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O momento central de toda iniciação é representado pela cerimônia simbolizando a morte do neófito e
seu retorno para a irmandade dos vivos. Mas ele retorna à vinda como um novo homem, assumindo
outro nome de ser. Morte iniciatória significa ao mesmo tempo o fim da infância, da ignorância e da
condição profana.
O caminho obscuro de iniciação é de fato raro já que ele conduz em direção ao caos, e
poucos indivíduos são capazes de trilhar esse caminho. O esoterismo da luz conduz de
volta à unidade divina, enquanto o esoterismo obscuro conduz para além do divino. A
iniciação Qliphótica é Draconiana em um sentido duplo: ‘Draconiano’ é geralmente
traduzido como ‘áspero’ ou ‘severo’, o que é um sinônimo adequado para o caminho
Draconiano. Ele é áspero, mas ele conduz para mundos de singular beleza. Essa
nomeação do caminho como Draconiano também indica sua direção; o esoterismo da
luz conduz à unidade com os deuses masculinos da luz, como Yahweh ou Marduk. O
esoterismo obscuro, por outro lado, conduz em direção às entidades draconianas
primordiais tais como Leviatã, Tehom ou Tiamat, que existiram muito antes dos deuses
da luz e que existem no infinito além da luz divina. Para o adepto iniciado no caminho
Qliphótico, a escuridão do infinito é uma luz escondida, tão infinitamente mais brilhante
que a luz dos deuses que essa é então percebida como escuridão.
Quando o adepto adentra os túneis Qliphóticos, um processo que corresponde à
alquimia é iniciado. O caminho alquímico da iniciação tem três níveis principais, os
quais por sua vez podem ser divididos em vários níveis menores. Os três níveis
principais são:
Nesse processo através do qual o mago – como Odin ou o deus egípcio alquímico
Kephera – sacrifica a si próprio e entra no submundo, o homem pode ser transformado e
passar de ser uma criação a se tornar um criador. O mundo não foi criado em certo
ponto do passado como alegado pelas religiões monoteístas exotéricas. O mundo é
criado a cada momento. A maior parte das pessoas é criação do passado, mas através da
iniciação mágica nós podemos nos tornar criadores do futuro.
Lilith
Lilith, mãe dos demônios, rainha dos vampiros, governante das meretrizes e a
imperadora do mal é uma deidade que tem assombrado a humanidade desde o tempo
dos Sumérios e até os dias atuais. Ela é mencionada em antigos manuscritos sumérios
como Lil e era temida como tempestade arrasadora demoníaca. Seu nome seria
posteriormente associado com a palavra semita Layil, que significa a noite. Lilith tem
sido temida, mas também tem sido desejada graças à sua beleza mítica. Ela assombra
tanto homens e mulheres à noite, e ela seduz aqueles que estão adormecidos com
prazeres sexuais que superam tudo o que poderia ser gerado no nível mundano. Lilith é
mencionada em antigos textos judeus como o Zohar e o Talmud e no manuscrito Alfa
Bet Ben Sira a clássica história sobre Lilith é contada. Ela foi a primeira esposa de Adão
e foi criada independentemente dele. Isso conduziu à situação, conforme discutimos
anteriormente, quando ela se recusou a colocar-se abaixo de seu marido. Lilith
retirou-se para o deserto onde ela encontrou as amaldiçoadas e banidas criaturas da
Criação, e ela é considerada como a mãe dos demônios.
No misticismo judeu Lilith é a lua original que radiava através de sua própria força e
assim recusava-se a render-se para o sol. Em vista disso, a lua foi punida, sendo-lhe
permitida apenas refletir a luz do sol. Lilith é a força feminina primordial que foi banida
já que não havia lugar para ela. Na posição de Lilith foi colocada Eva. Eva é a mulher
boa e calma que se subordina aos mandos do deus masculino. Lilith é o demônio
feminino quente e obscuro que foi forçada ao exílio. Através de sua condenação Lilith
passou por uma existência sombria e se tornou uma existência Qliphótica. O aspecto
lunar de Lilith pertence sobretudo à Qlipha Gamaliel sobre a qual ela governa. Lilith é
tanto uma Qlipha quanto um demônio feminino. Como uma Qlipha ela é a selvagem e
obscura natureza que é o lado noturno do plano material e que abre os portais para o
outro lado. Como um demônio feminino, ela governa a Qlipha Gamaliel que
corresponde ao lado obscuro da lua e às regiões proibidas do plano dos sonhos.
Lilith é a mãe dos demônios, e é dentro dela que o mago deve buscar as outras Qliphoth.
