismo
pós-operatório e permitiria uma reabilitação visual mais precoce.
De todos esses dados, o mais importante é o conceito de que a trepanação ideal deve ser
realizada de maneira bem centrada, circular, com paredes perpendiculares e não biseladas, de
modo a não induzir astigmatismo por irregularidade do corte, principalmente após a remoção
da sutura.
Não só a trepanação influi no erro refrativo pós-operatório, mas também a alteração
corneana que levou ao transplante. Pacientes portadores de ceratocone apresentam maior
tendência a evoluírem com mais miopia e astigmatismo comparados a pacientes com outras
doenças. Em um estudo de Wilson e Bourne, pacientes com ceratocone tornaram-se, na mé
dia, 1,7 D mais míopes do que pacientes com distrofia de Fuchs submetidos a ceratoplastia
penetrante. Também o astigmatismo parece ser maior em pacientes com cone do que outras
doenças, variando, na média, de acordo com a literatura, entre 3,5 e 5,5 D.
Segundo Lanier et ai, a causa dessa miopia não é um maior comprimento axial nos pacien
tes com ceratocone, pois, após estudo de 223 olhos com ceratocone, observou-se comprimen
to axial igual ou, ao menos, muito semelhante ao da população normal.
A verdadeira causa dessa miopia pode ser relacionada a uma curvatura corneana e profun
didade de câmara anterior maiores observadas nesses pacientes.
As córneas de olhos com ceratocone são mais curvas, e a câmara anterior mais profunda.
A trepanação é feita sempre em sentido vertical. Dessa forma, o corte pode deixar um anel
residual de córnea recipiente maior do que o normal. A colocação de uma córnea doadora
com tamanho normal (0,25 ou 0,50 mm maior que o leito receptor) pode redundar em uma
câmara anterior mais profunda e córnea mais curva no pós-operatório. Assim, resulta em uma
tendência a maior miopia em pacientes com ceratocone.
Uma forma de controlar esse acontecimento é com a utilização de um botão doador menor
(mesmo tamanho ou até 0,25 mm menor do que o leito receptor). Porém, se o encurvamento
da córnea receptora for assimétrico, o que é comum em casos de ceratocone, o comprimento
e curvatura do anel corneano residual pós-trepanação variam ao redor de sua circunferência.
Assim, a colocação de um botão doador redondo, mesmo que do mesmo tamanho, pode até
reduzir a miopia, mas não resulta em melhora do astigmatismo. Com esse pensamento, alguns
cirurgiões propõem a cauterização do centro da córnea receptora, imediatamente antes da
trepanação, em casos de ceratocone muito avançados.
A cauterização corneana (Fig. 4), ou termoceratoplastia, foi introduzida na década de
1970, por Gasset e Kaufman, com o intuito de aplanar o cone. Esse procedimento, com resul
tados algumas vezes interessantes, mas muitas vezes limitados no tempo, foi deixado de lado,
mas ficou a observação de que o “encolhimento” corneano poderia aplanar o cone e regulari
zar o formato corneano, o que levou ao seu uso antes da trepanação corneana.
124 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
A sutura em transplante penetrante de córnea tem sido objeto de inúmeras pesquisas. A su
tura ideal deve ser inerte, ter tensão suficiente para coaptar as bordas da ferida operatória,
manter os tecidos em posição por longo tempo, ser dócil ao trato e não induzir irregularidade
corneana. Mas, como a realização de uma sutura que não provoque aberrações ópticas ainda
não é viável, a sutura continua a exercer papel fundamental no resultado refrativo de um trans
plante, sendo um dos principais responsáveis pelo astigmatismo observado no pós-operatório
precoce. Vários aspectos relacionados à técnica cirúrgica e ao tipo de sutura podem influen
ciar no resultado refrativo.
Ao se pensar em um ponto de sutura, deve-se ter em mente que as suturas funcionam
como vetores, ou seja, têm força e sentido (Fig. 5). Objetivando que, ao final de um transplan
te de córnea, a sutura não induza astigmatismo, o somatório da força exercida por todos os
pontos (todos os vetores) deve ser nulo ou igual a zero.
Astigmatismo 125
Os pontos devem ser perfeitamente distribuídos radialmente, para que o ponto das 12 h
anule o ponto das 6 h, o ponto das 3 h anule o das 9 h, e assim por diante. Muitos cirurgiões
se utilizam de marcadores corneanos para a obtenção de uma distribuição regular dos pontos.
Além disso, os pontos devem ter o mesmo comprimento e mesma profundidade, de modo a
coaptar homogeneamente a incisão. De nada adianta os pontos estarem distribuídos radial
mente, terem o mesmo comprimento e profundidade, se estão apertados de maneira desigual,
com um ponto exercendo mais tensão do que o outro sobre a córnea doadora, desequilibran
do, assim, o resultado final do somatório dos vetores.
O ponto mais importante para controle do astigmatismo em toda a sutura é o segundo.
Ele deve ser posicionado exatamente a 180° do primeiro ponto para centrar bem a córnea,
dividindo o tecido corneano em partes iguais (Fig. 6). Um deslocamento da córnea de apenas
0,1 mm ou 5o pode provocar 4 dioptrias de astigmatismo.
A sutura ideal (Fig. 7), amplamente descrita na literatura, defende que a agulha passe a
uma profundidade de 90% nos estromas corneanos doador e receptor. Isto promove maior
área de contato entre as duas córneas na incisão, favorecendo a cicatrização, mais forte e mais
estável refrativamente. A sutura de profundidade adequada e semelhante entre receptor e
doador evita má justaposição (degrau), e é muito difícil de realizar em pacientes com cerato-
cone ou grande edema. No primeiro caso, é frequente ter doador com córnea mais fina e, no
segundo, o edema provoca um tecido receptor mais espesso.
Além disso, essa má justaposição entre córneas doadora e receptora favorece maior perda
endotelial, erosão epitelial, fibrose na incisão, aumenta as chances de rejeição e dificulta a
adaptação de lentes de contato.
TÉCNICAS DE SUTURA
percebeu que o ajuste (ou redistribuição) da sutura era necessário, na maioria dos casos, para
reduzir o astigmatismo ceratométrico.
A sutura contínua pode ser ajustada no pós-operatório precoce, assim que se tenha uma
imagem topográfica fiel, com epitélio corneano bem formado, que geralmente ocorre 3 a 4 se
manas após a cirurgia. Esse ajuste produz menor astigmatismo 1 ano após o transplante, ainda
com a sutura em posição. Muitas vezes, esse bom resultado se perde quando da remoção da
sutura contínua, prevalecendo as forças da córnea receptora, doadora e trepanação.
Outros estudos demonstraram que, se o ajuste da sutura fosse realizado ainda no intrao-
peratório, obter-se-ia menor astigmatismo ceratométrico final, bem como menor necessidade
de manipulação da sutura no pós-operatório.
A sutura contínua pode ser classificada em “torque”, quando o ponto é passado radial
mente pela córnea e retorna obliquamente pela superfície corneana; “antitorque”, quando o
ponto é passado obliquamente pela córnea e retorna radialmente pela superfície corneana;
e torque (Fig. 9), quando passa e retorna obliquamente pelo estroma e superfície corneanos,
com igual angulação.
Estudos feitos em olhos de cadáver comprovam que qualquer técnica de sutura contínua
provoca pequena rotação do botão corneano, o que pode levar ao surgimento de astigmatis
mo. Aparentemente, a técnica antitorque está relacionada a menor astigmatismo.
A quarta técnica de sutura, combinada, foi popularizada por Stainer, em 1982, sendo re
alizada com a combinação de 8 a 12 pontos separados com mononáilon 10-0 associados a
uma sutura contínua com mononáilon 11-0. Essa técnica, com remoção seletiva dos pontos
separados, segundo Binder, reduz o astigmatismo e melhora a acuidade visual dos pacientes.
Karabatsas, em um estudo prospectivo que comparou sutura contínua simples com sutura
combinada, chegou à conclusão de que ambas as técnicas de controle do astigmatismo (remo
ção seletiva ou redistribuição de sutura) são efetivas, havendo uma redução mais precoce do
astigmatismo na sutura contínua, mas que essa vantagem aparente apenas reflete uma discre
pância entre o tempo de manipulação da sutura nas duas técnicas. Em longo prazo não foram
observadas diferenças entre as duas técnicas quanto ao astigmatismo final.
Em outro estudo prospectivo randomizado realizado por Filatov, melhores resultados fo
ram obtidos com sutura contínua simples ajustável do que com sutura combinada. Nessa série,
82% dos pacientes com sutura contínua e apenas 44% dos pacientes com sutura combinada
obtiveram astigmatismo inferior ou igual a 3,0 D em um follow-up de 9 meses.
Em linhas gerais, não existem evidências suficientes que embasem a escolha de determi
nada técnica de sutura em detrimento de outra. A experiência do cirurgião será o fator que
pesará na escolha da técnica de sutura. Lembrar que suturas contínuas devem ser evitadas
frente a neovasos preexistentes ou onde exista grande risco de rejeição imunológica.
