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ISSN 2446-7014

BOLETIM
GEOCORRENTE

ANO 5 • Nº 94 • 23 DE MAIO DE 2019

O Boletim Geocorrente é uma publicação quinzenal do Núcleo de NORMAS DE PUBLICAÇÃO


Avaliação da Conjuntura (NAC), vinculado à Superintendência de Para publicar nesse Boletim, faz-se necessário que o autor seja
Pesquisa e Pós-Graduação (SPP) da Escola de Guerra Naval (EGN). pesquisador do Grupo de Geopolítica Corrente, do NAC e submeta seu
O NAC acompanha a Conjuntura Internacional sob o olhar teórico da artigo contendo até 350 palavras ao processo avaliativo por pares.
Geopolítica, a fim de fornecer mais uma alternativa para a demanda
Os textos contidos neste Boletim são de responsabilidade única
global de informação, tornando-a acessível e integrando a sociedade
dos autores, não retratando a opinião oficial da EGN ou da
aos temas de segurança e defesa. Além disso, proporciona a difusão
Marinha do Brasil.
do conhecimento sobre crises e conflitos internacionais procurando
corresponder às demandas do Estado-Maior da Armada.
CORRESPONDÊNCIA
O Boletim tem como finalidade a publicação de artigos compactos
Escola de Guerra Naval – Superintendência de Pesquisa e Pós-
tratando de assuntos atuais de dez macrorregiões do globo, a saber:
Graduação.
América do Sul; América do Norte e Central; África Subsaariana;
Av. Pasteur, 480 - Praia Vermelha – Urca - CEP 22290-255 - Rio de
Oriente Médio e Norte da África; Europa; Rússia e ex-URSS; Sul da
Janeiro/RJ - Brasil
Ásia; Leste Asiático; Sudeste Asiático e Oceania; Ártico e Antártica.
TEL.: (21) 2546-9394 | E-mail: geocorrentenac@gmail.com
Ademais, algumas edições contam com a seção “Temas Especiais”.
O grupo de pesquisa ligado ao Boletim conta com integrantes de
Os textos do BOLETIM GEOCORRENTE poderão ser encontrados
diversas áreas do conhecimento, cuja pluralidade de formações e
na home page da EGN:
experiências proporciona uma análise ampla da conjuntura e dos
<https://www.marinha.mil.br/egn/boletim_geocorrente>
problemas correntes internacionais. Assim, procura-se identificar
os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a
escalada de conflitos e crises em andamento, bem como seus
desdobramentos.

ESCOLA DE GUERRA NAVAL


SUPERINTENDÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
NÚCLEO DE AVALIAÇÃO DA CONJUNTURA
ÍNDICE
CONSELHO EDITORIAL
EDITOR RESPONSÁVEL
Leonardo Faria de Mattos (Egn)

EDITOR CIENTÍFICO
Francisco Eduardo Alves de Almeida (Egn)
AMÉRICA DO SUL
O fiel da balança: o papel das Forças Armadas na sustentação do regime de
EDITORES ADJUNTOS
Maduro............................................................................................................... 3
Jansen Coli Calil N. A. de Oliveira (Egn)
O emprego de “narcossubmarinos” no tráfico nas Américas............................. 4
Jéssica Germano de Lima Silva (Egn)
Noele de Freitas Peigo (Facamp) AMÉRICA DO NORTE & CENTRAL
Pedro Allemand Mancebo Silva (Ufrj) Estados Unidos frente à expansão chinesa no Caribe....................................... 4
________________________________________________________ Classe Zumwalt: apenas para o futuro?............................................................. 5
PEQUISADORES DO NÚCLEO DE AVALIAÇÃO DA CONJUNTURA
ÁFRICA SUBSAARIANA
Adriana Escosteguy Medronho (Ehess)
O movimento separatista em Gana e os esforços para coibi-lo......................... 5
Alessandra Dantas Brito (Egn)
Ana Cláudia Ferreira da Silva (Ufrj)
Ana Luiza Colares Carneiro (Ufrj)
EUROPA
André Figueiredo Nunes (Eceme)
A retirada da fragata espanhola do Golfo Pérsico ............................................. 6
Ariane Dinalli Francisco (Universität Osnabrück)
Beatriz Mendes Garcia Ferreira (Ufrj)
Beatriz Victória Albuquerque da Silva Ramos (Egn) ORIENTE MÉDIO & NORTE DA ÁFRICA
Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior (Ufrj)
Tensões no Golfo Pérsico: jogo perigoso entre Irã e Estados Unidos............... 6
Carolina Côrtes Góis (Puc-Rio)
A instabilidade de países produtores de petróleo: um olhar sobre a Líbia ........ 7
Daniel Santos Kosinski (Ufrj)
David Severo Pereira França Pinto (Uerj)
Dominique Marques de Souza (Ufrj)
RÚSSIA & EX-URSS
Ely Pereira da Silva Júnior (Uerj)
O encontro em Sochi e o futuro das relações Rússia-Estados Unidos.............. 8
Felipe Augusto Rodolfo Medeiros (Egn)
PMC russas na África: o caso da República Centro-Africana............................ 8
Franco Napoleão Aguiar de Alencastro Guimarães (Puc-Rio)
Gabriela de Assumpção Nogueira (Ufrj)
Gabriele Marina Molina Hernandez (Uff) LESTE ASIÁTICO
Glayce Kerolin Rodrigues Maximiano (Ufrj)
EUA e Canadá vs China: uma disputa a se observar ....................................... 9
Jéssica Pires Barbosa Barreto (Egn)
A política externa japonesa e a península coreana............................................ 9
João Felipe de Almeida Ferraz (Ufrj)
João Miguel Villas-Boas Barcellos (Ufrj)
João Victor Marques Cardoso (Unirio)
SUL DA ÁSIA
José Gabriel de Melo Pires (Ufrj)
O ataque na cidade paquistanesa de Gwadar: implicações geopolíticas......... 10
Laila Neves Lorenzon (Ufrj)
Louise Marie Hurel Silva Dias (London School of Economics)
Marcelle Torres Alves Okuno (Ibmec)
Marina Soares Corrêa (Ufrj) ÁRTICO & ANTÁRTICA
Matheus Bruno Ferreira Alves Pereira (Ufrj)
O Corredor do Ártico: uma batalha silenciosa................................................... 11
Matheus Souza Galves Mendes (Egn)
Pedro Emiliano Kilson Ferreira (Universidade de Santiago)
Pedro Mendes Martins (Eceme)
Pérsio Glória de Paula (Uff)
Philipe Alexandre Junqueira (Uerj)
Rebeca Vitória Alves Leite (Egn)
Rodrigo Abreu de Barcellos Ribeiro (Ufrj) Artigos Selecionados & Notícias de Defesa........... 12
Shakila de Sousa Ahmad (Ufrj)
Stefany Lucchesi Simões (Unesp) Calendário Geocorrente......................................... 12
Taynara Rodrigues Custódio (Egn) Referências............................................................ 13
Thaïs Abygaëlle Dedeo (Université de Paris 3)
Thayná Fernandes Alves Ribeiro (Ufrj)
Victor Cabral Ribeiro (Ufrj)
Victor Eduardo Kalil Gaspar Filho (Egn)
Vinícius de Almeida Costa (Egn)
Vinicius Guimarães Reis Gonçalves (Ufrj)
Vivian de Mattos Marciano (Ufrj)
BOLETIM GEOCORRENTE • ISSN 2446-7014 • N. 94 • Maio | 2019

