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BOLETIM

GEOCORRENTE ISSN 2446-7014


06 de março de 2024

EDIÇÃO ESPECIAL: DOIS ANOS DO CONFLITO RÚSSIA x UCRÂNIA


BOLETIM
GEOCORRENTE

BOLETIM EQUIPE BOLETIM ESPECIAL


GEOCORRENTE Estagiária Responsável
O presente documento foi confeccionado Maria Clara Vieira Schneider Vianna (UFRJ)
pelos estagiários e pesquisadores do Núcleo de Diagramação e Design Gráfico
Avaliação da Conjuntura (NAC), vinculado à
Superintendência de Pesquisa e Pós-Graduação
Maria Clara Vieira Schneider Vianna (UFRJ)
(SPP) da Escola de Guerra Naval (EGN), com Maria Fernanda Csázár Lima Ferreira (UFRJ)
o intuito de consolidar análises dos principais Taynah Pires Ferreira (ufrj)
desdobramentos desde o início do conflito russo-
-ucraniano até o dia 19 de fevereiro de 2024. Revisão
Além dos atores internos Rússia e Ucrânia, foram Lucas Salles Pithon Macedo (UFRJ)
analisados os atores externos: Alemanha, China,
Estados Unidos, França, Geórgia, Índia, Irã, Pesquisadores
OTAN, Polônia, Reino Unido, Turquia e União
Europeia. Amanda Neves Leal Marini (ECEME)
Gabriel Willian Duarte Constantino (UFRJ)
Gabriel Paradela Heil (UFRJ)
Guilherme Francisco Pagliares de Carvalho (UFF)
João Gabriel Fischer Morais Rego (ECEME)
José Gabriel de Melo Pires (ECEME)
CONSELHO EDITORIAL
Luciano Veneu Terra (UFF)
DIRETOR DA EGN Luiza Gomes Guitarrari (UFRJ)
Contra-Almirante Gustavo Calero Garriga Pires
Maria Clara Vieira Schneider Vianna (UFRJ)
SUPERINTENDENTE DE PESQUISA E
PÓS GRADUAÇÃO DA EGN Maria Fernanda Császár Lima Ferreira (UFRJ)
Contra-Almirante (RM1) Marcio Magno de Farias Franco Marina Autran Caldas Bonny (UFRJ)
e Silva
Millene Sousa dos Santos (UFRJ)
EDITOR CHEFE Pedro Mendes Martins (ECEME)
Capitão de Mar e Guerra (RM1) Leonardo F. de Mattos
(EGN) Pérsio Glória de Paula (Saint Petersburg University)
EDITOR CIENTÍFICO Philipe Alexandre Junqueira (UERJ)
Prof. Dr. Rafael Zelesco Baretto (EGN) Rafaela Caporazzo de Faria (UFRJ)
EDITORES ADJUNTOS Rafael Esteves Gomes (UFRJ)
Jéssica Germano de Lima Silva (EGN)
Noele de Freitas Peigo (Facamp)
Thayná Fernandes Alves Ribeiro (UFF)
Victor Eduardo Kalil Gaspar Filho (EGN)

Capa: Dois Anos do Conflito Rússia x Ucrânia


Por: Maria Fernanda Császár Lima Ferreira (UFRJ)
Fonte: Elaboração própria

CORRESPONDÊNCIA
Escola de Guerra Naval – Superintendência de Pesquisa e Pós-Graduação.
Av. Pasteur, 480 - Praia Vermelha – Urca – CEP 22290-255 - Rio de Janeiro/
RJ - Brasil
TEL.: (21) 2546-9394 | E-mail: geocorrentenac@gmail.com

Esta e as demais edições do Boletim Geocorrente, em português e inglês,


poderão ser encontrados na home page da EGN e em nossa pasta do Google
Drive.

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BOLETIM GEOCORRENTE • ISSN 2446-7014 • EDIÇÃO ESPECIAL: Dois Anos do Conflito • Março | 2024
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GEOCORRENTE

ÍNDICE
Lista de Siglas ....................................................................................................................................3
Cronologia do Conflito ........................................................................................................................4
Introdução ...........................................................................................................................................6
Mapa 1: Territórios Ucranianos Ocupados pela Rússia ......................................................................7
Gráfico 1: Assistência Militar à Ucrânia .............................................................................................7
Impactos internacionais: Atores Internos ..........................................................................................8
Fluxo de Refugiados .........................................................................................................................9
Impactos Internacionais: Atores Externos .......................................................................................10
Panorama do Setor Energético Russo em 2023 ............................................................................16
Fórum de Davos .............................................................................................................................16
Considerações para o Brasil ............................................................................................................17
Gráfico 2: Relações Econômicas Brasil-Rússia 2018-2023 ..............................................................17
Infográfico: Linha Temporal de Ataques no Ambiente Marítimo ........................................................18
Referências.........................................................................................................................................20

LISTA DE SIGLAS
ACNUR - Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
AGNU - Assembleia Geral das Nações Unidas
BID - Base Industrial de Defesa
EUA - Estados Unidos da América
FEM - Fórum Econômico Mundial
FY - Fiscal Year (Ano Fiscal)
G7 - Grupo formado pelas sete maiores economias do mundo, composto por Alemanha,
Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido
GNL - Gás natural liquefeito
MMbbl/d - Milhões de barris por dia
OIM - Organização Internacional para as Migrações
ONU - Organização das Nações Unidas
OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte
PIB - Produto Interno Bruto
TPI - Tribunal Penal Internacional
UE - União Europeia

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CRONOLOGIA DO CONFLITO

FASE 1: INÍCIO DA INVASÃO (FEV-MAR 2022)


A Rússia invade a Ucrânia em diversas frentes: a partir de Belarus, da região da Crimeia e de
regiões separatistas como Donetsk e Luhansk. Esse período foi caracterizado pelo rápido avanço
russo, pela tentativa de capturar Kiev e pela reação negativa do Ocidente.