É em direção a ela que o pentagrama mágico obscuro está apontando. O pentagrama da
magia negra aponta em direção a terra, o solo, em direção a tempos antigos e
primordiais. É aqui que alguém encontra as Qliphoth. As Qliphoth são a realidade que
nos recusamos a ver. Um mago negro não olha, como o adepto da tradição iluminada,
para os céus em busca de algum mundo paradisíaco, utópico. Um mago negro olha para
baixo em direção à terra para buscar os tesouros que tem sido escondidos por milhares
de anos. O útero de Lilith é o portal para o submundo, e as esferas das Qliphoth e o
mago devem penetrar em Lilith para serem capazes de atingir as regiões inconscientes
nas quais tesouros, forças e habilidades inimagináveis podem ser encontrados. É
também de seu útero que o mago conjura os demônios das Qliphoth. O útero de Lilith é
o túmulo que o adepto das trevas adentra livremente, abaixo até o reino da morte e ao
submundo em uma jornada iniciatória em em direção ao renascimento.
A Qlipha Lilith pode abrir nos modos mais inesperados e nos mais inesperados lugares.
Um banco no meio da cidade, o qual por alguma razão misteriosa é raramente escolhido
ou mesmo visto por pedestres, pode ser um portal para os mundos de Lilith. Uma
palavra antiquada dita em um contexto peculiar pode ser a forma que causa a abertura
de seu útero.Um meio efetivo de entrar em contato com a Qlipha Lilith é sair até a
natureza selvagem à noite e meditar nas sombras e na escuridão onde os objetos não
mais são visíveis e ao invés disso nublam-se numa névoa obscura; é aí onde Lilith pode
ser encontrada. A escuridão é seu útero, e esse é o objetivo das evocações do mago.
Incontáveis encantamentos têm sido usados em tentativas de banir Lilith, mas para
magos negros em todas as épocas invocações para contactá-la têm também sido criadas.
Se a seguinte fórmula for cantada treze vezes, supõe-se que Lilith apareça:
Durante o contato com a Qlipha Lilith uma idéia abstrata ou forte impulso emocional
pode ser recebido. Em outros casos, o mago pode encontrar o demônio governante da
Qlipha ou adentrar os túneis Qliphóticos. A Qlipha Lilith é governada por um demônio
feminino chamada Naamah. Ela tem sido chamada de filha ou irmã mais nova de Lilith.
Em visões ela aparece como uma poderosa rainha vestida com ricas vestes e
jóias.Algumas vezes ela é sedutora, mas outras vezes ela pode ter uma natureza tirânica.
Quando o mago quer canalizar a força da Qlipha, Naamah é invocada. Esta força é usa
principalmente em rituais sobre a influência e controle do nível material. Lilith é o lado
negro da Shekinah, e ela corresponde à Sophia Gnóstica e à Shaki Tântrica. A Shekinah,
Sophia e Shakti são a sabedoria e força que estão ocultas no plano material. Quando ela
desperta, essa deusa obscura e escondida pode levar o homem ao nível divino. Nos
mitos essa deusa é comparada à uma serpente e corresponde à terrível força primordial
que existiu no início do tempo antes do deus masculino da luz criar o mundo. Ela é
Leviatã ou Timat: o antigo caos que existiu antes do cosmo ter sido criado. Na tradição
Tântrica, Lilith aparece como a deusa Kali. Kali é a selvagem força vermelha que dança
em êxtase e destrói com uma mão e cria com a outra. Ela é tanto o veneno que traz sono
e, ao mesmo tempo, a sabedoria que pode despertar. Kali corresponde ao vulcão latente
que aflora no homem e é chamado de Kundalini, o qual é freqüentemente assemelhado a
uma serpente ou dragão. Na terminologia Tântrica, Lilith corresponde à parte anterior
ou interior do Muladhara Chakra. Muladhara é a zona de energia que está localizada
entre o ânus e as genitais, o qual é onde o dragão adormecido (Kundalini) repousa. Um
modo de contactar Lilith é meditar no Muladhara Chakra. O Muladhara é comparado a
uma lótus vermelha e o mago deve meditar na parte anterior da lótus nesse casso. Aqui
a primeira caverna Qliphótica pode ser encontrada na qual o Dragão descansa antes de
seu despertar.
