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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FDUSP)

BACHARELADO EM DIREITO
Disciplina: Metodologia do Estudo do Direito

Docente: Flávio Manuel Póvoa de Lima

Discentes:
Lukas Maciel da Silva
Paola Norteiro
Felipe Delfino
Andreia Teixeira
Guilherme Vanni
Carolina Cury
Henrique Braga

Exposição de handout do texto: Kelsen, H. Ciência e Democracia.

São Paulo - SP
2023
INTRODUÇÃO

Inicialmente, a escola positivista antagonizou fortemente o jusnaturalismo, pois a mesma não


entendia o direito como universal e imanente da natureza humana. O juspositivismo entendia
a justiça absoluta como inalcançável, já que havia relatividade sobre o que era justo para cada
grupo. As leis como criações voluntárias denotavam que a sociedade podia escolher quais
seriam suas leis conforme o que seria decidido por cada povo, logo, o direito não podia se
basear em valores visto que estes também eram relativos.

 Para o positivismo jurídico, as normas devem ser objetivas e racionais, uma vez que
se o direito se apoia em valores, ele se torna instável. A solução dessa instabilidade
viria com a criação de um sistema jurídico lógico e coeso, como um tipo de ciência
exata que conferiria segurança jurídica.

 Hans Kelsen, principal representante da Escola Normativista do Direito (ramo do


juspositivismo), tinha como objetivo analisar somente a ciência jurídica sem que
houvesse uma mistura com as outras matérias. Pôr o direito imposto pelos
legisladores como objeto exclusivo de estudo dialogou com a substituição das normas
religiosas pelas leis estatais nas sociedades europeias da Idade Moderna.

 Atualmente, há um dualismo jurídico no qual deve-se ter o positivismo jurídico para


um sistema lógico e coeso baseado na racionalidade enquanto são debatidos alguns
direitos universais como os direitos humanos. Isso explicita muito bem sobre como o
direito advém da vontade e da conduta humana, pois a sociedade só aceita o direito
por existirem grupos sociais que possuem o poder de impor seus mandamentos na
forma de direito válido. E, o que seria o direito válido? De que forma os modelos de
governo dialogam e ditam o que é válido e o que não é?
CIÊNCIA E DEMOCRACIA

A ciência tem como seu objetivo de estudo encarar a realidade. Em âmbito político, o
antagonismo entre democracia e autocracia vira objeto de discussão na ciência. Sem
desrespeitar seu principal princípio, a objetividade, a ciência adota a democracia como sua
amiga e a autocracia como inimiga. Somente liberdade ou igualdade não podem definir a
democracia, elas precisam existir de forma concomitante para trazer significado.

 A liberdade não pode se fundamentar em uma ordem social, visto que seu significado
é uma conexão entra ela e uma comunidade. A liberdade também exige decisões em
que todos concordem, o que não ocorre em uma ordem social. Em razão da igualdade
essencial entre o “eu” e o “outro”, devemos buscar um ideal em que o máximo de
pessoas seja livre para que o mínimo seja dominado. Atuados juntos, o desejo de
liberdade altera a igualdade, buscando agora o reconhecimento no outro.

 O problema básico da política é a intensidade com que a vontade de dominação está


na posição individual. Quanto maior a vontade de governar, menos a liberdade é
apreciada. Quando há uma grande desigualdade entre governante/governado, há uma
dificuldade em reconhecer o “eu” no “outro”. Identificação com a autoridade, segredo
para obediência.

 A regra da maioria não determina uma exclusão da minoria, pelo contrário, a


democracia a reconhece como politicamente justificada e a protege. Isso ocorre
porque a democracia permite que por meio religioso, econômicos ou nacionais haja
instituições que agreguem essas pessoas. Sendo essa tensão entre minoria e maioria
essencial para o aprimoramento e desenvolvimento da democracia. Uma política de
harmonização de interesses, carrega uma visão relativista, na qual há uma tendência
de equilíbrio entre as duas partes.