24/02 28/02 28/02 03/03 25/03

INÍCIO DO CONFLITO: TURQUIA FECHA INÍCIO DA REUNIÃO CONQUISTA RUSSA RETIRADA DAS
BLOQUEIO DO MAR OS ESTREITOS DE EMERGÊNCIA DA DE KHERSON E FORÇAS RUSSAS
DE AZOV E DE BÓSFORO E AGNU CERCO MILITAR DE DOS ARREDORES DE
TOMADA RUSSA DA DARDANELOS PARA MARIUPOL KIEV
ILHA DAS COBRAS NAVIOS DE GUERRA

FASE 2: GUERRA DE ATRITO (ABR-JUL 2022)


Após se retirarem dos arredores de Kiev, as forças russas se concentraram em combates na
região do Donbass, com avanços lentos, mas consistentes. Período de grande apoio financeiro e
militar dos Estados Unidos para a Ucrânia.

14/04 20/05 30/06 03/07 22/07

CRUZADOR RUSSO CONQUISTA RUSSA RETIRADA RUSSA DA TOMADA RUSSA DE RÚSSIA E UCRÂNIA
MOSKVA AFUNDA NO DE MARIUPOL E DE ILHA DAS COBRAS LYSYCHANSK E DE ASSINAM ACORDO
MAR NEGRO TODO O MAR DE TODA A REGIÃO DE PARA EXPORTAÇÃO
AZOV LUHANSK DE GRÃOS

FASE 3: ESTAGNAÇÃO E CONTRAOFENSIVA (AGO-DEZ 2022)


Nessa fase, destaca-se uma estagnação dos avanços russos e o início de uma contraofensiva nos
Oblasts (regiões administrativas) de Kharkiv e Kherson, com avanços ucranianos importantes até
Luhansk.

30/08 21/09 30/09 08/10 11/11

UCRÂNIA LANÇA PUTIN ANUNCIA ANEXAÇÃO RUSSA EXPLOSÃO DA PONTE FORÇAS RUSSAS
CONTRAOFENSIVA MOBILIZAÇÃO DAS QUATRO DA CRIMEIA SE RETIRAM DE
EM KHARKHIV E PARCIAL REGIÕES OCUPADAS KHERSON
KHERSON ATÉ O DIA
08 DE SETEMBRO

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CRONOLOGIA DO CONFLITO

FASE 4: ESCALADA (JAN-FEV 2023)


Ocorrem mudanças na estratégia russa para o conflito, com bombardeios constantes às
infraestruturas críticas ucranianas e utilização de mais meios militares. Rússia volta a ter
avanços militares importantes. Destaca-se o gradual aumento da ajuda militar do Ocidente
à Ucrânia.
13/01 25/01 26/01 03/02 08/02

CONQUISTA ALEMANHA ANUNCIA EUA ANUNCIA CÚPULA UNIÃO ZELENSKY SE


RUSSA DE ENVIO DE CARROS ENVIO DE CARROS EUROPEIA-UCRÂNIA ENCONTRA COM
SOLEDAR DE COMBATE DE COMBATE M1 É REALIZADA EM MACRON E SCHOLZ
LEOPARD 2 A ABRAMS À UCRÂNIA KIEV EM PARIS
UCRÂNIA

FASE 5: CONTRAOFENSIVA DE VERÃO (JUN-DEZ 2023)


Nessa fase, destacam-se o início de uma contraofensiva ucraniana no Oblast de Zaporizhzhia
e as tentativas de avanço em direção a Melitopol. Período de crise do apoio internacional à
Ucrânia.

08/06 29/07 18/08 21/09 07/12

INÍCIO DA UCRÂNIA AVANÇA EUA ANUNCIA ENVIO POLÔNIA PARTIDO


OFENSIVA EM DIREÇÃO A DE AERONAVES F16 INTERROMPE AUXÍLIO REPUBLICANO
UCRANIANA MELITOPOL E À UCRÂNIA MILITAR À UCRÂNIA BLOQUEIA PACOTE
NO OBLAST DE BERDYANSK DEVIDO À CRISE DOS DE AJUDA DOS EUA
ZAPORIZHZHIA GRÃOS À UCRÂNIA

FASE 6: OFENSIVA DE INVERNO (JAN-FEV 2024)


Forças russas iniciam uma ofensiva e conquistam importantes cidades no Oblast de Donetsk.
Comandante em Chefe das Forças Armadas ucranianas é substituído. Destaca-se a assinatura
de novos acordos militares para a Ucrânia.