AMÉRICA DO SUL
O fiel da balança: o papel das Forças Armadas na sustentação do regime de Maduro
Adriana Escosteguy Medronho

A crise entre o autoproclamado presidente interino da


Venezuela, Juan Guaidó, e o presidente em exercício,
Nicolás Maduro (Boletim 90), atingiu seu ápice no dia 30
de patente e indicou militares a cargos ministeriais e de
chefia em estatais. Nos últimos anos, investiu-se mais na
FANB do que em qualquer outro setor governamental, e
de abril de 2019. Guaidó incitou venezuelanos a apoiarem o atual governo conta com o maior número de militares
a “Operação Liberdade”, cujo objetivo era a derrubada do em altos cargos desde 1958.
governo. Embora este não tenha sido alcançado, Guaidó A crise econômica nacional aliada ao acúmulo de
logrou libertar o líder de seu partido (Vontade Popular), dívidas externas com China e Rússia, e a possível retirada
Leopoldo López, de sua prisão domiciliar, com o aval do apoio militar cubano do território — negociada
dos membros do Serviço Bolivariano de Inteligência pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos —
Nacional (Sebin) que o mantinham sob custódia. Guaidó, tensionam o quadro. Frente a este, o secretário de Estado
que alegou ter obtido apoio de dissidentes da Força norte-americano, Mike Pompeo, e o ministro russo das
Armada Nacional Bolivariana (FANB), não contou com Relações Exteriores, Sergey Lavrov, durante o encontro
o respaldo de oficiais de alta patente. do Conselho do Ártico (06/05), divergiram quanto à
As Forças Armadas desempenham papel decisivo estratégia de saída da crise, com a Rússia reafirmado
na política do país desde o Pacto de Punto Fijo (1958), apoio a Maduro. Embora uma intervenção militar externa
que assegurou a transição ao regime civil-democrático pareça fora de cogitação, a recente reincorporação da
e garantiu a preservação e a modernização da estrutura Venezuela ao Tratado Interamericano de Assistência
da corporação. O mandato do ex-presidente Hugo Recíproca, aprovada pela Assembleia Nacional (07/05),
Chávez (1999-2013) endossou este papel e conferiu- possibilita a solicitação de auxílio de tropas de países
os prerrogativas constitucionais como sua inclusão no signatários como os EUA, na resolução de conflitos
orçamento do Fundo de Desenvolvimento Nacional, internos. Assim, novas negociações entre governo e
que permanece como sua principal fonte complementar oposição serão supervisionadas pela União Europeia e o
de financiamento. Chávez ainda concedeu promoções Grupo de Lima.

Fonte: SIPRI

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BOLETIM GEOCORRENTE • ISSN 2446-7014 • N. 94 • Maio | 2019

O emprego de “narcossubmarinos” no tráfico nas Américas


Gabriela Nogueira

N o final de março de 2019, as Forças Armadas


colombianas apreenderam um semissubmersível,
com mais de uma tonelada de cloridrato de cocaína,
que o lucro com a venda da carga transportada supere
US$ 200 milhões.
Desde a primeira vez em que se teve conhecimento de
com três criminosos, no estado de Nariño, no Pacífico que um semissubmersível foi utilizado para o transporte de
colombiano. A operação foi feita com o apoio da Força drogas, em 1993, muitas inovações foram implementadas
Aérea colombiana, da Polícia Nacional e da Promotoria nas embarcações. Segundo o JIATF South, cerca de 74%
Geral da Nação e contou, ainda, com informações do tráfico marítimo transita desapercebido pelos órgãos
cedidas por fontes da inteligência da Marinha do país. de fiscalização, questão que pode ser atribuída por conta
Somente neste ano já foram apreendidos nove de aperfeiçoamentos e inovações em técnicas antirradar
semissubmersíveis e 45 toneladas de drogas pela e em sistemas de navegação. Assim, diante de condições
Força Naval do Pacífico. Suspeita-se que a maioria das favoráveis para o narcotráfico, é notável a capacidade
embarcações vá em direção à América Central, mas que dos atores não-estatais de incorporarem tecnologias para
os narcóticos tenham como destino final os Estados se adaptarem às adversidades. As ações coordenadas
Unidos da América (EUA). Por “narcossubmarino”, interagenciais e investimento nos serviços de inteligência
entende-se qualquer tipo de embarcação que seja feita ocupam posição central para coibir o exercício dessa
de modo artesanal e customizado com propulsão a atividade criminosa.
combustão semissubmersível ou com capacidade total
de imersão, para transportar drogas ilícitas..
Em 2012, o diretor do Joint Interagency Task Force
South (JIATF South), o centro de comando interagenciais
de monitoramento de tráfico ilícito do governo
estadunidense, declarou que cerca de 80% do fluxo de
narcóticos ilícitos oriundos da região andina para os EUA
são transportados por via marítima. A dificuldade de
detecção dos “narcossubmarinos” contribui, desde os anos
2000, para um aumento na utilização dessas embarcações
por cartéis. Por mais que estes sejam empregados apenas
uma vez e possuam tempo de construção de um ano, o
retorno é muito lucrativo. Estima-se que os custos de
fabricação sejam menores que US$ 2 milhões, enquanto

