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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FDUSP)

BACHARELADO EM DIREITO
Disciplina: Metodologia do Estudo do Direito

Docente: Flávio Manuel Póvoa de Lima

Discentes:
Lukas Maciel da Silva 14679150
Paola Norteiro 14678847
Felipe Delfino 14707780
Andreia Teixeira 14712528
Guilherme Vanni 14576343
Carolina Cury 14563936
Henrique Braga 14578088

Exposição de handout do texto: Kelsen, H. Ciência e Democracia. [p.443-450]

São Paulo - SP
2023
INTRODUÇÃO

Inicialmente, a escola positivista antagonizou fortemente o jusnaturalismo, pois esta não


entendia o direito como universal e imanente da natureza humana. O juspositivismo entendia
a justiça absoluta como inalcançável, já que havia relatividade sobre o que era justo para cada
grupo. As leis como criações voluntárias denotavam que a sociedade podia escolher quais
seriam suas leis conforme o que seria decidido por cada povo, logo, o direito não podia se
basear em valores visto que estes também eram relativos.
Para o positivismo jurídico, as normas devem ser objetivas e racionais, uma vez que se o
direito se apoia em valores, ele se torna instável. A solução dessa instabilidade viria com a
criação de um sistema jurídico lógico e coeso, como um tipo de ciência exata que conferiria
segurança jurídica.
Hans Kelsen, principal representante da Escola Normativista do Direito (ramo do
juspositivismo), tinha como objetivo analisar somente a ciência jurídica sem que houvesse
uma mistura com as outras matérias. Pôr o direito imposto pelos legisladores como objeto
exclusivo de estudo dialogou com a substituição das normas religiosas pelas leis estatais nas
sociedades europeias da Idade Moderna.

Atualmente, há um dualismo jurídico no qual deve-se ter o positivismo jurídico para um


sistema lógico e coeso baseado na racionalidade enquanto são debatidos alguns direitos
universais como os direitos humanos. Isso explicita muito bem sobre como o direito advém
da vontade e da conduta humana, pois a sociedade só aceita o direito por existirem grupos
sociais que possuem o poder de impor seus mandamentos na forma de direito válido. E, o que
seria o direito válido? De que forma os modelos de governo dialogam e ditam o que é válido
e o que não é?
A ciência pode, sem violar o seu princípio de objetividade, reconhecer a
democracia como sua amiga e a autocracia como sua inimiga?

Tópico 1 – Tomada de decisão na democracia e o processo cognitivo do sujeito


Tópico 2 – Tomada de decisão na autocracia e processo cognitivo do sujeito
Tópico 3 – A crise da ciência coincide com a crise da democracia.
Tópico 4 – Experiências do velho e do novo mundo.

1. A ideia de igualdade deve ser acrescentada à ideia de liberdade, restringindo-a, para


que se concretize uma forma democrática de sociedade.

1.1 O ideal de liberdade exigiria decisões unânimes, qualquer formação de uma


vontade comunitária e, portanto, qualquer comunidade, tornar-se-ia impossível.

1.2 No sentido mais profundo do princípio democrático, o sujeito político deseja a


liberdade que almeja para si também para o outro, o ego deseja a sua liberdade
também para o outro, porque o ego compartilha com o outro a mesma essência.

1.2.1 O indivíduo tem uma maior inclinação a se sujeitar voluntariamente a um


governo com o qual, como forma de Estado, ele se identifica .

1.2.2 Aqui, o desejo de poder – a intensidade da experiência do “eu” nele


expressa, o valor do sujeito – é relativamente reduzido, a crítica racional e,
portanto, também a autocrítica, são relativamente fortes.

1.2.3 Assim, há uma crença em uma ciência crítica e, portanto, objetiva. Seu
processo cognitivo se assemelha ao processo de tomada de decisão da
democracia.

1.2.4 Na democracia, o resultado do processo de formação da vontade do Estado


é a harmonização de interesses.
1.2.5 A pessoa que ama a paz prefere a harmonização de interesses divergentes à
possível aniquilação do inimigo. Esse tipo de pessoa tende a uma visão
relativista básica.

1.2.6 O progresso da ciência só ocorre na tensão constante entre opinião e contra-


opinião, na confrontação de teorias opostas, na liberdade total desse vai-e-
vem das energias espirituais, aquela inegável ampliação do âmbito que a
ciência domina e ilumina, justificando sua suposição relativista.

1.3 Uma vez que a comunidade continua a ser o objetivo precisamente por causa da
igualdade essencial entre o “eu” e o “outro”, a exigência de unanimidade deve ser
substituída pela exigência de que o maior número possível de pessoas seja livre.

1.3.1 Para que o ideal de autodeterminação dos indivíduos possa ser realizado, a
vontade da minoria deve se curvar à vontade da maioria.

1.3.2 Como todos são iguais, há apenas um resultado possível para essa equação:
o maior número possível de pessoas deve ser livre.