O controle do astigmatismo intraoperatório é indicado pela maioria dos cirurgiões. Esse
controle irá propiciar uma recuperação da acuidade visual precoce, e é mais efetivo que o re
ajuste pós-operatório. O ajuste intraoperatório adequado resulta em menor necessidade de
reajustes pós-operatórios.
O método mais prático e mais econômico de controle intraoperatório do astigmatismo é
r
o ceratoscópio manual. Este pode ser de plástico (Fig. 11) ou de metal (Fig. 12). E utilizado ao
final da cirurgia, com a câmara anterior preenchida com solução salina balanceada e olho com
tônus normal. A córnea é irrigada com o objetivo de regularizar quaisquer alterações epite-
Astigmatismo 129
vem ser radiais, equidistantes, ter o mesmo comprimento e tensão. Devem ser passados com
a maior profundidade possível, de modo a oferecer uma boa área de contato entre as córneas
doadora e receptora. Ao final da cirurgia, o controle intraoperatório do astigmatismo é essen
cial, fazendo-se, quando necessário, ajuste dos pontos.
Ainda no primeiro ano, após o transplante, o método mais utilizado para o controle do
astigmatismo é a retirada seletiva ou ajuste da sutura corneana. A refração e a topografia da
córnea são auxiliares para essa retirada ou reajuste.
Em razão de mudanças frequentes na curvatura da córnea doadora nos primeiros meses
de pós-operatório, deve-se aguardar a estabilização dessa medida (em torno de 6 meses),
comparando mapas topográficos subsequentes para o início da manipulação dos pontos. Mui
tos indicam esse procedimento se o astigmatismo permanecer em um valor acima de 3 diop-
trias. Se o corticoide foi usado por tempo prolongado, esse tempo pode ser aumentado.
No caso de suturas interrompidas, pode-se retirar um ponto por vez no meridiano mais
curvo conforme o mapa topográfico. A retirada de dois pontos justapostos de uma só vez
pode induzir um aplanamento localizado acima do esperado, perdendo-se o controle do as
tigmatismo.
Nas suturas contínuas, o ajuste é realizado mais precocemente. Assim que se possam rea
lizar adequadamente uma topografia corneana e a avaliação do astigmatismo, pode-se proce
der ao reajuste da sutura contínua. Nesse tempo pós-operatório, a sutura ainda oferece boa
resistência, sendo mais difícil sua rotura inadvertida, principal risco dessa técnica. Deve-se
ajustar as suturas relaxando-as nos meridianos mais curvos e apertando-as nos mais planos.
Em razão do risco do início de um quadro de rejeição e/ou infecção desencadeado pela
retirada de pontos, sugerimos a prescrição de colírio de corticosteroides e antibióticos após
manipulação das suturas durante 3 dias. Nova topografia deverá ser realizada em 3 a 4 sema
nas, para avaliação do quadro, e o procedimento é repetido até que se atinja um resultado
que permita uma acuidade visual satisfatória com a prescrição de óculos ou lentes de contato.
Outros métodos de controle do astigmatismo pós-transplante de córnea podem ser em
pregados se o astigmatismo persistir em grande magnitude após a retirada completa da su
tura ou se o paciente não tolerar o uso de lentes de contato. Esses procedimentos devem ser
realizados após estabilização da córnea doadora no leito receptor (geralmente 1 ano pós-
transplante ou, no mínimo, 3 meses após a retirada completa das suturas). As alternativas ci
rúrgicas para correção do astigmatismo pós-transplante incluem ressecção em cunha, incisões
relaxantes, suturas de compressão, anel intraestromal e as cirurgias refrativas com o excimer
laser (PRK e LASIK). O principal fator limitante desses procedimentos é a menor precisão do
resultado quando comparados aos pacientes de rotina.
Nos casos onde apenas o astigmatismo é o fator limitante, não existindo um componente
esférico signifícante, as incisões relaxantes representam boa opção. Trata-se de uma técnica
fácil, rápida e de baixo custo. Incisões realizadas por dentro da cicatriz exercem efeito maior.
Incisões realizadas por fora da junção doador/receptor resultam em efeito menor. Os nomo-
gramas de incisão relaxante têm pouca validade nos transplantes, pois as forças envolvidas
diferem das córneas normais. Deve-se ter cuidado para não ultrapassar um quadrante de ex
tensão, e a profundidade deve ser medida no local onde se pretende situar as incisões. Devido
a irregularidades significativas na espessura na junção entre doador/receptor, aconselha-se
evitar a cicatriz para colocar as incisões relaxantes, a não ser que, propositalmente, se queira
Astigmatismo 131
Diopt 10 12 0 10 1 17 7 20.3 22 0 20 4 28 30 0 33 1 30 7 38 3 40 8 43 4 40 48 0 01 1 03 7 00 3 08 8 01 4 04 00 0
Fig. 13 Imagens sequenciais de redistribuição de sutura com controle topográfico intraoperatório do astig
matismo. (Imagem cedida por Dr. Paolo Vinciguerra, Milão - Itália.)
um grande efeito planejando-se abrir toda a junção com colocação de nova sutura. Por vezes,
esse plano é potencializado com a rotação do enxerto.
O implante de segmentos semicirculares dentro do estroma do botão corneano doador é
outra opção. Essa alternativa deve ser reservada para astigmatismos progressivos e de grande
magnitude que não possam ser corrigidos com o excimer laser, tampouco com as incisões rela-
xantes e suturas compressivas. A precisão cirúrgica ainda é a grande limitação dessa técnica,
e os resultados são controversos.
Cirurgias ablativas corneanas com o excimer laser em todas as suas variantes oferecem
maior precisão. Mesmo assim, a precisão é menor do que a obtida em córneas normais não
transplantadas.
Entre esses métodos, o LASIK tem recebido destaque devido à praticidade. Existem rela
tos consistentes na literatura da diminuição do astigmatismo e do componente esférico com
consequente melhora da acuidade visual. O LASIK pode ser realizado em dois tempos, ou seja,
realizar apenas a microceratotomia superficial (flap), reavaliar a refração e, em um segundo
tempo, aplicar o excimer laser. Já o PRK exige a aplicação de controladores da cicatrização,
como a mitomicina, para evitar a formação de nubécula superficial (haze) pós-operatória. É im
portante ressaltar que, muitas vezes, o objetivo principal da cirurgia refrativa pós-transplante
é a melhora das condições corneanas para uma adaptação do paciente aos óculos ou lentes de
contato, e não a busca pela visão 20/20 sem correção, como na cirurgia refrativa convencional.
Em resumo, o controle do astigmatismo pós-transplante de córnea persiste, sendo um
grande desafio. Deve-se iniciar no pré-operatório, com uma boa avaliação das córneas recep-
132 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
tora e doadora e planejamento cirúrgico com o adequado tamanho do botão. Segue, no perio-
peratório, com uma adequada técnica cirúrgica, dando-se especial atenção à trepanação, e, no
pós-operatório precoce, com o controle das suturas, ou tardio com a realização de procedi
mentos complementares. A grande novidade nesse campo foi a introdução do femtosecond laser
para a trepanação corneana. Estudos de acompanhamento em longo prazo serão necessários
para comprovar o benefício de um equipamento substancialmente dispendioso.
BIBLIOGRAFIA
Arffa RC. Comment on: Busin M, Zambianchi L, Franceschelli F, Lamberti G, Al-Naweiseh I. Intraoperative cauterization of
the cornea can reduce postkeratoplsty refractive error in patients with keratoconus. Ophthalmology, 1998; 105:1524-
BO.
Behrens A, Seitz B, Kuchle M e t al. "Orientation teeth" in nonmechanical laser corneal trephination for penetrating kerato
plasty: 2,94 pm Er:YAG vs 193nm ArF excimer laser. Br J Ophtahlmol, 1999; 83:1008-12.
Binder PS. Selective suture removal can reduce postkeratoplasty astigmatism. Ophthalmol, 1985; 92:1412-6.
Binder PS. The effect of suture removal on postkeratoplasty astigmatism. Am J Ophthalmol, 1988; 105:637-45.
Burk LL, Waring GO III, Harris DJ Jr. Simultaneous and sequential selective suture removal to reduce astigmatism after pen
etrating keratoplasty. Refract Corneal Surg, 1990; 6:179.
Busin M, Arffa RC. Deep suturing technique for penetrating keratoplasty. Cornea, 2002; 21 (7):680-4.
Busin M, Zambianchi L, Franceschelli F, Lamberti G, Al-Naweiseh I. Intraoperative cauterization of the cornea can reduce
postkeratoplsty refractive error in patients with keratoconus. Ophthalmol, 1998; 105:1524-30.
Chang DH, Hardten DR. Refractive surgery after corneal transplantation. Curr Opin Ophthalmol, 2005;16(4):251-5.