Fonte: El Orden Mundial

AMÉRICA DO NORTE & CENTRAL


Estados Unidos frente à expansão chinesa no Caribe
Carolina Côrtes

N o final de março de 2019, houve uma importante


reunião entre o presidente Donald Trump e líderes
caribenhos, no intuito de colocar um fim pacífico ao
negativo das relações entre os Estados Unidos e Trinidad
e Tobago, o que tem preocupado Washington. Sendo
uma das primeiras nações da região a reconhecer a
regime do presidente Nicolás Maduro. Keith Rowley, República Popular da China, o país caribenho, assim
primeiro-ministro de Trinidad e Tobago não esteve como outros países do continente latino-americano, vem
presente, posicionando-se contra esses esforços se beneficiando de acordos multimilionários voltados à
internacionais. O país caribenho encontra-se em uma concessão de empréstimos e a investimentos em petróleo
região rica em petróleo, estrategicamente localizada na e mineração do país asiático. Os acordos incluem a
entrada das Pequenas Antilhas. construção de uma “doca seca” de US$ 500 milhões e um
A crescente expansão da Belt and Road Initiative parque industrial em La Brea de US$ 102 milhões, que
chinesa no continente americano, para construção de propiciaram uma grande expansão dos laços políticos
portos e outras instalações relacionadas ao comércio e econômicos entre ambos os países, restringindo a
com o continente, vem causando um aumento do tom influência estadunidense na região.
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BOLETIM GEOCORRENTE • ISSN 2446-7014 • N. 94 • Maio | 2019

O governo norte-americano acredita que a República Estado” de Trump não vêm fazendo um grande esforço
Popular da China esteja ganhando poder econômico e para reverter o cenário, na medida em que vácuos de
estratégico às custas dessa política externa pautada no poder, antes dominados pelos Estados Unidos, estão
soft power. Além disso, há preocupações em relação aos sendo ocupados pela China. Assim, enquanto Washington
possíveis efeitos sobre a estabilidade regional, motivada tem como foco principal a derrubada do atual governo
pela influência chinesa na região e pelas consequências de Caracas, Pequim aproveita para preencher lacunas
sobre as empresas estadunidenses que ocupam mercados por meio de ações amistosas, de discursos de cooperação
no país caribenho. No entanto, as políticas de “Primeiro mútua e de oportunidades de conectar a América à Ásia.

Classe Zumwalt: apenas para o futuro?


Jéssica Barreto

E m 27 de abril de 2019, o terceiro — e último —


contratorpedeiro da classe Zumwalt (DDG 1000)
foi batizado em homenagem ao ex-presidente Lyndon
uma tripulação reduzida, os contratorpedeiros possuem 90
metros de comprimento, 80 tubos verticais de lançamento
com capacidade de até 4 mísseis em cada, podendo
B. Johnson, político democrata que governou o país lançar mísseis Tomahawk, e dois sistemas de armas
entre 1963 e 1969. O navio começou a ser construído avançados (AGS, em inglês). Apesar das expectativas,
em abril de 2012 e deve ser somente comissionado em os contratorpedeiros apresentados possuem problemas
2021. A embarcação faz parte de um dos projetos mais operacionais, como a falta de munição específica para os
caros e tecnologicamente mais avançados da Marinha AGS, visto que o projétil que estava sendo desenvolvido,
estadunidense. denominado Long Range Land Attack, tornou-se muito
Quando defendido perante o Congresso, no início dos caro. Tendo um custo de aproximadamente US$ 800 mil
anos 2000, o projeto previu a compra de 32 embarcações. para cada projétil, a ideia de utilizar essa munição guiada
Entretanto, os custos calculados inicialmente foram por GPS tornou-se inviável.
ultrapassados, causando um aumento de quase 50% Em razão de seu grau de inovação e de grandes
no orçamento e levando a cortes no programa, que possibilidades de atuação, o projeto foi muito defendido
terminou com a aquisição de apenas três. Cada navio pelo governo Obama como elemento-chave na sua
custou em torno de US$ 4 bilhões, além do custo de estratégia para a Ásia-Pacífico. Contudo, seu elevado
quase US$ 10 bilhões em pesquisa e desenvolvimento. custo e excesso de inovação tornaram sua construção
Assim, sendo especializado em guerra de superfície, impraticável. Muitas das tecnologias usadas no
o primeiro contratorpedeiro começou a ser construído projeto ainda não estão amadurecidas e dificultam sua
em fevereiro de 2009 e foi comissionado em outubro implementação. Desse modo, a Marinha decidiu voltar a
de 2016. Apesar de seu sistema de combate ainda estar construir contratorpedeiros da classe Arleigh Burke, navios
em fase de teste, a embarcação começou seu primeiro já aprovados e com custos considerados compatíveis com
período operacional em março deste ano. Apresentando o orçamento da Marinha norte-americana.
um casco futurista, um sistema de energia inovador e

ÁFRICA SUBSAARIANA
O movimento separatista em Gana e os esforços para coibi-lo
David Severo

N os últimos meses, tem-se notado um crescente


movimento político em Gana para conseguir a
fundação de um novo Estado: o “Togo Ocidental”. No
Group Foundation (HSGF). Apesar de ser tratado por
alguns como um grupo rudimentar, as forças policiais de
Gana afirmam que o grupo já reúne elementos específicos
início de maio de 2019, as forças policiais e militares e marcantes: bandeira, constituição, hino nacional e milícia
de Acra, capital de Gana, atuaram firmemente para própria. As forças do governo em Acra já prenderam mais
coibir grupos separatistas, que se declaram prontos de oitenta pessoas, bloquearam estradas e continuaram as
para proclamar uma nova nação. Tais grupos se situam investigações para impedir o surgimento de novos grupos
predominantemente na região de Volta, no sudeste do insurgentes. Kudzordzi foi detido, mas conseguiu sair sob
país. Charles Kormi Kudzordzi é considerado o grande fiança. Seu julgamento está marcado ainda para este mês
líder desse movimento. Apesar de estar aparentemente de maio, havendo o risco de ser sentenciado à morte.
fragilizado, o líder de 85 anos é visto como grande Com a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial, o
símbolo que inspira a fundação de um novo Estado. território de Togo foi dividido entre a França e o Império
O grupo separatista é chamado de Homeland Study Britânico. Em 1956, o Reino Unido concedeu liberdade ao
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país e deu a possibilidade de o povo de Togo do Oeste