04/01 14/01 08/02 16/02 17/02

CONQUISTA REUNIÃO SOBRE COMANDANTE EM UCRÂNIA ASSINA CONQUISTA RUSSA


RUSSA DE PLANO DE PAZ EM CHEFE DAS FORÇAS ACORDOS MILITARES DE AVDEEVKA
MARINKA DAVOS ARMADAS VALERII COM ALEMANHA E
ZALUZHNYI É FRANÇA
SUBSTITUÍDO

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INTRODUÇÃO

N o dia 24 de fevereiro, o conflito russo-ucraniano completou dois anos. Inicialmente


denominado “Operação Militar Especial” pela Rússia, ele se tornou a principal
disputa interestatal em território europeu desde a Segunda Guerra Mundial. Uma das
principais razões para seu prolongamento foi – e tem sido – o maciço apoio econômico
e militar ocidental, principalmente dos Estados Unidos, para Kiev. Nesse sentido,
em diversos discursos, representantes do governo ucraniano, visando à manutenção
desse apoio, buscam enfatizar que, na realidade, a agressão teria iniciado em 2014,
com a anexação da Crimeia e a luta separatista em Donbass. Além disso, Kiev se
apoia na ideia de que a Ucrânia é uma espécie de "escudo protetor" para a Europa
– por conseguinte, para o Ocidente e seus valores –, logo deve seguir recebendo os
expressivos investimentos, a fim de conter o denominado expansionismo russo.
No sentido militar, o conflito, no último ano, se caracterizou por um avanço
russo sobre o leste e o sul da Ucrânia, seguido pela estabilização de seu controle
através do fortalecimento das defesas no território controlado. Esse fortalecimento
das posições defensivas foi uma das principais dificuldades enfrentadas por Kiev em
suas tentativas de contraofensiva. Outro fator relevante no âmbito militar vem sendo
o emprego de veículos não tripulados, ou drones, que têm sido utilizados por ambos
os lados para coletar inteligência sobre o campo de batalha e orientar os disparos de
artilharia. Nesse contexto, a Ucrânia tem se empenhado no desenvolvimento de drones
navais, que, apesar de não terem impacto significativo no conflito – caracterizado
majoritariamente por embates terrestres –, demonstram o potencial de emprego futuro
nas operações navais.
No cenário internacional, Moscou segue excluída de fóruns multilaterais, como
foi no FEM de Davos, na segunda quinzena de janeiro, na Suíça. Ademais, segue
sendo alvo de sanções econômicas, especialmente sobre seus recursos energéticos. No
entanto, há indícios de que tais sanções estejam sendo contornadas através da venda
para terceiros como a Índia, que têm a possibilidade de repassá-los para compradores
que apoiam as sanções econômicas ocidentais.
Já para além do eixo UE-OTAN, Moscou busca mitigar os efeitos das sanções
ao fortalecer os laços com países que compartilham de certo antagonismo aos EUA –
como a China – ou buscam uma política externa independente – como a Índia. Desse
modo, apesar do empenho das potências ocidentais para seu isolamento diplomático
e econômico, Moscou tem sido capaz de manobrar e estabelecer relevantes parcerias,
especialmente ao se considerarem os países do Sul Global.

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MAPA 1: Territórios Ucranianos Ocupados pela Rússia

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Institute of War, fev. 2024.

GRÁFICO 1: Assistência Militar à Ucrânia (em bilhões de dólares)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Kiel Institute, fev. 2024.

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IMPACTOS INTERNACIONAIS: ATORES INTERNOS

RÚSSIA UCRÂNIA

O aniversário do segundo ano de conflito na


Ucrânia tem sido marcado tanto por uma
renovada ofensiva terrestre russa quanto por uma
D esde que a invasão russa ao território
ucraniano começou em 24 de fevereiro de
2022, o país entrou em mobilização total para
intensificação do conflito no Mar Negro. No combater as forças invasoras. Para compensar a
decorrer de 2023, houve um aumento significativo no inferioridade de suas capacidades econômicas,
emprego de munições inteligentes, drones aéreos demográficas e militares ante a Rússia, a Ucrânia
e drones navais pela Ucrânia contra embarcações, tem recebido massivo apoio militar, econômico,
portos e infraestruturas civis russas na região. político e diplomático do Ocidente.
Somente em fevereiro de 2024, a Ucrânia afirmou Mesmo com o apoio militar do Ocidente
ter afundado a corveta classe Tarantul, RS-334 e a mobilização total de sua sociedade, o
Ivanovets, e o navio de operações anfíbias classe governo ucraniano não conseguiu retomar
Ropucha, BDK-64 Tsezar Kunikov, além de atacar partes significativas do território ocupado em
alvos e cidades na Crimeia. 2023. Mais grave, o governo teve sua imagem
Esse cenário é um desafio para a Marinha abalada com denúncias de corrupção e crescentes
russa e para a Esquadra do Mar Negro, já que dificuldades de obter apoio ocidental para o
a intensificação de operações ucranianas na esforço de guerra, sobretudo dos EUA, onde o
região se deve principalmente à disponibilização Partido Republicano tem colocado empecilhos à
de armamentos ocidentais, como o míssil aprovação de pacotes de ajuda à Ucrânia. Todos
Storm Shadow e diferentes drones navais, e ao esses eventos contribuíram para que Zelensky
fornecimento de inteligência e localização de alvos demitisse a alta cúpula das Forças Armadas
por parte de atores como os EUA, que possuem ucranianas substituindo seu Comandante em
satélites, aeronaves e drones de vigilância na região. Chefe Valerii Zaluzhnyi por Oleksandr Syrskyii.
Apesar do dano causado por esses ataques e No campo econômico, os desafios para
dos desafios técnicos e tecnológicos para a defesa a Ucrânia são igualmente relevantes. Segundo
das embarcações e das linhas de comunicação, estimativas feitas de forma conjunta pela ONU,
tanto terrestres quanto marítimas, a Rússia mantém Banco Mundial, Comissão Europeia e o governo
suas capacidades operacionais e o controle da da Ucrânia, serão necessários US$ 486 bilhões na
Crimeia, detendo assim a superioridade na região. próxima década para a reconstrução do país. Outro
Ademais, Moscou também possui vantagem desafio relevante para o pós-guerra é a questão
no conflito terrestre, já que não só frustrou demográfica: o país já sofria com uma taxa de
a contraofensiva ucraniana em 2023, como fecundidade abaixo do patamar de estabilidade
também prossegue com uma nova ofensiva em e saldo migratório negativo (emigração maior
Donbass. Nesse contexto, destaca-se a tomada do que a imigração) antes de o conflito começar.
pelas forças russas de Avdeevka, uma das cidades
fortificadas na região que era utilizada pelos
ucranianos para bombardeios contra Donetsk.

