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RADIONUCLÍDEOS

COMO
MARCADORES DE
UM NOVO TEMPO:
O ANTROPOCENO
Uliana Franco Medina Procópio
Importa realmente saber em que Época
geológica a humanidade está vivendo?

Alguns cientistas defendem que


recente nosso planeta atravessou uma
Antropoceno outra fronteira geológica há
Homem cerca de 70 anos, dando início
ao que chamam de
Antropoceno, época
caracterizada pelo impacto da
ação humana na Terra.
(BARRAS, 2018)

Quem decide?
No ano de 2009, foi formado um grupo de trabalho com 38
acadêmicos, chamado de Grupo de Trabalho do Antropoceno
(Anthropocene Working Group, AGW), com representantes de
diferentes áreas, como geologia, química, biologia, arqueologia e
história, por solicitação da Subcomissão de Estratigrafia do
Quaternário (Subcommission of Quaternary Stratigraphy, SQS) da
Comissão Internacional de Estratigrafia (International Comission of
Stratigraphy, ICS) e da União Internacional de Ciências Geológicas
Dr. Colin N. Waters
(International Union Geological Sciences, IUGS), para estudar as
possíveis evidências geológicas do Antropoceno que pudessem levar
à sua formalização. (SILVA et al., 2020)
Etapas necessárias para
o reconhecimento

Etapa em andamento:
Revisão e votação.

Etapa concluída em maio de 2019:


20

88% dos votantes reconheceram o


20
l.,

Antropoceno como época geológica


ta
Ae
ILV

iniciada na segunda metade do


eS
od

século XX.
tad
ap
Ad
Que local do planeta oferece a melhor vista do momento em que o mundo
moderno começou? Onde será o golden spike que determina o ponto de ruptura
entre o Holoceno e o Antropoceno?

Momentos históricos COnsequências deixadas

O início da agricultura; Formação de solos antrópicos


“Grande Aceleração”; (Terra Preta de Índio entre outros);
Revoluções energéticas (o início Globalização e homogeneização das
da agricultura e a Revolução espécies, doenças e rotas
Industrial); comerciais.
Essa escolha deverá ser realizada a partir das
Grandes eventos de
assinaturas químicas e físicas deixadas nas rochas e
globalização (a chegada dos outros estratos geológicos, ou de fósseis, sendo escolhido
conquistadores europeus ao um marcador (golden spike) que indique claramente o
continente Americano). marco inicial e que esteja relacionado a outros
indicadores auxiliares sincrônicos em escala global.
Potenciais marcadores
Novos materiais
antrópicos Ciclo do carbono Fallout nuclear
Materiais raros ou que não ocorrem Em 2018 as concentrações O fallout relacionado aos
na natureza, que são resultado das médias de CO2 e CH4 foram testes nucleares atmosféricos
atividades humanas e do 407,8 ± 0,1 ppm e 1869 ± 2 ppb. iniciados em 1952 promoveu a
desenvolvimento tecnológico e Esses valores são 147 e 259% deposição de grande
permanecem no meio ambiente sem maiores que os da época quantidade de radionuclídeos
serem degradados pré-industrial (antes de no meio ambiente, o que pode
substancialmente incorporando-se 1750). Contudo, essas fornecer um marcador
aos sedimentos, como alumínio, mudanças se encontram sincrônico.
concreto, plásticos e materiais dentro
relacionados à industria eletrônica. da variabilidade típica do
Holoceno.
Testes com armas
nucleares
Foram realizados 2.053 testes com armas
nucleares no período entre 1945 e 1980,
principalmente na Ásia Central, oceano Pacífico
e Oeste dos Estados Unidos, dos quais 543
foram realizados na atmosfera.
Dependendo da localização, altitude e dos
fatores meteorológicos, o fallout nuclear foi
distribuído em escala local, regional ou global.
Parte do material nuclear foi depositado nas
áreas próximas e outra parte foi transportada
pelos ventos a milhares de quilómetros.
Possíveis marcadores
Para serem marcadores adequados para definir o início do Antropoceno,
os isótopos radiativos devem reunir uma série de condições:
1. Serem ausentes ou escassos no ambiente natural (ou seja, ser de
origem antrópica);
2. Ter tempos de vida-média longos para fornecer um sinal
suficientemente duradouro;
3. Ter baixa mobilidade e solubilidade e alta radioatividade para
estarem fixados nos sedimentos;
4. Se encontrarem em abundancias suficientes para serem facilmente
detectáveis e mensurados.
Possíveis marcadores
Alguns dos isótopos mais abundantes têm tempos de
137
meia-vida muito curtos, como o Cs (30 anos), o H 3