(Togo britânico) escolher qual país habitar por meio de
um plebiscito: Gana ou Togo. A maioria da população
optou por Gana. O grupo separatista HSGF questiona a
validade desse plebiscito, ocorrido há sessenta anos.
O separatismo para o novo país, o “Togo Ocidental”,
vai além do problema político evidente. Envolve não
apenas a fragmentação de parte de Gana, mas também
seria um novo Estado cujo território é composto por
fartas reservas de petróleo e de ouro. Além disso, o
novo país também seria composto por cristãos, por
muçulmanos e outras religiões. As forças estatais de
Gana não parecem estar dispostas a abrir negociações
com o grupo separatista, até o momento sem indícios de
possuir qualquer apoio internacional. Tudo indica que
eles sejam tratados pelo governo como forças hostis e
como um movimento desarticulado. Fonte: Wikimedia

EUROPA
A retirada da fragata espanhola do Golfo Pérsico
Glayce Kerolin

N o dia 14 de maio de 2019, o Ministério da Defesa


espanhol retirou a fragata Méndez Núñez, da classe
Álvaro de Bazán, que fazia parte do grupo tarefa do porta-
Defesa espanhola negar a entrada da fragata no Golfo
Pérsico, Margarita Robles respeita a decisão dos Estados
Unidos de se concentrar no Irã e está disposta a determinar
aviões USS Abraham Lincoln, em operações próximo ao que o navio volte a se juntar ao grupo de batalha no futuro,
Golfo Pérsico. Há dois anos, Estados Unidos e Espanha desde que a mobilização retorne à sua tarefa original. A
haviam realizado um acordo que incluiría a Méndez Marinha da Espanha sempre atuou como um parceiro
Núñez e seus 215 marinheiros em missões de treinamento relevante da Marinha norte-americana, não apenas com
conjunto, para melhorar o nível de interoperabilidade das meios, mas principalmente pelo apoio logístico da Base
duas marinhas. A fragata espanhola estava programada Naval de Rota, uma das principais bases navais da OTAN.
para operar com o USS Abraham Lincoln até outubro Com a retirada da fragata, a Espanha se encontra
deste ano, navegando no oceano Índico, no Mar do Sul passível de eventuais pressões do governo Trump, pois é
da China e no oceano Pacífico, mas permaneceu por interessante aos Estados Unidos ter aliados que os ajudem
apenas um mês.  na contenção iraniana. Convém salientar que o desfecho
A decisão de retirar a fragata ocorreu porque, segundo das eleições espanholas realizadas no mês de abril
a Marinha espanhola, o governo norte-americano tomou deste ano deu mais força ao Partido Socialista Operário
uma decisão fora da estrutura acordada entre os dois Espanhol (PSOE), do atual primeiro-ministro, Pedro
países, alterando a missão original para concentrar Sánchez, o vencedor, e de alinhamento político bem mais
esforços que visem mitigar as supostas ameaças iranianas próximo ao partido democrata norte-americano.
aos interesses estadunidenses. Apesar de a ministra da

ORIENTE MÉDIO & NORTE DA ÁFRICA


Tensões no Golfo Pérsico: jogo perigoso entre Irã e Estados Unidos
Shakila Ahmad

N este maio, as tensões aumentaram significativamente


no Golfo Pérsico. Quatro navios, dois sauditas, um
norueguês e um dos Emirados Árabes Unidos (EAU),
região e por onde transita aproximadamente 40% do
tráfego marítimo petroleiro mundial.
Os ataques ocorreram em um cenário de tensão entre
foram atacados perto do porto de Fujeira, nos EAU. O Estados Unidos (EUA) e Irã, após a estratégia de pressão
incidente ocorreu a 40km ao sul do Estreito de Ormuz, do presidente estadunidense Donald Trump para reduzir
local de grande relevância estratégica por ser uma a exportação de petróleo iraniano a zero, designar a
importante rota de escoamento de petróleo oriundo da Guarda Revolucionária da República Islâmica (IRGC,
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sigla em inglês) como organização terrorista e enviar para na região. Os EUA podem não mais depender tanto do
a região o grupo tarefa do porta-aviões USS Abraham petróleo e do gás natural do Golfo Pérsico, mas seus
Lincoln e bombardeiros B-52 para o Golfo. As relações aliados e parceiros comerciais, sim. Os ataques não foram
se encontram estremecidas desde que Trump abandonou, catastróficos, mas certamente demonstram a capacidade
em maio de 2018, o acordo nuclear assinado junto ao Irã do Irã de interromper os mercados globais de petróleo e
em 2015 e impôs sanções cada vez mais rígidas ao país. mostrar o quão vulneráveis ​​são os caminhos alternativos
No início de maio de 2019, o primeiro-ministro iraniano de transporte de energia. Essa atmosfera provavelmente
Hassan Rouhani anunciou que o Irã não se comprometerá continuará a ser de aflição, na qual a retórica sobre o
mais com partes do acordo com as potências mundiais e aumento do conflito pode estimular novos ataques e
que aumentará o enriquecimento de urânio se não forem incertezas.
cumpridas as promessas do acordo assinado em 2015. É
necessário analisar os próximos movimentos dos atores
envolvidos para compreender o tabuleiro regional do
Oriente Médio.
À luz deste ambiente conflituoso, o Irã pode
transformar a geografia marítima em vantagem, travando
uma guerra marítima irregular dentro e ao redor do
Estreito de Ormuz. Ao analisar o cenário, nota-se que os
ataques tiveram a intenção de enviar uma mensagem aos
EUA e seus aliados de que o Irã não precisava bloquear
o Estreito para interromper a liberdade de navegação
Fonte: Al Jazeera

