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Como você entende o conceito de sexualidade a partir da contribuição de

Michel Foucault?

João Henrique da Silva

Ao tratar do assunto sexualidade, Michel Foucault nos denuncia que esse


conceito está entrelaçado com outras questões como poder, saber e verdade. Até os
dias de hoje, a sexualidade é tratada como algo oculto, escondido e que somente
algumas pessoas estão aptas a falarem sobre ela abertamente. Todo esse viés
autoritário e exclusivo faz com que a sexualidade se caracterize como uma lei em
nossa sociedade, de forma que existirá uma parcela do âmbito social que irá possuir
a verdade absoluta acerca dela. Essa parcela nos remete, principalmente, à classe
das ciências da saúde.

A sexualidade nos diz do poder quando se refere às pessoas que detém o


“conhecimento” e que, de alguma forma, ditam as regras e as normas para que se
estruture uma sociedade considerada “normal”. Vemos a ciência médica, por
exemplo, que vem desde o século XVIII impondo e estruturando a ideia da
sexualidade na sociedade e na cultura. Ideia essa que engloba questões como a do
binarismo, onde é “correto” e “normal” que existam somente dois gêneros, ou seja, o
homem e a mulher. A questão da monogamia é um ponto que se complementa com
o binarismo, já que o âmbito médico nos diz que é preciso achar somente um(a)
parceiro(a) para, assim, reproduzir e dar continuidade à linhagem. Exemplos como
esse demonstram o quanto essa parcela da sociedade - que de alguma forma detém
um conhecimento - cria e impõe uma verdade sobre o mundo e sobre os outros que
não seja necessariamente verdade.

Assim entramos em outro ponto importante da análise de Michel Foucault


sobre a sexualidade: a verdade. A sexualidade no passar dos anos tem passado por
reformulações. É importante salientar que há anos atrás vivíamos em uma época
onde a homossexualidade, por exemplo, era tratada como um distúrbio, um desvio
de personalidade. Em tempos mais retrógrados ainda ela era tratada como crime.
Todas essas perspectivas a respeito da sexualidade foram desenvolvidas por
instituições que clamavam ter um determinado conhecimento pessoal e social do ser
humano e, mesmo assim, acabavam por limitar a subjetividade dos indivíduos ao
trata-los como anormais, anomalias e não-pertencentes ao social. Essas limitações
e imposições que o conhecimento científico reproduz na sexualidade é apenas uma
tentativa de sugestionar e classificar os indivíduos de acordo com a sua própria
definição de verdade. E, por ser um conhecimento que advém da área científica, ou
seja, de onde se produzem provas (objetivas e/ou subjetivas) e conteúdo para
sustentar essas provas, é que a verdade absoluta sobre a sexualidade é de manejo
dos(as) cientistas. Verdade essa que se sobrepõe à lei, pois é a partir desse
conhecimento científico das áreas da saúde que o âmbito jurídico irá basear as suas
decisões. Por isso que é tão incisivo dizer que a lei só possui o controle de dizer
não, já que todo o desenvolvimento e estruturação de uma ideia sobre a sexualidade
será produzida pela ciência.

Portanto, vemos que o saber acaba sendo motivo de repressão. Nos dias de
hoje observamos muitos paradigmas caindo por água abaixo, porém o espectro da
sexualidade ainda é algo que produz uma repressão imensa em nossa sociedade.
Vejo que tentar classificar o que é certo ou errado não cabe a nenhuma pessoa em
especial, pois acredito na premissa de que a verdade é relativa e que ela sofre
mutações e modificações no seu próprio tempo. É importante que se produzam
estudos sobre isso, mas é essencial que haja uma determinada sensibilidade com o
assunto. Percebo que é mais vantajoso e interessante que se desenvolva uma
escuta com os indivíduos em geral ao invés de estuda-los para tentar classifica-los e
limita-los dentro de sua própria subjetividade. A verdade imposta a nós vem a partir
de um discurso bem elaborado e sustentado, por isso muitas vezes falhamos ao
reconhecer o que e quem está ditando o que devemos fazer e quem devemos ser
em nossas vidas. O discurso, principalmente da ciência médica, tem uma força
tremenda pois se baseia na questão anatômica, biológica e dicotômica, porém cabe
a nós não tomar toda essa produção científica como verdade absoluta.

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