Gamaliel
A influência de Lilith continua na próxima Qlipha. Aqui ela tomou uma forma mais
personificada como o demônio feminino governante de Gamaliel. A posição de Lilith
em Gamaliel desempenha uma parte importante em seu papel como rainha do mundo, e
é daqui que ela controla o mundo sendo sua força escondida e subjacente. Gamaliel é a
sombra do anima mundi, o ‘mundo alma’. Gamaliel é a esfera dos sonhos e o lado negro
de Yesod. Os sonhos que o homem normalmente não pode ou não deseja lembrar em
seu estado desperto podem ser encontrados dentro de Gamaliel. Esses sonhos negros
têm um caráter revelador e expõe lados de si próprio que alguém pode não querer
aceitar. Os sonhos obscuros são censurados pelo super ego e são represados na Qlipha
Gamaliel. Assim Gamaliel é a ‘Qlipha dos sonhos sombrios’.
Gamaliel é, acima de tudo, a esfera da sexualidade proibida. Enquanto que Adão e Eva
representam a sexualidade de uma natureza obediente cujo propósito é reprodução,
Lilith e seus amantes demoníacos correspondem a uma sexualidade iniciatória na qual a
força de Eros é usada para atingir estados superiores da mente. Um mago negro entra
em Gamaliel para se tornar totalmente consciente dos mecanismos da sexualidade e
assim cessar de ser escravizado sob instintos ocultos. A origem da luxúria é também
revelada nessa Qlipha. O mago alcançará um entendimento das estruturas dos instintos
básicos e aprenderá como usar a sexualidade para uma progressão mágica.
A Sephirah Yesod e a Qlipha Gamaliel pertencem ambas à esfera astral. Todos deixam o
corpo físico à noite durante o sono. Estas experiências são parte dos sonhos mais
profundos que são geralmente esquecidos. Para um mago é de grande importância
lembrar desses sonhos de modo a controlá-los e atingir conscientemente o plano astral.
O mago tenta viajar através das esferas astrais normais que são representadas por Yesod
e se move em direção às regiões mais profundas e obscuras que pertencem a Gamaliel.
Durante jornadas astrais para os mundos eroticamente magnetizados de Gamaliel, o
mago irá encontrar as succubi e os incubi, amantes demoníacos femininos e masculinos.
Eles convidarão o mago para uma orgia astral na qual mesmo o menor dos desejos do
mago será revelado. Se ceder à fraqueza, o mago poderá ser vampirizado e deixado
como uma concha vazia sem energia; o mago deve ao invés disso batalhar para usar a
orgia para atingir estados extasiados da mente que libertam a alma.
Yesod corresponde à lua. Gamaliel corresponde ao lado negro da lua. Esse lado tem sido
freqüentemente conectado com bruxas e seu ofício. O culto das bruxas era uma religião
sexual com elementos orgiásticos. Sangue era uma parte importante deste culto já que as
fases da lua correspondem ao ciclo menstrual. O sangue mensal corresponde à
fertilidade e vida e sua constante relação com a morte. Menstruação é um sinal de vida
que é perdida no sangue. Eva representa os períodos férteis, enquanto Lilith representa a
fase da menstruação. A lua é tanto morte quanto sexualidade. As entidades que têm sido
associadas com essa esfera possuem elementos tanto da sexualidade quanto do sangue.
O sacrifício do mago de seu próprio sangue e fluídos sexuais pode ser encontrado em
muitos dos rituais da bruxaria que estão associados com Gamaliel.
O trabalho mágico em Gamaliel é de uma natureza astral. Ele inclui viagem astral,
sonhos conscientes e conjuração das succubi e dos incubi. Para explorar Gamaliel, a
pessoa deveria usar sua disciplina para ficar acordada por dois dias, algo que pode fazer
com que sonhos vívidos apareçam. Um mago deve também experimentar abstinência
sexual por períodos extendidos de tempo para aumentar a energia sexual e assim
permitir um contato mais forte com Gamaliel. O foco da meditação de abstinência
deveria ser o Svadhisthana Chakra, o qual está localizado nas genitais. Este Chakra
corresponde a Yesod-Gamaliel e é comparado a uma flor de lótus laranja. O mago deve
especialmente focar na parte anterior ou dentro do chakra. O estado atingido por essa
operação é muito adequado para conjurar as succubi e os incubi, mas acima de tudo a
própria imperadora demoníaca Lilith. Lilith pode ser conjurada através do encantamento
mencionado antes. Ela aparece como uma bela mulher nua.Algumas vezes ela aparece
com um corpo de serpente da cintura para baixo. Em alguns casos, Lilith pode aparecer
como uma rainha vampírica ou uma mulher aranha tecendo uma teia de sonhos. O
artista Franz von Stuck (1863-1928) fez belos retratos retratando uma pecadora mulher
nua aparecendo junta a serpentes demoníacas. Também, artistas como Gustav Klimt e
Hon. John Collier apresentaram, com suas pinturas, uma visão do obscuro, mas sedutor,
mundo de Lilith que o indivíduo pode experimentar em Gamaliel.