A instabilidade de países produtores de petróleo: um olhar sobre a Líbia


Alessandra Dantas Brito

N o dia 04 de abril de 2019, o General Khalifa Haftar,


Comandante do Exército Nacional da Líbia, iniciou
um ataque contra a capital Trípoli e todo o oeste da Líbia
O presidente do Egito, Abdel Fattah El Sisi, que luta
ativamente contra os militantes islâmicos, acredita que
a liderança de Haftar pode restaurar a estabilidade na
com o objetivo de assumir o controle do país. Atualmente, Líbia frente aos diversos grupos armados que atuam no
a região é governada pelo primeiro-ministro Fayez al- país. Outros países que possuem interesses específicos
Sarraj, líder do Governo do Acordo Nacional (GNA, sigla nos ativos de petróleo da Líbia, como França, Estados
em inglês), liderança reconhecida pela ONU e que detém Unidos e Arábia Saudita, também apoiam Haftar. No
o controle das receitas externas do país. Por um lado, o entanto, demonstram preocupação com os combates, já
GNA não tem força para atuar contra os grupos armados e que a Organização Mundial da Saúde estima mais de 400
lideranças islâmicas que atuam no país; por outro, Haftar mortos e 2 mil feridos desde a ofensiva de Haftar contra
combate ativamente esses grupos. Atualmente, o General Trípoli e, segundo a ONU, mais de 50 mil pessoas já estão
controla o sul e o leste do país, além de ter o domínio dos desalojadas, o que pode aumentar o fluxo de refugiados
principais campos petrolíferos. para Europa.
A Líbia possui relevante importância geopolítica
no cenário energético internacional: o país possui a nona
maior reserva de petróleo do mundo e a maior da África.
Seu petróleo é um dos mais lucrativos do mundo: não
somente pela localização próxima a um grande mercado
consumidor, a Europa, e pelo fácil escoamento via
Mediterrâneo, mas também por sua alta qualidade, por
ser um petróleo leve e com baixo teor de enxofre. Desde o
início de abril, a produção de petróleo da Líbia se manteve
surpreendentemente alta. A produção subiu, atingindo
1.176 milhões de barris por dia (bp/d), segundo a OPEP.
O aumento é impressionante, considerando o contexto do
início da guerra civil. Apesar da alta, os conflitos estão se
estendendo às instituições sobreviventes como o Banco
Central da Líbia (CBL, sigla em inglês) e a National Oil
Corporation (NOC). Com isso, não se pode descartar Fonte: Al Jazeera
uma paralisação na produção e na exportação.
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RÚSSIA & Ex-URSS


O encontro em Sochi e o futuro das relações Rússia-Estados Unidos
Pérsio Glória de Paula

N o dia 14 de maio de 2019, o presidente russo,


Vladimir Putin, e o secretário de estado norte-
americano, Michael Pompeo, se encontraram em Sochi,
condições domésticas americanas.
Ainda é cedo para afirmar que esse encontro anuncia
uma mudança no vetor das relações diplomáticas ou o
cidade-balneária russa no Mar Negro. O encontro foi fim do enfrentamento geopolítico. No entanto, devido
fruto das negociações anteriores entre Pompeo e Sergey ao embate comercial entre Estados Unidos e China e a
Lavrov, chanceler russo, que também se reencontraram na pauta das discussões dessas reuniões, que abordou as
ocasião. Essa foi a segunda reunião dos dois chanceleres tensões na Coreia do Norte (Boletim 93), Venezuela
no mês, antecedida pelo encontro em Helsinque (Boletim 89), Síria, Irã e Afeganistão, regiões onde as
no dia 07, junto à Cúpula do Conselho Ártico. Apesar duas potências possuem tanto interesses mútuos quanto
de o governo americano ter anunciado mais sanções divergentes, é plausível que esse processo gere frutos em
dois dias após a visita, ela marca um novo esforço para a um futuro próximo.
estabilização das relações entre os dois países, abaladas Para os Estados Unidos, é interessante incentivar a
desde 2014. cooperação e restaurar a confiança entre os dois atores,
O evento abre caminho para o futuro encontro entre como forma de diminuir as tensões e de possibilitar a
Donald Trump e Vladimir Putin, que deverá ocorrer resolução de crises internacionais, já que a Rússia tem
em junho, junto à reunião do G20 no Japão. Michael sido um ator antagônico e tem bloqueado iniciativas
Pompeo declarou que é interesse do presidente americano e atuações americanas em nível global. Em outro
estabelecer laços amigáveis com a Rússia. A decisão do aspecto, também seria interessante afastar a Rússia da
secretário de justiça estadunidense de não continuar as China, principal rival e desafiante dos EUA no campo
investigações do Relatório Mueller, acerca do suposto geoeconômico. Entre os interesses russos estão o fim
conluio entre o presidente Trump e as autoridades das sanções econômicas e o restabelecimento da sua
russas para interferir nas eleições de 2016, viabilizou influência política na Europa, condições que dificilmente
a negociação entre os países, antes restringida pelas se consolidarão sem uma boa vontade americana.
PMC russas na África: o caso da República Centro-Africana
José Gabriel Melo

