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A Iniciação Qliphótica

Se o homem escolher atravessar um segundo nascimento, espiritual, este ocorre através


da iniciação. A iniciação esotérica é baseada no pensamento de que existem muitas
camadas da realidade que o adepto pode explorar e penetrar. Isso ocorre através da
iniciação. A iniciação é um conceito fundamental no esoterismo. O objetivo da
iniciação é expor a essência oculta que pode ser encontrada por trás da aparência
externa dos fenômenos. Através da iniciação o adepto entra nas zonas interiores das
religiões e mitos e ganha conhecimento de suas verdades escondidas. Iniciação permite
a entrada à essência que está escondida debaixo da superfície da existência. Como um
resultado desse conhecimento, o adepto aprende a controlar os mecanismos da
existência e pode influenciá-los de acordo com sua vontade. Mircea Eliade, o
historiador de religião, define iniciação no livro Rites and Symbols of Iniciation:

O momento central de toda iniciação é representado pela cerimônia simbolizando a morte do neófito e
seu retorno para a irmandade dos vivos. Mas ele retorna à vinda como um novo homem, assumindo
outro nome de ser. Morte iniciatória significa ao mesmo tempo o fim da infância, da ignorância e da
condição profana.

Iniciação é baseada em uma morte metafísica, uma descida ao submundo, renascimento


e ascensão. O iniciado deixa sua vida antiga e seu antigo ser para trás e se torna nascido
novamente, freqüentemente com um novo nome designando a nova identidade. O
adepto deixa para trás o estado de ser limitado a homem, cuja vontade e ação são
predeterminadas, e se torna um deus com uma vontade livre e poder para criar.
Uma entrada voluntária aos mundos Qliphóticos é uma ocorrência rara na tradição
Qabalística. As Qliphoth são vistas como mundos abomináveis e aterrorizantes que o
adepto da luz deve fazer qualquer coisa para evitar. Mas, em certas formas da Qabalah
herege, nós encontramos a idéia de que a verdadeira iniciação e iluminação pode ser
atingida apenas ao entrar nas regiões Qliphóticas. No xamanismo e nos antigos cultos
ao mistério, a descida ao submundo era um elemento chave e entrar no Sitra Ahra e nas
regiões Qliphóticas está de acordo com essa tradição, embora em sua forma mais
extrema e radical. As Qliphoth não são meramente associadas com o reino da morte no
qual os ancestrais da espécie humana vagam, mas ao invés disso elas levam o adepto a
ter contato com as trevas externas que podem ser encontradas além do universo. Entrar
nas Qliphoth conscientemente por sua própria vontade é começar um caminho de
iniciação no qual o homem e seu mundo são renascidos em seu sentido mais profundo.
A iniciação Qliphótica é um caminho único que, de um modo sistemático e
controlado, trabalha com as forças do caos e a escuridão máxima. Debaixo da superfície
da tradição da luz a tradição das trevas tem sido sugerida, freqüentemente com avisos e
alusões não ditas. Há três níveis principais de conhecimento dos quais o primeiro é
nosso conhecimento mundano e a informação apresentada pela ciência comum. Abaixo
desse nível nós encontramos o conhecimento do esoterismo da luz que tem sido
transmitido através das sociedades ocultas comuns. Abaixo desse nível nós podemos
encontrar o conhecimento do esoterismo das trevas.

1. Conhecimento exotérico: a ciência mundana


2. Conhecimento esotérico da luz: a tradição iluminada
3. Conhecimento esotérico das trevas: a tradição obscura.

O caminho obscuro de iniciação é de fato raro já que ele conduz em direção ao caos, e
poucos indivíduos são capazes de trilhar esse caminho. O esoterismo da luz conduz de
volta à unidade divina, enquanto o esoterismo obscuro conduz para além do divino. A
iniciação Qliphótica é Draconiana em um sentido duplo: ‘Draconiano’ é geralmente
traduzido como ‘áspero’ ou ‘severo’, o que é um sinônimo adequado para o caminho
Draconiano. Ele é áspero, mas ele conduz para mundos de singular beleza. Essa
nomeação do caminho como Draconiano também indica sua direção; o esoterismo da
luz conduz à unidade com os deuses masculinos da luz, como Yahweh ou Marduk. O
esoterismo obscuro, por outro lado, conduz em direção às entidades draconianas
primordiais tais como Leviatã, Tehom ou Tiamat, que existiram muito antes dos deuses
da luz e que existem no infinito além da luz divina. Para o adepto iniciado no caminho
Qliphótico, a escuridão do infinito é uma luz escondida, tão infinitamente mais brilhante
que a luz dos deuses que essa é então percebida como escuridão.
Quando o adepto adentra os túneis Qliphóticos, um processo que corresponde à
alquimia é iniciado. O caminho alquímico da iniciação tem três níveis principais, os
quais por sua vez podem ser divididos em vários níveis menores. Os três níveis
principais são:

1. Nigredo. O estágio negro.


2. Albedo. O estágio branco.
3. Rubedo. O estágio vermelho.

Nigredo corresponde ao nível material e ao plano astral, Albedo corresponde ao plano


mental e Rubedo ao divino, objetivo final. Ocasionalmente, a alquimia utiliza um quarto
nível chamado Citrinitas ou ‘o estágio amarelo’. O nível Citrinitas está entre os níveis
branco e vermelho e, se Citrinitas é parte da tabela, ele geralmente denota o nível
mental, enquanto que Albedo nesse caso corresponde ao nível astral e Nigredo ao nível
material. As três ou quatro fases podem também ser divididas em sete níveis que
correspondem a metais e fases no processo alquímico de transmutação. As sete fases
correspondem aos Chakras no Tantra Indiano, os quais são comparados a zonas de
energia através dos quais a ‘Serpente Kundalini’ passa em sua ascensão do baixo para o
alto estado de consciência. Os sete níveis alquímicos também representam as sete runas
que simbolizam o despertar do adepto de acordo à Qabalah Gótica criada por Johannes
Bureus no século XVII. As Qliphoth no pilar do meio, juntamente com os quatro
mundos Qabalísticos, podem ser conectados ao processo alquímico.

A iniciação Draconiana é baseada em 1+9+1 níveis que juntos constituem 11 passos


correspondentes às Qliphoth e aos onze demônios governantes que agem como antíteses
e lados noturnos da Criação. O primeiro passo é onde o não-iniciado começa, e ele
significa uma abertura no portal para o lado obscuro. Os 9 passos seguintes representam
os 9 níveis do lado noturno ou do submundo que Odin atravessa durante sua iniciação
aos segredos das runas. Esses passos levam o adepto ao coração das trevas e
transformam homem em deus, como prometido pela Serpente em Gênesis 3:5. Nos
mitos Bíblicos, o homem começa sua iniciação comendo do conhecimento. DE acordo
com a religião da luz e exotérica, o homem deve buscar seu caminho de volta ao estado
permissivo da infância que reinava antes do homem comer os frutos do conhecimento.
De acordo com a tradição obscura e esotérica, o homem deveria ao invés disso cumprir
a busca por conhecimento e deixar o Éden para encontrar sabedoria no desconhecido. O
último e décimo primeiro passo estende a mão para um mistério absoluto e além dos
limites do universo.

1. Lilith 1.0º. O portal para o desconhecido.


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2. Gamaliel 2.0º. Os Sonhos Obscuros. Magia astral. Bruxaria. Os mistérios da lua
negra. A Deusa obscura.
3. Samael 3.0º. A filosofia do Caminho da Mão Esquerda. A sabedoria da
insanidade.
4. A’Arab Zaraq 4.0º. Magia Luciferiana. O lado negro de Vênus.
Eroto-Misticismo e o caminho do guerreiro.
5. Thagirion 5.0º. A iluminação do lado noturno. O Sol Negro. A união do Deus e
da Besta.
6. Golachab 6.0º. Ragnarök. A ativação de Surt/Sorath. O magnetismo da luxúria e
sofrimento.
7. Gha’agsheblah 7.0º. Os níveis superiores do eroto-misticismo. Preparações para
a passagem do Abismo.
8. Satariel 8.0º. A abertura do olho de Lúcifer/Shiva/Odin. O princípio de Drakon.
9. Ghagiel 9.0º. A iluminação da estrela Luciferiana.
10. Thaumiel 10.0º. O cumprimento da promessa dada pela Serpente. Divindade.
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11. Thamiel 11.0º. O buraco negro. O passo em direção à nova criação. Universo B.