Samael
Hod é o lado brilhante de Samael. Hod representa o intelecto e pertence ao nível astral
superior. Samael é o intelecto obscuro que pode ser percebido como loucura, a
originalidade e gênio que é ativo fora dos quadros da razão e das convenções da
civilização. Numerosos cientistas, escritores e artistas têm tocado os domínios de
Samael. O intelecto de Edgar Allan Poe parece ter sido ocasionalmente influenciado por
Samael e as seguintes palavras que ele escreveu sobre si próprio apresentam um bom
resumo da forma de inteligência que é Samael:
Homens têm me chamado de louco; mas a questão ainda não está resolvida; se a loucura
é ou não a inteligência mais sublime; se tudo o que é glorioso, se tudo o que é profundo,
não germina da doença do pensamento, à partir de um humor exaltado da mente à custa
do intelecto geral.
Na Qlipha de Samael, o mago faz um pacto com as forças obscuras e realiza o convite
de Friedrich Nietzsche para reavaliar velhos valores. Insanidade torna-se sabedoria;
morte torna-se vida. Samael é o ‘Veneno de Deus’. É aqui onde ilusões são envenenadas
e todas as categorias e concepções são desconstruídas até que nada seja deixado. O lado
negro do plano astral pode ser comparado a um cálice cheio de veneno ou um fluído
intoxicante. Enquanto Gamaliel é o cálice, Samael é o elixir e a Qlipha seguinte, A’arab
Zaraq, é onde o mago vivencia o efeito. A consumação do veneno é um decisivo rite de
passage marcando a transição de um estado para outro.Entre certas tribos primitivas e
culturas xamânicas, a mordida de uma serpente venenosa tem sido associada com
iniciação (algumas vezes em uma forma mais drástica que causa a morte do iniciado).
Mais comum, porém, é que o iniciado tenha esvaziado um copo contendo alguma forma
de alucinógeno potente. O veneno de Samael causa uma morte iniciatória da
personalidade mundana do mago negro. Em seu lugar, a verdadeira vontade será
libertada correspondendo à Besta e Thagirion.
A’arab Zaraq
A’arab Zaraq é o nível astral mais externo no lado noturno da árvore Qabalística.
Netzach é a contraparte brilhante desta Qlipha. Netzach significa vitória, e vitória é um
aspecto crucial, também, para o seu anti-pólo obscuro. A’arab Zaraq representa batalha
e suas forças são invocadas pelos magos negros por vitórias nas batalhas da vida.
Deuses da guerra, como Odin e Baal, em suas formas mais demoníacas são associados
com essa esfera. Na Qabalah, Baal é visto como o demônio governante de A’arab Zaraq.
Essa é a esfera das emoções sombrias. Aqui nós podemos encontrar tempestades de
sentimentos proibidos e instintos obscuros. O mago encontra expressões criativas
explosivas. A’arab Zaraq é associada com arte e música. Esta é a esfera do poeta
Romancista e Sturm und Drang. Um indivíduo pode facilmente perecer se ele não for
focado no objetivo da Qlipha Thagirion e se ele não seguir a jornada do corvo para o
Sol Negro.
O pássaro quebra o ovo. O ovo é o mundo. Para nascer o indivíduo deve destruir o
mundo em poeira. O pássaro voa para Deus. O Deus é Abraxas.
A pura Vênus branca pertence a Netzach, e a Vênus negra corresponde a A’arab Zaraq.
A Vênus Negra é chamada de Venus Illegitima e é a deusa das perversões. Seu amor é
estéril no nível da terra mundana mas é fértil dentro do mago e em níveis superiores.
Através dela, o mago pode nascer em mundos superiores. O mago é nascido como seu
próprio filho e se torna um com seu Eu superior ou Daemon. A Venus Illegitima é a mãe
desse Daemon. A prole demoníaca é criada por uma unidade sexual entre seres da terra
e do espírito. Os Nefilim da Bíblia, os bastardos, foram nascidos do encontro entre os
filhos do céu e as filhas da terra. O Eu superior do mago ou Daemon pertence ao
próximo nível.
Thagirion
O sexto nível Qliphótico (ou o quinto contando dos níveis da iniciação) é chamado
Thagirion, o que significa disputa ou processo jurídico. Isso pode ser interpretado de
muitas maneiras, às vezes como a disputa jurídica religiosa na qual Satã é o promotor
em nome de Deus, ou como o lugar onde o julgamento de Deus e Sua administração da
justiça são localizados. À parte das numerosas interpretações mitológicas, o nome da
Qliphoth denota sua natureza antinomiânica[1] que trabalha contra as leis do lado
brilhante. Todas as Qliphoth ostentam nomes pejorativos já que elas atuam como
antíteses para a ordem presente. Já que as Sephiroth da luz idealizam unidade, seu lado
sombrio é associado com desunião. Isso também explica o significado de ‘disputa’ no
nome Thagirion.
