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Será que o conceito de soberania é datado?

Gonzaga Pereira

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade

0103074: Filosofia do Estado e da Integração

Magda Teixeira

22 de maio de 2022
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Após ter realizado várias pesquisas, conseguiu-se concluir que, entre uma esmagadora

maioria de autores, a opinião, que mais surge ao de cima, sobre o conceito de soberania, é

que este se encontra datado e que não corresponde com às necessidades do plano mundial nos

dias de hoje.

Tendo isto em conta, neste trabalho de pesquisa, tem-se como objetivo expor como

surgiu o conceito de soberania, conceito esse que é descrito como datado pela maioria dos

autores, assim como identificar o que o torna incapaz de responder á atualidade.

Para tal, serão analisados os artigos “Sovereignty – modern: A new approach to an

outdated concept”, de John H. Jackson, e “Concept of state sovereignty: Modern Attitudes”,

de Karen Gevorgyan,

Como teoria política, a soberania, segundo Jackson, garante, via “monopólio do

poder”, ao estado a autoridade política, interna ou externa, máxima e, segundo Gevorgyan,

independente e livre de intervenção externa por parte de outras entidades [“property and the

state's ability to independently, without external interference” (Gevorgyan, 2014)].

Segundo a enciclopédia “Britannica”, o conceito de soberania é um conceito

claramente criticado na ciência política e no direito internacional.

Derivado do latim superanus, em francês, souveraineté, o termo foi originalmente

entendido como o equivalente ao poder supremo. No entanto, a sua aplicação na prática

afastou-se frequentemente deste significado tradicional.

Sendo que, a título de robustecer o poder do rei de França, o francês, Jean Bodin,

durante o século XVI, serviu-se do conceito de soberania dando início a uma melhor

implementação do nacionalismo face ao feudalismo. Aquele que contribuiu de forma mais

eficiente para atribuir ao conceito de soberania um significado mais a par com os dias de hoje

foi Thomas Hobbes, 1588 a 1679. Ele afirma que a capacidade absoluta para legislar devia
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estar posta em alguma pessoa ou, também, num grupo. Caso essa autoridade fosse repartida,

equivaleria á destruição do Estado.

O facto de se ter concluído que o estado tem a sua génese um contrato social, entre os

seus cidadãos, que consiste em que sejam confiados, a um governo, pela população, os

devidos poderes para que se encarregue da defesa de todos deve-se a Locke (Inglaterra, 1632

a 1704) e Rousseau (França, 1712 a 1778).

Isto impulsionou o crescer de uma fundamentação sobre soberania popular que viria a

ser representada na Declaração de Independência Americana em 1776.

Mais tarde, a soberania passou a ser vista como indissolúvel, inalienável,

indispensável e única à nação, ou seja, ninguém, à exceção da própria, pode dispor dela. Estes

aspetos ficaram declarados na constituição francesa de 1791,

Desta forma, é a junção da ideia da soberania nacional com a popular traz à luz uma

nação personificada num estado estruturado, que dispõe do poder, e não uma população

desgovernada no estado de natureza.

É de referir que, segundo Jackson, o conceito de soberania, e a maneira como este é

caracterizado nos dias de hoje, começou com o tratado de Vestefália em 1648, tratado esse

que serviu para pôr fim á guerra dos trinta anos na Europa onde, o autor, aponta que foi um

processo de entrega, a várias entidades, do direito ao “monopólio de poder” e de o exercer

sob o seu território e respetivos cidadãos, passando a ser conhecidas como estados-nação.

Ao decorrer do tempo esta noção de poder absoluto do estado é apelidada de

soberania “Vestefaliana”.

Tendo em conta o estudo de Jackson, o “velho” conceito “Vestefaliano” já foi

desacreditado de várias formas e, embora o conceito de “monopólio do poder” não seja

totalmente descartável, ele é raiz de grande parte das “críticas vestefalianas”.


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Sendo que não existe uma instância superior aos estados podemos ver que uns

usufruem desta soberania como um “guarda-chuva” contra as críticas e julgamentos, assim

como para evitar ter que dar explicações sobres os “infringimentos” internacionais. No

entanto, a soberania perde o seu significado pois, os países mais fortes, conseguem exercer a

sua influência sobre outros mais fracos, negando-lhes, assim, a sua soberania.

Esta imposição do poder próprio é percetível na qualidade dos estados, em termos de

relações internacionais pois, como diz Jackson, o conceito de "igualdade de nações", pode ser

abusado e, por vezes, disfuncional e irrealista, tal como na indução de "consenso" como

forma de evitar a abordagem "uma nação, um voto" na tomada de decisões em instituições

internacionais e, embora esse sistema de votos direcione mal as ações dessas instituições, o

consenso, por sua vez, pode muitas vezes conduzir à paralisia, prejudicando a coordenação

adequada e outras tomadas de decisão. Esse conceito de “igualdade das nações” está ligado á

soberania pois, esta fomentou a ideia de que não há poder superior aos estados-nação, pelo

que a sua "soberania" nega a ideia de que há um poder superior, estrangeiro ou internacional,

a menos que consentido pelo estado ["sovereign ty" implies a right against interference or

intervention by any foreign or international power” (Jackson, 2003)].

Vimos também que, de acordo com Jackson, a "soberania" desempenha um papel na

definição do estatuto e dos direitos dos estados-nação bem como dos seus funcionários

reconhecendo, assim, a "imunidade soberana" para vários fins dos funcionários de um

Estado-nação, no entanto, também implica um direito contra a interferência ou intervenção de

qualquer poder estrangeiro (ou internacional). Pode também desempenhar um papel

antidemocrático na aplicação de conceitos extravagantes de privilégio especial de governar os

homens e funcionários.

Sendo assim, concluímos que, ainda que não seja totalmente descartável, o conceito

de soberania atual tem falhas, provenientes do abuso do “monopólio do poder”, a “igualdade


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de nações”, “imunidade diplomática”, que o impedem de acompanhar a globalização que

cada vez mais vai evoluindo, visto que os países se refugiam nela a fim de não perderem o

seu poder e proteção, consequentemente fazendo com que o progresso desejável para a

humanidade tenha um processo lento ou, até, quase inexistente.

Idealmente, chegar-se-ia a um consenso em que surgisse um conceito melhorado que

permitisse uma verdadeira entidade superior aos estados capaz de se impor e para tal, uma

das questões fulcrais seria, sabendo que essa realidade afetaria as liberdades individuais dos

seus integrantes a nível interno, quando é que essa entidade teria legitimidade de se impor

contra um estado?
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Referências

Jackson, John H. (2003). Sovereignty – modern: A new approach to an outdated concept.

Georgetown Law Faculty Publications and Other Works.

https://scholarship.law.georgetown.edu/facpub/110

Gevorgyan, Karen (2014). Concept of State Sovereignty: Modern attitudes.

YSU Press, pp. 431-448

https://www.ysu.am/files/Karen_Gevorgyan.pdf

Britannica, T. Editors of Encyclopaedia (2020, November 18). sovereignty.

Enciclopédia Britannica. https://www.britannica.com/topic/sovereignty

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