Claessom M, Armitage WJ eta/. Visual outcome in corneal grafts: a preliminary analysis of the Swedish Corneal Transplant
Register. Br J Ophthalmol, 2002; 86:174-80.
Eliason JA, McCulley JP. A comparison between interrupted and continuous suturing techniques in keratoplasty. Cornea,
1990; 9:10-6.
Filatov V, Steinert RF,Tálamo JH. Postkeratplasty astigmatism with single running suture or interrupted sutures. Am J Oph
thalmol, 1993; 115:715-21.
Gasset AR, Kaufman HE.Themokeratoplasty in the treatment of keratoconus. Am J Ophthalmol, 1975; 79:226-32.
Geggel HS. Technique to minimize assymetric suture placement during penetrating keratoplasty Cornea, 2002; 21(1):
17-21.
Hoppenheijs VP, Van Rij G, Beekhuis WH e t a l . Causes of high astigmatism after penetrating keratoplasty. Doc Ophthalmol,
1993; 85:21-34.
Karabatsas e t a l. Combined interrupted and continuous versus single continuous adjustable suturing in penetrating kera
toplasty: a prospective, randomized study of induced astigmatism during the first postoperative year. Ophthalmology,
1998; 105:1991-8.
Kaufman HE. The cornea. New York: Churchill/Livingstone, 1988; 732-7, 765-70.
Kim K, Leon S, Edelhauser HF. Invest Ophthalmol Vis Sci, 1996; 37(suppl):84.
Kirkness CM, Ficker LA, Steele AD e t a l . The success of penetrating keratoplasty for keratoconus. Eye, 1990;4:673-88.
Koch JW, Lang GK, Naumann GOH. Endothelial reaction to perforating and non-perforating excimer laser excisions in rab
bits. Refract Corneal Surg, 1991; 7:214-22.
Koralewska-Makar A, Floren I, Stenevi U. The results of penetrating keratoplasty for keratoconus. Acta Ophthalmol, (Co-
penh), 1996; 74:187-90.
Krachmer JH, Mannis MJ, Holland EJ. Cornea, 1997; St. Louis: Mosby. Vol 3, Chapter 133: Suturing techniques.
Astigmatismo 133
KrachmerJH, Mannis MJ, Holland EJ. Cornea, 1997; St. Louis: Mosby.Vol 3, Chapter 130, p 1581.
Langenbucher A, Seitz B, Kus MM e t o l. Graft decentration in penetrating keratoplasty - Nonmechanical trephination with
the excimer laser (193 nm) versus the motor trephine. Ophthalmic Surg Lasers, 1998; 29:106-13.
Lanier JD, Bullington RH Jr, PragerTC. Axial length in keratoconus. Cornea, 1992; 11:250-4.
Lima GE, Moreira H. LASIKto Correct Myopia, Hypermetropia and Astigmatism After Penetrating Keratoplasty for Kerato
conus: a series of 27 cases. Can J Ophthalmol, 2001; 36:391-6.
McNeill Jl, Kaufman HE. A double running suture technique for keratoplasty: earlier visual rehabilitation. Ophthalmic Surg,
1977; 8:58-61.
McNeill Jl, Aaen VJ. Long-term results of single continuous suture adjustment to reduce penetrating keratoplasty astig
matism. Cornea, 1999; 18:19-24.
Musch DC, Farjo AA, Meyer RF e t a l . Assessment of health-related quality of life after corneal transplantation. Am J Oph
thalmol, 1997; 124:1-8.
Nabors G, Vander Zwaag R, Van Meter WS, Wood TO. Suture adjustment for postkeratoplasty astigmatism. J Cataract Re
fract Surg, 1991; 17:547-50.
Naumann GOH. Comparison of suture-in and suture-out post-keratoplasty astigmatism with single running suture or
combined running and interrupted sutures (letter). Am J Ophthalmol, 1997; 123:715-6.
Olson RJ. The effect of scleral fixation ring placement and trephine tilting on keratoplasty wound size and donor shape.
Ophtahlmic Surg, 1981; 12:23-6.
Perlman EM. An analysis and interpretation of refractive errors after penetrating keratoplasty. Ophthalmol, 1981; 88:39-45.
Price FW Jr, Whitson WE, Marks RG. Graft survival in four common groups of patients undergoing penetrating keratoplasty,
Ophthalmology, 1991;98:322-8.
Ramirez M, Hodge DO, Bourne WM. Keratometric results during the first year after keratoplasty: adjustable single running
suture technique versus double running suture technique. Ophthalmic Surg Lasers, 2001; 32(5):370-4.
Sarhan AR, Dua HS, Beach M. Effect of disagreement between refractive, keratometric, and topographic determination of
astigmatic axis on suture removal after penetrating keratoplasty. Br J Ophthalmol, 2000; 84(8):837-41.
Seitz B, Langenbucher A, Kus MM, Kuchle M, Naumann GOH. Nonmechanical corneal trephination with the excimer laser
improves outcome after penetrating keratoplasty. Ophthalmology, 1999; 106:1156-65.
Shimazaki J, Shimmura S,Tsubota K. Intraoperative versus postoperative suture adjustment after penetrating keratoplasty.
Cornea, 1998; 17:590-4.
Stainer GA, Perl T, Binder PS. Controlled reduction of postkeratoplasty astigmatism. Ophthalmol, 1982; 89:668-76.
Troutman RC, Gaster RN. Surgical advances and results of keratoconus. Am J Ophthalmol, 1980; 90:131 -6.
Troutman RC, Swinger CA, Belmont S. Selective positioning of the donor cornea in penetrating keratoplasty for keratoco
nus postoperative astigmatism. Cornea, 1984; 3:135-9.
Tuft SJ, Fizke FW, Buckley RJ. Myopia following penetrating keratoplasty for keratoconus. Br J Ophthalmol, 1992; 76:642-5.
Vail SM, Gore BA e t a l . Conclusions of the corneal transplant follow up study. Br J Ophthalmol, 1997; 81:631-6.
Vajpayee RB, Sharma V, Sharma N, Panda A, Taylor HR. Evaluation of techniques of single continuous suturing in penetrat
ing keratoplasty. Br J Ophthalmol, 2001; 85:134-8.
Van Rij G, Waring GO. Configuration of corneal trephine opening using five different trephines in human donor eyes. Arch
Ophthalmol, 1988; 106:1228-33.
Van Meter WS, Gussler JR, Soloman KD, Wood TO. Post-keratoplasty astigmatism control. Single continuous suture adjust
ment versus selective interrupted suture removal. Ophthalmology, 1991; 98:177-83.
134 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Waring GO, Kenyon KR, Gemmill MC. Results of anterior segment reconstruction for aphakic and pseudophakic corneal
edema. Ophthalmol, 1988; 95:836-41.
Wilbanks GA e t o l . Clinical outcomes following penetrating keratoplasty using the Barron-Hessburg and Hanna corneal
trephination system. Cornea, 1996; 15(6):589-98.
Williams KA, Muehlberg SM, Bartlett CM e t o l . Australian Corneal Graft Register 1999 Report. Adelaide, 2000.
Wilson SE, Bourne WM. Effect of recipient-donor trephine size disparity on refractive error in keratoconus. Ophthal
mol, 1989; 96:299-305.
Wu WC, Stark WJ, Green WR. Corneal wound healing after 193-nm excimer laser keratectomy. Arch Ophthalmol, 1991;
109:1426-32.
Yue-Kong-Au, Mahjoub SB, Hart JC. Suture patterns and cornea graft rotation in the cadaver eye. Ophthalmic Surg, 1990;
8:58-61.
135
136 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Uma vez alcançado o limbo, o antígeno entra nos linfáticos da conjuntiva e se dirige aos
linfonodos regionais, onde é processado e reconhecido pelos linfócitos T.
A rejeição do enxerto é um fenômeno imunologicamente mediado e que pode ocorrer a
qualquer momento após a cirurgia, embora seja mais frequente durante o primeiro ano. Fa
tores que provoquem reação inflamatória localizada podem ser considerados desencadeantes
do processo. Entre eles, pode-se destacar a presença de suturas frouxas ou apertadas, degrau,
defeito epitelial crônico, olho seco e outros. Esses fatores provocam a liberação de gama-
interferon, que estimula a expressão dos antígenos no botão doador, facilitando o reconhe
cimento do tecido pelo sistema imune do receptor. A rejeição pode manifestar-se de formas
clínicas distintas, dependendo da camada corneana envolvida. Ela pode ocorrer no epitélio,
endotélio ou estroma.
Causa de grande confusão, inclusive entre especialistas, os termos rejeição e falência re-
ferem-se a situações diferentes.
Como o próprio nome sugere, fa lê n c ia significa falha em cumprir uma função. No caso do
tecido corneai, basicamente, falha em manter-se opticamente útil, transparente.