Nesse processo através do qual o mago – como Odin ou o deus egípcio alquímico
Kephera – sacrifica a si próprio e entra no submundo, o homem pode ser transformado e
passar de ser uma criação a se tornar um criador. O mundo não foi criado em certo
ponto do passado como alegado pelas religiões monoteístas exotéricas. O mundo é
criado a cada momento. A maior parte das pessoas é criação do passado, mas através da
iniciação mágica nós podemos nos tornar criadores do futuro.

Lilith

Lilith, mãe dos demônios, rainha dos vampiros, governante das meretrizes e a
imperadora do mal é uma deidade que tem assombrado a humanidade desde o tempo
dos Sumérios e até os dias atuais. Ela é mencionada em antigos manuscritos sumérios
como Lil e era temida como tempestade arrasadora demoníaca. Seu nome seria
posteriormente associado com a palavra semita Layil, que significa a noite. Lilith tem
sido temida, mas também tem sido desejada graças à sua beleza mítica. Ela assombra
tanto homens e mulheres à noite, e ela seduz aqueles que estão adormecidos com
prazeres sexuais que superam tudo o que poderia ser gerado no nível mundano. Lilith é
mencionada em antigos textos judeus como o Zohar e o Talmud e no manuscrito Alfa
Bet Ben Sira a clássica história sobre Lilith é contada. Ela foi a primeira esposa de Adão
e foi criada independentemente dele. Isso conduziu à situação, conforme discutimos
anteriormente, quando ela se recusou a colocar-se abaixo de seu marido. Lilith
retirou-se para o deserto onde ela encontrou as amaldiçoadas e banidas criaturas da
Criação, e ela é considerada como a mãe dos demônios.

No misticismo judeu Lilith é a lua original que radiava através de sua própria força e
assim recusava-se a render-se para o sol. Em vista disso, a lua foi punida, sendo-lhe
permitida apenas refletir a luz do sol. Lilith é a força feminina primordial que foi banida
já que não havia lugar para ela. Na posição de Lilith foi colocada Eva. Eva é a mulher
boa e calma que se subordina aos mandos do deus masculino. Lilith é o demônio
feminino quente e obscuro que foi forçada ao exílio. Através de sua condenação Lilith
passou por uma existência sombria e se tornou uma existência Qliphótica. O aspecto
lunar de Lilith pertence sobretudo à Qlipha Gamaliel sobre a qual ela governa. Lilith é
tanto uma Qlipha quanto um demônio feminino. Como uma Qlipha ela é a selvagem e
obscura natureza que é o lado noturno do plano material e que abre os portais para o
outro lado. Como um demônio feminino, ela governa a Qlipha Gamaliel que
corresponde ao lado obscuro da lua e às regiões proibidas do plano dos sonhos.

A Qlipha Lilith corresponde ao selvagem e ao carnal. Lilith é chamada de ‘a alma dos


animais selvagens’ (Zohar 1:34ª) e ela é também a Mãe Terra em seus aspectos mais
violentos. Entre os antigos sumérios ela era chamada Lil e representava as tempestades
destrutivas e furacões. Ela é o aspecto da existência física do homem que não pode ser
controlada. Assim, o homem tenta negar e reprimir essas partes, criando uma estrutura
para sua existência na qual essa força selvagem é incapaz de se encaixar. Mas essa
força, todavia, incessantemente penetra em nossas estruturas com sua força selvagem e
derruba todas as tentativas de criar um pacífico Éden. Lilith não repousará abaixo. Isso
pode ser visto como uma metáfora da Mãe Terra que não se permite ser explorada. A
qualquer dado momento ela pode abrir seu útero e engolir os monumentos fálicos do
homem. Ela é o terremoto que devora os arranha-céus e torres das igrejas em seu útero,
e ela é a deusa gótica que desperta os demônios, mesmo na mente dos sensíveis ateus.
Artistas românticos de ruínas, tais como Gaspar David Friedrich e Arnold Böcklin,
retratam em seus trabalhos como as forças sublimes da natureza conquistam a
civilização humana. As pinturas desses artistas, que descrevem como uma natureza
sombria e grandiosa abre o portal para o outro lado, apresentam ao mago uma boa
imagem de como a Qlipha Lilith pode parecer.

Lilith é a mãe dos demônios, e é dentro dela que o mago deve buscar as outras Qliphoth.
É em direção a ela que o pentagrama mágico obscuro está apontando. O pentagrama da
magia negra aponta em direção a terra, o solo, em direção a tempos antigos e
primordiais. É aqui que alguém encontra as Qliphoth. As Qliphoth são a realidade que
nos recusamos a ver. Um mago negro não olha, como o adepto da tradição iluminada,
para os céus em busca de algum mundo paradisíaco, utópico. Um mago negro olha para
baixo em direção à terra para buscar os tesouros que tem sido escondidos por milhares
de anos. O útero de Lilith é o portal para o submundo, e as esferas das Qliphoth e o
mago devem penetrar em Lilith para serem capazes de atingir as regiões inconscientes
nas quais tesouros, forças e habilidades inimagináveis podem ser encontrados. É
também de seu útero que o mago conjura os demônios das Qliphoth. O útero de Lilith é
o túmulo que o adepto das trevas adentra livremente, abaixo até o reino da morte e ao
submundo em uma jornada iniciatória em em direção ao renascimento.

Na verdade, encontrar a Qlipha Lilith é a primeira dificuldade para o mago Qliphótico.


Lilith é o anti-mundo para a nosssa esfera mundana, Malkuth. Isso significa que ela
existe no meio de nosso mundo, mas em aspectos dos quais o homem está normalmente
ignorante. Através de uma exploração dos princípios dos quais a esfera mundana
consiste o indivíduo pode encontrar a Qlipha Lilith ao ir além e contra esses princípios.
O estado normal desperto da mente é o nível básico de consciência na existência
humana. Sono é a ausência do estado desperto, e o sono é também o útero da Qlipha
Lilith. Partes reprimidas de nossa mente aparecem em sonhos e podem freqüentemente
tomar uma forma demoníaca refletindo tanto nosso desejo como nosso medo.

A Qlipha Lilith pode abrir nos modos mais inesperados e nos mais inesperados lugares.
Um banco no meio da cidade, o qual por alguma razão misteriosa é raramente escolhido
ou mesmo visto por pedestres, pode ser um portal para os mundos de Lilith. Uma
palavra antiquada dita em um contexto peculiar pode ser a forma que causa a abertura
de seu útero.Um meio efetivo de entrar em contato com a Qlipha Lilith é sair até a
natureza selvagem à noite e meditar nas sombras e na escuridão onde os objetos não
mais são visíveis e ao invés disso nublam-se numa névoa obscura; é aí onde Lilith pode
ser encontrada. A escuridão é seu útero, e esse é o objetivo das evocações do mago.
Incontáveis encantamentos têm sido usados em tentativas de banir Lilith, mas para
magos negros em todas as épocas invocações para contactá-la têm também sido criadas.
Se a seguinte fórmula for cantada treze vezes, supõe-se que Lilith apareça:

marag ama lilith rimok samalo naamah

Durante o contato com a Qlipha Lilith uma idéia abstrata ou forte impulso emocional
pode ser recebido. Em outros casos, o mago pode encontrar o demônio governante da
Qlipha ou adentrar os túneis Qliphóticos. A Qlipha Lilith é governada por um demônio
feminino chamada Naamah. Ela tem sido chamada de filha ou irmã mais nova de Lilith.
Em visões ela aparece como uma poderosa rainha vestida com ricas vestes e
jóias.Algumas vezes ela é sedutora, mas outras vezes ela pode ter uma natureza tirânica.
Quando o mago quer canalizar a força da Qlipha, Naamah é invocada. Esta força é usa
principalmente em rituais sobre a influência e controle do nível material. Lilith é o lado
negro da Shekinah, e ela corresponde à Sophia Gnóstica e à Shaki Tântrica. A Shekinah,
Sophia e Shakti são a sabedoria e força que estão ocultas no plano material. Quando ela
desperta, essa deusa obscura e escondida pode levar o homem ao nível divino. Nos
mitos essa deusa é comparada à uma serpente e corresponde à terrível força primordial
que existiu no início do tempo antes do deus masculino da luz criar o mundo. Ela é
Leviatã ou Timat: o antigo caos que existiu antes do cosmo ter sido criado. Na tradição
Tântrica, Lilith aparece como a deusa Kali. Kali é a selvagem força vermelha que dança
em êxtase e destrói com uma mão e cria com a outra. Ela é tanto o veneno que traz sono
e, ao mesmo tempo, a sabedoria que pode despertar. Kali corresponde ao vulcão latente
que aflora no homem e é chamado de Kundalini, o qual é freqüentemente assemelhado a
uma serpente ou dragão. Na terminologia Tântrica, Lilith corresponde à parte anterior
ou interior do Muladhara Chakra. Muladhara é a zona de energia que está localizada
entre o ânus e as genitais, o qual é onde o dragão adormecido (Kundalini) repousa. Um
modo de contactar Lilith é meditar no Muladhara Chakra. O Muladhara é comparado a
uma lótus vermelha e o mago deve meditar na parte anterior da lótus nesse casso. Aqui
a primeira caverna Qliphótica pode ser encontrada na qual o Dragão descansa antes de
seu despertar.

Gamaliel
A influência de Lilith continua na próxima Qlipha. Aqui ela tomou uma forma mais
personificada como o demônio feminino governante de Gamaliel. A posição de Lilith
em Gamaliel desempenha uma parte importante em seu papel como rainha do mundo, e
é daqui que ela controla o mundo sendo sua força escondida e subjacente. Gamaliel é a
sombra do anima mundi, o ‘mundo alma’. Gamaliel é a esfera dos sonhos e o lado negro
de Yesod. Os sonhos que o homem normalmente não pode ou não deseja lembrar em
seu estado desperto podem ser encontrados dentro de Gamaliel. Esses sonhos negros
têm um caráter revelador e expõe lados de si próprio que alguém pode não querer
aceitar. Os sonhos obscuros são censurados pelo super ego e são represados na Qlipha
Gamaliel. Assim Gamaliel é a ‘Qlipha dos sonhos sombrios’.

Gamaliel é, acima de tudo, a esfera da sexualidade proibida. Enquanto que Adão e Eva
representam a sexualidade de uma natureza obediente cujo propósito é reprodução,
Lilith e seus amantes demoníacos correspondem a uma sexualidade iniciatória na qual a
força de Eros é usada para atingir estados superiores da mente. Um mago negro entra
em Gamaliel para se tornar totalmente consciente dos mecanismos da sexualidade e
assim cessar de ser escravizado sob instintos ocultos. A origem da luxúria é também
revelada nessa Qlipha. O mago alcançará um entendimento das estruturas dos instintos
básicos e aprenderá como usar a sexualidade para uma progressão mágica.

A Sephirah Yesod e a Qlipha Gamaliel pertencem ambas à esfera astral. Todos deixam o
corpo físico à noite durante o sono. Estas experiências são parte dos sonhos mais
profundos que são geralmente esquecidos. Para um mago é de grande importância
lembrar desses sonhos de modo a controlá-los e atingir conscientemente o plano astral.
O mago tenta viajar através das esferas astrais normais que são representadas por Yesod
e se move em direção às regiões mais profundas e obscuras que pertencem a Gamaliel.
Durante jornadas astrais para os mundos eroticamente magnetizados de Gamaliel, o
mago irá encontrar as succubi e os incubi, amantes demoníacos femininos e masculinos.
Eles convidarão o mago para uma orgia astral na qual mesmo o menor dos desejos do
mago será revelado. Se ceder à fraqueza, o mago poderá ser vampirizado e deixado
como uma concha vazia sem energia; o mago deve ao invés disso batalhar para usar a
orgia para atingir estados extasiados da mente que libertam a alma.

Yesod corresponde à lua. Gamaliel corresponde ao lado negro da lua. Esse lado tem sido
freqüentemente conectado com bruxas e seu ofício. O culto das bruxas era uma religião
sexual com elementos orgiásticos. Sangue era uma parte importante deste culto já que as
fases da lua correspondem ao ciclo menstrual. O sangue mensal corresponde à
fertilidade e vida e sua constante relação com a morte. Menstruação é um sinal de vida
que é perdida no sangue. Eva representa os períodos férteis, enquanto Lilith representa a
fase da menstruação. A lua é tanto morte quanto sexualidade. As entidades que têm sido
associadas com essa esfera possuem elementos tanto da sexualidade quanto do sangue.
O sacrifício do mago de seu próprio sangue e fluídos sexuais pode ser encontrado em
muitos dos rituais da bruxaria que estão associados com Gamaliel.

Os deuses do culto às bruxas pertencentes a Gamaliel: Pan, Dionísio, Frey, Baphomet e


o Diabo medieval. Todas são deidades fálicas, freqüentemente chifrudas ou na forma de
um bode. Entre as deidades femininas nós encontramos principalmente deusas da lua
negra tais como a grega Hécate, a deusa das bruxas e fantasmas, ou deusas que
representam erotismo e feitiçaria tais como Freya, mas também deusas da morte como
Perséfone e a antiga Norse Hel. Seres vampíricos podem ser encontrados em Gamaliel e
são caracterizados pela combinação de vida e morte, sangue e sexualidade.

Vampiros e outras entidades que, em mito, combinam Eros e Thanatos, sexualidade e


morte, assombram Gamaliel. As forças vampíricas de Gamaliel batalham para canalizar
a força vital profundamente nos túneis Qliphóticos. Esse processo é possibilitado
quando a energia sexual é despertada através dos sonhos eróticos e visões transmitidas
por Gamaliel. A energia vital flui para baixo em direção ao submundo Qliphótico e
nutre a força que está germinando lá. Nesse processo, o mago trabalha como um
alquimista e deve trilhar profundamente abaixo em direção à escuridão para encontrar a
pedra filosofal ou o elixir da vida. O adepto deve seguir esse percurso conscientemente
e com controle. Se isso ocorrer inconscientemente, o poder pessoal da pessoa pode ser
perdido na escuridão. O mago pode então ser deixado para trás em um estado de zumbi
e teria de se tornar um vampiro para atrair energia dos outros.

O trabalho mágico em Gamaliel é de uma natureza astral. Ele inclui viagem astral,
sonhos conscientes e conjuração das succubi e dos incubi. Para explorar Gamaliel, a
pessoa deveria usar sua disciplina para ficar acordada por dois dias, algo que pode fazer
com que sonhos vívidos apareçam. Um mago deve também experimentar abstinência
sexual por períodos extendidos de tempo para aumentar a energia sexual e assim
permitir um contato mais forte com Gamaliel. O foco da meditação de abstinência
deveria ser o Svadhisthana Chakra, o qual está localizado nas genitais. Este Chakra
corresponde a Yesod-Gamaliel e é comparado a uma flor de lótus laranja. O mago deve
especialmente focar na parte anterior ou dentro do chakra. O estado atingido por essa
operação é muito adequado para conjurar as succubi e os incubi, mas acima de tudo a
própria imperadora demoníaca Lilith. Lilith pode ser conjurada através do encantamento
mencionado antes. Ela aparece como uma bela mulher nua.Algumas vezes ela aparece
com um corpo de serpente da cintura para baixo. Em alguns casos, Lilith pode aparecer
como uma rainha vampírica ou uma mulher aranha tecendo uma teia de sonhos. O
artista Franz von Stuck (1863-1928) fez belos retratos retratando uma pecadora mulher
nua aparecendo junta a serpentes demoníacas. Também, artistas como Gustav Klimt e
Hon. John Collier apresentaram, com suas pinturas, uma visão do obscuro, mas sedutor,
mundo de Lilith que o indivíduo pode experimentar em Gamaliel.