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FLUXO DE REFUGIADOS

A pós o início do conflito russo-ucraniano no dia 24 de fevereiro de 2022, o fluxo de refugiados


na Europa cresceu exponencialmente. Segundo dados de agências como o ACNUR e a OIM,
até 22 de fevereiro de 2024 mais de 14 milhões de ucranianos foram forçados a deixar seus lares em
algum momento dos dois anos do conflito. Entre esses, cerca de 6,5 milhões solicitaram refúgio em
países estrangeiros, sendo 6 milhões dos pedidos em países europeus. Paralelamente, nesse mesmo
período de tempo, os deslocamentos internos ucranianos atingiram o número de 3,6 milhões de
pessoas.
Segundo dados de fevereiro de 2024, os principais países receptores foram: a Federação
Russa – 1,212 milhão de pessoas –, seguida de Alemanha – com 1,139 milhão de pessoas –,
Polônia – com 956 mil pessoas –, República Tcheca – com 381 mil pessoas –, Reino Unido – com
253 mil pessoas –, Espanha e Itália – com 192.405 e 168.840 pessoas, respectivamente.
Apesar de a busca por refúgio em outros países ainda ser crescente entre os ucranianos,
dados da OIM apontam que cerca de 4,5 milhões de pessoas já retornaram para a Ucrânia, devido
às perspectivas do Governo ucraniano para o fim das hostilidades e a reconstrução de grandes
centros urbanos.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados fornecidos pelo ACNUR, fev. 2024.
*Dados referentes à Rússia são de 30 de junho de 2023.

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IMPACTOS INTERNACIONAIS: ATORES EXTERNOS

ALEMANHA CHINA

I nicialmente cautelosa em se comprometer com


o conflito, a Alemanha se tornou o segundo
país que mais enviou ajuda militar para a Ucrânia.
D esde o início do conflito, a China tem se
posicionado como um país neutro, com a
defesa de uma solução político-diplomática para
O ano de 2023 foi marcado pela mudança de a crise. Isso se deve ao fato de Pequim possuir
posição alemã, com os primeiros envios de carros uma aliança estratégica com Moscou, ao passo
de combate, o Leopard 2, e de US$ 18,3 bilhões que Kiev representa um país geograficamente
em ajuda militar. Além disso, o conflito mudou a estratégico aos interesses chineses na Europa.
política interna de Berlim, fazendo com que, após Em termos políticos, China e Rússia com-
décadas de investimento pouco expressivo, o país partilham a ambição histórica de contrabalancear
impulsionasse o setor de Defesa. Não se limitando os interesses dos países ocidentais no sistema in-
a carros de combate, o país germânico também ternacional, principalmente no que tange aos EUA
enviou peças de artilharia pesada e sistemas de e à UE – principais parceiros da Ucrânia no confli-
defesa aérea. to. Contudo, esse cenário é dirimido pela posição
Em novembro de 2023, a Alemanha anun- estratégica da Ucrânia no Leste Europeu – região
ciou que a ajuda militar à Ucrânia seria de US$ fundamental de conexão euroasiática para o grande
8,5 bilhões, incluindo, mas não se limitando a, o en- projeto chinês “Cinturão e Rota”. A Ucrânia aderiu
vio de drones, caminhões e kits de primeiros-socorros à iniciativa em 2017, servindo como uma porta de
militares. No dia 16 de fevereiro de 2024, o Ministério entrada e saída para as mercadorias, commodities e
da Defesa alemão anunciou o envio de um pacote empresas chinesas.
adicional de US$ 1,2 bilhão destinado à aquisição Em termos econômicos, as economias rus-
de defesa área e artilharia. As discussões de acordos bi- sa e ucraniana se complementam à chinesa. Esta,
laterais foram intensificadas com o pacto de segurança por sua vez, é grande demandante de commodities
de Berlim com Kiev, previsto para um período energéticos, agroalimentares e minerais. As reser-
de 10 anos, comprometendo o país germânico a vas russas e ucranianas, assim como o seu merca-
continuar com o apoio militar à Ucrânia e impor do consumidor, são estratégicos para Pequim. Em
novas sanções à Rússia, assim como controlar ex- dezembro de 2023, o comércio sino-russo bateu
portações e garantir a manutenção do congelamen- o recorde de US$ 240 bilhões, com aumento de
to dos ativos russos. Por último, em caso de uma 26,7%; o sino-ucraniano aumentou 41% no mes-
futura agressão russa, ambos os países acorda- mo período.
ram um detalhado apoio diplomático, econômi- Portanto, a China tem buscado um papel
co e militar. A mensagem principal passada pela mediador para a solução do conflito. Sob acusações
Alemanha é de que o apoio e a solidariedade de que o país estaria vendendo armamentos para a
com a Ucrânia perdurará durante o tempo que for Rússia, em 18 de fevereiro de 2024 o chanceler
necessário. chinês Wang Yi assegurou ao seu homólogo ucra-
niano, Dmytro Kuleba, que a China não vende
armas letais para a Rússia. O governo chinês tem
sido pressionado a exercer influência sobre a Rús-
sia para impedir uma piora do cenário e não expor
eventuais vantagens político-econômicas com o
conflito.