A descompensação endotelial é o denominador comum entre todos os fatores que levam
à falência corneana.
Pode ocorrer precocemente e, geralmente, estar associada às condições inadequadas pri
márias do tecido doador ou à sua preservação e manipulação cirúrgica, sendo chamada então
de fa lê n c ia p rim á ria , que, clinicamente, caracteriza-se por edema de córnea grave detectado
imediatamente após a cirurgia, sem que a córnea se torne transparente posteriormente, inde
pendentemente do tratamento estabelecido.
Em contraste, a fa lê n c ia se cu n d á ria ou tardia ocorre após um período de córnea doadora
clara, transparente e pode estar associada a fatores predisponentes, como hipertensão ocular
não controlada, traumatismo ocular posterior ao procedimento, recidiva da doença que levou
ao transplante e processos inflamatórios graves, entre eles a re je içã o . Ou seja, re je içã o im u-
n o ló g ic a pode levar à fa lê n c ia se cu n d á ria do tecido doador.
Na falência endotelial secundária ou tardia não associada à rejeição, o enxerto torna-se
edemaciado, sem sinais inflamatórios, meses ou anos após a cirurgia.
A r e je iç ã o , por sua vez, caracteriza-se por processo inflamatório de caráter imune, em
resposta ao reconhecimento pelas células de defesa do conteúdo proteicamente diferente da
córnea doadora. Como há necessidade de reconhecimento imunológico do tecido estranho
por parte das células do receptor, sempre há um período de córnea livre de rejeição, que po
deríamos estimar em 1 mês, aproximadamente, em transplantes penetrantes totais conven
cionais. Em condições normais, deveremos encontrar processos imunes tipo rejeição tecidual
somente após esse período.
Outra diferença é que a re je içã o pode ser setorial, ou seja, afetar somente o epitélio e su-
bepitélio, somente o estroma ou o endotélio. Daí manifestar-se clinicamente com achados lo
calizados, tais como linhas de rejeição epitelial e edema superficial (rejeição ep itelia l) (Fig. 1),
infiltrados subepiteliais (rejeição subepitelial), edema estromal e infiltração celular do estroma
(na rara re je içã o e stro m al) e linhas de rejeição endotelial ou de Kodadhoust e precipitados
ceráticos (rejeição e n d o te lia l) (Fig. 2).
Rejeição e Falência 137
Inflamação ocular e história prévia de glaucoma estão associadas a maior risco de rejeição.
Portanto, é imperativo que a inflamação ativa e a pressão intraocular no olho a ser operado
sejam controladas previamente ao transplante.
Outros diagnósticos pré-operatórios estão relacionados com maior probabilidade de re
jeição no transplante de córnea: herpes simples ocular e queimadura química.
Cirurgias oculares prévias são fatores de risco, principalmente transplantes anteriores
com falência secundária à rejeição. Estudos mostram aumento de 8 para 40% nas taxas de re
jeição quando há dois ou mais transplantes anteriores.
Quando qualquer fator complicador estiver presente, deve-se considerar o paciente como
de risco alto para novos procedimentos, e tratamento adequado deve ser instituído com obje
tivo de diminuir complicações pós-operatórias.
Várias estratégias para prevenir a rejeição no transplante de córnea têm sido exploradas,
tais como estudos de histocompatibilidade, manipulação de antígenos de expressão ou admi
nistração oral de antígenos antes do transplante. No entanto, ensaios clínicos são necessários
para validar essas abordagens.
Apesar dos avanços medicamentosos atualmente disponíveis para o tratamento da rejei
ção, medidas preventivas pré-operatórias devem ser tomadas, iniciando-se por uma seleção
cuidadosa e criteriosa dos candidatos, levando-se em conta os fatores de risco citados ante
riormente.
Ciclosporina tópica e tacrolimo podem ser considerados para o pós-operatório. Imunos-
supressão sistêmica é uma opção para pacientes de olho único com alto risco, com bom esta
do geral e com acompanhamento clínico rigoroso.
Estudos que procuram identificar a compatibilização doador/receptor em relação ao gru
po sanguíneo (ABO e Rh) e ao antígeno de histocompatibilidade (HLA-A, HLA-B e HLA-DR) não
têm influenciado a incidência dos episódios de rejeição no transplante de córnea. Um estudo
realizado nos EUA, denominado de Collaborative Corneai Transplantation Studies (CCTS), teve o
objetivo de determinar se a histocompatibilidade entre doadores e receptores para transplan
te de córnea reduz a incidência de rejeição em pacientes de alto risco. Concluiu-se que o siste
ma HLA não influencia a ocorrência de rejeição em casos de córneas vascularizadas. Concluiu-
se que altas doses de corticoide tópico por vários meses no pós-operatório podem melhorar a
sobrevida do transplante (Referencia CCTS - Collaborative Corneai Transplantation Studies).
Estudo realizado por Hill demonstrou que, em transplantes de córnea de alto risco, a taxa
de sobrevivência do enxerto melhorou muito com o uso de ciclosporina sistêmica associada
com corticosteroides tópico e sistêmico (89%), quando comparada com o uso de corticosteroi-
de tópico isoladamente (10%). Esse estudo também mostrou que o efeito máximo foi obtido
quando a ciclosporina foi usada por 12 meses em vez de 6 meses, resultando em uma taxa de
sobrevivência do enxerto de 93% versus 69%, respectivamente. Ciclosporina tópica tem sido
útil em várias séries de casos em prevenir a rejeição em transplantes de alto risco. Entretanto,
é necessária a realização de mais estudos clínicos controlados para confirmar a eficácia da ci
closporina tópica nesses casos.
A córnea apresenta rejeição com menor frequência do que outros tecidos ou órgãos trans
plantados, originando o conceito de “privilégio imunológico da córnea” e de que os enxertos
de córnea estariam relativamente protegidos de destruição pelo sistema imune. Esse “privilé
gio imunológico” é o resultado de um relativo isolamento ao sistema imune devido à ausência
Rejeição e Falência 139
Nos casos de falência associados à rejeição imunológica, com a detecção precoce do qua
dro de rejeição e uso adequado da medicação imunossupressora, consegue-se, na maioria das
vezes, manter o botão doador transparente e evita-se um retransplante.
Nos casos que, mesmo após tratamento imunossupressor, persista edema de córnea in
tenso por falência da função endotelial ou haja comprometimento da transparência do tecido
doador, indicamos novo transplante, que será tratado como transplante de alto risco. Isto
significa maior rigor na imunossupressão pré e pós-cirúrgica, e observação atenta das suturas
para removê-las na presença de neovasos. O controle prévio de fatores predisponentes como
neovascularização de córnea, ou processos inflamatórios crônicos, é fundamental. Observar
possível existência de hipertensão ocular e edema de mácula nesses pacientes é importante,
pois o estado clínico de falência imunológica da córnea sempre está associado a uma reação
inflamatória intraocular.
Nos casos de falência primária, ou seja, o botão doador nunca ficou sem edema após o
procedimento cirúrgico, indicamos retransplante imediato para evitar reconhecimento imuno-
lógico desse tecido. Isso pode ser feito, dentro das normas estabelecidas pelo Sistema Nacio
nal de Transplantes, em um período de até 90 dias.
Em geral, córneas que, após 1 mês de tratamento, não apresentem transparência adequa
da permanecerão opacas e irão necessitar nova cirurgia.
BIBLIOGRAFIA
BorderieVM, Scheer S, BourcierT,Touzeau O, Laroche L Tissue crossmatch before corneal transplantation. BrJ Ophthalmol,
2004 Jan; 88(1):84-7.
Coster DJ, Williams KA.The impact of corneal allograft rejection on the long-term outcome of corneal transplantation. Am
J Ophthalmol, 2005 Dec; 140(6):1112-22.
Coster DJ, Jessup CF, Biotech B, Williams KA. Mechanisms of corneal allograft rejection. Ocul Surf, 2005 Oct; 3(4 suppl):S165-8.
George AJ, Larkin DF. Corneal transplantation: the forgotten graft. Am J Transplant, 2004 May; 4(5):678-85.
Hirai FE, Stefan K, Pacini KM, Sato EH. Falência primária pós-transplante de córnea em serviço universitário. Arq Bras Oftal-
mol, 2002; 65(6):655-7.
Niederkorn JY. Immune mechanisms of corneal allograft rejection. Curr Eye Res, 2007 Dec; 32(12):1005-16.
Niederkorn JY.The immune privilege of corneal grafts. J Leukoc Biol, 2003 Aug; 74(2):167-71.
Nishimura JK, Hodge DO, Bourne WM. Initial endothelial cell density and chronic endothelial cell loss rate in corneal trans
plants with late endothelial failure. Ophthalmol, 1999; 106(10):1962-5.