Samael

Na mitologia judaica, Samael é o marido de Lilith. Samael é um epíteto para o Diabo, e


Lilith encontrou com ele após sua fuga do Jardim do Éden. Juntos, eles deram a luz a
toda a prole sedutora que povoa Gamaliel. Samael é o grande tentador, e ele tenta com
conhecimento. No Sepher Yetzirah, um velho manuscrito Qabalístico, Samael
corresponde ao conhecimento oculto, e é dentro da Qlipha Samael que a verdadeira
iniciação ao Caminho da Mão Esquerda toma lugar. Todas as concepções e perspectivas
comuns do mundo são questionadas nessa Qlipha. O mago que atingiu este nível será
capaz de enxergar através das regras e leis éticas que nos tem aprisionado em uma
cnesura psíquica que escurece uma grande parte de nossa consciência. Nesse nível, o
mago irá confrontar todas essas regras e leis éticas tornando-as conscientes. Assim o
indivíduo recebe um entendimento pessoal das funções da existência e individualmente
decide o que é certo ou errado, bem e mal. Nesse sentido, Samael é o tentador que seduz
o homem a comer os frutos do conhecimento. Ele também revela a beleza do mundo e
aponta para baixo, para dentro, ao invés de para cima em direção ao reino dos Céus.
Samael é o blasfemador que destrói a ilusão com seu intelecto. Samael desconstrói
concepções e idéias até os seus menores componentes. Arte psicodélica e surrealista
pode oferecer um vislumbre da Qlipha Samael, e a desconstrução da linguagem que
pode ser encontrada no Dadaísmo pode ser usada em trabalhos mágicos com Samael.

Hod é o lado brilhante de Samael. Hod representa o intelecto e pertence ao nível astral
superior. Samael é o intelecto obscuro que pode ser percebido como loucura, a
originalidade e gênio que é ativo fora dos quadros da razão e das convenções da
civilização. Numerosos cientistas, escritores e artistas têm tocado os domínios de
Samael. O intelecto de Edgar Allan Poe parece ter sido ocasionalmente influenciado por
Samael e as seguintes palavras que ele escreveu sobre si próprio apresentam um bom
resumo da forma de inteligência que é Samael:

Homens têm me chamado de louco; mas a questão ainda não está resolvida; se a loucura
é ou não a inteligência mais sublime; se tudo o que é glorioso, se tudo o que é profundo,
não germina da doença do pensamento, à partir de um humor exaltado da mente à custa
do intelecto geral.

Na Qlipha de Samael, o mago faz um pacto com as forças obscuras e realiza o convite
de Friedrich Nietzsche para reavaliar velhos valores. Insanidade torna-se sabedoria;
morte torna-se vida. Samael é o ‘Veneno de Deus’. É aqui onde ilusões são envenenadas
e todas as categorias e concepções são desconstruídas até que nada seja deixado. O lado
negro do plano astral pode ser comparado a um cálice cheio de veneno ou um fluído
intoxicante. Enquanto Gamaliel é o cálice, Samael é o elixir e a Qlipha seguinte, A’arab
Zaraq, é onde o mago vivencia o efeito. A consumação do veneno é um decisivo rite de
passage marcando a transição de um estado para outro.Entre certas tribos primitivas e
culturas xamânicas, a mordida de uma serpente venenosa tem sido associada com
iniciação (algumas vezes em uma forma mais drástica que causa a morte do iniciado).
Mais comum, porém, é que o iniciado tenha esvaziado um copo contendo alguma forma
de alucinógeno potente. O veneno de Samael causa uma morte iniciatória da
personalidade mundana do mago negro. Em seu lugar, a verdadeira vontade será
libertada correspondendo à Besta e Thagirion.

Samael é a Qlipha do trickster. O trickster é o personagem mitológico que transmite


tanto sabedoria quando insanidade. O deus nórdico Loke tem as qualidades de um
trickster e é tanto sábio como astuto, como também é a causa de muitos problemas. Nos
mitos dos índios norte-americanos, o Coyote é freqüentemente um personagem trickster.
O trickster pode ser alguém que traz cultura e reparte habilidades e objetos que podem
ser tanto bênçãos quanto maldições. Um bom exemplo é o fogo que pode trazer calor,
mas também queima. A iniciação simbólica aos mistérios do fogo pertence ao Caminho
da Mão Esquerda e assim, também, à Qlipha Samael. O mago faz um juramento no
nível de Samael e assim ganha controle da Kundalini, ‘a energia da vida’, e do fogo
interior. A iniciação mágica obscura pode ser dolorosa já que ela derruba velhas
concepções. O mago negro desenvolve sua identidade mágica em Samael e pode ver o
mundo com novos olhos. As concepções que são quebradas pelo veneno de Samael vão
se elevar em formas novas e puras quando o mago atinge mundos superiores. O
demônio pavão Adramelech, correspondendo à individualidade, beleza e todas as
visões, governa Samael. O mago abandona suas barreiras éticas que podem evitar a
conclusão mágica. Valores éticos são substituídos por valores estéticos. Samael
envenena as barreiras moralistas que ocultam a auto-criação artística do mago.

A’arab Zaraq

A’arab Zaraq é o nível astral mais externo no lado noturno da árvore Qabalística.
Netzach é a contraparte brilhante desta Qlipha. Netzach significa vitória, e vitória é um
aspecto crucial, também, para o seu anti-pólo obscuro. A’arab Zaraq representa batalha
e suas forças são invocadas pelos magos negros por vitórias nas batalhas da vida.
Deuses da guerra, como Odin e Baal, em suas formas mais demoníacas são associados
com essa esfera. Na Qabalah, Baal é visto como o demônio governante de A’arab Zaraq.

O símbolo de Netzach é o pombo, a qual corresponde ao amor, pureza e paz. O corpo é


o símbolo de A’arab Zaraq. A’arab Zaraq significa “Os Corvos da Dispersão”. O corvo é
a contraparte negra do pombo e representa guerra e tumulto, mas também paixão,
pecado e sabedoria proibida. Ele vive da morte no campo de batalha e é o espírito livre
da morte. O corvo é também o pássaro falante que traz mensagens e profecias, a livre
consciência do mago, dispersando como os corvos de Odin para coletar conhecimento e
sabedoria.

O corvo corresponde à alma do mago quando ela voa em êxtase, o resultado do


encontro entre vida e morte que toma lugar na iniciação Qliphótica. Ao passar através
de uma morte simbólica, o mago não mais teme a morte e ao mesmo momento aprende
a viver. Esta ‘iniciação da morte’ é iniciada nessa Qlipha e é cumprida pela iluminação
obscura de Thagirion. O corvo voa através de um oceano negro de pesadelos que é
Paroketh, o véu que separa o plano astral do mental. A’arab Zaraq é o último posto
avançado do plano astral.

Essa é a esfera das emoções sombrias. Aqui nós podemos encontrar tempestades de
sentimentos proibidos e instintos obscuros. O mago encontra expressões criativas
explosivas. A’arab Zaraq é associada com arte e música. Esta é a esfera do poeta
Romancista e Sturm und Drang. Um indivíduo pode facilmente perecer se ele não for
focado no objetivo da Qlipha Thagirion e se ele não seguir a jornada do corvo para o
Sol Negro.

Em A’arab Zaraq o mago atravessa o batismo negro. O pombo de Netzach aparece no


batismo de Jesus, ou outros adeptos da tradição iluminada, mas no batismo de um mago
negro o corvo aparece no seu lugar. Em A’arab Zaraq aparece uma inundação que afoga
o velho mundo para que um novo mundo possa ser criado. O mago passa através do
estágio de Nigredo na Alquimia onde ele passa longe do velho mundo. Após o batismo
negro do mago, semelhante a um peregrino no Caminho da Mão Esquerda, deixa para
trás aquilo que não está dentro dos paradigmas do caminho mágico. A’arab Zaraq é o
pássaro que deixa o ovo para trás para voar para Thagirion e o nível mental. Hermann
Hesse descreve esse processo em seu livro Demian:

O pássaro quebra o ovo. O ovo é o mundo. Para nascer o indivíduo deve destruir o
mundo em poeira. O pássaro voa para Deus. O Deus é Abraxas.
A pura Vênus branca pertence a Netzach, e a Vênus negra corresponde a A’arab Zaraq.
A Vênus Negra é chamada de Venus Illegitima e é a deusa das perversões. Seu amor é
estéril no nível da terra mundana mas é fértil dentro do mago e em níveis superiores.
Através dela, o mago pode nascer em mundos superiores. O mago é nascido como seu
próprio filho e se torna um com seu Eu superior ou Daemon. A Venus Illegitima é a mãe
desse Daemon. A prole demoníaca é criada por uma unidade sexual entre seres da terra
e do espírito. Os Nefilim da Bíblia, os bastardos, foram nascidos do encontro entre os
filhos do céu e as filhas da terra. O Eu superior do mago ou Daemon pertence ao
próximo nível.