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IMPACTOS INTERNACIONAIS: ATORES EXTERNOS

EUA FRANÇA

O s Estados Unidos se colocaram ao lado


da Ucrânia desde o início do conflito,
especialmente por meio do envio de verbas para a
A pós o cenário de instabilidade político-
-econômica desde a invasão russa, a França se
mostrou comprometida a atender as necessidades
defensiva ucraniana. Apesar desse posicionamento mais urgentes em favor da Ucrânia, financiando
e do auxílio de quase US$ 74,3 bilhões até o e transportando equipamentos humanitários, de
momento, novos pacotes financeiros estão com saúde, de apoio agrícola e veículos de proteção
dificuldade de ser aprovados. No dia 13 de fevereiro civil.
de 2024, um pacote financeiro de US$ 60 bilhões Além disso, Paris se mobilizou para
foi aprovado no Senado, porém tem futuro incerto combater a impunidade de atos possivelmente
na Câmara dos Representantes, dominada pela constitutivos de crimes de guerra. Uma equipe
oposição. Os Republicanos, alinhados com Donald técnica do Ministério do Interior francês foi enviada
Trump, são contrários à legislação, argumentando para fornecer experiência em identificação e
que os EUA têm assuntos internos mais cruciais. coleta de evidências às autoridades ucranianas.
No âmbito da OTAN, recentes negociações A França fez uma contribuição adicional
possibilitaram um exercício militar conjunto. Apesar de US$ 540 mil para o TPI e colocou dois
da dificuldade de execução da meta dos 31 países magistrados e dez investigadores à sua disposição.
destinarem 2% de seus PIB individuais para o Em fevereiro deste ano, Volodymyr Zelensky
setor de Defesa, o exercício Steadfast Defender e Emmanuel Macron assinaram um acordo de
24, liderado pelos Estados Unidos, contou com segurança bilateral. Macron comprometeu-se a
1.100 veículos de combate e mais de 50 navios pagar até US$ 3,25 bilhões de ajuda militar adicional
de guerra, em um treinamento para um possível à Ucrânia, além do pacote adicional de US$ 1,2
ataque russo em algum Estado da organização, bilhão de apoio anunciado por Berlim no mesmo dia.
mostrando a capacidade lucrativa da indústria O acordo prevê a prestação de assistência global à
armamentista estadunidense com o conflito. Ucrânia para o restabelecimento de sua integridade
Em relação à Rússia, o governo territorial dentro de suas fronteiras internacionalmente
estadunidense mantém sua posição de repúdio reconhecidas, a dissuasão ativa e as medidas a
total às ações russas, realizando embargos serem tomadas face a qualquer nova agressão da
econômicos e diplomáticos. Desde fevereiro Rússia, bem como apoio à adesão de Kiev à União
de 2022, US$ 300 bilhões em ativos da Europeia e à interoperabilidade com a OTAN.
Rússia estão bloqueados. Além disso, Putin A França confirma que a futura adesão
já afirmou publicamente não ter tido nenhum da Ucrânia à OTAN seria uma contribuição
contato com Biden desde o começo do conflito. útil para a paz e a estabilidade na Europa.
Para o ano de 2024, a relação dos Estados
Unidos com o conflito na Ucrânia vai depender de
sua corrida eleitoral. O apoio estadunidense ainda
é crucial para a manutenção da defensiva ucraniana.

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GEÓRGIA ÍNDIA

A Geórgia é um país do Cáucaso que busca,


desde os anos 2000, uma inserção na União
Europeia e na OTAN, porém, esse fato não evitou
C om o início do conflito russo-ucraniano, as
relações comerciais e diplomáticas entre
Moscou e Nova Delhi passaram por momentos
que Tbilisi tentasse se manter equidistante de turbulentos. A neutralidade indiana frente ao
ambos os beligerantes em relação ao conflito na conflito e o relativo afastamento dos líderes dos
Ucrânia. Desde o início das hostilidades, mesmo países mostram que o país sul-asiático vem
sendo crítico a Moscou, o governo georgiano vem tentando navegar a atual conjuntura global sem
tentando manter um bom relacionamento com todas se aproximar demais dos atritos no continente
as partes, mantendo boas interações com os países europeu. Porém, o tabuleiro internacional tem
da OTAN e estabilizando as relações com a Rússia. mudado rapidamente e o governo indiano parece
No caso das relações russo-georgianas, estar disposto a repensar seus posicionamentos.
há um importante atrito territorial que eleva as Mesmo com o afastamento, o comércio entre
tensões de ambos os países desde a guerra de 2008, os países foi intenso, sobretudo nos setores de óleo
com a independência da Abecásia e da Ossétia do e gás. A questão energética favorece ambos: por
Sul, territórios reivindicados pela Geórgia. Desde um lado, o preço baixo do petróleo russo permite
a invasão, o Kremlin mantém tropas nesses dois maior incentivo no setor industrial indiano e a
territórios para evitar iniciativas militares por parte possibilidade de vender derivados do petróleo para
de Tbilisi, com o problema se intensificando após o países europeus e, por outro, garante a Moscou fluxo
anúncio de uma nova base naval russa na Abecásia. de renda. As trocas envolvendo o hidrocarboneto
Apesar disso, as autoridades europeias e chegaram a US$ 50 bilhões no FY2022-2023, e
estadunidenses se preocupam com a possibilidade deve ultrapassar essa marca no FY2023-2024.
de a Geórgia estar retornando à esfera de influência O sinal de uma aparente mudança nas
da Rússia, considerando que o país não aderiu às relações indo-russas veio no final de 2023, com
sanções ocidentais e voltou a ter alguns canais de a primeira visita em dois anos do ministro das
comunicação com Moscou. Mesmo diante de tais relações exteriores indiano a Moscou. A visita
preocupações, é improvável que Tbilisi volte a ter indica não só o desejo de se manterem bons laços,
boas relações com o Kremlin, tendo em vista as mas também que Nova Delhi está considerando
demandas georgianas de integridade territorial e a outros parceiros estratégicos fora do Ocidente.
recusa russa em permitir a participação da Geórgia Durante a reunião, foi discutida a possibilidade de
na União Europeia e na OTAN. produção militar conjunta, apesar da diminuição nas
importações de armamentos pós-2022. Ademais,
o ministro indiano afirmou estar confiante de
que a cúpula indo-russa será retomada em 2024.
Em suma, o diálogo entre as nações ainda
está amarrado ao destino do conflito russo-
ucraniano. Apesar disso, vale notar como os
dois países têm achado meios para manter a
proximidade, já que Índia e Rússia continuam
importantes parceiros, e suas decisões conjuntas
podem afetar o cenário geopolítico mundial.