Em alguns níveis do caminho iniciatório o lado obscuro e o lado iluminado são unidos
e, num nível solar, o mago pode vivenciar a unidade entre o Sagrado Anjo Guardião e a
Besta. O Daemon do mago une tanto a luz quanto as trevas dentro de si, como o deus
gnóstico Abraxas, que é associado com esse nível.
Golachab
Golachab pertence ao plano mental e é um dos dois pólos através dos quais Thagirion
opera. Thagirion representa o Self e a iluminação obscura. Thagirion é a personalidade
total do Self que opera na existência através de uma completa cooperação entre força,
visão e ação. Os doispólos do plano mental são luxúria e sofrimento. O fator da luxúria
pertence a Chesed, sofrimento a Geburah. Eles estão organizados em uma estrutura
especial e adotam certos princípios, tais como a piedade e a severidade de Deus. As
Sephiroth operam dentro de um cosmos organizado que é ilustrado pela Árvore da Vida.
As contrapartes Qliphóticas da luxúria e sofrimento não existem dentro dessas
estruturas, mas operam no caos. Aqui elas são geralmente permutáveis e luxúria passa
ao sofrimento e sofrimento torna-se luxúria. Nós podemos encontrar aqui uma forma de
complexo sadomasoquistas nessas duas Qliphoth no qual elas simultaneamente
representam luxúria e sofrimento, atração e repulsão, sexo e morte. Essas duas Qliphoth
são governadas por demônios governantes que são frequentemente associados,
nomeadamente Astaroth e Asmodeus; os dois demôniosmais centrais da missa negra
original. Asmodeus governa Golachab. Asmodeus, o trigésimo segundo demônio
Goético, aparece em numerosos grimórios e na literatura apócrifa. Ele é chamado de
‘Samael o Obscuro’ e é filho de, ou um aspecto de, Samael.
Gha’Agsheblah
Gha’agsheblah é a mais alta Qlipha entre aquelas que estão abaixo da tríade superior.
Gha’agsheblah é a força que governa todas as esferas Qliphóticas abaixo do Abismo. A
tríade superior corresponde a idéias e consciência divinas. Os sete níveis abaixo
correspondem a diferentes graus de concretização de idéias. Tanto Gha’agsheblah como
sua contraparte iluminada são associadas com o Demiurgo, o criador que modela o
mundo. Os sete mundos abaixo da tríade superior são comparados aos sete dias durante
os quais Deus criou o mundo, de acordo com a Bíblia. O ato da Criação surge de um
impulso em Chokmah recebendo uma forma negativa em Binah. Binah concede o
espaço para que alguma coisa seja criada, similar a derreter um metal em um molde.
Chesed é o princípio que preenche a forma e assim cria uma existência positiva. Deste
modo Chesed faz o impulso de Chokmah se concretizar e age como Chokmah, mas em
um nível concreto. Na tríade superior, todos os princípios são meramente potenciais e
ainda não são idéias realizadas.
O Abismo
Entre o nível divino superior e o inferior há um Abismo. No lado da luz isso pode ser
comparado a uma enorme ravina que conduz para baixo até o lado sombrio. No lado
obscuro o Abismo não existe da mesma maneira. O adepto da luz que falha em atingir a
tríade divina superior cai no Abismo e pode tornar-se uma vítima das forças do caos que
ali residem. Da perspectiva do lado sombrio, porém, o Abismo pode ser comparado a
um rio que separa o centro mais escuro do submundo das partes que o cercam.
Na Qabalah, o Abismo é chamado Masak Mavdil. No Abismo e em seu rio obscuro
jazem todos os adeptos que falharam, afogados. Ao atravessar o Abismo, a velha forma
limitada do magista morre. Todos os atributos que determinavam a vida e a Vontade do
adepto foram deixados para trás. As forças da escuridão fazem um polimento de tudo
que impedem o magista de tornar-se divino. Após o Abismo, a alma torna-se como um
diamante negro que carrega dentro de si todas as cores da vida e o espectro.
Satariel
Satariel é a primeira Qlipha após o rio do Abismo. O adepto entra em Satariel renascido
e batizado na água negra do Abismo. Satariel é o lado sombrio de Binah, e esses
mundos são extremamente relacionados já que Binah já é em si uma força sombria que
age como uma raiz do lado esquerdo da Árvore da Vida. A diferença é que Satariel não
é parte da ordem brilhante da Árvore da Vida, mas parte do Sitra Ahra e do outro lado.