N o final de abril de 2019, a Wagner Group, uma


empresa militar privada (PMC, sigla em inglês)
russa, protagonizou uma declaração do recém empossado
de acordos na esfera econômica e militar, que previam o
envio de armamento e cerca de 175 instrutores, entre civis
e militares, para o treinamento das forças nacionais da
comandante do AFRICOM, General Stephen J. Townsend, RCA, dentre os quais, segundo Townsend, profissionais
que afirmou que uma de suas principais preocupações é da Wagner Group. Em contrapartida, Moscou poderá
a presença da companhia no continente, em especial na se beneficiar da abertura do mercado nacional para a
República Centro-Africana (RCA), país rico em minerais exploração mineral e energética por empresas russas,
estratégicos, como ouro e urânio, e que entra no sétimo que também seriam responsáveis pela operação e pelo
ano de guerra civil. Townsend acredita que esta presença fornecimento. Vale ressaltar que o acesso a fontes
é parte da estratégia russa para recuperar influência na confiáveis de energia é condição primordial para garantir
África Subsaariana. o desenvolvimento de qualquer país. Além disso,
A Wagner Group foi criada em 2014 pelo ex-Tenente- segundo a ministra da Defesa, Marie-Noëlle Koyara,
Coronel do Spetsnaz, Dmitry Utkin, no âmbito da há uma possibilidade tangível de estabelecer uma base
guerra híbrida operada por Moscou na Ucrânia, também permanente no atual campo de treinamento.
atuando na Síria posteriormente. A PMC tem seu registro Desde o período soviético, a Rússia não demonstra
na Argentina, pois a legislação russa proíbe empresas tanto interesse na África. A presença russa na RCA é mais
desse tipo. Um dos principais motivos para o emprego um indício das pretensões de Moscou, tanto na busca
desse tipo de força é a garantia de interesses em território de capital político, quanto na prospecção de parceiros
estrangeiro, sem o ônus de expor as forças armadas comerciais. Apesar de não atingirem cifras substanciais, a
convencionais, sendo muito comum para as PMC russas balança comercial é extremamente favorável aos russos.
atuarem na proteção de instalações e figuras importantes. Nesse contexto, o advento das PMC permite ao Kremlin
Em agosto de 2018, os países assinaram uma série se fazer presente sem, de fato, “estar presente”.
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BOLETIM GEOCORRENTE • ISSN 2446-7014 • N. 94 • Maio | 2019

LESTE ASIÁTICO
EUA e Canadá vs China: Uma disputa a se observar
Philipe Alexandre

E m 16 de maio de 2019, a relação entre a China e


o Canadá entrou em um dos seus piores momentos
nos últimos anos, depois que as autoridades chinesas
contexto maior das relações sino-americanas. Como
demonstrado no Boletim 88, a atual conjuntura é de
acirrada competição tecnológico-comercial entre as
anunciaram a prisão de dois canadenses que, desde duas potências. A presença da Huawei, uma gigante das
dezembro de 2018, estavam detidos, acusados de telecomunicações da China e única provedora de internet
espionagem. São estes Michael Kovrig, ex-diplomata que 5G no mercado mundial, tem sido minada pelos EUA
trabalhou na capital chinesa, e o consultor e empresário sob acusações de roubo de propriedade intelectual e de
Michael Spavor, especialista em Coreia do Norte. espionagem. Na prática, ações de fornecedores norte-
De imediato, Ottawa condenou a atitude chinesa. "O americanos da Huawei têm caído pelo receio de que a
Canadá condena fortemente sua prisão arbitrária, assim gigante tecnológica seja forçada a interromper operações,
como havíamos condenado sua detenção arbitrária em após o Departamento de Comércio dos EUA proibir a
10 de dezembro”, reagiu o Ministério das Relações compra de tecnologia estadunidense pela companhia sem
Exteriores canadense. Segundo as autoridades chinesas, aprovação especial.
Kovrig é suspeito de ter "coletado segredos de Estado" Além disso, Washington já havia estabelecido o
e Spavor de ter "repassado ao exterior informações aumento de 25% de tarifas sobre US$ 200 bilhões no
sensíveis”, de acordo com o Ministério das Relações comércio bilateral, o que foi respondido com US$ 60
Exteriores chinês. Apesar das declarações, no entanto, bilhões por Pequim. Portanto, a crise nas relações sino-
ambos foram detidos poucos dias depois de o Canadá canadenses ocorre em meio à crise nas relações sino-
deter, a pedido dos Estados Unidos, Meng Wanzhou, a americanas. A China entende que esta seja uma reação
diretora financeira da companhia de telecomunicações aos seus projetos estratégicos de inserção internacional
Huawei — uma das maiores da China. (a Nova Rota da Seda), de CT&I (Made in China 2025)
É importante que os elementos acima, que envolvem e de reformas militares que trazem grandes vantagens
as relações sino-canadenses, sejam analisados num competitivas frente ao Ocidente.

A política externa japonesa e a península coreana


Vinicius Guimarães

O governo japonês tem adotado uma postura de


reaproximação com as Coreias do Norte e do Sul
sob diferentes eixos, principalmente no que concerne
opinião pública dos dois países e o ambiente político. No
eixo militar, ambos os países tendem a ter mais pontos
de convergência do que de atrito em relação às suas
à interconexão de aspectos econômicos e geopolíticos. estratégias de segurança nacional, o que poderia ser mais
Enquanto, em um momento inicial, o primeiro-ministro explorado com a “pacificação” do ambiente doméstico.
Shinzo Abe buscou se aproximar de Kim Jong-un via O ponto central da atual política externa japonesa,
Estados Unidos (EUA), recentemente tem adotado uma direcionada à península coreana, é a percepção
postura proativa no que tange ao seu encontro com os da necessidade de diminuição da “dependência”
chefes de Estado das demais Coreias. Abe manifestou estadunidense na geopolítica regional. Ser capaz de
publicamente que deseja se encontrar com o líder norte- abrir canais de diálogo, sem a dependência de outros
coreano, sem nenhum tipo de contrapartida, ainda em atores, e de chegar a um consenso é fundamental para a
2019. estabilidade da península coreana e o desenvolvimento
A reaproximação com a Coreia do Sul, a despeito do leste asiático. Mostrar-se aberto à Coreia do Norte,
da ausência de ameaça bélica, é igualmente complexa independentemente de sua postura, tende a reforçar o
devido a questões históricas, diplomáticas e econômicas. pragmatismo de certos setores da sociedade sul coreana,
O Japão tem um capital externo na ordem de US$ 1 como o próprio presidente Moon, sobre a relação atual
bilhão investido no país e é um dos seus principais com o governo e o mercado japonês. Diferentemente
parceiros comerciais. Porém, questões históricas mal de 2017, o governo japonês tenta ser mais relevante na
resolvidas, como as “mulheres de conforto” coreanas diplomacia dos acordos de paz, independentemente dos
(mulheres forçadas à prostituição por militares japoneses acontecimentos que concernem aos EUA e ao presidente
na segunda guerra mundial), influenciam diretamente a Donald Trump.
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SUL DA ÁSIA
O ataque na cidade paquistanesa de Gwadar: implicações geopolíticas
Rebeca Leite

