“A soberania é una, indivisível, inalienável e imprescritível. É una, pois dentro
do Estado só vigora um poder soberano, que se sobrepõe aos demais. É indivisível, pois é o mesmo poder que se aplica a todos os fatos ocorridos dentro do Estado. Em que pese utilizar-se órgãos distintos para distribuir funções, é o mesmo poder e autoridade que os anima, haja vista ser a soberania indivisível. É inalienável, uma vez que desaparece aquele que a detém quando fica sem ela. E, finalmente, é imprescritível, pois um poder superior não seria superior se tivesse prazo certo de duração”. Dalmo de Abreu Dallari
Na antiguidade, enquanto se desconhecia o conceito de Estado e ainda se
formavam os primeiros grupos de pessoas, o termo soberania sequer existia, ainda não havia elementos para que tal conceito fosse formulado. Os gregos e os romanos também não tinham ciência deste conceito, porém em Roma notou-se um pequeno avanço. Visto que os gregos não tinham um conceito de Estado, quanto mais de soberania. E os romanos exibiam certo avanço, visto que mesmo sem um conceito de Estado, eles já se organizavam em graus diferenciados de poder. Além disso, existia um poder denominado Imperium Populi Romani, que significa que o povo romano concedia o poder de governar para seu imperador, tudo isso sem sequer desenvolver um conceito sobre Estado ou soberania. Essa falta de conceituação se deve “à inexistência da oposição do poder do Estado a outros poderes.”
Com a chegada da Idade Média, surge um conceito de soberania arcaico,
diferente do que conhecemos hoje: tinha ligação com a relação feudal entre súdito versus soberano, aliás, a palavra “soberano” surgiu antes da palavra “soberania” para designar o poder que o senhor feudal tinha sob seus trabalhadores, logo, este conceito não estava relacionado a um Estado, mas sim à relação feudal, sendo este um conceito muito primário e distante do atual. No século XIII os monarcas começam a ampliar suas esferas de competências exclusivas e se firmam como soberanos. No fim da Idade Média, século XVI, os monarcas já têm supremacia e o conceito de soberania aparece amadurecido.
Hoje, a Constituição Federal de 1988 contempla em seu primeiro
o principio fundamental que talvez seja o mais importante a ser protegido e que garante o poder de decisão estatal: a soberania. É um atributo do Estado que confere a ele poder de decisão. É uma das características estatais que é sempre acompanhada de dois requisitos básicos: o povo e o território, sem os quais não conseguiria exercer sua soberania. O conhecimento a respeito do conceito de soberania é fundamental para se entender a formação do que se define por Estado. De tamanha importância é o conceito, que Sahid Maluf chega a afirmar que não há estado perfeito sem soberania.
Na evolução histórica do conceito de soberania, há o pacto social como
fator determinante de uma nova concepção desse instituto. Isso se deve à força com as novas ideias foram se desencadeando, o que deu ao poder representante, ou seja, o poder político da época, um poder absoluto sobre seus membros representando a vontade geral e, desta forma, criando um novo entendimento por soberania. A partir deste marco, passou-se a observar a soberania como inalienável e indivisível. Inalienável por representar a vontade geral, não podendo de forma alguma ficar alienada e nem mesmo se representar por quem quer que seja. Consequentemente, só se tornará a vontade geral, indivisível, se houver a participação do todo. Para isso ocorrer, todavia, há de se impor certos limites ao poder soberano, absoluto e inviolável, uma vez que este poder não pode ultrapassar nem transgredir os limites das convenções gerais.
Porem há uma distinção de organização entre a soberania nacional e a
popular. Nesta distinção, o conceito de soberania nacional, expressa que o poder representativo, com absoluta autonomia jurídica, não apenas representava a vontade geral, mas era representante da Nação. Já a soberania popular estava baseada no fato de o representante expressar o que o representado quer de forma democrática. Levando a acreditar que a soberania é oriunda de cada um dos cidadãos brasileiros.
A soberania é una, uma vez que é inadmissível dentro de um mesmo
Estado, a convivência de duas soberanias. É indivisível, pois os fatos ocorridos no Estado são universais, sendo inadmissível, por isso mesmo, a existência de várias partes separadas da mesma soberania. É inalienável, já que se não houver soberania, aquele que a detém desaparece, seja o povo, a nação ou o estado. É imprescritível, principalmente, justificando-se pelo fato de que jamais haveria supremacia em um Estado, se houvesse prazo de validade. A soberania é permanente e só desaparece quando forçado por algo superior.
Portanto conclui-se que o instituto da soberania sofreu uma constante
evolução do Estado moderno até o atual. Partimos de um modelo soberano como a representação da vontade do monarca, o poder absoluto e inquestionável exercido unicamente por esta figura. E hoje, entende-se por soberania a vontade do povo, representada pela supremacia do poder estatal, garantido pela Carta Constitucional. Podendo assim concluir que, seguindo a orientação tradicional, a soberania é a qualidade do poder político que o torna supremo dentro do Estado, sendo tal soberania una, indivisível, inalienável e imprescritível, não sendo, contudo, arbitrária; ao contrário, é autolimitada pela ordem jurídica e limitada pela existência de outros Estados.
Democracia e Jurisdição Constitucional: a Constituição enquanto fundamento democrático e os limites da Jurisdição Constitucional como mecanismo legitimador de sua atuação