Tanto Binah quanto Satariel correspondem ao obscuro e a mistérios. Elas representam
os princípios que carregam todas as respostas dentro de si mas permanecem escondidas
em escuridão absoluta. Satariel é aquele que guarda segredos e esconde algo. A
escuridão que é criada em Binah age como uma forma negativa na qual a Criação
recebe sua forma. Binah e Satariel representam tempo e destino e estão associadas com
deusas do destino, como as Moiras gregas e as Nornas nórdicas. As três Moiras são
Clotho, Lachesis e Átropos e sua tarefa é girar, entrelaçar e cortar a linha da vida de
cada e todo homem. Clotho segura o distaff e governa o nascimento. Lachesis governa o
que toma lugar durante a vida e Átropos, que usa um véu negro, corta a linha que
determina morte. Da mesma maneira, as três Nornas Urd, Verdandi e Skuld
correspondem ao nascimento e ao passado, vida e o presente e, finalmente, morte e o
futuro. Lilith tinha sua residência original em Satariel mas, semelhante às deusas do
destino, age nos níveis astrais inferiores onde ela tece as linhas do destino como uma
aranha. Binah e Satariel correspondem aos deuses do tempo, Chronos e Saturno, que
são aqueles que executam o ritmo do destino pelos movimentos da lua nos níveis
inferiores. A aterrorizante deusa indiana Kali governa o tempo e ela, também,
corresponde a Binah e Satariel.
Quando o adepto atinge Satariel um passo final ao nível divino é dado. Para o adepto do
caminho sombrio, Satariel é onde o indivíduo entra no centro do submundo para
encontrar seu governante. O adepto irá encontrar Ereshkigal, Hel, Hades, Lúcifer, Satã
ou qualquer um dos outros personagens que estão associados com as partes mais
profundas do submundo. No começo, após ter entrado em Satariel, o adepto tateia ao
seu redor na escuridão absoluta. Uma experiência comum que caracteriza Satariel é o
sentimento de caminhar através de longos labirintos negros e distorcidos. Os demônios
de Satariel são associados com absurdos, delírio, confusão e mistérios. Lucifuge
governa aqui e não deve ser confundido com Lúcifer. Lucifuge faz a luz escapar,
enquanto Lúcifer é quem traz a luz. Lucifuge conduz o adepto através dos labirintos
negros de Satariel em direção aos últimos níveis das Qliphoth. Na escuridão de Satariel
o indivíduo pode vivenciar a respiração do grande dragão, Tehom. Nos túneis, o
indivíduo pode ouvir ecos de estranhos sons dos planos além dos limites do universo.
No ponto mais sombrio, a escuridão chameja e torna-se luz. O adepto vivencia como o
olho-que-tudo-vê do dragão é aberto. Nesse estágio o adepto alcança visão clara e o
terceiro olho começa a abrir. Esse olho é chamado de olho de Lúcifer, Shiva ou Odin.
Nos antigos mistérios gregos Typhonianos, esta experiência era chamada Drakon, que
significa ‘ver’.
Ghagiel
Ghagiel é a última Qlipha antes de Thaumiel e é a força ativa do lado sombrio. Ghagiel
é associada com deuses fálicos e seres como o Demônio (Devil) em sua forma sexual
mais masculina, ou o antigo deus Príapos com seu falo vermelho gigante. Ghagiel
corresponde a Shiva em sua forma mais fálica quando o poder de seu lingam, ou falo,
faz com que o terceiro olho se abra para que o universo seja destruído e recriado em um
e no mesmo momento. Se Satariel é o trono das deusas sombrias, então Ghagiel é o
drono dos deuses obscuros. Beelzebub, o qual é referido como o príncipe dos demônios,
governa Ghagiel. Seu nome é geralmente interpretado como ‘o senhor das moscas’, mas
achados arqueológicos nos contam que Beelzebub era originalmente um deus Fenício
chamado Beelsebel, que significa ‘senhor dos senhores’.
Thaumiel
A divisão de Thaumiel é a razão pela qual o número das Qliphoth é 11, e sua fórmula é
A.A. = Adamas Ater, ‘O Diamante Negro’. Numerologicamente, os números 1 – 10 ou
10 – 1 representam a unidade entre homem e deus, o fim e o começo. A serpente
mordendo sua própria cauda simboliza isso. Quando o magista progride de acordo com
os níveis Qabalísticos Kether, o princípio superior, é atingido no estágio final. Em
Kether o 10 e 1 foram unidos e o círculo foi fechado; o adepto da luz atingiu seu
objetivo e tornou-se uno com Deus. O adepto da escuridão também atinge este nível,
mas tem nesse estágio a escolha de andar mais um passo crucial. Através de Thaumiel
outro nível, décimo primeiro, é aberto: um buraco negro que se torna um portal para
outro universo. O adepto sombrio liberta-se completamente de Deus e da velha Criação
e torna-se um criador. Ao invés de tornar-se uno com Deus, o magista torna-se ele
próprio um Deus através do décimo primeiro nível. Esse é o objetivo final e a essência
do Caminho da Mão Esquerda.