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IRÃ OTAN

A parceria estratégica entre Irã e Rússia


continuou a acontecer ao longo do ano de
2023, em diferentes áreas, como na Economia e
A centralidade da OTAN no conflito é um fato
desde o seu início, uma vez que a expansão
da organização para o Leste Europeu é vista pela
na Defesa. Segundo a rede de notícias Al Jazeera, Rússia como uma ameaça a sua segurança. A
no setor relacionado à Defesa, Teerã segue aproximação com a Ucrânia e sua possível ascensão
fornecendo equipamentos militares para Moscou, à OTAN significariam o aumento do número de
principalmente veículos aéreos não tripulados, tropas da organização e dos EUA ao redor do
como os drones Shahed-131/136. Essa ação é Mar Negro — canal essencial para o comércio e
vantajosa para ambos os atores: para Moscou, abastecimento da Rússia.
acontece o auxílio às operações russas no conflito Apesar da morosidade no processo
com a Ucrânia; para Teerã, esta cooperação militar de entrada ucraniana, 2023 marcou a entrada da
pode ser vista como uma estratégia para diminuir Finlândia e grandes avanços para a futura en-
os efeitos das sanções econômicas e aumentar as trada da Suécia — cujo ingresso é esperado
suas parcerias internacionais. para ocorrer durante a Cúpula da Organização
Segundo a Al Jazeera, existem indícios em julho de 2024. A aliança com os países
de um possível aumento dessa cooperação para nórdicos é indispensável para a projeção da
aquisição, por parte de Moscou, de mísseis OTAN no Mar Báltico, por onde passam rotas
balísticos iranianos, que também poderiam ser comerciais vitais, cabos submarinos de comuni-
usados nas operações na Ucrânia. Além disso, cação e gasodutos. Além disso, a presença de
o Irã também procura adquirir equipamentos bases militares russas na região e a proximidade
militares russos. De acordo com a rede de notícias com São Petersburgo tornam o Báltico extrema-
Islamic Republic News Agency, Teerã visa, mente estratégico para a segurança da aliança.
através desta cooperação, obter helicópteros de No âmbito militar, a OTAN anunciou em
ataque – Mil Mi-28 –, aviões de combate – Su- janeiro deste ano seu maior exercício militar des-
35 – e aviões de treinamento – Yak-130. Estas de a Guerra Fria. O chamado Steadfast Defend-
aquisições buscam atualizar os equipamentos er 24 mobiliza cerca de 90 mil militares dos 31
das Forças Militares do Irã, mas, para Moscou, é países-membros e da Suécia. O exercício se es-
uma oportunidade para adquirir novos contratos tenderá até junho e engloba operações aéreas,
de venda de armamentos e materiais militares, cibernéticas, espaciais, marítimas e terrestres
visando obter mais recursos e financiamentos para realizadas principalmente na Europa central e
suas estratégias e operações. Portanto, observa- no flanco oriental da aliança.
se como essa cooperação no setor de Defesa A proximidade das eleições presidenciais
entre os dois países, além de beneficiar ambos os dos EUA contribui para a tensão entre os mem-
Estados, reflete-se no conflito contra a Ucrânia. bros e o futuro da organização. O ex-presidente
Donald Trump teria sugerido que os países que não
cumprissem a meta de destinar pelo menos 2% de
seu PIB para Defesa não poderiam contar com a
proteção dos EUA. Apesar de os 2% não serem
garantidos por todos, o secretário-geral da OTAN
estima que 18 dos 31 membros poderão superar a
meta em 2024.