Thagirion

O sexto nível Qliphótico (ou o quinto contando dos níveis da iniciação) é chamado
Thagirion, o que significa disputa ou processo jurídico. Isso pode ser interpretado de
muitas maneiras, às vezes como a disputa jurídica religiosa na qual Satã é o promotor
em nome de Deus, ou como o lugar onde o julgamento de Deus e Sua administração da
justiça são localizados. À parte das numerosas interpretações mitológicas, o nome da
Qliphoth denota sua natureza antinomiânica[1] que trabalha contra as leis do lado
brilhante. Todas as Qliphoth ostentam nomes pejorativos já que elas atuam como
antíteses para a ordem presente. Já que as Sephiroth da luz idealizam unidade, seu lado
sombrio é associado com desunião. Isso também explica o significado de ‘disputa’ no
nome Thagirion.

Thagirion é a Qlipha central na Ha-Ilan Ha-Rizon, a árvore externa Qliphótica. Esta


Qlipha é o lado sombrio de Tiphareth nas Sephiroth. Ambas as esferas correspondem à
criança ou à prole, e Tiphareth é associada com Cristo e personagens Messiânicos
enquanto Thagirion é associada com o Anti-Cristo e a Besta 666. Os primeiros
personagens pregam a salvação através deles (Jesus explica na bíblia que ele é o único
caminho para a salvação), algo que é questionado pelos últimos, que enfatizam a
possibilidade do homem para salvar a si próprio. Tipharet e Thagirion são ambas
associadas com diferentes personagens humanos que canalizaram a força desse nível,
tais como Bodisatvas, mestres secretos ou profetas. Já que esse nível é a esfera central
na árvore, pessoas que estão nesse nível são capazes de mediar entre os mundos acima e
os mundos abaixo. Fortes personalidades podem ser associadas com cada um dos dois
níveis dependendo da preferência do público geral: para um Muçulmano então, Maomé
é um personagem de Tiphareth (é claro que Muçulmanos geralmente não usam esse
simbolismo), enquanto ele é visto por alguns Cristãos como o Anti-Cristo e, assim,
como um personagem de Thagirion. Nos estágios iniciais de sua carreira, Hitler foi visto
como uma espécie de Messias que viria salvar a Alemanha. Naquele estágio, ele
assumiu um papel de Tiphareth. Mas, após a guerra ele foi visto como a Besta
personificada, e agora é um dos personagens mais populares para se retratar como o
Anti-Cristo. Nero, Genghis Khan, Átila e muitos outros homens poderosos têm sido
chamados de Anti-Cristo e foram personagens nos quais as pessoas projetaram a
sombra. Filósofos e místicos como Nietzsche, Crowley e Gurdjieff têm, em campos
mais válidos, sido conectados com Thagirion já que eles pregaram que o homem pode
salvar a si próprio, e eles usaram também uma linguagem simbólica relativa a
Thagirion. Um indivíduo pode canalizar Thagirion e ser um porta-voz da tradição do
lado das sombras.
Para todos os adeptos, esse nível significa iluminação. Tanto Tiphareth quanto
Thagirion pertencem à esfera solar, ou o nível mental, e aqui o mago entra em contato
com seu Eu superior (ou eu inferior dependendo de como alguém esteja segurando o
mapa). O mago encontra seu Daemon que, no lado iluminado, toma a forma do Sagrado
Anjo Guardião, um termo inspirado pela ‘magia sagrada’ de Abramelin. No lado
obscuro, o Daemon toma a forma da Besta ou Totem animal. O lado iluminado é
caracterizado por uma iluminação intelectual, enquanto o lado obscuro conduz a uma
iluminação instintiva na qual força, visão e ação são unidas. No lado iluminado, o
indivíduo alcança uma distância intelectual para o aqui e agora, enquanto que o lado
obscuro conduz a uma completa presença do aqui e agora.

Em alguns níveis do caminho iniciatório o lado obscuro e o lado iluminado são unidos
e, num nível solar, o mago pode vivenciar a unidade entre o Sagrado Anjo Guardião e a
Besta. O Daemon do mago une tanto a luz quanto as trevas dentro de si, como o deus
gnóstico Abraxas, que é associado com esse nível.

Na Alquimia, o indivíduo atingiu o estado do diamante amarelo nesse nível, chamado


Citrinitas. A esfera solar também corresponde ao topázio e ouro na Alquimia
(Kether-Thaumiel é representado por ouro em uma forma vermelha superior). Muitos
adeptos vivenciam fortes sentimentos de luxúria quando atingindo a esfera do sol. Aqui
eles se tornam um só com os objetivos e ideais pelos quais eles têm batalhado. O adepto
vivencia um preenchimento com todo o seu ser ou o Self, como é freqüentemente
chamado na terminologia psicológica. Este é o Paraíso para os religiosos (ou Inferno
para aqueles que prefeririam ir lá), o nível Boddhi ou Satori no misticismo oriental. Para
magos negros, a ascensão para esse nível conduz a um sentimento de poder total, mas
não na forma ingênua e ilusória que pode ser vivenciada agora e novamente nos níveis
anteriores. Para o mago branco, um sentimento de total benevolência nasce. Ambos os
estados são demasiadamente auto-suficientes e tem se tornado uma armadilha para
muitos vagantes espirituais. O nível do sol e o nível mental são apenas metade do
caminho na jornada iniciatória. Esta esfera pode, em terminologia simples, ser
designada como um nível no qual o adepto vivencia o ‘todo em si próprio’ em sua
capacidade total e vivencia seu ser por inteiro com seus lados destrutivos e criativos em
equilíbrio. Mas, além desse nível os níveis superiores se iniciam; a esfera das estrelas,
ou a esfera transcendental, a qual pode ser chamada de um nível onde o adepto se torna
‘mais que si próprio’ e é para atingir esse nível que o magista assíduo batalha.

[1] Antinomianismo - significa literalmente "Antilei" - Ele nega ou diminui a


importância da lei de Deus na vida do crente. É o oposto da heresia gêmea, o legalismo.
Os antinomianos cultivam aversão pela lei de várias maneiras. Alguns acreditam que
não tem obrigação de obedecer às leis morais de Deus porque Jesus os libertou da lei.
Insistem em que a graça não só nos liberta da maldição da lei de Deus, mas também nos
liberta da obrigação de obedecê-la. A graça, pois, se trona um licença para a
desobediência.

Golachab

Golachab é o mais brutal dos poderes Qliphóticos. O nome desta Qliphah é


significantemente revelador a respeito da natureza dessa esfera: ‘incendiários’, ‘os
flamejantes’, ‘o vulcão’ ou ‘aqueles que queimam com fogo’. De acordo com certas
teorias, esta é a Qlipha das Qliphoth e e o reflexo de Geburah, a Sephirah da qual as
Qliphoth nasceram. Geburah é a força imperativa e punitiva que nos mitos é comparada
com os fogos do Inferno. Geburah é a ira de Deus que inspira medo ao piedoso. É o
aspecto punitivo de Deus e da Árvore da Vida. Alguns afirmam que as Qliphoth são
uma punição de Deus. As Qliphoth são o caos e as assombrações que Deus envia ao
homem desobediente. Como revelado acima, muitos Qabalistas afirmam que a ira de
Deus criou uma rachadura na Criação e fúria que assim vazou criou desse modo as
Qliphoth. A teoria mais comum em relação ao Geburah e Golachab é que a Árvore da
Vida consiste em um equilíbrio entre a piedade de Deus (a Sephirah Chesed, também
chamada Gedulah) e Sua severidade (Geburah). Os lados sombrios destas Sephiroth
contém estas funções de uma forma desequilibrada. O anti-pólo desequilibrado de
Geburah então corresponde uma falta de restrição, e o lado sombrio de Chesed
corresponde à ausência de piedade.

