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História das Relações Internacionais

Carla Sousa

Nº 64643

Subturma 13

A expressão “Equilíbrio de Poderes” contém intrinsecamente um caráter mutativo ao


longo dos séculos, demonstrando possuir uma relevância gradual, de menor para maior,
no decurso dos períodos históricos decorridos desde os seus dias embrionários até aos
dias atuais do século XXI. Questiono primeiramente, se este conceito constitui, de facto,
um dos princípios de organização básica das Relações Internacionais. Pessoalmente,
sim, tendo em atenção que houve períodos históricos e pessoas que tiveram um papel
ilustre para que, o Equilíbrio de Poderes evolui-se e desenha-se as linhas das Relações
Internacionais, transformando a perspetiva como atualmente as encaramos.

Para começar, é necessário analisar-se o que é, de facto, um “Equilíbrio de Poderes”.


Este conceito é central para a Doutrina Realista. Diria então que é um conceito que
invoca a ideia de uma Balança, onde existe, por um lado, um peso, e do outro, um
contrapeso que mantêm a balança estável. Ora transpondo esta ideia para as Relações
Internacionais, os símbolos destes pesos são, nada mais, nada menos, as forças
competitivas dos Estados e as influências de como se organizam e interagem a nível
mundial. A História já provou, que o Equilíbrio, alçando pelas medidas das Relações
Internacionais, é necessário para que exista uma coexistência pacifica entre os Estados.
Nas situações em que a Balança das forças, se desequilibra, ocorre o nascimento de
guerras, ou até mesmo de tensões entre os Estados, uma vez que, com um desequilíbrio,
ficam ameaçadas as soberanias dos mesmos, principalmente daqueles com menor parte
do poder. A ideia, é mesmo, a de que o Equilíbrio de Poderes proporciona uma
harmonia nas Relações, que os Estados cada vez mais, e inevitavelmente têm de
exercer, contudo não podemos confundir o símbolo que a balança representa com a
ideia de que todos os estados devem ter forças iguais, o que será pouco provável de
acontecer, uma vez que a distribuição do Poder é tendencialmente desigual, sem nunca
esquecer que, o que tem de ser igual e continuo é a forma de como se relacionam os
estados, sem colocarem em perigo o Equilíbrio, de forma a que este se mantenha.
Assim, depois de demonstrar o conceito de Equilíbrio de Poderes conforme o meu
ponto de vista, vou fundamentar o caminho pelo qual, o preceito em desenvolvimento,
percorreu e contribuiu na evolução da organização das Relações Internacionais. Assim
sendo, o Princípio de Equilíbrio de Poderes, é um conceito inerente ao Homem,
ganhando relevância a partir da Paz de Vestefália, contudo, já na Grécia antiga o
conceito fora mencionado e ligeiramente trabalhado, obviamente, de modo muito
arcaico e sem comparação. Por conseguinte, o que é importante retirar é que, o
Equilíbrio de Poderes vem já com desde a Antiguidade Clássica, ganhou maior
relevância em Vestefália, em 1648, e transformou-se num ponto central em 1814, no
Congresso de Viena. Desta forma, o “Concerto da Europa”, ocorrido entre 1814 e 1815,
foi um marco importante para a Europa e sobretudo para as Relações Internacionais, o
que traduziu num “virar da página” na História. No fundo, o Congresso de Viena vincou
a preocupação dos Estados na procura da Paz, de uma Paz e estabilidade duradoura, que
tinha sido afetada pela Revolução Francesa e pela Era Napoleónica. Esta “Paz” tão
desejada foi alcançada pelo Equilíbrio de Poderes entre as potências, o que nunca teria
ocorrido até então. Apesar disso, continuaram a existir conflitos, exemplo da Guerra da
Crimeia, embora de pequena importância, rapidamente limitados e inigualáveis ao
conflito Napoleónico precedente (KISSINGUER, 2012.). 1

É de referir que o Concelho de Viena não se limitou a estabelecer o Equilíbrio dos