1.3.3 A democracia, com sua restrição da autoridade, também significa um


afrouxamento da disciplina, não significando o governo absoluto da
maioria.

1.3.4 A regra da maioria difere de qualquer outra regra na medida em que não só
pressupõe conceitualmente uma oposição (a minoria), mas também a
reconhece como politicamente justificada e até a protege. Essa proteção
ocorre na medida em que a democracia desenvolve instituições por meio de
grupos religiosos, nacionais e econômicos, grupos esses que, mesmo
pertencendo apenas a uma minoria e justamente por serem apenas grupos
minoritários têm garantida a possibilidade plena de existência e de
atividade.
1.3.5 Conclusão: o máximo exigido de liberdade e o mínimo possível de
dominação são alcançados somente quando a vontade da comunidade é
decidida pela vontade da maioria dos seus membros.

Exemplo prático: ideais de formação dos EUA, nação ultra nacionalista; revolução francesa
e russa; ONU.
Conclusão: o máximo exigido de liberdade e o mínimo possível de dominação são
alcançados somente quando a vontade da comunidade é decidida pela vontade da maioria dos
seus membros.

2. A crença no absoluto, nas verdades absolutas e nos valores absolutos leva


necessariamente ao absolutismo político, à autocracia.

2.1 Quando se assume a existência de uma coisa absolutamente boa, por que seria útil
organizar uma votação sobre ela, para deixar a maioria decidir?

2.2 Quem se opõe a essa autoridade é considerado não apenas injusto, mas também
errado.

2.2.1 A incapacidade ou pelo menos a relutância em reconhecer o “outro” como


um ser semelhante ao “eu” experimentado originalmente faz com que a
igualdade pouco pareça um ideal.

2.2.2 A desigualdade radical entre governante e governado é o pressuposto a


priori dessa forma de Estado, que corresponde categoricamente ao tipo de
uma elevada autoconsciência.

Exemplo prático: governos totalitários do século XX.


Conclusão: em vista da autoridade suprema do bem absoluto, o que pode haver senão a
obediência daqueles a quem ele traz a salvação, a obediência incondicional e grata àquele
que, de posse daquilo que é absolutamente bom, o conhece e deseja: o líder.

3. A crise da ciência coincide com a crise da democracia

3.1 Se o Estado é o único senhor de todas as atividades científicas, existe o perigo,


que não deve ser subestimado, de que, na transição de formas de governo
democráticas para autocráticas, ele use seu poder para transformar a ciência em
instrumento monopolista de geração de ideologia.

3.2 Quando precisa justificar as suas instituições, a democracia se apoia na razão, esse
elemento vital também da ciência, e não no sentimento estúpido, não nos
elementos irracionais da alma humana, aos quais as ditaduras, com suas ideologias
metafísico-religiosas, precisam apelar para esconder das massas a perda de seus
direitos político.

Conclusão: faz parte do princípio vital de toda democracia a liberdade intelectual, a liberdade
de expressão, a liberdade de crença, a liberdade de consciência, o princípio da tolerância e em
particular a liberdade da ciência em conexão com a crença na possibilidade de sua
objetividade. As constituições de todas as democracias são testemunho desse espírito. E essa
atitude, especialmente em relação à ciência, corresponde inteiramente ao tipo de sujeito
descrito aqui como democrático.

4. As experiências da ciência com as ditaduras europeias e com o capitalismo americano


corrigem concepção de que o sistema continental europeu, onde domina o princípio da
estatização, era especialmente superior ao sistema vigente nos Estados Unidos, em que
a maioria e as mais importantes universidades e institutos de pesquisa científica
assentam em fundações privadas.

4.1 Se o Estado é o único senhor de todas as atividades científicas, existe o perigo,


que não deve ser subestimado, de que, na transição de formas de governo
democráticas para autocráticas, ele use seu poder para transformar a ciência em
instrumento monopolista de geração de ideologia.

4.2 O exemplo americano mostra, no entanto, que o capitalismo – sinal de um instinto


saudável e sintoma de um instinto sensivelmente dirigido à autopreservação –
nunca fez mau uso de seu imenso poder sobre a ciência, ao contrário do que fazem
as ditaduras fascista e proletária. É claro que não se deve esquecer que se trata de
um capitalismo que se desenvolve no terreno de uma democracia poderosa e que
os princípios políticos dessa democracia impossibilitam esse abuso.

Exemplo prático: movimento antivacina e terraplanismo


Conclusão: a ciência deve encarar a realidade. Assim, é necessário que o antagonismo entre
democracia e autocracia se torne objeto de discussão na ciência a partir do momento em que
se evidencia atitudes tão diferentes dessas duas formas de governo em relação à ciência. Essa
investigação deve ocorrer por meio de uma análise psicológica e filosófica das organizações
humanas, a fim de revelar razões para tal discrepância.

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