90 241
(trítio) (12 anos), o Sr (29 anos) e o Pu (14 anos) o que
limita sua potencial utilidade como marcadores para
tempos maiores que um século. Outros radioisótopos têm
maiores tempos de vida-média, como o 241Am (432 anos),
14
o C (5.700 anos) e o 239 Pu (24.110 anos).
Plutônio (pu)
Elemento químico sintético e radioativo, foi sintetizado em 1940,
através do bombardeio nuclear do urânio com o deutério. A
maior parte do plutônio existente é obtido como subproduto do
trabalho de reatores nucleares. (SANTOS, 2011)

239
O tempo de vida-média do Pu permite que este seja utilizado
por mais de 100.000 anos, considerando o atual
desenvolvimento dos métodos espectrográficos.
Plutônio
Os isótopos do plutônio têm baixa solubilidade e alta radiatividade, o
que facilita sua associação à argila e à matéria orgânica. Em ambientes
terrestres, o plutônio se associa com frações geoquímicas específicas
como óxidos de ferro e manganês e ácidos húmicos e, portanto tende a
ser relativamente imóvel em sedimentos (inclusive gelo).
Nos oceanos se associa ao material em suspensão e movimenta-se nas
colunas d’água, de forma que sua distribuição é afetada pelas correntes
marinhas e pelo movimento dos sedimentos. Em oceano aberto, parte do
plutônio se encontra ainda nas águas e desce lentamente até os
sedimentos.
Plutônio
A partir de determinações de 90 Sr, 137Cs e 239Pu, no ambiente marinho,
aproximadamente 76% das fontes de radiação estão localizadas no
hemisfério norte, e são provenientes do fallout global ocasionados pelos
testes e acidentes nucleares, inclusive de aviões e embarcações de
despejo de resíduos radiativos.
No hemisfério norte existem registros para 239+240Pu em numerosos
ambientes que confirmam o pico em 1963, como sedimentos marinhos e
lacustres, corais, registros de gelo no Ártico e glaciares.
COnclusão
As regiões lacustres, onde os depósitos têm pouca mobilidade, e polares,
onde a acumulação é rápida e pouco sujeita à intervenção, mostram-se
como uma excelente alternativa para a localização do golden spike.

O aparecimento da assinatura do 239+240Pu no início da década de 1950


e um máximo claro em 1963, fornecem um excelente GSSP. Outros
137 14 137
isótopos radiativos como Cs, C e Am podem ser usados como
assinaturas ou marcadores antrópicos auxiliares.
Referências
BARRAS, C. O local do planeta onde o “mundo moderno” teria começado.
Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-43311260>.
Acesso em: 29 jan. 2023.

DA SILVA, C. et al. RADIONUCLÍDEOS COMO MARCADORES DE UM NOVO


TEMPO: O ANTROPOCENO. Química Nova, v. 43, n. 4, p. 506–5014, 2020.

PHIDDIAN, E. Australia in line for its 2nd Golden Spike: the Anthropocene.
Disponível em: <https://cosmosmagazine.com/history/golden-spike-
anthropocene/>. Acesso em: 29 jan. 2023.

SANTOS, L. R. DOS. Plutônio - Elemento Químico Plutônio (Pu). Disponível


em: <https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/plutonio/>. Acesso
em: 30 jan. 2023.

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