Price MO, Thompson RW Jr, Price FW Jr. Risk factors for various causes of failure in initial corneal grafts. Arch Ophthalmol,
2003 Aug; 121(8)4 087-92.
Randleman JB, Stulting RD. Prevention and treatment of corneal graft rejection: current practice patterns (2004). Cornea,
2006 Apr; 25(3):286-90.
Smolin G, O'Connor GR. Ocular Imunology, 2nd ed., cap 6. Boston: Litte Brown, p 273-306,1986.
Sonoda KH, Taniguchi M, Stein-Streilein J. Long term survival of corneal allografts is dependent on intact CD1d-reactive
NKT cells. J Immunol, 2002; 168:2028-34.
Svozílková P, Bysterskà P, Masek K, Valenta Z, Zvárová J, Farghali H. Comparison of FK 506, mycophenolate mofetil, and
aminoguanidine effects on delay of corneal allograft rejection in an experimental model of low-risk and high-risk kera
toplasty. Immunopharmacol, 2006; 28(2):335-40.
Rejeição e Falência 141
Wilhelmus KR, Stulting RD, Sugar J, Khan MM. Primary corneal graft failure. A national reporting system. Arch Ophthalmol,
1995; 113(12):1497-502.
Young AL, Rao SK, Cheng LL, Wong AK, Leung AT, Lam DS. Combined intravenous pulse méthylprednisolone and oral cy
closporine A in the treatment of corneal graft rejection: 5-year experience. Eye, 2002; 16(3):304-8.
Van Rensburg PD, Raber IM, Laibson PR, Eagle RC Jr. Management of primary corneal graft failure. Cornea, 1998; 17(2):
208-11.
Glaucoma
143
144 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
a diferença de que, na rejeição do transplante, há, quase sempre, a oportunidade de uma nova
cirurgia, e, no glaucoma, é grande o risco de prejuízo visual irrecuperável, se não for diagnos
ticado em tempo hábil e tratado convenientemente.
CLASSIFICAÇÃO
Glaucoma preexistente
a) Primário (ângulo aberto, ângulo fechado e congênito).
b) Secundário:
1. Não relacionado às alterações corneanas.
2. Relacionado às alterações corneanas:
- Congênitas (microcórnea, goniodisgenesias e esclerocórnea).
- Inflamatórias (uveites anteriores e ceratites).
- Traumáticas (queimaduras químicas, traumas contusos e perfurantes).
- Pós-cirúrgicas (complicações da cirurgia de catarata etc.).
TRATAMENTO CLÍNICO
TRATAMENTO CIRÚRGICO
Por algum tempo, a ciclodiálise foi considerada a cirurgia adequada; no entanto, o índice
de sucesso é pobre. Também a trabeculectomia clássica, sem antimetabólitos, tem resultados
limitados. Vários fatores contribuem para o alto índice de falência das cirurgias filtrantes: cica
trizes conjuntivais de cirurgias prévias, sinequias anteriores periféricas e afacia.
Na nossa experiência, a primeira cirurgia a ser tentada deve ser a trabeculectomia com
mitomicina C, com boas chances de sucesso se a conjuntiva estiver preservada. A incidência
de falência do transplante é significativamente menor na trabeculectomia com mitomicina C,
quando comparada com outras cirurgias, como implantes de drenagem e cauterizações do
corpo ciliar.
Muitos investigadores têm relatado a utilização de implantes para drenagem quando o
glaucoma pós-ceratoplastia mostra-se resistente ao tratamento convencional, com alto índice
de sucesso. Todavia, parecem estar associados a uma incidência alta de falência do transplan
te.
Outras modalidades de tratamento, visando a destruição do corpo ciliar, podem eventu
almente ser uma boa opção. Bons índices de sucesso têm sido publicados com a ciclofoto-
coagulação transescleral com laser de Nd:YAG e com laser de diodo, com controle da pressão
intraocular em torno de 78% dos casos.
Mais recentemente foi descrito o uso de ciclofotocoagulação endoscópica para glaucoma
refratário.
BIBLIOGRAFIA
Aldave AJ, Rudd JC, Cohen EJ, Rapuano CJ, Laibson PR. The role of glaucoma therapy in the need for repeat penetrating
keratoplasty. Cornea, 2000; 20:772-6.
Alvarenga LS, Mannis MJ, Brandt JD, Lee WB, Schwab IR, Lin MC.The long term results of keratoplasty in eyes with a glau
coma drainage device. Am J Ophthalmol, 2004; 138(2):200-5.
Ayyala RS, Pieroth L, Vinals AF, Goldstein MH, Schuman JS, Netland PA, Dreyer EB, Cooper ML, Mattox C, Frangie JP, Wu
HK, Zurakowski D. Comparison of mitomycin C trabeculectomy, glaucoma dranaige device implantation, and laser
neodymium: YAG cyclophotocoagulation in the management of intractable glaucoma after penetrating keratoplasty.
Ophthalmol, 1998; 105:1550-6.
Karesh JW, Nirankari VS. Factors associated with glaucoma after penetrating keratoplasty. Am J Ophthamol, 1983; 96:160-4.
Youn J, GoxTA, Herndon LW, Allingham RR, Shields MB. A clinical comparison of transscleral cyclophotocoagulation with
neodymium:YAG and semiconductor diode lasers. Am J Ophthalmol, 1998; 126:640-7.
Síndrome Urretz-Zavalia
Pupila dilatada paralítica é uma complicação rara que ocorre após ceratoplastia penetrante,
que pode afetar a qualidade de visão e ser responsável por alterações permanentes, como o
desenvolvimento de glaucoma secundário e suas sequelas.
Desde a descrição dessa síndrome por Castroviejo e a publicação por Urretz-Zavalia, mui
tas tentativas têm sido feitas para identificar a causa e os fatores predisponentes.
O quadro clínico descrito por Urretz-Zavalia varia desde apenas uma midríase prolongada,
que se recupera lenta e espontaneamente, até casos mais graves, que se compõem de intensa
atrofia iriana, com forte tendência à formação de sinequias. Delicadas opacidades subcapsu-
lares podem estar presentes, o que torna o quadro muito semelhante ao encontrado após um
ataque grave de glaucoma agudo. A midríase ocorre no pós-operatório imediato, todavia a
hipertensão ocular não se faz presente nas fases iniciais da doença, ocorrendo tardiamente e
somente em alguns casos. Nesses casos, a gonioscopia permite identificar um ângulo fechado
por sinequias anteriores periféricas. Tipicamente, essa síndrome estaria relacionada à cerato
plastia em olhos com ceratocone e ao uso de atropina no pós-operatório. No entanto, vários
trabalhos na literatura já reportaram a ocorrência da síndrome em olhos com outras distrofias
corneanas que não ceratocone, assim como em olhos sem a instilação de midriáticos.
Urretz-Zavalia propõe dois mecanismos possíveis para a formação das sinequias: organiza
ção de exsudatos inflamatórios e estreitamento do ângulo por suturas mais apertadas, o que
é favorecido pela baixa rigidez escleral dos olhos com ceratocone.
Jastaneiah et al. constataram midríase paralítica em 15 olhos de 195 pacientes com dis-
trofia corneana macular e em apenas 6 olhos de 1.800 portadores de ceratocone. Acreditam
que o mecanismo seja elevação aguda da pressão intraocular (42,8% apresentaram hiperten
são ocular no primeiro dia pós-operatório). Aqueles que não apresentaram elevação tensional
podem tê-la desenvolvido nas primeiras horas após a cirurgia (situação muito frequente com
a utilização de substâncias viscoelásticas). Outra possibilidade também aventada por eles é a
147
148 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Jastaneiah S, Al-Towerki A-E, Al-Assiri, A. Fixed dilated pupil after penetrating keratoplasty for macular corneal dystrophy
and kertoconus. Am J Ophthalmol, 2005; 140:484-9.
Srinivasan M. Fixed dilated pupiil (Urrets-Zavalia syndrome) in corneal dystrophies. Cornea, 2004; 23:81-3.
Urretz-Zavalia A Jr. Fixed, dilated pupil, iris atrophy and secondary glaucoma. Am J Ophthalmol, 1963; 56:257-65.
Sinequias
Thoft et al. detectaram glaucoma em apenas 10 de 100 olhos afácicos submetidos a ceratoplas-
tia penetrante. Todos os 10 olhos exibiam certo grau de comprometimento do seio camerular
devido à formação de goniossinequias. Acreditam que o fechamento angular é a causa mais
frequente de elevação persistente da pressão intraocular no pós-operatório do transplante da
córnea.
O fechamento do seio camerular pode ser secundário a diversas causas: dificuldade de
restauração da câmara anterior ao final da cirurgia, vazamento de humor aquoso pela incisão
cirúrgica no pós-operatório, descolamento da coroide, iridociclite, bloqueio pupilar, diminui
ção da amplitude do seio camerular pela técnica cirúrgica empregada etc.