N o dia 11 de maio de 2019, o Exército de Libertação


Baluchi (BLA, em inglês) reivindicou o ataque
a um hotel de luxo na cidade portuária de Gwadar, na
a construção do porto de Gwadar, também exporta mão
de obra, ou seja, a população balúchi não está inserida
em um projeto dentro de seu próprio território.
província paquistanesa do Balochistão. Na ocasião, os Em termos de segurança internacional, a questão
hóspedes evacuaram com segurança e cinco militantes em torno deste contexto é o fato de os ataques estarem
foram mortos pela força de segurança do Paquistão. O ocorrendo em uma região estratégica. A China já investiu
Balochistão é a maior província paquistanesa em termos cerca de US$ 60 bilhões no CPEC e o Paquistão tem
de território e é a região onde mais se concentram recursos se beneficiado de altos empréstimos financeiros para
minerais do Estado. O BLA é um dos principais grupos tentar superar a profunda crise econômica. O novo
insurgentes da província, e sua reivindicação de cunho governo paquistanês tem buscado melhorar a imagem
radical-nacionalista advém, dentre outros aspectos, internacional do país, demonstrando maior interesse em
do sentimento de privação de benefício dos próprios solucionar assuntos relativos ao terrorismo, e o ataque
recursos da região. revela que, apesar desses esforços, domesticamente, o
Esta realidade provoca impactos na geopolítica primeiro-ministro encontra fortes resistências, o que
regional. As ações destes grupos se tornaram mais compromete o projeto geopolítico chave para a Nova
frequentes desde o início do desenvolvimento do Porto Rota da Seda.
de Gwadar, componente mais expressivo do projeto Em razão do que foi mencionado, é crucial atentar para
chinês Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC, a possibilidade de militarização do porto de Gwadar, fato
em inglês). A presença chinesa com apoio do governo que aprofundaria a disputa de poder na região. Situado
paquistanês recrudesce o sentimento de privação e estrategicamente no Oceano Índico, a presença de forças
descontentamento, associado ao alto nível de pobreza. militares chinesas ali envolveria outros importantes
Isto porque a China, ao exportar recursos materiais para atores, como Índia e Estados Unidos.

Fonte: Geopolitica

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ÁRTICO & ANTÁRTICA

O Corredor do Ártico: uma batalha silenciosa


Pedro Allemand

U m dos empecilhos para o aproveitamento econômico


das novas rotas de navegação no Ártico é a ausência
de infraestrutura de transporte na região. Os planos de
sua “Rota da Seda Polar” guiam os esforços para a
continuidade do projeto. No final de abril de 2019,
autoridades finlandesas decidiram buscar alternativas à
utilização da Rota Marítima Norte (RMN) em geral construção da ferrovia, incluindo opções de portos de
calculam a viagem tendo como referência a chegada ao saída tanto pela Noruega (Tromso) como pela Rússia
porto de Rotterdam, na Holanda. O projeto do Corredor (em Murmansk). No dia 10 de maio de 2019, a empresa
do Ártico se destaca pela tentativa de criar uma alternativa responsável pela construção do túnel entre Tallinn e
para o escoamento da RMN. A ideia é articular o oceano Helsinque assinou um memorando de entendimento com
Ártico ao Mediterrâneo por meio da rede ferroviária da a empresa norueguesa Sor-Varanger, visando estudos
Europa Oriental para a construção da ferrovia até Kirkenes, na Noruega.
Restrições políticas e econômicas, no entanto, A construção de um corredor de transportes é parte da
dificultam o projeto. A área onde se pretende construir disputa geopolítica na região. A construção de uma rede
o caminho é território da etnia indígena Sámi, cujas de transportes para aproveitar a intensificação do tráfego
atividades se encontram ameaçadas com a construção marítimo no Ártico tem a potencialidade de atração de
da ferrovia, motivo pelo qual o projeto foi rejeitado pelo investimentos, geração de emprego e renda e coloca os
Parlamento Sámi. Já em fevereiro de 2019, o projeto estados envolvidos em uma situação de poder, já que
foi declarado “comercialmente inviável”, afastando permite aos estados que o gerenciam arbitrar regras e
potenciais investidores. procedimentos para seu uso. O futuro desse projeto, bem
Ainda assim, os países e capitais envolvidos vêm se como seus entrelaçamentos com os interesses dos demais
empenhando para a consecução do projeto. O aumento atores na região, será uma das importantes batalhas
no tráfego marítimo da região e o interesse chinês em estratégicas e silenciosas da geopolítica do Ártico.

Fonte: New York Times

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ARTIGOS SELECIONADOS E NOTÍCIAS DE DEFESA

• PROJECT SYNDICATE, Parag Khanna • EL PAÍS, Gabriela Cañas


Can the East Save the West? Europa, capital Berlín

• ARCTIC TODAY, Melody Schreiber • THE ATLANTIC, Rachel Donadio


Will the Arctic Council begin addressing Macron and Salvini: Two Leaders, Two
national security? Competing Visions for Europe

• GEOPOLITICAL FUTURES, George Friedman • WASHINGTON POST, Liz Sly e Suzan Haidamous
US-China Trade Talks and American Trump’s sanctions on Iran are hitting
Strategy Hezbollah, and it hurts

• BUSINESS INSIDER, Jonathan Hillman • WAR ON THE ROCKS, Fabiana Perera


Trump may stop Huawei in the US, but The Morning After Maduro In Venezuela
the underseas cable race continues
• DEFENSE ONE, Elsa Kania e Emma Moore
• CIMSEC, John Konrad Great Power Rivalry Is Also a War For
Admiral, I Am Not Ready For War Talent

CALENDÁRIO GEOCORRENTE

MAIO JUNHO

23-26 03-05
Eleições do parlamento europeu Visita de Donald Trump ao
Reino Unido
27
Eleições gerais na África do Sul 06
Encontro entre Jair Bolsonaro
e Mauricio Macri, em Buenos
Aires