 O grande dilema entre querer e saber, o impulso de governar o mundo e tentar


compreendê-lo. Isso porque a experiência do “eu” é reduzida, e a noção de mais
autocrítica se sobressai. Acreditar em verdades absolutas leva à autocracia. A crise da
ciência coincide com a crise da democracia. Universidades e outras empresas públicas
são instituições do Estado, o que trouxe a visão da independência da ciência. Se o
Estado é detentor de todas as atividades científicas, a transição de um governo
democrático para um autocrático pode transformar a ciência em um meio para esse
governo forçar sua ideologia. A democracia é contra o irracionalismo, que está
expresso de forma primitiva nas ditaduras. 8.1.“Uma onda de Anti-intelectualismo
está varrendo o mundo. Vemos os sintomas em todos os lugares.” – Conant 8.1.1.
Mas não é algo novo, a ignorância e objeção a ciência derivam da arrogância e são
presentes desde muito tempo atrás.

A ciência pode, sem violar o seu princípio de objetividade, reconhecer a

democracia como sua amiga e a autocracia como sua inimiga?

Tópico 1 – Tomada de decisão na democracia e o processo cognitivo do sujeito


Tópico 2 – Tomada de decisão na autocracia e processo cognitivo do sujeito
Tópico 3 – A crise da ciência coincide com a crise da democracia.
Tópico 4 – Experiências do velho e novo mundo.
1. A ideia de igualdade deve ser acrescentada à ideia de liberdade, restringindo-a, para
que se concretize uma forma democrática de sociedade.
1.1. O ideal de liberdade exigiria decisões unânimes, qualquer formação de
uma vontade comunitária e, portanto, qualquer comunidade, tornar-se-ia
impossível. No sentido mais profundo do princípio democrático, o sujeito
político deseja a liberdade que almeja para si também para o outro, o ego
deseja a sua liberdade também para o outro, porque o ego compartilha com o
outro a mesma essência.
1.2. O indivíduo tem uma maior inclinação a se sujeitar voluntariamente a
um governo com o qual, como forma de Estado, ele se identifica.
1.2.1. Aqui, o desejo de poder – a intensidade da experiência do “eu”
nele expressa, o valor do sujeito – é relativamente reduzido, a crítica
racional e, portanto, também a autocrítica, são relativamente fortes.
1.2.2. Assim, há uma crença em uma ciência crítica e, portanto,
objetiva. Seu processo cognitivo se assemelha ao processo de tomada
de decisão da democracia.
1.2.3. Na democracia, o resultado do processo de formação da
vontade do Estado é a harmonização de interesses.
1.2.4. A pessoa que ama a paz prefere a harmonização de interesses
divergentes à possível aniquilação do inimigo. Esse tipo de pessoa
tende a uma visão relativista básica.
1.2.5. O progresso da ciência só ocorre na tensão constante entre
opinião e contra-opinião, na confrontação de teorias opostas, na
liberdade total desse vai-e-vem das energias espirituais, aquela
inegável ampliação do âmbito que a ciência domina e ilumina,
justificando sua suposição relativista. Uma vez que a comunidade
continua a ser o objetivo precisamente devido à igualdade essencial
entre o “eu” e o “outro”, a exigência de unanimidade deve ser
substituída pela exigência de que o maior número possível de pessoas
seja livre.
1.3. Para que o ideal de autodeterminação dos indivíduos possa ser
realizado, a vontade da minoria deve se curvar à vontade da maioria.
1.3.1. Como todos são iguais, há apenas um resultado possível para
essa equação: o maior número possível de pessoas deve ser livre.
1.3.2. A democracia, com sua restrição da autoridade, também
significa um afrouxamento da disciplina, não significando o governo
absoluto da maioria.
1.3.3. A regra da maioria difere de qualquer outra regra enquanto não
só pressupõe conceitualmente uma oposição (a minoria), mas também
a reconhece como politicamente justificada e até a protege. Essa
proteção ocorre enquanto a democracia desenvolve instituições por
meio de grupos religiosos, nacionais e econômicos, grupos esses que,
mesmo pertencendo apenas a uma minoria e justamente por serem
apenas grupos minoritários, têm garantida a possibilidade plena de
existência e de atividade.
1.4. Conclusão: o máximo exigido de liberdade e o mínimo possível de
dominação são alcançados somente quando a vontade da comunidade é
decidida pela vontade da maioria dos seus membros. Exemplo prático: ideais
de formação dos EUA, nação ultra nacionalista; revolução francesa e russa;
ONU.