Há uma diferença significativa entre os dois caminhos Tântricos, aquele da mão direita e aquele da
mão esquerda (os quais estão ambos sob a édige de Shiva). No primeiro, o adepto sempre vivencia a
experiência de ‘alguém acima dele’, mesmo nos níveis mais altos de realização. No último, ‘ele
torna-se o Soberano supremo’ (chakravartin = governante de mundos).
O Caminho da Mão Esquerda caminha ainda um passo decisivo a mais que o Caminho
da Mão Direita. Ele representa o misticismo em volta do número 11 e a fórmula AA. O
Caminho da Mão Direita conduz à união com Deus, enquanto a Esquerda caminha um
passo para além de Deus. O Caminho da Mão Direita conduz a um objetivo eterno
conclusivo e final, enquanto o objetivo do Caminho da Mão Esquerda é chegar a um
novo começo. As duas estradas têm sido comparadas aos dois modos em que alguém
pode seguir um rio. O Caminho da Mão Direita segue o rio até o mar, enquanto que o
Caminho da Mão Esquerda vai contra o fluxo de volta à nascente. O Caminho da Mão
Esquerda anda em retrocesso e contra a corrente. Quando o magista atinge a nascente
ele tem a possibilidade de alterar a direção do rio e criar um novo rio se ele desejar.
Outro aspecto importante do Caminho da Mão Esquerda, tanto no ocidente como no
oriente, é a importância da deusa obscura; Lilith e Kali são as mães obscuras e o útero
delas é a real fonte em direção da qual o magista busca de modo a renascer como sua
própria criança e seu próprio criador. A diferença entre os objetivos do Caminho da
Mão Direita e o Caminho da Mão Esquerda são os mesmos tanto no oriente como no
ocidente. No ocidente, a esfera superior de luz é Kether, ‘a Coroa’, e aqui o indivíduo
atinge unidade com Deus. No oriente, no nível mais alto de luz está o Chakra coronário,
Sahasrara; nesse estágio o adepto atinge Samadhi, que significa ‘união com Deus’ e é
uma unidade com o divino. Esse estado numerologicamente corresponde a 10. Esse
estágio é simbolizado pelo diamante: a mais pura e mais resistente forma de carbono, a
fundação de toda a vida. Em seu livro 777, Aleister Crowley escreve, em relação a
Kether e o número 1, “O diamante é brilho branco; ele é carbono puro, a fundação de
toda criatura vivente’. O adepto do Caminho da Mão Esquerda também vivencia esse
nível mas tem, através de seu trabalho mágico, a possibilidade de caminhar outro passo
(1 além de 10, i.e. 11, o qual corresponde um passo consciente através do portal 0, que é
1 além de 1). Esse passo é o segredo por trás da divisão de Thaumiel e dos dois
demônios gêmeos, Satã e Moloch. O passo além de Kether e do Sahasrara é
simbolizado pelo diamante negro (Adamas Ater). Crowley descreve o diamante negro
em 777 quando refle sobre o número 0: ‘Ele é invisível porém contém luz e estrutura
em si próprio.’ O diamante negro representa a liberdade suprema do Caminho da Mão
Esquerda ao oferecer um passo a mais que o Caminho da Mão Direita. Julius Evola
descreve como esse pensamento existe no Caminho da Mão Esquerda Tântrico:
O aspecto criativo e produtivo do processo cósmico obtém significado pela mão direita, pela cor
branca e pelas duas deusas Uma e Gauri (nas quais Shakti aparece como Prakashatmika, ‘ela que é
luz e manifestação’). O segundo aspecto, aquele da conversão e retorno (exitus, reditus), obtém
significado pela mão esquerda, pela cor negra e pelas obscuras e destrutivas deusas Durga e Kali.
Dessa forma, de acordo com o Mahakala-Tantra, quando a mão esquerda e a direita estão em
equilíbrio nós vivenciamos samsara, mas quando a mão esquerda preavalece, nós encontramos
liberação.