Golachab pertence ao plano mental e é um dos dois pólos através dos quais Thagirion
opera. Thagirion representa o Self e a iluminação obscura. Thagirion é a personalidade
total do Self que opera na existência através de uma completa cooperação entre força,
visão e ação. Os doispólos do plano mental são luxúria e sofrimento. O fator da luxúria
pertence a Chesed, sofrimento a Geburah. Eles estão organizados em uma estrutura
especial e adotam certos princípios, tais como a piedade e a severidade de Deus. As
Sephiroth operam dentro de um cosmos organizado que é ilustrado pela Árvore da Vida.
As contrapartes Qliphóticas da luxúria e sofrimento não existem dentro dessas
estruturas, mas operam no caos. Aqui elas são geralmente permutáveis e luxúria passa
ao sofrimento e sofrimento torna-se luxúria. Nós podemos encontrar aqui uma forma de
complexo sadomasoquistas nessas duas Qliphoth no qual elas simultaneamente
representam luxúria e sofrimento, atração e repulsão, sexo e morte. Essas duas Qliphoth
são governadas por demônios governantes que são frequentemente associados,
nomeadamente Astaroth e Asmodeus; os dois demôniosmais centrais da missa negra
original. Asmodeus governa Golachab. Asmodeus, o trigésimo segundo demônio
Goético, aparece em numerosos grimórios e na literatura apócrifa. Ele é chamado de
‘Samael o Obscuro’ e é filho de, ou um aspecto de, Samael.

Golachab e Asmodeus representam fogo violento, revolução e rebelião. Esta Qlipha


corresponde a Marte, o planeta da guerra. Asmodeus destrói laços matrimoniais e
inspira promiscuidade. O magista que atinge esta Qlipha aprende a controlar e inverter
experiências de luxúria e sofrimento de um modo que quebra as estruturas Sephiróticas.
Golachab é associada com forças extremamente violentas e perigosas, e os rituais de
maldição mais brutais vêm dessa esfera. Adeptos que estão trabalhando com Golachab
podem usar certas cerimônias do fogo: caminhar em ou comer brasas em chama ou ritos
sadomasoquistas especiais para contactar as forças da Qlipha.

Gha’Agsheblah

Gha’agsheblah é a mais alta Qlipha entre aquelas que estão abaixo da tríade superior.
Gha’agsheblah é a força que governa todas as esferas Qliphóticas abaixo do Abismo. A
tríade superior corresponde a idéias e consciência divinas. Os sete níveis abaixo
correspondem a diferentes graus de concretização de idéias. Tanto Gha’agsheblah como
sua contraparte iluminada são associadas com o Demiurgo, o criador que modela o
mundo. Os sete mundos abaixo da tríade superior são comparados aos sete dias durante
os quais Deus criou o mundo, de acordo com a Bíblia. O ato da Criação surge de um
impulso em Chokmah recebendo uma forma negativa em Binah. Binah concede o
espaço para que alguma coisa seja criada, similar a derreter um metal em um molde.
Chesed é o princípio que preenche a forma e assim cria uma existência positiva. Deste
modo Chesed faz o impulso de Chokmah se concretizar e age como Chokmah, mas em
um nível concreto. Na tríade superior, todos os princípios são meramente potenciais e
ainda não são idéias realizadas.

Quando o adepto encontra Gha’agsheblah, a preparação para deixar os níveis concretos


e viajar à essência absoluta do universo que é encontrada na tríade superior é iniciada.
Gha’agsheblah representa as forças que finalmente testam o adepto antes que a jornada
através do Abismo seja iniciada. Gha’agsheblah despe completamente o adepto diante
do Abismo e da tríade Qliphótica superior. No conto sumeriano da descida da deusa
Inanna ao submundo, ela atravessa sete portais antes de colocar-se diante do trono de
sua irmã; a deusa da morte, Ereshkigal. Em cada portal ela é forçada a remover uma
peça de roupa até que ela esteja totalmente nua. As peças de vestuário correspondem a
sete dos atributos da vida que ela deve deixar para trás para ficar cara a cara com a
morte. As sete Qliphoth abaixo do Abismo representam os sete portais do submundo.
Gamaliel remove os atributos de Yesod e Samael aqueles de Hod, e assim por diante, até
que o magista permaneça completamente nu diante do Abismo. As forças Qliphóticas
destroem as peças de vestuário, os atributos, as ilusões que são obstáculos para
encontrar a escuridão mais extrema e a mais profunda sabedoria. Gha’agsheblah remove
a última peça do vestuário e guia o adepto em direção ao Abismo e aos domínios mais
íntimos do submundo.

Gha’agsheblah representa um nível superior de misticismo erótico. Nesse nível, luxúria


e sofrimento são transcendidos e passam um sobre o outro em uma energia extática que
jaz além da polaridade entre atração e repulsão. O adepto vai além de qualquer
diferença entre luxúria e sofrimento. A energia da morte, Thanatos, é transformada na
energia da vida, Eros, e o vazio do Abismo é preenchido com energia que permite um
renascimento metafísico no centro da morte.
O demônio Astaroth governa Gha’agsheblah. Astaroth é também chamado Ashtaroth,
ou Astarte, e era originalmente uma deusa semita da fertilidade e da guerra, equivalente
a Ishtar entre os babilônicos e Inanna dos sumérios. Nos textos Goéticos, Astaroth é
chamado de Vênus impura dos assírios com seios femininos, mas ele tem a cabeça de
um asno ou boi. Na Goetia, Astaroth é o vigésimo nono demônio e está em possessão de
conhecimento tremendo. Astaroth pode informar sobre o passado, o presente e o futuro
e pode revelar todos os segredos. Astaroth era um dos primeiros Anjos Caídos e pode
contar ao adepto sobre a Queda dos Anjos e a razão por trás de sua própria Queda.

O Abismo

Entre o nível divino superior e o inferior há um Abismo. No lado da luz isso pode ser
comparado a uma enorme ravina que conduz para baixo até o lado sombrio. No lado
obscuro o Abismo não existe da mesma maneira. O adepto da luz que falha em atingir a
tríade divina superior cai no Abismo e pode tornar-se uma vítima das forças do caos que
ali residem. Da perspectiva do lado sombrio, porém, o Abismo pode ser comparado a
um rio que separa o centro mais escuro do submundo das partes que o cercam.
Na Qabalah, o Abismo é chamado Masak Mavdil. No Abismo e em seu rio obscuro
jazem todos os adeptos que falharam, afogados. Ao atravessar o Abismo, a velha forma
limitada do magista morre. Todos os atributos que determinavam a vida e a Vontade do
adepto foram deixados para trás. As forças da escuridão fazem um polimento de tudo
que impedem o magista de tornar-se divino. Após o Abismo, a alma torna-se como um
diamante negro que carrega dentro de si todas as cores da vida e o espectro.

O Abismo corresponde fisicamente à garganta e pescoço e a parte das costas onde a


espinha passa até o cérebro. Aqui nós encontramos o chakra Vishuddi, que é comparado
a uma lótus azul com dezesseis pétalas. Seres e entidades como Abbadon (‘o Anjo do
Abismo’) e Chorozon residem no Abismo. Eles consomem as partes do corpo do velho
e limitado Self que o magista deixa no Abismo para morrer.