O extravasamento de aquoso produzido por sutura irregular ou má coaptação das bordas
da ferida pode acarretar atalamia no pós-operatório. A atalamia que se prolongue por mais de
1 semana será responsável pela formação de sinequias e bloqueio do seio camerular. O mesmo
poderá ocorrer no descolamento da coroide e nos casos de iridociclite, devido à hipossecre-
ção de humor aquoso.
O tratamento específico do glaucoma associado à ceratoplastia penetrante baseia-se, pri
mordialmente, na identificação do tipo de glaucoma e do mecanismo fisiopatológico envolvi
do. A identificação de uma causa passível de correção é de extrema importância. Este é o caso
do glaucoma de ângulo fechado secundário a sinequias anteriores.
As aderências da íris à incisão ou à periferia da córnea receptora podem ser liberadas com
espátula delicada, com o auxílio de irrigação ou substâncias viscoelásticas. As substâncias
viscoelásticas de alto peso molecular (coesivas) são um excelente recurso na manipulação das
delicadas estruturas intraoculares.
As íris flácidas, como nos casos de iridodiálise, ruptura do músculo esfíncter, iridectomia
sectoral, propiciam a recorrência das sinequias e podem ser corrigidas pela sutura adequada
da íris.
149
150 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Se, apesar da correção cirúrgica das sinequias, a elevação da pressão intraocular persis
tir, torna-se necessária a instituição do tratamento clínico e, eventualmente, do tratamento
cirúrgico.
A melhor conduta, na realidade, é tomar medidas profiláticas perioperatórias:
Ao término da cirurgia, a câmara anterior deve estar sempre restaurada, preferencialmen
te com solução salina balanceada. Se houver dificuldade em reformar a câmara anterior:
■ Comprovar se a sutura está hermética e aplicar pontos adicionais, se necessário.
■ Checar se a iridectomia periférica está pérvia.
■ Observar se não há compressão externa (p. ex., blefarostato).
■ Não se esquecer da possibilidade de haver ar retido na câmara posterior.
■ Nos olhos com nítida hipertensão vítrea, pode-se recorrer à administração perioperatória
de manitol intravenoso; em certos casos, será necessária a aspiração vítrea, via pars plana
ou, nos olhos afácicos, por via anterior.
Nos olhos com câmara anterior muito rasa, pode-se planejar o transplante com disco do
ador maior que o diâmetro do leito receptor, que evitará um angustiamento adicional do ân
gulo camerular. De modo geral, deve-se evitar, ou reduzir ao máximo, a manipulação excessiva
da íris e promover cuidadosa limpeza de restos cristalinianos, sangue, vítreo etc. Nos olhos
com maior risco de desenvolver sinequias irianas, está indicado um vigoroso tratamento anti-
inflamatório.
BIBLIOGRAFIA
Cohen, EJ, Kenyon KR, Dohlman CH. Iridoplasty for prevention of post-keratoplasty angle closure and glaucoma. Ophthal
mic Surg, 1982; 13:994-6.
Thoft, RA, Gordon JM, Dohlman CH. Glaucoma following keratoplasty.Trans Am Acad Ophthalmol Otolaryngol, 1974; 78:
352- 64.
Topozius F, Coleman AL, Choplin N, Bethlem MM, Hill R YUF, Panek WC, Wilson MR. Follow-up of the original cohort with
the Ahmed glaucoma valve implant. Am J Ophthalmol, 1999; 128:198-204.
Hipotonia
As causas da hipotonia após o transplante de córnea eventualmente são óbvias, como vazamento
incisional ou intensa inflamação pós-operatória, situações que serão resolvidas com a revisão da
sutura ou vigoroso tratamento anti-inflamatório. Mas, na maioria das vezes, estão relacionadas
mais com a doença subjacente que determinou a necessidade da cirurgia e condições associadas.
Com respeito às doenças/condições associadas, as causas são múltiplas e os mecanismos
variados, tais como:
■ D e s c o la m e n to d o c o r p o ciliar:
• Tracional (tecido fibrovascular, contração capsular em olhos pseudofácicos).
• Ciclodiálise (traumática, cirúrgica).
■ H ip o fu n ç ã o d o c o r p o ciliar:
TRATAMENTO
151
152 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Nos casos de iridodiálise, a ciclopexia cirúrgica oferece resultados variáveis e deve ser
tentada. Já a tentativa de fechamento da fenda de ciclodiálise com laser de argônio, na nossa
opinião, resulta infrutífera na maioria dos casos.
Fístulas
A hipotonia secundária a cirurgias filtrantes é relativamente frequente com o uso indiscrimina
do de substâncias antimitóticas, principalmente a mitomicina C.
O tratamento da hipotonia nesses casos muitas vezes exigirá revisão cirúrgica da fístula.
Convém lembrar que a cirurgia de catarata, eventualmente necessária, pode melhorar a hipo
tensão ocular em olhos fistulados.
BIBLIOGRAFIA
O'Connell SR, Majji AB, Humayun MS, de Juan E Jr. The surgical management of hypotony. Ophthalmol, 2000; 107:318-23.
Tosi GM, Schiff GW, Barile G, Yoshida N, Chang, S. Am J Ophthalmol, 2005; 140: 952-4.
Ugahry LC, Ganteris E, Veckeneer M, Cohen AC, Jansen J, Mulder PG, van Meurs JC. Topical ibopamine in the treatment
of chronic ocular hypotony attributable to vireoretinal surgery, uveitis, or penetrating trauma. Am J Ophthalmol, 2006;
141:571-3.
Epitelização
153
154 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Borderie VM, Touzeau OM BourcierT, Allouch C, Laroche L. Graft reepithelialization after penetrating keratoplasty using
organ-cultured donor tissue. Ophthalmol, 2006; 113(12):2181 -6.
Moshirfar M, Marx DP, Kumar R. The effect of the fourth-generation fluoroquinolones on corneal reepithelialization after
penetrating keratoplasty. Cornea, 2005; 24:833-6.
155
156 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Benelli U, Ross JR, Nardi M, Klintworth GK. Corneal neovascularization induced by xenografts or chemical cautery: inhibi
tion by cyclosporin A. Invest Ophthalmol Vis Sci, 1997; 38(2):274-82.
Chang JH, Gabison EE, KatoT, Azar DT. Corneal neovascularization. Curr Opin Ophthalmol, 2001; 12(4):242-9.
Cursiefen C, Wenkel H, Martus P, Langenbucher A, Nguyen NX, Seitz B Kuchle M, Naumann GO. Impact of short-term versus
long-term topical steroids on corneal neovascularization after non-high-risk keratoplasty.
Fossarello M, Peiretti E, Zucca I, Serra A. Photodynamic therapy of corneal neovascularization with verteporfm. Cornea,
2003; 22(5):485-8.
Ceratopatia Cristalina
Infecciosa
157
158 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Hu FR. Infectious crystalline keratopathy caused by Mycobacterium fortuitum and Pseudomonas aeruginosa. Am J
Ophthalmol, 1990; 109(6):738-9.
Sanchez Perez A, Bueno Lozano J, Brito Suarez C, Fernandez Tirado FJ, Melcon Sanchez-Friera B, Pueyo Subias M, Perez
Olivan S. Study of infectious keratitis in corneal graft. Arch Soc Esp Oftalmol, 2000; 75(10):659-63.
Sharma N, Vajpayee RB, Pushker N, Vajpayee M. Infectious crystalline keratopathy. Clao J, 2000; 26(1 ):40-3.
Hemorragia Expulsiva
Hemorragia de coroide é uma condição ocular séria que se apresenta de forma limitada ou ma
ciça (hemorragia expulsiva), podendo ocorrer espontaneamente, secundária à cirurgia ocular,
por trauma, ou estar associada a anormalidades vasculares. Pode, também, estar associada à
perda permanente da função visual.
A fisiopatologia da hemorragia expulsiva está intimamente relacionada com a pressão in
traocular, pressão coroidiana e anatomia escleral. Quando o olho está fechado, a pressão intra
ocular é maior do que a da coroide. Logo que o olho é aberto, a pressão intraocular cai a zero,
a coroide se torna um reservatório de sangue venoso, que pode resultar em hemorragia nos
vasos suscetíveis ou enfraquecidos. As condições sistêmicas relacionadas a risco aumentado
incluem idade avançada, arteriosclerose, hipertensão, diabetes melito, discrasias sanguíneas e
obesidade. Os fatores de risco oculares incluem cirurgia prévia, afacia, glaucoma, uveíte, alta
miopia, trauma, remoção do vítreo, fotocoagulação a laser e esclerose da coroide. Taquicardia
perioperatória tem sido identificada como um significante fator de risco.