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IMPACTOS INTERNACIONAIS: ATORES EXTERNOS

POLÔNIA REINO UNIDO

O conflito em curso entre Rússia e Ucrânia


tem gerado impactos significativos na
Polônia, tanto do ponto de vista político quanto do
O Reino Unido se destaca como um dos
países europeus mais empenhados em
apoiar o esforço de combate ucraniano contra
econômico. Inicialmente, Varsóvia emergiu como a invasão promovida pela Federação Russa,
um aliado crucial para Kiev, fornecendo apoio posicionando-se como o terceiro governo que
financeiro e militar ocidental para enfrentar a mais ofereceu assistência à Ucrânia, ficando
Rússia. No entanto, nos últimos meses, as relações atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha.
entre as duas nações deterioraram-se devido a No âmbito militar, o apoio britânico atingiu
divergências econômicas. a cifra de US$ 14,3 bilhões. Conforme recente
A ameaça de interrupção do fornecimento divulgação do Kiel Institute, entre esses, US$ 4,5
de armas à Ucrânia, devido a disputas comerciais bilhões foram durante o primeiro ano do conflito e
relacionadas à importação de grãos, reflete a US$ 9,8 bilhões durante o segundo ano. Além disso,
complexidade das relações entre os dois países. O o governo britânico se destaca pelo treinamento
embargo polonês aos grãos ucranianos e os protestos fornecido às forças ucranianas, capacitando-as em
de caminhoneiros na fronteira são exemplos de táticas e no manuseio de equipamentos ocidentais
ações que prejudicam as relações bilaterais, para enfrentar o exército russo. Um exemplo
pois afetam negativamente o comércio e o notável é o fornecimento dos blindados Challenger
transporte de mercadorias, incluindo combustíveis. 2, peça fundamental na força terrestre britânica.
Além disso, a situação na fronteira Londres, assim, continua comprometida no
polaco-ucraniana transcende o conflito entre suporte à Ucrânia. Entretanto, o clima político in-
Rússia e Ucrânia, influenciando a segurança terno – marcado por uma lenta retomada econômi-
regional. A Polônia tem adotado medidas para ca –, e o externo – atento aos futuros desdobra-
garantir sua segurança diante das crescentes mentos das eleições presidenciais nos Estados
tensões na fronteira leste mediante o aumento Unidos – poderão se tornar grandes desafios frente
dos investimentos para a modernização de seus ao custeio do suporte financeiro e militar ao confli-
armamentos, de modo a ampliar sua capacidade to.
de iniciativa estratégica. Sobre isso, o ministro
da Defesa polonês declarou a prontidão do país
para se defender contra qualquer tentativa da
Rússia de ameaçar a soberania de Varsóvia.
Nesse contexto, fica evidente que o
conflito russo-ucraniano tem tido um impacto
abrangente na Polônia, afetando suas relações
com Kiev e gerando consequências econômicas e de
segurança. Diante disso, as lideranças polonesas
vêm buscando adotar uma série de medidas para
proteger seus interesses e contribuir para a estabilidade
na Europa Oriental, considerando a importância
desse aspecto para a própria segurança da Polônia.

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IMPACTOS INTERNACIONAIS: ATORES EXTERNOS

TURQUIA UNIÃO EUROPEIA

D evido a sua situação geoestratégica, a Turquia


possui uma posição de destaque no conflito
russo-ucraniano, especialmente no que tange
O conflito entre a Rússia e a Ucrânia subverteu
profundamente as dinâmicas internas e externas
da União Europeia, transformando o conflito em
sua atuação no Mar Negro. Em relação a essa uma das pautas principais das ações do bloco em
localidade geográfica, além de ser uma área que geral. As respostas da UE se estenderam política,
abarca importantes portos turcos, como o porto de social, militar, econômica e diplomaticamente.
Samsun e Zonguldak e a Base Naval de Bartin, O bloco aprovou dezenas de pacotes de
pertencente ao Comando Naval do Norte, destaca- sanções a produtos e empresas russas e também
-se o compartilhamento da fronteira marítima, a exportações que teriam a Rússia como destino
principalmente, com a Rússia e a Ucrânia. final, além do congelamento de mais de US$ 300
Ao mesmo tempo que se opõe à invasão, bilhões em ativos do Banco Central da Rússia
apoiando militarmente Kiev, Ancara também se nos países da UE e do G7. Com a drástica que-
manifesta contra as sanções econômicas a Moscou. da das importações de gás natural russo, a UE foi
Desse modo, a Turquia tenta se equilibrar entre os forçada a buscar fontes energéticas alternativas,
dois lados em conflito, visando adquirir ganhos e acelerando o desenvolvimento do uso de energias
vantagens com ambos os atores. Ainda neste aspecto, renováveis – que agora representam a principal fon-
o governo de Erdogan vem atuando juntamente à te de geração de eletricidade na Europa.
ONU com o intuito de persuadir a Rússia a retornar Diplomaticamente, nos últimos dois anos de
ao acordo para a exportação segura de commodities conflito, cresceu a movimentação para adesão de
através do Mar Negro, com ênfase, em grãos e novos membros à União Europeia, como a própria
cereais, dado seu papel e peso na economia local. Ucrânia e a Moldova, que se tornaram oficialmente
Neste ensejo, como membro da OTAN, a candidatas. Os países do Leste Europeu estão entre
Turquia, juntamente a Bulgária e a Romênia, assinou os principais interessados na adesão, e se dividem
um acordo visando remover as minas marítimas à entre aqueles em processo de negociação, como a Al-
deriva no Mar Negro, uma vez que elas constituem bânia, e aqueles que não se adequam aos requisitos
uma ameaça às rotas marítimas comerciais na da UE, como a Sérvia.
região, tendo em vista seu uso no conflito armado. No âmbito militar, o bloco continua fi-
Assim, o objetivo desta ação conjunta é tornar o nanciando armamentos e equipamentos bélicos
transporte marítimo e a navegação mais seguros para a Ucrânia, o que significa que a UE está au-
na localidade. Logo, percebe-se a relevância do mentando sua dependência nos EUA – a principal
Mar Negro para o desenrolar do conflito russo- indústria de Defesa no Ocidente. Isso acontece
-ucraniano. pois a indústria europeia não produz o suficiente
para manter a Ucrânia armada e ao mesmo tem-
po suprir as necessidades nacionais de defesa dos
países-membros.