Satariel

Satariel é a primeira Qlipha após o rio do Abismo. O adepto entra em Satariel renascido
e batizado na água negra do Abismo. Satariel é o lado sombrio de Binah, e esses
mundos são extremamente relacionados já que Binah já é em si uma força sombria que
age como uma raiz do lado esquerdo da Árvore da Vida. A diferença é que Satariel não
é parte da ordem brilhante da Árvore da Vida, mas parte do Sitra Ahra e do outro lado.
Tanto Binah quanto Satariel correspondem ao obscuro e a mistérios. Elas representam
os princípios que carregam todas as respostas dentro de si mas permanecem escondidas
em escuridão absoluta. Satariel é aquele que guarda segredos e esconde algo. A
escuridão que é criada em Binah age como uma forma negativa na qual a Criação
recebe sua forma. Binah e Satariel representam tempo e destino e estão associadas com
deusas do destino, como as Moiras gregas e as Nornas nórdicas. As três Moiras são
Clotho, Lachesis e Átropos e sua tarefa é girar, entrelaçar e cortar a linha da vida de
cada e todo homem. Clotho segura o distaff e governa o nascimento. Lachesis governa o
que toma lugar durante a vida e Átropos, que usa um véu negro, corta a linha que
determina morte. Da mesma maneira, as três Nornas Urd, Verdandi e Skuld
correspondem ao nascimento e ao passado, vida e o presente e, finalmente, morte e o
futuro. Lilith tinha sua residência original em Satariel mas, semelhante às deusas do
destino, age nos níveis astrais inferiores onde ela tece as linhas do destino como uma
aranha. Binah e Satariel correspondem aos deuses do tempo, Chronos e Saturno, que
são aqueles que executam o ritmo do destino pelos movimentos da lua nos níveis
inferiores. A aterrorizante deusa indiana Kali governa o tempo e ela, também,
corresponde a Binah e Satariel.

Quando o adepto atinge Satariel um passo final ao nível divino é dado. Para o adepto do
caminho sombrio, Satariel é onde o indivíduo entra no centro do submundo para
encontrar seu governante. O adepto irá encontrar Ereshkigal, Hel, Hades, Lúcifer, Satã
ou qualquer um dos outros personagens que estão associados com as partes mais
profundas do submundo. No começo, após ter entrado em Satariel, o adepto tateia ao
seu redor na escuridão absoluta. Uma experiência comum que caracteriza Satariel é o
sentimento de caminhar através de longos labirintos negros e distorcidos. Os demônios
de Satariel são associados com absurdos, delírio, confusão e mistérios. Lucifuge
governa aqui e não deve ser confundido com Lúcifer. Lucifuge faz a luz escapar,
enquanto Lúcifer é quem traz a luz. Lucifuge conduz o adepto através dos labirintos
negros de Satariel em direção aos últimos níveis das Qliphoth. Na escuridão de Satariel
o indivíduo pode vivenciar a respiração do grande dragão, Tehom. Nos túneis, o
indivíduo pode ouvir ecos de estranhos sons dos planos além dos limites do universo.
No ponto mais sombrio, a escuridão chameja e torna-se luz. O adepto vivencia como o
olho-que-tudo-vê do dragão é aberto. Nesse estágio o adepto alcança visão clara e o
terceiro olho começa a abrir. Esse olho é chamado de olho de Lúcifer, Shiva ou Odin.
Nos antigos mistérios gregos Typhonianos, esta experiência era chamada Drakon, que
significa ‘ver’.

Ghagiel

Ghagiel é a última Qlipha antes de Thaumiel e é a força ativa do lado sombrio. Ghagiel
é associada com deuses fálicos e seres como o Demônio (Devil) em sua forma sexual
mais masculina, ou o antigo deus Príapos com seu falo vermelho gigante. Ghagiel
corresponde a Shiva em sua forma mais fálica quando o poder de seu lingam, ou falo,
faz com que o terceiro olho se abra para que o universo seja destruído e recriado em um
e no mesmo momento. Se Satariel é o trono das deusas sombrias, então Ghagiel é o
drono dos deuses obscuros. Beelzebub, o qual é referido como o príncipe dos demônios,
governa Ghagiel. Seu nome é geralmente interpretado como ‘o senhor das moscas’, mas
achados arqueológicos nos contam que Beelzebub era originalmente um deus Fenício
chamado Beelsebel, que significa ‘senhor dos senhores’.

Quando atinge Ghagiel o indivíduo torna-se um magista no mais profundo sentido.


Magia é a arte da ontade e este é o centro da vontade. Esse é um nível ativo que é
representado pelo cajado do magista. O cajado é uma cópia do eixo do mundo ao redor
do qual o universo gira. O deus solar masculino, que pode ser encontrado na maioria das
religiões, corresponde a esse eixo e ele é aquele que cria e sustenta o mundo e sua
ordem. O eixo do mundo é o falo do deus. Ghagiel, governada por Beelzebub,
representa as forças do apocalypse que fazem com que o cajado se quebre e caia. O
senhor das mosca banqueteia-se no velho mundo, como moscas consumindo um corpo.
Das cinzas do velho mundo, o magista recria o universo erguendo seu cajado e deixa ele
tornar-se o eixo do mundo ao redor do qual um novo universo gira.

Thaumiel

O objetivo do Caminho da Mão Esquerda, de acordo com o caminho


Qliphótico-Alquímico, é atingir a mais profunda esfera obscura, Thaumiel. A Qliphah
de Thaumiel significa ‘os gêmeos’ ou ‘os deuses gêmeos’ e é representada pelos dois
príncipes demoníacos, Satã e Moloch. Eles correspondem à mais absoluta polaridade e
dualidade inerente a um princípio. Como a face de Janus, os dois príncipes demoníacos
contemplam duas direções opostas. Um olha para fora até o que tinha sido, a criação
contra a qual o magista se revoltou e da qual está agora se emancipando. A outra está
olhando para dentro em direção ao futuro e aos mundos que o magista – agora como um
deus – é capaz de criar. Satã é o ‘opositor’, ou o rebelde, contra a Criação e aquelas
estruturas que ao mesmo tempo prendem a existência e limitam o magista. Moloch
significa ‘rei’, ou ‘senhor’ (lord), e é aquele que cria e governa novos mundos. Esses
dois princípios de ‘senhor’ e ‘rebelde’ são unidos em Thaumiel. Eles estão em cada fim
do buraco negro que se abre quando o magista alcança Thaumiel. Satã destrói o
universo A, no qual o magista é uma criação, e Moloch abre o universo B, no qual o
magista é um criador. Esses mistérios são considerados tão revolucionários e difíceis de
entender que o indivíduo lida exclusivamente com eles durante níveis superiores de
iniciação.

A divisão de Thaumiel é a razão pela qual o número das Qliphoth é 11, e sua fórmula é
A.A. = Adamas Ater, ‘O Diamante Negro’. Numerologicamente, os números 1 – 10 ou
10 – 1 representam a unidade entre homem e deus, o fim e o começo. A serpente
mordendo sua própria cauda simboliza isso. Quando o magista progride de acordo com
os níveis Qabalísticos Kether, o princípio superior, é atingido no estágio final. Em
Kether o 10 e 1 foram unidos e o círculo foi fechado; o adepto da luz atingiu seu
objetivo e tornou-se uno com Deus. O adepto da escuridão também atinge este nível,
mas tem nesse estágio a escolha de andar mais um passo crucial. Através de Thaumiel
outro nível, décimo primeiro, é aberto: um buraco negro que se torna um portal para
outro universo. O adepto sombrio liberta-se completamente de Deus e da velha Criação
e torna-se um criador. Ao invés de tornar-se uno com Deus, o magista torna-se ele
próprio um Deus através do décimo primeiro nível. Esse é o objetivo final e a essência
do Caminho da Mão Esquerda.

O Caminho da Mão Esquerda Ocidental e o Caminho da Mão Esquerda oriental


indiano, o Vamachara, lutam pelo mesmo objetivo. A yoga comum do Caminho da Mão
Direita busca – exatamente como o misticismo iluminado do ocidente – atingir unidade
e mesclar-se com Deus ou o divino. O Caminho da Mão Direita no Tantra tem também
esse objetivo. Julius Evola em The Yoga of Power explica a diferença entre o Caminho
da Mão Direita e o Caminho da Mão Esquerda:

Há uma diferença significativa entre os dois caminhos Tântricos, aquele da mão direita e aquele da
mão esquerda (os quais estão ambos sob a édige de Shiva). No primeiro, o adepto sempre vivencia a
experiência de ‘alguém acima dele’, mesmo nos níveis mais altos de realização. No último, ‘ele
torna-se o Soberano supremo’ (chakravartin = governante de mundos).