Poderes na Europa do século XIX, visou também a manutenção e o acautelamento de
possíveis conflitos armados que ferissem o Equilíbrio alcançado: começaram a realizar-
se conferências periódicas, de modo a proceder-se os ajustes necessários para prevenir o
deflagrar de possíveis conflitos entre as potências, estando em prática, pela primeira
vez, o funcionamento de um sistema de segurança coletiva que tinha a preocupação de
evitar conflitos, principalmente os de maior escala. O Equilíbrio de Poderes transforma-
se! Adquire a forma de um sistema organizado de normas e práticas diplomáticas e
2
consagra ainda o multilateralismo (KISSINGUER, 2012.). No entanto este sistema,
numa ótica realista, pressupõe: O facto da sociedade internacional ser tendencialmente
sujeita a um regime Anárquico entre Estados (cada estado tem de procurar defender a
sua soberania por si mesmo, uma vez que ninguém o irá defender sem ser ele próprio) e
o valor da independência ou soberania dos Estados ser considerada um ponto essencial
nos dias de hoje. De grosso modo, o Equilíbrio de Poderes, metaforicamente, compara-
1
KISSINGER, HENRY; Diplomacia, Editora Saraiva; São Paulo; 2012
2
KISSINGER, HENRY; Diplomacia, Editora Saraiva; São Paulo; 2012
se a uma Borboleta, que teve de passar por um processo de enclausuramento, aludido ao
período desde a Grécia antiga até ao Congresso de Viena onde era visto como uma ação
natural (KISSINGUER, 2012.)3, ganhando por fim a liberdade e a possibilidade de voar,
através do Congresso de Viena, que abre os olhos ao mundo, rompe com o casulo e
confere a este conceito, a mudança e a tarefa de assegurar uma segurança coletiva. O
Congresso de Viena é uma das provas da transformação do Equilíbrio de Poderes num
sistema de organização das relações Internacionais, contudo, será que este conceito
contribuiu para a criação de uma Teoria das Relações Internacionais? No meu entender,
a resposta também será afirmativa. Vejamos, existem à data, várias Teorias que podem
tentar explicar as Relações Internacionais, contudo irei apresentar e desenvolver aquela
que, na minha opinião, o Equilíbrio de Poderes melhor consegue sustentar. Estou a falar
da Teoria Realista das Relações Internacionais, cuja natureza é pragmática e empírica, e
deve ser testada através do propósito de “trazer ordem e sentido para uma massa de
fenómenos que, sem ela, permaneciam desconexos e incompreensíveis”
(MORGETHAU, 2003.)4, ou seja, a pergunta que se deverá obrigatoriamente questionar
é a de que “será que a teoria é coerente com os fatos e com os seus próprios elementos
5
constitutivos?” (MORGETHAU, 2003.). Morgenthau salvaguardou que, a Teoria
Realista pressupõe dois conceitos fundamentais já referidos: o status quo e a Balança de
Poderes. O Status quo significa “Estados das Coisas”: em princípio, cada potência,
principalmente as mais soberanas, vão tentar, porque efetivamente podem devido à sua
grandeza, aumentar a sua área de influência e o seu poder, consequentemente gerando
um desequilíbrio dos poderes, uma tentativa de alteração do Estado das coisas, logo as
restantes vão sentir-se ameaçadas e, por conseguinte, tentarão impedir essa expansão de
influência através de, por exemplo, alianças, cujo objetivo será manter “o Status Quo”.
As motivações são várias, entre elas, o facto de uma potência não concordar com o
Status Quo existente ou até mesmo se sentir ameaçada por este. Pessoalmente, esta ideia
que Morgenthau problematizou está completamente correta e explica, sucintamente, de
como o Equilíbrio dos Poderes opera no nosso mundo atual do século XXI, sendo algo
inevitável, cujos mecanismos parecem quase como um ciclo vicioso: nascimento de
uma ameaça ao equilíbrio, seguida de uma reação contra essa ameaça, traduzida no
possível aumento de influência, que pode ter 2 destinos: a ameaça vence todos os

3
KISSINGER, HENRY; Diplomacia, Editora Saraiva; São Paulo; 2012
4
MORGETHAU, HANS; A política entre as nações; UnB; São Paulo; 2003.
5
MORGETHAU, HANS; A política entre as nações; UnB; São Paulo; 2003.
mecanismos que a tentam aniquilar, e o “Status Quo” altera-se com um novo Equilíbrio
de Poderes, ou a ameaça desaparece e mantem-se o Equilíbrio existente.

Já o conceito de Balança de Poderes, na ótica de Morgenthau, é na prática a disputa ou a


competição entre os que, de facto, querem preservar ou manter o Status Quo existente e
aqueles que, por não concordarem com este, querem alterá-lo. O autor Morgenthau
defende a ideia de que, cada Estado irá tentar aumentar a sua área de influência, seja
pela via da anexação de territórios seja pela via da ameaça, ou qualquer outro tipo de via
que beneficie o seu posto no Mundo Internacional. Quando uma grande potência, com
vista a aumentar a sua zona de influência, ameaça um Estado menor, as restantes
potências, vão emitir uma resposta de combate: defendendo o estado Atacado,
utilizando a diplomacia pelo caminho da conversação com o Estado “predador”. Mas
não sejamos inocentes, é obvio que as restantes potências, principalmente as Maiores,
vão encarar aquele aumento de influência como uma ameaça, já que quanto mais poder
um Estado ganha em relação a outro, mais poder vai ter para usar contra qualquer um no
futuro.