Quando o adepto do Caminho da Mão Esquerda caminha o passo além de Sahasrara, ele
atinge um estado além de Samadhi, o qual é chamado Kaivalya. Os adeptos indianos da
luz lutam para alcançar Samadhi, mas os adeptos obscuros buscam Kaivalya. Kaivalya é
um estado correspondente ao diamante negro que o magista atinge em Thaumiel. Aqui o
adepto atinge um estado de absoluta individualidade e divindade. Ao invés de tornar-se
uno com Deus, aqui o adepto torna-se Deus. Esse é um estado de total transe e absoluta
presença dentro de si próprio. O adepto tem o universo e todo o potencial dentro de si e
disso ele pode criar um novo universo. Para atingir esse estado o adepto obscuro precisa
abrir um tipo de chakra negro além do Sahasrara. Ele é chamado Sunya, ou Shunya, e
corresponde a Thaumiel e ao buraco negro. Esse nível é descrito em Aghora II:
Kundalini por Robert Svoboda:
No estado de Shunya todos os nomes e formas tornam-se extintos e tudo do qual você estáconsciente
é sua própria individualidade; de outro modo apenas o vazio permanece. Tudo no universo está
contido no estado de Shunya, de uma forma não-manifestada; você não pode mais percebê-lo. Apesar
das pessoas chamarem o estado de Shunya de Vazio, ele não está vazio, ele está cheio.
A possibilidade de abrir o chakra negro surge após o magista ter obtido um completo
despertar do Ajna chakra e o terceiro olho. O Ajna chakra é uma forma inferior do
Sunya dentro do corpo. Sunya é o terceiro olho (o olho de Lúcifer ou Shiva) em uma
forma superior, reservada para os adeptos mais avançados no Caminho da Mão
Esquerda. Com a ativação do Ajna chakra, o adepto encara uma ecisão final: se tornar
uno com Deus no Sahasrara e assim ser desintegrado ou tentar o grande e muito difícil
passo através de Sunya para tornar-se um deus. Nem Sahasrara nem Sunya são de fato
chakras no significado geral da palavra. O homem possui seis chakras principais, do
chakra base até o Ajna chakra na cabeça. Os três chakras inferiores são dominantes em
pessoas que são focadas em matérias mundanas e seus instintos básicos. Em pessoas
espirituais os três chakras superiores são os dominantes. Adeptos do Caminho da Mão
Direita tentam predominantemente elevar suas energias dos baixos níveis para os
superiores em um processo que conduz à iluminação no Ajna chakra, onde o adepto
percebe a natureza ilusória do Self e do universo. O objetivo final do Caminho da Mão
Direita é caminhar o grande passo para fora de Sahasrara, para atingir Samadhi e uma
extinção do Self. O adepto do Caminho da Mão Esquerda pode caminhar um passo de
volta para si próprio no Ajna chakra e encontrar três chakras ocultos que ficam
escondidos dentro da cabeça. Os três chakras secretos são Golata, Lalata e Lalana. Eles
só podem ser vivenciados quando a kundalini está completamente desperta e fez o Ajna
chakra flamejar com força. Apenas quando o Ajna chakra queima com a força da
Kundalini o adepto pode encontrar os três chakras secretos e escondidos na parte de trás
de sua cabeça. De acordo com o Vamachara, esses três chakras só podem ser abertos
através da bênção de Kali. Os chakras secretos podem fazer do adepto um deus
enquanto em seu próprio corpo.
Assim existem 3x3 chakras, três dois quais são secretos e são abertos apenas por
adeptos muito avançados do Caminho da Mão Esquerda. O próximo passo é atingir o
Sahasrara chakra, mas atravésdo despertar do Ajna chakra e dos chakras secretos o
adepto pode caminhar um passo além do Sahasrara e o décimo nível, através de Sunya
para um décimo primeiro nível, para criar novos mundos além de Sunya. Do outro lado
do buraco negro o adepto irá também encontrar a luz infinita que originalmente foi
vivenciada como escuridão. Ao invés da união com Deus, o caminho obscuro oferece
um dualismo dinâmico no princípio superior. União é equivalente a extinção, enquanto
a mais suprema dualidade concede vida e energia.
Quando o magista atinge Thaumiel, ele se encontra no centro absoluto. Thaumiel é o
olho do Dragão e o trono de Lúcifer. O magista pode permanecer aqui para sempre mas
pode também fazer a escolha suprema. Todas os objetivos religiosos, filosóficos e
metafísicos podem ser atingidos desse nível. O magista pode atingir Nirvana, tornar-se
um só com a escuridão ou o útero de Kali, mas também é possível para o magista
inverter Thaumiel e tornar-se um só com Deus e o lado iluminado. O magista pode
reentrar nos níveis inferiores ou caminhar o passo final para fora desse universo.