O Caminho da Mão Esquerda caminha ainda um passo decisivo a mais que o Caminho
da Mão Direita. Ele representa o misticismo em volta do número 11 e a fórmula AA. O
Caminho da Mão Direita conduz à união com Deus, enquanto a Esquerda caminha um
passo para além de Deus. O Caminho da Mão Direita conduz a um objetivo eterno
conclusivo e final, enquanto o objetivo do Caminho da Mão Esquerda é chegar a um
novo começo. As duas estradas têm sido comparadas aos dois modos em que alguém
pode seguir um rio. O Caminho da Mão Direita segue o rio até o mar, enquanto que o
Caminho da Mão Esquerda vai contra o fluxo de volta à nascente. O Caminho da Mão
Esquerda anda em retrocesso e contra a corrente. Quando o magista atinge a nascente
ele tem a possibilidade de alterar a direção do rio e criar um novo rio se ele desejar.
Outro aspecto importante do Caminho da Mão Esquerda, tanto no ocidente como no
oriente, é a importância da deusa obscura; Lilith e Kali são as mães obscuras e o útero
delas é a real fonte em direção da qual o magista busca de modo a renascer como sua
própria criança e seu próprio criador. A diferença entre os objetivos do Caminho da
Mão Direita e o Caminho da Mão Esquerda são os mesmos tanto no oriente como no
ocidente. No ocidente, a esfera superior de luz é Kether, ‘a Coroa’, e aqui o indivíduo
atinge unidade com Deus. No oriente, no nível mais alto de luz está o Chakra coronário,
Sahasrara; nesse estágio o adepto atinge Samadhi, que significa ‘união com Deus’ e é
uma unidade com o divino. Esse estado numerologicamente corresponde a 10. Esse
estágio é simbolizado pelo diamante: a mais pura e mais resistente forma de carbono, a
fundação de toda a vida. Em seu livro 777, Aleister Crowley escreve, em relação a
Kether e o número 1, “O diamante é brilho branco; ele é carbono puro, a fundação de
toda criatura vivente’. O adepto do Caminho da Mão Esquerda também vivencia esse
nível mas tem, através de seu trabalho mágico, a possibilidade de caminhar outro passo
(1 além de 10, i.e. 11, o qual corresponde um passo consciente através do portal 0, que é
1 além de 1). Esse passo é o segredo por trás da divisão de Thaumiel e dos dois
demônios gêmeos, Satã e Moloch. O passo além de Kether e do Sahasrara é
simbolizado pelo diamante negro (Adamas Ater). Crowley descreve o diamante negro
em 777 quando refle sobre o número 0: ‘Ele é invisível porém contém luz e estrutura
em si próprio.’ O diamante negro representa a liberdade suprema do Caminho da Mão
Esquerda ao oferecer um passo a mais que o Caminho da Mão Direita. Julius Evola
descreve como esse pensamento existe no Caminho da Mão Esquerda Tântrico:

O aspecto criativo e produtivo do processo cósmico obtém significado pela mão direita, pela cor
branca e pelas duas deusas Uma e Gauri (nas quais Shakti aparece como Prakashatmika, ‘ela que é
luz e manifestação’). O segundo aspecto, aquele da conversão e retorno (exitus, reditus), obtém
significado pela mão esquerda, pela cor negra e pelas obscuras e destrutivas deusas Durga e Kali.
Dessa forma, de acordo com o Mahakala-Tantra, quando a mão esquerda e a direita estão em
equilíbrio nós vivenciamos samsara, mas quando a mão esquerda preavalece, nós encontramos
liberação.

Quando o adepto do Caminho da Mão Esquerda caminha o passo além de Sahasrara, ele
atinge um estado além de Samadhi, o qual é chamado Kaivalya. Os adeptos indianos da
luz lutam para alcançar Samadhi, mas os adeptos obscuros buscam Kaivalya. Kaivalya é
um estado correspondente ao diamante negro que o magista atinge em Thaumiel. Aqui o
adepto atinge um estado de absoluta individualidade e divindade. Ao invés de tornar-se
uno com Deus, aqui o adepto torna-se Deus. Esse é um estado de total transe e absoluta
presença dentro de si próprio. O adepto tem o universo e todo o potencial dentro de si e
disso ele pode criar um novo universo. Para atingir esse estado o adepto obscuro precisa
abrir um tipo de chakra negro além do Sahasrara. Ele é chamado Sunya, ou Shunya, e
corresponde a Thaumiel e ao buraco negro. Esse nível é descrito em Aghora II:
Kundalini por Robert Svoboda:

No estado de Shunya todos os nomes e formas tornam-se extintos e tudo do qual você estáconsciente
é sua própria individualidade; de outro modo apenas o vazio permanece. Tudo no universo está
contido no estado de Shunya, de uma forma não-manifestada; você não pode mais percebê-lo. Apesar
das pessoas chamarem o estado de Shunya de Vazio, ele não está vazio, ele está cheio.

A possibilidade de abrir o chakra negro surge após o magista ter obtido um completo
despertar do Ajna chakra e o terceiro olho. O Ajna chakra é uma forma inferior do
Sunya dentro do corpo. Sunya é o terceiro olho (o olho de Lúcifer ou Shiva) em uma
forma superior, reservada para os adeptos mais avançados no Caminho da Mão
Esquerda. Com a ativação do Ajna chakra, o adepto encara uma ecisão final: se tornar
uno com Deus no Sahasrara e assim ser desintegrado ou tentar o grande e muito difícil
passo através de Sunya para tornar-se um deus. Nem Sahasrara nem Sunya são de fato
chakras no significado geral da palavra. O homem possui seis chakras principais, do
chakra base até o Ajna chakra na cabeça. Os três chakras inferiores são dominantes em
pessoas que são focadas em matérias mundanas e seus instintos básicos. Em pessoas
espirituais os três chakras superiores são os dominantes. Adeptos do Caminho da Mão
Direita tentam predominantemente elevar suas energias dos baixos níveis para os
superiores em um processo que conduz à iluminação no Ajna chakra, onde o adepto
percebe a natureza ilusória do Self e do universo. O objetivo final do Caminho da Mão
Direita é caminhar o grande passo para fora de Sahasrara, para atingir Samadhi e uma
extinção do Self. O adepto do Caminho da Mão Esquerda pode caminhar um passo de
volta para si próprio no Ajna chakra e encontrar três chakras ocultos que ficam
escondidos dentro da cabeça. Os três chakras secretos são Golata, Lalata e Lalana. Eles
só podem ser vivenciados quando a kundalini está completamente desperta e fez o Ajna
chakra flamejar com força. Apenas quando o Ajna chakra queima com a força da
Kundalini o adepto pode encontrar os três chakras secretos e escondidos na parte de trás
de sua cabeça. De acordo com o Vamachara, esses três chakras só podem ser abertos
através da bênção de Kali. Os chakras secretos podem fazer do adepto um deus
enquanto em seu próprio corpo.

Assim existem 3x3 chakras, três dois quais são secretos e são abertos apenas por
adeptos muito avançados do Caminho da Mão Esquerda. O próximo passo é atingir o
Sahasrara chakra, mas atravésdo despertar do Ajna chakra e dos chakras secretos o
adepto pode caminhar um passo além do Sahasrara e o décimo nível, através de Sunya
para um décimo primeiro nível, para criar novos mundos além de Sunya. Do outro lado
do buraco negro o adepto irá também encontrar a luz infinita que originalmente foi
vivenciada como escuridão. Ao invés da união com Deus, o caminho obscuro oferece
um dualismo dinâmico no princípio superior. União é equivalente a extinção, enquanto
a mais suprema dualidade concede vida e energia.
Quando o magista atinge Thaumiel, ele se encontra no centro absoluto. Thaumiel é o
olho do Dragão e o trono de Lúcifer. O magista pode permanecer aqui para sempre mas
pode também fazer a escolha suprema. Todas os objetivos religiosos, filosóficos e
metafísicos podem ser atingidos desse nível. O magista pode atingir Nirvana, tornar-se
um só com a escuridão ou o útero de Kali, mas também é possível para o magista
inverter Thaumiel e tornar-se um só com Deus e o lado iluminado. O magista pode
reentrar nos níveis inferiores ou caminhar o passo final para fora desse universo.

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