O caso mais atual, vivenciado em pleno ano de 2022, que comprova a assertividade e
eficácia da Teoria Realista das Relações Internacionais, é a invasão da Ucrânia pela
Rússia. Qual é o “Status Quo” existente? Na minha ótica, existem várias grandes
potências: Estados Unidos, Alemanha, Rússia, França, Inglaterra e China. Ironicamente,
correspondem, à exceção da Alemanha devido à sua derrota da Segunda Grande Guerra,
aos membros permanentes do Concelho de Segurança da ONU. Vivemos num mundo,
onde hoje existe um Equilíbrio de Poderes Multilateralista, contendo diversos tratados e
alianças, entre elas, a Aliança Política e Militar dos Países do Atlântico Norte, mais
conhecida como NATO. A NATO foi criada 1949, no segundo Pós-Guerra, de forma
que os estados-membros pudessem se defender, numa ótica realista, de futuras ameaças,
ao “Equilíbrio Global”. Com o decorrer da Guerra Fria, ocorreu o nascimento do
Mundo Antagónico, de um Mundo Bipolar, onde dois aliados da Segunda Grande
Guerra, passaram a ser rivais: os Estados Unidos da América e a União Soviética. Logo,
seguindo um raciocínio lógico, a NATO, cuja liderança é representada pelos Estados
Unidos, não caiu aos bons olhos russos, que em resposta, criaram o Pacto de Varsóvia.
Agora, onde a Ucrânia entra no meio deste desenrolar todo? Pois bem, com o fim da
Guerra Fria, simbolicamente datada com a Queda do muro de Berlim, a União Soviética
foi “desmantelada” dando ao mundo um novo “Status Quo” e um novo mapa
geopolítico, onde nascem recém países independentes do domínio Soviético cuja
nomenclatura corresponde a “Ex-repúblicas Soviéticas” é o caso da Ucrânia, Estónia,
Letónia, Lituânia, Azerbaijão, etc… Acontece que, apesar da União Soviética ter sido
dissolvida, o atual Presidente da Rússia, Vladimir Putin, na minha opinião, ainda sonha
com o ideal soviético e com a reconquista do controlo dos satélites perdidos à algumas,
poucas, décadas atrás. E, não viu de bom grado, o facto da Ucrânia, a partir de 2014,
passar a ser governada por um regime Pró-europeu, que traduziu uma possibilidade de
entrada para a União Europeia e NATO. Assim, colocando na prática a nossa Teoria
Realista das Relações Internacionais, a Rússia sentiu-se ameaçada, com a Ucrânia ter
uma “porta-aberta” de entrada na NATO e União Europeia, e por isso tem uma pretensa
de alterar o “Status Quo” atual, pretensa evidente com as ameaças efetuadas também à
Finlândia e à Suécia. Deste modo, inicialmente ocorreram diversas ameaças à Ucrânia,
país de menor influência, e a 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu-a. Ora, o ciclo
realista repete-se: a Rússia sente-se ameaçada com o aumento da zona de influência de
um país menor e antigo satélite soviético, tenta, numa contra reação, aumentar a sua
zona de influência sobre os “satélites” que perdeu com o fim da URSS, existe uma
contrarreação, por parte dos Estados Unidos, e generalidade dos países Europeus,
inclusive Portugal, Alemanha, França, Espanha, Inglaterra, Itália, que se unem em apoio
à Ucrânia através de fornecimento de armamento, sanções económicas duras. Na minha
opinião esta resposta Americana e Europeia levará à falência da própria Rússia, visto
que vivemos num mundo globalizado e é difícil aplicar-se políticas fechadas e
protecionistas num país, o que consequentemente levará à decadência ainda mais
evidente do Estado Russo, salvaguardando que a Rússia contém a “amizade” com a
China, mas problematizo até que ponto a China se sujeitará a levar as iguais e pesadas
sanções dos restantes países em prol da amizade russa. De acordo com a teoria realista,
da qual defendo, a cooperação entre países existe, mas pressupõe um interesse ou
benefício escondido nas entrelinhas, logo se os prejuízos serão maiores do que os
benefícios para os chineses, essa cooperação esvanece-se. Sejamos francos, qual o país
que se quer prejudicar, denegrindo a sua área de influência e o seu papel a nível mundial
em prol de uma “amizade”.

Em suma, a frase que foi alvo de comentário, está correta no seu todo, uma vez que o
princípio do Equilíbrio de Poderes demonstrou ser um conceito muito importante ao
longo dos últimos cinco séculos, transformando-se, principalmente, a partir do século
XIX, a base do modelo de organização das relações internacionais, ao mesmo tempo
que tornou-se o fundamento para a criação da Teoria Realista das relações
Internacionais, Teoria a qual consegue explicar acontecimentos atuais, como exemplo a
situação da Ucrânia, cujo o desfecho, numa ótica realista, poderá ser a transformação do
atual “Status Quo” ou a manutenção do mesmo.

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