Hemorragia de coroide limitada ocorre em cerca de 3% das extrações intracapsuläres de
catarata e em 2,2% das extracapsulares. A hemorragia expulsiva ocorre em cerca de 0,2% das
cirurgias de catarata e em 0,73% das cirurgias filtrantes antiglaucomatosas, podendo ocorrer
com maior frequência nas ceratoplastias penetrantes. Em uma série de 830 casos de cerato-
plastia penetrante, Ingraham HJ et ai encontraram uma incidência de 1,08% (9 casos) de he
morragia expulsiva no peroperatório de ceratoplastias penetrantes, dos quais: 6 dos 9 sofriam
de doença aterosclerótica ou hipertensão; 6 dos 9 eram glaucomatosos; e 8 dos 9 já haviam
sido submetidos a cirurgia intraocular prévia. Eles também constataram que o aumento da
resistência venosa associado ao bloqueio retrobulbar pode aumentar o risco de hemorragia
supracoroidal. Em um estudo mais recente, Groh MJ et ai, em uma série de 2.421 ceratoplas
tias penetrantes, tiveram 9 hemorragias pré-expulsivas (0,4%) e 3 expulsivas (0,1%), e os fatores
de risco encontrados foram: cirurgia ocular prévia, glaucoma, doença arterial coronariana e
asma.
159
160 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Apud. Yanoff. Ophthalmology 2nd ed. St. Louis: Mosby, 2004.
Bukelman A, Hoffman R Oliver M. Limited choroidal hemorrhage associated with extracapsular cataract extraction. Arch
Ophthalmol, 1987; 105(3):338-41.
Groh MJ, Seitz B, Händel A, Naumann GO. Expulsive hemorrhage in perforating keratoplasty - incidence and risk factors.
Klin Monatsbl Augenheikd, 1999 Sep; 215(3):152-7.
Ingraham HJ, Donnenfeld ED, Perry HD. Massive suprachoroidal hemorrhage in penetrating keratoplasty. Am J Ophthal
mol, 1989 Dec 15; 108(6):670-5.
Speaker MG, Guerriero PN, Met JA e t al. A case-control study of risk factorsfor intraoperative suprachoroidal expulsive
hemorrhage. Ophthalmol, 1991 ; 98(2):102-10.
Welch JC, Spaeth GL, Benson WE. Massive suprachoroidal hemorrhage. Ophthalmol, 1988; 95(9):1202-6.
Transplante em Situações
Especiais
Transplante na Infecção
Corneana
INDICAÇÕES
163
164 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
TÉCNICAS CIRÚRGICAS
CONTROLE PÓS-OPERATÓRIO
A sobrevida do transplante de causa herpética é menor devido à recidiva da infecção pelo vírus
herpes simples (VHS) no botão corneano transplantado, que é frequente e representa a princi
pal causa de falência do enxerto.
A recidiva da ceratite herpética no transplante pode se apresentar com aspecto atípico;
assim, a observação de defeito epitelial não responsivo à terapia usual com lubrificante pode
ser uma lesão herpética, ainda que não dendrítica. Vale lembrar, ainda, que distinguir uma
recorrência de ceratite estromal de um processo de rejeição endotelial pode ser difícil. Na pri
meira, os precipitados ceráticos se encontram tanto no botão doador quanto no receptor e a
pressão intraocular tende a estar elevada.
Para a realização de um transplante de córnea em um olho previamente acometido pelo VHS,
deve-se aguardar um período mínimo de 3 a 6 meses sem que haja atividade de infecção herpética,
pois o resultado cirúrgico está relacionado ao grau de inflamação ocular no momento da cirurgia.
Geralmente, o aciclovir (ACV) oral é iniciado na dose profilática de 400 mg 2 x/dia, no mo
mento da cirurgia; porém, em pacientes com múltiplas recidivas, o fármaco pode ser iniciado
dias ou até meses antes. Ainda não se sabe o período ideal durante o qual o ACV profilático deve
ser utilizado. Pelo menos durante o primeiro ano pós-transplante, aconselhamos sua manuten
ção, pois a incidência de recidiva da ceratite herpética é maior nesse período não apenas pelo
próprio trauma cirúrgico, mas também pelas elevadas doses de corticosteroides administradas
nessa fase. Deve-se observar que o uso de ACV está contraindicado para pacientes com insufi
ciência renal em mulheres que pretendam engravidar ou que estejam em período de lactação.
BIBLIOGRAFIA
Rezende R, Hammersmith K, BisolT, Höfling-Lima AL; Webster GF; Freitas JF. Comparative study of ocular herpes simplex
virus in patients with and without self-reported atopy. American Journal of Ophthalmology, EUA, v 141, n 6, p.
167
Afina mentos Periféricos
Nos casos de afinamentos periféricos de córnea, a forma do enxerto para recobrir a perda de
substância será em coroa circular ou semicircular.
Nesses casos, o transplante é do tipo terapêutico. Por exemplo, na úlcera de Mooren (Figs.
IA e B), apesar das frequentes recidivas e do mau prognóstico, unido ao tratamento clínico
com imunossupressores orais, ciclosporina A tópica e corticosteroides, existe a indicação de
ceratoplastia lamelar em coroa semicircular, ou mesmo associada ao penetrante nos casos que
já apresentem perfuração.
Figs. 1 (A e B) A. Úlcera de Mooren com afinamento corneano periférico. B. Enxerto lamelar corneano em
semicírculo.
169
170 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
car, girando-o ligeiramente para a direita e esquerda. Aprofunda-se a marca com um bisturi.
Mede-se com compasso a largura da alteração, marcando com o bisturi a zona a ser resseca
da. A seguir, marca-se a parte periférica com um trépano maior (aproximadamente 14 mm)
dependendo da lesão, sempre deixando, quando possível, 1 mm de área sadia, tendo assim
delimitada uma coroa semicircular com a lesão em seu interior. Une-se então os dois arcos de
circunferência concêntricos com uma incisão radial em cada extremo, delimitando, assim, a
lesão a ser ressecada.
Uma vez delimitada a área a ser ressecada, levanta-se a ponta de um dos extremos, tra-
ciona-se o opérculo com pinça de colibri dissecando com o bisturi todo o tecido alterado na
profundidade desejada, podendo chegar à câmara anterior quando for o caso de transplante
penetrante, e terminando a ressecção da córnea com tesoura curva. No caso de transplante
lamelar, prossegue-se a dissecção seguindo o mesmo plano de clivagem até a retirada. Em se
guida, disseca-se a córnea doadora na mesma forma de coroa semicircular e, de preferência,
na mesma profundidade, porém com 0,5 mm menor na parte central e 0,5 mm maior na parte
periférica (escleral). Essa diferença é realizada com a finalidade de mesmo ocorrendo retração
r
principalmente na parte escleral, ser possível recobrir perfeitamente toda a área ressecada. E
necessário também que o semicírculo do olho doador seja dissecado mais comprido do que
o leito receptor.
A córnea doadora pode ser dissecada diretamente do globo ocular ou se for um botão
corneoescleral. O ideal é o uso de câmara anterior artificial para ter uma melhor sustentação
durante a trepanação doadora.
Após a preparação do enxerto doador em coroa semicircular, coloca-se esse enxerto sobre
o leito receptor, suturando-o com náilon 10-0, pontos separados e invertendo os nós no leito
receptor. Finalizando, faz-se o recobrimento conjuntival periférico, evitando-se assim deixar
a esclera exposta.
Se o afmamento afeta toda a periferia corneana, por exemplo, um afmamento circunferen-
cial, tanto o leito corneano quanto o enxerto serão uma coroa circular completa, realizando a
mesma técnica descrita anteriormente.
BIBLIOGRAFIA
Barraquer J. Lamellar keratoplasty technique. In: Polack FM. Corneal and external diseases in the eye. Springfield: Charles
C Thomas, 1970; 285-289.
Christiensen JM, Arentsen JJ. Surgical therapy of Mooren's ulcer. Ophthalmolgy, 1975; 7:1507-1509.
Frangieh G, Kenyon KR. Peripheral Corneal Disease. In : Corneal Surgery: Theory, Technique and Tissue. Frederick Brightbill.
St. Louis: Mosby, 1993; 325-35.
Martin NF, Stark WJ, Maumenee AE. Treatment of Mooren's and Mooren's like ulcer by lamellar keratectomy: report of six
eyes and literature review. Ophthalmic Surg, 1987; 18(8):564-9.
Dermoide Limbar
Dermoides são tumores congênitos sólidos, que aparecem na região inferotemporal da junção
corneoescleral. Eles são classificados como coristomas porque apresentam elementos celula
res que não estão presentes naquele local. Os dermoides penetram profundamente na córnea
sem afetar a membrana de Descemet ou o endotélio, mas em alguns casos podem comprome
ter toda a espessura da córnea.
De acordo com seu tamanho e extensão, os dermoides são classificados em três tipos
diferentes:
■ O tipo 1 é o mais comum, normalmente superficial, e está relacionado com a síndrome de
Goldenhar (Fig. 1).
■ O tipo 2 é maior, podendo cobrir parcial ou totalmente a córnea (Fig. 2).
■ O tipo 3, que felizmente é o mais raro, pode comprometer todo o segmento anterior do
olho (Fig. 3).