2. A crença no absoluto, nas verdades absolutas e nos valores absolutos leva


necessariamente ao absolutismo político, à autocracia.
2.1. Quando se assume a existência de uma coisa absolutamente boa, por
que seria útil organizar uma votação sobre ela, para deixar a maioria decidir?
2.2. Quem se opõe a essa autoridade é considerado não apenas injusto, mas
também errado.
2.2.1. A incapacidade ou pelo menos a relutância em reconhecer o
“outro” como um ser semelhante ao “eu” experimentado originalmente
faz com que a igualdade pouco pareça um ideal.
2.2.2. A desigualdade radical entre governante e governado é o
pressuposto a priori dessa forma de Estado, que corresponde
categoricamente ao tipo de uma elevada autoconsciência.
2.3. Em vista da autoridade suprema do bem absoluto, o que pode haver
senão a obediência daqueles a quem ele traz a salvação, a obediência
incondicional e grata àquele que, de posse daquilo que é absolutamente bom, o
conhece e deseja: o líder. Exemplo prático: governos totalitários do século
XX.
3. A crise da ciência coincide com a crise da democracia
3.1. Se o Estado é o único senhor de todas as atividades científicas, existe o
perigo, que não deve ser subestimado, de que, na transição de formas de
governo democráticas para autocráticas, ele use seu poder para transformar a
ciência em instrumento monopolista de geração de ideologia.
3.2. Quando precisa justificar as suas instituições, a democracia se apoia na
razão, esse elemento vital também da ciência, e não no sentimento estúpido,
não nos elementos irracionais da alma humana, aos quais as ditaduras, com
suas ideologias metafísico-religiosas, precisam apelar para esconder das
massas a perda de seus direitos político.
3.3. Conclusão: faz parte do princípio vital de toda democracia a liberdade
intelectual, a liberdade de expressão, a liberdade de crença, a liberdade de
consciência, o princípio da tolerância e em particular a liberdade da ciência em
conexão com a crença na possibilidade de sua objetividade. As constituições
de todas as democracias são testemunho desse espírito. E essa atitude,
especialmente em relação à ciência, corresponde inteiramente ao tipo de
sujeito descrito aqui como democrático.
4. As experiências da ciência com as ditaduras europeias e com o capitalismo americano
corrigem concepção de que o sistema continental europeu, onde domina o princípio
da estatização, era especialmente superior ao sistema vigente nos Estados Unidos, em
que a maioria e as mais importantes universidades e institutos de pesquisa científica
assentam em fundações privadas.
4.1. Se o Estado é o único senhor de todas as atividades científicas, existe o
perigo, que não deve ser subestimado, de que, na transição de formas de
governo democráticas para autocráticas, ele use seu poder para transformar a
ciência em instrumento monopolista de geração de ideologia.
4.2. O exemplo americano mostra, no entanto, que o capitalismo – sinal de
um instinto saudável e sintoma de um instinto sensivelmente dirigido à
autopreservação – nunca fez mau uso de seu imenso poder sobre a ciência, ao
contrário do que fazem as ditaduras fascista e proletária. É claro que não se
deve esquecer que se trata de um capitalismo que se desenvolve no terreno de
uma democracia poderosa e que os princípios políticos dessa democracia
impossibilitam esse abuso. Exemplo prático: movimento antivacina e
terraplanismo Conclusão A ciência deve encarar a realidade. Assim, é
necessário que o antagonismo entre democracia e autocracia se torne objeto de
discussão na ciência a partir do momento em que se evidencia atitudes tão
diferentes dessas duas formas de governo em relação à ciência. Essa
investigação deve ocorrer por meio de uma análise psicológica e filosófica das
organizações humanas, a fim de revelar razões para tal discrepância.

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