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PANORAMA DO SETOR ENERGÉTICO RUSSO EM 2023

D esde a eclosão do conflito russo-ucraniano em fevereiro de 2022, o Mercado Global sofreu


novos riscos atrelados à cadeia de fornecimento de energia, volatilidade dos preços e crescente
sensação de insegurança energética. Nesse contexto, os últimos dois anos deflagraram a estratégia russa
de instrumentalização da energia como ferramenta para controlar os principais mercados de consumo,
como a União Europeia. Por sua vez, o bloco europeu experimentou meses de extrema insegurança no
abastecimento de energia mas, a partir de políticas integradas, como o RePowerEU, iniciou seu processo de
diversificação de fornecedores, como a exemplo do GNL dos Estados Unidos, da redução da dependência
por gás russo e do crescente investimento em fontes sustentáveis de energia. Em face disso, a UE registrou
que as importações de petróleo e gás provenientes da Rússia caíram para 5% e 15%, respectivamente, o que
contribuiu para a contração de 24% das receitas advindas do segmento energético russo.
Apesar das sanções impostas aos produtos e serviços russos, na variação anual a Rússia registrou
uma queda pouco expressiva da produção de hidrocarbonetos, de cerca de -1,4% de petróleo e -5,5% de
gás natural. Ainda assim, o país fechou 2023 como o 2º maior produtor de petróleo global, com produção
estimada de 10,1 MMbbl/d. O volume ofertado foi suficiente para abastecer outros mercados de consumo,
como a África e a Ásia. Desse montante, China e Índia foram responsáveis por 90% das exportações de
fósseis russos. Por sua vez, no continente americano, o Brasil foi o maior importador de diesel russo, com
um aumento de 49 pontos percentuais. Assim, em 2023, a Rússia superou os Estados Unidos e se tornou
o maior exportador de diesel com destino ao Brasil.
Para 2024, o Ministério de Energia da Rússia estima um crescimento de 11% das exportações
de gás natural e 14% de GNL, sobretudo para a Ásia, vide a continuidade dos projetos de expansão do
gasoduto "Power of Siberia".

FÓRUM DE DAVOS

O Fórum de Davos, reunião anual de líderes globais dos setores público e privado, caracteriza-se como
uma plataforma de diálogo transnacional, engajada na abordagem de questões prementes que afetam a
ordem socioeconômica global. Com sua ênfase na colaboração multissetorial, o FEM de Davos age como
um catalisador proeminente para a dissolução de conflitos sobre desafios geopolíticos, incluindo o conflito
russo-ucraniano.
A declaração do fundador do FEM, Klaus Schwab, sobre o compromisso de Davos em apoiar a
Ucrânia e sua reconstrução, demonstra não só um compromisso moral, mas também um reconhecimento do
potencial papel construtivo que o apoio internacional pode desempenhar na estabilização do conflito. O
espaço serviu como vitrine para a apresentação do plano de paz de 10 pontos, pelo presidente ucraniano
Volodymyr Zelensky, concebido para acabar com o conflito, e que apela pela retirada das tropas russas,
pela restauração da integridade territorial da Ucrânia e pela responsabilização da Rússia por crimes de
guerra.
Contudo, a ausência da Rússia contribuiu para uma inclinação dos debates para um único lado,
diminuindo o caráter do Fórum como um espaço para a busca de soluções palpáveis para desafios globais.
A retórica adotada, que incluiu pedidos de sanções ampliadas contra o governo de Putin e a caracterização
da Rússia como uma entidade criminosa, sinaliza uma mudança marcante na postura do Fórum, que,
diferentemente de crises anteriores, agora se alinha com a defesa dos interesses ucranianos, sem espaço
aparente para mediação ou diálogo com a parte russa.

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CONSIDERAÇÕES PARA O BRASIL

C ompletando-se o segundo ano da deflagração de hostilidades entre Rússia e Ucrânia, o Brasil buscou se
apresentar como mediador em uma possível solução de paz. Entretanto, não logrou sucesso em cativar
as partes envolvidas ao diálogo proposto. Ademais, para setores estratégicos brasileiros, os impactos do
conflito foram mais relevantes, como na BID e no setor energético.
Para a BID, os impactos do conflito se apresentam pela neutralidade explicitada pelo governo
brasileiro desde o início do conflito. Brasília negou um pedido de compra de blindados Guarani feito
por Kiev, o que gerou uma retaliação alemã, que impediu a venda dos mesmos blindados às Filipinas. O
Brasil também se recusou a vender a Moscou os helicópteros de ataque Mi-35, já desativados, que seriam
desmantelados para aquisição de peças sobressalentes. Logo, a neutralidade brasileira no conflito impacta
a produção da BID nacional, porém mantém aberta a possibilidade de mediação do país graças à sua
manutenção.
No setor energético, a Rússia se tornou o maior exportador de diesel para o Brasil. O mercado
nacional se aproveitou das sanções impostas às empresas russas para comprar o combustível por preços
menores, da mesma forma que fizeram China e Índia. Sendo assim, o setor energético brasileiro recebe
maior fluxo do produto produzido externamente, aumentando a oferta e diminuindo seu valor internamente.
Após visita do então presidente do Brasil à Rússia em 2022 para discutir o fornecimento de
fertilizantes, em 2023, o Brasil importou mais de 8 milhões de toneladas de fertilizantes minerais russos
– número que representa cerca de 25% do total das exportações dessa commodity da Rússia.
Portanto, ao completarem-se dois anos de conflito, o Brasil mantém sua neutralidade e se utiliza
das sanções para beneficiar-se da maior troca comercial com a Rússia a fim de manter seu setor energético
estável.

GRÁFICO 2: Relações Econômicas Brasil-Rússia 2018-2023 (em milhões de dólares)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Mistério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil, 2024.

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INFOGRÁFICO: Linha Temporal de Ataques no Ambiente Marítimo

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INFOGRÁFICO: Linha Temporal de Ataques no Ambiente Marítimo

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