171
172 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
Figs. 4 (A e B) Pré e pós-remoção cirúrgica no plano da córnea de dermoide, região limbar inferotemporal.
Dermoide Limbar 173
Como na maioria dos casos a presença do dermoide é unilateral e congênito, já existe uma
ambliopia, e, mesmo realizando um transplante tecnicamente perfeito, nem sempre se conse
gue uma melhora visual. Por esse motivo, na maioria dos casos a indicação cirúrgica passa a
ser de caráter estético.
Afinamento Escleral
175
rsi
m
Transplante de Córnea na
Síndrome de Down
Pacientes com síndrome de Down são especiais em todos os sentidos. Geralmente acessíveis
do ponto de vista semiológico, diferenciam-se dos outros pacientes por dependerem sobre
maneira da atenção dos familiares mais próximos. Pacientes da APAE (Associação de Pais e
Alunos Excepcionais) e da ADERE (Associação para Desenvolvimento Educacional e Recupera
ção do Excepcional), no Brasil, nos ensinam que o ingrediente mais importante para o sucesso
do transplante de córnea em pacientes com síndrome de Down é, sem sombra de dúvida, o
e n v o lv im e n to fa m ilia r . Sem ele, qualquer técnica cirúrgica ou tratamento estabelecido está
fadado a falhar.
Pacientes com ceratocone e portadores de síndrome de Down apresentam prognóstico
pior, após ceratoplastia penetrante, quando comparados a outros pacientes com ceratocone.
Os resultados ruins são explicados não somente pela falta de colaboração dos pacientes, mas
também por fatores inerentes à síndrome. Fricção vigorosa dos olhos é observada em grande
porcentagem de pacientes com déficit mental, e esse ato está relacionado a pior evolução do
ceratocone, caracterizada por maior incidência de hidropsia refratária ao tratamento tradi
cional nesses indivíduos. Nesses casos, há maior risco de perfuração corneana espontânea, o
que leva a alta incidência de cirurgias de emergência. Além disso, o ato de esfregar os olhos
também pode comprometer o prognóstico cirúrgico do paciente. Pacientes com síndrome de
Down muitas vezes apresentam ceratocone avançado, que exige confecção de botão corneano
extenso durante a cirurgia e que, por sua vez, predispõe a maior risco de rejeição, neovascu-
larização corneana, deiscência de sutura e glaucoma secundário. Além disso, maior número
de anormalidades palpebrais é frequentemente observado nesses indivíduos, especialmente
frouxidão palpebral, que são potenciais fatores complicadores da evolução pós-operatória do
enxerto.
Durante o período pós-transplante desses pacientes, é necessária uma supervisão rigo
rosa com frequentes retornos ao médico e até exames sob sedação, ou anestesia geral, para
177
178 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
retirada de pontos. Cuidados em casa também deverão ser intensos a fim de evitar a fricção
dos olhos após a cirurgia.
A ceratoplastia lamelar profunda está mais indicada nesses casos por ser mais segura e
não se tratar de um procedimento intraocular. A ceratoplastia penetrante, por sua vez, deve
ser reservada para pacientes selecionados, com boa colaboração durante o exame, menor de
ficiência mental, com idade até 40 anos e com boa espessura corneana periférica.
Tecnicamente falando, a cirurgia pouco difere da convencional. Porém, geralmente a es
pessura dessas córneas é excepcionalmente fina nas regiões central e inferocentral e, vez por
outra, vem acompanhada de cicatrizes e fibroses subepiteliais que podem dificultar a dissec
ção lamelar, seja por técnica manual (espátulas, lâminas, microcerátomos) ou automatizada
(com o IntraLase®).
O ganho de acuidade visual deve ser suficiente para proporcionar melhora na qualidade
de vida, com menor dependência. A anestesia geral e a evolução clínica podem ser favoráveis,
mas riscos de infecção e complicações com a sutura devem ser monitorados de perto.
Em geral, a remoção de suturas é feita sob narcose nos pacientes com comportamento
menos previsível; mas, com esclarecimento honesto e entendimento do que será feito, é pos
sível fazê-lo sob anestesia tópica na lâmpada de fenda no consultório.
A tentativa de correção óptica para erros refrativos residuais pode ser feita ao final de 8 a
12 meses. Isso nem sempre é necessário, pois é muito comum que o ganho visual tenha sido
suficiente para promover o bem-estar do paciente. Muito raramente, há necessidade de recur
sos de visão subnormal para manter atividades social e física satisfatórias para esses pacientes.
Quanto à medicação pós-cirúrgica, sugere-se manter o corticoide tópico (inicialmente o
acetato de prednisolona a \% até o terceiro mês, seguindo com fluorometolona a 0,1% ou ri-
mexolona 1 x/dia até a alta clínica, em torno de 13 meses) e antibiótico tópico (em geral, uma
fluoquinolona de terceira (ofloxacino) ou quarta gerações (gatifloxacino ou moxifloxacino) du
rante 7 dias, período no qual há cicatrização epitelial.
BIBLIOGRAFIA
Bodenmueller M, Goldblum D, Frueh BE. Penetrating keratoplasty in Down's syndrome. Klin Monatsbl Augenheilkd, 2003;
220(3):99-102.
Haugen OH, Hovding G, Eide GE, Bertelsen T. Gorneal grafting for keratoconus in mentally retarded patients. Acta Oph
thalmol Scand, 2001 ; 79(6):609-15.
McElvanney AM, Adhikary HP. Penetrating keratoplasty in mentally retarded. Eye, 1997; 11:786-9.
Cirurgia Combinada
(Transplante + Catarata + LIO)
WALLACE CHAMON
179
Transplante de Córnea nas
Doenças de Superfície Ocular
181
182 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
BIBLIOGRAFIA
Alvarenga LS, Mannis MJ, Hirai F, Sato EH, Gomes JAP, Silva LRE, Gonçalves MM. Transplante de córnea nas doenças da
superfície ocular. In: Gomes JAP, Alves MR (eds.). Superfície Ocular. 1a ed rev. Rio de Janeiro: Gultura Médica, 2006; Gap
24, p 325-39.
Gomes JAP. Atualização no tratamento das ceratoconjuntivites cicatriciais. Arq Bras Oftal, 2000; 63:91-6.
Mannis M. Penetrating keratoplasty in ocular stem cell disease. In : Holland EJ, Mannis M (eds). Ocular surface disease. 1st
ed. New York: Springer-Verlag; 2002; p 253-6.
Schwartz GS, Gomes JA, Holland EJ. Pre-operative staging of disease severity. In: Holland EJ, Mannis M (eds.). Ocular surface
disease. 1st ed. New York: Springer-Verlag, 2002; p 158-167.
índice Alfabético
Números em itálico são referentes às figuras. Os números em negrito indicam onde os assuntos são abor
dados mais extensamente.
A C
183
184 Banco de Olhos, Transplante de Córnea
causas, 151 R
tratamento, 151
Receptor e doador
descolamento do corpo ciliar, 151
relação de idade entre
fármacos hipotensores oculares, 152
no transplante de córnea, 35
fístulas, 152
Rejeição e falência, 135-141
hipofunção do corpo ciliar, 152
ciclosporina, 138
H1V corticóide tópico, 139
no transplante de córnea, 20 linha de, Í37
Riscos de transmissão e infecção, 19-24
I
r
índices de sucesso, 85-87 S
Septicemia, 27-28
L no transplante de córnea, 27
Lâmpada de fenda Sífilis
avaliação do botão corneoescleral em, 57-61 no transplante de córnea, 22
conjuntiva, 58 Síndrome
endotélio, 60 Urretz-Zavalia, 147-148
epitélio, 58 Sinequias, 149-150
esclera e limbo, 58 correção cirúrgica das, 150
estroma, 59 tratamento específico, 149
Sistema nervoso central
membrana de Descemet, 60
doenças do, 29-30
M Sorologia obrigatória
interpretação dos testes sorológicos, 25-26
Membrana amniótica Superfície ocular
para uso em oftalmologia transplante de córnea nas doenças de, 181-182
obtenção e conservação da, 71
T
N
Tecido doador
Neovascularização corneana, 155-156 estudo microbiológico do, 21
definição, 155 qualidade do
fatores locais, 155 e causa do óbito, 33-34
Tecido escleral
O processamento e conservação do, 69
Tecidos oculares
Óbito
equipamentos necessários para o
causa do, 33
funcionamento de um, 37-39
Olho
Técnicas cirúrgicas, 89-91
técnica de preparação do botão corneoescleral
Transplante(s)
em
de córnea, 3-11
enucleação e retirada in situ, 47-49
autólogo, 113-114
conservação da, 63-64
P
lamelar e tectônico, 65-66
Punção de infecção corneana, 163-165
fe moral, 42 controle pós-operatório, 164
subclávia, 42 indicações, 163
1 8 6 | Banco de Olhos, Transplante de Córnea
ROTAPLAN
G R Á FIC A C E D IT O R A LTDA