20-23
34ª Cúpula da ASEAN, na
Tailândia

28-29
Cúpula do G20, no Japão

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REFERÊNCIAS
• O fiel da balança: o papel das Forças Armadas na • O encontro em Sochi e o futuro das relações Rússia-
sustentação do regime de Maduro Estados Unidos
TORRES, Nora Gámez. U.S. working on options to pressure Cuba and WEITZ, Richard. Pompeo in Russia: Problems Remain. Valdai
Russia out of Venezuela. Miami Herald, 17 maio 2019. Acesso em: 17 Discussion Club, 16 de maio de 2019. Acesso em 17 maio 2019.
maio 2019. KRAMER, Andrew E.; PEREZ-PEÑA, Richard. U.S. - Russia Talks
TIAN, Nan; SILVA, Diego Lopes da. The crucial role of the military in the Expose Deep Fissures, Despite Hopes for Better Ties. New York Times,
Venezuelan crisis. Stockholm International Peace Research Institute, 02 Nova Iorque, 14 de maio de 2019. Acesso em: 17 maio 2019.
abr. 2019. Acesso em: 17 maio 2019.
• PMC russas na África: o caso da República Centro-
• O emprego de “narcossubmarinos” no tráfico nas Africana
Américas SISK, Richard. US General Troubled by Russian Mercenaries in Africa.
JARAMILLO, Michelle Jacome. The Revolutionary Armed Forces of Military.com, 03 abr. 2019. Acesso em: 03 maio 2019.
Colombia (FARC) and the Development of Narco-Submarines. Journal of HAQUE, Nicolas. Russia in Africa: Inside a military training centre in
Strategic Security, Vol. 9. Acesso em: 17 maio 2019. CAR. Al Jazeera, 14 abr. 2019. Acesso em: 03 maio 2019.
ORTEGA, Myriam. Colômbia fecha rotas marítimas do narcotráfico.
Diálogo. 8 de mai. de 2019. Data de acesso: 15 de maio de 2019. • EUA e Canadá vs China: uma disputa a se observar
CAPRI, Alex. How A Growing U.S.-China Rivalry Is Reshaping The
• Estados Unidos frente à expansão chinesa no Caribe Global Tech Landscape. Forbes, 09 dez. 2018. Acesso em: 17 maio
ELLIS, Evan. China’s engagement with Trinidad and Tobago. Global 2019.
Americans, 26 mar. 2019. Acesso em: 04 maio 2019. BUCKLEY, Chris; HERNÁNDEZ, Javier; BILEFSKY, Dan. China Arrests 2
ZAMORANO, Juan; MARTÍNEZ, Kathia; MCDONALD, Joe. Iniciativa Canadians on Spying Charges, Deepening a Political Standoff. New York
inversora china por América agita a EEUU. El Nuevo Herald, 03 maio Times, 16 mai. 2019. Acesso em: 17 maio 2019.
2019. Acesso em: 04 maio 2019.
• A política externa japonesa e a península coreana
• Classe Zumwalt: apenas para o futuro? Abe’s Welcome reversal on talks with Kim. Japan Times, 05 maio 2019.
GADY, Franz-Stefan. US Navy Christens Third Zumwalt-Class Guided Acesso em: 21 maio 2019.
Missile Destroyer. The Diplomat, 30 abr. 2019. Acesso em: 17 maio 2019. SHIMBUM, CHUNICHI. South Korean students flock to Japan as birthrate
ROBLIN, Sebastien. The Navy's Zumwalt-Class 'Stealth' Destroyer Has sinks and unemployment climbs. Japan Times, 09 maio 2019. Acesso
One Big Problem. The National Interest, 17 jan. 2019. Acesso em: 17 em: 21 maio 2019.
maio 2019.
• O ataque na cidade paquistanesa de Gwadar:
• O movimento separatista em Gana e os esforços implicações geopolíticas
para coibi-lo KUPECZ, Mickey. Pakistan’s Baloch Insurgency: History, Conflict Drivers,
MENSAH, Kent; MARTELL, Pete. Ghana cracks down on ‘Western and Regional Implications. International Affairs Review. Volume Xx, N.3,
Togoland’ separatist dream. Agence France Press (AFP), 15 maio 2019. 2012.
Acesso em: 15 maio 2019. MASOOD, Salman. Gunmen Attack Pakistan Hotel Used by Chinese and
NIBA, William. Focus on Africa: Ghana Volta region ‘Separatists’ to face Vow Further Violence. The New York Times, 11 maio 2019. Acesso em:
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• A retirada da fragata espanhola do Golfo Pérsico • O Corredor do Ártico: uma batalha silenciosa
HOCKENOS, Paul. Is There a Secret Recipe for Preventing Far-Right TOMMERBAKKE, Siri Gulliksen; TRELLEVIK, Amundsen. Agreement on
Populism?. Foreign Policy, 9 maio 2019. Acesso em: 11 maio 2019 Arctic Railway Planning and Implementation: "What is happening today
Spain pulls frigate from U.S. Gulf mission amid differences over Iran. brings something new to the table"High North News, 10 maio 2019.
Reuters, 14 maio 2019. Acesso em: 16 maio 2019 Acesso em: 15 maio 2019.
Authorities in Arctic Finland plan zones for controversial rail line. The
• Tensões no Golfo Pérsico: jogo perigoso entre Irã e Barents Observer, 30 abr. 2019. Acesso em 10 de maio de 2019.
Estados Unidos
HOMES, James. The U.S.-Iran Naval War of 2019: What It Could Look
Like. The National Interest, 11 mai. 2018. Acesso em: 15 maio 2019.
FREER, Courtney. Gulf uncertainty reigns amid Iran-US showdown. Al
Jazeera, 16 mai. 2018. Acesso em: 18 maio 2019.

• A instabilidade de países produtores de petróleo: um


olhar sobre a Líbia
Libya´s Haftar urges troops to ´wipe out´ military opponents. Al Jazeera,
06 maio 2019. Acesso em: 17 maio 2019.
STEPHEN, Chris. Libya´s oil fields fall into Haftar’s hands. Petroleum
Economist, 03 abr. 2019. Acesso em 17 maio 2019.

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